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GEOQUÍMICA DOS SEDIMENTOS ASSOCIADOS AOS MINÉRIOS DE FERRO DA REGIÃO LESTE-SUDESTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG E SEU POTENCIAL PARA ADSORÇÃO E DESSORÇÃO DE METAIS TRAÇO Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Reitor João Luiz Martins Vice-Reitor Antenor Barbosa Júnior Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Tanus Jorge Nagen ESCOLA DE MINAS Diretor Antônio Gomes de Araújo Vice-Diretor Marco Túlio Ribeiro Evangelista DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA Chefe César Augusto Chicarino Varajão ii Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA . VOL. 13 iii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p TESE DE DOUTORAMENTO Nº 021 GEOQUÍMICA DOS SEDIMENTOS ASSOCIADOS AOS MINÉRIOS DE FERRO DA REGIÃO LESTE-SUDESTE DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG E SEU POTENCIAL PARA ADSORÇÃO E DESSORÇÃO DE METAIS TRAÇO Márcio Silva Basílio Orientador Hubert Mathias Peter Roeser Co-orientador Kurt Friese Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito parcial à obtenção do Título de Doutor em Ciências Naturais, Área de Concentração: Geologia Ambiental e Conservação de Recursos Naturais OURO PRETO 2005 iv Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... v Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Universidade Federal de Ouro Preto - http://www.ufop.br Escola de Minas - http://www.em.ufop.br Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais Campus Morro do Cruzeiro s/no - Bauxita 35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 - e-mail: [email protected] Direitos de tradução e reprodução reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada ou reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos ou utilizada sem a observância das normas de direito autoral. ISSN 85-230-0108-6 Depósito Legal na Biblioteca Nacional Edição 1ª B312g Márcio Silva Basílio. Geoquímica dos sedimentos associados aos minérios de ferro da região leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero, MG e seu potencial para adsorção e dessorção de metais traço [manuscrito]. / Márcio Silva Basílio – 2005. xxviii, 202f.: il. Color., grafs., tabs., fotos. – (Contribuições às Ciências da Terra. Série D; v.13) ISSN: 85-230-0108-6 Orientador: Prof. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser. Co-Orientadores: Prof. Dr. Kurt Friese Área de concentração: Geoquímica Ambiental. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Geologia. Programa de pós-graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. 1.Geoquímica Ambiental - Teses. 2.Minérios de ferro - Teses. 3.Sedimentos - Teses. Quadrilátero Ferrífero (MG). 3. Adsorção - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Geologia. Programa de pós-graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. II. Título. CDU: 551(815.1) Catalogação: [email protected] vi Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Dedico este trabalho à Luciana por tudo que passamos juntos e aos meus pais por terem me dado todas as condições de chegar até aqui Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. Paulo Freire vii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p viii Agradecimentos Agradeço em especial ao meu orientador Prof. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser e ao meu coorientador Dr. Kurt Friese pela orientação e todo o tipo de suporte ao longo desta jornada. Aos professores e amigos Hermínio Arias Nalini Júnior e Jorge Carvalho de Lena pelas discussões, orientações, correções, sugestões e, acima de tudo, pela amizade, companheirismo e incentivo, sem os quais este trabalho dificilmente teria saído da introdução. À Lu, que vibrou e sofreu junto comigo a cada página escrita nesta tese, aos meus pais, Silas e Nancy, pelo apoio desde a pré-escola, ao Ruy e Maria de Lourdes pelo apoio e incentivo constantes. À Cláudia Guedes pela inestimável ajuda com as isotermas, ao Miltinho pela ajuda inicial com os mapas de isovalores e à Helena Palmiere pelas análises de mercúrio no CDTN. Aos órgãos financiadores deste projeto: CNPq (projeto n° 910018), International Bureau of the Federal Ministry for Education and Research (BMBF) da Alemanha (WTZ Proj. n° BRA 99/043 ENV), CAPES (projeto n° 162/03), DAAD (Projeto n° 415-br-probral/ale-02/21604). À Cia. Vale do Rio Doce (Mina de Timbopeba) na pessoa do Geólogo Ricardo Augusto Custódio Souza pelo consentimento e suporte nos trabalhos de campo. Aos colegas do LGqA: Luciana Vetel, Adriana, Adivane, Camila (Tixa), Érica, Sabine, Emerson (Mofo), Leonardo, Patrícia, Margarete, Celso e Wandir, por todas as análises, discussões, sugestões, críticas, cafés, ajuda nos trabalhos de campo e apoio naquelas horas em que a coisa fica pesada. Um obrigado especial para a dupla Janice e Aline Kelly pelo envolvimento de corpo e alma nas várias etapas deste trabalho, pessoas com quem pude contar sempre, a cada dúvida, a cada “travada”. Ao Prof. Dr. Herbert Pöllmann pelas análises mineralógicas na Martin-Luther-University of HalleWittenberg, à Christina Hoffmeister pelas análises de ICP-MS e à Renate Götzke pela ajuda na execução das extrações seqüenciais. À Corinna Völkner e à Margarete Mages pelo irrestrito acesso e assistência nos laboratórios do UFZ - Centre for Environmental Research Leipzig-Halle, Magdeburg. Um agradecimento especial aos grandes amigos e incentivadores: Bárbara Witter e Paul Friese, Burkhard e Kerstin Khuen, René e Kirsten Froemmichen por todo o apoio nas coletas, metodologias e análises no Brasil e pela inestimável ajuda e companheirismo além do esperado na Alemanha. Aos colegas do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais pelo apoio durante estes anos de afastamento. Ao Milton, Caetano, Gil, U2, Norah, Uakti, Pink Floyd, Tavinho, Joss, Zeca, Gal, Sinead, Dido, Avril, Cranberries, Maria Rita, Radiohead, Alanis, Seal, Evanescence, Titãs, Sting, Marco Antônio Araújo, Coldpaly, Toninho Horta, Legião... sem vocês escrever esta tese teria sido muito mais difícil! Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p x Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... SUMÁRIO AGRADECIMENTOS................................................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... xv LISTA DE TABELAS................................................................................................................... xx LISTA DE PRANCHAS ............................................................................................................. xxiii LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................... xxiv RESUMO ..................................................................................................................................... xxv ABSTRACT ............................................................................................................................... xxvii CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................ 01 1.1- Considerações Gerais ..................................................................................................... 01 1.2- Objetivos ........................................................................................................................ 03 1.3- Localização da Área de Estudo ...................................................................................... 05 CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA....................................................................................................... 09 2.1- História........................................................................................................................... 09 2.2- Tipos de Depósitos de Ferro .......................................................................................... 10 2.2.1- Depósitos Sedimentares Acamadados............................................................... 11 2.2.2- Depósitos Formados por Atividades Ígneas ...................................................... 12 2.2.3- Depósitos Formados por Soluções Hidrotermais .............................................. 12 2.2.4- Depósitos Resultantes de Alterações e Acúmulo em Superfície....................... 12 2.3- O Quadrilátero Ferrífero ................................................................................................ 12 2.4- As Formações Ferríferas Bandadas no Quadrilátero Ferrífero ...................................... 15 2.5 - Descrição das Minas Amostradas ................................................................................. 17 2.5.1 - Minério de Ferro de Capanema ........................................................................ 17 2.5.2 - Minério de Ferro de Timbopeba....................................................................... 18 2.5.3 - Minério de Ferro do Complexo Alegria ........................................................... 19 CAPÍTULO 3 – GEOQUÍMICA DO FERRO ........................................................................... 21 3.1- Introdução ...................................................................................................................... 21 3.2- Ciclo Geoquímico do Ferro............................................................................................ 23 3.3- Processos de Adsorção de Metais Traço nos Óxidos De Ferro...................................... 27 3.3.1 – Importância ...................................................................................................... 27 3.3.2 - Química de Coordenação da Interface Óxido-Água......................................... 27 xi Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 3.3.3 - Adsorção de Ânions ......................................................................................... 31 3.3.4 - Adsorção de Cátions......................................................................................... 32 3.3.5 - Adsorção Ternária ............................................................................................ 33 3.4- Isotermas de Adsorção de Óxidos de Ferro ................................................................... 33 3.4.1- Classificação das Isotermas............................................................................... 34 3.4.2- A Isoterma de Langmuir.................................................................................... 36 3.4.3- A Isoterma de Freundlich .................................................................................. 37 3.5- Modelos de Complexação Superficial.............................................................................. 39 CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 41 4.1-Introdução ....................................................................................................................... 41 4.2- Amostragem de Minérios............................................................................................... 42 4.3- Amostragem de Sedimentos........................................................................................... 43 4.4- Amostragem de Água..................................................................................................... 44 4.5- Digestão Parcial das Amostras de Sedimento e Minério ............................................... 45 4.6- Fracionamento................................................................................................................ 46 4.7- Isotermas de Adsorção ................................................................................................... 47 4.8- Determinação da Concentração Inicial para os Experimentos de Interferência Competitiva (Coint)......................................................................................................... 48 4.9- Interferência Competitiva............................................................................................... 48 4.10- Extração dos Sedimentos Após a Adsorção................................................................. 49 CAPÍTULO 5 – GEOQUÍMICA DOS MINÉRIOS, SEDIMENTOS E ÁGUA...................... 57 5.1- Introdução ...................................................................................................................... 57 5.2- Composição Geoquímica dos Minérios de Ferro ........................................................... 58 5.2.1- Caracterização dos Minérios ............................................................................. 59 5.3- Composição Geoquímica dos Sedimentos ..................................................................... 63 5.4- Relação entre os Metais Traço dos Minérios e dos Sedimentos .................................... 70 5.5- Valores Guia de Qualidade de Sedimentos (VGQS) ..................................................... 71 5.5.1- Intervalo de Efeito Baixo (ERL) e Intervalo de Efeito Médio (ERM) .............. 74 5.5.2- Nível Limiar de Efeito (TEL) e Nível de Provável Efeito (PEL)...................... 74 5.5.3- Concentração de Efeito Limiar (TEC) e Concentração de Efeito Provável (PEC)....................................................................................... 75 5.6- Avaliação da Qualidade dos Sedimentos nas Barragens de Timbopeba e Natividade... 75 5.6.1- Comparação entre os Teores de Metais nos Sedimentos e os VGQS ............... 75 5.6.2- O Quociente Médio de Contaminação (QMC).................................................. 86 xii Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 5.6.3- QMC para os Sedimentos das Barragens de Timbopeba e Natividade ............. 88 5.7 - Composição Geoquímica das Águas de Natividade e Timbopeba................................ 90 CAPÍTULO 6 – CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DOS SEDIMENTOS............................... 99 6.1- Introdução ...................................................................................................................... 99 6.2- Fracionamento............................................................................................................... 101 6.3- Isotermas de Adsorção .................................................................................................. 109 6.3.1- Isotermas Não Competitivas ............................................................................ 110 6.3.2- Isotermas Competitivas .................................................................................... 134 6.3.3- Comparação entre as Isotermas Não Competitivas e as Isotermas Competitivas.................................................................................... 155 6.3.4- Afinidade dos Elementos para com os Sedimentos.......................................... 161 6.4- Interferência Competitiva.............................................................................................. 163 6.5- Fracionamento dos Sedimentos após Adsorção ............................................................ 171 CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES ................................................................................................ 175 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 179 ANEXOS ....................................................................................................................................... 190 Anexo I – Determinação das concentrações iniciais para as soluções usadas nos experimentos de adsorção competitiva ............................................. 191 Anexo II – Tabelas das concentrações das isotermas, experimentos de interferência competitiva e fracionamento das adsorções ................................. 195 FICHA DA APROVAÇÃO xiii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p xiv Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Localização das minas e barragens estudadas .............................................................. 06 Figura 1.2 – Mapa esquemático da distribuição das benfeitorias na Mina de Timbopeba ............... 07 Figura 2.1 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero............................................................ 14 Figura 3.1 – Óxidos de ferro no sistema global ................................................................................ 21 Figura 3.2 – Ciclo do Ferro na interface dos ambientes redutor/oxidante em um meio lacustre ...... 25 Figura 3.3 – Diagrama de Eh-pH do Fe ............................................................................................ 25 Figura 3.4 – Representação esquemática do ciclo dos metais traço em ambiente lacustre............... 26 Figura 3.5 – Representação esquemática de uma seção da camada superficial de um óxido de ferro................................................................................... 28 Figura 3.6 – Arranjos estruturais em complexos superficiais em um óxido ..................................... 29 Figura 3.7 – Tipos de complexos de superfície possíveis nos óxidos de ferro ................................. 30 Figura 3.8 – Classificação geral das isotermas ................................................................................. 35 Figura 3.9 – Representação esquemática da isoterma de Langmuir ................................................. 36 Figura 3.10 – Representação esquemática da isoterma de Freundlich.............................................. 37 Figura 4.1 – Malha de amostragem para água e sedimentos na barragem de Timbopeba .................. 43 Figura 4.2 – Malha de amostragem para água e sedimentos na barragem de Natividade................. 44 Figura 5.1 – Comparação entre os teores de metais traço obtidos nos minérios e os valores estabelecidos por Davy (1983) e Müller & Roeser (1991).......................................... 61 Figura 5.2 – Distribuição por freqüência dos teores de metais nos sedimentos da barragem de Timbopeba ............................................................................................................... 64 Figura 5.3 – Distribuição por freqüência dos teores de metais nos sedimentos da barragem de Natividade............................................................................................................... 64 Figura 5.4 – Mapa de isoteores de Ferro nas barragens de Timbopeba e Natividade ....................... 65 Figura 5.5 – Mapas de isoteores para As, Cd, Cr e Cu nos sedimentos da Barragem de Timbopeba ............................................................................................. 66 Figura 5.6 – Mapas de isoteores para Pb, Ni, Zn e Co nos sedimentos da Barragem de Timbopeba ............................................................................................. 67 Figura 5.7 – Mapas de isoteores para As, Cd, Cr e Cu nos sedimentos da Barragem de Natividade .............................................................................................. 68 Figura 5.8 – Mapas de isoteores para Pb, Ni, Zn e Co nos sedimentos da Barragem de Natividade .............................................................................................. 69 Figura 5.9 – Comparação entre os teores médios de metais nos minérios e nos sedimentos............ 71 Figura 5.10 – Exemplo conceitual dos intervalos de efeitos para contaminantes associados a sedimentos ................................................................................................................... 72 xv Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Figura 5.11 – Comparação dos teores máximo, médio e mínimo de Ni, Zn, Pb, Cu, Cr, Cd e As nos sedimentos das Barragens de Timbopeba e Natividade, comparados os VGQS TEL/PEL, ERL/ERM e TEC/PEC.......................................... 77 Figura 5.12 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Timbopeba tendo como referência os valores-guia de TEL e PEL ................................................ 79 Figura 5.13 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Timbopeba tendo como referência os valores-guia ERL e ERM ................................................... 80 Figura 5.14 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Timbopeba tendo como referência os valores-guia TEC e PEC .................................................... 81 Figura 5.15 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Natividade tendo como referência os valores-guia de TEL e PEL ................................................ 83 Figura 5.16 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Natividade tendo como referência os valores-guia ERL e ERM ................................................... 84 Figura 5.17 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da Barragem de Natividade tendo como referência os valores-guia TEC e PEC .................................................... 85 Figura 5.18 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos T-1, T-14 e T-23 da barragem de Timbopeba ........................................... 91 Figura 5.19 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos N-6, N-17 e N-24 da barragem de Natividade período chuvoso............... 92 Figura 5.20 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos N-10 e N-20 da barragem de Natividade, no período de seca................... 93 Figura 6-1 – Extrações multiplas da Etapa 2 do procedimento de extração Seqüencial BCR ......... 102 Figura 6.2 – Distribuição dos teores de As nas fases dos sedimentos.............................................. 105 Figura 6.3 – Distribuição dos teores de Cr nas fases dos sedimentos .............................................. 105 Figura 6.4 – Distribuição dos teores de Cu nas fases dos sedimentos ............................................. 106 Figura 6.5 – Distribuição dos teores de Ni nas fases dos sedimentos .............................................. 106 Figura 6.6 – Distribuição dos teores de Pb nas fases dos sedimentos.............................................. 107 Figura 6.7 – Distribuição dos teores de Zn nas fases dos sedimentos.............................................. 107 Figura 6.8 – Distribuição dos teores de Co nas fases dos sedimentos ............................................. 108 Figura 6.9 – Isoterma de adsorção de As no sedimento T-4 ............................................................ 110 Figura 6.10 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento T-4 .......................... 111 Figura 6.11 – Isoterma de adsorção da As no sedimento T-23 ........................................................ 112 Figura 6.12 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento T-23 ........................ 112 Figura 6.13 – Isoterma de adsorção da As no sedimento N-19........................................................ 113 Figura 6.14 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento N-19 ........................ 113 Figura 6.15 – Isoterma de adsorção de As no sedimento N-31........................................................ 113 Figura 6.16 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento N-31 ........................ 114 Figura 6.17 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de As nos sedimentos............ 115 xvi Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Figura 6.18 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento T-4 .......................................................... 116 Figura 6.19 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento T-4 ............................ 117 Figura 6.20 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento T-23......................................................... 117 Figura 6.21 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento T-23 .......................... 118 Figura 6.22 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento N-19 ........................................................ 118 Figura 6.23 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento N-19 .......................... 119 Figura 6.24 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento N-31 ........................................................ 119 Figura 6.25 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento N-31 .......................... 120 Figura 6.26 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Cr nos sedimentos ............ 120 Figura 6.27 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento T-4.......................................................... 122 Figura 6.28 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento T-4............................ 123 Figura 6.29 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento T-23........................................................ 123 Figura 6.30 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento T-23.......................... 124 Figura 6.31 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento N-19 ....................................................... 124 Figura 6.32 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento N-19 ......................... 125 Figura 6.33 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento N-31 ....................................................... 125 Figura 6.34 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento N-31 ......................... 126 Figura 6.35 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Cu nos sedimentos ........... 126 Figura 6.36 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento T-4 .......................................................... 128 Figura 6.37 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento T-4 ............................ 128 Figura 6.38 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento T-23 ........................................................ 129 Figura 6.39 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento T-23 .......................... 129 Figura 6.40 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-19........................................................ 130 Figura 6.41 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento N-19.......................... 130 Figura 6.42 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-31........................................................ 131 Figura 6.43 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento N-31.......................... 131 Figura 6.44 – Seis primeiros pontos da isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-31................ 132 Figura 6.45 – Linearização da equação de Langmuir para os seis primeiros pontos da isoterma de Pb no sedimento N-31............................................................................ 132 Figura 6.46 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Pb nos sedimentos ............ 133 Figura 6.47 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento T-4 ...................................... 134 Figura 6.48 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento T-4.............................................................................................. 135 Figura 6.49 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento T-23. ................................... 135 Figura 6.50 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento T-23............................................................................................ 136 xvii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Figura 6.51 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-19.................................... 136 Figura 6.52 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento N-19 ........................................................................................... 137 Figura 6.53 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-31.................................... 137 Figura 6.54 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento N-31 ........................................................................................... 138 Figura 6.55 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de As nos sedimentos................... 138 Figura 6.56 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-4....................................... 139 Figura 6.57 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-4.............. 140 Figura 6.58 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-23..................................... 141 Figura 6.59 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-23............ 141 Figura 6.60 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-19 .................................... 142 Figura 6.61 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-19 ........... 142 Figura 6.62 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-31 .................................... 143 Figura 6.63 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-31 ........... 143 Figura 6.64 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Cr nos sedimentos ................... 144 Figura 6.65 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-4 ...................................... 145 Figura 6.66 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-4 ............. 145 Figura 6.67 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-23 .................................... 146 Figura 6.68 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-23 ........... 146 Figura 6.69 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-19.................................... 147 Figura 6.70 – Linearização da equação de Langmuir para o primeiro segmento da isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-19................................ 147 Figura 6.71 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-31.................................... 148 Figura 6.72 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-31........... 148 Figura 6.73 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Cu nos sedimentos .................. 149 Figura 6.74 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-4 ...................................... 150 Figura 6.75 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-4.............. 150 Figura 6.76 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-23 .................................... 151 Figura 6.77 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-23............ 151 xviii Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Figura 6.78 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-19 .................................... 152 Figura 6.79 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-19 ........... 152 Figura 6.80 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-31 .................................... 153 Figura 6.81 – Linearização da equação de Langmuir para os primeiros pontos da isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-31 ................................ 153 Figura 6.82 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Pb nos sedimentos................... 154 Figura 6.83 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de As nos sedimentos........................................................................... 155 Figura 6.84 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Cr nos sedimentos............................................................................ 157 Figura 6.85 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Cu nos sedimentos............................................................................ 159 Figura 6.86 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Pb nos sedimentos ............................................................................ 160 Figura 6.87 – Isotermas comparativas da adsorção não competitivas dos elementos As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos ................................................................ 161 Figura 6.88 – Isotermas comparativas da adsorção competitivas dos elementos As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos ................................................................ 162 Figura 6.89 – Percentagem de cada elemento adsorvida no sedimento T-4 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4............................................................. 165 Figura 6.90 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento T-23 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4............................................................. 166 Figura 6.91 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento N-19 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4.............................................................. 167 Figura 6.92 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento N-31 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4............................................................. 168 Figura 6.93 – Soma total de íons adsorvidos pelos sedimentos em cada nível de competição........ 170 Figura 6.94 – Densidade de adsorção nos sedimentos em cada nível de competição...................... 171 Figura 6.95 – Porcentagem de As, Cr, Cu e Pb adsorvidos pelos sedimentos ................................. 172 Figura I.1 – Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento T-4 para obtenção do Ponto B................................................................................................... 192 Figura I.2 – Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento T-23 para obtenção do Ponto B................................................................................................... 192 Figura I.3 – Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento N-19 para obtenção do Ponto B................................................................................................... 193 Figura I.4 – Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento N-31 para obtenção do Ponto B................................................................................................... 193 xix Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Composição mineralógica dos diferentes tipos de formação ferrífera presentes no Quadrilátero Ferrífero.............................................................................................. 16 Tabela 2.2 – Composição química média para os minérios da Mina de Capanema ......................... 18 Tabela 2.3 – Composição química média para os minérios da Mina de Timbopeba ........................ 19 Tabela 5.1 – Elementos maiores presentes nos minérios de ferro das minas de Capanema, Alegria e Timbopeba .................................................................................................... 59 Tabela 5.2 – Elementos traço presentes nos minérios de ferro das minas de Capanema, Alegria e Timbopeba .................................................................................................... 60 Tabela 5.3 – Comparação entre os teores de metais traço nos minérios analisados, os valores obtidos por diversos autores para minérios de ferro do Quadrilátero Ferrífero............ 60 Tabela 5.4 – Teores de elementos maiores e metais traço nos sedimentos superficiais da barragem de Natividade ....................................................................... 62 Tabela 5.5 – Teores de elementos maiores e metais traço nos sedimentos da barragem de Timbopeba .......................................................................................... 63 Tabela 5.6 – Valores Guia de Qualidade de Sedimentos (VGQS) usados como referência na avaliação da qualidade dos sedimentos de Timbopeba e Natividade ..... 76 Tabela 5.7 – Distribuição dos teores de As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn (em número de registros e percentagem) em relação às faixas de qualidade consideradas nos VGQS utilizados.................................................................................................. 78 Tabela 5.8 – Esquema de priorização de sítios em relação à contaminação ..................................... 87 Tabela 5.9 – Valores de PEL-Q, ERM-Q, PEC-Q para os sedimentos da barragem de Timbopeba ........................................................................................ 88 Tabela 5.10 – Valores de PEL-Q, ERM-Q, PEC-Q para os sedimentos da barragem de Natividade .......................................................................................... 89 Tabela 5.11 – Distribuição dos valores de PEL-Q, ERM-Q e PEC-Q dos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade .............................................. 90 Tabela 5.12 – Teores dos elementos traço encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade por nível de profundidade ............................................. 95 Tabela 5.13 – Teores de Fe, Al, Mn e elementos maiores encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade por nível de profundidade...................... 96 Tabela 5.14 – Teores máximos permitidos pela legislação brasileira (CONAMA, 1986) para águas classe 1 e águas de lançamento comparados com os teores médios dos metais encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade .......... 97 Tabela 6.1 – Resultados das análises de caracterização dos sedimentos utilizados ......................... 100 Tabela 6.2 – Resultado das três etapas de extração do material de referência BCR-701 e das digestões pseudototais do resíduo da etapa 3 e do material de referência integral ..... 101 xx Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela 6.3 – Distribuição dos metais nas frações dos sedimentos, obtida por extração seqüencial e digestão pseudototal do resíduo da extração e do sedimento integral.................................................................................................. 103 Tabela 6.4 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas não competitivas de As nos sedimentos.................................................................................................. 115 Tabela 6.5 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Cr nos sedimentos .............................. 121 Tabela 6.6 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Cu nos sedimentos ............................ 127 Tabela 6.7 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Pb nos sedimentos............................. 133 Tabela 6.8 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de As nos sedimentos....... 139 Tabela 6.9 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Cr nos sedimentos ...... 144 Tabela 6.10 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Cu nos sedimentos .... 149 Tabela 6.11 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Pb nos sedimentos..... 154 Tabela 6.12 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de As nos sedimentos estudados................................. 156 Tabela 6.13 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Cr nos sedimentos estudados ................................. 157 Tabela 6.14 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Cu nos sedimentos estudados................................. 159 Tabela 6.15 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Pb nos sedimentos estudados ................................. 160 Tabela 6.16 – Combinações entre os elementos, usadas no procedimento de interferência competitiva................................................................................................................ 164 Tabela I.1 – Pares (Csmp, Cem) que definem o Ponto B, obtidos pela analise das isotermas de As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Csmp em mmol·kg-1 e Csm em mmol·L-1 .................................................................................................... 191 Tabela II.1 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de As nos sedimentos ................................................................................................ 195 Tabela II.2 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Cr nos sedimentos ................................................................................................ 195 Tabela II.3 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Cu nos sedimentos................................................................................................ 196 Tabela II.4 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Pb nos sedimentos ................................................................................................ 196 Tabela II.5 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de As nos sedimentos ................................................................................................ 197 Tabela II.6 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Cr nos sedimentos ................................................................................................ 197 Tabela II.7 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Cu nos sedimentos................................................................................................ 198 xxi Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Tabela II.8 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Pb nos sedimentos ................................................................................................ 198 Tabela II.9 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento T-4.................................................... 199 Tabela II.10 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos nos sedimento T-23 ................................................ 199 Tabela II.11 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento N-19 ................................................ 200 Tabela II.12 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento N-31 ................................................. 200 Tabela II.13 – Resultado das extrações dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 após adsorção não competitiva (nível 1 do experimento de adsorção) ........................... 201 Tabela II.14 – Resultado das extrações dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 após adsorção competitiva (nível 4 do experimento de adsorção) ................................... 202 xxii Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... LISTA DE PRANCHAS PRANCHA I ..................................................................................................................................... 53 Foto 1– Vista geral da cava principal da Mina de Capanema............................................. 53 Foto 2 – Vista geral da cava principal da Mina Timbopeba........................................................... 53 Foto 3 – Vista geral da cava principal da Mina de Alegria ............................................................ 53 Foto 4 – Vista do vertedouro da Barragem de Timbopeba. Ao fundo a Represa de Natividade.... 53 Foto 5 – Vista panorâmica da Represa de Timbopeba ................................................................... 53 PRANCHA II.................................................................................................................................... 55 Foto 6 – Represa de Natividade...................................................................................................... 55 Foto 7 – Amostrador bentônico tipo Birge-Ekman ........................................................................ 55 Foto 8 – Amostrador de água Limnos ............................................................................................ 55 Foto 9 – Agitador rotativo 360° Heidolph Instruments, modelo Reax 2........................................ 55 Foto 10 – Preparo das soluções para a montagem das isotermas de adsorção .............................. 