Diretoria do Biênio 2011/2012 - Sociedade Brasileira de Nefrologia
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Diretoria do Biênio 2011/2012 - Sociedade Brasileira de Nefrologia
Sociedade Brasileira de Nefrologia Diretoria do Biênio 2011/2012 Presidente: Daniel Rinaldi dos Santos Vice-Presidente: Roberto Flávio Silva Pécoits-Filho Secretário Geral: Rodrigo Bueno de Oliveira 1o Secretário: Lúcio Roberto Requião Moura Tesoureira: Maria Almerinda Vieira Fernandes Ribeiro Alves 000.indd 3 SBN Conselho Fiscal Departamento de Fisiologia e Fisiopatologia Renal Presidente: Nestor Schor Titular: Valter Duro Garcia Titular: João Cezar Mendes Moreira Suplente: Maria Ermecilia Almeida Melo Suplente: Cibele Isaac Saad Rodrigues Suplente: João Milton Martins Oliveira Penido Coordenador: Niels Olsen Saraiva Câmara Suplente: Claudia Maria de Barros Helou Roberto Zatz Antonio Carlos Seguro Mirian Aparecida Boim Eliza Mieko Suemitsu Higa Valério Ladeira Rodrigues Departamento de Defesa Profissional Departamento de Hipertensão Arterial Coordenador: Alan Castro Azevedo e Silva Suplente: Ruy Antonio Barata Altair Oliveira Lima Antonio Américo Alves Ana Maria Misael Andréa Olivares Magalhães Coordenadora: Cibele Isaac Saad Rodrigues Suplente: Sebastião Rodrigues Ferreira Filho Pedro Jabur Carlos Eduardo Poli Figueiredo Rogério Mulinari Maria Eliete Pinheiro Fernando Antonio de Almeida Departamento de Diálise Departamento de Epidemiologia e Prevenção de Doença Renal Coordenadora: Patrícia Ferreira Abreu Suplente: Mauricio Younes Ibrahim Ronaldo D’Avila Ronaldo Roberto Bérgamo Pasqual Barretti Fernando Saldanha Thomé Sônia Maria Holanda A. Araújo Coordenadora: Gianna Mastroianni Kirsztajn Suplente: Rachel Bregman Marcus Gomes Bastos Edison Souza Sérgio Wyton Lima Pinto Marcus Vinicius de Pádua Netto Paulo Roberto Abreu da Silva Departamento de Transplante Departamento de Nefrologia Clínica Coordenador: José Medina Pestana Suplente: Roberto Ceratti Manfro Luiz Estevam Ianhez Irene de Lourdes Noronha Abrahão Salomão Filho Eduardo Rocha Maria Cristina Ribeiro de Castro Coordenador: Márcio Dantas Suplente: Rui Toledo Barros Ita Pfeferman Heilberg Jenner Cruz Yvoty Alves Santos Sens José Hermogenes Rocco Suassuna Elizabeth De Francesco Daher Departamento de Ensino Reciclagem e Titulação Departamento de Nefrologia Pediátrica Coordenador: Pedro A. Gordan Suplente: Luis Yu Hugo Abensur João Egidio Romão Junior Emmanuel de Almeida Burdmann Jocemir Ronaldo Lugon Elvino Barros Coordenadora: Vera Hermina Kalika Koch Suplente: Anelise Del Vecchio Gessullo Maria Goretti Moreira G. Penido Alberto Zagury Rejane de Paula Menezes Maria Cristina de Andrade Marcelo de Sousa Tavares 25/04/11 12:56 000.indd 4 25/04/11 12:56 C omitê dos Distúrbios do Metabolismo Ósseo e M ineral na D oença R enal C rônica Coordernador:Rodrigo Bueno de Oliveira Membros: José Edevanilson Barros Gueiros Aluizio Barbosa de Carvalho Elisa de Albuquerque Sampaio Rosa Maria Affonso Moysés Vanda Jorgetti Carolina Lara Neves Declaração de Conflitos de Interesse Aluizio Barbosa de Carvalho – Consultor/Palestrante das seguintes empresas: Genzyme, Abbott, Mantecorp. Lillian Andrade da Rocha – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Abbott. Ana Paula Santana Gueiros – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Abbott, Genzyme. Maria Eugênia Fernandes Canziani – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Genzyme, Abbott, Roche. Carolina Lara Neves – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Abbott. Maria de Fátima Câmera Gesteira – sem potenciais conflitos de interesse. Cristina Karohl – sem potenciais conflitos de interesse. Maria de Fátima Santos Bandeira – sem potenciais conflitos de interesse. Eleonora Moreira Lima – sem potenciais conflitos de interesse. Elisa de Albuquerque Sampaio – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Abbott. Fabiana Rodrigues Hernandes – sem potenciais conflitos de interesse. v.indd 5 Melani Ribeiro Custodio – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Mantecorp, Abbott. Rodrigo Bueno de Oliveira – Consultor/Palestrante das seguintes empresas: Covidien. Fellype de Carvalho Barreto – sem potenciais conflitos de interesse. Rosa Maria Affonso Moysés – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Abbott, Genzyme, Mantecorp, Fresenius, Amgen. José Edevanilson Barros Gueiros – Consultor/Palestrante das seguintes empresas: Abbott, Genzyme. Rosélia Ribeiro dos Santos Lobão – sem potenciais conflitos de interesse. Leandro Junior Lucca – Consultor/Palestrante das seguintes empresas: Abbott, Amgen. Sônia Maria Holanda Almeida Araújo – sem potenciais conflitos de interesse. Lilian Cuppari – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Genzyme. Vanda Jorgetti – Consultora/Palestrante das seguintes empresas: Mantecorp, Genzyme, Abbott. 25/04/11 12:58 JBN - Jornal Brasileiro de Nefrologia O Jornal Brasileiro de Nefrologia tem como missão publicar artigos científicos clínicos e experimentais relativos a temas nefrológicos. Brazilian Journal of Nephrology has as principle to publish scientific articles resulting of clinical and experimental researches related to nephrologic themes. Rua Machado Bittencourt, 205 - Cj 53 - Vila Clementino 04044-000 - São Paulo, SP Tel.: (11) 5579-1242 - Fax: (11) 5573-6000 E-mail: [email protected] Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica é um suplemento sem indexação do Jornal Brasileiro de Nefrologia O Jornal Brasileiro de Nefrologia recebe apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenlvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo Programa de Apoio a Publicações Científicas e é associado à ABEC. EM 5016 O Jornal Brasileiro de Nefrologia é indexado nas bases de dados MEDLINE/PubMed, LILACS e SciELO. Editada por: Sociedade Brasileira de Nefrologia. Publicada por: Elsevier Editora Ltda. ©2011 Elsevier Editora Ltda. RJ: Tel.:21 3970-9358 • Fax: 21 2507-4566 SP: Tel.: 11 5105-8555 • Fax: 11 5505-8908 Website: www.elsevier.com.br A Elsevier não assume nenhuma responsabilidade por qualquer injúria e/ou danos a pessoas ou bens como questões de responsabilidade civil do fabricante do produto, de negligência ou de outros motivos, ou por qualquer uso ou exploração de métodos, produtos, instruções ou ideias contidas no material incluso. Devido ao rápido avanço no campo das ciências médicas, em especial, uma verificação independente dos diagnósticos e dosagens de drogas deve ser realizada. Embora todo o material de publicidade deva estar em conformidade com os padrões éticos (médicos), a inclusão nesta publicação não constitui uma garantia ou endosso da qualidade ou valor de tal produto ou das alegações feitas pelo seu fabricante. Esta publicação foi distribuída com o apoio institucional de Abbott Laboratórios do Brasil. Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/98. Nenhuma parte dessa publicação poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito da Elsevier Editora Ltda., sejam quais forem os meios empregados: eletrônico, mecânico, fotográfico, gravação ou quaisquer outros. Material de distribuição exclusiva à classe médica. Editoração: Infinitus Aurum - Roberto Gomes 000.indd 6 26/04/11 14:09 Jornal Brasileiro de Nefrologia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Nefrologia Offical Organ of Brazilian Society of Nephrology Publicação Trimestral (Quarterly Edition) SBN Editor Chefe (Editor) Ex-Editores (Ex Editor) Coeditores (Coeditors) Prof. Marcus Gomes Bastos Prof. Dr. José Augusto Barbosa de Aguiar (in memorian) Prof. Dr. César Costa Prof. Dr. Emil Sabbaga Prof. Dr. José Francisco Figueiredo Prof. Dr. Horácio Ajzen Prof. Dr. Décio Mion Jr. Prof. Dr. João Egídio Romão Junior Prof. Dr. Jocemir Ronaldo Lugon Gianna M. Kirsztajn UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil Paulo Novis Rocha UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil UFBA, Salvador, BA, Brasil UFF, Niterói, RJ, Brasil USP, São Paulo, SP, Brasil Jorge Paulo Strogoff de Matos Rui Toledo Seção (Editores de Seção) (Section Editors) Doença Renal Crônica Maria Eugênia Fernandes Canziani Natalino Salgado Filho UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil UFMA, São Luís, MA, Brasil Doença renal diabética e doença renal na obesidade e síndrome metabólica Maurilo Nazaré Leite Jr. UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Epidemiologia Ricardo Sesso UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Glomerulopatias e Doença túbulo-intersticial Domingos O. L. D’Ávila UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Jocemir Ronaldo Lugon UFF, Niterói, RJ, Brasil Emmanuel de A. Burdmann UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil FAMERP, São José do Rio Preto, SP, Brasil Nefrologia da criança e do Maria Goretti M. Penido Vera Hermina K. Koch adolescente UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil Instituto da Criança, São Paulo, SP, Brasil Nefrologia experimental Antônio Carlos Seguro Niels Olsen Saraiva Câmara Perspectivas em Nefrologia Vicente de Paulo Castro Teixeira Elizabeth de Francesco Daher USP, São Paulo, SP, Brasil UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil PUC, Porto Alegre, RS, Brasil H ipertensão arterial Sebastião Rodrigues Ferreira Filho UFU, Uberlândia, MG, Brasil Comissão Editorial Patrícia Abreu Insuficiência renal aguda José Hermógenes R. Suassuna Francisco Veronese UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil Francisco de Assis Rocha Neves UnB, Brasília, DF, Brasil USP, São Paulo, SP, Brasil UFCE, Fortaleza, CE, Brasil Transplante renal Roberto Ceratti Manfro José O. Medina Pestana UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Tratamento dialítico Roberto Pécoits Filho Rodrigo Bueno de Oliveira PUC, Curitiba, PR, Brasil USP, São Paulo, SP, Brasil (Editorial Board) Aluízio Costa e Silva UnB, Brasília, DF, Brasil Alvimar Delgado UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Antonio Alberto Lopes UFBA, Salvador, BA, Brasil Antonio Carlos Duarte Cardoso UFAM, Manaus, AM, Brasil Carlos Eduardo Poli de Figueiredo PUC, Porto Alegre, RS, Brasil Cibele Isaac Saad Rodrigues PUC de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Clotilde Druck Garcia Santa Casa, Porto Alegre, RS, Brasil Edison Souza UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Eduardo Homsi UNICAMP – Campinas, SP, Brasil Eduardo Rocha UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Eleonora Moreira Lima UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil Elias David Neto USP, São Paulo, SP, Brasil Elisa de A. Sampaio da Cruz UFF, Niterói, RJ, Brasil Eurípedes Barsanulfo Pereira UFMS, Campo Grande, MS, Brasil Fernando A. de Almeida PUC, Sorocaba, SP, Brasil Frida Liane Plavnik UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Gerhard Malnic USP, São Paulo, SP, Brasil Hélady Sanders Pinheiro UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil Hugo Abensur USP, São Paulo, SP, Brasil Irene L. Noronha USP, São Paulo, SP, Brasil Ita Pfefermann Heilberg UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil José Bruno de Almeida UFRGN, Natal, RN, Brasil José Gastão R. de Carvalho UFPR, Curitiba, PR, Brasil José Pacheco M. Ribeiro Neto Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, Recife, PE, Brasil Kleyton de Andrade Bastos UFSE, Aracaju, SE, Brasil Lucila Maria Valente UFPE, Recife, PE, Brasil Lúcio Ronaldo Cardoso UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Luis Yu USP, São Paulo, SP, Brasil Luis Alberto Batista Peres UNIOESTE, Cascavel, PR, Brasil Luiz Antonio Miorin Santa Casa, São Paulo, SP, Brasil Luiz Antônio Moura UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Luiz Carlos Ferreira Andrade UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil Luiz Felipe Santos Gonçalves UFRGS – Porto Alegre, RS, Brasil Luiz Sergio Azevedo USP, São Paulo, SP, Brasil Manuel Carlos Martins de Castro USP, São Paulo, SP, Brasil Marcello Fabiano de Franco UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Mazza do Nascimento Fac. Evangélica de Medicina, Curitiba, PR, Brasil Margarida M. Dantas Dutra UFBA, Salvador, BA, Brasil Maria Eliete Pinheiro Lessa UFAL, Maceió, AL, Brasil Maria Ermecília A. Melo UFBA, Salvador, BA, Brasil Mário Abbud Filho FAMERP, São José do Rio Preto, SP, Brasil Maurício Braz Zannolli Famema, Marília, SP, Brasil Miguel Luis Graciano UFF, Niterói, RJ, Brasil Mirian A. Boim UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Natália Fernandes UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil Nelson Zocoler Galante UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Nestor Schor UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Noêmia Perli Goldraich UFRGS, Rio Grande do Sul, RS, Brasil Paulo Benigno Pena Batista EBMSP- Escola Bahiana de Med. e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil Paulo César Koch Nogueira UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Pedro A. Gordan UEL, Londrina, PR, Brasil Rachel Bregman UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Regina Célia R. de Moraes Abdulkader USP, São Paulo, SP, Brasil Roberto Zatz USP, São Paulo, SP, Brasil Rogério Baumgratz de Paula UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil Ronaldo Bérgamo Fundação ABC, Santo André, SP, Brasil Semiramis Jamil Hadad do Monte UFPI, Teresina, PI, Brasil Sérgio Antônio Draibe UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Sérgio F. F. santos UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Sônia Maria Holanda Almeida Araújo UFCE, Fortaleza, CE, Brasil Valter Duro Garcia Santa Casa, Porto Alegre, RS, Brasil Vanda Jorgetti USP, São Paulo, SP, Brasil Waldir Eduardo Garcia UEL, Londrina, PR, Brasil Yvoty Alves Sens Santa Casa, São Paulo, SP, Brasil Editores Estrangeiros (International Editorial Board) Secretaria (BSN Office) Aldo J. Peixoto Rua Machado Bittencourt, 205, Conj.53, Vila Clementino – São Paulo – SP Fone: 5579.1242 Fax: 5573.6000 E-mail: [email protected] www.jbn.org.br Section of Nephrology, Yale Univ. School of Medicine EUA Fernando C. Fervenza Mayo Clinic, Rochester, MN, USA José Antônio Arruda University of Illinois, Medical Center, Illinois, Chicago, USA 000.indd 7 25/04/11 12:56 000.indd 8 25/04/11 12:56 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Prefácio Prefácio Foreword A elaboração desta 2ª edição das Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica é, mais uma vez, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Trata-se da nova edição de um guia prático para a normatização do diagnóstico e tratamento do Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica (DMO-DRC), cujo objetivo principal foi o de atualizar as Diretrizes já existentes, publicadas no Jornal Brasileiro de Nefrologia (JBN) em março de 2008. Seguindo a mesma tendência da comunidade nefrológica mundial, esta edição atualizada teve como base as recomendações propostas e recentemente publicadas pelo Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) para o diagnóstico, avaliação, prevenção e tratamento do DMO-DRC. Da mesma forma que para as Diretrizes de 2008, constituiu-se um fórum nacional, desta vez coordenado pelo Comitê para o DMO-DRC da SBN, que constou de um maior número de nefrologistas, nefrologistas-pediátricos e nutricionistas, todos especialistas na área em questão e provenientes de diferentes regiões do país. Aos temas da edição anterior foram acrescidos mais dois capítulos, um referente à doença óssea pós-transplante renal, e outro no qual a doença óssea adinâmica, cuja importância nesse cenário é cada vez maior, mereceu uma abordagem específica. Assim, torna-se esta edição um guia prático mais completo no qual foram considerados os temas mais relevantes para a prática diária do nefrologista frente ao DMO-DRC. Nos mesmos moldes da edição anterior, cada capítulo deste volume contém as diretrizes propriamente ditas, seguidas de um racional e de referências bibliográficas. O racional representa um resumo da literatura sobre cada diretriz em questão, visando justificar a recomendação nela contida. Atribuiu-se o termo Evidência toda vez que a diretriz baseou-se em evidência publicada na literatura, independente de seu grau. Do contrário, foi utilizado o termo Opinião, decorrente das opiniões contidas nas Diretrizes consultadas, muitas vezes adaptadas à experiência pessoal deste fórum. É importante salientar que, como todo guia de prática clínica, sua consulta deve ser feita com bom senso, lembrando sempre que a conduta médica diante de cada paciente é individual e soberana. Este fórum permanecerá aberto a futuras revisões, e críticas e sugestões serão sempre bem-vindas. O grupo coordenador desta 2ª edição das Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica agradece o empenho e a dedicação de todos que contribuíram para este trabalho. Agradecemos o apoio e incentivo da Diretoria da SBN, na sua gestão passada e atual, principalmente do Departamento de Diálise, que tornou possível mais esta iniciativa da nossa sociedade. Nosso muito obrigado! Aluizio Barbosa de Carvalho Vanda Jorgetti 000i_Prefacio.indd 9 25/04/11 14:01 000i_Prefacio.indd 10 25/04/11 12:59 Sumário | Jornal Brasileiro de Nefrologia Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e ósseo na Doença Renal Crônica Volume 33, Suplemento 1 - Abril - 2011 - ISSN 0101-2800 Capítulos | Controle da hiperfosfatemia na DRC Aluizio Barbosa de Carvalho, Lilian Cuppari_______________________________________ S1 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC José Edevanilson Barros Gueiros, Fabiana Rodrigues Hernandes, Cristina Karohl, Vanda Jorgetti_________________________________________________________________ S7 Concentração de cálcio do dialisato e hipercalcemia na DRC Leandro Junior Lucca, Rosélia Ribeiro dos Santos Lobão, Cristina Karohl_____________ S15 Doença óssea adinâmica Rodrigo Bueno de Oliveira, Rosa Maria Affonso Moysés, Lillian Andrade da Rocha, Aluizio Barbosa de Carvalho____________________________________________________ S19 Intoxicação alumínica na DRC Fellype Carvalho Barreto, Sonia M. Holanda Almeida Araújo________________________ S21 Calcificação vascular na DRC Maria Eugênia F. Canziani, Rosa Maria A. Moysés_________________________________ S26 Paratireoidectomia na DRC Elisa de Albuquerque Sampaio, Rosa Maria Affonso Moysés_________________________ S31 Biópsia óssea na DRC Fellype Carvalho Barreto, Leandro Júnior Lucca___________________________________ S35 Distúrbio mineral e ósseo após o transplante renal Ana Paula Santana Gueiros, Carolina Lara Neves, Elisa de Albuquerque Sampaio, Melani Ribeiro Custódio_______________________________________________________ S37 Diretrizes do distúrbio do metabolismo mineral e ósseo na doença renal crônica da criança Eleonora Moreira Lima, Maria de Fátima Câmera Gesteira, Maria de Fátima Santos Bandeira________________________________________________ S42 000ii_sumario.indd 11 25/04/11 13:01 000ii_sumario.indd 12 25/04/11 13:01 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 1 Controle da hiperfosfatemia na DRC Management of hyperphosphatemia in CKD Autores: Aluizio Barbosa de Carvalho Lilian Cuppari 1 Avaliação dos níveis de fósforo sérico na DRC 1.1 1.2 O fósforo (P) sérico deve ser dosado em todos os pacientes com doença renal crônica (DRC), a partir do estágio III, ou seja, quando a taxa de filtração glomerular (TFG) for inferior a 60 mL/min/1,73m2. A Tabela 1 descreve as frequências e os valores recomendados para cada estágio da DRC (Evidência). A coleta de sangue para avaliação do P sérico deverá ser preferencialmente em jejum (Opinião). 2 Avaliação da ingestão e prescrição dietética de P na DRC 2.1 A avaliação da ingestão dietética de P e a prescrição de P dietético deverão ser sempre realizadas por nutricionista (Opinião). 2.2 Na DRC estágios III e IV, a ingestão dietética de P deverá ser mantida em valores que atendam a recomendação de proteínas entre 0,6 e 0,8 g/kg/dia, porém não superior a 700 mg/dia se o P estiver acima dos valores normais e/ou se o paratormônio (PTH) estiver acima do nível recomendado para o estágio da DRC (Opinião). Tabela 1 2.3 Na DRC estágio V D, a ingestão dietética de P deverá estar entre 800 e 1.000 mg/dia, respeitando a recomendação de pelo menos 1,0 g de proteína/kg/dia (50% de proteína de alto valor biológico), desde que o P sérico não esteja abaixo de 3,5 mg/dL (Opinião). 2.4 Alimentos que contêm aditivos à base de P devem ser restringidos ao máximo (Evidência). 2.5 Alimentos com menor razão P/ proteína devem ser preferencialmente empregados (Evidência). 3 Uso de quelantes de P na DRC 3.1 Os quelantes de P deverão ser tomados no mesmo momento em que alimentos que contenham quantidade significativa de P são ingeridos. A dose prescrita deverá estar de acordo com a quantidade de P contida na refeição estimada por meio de inquérito dietético (Opinião). Pacientes com DRC estágios III-V 3.2 Os quelantes de P devem ser prescritos se, apesar do controle da ingestão dietética, o P sérico e/ou o PTH estiverem acima dos níveis recomendados (Opinião). Valores recomendados e frequência de avaliação dos níveis de P nos diferentes estágios da DRC Estágio da DRC TFG (mL/min) Níveis de P (mg/dL) Frequência de dosagem III 30 – 59 Dentro do valor de referência Semestral/anual IV 15 – 29 Dentro do valor de referência Semestral/trimestral V < 15 Dentro do valor de referência Trimestral/mensal VD Diálise Reduzir o P sérico em direção ao valor normal Mensal 1 CAP_001_001_006_Controle.indd 1 25/04/11 13:06 Controle da hiperfosfatemia na DRC 3.2.1 Quelantes de P à base de cálcio (Ca) são efetivos e podem ser utilizados desde que a dose total de Ca elemento neles contida não exceda 1,5 g/dia ou, incluindo o Ca da dieta, não exceda 2,0 g/dia. Além disso, quelantes à base de Ca não devem ser utilizados na presença de hipercalcemia persistente e recorrente, ou então, na presença de calcificação vascular, doença óssea adinâmica ou níveis de PTH persistentemente baixos. Dentre os quelantes à base de Ca, o acetato de Ca deve ser utilizado preferencialmente (Opinião). 3.2.2 Quelantes de P isentos de Ca (carbonato de sevelamer e carbonato de lantânio) são efetivos e podem ser utilizados; devem ser a primeira escolha nos casos em que haja contraindicação ao uso de quelantes à base de Ca (Opinião). Pacientes com DRC estágio V D 3.3 Tanto os quelantes de P à base de Ca, assim como aqueles isentos de Ca (carbonato ou cloridrato de sevelamer e carbonato de lantânio), são efetivos e ambos podem ser utilizados como terapia inicial (Evidência). 3.3.1 A dose total de Ca elemento fornecida pelos quelantes de P à base de Ca não deve exceder 1,5 g/dia ou, incluindo o Ca da dieta, não exceder 2,0 g/dia (Opinião). 3.3.2 Quelantes de P à base de Ca não devem ser utilizados na presença de hipercalcemia persistente e recorrente, ou na presença de calcificação vascular, doença óssea adinâmica ou níveis de PTH persistentemente baixos (Opinião). 3.3.3 Quelantes de P à base de alumínio não deverão ser utilizados em qualquer circunstância (Evidência). 4 Dose de diálise 4.1 Em pacientes em diálise, nos quais as medidas dietéticas e terapêuticas não foram suficientes para o controle adequado do P sérico, a dose de diálise deverá ser aumentada (Opinião). 4.1.1 Para pacientes em hemodiálise (HD), uma sessão extra de 2 horas é preferível em vez do aumento das horas de diálise de uma sessão-padrão (Opinião). 