pernambuco de olho no turista

Transcrição

pernambuco de olho no turista
Ano 10 - nº 116 - novembro 2015 - www. revistaalgomais.com.br
R$ 10,00
PERNAMBUCO
DE OLHO NO
TURISTA
Com a alta do dólar, aumentam as perspectivas
para o turismo interno
Algomais • Novembro/2015
1
2
Algomais • Novembro/2015
Algomais • Novembro/2015
3
Prioridade na educação traz sempre bons resultados.
4
Algomais • Novembro/2015
Algomais • Novembro/2015
5
editorial
EDIÇÃO 116
O outro lado da moeda
CAPA
Oportunidades no turismo
Diz a sabedoria popular que em tudo na vida há o lado bom e o ruim. E com a atual
crise que o País atravessa não é diferente. Óbvio que o ideal seria usufruirmos de
uma economia em crescimento, com altas taxas de emprego e produtividade, além
estabilidade política. Mas a percepção – que virou até um certo clichê – de que situações
problemáticas podem gerar preciosas oportunidades é um fato incontestável.
E é justamente essa a perspectiva do turismo em Pernambuco. Com o dólar em alta,
muitos brasileiros estão guardando o passaporte e revertendo seu roteiro de férias
para dentro do País. A boa notícia, revelada pela matéria de capa desta edição, é que
o nosso Estado desponta como um dos locais prediletos de muitos turistas brasileiros.
Segundo o site Viajanet, é o destino nacional preferido pelos paulistas.
O momento mostra-se também oportuno para conquistar os visitantes estrangeiros.
Assim, em plena crise, será possível consolidar Pernambuco como destino turístico
e criar condições para que, no futuro, continuemos a receber muitos turistas,
independente do câmbio.
E falando em futuro, cada vez mais especialistas apontam como urgente a melhoria
da educação no País. Ciente disso, a Algomais tem contribuído para o debate sobre
as soluções para a melhoria do ensino. Nesta edição trazemos análises sobre a
necessidade de valorização do professor, feitas pelo pesquisador João Batista Oliveira
– que foi palestrante convidado pela revista e a TGI no evento Pernambuco Desafiado
– e pelo diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves.
Trazemos ainda novidades interessantes no campo educacional como as novas formas
de intercâmbio e o sucesso dos alunos da rede municipal que ganharam a Olimpíada
Nacional de Robótica.
O leitor fará também um passeio com o maestro Mozart Vieira por Belo Jardim,
cidade abordada na série Algomais Visita, assinada por Wanessa Campos. Também
conhecerá detalhes da vida e obra de João Pernambuco, parceiro de Pixinguinha e
Catulo da Paixão Cearense, que é retratado no texto primoroso de Marcelo Alcoforado.
Boa leitura!
@revistaalgomais
facebook.com/revistaalgomais
Cláudia Santos - Editora Geral
[email protected]
Alta do dólar motiva os brasileiros a
viajarem pelo País. 16
EDUCAÇÃO
Docência em debate
Especialistas defendem que é
necessário valorizar a carreira do
professor. 26
INTERCÂMBIO
Experiências no Exterior
Cursos de curta duração e estágios
são alternativas para os alunos. 28
ALGOMAIS VISITA
Belo Jardim
Maestro Mozart Vieira apresenta
os atrativos naturais e culturais do
município no Agreste. 34
E MAIS
Entrevista
10
Economia /Jorge Jatobá
25
Arruando pelo Recife e Olinda
38
Baião de Tudo / Geraldo Freire
44
João Alberto
46
Memória Pernambucana
48
Última Página/ Francisco Cunha
50
Edição 116 - 13/11/2015 - Tiragem 12.000 exemplares
Capa: Rivaldo Neto - Foto: Juarez Ventura
Uma publicação da SMF- TGI EDITORA
DIRETORIA EXECUTIVA
Sérgio Moury Fernandes
[email protected]
Ricardo de Almeida
[email protected]
DIRETORIA COMERCIAL
Luciano Moura
[email protected]
CONSELHO EDITORIAL
Alexandre Santos, Armando Vasconcelos,
Doryan Bessa, Luciano Moura, Mariana de Melo,
Raymundo de Almeida, Ricardo de Almeida,
Sérgio Moury Fernandes e Teresa Sales.
6
Av. Domingos Ferreira, 890, sala 805 Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE - Fone: (81) 3126.8181 . www.revistaalgomais.com.br
REDAÇÃO
Fone: (81) 3126.8156/Fax: (81) 3126.8154
[email protected]
FOTOGRAFIA
Juarez Ventura
EDITORIA GERAL
Cláudia Santos (Editora)
Roberto Tavares (Consultor Editorial)
ASSINATURA
[email protected]
Fone: (81) 3126.8161
[email protected]
REPORTAGENS
Cláudia Santos
Rafael Dantas
Camila Moura (Estagiária)
EDITORIA DE ARTE
Rivaldo Neto (Editor)
Caroline Rocha (Estagiária)
Algomais • Novembro/2015
PUBLICIDADE
Engenho de Mídia Comunicação Ltda.
Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808
Boa Viagem 51110-050 | Recife/PE
Fone/Fax: (81) 3126.8181
[email protected]
Os artigos publicados são de
inteira e única responsabilidade
de seus respectivos autores, não
refletindo obrigatoriamente a
opinião da revista.
AUDITADA POR
Nossa Missão
Prover, com pautas ousadas, inovadoras
e imparciais, informações de qualidade
para os leitores, sempre priorizando os
interesses, fatos e personagens relevantes de
Pernambuco, sem louvações descabidas nem
afiliações de qualquer natureza, com garantia
do contraditório, pontualidade de circulação
e identificação inequívoca dos conteúdos
editorial e comercial publicados.
Algomais • Novembro/2015
7
ESCREVA PARA
[email protected]
cartas
ONLINE
www.revistaalgomais.com.br
Um privilégio para mim fazer parte da edição.
Meu muito obrigado pela atenção.
Carlos Sinésio
Algomais visita
Recebi a revista, que está muito boa.
A matéria ficou ótima. Um privilégio
para mim fazer parte da edição. Meu
muito obrigado pela atenção. Obrigado também a todos os que fazem a
Algomais. Saudações.
Carlos Sinésio – Recife
Preservação
Compartilho da beleza arquitetônica e da história que encontramos no prédio e na
praça da Facvuldade de Direito do Recife, como destacou a matéria da Algomais
de Agosto de 2015, "Uma casa de muitas histórias". Cabe destaque também a falta
de conservação de sua fachada e de sua praça: o que não se conserva se acaba.
Rui Alencar - Recife
Pesqueira
Se a revista Algomais já vinha esbanjando prestígio a cada edição, em seu número mais recente ela alcançou o alto da glória. E isso se deve a uma matéria de
exuberante qualidade, de texto impecável e de imensurável valor econômico-cultural. A apresentação da cidade de Pesqueira foi exaltada pelo fenomenal
jornalista Carlos Sinésio, que ali redigiu seus primeiros poemas e sonetos, como
entrevistado nessa matéria por Wanessa Campos.
Jomar Ferreira Netto - Recife
8
Algomais • Novembro/2015
Personagens
Muito significativas e oportunas as
matérias sobre o Garoto de ouro Paulo molim; o Fábio, da Passa disco; e a
do grande mestre do Rádio e TV, Jorge
José. Parabéns a todos.
Renato Phaelante – Recife
Errata
O texto “Centenário de Antonio Bezerra
Baltar”, publicado na edição de outubro, foi produzido por Luiz Antônio de
Andrade Baltar.
Algomais • Novembro/2015
9
entrevista
MARIETA BORGES Pesquisadora fala sobre sua vida
seu trabalho em prol do arquipélago pernambucano
“COMO A HISTÓRIA
DE NORONHA FICOU
ESCONDIDA!”
Entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas
Marieta Borges é historiadora, escritora e professora. Por décadas desbravou a história de Fernando de Noronha, que resultou na grande obra
da sua vida. É também poetisa e tem
vocação para percussionista. Nesta
entrevista à Algomais, ela fala sobre
suas origens, produções e sua luta
contra o câncer. Já venceu a batalha
contra dois tumores. Hoje enfrenta o terceiro. Mas a julgar pelo vigor
demonstrado nesta conversa - que
terminou com uma "canja" da pesquisadora, tamborilando na mesa da
sua sala um frevo em homenagem ao
arquipélago - certamente ganhará
mais esse combate.
Você nasceu aqui no Recife?
Sim, na Rua da Concórdia, a rua do
Galo da Madrugada. Meu pai tinha
uma fábrica de placas. Foi ele quem
trouxe a produção de placas para carro para o Brasil. Ele era português. A
produção acabou quando ele morreu.
Morávamos em cima da casa e embaixo era a fábrica.
Como começou sua relação com a música?
Meu irmão era o maestro Fernando
Borges. A gente fazia cantorias todos
10
Algomais • Novembro/2015
os dias em casa. Papai com a guitarra
portuguesa, ele com o violino, minha
irmã mais velha com o piano e eu na
percussão. Nascemos todos no Recife,
menos a mais velha, que nasceu em
Belém. Meu pai veio direto para Belém e de lá veio para cá. Minha mãe
também é paraensse. Meu marido
cantou 22 anos no Coral do Carmo do
Recife. A primeira coisa que eu pedi
a ele quando fiquei noiva foi que entrasse no coral. Foi meu presente do
Dia dos Namorados.
Como era o Carnaval daquela época?
Caminhávamos pela rua fantasiados,
minhas irmãs, meus vizinhos. No Recife, meu irmão inventou o Esperando O Galo, palco montado na Ponte
Duarte Coelho, de 8 da manhã até o
Galo chegar. Era uma maravilha! Tínhamos o direito de subir no palco,
ficar um pouco em cima olhando. Era
impressionante.
Você também faz poesias?
Tenho quatro livros de poesia. O primeiro eu lancei quando trabalhava
no colégio Santa Maria: As Muitas Faces do Bem Querer. Tem poema para
todo mundo que passou pela minha
vida. Seguindo esse mesmo jeito lancei o segundo: Natal Sempre, só com
poemas de Natal. Foi prefaciado pelo
Monsenhor Bezerra. Depois reuni grande parte do que havia feito e
apresentei às edições Paulinas, que
fizeram um calendário poético com o
nome de Catando Amor o Ano Inteiro.
O prefácio é de Dom Hélder. Ele escreveu que no livro há versos verdadeiramente "marietanos". (risos). Há
mais de 10 anos declamo esses poemas na rádio Olinda, todo domingo.
O último livro de poemas foi lançado
pela editora Catolicanet.
Você se formou em história?
Não. No tempo em que estudei o curso
de história não era reconhecido. Fiz
pedagogia e depois fiz seis meses de
especialização. Tenho a autorização
do MEC para lecionar história. Comecei a trabalhar com as disciplinas do
magistério e o enfoque principal era a
didática dos estudos sociais, que entrava geografia e história. Nessa brincadeira, ensinei em vários colégios.
Como começou sua relação com Fernando de Noronha?
Fui uma das pessoas chamadas para
Tenho quatro
livros de poesias.
Tem poema para
todo mundo que
passou pela minha
vida. Há mais de 10
anos eu os declamo
todos os domingos
pela manhã através
do rádio"
participar do curso primeiro e único
de suplência profissionalizante em
regime de magistério em Fernando de
Noronha, quando não tinha ninguém
formado. Todo mundo terminava o
ginásio e passava a ser professor, sem
saber de nada. Daí foi feito um convênio com a Secretaria de Educação,
que passou a indicar pessoas com experiência de magistério. Fui uma das
indicadas para dar algumas didáticas.
Foi uma paixão tão grande a ida e a
descoberta, que acabei retornando
várias vezes para ensinar didática
geral, didática da linguagem, ensinei
a alfabetizar. Ficava 15 dias, porque
não podia ficar o tempo todo.
Como foi que se interessou pela história da ilha?
Quando eu pegava as professorandas
do Santa Maria, Agnes ou IEP, eu levava essas meninas para conhecer,
como se fosse hoje, o Instituto Brennand e a Oficina de Ricardo Brennand. Na época, a gente ia onde era
possível. Quando eu quis fazer isso
em Fernando de Noronha, pedi para
me dizerem um resumo da história da
ilha. Então me deram uma folha de
papel com os tópicos: os franceses viveram aqui, ponto. E dai? Os holandeses viveram aqui. E dai?
Não existia a história da ilha?
Não! Prometi que faria um livro que
seria o livro texto deles. Esse é o livro
da minha vida (Fernando de Noronha
Cinco Séculos de História). Tem 555
páginas e tem 511 fotografias. A ilha
foi descoberta na expedição em que
estava Américo Vespúcio que che-
gou lá como representante do fidalgo
Fernão de Loronha, que nunca veio
aqui. Ele ganhou a capitania, porque foi quem financiou a expedição.
É o poder econômico. Abandonada,
a ilha foi invadida por muita gente
como os franceses. Fui à França atrás
de informações, porque a França invadiu a ilha, depois em 1927 instala
a Compagnie Générale Aéropostale,
precursora da Air France. O grande
aviador Mermoz sofreu um acidente
lá, por causa disso, se fez a primeira
pista de pouso em Fernando de Noronha em 1934. Fui a Air France do
Rio de Janeiro. O diretor não sabia da
ligação da empresa com Fernando de
Noronha e disse para eu procurar a
Maison de France no Rio. Lá me deram pistas inclusive do antigo aviador
que havia resgatado a história da Air
France e publicado duas obras. Aviadores famosos estiveram em Noronha, inclusive Saint–Exupéry (autor
de O pequeno príncipe). No livro também tem a cronologia da presença
holandesa. Foi a primeira. Eles viveram por 25 anos lá. E isso não se ensina no continente. Ninguém sabe.
Como descobria essas informações?
De várias maneiras. Uma vez cheguei no Bandepe, e o gerente me
Algomais • Novembro/2015
11
entrevista
MARIETA BORGES
cumprimentou dizendo: “Oh, minha
musa de Fernando de Noronha”. Então, outro cliente atrás de mim falou:
"minha mulher nasceu lá". Virei para
ele e perguntei: nasceu lá por que? Ele
disse que o pai dela foi diretor do telégrafo submarino francês. Era a pintora
Délia Aguiar, que morava em Olinda e
eu, na época, também. Quando entrei
na casa dela estava esta foto na parede
(mostra foto do Zeppelin sobrevoando
a ilha) tirada pelo seu pai. Fiquei emocionada, ficamos chorando feito duas
bestas (risos).
O livro também mostra artistas que
pintaram Noronha, não é?
