GT2_ RAN1_Draft1_ Cap9.1
Transcrição
GT2_ RAN1_Draft1_ Cap9.1
GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 Capítulo 9 Título Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação na Esfera Regional (Sub)Seção: 9.1 Região Norte Autores Autor Principal: Saulo Rodrigues Filho Autores Colaboradores: Diego Lindoso 1 2 3 Nathan Debortoli 4 5 6 Draft Primeiro Draft 7 Versão 01 8 Nome do Arquivo GT2_ RAN1_Draft1_ Cap9.1 9 Data 19/08/2011 / hora 10 11 12 13 Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas 14 Capitulo 9 15 Região Norte 16 Impactos Regionais, Adaptação e Vulnerabilidade ao Clima e suas implicações para 17 a Sustentabilidade Regional 18 Saulo Rodrigues Filho 19 Professor e diretor do CDS-UnB 20 Diego Lindoso e Nathan Debortoli 21 Pesquisadores do CDS/UnB 22 23 9.1 A Região Norte do Brasil (a completar) 24 25 9.1.1 Características peculiares da região (mudanças de uso da terra) 26 27 28 29 30 Apesar de seu vasto território, a região Norte abriga 9% (413.101) dos estabelecimentos agropecuários brasileiros (4.367.902). No contexto regional, três estados abrangem mais de 70% desses estabelecimentos: o Pará cerca de 50% (196.150), seguido pelo estado do Amazonas e Tocantins, que respondem, respectivamente, por 15% (61.843) e 10% (42.899) dos estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar do Norte (BRASIL, 2006). 31 32 33 34 35 36 37 A partir das profundas mudanças de uso da terra observadas na região Norte, principalmente a partir de meados do século XX, sua função reguladora do clima global, regional e local encontra-se ameaçada. Portanto, as florestas tropicais têm sido objeto de inúmeros estudos que contemplam o ciclo do carbono e suas relações com o homem e a biosfera (FEARNSIDE, 2004; MALHI et al, 2004; MOUTINHO & SCHWARTZMAN, 2005, FEARNSIDE, 1999), com destaque para o programa LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo MCT/INPA. GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 38 39 40 41 42 43 44 As áreas desprovidas de cobertura vegetal apresentam valores altos para o albedo, o que implica em maior reflexão da energia incidente quando comparado à mesma área caso fosse florestada (MARENGO, 2006). Porém, a baixa umidade estocada no sistema resulta em perdas modestas de energia na forma de calor latente (evapotranspiração) e grande na forma de calor sensível (aumento das temperaturas), ao contrário da floresta, o que explica o aquecimento relevante do ar próximo à superfície do solo em pastagens e campos agrícolas (aumentando a dessecação da lavoura e pastagem). 45 46 47 48 49 Portanto, o desmatamento tem implicações diretas sobre a manutenção dos sistemas agroprodutivos. Expõe a superfície, resultando em erosão e a compactação do solo. Paralelamente, pode implicar na redução da água infiltrada nos solos e no incremento do escoamento superficial, alterando assim a hidrologia local, contribuindo para o assoreamento dos lagos e lagoas, assim como reduzindo, no médio longo prazo, o volume de água de nascentes e pequenos corpos de água. 50 51 52 53 54 55 56 57 Simultaneamente, a supressão da cobertura vegetal afeta processos ecológicos críticos para manutenção da agricultura e ecossistemas locais, tornando-os mais instáveis e reduzindo a capacidade de resposta e recuperação a distúrbios ambientais (EISENHAUER & SCHÄDLER, 2010). Um deles é a ciclagem de nutrientes, cuja regulação depende do balanço entre absorção pela vegetação, formação de serrapilheira e taxa de decomposição (MILTON & KASPARI, 2007). O uso do fogo - forma tradicionais de manejo de pastagens e roçados - potencializam a sensibilidade da produção familiar e dos ecossistemas locais, tanto à impactos devido a estiagem quanto à impactos devido à desregulação da ciclagem de nutrientes (BUSTAMANTE et al, 2006). 