Expectativa de vida da pessoa com deficiência vem aumentando

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Expectativa de vida da pessoa com deficiência vem aumentando
ApaeSalvador
Ano 11 - n.º 55 julho/agosto/setembro de 2007
Expectativa de vida da
pessoa com deficiência
vem aumentando
Páginas 4 e 5
Avanços na medicina e
inclusão social são fatores
que têm contribuído para
aumentar a expectativa de
vida da pessoa com deficiência
Apae oferece
novos serviços
de fisioterapia
Teste do Pezinho
completa
15 anos
Autodefensora
tem planos
para gestão
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Editorial
apaenotícias
Congresso SBPC
A Apae Salvador participou do 41º Congresso
Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina
Laboratorial, que aconteceu entre 4 e 7 de
setembro, no Centro de Convenções da Bahia.
A Instituição montou um estande na área de
exposição do evento para divulgar os serviços que
oferece à população, através do Laboratório de
Análises Clínicas (Labac), do Centro de Diagnóstico
e Pesquisa (Cedip) e do Centro Médico (Cemed).
O congresso é o mais importante evento científico
da sua área e é promovido anualmente pela
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/
Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Trata-se de
uma importante oportunidade para informar aos
profissionais da área de saúde sobre os serviços
que a Apae oferece na área médico-laboratorial.
Sonhos Solidários
A doceria Doces Sonhos
realizou, no período de 3
a 15 de outubro, durante
a semana da criança, a
campanha Festival das
Crianças Doces Sonhos,
com a finalidade de reverter
parte da renda obtida com
a venda de tortas geladas
para a Apae Salvador. O
valor arrecadado será destinado para as ações sócioeducativas desenvolvidas pela Instituição.
Brincadeira
é coisa séria
Como parte das
comemorações do
mês das crianças,
a Apae Salvador
em parceria com a
Superintendência dos
Desportos da Bahia,
realizou no dia 19
de outubro, no Clube
Recreativo Campomar,
em Piatã, o projeto
Brincadeira é Coisa
Séria. Durante o
evento, 600 crianças
e adolescentes com
idades entre dois e 16
anos compartilharam
experiências e alegrias
da arte de brincar.
Pilates
O Centro Médico da Apae
Salvador inaugurou em setembro,
mais um serviço na área de
fisioterapia, o Pilates. A técnica,
desenvolvida no início do século
XX, para reabilitar vítimas da
Primeira Grande Guerra, trata
de problemas de postura e de
coluna, em crianças e adultos
e proporciona aos usuários
resultados rápidos, como o
aumento do tônus
muscular, resistência
cardiorespiratória e
melhoria postural.
Para as crianças, o
Pilates é indicado a
partir dos seis anos
de idade. Antes de
iniciar as sessões, os
alunos passam por
uma avaliação. Os
interessados podem
marcar a avaliação
pelo telefone (71)
3354-4833.
Seminário
Regional
A Apae Salvador,
com o apoio
da Secretaria
Especial dos
Direitos Humanos
da Presidência
da República
– Coordenadoria
Nacional para
Integração da
Pessoa Portadora
de Deficiência
– CORDE, realizou
nos dias 8 e 9
de novembro, no
Hotel Mercure,
Rio Vermelho, o III
Seminário Regional:
políticas públicas
no contexto da
inclusão da pessoa
com deficiência nas
áreas de educação
e mercado de
trabalho.
Quando estamos completando quase 40 anos
de vida, paramos um pouco para refletir o que
fizemos e o que ainda está em nossas mentes
por fazer, e que não foi possível concretizar.
A Instituição tem crescido bastante na área de
saúde, na melhoria da qualidade de vida das
pessoas com deficiência e no atendimento à
família. E quais são as perspectivas para os
idosos que estão chegando?
Como nossa Instituição é nova, ainda não
temos esta clientela, mas temos realmente que
começar a pensar. Durante seus 39 anos, a
Apae vem trabalhando com crianças, desde
bebês, até a idade adulta e precisa enfrentar
este novo desafio, promovendo espaços de
lazer, terapêuticos, fisioterápicos para oferecer
aos idosos, qualidade de vida.