55 xxiii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p LISTA DE ABREVIATURAS AAS – Atomic Absorption Spectrophotometry AET – Apparent Effect Level AVS – Acid Volatile Sulfide BCR – Community Bureau of Reference BEDS – Biological Effects Database for Sediments BIF – Banded iron formation CVRD – Cia. Vale do Rio Doce CTC – Capacidade de Troca Catiônica EqP – Equilibrium Partitioning ERL – Lowest Range-Low ERM – Effect Range-Median EXAFS – Extended X-ray Absorption Fine Structure GLNPO – Great Lakes National Program Office ICP-MS – Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry ICP-OES – Inductively coupled plasma optical emission spectroscopy IUPAC – Union of Pure and Applied Chemistry LEL – Lowest Effect Level LRM – Linear Regression Model NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration PCB – Bifenilas Policloradas PEC – Probable Effect Concentration PEL – Probable Effect Level PHAs – Polihidroxialcanoatos QMC – Quociente Médio de Contaminação SEL – Severe Effect Level STD – Sólidos Totais Dissolvidos TEL – Threshold Effect Level TEC – Threshold Effect Concentration VGQS – Valores Guia da Qualidade de Sedimento xxiv Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... RESUMO Este trabalho objetivou avaliar a capacidade de adsorção dos sedimentos ricos em ferro das barragens de contenção de Timbopeba e Natividade para a retenção de metais traço. Os sedimentos estudados são compostos basicamente por rejeitos do processamento do minério de ferro na mina de Timbopeba de propriedade de Cia. Vale do Rio Doce, localizada na porção leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Em cada barragem foi executada uma amostragem sistemática com 26 pontos de coleta em Timbopeba e 27 pontos em Natividade. Os sedimentos foram secados, digeridos parcialmente em água régia e analisados para os elementos menores Zn, Cr, Co, Ni, Cu, As, Cd e Pb e maiores Al, Ca, Fe, K, Mg, Mn e Na. Os valores obtidos mostram que os teores de metais traço nos sedimentos da barragem de Natividade é mais elevado que o observado na barragem de Timbopeba. A comparação dos teores de metais nas duas barragens com valores guia de qualidade de sedimento (VGQS), apesar de alguma divergência, aponta para uma provável contaminação por As nos sedimentos de Timbopeba. Também o Cr apresenta valores acima dos limites de não contaminação. Em Natividade existe contaminação por As segundo dois dos três VGQS utilizados como referência. Valores altos indicando possíveis efeitos adversos foram encontrados para Cr, Ni e Cu em Natividade. A análise global da contaminação, levandose em conta os quocientes médios de contaminação total (QMCT) classifica a contaminação dos sedimentos da barragem de Natividade no limite entre médio-baixa e médio-alta e a barragem de Timbopeba como médio-baixa. A comparação dos teores dos metais encontrados nos sedimentos com os teores presentes nos minérios indica que houve enriquecimento de metais nos sedimentos após sua deposição nas barragens. A presença de antigos garimpos de ouro na região de entorno é atribuída como fonte destes metais, uma vez que o ouro ocorre associado a sulfetos ricos em metais. A oxidação intempérica dos sulfetos seria responsável por sua liberação para os cursos d’água adjacentes às barragens, principalmente a de Natividade, sendo adsorvidos pelos sedimentos. Dois pontos de cada barragem foram selecionados para o estudo de capacidade de adsorção. Estes sedimentos foram fracionados utilizando-se o procedimento BCR e os resultados indicam que o As e Cr estão presentes quase que exclusivamente na fração residual, Zn, Cu e Ni estão presentes principalmente na fração residual, mas com uma pequena percentagem distribuída entre as frações trocáveis, óxidos e sulfetos-matéria orgânica. O Pb e o Co apresentam-se associados principalmente à fase óxidos. O estudo da capacidade de adsorção foi feito baseado na construção de isotermas competitivas e não competitivas para As (na forma de arsenato), Cr, Cu e Pb. As isotermas não competitivas de As foram xxv Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p modeladas pela equação de Freundlich enquanto as de Cr, Cu e Pb seguiram o modelo de Langmuir. As isotermas não competitivas mostraram boa capacidade de adsorção para todos os elementos, especialmente para As e Pb. Em função da diferença entre as inclinações iniciais e dos diferentes modelos, as isotermas apresentaram inversão de afinidades à medida que a concentração dos íons em solução aumentou. Assim, a afinidade dos metais para com os sedimentos pode ser hierarquizada da seguinte forma: Cu ≅ Pb > As ≅ Cr para baixas concentrações de equilíbrio (Ce < 0,4 mmol·L-1) e Pb > As > Cu > Cr para altas concentrações de equilíbrio (Ce >0,4 mmol·L-1). Em ambientes competitivos, As, Cr e Cu apresentaram, em maior ou menor escala, aumento de adsorção. Já o Pb teve sua adsorção drasticamente reduzida em condições competitivas. As isotermas competitivas de As foram descritas pelo modelo de Langmuir, enquanto as de Cr, Cu e Pb apresentaram um comportamento duplo. Os pontos iniciais das isotermas apresentam comportamento compatível com o modelo de Langmuir, com formação de patamar indicando estabilização de adsorção independentemente do aumento da concentração inicial. Entretanto, a partir de determinada concentração de equilíbrio a isoterma indica uma retomada do processo de adsorção e esta nova fase adsortiva segue nitidamente o modelo de adsorção Freundlich. Este comportamento foi interpretado como resultado da formação de complexos superficiais ternários (superfície-arsenato-metal ou superfície-metal-arsenato) que favorece a adsorção tanto do As como de Cr e Cu. A avaliação da influência da competição na adsorção dos metais foi feita combinando-se os metais em soluções competitivas binárias, ternárias e quaternárias. Os resultados obtidos são coerentes com as informações retiradas das isotermas e comprovam que As e Cr, para as concentrações estudadas, apresentam-se intimamente relacionados, indicando uma correlação positiva de adsorção. A competição dos metais, na ausência do ânion arsenato, provoca, na grande maioria dos casos, um decréscimo na adsorção destes elementos. A geodisponibilidade ou dessorção dos metais foi avaliada pelo fracionamento dos sedimentos após a adsorção feita para o experimento de adsorção competitiva. Os resultados obtidos indicam que o Cr é adsorvido preferencialmente pela fração óxido dos sedimentos, enquanto Cu e Pb se associam à fração íons trocáveis. Já o As aparece associado firmemente à fração residual, que nestes sedimentos é definida como óxidos fortemente cristalinos e alguns argilominerais mais suscetíveis ao ataque ácido. Concluiu-se que, dos quatro sedimentos estudados, três apresentam boa capacidade de adsorção e esta capacidade está relacionada a dois fatores: grande área superficial e teor em óxidos de ferro e conteúdo de matéria orgânica. O estudo de dessorção indica que a geodisponibilidade pode ser descrita na seguinte ordem de facilidade Cu ≅ Pb > Cr > As. xxvi Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... ABSTRACT The main objective of this work is to evaluate the adsorption capacity of the iron rich sediments from the Timbopeba and Natividade contention dams for retaining trace elements. These sediments are basically composed by the waste that comes from the Timbopeba iron plant owned by Cia. Vale do Rio Doce, located in the East-Southeast Iron Quadrangle, Minas Gerais State. For the sediment, analysis, 26 stations in Timbopeba dam and 27 in Natividade dam were systematically sampled. The sediments were dried and partially digested in acqua regia and analyzed for minor (Zn, Cr, Co, Ni, Cu, As, Cd e Pb) and major (Al, Ca, Fe, K, Mg, Mn e Na) elements. The results showed that Natividade sediments are richer in trace elements than Timbopeba sediments. Comparison of the obtained results from the two dams with the sediments quality guidelines (SQG) points to a probable As contamination in the Timbopeba dam. Chromium shows values that can be considered above the noncontamination value. The Natividade sediments show contamination with As following two of three SGQ used as a reference. High values of Cr, Ni and Cu point to probable adverse effects in the Natividade sediments. The overall mean SQG quotient for the two dam stations between medium-low and medium high sediment contamination. The values of trace metal found in the iron ores were compared with the amount of trace metals present in the sediments. The higher values were found in the sediments and indicated an enrichment of metal in the sediments after deposition into the dams. The presence of old abandoned gold prospector near by the dams, mainly the Natividade dam, are probable sources of these metals. The gold in the Iron Quadrangle is associated with sulfides and, consequently, sulfide oxidation can mobilize the trace metals from sulfide minerals to water bodies, adjacent to the dams and being adsorbed by the sediments. To the evaluation of the adsorption capacity, two sediments of each dam were selected. These sediments were fractionated using the BCR procedure. The results showed that As and Cr are being bond exclusively in the residual fraction while Zn, Cu and Ni are predominant in the residual fraction but a minor part is distributed among the exchangeable, oxides and sulfide-organic mater fractions. Lead and Co are bound basically to the oxides. The sediments adsorption capacity was evaluated using competitive and non-competitive isotherms for As (arsenate), Cr, Cu and Pb. The As non-competitive isotherm fitted in the Freundlich model while the Cr, Cu and Pb isotherms fitted in the Langmuir model. Non-competitive isotherms showed a good adsorption capacity for all elements, mainly for As and Pb. As a result of a different slope and isotherm models the sediments adsorption capacity changes as the equilibrium concentration increases. As a result, xxvii Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p the elements adsorption affinity can be defined for high and low equilibrium concentrations as following: Cu ≅ Pb > As ≅ Cr for lower equilibrium concentrations and Pb > As > Cu > Cr for higher equilibrium concentrations. Competitive environment promoted, in higher or lower scale, increase in the adsorption of As, Cr and Cu and a drastic decrease in the Pb adsorption. The As competitive isotherms fitted in the Freundlich model while Cr, Cu and Pb isotherm showed a two distinct behavior. The first points followed the Langmuir model with a plateau meaning adsorption stabilization. However, as the equilibrium concentration increases, the adsorption process restart and the isotherm assumes a Freundlich shape. This behavior was interpreted as formation of ternary surface complex (surface-arsenate-metal or surfacemetal-arsenate). This process can increase the arsenate adsorption as much as metal adsorption. To evaluate the competition between the elements for the adsorptions sites in the sediments an interference competitive experiment was designed using binary, ternary and quaternary element combinations. The results were consistent with the information gained by the isotherm analysis. These results confirm a positive relation between As and Cr, in the concentration studied. The competition between the metals in absence of Arsenate takes to a metal adsorption decrease. The metals geoavailability or desorption was evaluated by fractioning the sediments after the adsorption done in the competitive experiment. The results showed that the Cr is adsorbed preferentially by the oxides fraction while Cu and Pb are adsorbed by the exchangeable fraction. Arsenic is strongly bounded in the residual fraction, represented in theses sediments by crystalline iron oxides and some silicates. For all described above, one can conclude that three from the four studied sediments presented good adsorption capacity and it is related to two main features: high surface area and the content of iron oxides. The desorption experiment showed that the geoavailability can be expressed in the following order Cu ≅ Pb > Cr > As. xxviii CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS Os sedimentos compõem um dos mais importantes compartimentos biogeoquímicos do planeta. O fornecimento do suporte físico e químico à vida nos ambientes aquáticos e o suprimento de nutrientes para vários tipos de solos agricultáveis em áreas alagáveis são exemplos extremos dessa importância. Portanto, a qualidade dos sedimentos, que por sua vez possui íntima relação com a qualidade das águas superficiais e subterrâneas, influencia direta ou indiretamente vários mecanismos fundamentais para a manutenção da vida na grande maioria dos ecossistemas globais (Solomons & Brils, 2004). Por causa de sua fundamental importância, os sedimentos vêm sendo extensivamente estudados ao longo dos últimos anos. A enorme capacidade adsorção de espécies orgânicas e inorgânicas por superfícies minerais faz com que os sedimentos funcionem como repositórios de uma vasta gama de contaminantes, podendo funcionar tanto como fonte, quanto como destino final de substâncias poluentes. Por sua participação direta no ciclo biogeoquímico de vários elementos, a contaminação dos sedimentos afeta, direta ou indiretamente, em maior ou menor escala, os vários compartimentos da cadeia alimentar de inúmeras espécies animais, muitas delas consumidas, também direta ou indiretamente, pelo homem (Calmano et al., 1996). Os metais traço associados aos sedimentos podem ser classificados como residuais ou não-residuais (Clark, 1997). São considerados metais residuais aqueles que, por pertencerem à estrutura cristalina dos minerais, fazem parte da matriz do sedimento. Os metais traço não-residuais são aqueles incorporados aos sedimentos por processos secundários como adsorção, precipitação e complexação de substâncias orgânicas e inorgânicas. A fase não-residual inclui os metais associados sob condições mais ou menos estáveis e podem estar associados às diversas frações dos sedimentos: fração trocáveis (compreendendo os íons fracamente adsorvidos ao sedimento), carbonato, óxidos (composta basicamente por óxidos e hidróxidos de ferro e manganês), matéria orgânica e sulfetos. De um modo geral, os contaminantes não-residuais não estão, necessariamente, associados de forma permanente aos sedimentos. O equilíbrio entre as espécies associadas e as superfícies dos minerais depende do tipo de ligação e das condições físico-químicas do meio. Mudanças nestas condições podem Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p deslocar o equilíbrio favorecendo processos de dessorção, solubilização ou destruição de complexos e, conseqüentemente, liberar os metais para o meio aquático, tornando-os biodisponíveis. Dentre as várias fases minerais citadas capazes de adsorver efetivamente metais traço, os óxidos e hidróxidos de ferro merecem destaque. A adsorção de íons metálicos pelos óxidos de ferro regula a mobilidade e, por conseqüência, o transporte destas espécies em vários compartimentos do ecossistema do globo, incluindo-se aí a biota, solos e sedimentos, rios, lagos, pântanos e oceanos. Na avaliação da toxicidade de determinados metais ou espécies diferentes, deve-se atentar para o fato de que estes não são igualmente reativos, tóxicos ou biodisponíveis (Campbell & Tessier, 1989). Cada metal ou espécie apresenta diferentes afinidades com os diversos sítios de adsorção encontrados em um substrato sedimentar. O mesmo ocorre quando se comparam íons diferentes em relação a um único tipo de sítio de adsorção. Portanto, quando se busca avaliar a capacidade de retenção de metais por determinado sedimento e, conseqüentemente, sua mobilidade, ecotoxicidade e biodisponibilidade, não basta a simples quantificação do conteúdo total dos metais associados a estes sedimentos. Mais do que isso, é necessário entender sob quais condições os metais estão associados aos sedimentos. No final dos anos 70, esquemas de extrações seqüenciais, desenvolvidos inicialmente para a exploração geoquímica (Rose & Suhr, 1971; Chao & Theobald, 1976), foram adaptados para os estudos ambientais (Tessier et al., 1979; Solomons & Förstner, 1980; Bogle & Nichol, 1981). A técnica da extração seqüencial baseia-se na identificação da distribuição dos elementos químicos pelas várias fases sólidas do solo ou sedimento. Neste procedimento utiliza-se uma série de extratores químicos, mais ou menos seletivos, escolhidos de modo a solubilizar sucessivamente as diversas fases mineralógicas presentes na matriz em estudo. Este tipo de determinação tem sido fartamente referida na literatura como especiação (Das et al., 1995; Fanfani et al., 1997; Tokalioğlu et al., 2000; Lima et al., 2001; Zhang et al., 2001; Xu & Marcantonio, 2004; etc.). Entretanto, definições recentes da International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) (Templeton et al., 2000) sugerem que o termo especiação deva se referir a determinações de espécies químicas bem definidas como, por exemplo, compostos organometálicos ou metais com diferentes números de oxidação, sendo preferível o uso do termo fracionamento para se referir ao método de extração seqüencial. Desde o seu surgimento, os esquemas de fracionamento foram largamente adotados pela comunidade científica e adaptados para várias matrizes e diferentes tipos de estudos ambientais. Duas revisões recentes sobre a evolução das extrações seqüenciais são apresentadas por Gleyzes et al. (2002) e Hlavay et al. (2004). Apesar de sua ampla utilização, alguns problemas são reconhecidamente inerentes ao método: a falta de uniformidade nos procedimentos resultante das inúmeras adaptações, a pouca 2 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... seletividade dos reagentes, a readsorção e redistribuição dos elementos, a falta de validação dos resultados, o baixo controle de qualidade e os resultados altamente dependentes do procedimento usado (Nirel & Morel, 1990; Gómez-Ariza et al., 1999). Como conseqüência, a comparação dos resultados obtidos por diferentes pesquisadores e o entendimento dos processos geoquímicos são dificultados. O aparecimento do termo “frações definidas operacionalmente”, para denominar frações extraídas por determinado método, sob determinadas condições, foi uma tentativa de minimizar o problema. Para se harmonizar estes processos, tornando-os comparáveis e confiáveis, teve início em 1987 uma campanha para se certificar uma metodologia de extração seqüencial e o estabelecimento de materiais de referência que pudessem validar as extrações realizadas. A iniciativa do então Community Bureau of Reference – BCR, hoje Standard, Measurements and Testing Program, órgão da Comunidade Européia, foi considerada o ponto de virada dos esquemas de extração, dando mais credibilidade ao uso desta metodologia (Quevauviller et al., 1997; Ure & Davison, 2002; Bacon et al., 2005). Atualmente, o fracionamento vem sendo cada vez mais utilizado e considerado uma importante ferramenta nos estudos da biodisponibilidade e mobilidade dos metais (Quevauviller, 2002). Uma outra maneira de estudar o comportamento de um metal no solo ou sedimentos é a aplicação de modelos físico-químicos de adsorção. De um modo geral, pode-se quantificar capacidade de adsorção de determinada superfície pela relação entre a quantidade de um metal adsorvido por uma fase sólida e a concentração deste metal que permanece em equilíbrio na solução. Submetendo um sedimento ao contato com várias soluções de concentrações crescentes de determinado elemento obtém-se, para cada solução, um par resultante do equilíbrio metal adsorvido – metal remanescente na solução. A construção de um gráfico relacionando estes valores origina as chamadas isotermas de adsorção. O estudo das isotermas de adsorção remonta aos trabalhos pioneiros de J. M. Bemmelen em 1880 (Giles et al., 1960; Forrester & Giles, 1972). Atualmente é uma ferramenta muito utilizada na avaliação da energia com a qual o metal se liga aos sedimentos e da capacidade máxima de adsorção do material para determinado metal e, conseqüentemente, sua biodisponibilidade (Garcia-Sánchez et al., 1999; Lawrence et al., 2000; Grafe et al., 2001; Li et al., 2003). 1.2 – OBJETIVOS Este estudo foi desenvolvido na região leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero - Minas Gerais. Esta região, considerada uma das mais mineralizadas do globo, vem sendo intensamente minerada desde o final do século XVII após a descoberta do ouro pelos bandeirantes. Metais associados aos minérios vêm sendo 3 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p historicamente liberados para os cursos d’água que drenam a região, provocando a contaminação da água e sedimentos (Eleutério, 1997; Matschullat et al., 2000; Costa et al., 2003). Dentre as várias atividades mineiras existentes nesta região, a mineração de ferro merece destaque especial. Apesar dos minérios de ferro apresentarem baixos teores de metais nocivos (Davy, 1983), no Quadrilátero Ferrífero torna-se importante o entendimento da real influência ambiental da sua exploração dada a escala em que se dá a mineração de ferro, a escassez de trabalhos geoquímicos de cunho ambiental focalizando os minérios de ferro, sua proximidade com os depósitos de ouro ricos em sulfetos e historicamente garimpados e o importante papel exercido pelos óxidos de ferro, cada vez mais utilizados como imobilizadores de metais em áreas contaminadas (Müller & Pluquet, 1998; Ding et al., 2000; Bose et al., 2002; Zhang et al., 2003). Considerando o quadro descrito acima, o objetivo deste trabalho pode ser dividido em 3 partes. A primeira parte consiste na caracterização geoquímica dos diferentes tipos de minério de ferro encontrados nas principais minas de ferro da região leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero: Minas de Capanema, Timbopeba e Alegria de propriedade de Cia Vale do Rio Doce S.A. Desta forma, buscou-se quantificar a distribuição dos elementos maiores e menores associados aos diferentes tipos de minério, assim como identificar uma possível fonte de elementos traço para o meio ambiente a partir dos minérios de ferro e/ou seu processo exploratório. A segunda parte deste trabalho concentrou-se na amostragem e caracterização mineralógica e geoquímica dos efluentes do processamento primário do minério de ferro proveniente da planta de tratamento de Timbopeba. Este material, rico em óxidos de ferro, é composto por uma mistura de rejeitos da mineração, lama proveniente da lavagem das câmaras de beneficiamento de minério e do material erodido na sub-bacia de Timbopeba. Disposta em duas barragens de contenção – barragem de Timbopeba e barragem de Natividade – esta mistura de materiais será chamada indistintamente neste trabalho de sedimento. Esta etapa envolveu ainda o entendimento da distribuição espacial dos elementos traço nas superfícies dos sedimentos de fundo das duas barragens, sua relação com os minérios de ferro caracterizados na etapa anterior e a identificação qualidade deste material através de comparação com os principais Valores Guia de Qualidade de Sedimentos (VGQS). A terceira parte do trabalho teve por objetivo investigar a capacidade de adsorção de metais apresentada pelos sedimentos. Para tanto, procurou-se (1) identificar a associação de metais traço presente em cada fase mineralógica do sedimento natural através de procedimentos de fracionamento por extração seqüencial e (2) testar a capacidade de adsorção de cada fase mineralógica dos sedimentos para diferentes combinações e concentrações de elementos traço. Esta capacidade de adsorção foi testada utilizando-se os elementos As, Cr, Cu e Pb e permitiu avaliar o uso dos sedimentos como minimizador da contaminação de metais em águas, a eficiência das barragens como barreiras geoquímicas na fixação de metais potencialmente poluidores e, conseqüentemente, a geodisponibilidade destes metais associados aos sedimentos. 4 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 1.3 – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O Quadrilátero Ferrífero (Figura 1.1) tem seu nome derivado da morfologia de suas principais serras constituídas de minério de ferro, dispostas na forma de um quadrilátero na porção central do estado de Minas Gerais e distribuído pelos municípios de Belo Horizonte, Nova Lima, Raposos, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Sabará, Caeté, João Monlevade, Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Conselheiro Lafaiete, entre outros. Os minérios e sedimentos estudados neste trabalho foram coletados na região leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero, mais precisamente nas minas de ferro de Capanema, Timbopeba e Alegria. A Mina Ferro de Capanema (Prancha I, Foto 1) situa-se na Serra do Ouro Fino, Bacia hidrográfica do Rio das Velhas, na divisa dos municípios de Santa Bárbara, Itabirito e Ouro Preto, entre as latitudes 20°11’00’’ e 20°09’00’’S e longitudes 43°42’00’’ e 43°44’00’’W. O acesso é feito pela Rodovia dos Inconfidentes (BR-256) em direção à Ouro Preto. No quilômetro 66 segue-se à esquerda em estrada asfaltada até a entrada da mina. O início dos trabalhos de lavra em Capanema se deu em 1982 através de um convênio firmado entre a Cia. Vale do Rio Doce e a companhia japonesa Kawasaki Steel Corporation (KSN). As reservas, estimadas em 375 Mt, se esgotaram no final de 2003 e a mina encontra-se hoje em fase de recuperação ambiental. A Mina de Ferro de Timbopeba (Prancha I, Foto 2) situa-se nos domínios da Serra Geral, no distrito de Antônio Pereira, município de Ouro Preto entre os paralelos 20°15’00” e 20°17’30” S e os meridianos 43°30’00” e 43°32’30” W. A região é drenada por rios que contribuem para a formação das cabeceiras do Rio Doce e o acesso se dá a partir de Mariana pela rodovia MG-129 que liga Mariana a Santa Bárbara. A mina de Timbopeba entrou em operação no ano de 1984 e possui uma reserva estimada de 213 Mt de hematita e uma vida útil esperada de 35 anos (Endo, 1988). Na mina de Timbopeba funciona a usina responsável pelo beneficiamento de minério de ferro produzido em Timbopeba e Capanema. É também nas dependências de Timbopeba que se encontram as duas barragens de contenção, cujos sedimentos foram estudados neste trabalho: a barragem de Timbopeba e a barragem de Natividade (Figura 1.2) O Complexo Alegria (Prancha I, Foto 3) situa-se em terrenos dos municípios de Mariana e Ouro Preto, sendo limitado pelos paralelos 20°07’00” e 20°17’00” S e meridianos 43°24’00” e 43°35’00” W. O acesso é feito pela rodovia MG-129 entre Mariana e Santa Bárbara. Os córregos que cortam a mina pertencem à bacia hidrográfica do Rio Doce. A Mina de Alegria é, na verdade, um complexo composto por um alinhamento de concessões que cobrem um mesmo corpo de minério. Estas concessões estão divididas entre a Cia. Vale do Rio Doce (Compradas da Mineração SAMITRI em 2001: Fazendão, Morro da Mina, Alegria Este, Alegria Oeste, Alegria Centro, Conta História, Conta História Norte, Batatal, 5 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 70º 60º 50º 40º 0º BRASIL 10º MG 20º 30º 40º N N 0 1 2 3km Figura 1.1 – Localização das minas e barragens estudadas 6 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Miguel Congo, e Fábrica Nova) e SAMARCO Mineração (Alegria Sul e Germano). De acordo com Barcelos & Büchi (1986), a reserva na área dos decretos pertencentes então à Mineração SAMITRI em 1986 era de 17 bilhões de toneladas de minério itabirítico. Os sedimentos/rejeitos utilizados neste trabalho foram coletados em dois lagos artificiais localizados dentro da área da Mina de Timbopeba e funcionam como primeira (represa de Timbopeba, Prancha I, Fotos 4 e 5) e segunda (represa de Natividade, Prancha II, Foto 6) bacia de decantação para os efluentes do processamento primário do minério de ferro proveniente da planta de tratamento de Timbopeba (Figura 1.2). pilha de estéreis do Ventura pilha de estéreis do fundão Corpo Norte R Co r. D P/ Sta. Bárbara Tim C or bo r. pe ba Usina de beneficiamento ob t iv i da d e ge m c es Na S erra rr. V e n t u ra C ór. Corpo Sul io Co pilha de estéreis do Serragem er Barragem de Timbopeba ta Barragem de Natividade depósito de rejeito SAMITRI Barragem de rejeitos Miguel Congo Barragem do Doutor Ma n so Área assoreada r. D Pilha de estéril revegetada Barragem de terra R io Drenagem Vias de aceso Garimpos de ouro abandonados R io G u ala xo ou t Lavra a céu aberto or Pit final da mina de manganês de Miguel Congo Có LEGENDA 0 0,5 1,0 km P/ Mariana Figura 1.2 – Mapa esquemático da distribuição das benfeitorias na Mina de Timbopeba (baseado em Costa, 2001) 7 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 8 CAPÍTULO 2 GEOLOGIA 2.1 -HISTÓRIA O nome "ferro" deriva do latim "ferrum", enquanto o anglo-saxônico "iron" tem origem no escandinavo "iarn". Os óxidos de ferro vêm sendo utilizados pela humanidade desde tempos pré-históricos como pigmentos de pinturas nos vários tons do amarelo ao vermelho. Vasos cerâmicos pintados com ocre de cerca de 2.000 a.C. foram encontrados na Mesopotâmia e na ilha de Creta (Cornell & Schwertmann, 1996). No ano de 1922 foi descoberta, na tumba do faraó egípcio Tutankamon (século XIV a.C.), uma adaga com lâmina de ferro, sem traços de ferrugem. Mais tarde, pesquisas confirmaram a origem do ferro como sendo proveniente de um meteorito (Llorca, 2003). Devido à relativa dificuldade em se obter o ferro metálico em relação à obtenção de outros metais como o cobre e de ligas como o bronze, as primeiras notícias do uso do ferro não são mais antigas que 1500 a.C. Provavelmente o primeiro povo a utilizar as técnicas de redução do ferro foram o hititas, uma tribo que vivia na região de Anatólia (Turquia), no norte da Ásia e que produziam lâminas para combate. Provavelmente as primeiras peças de ferro metálico foram produzidas por acaso, quando grandes fogueiras foram mantidas acesas por um longo período de tempo sobre uma areia composta basicamente por óxidos de ferro, muito comum na Anatólia (Cowen, 2003). Considerando a dificuldade em ser forjado, os objetos antigos de ferro só começaram a aparecer após o término da idade do bronze a cerca de 550 anos a.C. A escassez do cobre e a abundância do ferro levaram o povo hindu a desenvolver técnicas de trabalho deste metal, que mais tarde viriam a ser transmitidas à Europa, onde se destacaram os etruscos do norte da Itália. Pouco tempo depois da queda do Império Romano, a produção do ferro desenvolveu-se bastante na Espanha, tornando-se famosas as lâminas de aço de Toledo e seus artesãos. Estes foram os responsáveis pela introdução da peculiar forja catalã na França e Alemanha, cujo desenvolvimento viria a originar as grandes fornalhas de fundição. A forja catalã produzia uma espécie de ferro maleável ou aço e as grandes fornalhas produziam uma variedade de ferro que não podia ser forjado ou temperado, embora fosse adequado para todos os tipos de moldagem de resistência moderada. Somente com a descoberta, por Henry Cort em 1784 de um processo de transformação deste tipo de ferro em ferro forjado, com custos de produção consideravelmente mais baixos que os obtidos com a forja Catalã, é que a produção de ferro teve alavancado seu desenvolvimento na Inglaterra. Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 2.2 – TIPOS DE DEPÓSITOS DE FERRO Dentre os diversos tipos de depósitos de ferro ocorrentes no mundo, os do tipo acamadados constituem as maiores e mais importantes reservas de ferro do globo terrestre. As rochas dominantes neste tipo de depósito são as formações ferríferas bandadas (banded iron formations – BIFs) caracterizadas por uma composição laminada onde se alternam principalmente leitos de hematita /magnetita e leitos de sílica, além de carbonatos e silicatos de ferro. O teor de ferro nestas rochas pode variar entre 20 e 65%. As formações ferríferas bandadas foram depositadas em todos os continentes entre 3,8 a 1,8 Ga com abundância máxima em 2,5 Ga (James, 1983; Klein, 2001). As formações ferríferas bandadas têm sido classificadas tendo-se por base a sua mineralogia (James, 1954; James 1966), sua disposição tectônica (Gross, 1965) e seu ambiente deposicional (Kimberley, 1979; Simonson, 1985). Esta larga variação nos esquemas de classificação das formações ferríferas demonstra um conhecimento limitado sobre este tipo de rocha. James (1954) propôs que os minerais dentro de uma formação ferrífera são “produtos de equilíbrio” e que diferenças na mineralogia primária refletem diferenças no ambiente deposicional. Relaciona ainda as fácies mineralógicas com a profundidade da bacia e o grau de oxigenação. Desta forma estabeleceu-se que cada fácies mineralógica (óxido, silicato e carbonato) representaria um ambiente deposicional distinto. A fácies sulfeto (contendo pirita e/ou pirrotita) foi incluída por Fripp (1976) como sendo de origem singenética e posteriormente considerada epigenética por Phillips et al. (1984) e Groves et al. (1987). A fácies óxido das BIFs consiste tipicamente de uma alternância de bandas ricas em hematita (Fe2O3) com ou sem presença de magnetita (Fe3O4). Quando a magnetita é o óxido de ferro dominante, siderita (FeCO3) e silicatos de ferro usualmente estão presentes (James, 1966). A fácies silicática usualmente apresenta os minerais grinalita [(Fe2+,Mg)6Si4O10(OH)8] e minnesotaíta [(Fe2+, Mg)3 Si4 O10 (OH)2], ambos minerais análogos à antigorita e ao talco respectivamente. Além destes dois minerais, é comum a presença de stilpnomelano [K0.6(Mg,Fe2+,Fe3+)6Si8Al(O, OH)27.24H2O], um filossilicato complexo. Na fácies carbonática predominam a ankerita [CaFe2+(CO3)2] e a siderita, ambas apresentando composições bastante variáveis. De modo geral, a mineralogia da fácies carbonática dos BIFs é relativamente simples, apresentando uma alternância de finas lâminas em quantidades aproximadamente iguais de chert e ankerita (e/ou siderita). Quanto à sua gênese, James (1966) classifica as jazidas de ferro em quatro tipos principais: depósitos sedimentares acamadados, depósitos formados por atividades ígneas, depósitos formados por soluções hidrotermais e depósitos resultantes de alterações e acúmulo em superfície. 10 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 2.2.1 – Depósitos Sedimentares Acamadados Os depósitos sedimentares acamadados compõem o tipo mais importante dentre os depósitos ferríferos. Ocorre principalmente nas rochas pré-cambrianas e no Brasil recebeu o nome de itabirito. Estas formações ferríferas ocorrem distribuídas pelo mundo e foram formadas em períodos bem definidos no Arqueano (3,7 – 3,3 Ga) e (2,9 – 2,6 Ga), no Proterozóico Inferior (2,5-1,8 Ga) e no Proterozóico Superior (900 – 650 Ma). Os itabiritos do Arqueano foram formados num ambiente caracterizado pela atuação de processos de cratonização com predomínio de atividades vulcânicas submarinas. As estreitas bacias geradas durante este processo foram preenchidas por rochas vulcânicas e sedimentos clásticos. As soluções geradas pelas atividades vulcânicas propiciaram a concentração de metais como ouro, níquel, manganês, ferro, etc. Estes depósitos arqueanos são chamados de Formações Ferríferas Tipo Algoma (Gross, 1965). O conteúdo total de ferro primário neste tipo de depósito raramente excede 1010 t (James & Trendall, 1982). A extensão lateral típica é menor que 10 km, com espessura variando entre 10 e 100 m (Goodwin, 1973; Appel, 1980; Condie, 1981). Os ambientes deposicionais propícios para este tipo de formação ferrífera incluem arcos de ilhas, bacias de retro-arcos (Veizer, 1983) e zonas de rifts intracratônicas (Gross, 1983). No Proterozóico Inferior, foram formados os depósitos mais significativos de itabiritos. Estes depósitos ocorreram em um período de grande estabilidade na crosta com a formação de grandes bacias marginais rasas que recebiam sedimentos clásticos (erosão das rochas continentais e lixiviação da crosta oceânica) e soluções de ferro e sílica (ações vulcânicas e erosão dos cinturões vulcânicos dentro das bacias sedimentares) (Mel’nik, 1982). O ambiente deposicional era marinho relativamente raso e em condições de transgressão (Simonson & Hassler, 1996). A contribuição química se precipitou na plataforma continental em suas diferentes fácies, dependendo da profundidade da bacia sedimentar: fácies carbonática, fácies óxidos ou fácies silicática. Estes depósitos foram, em sua maioria, enriquecidos posteriormente (diagênese, metamorfismo, metassomatismo) apresentando hoje teores que chegam a 69% de ferro (hematita compacta) (Walde, 1986). Conhecidos como Formações ferríferas tipo Lago Superior (Gross,1965), estes depósitos são maiores que os do tipo Algoma e ocorrem associados a outras unidades sedimentares. O conteúdo total de ferro primário excede a 1013 t (James & Trendall, 1982). Várias ocorrências de BIFs classificadas como tipo Lago Superior possuem extensões maiores que 105 km2 (Trendall & Blockley, 1970; Beukes, 1973). Dentre estes depósitos, destacam-se no mundo as regiões do Lago Superior (EUA), Labrador (Canadá), Krivoi Rog (Ucrânia), Hammersley Ranch (Austrália), Transvaal (África do Sul). No Brasil são desse tipo os depósitos de ferro do Quadrilátero Ferrífero e de Carajás. 11 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 2.2.2 – Depósitos formados por atividades ígneas Durante a cristalização das rochas ígneas, pode ocorrer um processo de concentração de ferro. Este processo resulta no surgimento de depósitos em concentração econômica quando o ferro está presente na fase fluida que escapa para as rochas vizinhas a partir de um magma ativo (pirometassomatismo). Concentrações pirometassomáticas em calcários são importantes minérios em algumas regiões dos Estados Unidos, União Soviética e Japão. Outra possibilidade ocorre quando há enriquecimento de Fe em rochas ígneas durante a cristalização. Nestes casos, o acúmulo de minerais ricos em ferro, como ilmenita (FeTiO3) e magnetita, pode resultar na formação de depósitos de Fe economicamente importantes (Walde, 1986). 2.2.3 – Depósitos formados por soluções hidrotermais São formados quando fluidos finais da cristalização magmática interagem com rochas vizinhas. Pode ser dividido em dois tipos: quando o ferro enriquece rochas não ferruginosas e quando o ferro enriquece rochas já ferruginosas. Exemplos do primeiro caso são as jazidas de ferro do oeste dos Estados Unidos (Walde 1986) 2.2.4 – Depósitos resultantes de alterações e acúmulo em superfície Ocorrem quando há enriquecimento das camadas superficiais ou subsuperficiais. Pode ser dividida em dois grupos: Lateritas, onde predomina a limonita, representa o produto de alteração em climas tropicais úmidos. Apesar de gerar depósitos com teores de até 50% estas jazidas não têm grande significado econômico. Enriquecimento residual de depósitos com baixa concentração de ferro. É resultado de processos de oxidação e lixiviação da sílica e forma importantes depósitos na Espanha, no Quadrilátero Ferrífero, em Urucum e em Carajás. 2.3 – O QUADRILÁTERO FERRÍFERO Os depósitos de ferro Pré-cambrianos do Brasil estão entre os maiores do mundo e tornaram-se mundialmente conhecidos através do trabalho de Derby (1910). Entretanto, as ocorrências de ferro do Quadrilátero Ferrífero já haviam sido descritas há cerca de 180 anos no trabalho pioneiro do Barão de Eschwege (Eschwege, 1822) quando introduziu o termo “itabirito” para as formações ferríferas bandadas que ocorrem em Minas Gerais. 12 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Uma importante característica dos minérios de ferro brasileiros são seus altos teores, variando em torno de 60 a 67 % de Fe nos minério hematíticos e 50 a 60 % de Fe nos minérios itabiríticos e jaspilitos (Quaresma, 2001). Além das ocorrências do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, são dignas de nota as jazidas de ferro da Serra dos Carajás, no Pará. Como ocorrências menores aparecem as jazidas de Rio Peixe Bravo e Morro do Pilar, Minas Gerais e Urucum, no Mato Grosso. As reservas mundiais de minério de ferro (medidas + indicadas) no final de 2002 eram de cerca de 328 bilhões de toneladas. Deste total, o Brasil detém 6,4% (21,0 bilhões de toneladas) posicionando-se no 5º lugar entre os países detentores de minérios de ferro. Mas por causa dos altos teores de ferro dos minérios brasileiros, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países produtores de ferro, atrás apenas da China. Entretanto, considerando-se que a produção da China refere-se à produção sem tratamento, o Brasil é, provavelmente, o maior produtor de mundial de minério beneficiado (Jesus, 2003). As reservas brasileiras encontram-se assim distribuídas: Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais) com 65%, Serra dos Carajás (Pará), contribuindo com 30% e Urucum (Mato Grosso do Sul) com 4%. O 1% restante está dividido entre os depósitos menores do estado de Minas Gerais. A história geológica do Quadrilátero Ferrífero (Dorr II, 1969) teve início no Arqueano se desenvolvendo até o final do Proterozóico. O arcabouço geológico compreende cinco grandes unidades principais (Alkmim & Marshak, 1998): embasamento cristalino arqueano, uma seqüência vulcanosedimentar também arqueana (Supergrupo Rio das Velhas), uma seqüência metassedimentar paleoproterozóica (Supergrupo Minas), rochas intrusivas pós-Minas e uma seqüência detrítica do Proterozóico Superior (Grupo Itacolomí). Exceto pelas rochas intrusivas, cada grupo representa uma etapa do desenvolvimento que se inicia com a formação de uma bacia sedimentar, seguida por um processo orogênico e sua subseqüente erosão. A Figura 2.1 representa a coluna estratigráfica proposta por Alkmin & Marshak (1998) para as seqüências do Quadrilátero Ferrífero. Os grandes depósitos de ferro do Quadrilátero Ferrífero pertencem aos metassedimentos de idade Paleoproterozóica do Supergrupo Minas. Esta unidade recobre discordantemente as rochas arqueanas do Supergrupo Rio das Velhas e compreende três seqüências distintas, depositadas entre 2,6 e 2,12 Ga (Renger et al., 1994; Noce, 1995; Babinski et al., 1995). A base do Supergrupo Minas é constituída por conglomerados aluviais e quarzitos, gradando para pelitos marinhos de águas rasas do Grupo Caraça. A unidade intermediária, chamada Grupo Itabira, é constituída essencialmente por sedimentos de origem química. Na base ocorre a Formação Cauê, uma extensa camada de formação ferrífera, onde estão presentes corpos hematíticos, filitos dolomíticos, 13 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p 1,75 Ga Gr. Itacolomi 2,12 Ga Paleoproterozóico Supergrpo Minas Grupo Sabará Fm Barreiro Fm Taboões Fm Fecho do Funil Grupo Piracicaba Fm Cercadinho Grupo Itabira Fm Gandarela 2,4 Ga Fm Cauê Fm Batatal Fm Moeda Fm Tamanduá Gr. Maquiné Arqueano Gr. Nova Lima Supergrupo Rio das Velhas Gr. Nova Lima 2,61-2,78 Ga Embasamento 2,9-3,2 Ga metaconglomerados carbonatos metadiamictitos formação ferrífera bandada pillow lavas, Komatiitos gnaisses, migmatíticos metapelitos metavulcânicas diques máficos granitóides Figura 2.1 – Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero proposta por Alkmin & Marshak (1998) mármores, e dolomitos (Rosière & Chemale Jr., 2000). Esta seqüência grada para os itabiritos dolomíticos e manganesíferos da Formação Gandarela (2,42 Ga, Babinsky et al., 1995), topo do Grupo Itabira. Em função desta idade para a seqüência sobrejacente, estes autores estimam uma idade de 2,52 Ga para a deposição das BIFs da Formação Cauê. Recobrindo o Grupo Itabira aparece uma espessa pilha de sedimentos clásticos com dolomitos subordinados pertencentes ao Grupo Piracicaba. Uma seqüência de turbiditos, rochas vulcanoclásticas, conglomerados e diamictitos compõem o Grupo Sabará, topo do Supergrupo Minas, apesar de ser significativamente mais nova que as seqüências inferiores (2,13 Ga, Machado et al., 1992). 14 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... As seqüências pós-minas são representadas por corpos intrusivos que cortam as seqüências dos supergrupos Rio das Velhas e Minas. Podem ser veios pegmatíticos (2,06 Ga, Noce, 1995), diques máficos (1,7 Ga, Silva et al. 1995) e até mesmo plútons graníticos como o Alto Maranhão (2,08 Ga., Noce, 1995). O Grupo Itacolomí ocorre na porção sudeste do Quadrilátero Ferrífero e é composto por quartzitos e conglomerados polimíticos contendo clastos de BIF. A idade de 2,1 Ga, obtida por U-Pb (Machado et al., 1996), indica que esta unidade seria da mesma idade ou um pouco mais nova que o Grupo Sabará e significativamente mais nova que as unidades do Supergrupo Minas. 2.4 – AS FORMAÇÕES FERRÍFERAS BANDADAS NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO A ocorrência de formações ferríferas bandadas se dá em vários níveis do Supergrupo Minas. Entretanto, é na Formação Cauê, que representa a base do Grupo Itabira, que as formações ferríferas apresentam sua mais importante representatividade. As camadas de itabirito chegam a alcançar uma espessura de 250 m, aflorando na forma de serras que avançam por cerca de 150 km na direção leste-oeste e 100 km na direção norte-sul (Hoppe et al., 1987). No Quadrilátero Ferrífero, as formações ferríferas não ocorrem associadas a rochas vulcânicas. O ambiente deposicional do Grupo Itabira foi predominantemente marinho de água rasa a profunda e foi depositado sobre sedimentos clásticos progradantes do Grupo Caraça. Segundo Renger et al. (1994), o aparecimento de filitos carbonáticos no topo do Grupo Caraça marca o início da sedimentação química, indicando mudanças nas condições de sedimentação da bacia de modo a permitir a deposição da porção inferior do Grupo Itabira. O Grupo Itabira inicia sua seqüência com a deposição de filitos carbonosos, sericita-filitos e filitos dolomíticos que gradam lateralmente e em direção ao topo para hematita-filitos, itabiritos e dolomitos. Essa seqüência foi dividida em duas unidades, uma inferior, a Formação Cauê, onde predominam os itabiritos e uma superior, Formação Gandarela, onde predominam carbonatos (dolomitos e mármores dolomíticos e calcíticos). Estas unidades ocorrem intercaladas, tanto vertical quanto horizontalmente, e o contato entre elas é gradacional (Pires, 1995) Por sobre os sedimentos do Grupo Itabira ocorre a seqüência clástica transgressiva do Grupo Piracicaba. Numa visão mais ampla, a estratigrafia do Supergrupo Minas pode ser dividida em duas megaseqüências principais: a primeira inclui os grupos Caraça, Itabira e Piracicaba e foi depositada em 15 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p ambiente entre deltaico a marinho plataformal. A segunda megaseqüência, representada pelo Grupo Sabará, apresenta depósitos marinhos imaturos. Chemale et al. (1994) interpretam a megaseqüência I como sendo resultado de uma deposição em bacia intracratônica. Já Alkmim & Marshak (1998) interpretam esta megaseqüência como margem passiva. Rosière & Chemale (2000) concluem que a falta de indicadores de um ambiente tectonicamente instável, como vulcanismo intenso, estruturas indicativas de sedimentação sinorogênicas ou de sedimentos imaturos impedem a suposição de modelos envolvendo ambiente orogenético. De acordo com Rosière & Chemale (2000), os seguintes tipos de formações ferríferas podem ser encontradas no Quadrilátero Ferrífero: itabiritos, hematita filitos, Fe-dolomitos, e subordinadamente, filitos piritosos (Tabela 2.1). No Quadrilátero Ferrífero, os itabiritos representam formações ferríferas bandadas metamórficas, deformadas e oxidadas, que não se encaixam no sentido da classificação de James (1954), uma vez que esta classificação se baseia exclusivamente em critérios sedimentares. Hematita filitos são constituídos de sericita, clorita e hematita com intercalações locais de lentes de hematita compacta. Ocorrem na base da Formação Cauê, junto ao contato com a Formação Batatal. São chamados de filitos piritosos os filitos carbonosos portando níveis e lentes milimétricas ricas em sulfetos. Sua ocorrência é restrita podendo, como exemplo, ser encontrado na Mina de Águas Claras, Serra do Curral (Rosière & Chemale, 2000). Tabela 2.1 – Composição mineralógica dos diferentes tipos de formação ferrífera presentes no Quadrilátero Ferrífero (baseado em Rosière & Chemale, 2000) Tipos de formação ferrífera Mineralogia principal Mineralogia acessória Itabirito comum hematita, martita, kenomagnetita, quartzo. clorita, sericita, dolomita ferroana, caolinita, cianita, óxidos de manganês, sulfetos, apatita, pirofilita. Itabirito dolomítico martita, hematita, kenomagnetita, dolomita ferroana. calcita, grunerita-cummingtonita, clorita, stilpnomelano, biotita, tremolita, actinolita, quartzo (chert), sulfetos, pirofilita. Itabirito anfibolítico martita, hematita, kenomagnetita, maghemita, grunerita-cummingtonita, tremolita, actinolita, quartzo. carbonato, talco, dolomita ferroana, egirina, biotita, Mg-riebeckita, kupferita, sulfetos. Hematita filito hematita, sericita. quartzo, clorita. Filito piritoso pirita, matéria carbonosa. 16 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 2.5 – DESCRIÇÃO DAS MINAS AMOSTRADAS As principais mineradoras de ferro do Brasil possuem áreas de exploração no Quadrilátero Ferrífero. Entre elas ressaltam-se a Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, Minerações Brasileiras Reunidas – MBR, Ferteco Mineração, SAMARCO e Cia. Siderúrgica Nacional – CSN. As reservas totais chegam a cerca de 30 bilhões de toneladas. Todo o material estudado (minério, rejeito e água) foi coletado em minas de propriedade majoritária da Cia. Vale do Rio Doce. 2.5.1 – Minério de Ferro de Capanema A mina de ferro de Capanema é administrada pela CVRD em associação a um grupo de empresas japonesas da área de metalurgia lideradas pela Kawasaki Steel. Localiza-se na porção sudeste do Quadrilátero Ferrífero, na extremidade sudeste de Serra do Ouro Fino. A mina e as instalações de britagem localizam-se no município de Santa Bárbara e o pátio de homogeneização e os escritórios localizam-se no município de Ouro Preto. O minério explotado é composto basicamente pela porção dos itabiritos da Formação Cauê enriquecidos supergeneticamente. A alteração meteórica destes itabiritos é profunda e se deve à associação entre a presença de uma estrutura sinformal e a ocorrência de uma camada impermeável sotoposta (Filito Batatal). De acordo com Guimarães et al. (1986), os minérios encontrados em Capanema foram divididos nos seguintes tipos: - hematita - a (Ha), com cerca de 64% de ferro; - hematita - b (Hb), com 61 – 62% de ferro; - itabirito friável (SI), com cerca de 56% de ferro; - itabirito duro (it), com 46% de ferro e - hematita intemperizada (wH), com 61 % de ferro. Como estéreis, foram identificados dois materiais: - hematita muito intemperizada (hwH) e - canga. Massahud & Vivieros (1983) descrevem os minérios Ha, Hb e SI como tendo sido formados pelo enriquecimento supergenético de itabiritos normais. O minério wH foi descrito por estes autores como goethita estruturada, formada a partir da alteração de itabiritos anfibolíticos e carbonáticos. O tipo hwH seria a alteração do itabirito anfibolítico. A Tabela 2.2 mostra os principais tipos de minérios de Capanema e suas composições químicas (Guimarães et al., 1986). 17 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Tabela 2.2 – Composição química média, em al., 1986) Minério Hematita a (Ha) Hematita b (Hb) Itabirito Friável (SI) Hematita intemperizada (wH) *perda por calcinação percentagem, para os minérios da mina de Capanema (Guimarães et Fe 64,40 61,57 55,42 61,61 SiO2 2,04 7,47 17,52 1,20 Al2O3 1,45 0,84 0,50 2,85 P 0,060 0,068 0,049 0,091 PPC* 3,88 3,12 2,05 7,39 As instalações de Capanema compreendem britagem primária, peneiramento, britagem secundária, homogeneização em pilha e transporte em correia para a usina de beneficiamento localizada na Mina de Timbopeba, a 10,9 km de distância. Entretanto, como dito anteriormente, as reservas de minérios de Capanema se exauriram no final de 2003 e a mina encontra-se atualmente em fase de recuperação ambiental. 2.5.2 – Minério de Ferro de Timbopeba A mina de ferro de Timbopeba localiza-se no distrito de Antônio Pereira, município de Ouro Preto, Minas Gerais, extremo sudeste do Quadrilátero Ferrífero. Em Timbopeba estão presentes rochas pertencentes à Formação Cauê representadas por hematitas e itabiritos de fácies oxidada, divididos em itabiritos normais, itabiritos anfibolíticos e itabiritos anfibolíticos-carbonáticos, todos sendo encontrados na forma dura e na forma friável (intemperizados). Desta forma, o minério foi dividido em dois tipos: Minério Hematítico – é o mais importante minério de Timbopeba, apresentando altos teores de ferro (67%). Sua origem é considerada como metassomática, conseqüência da substituição do protominério silicoso e/ou carbonático durante o metamorfismo/tectonismo do Supergrupo Minas (Vasconcelos et al., 1986). O minério apresenta-se negro a cinza metálico, bastante foliado e foi dividido em três tipos de acordo com sua competência física: hematita dura, hematita mole e hematita pulverulenta. Minério Itabirítico – dentre os tipos de itabirito que ocorrem em Timbopeba, apenas as variedades friáveis são consideradas minérios. Dentre estes, tanto o minério anfibolítico quanto o minério anfibolíticocarbonático apresentam baixo grau de liberação, além dos baixos teores, uma vez que o ferro ocorre na forma de minerais silicatados, não aproveitáveis. A Tabela 2.3 apresenta os teores de ferro e a composição química dos principais minérios de Timbopeba de acordo com Vasconcelos et al. (1986). 18 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela 2.3 – Composição química média, em percentagem, para os minérios da Mina de Timbopeba (adaptado de Vasconcelos et al., 1986) Minério Fe P SiO2 Al2O3 Mn S MgO CaO TiO2 Cr Hematítico 67,6 0,02 1,71 0,63 0,11 0,002 0,08 0,03 0,06 0,01 Itabirito normal 53,7 0,02 21,5 0,80 0,13 Itabirito anfibolítico 43,5 10,1 29,6 0,82 0,18 0,20 0,22 - Em Timbopeba encontra-se a planta de beneficiamento dos minérios explotados na minas de Capanema e Timbopeba, constituindo dois circuitos independentes onde os minérios são pelotizados e embarcados no ramal da estrada de ferro da CVRD para o porto de Tubarão no Espírito Santo. 2.5.3 – Minério de Ferro do Complexo Alegria O complexo Alegria era explorado pela S/A Mineração da Trindade – SAMITRI, então uma subsidiária da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira, desde 1969. Em maio de 2000, a Cia. Vale do Rio Doce assumiu o controle acionário da SAMITRI ao adquirir 63% do capital da empresa. O termo Complexo Alegria designa um alinhamento de concessões de gênese comum que engloba várias jazidas e minas como: Fazendão, Morro da Mina, Alegria Este, Alegria Oeste, Alegria Centro, Conta História, Batatal, Miguel Congo, Fábrica Nova, Alegria Sul e Germano. Destas, as sete primeiras pertencem à SAMITRI e as três últimas à SAMARCO Mineração S/A cujo capital é dividido igualmente entre a CVRD e a The Broken Hill Proprietary Company Limited (BHP) sediada em Melbourne, Austrália. Estão presentes na região de Alegria, rochas pertencentes aos supergrupos Rio das Velhas, Minas e Grupo Itacolomi. As minas do Complexo Alegria desenvolvem-se nos itabiritos da Formação Cauê, Grupo Itabira, onde esta formação alcança sua maior potência, atingindo espessuras da ordem de 2.000 metros. Segundo Barcelos & Büchi (1986), o minério é representado por itabiritos enriquecidos supergeneticamente em ferro. Assim, o minério ocorre nas partes altas do relevo e são descritos como relictos de antigas superfícies de erosão preservados pela cobertura de canga. O enriquecimento supergênico se deu através de uma seqüência de transformações intempéricas do itabirito duro e maciço com baixo teor em ferro (35%) em itabiritos moles, friáveis e porosos e destes em hematita friável (Fe ≥ 64%). Este enriquecimento em Fe é conseqüência da decomposição e lixiviação da sílica, associado à solubilização e redeposição do ferro na forma de limonita e goethita nos vazios deixados pela sílica (Barcelos & Büchi 1986). 19 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p Em função do teor de ferro, o minério das minas do Complexo Alegria foi dividido em três tipos: hematita (Fe ≥ 64 %), itabirito rico (60 ≤ % Fe < 64) e itabirito (% Fe ≤ 60). Destes, o minério rico (hematita + itabirito rico) do Complexo Alegria representa 92% da reserva da SAMITRI. No Complexo Alegria encontram-se duas instalações de beneficiamento com capacidades de 500 t/h e 1000 t/h, responsáveis pela produção de 5.600.000 t/ano de finos (0-10 mm) e 400.000 t/ano de granulado (6,4-25 mm). 20 CAPÍTULO 3 GEOQUÍMICA DO FERRO 3.1 – INTRODUÇÃO O elemento ferro, em suas várias espécies, pode ser encontrado em praticamente todos os ambientes geoquímicos do planeta, incluindo-se aí o solo e os sedimentos, as águas superficiais, subterrâneas e até atmosféricas (nuvens, neblinas e chuvas) (Behra & Sigg, 1990). De um modo geral, o ferro ocorre na rede cristalina de vários minerais ou dissolvido na forma de íons (Fe+2 e Fe+3). Dentre os minerais de ferro, destacam-se principalmente os óxidos cristalinos hematita (α-Fe2O3) e magnetita (Fe3O4), além dos óxidos e/ou hidróxidos fracamente cristalinos ou amorfos: ferridrita (5Fe2O3.9H2O), akaganeíta (β-FeOOH), lepdocrocita (γ-FeOOH), goethita (α-FeOOH) e shwertmannita (Fe16O16(OH)y(SO4)z (onde 16 – y = 2z e 2,0 ≤ z ≤ 3,5) que geralmente são secundários, formados a partir do intemperismo de rochas portadoras de minerais de ferro (Cornell & Schwertmann, 1996). A Figura 3.1 apresenta um resumo das múltiplas interações entre os compartimentos geoquímicos em que os óxidos de ferro tomam parte. Terra Minérios Rochas Águas mineração solos oceanos rios lagos depósitos ácidos de mina poeira indústria plantas animais homem Figura 3.1 – Óxidos de ferro no sistema global, adaptado de Cornell & Schwertmann (1996). Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Por possuírem área superficial altamente reativa e que pode chegar a 126 m2·g-1 (Randall et al., 1999), estes óxidos, quando em suspensão na forma coloidal ou como carapaças cobrindo partículas suspensas nos corpos hídricos, propiciam a adsorção de uma enorme gama de substâncias orgânicas e inorgânicas. É esta capacidade de adsorção que faz com que os óxidos desempenhem um importante papel no ciclo biogeoquímico de várias substâncias, participando como reagente ou catalisador da degradação de matérias orgânicas, na fixação e/ou liberação de metais pesados, fosfatos, sulfatos e outros poluentes (Stumm & Sulzberger, 1992; Volker-Bartschat, 1994; Förstner & Haase, 1998; Eggleston et al., 1998; Bargar et al., 1999; Collins et al., 1999; Liger et al., 1999; Randall et al., 1999; Zachara et al., 2000). Quando as partículas de óxido de ferro se agregam e se depositam, as substâncias adsorvidas são retiradas da coluna d’água e levadas para o sedimento de fundo. A capacidade dos óxidos de ferro em acumular substâncias contaminantes é claramente demonstrada pelo fato de a concentração de metais traço na fração óxido do sedimento de fundo ser, freqüentemente, várias vezes maior que a presente no restante dos sedimentos e na coluna d’água (Sigg, 1985; Randallet al., 1999). Desta forma, o papel dos óxidos de ferro na acumulação de metais pesados por adsorção ou co-precipitação em rios, estuários, lagos, pântanos e oceanos tem sido bastante estudado (Gibbs, 1977; Johnson, 1986; Tessier et al., 1985; Fox, 1988; Canfield, 1989; Luther III et al., 1992; Kostka & Luther III, 1994; Tessier et al., 1996; Morse & Luther III, 1999). Os óxidos de ferro podem ainda participar de reações químicas, agindo tanto como catalisador quanto como reagente. Desta forma, podem acelerar as taxas de oxidação de matéria orgânica poluente (Stumm & Sulzberger, 1992; Zachara et al., 2000; Clausen & Fabricius, 2001) e não poluente (Tipping, 1981; Gu et al., 1995; Banwart, 1999; Filius et al., 2000), de metais (Manceu, 1995; Christl & Kretzschmar, 1999; Davranche & Bollinger, 2000; Trivedi et al., 2001) e de ligantes inorgânicos (Hsi & Langmuir, 1985; Ding et al., 2000; Liang et al., 2000). Através da mediação de transferências eletrônicas ou por catálise, as espécies dissolvidas de ferro – Fe (II) e Fe (III) – representam também um importante papel na decomposição de poluentes orgânicos ou inorgânicos, naturais ou não (Schwarzenback et al., 1990; Voelker-Bartschat, 1994). O forte caráter oxidante do Fe (III) faz com que ele seja um importante agente na decomposição de matéria orgânica, principalmente em presença de luz (Stumm & Sulzberger, 1992) ou potencialize reações de oxidação de sulfetos intensificando o problema das drenagens ácidas (Moses et al., 1987; Yu et al., 1999; Rose & Elliott, 2000). O Fe (II) pode, ainda, reduzir o O2 para H2O2 se oxidando para Fe (III) (Stumm, 1992). As reações envolvendo ferro podem ainda condicionar a presença ou a ausência de espécies instáveis como o H2O2, radicais livres OH•, pares redox HO2/O2– e O3 (Voelker-Bartschat, 1994). 22 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. O ferro é ainda um nutriente importante, sendo, portanto, um metal fundamental para manutenção da vida. As conseqüências do excesso ou carência de ferro no ambiente podem se refletir não apenas na ecologia local, mas por todo o ciclo do carbono (Martin et al., 1994). Em algumas partes do oceano, a escassez de ferro pode ser um fator limitante para a existência de fitoplânctons, base da cadeia alimentar. Por outro lado, o aumento do teor de ferro nos oceanos, comum nas regiões polares ou durantes os períodos glaciais, provoca grande proliferação de algas. Em seu processo de fotossíntese, estas algas retiram seu carbono do CO2 das águas superficiais do oceano que é substituído pelo CO2 da atmosfera, causando uma diminuição perceptível (~ 40 ppm em períodos glaciais) na concentração deste gás na atmosfera (Watson et al., 2000). Recentemente, vários projetos vêm avaliando a possibilidade de se fertilizar os oceanos com ferro com o objetivo de seqüestrar o carbono atmosférico, fixando-o como biomassa em águas profundas, diminuindo assim o efeito estufa causado pelo excesso de CO2 na atmosfera (Buesseler et al., 2004). Um determinado grupo de microorganismos é especializado em obter energia a partir dos metais. Este grupo de bactérias, geralmente sob condições anaeróbicas, pode usar o Fe+3 (ou o Mn+4) como receptor de elétrons, associado à oxidação da matéria orgânica ou H2. Destas reações, as bactérias retiram a energia suficiente para sua manutenção e crescimento (Zachara et al., 1998). Assim, bactérias como Shewanella putrefaciens, Geobacter metallireducens, Pseudomona putida, Shewanella alga (anaeróbicas) conseguem biodisponibilizar o ferro a partir dos óxidos amorfos ou mesmo a partir de óxidos de ferro cristalinos como a hematita (Parmar et al., 2000; Maurice et al., 2000) ou a Pseudomona mendocina (aeróbica) capaz de reduzir o Fe(III) de argilo-minerais (Kostka et al., 1999). Por outro lado, bactérias como Thiobacillus ferrooxidans e Leptospirillum ferrooxidans agem de maneira inversa, oxidando o Fe(II) dos sulfetos para Fe(III). Estas bactérias, presentes em ambientes de pH ácido (2,8 – 3,2), podem potencializar a liberação de metais traço normalmente presentes nos sulfetos (As, Cd, Cu, Ni, Pb, etc.). A presença destas bactérias intensifica ainda mais o mecanismo que produz as drenagens ácidas nas minas pela produção de ácido sulfúrico, uma vez que o Fe(III) liberado oxida rapidamente o sulfeto para sulfato (Schrenk et al., 1998). 3.2 – O CICLO GEOQUÍMICO DO FERRO Devido à ubiqüidade do ferro, seu ciclo geoquímico também permeia diversos reservatórios globais como oceanos, lagos, solos e sedimentos e, como descrito anteriormente, é dependente de vários processos físicos, químicos e biológicos. Em todos estes reservatórios, os compostos sólidos de ferro estão presentes com uma grande relação superfície/volume. Como conseqüência, as reações controladas por superfície 23 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... desempenham um papel importante, regulando a composição destes reservatórios e o fluxo de massa dos elementos de um reservatório para o outro (Stumm & Sulzberger, 1992). Os ciclos geoquímicos dos diversos elementos químicos são interdependentes e, freqüentemente, cineticamente associados. O ciclo do ferro é interdependente dos ciclos do fósforo, enxofre, metais pesados, oxigênio, carbono, biota e luz. Segundo Stumm & Sulzberger (1992), três importantes considerações enfatizam a particular importância do ferro no ciclo geoquímico global dos elementos: 1- A quantidade de ferro envolvida nos reservatórios sedimentares e as taxas de transformação. Cerca de 17 x 1020 mol de Fe (~ 5-6% em peso) estão armazenados nas rochas sedimentares sendo que cerca de 3,5 x 1012 mol·ano-1 de ferro são transformados da forma reduzida para a forma oxidada e viceversa. Esta habilidade das espécies de ferro em tornarem-se oxidadas ou reduzidas liga o ciclo do ferro ao ciclo do oxigênio (oxidante) e ao ciclo do carbono orgânico (redutor). 2- Superfície específica e reatividade. A grande superfície específica das fases sólidas – óxidos e hidróxidos de Fe(II) e Fe(III), FeS2, FeS, Fe-silicatos – aliada à grande reatividade, facilita a adsorção de vários solutos criando uma importante interdependência entre o ciclo do ferro e o ciclo de muitos outros elementos, destacando-se aí o dos metais pesados, alguns metalóides e oxiânions como fosfato e sulfato. 3- Catálise. A superfície quimicamente ativa de algumas das fases sólidas do ferro dá a estes óxidos e sulfetos a habilidade de catalisar reações de redox. Superfícies sólidas e complexas, por si só, agem como semicondutores podendo participar em reações de fotoredox, onde a energia da luz é usada para induzir ou catalisar a reação de redox. O ciclo do ferro, representado na Figura 3.2, ilustra alguns processos de redox tipicamente observados nos solos, sedimentos e água, mais especificamente na interface aeróbica-anaeróbica. O ciclo representa: 1. Dissolução redutiva dos óxidos de Fe(III) pelos ligantes orgânicos. Esta reação pode ocorrer ainda em águas superficiais através de fotocatálise (Voelker-Bartschat, 1994) e nos solos, mediada por microorganismos (Lovley, 1991; Lovley & Philips, 1991). Estes microorganismos e as plantas produzem uma larga variedade de ácidos biogênicos: oxálico, maleico, acético, succínico, tartárico, ketoglucínico e p-hidroxibenzóico. Mesmo em maiores profundidades no solo, bactérias anaeróbicas podem produzir estes ácidos por fermentação. A oxidação destes ácidos pelo Fe(III) pode ser importante tanto pela degradação e polimerização da matéria orgânica, quanto pela disponibilização do Fe(II) para as plantas superiores. Esta dissolução será tão mais fácil quanto menos cristalino for o óxido envolvido (Xie & Dunlop, 1998). 24 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. FeIII- OH Precipitação Possível catálise pelas superfícies Transferência de elétrons O2 Ligante orgânico oxidado Ligante orgânico FeIII ligante orgânico hv possível influência da luz Transferência de elétrons FeII-aq FeII ligante orgânico oxidado Figura 3.2 – Ciclo do ferro na interface dos ambientes redutor/oxidante em um meio lacustre. A redução dos óxidos de ferro(III) promovida pelos ligantes orgânicos oxidáveis (e freqüentemente por sulfetos) e a subseqüente reoxidação do Fe(II) pelo O2 desempenham um importante papel em solos, sedimentos e águas. A velocidade relativamente alta destas reações é importante na reciclagem, transporte e fixação/liberação de muitas substâncias reativas (ex. carbono orgânico, oxigênio, metais-traço, fosfato, etc.). Muitos destes processos podem ser influenciados direta ou indiretamente por mediação microbiana. Este ciclo pode ocorrer ainda na superfície da água (zona aeróbica), onde a redução pode ser induzida fotoquimicamente (Stumm & Sulzberger, 1992) 1,4 1,2 1,0 0,8 +2 [Fe -6 0 4 M 0 ]=1 0,4 O2 H2O ]=1 +2 [F e 0,6 M +2 Fe Fe 2O3 0,2 Figura 3.3 – Diagrama de Eh-pH indicando as áreas de estabilidade de minerais comuns de ferro. Atividade total de carbonato dissolvido, 1M, de enxofre dissolvido 10-6 M. As linhas em vermelho são para ferro dissolvido total = 10-6 M, as linhas pretas tracejadas para 10-4 M. As linhas pretas cheias inclinadas indicam o campo de estabilidade da água. As duas linhas verticais indicam as condições encontradas em águas próximas da superfície (adaptado de Garrels, 1960) 25 H2O 0,0 FeCO3 H2 A -0,2 FeS2 +2 Fe -0,4 FeCO3 E D -0,6 Fe 3 O4 0 2 4 6 8 pH 10 12 14 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 2. Oxidação do Fe(II) para Fe(III). O Fe(II) é geralmente solúvel. Já o Fe(III) tende a se precipitar na forma de óxidos. A Figura 3.3 mostra os campos de estabilidade das diversas espécies de ferro. A precipitação dos óxidos ferro é geralmente acompanhada pela fixação de metais pesados, tanto por adsorção quanto por co-precipitação. Além dos metais pesados, pode haver ainda adsorção de fosfato, sulfato, substâncias orgânicas, etc. A redução dos óxidos de ferro é acompanhada de liberação dos metais-traço adsorvidos e/ou co-precipitados. A Figura 3.4 representa o ciclo dos metais pesados e a sua relação com o ciclo do ferro Em resumo, pode-se dizer que o ciclo geoquímico do ferro na natureza toma parte eficazmente de dois importantes processos: por um lado, a adsorção de metais pesados, potencialmente poluentes, que ocorre durante sua oxidação para Fe (III) e sua conseqüente precipitação e, por outro lado, a oxidação da matéria orgânica, também poluente quando em excesso, durante sua redução para Fe (II). Estes dois processos serão abordados em detalhe mais adiante. Entrada de metais dissolvidos ou particulados Deposição atmosférica ATMOSFERA Me particulado Captura por Me dissolvido Me(aq) MeL Adsorção Dessorção Mineralização biog. ÁGUA aeróbico ADSORÇÃO oxido Fe(III) oxido Mn(IV) Oxidação e precipitação +2 Fe+2 Mn aneróbico Liberação de elementos traço +2 Fe oxido Fe(III) +2 oxido Mn (IV) Mn redução e dissolução SEDIMENTOS Figura 3.4 – Representação esquemática do ciclo dos metais traço em ambiente lacustre. Em vermelho aparecem realçadas as interferências do ciclo do Fe sobre os metais traço (adaptado de Stumm, 1992). 26 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 3.3 – PROCESSO DE ADSORÇÃO DE METAIS TRAÇO NOS ÓXIDOS DE FERRO 3.3.1 – Importância O termo “sorção” descreve a remoção de um soluto a partir de uma solução para uma fase sólida contígua e é usado quando o mecanismo de remoção é desconhecido. O termo “adsorbato” se refere ao soluto sorvido na fase sólida. “Adsorvente” é a fase sólida ou substrato no qual o adsorbato é sorvido. O termo “adsorção” se refere a um processo de acumulação bi-dimensional de um adsorvato na superfície de uma fase sólida. O termo “absorção” é usado quando ocorre uma acumulação tri-dimensional representada pela difusão do adsorbato para o interior da fase sólida como resultado de processos precipitação superficial ou de co-precipitação. Em geral, o processo de absorção é dependente do tempo. Ambos os processos, adsorção e absorção, implicam em perda de soluto a partir de uma solução para uma fase sólida, o que torna especialmente difícil a distinção entre eles (Sposito, 1996). A adsorção de metais e ligantes é um fenômeno que exerce fundamental influência em vários processos geoquímicos, dentre os quais destacam-se (Stumm, 1992): • Distribuição de substâncias entre a fase aquosa e o material particulado. A afinidade do adsorbato com o material particulado influencia diretamente as formas de ligação dos metais aos sedimentos e, conseqüentemente, seu transporte através dos vários reservatórios globais, estabelecendo em cada um destes reservatórios seu relativo tempo de residência, concentrações residuais e seu destino final. • Propriedades eletrostáticas. A adsorção afeta as propriedades eletrostáticas das partículas e colóides em suspensão afetando assim sua tendência em agregar-se (coagulação, fixação, filtração, etc.). • Reatividade das superfícies. Vários processos são controlados pela maior ou menor reatividade das superfícies. Precipitação (nucleação heterogênea e precipitação em superfície), dissolução de materiais (intemperismo de rochas, formação de solos e sedimentos, corrosão de estruturas e metais), catálise e fotocatálise de processos de oxirredução são processos extremamente dependentes das propriedades da superfície. 3.3.2 – Química de Coordenação da Interface Óxido-Água A neutralidade da matéria cristalina se deve a uma igual distribuição de carga entre seus cátions e ânions. Entretanto, os átomos terminais da rede cristalina (átomos das faces e arestas) apresentam um desequilíbrio de cargas, uma vez que apresentam um número de coordenação menor que os átomos internos à estrutura cristalina. Este desequilíbrio induz um potencial eletrostático na superfície que é neutralizado pela atração de espécies de carga contrária, caso o cristal esteja imerso em água. 27 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Pode-se considerar, por generalização, que um sólido comporte-se como um polímero e que os grupos superficiais sejam vistos como grupos funcionais. Estes grupos funcionais contêm os mesmos doadores de elétrons encontrados nos grupos funcionais dos solutos ligantes: OH, SH, SS, C O , etc. OH Assim como nos polímeros, estes grupos funcionais permitem uma grande diversidade de interações, podendo comportar-se ora como oxiácidos ora como bases, intermediando processos de protólises e de ligações coordenadas com íons metálicos. Os mecanismos de adsorção são pouco entendidos e apenas recentemente algumas etapas básicas foram descritas. Zaho et al. (1994) confirmaram, através de análises por Extended X-ray Absorption Fine Structure (EXAFS), que em superfícies secas de ferridrita os átomos superficiais de ferro apresentam complexos de coordenação insaturados. A presença de orbitais vazios faz com que os átomos superficiais de ferro se comportem como ácido de Lewis e reajam com bases de Lewis1. Em sistemas aquosos, os átomos de ferro formam complexos de coordenação com moléculas de água ou grupos hidroxila, compartilhando seus pares eletrônicos. Na maioria dos óxidos, entretanto, a sorção química dissociativa da água é energeticamente favorecida, gerando os grupos hidroxila (Stumm, 1992). De acordo com Cornell & Schwertmann (1996), este processo de hidroxilação dos óxidos de ferro é um processo rápido, que demora apenas alguns minutos para se completar. A Figura 3.5 representa esquematicamente este processo. Figura 3.5 – Representação esquemática de uma seção da camada superficial de um óxido de ferro. As esferas marrons representam os íons do ferro e as esferas cinzas os oxigênios. Os íons que estão na superfície apresentam um número de coordenação reduzido (a). Como conseqüência, eles se comportam como ácido de Lewis. Em meio aquoso, os íons metálicos tendem a se coordenar com o oxigênio das moléculas de água (b). Para a maioria dos óxidos, a sorção química dissociativa da água parece ser favorecida dando origem aos grupos hidroxilas superficiais (c) (Stumm, 1992). 1 Um ácido de Lewis é uma espécie (neste caso os íons de ferro da superfície) capaz de receber um par eletrônico. Funciona como base de Lewis a espécie capaz de doar um par de elétrons livres (como é o caso do oxigênio em um grupo –OH presente nas superfícies dos óxidos). 28 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Após esta hidroxilação, as hidroxilas superficiais comporão o grupo funcional dos óxidos de ferro, o que significa que são elas as entidades quimicamente ativas das superfícies dos sólidos nos ambientes aquáticos. Além do átomo de hidrogênio dissociável, as hidroxilas possuem pares de elétrons que permitem que a superfície reaja tanto com ácidos como com bases, fornecendo, assim, o caráter anfótero dos óxidos de ferro: ≡FeOH + H+ ≡FeOH + OH- ≡FeOH2+ (2) ≡FeO- + H2O Desta forma, são os grupos OH que irão determinar o mecanismo de adsorção com as espécies adsorvidas. Como estes grupos estão presos a uma sólida estrutura cristalina, deve-se considerar que sua superfície funciona, em essência, de modo cooperativo. A Figura 3.6 mostra três possíveis mecanismos de adsorção de íons metálicos na interface óxidoágua, bem como sorção através da qual há formação de precipitado superficial. Todos esses mecanismos têm em comum a substituição de grupos OH da superfície (troca de ligantes) para formar complexos de superfície. Figura 3.6 – Arranjos estruturais em complexos superficiais em um óxido (compilado por Stumm, 1992): a) Definição de possíveis processos de sorção de complexos na interface óxido-água (representada pela linha horizontal). O substrato sólido aparece abaixo e a solução aparece acima da linha. As esferas vermelhas denominadas “M” representam os átomos de metal sorvido nos vários tipos de complexos. As esferas em cinza no substrato sólido e em volta do metal na solução são os átomos de oxigênio. As esferas marrons no substrato sólido são os íons metálicos. b) Complexo superficial de Cu(II) em δ-Al2O3. c) Estrutura proposta para SeO3-2 coordenado com átomos de Fe em um cristal de goethita. 2 A superfície de um óxido de ferro pode ser representada por ≡Fe – OH, onde o sinal ≡ simboliza genericamente as ligações com a matéria cristalina. 29 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... + Na Complexos de superfície tipo esfera interna fosfato 0 carga positiva ZPC carga negativa 6 8 pH 10 12 100 monodentado bidentado + 4 c) % do cátion ligado à superfície Moléculas de água b) H+ ligado à superfície - Cl 80 60 +2 Pb 40 Cu +2 Cd +2 20 0 binuclear 6 4 8 pH 12 10 100 mononuclear bidentado mononuclear d) oxalato % do ânion ligado à superfície Oxi gênio Complexos de esfera externa a) Metal 80 60 -2 -2 -2 SeO4 SO4 Cr2O4 40 -3 -3 VO4 AsO4 20 0 4 6 8 pH 10 12 Figura 3.7 – Tipos de complexos de superfície possíveis nos óxidos de ferro. Em presença de água, a superfície dos óxidos é recoberta por uma camada de grupos hidroxila (a), que pode funcionar como um oxiácido ou base polimérica. Os grupos OH da superfície formam complexos onde o O funciona como doador de elétrons e coordena íons H+ (b) e íons metálicos (c). Este H+ ligado à superfície pode ser determinado experimentalmente por titulação alcalimétrica de uma suspensão do óxido, em uma dada solução eletrolítica. ZPC representa a condição de próton zero (Zero Proton Condition) ou ponto de carga zero. O átomo do metal da camada superficial agindo como um ácido de Lewis, pode trocar seu OH superficial por outros ligantes (ânions ou ácidos fracos) (d) (Adaptado de Stumm & Sulzberger, 1992) Devido ao seu papel fundamental nos processos de adsorção, a densidade de hidroxilas é uma grandeza que define a capacidade de adsorção dos óxidos de ferro. Entretanto, por ser de difícil mensuração, existem, na literatura, resultados bastante discrepantes quanto a estes valores nos diferentes tipos de óxidos de ferro. Cornell & Schwertmann (1996) apresentam como razoáveis os valores de densidade de hidroxila entre 1,68 e 1,97 nm-2 para os óxidos de ferro mais comuns - goethita, lepidocrocita e ferridrita. Estes autores apresentam uma compilação de dados obtidos por diferentes métodos extraídos de diversos trabalhos apontam valores que variam entre 0,35 a 16,8 nm-2. 30 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. A presença dos grupos –OH na superfície dos óxidos de ferro afeta diretamente sua carga superficial. Por sua vez a carga superficial influencia no tipo de adsorção. A Figura 3.7a apresenta uma visão esquemática do modelo de formação de uma superfície complexa. Já Figura 3.7b ilustra como as superfícies dos óxidos de ferro interagem com H+, OH-. A carga superficial dos óxidos de ferro é dependente do grau de ionização (transferência dos prótons) e conseqüentemente depende do pH do meio. Assim, grupos de superfície desprotonados (≡Fe – O-) passam a funcionar como base de Lewis e a adsorção de íons metálicos (e prótons) pode ser entendida como uma competição na formação de complexos. 3.3.3 – Adsorção de ânions Ânions são ligantes, o que significa que possuem um ou mais átomos com um par de elétrons desemparelhados. A adsorção de ligantes (arsenato, fosfato, molibdato, uranila, etc.) vem sendo extensivamente estudada devido à sua grande importância, principalmente na contaminação ambiental (Barrow, 1983; Liger et al., 1999; O’Reilly et al., 2001; Rau et al., 2003; Lang & Kaupenjohann, 2003). A adsorção de ânions pode ser específica ou não-específica. A adsorção específica, também chamada de esfera interna ou quimissorção, ocorre quando o ligante (L) se fixa à superfície substituindo um (mononuclear) ou dois (binuclear) grupos hidroxila da superfície (Figura 3.7a). ≡Fe – OH + L≡(Fe – OH)2 + L- ≡Fe– L + OH- ou, ≡Fe2 – L- + 2 OH- As equações acima mostram que a adsorção específica envolve coordenação direta entre as espécies de adsorbato e os átomos metálicos da superfície, não existindo moléculas do solvente entre eles. Segundo Cornell & Schwertmann (1996), neste tipo de ligação o caráter covalente é largamente predominante. Isso significa que a energia química da ligação predomina sobre as forças eletrostáticas, permitindo que o processo de adsorção ocorra em superfícies neutras ou mesmo quando as superfícies apresentam-se carregadas com uma determinada carga negativa, como pode ser observado na Figura 3.7b e d. Adsorção específica representa, portanto, uma ligação forte entre adsorvente e adsorbato tornando difícil o processo de dessorção. Os seguintes ânions adsorvem especificamente os óxidos de ferro: fosfato, silicato, selenato, arsenato, cloreto, fluoreto, citrato e oxalato. A adsorção não-específica, também conhecida como adsorção por complexo de esfera externa, se caracteriza pela predominância das interações eletrostáticas entre o adsorvente e adsorbato (ligações de 31 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... van der Waals). As espécies adsorvidas mantêm sua camada de água de hidratação, o que significa que pelo menos uma molécula de água se interpõe entre o ânion e a superfície (Figuras 3.6a e 3.7a). Por ser eletrostaticamente definida, a adsorção não-específica de ânions é praticamente desprezível acima do PZC da superfície do óxido. Devido às fracas forças de interação entre as espécies, os ânions adsorvidos de forma não específica podem ser facilmente trocados por outros ânions. Nitrato e perclorato são exemplos de ânions que são adsorvidos pelos óxidos de ferro como complexos de esfera externa (Cornell & Schwertmann,1996). Uma vez que principal mecanismo de adsorção de ânions é, em última instância, uma troca de ligantes, onde os radicais –OH são trocados pelos ânions, pode-se considerar que a formação de complexos de superfície é um processo competitivo. Neste processo, os íons OH- e os ligantes competem pelo ferro do óxido de ferro (atuando como ácido de Lewis). Logo, a formação dos complexos de superfície será fortemente dependente do pH. Uma vez que a adsorção dos ânions está condicionada à liberação de hidroxilas, a adsorção dos ânions será favorecida para valores baixos de pH (Figura 3.7d). A adsorção de ânions, em qualquer intervalo de pH, aumenta à medida que aumenta a concentração do adsorbato. As isotermas de adsorção freqüentemente podem ser do tipo de Langmuir, o que significa que um único processo é responsável pela adsorção (Cornell & Schwertmann,1996). 3.3.4 – Adsorção de cátions Da mesma forma que ocorre com os ânions, a adsorção de cátions pode se específica ou não específica. A adsorção específica é produto da interação das hidroxilas superficiais desprotonadas para formar complexos metálicos de esfera interna mono ou bidentados (Figura 3.7a). ≡Fe – OH + M+Z ≡(Fe – OH)2 + M+Z ≡FeOM(Z-1) + H+ ou ≡(Fe – O)2M(Z-1) + 2H+ Adsorção não-específica de cátions é resultado de formação de uma par iônico: ≡Fe – O- + M+Z ≡FeO-M+Z Por ter caráter eminentemente eletrostática, a adsorção não-específica de metais é fortemente influenciada pela força iônica. A adsorção dos metais alcalinos é não-específica enquanto a adsorção dos metais alcalinos terrosos e dos metais pesados é específica e fortemente dependente da variação do pH. A Figura 3.7c apresenta a relação de adsorção de alguns metais versus pH. A adsorção específica é resultado da competição para formação de complexos entre o H+ e o metal, logo é extremamente dependente do pH. A adsorção dos metais se inicia mesmo contra o potencial eletrostático da superfície, 32 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. ainda carregada positivamente. Para cada íon metálico há um pequeno intervalo de uma ou duas unidades de pH onde a extensão da adsorção varia de zero a quase 100%. Este intervalo de pH onde ocorre a adsorção é conhecido como margem de adsorção. Quanto maior é a margem de adsorção, mais fraca é ligação do complexo de superfície formado. O pH também influencia na seletividade, que é a medida da afinidade relativa entre um íon particular para um dado adsorvente. Quanto mais baixo for o pH da margem de adsorção do metal, maior será a seletividade do adsorvente para este metal. Vários trabalhos vêm estabelecendo a seqüência de seletividade para os óxidos (Benjamin & Leckie, 1981; Dzombak & Morel, 1990; Davis et al., 1991; Sparks, 1995), mas de uma maneira geral há uma certa concordância com as seguintes seqüências: Goethita - Cu > Pb > Zn > Cd > Co > Ni > Mn Hematita - Pb > Cu > Zn > Cd > Co > Ni > Mn Segundo Dzomback & Morel (1990), a adsorção de cátions em óxidos se dá em dois tipos de sítios de superfície, um de alta e outro de baixa energia. A adsorção se dá preferencialmente nos sítios de alta energia. A mudança da margem de adsorção para valores mais altos de pH quando aumenta a relação concentração do metal em solução/concentração dos sítios de adsorção é resultado desta heterogeneidade. A grande velocidade e rápido equilíbrio dos processos de adsorção de metais pelos óxidos de ferro fazem com que este processo seja um importante fator no controle da concentração dos metais em sistemas naturais (Smith, 1999). 3.3.5 – Adsorção ternária Após os sítios de adsorção da superfície dos óxidos estarem parcialmente ocupados por metais ou ligantes, um segundo processo de adsorção pode ter lugar: os complexos ternários de adsorção (Schindler, 1990). São conhecidos dois tipos de complexos ternários (Cornell & Schwertmann, 1996): Tipos A: coordenação do metal à superfície do óxido e a um ligante ≡Fe – OH + M+2 + L– ≡FeOM – L + H+ Tipo B: adsorção de um ânion polidentado à superfície e a um metal ≡Fe – OH + L- + M+2 ≡FeO – LM+2 + OH– 3.4 – ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DOS ÓXIDOS DE FERRO A adsorção de metais sobre superfícies dos sedimentos pode ser expressa utilizando-se o conceito de capacidade de adsorção Γ: 33 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Γi= nsed msed (3.1) onde nsed representa o número de moles da substância i adsorvidos por unidade de massa do sedimento (msed). A mudança na distribuição de i entre as fases dissolvida e sólida pode ser expressa pela lei de balanço de massas: nosed + noaq = nised + niaq (3.2) onde nosed é o número de moles de i inicialmente adsorvidos, noaq é o número de moles inicialmente dissolvidos e nised e niaq a distribuição de i entre as fases sólida e líquida depois da mudança na distribuição no sistema. Se expressarmos nsed em termos de Γ, naq em termos de concentrações dissolvidas (c) e a massa do sedimento (msed) e volume de solução (v) em termos de densidade do sistema S = msed/v então obtem-se: Γ0S + c0 = ΓiS + ci (3.3) Este conceito é amplamente utilizado onde a adsorção nos sólidos é medida por adição de determinado sedimento a uma determinada solução de concentração conhecida. A quantidade do elemento adsorvida pode ser calculada conhecendo-se as alterações nas concentrações nas soluções (Sposito, 1984). A relação gráfica entre Γi e a concentração final da solução (concentração de equilíbrio, Ci) produz a chamada isoterma de adsorção. Esta isoterma pode se ajustar a um do vários modelos empíricos existentes, sendo os de Langmuir e de Freundlich os mais conhecidos. Entretanto, Γ pode descrever uma grande quantidade de ligações entre o sedimento e determinada substância e os modelos empíricos se ajustam a diferentes mecanismos de ligação. Logo, a conformidade dos dados empíricos a determinado modelo deve ser vista com cautela. Os modelos são construídos em função da observação da diminuição da concentração da espécie estudada na solução. Entretanto, os modelos não conseguem diferenciar a redução da concentração causada por adsorção, da redução causada por precipitação superficial. 3.4.1 – Classificação das isotermas Sposito (1984) classificou as isotermas de adsorção para solo levando em consideração as suas inclinações iniciais (Figura 3.8), dividido-as em quatro tipos: S, L, H e C. A curva S é caracterizada pelo aumento da inclinação inicial à medida que aumenta a concentração da substância na solução. Este comportamento sugere que a relativa afinidade do adsorvente pelo adsorbato a baixas concentrações é menor que a afinidade com a solução. No exemplo dado por Sposito (1984), curva S na Figura 3.8, o Cu forma complexos com a matéria orgânica presente na solução, o que impede sua adsorção. Somente após a capacidade de complexação desses complexos ser excedida pelo 34 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. aumento da concentração de Cu adicionado à solução é que os sítios ativos da superfície dos minerais irão “ganhar” a competição e começarão a adsorver os íons de cobre. Como conseqüência, a isoterma ganha sua característica forma de “S”. A curva L (de Langmuir) possui uma forma côncava em relação ao eixo das concentrações e é caracterizada por uma inclinação inicial que não aumenta com o aumento da concentração da substância em solução. Essa forma reflete uma alta afinidade do adsorvente pelo adsorbato a baixas concentrações associado com a diminuição da quantidade de sítios de adsorção à medida que aumenta a concentração do adsorbato. 5 curva - S 30 20 10 0 0 4 8 12 3 2 1 0 16 -3 CuT (mmol m ) 0 250 curva - H 50 100 150 200 30 40 PT (mmol m-3) curva - C 200 0,60 q (mmol kg-1) q Cd (mmol kg-1) 0,80 0,40 0,20 0,0 curva - L 4 q P (mmol kg-1) q Cu (mmol kg-1) 40 150 100 50 0 0,0 0,05 0,10 0,15 0,20 CdT (mmol m-3) 0 10 20 c (mmol m -3) Figura 3.8 – Classificação geral das isotermas segundo Sposito (1984) A curva H representa uma versão extrema da curva L. A grande inclinação inicial sugere uma alta afinidade entre adsorvente e adsorbato produzida tanto por interações altamente específicas entre eles quanto por interações significativas envolvendo ligações de van der Waals. A curva C caracteriza uma isoterma cuja inclinação inicial permanece constante, independentemente da variação da concentração do adsorbato, até atingir o valor máximo de adsorção. Este tipo de isoterma pode refletir tanto uma partição constante do adsorbato entre a região da interface e a região mais externa, quanto um aumento proporcional da quantidade de sítios de adsorção à medida que aumenta a concentração do adsorbato. Dentre estes quatro tipos de isotermas, a do tipo L é a mais comumente encontrada nos sistemas naturais. Estas isotermas, construídas teórica ou empiricamente podem, freqüentemente, ser representadas 35 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... por equações matemáticas simples que relacionam diretamente a quantidade do elemento adsorvido em função da concentração do elemento que permanece em equilíbrio na solução. Além das isotermas de Langmuir, Freundlich, existem outros modelos como os de Temkin, Giles, Brunauer, etc.. As isotermas de Langmuir e de Freundlich serão detalhadas adiante, uma vez que são as mais utilizadas na modelagem da adsorção. 3.4.2 – A Isoterma de Langmuir A isoterma de Langmuir, representada na Figura 3.9, é considerada o modelo mais simples das isotermas de adsorção. A teoria de Langmuir pressupõe que as forças que atuam no processo de adsorção são similares em natureza àquelas que envolvem combinação química. Considera implicitamente que: 1. o sistema é ideal; 2. as moléculas são adsorvidas e aderem à superfície do adsorvente em sítios definidos e localizados, com adsorção em monocamada em superfície homogênea; 3. cada sítio pode acomodar uma, e somente uma, entidade adsorvida; 4. a energia da entidade adsorvida é a mesma em todos os sítios da superfície e não depende da presença ou ausência de outras entidades adsorvidas nos sítios vizinhos, ou seja, apresenta Cs interação desprezível entre as moléculas adsorvidas. Ce Figura 3.9 – Representação esquemática da isoterma de Langmuir, relacionando a concentração de espécies adsorvidas (Cs) em função da concentração de espécies em equilíbrio (Ce) (Koretsky, 2000) A equação de Langmuir é considerada bastante eficaz para sumarizar os dados das isotermas e tem sido usada extensivamente para modelagens de adsorção (Harter, 1991) e pode ser escrita como: Cs = K·b·Ce 1 + K·Ce Onde, Cs é a quantidade adsorvida por massa de adsorvente e equivale à capacidade de adsorção (Γ); 36 (3.4) Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. K é a constante de equilíbrio que, juntamente com b, é responsável pela inclinação da isoterma. Este termo está relacionado à energia livre de adsorção, que corresponde à afinidade entre a superfície do adsorvente e o adsorbato; Ce é a concentração residual dos íons em equilíbrio na solução e b é a constante que representa a cobertura de adsorbato em uma monocamada, ou seja, a quantidade máxima de adsorbato adsorvida (Vieth & Sposito, 1977). Para a isoterma seguir o modelo de Langmuir o gráfico de 1/Cs em função de 1/Ce deve representar uma linha reta. Desta forma a equação de Langmuir (3.4) pode ser reescrita da seguinte forma: 1/Cs = (1/Kb)·(1/Cs) + 1/b (3.5) Ao considerar o sistema como ideal, o modelo de Langmuir ignora a heterogeneidade das superfícies, as diferentes capacidades de adsorção dadas pelos diferentes centros ativos e/ou específicos e as imperfeições na rede cristalina. Mas apesar destas limitações, a equação de Langmuir se ajusta razoavelmente bem aos dados experimentais de muitas isotermas. 3.4.3 – A Isoterma de Freundlich A isoterma de Freundlich é baseada nos mesmos princípios da isoterma de Langmuir, exceto que a energia de ligação cresce à medida que a adsorção aumenta, ou seja, a força de ligação dos sítios Cs superficiais viáveis não é constante (Figura 3.10). Ce Figura 3.10 – Representação esquemática da isoterma de Freundlich, relacionando a concentração de espécies adsorvidas (Cs) em função da concentração de espécies em equilíbrio (Ce) (Koretsky, 2000) 37 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A isoterma de Freundlich é bastante utilizada para modelar sistemas de adsorção de espécies em sólidos heterogêneos ou com múltiplos tipos de sítios superficiais (Koretsky, 2000). A equação da isoterma de Freundlich é equivalente a uma integral sobre o continuum da equação de Langmuir com uma distribuição log-normal das constantes de Langmuir (Sposito, 1984; Stumm, 1992): Cs = A·Ceβ (3.6) Onde, Cs é a quantidade de adsorbato adsorvido por massa de adsorvente; A é o termo que mede a afinidade entre o adsorbato e a superfície; Ce é a concentração residual dos íons no equilíbrio e β é um parâmetro relacionado à homogeneidade energética dos sítios superficiais. A equação de Freundlich modela bem a adsorção em sólidos com propriedades superficiais heterogêneas em um grande intervalo de concentrações (Stumm, 1992). Esta equação foi originalmente introduzida como uma correlação empírica de dados experimentais e corresponde a um modelo de adsorção onde o termo de afinidade decresce exponencialmente com o aumento da taxa de adsorção. O termo β é sempre menor do que 1 e reflete a homogeneidade energética do processo de adsorção. Quanto mais próximo de 1, maior será a equivalência energética dos sítios superficiais (Zimmerman et al., 2004). A equação de Freundlich pode ser reescrita como: Log CS = βLog Ce + Log A (3.7) Nas isotermas que seguem o modelo de Freundlich, o gráfico de Log Cs em função de Log Ce fornece uma reta. De acordo com Cornell & Schwertmann (1996), de uma maneira geral, a adsorção de ânions nos óxidos de ferro é melhor descrita usando-se o modelo de Langmuir, enquanto a adsorção de cátions é melhor descrita pelo modelo de Freundlich. Entretanto, Nelson et al. (1995), Krishna & Regalbuto (1997), Singh et al. (1998), Lai et al. (2000), Li et al. (2003) ajustaram as isotermas de adsorção de Pb, Cd, Cu, Co, Ni em óxidos de ferro pelo modelo de Langmuir. Wilkie & Hering (1996), Badruzzaman et al. (2004) e Zhang et al. (2004) descrevem isotermas de As (na forma do ânion arsenato) também pelo modelo de Langmuir. Já o modelo de Freundlich foi usado por Al-Sewailem et al. (1999) e Sen et al. (2002) para descrever a adsorção de Ni e Cu, por Badruzzaman et al. (2004) para adsorção de arsenato, por Wang & Reardon (2001) para adsorção de F- em solos ricos em goethita e por Buzinelli et al. (2003) para descrever a adsorção de Pb em goethita. 38 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 3.5 – MODELOS DE COMPLEXAÇÃO SUPERFICIAL Os modelos de complexação superficial diferem da abordagem empírica das isotermas por tentarem definir explicitamente as reações químicas envolvidas nos processos de adsorção. A diferença fundamental destes modelos é interpretar a adsorção de forma bem definida como interação entre as espécies adsorvidas e os sítios de coordenação superficiais de modo análogo ao que é feito com as reações de complexação em soluções. Para isso, os modelos de complexação superficial consideram que a energia predominante do processo é a energia livre de adsorção, enquanto os efeitos eletrostáticos desempenham um papel secundário (Cornell & Schwertmann, 1996). Dentre os vários modelos de complexação superficial existentes, quatro se destacam: Constant Capacitance Model, Difuse Double Layer, Triple Layer Model e Four Layer Model. A principal diferença entre estes modelos está nas descrições das interações elétricas da interface óxido/solução e na localização das várias espécies adsorvidas. Descrições mais detalhadas dos modelos de complexação podem ser encontradas em Sposito (1984), Davis & Kent (1990), Dzombak & Morel (1990), Stumm (1992), Stumm & Morgan (1996) e Koretsky (2000). Aplicações destes modelos nos óxidos e hidróxidos de ferro podem ser encontradas na modelagem da adsorção de sílica e fosfato por goethita (Sigg & Stumm, 1981), adsorção de fosfato em solos (Goldberg & Sposito, 1984), adsorção competitiva de ânions em goethita (Goldeberg, 1985), adsorção de uranila em oxi-hidróxidos de ferro (Hsi & Langmuir, 1985), adsorção de As em óxidos de ferro (Dixit & Hering, 2003), adsorção de chumbo em ferridrita (Dyer et al., 2003) entre outros. Em alguns casos, a adsorção de íons têm sido descrita com sucesso em sistemas simples (Davis & Kent, 1990; Hyes et al., 1991; Hiemstra & van Riemsdijk, 1999), mas ainda não há acordo se as variáveis determinadas para sistemas simples podem ser usadas para sistemas com multi adsorbatos, característica predominante dos sedimentos naturais (Gao & Mucci, 2001). Segundo Davis & Kent (1990) e Hyes et al. (1991), o maior obstáculo para a perfeita adequação entre os dados experimentais e os modelos de complexação superficial está na aquisição de parâmetros consistentes e confiáveis (densidades de sítios de adsorção, capacitâncias, área superficial, constantes de equilíbrio) para se aplicar estes modelos. Entretanto, este problema é bem menor para os óxidos e hidróxidos de ferro graças a uma consistente base de dados desenvolvida por Dzombak & Morel (1990). 39 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 40 CAPÍTULO 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 – INTRODUÇÃO Para se atingir os objetivos propostos, este trabalho foi dividido em duas partes principais: (1) coleta, tratamento e análise dos minérios de ferro e (2) coleta, tratamento e análise e avaliação da capacidade de adsorção dos sedimentos das barragens de contenção que constituem o rejeito do processo de beneficiamento do minério. A primeira parte consistiu em se coletar amostras dos minérios de ferro que compõem a matéria prima utilizada para a produção de natural pellet ore e sinter feed na planta de Timbopeba. Estes minérios foram digeridos e analisados para elementos maiores e menores. O conteúdo de metais traço foi posteriormente comparado aos teores descritos na literatura para formações ferríferas tanto do Quadrilátero Ferrífero quanto de várias outras localidades do globo. Estes teores foram ainda comparados com o conteúdo de metais associados aos sedimentos resultantes do beneficiamento do minério. A segunda parte - análise química e avaliação da capacidade de adsorção de metais pelos sedimentos - dada a complexidade dos processos de retenção de metais por superfícies minerais, foi desenvolvida em 5 etapas associando-se 3 métodos diferentes: (1) fracionamento por extração seqüencial, (2) construção de isotermas de adsorção e (3) experimentos de interferência competitiva entre os elementos (Echeverría et al., 1998; Echeverría et al., 1999; Dong et al., 1999; Veeresh et al., 2003). A Etapa 1 consistiu na determinação da distribuição espacial dos metais traço nos sedimentos de fundo das barragens de Timbopeba e Natividade. Uma alíquota do sedimento de cada ponto amostrado foi digerida parcialmente em água régia, conforme metodologia descrita abaixo (Item 4.5). A partir dos resultados obtidos, foi possível a construção de mapas de isoteores de metais nas duas barragens, a avaliação da contaminação dos sedimentos através da comparação desses teores com os valores guia de qualidade de sedimento (VGQS) e a escolha de quatro amostras de sedimentos para a execução dos testes de capacidade de adsorção das etapas posteriores. A Etapa 2 buscou identificar a distribuição dos metais nas várias fases dos sedimentos selecionados na etapa anterior. Essa distribuição, obtida através de procedimentos de fracionamento por extração seqüencial, permitiu avaliar a distribuição dos metais nas várias fases dos sedimentos estudados e, conseqüentemente, a geodisponibilidade dos metais originalmente presentes nestes sedimentos. Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A Etapa 3 objetivou quantificar a capacidade de adsorção das superfícies dos sedimentos com a utilização dos elementos As, Cr, Cu e Pb em condições competitivas e não competitivas. Para tanto, foram construídas empiricamente isotermas não competitivas e competitivas destes 4 elementos em cada um dos 4 sedimentos analisados. As isotermas não competitivas foram elaboradas quantificando-se a adsorção de cada elemento pelo respectivo sedimento a partir de várias soluções, cada uma contendo concentrações crescentes do metal estudado. As isotermas competitivas foram construídas de modo semelhante, porém utilizando-se soluções com misturas equimolares de As, Cr, Cu e Pb. A Etapa 4 teve por objetivo avaliar a interferência que a presença de determinado elemento exerce sobre outro durante o processo de adsorção. Dois motivos levaram à execução desta Etapa: (1) os sedimentos estudados são materiais provenientes de ambiente natural, logo, passivos de contaminação por mais de uma espécie química e (2) fornecer dados que permitissem avaliar o comportamento das isotermas de adsorção competitivas realizadas na etapa anterior. O procedimento executado nesta etapa foi batizado de “interferência competitiva” e consistiu na construção de sistemas de competição binários (As-Cu, Cu-Pb, Cr-Cu, etc.), ternários (As-Cu-Cr, Cu-Cr-Pb, etc.) e quaternário (As-Cr-Cu-Pb). A concentração de cada elemento usada nestas soluções foi obtida pela análise das isotermas não competitivas e correspondem à quantidade mínima de As, Cr, Cu e Pb suficiente para saturar as superfícies em cada sedimento. Após a saturação das superfícies, uma nova bateria de fracionamento (Etapa 5) permitiu a identificação e a quantificação da adsorção dos elementos estudados pelas fases dos sedimentos e a conseqüente avaliação da geodisponibilidade destes metais adsorvidos para cada sedimento. 4.2 – AMOSTRAGEM DE MINÉRIOS As amostras de minérios foram coletadas nas minas de ferro de Capanema, Timbopeba e Alegria. Nestas minas, procurou-se coletar todas as variedades de minérios usados na blendagem do produto final que é enviado à planta de beneficiamento. Cerca de metade das amostras foi coletada em duplicata. A amostragem consistiu em se coletar cerca de 5 a 7 quilogramas de material ao longo de um perfil vertical nas bancadas das minas. Foram amostrados 6 pontos na mina de Capanema, 7 na mina de Timbopeba e 17 na mina de Alegria. O material amostrado foi secado à temperatura ambiente, britado quando necessário, quarteado e uma alíquota foi moída em moinho de copo vibratório de carbeto de tungstênio (Fritsch Pulverisette 9) e armazenada para posterior digestão e análise, conforme descrito mais adiante (Item 4.5). 42 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 4.3 – AMOSTRAGEM DE SEDIMENTOS Para a determinação da distribuição espacial dos metais nos sedimentos superficiais das barragens estudadas, procurou-se estabelecer uma metodologia de amostragem sistemática. Em ambos os reservatórios, a densidade da malha de amostragem foi estabelecida de modo a fornecer uma quantidade representativa de amostras. As Figuras 4.1 e 4.2 representam o plano da amostragem estabelecido respectivamente para as barragens de Timbopeba e Natividade. Os pontos amostrados foram locados com auxílio de uma estação GPS de precisão (Trimble 4600LS). No reservatório de Timbopeba estabeleceu-se uma malha de amostragem de 100 x 100 m com 26 pontos de coleta. Quatro pontos foram coletados em triplicatas para estudo de representatividade estatística. No reservatório de Natividade foi estabelecida uma malha de amostragem de 125 x 125 m, com 27 pontos amostrados, oito deles em triplicata. Barragem de Timbopeba Plano de Amostragem Largura da malha 100 x 100 metros T-8 T-3 T-12 T-26 T-28 T-20 T-16 T-13 T-9 T-4 T-21 T-17 T-14 T-10 T-5 T-1 T-22 T-18 T-15 T-11 T-6 T-23 T-19 LEGENDA T-29 T-24 Área assoreada Barragem T-30 Áreas da acesso Pontos de amostrados para sedimento Pontos de amostrados para água e sedimento 0 25 50 Sedimentos utilizados nos experimentos de capacidade de adsorção 100 m Figura 4.1 – Malha de amostragem para água e sedimentos na barragem de Timbopeba Em ambos os reservatórios foram recuperados, por ponto de amostragem, cerca de 5 a 7 quilos de sedimento com auxílio de um amostrador bentônico tipo Birge-Ekman com área de amostragem de 15x15 cm e 20 cm de altura. (Prancha II, Foto 7). As medidas de temperatura, pH e potencial redox (Eh) foram feitas in situ, (pHmetro Portátil -pH/mV- WTW, modelo pH330). As amostras foram então 43 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... acondicionadas em sacos plásticos e transportadas o mais rápido possível para o laboratório. O sedimento foi secado à temperatura ambiente, cuidadosamente desagregado em gral de ágata, quarteado e armazenado em frascos de polipropileno para posterior análise química e utilização nos experimentos de extração e adsorção. Barragem de Natividade Plano de Amostragem Largura da malha 125 x 125 metros N-34 N-2 N- N- N-4 N-31 N-10 N-6 N-14 N-11 N-7 LEGENDA Área assoreada Barragem Áreas da acesso Pontos de amostrados para sedimento Pontos de amostrados para água e sedimento 0 25 50 Sedimentos utilizados nos experimentos de capacidade de adsorção 100 m Figura 4.2 – Malha de amostragem para água e sedimentos na barragem de Natividade Dois pontos do lago de Timbopeba (T-4 e T-23) e dois pontos do lago de Natividade (N-19 e N-31) foram escolhidos para os testes de capacidade de adsorção. Nestas amostras foram determinados os conteúdos de nitrogênio, enxofre, carbono orgânico e inorgânico (Elementar-Analysator-Vario EL, Elementar Analysensystem), distribuição granulométrica (Particle sizer PARTmaster L, Aucoteam GmbH), capacidade de troca catiônica (CTC - saturação com NH4Cl), mineralogia (difratômetro de RaiosX - Bruker D5000, Siemens) e área superficial (BET-N2 Micromeritics, Gemini 2360 - V5.00). 