Sim. Mostra quem pintou Noronha e
porque pintou. Tem Debret, Luiz Jasmim, Tereza Costa Rego, entre outros. Eu ganhei telas de um cidadão
que passou por lá e pintou o antigo
armazém de produtos agrícolas. Ele
me doou essas telas e disse guarde,
quando houver um espaço cultural
em Fernando de Noronha, você coloca. Eu guardei anos na minha casa.
Meu marido ameaçava fazer uma fogueira porque era coisa demais (risos). E na hora de inaugurar o memorial, nós colocamos isso dentro do
navio, tudo bem embalado e o navio
(Iracema) afundou.
O que mais se perdeu no naufrágio?
Tudo que estava lá. Inclusive os tapetes do memorial, livros. Um desses
livros eu tive a maior dificuldade para
encontrar. Era de Pereira da Costa.
Antes de mandar para para colocar no
acervo do memorial, eu xeroquei tudinho. Foi a minha sorte. O naufrágio foi
em 1998. A gente quase enlouqueceu
dentro da ilha. A gente lá esperando,
terminando de preparar as coisas. Aí,
chega a notícia que o navio afundou.
A pesquisa durou quanto tempo?
Comecei 1974. Fui juntando pedaços
e as coisas foram crescendo. Primeiramente, guardava esse material na
minha casa, porque eu não estava
ligada a órgão nenhum. Eu era professora de seis escolas diferentes.
Depois de muito tempo criou-se na
Universidade Federal de Pernambuco, o projeto Esmeralda, que era de
apoio educacional ao território de
Fernando de Noronha. Era militar.
12
Algomais • Novembro/2015
Aí, eles foram me buscar. Eu transferi
meu cargo do Estado, fiquei à disposição da universidade, em 1984. Em
1988, a ilha volta para Pernambuco.
Nesse ano Cláudio Marinho interinamente foi o primeiro administrador
e, em seguida, foi Roberto Pandolfi.
A primeira pessoa que ele chamou
para trabalhar fui eu. Então levei meu
cargo do Estado para a administração
de lá, onde estou até hoje. Teve dois
Eu comecei a
pesquisa em 1974. Foi
quando fui a primeira
vez para Fernando de
Noronha. A publicação
do livro aconteceu
apenas em 2013
períodos que eu saí para ser secretária
de Educação em Olinda. Amo Olinda
também. A publicação do livro sobre
a ilha aconteceu em 2013.
Quando recebeu o diagnóstico de câncer?
Tive o primeiro câncer em 2004, o segundo em 2007, o terceiro em 2015.
Cada um diferente do outro. Os dois
primeiros de mama. Fiz inclusive recomposição da mama, porque o primeiro foi muito agressivo. Ano passado me sentia ótima, apesar de ter
pulado duas fogueiras. Em abril deste
ano descobri o câncer de pâncreas.
Não tenho mais pâncreas, foi removida também uma parte do fígado. Mas
as sequelas ficam. Com esse tratamento, tive erisipela e perdi 6,5 quilos.
Mas ainda trabalha?
Trabalho no Escritório de Fernando
de Noronha, que fica no Centro do
Recife. Mas a gente vai sair para perto
da Casa da Cultur, no prédio que era
da Rede Ferroviária do Nordeste.
Além do livro, o que mais foi feito?
Em 2012, a gente começou a imaginar a ampliação e melhoria do Memorial Noronhense. No final do ano,
a gente inaugurou as melhorias todas.
Com uma roupagem nova. Ao conhecer o local, a antiga cônsul dos
Estados Unidos disse: “Meu Deus,
esse é o lugar mais bonito de Fernando de Noronha!” Todo de painéis.
Tudo iconográfico, com tradução em
inglês. Lá você vai caminhando no
tempo. Mostrei para ela a presença
americana em Noronha. Ela disse que
não sabia que havia essa força americana na ilha.
Quais os planos futuros?
A gente está lutando (tomara que o
novo administrador dê corda), para
ampliar o Memorial, reformando algumas ruínas para instalar quadros
dos artistas plásticos. Só de Luiz Jasmim são 10 telas em grandes formatos. A última vez que soube delas, era
que estavam encostadas no almoxarifado. Também estamos fazendo uma
galeria de dirigentes de Fernando de
Noronha. Tem também um projeto
sobre a história do monumento português, que fica na frente ao Palácio
São Miguel. Ele foi doado pelo governo português para comemorar os 25
anos da primeira travessia de hidroavião entre Portugal e Brasil feita por
Gago Coutinho e Sacadura Cabral. A
primeira parada deles foi em Fernando de Noronha.
Fernando de Noronha tem muita história.
Incrível como ficou escondida tanto
tempo!
Leia Mais. Veja mais conteúdo sobre
Marieta Borges no site:
www.revistaalgomais.com.br
Muitos problemas parecem
complicados e sem solução.
Até chegarem a nossas mãos.
A Deloitte é referência em consultoria e auditoria no Brasil e no mundo. E isso é
resultado do esforço para encontrar as melhores soluções de negócio e de
seu comprometimento com o desempenho de seus clientes. Isso é o que faz
a Deloitte ser líder. Isso é o que faz a Deloitte ser a Deloitte.
Siga-nos
©2013 Deloitte Touche Tohmatsu
Novo Endereço:
Rua República do Líbano 251, 28º andar | Rio Mar Trade Center | Torre B | Pina Recife/PE | CEP 51110-160 | PABX: +55 (0)81 3464.8100
Algomais • Novembro/2015
13
PENSANDO BEM
PEDRO CAVALCANTE
A ética da violência
Engenheiro
[email protected]
“Fé na vida, fé no homem, fé na
mulher, fé no que virá. Vamos lá fazer
o que será”.
O
(Gonzaguinha)
preceito ético legado pelos filósofos da antiguidade está em completa
desagregação. Os valores
morais cederam lugar à
cultura da busca de interesses puramente pessoais em detrimento ao coletivo, à prática do levar vantagem, à
cultura da violência. O justo e o injusto,
o violento e o não violento, o humano e
o desumano, dispensam fundamentos
racionais para determinar o modo de
agir e avaliar as ações do outro.
Os apelos humanitários caíram no
vazio. A lógica da brutalidade nivelou por baixo os sentimentos. Valores
como compaixão, consideração, solidariedade ou responsabilidade diante
do semelhante desapareceram do vocabulário. Todos se sentem vulneráveis, vivem sob o temor da represália.
Os opressores se tornaram dispostos a
oferecer carta aberta para os bandos de
extermínio fazer o que quiserem.
A disseminação da violência se
multiplica, a difusão da cultura das
drogas encontra campo fértil, a pobreza e a miséria se aprofundam, a
corrupção moral é difundida intensamente. Há o declínio da consciência cívica, há fragilidade do sistema político,
econômico e social. O meio ambiente
agredido compromete a própria sobrevivência do planeta. A desesperança se
avoluma.
O que fazer para reverter situação
tão dramática?
Devemos expressar nossa indignação. Todos podem remar contra essa
maré de desenganos. Cada um deve
fazer a sua parte alimentada pela ética
do fazer o “bem comum”, sem qual-
14
Algomais • Novembro/2015
É preciso ter coragem, persistência e não perder
a esperança. Se a sociedade promove a violência
é hora, pois, de responder com a cultura da paz.
quer tipo de exclusão. Cada um deve
compreender que o diálogo, o respeito
ao próximo e a celebração da diversidade ainda são os melhores meios para
evitar conflitos, aproximar homens e
mulheres e resgatar a ética do bem e da
virtude apregoada pelo filósofo Aristóteles que já ensinava: “O bem maior
que buscamos não se encontra no mercado - a própria felicidade”.
Um novo horizonte no processo de
desenvolvimento social, onde predomine a liberdade no mundo espiritual/
cultural; a fraternidade no mundo econômico e a igualdade no mundo político/jurídico, poderá surgir quando os
gestos se multiplicarem e se questionar a normalidade que virou loucura.
Quando se estimular o desejo de melhorar a humanidade e de se construir
uma sociedade que assuma cuidar de si
mesmo à medida que um cuida do outro e de tudo.
É preciso ter coragem, persistência
e não perder a esperança. Se a sociedade promove a violência é hora, pois,
de responder com a cultura da paz. Se
ela ensina a explorar, é hora de servir.
Se ela promove a discordância, vamos
estimular a fraternidade. E assim quem
sabe, responderemos como Medeia,
quando o sábio lhe perguntou no meio
das ruínas desoladamente:
- E agora Medeia, o que resta? Levaram tudo.
Ela respondeu com serenidade: Como o que resta? Resta tudo! Resta-me. Eu estou aqui.
Sim. Restamos nós. Juntos, somos
infinitamente mais. Mudar, transformar para que amar seja a regra e não
mais exceção.
UM BOTECO
QUE NUNCA
FECHA.
´
NO MAXIMO,
MINIMIZA.
Seu
boteco
na
.pitu.com.br internet.
lojaonline
Algomais • Novembro/2015
15
capa
A hora de vender os
destinos de PE
Aumento no interesse pelo Recife, Fernando de Noronha e
Porto de Galinhas já é percebido pelas agências de viagens
C
om a alta do dólar, um dos setores que ganha força – mesmo
em meio à crise – é o do turismo. O câmbio desfavorável
para viajar ao exterior faz com que os
brasileiros voltem os olhos com mais
carinho para os destinos nacionais. E
os pernambucanos para o interior do
Estado. Além desse público interno, a
desvalorização do real torna as cidades
turísticas brasileiras atrativas para os
gringos. E nessa disputa pela clientela,
Pernambuco está bem posicionado.
Segundo pesquisa realizada pelo
Ministério do Turismo, 73,2% dos brasileiros preferem conhecer uma cidade no
Brasil, sendo que 45,1% deles escolheriam ir para o Nordeste. Outro estudo,
encomendado pelo site Viajanet, apontou o Recife como o destino nacional
mais desejado pelos paulistas na hora de
decidir viajar. Apenas Nova York e Miami tiveram índices maiores de interesse
por parte dos viajantes do Estado mais
populoso do País. O site Hotel Urbano
também registrou no primeiro semestre
do ano um aumento de viajantes para
Pernambuco de 45%, a maioria interessada em Porto de Galinhas, seguido pela
capital e por Fernando de Noronha.
Frente às restrições financeiras,
além de optar pelos destinos nacionais,
os brasileiros têm feito ajustes, como
16
Algomais • Novembro/2015
Foto: Rivaldo Neto
Rafael Dantas
NORONHA. O ARQUIPÉLAGO SEGUE COMO
O DESTINO PREFERIDO DOS TURISTAS
ESTRANGEIROS. ALTA DO DÓLAR COLABORA
PARA ATRAÇÃO DE VISITANTES DE OUTROS
PAÍSES PARA PERNAMBUCO
reduzir a quantidade de dias de viagem e escolher opções menos onerosas
de lazer. Essa é a avaliação da diretora
da agência Pontes Tur, Kathia Pontes.
“As viagens ao exterior diminuíram
muito. Muitos brasileiros que planejavam passar o reveillón em Buenos Aires, por exemplo, hoje querem vir para
Pernambuco. Avaliamos que nossos
destinos se tornaram mais conhecidos
e divulgados após a Copa do Mundo”,
destacou. O arquipélago pernambucano segue como favorito dos estrangeiros que vêm para o Estado.
Para o secretário de Turismo de
Pernambuco, Felipe Carreras, além da
questão do câmbio, que favorece todos
os destinos nacionais, há um cenário favorável para o Estado que foi construído nos últimos anos. Ele aponta que a
política de incentivo a novos voos para
o Aeroporto Internacional dos Guararapes, através da redução do ICMS sobre
o querosene da aviação, surtiu efeitos.
“Isso incrementou a quantidade de voos
PORTO DE GALINHAS. BALNEÁRIO FOI O MAIS PROCURADO EM PESQUISA DO HOTEL URBANO
CARRERAS. SECRETÁRIO DESTACA QUE INCREMENTO DE NOVOS VOOS TEM DADO RESULTADO
para Pernambuco. Outras rotas ainda
virão como fruto desse benefício fiscal”.
Carreras mencionou rotas como um
novo voo para São Luiz, através da Gol;
e voos da Azul para Aracaju e para o interior do Ceará, que são destinos emissores. De olho no interesse do turista
oriundo de São Paulo para os destinos
pernambucanos, o secretário comemora também parcerias com essas companhias em voo charter desse que é o principal emissor de viajantes para o Estado.
Os voos internacionais também sinalizam o bom momento para o turismo no País. A rota Recife-Buenos Aires
tem alcançado uma ocupação média
de 90%, sendo 80% de argentinos. Há
uma movimentação do Governo do Estado junto a Tam e as operadoras de turismo para conseguir outra frequência
semanal para a capital argentina. Uma
conquista mais recente, lembrada por
Carreras, é o voo para o Cabo Verde, que
possui conexões para Amsterdã, Paris e
Lisboa.
Além das articulações com as companhias aéreas, o Estado terá um investimento em publicidade nos principais
destinos emissores de turistas do exterior para o Brasil. As ações serão em
outdoor, revistas e mídias digitais em
cinco países: Itália, Espanha, Alemanha, França e Portugal. Essa ação será
realizada em parceria com a agência que
desenvolve as peças da TAP, com um investimento previsto de 200 mil euros.
Os recursos são provenientes de uma
promessa de auxilio do Governo Federal
aos Estados do Nordeste para essa finalidade.
Algomais • Novembro/2015
17
ANÁLISES. CAMILO SIMÕES DIZ QUE AÇÃO
INTEGRADA COM MUNICÍPIOS DA RMR TEM
COMO OBJETIVO AMPLIAR O TEMPO DE ESTADIA DOS TURISTAS. ANA PAULA, DA EMPETUR,
DESTACA QUE O RECIFE DEIXOU DE SER
VENDIDO APENAS COMO "SOL E MAR"
Se as conexões aéreas estão em alta,
a falta de opções de cruzeiros é um fator
que tem feito o Estado perder turistas.
De acordo com Kathia Pontes, esse é um
dos mercados que mais tem crescido
nesse período de crise. “Temos vendido
muitos pacotes para cruzeiros marítimos nacionais. A maioria deles segue de
Santos para o Rio de Janeiro. O turista
percebeu que o cruzeiro tem um custo
benefício muito bom”, afirmou. Os preços desse tipo de viagem são reduzidos
pelo fato de as refeições já estarem incluídas, assim como a maior parte das
atividades disponibilizadas aos hóspedes. As empresas estão trabalhando
também com o dólar congelado.
VITRINE. Se Fernando de Noronha e
Porto de Galinhas despontam como os
destinos naturais com maior apelo do
Estado, os gestores do turismo local comemoram o novo posicionamento do
Recife e da RMR como produto turístico.