58 59 9.1.2 Variabilidade climática e as mudanças antropogênicas 60 61 62 63 64 65 66 67 As florestas são responsáveis pelo equilíbrio climático em escala global, prestando inúmeros serviços ambientais. A partir das profundas mudanças de uso da terra observadas nessas regiões, principalmente a partir de meados do século XX, sua função reguladora do clima global, regional e local encontra-se ameaçada. O fator clima é determinante para o crescimento e a conservação das florestas tropicais, enquanto que as zonas climáticas refletem o balanço de energia sobre a superfície da terra em diferentes latitudes. Nas zonas equatoriais a duração do dia altera-se pouco ao longo do ano, e a variação térmica maior ocorre durante o dia. Uma comunidade vegetal densa influencia de maneira considerável a distribuição das precipitações que atingem o solo. 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 Em massa, as plantas ultrapassam todos os organismos do planeta, perfazendo 99% de toda massa viva (biomassa) sobre a terra. Por isso, a vegetação é fator estabilizador na circulação da matéria e influencia sobremaneira os sistemas climático e hidrológico. As regiões cobertas por florestas tropicais evoluíram durante milhares de anos propiciando a reflexão da massa foliar IAF (índice de área foliar), de forma a interagir com os raios infravermelhos para o processo e a ciclagem do gás carbônico na atmosfera. Essas condições permitiram a evolução das comunidades vegetais. O aporte sistemático de correlação entre ventos, umidade, pressão, intensidade da luz (equador e pólos), e os estômatos das folhas, criaram características ecofisiológicas bastante complexas e delicadas, especialmente no que tange às interações entre a biomassa e o clima, nas quais as atividades humanas têm causado distúrbios significativos (LARCHER, 2000; BARRETO et al., 2006, LAURENCE et al., 2009; FEARNSIDE 2008b).). 79 80 9.1.3 Cenários Climáticos 81 82 83 84 Nas projeções climáticas realizadas por Marengo (2007) para o período 2071-2100, a região Amazônica está compreendida entre as latitudes 4,5° N e 12° S. Os vários modelos globais utilizados no IPCC TAR (3º relatório IPCC, 2001) e AR4 (4º relatório IPCC, 2007) divergem sobre tendências de precipitação na Amazônia. Alguns projetam redução da pluviosidade, outros apontam GT2_R RAN1_Draaft1_Cap9.1 85 86 um aumentto, mas a média m dos mo odelos indicca maior po ossibilidade de reduçãoo nas precipiitações (figura 7). 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 Figura 7. A Anomalias anuais da precipitação (mm/dia) na n Amazôniia brasileiraa consideran ndo os cenários A A2 (esquerdaa) e B2 (direeita) do TA AR obtido a partir p da méédia dos trêês modelos regionais r do Inpe (Eta/CPTEC/C CPTEC, ReegCM3 e HaadRM3P) para p o períod do de 2071--2100 em reelação a média de 11961-1990. Observar a tendência dde redução das d chuvas no oeste doo Pará (inserrido dentro do contornno em verdee). As projeçções represeentam a med dia aritmética dos cenáários produzzidos pelos modelos reegionais Etaa/CPTEC/CPTEC. ReggCM3 e Had dRM3P (50 km de resoolução). Fon nte: Marengo, 22007. 97 98 99 100 101 A média (eensemble) dos d modeloss regionais ddo INPE ap presentados por Marenggo (2007), consideranndo o cenáriio A2 (pessiimista) do T TAR, prevê uma reduçãão de 365m mm a 730mm m nas médias anuuais das preecipitações do d oeste parraense. Resu ultado semeelhante conffigura-se paara o cenário B22 (figura 7). Já, quanto às temperatturas, todos os modeloss projetam uuma tendên ncia de aquecimennto conspícuuo para o Brrasil (figuraa 8). 102 103 104 105 106 107 Observa-see que as anoomalias de temperatura t a no Pará irãão variar en ntre 4-5 °C ((2071-2100) em relação às médias de 1961-1990, 1 tendo comoo parâmetro o o cenário A2 A do TAR R, enquanto nas condições do cenário B2 o aumen nto foi estim mado entre 3-4°C. 3 É certo que exisstem incerteezas quanto ônia, princip palmente deevido à faltaa de dados à essas tenndências de extremos cllimáticos paara a Amazô RENGO, confiáveis de longo prrazo e acessso restrito a informaçõees para regiões tão exteensas (MAR 2007). 