Sinapse Setembro - Coordenação de Comunicação Social

Transcrição

Sinapse Setembro - Coordenação de Comunicação Social
As cinco fases do intercâmbio,
página 05
Uma nota sobre
raciocínio clínico,
página 11
Placa
m oto ra
Exportando
conhecimento,
página 04
Entrevista exclusiva
Dr. J.J. Camargo
Entre em contato: [email protected]
02
Editorial
-
Anna Cardoso
RENOVAÇÃO SINÁPTICA
Existem mais coisas entre o coração e as sinapses do que a vã filosofia pode supor.
Caro leitor,
consigo o autor da cruzadinha (desafiadora) Luiz Gentil... Depois, o
parceiro Daniel Pacheco, que não só entrou no time sináptico, mas
Seja bem-vindo à 13ª edição do Jornal Acadêmico Sinapse!
assumiu o legado do comitê local da IFMSA-Brazil na UFPel. E assim como as próprias células tem seus mecanismos de renovação, o
Esta é uma edição muito especial por diversos motivos. O primei- S não fugiria à regra neste sentido. Depois de 13 edições, o legado
ro deles é o entrevistado de honra, o médico J.J.Camargo, referência sináptico ficará com a Renata Gonçalves e o Guilherme Valim. A eles,
na área de transplantes pulmonares e também um excelente escritor, desejamos um excelente trabalho.
que nos encanta com suas crônicas. O Dr. Camargo transparece um
novo modelo de médico com seu jeito
Um corpo saudável precisa de
meio técnico meio artista e reaviva
alimento para ter energia. Agradeum dos objetivos da Sinapse: o escemos imensamente também todos
tímulo ao lado meio escritor dos que
os professores que contribuíram
convivem na LEIGA e o aprendizado
para que o Sinapse se mantivesse,
de que o conhecimento, além de ser
intelectual e financeiramente. Sem
assimilado, deve ser compartilhado.
a ajuda de vocês não seria possível
Incentivar outras habilidades além da
este material estar impresso em suas
des-coberta e apreço por sinais, sintomãos. Aos demais patrocinadores,
mas e raciocínio clínico é necessário
nosso sincero agradecimento, pois
para termos nossa formação por comsabemos que as empresas não papleto.
gam por um espaço no jornal, e sim,
financiam sonhos.
O corpo humano é uma obra
prima da seleção natural. Seu funcio Desde sua fundação, a Leiga vem
namento beira a perfeição com todos
há 50 anos formando médicos para
os seus mecanismos para se adaptar
atuar na sociedade. Mas esta edição
e seguir em frente. E, apesar de cada
não é sobre a história da LEIGA, é
especialidade médica ter sua presobre cada um de nós, cada peça
dileção por um determinado órgão ou
deste quebra-cabeça da vida que sosistema, a sinfonia corporal precisa de
madas escrevem esta história. Cada
uma sintonia para a orquestra da vida
um que dá, direta ou indiretamente,
entoar sua melodia... E quando há um
sua contribuição para a concretidesnivelamento das funções, o corpo
zação dos sonhos de centenas de
se encarrega de se reestruturar. Assim como um corpo saudável, os jovens médicos que se formam todos os anos. E é a estas pessoas a
projetos se estruturam desta forma, cada pessoa atuando em sua área quem dedicamos a 13ª edição.
a fim de contribuir para um fluxo ordenado de energia e ações.
Nossa missão é fazer o que podemos, onde estamos e com os
Agradeço, e aqui vai na 1ª pessoa mesmo, aos companheiros recursos que temos. Nosso legado será o de nos vestir com a responque acreditaram no sonho sináptico quando ele nada mais era do que sabilidade pessoal no agora e transformar a LEIGA em uma faculdade
um lampejo de transmissão neuronal antes de se concretizar em uma de Medicina melhor...
placa motora propriamente dita (não é, professor Umberto?). Todos os
textos, entrevistas, ilustrações, revisões, diagramações... Tudo isto só Junte-se ao time de otimistas. Sozinhos até podemos ir mais
foi possível graças a um funcionamento saudável. Para cada um de rápido, mas juntos iremos muito mais longe.
vocês, muito obrigada! E aqui vale citar nomes, nomes com sobrenome,
pois esta história foi escrita com muitas mãos... Mãos que escrevem, A todos muita saúde, sinapses e placas motoras. Fiat lux, Fiat
que tocam, que enxergam além... Daniel Modolo, que além de ter um sciencia, Fiat Sinapse!
dom para a escrita, foi o 1º que acreditou no ideal do Sinapse e trouxe
Luiz Gentil e Fernanda Ocanha
Diagramação Rosane Mendes Cardoso
Tiragem: 1500 exemplares Distribuição Gratuita
Entre em contato:
[email protected]
“Viver é a única coisa que faz sentido.”
J.J. Camargo
Aconteceu
- Monique
Franca
(Coordenadora
03
Geral - DENEM 2014)
As Novas Diretrizes Curriculares Do Curso De Medicina
A partir da Lei do Mais Médicos (lei n° 12.871, de 22 de
outubro de 2013), que implementou novas medidas tanto para
a graduação quanto para a residência médica, houve reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de medicina.
tanto falhas e entraves quanto avanços nas novas DCNs. Por fim,
foram abertas perguntas e comentários ao público, o que contribuiu
significativamente por trazer a visão não só dos professores como
também de acadêmicos que já enfrentam as dificuldades dentro da
formação médica.
Afinal, o que é o currículo e
qual sua finalidade? Como são feitas
as reformas curriculares e quais suas
possibilidades e limitações? Qual o papel dos Centros e Diretórios Acadêmicos com estas possíveis mudanças
em suas escolas? O que a DENEM
fará frente a volta da Educação Médica enquanto pauta vigente em nosso
país?
Diante de uma série de questionamentos pertinentes e a necessidade
de trazer a pauta para os estudantes,
a direção e professores do curso de
medicina, o Diretorio Acadêmico de
Medicina Moacir Jardim - UCPel, o
Diretório Acadêmico Naum Keiserman - UFPel, a International
Federation of Medical Students Associations of Brazil - IFMSA
Brazil, a Associção Brasileira de Educação Médica - ABEM e
a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina DENEM em conjunto realizaram a mesa “Formação Médica: as
novas diretrizes curriculares do curso de medicina” no dia 16 de
junho de 2014 no auditório da UFPel.
O processo de reforma curricular se inicia
na UFPel e o interesse e a participação ativa
e igualitária da comunidade acadêmica do
curso são princípios básicos para que abandonemos velhas formas e busquemos uma
formação médica como desejamos. Nós,
estudantes, precisamos ocupar o espaço e
protagonizar sem receio, questionar, propor,
intervir, pois como estudantes no presente e
médicos no futuro, sofremos diretamente os
reflexos dos interesses daqueles que acabam
decidindo por nós.
No dia 05 de junho de 2014, o ministro da
Educação, José Henrique Paim, homologou
o parecer da Câmara de Educação Superior
do Conselho Nacional de Educação (CNE),
pela aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos
de graduação em Medicina. A partir dessa data, entrou em vigor, portanto, o novo texto que poderá servir como base para a reformulação
da matriz curricular dos cursos de medicina de todo o país.
Para os cursos iniciados antes de 2014, as adequações curriculares deverão ser implantadas, progressivamente, até o fim de
2018. Já os estudantes matriculados antes do último dia 05 podem
optar ou não pela conclusão do curso com base na nova redação. E
por fim, os ingressos de graduação que forem matriculados um ano
após a homologação deverão encontrar os novos currículos já vigentes.
Contando com a participação de representantes das entidades e aberto a toda comunidade o debate se iniciou com a
exposição do Diretório Acadêmico de Medicina de ambas escolas colocando as preocupações quanto à reformulação desse
currículo e o cenário de prática atual. Após, os demais componentes da mesa expuseram seus posicionamentos, apontando Aconteceu - Daniel
Saudações Estudantis!
Pagnosi Pacheco
Congresso de Cuidados Paliativos do Mercosul
Aconteceu nos dias 05 e 06 de junho no salão da Fenadoce o
I Congresso de Cuidados Paliativos sob o tem “Interdisciplinaridade:
da teoria à prática”, o evento foi promovido pelo Hospital Escola da
Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), em parceria com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP).
A programação contemplou inúmeras áreas do conhecimento,
refletindo o caráter multidisciplinar do encontro. Durante dois dias,
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes
sociais, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, farmacêuticos, odontólogos e teólogos se debruçaram sobre uma grade
heterogênea e cuidadosamente organizada.
A Organização Mundial de Saúde define Cuidados Paliativos
como uma “abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes
e seus familiares, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento de
doenças que ameaçam a continuidade da vida”.
O evento presidido pela Dra. Julieta Fripp, também diretora
do HE e vice-presidente da ANCP, foi uma oportunidade ímpar para
estudantes e trabalhadores da área da saúde de ampliarem seus conhecimentos e sua visão acerca do tema de cuidados paliativos, tema
esse que nos dá a notoriedade da importância de entendermos o nosso paciente como resultado de vários fatores e a partir disso dedicar
a eles cuidados oriundos das mais diversas áreas, compreendendo-o
de forma holística.
04
Intercambio - Hellen Meiry Grosskopf Werka
University of Sydney exportando conhecimento
Um relato sóbrio sobre uma universidade de 164 anos
Conhecida como Sydney University, apelidada de USYD, a primeira
universidade da Austrália é famosa por sua beleza, ocupando a décima
posição no ranking de universidades mais belas pelo British Daily Telegraph. À primeira vista, a estrutura física impressiona os novos estudantes,
que usufruem de mais de 5 bibliotecas equipadas com mesas para grupos,
quadros brancos – usados majoritariamente pelos matemáticos e físicos –,
áreas de estudo individuais, abundância de computadores, impressoras,
acesso à rede de energia e, sem contar, a internet de livre acesso na maior
parte do campus – inclusive nas áreas externas. No entanto, o que deixa
qualquer aluno perplexo é sua estrutura educacional: o funcionamento pedagógico/administrativo. Vislumbra-se o futuro do aprendizado para a atual
geração com as plataformas online de aprendizado e diferentes métodos
avaliativos - modelo que ainda sofre para ser implantado nas universidades
brasileiras.
