Metodologia de apresentação de trabalhos acadêmicos

Transcrição

Metodologia de apresentação de trabalhos acadêmicos
FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FEAN
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
CIÊNCIAS CONTÁBEIS
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
DESIGN GRÁFICO
MARCELLO B. ZAPELINI
SILVIA M. K. C. ZAPELINI
METODOLOGIA CIENTÍFICA E DA PESQUISA DA FEAN
FLORIANÓPOLIS
2013
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................
2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO.........................................
2.1 O PROCESSO DE LEITURA......................................................................................................
2.1.1 que ler – e onde ler.....................................................................................................................
2.1.2 A ideia principal.........................................................................................................................
2.1.3 Os diferentes tipos de leitura......................................................................................................
2.1.4 Fases da leitura...........................................................................................................................
2.1.5 Como sublinhar um texto...........................................................................................................
2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA.................................................................
3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA.................................................................................................
3.1 CONHECIMENTO.......................................................................................................................
3.1.1 Conceito.....................................................................................................................................
3.1.2 Elementos...................................................................................................................................
3.1.3 Tipos de conhecimento..............................................................................................................
3.2 CIÊNCIA.....................................................................................................................................
3.2.1 Conceito.....................................................................................................................................
3.2.2 Características da ciência...........................................................................................................
3.2.3 Divisão da ciência......................................................................................................................
3.2.4.Critérios de cientificidade..........................................................................................................
3.3 A PESQUISA COMO PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO............................
4 O MÉTODO CIENTÍFICO..........................................................................................................
4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA...................................................................................
4.1.1 Conceito.....................................................................................................................................
4.1.2 Tipos de raciocínio.....................................................................................................................
4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS.........................................................................................................
5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS................................................................
5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS..................................................................................................
5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS..........................................................................................................
5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS..................................................................................................
6 CITAÇÕES.....................................................................................................................................
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A NBR 6023:2002.......................................................
8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO...........................................
8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO.....................................................................................
8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR......................
8.2.1 Definição da área e do tema.......................................................................................................
8.2.2 Definição do problema...............................................................................................................
8.2.3 Definição do local......................................................................................................................
8.2.4 Definição do orientador.............................................................................................................
8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO...........................................................................................................
8.4 O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO....................................................................
9 ABORDAGENS DE PESQUISA NO ESTÁGIO........................................................................
9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS........................................................
9.1.1 Pesquisa quantitativa..................................................................................................................
9.1.2 Pesquisa qualitativa....................................................................................................................
9.1.3 Pesquisa quali-quantitativa........................................................................................................
9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO..............................................................................
9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS.................................................................................................
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9.3.1 Classificação quanto aos fins.....................................................................................................
9.3.1.1 Pesquisa explicativa................................................................................................................
9.3.1.2 Pesquisa descritiva..................................................................................................................
9.3.1.3 Pesquisa explicativa................................................................................................................
9.3.1.4 Pesquisa metodológica............................................................................................................
9.3.1.5 Pesquisa aplicada....................................................................................................................
9.3.1.6 Pesquisa intervencionista........................................................................................................
9.3.2 Classificação quanto aos meios..................................................................................................
9.3.2.1 Pesquisa de campo..................................................................................................................
9.3.2.2 Pesquisa de laboratório...........................................................................................................
9.3.2.3 Pesquisa documental...............................................................................................................
9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica.............................................................................................................
9.3.2.5 Pesquisa experimental.............................................................................................................
9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto.............................................................................................................
9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa..........................................................................................
9.3.2.8 Pesquisa-ação..........................................................................................................................
9.3.2.9 Estudo de caso........................................................................................................................
9.3.2.10 Levantamento........................................................................................................................
9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS.....................................................................................................
10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................................
10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA.................................................................................................
10.2 AMOSTRA.................................................................................................................................
10.2.1 Tipos de amostragem...............................................................................................................
10.2.2 Cálculo da amostra...................................................................................................................
11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS.....................................................................................
11.1OBSERVAÇÃO..........................................................................................................................
11.1.1 Observação simples..................................................................................................................
11.1.2 Observação participante...........................................................................................................
11.1.3 Observação sistemática............................................................................................................
11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta.....................................................................................
11.2 ENTREVISTA............................................................................................................................
11.2.1 O Focus Group.........................................................................................................................
11.3 QUESTIONÁRIO......................................................................................................................
11.4 PESQUISA DOCUMENTAL...................................................................................................
11.4.1 A pesquisa bibliográfica...........................................................................................................
12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.....................................................................
12.1 CLASSIFICAÇÃO.....................................................................................................................
12.2 CODIFICAÇÃO.........................................................................................................................
12.3 TABULAÇÃO............................................................................................................................
12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA.........................................................................................................
12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................................................................
13 TRABALHOS ACADÊMICOS..................................................................................................
13.1 RESUMOS DE TEXTO.............................................................................................................
13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................................
13.3 ARTIGO.....................................................................................................................................
13.4 PAPER........................................................................................................................................
13.5 RESENHA CRÍTICA................................................................................................................
13.6 ENSAIOS...................................................................................................................................
13.7 MONOGRAFIAS.......................................................................................................................
13.8 ESTUDOS DE CASO................................................................................................................
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13.9 SEMINÁRIO.............................................................................................................................. 155
REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 156
APÊNDICES...................................................................................................................................... 160
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1 INTRODUÇÃO
O estudo não pode prescindir dos cuidados com o método para sua realização,
tampouco independe de técnicas que aumentem sua eficiência. Foi com esse espírito que este
trabalho foi realizado, objetivando fornecer ao estudante de graduação noções gerais sobre o
método científico, as técnicas de estudo e as normas que regulamentam a apresentação dos
trabalhos acadêmicos.
Dessa forma, este trabalho procura identificar e desenvolver aspectos metodológicos
básicos para o estudo e a pesquisa eficientes. Com seu foco voltado para o curso de
graduação, o trabalho discute aspectos referentes aos projetos e relatórios de estágio, fase de
extrema importância na vida acadêmica, que exige cuidados redobrados em termos
metodológicos, e fornece bases para os trabalhos acadêmicos na área.
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2 A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O APRENDIZADO
2.1 O PROCESSO DE LEITURA
2.1.1 O que ler - e onde ler
A leitura é essencial para o aprendizado e a formação do administrador de empresas,
sendo ainda uma prática que o acompanhará necessariamente durante toda a sua vida
profissional: relatórios, atas de reuniões, documentos da empresa, são a face mais visível, mas
não a única, pois o administrador precisará se manter informado a respeito da conjuntura
econômica e empresarial, os concorrentes, a realidade social em que sua organização está
inserida, bem como acompanhar os mais recentes desenvolvimentos de sua especialidade.
Assim, o primeiro aspecto que deve ser trabalhado para se garantir a maior eficiência
no processo de leitura refere-se ao que deve ser lido. Evidentemente, deve-se procurar ler o
que é importante para a vida e a prática do indivíduo. Ruiz (1995, p. 36) destaca muito bem a
importância da leitura:
A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez
mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação,
disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos
diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua
própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu.
Para determinar o que ler, é preciso ter em mente, inicialmente, o que se pretende
atingir, ou seja, o propósito da leitura. De acordo com Ruiz (1995), a leitura busca captar,
criticar, reter e integrar conhecimentos. Isso se faz, segundo Northedge (1998), para
desenvolver os próprios pensamentos do leitor, agregando informações e ideias adicionais
àquelas que este já possui, conferindo-lhe novos pontos de vista. “O objetivo da leitura não é
apresentar uma porção de palavras passando em frente de seus olhos [...]. É reunir suas ideias
e fazê-lo repensá-las.” (NORTHEDGE, 1998, p. 34, grifos do autor).
Northedge (1998) sublinha que o conhecimento só será eficientemente construído a
partir da leitura se o leitor tiver interesse pelo assunto; isso significa, antes de mais nada, que
a leitura idealmente deve ser motivada por uma curiosidade e um desejo de aprendizado, de
dominar o conhecimento que o texto traz.
Definidos os propósitos, é preciso examinar o título do livro, o nome do autor, seu
curriculum, o índice, a bibliografia, e, sempre que possível, a introdução, o prefácio, a nota do
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autor, para ver se este está de acordo com o que se objetiva atingir (ou seja, a leitura deve
estar previamente planejada, deve seguir objetivos previamente definidos). Professores,
colegas e pessoas que já tenham tido contato com a área de conhecimento da qual a obra trata
podem ajudar a tirar dúvidas quando se está selecionando a bibliografia a ser lida.
Uma vez que se tenha selecionado o que será lido, o passo seguinte se refere à seleção
de um local para a leitura. A grande maioria das pessoas necessita de ambiente bem
iluminado, arejado e silencioso para uma leitura proveitosa. Manter distância de fontes de
ruído é essencial para não prejudicar a concentração do leitor. Ergonomicamente falando, está
demonstrado que a fonte de iluminação, no caso de luz artificial, deve estar à esquerda do
leitor. Uma cadeira ou poltrona confortável é fundamental, sobretudo nos casos em que a
pessoa irá passar muito tempo lendo; não obstante, é recomendável interromper
periodicamente a leitura para “esticar as pernas” e descansar os olhos, reduzindo o esforço no
processo.
Alguns outros acessórios são importantes para uma leitura proveitosa: um dicionário
de fácil manuseio deve estar disponível para dirimir dúvidas em relação ao significado das
palavras do autor, e um bloco de papel com lápis ou caneta é de grande utilidade para destacar
aspectos fundamentais do texto, dúvidas e pontos que mereçam maior desenvolvimento em
leituras posteriores.
2.1.2 A ideia principal
Um aspecto central no processo de leitura está na captação da ideia principal ou
central de cada parágrafo. Cada texto escrito, qualquer que seja sua dimensão, destaca Ruiz
(1995), possui uma ideia central, fundamental para sua compreensão. O bom leitor, ao ler,
concentra-se em captar a ideia central do texto, procurando unidades de pensamento e
ideias em cada parágrafo (RUIZ, 1995). Como reconhecer essa ideia central? Uma vez que o
leitor tenha encontrado uma ideia importante em um parágrafo, ele deve memorizá-la ou
anotá-la, e continuar o processo de leitura com ela em mente, procurando desenvolver a
argumentação do autor a partir dessa ideia, distinguindo, dentro dessa argumentação, o
principal do secundário. Normalmente, a ideia central exige maior esforço do autor em termos
de prová-la e demonstrá-la, levando-o a incluir exemplos, analogias e fatos que a expliquem,
que a sustentem, que a demonstrem, pois a ideia central, de uma forma grosseira, é a
mensagem que o autor deseja passar.
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2.1.3 Os diferentes tipos de leitura
Lakatos, Marconi (2001) apresentam uma classificação dos tipos de leitura baseada
nos objetivos do leitor, organizada em termos de profundidade:
a) Scanning: é uma leitura rápida, de procura de algum tópico ou assunto, lendo-se o índice,
algumas linhas ou alguns parágrafos do texto, em busca de frases ou palavras-chave.
Trata-se de leitura de contato inicial com a obra;
b) Skimming: é uma leitura que objetiva captar a tendência geral de pensamento do autor do
texto, usando-se sobretudo os títulos e subtítulos nos quais o texto se divide, mas também
alguns parágrafos, de modo a permitir a compreensão da tendência do trabalho ou a
metodologia com o qual ele foi construído;
c) Leitura de significado: procura dar uma visão ampla do conteúdo, desprezando aspectos
secundários. O leitor normalmente percorre uma única vez o texto, não voltando para
aprofundar sua compreensão;
d) Leitura de estudo ou leitura informativa: seu objetivo é dar uma visão completa do
conteúdo do texto, exigindo normalmente mais de uma leitura do mesmo texto, a sublinha
e o destaque de trechos ou palavras-chave do texto, e o resumo;
e) Leitura crítica: como o tipo mais profundo de leitura, pretende formar um ponto de vista
sobre o texto, comparando o que o autor escreveu com conhecimentos anteriores,
avaliando a qualidade, correção, atualidade e fidedignidade dos dados apresentados por
este e a solidez da argumentação. Neste caso específico, o processo de leitura exige, para
ser bem-sucedido, sólido conhecimento do assunto por parte do leitor.
Estes dois últimos tipos de leitura são os que mais recompensam o leitor em termos de
conhecimentos, mas também são os mais trabalhosos. É praticamente impossível, mesmo para
o leitor treinado, captar adequadamente as ideias centrais e a mensagem do autor em uma só
leitura. Por isso o processo de leitura se divide em fases.
2.1.4 Fases da leitura
Lakatos e Marconi (2001) apresentam diversas fases diferentes para o processo de
leitura, que podem ser sintetizadas como se segue:
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a) Leitura de reconhecimento ou leitura prévia: é uma leitura rápida, que visa dar um contato
inicial com o texto, para determinar se os conhecimentos que se procura estão sendo
abordados no mesmo. Lê-se normalmente o índice, os títulos e subtítulos do texto;
b) Leitura exploratória: busca sondar as informações disponíveis no texto. Já se determinou a
existência, neste, do conhecimento que se pretende buscar, mas é preciso definir se de fato
o texto aborda os aspectos específicos que se procura. Lê-se normalmente a folha de rosto,
a contracapa e as “orelhas” do livro, a bibliografia e as notas de rodapé do texto e, mais
importante, a introdução ou o prefácio do texto;
c) Leitura seletiva: visa selecionar as informações mais importantes do texto, relacionadas
com o problema que se está estudando. Busca-se eliminar o supérfluo no texto, como
subitens e outras subdivisões que não abordem o assunto;
d) Leitura reflexiva: nesta fase, busca-se frases-chave e ideias centrais que determinem o que
o autor pensa sobre o assunto, e porque faz determinadas afirmações. É uma leitura mais
profunda do que todas as anteriores;
e) Leitura crítica: avalia as informações prestadas pelo autor, hierarquizando as ideias que
este desenvolve de maneira a determinar suas intenções ao escrever o texto. Nesta fase, o
leitor primeiro compreende o que o autor quis transmitir, e depois modifica ou ratifica
suas próprias ideias e argumentos sobre o texto;
f) Leitura interpretativa: procura relacionar as afirmações do autor com os problemas para os
quais o leitor está procurando uma solução através da leitura. É um estudo mais profundo
das ideias desenvolvidas no texto, buscando a associação de ideias na solução dos
problemas que motivaram a leitura;
g) Leitura explicativa: a mais profunda de todas, procura verificar os fundamentos de
verdade usados pelo autor.
Portanto, o processo de leitura engloba mais de uma leitura. As fases iniciais (“a” e
“b”) normalmente são cumpridas numa só leitura do texto, mas as demais exigem mais
leituras. O importante, aqui, não é o número de vezes que o texto será lido, e sim quanto de
conhecimento será gerado pelo processo de leitura. Esse conhecimento pode ser gerado por
apenas duas leituras, no caso de leitores metódicos e experimentados, que possuem bom
conhecimento do assunto tratado pelo autor. Entretanto, dependendo do leitor, leituras
adicionais deverão ser empreendidas. Dessa maneira, é fundamental que o leitor disponha de
tempo suficiente para a leitura antes de empreender o processo completo de leitura, ou seus
objetivos serão prejudicados.
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Evidentemente, antes de iniciar o processo de leitura, o leitor deve ter estabelecido
objetivos em relação à leitura, de modo que possa determinar quais textos devem ser lidos
com maior profundidade. Isto, entretanto, será trabalhado com maior profundidade quando se
tratar da pesquisa bibliográfica, na qual o planejamento prévio desempenha um papel central
no delineamento.
2.1.5 Como sublinhar um texto
Sublinhar um texto é uma das melhores formas de captar seu conteúdo, pois permite
identificar melhor as ideias principais de cada parágrafo, destacando-as para leituras
posteriores, além de aumentar a concentração do leitor. Sublinhar, de acordo com Ruiz
(1995), exige alguns cuidados:
a) Não se deve sublinhar em demasia, somente as ideias principais e os aspectos mais
importantes do texto;
b) Não se deve sublinhar após a primeira leitura, pois esta somente fornece um contato
inicial com o texto, e dificilmente permite uma seleção eficaz dos detalhes mais
importantes do texto;
c) A parte sublinhada deve dar a possibiliade de reconstituir todo o parágrafo;
d) O texto sublinhado deve permitir uma leitura rapidíssima do texto, como um telegrama vai daí que a sublinha não precisa ser contínua, ou seja, não é preciso sublinhar todo um
período para se captar o que ele quer dizer, mas apenas duas ou três palavras ou
expressões do texto, que possam ser concatenadas posteriormente;
e) Deve-se sublinhar com dois traços as palavras-chave da ideia central do texto, e com um
só traço detalhes e pormenores importantes do texto, associados àquela ideia;
f) As passagens mais significativas do texto devem ser destacadas com linha vertical à
margem do texto;
g) Dúvidas e pontos de discordância devem ser assinaladas com um ponto de interrogação.
Naturalmente, determinar o que sublinhar, e o quanto sublinhar é um aspecto essencial
para o processo eficiente de sublinha; somente a prática pode conduzir à perfeição neste item,
pois sublinhas em demasia tornam monótona e demorada a leitura, enquanto que poucas
dificultarão a compreensão do texto. O trabalho, entretanto, é compensador: textos
adequadamente sublinhados são lidos mais rapidamente quando há a necessidade de leituras
adicionais, de rememorização das ideias tratadas, e de compreensão mais profunda do que o
autor desejava passar com o texto.
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2.2 ESQUEMAS, RESUMOS E FICHAS DE LEITURA
Uma técnica que normalmente dá bons resultados em termos de maior aproveitamento
da leitura consiste em fazer anotações sobre o texto, na forma de esquemas, fichas e resumos.
Algumas dicas são importantes para facilitar o trabalho.
O esquema é o processo mais simples de trabalhar o conteúdo de um texto. Consiste
em condensar as ideias expressadas pelas frases do texto em palavras-chave, as ideias de um
parágrafo em uma frase-mestra que transmita a ideia principal do mesmo, e finalmente, a
sucessão das ideias desenvolvido no texto como um todo por meio de parágrafos-chave. O
processo exige o encadeamento lógico das diferentes ideias, de modo que se possa ter uma
compreensão do texto como um todo. Nas palavras de Lakatos e Marconi (2001, p. 25), “a
elaboração de um esquema fundamenta-se na hierarquia das palavras, frase e parágrafoschave que, destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as ideias
sucessivas para evidenciar o raciocínio desenvolvido.”
De acordo com Ruiz (1994), a elaboração de um esquema obedece a algumas regras:
a) É preciso ser fiel ao texto, evitando encaixar as ideias deste nos próprios pensamentos e
conhecimentos;
b) Deve-se usar os títulos e subtítulos do texto como guias para apreensão do tema
trabalhado pelo autor;
c) Clareza, simplicidade e critério na distribuição das ideias são essenciais para se manter
fidelidade ao texto;
d) Deve-se encadear e subordinar as ideias trabalhadas pelo autor, em vez de simplesmente
reuni-las;
e) Deve-se ter um sistema uniforme de observações, gráficos ou símbolos para dividir o
texto e subordinar as ideias umas às outras.
Os resumos exigem um esforço maior por parte do leitor, condensando o texto de
modo a reduzi-lo aos seus elementos mais importantes. Ao contrário do esquema, o resumo
deve formar um texto completo, redigindo cada parágrafo de modo a garantir a compreensão
do texto original, desobrigando o leitor de voltar a este quando precisar do conteúdo do
mesmo. É possível também incluir no resumo uma apreciação crítica do texto, a partir de um
posicionamento assumido pelo autor (RUIZ, 1994).
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Um resumo é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto por parte do
leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ, 1994). Algumas
regras, de acordo com Ruiz, são importantes:
a) Deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e
depois de fazer anotações sobre o mesmo;
b) Um resumo deve ser breve e compreensível;
c) O autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do
texto, pois estas devem transmitir as ideias deste;
d) Toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a
referência bibliográfica completa da mesma;
e) Pode-se incluir, ao final do resumo, ideias integradoras, referências bibliográficas
adicionais e posicionamentos críticos a respeito do texto.
Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os
resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de
fidelidade em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias
palavras do estudante, mas precisa se manter fiel às ideias do autor do texto original. De
qualqeur forma, o resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado,
expondo-o de modo a permitir uma rápida consulta e a rememorização do assunto
(LAKATOS; MARCONI, 2001).
Os resumos são de três tipos básicos:
a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência
às partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito,
valendo-se de frases curtas para indicar elementos importantes deste;
b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais
informações do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o
assunto do texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados
e conclusões a que o autor chegou;
c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto.
Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário
absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado
tanto do estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em
diversas fontes diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar
conteúdos), quanto daquele que apenas deseja maior compreensão de um determinado
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assunto. Subseqüentemente, este trabalho abordará os resumos enquanto trabalhos
acadêmicos.
Finalmente, as fichas consistem num sistema de apresentação de conteúdo do material
escrito, permitindo identificar uma obra, conhecer e analisar seu conteúdo, apresentar citações
importantes, e elaborar críticas ao texto (LAKATOS; MARCONI, 2001). As fichas seguem
regras básicas para sua apresentação: toda ficha possui três componentes, o cabeçalho, a
referência bibliográfica e o corpo ou texto, sendo opcional incluir a indicação da obra (ou
seja, a que tipo de público ela se destina) e sua localização (LAKATOS; MARCONI, 2001).
O cabeçalho identifica a ficha, apresentando-lhe o título, o número de classificação e,
no caso de o conteúdo se estender por mais de uma ficha, a letra indicativa de seqüência
(LAKATOS; MARCONI, 2001). Em seguida, a ficha deve apresentar a referência
bibliográfica, que deve ser elaborada de acordo com a norma da ABNT (6023: 2002). Já o
corpo ou texto deve ser elaborado de acordo com o tipo de ficha. A classificação das fichas é
definida por sua finalidade; assim, as fichas se classificam em bibliográficas (de obra inteira
ou parte), de citações, de resumo ou conteúdo, de esboço, e de comentário ou analítica
(LAKATOS; MARCONI, 2001).
As fichas bibliográficas abordam, de maneira sucinta e breve, os principais elementos
da obra fichada, definindo-lhes o campo do saber, a problemática abordada, as conclusões às
quais o autor chegou, as contribuições que este possa ter dado, as fontes dos dados, a
metodologia utilizada, entre outros. As fichas de citações reproduzem fielmente citações
relevantes para o estudo empreendido. As fichas de resumo sintetizam clara e concisamente
as principais ideias ou aspectos da obra. As fichas de esboço são semelhantes às de resumo,
mas detalham com maior profundidade a obra estudada. Por fim, as fichas de comentário
analisam a obra, abordando aspectos como a forma e a metodologia de exposição, fazendo
análises críticas do conteúdo e/ou a comparação da obra com outras do mesmo tema, e
explicando a importância da obra para o estudo que está sendo empreendido (LAKATOS;
MARCONI, 2001).
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3 CONHECIMENTO E CIÊNCIA
3.1 CONHECIMENTO
3.1.1 Conceito
Etimologicamente, a palavra “conhecimento” deriva do latim cognitio (o termo grego
correspondente é ghnosis). Segundo Nicola Abbagnano (1992), conhecimento é a técnica para
comprovação de um objeto (seja ele uma entidade, um fato, uma coisa, uma realidade ou uma
propriedade); o termo “comprovação” deve ser entendido como um procedimento que
possibilita a descrição, o cálculo ou a previsão do objeto. É preciso mencionar,
adicionalmente, que essa comprovação não é infalível.
Neste sentido, não se deve confundir o conhecimento com a crença: esta deve ser
entendida como o empenho de colocar uma verdade qualquer, mesmo que ela não seja
comprovável; ademais, o verdadeiro conhecimento atinge as causas da coisa. O conhecimento
é um processo mais complexo do que a crença, como será visto na próxima seção, aonde
serão descritos os elementos do processo cognitivo.
3.1.2 Elementos
O processo de conhecer alguma coisa ou fenômeno envolve necessariamente três
elementos, a saber: o sujeito, isto é, o cognoscente ou aquele que conhece, o objeto, ou seja,
aquilo que deve ser conhecido, e a imagem, que vem a ser o ponto de coincidência entre o
sujeito e a realidade; o conhecimento vem a ser uma transferência das propriedades do objeto
para o sujeito. Felix Kaufmann (1977) frisa: a imagem não é uma cópia fiel da realidade. A
figura a seguir auxiliará no entendimento:
Figura 1- Os elementos do processo de conhecimento
SUJEITO
OBJETO
IMAGEM
Fonte: Autores.
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Toda operação cognitiva se dirige do sujeito para o objeto e tende a efetuar uma
relação com esse objeto, de forma que surja uma característica efetiva deste na mente do
sujeito. Dessa maneira, como dizem os filósofos, todo conhecimento é uma apropriação do
mundo objetivo por parte do sujeito cognoscente. A percepção desempenha um papel
fundamental no conhecimento.
Embora todos os seres vivos sejam capazes de possuir alguma forma de conhecimento,
somente o ser humano é capaz de transcender o conhecimento fornecido pelos sentidos: o
conhecimento humano é intelectual, ou seja, o homem é capaz de conhecer as realidades
materiais não somente na sua singularidade, mas vai além disso, pois ele pode comparar,
analisar e fazer relações entre os objetos. Uma pedra é a mesma coisa para qualquer animal,
mas somente ao homem ela pode ser considerada preciosa; uma planta é percebida pelos
animais herbívoros como comida, e pelo homem como: comida, como remédio, como
decoração, etc.; um pedaço de carne é identificado como tal por um cachorro ou um gato, mas
somente para um ser humano ele tem forma triangular ou retangular.
3.1.3 Tipos de conhecimento
A tipologia de conhecimentos que será explicada nesta seção é fornecida por João
Álvaro Ruiz em seu livro “Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos” (1995);
os estudantes que desejem se aprofundar nessa tipologia, especialmente no que tange à
diferença entre as diferentes formas e o conhecimento científico devem consultar o capítulo 4
dessa obra.
O primeiro tipo que se pretende descrever é o chamado conhecimento vulgar. Este é
uma forma empírica de conhecer as coisas, baseada nas experiências e vivências de cada
pessoa, que é capaz de atingir os fatos mas não de discutir-lhes as causas. Toda pessoa
acumula imensa carga de conhecimento vulgar ao longo de sua vida; as experiências vividas
são acumuladas pelas pessoas de forma acrítica e ametódica, isto é, sem a realização de
análises, de críticas ou de demonstrações sobre os objetos conhecidos.
O conhecimento vulgar forma a maior parte da carga de conhecimentos de cada um,
sendo capaz de fornecer aos homens algumas certezas; entretanto, não concede nenhuma
demonstração ou prova dessas certezas. Para exemplificar o tipo de conhecimento vulgar,
pode-se mencionar o fato de que, por experiência própria ou transmitida pelos parentes e
amigos, todas as pessoas sabem receitas caseiras de remédios para algumas doenças;
entretanto, não sabem explicar o porquê dessas receitas funcionarem, nem tampouco a forma
15
pela qual elas fazem efeito. Um cientista procederia à análise das receitas, buscando
identificar as razões pelas quais elas curam as doenças a que se destinam, bem como a forma
pela qual ocorre essa cura.
O segundo tipo é chamado conhecimento intuitivo. Ruiz (1995) observa que a
intuição é uma forma de conhecimento que, pela sua característica de atingir o objeto sem
“meio” ou intermediários de comparação, assemelha-se ao fenômeno do conhecimento
sensorial, em particular da visão; Abbagnano reforça essa ideia mencionando que a intuição é
uma relação direta com um objeto qualquer, relação esta que implica a presença do objeto.
Como forma de conhecimento, o tipo intuitivo é imediato, subjetivo, e se reduz a um
único ato de experiência. Laville e Dionne (1999) associam o conhecimento intuitivo ao senso
comum, observando que ele representa uma primeira compreensão do objeto, e denunciando
como ele pode ser enganador. O conhecimento intuitivo não pode aspirar à validade do
conhecimento científico (que é objetivo), pois suas conclusões não têm validade geral. Há
duas formas de conhecimento intuitivo, a saber:
a) Sensorial: conhecimento obtido por meio dos sentidos;
b) Intelectual: conhecimento obtido por meio de determinados princípios lógicos (“nada
pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto”), éticos (“faça o bem, evite o
mal”) e estéticos (conceito do belo ou esteticamente agradável).
O terceiro tipo é o conhecimento teológico, o qual pressupõe a existência de uma
autoridade divina, suprema e soberana acima dos homens. Exige também a fé, e se baseia na
revelação divina; os livros sagrados, revelados por Deus aos homens são as fontes dos
conhecimentos divinos. Para o fiel, o conhecimento teológico é superior ao científico, pois se
origina diretamente de Deus e é atingível pelo homem por meio da revelação. A fé é, dessa
forma, o conhecimento supremo para o ser humano. A crença não deve ser confundida com o
conhecimento teológico, pois este apresenta fundamento definido.
O objeto do conhecimento teológico é (ou pode ser) o mesmo do científico, mas ele se
pauta por princípios diferentes: em primeiro lugar, o cientista se vale dos sentidos e de sua
razão para conhecer, ao passo que o teólogo utiliza a razão iluminada, ou seja, esclarecida por
Deus; em segundo lugar, o cientista se fundamenta no conhecimento dos fatos e das
experiências, enquanto que o teólogo se baseia na Revelação. Dessa maneira, enquanto o
teólogo sustenta que o mundo é uma criação de Deus - pois assim está escrito nos livros
sagrados - o cientista se esforça por explicar as leis físicas que deram origem ao mundo.
O quarto tipo é o conhecimento filosófico. A filosofia já foi definida das mais
diferentes maneiras, mas pode-se ficar com a conceituação de Platão, na qual ela é o “saber a
16
serviço do homem.” (apud ABBAGNANO, 1992). “Filósofo” é uma palavra grega cunhada
por Pitágoras como um substituto para a denominação “sábio”: segundo esse pensador, apenas
os deuses são sábios; os homens são apenas amigos (philos) da sabedoria (sophoi).
O conhecimento filosófico objetiva as ideias, as relações conceituais e as causas mais
remotas do objeto; embora ela tenha o mesmo objeto material das ciências particulares, estas
não podem se pronunciar sobre as finalidades supremas de tal objeto, ao passo que a filosofia,
sim (RUIZ, 1994). Num exemplo simples, o cientista estuda os mecanismos da vida humana,
ao passo que o filósofo indaga o porquê do homem estar vivo; o cientista estuda o papel do
cérebro no conhecimento, enquanto que o filósofo se concentra nos mecanismos utilizados
pela mente para o raciocínio, e assim por diante.
A filosofia se vale do método racional e dedutivo para conhecer; esse método não
necessita da confirmação empírica, e sim de coerência. Além disso, a filosofia busca a síntese
e o todo, enquanto que a ciência é analítica e procura a parte, o fragmento, a particularidade.
Devido a isso, não existe nenhuma verdade definitiva em filosofia: ela faz perguntas, fornece
respostas, mas não aspira a alcançar respostas supremas ou absolutamente corretas. A ciência,
em contraste, faz perguntas e oferece respostas, algumas das quais podem ser aceitas como
perfeitamente verdadeiras (pelo menos no estágio atual de seu desenvolvimento).
Finalmente,
deve-se
introduzir
o
conhecimento
científico.
Tal
como
o
compreendemos, ele é uma conquista recente, podendo ser datado na Revolução Galileana do
século XVII; isso não quer dizer que não existisse ciência antes de Galileu, e sim que as bases
modernas da ciência foram estabelecidas a partir do cientista italiano. O conhecimento
científico aspira à objetividade, pois o cientista deve se despir de suas emoções e
preconceitos, de forma que suas experiências possam ser repetidas e suas conclusões,
verificadas por seus colegas. Além disso, o cientista se vale de uma linguagem rigorosa que é
de conhecimento dos outros cientistas. O conhecimento científico se caracteriza ainda, por ser
sistemático, metódico, preciso, e por estudar fatos abstratos, isolados do todo aonde se
inserem.
O cientista está interessado em descobrir regularidades que lhe permitam enunciar
generalidades sobre os fenômenos na forma de leis; assim, ele busca descobrir relações
universais e necessárias sobre os fenômenos estudados e, ao encontrá-las, prever
acontecimentos e agir sobre a natureza. Evidentemente, nada disso será atingido se não for
possível repetir as experiências que levaram ao descobrimento das leis; como Alan F.
Chalmers colocou, “o conhecimento científico é conhecimento confiável porque é
conhecimento provado objetivamente.” (CHALMERS, 1995, p. 23).
17
3.2 CIÊNCIA
3.2.1 Conceito
Etimologicamente, a palavra “ciência” deriva do termo latino scientia, cujo sentido
original é “conhecimento”; o termo grego, epistheme, vem sendo modernamente utilizado no
sentido de “epistemologia”, teoria do conhecimento. Portanto, o que se originalmente
utilizava para definir todo o conhecimento humano, atualmente deve ser considerado somente
como uma das formas possíveis de se conhecer.
Não existe um conceito universalmente aceito de ciência. Na verdade, esse conceito
não somente mudou ao longo dos séculos, como ainda foi profundamente influenciado pelas
tradições de pesquisa e de conhecimento adotadas. A lista que se segue não pretende ser
exaustiva, e sim apresentar uma variedade de concepções diferentes sobre o assunto:
Nicola Abbagnano (1992): ciência é um conhecimento que inclui, em qualquer forma ou
medida, uma garantia de sua própria validade. Oposto à ela é o conceito de opinião, que
não possui garantia alguma de validade;
Rubem Alves (1987): a ciência é uma especialização: ela consiste num refinamento de
potenciais comuns a todos e na hipertrofia de capacidades que todos têm. Neste sentido,
ela pode ser considerada uma metamorfose do senso comum, já que ambos (ciência e
senso comum) são expressões da mesma necessidade de compreender o mundo com o
intuito de melhor viver. Ambos estão em busca de ordem, ainda que possuam visões
diferentes do que é ordem;
Roy Bhaskar (1975 apud MAY, 2004): a ciência é uma tentativa sistemática de pensar as
estruturas e ações das coisas que existem e agem independentemente do pensamento;
Alan F. Chalmers (1995): a ciência é objetiva. Não existe uma categoria geral chamada
“ciência”, em relação à qual alguma área de conhecimento pode ser aclamada como tal ou
difamada por não sê-la;
Antonio Carlos Gil (1995): a ciência é uma forma de conhecimento, e seu objetivo é a
formulação, através de linguagem rigorosa e adequada (quando possível, com o uso da
linguagem matemática), de leis que regem o comportamento dos fenômenos, leis estas que
sejam capazes de descrever séries de fenômenos, comprováveis por meio de
experimentação e observação e capazes de prever acontecimentos futuros;
18
William J. Goode (1979): a ciência é um método de abordagem de todo o mundo empírico
(sendo este o mundo suscetível de ser experimentado pelo homem). Não visa alcançar a
verdade última, e sim analisar os fenômenos de forma que os cientistas possam apresentar
proposições sob a forma de “se..., então...”;
Fred N. Kerlinger (1977): a ciência é um empreendimento preocupado exclusivamente
com o conhecimento e a compreensão dos fenômenos naturais. Os cientistas desejam
conhecer e compreender as coisas, de forma que possam afirmar: “se fizermos isto aqui,
acontecerá aquilo ali”;
João Álvaro Ruiz (1995): a palavra “ciência” pode ser entendida de duas maneiras: num
sentido AMPLO, ela significa simplesmente conhecimento; num sentido RESTRITO,
trata-se de um conhecimento que não apenas apreende ou registra fatos, mas também os
demonstra pelas suas causas determinadas ou constitutivas.
3.2.2 Características da ciência
O tipo de conhecimento que a ciência fornece ao ser humano é, como visto na seção
anterior, muito diferente dos demais que o ser humano pode alcançar. Dessa maneira, a
ciência possui diversas peculiaridades, que Antonio Carlos Gil (1995) formulou da seguinte
maneira:
a) A ciência é objetiva, no sentido de que descreve a realidade independentemente dos
caprichos, valores e preconceitos do observador;
b) É racional, uma vez que se vale da razão, e não de sensações ou impressões, para chegar
aos resultados;
c) É sistemática, já que procura construir sistemas de ideias racionalmente organizadas e em
incluir conhecimentos parciais em totalidades cada vez maiores;
d) É geral, posto que busca formular leis e normas que expliquem fenômenos de todos os
tipos;
e) É verificável, dado que possibilita a demonstração da veracidade de suas informações;
f) É falível, porque reconhece sua capacidade de errar.
A objetividade (a característica apresentada na letra “a” acima) é freqüentemente
considerada como uma das características centrais da ciência, um dos critérios que devem ser
satisfeitos para que se possa falar em conhecimento científico. Bernstein (apud MAY, 2004) a
define como uma convicção fundamental: existe uma estrutura permanente, independente da
História, que permite determinar a racionalidade, a correção, a realidade, a verdade ou a
19
bondade. Assim, a objetividade seria uma base de conhecimento à qual se pode apelar em
caso de dúvida, fornecendo uma medida das afirmações feitas pelo cientista.
Como uma complementação, de acordo com Ruiz (1995), a ciência se caracteriza por
ser um conhecimento pelas causas (demonstra os porquês de determinado enunciado), por
ser capaz de conhecer profundamente os fenômenos, por generalizar suas conclusões, por
ter uma finalidade teórica (aumentar o conhecimento) e uma prática (melhorar as condições
de vida do ser humano), por possuir um objeto formal (entendido como a forma pela qual ela
atinge o objeto material), por empregar método na busca do conhecimento, por operar sob
condições de controle rigoroso, por alcançar um resultado final exato e por ser uma
instituição social. Das características levantadas por Ruiz é importante, sobretudo o fato de
que a ciência é uma instituição social (ou seja, a ciência é produzida em um grupo social, para
uso desse grupo e deve ser validada por ele); esse aspecto fica muito mais visível nas ciências
sociais, como será visto.
3.2.3 Divisão da ciência
Abbagnano (1992) e Gil (1995) destacam: ao longo da história, a ciência foi objeto de
uma grande quantidade de divisões diferentes, nenhuma das quais pode ser considerada
inteiramente satisfatória, ou ao menos universalmente aceita pelos estudiosos. Uma vez que
não é possível apresentá-las todas, serão colocadas algumas tentativas.
Abbagnano (1992) coloca, entre as divisões mais conhecidas, a de Ampère, que se
baseou sobretudo nas teorias dos filósofos gregos (entre eles Platão e Aristóteles), e reconhece
as ciências noológicas (ou do espírito) e as cosmológicas (ou da natureza), e a de Comte, que
classifica as ciências em abstratas (que buscam descobrir as leis que regulam os fenômenos)
e concretas (ciências descritivas que buscam aplicar as leis à história dos seres existentes).
Durante o século XIX, Wilhelm Dilthey (conhecido filósofo alemão) complementou a divisão
de Ampère ao estabelecer que as ciências noológicas tentam compreender um objeto (o
homem) e revivê-lo internamente, enquanto que as cosmológicas buscam conhecer
causalmente um objeto externo.
Mas é a divisão de Comte que se tornou mais conhecida e serve de base para a que
será utilizada ao longo desta disciplina, que reconhece as ciências formais (como a
matemática e a lógica formal), que tratam de entidades ideais e suas relações, e as empíricas,
que tratam de fatos e processos. As ciências empíricas podem ser subdivididas em dois
grandes grupos, as naturais (como a física, a química, a biologia e a astronomia) e as sociais
20
(como a sociologia, a história, a antropologia, a economia e a ciência política). A psicologia é
um caso à parte: ainda que muitos a coloquem no plano das ciências naturais, ela deve ser
considerada como uma ciência social, ainda que se reconheça que seja quase fronteiriça às
duas subclasses. A figura a seguir auxiliará na visualização:
Figura 2- Divisão das ciências
CIÊNCIAS FORMAIS
CIÊNCIAS EMPÍRICAS
Naturais
(FACTUAIS)
Sociais
Fonte: Autores.
Existe amarga controvérsia a respeito da divisão entre ciências naturais e sociais;
desde os tempos de Comte, as ciências sociais têm sido pressionadas na busca de uma
aproximação às naturais. Há dois motivos para essa controvérsia: em primeiro lugar, as
ciências naturais conseguem maiores neutralidade e objetividade que as sociais. Além disso,
ainda permitem maior campo de experimentação e são mais facilmente transformadas em leis
de alcance geral; essas considerações levam muitos autores a desprezar o caráter científico das
ciências sociais, negando-lhes o status de ciências. Dentro de tal debate, são reconhecidos
quatro grupos de críticas às ciências sociais:
Em primeiro lugar, fenômenos humanos e sociais não possuem a ordem e a regularidade
do universo físico e por isso não são previsíveis;
As ciências sociais não são quantificáveis e isso dificulta a comunicação de seus
resultados;
Os pesquisadores sociais trazem suas normas éticas e valores para o campo da pesquisa, e
com isso prejudicam seus resultados;
Por fim, as ciências naturais são experimentais, enquanto que nem sempre as sociais
permitem a experimentação.
Por outro lado, tem-se a reação dos defensores do caráter científico das ciências
sociais, que respondem a essas críticas da seguinte maneira:
21
O determinismo absoluto e as relações causa-efeito das ciências naturais não são livres de
questionamento. Além disso, as ciências sociais permitem fazer previsões probabilísticas;
O objeto de estudo das ciências sociais não é quantificável num sentido emocional, mas a
inteligência, por exemplo, é mensurável. O grau de quantificação das ciências sociais,
entretanto, sempre será menor do que o das naturais;
É muito difícil deixar de lado os valores, mas em problemas técnicos e teóricos eles
podem ser colocados em segundo plano. Os valores não são inteiramente negativos;
Finalmente, o experimento não é de todo indispensável: ciências naturais como a
astronomia não são experimentais. Há muita negligência em relação à capacidade
experimental das ciências sociais.
Dito isto, podem ser apresentadas as características específicas das ciências sociais, as
quais Pedro Demo (1995) formulou da seguinte maneira:
a) As ciências sociais têm objeto histórico, caracterizado pela provisoriedade e pela situação
de estar, não de ser. As ciências naturais possuem objeto cronológico, cuja identidade é
estável;
b) O ser humano possui consciência histórica, ou seja, pode intervir em sua história e
planejá-la a partir da interação de suas ideias com as condições da realidade;
c) Há uma identidade entre sujeito e objeto: o homem não pode conceber uma realidade
social que lhe seja inteiramente alheia;
d) As realidades sociais se manifestam de forma qualitativa, não podendo ser manipuladas
com exatidão. Isso não implica, entretanto, em uma análise frouxa ou pouco rigorosa: a
verdadeira ciência social é construída com procedimentos muito cuidadosos;
e) As ciências sociais são ideológicas, no sentido de que seu objeto é ideológico. A ideologia
deve ser entendida como o modo pelo qual se justifica uma posição política, um interesse
social, privilégios de classe social, etc. A ideologia não pode ser eliminada da ciência
social, por isso o cientista deve controlá-la criticamente, de forma que seus efeitos não
sobrepujem a cientificidade;
f) Quando se estuda uma realidade social, a separação entre teoria e prática não é perfeita.
O cientista social tem um compromisso com a prática mesmo quando se omite, pois é
cidadão e membro de uma sociedade.
Tim May (2004) afirma que as ciências não devem ser consideradas como uma
explicação definitiva a respeito dos fenômenos da vida, que não pode nem deve ser desafiada;
seu papel é “[...] entender e explicar os fenômenos sociais, focalizar a atenção em questões
22
particulares e desafiar crenças convencionais sobre os mundos social e natural.” (MAY, 2004,
p. 22). Mas nem por isso as ciências sociais podem se arrogar a infalibilidade.
3.2.4 Critérios de cientificidade
Existem, de acordo com Demo (1995), dois tipos principais de critérios que medem a
cientificidade de uma proposição ou teoria: os internos (divididos em critérios de forma e de
conteúdo) e o critério externo.
Os critérios internos ligados à forma são:
a) Coerência: uma teoria científica deve ser lógica, de maneira que tudo esteja em seu
devido lugar, de acordo com um planejamento racional, as conclusões não contradigam os
princípios, haja início, meio e fim, e assim por diante. É preciso também que o objeto seja
sistematizado, claro e distinto;
b) Consistência: a obra científica deve possuir profundidade, isto é, basear-se em
argumentos sólidos, ser firme, buscar o âmago do fenômeno, demonstrar conhecimento de
causa e considerar discussões anteriores.
No que tange aos critérios ligados ao conteúdo, deve-se mencionar os seguintes:
a) Originalidade: a teoria deve buscar renovar a ciência através de novas discussões, novas
alternativas de estudo e potencialidades, ou seja, tentando abrir novos caminhos para a sua
discussão;
b) Objetivação: a teoria deve ser científica, captando a realidade como ela se apresenta e
buscando eliminar o máximo possível de ideologia, preconceitos e valores pessoais que
possam atrapalhar a visão do cientista. O conhecimento deve estar isento de todo aspecto
que deturpe a realidade.
Por fim, o critério externo de cientificidade: a intersubjetividade. Como as ciências
possuem um débito para com a sociedade, é preciso levar em consideração a opinião
dominante em cada assunto, obra ou autor. Três fenômenos cercam a intersubjetividade:
I)
O argumento da autoridade: algumas teorias são reconhecidamente importantes e são
usadas como citações;
II) A opinião dominante: há, em cada escola de pensamento, uma linha de opinião que
predomina sobre as demais;
III) Comparação crítica externa: visualização das teorias, escolas e autores, e comparação
entre eles.
23
3.5
A PESQUISA COMO CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A pesquisa é o método de construção do conhecimento científico por excelência.
O papel da teoria não pode ser desprezado na definição da pesquisa científica. Como
nota May (2004, p. 43), “a teoria, junto com a pesquisa, é de central importância nas ciências
sociais.” O mesmo pode ser dito, em verdade, para qualquer tipo de ciência. A teoria auxilia a
produzir hipóteses, a orientar o pesquisador em seus questionamentos, a criticar os resultados
da pesquisa, a evitar erros cometidos anteriormente e denunciado por outros pesquisadores.
