2003-11 Viagem Fronteira Alto Solimões Brasil - Peru

Transcrição

2003-11 Viagem Fronteira Alto Solimões Brasil - Peru
Viagem à região de fronteira do Alto Solimões
(Brasil, Colômbia e Peru)
Objetivo da viagem: Fazer contato com as igrejas e algumas organizações locais para sondar uma possível Equipe
Itinerante nessa região de fronteira.
Cidades visitadas:
Brasil: Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte;
Colômbia: Letícia;
Peru: Islândia, Santa Rosa, Iquitos, Indiana, Mazán, Caballo Cocha e Cuchillo Cocha.
Data: De 05 a 29 de Novembro de 2003
Viajaram e fizeram o relatório: Arizete Miranda Dinelly csa e Fernando López Pérez sj
05-09/11
Tabatinga
Chegamos a Tabatinga no final da tarde do dia 05. Lene nos recebeu na casa de D. Alcimar, que estava com a sra. Marcy e
alguns funcionários para o sítio da Diocese.
Fomos ao porto da feira e era grande a movimentação de vendas de peixes (bodó, jaraqui, sardinhas, curimatã, pacu e
outros). A impressão que tivemos é a de que os peruanos tomaram conta do comércio de verduras, frutas, criações como
galinhas, patos, porcos. Muitos colombianos também dominam o comércio local.
Durante e após o jantar, tivemos boas conversas com D. Alcimar e com a sra. Marcy, sua secretária. O Dom, como um bom
amazonense e com a simplicidade de um sábio, partilhava conosco um pouco de sua história contando-nos:
“A FUNAI, durante cem anos, nos proibiu de entrar na área indígena. E depois que abriu o espaço, a gente não sabia o
quê e como fazer, além de não termos gente para o trabalho”.
E continuou com algumas observações:
• “O interior ficou despovoado e muitas são as causas: Não tem mais interesse pelo comércio de borracha; A venda de
peles de animais e de madeira está proibida; Não tem mais a entrada do regatão que era quem trocava a mercadoria
com os produtos dos índios e ribeirinhos. Tudo isso levou os índios e ribeirinhos a migrarem para as cidades e a
viverem com muitas dificuldades e pobrezas. A cidade é um grande atrativo para o pessoal do interior. Antigamente os
índios viviam bem com os regatões e madeireiros”.
• “Nós conhecemos muitas das lideranças indígenas desta região, algumas moraram com a gente. Sabíamos que não
dariam para coordenar as organizações. Os índios brigam entre eles e criam diferentes organizações... Há um processo
de desestruturação das Organizações Indígenas, fragmentação e divisão, corrupção, incapacidade administrativa e falta
de formação das lideranças”.
• “As doações de muitos recursos e instrumentos materiais, de modo fácil e sem acompanhamento (rádio-fonia,
geradores, motores, construções, etc), não tem ajudado muito... Estamos convencidos de que só distribuir coisas não dá.
É preciso investir na formação, na educação das lideranças. Desenvolver atividades que orientem o trabalho voltado
para a questão da sustentabilidade, incentivar as comunidades para que plantem e criem, para que produzam o que
necessitam. Nós temos iniciativas, porém, não sabemos, muito bem, como fazer o trabalho com as comunidades e nem
temos pessoas para isso. Às vezes querem até que eu plante para eles...”.
• “Uma vez, num dos nossos encontros de CNBB o pessoal criticava o trabalho dos salesianos no Rio Negro junto aos
índios. Eu dizia: Os salesianos erraram por fazer muito e nós por não fazer nada”.
Marcamos uma conversa com D. Alcimar para as 9:00h do dia seguinte.
Alguns dados da Diocese do Alto Solimões (alguns dados fornecidos por o Ir. Neury)
Missionários/as:
Congregações: 5
Dados gerais:
Superfície: 132.195 Km2
Religiosas: 12
População: 149.326 habitantes (IBGE 2000)
Religiosos: 15
Urbana: 69.586
Padres Diocesanos: 5
Rural: 79.740
Missionários(as) Leigos(as): 1
Taxa de crescimento anual: 3,96%
Paróquias: 7
Indígenas: 33.816 (22,64% do total)
1
Distribuição dos missionários/as:
Tabatinga: Pároco: Pe. Valdemir (Diocesano) – Irmãos Maristas (3) – Irmãs Filhas do Coração de Maria (3).
Benjamin Constant: Paróquia a cargo dos Freis Capuchinhos (3) – Noviciado dos Freis Capuchinhos – Irmãs Missionárias
Capuchinhas (2) com seu Noviciado – Irmãos Maristas (3) – Felicidade (Missionária leiga italiana), residindo numa
comunidade ribeirinha tikuna.
Atalaia do Norte: Pároco: Pe. Gervásio (Diocesano).
São Paulo de Olivença: Pároco: Pe.Pedro (Diocesano) – Irmãs Missionárias Capuchinhas (4).
Amaturá: Paróquia a cargo dos Freis Capuchinhos (3).
Santo Antônio do Içá: Paróquia a cargo dos Freis Capuchinhos (3) – Postulantado dos Freis Capuchinhos.
Tonantins: Pároco: Pe.Elias (Diocesano) – 3 Irmãs da Congregação de Santa Catarina.
Pe. Joseney: responsável pela Pastoral Indigenista da Diocese.
Dia 06/12
No dia 06 celebramos o aniversário de Arizete. Pela manhã cedo ficamos sabendo que D. Alcimar precisava viajar até Manaus
para encontrar-se com o governador e sua equipe. Nossa conversa ficou para a sua volta, porém ele fez questão de nos dizer o
nome e endereço dos bispos de Letícia (Colômbia), Dom Jesus e de Indiana (Peru), Dom Alberto. Nos mostrou a foto que
tiraram, juntos, num dos encontros de articulação entre eles. Já tiveram dois ou três encontros entre os três bispos desta região
de fronteira.
Trabalhamos o material de apresentação da Equipe e Comunidade Itinerante.
Para a celebração dos 44 anos de Arizete a Sra. Marcy mandou preparar uma deliciosa bodozada assada e cozida para o almoço
junto com um bolo. Com muito carinho todos celebraram o aniversario de Arizete.
A tarde atravessamos, de barquinho, até Santa Rosa e indagamos sobre o barco para Iquitos. A diferença de preço entre a
lancha rápida (50 $USA) e o barco de linha que vai parando de porto em porto ($Sol 50 = $R 45), era bem significativa. Com
essas informações, deixamos para fazer essa viagem após o Encontro Pastoral do Alto Solimões (13-15/11/03).
Dona Marcy nos orientou que procurássemos o Gonzalo Franco, seminarista colombiano de Medellín, que se passou para a
diocese de Tabatinga e será ordenado diácono no dia 07/12/03. Fomos até a catedral, nos apresentamos a Gonzalo e ele nos
disse: “A proposta de vocês, bateu como pedra no olho”. Chegou na hora certa; Gostou muito!
Conhecemos a ir Diva, Filhas do Sagrado Coração de Maria, que trabalha na secretaria da cúria. Nos finais de semana a irmã
visita Umariaçu I (comunidade indígena Ticuna). Ela chegou há poucos meses e já está preocupada por não ter ninguém da
diocese, que saiba falar a língua indígena, para trabalhar com os ticuna.
Partilhamos com o pe. Valdemir, que conosco dividiu seus sonhos e lutas:
• Concluir seu curso de espanhol.
• Criar condições para atender as comunidades do interior.
• Dificuldades com a formação e com os formadores seminarístico, levando-os ao não envio de jovens vocacionados ao
seminário diocesano de Manaus.
• Investimento na construção de um espaço diocesano para a formação de jovens que querem ser padres e ou irmãos. Para
isso, constituirão uma equipe de formadores das diferentes congregações que assumirão os temas a serem trabalhados. A
experiência dará oportunidades aos jovens para que se auto-sustentem com os trabalhos de piscicultura, agricultura...
• Centro de formação de lideranças. A área já tem uma boa infra-estrutura, local onde acontecerão os encontros em nível de
diocese (casa nova, dormitórios, auditório bem equipado). Dá para umas 100 pessoas.
Pedimos um tempo ao Valdemir para apresentar-lhe o Projeto Itinerante. Combinamos para a manhã do dia seguinte.
Com Gonzalo fomos até Letícia, mas não estava o sr. Bispo, porém conhecemos César, um padre indígena colombiano do
povo huitoto. Com ele sonhamos em, quem sabe, no futuro ampliar a abrangência do GIPRAB.
À tarde, Gonzalo nos apresentou ao Mons. José de Jesús Quintero Diaz (Bispo do Vicariato Apostólico de Letícia, desde 07 de
abril de 2001), com quem tivemos uma longa e proveitosa conversa.
• Nos apresentamos. Ele também nos olhava com bons olhos... e perguntou ao Fernando: “Você é religioso?” “Pela seriedade
e jeito puro de sua colega, Arizete, ele logo percebeu a santidade e sorriu, acolhendo-nos” (nota escrita por Arizete).
• Fernando apresentou a proposta da Equipe e Comunidade Itinerante. Dom Jesus escutava atentamente e com o peso do calor
e do sono abria a sua bocarra vez em quando. Ele mesmo corria para atender ao telefone e a seus colaboradores.
• D. Jesus após nos escutar disse: “É preciso a Força do Espírito para nos mover. Nos falta a itinerância para ir de comunidade
em comunidade, nos barcos deles. Precisamos de catequistas que visitem as comunidades de seus irmãos no Brasil. De uma
fronteira para a outra. Aqui temos sacerdotes que poderiam conhecer cada família... se quisessem. Temos envelhecido como
igreja. Temos que podar a árvore para que o Espírito nos renove. Precisamos de missionários com capacidade contemplativa,
que saibam querer bem o povo, e desfrutem com a natureza da região. Que itinerem com alegria pelas comunidades”.