2 Racional A hiperfosfatemia na DRC é resultante de três fatores principais: a ingestão excessiva de P, a redução da depuração de P (renal e pelos métodos dialíticos) e o estado da remodelação óssea (alta ou baixa). A retenção de P e/ou a hiperfosfatemia estão entre os fatores que contribuem para o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário (HPS) em pacientes com DRC. A hiperfosfatemia também está associada com morbidade e mortalidade nesses pacientes, principalmente relacionadas aos eventos cardiovasculares.1,2 Os mecanismos pelos quais a retenção de P aumenta o risco de eventos cardiovasculares e de mortalidade ainda não estão totalmente elucidados.3,4 Esses mecanismos envolvem a transformação fenotípica das células musculares lisas da camada média dos vasos arteriais, induzidas pelo P ou indiretamente pelos efeitos da hiperfosfatemia sobre o PTH, desencadeando o HPS e a calcificação vascular.5,6 O racional para prevenir a retenção de P ou tratar a hiperfosfatemia estabelecida está no seu conhecido papel no desenvolvimento do HPS. Além disso, outros benefícios ainda não provados seriam a diminuição do risco de calcificação vascular e de tecidos moles, prevenção de eventos cardiovasculares e de progressão da DRC. As evidências disponíveis suportam que valores de P séricos, inferiores ou superiores aos da faixa de normalidade, se associam com piores desfechos incluindo morte.2,7 Porém, os níveis recomendados de P, associados com melhor prognóstico, são difíceis de determinar. Nos estágios II, III e IV da DRC, os estudos que avaliam esse aspecto são escassos. Recentemente, foi reportado que níveis de P sérico acima de 3,5 mg/dL, em pacientes na fase pré-dialítica, estavam associados com aumento da mortalidade.8 No estágio V D da DRC, os achados de estudos observacionais indicam diferentes valores associados com risco de complicações cardiovasculares ou morte. Porém, uma análise recente de uma coorte de 40.000 pacientes prevalentes em HD demonstrou que o risco de morte aumenta quando o P plasmático se encontra acima de 5,0 mg/ dL.2 Assim, as evidências sugerem que níveis de P sérico dentro da faixa de normalidade estão associados com melhores desfechos. No entanto, ainda há necessidade de estudos de intervenção que possam identificar com maior precisão os níveis ideais de P para os pacientes com DRC. Estudos mostram que a concentração sérica de P se mantém dentro da faixa de normalidade até que a TFG decline para 20 a 30 mL/min.8 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S1-S6 CAP_001_001_006_Controle.indd 2 25/04/11 13:06 Controle da hiperfosfatemia na DRC Isso faz supor que a intervenção dietética com relação ao P só é necessária quando o P se encontra acima dos valores normais. No entanto, a retenção de P parece ocorrer precocemente no curso da DRC, participando, assim, da gênese do HPS. Porém, não existem estudos, até o momento, que identifiquem o valor de P sérico a partir do qual o controle da sua ingestão deva ser iniciado. Assim, foi consenso desse grupo de trabalho que a ingestão de P nos estágios III e IV da DRC não exceda 700 mg/dia, que é o valor recomendado para indivíduos adultos saudáveis de acordo com as Recommended Dietary Allowances (RDA).9 O controle deve ser feito particularmente para aqueles pacientes com P sérico acima do normal ou ainda para aqueles com níveis de PTH acima dos valores recomendados, mesmo que o P sérico esteja normal. O controle da ingestão de P deve ser feito com cuidado, de forma a não provocar redução excessiva da sua concentração sérica, visto que a hipofosfatemia pode indicar ingestão insuficiente de proteína, além de estar associada ao maior risco de morbimortalidade.7 No estágio V da DRC, a redução na ingestão de P é necessária, já que os métodos dialíticos são relativamente ineficientes na sua remoção. Porém, um fator limitante é a manutenção da elevada necessidade de proteína (1,0 a 1,2 g/kg/dia) nesse estágio da Tabela 2 DRC. Os alimentos com alto teor de proteína são naturalmente ricos em P e contribuem com a maior parte do P ingerido. Assim, é muito difícil atender à necessidade de proteína com uma oferta de P inferior a 800 mg/dia. De qualquer forma, ações devem ser implementadas de maneira a evitar que a ingestão de P seja superior a 1.000 mg/dia. Na Tabela 2, estão apresentados os alimentos fontes de proteína e P. Uma forma de oferecer a quantidade necessária de proteína, com o menor teor possível de P, é selecionar os alimentos que têm a menor relação P/proteína, conforme mostrado na Tabela 2. Estudo recente com pacientes em hemodiálise demonstrou pela primeira vez que o risco de morte foi 2,37 vezes maior no maior tercil de ingestão de P quando comparado ao menor tercil. Além disso, o risco também foi maior no grupo de pacientes com relação P/proteína da dieta acima de 16 mg/g.10 Além disso, é importante a restrição de alimentos processados que contêm aditivos à base de P (ácido fosfórico, polifosfatos e pirofosfatos) como alimentos semiprontos, os chamados fast foods, embutidos, queijos processados, produtos instantâneos, biscoitos, cereais matinais e refrigerantes à base de cola. Há evidência que a restrição de alimentos que contêm aditivos de P promove redução na fosfatemia em pacientes em HD.11 Principais alimentos fontes de fósforo e de proteína Quantidade (g) Medida caseira P (mg) Proteína (g) Relação P/Proteína (mg/g) Carne de frango 80 1 filé de peito médio 150 23,0 6,5 Carne de porco 80 1 bisteca média 147 21,2 6,9 Carne bovina 85 1 bife médio 209 26,0 8,0 Pescada branca 84 1 filé médio 241 20,6 11,7 Ovo inteiro 50 1 unidade 90 6,0 15 Alimento Clara de ovo 30 1 unidade 4,3 3,3 1,3 Fígado de boi 85 1 bife médio 404 22,7 17,8 Sardinha 34 1 unidade 170 8,4 20,2 Presunto 48 2 fatias médias 136 14 9,7 Queijo prato 30 2 fatias finas 153 7,5 20,4 Iogurte 120 1 pote pequeno 159 6,3 25,2 Leite 150 1 copo americano 140 4,9 28,6 Soja cozida 54 5 colheres de sopa 130 9 14,5 Feijão cozido 154 1 concha média 133 6,9 19,3 Amendoim 50 1 pacote pequeno 253 13 19,5 Chocolate 40 1 barra pequena 92 3 30,7 Ref 13 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S1-S6 CAP_001_001_006_Controle.indd 3 3 25/04/11 13:06 Controle da hiperfosfatemia na DRC Uma orientação dietética individualizada por nutricionistas, associada a programas de educação nutricional, é fundamental para melhorar a adesão do paciente.12 Considerando-se as limitações associadas com a restrição de P e com a remoção de P pela diálise, os quelantes de P são necessários para quase todos os pacientes submetidos à diálise. Em teoria, os quelantes de P deveriam prevenir ou tratar a hiperfosfatemia. No entanto, na prática clínica observa-se que o efeito dos quelantes é limitado. Os principais quelantes de P utilizados em nosso meio, bem como suas características, estão listados na Tabela 3. A escolha do tipo de quelante e a dose a ser prescrita dependerão de alguns fatores. Primeiramente, nas refeições em que a quantidade de P é maior, o quelante deve ser prescrito em maior quantidade e, naquelas refeições em que não há alimentos ricos em P, não há necessidade de quelante. Lanches ou alimentos com elevada quantidade de P, ingeridos a qualquer momento, devem ser sempre associados com os quelantes. Não existem doses estabelecidas para a prescrição de quelantes baseadas na quantidade de P da alimentação. Dessa forma, o acompanhamento frequente é a melhor maneira de avaliar a adequação da prescrição, fazendo ajustes quando necessário. Os quelantes devem ser ingeridos junto com a alimentação, de forma a permitir a melhor mistura com os alimentos. É importante que o paciente compreenda como agem os quelantes, para que se obtenha a melhor adesão e, consequentemente, os melhores resultados. Outra consideração a ser feita é quanto aos níveis de Ca séricos. Pacientes com hipercalcemia não devem utilizar quelantes que contêm Ca, e para aqueles com calcemia no limite superior da normalidade a dose prescrita de quelantes à base de Ca deve ser bastante cautelosa. Se essa for a única opção, usar acetato de Ca. A dose de Ca elementar proveniente de quelantes não deve exceder a 1.500 mg/dia.14 Tabela 3 Principais quelantes de fósforo com suas respectivas características Quelante 4 Caso haja contraindicação ao uso de quelantes à base de Ca, o cloridrato de sevelamer deve ser sempre empregado. Uma atenção deve ser dada àqueles pacientes em uso de 1,25-hidroxivitamina D (calcitriol), já que esse hormônio promove aumento na absorção intestinal de Ca e de P. A observação e o acompanhamento dos níveis de PTH ao longo do tratamento também são necessários, pois muitas vezes o HPS se mostra resistente ao tratamento clínico, situação esta que inviabiliza a diminuição do P sérico, mesmo com a restrição dietética e utilização maciça de quelantes. Além disso, na situação oposta, ou seja, no hipoparatireoidismo relativo, quando a remodelação óssea está diminuída, a reduzida incorporação de P pelo osso faz com que a hiperfosfatemia se mantenha. Nesses dois casos, outras opções de tratamento devem ser consideradas, sendo importante que o paciente seja informado quanto às razões da falha no tratamento. A avaliação do tratamento proposto deve acontecer periodicamente, para que ajustes dietéticos e medicamentosos possam ser realizados. Finalmente, o sucesso da terapia depende fundamentalmente da participação do paciente. Assim, as orientações devem ser claras e objetivas e toda a equipe multiprofissional deve estar envolvida e, em especial, o nutricionista. Quando o controle dietético e o uso de quelantes de P são insuficientes, mudanças na prescrição de diálise podem ser medidas coadjuvantes. O tratamento dialítico convencional é insuficiente para manter um balanço negativo de P na maioria dos pacientes em diálise. Tal fato torna-se óbvio quando comparamos a capacidade de depuração de P de uma sessão de 4 horas de HD, que é de aproximadamente 900 mg de P,15 com a quantidade diária ingerida, que é de até 1.000 mg/dia, contida em uma dieta preconizada com 1,0 a 1,2 g de proteína/kg/dia.14 Mesmo alterações na composição e fluxo do dialisato, assim como no tipo de membrana capilar, não se mostram efetivas na melhora da depuração de P.16,17 Poder quelante Vantagens Efeitos adversos Carbonato de cálcio (40% de cálcio elementar) Baixo Baixo custo Acetato de cálcio (25% de cálcio elementar) Moderado Maior poder quelante – Constipação e náuseas com menor oferta de – Hipercalcemia e calcificação metastática cálcio que o carbonato de cálcio Cloridrato de Sevelamer Moderado Não contém alumínio ou cálcio – Constipação – Hipercalcemia e calcificação metastática – Diarreia ou constipação, flatulência, náuseas e dispepsia J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S1-S6 CAP_001_001_006_Controle.indd 4 25/04/11 13:06 Controle da hiperfosfatemia na DRC Já a diálise peritoneal (DP) é capaz de prover um controle do P pouco melhor que a HD, porém ainda insuficiente.18 A remoção inadequada do P pela HD convencional decorre de sua própria cinética. Primeiramente, é fundamental sabermos que o P é um elemento predominantemente intracelular. Durante a primeira hora de uma sessão de HD ocorre uma rápida remoção de P, que atinge o seu pico por volta dos 120 minutos. A partir daí, a taxa de remoção cai e se mantém em torno da metade daquela da fase inicial, sem que haja, porém, alteração do P sérico.15 Finalmente, pode haver um rebote pós-dialítico no qual os níveis de P podem até mesmo exceder os do início da sessão de diálise.15,19 Portanto, a cinética da remoção do P obedece a um modelo de duas fases. Inicialmente, ocorre a remoção do P do compartimento extracelular, seguida por um fluxo de P do meio intra para o extracelular, o que mantém seu nível sérico constante ao longo do restante do tratamento. São justamente a velocidade de efluxo de P para o dialisato durante as primeiras horas de diálise e a velocidade de mobilização entre os compartimentos intra e extracelular que limitam a remoção do P. Daí, a frequência e a duração das sessões de diálise correlacionam-se diretamente com o controle adequado da fosfatemia. Os efeitos de novos padrões de HD, como a diária e a prolongada noturna, sobre o controle do P têm sido estudados.20-23 Um achado universal desses estudos é o melhor controle do P, com redução ou mesmo interrupção do uso de quelantes de P. Além disso, obtém-se melhor controle do PTH e do produto Ca x P.23,24 Embora promissoras, essas modalidades dialíticas ainda não fazem parte da nossa prática diária. Nos casos de hiperfosfatemia grave, podemos sempre lançar mão do aumento no número de sessões semanais de diálise ou de sua duração, embora, por vezes, haja resistência por parte do paciente, em razão da interferência direta em seu cotidiano. Além disso, uma vez que a HD convencional é um método limitado para o controle do P, são de extrema importância a assiduidade do paciente e a manutenção da adequação de diálise, evitando-se a redução do tempo de tratamento, prática que vem tornandose frequente em nosso meio. Referências 1. London GM, Guerin AP, Marchais SJ et al. Arterial media calcification in end-stage renal disease: impact on all-cause and cardiovascular mortality. Nephrol Dial Transplant. 2003; 18:1731-40. 2. Block GA, Klassen PS, Lazarus JM et al. Mineral metabolism, mortality, and morbidity in maintenance hemodialysis. J Am Soc Nephrol. 2004; 15:2208-18. 3. Giachelli CM. Vascular calcification mechanisms. J Am Soc Nephrol. 2004; 15:2959-64. 4. Kavanaugh MP, Kabat D. Identification and characterization of a widely expressed phosphate transporter/retrovirus receptor family. Kidney Int. 1996; 49:959-63. 5. Almaden Y, Hernandez A, Torregrosa V et al. 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Adv Ren Replace Ther. 1996; 3:133-6. 21.Kooistra MP, Vos J, Koomans HA et al. Daily home haemodialysis in The Netherlands: effects on metabolic control, haemodynamics, and quality of life. Nephrol Dial Transplant. 1998; 13:2853-60. 22.Mucsi I, Hercz G, Uldall R et al. Control of serum phosphate without any phosphate binders in patients treated with nocturnal hemodialysis. Kidney Int. 1998; 53:1399-404. 6 23. Lindsay RM, Alhejaili F, Nesrallah G et al. Calcium and phosphate balance with quotidian hemodialysis. Am J Kidney Dis. 2003; 42(Suppl 1):24-9. 24.Mizani M, Ayus JC. Control of severe hyperparathyroidism (SHPT) by short daily dialysis (SDHD) with concomitant use of high dose of vitamin D analog (paracalcitol). J Am Soc Nephrol. 2004; 15:736A. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S1-S6 CAP_001_001_006_Controle.indd 6 25/04/11 13:06 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 2 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Prevention and treatment of secondary hyperparathyroidism in CKD Autores: José Edevanilson Barros Gueiros Fabiana Rodrigues Hernandes Cristina Karohl Vanda Jorgetti dosagem do PTH e, para cada método, qual a fonte ideal: plasma ou soro, além das características ideais de coleta e armazenamento (Evidência). 1 Avaliação dos níveis de paratormônio (PTH) e fosfatase alcalina (FA) na DRC 1.1 Os níveis séricos de PTH devem ser analisados em todos os pacientes com DRC, cuja taxa de filtração glomerular (TFG) for inferior a 60 mL/min/1,73 m2 (Evidência). A Tabela 1 descreve as frequências recomendadas (Opinião). Tabela 1 Frequência de avaliação dos níveis de PTH nos diferentes estágios da DRC Estágio da DRC TFG (mL/min) Frequência de coleta III 30 – 59 Anual IV 15 – 29 Semestral V ou VD < 15 ou diálise Trimestral 1.2 Deve-se modificar a frequência de avaliação dos níveis séricos de PTH se os resultados das análises mostrarem uma tendência de elevação ou de descenso ou após a instituição do tratamento, seja ele para reduzir ou elevar os níveis de PTH (Opinião). 1.3 A amostra de sangue para dosagem do PTH deverá ser obtida, preferencialmente em jejum, nos pacientes com DRC em tratamento conservador ou naqueles em diálise peritoneal (DP). Nos pacientes em hemodiálise (HD), as amostras poderão ser obtidas no início da sessão de diálise (Opinião). Os laboratórios de análises clínicas devem informar ao médico qual o método que utilizam para a 1.5 Nos pacientes com DRC estágios IV e V em tratamento conservador ou diálise, a FA deve ser dosada anualmente, ou mais frequentemente na vigência de níveis elevados de PTH (Evidência). 2 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Pacientes com DRC estágios III e IV 2.1 Nos pacientes com DRC estágios III a V, os níveis ideais de PTH não são conhecidos. No entanto, sugerimos que os pacientes com níveis de PTH acima do limite superior de referência para o método sejam avaliados quanto à presença de hipocalcemia, hiperfosfatemia ou fração de excreção de P elevada, e deficiência de 25-hidroxivitamina D (25-vit D). Se forem detectadas alterações nesses parâmetros, estes devem ser corrigidos; sais de Ca para correção da hipocalcemia, orientação dietética e/ou uso de quelantes de P para correção da hiperfosfatemia e uso de ergocalciferol (vitamina D2) ou colecalciferol (vitamina D3) para correção da hipovitaminose D (Evidência). 2.2 Se os níveis de 25-vit D forem inferiores a 30 ng/mL, inicia-se a suplementação com vitamina D2 ou vitamina D3 (Tabela 2) (Opinião). 7 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 7 25/04/11 13:09 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Tabela 2 Suplementação com ergocalciferol (vitamina D2) ou colecalcifrol (vitamina D3) com base nos níveis séricos de 25-vit D Nível sérico (ng/mL) Dose de ergocalciferol ou colecalcifrol Tempo de suplementação <5 50.000UI/sem/12 sem. Após, 50.000UI/mês 6 meses e repetir dosagem 25-vit D 5 – 15 50.000UI/sem/4 sem. Após, 50.000UI/mês 6 meses e repetir dosagem 25-vit D 16 – 30 50000 UI/mês 6 meses e repetir dosagem 25-vit D 2.2.1 Durante a suplementação com vitamina D2 ou D3, os níveis séricos de cálcio (Ca) e P devem ser analisados a cada 2 meses (Opinião). 2.2.2 Se os níveis séricos de Ca forem superiores aos limites de referência do método, suspender a suplementação (Evidência). 2.2.3 Se o P sérico for superior ao valor de referência, inicia-se ou ajusta-se a dose de quelantes de P. Se após essa conduta a fosfatemia persistir elevada, suspender a suplementação com vitamina D2 ou D3 (Opinião). 2.3 Se os níveis séricos de PTH permanecerem elevados apesar da correção dos fatores descritos anteriormente, indica-se o tratamento com calcitriol ou análogo da vitamina D. Recomenda-se o tratamento com calcitriol na dose de 0,25-0,5 mg/dia. Entretanto, o Ca e o P séricos devem permanecer dentro dos limites de referência, além de a função renal permanecer estável (Evidência). 2.6.1 Pacientes com hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia, o uso de calcitriol ou de análogos da vitamina D devem ser evitados até a correção dos níveis de Ca e de P (Evidência). 2.6.2 Pacientes com hipocalcemia, o uso de calcimimético deve ser evitado até a correção dos níveis de Ca (Evidência). 2.7 Pacientes tratados com calcitriol ou análogos de vitamina D que desenvolvam hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia devem ter a dose da medicação reduzida ou suspensa (Evidência). 2.8 Pacientes tratados com calcimiméticos que desenvolvam hipocalcemia devem ter a sua dose reduzida ou suspensa de acordo com a gravidade da hipocalcemia e quadro clínico apresentado pelo paciente (Evidência). 2.9 A escolha do tipo de quelante de P, bem como a sua dose, devem ser ajustadas de forma a permitir que níveis séricos de Ca e P mantenham-se dentro dos valores de referência, possibilitando o tratamento do hiperparatireoidismo secundário (HPS) (Opinião). 2.10 Pacientes que apresentam redução dos níveis de PTH abaixo de 150 pg/mL devem ter as doses de calcitriol ou análogos de vitamina D e/ou calcimiméticos reduzidas ou suspensão das drogas (Evidência). 2.11 O controle de tratamento deve ser feito por meio da dosagem mensal de PTH, Ca, P até que os níveis de PTH estejam estáveis dentro da faixa recomendada (Opinião). 2.12 Pacientes que, a despeito das medidas clínicas e terapêuticas adotadas, persistirem com níveis de PTH acima da faixa recomendada devem ser tratados com paratireoidectomia (Evidência). Pacientes com DRC estágio V ou V D 2.4 2.5 2.6 8 Pacientes com DRC estágio V ou V D devem manter os níveis de PTH entre 2 e 9 vezes o valor superior do método. No entanto, se as avaliações mostrarem tendência de elevação ou redução nos níveis de PTH, medidas terapêuticas devem ser introduzidas e a frequência de dosagem aumentada (Evidência). Pacientes com PTH elevado ou com tendência à elevação devem ser tratados com calcitriol ou análogos de vitamina D e/ou calcimiméticos (Evidência). O critério de seleção para a escolha da droga deve levar em consideração o perfil bioquímico do Ca e P do paciente (Opinião): J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S7-S14 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 8 25/04/11 13:09 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Racional Nos pacientes com DRC, os níveis séricos de PTH se elevam quando a TFG diminui abaixo de 60 mL/ min/1,73 m2.1 As alterações ósseas decorrentes do excesso de PTH podem estar presentes já no estágio III da DRC. Com a progressão da doença renal, estas alterações tornam-se mais evidentes. Dessa forma, a avaliação dos níveis séricos de PTH se inicia a partir do estágio III. As técnicas empregadas para a determinação do PTH sérico são: imunorradiometria (IRMA) e imunoquimioluminescência (ICMA). Essas técnicas superestimam os níveis de PTH biologicamente ativos, pois detectam fragmentos não ativos da molécula2, o que explica a presença de altos níveis de PTH associados à doença óssea de baixa remodelação em alguns pacientes.3-5 Novos ensaios para dosagem desse hormônio têm sido desenvolvidos, porém, até o presente momento, não existem estudos que demonstrem a superioridade desses ensaios, com relação aos anteriores, uma vez que não foram realizados estudos com biopsia óssea, para avaliar se distintas faixas de níveis de PTH são capazes de predizer que tipo de lesão óssea acomete o paciente.6-9 Vale lembrar que existem vários testes para dosagem de PTH. A maioria dos estudos realizados até a publicação do KDOQI 2003 baseou-se nos resultados com o teste produzido pela Nichols (Allegro) e que atualmente não é comercializado.10 Estudo publicado recentemente comparou resultados de dosagem do PTH empregando-se os testes disponíveis no mercado, com os resultados obtidos com o teste da Nichols/ Allegro. Os resultados mostraram uma variabilidade significante do resultado do nível de PTH nos diferentes testes, pois estes testes dosavam quantidades diferentes de moléculas ativas ou inativas do PTH.11-12 É de fundamental importância que as amostras colhidas, para a dosagem do PTH, sejam imediatamente colocadas em gelo, rapidamente centrifugadas em centrífuga refrigerada, evitando, assim, que a molécula se degrade, o que poderia interferir nos resultados. Importante também é ter conhecimento do método empregado para a dosagem bem como os valores de referência do laboratório. A FA é uma enzima que retira o P das proteínas e dos nucleotídeos. Está presente em todo o organismo na forma de isoenzimas específicas para cada tecido. Altas concentrações de FA são encontradas no fígado e nos ossos, portanto, elevações na dosagem sérica desta enzima ocorrem por alterações hepáticas, alta remodelação óssea ou metástases ósseas. Os valores de FA também se encontram aumentados nos casos de crianças em fase de crescimento ósseo ou após fraturas. A dosagem da FA nos pacientes com DRC, desde que não apresentem alterações hepáticas, serve como um teste adjunto no diagnóstico do DMO subjacente e também como um parâmetro no acompanhamento do tratamento do HPS. Nos pacientes com DRC estágios III a V (conservador), os níveis ideais de PTH não são conhecidos. Nos estágios iniciais da DRC, as alterações dos níveis de PTH representam a adaptação do organismo à perda da função renal, visando manter os níveis de Ca e P séricos adequados. Ainda não sabemos como distinguir uma resposta adaptativa de uma situação anormal. Portanto, a melhor conduta será aumentar a frequência de dosagem dos níveis de PTH se houver uma tendência à elevação desse hormônio e, nesse caso, iniciar o tratamento com calcitriol ou análogos da vitamina D após correção da hipocalcemia, da hiperfosfatemia ou da deficiência de vitamina 25-vit D, se estiverem presentes. A suplementação com Ca, nos pacientes com DRC nos estágios III a V (conservador), deve ser cautelosa e apenas nos casos diagnosticados de hipocalcemia. Estudos com população normal13 e