Norval Baitello junior e Christoph Wu[f organizadores
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Norval Baitello junior e Christoph Wu[f organizadores
e as lmagens em Movimento Norval Baitello junior e Christoph Wu[f organizadores Sumario Agradecimentos ....................................................................................................................................................... 7 Pref<kio Norval Baitello junior e Christoph Wulf .......................................................................................................... 9 1agens em Movimento Emo~äo e lmagina~äo: perspectivas da antropologia hist6rico-cultural Christoph Wulf ........................................................................................................................................................ 11 as Letrase Cores Editora. 11 ou parcial deste livro. xdo Ortog ratico da Ungua Portuguesa lmagem e Emo~äo: movimentos interiores e exteriores Norval Baitello junior ........................................................................................................................................... 21 Self, Certeza e Emo~äo Coletiva Gunter Gebauer ..................................................................................................................................................... 29 As Categorias da Fascina~äo: her6is, tramas e imagens do relato oral Jerusa Pires Ferreira ............................................................................................................................................. 39 pyb!icacäo !C!Pl s e as imagen s em movimento I orgs. 'ulf. - Säo Pau lo : Esta~äo das Letras e Espectador lnterior, Testemunha lmaginaria: sobre a teoria e a literatura da vergonha Arthur Schnitzler: Fräulein Else e Tania Blixen: Ehrengard Claudia Benthien ................................................................................................................................................... 47 Emo~äo e lmagina~äo na Escrita Eduardo Pefiuela Cafiizal ................................................................................................................................... 63 ca~äo. 3. Emo ~öes - Aspectos sociais. 4. Jstra~öes, etc. 6. Sentidos e sensa~öes. Wulf, Ch ristoph. CDD 152.1 152.4 153.3 302.2 306 zes Tristäo: imagina~äo no romance medieval lngrid Kasten ........................................................................................................................................................... 91 Equilfbrio Precario no Exemplo de Lynn Hili Helga Peskoller .................................................................................................................................................... 103 Emo~öes como uma Estrategia de Transcendencia Ubiratan D'Ambrosio ........................................................................................................................................ 113 Significado e Emo~äo Eva-Maria Engelen ............................................................................................................................................. 129 Simpatia e Empatia- Mediosfera e Noosfera Malena Segura Contrera ................................................................................................................................. 141 Paixöes Bfblicas como Desafio. Negocia~äo, desarmamento e reconstru~äo do sacriffcio de Abraäo no Alcoräo Angelika Neuwirth ............................................................................................................................................. 151 A Heresia da lmagina~äo Marflia Pacheco Fiorillo .................................................................................................................................... 161 lmagina~äo da Felicidade Joerg Zirfas ............................................................................................................................................................ 