- AESabesp

Transcrição

- AESabesp
Saneas
SUMÁRIO
Saneas é uma publicação técnica quadrimestral
da Associação dos Engenheiros da Sabesp
AESABESP
DIRETORIA EXECUTIVA
João Baptista Comparini / Presidente
Eliana K. I. Kitahara / Vice-Presidente
Nizar Qbar / 1º. Secretário
Magali Scarpelini M. Pereira / 2ª. Secretária
Ivan Norberto Borghi / 1º. Tesoureiro
Walter Antonio Orsati / 2º. Tesoureiro
DIRETORIA ADJUNTA
Cecília Takahashi Votta / Diretor Social
Luiz Yukishigue Narimatsu / Diretor Técnico Cultural
Gilberto Alves Martins / Diretor de Esportes
Reynaldo Eduardo Young Ribeiro / Diretor de Pólos
Paulo Eugênio de C.Corrêa / Diretor de Marketing
CONSELHO DELIBERATIVO
Alipio Teixeira dos Santos Neto, Almiro Cassiano Filho, Choji
Ohara, Geraldo Gonçalves, Hélio Nazareno Padula Filho,
Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Victorio Francisco de
Assis Bedusch, Nelson Luiz Stábile, Paulo Roberto Borges,
Pedro Luiz Todesco Ferraz, Pérsio Faulim de Menezes, Sérgio
Eduardo Nadur.
CONSELHO FISCAL
Antonio Soares Pereto, Marcos Clébio de Paula e
Yazid Naked
CONSELHO EDITORIAL
Viviana Marli N. Aquino Borges (Coordenadora)
FUNDO EDITORIAL
EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS
Wanderley da Silva Paganini (Coordenador)
Andréa Ferreira Guzzon, Fernando Gomes da Silva,
Gislene Flávio Lopes, Miriam Moreira Bocchiglieri, Renato
Benito Felippe Júnior e Rodolfo Baroncelli Jr.
ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA
Formato Artes Gráficas ([email protected])
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Ana Holanda Mtb 26.775;
TIRAGEM: 3.500 exemplares
AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1
01327-002 - São Paulo, SP
Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484
Fax (11) 3141 9041
www.aesabesp.com.br
[email protected]
EDITORIAL
3 Planejamento e estratégia
4 AGENDA
4 CARTAS
OPINIÃO
5 A Universidade e o Planejamento
P&D
6 Impactos do uso de rejeitos de um dessanilizador de
água na irrigação da erva-sal, sobre a planta e o solo
MATÉRIA DE CAPA
11 Planejar é preciso
ARTIGOS TÉCNICOS
17 Tubo corrugado de dupla parede em pead para
esgoto 21 Eliminação de odores em lagoas e estações de
tratamento de esgotos 25 Alternativa para limpeza de lagoas
MEIO AMBIENTE
29 Barreira de contenção para algas do gênero
Microcystis sp
A SABESP INOVA
32 Geração de energia elétrica utilizando o biogás
biogás produzido no tratamento de esgoto
ENTREVISTA
38 Planejamento em duas versões
EMPREENDIMENTOS E GESTÃO
41 Novos e antigos desafios
HISTÓRIA DO SANEAMENTO
42 Abastecimento de água: Rio Paraíba
44 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO
45 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO
46 CAFEZINHO
47 AGRADECIMENTOS
Empresas patrocinadoras deste número de Saneas
Kanaflex S/A Indústria de Plásticos
Tel (11) 4785-2100; [email protected]
Glotec Representações e Comércio
Tel (11) 5571 0078; [email protected]
Foto da ETA
Odair Marcos Faria
Fotomontagem
Carlos Guena
EDITORIAL
Planejamento e estratégias:
o desconhecido à frente
Eng. João B. Comparini
Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP)
“N
os tempos de hoje, mais que em qualquer outro, ensinam os livros, o
estabelecimento de planos estratégicos fundamentados deixaram de ser
um luxo para tornar-se uma fundamental necessidade. Para os países ou organizações, das mais simples às mais complexas.
Mesmo com a fluidez dos ambientes, que tem deixado uma sensação de
insatisfação com as formas tradicionalmente utilizadas de planejamento pelo
desacerto de previsões, cada vez mais o desconhecido à frente obriga ao aprofundamento do processo. E diferentemente da biologia, ou da competição biológica, contamos com a imaginação e o raciocínio lógico para determinar planos
e estratégias, implementando, de forma deliberada, as ações que busquem os
resultados almejados.
Nas esferas governamentais, mesmo operando com incertezas, a visão do que se quer para o país em cada setor, daquilo É fundamental planejarque é básico e dará sustentação para o desenvolvimento, dos se e traçar estratégias
campos de vantagem competitiva, de onde se almeja chegar,
enfim, deve disparar políticas e diretrizes que venham a pro- que venham a eliminar,
porcionar o alinhamento necessário. A prosperidade nacional no prazo mais curto, um
é criada, e não herdada (Porter, M. E., 1990). Aproveitar-se do
déficit de atendimento
acaso, sim; não contar com ele, porém.
Da mesma forma, em cada setor. No de recursos hídricos, a que chega a ponto de
disputa mundial pelo domínio e exploração das fontes de água,
já realidade, ocorre num cenário de escassez em diversas regiões contarmos com 30
do planeta e abundância em outros, como no Brasil, detentor milhões de brasileiros
de 13% da água doce do mundo, mesmo que mal distribuída
geograficamente em sua vastidão. Planejar a utilização racional sem abastecimento
dessa riqueza, traçando cenários para os próximos 30, 50 ou público de água e perto
100 anos, é a tarefa. No do saneamento, básico para a sustentação do desenvolvimento nacional, é fundamental planejar-se e de 100 milhões sem
traçar estratégias que venham a eliminar, no prazo mais curto, coleta de esgoto, além
um déficit de atendimento que chega a ponto de contarmos
com 30 milhões de brasileiros sem abastecimento público de de um enorme passivo
água e perto de 100 milhões sem coleta de esgoto, além de um ambiental pela falta de
enorme passivo ambiental pela falta de seu tratamento. E este
não é um cenário futuro para o processo de planejamento. É a seu tratamento
realidade que já vivenciamos.
O tema central desta edição da revista SANEAS é o planejamento. Por vezes
abstraído pelos que rejeitam a praticidade de estratégias conscientes e costumam
dirigir de forma intuitiva, tem sido o tema central de inúmeras publicações.
Esperamos nesta edição, mais uma vez, que os aspectos abordados contribuam para o esclarecimento de questões e para a disseminação do conhecimento, auxiliando o leitor na compreensão dos problemas atuais e a serem
doravante enfrentados.
Saneas / junho 2003 – 3
Cartas
Cartas
Meu nome é Andréia e trabalho
na Biblioteca da Faculdade de
Engenharia São Paulo - FESP.
Através desta correspondência
venho pedir a gentileza de nos
enviar mensalmente, dentro do
possível, a Revista SANEAS para
a nossa instituição. Desde já
agradeço a atenção,
Andréia Medrado
Biblioteca Faculdade de Engenharia São Paulo -FESP
Venho a presença de V. Sa.,
acusar e agradecer-lhe a doação
da revista “Saneas. v.1, n.13 e 14”,
ao Serviço Técnico de Biblioteca
e Documentação desta Faculdade
de Engenharia. Solicito-lhe, se
possível, a gentileza de continuar
enviando como doação os novos
fascículos para que os leitores
possam desfrutar sempre da
coleção completa. Aproveito-me
da oportunidade para externarlhe protestos da mais alta consideração.
Nilza Maria Rabello Marino
- Diretor Técnico de Serviço /
Biblioteca
Sou sócio da AESABESP e pretendo enviar para apreciação
um artigo técnico sobre emissários submarinos x modelagem
matemática. Peço que mandem
os requisitos para publicação,
regras para o texto, figuras, etc…
Obrigado
Eng Gilberto Berzin
Acho a revista excelente e gostaria
de ser incluido na mala direta
para recebê-la regularmente, se
for possível.
Jair Casagrande
Vila Velha - ES
Gostaríamos de agradecer a
doação da revista SANEAS para
a coleção desta Biblioteca. Esclarecemos que foi avaliada pelos
artigos publicados nos 3 números recebidos como de interesse
para a comunidade usuária da
4 – Saneas / junho 2003
FSP. Com satisfação informamos que a revista será incluida
em nossa coleção nos próximos
dias, suprindo a carência de
publicações nacionais na área de
saneamento.
Sonia G G Eleutério
Serviço de Aquisição - Biblioteca
Faculadade de Saúde Pública /
USP
Recebemos em nossa Biblioteca
o v.1, n.14, 2002, o qual gerou
grande interesse entre nossos
usuários. Dessa forma, gostaria
de consultá-los sobre a possibilidade de recebermos em caráter
de doação a revista Saneas para
incorporá-la em nosso acervo
e, se possível, receber também
os fascículos já publicados para
ficarmos com a coleção completa.
Instituto de Geociências - USP
- Serviço de Biblioteca
Agradecemos antecipadamente a
atenção dispensada a nossa solicitação.
Érica Beatriz Oliveira
Bibliotecária - Aquisição e
Publicações - IGc/USP
Venho a presença de V.As. para
saber da possibilidade de receber
todos os números atrasados e se
possível a continuidade dos novos
fascículos, como doação para a
biblioteca de minha faculdade
e meios para minhas pesquisas
e trabalhos pessoais, sou aluno
matriculado do curso de Gestão
Ambiental da FMU, eu e meus
amigos ficaríamos muito gratos e
agradecidos desde já, pois o conteúdo destes fascículos nos trás
informações imprecendíveis para
nossas formações acadêmicas e
profissionais. Ao mesmo tempo
enaltece e mostra o tanto e importante a função e o papel que presta
toda esta classe que essa associação, congrega e da qual queremos
num futuro não muito distante
fazer parte com todo orgulho,
por outro lado quero enfatizar
também a amostragem que isto
pode dar do papel desta empresa
da qual faço parte, trabalho no
Escritório Regional Americanópolis, sobre a Gerência do Sr. Cristóvão, uma pessoa que muito me
ajudou e incentivou a dar passos
mais altos com isso procurando
uma melhor qualificação de meus
conhecimentos, a área do meio
ambiente me deixa muito fascinado e entusiasmado com todas
as perspectivas de estar atuando
e ajudando mais ainda a resolver
os grandes problemas desta área.
Aproveito a oportunidade para
externar os protestos da mais alta
consideração e admiração.
Nelson Lamerato Junior
Tecnico de Atendimento d
Clientes - Sabesp
Recebemos a publicação Saneas
v.01-n.14-2002 e agradecemos.
Se possível, gostaríamos de receber suas próximas edições, ou
permutarmos com nossa revista
científica.
Sidnéia Porangaba
Setor de Aquisição Rede de
Bibliotecas Unoeste - Divisão
Técnica de Tratamento da
Informação - Presidente Prudente - SP
Olá Equipe da AESABESP!
Primeiramente,
queremos
agradecer atenção que prestam
para conosco (Biblioteca CIR
- Faculdade de Saúde Pública
- USP). Queremos acusar
o recebimento da Revista
Saneas, Vol. 1(12) 2001 e
Vol.1(13,14)2002. Informamos
que a partir de hoje(03/04/2003),
estamos disponibilizando a
Revista Saneas em nosso Acervo
e na nossa Base SECIR. Para
que os usuários possam consultá-las.Também gostariamos
de saber, quando começou a
ser publicada(a partir de que
número e ano) a Revista Saneas?
Qual o número do ISSN? E gostariamos de adquirir os Exemplares que faltam. Refiro-me as
exemplares anteriores a Vol 1,
número 12 de 2001.Portanto,
ratificamos o recebimento dos
OPINIÃO
A Universidade e o planejamento
Prof. Dr. Adolpho José Melfi Opinião
N
o próximo ano, 2004, a Universidade de
São Paulo irá completar 70 anos. Mas,
antes de assumir seu atual corpo, é possível
dizer que sua semente seria lançada em 1827,
com a criação da Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco. A data oficial do surgimento da USP se deu no dia 25 de janeiro de
1934. Para sobreviver – e crescer – foi preciso
não só uma estrutura, mas também um planejamento sólido. O resultado disso é uma
Universidade considerada a maior instituição
de ensino superior e de pesquisa do país, terceira da América Latina e classificada entre as
primeiras cem organizações no mundo.
Por se tratar de uma instituição de ensino
foi preciso, em períodos de turbulência e
calmaria, jamais perder o foco: promover a
pesquisa e o progresso da ciência; transmitir
conhecimentos que enriqueçam ou desenvolvam o espírito; e formar especialistas em todos
os ramos da cultura e em todas as profissões
de base científica ou artística. Para manter a
integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão em um universo de mais de 600 cursos
– freqüentados por 66.485 mil estudantes, um
corpo docente de 4.801 professores e de cerca
de 14 mil funcionários – foi necessário se concentrar em uma administração e uma rede de
comunicação eficientes. Permeiam o planejamento desta estrutura as prefeituras dos campi
universitários, a reitoria, as pró-reitorias, o
conselho universitário e os órgão centrais e
de serviços, além daqueles terceirizados para
atender a comunidade interna. E o elo de ligação entre o público interno e externo se faz por
meio da integração de todas as mídias oficiais:
Rádio USP, TV USP, Agência USP, USP Online,
Jornal da USP, Revista USP.
Mas talvez o desafio mais recente em relação
ao planejamento interno seja o crescimento
de toda esta estrutura. Em 2002, a palavra que
norteou nossos rumos foi “expansão”. Atentos
ao aumento da demanda e às necessidades da
comunidade – e sempre tendo a geração de
conhecimento como meta – teve início o projeto para a criação de novos cursos e ampliação
de vagas. Foi assim que, no ano passado, lançamos o projeto de um novo campus na Zona
Leste, região de sensível demanda, onde vivem
4 milhões e 500 mil paulistanos.
Mais um exemplo concreto de gestão
interna é a ampliação de vagas tanto em cursos
de graduação já existentes como em novos
cursos, como parte do Plano de Expansão do
Ensino Superior Público. Além disso, foram
dedicados esforços contínuos para a redução
da evasão, outra questão apontada pela área de
planejamento. Foi assim que, também no ano
passado, se iniciou um projeto de pesquisa,
que continuará sendo desenvolvido nos próximos dois anos e permitirá o detalhamento
do perfil do aluno que se evade. Desta forma,
poderemos identificá-lo já no ano de ingresso.
Esses dados possibilitarão às Unidades a proatividade na criação de programas especiais de
tutoria para esses alunos.
Estes são alguns exemplos da importância e
dos resultados de se planejar numa instituição
que tem como objetivo desenvolver o ensino
vivo, acompanhar as transformações na área do
conhecimento e manter-se em permanente diálogo com a sociedade, numa produtiva integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão. ■
Adolpho José Melfi é Reitor da Universidade de São Paulo.
Saneas / junho 2003 – 5
P&D
Impactos do uso de rejeitos de um
dessalinizador de água na irrigação
da erva-sal, sobre a planta e o solo
Pesquisa & Desenvolvimento
Fernando Nobre Furtado Suetônio Mota Resumo
Introdução
O trabalho teve como objetivo estudar os
impactos do uso de rejeitos de um dessalinizador de água na irrigação da Atriplex nummularia Lindl. (erva-sal), sobre a planta e o
solo. O experimento realizou-se no Município de Caucaia, Ceará, integrante da Região
Metropolitana de Fortaleza. Usou-se um
delineamento experimental inteiramente
casualizado, com quatro tratamentos e três
repetições. Os tratamentos definidos foram:
T1, terreno natural, irrigado com o rejeito
do dessalinizador; T2, terreno com adubo
orgânico, irrigado com o rejeito do dessalinizador; T3, terreno natural, irrigado com
água de cacimba; T4, terreno com adubo
orgânico, irrigado com água de cacimba. O
rejeito apresentou Condutividade Elétrica
(CE) de 5660 (S/cm e a água de cacimba,
CE de 1032 (S/cm. As plantas foram irrigadas com 10 litros de água por dia, durante
sete meses. A produtividade, no tratamento
irrigado com o rejeito do dessalinizador,
foi superior à obtida nos demais tratamentos, com valor de 25.000 Kg/ ha de matéria
fresca, e diferiu estatisticamente, ao nível de
5%, apenas do tratamento irrigado com água
de cacimba e uso de adubo orgânico, que
obteve 14.250 kg/ ha. A Atriplex mostrou ser
capaz de retirar do solo o sódio presente no
rejeito do dessalinizador. Os teores de sódio
e potássio encontrados no tecido da planta
foram elevados, evidenciando sua eficiência
em retirar sais do solo.
A dessalinização da água tem sido usada
como uma das opções para garantir, no semiárido do nordeste brasileiro, a remoção dos
altos teores de sais dissolvidos, muitas vezes
presentes na mesma.
Entre as tecnologias de dessalinização, a
mais indicada é o processo conhecido como
Osmose Reversa, pois não envolve mudança
de estado físico, como na destilação, é seletivo
e pode ser operado com simplicidade. Por estes
motivos, vem sendo utilizado em várias localidades da região.
No entanto, a utilização desses equipamentos tem causado impactos ambientais, devido
à falta de alternativas para a disposição dos
rejeitos, constituídos de resíduos líquidos de
elevada salinidade.
É necessário que sejam encontradas soluções para o problema de geração dos resíduos
dos dessalinizadores, de modo a evitar conseqüências negativas para o meio ambiente.
