A Motivação Para Missões - Global Training Resources

Transcrição

A Motivação Para Missões - Global Training Resources
Missões
Transculturais
Pr. Kenneth Eagleton
Escola Teológica Batista Livre
(ETBL)
Campinas, SP
2011
1
Sumário
1- A motivação para missões
2- Base bíblica de missões
3- A história de missões
4- O plano de missões
5- A igreja enviadora
6- O missionário
7- O campo missionário
8- Desafios atuais em missões
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
2
1- A Motivação Para Missões
Você é salvo e está na igreja hoje por causa de algum missionário que veio ao Brasil. A
história da evangelização do Brasil está intimamente ligada à chegada de missionários
estrangeiros no país. Estes lançaram as bases da Igreja Evangélica e iniciaram um
movimento de conversões; multiplicaram o número de pessoas salvas de algumas centenas
para milhares, centenas de milhares e, finalmente, a milhões de brasileiros. Cada um de nós
deve a nossa evangelização a pessoas que vieram de outras culturas, principalmente norteamericana e europeia. Somos frutos de projetos missionários que se iniciaram há mais de
cem anos ou há apenas alguns anos atrás.
Regiões inteiras têm se aberto ao Evangelho nas últimas décadas. Há algumas décadas atrás,
grandes blocos de países estavam praticamente isolados dos esforços evangelísticos. Países
dos blocos comunista (União Soviética, China, Europa do leste, Cuba e muitos outros
lugares) e muçulmano (Oriente Médio, África do Norte e outros locais) formavam regiões
onde a proclamação do Evangelho era proibida e rara. Hoje, em muitos destes países,
principalmente nos do antigo bloco soviético, o Evangelho tem uma penetração
relativamente mais fácil. Mesmo nos países onde ainda existe proibição têm-se
desenvolvido estratégias para a sua propagação.
Há mais cristãos indo a um número maior de lugares, aprendendo mais línguas, traduzindo a
Bíblia para um maior número de línguas e implantando mais igrejas nestas últimas décadas
do que em qualquer outro período da história humana.
Quem é missionário? Às vezes ouvimos que todos os cristãos são missionários. Em um
sentido amplo, do ponto de vista do envolvimento com missões ou da necessidade de todos
levarem o Evangelho às pessoas, isto pode ser verdade. Neste estudo, contudo, usaremos a
palavra em um sentido mais restrito. A palavra “missionário” provém do latim e significa
“enviado”. Tem o mesmo significado que a palavra “apóstolo”, que vem do grego. Neste
sentido, missionário é alguém enviado pela igreja para pregar o Evangelho a outros povos
de cultura e língua diferentes. Quando nos referimos a missões e missionários, estamos
falando da tarefa de comunicar o Evangelho transculturalmente.
Por que as missões transculturais são necessárias? Será que é mesmo necessário nos
preocuparmos com a evangelização de outros povos?
Razões para se envolver com missões:
1- O caráter de Deus: Seu amor e Sua santidade. O amor de Deus contempla o mundo
todo (Jo 3:16), o que O levou a enviar Seu Filho para morrer pelos pecados de
pessoas que compõem todos os povos do mundo. O amor de Cristo nos constrange a
levarmos as Boas-Novas a todos os povos. A santidade de Deus exige que Ele seja
justo e que condene todo pecador. É preciso anunciar o Evangelho a todos os povos
para que escapem desta condenação.
2- O mandamento de Cristo: Jo 20:21.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
3
3- A impulso do Espírito Santo: At 1:8; 4:20.
4- A condição dos perdidos: Lc 16:23-28.
Resultados do envolvimento missionário:
•
O comprometimento de uma igreja com missões é o seu termômetro espiritual
(exemplo: Igreja de Corinto vs. Igreja de Antioquia). Quando se preocupa somente
consigo mesma, a igreja se torna egoísta e destituída da visão de um mundo perdido.
Quando a igreja se mobiliza para cooperar em levar o Evangelho a todos os povos,
ela está cumprindo um dos propósitos de Deus para a igreja. O povo se desperta, a
igreja cresce espiritualmente e aumenta a sua generosidade. A igreja que contribui
generosamente para missões nunca terá falta em casa.
•
O envolvimento de todos gera mais recursos para a evangelização mundial:
– Recursos humanos: quanto mais igrejas e indivíduos se despertam para as
necessidades dos povos sem Cristo, mais pessoas ouvem e respondem ao
chamado do Mestre para missões transculturais. Maior é o recrutamento de
novos missionários. Não há somente novos missionários, mas também
voluntários que se disponibilizam para levantar recursos, orar, cuidar da
parte administrativa, das comunicações, divulgação etc.
– Recursos financeiros: quanto maior o número de igrejas envolvidas, maior
será o levantamento de recursos financeiros para a realização da obra de
missões transculturais.
– Recursos tecnológicos: o envolvimento de todos gera mais recursos
tecnológicos. Voluntários desenvolvem vídeos de divulgação e ajudam a
montar sites na internet; recursos são levantados para a aquisição de
material de projeção (filme “Jesus”, por exemplo), material para tradução da
Bíblia em outras línguas, projetos humanitários etc.
•
Purifica os valores do cristão:
– Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus (Mt 6:33).
– Priorizar os valores eternos: almas em vez de bens materiais.
– Disponibilizar o nosso tempo, nossos bens e nossa família para a obra de
Deus.
– Cooperar para alcançarmos o mundo todo.
•
Aumenta o envolvimento no evangelismo local. A sensibilização para os povos sem
Cristo nos deixa mais atentos às pessoas sem Cristo em nossa família, em nossa
vizinhança, no nosso trabalho e na escola.
Como participar da tarefa missionária?
•
Todo indivíduo é importante. Exemplo: a multiplicação dos pães (Mt 14:13-21):
– Nós fazemos a nossa pequena parte;
– Deus multiplica os resultados.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
4
•
Oração
– Somente a intervenção sobrenatural do Espírito Santo pode realizar a tarefa.
O ser humano não tem capacidade de convencer povos de diferentes culturas
e nem poder para transformar vidas.
– Intercessão por mais obreiros – Mt 9:38. Jesus ordenou que orássemos para
que Deus mande mais obreiros. Ele ligou a oração à quantidade suficiente de
obreiros para realizar a tarefa. A oração de alguma forma impulsiona Deus a
agir.
– Oração eficaz necessita de informações atualizadas sobre as necessidades
existentes. Precisamos nos informar sobre o que está acontecendo no campo
onde já existem missionários trabalhando. Precisamos pesquisar povos ainda
não alcançados pelo Evangelho e conhecer suas necessidades. Quanto mais
informações tivermos, mais eficazes serão as nossas orações.
•
Ensino sobre missões. Podemos participar da tarefa missionária passando para
outras pessoas aquilo que aprendemos. Quanto mais as pessoas estiverem
informadas sobre missões, mais se envolverão. Precisamos ensinar:
– Princípios bíblicos relativos a missões;
– As necessidades espirituais do mundo;
– Como cada um pode participar na tarefa.
•
Aumentar nosso investimento financeiro. Cada um de nós tem capacidade para
aumentar sua contribuição financeira para o sustento de missões. Você contribui
financeiramente para missões transculturais? Se a sua afirmação for positiva, que
porcentagem de sua renda vai para missões?
•
Recrutar novos missionários. Outra maneira de participar desta tarefa de missões é
recrutar novos missionários.
– Na igreja – devemos sempre desafiar a igreja a considerar missões
transculturais como uma das possibilidades da vontade de Deus para a vida
de cada cristão.
– Adotar missionários. Quando a igreja local não tem seus próprios
missionários, pode criar parcerias com outros missionários que necessitem de
sustento.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
5
A URGÊNCIA do envolvimento missionário:
Posição da
Evangelização
Mundial Hoje
Aumento da população mundial
Posição da
Acréscimo
hoje
Acréscimo
este ano
Totais até o
presente
209.129
45.246.024
6.923.470.000
(quase 7 bilhões)
Pessoas ouvindo e crendo no
Evangelho
23.033
4.998.298
764.591.069
Pessoas ouvindo e não crendo no
Evangelho
54.752
17.477.706
2.675.742.800
80.542
22.770.020
3.483.137.165
Pessoas sem uma boa oportunidade
de ouvir o Evangelho
•
•
•
Todos os dias, milhares de pessoas estão morrendo sem Cristo.
O tempo útil em que podemos trabalhar está se acabando. Devemos dar os nossos
melhores anos.
Cristo vai voltar em breve e as oportunidades se acabarão.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
6
2- A BASE BÍBLICA DE MISSÕES
Missões não têm origem no homem – é uma iniciativa divina.
Apesar da rebelião do homem, Deus ama as pessoas que criou e busca salvar e restaurar os
perdidos. Para tanto, criou um plano de redenção para a humanidade. Ele Se revelou a
algumas pessoas que escolheu e as incumbiu de levar ao restante da humanidade as Boas
Novas do Seu plano de salvação. Ele conclama os que Lhe pertencem a comunicarem o
Evangelho. O tema de missões não aparece apenas no Novo Testamento, mas em toda a
Bíblia, desde Gênesis. Apenas algumas destas ocorrências serão examinadas a seguir.
ANTIGO TESTAMENTO
•
Deus chamou Abraão e lhe fez promessas (Gn 12:1-3). Entre estas promessas estava
a de abençoar todas as famílias (nações) da terra através de Abraão (Gn 18:18;
22:17-18). Esta promessa foi repetida aos seus descendentes imediatos: Isaque (Gn
26:4) e Jacó (Gn 28:14).
•
Deus escolheu a nação de Israel (Êx 6:7; Dt 7:6-8) e alguns indivíduos (Moisés, Josué,
Davi, os profetas etc) para trabalhar através deles.
•
A nação de Israel deveria ser um reino de sacerdotes (Êx 19:6) e uma nação santa
(ou separada). A função do sacerdote era interceder pelo povo e apresentá-lo a
Deus. Os israelitas, como nação, deveriam exercer esta função de intermediários
junto a Deus e ser o exemplo de como Ele desejava que seu povo vivesse (1Rs 8:4143). Infelizmente o povo de Israel não cumpriu totalmente esse propósito.
•
Deus mostrou Seu poder através dos israelitas (Js 4:23-24), apesar de ser uma nação
pequena. O êxodo do povo de Israel do Egito estabeleceu a reputação de Deus entre
todos os povos da região (Js 2:8-9). A sua ajuda e proteção aos hebreus era um sinal
da grandeza e majestade do Senhor. Os povos viam isso e tremiam.
•
Deus também estendeu Sua mão a outras nações e povos.
o Raabe era cananeia, mas foi poupada da destruição de Jericó.
o Rute era moabita, mas foi usada para integrar a descendência de Jesus.
o Naamã era sírio, mas foi curado milagrosamente de uma doença incurável.
o Os ninivitas, através da pregação de Jonas, tiveram a chance de se
arrependerem do mal que faziam e Deus adiou a punição que havia
preparado para eles.
•
O Templo foi construído também para que os estrangeiros o usassem como “casa de
oração” – Is 56:6-7; 1Rs 8:43.
•
Profecia de Isaías sobre o Servo do Senhor (Jesus) – Is 42:6-7 (será luz para os
gentios); 43:9-12 (todas as nações e povos se congregam); 45:22-23 (a salvação é
para todos da terra e Ele será glorificado em toda a terra); 49:6 (será luz para os
gentios e trará salvação até as extremidades da terra); 60:3 (as nações se
encaminham para a luz) e 66:18-19 (Deus ajuntará as nações e as línguas para
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
7
contemplar a Sua glória e escolherá alguns para serem missionários – anunciando
entre as nações a glória dEle).
•
O testemunho de Nabucodonosor, rei pagão, quanto ao Senhor Deus (Dn 2:47; 4:1-3
e 34-35).
•
Os Salmos estão repletos de referências às nações e ao projeto de Deus para todos
os povos (Sl 22:27-28; 47:1-2; 7-8; 65:5; 67:1-7; 98:2-4). Deus tinha a intenção de
que o Seu nome fosse glorificado entre todos os povos (Sl 18:49; 46:10; 48:10; 57:911; 66;1-4; 72:17-19; 86:9; 96:1-3; 100:1; 108:3-5; 113:4; 117:1).
NOVO TESTAMENTO
Ministério de Jesus
• João 10:14-17 – “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a
minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me
convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um
pastor. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.”. As
ovelhas que não são “deste aprisco” (os judeus) são os gentios, isto é, todos que não
são judeus. Jesus pretendia fazer de todas as Suas ovelhas (judeus e gentios) um só
rebanho e Ele seria o Supremo Pastor sobre todas as ovelhas.