108 109 GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 110 111 112 113 Figura 8. Anomalias anuais de temperatura (para América do Sul, período 2071-2100 em relação a 1961-90, para os cenários IPCC A2 (pessimista) e IPCC B2 (Otimista)). As projeções representam a media aritmética dos cenários produzidos pelos modelos regionais Eta/CPTEC/CPTEC. RegCM3 e HadRM3P (50 km de resolução). Fonte: Marengo, 2007. 114 115 9.1.4 Políticas públicas e acordos internacionais 116 117 118 119 120 121 A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) foi oficialmente instaurada durante a Conferência de Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, conhecida como Rio-92, com o objetivo de estabelecer as diretrizes e condições para estabilizar os níveis dos gases de efeito estufa na atmosfera. A Convenção do Clima foi aberta a assinaturas durante a Rio92 e entrou em vigor em 21 de março de 1994. Em 1997, 165 países já haviam ratificado a Convenção, comprometendo-se com os termos nela contidos. 122 123 124 125 126 127 Reconhecendo a mudança do clima como “uma preocupação comum da humanidade”, os governos que a assinaram tornaram-se Partes da Convenção, propondo-se a elaborar uma estratégia global “para proteger o sistema climático para gerações presentes e futuras”. Até fevereiro de 2004, a Convenção havia sido assinada por 188 “Partes” (países), das quais somente as Partes pertencentes ao chamado Anexo I (países industrializados), têm compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (NAE 04, 2005). 128 129 130 131 132 Segundo Muylaert (2000), muitos foram os conflitos entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, antes mesmo da Convenção. Os países desenvolvidos queriam que os países em desenvolvimento assumissem o compromisso de limitação ou mesmo redução de emissões, e os países em desenvolvimento, liderados por Brasil, China e Índia, manifestaram posição contrária a imposições em termos de redução de suas emissões. 133 134 135 136 137 138 O Protocolo de Quioto, criado em 1997, durante a Terceira Conferência das Partes (COP-3) da Convenção do Clima, realizada no Japão, estabeleceu que países industrializados deveriam reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 5,2%, em média, em relação a 1990, no período de 2008 a 2012, sendo este conhecido como primeiro período de compromisso. Entretanto, o Protocolo entrou em vigor somente em 2005, após a ratificação da Rússia, evento que propiciou o alcance dos níveis de emissão mínimos exigidos para que o instrumento entrasse em vigor. 139 140 141 142 143 Um novo Protocolo, ou um segundo período de compromisso a partir de 2013, depende do sucesso das próximas Conferências das Partes, a serem realizadas em 2011 e 2012 (COP´s 17 ou 18). Para esse período, espera-se que sejam estabelecidas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa mais ousadas, entre 25% e 40% em relação aos níveis de 1990 até 2020 para os países industrializados, conforme recomendações do IPCC. 144 145 146 147 Entretanto, obstáculos de natureza política precisam ser superados. A não adoção de metas e compromissos pelas maiores economias dos países em desenvolvimento, como China, Brasil e Índia, tem sido utilizada como argumento dos países desenvolvidos para justificar as principais dificuldades em torno de um acordo mais ousado. 148 149 150 151 Por outro lado, o Artigo 4 da Convenção especifica as obrigações de todas as Partes da Convenção, levando em conta suas “responsabilidades comuns porém diferenciadas”, as quais são justificadas especialmente pelas diferentes contribuições históricas para ao agravamento do efeito estufa, consideravelmente menores por parte dos países em desenvolvimento. 