Acessar o arquivo - Fórum de Ongs Aids do Estado de São Paulo
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Acessar o arquivo - Fórum de Ongs Aids do Estado de São Paulo
Nº 21 ABRIL/MAIO/JUNHO 2009 CRIMINALIZAÇÃO Ativistas preparam proposta para acabar com a criminalização da transmissão da AIDS no Brasil. Pg.03 ONG DENUNCIA PROGRAMA Denúncia do grupo Sonho Nosso faz governo rever a fiscalização do programa farmácia popular. Pg. 06 PUBLICAÇÃO DO FÓRUM DAS ONG/AIDS DO ESTADO DE SÃO PAULO MANIFESTAÇÃO NA PAULISTA POR UM SISTEMA DE SAÚDE DIGNO PG 07 REGISTRO Ativista diz que registro do truvada representa o início de uma enorme batalha para o fornecimento de medicamentos a serem autorizados pela Anvisa. Pg.09 SUS X STF Em defesa do SUS, Beto Volpe, do grupo Hipupiara apresenta tese durante audiência pública no STF- Supremo Tribunal Federal. Pg. 04 Delegação de Moçambique visita instalações do Fórum de Ong AIDS Pg.10 Especialista fala dos cuidados da ADT Pg.11 Projeto Rede de Proteção Humana Pgs.14 e 15 Fórum Virtual DST/AIDS Pg.16 Filmoteca básica Pg.10 A I D S A T I V I S M O abril maio junho 1 e EXPEDIENTE AIDS E ATIVISMO Nº 21 ABRIL/MAIO/JUNHO -2009 Coordenação Geral Rodrigo de Souza Pinheiro e EDITORIAL Conselho Editorial José Roberto Pereira/Betinho Cláudio Pereira Rodrigo de Souza Pinheiro O Supremo Tribunal Federal realizou entre os dias 25, 26 e 27 de abril, 04, 06 e 07 de maio uma audiência pública para tratar de diversas questões ligadas a saúde pública, entre elas o SUS - Sistema ònico de Saúde e o acesso via judicial a tratamentos e medicamentos. Jornalista Responsável Marcel Naves - MTB 27.102/SP Edição de Arte e Edição Eletrônica Valdir Oliveira Um momento fundamental se considerarmos que estamos diante do risco de perdermos o direito a continuidade de tratamentos e o acesso a medicamentos que não sejam disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Capa:Arquivo Fórum de Ong Aids de SP Impressão NOVAFORMA de Comunicação Ltda - fone: 41517577 Ameaça que tem início a partir do posicionamento de Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de que o acesso via judicial a tais medicamentos e tratamentos oneram seus gastos, uma vez que não estão previstos em orçamento. Financiamento: Edição financiada com recursos do TC 041/09, do Programa Nacional de DST/Aids da SVS do Ministério da Saúde em convênio com a UNODC firmado pelo Acordo AD/BRA/03/H34. Vamos Lembrar que a Constituição Federal, em seus artigos 5º e 196 garantem o direito a vida e a saúde dos cidadãos: Artigo 5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Artigo 196 “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Tiragem: 8 mil exemplares Diretoria do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo: Presidente: Rodrigo de Souza Pinheiro - GHIV - Ribeirão Preto Vice - presidente: Lucila Maria Magno - Gepaso Sorocaba 1º Secretário - Sandro César da Silva Conceição CEFRAN - São Paulo 2º Secretário - Enrico Sena Furtado - Instituto DIET Guarulhos 1º Tesoureiro - Albertino Rodrigues Barbosa - Grupo Vida Viver é Preciso - Barretos 2º Tesoureiro - Hugo Hagstrom - GIV - São Paulo O momento é mais que necessário para que possamos sensibilizar os Ministros do Supremo Tribunal Federal - STF, a não permitirem a criação de obstáculos ao acesso a medicamentos por via judicial e tratamentos que possam garantir a manutenção da vida. Afinal, caso seja emitida uma súmula vinculante no sentido contrário tais garantias constitucionais deixam de existir. A população não pode ser penalizada por uma falha do Estado que não consegue incorporar medicamentos em tempo hábil ou mesmo criar mecanismos onde se faça uma avaliação mais criteriosa dos casos onde realmente o usuário necessite de tratamento, entendemos que o problema está na gestão e não no orçamento. Conselho Político: Cláudio Pereira, José Roberto Pereira, José Marcos de Oliveira, José Araújo Lima, Mário Scheffer, e Solange Moraes A I D S A T I V I S M O abril maio junho 2 Contato: Avenida São João, 324 - 7º andar - Conj. 701 Centro - São Paulo - SP CEP: 01036-000 Tel. (11) 3334-0704 Fax. (11) 3331-1284 FOTO: ARQUIVO PESSOAL Conselho Fiscal: Emilio Graaser - Gaaver Regina Pedrosa - Alivi Marcia Santos - ALV Rosa Maria - Brenda Lee Rosangela Maria Silva - Gapac Administração: Assessor Jurídico - Dr. Cláudio Pereira Analista de Projetos - José Roberto Pereira Assessor de Imprensa - Marcel Naves Assessoria em Projetos - José Florentino M. B. Ferreira Assessoria Administrativa - Marta de Jesus dos Santos Auxiliar Administrativo - Thompson Santos Toledo QUANDO NOSSOS DIREITOS ESTÃO EM JOGO No Estado de São Paulo foi constituída em 2008 uma comissão de avaliação de caso a caso para utilização de novas drogas para analisar pedidos dos medicamentos Raltegravir e Maraviroque usados para tratamentos de pessoas vivendo com aids e falência terapêutica. Desde então foram analisados 498 casos para o medicamento Raltegravir e 102 casos do medicamento Maraviroque., deste total foram aprovados 441 casos para o uso do Raltegravir, sendo negados 57 e para o Maraviroque aprovados 73 solicitações e recusadas 29.Está é umas das alternativas que os governos, em suas três esferas, poderiam adotar para que diminuísse o número de processos judiciais. Não podemos deixar de responsabilizar a atuação médica nesta questão. O Conselho Regional de Medicina - CRM deveria efetivar sanções aos profissionais que receitam medicamentos de alto custo, que não estão disponibilizados pelo governo, mesmo sabendo que existe a disposição dos usuários do SUS produtos similares e com a mesma capacidade de sucesso no tratamento. Site: www.forumaidssp.org.br Email - [email protected] Edições Anteriores: www.forumaidssp.org.br/publicacoes/publicacoes.htm Sugestão de pauta: [email protected] Fale com o Presidente: [email protected] Contatos para parcerias: [email protected] RODRIGO DE SOUZA PINHEIRO Presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo Diante de tal cenário e de todo retrocesso que podemos enfrentar o Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo realizou uma manifestação no dia 05 de maio, em frente à Justiça Federal em São Paulo, no intuito de conscientizar a população sobre os riscos do que poderá ocorrer caso no próximo julgamento sobre ação de medicamentos for entendido que não procede o acesso por via judicial• a ATIVIDADE NOTA PÚBLICA CONTRA O PROJETO DE LEI 2204/09 A RNP+ Brasil (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS) e o MNCP - Movimento Nacional Cidadãs Positivas, consideram estarrecedor como, em pleno século XXI, o desrespeito à dignidade humana possa chegar a este ponto, e se posiciona de forma firme e inequívoca contra o Projeto de Lei nº 2.204/2009 do Deputado Estadual/RJ Jorge Babu, (sem partido) que dispõe sobre a obrigatoriedade da Secretaria de Estado de Saúde de manter um Banco de Dados, com nomes dos soropositivos, cidadãos infectados com HIV/AIDS, em todo o Estado do Rio de Janeiro e adoção de um documento de identificação, ao entender que este PL só servirá para fortalecer o estigma e discriminação aos portadores do vírus HIV e doentes de AIDS, afastando-os do convívio social. O citado Projeto de Lei tem provocado reações indignadas de entidades do Movimento Nacional de Luta Contra a AIDS e outras de Defesa dos Direitos Humanos em todo o Brasil. O conteúdo deste inaceitável PL, à primeira vista, pode parecer apenas um grão de areia no mar de preconceitos enfrentados pelas pessoas que vivem com HIV/AIDS. No entanto, está bem longe de ser desprezado, pois é um retrato, fiel, representativo e cruel dos pensamentos e das práticas de alguns setores da sociedade que direta e indiretamente vem semeando a intolerância, o preconceito e a discriminação. Esta Nota Pública não pretende ser um simples ato de contestação, mas uma NOTA que expressa o nosso REPÚDIO. De maneira que é inadmissível que se criem instrumentos para que de fato seja instalado na sociedade brasileira o ato de criminalização de todo um segmento social assim como a própria historia da humanidade teve mas que para muitos nos parece que os erros do passado não são relevantes Neste sentido, a RNP+ Brasil e o MNCP lamentam que o Deputado Estadual Jorge Babu se de ao trabalho de apresen- tar um Projeto de Lei desta natureza, o que aponta seu total desconhecimento acerca da Legislação Brasileira em HIV/ AIDS e dos Direitos dos cidadãos e cidadãs expressos na Constituição de 1988 e na criação do SUS - Sistema ònico de Saúde mesmo após 28 anos de epidemia de AIDS no mundo. É certo que ainda não podemos dar o grito da cura da AIDS, mas certamente podemos condenar, com veemência, qualquer manifestação de cunho Preconceituoso ou Discriminatório A RNP+ Brasil e o MNCP vêm atuando de forma prática contra quaisquer manifestações que induzam ao Preconceito e a Discriminação e entende ser imperativo que os parlamentares de fato no exercício de representação da população possam minimamente envidar esforços para que as já existentes leis que garantam os preceitos de igualdade e dignidade a todos os brasileiros e brasileiras sejam cumpridas Neste sentido a RNP+ Brasil e o MNCP, aplaudem o posicionamento de repudio do Programa Nacional em DST e AIDS e CONVOCA a todos os Parlamentares do Estado do Rio de Janeiro a se posicionarem contrários ao PL nº 2204/2009. Por fim, que somem esforços em parceria com o Movimento Nacional de Luta Contra a AIDS, através de suas Frentes Parlamentares no combate enérgico e cotidiano contra todas as formas de Preconceito e Discriminação que lamentavelmente em algumas situações são estimulados justamente onde PRIORITARIAMENTE deveriam ser combatidos. Apóiam esta iniciativa: FBH - Federação Brasileira de Hemofilia, Federação Brasileira das Pestalozzi, FNE - Federação Nacional de Enfermeiros, ABEM - Associação Brasileira de Enfermagem, CONAM - Confederação Nacional das Associações Amigos de Bairro, ADJ - Associação de Diabetes Ju- venil, RNPD - Rede Nacional de Pessoas com Diabetes, UBM - União