•
Durante seu ministério terreno, Jesus cuidou de muitos que não eram judeus. Apesar
de Seu enfoque principal ter sido o povo judeu, Ele ministrou a pessoas de outras
etnias também: à mulher samaritana (Jo 4), à mulher siro-fenícia (cananeia –Mc
7:26-30), a um surdo e gago do território de Decápolis (Mc 7:31-36) e a um gadareno
(geraseno) endemoninhado (Lc 8:26-36).
A Grande Comissão
Muito mais poderia ser dito a respeito do ministério de Jesus e de como estendeu a mão aos
gentios, no entanto, as referências mais marcantes de Jesus a respeito da missão do cristão
para alcançar as nações se encontram no que é conhecido como “A Grande Comissão”.
Temos cinco versões, uma em cada Evangelho e mais uma no livro de Atos:
• Mateus 28:18-20 – A Grande Comissão tem o respaldo da autoridade de Jesus.
Missão não é realizada devido à nossa presunção ou iniciativa, mas sob a autoridade
e ordem de Jesus. A única ordem dada aqui (no grego) é “fazei discípulos”. Os
discípulos são formados ao ir a todas as nações e estas devem ser ensinadas. A
atividade missionária será realizada com a presença e ajuda de Cristo até ao fim
desta era.
• Marcos 16:15 – O “ide”, neste versículo, é uma ordem. Devemos ir “por todo o
mundo” pregando o Evangelho a todos, sem distinção de etnia, condição
socioeconômica ou religião.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
8
•
•
•
Lucas 24:44-49 – A missão é realizada em nome de Cristo e o conteúdo é a pregação
da necessidade de arrependimento para remissão de pecados. Esta pregação deve
ser feita “a todas as nações”.
João 20:21b – Somos enviados pelo próprio Jesus Cristo. O modelo é o envio dEle
pelo Pai.
Atos 1:8 – A missão é realizada através do poder do Espírito Santo que nos capacita a
sermos Suas testemunhas. A amplitude do nosso testemunho deve ser tanto local,
quanto regional, nacional e até aos locais mais longínquos do planeta.
Atos e as Epístolas
• O livro de Atos (história dos primeiros 30-35 anos da Igreja) nos mostra a Grande
Comissão sendo cumprida pelos discípulos pelo poder do Espírito Santo.
• A partir do dia de Pentecostes, a igreja em Jerusalém começou a se multiplicar
rapidamente. Já no primeiro dia três mil pessoas se converteram e foram batizadas
(At 2:41). Logo o número subiu para cinco mil (At 4:4) e a cada dia mais pessoas
eram acrescentadas (At 5:14; 6:7; 9:31; 12:24).
• Com a perseguição, os cristãos se espalham principalmente para outros lugares da
Judeia e da Samaria (At 8:1). Por toda parte aonde iam, os cristãos pregavam a
Palavra (At 8:4). Filipe, Pedro e João evangelizaram a região da Samaria (At 8:5-25).
• Pedro é enviado a Cesareia para pregar o Evangelho aos gentios da casa do centurião
romano Cornélio. Nesta ocasião Pedro reconhece que Deus não faz acepção de
pessoas e que o Evangelho é para todas as nações (At 10:34-35).
• A evangelização não ficou somente no âmbito da Samaria, mas se expandiu até a
Fenícia, Chipre e Antioquia, na Síria. No início esta evangelização era feita somente
para outros judeus (At 11:19-20), mas em Antioquia começaram a evangelizar
também os gentios (gregos). Muitos se converteram em Antioquia e uma igreja
multiétnica se desenvolveu (At 11:21 e 24; 13:1). Esta igreja tornou-se missionária,
enviando seus líderes em viagens missionárias por outras nações (At 13:2-3).
• Estas viagens missionárias de Paulo e seus companheiros, com a pregação do
Evangelho, resultam em conversões e na implantação de igrejas por toda a Ásia
Menor (hoje Turquia), Europa (hoje Grécia) e ilhas do Mediterrâneo (Chipre e Creta).
• Finalmente os missionários chegam a Roma, capital do Império Romano, onde já
existe uma igreja.
• Igrejas em cidades como Filipos, Tessalônica e Éfeso passam a ser igrejas
missionárias.
Princípios da Expansão Missionária:
• Identificação com os perdidos: os missionários neotestamentários buscavam os
perdidos onde estavam.
• Ligação estreita com uma igreja “enviadora”: os missionários voltavam à igreja
enviadora e prestavam contas do trabalho realizado (At 14:26-28).
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
9
•
•
•
Prioridade para as cidades importantes: Paulo e sua equipe de missionários
escolheram estrategicamente evangelizar as cidades do Império Romano que eram
grandes centros de administração, economia, cultura e religião.
Batismo, discipulado e envolvimento dos convertidos: em praticamente todas as
cidades por onde passaram pregando o Evangelho, pessoas se converteram, foram
batizadas, discipuladas e lideranças locais foram escolhidas (At 14:21-23).
Liderança em equipe: Paulo trabalhou em equipe. Muitos foram os seus
companheiros e ajudantes: Barnabé, Silas, Timóteo, Tito, Lucas, Priscila, Áquila e
outros (ver também At 20:4).
O Evangelho é para todos os povos:
•
Jesus é o único meio de salvação para todas as pessoas em todos os lugares (Jo 14:6;
At 4:12; 1Tm 2:5-7).
•
O Evangelho traz salvação a todos os que creem, tanto judeus quanto gentios (Rm
1:16; 9:13).
•
Fomos feitos embaixadores de Cristo para trazer reconciliação a todos (2Co 5:17-21).
•
Para que o Evangelho seja eficaz, é necessário que seja pregado por pessoas
enviadas para esse fim (Rm 10:14-15).
•
Todas as nações (povos) e todas as línguas adorarão ao Senhor Jesus (Fp 2:9-11; Ap
5:9-10; 7:9-10).
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
10
3- A História de Missões
A história de missões é muito extensa e intrigante. É impossível contar todas as histórias de
todos os povos e movimentos missionários nestes últimos dois milênios. O que vamos
tentar fazer é um breve resumo destes acontecimentos, sendo necessário deixar de relatar
muitos detalhes.
Winter salienta que ao longo de toda a história da propagação da Palavra de Deus e da
expansão do Cristianismo, isto nem sempre se deu pela obediência voluntária de Seu povo.
Mesmo quando o povo de Deus não se mobilizou para levar a Palavra transculturalmente,
Ele ainda agiu para que os povos do mundo O conhecessem. Winter fala de quatro
mecanismos que Deus tem usado através da história para levar a sua “história” aos confins
da terra.
1. Ida voluntária (pessoas que intencionalmente saem de sua cultura para levar a
Palavra de Deus a outra cultura).
2. Ida involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente e desta forma
levaram a Palavra de Deus consigo).
3. Vinda voluntária (pessoas de outras culturas que vieram para dentro da cultura do
povo de Deus e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra).
4. Vinda involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente para dentro da
cultura do povo de Deus e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra).
O quadro da página seguinte ilustra como em todas as épocas Deus tem Se utilizado destes
quatro mecanismos para Se fazer conhecer pelos povos da terra.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
11
MECANISMO
Ida voluntária
Centrífuga
(Expansiva)
ANTIGO TESTAMENTO
• Abraão para Canaã
• Jesus em Samaria
• Os profetas
menores pregaram a
outras nações
próximas de Israel
• Pedro e Cornélio
• Fariseus: “rodeais o
mar e a terra para
fazer um prosélito”
(Mt 23:15)
• José vendido como
escravo ao Egito
testemunha ao Faraó
• Noemi testemunha
a Rute em Moabe por
causa da fome
Ida
involuntária
Centrífuga
(Expansiva)
NOVO TESTAMENTO
• Paulo e Barnabé em
viagens missionárias
• testemunho de
outros cristãos na
Babilônia, Roma,
Chipre etc.
• A perseguição aos
cristãos os forçou a
deixar a Palestina e
foram dispersos por
todo Império Romano
e até mais adiante.
• a menina hebraica
levada à casa de
Naamã
• Jeremias como
profeta às nações
Centrípeta
(Atração)
• A Rainha de Sabá
veio à corte de
Salomão
• Magos saíram do
Oriente para ir a Judá
(Mt 2)
• Gregos procuraram
Jesus
• Rute escolheu deixar • Cornélio mandou
Moabe para ir a Judá
chamar Pedro
• Um macedônio
chama Paulo
Vinda
involuntária
• O rei da Assíria
trouxe povos pagãos
para habitar em Israel
Centrípeta
(2Re 17)
(Atração)
Missões Transculturais
• Celtas peregrinam
pela Inglaterra e
Europa
• Frades vão para
China, Índia, Japão e
América
• William Carey e
outros missionários
a
da 1 Era
• Hudson Taylor e os
a
missionários da 2 Era
• Terceira Era até o
presente
• Úlfila foi vendido
como escravo aos
godos
• o bispo Ário
quando exilado foi às
regiões dos godos
• Soldados cristãos
que lutaram ao redor
do mundo voltaram
para começar 150
novas agências
missionárias
• Cristãos capturados • Cristãos
convertem os vikings ugandenses fugindo
das atrocidades em
• Soldados cristãos
seu país foram parar
foram enviados por
em outras partes da
Roma à Inglaterra,
África
Espanha etc.
• Cristãos coreanos
• Peregrinos e
fugiram para o sul,
puritanos que foram
onde haviam poucos
forçados a ir para a
cristãos e mais tarde
América do Norte
foram enviados para
evangelizaram os
trabalhar na Arábia
indígenas ali
Saudita, Irã e outros
países.
• os exilados hebreus
testificam na Babilônia
(Daniel, Ester)
Vinda
voluntária
• Patrício para a
Irlanda
ERA MISSIONÁRIA
MODERNA
• Morávios vão para
a América do Norte
• Jonas – o
missionário relutante a
Nínive
• O sírio Naamã veio
ver Eliseu
IGREJA ATÉ
OS ANOS 1.800
• O exército romano
ocupou e infiltrou a
região da Galileia
• Os godos invadem
a Roma cristã e
aprendem sobre a fé
cristã
• Vikings invadem a
Europa cristã e
eventualmente se
convertem
• Escravos foram
trazidos da África
para as Américas
• Influxo de turistas,
estudantes e pessoas
de negócios no
Ocidente
cristianizado
• Refugiados
políticos (países
comunistas, ditaduras
etc.)
• Refugiados de
guerras, desastres
naturais etc.
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
12
Existem muitas maneiras de se classificar a história de missões e da propagação do
Evangelho pelo mundo todo. Usaremos aqui uma classificação de Bill Jones, que divide a
história da propagação do Cristianismo em quatro períodos:
1.
2.
3.
4.
Período romano (33-476 d.C.)
Período medieval (476-1.517 d.C.)
Período da Reforma (1.517-1.792 d.C.)
Período moderno (1.792 até o presente)
Período romano (33-476 d.C.)
Ascensão
(30/33)
1a
viagem
de
Paulo
(4849)
2a
viagem
de
Paulo
(5052)
3a
viagem
de
Paulo
(5357)
Fim da
Era
Apostólica
(100)
Martírio
de
Policarpo
(156)
Edito de
Milão de
Constantino
(313)
Constantino
reúne o
Concílio de
Niceia
devido ao
ensino de
Ário que
dizia
que Jesus
não era
Deus (325)
Bizantina
se torna
Constantinopla,
capital do
Império
Romano
Oriental
(330)
Úlfilas
inicia
sua
missão
aos
godos
(341)
Patrício
chega à
Irlanda
(432)
Queda
de
Roma
(476)
Vimos que Jesus deixou uma missão aos Seus discípulos para que fossem testemunhas em
Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Os discípulos tinham uma missão
bastante abrangente. A Bíblia não nos informa sobre o ministério de todos os
discípulos/apóstolos após o dia de Pentecostes, mas a tradição nos informa que cada um
deles exerceu um ministério em regiões bem distantes da Palestina, onde pregaram o
Evangelho e estabeleceram igrejas.
O apóstolo Paulo se converteu e foi em especial comissionado por Deus para a pregação do
Evangelho entre os gentios, principalmente onde o Evangelho ainda não havia chegado (veja
At 22:12-15, 21; Rm 15:15-16, 21). A estratégia utilizada por Paulo foi a de formar uma
equipe com vários colaboradores. Ele fez várias viagens, passando tanto por locais
pioneiros, onde o Evangelho ainda não havia sido pregado, como também voltando às
cidades anteriormente evangelizadas para ensinar e encorajar os fiéis. Havendo uma
sinagoga nas cidades onde ainda não havia uma igreja, Paulo ali entrava para explicar as
Escrituras aos judeus que já possuíam certo conhecimento da Palavra de Deus.