Mas a relação entre teoria e pesquisa vai além dessas contribuições: os resultados da pesquisa
submetem a teoria a reavaliações constantes, forçando-a a se reexaminar criticamente à luz
dos resultados obtidos pelos pesquisadores que a testam ou avaliam empiricamente suas
proposições. Nas palavras de May (2004, p. 44, grifos do autor),
[...] existe um relacionamento constante entre a pesquisa e a teoria social. Para nós,
como pesquisadores, a questão não é somente o que produzimos, mas como o
fazemos, pois isso é inseparável do processo da pesquisa. Um entendimento do
relacionamento entre a teoria e a pesquisa é parte desse projeto reflexivo que
focaliza nossas habilidades não apenas para aplicar técnicas de coleta de dados, mas
também para considerar a natureza e os pressupostos do processo de pesquisa.
Assim, a teoria e a pesquisa encontram-se inevitavelmente entrelaçadas no processo de
construção do conhecimento científico. O trabalho de pesquisa coletará dados e construirá
informações que criarão condições para aperfeiçoar, modificar ou refutar as teorias então
aceitas.
Algumas correntes de pensamento defendem o papel transformador da pesquisa
científica, mormente no caso das ciências sociais. Soriano (2004) afirma que a pesquisa em
ciências sociais pode atender a quatro objetivos diferentes:
a) Pesquisas voltadas à mudança estrutural no tecido socioeconômico, a partir das classes
mais necessitadas;
b) Pesquisas meramente especulativas;
c) Pesquisas produzidas conforme os imperativos da produção de bens e serviços por parte
das organizações privadas;
d) Pesquisas voltadas a objetivos econômicos individuais.
Assim, esses pensadores consideram que a pesquisa deva ser feita em termos de
produção de mudança social, e esta, como fica nítida na obra de Soriano (2004), está voltada a
uma ideologia específica (o marxismo). Sem entrar nos méritos desse tipo de exposição, há
que se afirmar que ela introduz uma clivagem qualitativa muito grave nas pesquisas,
desprezando aquelas que não estão direcionadas à “emancipação das classes exploradas”. Se a
24
pesquisa científica fosse produzida inteiramente com essa destinação, então a ciência estaria
comprometida diretamente com um determinado tipo de juízo de valor – o que
necessariamente excluiria da comunidade científica os pesquisadores não comprometidos com
esse valor; e isso é inteiramente contrário ao espírito científico, que deve estar comprometido
não somente com a mudança social, mas com a produção de conhecimento desinteressado (a
favor de Soriano, há que se afirmar que seu manual está voltado para a pesquisa a ser
produzida com fundos públicos).
25
4 O MÉTODO CIENTÍFICO
4.1 FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA
4.1.1 Conceito
“Método” deriva do latim methodus, que significa “caminho”; a palavra, no entanto,
tem origens gregas: meta (através, por meio de) hodos (caminho), donde methodos. O termo
vem sendo utilizado, de acordo com Abbagnano (1992), em dois sentidos: no primeiro, a
palavra significa toda investigação ou orientação de investigação, como uma doutrina; neste
sentido, fala-se de método dialético, método hegeliano ou método experimental. No segundo
sentido, método significa uma técnica particular de investigação, isto é, um procedimento
ordenado de investigação que garante a obtenção de resultados válidos, como no caso do
método silogístico.
O primeiro sentido definido por Abbagnano é o que normalmente se estuda nas
disciplinas de Metodologia de Pesquisa, e pode ser melhor explicitado por Antonio Carlos
Gil: “pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método
científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o
conhecimento.” (GIL, 1995, p. 27). O método é central para a atividade científica, sendo
indispensável para a produção de conhecimento científico; entretanto, é um erro considerá-lo
como um dogma, pois a atitude crítica, não dogmática, é fundamental para a ciência (ALVESMAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).
Nesta disciplina, serão enfocados os métodos normalmente utilizados nas Ciências
Sociais, posto que são aqueles normalmente adotados pelos estudiosos da Administração. Há
muita discussão sobre a adequação do uso dos métodos das ciências exatas ou naturais nas
ciências sociais; alguns defendem que somente o método típico da ciência natural garante
cientificidade ao objeto pesquisado e à teoria resultante da pesquisa, enquanto que outros,
como Kaufmann (1977) defendem exatamente o contrário. Não se entrará nesta discussão
aqui; os interessados poderão consultar Chalmers (todo o livro), Blaug (parte I) e Kaufmann
(parte II) para maior aprofundamento na discussão. Serão vistos os métodos gerais, os
métodos específicos e os quadros teóricos de referência mais comumente utilizados nos
estudos administrativos. Antes de se passar a esses tópicos, é conveniente apresentar algumas
considerações a respeito das formas de raciocínio: indução, dedução e adução.
26
4.1.2 Tipos de raciocínio
O primeiro tipo de raciocínio que será abordado aqui é o indutivo. Este pode ser
facilmente descrito como o raciocínio que vai do particular para o todo, isto é, “[...] que nos
leva de uma lista finita de afirmações singulares para a justificação de uma afirmação
universal.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Há várias formas de indução, das quais apenas a
científica é interessante neste curso, pois ela concede segurança ao cientista.
O conhecimento científico é construído a partir de induções baseadas na observação
dos fenômenos, da seguinte forma: “se um grande número de As foi observado sob uma
ampla variedade de condições, e se todos esses As possuíam sem exceção a propriedade B,
então todos os As têm a propriedade B.” (CHALMERS, 1995, p. 27). Exemplificando: se um
grande número de cisnes observados são brancos, então todos os cisnes são brancos. O
filósofo britânico Karl Popper colocou a posição indutivista numa sinuca, ao afirmar que
bastaria observar um cisne negro para invalidar a cientificidade da proposição baseada na
indução; em outras palavras, o raciocínio indutivo parte do pressuposto de que as observações
de um determinado fenômeno são suficientes para construir a ciência, o que é evidentemente
perigoso. Por outro lado, pode-se afirmar que, com base nas observações dos planetas do
sistema solar e nas leis da Física, qualquer novo planeta a ser observado deve ter órbita
elíptica - o que prova que, em certos casos, a indução ainda é uma forma razoável de fazer
ciência. Na verdade, pode-se dizer que a indução mantém sua validade como uma forma de
criar hipóteses científicas a serem testadas.
O segundo tipo de raciocínio é chamado dedutivo. Este faz o caminho contrário ao
indutivo, ou seja, parte do geral para o particular. O raciocínio dedutivo opera sobretudo a
partir de silogismos, dos quais o exemplo clássico é: “Todos os homens são mortais. Sócrates
é homem. Logo, Sócrates é mortal”. A primeira frase é chamada premissa maior, a segunda,
premissa menor, e a terceira, conclusão; as premissas são estabelecidas indutivamente.
Evidentemente, se as duas primeiras premissas forem verdadeiras, a conclusão forçosamente o
será; dessa forma, o método é muito criticado porque, na verdade, a conclusão não chega a ser
uma nova teoria ou mesmo algo que possa ser considerado uma contribuição significativa à
ciência. De fato, o simples estabelecimento de que Sócrates é mortal em nada acrescenta ao
que já foi definido, ou seja, de que todos os homens são mortais e de que Sócrates é homem.
Entretanto, o raciocínio dedutivo é a base para um método científico: o hipotético-dedutivo.
O método hipotético-dedutivo foi proposto por Karl Popper e outros cientistas como
uma alternativa para os problemas do método indutivo; ambos se fundamentam na observação
27
dos fenômenos mas, enquanto o indutivo permite apenas a generalização empírica de
observações, o hipotético-dedutivo admite a construção de teorias e de leis científicas (GIL,
1995). Popper apontava as dificuldades inerentes à observação como um método de
conhecimento, pois não se pode observar nenhum fenômeno sem uma teoria prévia, ponto de
vista
ou
expectativa
(GEWANDSZNAJDER
apud
ALVES-MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER, 1999). Em seu livro “A conduta na pesquisa” (publicado no Brasil
em 1972), Abraham Kaplan (apud GIL, 1995, p. 30) descreveu o método hipotético-dedutivo da
forma que se segue:
[...] O cientista, através de uma combinação de observação cuidadosa, hábeis
antecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que governam
os fenômenos pelos quais está interessado; daí deduz ele as conseqüências
observáveis; a seguir, verifica essas conseqüências por meio de experimentação e,
dessa maneira, refuta os postulados, substituindo-os, quando necessários, por outros
e assim prossegue.
O método hipotético-dedutivo progride, para usar a expressão do próprio Popper, por
meio de conjecturas (hipóteses) e refutações (uma hipótese deve ser testada, e se falseada,
rejeitada, sendo este o único teste definitivo da mesma: não é possível provar uma hipótese
como verdadeira, mas pode-se provar que seja falsa, e neste caso, deve-se abandoná-la). Este
método é muito apreciado pelos neopositivistas (que chegam a considerá-lo o único método
científico possível), mas sua dependência da experimentação torna-o pouco aplicável às
Ciências Sociais, ainda que Popper defenda justamente o contrário. Ele apresenta um conjunto
de teses em seu texto “A lógica das ciências sociais” para demonstrar que não há conflito
algum entre seu método e as ciências sociais (POPPER, 1978).
O terceiro tipo de raciocínio, muito pouco tratado pelos filósofos e estudiosos da
ciência é a adução. Esta pode ser definida como uma indução não-demonstrativa, isto é, como
a “[...] operação não-lógica que consiste em pular do caos, que é o mundo real, para uma
intuição ou tentativa de conjetura acerca da relação real existente entre o conjunto de
variáveis pertinentes.” (BLAUG, 1993, p. 54). Ainda segundo Blaug, a adução pertence ao
contexto da descoberta: ela é o insight, o eureka do pensador e do cientista, que transcende os
limites da indução baseada na simples observação dos fenômenos. Na lógica formal, um dos
poucos usos da adução é feito pelo filósofo inglês Peirce, para quem a adução é o primeiro
momento do processo indutivo (ABBAGNANO, 1992).
28
4.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS
Dentre os métodos científicos gerais, cujo objetivo é “[...] garantir ao pesquisador a
objetividade necessária ao tratamento dos fatos sociais.” (GIL, 1995, p. 28), destacam-se três:
o positivismo, a dialética (e, dentro dessa denominação geral, os materialismos histórico e
dialético) e a fenomenologia. As características gerais dos três serão vistas a seguir (àqueles
que desejarem se aprofundar no tema, recomenda-se a leitura dos capítulos 2 e 3 do livro de
Augusto Triviños e, sobre o método dialético em particular, o capítulo 6 do livro de Pedro
Demo).
O método positivista é, na opinião de seus defensores, a única forma possível de fazer
ciência. Seu fundador, Auguste Comte, coloca-se tanto entre os pioneiros da Sociologia como
entre os visionários da Filosofia, já que pretendia criar uma nova religião para a humanidade,
baseada na Ciência. O modelo das Ciências Naturais, com sua exatidão, sua neutralidade, seu
empirismo e sua capacidade de previsão de acontecimentos futuros foi tomado por Comte
como o mais adequado para a construção de ciências da sociedade. Evidentemente, o moderno
positivismo é bastante diferente do de Comte, devido às contribuições de pensadores como
Ernest Mach, Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Bertrand Russell, A. J. Ayer, Ludwig
Wittgenstein, entre outros.
Segundo Triviños (1995), a filosofia positivista condena a especulação, exaltando os
fatos. Ainda de acordo com esse autor, doze são as características principais do positivismo, a
saber:
a) Em primeiro lugar, o positivismo despreza a integridade, buscando conhecer o fenômeno
em suas partes isoladas. O mundo deve ser concebido como um amontoado de coisas
separadas;
b) Os fatos são as únicas realidades a serem observadas pelo cientista;
c) Não se deve buscar as causas últimas dos fatos (o que é “metafísico”), e sim as relações
entre eles (ou seja, busca-se conhecer como os fatos se relacionam, e não o porquê dessas
relações);
d) O conhecimento é um fim em si: a ciência deve ser neutra, preocupada com conhecer e
não com a aplicação do conhecimento;
e) Os únicos fatos realmente importantes são aqueles que são objetivamente dados,
atingíveis por meio da experiência. Fatos metafísicos não são dignos do conhecimento
científico;
29
f) Existe um princípio da verificação: tudo aquilo que for empiricamente verificável é
verdadeiro, ou seja, toda afirmação a respeito do mundo deve ser confrontada com o dado
real;
g) Tanto fenômenos naturais quanto sociais devem ser estudados pelo mesmo método;
h) As teorias científicas são formadas pela operacionalização de variáveis, isto é, pela
conceituação de variáveis que significam relações entre os fenômenos;
i) Fisicalismo: todas as ciências devem ser expressas na mesma linguagem, qual seja, a da
Física;
j) O conhecimento a priori, isto é, o conhecimento independente da experiência não existe
(ABBAGNANO, 1992);
k) Fatos e valores são diferentes, e somente os primeiros devem ser objeto de estudo dos
cientistas;
l) Existem apenas dois tipos de conhecimentos autênticos: os empíricos (representados
pelas ciências naturais) e os lógicos (representados pelas ciências formais).
A essas características levantadas por Triviños (1995) devem ser somadas as
seguintes, de acordo com Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996): o observador é
independente do fato observado, e isento de valor; a ciência progride por meio de um
processo hipotético-dedutivo, em que os conceitos são operacionalizados de forma a permitir
sua quantificação; devem ser selecionadas amostras de tamanho grande o suficiente para que
as conclusões possam ser generalizadas (além disso, é necessário comparar variações entre
amostras); por fim, o cientista deve elaborar leis fundamentais que permitam a explicação de
regularidades no comportamento humano.
Como síntese, pode-se destacar as seguintes características como sendo centrais para a
compreensão do positivismo:
a) Empirismo;
b) Objetividade;
c) Experimentação;
d) Validade ou reprodução das experiências;
e) Formulação de leis e de previsões de comportamento dos fenômenos (LAVILLE;
DIONNE, 1999).
Em torno de 1920, o positivismo foi reavaliado pelos pensadores do Círculo de Viena
(Schlick, Carnap, Neurath, entre outros), que buscaram conjugar o empirismo com a lógica
moderna. Esses pensadores defendiam que a Lógica e a Matemática são conhecimentos a
priori, independentes da experiência (em flagrante contraste com o positivismo comtiano que,
30
como visto anteriormente, não admitiam essa possibilidade), e o uso da indução para a
formulação de teorias que poderiam ser experimentadas, sendo aceitas quando verificadas, ou
seja, testadas e confirmadas; após um certo número de repetições, uma teoria seria
considerada indutivamente provada (GEWANDSZNAJDER apud ALVES-MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER, 1999).
Essas concepções positivistas foram muito criticadas pelos diferentes pensadores,
dentre eles Karl Popper (ver o método hipotético-dedutivo na seção anterior) e os da Escola
de Frankfurt (Adorno, Benjamin, Horkheimer, Habermas, entre outros), mas desempenhou
um importante papel no avanço do conhecimento (TRIVIÑOS, 1995).
O segundo método científico a ser estudado é o fenomenológico. A concepção atual
de fenomenologia foi criada por Edmund Husserl (1859-1938), e está ligada a um tipo de
método científico no qual a única coisa que realmente importa é o fenômeno, o dado ou a
coisa que se apresenta diante da consciência do ser humano, sem se importar com o fato do
dado ou fenômeno ser real ou aparente: ele existe e se dá ao conhecimento; além disso, o
método busca exclusivamente mostrar o que é o dado ou fenômeno e esclarecê-lo, sem
formular leis e princípios a seu respeito (GIL, 1995). O fenômeno, portanto, é tudo aquilo que
aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo (MOREIRA, 2002). Não há, entretanto,
objeto de conhecimento sem sujeito cognoscente (TRIVIÑOS, 1995).
Este método opera por meio do que Husserl chamou “redução fenomenológica”, ou
seja, o processo por meio do qual o fenômeno se mostra em sua forma pura, livre dos
elementos pessoais e culturais do observador; dessa forma, pode-se alcançar a essência das
coisas, objetivo máximo da fenomenologia (TRIVIÑOS, 1995), essência que deve ser descrita
(MERLEAU-PONTY apud MOREIRA, 2002), essência que deve ser compreendida como a
forma pela qual o fenômeno aparece diante da consciência (MOREIRA, 2002). A redução, ou
epoqué, funciona da seguinte forma: o indivíduo deve “suspender” suas crenças na tradição e
nas ciências, examinando os conteúdos da consciência como dados, e dessa forma
descrevendo o fenômeno em sua forma mais pura (MOREIRA, 2002). À redução
fenomenológica segue-se a redução eidética, voltada para a intuição da forma de alguma
coisa, separando essa forma de qualquer qualidade acidental; seu funcionamento se dá em três
níveis, dos quais o primeiro consiste na observação de coisas similares na natureza, as quais
são posteriormente agrupadas em características comuns, ou universais empíricos, e, por fim,
dentro da coisa, procura-se uma característica sem a qual não se possa pensá-la – os
universais eidéticos, características necessárias das coisas (MOREIRA, 2002).
31
Para alguns autores, como Easterby-Smith et al. (apud ROESCH, 1996), o uso do
método fenomenológico implica na análise do objeto de conhecimento tomando em
consideração também as diferenças culturais entre os observadores, que levam a formas
diferentes de percepção; tal visão, como observado, não é unânime entre os estudiosos.
Husserl dividia as ciências em ciências de fatos, fundamentadas na experiência sensível, e
ciências eidéticas, que buscam a intuição essencial, às quais se pode aplicar o método
fenomenológico; entretanto, mesmo as ciências de fatos possuem essência, o que significa que
também podem ser estudadas pelo método fenomenológico (GIL, 1995).
Husserl também pressupunha a universalidade do conhecimento: em sua visão, a
essência captada é a mesma para qualquer sujeito cognoscente, ou seja, “[...] o mundo que eu
conheço [...] é o mundo que pode ser conhecido por todos.” (HUSSERL apud TRIVIÑOS,
1995, p. 46). O conhecimento fenomenológico não se preocupa com a historicidade; a busca
da essência de um fenômeno implica em desprezar toda a história por trás dele, o que faz com
que o método seja criticado como conservador, pois o pesquisador que o utiliza está
interessado em captar a realidade para descrevê-la em sua essência, sem qualquer
preocupação de atuar sobre ela (TRIVIÑOS, 1995). Entretanto, o método fenomenológico é
útil para um pesquisador na formulação e definição de problemas, de hipóteses, e dos
conceitos utilizados na fundamentação teórica de suas pesquisas (GIL, 1995).
O terceiro e último método geral a ser apresentado é o dialético. Devido às limitações
de espaço e tempo, não serão tratadas todas as vertentes da dialética, preferindo-se a
concentração na chamada dialética marxista, que vem a ser a mais conhecida e utilizada pelos
cientistas sociais. Segundo Gil (1995), há três formas de encarar a dialética: como uma
filosofia da natureza, como uma lógica de pensamento aplicada ao estudo histórico de
mudanças e conflitos sociais e como um método de investigação da realidade.
Essa terceira faceta da dialética é a que interessa para os objetivos desta disciplina, e
será estudada aqui. Não existe um consenso a respeito do que é a dialética, mas em geral se
admite que o pressuposto central do método seja a admissão de que “[...] toda formação social
é suficientemente contraditória para ser historicamente superável.” (DEMO, 1995, p. 86), isto
é, que a realidade historicamente observável possui, em seu interior, contradições em
diferentes graus (tanto solúveis quanto insolúveis), que podem ser historicamente superáveis;
as contradições insolúveis dentro de uma determinada formação social são solucionadas pela
superação de tal formação por uma nova. Além disso, alguns princípios são, conforme Gil
(1995), comuns a todas as abordagens:
32
Em primeiro lugar, há o princípio da unidade e luta dos contrários, que postula que
todos os fenômenos e objetos de pesquisa possuem aspectos contraditórios,
indissoluvelmente unidos como opostos que se encontram em estado de luta permanente
entre si, de maneira a construir e desenvolver a realidade. Demo (1995) reforça: a unidade
de contrários (cada tese traz em si sua antítese) não significa exclusão pura e
simplesmente, mas convivência, no objeto, desses contrários;
O segundo é o princípio de transformação das mudanças quantitativas e qualitativas.
De acordo com os pesquisadores que trabalham com o método dialético, todos os objetos e
fenômenos possuem características qualitativas e quantitativas, sendo que estas últimas,
em seu processo gradual de mudança, geram mudanças qualitativas, e assim por diante.
Triviños (1995) menciona: todo objeto tem propriedades e características, que podem ser
definidas como suas qualidades, bem como características definidoras de suas dimensões,
volume, peso, grau de desenvolvimento e intensidade de suas propriedades, que definem
seu aspecto quantitativo. Como exemplo, a passagem do capitalismo para o socialismo se
dá por meio de mudanças quantitativas, que levarão a uma nova realidade social,
qualitativamente diferente;
Por fim, tem-se o princípio da negação da negação, que define o desenvolvimento como
uma espiral em que, nos estágios superiores, repetem-se aspectos dos inferiores. Em outras
palavras, o surgimento do novo não implica numa completa desaparição do velho, pois
implica em admitir que “[...] o desenvolvimento tem um caráter contraditório, isto é, que é
possível que em determinadas etapas se repitam, com nova qualidade, fases do fenômeno
que já foram passadas.” (TRIVIÑOS, 1995, p. 73).
Com base nisto, pode-se concluir:
[...] para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seus
aspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões. Fica claro também que
a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto como em constante
mudança: sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que se desagrega e se
transforma. (GIL, 1995, p. 32).
O método dialético opõe-se à quantificação defendida pelos positivistas, trabalhando
sobretudo com os aspectos qualitativos do objeto estudado, de forma que os procedimentos
operacionais e empíricos do positivismo sejam colocados num segundo plano. O método
dialético se apóia numa concepção materialista do mundo, em que se postula que o mundo,
em todos os seus fenômenos e objetos, é material, que a matéria é anterior à consciência (e
que esta, por conseguinte, é determinada por aquela), e que o mundo pode ser conhecido
(TRIVIÑOS, 1995). O método dialético opera por meio de categorias ou conceitos centrais,
33
dos quais a ideia da contradição é o mais importante, e busca a formulação de leis que
reflitam as ligações entre os diferentes aspectos da realidade objetiva (TRIVIÑOS, 1995).
Um interessante exemplo de como os três métodos tratam os problemas de pesquisa
social é fornecido por Triviños (1995). Ele fornece o tema “fracasso escolar”, delimita-o
como “fracasso escolar nas escolas estaduais de 1o grau em Porto Alegre (RS)”, e depois
desenvolve a formulação do problema com base nos três métodos. Assim, o pesquisador
positivista buscaria estabelecer as relações entre o fenômeno “fracasso escolar” e algumas
variáveis hipotéticas, como nível sócio-econômico da família, escolaridade dos pais, local
aonde se situa a escola, sexo dos estudantes, experiência e formação dos professores. Já o
fenomenólogo pesquisaria as causas do fracasso escolar segundo alunos, pais e professores,
bem como o significado do fracasso para essas pessoas. Por fim, o pesquisador que analisasse
o fenômeno por um prisma dialético investigaria os aspectos do fracasso escolar aos níveis
local, regional e nacional, bem como as contradições referentes ao currículo, formação e
desempenho dos professores, e à localização da escola dentro da comunidade.
Um exemplo associado à Administração de empresas: um pesquisador poderia estar
interessado em investigar o fenômeno da motivação. Para o positivista, a motivação deveria
ser definida a partir de seus resultados objetivos, em termos de melhor desempenho no
trabalho ou uma escala de satisfação com o mesmo. A partir disso, a motivação seria
associada a dimensões tais como tempo de serviço, classe social, faixa salarial, estrutura das
recompensas disponíveis na organização, e assim por diante. Já o fenomenológo buscaria as
definições de motivação dos empregados e da direção da organização, buscando determinar
um conceito de motivação que pudesse ser adotado por todos os membros da mesma;
paralelamente, poderia investigar as percepções de motivação em empresas do setor. Um
dialético tentaria identificar as relações entre políticas da empresa e os seus resultados,
identificando contradições entre as pretensões e os resultados obtidos, bem como analisaria as
contradições nas visões da motivação por parte da alta direção e dos empregados.
Os métodos específicos das ciências sociais são voltados para as técnicas a serem
usadas pelos pesquisadores para a realização da pesquisa social, especialmente no que tange à
coleta, análise e validação dos dados. Gil (1995) destaca os seguintes:
a) Método experimental: fundamenta-se na realização de experimentos controlados, em que
os fenômenos estudados são submetidos à influência de certas variáveis, em determinadas
condições conhecidas pelo pesquisador, de forma a observar o resultado produzido pela
ação das variáveis sobre o objeto;
34
b) Método observacional: trata-se simplesmente da observação do fenômeno pelo cientista,
que deve evitar toda e qualquer intervenção na realidade observada;
c) Método comparativo: consiste na investigação e pesquisa de fenômenos, fatos, objetos,
classes sociais ou indivíduos de forma a destacar diferenças e semelhanças entre eles.
Trata-se de método que se tornou muito comum nos estudos políticos e da Administração
Pública nos anos 50 e 60;
d) Método estatístico: caracteriza-se pela aplicação sobretudo da teoria da probabilidade na
pesquisa, de forma a determinar, com razoável precisão, o comportamento dos fenômenos
e objetos estudados;
e) Método clínico: bastante utilizado na psicologia, é baseado numa profunda relação entre o
pesquisador e o pesquisado, que interagem entre si.
35
5 ELEMENTOS DOS TRABALHOS ACADÊMICOS
Os trabalhos acadêmicos possuem uma estrutura padronizada, que abrange elementos
pré-textuais (que consistem em aspectos de apresentação e ordenação dos conteúdos do
trabalho), textuais (o corpo do trabalho propriamente dito) e pós-textuais (elementos de
fechamento do trabalho, considerados importantes para a compreensão dos mesmos).
Os trabalhos acadêmicos, dessa maneira, são apresentados de modo a permitir um
contato inicial com seu conteúdo, que pode despertar ou não no leitor o interesse em
prosseguir a leitura, sendo fechados com elementos que (à exceção das referências
bibliográficas), embora importantes, podem ser dispensados em uma leitura rápida.
Antes de apresentar os elementos do trabalho científico, é conveniente mencionar os
padrões para a formatação dos documentos, de acordo com a Norma Brasileira Reguladora
(NBR) 14724:2002. O papel a ser utilizado para a digitação ou datilografia do texto é o A4.
Recomenda-se usar fonte de tamanho 12 para o texto, e tamanho 10 para citações longas
(destacadas no texto conforme será visto abaixo) e notas de rodapé. Não existe uma fonte
recomendada, mas a Arial e a Times New Roman vêm se popularizando; o importante é que a
fonte seja de fácil visualização. As margens das páginas obedecem ao seguinte padrão:
a) superior: 3 cm;
b) inferior: 2 cm;
c) esquerda: 3 cm;
d) direita: 2 cm.
Quanto à entrelinha, ela deve ser 1,5 para o corpo do texto, à exceção dos resumos,
notas de rodapé, indicações de título e fonte das figuras e das citações longas, destacadas do
texto, em que se deve usar a entrelinha simples. Títulos e subtítulos de seção devem ser
separados do texto precedente e do sucedente por duas entrelinhas de 1,5.
A paginação do documento segue uma regra simples: todas as páginas, a partir da
folha de rosto, devem ser contadas para a numeração em algarismos arábicos. Vale à pena
observar que não se exige mais que os elementos pré-textuais sejam numerados
independentemente dos textuais em algarismos romanos, como foi o padrão até a edição da
NBR 14724:2002. O cuidado que deve ser tomado é que os elementos pré-textuais não devem
apresentar os números de páginas, portanto, estes só serão apresentados no documento a partir
da primeira página dos elementos textuais (a primeira página da Introdução). Os números de
página devem ser colocados no canto superior direito da folha, a 2 cm da borda direita do
papel e a 2 cm da borda superior. Quando há a apresentação de anexos e/ou apêndices, sua
36
numeração deve ser seqüenciada em relação à dos elementos textuais e, na hipótese de o
trabalho abranger mais de um volume, deve-se manter a seqüência da numeração nos volumes
subseqüentes.
Títulos indicativos de seção devem ser numerados progressivamente (por exemplo, 1
para introdução, 1.1 para contextualização do tema, 1.1.1 para justificativa), separando-se o
título da numeração por intermédio de um espaço. As seções primárias devem iniciar uma
nova página. O alinhamento do título segue a margem esquerda. Os títulos de seção que não
recebem numeração como: o resumo, o sumário, as listas de ilustrações e as referências
bibliográficas, devem ser centralizados; todos os demais devem estar alinhados com a
margem esquerda. Quanto ao destaque dos títulos, usa-se maiúscula e negrito para identificar
um título principal (como os capítulos), maiúscula para a seção e maiúsculas e minúsculas
para as subseções.
Notas de rodapé são numeradas seqüencialmente, podendo ter numeração
independente, ou seja, cada novo capítulo “zera” a numeração das notas, ou usando uma única
numeração ao longo de todo o texto. Elas devem ser digitadas dentro das margens, em fonte
de tamanho menor (10 é o recomendável), em entrelinha simples, e com um filete de 3 cm a
partir da margem esquerda separando-as do texto.
As ilustrações de quaisquer tipos devem ser numeradas sequencialmente em
algarismos arábicos, com o título precedido pela palavra Figura e sua respectiva numeração e
legenda (acima da figura), e a indicação da fonte da fonte deve ser colocado imediatamente
abaixo da figura, com entrelinhas simples (ver página 22). A ABNT recomenda que todo tipo
de ilustração deve ser colocado o mais próximo possível do texto a que se refere, ficando a
critério do autor o projeto gráfico; isso significa, entre outras coisas, que não há uma
exigência em termos de separação da figura do resto do texto.
Tabelas são elementos sintéticos de demonstração de ideias ou conteúdos necessários
para a compreensão do trabalho. As informações nas tabelas, de acordo com a NBR
14724:2002, são tratadas estatisticamente. A apresentação das tabelas segue algumas regras:
a) a numeração das tabelas é consecutiva;
b) cada tabela é precedida pela expressão Tabela, seu número de ordem, em algarismos
arábicos, e pelo título (exemplo: Tabela 1- Média do tempo de serviço na empresa, por
setor);
c) fontes citadas na construção da tabela e notas explicativas aparecem abaixo da mesma,
após o traço horizontal de fechamento;
37
d) tabelas retiradas de outros documentos devem trazer a menção do autor, devendo ser
obtida a autorização deste para sua apresentação;
e) a tabela deve ser inserida o mais próximo possível do texto a que se refere;
f) na hipótese de a tabela não caber numa só folha, pode-se continuar a apresentação da
mesma em outra folha, tomando-se o cuidado de não colocar traço horizontal de
fechamento na primeira folha e repetindo-se o título e o cabeçalho na folha subseqüente;
g) tabelas devem ter traços que separem títulos de colunas nos cabeçalhos, tanto horizontais
quanto verticais, mas não devem apresentar traços verticais separando as colunas nem
horizontais para separar as linhas.
5.1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS
Os elementos pré-textuais, segundo a ABNT (2002b), antecedem o texto apresentando
informações que permitem a identificação e a utilização do trabalho. O primeiro desses
elementos é a capa. A capa é obrigatória em qualquer trabalho acadêmico, ao identificar o
trabalho, seu autor, o local em que ele foi ou será apresentado, bem como o ano em que ele foi
elaborado, além de servir de proteção para o mesmo. Os elementos da capa são os seguintes:
a) nome do autor;
b) título;
c) subtítulo (caso exista);
d) número do volume (caso o trabalho esteja dividido em volumes);
e) cidade (local onde a instituição está situada);
f) ano da entrega do trabalho.
A ABNT também estabelece normas para apresentação da lombada do trabalho, em
caso de encadernação de capa dura. Recomenda-se sua consulta para maiores informações.
O segundo elemento pré-textual, também obrigatório, é a folha de rosto. Essa folha é
a única no trabalho que deve ser impressa dos dois lados (caso o trabalho seja arquivqdo em
biblioteca). No anverso, figuram, nesta ordem, os seguintes elementos:
a) nome do autor;
b) título principal do trabalho;
c) subtítulo, se houver, subordinado ao título principal e antecedido por dois pontos (:);
d) número de volumes, quando houver mais de um, devendo cada volume possuir sua própria
folha de rosto, identificando o número do presente volume);
38
e) natureza (tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de Curso ou relatório de
estágio) e objetivo (aprovação numa disciplina, obtenção de grau - bacharel, mestre,
doutor, etc.) do trabalho, nome da instituição à qual se destina e área de concentração (por
exemplo, Administração Mercadológica);
f) nome do orientadorntador;
g) cidade (local) da instituição onde o trabalho será apresentado;
h) ano da entrega do trabalho.
No verso da folha de rosto deve ser colocada a ficha de catalogação da obra, no caso
da mesma ser arquivada em biblioteca. Essa ficha deve seguir o Código de Catalogação
Anglo-Americano. Para sua elaboração, é conveniente consultar um bibliotecário.
O terceiro elemento é opcional, e refere-se à errata do trabalho. Uma errata consiste
numa lista dos erros que porventura tenham sido cometidos no trabalho, com sua localização e
correção. Normalmente, a errata é uma folha avulsa, encartada no trabalho após sua impressão
e encadernação. Sua apresentação segue o exemplo abaixo:
ERRATA
Figura 3- Modelo de errata
Folha
Linha
Onde se lê
Leia-se
18
25
Adminsitração
Administração
56
13
infomação
informação
Fonte: Autores
O quarto elemento é obrigatório no caso de monografias, teses, dissertações e
relatórios de estágio: a folha de aprovação. Essa folha apresenta os seguintes elementos:
a) nome do autor;
b) título;
c) subtítulo, se houver;
d) local e data da aprovação;
e) nome e assinatura dos responsáveis pelo exame e avaliação do trabalho;
f) instituição à qual pertencem os responsáveis supracitados.
O quinto elemento é opcional: trata-se da dedicatória, que consiste numa homenagem
feita pelo autor a qualquer pessoa ou instituição de sua escolha. O elemento seguinte, os
agradecimentos, também é opcional, e consiste na listagem de pessoas e instituições que
proventura tenham contribuído de alguma forma para a realização do trabalho. O sétimo
39
elemento, a epígrafe, também é opcional; esta consiste numa citação, com seu autor
devidamente identificado, que está relacionada com a matéria tratada pelo trabalho. Se o autor
do trabalho desejar, também poderá apresentar epígrafes nas folhas de abertura de novas
seções ou capítulos do trabalho.
O oitavo e o nono elementos são obrigatórios, consistindo no resumo em língua
nacional (vernácula) e no resumo em língua estrangeira (não é utilizado no caso do
relatório de estágio). Esses resumos consistem numa apresentação sucinta do conteúdo do
trabalho, permitindo uma visão rápida, clara e geral desse conteúdo e das conclusões a que o
autor chegou ao realizá-lo; o resumo deve, portanto, permitir que o leitor decida sobre a
necessidade de consultar ou não o texto. O resumo não possui título, sendo simplesmente
indicado pela palavra Resumo, devidamente centralizado, pois ele não é contado na
numeração dos documentos.
A NBR 6028:1987 estabelece os critérios para o resumo do trabalho acadêmico. Um
bom resumo deve apresentar até 100 palavras para notas científicas e comunicações breves,
até 250 palavras nos casos de monografias e artigos e até 500 palavras para os relatórios,
dissertações e teses. O resumo não deve ser uma simples enumeração de tópicos, e sim uma
seqüência logicamente ordenada de frases (ou seja, trata-se de um “texto corrido”, redigido da
mesma forma que o texto do trabalho), redigidas na voz ativa e na terceira pessoa do singular.
A primeira frase deve explicar o tema principal do documento e, em seguida, explicar a
categoria de tratamento (memória científica, estudo de caso, análise da situação, etc.). Alguns
aspectos devem ser relevados quando da apresentação do resumo, a saber:
a) deve-se identificar os métodos e técnicas pelos quais o problema tratado no trabalho foi
abordado, bem como as fontes e tratamentos dos dados;
b) ao se identificar os resultados das pesquisas, deve-se destacar o surgimento de fatos
novos, descobertas, teorias anteriores, contradições, novas relações e efeitos verificados;
c) se for o caso, devem ser apresentados os valores numéricos observados, limites de
precisão e graus de validade;
d) deve-se evitar a redundância ao apresentar os resultados obtidos;
e) novos aspectos, como métodos aplicados, documentos e fontes de dados recém
descobertos devem ser indicados no resumo, mesmo que não tenham relação direta com o
tema tratado;
f) o resumo não deve ser apresentado sob a forma de parágrafos, devendo também evitar
símbolos ou siglas que não sejam correntes e a apresentação de fórmulas ou diagramas, a
40
não ser que sejam imprescindíveis; neste caso, deve-se definir os elementos constantes dos
mesmos (ABNT, 2012).
Após cada resumo, deve-se apresentar uma lista de palavras-chave, que permitem
identificar quais são os termos essenciais para a compreensão ou utilização dos trabalhos. Não
existe norma que regule quantos desses termos devem ser apresentados num trabalho, mas
deve-se procurar aquelas que sejam representativas ou significativas para o entendimento do
texto, e não aquelas que mais são utilizadas no mesmo. Palavras-chave são importantes para
trabalhos indexados em bases de dados, permitindo mais facilidade de acesso aos mesmos,
portanto, devem ser escolhidas com extremo cuidado.
A seguir, vêm quatro elementos opcionais, a saber, a lista de ilustrações (listagem
ou listagens de elementos como quadros, gráficos, organogramas, desenhos, gráficos
apresentados no trabalho, seguidos dos respectivos números de páginas), a lista de tabelas
(que relaciona as tabelas incluídas no texto), a lista de abreviaturas e siglas (relacionando
alfabeticamente as abreviaturas e siglas usadas no texto, seguidas de suas respectivas
explicações, grafadas por extenso, sendo recomendado fazer uma lista para cada tipo), e a
lista de símbolos (na qual os símbolos são apresentados e explicados em seu significado de
acordo com a ordem em que aparecem no texto).
O último elemento pré-textual é obrigatório: o sumário. O sumário é a enumeração
das principais divisões, seções e subseções do trabalho, na mesma ordem e grafia em que são
apresentadas, acompanhadas do devido número de página. No caso de haver mais de um
volume, em cada um deve ser apresentado o sumário completo. A NBR 6027:2003
regulamenta a forma de apresentação dos sumários. Segundo essa norma o sumário não se
confunde com índice, que consiste numa enumeração detalhada de assuntos, nomes de
pessoas, nomes geográficos, acontecimentos, etc., seguidos de uma indicação de sua
localização no texto, tampouco com lista, que é utilizada para elementos específicos como
ilustrações e tabelas, muito menos com o resumo. As regras para a apresentação do sumário
são as seguintes:
a) a expressão sumário é usada como título e escrita em letras maiúsculas negritadas,
centralizada na primeira linha do texto;
b) o título é separado dos elementos com duas entrelinhas em branco (escrevendo na
terceira);
c) as letras e entrelinhas são as mesmas utilizadas no texto;
d) os primeiros elementos apresentados são os pré-textuais (listas de figuras, de tabelas, de
siglas e resumos), sem indicação numérica, escritas em maiúsculas negritadas, e com uma
41
linha pontilhada ligando os títulos aos números da página inicial, que devem ser alinhados
com a margem direita;
e) os títulos das seções primárias e suas subdivisões são apresentados na ordem em que
surgem no texto, com indicativo numérico (quando houver) alinhado à esquerda, títulos
separados do indicativo por um espaço e com uma linha pontilhada ligando o título ao
número da página inicial, esta alinhada com a margem direita;
f) os últimos elementos apresentados no sumário são os pós-textuais, apresentados sem
indicação numérica acompanhando o título, alinhados à margem esquerda, escritos em
maiúsculas negritadas e ligados ao número inicial de página (alinhado com a margem
direita) por uma linha pontilhada;
g) Os títulos principais (capítulos) são grafados em maiúsculas e negrito, os subtítulos
(seções), em maiúsculas, e as subseções, em maiúsculas e minúsculas. Cada número de
capítulo, seção ou subseção deve ser separado do respectivo título por dois espaços, não
sendo recomendável usar pontos ou parênteses como elementos separadores no sumário
(ISKANDAR, 2003).
O sumário apresentado no início deste trabalho pode ser tomado como um modelo
para os sumários de trabalhos acadêmicos, uma vez que segue as normas definidas para sua
apresentação.
5.2 ELEMENTOS TEXTUAIS
Os elementos textuais consistem no corpo do trabalho propriamente dito, no qual o
autor apresenta, desenvolve e conclui as ideias que constituem o trabalho acadêmico
apresentado. A matéria do trabalho é, portanto, exposta pelo seu autor em três partes
fundamentais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Essas três partes estão logicamente
encadeadas: na introdução, anuncia-se o que se pretende fazer; no desenvolvimento, a ideia
anunciada na introdução é trabalhada; na conclusão, resume-se o que se alcançou e fecha-se o
trabalho.
A introdução visa contextualizar o trabalho acadêmico (ou seja, que tipo de trabalho
foi realizado, qual é sua área do conhecimento e o tema abordado), apresentar o problema de
pesquisa cuja investigação e solução foram tratadas ao longo do mesmo, definir seus objetivos
(geral e específicos) e limitações, delinear o quadro teórico no qual o trabalho foi
desenvolvido, bem como apresentar uma indicação de sua importância ou relevância; ou seja,
em linhas gerais, a introdução pode ser considerada como uma espécie de apresentação do
42
trabalho. Não existe nenhum padrão em termos de número de páginas, devendo a introdução
ser elaborada de maneira equilibrada em relação ao conteúdo do trabalho (ou seja, trabalhos
muito curtos não devem ser antecedidos por uma introdução muito longa).
O desenvolvimento do trabalho é composto por tantos capítulos quanto se fizerem
necessários para a solução do problema de pesquisa. A grande maioria dos trabalhos
acadêmicos exigirá a apresentação de um referencial teórico, ou seja, uma revisão da literatura
a respeito do tema do trabalho, podendo esta ser dividida em tantos capítulos quanto se
fizerem necessários. Outros capítulos que podem ser apresentados no desenvolvimento são os
procedimentos metodológicos na qual o autor classifica o trabalho de acordo com critérios
previamente definidos e apresenta os métodos e técnicas utilizados para a coleta, análise e
tratamento dos dados constantes do trabalho, a caracterização da empresa, nos trabalhos como
os relatórios de estágio e os estudos de caso ou pesquisas em empresas, o diagnóstico da
situação, sempre que for importante contextualizar o problema de pesquisa dentro de uma
compreensão global da realidade. Análise e tratamento dos dados, em que os dados obtidos na
pesquisa são trabalhados de modo a proporcionarem informações e conhecimentos ao
pesquisador e aos leitores; e as recomendações, que constam dos trabalhos em que há uma
proposição de um curso de ação para uma organização ou grupo social (recomendações
podem ser apresentadas na conclusão do trabalho; de fato, alguns autores sugerem que elas
sejam colocadas nesta).
Em relação à apresentação dos capítulos do desenvolvimento, é preciso lembrar que
cada capítulo inicia uma nova página, e que os capítulos podem ser divididos em seções. A
numeração dos capítulos e seções é progressiva e utiliza algarismos romanos ou arábicos, de
acordo com o critério estabelecido pelo autor. A numeração dos títulos deve ir até três
algarismos (1.1.1, por exemplo), não sendo aconselhável ir além disso.
Finalmente, as considerações finais consiste num fechamento do trabalho, em que os
principais aspectos abordados ao longo do trabalho são recapitulados resumidamente, e as
recomendações feitas são apresentadas sinteticamente (recomenda-se evitar apresentar
recomendações que sejam polêmicas ou controversas, apresentando-se somente os aspectos
que possam ser considerados aceitáveis sem maiores discussões). As considerações finais do
trabalho também pode apontar possibilidades de estudos mais profundos ou outros problemas
que possam vir a ser objeto de análise pelo autor ou por outros pesquisadores, bem como as
limitações do estudo desenvolvido, caso não tenham sido apresentadas na introdução. É
essencial que as considerações finais permitam analisar até que ponto os objetivos definidos
na introdução foram cumpridos pelo autor do trabalho. A NBR 14724:2002 considera
43
opcionais os aspectos referentes à importância, síntese, projeção, repercussão e
encaminhamentos futuros de trabalho. Um aspecto que não pode ser esquecido: nas
considerações finais não é possível introduzir elementos novos no trabalho. Mesmo que
corram o risco de serem repetitivas, devem apenas trazer o que já foi tratado no trabalho.
Naturalmente, as dimensões dos elementos textuais num trabalho acadêmico são muito
variáveis. Relatórios de estágio, por exemplo, devem ter dimensões bem maiores que
trabalhos apresentados para uma disciplina, pois trabalham com maior número de elementos.
Os principais cuidados devem ser tomados com a redação do texto. Severino (2000) lembra
que o autor de um trabalho deve cuidar de sua linha de argumentação, redigindo parágrafos e
construindo seções em que os conteúdos sejam logicamente encadeados, permitindo ao leitor
acompanhar o raciocínio do autor.
Em trabalhos científicos, impõe-se um estilo sóbrio e preciso, importando mais a
clareza do que qualquer outra característica estilística. A terminologia técnica só
será usada quando necessária ou em trabalhos especializados, nível em que já se
tornou terminologia básica. De qualquer modo, é preciso que o leitor entenda o
raciocínio e as ideias do autor sem ser impedido por uma linguagem hermética ou
esotérica. Igualmente evitem-se a pomposidade pretensiosa, o verbalismo vazio, as
fórmulas feitas e a linguagem sentimental. O estilo do texto será determinado pela
natureza do raciocínio específico às várias áreas do saber em que se situa o trabalho.
(SEVERINO, 2000, p. 84).