Brasileira de Mulheres, Forum de Usuários do CNS, GIV - Grupo de Incentivo a Vida, Articulação AIDS da Paraíba, ABGLT Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgeneros, Casa Servo de Deus, GAPA/PA - Grupo de Apoio à Preveção à AIDS do Para, Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero, Grupo OXUMARÉ - Travestis e Transexuais na luta contra a AIDS e o Preconceito, Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo - GTP+, AMOTRANS - Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco, RNP+ Rio Grande do Norte, Missão Nova Esperança, RNJVHA - Rede Nacional de Jovens Vivendo com HIV e AIDS, MGM - Movimento Gay de Minas, ABRAGAY Associação Brasileira de Gays, MGRV - Movimento Gay da Região das Vertentes, Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo• GRUPOS QUEREM PROPOSTA CONTRA CRIMINALIZAÇÃO DA TRANSMISSÃO DO HIV Ativistas e representantes de grupos ligados ao combate da AIDS pretendem criar uma proposta que possa resultar em uma ação sobre a criminalização da transmissão do HIV. O objetivo é que o Departamento de DST/ Aids em conjunto com o Ministério da Justiça e SEDH elaborem uma recomendação que leve em conta os aspectos de violação dos direitos humanos, clínicos e psíquicos que envolvem esta importante questão. A iniciativa surgiu durante a realização do seminário “Direito, Direitos humanos e o HIV, realizado no dia 18 de julho em São Paulo, organizado pelo GIV - Grupo de Incentivo a Vida. Na ocasião Patrícia Rios, assessora jurídica dos Grupos Pela Vidda Niterói e Rio de Janeiro, junto com os ativistas Claudio Pereira e Jorge Beloqui demonstraram interesse na formalização do assunto. A intenção é de que a ação possa ser referendada pelo movimento social e pela Frente Nacional Parlamentar de Aids. Desta forma se espera poder criar um instrumento de defesa judicial para pessoas que futuramente possam vir a ser acionadas com este propósito. Nesse sentido Patrícia Rios ressalta que já foram feitos contatos com o Deputado Chico D´Angelo, Presidente da Frente Nacional Parlamentar.” Assim, solicitamos a socialização desta Nota Técnica para apreciação pelo Movi- mento Social e encaminhamento para a Frente Nacional Parlamentar de Aids”. Diz Patrícia. Segundo a representante da Ong Pela Vidda durante encontro da RNP+ tomou conhecimento que uma nota técnica já havia sido elaborada e encaminhada ao Ministro do STF - Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Melo. O ministro analisa um recurso criminal, (o Habeas Corpus 98.712), no qual a defesa busca a mudança na clas- sificação de tentativa de homicídio para contágio de moléstia grave de uma pessoa vivendo com HIV/Aids e que teria contaminado três ex-namoradas. É importante ressaltar que este movimento em torno da criminalização na transmissão do HIV, busca não criar equívocos e que os casos não sejam vistos sempre como uma tentativa de homicídio, mas que cada caso seja avalizado especificamente• MN A I D S A T I V I S M O abril maio junho 3 ENTREVISTA A I D S A T I V I S M O abril maio junho 4 O ativista Beto Volpe, do Grupo Hipupiara, de São Vicente no litoral de São Paulo esteve presente em audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal, no dia 04 de maio, em Brasília. Volpi e outros oito palestrantes especialmente convidados pelo STF debateram juntamente com 25 especialistas questões sobre o direito a saúde, registro de medicamentos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), protocolos e diretrizes terapêuticas, além de políticas públicas e assistência farmacêutica. Na ocasião o Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes abriu a sessão destacando que o objetivo do encontro foi o de ouvir pessoas com experiência e autoridade sobre o Sistema ònico de Saúde. Para o ministro a expectativa é de que os debates esclareçam questões técnicas científicas, administrativas, políticas, econômicas e jurídicas relativas ao SUS. Beto Volpe iniciou sua apresentação revelando ser portador do HIV há 20 anos. Durante discurso ele relatou ainda as dificuldades que passou em decorrência das 15 intervenções cirúrgicas sofridas e o surgimento de cânceres ao longo do tratamento. Ouvido atentamente pelo plenário o ativista não perdeu a oportunidade de defender a integralidade absoluta do SUS citando sempre como exemplo a própria experiência. Volpe teve de recorrer duas vezes ao poder judiciário para obter medicamentos que garantem a continuidade de sua vida. LUTA POR UM SISTEM DE SAÚDE DIGNO CHEGA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL FOTO: ARQUIVO PESSOAL e O ativista Beto Volpe marca presença durante audiência pública no Supremo Tribunal Federal onde falou entre outras coisas sobre o SUS O ativista apresentou duas propostas ao STF, sendo a primeira sobre a garantia dos pacientes em poderem integrar pesquisas e a continuidade do fornecimento dos medicamentos. A segunda sobre a possibilidade de acesso a medicamentos não licitados e não previstos na lista do SUS, desde que tenham certificação internacional. Em entrevista ao JAA, Beto Volpe contou detalhes sobre a preparação da tese, os temas debatidos e as expectativas sobre a iniciativa do Supremo Tribunal Federal. JAA - Qual sua avaliação sobre a iniciativa do Supremo Tribunal Federal ao realizar uma audiência pública para tratar do acesso da população ao SUS ? Beto Volpe - O STF atento ao clamor popular por um SUS integral, universal, equânime e também ao lobby do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde e outras instâncias governamentais, convocou essa audiência pública para ter um olhar diverso sobre seis eixos de discussão como financiamento, pactuações, assistência farmacêutica, (sendo esta o objeto da tese do Hipupiara), e o poder de estabelecer alguns marcos legais sobre o SUS. Foram vários operadores de direito, gestores e técnicos em saúde, médicos representativos de suas associações e cinco membros da sociedade civil, num total de 33 especialistas habilitados a apresentar propostas de aperfeiçoamento do Sistema ònico de Saúde. JAA - Como foi a elaboração da tese apresentada ao supremo? Beto Volpe - Ao ter a notícia de que o STF havia convocado a Audiência e que um dos temas seria a assistência farmacêutica de medicamentos não previstos nas listas SUS de imediato esbocei a tese, com base na experiência de São Paulo, onde foi implantada no CRT a estratégia ‘Medicamento caso a caso’, atendendo a proposta da sociedade civil. Ao propor sua ampliação para o âmbito da ANVISA, seria formado um comitê virtual por médicos indicados pelas respectivas sociedades brasileiras de especialidades, evitando contágios financeiros ou políticos. Quando da prescrição de um medicamento excepcional, esta seria digitalizada juntamente com os exames e documentações necessárias, encaminhadas à caixa de entrada dos profissionais da especialidade envolvida que, sem necessidade de abandonar suas atividades cotidianas poderiam avaliar e decidir pelo fornecimento ou não do medicamento, de forma breve. Esse sistema centralizado, em articulação com a Polícia Federal, permitiria identificar os reais inimigos do SUS, as máfias que envolvem laboratórios, ONGs, advogados e laranjas, muitas vezes não tão laranjas assim. Porém, mais que apresentar propostas de aperfeiçoamento da assistência farmacêutica, sabíamos que a nossa missão seria a de demonstrar o lado humano da questão. Afinal, eu era o objeto que estava em discussão, por ter necessitado por duas vezes de liminares. Então não poupei esforços para atingir os corações dos Ministros e de quem mais tenha acompanhado. As liminares não são apenas gastos excessivos. São vidas, vidas que estão inseridas em famílias abaladas e em risco de sérias consequências sociais. O Hipupiara também procurou contemplar ao máximo as nossas principais angústias, como a segunda fase da AIDS, tuberculose, hepatites, sífilis congênita, homofobia, produção local de medicamentos, EC 29, criminalização e outros. JAA - Você acredita que sua apresentação possa repercutir positivamente? Beto Volpe - Não somente acredito como tenho certeza que sim. Apesar da confusão do Ministro ao me chamar de doutor, pois não tenho formação acadêmica, acredito que foi o fato de aliar uma boa proposta técnica, que provocou adaptações em quatro teses posteriormente apresentadas, ao fato de o defensor ser o próprio objeto em questão. Eu estava naquele pleno graças à integralidade da assistência que recebi, ainda que pela via judicial. E isso faz a diferença. JAA - Qual sua expectativa a respeito de uma possível definição do STF sobre o tema? Beto Volpe - Alguns indicadores fortalecem a per- cepção de que o balanço final da audiência foi positivo, como os calorosos cumprimentos de diversos representantes de Instituições de renome e influência nacional como o Conselho Federal de Medicina (com comprometimento de articulação através de sua Comissão em Defesa do SUS), a própria ANVISA, de cujo técnico ali presente ouvi que o grande problema de nossa proposta é a simplicidade de execução. Enfim, agora é aguardar o julgado, que não tem data marcada por haver seis outros processos na fila. No entanto, os especialistas que lá estiveram concordam que a declaração do senador Tião Vianna de que retiraria o projeto de lei 219/07 já é sinal de que as argumentações em favor da integralidade, sejam elas vindas de operadores de direito, seja de representantes de pacientes e da sociedade civil, foram contundentes o suficiente para provocar mudanças na estratégia dos defensores do ‘financeiramente possível’. JAA - Qual sua opinião sobre o SUS? sédio de companhias farmacêuticas aos médicos, impondo uma série de restrições e medidas de transparência, coibindo a promiscuidade na relação entre os médicos e os laboratórios farmacêuticos. damos seja o objeto de muitas das ações em curso no momento. Além de agilizar processos relacionados a vidas que estão em seu limite e que não dispõem de muito tempo para trâmites judiciais e poupar o erário público de despesas com procedimentos de alta complexidade decorrentes do agravamento clínico das doenças, essa prática separaria o joio do trigo, eliminando os excessos sabidamente cometidos em nome da saúde individual, afetando negativamente a saúde pública. O escritório jurídico mantido pelo Hipupiara, que nunca sofreu influência de qualquer elemento estranho à missão do Hipupiara, seja ele governamental ou laboratorial, atesta a agilização na obtenção dos medicamentos para combater o HIV e o Hipupiara confirma a manutenção e elevação na qualidade de vida de seus associados que foram beneficiados por essa iniciativa. Com base nessas alegações, o Hipupiara defende a criação, no âmbito da ANVISA, de comitê técnico composto pelas especialidades médicas envolvidas nas solicitações de medicamentos ou outros insumos em saúde. Esse comitê teria como atribuição analisar as solicitações e decidir pela sua pertinência ou não, agilizando o processo de obtenção do Beto Volpe - Ele deve ser, sim, considerado Patrimônio da Humanidade. Mas, para isso, precisa de responsabilidade sanitária, precisa se EC 29 regulamentada, precisa de carreiras profissionais no SUS, precisa de uma sociedade civil mais comprometida com o conjunto do que com sua respectiva patologia. Somente assim poderemos falar o que tanto queremos: ‘O MAIOR E ME- LHOR PLANO DE SAòDE DO MUNDO!’