arquivo do resumo extendido - VIII Congresso Brasileiro de Arroz

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arquivo do resumo extendido - VIII Congresso Brasileiro de Arroz
CONTROLE DE SAGITÁRIA (Sagittaria montevidensis) RESISTENTE
A HERBICIDAS
1
2
3
Diogo da Silva Moura , José Alberto Noldin , Alfran Tellechea Martini¹, Fábio Schreiber , Luciano Luis
Cassol4, Jesus Juares Oliveira Pinto5
Palavras-chave: Oryza sativa, resistência múltipla, combinação herbicida.
INTRODUÇÃO
No Brasil, foram cultivados na safra 2012/13 aproximadamente 2,39 milhões de
hectares de arroz. Os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os maiores
produtores e responderam respectivamente, com cerca de 66,9 e 8,4% da produção
nacional (CONAB, 2013). Porém, a produtividade média alcançada, é aquém do potencial
produtivo obtido em áreas experimentais ou em lavouras que adotam elevado nível de
tecnologia.
Estima-se que a produção mundial de arroz vem sofrendo interferência negativa de
diversos fatores, resultando em menor produtividade. Dentre esses, a interferência exercida
pelas plantas daninhas pode ocasionar índices de perdas que se situam ao redor de 35%
(OERKR et al., 2004). Um dos exemplos é a prática da irrigação que em lavouras mal
conduzidas favorece o desenvolvimento de espécies infestantes adaptadas ao meio
aquático. No sistema pré-germinado de semeadura de arroz, o ambiente propicia condições
favoráveis para o estabelecimento de plantas aquáticas e dentre essas destaca-se a
ocorrência de sagitária (Sagittaria montevidensis).
Diversos biótipos de sagitária são resistentes a herbicidas inibidores da enzima
acetolactato sintase (ALS) (MEROTTO JR. et al., 2010; HEAP, 2013). No Brasil, populações
resistentes ao herbicida pirazosulfuron-ethyl foram identificadas em áreas tratadas com este
herbicida por cinco anos consecutivos (NOLDIN et al., 1999). Posteriormente foi constatada
resistência aos herbicidas inibidores do fotossistema II (FSII), que inicialmente surgiram
como alternativa de controle aos biótipos resistentes a ALS (EBERHARDT; NOLDIN, 2011).
O manejo recomendado aos agricultores em áreas onde foram detectados biótipos de
plantas daninhas resistentes é o uso de herbicidas com modos de ação diferentes daqueles
que perderam eficácia. Esses deveriam ser aplicados isoladamente ou associados com
aqueles para os quais foi detectada a resistência (PETERSON, 1999). Entre os herbicidas
alternativos para o controle de sagitária resistente a herbicidas foi registrado no Brasil o
saflufenacil (Heat®). Esse herbicida é uma nova ferramenta para o manejo de plantas
daninhas em diversas culturas, atuando como inibidor da protoporfirinogênio IX oxidase
(PPO) (SOLTANI et al., 2009). Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi avaliar
alternativas de controle de biótipos de Sagittaria montevidensis resistentes a herbicidas bem
como a seletividade para o arroz.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em Casa de Vegetação do Departamento de Fitossanidade,
da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), unidade da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel), localizada no município de Capão do Leão, RS. O ensaio foi conduzido
1
Engº. Agrº., Mestrando do Programa de Pós Graduação em Fitossanidade - Universidade Federal de Pelotas, Avenida
Eliseu Maciel sn, Capão do Leão – RS, CEP: 96010-900, [email protected]
2
Engº. Agrº., Ph. D., Pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Itajaí e Professor Colaborador do Programa de Pós
Graduação em Fitossanidade/UFPel.
3
Engº. Agrº. Msc, Doutorando do Programa de Pós Graduação em Fitossanidade - Universidade Federal de Pelotas
4
Acadêmico do curso de Agronomia – Universidade Federal de Pelotas.
5
Engº. Agrº. Dr., Professor Associado do Programa de Pós Graduação em Fitossanidade – Universidade Federal de
Pelotas.
durante o período de outubro de 2012 a março de 2013, arranjado em delineamento
experimental de blocos casualizados, com quatro repetições. Os tratamentos utilizados
foram combinações, ou não, de saflufenacil com outros herbicidas recomendados para a
cultura do arroz irrigado, e de um tratamento testemunha (Tabela 1).
