2.6. Protozoários perifíticos e marcrófitas
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2.6. Protozoários perifíticos e marcrófitas
PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 105 2.6. Protozoários perifíticos e marcrófitas Luiz Felipe Machado Velho Gustavo Mayer Pauleto Danielle Goeldner Pereira Fábio Amodêo Lansac-Tôha Claudia Costa Bonecker Arianne Francielle Silva Brão Paulo Roberto Bressan Buosi Bianca Trevizan S. da Silva Introdução Nesta seção são apresentados os resultados de um experimento que visava avaliar o efeito da arquitetura de macrófitas aquáticas sobre a estrutura de comunidades de ciliados e flagelados perifíticos. Os resultados sobre os protozoários flagelados são ainda preliminares e referem-se apenas ao efeito da complexidade estrutural das macrófitas sobre a abundância desta comunidade. Por outro lado, para os ciliados, investigou-se, ainda, esse efeito sobre a diversidade, composição, biomassa e estrutura de tamanho da comunidade. Os resultados evidenciaram uma tendência de incremento na abundância dos flagelados com o incremento na complexidade estrutural de macrófitas, embora esse efeito não tenha sido significativo. Esse resultado pode estar relacionado à escala de complexidade apresentada pelas macrófitas, que possivelmente, não exerça uma influência marcante sobre organismos de dimensões muito reduzidas, como os protozoários flagelados, pelo menos em termos de abundância. Por outro lado, para os ciliados, os resultados mostraram uma influência altamente significativa da complexidade de hábitat, sobre diferentes atributos desta comunidade. Flagelados Maiores valores de densidade média foram observados, em geral, para a fração heterotrófica dos flagelados, variando entre 181 x 103 e 308 x 103 cels.cm-2. Considerando-se as diferentes espécies de macrófitas, maiores valores médios de densidade, para a fração heterotrófica, foram observados em Egeria najas (308 x 103 cels.cm-2), seguida por Utricularia foliosa (275 x 103 cels.cm-2) Cabomba furcata (260 x 103 cels.cm-2) e Nymphaea amazonum (181 x 103 cels.cm-2). Em relação à fração autotrófica, foi observada uma variação média de densidade entre 25 x 103 e 59 x 103 cels.cm-2, sendo observadas médias de 25 x 103 cels.cm-2 para Cabomba furcata, 36 x 103 cels.cm-2 para Nymphaea amazonum, 54 x 103 cels.cm-2, para Utricularia foliosa e 59 x 103 cels.cm-2 para Egeria najas. PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 106 450000 400000 PNAN HNF 350000 cels.cm-2 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0 Ninphea Egeria Utricula Cabomba Plantas Figura 1. Densidade de nanoflagelados pigmentados (PNAN) e heterotróficos (HNF) nas diferentes macrófitas aquáticas amostradas. Embora tenha sido observada uma tendência de incremento nos valores deste atributo, com o aumento na complexidade estrutural das plantas de ambas as frações analisadas, não foi evidenciada através da ANOVA, uma influência significativa da complexidade estrutural das espécies de macrófitas na determinação das variações da abundância dos nanoflagelados (HNF: F=0.3646; p= 0.78; PNF= F= 1.3647; p= 0.32). Entretanto, como proposto por Vieira et al. (no prelo), um determinado nível de complexidade espacial pode ser significativo para alguns organismos e não significativo para outros. Assim, esta ausência de influência pode ser explicada pela escala da complexidade estrutural apresentada pelas diferentes espécies de macrófitas, que possivelmente exerça uma influência marcante sobre organismos de maior porte e seja indiferente, pelo menos em termos de abundância, para organismos de dimensões muito reduzidas, como os protozoários flagelados. Ciliados Dentre os 40 táxons de ciliados registrados, apenas