A atração de estudantes e pesquisadores para USYD e outras
universidades faz parte de um setor financeiro em ascensão, por isso a
inovação nos métodos de aprendizado e o estabelecimento de uma boa
relação com o aluno tornaram-se prioridades. Na Austrália, o lucro vem de
países como China, Singapura, Japão, Índia, Coréia do Sul, Arábia Saudita, cujos alunos realizam toda a formação, enquanto países como Estados
Unidos e Europa ocidental enviam intercambistas para, geralmente, um
semestre de novas experiências e, recentemente com o programa Ciência Sem Fronteiras, o Brasil ocupa uma posição privilegiada entre esses
últimos.
Os alunos de formação completa enfrentam 3 a 4 anos de curso
“undergraduate”, em que se estuda matérias básicas relacionadas com
diferentes áreas, seguido pelo mesmo período de curso “postgraduate”
com atividades práticas direcionadas para a atuação profissional. O contato
entre estes e os alunos de intercâmbio ocorre nas salas de aula e corrobora
com o objetivo da universidade: integrar os estudantes, proporcionando novas experiências.
Assim, a primeira semana para alunos de intercâmbio é preenchida
por orientações e comemorações. O primeiro dia é uma recepção composta
por palestra, espetáculo de dança e almoço, na qual o aluno é encorajado a
“viver” além dos estudos: viajar, ter um hobbie, fazer amizades e se engajar com clubes e sociedades existentes – até mesmo criar algo novo. Nas
duas primeiras semanas, a programação continua com almoços gratuitos e
oportunidades de conhecer o campus e a cidade. Mas o principal ponto de
integração são sociedades e clubes, por reunirem pessoas com interesses
similares a fim de criar amizades e desenvolver novas habilidades.
A faculdade dispõe de uma casa de festas e um bar com desconto
em cerveja para que os alunos realizem reuniões após as aulas e eventos
noturnos, sendo que alguns professores encorajam os alunos a realizarem “happy hour”, grupos nas redes sociais para discutir a matéria e
churrascos (que aqui são com pão, hambúrguer e salsicha).
Enfim, revela-se a mágica das plataformas de aprendizado. Todo
o conteúdo é disponível online, inclusive as aulas – que são gravadas. O
aluno recebe também os slides, exercícios de memorização e instruções
escritas pelo professor para facilitar a compreensão do conteúdo e sobre
o que há de novo na área – alguns dos professores disponibilizam também contatos para que o aluno consiga se inserir em projetos de pesquisa relacionados. Atividades em grupo são frequentes e a execução de
relatórios e projetos de pesquisa figuram entre os métodos de avaliação,
sendo que a presença só é contabilizada em atividades práticas e pode
ou não fazer parte da avaliação.
Além disso, o calendário acadêmico conta com 13 semanas de
aula, um recesso de uma semana e mais uma semana de férias, antes
da semana de testes finais. Caso o aluno não tenha atingido a média 5,
após os testes finais, há uma prova de recuperação.
Permanecem algumas dúvidas... O que aconteceria se as universidades no Brasil proporcionassem a mesma liberdade aos alunos? Há
vontade de atingir esse modelo? Será o Cobalto um respingo de plataforma online que poderá crescer na UFPel e disponibilizar futuramente
o conteúdo programático, slides e avaliações, trazendo praticidade e padronização?
Foto tirada pela redatora no primeiro dia de orientação
Experiencia - Daniel Pagnosi Pacheco
A hierarquia na Medicina
Ao início do semestre um episódio me pôs a refletir sobre alguns anos atrás e a me projetar a alguns anos à frente;
cheguei atrasado para minha aula à tarde – a fila do RU está
cada vez maior - e qual foi a minha surpresa quando me deparei com uma fila para usar o elevador, visto que em decorrência das obras ambulatório de pediatria as escadas estavam
inacessíveis, vi então aquela fila cheia de calouros e por um
segundo confesso ter pensado em usufruir do grau de hierarquia para burlar a fila e conseguir chegar a tempo pra minha
aula, pensamento esse que logo fora abandonado e me pus a
esperar como qualquer outra pessoa normal faria, tal fato me
remeteu há alguns anos, 3 para ser mais exato, em que estava a esperar o elevador e um grupo de veteranos que chegou
posteriormente a mim me disse que era pra eu esperar justificando que havia uma hierarquia na faculdade.
Há que se concordar que a medicina é um dos cursos
mais hierarquizados, além dos 12 semestres que nos ordenam
temporalmente ao ingresso na faculdade, há os residentes, que
por sua vez também são hierarquizados e ainda os preceptores,
num “round” por exemplo, esse escalonamento é notório. Nunca
tive problema em obedecer a autoridade em uma hierarquia,
aceito-me e me entendo como um aprendiz na medicina, e busco
me manter solícito a ensinar o (pouco) que sei, mas há os que não
consigam lidar com isso: seja pela culpabilização ao receber um
“puxão de orelha” respeitoso de seu preceptor ou ainda daqueles que não sabem lidar com a situação quando alguma
autoridade lhes é dada. Não raramente ouvimos casos
na medicina de abuso de autoridade ou de algum veterano ter se sobressaído a um bixo; como se o
fato de diminuir uma pessoa fizesse elevar outra.
Na medicina seremos eternos educados e educadores; há de se ter a humildade de ensinar alguém
da semiologia a aferir pressão, assim como um professor
tem a humildade de lhe ensinar sobre o controle da uricemia em
um paciente com insuficiência renal crônica. Lembro-me de uma
frase proferida em uma de nossas aulas de Psico, algo sobre “O
que faremos daquilo que fizeram com a gente”, portanto a você
veterano lembre-se das boas e más experiências que teve com veteranos quando ainda era bixo, e conduza sua postura no intuito de
se equivaler àquilo que outrora gostaria que agissem com você, e a
você bixo esteja atento a tudo o que acontece e faça a opção correta independente daquilo que fizeram pra você.
“Percebi muito moço que ela, a coragem, é a mais importante de todas as virtudes [...]”
J.J. Camargo
05
Ciencia Sem Fronteiras - Anna Cardoso
As 5 fases do intercâmbio
Nós, alunos de Medicina, especialmente os alunos da
Leiga, ouvimos extensivas vezes as 5 fases do luto da Elisabeth
Kubler Ross. Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
De tanto ouvir isto, o inconsciente dos alunos assimila, os mecaAnna Maria G. Cardoso nismos psíquicos fazem sinapses e até se extrapolam estas fases
University of California para outros assuntos, por exemplo, intercâmbio. Quando dissertam
Estados Unidos
sobre este tema, aborda-se geralmente a aceitação e os 50 tons de
felicidade que obteve no mesmo – no máximo falam da depressão
pós-volta. Mas quem passa por esta experiência sabe que não é
bem assim. Surgiu então a ideia de escrever sobre as vivências no
Ciências Sem Fronteiras (CSF) ao longo do processo, para os interessados em participar do programa terem uma noção mais fidedigna. Acontece com (quase) todo mundo, mas as pessoas não ficam
divulgando.
Gustavo G.Terra
University of Western
Autrália
O ponto de partida desta jornada é a mudança. Mudar é
difícil. Quanto mais nós fazemos um caminho pelo circuito neuronal,
maior a tendência de repetir o mesmo caminho. Graças à neuroplasticidade, é possível realizar novos trajetos. Mudar é difícil, mas
é necessário. E como diria o filósofo da Grécia antiga, Heráclito,
ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele
se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio
ser já se modificou... E isto é assustador, afinal, o desconhecido nos
dá (muito) medo.
Jõao Vitor C. Fernandes
University of
Unided Kingdom
Inglaterra
O CSF é um projeto novo, lançado em 2011 e descoberto
com o tempo. Intercâmbio de 1 ano custeado integralmente pelo
governo? No início isso gerou bastante desconfiança, mas uma
vez que as primeiras pessoas começaram a ir (e voltar!!!), e ainda
compartilhar as experiências vividas, o programa cresceu e ganhou
popularidade. Depois do interesse despertado, é hora de ficar atento aos editais e se inscrever... O processo é demorado... Enviamos as primeiras papeladas assinadas segundo os editais (do governo e interno próprio de cada faculdade)... E a partir daí tem coisas
que a gente simplesmente não pode fazer nada a respeito. Temos
que esperar... Reticências, reticências e mais reticências... Ao compartilhar o interesse com colegas e familiares, todos começam a
fazer milhões de perguntas que você não faz a mínima idéia, pois o
máximo que você sabe é o país para o qual que você se inscreveu.
O restante será uma caixinha de surpresas. Para conseguir seguir
em frente com a sua vida no presente – sim, o mundo não para
porque você irá fazer intercâmbio em algum momento – você nega
a existência do intercâmbio para quando tiver a resposta concreta:
papel assinado do governo que está tudo okay e depósito feito no
banco. No meu caso, comecei a mentalizar o intercâmbio como uma
possibilidade real em outubro de 2012, iniciei processo em abril de
2013 e viajarei em setembro de 2014... Muita coisa se passou...
Foram muitos meses de negação do intercâmbio para conseguir
estudar e conseguir focar no curso... Pois bem. Depois de meses
de aflição, quando você já está homologado – o que significa que
você é apto a fazer o intercâmbio – vem novos prazos para enviar
uma série de documentos explicando quem você é aí cada país
tem suas particularidades. No caso dos Estados Unidos, enviei 2
redações, 2 cartas de recomendação, 3 opções de universidades
de meu interesse e o porquê da escolha, 8 disciplinas que eu gostaria de fazer. Então, nesse momento, você precisa de um tempo para olhar para o seu eu interior, refletir e entender que raios
você tanto procura com esta experiência. Então envia tudo e tenta
seguir em negação...