4.4. – AMOSTRAGEM DE ÁGUA. Em cada barragem foram escolhidos três pontos para amostragem de água (Figuras 4.1 e 4.2). A cada metro da coluna d’água foi recuperada uma amostra com auxílio de um amostrador vertical Limnos (Turku, Finlândia) com capacidade para 2,5 litros e 30 cm de coluna d’água (Prancha II, Foto 8). Para 44 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. cada amostra foram medidos in situ temperatura, pH, Eh, (pHmetro portátil -pH/mV- WTW, modelo pH330) condutividade e sólidos totais dissolvidos (condutivímetro portátil WTW, modelo LF330), conteúdo de O2 dissolvido (oxímetro portátil SCHOTT, modelo OX 1/SET), Ferro total e ferro II (colorímetro portátil HACH, modelo DR/890). A amostragem foi feita em março, no final do período chuvoso. As amostras de água foram levadas para o laboratório para determinação da alcalinidade, cloreto e sulfato seguindo as recomendações do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (Greenberg et al., 1992). Sub-amostras filtradas (0,45 µm) e estabilizadas com ácido nítrico (pH < 2) foram utilizadas para a quantificação de elementos maiores (Na, K, Ca,) por ICP-OES (Perkin Elmer, modelo Optima 3000), metais pesados e elementos traço (Mg, Al, Fe, As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb, Zn e Co) por ICP-MS (Agilent, 7500c, USA) e mercúrio por AAS/Flow injection Mercury System. Em dois pontos de Natividade (N-10 e N-20) foi utilizada uma sonda multiparâmetro automática (OCEAN SEVEN 316, Idronaut, Itália) para obtenção, a cada 20 cm do perfil da lâmina d’água, dos seguintes parâmetros: temperatura, pH, potencial redox (Eh), conteúdo de oxigênio dissolvido e condutividade elétrica. Estes perfis foram realizados em setembro, na fase de seca. 4.5 – DIGESTÃO PARCIAL DAS AMOSTRAS DE SEDIMENTO E MINÉRIO Tanto as amostras de minério, quando as de sedimento, foram parcialmente digeridas seguindo-se a metodologia proposta por Rauret et al. (2001) para certificação do material de referência para fracionamento por extração seqüencial (BCR-701). A digestão foi executada no Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA) do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto. Alíquotas de 1,0000 ± 0,0002 g dos sedimentos e minérios foram digeridas pela adição 9,3 mL de água régia (7,0 mL de HCl 12,0 mol·L-1 e 2,3 mL de HNO3 15,8 mol·L-1) em béqueres de 100 mL. Os béqueres foram cobertos com vidros de relógio e a digestão ocorreu à temperatura ambiente por 16 horas com agitação eventual. A temperatura foi então elevada e mantida a 85 ± 5 °C por 2 horas. Após resfriamento a mistura foi filtrada (papel Wathmann nº 42) para balões volumétricos de 50 mL. As soluções foram transferidas para frascos PET e armazenadas sob refrigeração a 4 °C até o momento da análise. Elementos maiores foram analisados por ICP-OES e elementos traço e metais pesados por ICP-MS nos laboratórios de limnoquímica e geoquímica do UFZ – Umweltforschungszentrun – Magdeburg, Alemanha. O ferro total foi determinado no LGqA pelo método de redução por cloreto de titânio(III) (NBR ISO 9507). 45 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 4.6 – FRACIONAMENTO Adotou-se para o fracionamento o método de extração seqüencial em 3 etapas mais a extração da fase residual como estabelecido pelo Standard, Measurements and Testing Program – BCR (Ure et al., 1993; Rauret et al., 2001). As extrações foram executadas nos laboratórios do UFZ em triplicatas, usandose alíquotas de 1,0000 ± 0,0002 g de sedimento seco em tubos de polipropileno ou policarbonato de capacidade para 50 mL. As extrações foram realizadas nas amostras T-4, T-23, N-19 e N-31. Os resultados encontrados foram controlados em relação aos valores certificados (etapas 1 a 3) e valores indicativos (digestão pseudototal do resíduo da Etapa 3 e do sedimento integral) para Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn com a utilização do material de referência BCR-701. Junto com a digestão do resíduo da etapa 3 foi realizada a digestão em triplicata de alíquotas de sedimento integral para controle da recuperação das extrações. Após cada etapa de extração, os tubos foram centrifugados por 20 minutos a uma velocidade de 3.000 x g, os extratos transferidos para frascos de polipropileno e armazenados a 4 °C até o momento da análise. Todas as etapas, incluindo a digestão do resíduo da etapa 3, foram executadas em um mesmo tubo a fim de se minimizar perda ou contaminação do material. Entre cada etapa, os resíduos foram lavados com 20 mL de água destilada-deionizada (Milli-Q®). Os extratos foram analisados para maiores por ICPOES e metais traço por ICP-MS. As extrações foram executadas, para cada etapa, de acordo com os seguintes procedimentos: • Etapa 1 – Íons trocáveis e íons associados a carbonatos: 40 mL de ácido acético 0,11 mol·L-1 foram adicionados aos tubos contendo a alíquota do sedimento. As suspensões foram agitadas em agitador rotativo 360° (Heidolph Instruments, modelo Reax 2, Alemanha) por 16 horas a 25 rpm (Prancha II. Foto 9). • Etapa 2 – Fase redutível ou íons associados a óxidos de ferro e de manganês: 40 mL de cloridrato de hidroxilamina 0,1 mol·L-1 recém preparado (pH 2 com HNO3 15,8 mol·L-1) foram adicionados aos tubos contendo os resíduos da Etapa 1. As suspensões foram agitadas por 16 h a 25 rpm. • Etapa 3 – Fase oxidável ou metais associados a sulfetos e matéria orgânica: 10 mL de peróxido de hidrogênio 8,8 mol·L-1 foram adicionados aos tubos contendo os resíduos da etapa anterior. A extração ocorreu à temperatura ambiente por uma hora e a 85 ± 5 °C, com eventual agitação manual, até redução do volume para 3 mL. Mais uma alíquota de 10 mL de peróxido de hidrogênio foi adicionada aos tubos e as suspensões aquecidas até próximo à secura. Após resfriamento, foram adicionados a cada tubo 50 mL de acetato de amônio 1,0 mol·L-1 (pH 2 com HNO3 15,8 mol·L-1) para prevenir readsorção. As suspensões foram agitadas por 16 horas a 25 rpm. 46 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Ao resíduo da Etapa 3, e também às alíquotas dos sedimentos integrais, foram adicionados 9,3 mL de água régia (7,0 mL de HCl 12,0 mol·L-1 e 2,3 mL de HNO3 15,8 mol·L-1). A digestão ocorreu a frio por 16 h, seguido de 2 h de aquecimento a 85 ± 5 °C com os tubos parcialmente tampados. O material foi então filtrado (Whatman n° 42) e o volume completado para 50 mL. A digestão com água régia, tanto do resíduo da etapa 3 da extração quanto do sedimento original, é recomendada pelo método de extração seqüencial BCR. Este procedimento é referido como “digestão pseudototal” e considerado um controle de qualidade vital para o protocolo BCR (Hlavay et al., 2004). Além de ajudar na validação, a digestão com água régia disponibiliza os metais associados a fases minerais residuais representadas por óxidos fortemente cristalinos e alguns silicatos como os argilominerais trioctaédricos (clorita, ilita e algumas micas) (Davidson et al., 1998; Ryan et al., 2002). Seguindo-se a tendência crescente em se estabelecer um balanço de massas das extrações seqüenciais (Hlavay et al., 2004), os valores encontrados em cada etapa foram somados e comparados aos valores obtidos na digestão pseudototal do sedimento integral. 4.7 - ISOTERMAS DE ADSORÇÃO As isotermas de adsorção competitivas e não competitivas foram construídas com o objetivo de avaliar a capacidade de adsorção de As, Cu, Cr e Pb pelos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31, de acordo com a metodologia proposta por Echeverría et al. (1999). Cada isoterma não competitiva foi construída utilizando-se, para cada sedimento, uma bateria de 16 soluções contendo um único elemento em concentrações crescentes (Prancha II - Foto 10). As isotermas competitivas foram construídas utilizando-se 16 soluções com misturas equimolares dos quatro elementos. As concentrações iniciais destas 16 soluções variaram entre 0,01 mmol L-1 a 1,0 mmol·L-1 e foram preparadas por diluição para 1 litro de padrões Titrisol® 1.000 mg (Merck, Darmstadt, Alemanha. Cu e Cr - cloreto, Pb - nitrato e As ácido arsênico). Vinte e cinco mililitros de cada solução foram adicionados a tubos de polipropileno contendo 0,1000 ± 0,0002 g de sedimento seco. As suspensões foram agitadas por 24 horas em agitador rotativo em temperatura ambiente controlada (23 ± 1 °C) e centrifugadas por 20 minutos a 3.000 x g. As soluções centrifugadas foram estabilizadas com 100 µL de HNO3 (15,8 mol·L-1) e armazenadas em tubos de polipropileno a 4 °C para posterior análise por ICP-MS. As isotermas foram representadas graficamente relacionando-se a concentração do metal que permaneceu em equilíbrio na solução (Ce) em mmol·L-1 com a quantidade de metal adsorvido (Cs) em mmol·kg-1. O Valor de Ce foi obtido diretamente a partir da análise da solução ao fim do experimento e o valor de Cs foi obtido por diferença entre a concentração inicial (Co) em mmol·L-1 e a concentração no equilíbrio, corrigidos para a massa e o volume utilizados (Echeverría et al., 1998; Morera et al., 2001; Veeresh et al., 2003): 47 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Cs = (Co − Ce)V W (4.1) onde V é o volume da solução em litros e W o peso em quilogramas do sedimento seco. 4.8 – DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO INICIAL PARA OS EXPERIMENTOS DE INTERFERÊNCIA COMPETITIVA (Coint) Os experimentos de interferência competitiva, descritos no Item 4.9, foram realizados, em cada sedimento selecionado e para cada elemento estudado, partindo-se de soluções cuja concentração inicial forneceu a quantidade mínima de íons capaz de saturar as superfícies destes sedimentos. Os valores de saturação das superfícies (Csm) e as respectivas concentrações de equilíbrio foram calculados diretamente a partir das isotermas não competitivas utilizando-se uma função exponencial para descrever as curvas (software Origin®). As concentrações iniciais utilizadas nos experimentos de interferência competitiva (Coint) foram calculadas de modo a fornecer a massa de íon necessária para a saturação do sedimento (Csm) somada à menor concentração do íon que permanece em equilíbrio na solução após a saturação da superfície (Cem). Um exemplo de cálculo, os gráficos e os valores das Coint para As, Cr, Cu e Pb em todos os sedimentos são apresentados no Anexo I. 4.9 – INTERFERÊNCIA COMPETITIVA Uma bateria de experimentos de adsorção foi construída para os quatro sedimentos selecionados a partir de soluções contendo As, Cr, Cu e Pb em concentração Coint. O desenho deste procedimento, foi desenvolvido de modo a quantificar a influência da competição na adsorção destes elementos nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31, ajudando assim a interpretar as variações encontradas nas isotermas competitivas. O estudo da interferência foi dividido em 5 níveis de competição. O Nível 0 representa o branco. O Nível 1 foi estabelecido como referência para quantificar a adsorção de cada elemento individualmente, sem a presença de íons interferentes. O Nível 2 representa um sistema de competição binário, com os íons competindo dois a dois (As-Cu, As-Cr, Cu-Cr, etc.). O Nível 3 representa um sistema ternário de competição (As-Cr-Cu, As-Cr-Pb, etc.). No Nível 4, a competição se dá entre os quatro elementos (As-Cr-Cr-Pb). As concentrações iniciais das soluções usadas nos estudos de interferência (Coint) foram obtidas como explicado no Item 4.8 e no Anexo I. A elaboração dos sistemas binários, ternários e quaternários, nas concentrações estabelecidas (Coint), foi limitada pela solubilidade dos íons presentes nas misturas. Por esse motivo, alguns destes sistemas não puderam ser estudados, conforme descrito mais adiante no Capítulo 6 (Item 6.4). 48 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. O procedimento de interferência competitiva foi executado adicionando-se 25 mL da solução contendo o elemento estudado ou a respectiva mistura à 1,000 g do sedimento. Os experimentos dos níveis 1 e 4 foram realizados em triplicata. Cada suspensão foi agitada por 16 horas em temperatura ambiente controlada (23 ± 1 °C) e centrifugada por 20 minutos a 3.000 x g. As soluções foram então transferidas para frascos de polipropileno, estabilizadas com 100 µL de HNO3 15,8 mol·L-1 e armazenadas a 4 °C até o momento da análise. 4.10 – EXTRAÇÃO DOS SEDIMENTOS APÓS A ADSORÇÃO Após o procedimento de interferência competitiva, as triplicatas dos sedimentos saturados dos níveis 1 e 4 foram agitadas com 20 mL de água destilada-deionizada por 2 vezes consecutivas durante 15 minutos, centrifugadas por 20 minutos a 3.000 x g e extraídas em três etapas mais a etapa residual seguindo-se o método BCR e de acordo com a metodologia descrita no Item 4.6. Os resultados foram analisados após subtração dos valores encontrados no fracionamento dos sedimentos integrais. 49 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 50 PRANCHAS Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Prancha I Foto 1 – Vista geral da cava principal da Mina de Capanema Foto 2 – Vista geral da cava principal da Mina Timbopeba Foto 3 – Vista geral da cava principal da Mina de Alegria Foto 4 – Vista do vertedouro da barragem de Timbopeba. Ao fundo a represa de Natividade. Foto 5 – Vista panorâmica da barragem de Timbopeba. 52 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 1 2 3 4 5 53 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Prancha II Foto 6 – Represa de Natividade em primeiro plano. A linha amarela mostra a barragem de Timbopeba à montante e no último plano a seta vermelha mostra a localização da Mina de Timbopeba. Foto 7 – Amostrador bentônico tipo Birge-Ekman Foto 8 – Amostrador de água Limnos Foto 9 – Agitador rotativo 360° Heidolph Instruments, modelo Reax 2 Foto 10 – Preparo das soluções para a confecção das isotermas de adsorção 54 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Amostrador 6 7 9 8 10 55 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 56 CAPÍTULO 5 GEOQUÍMICA DOS MINÉRIOS, SEDIMENTOS E ÁGUA 5.1 –INTRODUÇÃO A extração e beneficiamento de minérios são acompanhados pela produção de um grande volume de material indesejado, cuja disposição e tratamento representam um dos mais sérios e dispendiosos desafios da mineração. Em alguns casos, a produção de resíduos pode representar cerca de 30% da massa de minério efetivamente produzida (Leite, 2001). Todo este rejeito precisa ser armazenado sob condições ambientalmente seguras, uma vez que nem sempre é possível atestar sua inércia química ou comprovar a presença de substâncias contaminantes como metais pesados, por exemplo. Mesmo inertes e não contaminados, estes rejeitos devem ser devidamente contidos para evitar problemas ambientais relacionados ao assoreamento de cursos d’água e ao aumento da turbidez dos sistemas hídricos. A armazenagem dos rejeitos em barragens de contenção é a saída que as mineradoras encontraram para tentar solucionar este problema. Entretanto, a grande quantidade de rejeito gerado na atividade mineira obriga as mineradoras a uma constante busca por espaço e a enormes gastos com construção, manutenção e controle das barragens. A reutilização seria uma saída mais nobre e econômica para se minimizar o problema gerado com o acúmulo dos rejeitos. Entretanto, qualquer proposição em relação à sua utilização deve passar obrigatoriamente por uma fase inicial de investigação profunda das suas propriedades químicas e físicas. Este capítulo apresenta os resultados dos estudos geoquímicos realizados nos minérios de Capanema, Timbopeba e Alegria e nos sedimentos e águas das barragens de Timbopeba e Natividade. O estudo geoquímico dos sedimentos representa a Etapa 1 do trabalho descrita no Capítulo 4 (Item 4.1). O objetivo principal foi avaliar a qualidade da água e dos sedimentos das barragens de contenção e sua relação geoquímica com os minérios que lhes dão origem. As amostras de água, de minério e de sedimento foram coletadas, secadas (minério e sedimento) e preparadas para as análises como descrito no Capítulo 4. Os pontos de amostragem de água e sedimento são apresentados nas Figuras 4.1 e 4.2. Os teores encontrados para os principais metais traço nas águas foram comparados com os valores permitidos pela legislação brasileira. Os teores dos metais encontrados nos minérios foram comparados com os teores apresentados por vários autores para formações ferríferas bandadas de outras localidades do globo e mesmo do Quadrilátero Ferrífero. Os teores de metais presentes nos sedimentos foram Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... comparados com os Valores Guia de Qualidade de Sedimento (VGQS) mais utilizados para se avaliar a qualidade dos sedimentos presentes nas duas barragens estudadas. Além disso, esses teores foram confrontados com os teores presentes nos minérios de ferro, fonte de grande parte dos sedimentos, com o objetivo de se avaliar as possíveis fontes de metais presentes neste material. 5.2 – COMPOSIÇÃO GEOQUÍMICA DOS MINÉRIOS DE FERRO A geoquímica dos minérios de ferro abordada neste capítulo se refere basicamente à presença e às relações dos elementos potencialmente danosos ao meio ambiente, ou seja, metais traço. O estudo de elementos traço no minério de ferro é um campo ainda pouco explorado, em parte devido à grande dificuldade em se analisar metais em baixas concentrações imersos em uma matriz extremamente rica em ferro, já que o espectro do ferro possui inúmeras linhas causando interferência sobre os picos de absorção e emissão de vários elementos (Jaeger et al., 2000). Além das dificuldades de análise, a amostragem destas rochas bandadas também gera uma grande incerteza nos resultados, uma vez que para se ter amostras realmente representativas de itabiritos é necessário a coleta de volumes muito grandes de amostras. Segundo Davy (1983) a maioria das análises de formações ferríferas bandadas encontradas na literatura, incluindo-se aí os trabalhos pioneiros de James (1966), agrupam os teores de metais traço encontrados nas fácies óxido, silicato e carbonato. Entretanto, as médias dos valores destas fases não diferem muito entre si. Ainda segundo Davy (1983), a maioria das formações ferríferas apresenta teores muito baixo de elementos traço. Entretanto, existem exceções como na jazida de Broken Hill, na Austrália, onde Cu (290 ppm), Pb (1.000 ppm) e Zn (1.840 ppm) possuem concentrações anômalas. Estas concentrações, contudo, não são representativas do corpo da formação ferrífera como um todo, mas ocorrem nas vizinhanças de corpos mineralizados em Pb e Zn. A fácies sulfeto também pode ser responsável pelos valores mais altos de metais traço encontrados na literatura para algumas formações ferríferas. Os minérios coletados nas minas de Timbopeba, Alegria e Capanema, apesar de intensamente metamorfisados e profundamente intemperizados, têm sua origem sedimentar correspondente à fácies óxido. Essas alterações metamórficas e intempéricas dificultam em muito a interpretação dos dados geoquímicos para estudos genéticos. Entretanto, o objetivo da geoquímica dos minérios neste trabalho é tentar avaliar a presença dos metais nos minérios de ferro e correlacionar estes teores com os valores encontrados nos efluentes do tratamento dos minérios depositados nas barragens de Timbopeba e Natividade. 58 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 5.2.1 - Caracterização dos Minérios Vinte e seis pontos foram amostrados nas minas de Capanema, Alegria e Timbopeba. As amostras coletadas representam os principais tipos de minério presentes nestas minas, classificados em dois tipos principais: hematítico e itabirítico. Estes dois tipos de minérios foram discutidos anteriormente no Capítulo 2, Item 2.5. A presença constante de anfibólios alterados para goethita justifica a subdivisão destes minérios em comum e anfibolítico. A análise destes minérios foi feita segundo a metodologia apresentada no Capítulo 4 (Item 4.5). A abertura das amostras dos minérios foi feita parcialmente, uma vez que os metais liberados pela abertura total (com utilização de ácido fluorídrico) não seriam ambientalmente relevantes. As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam, respectivamente, os elementos maiores e os elementos traço presentes nos minérios de ferro amostrados. 66,0 64,2 63,9 1,77 0,86 0,16 4,71 2,90 0,12 0,32 0,22 0,02 0,33 0,17 < 0,78 0,47 < 0,19 0,15 0,00 comum comum anfibolítico AL1 AL2A AL2B AL5 AL6 AL14 AL15 AL9 CP1 CP4 TB2 46,4 55,2 45,6 57,1 45,6 55,1 53,1 40,0 1,30 1,15 1,52 0,24 0,27 0,27 0,60 0,02 4,46 3,47 4,08 0,20 0,10 0,18 0,14 0,21 0,27 0,25 0,28 < < < < < 0,22 0,19 0,24 < < < < < 0,58 0,49 0,68 0,01 0,01 < 0,02 < 0,18 0,15 0,18 < < < < < anfibolítico Minério Itabirítico Minério Hematítico Tabela 5.1 – Elementos maiores presentes nos minérios de ferro das minas de Capanema, Alegria e Timbopeba. Valores em porcentagem. O sinal “<” indica teores abaixo do limite de quantificação Fe Al Ca K Mg Mn Na Limite de quantificação (mg·kg-1) 4,7 47 94 118 47 4,7 94 AL3 66,5 0,53 4,86 0,28 0,14 0,30 0,18 AL4 62,3 3,74 3,54 0,24 0,11 0,24 0,16 AL7 65,5 0,71 0,02 < < < 0,00 CP2 62,3 0,77 5,08 0,33 0,22 0,39 0,21 CP3 62,7 2,07 6,53 0,39 0,40 0,96 0,24 TB3 63,5 0,11 5,52 0,08 < < 0,00 TB6 68,8 0,09 5,31 0,06 < < 0,00 TB5 AL12 AL11 AL13 CP5 TB1A 37,8 55,6 61,5 61,7 63,5 45,6 0,12 1,88 0,89 0,53 2,03 1,24 0,18 4,42 5,39 0,15 5,10 0,09 < 0,29 0,33 < 0,32 0,07 < 0,28 0,35 < 0,30 < 0,03 0,78 0,63 0,01 1,91 9,21 < 0,19 0,21 < 0,19 < AL16 CPBL 67,6 64,8 0,25 1,96 0,10 8,05 < 0,49 < 0,44 0,05 0,74 < 0,31 Conc. de minério 59 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela 5.2 – Elementos traço presentes nos minérios de ferro das minas de Capanema, Alegria e Timbopeba. Teores em mg·kg-1. O sinal “<” indica teores menores que o Limite de quantificação Cd Ni Zn Cr Co Cu As Pb comum anf. comum anfibolítico Minério Itabirítico Minério Hematítico Limites de quantificação (mg·kg-1) Conc. de minério 0,09 0,24 2,35 0,24 0,09 0,24 0,24 0,24 < < < < 0,1 < < 3,2 2,9 2,5 3,2 9,5 6,0 6,9 41,9 33,3 20,0 57,9 64,1 20,0 20,0 3,0 4,3 1,8 7,4 8,9 8,6 7,9 3,5 4,0 9,1 10,2 8,5 9,2 9,4 5,5 6,0 4,7 3,7 13,6 6,1 4,9 1,0 0,9 1,7 0,9 11,4 1,6 0,9 5,4 6,5 4,7 2,6 6,4 4,2 3,9 AL1 AL2A AL2B < < < 2,0 3,7 2,7 48,4 32,5 4,7 11,0 10,3 12,0 1,0 0,9 1,0 9,6 9,9 9,2 2,5 2,9 2,4 3,6 3,2 2,7 AL5 AL6 AL14 AL15 AL9 CP1 CP4 TB2 < < < < < < < < 1,9 2,3 3,3 2,3 2,5 2,7 8,7 3,4 47,5 44,3 40,4 33,6 33,0 28,0 40,0 77,0 1,3 2,2 5,3 31,5 1,1 6,5 9,9 1,4 12,1 11,7 23,5 15,7 26,7 16,8 19,9 15,5 2,9 3,2 2,9 6,5 3,9 3,0 30,1 3,9 0,4 0,6 1,5 2,6 0,6 0,7 7,7 2,6 4,2 4,3 5,0 9,5 7,2 3,4 7,3 2,3 TB5 AL12 AL11 AL13 CP5 TB1A < 0,1 < < < 0,2 3,3 8,9 3,2 4,4 2,7 10,9 22,0 49,1 56,5 41,9 55,5 47,0 3,6 7,1 8,9 10,9 5,6 16,8 12,4 12,7 2,4 3,6 2,4 25,7 4,6 9,6 5,6 9,6 3,7 34,4 114 49,7 1,9 6,0 0,8 1,1 1,6 18,5 4,2 9,1 3,5 6,1 AL16 CPB1 < < 5,5 4,0 37,7 83,5 8,3 7,1 9,8 6,8 6,8 5,5 3,6 3,9 9,9 5,5 AL3 AL4 AL7 CP2 CP3 TB3 TB6 Tabela 5.3 – Comparação entre os teores de metais traço nos minérios analisados, os valores considerados “normais” por Davy (1983) e os teores obtidos por Müller & Roeser (1991) para minérios de ferro do Quadrilátero Ferrífero Minérios (1) Davy (1983)(2) Müller & Roeser (1991)(3) variação anomalias variação variação normal máximas média Dp Dp n min max min max mín max média Pb 1,6 18,5 5,6 3,4 <8 70 80 ND(4) ND Cr 1,1 31,5 7,8 6,2 5 357 14 236 75,5 56 177 Co 0,9 26,7 10,6 7,5 4 47 600 48 307 119 53 177 Cu 2,9 34,4 8,1 7,6 <2 150 440 19 165 40 18 177 Ni 1,9 10,9 4,3 2,6 5 115 170 88 376 166 10 177 Cd <0,09 0,2 0,1 0,1 1 2 ND ND Zn 4,7 83,5 41,5 17,9 <10 350 1270 ND ND As 0,4 114 8,6 23,4 <10 90 ND ND (1) n=26 para todos os elementos, exceto Cd, onde n=3. (2) Considerando as fácies óxido e carbonato de BIFs coletados por vários autores. (3) Média dos dois grupos de minérios de ferro – minérios ricos (hematíticos) e pobres (itabiríticos). (4) ND-Metal não determinado 60 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. O teor de óxido de ferro das amostras variou de 50 a 95 % sendo que, como esperado, os maiores teores encontram-se associados aos minérios hematíticos. Entre os elementos maiores, somente Ca, Al e Mn (na amostra TB1A) apresentam valores não desprezíveis. Davy (1983) apresenta uma compilação para teores de metais traço em BIF’s de várias ocorrências mundiais e estabelece uma faixa considerada “normal” para a variação destes metais em formações ferríferas bandadas (Tabela 5.3). Para o Quadrilátero Ferrífero são poucos os trabalhos que apresentam composição de metais traço para os itabiritos. Barbosa & Grossi Sad (1973) encontraram os seguintes valores nos minério de ferro: Cr – 28,5 mg·kg-1, Co – 69,0 mg·kg-1 e Cu – 22,0 mg·kg-1. Müller & Roeser (1991), estudando o enriquecimento de minérios de ferro do Quadrilátero Ferrífero obtiveram os seguintes valores médios: Cr – 75,5 mg·kg-1, Co – 119 mg·kg-1, Cu – 40 mg·kg-1 e Ni – 166 mg·kg-1 (Tabela 5.3). Chemale Jr. & Rosière (1996) obtiveram valores para Cr variando entre 20,7 e 89,5 mg·kg-1 em hematitas e magnetitas presentes nos minérios de ferro do Quadrilátero Ferrífero. Klein & Ladeira (2000), estudando a composição geoquímica de algumas formações ferríferas bandadas da porção norte e nordeste do Quadrilátero Ferrífero encontraram as seguintes variações de valores: Ni entre 6 e 51 mg·kg-1, Zn entre 30 e 64 mg·kg-1, Cr entre 104 e 154 mg·kg-1, Co entre 5 e 337 mg·kg-1, Cu entre 6 e 40 mg·kg-1, As entre 1,8 e 12,9 mg·kg-1. Este trabalho Davy (1983) As média Müller & Roeser (1991) Klein & Ladeira (2000) Cr Cu Cd 1,0 0 2,0 Ni Pb Zn Co 0 50 100 150 200 250 300 350 mg·kg-1 Figura 5.1 – Comparação entre os teores de metais traço obtidos nos minérios de Capanema, Timbopeba e Alegria com os valores obtidos por Davy (1983), Muller & Roeser (1991) e Klein & Ladeira (2000) 61 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A comparação dos valores obtidos para os minérios de Capanema, Timbopeba e Natividade com as faixas de valores apresentadas por Davy (1983), Müller & Roeser (1991) e Klein & Ladeira (2000) (Figura 5.1) evidencia que, exceto para As e Zn, os valores encontrados são, de uma maneira geral, consideravelmente mais baixos que os encontrados pelos autores citados acima. Entretanto, a interpretação resultante dessa comparação deve ser feita com cautela, uma vez que os métodos de amostragem, abertura, análise e processamento dos minérios é bastante diferente entre cada trabalho. Além disso, os minérios presentes na porção leste-sudeste do Quadrilátero Ferrífero apresentam intensa alteração intempérica quando comparados com os itabiritos e hematitas de outras áreas de Quadrilátero Ferrífero. Este fenômeno pode ter favorecido a lixiviação de vários elementos e a conseqüente concentração do ferro. Considerando-se os teores médios de metais observados, pode-se concluir que os minérios estudados não podem ser considerados uma importante fonte de metais para o ambiente. Tabela 5.4 – Teores dos elementos maiores e metais traço nos sedimentos da barragem de Timbopeba Al Ca Fe K Mg Mn Na % % % % % % % Zn Cr Co Ni Cu As Cd Pb T-1 1,17 4,76 39,6 0,18 0,18 0,34 0,11 31,2 19,2 9,15 19,3 65,6 27,5 <0,02 T-3 0,18 2,99 45,7 0,25 0,19 0,21 0,10 23,0 15,1 4,31 8,98 66,3 13,2 <0,02 4,17 T-4 0,72 1,78 50,2 0,13 0,10 0,28 0,08 21,1 35,1 8,60 18,8 43,5 23,5 <0,02 2,90 T-5 0,56 1,85 41,0 0,13 0,12 0,21 0,09 20,5 25,0 10,7 22,3 72,2 33,8 <0,02 8,37 T-6 0,89 2,38 41,7 0,13 0,14 0,83 0,09 24,3 25,5 11,1 20,7 41,8 21,2 <0,02 9,64 T-8 1,11 2,40 47,4 0,30 0,21 0,44 0,11 41,3 28,3 8,47 19,0 47,1 19,6 <0,02 6,96 T-9 0,85 3,65 41,9 0,20 0,20 0,32 0,14 36,1 27,1 10,8 23,9 55,6 27,2 2,21 30,4 T-10 1,15 3,56 41,5 0,17 0,17 0,32 0,10 25,3 23,7 9,77 20,3 53,8 31,4 <0,02 7,01 T-11 0,73 2,63 42,6 0,12 0,14 0,34 0,08 20,6 20,9 8,26 16,8 52,0 26,3 <0,02 6,43 T-12 8,21 8,96 43,5 0,17 0,09 0,12 0,12 32,8 10,2 2,99 7,19 20,2 6,52 2,71 2,94 T-13 0,65 3,11 42,2 0,13 0,16 0,28 0,09 24,7 21,0 11,2 27,3 49,4 21,4 <0,02 6,28 T-14 1,06 3,09 41,2 0,28 0,15 0,32 0,12 36,1 25,7 10,5 22,1 57,9 35,0 <0,02 7,97 T-15 0,77 2,39 45,3 0,11 0,12 0,34 0,08 20,9 22,0 10,4 18,2 50,2 23,9 <0,02 8,10 T-16 0,34 2,06 45,1 0,22 0,19 0,21 0,08 20,7 16,8 6,73 14,9 34,3 14,4 <0,02 4,76 T-17 0,51 1,89 49,0 0,24 0,22 0,32 0,15 20,0 19,9 8,33 12,7 32,9 16,2 <0,02 6,81 T-18 0,58 3,00 45,0 0,25 0,11 0,30 0,08 18,1 21,7 9,05 16,9 39,8 24,6 <0,02 8,06 T-19 0,70 2,65 46,7 0,12 0,09 0,40 0,08 25,4 25,5 8,74 13,3 31,8 20,1 <0,02 7,79 T-20 0,34 2,13 38,8 0,09 0,08 0,21 0,07 15,3 13,6 5,71 12,6 25,2 12,1 <0,02 4,14 T-21 0,64 3,14 51,5 0,11 0,07 0,14 0,09 19,0 18,4 3,86 10,8 27,7 11,4 <0,02 6,08 T-22 1,91 2,85 50,4 0,10 0,05 0,11 0,08 15,8 12,3 3,66 6,60 16,5 10,0 <0,02 5,08 T-23 0,47 2,95 46,9 0,11 0,10 0,26 0,08 21,0 28,4 8,12 15,6 32,0 19,8 <0,02 9,50 T-24 0,45 2,72 43,3 0,12 0,10 0,25 0,09 22,5 19,0 8,40 15,1 84,4 17,5 <0,02 16,8 T-26 0,30 2,92 49,3 0,15 0,10 0,13 0,11 30,8 15,5 4,11 7,50 41,4 10,7 <0,02 5,60 T-28 0,58 1,29 41,7 0,08 0,10 0,74 0,06 16,1 16,3 9,33 13,7 33,4 17,2 <0,02 8,70 T-29 0,56 1,66 45,6 0,20 0,17 0,47 0,10 19,0 19,9 8,97 12,6 31,3 17,8 <0,02 7,04 T-30 0,81 2,72 41,0 0,14 0,16 0,38 0,10 25,0 22,3 8,18 14,8 30,0 20,7 <0,02 7,52 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 7,91 Média 1,00 2,91 44,5 0,16 0,13 0,32 0,09 24,1 21,10 8,06 15,9 43,7 20,1 0,24 8,01 DP 1,51 1,43 3,6 0,06 0,05 0,167 0,02 6,77 5,7 2,48 5,3 16,6 7,4 0,66 5,22 62 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 5.3- COMPOSIÇÃO GEOQUÍMICA DOS SEDIMENTOS As 26 amostras de sedimento coletadas na barragem de Timbopeba e as 27 amostras coletadas na barragem de Natividade foram investigadas quanto aos teores de elementos traço (Zn, Cr, Co, Ni, Cu, As, Cd e Pb) e maiores (Al, Ca, Fe, K, Mg, Mn e Na). As Tabelas 5.4 e 5.5 apresentam os resultados das análises para os sedimentos das barragens de Timbopeba e de Natividade, respectivamente. Por causa da grande variação encontrada para alguns elementos (ver os desvios-padrão nas respectivas tabelas) são apresentadas nas Figuras 5.2 e 5.3 as distribuições de freqüência para os metais traço analisados respectivamente nas barragens de Timbopeba e Natividade. Tabela 5.5 – Teores dos elementos maiores e metais traço nos sedimentos da barragem de Natividade Al % 3,92 3,31 3,10 3,74 2,93 1,04 2,60 2,41 2,89 3,96 3,35 3,46 4,24 1,38 3,30 3,11 3,59 4,80 4,51 4,99 3,45 0,59 1,02 3,34 2,25 2,77 2,69 Ca % 0,73 3,11 2,04 2,49 2,69 2,16 1,28 2,34 1,68 2,99 2,26 1,46 2,27 1,49 3,16 1,34 2,91 2,36 3,14 2,77 2,13 0,29 0,11 0,08 0,33 0,35 0,31 Média 3,06 DP 1,11 N-2 N-3 N-4 N-5 N-6 N-7 N-10 N-11 N-12 N-13 N-14 N-15 N-16 N-17 N-18 N-19 N-20 N-21 N-22 N-23 N-24 N-25 N-31 N-32 N-33 N-34 N-35 Fe % Mg % 0,09 0,39 0,15 0,13 0,12 0,07 0,08 0,10 0,10 0,14 0,11 0,10 0,12 0,06 0,14 0,09 0,14 0,13 0,15 0,12 0,10 0,02 0,01 0,04 0,03 0,08 0,07 Mn % 1,93 1,86 1,69 1,92 1,75 0,50 1,24 1,26 1,79 1,99 1,75 2,08 2,92 0,75 2,16 2,31 2,45 2,30 2,51 1,62 1,89 0,23 0,43 1,28 1,05 1,39 1,78 Na % 0,07 0,11 0,10 0,11 0,13 0,09 0,08 0,11 0,09 0,11 0,10 0,10 0,10 0,10 0,11 0,10 0,11 0,10 0,11 0,10 0,09 0,08 0,19 0,10 0,11 0,10 0,07 1,79 16,5 19,1 21,4 20,0 17,1 12,8 14,2 13,6 16,4 18,8 16,9 17,8 19,2 13,0 17,0 19,1 18,9 20,6 21,2 20,8 23,1 11,5 41,0 11,5 17,9 24,6 23,7 18,8 K % 0,16 0,19 0,20 0,19 0,21 0,14 0,15 0,19 0,15 0,19 0,16 0,13 0,18 0,13 0,18 0,10 0,19 0,18 0,21 0,18 0,16 0,01 0,02 0,05 0,03 0,02 0,04 Zn Cr Co Ni Cu As Cd Pb mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 mg·kg-1 45,3 44,8 17,1 28,9 32,5 44,7 0,11 20,6 49,2 45,5 19,2 34,3 33,2 47,3 0,21 19,7 40,2 58,6 21,2 35,8 30,8 49,0 0,14 20,3 48,3 52,7 21,2 37,5 41,4 61,9 0,10 20,7 38,5 46,1 18,0 38,3 32,2 62,6 0,10 21,7 30,2 52,1 11,4 36,5 26,1 67,8 0,11 23,9 25,3 42,8 13,8 34,2 20,9 60,4 <0,02 22,2 55,3 39,4 14,3 33,8 23,9 63,9 0,17 22,7 50,7 35,2 15,2 31,7 35,3 56,7 <0,02 21,2 39,9 36,0 18,6 35,6 30,1 60,9 0,12 21,2 42,5 35,3 15,6 33,2 34,4 60,5 0,12 21,5 23,9 34,0 16,5 32,3 29,7 55,8 0,12 21,7 60,4 42,8 20,9 39,9 61,8 60,9 0,13 21,4 32,5 61,7 12,5 37,2 14,3 52,4 <0,02 17,7 41,3 51,1 18,7 42,3 35,6 62,2 0,31 21,3 70,4 63,8 20,3 49,4 33,4 65,8 0,13 38,3 48,5 44,1 21,5 41,0 41,8 62,2 1,55 33,2 60,8 46,4 22,4 43,1 57,5 64,3 0,11 21,6 56,7 47,7 21,5 44,3 60,5 69,8 0,14 22,3 45,7 55,1 20,6 44,3 37,5 65,9 0,11 23,8 37,4 52,2 18,3 42,3 33,7 63,2 0,11 21,9 43,3 54,8 9,76 36,7 18,1 57,5 <0,02 17,7 45,2 91,5 10,0 32,2 13,6 62,3 <0,02 22,2 62,3 36,7 15,5 29,3 44,2 54,0 0,13 22,1 57,6 55,4 14,7 34,7 50,5 52,6 <0,02 23,7 56,0 44,5 18,1 31,5 30,8 57,3 0,10 16,1 46,5 32,6 18,3 25,5 46,5 42,3 <0,02 17,9 0,13 0,11 1,66 0,10 46,4 48,3 17,2 36,5 35,2 58,7 0,17 22,2 1,04 5,6 0,06 0,07 0,65 0,03 11,3 12,2 3,63 5,49 12,6 7,0 0,28 4,4 63 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 14 6 5 As 12 Co 10 4 8 3 6 2 4 1 2 0 10 6- 4 -1 10 8 2 -1 -2 14 18 6 -2 22 0 -3 26 4 -3 30 8 -3 34 0 4 2- 6 5 2 -1 10 10 8- 8 6- 6 4- Cu 4 3 2 1 0 16 -2 4 24 -3 2 8 0 2 6 4 0 8 -8 -8 -7 -6 -5 -4 -4 80 72 56 64 40 48 32 Pb 10 6- Cd 4 -1 10 0 -2 18 8 -1 14 4 -2 20 8 -2 24 7 Zn 6 5 4 3 2 1 9 -3 35 2 -4 39 Figura 5.2 – Distribuição da freqüência dos teores de metais nos sedimentos da Barragem de Timbopeba 5 -2 20 0 -3 25 55 -6 0 5 -3 31 45 -5 0 1 -3 27 50 -5 5 7 -2 23 40 -4 5 3 -2 19 35 -4 0 0 9 -1 15 30 -3 5 8 ,0 -0 06 0, Figura 5.3 – Distribuição da freqüência dos teores de metais nos sedimentos da Barragem de Natividade A comparação entre os valores médios dos metais traço encontrados nos sedimentos das duas barragens mostra teores mais altos de Ni e Cu em Timbopeba e de Cr, Co, As e Pb em Natividade. Entretanto, os resultados das análises dos sedimentos fornecem apenas os valores pontuais dos teores dos metais. Para se estimar a distribuição dos metais nos sedimentos superficiais das duas barragens, os valores obtidos foram interpolados gerando mapas de isoteores para os principais elementos traço. Esta interpolação foi feita usando-se o método de krigagem com auxílio do software Surfer® (Golden Software, Inc.). A krigagem consiste em um processo de interpolação que prevê valores desconhecidos a 64 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. partir de valores observados em locais conhecidos. Por este método, estimam-se valores entre os pontos amostrados através da média das variáveis distribuídas no espaço a partir dos valores dos pontos adjacentes. Para tal, estes valores adjacentes precisam ser independentes. Se uma variável v(i) é coletada em vários pontos i, o valor de cada ponto é relacionado com os valores adquiridos a partir de uma distância h e a influência será tanto maior quanto menor for a distância entre os pontos (Landim & Sturaro, 2002). A Figura 5.4 apresenta os mapas de isoteores Fe em ambas as barragens. As Figuras 5.5 a 5.8 apresentam os mapas de isoteores nos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade para os elementos As, Cd, Cr, Cu, Pb, Ni, Zn e Co. Vias de acesso Vias de acesso N Área assoreada Área assoreada Barragem Barragem Figura 5.4 – Mapa de isoteores de ferro nas barragens de Timbopeba e Natividade. Os mapas de isoteores da barragem de Timbopeba mostram uma tendência de concentração de metais em sua porção centro-leste. Nesta região, próximo ao ponto T-5, existe um vertedouro do tipo tulipa, sendo este o principal vertedouro da barragem. Cr e Zn apresentam comportamento semelhante, mais concentrados na porção norte (ponto T-8). Os elementos Co, Cu, As e Ni também apresentam distribuição semelhante entre si, estando mais concentrados na porção centro leste da represa e com um segundo foco de concentração na porção sudoeste (em direção ao ponto T-30). O Pb apresentou uma distribuição uniforme por toda a barragem, com exceção do ponto T-9 onde claramente apresentou uma concentração anômala. O Fe, por sua vez, apresenta pouca variação de concentração estando igualmente distribuído por toda a superfície dos sedimentos. 65 66 20 20 0 20 0 25 25 19 50 N 50 N 30 100 m 100 m 30 30 20 19 Barragem Área assoreada 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 (mg/kg) Legenda Cr Isoteores de Barragem de Timbopeba Vias de acesso Barragem Área assoreada Vias de acesso (mg/kg) Legenda As Isoteores de 65 40 0 25 0 25 40 Figura 5.5 - Mapa de isoteores para As, Cd, Cr e Cu nos sedimentos da Barragem de Timbopeba 20 20 Barragem de Timbopeba 50 N 50 N 100 m 100 m 65 Vias de acesso 55 50 45 40 35 30 25 20 15 80 75 70 65 60 90 85 (mg/kg) Legenda Cu Isoteores de Área assoreada Barragem 0,0 0,2 Barragem de Timbopeba Vias de acesso Barragem Área assoreada 2,8 2,6 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 (mg/kg) Legenda Cd Isoteores de Barragem de Timbopeba Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 40 10 0 0 67 19 19 50 N 50 2 50 25 25 N 100 m 25 0 100 m 20 10 250 25 0 350 Área assoreada Barragem 4 2 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 (mg/kg) Legenda Zn Isoteores de Barragem de Timbopeba Vias de acesso Barragem Área assoreada Vias de acesso 12 10 8 6 32 30 28 26 24 22 20 18 16 14 (mg/kg) Legenda Pb 10 05 10 Figura 5.6 - Mapa de isoteores para Pb, Ni, Zn e Co nos sedimentos da Barragem de Timbopeba 25 0 0 25 20 0 05 19 50 N 25 10 Isoteores de 50 N 100 m 100 m 20 20 10 10 Barragem de Timbopeba 10 05 Barragem Área assoreada Vias de acesso Barragem Área assoreada Vias de acesso 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 (mg/kg) Legenda Co Isoteores de Barragem de Timbopeba 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 (mg/kg) Legenda Ni Isoteores de Barragem de Timbopeba Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 19 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Barragem de Natividade Barragem de Natividade Isoteores de Isoteores de As Cd N-34 N-34 N-35 50 N-35 N-2 N-5 N-2 N-3 N-3 N-6 N-4 60 N-5 N-25 N-17 N-10 N-6 N-4 N-31 N-25 N-17 N-10 20 N-31 Legenda Legenda (mg/kg) N-18 60 N-14 N-7 N-11 N-15 N-14 1,8 N-7 20 N-11 1,6 68 60 N-19 (mg/kg) N-18 70 1,5 66 1,4 64 N-12 N-19 N-15 N-12 1,3 1,2 62 1,1 60 N-33 N-24 N-22 N-20 N-16 N-13 60 58 N-24 56 60 N 1,0 N-33 N-23 52 N-21 Vias de acesso N-20 40 54 N-32 N-22 N N-16 N-13 0,9 0,8 30 N-32 50 N-23 0,7 0,6 N-21 Vias de acesso 0,5 Área assoreada 0,3 Barragem 0,1 0,4 48 Área assoreada 0 25 50 46 Barragem 100 m 44 42 0 25 50 Barragem de Natividade 100 m 0,0 Barragem de Natividade Isoteores de Isoteores de Cr 0,2 Cu N-34 N-35 N-34 N-35 N-2 N-5 N-3 N-6 N-4 N-2 N-5 N-3 50 N-25 N-17 N-10 N-25 Legenda N-31 N-18 N-14 N-11 N-19 N-15 N-12 100 N-7 N-17 N-10 20 (mg/kg) 95 N-31 N-6 20 N-4 30 N-18 30 N-14 N-11 N-19 N-15 N-12 N-7 90 40 80 N-33 N-24 50 N-22 N-20 N-16 40 75 70 N-13 65 N-33 N-24 N N-32 N-23 N-21 55 Vias de acesso 100 m N-32 50 N-23 N-21 35 30 0 25 50 100 m Figura 5.7 - Mapa de isoteores para As, Cd, Cr e Cu nos sedimentos da Barragem de Natividade 68 N-13 Vias de acesso Área assoreada 40 Barragem 30 40 N-16 45 Área assoreada 0 25 50 N N-20 50 40 60 N-22 50 40 85 Barragem Legenda (mg/kg) 66 64 62 60 58 56 54 52 50 48 46 44 42 40 38 36 34 32 30 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Barragem de Natividade Barragem de Natividade Isoteores de Isoteores de Ni Pb N-34 N-34 N-35 30 N-35 N-2 N-25 N-17 N-10 N-5 N-3 N-6 N-4 N-14 N-25 N-17 N-10 Legenda N-31 N-18 N-2 20 N-11 N-3 N-6 N-4 Legenda N-31 (mg/kg) (mg/kg) 20 52 N-7 N-5 N-18 52 N-14 N-11 40 N-7 38 40 50 36 48 N-19 N-15 N-12 N-19 46 N-15 34 N-12 32 44 42 N-33 N-24 N-22 N-20 N-16 N-13 N-32 N-22 N-20 N-32 N-23 N-21 N-16 N-13 28 26 36 N-23 N 34 N-21 Vias de acesso 30 28 Barragem 26 100 m 0 25 50 24 Vias de acesso 22 Área assoreada 20 Barragem 18 100 m 16 Barragem de Natividade Barragem de Natividade Isoteores de Isoteores de Zn 24 32 Área assoreada 0 25 50 N-24 38 40 N 30 N-33 40 Co N-34 N-35 N-34 N-35 N-2 N-25 N-17 N-10 40 N-18 50 N-3 N-640 N-4 N-32 N-22 N-23 N-20 N-14 N-7 N-11 N-15 N-12 N-16 N-13 N-21 Vias de acesso Área assoreada 0 25 50 100 m N-3 20 N-17 N-10 N-6 N-31 Barragem N-4 Legenda (mg/kg) 60 N N-24 60 N-33 N-25 Legenda N-31 40 N-19 N-5 20 N-5 N-2 (mg/kg) 72 70 68 66 64 62 60 58 56 54 52 50 48 46 44 42 40 38 36 34 32 30 28 26 24 N-18 N-14 N-11 N-7 23 22 21 20 N-19 N-15 N-12 19 18 17 N-33 N-24 N-22 N-20 N-16 N-13 16 15 14 N N-32 N-23 13 N-21 Vias de acesso 12 11 Área assoreada 0 25 50 100 m Figura 5.8 - Mapa de isoteores para Ni, Pb, Zn e Co nos sedimentos da Barragem de Natividade 69 Barragem 10 9 8 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Em Natividade observa-se uma concentração preferencial dos metais nos sedimentos mais à jusante, nas proximidades da barragem, onde se localiza o vertedouro. Em menor ou maior intensidade, todos os metais apresentam duas nítidas faixas de maior concentração à montante e à jusante da entrada do afluente que vem da barragem de Timbopeba (Ponto N-25). Estes dois pólos são separados por uma faixa de baixa concentração que se estende do ponto N-25 até a região do ponto N-7. Segundo informação verbal de funcionários da mina, houve um desmoronamento de um pequeno talude de filito bastante intemperizado à jusante de Timbopeba e à montante de Natividade no período chuvoso anterior à coleta. Este material, rico em argilominerais, foi carreado para dentro de Natividade e recobriu parte dos sedimentos originais desse reservatório. 5.4 – RELAÇÃO ENTRE OS METAIS TRAÇO DOS MINÉRIOS E DOS SEDIMENTOS. A Figura 5.9 sumariza de forma comparativa o conteúdo médio de As, Pb, Cu, Co, Cr, Ni e Zn nos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade e nos minérios de ferro. Comparando-se os sedimentos das duas barragens, os sedimentos de Natividade apresentam concentrações em média duas vezes maiores que as apresentadas pelos sedimentos de Timbopeba. A única exceção é feita para o Cu, mais concentrado em Timbopeba. Entretanto os altos valores de desvio padrão para o Cu, encontrados para os dois reservatórios, indicam que as fixas de resultados se sobrepõem (Tabelas 5.4 e 5.5). Os teores de As, Pb, Cr e Ni nos minérios são, de um modo geral, pelo menos metade do valor encontrado nos sedimentos de Timbopeba. Já Co e Zn apresentam valores intermediários nos minérios, sendo maiores que os teores de Timbopeba e menores que os de Natividade . Estes resultados mostram que na região estudada, os sedimentos associados à mineração de ferro são mais ricos em metais traço que os minérios que lhes dão origem. Mostram também que os sedimentos de Natividade apresentam maiores teores que os de Timbopeba. Este comportamento é interpretado como sendo conseqüência de um provável enriquecimento dos sedimentos por adsorção de metais. Para que este processo de enriquecimento por adsorção ocorra, duas condições básicas precisam ser satisfeitas: (1) a existência de um agente adsorvente e (2) existência de uma ou mais fontes de metais nas proximidades dos reservatórios. Os sedimentos ricos em ferro, conforme discutido anteriormente (Capitulo 3), satisfazem a primeira condição, uma vez que são reconhecidamente excelentes adsorventes de metais. Já a segunda condição é satisfeita pela existência de antigos garimpos, hoje abandonados, no entorno dos reservatórios e principalmente nos arredores de Natividade (Figura 1.2). Costa (2001) identificou altos valores de As, Mn, Sb, Ba e Hg nos sedimentos ao redor de Natividade associados à atividade garimpeira na região. A mineralização de ouro no Quadrilátero Ferrífero ocorre como resultados 70 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. a processos de alterações hidrotermais que geram veios ricos em sulfetos (Lobato & Vieira, 1998). A Figura 5.9 – Comparação entre os teores médios de As, Pb, Cu, Co, Cr, Ni e Zn obtidos para os minérios das minas de Capanema, Timbopeba e Alegria, com os teores médios obtidos para os sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade exposição destes sulfetos às condições atmosféricas leva à oxidação do sulfeto a sulfato, com a conseqüente liberação dos metais que podem ser mobilizados e carreados das margens para o interior dos reservatórios. Um bom exemplo deste fenômeno é descrito por Borba et al. (2003) que estudaram a contaminação de As nas águas da região de Ouro Preto e Mariana e pela da mobilização deste elemento a partir das mineralizações de Au. Estes metais podem ser prontamente adsorvidos quando as águas contaminadas entram em contato com sedimentos ricos em óxidos de ferro. Esta hipótese é reforçada quando se comparam os teores de Fe nos sedimentos das duas barragens (Figura 5.9). A maior presença de fontes de metais, representadas pelos garimpos e mineralizações de ouro, nas proximidades do reservatório de Natividade faz com que os sedimentos desta barragem apresentem valores mais elevados de metais do que os sedimentos de Timbopeba, mesmo estes possuindo alto potencial adsortivo dado pela importante presença de óxidos de ferro. Sedimentos Timbopeba Sedimentos Natividade Minérios de ferro Cu Ni Concentração (mg.kg -1) 60 40 20 0 As Pb Co Cr Zn Elem entos traço 5.5 – VALORES GUIA DE QUALIDADE DE SEDIMENTOS (VGQS) A determinação da qualidade dos sedimentos das represas de Timbopeba e Natividade, ou seja, a interpretação ambiental dos valores de metais e sua possível relação com efeitos adversos à biota, só é possível por meio de comparação com valores previamente determinados e que possam servir como 71 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... referência. Para esta finalidade vários valores de referências têm sido criados para determinar a existência de contaminação ambiental, os chamados Valores Guia de Qualidade de Sedimentos (VGQS). Estes valores e sua aplicação serão discutidos a seguir. Um grande esforço vem sendo feito para se estabelecer parâmetros confiáveis que possam ser empregados como VGQS. Estes valores vêm sendo usados em inúmeras aplicações, incluindo a elaboração de programas de monitoramento de contaminação, interpretação de dados históricos, avaliação da qualidade de materiais dragados, estudos de remediação e riscos ecológicos, estabelecimento de classificação de áreas de risco ambiental (Long & MacDonald, 1998; MacDonald et al., 2000). Logo, os valores numéricos dos guias de qualidade de sedimentos, quando usados em combinação com outras ferramentas, como testes de toxicidade por exemplo, representam uma ferramenta poderosa na avaliação da qualidade de sedimentos. Existem várias metodologias e abordagens possíveis para se estabelecer um critério que garanta a qualidade de sedimentos, algumas mecanísticas e teóricas, outras baseadas em observações empíricas. Entretanto, todas as abordagens partilham a intenção de fornecer valores padrão de contaminação que possam ser efetivamente adotados para a proteção do ambiente bentônico. Os critérios de qualidade de sedimentos teóricos se baseiam nos métodos de equilíbrio de partição (EqP – equilibrium partitioning) e sulfetos volatilizáveis por acidificação (AVS – Acid Volatile Sulfide) enquanto os métodos empíricos priorizam as evidências de contaminação e diferem entre si pela utilização de diferentes tratamentos estatísticos. Em geral os estudos estatísticos definem dois valores de referência que dividem a faixa de concentração dos contaminantes em três partes: nenhum ou pouco efeito adverso, provável ou pequeno efeito adverso e significativo ou severo efeito adverso sobre espécies sensíveis de organismos bentônicos Freqüência dos efeitos adversos à biota (Figura 5.10). 1,0 0,8 Raro efeito adverso esperado 0,6 Prováve l efeito adverso esperado Efeito adverso freqüentemente esperado 0,4 0,2 0,0 0,1 10 Concentração do contaminante 1 100 1000 Figura 5.10 – Exemplo conceitual dos intervalos de efeitos para contaminantes associados a sedimentos (CCME, 1995) 72 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Silvério (2003) apresenta uma revisão dos vários VGQS encontrados na literatura e suas diferentes abordagens. São eles: (1) equilíbrio de partição (AVS), (2) concentrações em níveis basais SEL (Severe Effect Level) e LEL (Lowest Effect Level), (3) intervalo de efeito baixo ERL (Effect Range-Low) e intervalo de efeito médio ERM (Effect Range-Median), (4) nível limiar de efeitos TEL (Threshold Effect Level) e nível provável de efeito PEL (Probable Effect Level), (5) limiar de efeitos aparentes AET (Apparent Effect Level), (6) concentração de efeito limiar TEC (Threshold Effect Concentration) e concentração de efeito provável PEC (Probable Effect Concentration), (7) modelo de regressão logística LRM (Linear Regression Model). A maioria destes valores foi estabelecida através de uma abordagem empírica baseada em informações de extensos bancos de dados sobre níveis de contaminação de sedimentos e respostas biológicas. Levam ainda em consideração os valores de background dos metais nos sedimentos, testes de toxicidade elaborados pela adição de metais aos sedimentos, critérios de qualidade para matrizes como água, tecido de organismos e solo e avaliação da comunidade bentônica. Devido às suas especificidades, os VGQS devem ser utilizados com cuidado, já que os valores para determinada substância podem variar muito entre diferentes VGQS’s. Além disso, incertezas em relação à biodisponibilidade dos contaminantes no sedimento, valores altos de background, efeitos de misturas de poluentes e a relevância ecológica dos valores guia devem ser considerados (MacDonald et al., 2000). Dentre estes vários critérios de qualidade de sedimentos existentes, dois têm sido bastante usados no processo de decisão sobre a disposição de sedimentos dragados e como gatilho para intervenção em áreas contaminadas. São eles ERL/ERM (Long & Morgan, 1991) e o TEL/PEL (Smith et al., 1996). Soma-se a esses um terceiro critério que vem ganhando importância, o TEC/PEC, que foi recentemente proposto (MacDonald et al., 2000). Sua importância reside no fato de tentar estabelecer um consenso para os VGQS existentes para sistemas de água doce. No Brasil não existem critérios definidos por lei federal para a avaliação da qualidade de sedimento e disposição de material dragado. No Estado de São Paulo, técnicos da Cetesb avaliaram diferentes critérios de classificação dos sedimentos para disposição oceânica e suas diferentes abordagens em diversos países. Optaram pelo critério canadense (TEL/PEL), seguindo o princípio da precaução, e adotaram seus valores numéricos como padrão de referência de contaminação para sedimentos (CETESB, 1998). Os mesmos valores estão sendo propostos para serem usados em nível nacional através da elaboração de uma resolução do CONAMA (CONAMA, 2003). 73 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 5.5.1 – Intervalo de Efeito Baixo (ERL) e Intervalo de Efeito Médio (ERM) Os valores de ERL e ERM foram desenvolvidos originalmente como critérios de qualidade informais para sedimentos de estuários e marinhos pelo National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos Estados Unidos, com base em seu banco de dados denominado NOAA’s Biological Effects Database for Sediments (BEDS). Usando o mesmo banco de dados, o Great Lakes National Program Office (GLNPO), ligado à Agência de Proteção Ambiental norte americana (EPA), calculou os valores de ERLs e ERMs para sedimentos de água doce com boa concordância com os valores originalmente estabelecidos (WDESMU, 2002). Estes valores são usados como critério de qualidade de sedimento por vários órgãos ambientais de vários paises (Estados Unidos – Califórnia e Nova York, Austrália, Nova Zelândia). Para se estabelecer estes valores, os dados constantes do BEDS foram triados para se identificar os que apontaram alguma concordância entre concentrações químicas elevadas e efeitos biológicos. Foi estabelecido como ERL o percentil 15 da distribuição de efeitos e conceitualmente considerado pelo NOAA como a concentração abaixo da qual raramente são encontrados efeitos adversos entre espécies sensíveis. O valor de ERM foi definido como sendo o do percentil 50 da distribuição de efeitos e é considerada a concentração acima da qual são freqüentemente observados efeitos sobre as espécies sensíveis. 