Uma das soluções, é utilizar-se os rejeitos na
irrigação de plantas halófitas (suportam altos
níveis de salinidade do complexo solo-água
e usam o sal no seu metabolismo), como a
Atriplex nummularia Lindl., conhecida como
erva-sal.
A Atriplex nummularia Lindl. é uma espécie
forrageira, originária da Austrália, que tem se
adaptado muito bem nas regiões áridas e semiáridas da América do Sul, em particular da
Argentina, Chile e Brasil. As características que
lhe dão importância são:
Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Saneamento Ambiental, pela Universidade
Federal do Ceará. Professor da Universidade Estadual do Ceará e da Universidade de Fortaleza.
Engenheiro Civil e Sanitarista. Doutor em Saúde Ambiental. Professor Titular do Departamento de
Engenharia Hidráulica e Ambiental do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará.
6 – Saneas / junho 2003
Pesquisa & Desenvolvimento
•
•
•
•
•
Alta resistência a condições de aridez;
Fácil propagação;
Alto poder calorífico;
Baixa susceptibilidade a pragas e doenças;
Suporta altos níveis de salinidade do complexo solo-água e, também, acumula significativa quantidade de sais em seus tecidos.
A Atriplex nummularia é um arbusto de
origem australiana, de longa vida, que constitui um recurso forrageiro. Cresce especialmente nos meses secos, podendo alcançar
alturas superiores a 3 metros. Seu modo de
crescer é ereto, mas se ramifica desde a base
(FAO, 1996).
A Atriplex se adapta bem às precipitações
anuais de 100 a 250 mm, não tendo tido problemas de sobrevivência com precipitações de
50 mm/ano. Sobrevive bem em solos rasos,
com texturas pesadas (pobres e arenosos),
ainda que tenha melhor desenvolvimento e
produtividade em solos profundos de texturas
médias. É uma planta resistente a altas temperaturas, sendo a faixa de 30 a 35o C ótima para
a fotossíntese; resiste às baixas temperaturas,
como a faixa entre -8,0 a -12,0o C, ainda que
temperaturas de inverno muito baixas podem
causar a morte da plantação.
O cultivo de erva-sal tem sido feito como
plantio isolado. Todavia, está sendo estudada
a possibilidade de seu plantio de forma consorciada com outras plantas halófitas. Não
existem informações bibliográficas sobre
estudos de espaçamentos desenvolvidos no
semi-árido brasileiro. Por ser um arbusto de
porte médio, o espaçamento utilizado nesta
região tem sido de 3 m entre linhas por 3 m
entre plantas. Atriplex nummularia produz
sementes, todavia, o processo mais rápido de
fazer o plantio é através de mudas produzidas
por estacas. Ela é considerada um arbusto
perene; quando irrigada, pode-se obter o
primeiro corte antes de seis meses (PORTO &
ARAÚJO, 1999).
* T1 - o terreno natural recebeu irrigação com
o rejeito do dessalinizador;
* T2 - o terreno com adubação orgânica recebeu
irrigação com o rejeito do dessalinizador;
Figura 1
Dessalinizador
de água
utilizado na
pesquisa
* T3 - o terreno natural recebeu irrigação com
água doce de cacimba; funcionou como teste
em branco para o primeiro tratamento;
* T4 - o terreno com adubação orgânica recebeu irrigação com água de cacimba; funcionou como teste em branco para o segundo
tratamento.
O número total de parcelas do experimento
foi igual a 12. A área útil da parcela foi de 16
m2 e a área útil total de 192 m2. Observou-se
o espaçamento de 3 metros entre os tratamentos que usaram o rejeito e os tratamentos que
usaram água de cacimba.
Materiais e métodos
O experimento desenvolveu-se no Município de Caucaia, Estado do Ceará, integrante da
Região Metropolitana de Fortaleza (Latitude:
3o 44’ 10” Sul; Longitude: 38o 39’ 11” Oeste).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e
três repetições:
Figura 2 - Vista da área da pesquisa no final do experimento.
Saneas / junho 2003 – 7
Pesquisa & Desenvolvimento
Data
Alimentação
(µS/cm)
Permeado
(µS/cm)
Rejeito
(µS/cm)
Cacimba
(µS/cm)
18/05/2001
5486
96
5660
1032
21/08/2001
5750
98
5958
1333
03/01/2002
5780
96
5993
1694
Tabela 1 - Resultados das medidas de condutividade elétrica (em (S) dos
quatros tipos de água envolvidos na pesquisa. Caucaia, Ceará, 2001/
2002
O dessalinizador utilizado na pesquisa é alimentado por dois poços com salinidade entre
1.500 e 3.500 mg/L de STD. Os poços, dotados
de bombas, se alternam na alimentação do dessalinizador. O dessalinizador é um modelo PS14, com uma bomba de alta pressão, 2 (dois)
filtros de cartuchos de 5 micrômetros, 1 (um)
conjunto de vaso de pressão com 1 (uma)
membrana de 100 milímetros de diâmetro por
1 metro de comprimento (Figura 1).
As análises do solo foram realizadas
usando-se a metodologia constante do Manual
de Métodos de Análise de Solo (EMBRAPA,
1997).
O adubo orgânico indicado resultou de
compostagem a 70º C de uma mistura de
bagaço de carnaúba e bagaço de cana, sendo
adicionado um inoculante (adubo curado Polifertil) na quantidade de 10 toneladas por
hectare.
Foram realizadas determinações da condutividade elétrica do rejeito e da água da cacimba,
utilizados na irrigação da erva sal.
Tabela 2
Peso médio,
em kg por
planta, de
folhas, caules
finos e caules
grossos, cultura
com sete
meses, para
os diversos
tipos de
tratamentos.
Caucaia,
Ceará, 2001/
2002
Tratamento
A irrigação foi efetuada com irrigador graduado de 10 L, com aplicação através de chuveiro, para evitar a erosão do solo. A irrigação
observou os níveis aconselhados pela literatura,
ou seja, 10 L/dia/planta. A irrigação, realizada
de junho/2001 a janeiro/2002, foi feita diariamente, sempre no início e/ou no final do dia.
Resultados
A seguir, são apresentados os principais
resultados da pesquisa (FURTADO, 2002).
3.1 Condutividade Elétrica
Os resultados das medidas de condutividade
elétrica dos quatros tipos de água envolvidos
na pesquisa - alimentação do dessalinizador,
água dessalinizada (permeado), rejeito e água
da cacimba, estão indicados na Tabela 1.
Observam-se elevados teores de condutividade elétrica, tanto na água de alimentação
(oriunda dos poços) como no rejeito.
3.2 Produção da erva-sal
Os dados de produção da matéria fresca,
peso fresco médio da parte aérea, em kg por
planta, são apresentados na Tabela 2.
Observa-se que a maior produção média foi
obtida no tratamento 01, cujo solo foi irrigado
com rejeito do dessalinizador.
A Figura 2 mostra uma vista da área da pesquisa, no final do experimento, após sete meses
de irrigação.
T1
T2
T3
T4
Média
Folhas
6,0
6,5
6,0
3,5
5,5
Caules Finos
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
Caules Grossos
1,5
2,0
1,5
1,5
1,6
Folhas
6,5
5,5
7,0
3,0
5,5
Caules Finos
1,5
1,5
1,5
1,5
1,5
Caules Grossos
2,0
2,0
2,0
1,0
1,8
Folhas
7,5
6,5
6,5
3,0
5,9
Caules Finos
1,5
1,5
2,0
1,0
1,5
Caules Grossos
2,0
2,0
1,5
1,0
1,6
Repetições
R1
R2
R3
Produção média por planta
10
9,7
9,8
5,7
8,8
Produção por tratamento
120
116,4
117,6
68,4
105,6
25.000
24.250
24.500
14.250
22.000
Produção por hectare e por tratamento
8 – Saneas / junho 2003
Pesquisa & Desenvolvimento
Tratamento
Componente
Mínimo
Máximo
Média
Desvio-padrão
Ca
4,70
19,00
12,9000
4,8585
Mg
1,30
4,80
2,9429
1,1578
Na
0,17
1,92
0,6562
0,4152
K
0,13
1,09
0,3490
0,2120
M.O
14,48
21,90
18,1605
2,3078
CEES
0,75
8,59
2,7505
1,9272
pH
7,40
8,10
7,7667
0,2176
Umidade
1,63
5,79
3,8110
1,1795
Ca
4,80
11,80
8,2429
2,0439
Mg
1,60
4,10
2,9381
0,6659
Na
0,19
1,18
0,4581
0,2553
K
0,18
0,79
0,3714
0,1533
M.O
17,10
37,40
25,7343
4,5533
CEES
0,76
5,33
1,9367
1,1640
pH
7,10
7,90
7,3190
0,1778
Umidade
1,63
5,73
3,6510
0,9989
Ca
1,80
22,80
11,2286
5,5141
Mg
0,70
3,90
2,7381
0,8778
Na
0,15
0,64
0,3581
0,1321
K
0,17
0,42
0,2400
5,595E-02
M.O
8,48
34,40
16,3652
5,5351
CEES
0,30
2,62
1,2824
0,7569
pH
7,20
7,90
7,5714
0,1821
Unidade
1,04
3,97
2,6500
0,9454
Ca
1,50
4,20
2,7905
0,7529
Mg
1,00
3,20
1,7667
0,4747
Na
0,16
0,74
0,3733
0,1731
K
0,15
0,41
0,2743
7,820E-02
M.O
4,65
22,60
15,1219
5,1549
CEES
0,37
2,92
1,2357
0,7194
pH
6,00
7,10
6,4667
0,3929
Umidade
0,47
3,43
2,2238
0,8539
1
Tabela 3
Análise
descritiva da
composição
do solo, por
tratamento.
Caucaia,
Ceará, 2001/
2002
2
3
4
Saneas / junho 2003 – 9
Pesquisa & Desenvolvimento
Tratamento
Data
Na
(mg/2g M.S.)
K
(mg/2g M.S.)
1
04/06/01
45,0
51,5
1
01/10/01
80,6
62,5
1
12/12/01
73,6
66,25
1
04/01/02
61,0
49,4
2
04/06/01
45,0
51,5
2
01/10/01
84,25
65,2
2
12/12/01
90,0
55,5
2
04/01/02
67,2
46,1
3
04/06/01
45,0
51,5
3
01/10/01
75,4
57,2
3
12/12/01
101,75
61,75
3
04/01/02
73,7
44,5
4
04/06/01
45,0
51,5
4
01/10/01
70,4
69,8
4
12/12/01
92,75
68,5
4
04/01/02
55,4
57,2
Tabela 4
Teores de sódio
e potássio
incorporados
ao tecido da
parte aérea
da planta (em
mg por 2g de
M.S.). Caucaia,
Ceará, 2001/
2002
3.4 Sais Incorporados à Planta
Procedeu-se a análise dos teores de sódio e
potássio incorporados ao resíduo mineral da
planta, cujos resultados constam da Tabela 4
Os teores de sódio e potássio encontrados no
tecido da planta foram elevados, evidenciando a
eficiência da mesma em retirar sais do solo.
Conclusões
A Atriplex nummularia Lindl. teve bom
desenvolvimento quando irrigada com rejeito
do dessalinizador, alcançando uma produção
de 25.000 kg/ha de matéria fresca, superior à
obtida nos demais tratamentos.
A Atriplex mostrou ser capaz de retirar do
solo o sódio presente no rejeito do dessalinizador. Os teores de sódio e potássio encontrados
no tecido da planta foram elevados, evidenciando sua eficiência em retirar sais do solo.
Considerando sua resistência às condições
de aridez e salinidade, fácil propagação e baixa
susceptibilidade a pragas e doenças, pode-se
considerar a erva-sal como uma opção de
planta para o semi-árido.
A utilização dos rejeitos de dessalinizadores
na irrigação de plantas halófitas, como a ervasal, constitui uma medida mitigadora para os
impactos que os mesmos podem causar ao
meio ambiente.
3.3 Composição do solo
Refrências biliográficas
Efetuou-se a análise da composição do solo
no decorrer da pesquisa. A amostragem foi realizada por parcela, totalizando 12 (doze) amostras
de solo em cada data. As variáveis mensuradas
foram: cálcio, magnésio, sódio, potássio, matéria
orgânica, condutividade elétrica do extrato de
saturação, pH e umidade do solo.
A Tabela 3 contém uma análise descritiva
da composição do solo, para os quatro tratamentos.
Observa-se a maior média de sódio no tratamento 01, seguida do 02, do 04, e do 03. A
maior condutividade do extrato de saturação
foi a do tratamento 01, seguida do 02, do 03,
e do 04.
A menor média de sódio, observada no
tratamento 03, está de acordo com o bom
desenvolvimento das plantas, obtido nesse tratamento, e confirma ser o sódio um elemento
importante no metabolismo da Atriplex.
10 – Saneas / junho 2003
EMBRAPA. Manual de Métodos de Análise de
Solo. 2a Edição, Embrapa - MA (Centro Nacional de Pesquisa de Solos) , Rio de Janeiro, 1997
FAO - ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES
UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACIÓN. Estudios de Caso de Especies
Vegetales para las zonas áridas y semiáridas de
Chile y México. Santiago, Chile, 1996.
FURTADO, F.N. Aproveitamento de rejeitos de
dessalinizadores de água na irrigação da Atriplex nummularia Lindl. (Erva sal). Dissertação
de Mestrado. Fortaleza: Universidade Federal
do Ceará, 2002.
PORTO, E. R.; ARAÚJO, G. G. L. Erva Sal (Atriplex nummularia). EMBRAPA SEMI-ÁRIDO.
Instruções Técnicas no 22. Petrolina, PE, 1999.
CAPA
Planejamento:
missão, objetivo e metas
Matéria de Capa
Ter um plano estabelecido e uma equipe estruturada, capaz de
coordenar metas definidas, pode ser a diferença entre o sucesso
e o fracasso de uma organização
P
lanejamento é uma palavra de múltiplas
qualificações –ambiental, estratégico,
administrativo, financeiro, de vendas-- mas
com um objetivo comum. De acordo com o
dicionário Aurélio, planejamento é o trabalho
de preparação para qualquer empreendimento,
segundo roteiro e métodos determinados. É
a elaboração, por etapas, com bases técnicas,
especialmente no campo sócio-econômico, de
planos e programas com objetivos definidos.
Na literatura, planejar significa elaborar um
plano de trabalho ou programa de ação. E
planejamento é o processo mediante o qual se
executa essa elaboração. Quais as ferramentas
para esta tarefa? O preparo de qualquer plano
ou programa exige quatro pontos de fixação:
metas a atingir; conhecimentos dos meios e
recursos disponíveis; coleta de dados, fatos e
informações sobre a empresa campo, ou área à
qual se destina o plano ou programa; e a análise de todo esse material, crítica, comparação
e classificação.
Na prática, planejar faz parte do crescimento de qualquer empresa, seja ela de saneamento, elétrica ou de bens de consumo. Sem
metas estabelecidas, dentro de critérios, métodos e com um objetivo final, corre-se o risco de
barrar o crescimento. Saber planejar pode fazer
a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Efeito dominó
Se o tema não tivesse o seu peso, o governo
federal não se preocuparia em ter um ministério,
que leva o nome “Planejamento, Orçamento e
Gestão”. Sua principal função é formular estratégias nacionais, viabilizar novas fontes de recursos
para os planos do governo, estabelecer políticas e
diretrizes para a modernização do Estado. Como
num efeito dominó, em que o macro se torna
micro, governos estaduais e empresas, públicas e
privadas, se compõem e se organizam dentro de
um planejamento interno.
Saneas / junho 2003 – 11
Matéria de Capa
Do militarismo à atual democracia, o planejamento teve papel fundamental na formulação das políticas públicas. Mas suas raízes são
mais antigas. As primeiras referências sobre o
ato de planejar se remetem a Grécia Antiga,
500 a.C., e estavam associadas às manobras e
operações militares de guerra. A professora de
administração Célia Regina Simonetti Barbalho¹, da Universidade Federal do Amazonas,
define muito bem o aprendizado dos gregos
nos campos de batalha como estratégias de
planejamento ainda atuais. “O planejamento
baseia-se na análise externa do ambiente organizacional, utilizando dados quantitativos e
qualitativos de longo prazo à frente, resultando
em uma postura pró-ativa de seus dirigentes”,
diz. E vai além. Segundo ela, busca-se, dessa
forma, antever o futuro, trazendo-o para o presente e indagando-se o que deve a organização
estar fazendo hoje a fim de melhor preparar-se
para as incertezas e turbulências previsíveis
que poderão afetar as suas atividades.
Pra frente Brasil
Por aqui, o boom do planejamento aconteceu
na década de 50, quando o então presidente
Juscelino Kubitschek (1956 a 1960) anteviu
um grande desenvolvimento nacional. O cená-
12 – Saneas / junho 2003
rio encontrado era mostra da necessidade da
elaboração de um plano estratégico. O setor
elétrico é um exemplo disso. Naquela época, a
potência elétrica instalada era de três mil MW,
quase insignificante para os 60 milhões de brasileiros. Foram os projetos de construção de
usinas deste período que alavancaram a capacidade energética do país na década seguinte.
Em 1964, o país já tinha seis mil MW instalados e, trinta anos mais tarde, a potência era
de 54 mil MW. Foi de Juscelino Kubitschek o
Plano de Metas. Em seu governo se vislumbrou
as necessidades estruturais para a modernização de diversos setores industriais.