152 153 9.2 Aspectos-chave da vulnerabilidade regional 154 155 Existem fortes evidências que processos climáticos de mesoescala, cujas variações são interanuais (e.g. El Niño e La Niña) e interdecadais (e.g. Oscilação do Atlântico Norte, Oscilação Decadal do GT2_R RAN1_Draaft1_Cap9.1 156 157 158 159 160 Pacífico), iinfluenciam m sobremaneeira a circullação atmossférica globaal (GODDIN N, 2003; LA ATIF & KEENLYS SIDE, 2009; MARENG GO, 2007; IN INPE, 2010)), refletindo o nas oscilaçções de tem mperatura e precipitaçõões do contiinente sul-am mericano aoo longo do século s XX (MARENG ( GO, 2007). Estas E variações ssão mais complicadas de d serem peercebidas peelo homem, pois abranggem período os longos de tempo, especialmennte os ciclos decenais. 161 162 163 164 Ao se analisar a série histórica dee precipitaçãão dos últim mos 100 ano os para a Am mazônia, nãão foram observadass tendênciass unívocas de d diminuiçção ou de au umento das chuvas, maas sim períodos de pluviosidadde mais inteensa intercaalados com ooutros maiss brandos, reelacionadoss a oscilaçõees periódicas interdecadaais na dinâm mica atmosffera-oceano (figura 6). 165 166 167 168 Figura 6. Anomalias norm malizadas das chuvas c para o Norte (gráfic co superior) e para o Sul (grráfico inferior) da Amazônia a as apontam as s mudanças d de fase ou clim mate shifts. Fo onte: adaptadoo de Marengo, 2007. entre 1929 e 1997. As seta 169 170 171 172 173 174 175 176 177 O sul e o nnorte da Am mazônia apreesentaram, eentre 1929 e 1997, com mportamentoos simétrico os, porém opostos noo que tange a variação da d pluviosiddade. As décadas de 19 940 e 1970 ddestacam-see por serem m períodos nos quais ocoorreram mu udanças de ffase ou clim mate shifts. A partir de m meados de 1940 o Amazônia appresentou um ma tendênciia positiva nas n chuvas em e relação à normal, enquanto e o norte da A sul da Amaazônia apresentou umaa tendência nnegativa. Jáá no final daa década de 1970 e iníccio de 1980 estas tendêências se invverteram (fiigura 6) Esttas oscilaçõees provavelmente estãoo relacionad das à mudança nnos campos de circulação atmosférrica e oceân nica no Pacíífico Centraal entre 1975 5-1976 (Marengo, 2007). 178 179 180 181 182 183 184 185 m curta, variações v naa pluviometrria também estão assocciadas às vaariações nas Em escala temporal mais temperaturras do Pacíffico Tropicaal e do Atlânntico Tropiccal. Entre 19 903-2005, eeventos extrremos de seca associiados ao El Niño foram m observadoos nos anos 1925-26, 19 963-64, 19779-1980, 19 982-1983, 1990-1991, 1997-98 (MARENGO ( O, 2007). Jáá as secas de d 2005 e 20 010, as quaiis causaram grandes impactos nno sul e oestte da Amazô ônia, foram m influenciad das pelo aqu uecimento ddas águas do o Atlântico Tropical deesde 2004, cujo increm mento superoou 0,5ºC accima da méd dia normalm mente registrada (Marengo, 2007). O aquecimento o global podde intensificcar esse fenô ômeno à meedida que o oceano absorve grande parte do d excedentte de energiia armazenaado na terra pelo efeito estufa. 186 GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 187 9.2.1 Atributos da vulnerabilidade: sensibilidade e capacidade adaptativa 188 189 190 191 O conceito de sensibilidade vem sendo amplamente trabalhado na literatura. Füssel (2007) define sensibilidade como “o grau com que um sistema é instantaneamente afetado por uma perturbação” e a associa a fatores internos biofísicos. Já Kaperson et al (2005) conceitua sensibilidade como o grau de dano que um sistema socioecológico experencia quando sujeito a uma determinada exposição. 