pacientes com DRC em tratamento conservador14 já demonstraram um aumento do risco cardiovascular e da calcificação coronariana associados à suplementação de Ca. Devemos acompanhar os níveis de P séricos e naqueles pacientes com níveis elevados, iniciar dieta e uso de quelantes à base de Ca quando necessários. Recentemente, demonstrou-se que pacientes em tratamento conservador e com níveis normais de P podem apresentar elevação dos níveis séricos de PTH e do FGF-23, sugerindo uma sobrecarga de P. Portanto, a fosfatemia parece não ser um marcador ideal da carga de P no organismo, chamando atenção para a importância do controle do conteúdo de P na dieta e da monitoração da fração de excreção de P em fases precoces da DRC.15 A 25-vit D tem duas formas e inúmeros metabólitos. As duas formas são o ergocalciferol (vitamina D2) e o colecalciferol (vitamina D3) e seus principais metabólitos são o calcidiol ou 25-vit D e o calcitriol ou 1,25-vit D. O termo 25-hidroxivitamina D não deve ser confundido com calcitriol que, na verdade, se trata de um hormônio sintetizado principalmente nos rins, a partir da 25-vit D. Os níveis séricos de 25-vit D representam o estoque corporal de vitamina D. Indivíduos com níveis séricos inferiores a 15 ng/mL são classificados como deficientes em vitamina D, e aqueles cujos níveis J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S7-S14 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 9 9 25/04/11 13:09 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC encontram-se entre 16 e 30 ng/mL, como insuficientes. Estudos realizados nos Estados Unidos, Europa e inclusive no Brasil mostram prevalências de 20% a 90% de deficiência/insuficiência nas populações estudadas, independentemente da raça, faixa etária e sexo.16-22 Pacientes com DRC também apresentam elevada prevalência de deficiência deste hormônio.23,24 Alguns estudos mostram deficiência superior a 70% nos pacientes com DRC estágios III e IV.23-25 Nos pacientes em HD e DP, essa prevalência é superior a 90%26-28 e, nos transplatados renais, superior a 70%.29 Tanto em indivíduos normais como nos pacientes com DRC, níveis reduzidos de 25-vit D associam-se a aumento dos níveis de PTH. Na DRC, a deficiência dessa vitamina também está associada a progressão e gravidade do HPS. Nos indivíduos normais, a deficiência de 25-vit D está associada à menor densidade mineral óssea e à maior taxa de fraturas,29,30 o que também foi observado nos pacientes em diálise.27,31 Esses dados revelam que tanto a deficiência como a insuficiência de 25-vit D são danosas aos pacientes com DRC, agravando o HPS e causando prejuízo à saúde dos ossos. As principais causas de deficiência/ insuficiência de 25-vit D na DRC são a baixa exposição solar, baixa ingestão de alimentos ricos em vitamina D e a diminuição da síntese endógena de vitamina D na pele. Devemos lembrar que indivíduos idosos também sintetizam menos vitamina D e, portanto, têm a deficiência de 25-vit D agravada quando na presença de DRC. Também indivíduos de cor de pele negra apresentam maior risco de deficiência/insuficiência de 25-vit D, pois a presença da melanina diminui a síntese cutânea da vitamina D.31,32 A prevenção e o tratamento da insuficiência/deficiência de vitamina D nos pacientes com DRC estágios 3 e 4 têm sido preconizados visando reduzir a frequência e a gravidade do HPS.33 Poucos são os estudos que avaliaram a efetividade da suplementação com vitamina D2 ou D3 na DRC. A suplementação com ergocalciferol reduziu os níveis de PTH nos pacientes com DRC estágio 3.34-36 Nos pacientes em HD ou DP, a reposição de ergocalciferol foi segura e efetiva para normalizar os níveis de 25-vit D, o mesmo não ocorrendo com os níveis de PTH.25-27 Até o momento, a efetividade da reposição de vitamina D2 ou D3 neste grupo de pacientes não está estabelecida. Deve-se ressaltar que o calcitriol não deve ser usado para tratar insuficiência /deficiência de 25-vit D. No Brasil foi recentemente lançada uma preparação comercial de vitamina D3 (colecalciferol – Addera D3 ® – 134 UI/gota) como único elemento da formulação, pois em geral, as apresentações estão associadas 10 à vitamina A, Ca ou associadas à polivitamínicos, porém em baixa concentração. Esta nova formulação muitas vezes não supre a necessidade de reposição de 25-vit D nos casos de deficiências mais graves. Recomenda-se, então, manipular na forma de gotas. A concentração mais preconizada é de 1.000 UI/gota. Vale ressaltar que essa vitamina deve ser armazenada em geladeira e protegida da luz. Os níveis séricos ideais de PTH para pacientes com DRC, seja em tratamento conservador ou em diálise, continuam a desafiar os nefrologistas. Fatores ligados à metodologia empregada na dosagem do PTH, a falta de correlação entre histologia óssea e valores intermediários de PTH dificultam a determinação de níveis ótimos desse hormônio.12,37 Estudos mostraram associação entre aumento da mortalidade e níveis reduzidos ou elevados de PTH nos pacientes em diálise.38-40 Dessa forma, deve-se evitar manter os pacientes com níveis extremos e daí a sugestão de valores entre 2 e 9 vezes o limite superior do método. O seguimento, ao longo do tempo, é imprescindível para a conduta terapêutica. Detectando-se tendência de aumento ou redução do intervalo recomendado, medidas imediatas devem ser adotadas para o retorno aos níveis sugeridos. O tratamento com calcitriol ou análogos de vitamina D e/ou calcimiméticos deve ser instituído. O critério de escolha da droga depende dos níveis séricos de Ca e P. Dessa forma, pacientes com hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia não devem utilizar calcitriol ou análogos de vitamina D, e pacientes com hipocalcemia não podem ser tratados com calcimiméticos. Pacientes com DRC, especialmente em diálise, apresentam níveis reduzidos de calcitriol.41 Esse é um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento e progressão do HPS, tanto por reduzir a absorção intestinal de Ca, levando à hipocalcemia, como por diminuir o controle da síntese e secreção de PTH. Além disso, na DRC, a expressão dos receptores da 25-vit D está diminuída nas glândulas da paratireoide, limitando a ação do calcitriol na inibição do gene do PTH.42-44 Os principais efeitos adversos do tratamento com calcitriol são a maior absorção intestinal de Ca e P podendo produzir hipercalcemia, hiperfosfatemia e aumentar o produto Ca x P.45 Além disso, o calcitriol pode reduzir a formação óssea e originar uma condição de doença óssea de baixa remodelação, a chamada doença óssea adinâmica.46,47 Por tais motivos, os níveis séricos de PTH, Ca e P devem ser monitorados no curso do tratamento com calcitriol e sua dose ajustada para manter os níveis recomendados desses elementos. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S7-S14 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 10 25/04/11 13:09 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Calcitriol pode ser administrado tanto nas formas diária por via oral ou intermitente (em pulso), via intravenosa ou oral, 2 a 3 vezes por semana. A administração intermitente parece ser mais efetiva para controlar os níveis de PTH do que a forma diária.48,49 No entanto, não há um consenso na literatura sobre a melhor via de administração, assim como a melhor dose e frequência. Nos pacientes com hiperparatireoidismo leve a moderado não há diferença entre o uso oral intermitente ou diário na redução dos níveis de PTH.10,11 Nas formas graves, recomenda-se o uso intermitente. Não existe um consenso na literatura sobre o uso de calcitriol intermitente oral ou intravenoso. O K/ DOQI analisou quatro estudos clínicos controlados nos quais a administração intermitente intravenosa foi comparada com a oral e concluíram que a intravenosa foi mais efetiva na supressão dos níveis de PTH.48,52-54 No entanto, estes estudos apresentam diferenças metodológicas que limitam os resultados. Dois destes compararam tratamento oral diário com tratamento intravenoso intermitente (3x/semana), portanto, não é possível concluir que o oral intermitente é inferior ao intravenoso.48,51 Além disso, os níveis de PTH no início do estudo eram inferiores a 400 pg/mL, ou seja, formas mais leves de HPS. Slatopolsky e cols. comparam formas oral e intravenosa intermitentes e demonstraram que a intravenosa foi mais efetiva.55 Outros estudos não observaram diferença entre as formas de administração.56-58 No hiperparatireoidismo leve a moderado tanto a via oral como intravenosa são efetivas. Nas formas mais graves a terapia intravenosa é mais eficaz.59,60 No entanto, faltam na literatura estudos clínicos que definam a melhor forma de administrar calcitriol.19 Nos pacientes em hemodiálise recomenda-se o uso intravenoso quando a dose for superior a 1 mg. Para pacientes em DP ou em tratamento conservador recomenda-se o uso oral, preferencialmente à noite. As doses iniciais de calcitriol devem ser ajustadas de acordo com os níveis de PTH e gravidade do HPS. O ajuste da dose deve ser realizado a cada quatro semanas, no mínimo, nos três primeiros meses, quando a queda do PTH pode ser observada e há o risco de supressão acentuada. Estudos prospectivos mostram que pacientes com hiperparatireoidismo severo, isto é, com níveis de PTH superiores a 600 pg/mL, precisam de doses mais elevadas de calcitriol. Além disso, o tempo de tratamento é mais prolongado para avaliar resposta – no mínimo de 12 a 24 semanas.61,62 Diversos fatores são associados à falta de resposta ao uso de calcitriol: o volume das glândulas paratireoides, a menor sensibilidade ao Ca, a menor densidade de receptores da 25-vit D ou o desenvolvimento de hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia.43,63-65 Estudos sugerem que os análogos da vitamina D controlam efetivamente os níveis de PTH com menor incidência de efeitos colaterais, como hiperfosfatemia e hipercalcemia. Dentro dessa classe de drogas, o paricalcitol é o composto mais estudado. Sprague e cols.,66 em um estudo duplo-cego randomizado, estudaram a eficácia do calcitriol e paricalcitol em suprimir a produção de PTH. Esses autores mostraram que ambas as drogas, são eficazes, porém os pacientes tratados com paricalcitol controlaram mais rapidamente os níveis de PTH. Esse estudo revelou também que a incidência de hipercalcemia foi semelhante nos dois grupos; porém, nos pacientes tratados com paricalcitol, a hipercalcemia mantida foi menos frequente. Quanto ao tratamento com calcimimético, o mesmo se baseia na sua ligação com o receptor de Ca presente nas células paratireoides de forma a mudar a sua conformação, possibilitando melhor interação do Ca com este receptor e proporcionando maior supressão da secreção e síntese de PTH. Moe e cols.67 em uma análise secundária de três estudos randomizados e controlados que compararam a eficácia da terapêuticapadrão (uso de quelantes de P associados a calcitriol ou análogos de vitamina D) contra um grupo de pacientes que utilizaram a terapêutica-padrão acrescida do calcimimético (cinacalcete), mostraram que o acréscimo do cinacalcete permitiu que maior proporção de pacientes atingissem níveis adequados de Ca, P e PTH. Entretanto, muitos pacientes abandonaram os estudos, diminuindo, assim, sua relevância. Até o presente momento, a maioria dos estudos falhou na identificação de uma droga ideal, ou seja, que seus efeitos contribuam para melhores desfechos clínicos (mortalidade, hospitalização, fratura, qualidade de vida etc.). Isso ocorre, pois a maioria dos estudos apresenta limitações metodológicas (número insuficiente de pacientes, perdas elevadas de seguimento, tempo de seguimento curto, análises secundárias pouco conclusivas ou insuficientes, estudos observacionais etc.). Diante do exposto, não podemos apontar, de forma definitiva, qual o melhor esquema terapêutico para o tratamento do HPS. No entanto, considerando sua fisiopatologia, entendemos que a abordagem deva incluir várias drogas. Para aqueles pacientes que não respondem aos esquemas terapêuticos, ou seja, desenvolvem hiperparatireoidismo refratário, resta a paratireoidectomia. Entretanto o nível exato de PTH que determina esta intratabilidade ainda não foi definido.68 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S7-S14 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 11 11 25/04/11 13:09 Prevenção e tratamento do hiperparatireoidismo secundário na DRC Referências 1. Reichel H, Deibert B, Schmidt-Gayk H, Ritz E. 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J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S7-S14 CAP_002_007_014_Prevencao.indd 14 25/04/11 13:09 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 3 Concentração de cálcio no dialisato e hipercalcemia na DRC Dialysate calcium concentration and hypercalcemia in CKD Autores: Leandro Junior Lucca Rosélia Ribeiro dos Santos Lobão Cristina Karohl 1 Concentração de Ca no dialisato 1.1 A concentração de Ca no dialisato (Cad) deve ser individualizada (Opinião). 1.2 A Cad deve estar preferencialmente entre 2,5 e 3,0 mEq/L. de normalidade, não excedendo o limite de 5% abaixo do valor superior do método empregado (Opinião). 2.3 Hipercalcemia associada a PTH menor que 300 pg/mL, seguir as seguintes recomendações: 1.2.1 Nos pacientes com níveis séricos de paratormônio (PTH) inferiores a 150 pg/mL, a Cad deve ser preferencialmente de 2,5 mEq/L (Opinião). 2.3.1 Utilizar dialisato com concentração de Ca de 2,5 mEq/L por 2 meses (Opinião). 1.2.2 Nos pacientes com níveis séricos de PTH acima de 500 pg/mL e sem hipercalcemia, a Cad deve ser preferencialmente de 3,0 mEq/L (Opinião). 2.3.3 Mudar o quelante de P à base de Ca por um quelante sem Ca e sem alumínio (Evidência). 1.3 A Cad de 3,5 mEq/L deve ser utilizada preferencialmente quando houver necessidade de balanço positivo de Ca (Opinião). 1.3.1 A Cad de 3,5 mEq/L deve ser sempre utilizada após a PTx até o término do período de “fome óssea” (Opinião). 2 Hipercalcemia na doença renal crônica (DRC) Pacientes com DRC estágios III e IV 2.3.2 Interromper o tratamento com vitamina D2 ou D3 (Opinião). 2.3.4 Depois de seguidas as Diretrizes 2.3.1 a 2.3.3, se o Ca estiver dentro dos valores recomendados, as condutas devem ser mantidas (Opinião). 2.3.4.1Se o Ca ainda permanecer acima dos valores recomendados, manter as Diretrizes 2.3.1 a 2.3.3 por 2 meses ou mais até que o Ca esteja dentro dos valores recomendados, desde que os níveis de PTH estejam abaixo de 300 pg/mL (Opinião). Pacientes com DRC estágio V 2.3.4.2Excluir outras causas de hipercalcemia não relacionadas com as anormalidades do metabolismo mineral e ósseo da doença renal crônica (Opinião). 2.2 2.4 2.1 Os níveis séricos de Ca devem ser mantidos dentro da faixa normal para o método (Evidência). Os níveis séricos de Ca devem ser mantidos dentro da faixa normal para o método (Opinião). 2.2.1 Se utilizar o Ca iônico (Cai), este deve ser mantido dentro da faixa Hipercalcemia associada a PTH maior ou igual a 300 pg/mL, seguir as seguintes recomendações: 2.4.1 Interromper o tratamento com vitamina D2 ou D3 (Opinião). 15 CAP_003_015_018_Concentracao.indd 15 25/04/11 13:11 Concentração de cálcio no dialisato e hipercalcemia na DRC 2.4.2 Mudar o quelante de P à base de Ca por um quelante sem Ca e sem alumínio (Opinião). 2.4.3 Depois de seguidas as Diretrizes 2.4.1 e 2.4.2, se o Ca estiver dentro dos valores recomendados, as condutas devem ser mantidas e devese reiniciar o tratamento com vitamina D2 ou D3 (Opinião). 2.4.3.1Se o Ca estiver acima dos valores recomendados, manter as Diretrizes 2.4.1 e 2.4.2 e utilizar dialisato com concentração de Ca de 2,5 mEq/L por 2 meses, de acordo com as Diretrizes da Concentração de Ca no dialisato. Se após 2 meses, os níveis de Ca estiverem acima dos valores recomendados, indicar paratireoidectomia de acordo com as Diretrizes de Paratireoidectomia (Evidência). Racional A concentração ideal de Ca no dialisato é motivo de controvérsia.1-3 Há uma tendência de tentar generalizar uma concentração ideal para todos os pacientes em diálise, mas isso deve ser reavaliado principalmente porque as características clínicas e necessidades dos pacientes não são as mesmas. No entanto, parece claro que o tratamento adequado da Cad é um fator importante e deveria ser considerado parte do tratamento dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo da DRC.4 Na realidade, desde a década de 1960, época em que a HD foi introduzida como terapia de substituição da função renal, as recomendações da Cad foram principalmente baseadas em opinião de especialistas e de acordo com a situação clínica de cada época, mais do que em evidências. Na década de 1960, as maiores preocupações eram controlar os níveis séricos de P e de Ca com o objetivo de prevenir doença óssea e calcificação metastática em pacientes mantidos em diálise regular.5,6 A Cad de 2,5 mEq/L foi arbitrariamente estabelecida, visando ao balanço neutro e ao uso de quelante de P à base de alumínio associado à suplementação oral de Ca. Essas eram as principais medidas adotadas na época. Posteriormente, observou-se a necessidade de maiores cargas de Ca no dialisato, uma vez que os pacientes desenvolviam hipocalcemia e hiperparatireoidismo secundário (HPS). A partir dessas observações, foi proposto aumentar o Ca no dialisato para 3,5 mEq/L com o objetivo de fornecer carga maior de Ca e suprimir a secreção de PTH.7 Com o reconhecimento da toxicidade do alumínio, os quelantes com Ca passaram a ser utilizados para a 16 maioria dos pacientes.8 No entanto, hipercalcemia começou a ser observada, especialmente quando se associava ao calcitriol. Consequentemente, no final da década de 1980 e início da década de 1990, grande parte dos nefrologistas retornou ao uso de Cad de 2,5 mEq/L. Essa mudança foi suportada por outros estudos que mostraram que o uso combinado de carbonato de Ca, calcitriol e Ca no dialisato de 2,5 mEq/L era efetivo para tratar o HPS.9-11 Mais recentemente, sobrecarga de Ca, mesmo na ausência de hipercalcemia, foi associada a maior risco de calcificação vascular, doença óssea de baixa remodelação e mortalidade, aumentando a preocupação com o ganho de Ca pelos pacientes em diálise, seja do quelante ou do dialisato.12,13 Além disso, a associação de maior risco de mortalidade em pacientes com níveis mais elevados de Ca observado em estudo observacional reforçou esta ideia.14 Young e cols., analisando os resultados do primeiro Dialysis Outcomes and Practice Patterns Study (DOPPS), encontraram uma elevação de 13% no risco de mortalidade geral para cada aumento de 1 mEq/L de Ca no dialisato.15 Essa preocupação com a sobrecarga de Ca foi um dos pontos determinantes para a recomendação de uma concentração de 2,5 mEq/L de Ca no dialisato pelo K/DOQI para a maioria dos pacientes, exceto em situações específicas, quando este pode ser mais alto ou baixo.1 Na prática clínica, o primeiro DOPPS mostrou que apenas 40% dos pacientes estavam em uso de uma Cad recomendada pelo K/ DOQI. O uso de uma concentração de 2,5 mEq/L foi principalmente observada nos Estados Unidos com cerca de 64% dos pacientes dialisatos nessa solução. Na Europa e no Japão, apenas 24% e 20% estavam em uso de Cad de 2,5 mEq/L, respectivamente.15 No mais recente guia para o tratamento dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo da DRC foi sugerido o uso de Cad de 2,5 ou 3,0 mEq/L.3 Apesar das poucas evidências sobre a concentração ideal de Ca no dialisato, algumas considerações devem ser observadas. A decisão sobre a concentração de Ca no dialisato deve levar em consideração a necessidade individual do balanço de Ca durante a diálise. Recentemente, demontrou-se uma grande variabilidade individual na transferência de Ca durante a diálise independente da Cad. Tanto o gradiente de Ca entre o sangue e o dialisato e a taxa de remodelação óssea estimada pelos níveis séricos de PTH foram fatores determinantes da transferência de Ca.16 Dessa forma, o tipo de doença óssea, avaliado por marcadores bioquímicos ou pela biópsia óssea, além da presença ou não de calcificação J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S15-S18 CAP_003_015_018_Concentracao.indd 16 25/04/11 13:11 Concentração de cálcio no dialisato e hipercalcemia na DRC extraóssea deveriam ser considerados na escolha da concentração de Cad. Em geral, Cad de 3,5 mEq/L associa-se com balanço positivo e concentrações inferiores a 2,5 mEq/L com balanço negativo de Ca durante a diálise.17-19 Naqueles pacientes com níveis séricos de PTH menores que 150 pg/mL, a concentração de Ca recomendada no dialisato é de 2,5 mEq/L, com o objetivo de estimular a remodelação óssea, visto que a prevalência de DOA é elevada em pacientes com esses níveis de PTH.20,21 No entanto, Cad iguais ou menores a 2,5 mEq/L deveriam ser usadas com cautela em pacientes com níveis séricos de PTH elevados. Excessiva remoção de Ca poderia agravar o HPS e causar significativa perda de massa óssea. Por outro lado, o uso de Cad de 3,5 mEq/L é associado a um balanço positivo de Ca em uma parcela considerável dos pacientes e deveria ser evitado em pacientes com níveis de PTH mais baixo, os quais, geralmente, apresentam doença óssea adinâmica, menor capacidade de tamponar Ca e maior risco para calcificação vascular. O Ca desempenha importantes papéis fisiológicos no organismo humano. No osso, participa da integridade estrutural do esqueleto. No fluido extracelular e no citosol, a concentração de íons Ca, geralmente mantida constante, é criticamente importante na manutenção e no controle de inúmeros processos bioquímicos.22 Considerando-se um nível sérico de Ca total de 10,0 mg/dL, 45% representam a porção ligada à albumina, sendo os 55% restantes representados pelo Cai, importante para funções biológicas, e apenas 0,5 mg/dL do Ca total encontra-se complexado com outros íons como citrato, bicarbonato e fosfato. É importante mencionar que, nos pacientes com DRC estágios III, IV e V, devemos utilizar preferencialmente as dosagens do Cai ou o Ca total corrigido para o nível sérico da albumina.23 Para o cálculo de Ca total corrigido, deve-se utilizar a seguinte fórmula: Ca total corrigido = Ca total medido + [( 4 - albumina ) x 0,8]. Nos pacientes com DRC, níveis séricos de Ca acima dos limites normais foram associados a aumento no risco de mortalidade.14 Ingestão de Ca na dieta, o tipo de quelante de P utilizado, o uso de vitamina D2 ou D3 , uso de calcimimético, nível sérico do PTH e concentração de Ca no dialisato podem influenciar a concentração sérica de Ca nesses pacientes.15 A ingestão diária de Ca inclui não só o aporte alimentar, mas também o Ca proveniente do quelante de P. Atualmente, recomenda-se que a ingestão diária de Ca, considerando aquela proveniente do quelante de P, não exceda a 2 g/dia. A quantidade de Ca elementar contida no carbonato e acetato de Ca é 40% e 25% respectivamente. A vitamina D2 e D3 aumenta a absorção intestinal de Ca e P podendo causar hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia.24,25 Importante ressaltar que, na presença de hipercalcemia não associada ao tratamento ou ao tipo de doença óssea renal, outras causas devem ser investigadas. Referências 1. National Kidney Foundation. 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Coronary artery calcification in young adults with end-stage renal disease who are undergoing dialysis. N Engl J Med. 2000; 342:1478-83. 13. Chertow GM, Burke SK, Raggi P. Sevelamer attenuates the progression of coronary and aortic calcification in hemodialysis patients. Kidney Int. 2002; 62:245-52. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S15-S18 CAP_003_015_018_Concentracao.indd 17 17 25/04/11 13:11 Concentração de cálcio no dialisato e hipercalcemia na DRC 14.Block GA, Klassen PS, Lazarus JM, Ofsthun N, Lowrie EG, Chertow GM. Mineral metabolism, mortality, and morbidity in maintenance hemodialysis. J Am Soc Nephrol. 2004; 15:2208-18. 15.Young EW, Albert JM, Satayathum S et al. Predictors and consequences of altered mineral metabolism:the Dialysis Outcomes and Practice Patterns Study. Kidney Int. 2005; 67:1179-87. 