Já começamos um trabalho de Pilates, RPG,
Escola de Postura para 3ª Idade, beneficiando
pessoas da comunidade. Também estamos
desenvolvendo o projeto Família Saudável,
em parceria com a Fundação Bahiana para o
Desenvolvimento das Ciências (FBDC), onde
iremos trabalhar a saúde da família, para que
todos possam ter uma vida mais saudável para
cuidar e também orientar seus filhos.
Já alcançamos resultados positivos no trabalho
social que vem sendo feito com as famílias dos
nossos alunos. Tivemos a oportunidade de ver
uma apresentação de dança do grupo “Arte em
Movimento”, formado por mães da Instituição, na
Semana do Excepcional, e não podemos deixar
de registrar as mudanças de comportamento, a
alegria que transparecia nos seus rostos.
Mas a felicidade maior era de seus filhos na
platéia. Como eles vibravam! Ações como estas
elevam a auto-estima das pessoas e tem sido um
trabalho constante da Apae para com a família.
A valorização do ser humano deve existir em
todos os ambientes para que ele alcance a
terceira idade de forma saudável e plena, em
todos os seus aspectos.
Ilka Carvalho
Superintendente da Apae
ApaeSalvador
Uma publicação da Apae Salvador Endereço: Rua Rio Grande do Sul, 545 - Pituba - Salvador - Bahia - Fone: (71)
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APAE Salvador Jul/Ago/Set/2007
Saúde
Apae oferece novos serviços fisioterápicos
A Apae Salvador ampliou mais
serviços na área de saúde. O serviço
de fisioterapia agora abrange diversas
especialidades: Estimulação Precoce,
Fisioterapia Ortopédica, Traumatológica e RPG, Fisioterapia Neurológica,
Fisioterapia Uroginecológica, Escolas de
Postura para Crianças e Adolescentes e
também para a Terceira Idade.
A equipe de fisioterapeutas trabalha
em conjunto com os médicos da área,
ortopedistas e fisiatras, e que conta com
tecnologia de ponta para diagnóstico de
problemas posturais e da coluna vertebral, a exemplo dos exames: Avaliação
Postural Computadorizada (APC), Baropodometria Eletrônica e Goniometria
Computadorizada.
A estimulação precoce é um dos
principais atendimentos oferecidos pela
Apae Salvador na área de fisioterapia.
O atendimento é dedicado a crianças
de zero a dois anos (acima desta idade
são encaminhados para a fisioterapia
neurológica), que possuem atraso no
desenvolvimento neurológico, cognitivo
e/ou motor. Esta modalidade inclui
ainda crianças com Síndrome de Down,
bebês prematuros, paralisia cerebral,
hidrocefalia, deformidades congênitas.
Na Apae o paciente encontra tratamento ortopédico e fisioterápico em traumatologia, especialidades voltadas para a
prevenção ou tratamento de doenças que
envolvem os aparelhos locomotores (ossos,
músculos, articulações e ligamentos), como
em casos de entorses, fraturas, tendinites e
contusões. No tratamento, os fisioterapeu-
Exames auxiliam
diagnóstico
RPG é uma das técnicas oferecidas
tas utilizam aparelhos para eletroterapia
e realizam exercícios terapêuticos e de
toque. Na Reeducação Postural Global
(RPG) o paciente consegue avanços no
realinhamento do corpo e trata as dores
provocadas, geralmente, por problemas
de coluna, como lordoses, cifose e escoliose. O tratamento é indicado para pessoas
com idade a partir dos oito anos.
A fisioterapia neurológica é uma
especialidade que trata as doenças que
envolvem o sistema nervoso central e
acometem crianças e adultos. Esse tipo
de fisioterapia é indicada para pacientes
com paralisia cerebral, síndromes neurológicas e vítimas de acidentes vasculares
cerebrais (derrames). Já a fisioterapia
uroginecológica é indicada para o tratamento das disfunções genito-urinárias
e sexuais, como incontinência urinária e
disfunções do assoalho pélvico.