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D. Jesus nos contou que o pe. César (do povo Huitoto) e duas irmãs Lauritas fizeram uma experiência de itinerar durante um
tempo, porém as reclamações pela falta de comodidade e dificuldade quanto à inserção no meio do povo demonstra as
dificuldades de encontrar pessoas que gostem e queiram fazer esse estilo de missão. O bispo comentou:
“Muitos padres que chegaram a Letícia já foram devolvidos, pois, só querem mordomias. Muitos querem ir estudar em lugares
mais movimentados. A Colômbia ordena muitos padres por ano, portanto tem gente de sobra..., porém não são muitos com o
espírito missionário que necessitamos para estas bandas”.
Ele nos contou que também tem experiência itinerante, trabalhou e aprendeu uma língua indígena e foi uma riqueza em sua
vida.
À noite, D. Alcimar nos comentou que Dom Jesus foi seqüestrado por duas vezes por guerrilheeiros e que por isso ficou um
pouco retraído.
Alguns dados sobre o Vicariato Apostólico de Letícia (Colômbia):
• Vicariato 109 km2.
• Entre 50 e 60 mil habitantes.
• 12 paróquias.
• 16 sacerdotes (três religiosos, 02 irmãos).
• 32 religiosas (Lauritas, Vicentinas e Missionárias Franciscanas).
• Tem só um missionário que faz itinerância no rio Amazonas (apenas 100 Km). Precisam de umas duas equipes mais
itinerantes pelos rios Caquetá e Putumayo.
• O grande desafio é a presença nos rios Caquetá, continuação do Juruá e Putumayo, continuação do Iça. Segundo Dom
Alcimar nas cabeceiras desses rios está a guerrilha.
• 24 grupos étnicos (alguns bem reduzidos). O Vicariato não tem feito essa sistematização ainda. Estão tentando organizar
essas informações. Os huitoto são 5.600, é a maior população indígena do vicariato.
• ½ da população está concentrada em Letícia (30.000 hab.).
E-Mail de Dom Jesus: [email protected].
Tiramos fotos e saímos bonitos. D. Jesus enviou um de seus colaboradores para tirar cópia do mapa do vicariato e nos doou.
Consideramos um bom encontro e saímos animados.
Ainda em Letícia encontramos com uma irmã Vicentina com quem conversamos um pouco. Ela nos disse que o pe. Roberto
Jaramillo sj siempre se queda en su casa. Ficamos de encontrá-las.
No início da noite visitamos as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Maria, encontramos somente a ir. Maria, que acabava de
chegar de seu trabalho (funcionária da área de saúde do Estado e Município). Elas estão em três, a ir. Sebastiana, que está a
mais tempo na região (está de férias) e a ir. Diva, a novata.
À noite tivemos mais um bom papo com a sra. Marcy que partilhava as dificuldades para encontrar pessoas que assumam, com
responsabilidade os trabalhos da diocese:
“Para trabalhar com bispo e padre, só dá certo para quem é solteira; tiro por mim... Se eu fosse casada e tivesse de cuidar de
marido e filhos não conseguiria, é um trabalho muito exigente. Aqui, eu também sou dona da Diocese e me faço de forte e
corajosa para dar conta dos trabalhos. Já procurei algumas pessoas para dividir comigo, encontrei duas, mas não deu certo”.
“Aqui na casa de D. Alcimar a vida começa muito cedo da manhã. A cada semana, o café, o leite e a banana frita são
preparados por Lene, Marquinhos, Gil e por Nilson nos finais de semana. O almoço e a janta é a sra. Rosa quem faz. Na hora
das refeições todos os trabalhadores e funcionários sentam-se à mesa para comer, assim eu aprendi na casa onde eu me criei,
na casa dos pais de Dom (Alcimar)”.
“Quando o governador vem a Tabatinga ele passa aqui em casa. Temos uma casa boa para receber os hóspedes. Sempre
recebemos grupos de italianos”.
No dia 09 pela manhã o padre Valdemir, diocesano, filho do Solimões e vigário geral, foi à casa do bispo e com ele tivemos
um encontro de muito diálogo e aproximação. Apresentamos-lhe o projeto itinerante e ele perguntava, acrescentava,
comentava e juntos nos alegrávamos com os sonhos e desafios. Na verdade foi a primeira vez que demos tempo para nos
conhecer melhor e valeu a pena! Valdemir colocava a situação e necessidades da diocese:
• Pouca gente para assumir o trabalho missionário,
• Falta de coordenação entre as paróquias
• Distância geográfica dificulta um trabalho articulado,
• Divisão por causa de religião (Irmãos da Santa Cruz, Evangélicos, Católicos, Israelitas),
• Comunidades grandes e muito divididas,
• Problemas do narcotráfico...
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Depois, Valdemir foi nos mostrar várias comunidades dos bairros de Tabatinga. Passamos no Seminário, Centro de Formação
que é realmente um grande investimento. Muita alvenaria para uma região de belas e boas madeiras, porém com muito esforço
estão construindo, de bom gosto! Muitas árvores frutíferas e de enorme variedade. Estão aterrando, criando ruas e iluminando a
área.
Os bairros pelos quais passamos eram formados por casas de madeiras, poucas ruas asfaltadas, terrenos bem amplos e pouca
iluminação pública. Havia muita pobreza e segundo o Valdemir muitas pessoas envolvidas no mundo das drogas. As
comunidades Aparecida, São João Batista e Santa Rosa todas elas têm muitos jovens e que por falta de oportunidades de
trabalho estão no mundo da droga.
Conhecemos o bairro de Umariaçu I e II, de frente para o rio, muitas plantações e milhares de tikuna moram aí. Os tikuna estão
subdividido entre católicos não católicos.
Fomos no sítio da diocese e lá estava a sra. Marcy e os trabalhadores da Diocese ajeitavam uma pequena ponte. Os viveiros de
peixes e bichos de cascos bem tratados e enormes estão dando um resultado além do esperado, isto é, o crescimento dos peixes
está impressionando.
“Teve um político local que, com raiva de D. Alcimar mandou jogar algo nos viveiros e quase acabou com tudo. O Dom foi ao
Governador e assumiu a culpa... Aí o sr. Governador liberou uma quantidade ainda maior de alevinos”. Contou a Sra. Marcy.
Depois do almoço fomos à casa dos Maristas. Pe. Fernando ajudou o Pe. Valdemir no atendimento as confissões dos
adolescentes e jovens crismandos. Fernando animou e presidiu a celebração com muita criatividade. “Gostei do sr. e do seu
jeito diferente de explicar as leituras, de comparar com a vida do dia-a-dia. Assim a gente fica animado e tem vontade de
participar. Já teve um irmão que também fazia assim e era muito bom”. Comentou um animador da comunidade “Sagrado
Coração”.
Dia 09 a Sra. Marcy programou um mutirão, com seus funcionários, para ajudar a construir a casa de um deles. Fernando foi
participar, pois era um espaço para ajudar e conhecer melhor o pessoal...
Em casa ficamos trabalhando no relatório. Mais tarde apareceu o pe. Valdemir que foi nos convidar para almoçarmos com ele,
mas não deu. Porém, deu para mais um bom papo...Contou das dificuldades de alguns diocesanos quanto aos recursos
econômicos; quanto à formação. Das dificuldades da Diocese nos encontros da CNBB isto é, D. Alcimar foi muito criticado,
pela maioria de seus colegas bispos. D. Apparecido quando presidente do CIMI mandou processa-lo por causa dos problemas
de madeireiros explorando os indígenas.
Disse-nos que agora ele (Valdemir) acompanha D. Alcimar e eles têm apresentado os trabalhos da Diocese e recebido menos
crítica. “Também, nós buscamos fundamentos nos documentos da igreja para orientar nosso trabalho social”.
À noite Fernando foi convidado a presidir a celebraç e como equipe a celebração, na igreja matriz. O pessoal gostou muito da
celebração. Depois o Valdemir nos convidou a tomarmos um lanche.
Dia 10 pela manhã fomos até Benjamim:
Sem conseguir localizar o Fr. Salvador, subimos em direção à casa dos irmãos Maristas. No caminho uma surpresa: passaram
de moto, o sr. Nino, coordenador do Conselho Geral da Tribo Ticuna-CGTT e a sra. Hilda, da Associação das Mulheres
Indígenas Ticuna-AMIT, deram a volta e vieram nos cumprimentar e com um sorriso falou o sr. Nino: "Se vocês não forem
para Atalaia podem ficar com a gente. Ainda está lá aquele lugar... a casa dos estudantes". Esse gesto mexeu, pois não
esperávamos essa atitude de um homem que, aparentemente tem uma cara dura, assim achamos na primeira vez que o
encontramos. Pensávamos, que abençoados somos para merecer tanto cuidado do Ressuscitado? Parece que Deus nos dizia
para confiar mais na sua proteção e amparo. De alegria vibrava o nosso coração!
Da casa dos irmãos Ari, Neori (férias) e Fidelis ligamos para o pároco de Atalaia do Norte, Pe. Gervasio, pedindo espaço para
ficarmos. Ele nos respondeu: "Aqui tem muitas hospedarias." Dissemos-lhe que da vez passada tínhamos ficado na Pastoral da
Criança. Ele ficou de conseguir...
Na casa dos Maristas encontramos o irmão Ari. Ele nos falou do provincial deles que está animado com a proposta da Equipe.
Frei Salvador chegou, pela primeira vez na casa dos irmãos e com ele fomos almoçar em sua casa (noviciado dos
capuchinhos). Depois, com o frei Salvador viajamos até Atalaia (motor 15). A gente contribuiu com $R 30 para gasolina.