Invariavelmente ele era expulso da sinagoga e voltava sua atenção para a pregação aos
gentios (os povos que não eram judeus). Com os convertidos da localidade,uma igreja local
era assim estabelecida e ele continuava sua viagem.
Em alguns locais Paulo passou mais tempo ensinando e preparando líderes para continuar a
tarefa de evangelização e pastoreio do rebanho local (Antioquia, Éfeso, Corinto etc). Fica
claro que sua estratégia era primeiramente alcançar as cidades mais importantes,
estabelecendo ali uma igreja forte, de onde o restante da região pudesse ser alcançado.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
13
Úlfilas foi um dos maiores missionários da Igreja antiga. Seu ministério foi entre os godos,
uma etnia “bárbara”, que vivia fora do Império Romano onde é hoje a Romênia. Ele nasceu
em 311 d.C. e foi criado na cultura pagã dos godos. Acredita-se que sua mãe fosse gótica e
seu pai, um cristão da Capadócia que fora levado cativo por uma invasão gótica. Quando
tinha pouco mais de vinte anos foi enviado a Constantinopla para trabalhar no serviço
diplomático. Durante os anos em que ali esteve, foi influenciado pelo Bispo Eusébio, um
ariano, passando, então, a divulgar a doutrina ariana.
Aos trinta anos, depois de passar quase dez anos em Constantinopla, Úlfilas foi consagrado
bispo aos godos que viviam ao norte do Rio Danúbio. Aparentemente já existiam alguns
cristãos, pois, do contrário, ele não teria sido nomeado bispo. Entretanto, o interesse maior
de Úlfilas era a evangelização e ele o fez durante 40 anos. Seu trabalho foi bem-sucedido,
mas marcado por muita perseguição. Sua maior obra foi a tradução da Bíblia para a língua
nativa dos godos. A língua era oral, portanto Úlfilas precisou primeiramente desenvolver um
alfabeto para, então, começar a tradução. Esta foi a primeira ou talvez a segunda vez de que
se tem notícias de um missionário cristão ter desenvolvido um alfabeto para poder traduzir
as Escrituras. Úlfilas morreu aos 70 anos de idade e seus sucessores continuaram a tarefa da
evangelização dos godos.
Patrício (São Patrício: 389-461 d.C.) não era nem católico romano e nem irlandês, no
entanto, seu nome está estreitamente ligado ao catolicismo irlandês. Foi canonizado pela
Igreja Católica Romana cerca de duzentos anos após sua morte para influenciar a Igreja
Celta a se unir à Igreja Romana. Patrício nasceu em família cristã na província romana da
Bretanha em 389 d.C. Seu pai era diácono e seu avô, sacerdote na Igreja Celta. Isto se deu
antes da dominação romana, quando a maioria do clero era casada. Quando ainda jovem,
sua cidade foi invadida por um grupo de irlandeses e a maior parte dos meninos foi
sequestrada e vendida como escravos, incluindo Patrício. Durante seis anos cuidou de uma
manada de porcos.
Apesar de nascido em família cristã, Patrício não tinha uma fé pessoal em Deus. Durante os
anos de escravidão, passou a refletir sobre sua condição espiritual e consequentemente sua
vida mudou. Conseguiu fugir de seu senhor e voltar à Bretanha. De lá Patrício foi para a Ilha
de São Honorato, na costa da Riviera francesa, onde ficou recluso em um monastério
durante algum tempo. De volta à Bretanha relata ter sido chamado por Deus para voltar à
Irlanda.
Quando chegou à Irlanda em 432 d.C., existiam alguns cristãos isolados, mas a grande
maioria deles era pagã: adoravam o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e as rochas,
acreditando que toda sorte de bons e maus espíritos habitavam as árvores e os montes. A
magia e o sacrifício (incluindo o sacrifício humano) faziam parte dos ritos religiosos
praticados pelos druidas e sacerdotes pagãos. Eventualmente alguns druidas influentes se
converteram ao Cristianismo. Após estabelecer uma igreja, Patrício continuou viajando e
pregando o Evangelho. Em 15 anos, boa parte da Irlanda havia sido evangelizada.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
14
Patrício morreu em 461, após 30 anos de evangelização, deixado 200 igrejas organizadas e
cerca de 100.000 batizados. A religião druida sofreu um sério revés e foi substituída pelo
Cristianismo.
Durante o período de domínio romano, a Igreja obteve um forte crescimento, como se lê
nos testemunhos de Justo Mártir (150 d.C.), Tertuliano (200 d.C.), Orígenes (250 d.C.) e na
citação abaixo, de Eusébio (325 d.C.):
Floresciam nesta época muitos sucessores dos apóstolos, que construíam sobre
os seus fundamentos, continuando a obra de pregação do Evangelho e semeando
abundantemente sobre toda a terra a boa semente do Reino dos Céus. Um
grande número de discípulos, impulsionado por um amor fervoroso pela verdade
que a Palavra havia revelado neles, cumpriu o mandamento do Salvador de
compartilhar os seus bens entre os pobres. Em seguida, deixando seus países,
serviam como evangelistas, desejando ardentemente pregar Cristo e levar as
boas novas àqueles que ainda não tinham ouvido a palavra de fé. Depois de
lançar os fundamentos da fé em locais remotos e bárbaros, estabelecer pastores
entre os fiéis e confiar a eles o cuidado destes novos convertidos, continuavam
seu caminho indo a outras nações, cuidados pela graça e virtude de Deus.
Ao final do período romano, a Igreja Cristã se estendia do Mediterrâneo à Índia.
Período medieval (476-1517 d.C.)
Fatos
históricos
Celtas (500800)
(476)
queda
de
Roma
(563)
Columba
chega à
Inglaterra
(800)
Carlos
Magno
coroado
imperador
(962) A
coroação
de Oto
inicia o
Santo
Império
Romano
(869)
Morre
Cirilo
(885)
Morre
Metódius
(1260)
Marco Polo
vai à China.
(1269) Kublai
Khan pede
missionários
(1300)
Início da
Renascen
ça
(1209)
Francisco de
Assis funda a
Ordem
Franciscana
(1215)
Surgimento
da ordem
dos
dominicanos
(1291) Film
das Crusades
(1315)
Martírio
de
Raymond
Lull
(1492)
Colombo
parte
rumo à
América
(1517)
as 95
teses de
Lutero
(1453)
Constantinopla
passa a
ser
Istambul
(1415)
John Huss
é
queimado
(1492)
Mouros
expulsos
da
Espanha
(718)
Bonifácio
chega à
Alemanha
Nestorianos
(480-1250)
Ortodoxos
(800-1100)
Católicos
(1209 em
diante)
Islã (622 em
diante)
Precursores
da Reforma
Protestante
Missões Transculturais
(732)
Batalha de
Tours;
mouros
derrotados
(1095)
Início das
Crusades
(1170) Peter
Waldo
(1385)
Morre
John
Wycliffe
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
15
Os três impérios principais deste período foram:
 o islâmico (de 622 até depois de 1517 d.C.),
 o oriental (Bizantino, grego – 476-1453 d.C.) e
 o ocidental (germânico)
o Carlos Magno (800-846 d.C.) – seus filhos dividiram o império em três partes
(basicamente França, Alemanha e norte da Itália),
o Santo Império Romano (962 d.C. em diante) – a facção alemã
Durante este período da história houve quatro movimentos missionários que são dignos de
nota.
1.
A Igreja Celta1
O fato de os monges itinerantes celtas terem evangelizado boa parte da Bretanha e da
Europa Central e Ocidental é uma das grandes façanhas missionárias de todos os tempos. Os
irlandeses nunca foram conquistados pelos romanos, mas se tornaram os instrumentos
pelos quais muitos dos invasores do Império foram evangelizados. Um Cristianismo celta
vibrante surgiu na Irlanda e não era dependente do favor imperial para sua sobrevivência,
sendo independente do Papa em Roma, tanto em estrutura quanto em doutrina. A igreja
celta reteve algum fervor do Cristianismo apostólico em sua visão missionária, que foi
perdida pelos centros de poder do mundo cristão. Apesar de independente de Roma,
duzentos anos após o Concílio de Whitby em 664 d.C., a autoridade papal começou a se
impor adotando dois dos heróis do Cristianismo celta.
A. Columba (São Columba) – Da Irlanda à Inglaterra
Um dos missionários celtas mais famosos foi Columba, nascido em família nobre
irlandesa em 521 d.C. e criado na fé cristã. Ainda jovem entrou para um monastério
e foi ordenado diácono e depois sacerdote. Seu zelo evangelístico tornou-se logo
evidente, sendo responsável pela implantação de várias igrejas e monastérios na
Irlanda. Apesar de ser considerado santo, era também briguento. Envolveu-se em
uma batalha contra o rei, onde morreram 5.000 homens. Em 563 d.C., aos 42 anos
de idade, fugiu da Irlanda e jurou converter o mesmo número de almas quanto
daqueles que haviam perdido a vida em batalha.
Columba causou grande impacto na Bretanha, estabelecendo-se na Ilha de Iona, na
costa da Escócia, onde construiu um monastério. Ali preparou evangelistas que
saíram pregando o Evangelho, construindo igrejas e outros monastérios. O próprio
Columba saía em viagens evangelísticas, quando muitos se convertiam. Como
Patrício, também precisou enfrentar a magia dos druidas com o poder de Deus.
B. Bonifácio – da Irlanda à Alemanha
Bonifácio foi pregar aos povos germânicos pagãos. Empregou um estilo agressivo,
desafiando os seus deuses, demolindo altares, cortando árvores sagradas e
construindo igrejas em locais considerados santos pelos pagãos. Bonifácio se
comunicava na língua do povo. Trouxe freiras da Inglaterra, construiu monastérios e
1
Fonte: Patrick Johnstone, The Church is Bigger than You Think. Christian Focus Publications, 2000, p.71-73.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
16
recrutou monges entre o povo local. Seu sustento, em ofertas, vinha da Irlanda, para
onde também enviava relatórios.
2.
A Igreja Nestoriana2
Poucos conhecem a história da expansão missionária desenvolvida por estes cristãos. No
ano 1.000, os nestorianos haviam se espalhado da Síria ao Irã e Iêmen, atravessando em
seguida a Ásia Central, a Mongólia, o Tibet, a China e partes da Índia, Tailândia e Burma.
Seus números chegavam a 12 milhões de membros associados a igrejas em 250 dioceses. No
século 13 havia 72 patriarcas metropolitanos e 200 bispos na China e regiões adjacentes.
Representavam 24% dos cristãos da época e formavam 6% da população da Ásia.
Nestório foi bispo de Constantinopla até ser excomungado por heresia em 430 d.C. em um
sínodo em Roma. As razões de sua excomunhão não foram somente teológicas, mas
também culturais e políticas. Este foi um período de disputa teológica intensa quanto à
relação do divino e do humano na pessoa do Senhor Jesus Cristo. O Credo Niceno definiu
Jesus como sendo tanto divino quanto humano. Os monofisitas (como os da Igreja Ortodoxa
Copta no Egito e na Etiópia) enfatizavam o aspecto divino de Cristo e os nestorianos, o Seu
aspecto humano. Os nestorianos efetivamente criam que Jesus era constituído de duas
pessoas e que Suas naturezas divina e humana nunca se uniram.
Devido a esta posição teológica foram considerados hereges e banidos do Império Romano,
fugindo para o Iraque e o Irã. Nem todos os cristãos destes países mantinham esta crença,
mas o restante dos cristãos os ignorou, considerando-os hereges. A partir de 640 d.C. e
durante 600 anos pouco se soube no Ocidente o que ocorria no Oriente por causa da
barreira muçulmana.
Apesar das dificuldades que enfrentava, a Igreja Nestoriana se dispôs a atravessar cadeias
montanhosas (as mais altas do mundo) em longas e extenuantes viagens para pregar o
Evangelho. Levou consigo muito conhecimento bíblico e teológico, estabeleceu monastérios
missionários semelhantes aos da Igreja Celta e aprenderam várias línguas novas, para as
quais traduziram as Escrituras.
Este movimento entrou em declínio e, em 1500 d.C., quase não existia mais. O que
aconteceu? Internamente a Igreja sofreu com o formalismo (ritualismo), o sincretismo
(mistura com outras religiões) e o conformismo com o mundo. Externamente o movimento
sofreu muita pressão política e religiosa dos imperadores taoístas da China, dos
muçulmanos e dos mongóis que sistematicamente exterminavam os cristãos. Hoje
permanece apenas um remanescente apático e passivo deste cristãos, com menos de 200
mil membros nos países do Oriente.
