A luta contra a mornidão espiritual

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A luta contra a mornidão espiritual
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Lição 05
01 de Maio de 2011
A luta contra a mornidão espiritual
Texto Áureo
"No zelo, não sejas remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor". Rm 12.11
Verdade Aplicada
A chama do Evangelho deve arder continuamente
independentemente das situações externas ao nosso redor.
nos
nossos
corações,
Objetivos da Lição
►
Mostrar que a "mornidão" é um estado de temperatura média entre o frio (água
potável) e o quente (águas termais medicinais).
►
Alertar que a "mornidão espiritual" impede o crente de alcançar a vida cristã plena.
►
Conscientizar o cristão de que o estado de mornidão pode causar a morte
espiritual.
Textos de Referência
Ap 3.14
Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
Ap 3.15
Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio
ou quente!
Ap 3.16
Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de
vomitar-te da minha boca.
Ap 3.19
Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.
Ap 3.20
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo.
A Laodicéia 3:14-22
A última carta é a mais lamentável, porque a igreja, imediatamente antes do segundo
advento de Cristo, estará na fase mais corrompida. Cristo se achará do lado de fora
dessa igreja, e não do lado de dentro. Simbolicamente, devemos entender que a igreja
que merece somente ser vomitada da boca de Cristo pode ser qualquer igreja, qualquer
denominação, qualquer indivíduo que encontrou satisfação em uma coisa que não o
Senhor. Por igual modo, a congregação local ou pessoa que apóstata de Cristo, está
nessa situação. As pessoas podem seguir o ateísmo ou a heresia nas crenças ou na
prática diária. Existem muitos crentes professos que são ateus práticos, porquanto «agem
como se Deus não existisse». Em seu credo, afirmam que «Deus existe». Mas em suas
vidas asseveram que «Deus não existe». Esses são os filhos espirituais da igreja de
Laodicéia. Historicamente, cremos que a igreja em Laodicéia, no fim do século II d.C,
provavelmente poupada de qualquer grande perseguição, após ter atingido boa situação
financeira, tornou-se uma igreja com o caráter descrito nestes versículos. Profeticamente
falando, essa igreja pode representar:
1. qualquer igreja que, na doutrina ou na prática, não tem a Cristo como Senhor;
2. mais especificamente ainda, a igreja, como um todo, antes da «parousia» ou segundo
advento de Cristo, que será apóstata.
Cremos que o remanescente fiel de Filadélfia existirá lado a lado com a igreja de
Laodicéia. A «sinagoga de Satanás», aludida na carta à igreja de Filadélfia (ver Ap 3:9),
pode ser o equivalente à igreja de Laodicéia. Em seu aspecto profético, a igreja laodicense
representa mais do que a indiferença ou a frieza espirituais. Representa a apostasia. Nos
dias anteriores à volta de Cristo as condições serão péssimas, a tal ponto que, mediante
a pessoa do anticristo, a chamada cristandade adorará ao próprio Satanás, o poder
espiritual por detrás do anticristo. A verdadeira igreja, porém, composta de crentes de
todas as denominações, terá de viver subterraneamente, porquanto haverá a pior
perseguição religiosa de todos os tempos. Nós, e certamente os nossos filhos, veremos o
cumprimento desses tremendos acontecimentos. Espera-se o cumprimento dessas
predições para antes do fim do nosso século XXI.
A partir da carta à igreja de Tiatira, há elementos nas sete cartas do Apocalipse que
falam sobre a natureza da igreja dos últimos dias; mas esta carta à igreja de Laodicéia
contém a plena descrição dessa igreja. Profeticamente falando, essa é a principal
revelação de que dispomos acerca da natureza da igreja dos tempos do fim. A carta à
igreja de Filadélfia descreve a natureza do remanescente daquela igreja, que não se
esquecera do seu Senhor, e que recebeu promessas prodigiosas de bem-estar eterno.
«Soren Kierkegaard, que com tanta frequência se mostrou violentamente egoísta, amargo
e psicopático, algumas vezes escreveu com singular penetração. Quando ele discutia
sobre o fracasso da igreja em tornar real o cristianismo, estava levantando uma questão
que os crentes de todos os séculos têm tido de enfrentar. A igreja de Laodicéia perdera o
poder de fazer distinções morais e espirituais. Até mesmo quando usava grandes
vocábulos, perdera o sentido dos mesmos. E já que ninguém pode gloriar-se com
entusiasmo por uma verdade de cuja existência já nem temos mais consciência, os
eclesiásticos dessa cidade se achavam na trágica posição de quem tem uma bandeira,
mas não um país sobre o qual fazer drapejá-la. Eram, literalmente, cidadãos sem pátria,
pois tinham perdido aquela terra do espírito, em que se acha a pátria da alma. O que
precisavam era recuperar o lar da alma». (Hough, in loc).
Cada igreja local de todos os séculos exibe algo de todas as sete igrejas do Apocalipse.
Mas a igreja do fim dos tempos, com exceção do remanescente fiel, será dominada pela
horrenda condição que havia na igreja de Laodicéia. Não terá coisa alguma do calor
espiritual de Êfeso, do destemor de Esmirna, da lealdade ao nome de Cristo e à sua fé de
Pérgamo, da fé e das boas obras crescentes de Tiatira, do remanescente imaculado de
Sardes e da observância da Palavra e dos labores de Filadélfia.
«Chegamos agora ao triste e terrível final do testemunho da igreja. O fato de ter sido
abandonado o primeiro amor, em Éfeso, resulta agora no abandono do Senhor». (Newell,
in loc).
Podemos estar certos que a igreja de Laodicéia, ao invés de incorporar em si mesma
qualquer bem que havia nas demais igrejas, está investida somente de todos os seus
males. Não tem amor, pois abandonou seu primeiro amor (maldade em Éfeso). Habita
onde está o trono de Satanás, tendo sido apanhada na imoralidade de Balaão (como
sucedia em Pérgamo). Tolera e entroniza a Jezabel, por ser abertamente maligna e
entregue ao paganismo (como se via em Tiatira). Poderá ter nome de ser uma igreja viva,
mas na realidade está morta (como em Sardes). Não compartilha das características do
remanescente fiel de Filadélfia, mas antes, na realidade, é a «sinagoga de Satanás», que
perseguia aos fiéis crentes filadelfianos. Mostra-se distintamente miserável, pobre, cega e
nua. Esqueceu-se da fonte de águas vivas. Haverá algum vencedor nessa igreja?