Planejar também foi o ponto forte nos
governos militares, iniciados em 1964, com o
golpe militar e a ascensão do general Humberto Castelo Branco. Herança de um sistema
rígido, sempre preparado para atacar ou se
defender. O que seria dos generais, nas grandes
guerras, se não fosse o planejamento de estratégias? No Brasil, os militares idealizaram um
país coberto por uma grande malha rodoviário. A união do norte ao sul, leste à oeste, por
rodovias. Foi a época das grandes obras, planejou-se um país auto-suficiente, comprou-se
tecnologia para as usinas nucleares de Angra
dos Reis. É deste tempo, também, o chamado
“milagre brasileiro”, comandado pelo então
ministro da fazenda Antônio Delfim Neto. O
país alcançou taxas de crescimento superiores
a dez por cento e taxas inflacionárias de pouco
mais de 14% ao ano. Seguido pela esteira da
crise do petróleo, o milagre teve seu preço: a
inflação suprimida foi dando sinais de retorno,
nos anos 70, e os empréstimos externos, que
haviam financiado o crescimento, implicaram
taxas de juros muito altas e a quase inadimplência do país.
Nos anos 80, o regime militar acabou e a
supervalorização do planejamento deu lugar ao
setor financeiro. A lição dos militares, exímios
planejadores, estrategistas por formação, ficou
para trás. Nos diferentes governos democráticos, o planejamento foi diminuindo seu campo
de atuação. O reflexo disso pôde ser visto em
todos os setores e organizações. Começou-se
a ensaiar uma retomada, no início dos anos
90. O governo de Fernando Henrique Cardoso
foi atacado por não planejar. Na cerimônia de
posse do atual presidente da república, Luis
Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, se referiu, após oito anos
no poder, sobre esta questão. Criticado pelo
então governo de transição de não ter um
Matéria de Capa
O mapa das concessões no Estado de São Paulo
O
ano de 2004 tem como característica
política a eleição dos prefeitos que
exercerão seus mandatos de 2005 a 2008.
O tema da renovação das concessões, com
certeza, deverá fazer parte das plataformas
eleitorais dos candidatos às prefeituras dos
213 municípios, cujos contratos de concessão
vencem entre 2005 e 2008. Quarenta e cinco
desses prefeitos terão, logo no inícios de suas
gestões, de renegociar estes contratos, que o
Município têm com a SABESP e com vencimento em 2005. Isso corresponde a 26,5%
da população urbana de todos os municípios
operados, com contrato pela SABESP. Destes
45 municípios, os nove mais populosos tem
65 % de seus moradores assim distribuídos
na área urbana:
– 5 municípios do Litoral - com 44% da
população dos 45 municípios
– 2 municípios da RMSP – com 14% da
população dos 45 municípios
– 2 municípios do Interior – com 7 % da
população dos 45 municípios
planejamento estratégico, Fernando Henrique Cardoso afirmou: “Usaram uma espécie
de metáfora ao dizer que o Brasil está sem
um planejamento estratégico. Existe, sim, um
planejamento, só que não é aquele dos tempos
bolcheviques. Não é mais um planejamento em
que o Estado define metas, mobiliza recursos e
faz com que as coisas aconteçam a qualquer
custo. O que está em jogo não é se há um projeto nacional, mas qual é esse projeto. O meu é
democrático, tem a ver com a mobilização da
sociedade e não apenas do Estado”.
Tempos de planejar
Alguns estudiosos acreditam que, apesar do
contexto histórico, o que aconteceu foi apenas
uma troca de palavras: planejar deu lugar ao
termo gestão. O mestre e doutor em administração, José Antônio Rosa², não aposta na
propagada queda do planejamento como estra-
Vencimento
das concessões
Número de
municípios
População
urbana
(2000)
População
urbana com
contrato (%)
2004
1
103993
0,97
2005
45
2848577
26,53
2006
78
1740832
16,21
2007
65
1764246
16,43
2008
25
714986
venc. Gestão
214
6457648
66.80
2009 a 2012
78
1731109
16,12
2013 a 2030
60
1833529
17,08
total com
contrato
352
10737272
100,00
6,66
tégia empresarial. “Sempre achei e continuo
achando que o planejamento é essencial para
uma administração inteligente e racional. Se o
planejamento não funcionou em algum lugar
é porque foi implantado de modo dogmático,
com amor exagerado a algum método furado,
ou porque foi executado com incompetência”, afirma José Antônio Rosa. “Executivos e
empresas eficientes planejam estrategicamente
ainda que nem se lembrem de dar nome ao que
estão fazendo. Planejar é condição de sobrevivência num mundo competitivo”, conclui.
Como num pêndulo, o planejamento
foi do militarismo à democracia, do desenvolvimento estratégico à supervalorização
do mercado financeiro auto-regulador.
Seguindo as leis da física e seu eixo de volta,
muitos especialistas na área acreditam em
um retorno das ferramentas de planejamento, mesmo que com nova roupagem. São
gestores, estrategistas, consultores.
Quando não se tem um planejamento
Saneas / junho 2003 – 13
Matéria de Capa
global, perde a sociedade, perde o empresariado. As cidades, a produção, o planejamento
urbano podem assumir estados caóticos sem
linhas mestras. E as empresas de saneamento,
que também sofreram as conseqüências do
âmbito histórico, econômico e político, devem
estar atentas ao cenário que surge pela frente:
das necessidades ambientais às urbanas. Sem
isso, não existe o planejamento da área setorial, seja nas empresas de água e esgoto, nas de
transporte ou mesmo nas de energia elétrica.
No caso do saneamento, a ausência de um
planejamento compromete o horizonte. É preciso questionar: as regiões metropolitanas do
Sul devem ser tratadas da mesma maneira das
do Norte? A região Centro-Oeste vai ter algum
tipo de desenvolvimento urbano diferente?
Enfim, todo planejamento tem que estar ligado
a um plano diretor, a guia-mestre de toda esta
cadeia. E assim por diante: o plano diretor da
cidade deve estar conectado ao plano diretor
do estado e este ao federal.
Missão
Nos próximos anos, a maior empresa de
saneamento do país, a Sabesp, irá colocar à
prova sua capacidade de planejar. No final
da década de 80, a diretoria de planejamento
14 – Saneas / junho 2003
foi extinta e foi criada uma área centralizadas
de planejamento e gestão empresarial e áreas
descentralizadas de planejamento operacional. Entre as tarefas futuras está sua principal
missão: a renovação das concessões. E muitas
delas irão vencer em curto prazo (veja box).
Houve um planejamento para este cenário? Disso depende o relacionamento entre
empresa e prefeituras, passando pelo investimento em tecnologia e nos próprios funcionários. São peças que se encaixam como
num imenso quebra-cabeça. O investimento
em pesquisa e tecnologia, por exemplo, pode
ajudar a resolver pequenos problemas do diaa-dia, operacionais ou estruturais e diminuir
os custos. E acreditar nesta estrutura é também
apostar em sua equipe. Cursos de aprimoramento, formação e especialização fazem parte
deste processo. Os conceitos estão no ambiente
acadêmico, nos livros, mas a prática do planejamento também se faz acreditando em cada
uma das peças da organização. A obviedade, às
vezes, vale ser lembrada: não se formam planejadores da noite para o dia. Como no âmbito
acadêmico em que mestre e bacharel interagem em sintonia, nas empresas é preciso que
se concentre uma massa crítica pensante, que
possa receber e equalizar as informações para
que não se perca a visão do todo.
Doutor em administração pela Faculdade
Matéria de Capa
Linha do tempo:
o planejamento na esfera federal
1962 O cargo de Ministro Extraordinário responsável pelo planejamento foi criado em janeiro
de 1962 e ocupado por Celso Furtado,
então o primeiro Ministro do Planejamento.
Até então, existia, desde 1956, o Conselho
de Desenvolvimento, responsável pela coordenação e planejamento da política econômica.
1964 as atribuições do Ministro foram ampliadas e
acrescentadas a Coordenação Econômica.
1965 foi criado o Conselho Consultivo do Planejamento como órgão de consulta do Ministério.
1968 Três anos depois, o nome do Ministério é
alterado para Ministério do Planejamento e
Coordenação Geral.
1974 o Planejamento deixa de ser Ministério e
passa a ser uma Secretaria, com status de
Ministério, ligada à Presidência da República
- a SEPLAN - que se tornaria, pelo comando
de seus ministros no período, o centro das
decisões econômicas do país.
1980 A partir dos anos 80 houve um reordenamento das ações desenvolvidas pela então
Secretaria do Planejamento, relegando-se a
um segundo plano as atividades de planejamento, em favor do desenvolvimento de
medidas de curto prazo, em tempos de inflação elevada. Como consequência, desencadearam-se várias mudanças organizacionais,
que deram à SEPLAN características apenas
de órgão coordenador das ações econômicas imediatas do governo.
1985 embora continuasse a participar efetivamente da formulação da política econômica de curto prazo, foram transferidos da
SEPLAN os órgãos que formulavam, executavam e fiscalizavam a política de preços
e abastecimento: a SEAP - Secretaria de
Abastecimento e Preços, o CIP - Conselho
Interministerial de Preços e a SUNAB - Superintendência Nacional de Abastecimento.
Deixou de integrar a SEPLAN, também nessa
época, o órgão de controle interno - a SECIN,
Secretaria Central de Controle Interno.
1986 Posteriormente, em 1986, a SEPLAN teve
transferida de sua estrutura a Secretaria
de Modernização Administrativa (SEMOR),
órgão que juntamente com as áreas de planejamento e orçamento, compunham o tripé
do Sistema de Planejamento Federal.
1987 A partir de 1987, com nova mudança em
sua administração, outro papel foi reservado
à Secretaria de Planejamento: a coordenação
das ações do governo federal. Com essas
mudanças, a SEPLAN perdia, não só o controle
da execução de ações na área econômica,
como funções ligadas ao seu próprio campo
de atuação. Fica a seu cargo, a concessão de
recursos para o atendimento de pequenas
obras ou atividades no campo social.
1988 O retorno do Planejamento ao desenvolvimento de suas ações básicas só aconteceu
em 1988, quando foi novamente reformulada para atender às novas funções definidas pela Constituição Federal promulgada
naquele ano. A SEPLAN volta a ser o centro
das decisões de política econômica.
1990 Esta posição foi substituída, em 1990, no
Governo Fernando Collor, pelo Ministério da
Economia. O Planejamento perde, mais uma
vez, espaço e ficaria reduzido à condição de
Secretaria Nacional, subordinado ao Ministério recém criado, ocupado por Zélia Cardoso
de Mello.
1992 Este cenário só muda em 1992, depois do
impeachment do Presidente Collor, quando
a Secretaria do Planejamento foi recriada
com o status de Ministério e o nome de
“Secretaria de Planejamento, Orçamento e
Coordenação da Presidência da República”.
1995 com a reforma administrativa realizada pelo
governo de Fernando Henrique Cardoso, a
SEPLAN é transformada no Ministério do
Planejamento e Orçamento.
1999 Em 1º de janeiro de 1999, no segundo
mandato do Presidente Fernando Henrique
Cardoso, a área de planejamento passa a se
chamar Ministério do Orçamento e Gestão
e, seis meses depois, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Saneas / junho 2003 – 15
Matéria de Capa
de Economia e Administração (FEA) da
Universidade de São Paulo, Djalma de Pinho
Rebouças de Oliveira³, traduz de forma
simples este conceito. “A missão é a determinação do motivo central do planejamento,
ou seja, a determinação de onde a empresa
quer ir. A missão representa a razão de ser da
empresa”, conclui.
Mas para Rebouças também faz parte deste
processo à estruturação e o debate de cenários. “O executivo pode desenvolver cenários
que retratem determinado momento no
futuro ou que detalhem a evolução e a seqüência de eventos, desde o momento atual até
determinado momento no futuro”, ressalta.
Esta seria a chave para a sobrevivência a oscilação dos mercados financeiros, as ondas das
diferentes gestões políticas e aos solavancos
das reestruturações.
ambiente democrático é preciso disseminar
a cultura do planejar, seja na elaboração dos
planos de obras ou na estruturação interna.
Como diria o mestre em administração José
Antônio Rosa, deve-se incentivar o trabalho
em equipe, implantar uma real meritocracia,
cobrar resultados, mas também estimular o
crescimento e, na outra ponta, desestimular
o individualismo, a cultura do status e romper
as barreiras hierárquicas e departamentos
rígidos, que criam feudos. Enfim, a lição do
planejar deve ser diária e constante, para que
não se perca o rumo, o horizonte e uma estrutura que ainda credita em sua missão. Amyr
Klink é um exemplo da lição a ser aprendida.
Navegador audaz, planejava a próxima viagem
antes mesmo de atracar no primeiro porto da
recente aventura. “Para se chegar, onde quer
que seja, não é preciso dominar a força, basta
controlar a razão”, ensina.
Cenários
Bibliografia
Atualmente, por exemplo, as companhias
de saneamento enfrentam um cenário, que
poderia ter sido previsto. Além do vencimento
das concessões, há o enfrentamento da política
por investimentos ambientais, o aumento
da demanda e a universalização dos serviços. Um rumo, sim, mas sem regras rígidas.
Para que haja um planejamento estruturado
dentro de uma empresa como a Sabesp e num
16 – Saneas / junho 2003
1. Livro “Planejamento Estratégico, editora
polis, autoras Célia Regina Simonetti Barbalho e Vera Silvia Marão Beraquet
2. Livro “Faça seu plano”, editora STS, José
Antônio Rosa
3. Livro “Planejamento Estratégico – conceitos, metodologia, práticas”, editora Atlas,
Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira
ARTIGOS TÉCNICOS
Tubo corrugado de dupla parede
em PEAD para esgoto
Paulo Toshiaki Nishimoto �
Introdução
Muito esforço vem sendo feito para melhorar
a eficiência da infra-estrutura de saneamento já
existente em nosso país, minimizando o impacto
que a falta, ou a sua ineficiência, causa na qualidade de vida das pessoas e no meio ambiente.
Porém, a escassez de recursos financeiros e
a carência de produtos tecnologicamente mais
avançados são problemas constantes enfrentados pelos profissionais desta área. É premente
a necessidade de investimentos, o que está
sendo divulgado como prioridade pelos atuais
governantes.
Este artigo tem o objetivo de apresentar
as principais características técnicas do Tubo
Corrugado de Dupla Parede em PEAD (Polietileno de Alta Densidade) para Esgoto, lançado
em 2002 pela Kanaflex.
Artigos Técnicos
O que é o tubo corrugado
de dupla parede?
Os tubos corrugados de dupla parede surgiram
como uma solução otimizada comparada aos
tubos de parede simples existentes no mercado.
A estrutura da dupla parede (vide Figura 1)
proporciona ao produto alta resistência mecânica
e, principalmente, excelente relação peso/metro,
obtendo-se desta forma menor custo do produto.
Outra característica favorável neste tipo de
produto é a combinação com a matéria-prima
PEAD, que proporciona ao produto vantagens
adicionais – barra semi-rígida, alta resistência
à abrasão e ao ataque químico, entre outras.
Estes produtos são largamente utilizados na
Europa, EUA e Japão, nos mercados de energia
elétrica, telecomunicações, drenagem e saneamento. No Brasil, desde o ano de 1998, são utilizados para proteção de cabos nos mercados de
energia elétrica e telecomunicações e agora está
se iniciando o uso como coletores de esgoto.
O “know how” envolvido no processo de
fabricação destes produtos, a tecnologia e o
grau de automatização dos equipamentos
são de última geração, desde a dosagem dos
materiais até a produção propriamente dita
(coextrusão, corrugador, sistema de refrigeração, puxador e cortador), tudo trabalhando em
perfeito sincronismo (Figura 2).
No passado, utilizava-se apenas sistema
cerâmico. Com o crescimento da utilização dos
materiais plásticos, iniciou-se a aplicação de
tubos lisos de PVC. Hoje, os tubos corrugados
de dupla parede em PEAD também são uma
excelente solução técnica e comercial.
Matéria-prima: PEAD
O polietileno (PE) é um termoplástico
poliolefínico, derivado do gás eteno (hidrocarboneto olefínico), que é obtido através do
“cracking” da nafta do petróleo. É um material
extremamente versátil, podendo diferenciar
as suas características sem o uso de plastificantes ou outros aditivos, como em outros
polímeros. Por esse motivo, ele é considerado o
polímero sintético menos perigoso, em relação
ao impacto ambiental durante a sua produção,
uso e descarte.
Parede interna lisa
Parede externa corrugada
Figura 1: vista em corte do tubo corrugado de
parede dupla.
� Diretor Industrial da Kanaflex S/A Indústria de Plásticos; engenheiro mecânico de produção pela
Faculdade de Engenharia Industrial (FEI); Pós-graduado em Administração de Empresas pela Escola
Superior de Administração de Negócios (ESAN). e.mail: [email protected]
Saneas / junho 2003 – 17
saneas IVb.indd 17
ocess Cyan
Process Magenta Process Yellow
17/6/2003, 08:47:35
Process Black
Artigos Técnicos
Extrusora camada externa
Corrugador
Sistema de
refrigeração
Puxador
Cortador
Extrusora camada interna
Figura 2: vista superior da linha de coextrusão para fabricação do tubo corrugado de dupla parede.