192 193 194 195 196 197 198 199 Por sua vez, Turner et al (2003) apresenta sensibilidade como uma grandeza que reflete a magnitude da reação do sistema socioecológico a um fator de exposição. Segundo os autores, condições humanas e ambientais do sistema definem a sensibilidade. De forma semelhante, Smit & Wandel (2006) afirmam que exposição e sensibilidade “são propriedades praticamente inseparáveis de um sistema e são dependentes da interação entre características do sistema e de atributos do estímulo climático”. De acordo com eles, a sensibilidade de uma comunidade é determinada pelas características da ocupação e subsistência (local do assentamento, tipo de moradia, atividades produtivas, formas de uso da terra). 200 201 202 203 204 205 Do ponto de vista social, a demografia é um fator que influencia a sensibilidade. O crescimento da população aumenta o número de pessoas expostas aos distúrbios e podem, eventualmente, criar tensões sociais. A proporção de idosos e crianças, por sua vez, reflete a sensibilidade do sistema vulnerável (i.e. família e comunidade) à doenças. Conflitos sociais também podem emergir da disputa por recursos naturais de uso coletivo, como os recursos pesqueiros, podendo levar ao que Hardin chamou de Tragédia dos Comuns (HARDIN, 1968). 206 207 208 209 210 211 212 213 214 Já na perspectiva institucional, a regularização fundiária é um fator de sensibilidade chave. Produtores rurais desprovidos de documentos de posse ou de propriedade da terra são mais sensíveis, pois não conseguem viabilizar outros documentos, como o CAR (Cadastro Rural) e o LAR (Licença Ambiental Rural). De forma semelhante, a inserção de forma competitiva no mercado demanda a regularização da terra. É interessante observar que esta é uma sensibilidade relativamente recente e que há algumas décadas era inexistente ou insignificante, pois em um contexto desconectado dos mercados regionais e no qual o Estado era ausente ou fraco, a produção e relações de troca independiam da existência de um documento que comprovasse a posse ou propriedade da terra. 215 216 217 218 219 220 221 Capacidade adaptativa, por sua vez, refere-se à capacidade de reação e prevenção dos sistemas socioecológicos antes, durante e após um distúrbio. Está associada à capacidade de inovação, aprendizado e auto-organização do sistema. Depende da disponibilidade de opções de adaptação e a capacidade de transitar entre estas opções que um sistema (e.g. comunidade, ecossistema) apresenta. As diversas conceituações apresentadas na literatura estão relacionadas à diversidade (e.g. genética, fenotípica, cultural, tecnológica) e a aspectos de governança (aspectos políticoinstitucionais): 222 223 “(diversidade) pode ser equiparada à manutenção de uma série de opções que são postas 224 pelo ambiente. Estas opções, associadas a possibilidade de transitar entre elas, provêm a 225 capacidade adaptativa que caracterizam os sistemas complexos adaptativos” (NORBERG 226 et al., 2008, tradução dos autores) 227 228 “Capacidade adaptativa: refere-se à flexibilidade de um ecossistema e a habilidade de um 229 sistema social em aprender em resposta a distúrbios” (TURNER et al, 2003, tradução dos 230 autores) GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 231 232 “Independentemente da natureza e magnitude do impacto, a capacidade adaptativa é 233 fortemente moldada pela governança e por mecanismos socioeconômicos, políticos e 234 institucionais que viabilizam a resposta.” (EAKIN & LEMOS, 2010, tradução dos autores) 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 Assim, o fortalecimento de instituições e paisagens organizacionais – capital social, legislação, fluxos de informação, disponibilidade de fundos, capacidade de aprendizado e conhecimento acumulados – é fundamental para adaptação, reduzindo vulnerabilidades e preparando os sistemas humanos para lidar com variações ambientais (EAKIN & LEMOS, 2010). Neste contexto, pesam a favor também a existência de outros elementos característicos da boa governança, como a responsabilização (accountability) (BURSZTYN, 2008). Dietz et al (2003) sugerem uma governança adaptativa que leve em consideração os seguintes elementos: (i) aporte adequado de informações à compreensão do tomador de decisão; (ii) gestão de conflitos e cumprimento de regras e normas legitimadas pelos atores envolvidos na gestão dos recursos (inclusive o uso de instrumentos econômicos complementares aos de comando e controle); (iii) disponibilidade de infra-estrutura física, social, institucional e tecnológica; e (iv) flexibilidade institucional, associada à capacidade de aprender e repensar regras e normas de acordo com as mudanças ambientais. 