ISSN 21774013 IDENTIFICAÇÃO DAS HABILIDADES

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ISSN 21774013 IDENTIFICAÇÃO DAS HABILIDADES
IDENTIFICAÇÃO DAS HABILIDADES COMUNICATIVAS E DE LINGUAGEM
DE ALUNOS SURDOS COM IMPLANTE COCLEAR
Ana Claudia Tenor
Secretaria Municipal de Educação de Botucatu-SP
Eixo Temático: Identificação, encaminhamento, diagnóstico e inclusão escolar
PALAVRAS- CHAVE: Habilidades. Comunicação. Aluno. Surdo.
Introdução
O desenvolvimento de linguagem de crianças surdas é um tema que vem sendo
debatido por pesquisadores. Com o advento da tecnologia assistiva, como o implante coclear
as discussões vêm avançando. Scaranello (2005) explicou que o implante coclear é uma
prótese eletrônica usada para promover a estimulação auditiva nos indivíduos com perda
neurossensorial profunda bilateral, que tem como finalidade melhorar a capacidade de
comunicação oral destes indivíduos.
A literatura destacou que um número significativo de pais que opta pelo
implante coclear deposita na cirurgia a última esperança de fazer o filho ouvir e falar.
Entretanto, essa tecnologia não assegura o desenvolvimento das habilidades auditivas e de
linguagem oral, pois isso depende de inúmeros fatores, tais como: a capacidade de
memória
auditiva, adequada
fonoaudiológica
precoce,
estimulação
no
ambiente
familiar,
intervenção
entre outros (SANTANA, 2005; YAMANAKA et al. 2010;
VALADAO et al. 2012).
Face ao exposto, os estudos evidenciaram a necessidade de expor a criança surda à
língua de sinais, além da reabilitação auditiva e oral (QUADROS; CRUZ; PIZZIO, 2012;
VALADAO et al. 2012; KELMAN, 2015; NASCIMENTO; LIMA, 2015 ).
No contexto educacional inclusivo, o conhecimento do professor a respeito da surdez
e das habilidades comunicativas do aluno surdo poderia facilitar na implementação de
recursos e estratégias para o ensino desse aluno (TENOR; DELIBERATO, 2005).
Sendo assim, a avaliação e identificação das habilidades comunicativas da
criança surda, poderia auxiliar os profissionais que trabalham com essa população, a
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compreender suas reais necessidades e habilidades de linguagem (BARBOSA; LICHTIG,
2014).
Atuo como fonoaudióloga da Secretaria Municipal de Educação de um município do
interior paulista, em um núcleo que oferece suporte para a inclusão de alunos com
deficiência e aos professores. Neste contexto, as escolas encaminham ao fonoaudiólogo os
alunos surdos com implante coclear para avaliação de linguagem, acompanhamento do
desenvolvimento e orientações ao professor.
O objetivo deste estudo foi identificar as habilidades comunicativas e de linguagem do
aluno surdo com implante coclear por meio da aplicação do Protocolo de Avaliação das
Habilidades Comunicativas e de Linguagem de Crianças Surdas Reduzido (Protocolo do
PIFFCS- reduzido).
Métodos
O estudo foi desenvolvido no ano de 2014, em um núcleo de atendimento de um
município de pequeno porte do interior paulista que oferece suporte para a inclusão de
alunos com deficiência no ensino regular.
Participaram do estudo cinco alunos surdos com implante coclear, na faixa etária de
sete a doze anos, que apresentavam tempo de uso do implante coclear variado, conforme é
descrito no Quadro 1.
Quadro 1- Caracterização dos alunos surdos com implante coclear
Aluno
Idade
Gê ne ro
A1
7 a 4m M
A2
8 a 2m F
A3
9a
M
A4
10 a 9m M
A5
12 a 5m F
Fonte: Próprio autor
Idade da Cirurugia IC Tempo de uso IC
1 a 11m
5a5m
4 a 11m
3 a 3m
3 a 1m
5 a 11m
6 a 3m
4 a 6m
7 a 11m
4 a 6m
Foi aplicado nesses alunos o Protocolo de Avaliação das Habilidades Comunicativas
e de Linguagem de Crianças Surdas Reduzido (Protocolo do PIFFCS- reduzido) adaptado
por Barbosa e Lichtig (2014).
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O PIFFCS reduzido é o desdobramento do protocol “Avaliação das Habilidades
Comunicativas e de Linguagem de Crianças Surdas” elaborado por Lichtig, Couto e Mecca
(2004), que foi dividido em três partes. Na primeira parte é avaliada a interação
entre examinador e
criança.
Na
segunda parte
identificam-se as modalidades de
comunicação usadas pela criança surda por meio de estímulos visuais específicos (história
em sequência e nomeação de figuras). Inicialmente o avaliador apresenta uma história em
sequência contendo cinco figuras e posteriormente mostra trinta figuras para nomeação.