As unidades experimentais foram compostas por caixas plásticas previamente
preenchidas com três kg de solo, identificado como Planossolo Hidromórfico Eutrófico
Solódico (Unidade de Mapeamento Pelotas) (EMBRAPA, 2006). Em cada caixa foi semeado
40 sementes de um biótipo de sagitária, identificado com Ilhota/SAGMO 32, com resistência
múltipla aos herbicidas inibidores da ALS e do FSII ou 10 sementes da cultivar de arroz
irrigado Epagri 108. Antes da aplicação dos tratamentos foi realizado desbaste, mantendose seis ou cinco plantas de sagitária ou arroz por caixa, respectivamente.
Tabela 1. Tratamentos aplicados em biótipo de sagitária com resistência múltipla aos herbicidas
inibidores da ALS e do Fotossistema II ou sobre a cultivar de arroz Epagri 108. Capão do
Leão, RS, 2012/13.
Tratamento
1
Herbicida 1
Herbicida 2
-1
saflufenacil*(100 g i.a. ha )
-1
2
saflufenacil (100 g i.a. ha )
3
saflufenacil (100 g i.a. ha-1)
4
-1
saflufenacil (100 g i.a. ha )
-1
Adjuvante
-
®
-
Dash HC (0,25 v/v)
penoxsulam (60 g i.a. ha-1)
Veget’Oil® (0,5 v/v)
-1
bispyribac-sodium (50 g i.a. ha )
-1
Iharaguen-S® (0,25 v/v)
5
saflufenacil (100 g i.a. ha )
pirazosulfuron-ethyl (20 g i.a. ha )
6
saflufenacil (100 g i.a. ha-1)
bentazon (960 g i.a. ha-1)
-
7
saflufenacil (100 g i.a. ha-1)
propanil (3660 g i.a. ha-1)
-
8
testemunha
testemunha
-
Assist® (1 L ha-1)
*saflufenacil (Heat®); penoxsulam (Ricer®); bispyribac-sodium (Nominee® 400 SC); pirazosulfuron-ethyl (Sirius 250 SC);
bentazon (Basagran® 600); propanil (Propanil Milenia).
Para os tratamentos compostos da combinação de herbicidas, foi realizada a mistura
em tanque dos mesmos. Após foram aplicados com auxilio de um pulverizador costal
pressurizado por CO2 equipado com barra munida de quatro pontas de jato plano do tipo
leque, série 110.02, espaçadas 50 cm, calibrado para aplicar um volume de calda de 150 L
ha-1. Os tratamentos foram aplicados quando as plantas de sagitária apresentavam de 10 a
15 cm de estatura, contendo apenas folhas lanceoladas, e o arroz encontrava-se no estádio
fenológico V3-V4.
As variáveis avaliadas foram o controle da sagitária e a fitotoxicidade no arroz, aos 14 e
28 dias após aplicação dos tratamentos (DAA), atribuindo-se notas percentuais que
variaram de zero a 100%, onde zero corresponderam a nenhum controle e nenhum sintoma
de fitotoxicidade e 100 à morte das plantas (GAZZIERO et al., 1995).
Os dados obtidos foram analisados quanto a sua homocedasticidade, normalidade e
posteriormente submetidos à análise variância (ANOVA). Após foi utilizado o teste de Tukey
(P≤0,05) para comparação de médias entre tratamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ocorreu interação entre os tratamentos para variável controle de sagitária e
fitotoxicidade na cultura do arroz, tanto aos 14 DAA como aos 28 DAA.
Para o controle de sagitária aos 14 DAA a combinação saflufenacil e propanil foi a que
apresentou maior eficácia (83,75%), não diferindo estatisticamente das combinações de
saflufenacil com penoxsulam, de saflufenacil com bispyribac-sodium, e de saflufenacil com
pirazosulfuron-ethyl. Entretanto, estes resultados não foram sustentados até os 28 DAA.
Nessa ocasião foi observado que todos os tratamentos com o herbicida saflufenacil aplicado
isoladamente ou em combinação com outros herbicidas não superou os 12,50% de controle,
indicando que a dose utilizada desse herbicida tem baixa eficácia para o controle dos
biótipos de S. montevidensis avaliados neste estudo (Tabela 2).