Karen Muller Al Alam
University of Toronto
Canadá
Vitoria Sneider Muller
NUII, Maynooth
Irlanda
Mas os prazos vão passando... Alguns colegas começam
Guilherme H. Michels a receber o tão aguardado ToA (“term of appoiment”), o documento
Universität Magdeburg mágico que diz qual universidade quis você... E nada para você...
Daí vem a raiva: o céus, por que comigo? Por que todos os meus
Alemanha
colegas receberam e eu não? O que eu fiz de errado? E a barganha
se mistura neste mix de sentimentos... Enviei e-mail para as 3 universidades da minha “wish list” para me certificar se eles tinham
recebido minha documentação... As três responderam que não. Desespero “mode on”. Aí o bicho pega. E as promessas começam a
ser feitas... Cuidado para não prometer o que não pode cumprir!!!
Aroni Marceu S. Rocha
University of
Você acha que está tudo perdido, seus amigos não aguenPennsylvania
tam mais você com uma cara de desamparo, de cachorro sem
Estados Unidos
dono... Aí, de repente, não mais que de repente, chega o seu ToA:
você acorda, olha o e-mail e o lindo está ali, leve e solto na sua
caixa de entrada! Uma das reações mais comuns neste caso é
chorar loucamente, sair pulando pela casa, gritar na rua ficar muito
feliz. Sim, as lágrimas varrem toda a angústia de negação, raiva e
barganha acumuladas por meses...
Carolina P. Moojen
Southern Illinois
University/EUA
Daí vem um estágio extra... A mania!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tudo o que você sempre viu nos filmes de colegial existe: os dormitórios, as oportunidades, as pesquisas, o hospital, o incentivo ao
esporte, as artes, as festas de fraternidades... Tudo em um só lugar,
numa universidade que só o site e os vídeos no YouTube fazem
Eduardo B. Szareski João Henrique C. Calegari
University of Debrecen Southern Illinois University
Estados Unidos
Hungria
você chorar de emoção se sentir nas nuvens... Logicamente que o
seu rendimento acadêmico na vida real é prejudicado, afinal, como
conciliar estudos, obrigações, lavar a louça, cozinhar, quando no momento parece fazer muito mais sentido dançar sozinho (em casa, indo
pra faculdade, fazendo compras) e sorrir pro nada... Pois, afinal, a vida
não é bela?
Bem, voltamos para os estágios da Kubbler e aí vem a depressão... Sim!!! (Mas você pensa, ah, esse pessoal do intercâmbio,
fica choramingando de barriga cheia! Além de serem sustentados pelo
dinheiro público (e aqui você tem que ouvir um discurso chatérrimo de
como o Ciência Sem Fronteiras é o Turismo Sem Fronteiras – mas
você tem que ficar com uma cara de paisagem pois simplesmente não
aguenta mais explicar que você concorda que os critérios do governos poderiam ser um pouco mais acirrados, mas que você descobriu
um monte de ex-bolsista top e que só fica apenas no turismo quem
quer...) ficam reclamando da vida... É uma deprê necessária. Você
se dá conta de que irá embora, abrindo mão de muitas coisas para
ir atrás do seu sonho, seja lá qual... Da família, perde-se o convívio
(que já tinha diminuído quando foi pra faculdade), o crescimento dos
pequeninos, o não estar junto na doença dos mais velhos. Frio na barriga só de pensar em passar pela primeira vez Natal, Ano Novo, sem
todo mundo junto... E os amigos? Muitos de nós já nos separamos de
amigos de infância também ao entrar na faculdade, e agora que eles
estão se formando, casando, você não estará com eles... Sem falar
de relacionamentos amorosos. Tem aqueles que terminam porque o
intercâmbio vai acontecer, outros tentam com todas as forças manter (alguns com sucesso, outros nem tanto) e tem aqueles que ficam
no limbo, na esperança de na volta... Né... Temos também a própria
faculdade... Você simplesmente se acostuma a ir para a sala de aula,
se sentar sempre no mesmo lugar, com as mesmas pessoas à sua
volta, fazer as piadas, brincadeiras, estudar junto... Mas quando você
voltar, eles não estarão mais lá. Será uma turma nova, vai ter que
recomeçar... E quando você for tirar as fotos de formatura, que na
Leiga são tiradas no 8º semestre, não serão aqueles amigos do 1º
dia de aula, das provas de anato, do BBB, dos inúmeros trabalhos
em grupo, das jantas, da zoeira... Não... Serão pessoas com as quais
você não está conectado... Sua frase do X não estará no cartaz com
eles... A festa do X vai ser com uma turma que você ainda nem sabe
qual é o nome... Sua “pretty face” não estará no mural da sua turma
original, você não vai fazer o juramento na formatura com eles...
E a zoeira não acaba, falta ainda decidir o que você vai fazer
com os seus pertences! Para os que tem apartamento próprio é mais
fácil, é só fechar as portas isso se os amigos não pegarem a chave e
rezar para que em um ano os fungos de Pelotas não possuam suas
coisas... Mas e quem não tem isso? É hora de empacotar tudo, distribuir caixas entre os amigos, voltar algumas coisas para “casa”... As
caixas têm um símbolo, tudo que finalmente está no seu devido lugar
vai ser vasculhado, desenterrado... Para empacotar é preciso antes
tirar tudo do lugar, olhar objeto por objeto, ver o que pode ser doado,
o que vai para o colega X, Y ou Z, o que vai voltar para a casa da
cidade natal, o que vai para o lixo... E quando você tira do lugar,
você se depara com coisas esquecidas, memórias guardadas... E
mexer nisso dói, dói pelo passado, dói porque depois que finalmente
você se adapta à sua nova casa, que cada cantinho tem a sua cara,
daí você tem que ir. Se desapegar. Sim. A arte do desapego dói.
Principalmente quando você está passando por ela (a base deste
texto foi escrita em um dos meus piores dias, naquele que chorei
olhando para a pilha de caixas vazias)... Encaixotar como um rito de
passagem fúnebre. Precisei ligar para três pessoas para conversar,
desabafar e ouvir: vai ficar tudo bem, isso vai passar! (E chorar mais
um pouco).
Por fim, depois que o choro passa (o de alegria e o de tristeza), vem aquele momento do LIDE com isso... E aceitar... Você
finalmente se dá conta de que é uma oportunidade maravilhosa de
crescimento pessoal, acadêmico e quem sabe até mesmo espiritual!
Vai valer a pena? Bom, pro escritor Milan Kundera em ‘A insustentável leveza do ser’: “O homem, porque não tem senão uma vida,
não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou
ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem
preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Pelo fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar
“reprises”, para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir, na
maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que tendem a determinar nosso futuro. Somos como atores convocados a
representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio,
apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Nunca saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento
foi correta ou não. Não há tempo para essa verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial.” Na
volta a gente conta e resolve as pendências. Por enquanto, vivamos o
presente!!!!!!!!!!! E que presente!!!!!!!!!!!!!!!
Luiz Paulo Leal
Ana Maria S. V. Garcia
Wescley Peralta Coca
Allegheny College New York Institute of Technology Leeds Metropolitan
University/Inglaterra
Estados Unidos
Estados Unidos
Bruno Andrade de Sousa
University of Glasgow
Escócia
Douglas K.Reinhardt
University of Dundee
Escócia
Hellen Meiry G. Werka
Sydney University
Austrália
Ana Laura M. Luzardi
University of Warwick
Inglaterra
Laura Salles Nimerosky
Universitat de Válència
Espannha
Ugo R. Comparotto
University of Bergen
Noruega
Nathalya F. B. Miranda
Vrije Universiteit
Holanda
Luis Akio I. Matuoka
Beijing University
of Chinese Medicine
China
Lais Marques Mota
Vrije Universiteit
Holanda
Camila D.Macchi
Vrije Universiteit
Holanda
Augusto Valles Bento
Université Nice Sophia
Antipolis/França
06
Entrevista
por Anna Cardoso e Renata Goncalves
Foto:Ricardo Duarte Agência RBS
2)SINAPSE: E quando o senhor decidiu ser cirurgião torácico? Já tinha pensado em alguma outra opção anteriormente?
Dr. J. J. Camargo
O
é um cirurgião torácico conhecido por ser pioneiro em transplante de pulmão na América Latina
(1989) e destacou-se internacionalmente nesta área, sendo o
primeiro a realizar o procedimento com doadores vivos (1999).
É formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), onde também cursou o doutorado em pneumologia, e
realizou parte de sua formação acadêmica na Clínica Mayo, nos
Estados Unidos. Atualmente, é diretor do Centro de Transplantes
da Santa Casa de Porto Alegre, presidente da Academia Sul-RioGrandense de Medicina (ASRM), membro titular da Academia
Nacional de Medicina, professor de cirurgia torácica na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e
colunista do jornal Zero Hora.
1)SINAPSE: Na introdução de seu livro, o senhor escreve que “No
século no qual decidi o que seria, as escolhas pareciam menos complexas, tinham o encanto do improviso, e a inquietude do não sei no
que isso vai dar. Planejava-se menos e curtia-se mais o sobressalto
do inesperado. Talvez não fosse melhor, mas tenho certeza de que
era mais divertido.” Quando e por que o senhor decidiu ser médico?