173 Agradecimento: Este livro, Emo~äo e lmagir: intercämbio e coopera~äo entre A lmagem como Dialetica da lmagina~äo Lucrecia D'Aiessio Ferrara ............................................................................................................................... 187 A Cria~äo Mimetica e a Circula~äo de Emo~öes: um estudo de caso Christoph Wulf .................................................................................................................................................... 199 e em Säo Paulo. Por isso, em no deixar aqui registrado nosso a' colabora~äo e pelo enriquecir internacional. Em especial nos r Periuela Cariizal com um lindo te Biografias ................................................................................................................................................................ 217 uma sele~äo e um aprofundame nome, apoiado pelo Servi~o So1 de agradecer, pelo inestimavel a toda a numerosa e compet Tambem gostarfamos de agradE lnterdisciplinar de Semi6tica da Cat61ica de Säo Paulo (PUC-SP), (UNIP), por seu envolvimento e 1 Paulo, especialmente a sua diret a tradu~äo. Aos tradutores Pete1 sua competente e diffcil arte pa brilhante tradu~äo como base pc tambem para as tres institui~ö! cujo apoio financeiro e organizc acontecido, a Deutsche Forschu Languages of Emotion (Dr. Schrr Cooperation (Dr. Herbert Griesh Institut für historische Anthropo/1 Viviane Panelli Sarraf, que fez a c e a Vinicius Spricigo (com o apoil para a publica~äo, com base nas Helga Peskoller näo foi traduzido inteiramente refeito para o livro). Ne . Emotionalisierung des sexuellen 11otionen im Mittelalter. Editado por 003, p. 237-250. Equilibrio Precario no Exemplo de Lynn Hili Helga Peskoller me. Internalisierte Topographie in derts (Hereford-Karte, 'Straßburger 'Literatur im transnationalen Kontext. 05, p. 12-36. tion. ln: Ästhetische Grundbegriffe 2, sens de Ia poesiedes troubadours. ingen, 1959. Grenzen sind auf verhängnisvolle Weise unüberschreitbar. ~xtes von Wende/in Foerster übersetzt , 2006. Fronteiras säo fatalmente (in)transponfveis. Dietmar Kamper lntrodu~äo 0 artigo tem tres partes e se desdobra ao longo de quatro imagens em camera lenta. Partimos do questionamento que nos coloca uma sequencia de vfdeo, com relac;äo a uma determinada situac;äo que delimita fortemente a ac;äo humana. Disso se deduz as primeiras suposic;öes sobre a relac;äo entre emoc;äo e imaginac;äo, e tudo termina na questäo a respeito do peso deste exemplo, que fala especialmente sobre uma universalidade. Vfdeo 1: Retrato Hili, PB e cämera lenta 1 A Coisa 0 quese apresenta aqui? 0 que essas imagens narram? Um retrato de uma jovem 1 Este video e, bem como o seguinte, tirado do documentario Mulheres em Desenvolvimento e foi processado digitalmente (desa celera~äo de 70% do filme em tempo real, PB, em vez de cor, e sem som). 103 Equilibrio Precario no Exemplo de Lynn Hili mulher com seus brac;os em movimento. Durante alguns instantes, ela fecha os olhos como se o movimento que realiza pudesse ser recordado de uma mem6ria guardada de determinada situac;äo anteriormente vivenciada. Ao olharmos com mais cuidado, de granito bastante liso, ha algt de dificuldade 5.12c/d (-IX), un notamos certos atrasos: primeiro os brac;os passam por cima do olhar que esta ao fundo; pouco tempo depois, este movimento do brac;o ligado ao olhar se apresenta sua meta e veneende as dificulc em primeiro plano. E se olharmos com mais cuidado, fica claro que o olhar vai para um pouco mais Ionge, dirigindo-se a alguma coisa que näo e possfvel enxergar. Algo que parece estar alem da imagem, mas que possivelmente funciona como um motivo. 2 Do que poderia tratar-se nesse caso? paredäo que surge em l .OOOm todo. Em 1993, foi Glenn Hili q1 Mas isso no.s da uma boc pelo menos dois pantos de a explicar a persistencia em qu imaginando um movimento s levou a coisa a serio e treinou paredäo. 0 extase demonstrac deve ter havido alguma coisa s6bria e trabalhosa, os treinam Alguem que empreende L osso e espfrito, e pode supor < extremamente duradouro. De lembranc;as e algo que näo mE a esse tipo de atividade se s1 Vfdeo 2: Alongamento, Iento se nos apresenta e presumir q disposic;öes internas ganham 0 segredo foi revelado. 