nna_pt_1302

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nna_pt_1302
Nutrition News for Africa
Fevereiro de
2013
Dale NM, Myatt M, Prudhon C, Briend A. Utilização do perímetro braquial para acabar
o tratamento da desnutrição aguda resulta num maior aumento de peso na
maioria das crianças desnutridas. PLoS ONE 8: e55404. doi:10.1371/journal.pone.0055404,
2013. (This article can be accessed at: www.plosone.org).
Introdução
Formas moderadas e graves de desnutrição aguda aumentam as possibilidades de mortalidade infantil
em aproximadamente duas a nove vezes, respectivamente; e estes problemas de saúde causam mais de
um milhão de mortes preveníveis de crianças de tenra idade por ano (Black, 2008). Em 1999, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) preparou as directrizes para o diagnóstico e tratamento sistemático
de crianças com desnutriçção grave; e em 2009 a OMS e a UNICEF publicaram uma revisão dos critérios
de diagnóstico para a desnutrição aguda grave (SAM). De acordo com os padrões actualizados de
diagnóstico, considera-se que uma criança tem desnutrição aguda grave (SAM) se tiver um resultado Z
<-3 (score-Z) peso-para-idade, um perímetro braquial (MUAC) <115 mm, e/ou edema bipedal. O
documento conjunto da OMS/UNICEF também refere que crianças podem ter alta do tratamento após
atingirem um aumento de 15-20% além do peso corporal inicial.
A razão do uso desta abordagem que utiliza a percentagem de peso ganho como marca de referência
para que a criança receba alta do tratamento, em vez de um valor específico de peso-para-a-altura foi a
de eliminar a necessidade de repetidas medições da altura da criança durante o tratamento, e também
evitar uma situação em que algumas crianças poderiam ser inscritas no programa com base num baixo
valor de perímetro braquial (MUAC), apesar de terem valores adequados de peso-para-a-idade. Contudo,
a experiência já demonstrou que utilizar a percentagem de peso ganho como indicador para ter alta do
tratamento resulta numa situação desagradável em que crianças mais desnutridas (por exemplo, aquelas
com pesos iniciais mais baixos) requerem menos ganho de peso para atingirem os parâmetros de alta do
tratamento, e consequentemente recebem um tratamento mais curto do que crianças que pesam mais
inicialmente e estão menos desnutridas.
Para corrigir esta situação, clínicos que trabalham num programa de nutrição no Sudão do Norte
começaram a utilizar o perímetro braquial (MUAC) para avaliar crianças tanto no momento da inclusão no
programa como da alta. O estudo incluído na edição deste mês do NNA examina se a utilização do
perímetro braquial (MUAC) para determinar se a criança reúne condições para a interrupção do
tratamento, elimina o agora reconhecido efeito indesejável observado quando a percentagem de peso
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ganho é utilizada como critério de alta após tratamento da desnutrição aguda grave (SAM).
Métodos
O estudo realizou-se na segunda metade de 2010 em Gedaref, Sudão do Norte. Os pesquisadores
examinaram dados relativos a 1022 crianças de 6-59 meses de idade que foram inscritas num programa
ambulatório de tratamento para casos não complicados de desnutrição aguda grave (SAM), com base na
presença de perímetro braquial (MUAC) <115 mm, apetite satisfatório e ausência de complicações
médicas graves, tais como anemia, choque séptico, desidratação grave, anorexia, ou edema agudo,
requerendo internamento para terapia. As crianças foram reexaminadas a cada duas semanas até a
recuperação, que foi definida como perímetro braquial (MUAC) <125 mm em duas ocasiões e evidências
de manutenção ou de aumento de peso.