5.5.2 – Nível Limiar de Efeito (TEL) e Nível Provável de Efeito (PEL) Os valores de TEL e PEL foram desenvolvidos pelo GLNPO, adaptados e adotados como valores guia pelo Conselho Canadense de Ministérios do Meio Ambiente e pelos estados norte-americanos da Flórida e do Alasca. Os valores de TEL e PEL foram calculados de maneira similar aos do ERL e ERM a partir de tratamento estatístico de dados pré-existentes. A principal diferença é que para a definição de TEL e PEL foram levados em consideração, além de dois valores de efeito, os valores de não-efeito. Como valor de TEL foi considerada a média geométrica entre o 15° percentil da concentração dos dados de efeito e o 50° percentil da concentração dos dados de não efeito. Já os valores de PEL representam a média geométrica entre os valores do percentil 50 dos dados de efeito e do percentil 85 da concentração dos dados de não efeito. Desta forma, pode-se interpretar os valores de TEL como sendo o limite superior da faixa de concentração de contaminantes que é dominado por entradas de não-efeito. Assim, contaminantes associados a sedimentos que tiverem concentrações inferiores ao valor de TEL não devem ser 74 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. considerados como causadores de efeito significativo para os organismos bentônicos. Por sua vez, os valores de PEL representam o limite inferior da faixa de contaminantes em que os efeitos adversos à biota são freqüentemente esperados. 5.5.3 – Concentração de Efeito Limiar (TEC) e Concentração de Efeito Provável (PEC) Os valores de PEC e TEC foram estabelecidos recentemente por MacDonald et al. (2000) com o objetivo de unificar ao vários VGQS existentes pra sedimentos de água doce. Estes valores foram obtidos para 28 substâncias químicas a partir de uma triagem dos vários VGQS publicados para sedimentos de água doce. Foram considerados para este estudo os VGQS’s que: (1) apresentavam metodologias transparentes, (2) os valores foram baseados em estudos empíricos que relacionaram efeitos danosos à fauna bentônica com concentrações elevadas de contaminantes e (3) os VGQS foram estabelecidos em bases novas e não readaptados a partir de VGQS’s pré-existentes. Os valores de TEC e PEC foram então calculados a partir de uma média geométrica dos VGQS’s selecionados. A média geométrica foi utilizada para prevenir que valores extremos de alguns VGQS’s pudessem comprometer a real tendência apresentada pelos valores. Estabelecidos os valores de PEC e TEC, estes foram avaliados comparando com os valores de contaminação dos sedimentos obtidos nos vários trabalhos a partir dos quais foram derivados os VGQS’s originais. Desta forma foram validadas as seguintes relações: TEC - representa os valores abaixo do qual raramente são esperados efeitos tóxicos sobre a fauna bentônica e PEC - representa os valores de contaminantes associados aos sedimentos acima dos quais freqüentemente ocorrem efeitos tóxicos a fauna bentônica. Estes valores foram estabelecidos para preverem corretamente 75% dos casos. Isso significa que usando estes valores de TEC e PEC há sempre uma possibilidade de 25 % de falsos positivos (amostras classificadas incorretamente como tóxicas) e falsos negativos (sedimentos incorretamente classificados como não tóxicos). 5.6 – AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SEDIMENTOS NAS BARRAGENS DE TIMBOPEBA E NATIVIDADE 5.6.1 – Comparação entre os Teores de Metais nos Sedimentos e os VGQS A avaliação da qualidade dos sedimentos encontrados nas barragens de Natividade e Timbopeba foi feita por comparação com os principais VGQS: PEL/TEL, ERL/ERM e TEC/PEC. Os valores destes VGQS estão relacionados na Tabela 5.6. Para efeito de comparação com os VGQS optou-se por representar o valor de cada metal em cada reservatório por seu valor médio e seus máximos e mínimos (Tabelas 5.4 e 5.5). Assim, a Figura 5.11 apresenta o posicionamento dos valores médios, máximos e 75 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... mínimos de As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn em cada sedimento em relação às faixas de abrangência dos VGQS’s utilizados neste trabalho. A Tabela 5.7 apresenta o número e a percentagem dos pontos amostrados em cada barragem relativos a cada faixa dos VGQS. Os valores de cobalto não foram considerados nesta comparação uma vez que não existem valores guia estipulados para este metal. Os valores apresentados nas Tabelas de 5.4 a 5.7 e na Figura 5.11 mostram que apesar de apresentarem distribuição semelhante, os sedimentos de Natividade, de um modo geral, apresentam pior qualidade que os sedimentos de Timbopeba. A descrição da qualidade dos sedimentos das duas barragens em relação a cada metal é apresentada a seguir. Tabela 5.6 – Valores Guia de Qualidade de Sedimentos (VGQS) usados como referência na avaliação da qualidade dos sedimentos de Timbopeba e Natividade. Valores em mg·kg-1, peso seco raro efeito adverso esperado efeito adverso freqüentemente esperado Metais ERL2 TEC3 PEL1 ERM2 PEC3 TEL1 Arsênio 5,9 33,0 9,8 17,0 85,0 33,0 Cádmio 0,6 5,0 1,0 3,5 9,0 5,0 Cromo 37,3 80,0 43,4 90,0 145 111 Cobre 35,7 70,0 31,6 197 390 149 Chumbo 35,0 35,0 35,8 91,3 110 128 Níquel 18,0 30,0 22,7 36,0 50,0 48,6 Zinco 123 120 120 315 270 459 1 (Smith et al., 1996); 2(Long & Morgan, 1991); 3(MacDonald et al., 2000) Timbopeba: Em Timbopeba, o valor médio de As é maior que o valor de PEL o que insere a média da As dentro da faixa de efeito adverso freqüentemente esperado (Figura 5.14). Considerando individualmente os pontos amostrados (Tabela 5.7), 30,8 % apresentam conteúdo de As entre os valores de PEL e TEL e 69,2 % apresentam valores acima de PEL. A Figura 5.12 apresenta a distribuição espacial dos teores de As em Timbopeba em relação aos teores de PEL e TEL. Considerando os VGQS ERL e ERM, o valor médio de As está abaixo do ERL (Figura 5.11). Dentre os valores pontuais, 92,3% estão abaixo de ERL e 7,7% estão entre ERL e ERM. Nenhum valor acima de ERM foi encontrado (Tabela 5.7). A distribuição espacial dos teores de As em relação aos valores de ERL e ERM é apresentada na Figura 5.13. Em relação aos VGQS TEC e PEC, o valor médio de As em Timbopeba está na faixa de provável efeito adverso esperado. Individualmente 3,8 % dos pontos possuem teores abaixo de TEC, 88,5% encontram-se entre os valores de TEC e PEC e 7,7% estão acima de PEC (Figura 5.14). 76 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Barragem de Timbopeba Barragem de Natividade As As 10 20 30 40 50 60 70 80 10 Cd Cd Cr Cr 20 40 60 80 100 120 20 20 140 Cu 30 40 40 60 50 60 80 70 100 80 120 140 Cu 50 100 150 200 250 300 350 50 Ni 100 150 200 250 300 350 Ni 5 10 20 15 25 30 35 40 45 50 5 55 Pb 20 15 10 25 30 35 40 45 50 55 Pb 20 40 60 80 100 120 20 Zn 40 60 80 100 120 Zn raro efeito adverso esperado TEC - Concentração de efeito limiar PEC - Concentração de efeito provável 1 . MacDonald et al. (2000) 2. 3 . Smith et al. (1996) 1 provável efeito adverso esperado efeito adverso freqüentemente esperado TEL PEL ERL ERM TEC PEC ERL - Intervalo de efeito baixo ERM - Intervalo de efeito médio 2 TEL - Nível limiar de efeito PEL - Nível de provável efeito 3 - Valor médio obtido para sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade - Valor mínimo observado nos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade Figura 5.11 – Comparação dos teores máximo, médio e mínimo de As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn nos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade, comparados os VGQS: TEL/PEL, ERL/ERM e TEC/PEC O teor médio de Cd nos sedimentos de Timbopeba encontra-se na faixa de raro efeito adverso esperado em relação a todos o VGQS considerados. Individualmente, 92,3 % dos pontos apresentam teores inferiores a TEL e 7,7 % apresentam teores entre TEL e PEL; 100 % dos pontos com teores inferiores ao ERL; 92,3 % inferiores a TEC e 7,7 % entre TEC e PEC. A distribuição espacial do cádmio em relação aos respectivos VGQS é apresentada nas Figuras de 5.12 a 5.14. 77 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... O Cr apresenta valor médio abaixo dos VGQS que indicam contaminação dos sedimentos. Os valores individuais estão inseridos também na faixa de raro efeito adverso esperado em 100 % dos pontos amostrados, como pode ser visto na Tabela 5.7 e nas Figuras 5.12 a 5.14. O teor médio de Cu está inserido na faixa de provável efeito adverso esperado quando comparado aos VGQS TEL/PEL e TEC/PEC e dentro da faixa de raro efeito adverso esperado quando comparado aos VGQS ERL/ERM (Figura 5.11). Individualmente, 42,3 % dos pontos amostrados em Timbopeba possuem teores de Cu abaixo de TEL e 57,7 % entre os valores de TEL e PEL; 92,3% abaixo de ERL, 7,7% entre ERL e ERM; 32,1% estão abaixo de TEC e 76,9 % encontram-se entre TEC e PEC. Tabela 5.7 – Distribuição dos teores de As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn (em número de registros e percentagem) em relação às faixas de qualidade consideradas nos VGQS utilizados Timbopeba Natividade < TEL >TEL <PEL > PEL < TEL >TEL <PEL > PEL % % n n % n % n n % n % As 0 0,0 8 30,8 18 69,2 0 0,0 0 0,0 27 100 Cd 24 92,3 2 7,7 0 0,0 26 96,3 1 3,7 0 0,0 Cr 26 100 0 0,0 0 0,0 6 22,2 22 74,1 1 3,7 Cu 11 42,3 15 57,7 0 0,0 18 66,7 9 33,3 0 0,0 Ni 16 61,5 10 38,5 0 0,0 0 0,0 14 51,9 13 48,1 Pb 26 100 0 0,0 0 0,0 26 96,3 1 3,7 0 0,0 Zn 26 100 0 0,0 0 0,0 27 100 0 0,0 0 0,0 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn <ERL 24 92,3 26 100 26 100 24 92,3 26 100 26 100 26 100 >ERL <ERM 2 7,7 0 0,0 0 0,0 2 7,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 >ERM 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 <ERL 0 0,0 27 100 26 96,3 27 100 3 11,1 26 96,3 27 100 >ERL <ERM 27 100 0 0,0 1 3,7 0 0,0 24 88,9 1 3,7 0 0,0 >ERM 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn < TEC 1 3,8 24 92,3 26 100 6 23,1 24 92,3 26 100 26 100 >PEC <TEC 23 88,5 2 7,7 0 0,0 20 76,9 2 7,7 0 0,0 0 0,0 >PEC 2 7,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 < TEC 0 0,0 26 96,3 9 33,3 10 37,0 0 0,0 26 96,3 27 100 >PEC <TEC 0 0,0 1 3,7 18 66,7 17 63,0 26 96,3 1 3,7 0 0,0 >PEC 27 100 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,7 0 0,0 0 0,0 Os teores de Pb dos sedimentos de Timbopeba apresentam valores médios e individuais (100% dos pontos amostrados) inseridos dentro do intervalo de raro efeito adverso esperado para todos os VGQS utilizados como parâmetro de comparação. 78 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 3,5 17,0 limites de TEL e PEL limites de TEL e PEL 5,9 As 0,6 Cd Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) limites de TEL e PEL 197 limites de TEL e PEL Cr 35,7 Cu Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 36,0 limites de TEL e PEL Ni 91,3 limites de TEL e PEL 18,0 35,0 Pb Limites de TEL e PEL Barragem de Timbopeba Valores de PEL em mg·kg -1 N Valores de TEL em mg·kg-1 Legenda (mg/kg) Vias de acesso 315 limites de TEL e PEL Zn Área assoreada 123 Barragem 0 50 100 200 m Figura 5.12 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Timbopeba tendo como referência os valores guia TEL e PEL 79 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 85 limites de ERL e ERM 9,0 limites de ERL e ERM 33 As 5,0 Cd Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 19 390 145 limites de ERL e ERM Cr limites de ERL e ERM 80 70 Cu Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 19 110 50 limites de ERL e ERM limites de ERL e ERM 30 Ni 35 Pb Limites de ERL e ERM Barragem de Timbopeba -1 Valores de ERM em mg·kg Legenda (mg/kg) 270 19 limites de ERL e ERM 120 Vias de acesso Área assoreada Barragem Zn N Valores de ERL em mg·kg-1 0 50 100 200 m Figura 5.13 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Timbopeba tendo como referência os valores guia ERL e ERM 80 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 33,0 limites de TEC e PEC 5,0 limites de TEC e PEC 9,8 1,0 Cd As Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 19 111 limites de TEC e PEC 43,4 Cr 149 limites de TEC e PEC 31,6 Cu Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 128 48,6 limites de TEC e PEC limites de TEC e PEC 22,7 Ni 35,8 Pb Limites de TEC e PEC Barragem de Timbopeba Valores de PEC em mg·kg -1 N Valores de TEC em mg·kg-1 Legenda (mg/kg) Vias de acesso 459 Área assoreada 19 limites de TEC e PEC 121 Zn Barragem 0 50 100 200 m Figura 5.14 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Timbopeba tendo como referência os valores guia TEC e PEC 81 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... O Ni em Timbopeba apresenta valor médio dentro da faixa de não contaminação para as três abordagens de VGQS utilizadas. Já os valores individuais de Ni possuem a seguinte distribuição: 61,5% dos pontos amostrados apresentam valores abaixo de TEL e 38,5 % na faixa entre TEL e PEL; 100 % apresentam valores entre ERL e ERM; 92,3 % estão abaixo de TEC e 7,7 % entre TEC e PEC. O valor médio dos teores de Zn se localiza na faixa de não contaminação dos três grupos de VGQS adotados para comparação. A totalidade dos valores individuais também se encaixa dentro da fixa de raro efeito adverso esperado para todos os VGQS. Levando-se em consideração os dados descritos acima, pode-se perceber que alguns metais presentes nos sedimentos da Barragem de Timbopeba merecem especial atenção. Efeitos adversos causados pelo As são previstos quando se aplicam os valores guia de PEL/TEL e TEC/PEC, mas não são confirmados pelos valores guia ERL/ERM. Em relação aos metais Cu, Ni e Cd, os sedimentos se enquadram no limiar entre não contaminados e com provável contaminação. Nenhum dos três conjuntos de valores guia aponta qualquer contaminação por Pb ou Cr. Natividade O teor médio do As nos sedimentos da Barragem de Natividade é alto, com um valor bem acima dos limites de contaminação estabelecidos pelos VGQS PEL e PEC, mas ainda dentro da faixa de intermediária de contaminação se comparado ao VGQS ERL e ERM (Figura 5.11). Os valores individuais dos 27 pontos de amostrados apresentam teores acima de PEL e de PEC e entre ERL e ERM. A distribuição espacial dos pontos de amostragem da Barragem de Natividade, em relação aos valores de PEL/TEL, ERL/ERM e PEC/TEC são apresentados respectivamente nas Figuras 5.15 a 5.17. O Cd apresenta valor médio dentro da faixa de não contaminação, abaixo de TEL, ERL e PEL. Dentre os valores individuais 96,3 % pontos estão abaixo de TEL e TEC e 3,7 % entre TEL e PEL e entre TEC e PEC. Cem por cento dos pontos amostrados apresentam valores distribuídos na faixa entre ERL e ERM. O teor médio de Cr nos sedimentos de Natividade está inserido na faixa de provável efeito adverso esperado, localizado entre os valores e TEL e PEL e de TEC e PEC, mas ainda assim, inferior a ERL. Os pontos amostrados se distribuem do seguinte modo: TEL-PEL - 22,2 % abaixo TEL, 74,1 % entre TEL e PEL e 3,7 % acima de PEL. ERL-ERM - 96,3 % abaixo de ERL e 3,7 % entre ERL e ERM; TEC-PEC 33,3% abaixo de TEC e 66,7 % entre TEC e PEC. 82 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de TEL e PEL para arsênio limites de TEL e PEL para cádmio limites de TEL e PEL para cromo As Cd Cr Legenda (mg/kg) 17,0 5,9 Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 3,5 90,0 37,3 0,6 Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de TEL e PEL para cobre limites de TEL e PEL para níquel limites de TEL e PEL para chumbo Cu Ni Pb Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 197 36,0 91,3 35,7 18,0 35,0 Barragem de Natividade Limites de TEL e PEL Barragem de Natividade limites de TEL e PEL para zinco Zn Valores de TEL em mg·kg Valores de PEL em mg·kg -1 N -1 Vias de acesso Legenda (mg/kg) Área assoreada 315 0 50 100 200 m Barragem 123 Figura 5.15 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Natividade tendo como referência os valores guia TEL e PEL 83 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de ERL e ERM para arsênio limites de ERL e ERM para cádmio limites de ERL e ERM para cromo As Cd Cr Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 145 85,0 3,5 33,0 80,0 Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de ERL e ERM para cobre limites de ERL e ERM para níquel limites de ERL e ERM para chumbo Cu Ni Pb Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 390 50,0 110 70,0 30,0 35,0 Barragem de Natividade Limites de ERL e ERM Barragem de Natividade limites de ERL e ERM para zinco Zn Valores de ERM em mg·kg Valores de ERL em mg·kg -1 N -1 Vias de acesso Legenda (mg/kg) Área assoreada 270 0 50 100 200 m Barragem 120 Figura 5.16 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Natividade tendo como referência os valores guia ERL e ERM 84 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de TEC e PEC para arsênio limites de TEC e PEC para cádmio limites de TEC e PEC para cromo As Cd Cr Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 33,0 5,0 111 9,8 1,0 43,4 Barragem de Natividade Barragem de Natividade Barragem de Natividade limites de TEC e PEC para cobre limites de TEC e PEC para níquel limites de TEC e PEC para chumbo Cu Ni Pb Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) Legenda (mg/kg) 149 48,6 128 31,6 22,7 35,8 Barragem de Natividade Limites de TEC e PEC Barragem de Natividade limites de TEC e PEC para zinco Zn Valores de PEC em mg·kg -1 N -1 Valores de TEC em mg·kg Vias de acesso Legenda (mg/kg) Área assoreada 459 0 50 100 200 m Barragem 121 Figura 5.17 – Distribuição espacial da qualidade dos sedimentos da barragem de Natividade tendo como referência os valores guia TEC e PEC 85 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... O teor médio de Cu nos sedimentos da Barragem de Natividade praticamente coincide com os valores de TEL e TEC, estando, entretanto, pouco abaixo de TEL e pouco acima de PEC e ainda abaixo de ERL. Os pontos amostrados estão 67 % abaixo de TEL e 33 % entre TEL e PEL; 100 % abaixo de ERL; 37 % abaixo de PEC e 63 % entre TEC e PEC. O Ni apresenta teor médio elevado, localizado na faixa de provável efeito adverso esperado para os três conjuntos de VGQS. Os pontos amostrados estão distribuídos da seguinte forma: 51,9 % entre TEL e PEL e 48 % acima de PEL; 11,1 % abaixo de ERL e 88,9 % entre ERL e ERM; 96,3 % entre TEC e PEC 3,7 % acima de PEC. O Pb apresenta média de teores dentro da faixa de raro efeito adverso esperado para os três conjuntos de VGQS. A distribuição dos teores por pontos também apresenta valores equivalentes: 96,3 % dos pontos com valores abaixo de TEL, ERL e TEC e 3,7 % dos pontos com valores entre PEL e TEL, entre ERL e ERM e entre PEC e TEC. O Zn mostra teores pouco dispersos, com 100 % dos valores localizados abaixo de TEL, ERL e TEC. Em resumo, os sedimentos da barragem de Natividade apresentam qualidade inferior aos sedimentos da barragem de Timbopeba. De um modo geral os teores indicam importante contaminação ou provável contaminação por arsênio em relação aos VGQS mais restritivo TEL-PEL e TEC-PEC. Mesmo em relação a ERL e ERM os valores de As podem ser considerados potencialmente contaminantes. Em maior ou menor grau, os metais Ni, Cu e Cr apresentam teores altos o suficiente para que os sedimentos possam ser considerados como potencialmente contaminados. Para Cd, Pb e Zn praticamente não existem indícios de contaminação. 5.6.2 – O Quociente Médio de Contaminação (QMC) Os VGQS apresentados detalhadamente anteriormente representam uma boa ferramenta para a avaliação da magnitude das contaminações quando os contaminantes são considerados individualmente. A probabilidade de se observar toxicidade em determinados sedimentos é vista por Long & MacDonald (1997) e Long et al. (1998) como função do número de substâncias que excedem os valores guias bem como o quanto elas excedem estes valores. O número de substâncias que excedem os valores guia é evidente, mas para se avaliar o grau em que isso ocorre é necessário a utilização do chamado Quociente Médio de Contaminação (QMC) que pode ser calculado em função de qualquer valor guia a partir do qual a contaminação é esperada (PEL-Q, PEC-Q, ERM-Q, etc.): 86 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Os valores do quociente médio podem ser calculados levando-se em consideração os teores de metais traço, PHAs e PCBs. O seu cálculo é feito em três etapas: 1- A concentração de cada substância em cada sedimento é dividida por seu respectivo valor guia de contaminação (PEL, PEC, ERM). 2- Calcula-se a soma dos quocientes de contaminação para cada amostra de sedimento. 3- A soma dos quocientes de contaminação é então normalizada pelo número de substâncias que foram analisadas em cada amostra de sedimento (esta normalização permite que sedimentos analisados para diferentes números de substâncias sejam comparados) Quanto maior o valor obtido para um quociente, maior a probabilidade de contaminação dos sedimentos naquele ponto ou região. MacDonald (1997) e Long et al. (1998) estabeleceram relações empíricas entre a incidência de toxicidade e o grau e/ou número de valores que excedem os valores guia de qualidade de sedimento. De uma maneira geral, classificam os sedimentos como não tóxicos se PEC Q < 0,5 e tóxico se PEC-Q > 0,5. Entretanto, é mais comum distribuir estes valores em intervalos mais ou menos restritivos de acordo com o objetivo, que pode ser: selecionar áreas de preservação, priorizar ações de manejo ou mesmo definir um valor de intervenção. A Tabela 5.8 apresenta uma matriz de priorização onde a incidência de toxicidade aumenta à medida que aumenta o valor numérico de PELQ, ERM-Q e PEC-Q. Tabela 5.8 – Esquema de priorização de sítios em relação à contaminação (ERM-Q e PEL-Q baseados em Long & MacDonald, 1997; PEC-Q baseado em Ingersoll & MacDonald, 2003) Prioridade Probabilidade de efeito tóxico em testes com amphipodas Prioridade Sítios de prioridade médio-alta ERM-Q entre 0,51 – 1,5 PEL-Q entre 1,51 – 2,3 PEC-Q entre 0,5 – 1,0 6 a 10 ERM excedidos 6 a 20 PEL excedidos Sítios de menor prioridade ERM-Q < 0,1 PEL-Q < 0,1 PEC-Q < 0,1 nenhum ERM excedido nenhum PEL excedido Sítios de prioridade médio-baixa ERM-Q entre 0,11 – 0,5 PEL-Q entre 0,11 – 1,5 PEC-Q entre 0,11 – 0,5 1 a 5 ERM excedidos 1 a 5 PEL excedidos 11,6% 10,4% 10% 11% 9% Probabilidade de efeito tóxico em testes com amphipodas 46% 50% 56% 52% 53% Sítios de maior prioridade 30% 25% 13% 32% 24% ERM-Q > 1,5 PEL-Q > 2,3 PEC-Q >1,0 > 11 ERM excedidos > 21 PEL excedidos 87 74% 76% 97% 85% 85% Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A partir dos quocientes obtidos para cada amostra individual de sedimento, pode-se ainda calcular o Quociente Médio de Contaminação Total (QMCT) para determinada área. O QMCT é obtido pela soma dos quocientes individuais dividido pelo número de amostras na área em estudo: QMCT = Σ (QMC amostra 1 + QMC amostra 2 + QMC amostra 3...) n° total de amostras 5.6.3 – QMC para os Sedimentos das Barragens de Timbopeba e Natividade Para os sedimentos analisados, levou-se em consideração os teores de 7 metais traço, a saber: As, Cu, Cr, Pb, Zn, Cd e Ni. As Tabelas 5.9 e 5.10 apresentam os resultados de PEL-Q, ERM-Q, PEC-Q para cada ponto coletado nas barragens de Timbopeba e Natividade respectivamente, assim como os valores de QMCT para ambas as barragens relativos aos 3 VGQS utilizados. Tabela 5.9 - Valores de PEL-Q, ERM-Q, PEC-Q para os sedimentos da barragem de Timbopeba Pontos n° de PEL n° de ERM n° de PEC PEL-Q ERM-Q PEC-Q amostrados excedente excedente excedente 1 T-1 0,41 0,17 1 0,28 0 0 T-3 0,24 0,11 0 0,18 0 1 T-4 0,38 0,16 0 0,26 0 1 T-5 0,49 0,19 0 0,33 1 1 T-6 0,36 0,16 0 0,25 0 1 T-8 0,35 0,16 1 0,25 0 1 T-9 0,56 0,25 1 0,38 0 1 T-10 0,44 0,18 0 0,29 0 1 T-11 0,38 0,15 0 0,26 0 0 T-12 0,24 0,11 1 0,17 0 1 T-13 0,38 0,18 0 0,26 0 1 T-14 0,50 0,20 0 0,33 1 1 T-15 0,37 0,16 1 0,25 0 0 T-16 0,25 0,11 0 0,18 0 0 T-17 0,27 0,12 0 0,18 0 1 T-18 0,36 0,15 0 0,24 0 1 T-19 0,31 0,13 0 0,21 0 0 T-20 0,21 0,09 0 0,14 0 0 T-21 0,21 0,10 0 0,15 0 0 T-22 0,16 0,07 0 0,11 0 1 T-23 0,33 0,14 0 0,22 0 1 T-24 0,34 0,16 0 0,25 0 0 T-26 0,20 0,10 0 0,15 0 1 T-28 0,27 0,12 1 0,19 0 1 T-29 0,28 0,12 0 0,19 0 1 T-30 0,31 0,13 0 0,21 0 QMCT PEL-Q 0,33 ERM-Q 0,14 PEC-Q 0,23 88 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Os valores de PEL-Q, ERM-Q e PEC-Q de todos os 26 pontos amostrados na barragem de Timbopeba e os respectivos QMCT se posicionam dentro de intervalo de 0,11 e 0,5 para ERM-Q e PEC-Q e 0,11 e 1,5 para PEL-Q (Tabela 5.11). Nenhum ponto amostrado possui 2 valores que excedem PEL, ERM ou PEC. Estes dois parâmetros associados permitem classificar a contaminação dos sedimentos de Timbopeba como média – baixa, tendo como referência a matriz apresentada na Tabela 5.8. Tabela 5.10 - Valores de PEL-Q, ERM-Q, PEC-Q para os sedimentos da barragem de Natividade Pontos n° de PEL n° de ERM n° de PEC PEL-Q ERM-Q PEC-Q amostrados excedente excedente excedente 0,64 1 N-2 0,25 0 0,41 1 0,69 2 N-3 0,27 0 0,44 1 0,72 1 N-4 0,28 0 0,46 1 0,84 2 N-5 0,31 0 0,53 1 0,83 3 N-6 0,30 0 0,51 1 0,87 2 N-7 0,31 0 0,53 1 0,78 1 N-10 0,27 0 0,47 1 0,82 1 N-11 0,29 0 0,50 1 0,74 1 N-12 0,27 0 0,46 1 0,79 1 N-13 0,28 0 0,48 1 0,78 1 N-14 0,28 0 0,48 1 0,72 1 N-15 0,25 0 0,44 1 0,85 2 N-16 0,32 0 0,54 1 0,74 2 N-17 0,29 0 0,46 1 0,86 2 N-18 0,32 0 0,54 1 0,97 2 N-19 0,38 0 0,61 2 0,92 3 N-20 0,34 0 0,58 1 0,89 2 N-21 0,34 0 0,57 1 0,95 3 N-22 0,35 0 0,60 1 0,91 2 N-23 0,34 0 0,57 1 0,86 2 N-24 0,32 0 0,54 1 0,78 2 N-25 0,29 0 0,48 1 0,87 2 N-31 0,33 0 0,54 1 0,73 1 N-32 0,27 0 0,46 1 0,77 1 N-33 0,30 0 0,50 1 0,75 1 N-34 0,28 0 0,47 1 0,60 1 1 N-35 0,23 0 0,38 QMCT PEL-Q 0,88 ERM-Q 0,38 PEC-Q 0,55 Nos sedimentos da barragem de Natividade os valores de PEL-Q e ERM-Q, assim como os respectivos QMCT se posicionam dentro de intervalo de 0,11 e 0,5 para PEL-Q e 0,11 e 1,5 para ERM-Q (Tabela 5.11) e em ambos os casos o número de VGQS excedidos nunca é maior que 2. Esta associação de parâmetros permite classificar a contaminação dos sedimentos como médio-baixa. Entretanto, o PEC-Q aponta para uma maior contaminação. Os valores de PEC-Q (Tabela 5.11) estão distribuídos entre as classes de médio-baixa contaminação (55,6 %) e médio-alta contaminação (44,4 %), sendo que o valor do 89 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... quociente médio de contaminação total para os sedimentos de Timbopeba equivale ao valor limítrofe destas duas categorias. Tabela 5.11 – Distribuição dos valores de PEL-Q, ERM-Q e PEC-Q dos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade em relação à matriz de classificação Percentagem de Percentagem de Classificação pontos Timbopeba pontos Natividade PEL-Q < 0,1 ERM-Q < 0,1 PEC-Q < 0,1 0% 0% 0% 0% 0% 0% PEL entre 0,11-0,5 ERM-Q entre 0,1-1,5 PEC-Q entre 0,11-0,5 100 % 100 % 100 % 100 % 100 % 55,6 % PEL-Q entre 0,51-1,5 ERM-Q entre 1,51-2,3 PEC-Q entre 0,5-1,0 0% 0% 0% 0% 0% 44,4 % PEL-Q > 1,5 ERM-Q > 2,3 PEC-Q >1,0 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5.7- COMPOSIÇÃO GEOQUÍMICA DAS ÁGUAS DE NATIVIDADE E TIMBOPEBA O córrego Timbopeba pertence à sub-bacia do rio Gualaxo do Norte que compõe uma das cabeceiras da bacia hidrográfica do Rio Doce (Figura 1.2). A barragem de Timbopeba é formada pelo represamento de cinco drenagens principais: os córregos Ventura e Serragem que se juntam para formar o Córrego Timbopeba e os córregos Fundão, Descoberta e Miguel Couto. Por sua vez o córrego Timbopeba deságua no córrego Natividade. O represamento das águas do córrego Natividade origina a barragem homônima. Após se unirem, os córregos Natividade e Timbopeba passam a se chamar Rio Gualaxo do Norte, um dos formadores do Rio Doce. A barragem de Timbopeba foi construída com o objetivo de armazenar os rejeitos do beneficiamento do minério de ferro no complexo Industrial de Timbopeba e dos sedimentos provenientes da erosão na bacia do córrego Timbopeba. Além disso, a água armazenada nessa represa supre as necessidades de água industrial de todo o complexo Timbopeba. Atualmente, a lâmina d’água apresenta uma área superficial de cerca de 0,5 km2 e profundidade máxima de 12 metros próximo à barragem. A deposição de rejeitos em Timbopeba foi paralisada em 2000 para garantir a presença do volume de água remanescente de 3.200.000 m3 necessário para a manutenção das atividades de lavra e processamento do minério (Leite, 2001). 90 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. A barragem de Natividade funciona como uma segunda barragem de contenção para as águas oriundas da barragem de Timbopeba. Possui uma lâmina d’água com cerca de 0,6 km2 e profundidade máxima de 9 metros. Juntas, as duas barragens são responsáveis pela retenção de 95 % do material em suspensão lançado ou erodido na bacia hidrográfica do seu entorno (Leite, 2001). A localização dos pontos de amostragem de água foi escolhida de modo a representar segmentos com características potencialmente diferentes nos reservatórios. Em Timbopeba (Figura 4.1) o ponto T-1 representa a porção mais a jusante, o ponto T-14 representa a porção central, sob influência mais direta das drenagens que chegam da parte assoreada e o ponto T-23 representa uma porção mais restrita do reservatório, sem influência direta das drenagens. Em Natividade (Figura 4.2), o ponto N-6 representa as águas da barragem com pouca ou nenhuma interferência das águas que chegam da barragem de 25 50 30 150 250 6,0 0 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 profundidade (m) 0 4 5 6 6 70 80 Eh (mV) pH STD - Timbopeba 30 90 40 50 O2 dissolvido- Timbopeba 0,0 60 1 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 profundidade (m) 0 profundidade (m) 0 4 5 T-1 T-14 6,0 8,0 5 T-1 8 T-14 T-23 9 Condutividade - ( S / cm) 4,0 4 7 7 T-23 9 2,0 6 6 6 8 T-14 T-23 0 7 T-1 9 Condutividade - Timbopeba 60 5 8 9 Temperatura (°C) 50 9,0 4 T-23 T-23 9 T-14 8 T-14 8,0 7 T-1 T-1 8 7,0 6 7 7 profundidade (m) 350 0 profundidade (m) profundidade (m) 20 pH - Timbopeba Eh - Timbopeba Temperatura - Timbopeba Sólid os toto ais disso lvid os (mg / L) 8 T-1 T-14 T-23 9 Oxigênio dissolvido (mg / L) Figura 5.18 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos T-1, T-14 e T-23 da barragem de Timbopeba 91 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Timbopeba. O ponto N-17 está localizado exatamente no local onde o córrego Timbopeba deságua na barragem de Natividade e o ponto N-23 é o ponto mais a jusante da barragem, onde esta é mais profunda. Apesar disso, os três pontos de cada barragem apresentam características físico-químicas muito semelhantes. Em função da profundidade, os parâmetros físico-químicos (temperatura, Eh, pH, condutividade, sólidos totais dissolvidos – STD e oxigênio dissolvido) mostram o mesmo comportamento nas duas barragens e não indicam estratificação acentuada nas águas, como pode ser observado nas Figuras 5.18 e 5.19. Temperatura - Natividade 23 Eh - Natividade 25 100 27 pH - Natividade 250 6,0 N-24 4 3 N-17 N-24 4 N-17 5 6 6 6 7 7 7 Eh (mV) Temperatura (°C) Condutividade- Natividade pH STD - Natividade 80 20 40 O2 dissolvido - Natividade 60 0,0 0 1 1 1 2 2 2 3 4 5 profundidade (m) 0 profundidade (m) 0 3 4 5 N-17 6 N-17 6,0 8,0 4 N-6 6 N-24 7 Condutividade - ( S / cm ) 4,0 3 N-6 N-24 7 2,0 5 N-6 6 N-24 4 5 60 N-6 3 5 40 9,0 2 N-6 profundidade (m) N-17 profundidade (m) N-6 3 8,0 1 2 2 7,0 0 1 1 profundidade (m) 200 0 0 profundidade (m) 150 N-17 N-24 7 Sóli dos totai s dissol vido s (mg / L ) Oxigêni o di ssolvido (mg / L) Figura 5.19 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos N-6, N-17 e N-24 da barragem de Natividade, no fim do período chuvoso 92 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Em Timbopeba, temperatura, pH, condutividade, STD e oxigênio dissolvido diminuem com a profundidade enquanto o Eh apresenta uma ligeira elevação (Figura 5.18). A profundidade de 5 m marca uma alteração mais forte nos parâmetros pH, condutividade, STD e oxigênio dissolvido. Em Natividade, foram feitas duas amostragens para os parâmetros físico-químicos. A primeira, em março, no fim do período chuvoso, foi feita utilizando-se o amostrador Limnos com descrito no Capítulo 4. A segunda, em setembro, foi feita utilizando-se uma sonda multiparâmetro (Idronaut, ver Capítulo 4) com coleta de dados físico-químicos a cada 10 cm. Eh - Natividade Temperatura - Natividade 21 22 130 23 140 7,0 0 0 profundidade (m) 3 4 2 3 4 5 5 4 6 N-10 N-20 N-10 N-20 N-20 7 7 7 Eh (mV) Temperatura (°C) pH Condutividade- Natividade 70 80 90 O2 dissolvido - Natividade 100 5,0 0 0 1 1 2 2 profundidade (m) profundidade (m) 3 5 6 N-10 6 3 4 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 3 4 5 5 6 9,0 1 2 2 8,0 0 1 1 profundidade (m) pH - Natividade 135 profundidade (m) 20 6 N-10 N-10 N-20 N-20 7 7 Condutividade ( S/cm ) Oxigênio dissolvido (mg / L) Figura 5.20 – Variação em função da profundidade dos principais parâmetros físico-químicos nos pontos N10 e N-20 da barragem de Natividade, no período de seca 93 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Em ambas as amostragens, as variações seguem o mesmo padrão observado em Timbopeba: diminuição da temperatura, pH, condutividade, STD e O2 dissolvido e aumento de Eh. A diminuição vertical da condutividade, STD e oxigênio dissolvido é mais intensa em Natividade que a observada em Timbopeba. No período de chuva observa-se que a profundidade de 4 metros marca uma queda mais forte na maioria dos parâmetros físico-químicos. Já no período de seca a variação mais marcante ocorre a partir dos 5 m (Figura 5.20). No período de seca observa-se uma variação menor nos valores de Eh e pH e valores mais altos para a condutividade e para oxigênio dissolvido. As amostras de água das barragens de Timbopeba e Natividade foram analisadas quanto aos teores dos elementos traço As, Hg, Cd, Co, Cr, Cu, Ni, Pb, Zn, Ba e V, maiores Na, Ca, K e Mg, além dos elementos Al, Fe, Mn. Os resultados, mostrados respectivamente nas Tabelas 5.12 e 5.13, indicam ser muito pequena a presença de metais nas águas de ambas as barragens. A tendência de decréscimo nos teores dos elementos maiores em direção ao fundo, observada para K (em Natividade), Na, Mg e Ca é interpretada como resultado da maior lixiviação dos terrenos de entorno dos reservatórios durante os meses chuvosos que precederam as coletas. Este processo provocou um maior aporte e conseqüente concentração destes elementos na região mais superficial dos corpos d’água. Os teores médios dos metais ambientalmente importantes encontrados nas duas barragens foram comparados com os valores de metais admitidos em águas classe 1 (consumo humano) e águas de lançamento (efluentes de qualquer fonte poluidora) segundo a resolução CONAMA n° 357/05 (CONAMA, 2005). Esta comparação (Tabela 5.14) mostra que os teores dos metais tanto em Timbopeba quanto em Natividade estão em concentrações de pelo menos uma ordem de grandeza menor que os valores máximos permitidos. 94 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela 5.12 – Teores dos elementos traço encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade por nível de profundidade. O sinal “<” significa teores menores que os limite de quantificação do método analítico utilizado. Valores em µg·L-1 Limite Quantificação TBL-1 TBL-14 TBL-23 NTL-6 NTL-17 NTL-24 As Hg Cd Co Cr Cu Ni Pb Zn 2,0 0,05 5,0 6,0 1,0 5,0 7,0 2,0 1,2 Ba V 1,9 0m < < < < < 2,7 12,9 < < 18,7 < 1m < < < < < < < < < 18,9 < 2m < < < 8,5 < < < < < 19,0 < 3m < < < < < < < < 184 19,0 < 4m < < < < < < < < < 18,8 < 5m < < < < < < < < < 19,1 < 6m < < < 7,1 < < < < < 17,2 < 7m < < < 6,1 < < < < < 16,1 < 8m < < < < < < < < < 15,6 < 9m < < < < < < < < < 20,7 < 0m < < < < < < < < < 18,3 < 1m < < < < < < < < < 18,6 < 2m < < < < 2,3 < < < < 18,8 < 3m < < < 7,0 < < < < < 18,6 < 4m < < < < 1,6 < 12,2 < < 18,7 < 5m < < < < < < < < < 18,3 < 6m < < < < 1,1 < < < < 17,1 < 7m < < < < 1,2 < < < < 16,5 < 8,5m < < < < < < < < < 16,0 < 0m < < < < < < < < < 19,1 < 1m < < < 8,2 < < < < < 18,6 < 2m < < < 7,3 1,2 < < < < 18,7 < 3m < < < 7,2 < < < < < 18,9 < 4m < < < < 1,8 < < < < 18,7 < 5m < < < 7,8 1,1 < < < < 18,5 < 6m < < < < 1,2 < < < < 17,8 < 7m < < < 9,2 < < < < < 16,0 < 8m < < < < < < < < 7,2 15,2 < 0m < < < < < < < < < 17,1 < 1m < < < < < < < < < 17,0 < 2m < < < < < < < < < 16,9 < 3m < < < < 2,6 5,5 < < < 15,0 < 4m < < < < < < < < < 12,5 < 5m < < < < < < < < < 5,6 < 6m < < < < < < < < < 7,4 < 0m < < < < 1,7 < < < < 24,4 < 1m < < < < 2,0 < < < < 17,2 < 2m < < < 6,7 < < < < < 16,8 < 3m < < < < < < < < < 17,0 < 4m < < < 7,5 < < < < < 20,0 < 5m < < < 7,7 < < < < < 9,0 < 0m < < < < < < < 6,3 < 17,0 < 1m < < < < 2,5 < < 4,9 < 16,3 < 2m < < < < 2,3 < < 3,3 < 16,5 < 3m < < < < < < < < 11 13,6 < 4m < < < 10,3 < < < < < 11,8 < 5m < < < < 1,6 < < < < 9,1 < 6m < < < < < < < < < 6,5 < 7m < < < 8,1 2,7 < < < < 5,2 < 95 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela 5.13 – Teores de Fe, Al, Mn e elementos maiores encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade por nível de profundidade. O sinal “<” significa teores menores que os limite de quantificação do método analítico utilizado Limite de Quantificação TBL-1 TBL-14 TBL-23 NTL-6 NTL-17 NTL-24 0m 1m 2m 3m 4m 5m 6m 7m 8m 9m Al µg·L-1 1,0 Fe µg·L-1 6,5 Mn µg·L-1 23,0 Na mg·L-1 Mg mg·L-1 K mg·L-1 Ca µg·L-1 29,7 < 3,97 < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < 139 3,6 3,5 3,4 3,5 3,5 3,3 3,2 3,2 3,3 3,3 4,2 4,2 4,3 4,2 4,2 3,9 3,4 3,0 3,0 3,0 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7 0,8 7,1 7,3 7,3 7,3 7,4 6,9 5,9 5,5 5,5 5,5 0m 1m 2m 3m 4m 5m 6m 7m 8,5m < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < 39,4 < 3,5 3,7 3,4 3,3 3,3 3,3 3,2 3,3 3,3 4,1 4,1 4,2 4,2 4,0 3,8 3,3 2,9 2,9 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7 7,0 7,2 7,1 7,0 6,9 6,5 5,8 5,6 5,5 0m 1m 2m 3m 4m 5m 6m 7m 8m < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < < 3,4 3,5 3,3 3,3 3,3 3,4 3,2 3,2 3,2 4,0 4,1 4,1 4,1 3,9 4,2 3,4 3,1 2,9 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 6,9 7,1 7,0 6,9 6,8 7,2 6,1 5,6 5,6 0m 1m 2m 3m 4m 5m 6m < 1,63 < < < < < < < < < < < < < < < < < < < 2,3 1,7 1,6 1,2 0,9 0,7 0,7 4,8 4,8 4,8 4,8 4,9 4,1 3,3 0,6 0,5 0,4 0,3 0,6 0,3 0,3 8,1 8,2 8,3 8,3 8,3 7,1 5,9 0m 1m 2m 3m 4m 5m 0m 1m 2m 3m 4m 5m 6m 7m < < < < < 2,06 < < 3,03 < 3,52 5,16 5,16 31,7 < < < < < < < < < < < < < < < < < < 44,2 < < < < < < < < 81,0 2,1 16 1,5 1,5 1,9 0,7 1,5 1,4 1,4 1,0 0,9 0,7 0,7 0,7 4,8 4,7 4,8 4,8 4,7 3,6 4,8 4,7 4,8 4,9 4,8 3,7 2,9 2,8 0,5 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,3 0,4 0,4 0,3 0,4 0,3 0,3 0,4 8,3 8,1 8,2 8,1 7,7 6,3 8,2 7,9 8,2 8,4 8,4 6,2 5,3 5,0 96 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela 5.14 – Teores máximos permitidos pela legislação brasileira (CONAMA, 2005) para águas classe 1 e águas de lançamento, comparados com os teores médios dos metais encontrados nas águas das barragens de Timbopeba e Natividade CONAMA Timbopeba Natividade Classe 1 Emissão teor médio -1 mg L As 0,01 0,5 <0,002 <0,002 Cd 0,001 0,2 <0,005 <0,005 Pb 0,01 0,5 <0,002 0,005 Co 0,05 0,008 0,008 Cu 0,009 1 0,003 0,005 0,05 0,5 0,001 0,002 CrTOT Mn 0,1 1 0,089 0,063 Hg 0,0002 0,01 <0,00005 <0,00005 Fe solúvel 0,3 15 <0,007 <0,007 Ni 0,025 2 0,013 <0,007 Zn 0,18 5 0,095 0,011 97 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 98 CAPÍTULO 6 CAPACIDADE DE ADSORÇÃO DOS SEDIMENTOS 6.1 – INTRODUÇÃO A adsorção de metais por superfícies de minerais de um modo geral e dos óxidos de ferro em particular foi exaustivamente descrita nos capítulos anteriores, assim como sua importância como agentes que controlam os processos a geodisponibilidade, a mobilidade e, por conseqüência, o destino e a biodisponibilidade dos metais em um ambiente aquático. A determinação da concentração de metais em cada ponto de amostragem nas barragens de Timbopeba e Natividade, apresentada no capítulo anterior, fornece um bom indício sobre uma possível contaminação dos sedimentos por metais danosos ao ambiente. Entretanto, como foi discutido anteriormente, a simples quantificação dos metais associados aos sedimentos não gera informação suficiente para se avaliar a sua capacidade de fixação de metais ou a mobilidade, ecotoxicidade e sua biodisponibilidade aos organismos bentônicos dos metais adsorvidos. A matriz dos sedimentos estudados é composta basicamente por uma mistura de óxidos de ferro e aluminossilicatos (Tabela 6.1), minerais cada vez mais utilizados como imobilizadores de metais em áreas contaminadas (Müller & Pluquet, 1998; Ding et al., 2000; Norman et al., 2002; Bose et al., 2002; Aguiar et al., 2002; Zhang et al., 2003; Guedes et al., 2004). Considerando-se esta capacidade de adsorção, associada ao baixo custo do processo, este capítulo objetivou quantificar tanto a capacidade de retenção dos elementos traço quanto a força com a qual estes elementos se fixam nos sedimentos de fundo das barragens de Timbopeba e Natividade. A capacidade de adsorção de metais pelos sedimentos foi avaliada para os elementos As, Cr, Cu e Pb através da construção de isotermas de adsorção. A capacidade de fixação destes elementos pelos sedimentos foi avaliada forçando-se a dessorção dos metais adsorvidos através de fracionamento por extrações seqüencial. Este procedimento representa as etapas 2 a 5 deste trabalho, apresentadas no Capítulo 4 (Item 4.1) e descritas abaixo de modo resumido: Etapa 2 - identificação da distribuição dos metais nas várias fases dos sedimentos através de procedimentos fracionamento por extração seqüencial a fim de se avaliar a biodisponibilidade dos metais originalmente presentes nestes sedimentos. Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Etapa 3 - quantificação da capacidade de adsorção das superfícies pela construção de isotermas de adsorção não competitivas e competitivas para os elementos As, Cr, Cu e Pb. Etapa 4 – avaliação da interferência que um elemento exerce sobre o outro durante o processo de adsorção nos sedimentos utilizando procedimentos de interferência competitiva. Etapa 5 – avaliação da distribuição da capacidade de fixação dos elementos pelas fases mineralógicas através do fracionamento por extração seqüencial dos sedimentos após a saturação das superfícies realizada na etapa anterior. Para a execução destas etapas foram estudados sedimentos provenientes de quatro pontos amostrados, dois da barragem de Timbopeba (T-4 e T-23) e dois na barragem de Natividade (N-19 e N31). Estes pontos foram escolhidos por representarem altos (T-4 e N-19) e baixos (T-23 e N-31) teores de metais para cada barragem. A Tabela 6.1 mostra um resumo das principais propriedades físico químicas apresentadas pelos sedimentos selecionados. Os dados apontam uma significante diferença entre os sedimentos T-4, T-23 e N-31 quando comparados com o sedimento N-19, uma vez que este não apresenta hematita em sua composição mineralógica, possui maior área superficial, maior conteúdo de matéria orgânica e conseqüente, maior capacidade de troca catiônica. Tabela 6.1 – Resultados das análises de caracterização dos sedimentos utilizados T-4 T-23 N-19 tamanho das partículas (%) > 20 µm 1,0 1,0 0,7 20-2 µm 86,6 87,5 88,4 < 2 µm 12,4 11,4 10,9 CTC (cmol(+) kg-1) % em base (%) 0,92 100 1,09 100 área superficial BET-N2 (m2·g-1) 2,65 100 N-31 4,3 87,7 8,0 0,55 97 10 10 30 9 hem, qtz, goe, hem, qtz, goe, qtz, hem, goe, qtz, mineralogia* cao, mos, alb, clo goe, mos, cao clo, mos mos, clo 7,6 7,3 7,3 7,2 pH (lama in situ) Eh (mV) 125 25 52 44 Fe2O3 (%) 71,8 67,0 27,3 16,5 2,6 2,7 8,7 2,6 carbono total (g·kg-1) -1 carbono inorgânico (g·kg ) 2,4 0,1 0,5 0,2 0,2 2,6 8,2 2,4 carbono orgânico (g·kg-1) nitrogênio total (g·kg-1) 0,3 0,4 1,1 0,4 1,2 0,8 1,0 0,8 enxofre (g·kg-1) * hem – hematita; qtz – quartzo; goe – goethita; cau – caulinita; mos – moscovita; alb – albita; clo – clorita 100 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 6.2 – FRACIONAMENTO Os sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 foram fracionados em três etapas mais uma etapa residual seguindo a metodologia BCR apresentada no Capítulo 4. A Etapa 1 (E-1) extraiu os metais facilmente trocáveis. A Etapa 2 (E-2) extraiu os metais associados às frações redutíveis, ou seja, metais associados aos óxidos de ferro e manganês. A Etapa 3 (E-3) extraiu os metais associados às frações oxidáveis, representadas por matéria orgânica e sulfetos. A Etapa Residual extraiu o resíduo da Etapa 3 e disponibilizou os metais menos lábeis, associados aos óxidos fortemente cristalinos e alguns silicatos. Todo o procedimento de extração foi acompanhado pela a utilização de material de referência (BCR -701), extraído paralelamente aos sedimentos. Os resultados, apresentados na Tabela 6.2 mostram uma boa recuperação para a maioria dos metais na maioria das fases extraídas. Tabela 6.2 – Resultado das três etapas de extração do material de referência BCR-701 e das digestões pseudototais do resíduo da etapa 3 e do material de referência integral. Valor obtido na análise (VO), valor certificado para o material de referência (VC) e valor indicativo para o material de referência (VI) em mg·kg-1. Coeficiente de variação (CV) em porcentagem Etapa 1 VO CV Etapa 2 Etapa 3 VC VO CV VC 2,26 ± 0,16 45,7 (0,4) 26,6 ± 1,3 14,9 (3,9) Cr 2,39 (4,0) Ni 14,6 (0,4) 15,4 ± 0,9 26,8 (0,7) Cu 50,0 (1,5) 49,3 ± 1,7 125 (0,5) 124 ± 3 Zn 199 (1,4) 205 ± 6 109 (0,2) Cd 7,92 (1,6) 7,34 ± 0,35 Pb 3,15 (3,6) 3,18 ± 0,21 VO CV Resíduo VC VO CV Pseudototal VI VO CV VI 58,1 (1,2) 62,5± 7,4 261 (3,5) 272±20 15,3 ± 0,9 46,6 (3,2) 41,4± 4 97,0 (2,4) 103±4 53,4 (0,4) 55,2 ± 4 47,9 (8,0) 38,5±11,2 275 (1,5) 275±13 114 ± 5 49,4 (6,6) 45,7 ± 4 87,2 (0,8) 95± 13 453 (2,5) 454±19 3,73 (0,2) 3,77 ± 0,28 0,31 (4,6) 0,27 ± 0,06 18,2 (3,3) 11,7±1 126 (0,5) 126 ± 3 7,40 (7,1) 9,3 ± 2 145 (3,7) 143±6 45,7 ± 2 136 (2,7) 143 ± 7 <0,003 - 0,13± 0,08 23,0 (3,8) 11± 5,2 Ao se analisar os resultados destes procedimentos de extração, deve-se levar em conta que a composição mineralógica dos sedimentos estudados é bastante específica em função dos elevados teores de óxidos de ferro. O procedimento de extração adotado (BCR) foi desenvolvido para o fracionamento de sedimentos com teores menores de óxidos e maiores de matéria orgânica, sulfetos e carbonatos. Um forte indício de que a extração da Etapa 2 é incompleta nestes sedimentos ricos em óxidos é a permanência da cor avermelhada do sedimento (característica destes óxidos) observada após o término da extração desta fase. Uma tentativa de se avaliar a proporção de óxidos remanescentes e dos metais a eles associados foi feita pela extração dos quatro sedimentos e do material de referência seguindo-se todos os procedimentos determinados pela metodologia BCR, porém extraindo-se a fração óxidos por cinco vezes consecutivas. 101 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... O resultado é apresentado na Figura 6.1 e mostra que o ferro recuperado na primeira extração representa entre 45 e 82% de todo o ferro extraído nos 5 procedimentos. Entretanto, este comportamento é esperado uma vez que o mesmo ocorre com o material de referência, onde apenas 65% do ferro foi liberado na primeira extração. De uma maneira geral, observa-se que a extração múltipla da fração óxido disponibiliza em média cerca de 30% a mais de metais. Por causa disso e considerando os baixos valores encontrados para os metais na fase óxido dos sedimentos estudados (Tabela 6.3), optou-se por manter o procedimento BCR para a extração como originalmente proposto a fim de seguir a tendência em se unificar as metodologias de extração, conforme discutido no Capítulo 4 e ainda pelo ganho na certificação dos resultados pelo uso do material de referência. Especial atenção deve ser dada ao As que, apesar de estar presente em baixas concentrações, mostrou-se bastante favorecido nas extrações múltiplas. Este resultado pode indicar que o As pode estar “preso” fortemente às fases mais cristalinas e, portanto, menos lábeis dos óxidos. 80% 80% Porcentagem extraída 100% Porcentagem extraída 100% 60% 40% 20% 0% Fe Mn Zn Cr Cu As Ni Pb 60% 40% 20% 0% Co Fe Mn Zn Cr 100% 80% 80% Porcentagem extraída 100% P orcentagem extraída Cu As Ni Pb Co As Ni Pb Co T-23 T4 60% 40% 20% 0% 60% 40% 20% 0% Fe Mn Zn Cr Cu As Ni Pb Co N-19 Fe Mn Zn Cr Cu N-31 Porcentagem extraída 100% 80% quinta extração 60% quarta extração 40% terceira extração 20% segunda extração primeira extração 0% Fe Mn Zn Cr Cu As Ni Pb Co BCR Figura 6.1 – Extrações múltiplas da Etapa 2 do procedimento de extração seqüencial BCR (fração óxidos) 102 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela 6.3 – Distribuição dos metais Cr, Co, Ni, Cu, Zn, As, Cd e Pb, em mg·kg-1, nas frações dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31, obtida por extração seqüencial e digestão pseudototal do resíduo da extração e do sedimento integral. Os coeficientes de variação (n=3), em porcentagem, são mostrados entre parêntesis. O sinal “<” precede o valor do limite de quantificação do elemento em mg·kg-1 Pseudototal E-1 E-2 E-3 E-4 ΣE1-4 Média CV Média CV Média CV Média CV Média CV T-4 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn Co 0,12 <0,05 0,51 3,32 2,66 0,29 2,37 1,23 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn Co <0,10 <0,05 <0,10 1,86 1,68 <0,10 2,45 0,44 (6,5) ( - ) (6,9) (0,7) (8,6) (3,8) (1,6) (0,6) 0,13 <0,05 0,16 5,74 2,71 1,39 2,54 3,18 (12,1) ( - ) (4,0) (0,5) (13,4) (6,4) (8,5) (1,0) <0,02 <0,05 0,62 0,68 2,27 1,79 1,36 0,81 ( - ) ( - ) (3,4) (12,5) (4,4) (0,3) (8,8) (6,8) 23,2 <0,05 20,6 33,9 12,1 <0,02 14,3 <0,01 (4,4) 19,3 <0,05 28,0 26,0 10,0 <0,10 15,1 <0,05 (12,1) 54,93 <0,05 60,0 22,3 28,2 4,78 52,9 <0,05 (4,1) 57,8 <0,01 102 4,85 16,2 <0,10 36,5 <0,05 (0,5) ( - ) (1,5) (8,4) (10,8) ( - ) (3,5) ( - ) 23,4 − 21,9 43,7 19,7 3,47 20,6 5,23 23,5 0,08 35,1 43,5 18,8 2,29 21,1 8,61 (1,2) 19,3 − 28,3 32,3 15,4 2,70 21,9 4,79 19,9 0,06 28,4 32,2 15,6 9,53 21,0 8,12 (2,7) 55,0 0,10 60,9 30,1 48,1 15,0 63,8 13,2 65,8 0,13 63,8 33,4 49,4 38,3 70,4 20,3 (5,0) 59,0 <0,05 102 10,2 31,7 15,1 44,1 8,27 62,2 0,05 91,5 91,5 32,2 22,1 45,2 10,0 (3,9) (10,4) (3,2) (4,2) (6,5) (13,4) (7,2) (0,6) T-23 ( - ) ( - ) ( - ) (2,2) (5,3) ( - ) (6,6) (1,4) <0,10 <0,05 0,10 4,23 2,07 1,87 2,83 3,58 ( - ) ( - ) (6,8) (0,7) (2,8) (0,6) (5,1) (0,5) <0,1 <0,05 0,20 0,20 1,69 0,83 1,51 0,77 (5,0) (8,7) (4,9) (10,0) (8,7) (4,8) ( - ) (4,6) (8,0) (5,6) ( - ) ( - ) ( - ) (11,7) (1,9) (1,9) (0,9) (4,3) (1,5) (6,0) N-19 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn Co <0,10 <0,05 <0,10 0,46 2,67 <0,10 2,72 <0,05 ( - ) ( - ) ( - ) (0,5) (3,7) ( - ) (5,7) ( - ) <0,10 0,06 0,95 6,67 14,2 9,54 6,34 12,3 (15,4) (7,0) (2,8) (0,1) (2,4) (0,5) (0,6) (0,2) <0,10 <0,05 <0,10 0,76 3,05 0,73 1,78 0,94 ( - ) ( - ) ( - ) (4,9) (3,5) (2,7) (6,4) (4,8) ( - ) (0,5) (4,2) (10,4) (1,5) (1,0) ( - ) (15,7) (1,1) (1,7) (3,6) (3,4) (1,9) (9,4) N-31 As Cd Cr Cu Ni Pb Zn Co <0,10 <0,05 <0,10 1,41 0,64 <0,10 1,08 <0,05 ( - ) ( - ) ( - ) (6,7) (6,2) ( - ) (2,1) ( - ) 1,17 <0,05 <0,10 3,06 11,3 13,6 5,51 7,62 (0,8) ( - ) ( - ) (2,3) (1,7) (0,9) (2,5) (0,4) <0,10 <0,05 <0,05 0,85 3,50 1,51 0,93 0,65 103 ( - ) ( - ) ( - ) (9,7) (1,7) (7,7) (10,7) (1,8) ( - ) (6,9) (7,1) (9,9) ( - ) (0,2) ( - ) (13,6) (5,2) (4,8) (5,9) (8,6) (0,8) (0,9) Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Os resultados do fracionamento e da digestão pseudototal dos sedimentos integrais (Tabela 6.3) mostram a distribuição dos principais metais nas fases mineralógicas dos sedimentos T-4 e T-23 da barragem de Timbopeba e N-19 e N-31 da barragem de Natividade. A recuperação dos metais mostrou, de maneira geral, boa concordância entre a soma das 4 etapas de extração e a digestão pseudototal dos sedimentos integrais. Cobalto e chumbo apresentaram a pior recuperação, fato este provavelmente relacionado aos seus baixos teores presentes no sedimento original, uma vez que baixas concentrações de metais podem favorecer a contaminação (Tokalioğlu et al., 2000) e evidenciar o processo de readsorção (Gómez-Ariza et al., 1999) inerentes aos procedimentos de extração seqüencial. O coeficiente de variação (CV, Tabela 6.3) mostra boa reprodutibilidade dos resultados entre as triplicatas, sendo poucos os casos com variação acima de 10%. A seguir, serão apresentados os resultados da extração dos metais associados aos quatro sedimentos estudados. Optou-se por apresentar os resultados em gráficos de barra mostrando ambos: os valores absolutos de cada metal extraído em cada fase, em mg·kg-1, e a porcentagem que cada fase representa na distribuição de determinado elemento. O primeiro modo facilita a comparação dos teores dos metais entre os quatro sedimentos e o segundo possibilita uma melhor visualização da importância que estas fases representam na adsorção de determinado elemento. A Figura 6.2a compara graficamente a distribuição do As associado às frações trocáveis (E-1), óxidos (E-2), sulfeto-matéria orgânica (E-3) e residual (E-4) dos quatro sedimentos fracionados. Pode-se observar que os teores de As nos sedimentos da barragem de Natividade são, em média, duas vezes maiores que os teores encontrados nos sedimentos de Timbopeba. A Figura 6.2b apresenta a distribuição em porcentagem de As em relação às fases minerais. Praticamente todo o As extraído nos quatro sedimentos está associado à fração residual, considerada a menos lábil. Em T-4, a fase residual é responsável por conter 98,9% do As, ficando o restante distribuído entre as fases trocável (0,5%) e óxidos (0,6%). T-23 apresenta 100% do As associado à fase residual. O sedimento N-19 apresenta uma pequena contribuição de 0,1 % de As associada à fração óxidos e o restante associado à fração residual (99,9%). Na amostra N-31 o As está presente com a seguinte distribuição: 1,9 % na fase óxido, 0,1 % na fração sulfetos-matéria orgânica e 98 % na fração residual. O Cd apresenta, nas digestões pseudototais para os sedimentos integrais, teores abaixo ou muito próximos aos limites de quantificação. Estes valores tornam-se indetectáveis quando distribuídos pelas várias frações extraídas, como pode ser visto na Tabela 6.3. 