As principais características do Polietileno
são:
H
H
– Baixo custo;
C
C
– Elevada resistência química;
– Baixo coeficiente de atrito;
H
H
– Fácil processamento;
n
– Excelentes propriedades isolantes;
– Baixa permeabilidade a água e gases;
Figura 3: monômero
– Atóxico;
de etileno.
– Inodoro.
O Polietileno pode ser rígido ou flexível, bastando para isso apenas modificar o comprimento da cadeia carbônica ou a quantidade de
ramificações. Existem três tipos básicos de Polietileno: o Polietileno de Baixa Densidade (PEBD),
o Polietileno de Média Densidade (PEMD) e o
Polietileno de Alta Densidade (PEAD).
O material utilizado na fabricação deste produto é o PEAD, cuja densidade varia de 0,935 a
0,960 g/cm³ e sua estrutura é praticamente isenta
3,0
cimento-amianto
2,5
fiberglass
Abrasão (mm)
2,0
concreto
1,5
1,0
cerâmica
PVC rígido
0,5
tubo de PEAD
0,0
0
200.0000
400.000
600.000
Número de ciclos de carga
Figura 4: comparativo de abrasão entre alguns materiais de tubos.
Fonte: Universidade de Darmstad - Alemanha (South German Plastics
Centre in Wurzburg)
de ramificações. É um plástico rígido, resistente à
tração, com boa resistência ao impacto, utilizado
em bombonas, embalagens, brinquedos, materiais hospitalares, tubos para distribuição de água
e gás, esgoto e emissários, tanques de combustível
automotivos, dutos para proteção de cabos subterrâneos, tubos drenos, entre outros.
Normas
Este produto foi desenvolvido baseado na
norma européia prEN 13.476-1. Em julho do
ano passado, foi solicitada à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a elaboração de norma brasileira. Enquanto se aguarda
a aprovação da norma oficial da ABNT, empresas de saneamento e outras entidades estão elaborando as suas respectivas normas internas.
Especificações já elaboradas: Companhia
Estadual de Água e Esgotos - CEDAE / RJ e
Convênio Secretaria Estadual de Saneamento
e Recursos Hídricos – SESRH - Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Programa de Estudos de Engenharia para
Saneamento Ambiental dos Municípios do
Estado do Rio de Janeiro).
Especificações em andamento: Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
- SABESP e Associação Brasileira de Tubos e
Sistemas Poliolefínicos - ABPE .
Está também em andamento a criação de
um Programa Setorial de Qualidade para
Tubos de Polietileno para saneamento, que
será incorporado ao Programa Brasileiro
de Qualidade e Produtividade do Habitat
– PBQP-h; baseada no Programa de Qualidade
já existente na Associação Brasileira de Tubos e
Sistemas Poliolefínicos – ABPE.
18 – Saneas / junho 2003
saneas IVb.indd 18
ocess Cyan
Process Magenta Process Yellow
17/6/2003, 08:48:33
Process Black
Artigos Técnicos
Instalação
O procedimento de instalação dos
tubos corrugados de dupla parede em
polietileno é semelhante ao dos tubos
de PVC e os cerâmicos. Uma grande
variedade de acessórios já está disponível
para esses tubos corrugados, oferecendo
soluções às mais diversas necessidades
encontradas nas obras. Além de permitir
uma perfeita intercambiabilidade com os
sistemas já existentes (PVC e cerâmico).
Os tubos e as conexões são acoplados através de sistema de junta elástica,
mas com uma vantagem em relação ao
sistema atual, que utiliza a bolsa elástica
(virola): o anel é montado na ponta do
tubo, evitando possíveis deslocamentos
no encaixe da ponta com a bolsa da
conexão, conferindo praticidade e maior
segurança nas instalações.
Por serem fabricados em polietileno e
possuírem a estrutura corrugada, os tubos
são muito mais leves do que os atuais sistemas, facilitando seu transporte, manuseio, assentamento, e evitando perdas
por quebras, proporcionando condições
de redução no custo total da obra. Além
disso, qualquer pedaço de sobra nas
instalações pode ser aproveitado com a
utilização de luvas de emenda ou luvas
de correr.
O tempo médio de instalação de um
sistema em polietileno pode corresponder à aproximadamente 1/3 do tempo
gasto para instalação do mesmo sistema
em PVC, variando de acordo com as
particularidades de cada obra.
Abaixo, na tabela 1, os tempos
comparativos que foram cronometrados durante a realização dos
testes de campo na Sabesp / São
Vicente, onde foram instalados
160 metros de tubos corrugados DN 150, com 43 ramais de
tubos corrugados DN 100.
Esquema de
instalação da
rede coletora
com ramal
predial de tubos
corrugados
realizada na
SABESP – São
Vicente – SP.
Características do Produto
A tecnologia de fabricação dos
tubos corrugados associada à utilização da matéria-prima PEAD
confere melhorias nas principais
características desejáveis para a
aplicação do produto no saneamento, como:
Elevada Resistência Mecânica:
a estrutura dos tubos corrugados
de dupla parede resulta em produtos com elevada classe de rigidez,
se comparado com os tubos lisos
coletores de esgoto, permitindo
menores deformações na aplicação
final do produto;
Resistência Química: química e
eletricamente inertes, os tubos em
polietileno não sofrem ataques, à
temperatura ambiente, por solos
agressivos e pela maioria dos ácidos,
bases, solventes e gorduras. Apresentam ainda excelente resistência
Foto 1: instalação dos tubos
corrugados em PEAD. Teste de
campo Sabesp / São Vicente.
Tabela 1: quadro comparativo dos tempos, em teste de campo – Sabesp / São Vicente.
Atividade
Tubo Corrugado de
Dupla Parede em PEAD
Tubo Liso em PVC
Instalação de um segmento de rede coletora
com uma chegada de ramal predial
2,7 minutos
12,1 minutos
Instalação de uma coluna com curva 90º
na chegada do ramal predial
1,5 minuto
3,2 minutos
Instalação de um ramal predial
2,1 minutos
5,4 minutos
Instalação completa de um segmento
de rede coletora com um ramal predial
6,2 minutos
20,7 minutos
Saneas / junho 2003 – 19
saneas IVb.indd 19
ocess Cyan
Process Magenta Process Yellow
17/6/2003, 08:48:43
Process Black
Artigos Técnicos
para esse produto asseguram
uma perfeita estanqueidade
para o sistema, além de conferir praticidade e rapidez na
instalação. Seu desempenho
atende aos mesmos requisitos
estabelecidos na Norma NBR
7362 para os tubos em PVC;
Rugosidade e Declividade:
o coeficiente de Manning a ser
utilizado nos cálculos hidráulicos de sistemas de esgoto
para esse produto é n=0,010.
Devido a seu baixo coeficiente
de rugosidade, menores declividades poderão ser utilizadas,
sem comprometer a condição
de arraste dos sólidos;
Fornecimento: os tubos
são fornecidos em barras de 6
metros, com um anel de borracha nitrílica e uma luva de
emenda já montados em uma
das extremidades. Devido à
grande flexibilidade da linha
de transformação do produto,
outras metragens podem ser
fabricadas.
Considerações finais
Fotos 2 e 3:
Instalação do
tubo coletor
e ramais
realizada em
Cotia - SP
(Dez/02).
aos agentes bioquímicos
(mofo, bolor, enzimas);
Auto limpeza: a inércia
química e a baixa rugosidade
do polietileno conferem ao
tubo a vantagem de ser autolimpante dificultando as possibilidades de ocorrência de
incrustações em sua parede
interna, evitando a longo
prazo o estrangulamento da
secção interna;
Estanqueidade da Junta:
as juntas elásticas projetadas
20 – Saneas / junho 2003
Este produto foi lançado
em Abril de 2002 na Feicon
- Feira Internacional da Construção, e também apresentado
na Fenasan em agosto de 2002,
feira voltada ao mercado de
saneamento, sendo premiado
com o troféu “Inovação Tecnológica” pelos visitantes.
Neste
período
foram
ministradas dezenas de palestras e realizados testes de
campo em várias empresas de
saneamento em todo o Brasil,
das quais muitas já formalmente homologaram e estão
utilizando o produto; dentre
elas a Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo – SABESP, a Companhia Estadual de Águas
e Esgotos – CEDAE (RJ), A
Companhia Riograndense de
Saneamento - CORSAN, a
Companhia Espírito-Santense
de Saneamento – CESAN, a
Companhia de Água e Esgoto
do Ceará – CAGECE, a Companhia de Águas e Esgotos do
Maranhão – CAEMA, a Companhia Pernambucana de
Saneamento – COMPESA.
A aceitação desta nova
tecnologia está sendo muito
grande, devido ao seu desempenho técnico, segurança e
confiabilidade na instalação e
preço competitivo, tornandose uma excelente alternativa
quando comparada às já existentes do mercado.
Neste momento em que o
novo governo promete dar
prioridade para investimentos
em saneamento, entendemos
que este será uma boa opção
de material a ser utilizado em
coletores de esgoto, visto que
o binômio custo / benefício é
extremamente favorável; contribuindo, assim, para a otimização dos recursos a serem
aplicados na infra-estrutura
de saneamento e conseqüente
melhoria da qualidade de vida
da população.
Foto 4: Troféu “Inovação
Tecnológica” – Fenasan 2002.
OPINIÃO
Eliminação de odores em lagoas e
estações de tratamento de esgotos
Aurélio Nunes de Oliveira Figura 1 - Bico pulverizador em operação
Artigos Técnicos
P
oucos gases são tão potentes, quanto o
gás sulfídrico (H2S), para perturbar o
sentido do olfato humano. O nariz humano
é capaz de detectar o seu cheiro de ovo podre
a um nível de apenas 0,4 ppb (partes por
bilhão), de acordo com Brown & LeMay,
1988. Esse gás é produzido, naturalmente,
pela decomposição anaeróbica de qualquer
tipo de material orgânico ou inorgânico que
contenha enxofre (Nagl, 1996).
O odor gerado pelo gás sulfídrico, seja produzido pela natureza ou pela atividade humana,
representa um sério risco à saúde, em qualquer
concentração. Diversos exemplos de fontes geradoras do gás, que não aquelas naturais, incluem
aterros sanitários, unidades de coqueria em
siderúrgicas e fábricas de produtos alimentícios,
seguidas pelo tratamento de esgotos em lagoas e
estações de tratamento de esgotos.
Este artigo descreve a eliminação bem
sucedida de odores de H2S em estações de
tratamento de esgotos domésticos no estado
de São Paulo. A eliminação dos odores foi possível, com a utilização de produtos airSolution,
fabricados pela Ecolo, uma renomada empresa
canadense e formulados pela Glotec, no Brasil,
de forma a atender as necessidades específicas
de clientes com problemas diversos de odor,
aplicados por equipamentos especialmente
projetados e construídos para esta finalidade,
configurando a melhor relação custo/benefício
para este tipo de aplicação.
A Tabela 1, no final do artigo, permite uma
visão da eficiência dos produtos airSolution,
quando tratando diferentes compostos encontrados nas emissões industriais.
ETE - Estação de tratamento de esgotos
A eficiência dos produtos e equipamentos
pôde ser comprovada em uma estação de
tratamento de esgotos localizada em uma
cidade da região metropolitana de São Paulo,
onde os moradores ao seu redor começaram
a perceber um odor irritante, procedente da
mesma, logo em seguida ao início de seu
funcionamento.
Este odor desagradável era emanado pela
estação de tratamento de esgotos domésticos,
Gerente Técnico da Glotec Representações e Comércio Ltda. Engenheiro Químico formado pela
Escola Superior de Química Oswaldo Cruz - 1977
Saneas / junho 2003 – 21
Artigos Técnicos
Figura 2
Linha do
sistema de
desodorização
em em ETE
com RAFA
que uma destas três condições mencionadas a
seguir seja encontrada:
- a primeira, a de que as moléculas colidam, o
que é obtido pela atomização dos produtos
dentro da corrente gasosa, na área afetada,
neste caso, o perímetro da ETE;
- a segunda, que as moléculas que estão colidindo estejam posicionadas para a transição; isto é conseguido pela atomização, nas
dimensões apropriadas, permitindo formálas, mantê-las expostas e em contato;
- e, por último, que a colisão tenha a energia requerida, através da velocidade, para
formar o estado de transição.
Figura 3
DEstaque para
a roximidade
da ETE com a
comunidade
cujo objetivo é o de tratar os esgotos gerados
na cidade, evitando o comprometimento das
águas do ribeirão que as recebe. O tratamento
é feito em um RAFA (reator anaeróbio de leito
fluidizado), cuja operação pode, em determinadas condições operacionais, criar condições
anaeróbias levando à formação de H2S. Além
disso, o lodo que é gerado na ETE é disposto
em leitos de secagem, para sua desidratação. O
processo de decomposição, que aí ocorre, cria
também emissões do gás, contribuindo para o
problema da estação.
Para sanar este problema de forma permanente, foi implantado um Sistema de Controle
de Odores que utiliza um produto adequado
a esta situação. Este produto age através de
um processo de neutralização, degradando e
destruindo as moléculas causadoras de odores,
neste caso, de gás sulfídrico e compostos orgânicos. O sucesso da operação, utilizando estes
produtos, é o resultado de reações de oxidoredução. Nestas reações, um dos reagentes é
reduzido (ganha um ou mais elétrons) e outro
é oxidado (perde um ou mais elétrons). Uma
vez que os terpenos, constituintes dos óleos
essenciais, são altamente reativos, a simples
exposição de uma corrente gasosa a eles, dá
início a uma série de reações químicas, desde
22 – Saneas / junho 2003
Os Sistemas de Controle de Odores, bem
como os produtos fornecidos, foram desenvolvidos de maneira a satisfazer estas condições. Além disto, deve-se dizer que estes
produtos se constituem em uma mistura
complexa de diversos ingredientes ativos,
cujas reações químicas dificilmente seriam
representadas através de equações químicas
e que as mesmas não interferem com os processos biológicos que ocorrem no processo
de digestão da matéria orgânica, limitandose a reagir com as emissões presentes no
ambiente externo aos tanques e lagoas. Ao
lado disto, os gases liberados nas ETEs e
lagoas de tratamento de esgotos apresentam
alguns tipos de reação muito interessantes,
envolvendo a formação de radicais hidroxila (OH). Este radical é tão reativo quanto
os terpenos e torna-se apto a sofrer reações
de oxido-redução. Grupos amino-hidroxi,
em colisão com sulfetos, oxidam os sulfetos a grupos amino-hidroxi-sulfatos que
são, então, facilmente degradáveis em ions
sulfato. Neste processo, o radical aminohidroxila é reformado e continua reagindo
com a próxima molécula de sulfeto que
encontra. Isto se constitui em uma reação de
oxido-redução, que é utilizada para degradar
e eliminar os odores de gás sulfídrico nas
diversas emissões de ETEs e lagoas.
Para propiciar esta reação, nesta ETE, foi
instalado um Sistema de Aplicação – modelo
EP 60 BR, com 19 bicos atomizadores. Os bicos
são montados em postes de 3 metros de altura,
posicionados em torno do perímetro da ETE, a
uma distância de 5 metros, um do outro. Estes
bicos pulverizam a solução do produto neutralizador de odores em gotículas de 38 micras
de diâmetro, uma dimensão que proporciona
duas vantagens funcionais – primeiro, a névoa
Artigos Técnicos
Figura 4
Instalação em
uma EPC
formada é suficientemente ‘leve’ para que a
mesma seja arrastada pelas correntes de ar, permitindo que o produto interaja com as correntes de odor no percurso percorrido e, segundo,
um menor diâmetro das gotículas corresponde
a uma maior área de contato. Recentemente,
um sistema de mistura foi instalado, de forma
a facilitar a operação; sua função é combinar a
concentração correta de produto neutralizador
à quantidade de água projetada na formulação.
O sistema inclui, ainda, um temporizador
capaz de controlar o tempo de aplicação, cuja
faixa varia de 1 a 60 segundos, e os intervalos
de aplicação, com faixa de operação de 3 a 300
segundos. Os tempos, neste caso, foram estabelecidos em 20 segundos de aplicação a cada 2
minutos de intervalo, de forma a proporcionar
os melhores resultados, tanto do ponto de vista
econômico, quanto de eficiência.
Em seguida à instalação e operação do sistema de neutralização de odores nesta ETE, o
Gerente da Unidade responsável afirmou os
odores desapareceram e as reclamações praticamente acabaram.
e eliminando as emissões para a área externa.
A aplicação do produto é também efetuada de
forma temporizada, atendendo as necessidades
de controle dos odores emitidos.
Tendo em vista os resultados satisfatórios,
evidenciados pela significativa redução no
número de reclamações, o sistema foi então
adquirido pela Unidade e permanece em operação até a presente data.
EPC – Estação de Pré-Cloração
Parque Ibirapuera
Outro caso ilustrativo a ser mencionado é o
da EPC – Estação de Pré-Cloração que opera
em uma cidade do litoral paulista, condicionando os esgotos domésticos recebidos de
cerca de 300.000 habitantes, antes de seu envio
ao emissário submarino existente. As áreas de
recebimento, gradeamento primário e peneiras rotativas liberam quantidades significativas
e suficientemente elevadas de gás sulfídrico
para provocar reclamações dos freqüentadores
de um clube existente ao lado da Estação, bem
como dos prédios em seu entorno.