16. Karohl C, Paschoal JP, Castro MCM et al. Effects of bone remodelling on calcium mass transfer during hemodiálisis. Nephrol Dial Transplant. 2010; 25:1244-51. 17.Angiles A, Mourad G. How do we have to use the calcium in the dialysate to optimmize the management of secondary hyperparathyroidism. Nephrol Dial Transpl. 1998; 13(suppl 3):62-4. 18.Malberti F, Surian M, Minetti L. Dialysate calcium concentration decrease exacerbates secondary hyperparathyroidism in dialysis patients given calcium carbonate as a phosphate binder. J Nephrol. 1991;2:75-81. 19.Fabrizi F, Bacchini G, Di Filippo S et al. Intradialytic calcium balances with different calcium dialysate levels. Nephron. 1996; 72:530-5. 18 20. Barreto FC, Barreto DV, Moysés RMA, et al. K/DOQIrecommended intact PTH levels do not prevent low-turnover bone disease in hemodialysis patients. Kidney Int. 2008; 73:771-7. 21.Hamano T, Oseto S, Fujii N et al. Impact of lowering dialysate calcium concentration on serum boné turnover markers in hemodialysis patients. Bone 2005; 36:909-16. 22. Llach F, Bover J. Renal osteodystrophy. In: Brenner BM. Brenner & Rector´s The Kidney 6.ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2000, p. 2103-86. 23.Payne RB, Carver ME, Morgan DB. Interpretation of serum total calcium: effects of adjustment for albumin concentration on frequency of abnormal values and on detection of change in the individual. J Clin Pathol. 1979; 32(1):56-60. 24.Brown AJ, Coyne DW. Vitamin D analogs: new therapeutic agents for secondary hyperparathyroidism. Treat Endocrinol. 2002; 1:313-27. 25. Henley C, Colloton M, Cattley RC et al. 1,25-Dihydroxyvitamin D3 but not cinacalcet HCl (Sensipar/Mimpara) treatment mediates aortic calcification in a rat model of secondary hyperparathyroidism. Nephrol Dial Transplant. 2005; 20:1370-7. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S15-S18 CAP_003_015_018_Concentracao.indd 18 25/04/11 13:11 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 4 Doença óssea adinâmica Adynamic bone disease Autores: Rodrigo Bueno de Oliveira Rosa Maria Affonso Moysés Lillian Andrade da Rocha Aluizio Barbosa de Carvalho 1 Diagnóstico da doença óssea adinâmica (DOA) 1.1 Deve-se suspeitar de DOA em pacientes idosos, diabéticos, paratireoidectomizados, tratados por longos períodos com doses elevadas de sais de Ca e/ou calcitriol ou análogos da vitamina D, que utilizam, por longos períodos, dialisato com concentrações elevadas de Ca (3,5 mEq/L) e em uso de corticosteroides (Opinião). 1.2 O diagnóstico de DOA só pode ser confirmado por meio de biópsia óssea não descalcificada com análise histomorfométrica (Evidência). 1.3Níveis séricos de paratormôniointacto (PTH) inferiores a 120 pg/mL sugerem o diagnóstico de DOA (Opinião). 1.4 Níveis elevados de fosfatase alcalina total (FA), em pacientes sem doenças hepáticas, ou de sua fração óssea, praticamente excluem DOA (Evidência). 1.5 Diante da suspeita de DOA, a intoxicação por alumínio deve ser excluída por meio do teste à desferroxamina ou da biópsia óssea com coloração para alumínio (Evidência). 2 Tratamento da doença óssea adinâmica 2.1 Pacientes com DOA devem restringir a ingestão de Ca por meio da dieta ou do uso de quelantes de P contendo Ca. Uma alternativa é o uso de quelantes de P isentos de Ca, como o carbonato ou cloridrato de sevelamer, ou o carbonato de lantânio (Evidência). 2.2 O tratamento da DOA deve incluir a terapia com desferroxamina (quando houver intoxicação por alumínio), restrição do aporte de Ca (tanto por via oral quanto através do dialisato) e correção de fatores que colaboram para o aumento da resistência óssea ao PTH, como inflamação, desnutrição, hipotireoidismo e diabete melito (Evidência). 2.3 Nos pacientes com DOA, a concentração de Ca no dialisato deve ser de 2,5 ou 3,0 mEq/L. Dialisato com concentração de Ca de 3,5 mEq/L deve ser evitado (Opinião). 2.4 Nos pacientes com DOA e hipovitaminose D, a reposição se faz com vitamina D2 ou D3 (Opinião). 2.5 No pós-operatório de pacientes submetidos à paratireoidectomia total com autoimplante, os níveis séricos de Ca iônico (Cai) devem ser mantidos no limite inferior dos valores de referência, com o objetivo de estimular a produção de PTH pelo enxerto (Opinião). Racional Doença óssea adinâmica (DOA), também conhecida como doença óssea aplástica, se caracteriza por diminuição da formação óssea, assim como da matriz osteoide e do número de osteoblastos. A fibrose na medula óssea está reduzida ou ausente. Esse perfil histológico caracteriza a baixa remodelação óssea.1 A prevalência de DOA vem aumentando nas últimas décadas, apesar da redução das doenças de baixa remodelação ligadas à intoxicação alumínica. 19 CAP_004_019_020_DOA.indd 19 25/04/11 13:12 Doença óssea adinâmica Nos pacientes incidentes em diálise, a prevalência pode atingir 23%.2 Em pacientes prevalentes em diálise peritoneal (DP) e em diabéticos, cerca de 67% apresentam DOA.1-3 Os fatores de risco classicamente associados a DOA são: idade avançada, diabete melito, hipotireoidismo, hipoparatireoidismo (geralmente secundário à paratireoidectomia), pacientes em uso de corticosteroides, tratados por longos períodos com doses elevadas de sais de Ca e/ou calcitriol ou análogos da vitamina D e intoxicação por alumínio.1 A DOA é geralmente pouco sintomática (com exceção dos pacientes com intoxicação por alumínio). No entanto, está associada a maior risco de calcificação vascular (CV) e fraturas ósseas. Tais complicações aumentam significativamente a morbidade e a mortalidade dos pacientes.4-8 O padrão-ouro para o diagnóstico de DOA é a biópsia óssea.1 Em caso de indisponibilidade da biópsia óssea, marcadores bioquímicos da remodelação óssea podem ser úteis. Assim, níveis séricos de PTH persistentemente reduzidos ou inferiores a 120 pg/mL estão associados à DOA. Níveis de PTH persistentemente elevados, acima de 450 pg/mL, geralmente afastam o diagnóstico de DOA.9 Níveis elevados de FA, em pacientes sem doenças hepáticas, ou de sua fração óssea, praticamente excluem DOA.10,11 Até o momento, não existem estudos em grande escala, prospectivos, randomizados e controlados sobre o tratamento da DOA.12 O tratamento atual da DOA segue dois princípios básicos: redução da carga de Ca (via oral e dialisato) e aumento dos níveis séricos do PTH, o que permite a reversão da DOA em número significativo de pacientes.13,14 O nível sérico de Cai é o principal regulador da síntese e secreção de PTH. A redução da concentração de Ca no dialisato (tanto na diálise peritoneal quanto na hemodiálise) favorece o aumento dos níveis de PTH e, consequentemente, melhora da remodelação óssea.15-17 Dessa forma, pacientes com DOA devem receber quelantes de P isentos de Ca1 e serem dialisatos com menor concentração de Ca. O uso de teriparatide (PTH 1-34 recombinante humano) teoricamente deveria restaurar a remodelação óssea. Contudo, não existem estudos controlados com o uso dessa droga em pacientes com DRC.1 3. Spasovski GB, Bervoets AR, Behets GJ et al. Spectrum of renal bone disease in end-stage renal failure patients not yet on dialysis. Nephrol Dial Transplant. 2003; 18:1159-66. 4. Barreto DV, Barreto FC, Carvalho AB et al. Coronary calcification in hemodialysis patients: the contribution of traditional and uremia-related risk factors. Kidney Int. 2005; 67:1576-82. 5. London GM, Marty C, Marchais SJ et al. Arterial calcifications and bone histomorphometry in end-stage renal disease. 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Holanda Almeida Araújo 1 Prevenção da intoxicação alumínica na DRC 1.1 Quelantes de fósforo (P) à base de alumínio (Al) não devem ser utilizados em pacientes com doença renal crônica (DRC) (Evidência). 1.2 A concentração de Al na água e no dialisato deve ser monitorada semestralmente, sendo que essa concentração deve estar abaixo de 5 µg/L (Evidência). 3.1 O tratamento com desferroxamina deve ser feito na dose de 5 mg/kg de peso, por via intravenosa, diluída em 100 mL de solução glicosada a 5% ou fisiológica a 0,9%, administrada durante 30 minutos, uma vez por semana, após o término da primeira sessão semanal de hemodiálise (HD) (Opinião). 3.2 Nos pacientes em diálise peritoneal (DP), a desferroxamina pode ser administrada por via intravenosa ou intraperitoneal, na dose de 5 mg/kg de peso, uma vez por semana (Evidência). 2 Diagnóstico da intoxicação alumínica na DRC 2.1 O teste à desferroxamina deve ser realizado conforme indicação médica nos pacientes com DRC estágio V D (Evidência). 2.2 Pacientes com suspeita clínica de doença óssea relacionada ao Al e teste à desferroxamina negativo devem ser submetidos à biópsia óssea (Evidência). 2.2.1 A presença de pelo menos 20% da superfície óssea trabecular recoberta por Al é considerada diagnóstica da intoxicação óssea por esse metal (Evidência). 2.2.2 A coloração histológica para a detecção de Al na superfície óssea deve compreender a coloração por solocromo-azurina, seguida pela coloração de Perls para afastar a presença de depósitos de ferro (Evidência). 3 Tratamento da intoxicação alumínica na DRC 3.2.1 A infusão intravenosa deve ser feita durante 30 a 60 minutos, fora do período de diálise (cavidade abdominal vazia). A diálise só deve ser reiniciada após um mínimo de 5 horas do término da administração da desferroxamina (Opinião). 3.2.2 Caso opte-se pela via intraperitoneal, a desferroxamina deve ser adicionada à bolsa de maior permanência. Geralmente, na bolsa noturna para pacientes em diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) e na diurna para pacientes em diálise peritoneal automatizada (DPA) (Opinião). 3.3 O tratamento com desferroxamina deve ser interrompido ao final de 6 meses, e um novo teste deve ser repetido 1 mês após a interrupção (Evidência). 3.4 Em pacientes cujo teste à desferroxamina apresentar Al superior 21 CAP_005_021_025_Intoxicacao.indd 21 25/04/11 13:14 Intoxicação alumínica na doença renal crônica a 200 μg/L, a desferroxamina deve ser administrada 5 horas antes da diálise, que deve ser realizada com membranas de alta permeabilidade (Evidência). 3.5 A administração de ferro intravenoso deve ser evitada, ou a dose reduzida, durante o tratamento com desferroxamina para impedir maior disponibilidade de ferro, favorecendo o aparecimento de infecções oportunistas (Opinião). 3.6 O tratamento com desferroxamina deve ser suspenso na vigência de sinais de toxicidade pela medicação e/ou de infecção (Evidência). Racional O alumínio (Al) é um dos metais mais abundantes na natureza e possui uma série de efeitos tóxicos nos seres humanos.1-4 Por ser de excreção predominantemente renal, essa toxicidade assume maior importância nos pacientes com DRC. Embora seja mais frequente em pacientes com DRC em diálise, a intoxicação por Al já foi descrita na DRC pré-dialítica e em pacientes transplantados renais.5,6 O Al acumula-se em vários tecidos, incluindo osso, cérebro, glândulas paratireoides e outros órgãos.1,2 Portanto, as manifestações clínicas do seu acúmulo são variadas, dependendo do órgão afetado, assim como da magnitude da intoxicação. Os principais sinais e sintomas da intoxicação alumínica são a anemia hipocrômica e microcítica, a neurotoxicidade aguda (agitação, confusão mental, mioclonia e convulsão), a encefalopatia dialítica (distúrbios da marcha e fala, apraxia motora, alucinações auditivas e visuais) e a doença óssea relacionada ao Al (osteomalacia e doença óssea adinâmica [DOA]). As formas de contaminação por esse metal ocorrem por via oral, sobretudo pelo uso de quelantes de P à base de Al, e a parenteral, através da água utilizada no preparo do dialisato. Outras fontes de contaminação descritas incluem o uso de utensílios domésticos de Al,6 soluções parenterais e alimentos.7,8 Além disso, o uso de medicamentos contendo citrato pode facilitar a absorção intestinal de Al.9 O advento de quelantes de P que não contêm Al possibilitou a eliminação quase completa da via oral como fonte de exposição. O emprego de sistemas mais sofisticados para a purificação da água (osmose reversa) minimizou o risco de intoxicação pela via parenteral em pacientes em HD. Por outro lado, estudos têm demonstrado que a exposição a pequenas concentrações de Al, de forma 22 contínua, pode levar à intoxicação por esse metal.10 Em um estudo que analisou biópsias ósseas realizadas em diversas regiões do Brasil, de 1985 a 2001, Araújo e cols. demonstraram que, embora a prevalência de intoxicação alumínica venha diminuindo (1985-1990: 61,3%; 1991-1996: 38,7%; 1997-2001: 42,5%), ela ainda permanece elevada.11 Entretanto, por ser um estudo retrospectivo, as fontes de contágio não puderam ser analisadas. Valores de concentração de Al no dialisato de até 10 μg/L eram considerados seguros para se evitar a contaminação pelo metal. Atualmente, essa concentração é considerada inadequada, e uma concentração de Al menor que 5 μg/L parece ser a ideal.12,13 Além disso, estudos recentes demonstraram que a dosagem anual isolada é de pouca utilidade.14 Recomenda-se, então, que a monitoração da concentração de Al na água e no dialisato seja feita pelo menos semestralmente. Uma via adicional de contaminação que deve ser considerada são os sais utilizados no preparo do dialisato. Estudos que analisem o grau de pureza e a concentração segura de Al nesse importante componente do tratamento dialítico são necessários. A dosagem de Al sérico pode ser útil para revelar uma exposição aguda a esse metal. No entanto, seu significado real e eficácia são questionáveis por não refletir a carga tecidual com precisão.15 Sherrard e cols. demonstraram que somente 50,1% dos pacientes com Al plasmático maior ou igual a 40 μg/L tinham DOA, enquanto que 14,2% daqueles com nível abaixo desse valor apresentaram DOA. Nesse estudo, utilizando-se como ponto de corte o nível de 40 μg/L, a sensibilidade e a especificidade do Al plasmático para o diagnóstico de DOA foi de 65,2% e 76,7% respectivamente.16 Além disso, a interferência do estoque de ferro do paciente no nível sérico do Al é reconhecida.17-19 Pacientes em diálise com sobrecarga de ferro (ferritina > 500 ng/mL) podem apresentar níveis séricos baixos de Al mesmo na vigência de uma carga corporal elevada, resultando em um teste à desferroxamina falso-negativo. Por outro lado, pacientes com deficiência de ferro (ferritina < 100 ng/mL) podem apresentar níveis séricos elevados de Al, mesmo na ausência de acúmulo tecidual desse metal.15,20 Vale ressaltar que a alta variabilidade da concentração desse metal nas estações de tratamento de água dificulta a identificação de uma exposição aguda ao metal no paciente em HD, invalidando uma vez mais a dosagem isolada de Al sérico na DRC. O teste à desferroxamina, interpretado de acordo com os níveis de PTH e estoque de ferro, apresenta boas sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S21-S25 CAP_005_021_025_Intoxicacao.indd 22 25/04/11 13:14 Intoxicação alumínica na doença renal crônica intoxicação pelo Al. Um teste à desferroxamina (5 mg/kg) positivo combinado com PTH < 150 pg/mL, com estoque de ferro adequado (ferritina entre 100 e 500 ng/mL), tem valor preditivo positivo de 80% para doença óssea relacionada ao Al;21 ao passo que um teste positivo combinado com PTH < 650 pg/mL apresenta sensibilidade de 91% e especificidade de 95% para o acúmulo de Al no tecido ósseo.21 O teste à desferroxamina deverá ser realizado conforme indicação médica, em pacientes com DRC estágio V D que apresentem pelo menos uma das seguintes situações clínicas: presença de sinais e sintomas de intoxicação alumínica, início de tratamento farmacológico para HPS, antes de PTx e naqueles pacientes com história de exposição recente ao Al.22 O teste é feito através de duas coletas de sangue, após 4 horas de jejum, para determinação dos níveis séricos de Al, sendo a primeira coleta realizada antes da 1ª sessão e a segunda coleta antes da 2ª sessão de hemodiálise (HD) da semana. Após o término da primeira sessão de HD, infundir a desferroxamina na dose de 5 mg/kg de peso, diluída em 100 mL de solução glicosada a 5% ou fisiológica a 0,9%, durante 30 minutos. O teste à desferroxamina é considerado positivo se a diferença entre a 2ª e a 1ª concentração sérica de Al for > 50 μg/L.21 Para pacientes em DP, o teste à desferroxamina deve ser realizado também com duas coletas de sangue para dosagem de Al sérico, separadas por um período mínimo de 5 horas, durante o qual, a DP deve ser interrompida (cavidade abdominal vazia). Sabe-se que, nesse período de 5 horas, a concentração de Al sérico atinge seu pico máximo após a infusão de desferroxamina.23 É importante ressaltar que se deve ter atenção especial na coleta de sangue e no método utilizado para sua dosagem. Por ser muito abundante na natureza, existe um risco elevado de contaminação da amostra, gerando resultados falso-positivos. Para se evitar tal interferência, a coleta deve ser feita em tubo seco livre de metal, enquanto a dosagem deverá ser feita pela técnica de espectrofotometria de absorção atômica, com forno de grafite. Embora o teste à desferroxamina tenha reduzido a necessidade de se realizar biópsia óssea, esta continua sendo o único método para o diagnóstico de certeza da intoxicação óssea pelo Al.24 Assim, em caso de suspeita clínica de intoxicação por Al associada a um teste negativo, a biópsia óssea deve ser sempre realizada. A presença de pelo menos 20% da superfície óssea trabecular recoberta por Al, detectada através da coloração por solocromo-azurina, é considerada diagnóstica.25,26 A desferroxamina é amplamente utilizada desde 1960 como o único agente efetivo e específico para o tratamento de pacientes com hemocromatose, qualquer que seja a sua etiologia. Apenas em 1980 é que Ackrill e cols. relataram o emprego bem sucedido deste agente quelante de ferro no tratamento da intoxicação alumínica.27 A desferroxamina é uma sideroamina natural obtida a partir da cultura da bactéria Streptomyces pilosus.28 Sua substância ativa, o mesilato ou metanossulfato de desferroxamina B, apresenta enorme afinidade pelo ferro trivalente, com capacidade de removê-lo da ferritina e da hemossiderina, mas não da hemoglobina. Ao se ligar ao ferro, forma o complexo ferrioxamina, substância hidrofílica que pode ser eliminada pelos rins e pela diálise. O Al no sangue é pouco dialisável por ser amplamente ligado a proteínas, principalmente à transferrina. Análises in vitro detectaram uma elevação da fração ultrafiltrável do Al sérico após a infusão da droga, resultante da mobilização do Al dos depósitos tissulares e sua deslocação da transferrina com consequente elevação do Al sérico e formação de aluminoxamina, composto hidrossolúvel ultrafiltrável, com peso molecular de 583 D. Esta propriedade faz da desferroxamina uma droga de excelente ação mobilizadora e quelante do Al depositado nos tecidos, passível de remoção através das membranas utilizadas na diálise. Entre os tipos de membrana que contribuem para maior remoção do Al, destacam-se as de polissulfona e poliacrilonitrilo.29 A membrana peritoneal também é capaz de remover adequadamente o Al.30 A hemoperfusão ou hemofiltração, por se tratar de procedimento dispendioso, são atualmente reservadas àqueles casos de intoxicação grave com manifestação clínica de neurotoxicidade.31 A dose de desferroxamina utilizada para o tratamento da intoxicação alumínica foi reduzida ao longo dos anos devido aos seus efeitos colaterais. Desde a Conferência de Consenso no Diagnóstico e Tratamento do Acúmulo de Alumínio na Doença Renal Crônica, em Paris, em 1992, preconiza-se utilizar uma dose de 5 mg/kg, administrada uma vez por semana, após desligada a 1ª HD da semana, por um período variável de 3 meses a 1 ano.32 Alguns autores demonstraram, por meio de estudos clínicos e farmacocinéticos, que doses mais baixas de desferroxamina (< 5 mg/kg de peso) podem ser eficazes no tratamento de pacientes com intoxicação pelo Al.33-35 Porém, tais observações ainda precisam de maior confirmação antes de o seu uso ser recomendado. Nos pacientes submetidos à DP, a administração de desferroxamina pode ser feita por via intravenosa ou intraperitoneal, J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S21-S25 CAP_005_021_025_Intoxicacao.indd 23 23 25/04/11 13:14 Intoxicação alumínica na doença renal crônica na mesma dose e frequência preconizadas para os pacientes em HD.36 A infusão intravenosa deve ser feita lentamente, durante 30 a 60 minutos, fora do período de diálise (cavidade abdominal vazia). A diálise só deve ser reiniciada após um mínimo de 5 horas após o término da administração da medicação. Caso optese pela via IP, a medicação deve ser adicionada às bolsas de maior permanência, ou seja, em geral na noturna, nos pacientes em diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD), e na diurna, nos pacientes em diálise peritoneal automatizada (DPA). De modo geral, a desferroxamina é bem tolerada, porém não destituída de efeitos colaterais. Vários estudos relataram neurotoxicidade aguda dose-relacionada, exacerbação da encefalopatia alumínica, reações anafiláticas e maior suscetibilidade a infecções oportunistas, principalmente mucormicose.37-39 A ferrioxamina constitui nutriente para os microrganismos que utilizam ferro no seu metabolismo. Observou-se, experimentalmente, que a presença de ferrioxamina aumenta a taxa de proliferação de Rhizopus e reduz a eficácia terapêutica da anfotericina B.40 Nos últimos 10 anos, após a recomendação do uso de desferroxamina, na dose de 5 mg/kg, os relatos de efeitos colaterais tornaramse esporádicos.6 Durante o tratamento com desferroxamina, a exacerbação do hiperparatireoidismo secundário pode ser observada devido à retirada do Al dos vários tecidos do organismo, principalmente paratireoides e osso.41,42 A hemoglobina e o volume corpuscular médio aumentam, indicando melhora da anemia, e a ferritina diminui em decorrência da ação quelante da medicação sobre os depósitos de ferro.43 O controle do tratamento pode ser feito por meio do teste de desferroxamina ou da biópsia óssea.44-46 Referências 1. Alfrey AC, Hegg A, Craswell P. Metabolism and toxicity of aluminum in renal failure. Am J Clin Nutr. 1980; 33:1509-16. 2.Alfrey AC. Aluminum metabolism in uremia. 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Definition, evaluation, and classification of renal osteodystrophy: A position statement from Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO). Kidney Int. 2006; 69:1945-53. 25.Fernandez-Martin JL, Menendez P, Acuna G, Canteros A, Gómez C, Cannata JB. Staining of bone aluminium: comparison between aluminon and solochrome azurine and their correlation with bone aluminium content. Nephrol Dial Transplant. 1996; 11 (Suppl 3):80-5. 26.Andress DL, Maloney NA, Coburn JW, Endres DB, Sherrard DJ. Osteomalacia and aplastic bone disease in aluminumrelated osteodystrophy. J Clin Endocrinol Metab. 1987; 65:11-6. 27. Ackrill P, Ralston AJ, Day JP, Hodge KC. Successful removal of aluminum from patient with dialysis encephalopathy. Lancet 1980; 2:692-3. 28. Ackrill P, Day PJ. The use of desferrioxamine in dialysis associated aluminium disease. Contrib Nephrol. 1993; 102:125-34. 29.Molitoris BA, Alfrey AC, Alfrey PS, Miller NL. 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Moysés 1 A presença de calcificação vascular (CV) deve ser investigada em paciente com DRC (Opinião). 2 A avaliação da CV pode ser feita por métodos semiquantitativos ou quantitativos (Evidência). 3 A avaliação da CV deve ser feita anualmente (Opinião). 4 A prevenção da CV se faz por meio do controle dos seguintes fatores de risco modificáveis: 4.1 Fatores tradicionais: hipertensão arterial, diabetes melito, dislipidemia, obesidade, tabagismo e sedentarismo (Evidência). 