Esta passagem resume admiravelmente os cuidados que o autor de um trabalho
acadêmico deve ter ao redigir seu trabalho: é preciso ter clareza, evitando duplas
interpretações, utilizar parcimoniosamente a linguagem técnica, e escrever tendo em mente o
leitor do trabalho, pois é este que, afinal, irá determinar a qualidade do mesmo.
5.3 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS
Os elementos pós-textuais são todos aqueles cuja apresentação é considerada, pelo
autor, como importante para a compreensão do trabalho, mas não tão fundamental que exijam
sua colocação ao longo do desenvolvimento do mesmo. São, na maior parte, elementos
opcionais, que serão utilizados com economia e cuidado pelo autor para ilustrar, aprofundar
ou destacar temas e assuntos tratados nos capítulos que formam o desenvolvimento.
Dentre os elementos pós-textuais, apenas um é obrigatório, e diz respeito às
referências, conhecidas até a revisão de 2000 da NBR 6023 como referências bibliográficas;
o título mais geral se deve ao fato de que hoje em dia existem muito mais opções de obras que
podem ser usadas como referências, não somente os livros e textos impressos. As referências
consistem numa listagem das obras citadas ao longo do trabalho, apresentadas de acordo com
44
os padrões definidos pela NBR 6023:2002, permitindo ao leitor identificar e consultar as
fontes originais sobre as quais se baseou o trabalho. É importante diferenciar bibliografia de
referências bibliográficas: aquela consiste numa lista de obras consultadas para a realização
de pesquisa, ao passo que estas apresentam somente as obras efetivamente citadas ao longo do
texto. Devido à importância deste assunto, ele será tratado em capítulo específico deste
trabalho.
O elemento pós-textual seguinte é o glossário. De caráter opcional, o glossário
apresenta palavras e expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, seguidas de
suas definições. As palavras devem ser apresentadas em ordem alfabética, não devendo ser
numeradas.
Os demais elementos pós-textuais consistem em apêndices e anexos. Os apêndices
são textos ou documentos elaborados pelo próprio autor do trabalho, e complementam a
argumentação desenvolvida por este. São identificados pela expressão APÊNDICE (em
maiúsculas), por letras maiúsculas consecutivas e por um travessão separando-os do título (na
hipótese de existirem mais elementos do que letras no alfabeto, usam-se letras dobradas:
apêndice AA, por exemplo). Observe-se os exemplos a seguir:
APÊNDICE A - Classificação dos respondentes, por seção e tempo de serviço
APÊNDICE B - Nota metodológica sobre o questionário apresentado
Os anexos, por sua vez, são documentos não elaborados pelo autor, e são usados para
fundamentar, comprovar ou ilustrar a argumentação deste. Seu sistema de identificação é
semelhante ao dos apêndices. Veja-se o exemplo:
ANEXO A - O uso de entrevistas em levantamentos, de acordo com Fletcher (1999)
ANEXO B - Delineamentos de pesquisa (VERGARA, 2000)
Apêndices e anexos devem ser antecedidos por lista específica, na qual eles são
devidamente identificados. Na hipótese de serem apresentadas, como anexos, cópias de
documentos, nas quais não seja possível acrescentar um título, é conveniente antecedê-las por
uma folha de identificação. As páginas dos anexos são numeradas em seqüência aos
elementos textuais. No sumário, a página inicial das seções apêndices e anexos deve ser
colocada de acordo com a regra de apresentação do sumário, já referida anteriormente.
45
6 CITAÇÕES
Uma citação é a menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte, de
acordo com a NBR 10520:2002. Estas podem ser diretas, quando se referem a uma
transcrição literal (ou seja, uma cópia fiel) do texto do autor consultado, ou indiretas, quando
a transcrição não é literal (ou seja, modifica-se o texto original, mantendo-se suas informações
originais) sendo que o pensamento do autor original é reescrito com as palavras do autor do
trabalho. Naturalmente, no caso desta, é preciso tomar extremo cuidado com o uso das
palavras, devendo-se preservar o significado original pretendido pelo autor citado, sem
distorcer seu conteúdo.
Por que se usam citações? As respostas a essa pergunta variam, mas, geralmente, as
citações são utilizadas das seguintes maneiras:
a) apresentar conceitos;
b) comprovar um ponto de vista;
c) apresentar elementos adicionais para aumentar a força de um argumento;
d) valorizar aspectos trabalhados ao longo do texto.
Qualquer que seja a razão para usar a citação direta, é preciso lembrar-se do que
Vergara (2000) afirma, deve-se usar as citações com parcimônia. Ou seja, um trabalho
acadêmico não pode se constituir num sem-número de citações, em que o trabalho do autor
tenha sido simplesmente compilá-las e encadeá-las ao longo do texto.
Algumas regras gerais :
a) as entradas de sobrenomes de autor, da instituição responsável pelo texto citado ou pelo
título do texto (quando não for possível determinar a autoria) devem ser feitas em
maiúsculas e minúsculas, quando apresentadas fora de parênteses, e inteiramente em
maiúsculas, quando apresentadas entre parênteses. O ano da publicação é referenciado
entre parênteses. No caso de citação direta (literal), a página da citação também é
referenciada entre parênteses; havendo mais de um volume para o título referenciado, este
deve ser apresentado após a data, separado desta por vírgula e com a apresentação do
volume ou tomo abreviada). Exemplo:
Vergara (2000, p. 37)
Vergara (2000)
(VERGARA, 2000, p. 37)
(VERGARA, 2000)
IBGE (2002)
IBGE (2002, p. 245)
(IBGE, 2002, p. 245)
(IBGE, 2002, v. 2, p. 108)
46
b) transcrições com até três linhas são referenciadas dentro do próprio texto, separadas deste
por aspas duplas, usando-se as aspas simples na hipótese de haver aspas duplas na citação
utilizada. Exemplo: Severino (2000, p. 187) escreve: “quanto à sua estrutura, o raciocínio
é um todo complexo, formado que é por um encadeamento de vários juízos, que são,
igualmente, conjuntos formados por vários conceitos.” No exemplo acima, a apresentação
da fonte poderia se dar ao final do trecho citado, como se segue (SEVERINO, 2000, p.
187);
c) transcrições com mais de três linhas são destacadas com recuo de 4 cm em relação à
margem esquerda, em letra menor que a do texto e sem aspas. Exemplo:
as variáveis podem ser de duas espécies, conforme sejam ou não conhecidos os seus
valores no início da pesquisa. As variáveis sob controle são aquelas cujo valor é
determinado ou mantido sob controle pelo pesquisador. As variáveis nãocontroladas são aquelas cujo valor é indeterminado e/ou não controlado pelo
pesquisador ou cujo valor só é conhecido após o esforço de pesquisa. (RAUEN,
2002, p. 152, grifo do autor).
d) trechos suprimidos são indicados pelo uso de colchetes e reticências [...], interpolações e
acréscimos também são indicadas por colchetes [interpolação de comentário do autor do
trabalho no texto da citação] e destaques são feitos com grifos, negritos ou itálicos. Na
hipótese do destaque constar do texto original, utiliza-se a expressão grifo do autor, e,
sendo destaque feito pelo autor do trabalho acadêmico que está apresentando a citação,
usa-se a expressão grifo nosso. O exemplo acima apresenta um grifo feito por Fábio José
Rauen, autor do livro donde provém a citação;
e) dados obtidos por via oral devem indicar, entre parênteses, a fonte por meio da expressão
informação verbal;
f) trabalhos ainda não publicados ou em fase de elaboração devem ser destacados, incluindose a expressão no prelo para trabalhos prontos para edição, mas ainda não lançados, e em
fase de elaboração, para trabalhos que ainda não estejam prontos. No caso de trabalhos no
prelo, se a data prevista de edição for conhecida, ela deve ser adicionada;
g) no caso do autor do trabalho ter traduzido o texto da citação, deve-se usar a expressão
(tradução nossa). Exemplo:
(BABBIE, 1983, p. 205, tradução nossa)
Algumas regras adicionais são importantes:
a) no caso de haverem dois autores com o mesmo sobrenome que tenham publicado seus
livros ou artigos no mesmo ano, deve-se indicá-los por meio da inicial do prenome, e, se a
inicial for a mesma, usa-se o nome completo. Evidentemente, em não havendo
47
publicações no mesmo ano referenciadas na bibliografia, esta regra não se aplica.
Exemplo:
(SILVA, R., 2000)
(SILVA, Reinaldo, 2000)
(SILVA, J., 2000)
(SILVA, Roberto, 2000)
b) quando forem citados textos de um mesmo autor, publicados no mesmo ano, usa-se uma
letra minúscula para diferenciá-los (naturalmente, o mesmo expediente deve ser adotado
nas referências bibliográficas). Exemplo:
(BRESSER PEREIRA, 1998a)
(BRESSER PEREIRA, 1998b)
c) citações de documentos do mesmo autor, publicados em anos diferentes, devem ser
referenciadas separando-se os anos com ponto e vírgula. Exemplo:
(BRESSER PEREIRA, 1996; 1998a; 1998b)
d) citações de documentos de autores diferentes, mencionados simultaneamente, devem ser
separadas por ponto e vírgula. Exemplo:
(SILVA, 1993; PEREIRA, 1995; ROCHA, 1995)
e) a expressão latina apud (citado por, conforme, segundo, junto a) é usada quando se está
fazendo a citação de um texto de um autor dentro de texto de outro autor. Conhecida como
citação de citação. Exemplo:
(KETTL, 1997 apud BRESSER PEREIRA, 1998b)
Kettl (apud BRESSER PEREIRA, 1998b)
f) outras expressões latinas são id (mesmo autor), ibidem ou ibid (na mesma obra), opere
citato ou op. cit. (obra citada), passim (em várias passagens do texto), loco citato ou loc.
cit. (no mesmo local). Essas expressões, entretanto, são usadas somente em notas de
rodapé, à exceção de apud;
g) no caso de haver mais de um autor para o texto, deve-se separar os sobrenomes por ponto
e vírgula, quando entre parênteses, podendo-se usar tanto o ponto e vírgula quanto a
vírgula se a menção vem fora de parênteses. Exemplo:
Melo Neto; Froes (2001)
Melo Neto, Froes (2001, p. 10)
(MELO NETO; FROES, 2001)
(MELO NETO; FROES, 2001, p. 10)
h) No caso de haver mais de três autores, pode-se citar o primeiro nome, seguido da
expressão et al. (et alii, que significa “e outros” em latim), ou os três primeiros nomes
seguidos de et al. Por exemplo:
Bastos et al. (2003)
(BASTOS et al., 2003)
48
i) no caso de sobrenome composto, deve-se usar a forma mais conhecida desse sobrenome.
Por isso, textos de Luiz Carlos Bresser Pereira normalmente são referenciados por Bresser
Pereira ou (BRESSER PEREIRA), e não por Pereira. Se o sobrenome do autor tiver as
expressões Filho, Neto, Sobrinho, estas devem ser utilizadas: por exemplo, ao citar um
texto de Francisco Paulo de Melo Neto, usa-se Melo Neto ou (MELO NETO).
49
7 REFERÊNCIAS: A NBR 6023:2002
As regras para a apresentação das referências no Brasil estão consubstanciadas na
NBR 6023, modificada pela última vez em setembro de 2002. Essa norma apresenta os
elementos que devem ser colocados nas referências bibliográficas e determina os padrões a
serem seguidos para os diversos tipos de documentos científicos normalmente referenciados
nos trabalhos acadêmicos.
Segundo a NBR 6023:2002, as referências bibliográficas podem ser apresentadas de
quatro formas:
a) em notas de rodapé;
b) no final do texto ou de cada capítulo;
c) numa lista de referências ao final do trabalho (antecedendo anexos, apêndices e glossário);
d) antecedendo os resumos, resenhas e recensões.
Para os trabalhos acadêmicos, convencionou-se tacitamente apresentar as
referências ao final dos mesmos, a não ser nos casos de resenhas e resumos de texto.
Embora alguns utilizem a prática de apresentá-las nas notas de rodapé, isso não é muito
recomendável, pois normalmente os avaliadores têm interesse em consultar a lista de
referências antes de ler o texto inteiro, para se inteirarem do quadro de referência adotado
pelo acadêmico.
Antes de apresentar os principais modelos de referências trabalhadas pela ABNT, é
conveniente distinguir entre os elementos das mesmas. Existem os elementos essenciais,
indispensáveis para a identificação do documento consultado, como título, subtítulo (quando
houver), número da edição, local da publicação, editora e data da publicação; e os elementos
complementares que, em apoio aos essenciais, permitem a melhor caracterização dos
documentos, como indicações de responsabilidade (tradutor, ilustrador, revisor, adaptador,
compilador, etc.); características físicas e dimensões do documento, número de páginas,
número de volumes, existência de ilustrações, série editorial ou coleção a que o documento
pertence, notas e o International Standard Book Numbering (ISBN), etc. (ABNT, 2002).
Apenas os elementos essenciais são exigíveis numa análise da referência bibliográfica.
A seguir, serão apresentados os principais tipos de documentos referenciados nos
trabalhos acadêmicos exigidos pelos cursos de Administração. Os modelos aqui apresentados
não esgotam a ampla variedade de possibilidades, portanto a consulta à norma original,
disponível nas bibliotecas, é essencial para dirimir possíveis dúvidas em relação à forma mais
adequada de construir a referência.
50
a) Para referenciar um livro utilizado no todo
SOBRENOME, Prenome (havendo até 3 autores, referenciar os nomes dos mesmos e, mais de
3, deve-se indicar o primeiro ou os três primeiros e usar a expressão latina et al.). Título do
livro: Subtítulo (quando houver). Número da edição (em sendo a primeira edição, é
desnecessário citar). Local da edição: Editora, ano da edição. (Coleção - quando houver).
Número de páginas, se necessário.
EXEMPLO:
MANTEGA, Guido; MORAES, Maria. Acumulação monopolista e crises no Brasil. 2. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. (Coleção Economia, v. 7).
MITROFF, Ian. Tempos difíceis, soluções inovadoras: a arte de fazer as perguntas certas e
resolver os problemas certos. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
b) Para referenciar um livro organizado, editado ou compilado por um autor ou mais
autores, contendo textos de diversos autores diferentes, usa-se, após o(s) nome(s) do(s)
compilador(es), as expressões (org.), (ed.) e (comp.), e seus respectivos plurais:
MINTZBERG, Henry; QUINN, James Brian (Orgs.). O processo da estratégia. 3. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2001.
c) Para referenciar um texto retirado de um livro do mesmo autor, usa-se o título da
parte, antecede-se o título do livro com a expressão In:, e acrescenta-se a menção ao
capítulo (se houver) e as páginas:
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Pesquisa qualitativa. In: ______. Projetos de estágio e de
pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e
estudos de caso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. Cap. 8, p. 130-153.
Sustitui-se o nome da autora por sublinha de seis espaços (underline) para indicar que
o autor da parte é o mesmo do livro.
d) Na hipótese do texto ter sido retirado de um livro organizado por outros autores
CHAMPY, James A. Preparando-se para a mudança organizacional. In: HESSELBEIN,
Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD, Richard (Orgs.). A organização do futuro.
São Paulo: Futura, 1997. Cap. 1, p. 25-32.
e) Quando se está citando uma tese, dissertação, monografia, trabalho de conclusão de
curso, relatório de estágio, usa-se a seguinte estrutura:
SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho: Subtítulo (quando houver). Ano. Número de
folhas. Característica - Local de apresentação.
51
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello Beckert. Colaboração entre os setores público e privado: elementos
para uma teoria política. 1996. 420 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de
Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Se apenas uma parte do documento estiver sendo citada, usa-se a mesma regra
apresentada em “c”. Assim:
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello Beckert. Concepções políticas clássicas. In: ______. Colaboração
entre os setores público e privado: elementos para uma teoria política. 1996. 420 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Cap. III, p. 15-39.
f) A referência de um dicionário segue este padrão:
ABBAGNANO, Nicola. Diccionario de filosofía. 2. ed., 9. reimpr. México, D. F.: Fondo de
Cultura Económica, 1992.
g) Se apenas um verbete do dicionário está sendo citado, deve-se proceder desta forma:
AUTORITARISMO. In: SOUSA, José Pedro Galvão de; GARCIA, Clovis Lema;
CARVALHO, José Fraga Teixeira de. Dicionário de política. São Paulo: T. A. Queiroz
Editor, 1998. p. 85-86.
h) No caso de referência de um periódico (revista) tomado em sua coleção, deve-se usar
o seguinte padrão:
REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Rio de Janeiro: FGV, 1967. Bimestral.
i) Quando apenas um artigo de periódico está sendo citado:
SOBRENOME, Prenome. Título. Revista, local, volume, número, páginas, data.
EXEMPLO:
GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a abordagem da
competência. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p. 125-140,
maio/jun. 2000.
Naturalmente, quando há mais de um autor, deve-se referenciar os nomes dos autores
até o máximo de três; quando forem quatro ou mais, deve-se usar a expressão et al., como
definido anteriormente no capítulo sobre citações.
52
j) Um artigo publicado em jornal é referenciado como se segue:
SOBRENOME, Prenome. Título. Jornal, Local, data. Seção ou caderno, página.
EXEMPLO (extraído da NBR 6023:2000, p. 5):
NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 jun.
1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13.
Se não há menção de caderno, seção ou parte no jornal, a página precede a data, como
no exemplo a seguir (também extraído da NBR 6023: 2000, p. 5):
LEAL, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25
abr. 1999.
Na hipótese de não ser assinada, a matéria tem a primeira palavra do seu título
referenciado em maiúscula. Os demais elementos permanecem os mesmos.
k) Entrevistas são referenciadas sempre pelo nome do entrevistado
ÁLVARES DA SILVA, Antônio. Justa causa. Exame, São Paulo, n. 692, p.34-36, 14 jul.
1999. Entrevista concedida a José Maria Furtado.
l) Documento extraído da Internet
SOBRENOME, Prenome. Título. Indicação de revista eletrônica, site ou evento.
Disponível em: <http://www. ....>. Acesso em: data. (dia mês ano)
EXEMPLO:
CECATTO, Cristiano. Planejamento estratégico e RH. RH.com.br. Disponível em:
<http://www.rh.com.br/ler.php?cod=3338>. Acesso em: 10 set. 2002.
m) Um documento em CD-ROM deve ser referenciado como se segue (o primeiro exemplo
se refere ao documento como um todo, e o segundo a uma parte do mesmo):
EXEMPLO:
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO.
Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom.
Legislação
profissional
de
SOUSA, Renato. O papel do código de ética na vida profissional do administrador. In:
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Legislação profissional de
Administração. Brasília: CFA, 2002. CD-Rom.
53
n) Legislação
JURISDIÇÃO (ou cabeçalho da entidade). Título, numeração e data. Ementa. Dados da
publicação. Notas adicionais que se mostrem necessárias.
EXEMPLOS:
BRASIL. Constituição Federal (1988). Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional 9, de 9 de novembro de 1995. Dá nova
redação ao art. 177 da Constituição Federal, alterando e inserindo parágrafos. Lex: Coletânea
de Legislação e Jurisprudência: legislação ferdeal e marginalia, São Paulo, v. 59, p. 1966,
out./dez. 1995.
o) Palestra ou aula não publicada
SOBRENOME, Prenome. Título do trabalho. Natureza da atividade, Local, data.
EXEMPLO:
ZAPELINI, Marcello. Curso de atualização em metodologia científica. Curso proferido na
Faculdade Energia de Administração e Negócios – FEAN, 17-23 jul. 2003.
Algumas regras gerais são utilizadas em toda apresentação de referências
a) a lista pode ser apresentada em ordem alfabética, cronológica ou por assunto, sendo
entretanto recomendável usar a ordem alfabética;
b) cada referência deve ser apresentada em espaço simples e separada da subseqüente por
espaço duplo;
c) quando são referenciadas 2 ou mais obras do mesmo autor, não é necessário repetir o
nome do mesmo a partir da segunda referência, substituindo-o por uma sublinha de seis
espaços antes do ponto, ou seja, ______. Esta regra não é válida se por acaso uma
referência estiver numa página e a outra na página seguinte;
d) quando são referenciadas obras do mesmo autor publicadas no mesmo ano, usam-se letras
para diferenciá-las (como, por exemplo, 1998a, 1998b, 1998c);
e) na hipótese do autor do documento ser uma entidade, usa-se o nome da entidade em letras
maiúsculas. Deve-se usar o nome completo da instituição, a menos que a sigla seja usada
no documento em lugar do nome;
f) cada acréscimo à edição deve ser mencionado de forma abreviada. Assim, usa-se rev. para
indicar uma edição revisada, ampl. para uma edição ampliada, aum. para uma edição
aumentada;
54
g) quando não é indicado o local da edição, usa-se a expressão [S.l.] (sine loco), e, se o local
pode ser identificado com precisão, coloca-se o mesmo entre colchetes, como por exemplo
[Florianópolis];
h) quando não há indicação de data, usa-se uma das seguintes hipóteses: [1999] quando se
pode determinar com precisão a data não indicada, [1998 ou 1999] quando se pode
determinar que é um ano ou o outro, [1999?], [199?] ou [19?] quando se trata de data,
década ou século provável;
i) se são referenciadas duas edições diferentes do mesmo documento, usam-se duas
sublinhas de seis espaços, como no seguinte exemplo:
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. São Paulo: Globo, 1958.
______. ______. 3. ed., rev. São Paulo: Globo, 2001.
j) na hipótese de não haver indicação do autor do texto, utiliza-se o título como forma de
entrada, usando maiúsculas para a primeira palavra;
k) documentos oficiais podem ser referenciados pelo nome do país (BRASIL, para
documentos do governo federal), do estado ou mesmo do município;
l) se for necessário, o nome do tradutor e/ou do revisor deve aparecer logo após o nome do
texto pesquisado. Isso é recomendável nos casos em que essas pessoas são autoridades
reconhecidas no assunto do livro (por exemplo, se Marcos Cobra, autoridade brasileira em
marketing, é o tradutor de um livro de marketing, recomenda-se sua inclusão na
referência);
m) documentos extraídos de publicações periódicas (jornais ou revistas) online devem seguir
as normas específicas de apresentação da referência de periódicos, acrescido da
informação referente à página aonde o material está disponibilizado e da data de acesso.
Um aspecto que pode ser destacado diz respeito à abreviatura dos meses, necessária
para uma série de referências, como as de periódicos, jornais e da internet. A NBR 66:1989
define essas abreviaturas: janeiro: jan.; fevereiro: fev.; março: mar.; abril: abr.; maio: maio (é
o único mês que não é abreviado); junho: jun.; julho: jul.; agosto: ago.; setembro: set.;
outubro: out.; novembro: nov.; dezembro: dez. Ou seja, à exceção de maio, todos os outros
meses são abreviados pelas três primeiras letras do nome.
55
8 PROJETOS E TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO
Esta seção diz respeito aos produtos gerados no processo de estágio do acadêmico de
Administração. Esses produtos são o projeto, documento preliminar à realização das
atividades e consolida informações a respeito das pretensões do aluno em relação ao estágio e,
num segundo momento, o Trabalho de Conclusão de Estágio (TCE), que narra as tarefas
realizadas pelo acadêmico na organização, apresenta o referencial teórico utilizado pelo
mesmo e suas conclusões a respeito do processo como um todo.
A forma de apresentação desses documentos segue os padrões definidos na primeira
seção deste trabalho, sendo esta uma definição dos elementos do projeto e do trabalho de
conclusão, tal como definido pelo Regulamento de Estágios da faculdade.
8.1 O QUE É UM PROJETO DE ESTÁGIO?
Como anteriormente mencionado, o projeto de estágio define respostas para as
seguintes perguntas:
a) O que será feito?
b) Onde e quando será feito?
c) Quem fará?
d) Como fará?
A primeira pergunta refere-se à área do conhecimento administrativo, ao tema
escolhido, ao problema formulado pelo aluno e aos objetivos que deverão ser cumpridos para
a realização efetiva do estágio. Ou seja, quando se está perguntando o que será feito,
essencialmente busca-se determinar qual problema estará sendo investigado pelo estagiário, e
como esse problema poderá ser respondido.
A segunda questão diz respeito ao local e ao período de realização do estágio. Neste
sentido, é preciso determinar em qual empresa o estágio será realizado, detalhando em que
setor ou departamento da mesma as atividades se concentrarão. O período diz respeito a como
as atividades se desenvolverão dentro da empresa: o que será feito em primeiro lugar, quais
atividades serão realizadas a seguir, e quando se pretende apresentar o TCE ao orientador para
a definição de datas para a defesa pública.
A terceira pergunta diz respeito aos atores envolvidos no processo. Naturalmente, o
aluno, como autor do projeto, é o principal responsável pelo mesmo. Entretanto, a definição
56
do orientador e do supervisor já devem constar do projeto, pois estes dois agentes concorrem
para a maior qualidade do processo.
Finalmente, tem-se a questão “como se fará o estágio”. Esta questão é provavelmente a
mais complexa do projeto, uma vez que lida com a programação das atividades, com os
métodos e técnicas necessários para cumpri-las adequada e proveitosamente, com o tipo de
literatura que será utilizado, e com as previsões de gastos por parte do estagiário. Embora
trabalhosa, a resposta a esta questão deve ser a mais cuidadosa e detalhada possível, pois as
questões metodológicas são essenciais para o sucesso dos trabalhos de estágio.
8.2 ESCOLHA DO TEMA, DO PROBLEMA, DO LOCAL E DO ORIENTADOR
Uma das questões mais importantes a serem respondidas quando da elaboração do
projeto de estágio refere-se à definição do tema, do local e do orientador, pois estes são
pontos de partida para o trabalho. Idealmente, o estágio será realizado no tema em que o
acadêmico sentir maior atração ou facilidade de trabalhar, ou para o qual direcionou seus
esforços ao longo da graduação, numa organização que lhe proporcionará as melhores
oportunidades de aprendizado, sob a orientação de um professor que não somente domina o
assunto, mas também possui afinidade com o acadêmico.
Na prática, entretanto, a situação é outra. Muitas vezes, o acadêmico é obrigado a
estagiar numa organização diferente daquela que sonhava, para poder realizar um trabalho na
área que mais o interessa, enquanto que em outros casos o acadêmico consegue o estágio na
organização que deseja, mas acaba tendo que realizá-lo em outra área e tema; casos ainda
mais dramáticos são aqueles em que não se consegue nem a empresa, nem o tema que
originalmente se desejava trabalhar - mas estes devem ser evitados a qualquer custo. Outro
problema está na definição do orientador, que é restringida pelo número de orientandos que
cada professor pode ter, pelos seus interesses de trabalho, pela exsitência de afinidades
pessoais entre professor e acadêmico, e pela própria agenda deste.
Entretanto, alguns aspectos fundamentais devem ser levados em consideração na
definição do tema, do problema, da organização e do orientador do estágio, aspectos estes que
guiam e facilitam as decisões do acadêmico. Ver-se-ão, a seguir, esses cuidados, tendo-se em
mente que a organização proposta não deve ser considerada como uma seqüência cronológica
de passos, uma vez que, muitas vezes, essas escolhas ocorrem concomitantemente, já que são
interdependentes.
57
8.2.1 Definição da área e do tema
O regulamento de estágio estabelece as diferentes áreas da Administração dentro das
quais o acadêmico deverá fazer a opção para realização de seu estágio, devendo ser
consultado para a definição de quais estão disponíveis. Embora a área seja uma subdivisão da
ciência, ainda assim seu conceito refere-se a um campo de conhecimento relativamente
amplo, dentro do qual podem ser encontrados diferentes temas. “Área” corresponde a assunto,
termo relativamente comum dentro da metodologia da pesquisa, que pode ser definido como
“aquilo sobre o qual se quer saber alguma coisa, ou aquilo de que se fala.” (BEBBER;
MARTINELLO apud RAUEN, 2002, p. 48). A escolha da área diz muito a respeito do
estagiário, haja vista que as pessoas escolherão aquela pela qual sentem mais interesse – ou,
no mínimo, sentem-se mais confortáveis para abordar.
Dentro de cada uma dessas áreas, o acadêmico poderá optar pelos mais variados
temas, de acordo com seus interesses, com os da empresa e com a disponibilidade de
orientadores. É extremamente importante que a área escolhida pelo acadêmico corresponda,
da melhor forma possível, a seus interesses profissionais; de forma geral, os estágios com
melhor aproveitamento são aqueles em que o estagiário se dedica à área da Administração que
mais se corresponde à sua visão de futuro enquanto profissional. Em não havendo essa
definição, evidentemente, recomenda-se que o acadêmico procure a área que mais lhe tenha
interessado em sala de aula ou que consulte a empresa junto à qual deseja estagiar. Um
aspecto que auxilia na escolha do tema é a leitura prévia: ao longo do curso, o acadêmico
deve procurar se informar em livros e revistas sobre os assuntos que mais o interessam, pois
isso o ajudará muito na definição de um tema para estagiar.
Em outras palavras, o que se recomenda é que o acadêmico procure, no mínimo,
estagiar na área que considera mais importante para ele. Na maior parte dos casos, existe a
possibilidade de negociar com a organização qual tema será trabalhado no decorrer do
estágio. É para esse assunto que é preciso dedicar atenção no momento, focalizando o tema
do trabalho.
Se a área do estágio corresponde diretamente a uma das subdivisões principais da
Administração, o tema do estágio pode ser considerado como uma aproximação maior ao
trabalho que de fato será desenvolvido; o tema é uma focalização do trabalho, restringindo a
área a apenas uma de suas possibilidades de estudo. Sylvia Roesch (1999) afirma que existe
uma infinidade de temas que podem ser explorados num estágio; esses temas, de acordo com
a autora, correspondem a problemas ou oportunidades a serem resolvidos ou explorados
58
dentro da organização. Conseqüentemente, a adequada definição do tema deverá ser feita de
comum acordo com a organização em que será desenvolvido o estágio.
Por exemplo: um aluno pretende desenvolver seu estágio em Administração de
Recursos Humanos (área), na definição de um sistema de avaliação de desempenho (tema)
para a organização escolhida.
Algumas tentações devem ser evitadas. Umberto Eco (1989) observa que todo
estudante tende a escolher um tema bastante amplo e genérico para desenvolver seu trabalho –
o que é extremamente perigoso, em vários sentidos: o acadêmico pode não terminar seu
trabalho no prazo; abre-se ampla possibilidade de, na defesa do trabalho, contestar-se a
bibliografia utilizada pelo estagiário; aumenta a dificuldade de coletar e tratar adequadamente
as informações necessárias; por fim, pode-se acrescentar, o trabalho tende a ser menos útil
para a organização em que o estágio foi realizado. Portanto, a primeira dica na escolha do
tema é: restrinja o tema, evite a tentação de fazer um trabalho muito amplo.
Um segundo aspecto, que Gil (1996) menciona em relação à formulação de problemas
de pesquisa, mas que pode ser adaptado à realidade do projeto de estágio, refere-se à precisão.
O tema do estágio deve ser definido de maneira a evitar dificuldades de interpretação por
parte de orientador, supervisor e possíveis leitores. Uma sugestão é: ao preparar a revisão da
literatura no projeto de estágio, convém definir com o máximo de clareza o que se entende
pelo tema. Dessa maneira, a segunda dica é: seja claro e preciso na definição do tema.
Outra questão: o tema deve ser empírico e viável, ou seja, deve ser passível de
investigação na organização em que o estágio irá ser desenvolvido. Por exemplo: o acadêmico
pretende estagiar numa microempresa, na área de Administração de Recursos Humanos, e
escolhe como tema planejamento de cargos e salários. Em princípio, o tema é exeqüível, a
organização se interessa e o estagiário está motivado; mas não é viável realizar o estágio dessa
forma, pois o planejamento de cargos e salários só é de fato exeqüível e útil para organizações
de determinado porte. Na viabilidade, também é importante levar em consideração o tempo
disponível para a realização do estágio, os custos envolvidos e a possibilidade de se chegar a
uma solução adequada à organização. A terceira dica, portanto, é: escolha um tema que
possa ser abordado na organização, e que esteja dentro de suas possibilidades em termos
de custos, tempo e conhecimentos.
É interessante verificar como os estudiosos da Metodologia da Pesquisa abordam a
questão da definição do tema. Cláudio de Moura Castro (2006) propõe três critérios simples,
mas poderosos:
59
a) Importância: o tema deve estar ligado a alguma questão que mobiliza ou afete algum
segmento substancial da sociedade, ou a alguma questão teórica que mereça atenção na
literatura. Nas palavras do autor, “importante é o tema que, mais cedo ou mais tarde, vai
desembocar em conseqüências teóricas ou práticas que afetam diretamente o bem-estar da
sociedade.” (CASTRO, 2006, p. 61);
b) Originalidade: o tema deve ter o potencial de surpreender o pesquisador;
c) Viabilidade: a pesquisa deve ser completada considerando-se os prazos, os recursos
financeiros, a competência do pesquisador, a disponibilidade de informações, a teoria
existente e o apoio do orientador.
Barros, Lehfeld (apud RAUEN, 2002) apresentam alguns interessantes critérios para a
escolha do tema:
a) Viabilidade técnica: metodologia e tipologia da pesquisa;
b) Viabilidade política: relevância da pesquisa na realidade contemporânea, suas
contribuições e relacionamento com pesquisas já feitas;
c) Viabilidade lógica: confronto entre o tema e um quadro teórico;
d) Viabilidade financeira: custos envolvidos no projeto.
Sylvia Roesch (1999) apresenta os seguintes aspectos como fatores envolvidos na
escolha do tema do estágio:
a) Ele deve ser relevante para a Administração, e ter ligação com pelo menos duas
disciplinas do curso;
b) Deve ser viável em termos de acesso às fontes de informação e aos dados, e do tempo
disponível;
c) Deve ser viável em termos de custo, disponibilidade de bibliografia e de orientação;
d) Deve ser do interesse da organização aonde será feito o estágio e do orientador.
Tudo isso, entretanto, não substitui uma realidade: deve-se ter legítimo interesse pelo
tema de estudo. Somente esse interesse garantirá ao aluno o real comprometimento com o
trabalho.
8.2.2 Definição do problema, da pergunta e da hipótese de pesquisa
Um problema bem formulado é essencial para que o estágio possa ser levado a bom
termo, mas essa formulação tem se mostrado uma dificuldade para os acadêmicos. Para
Rudio, “formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e
operacional, qual a dificuldade, com a qual nos defrontamos e queremos resolver [...].” (apud
60
BIANCHI; ALVARENGA; BIANCHI, 2002, p. 33). Soriano (2004, p. 48) afirma que
“propor um problema a partir de uma perspectiva científica significa reduzi-lo a seus aspectos
e relações fundamentais para poder iniciar seu estudo intensivo” sem, entretanto, sacrificar
sua complexidade dentro de uma realidade natural ou social.
Um aspecto central dentro da formulação do problema é que ele deve estar embasado
em um marco teórico, ou seja, ele será elaborado depois de leitura prévia que permita ao
pesquisador compreender melhor a realidade que irá pesquisar. Portanto, um problema nunca
é formulado do nada – ele deve refletir um conhecimento anterior sobre o assunto,
conhecimento este que leva o pesquisador a desejar aprofundar-se. Dentro desse espírito,
Chizzotti (2006) informa: delimitar o problema é uma atividade diretamente conectada a uma
concepção de mundo do pesquisador, seja ela genérica, seja ela expressa sinteticamente em
teoria. O autor conclui: “delimitar o problema pode ser o momento mais aflitivo da pesquisa
porque sua definição está conexa com a concepção que gera o problema.” (CHIZZOTTI,
2006, p. 25).
Gil (1991) afirma que um problema é uma questão ainda não resolvida em algum
campo de conhecimento que levanta discussões dentro deste. Numa formulação mais precisa,
Laville, Dionne (1999, p. 87) definem o problema de pesquisa como sendo “[...] um problema
que se pode ‘resolver’ com conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de
serem produzidos.” Ou seja, de acordo com os dois autores canadenses, um problema consiste
em uma situação que se pretende resolver através do acesso ao conhecimento já existente ou
aos dados a serem coletados junto à realidade. Conquanto esta seja uma boa definição, há que
se acrescentar que, em um trabalho de estágio, obrigatoriamente todos os problemas passarão
pelas duas dimensões, apoiando-se em realidades já descritas por outros pesquisadores e em
dados novos produzidos pelo estagiário.
Um bom problema de pesquisa científica, lembra Gil (1991), deve indagar como se
verifica um dado fenômeno, o que o causa e quais são as conseqüências de sua ocorrência.
Citando Kerlinger, Gil (1991) afirma que indagar como se pode fazer melhor alguma coisa
não é um problema científico, e sim um problema de “engenharia”, pois só trata de eficiência.
O estagiário, entretanto, irá analisar muitas vezes situações em que a eficiência e o “como
fazer” serão centrais para seu trabalho; o fato de tal problema não ser considerado “puro” em
termos científicos não quer dizer que seu estágio não seja científico, mas sim que ele
representa uma aplicação do método científico à realidade empresarial.
Para que o estagiário possa responder ao problema, é fundamental que ele esteja
adequadamente delimitado, ou seja, ele não pode ser tão extenso que não permita uma
61
resposta durante o período de realização do estágio nem com os recursos à disposição do
acadêmico, nem ser restrito a ponto de não permitir um trabalho com as características e a
profundidade de um estágio. A questão de como delimitar o problema de pesquisa pode ser
adequadamente respondida tendo em mente critérios propostos por Soriano (2004):
a) Conceitualização: indica os limites teóricos do trabalho;
b) Tempo: a pesquisa deve estar situada historicamente;
c) Espaço: é preciso definir qual é a área geográfica da pesquisa;
d) Unidades de observação: refere-se à população que será pesquisada;
e) Contextualizações: situar o problema em contextos socioeconômico, político, histórico e
ecológico pode ajudar o pesquisador a defini-lo melhor.
O estagiário deve ter consciência de diversos aspectos quando da formulação do
problema:
a) há material bibliográfico que permita um estudo do problema levantado?
b) o problema gera hipóteses (tentativas de resposta)?
c) as hipóteses geradas podem ser testadas, ou seja, avaliadas na prática?
d) o problema interessa à organização na qual o estágio está sendo desenvolvido?
Um problema é formulado, portanto, como uma descrição de uma situação da
realidade, e a partir desta, deriva-se uma pergunta, sendo o objetivo geral diretamente
relacionado a essa pergunta; em muitos casos, a formulação do objetivo geral é praticamente
idêntica à da pergunta, apenas retirando-se o questionamento. A pergunta de pesquisa propõe
uma pesquisa a partir do problema, e portanto ela deve ser de fácil compreensão e auxiliar o
pesquisador em sua abordagem da realidade, bem como permitir ao analista da pesquisa
compreender melhor o que será feito. A pergunta torna explícita o que se quer resolver ou
responder com a pesquisa (RAUEN, 2002, p. 51).
De acordo com Laville, Dionne (1999), a pergunta reflete o modo pelo qual o
pesquisador vê a realidade, a partir de suas teorias ou ideologia. Portanto, a pergunta guia a
abordagem que será dada ao problema da pesquisa. Eles propõem alguns critérios para uma
“boa” pergunta:
a) A pergunta deve ser significativa, ou seja, deve deixar transparecer que o problema é
significativo e o que se deve esperar da pesquisa realizada a partir dela;
b) A pergunta deve ser clara para o pesquisador e para o leitor, dificultando ou impedindo
confusões e erros de interpretação ao deixar clara a direção em que se irá pesquisar. Ou
seja, aqui a chave é a objetividade;
62
c) A pergunta deve ser exeqüível, ou seja, deve deixar claro que o pesquisador dispõe dos
meios para fazer a pesquisa e que existem dados que podem ser coletados para respondêla.
O conhecimento progride por meio de perguntas que, uma vez formuladas, são
investigadas em busca de uma resposta; para que tais respostas possam ser alcançadas, é
preciso formular hipóteses (tentativas de respostas à pergunta formulada no problema) que
serão testadas como respostas possíveis ao mesmo; no dizer de Laville, Dionne (1999), a
hipótese é uma solução antecipada ao problema de pesquisa. Richardson (1999) coloca que as
hipóteses permitem orientar a análise dos dados e auxiliam a aceitar ou rejeitar tentativas de
solução ao problema.
Nem todos os trabalhos de estágio precisam de hipóteses: elas são indispensáveis na
maioria dos estudos quantitativos e dos quali-quantitativos, mas não são obrigatórias nos
qualitativos. Entretanto, mesmo no caso destes, as hipóteses sempre estão subjacentes, pois o
pesquisador não se exime de antecipar soluções possíveis para o problema que ele mesmo
formulou.
Para a formulação das hipóteses, Richardson (1999) apresenta uma série de critérios
simples, mas eficazes:
a) Clareza: as hipóteses devem evitar o uso de conceitos obscuros ou discutíveis;
b) Empirismo: os conceitos devem ter bases empíricas;
c) Verificação: as técnicas disponíveis devem permitir a verificação das hipóteses;
d) Especificação: hipóteses amplas devem ser evitadas ou desdobradas em sub-hipóteses
menores;
e) Relação com a teoria: deve haver relação entre a teoria existente e a hipótese formulada;
f) Generalização: deve ser possível aplicar a hipótese não a fatos isolados, mas a aspectos
gerais da área a ser analisada.
g) Relação com o problema: não se pode formular hipótese alheia ao problema, que não dê
respostas prováveis a este.
Há diversos tipos de hipóteses, classificadas de diferentes maneiras. Gil (1991)
apresenta uma classificação simples:
a) Casuísticas: referem-se a características específicas de determinadas pessoas, objetos ou
fatos;
b) Frequência: referem-se à Frequência com que determinada característica se repete em um
grupo, uma sociedade, uma cultura;
63
c) Associação: estas hipóteses estabelecem uma relação de associação entre duas ou mais
variáveis procurando verificar até que ponto uma delas pode ser relacionada à outra;
d) Dependência: estabelecem que uma variável independente interfere em uma outra, dita
dependente. Há, portanto, relação de causalidade entre as variáveis.
As hipóteses podem derivar de diversas fontes diferentes: observação empírica da
realidade, feita pelo próprio pesquisador; outras pesquisas já feitas sobre o mesmo tema;
teorias já existentes; intuição do pesquisador (GIL, 1991).
8.2.3 Definição do local
Esta é uma das questões mais espinhosas a serem respondidas: aonde será realizado o
estágio? A legislação considera o estágio como uma oportunidade de colocar em prática os
conhecimentos teóricos que foram fornecidos na IE, o que evidentemente pressupõe que o
acadêmico realizará seu estágio em uma organização que lhe abra amplas oportunidades de
aplicação de seus conhecimentos. Na prática, entretanto, nem sempre isso é possível.
Um estágio pode ser em qualquer tipo de organização, tanto pública quanto privada, e
inclusive está aberta a possibilidade de realizá-lo em organizações comunitárias. Uma questão
comum é se o estágio curricular pode ser realizado na mesma organização em que o
acadêmico já trabalhe. Esta possibilidade está aberta, mas o estágio não pode ser realizado na
mesma atividade que o profissional já realiza, sob pena de perder sua característica central,
que é o aprendizado.
Para ajudar o acadêmico a escolher o local de seu estágio, alguns aspectos podem ser
mencionados. Em primeiro lugar, é preciso ter em mente as dimensões da empresa. Embora
muitos estágios de alta qualidade sejam realizados em microempresas, estas não são
adequadas para determinados tipos de trabalho. Estágios em Administração de Recursos
Humanos, por exemplo, dificilmente podem ser adequadamente realizados em empresas de
micro ou pequeno porte; na área de Materiais, entretanto, essas empresas são excelentes
oportunidades de aplicação de conhecimentos. Portanto, a primeira dica é: procure uma
empresa de tamanho adequado para a área em que você pretende realizar seu estágio,
isto é, uma empresa que tenha as dimensões adequadas para as restrições de trabalho que
cercam o estágio.
Outro aspecto refere-se ao tipo de empresa: pública, privada ou do terceiro setor? As
primeiras são normalmente interessantes campos para estudos nas áreas de Administração
64
Geral e Organização, Sistemas e Métodos, mas já não são tão interessantes para outras áreas
como, por exemplo, Administração de Recursos Humanos (devido às limitações impostas
pelo Estatuto dos Funcionários Públicos); dentro de Administração de Materiais e do
Patrimônio, o tema Compras normalmente não pode ser adequadamente trabalhado em
empresas públicas, devido às limitações da lei de licitações, embora normalmente essas
empresas possuam áreas de Estoques bem organizadas, que podem ser analisadas pelo
estagiário. Dessa maneira, a segunda dica consiste em: procure uma empresa que permita a
aplicação dos conhecimentos normalmente ministrados na IE em seu estágio.
Também é importante que a área em que o acadêmico pretende realizar seu estágio
seja de interesse da organização. Dessa forma, a escolha do local normalmente não é um
processo muito rápido, depende de negociação entre ambas as partes. É conveniente que, ao
abordar uma determinada organização, o estagiário já tenha em mente o que ele pretende
fazer, de maneira a chamar o interesse da mesma em seu trabalho; é importante que o
estagiário esteja preparado para ceder, mudar o tema do estágio, se for de comum acordo e a
empresa realmente for interessante para se realizar o trabalho. Portanto, a terceira dica é:
procure empresas que tenham interesse na área em que você pretende estagiar.
Mas, talvez, o aspecto mais importante seja este: em grande parte dos casos, a primeira
escolha não é a definitiva. O acadêmico precisa se preparar para procurar por outras empresas,
porque isso é o que normalmente acaba acontecendo, seja devido às características do
trabalho em si, seja da empresa, sejam inclusive problemas pessoais. Muitos excelentes
estágios foram realizados em empresas que estavam em “segundo lugar” na lista de
preferências do estagiário, sem demérito algum para o trabalho em si.
Sylvia Roesch (1999) recomenda as seguintes práticas para a escolha da organização:
a) Telefonar previamente, para localizar a pessoa a quem solicitar acesso;
b) Solicitar autorização por escrito à empresa;
c) Marcar visita à empresa, demonstrando entusiasmo pelo trabalho;
d) Obtida a empresa, enviar uma proposta preliminar;
e) Prometer entregar cópia do relatório final para a empresa.