“Sempre buscamos divulgar os destinos
indutores. O Recife deixou de ser apresentado apenas turismo de sol e mar. A
cidade mudou e temos trabalhado na
divulgação do lazer, com o projeto Recife Antigo de Coração, além de fazer um
trabalho articulado sugerindo passeios
nos municípios da região metropolitana. Temos visto esse momento de crise
como oportunidade e para aproveitá-lo
vamos fazer uma campanha abordando
toda a diversidade e riqueza do Estado”,
ressalta Ana Paula Vilaça, presidente da
Empetur. Entre os equipamentos que
ganharam notoriedade na cidade nos
últimos anos estão os museus, com o
Cais do Sertão e o Paço do Frevo.
Essa articulação junto aos municípios vizinhos foi costurada há pouco
menos de um ano através do Pacto Metropolitano do Turismo. “O resultado
desse esforço é que trabalhamos hoje a
venda casada da RMR. Vendemos um
produto mais completo, oferecendo
história, cultura, gastronomia, além
do sol e mar. Preparamos roteiros integrados que começam no Recife e vão
até Itamaracá. Um dos objetivos dessas
18
Algomais • Novembro/2015
ações é conseguir não apenas trazer
mais turistas, como convencê-los a
permanecer mais tempo aqui”, explica
o secretário de Turismo do Recife, Camilo Simões. De acordo com o secretário, a permanência média do turista no
Estado é de 7 a 8 dias, se estendendo um
pouco mais no período de Carnaval. Ele
comemora o crescimento médio anual
de 6% de turistas vindos à capital pernambucana nos últimos anos.
RURAL. Ancorados no turista pernambucano, os hotéis e pousadas que atuam
no segmento do turismo ecológico e
rural também despontam num cenário
favorável. Enquanto o viajante inter-
nacional tem apostado em destinos no
Brasil, há uma tendência de aumentar
a prática do turismo regional. “O setor
tem uma perspectiva de melhoria do
fluxo de turistas de lazer. Quem trabalha com o turismo de negócios, que
é forte em Gravatá, por exemplo, está
sofrendo com o desaquecimento do
mercado”, aponta Eduardo Cavalcanti,
diretor do Portal de Gravatá e vice-presidente da ABIH-PE. A associação tem
trabalhado para o lançamento de uma
campanha de marketing em alguns
destinos emissores no exterior, mas segue com o foco no público nordestino,
que é responsável pela maior fatia na
ocupação hoteleira pernambucana.
hub
Estudo avalia
infraestrutura
dos aeroportos
A
Foto: Carlos Pantaleão
Para a Consultoria Arup, todos os candidatos necessitam
de investimentos para ser uma central de conexões
consultoria Arup finalizou
uma nova pesquisa para
fundamentar a decisão da
Latam sobre a escolha da
cidade que sediará o hub no Nordeste. Foram avaliadas as infraestruturas dos três aeroportos que estão na
disputa. Como nenhum tem características de um terminal de conexões,
todos precisariam de investimentos
para adaptação. Para atender as demandas do estudo, o Aeroporto Internacional dos Guararapes precisará
da liberação da área hoje ocupada
pela base militar.
Para o secretário de Turismo de
Pernambuco Felipe Carreras, tanto RECIFE. HUB DEMANDARÁ A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TERMINAL DE PASSAGEIROS
o estudo da Arup, quanto a publicação da Oxford (que avaliou o impacto
Carreras se disse convicto que o te) também tiveram recomendações de
econômico) indicam que o Recife tem hub virá para a capital pernambucana expansão e a construção de um píer em
condições para receber o investimento e que acredita que a decisão da Latam continuidade às infraestruturas atuais.
da Latam. “A Arup, que tem expertise será técnica. Mas indicou que o adia- Independente de qual for a escolha da
internacional em infraestrutura, in- mento da formalização da liberação multinacional do setor de aviação, o fidicou que o nosso aeroporto poderá dessa área militar preocupa. “Se em nanciamento dos recursos necessários
receber o hub, mediante a liberação algumas semanas esse anúncio não para a construção ou adaptação desses
da área da base aeronáutica. Isso já foi estiver no papel, corremos o risco de terminais aéreos está assegurada pelo
sinalizado pelo Governo Federal, mas não receber o investimento. Daí po- Banco do Nordeste, Sudene e BNDES.
precisa agora ser formalizado. Isso é deremos avaliar que houve alguma
A Arup estima que a cidade que for
necessário para passar segurança para retaliação política ao Estado”, afirma. contemplada com o hub receberá dois
os investidores. Fizemos nosso dever
Os demais terminais que estão na milhões de passageiros adicionais já a
de casa”, conta o secretário, que par- disputa pelo hub, o Aeroporto Pinto partir de 2018. A projeção é que o núticipou da reunião com a multinacional Martins (em Fortaleza) e o Aeroporto mero de passageiros movimentados
que divulgou o resultado das pesquisas. de Natal (em São Gonçalo do Amaran- em 2038 seja de 3,2 milhões.
Algomais • Novembro/2015
19
lazer
Portal de Gravatá celebra
30 anos investindo
Tradicional empreendimento do Agreste amplia sua
infraestrutura e diversifica a oferta de hospedagens
D
a ideia de criar um clube de
campo, aproveitando o charme e o frio do Agreste pernambucano, nasceu há 30
anos o Portal de Gravatá. Hoje com 352
leitos e capacidade de receber até 1,1
mil pessoas em eventos, o empreendimento segue fazendo investimentos.
Os mais recentes são a construção de
casas de alto padrão dentro do terreno do hotel e a ampliação do centro de
convenções e da área de lazer.
Liderados pelo doutor Waldyr Cavalcanti e seus filhos no início de 1985,
o Portal de Gravatá começou com 41
apartamentos e desde o início com
uma infraestrutura que incluía fazenda
com animais. Já nos anos 90, começaram a ser construídos apart hotéis
dentro do hotel, que foram rapidamente vendidos. Com mais de 200 flats já
entregues, a nova aposta dentro desse
segmento é a construção de casas de
alto padrão. “Neste ano comemorativo, o Portal de Gravatá está entregando as oito primeiras casas de seu novo
empreendimento: um conjunto de 18
casas de alto padrão, com cinco suítes,
varanda gourmet e piscina privativa”,
diz o diretor Eduardo Cavalcanti.
Além de surfar no interesse dos brasileiros no turismo rural e ecológico, a
movimentação do hotel seguiu também
a tendência pernambucana de crescimento do turismo de eventos e negócios.
Para isso, o Portal dispõe de 800 metros
quadrados distribuídos em um salão com
capacidade para 600 lugares e 13 salas de
apoio para encontros menores. No plano de investimentos está a construção
de mais duas salas para 300 pessoas e a
cobertura do pátio de eventos. Além do
20
Algomais • Novembro/2015
CRESCIMENTO. HOTEL TEM CAPACIDADE DE RECEBER MAIS DE MIL VISITANTES EM EVENTOS
LUXO. UMA DAS APOSTAS DO PORTAL É A COMERCIALIZAÇÃO DE CASAS DE ALTO PADRÃO
público corporativo, eventos como passeios pedagógicos, encontros de grupos
da terceira idade e formaturas também
são realizados no hotel.
COMEMORAÇÃO. Para comemorar as
três décadas de operação, o Portal de
Gravatá tem uma programação festiva ao longo do ano, que começou
em junho, mês da sua inauguração.
Exposição de fotos antigas do hotel e
de suas marcas, jantar para os funcionários, com palestra motivacional, e
festa com condôminos já marcaram
o calendário do ano. No segundo semestre, novas comemorações com
foco nos fornecedores e investidores
estão nos planos.
Algomais • Novembro/2015
21
pesquisa
Menos dívida, mais
produtividade
Empresas se preocupam com endividamento dos seus
funcionários, mas poucas oferecem educação financeira
P
or que uma organização se
preocuparia com a maneira
como seus empregados administram suas finanças pessoais? Na verdade, por vários motivos,
a começar por manter uma boa performance da produtividade. Um funcionário endividado, por exemplo, perde a
concentração no trabalho, tende a ficar
mais estressado e faz mais pressão por
aumento de salário. Também tem mais
propensão a procurar trabalhos extras,
levando-o a dividir sua atenção entre
os compromissos com empresa e as novas tarefas. “Não é fácil trabalhar com o
cartão de crédito vencido, filho pedindo
dinheiro para pagar o passeio na escola,
ter que fazer compra no supermercado e
enfrentar os credores ligando”, detalha
Georgina Santos, consultora especializada em gestão financeira e sócia da
consultoria ÁgilisRH.
Empresários e executivos de Pernambuco já estão atentos a esse problema, que tende a ficar mais evidente
em tempos de instabilidade econômica. Foi o que constatou a mais recente
pesquisa do Termômetro ÁgilisRH, a
sondagem periódica realizada pela consultoria ÁgilisRH com sócios, gestores
e profissionais de recursos humanos de
empresas pernambucanas. Esta edição
teve como tema Finanças pessoais em
momentos de crise. Das 138 pessoas que
responderam à enquete, 92,8% acham
que o assunto deve ser um ponto de cuidado das organizações.
Embora constatem a importância do tema, as empresas, no entanto,
ainda não atentaram para os reflexos da
conjuntura econômica na vida de seus
funcionários. Metade dos entrevistados
disseram que os gerentes de sua organização não têm percebido o impacto da
crise nas finanças pessoais das equipes,
nem sua repercussão na produtividade.
“Talvez os gerentes ainda não tenham
consciência do quanto a situação eco-
IMPACTO. GEORGINA: "UM FUNCIONÁRIO ENDIVIDADO TENDE A SER MENOS CONCENTRADO E FAZ MAIS PRESSÃO POR AUMENTO SALARIAL"
22
Algomais • Novembro/2015
nômica interfere no desempenho do
profissional”, analisa Eline Nascimento,
consultora especializada em recursos
humanos e também sócia da ÁgilisRH.
Outro aspecto mostrado pela pesquisa é o fato de os gestores terem uma
atuação ainda tímida para auxiliar os
funcionários a resolverem seus problemas financeiros ou para preveni-los da
inadimplência. Quando inquiridos sobre que medidas podem auxiliar os profissionais de forma mais eficaz, apenas
24,6% responderam orientá-los de maneira personalizada a elaborar o orçamento doméstico. A maioria optou por
ações mais generalizadas como discutir
com a equipe os impactos da crise e preveni-los sobre as possíveis dificuldades
da empresa.
“Orientar o profissional de maneira
individualizada dá trabalho, mas traz um
benefício enorme”, recomenda Eline.
Para Georgina, o resultado da pesquisa
revela que os gestores estão preocupados
com a questão, mas ainda existe um certo tabu de que não se pode interferir na
maneira como o profissional administra
as finanças pessoais. “Muitos gestores
desconhecem que faz parte do seu papel
orientar o funcionário sobre os riscos do
endividamento, o que não significa proibi-lo de gastar”, diferencia.
Tal questão também se reflete na
ausência de políticas de treinamento de
RH com esse foco. Quando perguntados
sobre quais as ações que a empresa vem
fazendo para apoiar os profissionais
neste quesito, apenas 6,1% responderam que o RH da organização promove
treinamento sobre orçamento doméstico. “O RH pode ajudar muito, não
precisa ser um especialista em finanças
para orientar”, desmistifica Eline.
A pesquisa revelou ainda que 19,4%
optaram por estabelecer convênios
para empréstimo consignado e 20%
oferecem empréstimo direto. Ambas
as medidas não são referendadas pelas
consultoras. Por um simples motivo:
essas ações não combatem as causas
que levam a pessoa a se endividar. “A
melhor solução é a orientação, porque o
empréstimo elimina a pressão, mas não
ajuda a resolver o problema”, adverte
Georgina, ressaltando que o empregado pode não pagar a dívida e ficar ainda mais endividado principalmente no
momento em que estamos vivendo. “A
orientação é mais barata e eficaz”, ar-
AUXÍLIO. ELINE: "ORIENTAR O PROFISSIONAL É MAIS EFICAZ QUE CONCEDER EMPRÉSTIMO"
gumenta a especialista.
Na verdade, é a situação de pressão, que segundo Georgina, leva o indivíduo a ser mais organizado na hora
de gastar. Ela compara a situação da
pessoa endividada à do tabagista que
só para de fumar quando pressionado. Assim, diante de uma conjuntura de crise, a pessoa que não gosta de
fazer contas, se vê obrigada a se organizar, a fazer planilhas de despesas e,
ao receber educação financeira, passa
a administrar melhor seu orçamento.
Empréstimo, segundo as consultoras,
só é válido para atender um evento imprevisível (como um incêndio ou um
adoecimento de um familiar), não para
bancar despesas do dia a dia.
A prática corporativa mostra que as
organizações só têm a ganhar ao oferecer
orientação financeira ao seus empregados. Além de ficarem mais concentrados e produtivos, tendem também a ser
mais conscientes sobre os gastos no trabalho. “A tendência de um funcionário
que cuida das finanças pessoais é fazer o
mesmo na empresa, porque cria o hábito de racionalizar as despesas e otimizar
os custos. É algo automático”, informa
Georgina. E esses tempos de apertar os
cintos podem ajudar as organizações a
estabelecer um padrão mais racional nos
gastos. “É uma oportunidade para que
empregados e gestores mantenham a
lógica do não gastar desnecessariamente”, ressalta Georgina.
Como evitar as dívidas
1 - Coloque no papel todas as despesas no mês e verifique se elas não ultrapassam o total do que você recebe.
2 - Ao usar o cartão de crédito, divida em parcelas apenas as compras que não são rotineiras, como
passagens áreas. Evite dividir o consumo do dia a dia, como supermercado, combustível, restaurante,
porque quando se parcela o pagamento, fica-se com crédito para gastar mais. Torna-se difícil saber
quanto do seu orçamento está comprometido e você pode gastar um dinheiro que não é o seu.
3 - Fazer trabalho extra (os “bicos”) nos horários livres é uma boa forma de aumentar os rendimentos.
Mas cuidado para não se sobrecarregar e prejudicar sua atividade principal.
4 - Viva de acordo com o que você ganha. Antes de comprar algo, sob o argumento de que “eu mereço” ou
“eu preciso”, faça a sim mesmo a pergunta “eu posso? Essa compra corresponde ao meu padrão financeiro?”
5 - Tenha sempre uma reserva para as eventualidades.
6 - Se está desempregado, saiba que pode ser difícil se recolocar no mercado na vaga almejada. Por isso
seja criativo e pense em formas diferentes de ganhar dinheiro que não seja apenas na sua área de atuação
Algomais • Novembro/2015
23
negócios
Lei de recuperação
empresarial completa
uma década
Especialista em direito comercial, Ivanildo Figueiredo
analisa legislação que auxilia empresas a evitar a falência
O
setor produtivo brasileiro deveria comemorar em
2015 os 10 anos da Lei de
Recuperação de Empresas
e Falência. No entanto, a instauração
da lei não obteve o êxito esperado. De
acordo com informações do Instituto Nacional de Recuperação Empresarial, apenas 5% das empresas que
pediram recuperação judicial com
base na lei 11.101/2005 conseguiram
se reerguer.