. O discurso de que não há dinheiro suficiente para os gastos em Saúde é uma falácia. Somos um país rico, com muito dinheiro destinado à Saúde. O problema é a destinação que é dada a ele. Nós, perversamente apelidados de ‘prima rica’, porém na realidade a ‘prima organizada’, somos o contraponto que prova isso. Dinheiro, há. O que não há é punição para malversações em saúde• MN SíNTESE DA TESE DEFENDIDA Tese a ser defendida: 3 Obrigação do Estado de custear prestações de saúde não abrangidas pelas políticas públicas existentes. Posição defendida pelo HIPUPIARA: O Hipupiara defende que o direito constitucional à Vida e os fundamentos de integralidade e equanimidade do SUS devem ser respeitados pelas três esferas do poder público: federal, estaduais e municipais. Defende que o Sistema ònico de Saúde, ao contrário de constantes afirmações governamentais como justificativa para ações não realizadas, tem orçamento suficiente para assegurar o cumprimento de todas as metas pactuadas intersetorialmente. Defende que o grande problema para a realização do sonho anterior está no âmbito municipal, palco de sinistros acordos e grandes desperdícios de verbas SUS. Defende que o grande problema do SUS hoje é a fragilidade do Controle Social, a maior parte das vezes cooptada pelo poder público e inerte perante abusos cometidos na gestão da Saúde. Assim, ações referentes à integralidade da assistência ao cidadão, ainda que não previstas nas atuais Normas Parametrais do SUS, devem ser garantidas de acordo com a correta utilização dos recursos repassados aos Fundos Municipais de Saúde e outras instâncias públicas de captação e administração de recursos, a qual venha a ser chamada a compor uma co-responsabilidade social madura e não comprometida com as forças políticas locais, implantando o Pacto pela Vida em Defesa do SUS. Tese a ser defendida: 4 Obrigação do Estado de disponibilizar medicamentos ou tratamentos experimentais não registrados na ANVISA ou não aconselhados pelos Protocolos Clínicos do SUS. Posição defendida pelo HIPUPIARA: Os tratamentos experimentais devem continuar sendo custeados pelos laboratórios responsáveis pelos estudos. No entanto, há a necessidade de se efetivar maior vigilância sobre as conclusões dos protocolos. Alguns laboratórios, como a Roche, quando da aprovação das drogas até então experimentais, cessam a distribuição dos medicamentos aos pacientes e outorga essa responsabilidade ao SUS. Ocorre que em protocolos nem sempre as posologias são as mesmas consensuadas para a distribuição pública, vindo a comprometer o controle do estado clínico dos clientes do SUS. O Hipupiara aproveita e parabeniza medida governamental que limita o as- Tese a ser defendida: 5 Obrigação do Estado de fornecer medicamento não licitado e não previsto nas listas do SUS. Posição defendida pelo HIPUPIARA: O Hipupiara defende como cumprimento do direito constitucional à Vida e como o fez se contrapondo à decisão da ministra Ellen Gracie em março de 2007, que os medicamentos certificados internacionalmente pelo FDA nos Estados Unidos ou pela EMEA na Europa e cuja necessidade seja comprovada por laudo técnico (médico) sejam disponibilizados administrativamente, sem a necessidade de intervenção judicial. O estado de São Paulo tomou a iniciativa, através do Programa Estadual DST/AIDS e proposta pela sociedade civil organizada, de criar um comitê técnico formado por médicos das especialidades atingidas que analisam as solicitações, verificam sua pertinência e tomam decisões baseadas em critérios eminentemente técnicos, e não financeiros como concor- medicamento por parte do maior interessado, o cliente do SUS, poupando a sobrecarregada Justiça de desnecessários processos, pois que a Vida é inalienável direito constitucional, elevando a qualidade da assistência em Saúde por parte do Sistema Único de Saúde, desejo de todos os brasileiros. As inovações tecnológicas na área de comunicação possibilitam que não seja necessário grande investimento estatal para infra-estrutura desse comitê, uma vez que os laudos, exames e outras documentações que se fizerem necessárias podem ser enviadas por diversas formas de transmissão, facilitando o fluxo de informações e a liberação ou não dos insumos, além de fornecer subsídios à inclusão do insumo medicamentoso em tela no arsenal terapêutico previsto nos protocolos técnicos e administrativos do Sistema Único de Saúde. Finalizando, destacamos a importância das ações de advocacia desenvolvidas pela sociedade civil como estratégia de balizamento da presteza de acesso aos tratamentos experimentais, tais ações devem vir a ser alvo de parcerias constantes e ininterruptas entre as agências públicas e a sociedade civil, devendo os poderes públicos priorizá-las por ocasião dos editais públicos para a seleção de projetos de parceria.• MN A I D S A T I V I S M O abril maio junho 5 O Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo, criado em 1996 e fundado em outubro de 1997, consolidando-se como instância de mediação, articulação e mobilização do movimento de luta contra a AIDS, aqui representado por mais de 100 organizações não governamentais associadas, vem a público manifestar sua “MOÇÃO DE APOIO”. Por conta disso, consideramos da mais alta relevância a atuação da Sra. Josefa Fonseca e dos integrantes da ONG/AIDS Sonho Nosso Frente de Apoio Comunitário no Controle Social na cidade de Nova Guataporanga ao trazer a publico irregularidades no Programa “Aqui tem Farmácia Popular” cobrando das autoridades providências que visem investigar, inibir e punir praticas não condizentes com os princípios constantes Emenda Constitucional n.º 19/98. Princípios estes fundamentais para a Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e mais ainda a Responsabilidade da Administração Pública, de maneira que os fatos apontam franco desrespeito a Supremacia do Interesse Público sobre o Privado. Fórum ONG AIDS do Estado de São Paulo Rodrigo de Souza Pinheiro Presidente PROMESSAS MARCAM PRIMEIRO ENCONTRO COM DIRETOR DO EMÍLIO RIBAS A I D S A T I V I S M O abril maio junho 6 Na ocasião o médico-infectologista David Uip garantiu total atenção na implantação do conselho gestor O médico infectologista e diretor do instituto Emílio Ribas, David Uip prometeu que irá estudar a forma mais adequada de implantar o conselho gestor na instituição. David Uip também destacou a importância da participação de militantes na implantação do grupo. As declarações foram feitas durante o primeiro encontro entre representantes de Ongs, ativistas e a direção do Emílio Ribas, ocorrida no início de maio. Entre os presentes estiveram presentes Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONG/Aids de São Paulo; Regina Pedrosa, da Alivi; Abel Corino da Fonseca Neto do Grupo Pela Vidda/SP; José Carlos Veloso do Gapa; e Solange Morais da RNP+ de Campinas. Todos comprometeram-se em assessorar David Uip na questão. Para o presidente do Fórum de ONG/Aids de SP, Rodrigo Pinheiro, o novo diretor é bem objetivo. “Ele abriu um canal e agora precisamos acompanhar os processos. Foi uma reunião positiva”, disse. David Uip ressaltou que pretende promover uma reestruturação no Emílio Ribas com o intuito de tranforma- lo no maior centro de diagnóstico do mundo. Um dos exemplos citados foi quantidade de médicos dentro do hospital, que atualmente chegam 316, “Tendo esse número de profissionais é inadmissível que existam filas para consultas. Estou convidando todos a participar da nova gestão, mas tem uma parcela que não responde”, disse Uip. Segundo Uip, um dos principais objetivos do Emílio Ribas é que o local possa atender a todas as doenças infecciosas no país com o apoio de todo o complexo existente na região da Faculdade de Medicina da USP - Universidade de São Paulo• MN Mobilização em defesa da saúde CARTA ABERTA A POPULAÇÃO O caso ganhou repercussão nacional fazendo com que o governo federal tomasse providências As irregularidades existentes no programa Farmácia Popular vieram a tona após denúncias feitas por Josefa Fonseca, presidente da Ong Sonho Nosso, entidade que atua na promoção da saúde e prevenção às DST/Aids, na região da O Programa Farmácia Popular do Brasil em São Luiz do Maranhão Nova Alta Paulista, extremo oeste do Estado de São Paulo. do ministério estabelecem que a venJosefa descobriu por acaso ao tentar da de remédios em estabelecimentos fazer a primeira compra de um remé- conveniados só pode ser feita medidio para diabetes pelo programa, que ante a apresentação de CPF original, seu nome já constava no cadastro. um documento com foto do usuário, A situação foi relatada á polícia que prescrição médica com registro no após investigações realizadas no inte- Conselho Regional de Medicina além rior paulista constatou que os CPFs de da assinatura, endereço e o telefone 50 pacientes do sistema público de do profissional. saúde da cidade de Nova GuataporanFica ainda estabelecido pelo artiga (a 672 km da capital paulista) fo- go 20 da portaria que pacientes consiram utilizados indevidamente para as derados incapazes de comparecer ficompras. Na ocasião foram detectadas sicamente à farmácia podem recorrer também aquisições de anticoncepcio- a um representante legal mediante á nais por mulheres que já fizeram la- apresentação de uma procuração requeaduras, homens e ainda medica- gistrada em cartório. Junto com este mentos comprados por pessoas ofici- documento também é necessária á almente mortas. apresentação do CPF do paciente, cujo Mesmo com a gravidade da situa- deve constar também na receita. ção o caso chegou a ser arquivado pela delegacia da cidade, mas reaberto pela Maior fiscalização seccional a pedido do promotor FerOutra medida adotada pelo Minando Ortega, que acredita ser esta nistério da Saúde para coibir novas apenas parte de uma situação mais denúncias de irregularidadas foi a complexa. “Eu acredito que esse pro- criação do Comitê de Acompanhablema não é pontual e é mais que re- mento do Programa Farmácia Pogional e estadual. É nacional. É a pon- pular do Brasil - Aqui Tem Farmáta do iceberg”. Afirmou Ortega que en- cia Popular. caminhou o caso ao Ministério PúbliDe acordo com a Portaria n.