10-13/11
Atalaia do Norte
Em Atalaia conversamos com o Pe. Gervasio sobre o objetivo de nossa viagem. Fomos jantar um churrasco na vendinha da
praça. A cozinheira do pároco trabalha somente pela manhã e por isso...
Na casa da pastoral da criança conhecemos o irmão de Raimunda, ex-capuchinha de Atalaia que telefonou várias vezes para
conversar conosco e sempre nos desencontramos.
Dia 11 após o café e oração junto com o Salvador fomos a FUNASA. Encontramos com Regina nossa querida irmã que
assume a missão de coordenar a saúde indígena junto ao governo e CIVAJA. Novidades: Estão no prédio e casa nova em fase
de acabamento. Os trabalhos estão sendo acompanhados por uma equipe de funcionárias da FUNASA-Manaus e do Ministério
Público. Têm acontecido muitos problemas: Contratação de falsos médicos (presos pela polícia federal) recentemente. Suspeita
de enfermeira sem formação adequada. Muitas mortes (10) causadas pela hepatite "D". Queixas de alguns índios contra o
trabalho da FUNASA. Visita da dra. Lúcia Antony, chefa da FUNASA, Manaus. Visita do dr. Ricardo Chagas, chefe do
distrito de saúde indígena, Brasília.
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Depois fomos ao CIVAJA. Encontramos o professor Antonio, ribeirinho, que conhecemos em terrinha, dando aula para os
Mayoruna. Os representantes da ONG Terra dos Homens, Suíça, estavam em reunião com a coordenação. Tivemos notícia de
que o André Mayoruna, vice-coordenador do CIVAJA, pela segunda vez, agora junto com Jorge Marubo, ex-tesoureiro estaria
chegando de Manaus.
Fomos até o porto para comprar peixes e não encontramos nada. Almoçamos uma gostosa caldeirada numa bodega da cidade.
Em casa, descansamos e trabalhamos no material a ser apresentado na Assembléia da Diocese e no relatório. Mais tarde
mostramos e discutimos com o Salvador a proposta da Equipe.
No final da tarde passamos à casa de André Mayoruna. O professor da aldeia "31" nos reconheceu e pronunciou nossos nomes,
isso significa muito no mundo indígena...é bíblico: “Eu te chamo pelo nome tu és meu/minha por...” Com André, fizemos
festa! Sua casa sempre cheia de parentes. Ele nos contou que participou de muitos encontros em Manaus: Meio Ambiente; I
Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira. E cheio de carinho nos disse: “Estamos esperando vocês pra
irem com a gente para a nossa aldeia. Eu estava pensando: será que eles vem mesmo?” Para chegar na aldeia são uns 14 dias de
"peque-peque".
Passamos na casa de Clóvis, ex-coordenador do CIVAJA que nos falou: "Que bom que vocês chegaram. Vocês já estão
alojados? Onde estão ficando?”. "Vocês chegaram na hora certa, estamos precisando da ajuda de vocês". "Vocês estão sabendo
que teve mudanças no CIVAJA? Teve redistribuição de cargos. Eu fiquei no setor de Educação e preciso que vocês me
ajudem, tem muita coisa pra fazer".
A mãe de Clóvis estava em sua casa e nos deu notícias de suas filhas Malu, Rosanete e Rosilene que vive na aldeia São
Sebastião onde passamos em 2001. Rosilene cuidou de Arizete quando estava com malária e a presenteou uma gostosíssema
costela de queixada assada. Hum!
Clóvis nos convidou para um encontro no dia seguinte no CIVAJA.
Fomos até a casa de Regina da Funasa, no caminho descobrimos lugares que tinha peixe para vender. Compramos um surubim
e deixamos para o almoço. Com a Regina e o seu filho Pedrinho, lanchamos e conversamos muito. Nos contou do caso da
mulher Korubo que foi ter filho no hospital público de Atalaia do Norte:
"Os korubo (caceteiros) mataram muitos ribeirinhos de Atalaia que estavam invadindo suas terras e rios. Então quando o povo
de Atalaia soube que a mulher Korubo estava no hospital ficou muito revoltado. Queria vingar a morte de seus familiares.
Tivemos que esconder os índios no prédio da Funasa. Demos o jeito de retirá-los. Foi uma situação super complicada. Tenho
vivido cada problema..., mas eu confio no Pai do céu".
Dia 12 pela manhã fomos até o CIVAJA. O pessoal estava em reunião com os representantes da ONG “Terra dos Homens",
Suíça.
Encontramos o Beto Marubo do PPTAL e que assumiu a frente de contato junto aos Korubo, rio Ituí. Foi grande a alegria do
encontro, ele nos convidou para irmos até sua casa para contar de sua experiência e doar algumas fotos suas com os Korubo.
Fernando o acompanhou e com o Salvador ficamos conversando com dois Kanamari. Salvador deu a eles duas revistas do
Mensageiro e apareceu mais um dizendo: Eles são de uma aldeia e eu sou de outra...
O barco que ia levar o pessoal do CIVAJA e da Terra dos Homens, quebrou e não viajaram. O clima não ficou agradável entre
eles. Mas o que fazer se o problema aconteceu? Para os índios, transfere-se para outro dia, isso lhes é tão corriqueiro... Mas
para o europeu parecia ser o fim da picada: "Como está tudo bem?”, disse-lhes um deles.
Mais tarde nos encontramos com o Clovis, André e Salvador. Tema: Educação.
Clovis nos pediu que colocássemos a proposta de virmos para a região...
Clóvis: “O Vale do Javari não tem um programa de Educação. O CIVAJA teve o apoio da Missão Batista e construiu um
Centro de Formação onde aconteceram três etapas do Curso de Formação dos professores indígenas Marubo, Mayoruna,
Matis, Kanamari e Kulina. O Centro de Trabalho Indigenista (CTI), denunciou a Missão Batista e o missionário foi expulso
da área”.
Há briga do CIVAJA com o CTI que colocou dois professores lá com os Matis.
“A SEDUC e a SEMED falharam com seus compromissos com a formação dos professores, alegando dificuldades para
chegar até o Centro; custo elevado nos gastos com o combustível. Mas verba tem, falta o compromisso político. A falta de
alimentação adequada, as dificuldades de convivência entre cinco povos diferentes: língua, costumes, experiências fez muitos
professores adoecerem e até desistirem do curso".
Clóvis disse que ultimamente eles têm conversado, depois de suas avaliações e decidiram que:
• Os Marubo estão sempre à frente dos outros povos, a partir de agora não deve mais acontecer isso.
• Cada povo deve ter a sua formação específica em sua própria aldeia.
• Criar pólos de Educação Escolar Indígena nas diferentes áreas para atender a cada povo. Isso facilitará a autonomia.
• Programar alguns encontros gerais para articulação e entrosamentos.
• Em fevereiro de 2004 terá a Assembléia do CIVAJA... Quem poderia estar do CIMI?
• Apoio para o Vale do Javari. Uma viagem mais barato está em torno de três a cinco mil reais.
• O Centro de Treinamento deveria funcionar com outra orientação: formação de lideranças, capacitação de professores e
agentes de saúde.
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• Os Marubo da aldeia São Sebastião estão criando uma Associação para: Fortalecer a cultura; Recuperar a medicina
tradicional; Ensinar e aprender a tecelagem; Pintura corporal; Fortalecer a Comissão de mulheres para assumirem suas
lideranças, como faziam antes da chegada dos espanhóis.
• A cada ano está saindo muitos jovens para as cidades e não retornam para a área.
• Essa Associação será um pequeno demonstrativo para animar as outras aldeias.
• Clovis acrescentou: “A gente precisa do apoio de vocês. Vocês chegaram no momento que mais precisamos de
acompanhamento e orientação na criação dos pólos de Educação. Precisamos acompanhar cada povo. Vimos que não é
bom os Marubo ficar fazendo tudo, os outros povos também devem participar e fazer do seu jeito”.
• O problema da saúde está sério: a Hepatite "D" já matou umas dez pessoas. É uma família que foi espalhando. Tem muitos
casos de malária.
• A bebida alcoólica também é um caso sério.
• Temos que cuidar para não pegar a AIDS e outras doenças.
• Vimos que se a Organização Indígena assumir, também, o Distrito Sanitário fica amarrado e não pode fazer muito. O CIMI
já tinha avisado a gente.
• Antigamente os índios sabiam fazer todo tipo de remédio. Os Kanamari sabiam fazer remédios até para tratar da malária,
coisa que os agentes de Saúde Indígena não sabem mais. Só sabem entupir de medicamentos da farmácia. Precisamos
voltar atrás e recuperar nossos conhecimentos.
Obs. Entre os dias 28 a 30 de novembro, Clóvis estará participando de um encontro na Maromba, onde tratarão de assuntos
referentes à Educação Popular.
Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]
Para nós foi muito importante esse momento de estreitar nossos laços com o CIVAJA. Ser acolhidos como amigos, ouvir deles
que querem nosso apoio. Por acreditarem em nosso trabalho e nos afirmarem que é por aí, que a formação participativa é capaz
de possibilitar ao indígena que desenvolva e manifeste seus conhecimentos que estão adormecidos e que só precisam de uma
ajuda para fluírem. Pudemos dizer também nossos sonhos, limitações e desafios. "Que Deus seja todo nosso amor”!.
Fomos almoçar na casa de Regina e Pedrinho. Dona Conceição, a sra. que trabalha na casa, fez um peixe bem gostoso. Mais
tarde a sra Regina nos facilitou a ida à aldeia dos Marubo, 8 km da estrada que liga Atalaia à Benjamim. A Funasa teria de ir
deixar alguns pacientes e fomos juntos. Foi também um engenheiro da Funasa. A estrada estava cheia de curvas, muitos
buracos e curvas fazia as mulheres Marubo ficarem apavoradas: tremiam de medo, abaixavam a cabeça e pediam para que o
motorista fosse bem devagar.