“Essa lei busca um processo judicial de superação da crise das
empresas, para evitar a falência. É
como uma renegociação forçada da
dívida que acontece por meio de
processo judicial. No entanto, nesses 10 anos, não houve um sucesso
efetivo. Esse é um processo de longo
prazo, mas durante todos esses anos
poucas empresas conseguiram se
reorganizar”, afirma o professor de
direito comercial da UFPE, Ivanildo
Figueiredo.
De acordo com o especialista, a
média mundial de recuperação é de
30%, a partir desses processos. Em
países vizinhos do Brasil, como a Colômbia, a média é de 20%. Se esse
problema já era preocupante nos anos
em que o País viveu de crescimento
econômico, com a crise e as dificuldades de várias empresas, há uma pres-
24
Algomais • Novembro/2015
PROBLEMA. FIGUEIREDO: EMPRESÁRIO DEMORA A RECORRER À LEI, O QUE TRAZ DIFICULDADE
são maior por fazer a lei funcionar.
No seminário 10 Anos da Lei
11.101/2005 de Recuperação de Empresas e Falência, que foi realizado em
outubro, especialistas de todo o País
discutiram as razões e soluções acerca
da ineficácia desse marco legal.
“Identificamos que o primeiro
problema é que as empresas demoram demais para entrar em processo
de recuperação. Em geral, só pedem
quando não há mais nenhuma alternativa e que a solução já está mais
comprometida. Em segundo lugar,
há uma recepção muito negativa por
parte dos grandes credores. Os bancos dificultam muito a recuperação
dessas empresas. Em terceiro, falta
estrutura do poder judiciário para lidar com esses casos de recuperação
e falência. Há muita burocracia e é
muito demorado”, aponta.
ECONOMIA
JORGE JATOBÁ
Lebret e o Recife
Economista
O
padre dominicano Louis
Joseph Lebret realizou
um Estudo sobre Desenvolvimento e Implantação
de Indústrias Interessando
a Pernambuco e ao Nordeste, que foi publicado sobre a forma de livro, em 1955,
pela então Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco (Codepe).
Um dos líderes do movimento Economia e Humanismo, Lebret lançava um
olhar humano e cristão sobre o debate
político-ideológico entre os adeptos do
capitalismo e os do socialismo, muito
presente na década dos 50 como reflexo
da Guerra Fria e dos rumos do desenvolvimento econômico no mundo que
emergiu após o final da Segunda Guerra
Mundial.
A concepção de Lebret repousava na
noção de organização do espaço ou de
gestão do território dentro da tradição
francesa de Aménagement Territoire.
A sugestão de Lebret era fortalecer uma
rede de cidades tanto no entorno mais
próximo quanto longínquo do Recife
para filtrar ou mitigar as migrações para
a capital de forma a evitar que a cidade
atingisse a “monstruosidade de um milhão de habitantes” (p.94). Para o Recife em si Lebret tinha propostas para a
economia e para a organização urbana e
colocava o porto como estratégico para
o desenvolvimento da cidade.
[email protected]
Lebret argumentava que o Porto do
Recife teria que se expandir para o sul,
limitado que estava a leste pela cidade e ao norte pela Marinha de Guerra
(Escola de Aprendizes Marinheiros). O
porto seria de cabotagem, pois não teria
condições de receber grandes navios e
deveria se expandir ao sul, na direção
da bacia do Pina, onde proximamente existia um terreno favorável para
acolher um estaleiro naval, tanques de
combustíveis e possivelmente uma refinaria. Essa área identificada por Lebret
no mapa que acompanha o estudo se situaria hoje por trás do Cais José Estelita,
incluindo o Cabanga, território objeto
de conflitos de interesse e de polêmicas
urbanísticas que tem envolvido amplos
setores da opinião pública recifense.
Lebret concebia Recife então como
uma cidade que deveria se industrializar, inclusive acolhendo empreendimentos pesados como uma refinaria.
Essa concepção, por certo, seria hoje
objeto de grande questionamento e de
severas críticas por planejadores urbanos. Lebret também tinha uma preocupação com a mobilidade pois queria
evitar que os trabalhadores se deslocassem grandes distâncias para chegarem
ao local de trabalho e, por isso, recomendava que as áreas industriais deveriam ser construídas próximas das residenciais, constatando que no Recife “a
descontinuidade é muito grande entre
os locais de habitação e de trabalho da
população operária” (p.95). A questão
da mobilidade já era, portanto, abordada por ele. Sugere assim construir grandes anéis circulares estendendo-os até
Olinda até encontrar “a grande estrada”
que vai para o norte e que se conecta
com a que “vai para o sul”, via de grande densidade de tráfego pela qual rodariam rápidos “trolley-bus” em faixas
de 40 metros de largura. Essa era a antevisão de uma Agamenon Magalhães.
Assim, Lebret argumenta que a cidade
seria descongestionada “porque, de outro modo, se chegaria a uma circulação
impossível com tais engarrafamentos
por toda parte, que qualquer movimento seria inviável” (p.97).
Se Lebret voltasse ao Recife 60 anos
depois descobriria que a cidade se tornou monstruosa com 1,6 milhão de habitantes, que se desindustrializou, que
sua sugestão para o Cais José Estelita e
entorno seria muito polêmica, se não
recusada, e que a mobilidade da cidade
piorou muito apesar de terem surgido
avenidas tipo Agamenon Magalhães.
Descobriria também que a refinaria e o
estaleiro estariam em Suape onde, de
forma visionária, apontou que na “altura do Cabo existe um grande terreno
para ser integrado ao Grande Recife” (p.
89). Isso se tornou realidade!
Algomais • Novembro/2015
25
educação
Valorizar o
professor é
essencial
Depreciação da carreira do magistério espanta os
jovens e reduz qualidade da mão-de-obra
P
rofessor. Uma peça-chave
para o funcionamento de
qualquer escola que está cada
vez mais escassa no Brasil.
O assunto foi abordado no evento
Pernambuco Desafiado - Educação promovido pela Algomais e pela
TGI. Estudos mostram que já faltam
no mercado docentes de disciplinas,
como física e química. Para agravar
esse cenário, poucos jovens sonham
com a profissão. Apenas 2% dos
candidatos à universidade consideram seguir o ofício do magistério,
de acordo com estudo realizado pela
Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com a Fundação Carlos Chagas
(FCC). Na avaliação dos especialistas,
uma realidade a ser combatida para
salvar o futuro da educação brasileira.
As razões que afastam os jovens
do magistério são várias. Em seu
recém-lançado livro Educação brasileira: uma agenda inadiável, o professor Mozart Sales, diretor do Instituto Ayrton Senna, aponta algumas:
baixos salários, baixa prioridade dos
cursos de licenciatura nas universidades e condições de trabalho difíceis
nas escolas. Mas, ele destaca um pro-
26
Algomais • Novembro/2015
ATRATIVIDADE
MOZART NEVES, DIRETOR DO INSTITUTO
AYRTON SENNA, AVALIA QUE BAIXOS
SALÁRIOS E DESGASTE DA IMAGEM DO
PROFESSOR BRASILEIRO AFASTARAM OS
JOVENS DOS CURSOS DE LICENCIATURA
blema como mais grave: ausência de
planos de carreira nas redes de ensino. “No Brasil os professores recebem
em média 43% a menos que outros
profissionais com a mesma titulação.
No início da carreira essa diferença
não é muito grande, apenas 11%. O
que fica constatado que com o passar
do tempo esse profissional fica para
trás. Mais urgente que discutir remuneração é repensar um plano de carreira”, defende.
O resultado dessa falta de perspectivas profissionais é que o País
acumulou um déficit de 250 mil professores nos últimos 20 anos, principalmente em disciplinas como matemática, física e química, segundo
dados do Inep. Sem essa mão de obra,
o jeitinho brasileiro improvisa professores de uma matéria para cobrir
outras nas quais não têm formação.
Seis a cada 10 aulas de física das escolas brasileiras são ministradas por
docentes que não são formados na
disciplina, nem de áreas correlatas.
Um dos aspectos da valorização
desses profissional está na formação.
João Batista Oliveira, doutor em pesquisa em educação e palestrante convidado no evento Pernambuco Desafiado, aponta duas características
do docente que interferem no aprendizado. “O professor eficaz domina
bem o conteúdo que ensina e também
metodologias e técnicas mais efetivas
para ensinar. Nos países com melhor
desempenho no Pisa (Programa In-
ALVO. OLIVEIRA: PROBLEMA É A FORMAÇÃO
ternacional de Avaliação de Estudantes) a profissão é prestigiada e os professores normalmente são recrutados
entre os jovens mais talentosos”.
Em seu livro, Repensando a educação brasileira, ele defende estabelecer padrões elevados para atrair os
jovens talentosos. Além de também
discutir a questão de rever os planos
de carreira, o especialista discorre
sobre a urgência de criar políticas
adequadas de formação.
Para Neves "oxigenar os cursos
de licenciatura" - que são na maioria
das universidades "o patinho feio" seria uma forma de qualificar a formação. Aproximar a academia dos
docentes que estão nas redes de ensino – que trariam “cheiro de escola”
- e a maior presença de professores
visitantes nesses cursos poderiam
dinamizar o ambiente universitário.
Ele defende ainda uma reformulação dos currículos das licenciaturas
e uma valorização do futuro aluno
desses cursos já no ensino médio,
onde poderia ser acompanhado e
começar a desenvolver trabalhos de
pesquisa e de iniciação à docência.
Ao lado da estruturação do plano de
carreira e da formação acadêmica,
uma unanimidade entre os especialistas é sobre a revisão do status
profissional. Enquanto a imagem do
professor não for reconstruída, o desinteresse dos jovens pela docência
tende a continuar.
76501
34050
SHOPPING RIOMAR (81) 3032-3168 • SHOPPING RECIFE (81) 3302-3154 • SHOPPING
TACARUNA (81) 3301-7496 • PLAZA SHOPPING (81) 3302-1653 e mais 57 lojas no Brasil.
www.sergios.com.br
@sergiosformen
Algomais • Novembro/2015
27
ensino
Muito além das
aulas de idioma
Cursos de curta duração e programas de estágio são
opções para fugir do intercâmbio convencional
O domínio de uma língua estrangeira deixou de ser um diferencial e se
transformou quase que uma obrigação para ter melhores oportunidades
no mercado de trabalho. Realizar um
intercâmbio é, então, a sonhada alternativa para garantir a fluência no
idioma. Basta observar o crescimento
no número de brasileiros que decidiram buscar a vivência em outros países
nos últimos 10 anos. Um aumento de
494%, de acordo com dados da Brazilian Educational & Language Travel
Association. Mas se engana quem pensa que a experiência no exterior se resume às tradicionais aulas de língua ou
mesmo ao High School. Cada vez mais,
os intercambistas escolhem opções que
fogem ao convencional e aproveitam
para incrementar o currículo.
"Estudar no exterior é um componente enriquecedor de qualquer
programa educacional e transforma a
visão do mundo do aluno", avalia o diretor-executivo do centro de educação
internacional ABA Global Education,
Eduardo Carvalho.
Cursos de curta duração em universidades e estágios são algumas das
possibilidades para quem passa uma
temporada fora. E foi justamente nesse
“combo” que o estudante de relações
internacionais, Felipe Cavalcanti, 23
anos, decidiu apostar. “Eu já tinha feito High School antes, mas queria algo
voltado para a graduação". Depois de
muita pesquisa, Felipe encontrou na
escola de extensão da American University, em Washington, o curso que
28
Algomais • Novembro/2015
UNIVERSIDADE
ARTHUR ( À ESQUERDA, DE BRANCO),
ESTUDOU EM HARVARD QUANDO AINDA
CURSAVA O ENSINO MÉDIO NO BRASIL
se enquadrava nas expectativas dele.
O programa, de um semestre, aliava
teoria à prática. Três vezes por semana, Felipe tinha aulas sobre economia
global e negócio em importantes organizações como o FMI e a Bolsa de
Nova York. Nos outros dois dias, era
a vez do estudante testar os conhecimentos aprendidos em um estágio.
Será que mais um intercâmbio valeu a
pena? “Foi quando abri os olhos para
o que eu realmente queria fazer profissionalmente."
Para Arthur Danzi, 18, o contato
com pessoas de nacionalidades e culturas diferentes foi a experiência mais
significativa do intercâmbio. Escolher
esse tópico dentre tantos outros vividos, no entanto, não deve ter sido fácil.
Principalmente, quando se adiciona
o fato de ele ter estudado na poderosa
Harvard, uma das mais conceituadas
universidades do mundo.
Hoje estudante de direito, Arthur
embarcou rumo aos Estados Unidos
quando ainda cursava o segundo ano
ensino médio. “Como estava perto o
Enem e do SSA não dava para fazer um
intercâmbio de seis meses ou um ano.”
A alternativa, então, foi procurar
um curso de curta duração e para encontrar o ideal, Arthur buscou ajuda de
uma consultoria de intercâmbios. “A
partir do interesse do aluno, fazemos
um trabalho de pesquisa para identificar qual programa melhor se encaixa
nos objetivos dele", explica a coordenadora da GlobEducar, Danyelle Ma-
rina. O centro de educação e carreira,
que pertence a ABA, é cerificado com
o Education USA, uma selo oficial do
governo americano para informações
sobre estudos nos EUA.
Encontrada a oportunidade, é preciso preparar o material necessário
para o processo seletivo. “No caso de
Harvard, o estudante precisa submeter
à nota do exame de inglês, fazer uma
redação, enviar uma carta de recomendação, além de preencher um for-
DANYELLE. GLOBEDUCAR AJUDA ESTUDANTES NA BUSCA POR OPÇÕES DE INTERCÂMBIO
mulário”, detalha Danyelle.
Com tudo aprovado, Arthur seguiu para Harvard e, assim, foram dois
meses (julho/agosto) frequentando
as disciplinas de direito e relações internacionais. Segundo o estudante, as
aulas ainda ajudaram a decidir sobre a
futura profissão. “Na época, eu pensava em cursar uma das duas graduações
e depois do intercâmbio, voltei um
pouco mais certo em fazer direito."
Ao buscar por informações sobre
intercâmbio, é possível encontrar modalidades ainda mais diversas. Viajar
para realizar trabalho voluntário é uma
dessas. Uma boa opção para economizar. “Em geral, tem um custo mais baixo, pois o aluno não paga pelo programa em si e, normalmente, não gasta
com a acomodação”, coloca Danyelle.