Além das diversas especialidades
de fisioterapia, o Centro Médico
(Cemed) da Apae Salvador oferece
também exames que auxiliam no diagnóstico de problemas posturais e de
coluna. A Avaliação Postural Computadorizada (APC) é um exame que avalia,
através de um software (um programa
de computador)e analisa os aspectos
morfológicos da postura humana. Ou
seja, permite um exame mais profundo
da postura de uma pessoa. Através do
sistema, pode-se medir as distâncias
entre pontos anatômicos, oferecendo
assim um diagnóstico mais preciso da
postura e favorecendo o acompanhamento da sua evolução.
Outro exame que auxilia no
diagnóstico e no tratamento de problemas posturais é a Baropodometria
Eletrônica. Este, também não-invasivo,
é utilizado para visualizar, gravar e
analisar as alterações das pressões e
forças dos pés, além de alterações da
postura e avaliação do equilíbrio.
Do mesmo modo que a APC,
trata-se de um software altamente
sofisticado, desenvolvido para visualizar imagens coloridas e dados
estatísticos. A Goniometria Computadorizada é um método de avaliação
utilizado para medir os ângulos articulares do corpo humano.
Escolas de postura atende jovens e idosos
Além das terapias convencionais, a
Apae mantém duas escolas de postura.
Uma é dirigida a crianças e adolescentes
com problemas posturais. Os cursos têm
duração de quatro meses. A terapia inclui
aulas teóricas e práticas com distribuição
de um manual. O conteúdo teórico é
passado de forma lúdica. Ao final do tratamento os alunos-pacientes recebem um
certificado e saem com uma nova visão
sobre a importância da postura para o
desenvolvimento das atividades diárias.
Jul/Ago/Set/2007
Dirigida às pessoas com mais de 50 anos
e que apresentam alterações na postura
e/ou movimento, a Escola de Postura para
Terceira Idade tem o objetivo de melhorar
a capacidade funcional nas atividades
do dia a dia. Além de alongamentos e
exercícios terapêuticos, a programação
abrange exercícios, orientações posturais
para dormir, sentar, abaixar etc. As turmas
são formadas por apenas três alunos e,
como a escola para criança e adolescente, as aulas são bastante lúdicas.
Exame detectada problemas nos pés
APAE Salvador
Especial
Aumenta a expectativa de vid
Avanços na medicina e práticas de inclusão in
A terapia ocupacional é um dos avanços que proporcionam longevidade e qualidade de vida as pessoas com deficiência
O
s avanços registrados na medicina, as novas tecnologias, o
acesso à informação e, sobretudo, o processo de inclusão social são os
principais fatores que vêm contribuindo
para aumentar a expectativa de vida
da pessoa com deficiência mental. Não
existem estatísticas oficiais no Brasil, mas
os profissionais que trabalham nessa área
são categóricos em afirmar que a pessoa
com deficiência mental está vivendo mais
e muito melhor.
Para se ter idéia dessa evolução, no
início do século XX, a expectativa de vida
da pessoa com Sindrome de Down era
de 18 anos. Hoje, segundo a médica
geneticista Tatiana Amorim, do Serviço
de Referência em Triagem Neonatal da
Apae Salvador, a média, em países, como
a Austrália, por exemplo, é de 72 anos,
APAE Salvador enquanto para as pessoas ditas normais
é de 80 anos, neste mesmo país.
Para a médica, diversos fatores contribuem para essa transformação. Entre
eles, Tatiana destaca o acesso à saúde e
a inclusão social dessas pessoas que antes
sofriam tremendamente com o preconceito
e eram afastadas tanto do convívio social
quanto das inovações da medicina. Para
ela, os avanços da medicina contribuíram
enormemente para isso. “O aprimoramento
nas técnicas de reabilitação e as cirurgias
cardíacas, o desenvolvimento e utilização
de vacinas especiais, a exemplo da vacina
contra gripe, pneumonia, varicela (catapora) e a hepatite A, são fatores de extrema
importância neste processo”, lembra a
médica, acrescentando que neste período,
a assistência médica passou a ser mais
cuidadosa.