seis (Aspidisca cicada, Cinetochilum margaritaceum, Litonotus sp.A, Oxytricha sp., Placus luciae e Uroleptus sp.A) foram registradas em todas as espécies de macrófitas. No entanto, somente A. cicada e C. margaritaceum estiveram presentes em todas as amostras. O número total de táxons de ciliados registrados para as diferentes espécies de macrófitas foi de 17 em Nymphaea amazonum, 20 em Egeria najas, 24 em Cabomba furcata e 32 em Utricularia foliosa. Os resultados da ANOVA revelaram diferenças altamente significativas para a riqueza de espécies de ciliados entre as diferentes espécies vegetais (P= 22,535; F= 0,0003), sendo evidenciado, pelo teste de Tukey, que N. amazonum diferiu das demais espécies, enquanto E. najas e U. foliosa diferiram entre si (Figura 2). PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 107 Riqueza de espécies de ciliados 22 20 Mean+SD Mean-SD 18 Mean+SE Mean-SE ii,iv ii Mean 16 ii,iii 14 12 10 i 8 6 4 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 2: Riquezas médias de espécies de ciliados associados às macrófitas estudadas - Nymphaea amazonum, Cabomba furcata, Egeria najas e Utricularia foliosa - (números diferentes indicam diferença significativa). As únicas espécies presentes em todas as amostras foram Aspidisca cicada e Cinetochilum margaritaceum, sendo que, além destas, também foram constantes Coleps sp, Lembadion lucens, Litonotus spA, Oxytricha sp e Uroleptus spA. Onze espécies foram acessórias, enquanto que as demais (22) foram consideradas acidentais, sendo que destas, 11 ocorreram em apenas uma amostra (Tabela 1). Tabela 1. Presença (1) ou ausência (0) das espécies de ciliados registradas para as diferentes espécies de macrófitas. Hábito alimentar dos ciliados (P = predador; O = onívoro; F = Filtrador). Constância das espécies de ciliados nas 12 réplicas amostrais. = acessória = constante = acidental Espécies de ciliados Amphileptus sp Aspidisca cicada Aspidisca sp Chilodontopsis depressa Cinetochilum margaritaceum Coleps sp Cyclidium sp Epistylis sp Euplotes sp Frontonia sp Halteria grandinella Lacrymaria olor Lembadion lucens Litonotus versaviensis Litonotus sp A Litonotus sp B Mesodinium sp Oxytricha sp Hábito / Constância P F F O F O F F F O F P O P P P O O Utricularia foliosa 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 Cabomba furcata 0 1 0 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 0 1 Egeria najas 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 1 0 1 1 1 1 Nymphaeaa mazonum 0 1 1 1 1 0 0 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração Placus luciae Pleuronema sp Stichotricha aculeata Stylonychia sp Uroleptus sp A Uroleptus sp B Vorticella aquadulcis Vorticella campanula Vorticella convallaria Vorticella picta CYRTOPHORIDA sp A CYRTOPHORIDA sp B CYRTOPHORIDA sp C HYMENOSTOMATIDA sp A HYMENOSTOMATIDA sp B HYPOTRICHIDA sp A HYPOTRICHIDA sp B HYPOTRICHIDA sp C HYPOTRICHIDA sp D PROSTOMATIDA sp A Ciliado sp X Ciliado sp Z O F F O F O F F F F O O O F F F F O F O ? ? 1 0 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1 0 1 0 1 0 1 1 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 1 0 0 1 1 0 108 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 1 1 O resultado de uma análise de agrupamento (Figura 3) indicou maior similaridade entre as amostras de E. najas, enquanto que a menor similaridade foi observada entre as amostras de N. amazonum. Em relação à composição de ciliados entre as espécies de macrófitas, essa análise evidenciou diferenças representativas na composição de espécies de ciliados entre as diferentes plantas analisadas. Nesse sentido, maior similaridade foi observada entre E. najas e C. furcata, enquanto que N. amazonum apresentou uma elevada