249 250 251 252 Portanto, primeiramente, cabe destacar o caráter multiescalar da capacidade adaptativa, perpassando escalas que vão da local até a global, dependendo do estudo de caso. Este é um caráter que o diferencia do conceito de sensibilidade (caráter interno ao sistema vulnerável) e exposição (caráter externo ao sistema vulnerável). 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 O segundo ponto que merece ser destacado refere-se às nuances que diferenciam capacidade adaptativa de sensibilidade, uma vez que, frequentemente, os dois conceitos se confundem. Enquanto sensibilidade diz respeito às características do sistema que potencializam ou minimizam o impacto causado pela exposição, a capacidade adaptativa diz respeito às características que potencializam ou minimizam tais sensibilidades (KAPERSON et al, 2005; TURNER et al, 2003). Portanto, sensibilidade refere-se a condições ambientais e humanas que aumentam a exposição ao distúrbio, enquanto capacidade adaptativa refere-se à capacidade de resposta e prevenção por meio de alterações ou ajustes nestas condições, processo que , quando se efetiva, é chamado adaptação. Obviamente, há feedbacks entre ambos, e certos aspectos da sensibilidade constrangem a capacidade adaptativa. 263 264 265 266 267 268 269 A fragmentação dos habitats resultante do desmatamento tem consequências negativas tanto para a conservação da biodiversidade regional quanto para manutenção dos processos ecológicos (MACHADO, 2009). Sabe-se que o tamanho de fragmentos e a conectividade entre eles são aspectos fundamentais para a manutenção do fluxo gênico, o qual é condição necessária para que a criatividade natural (i.e. combinação gênica e combinação cromossômica) possa atuar e produzir nas populações naturais variações potencialmente adaptativas a um ambiente em constante mudança (TURNER et al, 2001). 270 271 9.2.2 Floresta Tropical Úmida 272 273 274 275 As florestas são objeto de intenso debate político e científico sobre mitigação das mudanças climáticas, dado o seu papel como reservatório natural de carbono, assim como devido às atuais pressões antrópicas sobre os ambientes florestais. Os maiores estoques de carbono nos ambientes terrestres concentram-se em áreas florestais, que, por unidade de área, são capazes de comportar de GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 276 277 20 a 50 vezes mais carbono que as formas simplificadas de cobertura do solo, como pastos e agricultura (Moutinho & Schwartzman, 2005). 278 279 280 281 282 283 284 285 As florestas tropicais, que compreendem aproximadamente metade das áreas florestais do globo. Em conseqüência, o desmatamento e a modificação dos habitats biodiversos das florestas tropicais têm contribuído de forma significativa com o aquecimento global, além de comprometer a disponibilização de serviços ambientais, ameaçar a biodiversidade e prejudicar a sobrevivência de povos tradicionais que dependem diretamente da floresta (RODRIGUES-FILHO et al, 2008). No contexto das mudanças climáticas, a floresta Amazônica é foco de preocupação, tanto pelas projeções dos impactos severos sobre a região, como por sua importância para a mitigação do fenômeno, haja vista ser a maior floresta tropical remanescente no mundo. 