3:14 Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o
principio da criação de Deus:
«...anjo...» Não aponta isso para o pastor humano da igreja, e, sim, ao seu guardião
angelical. As «sete estrelas» são os «sete anjos», conforme somos informados em Ap 1:20.
O tema dos «anjos» deveria melhorar nossa estimativa sobre o que está envolvido no
ministério angelical. Bem provavelmente muitas das manifestações de dons espirituais
são angelicamente mediadas. (Ver Hb 1:14 sobre o ministério dos anjos).
«...igreja...» (Quanto a notas expositivas completas sobre a «igreja», ver Ef 3:10 dando um
click aqui).
«...Laodicéia...» Essa era uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte
ocidental da moderna Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no
local, por Selêucida Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de
sua esposa, «Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu
desenvolvimento e prosperidade. Jazia na importante intersecção de estradas principais
da Ásia Menor, que de Laodicéia ia para o ocidente, até aos portos de Mileto e Éfeso,
cerca de cento e sessenta quilômetros de distância. Para o oriente, essa mesma estrada
conduzia ao planalto central, e, dali, até à Síria. Uma outra estrada, que atravessava
Laodicéia, corria para o norte, para a capital principal, Pérgamo, e também para o sul,
até às costas de Ataléia. Essas estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se
tornou um centro bancário e comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a
de tabletes medicinais e a de fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários,
aumentou mais ainda a prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os dias
da república, e nos dias dos primeiros imperadores, já era uma das mais importantes e
florescentes cidades da Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade de cidade-mãe, veio a
incorporar uma área onde havia nada menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que
era uma autêntica «metrópole», conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que
sobreviveram até nós.
A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, eventualmente, forçou o seu
abandono. Atualmente é um lugar desértico, 'mas muitas ruínas testificam sobre sua
antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de corridas, três
teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de diâmetro), além de numerosos
outros itens.
O trecho de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com
uma comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de evangelistas
enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um trabalho patrocinado pela
igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola chamada aos Efésios,
na realidade foi a carta mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses;
mas essa teoria não tem muita coisa que a recomende.
Já que Laodice era um comum nome feminino, nos tempos do N.T., seis cidades
receberam tal nome, no período helenista. Por essa razão, a Laodicéia de nosso texto era
chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme assevera Estrabão (578).
Ficava localizada na margem sul desse rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a
dezesseis quilômetros a oeste de Colossos.
Existe uma epístola apócrifa de Paulo aos laodicenses, que aparece neste comentário, no
fim da exposição sobre a epístola aos Colossenses.
«...escreve...» A ordem de «escrever», frequente neste livro de Apocalipse (que no grego
significa «revelação»), faz deste livro exatamente isso (ver Ap 1:11,18; 2:1,8,12;
3:1,7,12,14; 14,13; 10:9 e 21:5). Seu intuito não era ser um «livro selado», conforme
foram vários outros apocalipses. Somente no caso do julgamento dos trovões é que ao
autor sagrado foi ordenado «Não escrevas», porquanto aqueles juízos foram selados para
uma revelação a ser dada no fim dos tempos. (Ver Ap 10: acerca disso).
«...estas cousas...», isto é, a carta de Laodicéia, que se segue:
«...diz o Amém...» Em cada uma das sete cartas do Apocalipse, Cristo recebe um título e
descrições diferentes; e, em cada caso, esses elementos se aplicam especialmente à igreja
que está sendo endereçada. Assim, no caso da igreja em Éfeso, Cristo é visto a andar
entre as igrejas, pois sua presença e poder foram especialmente fortes na era apostólica.
No caso da igreja dos mártires, Esmirna, Cristo se caracteriza como aquele que morreu,
mas está vivo para sempre. No caso da corrupta igreja de Pérgamo, Cristo mostra-se
como aquele que tem a espada aguda de dois gumes, com a qual promete julgamento. No
caso da igreja de Filadélfia, aquele com uma «porta aberta de serviço», Cristo é visto a
brandir as «chaves de Davi», que ele pode usar com toda a autoridade, para qualquer
propósito que queira, especialmente para a admissão no reino de Deus. Assim também
no caso presente, da igreja apóstata de Laodicéia, Cristo continua sendo o «Amém». Ele
continua a ser a sua própria confirmação, a prova de seu próprio ministério e de sua
pessoa, embora os membros da igreja laodicense o tivessem abandonado. Cristo
continua sendo uma «testemunha fiel e verdadeira», apesar de terem rejeitado o seu
testemunho e de se terem mostrado infiéis à sua causa. Cristo continua sendo o
«princípio», a «causa primária», tanto da criação física quanto da criação espiritual, a
despeito do fato que os crentes de Laodicéia não reivindicassem à vida eterna, por
intermédio dele, não o considerando mais como o Alfa e o Ômega.
«...Amém...» É possível que isso seja um eco do trecho de Is 65:16, onde Deus é chamado
de «...Deus, que dirá amém...». O autor sagrado não hesita, em lugar nenhum do
Apocalipse, de dar a Cristo toda a honra atribuída, nas páginas do A.T., a Deus Pai. Isso
é prova insofismável de sua divindade. Em todo o N.T., a única ocorrência da palavra
Amém, como nome próprio, se verifica aqui. (Ver Jo 1:51, quanto ao seu uso como
confirmação ou imperativo). Essa palavra pode ser uma afirmação: «É assim». Ou pode
ser um imperativo: «Assim seja!» Desenvolveu-se na prática litúrgica judaica, e era
vocábulo usado nos cultos de adoração como afirmação de fé na validade ou veracidade
da mensagem que era lida ou proferida. Em face do que se diz neste parágrafo,
consideremos os pontos seguintes:
Ao usar o termo «Amém», Cristo afirmou:
1. A validade da mensagem cristã, a qual é a Palavra de Deus para os homens. Ele
mesmo é o tema central dessa mensagem.
2. Cristo é a afirmação da boa vontade de Deus para com os homens.
3. Cristo é o meio divino que confere aos homens as bênçãos motivadas por essa boa
vontade; é o mediador entre Deus e o homem, e quem justifica o homem perante Deus.