JJ CAMARGO: A minha escolha profissional foi, como temo que seja para
a maioria dos jovens, baseada em imagens fantasiosas. Sem nenhum ancestral médico, me encantei com a figura elegante do Dr Cassio Vieira
da Costa, o médico da família. O dr. Cássio, na sua fidalguia e disponibilidade, era um generoso exemplo para ser secretamente copiado, nem que
fosse só para impressionar as pessoas e, se descobriu depois, podia servir
como desculpa, ainda que meio esfarrapada,para justificar as desastradas
operações nas bonecas da minha irmã.
Mas toda a fantasia que se preze deve ser dinâmica, e depende de
glamorização constante para que sobreviva ao descaso dos que se divertem em ridicularizar. Foi assim que um dia, de tanto ouvir falar de um tal
dr. Antunes (“fulano está mal, mandaram chamar até o dr. Antunes”, ou, “o
beltrano morreu, nem o dr. Antunes conseguiu salvá-lo”), o modelo mudou
de nome, e comuniquei com gravidade ao meu avô: “Estou decidido, eu
quero ser o dr. Antunes”.
Meu avô ainda comentou alguma coisa sobre a importância da fidelidade aos amigos, mas a conversa não se alongou, afinal eu era apenas um pirralho de seis anos, traindo um modelo fantasioso e clandestino.
Vinte e cinco anos depois, conheci o dr. Antunes, já velhinho, com dois
nódulos pulmonares secundários a um tumor de rim, que operara anos
antes. Durante os dez dias em que convivemos, me deliciei com as maravilhosas histórias de uma vida dedicada à medicina no interior, onde ele
fora médico de todos os males, corajoso, competente, destemido e respeitado pela sua comunidade. Descobri encantado que por pura intuição eu
acertara em cheio na escolha da minha silenciosa idolatria.
Hoje, vendo retrospectivamente, preciso admitir que gostar do que
se faço com a paixão que eu gosto, partindo de uma escolha tão fantasiosa, foi um lance de sorte inacreditável.
JJ CAMARGO: A opção pela cirurgia precedeu a entrada na Faculdade.
Iniciado o curso procurei me aproximar dos serviços que facilitavam o
acesso dos estudantes. A ideia inicial era fazer cirurgia plástica e a proximidade com um serviço de oncologia dermatológica aumentou meu interesse, que no entanto, foi se esvaindo com o manejo de grandes queimados, o que me provocava um certo desconforto . Sem nunca desviar o
foco da cirurgia comecei a trabalhar com um cirurgião geral que naquela
época, anterior à videocirurgia, fazia muitas colecistectomias abertas, em
geral em mulheres obesas. Eu, como segundo auxiliar, além de não ver
o campo cirúrgico porque só me cabia afastar o fígado, era convocado apenas pra fechar o abdome. Com isso desenvolvi uma antipatia definitiva
ao epíplon, aquela gordura que protege as alças do intestino, e que parece
ser a estrutura mais inconformada do corpo humano, visto que está sempre querendo sair de onde está. E então, numa madrugada, de plantão no
Pronto Socorro, auxiliei uma toracotomia num paciente esfaqueado. Ao ver
o tórax aberto, com todo aquele espaço gerado pelo colapso pulmonar, me
encantei com a elegância anatômica do tórax e soube, naquele momento,
que aquela era a minha especialidade cirúrgica. Lembro da ansiedade com
que, insone, esperei clarear o dia para sair em busca de um serviço onde
se fizesse cirurgia torácica na cidade. Foi assim que cheguei no Pavilhão
Pereira Filho e tive o privilégio inestimável de conviver com o preciosismo
técnico do Mestre Ivan Faria Correa.
3)SINAPSE: O senhor completou a sua formação acadêmica na Clínica Mayo, nos Estados Unidos. Quais são os benefícios que o senhor
julga mais importantes quando se trata do estudo no exterior, considerando que esta prática é cada vez mais frequente entre os universitários?
JJ CAMARGO: Minha formação inicial foi na Santa Casa de Porto Alegre.
Já com a determinação de investir em transplante de pulmão, fiz um trabalho experimental no Instituto de Cardiologia - RS, e com nove anos de
formado, depois da apresentação desse trabalho num congresso panamericano no Rio, fui convidado a completar o projeto na Mayo Clinic, um
grande centro americano e referencia internacional em cirurgia torácica.
Lá, além de treinar num espetacular laboratório de transplantes, tive a grata oportunidade de trabalhar com o Prof. Spencer Payne, um dos maiores
cirurgiões de tórax do mundo nos anos 70-80.
A oportunidade de estagiar fora do País, sempre deve ser festejada. Não
somente porque se agrega conhecimentos múltiplos e em diferentes áreas, mas também porque se exercita o senso crítico, na medida em que
se percebe que nem tudo o que se faz em grandes centros é ótimo e que
temos aqui muitas coisas boas, às vezes não reconhecidas e negligenciadas. Costumo dizer a um jovem que sai para estagiar no exterior: se o
lugar for bom, será uma maravilha. Se o lugar for ruim, será muito bom!
A razão é simples: nós melhoramos ao ampliar nossos horizontes
e adquirimos uma visão mais holística do mundo, e voltamos aptos a valorizar e desenvolver os potenciais da nossa terra. Nunca tive muita paciência com os tipos que só se queixam do lugar onde vivem e não fazem nada
para melhorar.
4)SINAPSE: Quem foi a pessoa que mais inspirou o senhor durante a
sua formação?
JJ CAMARGO: Tive mestres maravilhosos em cirurgia, como os professores Ivan Faria Correa e Spencer Payne, cirurgiões reconhecidos e festejados, mas se tivesse que citar uma só, diria que a pessoa que mais tentei
copiar (sem conseguir, é claro!) , foi o Mestre Nelson da Silva Porto, um
radiologista /diagnosticista, que sempre me encantou não apenas pela inacreditável bagagem científica e memória prodigiosa, mas também por sua
obsessão em estabelecer e respeitar os critérios que tornam o dia-gnóstico não só um deleite intelectual, mas a base segura de uma medicina de
qualidade.
5)SINAPSE: No seu livro “A tristeza pode esperar”, o senhor traz diversos relatos sobre a sua vida profissional. Como surgiu a ideia do
livro? E qual foi o seu objetivo inicial?
JJ CAMARGO: Quando fui convidado pelo editor de Zero Hora para ocupar o espaço que tinha sido território do nosso imortal Moacyr Scliar, fiquei
muito assustado, porque estava habituado a escrever por impulso, o que é
completamente diferente de ter uma agenda, com uma crônica por semana. Descobri então uma oportunidade de contribuir para, mesmo modestamente, resgatar um pouco do humanismo que foi sendo negligenciado
pela medicina moderna, encantado com o desenvolvimento tecnológico.
“Um sinal seguro de sabedoria é não erguer muros com as pedras do caminho.”
J.J. Camargo
07
Sabemos muito mais do que há 30 anos, mas ainda assim os pacientes
mais idosos falam com nostalgia dos médicos de antigamente, o que significa que em algum momento perdemos o compasso e deixamos de ser
vistos com profissionais cujo principal objetivo deve ser aliviar o sofrimento
dos seus pacientes. O relato frequente no jornal, de histórias que envolvem
desespero, medo da morte, esperança e gratidão, tem esta perspectiva.
no assunto, passou de líder nacional por mais de 20 anos, para uma constrangedora oitava posição. Com isso o número de transplantes reduziu nos
últimos anos e o tempo de espera, como era de se esperar, aumentou. Triste
quando a melhor solução parece ser esperar que o governo termine.
6)SINAPSE: O senhor foi pioneiro em transplante de pulmão, na América Latina. Como está escrito em seu livro, o primeiro foi um sucesso
e teve grande repercussão. Já o segundo ocorreu com um paciente
mais debilitado, resultando em morte depois de 13 dias, mas isto não
fez os próximos pacientes da fila perderem a esperança. Além disso,
ainda impulsionaram o senhor a continuar. Como foi esta experiência?
JJ CAMARGO: Quem trabalha com alta complexidade sabe o quanto o céu
e o inferno são vizinhos. As vitórias espetaculares e as perdas devastadoras
se sucedem, de modo que não há espaço para comemorações exageradas porque elas sempre estarão ameaçadas por uma perda sofrida, muitas
vezes justamente quando tudo parecia andar bem. Esta inconstância aliada
ao fato de que por mais que nos preparemos, ainda erramos muito, faz da
atividade médica o território da humildade. Por isso escrevi que nunca encontrei um posudo que fosse bom médico.
Uma experiência particularmente difícil foi explicar a uma mãe que
não poderíamos fazer um transplante intervivos na sua filhinha porque o
pai era incompatível do ponto de vista sanguíneo, e ouvir dela o pedido
desesperado de que então queria doar um pedaço de cada um dos seus
pulmões para trocar os dois pulmões da filha. Quando lhe disse que isso
era impossível porque comprometeria a qualidade e a expectativa de vida dela, doadora,
ela retrucou: “E se a minha filha morrer, o que
vou fazer da minha vida com esse excesso de
pulmões que Deus me deu?”
Diante do impossível choramos juntos,
abraçados, por um longo tempo.
JJ CAMARGO: Esta foi uma experiência inesquecível, porque mesmo
tendo entendido o porquê do fracasso, atribuível ao comprometimento do
fígado pela mesma substância que destruíra os pulmões de um paciente
usuário de drogas na juventude, me surpreendi ao encontrar na saída
da UTI os três pacientes que formavam naquele momento a nossa modesta lista de espera. Cheguei a pensar que
eles estavam ali para pedir o desligamento do
programa. Foi quando eles me abraçaram e
pediram que eu fosse forte e não desistisse.
Depois percebi que aquilo era a única coisa
que eles poderiam pedir, pois éramos então
o único centro transplantador de pulmões no
continente, ou seja, a única esperança deles.
Porque não desistimos, chegamos atualmente
a 460 transplantes, que quer dizer 60% da experiência brasileira em transplante de pulmão.