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 A floresta Amazônica é responsável por emitir anualmente centenas de milhões de toneladas de carbono na atmosfera. O desmatamento abre clareiras na floresta, fazendo com que a incidência de radiação solar penetre diretamente na vegetação, que se torna, então, mais inflamável (NEPSTAD et al., 1999; 2001). O aquecimento global, por sua vez, contribui com a suscetibilidade da floresta a incêndios, na medida em que aumenta a intensidade de fenômenos como o El Niño, que provoca o aumento da temperatura e episódios de seca prolongada na Amazônia. Incêndios florestais em anos de El Niño podem dobrar as emissões amazônicas de carbono (NOBRE, 2001). Portanto, as florestas tropicais têm sido objeto de inúmeros estudos que contemplam o ciclo do carbono e suas relações com a antroposfera e a biosfera, com destaque para o programa LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), coordenado pelo MCT/INPA. 296 297 9.2.3 Agricultura Familiar 298 299 300 301 302 303 304 305 306 A produção agrícola familiar é um setor altamente sensível às mudanças climáticas. Os elementos que compõem os sistemas produtivos são regulados por parâmetros atmosféricos como precipitação, temperatura e concentração de CO2. Variações nesses parâmetros possuem reflexos diretos na produtividade agropecuária e, consequentemente, no cotidiano do produtor e sua família. Contudo, generalizações dos impactos das mudanças climáticas sobre a produção familiar devem ser realizadas com ressalvas, uma vez que a vulnerabilidade é determinada pela interação entre especificidades socioeconômicas, culturais e institucionais de âmbito local, e fatores associados às variações climáticas em diferentes escalas (MOTON, 2007; EAKIN & LEMOS, 2010; HILHORST & BANKOFF;DiIETZ et al, 2003). 307 308 309 310 311 Na região Norte, apesar de reunida em uma categoria para fins estatísticos, a produção familiar é heterogênea, caracterizada por um mosaico de atividades, desafiando tentativas de categorização do produtor em tipologias estanques (HURTIENNE, 2005). A agropecuária divide espaço com o extrativismo e caça/pesca na manutenção da subsistência e renda familiar rural das populações amazônidas (ADAMS et al, 2008). 312 313 314 315 316 317 318 319 Quanto à vulnerabilidade climática, secas severas, como as de 2005 e 1997/98, aumentam a dessecação de lagoas e reduzem os níveis dos rios, comprometendo a subsistência e isolando milhares de ribeirinhos (MARENGO et al, 2011, SILVA e BEGOSSI, 2007). Já o aumento das concentrações atmosféricas de CO2, incremento nas temperaturas e variações nas precipitações podem afetar negativamente a produtividade de gêneros agrícolas e de espécies usadas na atividade extrativista (McKEY et al, 2010; PAROLIN et al, 2010). Por outro lado, alguns estudos aventam a hipótese que índices mais úmidos no noroeste Amazônico limitam a expansão da pecuária e agricultura (CHOMITZ & THOMAS, 2003). 320 321 322 323 No que tange os sistemas produtivos, a proporção entre culturas temporárias e perenes na agricultura, assim como a proporção entre pecuária e agricultura nos estabelecimentos e comunidades ribeirinhas da Amazônia modulam (potencializam ou minimizam) os prejuízos que uma estiagem mais prolongada pode causar nos orçamentos familiares e economia municipal. Outra GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 324 325 326 327 característica que influencia a sensibilidade é a dinâmica do uso da terra. A substituição da cobertura vegetal por pastagens e campos agrícolas impacta diretamente o clima local, alterando o balanço de energia e, consequentemente, influenciando o regime de ventos e o ciclo hidrológico local. 