4. Cristo é o «Amém» na qualidade de verdade de Deus, como aquele que transmite essa
verdade aos homens.
5. O «Amém» é a garantia dada por Deus aos homens de que ele se importa com eles; o
«Amém» é a expressão divina de amor.
6. O «Amém» confirma a validade do pacto de Deus, sendo o seu promulgador.
7. O «Amém» de Deus faz contraste com a corrupção contra a verdade, por parte de
indivíduos como os laodicenses, que tinham esquecido a Palavra de Deus, passando a
ter como seus deuses o dinheiro e o próprio «eu». O testemunho de Cristo é sempre veraz
e afirmativo, sem importar os desvios dos homens.
«...a testemunha fiel e verdadeira...» A sua mensagem é veraz; o seu serviço é completo,
sem quaisquer falhas. Ele não retém coisa alguma, e tudo quanto ele afirma é tanto
veraz por si mesmo como concorda com as exigências divinas sobre aquilo que deveria
ser dito aos homens. Isso pode ser contrastado com a infidelidade dos homens, com a
sua falsidade, conforme se via na igreja de Laodicéia. Jesus, o Cristo, não retém coisa
alguma proveitosa, nem poupa palavra de advertência ou consolo, agindo sempre
exatamente conforme é exigido pelo momento. Em Cristo é que encontramos tudo de que
precisamos, pois aquilo que Deus diz aos homens, di-lo por meio de Cristo.
O termo grego aqui traduzido por testemunha, também pode significar «mártir», embora
seu significado original fosse, realmente, «testemunha». O presente texto não parece
indicar a ideia de «mártir». «Testemunha», porém, é palavra que se coaduna com as
exigências do contexto. É mister que uma testemunha seja inerentemente veraz e fiel,
cumprindo sua missão segundo essas qualidades pessoais. Uma testemunha de nada
vale, se não disser a verdade. A igreja de Laodicéia projetou no mundo a imagem da
falsidade. Em contraste com ela, figurava a pessoa de Cristo, o verdadeiro. A igreja da
apostasia, no fim dos tempos, será uma igreja falsa, que negará ao verdadeiro Cristo.
Aceitará o anticristo e dará crédito à mentira. O anticristo será uma «testemunha falsa».
Na introdução ao comentário, no artigo intitulado A Tradição Profética e a Nossa Era, é
descrito o anticristo, o qual, segundo cremos, surgirá no palco mundial antes do fim do
nosso século XXI. Quando a sua falsidade e malignidade forem desmascaradas, então os
homens se lembrarão de novo da Testemunha fiel e verdadeira, Cristo.
Uma testemunha precisa ter as seguintes qualidades: 1. Ser inerentemente veraz,
genuína e sincera. 2. Estar segura de sua mensagem: se possível, deve ser testemunha
ocular daquilo sobre o que testifica. 3. Deve ser competente para entregar a sua
mensagem, convencendo aos ouvintes da realidade daquilo que diz. 4. Estar disposto a
entregar sua mensagem, mostrando-se zelosa no cumprimento da sua missão.
«...o princípio da criação de Deus...» Essas palavras podem ser confrontadas com a
passagem de Cl 1:18. Naquele versículo, Cristo é chamado de «princípio», como a sua
nona superioridade, acima de todos os outros seres, dentre uma lista de doze
superioridades. Acerca disso, consideremos ainda os pontos abaixo:
1. Nessa expressão não há qualquer ideia que Cristo foi o «primeiro» dos seres criados.
Isso é contrário a toda a cristologia do N.T. Aquele que é o Criador não pode, sob
hipótese nenhuma, fazer parte da criação. Cristo é o Criador (ver Cl 1:16), distinto da
sua criação. Cristo é «eterno» (ver Jo 1:1 e Hb 7:3), pelo que não teve «começo» dentro do
tempo.
2. A palavra grega aqui usada, «arche» («princípio»), pode ter a ideia de «originador», ou
seja, o «iniciador» da criação divina. Esse é o uso que se acha no evangelho de Nicodemos
xviii.12, onde Satanás é chamado de «começo do pecado», o que, sem dúvida, significa o
«originador do pecado», ou «iniciador do pecado».
3. Cristo é o «iniciador tanto da criação física como da criação espiritual, da antiga e da
nova ordens. Ele é a fonte originária de toda a vida, física e espiritual, e, portanto, é o
seu «princípio».
4. Cristo é igualmente a causa primária, da qual todas as demais causas dependem. A
filosofia grega utiliza o termo «arche» com esse sentido. Em Jos. C. Apo. 2,190, Deus é
chamado de «arche» ou «primeira causa». A «causa primária» é a «fonte» de toda a criação,
de todos os seres, de toda a existência.
5. Espiritualmente falando, Cristo, na qualidade de Pioneiro do Caminho (além de ser o
próprio «Caminho»), foi o primeiro a mostrar como a «vida espiritual» é transmitida aos
homens. Isso significa que ele foi o primeiro homem a possuir tal forma de vida, da qual,
então, compartilha com seus remidos. (Ver Jo 5:25,26 e 6:57). Isso também envolve um
sentido escatológico: na nova criação, Cristo produzirá a nova criação, porquanto ele é o
primeiro exemplar daquilo que Deus tenciona fazer com os homens.
6. Alguns intérpretes fazem conexão do que aqui é dito com o trecho de Ap 1:5 (trecho
paralelo a Cl 1:18: «...primogênito dentre os mortos...»); e, nesse caso, Cristo é encarado
como o primeiro ser da nova criação, que vem à luz mediante a ressurreição.
7. Dentre esses vários significados possíveis, o de número dois é o mais provável.
Entretanto, isso não exclui várias das outras ideias. Cristo é o originador absoluto da
criação, do que se conclui que ele também é o originador da «criação espiritual».
A lição ensinada aqui é que Cristo é o Alfa de toda a criação, sua fonte de vida, bondade
e bem-estar. Os membros da igreja de Laodicéia ignoravam tudo isso, colocando no lugar
dele, como fonte de satisfação, ao dinheiro e ao próprio «eu». O trecho de Cl 1:16 ensina
que Cristo é o Alfa e o Ômega da criação, a sua causa «primária» e também final. Isso, de
acordo com a linguagem aristotélica, quer dizer a «fonte» e o «alvo» da criação.