Um outro aspecto: é sempre interessante que o estagiário esteja preparado em sua
primeira visita à empresa, buscando reunir previamente conhecimentos e informações sobre a
mesma, o ramo e o mercado em que ela opera, e assim por diante; uma visita ao website da
empresa, uma conversa com pessoas que já trabalhem nela, ajudam a acumular
conhecimentos a respeito do local do estágio e auxiliam a criar uma crucial primeira
impressão favorável do candidato a estagiário junto aos profissionais da empresa. Isso
65
demonstra interesse por essa empresa específica e pode ajudar a criar uma boa impressão
junto à mesma.
8.2.4 Definição do orientador
Idealmente, o orientador precisa ter três características fundamentais: afinidade com o
orientando, domínio da área e interesse pelo tema. Nem sempre é possível, entretanto,
juntar numa só pessoa essas características. Depende de cada pessoa determinar o que julga
mais importante, se é trabalhar com um professor a quem aprecia, ou se é trabalhar com
aquele que demonstra os maiores conhecimentos na área e no tema específico em que se
pretende realizar o estágio.
O papel do orientador no processo de estágio consiste essencialmente em prover meios
para a boa realização do estágio: fornecer indicações de bibliografia, facilitar contatos com a
empresa (quando necessário), sugerir (e discutir) meios e técnicas para a realização do estágio
e incentivar e motivar o estagiário (ROESCH, 1999). Além disso, espera-se que o orientador
seja capaz de tirar as principais dúvidas do estagiário em termos de metodologias adotadas
para a realização dos trabalhos.
O aspecto mais importante na escolha do orientador refere-se a uma questão
cronológica: é de suma importância contatar o orientador no início do processo, pois ele pode
colaborar ativamente na definição do tema a ser trabalhado, dos objetivos do estágio, na
seleção de bibliografia e na organização das etapas de trabalho. Dessa maneira, é fundamental
procurar o orientador nas primeiras fases do projeto de estágio, para que ele possa contribuir
ativamente no mesmo - e inclusive, para garantir a orientação.
É importante que o acadêmico procure despertar o interesse do orientador pelo
trabalho que está sendo realizado. Para que o processo de estágio conte com um envolvimento
total por parte do orientador, é essencial que o tema interesse a este, e o instigue a colaborar
da melhor maneira possível com o estagiário; embora o orientador deva ter domínio do
assunto, só isso não basta: é preciso que este se envolva em suas discussões com o estagiário,
sinta-se desafiado por este, tenha curiosidade a respeito dos resultados que serão alcançados.
Não se pode esquecer do que Roesch (1999, p. 39) afirma: "[...] a qualidade do
trabalho final é muito mais responsabilidade do aluno do que do orientador." Portanto, não se
pode esperar milagres dos orientadores de estágio; embora estes tenham um papel muito
importante a desempenhar, quem vai realmente determinar se o estágio possui boa qualidade é
o acadêmico, pois é este que irá realizar a pesquisa e redigir o trabalho.
66
8.3 PROJETOS DE ESTÁGIO
Os projetos de estágio consolidam os elementos definidos no Regulamento de Estágio
da faculdade, e definem o que o estagiário irá fazer, onde e quando essas atividades serão
desenvolvidas, além de delimitar como o estágio será feito. Como um planejamento do
trabalho a ser realizado, o projeto de estágio se mostra essencial para guiar o acadêmico no
desempenho das atividades, como uma indicação do trabalho para o supervisor da empresa, e
como um guia para o professor designado como orientador do estágio. Um bom projeto será
essencial para o sucesso do acadêmico na realização de suas atividades de estágio.
Os elementos básicos do projeto de estágio são:
a) capa;
b) sumário;
c) identificação do estágio;
d) objetivos geral e específico;
e) referencial teórico;
f) classificação do estágio;
g) cronograma;
h) descrição das etapas de realização;
i) referências;
j) anexos.
A seguir, será feita uma descrição sucinta de cada um desses elementos. Como dois
desses elementos (a capa e o sumário) já foram descritos anteriormente, não há necessidade
alguma de repeti-los aqui.
A identificação do estágio exige a apresentação dos seguintes aspectos: nome do
aluno, nome da organização em que o estágio será realizado (destacando, quando possível, o
setor da empresa em que as atividades ocorrerão), nome do professor orientador (que deverá
obrigatoriamente ser um professor da faculdade) e a identificação da área de conhecimento
(dentre as áreas previstas para o regulamento do estágio) e, dentro desta, do tema do estágio
(incluindo uma breve justificativa do porquê do trabalho).
Sobre este último aspecto, é conveniente apresentar algumas considerações. O tema é
o assunto, dentro da área de conhecimento, que será estudado ou pesquisado pelo acadêmico
(LAKATOS; MARCONI, 2001). O tema deve ser escolhido, segundo as autoras, de acordo
com as aptidões, as possibilidades, tendências e inclinações do acadêmico, e ser digno de uma
67
investigação científica, devendo ser formulado e delimitado dentro de uma pesquisa. O tema
deve ser preciso e específico (LAKATOS; MARCONI, 2001).
EXEMPLO: como a seleção de pessoal pode influir na rotatividade dos funcionários na
organização?
Para facilitar o processo de construção dos objetivos, é conveniente formular uma
pergunta ou problema de pesquisa. Isso significa que o acadêmico deve analisar a realidade
da organização na qual irá realizar o estágio, e encontrar nela uma questão cuja resposta possa
ser dada por ele dentro do período do mesmo. Um problema de pesquisa é, portanto, uma
questão formulada dentro do tema, que guiará a pesquisa e as atividades do estagiário dentro
da organização. A resposta a essa pergunta é dada pelo objetivo geral, como será visto a
seguir. Gil (1996) defende que um bom problema de pesquisa deve, além de ser formulado
como uma pergunta, ser claro e preciso (não deixando dúvidas sobre o que será feito), deve
ser empírico (ou seja, estar isento de valores), suscetível de solução e estar delimitado em uma
solução viável (isto é, não pode ser tão amplo que dificulte a solução dentro dos limites de
tempo, recursos e conhecimentos do estagiário). O elemento subseqüente diz respeito aos
objetivos do trabalho. Estes se dividem em objetivos geral e específicos. Segundo Lakatos,
Marconi (2001), o objetivo geral possui uma visão global, abrangente, do tema, e está
vinculado à significação da tese proposta pelo projeto. É neste sentido que se afirmou acima
que o objetivo geral consiste numa resposta à pergunta formulada pelo problema de pesquisa.
Já os objetivos específicos, por sua vez, “apresentam caráter mais concreto. Têm função
intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, por outro,
aplicá-lo a situações particulares” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 219). Os objetivos
específicos podem ser melhor compreendidos como sendo etapas de solução do problema,
contidas no objetivo geral. Dessa maneira, os objetivos específicos não podem, em hipótese
alguma, ultrapassar os limites estabelecidos pelo objetivo geral.
68
EXEMPLO:
Objetivo Geral:
Identificar técnicas de seleção de pessoal que permitam reduzir o índice de
rotatividade do pessoal dentro da organização
Objetivos Específicos:
Demonstrar os problemas e prejuízos de um alto índice de rotatividade de pessoal;
Analisar as técnicas de seleção hoje adotadas pela organização;
Analisar as técnicas de seleção recomendadas pela literatura de Recursos Humanos;
Identificar as técnicas mais adequadas às características da organização.
O momento seguinte consiste na elaboração de um referencial teórico. Este
referencial consiste numa primeira abordagem ao conteúdo teórico subjacente ao tema, feito
pelo acadêmico como suporte para a definição do problema e dos objetivos; os conceitos
incluídos nos objetivos são um guia para elaborar o referencial, uma vez que devem ser bem
compreendidos para que se possa operacionalizá-los em um trabalho de pesquisa. Um bom
referencial teórico abrange tudo o que possa ser considerado relevante ou necessário para
explicar o problema, além de orientar os métodos adotados no trabalho e os procedimentos
para a coleta e análise dos dados (ROESCH, 1999). Um bom ponto de partida para a
preparação do referencial teórico é a construção de um tópico de estudo, sendo esse tópico
uma frase (ou mesmo um título para o trabalho) que sintetize a ideia central a ser explorada ao
longo do estudo (CRESSWELL, 2007). Outra dica importante: é essencial verificar os
conceitos que são apresentados nos objetivos da pesquisa e explorar, mesmo que brevemente,
seus significados de acordo com os estudiosos do assunto.
EXEMPLO: um acadêmico escolhe a área Recursos Humanos e, dentro dela, o tema
Seleção de pessoal.
Cresswell (2007) apresenta um roteiro de como proceder para selecionar o material
necessário para a revisão da literatura no trabalho de estágio:
a) Se o assunto não for de domínio do pesquisador, enciclopédias podem ser consultadas
para dar uma visão geral;
b) Em seguida, é recomendável buscar artigos junto a periódicos respeitáveis, especialmente
aqueles que apresentem conclusões de pesquisas. Cresswell recomenda começar com os
mais recentes, partindo posteriormente para os mais antigos;
c) O passo seguinte é procurar os livros. Para o autor, deve-se começar com obras
monográficas sobre o tema, para depois buscar os livros que aprofundam tópicos
específicos e os livros organizados a partir da contribuição de diferentes autores;
69
d) A quarta etapa consiste em buscar as conferências, palestras e seminários mais recentes
sobre o assunto;
e) Finalmente, o processo se encerra com a consulta a teses e dissertações sobre o assunto,
dando-se preferência àquelas que provêm das universidades e instituições de ensino mais
respeitadas.
Após o referencial teórico, deve-se apresentar uma classificação do estágio, de acordo
com a abordagem dada ao problema, os meios utilizados para realizar a pesquisa e os fins aos
quais ela se destina. Para maiores informações a respeito da classificação, ver o item 9 deste
trabalho.
O elemento seguinte diz respeito ao cronograma de execução das atividades,
acompanhado da descrição das etapas de realização. O cronograma se refere ao
planejamento temporal do trabalho de estágio, apresentando as etapas necessárias ao
cumprimento das tarefas e atividades previstas ao longo de períodos de tempo. Após o
cronograma, o acadêmico deve definir as etapas de realização do trabalho, descrevendo
sucintamente quais as atividades serão cumpridas para o atingimento dos objetivos
previamente definidos.
O projeto de estágio irá ser concluído com os elementos pós-textuais. As referências
deverão apresentar no mínimo cinco obras diferentes, entre livros e artigos de revistas
científicas (artigos de jornais e de revistas não-científicas não devem ser apresentados – ou
seja, artigos de revistas como Exame, Você S.A., que têm cunho jornalístico, não podem ser
contados como referências para o projeto – por mais que pareçam adequados para o trabalho
que será realizado), que serão utilizadas no trabalho de estágio. Textos extraídos da Internet
podem ser referenciados, mas é preciso cuidar da confiabilidade das fontes (por exemplo,
material extraído de sites que oferecem auxílio a trabalhos acadêmicos, textos sem
identificação de autor ou de uma organização idônea, verbetes da Wikipedia, não se
constituem em fontes adequadas de referências para um trabalho acadêmico).
Finalmente, os anexos incluirão a carta de apresentação fornecida pela Coordenadoria
de Estágios (se tiver sido necessária), uma cópia do termo de compromisso e um parecer de
aprovação assinado pelo coordenador de estágios, que será emitido quando o projeto tiver
sido aprovado pelo orientador e pelo coordenador metodológico.
Os elementos supracitados são considerados essenciais para o projeto, portanto são
obrigatórios. Outros elementos que se mostrem necessários podem ser incluídos a critério do
orientador, do supervisor da empresa ou do próprio aluno. Além disso, a faculdade poderá,
70
através da Diretoria e da Coordenadoria de Estágios, incluir outros elementos que permitam
melhorar o processo de estágio.
8.4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO
O processo de estágio se esgota somente quando da apresentação de um Relatório de
Estágio e sua respectiva avaliação por um ou mais professores, bem como pelo coordenador
metodológico. Os elementos básicos do relatório são aqueles que foram apresentados na seção
2 deste documento (pré-textuais, textuais e pós-textuais), não sendo necessário repeti-los aqui.
Alguns desses elementos, entretanto, exigem algum desenvolvimento para facilitar sua
compreensão, e por isso serão abordados neste subitem para evitar maiores dificuldades por
parte dos acadêmicos.
A estrutura geral do TCE deve ser como a que segue:
a) capa;
b) folha de rosto;
c) página de aprovação;
d) dedicatória, agradecimentos e epígrafes (opcionais);
e) resumo e palavras-chave (obrigatório o resumo em vernáculo);
f) listas (Ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos – quando for o caso de sua
apresentação);
g) sumário;
h) introdução;
i) revisão bibliográfica;
j) estudo de caso;
k) considerações finais;
l) referências;
m) glossário (opcional);
n) apêndices e anexos (opcionais);
o) índices (opcionais).
O desenvolvimento do trabalho (elementos textuais) será composto por cinco grandes
grupos de elementos: a introdução, a metodologia, a revisão bibliográfica, a caracterização
das atividades desempenhadas pelo acadêmico no seu estágio e as conclusões alcançadas. Um
relatório de estágio dificilmente pode ser feito em menos de quarenta páginas, considerandose exclusivamente os elementos textuais.
71
Em primeiro lugar, é preciso falar a respeito da introdução do relatório. Consiste na
apresentação do trabalho propriamente dito. Deve preparar o leitor para o que virá a seguir no
trabalho, delimitando-o adequadamente e evitando criar falsas expectativas em relação ao seu
conteúdo. Ou seja, como uma abertura do trabalho, a introdução define o que será apresentado
e inspira o leitor a continuar a leitura. Uma boa introdução deve conter os seguintes
elementos:
a) Contextualização do tema: insere o tema escolhido dentro da área de conhecimento a que
pertence, usando elementos teóricos e/ou retirados da experiência do estagiário. Deve
caracterizar o problema de pesquisa formulado no objetivo do trabalho, ou seja, o que o
acadêmico investigará no mesmo. Deve incluir justificativa, destacando a relevância do
mesmo para o acadêmico, os benefícios advindos de sua realização e os beneficiários. A
justificativa, adicionalmente, deve relacionar o objeto do trabalho com o curso;
b) Objetivos geral e específicos: devem ser apresentados os objetivos efetivamente
cumpridos. Se o projeto previa objetivos que não foram alcançados, estes devem ser
desprezados (podem ser posteriormente apresentados dentro das limitações, indicando que
um determinado objetivo estava previsto, e não foi realizado pelas razões que são
apresentados);
c) Estrutura do estudo: consiste na apresentação resumida do conteúdo dos demais capítulos
do trabalho.
Após a introdução, o relatório deverá apresentar a revisão bibliográfica que dá
sustentação ao trabalho, consistindo na apresentação dos conceitos pertinentes ao seu
desenvolvimento. Esses conceitos devem ser apresentados na introdução, a partir dos
objetivos do trabalho. A bibliografia consultada deve abranger pelo menos cinco referências
sobre o assunto, sendo essas referências obtidas diretamente de livros ou revistas científicas
(referências jornalísticas ou da Internet não podem ser contadas para esse quesito), devendo
também trazer obras de metodologia científica e da pesquisa, que fundamentem a
caracterização do mesmo em termos metodológicos. Uma revisão bibliográfica não pretende
esgotar o assunto, e sim dar suporte às conclusões que o acadêmico chegou ao realizar o
estágio, e deve ser redigida de acordo com as regras da redação científica. De acordo com
Cresswell (2007, p. 45-46), a revisão tem os seguintes objetivos:
ela compartilha com o leitor os resultados de outros estudos que estão proximamente
relacionados ao estudo que está sendo relatado. Ela relaciona um estudo ao diálogo
corrente mais amplo na literatura sobre um tópico, preenchendo lacunas e ampliando
estudos anteriores [...]. Ela fornece uma estrutura para estabelecer a importância do
estudo e um indicador para comparar os resultados de um estudo com outros
resultados.
72
O elemento seguinte é o estudo de caso propriamente dito. Este capítulo consiste na
real contribuição do acadêmico ao assunto em tela, sendo, portanto, fundamental para o
sucesso do trabalho. Está dividido em algumas seções:
a) Metodologia da pesquisa: abrange a caracterização (tipo) de pesquisa, a população
pesquisada (ou amostra, quando for o caso) e os sujeitos pesquisados, Definição dos
instrumentos de coleta de dados (como mencionado no item 5.1, estes podem ser a
observação, a análise documental, a entrevista e o questionário) e a descrição dos
procedimentos utilizados para a consolidação dos dados coletados em informações que
permitam a construção de conhecimento. Deve, portanto, explicitar a origem e forma de
tratamento dos dados;
b) Caracterização da empresa: nome da empresa, setor econômico em que ela atua, dados
históricos, composição atual da presidência e diretorias, organograma, descrição dos
principais cargos; é conveniente posicionar a empresa em um ramo ou setor de atividades.
Adicionalmente, é recomendar tratar brevemente a respeito do setor específico em que o
acadêmico realizou suas atividades;
c) Descrição dos dados, análise e interpretação dos resultados: apresentação dos dados
obtidos na pesquisa, tratamento dos mesmos conforme a metodologia e a interpretação dos
resultados, à luz da bibliografia pesquisada. Este item consiste no resultado da pesquisa
propriamente dita, portanto, não pode ser uma simples enumeração de atividades
realizadas dentro da empresa. Espera-se que, ao responder a pergunta implícita na
formulação do problema enfrentado pelo estagiário, este demonstre domínio do tema e da
realidade empresarial, conhecimento de metodologia científica, e seja capaz de descrever
o trabalho realizado na empresa.
O elemento textual seguinte consiste nas considerações finais. Como um elemento de
fechamento do trabalho, deve responder as seguintes questões: quais foram os resultados
obtidos? Em que grau os objetivos propostos na introdução foram alcançados? Qual a reflexão
do acadêmico sobre o propósito do trabalho e suas limitações? O que de mais importante se
observou em termos de relação teoria administrativa X prática empresarial? O que se pode
recomendar para ampliar ou melhorar o estudo? Essas questões, naturalmente, terão sido
respondidas ao longo do trabalho, cabendo ao capítulo de considerações finais reuni-las e
consolidá-las; nunca se pode esquecer que as considerações finais não são lugar para
apresentar conteúdo novo, somente para resumir e concluir o trabalho. É conveniente, ainda,
destacar as dificuldades porventura enfrentadas pelo acadêmico no atingimento dos objetivos
73
(se houve mudança de algum objetivo desde a fase do projeto, pode ser interessante
mencioná-la como uma dificuldade); outro aspecto interessante refere-se às sugestões de
novos estudos, que podem guiar a empresa no aprofundamento do tema, servindo também
como apoio e estímulo aos futuros estagiários que porventura venham a ler o TCE.
Os elementos pós-textuais consistirão nas referências (já descritas), glossário,
apêndices e anexos e índices. O glossário se justifica no caso de existirem termos de sentido
obscuro ou diferente do corrente sendo usados ao longo do trabalho. Os apêndices e anexos
devem ser utilizados com parcimônia: apenas documentos que porventura acrescentem ao
trabalho devem ser apresentados. Dentre os apêndices (que são documentos de elaboração do
próprio autor da pesquisa) que devem ser acrescentados ao TCE, destacam-se os questionários
e formulários de entrevista aplicados, bem como descrições mais detalhadas da metodologia
de análise e tratamento dos dados, entre outros. Nos anexos (definidos como documentos
elaborados por outras pessoas), documentos internos da empresa que possam auxiliar na
compreensão das atividades realizadas são adequados e podem ser apresentados,
resguardados, naturalmente, quaisquer impedimentos ou restrições da empresa; outros
elementos que podem ser apresentados como anexo são catálogos e descrições de produtos e
serviços, documentos teóricos que auxiliem indiretamente na sustentação das conclusões,
entre outros. No que diz respeito aos anexos, é importante identificar suas fontes, de modo a
garantir que outras pessoas, interessadas no assunto, possam ter, se desejarem, condições de
acesso ao documento original, para conferência do mesmo. Finalmente, os índices se
constituem num conforto para o leitor, podendo ser organizados índices onomásticos (que
listam os nomes citados ao longo do trabalho) e remissivos (que enumeram os principais
assuntos tratados).
74
9 ABORDAGENS E CLASSIFICAÇÕES DA PESQUISA NO ESTÁGIO
Nesta Unidade, iniciar-se-á a apresentação dos aspectos metodológicos envolvidos na
pesquisa necessária para a realização do estágio. Em primeiro lugar, serão apresentadas as
duas abordagens de pesquisa (qualitativa e quantitativa), e, num segundo momento,
apresentar-se-á a questão da perspectiva temporal de estudo (sincrônica ou diacrônica).
9.1 ABORDAGENS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS
O primeiro aspecto a ser abordado diz respeito às diferenças entre as duas abordagens.
De modo geral, pode-se seguir a distinção proposta por Trujillo (2003), que afirma que a
pesquisa qualitativa busca verificar se uma determinada característica está presente na
população pesquisada, enquanto que a quantitativa deseja verificar a Frequência com que essa
característica ocorre nessa população. Este autor apresenta um interessante quadro-resumo,
que é apresentado a seguir:
Figura 4- Comparação entre as abordagens qualitativa e quantitativa
Objetivo
Representatividade estatística
Volume de informação
Profundidade
Teoria estatística
Tamanho da amostra
Tipo de análise
QUALITATIVA
verificar presença
baixa
médio ou elevado
elevada
não aplicável
poucos casos
subjetiva
QUANTITATIVA
mensurar presença
elevada
baixo ou médio
média
aplicável
muitos casos
objetiva ou numérica
Fonte: adaptado de Trujillo (2003, p. 11).
Como se pode observar, as duas abordagens podem ser consideradas complementares,
no sentido de que cada uma se concentra na realidade pesquisada de maneira diferente;
inclusive, diversos autores sustentam que a pesquisa qualitativa deve ser encarada como uma
preparação para a pesquisa quantitativa, no sentido de que ela permite gerar hipóteses sobre a
realidade, que esta buscará testar e comprovar ou refutar. Cresswell (2007) argumenta que,
hoje em dia, o questionamento é antes como posicionar uma pesquisa numa continuidade
entre o qualitativo e o quantitativo do que considerá-las numa oposição, reconhecendo a
existência de uma relação entre as duas abordagens.
75
Em pesquisas científicas, a abordagem qualitativa é muito usada nas Ciências
Humanas e Sociais para a produção de novos conhecimentos. A quantitativa, embora
aplicável a estas ciências, é muito usada nas Ciências Naturais e Exatas.
9.1.1 Pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa já foi considerada como a única forma de se fazer ciência; o
pensamento científico seria quantitativo por excelência, trabalhando com hipóteses e variáveis
quantificáveis que seriam testadas e verificadas matematicamente, fornecendo um
conhecimento perfeitamente científico; esta ideia, entretanto, não se sustenta mais, até porque
os dados são obtidos por meio de percepção sensorial, e esta nem sempre é quantificável
(KAUFMANN, 1977).
A pesquisa quantitativa, normalmente, procura identificar as relações de causa e efeito
entre os fenômenos. É recomendado utilizar, preferentemente, o enfoque da pesquisa
quantitativa quando o propósito do projeto implicar em medir a relação entre as variáveis, ou
em avaliar o resultado do sistema ou projeto (ROESCH, 1999), ou quando se pretende
trabalhar com a mensuração das características do fenômeno pesquisado, o que é feito
normalmente a partir da definição de uma amostra (TRUJILLO, 2003), ou seja, uma parte da
população que pode ser considerada representativa e que permite dessa forma conhecer as
características de toda a população sem a necessidade de pesquisar todos os seus
componentes. A pesquisa quantitativa, portanto, pretende desenvolver proposições do tipo
causa-efeito, apoiadas pela lógica e pelos dados (DAVIS apud BRYMAN, 1988). De acordo
com Cresswell (2007), a pesquisa quantitativa é feita para o desenvolvimento do
conhecimento através de raciocínio de causa e efeito, redução de variáveis específicas,
hipóteses e questões, mensuração de variáveis, observação e teste de teorias. Castro (2006)
indica que o raciocínio da pesquisa quantitativa é predominantemente dedutivo, pois o
pesquisador já possui suas hipóteses e deseja testá-las em campo, fazendo conjecturas a
respeito do assunto e testando sua correção.
Para a garantia de uma boa interpretação dos resultados, é recomendado a utilização
do melhor meio disponível para controlar o delineamento da pesquisa. Os métodos
(delineamentos) podem ser: experimento de campo; pesquisa descritiva; pesquisa explicativa.
Staw (apud ROESCH, 1999) coloca que a pesquisa quantitativa é apropriada na avaliação de
mudanças em grandes organizações. No caso das ciências sociais, quando utilizada a pesquisa
76
quantitativa, recomenda-se o delineamento do grupo de controle não equivalente, pois este
delineamento envolve mais de um grupo.
Um aspecto que pode ser considerado refere-se à questão de hipóteses de pesquisa.
Uma hipótese pode ser definida como uma proposição original, formulada a respeito de um
determinado fenômeno e que deve ser testada para ser confirmada ou refutada, ou seja, a
hipótese é uma "[...] proposição testável que pode vir a ser a solução de um problema." (GIL,
1996, p. 35). Toda hipótese envolve um conjunto de pelo menos duas variáveis. Define-se
variável simplesmente como sendo qualquer coisa que possa ser classificada em duas ou mais
categorias (GIL, 1995) e que possam ser objeto de uma mensuração (CRESSWELL, 2007),
pois pode assumir valores diferentes dentro da população; ou seja, idade, sexo, classe social,
atitudes em relação a um processo ou fenômeno, etc., são variáveis a partir das quais podem
ser estabelecidas hipóteses de pesquisa. Diante disso, Cresswell afirma que as hipóteses “[...]
são previsões que o pesquisador faz sobre a relação entre as variáveis.” (2007, p. 120).
Triviños (1995) assinala: na pesquisa quantitativa, as variáveis são medidas, ao passo que na
qualitativa, são descritas.
As relações entre variáveis são classificadas como:
a) Causais: envolvem uma variável independente e pelo menos uma dependente, sendo esta
influenciada pelo comportamento da primeira, e estão baseadas numa relação do tipo
causa-efeito;
b) Assimétricas: não há relação do tipo causa-efeito, mas uma variável influencia a outra;
c) Simétricas: não há influência de uma variável sobre a outra, ainda que ambas possam ter
uma causa comum;
d) Recíprocas: as variáveis influenciam-se mutuamente, interagindo e reforçando-se (GIL,
1995).
Um terceiro tipo de variável mencionado por Triviños (1995), complementar às
independentes e dependentes, é a chamada variável interveniente, que pode ser considerada
como uma variável que influi ou altera as dependentes e/ou independentes.
Muitos estudiosos da pesquisa afirmam que a pesquisa quantitativa é logicamente
estruturada de forma a permitir esse teste de hipóteses, as quais são normalmente formuladas
como relações causais a respeito dos fenômenos, dentro de um quadro teórico previamente
formulado (BRYMAN, 1988). Esse enfoque da pesquisa é severamente criticado pelos
autores, por dar excessivo destaque à teoria já existente; uma crítica recorrente seria o fato de
a pesquisa se tornar conservadora. De qualquer forma, a teoria tem papel dedutivo na pesquisa
quantitativa: o pesquisador apresenta uma teoria, coleta dados para fazer um teste e reflete
77
sobre os resultados obtidos em termos de conformação ou não entre esses resultados e a teoria
(CRESSWELL, 2007).
Um dos aspectos básicos da pesquisa quantitativa é sua capacidade de generalização; o
pesquisador que está realizando um estudo de caráter quantitativo normalmente está
procurando resultados que transcendam os limites estreitos de sua própria pesquisa; outro
ponto importante refere-se à ideia de repetição da pesquisa, ou seja, para que uma pesquisa
possa ser considerada válida, ela deve ter a capacidade de ser repetida por outro pesquisador
(BRYMAN, 1988) – ou seja, ela deve ser feita de modo a garantir que outra pessoa seja capaz
de realizar a mesma pesquisa.
Quando a pesquisa é de caráter quantitativo, as técnicas de coleta de dados são:
entrevistas; questionários; observação; testes, índices e relatórios escritos. As técnicas de
análise de dadoss são os métodos estatísticos, que são a Frequência, a correlação, e a
associação. Os processos de coleta e análise de dados são separados no tempo, sendo que a
coleta antecede a análise. Sobre a análise, é interessante mencionar o aspecto levantado por
Trujillo (2003): uma pesquisa quantitativa nada produz de novo sobre as características do
fenômeno. Pelo contrário, pode-se afirmar que ela normalmente só fornece informações sobre
a presença das características pesquisadas. Entretanto, como os resultados são objetivos e
verificáveis (TRUJILLO, 2003), a pesquisa quantitativa gera conhecimento que pode ser
aplicado em outros casos, ou generalizado para toda a população.
Os dados da pesquisa podem ser divididos em primários e secundários. Os primeiros
são colhidos diretamente pelo pesquisador, através dos diferentes métodos de coleta, ao passo
que os do segundo tipo são os dados que não são obtidos diretamente pelo pesquisador, por
exemplo: os arquivos, os bancos de dados, os relatórios (ROESCH, 1999). Daí se pode inferir
que, numa pesquisa exclusivamente bibliográfica, não há dados primários, somente
secundários.
EXEMPLO: Um estagiário deseja auxiliar no planejamento da estratégia de lançamento de
um novo produto no mercado. Assim, através da empresa, ele empreende pesquisa
quantitativa para verificar se a população-alvo desse produto de fato apresenta as
características previstas para tal população, e com que frequência elas ocorrem.
78
9.1.2 Pesquisa qualitativa
De acordo com Chizzotti (2006, p. 28), “o termo qualitativo implica uma partilha
densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse
convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção
sensível.” Ao colocar dessa forma, o autor explicita que a pesquisa qualitativa gera
conhecimento que passara desapercebido às pessoas, além de conectá-la ao contexto humano.
Para Malhotra (2001), a pesquisa qualitativa é uma metodologia não-estruturada, de
caráter exploratório, que se baseia em pequenas amostras e permite melhor compreensão do
contexto do problema. De forma geral, ela representa uma tentativa de conhecer com maior
profundidade um problema ou fenômeno, buscando descrever-lhe as características e
definindo-o melhor perante os olhos do pesquisador; alguns autores inclusive afirmam que a
tarefa básica da pesquisa qualitativa é produzir conhecimento, mas essa visão está envolta em
controvérsia. O raciocínio é predominantemente indutivo, permitindo exploração mais livre e
aberta do tema da pesquisa (CASTRO, 2006).
Para Cresswell (2007) a pesquisa qualitativa lida com os significados das experiências
individuais, os significados construídos histórica ou socialmente, para então construir
conhecimento; adicionalmente, essa abordagem trabalha com a pesquisa sobre as
reivindicações e a participação de grupos sociais.
De qualquer forma, a pesquisa qualitativa, muito utilizadas nas ciências sociais,
é apropriada nos casos de avaliação formativa, quando se trata de melhorar a
efetividade de um programa, ou plano, ou quando é o caso da proposição de planos,
ou seja, quando se trata de selecionar as metas de um programa e construir uma
intervenção, mas não é adequada para avaliar resultados de programas ou planos.
(ROESCH, 1999, p. 155).
A pesquisa qualitativa não deve ser considerada como antagônica à pesquisa
quantitativa. Essa oposição só ocorre se o recurso à formulação de hipóteses, a quantificação
do fenômeno, o tratamento estatístico, o raciocínio indutivo e o modelo das ciências naturais
forem considerados como as únicas formas de investigar cientificamente um determinado
fenômeno (CHIZZOTTI, 2006).
Na literatura é muito comum a apresentação da pesquisa qualitativa, seus métodos de
coleta e análise dos dados como sendo os mais apropriados para uma fase exploratória de
qualquer pesquisa, mesmo a quantitativa. Malhotra (2001) considera que a pesquisa
qualitativa pode ser usada como uma fase de preparação para a quantitativa, por sua
característica de contextualização do problema. Bryman (1988) afirma que os aspectos
79
quantitativo e qualitativo de uma pesquisa devem ser encarados como formas diferentes de
responder a um problema de pesquisa, mas não como oposição. O fato de a pesquisa
qualitativa ser de difícil generalização (TRUJILLO, 2003) faz com que seus resultados
tenham validade restrita, exigindo a complementação da pesquisa quantitativa.
Algumas características definem melhor a pesquisa qualitativa:
a) Compromisso com a perspectiva das pessoas estudadas: os fenômenos são sempre
estudados a partir das perspectivas e pontos de vista dos pesquisados;
b) Descrição: a pesquisa qualitativa normalmente envolve uma descrição acurada do
fenômeno e do cenário social pesquisado, não somente a partir do ponto de vista das
pessoas envolvidas, mas também dos pesquisadores;
c) Contextualismo: há um compromisso com o contexto geral aonde o fenômeno ocorre, ou
seja, é preciso situar os eventos e fenômenos no espaço social mais amplo em que
ocorrem;
d) Visão longitudinal: o corte longitudinal, a ser melhor delineado na próxima seção deste
capítulo, refere-se a uma visão processual do fenômeno, que é considerado como sendo
parte de uma evolução temporal;
e) Flexibilidade: a pesquisa qualitativa é, normalmente, menos estruturada que a quantitativa,
permitindo modificações no problema de pesquisa ou nos métodos, se for o caso, para
atingir melhores resultados;
f) Papel da teoria e dos conceitos: ao contrário da pesquisa quantitativa, que exige um forte
aparato teórico para funcionar a contento, a abordagem qualitativa não depende de
formulação teórica prévia, favorecendo uma estratégia de teorização a partir das
informações e dados coletados (BRYMAN, 1988).
Rossman e Rallis (apud CRESSWELL, 2007) afirmam que a pesquisa qualitativa
ocorre em cenário natural, utiliza métodos de coleta interativos e humanísticos, é emergente
(em vez de inteiramente configurada de antemão), é interpretativa (o que destaca o papel do
pesquisador como um intérprete dos dados), é holística, utiliza diferentes estratégias de coleta,
análise e comunicação de dados, baseia-se num raciocínio complexo, interativo e simultâneo
(usualmentedo tipo indutivo), e baseia-se profundamente na pessoa do pesquisador: seus
resultados não se dissociam da pessoa do pesquisador, seus valores, sua forma de ver o
mundo, seus interesses, aspectos que modelam a forma pela qual a pesquisa é delineada.
A pesquisa qualitativa pode ser considerada, apesar do que foi dito acima, como um
paradigma diferente de pesquisa, pois é uma alternativa de pesquisa que pode ser utilizada em
qualquer projeto. Problemas que envolvem a percepção dos sujeitos pesquisados, por
80
exemplo, são muito melhor trabalhados por intermédio da pesquisa qualitativa do que pela
quantitativa. Os delineamentos (métodos) mais utilizados são: estudo de caso, pesquisa-ação,
e pesquisa participante. As técnicas de coleta dos dados podem ser: entrevistas em
profundidade; uso de diários; entrevistas em grupo; técnicas projetivas; documentos; histórias
de vida.
As técnicas de análise são: análise de conteúdo; construção de teoria; análise de
discurso. Um aspecto central, concernente às análises do dados obtidos em uma pesquisa
qualitativa, é a não-generalização. O pesquisador deve ter o cuidado de sempre trabalhar a
pesquisa qualitativa a partir de um ponto de vista particular, aplicando suas conclusões ao
caso específico analisado, sem a preocupação de apresentar uma conclusão abrangente ou
válida a todas as situações às quais o problema se aplica. O principal objetivo de uma
pesquisa qualitativa deve se referir a uma compreensão do problema individual de pesquisa, a
mais ampla e profunda possível, sem buscar generalização.
EXEMPLO: Um estagiário foi encarregado de pesquisar a visão dos colaboradores, nos
diferentes níveis organizacionais da empresa, a respeito do processo de mudança
organizacional por ela realizado, em que foi delegada maior autonomia decisória a níveis
hierárquicos mais baixos.
9.1.3 Pesquisas quali-quantitativas
Adicionalmente, deve-se observar que alguns estudiosos de Metodologia recomendam
o uso de uma abordagem mista ou quali-quantitativa, em que elementos qualitativos se
mesclam aos quantitativos; de modo geral, muitas pesquisas qualitativas recorrem à
quantificação para obter melhores resultados, o que produz confusões a respeito de qual seria
a abordagem predominante.
A defesa do conceito de pesquisa quali-quantitativa é feita apontando o fato de que a
pesquisa quantitativa permite melhor tratamento dos dados e maior precisão nas conclusões,
embora não se aplique a certos dados qualitativos, de difícil quantificação; ou seja, trata-se de
verificar se a quantificação e o tratamento estatístico estão sendo utilizados como bases para
resultados mais complexos ou profundos do que a simples observância das características
pesquisadas. Cresswell (2007) considera que a pesquisa quali-quantitativa pode ser justificada
pela ideia de que os vieses de uma abordagem podem ser combatidos pelo uso da outra.
81
De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas quali-quantitativas (que o autor
denomina mistas) envolvem discussão de algumas questões:
a) Qual é a seqüência de implementação da coleta de dados qualitativos e quantitativos? Esta
pergunta visa determinar qual tipo de dados será coletado em primeiro lugar, ou se ambos
serão coletados simultaneamente;
b) Qual é a prioridade a ser dada à coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos? Da
mesma forma que a anterior, esta pergunta se volta para determinar se algum dos tipos de
dados será privilegiado em relação ao outro;
c) Em que momento os dados serão integrados? Os dados qualitativos e quantitativos podem
ser integrados na fase da coleta, da análise da interpretação ou numa combinação destas
etapas;
d) Há uma perspectiva teórica global na pesquisa? Essa perspectiva teórica orienta o trabalho
de pesquisa e dá uma direção para o estudo independentemente de considerações sobre
implementação, prioridade e integração de dados.
Para Cresswell (2007), ao adotar um método misto, o pesquisador pode quantificar
dados qualitativos ou qualificar dados quantitativos; pode explorar casos discrepatnes, ou seja,
durante a análise quantitativa dos dados, podem surgir casos que se desviam profundamente
dos demais, e a pesquisa qualitativa pode ser utilizada para aprofundar esses casos; pode
desenvolver instrumentos de pesquisa baseados na visão da população pesquisada a partir da
coleta qualitativa de dados; pode estudar a população em diversos níveis, realizando pesquisa
quantitativa com famílias e qualitativa com indivíduos específicos dentro dessas famílias, por
exemplo.
Castro (2006) afirma que as pesquisas qualitativas e quantitativas apresentam uma
“complementaridade virtuosa”, em que uma alcança resultados que à outra não é possível
atingir. Segundo o autor, enquanto a pesquisa quantitativa pergunta “o que acontece” e “como
acontece”, a qualitativa pergunta “por que acontece”, de modo que a pesquisa qualitativa “[...]
dá sentido e confiança à exploração quantitativa.” (CASTRO, 2006, p. 108, grifos do autor).
Ao estagiário interessado em fazer uma pesquisa quali-quantitativa, uma recomendação seria
fazer essas três perguntas:
a) A pesquisa deseja verificar o que acontece?
b) Ou, alternativamente, deseja verificar como acontece?
c) A pesquisa deseja saber o porquê dessa ocorrência?
Há vozes dissonantes, entretanto. Trujillo (2003), por exemplo, considera que as
pesquisas quali-quantitativas são uma exceção, ao menos no que tange às pesquisas de
82
mercado. A questão, portanto, está ainda envolta em controvérsia. Mas, de qualquer forma,
técnicas como a escala Likert, em que se atribui um número à satisfação de uma pessoa com
uma variável, são quali-quantitativas por excelência.
9.2 PERSPECTIVA TEMPORAL DE ESTUDO
Duas perspectivas podem ser consideradas dentro da dimensão temporal de estudo, a
saber:
a) Perspectiva diacrônica: refere-se aos estudos em que um fenômeno é estudado numa
dimensão de passado e/ou futuro, ou seja, analisa-se a evolução do fenômeno ao longo do
tempo (DUROZOI; ROUSSEL, 1993). Como um exemplo de pesquisa diacrônica em
Administração, poder-se-ia citar um estudo histórico de uma determinada organização,
desde sua fundação até os dias atuais. Outro exemplo seria o estudo da evolução das
cotações das ações de uma determinada empresa na Bolsa de Valores ao longo de um
determinado período de tempo;
b) Perspectiva sincrônica: neste caso, o fenômeno é estudado em um determinado instante,
isoladamente ou em relação com outros fenômenos e acontecimentos (DUROZOI;
ROUSSEL, 1993) que estejam ocorrendo simultaneamente. Ou seja, não se procura
estabelecer uma visão histórica ou evolutiva a respeito do objeto de pesquisa,
pressupondo-se que seja suficiente analisar sua situação atual. Um exemplo de perspectiva
sincrônica em Administração poderia ser uma pesquisa de mercado voltada para a
determinação das características da população-alvo de um determinado produto. Outro
caso, dentro do mesmo assunto apresentado na perspectiva diacrônica, seria, a partir da
cotação atual da ação da empresa na Bolsa, determinar quais são as percepções do público
em relação à companhia que a emitiu.
As duas perspectivas podem ser consideradas equivalentes aos cortes longitudinal e
transversal da pesquisa. O corte longitudinal se refere ao antes e depois, ou seja, a uma
perspectiva temporal de pesquisa do fenômeno observado, enquanto que o transversal explora
o fenômeno no momento em que ocorre. O estudo transversal é feito num determinado
momento do tempo, enquanto que o longitudinal descreve eventos ao longo do tempo, pois o
fenômeno estudado é afetado pelo passar do tempo (HAIR JR. et al., 2005). É importante
observar que, para Hair Jr. et al. (2005), esses cortes associam-se diretamente ao conceito de
pesquisa descritiva, que será visto em seção subseqüente deste trabalho.
83
Segundo Roesch (1999), em pesquisas quantitativas, o corte longitudinal da pesquisa é
o mais adequado, permitindo experimentos com grupos de pesquisa; o transversal, ainda que
não mencionado pela autora, também permite atingir bons resultados. Na pesquisa qualitativa,
como mencionado acima, o corte longitudinal é extremamente importante, e praticamente
insubstituível, uma vez que a visão histórica do fenômeno se torna essencial para sua
compreensão.
Nos trabalhos de estágio, a classificação via perspectiva temporal é dispensável.
Normalmente, os trabalhos são apenas parcialmente longitudinais, ou mais precisamente, são
eminentemente transversais, pois o período de tempo em que são realizados é muito curto e
não permite uma análise mais aprofundada. Isto não siginifica, no entanto, que os estudos
históricos sejam dispensáveis ou impossíveis nos trabalhos de estágio, mas sim que o foco
principal da pesquisa não será a evolução histórica do fenômeno. É, portanto, dispensável a
utilização desta classificação nos TCE.
9.3 TIPOLOGIA DAS PESQUISAS
9.3.1 Classificação quanto aos fins
A classificação quanto aos fins busca determinar o tipo de pesquisa de acordo com o
resultado final que ela deseja alcançar; sua lógica, portanto, está baseada no objetivo geral que
o pesquisador busca atingir ao realizar suas atividades. Uma pesquisa pode ser classificada
quanto aos fins em exploratória, descritiva, explicativa, metodológica, aplicada ou
intervencionista (VERGARA, 2000). A seguir, far-se-á uma breve descrição de cada um
desses tipos.
9.3.1.1 Pesquisa exploratória
A pesquisa exploratória é realizada, segundo Vergara (2000), em áreas em que existe
pouco conhecimento acumulado e sistematizado. É, portanto, adequada para o objetivo de
aumentar o número de conhecimentos sobre o assunto, ou, nas palavras de Gonçalves e
Meirelles (2004, p. 37), é “realizada para descobrir ou descrever melhor o(s) problema(s)-raiz
que são apontados através de sintomas (ou queixas) para se alcançar os objetivos.” Hair Jr. et
al. (2005), afirmam que a pesquisa eploratória é útil para o pesquisador que não sabe muito.
84
Lakatos, Marconi (2001) consideram que a pesquisa exploratória deve estar voltada
para a formulação de questões ou de problemas de investigação, que aumentem a
familiaridade do pesquisador com o assunto, desenvolver hipóteses sobre o tema pesquisado e
modificar ou esclarecer conceitos. Dencker (2000) observa que as pesquisas exploratórias
utilizam grande quantidade de dados extraídos de fontes secundárias, estudos de casos
selecionados e de observações informais, sendo os meios mais comuns de pesquisa
exploratória a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. Para Samara, Barros (2007), a
pesquisa exploratória tem como principais características a informalidade, a flexibilidade e a
criatividade, permitindo um primeiro contato com a realidade a ser investigada.
Cervo, Bervian e Silva (2007) afirmam que a pesquisa exploratória é muito utilizada
como primeira etapa para outras pesquisas e objetiva familiarizar o pesquisador com o
fenômeno investigado, realizando descrições precisas da realidade e buscando identificar as
relações existentes entre seus componentes. Adicionalmente, ela pode ser considerada como
uma importante forma de produzir hipóteses que serão testadas em pesquisas posteriores,
tornando a pesquisa exploratória que, pelas suas características, é fortemente qualitativa, um
delineamento que pode ser usado para iniciar estudos quantitativos. Como observam
Gonçalves e Meirelles (2004), a pesquisa exploratória conduz ao diagnóstico do problema;
após este, deve-se usar metodologia mais estruturada que permita uma investigação mais
aprofundada do mesmo e sua solução.
Uma conclusão evidente do exposto acima é: num Trabalho de Conclusão de Estágio
que utiliza o delineamento exploratório, o estagiário não pode deixar de apresentar
recomendações de novos estudos a partir do que verificou com sua pesquisa.
Um exemplo em Administração pode ser dado por um diagnóstico organizacional, em
que se procura entender globalmente a organização e determinar-lhe as principais
características, de modo a definir com maior precisão o que a leva a atuar de determinada
maneira no seu mercado.