Por outro lado, explica Tatiana, todo esse
arsenal médico poderia não estar beneficiando as pessoas com deficiência mental, não
fossem os avanços psicossociais. “A qualidade de vida dos deficientes melhorou, porque
eles assumiram uma postura cidadã, exigindo
atendimento de ponta em todas as áreas”,
observa a médica. Até alguns anos atrás,
lembra Tatiana, existia tecnologia de saúde,
mas não era investida nessas pessoas.
Na Inglaterra, por exemplo, segundo a
médica, não se opera portador da Síndrome de Down. “Na França, não se opera
coração de pessoas com Down, porque
acham que não vale a pena investir em
indivíduos não produtivos. E trata-se de um
país desenvolvido! Mas de maneira geral
isso é exceção à tendência atual, que é a
de que essas pessoas tenham seu espaço
garantido na família e no ambiente social”.
Jul/Ago/Set/2007
da da pessoa com deficiência
nfluenciam na melhoria da qualidade de vida
A inclusão pelo trabalho é outro fator ...
... que contribui para a longevidade
Na opinião da médica, os avanços psicossociais são determinantes e impulsionam o
deficiente para uma posição em que ele se
beneficia melhor dos avanços da saúde, e
da educação. “E isso faz com que essas
pessoas vivam mais”, avalia.
Para a psicóloga Isabella Queiroz, do
Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN), da Apae Salvador, os aspectos
psicosssociais são tão importantes para a
melhoria da qualidade de vida e longevidade da pessoa com deficiência quanto
os avanços da medicina. A aceitação e o
estabelecimento de vínculos com a família
e a sociedade contribuem bastante para
o aumento da expectativa de vida dessas
pessoas. Segundo ela, o fato de serem
concebidos como sujeitos capazes de demandar algo para sua própria existência,
é fundamental nesse processo. Atualmente,
avalia a psicóloga, com a prática da
inclusão, tem sido possível ampliar os
laços familiares e sociais dessas pessoas,
principalmente daquelas inseridas no mercado de trabalho. “Trabalhando, de forma
remunerada ou voluntária, eles criam vínculos sociais mais amplos e adquirem mais
autonomia”, garante a psicóloga.
As técnicas de terapia ocupacional são utilizadas em bebês
Jul/Ago/Set/2007
Instituições
devem se
preparar para
nova realidade
O aumento da expectativa de vida
da pessoa com deficiência reflete diretamente no trabalho desenvolvido pelas
instituições que atendem a este segmento da população. Para a médica geneticista Tatiana Amorim, o envelhecimento
trata-se de uma questão para começar
a ser debatida com rapidez, pois ao
tempo em que esses indivíduos vivem
mais, vão ter dificuldade de encontrar
quem possa cuidar deles. “Quando os
pais morrem, a maioria não tem quem
cuide deles”, pondera a médica. Em
vários países, a solução encontrada
foi a criação de moradias individualizadas, onde essas pessoas passam a
viver de forma independente, mas sob a
responsabilidade de um cuidador, que
cozinha e faz as atividades que eles
não podem realizar sozinhos.
A experiêcia da Apae de Bauru,
em São Paulo, é outro exemplo de ação
bem-sucedida nessa área. O projeto,
denominado Casa Lar, é voltado para
pessoas com deficiência mental que perderam os vínculos familiares, e atende
hoje a 10 pessoas. Para implantar o
projeto a instituição adquiriu uma casa
com recursos próprios e firmou parceria
com a Secretaria de Ação Social de
São Paulo para a manutenção da Casa
Lar. Em sistema de mutirão, reformou,
fez adaptações, pintou e mobiliou o prédio. O projeto desenvolvido tem como
filosofia básica o trabalho supervisionado das moradoras para reproduzir
o clima de afetividade e solidariedade
do ambiente familiar, preservando a
identidade de cada residente.