104 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. As a) 100% 50 b) 80% 40 Porcentagem Concentração mg kg -1 60 30 20 60% 40% 20% 10 0 T-4 T-23 N-19 0% N-31 sedimentos E-1 E-3 E-2 T-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos E-4 Figura 6.2 – Distribuição dos teores de As nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem Cr a) 100% 100 b) 80% 80 Porcentagem Concentração mg kg -1 120 60 40 60% 40% 20% 20 0 T-4 T-23 N-19 sedimentos 0% N-31 E-1 E-2 E-3 T-4 E-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos Figura 6.3 – Distribuição dos teores de Cr nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem O Cr segue a mesma tendência apresentada pelo As. Está mais concentrado em Natividade, particularmente no sedimento N-31 (Figura 6.3a). Praticamente todo o Cr está associado à fase residual, como pode ser observado na Figura 6.3b. O sedimento T-4 apresenta uma pequena porção de Cr associada às fases trocáveis (2,3 %), óxidos (0,7 %) e sulfetos-matéria orgânica (2,8 %). Em T-23, cerca de 98,9 % do cromo foi extraído da fase residual, 0,3 % extraído da fase óxidos e 0,7 % extraído da fase sulfetomatéria orgânica. O Cu apresenta teores mais elevados na barragem de Timbopeba que na barragem de Natividade (Tabela 6.3 e Figura 6.4a). A Figura 6.4b mostra que nos quatro sedimentos fracionados, o Cu aparece distribuído principalmente entre as fases trocáveis, óxido e residual. Em T-4, foram extraídos 7,6 % do Cu na fração trocáveis, 13,1% na fração óxido, 1,6 % na fase sulfeto-matéria orgânica e 77,7 % na fração residual. A distribuição do cobre em T-23 é muito parecida com T-4, apresentando 5,7 % associado à fração trocável, 13,1 % associados à fração óxido, 0,6 % associado à fração sulfeto-matéria orgânica e os 80,5 % restantes associados à fração residual. Em N-19, o Cu se distribui por todas as frações, sendo 105 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... extraídos 1,5 % da fração trocáveis, 22,1 % da fração óxido, 2,5 % da fração sulfeto-matéria orgânica e 73,9 % da fração residual. O sedimento N-31 apresenta a seguinte distribuição de Cu: fase trocável 13,9 %, fase óxido - 30,1 %, fase sulfeto-matéria orgânica - 8,3 % e fase residual - 47,7 %. Cu 45 a) 100% b) 80% 35 30 Porcentagem Concentração mg kg -1 40 25 20 15 10 60% 40% 20% 5 0 T-4 T-23 N-19 0% N-31 sedimentos E-1 E-3 E-2 T-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos E-4 Figura 6.4 – Distribuição dos teores de Cu nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem A Figura 6.5a mostra que o Ni pode ser encontrado em todas as fases extraídas e que os sedimentos da barragem de Natividade, e em particular o sedimento N-19, são mais ricos em Ni que os de Timbopeba. A distribuição de Níquel é semelhante entre os sedimentos de um mesmo reservatório (Figura 6.5b). Em Timbopeba, o Ni apresenta a seguinte distribuição respectivamente a T-4 e T-23: fração trocável 13,5 e 10,9 %, fração óxidos 13,7 e 13,4 %, fração sulfeto-matéria orgânica 11,5 e 10,9 % e fração residual 61,2 e 64,8 %. Em Natividade, a distribuição do Ni, respectivamente a N-19 e N-31 é a seguinte: fase trocáveis 5,5 e 2,0 %, fase óxido 29,6 e 35,6 %, fase sulfeto-matéria orgânica 6,3 e 11,0 % e fase residual 58,6 e 51,4 %. Ni a) 100% 40 b) 80% Porcentagem Concentração mg kg -1 50 30 20 10 60% 40% 20% 0 T-4 T-23 N-19 sedimentos 0% N-31 E-1 E-2 E-3 T-4 E-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos Figura 6.5 – Distribuição dos teores de Ni nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem 106 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Pb a) 100% b) 14 80% 12 Porcentagem Concentração mg kg -1 16 10 8 6 4 60% 40% 20% 2 0 T-4 T-23 N-19 0% N-31 sedimentos E-1 E-3 E-2 T-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos E-4 Figura 6.6 – Distribuição dos teores de Pb nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem O Pb ocorre em maiores concentrações também nos sedimentos amostrados em Natividade (Figura 6.6a). A distribuição do Pb por entre as fases, mostrada na Figura 6.6b, realça que a presença do chumbo está fortemente associada à fase óxido nas quatro amostras estudadas. Em T-4 o chumbo se distribui entre as fases trocáveis (8,4 %), óxido (40%) e fase sulfeto-matéria orgânica (51,6%). Em T-23 o chumbo se distribui entre as fases óxido (69,4 %) e sulfeto-matéria orgânica (30,6 %). No sedimento N-19, 63,4 % do Pb foi extraído da fase óxido, 4,9% da fase sulfeto-matéria orgânica e 31,7 % da fase residual. Em N-31, 90 % do chumbo foi extraído da fase óxido e 10 % extraído da fase sulfeto-matéria orgânica. Zn 100% 60 b) 80% 50 Porcentagem Concentração mg kg -1 70 a) 40 30 20 60% 40% 20% 10 0 T-4 T-23 N-19 sedimentos 0% N-31 E-1 E-2 E-3 T-4 E-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos Figura 6.7 – Distribuição dos teores de Zn nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem O Zn, seguindo a tendência da maioria dos metais acima, aparece mais concentrado nos sedimentos da barragem de Natividade (Figura 6.7a). A distribuição se dá por todas as fases e em proporções semelhantes para sedimentos do mesmo reservatório (Figura 7.6b): em Timbopeba a distribuição se dá da seguinte forma e respectivamente para T-4 e T-23: 11,5 e 11,2 % na fase trocável, 12,3 e 12,9 % na fase óxidos, 6,6 e 6,9 % na fase sulfeto-matéria orgânica e 69,5 e 69,0 % na fase residual. Em Natividade a 107 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... distribuição ocorre respectivamente para N-19 e N-31: trocáveis 4,3 e 2,5 %, óxidos 9,9 e 12,5 %, sulfetomatéria orgânica 2,8 e 2,1 % e residual 83,0 e 82,9 %. Co a) 100% 12 8 6 4 60% 40% 20% 2 0 b) 80% 10 Porcentagem Concentração mg kg -1 14 T-4 T-23 N-19 sedimentos 0% N-31 E-1 E-2 E-3 T-4 E-4 T-23 N-19 N-31 sedimentos Figura 6.8 – Distribuição dos teores de Co nas fases dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. a) Valores absolutos em mg·kg-1 e b) Valores em porcentagem A distribuição do cobalto pelas fases minerais dos sedimentos pode ser vista na Tabela 6.3 e na Figura 6.8a. Seus teores variam entre 4,8 e 13,2 mg·kg-1, sendo mais concentrados nos sedimentos de Natividade. O cobalto apresenta-se associado às fases íons trocáveis, óxidos e sulfetos-matéria orgânica nos sedimentos de Timbopeba e nas frações óxido e sulfetos-matéria orgânica nos sedimentos de Natividade (Figura-6.8b). Em Timbopeba o Co apresenta a seguinte distribuição, respectivamente para T-4 e T-23: fase trocável 23,6 e 9,2 %, fase óxido 60,9 e 74,7 % e fase sulfeto-matéria orgânica 15,5 e 16,1 %. Em Natividade a distribuição é a mesma para N-19 e N-31: fase óxidos 92,2 % e fase sulfetomatéria orgânica 7,1%. Os resultados descritos acima confirmam que, exceto para Cu, os sedimentos provenientes de Natividade apresentam maior concentração de metais que os de Timbopeba. O fracionamento mostrou que os elementos As e Cr ocorrem associados quase que exclusivamente à fração residual em todos os sedimentos investigados. Cobre, Ni e Zn ocorrem distribuídos entre as fases óxidos, trocáveis e fração residual, predominando nesta última. O Pb e o Co aparecem associados principalmente à fase óxidos, seguido da fase sulfeto-matéria orgânica. Na fase trocável e na fase sulfeto-matéria orgânica, os elementos estudados estão presentes em concentrações muito baixas. A análise desses dados indica que, apesar dos valores altos nos sedimentos indicarem uma provável contaminação, com conseqüentes efeitos danosos à biota, como sugerem os VGQS (Capítulo 5, Item 5.6), As, Cr, Cu e Ni encontram-se fortemente fixos aos sedimentos e portando muito pouco biodisponíveis nas condições ambientais atuais. 108 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 6.3 – ISOTERMAS DE ADSORÇÃO Foram construídas isotermas de adsorção não competitivas e competitivas para os elementos As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31, utilizando-se os métodos descritos no Capítulo 4. As isotermas foram descritas pelas equações de Langmuir e/ou Freundlich. O ajuste foi feito linearizando-se as isotermas pela equação da reta de cada modelo. A comparação entre os coeficientes de correlação linear (R2) indicou qual o modelo mais adequado para cada isoterma (Guedes, 2004). Algumas isotermas não competitivas de adsorção como, por exemplo, a de Cu no sedimento T-23 e as do Pb nos sedimentos T-4, T-23 e N-19 apresentam, aparentemente, dois patamares de estabilização. Para interpretar esta forma das isotermas como resultado de mudança no mecanismo de adsorção com formação de uma segunda camada de adsorção, tentou-se dividir estas isotermas em dois segmentos independentes e proceder para cada segmento uma linearização independente. Este método foi utilizado por Jordão et al. (2000), para adsorção de Cu em solos e por Guedes (2004), para interpretar a formação de dois patamares na adsorção de proteínas por goethita. Entretanto os baixos valores de R2 obtidos para a linearização do segundo segmento, tanto para o modelo da Langmuir quanto para o modelo de Freundlich, inviabilizaram esta abordagem. Desta forma, a variação encontrada foi interpretada como uma variação analítica e a isoterma analisada de forma integral pelo modelo de Langmuir. Entretanto, as isotermas competitivas apresentaram comportamento semelhante, mas de maneira muito mais evidente, permitindo a modelagem das isotermas em dois segmentos distintos, conforme será visto mais adiante. A seguir serão descritas e analisadas as isotermas não competitivas e competitivas separadamente. Em cada um destes tipos, as isotermas foram agrupadas por elemento químico de modo a facilitar a comparação da afinidade de cada sedimento para um determinado elemento. Os valores das concentrações utilizadas na construção das isotermas para os quatro elementos nos quatro sedimentos são apresentadas no Anexo II, Tabelas II.1 a II.8. Cada isoterma apresenta os valores experimentais representados por pontos e uma linha cheia que representa a isoterma teórica. A isoterma teórica foi obtida lançando-se os pontos da concentração que permanece em equilíbrio em solução (Ce) na equação de Langmuir ou Freundlich, após se obter os parâmetros pela linearização da reta e retirando-se daí os valores de Cs (quantidade de íons adsorvidos pelo sedimento) esperados teoricamente para aquele sistema. 109 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 6.3.1 – Isotermas não competitivas • Arsênio Nos quatro sedimentos estudados as isotermas de As se ajustaram melhor ao modelo de Freundlich. A equação de Freundlich (descrita em detalhes no Capítulo 3): Cs = A·Ceβ (6.1) pode ser linearizada resultando a seguinte equação da reta: log Cs = βlog Ce + logA (6.2) No sedimento T-4, a isoterma de As (Figura 6.9) foi classificada como Tipo-L (Figura 3.8) de acordo com a classificação de Sposito (1984). A linearização desta isoterma forneceu um coeficiente de correlação (R2) igual a 0,975 como pode ser visto na Figura 6.10. T-4 - As Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 30 25 20 15 10 5 Experimental Freundlich 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.9 – Isoterma de adsorção de As no sedimento T-4 Através da equação da reta, apresentada na Figura 6.10, é possível obter os parâmetros de Freundlich, uma vez que a constante de adsorção Kads é proporcional à razão entre a quantidade de As adsorvida e a concentração de As que permanece em equilíbrio na solução. Assim, utilizando-se os parâmetros da reta pode-se reescrever a equação 6.2 da seguinte forma: log Cs = 0,3145log Ce + 1,347 110 (6.3) Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-4- As Linearização Freundlich 1,6 1,4 Log Cs 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 y = 0,3145x + 1,347 0,2 R2 = 0,975 0,0 -3,5 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 Log Ce Figura 6.10 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento T-4 onde o termo A representa a afinidade entre o adsorbato e a superfície mineral e β representa um parâmetro relacionado à intensidade de adsorção, intimamente relacionado à concavidade da isoterma. Logo, a adsorção de As no sedimento T-4 apresenta um alto valor de afinidade com o adsorbato: A= 22,23 e um valor de β = 0,3145. A constante de adsorção de Freundlich (Kads) é proporcional entre a quantidade de elemento adsorvido e a concentração remanescente em equilíbrio em solução: Kads = Cs Ce (6.4) e como o modelo define: Cs = A·Ceβ (6.5) Kads = A·Ceβ-1 (6.6) tem-se que: Substituindo os valores de A e β pelos valores encontrados na equação da reta (Figura 6.10) e utilizandose a maior concentração de equilíbrio observada (Csm), obtém-se a constante de Freundlich para o As no sedimento T-4: Kads = 25,15. A isoterma de As no sedimento T-23 (Figura 6.11) apresenta um comportamento análogo ao do As no sedimento T-4. A linearização da equação da isoterma, apresentada na Figura 6.12, forneceu um R2 = 0,965 e os valores de A = 27,82 e β = 0,3693. Substituindo-se os valores da reta na equação de linearização de Freundlich (6.3) teremos: log Cs = 0,3693log Ce + 1,4443 111 (6.7) Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... -1 Cs (mmol·kg ) T-23 - As Isoterma não competitiva 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Experimental 0,0 0,2 0,4 Freundlich 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.11 – Isoterma de adsorção da As no sedimento T-23 T-23 Linearização Freundlich 1,8 log Cs 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 y = 0,3693x + 1,4443 0,4 0,2 0,0 -3,5 2 R = 0,965 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 log Ce Figura 6.12 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento T-23 O coeficiente de adsorção (Kads) obtido pela aplicação da equação 6.6, utilizando-se a maior Cs observada, foi Kads= 30,71. A isoterma de As no sedimento N-19 é apresentada na Figura 6.13 também é Tipo-L segundo a classificação de Sposito (1984). A linearização da isoterma forneceu uma reta com R2 = 0,954 apresentada na Figura 6.14. A partir da equação da reta foram retirados os valores de A = 46,07 e β= 0,3886. Substituindo-se os valores da reta na equação de linearização de Freundlich (6.3) tem-se: log Cs = 0,3886log Ce + 1,6634 (6.8) O coeficiente de adsorção (Kads), obtido pela aplicação da equação 6.6 e maior Cs obtido, foi Kads= 53,7 112 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. N-19 - As Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 -1 Ce (mmol·L ) Experimental Freundlich Log Cs Figura 6.13 – Isoterma de adsorção da As no sedimento N-19 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -4,00 N-19- As Linearização Freundlich y = 0,3886x + 1,6634 2 R = 0,954 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 Log Ce Figura 6.14 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento N-19 N-31 - As Isoterma não competitiva 35 -1 Cs (mmol·kg ) 30 25 20 15 10 5 Experimental Freundlich 0 0,0 0,2 0,4 0,6 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.15 – Isoterma de adsorção de As no sedimento N-31 113 0,8 1,0 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-31- As Linearização Freundlich 1,6 1,4 Log Cs 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 y = 0,5335x + 1,4093 0,2 R = 0,964 0,0 -3,0 2 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 Log Ce Figura 6.16 – Linearização da equação de Freundlich para As no sedimento N-31 No sedimento N-31 a isoterma de As segue a mesma tendência das anteriores, como pode ser visto na Figura 6.15. A linearização da equação de Freundlich forneceu a reta de R2 = 0,964 apresentada na Figura 6.16. Os valores de A = 1,4093 e β 0,5335, retirados de equação da reta (Figura 6.16) foram substituídos na equação de linearização de Freundlich (6.3) fornecendo a equação: log Cs = 0,5335log Ce + 1,4093 (6.9) A constante de equilíbrio de Freundlich para este sistema foi calculado com a aplicação da equação 6.6 e o maior Cs observado: Kads = 27,36. A Tabela 6.4 apresenta um resumo dos parâmetros das isotermas de As para os quatro sedimentos estudados. O sedimento N-19 apresentou a maior capacidade de adsorção, representada empiricamente pelo valor de Csm e comprovada pelos valores parâmetros de Freundlich Kads e A. Já o sedimento T-4 apresenta a menor capacidade da adsorção e menores valores de Kads e A. Em relação à homogeneidade energética da adsorção, a comparação entre o parâmetro β das quatro isotermas mostra que há uma boa semelhança entre os sedimentos T-4, T-23 e N-19, todos apresentando menor homogeneidade em contraste com o sedimento N-31. Neste, o valor mais alto de β indica uma menor concavidade, conseqüência da maior homogeneidade energética dos sítios superficiais. Considerando que o número de sítios de adsorção é definido por x e assumindo-se que x é igual à adsorção máxima (Csm) da isoterma para cada sedimento, tem-se que a densidade da adsorção (Ps) é dada pela equação: Ps = X (µmol·g-1) área superficial (m2·g-1) 114 (6.10) Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. A comparação dos valores de Ps (Tabela 6.3) mostra que apesar de grande capacidade de adsorção do sedimento N-19, a quantidade de As adsorvido por unidade de área é cerca de 1,5 a 2 vezes menor que a dos outros sedimentos e que o sedimento T-23 apresenta a maior densidade de adsorção de As. Tabela 6.4 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas não competitivas de As nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads, A e β são grandezas adimensionais, Csm em mmol·kg-1 e Ps em µmol⋅m-2 Kads 24,2 30,7 53,7 27,4 T-4 T-23 N-19 N-31 β 0,31 0,37 0,39 0,53 A 22,23 27,82 46,07 25,66 Csm 28,28 36,34 55,32 32,13 R2 0,975 0,965 0,954 0,964 Ps 2,83 3,63 1,84 3,57 A diferença entre as isotermas pode ser melhor observada quando todas são representadas em um único gráfico (Figura 6.17). Analisando-se a figura abaixo percebe-se ainda que para baixas concentrações de equilíbrio (Ce < 0,4 mmol·L-1) a capacidade de adsorção do sedimento T-4 é maior que a do sedimento N-31. Para altas concentrações de equilíbrio (Ce > 0,4 mmol L-1) ocorre uma inversão e o sedimento N-31 passa a apresentar uma maior capacidade de adsorção que o sedimento T-4. Assim, os sedimentos podem ser ordenados em função de sua capacidade de adsorção de As considerando-se os dois intervalos de concentração: Para Ce < 0,4 mmol L-1 N-19 >> T-23 > T-4 > N-31 Para Ce > 0,4 mmol L-1 N-19 >> T-23 > N-31 > T-4 Isotermas não competitivas de As 70 Cs (mmol·kg -1 ) 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol·L-1 ) T4 T-23 N-19 N-31 Figura 6.17 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de As nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 115 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... • Cromo As isotermas de adsorção de cromo nos quatro sedimentos indicam a formação de um patamar característico do modelo de adsorção de Langmuir. Além disso, os coeficientes de correlação nas linearizações apresentaram valores mais altos para a o modelo de Langmuir. A equação de Langmuir foi descrita com mais detalhes no Capítulo 3 e pode ser assim representada: K·b·Ce 1 + K·Ce Cs = (6.11) Os parâmetros de Langmuir (b e Kads) foram obtidos através da linearização da equação de 6.11: 1/Cs = (1/K·b)·(1/Ce) + 1/b (6.12) T-4 - Cr Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 15 10 5 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.18 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento T-4 A isoterma de adsorção de Cr no sedimento T-4 aparece representada na Figura 6.18. O patamar da isoterma aponta uma capacidade máxima de adsorção por volta de 13 mmol·kg-1. A linearização da isoterma forneceu uma reta com R2 = 0,963 conforme mostra a Figura 6.19. Substituindo-se os valores dos coeficientes da equação da reta (Figura 6.19) na equação 6.12 obteve-se a equação 6.13: 1/Cs = 0,0003(1/Ce) + 0,0931 (6.13) Igualando-se os termos da equação 6.11 com os termos da equação 6.12 tem-se que, 1/Kads.b = 0,0003 (6.14) e 1/b = 0,0931 Resolvendo-se as equações 6.13 e 6.14 obtêm-se os valores de b = 10,74 e Kads = 310. 116 (6.15) Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-4- Cr Linearização Langmuir 0,40 -1 1/Cs (kg mmol ) 0,50 0,30 0,20 y = 0,0003x + 0,0931 R2 = 0,963 0,10 0,00 0 200 400 600 800 1000 1200 -1 1/Ce (L mmol ) -1 Cs (mmol·kg ) Figura 6.19 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento T-4 T23 - Cr Isoterma não competitiva 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Experimental 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.20 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento T-23. No sedimento T-23, a isoterma de adsorção de Cr forma um patamar que indica uma capacidade de adsorção de em torno de 13 mmol·kg-1. A isoterma com os dados experimentais mostrou um pequeno rebaixamento em relação ao valor teórico da curva de Langmuir para este sistema (Figura 6.20). A linearização da equação da adsorção forneceu a reta (R 2= 0,914) e a equação da reta apresentadas na Figura 6.21. Substituindo-se os valores da equação da reta na equação 6.12 obtêm-se a seguinte equação de linearização: 1/Cs = 0,0019(1/Ce) + 0,0639 (6.16) Pela aplicação das equações 6.14 e 6.15 para os valores da reta (equação 6.16) obtêm-se os valores de b = 14 e Kads = 18,9. 117 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-23 - Cr Linearização Langmuir 0,8 1/Cs 0,6 0,4 y = 0,0019x + 0,0639 0,2 2 R = 0,914 0,0 0 50 100 150 200 250 300 1/Ce Figura 6.21 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento T-23 N-19 - Cr Isoterma não competitiva 60 -1 Cs (mmol·Kg ) 50 40 30 20 10 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.22 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento N-19 O sedimento N-19 mostra uma capacidade de adsorção de Cr maior que os demais sedimentos, apresentando uma inclinação típica do modelo de Langmuir e Kads baixo sem, contudo, estabelecer um patamar, o que indica que a capacidade máxima de adsorção não foi atingida dentro do intervalo de concentrações (Co) utilizado no experimento (Figura 6.22). O resultado experimental mostra uma adsorção menor que a prevista pelo modelo matemático de Langmuir. A linearização da isoterma (R2 = 0,997) e a equação da reta são mostradas na Figura 6.23. Os parâmetros de Langmuir foram calculados da mesma maneira que nos sedimentos anteriores e forneceram os seguintes valores: b = 66,7 e Kads = 1,13. 118 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. N-19 - Cr Linearização Langmuir 1,0 1/Cs 0,8 0,6 0,4 y = 0,0048x + 0,015 0,2 2 R = 0,997 0,0 0 50 100 1/Ce 150 200 Figura 6.23 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento N-19 N-31 - Cr Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·L ) 20 15 10 5 Experimental Langmuir 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.24 – Isoterma de adsorção de Cr no sedimento N-31 O sedimento N-31 apresentou uma isoterma típica do modelo de Langmuir com formação de um patamar indicando que após a adsorção de cerca de 11 mmol·kg-1 a capacidade máxima de adsorção de Cr pela superfície foi atingida (Figura 6.24). Como nos outros sedimentos, a isoterma experimental de Cr em N-31 estabilizou em um valor um pouco menor que o esperado teoricamente. A linearização da isoterma gerou a reta (R2 = 0,985) mostrada na Figura 6.25. Os parâmetros obtidos foram b = 12,22 mmol·kg-1 e Kads = 12,0. 119 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-31 - Cr Linearização Langmuir 1,4 1,2 1/Cs 1,0 0,8 0,6 0,4 y = 0,0068x + 0,0818 0,2 2 R = 0,985 0,0 0 50 100 150 200 1/Ce Figura 6.25 – Linearização da equação de Langmuir para Cr no sedimento N-31 Em todos os sistemas de adsorção de Cr, o formato da curva se encaixa no Tipo-L de Sposito (1984). Esta curva é caracterizada por um decréscimo na sua inclinação causado pelo decréscimo dos sítios disponíveis para adsorção à medida que as superfícies vão sendo recobertas. Este comportamento indica que, em baixas concentrações de Cr, a superfície apresenta uma alta afinidade pelos adsorbatos. Esta afinidade diminui à medida que as concentrações aumentam, provocando a concavidade característica da curva tipo-L. Isotermas não competitivas de Cr 70 Cs (mmol·kg -1 ) 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) T4 T-23 N-19 N-31 Figura 6.26 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Cr nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 A Figura 6.26 compara as isotermas de Cr nos quatro sedimentos estudados e a Tabela 6.5 sumariza os parâmetros obtidos a partir destas isotermas. Os valores de Kads indicam a inclinação inicial da isoterma e conseqüentemente a afinidade da superfície como os cátions de Cr. Uma forte afinidade sugere ligações mais fortes do tipo esfera interna. Valores mais baixos de Kads indicam ligações mais fracas, que podem 120 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. ser resultado de interações eletrostáticas ou força de van der Waals. O parâmetro b representa a cobertura do sedimento pelo adsorbato, ou seja, sua capacidade máxima de adsorção. Assim, observa-se que o sedimento T-4 apresenta forte energia de ligação caracterizada por seu alto Kads e forte inclinação da isoterma, mas apresenta também baixa capacidade adsortiva, indicada pelo baixo valor de b. O outro extremo é observado no sedimento N-19, que possui baixa energia de ligação, mas uma grande capacidade adsortiva. Desta forma, espera-se que o Cr associado ao sedimento T-4, apesar de pouco, seja menos facilmente liberado para o ambiente que o Cr adsorvido pelo sedimento N-19. Tabela 6.5 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Cr nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads é uma grandeza adimensional, b e Csm são dados em mmol·kg-1 e Ps em µmol·m-2 T-4 T-23 N-19 N-31 Kads 310 33,6 3,13 12,0 b 10,7 15,7 66,7 12,2 Csm 14,7 14,1 38,5 10,50 R2 0,965 0,914 0,996 0,985 Ps 1,47 1,41 1,28 1,17 A comparação entre o parâmetro b e valor de Csm (maior valor de adsorção obtido experimentalmente) indica que, exceto para T-4, o modelo de Langmuir apresenta um patamar de estabilização acima do patamar obtido experimentalmente. A comparação entre as densidades de adsorção de Cr para os quatro sedimentos mostra uma boa concordância entre os sedimentos oriundos das mesmas barragens e densidades na mesma ordem de grandeza para todos quatro os sedimentos estudados. Em função da capacidade de adsorção os sedimentos podem ser assim ordenados: N-19 >> T-23 > N-31 > T-4 Já em relação à energia de adsorção, os sedimentos podem ser assim ordenados: T-4 >>> T-23 > N-31 > N-19. • Cobre O Cu, assim como o Cr, foi melhor modelado com a utilização do modelo de Langmuir. Entretanto, o ajuste dos pontos experimentais não ficou tão bom quanto o Cr, apesar dos valores de R2 das linearizações variarem entre 0,928 e 0,998. Todas as isotermas de Cu apresentaram uma forte inclinação, mostrando boa afinidade com o sedimento o que é comprovado pelos altos valores obtidos para os equilíbrios de adsorção (Kads). As isotermas de Cu mostram um comportamento que sugere a formação de um segundo patamar à medida que aumenta a concentração do Cu em solução. Como descrito no início deste tópico, tentou-se 121 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... interpretar estas isotermas como resultados de dois processos diferentes de adsorção, executando a modelagem dos patamares isoladamente. Entretanto esta abordagem não obteve sucesso, uma vez que a linearização da isoterma em sua forma integral apresentou melhores valores de R2 que os segmentos modelados de forma independente. Assim, independentemente da sua forma, estas isotermas foram tratadas utilizando-se o mesmo procedimento descrito anteriormente para Cr e os parâmetros de Langmuir obtidos a partir das mesmas equações de reta utilizadas anteriormente (Equações 6.11 a 6.15). T-4 - Cu Isoterma não competitiva 25 Cs (mmol·kg -1 ) 20 15 10 5 experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol·L-1 ) Langmuir 0,8 1,0 Figura 6.27 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento T-4 No sedimento T-4 a isoterma de Cu forma um patamar após a adsorção de cerca de 24 mmol·kg-1 de cobre, como pode ser observado na Figura 6.27. A isoterma teórica apresenta uma inflexão muito mais aguda e um patamar mais baixo que o da isoterma obtida experimentalmente. A linearização da isoterma forneceu a reta (R2 = 0,977) e a respectiva equação da reta mostrada na Figura 6.28, assim como e os parâmetros de Langmuir Kads = 1.877 e b = 17,8 mmol·kg-1. O alto valor de Kads indica uma forte afinidade entre o Cu e o sedimento T-4. O valor obtido para o parâmetro b confirma a diferença entre a quantidade máxima esperada para a adsorção de Cu adsorvida e a quantidade máxima de Cu adsorvida experimentalmente (Csm) 122 1/Cq Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-4 - Cu Linearização Langmuir 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 0,1 0,0 y = 3E-05x + 0,0563 2 R = 0,977 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 1/Ce Figura 6.28 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento T-4 T-23 - Cu Isoterma não competitiva 25 -1 Cs (mmol·kg ) 30 20 15 10 5 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.29 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento T-23 A isoterma de adsorção de Cu no sedimento T-23 também apresenta uma variação entre o modelo teórico e a adsorção observada (Figura 6.29). Conforme dito anteriormente, esta variação pode se dar devido a variações analíticas ou representar o início de um novo processo de adsorção. Apesar da linearização de Langmuir para esta isoterma apresentar um valor razoável de R2 (0,947) foi tentada a sua divisão em segmentos e a modelagem destes segmentos. Entretanto, como no caso anterior os resultados obtidos não foram coerentes e a isoterma foi analisada de forma integral pelo modelo de Langmuir. A linearização (R2 = 0,947) forneceu os valores de Kads = 3.750 e b = 13,3 mmol·kg-1, valor este bem menor que os 19 mmol·kg-1 obtidos experimentalmente e muito próximo do que poderia ser interpretado como “primeiro patamar” caso a isoterma tivesse sido segmentada. O valor de Kads indica uma afinidade muito alta entre Cu e o sedimento. 123 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-23 - Cu Linearização Langmuir 0,5 0,4 0,4 0,3 1/Cs 0,3 0,2 0,2 0,1 y = 2E-05x + 0,075 0,1 R = 0,947 2 0,0 0 5000 10000 15000 1/Ce Figura 6.30 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento T-23 N-19 - Cu Isoterma não competitiva 60 -1 Cs (mmol·kg ) 50 40 30 20 Experimental 10 Langmuir 0 0,0 0,2 0,4 0,6 -1 Ce (mmol·L ) 0,8 1,0 Figura 6.31 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento N-19 A isoterma de adsorção de Cu mostrada na Figura 6.31 indica que, dentre os quatro sedimentos estudados, o N-19 é o que apresenta maior afinidade pelo cobre. A isoterma mostra uma forte inclinação e uma inflexão acentuada seguida de estabilização em um patamar correspondente a adsorção de 49 mmol·kg-1 de Cu. A isoterma teórica de Langmuir para este sistema mostra uma inflexão mais acentuada e um patamar inferior ao obtido experimentalmente. A linearização da isoterma, mostrada na Figura 6.32, forneceu os seguintes valores para os parâmetros de Langmuir: Kads = 850 e b = 39,2 mmol·kg-1. Estes resultados indicam uma elevada capacidade de adsorção associada a uma relativamente baixa afinidade entre adsorvente e adsorbato. Como ocorreu nas isotermas de Cu descritas anteriormente, a capacidade de adsorção máxima (Csm) foi maior que o valor previsto teoricamente (b). 124 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. N-19 - Cu Linearização Langmuir 0,5 0,4 0,4 1/Cs 0,3 0,3 0,2 0,2 y = 3E-05x + 0,0255 0,1 2 R = 0,996 0,1 0,0 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 1/Ce -1 Cs (mmol·kg ) Figura 6.32 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento N-19 N-31 - Cu Isoterma não competitiva 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Experimental 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.33 – Isoterma de adsorção de Cu no sedimento N-31 A isoterma de Langmuir para a adsorção de Cu no sedimento N-31 apresenta um comportamento semelhante ao das isotermas apresentadas anteriormente: forte adsorção inicial, rápida inflexão e uma certa “demora” em se estabilizar na forma de patamar. Entretanto, o sedimento N-31 é o que apresenta a menor capacidade de adsorção entre os sedimentos estudados. A isoterma de Langmuir calculada teoricamente segue as mesmas características das anteriores, ou seja, uma inflexão mais forte e um patamar mais baixo que os obtidos experimentalmente. A linearização da isoterma forneceu a reta (R2 = 0,928) e a equação da reta mostrados na Figura 6.34. Os seguintes parâmetros de Langmuir foram obtidos através da isoterma linearizada: Kads = 16.183 e b = 10,3 mmol·kg-1. O valor de Kads mostra uma afinidade extremamente alta entre o adsorvente e o adsorbato. 125 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-31 - Cu Linearização Langmuir 0,5 0,4 0,4 1/Cs 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 y = 6E-06x + 0,0978 0,1 R = 0,928 2 0,0 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 1/Ce Figura 6.34 – Linearização da equação de Langmuir para Cu no sedimento N-31 Isotermas não competitivas de Cu 70 Cs (mmol·kg -1 ) 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol·L-1 ) T4 T23 N-19 N-31 Figura 6.35 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Cu nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Na Figura 6.35, as quatro isotermas de Cu são apresentadas em uma mesma escala para facilitar a sua comparação. A Tabela 6.6 mostra um resumo dos parâmetros de Langmuir para cada isoterma e o valor máximo de Cu adsorvido experimentalmente por cada sedimento (Csm). Os altos valores de Kads indicam uma grande afinidade das superfícies com o Cu. Esta afinidade pode ser traduzida como forte energia de ligação, resultado de um processo de adsorção específica (formação de complexos de esfera interna). Pela Figura 6.35 e pelos parâmetros da Tabela 6.6, observa-se que o sedimento N-19 apresenta a menor afinidade com o Cu, mas possui uma grande capacidade adsortiva demonstrada pelo maior valor do 126 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. parâmetro b. Por outro lado, o sedimento N-31 é o que apresenta maior afinidade com o Cu e é também o que apresenta a menor capacidade adsortiva entre os quatro sedimentos estudados. Tabela 6.6 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Cu nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads é uma grandeza adimensional, b e Csm são dados em mmol·kg-1 e Ps em µmol⋅m-2 T-4 T-23 N-19 N-31 Kads 1877 3750 850 16183 b 17,8 13,3 39,2 10,3 Csm 23,56 19,8 49,3 14,1 R2 0,977 0,947 0,996 0,928 Ps 2,36 1,98 1,64 1,57 A comparação entre os valores de b e Csm mostra que, apesar da linearização das isotermas ter apresentado valores aceitáveis de R2, o modelo de Langmuir não se mostrou muito preciso na interpretação das isotermas, já que os valores de b mostram-se subestimados quando comparados aos valores encontrados experimentalmente. Os valores da densidade de adsorção (Ps) mostrados na Tabela 6.6 indicam que os sedimentos da barragem de Timbopeba possuem mais sítios de adsorção de Cu por unidade de área que os sedimentos do lago de Natividade. Comparando-se os valores do parâmetro b, os sedimentos podem ser ordenados quanto à sua capacidade de adsorção de Cu da seguinte maneira: N-19 >> T-4 > T-23 > N-31 Em relação à energia de adsorção, os sedimentos podem ser ordenados da seguinte forma: N-31>>> T-23 > T-4 >> N-19 • Chumbo As isotermas não competitivas de chumbo foram melhor ajustadas pelo modelo de Langmuir. Entretanto, nenhuma delas apresenta o patamar típico deste tipo de isoterma. Os sedimentos T-4, T-23 e N-19 apresentaram isotermas semelhantes, iniciando com uma adsorção bastante intensa, seguida de uma inflexão aguda. Entretanto, o aumento da concentração do metal em solução é sempre acompanhado de um aumento na adsorção de Pb pelas superfícies minerais e como conseqüência, não ocorre a formação do patamar na isoterma. O sedimento N-31 apresentou um comportamento anômalo com diminuição da adsorção a partir de determinada concentração de equilíbrio. A isoterma de Pb no sedimento T-4 (Figura 6.36) mostra uma forte energia de adsorção início do processo. Após a adsorção de cerca de 11 mmol·kg-1 de Cu a intensidade de adsorção diminui, mas não ocorre estabilização na forma de patamar até o fim do intervalo estudado. 127 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-4 - Pb Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 40 30 20 10 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.36 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento T-4 T-4 - Pb Linearização Langmuir 0,5 0,4 0,4 1/Cq 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 y = 2E-05x + 0,0568 0,1 R = 0,974 2 0,0 0 5000 10000 15000 20000 1/Ce Figura 6.37 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento T-4. A linearização da isoterma forneceu a reta mostrada na Figura 6.37. Apesar do R2 = 0,974 ser razoável, a isoterma teórica não se ajusta bem aos dados experimentais, principalmente em relação aos seus pontos finais. Apresenta uma inflexão ainda mais forte que a observada na prática e um patamar que fornece o parâmetro b = 17,6 mmol·kg-1 como adsorção máxima. O alto valor da constante de adsorção (Kads = 2.840) é compatível com a forte inclinação inicial da isoterma e indica uma boa afinidade entre o Pb e o sedimento. A isoterma não competitiva de Pb no sedimento T-23 segue as mesmas tendências da isoterma de T-4. Entretanto a isoterma de Langmuir teórica se ajusta muito bem aos dados experimentais para valores baixos de Ce (Figura 6.38). Para valores mais altos de Ce ocorre um concomitante aumento na adsorção, impedindo a formação ou a manutenção de um patamar. 128 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T23 - Pb Isoterma não competitiva -1 Cs (mmol·Kg ) 40 30 20 10 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Langmuir 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.38 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento T-23. T-23 Linearização Langmuir 0,5 0,4 1/Cs 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 y = 2E-05x + 0,0664 R2 = 0,965 0,1 0,0 0 5000 10000 15000 20000 1/Ce Figura 6.39 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento T-23. A linearização desta isoterma, mostrada na Figura 6.39, forneceu os seguintes parâmetros de Langmuir: b = 13,0 e Kads = 7.670. A comparação entre o parâmetro b e o valor de Csm (30,4 mmol·kg-1) é um bom indicador da discrepância entre a isoterma teórica e os valores finais de adsorção da isoterma obtidos experimentalmente. O sedimento N-19 foi o responsável pela maior adsorção entre todos os quatro sedimentos estudados. A isoterma de adsorção não competitiva de Pb mostra uma inclinação inicial muito forte e só após a adsorção de cerca de 38 mmol·kg-1 de Pb é que tem início a inflexão (Figura 6.40). A isoterma tende a se estabilizar com adsorção de cerca de 49 mmol·kg-1 de Pb. Os dois últimos pontos da isoterma, entretanto, marcam uma provável retomada de adsorção com o aumento da concentração de Pb em solução. A isoterma teórica de Langmuir obtida para este sistema mostra uma boa concordância com a 129 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... inclinação inicial da reta e com a altura de estabilização do patamar. Apresenta, entretanto uma inflexão mais acentuada que a inflexão observada experimentalmente. N-19 - Pb Isoterma não competitiva 70 -1 Cs (mmol·kg ) 60 50 40 30 20 10 experimental Langmuir 0 0,0 0,2 0,4 0,6 -1 Ce (mmol·L ) 0,8 1,0 Figura 6.40 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-19 N-19 Linearização Langmuir 0,5 1/Cs 0,4 0,3 0,2 y = 9E-06x + 0,021 0,1 2 R = 0,998 0,0 0 10000 20000 30000 40000 50000 1/Ce Figura 6.41 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento N-19 A boa concordância entre a isoterma teórica e a experimental é comprovada pelo alto valor de R2 obtido na linearização da isoterma (Figura 6.41) A equação da reta forneceu os seguintes parâmetros para a isoterma: b = 47,6 e Kads = 2.333, onde o valor de b indica uma grande capacidade de adsorção e o valor de Kads representa uma boa afinidade do Pb para como o sedimento N-19. A isoterma de adsorção não competitiva de Pb no sedimento N-31 mostrou-se anômala (Figura 6.42). Apresenta um início bastante íngreme e segue como as outras até o começo da inflexão, que ocorre após a adsorção de cerca de 10 mmol·kg-1 de Pb. A partir deste ponto, o processo de adsorção é interrompido e o aumento na concentração de Pb é acompanhado por uma diminuição na adsorção. 130 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. N-31- Pb Isoterma não competitiva Pb -1 Cs (mmol·kg ) 15 10 5 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 Langmuir 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.42 – Isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-31 A linearização desta isoterma, mostrada na Figura 6.43, forneceu, como esperado, uma reta com baixo coeficiente de variação (R2 = 0,887). Apesar disto, e unicamente para efeito de comparação, foram obtidos os parâmetros de Langmuir b= 8,13 e Kads = 6150. N-31 - Pb Linearização da isoterma completa 0,5 0,4 1/Cq 0,3 0,2 y = 2E-05x + 0,1399 0,1 2 R = 0,887 0,0 0 5000 10000 1/Ce 15000 20000 Figura 6.43 – Linearização da equação de Langmuir para Pb no sedimento N-31. Ainda para efeito de comparação, as Figuras 6.44 e 6.45 mostram respectivamente a isoterma e a forma linearizada da isoterma de Langmuir feita somente para os seis primeiros pontos da isoterma mostrada na Figura 6.42. Para baixas concentrações de Pb a isoterma mostra-se bastante regular e tende a se estabilizar com a adsorção de cerca de 8 mmol·kg-1 de Pb. A linearização apresentou um bom coeficiente de variação (R2 = 0,982) e a equação da reta forneceu os seguintes parâmetros de Langmuir: b = 8,13 mmol·kg-1 e Kads = 6150, os mesmos valores encontrados para a curva isoterma completa. Estes valores iguais refletem o peso que a adsorção inicial exerce sobre o cálculo dos parâmetros no modelo de Langmuir quando a isoterma apresenta um elevado valor para Kads. 131 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-31- Pb Isoterma não competitiva Pb -1 Cs (mmol·kg ) 15 10 5 0 0,00 Experimental 0,01 0,02 Langmuir 0,03 0,04 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.44 – Seis primeiros pontos da isoterma de adsorção de Pb no sedimento N-31 N-31 - Pb Linearização dos 6 primeiros pontos da isoterma 0,5 1/Cq 0,4 0,3 0,2 y = 2E-05x + 0,123 0,1 2 R = 0,982 0,0 0 5000 10000 1/Ce 15000 20000 Figura 6.45 – Linearização da equação de Langmuir para os seis primeiros pontos da isoterma de Pb no sedimento N-31 A Figura 6.46 compara a tendência apresentada pelas isotermas de Pb nos quatro sedimentos estudados. Um resumo dos parâmetros de Langmuir destas isotermas é mostrado na Tabela 6.5 junto com os valores máximos de adsorção encontrados experimentalmente (Csm). A comparação entre as isotermas na Figura 6.46 e ainda entre os valores de Kads mostra que o sedimento N-19 apresenta a maior capacidade de adsorção que os demais sedimentos. Apesar de apresentar o valor mais baixo de Kads dentre os quatro sedimentos, esta isoterma apresenta uma constante de equilíbrio alta, o que indica uma forte afinidade entre o Pb e a superfície do sedimento, como pode ser observado pela forte inclinação inicial da isoterma. A menor capacidade de adsorção é mostrada na isoterma do sedimento N-31. 132 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Isotermas não competitivas de Pb 70 Ce (mmol·kg -1 ) 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol·L-1 ) T4 T23 N-19 N-31 Figura 6.46 – Gráfico comparativo das isotermas não competitivas de Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 A comparação entre os valores de b e os valores de Csm (Tabela 6.7) mostra que o ajuste teórico da isoterma não é satisfatório para valores mais altos de Ce. Entretanto, para valores baixos e/ou intermediários de Ce a modelagem mostrou-se consistente com os dados obtidos experimentalmente. Os valores de densidade de adsorção de Pb apontam os sedimentos de Timbopeba como os de maior adsorção de Pb por unidade de área. Ordenando-se os sedimentos pela sua capacidade adsortiva (parâmetro b), obtém-se a seguinte relação: N-19 >> T-4 > T-23 > N-31 Já a ordem dos sedimentos em relação à força de ligação entre adsorvente e o adsorbato é a seguinte: N-31> T-23 > T-4 > N-19 Tabela 6.7 – Parâmetros de Langmuir para as isotermas de Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads é uma grandeza adimensional, b e Csm são dados em mmol·kg-1 e Ps em µmol⋅m-2 b Csm R2 Ps Kads T-4 2840 17,6 33,6 0,974 3,36 T-23 3320 15,1 30,4 0,965 3,04 N-19 2333 47,6 61,9 0,998 2,06 N-31 6150 8,13 9,84* 0,887** 1,09 * este valor não representa o último (maior Ce) ponto da isoterma. **R2 para a isoterma completa 133 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 6.3.2 – Isotermas Competitivas. As isotermas competitivas de As mostraram um comportamento que pode ser descrito integralmente através do modelo de Freundlich. Entretanto, as isotermas competitivas de Cr, Cu e Pb apresentaram inclinações variadas. Estas isotermas têm início seguindo claramente o modelo de Langmuir, apresentando uma forte inclinação inicial, seguida de rápida inflexão e formação de um patamar de estabilidade. No entanto, com o aumento da concentração dos metais em solução, o processo de adsorção é reativado e a isoterma assume novo formato que, na grande maioria dos casos, segue o modelo de Freundlich com constante aumento de adsorção e não formação de patamar de estabilidade. Este comportamento é descrito por vários autores como indicativo da ação de diferentes mecanismos de adsorção atuando no sistema (Street et al., 1977; Welp & Brümmer, 1998; Jordão et al., 2000; Guedes, 2004). A seguir serão descritas as isotermas competitivas agrupadas por elemento. • Arsênio A escolha do modelo, a construção da isoterma teórica de Freundlich e a obtenção dos parâmetros foram feitos como descrito para as isotermas não competitivas de As. Em todos os quatro sedimentos as isotermas teóricas de As mostram boa concordância com os dados obtidos experimentalmente. A isoterma competitiva do As no sedimento T-4 é representada na Figura 6.47 e mostra uma adsorção inicial bastante intensa seguida de uma inflexão suave. O modelo teórico e o modelo experimental apresentam boa concordância, principalmente para concentrações mais baixas de As. A linearização da isoterma fornece a reta (R2 = 0,979) apresentada na figura 6.48. A equação desta reta forneceu os seguintes valores para os parâmetros de Freundlich: A = 40,7 e β = 0,27. T-4 - As Isoterma competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 60 50 40 30 20 10 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Freundlich 0,8 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.47 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento T-4 134 1,0 LogCs Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-4 - As Linearização Freundlich 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 y = 0,2715x + 1,6096 2 R = 0,979 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 LogCe Figura 6.48 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento T-4 T-23 - As Isoterma competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 50 40 30 20 10 Experimental 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Freundlich 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.49 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento T-23 A isoterma competitiva de As no sedimento T-23 (Figura 6.49) é bastante semelhante à isoterma anterior. A inclinação inicial é um pouco menor, assim como a altura do patamar, indicando uma menor capacidade de adsorção deste sedimento em relação ao T-4. A concordância entre o modelo teórico e os dados experimentais também é melhor para valores mais baixos de Ce. Os parâmetros de Freundlich, obtidos pela linearização da isoterma (R2 = 0,961), mostrada na Figura 6.50, são os seguintes: A = 37,7 e β = 0,25. O baixo valor de β indica que a isoterma apresenta uma concavidade mais fechada e que o aumento da concentração de As na solução não representará um grande aumento na adsorção. 