Resultados e Conclusões
Dados relativos a 269 crianças foram excluídos da análise por falta de informação (n = 219), continuação
no programa por <14 dias (n = 33), ou ausência de sinais de recuperação (n=17), deixando um total de
753 crianças, cujos dados foram estudados. Destas crianças, 82% foram curadas, 15% deixaram de
comparecer ao tratamento, 2% foram encaminhadas para tratamento espcializado no hospital distrital, e
1% faleceram. A duração média do tratamento foi de 60 dias. Crianças com valores mais baixos de
perímetro braquial (MUAC) no princípio do tratamento foram sujeitas a períodos de tratamento mais
longos do que as crianças com valores mais elevados. Em combinação, todas crianças registaram um
aumento de peso de 21%. Crianças com valores de perímetro braquial (MUAC) mais baixo no início do
tratamento registaram percentagens mais elevadas de aumento de peso do que as crianças com
perímetro braquial (MUAC) maior. A vasta maioria das crianças em todas categorias do perímetro
braquial (MUAC) registou um aumento superior a 15% em relação ao seu peso inicial, o que representa o
limite mais baixo da percentagem de peso ganho recomendado pela OMS.
Implicações e Políticas do Programa
Os autores concluíram que utilizar o perímetro braquial (MUAC) como critério para dar alta às crianças
participantes no programa evitou o problema acima descrito, quando a alta se baseou na percentagem
de peso ganho. Por outras palavras, ao utilizar o perímetro braquial (MUAC) para decidir quanto à
inscrição ou alta do programa, as crianças mais gravemente desnutridas receberam tratamento mais
prolongado e registaram uma maior percentagem de peso ganho, o que é consistente com os resultados
observados quando o peso-para-a-idade é utilizado para classificar as crianças para tratamento.
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Comentários dos Editores do NNA **
Estes resultados sugerem que o perímetro braquial (MUAC) pode ser utilizado para classificar crianças
tanto para inscrição ou alta num programa nutricional de combate à desnutrição aguda grave (SAM), em
situações onde não é viável utilizar o peso-para-a-idade. As vantagens de utilizar o perímetro braquial
(MUAC) são que exige menos equipamento de medição e é mais preditivo do risco de mortalidade do que
o peso-para-a-idade (Briend, 2012), possivelmente porque o limite recomendado do perímetro braquial
(MUAC) tende a identificar um maior número de crianças de tenra idade do que o limite padrão relativo
ao peso-para-a-idade. Os autores acrescentam ainda que o perímetro braquial (MUAC) é mais simples de
medir, apesar de outros estudos reportarem maior índice de erros de medição do perímetro braquial
(MUAC) do que com o peso ou tamanho (Ayele, 2012), pelo que treino adequado é essencial para obter
medições precisas do perímetro braquial (MUAC).
Referências
1. Black RE, Allen LH, Bhutta ZA, Caulfield LE, de Onis M, Ezzati M, Mathers C, Rivera J; Maternal and
Child Undernutrition Study Group. Maternal and child undernutrition: global and regional exposures and
health consequences. Lancet, 2008, 371:243–60.
2. World Health Organization. Management of severe malnutrition: a manual for physicians and other
senior health workers. Geneva, 1999. Available
at:http://www.who.int/nutrition/publications/en/manage_severe_malnutrition_eng.pdf
3. World Health Organization. WHO child growth standards and the identification of severe acute
malnutrition in infants and children: A Joint Statement by the World Health Organization and the United
Nations Children’s Fund, WHO, Geneva, 2009.
4. Briend A, Maire B, Fontaine O, Garenne M. Mid-upper arm circumference and weight-for-height to
identify high-risk malnourished under-five children. Maternal Child Nutr 8: 130–133, 2012.
5. Ayele B, Aemere A, Gebre T, Tadesse Z, R Stoller NE, See CW, Yu SN, Gaynor BD, McCulloch CE, Porco
TC, Emerson PM, Lietman TM, Keenan JD. Reliability of measurements performed by community-drawn
anthropometrists from rural Ethiopia. PLoS ONE 7:e30345, 2012
“Nutrition News for Africa” é um boletim electrónico mensal que procura
disseminar os resultados das pesquisas mais avançadas e as mais recentes políticas, junto
dos cientistas, programadores de programas, entidades responsáveis pela definição de
políticas e líderes de opinião que trabalham nas áreas de saúde pública e nutrição em
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