Dentro do contexto da epístola aos Colossenses, Cristo aparece como o «arche», em
contraste com os «archai», ou seja, em contraste com os mediadores e poderes angelicais.
Somente ele pode servir de mediador entre Deus e nós, ainda que outros «poderes» sejam
seus servos, recebendo dele uma autoridade delegada.
Outras ideias sobre este décimo quarto versículo:
1. Este versículo indica a familiaridade do vidente João com a epístola aos Colossenses.
2. Quando os homens perdem de vista a Cristo, como Fonte de tudo, abandonam o
manancial de todas as bênçãos espirituais. Algum dia todos os homens terão de
reconhecê-lo naquilo que ele é, conforme se sabe no primeiro capitulo da epístola aos
Efésios e em Fp 2:8 e ss.; e isso servirá de imenso benefício para todos.
3. A autoridade suprema de Cristo é evidente neste versículo. (Pode-se comparar isso
com Ap 1:18; 2:8; 3:21 e 5:13). Notemos que ele usa essa autoridade em favor do bem, e
não em favor do mal, para curar, e não para destruir.
4. O titulo «Amém» mostra Cristo como a «Verdade» de Deus. Cristo é a Verdade
personificada.
5. Deus não se deixou ficar sem uma «Testemunha». Na qualidade de testemunha de
Deus, Cristo implica no «teísmo» essencial. Em outras palavras, Deus não somente criou
mas também se faz «presente» em sua criação, mantendo «interesse» pela mesma,
julgando e recompensando, intervindo e guiando. Isso nega o «deísmo», a doutrina
oposta, que diz que Deus ou algum outro Poder criou, mas abandonou sua criação,
deixando-a entregue às «leis naturais».
6. Todas as coisas, eventualmente, haverão de «centralizar-se» em torno de Cristo, de tal
maneira que ele venha a ser «tudo para todos», conforme se aprende no primeiro capítulo
da epístola aos Efésios, sobretudo em seus versículos dez e vinte e três. Portanto, ele é o
«ômega» da criação. O presente versículo revela-nos que Cristo é o «Alfa» da criação. (Isso
pode ser comparado com Ap 1:8, que declara: «Eu sou o Alfa e o ômega, diz o Senhor
Deus...» Ver também Ap 22:13).
7. «O Primeiro Progenitor, Produtor e Causa Eficiente de toda criatura; o Autor da antiga
criação, que fez tudo do nada, no começo do tempo; e também da nova criação, o Pai
eterno de tudo quanto é feito nova criatura; o Pai do mundo vindouro, ou da nova era...»
(John Gill, in loc).
8. As palavras de um hino egípcio dizem: «Ele é o primeiro, e existia quando nada ainda
existia; qualquer coisa que existe, ele o fez após ele existir. Ele é o Pai dos Começos...
Deus é a verdade, ele vive pela Verdade, ele vive na verdade, ele é o rei da verdade».
3:15
Cristãos em Laodicéia 3:14-22
Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio
da criação de Deus: 15Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio, ou quente!
16Assim, porque és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; 17pois dizes:
Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre,
cego e nu. 18 Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os teus
olhos, a fim de que vejas. 19Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. 20Eis
que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele
e ele comigo. 21Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci, e me
sentei com meu Pai no seu trono. 22Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
A arqueologia tem se encarregado de fornecer dados bastante interessantes acerca da
história relacionada com esta carta. Laodicéia era um centro bancário e produzia artigos
têxteis. Também era famosa por produzir uma espécie particular de colírio (ver v.18). Era
também uma estância hidromineral de águas mornas que vinham de fontes próximas à
cidade (ver v.16). Assim as palavras de Cristo à igreja contêm uma confortável
mensagem, bem apropriada. Mesmo que não tivéssemos o conhecimento arqueológico,
ainda assim não teríamos problemas em identificar o juízo que Cristo faz da igreja.
"Quem dera fosses frio ou quente!" Que condenação pior poderia existir para uma igreja
do que o Senhor dizer que preferiria um cristianismo mais frio do que o encontrado
efetivamente em Laodicéia.
Em outras cidades da Ásia temos observado que o estado da igreja geralmente
corresponde ao estado da cidade. Em Laodicéia, entretanto, isso não se repete; há um
contraste entre a cidade e a igreja. A igreja é a imagem da cidade revertida como em um
negativo. Financistas, médicos e fabricantes de tecidos se encontram entre os cidadãos
mais notáveis da cidade; porém a igreja é considerada "miserável, pobre, cega e nua".
"Laodicéia tinha falhado no propósito de encontrar em Cristo a fonte de toda a
verdadeira riqueza, esplendor e visão.”
A indiferença de Laodicéia é a pior condição em que uma igreja pode sucumbir. A
situação de Laodicéia é pior que a de Sardes onde, pelo menos, existia um fio de vida. A
única coisa boa em Laodicéia é a opinião da igreja sobre si mesma e, ainda assim,
completamente falsa. Ela tem a pretensão de ter todas as coisas, mas na realidade não
tem nada. Devemos lembrar-nos de que em 1:16 há sete estrelas na mão de Cristo. Nós
até podemos duvidar se ela era uma igreja verdadeira. Será que a linguagem de Cristo
deveria nos chocar? É difícil pensar assim, frente ao descrito no versículo 16: "Estou a
ponto de vomitar-te da minha boca". É o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira que profere estas palavras, e elas são uma parte de todas as outras ameaçadoras escrituras que
falam do Senhor, desgostoso com essa geração (Sl 95:10) e zombando dos homens (Sl
2:4).
Apesar disso Laodicéia tem uma chance. O fato de ser repreendida é uma prova de que o
Senhor a ama (v.19); a ameaça de abandono total, caso ela não se arrependa, é
contrabalançada pela promessa de reestabelecimento total, caso ela se arrependa. Por
causa dessa igreja desastrada, o Senhor se apresenta, no versículo 14, como "o princípio
da criação de Deus" (talvez a melhor tradução seja: a origem da criação de Deus), aquele
que é capaz de descer até o caótico abismo do fracasso de Laodicéia e restaurá-la, assim
como um dia ele fez com o mundo.