Certamente aprendi muito trabalhando com
pacientes candidatos ao transplante porque
são invariavelmente pessoas determinadas
a viver, lutando desesperadamente contra o
tempo, a espera de um doador que pode demorar, ou não vir.
7)SINAPSE: Quais foram as maiores dificuldades que o senhor teve de enfrentar durante a sua carreira profissional?
JJ CAMARGO: Todo o trabalho que envolva
alta complexidade em país pobre implica em
imensos desafios. Há que se enfrentar dificuldades de toda ordem, desde as materiais até
as pobrezas espirituais, quando se descobre
que existem pessoas que não fazendo, não toleram que outras façam. A implantação e manutenção de um programa de transplante ainda
tem a dificuldade adicional de ser multidisciplinar, ou seja, não é possível fazer transplante
sem uma equipe qualificada para cuidar dos
vários setores envolvidos no cuidado desses
pacientes. Reunir um grupo assim e mantê-lo motivado ao longo de anos é
o maior desafio.
No transplante de órgãos, um dos maiores obstáculos, sem dúvida,
é a burocracia, especialmente num processo em que a atividade médica
tem uma indispensável interface com órgãos públicos, muitas vezes contaminados com a deformação de quem não percebe que quem faz é mais
importante do que quem fiscaliza.
9)SINAPSE: Qual foi a notícia mais difícil que o senhor teve que dar
para um paciente e/ou para a família dele?
10)SINAPSE: O senhor é um profissional
que lida com a morte cotidianamente, e
isto é uma das coisas que mais assusta
quem está começando a carreira. Como o
senhor conseguiu driblar as dificuldades e
conseguir conviver bem com a situação? E
quais dicas o senhor deixa para quem ainda tem dificuldades neste quesito?
JJ CAMARGO: Esta é uma questão particularmente difícil e não existe uma receita para
esta situação em que o médico deve conviver
com a morte.
Na chamada morte natural, a participação do médico envolve o manejo do sofrimento físico e aqui todas as queixas devem
ser interpretadas como urgência e não se
admite por exemplo, um paciente se lamentando de dor num hospital. Depois o cuidado
com o sofrimento emocional que engloba as
questões familiares e espirituais. Se conseguirmos ajudar para que o nosso paciente
terminal transponha esse umbral doloroso
mas inevitável, sem dor, falta de ar, culpa ou
remorso, vamos descobrir que isso é elevar o
cuidado médico a uma outra dimensão, na qual certamente a família deve
ser incluída.
Mais desconfortável é aquela morte que deixa a sensação de que
talvez pudéssemos ter sido mais eficientes. Da discussão desses casos é
que surge o aprendizado que poderá nos tornar tecnicamente melhores. De
qualquer maneira duvidem quando o médico parece não sofrer com a perda
de um paciente. Essa rigidez é geralmente uma máscara insuficiente para
disfarçar o quanto sofremos com estas mortes que só servem para afirmar
nossa frágil condição de humanos.
8)SINAPSE: No decorrer dos anos, muitas campanhas foram realizadas com a finalidade de aumentar o número de doadores de órgãos. O
senhor acredita que elas foram efetivas? O que ainda falta para que o 11)SINAPSE: Qual foi a recuperação apresentada por um paciente que
tempo de espera para transplantes seja mais curto?
mais surpreendeu o senhor em todos esses anos de profissão?
JJ CAMARGO: As campanhas de doação são importantes porque estimulam as pessoas a tomarem a decisão de serem doadores e se isso foi previamente anunciado numa família, se ocorrer a morte encefálica daquele
individuo, a sua família se encarregará de fazer cumprir a sua última vontade. É pouco provável que no clima de comoção e revolta pela perda,
alguém tenha cabeça para decidir pela doação, se o assunto nunca foi
discutido antes.
Mas o processo da doação tem um segundo braço que é responsabilidade do governo, que deve garantir a presença de um médico em cada
unidade de terapia intensiva e que seja responsável pela comunicação de
morte encefálica e a partir daí de uma logística rápida que permita que a
família seja contatada, a autorização obtida e as equipes transplantadoras
comunicadas em tempo hábil, para que o maior numero possível de órgãos
sejam aproveitados. No Brasil temos alguns estados (Ceará, Santa Catarina, Distrito Federal, São Paulo) que competem em número de doadores
por milhão de habitantes, com os países mais desenvolvidos do mundo.
O RGS, por conta de dois governos consecutivos sem nenhum interesse
JJ CAMARGO: Um dos encantos de se trabalhar com transplantes é exatamente expandir os limites e descobrir, sem soberba, que está cada vez mais
difícil morrer e que a maioria das pessoas não consegue mais na primeira
tentativa.
Um caso recente, que mexeu com o grupo, foi do Wendel, um
moleque de 12 anos, transplantado dos dois pulmões por uma bronquiolite que o manteve em uso de oxigênio desde a infância. No primeiro ano
pós-transplante apresentou várias rejeições que resultaram em perda dos
órgãos. Evoluiu então, outra vez, para a insuficiência respiratória, ventilação mecânica e traqueostomia. Nesta condição desfavorável foi retransplantado. Depois de 6 dias de evolução favorável apresentou uma septicemia e na tarde que ia morrer foi colocado num oxigenador de membrana,
um aparelho que substitui temporariamente a função pulmonar. Foi uma
batalha insana. Depois de 24 dias, eu fazia um lanche na cafeteria do
hospital, quando fui abraçado pelas costas e com aquelas duas mãozinhas
fofas sobre os meus olhos, ouvi a pergunta:” Advinha quem é!?”
Impossível disfarçar a emoção.
08
12)SINAPSE: Em alguns textos o senhor discorre a respeito da feli- se preparou para o atendimento que o decepcionou, e o médico que terá
cidade. Quais foram seus momentos felizes mais marcantes na Me- que conviver com a consciência de que é um profissional incompetente. A
dicina?
incompetência, como se sabe, é uma carga que muitas pessoas carregam
pela vida afora a massacrá-los mais até do que o dano que eles empresJJ CAMARGO: O ser humano existe para ser feliz, e neste quesito a vida tam aos que têm o infortuno de conviver com eles.
tem sido generosa comigo.O convite para seguir trabalhando no Pavilhão Muito triste também é ver o médico vocacionado, trabalhando por
Pereira Filho, um lugar que amei desde o primeiro momento, o convite salários aviltantes e em condições miseráveis, que determinam um risco
para completar a pesquisa sobre transplante na fantástica Clínica Mayo, a para o pobre paciente. Certamente uma das maiores torturas para o mérealização do primeiro transplante de pulmão da América Latina em 89, o dico é a percepção de que a pobreza do sistema lhe impõe conviver com
primeiro transplante de pulmão com doadores vivos feito fora dos EUA em mortes evitáveis. Esta, mais do que todas as razões anunciadas, é a causa
99, as quatro vezes em que fui paraninfo e seis vezes homenageado de da fuga dos médicos do atendimento em comunidades muito pobres.
turmas na UFCSPA, a eleição para membro titular da Academia Nacional
de Medicina, a inauguração do Centro de Transplantes da Santa Casa e 17)SINAPSE: Qual é a característica que o senhor considera esseno entusiasmo da minha filha Camilla com os seus bebês na pediatria da cial em um acadêmico de Medicina para que ele seja um bom profisfaculdade, foram alguns momentos inesquecíveis que obtive dessa mara- sional no futuro?
vilhosa profissão.
JJ CAMARGO: O sucesso do médico sempre dependerá do binômio: qua13)SINAPSE: Em “O que somos e o que aparentamos”, o senhor re- lificação técnica apurada e disponibilidade de afeto. A população em geral
lata que “No roteiro didático dos residentes da Clínica Mayo, a sessão está tão carente de atenção que muitas vezes, neste espaço deixado vazio
aguardada com mais ansiedade por todos, e com sofrimento visceral pela médico rígido, se infiltra o charlatão. Felizmente este tipo não se estados envolvidos, era a chamada Morte Revisitada. Quinzenalmente belece porque ele tem um inimigo feroz: a doença. Ele pode ser festejado
quatro mortes recentes eram analisadas em busca de aprendizado e quando o problema é alguma banilidade ou simplesmente carência afetiva
de erros que pudessem ser convertidos em lições para que – pudera do doente, mas quando surgir uma doença de verdade, ele debandará.
Deus – não se repetissem.” Qual é a importância deste feedback?
O que tenho procurado transmitir aos mais jovens é que os pacientes que tiverem a chance de escolher o médico, selecionarão aqueles
JJ CAMARGO: É certo que nós aprendemos mais com os erros do que que aliem conhecimento técnico e afetividade. E entre dois médicos igualcom os acertos. Um grupo realmente amadurece quando se despe de or- mente treinados, prevalecerá aquele que for mais carinhoso.
gulho e vaidade e assume que erramos e temos sempre, e muito a apren- Isso não quer dizer que o estúpido não vai trabalhar. Ele vai sim,
der. Por que tão poucos serviços exercitam esta prática? Porque quase porque o sistema (infelizmente) lhe ofertará os pacientes, mas ele nunca
sempre que se revisa um caso complicado, se percebe que houve um ou descobrirá a maravilha de ser escolhido pelo paciente.
mais momentos em que alguma coisa não foi percebida ou valorizada e
que o tivesse sido talvez o desfecho tivesse sido diferente. A maioria dos 18)SINAPSE: O senhor aconselharia a leitura de algum livro ou assismédicos não consegue conviver com esta falibilidade e prefere manter-se tir a um filme/vídeo para complementar a formação curricular?
na zona de conforto e atribuir à natureza toda a evolução desfavorável. É
uma simplificação pouco inteligente que impede a melhora do desempenho JJ CAMARGO: Cada vez mais as escolas médicas mais qualificadas do
médico, o crescimento do tanto individual do médico, quando do grupo a mundo estão incorporando as disciplinas de Humanidades aos seus curque ele pertence.
rículos na medida em que ficou clara a urgência de se corrigir a impessoalidade do atendimento médico dito moderno, em que os médicos mais
14)SINAPSE: Em um de seus textos, o senhor expõe a ideia de que jovens deslumbrados pela moderna (e indispensável) tecnologia, foram
as pessoas passaram a ser cada vez mais solitárias à medida que a perdendo a noção de parceria solidária que deve caracterizar a figura do
população mundial foi aumentando. Como o senhor acredita que esta verdadeiro médico.
ação possa influenciar na relação médico/paciente?