APAE Salvador
Inclusão
Semana do Excepcional promove reflexão sobre deficiência mental
Como acontece anualmente, a
Apae de Salvador promoveu, entre 21
a 28 de agosto, a Semana do Excepcional, instituída nacionalmente pela
Federação Nacional das Apaes, com
o objetivo de chamar a atenção da
sociedade para as potencialidades que
podem ser desenvolvidas pela pessoa
com deficiência mental. Durante este
período foram realizadas diversas atividades e ações de mobilização para
possibilitar uma reflexão maior sobre a
cidadania dessas pessoas.
O ponto alto da programação aconteceu no dia 21, às 14:30h, na sede
da Instituição, na Pituba, quando foram
comemorados os 15 anos de implantação do Teste do Pezinho, na Bahia.
Antes, porém, entre 13 e 14h, a Apae
Salvador inaugurou a sua programação
de entrevistas pela Internet, através de
“Chat”, que contará com a participação
de técnicos e profissionais das várias
áreas de atuação da Instituição. O
primeiro “Chat” teve a participação da
médica geneticista Helena Pimentel. Durante o período da entrevista, a médica
respondeu a perguntas dos internautas,
esclareceu dúvidas e passou orientações
importantes sobre as doenças que podem levar à deficiência mental. Trata-se
de mais um canal de comunicação que
a Apae Salvador oferece para disseminar informações importantes na área
de prevenção da saúde. As atividades
Alunos e familiares em atividades
desse dia foram encerradas com a
eleição dos aprendizes Ricardo Simões
e Rosileny Brito para a autodefensoria,
representando os alunos e aprendizes,
na direção da Instituição.
No dia 22, a programação teve
continuidade com o I Encontro Inclusivo
de Capoeira, realizado para estimular o
efetivo intercâmbio social e cultural entre
150 alunos e aprendizes da Apae Salvador com mestres, professores e alunos
de capoeira de escolas regulares. Neste
mesmo dia, os alunos e aprendizes da
Apae Salvador visitaram o Parque de
Sauípe. Além de proporcionar momentos de lazer e grande descontração,
a visita envolveu os alunos em ações
de educação ambiental e preservação
da natureza, agregando valor ao seu
aprendizado diário.
O Encontro das Artes movimentou o palco do teatro dos Correios
APAE Salvador Uma mesa redonda, realizada em
24 de agosto, reuniu no auditório da
Apae Salvador, na Pituba, mais de
80 convidados para discutir o tema
Inclusão: das intenções à ação. O
evento cumpriu a sua finalidade, que
era a de possibilitar a troca de informações sobre a proposta de inclusão da
pessoa com deficiência mental, entre
representantes das escolas parceiras
da Apae, instituições de ensino superior e representantes de várias ONGs.
Para o presidente da Apae Salvador,
Derval Evangelista, o evento abriu
espaços para novas idéias, novos
desejos, novas intenções de tornar
todos iguais. Os participantes puderam
discutir e esclarecer dúvidas sobre o
processo inclusivo das pessoas com
deficiência mental.
No dia 27, a programação prosseguiu com a oficina de fazeres, realizada
simultaneamente no Centro Educacional
Especializado (Ceduc) e no Centro de
Formação e Acompanhamento Profissional (Cefap). O trabalho envolveu alunos,
aprendizes e familiares em atividades
sócio-pedagógicas em grupo, com
temas dos processos de aprendizagem
que os professores desenvolvem em sala
de aula. Já no dia 28 de agosto, a programação da Semana do Excepcional,
contou com a palestra da psicóloga
e psicanalista Carmem Lúcia Lavigne,
que tratou da importância da interação
familiar no desenvolvimento da pessoa
com deficiência.
Encerrando as atividades da Semana, o Encontro das Artes reuniu no
auditório dos Correios, alunos, colaboradores, convidados e familiares.
O evento contemplou a apresentação
de diversas manifestações culturais
produzidas pelos alunos, aprendizes
e o grupo de mães da Apae Salvador.
A programação incluiu a apresentação
da Cia. de Dança Opaxorô, com a
coreografia O Malandro, baseada na
peça Ópera do Malandro, de Chico
Buarque, e ainda apresentações de
ginástica rítmica e do grupo de dança
“Arte em Movimento”, formado por mães
de alunos e aprendizes.