º co Federal. 986, o grupo tem a finalidade de suOs estabelecimentos credenciados pervisionar a execução do prograno programa “Aqui tem Farmácia Po- ma e contará com representantes pular” são obrigados a exigir receita, do Datasus, da Caixa Econômica CPF, documento com foto e assinatu- Federal, da Associação Brasileira ra do comprador do remédio para fa- de Redes de Farmácias e Drogarizer a venda com o desconto. A com- as (Abrafarma), da Associação Brapra só pode ser finalizada com a pre- sileira do Comércio Farmacêutico sença do usuário na farmácia. (ABCFarma) e da Confederação Ações do governo federal Nacional do Comércio (CNC)• A partir de agora as novas regras Nós, organizações da sociedade civil, usuários e cidadãos estamos hoje em praça pública para defender o direito à saúde e exigir a dignidade que a Constituição nos assegura. Neste momento, o Supremo Tribunal Federal (STF) está realizando, em Brasília, audiência pública para discutir as diversas ações judiciais que obrigam o SUS a fornecer medicamentos, insumos e procedimentos médicos não cobertos pelo sistema público. O resultado da audiência poderá ser a edição de uma Súmula Vinculante sobre o tema, que deve interferir nas decisões de primeira e segunda instâncias no País. Queremos aqui alertar: existe um movimento, que chegou ao STF, daqueles que desejam coibir nosso direito de acionar a Justiça e aqueles que afirmam que o SUS só deve cobrir o que for “financeiramente possível”. A população brasileira não pode ser responsabilizada pelas falhas dos gestores dos SUS. O problema é a ausência do Estado e não a existência das ações judiciais. O Poder Judiciário é imprescindível para garantir o direito à saúde nos muitos casos de omissão governamental. ALERTAMOS A POPULAÇÃO, E CLAMAMOS AOS MINISTROS DO STF, QUE DECIDAM PELA AMPLIAÇÃO E NÃO PELA RESTRIÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E À SAÚDE NO PAÍS. PARA ISSO ESCLARECEMOS: 1. Não é verdade que as ações judiciais são caso de polícia, como fazem divulgar vários gestores. Não é verdade que todos os pacientes, advogados e juízes estão a serviço de interesses de laboratórios e empresas da saúde. 2. Nós só entramos com ação na Justiça quando há urgência, necessidade de saúde e até mesmo risco de morte dos pacientes. As nossas ações são baseadas na Constituição Federal, que elege a vida e a saúde como bens maiores e inegociáveis. 3. A ação judicial depende de uma prescrição do médico, que deve ser responsável pelos seus atos e pela saúde do paciente. 4. A ação judicial ocorre quando o SUS demora muito a incorporar um medicamento ou procedimento. Essa demora muitas vezes acontece no registro junto à ANVISA na introdução nas listas oficiais do SUS, na compra ou na distribuição. Há também casos de medicamentos experimentados em ensaios clínicos no Brasil, cujos detentores de patentes não solicitam o registro na ANVISA. 8. Nós defendemos medidas administrativas das secretarias de saúde para evitar ações judiciais, analisando cada prescrição e se antecipando à distribuição pelo SUS, desde que não sejam realizadas com morosidade. 5. Nós defendemos a padronização, pelo SUS, dos medicamentos de alta complexidade, a exemplo dos antiretrovirais. Nós também defendemos a prescrição responsável. 10. E, principalmente, nós defendemos a destinação de mais recursos para o Sistema ònico de Saúde por meio da regulamentação da Emenda Constitucional 29. 6. Nós condenamos as pressões e as condutas antiéticas da indústria farmacêutica e de equipamentos. MINISTROS DO STF: Decidam pelo nosso direito de continuar buscando na Justiça a garantia da saúde e da vida! 7. Nós defendemos que as eventuais distorções sejam prevenidas e punidas pelas autoridades competentes. 9. Nós lutamos pela ampliação do acesso, inclusive lançando mão da quebra de patentes e da produção de genéricos. Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo São Paulo, 5 de maio de 2009• O protesto com centenas de manifestantes teve ínicio com uma passeata encerrada em frente ao prédio da avenida paulista. FOTO: ARQUIUVO FÓRUM AIDS SP MOÇÃO de APOIO DENÚNCIAS DA ONG SONHO NOSSO APONTAM IRREGULARIDADES NO PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR FOTO: FABRICIO CUNHA a ATIVIDADES Manifestantes concentrados em frente a sede da justiça federal, na avenida Paulista. A iniciativa realizada no começo de maio foi motivada pelo STF - Supremo Tribunal Federal ao realizar audiências em torno da atual situação do SUS - Sistema único de Saúde. Cerca de 200 pessoas ligadas ao Fórum de ONG-Aids do Estado de São Paulo decidiram chamar á atenção da população levando a questão para as ruas. Com uma passeata que teve início no Trianon-MASP, com término em frente ao Fórum Ministro Pedro Lessa, sede da justiça federal em São Paulo, o protesto teve como destaque á problemática do acesso universal e a necessidade de se garantir o tratamento e o recebimento de medicamentos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Para o presidente do Fórum de ONG/AIDS de São Paulo, Rodrigo Pinheiro o momento visou aproveitar a oportunidade única de participar da discussão iniciada pela mais alta corte de justiça do país. “Estão discutindo o direito das pessoas de acionar a justiça para garantir o acesso a medicamentos e tratamentos. Isso é uma garantia constitucional e queremos alertar a população e sensibilizar os ministros do supremo para que esse direito seja garantido, a população não pode ser penalizada”. Afirmou Rodrigo. O representante do Fórum ressalta ainda que após as audiências, o STF poderá editar uma súmula vinculante sobre o tema, que pode interferir nas decisões de primeira e segunda instância no País. Pinheiro cita como exemplo, a defesa das ações judiciais, que segundo ele são necessárias uma vez que esta é a única forma de se conseguir acesso a medicamentos e tratamento de várias patologias. De acordo com José Araújo, representante do Centro de Convivência para Crianças que Vivem com HIV/Aids em São Paulo, atualmente o SUS não fornece remédios que não sejam a registrados na Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mesmo que estes sejam registrados por entidades internacionais de credibilidade• MN A I D S A T I V I S M O abril maio junho 7 REGISTRO Antirretroviral Truvada deve ter registro na ANVISA A indústria farmacêutica Gilead Sciences emitiu comunicado informando que até o final deste ano o antirretroviral Truvada deve ter o registro aceito na ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Os detalhes foram veiculados após um pedido formal elaborado pelo Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo encaminhado à sede da empresa no Estados Unidos. Na carta assinada pelo presidente do Fórum Rodrigo Pinheiro foram citados a questão dos testes realizados no Brasil com as drogas tenofovir e emtricitabina, componentes do antirretroviral. De FOTO: DIVULGAÇÃO Informação foi confirmada por farmacêutica após carta do Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo Comissão Européia aprova o uso de um único comprimido diário, que substitui três medicamentos, para a infecção VIH-1. acordo com o documento o medicamento foi licenciado pelo FDA - Food and Drugs São Paulo, 9 de Junho de 2009 Dr. John F. Milligan Presidente e CEO Gilead Sciences International Limited Caro Sr. A I D S A T I V I S M O abril maio junho 8 O Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo foi criado em 1996 e estabelecido juridicamente em 1997. Atualmente, é composto por 98 ONGs/aids distribuídas por todo o Estado de SP. Estas ONGs (organizações não-governamentais) estão relacionadas diretamente com pelo menos 24 mil pessoas vivendo com HIV/aids. O seu objetivo é principalmente: 1. valorizar a diversidade das ações desenvolvidas pelos seus membros e outras organizações não-governamentais, estabelecendo debates e compartilhamento de experiências; 2. acompanhar a formulação e implementação de políticas públicas para garantir o acesso integral à saúde para pessoas vivendo com HIV/aids e para controlar a epidemia do HIV através de políticas de prevenção. Estamos escrevendo para solicitar à Gilead a aplicação imediata do registro na Anvisa (autoridade sanitária no Brasil) das drogas Truvada (tenofovir mais emtricitabina) e Emtriva (emtricitabina). Como sabem, de acordo com o site www.clinicaltrials.gov existem atualmente sete testes sendo conduzidos no Brasil com estas duas drogas. Alguns deles são para Administration - agência americana que regulamenta o setor de remédios e alimentos nos Estados Unidos - em 2 de agosto