328 329 330 331 332 333 Portanto, a avaliação da vulnerabilidade e da adaptação da produção familiar perpassa três aspectos: (1) identificar as diferentes atividades que compõem os sistemas produtivos familiares e suas interdependências com a subsistência e renda do produtor e sua família (2) entender como cada uma das atividades produtivas poderá ser afetada nos cenários climáticos projetados (3) identificar os aspectos socioeconômicos e institucionais que aumentam a sensibilidade às variações climáticas e reduzem a capacidade adaptativa dos sistemas produtivos familiares (LINDOSO et al, 2009). 334 335 9.2.4 Agronegócio e floresta plantada (a completar) 336 337 9.2.5 Pecuária (a completar) 338 339 9.2.6 Extrativismo (a completar) 340 341 9.2.7 Mudanças no ciclo hidrológico 342 343 344 345 346 347 348 Nas florestas tropicais úmidas, especialmente na Amazônia, a radiação direta é fortemente absorvida pela vegetação o que mantém a umidade entre a área do solo e a copa das árvores. Nesse sentido, pode-se afirmar que o bioclima das florestas tropicais é determinado pelo funcionamento da comunidade vegetal; nela, a radiação incidente é convertida em calor na folha, sendo transformado em transpiração o que permite a ciclagem da água em áreas de floresta contínua. Em estresse hídrico os estômatos das folhas se fecham não respondendo a fatores externos prejudicando absorção de gás carbônico (OZANNE et al., 2003; LARCHER, 2000). 349 350 351 352 353 354 355 356 357 A evapotranspiração da vegetação é responsável por parte substancial das chuvas locais (SHEIL & MURDIYARSO, 2009; BONAN, 2008; MOHAMED, 2005; NEPSTAD, 1997). Aguiar (2006), no âmbito do programa LBA, observou que a evapotranspiração vegetal respondeu pelo destino de 75- 85% da radiação solar incidente na estação chuvosa em área de floresta no sudeste amazônico, sobrando apenas 25-15% para aquecer a temperatura do ar e da superfície. Estima-se que na floresta Amazônica, entre 25%-50% da precipitação em uma determinada localidade provêm da própria vegetação subjacente (ELTAHIR, 1994). Durante o período de estiagem, este processo responde por parte majoritária da chuva local, enquanto no período de chuvas, esta participação, apesar de ainda significativa, tem participação relativa mais modesta. 358 359 360 361 362 363 364 365 366 Evidências arqueológicas sugerem que catastróficos incêndios têm ocorrido na Amazônia durante grandes eventos de El Niño quatro vezes ao longo dos últimos 3.500 anos: 1.500, 1.000, 700 e 400 A.C (MEGGERS, 1994). O aumento do início de focos de incêndio, juntamente com aumento de inflamabilidade florestal madeireira já resultou em substanciais incursões dos incêndios na floresta em pé, no leste e sul da Amazônia durante anos secos (UHL e BUSCHBACHER, 1985; UHL e KAUFFMAN, 1990; COCHRANE e SCHULZE, 1999; COCHRANE et al., 1999, NEPSTAD et al., 1999). Secas conduzirão a um aumento na área e completude de combustão em clareiras na Amazônia, contribuindo na emissão de fumaça e material particulado funcionando como fontes de nutrientes de origem eólica para o meio florestal (TALBOT et al., 1990). 367 368 369 Caso a freqüência de eventos El Niño aumente como conseqüência do aquecimento global (TIMMERMANN et al., 1999), as florestas libertarão suas grandes reservas de carbono para a atmosfera. O futuro da acumulação de CO2 na atmosfera, e, conseqüentemente, o momento em que GT2_RAN1_Draft1_Cap9.1 370 371 372 373 a concentração atinja "perigosos" níveis, depende da contínua absorção de carbono pela biosfera, incluindo uma importante contribuição a partir da Floresta Amazônica. É importante salientar que cada grau de alteração na temperatura em um ambiente tropical pode ser "percebido" pelas espécies da floresta como uma maior variação do que em florestas temperadas (JANZEN, 1967). 374 375 9.2.8 Projeções de impactos sobre a saúde humana (a completar) 376 377 9.2.9 Projeções de impactos sobre a produção agrícola e a segurança alimentar (a 378 completar) 379 380 9.3 Síntese das análises e considerações finais (a completar) 381 382 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A COMPLETAR