3.
A Igreja Ortodoxa3
É a igreja associada à capital oriental do Império Romano (Constantinopla), que oficialmente
separou-se da igreja ocidental (Roma) em 1054 d.C. Os missionários ortodoxos mais
famosos foram dois irmãos: Constantino (conhecido mais tarde como Cirilo, 825-869 d.C.) e
Metódius (c. 815-885 d.C.).
2
3
Fonte: The Church Is Bigger Than You Think, pp. 73-75.
Fonte: Stephen Neill A History of Christian Missions. Londres (Inglaterra): Penguin Books, 1964 (1a.edição).
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
17
Esta foi uma época em que religião e política se misturavam muito e houve intensa disputa
entre as igrejas Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla). O rei da Bulgária pediu
missionários a Roma e o rei da Morávia (Eslováquia) pediu missionários à Igreja Oriental. Léo
III enviou os irmãos Constantino e Metódius. Antes mesmo de partirem de Constantinopla,
haviam tomado a decisão de que a evangelização seria feita na língua eslava e assim
desenvolveram um alfabeto para a língua que serve de base para as línguas eslavas até os
dias de hoje.
Roma insistia no uso do latim como a única língua a ser usada na liturgia. A vantagem foi a
unidade que trouxe à igreja. A desvantagem é que o povo quase nada compreendia nos
cultos. Já a atitude da Igreja Oriental foi totalmente diferente, encorajando os povos a
usarem a língua materna e a construírem uma igreja dentro de sua própria cultura e língua.
A influência da língua grega sempre foi profunda, mas a liberdade dada às igrejas regionais
contribuiu para manter a unidade da Igreja Ortodoxa.
As sementes lançadas pelos irmãos Constantino e Metódius, fizeram brotar e formaram
uma árvore que cresceu a partir da Bulgária, passando pelos países eslovacos, Rússia e parte
da Romênia.
4.
A Igreja Católica Romana
A Igreja Ocidental, sob a liderança papal, estava mais inclinada a disseminar o Cristianismo
pela pressão política e ação militar do que pela evangelização através da pregação do
Evangelho. Este padrão surgiu durante a Idade Média e após a queda do Império Romano
Ocidental. O desafio do poderio muçulmano reforçou esta atitude, pois os muçulmanos
haviam tomado todas as terras cristãs do Oriente Médio e da África do Norte e estavam
constantemente ameaçando a Europa. O resultado trágico deste pensamento culminou na
crueldade das Cruzadas contra o Islã na Palestina e a Inquisição contra muçulmanos, judeus
e, mais tarde, contra protestantes. A Inquisição foi especialmente poderosa na Espanha e
Portugal e na “cristianização” forçada dos indígenas no continente americano.
O Islã foi um desafio ao Cristianismo. Seu fundador, Maomé, nasceu em Meca em 570 d.C.
Os árabes adoravam centenas de deuses. Maomé teve uma experiência religiosa da qual
disse ter recebido uma visão do anjo Gabriel, que o comissionou a pregar contra a idolatria.
Em três anos conseguiu poucos adeptos e teve que fugir em 622 d.C. para Medina devido a
fúria da população com a sua pregação. Esta data marca o início do Islamismo. Maomé
roubava caravanas rica e, com isso, formou um exército; voltou à sua cidade natal e a
conquistou. Destruiu todos os ídolos da Kaaba, menos uma pedra preta.
Maomé continuou pregando e, com sua vitória em Meca, seus ensinamentos se espalharam
rapidamente. Quando morreu, em 632 d.C., toda a Arábia havia aceitado seus ensinos. O
Islamismo se alastrou rapidamente, em especial através da conquista militar. Antes do ano
700 os muçulmanos já haviam conquistado a Palestina, tornando Jerusalém uma das três
cidades sagradas do Islamismo, juntamente com Meca e Medina, na Arábia. A conquista
continuou por todo o norte da África, avançando em seguida pela Espanha e Portugal
(mouros). O avanço foi contido no sul da França na Batalha de Tours em 732 (foram
expulsos somente em 1492). Um novo avanço foi realizado pelo Oriente através da
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
18
conquista de Constantinopla (nome foi mudado para Istambul). A conquista da Europa foi
contida nas portas de Viena em 1529. A conquista da Ásia foi contida em 1564 d.C.
A conquista da “Terra Santa” (Palestina) pelos muçulmanos e a ameaça religiosa e militar
que os muçulmanos apresentavam aos países cristãos levou à realização das Cruzadas, ou
seja, incursões militares organizadas pelos cristãos com o objetivo de reconquistar a “Terra
Santa”. Houve cinco cruzadas principais em um período de aproximadamente 120 anos
(entre 1095-1212). Foram batalhas sangrentas que serviram para aumentar uma inimizade
entre as duas religiões que perdura até os dias de hoje.
Esforços missionários neste período incluíram Francisco de Assis (1181-1226), que, antes do
final das cruzadas, foi em amor pregar ao sultão muçulmano. Raymond Lull (1232-1315) foi
um monge franciscano que dedicou toda sua vida à evangelização dos muçulmanos.
Um religioso francês do final do século XII, Peter Waldo, pregava uma mensagem de
arrependimento e vida simples. Criticava a elite da Igreja Católica por considerá-la corrupta
e discordava de muitas de suas práticas. Traduziu sem autorização a Bíblia para a língua da
povo, pois somente o latim era autorizado. Sua mensagem foi bem aceita pelo povo da
França, Espanha, Itália e Alemanha. A Igreja Católica excomungou os waldenses, como eram
chamados os seguidores de Peter Waldo, e os perseguiu, massacrando a maioria. Somente
conseguiram sobreviver alguns poucos nos Alpes Italianos.
Outro precursor da Reforma Protestante foi John Wycliffe na Inglaterra, que também fez
uma tradução não autorizada da Bíblia para o inglês para distribuição na Inglaterra. Além de
tornar a Bíblia acessível ao povo, ele organizou os “Lolardos”, grupo de evangelistas que
visitou o país todo pregando um Evangelho simples.
Na Boêmia, John Huss foi influenciado pelos escritos de John Wycliffe e veio a enxergar as
inconsistências entre a doutrina católica e a Bíblia, passando a criticar a Igreja Católica.
Escreveu muitos artigos e pregou incansavelmente contra os abusos da Igreja. Em 1415, ele
foi sentenciado pela Igreja Católica e condenado a morrer na fogueira.
Período da Reforma (1517-1792 d.C.)
1. A expansão católica
Vários fatores contribuíram para a expansão católica. As ordens monásticas, principalmente
os franciscanos, dominicanos e jesuítas, supriram um exército de missionários e uma
estrutura eficiente para o envio e controle deste contingente. A descoberta das Américas e
da rota ao sul da África dando acesso à Ásia, juntamente com o domínio marítimo da
Espanha e de Portugal, possibilitaram a evangelização mundial. O terceiro fator foi o choque
sofrido na Europa pela Reforma Protestante, que impulsionou os países católicos a
conquistarem outros territórios.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
19
1517
As 95 teses
de Lutero
Peregrinos
(Separatistas
da Igreja da
Inglaterra)
PROTESTANTES
Puritanos
(da Igreja
da
Inglaterra)
1705
fundação
da Missão
DanishHaile
1732
Moravianos
iniciam
missão
Grande
Avivamento
1792
William
Carey
parte
para a
Índia
ORTODOXOS
CATÓLICOS
1534
Inácio de
Loyola
funda a
Ordem dos
Jesuítas
MUÇULMANOS
1529
Avanço de
Suleiman o
Magnífico
contido em
Viena
1847
Bartolomeu
de las Casas
deixa a
América
(Dominicano)
1549
Francisco
Xavier no
Japão
(Jesuíta)
1593
Mateo
Ricci na
China
(Jesuíta);
Roberto
de Nobili
na Índia
(Jesuíta)
A expansão católica se deu também por meio de interesses políticos, comerciais e
econômicos. Os meios de evangelização e conversão de povos indígenas das Américas,
África e Ásia pela força e pela intimidação eram muitas vezes escandalosos, mas produziram
resultados. Espanha e Portugal chegaram a ter 1% de sua população envolvida com a
evangelização além-mar. A expansão católica diminuiu durante os séculos XVII e XVIII, mas
voltou a crescer nos séculos XIX e XX.
Mais uma vez vemos que a estrutura monástica iniciou e sustentou o esforço missionário,
principalmente as ordens que deliberadamente se estruturaram para serem móveis e para
treinarem monges para pregar e converter os pagãos (e hereges)4.
2. A Reforma: o nascimento do Protestantismo5
“Era de se esperar que o renovo espiritual trazido pela Reforma impulsionasse as igrejas
protestantes da Europa a levarem o Evangelho até os confins da terra durante um período
de exploração e colonização mundial que se iniciou para volta de 1500. Mas este não foi o
caso. [...] Por que as igrejas protestantes demoraram tanto para iniciar o seu programa
missionário?”
Razões:
 Teológica: os líderes acreditavam que a Grande Comissão fosse somente para os
apóstolos.
 Eclesiástica: as igrejas eram pequenas e tinham muito conflito interno.
 Geográfica: o isolamento da Europa protestante dos campos missionários. A
evangelização ficou mais por conta dos países católicos da Espanha e Portugal.
4 Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp.75-79
5 J. Herbert Kane A Concise History of the Christian World Mission. Grand Rapids, Michigan (EUA); Baker
Book House, 1978, p.73.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
20

Estrutural: os protestantes não possuiam ordens monásticas como as dos monges
católicos.
3. Os movimentos missionários que lançaram as bases para o movimento moderno de
missões
A. O movimento pietista. Foi somente no século XVIII que os Protestantes começaram a
acordar para a sua responsabilidade de evangelização daqueles sem o conhecimento
do Evangelho. Entre os primeiros a reconhecerem esta responsabilidade
encontramos os pietistas luteranos Philip Spencer (1635-1705) e Hermann Francke
(1663-1727)6. Francke, professor na Universidade de Halle, transformou a
universidade em escola de treinamento para evangelismo e missões.
O Rei Ferdinand IV da Dinamarca pediu ajuda à Universidade de Halle para o envio
de missionários às regiões da costa sudeste da Índia, controladas por ele. Desta
iniciativa nasceu a Missão Danish-Halle em 1705. Os primeiros missionários a
chegarem à Índia foram Bartholomew Ziezenbaleg e Henry Plütschau. O mais famoso
dentre eles foi Christian Frederick Schwartz que chegou à Índia em 1750 e ali
permaneceu por 49 anos7.
B. O movimento missionário morávio. Este segundo movimento está ligado ao primeiro
por suas raízes pietistas e por seu fundador, Nicholas Ludwig Von Zinzendorf, ter
estudado na Universidade de Halle, tendo Francke como seu professor. Von
Zinzendorf era de família abastada e foi o líder missionário que mais fez para avançar
a causa de missões protestantes durante o século XVIII. O lema deste movimento
era: “Alcançar para o Cordeiro o fruto pelo Seu sofrimento”, baseado em Is 53:10-11.
Em 1722, Von Zinzendorf deu abrigo em sua propriedade de Herrenhut, na Saxônia,
Alemanha, a um grupo de protestantes fugitivos de perseguição religiosa na
Morávia. Em 13 de agosto de 1727, durante um culto dos refugiados, um avivamento
espiritual teve início. Estabeleceram naquela noite uma vigília de oração a favor do
mundo que funcionou ininterruptamente (24 horas por dia, 7 dias por semana)
durante mais de 100 anos8.
Em 1731 Von Zinzendorf se encontrou com duas pessoas da Groenlândia e um
escravo caribenho que lhe pediram missionários para suas terras de origem. No ano
seguinte os morávios enviaram missionários para as Ilhas Virgens e no ano seguinte
para a Groenlândia. Nos próximos anos missionários foram enviados para muitas
outras regiões, incluindo a América do Norte, Suriname, África do Sul, Algéria, China
e Pérsia. A paixão por missões era tanta que alguns até se vendiam como escravos
para alcançarem terras distantes. Dentro de pouco tempo havia três missionários no
6 Fonte: Ruth A.Tucker From Jerusalem to Irian Jaya. Grand Rapids, Michigan (EUA): Zondervan, 1983, p.
68.
7
Kane, Concise History of the Christian Mission, p. 79.
8
Fonte: Tucker, From Jerusalem to Irian Jaya, pp. 70-71.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
21
campo para cada morávio que ficara em Herrenhut. Em 20 anos enviaram mais
missionários do que os protestantes haviam enviado nos 200 anos anteriores.