de 2004, e o Emtriva no dia 3 de julho de 2003. As licenças permitem tratar o HIV /Aids com estas drogas em combinação com outras. No entanto de acordo com um porta voz da companhia não há intenção de disponibilizar a Emtricitabina no Brasil. “A emtricitabina, princípio ativo do Emtriva, é agora usada quase que exclusivamente como parte da terapia no Truvada e raramente é prescrita sozinha”. Alega a companhia em um comunicado• Veja a seguir a carta encaminhada pelo Fórum a prevenção da transmissão do HIV e outros para tratar as pessoas com HIV/aids. Truvada foi licenciado pelo FDA em 2 de agosto de 2004 e o Emtriva no dia 3 de julho de 2003 (www.fda.gov). Truvada também foi licenciado pela EMEA em 21 de fevereiro de 2005 e o Emtriva em 24 de outubro de 2003 (www.emea.europa.eu). As licenças permitem tratar o HIV /aids com estas drogas em combinação com outras. Uma vez que pacientes brasileiros que participam em ensaios clínicos, a droga deve ser disponível para os brasileiros, se forem eficazes. Já que as indicações desses medicamentos para o tratamento de pessoas com HIV/aids estão aprovadas pelo FDA e EMEA, os pedidos de licenças destes também devem ser apresentado à Anvisa, a fim de que o pacientes brasileiros com HIV/aids possam utilizá-los. Claro que, se todos ou alguns destes ensaios foram bem sucedidos, haverá novas indicações para ambas as drogas e as correspondentes devem ser igualmente apresentados à Anvisa. Como um exemplo, o nome de um dos ensaios é “Uma vez ao dia PI/NNRTI - Combinações de terapia para tratamento de pacientes não experimentados, Pacientes infectados pelo HIV com condições de recursos limitada”. Por isso, pensamos que a Gilead já está sensível à nossa solicitação• Rodrigo de Souza Pinheiro, Presidente e ENTREVISTA Registro do Truvada é apenas o começo Para Jorge Adrian Beloqui, ativista e professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo-USP, o pedido de registro do Truvuda é um bom sinal, mas lembra que ainda há muito a ser feito em relação a outros medicamentos. Beloqui também acredita que a “carta” encaminhada pelo Fórum de Ong AIDS cobrando uma posição a respeito é um sinal de que a mobilização da sociedade é vital nesta questão. Um estudo elaborado por Jorge Beloqui mostra que o risco dos homens homossexuais terem Aids no Brasil é até 18 vezes maior em comparação aos heterossexuais. De acordo com o levantamento, o menor risco de infecção foi observado entre os gays do Paraná, 11 vezes mais que os heterossexuais. O maior valor foi em Brasília, sendo superior a 40. Na cidade de São Paulo foi maior que 38; no Rio de Janeiro, acima de 32 e em Belo Horizonte e Salvador superou 38 vezes.Veja abaixo entrevista de Beloqui concedida ao JAA. dade de São Paulo e ativista na luta contra á AIDS, como ocorreu seu engajamento nesta questão? JAA - O senhor é professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universi- JAA - A informação só foi divulgada após uma carta enviada pelo Fórum ao labora- J. Beloqui - Eu participei do Grupo Somos de Afirmação Homossexual, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Assim conheci Herbert Daniel e Veriano Terto. Eu entrei na luta contra a AIDS quando foi fundado o grupo pela Vida e quando soube que tinha HIV, em 1989. JAA - Qual sua avaliação a respeito da possível inclusão na Anvisa do antirretroviral Truvuda? Jorge Beloqui - O truvada foi licenciado pela agência européia em 2004 ou 2005, e antes pela agência dos EUA para tratamento de pessoas com HIV. Surpreende que com ensaios no Brasil o truvada ainda não tenha solicitação de registro. O mesmo acontece a emtricitabina. E provavelmente aconteça com medicamentos para outras patologias. FOTO: ARQUIVO/WWW.AGENCIAAIDS.COM.BR r Jorge Adrian Beloqui discursa durante 17º Congresso sobre AIDS, no México. tório responsável pelo medicamento, o que o senhor achou desta iniciativa? Jorge Beloqui - Penso que esta iniciativa mostra o quanto é necessário que as ONGs/ AIDS e as pessoas interessadas na luta contra a AIDS monitorem o que está sendo pesquisado no Brasil e os benefícios para os brasileiros destas pesquisas. Surpreende que pesquisas sejam realizadas no Brasil e os benefícios não sejam usufruídos por pacientes brasileiros. Acho estimulante a resposta do laboratório, embora parcial, pois falta a solicitação de registro da emtricitabina. Talvez seja necessário insistir junto ao laboratório neste aspecto. JAA - Surpreende que no Brasil seja solicitada e autorizada a realização de pesquisas cujos benefícios não serão usufruídos pelos pacientes brasileiros? Jorge Beloqui - Acho estimulante a resposta do laboratório, embora parcial pois falta a solicitação de registro da emtricitabina. Talvez seja necessário insistir junto ao laboratório neste aspecto. JAA - Qual sua análise a respeito da política adotada pela Anvisa quanto ao registro de antirretrovirais? Jorge Beloqui - Não sei se existe alguma política especial para registro de antiretrovirais pela ANvisa. JAA - O que o senhor acha do acesso à saúde de pessoas vivendo com HIV/aids e as formas adotadas para controlar a epidemia de HIV? Jorge Beloqui - Penso que isto mostra o quanto é importante a opção pelo SUS no Brasil, ou seja, o acesso universal e integral à saúde. Ele deve ser reforçado mediante preços mais acessíveis para medicamentos de todo tipo (não somente para o HIV/ AIDS) em nosso país (que sejam distribuídos pelo SUS) além de garantir uma participação maior dos planos e seguros de saúde. Por outro lado a política de propriedade intelectual (patentes) adotada pelo Brasil precisa incorporar todas as flexibilidades possíveis neste sentido, e ser mais firme para conceder patentes somente de produtos inovadores. Vale ressaltar que é necessário aprovar a Regulamentação da Emenda Constitucional 29, apesar a oposição do governo federal. Ao mesmo tempo à história do tratamento para o HIV no Brasil mostra o quanto é importante o acesso via justiça, motivo de uma recente audiência pública no STF- Supremo Tribunal Federal. Afinal, a privatização da gestão via fundações ou OSC, sem licitação e sem possibilidade de controle social é uma ameaça á qualidade dos serviços. Por exemplo, no ano passado alguns funcionários do CRT AIDS foram demitidos porque a fundação que os tinha contratado estava com problemas relacionados à reitoria da UNIFESP, que são de domínio público. Atualmente no município e no estado de São Paulo vivemos uma diminuição deliberada dos recursos humanos para a saúde em geral e para a AIDS em particular, às vezes em função de privatizações a ocorrer. Em outros casos o problema é a prolongada precariedade dos contratos dos funcionários de saúde. A descentralização (das ações de saúde) nem sempre resulta em melhoria da qualidade da atenção. Não é possível continuar com estas políticas dogmáticas que resultam numa pior qualidade de saúde para a população. A Exemplo disto temos a tentativa de descentralização da compra dos exames de CD4 em 2004, que teve que ser recentralizada. Outro ponto a salientar é que a história da AIDS no Brasil mostra o quanto é importante a contribuição da sociedade interessada na formação e sucesso da política para o benefício coletivo, mas o governo do Estado é contrário à formação dos Conselhos Gestores nos Hospitais do Estado. Neste sentido e com efeito em 2006 ou 2007 foi aprovada uma lei pela Assembléia Legislativa, que não é a aplicada porque o governador entrou com uma ação junto ao STF. Há anos o Fórum de Ong Aids e outras organizações não governamentais vem solicitando, sem sucesso, a implantação destes Conselhos em diferentes hospitais, como o Emílio Ribas. Na parte da prevenção da transmissão do HIV e de outras DST novamente encontramo-nos com diminuição de recursos humanos. Deve ser reconhecido e salientado que o governo do Brasil é um dos maiores compradores de preservativos do mundo, distribuídos sem encargos extras para a população. Na pesquisa recente do PCAP foi avaliada a importância desta política. Um progresso importante são os planos de enfrentamento na população HSH e nas mulheres. Ao mesmo tempo, é necessário abordar a perspectiva de redução de riscos da transmissão sexual do HIV na prevenção• MN A I D S A T I V I S M O abril maio junho 9 EM SÃO PAULO DELEGAÇÃO DE MOÇAMBIQUE VISITA FÓRUM DE ONG Aids Africanos que cumpriram agenda no Brasil visitaram entre outros locais a sede do Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo. A delegação de Moçambique e representantes da USAIDS (Órgãos dos Estados Unidos de ajuda a países em desenvolvimento) chegaram ao Brasil no dia 28 de Junho, onde cumpriram uma extensa agenda. Um dos principais compromissos foi a visita a sede do Fórum de Ong Aids do Estado de São Paulo, na região central da capital paulista. Na ocasião do encontro o presidente do Fórum, Rodrigo Pinheiro destacou o papel decisivo da entidade junto á sociedade, em questões que vão desde aos problemas de medicamentos até a implan- A I D S A T I V I S M O abril maio junho 10 tação de CTAs. Pinheiro detalhou ainda alguns projetos como o da capacitação de redes, incluindo as vinte lideranças de cada parte do país, e o financiamento da participação da sociedade denominado “Guarda-Chuva”, da GTONG. Em sua participação Alice Ripanga, representante da Rede Moçambicana, ressaltou que um dos principais motivos da visita se deve a necessidade de conhecer a forma com que o combate a Aids ocorre no Brasil. Segundo ela, as dificuldades existentes no continente africano são imensas. Em Moçambique, atualmente dividida em 11 províncias, as Ongs sequer con- A representante moçambicana completou que o país detém verba para a saúde, mas que esta tem dificuldades em ser revertida para os programas HIV- AIDS. Isto representa um enorme problema, pois não existe um trabalho voluntário “Aqueles que trabalham são como empregados, recebem um salário. Infelizmente muitos grupos desistem por falta de dinheiro”. Disse Alice Ripanga. Na ocasião, outro integrante da delegação, o Secretário Executivo Nacional