Por Valkiria Taioli Iacocca e Sandra Taioli M. Cassares

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Por Valkiria Taioli Iacocca e Sandra Taioli M. Cassares
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O Piero na barriga da nonna - Por Valkiria Taioli Iacocca e Sandra Taioli M. Cassares
Incrível... Estou muito contente...
Está mais que provado que é só soltar uma sementinha no ar e pumba...
Ela gera frutos. É o que está acontecendo...
Cecília, Márcia, Walter, Henrique, a Linda e tantos outros envolvidos em relembrar e pesquisar nós, os Taiolis...
Mas a minha escolhida para darmos continuidade à nossa saga foi a Sandra...
E, neste sábado de aleluia, lá nós altos da Avenida Paes de Barros, bem naquele apartamento da Tia Anita, bem
naquela mesa onde tantas iguarias degustamos nesses últimos 50 anos... Quantos inesquecíveis
reveillons...Mergulhamos em uma caixa de fotografias e nas nossas lembranças tentando reconstruir parte da história.
Ligamos pro Henrique, ligamos pra Francesca, ligamos pro Fábio e achamos que o Sergio também sabe muitas
coisas, que ficam para o capítulo onde a figura principal será o Luciano...
Por enquanto, eu e a Sandra amarramos o próximo capítulo, que poderíamos chamar assim:
O Piero na barriga da nonna, observando a longa jornada...Eu acompanhei tudo lá de dentro...
Lembro das lágrimas quando o navio se afastava do porto de Gênova, deixando a família para trás... Da ansiedade
provocada pelo balanço do navio no grande oceano, do espanto da convivência com tantos estranhos, da dor pela
morte do Sisto... E eu, lá dentro do útero da minha mãe, já comecei a admirar a tranqüilidade do meu pai. Vocês
podem não acreditar, mas eu logo fui conhecendo quem seriam meus pais...
Foi no aconchego daquele útero que eu me preparava para vir ao mundo num lugar inóspito, tão diferente daquele onde
tinha sido gerado. E não era para menos. Afinal, eu havia sido gerado lá na Praça Francesco Ferruccio, e assim que o
milagre da procriação se realizou achei que era ali o lugar onde seria criado, entre os bosques e a neve... Tinha certeza
que o casamento de um Taioli com uma Burattini era a melhor união que Gavinana poderia ter.
De repente lá estava eu, na barriga da minha mãe, naquele trenzinho maria-fumaça subindo uma tal de Serra do Mar,
ouvindo sempre a voz de meu pai dizendo: “Lena, vá tutto bene”, eu conheço aqui, você vai ver que as pessoas são
buona gente... Eu ficava muito atento, pois como ainda habitava o útero de minha mãe, só sabia das coisas pelo que
ouvia ou pelas batidas do seu coração, às vezes mais aceleradas, às vezes mais tranqüilas quando meu pai dizia: “tudo vai
melhorar”. E minha mãe, apreensiva, olhava toda aquela mata que era tão diferente da vegetação da Toscana... Mas ela
tinha a esperança de chegar e encontrar um lindo sol...
Algumas horas de subida e chegamos ao nosso destino, um lugarejo chamado Taquaruçu, na região de Paranapiacaba.
Acredito que para ela tenha sido o maior choque de sua vida. O local era totalmente gélido, havia neblina o tempo todo,
tão densa que não dissipava nunca... E um forte chuvisco... Que horror..., pensou ela. Mas quem sabe é só hoje... Mas
aos poucos foi percebendo que todos os dias eram assim... E o sol? Bem, o tão decantado sol do Brasil era uma
raridade em Paranapiacaba, e já na primeira noite lembrou do enxoval que havia deixado na Itália, daqueles
cobertores quentinhos... Naquela noite ela chorou escondido para meu pai não perceber... Além da saudade de sua
terra, estava apreensiva quanto ao futuro...
Foi assim que junto com outros vizinhos, a maioria italianos, que haviam se tornado amigos e companheiros de trabalho
do meu pai, foi aberta uma grande clareira na Mata Atlântica com o objetivo de fazer carvão. Um trabalho duro, pesado...
La bella ricciola não era feliz lá, mas disfarçava bem... Ela agüentava firme, pois eu estava para nascer e era preciso
preparar o meu enxoval.
Poucas vezes eu vi minha mãe chorar, mesmo porque, naquela situação ela não podia se permitir esse relaxamento. Não
adiantava lamentar a distância dos seus, sentir saudades das missas de domingo com o Leon della Leona, do Francesco
Ferruccio... Sabia que não adiantava chorar... Era melhor enfrentar as adversidades e pronto... Perante essa situação, eu
até pensava se devia ou não nascer... Mas como não era covarde, eu resolvi nascer...
Nasci com a ajuda de uma vizinha parteira. Meu pai, muito contente, perguntou: quanto te devo por seu trabalho? E ela
muito singela: Sr. Matteo, um belo pedaço de fumo de corda que o senhor tem aí paga o meu trabalho por ter trazido ao
mundo este lindo menino... Vejam vocês... Um belo pedaço de fumo por um menino bem bonitinho...
