Perspectivas para o futuro da mente humana

Transcrição

Perspectivas para o futuro da mente humana
Uma heurística para a modificação da cognição
humana
João Lourenço de Araujo Fabiano
[email protected]
Movimento intelectual e
cultural que prega o uso
racional da tecnologia para
melhorar a condição humana.
Esse melhoramento não é obtido apenas através de
gadgets tecnológicos que nos auxiliam na vida cotidiana,
mas também por meio de modificações nos níveis mais
fundamentais da condição humana.
Quase toda a tecnologia até os dias de hoje se voltou,
primordialmente, à alterar a natureza e a relação do homem com o
meio, alterando indiretamente a condição humana. Esses novos
melhoramentos, no entanto, se voltam diretamente a aspectos
fundamentais da condição humana.
Nossas
emoções,
raciocínios,
cognição e capacidades físicas
começam a entrar pela primeira vez
na esfera da livre manipulação
humana através da tecnologia
Exemplos:
• aumento do tempo de vida através do uso dos recentes
avanços na medicina: suplementação com vitaminas, reparo
nos danos genéticos, etc..
• aumentar nossa capacidade cognitiva com o uso de diversas
substâncias: ritalina, creatina, modafinil, aricept, piracetam
• manipular os estados de sono e vigília: modafinil
• a memória: aricept, propranolol
• os sentimentos: ocitocina
• Nossos interesses são diferentes do da evolução
i.e.: morte
• O ambiente no qual evoluímos não é mais
i.e.: entender riscos
o que vivemos
catastróficos, eliminar
bias cognitivos
• A evolução pode ficar presa em um ótimo
local
i.e.: apêndice
A principal contribuição teórica norteadora do
estudo da modificação da cognição humana
foi feita pelo artigo 'The Wisdom of Nature: a
Evolutionary
Heuristic
for
Human
Enhancement'. Neste artigo o filósofo Nick
Bostrom e o neurocientista Anders Sandberg
se propõem a elaborar uma heurística que
garanta uma elaboração e aplicação seguras
desse tipo de tecnologia.
As diversas etapas da heurística elaborada por Bostrom e Sandberg
podem ser assim resumidas (1) análise da função evolutiva do traço a
ser modificado (2) estudo da motivação especifica para modificar tal
função e finalmente (3) análise do custo beneficio de se realizar a
modificação.
A principal hipótese utilizada para entender o
funcionamento da cognição humana será a de que ela é
formada por um conjunto de adaptações que foram
soluções à desafios recorrentes no nosso passado
evolutivo. “O resultado adaptativo de cada um desses
desafios é somado ao longo do tempo, e o resultado é o
produto da seleção natural. O desing resultante é
adaptado a um conjunto particular de circunstancias, a
saber, aquelas propriedades desafiadoras do ambiente,
estatisticamente somadas, que moldaram o desing
resultante”
O cérebro humano é visto como um mecanismo que processa as
informações relevantes do ambiente e responde de maneira
apropriada. Ele é responsável por gerar aquele conjunto de
comportamentos que maximiza o beneficio na alocação de
recursos finamente disponíveis no ambiente. Cada situação
recorrente no passado evolutivo produziu um módulo cognitivo
especializado no cérebro, responsável por processar os dados
relevantes àquela situação e esse processamento é em sua
maioria inconsciente. Esse módulo cognitivo irá gerar um
conjunto de estratégias que tem como objetivo a melhor
alocação de energia e tempo com respeito ao sucesso
reprodutivo do organismo em relação a uma determinada
situação.
No nosso passado evolutivo, para resolver satisfatoriamente tarefas
cognitivas não bastava resolvê-las corretamente, mas resolvê-las levando
em conta inúmeras restrições como, por exemplo, tempo e dispêndio
energético. Esse mecanismo de resolução não precisava ser perfeito,
apenas bom o suficiente para garantir a sobrevivência do indivíduo
Por isso, nosso cérebro realiza operações que resolvem tarefas de
raciocínio através de ‘atalhos’, os quais funcionam bem na maioria dos
casos, mas falham em algumas exceções. Como os módulos cognitivos
que realizam tais tarefas são, segundo a hipótese da psicologia
evolucionista, relativamente universais na humanidade, os casos em que
nossos ‘atalhos’ falham também apresentam certa regularidade
Essas falhas são conhecidas como bias cognitivos: desvios
sistemáticos que a cognição humana comete da racionalidade.
Um exemplo relevante nesse tema é o bias que nos impede de absorver
informações estatísticas de certo formato. Verificou-se que quando o
individuo é apresentado com a informação de que um evento tem certa
probabilidade de ocorrer, ele não consegue atualizar direito suas crenças
relacionadas com base nessa informação.
Isso demonstra que na realidade não conseguimos absorver
corretamente a informação fornecida.
No entanto, quando a informação vem no formato “a cada mil vezes
esse evento ocorreu tanto numero de vezes” as nossas crenças
relacionadas são atualizadas corretamente . Isso pois, no nosso
passado evolutivo a forma pela qual tínhamos acesso a informações
era por meio de ocorrências diretas e não por probabilidades
abstratas, e o segundo formato de apresentações e aproxima muito
mais de descrever uma ocorrência.
Infelizmente quase toda a literatura cientifica e de divulgação
disponíveis são apresentadas como probabilidades. Isso compromete
seriamente a nossa capacidade de julgar a eficácia e os riscos de certos
avanços tecnológicos.
Outros bias interessantes:
•Status quo bias
•Bias da conjunção
•Cisnes Negros
•Lei de Potencia X Distribuição Normal
•Super e sub estimação de interesse sexual e emocional
•Memória Fictícia
•Sempre acima da média
•Pollyana
Mesmo praticando nomadismo, o ambiente das
savanas para os humanos era relativamente
estável comparado ao nosso, e uma vez tendo
aprendido as principais técnicas de caça, coleta
de alimentos e a linguagem, restavam poucas
coisas que deviam permanecer em aprendizado
contínuo.
Em oposição, nosso ambiente moderno está em contínua mudança,
num avanço tecnológico e memético em constante aceleração. Falta
ao nosso cérebro, entretanto, a capacidade de estar constantemente
aprendendo coisas novas e lidar com elas rapidamente ao mesmo
tempo em que, às vezes, sobra, a longo prazo, capacidade de
armazenamento de informação, que em poucos anos se torna
completamente inútil.
Já existem drogas que permitem manipular a nossa memória,
diminuindo a fixação de eventos indesejáveis (i.e.: com o uso de
porpranolol) e aumentando a fixação de informações desejáveis
(i.e.: aricept). Existem ainda outras drogas que aumentam nossa
memória de curto prazo, melhorando nossa capacidade de lidar
com sistemas informacionais complexos de modo simultâneo (i.e.:
modafinil e ritalina).

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