4.2 Fatores não tradicionais: inflamação, estresse oxidativo, hiperfosfatemia, hipercalcemia, sobrecarga de Ca (consequente à ingestão e/ou solução de diálise), hipo e hiperparatireoidismo (Opinião). Racional As doenças cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de mortalidade em pacientes com doença renal crônica (DRC).1 O risco de óbito por DCV nessa população chega a ser 10 a 30 vezes maior que aquele observado na população geral. Esse aumento da mortalidade também ocorre em pacientes nos estágios precoces da DRC,2 assim como naqueles submetidos a transplante renal.3 A alta prevalência de DCV nos pacientes com DRC se deve, em parte, à elevada incidência de fatores de risco tradicionais para DCV nesta população. A presença de fatores de risco tradicionais, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, idade avançada e sedentarismo, tem relação com o aparecimento e progressão da lesão aterosclerótica e sua calcificação, tanto na população geral como nos portadores de DRC.4 Entretanto, alguns estudos demonstraram que a ocorrência desses fatores não é suficiente para explicar a associação entre DCV e DRC.4 Fatores relacionados à uremia, como anemia, sobrecarga de volume, distúrbios do metabolismo mineral e ósseo, inflamação, aumento do estresse oxidativo, podem contribuir para o agravamento de lesões cardiovasculares preexistentes ou induzir o aparecimento das mesmas.5 Entre as complicações cardiovasculares da DRC, a CV tem recebido grande destaque na literatura médica na última década, o que se deve, essencialmente, ao fato de estar associada a um aumento de mortalidade.6,7 A CV é um achado frequente em pacientes submetidos à diálise8-10 e ocorre geralmente em dois locais distintos: nas camadas íntima e média dos vasos. Mais recentemente, estudos têm demonstrado a ocorrência de CV em pacientes na fase pré-dialítica.11 A calcificação localizada na íntima do vaso é considerada um marcador de aterosclerose, sendo sua extensão diretamente relacionada à gravidade da lesão aterosclerótica observada à angiografia.12 Na última década, tem-se evidenciado o papel do processo inflamatório sobre a célula endotelial como elemento fundamental no desenvolvimento e na progressão das lesões ateroscleróticas.13 26 CAP_006_026_030_CV.indd 26 25/04/11 14:07 Calcificação vascular na DRC A CV localizada na camada média do vaso é extremamente prevalente em pacientes com DRC, e parece estar associada aos distúrbios do metabolismo mineral.14 Na presença de distúrbios da remodelação óssea, como o aumento da reabsorção (alta remodelação) ou perda da capacidade-tampão do tecido ósseo (baixa remodelação), ocorre sobrecarga extracelular de Ca e P que favorece a calcificação extraóssea, principalmente a CV. Vários estudos associaram o aumento das concentrações séricas de Ca e P com a CV em pacientes com DRC.15,16 Esse processo é ativo, semelhante à ossificação. Sabe-se que as células da musculatura vascular lisa sofrem uma transformação e adquirem características da célula osteoblástica, em que o fator de transcrição Cbfa1 parece ser a peçachave.17 O transcription factors core binding factor α1 (Cbfa1) é um fator de transcrição, expressado por células precursoras mesenquimais da medula óssea, com a função de estimular a diferenciação dessas células em osteoblastos maduros. Essa célula osteoblasto-símile expressa várias proteínas características do tecido ósseo, como osteopontina, MGP (proteína Gla da matriz), fosfatase alcalina, osteocalcina e colágeno tipo I.18 Vários estudos demonstraram que o P é um dos fatores capazes de induzir a transformação da célula da musculatura lisa vascular, sendo que o Ca também contribui nesse processo, aumentando a expressão dos cotransportadores de P, facilitando assim a entrada desse elemento na célula.19 Adicionalmente, toxinas presentes no soro urêmico, citocinas, radicais livres e glicose parecem acelerar a CV independentemente da concentração de P.20 Vale ressaltar que uma parcela de pacientes, em torno de 20% na maioria dos estudos, não tem e não desenvolve CV ao longo do tempo.20 Esse dado sugere que algumas proteínas como MGP, fetuína-A, osteopontina e osteoprotegerina estejam envolvidas na inibição do processo de CV.21-24 A ocorrência da CV tem sido associada a um aumento de mortalidade e confere valor prognóstico negativo independentemente de sua localização (na íntima ou na média). Em indivíduos com DRC, a calcificação da placa aterosclerótica parece ocorrer mais precocemente e de forma mais intensa do que na população geral, e sua progressão implica isquemia e fibrose miocárdica, que se manifestam como arritmias, insuficiência cardíaca e morte súbita.25 Estudos realizados já demonstraram que o grau de calcificação associa-se ao número de lesões diagnosticadas pela arteriografia.26 A calcificação da camada média das artérias leva a uma redução da complacência das grandes artérias de condução, o que resulta em aumento da pressão de pulso, barotrauma, redução da perfusão coronariana, disfunção vasomotora endotelial e hipertrofia ventricular esquerda.27 Os métodos de avaliação da CV podem ser: A. Qualitativo Radiografia simples: método de fácil obtenção e baixo custo, porém de baixa sensibilidade, que permite detectar a presença de CV em vasos dos diferentes segmentos do corpo. B. Semiquantitativo B.1 Radiografias de mãos e pelve – método simples e de baixo custo para avaliação da CV; consiste na divisão em quadrantes das radiografias das mãos e da pelve. Esse método mostrou uma correlação significativa com a calcificação coronariana em pacientes com DRC. A radiografia da pelve deve ser dividida em quadrantes por uma linha horizontal acima das cabeças dos fêmures e por uma linha vertical sobre a coluna vertebral. Já na radiografia das mãos, a linha vertical separa as duas mãos e a linha horizontal passa acima dos ossos do metacarpo. A presença de CV em cada quadrante é contada como um ponto, e sua ausência como zero. O escore final é a soma de todos os pontos que, portanto, variam de 0 a 8. Só são atribuídos pontos para CV localizadas nas artérias ilíacas, femorais, radiais e digitais 28. B.2 Ultrassonografia arterial associada a radiografias – ultrassonografia de artérias carótidas, aorta abdominal, ileofemorais e poplíteas. A presença de calcificação é complementada pela realização de radiografias posteroanterior e perfil do abdômen, pelve e membros inferiores. A CV, em cada um desses locais, detectada na ultrassonografia ou no Rx, é contada como um ponto e sua ausência como zero. O escore final é a soma de todos os pontos, variando de 0 a 4.29 C. Quantitativo Tomografia coronariana computadorizada por feixe de elétrons ou tomografia computadorizada multislice – técnicas que permitem a quantificação da CV e, quando realizadas em diferentes períodos, a análise da sua progressão. São realizadas em sincronia com ECG, o que permite a aquisição de imagens cardíacas no momento refratário do batimento cardíaco. O Ca presente na artéria coronária é quantificado utilizando-se o escore de Agatston, que é calculado pela multiplicação da área da placa por um coeficiente de densidade. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S26-S30 CAP_006_026_030_CV.indd 27 27 25/04/11 13:16 Calcificação vascular na DRC A tomografia coronariana é um método não invasivo que permite a quantificação de Ca em cada segmento estudado. No entanto, esse método não possibilita a distinção entre calcificação da camada íntima e média.30 Além disso, outras medidas, como espessura do complexo íntima-média das carótidas, CV pelo ecocardiograma, CV avaliada em tomografia de tórax ou abdômen foram capazes de predizer o escore de Ca coronariano em pacientes com DRC. Adicionalmente, a velocidade da onda de pulso também se relaciona com a presença de calcificação coronariana; entretanto, esses dados são controversos.31 A recomendação de avaliação anual da calcificação baseou-se em alguns trabalhos que estudaram progressão de calcificação. Nesses estudos, a maioria realizada com pacientes no estágio V D, com seguimento de 1 a 3 anos, demonstraram que é possível detectar progressão da calcificação no período de 1 ano, utilizando métodos como radiografia, ultrassonografia de carótidas (medida da espessura do complexo íntima-média) e tomografias.31 A CV, uma vez presente, raramente regride. Portanto, o principal objetivo do tratamento deve ser a prevenção e a estabilização da CV já existente, através do controle dos fatores de risco modificáveis. Entre os fatores de risco tradicionais modificáveis, recomenda-se controle rigoroso dos níveis pressóricos, glicemia, lípides, abandono do tabagismo e realização de atividades físicas regulares. Desse modo, as medidas orientadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia para a prevenção da aterosclerose devem ser implementadas no cuidado dos pacientes com DRC, sendo que essa população deve ser considerada de alto risco já na fase pré-dialítica.32 Quanto aos fatores de risco não tradicionais, aqueles relacionados à uremia, uma atenção maior deve ser dada ao controle dos distúrbios do metabolismo mineral. As concentrações séricas de P, o produto CaxP e a sobrecarga de Ca correlacionam-se positivamente com a CV. Elevadas concentrações de Ca e P estão associadas ao aumento da mortalidade em pacientes com DRC.33 A CV tem sido relacionada à integridade do tecido ósseo. Assim, tanto as doenças ósseas de alta como de baixa remodelação, especialmente a DOA,34 têm sido associadas à CV. Adicionalmente, estudos epidemiológicos têm mostrado uma correlação inversa entre massa óssea e CV, tanto na população geral como nos pacientes com DRC.9,35 Desse modo, a prevenção da CV pressupõe um controle rigoroso das concentrações de Ca e P, da sobrecarga de Ca, assim como o controle da remodelação óssea. 28 Adicionalmente, medidas devem ser implementadas para minimizar a inflamação, como o controle rigoroso da água utilizada para diálise e a prevenção e tratamento de infecções.36 Portanto, a CV é um processo ativo de ossificação dos vasos, extremamente frequente na uremia, e que contribui para a elevada morbimortalidade cardiovascular presente nessa população. Com relação ao impacto do tratamento do DMODRC sobre a progressão da CV, poucos estudos clínicos prospectivos e randomizados foram realizados, e os resultados foram conflitantes para alguns dos fatores de risco. O papel dos quelantes de P sobre a progressão da CV foi avaliado por cinco diferentes estudos clínicos, sendo que três deles identificaram benefício do uso de sevelamer sobre os sais de Ca,37-39 enquanto outros dois não obtiveram resultados semelhantes.40,41 Não há estudos que compararam o efeito da paratireoidectomia sobre a progressão da CV, mas um estudo recentemente publicado mostrou benefício do uso de cinacalcete sobre a progressão da calcificação em pacientes portadores de hiperparatireoidismo secundário.42 Embora a dislipidemia seja considerada um fator de risco para CV, e estudos realizados na população sem DRC tenham demonstrado benefício do uso de estatinas sobre o número de eventos cardiovasculares, os mesmos achados não puderam ser confirmados nos pacientes portadores de DRC. De fato, os estudos 4D43 e AURORA44 não mostraram benefício do uso de estatinas no número de eventos nos pacientes em hemodiálise. Mais recentemente, os dados preliminares do estudo SHARP apontam para uma redução de eventos cardiovasculares em pacientes com DRC que utilizaram a combinação sinvastatina ezetimiba. Não há estudos que tenham avaliado o papel do uso de estatinas sobre a progressão da CV. A despeito disso, as recomendações atuais ainda são de tratar esses pacientes como de alto risco para DCV e manutenção de níveis adequados de colesterol e triglicérides.31,32 Referências 1. Foley RN, Parfrey OS, Sarnak MJ. Clinical epidemiology of cardiovascular disease in chronic renal disease. Am J Kidney Dis. 1998; 32:S112-S119. 2. Go AL, Chertow GM, Fan D et al. Chronic kidney disease and the risks of death, cardiovascular events and hospitalization. New Engl J Medicine 2004; 351:1296-305. 3. Collins AJ, Kasiske B, Herzog C et al. Excerpts from the United States Renal Data System 2004 annual data report: Atlas of end stage renal disease in the United States. Am J Kidney Dis. 2005; 45(Suppl 1):A5-7, S1-28045. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S26-S30 CAP_006_026_030_CV.indd 28 25/04/11 13:16 Calcificação vascular na DRC 4. Longenecker JC, Coresh J, Powe NR et al. Traditional cardiovascular disease risk factors in dialysis patients compared with the general population: the CHOICE Study. J AM Soc Nephrol. 2002; 13:1918-27. 5. Zoccali C. Cardiovascular risk in uraemic patients – is it fully explained by classical risk factors? Nephrol Dial Transplant. 2000; 15:454-7. 6. Matsuoka M, Iseki K, Tamashiro M et al. Impact of high coronary artery calcification score (CACS) on survival in patients on chronic hemodialysis. Clin Exp Nephrol. 2004; 8:54-8. 7. Ammirati AL, Dalboni MA, Cendoroglo M et al. The progression and impact of vascular calcification in peritoneal dialysis patients. Perit Dial Int. 2007; 27:340-6. 8. Braun J, Oldendorf M, Moshage W et al. Electron beam computed tomography in the evaluation of cardiac calcification in chronic dialysis patients. Am J Kidney Dis. 1996; 27:394-401. 9. 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J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S26-S30 CAP_006_026_030_CV.indd 30 25/04/11 13:16 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 7 Paratireoidectomia na DRC Parathyroidectomy in CKD Autores: Elisa de Albuquerque Sampaio Rosa Maria Affonso Moysés 1 Indicações de Paratireoidectomia (PTx) A PTx deve ser indicada em pacientes com doença renal crônica estágios III-V D e I-V T com hiperparatireoidismo secundário (HPS) ou terciário, respectivamente, não responsivo ao tratamento clínico, assim especificado: 1.2.2 Associado a hipercalcemia e perda progressiva e inexplicada da função do enxerto (Evidência). 1.1 2.1 Identificar as glândulas paratireoides através de ultrassonografia e cintilografia com sestamibi99m Tc (Opinião). 2.2 Descartar intoxicação alumínica nos pacientes com HPS, por meio do teste a desferroxamina (Evidência). Pacientes com HPS com nível sérico de PTH, persistentemente acima de 800 pg/mL, associado a uma ou mais das seguintes condições: 1.1.1 Hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia refratárias ao tratamento clínico (Evidência). 1.2.3 Hipercalcemia persistente após o primeiro ano de transplante renal. 2 Avaliação pré-operatória 1.1.2 Hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia durante pulsoterapia com calcitriol ou análogos da vitamina D, a despeito do uso de quelante de P sem Ca e da redução da concentração de Ca do dialisato (Evidência). 2.2.1 Nos casos de alta probabilidade dessa associação e na presença de um teste negativo ou duvidoso com desferroxamina, realizar biópsia óssea (Evidência). 1.1.3 Calcificações extraósseas (tecidos moles e/ou cardiovasculares) ou arteriolopatia urêmica calcificante (calcifilaxia) (Evidência). 3 Tipos de PTx 1.1.4 Doença óssea avançada, progressiva e debilitante que não responde ao tratamento clínico (Evidência). 3.1.1 Nos casos de autoimplante de tecido paratireoideano, este pode ser realizado no antebraço ou na região pré-esternal (Opinião). 1.1.5 Presença de glândulas paratireoides volumosas ao ultrassom (volume > 1,0 cm3) (Opinião). 1.2 Pacientes quando: com HP terciário, 1.2.1 Associado à hipercalcemia maligna (Ca total > 14 mg/dL ou Ca iônico > 1,80 mmol/L) (Evidência). 3.1 A PTx deve ser subtotal ou total com autoimplante de tecido paratireoideano (Evidência). 4Tratamento da síndrome da fome óssea no pós-operatório imediato 4.1 Dosar potássio duas vezes ao dia, durante as primeiras 24 horas subsequentes à PTx. Dosar Ca sérico pelo menos duas vezes ao dia até a estabilização dos seus 31 CAP_007_031_034_Paratire.indd 31 25/04/11 13:24 Paratireoidectomia na DRC níveis e alta hospitalar. Em pacientes transplantados ou em tratamento conservador, monitorar também P e magnésio na mesma frequência (Opinião). 4.2 Iniciar infusão de gluconato de Ca IV imediatamente após o término da PTx. Utilizar 10 ampolas de gluconato de Ca a 10% diluídas em 250 mL de solução fisiológica a 0,9%, infundido preferencialmente em veia calibrosa, na velocidade de 10 mL/h através de bomba de infusão contínua. Posteriormente, a velocidade de infusão deve ser ajustada para manter o Ca sérico ≥ 7,5 mg/dL ou Ca iônico ≥ 1,0 mmol/L (Opinião). 4.2.1 Fazer uma dose suplementar de gluconato de Ca (uma ampola de gluconato de Ca a 10% IV, diluída em 50 mL de glicose a 5%, em 10 minutos) sempre que o Ca sérico estiver < 7,5mg/dL (< 1,0 mmol/L) ou o paciente apresentar sintomas de hipocalcemia (Opinião). 4.3 Iniciar carbonato de Ca na dose de 48 g/dia (1 colher de sopa = 12 gramas), a cada 6 horas, por via oral, após a liberação da dieta, longe das refeições, ajustando de acordo com o Ca sérico (Opinião). 4.4 Iniciar calcitriol oral na dose de 2,5 µg/dia, fracionada em duas tomadas diárias, concomitante ao uso de carbonato de Ca, ajustando de acordo com o Ca sérico (Opinião). 4.5 Após o segundo pós-operatório, as doses de carbonato de Ca e calcitriol devem ser ajustadas visando à suspensão da infusão de gluconato de Ca, o mais precocemente possível (Opinião). 4.6 Em pacientes transplantados renais, as doses de gluconato de Ca, carbonato de Ca e calcitriol devem ser reduzidas à metade do recomendado nos itens 4.2-4.4. (Opinião). 4.7 Após a PTx, usar dialisato com concentração de Ca de 3,5 mEq/L (Opinião). 5 Cuidados no pós-operatório tardio 5.1 32 Monitorar Ca e P séricos semanalmente, nas primeiras 4 semanas, após a alta hospitalar, e quinzenalmente até o término da fome óssea (Opinião). Racional O HPS é uma complicação frequente em pacientes com DRC, contribuindo para as altas taxas de morbimortalidade dessa população. Ao longo do curso da DRC, o HPS requer monitoração e medidas de prevenção e tratamento enérgicas, as quais nem sempre são satisfatórias para seu adequado controle, levando à necessidade de tratamento cirúrgico através da PTx.1-3 Devido à falta de estudos randomizados e controlados avaliando tratamento clínico vs. cirúrgico do HPS avançado, torna-se difícil comparar seus benefícios em longo prazo.2 Ressalta-se que o surgimento de novas estratégias terapêuticas, como os calcimiméticos, podem vir a reduzir a necessidade de PTx.4 Entretanto, a PTx cirúrgica permanece a terapia definitiva para o HPS grave refratário ao manejo clínico.2 Os métodos de imagem para a localização das glândulas paratireoides antes da PTx nem sempre são suficientemente sensíveis, sendo a ultrassonografia e a cintilografia de paratireoides consideradas métodos complementares.5-7 Esses procedimentos facilitam a abordagem cirúrgica, apesar de a não visualização de qualquer glândula paratireoide não contraindicar a PTx. São três tipos de PTx: a subtotal, a total e a total com autoimplante de tecido paratireoideano.8-14 Embora a escolha de um tipo ou outro dependa da experiência e da habilidade do cirurgião, atualmente tem-se optado pela PTx subtotal ou total com autoimplante em razão da alta taxa de hipoparatireoidismo resultante da PTx total.13 Não existe evidência que a PTx total com autoimplante seja superior ou inferior à PTx subtotal. A PTx total sem autoimplante não deve ser realizada em pacientes transplantados ou naqueles que estão na lista de espera para o transplante renal.2 Atualmente, alguns centros utilizam a dosagem do PTH intraoperatório como ferramenta para monitoração da efetividade da PTx.15-17 O autoimplante de tecido paratireoideano pode ser realizado tanto no antebraço como na região pré-esternal, dependendo da experiência do cirurgião. Com relação à PTx subtotal, geralmente o cirurgião escolhe como glândula remanescente aquela de menor tamanho e de melhor aspecto, deixando-a inteira ou efetuando ressecção parcial. Essa glândula remanescente é fixada com fio não reabsorvível para facilitar futuras intervenções em caso de recidiva.12 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S31-S34 CAP_007_031_034_Paratire.indd 32 25/04/11 13:24 Paratireoidectomia na DRC Após a PTx bem-sucedida, segue um período conhecido como “síndrome da fome óssea”, que ocorre geralmente nos primeiros dias de pós-operatório, mas que, não raras vezes, surge tardiamente. As principais características dessa fase são hipocalcemia, hipofosfatemia e elevação da fosfatase alcalina total e óssea. Nessa fase, uma grande reposição de Ca e de calcitriol se faz necessária, por um período que varia desde os primeiros dias de pós-operatório até mesmo meses após a alta do paciente.17 Embora a reposição intravenosa de grandes quantidades de Ca seja objeto de controvérsia na literatura, a maioria dos pacientes, principalmente aqueles com HPS grave, desenvolve hipocalcemia sintomática, necessitando de tal medida.18,19 A administração de Ca e de calcitriol por via oral, tentando manter o Ca sérico na faixa normal, deve ser instituída o mais rapidamente possível, porque além de favorecer a redução dos episódios de hipocalcemia e suspensão mais rápida da infusão venosa de Ca, possibilitará menor tempo de hospitalização.20-22 Durante o período de “fome óssea”, atenção especial deve ser dada às dosagens do potássio sérico, pois um significativo percentual desses pacientes desenvolve hipercalemia no pós-operatório imediato, inclusive necessitando de diálise emergencial.19,23,24 Embora a causa da hipercalemia pós-PTx venha sendo atribuída à maciça apoptose de osteoclastos, sua real gênese ainda é obscura na literatura.19 Além disso, alguns pacientes, principalmente aqueles com DRC pré-dialítica ou transplantados, desenvolvem hipomagnesemia, sendo essa complicação, muitas vezes, a causa da hipocalcemia sustentada no pós-operatório.25 A reposição de magnésio é feita com sulfato de magnésio intravenoso ou pindolato de magnésio por via oral, até que seus níveis voltem à normalidade. Quanto à reposição de P para correção da hipofosfatemia, esta deve ser evitada, exceção feita no caso de hipofosfatemia grave e sintomática, em que o nível sérico de P encontra-se abaixo de 1,0 mg/dL.26 Após o primeiro mês da PTx, é essencial a monitoração mensal de Ca e P séricos visando à modificação da posologia do Ca oral e do calcitriol. O Ca oral, inicialmente utilizado como suplemento, deve ter sua dose ajustada de acordo com as necessidades individuais. No decorrer do período pós-operatório tardio, a necessidade da mudança do Ca oral da forma de suplemento para a forma quelante, ou mesmo uma associação de ambas, deve ser sempre considerada. Às vezes, a introdução de quelantes não contendo Ca, como o sevelamer, em substituição ou como coadjuvante do Ca, se faz necessária. Finalmente, a monitoração do PTH deve ser trimestral para identificação e intervenção precoces de possíveis elevações do hormônio e, também, para intervenção no caso de níveis muito reduzidos. Essas medidas são importantes na prevenção de recidivas e detecção precoce de persistência do HPS ou mesmo do hipoparatireoidismo e suas consequências. Referências 1. K/DOQI Clinical practice guidelines for bone metabolism and disease in chronic kidney disease. Guideline 14. Parathyroidectomy in patients with CKD. Am J Kidney Dis. 2003; 23:S127-9. Disponível em: http://www.kidney. org/professionals/kdoqi/guidelines_ bone/guide14.htm 2. Kidney Disease. Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD-MBD Work Group. KDIGO clinical practice guideline for the diagnosis, evaluation, and treatment of chronic clinical disease-mineral and bone disorder (CKD-MBD). Chapter 4.2: Treatment of abnormal PTH levels in CKD-MBD. Kidney Int. 2009; 76(113):S50-99. 3. Uhlig K, Berns JS, Kestenbaum B et al. KDOQI US commentary on the 2009 KDIGO clinical practice guideline for the diagnosis, evaluation, and treatment of CKD-mineral and bone disorder (CKD-MBD). AJKD 2010; 55:773-99. 4. 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J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S31-S34 CAP_007_031_034_Paratire.indd 34 25/04/11 13:24 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 8 Biópsia óssea na DRC Bone biopsy in chronic kidney disease Autores: Fellype Carvalho Barreto Leandro Júnior Lucca 1 A biópsia óssea com dupla marcação pela tetraciclina é o único método capaz de diagnosticar o tipo histológico da doença óssea na doença renal crônica (DRC) (Evidência). 