dissimilaridade das demais espécies. Esses resultados sugerem que a arquitetura das macrófitas exerce relevante influência na composição de espécies de ciliados. Distância de Jaccard n I o f m r a ito n R e m a in in g % ( ) 100 75 50 25 0 U1 C1 C3 E1 E3 E2 C2 U3 U2 N2 N3 N1 Figura 3: Dendograma derivado de uma análise de agrupamento (Coeficiente – distância de Jaccard; método de ligação – Nearest neighbor) realizada a partir dos dados de ocorrência das espécies de ciliados nas diferentes amostras de macrófitas aquáticas (U = U. foliosa; C = C. furcata; E = E. najas e N = N. amazonum. 1, 2, 3 = tréplicas). PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 109 Em relação à densidade de ciliados (Figura 4), E. najas apresentou o maior valor médio registrado (372,54 cel.cm-2), seguida por C. furcata (350,85 cel.cm-2) e .U. foliosa (271,97 cel.cm-2) enquanto que os menores valores foram apresentados por N. amazonum (86,38 cel.cm-2). Os resultados da ANOVA, no entanto, revelaram diferenças significativas apenas entre N. amazonum e E. najas (F= 5,164; p= 0,028). -2 Densidade de ciliados (cel.cm ) 600 500 400 Mean+SD Mean-SD ii Mean+SE Mean-SE Mean 300 200 i 100 0 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 4: Densidade média de ciliados (cel.cm-2), registrada nas espécies de macrófitas estudadas – Nymphaea amazonum, Cabomba furcata, Egeria najas e Utricularia foliosa - (números diferentes indicam diferença significativa). Em relação à densidade em nível específico, considerando as quatro espécies vegetais, os ciliados Cinetochilum margaritaceum e Aspidisca cicada apresentaram os maiores valores médios, respectivamente de 75,66 cel.cm-2 e 30,46 cel.cm-2. As espécies agrupadas como outras correspondem a menos de 25% da densidade média de ciliados registrada nas macrófitas amostradas (Figura 5). Considerando-se as densidades médias dos ciliados nas diferentes macrófitas, as densidades mais expressivas, por espécies vegetais, foram registradas por: A. cicada (29,76 cel.cm-2) e C. margaritaceum (17,71 cel.cm-2), para N. amazonum; C. margaritaceum (127,26 cel.cm-2) e Coleps sp. (49,65 cel.cm-2), para C. furcata; C. margaritaceum (82,32 cel.cm-2) e A. cicada (63,68 cel.cm-2), para E. najas e, para U. foliosa, C. margaritaceum (75,36 cel.cm-2) e Oxytricha sp. (29,79cel.cm-2), nNeste sentido, novamente destaca-se C. margaritaceum, com grande representatividade em todas as espécies vegetais. PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 110 400 Outras Hymenostomatida sp B Hymenostomatida sp A -2 Densidade de ciliados (cel.cm ) 350 300 V. convallaria Uroleptus sp A P. luciae 250 Oxytricha sp Litonotus sp A 200 Cyclidium sp Coleps sp C. margaritaceum 150 A. cicada 100 50 0 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 5. Densidade média (cel.cm-2) das principais espécies de ciliados, registradas para as quatro espécies de macrófitas estudadas. Para a biomassa média de ciliados (Figura 6), os resultados obtidos evidenciaram uma tendência clara de aumento nos valores de biomassa com o incremento no grau de complexidade estrutural das espécies de macrófitas, com valores crescentes desde Nymphaea amazonum (60,82 ngC.cm-2) até Utricularia foliosa (378,88 ngC.cm-2), com valores intermediários verificados em Cabomba furcata (209,69 ngC.cm-2) e Egeria najas (320,79 ngC.cm-2). Os resultados da ANOVA indicaram, no entanto, que apenas as diferenças na biomassa de ciliados observadas entre N. amazonum e as demais espécies vegetais foram altamente significativas (F= 9,655; P= 0,0049). As 11 espécies de ciliados mais importantes em termos de biomassa (Figura 7) contribuíram com mais de 75% da biomassa total de ciliados, registrada nas diferentes espécies de macrófitas. As espécies com maior biomassa média, considerando-se as quatro espécies vegetais, foram Oxytricha sp. e Frontonia sp., com 56,0 mgC.cm-2 e 27,4 ngC.cm-2, respectivamente. Analisando-se a biomassa das espécies de ciliados, nas diferentes espécies de macrófitas, separadamente, essas mesmas espécies foram as que mais contribuíram na biomassa de ciliados em Nymphaea amazonum (Frontonia sp. = 17,93 ngC.cm-2; Oxytricha sp. = 11,53 ngC.cm-2) e Utricularia foliosa (Oxytricha sp. = 113,56 ngC.cm-2 ; Frontonia sp. = 73,21 ngC.cm-2). 