O sr. Santiago Marubo (pai de Pedro, que o conhecemos na Marcha Indígena), é o cacique e nos disse:
"É aqui que a gente se esconde. O prefeito tem raiva de nós. Já estamos cansados de ir falar com ele para que ajude a gente.
Ele só engana, diz que vai fazer, mas não faz nada. Agora ninguém mais vai falar com ele. A escola tem um professor que falta
demais. Assim não dá; Óleo para o gerador, a prefeitura disse que todo final de mês ia dar uma certa quantia e nada".
O pajé mais velho da aldeia nos ofereceu banana e contou um pouco da situação deles:
“Estamos aqui já faz quatro anos, cada dia a vida fica mais difícil. Não temos mais caça, rio está seco. Eu estou doente e
pedir eu não vou. Tenho de trabalhar assim mesmo doente e aí não fico bom".
Para a nossa surpresa, o engenheiro disse a ele:
“O que é que vocês mais precisam? Eu costumo fazer uma doação como contribuição do meu dízimo. O pajé cuidou de
enumerar: arroz, feijão, macarrão, açúcar, café, frango. Precisamos de gasolina, diesel...”.
Aí o engenheiro pediu o vasilhame para comprar o combustível e se comprometeu de comprar um rancho para a aldeia e ficou
de enviá-lo pelo próprio motorista da Funasa.
Para nós foi muito ruim estar nessa hora sem poder dizer nada, pois, seria comprar brigas com os próprios índios que são frutos
dessa Educação da Dependência, do “ganhar as coisas”. Não tivemos como conversar com o engenheiro que logo viajou.
Quem sabe se dá para encontrar ele em Manaus, na igreja S. Jorge, para partilhar com ele sobre esse fato. Ele parece uma
pessoa muito comprometida e pode ser que enxergue outra perspectiva, menos assistencialista e mais educativa.
À noite visitamos a antiga casa dos Maristas que foi vendida para a prefeitura e hoje funciona o Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil – PETI; Cursos de Educação para Jovens e Adultos; Curso de Informática.
A sra. Regina esteve conosco em nossa casa e merendamos um cuscus muito bom. Regina necessitava desabafar:
“Tenho vivido muitas situações que só mesmo a força do Espírito faz a gente agüentar. A FUNASA sabia das dificuldades,
mas não orientava em nada”. “Rezem pelo meu Pedrinho, este ano foi muito ruim a relação dele com o pai; O pai não liga
para ele, com isso o Pedrinho sofre demais”.
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13-15/11
Benjamim e Islândia
Dia 13/11 pela manhã regressamos a Benjamim Constant diretamente para a casa dos Maristas e com eles almoçamos. No final
da tarde Salvador telefonou nos dizendo ficarmos no local do Encontro de Pastoral Diocesano. Encontramos alguns conhecidos
e a ir. Josefa, Capuchinha dizia que ainda não tinha nem a programação do Encontro que já ia começar. Nos disse que
podíamos ir buscar nossa bagagem. Porém, no caminho encontramos com o padre Valdemir e o bispo que com muita liberdade
nos disse: “Nós vamos ter que discutir alguns assuntos muito particulares então pedimos a vocês que venham somente no
momento que vamos dedicar a apresentação da Equipe Itinerante. Avisaremos vocês quanto ao horário”.
Dia 14/11 às 14:00h fomos apresentar o Projeto Itinerante no Encontro Diocesano do Alto Solimões.
D. Alcimar fez uma breve oração e anunciou nossa apresentação sempre fazendo boas referências aos jesuitas que passaram há
alguns séculos pela região. Destacou a importância do trabalho dos missionários e citou a Comunidade de São Francisco...
Dentre os participantes estavam muitos senhores/as para os quais tivemos de usar uma linguagem bem clara facilitando sua
compreensão sobre o projeto. Fernando estava empolgado e Arizete acrescentava e ou reforçava as idéias partilhadas.
Depois D. Alcimar coordenou animando a assembléia a fazerem perguntas:
- Frei Paulo Xavier: “Fernando, qual é o procedimento para agendar com vocês o pedido das paróquias que querem o
trabalho da equipe”?
- D. Alcimar: “Diante da realidade do povo que passa fome, não dá para dizer-lhe que Deus te ajude e vai embora. O que de
concreto vocês oferece-lhe?”?
- Frei Benigno: “Fernando, por quanto sai uma viagem dessa por aqui? Dá para agendar uma viagem aqui na paróquia de
Benjamim nos meses de junho e julho e 2004?”?
- D. Alcimar: “O frei Gino está fazendo uma lancha mais veloz que o pensamento. Bem confortável... Assim dá para estar mais
cômodo”.
Depois muitos se aproximaram para comentar sobre a proposta.
No final da tarde fomos de barquinha até Islândia, no Peru. Os Israelitas dominam e governam a área. Tem uma rádio e um
serviço de internet para o público. É bem concorrido; menos de uma hora é grátis, a partir de uma hora paga o equivalente a
três reais.
15-17/11
Tabatinga e Letícia
Dia 15/11. O irmão Ari nos deu carona até o barco que viajamos a Tabatinga.
Fomos procurar barco para Iquitos, mas as informações eram de que a polícia federal havia apreendido muita "branquinha"
engarrafada nos vasilhames de refrigerante e que haviam atrasado a viagem do barco.
Fomos visitar a família de dona Izolima, Nazaré, Braguinha (mãe e irmãs de Ray, do cimi). Fizeram festa com a gente e
ficamos para almoçar uma caldeirada de surubim com tacate (comida dos peruanos: banana comprida fervida, amassada e
refogada com azeite, cebola e outros temperos).
À tarde voltamos a casa dos irmãos maristas. Pedimos para ler os correios e escrevemos ao Hugo.
Os irmãos comentaram sobre a animação do superior deles quanto à proposta da equipe.
À noite jantamos com D. Alcimar e família. Agradecemos-lhe pelo apoio e ele disse: “Foi bom vocês terem colocado para
todos, assim muitos puderam ouvir e se esclarecer melhor, tirar as dúvidas que tinham. Para muitos essas idéias novas são
compreendidas devagar...”.
Também dom Alcimar nos comentou que nunca a CNBB o chamou para falar sobre a Amazônia:
“Sempre são os medalhões, que não conhecem e que só sabem discursar, os que falam e dão sua opinião sobre a Amazônia”.
Também partilhou que quando ele foi escolhido para ser bispo, muitos italianos retiraram ajuda financeira, mas que Deus
sempre o ajudou facilitando com que ele encontrasse amigos que o ajudaram.
Nos contou que o bispo de Letícia, D. Jesus, já esteve duas vezes nas mãos dos guerrilheiros colombianos e que por isso era
um pouco retraído...
16/11 Domingo de tarde visitamos algumas congregações que moram em Letícia. Fomos à casa da Fraternidade Franciscana
Capuchinha (do lado esquerdo da Catedral). Nos recebeu um frei espanhol (catalan) que leva na região uns 20 anos. Depois
visitamos as irmãs Lauritas (muito perto dos capuchinhos). Por último saudamos, na rua, às Filhas de S. Vicente de Paula. Elas
demonstravam ter medo da gente. Em geral, a gente sente que nesta região de fronteira o pessoal desconfia muito dos
desconhecidos.
Às 19h. participamos da celebração na Catedral.Uma celebração muito animada. Depois fomos saudar o padre jovem (40
anos). Tanto com as irmãs como com o padre partilhamos a proposta da Equipe. Todos eles nos convidaram a passar por suas
casas com mais tempo para partilhar melhor a realidade da região e o projeto da Equipe.
Uma coisa que chama muito a atenção do lado de Letícia é a desconfiança que no primeiro momento todo mundo mostra dos
desconhecidos. E diante da situação na qual vivem, dá para entender.
17/11 De manhã recorremos algumas áreas de palafitas que ficam numa baixa que é a divisa entre Tabatinga e Letícia.
Perguntamos por quartos e casas para alugar. Também visitamos o beiradão do lado de Letícia e os frigoríficos de peixe, que
são a fonte principal de renda da cidade. Todo o peixe vai para Bogotá. Na verdade, os frigoríficos disfarçam a lavagem de
dinheiro...
7
Na volta passamos pela policia federal para carimbar nossa saída para o Peru. De tarde saímos para Santa Rosa, onde param os
barcos que vão e vem de Iquitos. Iquitos é a capital do departamento de Loreto, à que pertence esta parte da Amazônia
peruana. São vários os barcos que fazem o trajeto Iquitos - Islandia (cidade peruana junto a Benjamim Constant, no rio Javari).
Há uns 6 barcos (do tipo chatas de ferro) por semana; todos eles param na ilha de Santa Rosa, em frente de Tabatinga e Letícia.
17-24/11/
Peru: S. Rosa, Iquitos, Indiana, Mazán e Caballo Cocha
Em Santa Rosa, para poder carimbar o passaporte com a entrada, deve apresentar-se a passagem. Nessa noite tinha dois barcos
saindo: Dom Manuel (muito mais velho e sujo, que vai muito devagar) e La Loretana que é uma chata bem grande, com três
andares, mais rápido e menos sujo. O preço da passagem até Iquitos é o mesmo: 50 Soles, uns 45 Reais.
Quando fomos carimbar o passaporte nos atendeu uma senhora de Iquitos e seu marido. Ela conhecia o Pe. Joaquin Garcia,
Agostiniano que trabalha em Iquitos, em CETA (Centro de Estudos Teológicos da Amazônia). Ela foi catequista do pe.