Jul/Ago/Set/2007
Saúde
Artigo
Teste do Pezinho completa 15 anos na Bahia
A expressão inadequada
Diariamente, muitas mães levam seus filhos para fazer acompanhamento médico e psicossocial
A Apae Salvador comemorou em
agosto os 15 anos de realização do
Teste do Pezinho, na Bahia. Desde que
foi instituído, o Serviço de Referência em
Triagem Neonatal (SRTN) da Instituição
já realizou o teste em 1,5 milhão de
crianças no Estado, totalizando mais de
5 milhões de exames.
Único serviço credenciado pelo Ministério da Saúde na Bahia para a realização
do Teste do Pezinho, o SRTN da Apae
Salvador realiza, através do SUS, em
convênio com o Ministério da Saúde, Governo do Estado e Prefeituras Municipais,
a Triagem Neonatal nos 417 municípios
baianos. Pelo SUS, o teste identifica três
doenças. Uma delas é o hipotireoidismo
congênito, que é uma disfunção da glândula tireóide. Pode acontecer na idade
adulta, mas algumas crianças podem
nascer com um mau funcionamento da
tireóide, ou até mesmo sem essa glândula,
e isso pode provocar sérios problemas
no desenvolvimento, podendo levar ao
retardo mental se não for tratada.
Outra doença detectada é a fenilcetonúria, doença genética um pouco mais
rara onde a criança nasce com uma dificuldade de metabolizar um aminoácido que
está presente no leite materno, na carne,
no frango. A anemia falciforme, apesar
de não provocar retardo mental, entra na
triagem porque é uma doença genética
muito freqüente na população baiana.
Pesquisa já investigou 2 mil casos
de doenças genéticas em Monte Santo
Mais de 2 mil pessoas com suspeitas de possuir doenças genéticas,
já foram investigadas pela equipe de
pesquisadores do projeto Genética no
Sertão: Estudo de doenças genéticas
monogâmicas freqüentes no município
de Monte Santo – BA. A equipe coletou
dados de 250 adultos com deficiência
mental, sem causas definidas, atendidos
pelo Centro de Atenção Psicossocial
(Caps) do município, e avaliou os laços
familiares dos pacientes atendidos pelo
Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN) da Apae e do Hospital das
Clínicas. “A base de dados da pesquisa
já conta com informações de mais de
2 mil pessoas avaliadas em 18, dos
40 povoados que circundam Monte
Santo”, informa a médica geneticista
Jul/Ago/Set/2007
do Serviço de Referência em Triagem
Neonatal (SRTN) da Apae Salvador,
Tatiana Amorim, uma das pesquisadoras do projeto.
Os resultados preliminares da pesquisa indicaram que do universo já
investigado, foram detectados: um caso
de fenilcetonúria, um de hipotireoidismo
congênito e 54 suspeitas desta mesma
doença que ainda se encontram em fase
de investigação. Os dados preliminares
da pesquisa foram apresentados, no início de outubro, no Congresso Latino-Americano de Erros Inatos do Metabolismo,
realizado no Uruguai. Segundo Tatiana
Amorim o grande número de casamento
entre pessoas da mesma família é a hipótese mais provável para a alta incidência
de doenças genéticas na região.
É tempo de pensar
Nós, muitas vezes, durante a luta
pela inclusão social da pessoa com deficiência, usamos expressões para classificar
algumas situações, que não condizem
com o fato em si, a exemplo da expressão educação inclusiva. Em verdade a
educação sempre foi de todos, jamais
precisou do recorte aqui citado, o que
existe de fato e se faz necessário é um
processo que inclui aqueles à educação,
que ao longo do tempo estiveram e estão
excluídos da mesma por preconceitos e
conveniências políticas.
A educação por natureza é inclusiva,
portanto se torna redundante e dispensável a ênfase que se dá através da
expressão inadequada. Tais inadequações refletem a carência de avaliações
periódicas no que se diz e se propõe
dentro do movimento com propósito de
corrigir erros e atualizar o que já não
cabe em nosso tempo.