9.3.1.2 Pesquisa descritiva
A pesquisa descritiva trabalha com as características de uma população ou de um
fenômeno, podendo estabelecer correlações entre variáveis, definindo também a natureza de
tais correlações, sem se comprometer com a explicação dos fenômenos descritos
(VERGARA, 2000). Pesquisas descritivas delineiam ou analisam as características de um fato
ou fenômeno, avaliam os resultados de programas, ou isolam variáveis-chave ou principais, e
85
são abordadas predominantemente de forma quantitativa (LAKATOS; MARCONI, 2001).
Questões essenciais a serem respondidas incluem: quem? O quê? Quanto? Como? Onde?
Quando? Por quê? [adaptado de um exemplo fornecido por Samara e Barros (2007)]
Para Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 65), a pesquisa descritiva “[...] observa, registra,
analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Busca descobrir, com
a maior precisão possível, a Frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão
com outros, sua natureza e suas características.” Normalmente esses fatos e fenômenos,
quando associados diretamente a uma população, não estão consolidados em documentos e os
dados têm que ser coletados diretamente onde são encontrados, ou seja, na realidade natural
da população pesquisada (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
Para Hair Jr. et al. (2005, p. 86), a pesquisa descritiva é delineada para “[...] medir as
características descritas em uma questão de pesquisa. As hipóteses, derivadas da teoria,
normalmente servem para guiar o processo e fornecer uma lista do que precisa ser
mensurado.” De acordo com esses autores, ela possui uma relação com a pesquisa
exploratória, pois esta pode indicar a existência de um fenômeno que a pesquisa descritiva
procurará aprofundar, buscando uma comprovação empírica da ocorrência deste fenômeno –
ou seja, a pesquisa exploratória pode fornecer a hipótese que a descritiva irá estudar.
A pesquisa descritiva normalmente é delineada quanto aos meios através do
levantamento (GIL, 1996; DENCKER, 2000). Gil (1996) observa que, em alguns casos, a
pesquisa descritiva se aproxima da explicativa, no momento em que o pesquisador procure
determinar também o relacionamento entre os fatos. Cervo, Bervian e Silva (2007) defendem
o uso do estudo de caso como um dos meios para a pesquisa descritiva, mas esta proposição é
controversa, pois a maioria dos autores identifica o estudo de caso com a abordagem
qualitativa.
É importante observar que, enquanto a pesquisa exploratória pode se valer
predominantemente de dados secundários, a pesquisa descritiva deve utilizar dados primários
obtidos diretamente pelo pesquisador a partir de entrevistas ou questionários aplicados junto à
população de pesquisa (SAMARA; BARROS, 2007).
A pesquisa descritiva é associada pela maioria dos autores à abordagem quantitativa,
mas Samara e Barros (2007) distinguem entre a pesquisa descritiva estatística, realizada
dentro dessa abordagem, e o estudo descritivo de caso, que segue a abordagem qualitativa.
Embora se possa admitir essa distinção no contexto das pesquisas de mercado, é necessário
observar que ela não é adotada no contexto mais amplo da metodologia da pesquisa científica.
86
Uma pesquisa descritiva em Administração pode ser exemplificada por um
mapeamento das características de sazonalidae do mercado em que uma empresa pretende
atuar.
9.3.1.3 Pesquisa explicativa
Este tipo de pesquisa analisa um fenômeno na busca de esclarecê-lo, torná-lo
compreensível ou justificá-lo, baseando-se numa pesquisa descritiva previamente realizada
(VERGARA, 2000). Ao procurar identificar os fatores que determinam, ou contribuem para, a
ocorrência dos fenômenos, baseiam-se no método experimental ou na observação, sendo
normalmente utilizados como meios de pesquisa a experimentação e a pesquisa ex-post-facto
(GIL, 1996; DENCKER, 2000). A pesquisa explicativa nem sempre pode ser aplicada nas
ciências sociais, uma vez que é, muitas vezes, difícil conduzir experimentos nestas (GIL,
1996).
Um exemplo de pesquisa explicativa em Administração pode ser dado por uma
pesquisa que procure determinar métodos mais eficazes de treinamento de pessoal, utilizando
métodos diferentes para cada grupo de profissionais.
9.3.1.4 Pesquisa metodológica
Está voltada para os métodos e instrumentos utilizados para captar e manipular a
realidade, ou seja, para os meios destinados a alcançar um determinado fim (VERGARA,
2000). É uma pesquisa que trabalha com a própria pesquisa, buscando definir se determinado
meio é adequado ou não para produzir o conhecimento pretendido e portanto está direcionada
para problemas teóricos e de produção do próprio conhecimento. Exige grande domínio do
fenômeno pesquisado, pois ela envolve o questionamento da forma mais adequada para
abordá-lo, investigá-lo e compreendê-lo.
Por exemplo, uma empresa especializada em pesquisa de mercado poderá empreender
uma pesquisa metodológica para determinar qual instrumento de coleta de dados (entrevista
individual, entrevista com focus group, questionário aplicado em campo, pesquisa
experimental com um grupo escolhido aleatoriamente, dentre outras possibilidades) é mais
adequado para produzir informações sobre o público-alvo.
87
9.3.1.5 Pesquisa aplicada
É um delineamento que busca solucionar um problema concreto, prático, da realidade
(VERGARA, 2000). Anders-Egg (apud MARCONI; LAKATOS, 1999) coloca que o
interesse da pesquisa aplicada é prático, pois seus resultados devem ser utilizados
imediatamente na solução de problemas da realidade. A pesquisa aplicada normalmente
identifica a situação-problema e busca, dentre as possíveis soluções, aquela que possa ser
mais adequada para o contexto específico; dessa maneira, não se pode ter a pretensão de
pesquisa capaz de criar conhecimentos novos, somente a de aplicar conhecimento já existente
a uma situação-problema.
Neste sentido, cria-se uma dificuldade de utilização do conceito por parte do
administrador, pois, como se pode observar, alguns dos exemplos supracitados se enquadram
como pesquisa aplicada. Entretanto, há que se considerar que uma pesquisa voltada para
verificar se um determinado método de seleção de pessoal se aplica à realidade de uma
empresa poderia ser colocada como um exemplo de pesquisa aplicada (há que se observar que
aqui o método já foi determinado como utilizável, e a pesquisa visa verificar se isso é uma
realidade), derivada diretamente do contexto da pesquisa metodológica.
9.3.1.6 Pesquisa intervencionista
A pesquisa intervencionista é aquela que se fundamenta numa intervenção do
pesquisador na realidade estudada, com a pretensão de modificá-la, de solucionar um
problema; ao contrário da pesquisa aplicada, pressupõe-se nesta forma a participação direta do
pesquisador na realidade estudada (VERGARA, 2000), abandonando toda e qualquer
pretensão de neutralidade e agindo na busca da mudança. É uma pesquisa que não pode ser
usada dentro da abordagem quantitativa, pois esta pressupõe a neutralidade do pesquisador.
Uma pesquisa intervencionista poderia ser exemplificada a partir do caso apresentado
acima para a pesquisa aplicada, apenas supondo-se que o pesquisador seja encarregado de
implantar o método na empresa estudada.
88
9.3.2 Classificação quanto aos meios
A classificação quanto aos meios aprofunda a classificação quanto aos fins, no sentido
de que um meio pode ser usado em mais de um tipo referido na listagem anterior, embora
existam meios mais adequados para determinados tipos, como mencionado acima. Esta
classificação também é chamada classificação quanto ao design (desenho, desígnio ou, mais
adequadamente, delineamento) da pesquisa (GIL, 1996). A classificação quanto aos meios
representa, portanto, uma forma mais completa de determinar como será feita a pesquisa e
pode ser utilizada como uma indicação do que se pode esperar em termos de instrumentos de
coleta de dados.
De acordo com Vergara (2000), as pesquisas se classificam quanto aos meios em
pesquisas de campo, de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex-post-facto,
participante, pesquisa-ação e estudo de caso. Um outro tipo, abordado por vários autores, mas
não mencionado por Vergara, é o levantamento. Brevemente, esses tipos podem ser
caracterizados como se segue.
9.3.2.1 Pesquisa de campo
É feita no local onde ocorre ou ocorreu um determinado fenômeno, havendo neste
elementos que permitam explicá-lo, sendo os dados coletados por intermédio de entrevistas,
questionários, testes ou observação participativa (VERGARA, 2000). Trata-se, como colocam
Hair Jr. et al. (2005), do ambiente natural do fenômeno. O pesquisador deve determinar qual é
o contexto relevante (HAIR Jr. et al., 2005) de ocorrência do fenômeno e proceder à
investigação. Em relação à pesquisa de laboratório, a pesquisa de campo é mais realista,
menos limitada em termos de resultados plausíveis e apresenta maior flexibilidade (HAIR JR.
et al., 2005).
A pesquisa de campo se aproxima do levantamento, que será apresentado mais abaixo
– mas é preciso ter em mente que o levantamento é associado à abordagem quantitativa, o que
não ocorre necessariamente com esta classe.
89
9.3.2.2 Pesquisa de laboratório
O laboratório é um local restrito, em que se possa conduzir uma experiência que, no
campo, seria impossível (VERGARA, 2000). Conforme Hair Jr. et al. (2005), a pesquisa de
laboratório pode ser considerada como a manipulação de uma variável em ambiente artificial,
em que o controle pode ser completo; para este autores, este delineamento é o mais preciso de
todos, em termos científicos. A pesquisa de laboratório permite maior controle sobre as
variáveis, redução das influências exteriores e permite projetos de menor escala (HAIR JR. et
al., 2005).
O laboratório não é necessariamente um lugar físico: uma simulação da realidade feita
por computador é classificada como uma pesquisa de laboratório, de acordo com Vergara
(2000).
9.3.2.3 Pesquisa documental
É a pesquisa realizada em documentos arquivados em locais públicos ou privados,
com pessoas, registro, anais, diários, cartas, comunicações informais, etc. (VERGARA,
2000), ou seja, com fontes de dados ainda não tratadas analiticamente ou reelaboradas por
outros autores, divididas em fontes de primeira mão (conservadas em arquivos ou pessoais) e
de segunda mão (relatórios empresariais ou de pesquisa e dados estatísticos), que devem ser
representativos e corretamente interpretados pelo pesquisador (GIL, 1996; DENCKER, 2000).
O conceito de documento é bastante amplo, indo além do próprio material escrito, usualmente
associado à ideia. Esta apostila trabalha com maior profundidade tanto esse tipo de pesquisa
quanto a pesquisa bibliográfica por considerá-los básicos para qualquer projeto.
9.3.2.4 Pesquisa bibliográfica
É a pesquisa realizada através de material já publicado em livros, revistas, jornais,
meios eletrônicos acessíveis ao público em geral (VERGARA, 2000). Praticamente todos os
projetos de pesquisa exigirão um levantamento bibliográfico para elaboração de conceitos e
do marco teórico, sendo necessário tomar muito cuidado com possíveis erros das fontes
(DENCKER, 2000). Rauen (2002) coloca: a pesquisa bibliográfica opera com o acervo
bibliográfico da humanidade, que Gil (1996) divide em livros de leitura corrente (obras
literárias ou de divulgação de conhecimentos técnicos e científicos), livros de referência.
90
(obras de consulta que permitem obter rapidamente acesso às informações ou a obras que as
contenham) e publicações periódicas. A pesquisa bibliográfica é um meio de formação de
conhecimento e busca o domínio de um determinado tema, podendo inclusive ser produzida
para um trabalho científico original (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
9.3.2.5 Pesquisa experimental
Um experimento é uma investigação na qual o pesquisador manipula e controla
variáveis independentes e observa seus efeitos no comportamento das dependentes, sendo
normalmente realizada em campo, embora também possa ser feita em laboratório
(VERGARA, 2000), ou, mais simplesmente, ela “consiste em determinar um objeto de
estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de
controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.” (GIL, 1996, p. 53). Nas
ciências sociais, é normalmente associada a analisar as características de um grupo antes e
depois de aplicar-se um determinado estímulo (o próprio experimento), de dois grupos aos
quais são aplicados o mesmo estímulo, e de dois grupos antes e depois do estímulo
(DENCKER, 2000). Esses grupos são definidos como experimentais e de controle (GIL,
1996).
De acordo com Cresswell (2007), as pesquisas experimentais utilizam uma amostra e
têm seus resultados generalizados para toda a população, e são realizadas por meio de uma
intervenção ou tratamento, que modifica os resultados desta amostra, sendo desprezados
outros fatores que porventura possam influenciá-los. Em cada delineamento experimental, é
importante definir a variável independente ou variável de tratamento, ou seja, aquela que, uma
vez introduzida, produzirá modificações em uma ou mais variáveis dependentes. Alguns tipos
de experimentos são definidos pelo autor:
a) Projetos pré-experimentais: o pesquisador estuda um só grupo e introduz mudanças
neste (ou seja, intervém junto a alguma variável);
b) Projetos quase-experimentais: o pesquisador estuda os grupos experimental e de
controle, mas não distribui aleatoriamente a população entre esses grupos;
c) Experimento verdadeiro: também chamado por alguns autores “experimento clássico”,
consiste num estudo de grupos experimental e controle cujos membros foram designados
aleatoriamente pelo pesquisador;
d) Projeto de sujeito único: apenas uma pessoa (ou um grupo muito reduzido de pessoas)
tem seu comportamento estudado ao longo do tempo (CRESSWELL, 2007).
91
As pesquisas experimentais nas ciências humanas e sociais têm fortes implicações
éticas, pois envolvem a manipulação direta de variáveis associadas a seres humanos, exigindo
grande atenção do pesquisador para a sua realização. Por suas características, pode-se
observar que são muito pouco aplicáveis à realidade dos estágios.
9.3.2.6 Pesquisa ex-post-facto
Este delineamento trabalha com um fato já ocorrido, não sendo portanto possível ao
investigador controlar ou manipular as variáveis (VERGARA, 2000). É uma pesquisa quaseexperimental, baseando-se nos mesmos pressupostos da experimental, diferenciando-se desta
pelo fato de que o pesquisador não controla as variáveis; permite considerar aspectos
históricos essenciais para a evolução e comportamento das estruturas sociais e normalmente
se baseia na comparação entre dois grupos semelhantes, mas com diferenças que possam ser
atribuídas a um fator que ocorre em apenas um deles (DENCKER, 2000). É um
“experimento” realizado depois dos fatos terem ocorridos, no qual esses fatos ocorreram
espontaneamente, como nota Gil (1996). Observa-se que a pesquisa ex-post-facto mescla
características da pesquisa qualitativa (como a ênfase na visão histórica) e da quantitativa
(como os pressupostos da pesquisa experimental).
Estudos avaliativos, em que se procura determinar a eficiência, a eficácia e a
efetividade de uma intervenção na realidade, podem se enquadrar no conceito de pesquisa expost-facto, dependendo da forma pela qual são delineados.
9.3.2.7 Pesquisa participante/participativa
Qualquer delineamento participante/participativo pressupõe uma indistinção entre as
figuras do pesquisador e a do pesquisado, exigindo portanto que pessoas investigadas
participem
da
pesquisa
(VERGARA,
2000).
Dentro
do
conceito
da
pesquisa
participante/participativa, o pesquisador assume o ponto de vista da produção popular de
conhecimento, que assume a premissa de que a população pesquisada é capaz de compreender
e modificar sua realidade (o que, na prática, transforma elementos da população pesquisada
em pesquisadores, detentores de conhecimento necessário para a realização da pesquisa,
capacitados a controlar o processo de investigação), democratizando dessa forma a produção
do conhecimento e embasando a pesquisa numa concepção ética (CHIZZOTTI, 2006). O
pesquisador não é somente um observador da realidade, é um ator nela inserido. Dessa
92
maneira, é uma pesquisa essencialmente qualitativa, não se podendo utilizá-la adequadamente
em estudos quantitativos, pois o envolvimento do pesquisador com a realidade pesquisada
impede que se tenha a neutralidade e a imparcialidade científicas característicos dos
delineamentos quantitativos.
O pesquisador assume uma função dentro do grupo pesquisado, embora não obedeça a
nenhuma proposta de ação anteriormente determinada; o grupo pesquisado é conscientizado
da presença do pesquisador, de seus objetivos e finalidades, e este observa e analisa as ações
daquele no momento em que elas ocorrem (DENCKER, 2000). Gil (1996) e Rauen (2002)
afirmam que essa pesquisa normalmente pressupõe um comprometimento do pesquisador
com a classe pesquisada, usualmente uma classe economicamente menos favorecida, e uma
distinção entre uma “ciência popular” e uma “ciência dominante”); Rauen (2002) menciona
também alguns problemas deste delineamento, como a dificuldade de definir um plano
rigoroso de pesquisa e de desenhos metodológicos. Por outro lado, há que se observar que se
trata de um delineamento que permite grande flexibilidade no desenho da pesquisa.
Uma outra crítica comum, feita por diferentes autores, ao delineamento participante é
o forte conteúdo ideológico que pode ser percebido no mesmo, já que o pesquisador possui
um ponto de vista que o norteia e assume a postura de alguém que deseja conscientemente
transformar a realidade.
9.3.2.8 Pesquisa-ação
Pode ser considerada como uma variante da pesquisa participante, em que o
pesquisador intervém na realidade pesquisada (VERGARA, 2000). Há um envolvimento
participativo e cooperativo do pesquisador com os pesquisados, e a situação investigada
normalmente corresponde a uma ação ou resolução de um problema coletivo, e o pesquisador
age sobre a realidade pesquisada (DENCKER, 2000). Essa pesquisa é planejada e possui
caráter social, educacional, técnico, etc., distinguindo-se portanto da pesquisa participante
(GIL, 1996).
Uma definição de pesquisa-ação é dada por Thiollent (apud GIL, 1996, p. 60), que a
descreve como
[...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
93
Kurt Lewin é considerado como o “pai” da pesquisa-ação (CHIZZOTTI, 2006).
Baseando-se no conceito da pesquisa experimental, Lewin trabalha com a ideia de um
pesquisador que modifica a realidade social para poder conhecê-la e implementar as
mudanças desejadas. Em linhas gerais, a pesquisa-ação envolve a definição e a formulação de
um problema, a implementação, execução e avaliação da ação, e finalmente a continuidade da
ação ao longo do tempo (CHIZZOTTI, 2006). Como tal, a pesquisa-ação vem sendo muito
utilizada nas ciências humanas e sociais, baseando-se em uma abordagem qualitativa dos
fenômenos investigados. É difícil distingui-la com precisão da pesquisa aplicada, mesmo que
esta seja delineada como fim e a pesquisa-ação seja delineada como meio.
9.3.2.9 Estudo de caso
Um dos delineamentos mais populares de pesquisa, o estudo de caso trabalha com uma
ou com poucas unidades de pesquisa (como, menciona Dencker, 2000, um indivíduo, um
grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou inclusive uma situação observada),
aprofundando e detalhando os conhecimentos sobre esta, podendo ser realizada em campo ou
não (VERGARA, 2000); tal aprofundamento do conhecimento normalmente é impossível nos
outros delineamentos (GIL, 1996). Isso torna o estudo de caso uma classificação ideal para as
pesquisas exploratórias (CHIZZOTTI, 2006).
O estudo de caso não é fácil de definir, mas um dos maiores especialistas neste tipo,
Robert K. Yin, propõe:
1.
2.
Um estudo de caso é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando
os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
[...]
A investigação de estudo de caso
enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais
variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado,
baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando
convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado,
beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para
conduzir a coleta e a análise de dados. (YIN, 2005, p. 32-33).
Dentro desse contexto, para Yin o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que,
enquanto método, abrange tudo – o planejamento, as técnicas de coleta e as abordagens de
análise dos dados.
De acordo com Chizzotti (2006, p. 135), o estudo de caso “objetiva reunir os dados
relevantes sobre o objeto de estudo e, desse modo, alcançar um conhecimento mais amplo
94
sobre esse objeto, dissipando as dúvidas, esclarecendo questões pertinentes, e, sobretudo,
instruindo ações posteriores.”
Normalmente é utilizado em fases iniciais de pesquisa, para estabelecer hipóteses ou
reformular problemas e, embora possua grande profundidade em termos da situação
pesquisada, estimule novas descobertas, seja simples e enfatize a análise da totalidade, suas
conclusões não podem ser generalizadas (DENCKER, 2000; RAUEN, 2002). Exige um
pesquisador experiente, que domine conhecimentos sobre a situação pesquisada (DENCKER,
2000; MARTINS, 2006).
O estudo de caso é criticado por não permitir a generalização das conclusões, sem base
amostral que o solidifique, e por conferir ao pesquisador a sensação de que ele domina uma
realidade específica (CHIZZOTTI, 2006). Um ponto importante, mencionado por Martins
(2006), refere-se ao fato de que o pesquisador envolvido em um estudo de caso normalmente
não possui controle sobre a realidade pesquisada, sendo a pesquisa realizada dentro do
contexto em que o fenômeno se verifica, apoiado por um embasamento teórico.
Para Chizzotti (2006), o estudo de caso envolve quatro fases:
a) Plano de pesquisa: nesta fase, o pesquisador estabelece os objetivos e as questões a serem
investigadas. Faz-se a revisão da literatura existente sobre o caso, a definição da unidade
de análise e a consulta ao material disponível para a pesquisa (livros, documentos,
relatórios, leis, etc.). Adicionalmente, negocia-se com os envolvidos o acesso aos dados,
às pessoas e aos lugares.
Martins (2006) observa que o planejamento do estudo de caso pode ser consolidado
num protocolo, em que os procedimentos adotados são apresentados de modo a garantir que
outro pesquisador possa, se desejar, replicar o caso em outro contexto. Este cuidado permitiria
superar a crítica de que os estudos de caso não permitem a generalização das conclusões: ao
replicar o caso em outro contexto, o pesquisador daria um importante passo no sentido de
produzir conclusões científicas válidas.
b) Trabalho de campo: consiste na coleta de informações sobre o caso pesquisado,
utilizando informações dos mais variados tipos. A entrevista é muito usada para coletar
informações diretamente com as pessoas;
c) Organização de registros: os documentos obtidos em relação ao caso são devidamente
consolidados, indexados e organizados de modo a garantir fácil acesso do pesquisador aos
mesmos, para dirimir dúvidas, corroborar inferências e avaliar dados provenientes de
outras fontes;
95
d) Redação do relatório: faz-se a descrição do material coletado, sistematizando as
informações obtidas de modo a permitir ao leitor uma visão do material coletado. Deve-se
evidenciar as relações entre os dados e confirmar ou refutar as eventuais hipóteses
propostas para o estudo, de modo a impedir interpretações alternativas.
Um aspecto importante mencionado por Martins (2006) é o fato de que, num estudo de
caso, a análise e a reflexão do pesquisador sobre os dados pesquisados é permanente,
acontecendo em vários momentos da pesquisa – ou seja, não se espera pela conclusão da fase
de coleta de dados para analisá-los.
9.3.2.10 Levantamento
Como mencionado anteriormente, o levantamento não é mencionado por Vergara em
sua classificação, mas é trabalhado por diversos outros autores (como por exemplo GIL, 1996;
DENCKER, 2000). Um levantamento se caracteriza pela interrogação direta das pessoas
pesquisadas, às quais o pesquisador solicita informações, analisando-as quantitativamente e
procedendo a conclusões; quando abrangem toda a população disponível para pesquisa,
chama-se censo - mas, normalmente, procede-se à pesquisa de uma amostra representativa
dos indivíduos que compõem a população (GIL, 1996). Os levantamentos têm a vantagem de
permitir um conhecimento direto da realidade, pois trabalham com os próprios pesquisados,
são econômicos e rápidos e permitem quantificação dos dados, mas se baseiam na percepção,
não permitem maior profundidade de estudo e permitem uma percepção limitada de processos
de mudanças, sendo mais adequados para estudos descritivos, tendo pouca utilidade para os
explicativos (GIL, 1996). Dencker (2000) observa: um levantamento é como uma fotografia,
uma visão estática do momento pesquisado.
Cresswell (2007) associa o levantamento à pesquisa quantitativa. Para este autor,
um projeto de levantamento dá uma descrição quantitativa ou numérica de
tendências, atitudes ou opiniões de uma população ao estudar uma amostra dela. A
partir dos resultados da amostragem, o pesquisador generaliza ou faz conclusões
acerca da população. (2007, p. 161-162).
Os levantamentos, como se pode observar, trabalham com várias das classificações
que foram apresentadas acima, e por isso não se recomenda utilizá-lo como uma das classes
de pesquisa aplicáveis aos trabalhos de estágio.
96
9.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Vistas as principais classes de pesquisa, é mister observar que elas não são estanques,
pois pesquisas bibliográficas e levantamentos muitas vezes são feitos em conjunção, no
sentido de permitir uma compreensão mais profunda da realidade. O único critério para a
escolha do tipo de pesquisa a ser empreendido é o problema, de acordo com os
desdobramentos realizados em objetivos geral e específicos. Ou seja, o que vai determinar o
tipo de pesquisa é a pergunta que a norteia e, a partir desta, os objetivos que se pretende
alcançar. Recomenda-se a leitura de Gil (1996) para maior aprofundamento da classificação
quanto aos meios, e de Roesch (1999) para um tratamento mais amplo dos estudos de caso em
Administração.
No que diz respeito à classificação dos TCE, o que se recomenda é inicialmente
classificar quanto à abordagem, prosseguindo com a classificação quanto aos fins e
encerrando com a quanto aos meios. É importante observar que, no que diz respeito à
abordagem, apenas uma classificação é possível, enquanto que nas classificações quanto aos
meios e aos fins seja possível escolher mais de uma (no caso da classificação quanto aos
meios, é visível que o estagiário utilizará mais de uma classificação por vez). Essa forma
permitirá uma visão mais completa do trabalho e facilitará a compreensão dos seus resultados,
quando mensurados contra os objetivos.
97
10 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS – AMOSTRA DE PESQUISA
A importância da metodologia, em qualquer trabalho de pesquisa, não pode ser
corretamente estimada. Muitos projetos são dificultados por causa de delineamentos
inadequados de pesquisa, que dificultam a coleta, a análise e o tratamento dos dados. Esta
unidade pretende fornecer indicações para responder às seguintes perguntas:
a) Como se fará a pesquisa na empresa?
b) Quem será pesquisado?
Em primeiro lugar, entende-se por metodologia simplesmente o estudo do método.
Este pode ser definido como o "[...] caminho para se chegar a determinado fim." (GIL, 1995,
p. 27), ou, mais precisamente, "[...] o conjunto de etapas e processos a serem vencidos
ordenadamente na investigação dos atos ou na procura da verdade." (RUIZ, 1995, p. 137). No
caso específico das pesquisas acadêmicas e dos relatórios de estágio, adota-se o método
científico, que vem a ser "[...] o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para se
atingir o conhecimento." (GIL, 1995, p. 27). O método não é infalível, nem garante um
resultado final de qualidade; nas palavras de Ruiz, "o método é um extraordinário instrumento
de trabalho que ajuda, mas não substitui por si só o talento do pesquisador." (RUIZ, 1995, p.
137-138).
O primeiro aspecto a ser abordado na Metodologia consiste na definição do tipo de
trabalho a ser realizado na empresa (ver capítulo 9 deste trabalho). A escolha de um dos
diversos tipos será feita a partir do objetivo geral do estágio. Naturalmente, a interação entre a
empresa e o acadêmico será essencial para definir o que exatamente será feito durante o
estágio. A escolha de um dos tipos de pesquisa deve ser norteada também pelas abordagens de
pesquisa (qualitativa e quantitativa), pelas perspectivas temporais (sincrônica e diacrônica),
nos casos em que for válido trabalhá-las e pelas classificações quanto aos meios e quanto aos
fins.
Definido qual será o tipo de pesquisa, é preciso decidir quais serão os instrumentos de
coleta de dados, ou seja, quais serão as técnicas adotadas para levantar, junto à organização ou
a seu ambiente, as informações necessárias para o atingimento do objetivo geral. Esse assunto
será objeto do capítulo 11 desta apostila. No momento, é fundamental definir alguns aspectos
em relação à população e à amostra de pesquisa.
98
10.1 POPULAÇÃO DE PESQUISA
Em linhas gerais, a população
É um conjunto definido de elementos que possuem determinadas características.
Comumente fala-se de população como referência ao total de habitantes de um
determinado lugar. Todavia, em termos estatísticos, uma população pode ser
definida como o conjunto de alunos matriculados numa escola, os operários filiados
a um sindicato, todos os integrantes de um rebanho de determinada localidade, o
total de indústrias de uma cidade, toda a produção de televisores de uma fábrica etc.
(GIL, 1995, p. 91-92).
Numa formulação um pouco mais simples, Malhotra (2001, p. 301) conceitua
população como “[...] agregado, ou a soma, de todos os elementos que compartilham algumas
características comuns.” Rosental e Frémontier-Murphy (2002) afirmam que a população
consiste no conjunto sobre o qual incidem as observações, devendo ser definida da forma
mais precisa possível. A população, dessa forma, consiste no universo a ser pesquisado,
definido a partir do problema, da pergunta, das hipóteses e/ou dos objetivos da pesquisa.
Num projeto de estágio, a população vai depender dos objetivos do mesmo. Como
Roesch (1999) coloca, o estágio pode se concentrar num departamento de uma empresa (no
qual a população seria simplesmente o número de pessoas que trabalham nesse
departamento), ou englobá-la totalmente (neste caso, a população seria composta por todos os
funcionários da empresa, independentemente do setor aonde trabalham). Em outros casos, o
estagiário poderá estar analisando a empresa em sua interação com variáveis do ambiente
externo; nesse caso, a população será bastante ampla e exigirá grandes cuidados em termos de
definição de quem será pesquisado.
Na definição da população, o pesquisador deve ser cuidadoso na definição das
características da mesma. Na formulação de Rosental e Frémontier-Murphy (2002), as
características são os aspectos distintivos da população como, por exemplo, as faixas etárias,
as faixas de renda, a escolaridade, etc. Como essas características variam de um indivíduo
para outro, elas também podem ser chamadas variáveis (ROSENTAL; FRÉMONTIERMURPHY, 2002). É importante observar que as características dos indivíduos podem ser
tanto qualitativas quanto quantitativas: as primeiras não podem ser medidas em escalas
numéricas, como ocorre com as outras (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002).
Assim sendo, no exemplo acima, enquanto faixas etárias e de renda são características
qualitativas, a escolaridade é uma característica quantitativa. Observar as características da
população é essencial para definir instrumentos de coleta de dados, já que estes poderão ser
modificados a partir do que a população de fato apresenta como suas peculiaridades.
99
Dentro das variáveis quantitativas, é possível assumir duas formas diferentes:
variáveis contínuas, que podem assumir quaisquer valores numéricos dentro de um intervalo,
e variáveis descontínuas, que só podem assumir valores discretos, ou seja, não permitem
valores intermediários (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002). Por exemplo, o
número de filhos de um casal não pode ser expresso continuamente (não se pode ter 2,5
filhos!), enquanto que a renda de uma pessoa pode assumir qualquer valor expresso em
unidades monetárias: um indivíduo localizado na faixa de renda de R$ 380,00 a R$ 760,00
pode possuir uma renda de R$ 544,36 – diferente, é claro, de uma renda de R$ 545,01.
Por sua vez, as características qualitativas podem assumir diversas modalidades
diferentes (ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2002) – o que vem a ser o equivalente
qualitativo dos valores das variáveis quantitativas. Por exemplo, um indivíduo pode assumir
qualquer uma das seguintes modalidades dentro da característica geral “emprego”:
profissional liberal, comerciante, comerciário, industriário, etc.
10.2 AMOSTRA
Por amostra entende-se o
Subconjunto do universo ou da população, por meio do qual se estabelecem ou se
estimam as características desse universo ou população. Uma amostra pode ser
constituída, por exemplo, por cem empregados de uma população de 4000 que
trabalham em uma fábrica. Outro exemplo de amostra pode ser dado por
determinado número de escolas que integram a rede estadual de ensino. Outros
exemplos: uma quantidade definida de peixes retirados de determinado rio, certo
número de parafusos retirados do total da produção diária de uma indústria ou um
cálice de vinho de um tonel. (GIL, 1995, p. 92).
Uma boa amostra obedece a dois critérios essenciais, segundo Cooper, Schindler
(2003): acuidade e precisão. O primeiro critério refere-se ao grau em que os vieses ficam de
fora da amostra, evitando valores que possam comprometer a qualidade da amostra, enquanto
que a precisão admite previamente os erros e falhas da amostragem, definindo assim o
chamado erro-padrão de estimativa.
Como a amostra consiste num subgrupo da população da pesquisa, é, por conseguinte,
essencial que a amostra tenha as características da população, o que torna essencial para o
sucesso da pesquisa planejar adequadamente a amostra a ser pesquisada. Este planejamento
pode seguir o roteiro apresentado por Malhotra (2001):
a) Definição da população: a primeira etapa no processo de definição da amostra é
simplesmente a definição da população-alvo do estudo, que é definida como “coleção de
elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo pesquisador e sobre as
100
quais devem ser feitas inferências.” (p. 302). A população-alvo é definida a partir de uma
série de aspectos:
Definição dos elementos: consiste em determinar a fonte de informação (o
entrevistado, por exemplo);
Definição da unidade amostral: diz respeito à unidade na qual pode ser encontrado o
elemento (um departamento da empresa, no qual trabalha o elemento, é um exemplo
de unidade amostral);
Definição do alcance e do tempo: consiste nas fronteiras geográficas e temporais da
unidade amostral (por exemplo, apenas o departamento financeiro das filiais de Santa
Catarina da empresa, e somente os profissionais que têm mais de cinco anos de casa).
A população da amostra, conforme lembram Cooper, Schindler (2003), deve ser
relevante, ou seja, deve ser capaz de fornecer as infromações que o pesquisador deseja obter;
b) Determinação da estrutura amostral: a estrutura, ou arcabouço, amostral é uma
listagem ou conjunto de instruções que permitem identificar a população-alvo. Assim, a
lista telefônica, uma lista de endereços de uma associação comercial, a listagem dos
profissionais empregados pela organização (obtida junto ao departamento de Recursos
Humanos), constituem exemplos de arcabouços amostrais;
c) Escolha da(s) técnica(s) amostral(is): são as decisões a respeito de como será constituída
a amostra, verificando se haverá reposição ou não, se será usada a forma probabilística ou
não, ou se a amostragem será bayesiana (em que os elementos são selecionados
seqüencialmente, a partir de informação prévia sobre parâmetros populacionais, custos e
probabilidades, modificando a amostra à medida em que ela é feita) ou tradicional
(planeja-se a amostra inteiramente antes de coletar os dados);
d) Determinação do tamanho da amostra: consiste na definição do número de elementos a
serem incluídos no estudo, e será objeto de maior desenvolvimento no próximo subitem;
e) Execução do processo de amostragem: a execução coroa o processo descrito até o
momento. Nesta etapa, o pesquisador avalia o planejamento feito e o implementa,
efetuando a pesquisa junto aos elementos selecionados, de acordo com a estratégia
definida. Nesta fase, o pesquisador pode iniciar o contato com os elementos a serem
pesquisados dentro da população, a partir das definições feitas previamente. Por exemplo,
suponha uma pesquisa de clima organizacional com os empregados de uma grande
empresa comercial, com filiais em todo o estado:
101
População-alvo: todos os empregados com mais de um ano de casa (elemento), no
setor de vendas (unidade amostral – o pesquisador irá ligar para as lojas durante o
horário comercial), na Grande Florianópolis (alcance), durante o período da pesquisa
(tempo);
Arcabouço amostral: listagem de empregados fornecida pelo departamento de
Recursos Humanos da matriz;
Técnica de amostragem: amostragem por conveniência;
Tamanho da amostra: 237 vendedores;
Execução: a primeira etapa será alocar a amostra entre as lojas. A forma de contato
com os vendedores será a discagem para as lojas durante o horário comercial,
aleatoriamente. Os vendedores serão chamados um a um, procurando determinar
aqueles que estejam disponíveis para atendimento do pesquisador – ou seja, o método
será a conveniência em termos de horário.
10.2.1 Tipos de amostragem
Há dois tipos de amostragem: probabilística e não-probabilística. A primeira segue as
leis da estatística, permite expressão da probabilidade matemática de se encontrar na
população as características da amostra (MAY, 2004) e é rigorosamente científica, ao passo
que a segunda depende do critério do pesquisador, confiando no julgamento deste para a
produção de uma amostra fiel à população (MALHOTRA, 2001). Cada tipo tem suas
vantagens e desvantagens: a amostra não-probabilística é mais rápida e mais barata, enquanto
que a probabilística confere maior confiabilidade aos resultados obtidos (GIL, 1995), na
medida em que, nesta, cada elemento da população possui a mesma probabilidade,
previamente conhecida e diferente de zero, de ser incluído na amostra (MALHOTRA, 2001).
Um outro aspecto importante refere-se ao fato de que numa amostragem probabilística é
possível extrair conclusões que podem ser generalizadas para toda a população – algo que não
se pode fazer na não-probabilística (MALHOTRA, 2001; MAY, 2004).
Alguns cuidados na definição do tipo de amostra são dadas por Cooper, Schindler
(2003):
Deve ser impossível modificar a seleção feita previamente (isso é muito importante
quando são empregados outros indivíduos para a coleta de dados);
Somente os elementos da amostra original podem ser incluídos;
102
Deve ser impossível fazer substituições, a não ser que se prevejam regras claras para as
mesmas, e estas sejam obedecidas.
O primeiro passo na amostragem probabilística consiste em listar os elementos da
população, da forma mais completa possível – o que May (2004) chama “moldura de
amostragem”. Dentre os vários tipos de amostragem probabilística, de acordo com Gil (1995)
e Malhotra (2001), encontram-se:
a) Amostragem aleatória simples: consiste em atribuir um número aleatório para cada
membro da população. Dentro da tabela de números obtidos, o acadêmico seleciona
alguns números que comporão a amostra, desconhecendo completamente a quem esses
números são associados. Segundo Kazmier, isso equivale a escolher a amostra "'tirando os
nomes de um chapéu'" (1982, p. 126). Cada elemento tem a mesma probabilidade de ser
escolhido para fazer parte da amostra (MALHOTRA, 2001);
b) Amostragem sistemática: é uma variação da aleatória simples, que exige que cada
elemento da população possa ser identificado de acordo com sua posição - o que só pode
ser feito em caso de se poder identificar a posição de cada membro num sistema ordenado,
como por exemplo o conjunto de candidatos a um concurso, identificados por fichas de
inscrição. Por exemplo, suponha uma amostra de 100 elementos dentro de 10.000
candidatos: aleatoriamente, escolhe-se o número 44, e a partir do intervado amostra,
procura-se os candidatos 44, 144, 244, 344 e assim sucessivamente;
c) Amostragem estratificada: nessa forma de amostragem, é preciso dividir a população em
estratos ou subgrupos (por exemplo, por sexo, faixa etária, classe social, posição
hierárquica), para a partir dessa divisão identificar a amostra; dentro de cada estrato, o
pesquisador utiliza normalmente a amostragem aleatória simples para selecionar cada
elemento (MALHOTRA, 2001). Há duas formas de se efetuar a amostragem estratificada:
proporcional, em que se busca uma amostra similar à composição da população (por
exemplo, se entre os funcionários do departamento metade são mulheres, uma amostra
estratificada por sexo deve ser composta por 50% de mulheres), e não-proporcional, em
que não se observa a extensão dos estratos em relação à população;
d) Amostragem por conglomerados: em casos nos quais a população é muito extensa, essa
forma de amostragem é bastante útil. A primeira etapa consiste em distinguir a população
em subpopulações mutuamente excludentes (os conglomerados), selecionando-se
estatisticamente, na segunda etapa, os elementos em cada conglomerado. Por exemplo, se
o estágio será realizado numa grande empresa, os conglomerados serão os diferentes
departamentos, sendo feitas as amostras de cada departamento a partir da própria listagem
103
de pessoas que nele trabalham, não o total da empresa. O modo mais comum de se fazer
amostragem por conglomerados é dividindo a população por áreas geográficas, embora
também se possa fazer a amostragem a partir do tamanho. A amostragem por
conglomerados não deve ser confundida com a estratificada, pois esta divide a população
em poucos subgrupos heterogêneos (selecionados por critérios relacionados às variáveis
em estudo) com muitos elementos (homogêneos), enquanto que aquela, em muitos
subgrupos homogêneos (selecionados a partir da facilidade ou disponibilidade de acesso)
com poucos elementos (heterogêneos), sendo que na estratificada os elementos dentro de
cada subgrupo são selecionados aleatoriamente e na por conglomerados os subgrupos é
que são selecionados aleatoriamente (COOPER; SCHINDLER, 2003).
e) Amostragem por etapas: este tipo de amostragem normalmente se aplica aos casos em
que a população está muito dispersa em uma grande área. São tomadas amostras aleatórias
em subdivisões, para se ter uma amostra geral da população. Por exemplo, o estágio será
realizado numa empresa que possui diversas unidades de produção, espalhadas pelo país;
o acadêmico poderia tomar amostras de departamentos e níveis hierárquicos em diferentes
unidades produtivas, pressupondo-se que cada uma seja representativa do todo (o que nem
sempre ocorre na prática).
Dentre os tipos de amostragem não-probabilística, ainda de acordo com Gil (1995) e
May (2004), encontram-se os seguintes:
a) Amostragem por acessibilidade: trata-se do processo menos rigoroso, em que o
pesquisador seleciona os elementos simplesmente porque eles são acessíveis, e pressupõe
que os mesmos sejam representativos. Esta amostra baseia-se na conveniência do
pesquisador – o que nas palavras de Malhotra (2001) significa que o elemento da pesquisa
se encontrava na hora certa e no local certo, sendo portanto rápida e barata, conquanto
excessivamente limitada;
b) Amostragem proposital: a amostra é selecionada de acordo com uma determinada
característica, definida previamente pelo pesquisador – por exemplo, os ouvintes de um
programa religioso de rádio poderiam ser convidados a telefonar para a estação e dar sua
opinião a respeito daquela religião. Não surpreenderia ninguém se essa opinião fosse
favorável ao que o apresentador do programa divulgou;
c) Amostragem por tipicidade: neste caso, seleciona-se um subgrupo da população, que, de
acordo com as informações disponíveis a respeito desta, é representativo da mesma - o
que, evidentemente, só será possível por meio de profundo conhecimento da população.
Essa forma é definida por Malhotra (2001) como amostragem por julgamento, a partir da
104
ideia de que o pesquisador confia em seu juízo para definir quem será ou não apto a ser
pesquisado;
d) Amostragem “bola de neve”: é utilizada em casos em que a população se encontra muito
distribuída ou é difícil de ser localizada. Encontrando-se um membro da população, pedese a ele que apresente outras pessoas que também façam parte dela, de modo que cada
elemento da pesquisa indicará outros elementos, fazendo com que o processo de
amostragem;
e) Amostragem por cotas: é um processo composto por três etapas: em primeiro lugar,
classifica-se a população conforme as propriedades consideradas relevantes para o
fenômeno a ser estudado; o segundo passo consiste em determinar qual é a proporção da
população a ser colocada em cada classe; finalmente, fixa-se uma cota proporcional à
população para cada pesquisador. Esse tipo de amostragem exige que o pesquisador
conheça de antemão as características da população.
10.2.2 Cálculo da amostra
Qualquer que seja a forma utilizada para selecionar os elementos da amostra, é preciso
tomar cuidado com uma série de aspectos em relação à determinação do tamanho da amostra.
É preciso que esta seja fidedigna, isto é, que seja composta por um número suficientemente
grande de elementos, número este que será determinado pelas dimensões do universo de
pesquisa, o nível de confiança, o erro máximo permitido e a porcentagem com a qual o
fenômeno a ser pesquisado se verifica (GIL, 1995). De acordo com Cooper, Schindler (2003),
alguns princípios influenciam e ajudam a definir o tamanho da amostra:
Quanto maior a dispersão ou as variáveis da população, maior deve ser a amostra;
Quanto maior a precisão desejada, maior a amostra;
Quanto menor a amplitude de intervalo, maior a amostra;
Quanto maior o nível de confiança na estimativa, maior a amostra;
Quanto maior o número de subgrupos de interesse na população, maior a amostra;
Se o tamanho da amostra for maior do que 5% da população, ele poderá ser reduzido sem
que isso implique em perda de precisão.
As dimensões do universo seguem uma regra simples: acima de 100.000 elementos, o
universo é considerado infinito, abaixo deste número, finito; estatisticamente falando, acima
de 100.000 elementos, o número de elementos que compõem a amostra será sempre o mesmo
105
(GIL, 1995). O nível de confiança, por sua vez, é estimado a partir da distribuição normal, e
se expressa de acordo com o número de desvios-padrão em relação à média: um desvio para
um nível de confiança de aproximadamente 68%, dois desvios para um nível de 95,5%, três
desvios para um nível de 99,7% (GIL, 1995). Quanto ao erro, normalmente se trabalha com
estimativas de 3 a 5 % (GIL, 1995). Por fim, a porcentagem com que o fenômeno se verifica
refere-se a uma estimativa prévia sobre como o fenômeno ocorre na população.
O exemplo a seguir permitirá calcular o número de elementos de uma amostra.
EXEMPLO: Considere a situação em que uma empresa com 500 empregados deseja reduzir o
nível de absenteísmo dos funcionários. Pesquisas prévias indicaram que cerca de 10% dos
funcionários faltam ao trabalho, mas não determinaram as causas do absenteísmo. Você
decidiu pesquisar as razões mais comuns para as faltas, e, para tanto, estimou um nível de
confiança de cerca de 95%, e um erro máximo tolerado de 3%.