Joaquin e foi ele quem celebrou seu casamento. A sra. se colocou a disposição para colaborar com a igreja em Santa Rosa. De
fato toda a área peruana dessa região é atendida pela igreja do Alto Solimões. Assim foi pedido por dom Alberto (Bispo do
lado peruano) a Dom Alcimar.
A mercadoria principal que o barco levou para Iquitos foi madeira, banana e peixe.
Por fim saímos às 20:30h de Santa Rosa. De manhã cedo chegamos em Caballo Cocha. Ali foi carregado muito peixe. Era
grande o movimento junto ao mercado que está bem próximo ao rio.
Neste beiradão peruano a gente viu muita plantação de arroz em todas as várzeas. Agora está sendo coletado.
Nas comunidades a gente observa muitos "israelitas". Os homens vão com barbas longas e cabelo comprido. As mulheres com
saias longas e um véu na cabeça que cobre os longos cabelos. Os israelitas é uma religião fundada por um dirigente político da
Serra do Peru. É uma religião baseada no Antigo Testamento e sobre a promessa da Terra Prometida. Muitos peruanos da serra
e da costa vieram em grandes levas, há uns 40 anos, para a selva com a promessa de encontrar a Terra Prometida.
Ao meio dia chegamos em Chimbote, uma vila na qual existe um controle de polícia e também um quartel militar. Os agentes
subiram a controlar e revistar alguns passageiros buscando drogas. Só revistaram os peruanos, não os estrangeiros.
Ao longo do beiradão tem muitas pequenas comunidades. A maior parte das casas é palafita de madeira e teto de palha branca.
Continuam as plantações de arroz. Vimos muito pouca criação de gado. Muitas pessoas se vestem e arrumam o cabelo ao estilo
dos "israelitas".
Às 17h. chegamos ao distrito de São Paulo; uma vila bem grande, muitos comércios e grande parte das casas era de madeira e
teto de alumínio. A polícia estava com trajes civis e desceu até o barco para verificar a documentação de um passageiro
boliviano. Suspeito! Muitos passageiros ficaram e outros chegaram.
Mais tarde serviram-nos o jantar: muito arroz com um pedaço da banana verde-cozida e um pedacinho de carne de porco,
deliciosa.
Dia 19/11
O barco continuou parando de porto em porto e cada vez mais o espaço ficava pouco. Alguns passageiros vendiam pipoca,
queijo, comida típica como: Vane (arroz com galinha e condimento amarelo cozinhado em folha de bananeira), cozidão de
galinha com macarrão. Era Nova Pevas, um pequeno vilarejo e ao nosso ver é um lugar exclusivo de Israelitas. Na entrada tem
um cartaz dizendo "posto de controle". Depois nos informaram que de fato foi fundado só por israelitas há uns 8 anos e que só
entram israelitas. Eles têm suas próprias leis, castigos e cadeia. Parece que muitos jovens estão fugindo por ser muito rígido o
sistema.
Segundo nos informou a sra. Patricia, habitante de Pevas e vendedora de comidas:
"Muitos deles vieram da serra e da costa, com a promessa de que aqui tinha muita riqueza (“Terra Prometida”). Muitos deles
falam quichua. Agora muitos jovens estão saindo dessa religião por ser muito restrita. Eles mesmos tem suas leis e seus
castigos. Os jovens não podem jogar bola, brincar, dançar... Desde criança trabalham muito. Quando os jovens saem eles
cortam o cabelo e tiram a barba para não ser identificados mais com um israelita."
Uma hora depois de Novo Pevas, subindo, chegamos no distrito de Pevas, muita gente embarcou. Muitos falavam em língua
indígena. Mulheres e crianças vendiam comida da região. No lugar tinha um outro barco lotado de cargas e passageiros indo
para Islândia (rio Javari, na fronteira com Brasil). Desde o porto de Pevas se observa um bonito hotel que se destacava do
estilo das palafitas e casinhas de palhas no meio da mata.
Ao longo do beiradão impressiona ver o muito que está povoada a região. Os pequenos povoados são contínuos de um e outro
lado do rio.
Muitas várzeas estão plantadas com arroz. De fato, a base da comida é o arroz. Segundo nos informaram as plantações de arroz
se multiplicaram com a chegada dos israelitas. Farinha de mandioca se usa pouco. Nas plantações de arroz tinham muitas
pessoas trabalhando: homens, mulheres e crianças. Vendem o kilo de arroz com casca por 0,20 Soles (R$ 0,15).
8
20/11 Iquitos.
Às 4 h da madrugada chegamos em Iquitos. Ficamos dormindo no barco até amanhecer.
Ainda no barco alguns passageiros venderam seus produtos ao povo de Iquitos que pareciam aguardá-los: muitos peixes,
porco, jabuti, banana, carne de paca. Um movimento louco de mulheres e homens que, ao cheiro de peixe e porco, pelejam
para fazer suas compras.
Esperamos amanhecer, depois do banho e uma merendinha (carne de paca, pão, refrigerante peruano e banana) pegamos uma
moto-carro (moto com três rodas que pode levar até três passageiros. Iquitos está cheio!) e fomos até a praça de Armas onde
está a catedral. Rezamos por nós da equipe, por nossa famílias de sangue e de congregação, amigos e pelo povo de Deus.
Agradecemos muitíssimo pelas graças recebidas nessa viagem. Pelos bons contatos com muita gente do povo, pelos
missionários/as espalhadas pela imensa Amazônia.
20/11 CETA, Pe. Joaquin Garcia (Agostiniano)
Mais tarde fomos ao Centro de Estudios Teológicos da Amazônia (CETA), encontramos seu diretor Pe. Joaquin Garcia
Sánchez. Foi um encontro agradável, pois Fernando esteve com ele em 2001 e depois estivemos no mesmo encontro de
Teologia Índia, em Assunção, Paraguai em 2002. O Pe. Joaquin estava de viagem para participar do COMLA na Guatemala,
nos deu vários contatos e endereços de lugares que trabalham com povos indígenas, experiências bilíngües, pesquisas:
+ Pe. Joaquin Garcia. CETA, fone (094) 24-1487 telefax (094) 23-3190. E-mail [email protected]
www.ceta.org.pe Iquitos - Peru
+ AIDESEP Federação Indígena
+ Projeto Bilíngüe Intercultural (Ivan Marcos Coquinse, padre canadense) fonefax 263594.
+ CENCA: Centro de Capacitação Campesina. Nauta fone 411027Agostinianas fax 411012
+ Madre Angela, Margarida e Altagracia?
+ Ir. Rosa Vera/ Teresiana/ PEDIAN
+ Base de apoio em Iquitos do Vicariato San Jose del Amazonas. Sede dos Canadienses, Punchama. Ver ao ir. Pacífico ofm
(Canadense) e ao ir. Jorge ofm que é o Guardiam (peruano).
20/11 Punchama. Ir. Jorge ofm e Pe. Alejandro mg
Com a ajuda de Joaquim fomos até a base de apoio do vicariato de San José do Amazonas, no bairro Punchama. A estrutura
dos franciscanos ofm para apoiar o vicariato de San Jose, é grande. Neste local concentra-se todo o apoio logístico do vicariato.
Os missionários quando passam por Iquitos ficam aqui. A senhora da portaria nos disse: "Os padres e missionários não estão
aqui, eles andam pelos rios".
Fomos recebidos pelo ir. Jorge, peruano e custódio da comunidade. Nos atendeu muito bem e explicou um pouco da realidade
do vicariato. Ele nos animou a irmos falar com o Pe. Luis, administrador do vicariato de Indiana. Nos contou que a maioria dos
Israelitas é Quichua vindo dos Andes, são os maiores produtores de arroz na região. São também suspeitos de fazerem parte
dos grupos fortes de traficantes. "Quando morreu o seu líder, os Israelitas ficaram perdidos. Foram encontradas armas,
equipamentos sofisticados de comunicação com os líderes".
O irmão Jorge nos ensinou o caminho para chegarmos à Indiana e deu para a gente um mapa do Vicariato, xerocopiado pelo ir.
Pacífico, um idoso Canadense muito gentil e alegre.
Ainda na casa dos Franciscanos conhecemos o pe. Alejandro, um dos conselheiros responsável pelos Missionários de
Guadalupe. Ele foi muito amável e mostrou muito interesse pelo projeto da equipe na região. Ele nos pediu que passássemos
por Caballo Cocha para encontrar o Pe. Antonio Hdez. e 4 Irs. Franciscanas mexicanas para partilhar com eles o projeto. O Pe.
Alejandro visitará em dezembro/03 seus irmãos de Itacoatiara e gostaria de participar no encontro dos provinciais com um de
seus padres, para conhecer melhor e ver assim algumas possibilidades de articular-se com a equipe itinerante: "Parece ser
providência de Deus que nos encontrássemos por aqui", nos disse Alejandro.
Pe. Alejandro Gollaz Mares, MG (Misioneros de Guadalupe): [email protected] ou [email protected]
20-21/11 Indiana, Pe. Luis e Mazán, leigas missionárias.
Ao meio dia descemos de voadeira para Indiana. Foi uma hora de viagem e 10 S$ a passagem.
Indiana deve seu nome a que o filho de um dos fundadores esteve estudando em Indianápolis (EEUU).
Fomos recebidos pelo Ir. Jesus, mexicano, ofm. Mais tarde chegou o Pe. Luis, administrador. Uma grande parte dos
missionários são mexicanos. Isso é devido a que Dom Alberto também é mexicano. Os padres canadenses aos poucos foram
entregando a missão para outras congregações devido a nãao terem mais vocações. Umas irmãs canadenses Hospitalares de
São Jose estão fechando a casa em dezembro próximo, depois de 50 anos de trabalho e presença na região.
Indiana nasceu com a missão, assim como. O Posto de saúde, escolas, colégios, radio, etc. Muitas e grandes estruturas
vinculadas à igreja. Os canadenses foram entregando para o governo estas iniciativas.