Um sistema EP 60 BR foi instalado, operando um conjunto de 22 bicos, inicialmente,
por um período experimental de 30 dias, a fim
de permitir a avaliação pelos engenheiros da
Estação. A área mais crítica a ser coberta era
a das peneiras rotativas, que são instaladas em
plano superior àquele do restante da Estação,
tornando ainda mais problemático o controle
das emissões. Uma linha de bicos pulverizadores foi instalada acima das referidas peneiras,
aplicando o produto e controlando de forma
satisfatória as emissões. Os demais bicos foram
instalados em torno dos poços de recepção e
das grades primárias, melhorando as condições
de trabalho para os operadores naqueles locais
Um terceiro exemplo a ser mencionado é o
do Parque Ibirapuera, área verde existente no
município de São Paulo, onde o Córrego do
Sapateiro, que abastece o lago localizado no
interior do Parque, sofre contaminação por
esgotos clandestinos conectados ao longo do
percurso de sua canalização. Ao adentrar o
perímetro do Parque, o córrego passa a fluir
em canal aberto, liberando emissões de gás sulfídrico ao longo do percurso de 150 metros até
a estação de flotação, onde a matéria orgânica
é removida, em níveis ao redor de 80%, melhorando de forma significativa a qualidade da
Figura 5
Unidade de
controle,
bombeamento
e reservatório
de solução.
Saneas / junho 2003 – 23
Artigos Técnicos
Tabela 1: Testes de neutralização realizados em diferentes compostos
Produto
final
Gás
Tempo contato
Conc.inicial
Conc.
segundos
ppm
ppm
Sulfeto de
hidrogênio
H2S
30
30
30
60
60
60
60
60
60
10
10
10
60
60
60
60
60
60
20
20
20
20
20
20
7
18
30
4
18
28
2
7
13
3
10
14
Metil
mercaptana
CH3SH
60
60
60
30
30
30
10
10
10
20
20
20
20
20
20
20
20
20
2
5
11
3
7
12
3
7
15
NH3
60
60
60
30
30
30
10
10
10
100
100
100
100
100
100
50
50
50
4
11
68
4
13
80
3
9
45
60
60
60
30
30
30
10
10
10
70
70
70
70
70
70
70
70
70
2
10
50
5
10
50
7
12
60
30
30
10
10
10
30
30
30
50
50
50
50
50
300
300
300
17
15
20
20
15
60
60
40
30
30
30
10
10
10
10
10
10
300
300
300
300
300
300
70
70
70
60
60
70
75
80
90
20
20
25
Amônea
Metil amina
CH3NH2
Acetaldeído
Acetato
de etila
CH3COOC2H5
24 – Saneas / junho 2003
corrente que segue para o lago. Neste percurso,
estas emissões perturbavam demasiadamente
os moradores das residências próximas e, de
forma menos constante, os freqüentadores que
se aproximavam da área do canal.
Em um tempo recorde de três dias, incluída
a construção dos pilares de sustentação, foi
instalado um sistema EP 60 BR, operando 15
bicos pulverizadores, permitindo o controle
das emissões. Os bicos pulverizadores foram
instalados logo acima do canal de entrada do
córrego, sustentados por um cabo de aço que,
por sua vez, é preso a pilares de concreto. As
aplicações são feitas com intervalos adequados, conforme já mencionado no primeiro
exemplo, assegurando o controle das emissões
existentes. A tubulação, os bicos e o cabo de
aço, praticamente não são percebidos, todavia, seus efeitos são amplamente reconhecidos
por aqueles moradores e pelos freqüentadores
do Parque.
Lagoa de Tratamento de Esgotos
Um outro exemplo, é o de uma lagoa de
tratamento de esgotos domésticos, atendendo
a uma população de cerca de 40.000 pessoas,
cuja operação, em função das flutuações de
carga, leva à formação e emissão de gás sulfídrico, gerando reclamações dos moradores da
vizinhança.
No local foi implantado um sistema EP
60 BR, operando um conjunto de 13 bicos,
instalados em uma rede suspensa ao redor da
referida lagoa. A fim de assegurar ao mesmo
tempo o controle das emissões e a economicidade do processo, o sistema opera com
aplicações temporizadas. Os resultados foram
altamente satisfatórios, tendo sido aprovado o
sistema antes mesmo do período proposto, de
30 dias. Atualmente, somente ocorrem reclamações quando é necessário desligar o sistema
para manutenção da ETE.
Referências
Brown, T. L. & H. E. LeMay, 1988. Chemistry
– The Central Science, 4th Ed. – Prentice Hall,
New Jersey.
Nagl, G. J., 1996. Controlling Hydrogen sulphide Emissions. Water/Engineering & Management, December, pp. 18-21
OPINIÃO
ARTIGOS
TÉCNICOS
Alternativa para limpeza de lagoas
Layre Colino Junior Resumo
O presente trabalho apresenta uma alternativa para limpeza de lagoas com a utilização
da própria mão-de-obra encarregada de sua
operação e manutenção, a partir de um filtro
em forma de “V” que pode ser feito no próprio
local. O elemento filtrante utilizado é a palha
de arroz por apresentar boa porosidade, maior
impermeabilidade, menor adensamento por
pressão hidrostática e retenção de material
sólido satisfatória, o que confere grande versatilidade para o seu uso. Para a dragagem
do lodo do fundo da lagoa foi construída
uma embarcação do tipo jangada feita com
quatro tambores e um tabuleiro, fixado sobre
os mesmos, com uma abertura central onde se
instalou um pequeno pórtico para controle de
profundidade da bomba de sucção.
O resultado obtido com esse novo processo
foi plenamente satisfatório, pois foi obtida
uma grande eficácia na limpeza da lagoa, sem a
sua desativação e com custo bem reduzido.
de contínuas modificações que ocorrem naturalmente, além das transformações que lhe são
impostas pelo homem.
A autodepuração é um fenômeno complexo
de ações químicas, biológicas e bioquímicas,
que promovem a recuperação das condições
naturais dos cursos d’água (Garcez, 1976). Esse
processo se inicia imediatamente após a descarga poluidora no manancial e inclui todo o
processo de assimilação, decantação, digestão e
oxidação dos compostos estranhos que lhe
foram introduzidos, lembrando que a perda
de oxigênio, a formação de gases tóxicos, etc,
conseqüências ecológicas da poluição, decorrem do próprio processo de autodepuração
das águas.
Figura 1 - Esquema de autodepuração
bacterian(Fonte Garcez, 1976)
Número de coliformes
Artigos Técnicos
Introdução
Os centros urbanos e industriais requerem
elevadas quantidades de água para consumo.
Após sua utilização, este volume transforma-se
em águas residuárias, contendo impurezas que
contribuem para o aumento da carga orgânica
dos corpos d’água quando nele são lançadas
sem o devido tratamento.
Quanto maior for a carga poluidora do
manancial, maior será a dificuldade no tratamento da água. Esse fator, associado ao crescimento vertiginoso da população, contribui
entre outros aspectos, para dificultar o abastecimento dos grandes centros urbanos.
Um rio, de acordo com Branco (1983), é
de natureza essencialmente dinâmica, quer
nos aspectos físicos, de movimentação de suas
águas, quer nos aspectos biológicos, sendo sede
Tempo (dias)
Figura 2 - Esquema da autodepuração bioquímica
(Fonte Garcez 1976)
Oxigênio dissolvido
O.D.
Curva do Oxigêniodissolvido
Mínimo O.D.
t. crítico
PC
Curva de regeração
Tempo
Nas figuras 1 e 2 demonstrando resumidamente o
processo de autodepuração
Engenheiro civil e sanitarista; Especialização em Engenharia em Saúde Pública
Gerente do Departamento Técnico da Unidade de Negócio do Médio Tietê - SABESP – Botucatu
Saneas / junho 2003 – 25
Artigos Técnicos
figura 3
Filtro em
forma de V
para facilitar o
escoamento da
água
Figura 4
Lodo
acumulado
na entrado
de esgoto da
lagoa
As lagoas de estabilização, assim consideradas porque são capazes de estabilizar
a carga orgânica dos despejos domésticos
(esgotos) que recebem (Dacach, 1979), vêm
sendo utilizadas há muito tempo, mas
somente a partir da década de 1950 começaram a ser objeto de estudos e observações
mais detalhadas por parte de alguns sanitaristas, interessados em conhecer e divulgar
seu emprego como solução prática, eficiente
e econômica para o tratamento de despejos
de pequenas e médias populações.
Nessas lagoas, os despejos são lançados e
mantidos durante vários dias. Esse período,
denominado tempo de detenção, é necessário para que a matéria orgânica sofra, convenientemente, a ação de processos naturais
de tratamento físico, bioquímico e biológico
(Dacach, 1979). Embora vários fatores estejam
envolvidos no tratamento das lagoas, dois se
destacam por serem fundamentais: o oxigênio atmosférico e a luz solar. É sabido que o
oxigênio atmosférico tende a dissolver-se nos
mananciais de água até o limite de saturação.
Quando o manancial não é poluído por matéria orgânica, apresenta-se saturado de oxigênio
e, então, o teor deste varia com a temperatura,
normalmente entre 7,6 mg/L (30° C) e 14,6
mg/L (0° C), de acordo com Hilleboe (1964).
26 – Saneas / junho 2003
Quando se descarregam na água os sólidos
do esgoto, se iniciam a degradação e a decomposição devidas à atividade dos microorganismos presentes. O oxigênio é necessário a
todas essas reações biológicas e bioquímicas,
chamadas aeróbicas. Simultaneamente, o oxigênio da atmosfera se dissolve nessa mesma
água, em decorrência do fenômeno natural
de reaeração. Sendo grande a quantidade de
matéria orgânica, o oxigênio proveniente da
aeração é incapaz de substituir, no mesmo
período, aquele utilizado na decomposição
aeróbica. Quando não há oxigênio, ocorre um
predomínio dos organismos anaeróbios, resultando na putrefação. Por conseguinte, quando
se descarrega esgoto em águas correntes, as
reações resultantes dependerão do oxigênio
existente no meio.
As lagoas de estabilização, devido às facilidades de manutenção e de operação, aliadas
aos excelentes resultados obtidos no tratamento das águas residuárias, têm sido empregadas com muita freqüência para solução dos
despejos urbanos de pequenas e médias comunidades. Porém, é importante salientar que sua
manutenção e cuidados operacionais, apesar
de pequenos, são indispensáveis para sua eficiência. O controle de vazão, profundidade e
limpeza são fundamentais para se obter uma
qualidade desejável do efluente.
O lodo e o material inerte trazidos pelos
esgotos por infiltração ou por uso indevido
das redes coletoras, se acumula em pequenas
quantidades no fundo das lagoas, porém,
após vários anos de operação contínua, passa
a ser preocupante, tornando-se necessária sua
remoção.
Os métodos existentes para limpeza de
material sólido depositado no fundo das
lagoas sem a desativação das mesmas, envolvem o uso de grandes equipamentos e mão
de obra especializada, tornando o custo alto
e muitas vezes impraticável em comunidades
de pequeno porte.
Estudo de caso
O presente trabalho foi desenvolvido no
município de Mombuca - SP, na lagoa de estabilização de esgotos, tipo facultativa, pertencente a SABESP, com o objetivo de encontrar
uma alternativa para a limpeza de lagoas, com
custos substancialmente reduzidos, sem a desativação do processo de tratamento de esgotos,
Artigos Técnicos
através da execução dos serviços com a utilização de mão de obra própria, buscando uma
alternativa que pudesse ser adotada em outras
localidades, independente do seu tamanho.
Inicialmente, foi feito um mapeamento da
lagoa para quantificação exata do lodo a ser
removido.
O processo consistiu na dragagem do lodo e
do esgoto da lagoa para um filtro, cujo objetivo
principal era reter o material sólido e devolver
imediatamente à lagoa todo o líquido filtrado.
O filtro, construído em “V” (figura 3) para
facilitar o escoamento do esgoto, foi colocado
ao lado da caixa de gradeamento, na entrada da
lagoa, onde a quantidade acumulada de lodo
era grande (figura 4).
Como leito filtrante, utilizou-se a palha de
arroz, pela sua maior impermeabilidade, boa
porosidade, menor adensamento por pressão
hidrostática e capacidade de retenção de material sólido satisfatória, determinada através de
testes previamente realizados (figura 5).
Para a dragagem, foi construída uma
embarcação do tipo jangada (figura 6), feita
com quatro tambores e um tabuleiro apoiado
sobre os mesmos, com uma abertura no centro
onde se fixou um pórtico para descida e subida
da bomba, conforme conveniência.
Figura 5
Leito filtrante
em palha
de arroz já
colocada no
filtro
Figura 6
Embarcação
tipo jangada
utilizada no
processo para
dragagem do
lodo
Custos e Volumes
Os custos envolvidos e os volumes removidos estão descritos na tabela abaixo.
Custos e Volumes
I Pessoal: Dias trabalhados = 35
a) Salário + encargos (1 encarregado +3 ajudantes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 2.073,73
b) Alojamento / Alimentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 427.19
II Equipamentos / Materiais / Outros
a) Equipamentos (jangada, bomba etc.). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 174,36
b) Máquinas (retro-escavadeira) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 26923
c)Transporte (caminhões) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 353,85
d) Outros (peq. mat. de consumo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 39,87
SUB-TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$ 3.338,23
III- Admlnistração:
B.D.I. de 40% . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . US$1.335,29
IV - Volumes
Volume útil da lagoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.691 m³
Volume de logo removido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 877 m³
OBSERVAÇÃO: Considerando esses cálculos, chegamos a um custo de US$ 5,331.3 de lodo removido.
Saneas / junho 2003 – 27
Artigos Técnicos
A utilização desse processo poderá ser
ampliada para sistemas de tratamento de
água, configurando-se como uma alternativa
viável para o problema de descarga de decantadores e recuperação de água de lavagem
de filtros. Essa água poderá ser recuperada
com custo reduzido, através da execução de
pequenas obras para adequação do sistema,
trazendo grandes benefícios, especialmente
em relação a preservação dos mananciais e a
proteção ambiental.
Com relação ao lodo retido, existem estudos
para sua utilização como insumo agrícola. No
entanto, essa fase depende de resultados de
laboratório e de experimentos de campo, que
atualmente estão em desenvolvimento.
Figura 7 – lodo retido no leito filtrante após dragagem
Referências bibliográficas
BRANCO, SAMUEL M. & ROCHA, ARISTIDES A. - Poluição, proteção e usos múltiplos de
represas. São Paulo, Edgard Blucher, 1977.
BRANCO, SAMUEL M. - Poluição: a morte de
nossos rios, 2ª ed. São Paulo, Cetesb, 1996.
CABALLERO, PEDRO J. - Información sobre
lagunas de oxidación de aguas negras. Ingenieria Sanitaria, out. 1956.
DACACH, NELSON G. - Saneamento Básico.
Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos,
1979.
Figura 8 – água devolvida à lagoa após filtragem
Resultados obtidos e conclusões
Os trabalhos desenvolvidos em Mombuca
possibilitaram a retenção do lodo e a devolução do esgoto para a lagoa com grande eficácia
(figuras 7 e 8).
Foram removidos 877 m³ de lodo em 35
dias, com custos de US$ 5.33/m³.
Esses resultados permitem concluir que
esse novo processo para limpeza de lagoas,
em função de seu baixo custo, poderá ser utilizado em sistemas de tratamento de esgotos de
pequenas comunidades, principalmente onde
os recursos financeiros são escassos.
28 – Saneas / junho 2003
GARCES, LUCAS NOGUEIRA - Elementos
de engenharia hidráulica e sanitária. 2ª ed. São
Paulo, Edgard Blucher, 1974.
HAMMER, MARK J. - Sistemas de abastecimento de água e esgotos: tradução de Sérgio
A. S. Almeida. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e
científicos, 1979.
NEW YORK STATE DEPARTMENT OF
HEALTH - Manual of instruction for sewage
treatment plant operators. New York, Albany,
1962.
VICTORETTI, BENOIT A. - Lagoas de estabilização 2ª ed. São Paulo, Cetesb, 1975.
OPINIÃO
MEIO AMBIENTE
Barreira de contenção para
algas do gênero microcystis sp
Osmar Rivelino 1
Wagner Fernando Rocha de Souza 2
Henrique Merllo Filho 3
Figura 1 - Bloom de
algas abaixo da casa
de bombas
Meio Ambiente
INTRODUÇÃO
Do ponto de vista econômico, a Região
Metropolitana de São Paulo é a mais rica do
país. Porém, possui graves problemas sociais,
como violência, miséria e falta de infra-estrutura, resultando em uma degradação generalizada. Problemas ambientais surgem como
conseqüência da urbanização desenfreada e da
falta de planejamento, comprometendo a qualidade de vida da população da metrópole. Os
cursos d’água da região metropolitana têm sua
qualidade comprometida, em maior ou menor
escala. Alguns, explorados para abastecimento,
possuem níveis elevados de poluição e exigem,
cada vez mais, vultosos investimentos em tecnologias avançadas de tratamento da água e
em programas de preservação e recuperação
de mananciais.
SISTEMA RIO GRANDE
No sistema Rio Grande, em São Bernardo
do Campo, os problemas não são diferentes.