da Rede de Associações de Pessoas Vivendo com HIVSIDA, Julio Mujojo, destacou tam com energia elétrica. Apesar disto Alice destaca que muitos feitos já foram atingidos. Entre eles esta a não demissão de funcionários apenas por serem portadores. Entretanto ela lembra que este regulamento não atingiu a muitos setores, pois muitas pessoas no país não possuem vínculo empregatício. a gravidade da enorme incidência de pessoas vivendo com Aids na çfrica. De acordo com Mujojo, cerca de 16,2% da população geral moçambicana , atualmente estimada em 20,3 milhões de pessoas, está esta infectada pelo HIV. Para Julio Mujojo a triangulação Moçambique - Estados Unidos - Brasil é a atual missão destes três países, que tem como meta a troca de experiências e a cooperação entre si para a luta contra a AIDS. A intenção, segundo o ativista é trazer mais pessoas e instituições que possam ajudar este segmento a ganhar cada vez mais destaque na área da saúde. MN Cuidados e necessidades da Assistência Domiciliar Terapêutica - ADT SAÚDE A Assistência Domiciliar Terapêutica - ADT é uma das alternativas assistenciais do Programa Nacional de DST/ Aids, implantada no Brasil a partir de 1995, tendo como principal objetivo promover a melhoria da qualidade de vida dos pacientes portadores do HIV/aids, dentro de uma visão de assistência integral à saúde. De acordo com a coordenadora do serviço de ADT, Tânia Corrêa de Souza atualmente este serviço tem uma importância fundamental. Entretanto sobre uma possível ampliação a especialista diz que a necessidade maior de um estudo sobre o assunto. Tânia que também é psicóloga hospitalar e mestre em saúde coletiva destaca, por exemplo, que a expansão da assistência domiciliar terapêutica não é algo que possa ocorrer sem um bom planejamento. Em entrevista ao JAA, Tânia falou sobre estes e outros aspectos ligados a ADT no Brasil. JAA - A assistência domiciliar é hoje destinada a quais fases do tratamento de um paciente? Tânia - Esse tipo de assistência corresponde aos serviços prestados em nível domiciliar aos pacientes que já superaram a fase aguda do processo, mas ainda estão em situação clínica delicada, necessitando de atenção constante e de cuidados específicos de baixa complexidade ou em caráter paliativo, com característica de média duração e programação eletiva. FOTO: ARQUIVO PESSOAL VISITA s FOTO: FÓRUM AIDS SP v Tânia Correa de Souza, Esp/ADT JAA - Atualmente em que consiste a ADT? Tânia - Acompanhamento e cuidados de enfermagem, visitas médicas periódicas, fisioterapia, controle nutricional, acompanhamento psicológico breve, controle de exames de rotina, acompanhamento social e outros. JAA - Quais os cuidados necessário para uma boa atuação da ADT? Tânia - Os cuidados no domicílio têm a vantagem de promover, por meio de contato direto em um cenário singular, a aquisição de conhecimentos e a modificação de hábitos e atitudes, beneficiando as condições de saúde. Porém, é de fundamental importância o estabelecimento de uma rede de referência e contra-referência com outros serviços, tais como Auxiliar de enfermagem atende paciente beneficiado em casa por programa federal. hospitais, hospital-dia (HD), serviços de assistência especializada (SAE), unidades básicas de saúde (UBS), programas de saúde da família (PSF) e casas de apoio, no intuito de possibilitar a integração entre os serviços de assistência à saúde dos doentes de aids. JAA - Necessariamente como funciona este serviço? Tânia - A proposta é que este trabalho seja desenvolvido por uma equipe multiprofissional, constituída por profissionais das áreas de enfermagem, medicina, psicologia e serviço social, cuja função é prestar assistência clínico-terapêutica e psicossocial a pacientes portadores do HIV/aids em seu próprio domicílio. JAA - Quais pessoas podem se beneficiar deste serviço? Tânia - São legíveis para este tipo de serviço, pacientes portadores de HIV/aids, impossibilitados de comparecer ao serviço de referência, por dificuldades físicas, sociais ou psicológicas, que necessitam de acompanhamento e/ou cuidados específicos de enfermagem (higiene, curativos, medicação endovenosa ou intramuscular...). É necessário que o paciente tenha um familiar ou amigo que se disponha a exercer o papel de cuidador, que auxiliará a equipe na continuidade ao tratamento no domicílio. JAA - Como está a demanda para utilização deste serviço? Tânia - Atualmente temos no Estado de São Paulo 21 serviços de ADT, sendo 10 no município e 11 no interior. Dependendo do porte do serviço (estrutura e processo de trabalho), estão sendo assistidos de 04 a 24 pacientes/mês, e poucas equipes apresentam demanda reprimida. O que se percebe é que a maioria dos pacientes incluídos nas ADTs são pacientes em estágio avançado da doença, com seqüelas neurológicas, dificuldade de deambulação, diagnósticos psiquiátricos e problemas de adesão. JAA - Então diante de tal importância estamos falando de algo que precisa ser ampliado? Tânia - Essa é uma questão que precisa ser avaliada por cada município, pois é preciso considerar a demanda local. Esses dados é que serão determinantes na organização do serviço: equipe mínima, horário de funcionamento, transporte, material de consumo, equipamentos, etc• MN A I D S A T I V I S M O abril maio junho 11 s SAÚDE FOTO: IFC ENTERTAINMENT O JARDINEIRO FIEL (The Constant Gardener) (Inglaterra/Alemanha, 2005, 129min) Diretor: Fernando Meirelles Coube ao diretor paulistano de Cidade de Deus levar às telas a adaptação do polêmico livro homônimo de John le Carré. Em sua primeira produção estrangeira, Meirelles mergulha fundo na investigação que leva o diplomata inglês Justin Quayle (Ralph Fiennes) a esclarecer, no Quênia, o misterioso assassinato de sua mulher, Tessa (Rachel Weisz, premiada com o Oscar). Tessa era uma ativista política e andava às voltas com uma denúncia estarrecedora: a manipulação das indústrias farmacêuticas para testar drogas experimentais em africanos portadores do vírus HIV• Os filmes aqui relacionados integraram a programação da III Mostra AIDS. - Fontes: www.aids.org.br/cinemamostraaids FOTO: ARQUIVO A T I V I S M O abril maio junho 12 FOTO: (c) 2009 Z PRODUCTIONS ALL RIGHTS RESERVED A I D S Intervenção do governo e diminuição de impostos estão entre os principais motivos que podem garantir um maior acesso da população. A distribuição gratuita de camisinhas ainda é uma das formas mais eficazes de combate à Aids no Brasil. Divulgada recentemente, uma pesquisa elaborada pelo Ministério da Saúde mostrou que quem pega preservativo de graça tem duas vezes mais chance de usá-lo do que quem nunca teve acesso a esse produto. Todavia a realidade brasileira ainda está longe do ideal, pois o alto custo faz com que grande parte da população não tenha acesso a este benefício. Em média o preço de um preservativo masculino vendido em uma farmácia, sem nenhum subsídio do governo a população chega a R$ 4,80. Na mesma situação o valor médio do pacote com duas O TOQUE DO TAMBOR (Beat the Drum) (África do Sul-EUA, 2003, 114min.) Diretor: David Hickson Num vilarejo pobre da çfrica do Sul, uma estranha doença está dizimando os habitantes, que encaram o problema como maldição e tentam combatê-lo com feitiçaria. Orfão de mãe, o garoto Musa (Junior Singo) vê o pai agonizar no leito e depois da morte deste decide partir para Joanesburgo, a maior cidade do país, a procura do tio. Sempre com seu tambor presenteado pelo pai, Musa passa, então, a elo de ligação com os demais personagens• desse drama. O caminhoneiro e pai de família que dá carona ao garoto, por exemplo, tem o hábito de fazer sexo com prostitutas e recusa-se a usar camisinha tanto com elas como com a mulher. Seu patrão, representante do clã branco na história, também começa a testemunhar a tragédia da doença ao assistir seus funcionários com sintomas desconhecidos até saber que seu próprio filho foi diagnosticado como soropositivo. Mas o cenário mais desolador está nas ruas e seus moradores miseráveis que Musa conhecerá de perto. Com a experiência, ele tentará avisar seus conterrâneos da verdadeira razão das mortes locais. A boa intenção da fita, ainda que traga poucas novidades em sua abordagem, justifica-se pela mensagem clara de denúncia da epidemia de aids que começava a se alastrar• Queda nos preços deve aumentar distribuição de preservativos PRINCESAS (Princesas) (Espanha, 2005, 113min) Diretor: Fernando Leon de Aranoa Caye (Candela Peña, de Tudo Sobre Minha Mãe) é uma prostituta de classe média de Madri que esconde da família sua real ocupação. Zulema (Micaela Nevaréz) é uma imigrante dominicana que deixou a mãe e o filho em Santo Domingo para ganhar a vida ilegalmente na Espanha. Por conta da mesma profissão, as duas desenvolvem ao longo da trama uma amizade baseada na cumplicidade e no desejo de realizar seus sonhos. São personalidades distintas: enquanto Zulema é mais realista, Caye é uma sonhadora, que espera ter um trabalho fixo e um marido que irá esperála ao fim do expediente. Essa possibilidade ocorre quando ela conhece Manuel (Luis Callejo), um especialista em informática, que a deslumbra diante de coisas simples que nunca viveu. Ao mesmo tempo, ambas gostam de filosofar sobre a infância, saudade e existência. Em meio a esse painel pessoal, a vida fornece alguns ingredientes realistas, como a aids, a violência e o machismo• unidades de preservativos femininos chega a custar até R$ 12. O governo tenta reverter este quadro por meio de negociações com fornecedores. Em junho uma licitação fechada possibilitou que o valor unitário da camisinha masculina, por exemplo, caísse 6%. O índice representou uma economia para o país da ordem de R$ 2,5 milhões. A camisinha feminina também terá diminuição no preço. A alíquota de importação do produto foi reduzida de 10% para zero. Para Marta Mcbritton, coordenadora do Instituto Cultural Barong, a consumidora tem o direito de receber o produto com o menor preço possível. “A camisinha feminina com certeza ficará mais acessível, mas no conjunto da