Com esta intenção a participação da literatura é fundamental e alguns livros são indispensáveis. Um citaria três como obrigatórios: A Morte
JJ CAMARGO: Quanto menor for uma comunidade, mais as pessoas se de Ivan Ilitch um romance do russo Liev Tostói, que trata da solidão do
mantém próximas e se amparam mutuamente. Nas grandes metrópoles paciente terminal, A Montanha mágica de Thomas Mann que descreve a
vivemos uma situação paradoxal, porque podemos estar solitários entre experiencia riquíssima de um homem que vai a um sanatório para visitar
milhares de pessoas. O isolacionismo observado nos grandes centros, um amigo, e se demora e acaba ficando um longo tempo num processo
se reflete em todas as áreas de atividade humana, inclusive na medicina. absolutamente sedutor em que ele se desliga do tempo, da carreira e da
Na pequena comunidade o médico é uma figura identificada com carinho família e é atraído pela doença, pela introspecção e pela morte. E finale tratada com respeito e quase veneração. Nos grandes centros ele ge- mente, O Pavilhão dos Cancerosos, escrito por Aleksander Solzhenitsyn.
ralmente não passa de um anônimo operário da saúde que trata pessoas O livro foi escrito entre 1966 e 1968, e a história deste romance desenrolaidentificadas por senhas e alinhadas em grandes filas. Claro que esta des- se num hospital do Usbequistão, onde o autor esteve internado para tratar
personalização bilateral elimina qualquer chance de relação médico/pa- um câncer nos anos 50. A descrição do dia a dia desses pacientes é cociente carinhosa e amiga.
movente.
15) SINAPSE: Também no seu livro, o senhor conta a história de um
acadêmico que fez estágio em seu serviço, o Ivan, que se demonstra
extremamente agradecido pelo fato de relembrar a importância de tratar o paciente pelo nome. O senhor sempre teve esta prática? E por
que o senhor acredita que este hábito está cada vez mais infrequente
entre os profissionais?
JJ CAMARGO: Este é um dos pontos que eu mais enfatizo nas minhas
aulas e conversas com os residentes: toda a relação humana que se preze
exige solenidade e, esta começará sempre pela adequada identificação do
paciente. Todos percebemos o quanto os pacientes festejam ser reconhecidos e tratados pelo nome. Condeno veementemente o uso de diminuitivos
(vôzinho, tiazinha, etc...) e outras expressões que pretendem dar ideia de
uma intimidade, mas que é falsa e desrespeita o paciente.
Recomendo: pensem como gostariam de ser tratados e procedam
igual com os pacientes.
16)SINAPSE: Em “O que a vida espera da gente”, o senhor disserta:
“O sistema de saúde pública, depredado pela burocracia asfixiante,
vai lentamente minando o ânimo dos médicos, que se sentem impotentes diante de um gigante que exerce sua soberba com impávida
diferença”. O que o senhor acredita que é o principal aspecto que
impede que a saúde pública no Brasil seja de qualidade?
JJ CAMARGO: O mau atendimento médico em qualquer lugar do mundo se baseia num tripé fatídico: má remuneração pelo trabalho médico,
precárias condições de atendimento e falta de vocação profissional para
conviver com o sofrimento alheio. Na falta de qualquer um desses elementos teremos um arremedo de atendimento e dois infelizes: o paciente que
Carregando um pulmão para o transplante
“A verdadeira compreensão é filha do silêncio.”
J.J. Camargo
09
Exemplos - Renata Garcia Goncalves
O educador das primeiras batalhas
Durante toda a nossa formação acadêmica - e também depois
de formados -, baseamos as nossas atitudes e escolhas em mestres
que nos inspiram e nos motivam. Este mestre pode ser um professor,
com quem temos contato toda semana, ou até mesmo alguém que
nem sabemos ao certo como é, como um escritor, um médico famoso,
mas que mesmo distante acaba fazendo parte da nossa vida de alguma forma.
Eles são capazes de auxiliar inclusive em etapas cruciais da
nossa vida, como, por exemplo, a decisão sobre qual rumo seguir
na nossa carreira profissional, que pode ser extremamente confusa
para a maioria das pessoas. Para facilitar esta escolha, acabamos
nos ancorando em algumas pessoas que admiramos e formamos a
nossa personalidade a partir de uma união entre elas feita inconscientemente. Pensando dessa forma, vemos que estes mestres tem
grande responsabilidade no futuro dos acadêmicos para os quais
estão servindo de exemplo. Um palestrante de uma simples jornada
acadêmica é capaz de mexer com os nossos pensamentos e despertar a nossa vontade para uma área antes completamente descartada
da nossa mente. Mas no que muitas vezes não pensamos é que, possivelmente, seremos estes mestres para alguém no futuro, seremos
este alguém que um aluno desejará ser quando se formar. E o que
podemos fazer para cumprir este papel com excelência? Será que
nossas ações serão suficientes?
O papel do médico não é apenas cuidar das pessoas e tratar
suas doenças. É preciso dar o seu melhor diariamente a fim de deixar
um legado suficientemente bom para que a próxima geração possa
usufruir das suas ações. A ciência só se desenvolve assim. Muitas
vezes, não somos capazes de projetar algo e ter o resultado à nossa
frente de forma rápida. Precisamos pensar e agir para o futuro, imaginando que a nossa ideia provavelmente não mudará nada agora, mas
poderá algum dia ter grande valor para a sociedade. Geralmente, é
difícil encarar desta forma porque provavelmente já estaremos mortos
quando a nossa ideia vingar e for reconhecida, mas nunca podemos
deixar de acreditar. Temos que ter em mente que de nada adianta um
bom projeto se este não for passado para as próximas gerações.
Para ser este mestre para alguém, não basta apenas o conhecimento. Este, com certeza, é fundamental, mas é preciso saber como
usá-lo para chegar a quem mais necessita, a quem está começando,
a quem está à procura de motivação. É preciso provar para eles que
todo o esforço vale a pena. Não obrigatoriamente com essas palavras, mas usando todos os métodos possíveis para que eles sejam
capazes de compreender que vale a pena. Se este objetivo for atingido: sim, você será um mestre!
“Não poderás ser mestre na escrita e leitura sem ter sido antes
aluno. Quanto menos na vida!” Marco Aurélio
Historia da Medicina - Guilherme Valim Alves
O começo da fila
Já imaginou uma fila com 28.000 pessoas? Já é possível imaginar
que ela demoraria uma eternidade para mover alguns metros. Pois essa fila
existe, e é para salvar a vida de quem espera chegar sua vez. Em março de
2014, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos,
28.109 pessoas estavam na fila esperando por uma doação de orgão, entre
eles, coração, pulmão e rim. É perceptível que esse número é espantoso.
Mas onde essa fila começa? Quem foi o primeiro a ser chamado?
teriores revelaram a necessidade de compatibilidade genética entre doador
e receptor.
O problema da rejeição moveu os estudiosos durante as décadas
seguintes e, nos anos 60 e 70, foram desenvolvidos inúmeros fármacos, com
melhores ações imunossupressoras e menores efeitos colaterais. Somente
em 1983 o Santo Graal dos transplantes foi desenvolvido: a ciclosporina, com
característica mais seletiva e menores efeitos colaterais que outras drogas,
Os primeiros registros que se pode encontrar sobre o quesito dos permitiu que o transplante de órgãos passase de mera curiosidade cirúrgica
transplantes é na Bíblia, quando Adão doou uma de suas costelas para a para um procedimento terapêutico efetivo para as mais diversas patologias.
criação de Eva. Na história antiga há outros relatos acerca do assunto; um
deles, de dois médicos chineses gêmeos, Itoua To e Pien To, que trans- Também na década de 80, o desenvolvimento do Viaspan (ou Univerplantaram uma perna de um soldado negro que acabara de morrer em outra sity of Wisconsin coldstorage solution por Folkert Belzer e James Southard),
pessoa, um velho branco que também acabara de perder a perna. Os dois inicialmente para a preservação do pâncreas, permitiu a conservação dos
irmãos não cobravam por suas consultas e procedimentos, o que levou o
órgãos durante o deslocamento para o transplante,
imperador Deocleciano a iniciar uma perseguição e, então, prender, julgar e
que agora poderia ser realizado entre pessoas disexecutar os dois que viriam a ser os padroeiros dos médicos cirurgiões.
tantes geograficamente. Esses avanços no final do século XX
aumentaram a sobrevida dos pacientes transplantados em
A transfusão sanguínea, que não pode ser esquecida
80%. Claro que a cirurgia não é uma cura para as moléstias
no âmbito dos transplantes, só obteve sucesso após a
da vida e ainda havia inúmeras rejeições entre os transplandescoberta dos diferentes mecanismos de compatibitados, mas a esperança proporcionada por esses procedilidade sanguínea. A enorme demanda de sangue dumentos sobrepujava as condições adversas que poderiam
rante a Primeira Guerra Mundial forçou as nações a
vir a acometer os pacientes.
criar os primeiros bancos de sangue, o que foi um dos
mais importantes passos na história dos transplantes.