O entorno da Represa Billings é habitado
por cerca de 700 mil pessoas. O lançamento
de esgotos e o desmatamento das margens
do reservatório geram graves problemas
ambientais, como a eutrofização, que altera a
1 Bacharel em Biologia e Pós-Graduação (Didática do Ensino Superior) pela Faculdade São Judas Tadeu
Pós-Graduação (Meio Ambiente e Sociedade)- Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
Gerente de Divisão do Sistema Rio Grande - Companhia Saneamento Básico do Estado de São Paulo
- SABESP E mail : [email protected]
2 Engenharia Química - Universidade Mackenzie; Pós-Graduação (Gestão Ambiental) - Faculdade de
Saúde Publica - USP; Engº Químico do Sistema Rio Grande - SABESP
3 Bacharel em Química - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras São Bernardo do Campo; Pós-Graduação (Engenharia de Produção e Administração de Operações) - Universidade Paulista - UNIP; Encarregado da ETA do Sistema Rio Grande - SABESP
Saneas / junho 2003 – 29
Artigos Técnicos
Figura 2 - Vista da margem da represa
Figura 3 - construção da barreira
Figura 4 - instalação da barreira
30 – Saneas / junho 2003
qualidade da água promovendo a redução do
oxigênio dissolvido, a diminuição da biodiversidade aquática e o aumento da incidência de
florações de microalgas e cianobactérias, além
da perda das qualidades cênicas do manancial.
As cianobactérias ou cianofíceas, popularmente conhecidas como algas azuis, são
microrganismos aeróbicos fotoautotróficos.
Seus processos vitais requerem somente água,
dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e
luz. Por meio de fotossíntese, principalmente,
essas algas obtêm energia para seu metabolismo.
Entre os fatores que propiciam o predomínio das
cianobactérias sobre os outros grupos fitoplanctônicos, destacam-se as características fisiológicas
pelas quais elas assimilam os nutrientes (nitrogênio e fósforo) do meio aquático.
O crescimento intenso desses microrganismos na superfície da água geralmente ocorre
com o predomínio de poucas, ou mesmo de
uma única espécie de cianobactéria produtora
de toxinas, ou de outros metabólitos. Vários
gêneros e espécies que formam florações produzem toxinas conhecidas por cianotoxinas.
Destas, as neurotoxinas são caracterizadas por
sua ação rápida, e podem levar mamíferos à
morte em poucos minutos, por parada respiratória. Outras, como as hepatotoxinas, agem
mais lentamente, e no caso das endotoxinas,
podem provocar irritações por contato.
Existe grande contribuição de efluentes no
reservatório Rio Grande, braço da Represa
Billings. Desta forma, fatores como a elevação
dos níveis de nitrogênio e fósforo, as temperaturas atingindo de 25 a 30° C em períodos
de estiagem, a incidência dos raios solares, as
cargas difusas provenientes das encostas com
as chuvas da época e a direção dos ventos,
colaboram para as florações de cianobactérias. Esse fato pode ser constatado no segundo
semestre de 2001, quando foi registrado uma
das maiores florações de algas já ocorridas
na Represa do Rio Grande. De acordo com
o monitoramento laboratorial, observou-se
tratar de uma floração de cianobactérias do
gênero Microcystis sp
A floração de Microcystis sp ocorre na superfície devido à presença de aerótopos (vacúolos
gasosos) que ajudam na flutuação e facilitam
a busca por nutrientes, luz, temperatura e oxigênio.
Diante da necessidade de operar o sistema e
minimizar os efeitos negativos da floração de
Microcystis sp, optou-se pela instalação de uma
barreira física para contenção e remoção das
Artigos Técnicos
algas e futura degradação natural das toxinas.
Constatados os elevados custos para aquisição de barreiras utilizadas em derramamento
de óleo e afins - em torno de US$ 45.000 para
300 metros - e face à situação emergencial,
optou-se pela confecção de uma barreira, com
recursos próprios e custo aproximado de US$
2.000 também para 300 metros.
Na montagem da barreira foram utilizados,
como bóia de sustentação, blocos de isopor de
0,15 x 0,20 x 0,70 m, revestidos de geotêxtil
não-tecido, 100% poliéster de grande resistência, com 4 metros de largura e lastro feito com
uma corrente comum de aço, totalizando, portanto, uma barreira de 300 metros de comprimento por 3 metros de profundidade. (fig. 3)
A barreira, confeccionada em aproximadamente 3 dias, foi instalada na represa com o
auxílio de um barco a motor, não sendo registradas grandes dificuldades nesta etapa, a não
ser na ocorrência de ventos muito intensos,
durante os quais o procedimento foi interrompido. (fig. 4 e 5)
Devido à resistência do material utilizado
à radiação solar e à ação da água e dos ventos,
não foi necessário realizar manutenções constantes na barreira.
A biomassa, retida na barreira e retirada por
meio de bombas de sucção, foi disposta em
local apropriado, para degradação natural.
Figura 5 - barreira já instalada
CONCLUSÃO
Figura 6 - Barreira retendo um blomm de algas do gênero microcystis sp
Número de células de Microcystis sp antes e após a
instalação da barreira de contenção
100000000
10000000
1000000
100000
INSTALAÇÃO DA BARREIRA
Nº de cels/mL
A verificação da eficiência da barragem foi
realizada por meio de monitoramento laboratorial. O registro de contagem de Microcystis sp
na Represa do Rio Grande foi de 41.534.350
células por ml na superfície no dia 18/08/2001,
um numero nunca antes registrado neste
reservatório, mas que em grande parte foram
retidas pela barreira um dia após sua instalação
(fig 6). Comparativamente, nas análises hidrobiológicas efetuadas na parte externa à barreira
e no ponto de captação das águas, observou-se
diferença em torno de 94% no total de células
de Microcystis sp (gráfico 1).
A eficiência da barreira foi verificada
também na porcentagem de remoção de células e na concentração de microcistina (toxina
liberada pelas Microcystis sp) no processo de
tratamento da água. Os índices apresentaram
conformidade com o parâmetro da portaria nº
1469/00 que exige uma concentração de até 1
g/L de microscistina.
10000
1000
100
10
1
3/07
3/07 11/07 17/07 24/07 31/07 7/08 15/08 18/08 21/08 28/08 4/09 11/09 18/09 25/09 2/10
9/10
Data de coleta
grafico 1 - algas microcystis sp antes e após a instalação da barreira
Saneas / junho 2003 – 31
A SABESP INOVA
Geração de energia elétrica
utilizando o biogás produzido
no tratamento de esgoto
A Sabesp Inova
Sebastião de Paula Coura
E
ntre as ações de gestão energética na
empresa, está sendo desenvolvido um programa para implantação de fontes alternativas
de energia elétrica, com foco na utilização dos
potenciais energéticos próprios, que atualmente são dissipados por processos de perdas.
Está previsto o aproveitamento de potencial
hidrelétrico de 7,4 MW no sistema produtor
de água Cantareira, através de PCH - Pequena
Central Hidrelétrica, e o aproveitamento do
potencial de 3,0 MW do biogás produzido no
tratamento de esgoto na ETE Barueri, através
de PCT - Pequena Central Termoelétrica.
Este artigo aborda a geração de energia elétrica utilizando o biogás de esgoto e a experi-
ência da SABESP sobre este aproveitamento.
O APROVEITAMENTO DO BIOGÁS
Considerando o volume de biogás produzido e a infraestrutura existente, a ETE Barueri
foi selecionada para a implantação de dois projetos de PCT supridas pelo biogás, sendo um
voltado para desenvolvimento da aplicação de
nova tecnologia com a utilização de microturbina de 30 kW e outro voltado para produção
firme de 3.000 kW utilizando motores ciclo
Otto, com cogeração.
A ETE Barueri utiliza o processo de lodo ati-
Gerente do Departamento de Gestão de Energia da SABESP. Formado em Engenharia Elétrica pela
Escola Federal de Engenharia de Itajubá e em Mecânica de Precisão pelo Ministério do Exército.
32 – Saneas / junho 2003
A Sabesp Inova
vado convencional, constituído por duas fases:
líquida e sólida.
Nas unidades de digestão do lodo, os lodos
adensados primários e secundários são recalcados para os digestores anaeróbios. No processo
de digestão do lodo, realizado pelas bactérias
metanogênicas, ocorre a liberação de gás com
predominância do metano, que é utilizado
para a homogeneização do lodo, no tempo em
que ele permanece digerindo. O excesso deste
gás é enviado ao gasômetro.
Além do aproveitamento energético do
biogás para geração de energia elétrica e calor,
para manter a temperatura nos biodigestores,
garantindo assim a qualidade do processo,
estes estudos e empreendimentos visam a
implementação de solução ambientalmente
mais correta para a disposição final do biogás
a base de metano, que tem um potencial efeito
estufa 24 vezes maior do que o dióxido de carbono, e integrar esta alternativa no processo de
tratamento anaeróbio, tornando-o mais competitivo para atender pequenas comunidades.
Na foto 2, o gasômetro da ETE Barueri, e ao
fundo e à direita, os digestores de lodo.
Características básicas do sistema de digestão do lodo e parâmetros operacionais:
• número de digestores: 2 conjuntos de 4 unidades;
• diâmetro: 33,0 m;
• profundidade junto à parede: 10,0 m;
• área unitária: 855,3 m²;
• volume unitário: 10.492 m³;
O gás gerado nos digestores é parcialmente
armazenado no gasômetro. Na área vizinha ao
gasômetro foram instalados os queimadores
(foto 3) para a queima do gás excedente.
Foto 2 – Gás de esgoto vai se transformar em energia elétrica
Foto 3 – queimadores, no PCT Barueri, para queima do gás excedente.
Volume de Resíduos Tratados na Região Metropolitana de São Paulo
Unidades de
tratamento
da RMSP
Capacidade
instalada
(m3/s)
Esgoto
tratado
(m³/s)
Produção
de biogás
(m3/dia)
Consumo
de energia
(MWh/mês)
Barueri
9,5
7,0
22.000
5.500
Suzano
1,5
0,7
3.000
700
ABC
3,0
1,4
1.200
2.000
São Miguel Paulista
1,5
0,5
-
750
Parque Novo Mundo
2,5
1,2
-
1.350
18,0
10,8
26.200
10.300
Total RMSP
Fonte: SABESP
Saneas / junho 2003 – 33
A Sabesp Inova
Princípio do fluxo do sistema
Caldeira
Vapor
Lodo
concentrado
Geração
de Energia
usando Gás
Carbônico
Digestão
Gás de
esgoto
Água
quente
Recuperação
térmica
Lodo
Separador
de líquido
Energia
elétrica
Gás de exaustâo &
Água de resfriamento
Lodo
Separador
de líquido
A PCT com microturbina a biogás
Em dezembro de 2001 foi firmado um convênio entre a SABESP e a USP - Universidade
de São Paulo, através do IEE - Instituto de
Eletrotécnica e Energia e do CENBIO - Centro
Nacional de Referência em Biomassa, para a
realização de estudos e pesquisas na geração de
energia elétrica a partir de biomassa produzida
no processo de tratamento de esgoto.
Um dos produtos previstos neste convênio
foi a instalação de uma microturbina com
capacidade de 30 kW para avaliação desta
tecnologia, considerando que a potência de
até 100 kW é compatível com instalações de
tratamento de esgoto pelo processo anaeróbio
de pequeno porte.
Considerações Técnicas
Microturbina, fabricada pela Capstone
Turbine Corporation, dos Estados Unidos
Potência 30 kW, 96.000 RPM
478 kg , 58 dBA
Consumo de biogás por dia: 480 m³
Número de habitantes para gerar 480
m³ de biogás por dia: 78.750
34 – Saneas / junho 2003
Aproximadamente 30% da energia contida
no biogás é convertida em energia elétrica e
60% podem ser introduzidos em sistemas de
reaproveitamento, como aquecimento dos
digestores.
Estes 30% estão diretamente ligados à eficiência das tecnologias de conversão de energia
contida no biogás em energia elétrica, por
motores ou turbinas.
O consumo de biogás na microturbina é
A Sabesp Inova
da ordem de 480 m³/dia, o que representa
2% do biogás gerado na ETE Barueri, para
o rendimento no sistema da ordem de 27%
(fabricante).
Energia útil da microturbina = P = 30 kW x 859,7(*)
= 25.800 kcal / h
(*) {kW = 14,33 kcal / min ==> 859,7 kcal / h)
(kWh = 3413 BTU, kcal = 3,97 BTU)}
Energia fornecida pelo biogás = Energia útil / rendimento = E biogás = P (kW) / n
E biogás = P / 0,27 = 25.800 / 0,27 = 95.555 kcal / h
Consumo de biogás = Energia fornecida pelo biogás
/ PCI biogás = E biogás / PCI biogás
(para o biogás da ETE Barueri, com > 60% metano o
PC I= 4850 kcal / Nm³
Consumo de biogás = E / PCI = 95.555 kcal/h / 4850
kcal/m³ = 472,85 m³ / dia
(quantidade de biogás gerado numa comunidade de
pequeno porte com 77.800 habitantes)
Principais equipamentos e tecnologias
utilizadas neste projeto
• microturbina, 30 kW, consumo de 472,85
m³/dia de biogás de esgoto;
• separadores de umidade e secador por refrigeração para desumidificação do biogás;
• filtros coalescentes para eliminação de umidade e aerosóis de óleo;
• filtro de carvão ativado para eliminar compostos de enxofre;
• compressor de palhetas para adequar pressão do biogás na alimentação da microturbina;
• transmissores de pressão, temperatura,
vazão e umidade para monitoramento e
proteção;
• sistema supervisório para monitoramento
remoto via rede interna Intranet.
AVALIAÇÃO: Por ser uma tecnologia nova,
é a primeira microturbina operando com biogás
de esgoto na América Latina, e devido ao pouco
tempo de operação, não há ainda avaliação
quanto ao desempenho na conversão da energia do biogás para eletricidade e confiabilidade
operacional, sempre tendo em vista o objetivo
de desenvolver esta aplicação neste tipo de processo de tratamento tornando-o mais competitivo para pequenas comunidades.
A PCT com motores ciclo Otto
Para este aproveitamento, o projeto está
concluído e o que se procura equacionar é
uma oportunidade financeira para execução
do empreendimento.
Pela quantidade e qualidade do gás gerado
atualmente na ETE Barueri, 22.000 m3/ dia e
64 % de metano, o potencial de geração é de
2,6 MW, garantindo o fornecimento de uma
energia de 1.600 MWh/mês, 20 GWh/ano, que
representa 30% do consumo total da ETE.
O projeto desenvolvido especifica uma
PCT de 3 MW , com Cogeração, motores
ciclo Otto alimentados através do gasômetro.
O calor será utilizado para aquecimento do
digestor, melhorando a qualidade do processo
com maior eficiência na digestão anaeróbia e
aumentado a quantidade de biogás gerado no
processo, o que elevará o potencial de geração
para 2,8 MW.
O sistema incorpora um processo de tratamento dos gases de escape para redução de
emissão de NOx e COx.
O MOTOR acionará diretamente o eixo do
alternador; o sistema de arrefecimento pos-
Análise do biogás produzido
COMPOSIÇÃO:
CH4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62,5% (( 2,0)
CO2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31,0% (( 0,9)
O2 + N2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,5% (( 3,0)
COMPOSTO DE ENXOFRE: (mg/m³)
Sulfeto de Hidrogênio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sulfeto de Carbonila . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Metil Mercaptan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Etil Mercaptan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Normal Propil Mercaptan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Iso-Propil Mercaptan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
T-Butil Mercaptan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8,59
0,24
0,63
0,20
0,86
0,55
1,23
ENXOFRE TOTAL (como S)
9,369 mg/m³ ou 8,2 x 10-4% (traços)
P.C.S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.500 kcal/m³
DENSIDADE: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0,874 g/L
PRESSÃO:. . . . 150 a 200 mm c.a. (medida no gasômetro)
VOLUME PRODUZIDO:. . . . . . . . . . . . . . . 22.000 m³/dia
Saneas / junho 2003 – 35
A Sabesp Inova
Característica da instalação
Biogás dos
digestores
Separador de
líquido com dreno
Válvula esfera
Filtro coalescente
Filtro de carvão
ativado
Secador por
refrigeração
Compressor de
palhetas
PMT
Filtro coalescente
Secador por
refrigeração
Filtro coalescente
Kit cobustível da
Capstone
Medidor de vazão
de gás
QMT
Legenda
PT
PM
PMT
QT
QM
QMT
Pressão total na rede
Pressão na linha do motor
Pressão na linha da microturbina
Vazão total na rede
Vazão do motor da DSA
Vazão da microturbina
1,2 atm (p.a.)
2,0 atm
6,0 atm
48,45 m³/h
28,75 m³/h
19,70 m³/h
Fonte CENBIO, 2002
36 – Saneas / junho 2003
Microturbina
Capstone
A Sabesp Inova
Vista em corte da PCT
1500
11,0
Duto isolado
Ar condicioando
1500
1200
Atenuador de ruídos / exaustão
Duto
Ponte rolante 6t
3100
Trilho p/ retirada
do transformador
Silencioso
hospitalar Ø 12"
Sala de
painéis
Leitos de cabos
1500
3100
8500
Forro falso
Painel
Isolamento acústico #3"
Trafos
0,0
Amortecedor
Caixa coletora de óleo
suirá trocador de calor água-água, de forma
a aproveitar o calor das camisas dos motores
para o aquecimento dos biodigestores, assim
como trocador de calor ar-água dos gases de
escape.
O consumo específico de biogás pelos
motores foi calculado em 0,35 Nm3/kWh.
O ALTERNADOR será síncrono trifásico,
brushless, gerando na tensão de 460 V. A tensão
será elevada, através de transformadores, para
23 kV, que é a de distribuição interna da ETE.