Isso só será possível se ela quiser. A soberania divina não é, de modo algum, prejudicada
por isso. Cristo é o único que pode providenciar as riquezas, as roupas e o unguento; ele
é a voz persuasiva que aconselha Laodicéia a aceitar a oferta. Ele é o que vem, o que
permanece, o que bate, o que chama. Sua soberania está implícita no fato de ele ser "a
origem da criação'' de Deus, verdade esta que a igreja de Laodicéia já conhecia através
da carta de Paulo aos Colossenses (Cl 1:15-18; 4:16). Mas a pergunta crucial para a
igreja é se ela abrirá a porta e deixará Cristo entrar. "Pois a única cura para a
indiferença é a readmissão do Senhor excluído."
Mesmo que a igreja seja surda à chamada de Cristo, ele ainda assim se dirige a cada um
dos membros individualmente, pois "quando Cristo diz: Eis que estou à porta e bato, se
alguém... é clara a sua intenção de dirigir-se ao indivíduo. Mesmo que a igreja, como um
todo, não dê ouvidos à sua advertência, pode ser que um indivíduo o faça. " A todas as
pessoas de Laodicéia que apresentarem evidências de arrependimento, o Senhor
promete, nos versículos 20 e 21, uma majestosa recompensa: "Ao vencedor, dar-lhe-ei
sentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci, e me sentei com meu Pai no seu
trono."
Bibliografia M. Wilcock
Laodicéia (3.14-22)
14. Laodicéia ficava no entroncamento de três estradas importantes. Esta localização contribuiu para
que a cidade se tornasse um centro bancário e industrial de destaque. A cidade era tão rica que quando um
terremoto a danificou consideravelmente em 60-61 d.C, juntamente com outras cidades da Ásia, ela foi
capaz de financiar a reconstrução com recursos próprios, sem recorrer a subsídios substanciais do tesouro
imperial, como as outras cidades. A cidade era famosa pelo belo tecido negro, de lã, que era usado para fazer
roupas e tapetes. Contava também com uma escola de medicina particularmente conhecida por sua pomada
para tratamento dos ouvidos e pelo "pó frígio", usado para fabricar colírio.
Paulo não chegou a visitar esta cidade antes da sua primeira prisão (Cl 2:1); é provável que a igreja
foi fundada por Epafras, de Colossos (Cl 1:7,4:12s.). Paulo conhecia a igreja, porque de Roma escreveu uma
carta aos Laodicenses (Cl 4:16), que infelizmente se perdeu.
Não há dúvida que a Igreja de Laodicéia era bastante próspera e externamente em excelente situação.
A carta não menciona perseguições por funcionários romanos, dificuldades com os judeus ou qualquer tipo
de falsos mestres dentro da igreja. Laodicéia era muito parecida com Sardes: um exemplo de cristianismo
nominal e acomodado. A maior diferença é que em Sardes ainda havia um núcleo que tinha preservado a fé
viva (3:4), enquanto que toda a igreja de Laodicéia estava tomada pela indiferença. Provavelmente muitos
dos membros da igreja participavam ativamente da alta sociedade, e esta riqueza econômica exerceu uma influência mortal sobre a vida espiritual da igreja.
Esta coisas diz o Amém. Amém é a palavra hebraica que expressa a idéia de veracidade. Is 65:16
fala do "Deus que diz amém", o que a Septuaginta traduz como "o Deus verdadeiro". A idéia expressa por
esta frase não é de que Deus é o Deus verdadeiro em contraste com deuses falsos, mas que Deus e fiel, que
podemos confiar nele, que ele cumprira o acordo que fez com seu povo. Aplicando a Cristo estas palavras
temos a garantia de que suas palavras são confiáveis. A frase seguinte, a testemunha fiel e verdadeira,
reforça isto. Ele é verdadeiro não em contraste com o que é falso, mas é verdadeiro porque podemos confiar
que ele está dizendo a verdade.
O princípio da criação de Deus. Podemos traduzir esta frase de duas maneiras: o "começo" da
criação, ou a "origem" da criação. Quase com certeza esta última possibilidade é a mais certa, porque para
João não há dúvida de que Cristo é eterno. Ele é o primeiro e o último, o Alfa e o Omega (l:17s; 2:8; 21:6;
22:13); ele transcende toda a criação. Na carta de Paulo aos Colossenses a mesma idéia aparece também:
Cristo é o primogênito de toda a criação (Cl 1:15).
A ênfase no fato de que a criação é de Deus é um tema que se repete no Novo Testamento. Deus é a
fonte primeira da criação; Cristo é o agente imediato. "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele" (Jo
1:3), não por ele. "Há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só
senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por ele" (1 Co 8:6).
15. Conheço as suas obras. A carta aos Laodicenses não contém nenhum elogio, nem críticas por
ensinos falsos ou imoralidade. O problema dos laodicenses era que eles não eram nem frio nem quente. Eles
não tinham a frieza da hostilidade ao evangelho ou da rejeição da fé; mas também não tinham zelo e fervor
(At 18:25; Rm 11:11). Eles eram simplesmente indiferentes, cristãos de nome, acomodados. Quem dera
fosses frio, ou quente! Não há nada pior que algo morno a ponto de provocar náuseas.
16. Estou a ponto de vomitar-te da minha boca. Água morna é repulsiva, serve somente para ser
cuspida fora. Estas palavras soam como uma rejeição final e irrevogável da igreja, da parte de Cristo. Mas já
que os versículos 18-20 são uma chamada ao arrependimento, temos de concluir que a igreja de Laodicéia
não está totalmente sem esperanças de recuperação. As palavras fortes são para sacudir a igreja da sua
indiferença espiritual.
17. Pois dizes: Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma. A igreja se orgulhava de ser
saudável e próspera. Literalmente o texto diz: "Estou rico, e adquiri riquezas". Além de se orgulhar do seu
suposto bem-estar espiritual, a igreja se orgulhava de ter conseguido sua riqueza com esforço próprio.
Acomodação espiritual estava acompanhada de orgulho espiritual. Sem dúvida, parte do problema da igreja
era sua incapacidade de distinguir entre prosperidade material e espiritual. Uma igreja que está prosperando
materialmente, externamente, facilmente pode cair no engano de que a prosperidade exterior é a medida de
sua prosperidade espiritual.
Nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Esta é a condição espiritual real da
igreja. Na realidade ela é um mendigo cego, sem recursos, vestido de trapos. A palavra traduzida por "nu"
pode significar insuficientemente trajado.
