O ROUXINOL DE SHAKESPEARE

Transcrição

O ROUXINOL DE SHAKESPEARE
O ROUXINOL DE SHAKESPEARE
São várias as passagens da obra de Shakespeare marcadas pela presença do rouxinol.
A lenda grega que foi tema de uma das metamorfoses escritas por Ovídio, aquela de Philomela
em um rouxinol, reaparece como um elemento chave da trama de Titus Andronicus*. Há
também outras referências ao rouxinol, por exemplo, em Noite de Reis, O rei Lear, Romeu e
Julieta e no Sonetos. Assim, do bando de rouxinóis de Shakespeare, dois foram escolhidos para
figurar neste site:
1) O Soneto 102, traduzido para o português por Oscar Mendes, foi extraído de:
SHAKESPEARE, William. Obra Completa. Volume III. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora,
1969, p. 856.
Ao lado dessa tradução, encontra-se também o original em inglês, extraído de:
http://www.enotes.com/sonnets/
2) Uma passagem de Romeu e Julieta (Ato 3, Cena 5), traduzida para o português por Décio
Pignatari, foi extraída de:
SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. In: PIGNATARI, Décio. Retrato do amor quando
Jovem: Dante, Shakespeare, Sheridan e Goethe. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 146147.
Para o original em inglês na internet:
http://www-tech.mit.edu/Shakespeare/romeo_juliet/
*
A versão completa desta peça, em inglês, pode ser encontrada em
http://www-tech.mit.edu/Shakespeare/titus/index.html
Soneto 102
(William Shakespeare)
Sonnet 102
(William Shakespeare)
Mais forte é meu amor, bem que pareça fraco.
E não menos amo eu, se bem menos o diga:
Quem anda em toda parte a publicar-lhe o preço
Seu tesouro de amor transforma em mercancia.
My love is strengthened though more weak in seeming,
I love not less, though less the show appear,
That love is merchandized, whose rich esteeming,
The owner's tongue doth publish every where.
Nosso amor era novo, inda na primavera,
Quando com os meus lais costumava saudá-lo,
Qual canta o rouxinol, do verão no começo,
Sua flauta poupando ao avançar dos dias.
Our love was new, and then but in the spring,
When I was wont to greet it with my lays,
As Philomel in summer's front doth sing,
And stops her pipe in growth of riper days:
Menos doce não é que outrora a noite estiva,
Quando a tornavam muda os hinos queixosos,
Mas seu cantar ardente oprime os bosques todos,
E abusar do que é doce é pedir-lhe o sabor;
Not that the summer is less pleasant now
Than when her mournful hymns did hush the night,
But that wild music burthens every bough,
And sweets grown common lose their dear delight.
Bem com o rouxinol, calo-me, pois, por vezes,
Porque com minha voz não desejo cansar-te
Therefore like her, I sometime hold my tongue:
Because I would not dull you with my song.
Romeu e Julieta (Ato 3, Cena 5) – William Shakespeare
Julieta
Você já tem que ir? O dia ainda demora.
Não foi a cotovia, foi o rouxinol
que perfurou o seu ouvido temeroso.
Ele costuma cantar na romãzeira:
foi ele que cantou, foi sim, amor.
Romeu
É a cotovia que anuncia o dia,
não é o rouxinol. Estrias invejosas
bordejam as nuvens do nascente.
Foram-se as tochas da noite; o dia alegre
já espanta a neblina do alto da colina.
Posso ir e viver – ou ficar e morrer.
Julieta
Aquela luz ainda não é o aviso.
Acho que é o sol que manda um meteoro
pra clarear seus passos para Mântua.
Fique um pouquinho mais: partir não é preciso.
Romeu
Que eu seja preso nos seus braços, eu imploro
– e juro que é um prazer morrer assim.
De fato, eu nunca vi a aurora cor de cinza,
e acho que o dia se vestiu de lua.
Cotovia nenhuma deu a nota
para que o sol cantasse em nosso quarto:
Julieta é quem decide se eu fico ou part.
Eu só quero ficar, morte bem-vinda!
Amor, podemos conversar, é noite ainda.
Julieta
Não é, não é! O dia raia! Saia
daqui, agora, meu amor! Embora
cantasse a cotovia é tão desafinada
que confundiu compasso em doces barras,
pra nunca separar nós dois: o sapo
– dizem – já teve os olhos dela: por que não
a voz? É erro, engano, bruxaria:
finge que é noite, mas, de fato, é dia.
A nossa despedida é um “despedia”!...
Romeu
Mais nus e claros vão ficar os nossos males!
Tradução: Décio Pignatari
(Cf.: SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. In: PIGNATARI, Décio. Retrato do amor quando Jovem:
Dante, Shakespeare, Sheridan e Goethe. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 146-147)

Documentos relacionados

EL RUISEÑOR DE SHAKESPEARE

EL RUISEÑOR DE SHAKESPEARE Our love was new, and then but in the spring, When I was wont to greet it with my lays, As Philomel in summer's front doth sing, And stops her pipe in growth of riper days:

Leia mais

1 TITULO DO PROGRAMA A Megera Domada – Romeu e Julieta

1 TITULO DO PROGRAMA A Megera Domada – Romeu e Julieta artísticos, porém, uma de suas características mais marcante é a valorização da cultura greco-romana. Na Inglaterra, o Renascimento coincide com o período chamado Elisabetano, que prestigia o desen...

Leia mais

programa - Companhia Nacional de Bailado

programa - Companhia Nacional de Bailado nuou os seus estudos na escola do Sadler’s Wells

Leia mais