Dessa forma:
n = tamanho da amostra
2
= nível de confiança escolhido, em número de desvios-padrão (2)
p = porcentagem com a qual o fenômeno se verifica (10)
q = porcentagem complementar (90)
N = tamanho da população (500)
e2 = erro máximo permitido (3)
A fórmula utilizada para o cálculo é a seguinte:
n=
2
.p.q.N
e2.(N-1) + 2.p.q
Substituindo-se os números na fórmula, tem-se:
n=
22.10.90.500_____ = 222,47
3 .(500-1) + 22.10.90
2
No caso supracitado, o estagiário teria que pesquisar aproximadamente 223
funcionários para poder determinar quais seriam as principais causas do absenteísmo entre o
corpo funcional da empresa - um número bastante alto, mas que naturalmente seria reduzido
ao se reduzir o grau de confiança e aumentar o erro máximo permitido (por exemplo, um
aumento do erro para 5% levaria o acadêmico a pesquisar 112 pessoas).
No exemplo acima, existe uma pesquisa prévia que permite indicar as Frequências p e
q. Se essa pesquisa não estivesse disponível, o pesquisador não teria como determiná-las com
precisão. Numa situação dessas, normalmente se adota a perspectiva de que p e q são
106
idênticas, ou seja, cada uma teria o valor de 50%. Substituindo esses valores na fórmula, temse:
n=
22.50.50.500_____ = 345,02
32.(500-1) + 22.50.50
Portanto, o desconhecimento da Frequência exigiria a pesquisa com 345 pessoas.
Considerando-se um erro de 5% em vez dos 3% calculados, o pesquisador se obrigaria a
trabalhar com aproximadamente 223 pessoas.
107
11 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que método e técnica designam realidades
diferentes. Nas palavras de Ruiz:
[...] reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais
da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a
utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das
diversas etapas do método. Diríamos que a técnica é a instrumentação específica da
ação, e que o método é mais geral, mais amplo, menos específico. (RUIZ, 1995, p.
138, grifos do autor).
Soriano (2004) afirma que o método representa como se pesquisa, enquanto que a
técnica representa por meio de que se pesquisa. O autor mexicano ainda acrescenta um
terceiro elemento, o instrumento de pesquisa, que seria o meio físico para se pesquisar (como
por exemplo um guia de observação ou um roteiro de entrevista),
Um segundo conceito importante refere-se ao próprio dado. Segundo Triviños, dado
significa "[...] todo tipo de informações que o pesquisador reúne e analisa para estudar
determinado fenômeno social." (1995, p. 141). Ou seja, o dado é a unidade básica do
conhecimento a ser pesquisado, podendo ser considerado sinônimo de material de pesquisa; é
a partir dos dados que o pesquisador pode construir as informações que formam o
conhecimento. Quanto à classificação dos dados, tem-se:
a)
Dados primários são trabalhos originais de pesquisa ou dados brutos, sem
interpretação ou pronunciamentos, que representam uma opinião ou posição
oficial;
b) Dados secundários são interpretações de dados primários. [...] Quase todos os
materiais de referência entram nessa categoria;
c) Dados terciários podem ser a interpretação de uma fonte secundária, mas
geralmente são representados por índices, bibliografias e outros auxiliares de
busca. (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 223).
Malhotra (2001) prefere distinguir os dados primários dos secundários por meio do
responsável pela coleta, indicando que aqueles são recolhidos pelo pesquisador tendo por base
seus próprios objetivos de pesquisa, enquanto que estes foram coletados por outras pessoas
com objetivos diferentes.
Segundo Robert Yin (1984), existem seis fontes de evidências que permitem a
realização de pesquisas: documentação escrita, arquivos, entrevistas, observação direta,
observação participante, e artefatos físicos. Essas seis fontes permitem coletar dados para a
realização de pesquisas de variados tipos. Yin (1984) também chama a atenção para um
princípio importante: em coleta de dados, o pesquisador nunca deve confiar em apenas uma
técnica de levantamento de dados, utilizando fontes múltiplas. Na verdade, a esmagadora
maioria dos trabalhos de pesquisa realizados em Administração consiste no uso de dados
108
obtidos por meio de documentos escritos (relatórios, contratos, documentação interna) e
diretamente junto às pessoas que trabalham na organização (por meio de entrevistas e
questionários). Muitas vezes, o pesquisador participa diretamente da realidade organizacional,
observando-a cuidadosamente.
Quanto às fontes de informação documentais e bibliográficas, Cooper, Schindler
(2003) propõem alguns critérios para sua avaliação, definindo se são úteis para o propósito do
pesquisador ou não:
a) Objetivo: diz respeito à intenção do autor quando da preparação do documento (informar,
entreter, etc.);
b) Escopo: consiste em dimensões como a data da fonte, o período de tempo coberto por ela,
a profundidade do tratamento, em suma, define se a fonte apresenta informações
completas ou somente o essencial;
c) Confiabilidade: credenciais do autor, bibliografia pesquisada por ele, notas de rodapé,
editora;
d) Público-alvo: determinar para quem a fonte foi escrita é importante, pois, se a obra foi
preparada tendo em mente os especialistas, o autor terá sido muito mais cuidadoso em
termos de seu tratamento;
e) Formato: refere-se à forma geral pela qual é apresentada a informação, e à facilidade com
que se consegue obtê-la.
Martins (2006) propõe um procedimento para a definição dos instrumentos de coleta
de dados:
a) Em primeiro lugar, o pesquisador deve preparar uma lista das variáveis que pretende
pesquisar;
b) Em seguida, deve ser feita a revisão dos conceitos e dos significados de cada uma dessas
variáveis;
c) A terceira etapa refere-se a revisar operacionalmente as variáveis, ou seja, definir quais
são os instrumentos de medição e descrição das variáveis;
d) Finalmente, escolhe-se uma técnica e define-se o instrumento de coleta.
Nesta Unidade, a atenção será voltada para a definição de algumas das principais
técnicas de pesquisa que podem ser utilizados pelo estagiário na realização de seu trabalho;
duas delas (entrevista e questionário) pressupõem uma interação direta entre o estagiário e os
funcionários da empresa aonde ele está realizando seu trabalho. No caso da primeira técnica
(observação), o estagiário pode não participar diretamente das atividades (embora tenha que
109
interagir com os funcionários) e, no da terceira (pesquisa documental), pressupõe-se a
existência de documentação na empresa, disponível para pesquisa.
11.1 OBSERVAÇÃO
Esta técnica consiste simplesmente no uso dos sentidos para aquisição de
conhecimento científico, desde que sirva a um objetivo de pesquisa previamente formulado,
tenha sido sistematicamente planejada e registrada, esteja associada a proposições gerais e
seja submetida a controles de validade e precisão (SELLTIZ et al. apud GIL, 1995), além de
gerar informações confiáveis e válidas a respeito do que ocorreu (COOPER; SCHINDLER,
2003). Yin (1984) afirma que, se o fenômeno de interesse do pesquisador não for puramente
histórico, comportamentos relevantes e condições ambientais estarão disponíveis para a
observação.
Uma definição mais completa de observação é dada por Triviños (1995, p. 153), para
quem
[...] 'observar', naturalmente, não é simplesmente olhar. Observar é destacar de um
conjunto (objetos, pessoas, animais etc.) algo especificamente, prestando, por
exemplo, atenção em suas características (cor, tamanho etc.). Observar um
'fenômeno social' significa, em primeiro lugar, que determinado evento social,
simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado de seu contexto para que,
em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados,
relações, etc.
Conforme Gil (1995), como principal vantagem, a observação apresenta o fato de que
o próprio pesquisador percebe diretamente os fatos, sem necessidade de intermediários, o que
reduz a subjetividade na compreensão dos mesmos; por outro lado, a presença de um
pesquisador pode provocar mudanças no comportamento das pessoas, diminuindo as
possibilidades de realismo. Outra desvantagem, destacada por Yin (1984), também é
relevante: se o fenômeno a ser pesquisado possui uma base histórica, dificilmente a
observação pode ser realizada com sucesso. De qualquer forma, pode-se afirmar que, para o
estagiário em Administração, dificilmente será possível realizar um trabalho que prescinda
inteiramente da observação.
Apesar dessas desvantagens, pode-se afirmar que nenhum processo de estágio
prescinde da observação como técnica de coleta de dados, até porque o estagiário irá se
envolver de alguma forma na realidade em estudo, seja como um simples espectador, seja
como uma parte dos trabalhadores envolvidos. Mas é preciso lembrar que, em hipótese
alguma, o estagiário pode confiar exclusivamente na observação como instrumento de coleta
110
de dados, devendo complementá-la com outras técnicas como o questionário e a entrevista
(inclusive para poder ter uma melhor percepção de como os integrantes da organização
encaram os processos que estão sendo estudados no estágio). Observar, nota Soriano (2004), é
uma capacidade inata do ser humano, mas observar cientificamente exige um roteiro ou guia
previamente definido que permita ao observador concentrar sua atenção num fim determinado
– e isso exige o conhecimento das regras científicas.
A observação, enquanto técnica de pesquisa, é influenciada por uma série de fatores,
mas provavelmente o mais importante diz respeito à relação a ser estabelecida entre o
observador e o observado. De acordo com Cooper, Schindler (2003), devem ser considerados
aspectos referentes à categorização da observação como direta (com a presença do
pesquisador) ou indireta (feita por meios mecânicos, como filmagens e fotografias), o
conhecimento, por parte dos indivíduos pesquisados, da presença do pesquisador (muitas
vezes, para poder obter dados fidedignos, o pesquisador é obrigado a disfarçar sua presença) e
a participação, ou não, do pesquisador na realidade pesquisada (este último aspecto será mais
detalhado adiante, na subseção a respeito de observação participante).
Há muitas classificações da observação, baseadas em diferentes critérios. Cooper,
Schindler (2003) dividem as observações em comportamentais, voltadas para a análise de
comportamentos animais ou humanos (subdivididas, por sua vez, nas análises não-verbal,
lingüística, não-lingüística e espacial), e não-comportamentais, que analisam apenas as
estruturas, os dados e os processos ou atividades, subdividindo-se em análises de registro, de
condições físicas e de processos de atividades. Embora esses dois últimos possam ser de fato
considerados estudos observacionais, o primeiro pode ser melhor considerado como sendo
uma análise documental. As análises de condições físicas são exemplificadas pelas auditorias
de disponibilidade de produtos, pelos estudos de condições de segurança e análises de
estoques, enquanto que as análises de processos abrangem os estudos de tempos e
movimentos, os fluxos financeiros e bancários, o fluxo dos documentos em um escritório, etc.
(COOPER; SCHINDLER, 2003).
A classificação dos estudos observacionais fornecida por Gil (1995) é uma das mais
interessantes, abrangendo três tipos (observação simples, participante e sistemática). É esta
classificação que será detalhada a seguir.
111
11.1.1 Observação simples
É a técnica de observação “[...] em que o pesquisador, permanecendo alheio à
comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os fatos
que aí ocorrem. Neste procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um ator.”
(GIL, 1995, p. 105). Essa técnica não prescinde de planejamento cuidadoso e da definição dos
objetivos da pesquisa, e é bastante adequada para casos em que os fatos são de conhecimento
público. Segundo Selltiz et al. (apud GIL, 1995), é preciso definir os sujeitos (os participantes
da pesquisa), o cenário (aonde as pessoas se situam em termos de local), e o comportamento
social (o que realmente ocorre em termos sociais nesse local). Em suma, o planejamento da
observação reduz-se ao mínimo possível.
Soriano (2004) chama esta técnica de observação ordinária, definindo-a como técnica
em que o observador está fora do grupo observado, servindo em primeiro lugar para verificar
hipóteses e definir técnicas de coleta de dados e, em segundo lugar, para verificar hipóteses e
preparar para uma observação melhor planejada. É útil quando é difícil obter acesso ao grupo
social pesquisado, mas apresenta como desvantagem a própria limitação do observador, que é
incapaz de acompanhar todos os fenômenos que se verificam (SORIANO, 2004).
Para Cooper, Schindler (2003), a observação simples faz parte de praticamente todos
os estudos de pesquisa, sendo realizada no próprio ambiente a ser pesquisado, e não exige
padronização de seus procedimentos, devendo ser considerada como uma fase exploratória, de
descoberta e acumulação de conhecimentos.
11.1.2 Observação participante
Consiste numa observação ativa, baseada na participação real do observador na vida
da comunidade, grupo, ou situação determinada, em que o observador se torna um membro
ativo do grupo, envolvido em suas práticas diárias. Em pesquisas que buscam compreender a
dinâmica de uma interação social ou rotinas cotidianas, ela é de extrema importância. Em
termos conceituais, observação participante é o
Processo no qual um investigador estabelece um relacionamento multilateral e de
prazo relativamente longo com uma associação humana na sua situação natural com
o propósito de desenvolver um entendimento científico daquela associação.
(LOFLAND; LOFLAND apud MAY, 2004, p. 177).
A observação participante, portanto, pressupõe um relacionamento do observador com
o grupo social, tornando o primeiro uma parte ativa do segundo, participando de suas
112
manifestações sociais e interagindo com o segundo: “[...] o pesquisador age com naturalidade
dentro do grupo, incorporando-se plenamente às atividades que desenvolvem seus
integrantes.” (SORIANO, 2004, p. 147).
Segundo Gil (1995), há duas formas de observação participante: a natural, em que o
observador pertence à comunidade em que será feita a pesquisa, e a artificial, na qual o
observador se integra à comunidade para realizar seu estudo; neste último caso, há situações
em que o observador precisa se “disfarçar”, sem revelar sua condição de pesquisador. Em
qualquer dos casos, no entanto, observa-se que a presença de uma pessoa estranha ao grupo
acaba conduzindo a barreiras sociais que reduzem e limitam a qualidade das informações
colhidas.
A observação participante distancia-se profundamente do positivismo, na medida em
que os pesquisadores, em vez de assumirem uma postura neutra e distante do objeto de
pesquisa, envolvem-se diretamente com ele. O problema maior que se pode observar na
observação diz respeito à objetividade do pesquisador (SORIANO, 2004), quando ele está
inserido num grupo social; a participação no grupo pode fazer com que o pesquisador tome
partido previamente, e chegue a conclusões favoráveis ou desfavoráveis a este. De qualquer
forma, é preciso ter bem claro que a ideologia desempenha papel importante na observação
participante, reduzindo a objetividade da mesma (SORIANO, 2004).
Como técnica de pesquisa, ela apresenta algumas vantagens:
a) É pouco provável que o pesquisador tente impor suas próprias realidades ao mundo social
que está pesquisando;
b) Permite entender melhor as ações e mudanças dos pesquisados;
c) Permite ao pesquisador compreender melhor o universo cultural e a linguagem dos
pesquisados (MAY, 2004).
Por outro lado, o método também tem seus defeitos:
a) O pesquisador pode ser obrigado a ficar muito tempo em um contexto com o qual está
pouco ou nada familiarizado;
b) Obriga o pesquisador a manter relacionamento com pessoas com as quais pode não ter
nenhuma afinidade;
c) Obriga a manter grande número de anotações (pois normalmente se anota tudo o que se
observa, mesmo o que pode ser um acontecimento absolutamente normal), algumas das
quais não têm utilidade nenhuma ao pesquisador;
d) O pesquisador pode correr alguns riscos em seu trabalho de campo;
113
e) As análises do material coletado podem ser muito demoradas devido ao grande volume de
informações e dados coletados junto aos pesquisados (MAY, 2004).
11.1.3 Observação sistemática/estruturada
Nesta técnica, o observador tem um conhecimento prévio a respeito dos fatos ou
fenômenos que, dentro do grupo ou comunidade, são relevantes para seus objetivos definidos;
trata-se de um quase-experimento, uma vez que o trabalho do pesquisador consiste
basicamente em testar hipóteses a respeito do grupo ou comunidade. Inicialmente, o
pesquisador planeja a coleta de dados, e estabelece categorias de análise em relação às
práticas que pretende observar (interessados podem consultar a Tabela de Bales, reproduzida
em GIL, 1995, p. 110). É preciso considerar que a relação entre o observador e os membros
do grupo a ser observado precisa ser cuidadosamente planejada, pois não é possível ao
pesquisador “esconder-se” entre os pesquisados. O pesquisador que planeja realizar uma
observação sistemática precisa planejar de antemão a forma pela qual irá coletar os dados,
devendo também definir com precisão as categorias analíticas e os meios ou instrumentos
para registro dos dados (COOPER; SCHINDLER, 2003). Há graus diferentes de estruturação
para a observação sistemática, sendo que uma observação inteiramente estruturada só seria
possível em condições de laboratório
11.1.4 Roteiro de observação: Uma proposta
Caplow (apud SORIANO, 2004) propõe que um roteiro de observação seja baseado
nos seguintes critérios:
I.
Normas de observação:
a) Familiarização com os objetivos;
b) Pré-teste das técnicas de observação e anotação;
c) Elaboração de uma lista de controle de elementos a serem observados.
II.
Procedimento:
a) Anotação das observações em campo sempre que possível;
b) Observações anotadas no dia seguinte ao fenômeno devem ser desprezadas;
c) Não se deve limitar o tempo das anotações;
d) O observador deve anotar seus próprios atos.
III.
Conteúdo:
114
a) As notas devem incluir data, hora e duração da observação, local, circunstâncias,
pessoas presentes, função do observador, aparelhos e equipamentos utilizados,
condições ambientais e eventuais modificações no ambiente;
b) Opiniões, ilações ou observações sobre o caráter e a personalidade dos observados
devem ser omitidas;
c) Transcrição literal das conversas e diálogos mantidos;
d) Opiniões e ilações devem ser anotadas regularmente e em separado.
IV.
Ordenamento:
a) As notas devem ser revisadas sempre que possível;
b) Deve ser criado um sistema de classificação das notas.
Spradley (apud FLICK, 2004) propõe um conjunto de dimensões que podem ser
utilizadas nos estudos observacionais:
a) Espaço: local/locais físico(s);
b) Ator: pessoas envolvidas;
c) Objeto: coisas físicas presentes;
d) Ato: ações individuais executadas pelas pessoas;
e) Atividade: conjunto de atos executados pelas pessoas;
f) Evento: conjunto de atividades relacionadas, executadas pelas pessoas;
g) Tempo: seqüenciamento temporal da observação;
h) Metas: coisas que as pessoas tentam alcançar;
i) Sentimentos: emoções sentidas e expressadas.
11.2 ENTREVISTA
Entende-se por entrevista “[...] uma conversa entre duas pessoas com o propósito de
alcançar um objetivo.” (FLETCHER, s. d., p. 7).Ou, de forma um pouco mais precisa,
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente
ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que
interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social.
Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes
busca coletar dados e a outra se apresenta como uma fonte de informação. (GIL,
1995, p. 113).
Cooper, Schindler (2003) destacam que as diferenças entre o entrevistador e o
entrevistado são muito grandes: o entrevistador tem controle sobre o assunto e o tipo de
discussão e deve obter benefícios com o processo (em termos de conhecimento), ao passo que
115
o entrevistado está em uma situação passiva, cabendo-lhe exclusivamente responder aos
questionamentos levantados.
Dentro das ciências sociais, a entrevista é uma das técnicas mais utilizadas para a
coleta de dados, fornecendo informações a respeito dos conhecimentos, sentimentos, desejos,
pretensões e ações das pessoas, permitindo ainda levantar dados a respeito das razões pelas
quais as coisas foram feitas (SELLTIZ et al. apud GIL, 1995); as entrevistas permitem
compreender a biografia de uma pessoa, suas experiências, opiniões, valores, aspirações,
sentimentos e atitudes (MAY, 2004). Isso levanta um aspecto mencionado por Fletcher, de
que a entrevista precisa ter um propósito definido, ou não passará de uma simples conversa
entre pessoas; ele recomenda: “se você tiver de planejar e/ou conduzir uma entrevista, comece
pensando no objetivo final.” (FLETCHER, s. d., p. 8).
De acordo com Roesch (1999, p. 141), a entrevista possui uma série de vantagens:
- os entrevistadores podem dar uma explicação mais convincente [...] sobre os
objetivos da pesquisa;
- atingem com mais facilidade respondentes com nível mais baixo de educação;
- ajudam aquele que têm dificuldade de leitura a responder ao questionário;
- oferecem explicações padronizadas para certos problemas que surgem;
- impedem equívocos; e mantêm controle sobre a seqüência das questões.
Dencker (2000) destaca que a entrevista permite maior flexibilidade na elaboração das
questões e consegue maior sinceridade por parte do respondente, mas, por outro lado, é mais
dispendiosa, exige maior habilidade por parte do pesquisador em sua aplicação, pode
apresentar dificuldades de comparação (justamente devido à flexibilidade), e o respondente
tem menor confiança na proteção do anonimato. De forma geral, pode-se dizer que a grande
desvantagem da entrevista reside na necessidade de maior preparação e habilidade por parte
do pesquisador em sua elaboração e aplicação. Cooper, Schindler (2003) dão maior destaque
para a questão dos custos, se houver necessidade de cobrir uma área geográfica ampla ou
houver exigências elevadas em termos de amostragem.
Na Administração de Empresas, a entrevista é utilizada numa série de situações, desde
a seleção de funcionários até seu desligamento final. Para um estagiário em Administração, a
entrevista é praticamente uma necessidade, pois muitos dos dados exigidos pelo trabalho
deverão ser levantados por meio de conversas com os funcionários.
As entrevistas se classificam podem ser classificadas em diversos grupos (GIL,1995;
MAY, 2004):
a) Entrevista informal: é a entrevista menos estruturada possível, em que o entrevistador
tem apenas o objetivo básico da pesquisa em sua mente, buscando obter a visão geral do
entrevistado sobre o assunto;
116
b) Entrevista focalizada: também se trata de uma técnica pouco estruturada, mas, além de
ter um objetivo de pesquisa, o entrevistador focaliza a conversa em um determinado
assunto, procurando manter-se na rota mesmo quando o entrevistado se desvia. É muito
útil em casos em que se procura explorar com maior profundidade as experiências de
alguém em relação a um determinado fato ou fenômeno. Ela possui caráter aberto e
permite ao entrevistado responder tendo em mente seu próprio quadro de referência. De
acordo com May (2004), essa técnica inclui as entrevistas biográficas ou de história de
vida;
c) Entrevista por pautas: o entrevistador prepara uma pauta de assuntos com antecedência,
fazendo umas poucas perguntas diretamente e concentrando-se no que o entrevistado vai
falando, para explorar os assuntos à medida em que surgem. Apesar de ser mais
formalizada que as anteriores, a entrevista por pautas não pode ser considerada
inteiramente estruturada;
d) Entrevista estruturada: neste caso, o entrevistador prepara com antecedência uma
relação de perguntas (um questionário), mantida fixa e invariável independentemente de
quem quer que esteja sendo entrevistado. Normalmente é utilizada quando há um grande
número de entrevistados, para facilitar a tabulação dos dados. Utilizam-se perguntas
abertas, em que se admite ampla variedade de respostas, ou perguntas fechadas, nas quais
o entrevistador apresenta uma série de opções para o entrevistado. Neste tipo de
entrevista, pressupõe-se que a repetição das mesmas perguntas produzam diferenças
baseadas não na situação da entrevista, mas na pessoa entrevistada, cabendo ao
entrevistador somente apresentar as perguntas, sem se envolver de modo algum com o
entrevistado (a posição de “neutralidade” definida por May, 2004). Como as entrevistas
são uniformizadas, o resultado desta técnica é maior facilidade de comparação entre as
diferentes entrevistas;
e) Entrevista em grupo: refere-se à técnica em que o entrevistador prepara um grupo que
será entrevistado simultaneamente. Esse grupo pode assumir o formato de grupo focal
(focus group, a ser abordado com mais profundidade no decorrer desta unidade), em que
se encoraja a discussão entr os seus integrantes. O grupo deve ser grande o bastante para
que se possa obter dados e informações úteis, mas também precisa ser suficientemente
pequeno para que o entrevistador possa estudar seu comportamento e todos tenham
chance de participar e contribuir. As entrevistas de grupo permitem “[...] uma
compreensão valiosa tanto das relações sociais em geral como do exame dos processoes e
das dinâmicas sociais em particular.” (MAY, 2004, p. 152);
117
e) Entrevista semi-estruturada; neste caso, o entrevistador prepara uma lista padronizada
de perguntas, mas acrescenta, em cada entrevista que conduzir, perguntas adicionais que
porventura permitam maior atingimento dos objetivos, de acordo com os comentários e as
respostas do entrevistado, dando maior liberdade e flexibilidade para o entrevistador, que
poderá buscar maior esclarecimento junto ao entrevistado ou sondar suas respostas (MAY,
2004). De maneira mais precisa:
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de
certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à
pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do
informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu
pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo
investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da entrevista.
(TRIVIÑOS, 1995, p. 146, grifos do autor).
Dencker (2000) recomenda: numa entrevista semi-estruturada, o entrevistador deve
permitir que o entrevistado fale livremente sobre o assunto, podendo incluir questões à
medida que este aborde assuntos importantes para os objetivos da mesma.
Hair Jr. et al. (2005) observam que, com a popularização dos computadores, as
entrevistas podem assumir a forma de diálogos on-line, utilizando softwares de sistemas de
grupos, permitindo coleta e análise de dados praticamente instantâneas. Este sistema de
entrevista perfila-se ao lado das entrevistas por telefone, embora permitam superar, através do
uso de webcams, um dos maiores problemas destas, que é a ausência de contato visual entre o
pesquisador e o pesquisado.
Algumas dicas para a preparação da entrevista são dadas por Fletcher (s.d.), das quais
selecionou-se as mais relevantes:
a) Defina com clareza o propósito exato da entrevista;
b) Antes de entrevistar quem quer que seja, realize algumas atividades prévias: reuna
informações e fatos que auxiliem na condução da entrevista, avise o entrevistado com
antecedência, reserve um local adequado (em que você tiver privacidade e não seja
interrompido), faça uma lista dos pontos a serem discutidos, prepare o material a ser
utilizado e procure antecipar problemas que venham a afetar a condução da entrevista;
c) Planeje o tempo, reservando horários para a entrevista, evitando marcá-la em horários que
venham a interromper o trabalho do entrevistado – e mantenha um relógio por perto
quando estiver entrevistando alguém;
d) Faça seu “rascunho” da entrevista, definindo os comentários e perguntas que você venha a
fazer, tentando antecipar reuniões, calculando o tempo da entrevista e determinando como
será o relatório final de sua entrevista;
118
e) Avise aos superiores que estará realizando entrevistas naquele horário e local.
Esses cuidados devem ser complementados pelos seguintes aspectos, levantados por
Gil (1995):
a) Antes de tudo o mais, é preciso estabelecer um contato inicial com o(s) entrevistado(s),
procurando ser bem aceito por ele(s). Avisar com antecedência é essencial, mas também é
preciso “quebrar o gelo” com o entrevistado, o que se consegue normalmente a partir de
conversa informal sobre algum tema que possa interessá-lo; também é essencial criar uma
atmosfera de cordialidade, evitando coagir ou intimidar o entrevistado. Também é
conveniente garantir a confidencialidade das informações, preservando o anonimato do
entrevistado;
b) Feito isso, alguns cuidados devem ser feitos na formulação das perguntas ao entrevistado.
Um planejamento prévio já deve ter sido feito, mas sempre é importante saber o momento
certo de formular uma determinada pergunta, evitando alguns aspectos, tais como
sobrecarregar o entrevistado com muitas questões, induzir suas respostas e criar
sentimentos negativos ou de recusa a responder;
c) Durante os questionamentos, o entrevistador deve estimular o entrevistado a fornecer
respostas claras e completas, mas também deve ter o cuidado de evitar induzi-lo a
qualquer coisa;
d) É essencial dispor de algum meio de registro das respostas. Muitas vezes, a entrevista
aborda temas e assuntos delicados, os quais as pessoas não se sentem muito à vontade em
responder, mas é preciso cuidar de registrar com fidelidade as respostas dadas. É
conveniente mostrar ao entrevistado que suas respostas estão sendo registradas em fita ou
papel, e frisar que sua identidade será preservada. Deve-se evitar ao máximo parafrasear
ou distorcer as respostas dadas;
e) Ao concluir a entrevista, é conveniente “deixar a porta aberta”, isto é, provocar o interesse
do entrevistado em fornecer mais dados, se isso for necessário.
Em relação ao ponto observado em “d”, recomenda-se apresentar ao entrevistado a
transcrição das respostas dadas, solicitando ao mesmo que corrija eventuais imprecisões na
mesma. Ao fazê-lo, o entrevistado às vezes se anima a acrescentar informações a respeito do
assunto, tornando essa revisão ainda mais preciosa para o pesquisador. Deve-se ter o cuidado
de não mostrar o material aos superiores ou colegas dos entrevistados, para evitar
constrangimentos.
Em termos de cuidados específicos junto aos entrevistados, convém mencionar que é
preciso deixar bem claro ao entrevistado que a experiência deverá ser-lhe satisfatória, que se
119
trata de alguma coisa importante (e não uma simples perda de tempo) e que o entrevistador é
uma pessoa digna de confiança (COOPER; SCHINDLER, 2003).
Um ponto importantíssimo a ser mencionado: é preciso fazer um pré-teste, ou seja,
entrevistar um pequeno grupo de pessoas (voluntárias ou indicadas pelos responsáveis pelo
andamento da pesquisa) e medir os resultados desse teste; o número de pessoas com as quais
será aplicado o pré-teste deve ser estimado a partir do tamanho da amostra ou da população
pesquisada, mas não existe nenhum padrão ou dimensionamento previamente definido. O préteste, menciona Gil (1996, p. 95),
[...] não visa captar qualquer dos aspectos que constituem os objetivos do
levantamento. Não pode trazer nenhum resultado referente a esses objetivos. Ele está
centrado na avaliação dos instrumentos enquanto tais, visando garantir que meçam
exatamente aquilo que pretendem medir.
O pré-teste visa avaliar:
a) Clareza e precisão dos termos;
b) Quantidade de perguntas;
c) Forma das perguntas;
d) Ordem das perguntas;
e) Introdução da entrevista.
A partir desses resultados, o pesquisador deve acrescentar, retirar ou reformular as
perguntas, ou mesmo mudar de estratégia (de uma entrevista informal para uma estruturada,
por exemplo), de forma que, ao ser conduzido o processo de entrevista da amostra
previamente definida, já se tenha uma indicação mais precisa da confiabilidade do
instrumento utilizado. No caso da entrevista, deve-se procurar escolher como amostra
indivíduos representativos, a par da pesquisa que está sendo realizada e de seus objetivos
(GIL, 1996).
É também importante trabalhar a questão da preparação de entrevistador e
entrevistado. Segundo Bergamini, Beraldo (1988), a pessoa bem entrevistada é aquela em
que, no processo de entrevista, sente-se fisicamente bem, não está submetida a uma situação
que lhe provoca ansiedade e possui algum interesse na entrevista. O bom entrevistador, por
sua vez, preparou todos os aspectos físicos da entrevista (local, material, entrevistados que
contribuem para o objetivo), está à vontade (e sabe colocar o entrevistado numa situação
confortável) e preparou as técnicas da melhor forma possível (BERGAMINI; BERALDO,
1988).
O clima deve ser de confiança entre o entrevistador e o entrevistado. Algumas dicas
para melhorar o relacionamento entre eles são dadas por Cooper, Schindler (2003), a partir do
120
que se chama técnica de confirmação: é preciso deixar claro, o tempo todo, que o
entrevistador está interessado nas informações prestadas pelo entrevistado (o que se consegue
por meio de pequenas interjeições e demonstrações de interesse), fazer pausas de expectativa
e demonstrações de que se está esperando maior desenvolvimento da resposta, repetir a
pergunta quando o entrevistado demonstra não ter compreendido, repetir a resposta para
confirmar o que se ouviu, fazer perguntas ou comentários neutros, pedir maiores
esclarecimentos.
Tudo isso deve garantir que a entrevista seja conduzida de tal forma que cada
entrevistado compreenda da mesma forma a pergunta que lhe for formulada, e
simultaneamente evitar conduzir a entrevista de forma que se induza o entrevistado a alguma
resposta (ROESCH, 1999). Dessa maneira, pode-se afirmar que a entrevista deve ser uma só;
os entrevistados é que mudam. Esse cuidado na uniformização auxiliará bastante no
tratamento dos dados obtidos com a entrevista, e reafirma a importância do pré-teste.
11.2.1 O Focus Group
O focus group é uma técnica utilizada por muitos pesquisadores com sucesso, e
consiste em entrevistas em profundidade com um grupo de pessoas a respeito de um assunto
específico (MARTINS, 2006). Em vez de entrevistar os elementos da população
individualmente, o pesquisador os reúne em um grupo e procede a uma entrevista com todos
simultaneamente, de modo que as respostas dadas pelo indivíduo acabam, de uma forma ou
de outra, influenciando as de outras pessoas). O pesquisador assume o papel de moderador da
pesquisa, apresentando perguntas e mediando a interação entre os componentes do grupo.
Martins (2006) apresenta uma série de recomendações para a construção de pesquisa
por meio de focus groups:
a) O grupo deve ter entre seis e doze componentes, a serem escolhidos de acordo com os
propósitos da pesquisa;
b) Cada participante deve ter algo a dizer sobre o assunto;
c) Deve-se ter um grupo demograficamente heterogêneo, mas com nível cultural semelhante;
d) O nível de envolvimento do moderador é variável, dependendo de como ele conduz as
entrevistas e a interação entre as pessoas;
e) Devem ser marcadas sessões de entrevistas, previamente planejadas e roteirizadas;
f) A duração das sessões deve ser de uma a duas horas;
121
g) O local das sessõs deve ser confortável e é recomendável dispor os integrantes do grupo
em forma de U, para que eles possam ver uns aos outros. Deve-se colocar em local visível
o nome das pessoas para facilitar a interação. Se necessário, pode-se inclusive proceder às
entrevistas em ambiente virtual (como numa sala de chat);
h) O moderador não pode fazer juízos sobre as respostas e deve ter a capacidade de
memorizá-las – ou então usar um assistente que as registre;
i) As respostas devem ser consolidadas em categorias de análise que permitam consolidá-las
em grupos semelhantes.
11.3 QUESTIONÁRIO
O questionário consiste na "[...] técnica de investigação composta por um número mais
ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o
conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas, etc." (GIL, 1995, p. 124). Roesch (1999) complementa essa afirmação, ao
colocar que um questionário não é uma simples listagem de questões, e sim um instrumento
de coleta de dados que procura mensurar alguma coisa, exigindo esforço prévio de
planejamento no sentido de definição do problema a ser pesquisado, da definição e
operacionalização das variáveis, entre outros aspectos.
De acordo com Gil (1995), o questionário apresenta uma série de vantagens: permite
atingir grande número de pessoas, mesmo dispersas; não exige gastos com treinamento de
entrevistadores; garante o anonimato dos respondentes; abre a possibilidade das pessoas o
responderem no momento mais conveniente; diminui o viés do pesquisador sobre os
pesquisados. Por outro lado, ele também apresenta desvantagens e limitações: exclui da
pesquisa os analfabetos; não permite tirar dúvidas quando das respostas; o pesquisador pouco
ou nada sabe sobre o contexto em que o questionário foi respondido; não há nenhuma garantia
de que as pessoas o devolvam preenchido; deve ser restrito, envolvendo número limitado de
perguntas; dificulta a objetividade, pois, embora as perguntas sejam as mesmas para todos,
não há como garantir igualdade de interpretação das respostas (GIL, 1995).
Gil (1996, p. 91-92) apresenta uma série de regras práticas para a elaboração de
questionários de pesquisa, a saber:
a)
as questões devem ser preferencialmente fechadas, mas com alternativas
suficientemente exaustivas para abrigar a ampla gama de respostas possíveis;
b)
devem ser incluídas apenas as perguntas relacionadas ao problema proposto;
c)
não devem ser incluídas perguntas cujas respostas possam ser obtidas de
forma mais precisa por outros procedimentos;
122
d)
deve-se levar em conta as implicações da pergunta com os procedimentos de
tabulação e análise dos dados;
e)
as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa;
f)
deve-se levar em consideração o sistema de referência do entrevistado, bem
como o seu nível de informação;
g)
a pergunta deve possibilitar uma única interpretação;
h)
a pergunta não deve sugerir respostas;
i)
as perguntas devem referir-se a uma única ideia de cada vez;
j)
número de perguntas deve ser limitado;
k)
questionário deve ser iniciado com as perguntas mais simples e finalizado
com as mais complexas;
l)
as perguntas devem ser dispersadas sempre que houver possibilidade de
‘contágio’;
m)
convém evitar as perguntas que provoquem respostas defensivas,
estereotipadas ou socialmente indesejáveis, que acabam por encobri sua real
percepção acerca do fato;
n)
na medida do possível, devem ser evitadas as perguntas personalizadas,
diretas, que geralmente se iniciam por expressões do tipo ‘o que você pensa a
respeito de...’, ‘na sua opinião...’ etc., as quais tendem a provocar respostas de fuga;
o)
deve ser evitada a inclusão, nas perguntas, de palavras estereotipadas, bem
como a menção a personalidades de destaque, que podem influenciar nas respostas,
tanto em sentido positivo quanto negativo;
p)
cuidados especiais devem ser tomados em relação à apresentação gráfica do
questionário, tendo em vista facilitar seu preenchimento;
q)
questionário deve conter uma introdução que informe acerca da entidade
patrocinadora, das razões que determinaram a realização da pesquisa e da
importância das respostas para atingir os seus objetivos;
r)
questionário deve conter instruções acerca do correto preenchimento das
questões, preferencialmente com caracteres gráficos diferenciados.
De forma mais geral, a listagem supracitada pode ser agrupada nos seguintes critérios:
a) Forma das perguntas: há três formas de elaborar as perguntas do questionário, as abertas
(sem qualquer restrição), as fechadas (na qual se apresenta uma escala de resposta) e as
duplas (em que se coloca primeiro uma pergunta fechada e, no segundo momento, uma
aberta - normalmente um "por quê"). Cada uma delas atende a um objetivo específico e
portanto possui uma aplicação específica;
b) Conteúdo das perguntas: as questões podem ser feitas sobre fatos concretos, crenças,
sobre sentimentos, padrões de ação, comportamentos presentes ou passados, razões
conscientes sobre crenças, sentimentos, padrões de ação ou comportamentos;
c) Escolha das perguntas: há algumas regras básicas, quais sejam, só se deve fazer
perguntas sobre o problema pesquisado, não se deve incluir pergunta que possa ser melhor
respondida por outro procedimento, deve-se tomar em consideração a tabulação dos
dados, não se deve incluir questões que permitam dupla interpretação ou penetrem na
intimidade do pesquisado;
d) Formulação da perguntas: é preciso cuidar da concisão, da apropriação da pergunta ao
nível de informação do pesquisado, evitar a dupla interpretação, evitar dupla resposta, e as
perguntas devem referir-se a uma só ideia por vez;
123
e) Número de perguntas: questionários muito extensos diminuem as possibilidades de se
obter respostas;
f) Ordem das perguntas: deve-se evitar mudanças bruscas de tema, e também evitar o
"efeito de contágio", em que a resposta de uma pergunta é influenciada pela de outra;
g) Prevenção de deformações: existem mecanismos de defesa social por parte das pessoas,
que dificultam a aplicação do questionário. As pessoas muitas vezes reagem mal a
perguntas pessoais, ou que envolvam preconceitos, estereótipos, mudanças, ou abram a
possibilidade de julgamentos por parte do pesquisador. Também é preciso evitar incluir
menções a personalidades destacadas, que possam induzir à resposta;
h) Apresentação do questionário: é preciso cuidar não somente de aspectos gráficos (papel,
fonte, diagramação, espaço para as respostas), mas também das instruções do
preenchimento, que devem ser claras e precisas, e da introdução do questionário, que
apresente informações sobre quem está realizando a pesquisa, e porquê, bem como
sublinhar a importância de questionários bem respondidos (GIL, 1995).
Um questionário deve estimular a memória do entrevistado, começando pelos fatos
mais recentes e deve ser elaborado de forma que as perguntas não induzam a uma resposta,
nem tragam dificuldades de interpretação ou ambigüidades. As variáveis introduzidas nas
perguntas devem ser adequadamente operacionalizadas, ou seja, devem ser definidas de modo
que se possa identificá-las ou medi-las na resposta (MAY, 2004).
Os questionários podem incluir perguntas-filtro, que, ao serem respondidas,
permitem ao pesquisador decidir, a partir da resposta, se o entrevistado irá fornecer as
informações necessárias (como, por exemplo, a pergunta “você já recebeu treinamento da
empresa?”, no caso de uma pesquisa a respeito dos resultados do treinamento), e perguntas
de controle, que esclarecem dúvidas que porventura surjam a partir das respostas
(permanecendo no exemplo acima, uma pergunta de controle poderia se referir à quantidade
de vezes em que o entrevistado passou por programas de treinamento da empresa), sempre
tomando-se o cuidado de apresentar as perguntas na mesma ordem em todos os questionários,
para facilitar a tabulação das respostas (DENCKER, 2000).
Da mesma forma que a entrevista, o questionário deve ser testado antes de aplicado.
Essa prova preliminar, ou pré-teste, busca identificar se o questionário foi bem elaborado em
termos da clareza e precisão com que os termos são utilizados nas questões, a forma pela qual
elas são apresentada e se desmembram em perguntas adicionais, a ordenação das questões, e a
introdução dada ao questionário (GIL, 1995); aplicam-se ao pré-teste do questionário os
mesmos aspectos anteriormente abordados no que tange à entrevista. Na questão da
124
apresentação física, uma recomendação comum é de que a introdução, as instruções e as
questões propriamente ditas sejam apresentadas em fontes diferentes (GIL, 1995; ROESCH,
1999).
11.4 PESQUISA DOCUMENTAL
A pesquisa nos documentos disponíveis é uma técnica extremamente importante para
o pesquisador, uma vez que estes se constituem numa preciosa fonte de informações. May
(2004) afirma que os documentos são a sedimentação de práticas sociais e fornecem
informações sobre as decisões tomadas peslas pessoas, bem como leituras particulares de
eventos sociais que podem estar indisponíveis para o pesquisador.
A primeira questão que surge, neste tipo de pesquisa, é, sem dúvida, quais
documentos buscar? Marconi, Lakatos (1999) arrolam os seguintes tipos:
a) Documentos escritos: documentos oficiais, publicações parlamentares, documentos
jurídicos, fontes estatísticas, publicações administrativas, documentações particulares;
b) Outros tipos: iconografia (imagens como gravuras, desenhos, estampas, pinturas),
fotografia, objetos (artefatos), canções folclóricas, vestuário e folclore em geral.
Yin (1984) apresenta os seguintes, mais comumente utilizados em pesquisas de
Administração: cartas, memorandos, comunicados, agendas, atas e minutas de encontros e
reuniões, documentos internos da administração, estudos e análises formais a respeito da
mesma realidade que está sendo pesquisada, clipping de imprensa e artigos da mídia sobre a
organização (tanto os estudos quanto esses artigos constituem-se em fontes secundárias de
dados, que serão tratadas no subitem referente à pesquisa bibliográfica).
Uma segunda questão diz respeito a onde encontrar os documentos? Marconi,
Lakatos (1999) apresentam as seguintes fontes de documentos: arquivos públicos (municipais,
estaduais e federais), arquivos particulares (em domicílios particulares, instituições privadas e
certos órgãos públicos, como delegacias, Receita Federal, departamentos de trânsito, etc.) e
fontes estatísticas (IBGE, Ibope, Instituto Gallup, etc.).
Para o delineamento da pesquisa documental, Gil (1996) recomenda as seguintes
etapas:
a) Em primeiro lugar, é preciso determinar os objetivos da pesquisa;
b) O segundo aspecto consiste na elaboração de um plano de trabalho;
c) A partir desse plano, identificam-se as fontes de dados;
d) Identificadas as fontes, é preciso localizá-las e obtê-las;
125
e) Com as fontes em mãos, o pesquisador deve fazer o tratamento dos dados;
f) Após esse tratamento, deve-se confeccionar fichas;
g) Finalmente, parte-se para a redação do trabalho.
Embora Gil apresente o delineamento de pesquisa documental como sendo uma
pesquisa científica própria, pode-se considerar o fato de que o estagiário não irá se ater aos
documentos da empresa para sua pesquisa, mas sim utilizá-los como reforço para seu
trabalho. Assim, algumas das etapas levantadas acima precisam de maior desenvolvimento:
a) Em primeiro lugar, o acadêmico deve responder à questão: os objetivos do meu trabalho
exigem a pesquisa documental? Em qualquer estágio que exija a avaliação de um
programa ou plano já adotado pela empresa, a resposta é afirmativa, e deve-se observar
que a pesquisa documental será imprescindível para o sucesso do estágio, pois esses
documentos permitem confrontar o passado e o presente; para os demais casos,
dependendo do trabalho a ser realizado, o estagiário poderá não se valer dela;
b) Admitindo-se que o estagiário realmente necessite de pesquisa documental, surge a
pergunta: quais são, e onde posso obter, os documentos necessários? Normalmente,
além dos documentos mencionados no início deste item, o plano de negócio, os balanços e
demais registros contábeis, as atas de reuniões, os relatórios internos e para acionistas,
entre outros, são boas fontes de informações para o estagiário. Esses documentos
normalmente estão disponíveis na própria empresa, e podem ser franqueados ao
estagiário. Mas é importante observar uma regra simples: documentos sigilosos podem ser
consultados, mas nem sempre citados, portanto, é conveniente informar-se com o
supervisor antes de mencionar documentos no trabalho final;
c) Obtidos os documentos, surge uma nova questão: como separar o joio do trigo? Isto é, é
preciso fazer uma leitura prévia, para identificar quais documentos contêm informações
relevantes. Selecionados estes, novas leituras se fazem necessárias, de forma que se
alcance a compreensão dos dados. Fichas de leitura (apresentadas no início deste trabalho)
são muito úteis para indicar quais são os dados mais importantes e as informações que
realmente serão úteis para o trabalho;
d) Após esse trabalho, surge uma nova questão: como fazer a análise dos dados?