2 Em pacientes com DRC estágio III a V D, a biópsia óssea deve ser considerada principalmente nas seguintes condições: fraturas atraumáticas, dor óssea persistente, hipofosfatemia e/ou hipercalcemia não explicadas, suspeita de intoxicação alumínica, antes da paratireoidectomia e antes de terapia com bisfosfonatos (Opinião). Racional Recentemente, o Kidney Disease Improving Global Outcomes (KDIGO) reuniu as alterações do metabolismo mineral, da estrutura óssea e da calcificação extraesquelética sob a denominação de distúrbio mineral e ósseo da doença renal crônica (DMO-DRC). Dessa forma, o termo osteodistrofia renal (OR) passou a designar exclusivamente as alterações de morfologia óssea presentes em pacientes com DRC.1 A biópsia óssea com dupla marcação pela tetraciclina, seguida de análise histomorfométrica, é o padrão-ouro para o diagnóstico da OR.1,2 A biópsia óssea fornece informações sobre a remodelação, mineralização e volume ósseos, o que ajuda na avaliação da qualidade óssea assim como na fisiopatologia subjacente. Todavia, por se tratar de um método invasivo, de alto custo e que requer centros especializados para sua realização, a biópsia óssea não é recomendada como parte da avaliação de rotina na DRC.3 No entanto, em algumas situações clínicas específicas, a realização da biópsia óssea deve ser considerada em pacientes com DRC estágio III a V D: fraturas atraumáticas, dor óssea persistente, hipofosfatemia e/ou hipercalcemia não explicadas, suspeita de intoxicação alumínica, antes da paratireoidectomia e antes de terapia com bisfosfonatos.4 A marcação prévia do tecido ósseo pela tetraciclina se faz necessária nos pacientes que serão submetidos à biópsia. A dose utilizada de cloridrato de tetraciclina é de 20 mg/kg/dia por 3 dias consecutivos, em dois períodos distintos, separados por um intervalo de 10 dias, quando a droga é descontinuada. A biópsia óssea deve ser realizada até 5 dias após o segundo período de tomada da tetraciclina. A biópsia óssea transilíaca realizada com trefina fornece amostra de osso ilíaco composto por uma área interna intacta de osso trabecular delimitado por duas corticais. O fragmento ósseo deve ser conservado em solução de álcool etílico a 70%, em frasco de vidro protegido da luz. As complicações relacionadas à biópsia óssea são raras. As mais frequentes são: dor, hematoma e infecção local e, raramente, neuropatia. De acordo com um estudo multicêntrico, a incidência global de complicação após biópsia óssea transilíaca foi de 0,7%.5 Referências 1. Moe S, Drueke T, Cunningham J et al. Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO). Definition, evaluation, and classification of renal osteodystrophy: a position statement from Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO). Kidney Int. 2006; 69:1945-53. 2. Malluche HH, Langub MC, MonierFaugere MC. The role of bone biopsy in clinical practice and research. 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J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S35-S36 CAP_008_035_036_Biopsiaossea.indd 36 25/04/11 13:25 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 9 Distúrbio mineral e ósseo após o transplante renal Guidelines for bone and mineral disorders after kidney transplantation Autores: Ana Paula Santana Gueiros Carolina Lara Neves Elisa de Albuquerque Sampaio Melani Ribeiro Custódio No 1º ano de Transplante Renal 1 Monitorar os níveis séricos de cálcio (Ca) e fósforo (P) uma vez por semana até a estabilização (Evidência). Em seguida, realizar dosagens mensais até o final do 1º ano (Opinião). 2 Monitorar os níveis séricos de fosfatase alcalina (FA) e paratormônio (PTH) no momento do transplante renal (TxR) e com 6 e 12 meses (Opinião). 3 O tratamento das anormalidades do Ca, P e PTH segue as diretrizes para DRC I-V (Evidência). a.A paratireoidectomia (PTx) está indicada quando houver hipercalcemia grave, em qualquer momento após o TxR, ou persistência do hiperparatireoidismo secundário (HPS), preferencialmente após 1 ano do TxR (Evidência). 4 Dosar 25-hidroxivitamina D (25-vit D) no início do TxR e a cada 6 meses. Repor a hipovitaminose D conforme as recomendações para pacientes com DRC I-V, monitorando o nível sérico de 3/3 meses (Opinião). 5 Utilizar a menor dose possível de corticosteroides (Evidência). 6 A densitometria óssea (DEXA) deve ser realizada até o 3º mês após o TxR em pacientes com DRC I-III T, é repetida ao final do 1º ano independente de qualquer intervenção (Opinião). 7 Na presença de perda de massa óssea evidenciada pela DEXA em pacientes com DRC I-III T, considerar o uso de vitamina D2 ou D3, calcitriol ou bisfosfonatos (Opinião). 8 Considerar a possibilidade de realizar a biópsia óssea antes do uso de bisfosfonatos para afastar a presença de baixa remodelação óssea ou defeito de mineralização (Opinião). Após o 1º ano de Transplante Renal 1 Monitorar os níveis séricos de Ca, P, FA e PTH de acordo com o estágio da DRC. A frequência das dosagens deverá ser aumentada na vigência de intervenção terapêutica. a. DRC I-III T: Ca, P e FA 6-12 meses PTH 1x/ano b. DRC IV T: Ca , P e FA 3-6 meses PTH 3-6 meses c. DRC V T: Ca, P e FA 1-3 meses PTH 3/3 meses 2 O tratamento das anormalidades do Ca, P, FA e PTH segue as diretrizes para DRC I-V (Evidência) e a orientação de PTx mantém-se conforme o 1º ano de TxR (Evidência). 3 Monitorar os níveis de 25-vit D uma vez por ano. Nos pacientes que realizaram reposição de vitamina D2 ou D3, o controle deve ser feito de 6/6 meses, e para os paciente em reposição e/ou manutenção deve ser de 3/3 meses (Opinião). 4 Em pacientes DRC I-III T, a DXA deve ser realizada a cada 2 anos, se houver perda de massa óssea no 1º ano do TxR, e anualmente nos pacientes que estiverem em tratamento da osteodistrofia renal (Opinião). 5 No tratamento da perda de massa óssea em pacientes com DRC I-III T 37 CAP_009_037_041_Diretrizes renal_.indd 37 25/04/11 13:27 Diretrizes dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo após o transplante renal pode-se considerar o uso de vitamina D2 ou D3, calcitriol ou bisfofonatos (Opinião). Em pacientes com DRC IV-V T, o tratamento deve seguir as mesmas recomendações para DRC IV-V. 6 A indicação de biópsia óssea segue as mesmas recomendações do 1º ano do TxR. Racional O transplante renal (TxR) é a melhor alternativa de tratamento para os pacientes com DRC avançada. Entretanto, apesar do sucesso dessa terapia, os pacientes submetidos ao TxR podem apresentar elevada incidência de complicações, dentre elas a persistência da doença óssea, piorando a qualidade de vida e aumentando a morbimortalidade. O TxR bem sucedido geralmente corrige ou melhora os distúrbios do metabolismo mineral e ósseo (DMO) da DRC, e a persistência dessas alterações são determinadas pela magnitude das anormalidades no período dialítico, disfunção do enxerto e ação de drogas imunossupressoras. Muitas das alterações do metabolismo mineral que ocorrem logo após o TxR tendem a se normalizar no decorrer do primeiro ano. A hipofosfatemia, acompanhada de fosfatúria, ocorre em 90% dos pacientes transplantados, e geralmente apresenta resolução do quadro até o terceiro mês, permanecendo no limite inferior da normalidade.1 Entretanto, alguns pacientes, mesmo com níveis séricos normais de P, continuam apresentando fosfatúria significativa, causada por concentrações séricas elevadas de PTH e do fator de crescimento de fibroblastos (FGF-23),2,3 que geralmente se normalizam no final do primeiro ano. A monitoração da hipofosfatemia prolongada é importante principalmente pelo risco que o paciente apresenta de evoluir para um defeito de mineralização óssea, diagnóstico que deve ser confirmado por meio da biópsia óssea. O tratamento da hipofosfatemia é questionado, limitando-se a casos graves e com pequenas doses de reposição, visto que esta terapêutica provavelmente aumentará a secreção de FGF-23, prolongando esse processo. Os níveis séricos de Ca geralmente se elevam após 2 meses do TxR, ficando na faixa superior da normalidade. Entretanto, alguns pacientes persistem com hipercalcemia, mesmo após o término do primeiro ano, frequentemente associada com a persistência do HPS. Deve-se, também, afastar outras causas de hipercalcemia, como a presença de neoplasias, reabsorção de calcificações ectópicas e acidose metabólica. 38 A hipercalcemia crônica é fator de risco de mortalidade4 e favorece o desenvolvimento de nefrocalcinose, com menor sobrevida do enxerto.5-7 A FA e a óssea também tendem a se normalizar após o primeiro ano do TxR, exceto quando há a persistência do HPS. Com a restauração da função renal, os níveis de PTH caem rapidamente, em torno de 50% nos primeiros 3-6 meses após o TxR.8 No entanto, 25% dos pacientes, após 1 ano, persistem com os níveis de PTH elevados, relacionado ao tempo de diálise e à gravidade do HPS antes do transplante (provável hiperplasia nodular).1,9 Outra causa de secreção aumentada de PTH é a disfunção do enxerto que leva ao desenvolvimento do HPS “de novo”,10 estando associado à taxa de filtração glomerular (TFG) entre 40-50 mL/min, levando a alterações ósseas semelhantes às do período dialítico.11 A hipovitaminose D também colabora para o aumento da secreção do PTH, sendo sua reposição importante no controle do HPS.12,13 A persistência do HPS é a principal causa do aumento da perda de massa óssea nos pacientes transplantados estáveis, principalmente em coluna vertebral.14,15 Normalmente, observamos a evolução dos níveis séricos de Ca e PTH até o final do primeiro ano e, se persistirem elevados, há indicação de paratireoidectomia (PTx).16 Porém, em situações de hipercalcemia grave, Ca > 14 mg/dL ou Cai > 1,8 mmol, e principalmente se estiver associada à perda progressiva e inexplicada da função renal, a PTx deve ser antecipada. A recuperação da função renal contribui para melhorar e, às vezes, normalizar os níveis de calcitriol. No entanto, esse processo pode ser mais prolongado devido à terapia imunossupressora, especialmente os inibidores de calcineurina, que causam diminuição do fluxo glomerular e toxicidade tubular, e/ou os corticosteroides que diminuem a atividade da 1a-hidroxilase e aumentam a síntese de enzimas envolvidas no catabolismo da 25-hidroxivitamina D.17,18 A incidência de hipovitaminose D nos pacientes transplantados está em torno de 50%, e sua causa é multifatorial, devido à baixa exposição solar e ao uso frequente de bloqueador solar. Há uma associação entre os níveis de 25-vit D e a função do enxerto renal, podendo a hipovitaminose D ser um preditor de piora de função do enxerto.19 Após o 1º ano de TxR, existem poucos dados na literatura com relação às alterações dos DMO, e a frequência da monitoração deve ser semelhante àquela J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S37-S41 CAP_009_037_041_Diretrizes renal_.indd 38 25/04/11 13:27 Diretrizes dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo após o transplante renal dos pacientes não transplantados com DRC, podendo ser aumentada na dependência das alterações existentes e tratamento instituído.20,21 Como mencionado anteriormente, o P está estável, o Ca tende a ser um pouco mais elevado e FA e PTH se encontram na dependência da função renal.24,25 Encontramos, no TxR tardio, hipercalcemia em 25% dos pacientes e HPS persistente em 24%-75% dos pacientes, de acordo com a função renal residual.22,23,26 A hipovitaminose D correlaciona-se com maiores níveis de PTH, independentemente do grau de função renal.22,25 Outra alteração importante é a acidose metabólica, associada com HPS e disfunção do enxerto.26 Os corticosteroides são uma droga deletéria ao tecido ósseo, estando associados à perda de massa óssea e inciência de fraturas. Os corticosteroides diminuem a formação óssea, promovendo menor diferenciação e função dos osteoblastos e maior apoptose de osteoblastos e osteócitos.27,28 Além disso, estimulam indiretamente a osteoclastogênese, atuando no eixo ligante do receptor ativador do NFkB (RANKL) e osteoprotegerina (OPG).29 Os corticosteroides favorecem o desenvolvimento ou manutenção do HPS por diminuírem a absorção intestinal de Ca e aumentarem a calciúria. São uma droga que também induz o hipogonadismo hipogonadotrófico, diminuindo a ação trófica dos hormônios sexuais sobre o tecido ósseo. Os efeitos dos corticosteroides no metabolismo ósseo de pacientes TxR são precoces, analisados pela densitometria óssea (DEXA)30,31 e biópsia óssea.32,33 Vários protocolos de imunossupressão usam doses reduzidas ou preconizam interrupção precoce dos corticosteroides após o TxR, sem alteração da função do enxerto e com diminuição da perda óssea, assim como menor incidência de necrose óssea.34 Os inibidores de calcineurina, como CSA e FK, atuam nas células ósseas através de mecanismos complexos e pouco compreendidos. Os estudos existentes avaliaram um número pequeno de pacientes, não foram desenhados para investigar os efeitos dos imunossupressores sobre o tecido ósseo e apresentam resultados contraditórios.35-37 A ação da rapamicina no tecido ósseo também é pouco conhecida. Estudo recente mostra o papel da rapamicina estimulando a proliferação de osteoblastos, entretanto; estes achados divergem com os de outros autores.38,39 Os transplantados apresentam um risco de perda de massa óssea elevado, pois além dos mesmos fatores observados na população geral, ainda são acrescentados outros como receptores de doadores falecidos, tempo em diálise e de transplante, persistência do HPS, drogas imunossupressoras e número de mismatches.40,41 As principais consequências da diminuição da massa óssea são maior risco de fraturas e incidência de doenças cardiovasculares (DCV). A incidência de fraturas entre os pacientes transplantados varia de 7% a 24%, com um risco de fraturas cinco vezes maior que na população geral, sendo até 23 vezes maior quando analisada a coluna vertebral.42- 44 É bem estabelecida a associação de osteoporose e risco de fraturas, detectada pela DEXA, em pacientes menopausadas, em uso de corticoides e em outros transplantados, como de coração e fígado. Entretanto, essa associação não é verdadeira para o transplantado renal, visto que a doença óssea pós-TxR é dependente da persistência dos DMO, do período dialítico e da função do enxerto. Assim, nessa população, uma densidade mineral óssea (DMO) normal não afasta o risco de fraturas, pois podem apresentar alterações na microarquitetura óssea não detectadas pela DEXA.28,45 Os resultados de estudos da DMO em transplantados tardios são variáveis, mostrando uma perda de massa óssea importante nos primeiros 6-12 meses pós-TxR, e que se mantém de forma contínua, em proporção menor, por alguns anos.46,47 A realização de DEXA está indicada em pacientes com função preservada do enxerto (DRC I-III T); no entanto, pode ser útil quando avaliada de modo seriado, em alguns pacientes em outros estágios da DRC. Estudos realizados com biópsia óssea mostraram uma incidência de doença de alta remodelação óssea em 14% a 59% dos pacientes, associada a maior tempo em diálise, persistência do HPS e uso de inibidores de calcineurina. Por outro lado, de 10,5% a 75% dos pacientes apresentaram doença de baixa remodelação, associada à osteoporose e ao retardo na mineralização óssea. A diminuição da DMO no TxR tardio varia de 22%-56%, sendo maior nos idosos e nos pacientes com mais tempo em diálise e de transplante.45,48 A indicação de biópsia óssea pós-TxR deve ser feita na vigência de fraturas atraumáticas, suspeita de defeito de mineralização e na possibilidade do uso de bisfosfonatos para afastar doença óssea de baixa remodelação. Em razão da complexidade da fisiopatologia da perda de massa óssea pós-TxR, ainda não se dispõe J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S37-S41 CAP_009_037_041_Diretrizes renal_.indd 39 39 25/04/11 13:27 Diretrizes dos distúrbios do metabolismo mineral e ósseo após o transplante renal de nenhum estudo de intervenção clínica com impacto na diminuição do número de fraturas, internações ou mortalidade nesses pacientes. De maneira geral, os estudos mostram efeitos benéficos de associações de vitamina D2 ou D3, calcitriol e Ca49-51 ou do uso prolongado de calcitriol e Ca,62 sem resultados superiores de um ou de outro esquema terapêutico. Os bisfosfonatos são agentes terapêuticos que inibem a função osteoclástica, promovendo um desacoplamento entre a formação e a reabsorção óssea, induzindo a uma doença óssea de baixa remodelação ou defeito de mineralização. Dessa forma, há restrição para o uso dessas drogas, pois o paciente pode apresentar uma DMO baixa sem ter uma remodelação óssea aumentada, e os bisfosfonatos poderiam levar ou agravar a baixa remodelação óssea. Além disso, são drogas de efeito acumulativo no tecido ósseo, restringindo sua indicação a pacientes com DRC I-III T. Os estudos com bisfosfonatos (pamidronato, ibandronato ou risedronato) usados na prevenção ou no tratamento da perda de massa óssea no primeiro ano do TxR apresentam nível de evidência moderado, efeito benéfico, principalmente considerando a região lombar52-55 e sem alteração na função do enxerto. Os benefícios do uso dos bisfosfonatos, nos pacientes TxR tardio, ainda são controversos: são estudos pequenos, em diferentes fases de função renal, não mostrando superioridade com relação ao tratamento com Ca + calcitriol.56 Não foi definido também se o risco de baixa remodelação óssea ou retardo na mineralização óssea compensariam a preservação do volume ósseo e possível redução do risco de fraturas. Referências 1. Evenepoel P, Claes K, Kuypers D, Maes B, Bammens B, Vanrenterghem Y. Natural history of parathyroid function and calcium metabolism after kidney transplantation: a single-centre study. Nephrol Dial Transplant. 2004; 19:1281–7. 2. Kanaan N, Claes K, Devogelaer JP et al. Fibroblast growth factor-23 and parathyroid hormone are associated with post-transplant bone mineral density loss. Clin J Am Soc Nephrol. 2010; 5(10):1887-92. 3. Evenepoel P, Meijers BKI, de Jonge H et al. 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J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S37-S41 CAP_009_037_041_Diretrizes renal_.indd 41 41 25/04/11 13:27 Diretrizes Brasileiras de Prática Clínica para o Distúrbio Mineral e Ósseo na Doença Renal Crônica | Capítulo 10 Diretrizes do distúrbio do metabolismo mineral e ósseo na doença renal crônica da criança Brazilian Guidelines for bone and mineral disorders in CKD children Autores: Eleonora Moreira Lima Maria de Fátima Câmera Gesteira Maria de Fátima Santos Bandeira 1 Avaliação do metabolismo mineral 1.1 Os níveis séricos de cálcio (Ca), fósforo (P), fosfatase alcalina (FA), paratormônio-intacto (PTH), pH e bicarbonato sérico (HCO3) ou reserva alcalina (CO2 total) devem ser determinados em todas as crianças e adolescentes nos estágios II a V da doença renal crônica (DRC). A frequência dessas determinações deve ser baseada na presença e na magnitude das alterações e na velocidade de progressão da DRC (Tabela 1) (Opinião). 1.2 Estas medidas devem ser mais frequentes se o paciente está recebendo tratamento para as alterações dos níveis séricos de Ca, P, PTH ou 25-hidroxivitamina D, está em uso de hormônio de crescimento ou foi submetido a transplante renal (Opinião). Tabela 1 Estágio da DRC 1.3 Os níveis-alvo de PTH nos diversos estágios da DRC estão apresentados na Tabela 2. Em crianças e adolescentes com DRC estágios II a V, os níveis de 25-vit D (calcidiol) devem ser medidos e a frequência dessas medidas deve ser determinada pelos valores basais e pelas intervenções terapêuticas. A deficiência de 25-hidroxivitamina D deve ser corrigida usando as recomendações de tratamento para a população geral (diretriz 5) (Opinião). Racional As alterações do metabolismo mineral e da estrutura óssea são universais na doença renal crônica (DRC) na infância e resulta em muitas complicações. Na criança, a osteodistrofia renal (OR) causa, como nos adultos, muitas complicações Frequência das determinações de Ca, P, FA, PTH, pH e HCO3 ou CO2 total de acordo com o estágio da DRC TFG* (mL/ Ca, P, pH, HCO3 ou CO2 total min/1,73 m2) FA e PTH Calcidiol II 60-89 Semestral a anual Semestral a anual Basal III 30-59 Quadrimestral Quadrimestral Basal IV 15-29 Trimestral Trimestral Basal V < 15 ou diálise Mensal Trimestral Basal *TFG = taxa de filtração glomerular - Cálculo por fórmula de Schwartz (Opinião). Tabela 2 Níveis de PTH de acordo com o estágio da DRC Estágio da DRC TFG* (mL/min/1,73 m2) Nível sérico de PTH II 60-89 35-70 (Opinião) III 30-59 35-70 (Opinião) IV 15-29 70-110 (Opinião) V < 15 ou diálise 200-300 (Evidência) 42 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 42 25/04/11 14:10 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança como fraturas, dor óssea e necrose vascular, mas o retardo de crescimento e as deformidades ósseas são características das crianças.1 A associação entre o distúrbio do metabolismo mineral, fraturas, doença cardiovascular (DCV) e mortalidade observada em adulto e crianças2 levou à reclassificação das complicações bioquímicas, esqueléticas e vasculares associadas com a doença renal progressiva, sendo denominadas de distúrbio mineral e ósseo da doença renal crônica (DRC-DMO). A retenção de P ocorre em estágios precoces da DRC da criança (estágio II) e tem um papel importante para o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário. Embora a redução dos níveis de 1,25-vit D (calcitriol) tenha sido considerada como o evento inicial para a alteração do metabolismo mineral e ósseo na DRC, estudos recentes sugerem que o aumento dos níveis do fator de crescimento de fibroblastos (FGF-23) precede a redução de calcitriol e pode ser o fator inicial que desencadeia o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário.3 Os níveis séricos de FGF-23 aumentam precocemente na DRC, antes de qualquer alteração nos níveis de Ca, P, PTH ou calcitriol. FGF-23 é um hormônio fosfatúrico, produzido no osso, e níveis elevados deste hormônio resultam em perda renal de P e supressão de calcitriol. Os níveis de FGF-23 podem ser regulados pela ingestão de P e aumentam com a progressão da DRC, estando os valores muito elevados nos pacientes com DRC estágio V. Nos pacientes com DRC, os níveis de calcitriol e de FGF-23 se correlacionam negativamente, sugerindo um papel significativo do hormônio no metabolismo mineral, especificamente na redução dos níveis de 25-hidroxivitamina D associado à DRC.3 É provável que FGF-23 regule a glândula paratireoide, seja suprimindo a liberação de PTH, seja atuando diretamente na secreção e PTH por um mecanismo independente de suas ações no metabolismo de 25-hidroxivitamina D.1 Em pacientes com DRC, a redução dos níveis de 1,25-vit D mediada via FGF23 ocorre precocemente no curso da DRC, antes de qualquer alteração nas concentrações séricas de Ca e P e elevação nos níveis séricos de PTH. A redução dos níveis de calcitriol parece ser uma resposta adaptativa para limitar os efeitos tóxicos da hiperfosfatemia. Nos estágios mais avançados da DRC, a retenção de P e consequente hiperfosfatemia diretamente suprimem a atividade da 1αhidroxilase.1,4,5 O grupo de estudo recomenda avaliar o distúrbio bioquímico da DRC-DMO na criança a partir do estágio II da DRC (Tabela 1).2 O termo osteodistrofia renal (OR) está reservado para as alterações histológicas da doença óssea associada à DRC. A OR é classicamente dividida em doenças ósseas de alta e baixa remodelação. Dentre as doenças de alta remodelação encontrase o hiperparatireoidismo secundário (HPS), cuja manifestação óssea é a osteíte fibrosa, e a doença mista (DM). As doenças de baixa remodelação compreendem a doença óssea adinâmica (DOA) e a osteomalacia (OM). A biópsia óssea continua sendo o padrão-ouro para o diagnóstico da OR. Porém, por ser um método invasivo e restrito a alguns centros, a OR é comumente avaliada através de exames bioquímicos (Tabela 1). Na criança, o HPS ocorre mais precocemente que no adulto, sendo já observado no estágio II da DRC.7 Além disso, a acidose metabólica per se contribui para o aumento da reabsorção óssea. Dessa forma, recomenda-se a determinação dos níveis séricos de Ca, P e PTH a partir do estágio II da DRC, assim como do pH, HCO3 ou CO2 total. Na DRC estágio V ou dialítico, os níveis séricos de PTH entre 200 e 300 pg/mL refletem uma remodelação óssea próxima do normal (Tabela 2). Níveis acima ou abaixo desses valores são mais compatíveis com os diagnósticos de doença óssea de alta ou baixa remodelação, respectivamente.4,7,8 Para a FA devem ser considerados os valores normais fornecidos pelo laboratório, de acordo com a idade. 