Expressões, como a supracitada,
passam despercebidas nas sombras de
outras mais eloqüentes, porque mexem
com brios a exemplo de “mongolóide,
“aleijado” e outras. A educação desde
os primórdios é pensada para todos, os
seus tecelões jamais fizeram acepção
de pessoas, portanto a identificação de
um processo inclusivo relativo àqueles
que estão fora dela é pertinente, porém
a utilização de expressão que nos faz
supor que ela se tornou agora o que
sempre foi, não.
Por que desse jeito negamos o espírito democrático da educação que está
embutido em seu gênesis independentemente de quaisquer sistemas políticos ou
econômicos. Os discursos enfáticos em
favor de uma suposta educação inclusiva
tentam corrigir uma coisa distorcendo
outra. As palavras e expressões são muito mais importantes do que comumente
pensamos, pois as mesmas refletem o
quanto uma civilização é atenta ou desatenta quanto a certas coisas e como
as vêem.
Portanto, é importante que a ênfase
seja dada em defesa de incluir todos, a
educação, mas não de tornar inclusiva
o que é por natureza, ou seja, a própria
educação.
Fausto Joaquim
Autor dos livros: Águia sem asas
e Diga ao mundo que sou Deus.
APAE Salvador
Entrevista: Rosileny Brito dos Santos
“Defenderei os interesses dos alunos
e reivindicarei mais professores
especializados nas escolas públicas”
A aprendiz, Rosileny Brito dos Santos, 36 anos, é a mais nova auto-defensora da Apae
Salvador. Eleita em setembro, Rosileny ingressou na Apae em 1989. Neste período, participou do Programa de Qualificação Profissional e iniciou um estágio na sede da Instituição,
em 1999. Três anos mais tarde, foi contratada pela rede McDonald´s. Atualmente, é
monitora do Curso de Copa e Cozinha, promovido pela Cefap e, à noite, freqüenta as
aulas do Programa Brasil Alfabetizado, na Escola Municipal Francisco Mangabeira, onde
cursa a 2ª série do Ensino Fundamental. Nesta entrevista, ela fala sobre os seus planos
para representar os alunos e aprendizes na auto-defensoria da Apae Salvador.
Apae Salvador – Como você encara
a missão de representar os alunos
e aprendizes da Apae de Salvador
junto à diretoria administrativa da
Instituição?
Rosinely Santos - Foi muito boa a oportunidade que a Apae me deu de trabalhar
junto à diretoria. Achei muito bom, porque,
junto com eles, irei defender os interesses dos
alunos, informar sobre o que estão precisando, o que não estão. Ajudá-los a resolver a
carteira de passe, reivindicar mais professores
especializados nas escolas para ensinar aos
alunos que têm mais dificuldades, porque, às
vezes, as pessoas não sabem que a gente
tem dificuldade para ler. Em qualquer lugar
que a gente vai, a gente tem que saber ler
as orientações que estão escritas. Só que as
pessoas não sabem e ficam insistindo, ali, ali,
ali. E não vêm procurar saber o porquê e ficam
insistindo, insistindo. Lá onde eu moro, tem
um lugar que vende picolé e tem uma placa
dizendo os sabores, mas só que eu não sei
ler. Só que a dona vem até a mim e ela fica:
“olhe ali, ali”. Então, com esse negócio, resolvi
que não vou mais comprar picolé.
AS – Então, você quer mudar a mentalidade dessas pessoas para que elas
entendam as dificuldades enfrentadas pelos deficientes mentais?
RS - Ajudar para que as pessoas entendam
mais, lutar pela carteira de passe para os
alunos e outras coisas.
AS - Quais as sugestões que você
pretende apresentar à diretoria para
melhorar e beneficiar a vida dos seus
colegas?