C. O Grande Avivamento – movimento evangélico avivalista. No século XVIII houve um
grande avivamento evangélico que teve início na Inglaterra e continuou na América
do Norte. Este avivamento trouxe um grande número de conversões genuínas e
mudanças morais palpáveis na sociedade. Os pregadores mais influentes na
Inglaterra foram John Wesley (1703-1791) e George Whitefield (1714-1770). Na
América do Norte foram Whitefield e Jonathan Edwards (1703-1756).
Desde os anos de universidade, John Wesley, dedicou-se a uma vida piedosa rigorosa
de oração e estudo bíblico juntamente com um pequeno grupo de colegas. Estas
práticas levaram o grupo a ser chamado de “os metódicos” que mais tarde inspirou o
nome da Igreja Metodista, fundada por Wesley. Apesar de sua dedicação e esforço,
Wesley só veio a entender o Evangelho da graça através de um contato com
missionários morávios a bordo de um navio que fazia a travessia do Oceano Atlântico
da Inglaterra para a América do Norte.
Wesley viajava milhares de quilômetros por ano a cavalo e pregava 3-4 vezes por dia,
isto durante 40 anos. Ele reunia os convertidos na estrutura de acolhimento e obras
sociais que a Igreja Metodista havia criado. Neste período esta igreja foi uma das
mais dinâmicas na expansão do Reino de Deus para o mundo inteiro. O Grande
Avivamento despertou milhares de pessoas para as necessidades do mundo e muitos
dos influenciados formaram a base para o movimento moderno de missões.
Período moderno (1792 até o presente)
Este período pode ser analisado por muitos ângulos. Usaremos a abordagem feita por Ralph
Winter, que divide estes mais de 200 anos em três eras.
Primeira Era (1792-1910)
Segunda Era (1865-1980)
Terceira Era (1934 até o
presente)
Foco central
Regiões costeiras
Interior
Povos
Pioneiros
William Carey
Hudson Taylor
Cameron Townsend,
Donald McGavran e Ralph Winter
Principal Base de Apoio
Europa
Estados Unidos
Terceiro mundo
Movimentos estudantis
Society of the Brethren
(Haystack Prayer meeting)
Student Volunteer Movement
SFMF (1936);
Urbana (1946)
Novas agências missionárias
ABCFM, LMS, BMS
SIM, AIM, CIM
Wycliffe, Pioneers, Frontiers
1. Primeira Era: regiões costeiras (1792-1910)
A grande figura missionária deste período foi William Carey e a atuação da Sociedade
Missionária Batista. Foi um período em que predominaram as missões denominacionais e as
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
22
longas viagens por mar e terra para campos missionários distantes. As comunicações eram
difíceis. Missionários na China tinham que esperar em média um ano para receber resposta
de uma carta enviada à Europa. Não é de se admirar que as ilhas e as regiões costeiras
foram muitas vezes o alvo maior da evangelização neste período9.
William Carey (1761-1834) se converteu aos 20 anos de idade e logo foi consagrado pastor
de uma igreja rural na Inglaterra. Ganhava a vida como sapateiro e lia todos os livros que
conseguia, principalmente os que continham descrições de outros países e povos. Pelas suas
leituras ele foi construindo um mapa em um mural e anotando todas as informações que
conseguia. Como autodidata aprendeu latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês10.
Em 1792 escreveu um livreto de 87 páginas: Uma enquete da obrigação do cristão em usar
todos os meios possíveis para a conversão dos pagãos (título abreviado).
No mesmo ano da publicação deste livro foi formada a Sociedade Missionária Batista e
Carey foi voluntário para ir a campo como o primeiro missionário. Ele encontrou muitas
dificuldades para partir, incluindo a recusa inicial de sua esposa em acompanhá-lo. Carey
finalmente partiu em junho de 1793 para a Índia, onde suas atividades foram inúmeras.
Trabalhou como gerente de uma fábrica enquanto evangelizava11. Foram muitos anos
aprendendo a língua e estudando o pensamento do povo e vários outros anos de pregação,
quando finalmente conseguiu alguns convertidos e formou a primeira igreja. Em 1819
fundou o Seminário de Serampore para o treinamento de evangelistas e plantadores de
igrejas. Foi também professor de línguas orientais na Faculdade Fort William em Calcutá12.
Em 40 anos de trabalho na Índia, traduziu a Bíblia para 35 línguas e dialetos da Índia e do
sudeste da Ásia13. Seu exemplo inspirou muitos outros a dedicarem a vida ao trabalho
missionário.
Na América do Norte não existia um interesse por missões e muito menos uma agência
missionária. Este interesse nasceu de um movimento estudantil que começou com um
pequeno grupo de oração que se reunia duas vezes por semana, conhecido como Hay Stack
Prayer Meeting (reunião de oração do monte de feno). O líder deste grupo, Samuel Mills
(1783-1818), havia se convertido aos 17 anos de idade durante o Grande Avivamento que
varreu a América. Em 1806 este grupo de estudantes começou a orar por missões e se
comprometeu a se entregar à causa de missões. Em 1808 organizou a Society of the
Brethren (Sociedade dos Irmãos) com a finalidade de levar o Evangelho ao mundo. Em 1810
os seminaristas convenceram a Igreja Congregacional a formar a primeira agência
missionária americana, The American Board of Commissioners for Foreign Missions (Junta
Americana de Comissários para Missões Estrangeiras). Em 1812, Mills, Adoniram Judson,
Samuel Newell, Samuel Nott, Gordon Hall e Luther Rice partiram para a Índia para trabalhar
com William Carrey.
9
Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp. 97, 98.
Kane, Concise History of Christian Mission, p. 84.
11
Tucker, p. 117.
12
Tucker, pp. 118, 119.
13
Kane, p. 98.
10
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
23
2. Segunda Era: interior (1865-1980)
Uma nova visão, um novo paradigma e uma nova forma de trabalhar seriam necessários
para que o Evangelho fosse pregado em regiões ainda não alcançadas. Uma das principais
características de missões nesta era foi a da penetração geográfica com o desejo de pregar o
Evangelho a cada pessoa. Uma ênfase menor foi dada ao discipulado e à implantação de
igrejas. Outra característica foi o recrutamento de pessoas comuns sem a mesma instrução
teológica dos pastores ordenados.
Esta nova dimensão do movimento missionário, aliado ao colonialismo, à maior facilidade
para viajar, ao avivamento espiritual e ao declínio de outras religiões mundiais, levou a uma
expansão da evangelização para regiões ainda não alcançadas pelo Evangelho. O sucesso
desta onda foi de tamanha proporção que havia uma expectativa de se poder terminar a
evangelização mundial até o final do século XIX. O lema da época era: A evangelização do
mundo nesta geração. Este otimismo acabou sendo um pouco exagerado. Na época não se
sabia que existiam cerca de 6.500 línguas faladas no mundo e que apenas 537 delas
possuíam alguma porção das Escrituras traduzidas. O total de cristãos protestantes na
América Latina, África e Ásia em 1900 era de cerca de 4 milhões, ou seja, apenas 0,4% da
população total destes continentes, com 8-9 mil missionários tentando alcançá-los14.
O missionário pioneiro deste período foi Hudson Taylor. Mais tarde o Movimento Estudantil
Voluntário mobilizou muitas pessoas para se envolverem com missões. Hudson Taylor
(1832-1905) nasceu em uma família metodista na Inglaterra. Aos 16 anos se sentiu chamado
ao ministério e pouco depois teve convicção que Deus o queria na China. Em sua preparação
ele estudou medicina, distribuía folhetos evangelísticos, simplificou sua vida e passou a viver
somente com o necessário. Chegou à China em 1854, aos 22 anos de idade. Em 1860
precisou regressar à Inglaterra por problemas de saúde. Os anos passados na Inglaterra
serviram para amadurecer sua preparação espiritual e, em 1865, ele fundou uma missão
interdenominacional, a China Inland Mission (Missão ao Interior da China), que enviou 800
missionários à China e abriu 125 escolas, tornando-se a maior missão do mundo em 1914. A
missão se especializou na evangelização e inovou na adoção de usos e costumes adaptados
à cultura local. Muitas outras missões seguiram o mesmo modelo. Outros missionários de
destaque deste período foram: David Livingstone (na África), John Nevius (na Coreia) e
Samuel Zwemer (no Oriente Médio).
Outro fator importante deste período foi o Movimento Estudantil Voluntário. Em 1883-84,
um grupo de sete seminaristas de Cambridge (Inglaterra) respondeu ao chamado para
missões. Após terminar o seminário, visitou muitas igrejas na Inglaterra e incendiou o
coração dos fiéis para a obra missionária. Em 1885, o grupo partiu para a China. Muitos
outros estudantes se entregaram à obra missionária e foram ao campo nos anos seguintes.
Nos Estados Unidos um movimento semelhante se espalhou pelas universidades. Nos anos
de 1886-87 um total de 2.106 universitários se entregaram à obra missionária e até 1945 o
movimento havia enviado 20.500 universitários.
14
Johnstone, The Church is Bigger than You Think, pp. 98-100.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
24
3. Terceira Era: povos não alcançados (1934 a presente)
Esta era teve iniciou com o trabalho de Cameron Townsend e Donald McGavran. Townsend
enfatizou os grupos linguísticos que ainda não possuíam a Bíblia em sua língua. McGavran se
concentrou nos grupos sociais esquecidos. Estas duas maneiras de olhar para os
agrupamentos de pessoas ajudaram a definir o conceito de “povos”. A primeira abordagem
foi etnolinguística (agrupamentos definidos pelas diferenças linguísticas ou étnicas) e a
segunda foi sociocultural (agrupamentos definidos levando-se em consideração
preconceitos e tradições culturais sutis). Ralph Winter e outros desenvolveram o termo
“povos não alcançados”. Vários foram os fatores que trouxeram desafios à obra missionária
durante o século XX: explosão demográfica, ressurgimento das religiões não cristãs, tensões
econômicas entre ricos e pobres, surgimento da teologia liberal e libertacionista, guerras
mundiais e governos totalitários.
Cameron Townsend (1896-1982) tornou-se missionário através do Movimento Estudantil
Voluntário. Em 1917 foi para a Guatemala para vender Bíblias em espanhol. Lá percebeu
que muitas etnias indígenas no país não possuíam língua escrita, não eram alfabetizadas e
também não possuíam a Bíblia em espanhol. A partir de 1919 Cameron dedicou 10 anos ao
aprendizado da língua Cakchiquel, desenvolveu um alfabeto e então traduziu a Bíblia
naquela língua. Sua visão foi a de repetir este procedimento com tantas outras línguas que
ainda não possuíam a Bíblia. Em 1934 ele fundou a Missão Wycliffe Bible Translators
(Missão Wycliffe para a Tradução da Bíblia) que finalmente se tornou a maior missão
evangélica, com quase 5.000 missionários, e que efetuou a tradução da Bíblia para centenas
de línguas15. A Igreja começou a mudar sua visão de missões como sendo por região
geográfica para uma visão de missões por grupos culturais e linguísticos.
Outro líder nessa era foi Donald McGavran (1897-1990). McGavran enfatizou a necessidade
de se levar em conta não somente as barreiras linguísticas à pregação do Evangelho, mas
também as barreiras sociais. Como autor, inspirou os movimentos de crescimento de igreja
e levou o movimento missionário a alcançar novas fronteiras. É conhecido pela sua ênfase
na importância de missões urbanas e na necessidade de se fazer pesquisas na área de
missões.
Ralph Winter (1924-2009) foi o fundador do Centro Americano para Missões Mundiais,
tendo uma participação importante e inovadora com a criação do ensino teológico por
extensão. No Congresso de Evangelização Mundial, em 1974, Ralph observou que o esforço
missionário ocidental estava ignorando as necessidades dos diferentes grupos étnicos.
Revelou que, apesar de quase todos os países já haverem sido penetrados com a pregação
do Evangelho, quatro em cada cinco não-cristãos ainda estavam separados do Evangelho
por barreiras culturais, linguísticas e geográficas16. Conclamou a Igreja, então, a olhar para a
necessidade de cada grupo étnico de ouvir o Evangelho e não pensar meramente em
territórios onde o Evangelho já fora pregado. Em 1982 chegou-se a uma definição de povos
não alcançados: um grupo étnico entre o qual não há uma comunidade de cristãos
autóctones em número e recursos suficientes para evangelizar seu próprio povo sem a
necessidade de assistência externa (transcultural). Este conceito tem propulsionado o
movimento missionário das últimas décadas.
15
16
Tucker, From Jerusalem to Irian Jaya, p. 352-353
John Piper, Let the Nations Be Glad. Grand Rapids, Michigan (EUA): Baker Academic, 1993.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
25
4- O Plano de Missões
O Alvo de Missões:
Evangelismo
Ensino
Obras sociais
Estabelecimento de igrejas locais
1. Evangelismo
Evangelismo no campo missionário é anunciar as boas novas de salvação àqueles de
outra cultura e língua.