135 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-23 - As Linearização Freundlich Log Cs 2,0 1,5 1,0 y = 0,2497x + 1,5528 0,5 2 R = 0,961 0,0 -5,0 -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 Log Ce Figura 6.50 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento T-23 N-19 - As Isoterma competitiva -1 Cs (mmol·kg ) 100 80 60 40 20 Experimental Freundlich 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.51 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-19 A isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-19 (Figura 6.51) indica uma forte adsorção de As. Para este sedimento, a isoterma experimental apresenta uma concavidade um pouco mais fechada que a obtida matematicamente. A linearização desta isoterma (R2 = 0,985) é apresentada na Figura 6.52. Os parâmetros de Freundlich obtidos pela reta confirmam a grande afinidade deste sedimento para com o As, também em condições competitivas: A = 106; β = 0,41. O parâmetro A é elevado, refletindo a grande afinidade do As pelo sedimento N-19. O elevado valor de β representa uma concavidade mais aberta da isoterma que, por sua vez, indica que a capacidade de adsorção deste sedimento ainda não se esgotou, ou seja, que o aumento na concentração de As na solução inicial pode representar ainda um considerável aumento na adsorção. 136 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. N-19- As Linearização Freundlich 2,5 Log Cs 2,0 1,5 1,0 y = 0,4064x + 2,0257 0,5 2 R = 0,985 0,0 -4,00 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 Log Ce -1 Cs (mmol·kg ) Figura 6.52 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento N-19 N-31 - As Isoterma competitiva 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Experimental 0,0 0,2 0,4 0,6 Freundlich 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) Figura 6.53 – Isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-31 A isoterma de adsorção competitiva de As no sedimento N-31 é mostrada na Figura 6.53. Apresenta uma boa concordância entre o modelo teórico de Freundlich e os dados obtidos experimentalmente. A linearização da isoterma (Figura 6.54) forneceu os seguintes parâmetros de Freundlich: A = 36,0 e β = 0,41. O valor baixo do parâmetro A indica uma capacidade menor de adsorção quando comparado às outras isotermas de As. Entretanto, o alto valor de β indica que esta capacidade de adsorção não foi esgotada dentro do intervalo de concentrações usado para a construção desta isoterma. Logo, um aumento de As na solução inicial representará um aumento apreciável na adsorção de As. 137 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-31- As Linearização Freundlich 1,8 1,6 1,4 Log Cs 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 y = 0,4108x + 1,5559 0,2 R = 0,994 2 0,0 -3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 Log Ce Figura 6.54 – Linearização da equação de Freundlich para adsorção competitiva de As no sedimento N-31 -1 Cs (mmol·kg ) Isotermas competitivas de As 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 -1 Ce (mmol·L ) T4 T-23 N-19 0,8 1,0 N-31 Figura 6.55 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de As nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 A Figura 6.55 apresenta uma comparação entre as isotermas obtidas experimentalmente para As nos quatro sedimentos estudados. A Tabela 6.8 apresenta um resumo dos parâmetros de Freundlich obtido para cada isoterma. Os altos valores do parâmetro de afinidade de Freundlich A e da constante de equilíbrio do sedimento N-19 comprovam sua maior afinidade com o As, o que é corroborado pelo valor de Csm obtido experimentalmente nessa isoterma. O sedimento N-31, por outro lado é o que apresenta a menor afinidade pelo As e conseqüentemente a menor adsorção de As. 138 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela 6.8 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de As nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads, A e β são grandezas adimensionais, Csm em mmol·kg-1 e Ps em µmol·m-2 Kads 46,7 41,3 134 39,5 T-4 T-23 N-19 N-31 β 0,27 0,25 0,41 0,41 A 40,7 37,7 106 36,0 R2 0,979 0,961 0,985 0,994 Csm 48,7 44,5 81,2 36,6 Ps 4,87 4,45 2,71 4,07 Os altos valores de densidade de adsorção de As em condições competitivas mostram que a quantidade de sítios de adsorção de As foi ampliada em relação ao sistema não competitivo. Ordenando-se as isotermas em função de sua afinidade com a As em ambiente competitivos obtémse a seguinte relação: N-19 >> T-4 > T-23 > N-31 • Cromo As isotermas competitivas de Cr mostraram um comportamento duplo como explicado anteriormente. Nos quatro sedimentos estudados, as isotermas apresentam uma mudança brusca de inclinação a partir de determinada Ce. Para melhor interpretar este comportamento, todas as isotermas competitivas de Cr foram divididas em dois segmentos e interpretados separadamente (Jordão et al. 2000, Guedes 2004). T-4 - Cr Isoterma de Langmuir T-4 - Cr Ce (mmol kg-1 ) 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 Ce (mmol L-1 ) T-4 - Cr Isoterma de Freundlich 50 0,1 0,2 0,3 Experimental 0,4 0,5 Ce (mmol L -1) Langmuir 0,6 0,7 0,8 0,9 Ce (mmol kg-1 ) Ce (mmol kg-1 ) Isoterma competitiva 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0,0 40 30 20 10 0 0,0 Freundlich 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L-1 ) Figura 6.56 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-4. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) 139 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-4 - Cr Linearização Langmuir T-4 - Cr Linearização Freundlich 0,5 2,0 0,4 1,5 Log Cs 1/Cs 0,6 0,3 0,2 y = 0,0006x + 0,1379 2 0,1 1,0 y = 0,8684x + 1,7234 0,5 2 R = 0,952 R = 0,957 0,0 0,0 0 100 200 300 400 1/Ce 500 600 700 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 Log Ce Figura 6.57 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-4 No sedimento T-4, a isoterma de Langmuir predomina nos oito primeiros pontos. O sistema se altera quando a concentração de Cr em equilíbrio ultrapassa o valor de 0,1 mmol·L-1. A partir deste ponto o sedimento volta a adsorver Cr. Este comportamento é representado por uma forte inflexão na isoterma, que a partir deste ponto assume um comportamento típico do modelo de Freundlich. A Figura 6.56 mostra a associação entre estes dois comportamentos. A modelagem dos dois sistemas mostrou uma boa concordância entre as isotermas teóricas de Langmuir (em vermelho) e de Freundlich (em preto) e os dados experimentais. A linearização de ambos os segmentos é apresentada na Figura 6.57 e os valores dos parâmetros de ambas as isotermas são mostradas na Tabela 6.9. A linearização do primeiro segmento mostra um valor alto para a constante de adsorção (Kads = 333) indicando forte energia de ligação do Cr com o sedimento, associada a uma baixa capacidade de adsorção, indicado pelo baixo valor de parâmetro b (7,06 mmol·kg-1). A linearização do segundo segmento fornece parâmetros que indicam uma boa afinidade do Cr com o sedimento também nesta nova fase adsortiva (A = 52,9). O valor de β (0,87) é bastante alto, indicando que o primeiro processo de adsorção em monocamada tornou a superfície energeticamente mais homogênea. No sedimento T-23, o segmento correspondente à isoterma de Langmuir é um pouco menor, compreendendo apenas os 6 primeiros pontos (Figura 6.58), indicando que comportamento tipo Langmuir só existe para concentrações de equilíbrio inferiores a 0,06 mmol·L-1. A partir deste valor, a isoterma passa a se comportar de acordo com o modelo de Freundlich. Em ambos os casos houve uma boa concordância entre as isotermas teóricas e os pontos obtidos experimentalmente. 140 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-23 - Cr Ce (mmol·kg-1 ) 60 50 Ce (mmol kg-1 ) T23 - Cr isoterma de Langmuir 6 Isoterma competitiva 40 5 4 3 2 1 0 0,00 0,01 0,02 30 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 Ce (mmol L -1 ) 20 T23 - Cr isoterma de Freundlich 60 Ce (mmol·kg-1 ) 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol L -1) 0,8 40 30 20 10 0 Langmuir Experimental 1,0 50 0,0 Freundlich 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1 ) Figura 6.58 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-23. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) A Figura 6.59 mostra as isotermas linearizadas para ambos os segmentos. Os parâmetros de Langmuir (Tabela 6.9) mostram uma afinidade relativamente alta do sedimento com o Cr e uma boa compatibilidade entre o valore teórico e o valor experimental para a capacidade de adsorção, que para este segmento é particularmente baixa: b = 5,61 e Csm = 5,07. Entretanto, a afinidade e a capacidade de adsorção de Cr pelo sedimento é amplificada gerando o segundo segmento, como comprovam os valores altos de Kads, A e Csm de Freundlich (Tabela 6.9). T-23 - Cr Linearização Langmuir 0,6 T-23 - Cr Linearização Freundlich 2,0 0,5 1,5 log Cs 1/Cs 0,4 0,3 0,2 y = 0,7883x + 1,7017 0,5 y = 0,0008x + 0,1784 0,1 1,0 2 R = 0,968 2 R = 0,919 0,0 0,0 0 100 200 1/Ce 300 400 500 -1,4 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 log Ce -0,4 -0,2 0,0 Figura 6.59 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento T-23 Na isoterma competitiva de Cr no sedimento N-19, a porção Langmuir predomina em 11 dos 16 pontos (Figura 6.60). O segmento Langmuir tem início com uma forte adsorção, uma inflexão suave e a formação de um patamar com adsorção de cerca de 25 mmol·kg-1 de Cr. Este patamar se prolonga enquanto a Ce está abaixo de 0,2 mmol·L-1. A partir deste valor, a isoterma mostra uma retomada na adsorção de Cr à medida que a concentração de Cr aumenta na solução, caracterizando uma curva do tipo Freundlich. 141 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-19 - Cr Isoterma de Langmuir N-19 - Cr Isoterma competitiva Ce (mmol kg-1 ) 30 60 Ce (mmol kg-1 ) 50 20 10 0 40 0,0 0,1 0,2 Ce (mmol L-1 ) 30 N-19 - Cr Isoterma de Freundlich 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol kg-1 ) 20 Ce (mmol L -1) 40 20 0 0,0 Langmuir Experimental 60 0,2 Freundlich 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L-1 ) Figura 6.60 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-19. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) Os valores dos parâmetros de Langmuir mostram que a capacidade de adsorção é relativamente elevada e que a energia de adsorção é baixa quando comparado aos outros três sedimentos (Tabela 6.9). O segmento Freundlich mostra uma alta afinidade entre o Cr e o sedimento. O valor de β é alto o suficiente para garantir um aumento na adsorção de Cr para concentrações maiores que as utilizadas na construção desta isoterma. Os segmentos linearizados das duas isotermas são apresentados na Figura 6.61. N-19 - Cr Linearização Langmuir 0,5 N-19 - Cr Linearização Freundlich 1,8 1,7 0,3 log Cs 1/Cq 0,4 0,2 y = 0,0002x + 0,0381 0,1 2 1,6 y = 0,6038x + 1,7921 1,5 2 R = 0,946 R = 0,996 1,4 0,0 0 500 1000 1/Ce 1500 2000 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 log Ce Figura 6.61 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-19 No sedimento N-31, o segmento que segue o modelo de Langmuir compreende os 9 primeiros pontos da isoterma (Figura 6.62). Esta isoterma se diferencia das anteriores por apresentar uma inclinação inicial menos pronunciada e por um ajuste entre a isoterma teórica e experimental não tão preciso. Após a formação de um curto patamar, ocorre a inflexão que dá início ao comportamento de Freundlich. O valor de Ce de 0,2 mmol·L-1 é novamente o limite entre estes dois comportamentos. 142 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Isoterma competitiva 15 Ce (mmol kg-1 ) 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 N-31 - Cr Isoterma de Langmuir 20 10 5 0 0,0 0,05 0,10 0,15 0,20 Ce (mmol L-1 ) N-31 - Cr Isoterma de Freundlich 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol L -1) 0,8 Langmuir Experimental 1,0 Ce (mmol kg-1 ) Ce (mmol kg-1) N-31 - Cr 50 40 30 20 10 0 0,0 Freundlich 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L-1 ) Figura 6.62 – Isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-31. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) A baixa energia de ligação entre o Cr e o sedimento N-31 pode ser comprovada pelo baixo valor de Kads (Tabela 6.9) e pela pequena inclinação da porção inicial da isoterma de Langmuir. Ao mudar de comportamento a isoterma mostra que o sedimento tem um ganho de capacidade de adsorção que salta de cerca de 13 mmol·kg-1 no primeiro segmento, para próximo a 44 mmol·kg-1 no fim da isoterma. Novamente o alto valor de β (0,73) indica a capacidade máxima de adsorção de Pb pelo sedimento N-31 é maior que a representada nesta isoterma. As linearizações dos segmentos são apresentadas na Figura 6.63. N-31 - Cr Linearização Langmuir 0,6 0,5 0,4 0,3 Log Cs 1/Cs 0,8 0,7 y = 0,0025x + 0,0665 0,2 0,1 0,0 2 R = 0,983 0 50 100 150 1/Ce 200 250 N-31 - Cr Linearização Freundlich 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 y = 0,7259x + 1,685 R2 = 0,989 -0,8 300 -0,6 -0,4 Log Ce -0,2 0,0 Figura 6.63 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cr no sedimento N-31 A Figura 6.64 apresenta as isotermas competitivas de Cr nos quatro sedimentos estudados. A comparação destas isotermas mostra que a maior diferença de comportamento entre elas se dá basicamente no primeiro segmento (modelo de Langmuir). No segundo segmento, as quatro isotermas apresentam um comportamento bastante semelhante. Confrontando-se as isotermas com os parâmetros de Langmuir e Freundlich (Tabela 6.9) observa-se que, independentemente do segmento analisado, o sedimento N-19 apresenta a maior capacidade de adsorção de Cr. O sedimento N-31 aparece com boa capacidade adsortiva no primeiro segmento da isoterma, mas com a mudança de comportamento da 143 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... isoterma passa a ter a menor capacidade de adsorção para concentrações maiores de Ce. A mudança de comportamento aparece bem marcada em todas as isotermas a partir ca Ce = 0,2 mmol·kg-1. Os valores de Ps indicam uma forte densidade de sítios de adsorção nos sedimentos T-4, T-23, e N31. Já o sedimento N-19, apesar de apresentar uma adsorção nominal maior, é o sedimento que menos adsorve Cr por unidade de área. Isotermas compe titivas de Cr 60 Cs (mmol·kg -1 ) 50 40 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol·L-1 ) T4 T -23 N-19 0,8 1,0 N-31 Figura 6.64 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Cr nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Tabela 6.9 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Cr nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads, A e β são grandezas adimensionais, Csm em mmol·kg-1 e Ps em µmol·m-2 Kads T-4 T-23 N-19 N-31 333 223 190 26,6 Langmuir b Csm 7,25 5,61 26,5 15,0 7,06 5,07 24,5 12,9 Freundlich R2 Kads A β Csm R2 0,952 0,919 0,996 0,983 69,8 91,4 116 81,7 52,9 50,3 62 48,4 0,87 0,79 0,60 0,73 47,3 50,1 56,2 43,6 0,957 0,968 0,946 0,989 Ps 4,73 5,01 1,87 4,84 Assim, em função dos parâmetros mostrados na Tabela 6.7 os sedimentos apresentam a seguinte ordem de capacidade de adsorção para sistemas competitivos envolvendo As, Cr, Cu e Pb: • Para Ce abaixo de 0,2 mmol·L-1 (Langmuir) – N-19 > N-31 > T-4 > T-23 • Para Ce acima de 0,2 mmol·L-1 (Freundlich) – N-19 > T-23 > T-4 > N-31 • Cobre As isotermas competitivas de Cu seguem o mesmo padrão apresentado pelas isotermas competitivas de Cr. Nos quatro sedimentos a adsorção se inicia com um comportamento que pode ser modelado pela equação de Langmuir. Após a estabilização da adsorção e conseqüente formação de patamar na isoterma, 144 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. o sedimento volta a adsorver Cu. Este segundo pulso de adsorção pode ser modelado pela equação de Freundlich nos sedimentos T-4, T-23 e N-31. No sedimento T-4, o primeiro segmento da isoterma abrange os sete primeiros pontos e se estende até a concentração de equilíbrio atingir o valor de 0,1 mmol·L-1 (Figura 6.65). Neste primeiro segmento, a adsorção é pequena como pode ser comprovada pelo baixo valor do parâmetro b na equação linearizada de Langmuir (Tabela 6.11), mas ocorre com uma alta energia de ligação (Kads = 727). T4 - Cu Isoterma de Langmuir T-4 - Cu Isoterma competitiva Cs (mmol kg-1 ) 4 30 3 2 1 0 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,8 1,0 Ce (mmol L -1) 20 T4 - Cu Isoterma de Freundlich 40 10 0 0,0 0,2 0,4 Ce (mmol L ) 0,6 0,8 1,0 -1 30 20 10 0 0,0 Langmuir Experimental Cs (mmol kg-1 ) Cs (mmol kg-1) 40 0,2 Freundlich 0,4 0,6 Ce (mmol L -1) Figura 6.65 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-4. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) T-4 - Cu Lineariz ação de Langmuir 0,6 T-4 - Cu Linerarização de Frundlich 1,8 1,6 0,5 1,2 0,3 1,0 Log Cs 1/Cq 1,4 0,4 0,2 y = 0,0004x + 0,2915 R2 = 0,995 0,1 100 200 300 1/Ce 400 500 0,6 y = 0,983x + 1,5946 R2 = 0,987 0,4 0,2 0,0 0 0,8 0,0 -1,0 600 -0,8 -0,6 log Ce -0,4 -0,2 0,0 Figura 6.66 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-4 O segundo segmento é representado na isoterma por rápida inflexão no patamar, dando origem a uma curva muito suave, que foi modelada pela equação de Freundlich. Nesta equação (equação 6.1) o termo β é responsável pela curvatura da isoterma e é sempre menor que 1. Quanto mais próximo a 1 menos côncava é a curva. Neste caso, o valor de β é 0,98 fazendo com que a isoterma se assemelhe a uma reta. Nestas condições o sedimento apresenta, apesar da baixa intensidade, uma grande capacidade de adsorção. As isotermas linearizadas para os dois segmentos são apresentadas na Figura 6.66. 145 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A adsorção de Cu no sedimento T-23 (Figura 6.67) é muito semelhante à do sedimento T-4. O primeiro segmento é composto pelos oito primeiros pontos da isoterma. A inclinação da parte inicial é bem suave, indicando uma baixa energia de adsorção (Kads = 31,9). O patamar indicado pela isoterma teórica ocorreria em b = 6,81 mmol·L-1. Entretanto, o segundo segmento tem início um pouco antes do término da inflexão da isoterma (Csm = 5,7 mmol·L-1). T-23 - Cu Isoterma de Langmuir T-23 - Cu Ce (mmol kg-1 ) Isoterma competitiva 40 Ce (mmol kg-1 ) 30 7 6 5 4 3 2 1 0 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 Ce (mmol L -1) 20 T-23 - Cu Isoterma de Freundlich 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1) Ce (mmol kg -1 ) 40 30 20 10 0 0,0 Experimental Langmuir 0,2 Freundlich 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1) Figura 6.67 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-23. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) T-23 - Cu Linearização de Fre undlich T-23 - C u Linearização de Langmuir 1,2 2,0 1,0 1,5 LogCs 1/Cs 0,8 0,6 0,4 y = 0,0045x + 0,1468 R2 = 0,963 0,2 50 100 150 y = 0,9278x + 1,5914 R2 = 0,989 0,5 0,0 0 1,0 200 0,0 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 LogCe 1/C e Figura 6.68 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento T-23 O segundo segmento tem início após a concentração de equilíbrio ultrapassar o valor de 0,14 mmol· L-1. Este segmento foi interpretado pela equação de Freundlich (Figura 6.68) e, à semelhança do sedimento T-4, também tende a uma reta, uma vez que o valor de β é próximo de 1 (Tabela 6.8), atestando a pouca intensidade e a boa capacidade de adsorção deste sedimento para Cu. A isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-19 também foi dividida em dois segmentos. O primeiro patamar é predominante, com 12 dos 16 pontos de isoterma e segue claramente o 146 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. modelo de Langmuir, como pode ser observado na Figura 6.69. A forte inclinação inicial da curva (Kads = 5.455) demonstra a grande afinidade deste sedimento para com o Cu. O patamar deste segmento se estabelece com a adsorção de 9,2 mmol·kg-1 de Cu e se estende até próximo à Ce = 0,4 mmol·L-1. A partir deste valor, o aumento da concentração de Cu em solução é acompanhado de um aumento de adsorção provocando uma inflexão que caracteriza o segundo segmento desta isoterma. No entanto, este segmento apresenta uma curva convexa e um valor negativo de β. Estes dois fatores indicam que a isoterma não se enquadra no modelo de Freundlich e por isso não pôde ser modelada. A linearização dos pontos do -1 Cs (mmol kg ) primeiro segmento da isoterma é apresentada na Figura 6.70. N-19 - Cu Isoterma competitiva 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Experimental 0,0 0,2 0,4 Langmuir 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol L ) 1/Cs Figura 6.69 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-19 N-19 - Cu Linerarização de Langmuir 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 0,1 0,1 0,0 y = 2E-05x + 0,1091 2 R = 0,987 0 2000 4000 6000 8000 1/Ce 10000 12000 14000 Figura 6.70 – Linearização da equação de Langmuir para o primeiro segmento da isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-19 A adsorção de Cu no sedimento N-31, representada pela isoterma da Figura 6.71, também se dá em duas etapas. O primeiro segmento, interpretado pelo modelo da Langmuir (Figura 6.72), mostra uma energia de adsorção pouco intensa (Kads = 99,4) e estabelecimento de um patamar de adsorção em 147 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Cs = 6,7 mmol·kg-1. Neste segmento os pontos experimentais encontram-se mais dispersos (R2 = 0,922), o que prejudicou o ajuste da isoterma teórica. O segundo patamar tem início para Ce > 0,2 mmol·L-1 e segue a mesma estrutura das isotermas de T-4 e T-23, com grande capacidade adsortiva indicada por uma isoterma pouco côncava (β = 0,93). N-31 T-31- -CuCu Isoterma competitiva Isoterma competitiva Cs (mmol kg -1 ) 40 40 35 35 30 30 25 25 8 6 4 2 0 0,00 20 20 0,05 15 15 10 10 55 00 0,0 0,0 0,2 0,2 0,4 0,4 0,6 0,6 -1 (mmolLL-1) CeCe(mmol ) Expe rimental Langmuir Langmuir Experimental 0,8 0,8 1,0 1,0 Freundlich Cs (mmol kg-1 ) (mmol L-1) Cs Cs (mmol kg-1) T-31 - Cu Isoterma de Langmuir 10 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0,0 0,10 0,15 0,20 Ce (mmol L -1) 0,25 T-31 - Cu Isoterma de Freundlich 0,2 Freundlich 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1) Figura 6.71 – Isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-31. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) N-31- Cu Linearização Freundlich 1,8 1,6 0,6 1,2 0,5 1,0 0,4 1/Cs Log Cs 1,4 0,8 0,6 0,4 y = 0,9305x + 1,5651 0,2 R = 0,982 0,0 -0,7 N-31 - Cu Linearização Langmuir 0,7 2 0,3 0,2 y = 0,0015x + 0,1491 0,1 R = 0,922 2 0,0 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0 50 100 150 200 250 300 350 1/Ce Log Ce Figura 6.72 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Cu no sedimento N-31 O processo de adsorção de Cu ocorreu seguindo o mesmo processo da adsorção do Cr. Um primeiro comportamento, que pode ser interpretado pela equação de Langmuir, evidencia as diferenças no processo de adsorção de Cu por cada sedimento (Figura 6.73). O segundo processo de adsorção é muito semelhante qualitativa e quantitativamente nos sedimentos T-4, T-23 e N-31 e anômala em N-19. Entre os quatro sedimentos percebe-se que, no primeiro processo, a adsorção de Cu por N-19 é a mais intensa, envolvendo maiores energias de adsorção e apresentando a maior capacidade adsortiva (Tabela 6.10). No entanto, este sedimento apresenta menor capacidade de adsorção após o início do 148 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. segundo processo de adsorção (Figura 6.73). Este comportamento é conflitante como o comportamento observado para este sedimento em todos os outros sistemas analisados até aqui. Entretanto existe a possibilidade de o intervalo de concentrações estudado não ter sido suficientemente grande para permitir a formação da concavidade da isoterma de Freundlich esperada neste caso. Isote rmas compe titivas de Cu 40 30 Cs (mmol·kg -1 ) 35 25 20 15 10 5 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) T4 T 23 N-19 N-31 Figura 6.73 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Cu nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Tabela 6.10 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Cu nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads, A e β são grandezas adimensionais, Csm em mmol·kg-1 e Ps em µmol·m-2 Langmuir Freundlich Ps Kads b Csm R2 Kads A Csm R2 β T-4 T-23 N-19 N-31 729 31,9 5455 99,4 3,43 6,81 9,2 6,7 3,41 5,70 10,8 8,00 0,995 0,963 0,987 0,922 40,1 44,8 40,8 39,3 38,6 36,7 0,98 0,93 0,93 35,7 34,8 35,7 33,8 0,987 0,989 0,982 3,57 3,48 1,19 3,76 Os valores de densidade de adsorção mostram uma equivalência no número de sítios de adsorção por unidade de área nos sedimentos T-4, T-23 e N-31 enquanto a densidade no sedimento N-19 é três vezes menor. Como visto acima, a capacidade adsortiva dos sedimentos neste sistema varia de acordo com as concentrações. Assim, só faz sentido estabelecer uma ordem de afinidade dos sedimentos pelo Cu se forem levados em conta intervalos de concentração. • Para Ce < 0,2 mmol·L-1 • Para 0,2 < Ce < 0,8 mmol·L • Para Ce > 0,8 mmol·L-1 N-19 >>> T-4 > N-31 >> T-23 -1 T-23 ≅ T-4 > N-31 > N-19 T-23 ≅ T-4 ≅ N-31 ≅ N-19 149 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... • Chumbo As isotermas competitivas de Pb para os sedimentos T-4, T-23 e N-19 mostram um comportamento semelhante ao apresentado pelas isotermas de Cr e Cu, sendo, portanto divididas em dois segmentos, o primeiro interpretado pela equação de Langmuir e o segundo pela equação de Freundlich. O sedimento N31 apresentou um comportamento anômalo onde só uma parte dos pontos se encaixou no modelo de Langmuir. A seguir serão descritas as isotermas competitivas de Pb para cada um dos quatro sedimentos. T-4 - Pb Isoterma de Langmuir T-4 - Pb Cs (mmol kg -1 ) 5 Isoterma competitiva 10 6 3 2 1 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Ce (mmol L -1 ) 4 T-4 - Pb Isoterma de Freundlich 2 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1) Cs (mmol kg -1 ) Cs (mmol kg-1) 8 4 10 8 6 4 2 0 0,0 Experimental Langmuir 0,2 Freundlich 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1 ) Figura 6.74 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-4. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) T-4 - Pb Linearização de Langmuir 0,8 0,3 0,6 0,2 y = 2E-05x + 0,2464 0,1 2 0,0 2000 4000 6000 8000 10000 1/Ce 0,4 y = 0,8557x + 0,9341 0,2 R = 0,970 0 T-4 - Pb Linearização de Freundlich 1,0 0,4 log Cs 1/Cq 0,5 12000 0,0 -0,4 2 R = 0,929 -0,3 -0,3 -0,2 -0,2 -0,1 -0,1 0,0 log Ce Figura 6.75 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-4 No sedimento T-4, o primeiro e segundo segmentos da isoterma (Figura 6.74) podem ser descritos pelas equações linearizadas de Langmuir e Freundlich, respectivamente, de acordo com as equações mostradas na Figura 6.75. O primeiro segmento engloba 12 dos 16 pontos que compõem a isoterma. A inclinação inicial é especialmente forte (Kads = 12.320) e curta (b = 4,06 mmol·L-1), seguida de uma inflexão abrupta e formação de um amplo patamar que se estende até Ce = 0,4 mmol·L-1. O segundo segmento é composto pelos quatro últimos pontos, ajustados ao modelo de Freundlich. Apresenta valores baixos tanto para afinidade do sedimento pelo Pb, quanto pela capacidade de adsorção (Tabela 6.11). No 150 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. entanto, o alto valor de β indica que a capacidade de adsorção de Pb nesse sistema competitivo é bem maior que o valor de Csm, uma vez que a isoterma provavelmente se estende ainda íngreme para além dos valores utilizados em sua construção. T-23 - Pb Isoterma de Langmuir T-23 - Pb Cs (mmol kg -1 ) Isoterma competitiva 10 Cs (mmol kg-1) 8 6 5 4 3 2 1 0 0,00 0,05 0,10 0,15 Ce (mmol L -1 ) 4 T-23 - Pb Isoterma de Freundlich 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L ) -1 Langmuir Experimental Freundlich 10 8 6 4 2 0 Cs (mmol kg -1 ) 2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1 ) Figura 6.76 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-23. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) No sedimento N-23, os segmentos dividem a isoterma ao meio, com os oito primeiros pontos ajustados por Langmuir e os oito últimos ajustados por Freundlich. A isoterma é apresentada na Figura 6.76 e as linearizações e respectivas retas na Figura 6.77. O primeiro segmento é caracterizado por uma adsorção inicial bem menos intensa que no sedimento T-4 (Kads = 459, Tabela 6.11) uma inflexão mais suave e um patamar mais baixo (b = 3,62 mmol·kg-1). O segundo segmento apresentou um ajuste pior ao modelo teórico de Freundlich (R2 = 0,930, Figura 6.77). A isoterma é bastante côncava (β = 0,53) indicando uma menor capacidade de adsorção em contraste com uma energia de adsorção relativamente forte (Kads = 18,4). T-23 - Pb Linearização de Langmuir 1,2 0,5 1,0 0,4 0,8 log Cs 1/Cs 0,6 0,3 0,2 y = 0,0006x + 0,2756 0,1 R = 0,978 2 100 200 300 400 0,6 0,4 y = 0,6512x + 0,9687 2 0,2 0,0 0 T-23 - Pb Linearizção de Freundlich 500 1/Ce 0,0 -0,8 R = 0,935 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 log Ce Figura 6.77 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos das isotermas de adsorção competitiva de Pb no sedimento T-23 151 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... No sedimento N-19, Figura 6.78, o comportamento Langmuir predomina. Este segmento apresenta uma forte inclinação inicial evidenciando que altas energias de ligação estão envolvidas no processo de adsorção (Kads = 796). O estabelecimento do patamar em b = 27,5 mmol·kg-1 indica alta capacidade de adsorção de Pb comparado aos outros sedimentos (Tabela 6.11). O segundo segmento é curto e côncavo (β = 0,43) evidenciando uma baixa capacidade de adsorção para esta nova fase adsortiva. As retas e equações de linearização dos dois segmentos são mostradas na Figura 6.79. Cs (mmol kg -1 ) Isoterma competitiva 40 35 30 25 20 15 10 5 0 N-19 - Pb Isoterma de Langmuir 40 30 20 10 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Ce (mmol L -1 ) N-19 - Pb Isoterma de Freundlich 40 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L ) -1 Experimental Cs (mmol kg -1 ) Cs (mmol kg-1) N-19 - Pb 30 20 10 0 0,0 Langmuir 0,2 Freundlich 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L -1 ) Figura 6.78 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-19. Os quadros à esquerda detalham isoladamente os segmentos da isoterma modelados por Langmuir e por Freundlich. A cor dos pontos experimentais indica em qual modelo ele foi incluído (vermelho para Langmuir e preto para Freundlich) N-19 - Pb Linearização Freundlich 1,60 0,4 1/Cs 1,56 LogCs N-19 - Pb Linearização Langmuir 0,5 1,52 0,3 0,2 y = 0,429x + 1,5989 R2 = 0,999 1,48 1,44 -0,35 y = 1E-05x + 0,0363 0,1 2 R = 0,927 0,0 -0,30 -0,25 -0,20 -0,15 -0,10 -0,05 LogCe 0,00 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 1/Ce Figura 6.79 – Linearização das equações de Langmuir e Freundlich para os dois segmentos da isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-19 A adsorção no sedimento N-31 é anômala. A isoterma se inicia com uma adsorção forte (Kads = 1.970) e tende a formar um pequeno patamar em b = 5,1 mmol·kg-1. Entretanto, este comportamento foi coerente com o modelo de isoterma de Langmuir somente para os cinco primeiros pontos. A partir daí, o aumento da concentração de Pb na solução não é acompanhado por um concomitante aumento de adsorção e a isoterma se comporta de modo a alternar aumento e diminuição na adsorção à medida que Ce aumenta. 152 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 6 14 12 10 -1 Cs (mmol·kg ) -1 Cs (mmol·kg ) N-31- Pb Isoterma competitiva 8 6 4 2 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 -1 N-31 - Pb Isoterma competitiva detalhe 5 4 3 2 1 0 0,00 Ce (mmol·L ) Experimental 0,01 0,02 -1 Ce (mmol·L ) Experimental Langmuir 0,03 Langmuir Figura 6.80 – Isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-31. O quadro à esquerda detalha isoladamente os cinco primeiros pontos da isoterma, modelado por Langmuir A Figura 6.80 mostra a isoterma experimental e a isoterma de Langmuir modelada pela linearização (Figura 6.81) unicamente dos quatro pontos iniciais, detalhados na Figura 6.80). Comparando-se a adsorção competitiva de Pb nos quatro sedimentos (Figura 6.82) observa-se que a adsorção do chumbo é pequena nos sedimentos T-4, T-23 e N-31 e que o sedimento N-19 apresenta uma forte afinidade para com este metal. A isoterma anômala de chumbo se justifica se estiver havendo competição diferenciada para as várias concentrações de misturas, ou seja, a partir de determinada concentração de metais concorrentes, a competição forçaria a diminuição da adsorção do chumbo. N-31 -Pb Linearização de Langmuir (para os 5 primeiros pontos) 0,5 Log Cs 0,4 0,3 0,2 y = 0,0001x + 0,2052 0,1 2 R = 0,945 0,0 0 500 1000 Log Ce 1500 2000 Figura 6.81 – Linearização da equação de Langmuir para os primeiros pontos da isoterma de adsorção competitiva de Pb no sedimento N-31 153 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Isote rmas compe titivas de Pb 40 35 Ce (mmol·kg -1 ) 30 25 20 15 10 5 0 -5 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 C e (mmol·L-1 ) T4 T 23 N-19 N-31 Figura 6.82 – Gráfico comparativo das isotermas competitivas de Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Os valores de densidade de adsorção para Cu mostram que o sedimento N-19 se destaca em relação aos sedimentos T-4, T-23 e N-31, todos estes apresentando valores densidade de adsorção baixos e muito próximos entre si. Tabela 6.11 – Parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas de Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Kads, A e β são grandezas adimensionais, Csm em mmol·kg-1 e Ps em µmol·m-2 Langmuir Freundlich Ps Kads b Csm R2 Kads A Csm R2 β 12320 4,06 4,41 0,97 9,87 8,59 0,86 8,91 T-4 459 3,62 3,46 0,978 18,4 9,18 0,55 7,77 T-23 726 27,5 28,9 0,927 68,5 39,7 0,43 37,0 N-19 1970 5,1 4,38 0,961 7,34 N-31* *Isoterma de N-31 considerando somente os valores dos quatro primeiros pontos 0,929 0,930 0,999 - 0,89 0,78 1,23 0,82 De acordo com os parâmetros apresentados na Tabela 6.11, pode-se estabelecer para estes sistemas competitivos a seguinte ordem de afinidades (Kads de Langmuir e A de Freundlich) dos sedimentos: Para o intervalo de valores onde o modelo de Langmuir predomina T-4 >>> N-31 > N-19 > T-23 Para o intervalo de valores onde o modelo de Freundlich predomina: N-19 >> T-23 > T-4 Quanto à capacidade de adsorção (só definida pelo modelo de Langmuir) N-19 > T-4 ≅ N-313 > T-23 3 Isoterma de N-31 considerando somente os valores dos quatro primeiros pontos 154 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 6.3.3 – Comparação entre as Isotermas Não Competitivas e as Isotermas Competitivas. A comparação do efeito da competição será feita comparando-se as isotermas não competitivas e competitivas agrupadas por metais em cada sedimento. • Arsênio A comparação das isotermas de As (Figura 6.83) aponta para um aumento da adsorção em condições competitivas em todos os sedimentos estudados. Os parâmetros da isoterma de Langmuir, apresentados na Tabela 6.12, permite comparar melhor o comportamento das isotermas não competitivas e competitivas. A afinidade do As com as superfícies é maior para todos os sistemas competitivos como mostram os valores de Kads e A. Isotermas de As em T-4 não competitiva x competitiva a) Isotermas de As em T-23 não competitiva x competitiva b) 60 50 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) 50 40 30 20 10 40 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0,0 1,0 0,2 Não Competitiva Competitiva Não competitiva Isotermas de As em N-19 não competitiva x competitiva c) 0,6 0,8 1,0 0,8 1,0 Competitiva Isotermas de As em N-31 não competitiva x competitiva d) 100 40 80 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) 0,4 Ce (mmol L-1) Ce (mmol L-1) 60 40 20 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Ce (mmol L ) Não competitiva 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol L-1) -1 Não competitiva Competitiva Competitiva Figura 6.83 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de As nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Uma hipótese para explicar o fenômeno do aumento da adsorção de As, na forma do ânion arsenato, em um meio competitivo seria o menor pH destas soluções comparado com o pH das soluções não competitivas. A metodologia adotada (Morera et al., 2001) não prevê o controle de pH durante os processos. Entretanto, o pH das soluções contendo somente As (isoterma não competitiva) variou entre 6 e 3 em função do aumento da alíquota utilizada para concentrar as soluções. Na bateria de soluções competitivas o pH variou de 4 a 3, mais baixo que o pH das soluções não competitivas. Entretanto, Gao & 155 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Mucci (2001) estudaram a adsorção competitiva de As em goethita e concluem que a dependência da adsorção com o pH só se dá para pH > 6,5. Outra hipótese possível para este explicar o aumento da adsorção de As pode ser a formação de complexos ternários do Tipo A (Cornell & Schwertmann, 1996) descritos no Capítulo 3. Estes complexos são formados pela coordenação de um metal bivalente à superfície do óxido e a um ligante: ≡Fe – OH + M+2 + L– ≡FeOM – L + H+ Tabela 6.12 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de As nos sedimentos estudados Kads A Csm β T-4 NC C 25,2 46,7 22,2 40,7 0,315 0,270 28,3 48,7 T-23 NC C 30,7 41,4 27,8 37,7 0,369 0,250 36,3 44,5 N-19 NC C 53,7 134 46,1 106 0,389 0,410 55,3 81,2 N-31 NC C 27,4 39,5 25,7 36,0 0,534 0,410 32,1 36,6 No sistema estudado estão presentes os cátions Cu+2, Cr+3 e Pb+2 e o ânion arsenato, cloreto e nitrato agindo como ligantes. A presença de um cátion trivalente no sistema pode aumentar ainda mais a formação de complexos deste tipo. Os ânions cloreto e nitrato influenciam de modo insignificante a adsorção do ânion arsenato (Livsey & Huang, 1981). Efeitos eletrostáticos e a possível formação de complexos superficiais ternários foram os mecanismos propostos por Aoki & Munemori (1982) e Khaodhiar et al. (2000) para explicar o aumento da adsorção de cromato em óxidos de ferro em presença de cátions Pb+2 e Cu+2. • Cromo De maneira geral, a adsorção competitiva aumenta a adsorção de Cr. A Figura 6.84 compara as isotermas não competitivas e competitivas para cada sedimento estudado. Como pode ser visto, as isotermas indicam que os sedimento da barragem de Timbopeba apresentam comportamento diferente do apresentado pelos sedimentos da barragem de Natividade. As Figuras 6.84 a e b e os valores do parâmetro b na Tabela 6.13, mostram que a adsorção competitiva nos sedimentos T-4 e T-23 é inicialmente menor que a não competitiva enquanto esta isoterma segue o comportamento compatível com o modelo de Langmuir. No entanto, a mudança no comportamento da adsorção provoca a inflexão fazendo com que a 156 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. isoterma competitiva cruze a isoterma não competitiva. Já as isotermas dos sedimentos N-19 e N-31 (Figura 6.84 c e d) mostram que a adsorção do Cr é sempre maior nos sistemas competitivos. Tabela 6.13 – Comparação dos parâmetros de Langmuir para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Cr nos sedimentos estudados T-4 NC C Kads 310 333 b 10,7 7,25 Csm 14,7 7,06 T-23 NC C 33,6 223 15,7 5,61 14,1 5,07 N-19 NC C 3,13 190 66,7 26,5 38,5 24,5 N-31 NC C 12,0 26,6 12,2 15,0 10,50 12,90 Este comportamento do Cr é anômalo e diferente do encontrado por (Morera et al., 2001). É de se esperar que com a competição pelos diversos sítios, a adsorção dos cátions seja diminuída. As hipóteses levantadas para se explicar este comportamento são as mesmas aventadas anteriormente para o As. Isotermas de Cr em T-4 não competitiva x competitiva a) Isotermas de Cr em T-23 não competitiva x competitiva b) 60 40 Cs (mmo l kg-1) Cs (mmol kg-1) 50 30 20 10 50 40 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0,0 1,0 0,2 Não competitiva Competitiva Não competitiva Isotermas de Cr em N-19 não competitiva x competitiva c) 0,6 0,8 1,0 0,8 1,0 Competitiva Isotermas de Cr em N-31 não competitiva x competitiva d) 40 100 80 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) 0,4 Ce (mmol L-1) Ce (mmol L-1) 60 40 20 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,2 0,4 0,6 -1 Ce (mmol L ) Ce (mmol L-1) Não competitiva 0,0 Competitiva Não competitiva Competitiva Figura 6.84 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Cr nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 157 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A diminuição do pH na construção das soluções das isotermas competitivas, entretanto, poderia limitar e não incrementar a adsorção já que a adsorção de cátions é aumentada com o aumento do pH, como discutido anteriormente no Capítulo 3 (Figura 3.7). Outra hipótese para o aumento da adsorção de Cr em um sistema competitivo seria a formação de complexos ternários do Tipo B pela adsorção de um ânion polidentado à superfície e a um metal (Cornell & Schwertmann,1996): ≡Fe – OH + L¯ + M+2 ≡FeO – LM+2 + OH¯ Uma vez que a adsorção do ânion arsenato é altamente específica haveria a formação de uma primeira camada de As sobre sítios provocando o aparecimento de uma nova superfície carregada negativamente. ≡Fe – OH + H2AsO4¯ ≡FeAsO4H¯ + H2O ≡FeAsO4H¯ + Cr+3 ≡FeAsO4Cr+ + H+ Apesar de existir também em valores de pH mais baixos, a formação do complexo ≡FeAsO4H¯ só é predominante para valores de pH acima de 6 (Gao & Mucci, 2001), o que limita mas não invalida esta hipótese. • Cobre O comportamento do Cu segue na mesma direção do comportamento mostrado pelo Cr, porém, com intensidade diferente, como pode ser observado na Figura 6.85. As isotermas não competitivas apresentam uma adsorção mais intensa e mostram afinidades maiores nos primeiros pontos, tendência esta confirmada pelos parâmetros das isotermas de Langmuir (Tabela 6.14). Entretanto, a partir de determinada concentração, que varia para cada sedimento, a isoterma competitiva muda de comportamento e o aumento da adsorção, discutido anteriormente, faz com que a adsorção do Cu seja maior no sistema competitivo para concentrações altas, próximas no final do intervalo estudado. No caso específico do sedimento N-19 (Figura 6.85 c) esta situação não chega a ocorrer e a isoterma apenas mostra uma tendência do comportamento onde, para concentrações de equilíbrio maiores que 0,9 mmol L-1, a maior adsorção se dará para o Cu no sistema competitivo. O mecanismo de adsorção de Cu é possivelmente o mesmo proposto anteriormente para o Cr. O ambiente competitivo provoca interações eletrostáticas ausentes nos ambiente não competitivo e conseqüente formação de complexos superficiais ternários. Estes complexos seriam os responsáveis pelo aumento de adsorção de Cu nos sistemas competitivos em relação aos sistemas não competitivos. 158 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Isotermas de Cu em T-4 não competitiva x competitiva Isotermas de Cu em T-23 não competitiva x competitiva b) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 40 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) a) 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0,0 1,0 0,2 Não competitiva Competitiva Não competitiva Isotermas de Cu em N-19 não competitiva x competitiva c) 0,6 0,8 1,0 0,8 1,0 Competitiva Isotermas de Cu em N-31 não competitiva x competitiva d) 40 60 50 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) 0,4 Ce (mmol L-1) Ce (mmol L-1) 40 30 20 10 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0,0 1,0 0,2 Ce (mmol L ) Não competitiva 0,4 0,6 Ce (mmol L-1) -1 Competitiva Não competitiva Competitiva Figura 6.85 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Cu nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Tabela 6.14 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Cu nos sedimentos estudados Kads b Csm • T-4 NC C 310 333 10,7 7,25 14,7 7,06 T-23 NC C 33,6 223 15,7 5,61 14,1 5,07 N-19 NC C 3,13 190 66,7 26,5 38,5 24,5 N-31 NC C 10,3 26,6 14,1 15,0 11,50 12,90 Chumbo A adsorção de chumbo foi deprimida em todos os quatro sistemas competitivos. Este resultado concorda com as observações de Christl & Kretzschmar (1999) e Dong et al. (1999). As isotermas apresentadas na Figura 6.86 e os parâmetros de Langmuir (Tabela 6.15) evidenciam a diminuição da adsorção de Pb em ambiente competitivo. 159 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... b) Isotermas de Pb em T-4 não competitiva x competitiva 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) a) 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Isotermas de Pb em T-23 não competitiva x competitiva 35 30 25 20 15 10 5 0 0,0 1,0 0,2 Não competitiva Não competitiva 0,6 0,8 1,0 0,8 1,0 Competitiva Isotermas de Pb em N-31 não competitiva x competitiva d) 40 70 60 50 40 30 20 10 0 Cs (mmol kg-1) Cs (mmol kg-1) Competitiva Isotermas de Pb em N-19 não competitiva x competitiva c) 0,4 Ce (mmol L-1) Ce (mmol L-1) 30 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 Ce (mmol L ) Não competitiva 0,4 0,6 Ce (mmol L-1) -1 Competitiva Não competitiva Competitiva Figura 6.86 – Comparação entre as isotermas não competitivas e as isotermas competitivas de Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 Tabela 6.15 – Comparação dos parâmetros de Freundlich para as isotermas competitivas (C) e não competitivas (NC) de Pb nos sedimentos estudados T-4 NC C Kads 2840 12320 b 17,6 4,06 Csm 33,6 4,41 T-23 NC C 3320 459 13,0 3,62 30,4 3,46 N-19 NC C 2333 726 47,6 27,5 61,9 28,9 NC 6150 8,13 9,8* C 1970 5,1 4,38 * baseado apenas nos primeiros pontos onde a isoterma é coerente com o comportamento de Langmuir. N-31 A diminuição da adsorção de Pb é mais flagrante nos sedimentos T-4, T-23 e N-19 (Figura 6.86 a, b e c) onde o decréscimo de adsorção ocorre em toda a extensão das concentrações utilizadas na elaboração das isotermas. O sedimento N-31 apresentou isotermas anômalas de Pb tanto para os sistemas não competitivo, quanto para o sistema competitivo. Neste sedimento há um pequeno decréscimo de adsorção 160 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. de Pb para o intervalo 0,0< Ce < 0,6. Para o resto do intervalo de Ce estudado a adsorção de Pb é idêntica para os dois ambientes (Figura 6.86 d). O comportamento do Pb é coerente com o ambiente competitivo onde a presença de outros metais inibe a sua adsorção. A pequena alteração no processo de adsorção que ocorre no final das isotermas competitivas não é suficiente para provocar uma adsorção maior que a observada nos ambientes não competitivos, como ocorreu com o Cr e com o Cu. 6.3.4 – Afinidade dos elementos para com os sedimentos. Utilizando-se os dados obtidos e discutidos nos itens anteriores pôde-se definir, tanto para o sistema não competitivo, quanto para o sistema competitivo, as afinidades de cada elemento em relação a determinados sedimentos • Sistemas não competitivos Comparando-se as isotermas dos elementos estudados para cada sedimento isoladamente, ficam evidenciadas as afinidades dos sedimentos para com os metais. A Figura 6.87 mostra claramente que a variação das afinidades ocorre em função do aumento da concentração de metais em equilíbrio (Ce). T-23 T-4 40 Cs (mmol·kg ) 30 -1 -1 Cs (mmol·kg ) 40 20 10 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 30 20 10 0 1,0 0,0 -1 Ce (mmol·L ) 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,8 1,0 -1 Ce (mmol·L ) As Cr Cu As Pb N-19 Cu Pb N-31 80 40 Cs (mmol·kg-1) Cs (mmol·kg-1) Cr 60 40 20 30 20 10 0 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 As Cr Cu 0,0 0,2 0,4 0,6 Ce (mmol·L-1) Ce (mmol·L -1 ) Pb As Cr Cu Pb Figura 6.87 – Isotermas comparativas da adsorção não competitivas dos elementos As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 161 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Para baixas concentrações de equilíbrio, fica evidente que todos os sedimentos adsorvem Pb e Cu mais intensamente e com maior energia que os demais elementos. Entretanto, à medida que se aumenta a concentração dos íons em solução ocorre o “cruzamento” das isotermas de Pb e Cu principalmente pela de As. Este comportamento se justifica uma vez que as isotermas de As não se estabilizam em patamar, já que seguem o modelo de Freundlich, como descrito anteriormente. Os valores que definem estas faixas de baixa ou alta Ce variam para cada sedimento, como pode ser visto na figura 6.87. De um modo geral pode-se representar as afinidades da seguinte maneira: para baixos valores de Ce : Cu ≈ Pb > As ≈ Cr para altos valores de Ce: Pb > As > Cu > Cr Exceção deve ser feita ao sedimento N-31 que apresentou uma fraca afinidade pelo Pb, para altas concentrações de equilíbrio, para as quais a seguinte relação pode ser expressa As > Cu > Cr > Pb. • Sistemas competitivos Conforme visto anteriormente, o sistema competitivo provoca mudança no comportamento dos metais, ampliando a adsorção de As e Cr e deprimindo a adsorção de Pb (Figura 88). T-23 60 50 40 30 20 10 0 -1 Cs (mmol·kg ) -1 Cs (mmol·kg ) T-4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 60 50 40 30 20 10 0 0,0 -1 Ce (mmol·L ) 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 -1 Ce (mmol·L ) As Cr Cu As Pb N-19 Pb 50 Cs (mmol·kg-1) Cs (mmol·kg-1) Cu N-31 100 80 60 40 20 40 30 20 10 0 0 -20 0,0 Cr 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 As Cr Cu 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 Ce (mmol·L-1) Ce (mmol·L-1 ) Pb As Cr Cu Pb Figura 6.88 – Isotermas comparativas da adsorção competitiva dos elementos As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 162 1,0 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Desta forma, a seqüência de afinidades apresentada para os sistemas competitivos irá ser bem diferente da indicada acima, para os sistemas não competitivos. Uma característica que permanece é a alteração das afinidades à medida que cresce a quantidade de íons em solução, o que obriga a definir faixas de afinidade de acordo com a concentração. De uma maneira geral, pode-se estabelecer a seguinte relação de afinidades para os sedimentos estudados em condições competitivas: para baixos valores de Ce : As > Pb ≈ Cr ≥ Cu para altos valores de Ce: As ≥ Cr > Cu > Pb 6.4 – INTERFERÊNCIA COMPETITIVA O objetivo destes experimentos é entender e quantificar os efeitos causados pela interferência que a presença de um elemento exerce sobre os outros quando competem entre si em concentrações mínimas suficientes para saturar as superfícies dos sedimentos. A partir do estudo das isotermas não competitivas foram obtidas as concentrações dos elementos suficientes para saturar as superfícies dos minerais, de acordo com o estabelecido no Capítulo 4, Itens 4.9 e 4.10. O Anexo I apresenta as isotermas e os cálculos realizados para se obterem as concentrações iniciais das soluções usadas nos experimentos de interferência competitiva (Coint) e apresentadas na Tabela 6.16. Esta tabela mostra ainda o desenho do experimento de interferência competitiva, elaborado de modo a testar a interferência entre os metais combinados em níveis de competição. Entretanto, este experimento ficou sujeito às limitações das solubilidades dos compostos nas misturas. Por isso, de todas as combinações binárias, ternárias e quaternárias propostas acima, duas não puderam ser estudadas uma vez que houve formação de precipitado. São elas a combinação binária 2.6 (As-Pb) e a combinação ternária 3.3 (As-Cu-Pb) (Tabela 6.16). Como pode ser observado na Tabela 6.16, as concentrações utilizadas para saturar as superfícies são diferentes para cada sistema elemento-sedimento. Por isso e para facilitar a interpretação, os resultados são apresentados em gráficos de barra nas Figuras 6.89 a 6.92. Nestes gráficos as alturas representam a diferença, em porcentagem, entre a quantidade dos elementos adsorvida quando competindo entre si (níveis 2, 3 e 4, Tabela 6.16) em relação à quantidade destes elementos adsorvida sem competição (nível 1, Tabela 6.16). Os resultados numéricos são apresentados no Anexo II, Tabelas II.9 a II.12. 