O sistema elétrico será composto por painéis de transferência de carga rede-gerador
para operação continuamente paralela com a
concessionária.
Sistema de supervisão e controle: A PCT
possuirá uma sala de operação local, porém
será operada remotamente pela sala de ope-
Atenuador de ruídos / ventilação
ração da ETE. Possuirá lógica digital, com a
utilização de CLPs e software de supervisão,
com monitoramento via Web e rede interna
- Intranet.
Condutos : O biogás será conduzido por
duto de PEAD, instalados diretamente no solo,
interligando o gasômetro, de capacidade de
5.000 m3 , ao sistema de tratamento do biogás
da PCT.
A água quente dos motores será transportada até os biodigestores através de dutos instalados em canaletas subterrâneas.
Os cabos de energia elétrica e os de
comando e controle serão instalados em leitos
de cabos nas galerias subterrâneas existentes e
em dutos de PEAD instalados diretamente no
solo, interligando a sala de controle à Subestação 88/138 kV. ■
Diagrama de cogeração
Chaminé
By-pass
0 kg/h
Temperatura
446,6 °C
o gases
8 kg/h
Temperatura
145°C
Temperatura de saída de
água ao motor 129°c
vazão 190,8 m³/h
Temperatura
133,7°C
Conexão com sistema existente
Temp. de saída: 90°C
Vazão: 75.814 L/h
Traocador de calor 1
Calor recuperado
896.295 kcal/h
Calor dissipado
1.511.250 kcal/h
Ponto 1
Torre de
arrefecimento
adores (3x) 867 kW / 913 kVA
Circuito de
aquecimento dos
biodigestores
Trocador
de
calor
Ponto 2
Temperatura
121 °C
Temperatura de
retorno: 60°C
Saneas / junho 2003 – 37
ENTREVISTA
Planejamento em duas versões
As cidades de Franca e São José dos Campos, interior de São Paulo, têm em comum uma
economia crescente. A primeira se destaca pela indústria de calçados e a outra pela de
eletroeletrônicos. Para falar sobre questões ligadas ao planejamento municipal, como plano
diretor, a influência da sociedade neste processo e saneamento, Saneas entrevistou os prefeitos
Gilmar Dominici (PT), de Franca, e Emanuel Fernandes (PSDB), de São José dos Campos.
Franca: da indústria
de calçados à prática
de esportes
“No Orçamento
Participativo a própria
população aponta as
prioridades para os
investimentos na cidade.”
Entrevista
L
icenciado em Serviço
Social e formado politicamente no meio sindical e comunitário, Gilmar
Dominici (PT) administra a
cidade de Franca desde 1997
– foi reeleito em 2000. Seu
principal foco de governo é
a implementação de ações
da Assistência Social, Saúde e
Educação. Além disso, o prefeito incentiva a geração de
renda e a gestão de pequenos
e micro-empreendedores, que
tem como objetivo fortalecer
a base da economia nacional.
38 – Saneas / junho 2003
Quais as linhas mestras do
seu Plano Diretor?
As linhas mestras do Plano
Diretor são a ocupação racional dos espaços e edificações
vazios e já dotados de infraestrutura urbana, a expansão
controlada do espaço urbano
para a região oeste e a implementação de Programas de
Gestão Integrada, que permitem uma maior eficiência e
eficácia das ações de governo.
Quais os mecanismos de
envolvimento da sociedade
nas atividades de planejamento municipal?
A sociedade tem sido envolvida diretamente nos debates
que antecederam a apresentação e aprovação do Plano
Diretor, por meio de audiências públicas. No momento,
estamos montando os projetos
que complementam o Plano,
com a participação de entidades da sociedade civil. Após a
elaboração dos projetos de lei,
pretendemos fazer audiências
públicas visando coletar contribuições e debater as questões de fundo da organização
urbana e implementar o funcionamento do Conselho de
Desenvolvimento de Franca,
o COMDEF.
Existe um órgão específico
ligado à atividade de planejamento que cuida da implementação e da revisão do
Plano Diretor?
Temos dois organismos que
lidam com o planejamento e o
Plano Diretor: de um lado a
Secretaria de Urbanismo e
Meio Ambiente, responsável
pela política urbana e , de
outro, a Coordenadoria de
Planejamento Estratégico, que
cuida dos projetos estratégicos
do governo.
Quais os mecanismos de
controle, avaliação e revisão
do Plano Diretor?
A própria lei do Plano
Diretor criou prazos específicos para revisão do Plano.
Porém, cabe ao citado
COMDEF estabelecer mecanismos de controle, avaliação
e revisão do Plano, conforme
sua implementação estiver
em andamento. Além disso,
implantamos o Orçamento
Participativo, onde a própria
população aponta as prioridades para os investimentos
na cidade.
Como a Sabesp se insere nas
atividades de planejamento e
gestão do município?
A questão da água é uma
questão estratégica para a
cidade. O próprio Plano Diretor estabeleceu mecanismos
de preservação ambiental
que serão aprofundados na
legislação complementar. A
participação da Sabesp, como
concessionária, terá que ser
discutida no bojo da nova
concessão dos serviços de
Entrevista
água e esgoto, que não está longe de
se encerrar. A Prefeitura deve iniciar
estudos visando esta nova etapa dos
serviços de saneamento local, para
que a cidade possa manter seu nível
de excelência nos serviços de saneamento básico, obtido em parte
graças aos serviços da Sabesp.
Como tem atuado o Ministério
Público e os órgãos ambientais no
desenvolvimento das atividades de
planejamento do município?
O Ministério Público atua
mediante requisições da sociedade
ou da própria legislação. Neste
sentido, sua ação tem sido útil para
evitar que o Município desvie seu
olhar de problemas que eventualmente existam, mas não estão
sendo priorizados.
Como o poder legislativo municipal interage com o planejamento?
O Poder Legislativo tem sido
importante parceiro, no sentido de
construir uma legislação inovadora
para o planejamento da cidade, de
participar ativamente nos debates
sobre os instrumentos de financiamento da política urbana, como a
LDO, o PPA, a LOAS etc. Além disso,
o Legislativo participa da administração fiscalizando, apontando
necessidades, fazendo propostas de
solução para problemas etc.
Calçados e
agrapecuária
A cidade Franca tem 300 mil habitantes e fica a nordeste do estado de
São Paulo. Sua principal característica
econômica é a produção de calçados
masculinos e, também, com menor
relevância, a agropecuária leiteira.
A recente expansão de um parque
comercial vem atraindo consumidores
do norte e nordeste de São Paulo e
sul de Minas Gerais. A cidade tem
100% de rede de água tratada e
esgoto coletado e também tratado.
O esporte, como o futebol e o basquete, é outro destaque nacional da
cidade.
São José dos Campos:
serviços estruturais básicos e
investimento social
“Acho que daqui a 50 anos, os
estados não terão tanta importância, mas as regiões, sim”.
O
prefeito da cidade de São José
dos Campos, o engenheiro
civil Emanuel Fernandes (PSDB),
usa muito de sua experiência acadêmica nas linhas mestras do planejamento urbano. Para ele, planejar é
um pouco “engenheirar” as coisas.
E, além de trabalhar para oferecer
serviços estruturais básicos, ele
acredita no investimento social e no
espírito empreendedor para manter
São José dos Campos na posição
de uma das maiores economias do
Estado de São Paulo –a cidades já é
responsável por 5,9% de toda produção industrial do país.
Quais as linhas mestras do plano
diretor municipal?
São linhas mestras do Plano
Diretor de São José dos Campos o
crescimento e o desenvolvimento
da cidade de acordo com sua infraestrutura e urbanização planejada,
em permanente entendimento com
os órgãos e as empresas concessionárias de serviços públicos. São José
é uma cidade bem planejada pela
característica de ter abrigado vários
sanatórios, no passado. Isso fez, por
exemplo, com que tivesse uma rede
de esgoto bem desenvolvida, desde
aquela época. Nosso planejamento
é fazer o dever de casa, como construir avenidas largas e investir na
área urbanística. Estamos com um
trabalho de desfavelização. Na região
central, vamos modernizar onde é
possível. Na periferia, nas favelas de
beira de córregos, estamos com um
convênio com a CDHU e já fizemos
quase 400 casas, e outro com o BID,
que está em processo final. Até o
final deste mandato, a idéia é acabar
com 80% das favelas daqui. Temos
enfocado, também, a problemática
do saneamento em São José. Sempre
falo que, daqui a cinco anos, não
teremos mais problemas nesta área
ou serão bem pequenos. Ficaremos
próximos aos índices de países de
primeiro mundo. Sou engenheiro e
quanto ao “corpo” de São José ainda
faltam algumas obras para serem
feitas. E, da “alma” da cidade, acredito que falta espírito empreendedor,
no sentido empresarial. E para isto é
preciso ter regras e qualidade no que
está sendo feito. Caso contrário, a
cidade não funciona. Por exemplo,
as escolas que construí, em parceria
com o Estado, são melhores que a
maioria das particulares. Nelas não
há grade, em todos os lugares se vê
um vaso de flor. Acredito que através
da qualidade, você passa cultura. Em
resumo, o planejamento é um pouco
engenheirar as coisas.
Quais os mecanismos de envolvimento da sociedade nas atividades
do planejamento municipal?
A participação institucionalizada
se faz principalmente por meio do
Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano. A população dos
bairros e comunidades locais faz-se
representar por seis membros do
Conselho, de seis regiões de São
José, e há representantes de organizações imobiliárias e técnicas, como
as de engenheiros, arquitetos e urbanistas. Este Conselho, que substitui
a antiga Comissão de Zoneamento,
conta ainda com representantes de
outros conselhos municipais, como
o de meio ambiente.
Saneas / junho 2003 – 39
Entrevista
Qual o mecanismo de percepção
para mudanças no plano diretor?
A cidade já tem um planejamento
organizado. As mudanças no rumo
do plano diretor dependem muito
de uma sensibilidade para perceber
as necessidades da população. Eu
insisto no espírito empreendedor e
tento dar as ferramentas para isto.
Por exemplo, temos um cursinho
pré-vestibular para jovens carentes,
com alunos do ITA. Hoje, tem 200
vagas e até o final do ano que vem
vai ter 400. Temos, também, um
programa de jovens talentos na
Fundação Cultural. E ainda encubadoras tecnológicas, banco do povo,
cursos de empreendedorismo. Bato
na idéia da cidade de oportunidades. E fazemos parcerias, como a
que temos com a Sabesp, por exemplo. Água, aqui, só está faltando,
ainda, em dois ou três bairros isolados, mas irá chegar em todos. O
planejador tem que prover uma série
de coisas, mas não pode ser paternalista. A cidade precisa definir o que é
público e o que é privado.
E quais os mecanismos de controle
e avaliação deste Plano Diretor?
Os mecanismos de controle
urbanístico estão estabelecidos na
legislação municipal de parcelamento, uso e ocupação do solo, nos
códigos de edificações, posturas
municipais e nas leis ambientais.
A execução de programas e projetos previstos no plano diretor vem
sendo feita de acordo com prioridades refletidas em sua inclusão nos
orçamentos plurianuais, diretrizes
orçamentárias e orçamentos anuais.
Uma revisão do Plano Diretor está
programada para 2005.
Como a Sabesp se insere nas atividades do planejamento?
A Sabesp mantém relacionamento com a Prefeitura, em
particular com a Secretaria de
Planejamento e Meio Ambiente,
com o objetivo de orientar e dar
eficácia a seus investimentos em
um planejamento integrado. Além
40 – Saneas / junho 2003
de atender às necessidades de suprimento de água com qualidade, que
hoje é proveniente em dois terços
de mananciais de superfície e um
terço de mananciais subterrâneos, a
Sabesp tem como importante desafio desenvolver o sistema de coleta e
tratamento de esgotos para alcançar
100% de atendimento. Acredito que
a Sabesp melhorou bastante nos
últimos anos e houve uma profissionalização nos serviços. Está
indo a contento para o caminho
que daqui a sete, oito anos, não
tenhamos mais problemas de saneamento básico.
Dentro da visão de planejamento
regional, como o senhor vê a
iniciativa da Secretaria de Saneamento e Obras no que se refere à
Comissão Regional de Gestão?
Acho que daqui a 50 anos, os
estados não terão tanta importância, mas as regiões, sim. O tema
meio ambiente tem um valor
social cada vez mais importante.
Planejamento no Brasil tem que
ir acertando aos poucos. De qualquer forma, a prefeitura vê como
positivas as ações integradas do
planejamento em âmbito regional,
respeitadas as particularidades e a
autonomia de cada município.
Como o poder legislativo influencia no planejamento?
Considero o legislativo o mesmo
que a sociedade. Porque eles ficam o
dia todo em contato com a população. É uma espécie de nervo que fala
onde está doendo. Eles me ajudam,
por exemplo, a priorizar pequenas
obras. Vereadores ajudam a fazer
parcerias com a população. É ele
que acaba fazendo isso. Ajuda a
organizar as reclamações. O poder
legislativo tem influência no que vai
acontecer no município. A engenharia social é como a civil: você
tem que construir um valor. Você
tem que encontrar um vetor para
centralizar seus esforços naquilo.
E o legislativo faz este trabalho de
engenharia social.
Qual é a interferência do Ministério Público e órgãos ambientais no
desenvolvimento do planejamento
municipal?
O Ministério Público nos ajuda
muito. Por exemplo, no caso da
parceria de água. Se fosse um prefeito populista iria oferecer água e
esgoto. Só que isso precisa ser uma
iniciativa privada e não pública.
Ao fazer isso, pode-se estar privilegiando o loteador, quem tem
terreno lá. O Ministério Público
fica atento a isto, ao que é público.
Isso barra problemas graves, evitando este tipo de populismo. E este
tipo de atitude sai caro. No caso de
São José, O Ministério Público tem
ajudado e colaborado a encaminhar
soluções para os loteamentos clandestinos.
A Cetesb, por seu lado, tem
contribuído bastante com o planejamento e a gestão ambiental do
município, dando apoio técnico e
apresentando pareceres sobre questões específicas.
Polo industrial
A cidade de São José dos Campos
fica a 90 quilômetros da capital
paulista. A cidade abriga centros
de pesquisa e desenvolvimento
aeroespacial, como o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
e um considerável pólo industrial.
Com 539 mil habitantes, de acordo
com dados do IBGE, e 95,8% de
taxa de alfabetização, a cidade recebeu títulos de honra, reflexos de
um planejamento estruturado: 9º
melhor cidade para fazer negócios
do Brasil; de acordo com a edição
especial “100 melhores cidades
para se fazer negócios”, da Revista
Exame; e 7ª cidade melhor do mundo para investimentos imobiliários,
segundo dados de pesquisa feita
pela Revista Isto É Dinheiro. E, no
ano passado, recebeu o Prêmio
“Cidade Empreendedora 2001/
2002”, realizado pelo Sebrae.
EMPREENDIMENTO & GESTÃO
Novos e antigos desafios
Mauro Arce Empreendimento & Gestão
O engenheiro elétrico
Mauro Arce, atual
Secretário de Energia
do Estado de São Paulo.
Abaixo, a entrevista,
que Arce concedeu a
Saneas, sobre os rumos
da Companhia de
Saneamento da Básico
do Estado de São Paulo,
universalização e
planejamento da área.
Nesta nova modelagem da estrutura organizacional da Sabesp, a quem cabe a atividade
de planejamento e gestão dos empreendimentos?
As atividades de Planejamento e Gestão de
Empreendimentos são feitas, atualmente, no
âmbito de cada uma das Diretorias - Produção
e Tecnologia, Metropolitana de Distribuição
e Sistemas Regionais, de forma a suprir as
demandas atuais e futuras por serviços de
saneamento, e de acordo com a disponibilidade de recursos para investimento, sempre
em conformidade com as Diretrizes e Metas
Estratégicas Empresariais.
Quais são os grandes desafios do saneamento
ambiental (passivos ambientais) no Estado?
Seguramente entre os grandes desafios do
saneamento ambiental no Estado de São Paulo
merecem destaque: a busca da universalização do abastecimento de água e da coleta de
esgotos, a elevação gradativa e contínua do
tratamento dos esgotos e o equacionamento e
a implementação progressiva do tratamento e
destinação de lodos de ETA’s e ETE’s. Também
é relevante a universalização dos serviços de
coleta e, especialmente, a disposição adequada
dos resíduos sólidos urbanos e industriais.
A proteção e recuperação dos mananciais,
especialmente os que abastecem a Grande São
Paulo, constitui-se em significativo desafio,
principalmente tendo em conta os aspectos
sociais envolvidos, notadamente, a questão do
uso e ocupação do solo.
Considerando-se a busca da universalização quanto ao saneamento básico, como
compatibilizar estas metas com os compromissos financeiros assumidos a curto e
médio prazos?
O Programa de Maximização de Resultados
recentemente implantado, visa, dentre outros
objetivos, a readequação financeira das amortizações vincendas no curto e médio prazos,
vinculadas aos empréstimos e financiamentos
de longo prazo.
Esta readequação propiciará o alongamento
do perfil da dívida, no que couber, bem como
a substituição dos compromissos em moeda
estrangeira, por moeda local, minimizando os
efeitos da exposição cambial.
A conjuntura macroeconômica atual,
demonstrada pela queda do risco Brasil e do
dólar, nos vislumbra um cenário otimista,
resultando na redução do custo do serviço da
dívida, o que, conseqüentemente, não deverá
comprometer a busca da universalização do
saneamento básico.