Nos portfólios das agências ainda
há espaço para os mais ousados. Que
tal umas aulinhas de golfe ou mesmo
de futebol enquanto estiver no exterior? Esses são alguns dos esportes
dentre tantos outros oferecidos para
quem faz intercâmbio.
A VEZ DOS ADULTOS. As variações
de intercâmbio, no entanto, não ficam restritas às novas modalidades
de cursos. O público também passou
por transformações. Se no passado os
programas no exterior eram relacionados apenas aos jovens, hoje os adultos
também buscam essa experiência. “É
uma geração que não teve a oportunidade de fazer um High School antes.
Em geral, eles vão depois dos filhos
criados, quando se sentem no direito
de achar que é a hora”, relata a diretora da agência de intercâmbio Experimento, Carolina Vieira.
É o caso do consultor de empresas
Antônio Jorge Araújo, 61. Depois do
filho, chegou a vez dele de aproveitar
uma temporada fora. “É uma pausa,
um momento de desenvolvimento
pessoal e profissional”, espera. No
final do mês passado, ele desembarcou em Adelaide, na Austrália, onde
permanecerá por cerca de três meses. E no fluxo da nova tendência de
intercâmbio, também vai utilizar a
estadia em outro país para, além do
aperfeiçoar o inglês, adquirir novos
conhecimentos. Um curso no Instituto de Governança da Austrália
(AICD) foi a opção de Antônio Jorge,
que coordena em Pernambuco uma
instituição semelhante.
Mas conseguir conciliar o sonho
de fazer um intercâmbio com o trabalho não foi fácil. “É uma decisão
que eu venho amadurecendo há algum tempo. Foi algo que precisou
ser bem planejado com a minha família e a equipe da minha empresa.”
Mesmo com essa mudança na rotina,
assim como a maioria dos adultos,
Antônio Jorge não pode se distanciar completamente do trabalho. Ele
está apostando, então, em reuniões
via internet para continuar acompanhando a empresa, enquanto estiver
em terras australianas. Leia Mais. No site www.revistaalgomais.
com.br traz opções para fazer intercâmbio mesmo em período de crise
Algomais • Novembro/2015
29
tecnologia
Alunos vencem
disputa de robótica
Equipe de escola municipal da capital desbancou 39
concorrentes em olímpida científica nacional
Recife
emPauta
S
e no passado, os colégios se limitavam às tradicionais disciplinas, como matemática e português, hoje a grade curricular
está bem mais diversa. Exemplo disso
são as aulas de robótica implantadas na
rede de ensino da Prefeitura do Recife
e que já vêm mostrando resultado. No
início deste mês, alunos do 9º ano da
Escola Municipal Rodolfo Aureliano
foram os campeões da Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), realizada em
Minas Gerais. O resultado ainda garantiu a participação de mais uma disputa,
agora internacional.
Para trazer o título para Pernambuco,
Maryllia Félix, Emerson Almeida e Gabriel Loreiro, todos de 14 anos, projetaram
um robozinho com peças encaixáveis de
Lego. O LK, como é chamado, simula o
trabalho de um carro de resgaste e teve
de passar por vários obstáculos para conseguir a vitória. Com cerca de um mês e
meio de existência, o protótipo “derrubou” 39 adversários de escolas públicas
e particulares de todo o País, garantindo,
assim, o primeiro lugar na disputa.
30
Algomais • Novembro/2015
CAMPEÕES RYAN, MARYLLIA, GABRIEL E ANDERSON DESENVOLVERAM PROTÓTIPO COM LEGO
Os robôs deveriam percorrer um
circuito cheio de manobras, lombadas
e até redutores de velocidade, com o
objetivo de resgatar “vítimas” (bolinhas de isopor). No tempo estipulado
de 8 minutos, 5 delas foram recuperadas pelo LK. As outras engenhocas,
por sua vez, acabaram caindo em
“armadilhas” e não conseguiram fazer o salvamento.
Qual a principal “tecnologia” utilizada pelos criadores do LK? “Nós nos
dedicamos demais. Durante os dias da
competição ficamos sem dormir, treinando e pensando em soluções”, conta Maryllia. E, é claro, foi preciso pôr
em prática conhecimentos de física e
matemática, aprendidos em sala de
aula. Maryllia ficou responsável pela
DIDÁTICA. DESDE A CRECHE, ALUNOS DA REDE MUNICIPAL TÊM CONTATO COM OS ROBÔS
parte estratégica, enquanto Emerson
se encarregava de montar e Gabriel
programou o equipamento.
A equipe ainda contou com a colaboração de Ryan Vinícius Morais, 14
anos, da Escola Municipal Arraial Novo
do Bom Jesus. O estudante atuou como
um monitor e ajudou os professores de
matemática Juliana Borges e Cid Espíndola a treinar os colegas do Rodolfo
Aureliano. Graças a sua participação
na olímpiada mundial de robótica, no
ano passado, na Rússia, Ryan ganhou
experiência e pôde transmiti-la ao trio.
DIDÁTICA. A preparação de todos eles
aconteceu na Unidade de Tecnologia
de Educação (Utec) Gregório Bezerra, na Várzea. No centro avançado de
informática, os estudantes aprendem
sobre velocidade, atrito, potência para
poder utilizá-los na hora de montar o
protótipo. “Muitos dos conceitos que
aprendemos lá, ainda não vimos na
sala de aula. Isso desperta o interesse
e faz com que tenhamos um desempenho melhor na escola”, afirma Ryan.
Com a vitória em Minas Gerais, os
estudantes seguem no próximo ano
rumo a Alemanha para participar da
Robcup. “É nossa primeira vez e estamos muito felizes com o resultado. Agora, vamos nos preparar para fazer bonito lá fora”, espera Maryllia. Antes da
viagem internacional, no entanto, uma
nova parada, desta vez em Natal. Na cidade, o grupo vai participar da Fist Lego
League no final deste mês. Com outros
obstáculos a serem vencidos, o LK vai
precisar passar por adaptações e os alunos terão mais trabalho pela frente.
Até a competição, os estudantes
continuam se preparando na Utec.
O curso no centro é complementado
com aulas nos colégios, que mesclam
o ensino das matérias tradicionais
com o ensino de robótica. Iniciada
no ano passado, a didática faz parte
do Programa Robótica na Escola e é
aplicada para estudantes da creche ao
9º ano do ensino fundamental. “Os
professores trabalham conciliando o conteúdo de sala de aula com a
perspectiva da robótica. Então, os
conceitos são aplicados de forma experimental para que o aluno possa fazer uma contextualização do que foi
aprendido”, explica um dos coordenadores do programa, Cid Espíndola.
Os kits e a metodologia Lego são,
assim, aplicados em matérias como física, matemática, português e geografia.
Os estudantes ainda têm contato com
robôs humanoides quando vão a aulas
no Centro de Tecnologia na Educação e
Cidadania (Cetec) ou em eventos promovidos pela Secretaria Executiva de
Tecnologia na Educação.
Para colocar o projeto em prática
e preparar os professores, a Prefeitura do Recife já investiu cerca de R$ 32
milhões. Além do resultado na OBR,
o programa vem colhendo outros frutos. Na Campus Party deste ano, robôs
humanoides programados pelos alunos
fizeram a abertura do evento. Ainda
em 2014, quando o Robótica na Escola
foi implantado, uma equipe do 9º ano
da Escola Municipal de Tempo Integral
(EMTI) Dom Bosco venceu a etapa regional da olimpíada e pôde disputar a
etapa nacional em São Paulo.
Algomais • Novembro/2015
31
algomais
Revista tem novo site
Leitor poderá conferir todas as edições em modo flip.
Retorno da Olhar Cristão é uma das novidades
A
tenta às necessidades de um
mundo cada vez mais tecnológico, a Algomais estreou
uma nova versão do seu site
neste mês. A página está recheada de
novidades e muito mais interativa.
Através do www.revistaalgomais.com.
br, os leitores têm acesso a um conteúdo exclusivo e constantemente atualizado. “Temos que estar antenados com
esta área de tecnologia. Antes o site era
mais institucional e agora passou a ser
muito mais dinâmico”, analisa o diretor-executivo, Sérgio Moury.
Com o “upgrade”, o endereço
eletrônico ganhou novas seções e um
design moderno. Além da edição totalmente digitalizada da revista, o
público também poderá ler matérias
inéditas. Na página inicial, recebem
destaque os conteúdos exclusivos,
complementos de matérias da versão
impressa e novidades sobre a agenda
cultural pernambucana. Os colunistas e as publicações especiais também
estão em evidência. “O projeto desde
o início foi pensado e discutido com a
equipe de redação da revista. Um dos
pontos levados em consideração foi
trazer algo fora do comum na diagramação e disposição dos elementos na
home”, destaca Juan Ropero, diretor
criativo da Rubro Studio, empresa
responsável pela reformulação do site.
A revista chega às principais redes
sociais. As notícias são chamadas no
Twitter, Instagram e Facebook e os
links das matérias direcionam para
o site. Já aprovada por 97% do seu
público, Algomais promete atingir
ainda mais leitores com a reformulação do site. Uma boa notícia para
os que moram fora de Pernambuco.
32
Algomais • Novembro/2015
Ano 2- nº
11 - Out/N
ov 2015 -
Olhar
Cristão
www.revis
taolh
arcristao.co
pe rn am
m.br
bu co
MEMÓRIA
Conheça
trajetóri a
a
reverend do
o
Jerônim
o Gueir
os
R$ 8,00
COMO A
ENFRENTA IGREJA
A CRISE
Cenário
de
bate na insatisfação po
porta das
lític
igrejas e a e desequilíbrio
demand
a ampar econômico
o aos fiéi
s
OlharCri
stão • mar
/abr/201
5
1
“Nós temos uma demanda grande de
pessoas que nos procuram para ler a
revista, inclusive de outros Estados e
até países. Como há uma limitação na
tiragem, estamos, então, disponibilizando o conteúdo online para atingir
essa público”, coloca Moury.
O site ainda foi pensado para a
versão mobile. A página segue, então, o conceito de design responsivo,
ou seja, que se adapta às dimensões
da tela de celular e tablet. A qualida-
de do flip (versão em PDF da revista)
também foi aprimorada. “Agora, o
leitor também pode selecionar, cortar e gravar qualquer matéria, além
de pesquisar”, explica o gerente de
TI, Alexandre Motta.
Outra novidade é a volta da Olhar
Cristão. A revista propõe o debate sobre o mundo cristão, além de analisar
o papel da igreja na contemporaneidade. Lançada em 2013, a publicação
passou a ser um veículo de circulação
digital em outubro deste ano. Pelo site,
ainda é possível ter acesso a conteúdos
atualizados constantemente no blog
da Olhar Cristão. O mesmo acontece
com a Algomais Saúde, que também
tem sua versão em PDF disponível.
Com todas essas novidades, a expectativa é ampliar a quantidade de
acessos. Assim, os espaços disponíveis para publicidade também ganham destaque. “O site será divulgado através do Google e do Facebook.
Então, quem quer anunciar vai ter
como ferramenta o que há de mais
atual”, acrescenta Motta.
GESTÃO MAIS
TGI CONSULTORIA EM GESTÃO
Ouvir é tão importante quanto falar
www.tgi.com.br
É
muito comum
no dia a dia da
gestão empresarial que
se
valorize
a capacidade de falar
bem,
principalmente quando se é líder. Ao
mesmo tempo, tão importante quanto a competência
no discurso é a habilidade de
ouvir adequadamente o que os liderados têm a dizer.
Também é compreensível que
as pessoas se preocupem mais com
o que vão falar do que com o que
vão ouvir já que a fala pressupõe
algum nível de exposição e, portanto, exige uma preparação anterior. Mas a escuta é vital e, segundo o escritor alemão Goethe,
“escutar é uma arte”.
No cotidiano da gestão observa-se que é a partir da escuta do
outro que os gestores conseguem
melhorar a qualidade da sua atuação, mobilizando o grupo em torno de questões importantes e colocando-se disponível para receber a
participação coletiva. Quanto mais
importante for o tema, mais se faz
necessário que o gestor esteja disponível para ouvir a opinião das
pessoas da equipe.
Quando se consegue, de fato,
qualidade de diálogo, há dois efeitos positivos. Primeiro, o envolvimento das pessoas na situação-problema ou na tentativa de sua
solução e, segundo, mostra às pessoas que a empresa/organização
valoriza sua opinião. E esse é um
importante atestado de reconhecimento muito útil, especialmente
em períodos de crise como o que
vivemos.
DICAS
1. Tente ouvir sem ideias preconcebidas, convicções prévias ou julgamentos de valor
2. Evite interromper enquanto o outro fala, isso atrapalha a argumentação e demonstra que a disposição
para a escuta não é tão grande assim
3. Por mais ocupado que seja, deixe o celular e o computador de lado por um momento e ouça. Se não
pode fazê-lo, avise e peça desculpas
4. Um bom diálogo pode acontecer em momentos formais, como em reuniões, mas também em situações
informais, como em uma conversa no momento do “cafezinho”, por exemplo. O clima informal permite
o aparecimento de coisas que dificilmente seriam faladas em outra situação
5. Desenvolva sua capacidade de fazer boas perguntas como, por exemplo, aquelas que não se respondem
com um mero “sim” ou “não”, mas que estimulam a explicitação de ideias próprias, posicionamentos
ou outros conteúdos subjetivos
Algomais • Novembro/2015
33
algomais visita
Terra de músicos e
de belas cachoeiras
Maestro Mozart Vieira mostra que Belo Jardim, além de ter
vocação musical, possui uma natureza digna de um passeio
Wanessa Campos, especial para Algomais
É
pau, é pedra, é um resto de
toco... Só não é o fim do caminho, como na música de Tom
Jobim, mas a estrada “carroçável” leva para as Espalhadeiras, um
belo horizonte na zona rural da cidade de Belo Jardim, a 12 km do Centro,
indo pela PE-166. O lugar, um verdadeiro Éden, foi indicado pelo maestro
Mozart Vieira, professor de música e
criador da Orquestra Meninos de São
Caetano, que vai ser nosso cicerone
nesse passeio. Ele recomenda levar
máquina fotográfica para registrar as
belezas naturais que provocam exclamações em vários tons.
As Espalhadeiras são corredeiras
formadas por diversos riachos que
convergem para determinado ponto e,
de repente, dividem-se formando diversas piscinas, quedas d´água e bicas,
para deleite do visitante. Um lugar
perfeito para relaxar, curtir a natureza, ouvir o barulho da água batendo
nas pedras. Ali, qualquer estresse vai
embora. E, para completar, a pousada
rústica de seu Irineu Chaves, com 15
leitos e cardápio regionalíssimo: arrumadinho, bisteca, peixe frito, de água
doce, galinha de capoeira e cerveja
gelada. Perfeito para um fim de semana, um dia no campo ou, ainda, para
turismo ecológico a pé ou de moto,
como curtem os mochileiros. São comuns os voos rasantes das borboletas.