2 Níveis séricos de Ca e P e produto Ca x P 2.1 Na DRC estágios I-IV os níveis séricos de Ca e P devem ser mantidos dentro dos limites da normalidade (Tabela 3) (Evidência). 2.2 Os níveis séricos de Ca total devem ser mantidos entre 8,8 e 9,7 mg/dL (2,20-2,37 mmol/L), preferencialmente no limite inferior (Opinião). Tabela 3 Valores séricos normais de Ca total, Ca iônico e P com relação à idade Idade Ca total (mg/dL) Ca iônico (mmol/L) P (mg/dL) 0-11 meses 8,8-11,3 1,22-1,40 4,8-7,4 1-5 anos 9,4-10,8 1,22-1,32 4,5-6,5 6-12 anos 9,4-10,3 1,15-1,32 3,6-5,8 13-20 anos 8,8-10,2 1,12-1,30 2,3-4,5 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 43 43 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança 2.3 Quando o nível sérico de Ca total for superior a 10,2 mg/dL (2,54 mmol/L), ajustar o tratamento de acordo com as recomendações: 2.3.1 Descontinuar o uso de quelantes de P contendo Ca e considerar o uso de quelantes de P que não contenham Ca ou metal (Opinião). 2.7 Na DRC estágios I a IV os níveis de P devem ser mantidos dentro dos limites da normalidade para idade (Tabela 3) (Opinião), de preferência nos limites inferiores de normalidade (Evidência). 2.8 Na DRC estágio V ou dialítico, os níveis de P séricos devem ser mantidos entre 4-6 mg/dL na criança com idade de 1 a 12 anos e entre 3,5– 5,5 mg/dL (1,13-1,78 mmol/L) no adolescente (Evidência). 2.9 Em crianças portadoras de tubulopatias perdedoras de P (cistinose, síndrome de Fanconi ou outras causas de hipofosfatemia), a hipofosfatemia deve ser corrigida com dieta, suplementação oral de P ou redução na dose dos quelantes (Evidência). 2.3.2 Descontinuar o uso de vitamina D2 ou D3 até a normalização do nível sérico de Ca total (Opinião). 2.3.3 Caso o nível sérico de Ca total persista acima de 10,2 mg/dL (2,54 mmol/L), apesar das medidas terapêuticas contidas nas Diretrizes 2.3.1 e 2.3.2, reduzir a concentração de Ca da solução de diálise (Opinião). 2.4 A dose máxima de Ca elementar fornecida pelo quelante de P e pelo Ca dietético não deve exceder em 2 vezes a recomendação da ingestão dietética de Ca para a idade (Tabela 4) (Opinião). A ingestão total de Ca elementar (incluindo o Ca dietético) não deve exceder 2,5 g/dia (Opinião). Tabela 4 Idade (anos) Ingestão diária recomendada (RDI) para o Ca Ingestão adequada Níveis superiores (mg/dia) toleráveis (g/dia) 0 – 0,5 210 ND 0,5 – 1,0 270 ND 1–3 500 2,5 4–8 800 2,5 9 – 13 1.300 2,5 14 – 18 1.300 2,5 ND – Não determinado 2.5 O produto Ca x P deve ser mantido abaixo de 55 mg2/dL2 em adolescentes acima de 12 anos e abaixo de 65 mg2/dL2 em crianças mais jovens (Opinião). 2.6 Níveis séricos de Ca total abaixo do limite inferior de normalidade (menor que 8,8 mg/dL ou 2,20 mmol/L) devem ser corrigidos (Opinião). 2.6.1 O tratamento da hipocalcemia (< 8,8 mg/dL ou 2,20 mmol/L) inclui a administração oral de sais de Ca, tais como carbonato, acetato ou gluconato de Ca, administrados em horários distantes das refeições, e/ou administração oral de vitamina D2 ou D3 (Evidência). 44 Racional A determinação do Ca iônico deve ser utilizada preferencialmente. Os níveis de Ca total, quando utilizados, devem ser corrigidos pela albumina sérica,9 de acordo com a fórmula: Ca total corrigido (mg/dL) = concentração de Ca (mg/dL) + 0,8 x [4 – concentração sérica de albumina (g/dL)]. A hipocalcemia deve ser corrigida, pois favorece o desenvolvimento do HPS, interfere na mineralização óssea e está associada à maior mortalidade. Da mesma forma, a hipercalcemia, secundária ao excesso de ingestão de Ca ou uso inadequado de vitamina D2 ou D3, deve ser evitada, pois também está associada à maior mortalidade. Embora a recomendação dietética de Ca (RDI, 2000)10 não tenha ainda sido estabelecida, na Tabela 4 é apresentada a ingestão de Ca adequada e seu limite superior na criança e no adolescente. A opinião do grupo de trabalho do KDOQI é a recomendação de uma ingestão de Ca de 2 vezes a cota da RDI para a idade (máximo de 2,5 g/dia) considerando dieta e suplementos, como a cota apropriada para crianças e adolescentes com DRC (Opinião). Em pacientes em diálise, a suplementação de Ca de 3 g/dia em adição a 400-500 mg de Ca dietético resulta em hipercalcemia em 36% dos pacientes.11-13 Pacientes com DRC em tratamento com metabólitos da 25-hidroxivitamina D ou suplementos de Ca têm maior risco de desenvolver hipercalcemia, especialmente aqueles pacientes com doença óssea de baixa remodelação.14,15 Hipercalcemia mais hiperfosfatemia resultam em um produto Ca x P elevado e risco de calcificação de J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 44 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança tecidos moles. Nessa situação, a restrição dietética de P é aconselhável.16,17 Os sais de Ca são bem tolerados e devem ser usados em doses que não sejam superiores àquelas da RDI. Os principais sais de Ca são: gluconato (9% de Ca elementar); lactato (13% de Ca elementar); acetato (25% de Ca elementar) e carbonato de Ca (40% de Ca elementar). Os demais compostos não devem ser utilizados. Os sais de Ca administrados como quelante de P devem ser tomados junto com as refeições e, longe delas, quando o objetivo for a suplementação de Ca. Na criança, existem variações importantes dos níveis de P sérico, dependendo da idade, atingindo os mesmos níveis de adultos na adolescência (Tabela 3).18,19 Estudos sugerem que a manutenção de níveis séricos normais de P na DRC é crucial na prevenção do HPS e da DCV.20,21 Níveis de P acima de 7 mg/dL e abaixo de 2,5 mg/dL aumentam significativamente a mortalidade. Na DRC, a retenção de P é proporcional à perda da filtração glomerular, e as concentrações de P variam de acordo com os estágios da DRC. Dessa forma, recomenda-se manter os níveis de P dentro da normalidade na DRC visando prevenir o HPS e reduzir as taxas de morbidade e mortalidade.17 3 Controle dietético do P na DRC A ingestão de P deve seguir as recomendações do K/DOQI sobre as diretrizes da nutrição pediátrica de 100% da RDI para idade (Tabela 5), em crianças no estágio III a V com os níveis séricos de PTH acima dos valores esperados para o estágio da DRC e os níveis séricos de P dentro dos limites da normalidade para idade (Tabela 3) (Evidência). A ingestão de P deve ser reduzida em 80% da RDI (Tabela 5), quando os níveis séricos de PTH estiverem Tabela 5 Ingestão diária recomendada (RDI) normal e reduzida de fósforo para a idade acima dos valores esperados para o estágio da DRC e a concentração sérica de P estiver dentro dos limites de normalidade para idade (Tabela 3) (Evidência). Após o início da restrição dietética de P, monitorar o P sérico a cada 3 meses nos estágios III e IV da DRC e mensalmente, no estágio V, devendo-se evitar níveis de P sérico abaixo dos valores normais para idade (Opinião). Racional A retenção de P ocorre em estágios precoces da doença renal crônica da criança (estágio II) e tem um papel importante para o desenvolvimento do HPS. A redução da produção de calcitriol no rim reduz o efeito inibitório do calcitriol sobre a liberação do PTH com consequente hiperparatireoidismo, que aumenta a excreção urinária de P. Portanto, nos estágios iniciais da DRC, os níveis de P sérico estão normais. A adaptação não é completa, e ocorrem pequenos aumentos dos níveis séricos de P que se tornam mais elevados com a progressão da DRC; a hiperfosfatemia eleva ainda mais os níveis de PTH pela supressão da produção de calcitriol e pelo efeito direto na glândula paratireoide.22 Mesmo nos estágios iniciais da DRC, a restrição dietética de P reduz os níveis de PTH e aumenta os níveis de 1,25-vit D ou calcitriol.23 A diminuição da ingestão do P contribui para o controle do HPS, sendo a primeira etapa no tratamento desta alteração. A elevação dos níveis séricos de P está associada à progressão da DRC, e seu controle tem impacto positivo na evolução da DRC.24,25 Portanto, nos estágios II e III da DRC o controle do HPS pode ser obtido com a redução da ingestão de P. A opinião do grupo de trabalho do KDOQI4 é de se reduzir a ingestão de P de acordo com os valores da RDI (Tabela 5), mesmo quando os níveis séricos de P estiverem dentro dos valores normais. Nos estágios IV e V, quando os níveis séricos de P estiverem elevados, a RDI deve ser reduzida em 80% (Tabela 5).17 Concentração sérica de P abaixo do valor de normalidade deve ser evitada devido ao risco potencial de comprometimento do crescimento linear pela hipofosfatemia. Idade (anos) P dietético (RDI) 80% da RDI 0 – 0,5 100 mg/dia 80 mg/dia 0,5 – 1,0 275 mg/dia 220 mg/dia 4 Uso de quelantes de P na DRC 1–3 460 mg/dia 368 mg/dia DRC estágio II a IV 4–8 500 mg/dia 400 mg/dia 4.1 9 – 18 1.250 mg/dia 1000 mg/dia RDI recomendação dietética para a idade Os quelantes de P devem ser prescritos na DRC estágios II a V quando houver hiperfosfatemia, apesar da restrição dietética de P (Opinião). J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 45 45 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança 4.2 Na DRC estágio II a IV os quelantes de P contendo Ca são efetivos para reduzir os níveis séricos de P e devem ser usados como terapia inicial (Evidência). 4.8 Nas crianças recebendo quelante de P contendo alumínio deve-se evitar o uso concomitante de produtos contendo citrato pelo risco de aumento da absorção de Al induzida pelo citrato (Evidência). 4.9 Quelantes de P sem Ca ou metal (cloridrato de sevelamer) devem ser utilizados com critério em crianças. Estão indicados em crianças cuja hiperfosfatemia persiste após o uso de quelantes contendo Ca e adequação da diálise. O cloridrato de sevelamer está indicado em todas as crianças que apresentem Ca sérico acima dos limites superiores para a idade (Tabela 3) em todos os estágios da DRC (Opinião). 4.10 Pacientes em diálise que permaneçam hiperfosfatêmicos, apesar do uso de quelantes de P, devem ter suas prescrições de diálise modificadas, visando o melhor controle do P (Opinião). DRC V 4.3 Na DRC estágio V os quelantes de P contendo Ca, assim como os quelantes de P sem metal, são efetivos para reduzir os níveis séricos de P (Evidência). Os quelantes de P contendo Ca devem ser usados inicialmente em lactentes e crianças jovens. Para as crianças mais velhas pode ser administrado qualquer dos quelantes citados (Opinião). Tabela 6 Dose Ca Idade Dose do quelante de P contendo Ca Posologia 0-1 ano 250 mg 3 a 5 vezes ao dia 1-4 anos 500 mg 2 a 3 vezes ao dia 5-8 anos 500mg 3 a 4 vezes ao dia 9-19 anos 500 mg 5 vezes ao dia 4.4 46 inicial do quelante à base de Em pacientes em diálise que permanecem com hiperfosfatemia (acima do limite superior de normalidade) apesar do uso de quelantes de P contendo Ca ou outro quelante de P sem Ca e sem metal, a prescrição da diálise deve ser modificada para controlar a hiperfosfatemia (Opinião). 4.5 A dose total de Ca elementar proveniente do quelante contendo Ca não deve exceder duas vezes a RDI para o Ca, baseada na idade (Opinião), e a ingestão total de Ca elemento incluindo o teor de Ca dietético não deve exceder 2,5 g/dia, Tabela 4 (Opinião). 4.6 A dose de quelantes de P contendo Ca deve ser reduzida em pacientes com níveis séricos corrigidos de Ca > 10,2 mg/dL (2,54 mmol/L) ou com níveis de PTH < 150 pg/mL (150 ng/L) em duas medidas consecutivas (Evidência). 4.7 Em adolescentes com níveis séricos de P > 7,0 mg/dL (2,26 mmol/L), pode ser usado quelante contendo alumínio (Al) por curto período de tempo (4 a 6 semanas) e apenas uma vez, sendo substituído após este período por outro quelante de P (Evidência). Em lactentes seu uso está contraindicado (Opinião). 4.10.1 Nos pacientes em diálise peritoneal (DP), o volume da solução deve ser aumentado para 1000 – 1400 mL/m² de superfície corporal, além do aumento do tempo de permanência e/ou o acréscimo de trocas de banho (Evidência). 4.10.2 Nos pacientes em hemodiálise (HD) deve-se aumentar a frequência das sessões e/ou prolongar o tempo de diálise, podendo ser utilizada a diálise diária diurna ou noturna (Evidência). 4.11 A dose do quelante de P à base de Ca deve ser diminuída nos pacientes em HD quando o Ca sérico for superior ou igual a 10,2 mg/ dL (2,54 mmol/L) ou PTH a 150 pg/mL em duas medidas consecutivas (Opinião). Racional A adesão da criança à restrição dietética de P é baixa, uma vez que a maioria dos alimentos preferidos pelas crianças é rica em P. Portanto, apesar da tentativa de restrição dietética de P o uso de quelantes de P se faz necessário para reduzir a absorção intestinal desse elemento pela formação no trato gastrointestinal de complexos com P que são pouco solúveis. Deve ser iniciado quando o nível de P se mantém alto apesar da restrição dietética ou quando a restrição dietética compromete a ingestão de outros nutrientes essenciais. Recomenda-se iniciar o tratamento da hiperfosfatemia com quelantes de P contendo Ca, sendo J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 46 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança os mais utilizados o carbonato ou o acetato de Ca. O carbonato de Ca foi o primeiro composto de Ca usado, e os estudos mostram sua eficácia no controle dos níveis séricos de P.4,5 Os quelantes de P contendo Ca geralmente são iniciados na dose de 500 mg por 200 mg de P dietético.26 Um alternativa é iniciar com a dose de 50 mg/kg/dia, dose mais baixa do que a utilizada nos estudos clínicos.26 Em geral, a dose inicial para carbonato de Ca e acetato de Ca é 600-1500 mg e 375-750 mg de Ca elemento por dia, respectivamente, dose que deve ser ajustada até a normalização dos níveis séricos de P.1 O uso de altas dose de quelantes contendo Ca tem sido associado ao desenvolvimento de CV em adultos e crianças em diálise, assim como adultos no estágio IV da DRC.1 Os quelantes de P devem ser ingeridos 10 a 15 minutos antes ou durante a refeição, visando aumentar a ação quelante e a excreção de P nas fezes. A Tabela 7 apresenta o percentual de absorção de Ca, assim como os efeitos colaterais dos principais quelantes de P. A ação quelante é limitada: 1 grama de carbonato de Ca quela 39 mg de P, 1 grama de acetato de Ca se liga a 45 mg de P e 400 mg de sevelamer quela 32 mg do íon. Portanto, esses quelantes só serão efetivos se houver restrição dietética de P.4 É importante lembrar que a aderência ao tratamento com quelantes de P é difícil, sendo necessário o controle regular e a identificação da melhor maneira de se oferecer a medicação para a criança. Para os lactentes, o carbonato de Ca pode ser oferecido na forma de pó ou solução oral a 10%. O efeito colateral mais frequente dos quelantes de P à base de Ca, principalmente quando associado ao calcitriol, é a hipercalcemia (Ca > 10,2 mg/dL ou 2,54 mmol/L); a dose total de Ca elemento não deve ser superior a duas vezes a RDI para a idade, atingindo o máximo de 2.500 mg/dia, incluindo o teor de Ca da dieta. Nesses casos, recomenda-se utilizar quelantes sem Ca ou metal, como o cloridrato de sevelamer (Renagel®).2,4,27 O cloridrato de sevelamer é um polímero sintético que não contém Al ou Ca na sua composição, é resistente à degradação digestiva e não é absorvido Tabela 7 pelo trato gastrointestinal. Os comprimidos podem ser dissolvidos em 5 mL de água e administrados por via oral ou enteral. O uso do cloridrato de sevelamer em crianças tem se mostrado seguro e eficaz, embora dados sobre o uso deste agente na criança são limitados.28 O uso de sevelamer por 8 semanas em um estudo randomizado mostrou que o quelante foi tão eficaz quanto o acetato de Ca para reduzir os níveis séricos de P.29 Sevelamer foi associado à redução nos níveis de colesterol, LDL-colesterol e da frequência dos episódios hipercalcêmicos, mas com aumento da acidose metabólica (Tabela 7). Um estudo-piloto para avaliar a eficácia de hidrocloreto de sevelamer como quelante de P em crianças em diálise usou uma dose inicial de 121 ± 50 mg/kg (4,5 ± 5 g/dia) e final de 163 ± 46 mg/kg (6,7 ± 2,4 g/dia).30 O medicamento foi bem tolerado, com redução dos níveis de P sérico, cujos valores permaneceram normais na maioria dos pacientes do estudo. Toda atenção deve ser dada ao fato de que o cloridrato de sevelamer pode agravar a acidose metabólica em crianças. Uma nova formulação - carbonato de sevelamer (ainda não existente em nosso meio) favoreceria a correção da acidose metabólica. Em crianças em diálise, o carbonato de sevelamer foi efetivo como quelante de P comparado ao cloreto de sevelamer, ocorrendo aumento dos níveis séricos de bicarbonato que permitiram a suspensão da terapia com bicarbonato.31 O controle dos níveis séricos de P é mais difícil no paciente em diálise, e a meta é manter os níveis de P pouco abaixo do percentil 50 para a idade. A remoção de P pela diálise peritoneal é de 300 a 400 mg/ dia e pela HD de 800 mg/sessão, valores insuficientes para manter normais os níveis séricos de P. Portanto, o uso de quelantes de P é sempre necessário nos pacientes em diálise. É essencial monitorar os níveis séricos de P para prevenir hipofosfatemia, que é consequência da restrição dietética mais severa e uso de doses altas dos quelantes. Essa recomendação é de particular importância no lactente devido à ingestão baixa, dose alta do quelante e maior remoção peritoneal de P pela maior área de superfície peritoneal.5 Percentual de absorção de Ca e efeitos colaterais dos quelantes de P Componente Carbonato de Ca Acetato de Ca Cloridrato de sevelamer Porção estimada de Ca absorvido Efeitos colaterais possíveis 20% a 30% Hipercalcemia, calcificação extraesquelética, sintomas GI Com alimento 21% Entre as refeições 40% Hipercalcemia, calcifição extraesquelética, sintomas GI Nenhuma Sintomas GI, acidose metabólica J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 47 47 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança O uso de quelantes contendo Al deve ser restrito ao tratamento da hiperfosfatemia grave (> 7 mg/dL) no adolescente, associada com hipercalcemia ou produto Ca x P elevado, condições agravadas pelo uso de quelantes contendo Ca. A dose de hidróxido de Al não deve exceder 30 mg/kg/dia e deve administrado por um período não superior a 4-6 semanas. Os níveis plasmáticos de Al devem ser monitorados, e o uso de compostos contendo citrato devem ser evitados, porque citrato aumento a absorção intestinal de Al e aumenta o risco de intoxicação.1,27 5 Prevenção e tratamento da deficiência de 25-hidroxivitamina D em crianças com DRC Estágio II – IV 5.1 5.2 5.3 Nível sérico de PTH elevado para o estágio da DRC (Diretrizes 1 e 2, Tabelas 2 e 3), monitorar os níveis de vitamina D [25-vit D] (Evidência). As medidas devem ser repetidas se forem feitas modificações dietéticas ou no estilo de vida. Nível sérico de 25-vit D menor que 30 ng/mL, iniciar suplementação com vitamina D2 ou D3(ergocalciferol ou colecalciferol, Tabelas 8 e 9) (Opinião). 5.3.1 Monitorar os níveis séricos de Ca e P após 1 mês e a seguir a cada 3 meses (Opinião). 5.3.2 Descontinuar o uso de vitamina D2 ou D3 se Ca total maior que 10,2 mg/dL (2,54 mmol/L) (Opinião). 5.3.3 Se os níveis séricos de Ca total forem superiores a 10,2 mg/dL (2,54 mmol/L), suspender o uso de vitamina D2 ou D3 e todas as formas de vitamina (Opinião). 5.3.4 Se os níveis séricos de P se elevarem acima do valor normal para a idade (Tabela 3), iniciar restrição dietética de P (diretrizes 2 e 3), ou se a hiperfosfatemia persisitir e os níveis séricos de 25-vit D forem < 30 ng/mL, iniciar quelante oral de P. Se os níveis de 25-vit D estiverem normais, suspender o uso da vitamina (Opinião). 5.3.5 Após reposição com vitamina D2 ou D3, manter suplementação com um preparado multivitamínico contendo 25-hidroxivitamina D e proceder à dosagem anual dos níveis séricos (Opinião). DRC estágio V 5.4 Após iniciar suplementação com vitamina D2 ou D3: Tabela 8 Tratamento com calcitriol na DRC estágio V deve ser iniciado quando os níveis de PTH forem maiores que 300 pg/mL (Opinião). Suplementação de vitamina D2 ou D3 na DRC estágios II-IV Nível sérico de 25-vit D (ng/mL) Grau de deficiência <5 Severo 8.000 UI/dia/4 sem. ou 50.000 UI/ sem/4 sem. Após, 4.000 UI/dia/2 meses ou 50.000 UI 2x/mês/2 meses 3 meses Medir nível de 25-vit D após 3 meses 5-15 Moderado 4.000 UI/dia/3 meses ou 50.000 UI 2x/ mês/3 meses 3 meses Medir nível de 25-vit D após 3 meses 16-30 Insuficiente 2.000 UI/dia ou 50.000 UI/mês 3 meses Medir nível de 25-vit D após 3 meses Dose de 25-vit D (oral) Duração (meses) Controle do nível sérico UI = unidades internacionais; sem. = semanas Tabela 9 48 Suplementação de vitamina D2 ou D3 na DRC estágio V Nível sérico 25-vit D (ng/mL) Grau de deficiência Dose de 25-hidroxivitamina D (oral) Duração Controle do nível sérico <5 Severo 8.000 UI/dia/4 sem. ou 50.000 UI/ sem/4 sem. Após, 4.000 UI/dia/2 meses ou 50.000 UI 2x/mês/2 meses 3 meses Mensal 5-15 Moderado 4.000 UI/dia/12 sem. ou 50.000 UI/ 2x/ mês/3 meses 3 meses Mensal 16-30 Insuficiente 2.000 IU/dia ou 50.000 UI/mês 3 meses Mensal J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 48 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança Racional A 25-hidroxivitamina D é fundamental para a homeostase do Ca, P e PTH, tendo importante papel no crescimento da criança. Os níveis de 25-vit D refletem o estoque corporal da 25-hidroxivitamina D. A principal causa de deficiência de 25-hidroxivitamina D em portadores de DRC é nutricional, com estimativas alarmantes de uma incidência de 70% entre jovens americanos.32 Em países como o nosso, com elevados índices de desnutrição e com predomínio da população de raça negra, estima-se que a deficiência de 25-hidroxivitamina D também seja elevada. Estudo realizado no Recife, por Linhares e cols.,33 comparando níveis de 25-hidroxivitamina D em 412 crianças saudáveis e 226 desnutridas, não demonstrou diferença entre os dois grupos. Além disso, os níveis de 25-hidroxivitamina D encontrados foram superiores aos de crianças europeias, o que foi atribuído à elevada exposição ao sol.34 Estudos mais recentes em diferentes países mostram deficiência de 25-hidroxivitamina D em crianças aparentemente saudáveis com incidência variando entre 10% a 50%, desde o período neonatal até a adolescência, sendo mais frequente em crianças com baixo poder aquisitivo, adolescentes e naquelas de origem latina e africana.35 Outros fatores, como a proteinúria, contribuem para diminuição da 25-hidroxivitamina D na doença renal, devido à perda da proteína carreadora dessa vitamina. Estudos com 258 pacientes (idade média de 12,3 anos) portadores de DRC em todos os estágios, mas principalmente estágios I e II, mostraram valores de 25-vit D menores que 30 ng/mL em mais de 60% dos pacientes com TFG estimada de 106 ± 51 mL/min/1,73 m2, justificando sua suplementação na DRC.36 Por essa razão, o tratamento com 25-hidroxivitamina D deve ser iniciado precocemente para prevenir o desenvolvimento do HPS e o retardo do crescimento. Deficiência de 25-hidroxivitamina D na criança pode causar raquitismo. A 25-hidroxivitamina D regula mais de 200 genes, incluindo aqueles responsáveis pela regulação da proliferação celular. Possui ação no cérebro, mamas, cólon e células do sistema imune. Alguns destes tecidos expressam a enzima 1-alfa hidroxilase, responsável pela hidroxilação in situ da 25-vit D, transformando-a em calcitriol.37 6 Tratamento com calcitriol na DRC DRC estágios II a IV 6.1 Para os pacientes com DRC estágios II-IV, a reposição de calcitriol deve ser iniciada quando os níveis séricos de 25-vit D forem maiores que 30 ng/mL (75 nmol/L) e PTH acima do esperado para os estágios de DRC (Diretriz 1, Tabela 2) (Evidência). 