18. Compra de mim ouro refinado pelo fogo não quer dizer, é claro, que podemos comprar bênçãos
espirituais com dinheiro; a linguagem é metafórica. O profeta chamou os famintos e sedentos para comprar
vinho e leite sem dinheiro e sem preço (Is 55:1). Jesus retratou o Reino do Céu como um tesouro enterrado
em um campo que um homem comprou, e como uma pérola de grande valor que um comerciante comprou
com dinheiro (Mt 13:44-45). Isto são comparações que descrevem o valor inestimável das bênçãos do Reino
do Céu. Neste versículo Cristo está exortando a igreja que procure as verdadeiras riquezas — ouro refinado
pelo fogo, que não perde o brilho.
Vestiduras brancas para te vestires. A igreja é exortada a cobrir sua nudez com vestimentas de
pureza e sinceridade.
Colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas. Este apelo é muito importante por Laodicéia
ser centro médico e fabricar o "pó frígio", usado para fazer colírio. Os médicos frígios talvez ajudassem as
pessoas em sua cegueira física; mas somente Cristo pode curar os olhos dos que são cegos espiritualmente.
O equilíbrio da construção dos versículos 17 e l8 é óbvio: Cristo exorta a igreja a adquirir ouro para
sua pobreza, vestimentas brancas para sua nudez e colírio para sua cegueira.
19. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. As palavras ásperas com que Cristo descreveu a
triste condição dos laodicenses não significam que ele os ama menos do que a outros. Sua atitude em relação
à igreja não era punitiva, mas disciplinadora e corretiva. "Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a
todo filho a quem recebe" (Hb 12:6).
Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Apesar de a ameaça de cuspir os cristãos mornos a ponto de dar
náuseas (v. 16) soar como um julgamento final, este apelo mostra que ainda há esperança. Se os laodicenses
tratarem seus olhos com o colírio que Cristo oferece, sendo então capazes de reconhecerem seu estado de
pobreza e cegueira, então não será tarde demais para substituir a indiferença por zelo, arrependendo-se.
20. Eis que estou à porta, e bato. O significado destas palavras já foi muito discutido. Muitos
comentadores acham que o sentido é escatológico, indicando para a promessa da iminente volta do Senhor. É
verdade que a metáfora do Cristo que está à porta é um conceito escatológico familiar (Mc 13:29; Mt 24:33;
Lc 12:36; Tg 5:9). Também é verdade que a idéia do banquete messiânico muitas vezes é usada como
símbolo da comunhão no Reino de Deus (Lc 14:15; 22:29ss.; Mt 8:11; 22:1-4; 26:29; Ap 19:9). O presente
contexto, no entanto, é diferente. Nas passagens citadas Cristo está reunindo seu povo ao redor das bênçãos
do Reino messiânico; aqui o contexto é de chamada ao arrependimento. Por esta razão devemos preferir a
interpretação que vê Cristo chamando os membros de uma igreja sem vida e complacente quanto à vida
espiritual. Mesmo estando a igreja em um estado triste e deplorável, Cristo ainda está à porta do coração de
cada indivíduo procurando entrada. O arrependimento do versículo 19 é completado pelo deixar Cristo entrar
na vida.
Se alguém ouvir a minha voz, e abrir aporta. Mesmo se chamando de cristãos e constituindo
formalmente uma congregação cristã, na verdade os laodicenses eram espiritualmente nus, pobres, e cegos,
e, como qualquer outro novo convertido, precisavam responder ao chamado de Cristo e abrir sua vida para
que ele pudesse entrar.
Entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo. Cristo tinha feito esta promessa: "Se alguém
me ama... viremos para ele e faremos nele morada" (Jo 14:23). Uma refeição em conjunto tinha muito mais
significado no antigo mundo judaico do que tem hoje em dia. Era um símbolo de afeição, confiança,
intimidade. Os fariseus criticavam Jesus não só por se reunir com publicanos e pecadores, mas por comer
com eles (Lc 15:2). Os cristãos de Jerusalém criticaram Pedro não por pregar o evangelho aos gentios, mas
por comer com eles (At 11:3). De modo que o versículo que temos à frente contém uma promessa de
comunhão a mais íntima possível.
21. Jesus promete ao vencedor que ele sentará comigo no meu trono, assim como também eu
venci, e me sentei com meu Pai no seu trono. Está claro que isto é uma metáfora que descreve a vitória
final dos santos. Na primeira visão que João teve, Cristo estava parado em meio aos candeeiros (1:13). Na
visão da sala do trono celestial, ele é retratado como um cordeiro que está diante do trono de Deus (5:6).
Aqui a vitória de Cristo é descrita em termos de entronização, com seu Pai, no trono do Pai. Geralmente o
Novo Testamento diz que Cristo está entronizado à direita do Pai (At 2:34; Rm 8:34; Ef 1:20; Cl 3:1, Hb 1:3;
7:1; 10:12; 12:2; 1 Pe 3:22). O lado direito é a posição de maior honra possível. Não há maior significado na
diferença entre ser entronizado à direita de Deus e estar com ele no mesmo trono, como neste versículo;
ambos têm a mesma idéia teológica. O que importa de fato é que Cristo já está entronizado. Seu reino
messiânico não é algo que começa com sua segunda vinda, mas já começou, apesar de ser visível somente
aos olhos da fé. Isto é o que Pedro disse quando anunciou a ascensão de Cristo que seguiu à ressurreição: "A
este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo" (At 2:36). Senhor e Cristo (Messias) são termos
sinônimos com o mesmo conteúdo teológico. Deus lhe deu o nome que está acima de todo nome — Senhor
— por ter ele sido obediente até em sofrimento e morte (Fp 2:9-11). Na verdade o mundo não reconhece seu
senhorio e seu reino celestial, e os poderes demoníacos ainda têm permissão para atuar através das
autoridades pagãs para afligir e perseguir ferozmente o povo de Deus. Aqui há uma mensagem para toda
igreja que sofre perseguição: sua situação aflitiva é somente temporária; muito embora pareça que a experiência humana o contradiz, Cristo já está entronizado como Senhor e Rei; seu governo real em breve porá
todos os seus inimigos sob seus pés (1 Co 15:25).