34
Algomais • Novembro/2015
FUNDAÇÃO
O MUNICÍPIO NASCEU EM TORNO DE
DUAS ÁRVORES CONHECIDAS COMO
TAMBOR, MAS HOJE RESTA APENAS
UMA DELAS
Com esse cenário, percebe-se
porque Belo Jardim é preferido para
o turismo aventura, trilhas, rapel,
campeonatos de moto e jet ski nas
barragens. O município é privilegiado em recursos naturais: as barragens Bitury, Piedade e Pedro Moura;
as cachoeiras Tira Teima, Grutião, Bitury e a dos Caboclos, além dos rios
Bitury e Tabocas.
O maestro Mozart recomenda
um pit stop no Distrito da Serra dos
Ventos, com 10 mil habitantes, ruas
largas e limpas, uma igrejinha secular, que fica de costas para as casas,
mirando as serras. Nas proximidades
está a Comedoria Serra dos Ventos e
o restaurante Águas de Março, ofere-
ATRAÇÕES
AS ESPALHADEIRAS (D) SÃO CORREDEIRAS
QUE FORMAM PISCINAS E QUEDAS D´ÁGUA.
ABAIXO A IGREJA QUE FICA DE COSTAS PARA
A CIDADE E DE FRENTE PARA A SERRA
cendo comidas típicas: tilápia e xerém
com galinha entre outras. Casarões do
século 20, preservados, predominam.
Num deles está o atelier da artista
plástica Ana Veloso. Para os contemplativos existem dois mirantes: Robinho e Leônidas com, respectivamente,
1,5 mil e 1,7 mil metros de altitude, de
onde se avistam as cidades de São Bento do Una, Lajedo, Cachoeirinha, São
Caetano e Tacaimbó, todas no Agreste.
Uma das características da serra é
a alta produção de confecções, especialmente jeans, para o comércio da
região. O vaivém das toyotas e vans se
deve, também, a esse comércio.
Indo, agora, em direção à cidade
pela BR-232, são vistos bonecos gigantes
de agricultores e duas
cabeças de cangaceiros, como se estivessem
dando boas-vindas ao
turista. Por trás, vemos
a loja de artesanato Tareco e Mariola. Trabalhos em madeira, palha,
corda, barro, bordados
etc., tudo feito por artesãos locais.
Belo
Jardim,
a
180 km do Recife, no
Agreste Setentrional,
com 80 mil habitantes, é uma das cidades
mais progressistas de
Pernambuco com seu
comércio e indústria,
a exemplo das Baterias Moura, Palmeiron,
Frango Natto e os biscoitos Tareco e Mariola,
que fazem sucesso em
todo interior do Estado.
Belo Jardim ficou conhecida como
a Terra dos Músicos, devido à vocação artística dos belo-jardinenses,
sobretudo para as bandas de música.
A Sociedade Cultural Filarmônica São
Sebastião, por exemplo, foi fundada
em 1887, antes do Brasil República.
O maestro Mozart conta um episódio que ficou na história. Em 1963, as
bandas rivais, Filarmônica e Cultura,
disputavam para encerrar uma festa
de rua e nenhuma parava de tocar
na esperança que a concorrente
cansasse primeiro. Ambas não
quiserem recuar e tocaram
durante 15 horas seguidas.
A solução foi dada pelo
juiz, juntamente com o
delegado e o promotor:
retiraram os músicos
de cena um a um, até o
último...
Nessa cidade nasceram músicos famosos
como o cantor Otto, que
fez parte do movimento
Mangue Beat. A tendência
dos belo-jardinenses para
a música vem desde o século
19, quando foram formadas as
primeiras bandas na Vila de Nossa
Senhora da Conceição, passando a
tradição de pai para filho. O maestro
Mozart, criador da Orquestra dos Meninos de São Caetano, e que já se organiza para realizar o mesmo trabalho
em Belo Jardim, é um exemplo.
MARCO ZERO. Em 1853, a cidade era
uma fazenda de gado pertencente
ao Distrito de Jurema que, por sua
vez, fazia parte de Brejo da Madre de
Deus. A fazenda cresceu e os moradores, movidos pelo sentimento religioso, construíram uma capelinha
em louvor a Nossa Senhora do Bom
Conselho. Periodicamente, um padre
vinha celebrar missas e, numa das
vezes, as flores plantadas ao redor
de duas árvores, conhecidas como
tambor, chamaram sua atenção. O
padre exclamou: "Que belo jardim!",
batizando, dessa forma, o lugar que
antes era chamado Capim. A árvore
tambor é nativa, típica das matas do
Pará, Acre, Mato Grosso e Pernambuco. Frondosa e sem cheiro, cresce
até 20 metros de altura, tem maAlgomais • Novembro/2015
35
deira leve e se presta bem à fabricação
de brinquedos e canoas. É conhecida,
também, como tamboril ou orelha de
negro.
Hoje, 162 anos depois, apenas uma
das árvores ainda está de pé no meio
da rua, protegida por um canteiro
com jeito de praça. O bairro recebeu o
nome de Tambor. Ou seja, essa árvore
é o Marco Zero de Belo Jardim.
FESTAS. Nosso cicerone destaca,
também, o lado festivo e tradicional
da cidade, a exemplo da Festa Marocas, inspirada na novela Redenção
dos anos 70. Ela é realizada no mês
de julho, na Rua Siqueira Campos.
Ciranda, coco de roda, encontro de
sanfoneiros, xaxado, e as catraias
(homens vestidos de mulher), além
de cantores famosos, fazem a alegria
da festa que dura seis dias. Uma das
características desse evento é reunir
os conterrâneos que moram em ou-
Um maestro
descobridor
de talentos
Arlindo Mozart Vieira do Nascimento é músico de formação. Nascido numa família de músicos, seu
nome foi escolhido em homenagem
ao compositor austríaco. Aos 4 anos
já tocava nas feiras livres. Estudou
no Conservatório Pernambucano de
Música e aprimorou seu talento, na
França, frequentando cursos. Ampliou seus conhecimentos de teoria
musical e prática instrumental. Tem
pós-graduação na área e, também,
em matemática.
De volta a sua cidade, em 1978,
o maestro resolveu trabalhar com
crianças carentes, da vizinha cidade de São Caetano, ensinando flauta
doce. Idealizou e criou a Banda Meninos de São Caetano e a Fundação Música e Vida. Os 12 meninos trocaram o
cabo da enxada pela flauta.
Em 1978, criou o Grupo de Flauta Doce e de Danças Folclóricas e,
9 anos depois, estava criada a Ban36
Algomais • Novembro/2015
ARQUITETURA. CASARIOS ANTIGOS FAZEM PARTE DO CENÁRIO DA CIDADE DO AGRESTE
tras cidades numa grande confraternização. A festa foi considerada patrimônio imaterial de Pernambuco
pelo governo do Estado. São, ainda,
tradicionais, as festas de São Sebastião, São João e Carnaval.
A cidade oferece bons hotéis e restaurantes. Entre eles: Hotel Asa Branca, Accon, Jardim, Lux e Plaza, e os
restaurantes: Sabor das Artes, Maria
Comedoria, Cuba Libre, Boa Massa
Pizzaria e Churrascaria Asa Branca.
de Creon, na França,
e foi condecorado em
Bordeaux e Gironde,
também na França.
Além disso, coleciona
moções de aplausos,
medalhas e troféus de
várias cidades.
Atualmente,
leciona licenciatura em
música (criação dele)
e violão, no Instituto
Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia
do Campus da UFPE
de Belo Jardim, a 150
crianças e adolescentes com idades de 6
a 18 anos. Pretende
PROJETO. MOZART ENSINA MÚSICA A CRIANÇAS CARENTES
introduzir o Curso de
Extensão em Música no
da dos Meninos de São Caetano. O mesmo local. Rege a Orquestra de Píprojeto foi desdobrado e surgiu a fanos de Caruaru. Mozart foi quem fez
Fundação Música e Vida de São Cae- o primeiro arranjo musical para Rotano, que foi sucesso, extrapolando berto Carlos.
os limites do Estado. Os Meninos de
Mozart Vieira é comunicativo e
São Caetano, bem como a trajetó- sensível como todo libriano. Receria do maestro, foram retratados no beu a equipe de Algomais tocando
cinema. A dedicação e o trabalho violão e cantando Quem me levará
de Mozart Vieira são reconhecidos sou eu, de Dominguinhos. Um show
também no exterior. Recebeu o tí- fechado que aplaudimos emocionatulo de Cidadão Honorário da cidade dos numa bela manhã de setembro.
ARTIGO DO MÊS
GILBERTO MARQUES
A vergonha de ser honesto
Advogado
Q
uem não tiver pecado
atire a primeira pedra”
teria fustigado Cristo aos
algozes de Madalena.
Sobrou pedra nos alforjes. Jesus era mundano,
andarilho, festeiro. Essencialmente
político, grandes e pequenos comícios
se repetiram na breve trajetória do filho de Maria. De parábola em parábola,
de operações aritméticas que multiplicaram pão e peixe, água virar vinho,
Lázaro ressurgir dos mortos com o:
Levanta-te e anda. Fez histórias.
Na Grécia o apetite capitalista do
Rei, criou Midas o personagem que tocava de ouro o que tocava. A monarquia
sucumbiu às formas republicanas que a
Grécia sugeriu na antiguidade. Os líderes republicanos sucumbiram ao pé do
monarca todo poderoso. Napoleão se fez
imperador. O rei e a rainha, o príncipe e
a princesa permaneceram incrustados
no inconsciente coletivo. A memória
genética, do servo ou cortesão, deu asa
à mantença do sangue azul. Mera ficção,
passe de mágica, propaganda enganosa!
A tecnologia primária deu forma
ao palácio, às pirâmides, ao coliseu.
Mas o homem da Nave Espacial não
passou do voo de Ícaro.
O coito, nu e cru, acirra o crescimento demográfico sem freio e a terra
fica pequena a cada dia. As fronteiras
do passado foram rompidas pela espionagem cibernética. O império da lei de
vigência “erga omnes” desafia o “big
brother” das calçadas, esquinas e avenidas. O crime floresce nos bastidores e a
fortuna de Eufrásia, herdeira ricaça do
café. Plantado, colhido e pisoteado junto com escravos negros em São Paulo. O
mestre Rui levara a D. Pedro II uma verba
a título de aposentadoria. Compulsória
após o “grito de 1889”. Teria dito o monarca deposto pela República: “a nação
brasileira precisa mais desse dinheiro que
eu”. E devolveu as bolsas
milionárias ao portador.
Óbvio que não daria recibo o imperador, nem
lhe seria cobrado. Coincidência ou não, ao voltar construiu o museu
com seu nome. Pomposa mansão que até
hoje abriga seus pertences e sua história.
O nosso Rui se pecou assim o fez em
nome da vaidosa lição que deixaria na herança literária. Valeu. Joaquim voou nas
asas do amor, na cidade dos artistas, antes da torre Eiffel. Voltava mais eloquente
na luta pela libertação. Ambos poderiam
dizer hoje. Semeia-se no coração das gerações que vem nascendo a semente da
podridão... “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto
ver agigantarem-se os poderes nas mãos
dos maus, o homem chega a desanimar
da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Rui Barbosa, no
Senado, em 17 /12/1914).
A multidão berra, grita, reclama
e fica nisso. Pouco depois volta
ao erro e elege coisa igual.
riqueza fica vã e passageira, mas encanta
os olhos, suja as mãos e o currículo com
frequência. A reputação perde a primeira
e última sílaba facilmente. E o rei é o rei
enquanto pode.
A multidão berra, grita, reclama e
fica nisso. Pouco depois volta ao erro e
elege coisa igual. E o pecado. invocado
no holocausto de Cristo, volta a infernizar a humanidade.
Diz a história oficial que Joaquim
Nabuco foi o baluarte da abolição dos
escravos – vergonha, intransponível dos
ancestrais. Rui Barbosa do Código Civil,
das asas de Haia. Ambos pecaram. Nabuco nasceu aqui, em Pernambuco. Rui
estudou direito no Recife.
O “Belo Quincas” teria sido gigolô da
IBEF - PE
Almoço Paletras com Marcelo Mayer - Sócio Diretor da Frisabor
Tema
SUPERANDO OS DESAFIOS DO CRESCIMENTO
Data: 19 de novembro de 2015
Local: Mercure Recife Mar Hotel
Rua Barão de Souza Leão, 451 - Boa Viagem
Horário: 12h30 as 14h00
Realização:
Instituto Brasileiro
de Executivos de Finanças
de Pernambuco
Algomais • Novembro/2015
37
arruando por Recife e Olinda
Por que mudar os
nomes das ruas?
Logradouros da capital pernambucana recebem novas
denominações que não respeitam a tradição nem a lei
Leonardo Dantas Silva
Rua da União.../Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância/Rua do
Sol/(Tenho medo que hoje se chame do Dr.
Fulano de Tal)/Atrás da casa ficava a Rua
da Saudade...onde se ia fumar escondido/
Do lado de lá era o Cais da Rua da Aurora.../...onde se ia pescar escondido
Manuel Bandeira (1925).
“C
omo eram lindos os nomes das
ruas da minha infância”...,
confidenciava o poeta Manuel
Bandeira, enquanto o poeta e
compositor Antônio Maria, numa de
suas crises de banzo da terra pernambucana, cantava: “Rua antiga da Harmonia, da Amizade, da Saudade, da
União... são lembranças noite e dia...”.
Os nomes das ruas e demais logradouros de uma cidade por vezes se
perpetuam através dos séculos, como
acontece com cidades portuguesas, de
Lisboa, Porto ou Évora... Mas entre nós,
só para atender a modismos e aos políticos de plantão, estão sempre a mudar
designações tradicionais: Cais do Apolo, para Avenida Martin Luther King;
Estrada da Imbiribeira, para General
Mascarenhas de Morais; Estrada do
Brejo, para Vereador Otacílio Azevedo;
Travessa do Gasômetro, para Rua Lambari; Rua Formosa, para Conde da Boa
Vista; Rua dos Sete Pecados Mortais,
para Tobias Barreto; Rua do Crespo, para
38
Algomais • Novembro/2015
HISTÓRIA. A RUA DO BOM JESUS, NO RECIFE ANTIGO, JÁ SE CHAMOU RUA DOS JUDEUS
INCLUSÃO. PRAÇA ARSENAL DA MARINHA PODERÁ INCLUIR O NOME NASCIMENTO DO PASSO
Carlos Pantaleão/Divulgação
GUARARAPES. ATÉ MESMO O AEROPORTO INTERNACIONAL DO RECIFE TEVE ACRESCENTADO O NOME DO SOCIÓLOGO GILBERTO FREYRE
Primeiro de Março; Rua Lírica, para Visconde de Uruguai; Travessa João Francisco, para Cassimiro de Abreu; Beco
do Quiabo, para Eurico Chaves; Beco da
Facada, para Guimarães Peixoto, numa
sucessão de contínuas mudanças.