Os avanços da Medicina e o advento de novas técnicas e fármacos permitiram o desenvolvimento dos transplantes
No ano de 1905 se iniciaram os primeiros transplantes de córnea, para que atualmente esses procedimentos se tornassem rotina. Mas ainda
que só se consolidaram como prática cotidiana no ano de 1944, quando o há inúmeros problemas éticos, logísticos e outros, mas principalmente a
primeiro banco de olhos mundial foi inaugurado, o Hospital Manhattan de espera pelo procedimento. É necessário a abertura de novas discussões
Olhos, Ouvidos e Garganta. Os enxertos de pele foram iniciados no fim dos acerca dos transplantes no Brasil e no mundo, sobretudo para o aumento
anos 20 como medida paliativa para os casos de queimadura.
da eficiência dos procedimentos e da disponibilidade de órgãos para os pacientes. No futuro, espera-se que não seja preciso mais esperar por uma
A era moderna dos transplantes só se iniciou na década de 50, com chance de mais alguns anos de vida, e que não seja necessário entrar no
o desenvolvimento da técnica de sutura de vasos sanguíneos pelos cirur- começo da fila, que hoje só aumenta.
giões Aléxis Carrel (1873-1944), que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina
Fontes:
em 1912, e Charles C. Guthrie (1880-1963).
Emmerich Ullmann (1861-1937) removeu um rim de um cão e o
transplantou em outro, mas só conseguiu manter o órgão estável por alguns
minutos. O fracasso desse experimento e o de outros antes fizeram surgir
claramente a hipótese de rejeição no transplante de órgãos, e estudos pos-
http://www.pucgoias.edu.br/ucg/institutos/nepss/monografia/monografia_02.pdf
http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2014/rbt2014parc-jan-mar.pdf
http://www.donatelifeny.org/all-about-transplantation/organ-transplant-history/
http://www.einstein.br/hospital/transplantes/transplanteorgaos/Paginas/transplante-de-orgaos.aspx
10
Opiniao - Sergio Renato da Rosa Decker
Abraçar tudo ou não fazer nada?
Uma sensação de alívio
e de motivação extrema. De
que um novo mundo se abre e
nos possibilita muitas novas experiências. Uma sobrecarga de
emoções e impulsos, na tentativa
de saber o certo a se fazer e o
que procurar. Essas características, que advém com a aprovação
na faculdade, começam a fazer
parte do nosso cotidiano. E, nesse período, assim que se passam
alguns dias depois do início das aulas, começamos a nos questionar sobre o que fazer para aproveitar ao máximo o tempo da
graduação; uns mais cedo que outros, começamos a pensar sobre
o que é ideal para nos formarmos bons médicos. Na Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Pelotas, principalmente, diversas novas oportunidades extra-classe nos são apresentadas e,
junto com os diversos sentimentos e ideias já comentadas, a dúvida de “para qual lado correr” começa até mesmo a bloquear aquela
nossa motivação inicial: “será que não é melhor eu esperar alguns
semestres para começar a fazer algo fora de sala de aula?”. Diante
de tais dúvidas que estão contíguas aos que iniciam a caminhada
na universidade, uma discussão de como nos organizar e de o que
realmente importa a nós, como estudantes de medicina, é muito
importante e, de certa forma, imprescindível.
O Dr. J. J. Camargo, o qual nos concedeu uma entrevista
exclusiva nessa edição, esclarece em seu texto “A Dança dos Modelos” algo muito importante para começarmos a ter um foco nesse
início da faculdade; explicando a seus alunos - os quais ele mesmo
descreve “... com cara limpa, o peito ainda estufado pela conquista
recente do vestibular, e aquela ânsia do ingresso na mão...” – que
os melhores médicos são em parte técnicos, mas em parte artistas. “O técnico é capaz de introduzir uma agulha nas profundezas
do pulmão e de lá obter células diagnósticas, mas é o artista que,
tendo recebido o resultado numa sexta-feira, comunica que o laudo
definitivo só sairá na segunda, preocupado em não estragar a alegria
daquela avó no casamento da neta, no sábado”. Dessa forma, é importante, além de aprender a ciência da medicina, nos preocuparmos
em ter as características necessárias para sermos, também, “médicos artistas”; ter isso em mente, desde o início, ajuda muito na
hora de escolher quais atividades participar no começo e durante a
faculdade. Um bom filme que demonstra a importância desse outro
lado da medicina, com louvor, é o conhecido “Patch Adams, O Amor
é Contagioso”.
Sendo assim, visto que no início certa falta de conhecimento
científico torna difícil ou, até mesmo, impossibilita nossa participação
em projetos mais técnicos, uma boa opção nos primeiros semestres
da faculdade é participar de trabalho voluntário. Trabalhar esse nosso
lado mais “artístico” lidando com pessoas de diferentes faixas etárias
e diferentes condições sociais é a resposta, muitas vezes, para o
que procuramos em termos de atuação como estudantes de uma
área da saúde, além de que, fazendo isso, traremos benefícios para
essas pessoas também! Claro, isso não exclui se quisermos participar em algum estágio cirúrgico, clínico ou de pesquisa nos primeiros
semestres. Visto isso, porque não trabalhar em atividades como as
da IFMSA, por exemplo, desde o início das atividades acadêmicas?
Ademais, é importante quando buscarmos fazer essas atividades,
procurar por algo para realmente aprender em vez de apenas algo
para colocar no currículo.
Nesse sentido, tendo em mente a importância de buscar uma
atividade prática fora do horário comum de aula em que possamos
nos tornar cada vez melhores técnicos e artistas da área médica,
não ter medo de assumir responsabilidades desde sempre é fundamental. Afinal, confiar na nossa capacidade e no nosso desempenho
pessoal também é algo que precisamos treinar. Dessa maneira, ter
em mente a frase de Abel Salazar “o médico que só medicina sabe,
em verdade, nem medicina sabe” é valioso.
Ponderacoes - Roberto Stroher Junior
A morte é um dia que vale a pena viver
É bem provável que o título do texto lhe soe familiar. É bem provável, também, que se você ainda não assistiu ao vídeo que leva esse mesmo nome, ao menos já tenha ouvido falar dele. A partir disso, então, aqui
constarão não só fatos importantes do vídeo, mas também algumas ponderações.
A médica Ana Claudia Quintana Arantes consegue em dezoito
minutos explorar diversos pontos de vista sobre cuidados paliativos (sua
área de atuação), morte e sobre a maneira de como tratar cada paciente
– algo que se vê um pouco em Psicologia Médica I. Contudo, o mais importante que se pode extrair do vídeo é algo que está intrínseco nele: a
mudança de paradigma.
Essa mudança se dá, principalmente, na forma com que encaramos os acontecimentos que nos cercam. Para o poeta Manoel de Barros,
era enxergar não uma garça na beira de um rio, mas sim o rio na beira de
uma garça. Já para o compositor Humberto Gessinger, era como viver em
outra frequência, seja dançando no silêncio ou chorando no Carnaval.
Uma das mudanças propostas por Ana Claudia ocorre no seu
campo de atuação: cuidados paliativos. Ela mostra que aquela visão geral
de que eles entravam em cena quando nada mais poderia ser feito é
errônea, pois, na verdade, esses cuidados auxiliam na busca pela contenção do sofrimento, este que sempre acompanha os pacientes terminais, quer na forma emocional, física, social ou espiritual. Segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, esses cuidados visam à melhora da
qualidade de vida, não somente de quem é acometido por alguma doença
ameaçadora, como também de seus familiares, que sofrem junto com
toda a situação vivida. Os paliativos não pretendem, portanto, acelerar ou
retardar a morte, “buscando”, apenas, que ela chegue por um processo
natural.
Outro aspecto bastante importante abordado pela autora do discurso é algo que às vezes se perde pelo caminho: o tratamento destinado
ao paciente. Seja em pacientes terminais, em que cada minuto faz muita
diferença; seja num caso mais simples e corriqueiro, é necessário que o
médico entre no universo de quem assiste, ouvindo-o com paciência e não
relegando qualquer informação passada, pois tudo ali exposto denota incômodos sentidos. É preciso, também, ser sincero com o paciente, pois,
embora as palavras, se usadas da maneira “certa”, possam enganar, um
olhar jamais conseguirá fazer o mesmo. É perceber que alguém enfermo
não quer desperdiçar tempo (e em alguns casos, como os que necessitam
dos cuidados paliativos, nem se pode) com um médico que não lhe dá a
importância devida ou com um profissional que não lhe passa a confiança
de que tudo que estiver ao seu alcance será feito.
Essas propostas diferentes de encarar a nossa futura profissão
farão com que tanto a nossa vida quanto a do paciente sejam mudadas.
Vão permitir que, se nos depararmos com algum paciente em estado terminal, por exemplo, nós encontremos ainda mais certeza das escolhas que
tomarmos e, dessa forma, permitir que ele consiga se desprender de tudo
que ainda o amarra em vida para que possa, então, descansar em paz. Ou
seja, ambos ficarão com a consciência tranquila de que tudo que foi feito
não foi em vão. Sendo assim, pelo grande aprendizado que pode trazer,
não há como negar que a
morte é, sim, um dia que
vale a pena viver.
Fontes:
YouTube: A morte é um dia
que vale a pena viver: Ana
Claudia Quintana Arantes
at TEDxFMUSP”
Associação Brasileira de
Cuidados Paliativos.
11
“Felicidade é urgente. A tristeza pode esperar.”
J.J.Camargo
Verdades - Daniel Modolo
Uma nota sobre raciocínio clínico
Será que realmente o temos?