Ao vencedor é dada a certeza de que ele participará deste reino quando este for estabelecido
integralmente. Não está bem claro como isto acontecerá, provavelmente durante o milênio. A promessa, no
entanto, não está limitada ao milênio, porque no novo sistema da época que se aproxima "eles reinarão pelos
séculos dos séculos" (22:5).
Não há necessidade de limitar esta promessa aos mártires, como fazem alguns comentadores. Em
cada uma das sete cartas a promessa ao vencedor está dirigida a todos os discípulos de Cristo, na expectativa
de que todos os discípulos fiéis hão de vencer.
Bibliografia G. Ladd
Carta à Igreja de Laodicéia (3.14-22)
Destinatário (3.14a)
A KJV (King James Version) traduz aqui: "à igreja dos Laodicenses". Essa tradução tem provocado
uma série de comentários e interpretações. Mas ela praticamente não tem apoio dos manuscritos gregos. A
tradução correta é: "à igreja que está em Laodicéia". Ela é similar em forma com os destinatários das outras
igrejas.
Laodicéia distava cerca de 60 quilômetros a sudeste de Filadélfia. Ela se localizava junto ao rio
Licos, 10 quilômetros ao sul de Hierápolis e 16 quilômetros a oeste de Colossos. Fundada por Antíoco II
(267-246 a.C), essa cidade foi chamada de Laodicéia em homenagem à sua esposa, Laodice. Visto que
estava localizada na junção de três estradas importantes, tornou-se uma grande cidade comercial e
administrativa. O fato de ser um centro financeiro, a tornou tão próspera que foi capaz de reconstruir-se
depois do grande terremoto em 60 d.C. sem o subsídio imperial. Ela também era conhecida pela fabricação
de roupas e tapetes de uma lã preta, brilhante e macia. Laodicéia também era famosa por causa da sua
renomada escola de medicina.
A igreja de Laodicéia já existia quando Paulo estava preso em Roma. Ele escreveu uma carta a ela
(cf. Cl 4.16) que evidentemente se perdeu.
A cidade foi conquistada pelos turcos. No lugar existe hoje uma série de ruínas, ainda não escavadas.
Autor (3.146)
Jesus aqui se identifica como o Amém. Isso pode ser um eco de Isaías 65.16, em que encontramos no
hebraico: "o Deus do Amém" (ou "o Deus da verdade"). A palavra foi traduzida do hebraico para o grego e,
tempos depois, para o inglês e outras línguas modernas. Hoje, entre os cristãos de todos os países e línguas
ouvimos o mesmo "Amém!".
Provavelmente há uma conexão próxima entre o uso freqüente desse termo por Jesus como está
relatado nos Evangelhos. Essa palavra aparece 51 vezes nos Sinóticos e 50 vezes no Evangelho de João. Ela
é traduzida como "na verdade" (sempre duplo em João) na frase: "Na verdade vos digo".
O autor mais adiante se descreve como a testemunha fiel e verdadeira. Isso provavelmente é
sinônimo de o Amém, que é colocado aqui "porque essa é a última das sete epístolas, para que possa
confirmar o todo".
O terceiro item na descrição é: o princípio da criação de Deus. Mestres heréticos têm se aproveitado
dessa frase como prova de que Cristo não era eterno. Mas em Colossenses, em que Ele é designado "o
primogênito de toda a criação" (1.15), é mencionado logo em seguida: "porque nele foram criadas todas as
coisas [...] E ele é antes de todas as coisas" (1.16-17). Além disso, em seu Evangelho, João diz acerca do
Logos: "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez" (Jo 1.3). A frase aqui
deve ser interpretada à luz dessas outras passagens. Ela significa "a origem (ou 'fonte original') da criação de
Deus".
Aprovação (3.15-17)
No caso da igreja de Laodicéia não há palavras de aprovação ou recomendação. E um fato
impressionante que não se diga nada aqui acerca dos nicolaítas ou qualquer outro grupo herético. Pelo que
tudo indica, a igreja era ortodoxa. Mas era uma ortodoxia morta. O que estava errado com a igreja de
Laodicéia não era um problema da cabeça, mas um problema do coração. Isso era muito mais sério.
A essa igreja o Senhor disse: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio
ou quente (15). A palavra grega para frio (psychros) é usada somente nos versículos 15-16 e em Mateus
10.42 — "um copo de água fria". Quente é zestos (somente nos w. 15-16 no NT). Essa palavra significa
"quente a ponto de ferver", assim frio aqui provavelmente significa "frio a ponto de congelar". A igreja não
era nem friamente indiferente nem fervorosa no espírito (cf. Rm 12.11).
A reação do Cabeça da Igreja é expressa com palavras fortes: Assim, porque és morno e não és frio
nem quente, vomitar-te-ei da minha boca (16). Alguns alimentos são gostosos somente quando estão frios,
outros somente quando estão quentes. Alguns alimentos são gostosos tanto frios quanto quentes. A maioria
das pessoas gosta de suco gelado e café ou chá quente; mas quem gosta de uma bebida morna? As palavras
gregas para morno e vomitar (esta é emeo, no grego) são encontradas somente aqui no Novo Testamento.
A pior coisa a respeito da condição dessa igreja era sua autocomplacência: Como dizes: Rico sou, e
estou enriquecido, e de nada tenho falta (17). A igreja evidentemente refletia o comportamento da
comunidade. Enriquecido significa literalmente: "acumulei riquezas" (mesma raiz de rico na frase anterior);
em outras palavras: "Obtive minha riqueza com meu próprio esforço". A primeira frase expressa autosatisfação; a segunda, orgulho.
Não existe um exemplo mais triste de orgulho insensível do que o que é exibido na declaração: de
nada tenho falta. Que contraste com a humildade realista expressa nas palavras do hino "Preciso de Ti a
toda hora". Esse é o verdadeiro espírito cristão de dependência.
A avaliação de Cristo acerca dessa igreja era bem diferente da avaliação que essa igreja fez dela
mesma. Ele disse: e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. O grego é
consideravelmente mais vivido: "e não sabes que thou (enfático no gr. — tu que tens te vangloriado) és o
desgraçado, e desprezível, e pobre, e cego e nu". Desgraçado é encontrado somente aqui e em Romanos
7.24 (no texto grego): "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?". Miserável
ocorre somente aqui e em 1 Coríntios 15.19: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens".