Documentos empresariais muitas vezes não receberam nenhum tratamento analítico, e, no
caso de o terem recebido, poucas vezes estão prontos para uso pelo estagiário, exigindo
grande esforço deste para serem trabalhados. Neste sentido, deve-se proceder à análise de
conteúdo, que, segundo Gil (1996, p. 83-84), “[...] possibilita a descrição do conteúdo
manifesto e latente das comunicações [...].”
126
O primeiro cuidado que deve ser tomado quando se procede à pesquisa documental, de
acordo com May (2004), é avaliar a autenticidade do documento; embora falsificações
possam ser interessantes, de acordo com as características da pesquisa, os documentos
autênticos são preferíveis. A seguir, é preciso determinar a credibilidade do documento, que
ser refere à extensão pela qual a informação contida é sincera. A terceira etapa diz respeito à
representatividade do documento, procurando determinar se ele é típico da realidade que
descreve. A útlima etapa consiste no significado do documento, em termos de clareza e
compreensão.
É interessante trabalhar um pouco mais a questão do processo de leitura de textos.
Severino (2000) apresenta uma metodologia de leitura que, embora seja de alcance geral,
aplica-se muito bem ao caso presente e portanto merece ser desenvolvida aqui. O primeiro
aspecto refere-se à delimitação da unidade de leitura; esta é definida como “[...] um setor do
texto que forma uma totalidade de sentido.” (SEVERINO, 2000, p. 51); um capítulo, uma
seção, um item podem ser considerados unidades de leitura.
Determinada essa unidade de leitura, o acadêmico deve proceder à análise textual,
que vem a ser uma preparação para análises mais profundas do material; neste momento,
busca-se simplesmente tomar contato com o texto, de forma que se obtenha uma visão
panorâmica do mesmo, em que se esclarecem os conceitos, determina-se o quadro teórico a
que o autor se filia e se esquematiza o texto de forma a se ter uma visão de conjunto do
mesmo (SEVERINO, 2000).
Feito isso, procede-se à análise temática. Aqui, o acadêmico “[...] procura ouvir o
autor, apreender, sem intervir nele, o conteúdo de sua mensagem. Praticamente, trata-se de
fazer ao texto uma série de perguntas cujas respostas fornecem o conteúdo da mensagem.”
(SEVERINO, 2000, p. 55). Essas perguntas, conforme Severino (2000), abrangem:
a) Qual é o tema, ou o assunto do texto?
b) Qual é o problema abordado pelo autor?
c) Como o autor responde a esse problema, isto é, qual é sua ideia central, sua proposição
fundamental ou sua tese?
d) Qual é o raciocínio, isto é, a argumentação utilizada pelo autor?
e) Quais são as ideias secundárias utilizadas pelo autor para provar seu ponto de vista?
O resultado da análise temática será tanto o resumo do texto quanto um roteiro para
leitura do mesmo, além de servir de base para a terceira abordagem desse texto: a análise
interpretativa. A função da interpretação, de acordo com Severino (2000, p. 56),
127
[...] é tomar uma posição própria a respeito das ideias enunciadas, é superar a estrita
mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a um diálogo, é explorar
toda a fecundidade das ideias expostas, é cotejá-las com outras, enfim, é dialogar
com o autor.
Em primeiro lugar, o acadêmico deve procurar situar o texto no pensamento geral do
autor; a partir daí, deve-se situar o pensamento do autor no contexto mais amplo do
conhecimento sobre o tema, a fim de definir seu posicionamento em termos de correntes de
pensamento; feito isso, é preciso explicitar os pressupostos do texto, que são ideias
subjacentes; a partir daí, deve-se proceder à crítica do texto, levando em conta sua coerência
interna, a originalidade, alcance, validade e contribuição dada pelo texto ao problema em tela;
findo esse ponto, procede-se à problematização do texto, que consiste numa interpretação do
mesmo, levantando e discutindo questões explícita ou implicitamente levantadas pelo autor,
ou pelo próprio leitor; por fim, elabora-se uma síntese pessoal do texto (SEVERINO, 2000).
No caso de documentos de empresa, esse tratamento completo nem sempre é possível, mas
deve ser tentado ainda assim.
Informações documentais, de acordo com Forster (apud MAY, 2004), são sempre
informações contextualizadas. O documento não pode ser analisado somente pelo seu
significado manifesto, mas também pelo contexto geral que o produziu. Isso obriga o
pesquisador a ser cuidadoso com esse método: o conhecimento produzido pela pesquisa
documental precisa ser cotejado com o obtido por meio de outros métodos de coleta, para
poder ser aceito.
O estagiário não pode esquecer de que o supervisor da empresa é uma fonte
permanente de consulta, para tirar dúvidas que porventura surjam de sua análise dos
documentos consultados. É conveniente apresentar os resultados dessa análise para que o
supervisor os confirme ou os altere, corrigindo o que se fizer necessário.
11.4.1 A pesquisa bibliográfica
Um relatório de estágio precisa de uma fundamentação teórica. Isso implica na
exigência de consulta e pesquisa a livros, artigos e papers que abordem o tema do estágio,
trabalhando os diversos elementos nele contemplados. Independentemente da fundamentação
teórica, o pesquisador poderá precisar da pesquisa bibliográfica em diversos momentos
diferentes na elaboração de seu trabalho. As principais fontes bibliográficas são, conforme
Marconi, Lakatos (1999):
a) Imprensa escrita, na forma de jornais e revistas;
128
b) Meios audiovisuais, como filmes, rádio, televisão;
c) Material cartográfico (mapas e gráficos);
d) Publicações como livros, teses, monografias, publicações avulsas.
O delineamento de pesquisa bibliográfica aqui proposto segue o roteiro definido por
Macedo (1994):
a) Em primeiro lugar, é preciso ter bem claro o que será pesquisado, delimitando-se o
assunto, o tema e o problema que serão trabalhados. Marconi, Lakatos (1999) chamam tal
etapa de identificação, em que se faz o reconhecimento do que for pertinente ao tema da
pesquisa. As autoras sugerem a consulta a catálogos, índices, bibliografias e abstracts.
Este material pode ser obtido em publicações específicas e nas próprias bibliotecas;
b) O segundo passo consiste na seleção de fontes bibliográficas, e dos locais aonde poderão
ser obtidos. Corresponde à etapa de localização definida por Marconi, Lakatos (1999);
c) É preciso definir de que forma serão registrados os dados e informações obtidos,
recomendando-se sobretudo o fichamento dos textos;
d) A partir dessas definições, pode-se proceder à leitura do material, à seleção e organização
dos dados;
e) Findo o processo de leitura, deve-se preparar um sumário do trabalho, no qual seja feito
um esquema provisório do mesmo. Esse esquema será complementado por um rascunho
inicial, a ser revisado em termos de conteúdo e de forma de expressão, para ser
apresentado ao final dos trabalhos.
Convém lembrar que o orientador desempenha um papel muito importante na fase da
pesquisa bibliográfica, indicando sugestões de textos, discutindo ideias desenvolvidas pelos
autores e revisando o material escrito pelo acadêmico. Uma dica importante: não deixe a
pesquisa bibliográfica para o final do trabalho. Na maioria das vezes, a bibliografia sobre
o tema ajudará bastante na definição do que fazer no estágio, dos resultados que podem ser
esperados, e das melhores técnicas para atingir os objetivos.
129
12 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Análise e interpretação dos dados caminham juntas na pesquisa. De maneira geral,
pode-se dizer que a análise refere-se a um esforço de sumarização dos dados, para que os
mesmos possibilitem o fornecimento de respostas aos problemas propostos, enquanto que a
interpretação se refere à tentativa de obter um significado maior nessas respostas, por
intermédio da ligação entre as mesmas e o conhecimento existente (GIL, 1995). Nas palavras
de Dencker (2000, p. 159):
o objetivo da análise é reunir as observações de maneira coerente e organizada, de
forma que seja possível responder ao problema de pesquisa. A interpretação busca
dar um sentido mais amplo aos dados coletados, fazendo a pote entre eles e o
conhecimento existente. Todo o processo de pesquisa desenvolvido foi orientado
para esse objetivo.
Portanto, os processos de análise e interpretação de dados devem ser considerados
como o resultado final da pesquisa, ou seja, a construção de conhecimento. Neste momento se
pode reconhecer o trabalho propriamente dito feito pelo pesquisador, tendo como base os
objetivos que ele se propôs alcançar.
Para realizar a análise dos dados, algumas etapas são necessárias:
a) Classificação dos dados;
b) Codificação;
c) Tabulação;
d) Análise estatística dos dados.
É sempre conveniente definir a forma de apresentação dos dados. Dados quantitativos
exigem a apresentação em tabelas, quadros e/ou gráficos, para facilitar sua visualização e sua
compreensão por parte do leitor. Após a realização das análises estatísticas, quando estas se
fizerem necessárias, o pesquisador deve proceder à interpretação dos dados, a ser feita sempre
tendo-se em mente a pergunta e os objetivos de pesquisa.
O restante desta unidade será dedicado a uma breve explanação desses processos, de
maneira a permitir uma introdução ao trabalho global de análise e interpretação dos dados,
que deve ser previsto no projeto de estágio, e realizado para a confecção do relatório final.
Conclui-se com algumas considerações a respeito da interpretação de dados.
130
12.1 CLASSIFICAÇÃO
O processo de classificação dos dados consiste em dividir o conjunto de dados
coletados em partes ordenadas e colocadas em “lugares” específicos (DENCKER, 2000), e
parte do estabelecimento de categorias, que podem ser compreendidas como classes de dados.
De acordo com Selltiz et al. (apud GIL, 1995), para que as categorias sejam úteis para o
pesquisador, é preciso inicialmente estabelecer um princípio de classificação, criar um
conjunto exaustivo de categorias e cuidar para que estas sejam mutuamente exclusivas.
Marconi e Lakatos (1999) colocam um aspecto importante: o número de categorias deve ser
determinado pelas características significativas da realidade pesquisada, características estas
que devem ser diferentes e identificáveis.
Em outras palavras, as categorias são “caixinhas” ou “gavetas”, nas quais os dados são
colocados, de acordo com a “etiqueta” colocada em cada “caixinha” ou ”gaveta”, sendo cada
uma diferenciada de maneira que não se possa colocar o mesmo dado em mais de uma
“caixinha” ou ”gaveta”. Esse procedimento, além de metodologicamente rigoroso, permite o
melhor tratamento dos dados e facilita sua interpretação posterior.
Por exemplo, o pesquisador que esteja investigando o absenteísmo numa empresa
pode fazer aos respondentes do questionário uma série de perguntas, que permitem respostas
em diversas categorias. Essas perguntas abrangeriam as seguintes informações (dentre outras):
a) Tempo de serviço;
b) Idade;
c) Sexo;
d) Nível de instrução;
e) Cargo ocupado.
Dentro da pergunta “a”, por exemplo, podem ser colocadas as seguintes classes ou
categorias de análise:
a) Menos de 1 ano;
b) 1-5 anos;
c) 5-10 anos;
d) 10-15 anos;
e) 15-20 anos;
f) Mais de 20 anos.
Continuando com o exemplo, para a pergunta “c”, apenas duas categorias são
possíveis. Mas já a pergunta “d” pode incluir diversas possibilidades: o pesquisador poderia
131
dividir os respondentes com curso superior em nível superior completo ou incompleto, e
dentro da primeira categoria, pode-se apresentar casos de pós-graduação completa ou
incompleta, e assim por diante. Os objetivos da pesquisa são um lembrete para a definição da
categoria: “tecnicamente, a classificação é uma maneira de discriminação e seleção dos dados,
com a meta de agrupá-los em categorias ou classes, tendo em mente os objetivos do trabalho.”
(RAUEN, 2002, p. 133).
O princípio básico de estabelecimento de categorias é: nenhum respondente à
pesquisa pode ficar de fora de uma categoria. Ou seja, é preciso tomar bastante cuidado ao
estabelecer as categorias, de forma que estas abranjam todas as respostas possíveis (para
tanto, em alguns casos, será necessário incluir a categoria “outros”, para dados em que
existam dificuldades em ser encaixados em uma categoria). Isso significa que o processo de
estabelecimento de categorias, conquanto seja uma tarefa bastante simples em muitos casos,
não necessariamente o será em todos.
Além deste princípio, Rauen (2002) recomenda alguns outros:
Deve-se utilizar somente um critério para a classificação dos dados;
A soma das Frequências dos dados em cada categoria deve ser igual ao total da população
ou amostra pesquisada;
As classes devem ser excludentes (como já observado acima), adequadas ao problema
investigado e interligadas (ou seja, devem permitir análises conjuntas);
As classes não podem ser tão minuciosas que não permitam ao pesquisador ter a visão do
todo na população.
Para Marconi, Lakatos (1999) os dados podem ser classificados de forma quantitativa
(que responde à pergunta “no quanto” os dados se dividem), que focaliza uma grandeza ou
quantidade do fator presente, ou qualitativa (que responde à pergunta “como” os dados se
dividem), que se baseia na presença ou ausência de uma determinada característica ou
propriedade. Peso, custos e número de filhos são exemplos de classes quantitativas, enquanto
que sexo, nacionalidade e estado civil podem ser citados como exemplos de qualitativas
(MARCONI; LAKATOS, 1999). As autoras sublinham: no caso de classificações
quantitativas, os dados podem exigir agrupamentos (por exemplo, em vez de uma classe para
1 salário mínimo, 2 salários e assim sucessivamente até chegar a 50 salários mínimos, o
pesquisador deve agrupar as classes em estratos como “1 a 5 salários mínimos”, “6 a 10
salários mínimos” e assim por diante até esgotar as possibilidades de classes de dados).
132
12.2 CODIFICAÇÃO
O processo de codificação pode ser definido como a transformação de dados brutos
em símbolos que permitam tabulação (GIL, 1995), ou seja, a alocação de códigos (geralmente
numéricos) para cada classe ou categoria, com a finalidade de “[...] sintetizar os dados, de
forma a facilitar a compreensão e otimizar a interpretação.” (RAUEN, 2002, p. 134). Esse
processo pode ser feito antes ou depois da aplicação do instrumento de coleta de dados,
devendo ser sempre realizado após a definição das categorias de análise (DENCKER, 2000).
Para Marconi e Lakatos, “[...] codificar significa organizar os dados em classes ou categorias,
atribuindo a cada categoria um item e dando a cada um deles um símbolo (número ou letra).”
(1999, p. 143).
Suponha-se que o exemplo colocado acima refira-se a um questionário:
1) Tempo de serviço
Menos de 1 ano
( ) 01
1-5 anos
( ) 02
6-10 anos
( ) 03
11-15 anos
( ) 04
16-20 anos
( ) 05
Mais de 20 anos
( ) 06
Os números de 01 a 06 referem-se ao código de cada resposta, facilitando o processo
de tabulação. Entretanto, é importante mencionar, como lembra May (2004), que as respostas
apresentadas à pergunta devem ser não somente mutuamente exclusivas, mas também
exaustivas, ou seja, não só não deve ser possível marcar mais de uma resposta à pergunta,
como também não se pode pensar em nenhuma hipótese alternativa de resposta além das
arroladas. Rauen (2002) recomenda tentar antecipar as respostas às perguntas, o que pode ser
facilmente alcançado no caso dos questionários, mas é complicado no caso dos procedimentos
abertos como as entrevistas.
Os códigos devem ser analisados para verificar sua validez, ou seja, o grau em que os
dados observados correspondem a algum critério que possa ser adotado como uma medida
adequada dos fenômenos estudados; a estruturação do material e a simplicidade das categorias
são aspectos centrais para garantir a segurança dos procedimentos de codificação do material
obtido com a pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 1999).
133
12.3 TABULAÇÃO
Entende-se por tabulação o “[...] processo de agrupar e contar os casos que estão nas
várias categorias de análise.” (GIL, 1995, p. 169). Na tabulação, a operação essencial consiste
na contagem para determinação do número de casos das várias categorias, de acordo com
Dencker (2000). Conforme Gil (1995) existem dois tipos de tabulação. O primeiro é chamado
tabulação simples, que é a contagem das Frequências das categorias de cada conjunto, ou
seja, a determinação do número de respostas em cada categoria. Por exemplo, num universo
de 500 respondentes à questão sobre o tempo de serviço, ter-se-ia um total de 35 respostas
para até um ano de serviço, 105 para um a cinco anos, e assim por diante. Veja-se o quadro a
seguir:
Tempo de serviço na empresa
Frequência
Menos de 1 ano
35
1 a 5 anos
105
6 a 10 anos
200
11 a 15 anos
120
16 a 20 anos
30
Mais de 20 anos
10
TOTAL
500
O segundo tipo consiste na tabulação cruzada, que é a contagem de Frequências que
ocorram em dois ou mais conjuntos de categorias. De acordo com Malhotra (2001), a
tabulação cruzada descreve duas ou mais variáveis simultaneamente, combinando em uma só
tabela as distribuições de Frequência de duas ou mais variáveis. Por exemplo, pode-se cruzar
as respostas obtidas na pergunta sobre tempo de serviço com as informações da pergunta
sobre nível de escolaridade, ou com a pergunta sobre o cargo ocupado, e assim por diante. A
tabulação cruzada é muito utilizada nas pesquisas quantitativas, porque auxilia na definição de
correlações entre as variáveis estudadas e os dados obtidos na pesquisa. É importante, antes
de partir da tabulação cruzada, veridicar cuidadosamente a existência de relações entre as
variáveis. O quadro abaixo divide a distribuição acima apresentada em sexos (por
comodidade, apresentam-se apenas as duas primeiras classes):
Tempo de serviço na empresa
Sexo
Frequência
Menos de 1 ano
Masculino
8
134
1 a 5 anos
Feminino
27
Masculino
43
Feminino
62
TOTAL
140
A tabulação pode ser feita de maneira manual (com lápis e papel), mecânica (com
cartões perfurados – evidentemente, em desuso hoje em dia) e eletrônica (usando-se o
computador). Neste último caso, existem programas estatísticos que permitem uma tabulação
rápida e precisa, permitindo vários graus de complexidade nas análises.
Após a tabulação dos dados, Rauen (2002) recomenda o uso da distribuição de
Frequência, em que se apresentam os resultados obtidos em cada classe. De acordo com
Goode e Hatt (apud MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 154), uma distribuição de Frequência é
a “[...] apresentação, numa coluna, de qualidades diferentes de um atributo, ou valores
diferentes de uma variável, junto com as entradas em outra coluna, mostrando a Frequência da
ocorrência de cada uma das classes”, sendo muito útil para o trabalho de análise estatística.
As Frequências podem ser absolutas (simples contagem dos resultados) ou relativas
(transformação dos resultados obtidos em percentuais), podendo ser ainda acumuladas em
cada um dos tipos (ou seja, somam-se as Frequências em cada classe).
12.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise estatística é feita em dois níveis: descrição dos dados e avaliação de
generalizações obtidas a partir dos dados (GIL, 1995). Segundo Dencker (2000), a análise e a
descrição dos dados procuram estabelecer:
a) A tipicidade de um grupo;
b) A variação dentro do grupo;
c) As distribuições dentro do grupo em relação a determinadas variáveis;
d) A relação das diferentes variáveis entre si;
e) A descrição das diferenças entre dois ou mais grupos de indivíduos.
Nesses casos, a análise lança mão de medidas estatísticas, como média, mediana e
moda, desvio padrão, quartis, amplitude, polígono de Frequência, correlação, distribuição na
curva normal, entre outros. De acordo com Dencker (2000), existem dois tipos de análise:
condicional, que busca identificar os fatores que determinam a ocorrência de um determinado
135
fenômeno ou situação; funcional, que procura as relações que os vários fenômenos
estabelecem entre si.
A avaliação das generalizações obtidas com os dados consiste em determinar se as
conclusões obtidas com a pesquisa, que normalmente é feita com uma amostra, podem ser
generalizadas para a população ou universo de pesquisa. Para isso, de acordo com Gil (1995),
deve-se utilizar o teste estatístico de hipóteses, que procura verificar a existência de diferenças
entre as populações representadas pelas amostras. A inferência estatística, no dizer de Huot
(2002), consiste na avaliação e na generalização dos resultados obtidos a partir de uma
amostra da população, feita a partir do estudo das variáveis de interesse dentro dessa amostra
e gerando conclusões sobre a população.
A análise estatística dos dados utiliza uma série de ferramentas diferentes, a saber:
a) Moda (Mo): consiste no valor que surge com maior Frequência (ou no valor dominante)
na amostra ou população estudada. Por exemplo, um pesquisador observou os seguintes
resultados para o número de salários mínimos de casais: 29 casais ganham 1 salário
mínimo (SM), 38 ganham 2 SM, 17 ganham 3 SM, 12 ganham 4 SM e 4 ganham 5 SM. A
moda consiste em dois SM. O quadro abaixo apresenta essas informações de uma forma
mais adequada:
Número de SM por casal (X)
Frequência observada (N)
1
29
2
38
3
17
4
12
5
4
TOTAL
100
Para melhor visualização, tem-se a seguinte representação em gráfico de barras:
136
Número de Famílias
Salários Mínimos
38
40
35
30
25
20
15
10
5
0
29
17
12
4
1
2
3
4
5
Número de SM
Salários Mínimos
Supondo-se que 38 casais ganhassem 1 SM e outros 38 ganhassem 2 SM, a
distribuição de Frequência seria multimodal, apresentando duas modas (1 e 2 SM);
b) Mediana (Md): representa o valor que divide exatamente ao meio a distribuição,
deixando 50% acima e abaixo do valor encontrado. No caso acima, é preciso acumular o
número de casais, observando-se que o valor do 50o casal se encontra na classe de dois
salários-mínimos. Naturalmente, distribuições mais complexas exigirão cálculos mais
elaborados. Observe-se o quadro com as Frequências acumuladas:
Número de SM por casal (X)
Frequência observada (N)
Frequência acumulada (Nac)
1
29
29
2
38
67
3
17
84
4
12
96
5
4
100
100
-
TOTAL
c) Média (Me): consiste no valor obtido dividindo-se a soma de todos os valores observados
na característica definida para a análise pela população total. No exemplo acima, o total de
filhos seria 224 (29 casais x 1 SM, 38 casais x 2 SM e assim por diante); dividindo-o pelo
número de casais (100), ter-se-ia a média de 2,24 SM por casal. Neste último caso tem-se
a chamada média ponderada; esta pode ser observada no quadro abaixo:
137
Número de SM por casal (X)
Frequência observada (N)
Frequência ponderada (N.X)
1
29
29
2
38
76
3
17
51
4
12
48
5
4
20
100
224
TOTAL
d) Extensão (amplitude) (A): consiste na diferença entre o maior e o menor dentre os
valores assumidos pela variável. No caso acima, os valores assumidos são de 1 a 5 SM,
determinando amplitude de 4 salários entre os casais observados. Dividindo-se a
amplitude pela média, tem-se o chamado desvio máximo relativo. No caso acima, o
desvio máximo relativo seria igual a 4 dividido por 2,24, ou 1,7857 SM;
e) Quantis: representam a divisão da população total estudada em n grupos de efetivos
exatamente iguais, permitindo dessa forma obter uma visão mais adequada da distribuição
da população. Os mais comuns são os quartis (que dividem a população total estudada em
grupos com 25%) e os decis (que dividem em grupos de 10%). Supondo-se no caso dos
quartis, o 1o quartil representa a situação em que 25% da população total têm valor
inferior a Q1 e o 3o quartil apresenta os 75% da população que têm valor inferior a Q3. Na
distribuição dos casais e suas rendas, o Q1 equivale a 1 SM, enquanto que o Q3 se
encontra na classe de 3 SM. Como não se trata de uma distribuição baseada em classes, o
cálculo mais preciso dos quartis não é necessário. O intervalo interquartil pode ser
calculado para verificar até que ponto uma população se encontra dispersa ou não, e é
obtido pela fórmula Q3 – Q1 que, no exemplo acima, seria 2 SM. Quanto mais próximo
este intervalo estiver da mediana, mais forte será a concentração em torno da mesma;
f) Desvios: o desvio médio (E) consiste na média aritmética dos desvios das observações em
relação à população total, tomados em módulo; calcula-se multiplicando o número
observado na classe pela diferença entre o valor da classe e a média. Veja-se o exemplo,
tendo em mente que a média foi calculada como 2,24:
Número de SM por casal (X)
Frequência observada (N)
Ni.(Xi - M)
1
29
35,96
2
38
9,12
138
3
17
12,92
4
12
21,12
5
4
11,04
100
90,16
TOTAL
O desvio médio será dado pelo total da terceira coluna dividido pela população total,
ou seja, 0,9016, indicando que em média as observações se afastam em 0,9016 saláriosmínimos da média aritmética, para cima ou para baixo. Dividindo-se o valor obtido pela
média aritmética da distribuição, tem-se o desvio médio relativo, cuja interpretação indica o
quanto, em média, as observações se afastam da média aritmética (neste caso, será 0,4025);
este normalmente é considerado em porcentagem, indicando que as observações afastam-se
mais ou menos 40% da média da série;
g) Variância (V): é a média aritmética dos quadrados dos desvios das observações em
relação à média aritmética. Calculando-se a raiz quadrada da variância, tem-se o desviopadrão ( ), que consiste na média quadrática dos desvios das observações em relação à
média. Veja-se o quadro para verificar como seriam calculados a variância e o desviopadrão do exemplo dos casais e suas rendas, sabendo-se que o valor total obtido na coluna
de multiplicação da Frequência pelo número de SM ao quadrado deve ser dividido pela
população total, e o resultado deve ser diminuído pela média ao quadrado para a variância:
No de filhos por casal (X)
Frequência observada (N)
Xi2
Ni. Xi2
1
29
1
29
2
38
4
152
3
17
9
153
4
12
16
192
5
4
25
100
100
-
626
TOTAL
A variância seria de 1,24 salários mínimos ao quadrado (o que, obviamente, não faz
sentido algum) e o desvio-padrão 1,11 salários mínimos. O desvio-padrão é a base da
distribuição normal, baseada na chamada Lei de Gauss (uma situação em que os valores da
mediana, da média e da moda são idênticos). Numa curva normal, cerca de 68% das
observações estão situadas a um desvio-padrão da média (para mais ou para menos),
139
aproximadamente 95%, a dois desvios-padrão e aproximadamente 99,8% a três desviospadrão. A figura abaixo mostra a distribuição normal:
- 3 desvios
- 2 desvios
-1 desvio
+ 1 desvio
+ 2 desvios
+ 3 desvios
Curva Normal
É possível calcular o intervalo médio I a partir da subtração e da soma do desviopadrão à média {I = [(Me -
Me +
. Assim, para o exemplo supracitado, o I consistiria
em [(1,13), (3,35)], indicando que em média as pessoas estudadas têm renda entre 1,13 e 3,35
salários mínimos. Adicionalmente, é possível calcular o coeficiente de variação (CV) através
da divisão do desvio-padrão pela média, o que no exemplo utilizado dá 0,4955. Como a
dispersão padrão é 0,5, pode-se observar que a dispersão dos valores no caso estudado é
relativamente fraca;
h) Coeficiente de curtose (K): representa o cálculo do grau de achatamento da curva que
distribui a Frequência da população estudada. É obtida pela divisão da diferença entre o
primeiro e o terceiro quartis pela diferença entre o primeiro e o nono decis, esta última
multiplicada por dois. No exemplo estudado, os quartis já foram calculados; o primeiro
decil equivale a 1 SM enquanto que o nono decil, a 4 SM. Assim sendo, o coeficiente de
curtose dessa distribuição é dado por 0,1333, indicando uma curva platicúrtica, mais
achatada que a curva normal.
O uso de diferentes variáveis ao mesmo tempo exige análises mais cuidadosas, mais
permite conclusões muito mais interessantes do que as que foram vistas até o momento. O
estudo das relações entre variáveis, como observam Rosental e Frémontier-Murphy (2002),
procura identificar se existe (ou não) alguma ligação entre a evolução de duas variáveis, se
existe alguma inversão de tendência nessa relação, e qual a intensidade dessa ligação. Para os
autores, a representação gráfica dos valores já pode ser uma indicação dessas relações,
facilmente observável. É mais interessante, entretanto, verificar se existe alguma função (por
exemplo, do tipo y = a.x + b, em que uma variável “y” qualquer tem seu valor afetado pelos
valores assumidos pela variável “x”) entre as variáveis.
140
A função apresentada assim é do tipo linear e pode ser estimada pelo ajustamento
através do método dos mínimos quadrados, o qual encontra uma reta ligando todos os pontos
observados cuja característica é ser a reta em que a soma dos quadrados das distâncias do eixo
y em relação a ela é a menor possível.
Para o cálculo da função, é preciso ter em mente que “y” e “x” representam variáveis
de análise, “a” representa o coeficiente angular (ou grau de inclinação da reta) e “b” o
coeficiente linear, que seria o valor mínimo de “y” (ou seja, quando “x” é igual a zero). O
cálculo dos dois coeficientes pode ser dado pelas seguintes fórmulas:
a = Cov (x, y)
Vx
b = Mey – a.Mex
Onde:
Cov (x,y) = (x1.y1 + x2.y2 + ... + xn.yn) – Mex.Mey
n
Vx = (x12 + x22 + ... + xn2) - Mex
n
Sendo Cov (x, y) a covariância de x e y, Vx a variância de x, Me as médias de x e y,
sendo n o número de observações. Um exemplo extraído de Rosental e Frémontier-Murphy
ajuda a compreender melhor essa situação. O quadro a seguir apresenta uma amostra de sete
países africanos, e as variáveis x e y representam taxas de alfabetização masculina e feminina,
respectivamente, desejando-se traçar a curva que passaria mais próxima de todos os pontos.
Para comodidade de cálculo, os valores de x2 e xi.yi são apresentados na tabela.
x2
xi.yi
49
5476
3626
29
9
841
261
Costa do Marfim
50
30
2500
1500
Gana
76
54
5776
4104
Mali
39
23
1521
897
Marrocos
57
31
3249
1767
Mauritânia
50
26
2500
1300
Total
375
222
21863
13455
Países
Taxa alf. masc.
Taxa alf. femin.
(x) em %
(y) em %
Argélia
74
Burkina Fasso
141
Fazendo-se os cálculos devidos, pode-se verificar que a variância de x é 253,54%2, a
covariância de x e y, 223,44%2, o que dará um coeficiente angular (“a”) igual a 0,88 e um
coeficiente linear b igual a -15,43%. A reta estimada será, então:
y = 0,88x – 15,43
De posse desta equação, pode-se fazer diferentes previsões sobre o comportamento das
variáveis, mas estas devem ser sempre tomadas com cuidado. Por exemplo, caso a taxa de
alfabetização masculina de um país qualquer da África seja 60%, pode-se estimar a taxa
feminina como 37,37%.
Para verificar a correlação linear entre as variáveis, é possível usar o coeficiente r de
Bravais-Pearson, que é dado pela covariância de x e y dividida pela multiplicação dos
desvios-padrão de x e y:
r = Cov (x, y)
x
y
Como o desvio-padrão é dado pela raiz quadrada da variância (e sendo a variância de y
dada por 203,62%2), o coeficiente r será 0,98. Quanto mais próximo de 1 for o valor do
coeficiente de correlação linear, maior será o grau de ligação entre as duas variáveis. Pode-se
afirmar que, no caso, existe correção entre as taxas de alfabetização de homens e mulheres
nos países estudados: aumentando-se a taxa de alfabetização dos homens, pode-se imaginar
que também aumente a das mulheres no país.
12.5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Concluindo, é preciso mencionar o processo de interpretação. De acordo com Dencker
(2000, p. 172), o processo de interpretação “consiste em expressar o verdadeiro significado do
material em termos do propósito do estudo. O pesquisador fará as ligações lógicas e
comparações, enunciará princípios e fará generalizações.” O processo de interpretação,
portanto, deve ser considerado como a fase final da pesquisa, em que os dados coletados
foram convenientemente tratados e analisados. Nem sempre esse processo pode ser facilmente
dissociado da análise, como nota Gil (1995), uma vez que esta já pode ser considerada como
uma preparação para a interpretação, com a preparação dos dados.
De acordo com Gil (1995), o principal aspecto que deve ser considerado no processo
de interpretação é a ligação entre as informações e dados empíricos coletados e a teoria
subjacente aos mesmos. A teoria é essencial para o estabelecimento de generalizações, mas
não pode ser considerada como o principal aspecto; é preciso ter em mente que teorias são
142
construtos da mente humana, interpretações da realidade, e como tal, podem apresentar falhas.
Da mesma forma, uma pesquisa, normalmente, não permite refutar uma teoria já estabelecida,
ainda que possa lançar dúvidas em relação à sua validade.
Dencker (2000) sugere: o pesquisador precisa elaborar modelos de análise dos dados,
em vez de se procurar fórmulas prontas, e deve encarar a interpretação como a busca de um
sentido mais amplo nos resultados da pesquisa, procurando estabelecer a continuidade dos
resultados de uma pesquisa com os de outro, tentando criar conceitos explicativos.
143
13 TRABALHOS ACADÊMICOS
Esta seção visa fornecer as regras fundamentais para a elaboração e apresentação dos
principais tipos de trabalhos acadêmicos usualmente solicitados pelos professores aos alunos
de cursos de Administração, buscando padronizar as exigências daqueles em termos de
qualidade e conteúdo dos trabalhos; entende-se que tal padronização será valiosa e importante
no sentido de evitar interpretações dúbias e trabalhos desnecessário. Assim, as características
e os objetivos desses trabalhos são discutidos sucintamente, de modo a permitir uma visão
geral dos mesmos. Como os objetivos pedagógicos variam, os professores poderão incluir
aspectos adicionais nos trabalhos que solicitarem, entretanto, o arcabouço está delineado aqui.
As regras anteriormente mencionadas neste trabalho, a respeito de tamanho de fontes,
espaço entrelinhas, formatação da página, são válidas para todos os trabalhos aqui tratados,
pois se constituem no padrão recomendado pela ABNT.
13.1 RESUMO DE TEXTO
Resumos de texto são trabalhos muito interessantes não somente em termos de
cobrança de um conteúdo por parte do professor, mas também por parte dos alunos como
forma de estudar e fixar conteúdo de textos, além de permitir trabalhar, por meio de um
exercício breve, formas de escrita. O resumo não é simplesmente uma lista de tópicos, ele é
um texto escrito com encadeamento de ideias e que deve ser lido como um todo, permitindo
entendimento do texto. Severino (2000) observa: o resumo é uma síntese de ideias, não uma
“miniaturização” do texto.
Um resumo, portanto, é um instrumento valioso para testar a compreensão do texto
por parte do leitor, mas também permite treinar e desenvolver um estilo de escrita (RUIZ,
1995). Algumas regras, de acordo com Ruiz, são importantes:
a) deve-se resumir um texto somente depois de tê-lo lido o suficiente para compreendê-lo, e
depois de fazer anotações sobre o mesmo;
b) um resumo deve ser breve e compreensível;
c) o autor do resumo deve utilizar as palavras sublinhadas e as anotações feitas ao longo do
texto, pois estas devem transmitir as ideias deste;
d) toda vez que for necessário fazer uma transcrição textual, é preciso usar as aspas e fazer a
referência bibliográfica completa da mesma;
144
e) pode-se incluir, ao final do resumo, ideias integradoras, referências bibliográficas
adicionais e posicionamentos críticos a respeito do texto.
Esta última regra não é referendada por todos os autores. Alguns consideram que os
resumos não devem incluir posicionamentos pessoais, devendo guardar o máximo de
fidelidade em relação ao texto. Severino (2000) menciona que o resumo deve usar as próprias
palavras do estudante, mas precisa se manter fiel às ideias do autor do texto original. De
qualquer forma, o resumo capta, analisa, relaciona, fixa e integra o assunto estudado,
expondo-o de modo a permitir uma rápida consulta e a rememorização do assunto
(LAKATOS; MARCONI, 2001).
Resumir o texto, portanto, é um trabalho a ser empreendido sempre que for necessário
absorver conteúdos e rememorizá-los rapidamente. Dessa maneira, o resumo é um aliado
tanto do estudante que está realizando um trabalho de maior fôlego, que exija pesquisa em
diversas fontes diferentes, ou está se preparando para uma prova (e precisa relembrar
conteúdos), quanto daquele que apenas deseja maior compreensão de um determinado
assunto. Um bom resumo pode inclusive dispensar a releitura do texto
Os resumos, de acordo com a ABNT (NBR 6028: 2003) são de três tipos básicos:
a) Indicativo ou descritivo: semelhante ao esquema, é um resumo que apenas faz referência
às partes mais importantes do texto, descrevendo-lhe sua natureza, forma e propósito,
valendo-se de frases curtas para indicar elementos importantes deste;
b) Informativo ou analítico: mais amplo que o anterior, contém todas as principais
informações do texto e dispensa leituras adicionais deste. Deve evidenciar os objetivos e o
assunto do texto, os métodos e técnicas adotados na exposição do assunto, e os resultados
e conclusões a que o autor chegou;
c) Crítico: formula um julgamento sobre a forma, o conteúdo e a apresentação do texto.
Salvador (apud AMBONI; AMBONI, 1997) apresenta algumas características dos
resumos, das quais as mais importantes para os objetivos deste trabalho são:
a) consistem na apresentação condensada de um texto;
b) podem ser seletivos, trabalhando somente com os elementos do texto que são
considerados relevantes para o autor do resumo ou para seus leitores;
c) são independentes do trabalho resumido, mesmo quando baseados na sinopse da obra.
As dimensões dos resumos variam, conforme os objetivos do trabalho (como é o caso
dos resumos desenvolvidos para trabalhos de conclusão de curso ou de estágio, monografias,
dissertações ou teses), ou as dimensões do texto resumido (no caso de trabalhos acadêmicos
desenvolvidos para uma disciplina). Os professores podem estabelecer as dimensões dos
145
resumos, mas, para a maioria dos resumos pedidos como trabalhos acadêmicos, o ideal é que
o resumo tenha mais ou menos uma página digitada em computador, sendo seus elementos
apresentados como se segue:
CABEÇALHO: deve incluir, nesta ordem, o nome da faculdade, o curso e habilitação, a
disciplina a que se destina, a fase, o nome do professor da disciplina, e o nome e o número
de matrícula do aluno, em espaço simples, como no modelo que se segue:
Faculdade Energia de Administração e Negócios
Curso:______________________________
Disciplina: Metodologia Científica (1a Fase)
Professora: Silvia M. K. C. Zapelini
Acadêmico(a):___________________________________ Matricula:__________________.
TÍTULO: separado do cabeçalho por uma entrelinha 1,5, deve consistir exclusivamente na
expressão resumo em maiúsculas e centralizado.
REFERÊNCIA: separada do título por uma entrelinha 1,5, deve seguir a norma da ABNT,
já referenciada anteriormente.
DESENVOLVIMENTO: consiste no resumo propriamente dito.
13.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trabalhos do tipo revisão bibliográfica podem ser pedidos pelos professores como
uma forma de desenvolver ou aumentar o conhecimento de um determinado assunto. As
revisões normalmente são parte de trabalhos monográficos, sendo elementos obrigatórios em
monografias, trabalhos de conclusão de estágio e de curso, dissertações e teses, entre outros;
mas também podem ser exigidas dentro de uma disciplina, como uma forma de apresentar,
comparar e desenvolver diferentes ideias e correntes de pensamento a respeito de um
determinado assunto.
O objetivo central de uma revisão bibliográfica é levar o aluno a conhecer de modo
exaustivo o pensamento sobre o assunto trabalhado. Dessa maneira, a revisão se caracteriza
pela reunião de grande quantidade de material bibliográfico, pelo pluralismo de ideias (ou
seja, não se pode se concentrar numa determinada corrente de pensamento, a menos que isso
seja expressamente solicitado), pela objetividade e isenção (ou seja, não se pode exigir, neste
146
trabalho, uma postura ou posicionamento do indivíduo sobre autores e obras) e pela
recapitulação de conhecimentos.
A estrutura dos trabalhos do tipo revisão bibliográfica é, de acordo com Amboni,
Amboni (1997), a seguinte:
CAPA (de acordo com o modelo apresentado neste trabalho).
SUMÁRIO (de acordo com a norma da ABNT).
INTRODUÇÃO: deve apresentar brevemente o assunto trabalhado pela revisão (ou seja,
descrever sucintamente o tema do trabalho), o objetivo que se pretende alcançar com o
mesmo, e uma rápida exposição da metodologia utilizada para a análise dos textos. Uma
justificativa do trabalho, evidenciando sua importância acadêmica, pode ser incluída
quando se mostra interessante.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: consiste na descrição do assunto, conforme o tratamento
dado pelos autores consultados. Deve-se evitar que posicionamentos pessoais prejudiquem
a compreensão do assunto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: são o fechamento do trabalho, apresentando a síntese das
ideias trabalhadas, e a importância do assunto dentro da área de conhecimento, mais
ampla, em que ele se insere.
REFERÊNCIAS (de acordo com a norma da ABNT).
Um trabalho deste tipo não abre espaço para grandes contribuições individuais por
parte do acadêmico. É uma recapitulação de conteúdos, uma reunião de diferentes
bibliografias num só lugar, e não um trabalho de opinião, posicionamento ou reflexão pessoal.
13.3 ARTIGO
Um artigo, de acordo com a ABNT, pode ser definido como um texto que apresenta de
modo organizado e sistemático um conjunto de ideias, métodos, técnicas, processos e
resultados de uma área de conhecimento. Como tal, ele trata de um problema científico de
pesquisa e é produzido como uma abordagem mais ou menos completa desse problema,
podendo trazer uma contribuição original ao desenvolvimento desses conhecimentos, ou
constituir-se numa revisão de contribuições e informações já publicadas. Neste sentido,
informa Rauen (2002), os artigos se dividem em originais e de revisão. Lakatos, Marconi
(2001) observam: um artigo científico é um estudo pequeno porém completo de um assunto
científico, resultando de estudos ou pesquisas feitos pelo autor, e permitem a um leitor repetir
147
os estudos feitos pelo autor, já que devem conter uma descrição da metodologia adotada para
chegar aos resultados apresentados.
Há três tipos de artigos:
a) os artigos analíticos descrevem, classificam e definem o assunto e levam em
conta a forma e o objetivo em vista;
b) os artigos classificatórios fazem uma ordenação de aspectos de determinado
assunto e a explicação de suas partes;
c) os artigos argumentativos enfocam um argumento e depois apresentam fatos que
provam ou refutam o mesmo. (MEDEIROS apud RAUEN, 2002, p. 242).
Lakatos, Marconi (2001) acrescentam que o artigo argumentativo devem ser de cunho
teórico, e permitem ao leitor tomar uma posição a respeito do tema. O conteúdo do artigo,
observam as autoras, deve estar direcionado ao público a que se destina, ou seja, a linguagem
e o estilo devem ser adequados às características dos leitores. Um artigo trabalha uma
descoberta, um enfoque pessoal, oferece solução para um problema existente, informa o
público especializado sobre ideias novas, ou aborda aspectos secundários de uma pesquisa
(aspectos que não foram utilizados na mesma) realizada pelo autor (LAKATOS; MARCONI,
2001).
Há várias sugestões em termos de estrutura para o artigo. A que se recomenda seguir
foi definida por Rauen (2002):
TÍTULO: consiste numa expressão identificadora do trabalho, devendo direcionar o leitor
para o tema do artigo. Deve estar centralizado no topo da página.
AUTORIA: é a identificação do(s) autor(es) do artigo, acrescida da qualificação do(s)
mesmo(s), ou seja, de suas credenciais acadêmicas. No caso de um artigo feito para uma
disciplina, essas credenciais são desnecessárias ou simplesmente referenciadas como
“Acadêmico da Xa fase do Curso de Administração com Habilitação em XXX”.
RESUMO: sintetiza os objetivos pretendidos, a metodologia adotada e as conclusões
obtidas. O resumo é elaborado conforme a norma da ABNT.
PALAVRAS-CHAVE: são expressões ou termos que indicam com maior precisão o
conteúdo do artigo.
ELEMENTOS TEXTUAIS: formam o corpo do artigo, normalmente dividido em
introdução, desenvolvimento e conclusão. Neste sentido, as regras definidas anteriormente
para os trabalhos de conclusão de estágio são válidas e devem ser adotadas para o melhor
desenvolvimento do trabalho.
ELEMENTOS DE APOIO: são notas, citações, tabelas, quadros, fórmulas, ilustrações,
incluídas no artigo como suporte à argumentação desenvolvida pelo autor.
148
REFERÊNCIAS (de acordo com as normas da ABNT).
APÊNDICE(S): documento(s) que complementa o argumento do autor, desenvolvendo
aspectos que este considera importantes, embora não cruciais, para a compreensão do
mesmo.
ANEXO(S): documento não elaborado pelo autor do artigo que fundamenta, comprova ou
ilustra o argumento desenvolvido no artigo.
Rauen (2002) recomenda que seja incluído, ao final do artigo, uma tradução do mesmo
em língua estrangeira. Algumas publicações, entretanto, solicitam que essa tradução seja
incluída logo após o resumo em vernáculo. Para o caso do artigo ser direcionado a uma
disciplina, esse resumo em língua estrangeira pode ser dispensado, já que o mesmo não foi
produzido para publicação.
13.4 PAPER
O paper é um trabalho normalmente de pequena extensão, baseado em conhecimento e
domínio do tema abordado, próprio para comunicação científica. Medeiros (2000, p. 192) o
define como
[...] uma síntese de pensamentos aplicados a um tema específico. Esta síntese deverá
ser original e reconhecer a fonte do material utilizado. [...] Num paper, espera-se [...]
o desenvolvimento de um ponto de vista acerca de um tema e a expressão dos
pensamentos de forma original.
Num paper há a síntese das descobertas do autor sobre o tema, uma avaliação ou
interpretação dessa descoberta, e não um resumo ou cópia de outro artigo; o paper é sempre
uma contribuição original, um desenvolvimento de ideias e pensamentos de seu autor,
inserindo-o na comunidade acadêmica, reconhecendo as fontes utilizadas, e nunca uma cópia,
plágio ou uma sucessão de citações (ROTH apud MEDEIROS, 2000).