Em Indiana, a estrutura da sede do vicariato é muito grande. Em Iquitos o vicariato tem também uma estrutura de apoio
(Punchana) para os missionários que vem do interior para seu apoio em recursos, gestões e trâmites administrativos. O bispo
atende três vezes por semana em Punchana. Está pensando transladar tudo para Indiana assim que tiver luz permanente.
9
Com o Ir. Jesus e o Pe. Luis nos reunimos durante umas duas horas e pouco. Todos nos apresentamos. Colocamos a proposta
da Equipe Itierante. Tanto o irmão quanto o padre se alegravam com a proposta: "Eu já me vou com essa equipe. Essa missão é
necessária", dizia repetidas vezes o irmão e convidava o padre, e ríamos.
Alguns dados do Vicariato de San José del Amazonas (para mais dados ver "Plan Pastoral del Vicariato San José del
Amazonas):
- Fronteiras: Equador, Colômbia e Brasil.
- Extensión: 155 mil K2.
- Rios principais: Amazonas, Napo, Putumayo e Javari. Extensão: 3.154,14 Km.
- População: 110.000 habitantes. Indígenas 15 mil. Ribeirinhos a grande maioria; alguns deles se reconhecem descendentes dos
indígenas; muitos negam suas origens indígenas.
- Missionários/as: 12 padres (5 diocesanos), 11 religiosos, 30 religiosas, 13 leigos/as missionários.
Segundo o Pe. Luis, Dom Alberto está preocupado com a fronteira com Colômbia porque estão entrando muitos guerrilheiros
das FARC para o lado peruano buscando refúgio e tranqüilidade. Também tem como preocupação pastoral à fronteira com
Brasil, Islandia e o rio Javari onde não tem nenhum posto de missão.
Participamos da celebração eucarística na igreja de Indiana. O padre nos apresentou e agradeceu a Deus pela nossa presença,
visita e proposta de missão. Os fiéis nos acolheram com muito carinho.
Demos uma volta na cidade e conhecemos o Centro Ocupacional que oferece cursos de marcenaria, carpintaria, corte e costura,
soldadura. Tem sempre muitos alunos, mas muitos desistem, nos disse uma monitora.
A polícia estava nas ruas, segundo Nei que nos acompanhava, há suspeitais de que existem alguns traficantes no lugar e é
preciso estar de sobreavisos.
21/11 Mazán.
No dia seguinte pela manhã ainda andamos pelas ruas e uma coisa simples e educativa: nos jardins públicos sempre tinham
placas instruindo a população para que cuidasse das plantas, das flores e dos jardins com carinho e respeito.
Com o padre passamos nas casas de algumas pessoas que sempre tinham palavras de carinho para nos acolher e brincavam de
falar algumas palavras em português.
De moto-taxi fomos a Mazán, distrito próximo a Indiana, à beira da foz do Rio Mazán com o Rio Napo. Muito movimentado
pela chegada e saída de barcos da fronteira com o Equador e dos pequenos vilarejos. Venda de peixes, animais e frutas...
Mazán tem muito mais movimento comercial que Indiana. Também os problemas são maiores: alcoolismo, drogas,
prostituição, etc. Tem escola primária e secundária, posto de saúde e clínica odontológica.
Foi muito interessante conhecermos duas leigas polacas e uma jovem, peruana, que as conheceu e pediu para fazer uma
experiência de vida missionária com elas. No momento estão morando numa casinha bem simples de palha, tábua e piso de
barro, cedida por uma família. Mas o vicariato conseguiu ajuda com a igreja dos Estados Unidos e por isso deve aceitar
também o modelo de construção desenhada pelos doadores, fazendo, portanto construções muitíssimas diferentes das demais
do lugar (alvenaria, estruturas superfortes junto às casinhas de palhas).
Dominique, a polaca que está há mais de 20 anos é uma mulher bem extrovertida, conhece todas as pessoas. Pelas ruas e bares
todos a chamam pelo nome. É linda a relação delas com as pessoas.
Conhecemos muitos catequistas que estavam chegando para um encontro entre as diferentes comunidades. Outras mandavam
avisar que não poderiam estar nesse encontro devido uma partida de futebol feminino.
Conhecemos um professor indígena do povo Yaguas. Ele nos disse que estão pelejando na educação bilíngüe. Que é difícil,
porém estão enfrentando. Estão também recuperando os valores e costumes de sua tradição cultural. Muitos indígenas, como
no Brasil, têm vergonha de identificarem-se como nativos.
O porto de Mazán é uma das vias de passagem dos produtos dos narcotraficantes. De Indiana até Mazán o maior meio de
transporte são os moto-taxi, que voam numa pista de cimento estreita, deve medir um metro e meio de largura, que vai pelo
meio da mata. Também há muitas motos, pedestres puxando carroças com pedaços enormes de madeira. Eles se afastam para o
cerrado para dar passagem às motos. Por ser mão dupla e estreita demais muitos acidentes acontecem.
As leigas ficaram super interessadas na proposta da equipe. O padre Luis pediu que contássemos o projeto a elas e assim o
fizemos em resumo. Se der, o padre e elas irão, em fevereiro de 2004, a Manaus e ficariam alguns dias com a nossa
comunidade para nos conhecermos melhor. As missionárias nos convidaram para um gostoso almoço de carne de paca (maha
ou majá) desfiada, arroz e banana frita com lima-limón e coca-cola...
O encontro com as leigas missionárias foi, para nós, uma confirmação bem forte dessa igreja nova e da presença desse Deus
nela, que cuida de cada uma de suas criaturas com muito carinho. Saímos reanimad@s na vocação e missão.
O endereço eletrônica das leigas missionárias de Mazán:
Dominique: [email protected]
Dorota: [email protected]
Yai: [email protected]
Retornamos a Indiana para nos despedir e pegar nossas bagagens. Deixamos um projeto da equipe e uma carta escrita para
Dom Alberto.
10
Pe. Luis, Vera e Nei nos acompanharam até a voadeira na qual regressamos até Iquitos. No porto de Iquitos, em Samuso,
ficamos e deixamos no barco La Gran Lauretana nossas bagagens. Logo visitamos novamente o CETA e compramos alguns
livros referentes à história das missões antigas do tempo dos jesuitas nesta região da Amazônia, peruana.
Às 20:30h saiu à lancha "La Gran Lauretana" rumo à fronteira. Na descida novamente fomos contemplando todas aquelas
comunidades e gente. Novamente nos impressionou a quantidade de povoados que existem na região e a quantidade de rostos
indígenas entre sua gente... Porém muitos não se reconhecem como tais.
22/11 Alto Monte. Junto com Novo Pevas, Alto Monte é o centro espiritual dos Israelitas. Quando passamos por essa
comunidade, no dia de sábado e pelas 18h. Os Israelitas estavam fazendo um holocausto. Todos vestidos de israelitas com
vivas cores. Dois sacerdotes atendiam o fogo do holocausto. Realmente impressiona, parece que estamos assistindo a um filme
do Antigo Testamento.
Segundo nos contou o irmão Jorge ofm, nas eleições passadas, os israelitas ganharam vários municípios. Um deles tinha sido
Pevas e por isso os políticos de lá se reuniram e fizeram uma coalizão de partidos para derrotar os Israelitas que estavam no
poder e retomar a administração da prefeitura. O povo de Pevas não queria ser governado por pessoas de fora (os Israelitas são
das regiões de serras e falam quichua). Depois os israelitas ganharam a prefeitura de Caballo Cocha e até agora estão à frente
da administração. Também parece que estão governando em Islandia (perto de Benjamim Constant).
23/11
Caballo Cocha
Chegamos às 0:45h. Ficamos a dormir na porta da igreja até o amanhecer. Vários bêbados passavam e ficavam olhando-nos.
Tinha muitos carapanãs...
De manhã fomos junto ao Pe. Antonio mg. Ele já estava sabendo de nossa visita; o Pe. Alejandro tinha ligado para ele. Antonio
é um grande missionário. É o primeiro Missionário de Guadalupe que vem para o Vicariato de San José del Amazonas. Ele nos
acolheu muito bem.
De manha participamos da eucaristia. Muitos rostos indígenas, porém, praticamente ninguém se assume. No coro da igreja são
tocados instrumentos andinos: charango, samponha e quena.
Na praça comemos cebiche com um tipo de milho graúdo que acompanha o prato (cancha).
Antonio é conhecido por todos. O povo lhe chama carinhosamente pelo nome de "padresito".
Também participamos do desfile cívico-militar por volta da praça central. Segundo o pe. Antonio, essa atividade acontece
todos os domingos! As escolas, a prefeitura, a polícia e os militares, junto com todas suas autoridades, participam do evento.
Reforço muito grande do nacionalismo! Entre os alunos da escola as que são israelitas vão com véu; os homens com cabelo
comprido. Por isso, segundo nos contaram, são discriminados pelos outros alunos.
Antonio nos contou: "Os Israelitas conseguiram se organizar e venceram as eleições em Caballo Cocho. Estão administrando
melhor que os anteriores. São mais honestos e transparentes. Chamaram os moradores da cidade e das vilas do interior para
tomarem conhecimento do orçamento e apresentarem suas necessidades e prioridades. Eu sou amigo deles. Vou as suas
cerimônias religiosas. Eles deram-me o tempo que eu quiser na rádio deles e também na televisão; faço os programas do jeito
que eu quiser".
Há um caminho que vai de Caballo Cocha até o rio Javari, facilitando a vida da população.