Raciocínio clínico pode ser definido como o conjunto de processos cognitivos inferenciais e resgates
de memória utilizados pelo médico na formulação de
uma hipótese diagnóstica. Tendo como ponto de partida a
base biológica dos processos corporais e aliando isso ao
quadro que o paciente apresenta, o médico é capaz de estabelecer uma lista de doenças que podem explicar seu atual
estado. Jerome Kassirer¹, um teórico do assunto, argumenta
que ele ocorre como em um continuum: em uma ponta, temos
a casuística e a comparação entre situações obtidas através da
experiência e “regras rápidas” (heurística); do outro, a investigação protocolar exaustiva e algoritmizada, que esgota probabilisticamente as possibilidades diagnósticas. Diante de qualquer
paciente, o médico experiente aplica uma mistura dos dois extremos, estabelecendo o espectro proposto por Kassirer.
Por ser muitas vezes considerado algo “naturalmente aprendido”,
o raciocínio clínico é deixado de lado como conteúdo acadêmico. Espera-se que o aluno seja capaz de, entre tomos de Clínica, leitos de
enfermaria e exemplo docente, apreender a essência de ferramentas
complexas como a navalha de Occam e o teorema de Bayes - algo que
nem sempre acontece. Como resultado, temos muitos quase-profissionais que se apoiam em um rol limitado de peças na tentativa de entender
a imagem de um quebra-cabeças muito maior, mas incapazes de vislumbrar todo o conteúdo por não unirem as partes de forma sensata. Em
uma análise mais profunda, essa deficiência se traduz em testes complementares desnecessários e que pouco refinam as hipóteses iniciais,
onerando todo o sistema de saúde.
dade, que vagamente se relacionam com o quadro,
sem a menor preocupação com a constelação de
diferenciais mais prováveis que existem? O quanto
dessa demonstração é realmente raciocínio e não
apenas uma espécie mais refinada de desonestidade
intelectual, com o objetivo de acariciar o próprio ego e
acertar a resposta? Dentro do contexto de um ensino médico de qualidade, como garantir que sejam dadas as ferramentas ao objetivo diagnóstico e não simplesmente um grupo
de fórmulas prontas?
Depositar as esperanças na ideia mágica de que o tempo
trará o traquejo necessário para organizar o fluxo de pensamento
investigativo também é um erro. A habilidade clínica não cresce
como uma função previsível da experiência; pelo contrário, é
mais improvável que um médico atarefado adquira novas habilidades do que um estudante durante a graduação². Atuar junto a este
grupo mais propenso à absorção desse tipo de conhecimento provavelmente traria benefícios para a qualidade da atenção à população em
geral.
Tanto quanto as bases fisiopatológicas que compõem o cerne
da prática médica, a sistematização dos artifícios lógicos que levam
à preferência de uma hipótese sobre as outras deveria ser estudada
para garantir a elaboração de estratégias ótimas no ataque a um problema. Poder se utilizar de heurística em casos que requerem prontoatendimento e saber como estruturar a abordagem insistente para um
problema novo, sobre o qual se tem pouca ou nenhuma base teórica
prévia, é essencial para o exercício de clínica de qualidade. Mesmo
Há quem alegue que aulas expositivas nas quais os professores que elas sejam fornecidas de forma desorganizada no ensino médico,
nos introduzem um caso para reflexão ajudam na internalização desse buscar essas informações é prerrogativa do aluno que deseja galgar os
tipo de conhecimento. Contudo, como esperar um raciocínio logicamente degraus em direção a uma Medicina superior.
válido dos alunos quando, ao ver um professor especialista à frente da
1: KASSIRER, Jerome. Learning Clinical Reasoning.
sala, estes já cospem hipóteses específicas daquela restrita especiali2: Harrison’s Principles of Internal Medicine, 18th edition.
Casos Clínicos
Traduzidos do USMLE Quizzes por Daniel Modolo
[MÉDIO]Um casal de pacientes seus está considerando adotar uma criança com necessidades especiais. A
família ainda tem poucos detalhes sobre o menino, mas
as informações recebidas até agora sugerem que a criança de 4 anos fez cirurgia de reparo de defeito do septo
atrioventricular, tem baixa estatura, e história de algo
que parece ser um reparo de atresia duodenal no momento do nascimento. Qual das síndromes abaixo é sua
principal suspeita?
a) Klinefelter
b) Waardenberg
c) Marfan
d) Turner
e) Down.
[DIFÍCIL] Um homem de 25 anos tem tiques motores
desde os 13 anos. Eles parecem estar piorando e recentemente ele desenvolveu vocalizações obscenas involuntárias (sd. de Tourette). O tratamento com qual das
drogas abaixo provavelmente devolverá vida normal ao
paciente?
a) L-dopa
b) Triexifenidil
c) Carbamazepina
d) Fenitoína
e) Haloperidol
RESPOSTA E. A síndrome de Tourette geralmente inicia antes dos 21 anos e é caracterizada pela incapacidade
de controlar vocalizações obscenas e/ou escatológicas.
Aparentemente, a síndrome tem um padrão hereditário
autossômico dominante com penetrância variável. A
maioria dos afetados é masculina. Várias drogas podem
ser utilizadas para suprimir os tiques, como haloperidol,
pimozida, trifluoperazina e flufenazina.
Antiepilépticos como a carbamazepina e a fenitoína
têm pouco uso. Triexifenidil e benzaprina são úteis para
suprimir o parkisonismo que pode surgir com o uso de
haloperidol, mas são inúteis no tratamento da síndrome
de Tourette.
[FÁCIL] Uma mulher de 32 anos vai ao seu consultório
para um exame anual. Ela é tabagista de 12 anos•maço
e atualmente fuma 20 cigarros por dia. Ela expressa o
desejo de parar e você a orienta. Qual das alternativas
abaixo é verdadeira a respeito de cessação do tabagismo
em mulheres?
a) 90% das que param de fumar têm recaída em três
meses.
b) Adesivos de nicotina e gomas de mascar não se mostraram eficientes na cessação de tabagismo
c) Alertar as pacientes repetidas vezes sobre os malefícios do tabaco não tem impacto na cessação do tabagismo
d) Parar de fumar abruptamente é a única maneira de
conseguir total abstinência
e) Independentemente da carga tabágica prévia, parar
de fumar melhora a condição de saúde dos pulmões
RESPOSTA : E. Tabagismo está implicado como fator de risco de várias doenças, incluindo doença arterial coronariana, DPOC e câncer de pulmão. Há estudos
que indicam que a cessação do tabagismo é benéfica
aos pulmões independentemente da quantidade usada
previamente. É dever do médico aconselhar o paciente
repetidamente e fazer consultas de retorno para reincentivar o novo estilo de vida. O uso de reposição de nicotina na forma de adesivos ou gomas de mascar aumenta a
eficiência de programas de cessação de tabagismo. 65%
das pessoas que param de fumar têm recaída nos três
meses seguintes.
RESPOSTA: E. A síndrome de Down tem várias características clínicas, como baixa estatura, microcefalia,
espiral capilar centralizada, orelhas pequenas, fissuras
palpebrais, dobras epicânticas, manchas de Brushfield,
língua protrusa, mãos pequenas e largas, prega simiesca,
largo espaçamento entre primeiro e segundo pododáctilos e hipotonia. Lesões cardíacas estão presentes em 30
a 50% dos sindrômicos, incluindo defeito do septo AV
(30%), defeito do septo ventricular (30%) e tetralogia
de Fallot (30%). Ao nascimento, atresia duodenal é comum. A atresia causa vômito biliar.
12
Cruzadinha
Luiz Fernando Held Gentil
Horizontal
1.
Como se chama a hérnia, quando uma parte da parede anti-mesentérica do intestino torna-se estrangulada dentro do saco herniário?
4.
O sinal de Kehr é importante na avaliação de abdome agudo para o diagnóstico de
...
8.
Os músculos incisados, numa episiotomia médio-lateral são: o transverso superficial do períneo e o ...
9.
Estímulos dolorosos abdominais em que haja irritação do músculo diafragma, podem causar dor referida no ombro. Esta dor irradiada é transmitida pelo nervo ...
12.
A causa mais comum da hemorragia maciça no trato gastro-intesinal baixo é ...
13.
Um homem de 30 anos, anteriormente saudável, se queixa de dificuldade de engolir líquidos e regurgitação ocasional. Pesquisas manométricas mostram um aumento na
pressão no corpo esofágico. O diagnóstico mais provável é ...
14.
O sinal de Curvoisier-Terrier é característico de qual neoplasia abdominal?
15.
Na abordagem cirúrgica da Doença de Chron, a técnica que ganhou notoriedade
como meio seguro e eficaz de tratamento cirúrgico é ...
Vertical
2.
Na paciente pós menopausa sem terapia de reposição hormonal, o limite máximo
da ecografia endometrial é de ... (em mm)
3.
A sindrome de Mallory-Weis geralmente é associada a ...
4.
O fator predisponente mais importante para o descolamento prematuro de placenta (DPP) é ...
5.
Qual a neoplasia maligna mais comum da tireoide?
6.
Carcinoma espinocelular pode ocorrer em área de cicatriz de queimadura antiga,
chamada de úlcera de ...
7.
As derivações D___2, D3 e aVF no ECG corresponde a qual parede do ventrículo esquerdo?
10.
No Brasil, a infecção puerperal é a 3ª causa de morte materna. Dentre os fatores
de risco para infecção puerperal, o mais importante é ...
11.
A causa mais comum de obstrução intestinal mecânica é ...
Horizontal
1.RICHTER
4.HEMOPERITÔNIO
8.BULBOCAVERNOSO
9.FRENICO
12.DIVERTICULOSE
13.ACALASIA
14.PANCREAS
15.ESTENOSOPLASTIA
2.CINCO
3.ALCOOLISMO
4.HIPERTENSAO
Vertical
5.PAPILAR
6.MARJOLIN
7.INFERIOR
10.CESARIANA
11. BRIDA
Que r e n v iar uma f o to
ou u ma Ma té r i a p a r a o
SIN A P SE ?
Entre:
www.facebook.com/jornalsinapse
Pat ro cí ni o:
Curta a página
e confira as regras!
R eal i z ação :

Documentos relacionados