obra, ou seja, em uma educação continuada”. Para Marta é fundamental que as mulheres também conheçam o preservativo feminino. Por esta razão ela lembra que é importante a realização de oficinas ensinando como utilizá-las. “Quando o Barong está em campo, sentimos que as pessoas têm grandes dificuldades em relação a isso”. Disse Marta• MN Falta de informação ainda prejudica uso de preservativos feminino. Crise Econômica Mundial ainda prejudica o combate a Aids A diminuição de investimentos atinge principalmente o fornecimento de anti- retrovirais. De acordo com declarações de representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), o pior da crise financeira mundial já passou, mas alertam que isto não é suficiente para “baixar a guarda”. Recomendação que neste momento não pode ser direcionada a política mundial de combate á Aids atingida brutalmente pela situação. Estudo recente elaborado pela OMS - Organização Mundial da Saúde em conjunto com o UNAIDS - Pro- grama Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids aponta que oito de 69 países pesquisados enfrentam dificuldades na distribuição de anti-retrovirais. Cenário que deve se agravar com a expectativa de pesquisadores de que em 2010, 22 países entre África, Caribe, Europa e Ásia sejam afetados pela crise. Em decorrência disto o Banco Mundial anunciou que irá reservar 3,1 bilhões de dólares esse ano para ajudar no financiamento de programas de saúde em países pobres. O planejamento também pretende dobrar o fundo reservado à educação, to- talizando mais de quatro bilhões de dólares em investimentos. A instituição ainda orienta aos países que dependam de doadores externos para o financiamento de seus programas, que tentem negociar ou buscar recursos com outros parceiros. “É imprescindível que países em desenvolvimento aumentem os investimentos em saúde, em educação e em outros serviços básicos que alcancem os grupos mais pobres e vulneráveis. “Não podemos perder uma geração por causa da crise”. Afirmou durante entrevista coletiva a imprensa internacional, Joy Phumaphi, Presidente de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial e ex Ministro da Saúde de Botsuana• A I D S FOTO: ARQUIVO /EDUCASEXOZIP.NET/ FILMOTECA BÁSICA FOTO: ARQUIVO/APF-ASSOCIAÇÃO PARA O PLANEJAMENTO DA FAMÍLIA fb A T I V I S M O abril maio junho MN 13 A I D S A T I V I S M O abril maio junho 14 Em janeiro de 2009 o Fórum de ONG/AIDS do Estado de São Paulo e cinco organizações parceiras, em convênio firmado com o Programa Nacional de DST/AIDS/MS, UNODC E UNESCO iniciaram um projeto em âmbito nacional, pelo período de dois anos, com capilaridade nos 26 estados brasileiros e Distrito Federal apoiados pelos 27 Fóruns de ONGs estaduais. Os objetivos do projeto visam, sobretudo, re-qualificar e ampliar as redes de monitoramento, comunicação, troca de experiências em controle social, além de, denunciar violação de DDHH junto ao MP e estabelecer diálogo com legisladores para implementação de políticas públicas em saúde. As ações estão sendo desenvolvidas a partir de quatro eixos: * Acompanhamento da elaboração e execução de PAMs estaduais e municipais tendo em vista a qualificação dos mesmos; * Atuar junto ao Ministério Público e outros órgãos judiciais em ações contra violação da cidadania e direitos das PVHA; * Garantir e ampliar a representatividade comunitária nos Conselhos e Conferências e principalmente fomentar a formação de comissões de aids junto aos conselhos; * Incentivar a formação de Frentes Parlamentares em HIV/AIDS nas Assembléias Legislativas, Câmara Federal e nas Câmaras municipais, bem como fortalecer as existentes. A proposta, inovadora e estratégica do PRPH - Brasil é trabalhar simultaneamente e em rede, nas cinco regiões do país. Foram selecionadas e capacitadas 100 lideranças - 20 por região - assessoradas por coordenadores regionais, com sede em São Paulo/SP e bases em Belém/PA, São Luís/MA, Guaraparí/ES, Cuiabá/MT e Porto Alegre/RS, que tenham papel facilitador em treinamentos, intervenções, monitoramento e compilação de dados, entre outros. CAPACITAÇÕES (Fase AI): Desde março estão ocorrendo as capacitações nas cinco regiões do país. A primeira região a promover a capacita- FOTOS: ARQUIUVO FÓRUM AIDS Projeto Rede de Proteção Humana - Brasil O Brasil fortalecendo o Controle Social Capacitação Centro-Oeste cada estado da região, certamente prevalecendo um maior número de lideranças do Pará e Amazonas. Esta capacitação aprofundou o debate com o legislativo e como a sociedade civil pode acessar o parlamento, como as frentes parlamentares são estratégias importantes e provocou um debate sobre a qualidade da atuação parlamentar e o nível de consciência política dos eleitores. Outro ponto marcante foi refletir sobre a dificuldade de acompanhar os PAMs por conta da disCapacitação Norte ção foi o Centro-Oeste, de 26 a 28 de março, na cidade de Cuiabá, com a participação de 20 lideranças de todos os estados regionais e do DF, facilitado pelo Sandro Rosa, coordenador regional do PRPH e o apoio técnico de Bárbara Gardener do Programa Nacional DST/AIDS/MS . Por ter sido a primeira capacitação ela serviu de parâmetro para formatação das seguintes. As lideranças apresentaram algumas estratégias de atuação conjunta e elaboraram algumas prépropostas para serem debati- das no ERONG/CO. Vale dar destaque aos desdobramentos das ações: Lideranças do PRPH do MS procuraram a Frente Parlamentar do RS para auxiliar na Formação de uma Frente Parlamentar em HIV/ AIDS no Mato Grosso do Sul. De 15 a 17 de maio foi a vez da Região Norte, coordenado por Francisco Rodrigues dos Santos o Kiko do Gapa/PA e apoio técnico de Cláudio Pereira do FOAESP. Apesar dos desafios demográficos da região norte conseguimos trazer ao menos um representante de Capacitação Sudeste tância entre as localidades a dificuldade de articulação entre as ONGs dos estados. Contou com exposição do Deputado Arnaldo Jordy e Dra. Maria Cristina Carvalho, Comissão de DDHH da Assembléia Legislativa/PA e Comissão de DDHH da OAB/PA respectivamente, além de outros importantes expositores. O grupo identificou 30 demandas prioritárias se prontificou a empenhar-se ao máximo para que todas as lideranças capacitadas participem do ERONG/NO para aprofundar as discussões. Entre os dias 20 e 22 de maio foi a região Sudeste que acolheu as 20 lideranças, na cidade de São Paulo, com a facilitação de Helia Mara de Deus de Guaraparí, e apoio técnico de Sandro Terabe/PN, José Roberto Pereira/Betinho e Cláudio Pereira FOAESP. A região trouxe 5 lideranças de cada estado, ao longo da discussão identificou-se desafios para melhorar a articulação e aproximação dos interlocutores, sobretudo nos estados de MG e ES. Foram quatro exposições com destaque para a importante apresentação do Dr. Sérgio Suiama - Procurador da República, que conseguiu, de forma bastante elucidativa, mostrar como acionar o Ministério Público. Três perguntas que devemos fazer: 1) Quem é o titular de direito? 2) Qual o direito? 3) Qual a medida a ser adotada. Sua apresentação foi tão oportuna que se replicou nas capacitações que se seguiram. Outro momento marcante foi o relato histórico apresentado pelo Dr. Artur Kalichman, coordenador adjunto do PE/ SP, sobre a parceria entre poder público e as ONGs do estado de São Paulo desde 1985. Elencou as representações e espaços legitimamente constituídos com assento para gestores e sociedade civil que elevam o debate sobre a resposta à epidemia. Foi oportuno para suscitar uma maior aproximação das ONGs e coordenações estaduais em outros estados do SUDESTE. Além desses temas ainda houve a apresentação da Dra. Denise Ramos da ALESP, Sr. Jean Dantas do Programa Estadual e do Sr. João Francisco, conselheiro de saúde, que auxiliou em muito à compreensão dos eixos do projeto. A região Nordeste teve sua capacitação realizada na cidade de Recife ente os dia 27 a 29 de maio, facilitada pelo coordenador regional de Fernando Cardoso e com assessoria de José Roberto/betinho, Wendel Alencar e Jair Brandão. O Nordeste brasileiro compõe o maior número de estados da federação, mas apesar dos desafios foi possível ter dois representantes de cada estado. Vale destacar a boa-vontade das lideranças que chegaram a viajar 32hs. de ônibus para participar do treinamento. O grupo foi bem acolhido pela articulação nordeste que fará o possí- Capacitação Nordeste vel para o maior número de lideranças participem do ERONG/NE, mas a prioridade no plano de ação é a formação de Frentes Parlamentares e Comissões de Aids nos conselhos de Saúde. Tivemos entre outras a apresentação da Leda Rego que coordena a Frente Parlamentar LGBT do Maranhão e destacamos a brilhante apresentação da Dra. Sandra Gomes coordenadora do PM/DST/AIDS de Maceió/AL e representante da COGE/NO, em sua apresentação, entre outros, ela reforçou a importância da qualificação dos PAMs sobretudo nos municípios do interior do Nordeste e se colocou a disposição para melhorar a aproximação das coordenações estaduais e das ONGs, pela via das reuniões da COGE/NE. Por fim de 04 a 06 de junho foi a vez da região Sul realizar sua capacitação na cidade de Florianópolis/SC. Sob a facilitação de Márcia B. Leão, coordenadora regional e o apoio técnico de Carmem Lúcia, Rubens Raffo, Tina/NEPS e betinho/sp. As discussões e debates entraram noite adentro, estrategicamente foi importante contar com a participação do Alex, presidente do fórum de ONG catarinense, que se prontificou a apoiar irrestritamente as ações do projeto em Santa Catarina, dois momentos marcaram a capacitação Sul: Dra. Fabiana Helena Belli ge- rente de planejamento da coordenação estadual/SC que aprofundou o entendimento sobre as Portarias referentes a política de incentivo 2313/02 e 2314/02 que substituíram o antigo POA que recebia os recursos federais, ela enfatizou a relevância política da portaria 2313 que ampliou a política de repasse para melhorar a resposta brasileira e que foi consolidada pela participação efetiva da Sociedade Civil. Outro ponto