A limpeza da cidade é logo percebida e está cheia de cartazes: cidade limpa, cidade sadia. A prefeitura criou um sistema de
limpeza urbana onde contratam, por rodízio, por um período de três meses, pessoas diferentes para esse serviço. Desse modo
muita gente tem a oportunidade de ganhar um salário. É uma forma de ganharem até os contrários que infelizmente precisam
dessa migalha.
Fomos a Cuchillo Cocha, território dos tikuna (2 mil!). Um lugar alto de frente para um grande e bonito lago. Conversamos
com um professor tickuna que nos disse que eles têm escolas primárias e secundárias. Trabalham na língua materna e espanhol.
Agora estão duas leigas estudando a língua Ticuna nessa comunidade (são evangélicas colombianas e vinculadas, parece, ao
SIL)
Mais tarde fomos almoçar com Antonio num lugar de seus conhecidos. Ali conhecemos às colombianas que estão estudando a
língua ticuna. Elas nos diziam o quanto é difícil e que muitos estudiosos desistiram logo. Elas estão super animadas e passarão
a morar na comunidade por um tempo mais longo. Conhecemos ali também um peruano que é professor na universidade de
Caballo Cocha. Ele nos contou que são oferecidos os cursos de química e formação pedagógica, bilingüismo...
Alguns catequistas jovens reuniram-se com padre Antonio que lhe dá orientações voltadas para um trabalho missionário.
Investe na formação de pessoas filhas da região, para formar uma equipe missionária que ajude e acompanhe as comunidades
do interior. Por outro lado, Antonio quer um barco grande para acompanhar as comunidades, mesmo reconhecendo o elevado
custo que significa mantê-lo. O padre disse que as irmãs (Franciscanas de Jesus Crucificado) só querem ficar na cidade, “elas
só de pensar em viajar para o interior já ficam doentes”. Deu para perceber que a relação entre o padre e as irmãs não é muito
boa.
À noite fomos à casa das irmãs Franciscanas de Jesus Crucificado (mexicanas), com elas mora uma leiga polaca e uma
postulante de Indiana. Alegres, acolhedoras. Elas contaram que o padre Antonio não gosta de ir a casa delas. Com elas
jantamos e após a missa apresentamos a proposta da Equipe, junto estavam alguns jovens e o padre Antonio. Gostaram do que
viram e nos disseram que é possível que num futuro próximo possam elas somar com a gente. Mas a ir. Marta e Glória diziam:
“É preciso gente com vocação especial para essa missão. Gente que tenha boa saúde para comer todo tipo de comida dos
indígenas...”
11
Tarde da noite fomos para a casa de pe. Antonio. Ele pediu a alguém que nos avisasse quando a lancha estivesse chegando. As
três da manhã nos chamaram, Antonio nos acompanhou até o porto, mas houve um engano, a lancha estava subindo para
Iquitos. Já ficamos esperando lá mesmo, enquanto Antonio foi para a sua casa. Para a nossa surpresa ele voltou, lá pelas quase
cinco horas, trazendo um cafezinho quente. Amanhecemos esperando e nada. As irmãs descobriram que não havíamos viajado
e Margarida foi nos chamar para tomarmos café com elas. Foi muito agradável esse momento, pois além de boas conversas, a
ir. Marta nos preparou deliciosos sanduíches.
Na praça conversamos com a sra. Robertina, tikuna nascida no Brasil, mas que mora desde pequena em Cuchillo Coche, Peru.
“Minha mãe é Mercedes, ela mora em São Leopoldo (próximo ao igarapé do Capacete onde em março de 88 houve o
massacre de muitos tikunas). Meu marido também nasceu no Brasil. Ele tem documento do Brasil e do Peru e já está
recebendo sua aposentadoria. Eu estou tirando meu documento do lado do Brasil... aqui no Peru não tem aposentadoria...
Tem muitos tikuna que são professores, muitos estão fazendo faculdade aqui em Caballo Coche".
Segundo a ir. Glória a população urbana de Caballo Coche é de aproximadamente 6000 habitantes.
Os produtores chegam cedo da manhã e na beira do rio vendem seus produtos: muita banana, galinhas, peixes. O movimento
de canoinhas, canoas com motor peque-peque é muito grande.
Às 3h. da madrugada fomos para o porto a esperar a lancha para Santa Rosa. Por fim, no final da manhã (10h.) deixamos
Caballo Cocha na lancha Lucho. Igual que nas outras lanchas peruanas Lucho era uma chata adaptada. A comida é um prato
feito servido na rede a cada um. Muito arroz, algo de feijão, banana verde cozida e um pedacinho de carne.
Por fim chegamos a Santa Rosa às 16:00h. Ficamos um bom tempo na lancha sem poder sair esperando a fiscalização. No
Peru, em todos os locais de fiscalização sempre esperam para entrar a que estejam juntos: polícia marinha, alfândega e os
agentes antinarcóticos. Dois anos atrás, quando passei (Fernando) por aqui na ida e na volta do encontro dos jesuitas que
trabalham com indígenas no Cuzco, não teve tantos controles e fiscalização.
Depois de revisar nossas bagagens nos encaminharam para o escritório da policia e depois nos encaminharam para migrações,
onde estava a sra Liliana Torres López e seu marido (policial) sr. Manuel Aguilar Mendonza (amigos do Pe. Joaquin Garcia do
CETA). Depois de carimbar nossos passaportes passamos para o Brasil.
Em Tabatinga deixamos na casa do bispo nossas bagagens e fomos carimbar a entrada em nossos passaportes na Policia
Federal.
Na polícia Federal tinha um colombiano querendo visto para entrar oficialmente no Brasil. Porém, descobriram que ele teve
problemas sérios e foi condenado a quatro anos de prisão e que estava proibido de regressar o Brasil.
À noite partilhamos nossa visita ao Peru com D. Alcimar, Marcy, Gleice. O D. Alcimar também conhecia a realidade peruana e
dizia: "Os peruanos e colombianos não gostam do Brasil. Entram e saem e o controle brasileiro é bonzinho com eles, mas
quando a gente vai lá, é muito controlado. Chegamos num dia de uma cerimônia peruana, nos apresentamos... mas pensa que
eles fizeram alguma referência a nós brasileiros que estávamos lá? Nada”!
Dia 25/11
O dia amanheceu lindo, Tupana havia preparado tudo muito bem e oferecido ao aniversariante do dia (Fernando). Unida a
tantas pessoas que amam o companheiro agradeci a Deus por ele e como Maria, que guardava tudo em seu coração, passei boa
parte do dia em silêncio, sem falar para ninguém da casa, para não festejarem o aniversário do padre, assim como não
festejaram o do Nilson, que mora na casa.
Fomos andar pelo lado da beirada do rio desde Tabatinga até Letícia. Na parte baixa que fica detrás da casa do bispo moram
muitos brasileiros e peruanos, dentre eles estão os povos tikuna e kokama. Falamos com alguns deles, perguntamos pela
possibilidade de alugar alguma palafita ou algum flutuante e todos diziam com alegria que era possível.
Durante o período de seca, as famílias da área aproveitam bem a várzea e plantam milho, cana, feijão e outras coisinhas. Os
técnicos do IDAM, por meio da Diocese, dão assistência a esses trabalhadores.
À tarde fomos até a casa de D. Jesus para partilhar sobre nossa ida ao Peru, porém ele estava na Guatemala participando do
COMLA. Encontramos duas irmãs Lauritas e um padre diocesano que haviam chegado de uma missão de nove dias pelos
rios... Pareciam cansados, mas bem humorad@s. O secretário do bispo nos ofereceu um refrigerante e alguns livros didáticos.
Deixamos material da teologia Índia para o Pe. César Huitoto.
Fernando amanheceu com uma alergia que foi piorando durante o dia (manchas vermelhas pelo corpo). Ele pensa que foi
alguma picada de inseto. De fato, depois encontrou a picada na coxa.
Depois fomos para a casa dos irmãos Maristas. Quando o irmão Nirvo chegou, o irmão Vernes pediu-lhe que levasse o
Fernando até o pronto socorro dos militares. Ali o médico diagnosticou alergia por picada de inseto (por ser localizada a
irritação). Mandou aplicar injeção e tomar durante três dias um antialérgico.
Enquanto eles foram contei para o irmão que Fernando estava de aniversário... O irmão imediatamente providenciou uma pizza
e sua auxiliar a preparou rapidamente e bem gostosa. Quando chegaram rezamos e cantamos os parabéns agradecendo ao
Criador pela existência de Fernando entre nós. No ano passado, o dia 25/11 fomos a celebração eucarística na igreja de
Benjamin e depois cantamos os parabéns na casa dos Maristas da referida cidade. O que Deus nos fala nessa coincidência? Se
pensarmos bem foi toda uma caminhada desde Atalaia do Norte onde estivemos bem unidos aos Maristas até a possível
participação efetiva na equipe.
O ir. Vernes comentou com alegria que o provincial propus ao ir. Neori formar parte da Equipe.
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Depois voltamos ao Pronto Socorro para o médico avaliar a situação de Fernando após o uso do medicamento que causou
sonolência, mal estar, cefaléia.
A noite não foi muito boa para o curuminzinho.
No dia seguinte na hora do café todos na casa do bispo estavam preocupados com a saúde de Fernando, mas graças a Deus
estava aparentemente melhor.
Mais tarde chegou um grupo de tikuna e d. Alcimar lhes ofereceu café. Tiveram uma boa conversa. O líder é um escultor e
disse:
"Somos da comunidade Cidade Nova e estamos divididos, nessa hora é o D. Alcimar que dá orientação para a comunidade
voltar a se organizar e caminhar unida. Queremos comprar umas máquinas para fabricar móveis, artesanatos. D. Alcimar
retomou a palavra e disse-lhes que o estado está financiando um tipo de motor que serve para fazer quatro atividades, é mais
econômica dizia ele".