Fases do evangelismo (nossa parte):
• O testemunho: a demonstração do Cristianismo em ação através de nossas vidas.
Existe uma fase de preparação do coração das pessoas. A maioria delas não dará
ouvidos imediatamente a algum estrangeiro que venha falando de uma religião
diferente. É necessário ganhar a confiança e a credibilidade das pessoas antes
que estejam prontas para ouvir o Evangelho. O testemunho de uma vida íntegra,
com as evidências do fruto do Espírito fala mais alto que as palavras do
missionário. A demonstração de amor pelo povo conquista o seu coração.
•
A proclamação: comunicando verbalmente (de forma oral ou por escrito) o plano
da salvação. Para uma comunicação eficaz, vários fatores precisam ser levados
em consideração:
o A proclamação na língua materna do ouvinte é sempre mais eficaz e mais
impactante.
o Não basta traduzir para outra língua o que queremos dizer; devemos nos
certificar de que as palavras possuam o mesmo sentido. Às vezes as palavras
podem ser equivalentes, mas os conceitos por trás delas podem ser
diferentes. Por exemplo, o conceito da palavra “pecado” pode variar muito
de uma cultura para outra e mesmo dentro de uma mesma cultura. Outro
exemplo: na cultura ocidental, o coração é considerado o centro das
emoções (“te amo de todo meu coração”; “ela tem um coração grande”)
enquanto que na cultura africana, por exemplo, o fígado é considerado o
centro das emoções (“te amo de todo meu fígado”).
•
A persuasão: procurar convencer da verdade do Evangelho. Não basta comunicar
corretamente a mensagem de maneira a ser entendida; é necessário trabalhar
para persuadir a pessoa de que o que dizemos é a verdade. Na realidade,
somente o Espírito de Deus pode convencer alguém da verdade (Jo 16:8), mas
geralmente Ele usa Seus servos como instrumentos para que isto ocorra (At
18:28; Tt 1:9). Não é nossa responsabilidade converter a pessoa (esta
responsabilidade pertence ao Espírito Santo), mas é sermos fiéis na pregação da
Palavra.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
26
2. Ensino – é de grande importância ensinar e fortalecer os novos convertidos.
• Uma vez que o Evangelho é ouvido e que haja um interesse ou ocorra uma
conversão, devemos ensinar o que ensina a Palavra de Deus.
• Jesus ensinou a multidão e Seus discípulos, dando-lhes também esta mesma tarefa.
Paulo ensinava nas sinagogas, nas casas e mentoreava vários obreiros, deixando-lhes
instruções de que estes também deveriam passar adiante os mesmos ensinamentos.
Veja Mt 28:20; Jo 8:31; Ef 4:11-12; Cl 1:28 e 2Tm 2:2, dentre outros.
• O ensino exerce a função de desenvolver o amadurecimento espiritual e multiplicar
novos convertidos.
• Para que o Corpo de Cristo funcione bem, deve haver na igreja um equilíbrio entre
evangelismo e ensino.
3. Obras sociais – a igreja deve estar envolvida com a sociedade ao seu redor (Tg 2:14-16).
• As obras sociais podem ser uma forma de evangelização. Estas obras podem
construir pontes que se tornarão plataformas para evangelização.
• Obras sociais podem ajudar a restabelecer a justiça social na comunidade e trazer
grandes benefícios a indivíduos e a comunidades inteiras, fazendo uma grande
diferença.
• Uma forma de demonstrarmos o amor de Cristo é através de obras sociais (Mt
25:35-46).
4. Estabelecimento de igrejas locais
Quando a obra missionária produz convertidos, um local onde se congregar se faz
necessário. Todo cristão deve fazer parte de uma igreja local, pois geralmente é na igreja
que a comunhão e o ensino são realizados. Vemos o exemplo do apóstolo Paulo que
estabeleceu igrejas por onde passava evangelizando (At 14:21-23). Várias igrejas locais
podem formar uma associação, onde a cooperação irá capacitá-las a fazerem mais.
O resultado de missões: uma Igreja autóctone:
O resultado de um projeto missionário bem executado, que alcança todos os alvos
enumerados acima, leva à implantação de uma igreja bíblica que terá recursos próprios para
alcançar o restante da sua cultura com o Evangelho de Jesus Cristo. Uma igreja autóctone é
uma igreja formada não de estrangeiros, mas por pessoas nativas da cultura local. Esta
igreja autóctone apresenta algumas características desejáveis:
•
Governo próprio: não depende da missão que a estabeleceu.
o A liderança da igreja é formada por pessoas que pertencem à cultura local.
o O modelo de liderança deve ser tanto bíblico quanto adaptado às condições
locais.
o A igreja local toma suas próprias decisões sem ser dependente de
estrangeiros. Isto não significa que a igreja não possa consultar irmãos de
outras culturas.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
27
•
Auto-sustentável
o A igreja local não depende das finanças da missão para a sua sobrevivência e
funcionamento.
o A igreja local pode entrar em parceria com igrejas ou organizações de outras
culturas com a finalidade de facilitar e acelerar projetos de evangelização.
•
Multiplicadora
o Capaz de evangelizar e ganhar almas.
o Capaz de implantar novas igrejas.
o Capaz de fazer missões.
O modelo bíblico nos relacionamentos entre indivíduos e igrejas não é nem de dependência
cega e nem de independência, mas de interdependência, como nos ensina a analogia do
corpo humano. Cada membro possui dons e função dentro do Corpo de Cristo. Se
cooperarmos e trabalharmos em união, poderemos alcançar muito mais pelo Reino de
Deus.
Características da atividade missionária
Usando-se princípios bíblicos, ao empreendermos um projeto missionário, observamos
várias características desejáveis na atividade missionária:
1. Transcultural
A atividade missionária não se dá somente na mesma cultura do missionário, mas
principalmente ao se atravessar barreiras culturais e linguísticas. É entrar em uma
cultura diferente da sua, onde se fala uma língua diferente da sua. Não é simplesmente
atravessar as fronteiras de um país a outro. Por exemplo, sair do Brasil e ir para os
Estados Unidos evangelizar brasileiros e implantar uma igreja com cultos em português
não é fazer missões transculturais. Isto nada mais é que evangelismo para pessoas de
sua mesma cultura, apesar de se estar rodeado por outra cultura e língua.
Outro fator transcultural é que precisa haver uma contextualização do Evangelho e da
Igreja. O Evangelho precisa ser proclamado de forma relevante dentro daquela cultura.
A Igreja tem que ser relevante dentro daquela cultura, suprindo as necessidades das
pessoas inseridas naquele contexto. Por exemplo, um missionário brasileiro não deve ir
à África ou à Ásia e realizar cultos no mesmo modelo aos quais se habituou no Brasil
(inclusive com músicas traduzidas do português). A música, as orações, o estilo de
pregação, a maneira de se vestir e sentar-se na igreja deve ser de acordo com a cultura.
Às vezes a atividade missionária em outra cultura envolve a tradução da Bíblia, quando
esta não estiver disponível na língua materna local.
2. Internacional
Missões transculturais não é dever somente de países ricos, mas o dever dos povos de
todos os países que já receberam o Evangelho. A Grande Comissão é um
empreendimento internacional. Nenhum país ou países têm o monopólio desta tarefa.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
28
A terceira maior igreja evangélica no mundo é a brasileira (atrás somente dos Estados
Unidos e da China).
O maior crescimento na área de envio de missionários ocorre hoje nos países em
desenvolvimento. O número de missionários desses países já é igual ou maior que o
número de missionários de países desenvolvidos. O Brasil ocupa entre a terceira e a
quarta posição no número de envio de missionários transculturais.
3. Cooperativa
Fazer missões requerem pessoas com uma variedade de dons espirituais, profissões e
habilidades. O esforço missionário precisa ser um trabalho de equipe, trabalhando tanto
no campo quanto na base de apoio – na(s) igreja(s) que envia(m). É necessário contar
com pessoas com capacidade para pregar e ensinar, com habilidade linguística para
tradução da Bíblia, músicos, pessoas capacitadas em aconselhamento, técnicos em
informática, pessoas capazes de trabalhar com finanças, técnicos em mídia (fazer vídeos,
apresentações em PowerPoint etc), arrecadadores de fundos etc.
O apóstolo Paulo sempre trabalhou em equipe. Tinha colaboradores com os quais
viajava; alguns que enviava para lugares onde não ele poderia estar; e ainda outros que
ficavam para trás cumprindo tarefas importantes (exemplo: Áquila e Priscila). Além
destas pessoas, Paulo contava também com o apoio de várias igrejas, como a de
Antioquia da Síria e a da Macedônia.
Cooperação envolve planejamento e coordenação, dentro da igreja e com outras igrejas.
Poucas são as igrejas que possuem os recursos humanos e materiais para manterem
sozinhas um projeto missionário. Geralmente é necessário a cooperação de várias
igrejas parceiras (formando ou não uma associação). A cooperação permite que igrejas
menores possam se envolver de forma significativa no esforço missionário e o resultado
sempre será maior do que qualquer uma das igrejas poderia realizar sozinha. Uma
agência missionária pode ser muito útil na coordenação e no planejamento por sua
experiência adquirida e por sua especialização.
4. Integral
O trabalho missionário deve se preocupar com as necessidades existentes em todas as
áreas do ser humano: espirituais, físicas, psicológicas e sociais.
 Espirituais: evangelismo, ensino bíblico, formação de líderes.
 Físicas: questões de saúde (preventivas e curativas), econômicas, ajuda humanitária
em situações de catástrofe.
 Psicológicas: educação, aconselhamento, recuperação de viciados etc.
 Sociais: ajuda com projetos de desenvolvimento da comunidade, justiça social, ajuda
na resolução de problemas familiares etc.
Jesus nos deu o exemplo de um ministério integral.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
29
5- A IGREJA ENVIADORA
Missões diz respeito à expansão global da Igreja. A responsabilidade pelo suprimento dos
recursos humanos e materiais para a expansão do Evangelho é principalmente da igreja
local. Todas as igrejas locais têm potencial para serem igrejas enviadoras.
Responsabilidades dos líderes
1. Pastor: o apoio e entusiasmo do pastor são imprescindíveis. O envolvimento da
igreja com um projeto missionário depende muito de seu posicionamento frente ao
projeto. A igreja seguirá a visão e a liderança do pastor.
2. Diretoria: a diretoria pode dar uma grande contribuição ao estabelecer diretrizes
para o envolvimento da igreja no projeto missionário. Ela pode estabelecer alvos
financeiros, escolher projetos de parceiria, etc.
3. Ministério ou comitê de missões. Toda igreja deve ter um ministério ou comitê de
missões que cuide dos detalhes do envolvimento da igreja durante o ano.
– Na escolha dos membros do comitê, deve-se colocar pessoas que possuem uma
paixão pelas almas perdidas de outros povos e que também têm algum
conhecimento sobre missões.
– Uma das funções do comitê é o planejamento para envolvimento total dos
membros nos projetos missionários da igreja. Várias atividades podem ser
organizadas para que isto ocorra:
o Apresentação de “momentos missionários” durante os cultos. São alguns
poucos minutos em que informações são passadas à igreja apresentando
algum povo, necessidade ou notícias do campo.
o Organização de uma conferência missionária anual.
o Organização de um culto com ênfase missionária.
o Eventos para levantar recursos: lava-carros, refeição (churrasco, pizza,
feijoada, etc.), cantina, bazar, feira de artesanato, etc.
o Organização de sustento regular: ofertas mensais (seja por meio de carnês,
de boletos etc).
o Promoção de oração regular por missões e pelos missionários sustentados
pela igreja.
– Cada membro do comitê se responsabiliza por uma área. Possíveis áreas de
responsabilidade:
o Eventos
o Correspondência com missionários e igrejas parceiras (ou missão)
o Educação missionária: informar a igreja da base bíblica de missões e da
obrigação de cada cristão no seu envolvimento pessoal
o Finanças
o Organização de viagens missionárias
o Oração
o Divulgação do trabalho desenvolvido pelo missionário, das necessidades dos
povos não alcançados
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
30
Responsabilidades da Igreja Local:
1. Educação missionária da igreja
2. Identificação e treinamento de novos missionários
3. Sustento em oração
4. Sustento financeiro
5. Cuidados para com o missionário
1. Educação missionária da igreja
A igreja local tem, entre suas funções, a do ensino de seus membros. Existem muitos
assuntos diferentes que devem ser abordados pela igreja e entre estes está a
necessidade de ensinar a igreja o que a Bíblia ensina sobre missões. O ensino pode ser
feito de diferentes maneiras e para grupos distintos. Aqui estão algumas sugestões:
• Pregação e cultos com ênfase missionária;
• Momentos missionários, clips e vídeos mostrando os campos missionários;
• Escola Bíblica Dominical (EBD) e Escola Bíblica de Férias (EBF);
• Apresentação do trabalho por missionários em divulgação;
• Disponibilizar livros sobre missões na biblioteca da igreja;
• Mapas e cartazes mostrando localização e ministérios dos missionários;
• Conferência missionária anual;
• Viagens missionárias: visita de membros aos campos missionários.