0 motivo e algo que determina tanto o olhar quanto constituir um motivo. 0 efeito tem Um ca rater magico, sua intE a representac;äo. Essa coisa penetra desde o infcio na imaginac;äo, estruturando-a nossa frente como sendo invisfvel assumiu e dinamizando-a. A coisa que esta e o exterior. 0 apoio externe, dc da o motivo e ambos trabalharr desde o infcio a direc;äo na maneira de um 'atualizador crönico: 3 A denominac;äo de atualizador crönico remete ao relacionamento entre objetos externes e disposic;öes internas. Pressupöe-se nessa situac;äo que os objetos funcionam com ponto de apoio externe e tem uma func;äo de disparo. Ela fortalece e explica o surgimento de engates em uma especie de atualizador c na func;äo de um 'suporte dina exterior, cuja intensidade e amp a entre objeto, instrumento, habitos de movimento, situac;öes internas da consciencia como emoc;öes, com o resultado que a instabilidade dos eventos näo devem ser reconstrufdos a cada vez na consciencia, mas ao serem fixadas esses engates paulatinamente ganham uma estrutura.4 0 que isso significa para o exemplo? Significa em primeira instäncia que apenas aquilo com que nos defrontamos e parece invisfvel de infcio e que se torna visfvel na segunda sequencia das imagens deveriam ser providos de muito mais significac;öes. Enquanto nos dois casos se trata da mesma coisa: uma montanha, mais precisamente um Vfdeo 3: 2 Sujeito a mudan~a s no cenario hist6rico, cf. Peskoller, 1999 3 Cf. Gehlen, 1956, p.26. 4 Cf. Hahn, 2010, p.19. 104 5 Ponto vermelho significa escalada sem a ajt 6 Cf. Peskoller, 2005a. Helga Peskoller uns instantes, ela fecha os olhos lade de uma mem6ria guardada Ae elharmes com mais cuidado, per cima de olhar que esta ao i~e Iigade ae olhar se apresenta ica clare que o olhar vai para um äe pessivel enxergar. Algo que e ? funciena como um motivo.2 Do paredäo que surge em l.OOOm no vale de Yosemite, na Calif6rnia. Atraves desse paredäo de granito bastante lise, ha algumas rotas: uma se chama 'o nariz' (the nose) e indica o grau de dificuldade 5.12c/d (-IX), um dos mais intensos graus de serem escalados no mundo tede. Em 1993, foi Glenn Hili quem venceu a escalada sem pontes de apoio, alcan~ando sua meta e vencendo as dificuldades do paredäo sem coloca~äo de pitons de apoio. 5 Mas isso no.s da uma boa pista para reconhecermes algo: este paredäo deve ter pelo menos dois pontos de apoio, um ponto real e outro imaginario, se näo, como explicar a persistencia em que Hili, diante de todas essas dificuldades, se manteve imaginando um movimento sem quedas? Ela näo se apoiou apenas na imagina~äo, leveu a coisa a serio e treinou durante dias, meses, ate mesmo anos para escalar esse paredäo. 0 extase demonstrado na imagem näo pode ter sido apenas o do momento, deve ter havido alguma coisa a mais. A situa~äo da atleta na imagem era demasiado s6bria e trabalhosa, os treinamentos necessarios foram muitos.6 Alguem que empreende um projeto como esse se entrega a ele com tudo: carne, osso e espirito, e pode supor que o embate com esse rochedo desenvolve um efeito extremamente duradouro. De que modo alguem pode liberar-se desse efeito sem lembran~as e algo que näo me atrevo a julgar. 0 fato e que alguem que se submete a esse tipo de atividade se sente totalmente entregue a ela. A primeira tese que e tto se nos apresenta presumir que, pelo apoio externo que as coisas nos oferecem, as dispesi~öes internas ganham em estrutura~äo e paulatinamente se adensam ate censtituir um motivo. 0 efeito resultante de atividades como a apresentada e vivaz e a Jetermina tanto o olhar quanto tem um carater magico, sua intensidade se deve ao engate e dinämica entre 0 interior na imagina~äo, estruturando-a ceme sende invisivel assumiu e o exterior. 0 apoio externo, dado pelas coisas, une-se a uma estabilidade interna, que da o motivo e ambos trabalham- do lado de fora e de dentro- reciprocamente, juntos em uma especie de atualizador crönico. 