Nesta cidade de Santo Antônio do
Recife – “Ingrata para os da terra, boa
para os que não são”–, ainda conserva
algumas ruas que, como nos engenhos
de Ascenso Ferreira, só os nomes nos
fazem sonhar: da Concórdia, da União,
da Saudade, do Sossego, da Amizade,
Nova, da Hora, do Progresso, Imperial,
Real da Torre, Real do Poço, Flor de Santana, Direita, Velha, da Glória, da Alegria, dos Prazeres, dos Aflitos, das Graças, das Flores, da Praia, das Calçadas,
do Padre Muniz, do Dique, do Porão, dos
Pescadores, da Carioca, do Marroquim,
do Rangel, do Observatório, do Arsenal
de Guerra, da Praia, da Congregação, da
Matriz, do Hospício, do Aragão, do Veras, Estreita e Larga do Rosário, do Livramento, do Fogo, das Águas Verdes,
do Chora Menino, da Aurora, do Sol,
da Fundição, do Futuro, das Ninfas, do
Veiga, da Matriz, dos Artistas, do Lima,
do Pombal, do Padre Inglês, do Cupim,
do Encanamento, das Ubaias, numa
sequência de nomes que a voragem do
“progresso” ainda não corrompeu.
Nos dias atuais, eis que um forte
movimento se faz presente em favor
de acrescer nomes de certas figuras às tradicionais denominações de
nossas ruas e avenidas.
Neste sentido, a Lei Orgânica do
Município, que em seu artigo 164,
estabelece que seja obrigatoriamente ouvido o Instituto Arqueológico
Histórico e Geográfico Pernambucano quando da mudança de qualquer
nome de rua, praça ou avenida da cidade do Recife, vem sendo atropelada
pelos “Senhores Vereadores”.
Fazendo ista grossa para tal dispositivo, contrariando formalmente o
que determina a Lei Orgânica do Município do Recife, os chamados “representantes do povo” ensaiam agora
o expediente de acrescer aos nomes
tradicionais, novas denominações que
nada têm a ver com a consagrada toponímia da cidade do Recife.
Tal expediente teve início com a
mudança da denominação do Aeroporto dos Guararapes, que, como num
passe de mágica, recebeu o adendo de
Gilberto Freyre, seguindo-se da Avenida Norte, hoje acrescida com o nome
do Governador Miguel Arraes, e, mais
recentemente, a antiga Estrada de Beberibe que veio a ser Avenida Beberibe
Santa Cruz Futebol Clube!
E o expediente não parou por aí...
Já se encontra em pauta a mudança da Praça do Arsenal da Marinha
agora acrescentada com o nome do
passista amazonense Nascimento do
Passo; a mudança do tradicional Largo
dos Coelhos, com o nome acrescido do
cantor Reginaldo Rossi...
De quebra, teremos a Estrada Velha do Bongi que já tem o seu nome
encomendado (!)
Com tais mudanças propostas pelos nossos vereadores, logo mais teremos dezenas de tradicionais nomes de
ruas e avenidas do nosso Recife, consagrados por séculos pela toponímia
popular, mudados para “doutor ou
vereador fulano de tal”...
Tudo como previra o poeta Manuel
Bandeira em 1925!
Pelo andar da carruagem, a canção de Alceu Valença e Vicente Barreto, não mais contará em seus versos
com o tempo presente, mas no tempo
passado, por obra e graça daqueles
que hoje se intitulam “fiéis representantes do Povo do Recife”.
Na Madalena revi teu nome/Na Boa
Vista quis te encontrar/Rua do Sol, da Boa
Hora/Rua da Aurora, vou caminhar /Rua
das Ninfas, Matriz, Saudade/Na Soledade de quem passou/Rua Benfica, Boa
Viagem/Na Piedade, tanta dor/Pelas ruas
que andei, procurei/Procurei, procurei... te
encontrar/Pelas ruas que andei, procurei/
Procurei, procurei te encontrar.
Algomais • Novembro/2015
39
ARTIGO
JOÃO REGO*
Crise e democracia
[email protected]
E
screvi há algumas semanas
um artigo (A dessacralização
da política – Revista Será?
Edição 12 de agosto de 2015.
http://revistasera.info/a-dessacralizacao-da-politica-joao-rego/) tentando explicar o comportamento de
algumas pessoas que, alinhadas com
os governos do PT, sustentam-se nele
como se fosse a última possibilidade
de revanche sobre o passado de ditadura militar — quando a repressão
envolveu com o pesado manto da tortura várias gerações. Falei sobre a dificuldade de quem sustenta sua existência em uma ideologia fechada e
cheia de certezas. Tantas certezas que
tudo que vem de encontro a elas deve
ser sumariamente tachado como golpista, elitista e distanciado do povo e
de seu sofrimento estrutural.
Não importa se a realidade social e
política – aquela mesma que o marxismo investigou e tocou fogo na veia de
muitos, no mundo inteiro, para transformá-la – tem sido uma adversária implacável de suas crenças. O importante
é continuar negando, mesmo com a má
intenção de confundir os menos esclarecidos, jogando a dúvida de que esta
crise é uma invenção da “mídia golpista”. Outros, até bem-intencionados,
capturados por um delírio, único recurso que lhe resta para não os projetar no
vazio da angústia, nele se seguram desesperadamente na vã esperança de que
tudo aquilo em que investiu na sua existência de militante, ou nas suas crenças
de cidadão, ainda resista. Mas é inútil. A
cada investigação; a cada ato como o do
TCU recentemente; a cada fase da operação Lava Jato; ou cada fio que se puxa
da riqueza, indevidamente acumulada,
de Lula e sua família; esta “realidade”
vai sendo triturada pelas forças inexoráveis das instituições democráticas.
Sim, isso tudo é democracia — em pleno
funcionamento. Aquela mesma para a
qual muitos tombaram ou sacrificaram
grande parte de suas vidas aprisionados
40
Algomais • Novembro/2015
ou no exílio durante os anos de chumbo.
É possível identificar este tipo de
comportamento – as certezas ideológicas que cegam - em todo espectro partidário, inclusive nos do outro
lado. Isolo o caso do PT porque é o
governo que está com a responsabilidade (ou culpa?) da crise que vem
há meses afetando o nosso cotidiano,
cracia – sim, democracia não é um
conceito ou algo idealizado, pronto e
acabado. Democracia é a práxis política em estado vivo espraiando seu
efeito transformador na sociedade
e em nossas vidas. Todos nós somos
sujeitos e objetos desta transformação. Vejo uma nova geração de juízes
fazendo história (a bênção, Sérgio
Moro!); vejo uma enorme onda de jovens empreendedores construindo,
com
competitividade
global, as forças inovadoras da economia nacional; vejo o intelectual
que se recicla numa tentativa necessária de sair
do estado de orfandade
em que a esquerda ficou
após a queda do muro de
Berlim — ciente de que o capitalismo
não pode ficar com a corda solta, sem
alternativas que o regulem.
Enfim, essa “crise” que vem nos
aporrinhado numa onda broxante em
nosso cotidiano, causando o desemprego de milhares de pessoas, pode
ser vista por esta clivagem: o velho vivendo seus estertores – agonia
mortal dos moribundos – e o novo o
golpeando com a espada afiada das
instituições democráticas, moldando
nossa democracia.
Quanto tempo vai levar? Não sei,
vai depender da complexa luta entre
o novo e o velho e da capacidade do
País em suportar este desvario governamental. Isso é irreversível? A
democracia tem duas características
que a constituem: a imprevisibilidade, que é sempre testada a cada
eleição, e a reversibilidade. Podemos
consolidá-la estruturalmente— e vimos numa pisada boa neste sentido
— mas nada nos garante que esta estrutura não sofra modificações.
Democracia é a práxis política
em estado vivo espraiando
seu efeito transformador na
sociedade e em nossas vidas
objeto desta breve reflexão.
A essência da crise está, como
bem definiu Gramsci, no fato de que
o velho ainda não morreu e o novo
ainda não chegou em sua plenitude.
O velho aqui é uma cultura de dominação política calcada no patrimonialismo do Estado e no fisiologismo
em detrimento da população que dá
duro e alimenta essa máquina voraz
com parte do suor do seu trabalho.
Vejo o velho em todas as instâncias
da sociedade: no empresário que vive
para tirar vantagem das mamatas do
Estado, sem querer correr o natural risco de mercado; no intelectual,
que, coitado, capturado pelos seus
mais nobres ideais de juventude, está
ad infinitum impossibilitado de rever
seus valores e teorias políticas para
dar conta desta complexa e desafiante fase do capitalismo informacional;
nos juristas da mais alta corte da nação que se agarram aos pomposos e
inebriantes aspectos do poder – alguns deles, acreditem, se vêm e se
acham sábios supremos; nos políticos
... Ah! Nesses vocês também veem.
Na outra vertente, vejo o novo
consolidando a prática real da demo-
* João Rêgo é engenheiro, cientista político e consultor.
O conteúdo deste artigo é extraído da Revista Será
(www.revistasera.info)
Com tantas
espeCialidades,
gostoso é fazer
uma refeição
a Cada três horas.
o grupo ilha é uma rede de restaurantes com cardápios
especializados. localizado no charmoso bairro de Boa
Viagem, une muito sabor com um atendimento padrão
ilha. excelente para um almoço de negócios ou para
comemorar suas conquistas durante um happy hour.
Vai ser uma experiência inesquecível.
Ilha Camarões
FRUTOS DO MAR | SEAFOOD
Algomais • Novembro/2015
41
42
Algomais • Novembro/2015
Algomais • Novembro/2015
43
baião de tudo
Geraldo Freire
[email protected]
LIGADO EM PERNAMBUCO
CADÊ OS OVOS DO BRIGADEIRO?
O brigadeiro Eduardo Gomes foi um brilhante cidadão brasileiro. Entrou na Segunda Guerra
Mundial, saiu herói e depois foi por duas vezes
candidato a presidente do Brasil. Perdeu primeiro para Eurico Gaspar Dutra e depois para Getúlio Vargas. Mesmo sendo reconhecido por todos
como do bem, de grande espírito público, combatente das mazelas sociais e amante da liberdade, não fez sucesso na política. Bem diferente da
carreira militar, onde está inclusive carimbado
como Patrono da Aeronáutica. Viveu tomando
conta da mãe viúva e morreu aos 84 anos. Um
metro e 75 de altura, pesando menos de 70 quilos,
musculoso, nariz afilado, boca pequena, cabelo
arrumado, ele era daquele tipo que nos anos 70
as moças chamavam de “pão”. Muito criticado
como orador, mas tão festejado pela beleza, que
a mulherada cantava: “Vote no brigadeiro. Ele é
bonito e solteiro.” E cadê os ovos? Ou colhões,
como dizem os desbocados? Ninguém nunca
abriu as pernas dele para confirmar, mas o Brasil inteiro dizia que não tinha: havia perdido na
explosão de uma granada. Restou ao nosso herói
a homenagem feita com o famoso doce “brigadeiro”. O doce ganhou esse nome porque, como
o brigadeiro Eduardo Gomes, não contém ovos.
44
Algomais • Novembro/2015
Quando o estudante de direito Demócrito de
Souza Filho foi assassinado por motivação política, na Praça do Diário, a família dele recebeu um telegrama do brigadeiro Eduardo Gomes com a frase de Victor Hugo: “Quem morre
pela liberdade renasce para a eternidade.”
O BOI VIRA BIFE
FELICIDADE APRENDIDA
Ele está pronto para o abate
quando pesa 450 quilos. Para
não morrer estressado, o bicho é
levado por um caminho arborizado num pasto de vacas lésbicas. O boi come e bebe água até
ficar bem relaxado. Depois leva
choques elétricos e um disparo
na nuca. É morte de gado!
A pesquisa durou 15 anos. Depois de 1.600 estudos, uma universidade francesa está soltando o resultado: você pensa na
felicidade, afugenta tudo que de
ruim vier pra sua cabeça e pode
partir para o abraço. Felicidade
é uma questão de prática: exercite e seja feliz.
QUER UM PÊNIS?
Os urologistas estão democratizando a prótese peniana inflável.
Existem hoje, no Brasil, cerca de 25
milhões de homens broxando. Desse total, perto de 11 milhões, a maioria
com mais de 40 anos, está na pindaíba sexual com disfunções de moderadas a graves: não respondem
mais ao Viagra e outras medicações via oral. Para esses homens, a solução é o implante de prótese peniana. E não se fala mais nisso!
mais
prazer!
INFORMAÇÃO
E SERVIÇO PARA
CURTIR O QUE
A VIDA TEM
DE MELHOR
Quatro décadas de humor
Cartunista Humberto comemora 40 anos de carreira com livro que
traz 580 desenhos retrando a política, o futebol e a cultura do País
S
e queremos que tudo fique
como está, é preciso que tudo
mude“. A famosa frase proferida por um dos personagens
da obra O Leopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa, retrata bem a
história recente do País. Uma cosntatação que também pode ser feita pelo
leitor que tiver o prazer de folhear o
livro De lá pra cá – A história do humor,
lançado pelo desenhista, jornalista e
arquiteto Humberto Araújo. A obra
marca os 40 anos de atividade do artista com 580 desenhos produzidos
nos últimos 13 anos de atuação na
mídia, incluindo a Algomais.
Ao apreciar os cartuns, temos a sensação de que, na última década, mudaram-se os personagens políticos, novas
medidas econômicas foram implantadas, mas problemas que afligem o povo
brasileiro permanecem os mesmos. “As
charges se sucedem e se realizam pelas
próprias condições políticas e sociais
que se repetem”, esclarece Humberto.
Mas o livro proporciona muito mais
do que constatações sobre a realidade
do Brasil. É um deleite se divertir com o
humor desse pernambucano de Itambé, de traços sofisticados, que valoriza acima de tudo a imagem, já que ele
recorre muito pouco a textos e balões.
Sua produção muitas vezes impressiona pela riqueza de detalhes, como no
desenho de Ariano Suassuna, cheio
de referência da sua obra armorial. Ou
ainda o que retrata Lula com uma tatuagem no braço do PT e fazendo outra
de tamanho muito maior nas costas do
PMDB, mostrando o fardo pesado da
coligação partidária. Ao fundo, o paletó que despiu e a indefectível gravata
vermelha do ex-presidente.
Em capa dura e papel couchê, o
livro ressalta a elegância do trabalho do chargista, que não é fixada da
efemeridade da publicação na mídia.