Com relação à seletividade de saflufenacil e a sua combinação com outros herbicidas
em relação ao arroz, cv. Epagri 108, aos 14 DAA, foram observados níveis variáveis de
fitotoxicidade desde 8,75% para saflufenacil com bentazon até 78,75% de fitotoxicidade
para saflufenacil com propanil, equivalente aos 65% de saflufenacil com penoxsulam e
superior aos 56,25% da combinação de saflufenacil com bispyribac-sodium. Aos 28 DAA, na
maioria dos tratamentos, as plantas de arroz mostravam significativa recuperação dos
danos causados pelos herbicidas. Foram exceções, as combinações de saflufenacil com
propanil, saflufenacil com bispyribac-sodium e saflufenacil com penoxsulam, cujos sintomas
de fitotoxicidade no arroz continuavam apresentando respectivamente, 42,50; 20,00 e
16,25% (Tabela 2).
Tabela 2. Controle de sagitária com resistência múltipla aos herbicidas inibidores da ALS e do
Fotossistema II e fitotoxicidade na cultivar de arroz irrigado Epagri 108 submetidos aos
tratamentos herbicidas. Capão do Leão, RS, 2012/13.
Controle (%)
Fitotoxicidade (%)
Tratamento
Herbicida 1
14 DAA
28 DAA
14 DAA
-
31,25 c¹
3,75 bc
20,00 cd
10,00 bc
-
55,00 bc
7,50 ab
31,25 c
15,00 bc
67,50 ab
5,00 bc
65,00 ab
16,25 b
67,50 ab
6,25 abc
56,25 b
20,00 b
71,25 ab
2,50 bc
15,00 cde
6,25 bc
51,25 bc
3,75 bc
8,75 de
5,00 bc
Herbicida 2
saflufenacil*
-1
(100 g i.a. ha )
saflufenacil
-1
(100 g i.a. ha )
saflufenacil
(100 g i.a. ha-1)
saflufenacil
(100 g i.a. ha-1)
saflufenacil
(100 g i.a. ha-1)
saflufenacil
(100 g i.a. ha-1)
saflufenacil
(100 g i.a. ha-1)
penoxsulam
(60 g i.a. ha-1)
bispyribac-sodium
(50 g i.a. ha-1)
pirazosulfuron-ethyl
(20 g i.a. ha-1)
bentazon
(960 g i.a. ha-1)
propanil
(3660 g i.a. ha-1)
Testemunha
Testemunha
28 DAA
83,75 a
12,50 a
78,75 a
42,50 a
0,00 d
0,00 c
0,00 e
0,00 c
¹
Médias seguidas por letras minúsculas distintas na coluna diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.
*saflufenacil (Heat®); penoxsulam (Ricer®); bispyribac-sodium (Nominee® 400 SC); pirazosulfuron-ethyl (Sirius 250 SC);
bentazon (Basagran® 600); propanil (Propanil Milenia).
A adição do adjuvante Dash HC® ao saflufenacil aumentou a eficiência do mesmo no
controle de sagitária, isso corrobora com Kissmann (1997), que afirma que adjuvantes
podem aumentar a eficiência do herbicida, porém resultou em maior fitotoxicidade à cultura.
Quando o saflufenacil foi aplicado de forma combinada com o propanil, ocorreu
aumento significativo do controle de sagitária e também na fitotoxicidade sobre a cultura.
Estes resultados são justificados por outros encontrados por Matthews (1994), onde o autor
afirma que quando se misturam dois herbicidas de diferentes mecanismos de ação pode
ocorrer uma ação de complementaridade entre os mesmos, com um facilitando a ação física
e ou bioquímica do outro, sendo esse efeito chamado de sinergismo.
CONCLUSÕES
A aplicação isolada de saflufenacil (100 g i.a. ha-1) ou combinada com penoxsulam,
bispyribac-sodium, bentazon ou pirazosulfuron-ethyl, não proporciona controle adequado do
biótipo de Sagittaria montevidensis avaliado neste estudo;
O herbicida saflufenacil aplicado em combinação com propanil apresenta elevada
fitotoxicidade para a cv Epagri 108.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) – Processo 562451/2010-2 e a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e
Inovação do Estado de Santa Catarina) Termo de Outorga 6946/2011-9, pelo apoio
recebido para a realização deste trabalho. Os agradecimento também são extensivos à Sra.
Lucemar Winter pelo apoio administrativo na gestão dos projetos acima mencionados.
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Safra
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