163 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela 6.16 – Combinações entre os elementos, usadas no procedimento de interferência competitiva apresentando 5 níveis de competição entre As, Cr, Cu e Pb para os sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Os valores representam a concentração inicial de cada elemento suficiente para saturar a superfície (Coint) dos sedimentos (em mmol·L-1) T-4 Nível de competição T-23 N-19 N-31 As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb 0 0 0 0 0 0 0 2,5 1,4 0 0,0 0 2,1 0,0 0,0 0,0 0 0 0 1,1 0 0 2,4 0 0 3,3 0 0 0 0 2,0 0 0 0 0 0,8 0 0 2,0 0 0 8,0 0 0 0 0 0,9 0 0 0 0 2,4 0 0 2,7 0 0 2,5 0 0 0 0 2,1 0 0 0 0 0,7 Nível 2 (binário) 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 0,0 2,5 1,4 0 0,0 0 1,4 2,5 0,0 2,5 1,4 0 2,1 2,1 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,1 0,0 1,1 1,1 0 3,3 2,4 0 2,0 0 2,4 0 0 0 2,4 0,8 0 2,0 3,3 0 0 3,3 0 0 0 0 2,0 0,8 0 8,0 2,0 0 0,9 0 2,0 0 0 0 2,0 2,4 0 0,9 8,0 0 0 8,0 0 0 0 0 0,9 2,4 0 2,5 2,7 0 2,1 0 2,7 0 0 0 2,7 0,7 0 2,1 2,5 0 0 2,5 0 0 0 0 2,1 0,7 Nível 3 (ternário) 3.1 3.2 3.3 3.4 1,4 2,5 0,0 2,5 1,4 0 1,4 2,5 2,1 2,1 2,1 0,0 0,0 1,1 1,1 1,1 2,0 3,3 2,4 0 0 3,3 2,4 0,8 2,0 0 2,4 0,8 2,0 3,3 0 0,8 0,9 8,0 2,0 0 0 8,0 2,0 2,4 0,9 0 2,0 2,4 0,9 8,0 0 2,4 2,1 2,5 2,7 0 0 2,5 2,7 0,7 2,1 0 2,7 0,7 2,1 2,5 0 0,7 4.1 1,4 2,5 2,1 1,1 2,0 3,3 2,4 0,8 0,9 8,0 2,0 2,4 2,1 2,5 2,7 0,7 Nível 0 (branco) 0.1 Nível 1 (simples) 1.1 1.2 1.3 1.4 Nível 4 (quaternário) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Os resultados obtidos apresentam uma tendência bastante semelhante para os quatro sedimentos estudados e serão descritos a seguir para cada nível de competição estudado. • Competição Binária (Nível 2) Os resultados apresentados para o nível 2 nos quatro sedimentos mostram características qualitativas bastante semelhantes como pode ser observado comparando a letra a) das Figuras 6.89 a 6.92. A competição Cr x Cu mostra uma diminuição na adsorção de ambos os metais, enquanto na competição Cu x As o Cu sempre apresenta uma diminuição na adsorção enquanto o As tem sua adsorção aumentada. A competição Cu x Pb provoca uma diminuição na adsorção de ambos os metais. A competição Cr x As provoca o aumento na adsorção de ambos os elementos. A competição Cr x Pb, por sua vez, induz a um aumento na adsorção de Cr e uma diminuição na adsorção de Pb. 164 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. a) 80 Cr x Cu T-4 - competição nível 2 Cu x As Cu x Pb Cr x As Cr x Pb Cr As 53 55 60 40 As 20 20 Cr 11 0 -20 -40 Cr -23 Cu -25 Cu -29 -60 -80 Adsorçãao em relação ao Nível 1 (%) -100 100 Cu -77 Pb -97 b) T-4 - competição nível 3 Cr x Cu x As Cr x Cu x Pb Cr x As x Pb 80 60 40 Pb -43 Cr 65 As 54 Cr 37 As 66 20 0 -20 Cr -9,9 -40 -60 Pb -64 -80 -100 100 80 60 Cu -89 Cu -88 c) T-4 - competição nível 4 Cr x Cu x As x Pb Pb -89 As 68 Cr 53 40 20 0 -20 -40 -60 -80 -100 Cu -83 Pb -96 Figura 6.89 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento T-4 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4. A altura das colunas representa a variação da adsorção em porcentagem tendo como referência (0%) a adsorção do elemento em condições não competitivas (nível 1) 165 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... T-23 - competição nível 2 a) Cu x As Cr x Cu Cu x Pb Cr x As Cr x Pb As 89 100 As 66 80 60 Cr 27 40 Cr 11 20 0 -20 Cr -8,3 -40 -60 -80 -100 Pb Cu -44 -48 Cu -61 Cu -89 T-23 - competição nível 3 b) Cr x Cu x As Cr x Cu x Pb Cr x As x Pb As 99 As 87 100 Adsorção em relação ao Nível 1 (%) Pb -66 80 60 40 Cr 36 Cr 35 20 0 -20 Cr -14 -40 -60 Pb -72 -80 -100 Cu -89 c) Pb -79 Cu -90 T-23 - competição nível 4 Cr x As x Pb x Cu As 91 100 80 60 40 Cr 8,9 20 0 -20 -40 -60 Cu -63 -80 -100 Pb -78 Figura 6.90 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento T-23 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4. A altura das colunas representa a variação da adsorção em porcentagem tendo como referência (0%) a adsorção do elemento em condições não competitivas (nível 1) 166 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. a) -100 Cr x Cu N-19 - competição nível 2 Cu x As Cu x Pb Cr x As Cr x Pb Cr 71 -80 60 As As 40 Cr 37 29 31 20 0 -20 -40 Cr -15 Pb -18 Cu 32 -60 Cu -56 -80 Adsorção em relação ao Nível 1 (%) -100 80 Cu -82 b) N-19 - competição nível 3 Cr x Cu x As Cr x Cu x Pb Cr x As x Pb 60 40 Pb -30 Cr 40 As 34 Cr 32 As 40 20 0 -20 Cr -19 Pb -29 -40 Pb -37 -60 -80 -100 Cu -78 c) 60 40 Cu -81 N-19 - competição nível 4 Cr x Cu x As x Pb As 39 Cr 30 20 0 -20 -40 Pb -45 -60 -80 Cu -78 Figura 6.91 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento N-19 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4. A altura das colunas representa a variação da adsorção em porcentagem tendo como referência (0%) a adsorção do elemento em condições não competitivas (nível 1) 167 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... a) 100 Cr x Cu N-31 - competição nível 2 Cu x As 80 Cu x Pb Cr x As Cr 64 As 61 Cr x Pb As 82 Cr 64 60 40 20 0 -20 Cr -8,9 -40 -60 -80 Pb -11 Pb Cu -27 -38 Cu -31 Cu -61 -100 100 Adsorção em relação ao Nível 1 (%) 80 60 b) N-31 - competição nível 3 Cr x Cu x As Cr x Cu x Pb Cr x As x Pb As 94 As 75 Cr 64 Cr 1,4 40 20 0 -20 -40 -60 -80 Pb -18 Cr -30 Pb -50 Cu -62 Cu -63 -100 N-31 - competição nível 4 Cr x Cu x As x Pb c) 100 Cr 96 80 As 96 60 40 20 0 -20 -40 -60 Cu -63 -80 Pb -53 -100 Figura 6.92 – Porcentagem de cada elemento adsorvida no sedimento N-31 em relação aos níveis de competição 2, 3 e 4. A altura das colunas representa a variação da adsorção em porcentagem tendo como referência (0%) a adsorção do elemento em condições não competitivas (nível 1) 168 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. • Competição Ternária (Nível 3) Como no nível 2, os resultados do nível 3 (competição ternária) apresentam-se qualitativamente semelhantes (letra b Figuras 6.89 a 6.92). A competição Cr x Cu x As apresenta, para os quatro sedimentos, um aumento na adsorção de Cr e As e uma diminuição da adsorção de Cu. A competição Cr x Cu x Pb provoca a diminuição na adsorção dos 3 metais e a competição Cr x As x Pb eleva a adsorção de Cr e As e deprime a de Pb. • Competição Quaternária (Nível 4) Este nível de competição é equivalente ao encontrado na região do ponto B (Anexo I) nas isotermas e confirma as conclusões obtidas anteriormente. Em todos os sedimentos tanto os experimentos de interferência, quanto as isotermas na região do ponto B apresentam, em condições competitivas, um aumento na adsorção de As e Cr e uma diminuição na adsorção de Cu e Pb. A partir das tendências apresentadas acima, as seguintes relações podem ser determinadas em função da presença de um determinado elemento na adsorção de outro: • A competição sempre deprime a adsorção de Pb como pode ser observado nos quatro sedimentos e nos três níveis de competição mostrados nas Figuras 6.89 a 6.92. • A adsorção do Cu é sempre diminuída em todos sistemas competitivos em que toma parte. • O As apresenta um aumento na adsorção em todos os sistemas competitivos. • O Cr apresenta um comportamento bipolar, dependendo dos interferentes presentes no sistema. Tende a diminuir a adsorção para o sistema binário com o Cu e no sistema ternário com o Cu e Pb. No sistema binário com o Pb e em todos os sistemas onde o As está presente, o Cr tem sua capacidade de adsorção aumentada. A disputa por sítios de adsorção similares explica a diminuição na adsorção dos metais quando o As não está presente no sistema. A presença do As e o concomitante aumento na adsorção de Cr indica que, provavelmente, estes elementos formam complexos de superficiais ternários, aumentando o número de sítios disponíveis para a adsorção de Cr através da formação de complexos superficiais ternários Tipo B como sugerido anteriormente pela análise das isotermas no item 6.3.4. O aumento na adsorção de As em todos os sistemas competitivos reforça a proposta anterior de formação de complexos superficiais ternários Tipo A (item 6.3.4). Desta forma, o As, além de adsorver nos sítios superficiais específicos, teria sua adsorção aumentada pela formação dos complexos ternários com os metais adsorvidos. 169 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... A diminuição da adsorção de Cu é coerente com o observado nas isotermas, considerando-se que as concentrações de Cu utilizadas nestes experimentos nunca são superiores às concentrações dos pontos onde as isotermas competitivas de Cu passam a adsorver mais que as isotermas não competitivas (Figura 6.85). O chumbo apresenta-se extremamente sensível à competição, o que pode indicar uma falta de sítios altamente específicos para este metal. Esta falta de afinidade e a conseqüente facilidade com que o Pb deixa de adsorver a superfície pode ser a causa da forma anômala das isotermas de Pb, onde pequenas variações no sistema podem provocar a perda da capacidade de adsorção do Pb. Entretanto, o aumento da adsorção de Cr no sistema binário Cr-Pb não pode ser explicado por nenhuma das hipóteses levantadas acima e por isso é um ponto que permanece em aberto. A Figura 6.93 mostra ainda que à medida que cresce o nível de competição, cresce também a quantidade de metal adsorvido. Este gráfico foi elaborado somando-se a concentração de todos os íons adsorvidos em cada sedimento, em cada nível de competição. Este comportamento pode evidenciar a ocorrência de adsorção de algumas espécies em sítios específicos para os quais não há competição, somada à adsorção dos íons em complexos ternários. A análise do gráfico da Figura 6.93 fornece ainda uma clara visão da capacidade de adsorção de cada sedimento, independentemente do íon a ser adsorvido. Desta forma, pode-se ordenar os sedimentos quanto a sua capacidade de adsorção da seguinte maneira: N-19 >> T-4 > T-23 > N-31 Nível 1 Nível 2 T-4 T-23 N-19 Nível 3 CrxAsxPbxCu CrxAsxPb CrxCuxAs CrxCuxPb CrxAs CuxAs CrxPb CuxPb CuxCr Pb As Cr 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Cu Cs (mmol kg-1) Adsorção total de íons Nível 4 N-31 Figura 6.93– Soma total de íons adsorvidos pelos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 em cada nível de competição 170 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Nível 1 Nível 2 T-4 T-23 N-19 Nível 3 CrxAsxPbxCu CrxAsxPb CrxCuxAs CrxCuxPb CrxAs CuxAs CrxPb CuxPb CuxCr Pb As Cr 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 Cu Ps (µmol m-2) Densidade de Adsorção Nível 4 N-31 Figura 6.94 – Densidade de adsorção nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 em cada nível de competição A Figura 6.94 mostra a densidade de adsorção para cada sedimento. Por esta figura percebe-se que a adsorção de íons por m2 de sedimento é, de um modo geral, maior nos sedimentos da barragem de Timbopeba e que o sedimento N-19 adsorve menos íons por m-2 que o sedimento N-31. 6.5 - FRACIONAMENTO DOS SEDIMENTOS APÓS ADSORÇÃO A dessorção dos metais adsorvidos foi executada para as amostras nos níveis 1 e 4 dos experimentos de adsorção competitiva através de fracionamento por extração seqüencial (BCR). Como os valores de concentração inicial (Coint) usados para cada elemento e sedimento são diferentes, o resultado da extração, apresentado na Figura 6.95, é dado na forma de porcentagem do metal retido em casa fase, possibilitando assim a comparação entre as quantidades retidas em cada fase dos quatro sedimentos estudados. Os valores extraídos são apresentados nas Tabelas II.13 e II.14 no Anexo II. Proporcionalmente, a adsorção ocorre de maneira semelhante para cada elemento em todos sedimentos quando comparados por nível competitivo. Entretanto, a distribuição dos metais nas fases extraídas após a adsorção mostra-se bastante diferente da distribuição dos metais obtida por fracionamento dos sedimentos íntegros. Nestes, exceto para o Pb, os metais encontram-se associados quase que exclusivamente à fração menos lábil. A extração realizada após os procedimentos de adsorção mostrou que os metais se associaram preferencialmente às fases mais lábeis dos sedimentos: fase trocável e fase óxidos. Esta diferença de comportamento se justifica uma vez que a extração dos sedimentos integrais mobiliza os metais adsorvidos, co-precipitados ou pertencentes à estrutura cristalina dos minerais (metais residuais) dissolvidos em cada fração extraída. Ao se promover a adsorção, uma grande quantidade de metais será retida nos sítios superficiais disponíveis em cada fase. Estes metais adsorvidos serão 171 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... totalmente mobilizados pelo processo de extração. A presença de um número maior de sítios superficiais ativos nas frações mais lábeis comparado com o número de sítios de alta energia presentes nas frações menos lábeis será responsável pela concentração do processo de adsorção nas frações trocáveis e óxido (Morera et al., 2001). Extração do sedimento integral A) 100% 100% 80% 80% 60% 60% 40% 40% 20% 20% 0% As Cr Cu Pb As T-4 Cr Cu Pb 0% As Cr Cu Pb As Cr N-19 T-23 Cu Pb N-31 Extração do sedimento após adsorção não competitiva (Nível 1) B) 100% 100% 80% 80% 60% 60% 40% 40% 20% 20% 0% 0% As Cr Cu Pb As T-4 Cr Cu Pb As T-23 Cr Cu Pb As Cr N-19 Cu Pb N-31 Extração do sedimento após adsorção competitiva (Nível 4) C) 100% 100% 80% 80% 60% 60% 40% 40% 20% 20% 0% As Cr Cu Pb T-4 E1 - Fase ío ns tr ocáveis As Cr Cu T-23 Pb 0% As Cr Cu Pb N-19 E2 - Fase óxidos E3 - Fase su lfetos - maté ria o rgânica As Cr Cu Pb N-31 E4 - Fase residual Figura 6.95 – Porcentagem de As, Cr, Cu e Pb adsorvidos pelos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. (A) indica a proporção dos quatro elementos retidos nos sedimentos integrais, ou seja, antes de serem submetidos ao processo de adsorção. (B) Extração dos sedimentos após a adsorção não competitiva (nível 1 da Tabela 6.16) e (C) extração dos sedimentos após a adsorção competitiva (nível 4 da Tabela 6.16) A Figura 6.95 evidencia que na adsorção não competitiva, de uma maneira geral, a fase trocável é a que adsorveu maior quantidade de íons. Já a adsorção competitiva promoveu uma adsorção preferencial na fase óxidos. Nos quatro sedimentos a adsorção não competitiva das espécies mostra que o As apresenta maior afinidade com a fração residual (≥ 50% para todos os sedimentos), seguido pela fração óxido (20% em T-4 e T-23, 8% em N-19 e 38 % em N-31) e pela fração íons trocáveis (< 15%). O Cr mostra uma 172 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. maior afinidade com a fração óxido (entre 50 e 65%) e menor quantidade associada à fração sulfetomatéria orgânica (<12%). Apenas o sedimento N-19 apresentou cromo associado à fração residual (11%). Tanto o Cu quanto o Pb são fixados preferencialmente na fração trocáveis (> 60%, exceto N-19: 42%), seguido por uma porção menor associada à fração óxido (Cu variando de 10 a 30 % e Pb variando de 15 a 56 %). A partição dos elementos adsorvidos sob condições de competição se diferencia um pouco da partição observada nos sedimentos adsorvidos em condições não competitivas. Nos quatro sedimentos ocorre uma sensível diminuição da porcentagem de As associada à fração residual e concomitante aumento da adsorção na fase óxidos, que varia entre 27 % em T-23 a 47 % em N-31. Em todos os sedimentos foi observado ainda, um pequeno aumento de menos de 2 pontos percentuais na adsorção nas frações sulfeto-matéria orgânica e trocáveis. O Cr apresenta um aumento na adsorção na fração óxido nos sedimentos T-4 e N-19 e na fração sulfeto-matéria orgânica nos sedimentos T-23 e N-31. O sedimento N-19, sob condições competitivas, apresenta um aumento significativo da adsorção de Cr na fase óxido e concomitante diminuição da associação à fase trocável. O Cu, sob condições competitivas, apresenta um considerável aumento na adsorção na fase óxidos (25% em N-31 a 59% em N-19), entretanto, a fração trocável ainda é responsável por mais de 50% da adsorção nos sedimentos T-23 e N-31. O Pb apresentou, sob condições competitivas, um importante aumento na adsorção na fase óxido, em detrimento da adsorção na fração trocável, predominante na adsorção não competitiva. Pelo exposto acima, pode-se perceber que exceto o As, todos os outros elementos apresentam maior afinidade pelas fases mais lábeis. Sob condições competitivas, a porcentagem de adsorção na fração óxido aumentou em todos os quatro sedimentos e para todos os metais, demonstrando claramente sua importância na definição da capacidade de adsorção estes sedimentos. A adsorção nas fases mais lábeis significa ainda que estes elementos podem ser facilmente remobilizados se o sedimento for submetido a uma ambiente ácido em presença de um agente complexante (extração das Etapas 1 e 2 pelo método BCR). Deve-se considerar aqui que a fase residual destes sedimentos é composta também por óxidos de ferro cristalinos, conforme sugerido anteriormente neste capítulo (item 6.2, Figura 6.1). Assim, a presença marcante do As na fase residual confirma sua grande afinidade com sítios de alta energia presentes nos óxidos de ferro, conforme as isotermas já haviam mostrado. Esta ligação mais forte permite que o As continue fixado aos óxidos residuais, sendo extraído apenas quando as condições se tornam mais agressivas, como acontece na Etapa 4. Este resultado demonstra que a associação de As com os óxidos de ferro transformam estes sedimentos em repositórios quimicamente favoráveis e ambientalmente seguros para o As. 173 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 174 CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES Este trabalho foi desenvolvido para investigar a composição geoquímica dos sedimentos associados à mineração de ferro na região leste do Quadrilátero Ferrífero. Os objetivos fundamentais foram: • Identificação e quantificação dos principais metais presentes nos sedimentos das barragens de Timbopeba e Natividade. • Avaliar a existência de contaminação potencial destes sedimentos por metais nocivos à biota. • Investigar a composição geoquímica dos minérios de ferro e relacionar seu conteúdo em metais traço com o conteúdo de metais traço presentes nos sedimentos das barragens de contenção de Natividade e Timbopeba. • Avaliar o a capacidade de adsorção dos sedimentos das referidas barragens para os elementos traço As, Cr, Cu e Pb. • Identificar a afinidade dos metais por cada fase mineralógica dos sedimentos e, conseqüentemente, sua geodisponibilidade. • Avaliar o possível uso destes sedimentos como adsorvente natural para o controle e limpeza de áreas contaminadas por metais. Após os estudos descritos no corpo desta tese, chegou-se às seguintes conclusões: De uma forma geral, os sedimentos da barragem de Timbopeba é mais rico em ferro e mais pobre em metais traço quando comparados aos sedimentos de Natividade. Em Timbopeba os metais se concentram na porção central da represa. As e, em menor intensidade, Cu, Cd e Ni apresentaram teores dentro dos limites considerados como de contaminação ou de provável contaminação quando comparados aos VGQS. Em Natividade Pb e Cd praticamente não apresentam valores que indicam perigo à biota. Cr e Cu apresentam valores distribuídos na faixa entre contaminação e não contaminação. Ni e Zn apresentaram valores indicativos de contaminação e As apresenta valores potencialmente danosos à biota. Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... O quociente médio de contaminação total (QMCT), que leva em consideração a associação dos contaminantes presentes no ambiente, classifica os sedimentos de Timbopeba como portadores de contaminação médio-baixa e os de Natividade encontram-se no limite entre médio-baixa e médio-alta contaminação. O fracionamento dos sedimentos selecionados em Natividade e Timbopeba mostrou que As e Cr estão associados basicamente à fase residual dos sedimentos, representada por óxidos fortemente cristalinos e alguns silicatos mais solúveis. Cu, Ni e Zn estão distribuídos em todas as frações, mas predominam na fração residual. Pb e Co são predominantemente encontrados na fração óxidos. Apesar dos estudos comparativos com VGQS apresentarem indícios de contaminação dos sedimentos, particularmente por As, os resultados do fracionamento indicam que, de um modo geral, os metais estão firmemente associados aos sedimentos. Pode-se concluir, portanto, que quantidades maiores dos elementos identificados somente seriam disponibilizadas para o meio em um curto intervalo de tempo sob condições extremamente agressivas, incompatíveis com ambientes naturais, particularmente os existentes no Quadrilátero Ferrífero. Isso significa que estes sedimentos deverão sempre ser considerados como potencialmente contaminados e portanto tratados como tal. A comparação entre os teores de metais traço presentes nos sedimentos e os teores de metais presentes nos minérios indica que existe uma contribuição exógena que provoca o enriquecimento dos sedimentos em metais. Este enriquecimento mostrou-se mais intenso nos sedimentos do reservatório de Natividade. Por outro lado, os sedimentos de Timbopeba mostraram uma boa afinidade para adsorção de metais. Assim, pode-se concluir que os sedimentos de Timbopeba e de Natividade foram enriquecidos por adsorção de metais traço provenientes da oxidação de sulfetos expostos nos antigos garimpos de ouro existentes nas imediações do complexo de Timbopeba, principalmente no entorno do reservatório de Natividade, o que justifica seus maiores teores de metais adsorvidos. A adsorção não competitiva de As pelos três sedimentos foi melhor interpretada pela utilização do modelo de Freundlich. Já Cr, Cu e Pb apresentam comportamento compatível com o modelo de Langmuir. A análise das isotermas mostra uma boa capacidade de adsorção de metais pelos sedimentos, que podem ser ordenados da seguinte forma, em relação a esta capacidade: N-19 > T-4 ≅ T-23 > N-31 Esta seqüência é válida tanto para os sistemas não competitivos quanto para os competitivos. A grande afinidade apresentada pelo sedimento N-19 pode ser explicada pela associação de fatores como sua grande superfície específica, alto teor de óxidos não cristalinos de ferro (goethita) e elevado teor em matéria orgânica quando comparado com os outros sedimentos estudados. 176 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. A afinidade dos sedimentos pelos elementos As, Cr, Cu e Pb também foi obtida pela análise das isotermas. Duas variáveis influenciaram no estabelecimento desta seqüência de afinidades: a concentração do elemento em solução e a presença de competição nos sistemas. Assim, de uma maneira geral, as seguintes afinidades de adsorção foram observadas: Cu ≅ Pb > As ≅ Cr para valores baixos de Ce em sistemas não competitivos, Pb > As > Cu > Cr para valores altos de Ce em sistemas não competitivos e As > Pb ≅ Cr ≥ Cu para valores baixos de Ce em sistemas competitivos, As ≥ Cr > Cu > Pb para valores altos de Ce em sistemas competitivos. As isotermas competitivas mostraram, para maiores concentrações de equilíbrio, aumento na adsorção de As, Cr e Cu e diminuição da adsorção de Pb quando comparadas com as não competitivas. O aumento da adsorção de As foi interpretado como provocado pela formação de complexos ternários Tipo A: superfície – metal – arsenato, além da adsorção específica típica do As. O aumento da adsorção de Cr e Cu seria resultado do mesmo efeito, mas que ocorre de modo inverso, pela formação do complexo ternário Tipo B: superfície – arsenato – metal, além da adsorção direta destes metais. A mudança no processo de adsorção destes elementos fica claramente evidente nas isotermas, sendo responsável pela alteração do modelo de adsorção de Langmuir para Freundlich. O estudo das interferências competitivas mostrou que, para as concentrações e níveis de competição estudados, existe uma forte relação positiva entre a adsorção do As e a adsorção do Cr. Esta correlação reforça a hipótese da formação de complexos ternários entre estes dois elementos. Já a relação positiva do As e Cu não é evidenciada nestes experimentos. Isto ocorre por que concentração de Cu utilizada nos experimentos de interferência é inferior à concentração de equilíbrio (Ce) a partir da qual ocorre a mudança no tipo de adsorção do Cu nas isotermas competitivas. Os procedimentos de adsorção competitiva permitem concluir ainda, que existe uma competição por sítios de adsorção entre os metais, evidenciada sempre que estes competem entre si sem a presença do ânion arsenato. Uma exceção a esse comportamento é observada quando os metais Cr e Pb competem entre si em um sistema binário. Neste caso, e nos quatro sedimentos, houve um aumento na adsorção de Cr e diminuição na adsorção de Pb. Não foram identificados os fatores responsáveis por este comportamento e por esta razão a explicação permanece em aberto. O Cu e o Pb têm sua adsorção diminuída em todos os sistemas competitivos em que fazem parte, indicando que, nas concentrações estudadas, não participam da formação de complexos ternários Tipo B 177 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... com o As. Por outro lado, o aumento da adsorção de As em presença de Cu no sistema binário indica que há formação de complexos ternário Tipo A, favorecendo a adsorção de As. O fracionamento dos sedimentos, executado após o procedimento de adsorção competitiva, mostra que Cr é adsorvido preferencialmente pela fração óxido, Cu e Pb são adsorvidos preferencialmente pela fração trocáveis e As aparece associado principalmente à fração residual. Esta associação do As à fração residual indica sua grande afinidade com os sítios de alta energia dos óxidos de ferro mais cristalinos presentes nas fases residuais. Conseqüentemente, pode-se estabelecer a seguinte ordem de tendência de disponibilização dos metais caso ocorra um processo de dessorção: Cu ≅ Pb > Cr > As. Pode-se ainda avaliar que o Cu e o Pb serão disponibilizados para o ambiente caso o meio se torne ácido e em presença de um íon complexante. O Cr e parte do As só serão disponibilizados se o meio se tornar redutor o suficiente para reduzir os óxidos de ferro. Já o restante do As, que representa mais da metade de As adsorvido, não seria mobilizado rapidamente em condições ambientais naturais . Desta forma, os resultados indicam que as barragens de Timbopeba e Natividade funcionam como barreiras efetivas na fixação dos elementos estudados, sendo repositórios quimicamente favoráveis e ambientalmente seguros para os elementos estudados neste trabalho e em especial para o As. A afinidade apresentada pelos sedimentos, a energia com que estes adsorvem os metais e a boa capacidade de adsorção evidenciada neste estudo apontam para a viabilidade geoquímica do uso destes sedimentos na fixação de metais em ambientes contaminados. 178 Referências Aguiar M. R. M. P., Novaes. A. C., Guarino, A. W. S. 2002. Remoção de metais pesados de efluentes industriais por aluminos-silicatos, Quim. Nova, 25:1145-1154. Alkmim F. F., Marshak S. 1998. Transamazonian orogeny in the southern São Francisco Craton region, Minas Gerais, Brazil: evidence for Paleoproterozoic collision and collapse in the Quadrilátero Ferrífero. Precambrian Res., 90:29-58. Al-Sewailem M. S., Khaled E. M., Mashhady A.S. 1999. Retention of copper by desert sands coated with ferric hydroxides Geoderma, 89:249–258. Aoki T., Munemori M. 1982. Recovery of chromium(VI) from wastewaters with iron(III) hydroxide I: Adsorption mechanism of chromium(VI) on iron(III) hydroxide. Water res., 16(6):793-796. Appel P. W. 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ANEXO I DETERMINÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES INICIAIS PARA AS SOLUÇÕES USADAS NAS INTERFERÊNCIAS COMPETITIVAS A quantidade de íons que uma superfície mineral consegue adsorver pode ser determinada pelo patamar desenvolvido pela isoterma de adsorção. Este valor foi denominado neste trabalho como concentração de adsorção máxima do patamar4 (Csmp). Este valor, que é a interseção do prolongamento do patamar com o eixo das ordenadas, é fornecido pelo parâmetro b da isoterma de Langmuir. Uma vez encontrado o valor de Csmp, a equação da curva fornece a menor concentração dos íons em equilíbrio na solução, suficiente para saturar a superfície (Cem). A solução inicial de menor concentração de íons capaz de saturar determinada superfície foi denominada Coint e é dada pela soma do par (Csmp, Cem) também conhecido como ponto B. Entretanto, as isotermas foram inicialmente interpretadas como sendo formadas por patamares escalonados e, para evitar valores superestimados do ponto Csm, os patamares de cada isoterma foram calculados utilizando-se apenas seus pontos iniciais. Como conseqüência, os valores encontrados para os vários pontos B não coincidem exatamente como os valores encontrados para as isotermas integrais apresentadas no Capítulo 7. Entretanto, a diferença é geralmente pequena. As isotermas das figuras I.1, I.2, I.3 e I.4 mostram os ajustes usados para se encontrar o ponto B nas isotermas de As, Cr, Cu e Pb, nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. A Tabela I.1 mostra os pares (Csmp, Cem) empregados nos cálculos das concentrações utilizadas nos experimentos de interferência. Tabela I.1 – Pares (Csmp, Cem) que definem o Ponto B, obtidos pela analise das isotermas de As, Cr, Cu e Pb nos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31. Csmp em mmol·kg-1 e Csm em mmol·L-1 Pb Cr Cu As TBL 04 TBL 23 NTL 19 NTL 31 Csmp Cem Csmp Cem Csmp Cem Csmp Cem 10,2 11,2 9,27 7,58 0,100 0,154 0,054 0,180 15,7 11,2 46,6 9,64 0,051 0,038 0,054 0,026 10,1 11,4 27,1 6,97 0,210 0,280 0,690 0,220 18,6 13,2 37,5 11,5 0,134 0,188 0,047 0,219 4 Este valor é referente ao valor calculado teoricamente pela equação que descreve a isoterma e não deve ser confundido com o valor de adsorção máxima (Csm) que é o maior valor obtido experimentalmente. 190 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. T-4 - Cr T-4 - As 12 12 -1 · 8 6 4 R ^2 2 0 0,00 10 Metal sorvido (mmol kg ) Metal sorvido (mmol kg-1) 10 · 0,04 0,06 0,08 0,10 6 4 = 0 .88 9 0,12 R^2 = 0.791 2 b = 10.06476 ± 0.8747 ± 1 .2 0 05 7 b = 1 0.1 90 52 0,02 8 0,14 0 0,00 0,16 -1 Concentração no equilíbrio (mmol ·L ) 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 Concentração no equilíbrio (mmol ·L-1) T-4 - Pb T-4 - Cu 18 · 16 Metal sorvido (mmol kg-1) Metal sorvido (mmol kg-1) 20 · 15 10 5 R ^2 = 0 .72 9 b = 1 8.600 33 ± 2 .15 10 3 0 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 14 12 10 8 6 4 R^2 = 0.726 2 b = 15.74281 ± 1.8045 0 0,00 0,25 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 -1 -1 Concentração no equilíbrio (mmol·L ) Concentração no equilíbrio (mmol ·L ) Figura I.1- Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento T-4 para cálculo da concentração do metal adsorvido no patamar (Csmp) representado pelo parâmetro “b” da equação da curva. O círculo verde indica a localização do Ponto B cujo par (Csmp, Cem) foi utilizado para calcular o valor de Coint T-23 - As T-23 - Cr · Metal sorvido (mmol kg--1 ) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 12 10 · 8 6 4 R^2 = 0.943 2 b = 11.20894 ± 0.73283 0 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 Concentração no equilíbrio (mmol·L -1) Concentração no equilíbrio (mmol·L -1) T-23 - Pb T-23 - Cu 12 Metal sorvido (mmol kg--1 ) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 14 12 · · 10 8 6 4 R^2 = 0.621 2 0 0,00 0,08 0,12 0,16 8 6 4 R^2 = 0.862 2 b = 13.3037 ± 1.79424 0,04 10 0,20 -1 0 0,00 b = 11.22614 ± 1.31472 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 -1 Concentração no equilíbrio (mmol·L ) Concentração no equilíbrio (mmol·L ) Figura I.2- Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento T-23 para cálculo da concentração do metal adsorvido no patamar (Csmp) representado pelo parâmetro “b” da equação da curva. O círculo verde indica a localização do Ponto B cujo par (Csmp, Cem) foi utilizado para calcular o valor de Coint 191 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... N-19 - As N-19 - Cr 30 10 Metal sorvido (mmol kg-1) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 25 8 · 20 · 6 4 R^2 = 0.858 2 15 10 R^2 = 0.981 5 b = 9.27116 ± 1.22968 b = 27.10408 ± 0.98552 0 0 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,0 0,05 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Concentração no equilíbrio (mmol·L-1) -1 Concentração no equilíbrio (mmol·L ) N-19 - Pb N-19 - Cu Metal sorvido (mmol kg-1) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 50 40 · · 30 20 R^2 = 0.730 10 b = 46.62005 ± 4.30086 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Concentração no equilíbrio (mmol·L -1) Concentração no equilíbrio (mmol·L-1) Figura I.3- Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento N-19 para cálculo da concentração do metal adsorvido no patamar (Csmp) representado pelo parâmetro “b” da equação da curva. O círculo verde indica a localização do Ponto B cujo par (Csmp, Cem) foi utilizado para calcular o valor de Coint N-31 - As N-31 - Cr 8 · 7 7 Metal sorvido (mmol kg-1) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 8 6 5 4 3 2 R^2 = 0.977 1 0 0,00 6 · 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 4 3 2 R^2 = 0.969 1 b = 7.57728 ± 0.4542 0,02 5 b = 6.97183 ± 0.2915 0 0,00 0,18 0,05 0,10 0,15 0,20 Concentração no equilíbrio (mmol·L -1) Concentração no equilíbrio (mmol·L-1) N-31 - Cu N-31 - Pb 0,25 Metal sorvido (mmol kg--1 ) Metal sorvido (mmol kg--1 ) 10 · · 8 6 4 R^2 2 b= 0 0,00 Concentração no equilíbrio (mmol·L -1) 0,01 0,02 ± 2.02891 0,03 0,04 Concentração no equilíbrio (mmol·L-1) Figura I.4- Ajuste das isotermas de As, Cr, Cu e Pb no sedimento N-31 para cálculo da concentração do metal adsorvido no patamar (Csmp) representado pelo parâmetro “b” da equação da curva. O círculo verde indica a localização do Ponto B cujo par (Csmp, Cem) foi utilizado para calcular o valor de Coint 192 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. As isotermas foram obtidas utilizando-se 0,1000 ± 0,0002g de sedimento. Entretanto, como o objetivo seguinte à saturação das superfícies é submeter o sedimento saturado a um processo de extração seqüencial, os valores da Coint foram recalculados para uma massa de 1,0000 ± 0,0002 de sedimento, como mostrado abaixo, tomando-se como exemplo o As no sedimento T-4. Pela tabela I.1 tem-se que: Csmp = 10,2 mmol·kg-1 Logo, a concentração em solução de As necessária somente para saturar em 1g do sedimento T-4 será: Csmp = 10,2 µmol·L-1. A concentração em equilíbrio correspondente ao início do patamar foi Cem = 0,1 mmol·L-1 Como o volume de solução usada foi 25 mL e a massa a ser saturada foi 10 vezes maior que a que deu origem ao valor de Cem obtido, temos que a concentração que deverá ficar em equilíbrio será: Cem = 25 µmol·L-1 Assim, a concentração inicial seria Co = Csmp + Cem Co = 35,19 µmol·L-1 Ou seja, 1 L de solução contém os íons necessários para saturar 1g do sedimento T-4. Como o volume utilizado no experimento foi de 25 mL temos que dividir o valor de Co por 0,025 L, o que forneceu a concentração inicial usada: Coint = 1,41 mmol·L-1 O resultado de todos a Co para cada metal a ser utilizado em cada sedimento é apresentado na Tabela 6.16. 193 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 194 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. ANEXO II TABELAS DAS CONCENTRAÇÕES DAS ISOTERMAS, EXPERIMENTOS DE INTERFERÊNCIA COMPETITIVA E EXTRAÇÃO DAS ADSORÇÕES Tabela II.1 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de As nos sedimentos, onde: Ci –concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 4,7E-04 4,2E-03 9,9E-03 2,5E-02 4,9E-02 6,4E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,0E-01 2,4E-01 3,4E-01 4,3E-01 5,2E-01 7,2E-01 8,9E-01 0,0 2,4 4,0 5,0 6,2 7,8 9,0 10,8 11,1 12,7 14,7 14,6 16,7 18,8 21,2 28,3 0,0E+00 6,4E-04 5,0E-03 1,1E-02 2,5E-02 4,4E-02 5,9E-02 1,0E-01 1,5E-01 1,9E-01 2,4E-01 3,2E-01 4,2E-01 5,2E-01 6,9E-01 8,5E-01 0,0 2,3 3,7 4,7 6,3 8,9 10,3 11,3 11,4 13,8 16,1 19,1 19,9 19,8 27,4 36,3 0,0E+00 2,5E-04 1,8E-03 6,5E-03 1,7E-02 4,0E-02 5,4E-02 8,8E-02 1,3E-01 1,7E-01 2,0E-01 2,8E-01 3,6E-01 4,4E-01 6,1E-01 7,8E-01 0,0 2,4 4,5 5,9 8,2 10,1 11,4 15,4 16,6 20,3 24,6 30,3 35,5 40,2 46,3 55,3 0,0E+00 3,9E-03 1,1E-02 1,8E-02 3,4E-02 5,5E-02 7,4E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,1E-01 2,6E-01 3,5E-01 4,3E-01 5,3E-01 6,9E-01 8,7E-01 0,0 1,5 2,3 3,0 4,1 6,2 6,6 7,9 7,5 9,8 9,6 12,9 17,2 17,7 27,4 32,1 Tabela II.2 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Cr nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 9,0E-04 3,1E-03 3,9E-03 1,7E-02 4,6E-02 6,6E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,1E-01 2,6E-01 3,5E-01 4,5E-01 5,5E-01 7,5E-01 9,5E-01 0,0 2,3 4,2 6,5 8,2 8,4 8,5 9,1 9,9 9,6 10,7 12,4 13,0 12,9 13,5 13,5 0,0E+00 3,9E-03 6,0E-03 8,9E-03 2,2E-02 4,5E-02 6,1E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,5E-01 4,5E-01 5,4E-01 7,5E-01 9,4E-01 0,0 1,5 3,5 5,3 7,1 8,8 9,8 10,9 11,1 12,1 12,5 12,4 13,5 13,8 12,8 14,1 195 0,0E+00 5,5E-03 1,1E-02 1,6E-02 2,8E-02 4,8E-02 5,4E-02 8,8E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,1E-01 2,9E-01 3,9E-01 4,8E-01 6,7E-01 8,5E-01 0,0 1,1 2,3 3,5 5,4 8,0 11,6 15,4 20,5 21,1 21,6 27,2 27,4 30,5 33,1 38,5 1,1E-06 6,5E-03 1,3E-02 1,9E-02 3,2E-02 5,7E-02 8,0E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,2E-01 2,7E-01 3,6E-01 4,6E-01 5,6E-01 7,6E-01 9,6E-01 0,0 0,9 1,6 2,7 4,6 5,8 6,1 7,3 6,6 6,7 8,0 9,5 9,6 9,8 9,6 10,0 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela II.3 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Cu nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 9,1E-05 2,2E-04 7,8E-04 4,4E-03 2,1E-02 3,5E-02 8,3E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,2E-01 3,2E-01 4,1E-01 5,1E-01 7,1E-01 9,1E-01 0,0 2,5 4,9 7,3 11,4 14,8 16,4 16,7 18,9 19,4 19,4 20,8 23,0 22,9 22,5 23,6 0,0E+00 7,3E-05 2,5E-04 1,6E-03 1,1E-02 2,9E-02 4,6E-02 9,8E-02 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,4E-01 4,3E-01 5,2E-01 7,2E-01 9,2E-01 0,0 2,5 4,9 7,1 9,8 12,7 13,6 13,0 13,6 13,0 13,0 14,7 16,6 19,0 21,0 19,8 0,0E+00 7,7E-05 1,5E-04 2,7E-04 4,7E-04 2,9E-03 4,2E-03 1,4E-02 5,8E-02 9,6E-02 1,4E-01 2,3E-01 3,1E-01 4,1E-01 6,1E-01 8,0E-01 0,0 2,5 5,0 7,4 12,4 19,3 24,0 33,9 35,4 38,4 38,9 43,4 47,2 46,7 47,5 49,3 0,0E+00 1,9E-05 1,2E-04 7,0E-04 1,4E-02 4,4E-02 6,7E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,1E-01 2,5E-01 3,5E-01 4,5E-01 5,5E-01 7,5E-01 9,4E-01 0,0 2,5 5,0 7,3 9,0 8,9 8,3 10,1 10,9 11,2 12,0 12,0 12,7 13,6 11,4 14,1 Tabela II.4 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas não competitivas de Pb nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 6,1E-05 1,4E-04 3,2E-04 5,3E-03 2,8E-02 4,3E-02 8,9E-02 1,3E-01 1,8E-01 2,3E-01 3,1E-01 4,1E-01 5,1E-01 6,9E-01 8,7E-01 0,0 2,5 5,0 7,4 11,2 13,1 14,2 15,3 16,5 16,4 17,2 21,5 23,1 23,5 28,0 33,6 0,0E+00 5,8E-05 1,5E-04 3,3E-04 9,6E-03 3,2E-02 5,1E-02 1,0E-01 1,5E-01 1,9E-01 2,4E-01 3,3E-01 4,2E-01 5,3E-01 6,9E-01 8,8E-01 0,0 2,5 5,0 7,4 10,1 11,9 12,4 12,3 13,2 14,8 14,4 16,4 20,0 18,3 27,0 30,4 196 0,0E+00 2,3E-05 5,1E-05 7,3E-05 1,4E-04 3,0E-04 4,8E-04 7,5E-03 3,6E-02 6,8E-02 1,2E-01 2,0E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,8E-01 7,5E-01 0,0 2,5 5,0 7,5 12,5 19,9 24,9 35,5 41,0 45,5 44,6 49,0 49,4 50,0 56,0 61,9 0,0E+00 6,4E-05 2,8E-04 2,7E-03 1,6E-02 4,1E-02 6,4E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,2E-01 2,7E-01 3,7E-01 4,8E-01 5,8E-01 7,8E-01 9,7E-01 0,0 2,5 4,9 6,8 8,6 9,8 9,1 8,3 7,4 7,9 7,3 6,9 5,6 5,8 5,4 6,8 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela II.5 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de As nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 6,1E-05 2,1E-04 1,1E-03 6,9E-03 2,5E-02 3,9E-02 7,2E-02 1,2E-01 1,6E-01 2,0E-01 2,8E-01 3,8E-01 4,8E-01 6,4E-01 8,0E-01 0,0 2,5 5,0 7,2 10,8 13,8 15,1 19,6 20,7 23,1 24,0 29,0 31,0 30,7 40,3 48,7 0,0E+00 5,3E-05 8,2E-05 1,6E-03 9,4E-03 2,6E-02 4,0E-02 8,0E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,2E-01 3,0E-01 3,8E-01 4,8E-01 6,5E-01 8,2E-01 0,0 2,5 5,0 7,1 10,2 13,5 15,0 17,5 20,9 21,1 21,0 24,9 29,0 29,4 37,3 44,5 0,0E+00 1,6E-04 6,4E-04 1,5E-03 3,6E-03 7,7E-03 1,2E-02 3,1E-02 5,5E-02 8,8E-02 1,2E-01 1,9E-01 2,6E-01 3,6E-01 5,1E-01 6,8E-01 0,0 2,5 4,8 7,1 11,6 18,1 21,9 29,9 36,1 40,6 45,1 53,5 59,0 60,7 72,0 81,0 0,0E+00 1,2E-03 3,9E-03 8,4E-03 2,1E-02 4,3E-02 5,8E-02 9,8E-02 1,4E-01 1,9E-01 2,2E-01 3,1E-01 4,0E-01 4,9E-01 6,7E-01 8,5E-01 0,00 2,2 4,0 5,4 7,4 9,4 10,6 12,9 15,3 16,1 19,0 21,6 25,5 28,2 32,7 36,6 Tabela II.6 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Cr nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 1,7E-03 4,0E-03 8,5E-03 2,8E-02 5,7E-02 7,7E-02 1,2E-01 1,6E-01 1,9E-01 2,4E-01 3,2E-01 4,1E-01 4,9E-01 6,5E-01 8,1E-01 0,0 2,0 4,0 5,4 5,4 5,9 5,8 7,1 9,6 15,3 15,6 19,2 21,8 27,0 37,4 47,3 0,0E+00 2,4E-03 5,0E-03 1,4E-02 3,2E-02 6,0E-02 7,1E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,0E-01 2,4E-01 3,3E-01 4,0E-01 4,9E-01 6,5E-01 8,0E-01 0,0 1,9 3,7 4,1 4,5 5,1 7,1 9,8 10,6 13,6 14,3 17,9 25,1 28,4 36,3 50,1 197 0,0E+00 5,4E-04 1,1E-03 1,9E-03 3,5E-03 1,4E-02 2,3E-02 5,8E-02 1,0E-01 1,6E-01 2,0E-01 2,8E-01 3,7E-01 4,4E-01 6,3E-01 7,7E-01 0,0 2,4 4,7 7,0 11,6 16,5 19,3 23,1 24,5 23,3 24,5 30,1 32,0 38,9 43,8 56,2 0,0E+00 4,1E-03 8,2E-03 1,5E-02 3,0E-02 4,7E-02 5,6E-02 9,1E-02 1,5E-01 1,9E-01 2,3E-01 3,2E-01 4,0E-01 4,9E-01 6,7E-01 8,3E-01 0,0 1,5 2,9 3,8 5,1 8,2 10,9 14,6 12,9 14,2 17,1 21,0 26,1 28,2 33,8 43,6 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela II.7 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Cu nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 1,9E-03 8,3E-03 1,8E-02 3,6E-02 6,6E-02 8,6E-02 1,3E-01 1,7E-01 2,1E-01 2,6E-01 3,5E-01 4,3E-01 5,1E-01 7,0E-01 8,6E-01 0,0 2,0 2,9 3,1 3,4 3,4 3,4 5,4 6,9 9,1 9,8 12,5 17,3 22,5 25,8 35,6 0,0E+00 5,8E-03 1,1E-02 2,0E-02 3,7E-02 6,3E-02 8,0E-02 1,3E-01 1,7E-01 2,1E-01 2,5E-01 3,5E-01 4,3E-01 5,2E-01 6,9E-01 8,6E-01 0,0 1,0 2,3 2,5 3,4 4,3 5,0 5,7 7,7 9,3 11,3 13,2 18,7 20,3 28,2 34,8 4,3E-06 8,3E-05 3,2E-04 1,7E-03 1,4E-02 4,2E-02 6,3E-02 1,1E-01 1,6E-01 2,2E-01 2,6E-01 3,6E-01 4,5E-01 5,3E-01 7,0E-01 8,6E-01 0,0 2,5 4,9 7,1 8,9 9,4 9,3 9,0 9,4 8,7 10,2 10,8 12,8 16,5 24,7 35,7 0,0E+00 3,4E-03 6,9E-03 1,7E-02 3,3E-02 6,1E-02 7,5E-02 1,2E-01 1,7E-01 2,2E-01 2,6E-01 3,4E-01 4,3E-01 5,3E-01 7,0E-01 8,6E-01 0,0 1,6 3,3 3,2 4,2 4,8 6,3 7,7 7,3 8,0 10,3 14,3 17,3 18,6 25,4 33,8 Tabela II.8 – Concentrações utilizadas para a construção das isotermas competitivas de Pb nos sedimentos, onde: Ci – concentração da solução inicial, Ce – concentração em equilíbrio e Cs – quantidade adsorvida T-4 T-23 N-19 N-31 Ci Ce Cs Ce Cs Ce Cs Ce Cs mmol·L-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 mmol·L-1 mmol·kg-1 0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 5,0E-02 8,0E-02 1,0E-01 1,5E-01 2,0E-01 2,5E-01 3,0E-01 4,0E-01 5,0E-01 6,0E-01 8,0E-01 1,0E+00 0,0E+00 1,0E-04 4,4E-03 1,4E-02 3,4E-02 6,4E-02 8,4E-02 1,3E-01 1,8E-01 2,3E-01 2,8E-01 3,8E-01 4,8E-01 5,8E-01 7,8E-01 9,6E-01 0,0 2,5 3,9 4,0 4,0 4,1 4,0 3,9 4,1 3,9 4,1 4,4 4,7 5,4 6,2 8,9 0,0E+00 2,3E-03 8,2E-03 1,6E-02 3,6E-02 6,6E-02 8,6E-02 1,4E-01 1,9E-01 2,4E-01 2,8E-01 3,8E-01 4,8E-01 5,7E-01 7,7E-01 9,7E-01 0,0 1,9 3,0 3,5 3,4 3,5 3,4 3,5 3,0 3,4 4,1 5,4 5,7 7,6 8,0 7,8 198 5,8E-07 3,4E-05 4,8E-05 7,2E-05 6,5E-04 2,4E-03 6,3E-03 4,6E-02 9,2E-02 1,4E-01 1,9E-01 2,8E-01 3,8E-01 4,8E-01 6,7E-01 8,5E-01 0,0 2,5 5,0 7,5 12,3 19,4 23,4 26,0 27,1 27,5 27,9 29,1 28,9 29,0 33,5 37,0 0,0E+00 5,1E-04 4,3E-03 9,5E-03 2,9E-02 6,3E-02 8,3E-02 1,4E-01 1,9E-01 2,3E-01 2,8E-01 3,7E-01 4,7E-01 5,8E-01 7,8E-01 9,7E-01 0,0 2,4 3,9 5,1 5,3 4,4 4,3 3,4 3,4 4,5 5,9 8,1 7,6 5,5 4,7 7,3 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. Tabela II.9 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento T-4. Valores de Co e Ce em mmol·L-1 e Cs em mmol·kg-1. Os valores em itálico representam o coeficiente de variação e são dados em percentagem Nível de competição Nível 0 Nível 2 Nível 3 Nível 4 As 0.1 1.1 Nível 1 Coint Cr 0 - Cu 0 - Cs Ce Pb 0 As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2,08 - - - 1,28 1,2 - - - - - - 1.3 1,41 - - - 0,87 0,1 - - - 1.4 - - - 1,14 - - - 2.1 - 2,50 2,08 - - 2,20 1,90 2.2 1,41 - 2,08 - 0,76 - 1,50 - - 1,50 0,57 - - - 2,10 - 1.2 2.3 - - 2,08 1,14 2.4 1,41 2,50 - - 2.5 - 2,50 - 1,14 - - - 20,5 1,9 9,23 2,1 13,4 0,1 - - - - - - - - - - 7,10 4,70 - - 16,0 - 14,50 - 0,59 1,3 0,80 1,08 - - 15,30 7,40 20,8 14,1 - - - 0,20 - 0,40 2,08 - 58 2,00 2,00 20,0 12,7 2,30 - - 2,50 2,08 1,14 - 2,20 2,00 0,94 - 8,30 2,20 4,00 3.4 1,41 2,50 - 1,14 0,52 1,89 - 1,04 22,1 15,2 - 1,40 4.1 1,41 2,50 2,08 1,14 0,50 0,7 1,93 0,4 1,08 0,2 22,5 0,4 14,1 1,4 1,96 0,2 - 12,8 1,4 3.2 3.1 1,41 2,50 2,13 0,4 - 3,46 2,4 0,47 12 Tabela II.10 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos nos sedimento T-23. Valores de Co e Ce em mmol·L-1 e Cs em mmol·kg-1. Os valores em itálico representam o coeficiente de variação e são dados em percentagem Nível de competição Coint As Cr Cu Pb 0.1 0 0 0 0 1.1 - - 2,41 - - Nível 1 1.2 - 3,26 - - - Nível 0 As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb 0 0 0 0 0 0 0 0 - 1,73 0,7 2,91 0,5 - 1.3 1,99 - - - - - 1.4 - - - 0,83 - - - 2.1 2.2 - 3,26 2,41 - - 2,94 2,33 Nível 2 2.3 2.4 2.5 Nível 3 Cs Ce 3.1 3.2 1,53 1,2 1,99 - 2,41 - 1,24 - 2,14 - - 2,41 0,83 - - 2,05 - - 1,13 2,87 - - 0,83 - 2,81 - 2,41 - 1,14 2,77 2,33 2,41 0,83 - 2,97 2,33 1,99 3,26 - 3,26 1,99 3,26 - 3,26 199 - - - - - 11,4 4,1 0,41 0,8 9,70 3,8 16,8 1,9 - - - - - 8,90 1,85 9,81 0,8 - - - 19,0 - 6,53 - - 8,74 5,54 21,6 10,8 - - - 12,3 - 3,30 21,5 13,2 1,81 - - 8,40 1,65 2,76 0,58 0,67 0,69 - Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... 3.4 1,99 3,26 - 0,83 1,09 2,78 Nível 4 4.1 1,99 3,26 2,41 0,83 1,12 0,2 2,90 0,2 2,15 1,4 0,72 22,8 13,1 - 0,71 1,4 21,9 0,3 10,6 1,4 2,11 6,23 12 2,20 11 Tabela II.11 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento N-19. Valores de Co e Ce em mmol·L-1 e Cs em mmol·kg-1. Os valores em itálico representam o coeficiente de variação e são dados em percentagem. Nível de competição Nível 0 Coint As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb As Cr Cu Pb 0.1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1.1 - - 1,98 - - 7,98 - - - Nível 1 1.2 0,54 2,0 6,72 1,4 - 0,90 - - - - - 1.4 - - - 2,40 - - - 1,98 - - 6,90 1,72 - 0,09 - - - - 7,98 0,28 1,7 2.2 0,90 - 1,98 2.3 - - 1,98 2,40 2.4 2.5 0,90 7,98 - 3.1 0,90 7,98 - 7,98 3.4 0,90 7,98 4.1 0,90 7,98 - - - - - - 36,0 0,8 31,6 7,3 15,5 0,8 - - - - - - - - - 27,0 6,47 - 0,99 - 20,3 - 24,70 - 1,35 1,05 - - 15,80 33,80 0,76 4,6 41,0 4,1 - - 0,05 6,34 - - 21,3 40,9 - - - 2,40 - 5,82 - 1,26 - 54,1 - 28,60 1,98 - 0,03 3,16 0,83 - 20,8 41,7 8,10 - - 3,48 0,85 0,62 - 25,6 7,00 28,80 0,02 3,11 - 0,69 21,7 44,1 - 25,70 0,02 0,9 3,17 2,1 0,75 2,7 21,5 2,0 41,0 0,8 7,98 Nível 3 3.2 Nível 4 - 1.3 2.1 Nível 2 Cs Ce 1,98 2,40 - 2,40 1,98 2,40 0,83 3,5 8,10 8,0 22,60 1,3 Tabela II.12 – Concentrações utilizadas nos experimentos de adsorção competitiva e extração dos metais adsorvidos no sedimento N-31. Valores de Co e Ce em mmol·L-1 e Cs em mmol·kg-1. Os valores em itálico representam o coeficiente de variação e são dados em percentagem. Nível de competição Coint As Nível 0 0.1 1.1 0 - Nível 1 1.2 Cu 0 Pb 0 As Cr Cu Pb 0 0 0 0 0 0 0 0 - - - - - - 1.4 - - - 0,70 3.1 Pb 2,70 - 2.5 Cu - 2.4 Cr 2,5 2,10 2.2 Nível 2 2.3 As 0 1.3 2.1 Nível 3 Cr Cs Ce 2,2 0,7 - - - - - - - - - - - 1,74 3,5 2,16 0,5 0,31 0,7 - 12,6 3,2 - - - - - - - - - 8,99 1,7 8,54 2,3 9,77 0,6 - 2,50 2,70 - - 2,19 2,51 - - 7,79 4,86 - 2,10 - 2,70 - 1,52 - 2,35 - 14,4 - 8,64 - - - 2,70 0,70 7,09 2,10 2,50 - 2,50 2,10 2,50 - - 2,39 0,42 - - 7,82 - - 1,45 1,94 - - 16,4 14,0 - - 0,70 - 1,94 - 0,35 - 14,0 - 8,67 2,70 - 1,47 1,94 2,51 - 15,8 14,0 4,63 - 200 Contribuições às Ciências da Terra Série D, vol. 13, 202p. 3.2 - 2,50 3.4 2,10 2,50 Nível 4 4.1 2,10 2,50 2,70 0,70 - 0,70 2,70 0,70 - 2,26 2,51 0,38 - 6,00 4,70 8,00 1,40 1,96 - 0,50 17,4 13,6 - 4,92 1,40 0,9 1,83 0,2 0,52 2,5 17,6 1,7 16,7 0,5 2,51 1,1 4,64 15 4,56 1,7 Tabela II.13 – Resultado das extrações dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 após adsorção não competitiva (nível 1 do experimento de adsorção). Valores em mmol·kg-1 para os teores extraídos de cada fase e em porcentagem para os coeficientes de variação (CV) onde n=3 Etapa 2 Etapa 3 Resíduo Etapa 1 Σ das fases Média CV Média CV Média CV Média CV T-4 As 0,73 (0,7) 1,78 (1,8) 0,41 (1,8) 6,20 (4,1) 9,11 2,82 (1,9) 1,31 (0,0) 1,35 (4,9) 7,08 Cr 1,60 (0,9) Cu 17,2 (0,9) 1,99 (1,7) 0,03 (4,7) 0,31 (10) 19,5 2,03 (0,8) 0,19 (1,9) 0,03 (11) 12,8 Pb 10,6 (0,7) As Cr Cu Pb 1,05 1,84 13,1 7,36 (0,4) As Cr Cu Pb 0,17 9,53 21,7 16,9 (2,3) As Cr Cu Pb 0,95 1,58 9,59 5,57 (8,8) (0,5) (0,6) (0,2) (3,3) (1,1) (0,3) (0,6) (3,3) (2,4) 2,31 5,00 2,02 2,28 (0,8) 0,91 15,04 10,0 22,8 (2,0) 2,60 3,26 1,90 3,50 (5,1) T-23 0,17 0,75 0,02 0,12 (0,9) (0,30 (0,2) N-19 0,08 1,47 0,29 0,40 (7,9) (0,7) (0,9) N-31 0,06 0,65 0,11 0,07 (0,1) (0,9) (1,0) 201 (7,9) (9,9) (8,3) (2,2) (4,7) (4,0) (5,9) (2,1) (5,4) (1,4) (6,4) (3,7) 7,97 1,13 0,16 0,05 (4,6) 11,1 4,31 0,31 0,15 (3,7) 3,94 1,86 0,15 0,03 (5,7) (2,3) (23) (7,4) (1,6) (10) (14) (0,2) (6,5) (25) 11,5 8,73 15,3 9,82 12,3 30,4 32,3 40,3 7,55 7,35 11,7 9,14 Basílio, M. S., 2005, Geoquímica dos Sedimentos Associados aos Minérios de Ferro... Tabela II.14 – Resultado das extrações dos sedimentos T-4, T-23, N-19 e N-31 após adsorção competitiva (nível 4 do experimento de adsorção). Valores em mmol·kg-1 para os teores extraídos de cada fase e em porcentagem para os coeficientes de variação (CV) onde n=3. O sinal “<” precede o valor do limite de quantificação do elemento em mg·kg-1 Etapa 2 Etapa 3 Resíduo Etapa 1 Σ das fases Média CV Média CV Média CV Média CV As Cr Cu Pb 1,81 2,26 1,17 0,16 (1,4) As Cr Cu Pb 2,39 2,35 2,32 0,61 (3,6) As Cr Cu Pb 0,71 2,22 2,69 0,12 (0,6) As Cr Cu Pb 2,43 2,36 2,62 1,00 (0,9) (0,1) (9,8) (0,3) (0,6) (6,0) (1,2) (0,1) (8,3) (2,1) (0,2) (3,5) (8,9) 7,18 7,28 1,13 0,37 (1,9) 5,67 5,35 2,10 1,74 (4,0) 5,83 29,9 4,28 18,7 (0,5) 7,20 7,06 1,09 3,04 T-4 0,58 0,73 0,05 0,01 (0,5) (0,4) (0,3) T-23 0,34 1,32 0,10 0,02 (1,3) (0,2) (2,0) N-19 0,44 1,17 0,24 0,35 (0,6) (0,1) (2,1) N-31 0,30 2,12 0,15 0,04 (2,9) (1,7) (1,4) (2,5) 202 (1,3) (2,6) (1,1) (6,8) (9,6) (0,8) (5,4) (9,6) (3,0) (1,2) (0,9) (3,1) (7,3) (3,1) (4,8) (4,1) 9,59 1,05 0,76 0,20 (0,9) 10,85 0,70 0,47 0,03 (2,9) (1,1) (5,2) (0,0) (8,3) (4,5) (16) 11,94 1,52 <0,1 0,05 (3,8) 5,92 3,33 0,52 <0,1 (2,0) (3,2) mg·kg-1 (9,4) (2,2) (0,8) mg·kg-1 19,2 11,3 3,12 0,74 19,3 9,71 4,99 2,41 18,9 34,9 7,21 19,2 15,8 14,9 4,38 4,08