É muito utilizado em congressos e simpósios científicos; neste caso, o paper obedece a
uma estrutura própria, diferente dos trabalhos exigidos nos cursos de graduação e pósgraduação. Normalmente, o paper é trabalhado na academia em duas formas ligeiramente:
position paper e short paper.
O position paper é uma “composição escrita, na qual se apresenta um posicionamento
criativo e/ou reflexivo próprio ou de grupo de autores, diante de estímulos escritos [...] e/ou
áudio-visuais.” (RAUEN, 2002, p. 244). Para Amboni, Amboni (1997), o principal objetivo
do position paper é contribuir para o desenvolvimento da criatividade do acadêmico por
intermédio da reflexão sobre o material escrito ou observado no ambiente, tornando-o, assim,
149
um agente crítico na realidade estudada em vez de simples receptor ou reprodutor de
conhecimentos. O foco deste trabalho é o posicionamento do autor em relação ao assunto.
Esse posicionamento exige a leitura ou observação cuidadosa da realidade, a
identificação de termos-chave ou aspectos centrais, ou seja, das ideias centrais tratadas no(s)
texto(s) abordado(s) ou na realidade observada, e a formulação de uma posição de
concordância (total ou parcial) ou discordância com o assunto; essa posição deve considerar
os valores, experiências e visão de mundo do autor (AMBONI; AMBONI, 1997).
O position paper é um trabalho de estrutura simples, no qual não existe capa, sumário
ou mesmo divisão de partes. As dimensões são restritas: normalmente, esse trabalho não
supera duas páginas. A estrutura definida por Amboni, Amboni (1997) foi julgada a mais
adequada, formando a base para a composição que se segue:
CABEÇALHO (elaborado de acordo com o exposto no item sobre resumos).
TÍTULO: elemento opcional. Na hipótese de ser colocado, deve ser centralizado e
separado do cabeçalho e do desenvolvimento do texto por meio de uma sublinha dupla.
PARÁGRAFO INTRODUTÓRIO: deve apresentar o assunto e delimitá-lo, definindo
assim o objetivo pretendido pelo acadêmico. Amboni, Amboni (1997) consideram a
definição do objetivo tão importante que, em sua visão, este dispensa o título.
DESENVOLVIMENTO: formado por tantos parágrafos quanto se mostrarem necessários,
o desenvolvimento deve esclarecer o leitor em relação ao ponto de vista defendido pelo
autor em relação aos argumentos desenvolvidos no(s) texto(s)-base, ou na realidade
observada. Esse ponto de vista deve estar devidamente fundamentado, o que poderá ser
feito com base em outros autores pesquisados, considerados relevantes para o tema
(Rauen, 2002, recomenda a apresentação de pelo menos dois autores neste item). No
desenvolvimento, portanto, abre-se espaço para a postura crítica do acadêmico.
NOTAS CONCLUSIVAS: o parágrafo final apresenta as principais posições que o autor
assumiu ao longo do trabalho.
REFERÊNCIAS: elaboradas de acordo com a norma da ABNT, as referências devem
abordar todos os livros e artigos de fato utilizados ao longo do position paper. Na hipótese
deste ter se baseado numa observação, dados sobre o local da mesma devem ser
apresentados.
Quanto ao short paper, também chamado por alguns autores issue paper, Amboni,
Amboni (1997) destacam que o mesmo segue uma estrutura comum ao position paper, sendo
entretanto ainda mais restrito, pois trabalharia exclusivamente com uma só ideia desenvolvida
150
por um autor, ou extraída da observação da realidade. Dessa maneira, este tipo é ainda menos
extenso que o position paper, sendo esta a única distinção entre os dois. Dessa maneira,
Amboni, Amboni (1997) recomendam que o termo position paper seja usado genericamente
para os dois tipos de trabalho.
13.5 RESENHA CRÍTICA
Conceitualmente falando, uma resenha é
[...] um relato minucioso das propriedades de um objeto, ou de suas partes
constitutivas; é um tipo de redação técnica que inclui variadas modalidades de
textos: descrição, narração e dissertação. Estruturalmente, descreve as propriedades
da obra (descrição física da obra), relata as credenciais do autor, resume a obra,
apresenta suas conclusões e metodologia empregada, bem como expõe um quadro
de referências em que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma
avaliação da obra e diz a quem a obra se destina (dissertação). (MEDEIROS, 2000,
p. 137).
A resenha crítica, por sua vez, inclui a apresentação de uma posição crítica por parte
do resenhista, comentando e julgando a obra estudada (MEDEIROS, 2000). Para Rauen
(2002), a resenha crítica resulta de leituras críticas e de resumo do texto, pois comprime e
concentra o conteúdo de uma obra, e a confronta com outros referenciais teóricos ou práticos.
Na apresentação do conteúdo, Amboni, Amboni (1997) recomendam que seja feita
uma exposição clara e detalhada do conteúdo, do propósito e do método adotado pela obra;
em seguida, o resenhista irá apreciar criticamente o conteúdo, a disposição das partes, o
método, forma e estilo, e, quando necessário, a apresentação tipográfica da obra
(AMBONI;AMBONI, 1997). Ela é, no dizer dos autores, tanto objetiva quanto subjetiva.
A grande maioria dos autores observa que uma resenha crítica, feita com intuito de
publicação em periódico científico, deve ser elaborada por um resenhista que tenha
conhecimento e domínio do assunto. Ou seja, as credenciais do autor da resenha são
fundamentais para que a mesma tenha validade científica. Diante disso, fica nítido que, no
caso de um trabalho acadêmico caracterizado como resenha crítica, não há credenciais que
sustentem o posicionamento do autor, pois este não é uma autoridade reconhecida no assunto.
Entretanto, ainda que de maneira restrita, a resenha crítica é aplicável e interessante enquanto
trabalho acadêmico. O nível de exigência é mais baixo do que no caso de uma resenha para
publicação, naturalmente. A estrutura da resenha feita com propósito acadêmico também é
diferente, seguindo padrões adaptados a partir do definido por Amboni, Amboni (1997):
CAPA.
SUMÁRIO.
151
INTRODUÇÃO: apresentação inicialmente genérica do assunto da resenha, e
posteriormente focalizada no ponto de vista que deve ser abordado no trabalho. Inclui
justificativa que determine a importância do trabalho e explicação sobre o método adotado
pelo resenhista.
DESCRIÇÃO DO ASSUNTO: apresentação das ideias e do pensamento do autor
resenhado, numa seqüência lógica e encadeada de elementos. Os aspectos apontados por
Medeiros (2000), supracitados, devem ser contemplados.
APRECIAÇÃO CRÍTICA: neste trecho, o resenhista apresenta um posicionamento,
fundamentado em outros autores, de concordância ou discordância com o texto resenhado,
em termos da validade ou aplicabilidade deste.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: reflexões e constatações feitas pelo resenhista ao longo do
trabalho.
REFERÊNCIAS: elaboradas conforme as normas da ABNT.
ANEXOS: é recomendável incluir o artigo ou texto originalmente utilizado como base
para a resenha crítica.
Pode-se notar que existe uma continuidade entre os trabalhos do tipo short paper,
position paper e resenha crítica – todos são trabalhos em que são feitas apresentações de
conteúdo e apreciações críticas do mesmo. O grau de complexidade e profundidade entretanto
é crescente, cabendo à resenha o mais elevado grau de exigências.
13.6 ENSAIOS
Os ensaios, dentre os trabalhos acadêmicos, são os que apresentam o maior grau de
informalidade (ainda que, evidentemente, existam ensaios formais), e representam um
comentário livre, reflexivo e teórico sobre um tema ou obra, sistematizando de maneira inicial
as ideias a respeito de um assunto pouco desenvolvido ou pouco explorado (SALVADOR
apud AMBONI; AMBONI, 1997). Reúne os pensamentos do ensaísta, organiza-os e os
apresenta ao leitor com clareza e concisão, devendo ser escritos de modo atraente e
interessante ao leitor (RAUEN, 2002). O ensaio exige maturidade intelectual, pois abre a
possibilidade de apresentar uma tese pessoal sem a necessidade de comprová-la (RAUEN,
2002). Escrever um ensaio, entretanto, exige uma série de passos: em primeiro lugar, deve-se
fazer uma reflexão sobre o tema, devendo-se após esta planejar a redação e apresentação dos
tópicos, escrever uma primeira versão, revisá-la e reavaliá-la de acordo com os pontos de
152
vista dos possíveis leitores. Salvador (apud AMBONI; AMBONI, 1997) acrescenta que o
ensaio dispensa o domínio das técnicas de pesquisa científica, mas exige grande cultura e
maturidade intelectual, permitindo ao ensaísta usar uma linguagem mais elegante e literária.
A estrutura do ensaio, de acordo com Amboni, Amboni (1997), é a seguinte:
CAPA.
SUMÁRIO.
INTRODUÇÃO: expõe o assunto, apresenta os pressupostos defendidos pelo ensaísta e
define a metodologia adotada para o trabalho.
DISCUSSÃO DOS PRESSUPOSTOS BÁSICOS QUE NORTEIAM O ENSAIO:
apresenta e discute o assunto e a tese defendida pelo autor a respeito deste, a qual é
subjetiva e inclui um juízo de valor sobre o assunto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
REFERÊNCIAS.
ANEXOS.
Convém observar que a exigência da impessoalidade na redação não se aplica ao
ensaio. Como se trata da exposição de um ponto de vista pessoal sobre um assunto, o ensaísta
pode perfeitamente escrever na primeira pessoa sem dificuldade.
13.7 MONOGRAFIAS
As monografias são os mais extensos e formais dos trabalhos acadêmicos, tratando de
um assunto particular de maneira sistemática, completa e rigorosa; aborda apenas um assunto
por vez, dissertando sobre o mesmo, em graus crescentes de originalidade, profundidade e
extensão, em um continuum que vai da monografia propriamente dita, usada como trabalho de
conclusão de curso de graduação ou de pós-graduação, até a tese de doutorado, passando pela
dissertação de mestrado.
Há muitas obras no mercado que trabalham com as monografias, sendo recomendável
a consulta às mesmas para maior profundidade. Como o propósito desta seção era definir e
estruturar os principais trabalhos acadêmicos, a monografia não será abordada com maior
detalhamento no mesmo. Por ora, basta observar que sua estrutura é muito aproximada dos
trabalhos de conclusão de estágio, já trabalhados em seção anterior, devendo esta ser
consultada para maiores detalhes, já que os diferentes elementos que a compõem estão ali
apresentados, não havendo diferenças de monta entre os mesmos.
153
A estrutura das monografias, proposta por Rauen (2002), consiste nos seguintes
elementos:
a) Elementos pré-textuais:
CAPA.
FOLHA DE ROSTO.
PÁGINA DE APROVAÇÃO.
PÁGINA DE DEDICATÓRIAS.
PÁGINA DE AGRADECIMENTOS.
PÁGINA DE EPÍGRAFE.
RESUMO.
RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA.
SUMÁRIO.
LISTAS (figuras, tabelas, siglas, símbolos, apêndices e anexos).
b) Elementos textuais:
INTRODUÇÃO.
DESENVOLVIMENTO.
CONCLUSÃO.
c) Elementos pós-textuais:
REFERÊNCIAS.
GLOSSÁRIOS.
APÊNDICE/ANEXOS.
ÍNDICES.
13.8 ESTUDOS DE CASO
O estudo de caso, como observa Roesch (1999), não deve ser considerado como um
método de pesquisa (ainda que o estudo de caso seja normalmente reconhecido como uma das
classificações das pesquisas quanto aos fins), mas como uma estratégia de investigação de um
fenômeno em profundidade, no contexto em que se verifica, e buscando compreender os
processos que o compõem, facilitando ainda uma compreensão do fenômeno sob diversos
ângulos. Robert K. Yin (1984) observa que um estudo de caso deve pesquisar o “como” e o
“por quê” de um fenômeno contemporâneo, sem ter preocupação de controlar variáveis
comportamentais, e oferece a seguinte definição:
154
Um estudo de caso é uma pesquisa empírica que:
investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real; quando
os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente visíveis; e no qual
múltiplas fontes de evidência são usadas. (YIN, 1984, p. 23, grifos do autor; tradução
nossa).
Um estudo de caso não deve ser confundido com uma experimentação, pois esta
destaca algumas variáveis do fenômeno estudado de seu contexto, tampouco com estudos
históricos e com surveys, pois os primeiros normalmente não abordam o contemporâneo, e os
últimos não conseguem trabalhar com todos os aspectos ambientais envolvidos (YIN, 1984).
Uma crítica comum aos estudos de caso refere-se à sua especificidade. Ao trabalhar
um caso, o pesquisador está investigando uma realidade específica, o que dificulta sua
generalização para outras realidades. Entretanto, Eckstein (apud ROESCH, 1999), sugere que
um caso pode contribuir para a teoria de diversas formas, como descrever aspectos
particulares da realidade, descrever a teoria com base em uma situação real, explorar ou gerar
novas teorias, ou testar a teoria.
O estudo de caso normalmente é trabalhado como uma parte de um trabalho
monográfico sobre um determinado assunto, mas também pode ser empreendido como um
trabalho independente. Uma estrutura adequada para um estudo de caso, enquanto um
trabalho específico de pesquisa do administrador, é a que se sugere a seguir:
CAPA;
SUMÁRIO;
LISTAS (figuras, tabelas, siglas);
INTRODUÇÃO;
REFERENCIAL TEÓRICO;
DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PESQUISADA (CASO): inclui aspectos metodológicos
sobre a forma de coleta dos dados e sua categorização/classificação (tratamento dos
dados), uma descrição da(s) empresa(s) pesquisada(s), que deve sublinhar as
características específicas da realidade pesquisada (se necessário, incluindo dados
históricos), e os dados coletados na pesquisa;
ANÁLISE DOS DADOS: deve ser procedida com base na teoria apresentada;
CONSIDERAÇÕES FINAIS;
REFERÊNCIAS;
APÊNDICES E ANEXOS.
155
Uma questão correlata se refere à análise do estudo de caso pelo acadêmico de
Administração. Embora o tipo de análise varie de acordo com a disciplina e as características
do caso, alguns aspectos são comuns:
a) todos os fatos apresentados no relato do caso devem ser considerados relevantes em maior
ou menor grau;
b) conclusões obtidas a partir do caso devem ser sustentadas por conhecimentos teóricos
prévios, através de analogias ou comparações;
c) as conclusões obtidas não devem ser generalizadas, a não ser que o caso aponte nessa
direção.
13.9 SEMINÁRIO
O seminário pode ser descrito como um trabalho acadêmico no qual há uma vasta
pesquisa sobre o tema, uma discussão e um debate, sendo este último o principal objetivo do
seminário. A palavra seminário (seminariu) significa sementeira, onde se faz germinar as
sementes de novas ideias, de novas pesquisas, sendo estes, também, objetivos de um
seminário.
O apresentador do seminário deve providenciar, com antecedência, um texto-base, ou
seja, um texto bem informativo e distribuir aos participantes, para que estes tenham
conhecimento sobre o tema. Na apresentação do seminário deve-se utilizar elementos visuais
(cartazes, transparências, slides, apresentações em PowerPoint, etc.), que deverão ser
apresentados em forma de tópicos, escritos em letras de tamanho que torne fácil a leitura.
Estes elementos visuais servirão como um roteiro, tanto para o apresentador quanto para os
ouvintes, facilitando a participação dos mesmos. Ou seja, um seminário deve ser considerado
não só como uma forma de apresentar um conhecimento relevante para uma determinada
disciplina, mas também como uma forma de despertar nos demais participantes do curso a
curiosidade sobre o assunto, estimulando o debate em torno dos elementos apresentados pela
equipe responsável pelo tema em questão.
O professor responsável pelo curso ou disciplina será o coordenador dos seminários,
organizando o cronograma de apresentação e a distribuição dos temas. Cabe-lhe ao final da
exposição orientar o debate e fazer uma apreciação do trabalho apresentado.
156
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160
APÊNDICE A- Modelo de plano de trabalho de estágio
FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS - FEAN
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – HABILITAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE
CIDADES/MARKETING
PROJETO DE ESTÁGIO
TREINAMENTO DE RECURSOS HUMANOS NA JS EMPREENDIMENTOS
Aluno: João Silva
Orientador: Marcello B. Zapelini
Área de Concentração: Administração de Recursos Humanos
Florianópolis, janeiro de 2013
161
SUMÁRIO
1) IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO.....................................................................................2
1.1 Nome do estagiário..............................................................................................................2
1.2 Local do estágio...................................................................................................................2
1.3 Orientador.............................................................................................................................2
1.4 Área do estágio....................................................................................................................2
1.5Tema....................................................................................................................................2
2 OBJETIVOS.........................................................................................................................3
2.1 Objetivogeral.........................................................................................................................3
2.2 Objetivos específicos...........................................................................................................3
3 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................4
4 CLASSIFICAÇÃO DO ESTÁGIO.....................................................................................8
5 CRONOGRAMA E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES..................................................9
5.1Cronograma...........................................................................................................................9
5.2 Descrição das atividades.....................................................................................................9
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................................11
7 ANEXOS
162
1. IDENTIFICAÇÃO DO ESTÁGIO
1.1) Nome do estagiário: João Silva
1.2) Local do estágio:
O estágio será realizado na JS Empreendimentos Limitada, empresa situada na rua X,
nº 0, no Departamento de Recursos Humanos. A JS atua no setor de construção civil há 30
anos, e atualmente emprega 65 pessoas em seu quadro permanente, utilizando serviços de
empresas terceirizadas em suas obras. No Departamento de Recursos Humanos, trabalham
atualmente seis pessoas, sob a direção do sr. Luiz Fontes, que será o supervisor deste estágio.
1.3) Orientador:
O estágio será orientado pelo prof. Marcello B. Zapelini, professor da disciplina
Administração de Recursos Humanos da FEAN.
1.4) Área do Estágio: Administração de Recursos Humanos
1.5) Tema:
Optou-se pelo assunto Treinamento de Recursos Humanos para o tema do estágio, por
ser este fundamental para o sucesso das operações de uma organização. Paralelamente, a
empresa demonstrou interesse mudanças em sua política de treinamento, para torná-la mais
adequada às suas necessidades.
163
2. OBJETIVOS
2.1) Objetivo geral
Propor um programa de treinamento de recursos humanos para a JS Empreendimentos
Ltda. com vistas a gerar maior produtividade dos colaboradores.
2.2) Objetivos específicos
a) Analisar a estrutura do Departamento de Recursos Humanos da empresa, com
destaque para a função Treinamento;
b) Descrever os métodos e técnicas utilizados pela empresa para a definição dos
programas de treinamento;
c) Levantar os programas de treinamento atualmente oferecidos pela empresa,
destacando critérios de seleção dos treinandos, definição de objetivos, seleção
de cursos, métodos de implementação e os instrumentos de levantamento de
feedback;
d) Identificar, através de pesquisa com os gerentes e os colaboradores, os pontos
fortes e fracos dos programas de treinamento da empresa;
e) Levantar sugestões, junto aos gerentes e colaboradores, de aprimoramento dos
programas de treinamento;
f) Apresentar uma proposta de programa de treinamento para a empresa.
164
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Milioni conceitua treinamento como “[...] a ação sistematizada de educação para a
capacitação, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento do indivíduo” (in BOOG, 2001, p. 10).
Numa veia similar, DeCenzo, Robbins conceituam treinamento como
[...] a experiência aprendida que produz uma mudança relativamente permanente em
um indivíduo e que melhora sua capacidade de desempenhar um cargo. O
treinamento pode envolver uma mudança de habilidades, conhecimento, atitudes ou
comportamento. Isto significa mudar aquilo que os empregados conhecem, como
eles trabalham, suas atitudes frente ao seu trabalho ou suas interações com os
colegas ou supervisor. (apud CHIAVENATO, 1999, p. 295).
Marras (2000) prefere sublinhar o caráter de assimilação cultural inerente ao
treinamento, mencionando o quanto este depende de passar, para o funcionário, um conjunto
de conhecimentos, habilidades e atitudes diferente daqueles que ele já possui, com vistas a
executar melhor suas tarefas ou otimizá-las.
No modelo tradicional de ARH, baseado na definição de um Departamento ou
Diretoria de Recursos Humanos, o treinamento era de responsabilidade de uma gerência
específica, à qual cabia identificar as necessidades da empresa em termos de treinamento do
pessoal e estabelecer políticas para a implementação de programas que as satisfizessem, bem
como definir instrumentos de acompanhamento e avaliação dos mesmos. Nesse modelo,
compete a um órgão de treinamento definir e fixar, de acordo com os interesses e
objetivos da empresa, a política de formação e desenvolvimento de seu pessoal,
visando, através da aplicação de planos e programas específicos, prover a empresa
de pessoal técnica e administrativamente habilitado, satisfeito e estável.
(FERREIRA, 1987, p. 18).
É visível, nesta definição, a caracterização do treinamento como uma atividade “de
cima para baixo”, isto é, baseada na identificação, por parte de um órgão da empresa, das
necessidades de desenvolvimento dos diferentes setores.
Os objetivos dos programas de treinamento podem ser divididos em duas categorias:
a) Específicos: formação profissional do colaborador em sua função, especialização para
otimização no desempenho das atividades, e reciclagem;
b) Genéricos: aumento direto da produtividade e da qualidade no desempenho das tarefas,
incentivos motivacionais, otimização pessoal e organizacional e atendimento das
exigências de mudanças das empresas, em processos, tecnologia, comportamento, etc.
(MARRAS, 2000);
O treinamento abrange, ainda segundo Marras (2000), os seguintes aspectos:
a) Técnico: refere-se à necessidade da ARH submeter sua programação de treinamento aos
setores em que o pessoal será aplicado, comprometendo-se com os objetivos destes;
165
b) Comportamental: o treinamento deve ser efetuado tendo-se em consideração um
"pacote" ou "padrão" de comportamentos, atitudes e valores que são esperados dos
funcionários.
Um programa de treinamento envolve diversas etapas, cuja descrição vai a seguir
(FERREIRA, 1987):
a) Levantamento das necessidades de treinamento: trata-se de pesquisar informações a
respeito do “[...] conjunto de problemas de desempenho (existente ou em potencial),
solucionáveis pelo treinamento” (FERREIRA, 1987, p. 54). Essa pesquisa irá gerar uma
visão a respeito do que deve ser realizado em termos de programas específicos de
treinamento dentro da empresa;
b) Elaboração de programas de treinamento: o programa deve ser considerado como um
conjunto de planos específicos de treinamento, de modo que as necessidades identificadas
no item “a” sejam satisfeitas. Esse programa deve conter:

Objetivos dos cursos;

Definição dos ministrantes;

Participantes;

Data e local dos cursos;

Formas e meios utilizados para ministrar esses cursos;

Relacionamentos entre os cursos programados e outros, realizados ou a realizar;

Definição do acompanhamento dos cursos, bem como do registro e controle dos
resultados;
c) Definição dos métodos a serem utilizados no treinamento: dependendo dos objetivos
do programa, determinados métodos são considerados mais importantes ou mais eficazes
que outros, devendo-se procurar o método que mais se adeque aos objetivos e
necessidades da empresa em relação ao treinamento;
d) Definição de critérios de avaliação: pode-se avaliar os resultados do treinamento de
forma subjetiva ou objetiva, sendo a primeira referente à avaliação dos próprios
treinandos, que apresentam sua opinião a respeito do curso ou do programa por meio de
questionários previamente definidos. Já a avaliação objetiva é realizada pelos supervisores
dos treinandos, e “[...] refere-se ao aprendizado resultante, às modificações de
comportamento verificadas, ao desenvolvimento constatado de aptidões e capacidades.”
(FERREIRA, 1987, p. 187).
Embora essa sistemática ainda seja utilizada, a definição implícita de programas de
treinamento de pessoal, como mencionado acima, não se justifica mais, à medida em que o
166
colaborador da empresa é visto mais e mais como alguém que deve assumir responsabilidades
sobre seu desempenho na mesma. Entretanto, para atividades repetitivas ou burocráticas, ou
para trabalhos extremamente simples, ela ainda pode ser considerada eficaz. Embora essa
posição seja justificável, alguns aspectos podem ser levantados.
No que tange ao levantamento das necessidades de treinamento, um aspecto
extremamente importante é levantado por Baumgartner (in BOOG, 2001): muitos empresários
consideram que o investimento em treinamento deve ser feito a partir de sinalizações do
mercado; se não existirem essas pressões do mercado, a empresa não precisa investir em
treinamento. Essa posição, afirma o autor, é perigosa, porque a empresa que está passando por
dificuldades corta os custos, e os programas de treinamento estão entre os primeiros a serem
cortados. Um outro ponto, mencionado por Milioni (in BOOG, 2001), refere-se à necessidade
de integrar o processo de levantamento com o de avaliação. Finalmente, é fundamental ter em
mente que o levantamento das necessidades de treinamento não somente abrange quais serão
os programas a serem realizados, mas também quem será treinado (MARRAS, 2000).
No que se refere ao sistema de avaliação do treinamento, Milioni e Castro (in
BOOG, 2001) defendem o ponto de vista de que não se deve apenas avaliar, mas também
validar os resultados do processo de treinamento. Afirma Milioni (in BOOG, 2001, p. 9) que
“validar é reconhecer o valor esperado do objeto da análise efetuada, comparando a situação
identificada, após uma ação de modificação do público-alvo, aos fatos que levaram à
realização do treinamento, a que se denomina, geralmente, de ‘carência’”; ou seja, a validação
é um processo que compara o “antes” ao “depois” na organização, tendo-se em mente o
processo de treinamento e seus objetivos, de forma a concluir se, afinal, valeu à pena investir
tempo e recursos no mesmo.
167
4. CLASSIFICAÇÃO DO ESTÁGIO
A pesquisa que se pretende realizar no estágio deve ser classificada como qualitativa
quanto à abordagem. Segundo Rauen (2002), essa abordagem é adequada para o estudo dos
fatos humanos; ao basear-se na realidade construída pelos indivíduos em interação, ao tentar
compreender situações únicas, particulares, ao tentar entender o fenômeno sob a óptica dos
atores e tentar descrever profundamente os processos, sentidos e conhecimentos envolvidos
(MERRIAM, apud RAUEN, 2002), essa abordagem se mostra a mais adequada para o
problema de pesquisa a ser abordado.
Quanto aos meios, este trabalho envolve o etudo de caso, a pesquisa documental e a
bibliográfica (VERGARA, 2000), por focalizar o caso do treinamento da empresa, a ser
estudado no local onde se processa, por utilizar documentos da empresa, bem como a análise
da bibliografia específica sobre o tema treinamento.
Quanto aos fins, a pesquisa deve ser qualificada como aplicada (VERGARA, 2000),
uma vez que seu objetivo se associa à elaboração de uma proposta de programa de
treinamento especificamente voltado para as necessidades da organização.
168
5. CRONOGRAMA E DESCRIÇÃO DE ATIVIDADES
5.1) Cronograma
ETAPAS/MESES
1) Pesquisa bibliográfica
2) Def. Instr. Coleta
3) Coleta de dados
4) Análise de dados
5) Elaboração do TCE
6) Defesa do TCE
Setembro
Outubro
Novembro Dezembro
Janeiro
Fevereiro
A data de 1º de março de 2013 será considerada como início das atividades.
5.2) Descrição de atividades
1) Pesquisa bibliográfica
Nesta etapa o referencial teórico necessário para as atividades de estágio será reunido,
lido, analisado e discutido junto ao orientador, de acordo com os objetivos propostos neste
Plano.
2) Definição do instrumento de coleta de dados
Os instrumentos de coleta de dados serão a entrevista, o questionário e a análise
documental, aplicados da seguinte forma:
a) Os colaboradores com cargo de gerência serão pesquisados através de entrevista semiestruturada, para que se determine como está organizado o departamento, bem como para
levantar suas posições sobre os programas de treinamento hoje adotados pela empresa;
b) Os demais colaboradores da empresa deverão ser pesquisados por meio de questionário
semi-aberto, para levantar suas perceções a respeito dos programas de treinamento;
c) A documentação interna será analisada para fornecer uma visão objetiva do funcionamento
das atividades de treinamento da organização.
Tanto as questões da entrevista quanto as do questionário serão discutidas previamente
com o orientador e apresentadas ao Diretor de Recursos Humanos, para sua aprovação. Um
dos gerentes e três colaboradores serão pesquisados previamente, a fim de realizar um préteste dos instrumentos.
169
3) Coleta dos dados
Os documentos internos serão analisados à medida em que forem disponibilizados
para o estagiário. Esses documentos provirão dos arquivos da empresa e terão sua análise
condicionada à aprovação por parte da Direção da empresa.
As entrevistas serão realizadas preferencialmente num mesmo dia, em horários
previamente combinados e com a concordância da Direção da empresa.
Os questionários serão aplicados após a realização das entrevistas, em horários
previamente definidos, com a presença do estagiário para dirimir quaisquer dúvidas ou
interpretações das questões propostas no mesmo.
4) Análise dos dados
A análise dos dados será qualitativa, buscando levantar as percepções e opiniões dos
colaboradores nos diferentes níveis, recorrendo à quantificação estatística apenas para
determinar a Frequência com que essas opiniões são apresentadas. Conforme discussões
prévias com o professor orientador, serão definidas categorias de análise para facilitar o
tratamento dos dados.
A análise de conteúdo dos documentos será realizada tendo por base determinar quais
são os dados referentes às descrições e estruturação dos programas, e quais dados permitem
reconhecer posicionamentos pessoais dos autores.
Todo o material coletado será reunido em documento a ser apresentado ao Diretor de
Recursos Humanos da JS Empreendimentos Ltda., para sua aprovação e autorização do uso
dos mesmos.
5) Elaboração do TCE
Nesta etapa proceder-se-á à redação do Trabalho de Conclusão de Estágio. Uma
versão preliminar do mesmo será entregue ao orientador e ao Coordenador Metodológico para
que, a partir de suas sugestões, alterações e correções, seja possível apresentar um trabalho em
condições de ser defendido perante a banca.
6) Defesa do TCC ou Relatório de Estágio
A etapa final consiste na entrega do Trabalho de Conclusão de Curso ou Relatório de
Estágio, em três cópias, à Coordenadoria de Estágios, para que esta defina a data da
apresentação do mesmo perante a banca definida pela Coordenadoria.
170
5. REFERÊNCIAS
BOOG, G. G (Ccoord.). Manual de treinamento e desenvolvimento: um guia de
operacionalização. São Paulo: Makron Books, 2001.
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel de recursos humanos nas organizações.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.
DECENZO, D. A.; ROBBINS, S. P. Administração de recursos humanos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2001.
FERREIRA, P. P. Treinamento de pessoal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1987.
KANAANE, R.; ORTIGOSO, S. A. F. Manual de treinamento e desenvolvimento do
potencial humano. São Paulo: Atlas, 2001.
MARRAS, J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 3. ed.
São Paulo: Futura, 2000.
RAUEN, F. J. Roteiros de investigação científica. Tubarão: UNISUL, 2002.
ULRICH, D. Os campeões de Recursos Humanos. São Paulo: Futura, 1998.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
171
APÊNDICE B- Relatório de Estágio, ou TCC: considerações
RELATÓRIO DE ESTÁGIO (TCE) - TRABALHO DE CONCLUSÃO CURSO
INSTRUÇÕES GERAIS
O coroamento do processo de conclusão de curso se dá com a elaboração, entrega e
defesa do realtório de estágio ou do trabalho de conclusão de curso (TCC). Este trabalho deve
ser considerado, como destaca Roesch (1999), como mais do que o relato de uma experiência
vivida numa empresa: ele é um trabalho acadêmico. E como um trabalho acadêmico, ele deve
seguir algumas regras básicas, que este documento procura esclarecer.
A apresentação do Relatório de Estágio, ou do TCC, segue as normas da ABNT, tais
como
apresentadas
no
manual
de
Metodologia
Científica
(ver
em
www.faculdadesenergia.com.br). Uma vez concluído, o trabalho deve ser entregue em uma
cópia ao Coordenador de Estágios, que procederá à avaliação da metodologia científica. Se
for aprovado por estes para a defesa em banca, o aluno deverá entregar outras duas cópias
para os membros da banca, a serem designados pelo coordenador de estágio (consultando o
orientador do mesmo). Uma vez que o trabalho tenha sido devidamente aprovado pela banca,
caberá ao estagiário entregar uma cópia em meio magnético (CD-Rom).
ESTRUTURA DO TCE
O TCE se estrutura como qualquer outro trabalho monográfico, dividindo-se nas
partes pré-textual, textual e pós-textual. Os elementos são apresentados na ordem em que
devem ser posicionados no trabalho.
Os elementos pré-textuais contêm:
a) capa e lombada;
b) folha de rosto;
c) errata (opcional);
d) página de aprovação;
e) dedicatória, agradecimentos e epígrafes (opcionais);
f) resumo e palavras-chave (obrigatório o resumo em vernáculo);
172
g) listas (Ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos – quando for o caso de sua
apresentação);
h) Sumário.
Os elementos textuais incluem:
a) introdução;
b) revisão da literatura;
c) metodologia;
d) desenvolvimento do estudo (análise);
e) considerações finais.
Os elementos pós-textuais consistem em:
a) referências;
b) glossário (opcional);
c) apêndices e anexos (opcionais);
d) índices (opcionais).
Todos os elementos seguem as normas da ABNT em termos de apresentação (ver o
manual de metodologia da Faculdade para maiores informações). A seguir, detalhar-se-ão os
diferentes elementos do trabalho (o anexo deste trabalho apresenta os modelos de alguns
deles).
A capa consiste numa cobertura para o trabalho, e deve trazer as seguintes
informações: nome da instituição em que o trabalho está sendo apresentado, título e subtítulo,
nome do autor, local e ano de entrega do trabalho. Já a lombada é utilizada nos trabalhos
entregues encadernados em capa dura. As informações que devem constar da mesma são:
nome da faculdade, trabalho de conclusão de estágio, nome do autor, título do trabalho, ano
da defesa.
A folha de rosto inclui o nome do autor, o título do trabalho, indicação da natureza do
trabalho (trabalho de conclusão de estágio, apresentado à Faculdade, etc.), o nome do
orientador (com sua titulação), local e ano de entrega do trabalho.
A errata é um elemento que se insere no trabalho após sua impressão. Sua função é
informar o local dos erros que “escaparam” da revisão, indicando suas correções.
A dedicatória é uma homenagem opcional feita a alguma pessoa de escolha do autor.
Os agradecimentos consistem em outro elemento opcional, em que o autor agradece àqueles
que, de alguma forma, colaboraram com o trabalho. A epígrafe é uma citação de um
pensamento, com autor devidamente identificado, que o autor julga interessante ou
representativo do trabalho.
173
O resumo, como observam Acevedo, Nohara (2004), é a síntese do trabalho, e
normalmente inclui o objetivo do trabalho, a metodologia, e os principais resultados
alcançados; pode-se também incluir uma indicação do quadro teórico de referência em que o
trabalho se insere. O resumo é sempre digitado em espaço simples, e deve ter um máximo de
300 palavras. As palavras-chave são apresentadas após o resumo, e são palavras que
descrevem o conteúdo do trabalho, auxiliando na sua classificação.
A(s) lista(s) de ilustrações consistem em listagens dos diferentes elementos
ilustrativos (figuras, fotografias, mapas, gráficos, organogramas, etc.) apresentados no texto.
Em se havendo muitos elementos ilustrativos diferentes, deve-se apresentar uma lista para
cada elemento (lista de gráficos, lista de mapas, etc.), na ordem em que são apresentados no
texto. Isso também se aplica para a lista de tabelas.
No caso de um trabalho utilizar muitas siglas, é conveniente trazer a relação das siglas
(lista de abreviaturas e siglas) apresentadas no texto, em ordem alfabética, acompanhada das
expressões que elas representam. Isso não exime o autor do texto de apresentar o significado
por extenso quando a sigla aparecer pela primeira vez em um texto. A mesma coisa se aplica
para os símbolos que venha a ser apresentados no texto (lista de símbolos).
O último elemento pré-textual que deve ser apresentado é o sumário. Consiste na
apresentação dos elementos contidos no trabalho (na ordem e na forma em que aparecem no
texto), acompanhados das páginas em que se encontram. Sobre este, remete-se ao manual de
metodologia, onde há um modelo completo baseado nas definições da ABNT para este
elemento.
Os elementos textuais se constituem no trabalho de fato realizado pelo autor, sendo
portanto os mais importantes deste. O primeiro deles é a introdução. Sobre este elemento,
Sylvia Roesch (1999, p. 186) escreve: “esta parte contém o relato da situação problemática
que deu origem ao projeto, de seus objetivos e sua justificativa.” Ou seja, a introdução visa
contextualizar o leitor do trabalho na problemática que será desenvolvida ao longo do
trabalho, possibilitando a este elementos suficientes para decidir se irá continuar a leitura ou
não, além de dar uma indicação do que ele deverá encontrar ao longo do trabalho (estrutura
geral do estudo). De modo mais preciso, a introdução deve conter os seguintes elementos (não
é preciso destacar a maioria por meio de subtítulos, mas todos eles devem estar contemplados
ao longo do texto):
Delimitação da área: qual a área de conhecimento a que se refere o trabalho, e por que se
escolheu esta. Pode-se também incluir uma indicação do quadro teórico em que o trabalho
174
se enquadra, se for muito importante (por exemplo, quando há discussões a respeito da
melhor forma de tratar do assunto);
Organização em que o trabalho foi realizado: breve caracterização da organização (nome,
setor em que se estagiou, ramo de atividade, nota histórica);
Tema, problema e objetivos: delimitação da temática, problema que se abordou, objetivos
geral e específicos. O projeto já oferece uma indicação deste item. Os objetivos devem
estar destacados por subtítulo específico;
Justificativa: por que se fez este trabalho específico, e não outro qualquer? A justificativa
busca convencer o leitor de que o trabalho é importante em termos práticos (ou seja, o
problema que a organização enfrentou, e motivou o estagiário a buscar solucioná-lo) e, em
alguns casos, teóricos (contendo alguma indicação da importância do problema, baseada
nos autores que já o trataram). Também pode ser interessante incluir nesta alguma
indicação a respeito da adequação da metodologia adotada para o trabalho. A justificativa
deve ser destacada como um subtítulo à parte.
É importante observar que, ao contrário do que às vezes se faz, a introdução não é
lugar para citações e transcrições de outros textos: ela é um elemento inteiramente de
responsabilidade do autor do trabalho.
O elemento textual subsequente à introdução consiste no desenvolvimento do trabalho
propriamente dito. Deve ser dividido em alguns capítulos específicos, a saber:
Revisão da literatura: quadro teórico utilizado pelo estagiário para fundamentar suas
análises sobre o problema estudado. Pode ser dividida em quantos capítulos forem
necessários para a compreensão do tema, e não é necessário usar o título “revisão da
literatura”. Citações e notas de rodapé devem ser utilizadas para melhor fundamentar ou
explicar o que é desenvolvido no trabalho;
Metodologia: consiste na classificação do trabalho a partir da abordagem, dos meios e dos
fins (conforme discutido no manual de metodologia), na descrição dos instrumentos de
coleta de dados (justificando sua escolha e, se necessário, explicando por que um outro
instrumento não foi escolhido), e dos instrumentos de análise dos dados;
Desenvolvimento do estudo (análise): deve incluir a caracterização da empresa, de forma
mais completa do que apresentado na introdução, a descrição dos dados coletados (ou
seja, a situação atual do problema enfocado no trabalho de estágio) e a análise (incluindo
apresentação em gráficos, quadros, tabelas ou estatísticas, e o estudo dos mesmos em face
do referencial teórico).
175
Finalmente, a parte textual se conclui com as considerações finais. Basicamente, este
item se concentra em dar um fechamento ao trabalho, descrevendo concisamente as
conclusões às quais o estagiário chegou após realizar o trabalho; também é interessante incluir
a contribuição feita pelo trabalho à organização em que ele foi realizado, e recomendações ou
sugestões de estudos posteriores na área. Deve-se ter em mente que, como a introdução, as
considerações finais devem ser de autoria exclusiva do estagiário, evitando citações; além
disso, elas não são o lugar para novidades: sendo o fechamento do trabalho, as considerações
finais não introduzem nenhum elemento que não tenha sido previamente tratado ao longo do
trabalho.
Os elementos pós-textuais são divididos em obrigatórios e opcionais. O primeiro deles
é obrigatório: as referências. Estas seguem as normas da ABNT para sua apresentação
(novamente, ver o manual para apresentação sucinta da norma e exemplos), e incluem todos
os livros, artigos de periódicos, sítios da internet e outros materiais diversos efetivamente
utilizados na confecção do trabalho.
Se forem necessário, devem ser apresentados o glossário (descrevendo o significado
de termos obscuros ou pouco conhecidos utilizados no trabalho), os apêndices e anexos (ver
a seguir) e os índices (por exemplo, o índice onomástico ou de nomes, indicando a posição,
no texto, dos nomes de pessoas citados ao longo do mesmo, o índice remissivo, que apresenta
os principais assuntos e palavras-chave contemplados ao longo do texto, indicando as páginas
em que estes são abordados).
Sobre os apêndices, deve-se ter em mente que eles são elementos de elaboração do
autor do TCE. Os mais comuns referem-se aos questionários e roteiros de entrevista utilizados
na pesquisa (é altamente recomendável sua inclusão), bem como descrições mais acuradas dos
métodos de análise e descrição dos dados. Os anexos dizem respeito a documentos elaborados
por terceiros, como fotografias, catálogos de produtos, folders e material promocional da
empresa, etc. É preciso observar que estes elementos devem ser usados com parcimônia,
porque eles são complementos ao estudo realizado no trabalho, apenas acrescentando
elementos que facilitem a compreensão do estudo. Um TCE pode apresentar, como único
apêndice, o instrumento de coleta de dados.
176
REFERÊNCIAS
ACEVEDO, Claudia Rosa; NOHARA, Jouliana Jordan. Monografía no curso de
administração: guia completo de conteúdo e forma. São Paulo: Atlas, 2004.
BIANCHI, Anna Cecília de Moraes; ALVARENGA, Marina; BIANCHI, Roberto. Manual
de orientação: estágio supervisionado. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
LIMA, Manolita Correia. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo:
Saraiva, 2004.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração:
guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3. ed.
São Paulo: Atlas, 2000.
177
APÊNDICE A- Modelos de elementos do trabalho de conclusão do estágio
FACULDADE ENERGIA DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
HABILITAÇÃO: ADMINISTRAÇÃO DE CIDADES OU MARKETING
Modelo de capa
para TCE
TÍTULO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO
NOME DO AUTOR
FLORIANÓPOLIS
2013
178
Modelo de lombada
Faculdade
Energia
de
Administração e Negócios
Trabalho de Conclusão
Curso
Nome do autor
TÍTULO DO TRABALHO
Ano
179
NOME DO AUTOR
Modelo de folha de
rosto
TÍTULO DO TRABALHO
Este Relatório de Estágio (ou Trabalho de
Cocnclusão de Curso) apresentado ao Curso
de Graduação em _______________ da
Faculdade Energia de Administração e
Negócios como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Bacharel ____________.
ORIENTADOR: PROF. MARCELLO B. ZAPELINI, M.A.
FLORIANÓPOLIS
2013
180
ERRATA
Folha
Linha
Onde se lê
Leia-se
18
25
Adminsitração
Administração
56
13
infomação
informação
Modelo de errata
181
NOME DO AUTOR
Modelo de folha de
aprovação
TÍTULO DO TRABALHO
Este Relatório de Estágio (ou Trabalho de
Cocnclusão de Curso) foi considerado
adequado para a obtenção do título de
Bacharel em ____________ e aprovado em
sua forma final pela Faculdade Energia de
Administração e Negócios -FEAN
Data de aprovação: dd/mm/aaaa
Banca Examinadora:
_______________________________
Prof. Fulano de Tal
Orientador
_______________________________
Prof. Fulano de Tal
Membro
_______________________________
Prof. Sicrano de Tal
Membro
182
RESUMO
O texto do resumo deve ser escrito em fonte de tamanho menor que o título (neste caso específico, usou-se a
fonte 12 para o título e a 10 para o resumo). Deve-se digitá-lo em espaço simples e observar o limite máximo de
300 palavras para o mesmo.
Palavras-chave: três palavras, no mínimo, separadas por ponto. Por exemplo: Administração
de Recursos Humanos. Processo de Seleção. Entrevista de seleção.
Modelo de
apresentação do
resumo
183
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Idade dos respondentes............................................................................................34
Gráfico 2- Formação educacional dos respondentes.................................................................35
Gráfico 3- Renda dos respondentes..........................................................................................37
Modelo de lista de ilustrações
(válido para os demais elementos
ilustrativos e tabelas)
184
1 INTRODUÇÃO
Texto inicial posicionando o trabalho em um contexto amplo de problema, quadro
teórico, organização, etc.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo geral
1.1.2 Objetivos específicos
1.2 JUSTIFICATIVA
Modelo de
apresentação
da introdução
185
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Modelo de
apresentação
de referencial
teóricoPor
Os títulos secundários representam divisões importantes do referencial teórico.
2.1 TÍTULO SECUNDÁRIO
exemplo, num trabalho sobre administração pública municipal, o título secundário poderia
ser:
2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
2.1.1 Título terciário
Os títulos após o secundário são sempre grafados em minúsculas, sendo a letra
maiúscula utilizada exclusivamente para a primeira letra do título e nos casos em que a
ortografia recomenda o uso da maiúscula, como nos nomes próprios, determinadas expressões
jurídicas e expressões correntemente usadas em maiúsculas. Dentro do trabalho supracitado,
um título terciário poderia ser:
2.1.1 Conceito e papel da Administração Pública
Uma outra subdivisão poderia ser:
2.1.1.1 A Administração Pública brasileira após a reforma gerencial de Bresser Pereira
Não se recomenda usar mais de quatro números para os títulos.

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