RS - Carteira de passe e mais professores capacitados nas escolas públicas e que as escolas
aceitem os alunos deficientes para poder ensinar
mais a ler e escrever. Ter uma escola separada
só para isso, porque a professora não vai dar
conta de ensinar os que sabem e os que não
sabem. Porque, ou bem ela ensina aos normais,
que sabem, ou bem dá mais atenção aos que
não sabem. Devia ter assim uma escola mais
preparada, mais capacitada para isso. Mesmo
que a gente estude com os normais, eu acho que
fica mais difícil para quem não sabe.
AS - O que você está achando de ser
auto-defensora?
RS - Estou gostando, está sendo muito bom
trabalhar junto com a diretoria, estou adorando muito. Foi uma oportunidade que eu
não tinha e eles me deram e agora estou
assumindo esta oportunidade.
AS - Como você tem trabalhado? o
que é que você tem feito?
RS - Eu tenho me reunindo com os alunos e
conversando com eles para saber como eles
estão, com os que foram para o mercado de
trabalho e também com os que não foram.
Eles me disseram que estão muito bem. Eu
tenho perguntado para eles as dificuldades
que eles têm tido, e eles me disseram que está
tudo ótimo. Às vezes eu faço uma reunião com
eles. Já fiz com a metade dos aprendizes da
manhã e estou pretendendo marcar com os
da tarde, mas ainda não tive tempo, porque
eu não sou só auto-defensora também sou
monitora de sala. Agora mesmo o senhor me
encontrou aonde? Ali no refeitório, pois eu
estava resolvendo uma coisa ali para poder
colocar os alunos da sala para trabalhar, para
fazer as atividades da sala. Ai eu marco assim
aos pouquinhos, e os aprendizes já estão me
perguntando: que dia você vai marcar? Ai eu
digo ainda não marquei, porque você sabe,
né? Ainda não tive tempo, eu sou monitora de
sala. Então, eu faço aos pouquinhos, porque
assim dá tempo de fazer.
AS – O que você acha do trabalho
que a Apae faz?
RS - É um trabalho ótimo, muito bem feito,
porque os alunos que não tinham independência e agora têm. Alguns já sabem caminhar
sozinhos, resolver suas vidas.
AS – O que foi que você aprendeu
aqui que lhe deu autonomia para
sair e resolver as suas coisas?
RS - Aprendi a como me comportar em público, como pegar um ônibus, sair, assim para
resolver os meus assuntos. Hoje, algumas coisas que tenho para eu resolver, eu vou só.
AS - Você também acompanha os
seus colegas?
RS - Eu também acompanho os meninos,
quando eles precisam, eles vêm e falam
comigo. Aí, peço autorização a Jacira, que
fala com Faraíldes e ela me autoriza.
AS – Que tipo de trabalho você já levou os meninos para resolverem?
RS - Carteira de passe, médico.
AS – O que você pensa das pessoas
que tratam os deficientes mentais
com preconceito?
RS - Eles ainda não conhecem a forma dos deficientes. Não, quando eles vêem a gente, ficam
pensando que nós vamos agredir, bater e não
é isso. Isso é ruim para gente, porque ficamos
meio abatidos com esse tipo de reação. Alguns
acham que nós não somos iguais a eles e que,
por isso, não devem andar com a gente.
AS – Você já sofreu algum tipo de
preconceito?
RS - Quando sofro, descarrego logo. Eu
digo logo: maluco? Maluco não sou eu não,
maluco são vocês.
AS – Como foi a sua experiência no
trabalho?
RS - Lá no Mc Donald’s é assim: eles mostram
tudo para gente. Primeiro, eles sentam, batem
um papo, fazem uma reuniãozinha e depois
chamam e dizem: você vai fazer isso. Eles me
colocaram para fritar batata, eu fui peguei e
comecei a colocar na fritadeira, fui botando no
saco ai quando os clientes chegavam e pediam:
“eu quero sem sal, eu quero com sal”. Na hora
em que ficavam muchas eu ficava com medo de
jogar fora. Ai eles me diziam: “não, pode jogar
fora”. Eu também lavava o banheiro, limpava
o chão e a área externa. Fazia meu trabalho
numa boa, eu gostava de trabalhar.

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