2. Identificação e treinamento de novos missionários
A igreja local deve manter diante da congregação a necessidade de obreiros no campo
missionário e identificar aqueles que respondem ao chamado de Deus para serem
missionários. Estes candidatos devem receber um treinamento teológico geral e outro
específico para missões. É também importante que o candidato esteja envolvido com os
ministérios da igreja. Alguém que não demonstre desejo de trabalhar na igreja local não
deve ser considerado para o campo missionário. Ações práticas da igreja local:
• Orar pelo chamamento de obreiros (Mt 9:38);
• Compartilhar as necessidades específicas do campo missionário;
• Encorajar os membros a usarem seus dons e talentos para a obra do Senhor;
• Orientar e ajudar na procura ou escolha de um centro de treinamento apropriado;
• Seleção de agência missionária.
3. Sustento em Oração
A oração é uma atividade missionária da igreja muito importante.
Motivos de oração:
• Pelo chamamento de obreiros;
• Pelas decisões que os missionários precisam tomar no campo;
• Pelas necessidades espirituais, emocionais e físicas dos missionários;
• Pela salvação de almas – para que o Espírito Santo prepare os corações;
• Pelos novos convertidos e pela igreja no campo;
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
31
Onde orar:
• Nos cultos principais da igreja (demonstrando prioridade);
• Reuniões de oração;
• Grupos pequenos;
• Em família;
• Individualmente.
4. Sustento financeiro
A noção de que as ofertas missionárias podem prejudicar a saúde financeira da igreja é
um mito. Na verdade, funciona de modo inverso. Quanto mais a igreja olha para fora de
si mesma e contribui para missões, maior é a bênção financeira da igreja. Quando a
igreja está motivada e envolvida em missões, a contribuição financeira não se torna
difícil (Mt 6:20-21). As diretrizes da igreja decidem de que forma o dinheiro arrecadado
será utilizado.
Diversos sistemas que podem ser adotados pela igreja local para financiar missões:
• Percentual pré-estabelecido com base nas entradas da igreja;
• Quantia fixa pré-estabelecida das entradas da igreja;
• Uma oferta missionária anual;
• Compromissos individuais (compromissos mensais de contribuição assumidos por
membros da igreja).
Necessidades financeiras para o envio de missionários:
• Material de divulgação de missões e do trabalho do missionário;
• Custeio de divulgação (inclusive o deslocamento para igrejas parceiras);
• Salário do missionário (com encargos sociais);
• Plano de saúde;
• Plano de previdência;
• Passaporte e despesas com vistos de entrada;
• Passagens aéreas;
• Alojamento no campo (compra inicial de móveis);
• Transporte;
• Estudo da língua;
• Educação dos filhos;
• Métodos evangelísticos;
• Local de reunião;
• Equipamento;
• Bíblias e literatura de apoio;
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
32
5. Cuidados para com o Missionário
A igreja que envia um missionário transcultural ao campo faz um alto investimento.
Cuidar bem do missionário é cuidar deste investimento. Além do mais, a igreja precisa
cuidar do missionário por ser uma pessoa que precisa de cuidados especiais. Estes
cuidados começam aqui, antes do seu envio, continuam durante o tempo de sua
permanência no campo e não terminam durante o retorno do missionário para férias e
divulgação. Além dos cuidados que toda igreja precisa ter com seus obreiros, existem
algumas necessidades que são específicas devido à natureza singular do trabalho
transcultural. É necessário ficar atento a estas particularidades.
Antes da partida para o campo:
• Preparação transcultural;
• Documentação (passaporte, visto de entrada no país, histórico escolar dos filhos,
procuração para alguém resolver negócios em sua ausência etc);
• Apoio para divulgação em outras igrejas parceiras (transporte, material de
divulgação);
• Avaliação médica, exames, vacinas, etc;
• Pesquisa de método para remessa de dinheiro ao exterior;
• Necessidade de aprendizado do inglês;
No campo:
• Envio de necessidades pessoais (dependendo do local em que o missionário for
viver, é provável que não tenha acesso a certos materiais);
• Envio de ajuda para os projetos sociais desenvolvidos pelo missionário;
• Encorajamento (correspondência, revistas, livros, CDs);
• Supervisão:
o Adaptação cultural do missionário;
o Progresso no aprendizado da língua;
o Desenvolvimento do projeto missionário anteriormente traçado;
o Uso dos recursos financeiros;
o Manutenção de sua vida espiritual;
o Relacionamento com a equipe missionária e com a liderança.
Durante divulgação:
• Alojamento;
• Tratamentos (médico, dentário);
• Integração com igreja;
• Ajuda com divulgação;
• Reciclagem (cursos, seminários, retiros etc.). Em campo, o missionário passa pela
experiência de sempre dar, dar, dar, sem ter muitas oportunidades de receber e
de “recarregar suas baterias”.
• Prestação de contas:
o Trabalho desenvolvido;
o Vida pessoal (integridade, problemas familiares, vida espiritual etc);
o Financeiro (uso dos recursos, orçamento etc);
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
33
6 – O MISSIONÁRIO
Definição
Todo cristão deve testemunhar de Cristo, mas nem todo cristão é missionário no sentido de
uma “pessoa enviada”. A palavra “missionário” não se encontra na Bíblia, mas a ideia de
selecionar e enviar pessoas está (Lc 6:13; At 13:2-3). A palavra “apóstolo” (que provém do
grego) significa “enviado” e a palavra “missionário” (que provém do latim) também significa
“enviado”. Guiados pela seleção do Espírito Santo, a Igreja de Antioquia comissionou Paulo
e Barnabé e os enviou a campo como missionários. Podemos então dizer que um
missionário é alguém selecionado e enviado pela Igreja para evangelizar outros povos.
Chamado e seleção
O missionário deve ter uma convicção íntima de que foi chamado por Deus para uma obra
missionária. Esta convicção íntima deve ser suficiente para mantê-lo no campo mesmo nos
dias mais difíceis, em que enfrenta cansaço, desânimo, perseguição, choque cultural,
dificuldades de adaptação, solidão, saudades e tantos outros sentimentos e empecilhos. Só
a certeza de que se está no lugar certo, colocado ali por um Deus que sabe todas as coisas,
pode manter a fidelidade do missionário à tarefa para a qual Deus o chamou. O chamado
pode ser um pouco vago, mas é necessário confiar que, à medida que o tempo se aproxima,
Deus mostrará os detalhes da missão que lhe foi confiada.
Ao sentir-se chamado, o candidato deve examinar cuidadosamente sua motivação para
seguir em missão. Seria mesmo um desejo ardente de ver outros povos se entregando ao
Senhor Jesus Cristo? Ou a motivação seria de orgulho espiritual, reconhecimento, desejo de
aventura ou algum outro motivo egoísta? Se estiver certo de que sua motivação é nobre, o
candidato deve então manter-se desimpedido para que Deus possa usá-lo facilmente. Ficar
desimpedido significa ter um cônjuge com as mesmas convicções, estar livre de dívidas, de
prestações e de obrigações de longo prazo que poderiam impedir a sua saída para o campo
missionário.
O candidato já deve estar engajado no serviço em sua igreja local e ter paixão pelas almas
de sua própria comunidade. Quem não trabalha e não testemunha na sua comunidade não
o fará no campo missionário. Em seguida, o candidato deve começar a se informar sobre a
região para a qual ele sente ter um chamado e dar início à sua preparação. Esta preparação
inclui uma formação teológica, uma formação específica em missões e instrução e
experiência transcultural. A igreja local deve estar envolvida e acompanhando todo este
processo. Cabe à igreja a confirmação do chamado missionário. O pastor, os professores e
irmãos espiritualmente maduros que conhecem bem o candidato serão chaves no processo
de confirmação de seu chamado.
Qualificações do candidato a missionário
Não se pode aceitar o envio de qualquer pessoa da igreja ao campo missionário. O
candidato deve apresentar qualificações em várias áreas:
• Espiritual
– Caráter cristão, integridade, maturidade espiritual;
– Conhecer a Deus e manejar bem a Palavra (2Tm 2:15);
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
34
•
•
•
•
– Paixão pelo Reino de Deus;
Social
– Ter iniciativa para fazer contatos sociais;
– Bom relacionamento com as pessoas;
– Testemunho de boa conduta;
Acadêmica
– Escola teológica e/ou missionária
– Treinamento profissional (quando o projeto missionário for especializado;
por exemplo, projeto social na área de saúde);
– Estudo de línguas (às vezes o exige-se o conhecimento do inglês antes de
partir para o campo);
Física
– Boa saúde;
– Boa forma física para suportar o estresse e eventualmente as condições
adversas do campo;
Emocional / psicológica
– Equilíbrio emocional;
– Resistência emocional;
Preparação
• Orientação e informação
– Orientação dada pela agência missionária quanto aos procedimentos e
documentação necessários;
– Orientação no campo quanto ao trabalho já em fase de desenvolvimento;
estratégias de evangelização;
– Informações quanto ao país, povo e costumes, religião local, clima, etc;
– Providências quanto ao visto de viagem e vacinas.
• Divulgação
– Procurar igrejas parceiras;
– Buscar apoio em oração e financeiro;
Relacionamentos
Uma das principais causas de fracasso no trabalho missionário com abandono do campo
está ligada aos problemas de relacionamentos. O missionário precisa estar preparado para
isto e a igreja deve supervisionar esta área.
•
Relacionamento com as igrejas:
– Igrejas parceiras. Imagine uma pessoa descendo dentro de um poço
profundo e escuro, presa a uma corda segurada por outras pessoas. Sua vida
depende destas pessoas. Seu retorno à superfície também depende delas. O
missionário é aquele que está descendo no poço e as igrejas os que estão
segurando a corda. Sem o sustento das igrejas o missionário não tem
condições de realizar seu trabalho. É essencial que o missionário cultive um
bom relacionamento com suas igrejas parceiras. Para isto, é preciso prestar
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
35
–
atenção à comunicação e correspondência, postagem de notícias em blogs,
relatórios, prestação de contas etc. A qualidade do seu sustento financeiro e
em oração estará diretamente relacionado à qualidade de seu
relacionamento com os parceiros e com a comunicação.
Igrejas no campo missionário. O missionário deve também cultivar um bom
relacionamento com as igrejas evangélicas já existentes no campo
missionário (quando houver). É preciso lembrar que ele é o estrangeiro, um
hóspede, aquele que vem de fora. As igrejas locais existem em uma cultura
diferente daquela do missionário. Ele deve tentar entendê-las e serví-las e
nunca controlá-las.
•
Relacionamento com outros missionários:
– Muitas vezes o missionário no campo se encontra num círculo restrito de
pessoas de mesma cultura: sua equipe. Quando há poucas pessoas
convivendo juntas em um mesmo espaço e dividindo responsabilidades, as
oportunidades para atritos e mal-entendidos são muitas. As pressões da vida
em outra cultura, por vezes hostil, aliadas às expectativas de resultados
aumenta a probabilidade de desentendimentos. O missionário tem que ter
muita sabedoria, tranquilidade e domínio próprio para evitar situações
desagradáveis e saber resolver as diferenças. Infelizmente, é nessa área que
os missionários mais têm problemas de relacionamento e o que precipita o
seu abandono do campo.
– O convívio dos missionários no campo será sempre observado de perto pelas
pessoas da cultura local. A demonstração do amor cristão nos
relacionamentos entre missionários é um testemunho importante do que é
ser discípulo de Jesus Cristo.
•
Relacionamentos com pessoas em outra cultura. A manutenção de relacionamentos
cristãos saudáveis com pessoas na cultura hóspede é um fator importante no
estabelecimento de confiança e, consequentemente, na aceitação da pregação do
Evangelho.
•
Relacionamentos com a família:
– Viver em outra cultura pode trazer dois extremos nos relacionamentos
familiares do missionário: distanciamento ou aproximação. Ao serem
confrontados com dificuldades e se sentindo sós em uma cultura estranha, os
membros da família podem se aproximar mais e depender mais uns dos
outros, mas, às vezes, as dificuldades podem fazer com que os membros da
família comecem a culpar uns aos outros e a se distanciarem.