Porém foi bonito ouvir a reação do líder: “Mas é melhor uma máquina para cada coisa... (se quebrar uma, tem outras para
funcionar. Por outro lado, manter os gastos de quatro máquinas fica muito mais difícil.”
Esse tikuna viu o material sobre 500 anos feito pelos tikuna próximo de Benjamim e traduziu a primeira parte: "Esses soldados
são valentes como o jacaré com fome".
D. Alcimar dizia: "Não adianta produzir se não tiver quem compre".
O Agente de saúde tikuna dizia: "Tem muitas comunidades que conseguiram máquinas e hoje estão todas jogadas, mas não
deixam ninguém pegar".
Voltamos na área de palafitas que fica na divisa entre tabatinga e Letícia, no beiradão, e encontramos uma sra. com seus três
filhos que carregavam lenha. Conversamos com ela sobre a vida e ela disse:
"Eu morava no interior e agora minha sogra deu para nós um pedacinho de terra e fizemos nossa casa palafita. As crianças
estão sem escola, mas no próximo ano vão estudar. Aqui tem muitas casas para alugar. Aqui é muito bom, tem até água da
rua..."
Fomos ao barco pendurar nossas redes e na volta passamos para encontrar o irmão Neori (futuro membro da Equipe nesta
região de fronteira), mas ele não havia chegado. Debaixo de chuva pegamos moto táxi e regressamos para casa.
Entregamos a cópia do projeto e um livro da teologia Índia para o Dom Alcimar. Ele leu nossos escritos e nos agradeceu e bem
a vontade nos disse: "Pois é, nós precisamos fazer atividades planejadas, ainda que sejam poucas. Se vocês vierem mesmo,
poderiam assumir mais a área do Vale do Javari, lá é onde temos menos presença e eles têm feito o pedido".
Aproveitamos, comentamos e reforçamos o pedido feito pelo CIVAJA (Clovis Marubo) para a área da educação escolar e
formação, também na sustentabilidade.
Sentimos um desejo verdadeiro e amigo de muita confiança por parte de Dom Alcimar.
Conhecemos a sra. Terezinha, funcionária da diocese que cuida mais da parte da computação. Com ela, depois da permissão do
Dom conseguimos um cd com muitas informações da diocese.
No almoço nos despedimos. Os funcionários da diocese, depois que o Fernando participou do mutirão para construir a casa de
um deles, todos demonstravam um grande carinho e aproximação.
D. Alcimar: "Obrigado pela companhia. Vocês sabem que nossa casa está aberta para quando vierem. Façam uma boa
viagem, o Roque (motorista) vai deixar vocês".
No barco, o irmão Nirvo foi deixar o irmão Neri para irmos conversando sobre a equipe itinerante. Foi uma surpresa super
agradável. Neori nos pareceu contente e já é uma bênção a sua vinda, pois ele conhece a área do Solimões, sobretudo algumas
comunidades ribeirinhas. No momento está engajado, em Benjamim, com um trabalho sobre a ecologia "Amigos da Natureza".
O barco Oliveira deixou Tabatinga às 15:30 e às 16:00 chegou a Benjamim Constant. Tinha muitos estrangeiros viajando:
Peruanos, Colombianos, Canadense, Franceses, espanhóis. Fora três pretos que não tinham o visto de entrada e ficaram para
providenciar.
Em Benjamim encontramos a coordenação do CGTT e AMIT, ficaram alegres ao nos verem e nos apresentaram para o tuxaua
tikuna colombiano que estava na cidade com uma comitiva de quase quarenta tikuna. Uns trinta alunos conhecendo outros
parentes.
Nino ficou contente ao ouvir-nos contar sobre a visita que fizemos aos tikuna do Peru. "Eu não disse que vocês iam gostar? Lá
eles estão melhor que nós".
Com o irmão Ary fomos até o centro de Formação Champelling", encontrar os agentes de saúde indígena do Vale do Javari,
mas devido a forte chuva eles não haviam aparecido.
Na rua encontramos com três dos agentes. Foi tão gratificante ouvir nossos nomes pronunciados por eles (comunidade de São
Sebastião). Deram-nos notícias dos demais, morreram quatro pessoas de hepatite "d" só de uma comunidade. O que fazer?
perguntava o César, preocupado com a difícil situação. Dissemos-lhes para aproveitarem o curso onde estavam muitas
lideranças e exigirem que a FUNASA vá para área para descobrir o foco dos transmissores e assim tomar as providências com
a ajuda dos próprios índios que conhecem as pessoas afetadas.
Fazíamos uma boa viagem até que chegou no posto de fiscalização de Polícia Federal. Muitos agentes todos armados e dava
medo. Mexeram e remexeram nossas bolsas.
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Muitos dos que falavam espanhol estavam um tanto nervosos. Um sr. todo desconfiado... Na bolsa de uma loura começaram a
encontrar cocaína que estava dividida em toda sua bagagem, que eram muitas bolsas, ela e ele foram algemados. Cena muito
triste, porém necessária. Afinal, quantos jovens não estariam sendo escravos daquela quantidade de drogas? O barco ficou
parado por um longo tempo.
Pela manhã passamos por São Paulo de Olivença. Muitos tikuna vendendo banana, pupunha, melancia, abacaxi.
Mais tarde paramos em Amaturá, também lá tinha muitas vendas de frutas e embarcaram passageiros e cargas.
Embarcou o sr. Antonio de Oliveira, que nos reconheceu do encontro da diocese. Nos cumprimentamos e ele passou a nos
contar muitas coisas:
"A diocese não tem uma proposta de missão. Esse jeito da Equipe Itinerante vem para contribuir numa área que é muito
precária da região, a formação. Eu fiz um curso de liturgia em São Paulo com as irmãs de Assunção, por conta própria.
Agora veio a proposta da segunda etapa, mas respondi (mostrou o fax de convite e de sua resposta) dizendo que não era
possível devido ao custo. Minha mulher é do movimento carismático, estamos indo à Tefé participar de um encontro, sabemos
que é um movimento que deve se engajar melhor".
Seu Antonio conhecia bastante o movimento da Cruz: “O irmão José nasceu em Minas Gerais. Ele queria ser padre, como
não conseguiu inventou um jeito próprio de orientar o povo. Andava sempre de batina branca, bem limpinha e com uma cruz
no peito. Era um místico, sabia cativar o povo que tem uma recepção acolhedora. Aonde ele chegava organizava o pessoal e
erguia uma Cruz e depois construía uma igreja. O problema é que ele obrigava os tikuna a deixar seus rituais. Mas ele
conseguiu entrar na região com muita força. Quando ele morreu os adeptos ficaram esperando a sua ressurreição, como ele
não ressuscitou, no quarto dia o enterraram. Mas tem muita gente do movimento que diz ter visto o irmão José subir entre as
nuvens. Depois de sua morte eles se dividiram. Uma das lideranças se aproveita e ganha dinheiro dos políticos. Agora tem um
peruano que diz ser a reencarnação do irmão José.”
No meio da tarde paramos em Santo Antonio do Içá, Frei Celso Caldas vive aí. Muitos passageiros ficaram e novos
embarcaram. Outras frutas à venda: tucumã, pupunhas cozidas, mapati, abiu, ingá.
Mais uma vez o barco parou para ser fiscalizado. Dessa vez era a Marinha fiscalizando as condições do barco isto é, vendo a
questão de segurança como salva-vidas, extintor de fogo...
No final da tarde paramos em Tonantins, cidade que tem uma escada enorme para subir do porto. É onde os noviços-sj, do
primeiro ano, fazem seu estágio. Dessa vez não deu para ir ao encontro dos companheiros e companheiras de caminhada (pe.
Elias e irs. da Divina providência).
Algumas outras observações:
• As três igrejas de Fronteiras (Brasil, Colômbia e Peru) acolheram, muito positivamente, a proposta da Equipe Itinerante.
• Na Diocese do Alto Solimões tanto os Irmãos Maristas quanto os Capuchinhos demonstraram interesse e querem participar
da Equipe. Os Maristas liberaram o irmão Neori para fazer parte efetivamente da Equipe, nessa região de fronteira.
• No vicariato de San José do Amazonas, Peru, os Missionários de Guadalupe, querem conhecer a Equipe e ver a possibilidade
de participar dele. Também as missionárias leigas polonesas querem conhecer mais a proposta para ver como poder
participar dela.
• No Vicariato do amazonas, Colômbia, não deu para visitar o interior.
• Os contatos feitos nesta viagem foram importantes para conhecer as diferentes realidades, necessidades e apresentar a
proposta da equipe.
• A área do Javari é onde a igreja tanto do Brasil quanto a do Peru, tem menos presença.
• A área de fronteira entre a Colômbia e o Peru, rio Putumayo, é muito conflitava (narcotráfico e guerrilha) e ambas igrejas
sentem necessidade de ter uma maior presença.
• Nessa região de fronteira o narcotráfico, guerrilha e todo o tipo de contrabando são problemas muito profundos que
envolvem, direta ou indiretamente, toda a população.
• São constantes as apreensões de drogas e narcotraficantes. O clima é de muita tensão com o controle e revistas de policiais
militares, marinha e federal. Nestes últimos dois anos a vigilância da região, tem crescido muito nos três países.
• São comuns as execuções por queima-de-arquivo.
• Do lado de Letícia as pessoas são demais desconfiadas, devido o contexto em que vivem.
• Do pouco que vimos dá para dizer que essa fronteira é uma região de muita fartura de pesca, caça, frutas, cereais, criações.
• São muitas as diferentes igrejas presentes.
• É bastante numerosa a população indígena entre os três países.
Voltamos seguras de que a região está aberta a nos acolher e mais que isso, nos sentimos desafiados a contribuir, ainda que
seja pouco com as igrejas e organizações.
Ver Mapas em apêndice.
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