0 Motivo do desejo direcionado e estabilizado na fun~äo de um 'suporte dinamizador' dos processos de liga~äo entre o interior e o jer crönico~ 3 A denomina~äo de ' ebjetes externos e disposi~öes funcionam cem ponto de apoio explica e surgimento de engates e exterior, cuja intensidade eampliada na experiencia e vence a estrutura do conteudo. tua~öes internas da consciE~ncia :le dos eventos näo devem ser , serem fixados esses engates Tl primeira instäncia que apenas e inicie e que se torna visivel na jes de muito mais significa~öes. nentanha, mais precisamente um Vfdeo 3:Teto de passagem, camera lenta 5 Ponto vermelho signiftca escalada sem a ajuda de metodos artiftciais para movimentar o pr6prio corpo. 6 Cf. Peskoller, 2005a. 105 Equilfbrio Precario no Exemplo de Lynn Hilf Sensores 0 paredäo visto com cuidado e demasiado grande para 0 poder de imagina~äo humana e näo pode sercaptado por ela. Por isso, ela precisa ser reduzida e retrabalhada. Como isso acontece, as imagens mostram: a for~a da imagina~äo de ascender, ou seja, introjetar-se no corpo, nos dedos das mäos e dos pes se espraiam e enquanto isso ocorre uma mudan~a. Essa metamorfase consiste em que o aspecto visual da Retornemos ao come~o ~ preparados de forma imagin embaixo, onde Lynn Hili em cl a bra~os, gra~as imagina~äo e efetivamente executado Ia em imagina~äo se metamorfoseia no aspecto t<Hil de sentir e de apalpar. E alguma coisa nos leva a falar de imagens t<Heis nesse caso. Mas no caso dessas imagens tateis, a imagina~äo assume um papel totalmente diferente. Porque no aspecto t<Hil näo ha nada quese coloque diante da realidade, mas ao tocar o que temos em nossa frente, ela e imediata e direta. Direta näo significa aqui algo brutal, violento, duro, mas algo cuidadoso. Forte sim, mas sobretudo profundo ate o mais profundo dos sentidos, como diria Michel Serres. Porque s6 nesse momento, visto estritamente, pode se falar em contato, e apenas por meio do contato a alma entra em jogo. A alma que, como dizem, deve prefigurar sempre nos pantos de pressäo. Exatamente Ia onde ocorre o contato, o toque. Em meio a essa mistura estranha que s6 pode ser sentida no momento em que a imagina~äo trabalha no modo tatil e atraves disso se transforma numa sensa~äo fina, pr6pria do sentido do tato/ Quando esse e o caso, entäo havera menos quedas, 8 porque alma e corpo näo mais estäo separados, e as mäos e os pes se transformam em sensores.lsso tambem foi mostrado poressas imagens. Elas nos apresentaram o quanto temos que nos acomodar ao que e dado, ao que e presente e quäo estreita pode ficar a situa~äo quando a gente se movimenta, por exemplo, embaixo de um teto que sobressai alguns metras do paredäo, por isso e chamado"o nariz': Neste ponto, näo ha imagina~äo que ajude, que se afaste do concreto, mas aqui a unica coisa que ajuda e o saber interiorizado sobre a irrenunciabilidade do contato que sempre e constitufdo por ambos os lados: pedra e pele. Esse entäo e o local onde a alma pula de um lado para outro como uma bola, e a gente atraves da fina rede do toque consegue atravessar a selva dos pantos de contato. t claro que isso requer paciencia, aten~äo, assim como a capacidade delidar com elevadas intensidades. Porque a fuga aqui esta praticamente impossibilitada, e disso decorre uma segunda tese que reza: a for~a descendente interiorizada no corpo passa atraves da pele pelo modo do tato e apenas por meio disso essa for~a se transforma numa imagina~äo fina como condi~äo sine qua non para que possamos ter representa~öes do concreto para transforma-las em sensa~öes do inconcreto. Os n6s ou intensidades säo tambem zonas neutras e silenciosas que criam passagens. Assim, estabelecer e possibilitar o contato no sentido mais pleno da palavra. VI Livrar-se das amarras Quais sensa~öes correspo pergunta e mais do que justi relaxamento para näo assustar perder o controle.9 lsso corresp1 diario oito horas por dia, porqu referencia ao magico contorcio de chave da parede, e näo por equilfbrio. Faz parte, alem da f< pr6prio, tambem uma atmosfE 200m da alta fenda . Nessa noiti esse segmento em estilo Iivre e estava fresco, foi dada a largad< "Brooke me levou e exatamente a com~ nos ultimos dias. I 9 Cf. Hiii/Greg, 2002. 