Essas figuras contemplam campos semânticos diferentes, retiradas do Teste de Vocabulário
do ABFW (BEFI- LOPES, 2000). Na terceira parte é avaliada a complexidade
linguística, segundo as fases de desenvolvimento de linguagem descritas por Quadros
(1997): período pré-linguístico, estágio de um sinal, estágio das primeiras combinações e
estágio das múltiplas combinações.
Conforme sugestão de Barbosa e Lichtig (2014) utilizou-se neste estudo o vídeo
para filmagem das situações de avaliação e posterior análise dos dados.
Resultados e Discussões
O quadro 2 mostra a análise das habilidades comunicativas e de linguagem dos
alunos surdos.
Quadro 2- Habilidades Comunicativas e de Linguagem de Alunos Surdos com Implante
Coclear
Aspe ctos Avaliados
Intenções Comunicativas
Respostas para a
comunicação
Aluno 1
Modalidade Oral
Auditiva
Modalidade Oral
Auditiva
Aluno 2
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Aluno 3
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Aluno 4
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Aluno 5
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Interação e Conversação
Ocorrência de Código
Estruturado
Modalidade Oral
Auditiva
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Comunicação história em
sequência
Bimodal
Modalidade Viso
Espacial
Bimodal
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Nomeação
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Modalidade Viso
Espacial
Complexidade Linguísitca
Pré Linguístico LO e 1ªs Pré Linguístico LO e Pré Linguístico LO e
palavras LS
1ªs palavras LS
1ªs combinações LS
Pré Linguístico LO
e 1ªs palavras LS
1ªs palavras LS
Fonte: Próprio autor
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Cabe explicar que Barbosa e Lichtig (2014) adotaram três categorias para classificar
as modalidades de comunicação: modalidade viso espacial, modalidade oral auditiva e
bimodal. A modalidade viso espacial refere-se ao uso da Língua de Sinais e gestos. A
modalidade oral auditiva diz respeito ao uso de língua oral e vocalização. A bimodalidade é
a ocorrência de mais de uma modalidade em um mesmo evento (modalidade associada), tais
como, o uso da Língua de Sinais, gestos, língua oral e vocalização.
É possível perceber que o aluno 1 apresentou durante a avaliação do perfil pragmático
(intenções comunicativas, respostas para a comunicação, interação e conversação) o
predomínio do uso da modalidade de comunicação oral auditiva. Os alunos 2, 3, 4 e 5
apresentaram o predomínio do uso da modalidade viso espacial durante a avaliação do perfil
pragmático.
Em situações de avaliação da comunicação por meio de estímulos visuais específicos
(história em sequência e nomeação de figuras) os alunos 1 e 3 fizeram uso da comunicação
bimodal, já os alunos 2, 4 e 5 usaram a comunicação viso espacial.
As crianças avaliadas neste estudo apresentaram código estruturado (língua) em
situações que fizeram uso da modalidade viso espacial (Língua de Sinais), o que
parece indicar que o acesso a essa língua é mais fácil ao grupo estudado. Apesar do aluno 1
fazer uso da modalidade oral auditiva nas situações de intenções comunicativas, respostas
para a comunicação, interação e conversação com o avaliador, essa modalidade
comunicativa ocorreu de forma predominante por meio do uso de vocalizações.
Observou-se que os alunos 1,2 e 4 encontravam-se no período pré- linguístico
do desenvolvimento da língua oral e estágio das primeiras palavras em Língua de Sinais. O
aluno 3 encontrava-se no estágio pré- linguístico da língua oral e estágio das primeiras
combinações em Língua de Sinais. Já o aluno 5 estava no estágio das primeiras palavras em
Língua de Sinais.
Conclusões
A análise dos dados revelou que os alunos surdos apresentavam habilidades e
especificidades linguísticas variadas. O conhecimento das especificidades linguísticas dos
alunos surdos por parte dos professores poderá auxiliá-los no planejamento de recursos e
estratégias de ensino a esses alunos. Foi possível evidenciar também que os alunos surdos
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apesar de fazerem uso do implante coclear não apresentavam o domínio da língua oral e
encontravam-se na fase inicial de desenvolvimento da Língua de Sinais. Os resultados
sugeriram que o ensino da Língua de Sinais no contexto educacional possibilitaria maior
acesso a comunicação dessas crianças, sendo importante discutir junto aos educadores a
necessidade de um projeto educacional bilíngue direcionado a essa população.
Referências
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de crianças surdas. Revista Estudo de Linguagem, Belo Horizonte, v. 22, n. 1, p. 95-118,
2014.
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SCARANELLO, C.A. Reabilitação auditiva pós implante coclear. Medicina , Ribeirão
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