Qual a estratégia para a manutenção e
ampliação da base operacional da SABESP?
Com certeza a renovação dos contratos de
concessão será uma das ações mais importantes desta gestão, visto que nos próximos
anos alguns terminarão, e a antecipação das
negociações pode ser uma alternativa interessante, sobretudo porque esta é a sustentação da
Sabesp. Neste sentido um grupo de trabalho
com representantes de todas as Diretorias já
está atuando com vistas a elaborar as bases de
tais negociações .
Quanto à busca de novas concessões, este
será outro ponto de atenção, não só pela missão
da empresa, como instrumento do Estado para
a universalização do saneamento, mas também
como caminho natural para a consolidação de
sua sustentação econômica.
■
presidente da Sabesp e secretário de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento do Estado de São Paulo
Saneas / junho 2003 – 41
P&D
HISTÓRIA
DO SANEAMENTO
Abastecimento de água:
Rio Paraíba
Matéria de responsabilidade do Fundo Editorial,
assunto suscitado pelo Eng. Armando Fonzari Pêra
A
água e sua forma de abastecimento sempre foram temas de
discussão quando se fala sobre cuidados e preocupações com a saúde
das populações.
Desde há muito, boa parte dos
envolvidos com saneamento executa a busca, tratamento, adução e
distribuição da água, em qualidade
e volume compatível com as necessidades humanas.
Na descrição transcrita, a seguir,
de fragmentos da matéria escrita
pelo Eng°. Plínio Penteado Whitaker, à época Diretor da Repartição
de Águas e Esgotos de São Paulo
(Revista ERA, ano 8, n°17 de novembro de 1946), observamos um plano
de busca de água, em cenário futuro,
no Rio Paraíba, quando do esgotamento da capacidade hidráulica da
bacia do Tietê.
NOTA
Por uma
questão de
respeito ao
artigo original,
reproduzido
abaixo, foi
mantida a
ortografia da
época.
História do Saneamento
PD
Abastecimento de água da cidade de
São Paulo – Recursos Hidráulicos de São Paulo
D
epois que estiver totalmente utilizada a capacidade hidráulica da bacia do Rio
Tietê, deverá a cidade de São Paulo contar com os recursos do Rio Paraíba.
É este o maior curso dágua nas vizinhanças da bacia do Tietê superior.
Nas proximidades de Guararema, onde as duas bacias mais se aproximam, o Rio
Paraíba tem altitude 570 acima do nível do mar. O aproveitamento destas águas terá
de ser feito por meio de elevação mecânica de cerca de 280 metros, para vencer o espigão divisor e permitir o seu lançamento no vale do Paraitinga, afluente do Tietê.
Estudos cuidadosos e sistemáticos vêm sendo feitos na Bacia do Paraíba, pela
Divisão de águas do Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da
Agricultura.
No seu volumoso “ Anuário Fluviométrico” n° 4, editado em 1943, encontram-se
dados completos sôbre o regimen deste rio, dos quais extraímos os dados que damos
a seguir, com respeito ao Rio Paraíba.
Tratando dessa bacia hidrográfica, escreve o citado Anuário (fls. 21):
“Considerados os fatores geográficos, e humanos, impõe-se o fato de que esta bacia
está em uma posição privilegiada, de extrema importância na evoluçção nacional. Nas
proximidades de seus bordos gravitam as duas mais importantes cidades do país – Rio
de Janeiro e São Paulo: no seu interior florescem numerosas cidades de densa população, animadas de grande circulação econômica as estradas que a cortam”.
“A situação empresta especial significação aos seus recursos naturais, ao sistema hidrográfico e ao valioso potencial hidráulico, máxime no atual estado da economia brasileira”.
42 – Saneas / junho 2003
História do Saneamento
Também na bacia hidrográfica do Rio Paraíba, é necessário que seja estudada a
utilização integral da disponibilidade hidráulica, dentro de um plano coordenador
que vise o abastecimento de água das cidades tributárias e de São Paulo, a produção de
energia elétrica e a sua aplicação a todos os fins necessários para a economia do vale.
O Rio Paraíba é formado pela confluência dos rios Paraibuna e Paraitinga, 80 quilômetros a montante de Guararema.
O Rio Paraitinga tem suas nascentes em altitude 1800m. na Serra da Bocaina,
maciço pertencente ao sistema da Cordilheira do Mar, quase nos limites dos Estados
de São Paulo e do Rio e corre de nordeste para sudoeste.
Depois de um percurso de 200 quilômetros, formando uma bacia hidráulica de
2.500 quilômetros quadrados, junta-se ao Rio Paraibuna, formando o Rio Paraíba.
O Rio Paraibuna nasce na Serra do Parati, contraforte da Cordilheira do Mar, na
linha divisória dos Estados de São Paulo e Rio, a 1600 metros de altitude. Tem um
percurso de 160 quilômetros, com uma bacia hidrográfica estimada em 1.900 quilômetros quadrados.
Até o posto de Guararema, a área total da bacia hidrográfica do Rio Paraíba, compreendendo as dos seus formadores, é de 5.300 quilômetros quadrados.
As características do rio junto ao posto de Guararema são:
Largura = 70 metros;
Profundidade média = 0,90 m.;
Velocidade média = 0,45 m/seg.
No Anuário citado encontram-se tabelas (fls. 225/275) das descargas médias diárias do
rio, nêsse local, durante o período decorrido entre outubro de1922 e dezembro de 1942.
Em 1924/1925, época que correspondeu à intensa estiagem verificada no Vale do
Tietê, a menor descarga média diária do Paraíba foi, ali, de 34,7 m³/seg., no dia 4-91925. A menor descarga medida foi de 30,9 m³/seg., em 16-8-1933 (fls.247).
A Média mensal em setembro de 1925 foi de 44,8m³/seg.; a de agosto dêsse ano foi
de 42,0m³/seg. – A média mensal no mês de agosto de 1933 foi de 36,3m³/seg. Sem
qualquer obra de represamento, pode-se supor que a descarga mínima do Rio Paraíba
seja de 30m³/seg.
Com a sua vasta bacia hidrográfica, é de supor que, com açudagens bem estudadas,
possa ser elevada de duas ou até três vezes a descarga mínima do rio, em qualquer
tempo, de forma que dela se possa derivar, de futuro, cerca de 15m³/seg. para a bacia
do Rio Tietê, sem prejuízo para o vale do Paraíba.
Assim os recursos do Tietê superior poderiam ser aumentados, de futuro, com um
contingente de 1.296.000.000 lts/dia, que serviriam, não só para o abastecimento de
água da Capital, como ainda, depois de refluídos pelos esgotos, para a produção de
energia elétrica.
A julgar por esta transcrição, o tema tratado
há aproximadamente 57 anos já inquietava os
envolvidos num alto grau de preocupação com
o planejamento de cenários futuros, com rela-
ção à busca adequada de mananciais.
Hoje, havemos de convir, que essas preocupações foram relegadas a um segundo plano. ■
Saneas / junho 2003 – 43
Novidades
Novidades
A revista digital Águaonline (www.aguaonline.com.br )
traz informações sobre água, saneamento e meio ambiente,
tanto para a comunidade técnica e especialistas da área
quanto para a população em geral, como opção às informações veiculadas pela imprensa tradicional ou para aprofundamento acerca dos temas.
O conteúdo é renovado a cada semana e oferece informações regionais, nacionais e internacionais sobre saneamento,
meio ambiente, legislação, empresas e produtos. Além das
notícias sobre impactos ao meio ambiente, destaca aquelas
referentes às políticas, programas, ações e investimentos na
área ambiental. Traz também links e endereços de sites da
área e conta com opções para interatividade com o leitor.
O site existe há mais de dois anos e já conta com cerca de
16 mil leitores cadastrados e uma média mensal de 1 milhão
de visitas às suas páginas.
Surgido em janeiro de 2000 e auto-intitulado como “o
primeiro portal do setor de saneamento básico no Brasil”
e “a maior comunidade de saneamento básico da Internet”,
o Saneamento Básico ( www.saneamento basico.com.br ) é
uma opção de informação e conteúdo para os profissionais
do setor no país. Os cerca de 260 mil visitantes mensais têm à
disposição 10GB de informações armazenadas e em torno de
7 mil notícias fornecidas por mais de 200 veículos de comunicação. Além dos tradicionais consulentes, o portal atende
um público diversificado em órgãos públicos, instituições
financeiras, escritórios de advocacia e empresas públicas e
particulares do setor de saneamento.
Do mesmo autor de Xingu, o
livro A Década do Impasse: da
Rio 92 à Rio + 10, do jornalista
Washington Novaes, uma co-edição
da Estação Liderdade e Instituto
Socioambiental, traz a evolução do
pensamento ambiental na última
década. É uma coletânea dos mais
de 400 artigos que o autor escreveu
para grandes jornais brasileiros,
entre 1992 e 2002. Consiste na análise e reflexão sobre os temas tratados nos grandes eventos internacionais de meio ambiente,
como a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento Humano (Rio 92) e a Cúpula Mundial
de Desenvolvimento Sustentável (Rio+10). Questões como o
uso dos recursos naturais, mudanças climáticas, saneamento,
energia, lixo, transgênicos, comunidades indígenas, grandes
ecossistemas brasileiros, biodiversidade, política e tecnologia
ambientais são analisadas simultaneamente, sustentadas em
informações e dados acumulados na trajetória profissional
do autor que, além de jornalista, comentarista, editor e
consultor em diversos veículos de comunicação, colaborou
no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
na sistematização da Agenda 21 Brasileira e foi secretário de
44 – Saneas / junho 2003
meio ambiente do Distrito Federal.
O livro Esgoto Sanitário: Coleta, Transporte, Tratamento e
Reúso Agrícola foi elaborado por um grupo
de professores da Faculdade de Tecnologia de
São Paulo - FATEC,
sob a coordenação de
Ariovaldo
Nuvolari.
Reúne, em 520 páginas,
os principais aspectos
hidráulicos, sanitários e
ambientais dos sistemas
de esgotamento sanitário, como a legislação, resoluções e
normas vigentes, a preparação e a execução de obras de
rede coletora, as diversas opções de tratamento, o controle de odores, a desinfecção de efluentes das estações de
tratamento, os impactos ambientais dos lançamentos in
natura e a modelagem dos poluentes orgânicos em corpos
d`água superficiais. Além destes temas, destaca os aspectos da utilização de corpos d`água receptores de esgoto na
irrigação de culturas agrícolas.
Reconhecimento
Reconhecimento
Julieta Mascitti
N
asceu em São Paulo; Bacharel em Biblioteconomia, atuou na biblioteca da SABESP
durante 18 anos até a sua aposentadoria em
1994.
Profissional de carreira, reorganizou o
acervo da biblioteca, resultante da fusão da
COMASP e SANESP.
Participou de Grupo de Trabalho da APB
- Associação Paulista de Bibliotecários na área
de engenharia para troca e aplicação de experiências.
Preocupada na recuperação da informação,
elaborou manualmente o índice alfabético de
título dos artigos técnicos da REVISTA DAE,
juntamente com as bibliotecárias do DAEE e
CETESB, publicado na mesma revista, v. 48,
nº 152, p. 66-88, jul./set. 1988.
Seu trabalho foi decisivo para manter o
acervo de nossa biblioteca, enriquecendoo com a produção intelectual da própria
SABESP, tais como teses, dissertações, manuais
de treinamento e operação.
Quem trabalhou e teve a felicidade de se relacionar com a D. Julieta, pode testemunhar com
certeza, a importância de seu trabalho na manutenção da qualidade e no profissionalismo que
hoje é patente na Biblioteca Central da SABESP.
Soube plantar boas sementes, soube cultivar boas atitudes e exemplos suficientes para
fazer frutificar uma área que é referência no
saneamento nacional.
Mestre e companheira, basta conhecer o trabalho e a dedicação de quem teve a sorte de conviver profissionalmente com a mesma, a Adéria,
a Beth, a Ana Maria, a Sofia e a Carmen.
Atualmente a biblioteca da Sabesp aceita pedidos de empréstimos por correio, e.mail e telefone e, para o
pessoal da SABESP, as solicitações podem ser feitas também pela INTRANET. A biblioteca é aberta ao público
e funciona de segunda a sexta-feira, das 8:00 às 17:00h, e para o pessoal que não é da SABESP é possível
solicitar livros através de outra biblioteca (empréstimo entre bibliotecas). Endereço: Av. do Estado, 561 Ponte Pequena; CEP - 01107-900, São Paulo, SP; tel.: 3388.7350 / 3388.7351 / 3388.7352; fax.: 3388.7352
e-mail: [email protected]
Saneas / junho 2003 – 45
Cafezinho
Cafezinho
HORIZONTAIS
1. Ato de proteger, contra a destruição e qualquer forma de
dano ou degradação, um ecossistema, uma área geográfica definida ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção
3. Separação física entre um composto e um fluido, por
ação da gravidade
7. Originado fora de um organismo
8. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis
10. Processo de diminuição de concentração de um composto ou substância, num determinado volume, que pode
ocorrer por processos físicos, químicos ou físico-químicos.
11. Variedade da qualidade encontrada em um ambiente ou
numa população
14. Conselho Nacional do Meio Ambiente
15. Esquema de uma organização onde se assinalam as
disposições e inter-relações das suas unidades constitutivas
17. Ato de um animal matar o outro com o objetivo de
alimentar-se
2
1
4
3
5
7
8
9
10
11
12
13
15
14
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Solução
26
46 – Saneas / junho 2003
VERTICAIS
1. Ato ou efeito de planejar
2. Motivo ou indício que presume a possibilidade de um
fato (est.)
4. Variação recorrente num sistema que o faz retornar
periodicamente ao seu ponto de partida
5. Decomposição de um material em componentes mais
simples por organismos vivos
6. Degradação da qualidade ambiental em decorrência
de atividades que prejudiquem a saúde e o bem estar da
população, a fauna, a flora e outros recursos naturais
9. Distância vertical entre um ponto determinado e um
nível de referência
12. Processo do enriquecimento das águas por nutrientes que alimentam o crescimento vegetal
13. Conjunto de ações e medidas que visam a melhoria
da saúde e conforto humanos, assim como a proteção dos
sistemas ecológicos e recursos naturais
14. Caracterizada pelo racionalismo, conduz a uma visão
mecanicista da natureza; doutrina de René Descartes
16. Gerir, dirigir ou administrar
17. Instrumento básico da política de desenvolvimento e
de expansão urbana, obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes
18. Época de águas baixas nos leitos dos rios; à situação
oposta dá-se o nome de cheia
19. Quebra de compostos orgânicos nitrogenados por
microrganismos, produzindo nitratos e nitritos
20. Organismo que vive no interior de um outro, chamado
hospedeiro, ou sobre ele, obtendo os nutrientes a partir dele
1. Preservação; 2. Probabilidade; 3. Decantação; 4. Ciclo; 5. Biodegradação; 6.
Poluição; 7. Exógeno; 8. IBAMA; 9. Cota; 10. Diluição; 11. Heterogeneidade; 12.
Eutroficação; 13. Saneamento; 14. CONAMA; 15. Organograma; 16. Gerenciar;
17h. Predação; 17v. planodiretor; 18. vazante. 19h. Nutriente; 19v. nitrificação;
20 parasita; 21. Transmissão; 22. Cenário; 23. Extinção; 24. Enchente; 25. Paradigma; 26. Higrófilo.
6
19. Qualquer uma das substâncias do ambiente utilizada
pelos seres vivos para seu sustento
21. Comunicação ou movimento de um órgão ou mecanismo para outro
22. Construção teórica ou experimental, simulando
eventos ou situações reais, de modo a estudar seu desenvolvimento e conseqüências
23. O fim de uma linhagem de organismos
24. Grande cheia que ocorre nos rios
25. Modelo de interpretação da realidade; verdade estabelecida; filosofia básica que norteia as ações de uma sociedade
26. O que vive em lugares abundantes em água
AESabesp realiza XIV Encontro Técnico
A
Associação dos Engenheiros da
Sabesp - AESABESP realiza nos
próximos dias 5 , 6 e 7 de Agosto o seu
XIV Encontro Técnico e a XIV FENASAN- Feira Nacional de Materiais e
Equipamentos para Saneamento.O objetivo é promover o intercâmbio de novas
tecnologias e conhecimentos relativos ao
Saneamento e Meio Ambiente entre os
profissionais da SABESP - Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo,profissionais do setor público e
privado nacional e internacional e instituições de ensino.
O Encontro Técnico deste ano, cujo
tema é: “ÁGUA AO ALCANCE DE
TODOS “ , será realizado no Pavilhão de
Exposições Amarelo do EXPO CENTER
NORTE , que dispõe de uma área de 8.500
m², e abrigará também a FENASAN, feira
que procura apresentar produtos e serviços destinados ao saneamento básico e
preservação do meio ambiente.
Maiores informações, bem como as
fichas para inscrição, podem ser obtidas
no site: www.aesabesp.com.br
Agradecimentos
Paulo Massato Yoshimoto
Ricardo Guilherme de Araújo
Osvaldo Ioshio Niida
Nelson Rodrigues Nucci
Luiz Yukishigue Narimatsu
Wanderley Wesley Shouga Mendes
Odair Marcos Faria
Francisco Costa
Maria Lúcia dos Santos Tiballi
Aderia Tomoe Shintani
Antonio Carlos Basic Kravosac
Lucina R. Cortez
Thais Ferreira Lima

Documentos relacionados