10 A ideia dessa designa~äo provem do parc chave, mas a chamou de base: "De uma tor p.272). Houdini o pseudönimo artfstico de I sua famflia; aos 17 anos iniciou sua carreira cc Jean Eugene Robert-Houdin, mudou seu not ficou conhecido especialmente pelo desaco americana com o sentido de'escapar' (to hou e 7 Cf. Serres, 1998. 8 Cf. Peskoller, 2009. 106 Helga Peskoller 1de para o poder de imagina~äo :cisa ser reduzida e retrabalhada. :la imagina~äo de ascender, ou os pes se espraiam e enquanto ;te em que o aspecto visual da Retornemos ao come~o para vermos quais movimentos reais deveriam ter sido preparados de forma imaginaria. Sabendo disso, retornaremos ao infcio, para Ia embaixo, onde Lynn Hili em chäo firme descreve um percurso do movimento com os a a bra~os, gra~as imagina~äo e mem6ria. Tal movimento, um pouco mais tarde, foi efetivamente executado Ia em cima e com exito. 1tir e de apalpar. E alguma coisa o caso dessas imagens tateis, a Porque no aspecto tatil näo ha 3r o que temos em nossa frente, brutal, violento, duro, mas algo o mais profunde dos sentidos, visto estritamente, pode se falar 1tra em jogo. A alma que, como äo. Exatamente Ia onde ocorre 1a que s6 pode ser sentida no til e atraves disso se transforma das, 8 porque alma e corpo näo m em sensores.lsso tambem foi 1uanto temos que nos acomodar ficar a situa~äo quando a gente ue sobressai alguns metros do ) ha imagina~äo que ajude, que ja e 0 saber interiorizado sobre Jfdo por ambos os lados: pedra 1do para outro como uma bola, ravessar a selva dos pontos de ;im como a capacidade de lidar praticamente impossibilitada, descendente interiorizada no Vfdeo 4: Houdini, cämera lenta Livrar-se das amarras Quais sensa~öes correspondem a esse paredäo, voce pode se perguntar, e essa pergunta e mais do que justificada. Lyn Hili afirma que durante meses treinou o relaxamento para näo assustar-se diante de coisas imprevisfveis e cair em pänico ou perder o controle. 9 lsso corresponde a correr, fazer ginastica, escalar como treinamento diario oito horas por dia, porque ela sabia que esta passagem, que tem esse nome em referencia ao magico contorcionista Harry Houdini, 10 deveria ser vencida por um poder de chave da parede, e näo por um ato de for~a, possfvel somente se fosse criado um equilfbrio. Faz parte, alem da forma da rocha, sua estrutura, a dificuldade e um saber pr6prio, tambem uma atmosfera. Tambem por isso se acampou na faixa abaixo de 200m da alta fenda. Nessa noite ela sonhou, assim escreve Hili, que conseguia superar esse segmento em estilo Iivre e, ao amanhecer, quando despertou descansada e o dia estava fresco, foi dada a largada. "Brooke me levou em seguran~a e me pus a caminho sabendo que teria de fazer exatamente a complicada sequencia de movimentos, tal qual a tinha imaginado ias por meio disso essa for~a se qua non para que possamos ter msa~öes do inconcreto. Os n6s as que criam passagens. Assim, ~no da palavra. nos ultimos dias. Para Changing Corners, eu tinha elaborado uma manobra 9 Cf. Hiii!Greg, 2002. 10 A ideia dessa designa~äo provem do parceiro de escalada de Hili, Brooke Sandahl, que näo consegulu Iranspor a posi~äo chave, mas a chamou de base: "Oe uma torcedura como essa somente Houdlnl consegulrla se llbertar" (Hiii/Child, 2002, p.272). Houdini o pseudönimo artistico de Erik Weisz, nascido em 1874 na Hungria e com 4 anos emigrou para os EUA com sua famflia; aos 17 anos iniciou sua carreira como magico e desacorrentador. Em homenagem ao seu ldolo, o maglco frances Jean Eugene Robert-Houdin, mudou seu nome para Houdini. Rivalizou com faquires de extraordinario domlnio corporal e ficou conhecido especialmente pelo desacorrentamento subaquatico. Seu nome fol lncorporado llngua inglesa norteamericana com o sentido de 'escapar' (to houdinize). e a 107 Equilfbrio Precario no Exemplo de Lynn Hili sutil com uma torcedura que tinha o efeito de um truque de magia. Com uma Conclusäo sequencia cuidadosamente planejada de pressäo e contrapressäo entre pes, mäos e quadris contra a parede da fenda, girei meu corpo em 180 graus:'1, Ela executou o que tinha imaginado, obedecendo ao timing, o ritmo e a sequencia na distribuit;äo do peso por meio da pressäo e contrapressäo. Nem de mais nem de menos. Depende do equilfbrio apenas para aquele momento e tambem apenas na consciencia adaptar-se a um desfgnio resistente. Pois o equilfbrio se comporta como a razäo: ambos säo a excet;äo e näo a regra. 