importante a destacar foi a apresentação de Alexandre Martins, ativista de grande destaque no cenário nacional, que aprofundou a discussão sobre os Conselhos de Saúde, a última apresentação ficou por conta de Dr. Marco Aurélio assessor do Deputado Paulo Borges, que coordena a Frente Parlamentar do Rio Grande do Sul, Dr. Marco Aurélio trouxe à luz importantes dicas para como se formar e manter uma frente parlamentar, segundo Dr. Marco Aurélio, o primeiro desafio é despartidarizar os movimentos sociais, não importa se estamos tratando tanto de saúde como terra, uma frente parlamentar deve ser suprapartidária para conseguir levar as pautas do movimento social a ordem do dia outro ponto levantado é da importância de se levar em conta que o parlamento também tem poder de apurar denúncias tanto quanto o MP uma forma concreta é chamar uma audiência pública e o executivo normalmente aparece para dar explicações. As 20 lideranças dos três estados que compõem a região sul garantiu levar para suas bases as propostas do projeto e fortalecer os espaços de representatividade. Tendo cumprido com êxito a primeira fase do projeto, agora o segundo passo é socializar questionários padrão para que as lideranças capacitadas por todo Brasil enviem relatórios bimestrais de sua atuação nos espaços representativos que compõem a proposta do projeto. Uma importante estratégia é propiciar a participação do maior número possível de lideranças nos ERONGs e ENONG com a premissa de apresentar propostas em plenária que qualifiquem a atuação do movimento social de luta contra aids nesses espaços representativos. Durante o processo as demandas mais relevantes: desafios, oportunidades e soluções encontradas serão socializadas entre os participantes, além de ser criado um espaço digital para publicizar as iniciativas, por exemplo: projetos de lei em tramitação, qualificação dos PAMs, ações junto ao MP, Pauta das comissões de aids nos Conselhos, entre outros, para que alimentem um banco de dados público para consulta e análise. Como o projeto tem duração de dois anos, espera-se em 2010 propiciar intercâmbios intra-regionais e inter-regionais entre as lideranças que mais se destacarem, com a premissa de disseminar a maior quantidade possível de informações, bem como identificar e multiplicar as estratégias mais eficazes e exitosas. No final do segundo ano os dados mais relevantes serão disponibilizados em publicação. Se você tem interesse em acompanhar o projeto ou ter acesso aos relatórios das capacitações na íntegra pode solicitar pelo e-mail: [email protected] que daremos a devida atenção as seus comentários• JOSÉ ROBERTO PEREIRA/ BETINHO Coordenação O projeto RPH - BRASIL é composto por: SEDE - Fórum de ONG/AIDS do Estado de São Paulo, São Paulo/SP; NORTE - GAPA/PA, Belém/ PA; NORDESTE - Grupo Solidariedade é Vida, São Luís/MA; SUDESTE - Casa Servo de Deus, Guaraparí/ES; CENTRO-OESTE - ONG Corações Amigos, Cuiabá/MT; SUL - Fórum de ONG/Aids RS, Porto Alegre/RS. Financiador / Monitoramento / Avaliação: Programa Nacional de DST/ AIDS/MS - UNODC / UNESCO. Capacitação Sul A I D S A T I V I S M O abril maio junho 15 m MANIFESTO O MOVIMENTO NACIONAL DE LUTA CONTRA A AIDS REPÚDIA A PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E SOLICITA QUE VOSSAS SENHORIAS VOTEM CONTRARIOS AO PL 92/2007 O Movimento Nacional de Luta Contra a AIDS, vêm a público manifestar seu REPÚDIO ao mais recente golpe contra a sociedade brasileira que visa a privatização e o desmantelamento dos serviços públicos de saúde em todos os níveis (municipais, estaduais e federal), através da proposta apresentada por deputados (as) que integram a base de apoio do governo federal ( PT, PV, PMDB, PR e PP), ao pedirem urgência na votação do Projeto de Lei Complementar 92/2007, que instituí as fundações estatais de direito privado no serviço público. Esta nefasta articulação entre os poderosos de plantão, poderá se for aprovada autorizar o Estado à definitiva concessão do serviço público á iniciativa privada. Com a argumentação de que tal proposta irá agilizar o gerenciamento dos serviços públicos o governo quer se livrar das licitações e dos concursos públicos para ganhar total liberdade e negociar os direitos sociais do povo com quem bem entender. Na prática, as instituições A I D S A T I V I S M O abril maio junho 16 públicas se transformam em um grande cabide de empregos para políticos e troca de favores com os grandes empresários e nesse grande jogo, lamentavelmente os interesses da população ficam totalmente esquecidos. Este desrespeito a própria Constituição de 1988 fica cada vez mais evidenciado, uma vez que nos últimos meses a Instância de Formulação e Deliberação das Políticas Públicas de Saúde que é o CNS - Conselho Nacional de Saúde, bem como diversos representantes de movimentos sociais, realizaram inúmeras reuniões com parlamentares, que se comprometeram á adiar a votação por 60 dias, de forma a ampliar o debate com a sociedade. De maneira que o último desses encontros ocorreu no dia 12 de maio, com quatro representantes do Partido dos Trabalhadores, em nome do líder da bancada, Henrique Fontana. Entretanto, eles não cumpriram a palavra colocando em risco o futuro da saúde pública do País. O Movimento Nacional de Luta Contra AIDS tem o apoio de todas as iniciativas capitane- adas pelo CNS e repudia com veemência a falta de compromisso desses parlamentares, que apesar dos apelos dos movimentos sociais pela realização de debates para o fechamento de uma proposta de consenso, quebraram o acordo. O Movimento Nacional de Luta Contra a AIDS considera tal atitude uma ação criminosa contra a população brasileira, evidenciando que há um movimento onde os INTERESSES ECONÓMICOS estão acima do DIREITO A VIDA. Neste sentido, apoiamos integralmente o posicionamento contrario do CNS e COBRAMOS para que os nossos representantes do Congresso Nacional atentem para o seguinte: 1. O Fortalecimento do SUS Sistema ònico de Saúde. 2. A criação de uma Política de GESTÃO DO TRABALHO que elimine a precarização do trabalho em todas as suas formas e que estabeleça a valorização do trabalho, tendo como elemento principal o Plano de Cargos, e Carreiras e Salários, de acordo com as Diretrizes Nacionais do PCCS/SUS, e que contemple a profissionalização da Gestão e o estímulo à qualificação, dedicação exclusiva e à interiorização. 3. Inversão do MODELO DE ATENÇÃO vigente, resgatando o sistema pautado na estruturação de uma rede pública de proteção e promoção da saúde com equipes multiprofissionais, exercendo a atenção primária em sua plenitude. 4. Ampliação e democratização do FINANCIAMENTO do SUS, através da regulamentação da Emenda Constitucional 29, vinculada à Contribuição Social da Saúde(CSS). 5. Reversão IMEDIATA da PRIVATIZAÇÃO do sistema, estruturando e aperfeiçoando a rede pública estatal, principalmente, o fomento aos municípios e estados quanto às suas respectivas redes próprias e cumprindo fielmente o dispositivo constitucional que estabelece o setor público como o principal e o privado como efetivamente complementar. 6. Qualificação e fortalecimento do CONTROLE SOCIAL e dos Conselhos de Saúde em Prevensão na Rede - Fórum Virtual DST/Aids Durante 23 dias especialistas debateram com a população sobre questões referentes ao combate DST/AIDS Entre 06 e 29 de abril o Fórum Virtual sobre DST/Aids promovido pelo Ministério da Saúde debateu com a sociedade experiências inovadoras na área de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis. Foram 23 dias de intensos debates sobre questões importantes como a necessidade da comunicação, acesso universal, prevenção, álcool, drogas, jovens e Aids entre outros temas. Neste período, ao longo de quase um mês de atividades internautas de várias partes do país puderam esclarecer e tirar dúvidas. O evento também possibilitou à apresentação de sugestões sobre como educar a população e métodos de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. Também foi possível garantir o acesso a vídeos, artigos científicos, protocolos, diretrizes e outros documentos sobre prevenção além da troca de experiências com gente de todo o Brasil. Participaram dos debates o diretor do Unaids, programa das Nações Unidas, Pedro Chequer; o responsável pela Unidade de Prevenção do Programa Nacional de DST e Aids, Ivo Brito; a coordenadora do Núcleo de Estudos para Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo (USP), Vera Paiva; e a representante da Rede de Comunidades Saudáveis do Rio de Janeiro, Sônia Gonçalves. As discussões foram coordenadas pela diretora do Programa Nacional, Mariângela Simão. Entre os destaques das atividades finais está a participação do ativista Samir Amim, integrante da Rede de Jovens Vivendo com HIV/Aids. Amim todo o país, em parceria com os gestores e demais organismos de controle e fiscalização. 7. Construção da INTERSETORIALIDADE, nas três esferas de governo, com o envolvimento de todos os atores que têm relação direta com o conceito ampliado, sanitário e formal de saúde. 8. Realização do debate a respeito do COMPLEXO PRODUTIVO DA SAÚDE como elemento indissociável do Sistema ònico de Saúde. 9. Implementação e fortalecimento da HUMANIZAÇÃO como instrumento vital e fundamental para viabilizar e fortalecer o SUS de acordo com seus princípios. Assinam este manifesto * Movimento Nacional de Luta Contra AIDS * Articulação Nacional de Foruns, Redes, ONG´s, e Movimentos Sociais na Luta Contra AIDS * RNP+ (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/ AIDS) * MNCP - Movimento Nacional Cidadãs PositHIVas com 24 anos, integra o movimento há três anos, ressalta que a escola é parte fundamental para se acabar com o preconceito e incutir o pensamento de prevenção na população. Os trabalhos foram encerrados com o Encontro Nacional sobre Prevenção das DST/Aids, no dia 29 de abril e transmitido simultaneamente pela internet. A organização do evento estimulou ainda que cada cidade possa se articular para dar continuidade à discussão, mesmo após o fim do fórum• MN