6.1.1 O calcitriol só deve ser administrado se o nível sérico de Ca total for menor que 10 mg/ dL (2,37 mmol/L) e de P menor que o limite superior para a idade (Tabela 10) (Opinião). 6.2 Para pacientes em uso de calcitriol, o controle de Ca e P deve ser mensal nos primeiros 3 meses e depois trimestral; PTH sérico deve ser medido a cada 3 meses (Tabela 1) (Opinião). 6.3 A dose de calcitriol deve ser ajustada de acordo com as seguintes recomendações: 6.3.1 PTH abaixo dos limites normais para o estágio da DRC (Tabela 2), descontinuar temporariamente o calcitriol até elevação dos níveis de PTH para acima do valor-alvo (Opinião). Reiniciar tratamento com metade da dose anterior. Para doses menores que 0,25 µg/dia ou 0,05 µg na forma líquida, prescrever o calcitriol em dias alternados (Opinião). 6.3.2 Ca sérico total maior que 10,2 mg/dL (2,37 mmol/L), suspender tratamento com calcitriol até que o seus níveis sejam inferiores a 9,8 mg/dL (2,7 mmol/L). O tratamento deve ser reiniciado com metade da dose anterior. Se a dose é inferior a uma cápsula de 0,25 µg ou 0,05 µg na forma líquida, prescrever o calcitriol em dias alternados (Opinião). 6.3.3 P sérico acima dos limites esperados para a idade (Tabela 3), suspender o calcitriol, iniciar Tabela 10 Níveis séricos de Ca, P e PTH para início da terapia com calcitriol e doses recomendadas em pacientes com DRC estágios II a IV PTH (pg/mL) Ca total (mg/dL) P (mg/dL) Dose calcitriol oral > 70 (DRC 2-3) > 110 (DRC 4) < 10 < nível recomendado para a idade < 10 kg: 0,05 µg dias alternados 10-20 kg: 0,1-0,15 µg /dia > 20 kg: 0,25 µg/dia J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 49 49 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança quelantes de P ou aumentar a dose do quelante já utilizado até a normalização dos níveis de P. Após normalização do P, reiniciar calcitriol usando metade da dose anterior (Opinião). 6.4 Aumentar a dose de calcitriol em 50% da dose inicial se não houver redução do PTH de pelo menos 30% em 3 meses após início do tratamento, desde que os níveis de Ca e P estejam normais (Opinião). Os níveis séricos de PTH, Ca e P devem ser dosados mensalmente por 3 meses. DRC Estágio V 6.5 Para pacientes com DRC estágio V, com nível sérico de PTH maior ou igual a 300 pg/mL, o calcitriol deve ser iniciado visando à redução dos níveis de PTH para valores entre 200-300 pg/mL (Tabela 11) (Evidência). 6.6 Administração intermitente do calcitriol por via oral ou intravenosa é mais efetiva para baixar o PTH que doses diárias (Evidência). 6.7 Quando a terapia com calcitriol for iniciada ou modificada, a dosagem dos níveis séricos de Ca e P deve ser mensal por 3 meses e, posteriormente, a cada 3 meses. A dosagem do PTH deve ser mensal por 3 meses e trimestral após atingir os níveis-alvo de PTH (Opinião). 6.8 Para pacientes em DP a dose oral inicial de calcitriol (0,5-1,0 µg) pode ser administrada 3 vezes/semana. Alternativamente, uma dose mais baixa (0,25 µg) pode ser administrada diariamente (Opinião). 6.9 Aumentar em 50% a dose inicial de calcitriol se o PTH não diminuir em pelo menos 30% após 3 meses de tratamento, desde que os níveis de Ca e P estejam normais (Opinião). Os níveis séricos de Ca, P e PTH devem ser medidos mensalmente por 3 meses. 6.10 O tratamento com vitamina D2 ou D3 ativa deve ser integrado com as alterações séricas de Ca, P e PTH (Opinião). Racional Na criança, o HPS ocorre quando a TFG é menor que 75 mL/min/1,73 m2. Nos estágios iniciais da DRC, se os níveis de PTH estão acima do limite da normalidade, a primeira medida é tratar a deficiência de 25-vit D; se os valores permanecerem elevados deve ser iniciado o tratamento com vitamina D2 ou D3 ativa (calcitriol). É recomendado manter níveis de PTH ligeiramente acima do normal em pacientes com DRC estágio IV, enquanto para pacientes em diálise as concentrações de PTH estar entre 3 a 5 vezes o limite superior da normalidade corresponde a taxas de formação óssea normais.1,4,5 A administração de doses baixas de calcitriol reduz os níveis séricos de PTH e melhora o crescimento linear, sem evidência de piora da função renal. É essencial monitorar os níveis séricos de Ca, P e PTH. Há evidência de que pacientes que recebem tratamento com vitamina D2 ou D3 ativa, quando o clearance de creatinina é maior que 30 mL/min/1,73 m2, atingem o estágio V da DRC apresentando histologia óssea normal.38 A deficiência de vitamina D ativa acarreta retardo de crescimento e doença óssea na criança com DRC; o tratamento com vitamina D2 ou D3 melhorou o crescimento linear em crianças com DRC estágios II a IV.39 Estes achados fornecem a racionalidade para a administração de 25-hidroxivitamina D ativa de rotina a praticamente todas as crianças com DRC. No entanto, doses altas Tabela 11 Recomendações para a dose inicial de calcitriol em crianças com DRC estágio V PTH (pg/mL) Ca total (mg/dL) P (mg/dL) Ca x P Dose de calcitriol oral – HD Dose de calcitriol oral – DP 300-500 < 10 < 5,5 adolescentes < 6,5 lactentes e crianças < 55 adolescentes < 65 lactentes e crianças 0,0075 µg/kg 0,0075 µg/kg (máximo 0,25 µg)/dia (máximo 0,25 µg)/dia > 500-1.000 < 10 < 5,5 adolescentes < 6,5 lactentes e crianças < 55 adolescentes < 65 lactentes e crianças 0,015 µg/kg (máximo 0,5 µg)/dia 0,015 µg/kg (máximo 0,5 µg)/dia > 1.000 < 10,5 < 5,5 adolescentes < 6,5 lactentes e crianças < 55 adolescentes < 65 lactentes e crianças 0,025 µg/kg/dia (máximo 1 µg) 0,025 µg/kg/dia (máximo 1 µg) HD = hemodiálise; DP = diálise peritoneal. 50 J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 50 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança de 25-hidroxivitamina D ativa administradas de forma intermitente, associada a quelantes de P contendo Ca, acomete a atividade da placa de crescimento epifisária e contribui para a redução do crescimento linear.40 A dose diária de calcitriol e alfacalcidol varia entre 0,25 a 1,5 µg/dia e é efetiva para controlar os níveis de PTH na maioria dos pacientes com DRC estágios II a IV.1 Pacientes com DRC em tratamento dialítico apresentam níveis séricos reduzidos de calcitriol, com consequente diminuição da absorção intestinal de Ca e aumento do PTH, acarretando o desenvolvimento do HPS. O tratamento com calcitriol melhora o HPS, a doença óssea e os sintomas musculoesqueléticos.41-43 Os efeitos colaterais mais frequentes são hipercalcemia e hiperfosfatemia, além da indesejada queda acentuada dos níveis séricos de PTH e desenvolvimento de doença óssea de baixa remodelação. Portanto, os níveis séricos de Ca, P e PTH devem ser monitorados durante a terapia com calcitriol e ajustados de acordo com as diretrizes. Pacientes em diálise com administração de 1,25-vit D via intravenosa ou pulso oral três vezes por semana mostrou-se efetiva para a redução dos níveis de PTH e permite o uso de doses mais altas de calcitriol sem o desenvolvimento de hipercalcemia quando administrado com quelantes de P sem Ca.1 O calcitriol (cápsula) pode não se mostrar efetivo quando o produto é aspirado da cápsula ou administrado através de sonda nasoenteral ou gastrostomias (pode ligar-se a materiais plásticos). Há formulações líquidas para esta administração que não estão disponíveis no mercado brasileiro. Análogos da vitamina D2 ou D3 mais seletivos como alfacalcidol, paricalcitol ou doxercalciferol reduzem o risco de hipercalcemia e hiperfosfatemia. Estudo controlado, duplo-cego avaliou o efeito de paricalcitol vs. placebo por 12 semanas em um grupo de 29 pacientes em HD com idade entre 15 a 19 anos. A redução dos níveis de PTH foi superior no grupo paricalcitol vs. placebo, embora não tenham sido detectadas diferenças nos níveis séricos de Ca, P ou produto Ca x P. 44 Estudo comparando o uso de paricalcitol vs. calcitriol em crianças em hemodiálise não detectou diferenças significativas entre os dois com relação à redução dos níveis de PTH e episódios de hipercalcemia.45 Portanto, não há dados convincentes que confirmem superioridade do efeito de uma 25-hidroxivitamina D específica sobre a outra. Calcimiméticos: cinalcacet aumenta a sensibilidade ao Ca do receptor sensível ao Ca na glândula paratireoide e tem sido usado em adultos com DRC para suprimir a secreção do PTH com menor risco de hipercalcemia associado a calcitriol. As informações sobre seu uso e utilidade na criança são limitadas e não faz parte do tratamento padrão. Dois estudos observacionais com um total de 15 crianças em diálise e o outro com DRC grave relataram uma redução de 61% 46 e de 74% 47 nos níveis séricos de PTH com cinalcacete. 7 Concentração de Ca no dialisato 7.1 A concentração padrão de Ca na solução de HD ou DP deve ser preferencialmente de 2,5 mEq/L (Opinião). 7.2 Em pacientes em uso de quelantes de P contendo sais de Ca, a concentração de Ca no dialisato deve ser mantida em 2,5 mEq/L. Naqueles que não estão em uso desses quelantes, a concentração de Ca no dialisato deve ser mantida em 3 mEq/L, considerando-se os níveis séricos de Ca e a necessidade do tratamento com vitamina D2 ou D3 (Opinião). Racional A infância e a adolescência são os períodos nos quais ocorre o maior incremento da massa óssea. Concentrações de Ca no dialisato de 2,5 mEq/L podem estar associadas com balanço negativo de Ca, principalmente quando o paciente não está em uso de sais de Ca ou calcitriol. No entanto, a sobrecarga de Ca e consequente hipercalcemia favorece a CV e o desenvolvimento de doença adinâmica.20,48,49 Altas concentrações de Ca no dialisato aumentam a difusão de Ca para o paciente, enquanto níveis mais baixos favorecem o balanço negativo de Ca. Concentrações de Ca no dialisato de 2,5 mEq/L promovem balanço negativo de Ca em pacientes em DP50-52 assim como na HD.53-54 Pacientes em uso de quelantes de P contendo sais de Ca e/ou calcitriol podem desenvolver hipercalcemia. Portanto, o uso de concentração de Ca de 2,5 mEq/L constitui uma estratégia adequada para evitar o balanço positivo de Ca. No entanto, o HPS pode agravar-se nessa condição,55 o que pode ser minimizado por uma adequada ingestão de Ca. Pacientes J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 51 51 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança que estão em uso de quelantes de P não contendo Ca, e apresentam hipocalcemia mesmo após tratamento adequado com calcitriol, HPS refratário ou com síndrome da fome óssea pósparatireoidectomia devem ser dialisatos com concentração de Ca de 3,0 a 3,5 mEq/L. Não há estudos longitudinais que avaliem as diferentes concentrações de Ca no dialisato na população pediátrica. O uso de dialisato com concentração de Ca de 2,5 mEq/L pode ser benéfico para prevenir hipercalcemia, doença óssea adinâmica e calcificação sistêmica, podendo, portanto, ser útil nas crianças que recebem quelantes de P contendo sais de Ca. É preciso considerar e monitorar o risco de hipocalcemia e HPS, assim como o crescimento linear. 8 Acidose metabólica 8.1 Os níveis séricos de HCO3 ou CO2 total devem ser monitorados na DRC. 8.1.1 A frequência das análises deve ser baseada nos estágios da DRC (Tabela 1) (Opinião). 8.2 Acidose metabólica deve ser corrigida seguindo as seguintes etapas: 8.2.1 Otimizar o tratamento dialítico – HD ou DP (Opinião). 8.2.2 Usar preferencialmente dialisato contendo bicarbonato para os pacientes em hemodiálise (Evidência). 8.2.3 Na DP as soluções contendo bicarbonato com pH neutro (bolsas com dois compartimentos) são mais biocompatíveis e melhoram a acidose metabólica (Opinião). 8.2.3 Alguns equipamentos de HD possibilitam modular o bicarbonato durante a diálise. 8.2.4 Administrar bicarbonato de sódio por via oral na dose de 2 a 3 mEq/kg/dia, caso as medidas anteriores não corrijam a acidose metabólica (Opinião). Racional A acidose metabólica é comum desde os estágios iniciais da DRC. Ela é causada pela deficiência de excreção renal de íons hidrogênio e consequente acúmulo de produtos ácidos do metabolismo. Caracteriza-se por redução do pH e dos níveis séricos de bicarbonato. Valores de bicarbonato sérico acima de 20 mEq/L são normais para recém-nascidos e lactentes abaixo de 2 anos de idade; para crianças acima de 2 anos o 52 limite inferior de normalidade é 22 mEq/L.4 A acidose pode acarretar hipercalemia, uma vez que para uma queda do pH de 0,1 há aumento dos níveis séricos de potássio de 0,7 mmol/L, pois os íons de hidrogênio são captados pela célula em troca por potássio. A acidose tem efeito adverso sobre o esqueleto. O tamponamento ósseo dos íons hidrogênio aumenta a liberação de Ca e P. A acidose metabólica crônica aumenta a reabsorção óssea e inibe a formação endocondral56 e é causa de retardo de crescimento na criança, mesmo com função renal preservada.57 O aumento da reabsorção óssea libera carbonato e fosfato do mineral ósseo e a redução da formação óssea diminui a quantidade de ácido produzida durante a mineralização óssea.58 A correção da acidose metabólica permite a normalização do crescimento linear em crianças com acidose tubular isolada. Os efeitos da acidose metabólica sobre o crescimento ocorrem por meio das alterações na mineralização óssea, no eixo IGF-1/GH (hormônio de crescimento) e na síntese renal de calcitriol.57 A acidose crônica contribui na gênese do HPS porque reduz a síntese de 1,25-vit D pelo túbulo proximal e pode limitar a absorção dietética de Ca.4 A acidose também estimula a proliferação celular da paratireoide. Acidose e PTH, de forma independente, estimulam a saída de Ca do osso, inibem a síntese osteoblástica de colágeno e estimulam a secreção osteoclástica de β-glucoronidase. Portanto, na presença de acidose + PTH, há uma ação maior em cada um destes parâmetros em comparação ao efeito isolado, sugerindo um efeito deletério aditivo do PTH e da acidose sobre o osso.58 Dessa forma, na criança com DRC a acidose metabólica contribui para o desenvolvimento da doença óssea, sendo o raquitismo a lesão mais frequente na criança com DRC estágios I a III.4 A recomendação do grupo de estudo do KDOQI é de manter os níveis séricos de bicarbonato > 22 mEq/L; a terapia com bicarbonato de sódio deve ser iniciada na dose de 1 a 2 mEq/kg/dia dividido em 2 a 3 doses, e a dose ajustada para atingir os valores-alvo. O uso de citrato deve ser cauteloso na criança com DRC pelo risco de intoxicação alumínica.2 A acidose aumenta o catabolismo proteico, piorando os sintomas de uremia. O aumento do catabolismo muscular aumenta a necessidade da cota proteica dietética para manter o balanço de nitrogênio neutro. Dessa forma, a acidose piora o estado nutricional já comprometido na criança com DRC. J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 52 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança 9 Tratamento da doença óssea na DRC 9.5 Raquitismo e osteomalacia devido à deficiência de 25-vit D devem ser tratados de acordo com a Diretriz 5 (Opinião). 9.6 Raquitismo e osteomalacia causados por hipofosfatemia devem ser tratados com sais de fosfato neutro. Considerar também a terapia com calcitriol. Consultar Diretrizes 2 e 5 (Evidência). Hiperparatireoidismo secundário (Doença óssea de alta remodelação) 9.1. Para pacientes nos estágios II e III da DRC e PTH maior que 70 pg/mL ou no estágio IV e PTH maior que 110 pg/mL, o aporte de P deve ser modificado de acordo com as Diretrizes 3 e 4 e a ingestão de Ca de acordo com a Diretriz 2 (Opinião). 9.2 A deficiência de 25-vit D deve ser corrigida de acordo com a Diretriz 5. Se os níveis séricos de PTH permanecerem elevados após 3 meses da intervenção dietética, iniciar a administração de calcitriol (Opinião). 9.3 Na DRC estágio V e PTH maior que 300 pg/mL, apesar das medidas recomendadas nas Diretrizes 2, 3, 4 e 5, a administração de calcitriol deve ser iniciada (Evidência). Racional Enquanto nos adultos com DRC a doença óssea se manifesta, geralmente, no estágio III, na criança a manifestação pode ocorrer mais precocemente, ainda no estágio II, pela maior incidência de tubulopatias com acidose, distúrbios causadores de perda de P e má nutrição.59 Crianças com doença óssea apresentam retardo de crescimento, deformidades das extremidades, deslizamento epifisário e fraturas; esses sintomas podem estar presentes precocemente ainda com função renal relativamente preservada. Na criança, devido aos riscos de doença óssea persistente e autonomia da glândula paratireoide, deve-se evitar a elevação dos níveis de PTH acima dos valores recomendados. Portanto, a elevação dos níveis séricos de PTH deve ser seguida pela instituição das medidas de restrição de P (dieta e uso de quelantes). Essas medidas se associam à normalização dos níveis séricos de FA, PTH e manutenção da remodelação óssea normal,60 assim como à melhora do crescimento em lactentes e pré-escolares.61 Raquitismo/Osteomalacia 9.4 Osteomalacia por intoxicação por alumínio (Al) deve ser prevenida em pacientes com DRC evitando-se concentrações de Al no dialisato acima de 10 µg/L, assim como o uso oral de compostos de Al (Evidência). Racional A intoxicação alumínica, apesar de estar associada às doenças ósseas de baixa remodelação, pode cursar com todos os tipos de doença óssea na DRC. Na criança, a intoxicação por alumínio causa sintomas como dor óssea, deformidades ósseas, redução do crescimento e até mesmo manifestações neurológicas, como convulsão. Embora a exposição do paciente ao Al tenha reduzido substancialmente nas duas últimas décadas, a doença óssea associada ao Al ainda pode ocorrer e este diagnóstico deve ser considerado. Raquitismo e osteomalacia também podem estar presentes em crianças na ausência de intoxicação por Al. Raquitismo corresponde a uma falha ou retardo da mineralização do osso endocondral recém-formado situado nas placas de crescimento, enquanto osteomalacia é caracterizada pela falha da mineralização do osteoide recém-formado nos locais de remodelamento ósseo ou aposição periosteal ou endosteal. A osteomalacia que ocorre na ausência de intoxicação por Al se deve à hipofosfatemia, à deficiência de vitamina D2 ou D3, acidose metabólica e deficiência de Ca e P.1 Doença óssea adinâmica 9.7 Na DRC estágio V, a doença óssea adinâmica não relacionada ao Al (determinada pela biópsia óssea ou pelos níveis séricos de PTH < 150 pg/mL) deve ser tratada com medidas que propiciem uma elevação dos níveis de PTH para restabelecer a remodelação óssea (Opinião). 9.8 A otimização dos níveis de PTH pode ser atingida pela suspensão do uso de calcitriol, redução ou suspensão dos quelantes de P contendo Ca, redução da concentração de Ca do dialisato (Diretrizes 7) (Evidência) e/ou quelante de P não contendo Ca (Opinião). J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 53 53 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança Racional O uso frequente de calcitriol e de quelantes de P contendo Ca tem contribuído para o aumento da prevalência da doença óssea adinâmica62 que comumente está associada a níveis séricos de PTH abaixo de 150 pg/mL. As consequências clínicas da doença óssea adinâmica são o maior risco de fraturas ósseas, redução do crescimento linear e a incapacidade do osso adinâmico em manter a homeostase mineral. A manifestação clínica da doença óssea adinâmica na criança com DRC estágio V não está bem caracterizada. No entanto, sabe-se que a sobrecarga de Ca proveniente dos quelantes de P favorece calcificação extraóssea em tecidos moles e vasos.63,64 10Avaliação do crescimento e recomendações para o uso do hormônio de crescimento (rhGH) DRC III a V 10.1 Todas as crianças devem ter monitorada a taxa de crescimento com medida da altura em centímetros e determinado o escore Z para altura, com uma frequência trimestral para os lactentes nos estágios de DRC II a V e, pelo menos, anual nas criança (Opinião). 10.2 Crianças e adolescentes com DRC estágios II a V e com déficit de altura relacionado à DRC é recomendado o tratamento com hormônio de crescimento recombinante (rhGH) quando se deseja crescimento adicional, após a correção da má nutrição e das alterações bioquímicas da DMO-DRC (Opinião). 10.3 Antes do início do tratamento com rhGH deve-se corrigir o aporte proteico-energético, a acidose metabólica, a hiperfosfatemia e o HPS (Evidência). GH/IGF, associado à insensibilidade ao GH e deficiência funcional do IGF-1 também estão implicados.68 Medidas terapêuticas como uso de vitamina D2 ou D3 e normalização da concentração de PTH melhoram o crescimento (Walker e cols., 2003). Uma revisão sobre o uso do rhGH em crianças com DRC avaliou 15 estudos com 629 crianças e comparou rhGH com placebo.69 Esses estudos mostraram melhora nos parâmetros de crescimento com resultados positivos em todos os aspectos e por um tempo de avaliação de 6 até 24 meses. Os dados disponíveis sugerem que a criança deve ser tratada com uma dose de 28 IU/ m2/semana. A consistência dos benefícios do uso de rhGH mostrada nos diversos estudos considera este uso como evidência de alta qualidade, levando a uma forte recomendação para seu uso na criança com DRC e déficit de crescimento.2 Antes de iniciar o tratamento com GH, os níveis séricos de P devem estar abaixo de 1,5 vez o limite superior para a idade e PTH abaixo de 1,5 vez o limite superior para o estágio da DRC.4 O tratamento com GH eleva os níveis de PTH durante os primeiros meses de tratamento e, portanto, os níveis de PTH devem ser monitorados mensalmente e o uso de GH suspenso caso os níveis de PTH excedam três vezes o limite superior para o estágio da DRC.4 O uso de rhGH melhora o crescimento linear de crianças com DRC pré-diálise, HD e DP,70,71 aumenta os níveis de IGF-1 e melhora a densidade mineral óssea.72,73 A resposta é melhor nas crianças em tratamento conservador, cuja função renal está mais preservada.74 Estudos randomizados com um número maior de crianças, como o Southwest Pediatric Nephrology Study Group, compovaram a eficácia do tratamento com rhGH.75,76 11Indicação de biópsia óssea 11.1 O diagnóstico da doença óssea deve ser feito pela biópsia óssea obtida na crista ilíaca seguida de análise histomorfométrica (Evidência). 11.2 A biópsia óssea pode estar indicada no estágio V, não sendo geralmente necessária nos estágios I a IV, exceto quando houver suspeita de osteomalácia (Evidência). Racional O retardo do crescimento ocorre com frequência de 11,5% a 13% na criança com DRC em todos os estágios, tendo prevalência crescente nos estágios mais avançados.62-67 Sua etiologia é multifatorial e, além da osteodistrofia renal, inclui ingestão alimentar insuficiente, alteração no paladar pela deficiência de zinco, uremia, dieta pobre em sódio, potássio e P, anemia, acidose metabólica, deficiência de 25-vit D e fatores relacionados à diálise. Anormalidades endócrinas, como resistência tecidual ao IGF-1, resistência à insulina, hiperglucagonemia, HPS, alterações no eixo 54 Racional A biópsia óssea fornece informações sobre a remodelação e mineralização ósseas, assim como sobre a presença de metais, como ferro e alumínio. A análise J Bras Nefrol 33; Supl1 (2011) S42-S57 CAP_010_042_057_Diretrizes ODR.indd 54 25/04/11 13:31 Diretrizes brasileiras de prática clínica para o distúrbio mineral e ósseo na doença renal crônica da criança histomorfométrica completa exige a marcação prévia pela tetraciclina, um marcador da mineralização óssea. A tetraciclina deve ser administrada em duas doses de 15 mg/kg/dia, em dois períodos de 3 dias, separados por um intervalo de 10 dias. Em crianças menores de 8 anos, a dose deve ser menor que 10 mg/kg/dia. A biópsia óssea deve ser considerada na presença de fraturas sem ou com mínimo trauma (fraturas patológicas) (Opinião), suspeita de doença óssea por alumínio baseado em sintomas clínicos ou evidência de exposição ao metal (Opinião), hipercalcemia persistente com níveis séricos de PTH entre 400-600 pg/mL.1,2,4,26 Referências 1. Bakkaloglu SA, Wesseling-Perry K, Salusky IB. Chronic Kidney disease-mineral and bone disorder (CKD_MBD) in children. 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