E eu era bem bonito mesmo (basta olhar a foto) e deveria me chamar Pietro, como meu avô, mas a minha mãe sempre
detestou esse negócio de dar o nome dos “velhos” em criança e queria que me chamasse Piero. Mas acabei virando Pedro
José Taioli, em português mesmo, pois nos cartórios brasileiros os funcionários se esforçavam para abrasileirar nossos
costumes, inclusive os nomes. No entanto, sempre fui chamado de Piero... Pedro ficou para as coisas mais formais,
como vocês saberão mais para frente.
Quanto ao amor dos meus pais, nunca tive dúvida... Pra começar, eles eram pessoas absolutamente da paz... Minha
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mãe se esmerava em cuidados comigo, andava sempre limpo, asseado e agasalhado... Acho que guardaram até pra lá
do ano 2000 a minha camisolinha de batismo... Verifiquem se eu tenho razão...
Eu, sempre muito curioso, ficava observando tudo no entorno: o pão que minha mãe amassava e depois assava, as
roupas que ela tinha que secar perto do fogão a lenha, primeiro virava de um lado, depois do outro lado. Eu também
gostava de olhar as galinhas, que davam algum trabalho mas nos forneciam carne e ovos. Para meus banhos, minha
mãe aquecia a água no fogão a lenha, que depois era colocada numa bacia grande e muito limpa, eram momentos de
muito prazer. Mas às vezes surgia algum perigo: certa vez, uma grande cobra, certamente para aproveitar o calor da
bacia, foi se enrolar nela e, quando minha mãe foi jogar a água lá no pequeno riacho se deparou com a fera... Espanto
e medo, foi um deus nos acuda... A vizinhança toda correu... E eu, tranqüilo lá do meu bercinho... Até hoje não sei se
a cobra sobreviveu à ferocidade da italianada.
Muitas vezes minha mãe ficava com olhar perdido naquela névoa interminável e pensava: e eu deixei todo meu
enxoval lá na Itália, pois pensava: em dois anos faremos a América e voltamos... Agora, toda aquela roupa me seria
tão útil... Uma vizinha sempre sugeria: escreva para sua mãe que ela manda por navio. Ao que ela respondia: eu jamais
faria isso, pois meu pai e minha mãe teriam certeza de que jamais voltaríamos para a bella Gavinana. Ela escrevia para
os seus, lá na Itália, e jamais contava as suas desventuras. Nunca quis preocupá-los.
Os dias foram se passando e aos poucos meu pai foi percebendo que ali o trabalho já escasseava. Ao mesmo tempo,
a tristeza da minha mãe pela falta de sol era cada vez maior. Foi quando ele resolveu partir para Itupeva, perto de
Jundiaí. Pasmem, minha mãe já estava grávida novamente. Foi assim que, levando eu no colo e uma criança na barriga,
mais uma vez partiram, carregando no trem tudo que podiam, inclusive a bacia.
Paradiso... Paradiso... Dizia minha mãe ao chegar lá. E que em Itupeva o sol era soberano e minha mãe se sentia uma
rainha. Nos primeiros dias, as roupas de cama foram quaradas ao sol, as panelas brilhavam ao sol, pela primeira vez eu
podia tomar um pouco de sol... O que eu mais ouvia era: como é bom o sol... E realmente, com o sol as coisas
começaram a mudar para melhor...
Eu crescia bem forte e o nenê na barriga ia bem. Alguns meses depois, quando nasceu minha irmã, surgiu um grande
impasse. Lembram que a minha mãe tinha feito aquela promessa de que se tivesse uma menina iria se chamar Diana, o
nome do barquinho que levou o corpinho inerte do pequeno Sisto? Aconteceu então que toda a vizinhança e os amigos
disseram a ela que aqui no Brasil Diana era nome de cachorra... Foi assim que ela escolheu para a menina o nome Rina.
Eu já estava grandinho, continuava bonitinho e achei muito bom ter nascido a Rina. Para nossa alegria, na mesma
época chegaram meus tios, que também deixaram Gavinana por falta de opções de trabalho. Eram o zio Serafino, irmão
do meu pai, e a zia Assunta, sua mulher, que inclusive acabaram me batizando. Imaginem vocês que ela também já
veio grávida da Itália, igual a minha mãe, e pouco depois nasceu o Henrique, e foi felicidade total.
Esse foi um grande período para mim e parecia que uma nova vida se iniciava em Itupeva, onde finalmente
começávamos a ter nossa família no Brasil: agora, além de meus pais, eu tinha uma irmã, um primo, os tios... Quanto à
minha mãe, ela também se sentia menos solitária, já sorria um pouco mais e continuava reverenciando o “rei sol”.
Aos poucos, a saudade da Itália ia ficando cada dia menos dolorida, principalmente quando os patrícios que chegavam
contavam que as coisas por lá não iam nada bem. A tristeza ficava por conta das longas cartas que minha mãe recebia
e lia bem alto com o objetivo de não chorar. Assim, nós fomos ajeitando as coisas para viver da melhor maneira possível
neste nosso novo país.
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