12 Ao equilfbrio e menos pr6pria a estabilidade que a dilacerat;äo, e ele remete a uma constituit;äo geral do humano. 13 Por desacorrentamento quer-se dizer uma dupla torcedura- corporal e mental para a libertat;äo das imaginat;öes sobre o corpo em favor de umsaber corporal sentido que, mesmo em situat;öes sem safda, encontra uma possibilidade de se mover. "Changing Corners" foi um exemplo de lida competente com o Iimite em um estado de fort;as resistentes: por um lado se requer um grande desejo de se deixar envolver com a dura vida dessa parede rochosa; por outro, esse desejo tem que ser modelado e colocado em uma forma efetiva para que ele näo se projete para alem da meta e arrebate para decisöes que potencializem o potencial de perigo. De maneira semelhante, istovale para as emot;öes: por um lado, elas se movem e se Se o recurso da antropolc da tentativa de tornar o munc funcionaria apenas porque coc precario foi escolhida. Se pen refletirmos a respeito dela e : movimentos Ientos quase arr; com isso tudo, entäo pode-se c relat;äo entre emot;äo e imagin ja falamos, quando nos referim< comunicativa: em resposta aos e transformador: no qual estc 'escult6rico, performative e pro A atividade da escalada e u mostrode maneira variada, com cafmos näo sem encantamento. numa entrega aos objetos exten t uma natureza distinta de n6s, < reviram violentamente grat;as a sua pr6pria intermitencia, por isso tem de ser abrandadas em um nfvel medio, o que e permitido somente com dificuldade por causa do medo; 14 por outro lado, e novamente o medo que näo ilude e por isso assegura os golpes extremes e Nesse caso, defrontam-se d näo somos, e no ponto de conta do sujeito como inscrit;äo e de! a rapida mutat;äo das emot;öes, em geral aquilo que atrai e seduz nas paredes da rocha. contra ela a sua ruptura, mas t; movendo-se contra o abismo. A Por um lado, e necessario uma fort;a treinada de imaginar-se para poder se organizar de forma segura num paredäo desses e, nessa fort;a de imaginat;äo interna, para cria-la säo necessarios investimentos Iongase profundes; por outro lado, ao mais tardar na realizat;äo real do movimento, toda a imaginat;äo perde-se e, se esse for o caso, fracassa o movimento, e ela mesma se transforma em perigo. Livrar-se das amarras näo significa se tornar seivagem e perder o controle sobre si mesmo, mas a capacidade corporificada de exercer o paradoxe na forma de um equilfbrio sem detent;äo e sem queda. 11 Hiii/Greg, 2002, p.272. 12 Cf. Serres, 1994. 13 0 tftulo dessa comunica~äo se deve a uma cita~äo de Bataille feita por Rita Bischof. Por isso, reproduzo·a aqui novamente: "A defini~äo de humano näo designa em sua opiniäo algo simpes e unitario, tal como o quer uma epoca ingenuamente racionallsta, mas sim algo fragil, um equillbrio precario quese pode dissolver em dilacera~äo" (1984, p. 13). A dilacerac;äo fundamental do humano näo e apenas constatada mas tambem fundamentada, e sua consequencia e avaliada. Diz o pr6prio Bataille: "0 mundo humano e por tim apenas uma replica de transgressäo e proibi~äo, de maneira que a palavra 'humand designa o tempo todo um sistema de movimentos contradit6rios que uns neutralizam uma violencia que näo podem nunca desligar totalmente, e os outrosa libertam, mas com a certeza de um transcorrer pacifico quese seguira" (1978, p.S4). 14 Cf. Peskoller, 2001, p. 152ss. 108 corpo e, e numa situat;äo de umc fronteira, näo como fim, mas con que mantem as coisas juntas e a o gesto de se segurar torna-se cc corta nada, mas mantem o pon a seguinte: sem a fronteira näo I travessia nao ha fronteiras.17 Par fim, coloca-se a quest autocompreensäo de uma cien' dizer 'te6ricos' significativos de Comparada com os grandes pr< fenömeno singular insignifican 15 Cf. et al. Kamper, 1986. 