Swete resume o restante do versículo da seguinte forma: "Os três adjetivos seguintes relatam os
motivos para a comiseração; um pedinte cego [...] escassamente vestido (cf. Jo 21.7) não era mais merecedor
de compaixão do que essa igreja rica e presunçosa". Pobre [...] cego [...] nu devem ser entendidos
metaforicamente, descrevendo a condição espiritual da igreja. No entanto, pode haver uma alusão indireta
aos recursos ostentosos da cidade onde estavam localizados. A igreja era pobre em um centro financeiro
opulento, cego em uma comunidade que tinha uma excelente escola de medicina, e nu em um lugar famoso
pela fabricação de roupas feitas de uma lã de alta qualidade. É possível que a Igreja dos nossos dias prospere
exteriormente no meio de prosperidade material, e mesmo assim seja pobre, cega e espiritualmente nu.
Exortação (3.18-20)
A essa igreja opulenta, que "não tinha falta de nada", Jesus disse: aconselho-te que de mim compres
ouro provado no fogo, para que te enriqueças (18). O termo compres é um eco de Isaías 55.1: "vinde,
comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite". Essa é a única maneira de
comprarmos de Deus. De mim é enfático. Essas coisas necessárias podem ser adquiridas somente de Cristo.
Provado no fogo ou "refinado no fogo", isto é, purificado pelo fogo. A mesma forma verbal ocorre
na Septuaginta em Salmos 18.30 — "a palavra do Senhor é provada". Em Provérbios 30.5, lemos "pura" —
"Toda palavra de Deus é pura". Assim, aqui significa que esse ouro é puro e genuíno.
Além disso, a igreja precisava de vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua
nudez. A roupa branca e pura estava em contraste com a lã preta, pela qual Laodicéia era famosa.
Em terceiro lugar, Jesus aconselhou a igreja para que unjas os olhos com colírio, para que vejas.
Acerca desse remédio, Charles diz: "Em nosso texto refere-se ao famoso pó da Frígia usado pela escola de
medicina de Laodicéia".
Não se deve deixar de notar que as três partes do versículo 18 correspondem aos últimos três
adjetivos do versículo 17: "pobre", "nu", "cego". A igreja de Laodicéia achava que não precisava de nada.
Na verdade, ela sentia falta das necessidades mais básicas da vida espiritual.
Nesse versículo, vemos "O que é o Evangelho":
1) Riqueza divina para nossa pobreza espiritual;
2) Veste branca de justiça para nossa pecaminosidade;
3) Visão espiritual para nossa cegueira.
A exortação continua: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrependete (19). O castigo é um sinal do cuidado amoroso de Deus como nosso Pai celestial (cf. Hb 12.5-11). É
interessante que o verbo amo aqui não é o costumeiro agapao, mas phileo, que introduz um toque meigo e
sentimental — para a igreja que menos o merecia! Repreendo é "declarar culpado". Castigo é literalmente
"educar uma criança". Tudo isso mostra a compaixão de Cristo em lidar com essa igreja como uma criança
geniosa que precisava do amor e disciplina do Pai. Swete observa: "Talvez a condição deplorável da igreja
de Laodicéia era devida à falta de correção; não há nenhuma palavra de quaisquer provas até aqui sofridas
por essa igreja".
Essa igreja tinha falta de "tempero" (veja comentários acerca de "quente", v. 15). Ela carecia de zelo.
Assim, o Senhor disse: sê, pois, zeloso (imperativo presente, sê constantemente zeloso). Arrepende-te está
no aoristo, requerendo uma ação imediata em uma decisão crucial.
Pode parecer estranho que sê [...] zeloso preceda arrepende-te. Plumptre observa: "A raiz da
maldade da igreja de Laodicéia e seus representantes era sua indiferença e mornidão, a ausência de qualquer
zelo, de qualquer seriedade. E o primeiro passo, portanto, para coisas mais elevadas era passar para um
estado em que esses elementos de vida não mais seriam manifestos pela sua ausência".
A esse chamado para arrependimento "Cristo acrescenta a mensagem mais terna encontrada nessas
cartas": Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa
e com ele cearei, e ele, comigo (20). Esse é um dos mais importantes textos do evangelho no Novo
Testamento e deveria ser citado freqüentemente na evangelização pública e na abordagem pessoal. Por esse
motivo, esse versículo deveria ser memorizado por todo cristão e ganhador de almas.
A simplicidade do evangelho é expressa de maneira singular nessa passagem. Cristo está parado à
porta do coração de cada pecador, batendo e esperando para entrar. Ele não vai demolir a porta e forçar a
entrada, porque nos criou com vontade própria e não violará esse aspecto. Mas se o pecador abrir a porta, o
que só ele pode fazer, o Salvador promete entrar. A grande tela de Holman Hunt, "A Luz do Mundo", é a
evangelização tornada visual.
A idéia de "cear" é de comunhão, e mais especificamente de uma comunhão sem pressa ao redor da
mesa do jantar, quando a agitação do dia passou. O pensamento é expresso belamente pela NEB: "e sentar
para jantar com ele". Esse aspecto também antevê o banquete eterno com Cristo.
A comunhão é dupla. G. Campbell Morgan a descreve da seguinte forma: "Primeiro, serei seu
Convidado, 'Eu cearei com ele'. Ele será o meu convidado, 'e ele comigo'. Sentarei à mesa que o seu amor
prove e satisfarei o meu coração. Ele sentará à mesa que o meu amor provera e satisfará o seu coração".
Recompensa (3.21)
A promessa final é: Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim
como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono. Esse é um eco e extensão da promessa que Jesus
fez aos seus doze apóstolos em Mateus 19.28 e Lucas 22.29,30. Jesus venceu todas as tentações e provações
na sua vida na terra e recebeu sua recompensa. Para aqueles que o seguem plena e fielmente até o fim, uma
recompensa igual o estará aguardando. Essa promessa obviamente antecipa a vida futura.
Convite (3.22)
Mais uma vez os ouvintes dessas cartas são admoestados a ouvir o que o Espírito diz às igrejas.
Todas as sete mensagens estão repletas de advertências e exortações salutares para os cristãos de hoje.
Faríamos bem se prestássemos atenção a elas.
Bibliografia R. Earle
Fonte:
http://www.ebdareiabranca.com/homeebd.html
http://www.ebdareiabranca.com/2011/3trimestre/sumario.htm