Humberto contou ainda com o auxílio luxuoso de um time de craques
para analisar sua obra e a realidade
em que está inserida como Xico Bizerra, poeta e compositor, Ivan Maurício, jornalista, o poeta e contador
de histórias Jessier Quirino, o jurista
José Paulo Cavalcanti Filho, Claudemir Gomes e o jornalista-escritor
Marco Polo Guimarães.
Admiradores do chargista podem
também visitar a exposição homônima
do livro no Paço Alfândega, que fica em
cartaz até o dia 14 deste mês.
Serviço:
De lá pra cá – A história do humor, Editora Bagaço,
preço: R$ 50.
Algomais • Novembro/2015
45
João Alberto
[email protected]
CÉSAR SANTOS
A NOVA CRIAÇÃO DE CÉSAR SANTOS
César Santos, o chef pernambucano que é referência na
gastronomia nacional, comemora os 23 anos do seu restaurante Oficina do Sabor, em Olinda, lançando um novo
Prato da Boa Lembrança, usando frutos do mar. É um dos
espaços que se tornou visita obrigatória dos turistas que
visitam nosso Estado.
ANA CECÍLIA SANTOS LEAL
SEM JATINHO
BRILHO FEMININO
Nas suas constantes idas a Brasília, em busca de recursos
para o Estado, Paulo Câmara utiliza voos de carreira, jatinho só em ocasiões especiais, em que se vê obrigado a
viajar de urgência. Na maioria das idas ao interior, vai,
com seus assessores de van. Nunca de helicóptero, que o
governador confessa ter medo.
Ana Cecília Santos Leal é um dos destaques do nosso
mundo social. Hoje, está dividida entre o Recife e São
Paulo, mas mantém sua atividade empresarial no Recife,
junto com a educação dos filhos Pedro, Antônio e Júlia.
Durante muito tempo comandou o Club Du Vin, de tão
boas lembranças, e agora está à frente da representação do
designer de joias Antônio Berardo e do espaço infantil Pé
de Moleque. É também uma figura elegante e simpática,
muito querida pelos amigos.
CONSTRUÇÃO
A rede internacional de materiais de construção Leroy Merlin, que tem 33 lojas no Brasil, faz prospecção para abrir uma
filial no Recife, uma das três que projeta para nossa região.
Af_Anuncio_SergioMiranda_Rodape_364x52mm RevistaAlgoMais_030915.pdf
46
Algomais • Novembro/2015
1
03/09/15
11:08
O que se
comenta...
... por aí
QUE ainda este ano abre no RioMar, filial
do restaurante L'Entrecote de Paris.
QUE o SPA do Sheraton Reserva do Paiva
é o mais completo de toda a rede na América do Sul.
QUE caiu de forma vertiginosa a ocupação dos voos da Copa Airlines e American
Airlines do Recife para Miami.
QUE está confirmada a eleição de Margarida Cantarelli para a presidência da
Academia Pernambucana de Letras em
janeiro.
QUE Guilherme Uchoa admite a possibilidade de disputar a Prefeitura de Igarassu,
sua cidade natal
RAQUEL LYRA
RAQUEL LYRA SERÁ CANDIDATA
Raquel Lyra continua fazendo um elogiadíssimo trabalho como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa,
enquanto se movimenta nos bastidores para ser candidata a prefeita de
Caruaru. Vai disputar o pleito, preferencialmente pelo PSB, mas pode
optar por outra legenda, caso não seja a escolhida pelo seu partido.
FUTEBOL
O governo do Estado já decidiu que o programa Todos com a Nota,
que distribuía ingressos para jogos do Campeonato Pernambucano,
acabou definitivamente.
TRÂNSITO
Os acidentes automobilísticos já são a quinta causa de morte no Brasil, mais que a marca mundial,
onde está em nono lugar. E outros países, como
a África do Sul, Tailândia e Rússia têm problemas
com o grande número de acidentes com motos.
INTERNACIONAL
Gustavo Krause confessa que o direito internacional foi a matéria que mais o atraiu na Faculdade de Direito do Recife. E brinca: "é o único
ramo do Direito que conheço."
Algomais • Novembro/2015
47
memória pernambucana
O que há
em um nome?
Autor do clássico Luar do Sertão e parceiro de Pixinguinha,
João Pernambuco criou o jeito brasileiro de tocar violão
Marcelo Alcoforado
Não está muito longe o tempo em
que os apaixonados faziam serenatas
para a mulher amada, que pelas frestas das venezianas faziam escapar suspiros de amor. Lá fora, sob o brilho da
lua-cheia, o cantor, com seu fiel companheiro – o violão – colado ao peito,
transformando, por essas artes que só o
amor explica, batimentos cardíacos em
compassos musicais.
Violão, esse companheiro fiel, tem
uma longa história a contar. Não indiscrições, mas o relato de uma longa caminhada na estrada do tempo.
O começo teria sido há quase dois
mil anos antes de Cristo, na antiga Babilônia, onde já se usavam instrumentos parecidos com o violão. No Egito
e em Jerusalém, o povo usava um instrumento de cinco cordas também assemelhado ao violão, ao passo que em
Roma, eram corriqueiras as serenatas ao
som de um instrumento de bojo e cordas também parecido com o violão.
O fato é que por volta do ano 300, o
instrumento já se difundira pela França e
Alemanha e, mais tarde, na Idade Média,
o instrumento chegara à Espanha, onde
sempre foi muito executado pelos virtuoses da época e onde também ganhou
a sexta corda. Em seguida, já com as características atuais, foi levado para Lisboa.
Para uns, o violão descende do alaúde árabe, chegado à península Ibérica
com os mouros, enquanto para outros,
48
Algomais • Novembro/2015
ele é filho da cítara romana, cujo uso se
expandiu com a expansão de Roma. No
Brasil, no entanto, registra-se que tudo
começou com a introdução da viola,
trazida pelos portugueses quando da
época colonial.
Não se confunda, no entanto, viola com violão. A utilização deste é das
mais diversificadas, tanto na música
instrumental, quanto no acompanhamento da voz. A propósito, diga-se, só
como curiosidade, que durante muito
tempo o violão foi tido como instrumento dos boêmios e seresteiros. Instrumento de capadócios, como dizia o
seresteiro Sílvio Caldas.
Por aqui, um dos pioneiros do instrumento foi João Pernambuco, um
pernambucano, como se pode imaginar
pelo nome. Nascido em Jatobá – atual
Petrolândia – em 2 de novembro de
1883, em verdade seu nome de batismo
era João Teixeira Guimarães.
Ainda na infância, ele começou a
tocar viola, influenciado por cantadores e violeiros locais como Bem-te-vi,
Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego
Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Aos 12 anos de idade, ele
já tocava em festas. E assim se fez músico, violonista e compositor que criou
mais de 100 choros, e também jongos,
valsas, toadas, maxixes, emboladas, cocos, canções, prelúdios e estudos.
Após o falecimento do seu pai, ele
se mudou para o Recife, onde trabalhou como ferreiro e em outros postos
de menor importância e salário. Então,
buscando dias melhores, em 1902 ele se
mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como operário. Não deixou, contudo, de tocar e compor.
Ali travou contato com violonistas
populares, ao mesmo tempo em que
varava jornadas de até 16 horas diárias.
Para os seus amigos e admiradores, em
número sempre crescente, diga-se,
sempre encontrava tempo para contar
e cantar coisas de sua terra, daí o apelido de João Pernambuco. Passados seis
anos, transcorria 1908, ele
era considerado um dos
expoentes do
choro, ombreado com
Quincas Lara n j e i ra s ,
Ernani Fi-
gueiredo, Zé Cavaquinho e Sátiro Bilhar, os maiorais da época.
Pode ser que você não saiba ou não
se lembre de quem foi João Pernambuco, mas vai lembrar, sem esforço, de
uma das músicas que ele compôs. O
nome original era Engenho de Humaitá,
mas depois de celebrada uma parceria
com Catulo da Paixão Cearense, a música passou a se chamar Luar do Sertão.
Ainda não lembra? Então eis os primeiros versos: Não há, ó gente, ó não | luar
como este do sertão...
É quase um hino à beleza sertaneja,
mas sobre essa música há um fato não
tão belo a ser comentado. Como João
Pernambuco era analfabeto, costumava dar suas composições para que outros pudessem escrevê-las e, por
conta disso, Luar do Sertão
terminou sendo registrada
exclusivamente em nome
de Catulo da Paixão Cearense, o mesmo ocorrendo
com outra criação, a toada
Caboca di Caxangá, memorável sucesso do carnaval de
1913. Posteriormente, porém,
a coautoria de João Pernambuco foi reconhecida.
Sabendo dos problemas do
compositor pernambucano com o
apoderamento de suas canções, Heitor Villa-Lobos se propôs, de boa-fé,
a registrar e transcrever várias de suas
canções, o que fez sem nenhum problema. Considere-se, no entanto, que a
associação com Catulo da Paixão Cearense também trouxe benefícios para
João Pernambuco, como o acesso à alta
burguesia e à intelectualidade, em cujas
tocatas ele exibia o seu talento para figuras de proa daquela época, como
Afonso Arinos e Rui Barbosa.
De 1928 até 1935 João Pernambuco
morou em um casarão onde funcionava uma república que abrigava, em sua
maioria, músicos e jogadores de futebol. Ali ele organizava animadas e concorridas rodas de choro que contavam
com a participação de Donga, Pixinguinha, Patrício Teixeira, Rogério Guimarães e, ocasionalmente, Villa-Lobos.
Foi lá que ele conheceu, por intermédio
do amigo Levino Albano da Conceição,
um jovem violonista chamado Dilermando Reis.
Mente criativa, João Pernambuco
formou o Grupo de Caxangá, um estrondoso sucesso com a participação de
Pixinguinha e Donga, e introduziu a percussão nordestina no Sudeste. Fez mais:
participou, também com Pixinguinha,
dos grupos Os Oito Batutas e Os Turunas
Pernambucanos. E ainda com Donga e
Pixinguinha, ele percorreu o Brasil coletando música folclórica brasileira, por
encomenda de Arnaldo Guinle.
Como violonista, gravou pela primeira gravadora brasileira estabelecida,
Casa Edison, e também para os selos
Columbia e Phoenix.
A santíssima trindade dos precursores do violão brasileiro foi constituída
por Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Levino Albano da Conceição,
mas a obra violonística de João Pernambuco era de tal densidade e profundidade que, a respeito dela, disse Villa-Lobos: Bach não se envergonharia em
assinar os estudos de João Pernambuco
como sendo seus.
Mozart de Araújo, renomado musicólogo, não poupou elogios: João Pernambuco está para o violão assim como
Ernesto Nazareth está para o piano.
Já o violonista Maurício Carrilho
certa vez escreveu sobre João Pernambuco e sua obra: Dificilmente se
encontra um violonista brasileiro,
seja ele músico erudito ou popular,
que não tenha em seu repertório alguma música do João. E prosseguiu:
Junto com a música de Heitor Villa-Lobos, a obra de João Pernambuco
tornou-se a mais legítima expressão
do jeito brasileiro de tocar o violão.
Foram muitos os sucessos de autoria de João Pernambuco. Com Antônio Maria fez A canção de seus olhos,
O amor e a rosa e Suas mãos, esta magistralmente interpretada por Maysa.
Com Catulo da Paixão Cearense fez
Caboca di caxangá e Luar do sertão.
Com Mário Rossi fez Aperitivo. Com
Pixinguinha e Donga, Estou voltando.
Com Hermínio Bello de Carvalho, Estrada do sertão. Sozinho, compôs Dengoso, Graúna, Interrogando, Rosa carioca, Sons de carrilhões, Valsa em lá...
Insista-se na pergunta inicial: o que
há em um nome?
No de João Pernambuco, a certeza
de um músico excepcional enchendo de
orgulho o estado que lhe deu nome.
O violão de João Pernambuco calou-se em 16 de outubro de 1947.
Algomais • Novembro/2015
49
última página
FRANCISCO CUNHA
Recife Cidade-Parque aos 500 Anos
[email protected]
V
ictor Hugo, o grande escritor francês,
uma vez disse: “Nada como o sonho
para criar o futuro. Utopia hoje, carne
e osso amanhã.” A meu ver, essa frase
se aplica na integra à descoberta feita pelo grupo
de pesquisa do Parque Capibaribe, convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura
do Recife e a Universidade Federal do Pernambuco, de que o Recife ainda pode vir a ser uma
cidade-parque até completar 500 anos em 2037.
Os pesquisadores do Parque Capibaribe
(mais de 50 da UFPE e da UFRPE) chegaram a
essa conclusão depois de projetarem a recuperação da cidade a partir do rio, começando pelo
parque do seu entorno, depois sua ampliação,
em cinco anos, para o parque irradiado da cidade e, por fim, na terceira cena até 2037, a cidade-parque com a ampliação da área verde atual
por habitante dos ínfimos 1,2 para os 12 metros
quadrados recomendados pela ONU (incorporando ao uso público cerca de 2 mil ha das áreas
verdes de Dois Irmãos/Guabiraba, Brennand e
Parque dos Manguezais).
O fantástico desta projeção é que ela recupera a esperança ambiental, em forma de sonho possível, para uma cidade cuja carência
de planejamento e de perspectivas de futuro,
há décadas, fez com que não só seu tecido se
fragmentasse (a ideia que me dá hoje é de um
quebra-cabeças desmontado) como se fragmentasse também a ideia de cidade na cabeça
das pessoas dando asas à moda, um tanto cult,
de falar mal dela (#hellcife, #recifede etc).
50
Algomais • Novembro/2015
Só por isso, por trazer de volta a esperança tecnicamente embasada de uma cidade bem
melhor dentro de um horizonte de tempo razoável (cerca de 20 anos), num ambiente em
que a desesperança passou a imperar, já merece ser seriamente considerada e amplamente
debatida. Em especial neste momento em que
se começa a discutir, de forma estruturada, o
O conceito do Recife CidadeParque tem o potencial de ser
a diretriz estruturadora da
dimensão do Recife 500 anos
futuro econômico, social, ambiental e espacial
da nossa capital no projeto Recife 500 Anos
coordenado pela Aries – Agência Recife de Inovação e Estratégia. Até onde entendo, o conceito do Recife Cidade-Parque, esboçada a partir
do Capibaribe como fio condutor e recosturador
do território fragmentado, tem todo potencial
de ser a diretriz estruturadora da dimensão espacial do Recife 500 Anos.
Deixar passar esse verdadeiro ovo de colombo urbanístico ou não considerá-lo adequadamente seria um equívoco que não podemos nos
dar o luxo perdulário de cometer.
Consultor
e arquiteto
Algomais • Novembro/2015
51
52
Algomais • Novembro/2015