16 Cf. Böhme, 2002. 17 Cf. em varia~äo e desvio de Kamper, 1998, 1 18 Cf. Bourdieu/Wacquant, 1996, p.254. Helga Peskoller , de um truque de magia. Com uma Conclusäo pressäo e contrapressäo entre pes, Se o recurso da antropologia hist6rica e o paradoxe como resultado involuntario rei meu corpo em 180 graus:' 11 o ao timing, o ritmo e a sequencia rapressäo. Nem de mais nem de momento e tambem apenas na o equilfbrio se comporta como a ·io e menos pr6pria a estabilidade :ral do humano.13 1 torcedura- corporal e mental 1vor de umsaber corporal sentido ossibilidade de se mover. 1mpetente com o Iimite em um um grande desejo de se deixar ' outro, esse desejo tem que ser ? ele näo se projete para alem da )tencial de perigo. ;: por um lado, elas se movem e se ia, por isso tem de ser abrandadas 1culdade porcausa do medo; 14 por so assegura os golpes extremos e rai e seduz nas paredes da rocha. de imaginar-se para poder se ssa forc;a de imaginac;äo interna, ofundos; por outro lado, ao mais tinac;äo perde-se e, se esse for o 1a em perigo. ·agem e perder o controle sobre er o paradoxe na forma de um da tentativa de tornar o mundo univoco, 15 a escalada seria uma tecnica cultural que funcionaria apenas porque coopera com o paradoxo. Portanto, a imagem do equilfbrio precario foi escolhida. Se pensarmos na escalada como uma atividade humana, se retletirmos a respeito dela e se nos referirmos simultaneamente imagem desses movimentos Ientos quase arrastados, alcanc;amos o conhecimento que ganhamos com isso tudo, entäo pode-se demonstrar pelo menos tres potenciais quese referem a a relac;äo entre emoc;äo e imaginacäo: primeiro, a estrutura paradoxal a respeito da qua I ja falamos, quando nos referimos ao tema de libertar-se de amarras; depois a 'dimensäo comunicativa; em resposta aos comentarios sobre o tema 'coisa'; o aspecto 'dinamico e transformador; no qual estava baseada a sec;äo 'sensores'; e, finalmente, o lado 'escult6rico, performative e produtivo; que veio na sequencia de nossa investigac;äo. A atividade da escalada e um pouco ex6tica, por isso mostro esses exemplos - e os mostrode maneira variada, como uma representac;äo pontual de fuga do carcere no qua I caimos näo sem encantamento. E essa saida consiste, por um lado, em uma conversäo, numa entrega aos objetos externes, e para isso o paredäo serve como um belo exemplo. t uma natureza distinta de n6s, o que enfatiza o desafio a nossa pr6pria natureza.16 Nesse caso, defrontam-se duas naturezas: uma, aquela que n6s somos, e outra que näo somos, e no ponto de contato entre ambos se escreve e se desenha uma topografia do sujeito como inscric;äo e descric;äo do individuo subjugado, que sabe da queixa e contra ela a sua ruptura, mas tambem para que o real seja visto como o impossivel, movendo-se contra o abismo. Ao permitir o desejo de flutuar junto com o peso que o corpo e, e numa situac;äo de uma rebeliäo contida . Exatamente isso seria um Iimite, uma fronteira, näo como fim, mas como meio. Um centro que näo divide, que näo corta, mas que mantem as coisas juntas e ao mesmo tempo separadas. Trata-se do apoio, quando o gesto de se segurar torna-se cada vez mais provavel. E como tal ele näo separa e näo corta nada, mas mantem o ponto de ruptura, um e outro que divergem. A f6rmula e a seguinte: sem a fronteira näo ha o equi librio, sem equilibrio nao ha travessia, e sem travessia nao ha fronteiras. 17 Por fim, coloca-se a questäo do peso desse exemplo, que tem como meta a autocompreensäo de uma ciencia do individual que investiga problemas por assim dizer 'te6ricos' significativos de objetos empiricos aparentemente insignificantes. 18 Bischof. Per isso, reproduzo-a aqui novamente: ,, tal como o quer uma epoca ingenuamente ~r em dilacera~äo" (1984, p. 13). A diiacera~äo Ia, e sua consequencia avaliada . Dizo pr6prio p roibi~äo, de maneira que a paiavra 'humane' 1tralizam uma vioiencia que näo podem nunca rrer pacifico quese seguira• (1978, p.S4). Comparada com os grandes problemas sociais, o escalar montanhas representa um fenömeno singular insignificante e, contudo ou justamente por isso, ele oferece e 15 16 17 18 Cf. et al. Kamper, 1986. Cf. Böhme, 2002. Cf. em varia~äo e desvio de Kamper, 1998, especi alm ente, p. 12ss. Cf. Bourdieu/Wacquant, 1996, p.254. 