– Problemas relacionados com a educação dos filhos é um dos grandes dilemas
que a família missionária enfrenta. A solução para o problema da
escolaridade pode levar a escolhas que trazem uma maior separação entre
pais e filhos.
– Filhos criados dentro de outra cultura podem também trazer problemas de
identidade cultural. Criados longe da cultura nativa dos pais, passam a adotar
mais facilmente a cultura do povo local, trazendo um certo conflito cultural
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
36
dentro da família. Estes filhos acabam desenvolvendo uma “terceira cultura”,
que mescla as duas culturas.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
37
7 – O CAMPO MISSIONÁRIO
Crescimento da População Mundial
http://geovista.weebly.com/8-ano.html
A população do mundo tem crescido de forma exponencial nos dois
Ano - População
últimos séculos. A projeção é a de que continuará a crescer em ritmo
1850 – 1 bilhão
acelerado. Para 2025 está previsto uma população mundial de 8,5
1950 – 2,5 bilhões
bilhões de pessoas e 9,2 bilhões para 2050. Noventa e cinco porcento
1990 – 5,2 bilhões
do crescimento será na Ásia, África e América Latina. Metade da
2000 – 6,3 bilhões
população mundial estará concentrada em quatro países: China, Índia,
2011 – 7,0 bilhões
Estados Unidos da América e Rússia. Mais de metade da população
mundial já vive em regiões urbanas. Dois bilhões de pessoas estão subnutridas. Jesus nos
disse que “O campo é o mundo” (Mt 13:38a).
Povos não alcançados
Como foi mencionado anteriormente, precisamos concentrar nossos esforços evangelísticos
nos povos e não nos países. “Povos” são agrupamentos com a mesma língua, os mesmos
costumes e uma história comum. Se todos os cristãos evangelizassem somente as pessoas
que pertencem ao seu povo, a maior parte da população mundial ficaria sem o Evangelho.
Os povos não alcançados são principalmente os chineses, muçulmanos, hindus, budistas e
os povos tribais. A maioria destes está na janela 10/40, uma faixa do globo terrestre que vai
do oeste da África à Ásia, onde vivem mais de três bilhões de pessoas e onde se concentram
80% dos pobres da terra e os adeptos das três maiores religiões não-cristãs: hinduísmo,
budismo e o islã.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
38
Dados de 2010 reconhecem 340 etnias indígenas no Brasil, com uma população de 616 mil
pessoas. Destas, 228 são bem conhecidas, 27 estão isoladas e 10, parcialmente isoladas; 182
etnias têm uma presença missionária, 150 têm uma igreja local e somente 51 destas etnias
têm uma liderança indígena.
Noventa e cinco etnias indígenas no Brasil ainda aguardam a evangelização. Há 10 línguas
indígenas com clara necessidade de um projeto de tradução da Bíblia. Somente 3 línguas
possuem a Bíblia completa em sua língua e 32, o Novo Testamento.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
39
Avanço do Evangelho
Avanço do Evangelho
As 258 Tribos Indígenas Brasileiras
e o Avanço do Evangelho
Tribos
Triboscom
comIgreja
Igrejaee
Liderança
LiderançaAutóctone
Autóctone
20
Sem
SemPresença
Presença
Missionária
Missionária
Evangélica
Evangélica
92
133
Situação
Situação
Indeterminada
Indeterminada
Trabalho
Trabalhoem
em
Andamento
Andamento
13
Fonte: AMTB (Banco de Dados)
Sepal (Tel: 11-5523-2544)
Maio 2005
TR-503
A Tradução da Bíblia
As 258 Tribos Indígenas Brasileiras
e A Tradução da Bíblia
Alvos
Alvosde
deTradução
Tradução
Possuem
Possuem
Bíblia
BíbliaCompleta
Completa
5
Possuem
Possuem
Novo
NovoTestamento
Testamento
52
Possivelmente
Possivelmente
Carentes
Carentesde
de
Nova
NovaVersão
Versão
em
emPortuguês
Português
36
15
48
``
Provavelmente
Provavelmente
Não
NãoCarentes
Carentes
de
deTradução
Tradução
Fonte: AMTB (Banco de Dados)
Missões Transculturais
30
72
Sepal 2005 (Tel: 11 5523-2544)
Reconhecidamente
Reconhecidamente
Carentes
Carentesde
de
Tradução
Tradução
Provavelmente
Provavelmente
Carentes
Carentesde
de
Tradução
Tradução
TR-501
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
40
Missões Urbanas
A estratégia missionária de Paulo incluiu os grandes centros urbanos de sua época:
Antioquia, Éfeso, Corinto, Filipos, Tessalônica, Atenas e Roma. Hoje, a população urbana dos
países em desenvolvimento dobra a cada 15 anos. Los Angeles, Londres e Paris não fazem
mais parte das dez maiores cidades do mundo. Foram substituídas por Xangai (China),
Bombaim (Índia) e Karachi (Paquistão).
Em 1900 existiam 20 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Em 2005 existiam 440.
Em 1975 existiam apenas cinco cidades com região metropolitana superior a 10 milhões de
habitantes. Hoje são mais de 20 (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro). A China tem oito das
50 maiores cidades do mundo, inclusive Xangai, a maior, com quase 14 milhões. A Índia
também possui oito das 50 maiores cidades do mundo.
As grandes cidades são as formadoras de opinião de seus países. São elas que concentram
os maiores e mais importantes canais de mídia (jornais, rádio, televisão etc), os lançadores
de modas; abrigam as oportunidades educacionais e de emprego e são os centros de poder
político e econômico. As grandes cidades têm uma importância estratégica muito grande.
Há maior abertura ao Evangelho nos centros urbanos. Muitos são os que chegam aos
centros urbanos vindos do interior ou de outros estados. Tendo rompido um laço forte com
a família e com a sociedade rural deixada para trás, o recém-chegado se encontra em uma
situação mais vulnerável e mais favorável a mudanças em sua vida. Nos grandes centros,
muitos tiveram mais oportunidades para estudo e exposição às diferentes ideias e estilos de
vida. Estes fatores também favorecem uma maior abertura ao Evangelho.
Muitos dos que se convertem nas grandes cidades acabam levando o Evangelho para os
parentes no interior ou em outros estados. Isto também favorece a propagação do
Evangelho.
Alcançando viajantes e residentes temporários
Muitos povos, inacessíveis em seus países (por causa de proibições à pregação do Evangelho
ou por perseguições), viajam para o Brasil. Aqui mesmo temos a oportunidade de
evangelizar povos de outras culturas. Estas pessoas chegam ao Brasil como turistas,
estudantes universitários, profissionais, refugiados e a negócios. Aqui, desorientados e
longe das pressões de parentes, governos e dirigentes religiosos, estão mais dispostos a
ouvir e a aceitar o Evangelho. Muitas vezes voltam ao seu país de origem e podem introduzílo.
Aberturas em países antes fechados ao Evangelho
Hoje temos a oportunidade de evangelizar povos que estiveram isolados da pregação do
Evangelho por razões políticas. Há pouco mais de 20 anos, com a queda da União Soviética,
ficou mais fácil levá-lo a países antes inacessíveis. Nos últimos anos tem havido maior
liberdade em países comunistas como Cuba e China. Países muçulmanos tradicionalmente
fechados ao Evangelho agora estão acessíveis, apesar de existirem riscos.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
41
População mundial atual: 7 bilhões de pessoas (aumento de mais de 100 milhões por ano)
 Cristãos evangélicos: 400 milhões;
 Cristãos nominais: 1,5 bilhões;
 Não-cristãos vivendo na mesma cultura com cristãos: 1,6 bilhões;
 Não-cristãos culturalmente separados de um testemunho cristão: 3,5 bilhões.
Não-cristãos culturalmente
separados de um testemunho
cristão
3,5 bilhões
Não-cristãos vivendo na
mesma cultura com cristãos
1,6 bilhões
Cristãos
Nominais
1,5 bilhões
Cristãos
evangélicos
400 milhões
Este quadro deve nos despertar à grande necessidade que ainda existe no campo
missionário.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
42
8- Desafios Atuais em Missões
Grandes desafios ainda existem para se completar a tarefa da evangelização mundial.
Os desafios da comunicação transcultural
Com o aumento do nacionalismo e do orgulho nacional, o desafio é apresentar o Evangelho
de modo relevante à cultura. O Evangelho não deve ser visto como uma religião estrangeira,
mas como a mensagem de Deus para todo povo e toda cultura.
É necessário fazer-se uma contextualização do Evangelho para que ela seja compreensível e
relevante ao povo. A contextualização é a adaptação necessária para a compreensão,
expressão e aplicação da verdade bíblica dentro de uma determinada cultura. Não se trata
de fazer uma adaptação ou modificação do conteúdo do Evangelho, mas, sim, da sua
roupagem ou rótulo. Podemos fazer a comparação com um produto importado de outro
país para o Brasil. Para poder ser vendido no mercado interno, é necessário mudar o seu
rótulo para que o consumidor brasileiro possa entender os detalhes do produto. Com o
Evangelho também é assim: o rótulo às vezes precisa ser mudado para se adaptar à cultura,
sem se mexer em seu conteúdo essencial.
O perigo da contextualização mal feita é o sincretismo, isto é, uma mistura das verdades
bíblicas com crenças e práticas de outras religiões.
O desafio da guerra espiritual
Satanás mantém muitas pessoas e culturas cegas ao Evangelho (2Co. 4:4-5; At 26:18). Levar
o Evangelho a outros povos é entrar em guerra contra nosso inimigo espiritual para a
libertação espiritual das pessoas que não conhecem a Cristo. Para tanto, é necessário nos
revestirmos da “armadura de Deus” para a batalha espiritual (Ef 6:10-18): justiça, a Palavra
de Deus (a verdade), fé e oração.
O desafio da perseguição
Missionários e cristãos nativos estão sofrendo perseguição e até morte em muitos países.
Calcula-se que 160 mil cristãos perderam sua vida por causa do Evangelho só no ano 2000.
São mais de 45 milhões desde 1900. O aumento do fundamentalismo muçulmano e de
outras religiões tem elevado o risco de perseguição. A pregação do Evangelho não é sem
risco.
O desafio do HIV / AIDS
Há mais de duas décadas surgiu uma nova doença que se propalou rapidamente pelo
mundo. Em 2006, 39,5 milhões de pessoas sofriam de AIDS (dos quais 2,3 milhões eram
crianças menores de 15 anos). No mesmo ano houve um acréscimo de 4,3 milhões de novos
casos; 2,9 milhões morreram de AIDS. Existem países na África onde 25-34% da população
adulta é soropositiva. Este é um grande desafio. A Igreja de Jesus Cristo pode ajudar: na
propagação de princípios bíblicos para a sexualidade humana (fidelidade a um só parceiro e
abstinência antes do casamento); cuidando dos que sofrem com a doença e o preconceito;
cuidando dos órfãos deixados para trás por pais aidéticos falecidos.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton
43
O desafio das seitas
• Seitas pseudocristãs com atividade mundial:
– Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias): conta com 50 mil
missionários no campo;
– Testemunhas de Jeová;
– Igreja da Unificação;
• Outras seitas não-cristãs:
– Hare Krishna
– Fé Bahai
– Seicho-no-iê
O desafio do terrorismo
Quase todos os anos missionários são sequestrados por terroristas. Muitos destes
sequestros terminam mal. Missionários são alvos por causa da ajuda que dão ao povo e por
serem estrangeiros.
O desafio financeiro
O sustento de missões é sempre um empreendimento dispendioso. À medida em que mais
cristãos são chamados ao campo para completar a tarefa da evangelização, maior a
necessidade de financiamento para estes projetos. A Igreja brasileira também enfrenta
desafios financeiros em muitas outras áreas. Por isso, é necessário uma cooperação e o
desenvolvimento de estratégias para o financiamento de missões, tais como: parcerias entre
igrejas, desenvolvimento de modelos de negócios com renda revertida para missões e o
envio de “fazedores de tendas”. Estes últimos são missionários que têm outra profissão que
exercerão no campo para suprir parte ou toda a sua necessidade de sustento.
Sabemos que os desafios não podem deter o avanço do Reino de Deus, pois as portas do
inferno não prevalecerão contra a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Ele está no controle de
todas as coisas. Mesmo que enfrentemos problemas de todos os lados, Deus procura
homens e mulheres que se coloquem à Sua disposição para serem utilizados de forma
poderosa ao redor do mundo.
Missões Transculturais
Prof.: Pr. Kenneth Eagleton