109 Equilfbrio Precario no Exemplo de Lynn Hili de maneira especial uma visäo sobre o comportamento humano que muitas vezes PESKOLLER, Helga. Anatomie c e menosprezada. Assim, as praticas de seguran<;a e retirada da seguran<;a aplicadas em situa<;öes extremas permitem vislumbrar estrategias, procedimentos e tecnicas für Historische Anthropologie 1~ _ _ ___ . Der Sprung. ir pr6prias que, apesar dos obstaculos, do medo e da inseguran<;a, possibilitam o passo adiante para uma nova estabilidade passageira. Johannes Bilstein/Matthias W 218, 2005b. Escalar entretem e descreve uma rela<;äo com o irrelacional, como mostram as imagens. Se elas alcan<;am Ionge o suficiente ou se säo pouco extremas para oferecer dados confiaveis sobre a constitui<;äo dos indivfduos contemporäneos, näo se pode ainda responderde maneira unfvoca. Mas, se assim fosse, se encontraria näo mais apenas o corpo em situa<;äo de apuro, mas tambem a for<;a de imagina<;äo ancorada na estrutura material deste. Esta, que possibilita construir imagens, conseguiu demonstrar-se muito pouco plastica em face de tais ultimativas imagens e da rebeliäo dos sentimentos a elas associada. Se assim for, näo mais o real seria o impossfvel, mas a imagina<;äo. _ _ _ _ _ . Augenblicke ur Eiger-B.A.S.E. ln: Texturen von F A. Wolf. iup: lnnsbruck, p. 53-7€ _ _ _ _ _ . Außer Gewohr Lebenslagen. ln: Konglomerat, und Forschungsskizzen. Hgg. v' transcript: Bielefeld, p.199-218, RIZZOLATI, Giacomo; SINIGALLI Basis des Mitgefühls. Suhrkamp: No caso da escalada, näo ha alternativa diante desse gesto precario. A questäo RUNGGALDIER, lngrid ; THOMA e se a escalada tambem pode ser vista como uma metafora audaz para o nosso relacionamento individual e com o mundo hoje, a saber, se essa ideia vai demasiado Alpingeschichte. Video-Dokume SERRES, Michel. Die fünf Sinne. I Ionge ou eventualmente perto. Porque, para isso, hoje e preciso imagens mais extremas, FaM., 1998. menos providas de pontos de apoio. _ _ _ __ . Hermes V. Die No, Referencias BATAILLE, George. Die Souveränität. in: Ders.: Die psychologische Strukturdes Faschismus. Hgg. von Elisabeth Lenk mit einem Vorwort von Rita Bischof. Mathesund Seitz: München, 1978. BISCHOF, Rita. Souveränität und Subversion. Georges Batai/fes Theorie der Moderne. Matthes und Seitz: München, 1984. BOHME, Gernot Die Natur vor uns. Naturphilosophie in pragmatischer Hinsicht. Die Graue Edition: Zug. 2002. BOURDIEU, Pierre ; WACQUANT, Lok J. D. Reflexive Anthropologie. Suhrkamp: FaM, 1996. GEHLEN, Arnold. Urmensch und Spätkultur. Philosophische Ergebnisse und Aussagen. Athenäum: Bonn, 1956. HAHN, Alois. Emotion und Gedächtnis. ln: Paragrana. Internationale Zeitschrift für Historische Anthropologie 19, Heft 1, p.15-31, 2010. HILL, Lynn; CHILD, Greg. Climbing Free. Piper: München, 2002. KAMP ER, Dietmar. 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A questäo metafora audaz para o nosso er, se essa ideia vai demasiado preciso imagens mais extremas, _ _ _ _ . Augenblicke unmöglicher Freiheit. Eine Nachschreibung am Beispiel Eiger-B.A.S.E. ln: Texturen von Freiheit. Hgg. von Helga Peskoller/M ichaela Ralser/Maria A. Wolf. iup: lnnsbruck, p. 53-76, 2007. _ _ _ _ . Außer Gewohnheit. Subjektive Ent- und Absicherung in extremen Lebenslagen. ln: Konglomerationen. Produktion von Sicherheiten im Alltag. Theorien und Forschungsskizzen. Hgg. von Maria A. Wolf/ Bernhard Rathmayr/Helga Peskoller transcript: Bielefeld, p.199-218, 2009. RIZZOLATI, Giacomo; SINIGALLIA, Corrado. Empathie und Spiege/neurone. Die biologische Basis des Mitgefühls. Suhrkamp: FaM., 2008. RUNGGALDIER, lngrid; THOMASETH, Wolfgang. Frauen im Aufstieg - Streifzug durch die Alpingeschichte. Video-Dokumentation/RA!, 2001. SERRES, Michel. Die fünf Sinne. Eine Philosophie derGernenge und Gemische. Suhrkamp: FaM., 1998. _ _ _ __ . Hermes V. Die Nordwest-Passage. 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