600 Mean+SD Mean-SD 500 Mean+SE Mean-SE -2 Biomassa de ciliados (ngC.cm ) PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 111 ii ii Mean 400 ii 300 200 i 100 0 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 6. Biomassas média de ciliados (ngC.cm-2) registradas nas espécies de macrófitas estudadas – Nymphaea amazonum, Cabomba furcata, Egeria najas e Utricularia foliosa (números diferentes indicam diferença significativa). Oxytricha sp. também contribuiu de maneira representativa na biomassa de ciliados em Cabomba furcata (24,72 ngC.cm-2) e Egeria najas (74,18 ngC.cm-2), porém, nestas macrófitas, as espécies de ciliados com maior biomassa média foram Coleps sp. (34,73 ngC.cm-2) em C. furcata, Vorticella convallaria (94,42 ngC.cm-2) em E. najas. 450 Outras 400 Cyrtophorida spC V. convallaria -2 Biomassa (ngC.cm ) 350 300 V. campanula Uroleptus spA Oxytricha sp 250 L. lucens L. olor 200 150 100 Frontonia sp Coleps sp C. margaritaceum A. cicada 50 0 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 7. Biomassa (ngC.cm-2) das principais espécies de ciliados, registrada para as quatro espécies de macrófitas estudadas. PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 112 Em relação à média das dimensões celulares máximas (DCM) dos ciliados (Figura 8), observou-se grande variação entre as espécies de macrófitas, seguindo uma evidente tendência de incremento neste parâmetro desde a macrófita de arquitetura mais simples até a mais complexa. Neste sentido, em N. amazonum o valor médio registrado foi de 34,06 µm, próximo àqueles observados em C. furcata e E. najas, com, 36,61 µm e 38,31 µm respectivamente. Já em U. fóliosa, o valor médio foi consideravelmente maior, 47,65 µm, sem, entretanto, apresentar diferença significativa das demais, de acordo com os resultados da ANOVA. Na Tabela 2 encontram-se os valores das correlações de Pearson entre os valores de matéria orgânica aderida, clorofila a aderida e complexidade estrutural das macrófitas amostradas e os atributos das comunidades de ciliados a elas associadas. Tamanho (DCM - µm) 60 54 Mean+SD Mean-SD Mean+SE Mean-SE Mean 48 42 36 30 N. amazonum C. furcata E. najas U. foliosa Macrófitas Figura 8. Tamanho médio da dimensão celular máxima (DCM) dos ciliados associados às espécies de macrófitas amostradas – Nymphaea amazonum, Cabomba furcata, Egeria najas e Utricularia foliosa. Observou-se que a maioria das variáveis analisadas não apresentou correlações significativas com a quantidade de matéria orgânica (MO) e clorofila a. Apesar dos resultados significativos para a riqueza de espécies, essa relação foi inversamente proporcional às concentrações de clorofila a e MO, que, da mesma forma que os resultados obtidos para os demais atributos, não sugere influência da disponibilidade de recursos na determinação dos padrões observados para a comunidade de ciliados. Por outro lado, os atributos das comunidades de ciliados mostraram-se altamente relacionados aos valores de complexidade das macrófitas aquáticas, tendo sido observada correlação positiva e significativa para a riqueza de espécies, densidade e biomassa. Além disso, mesmo não ocorrendo significância estatística, observa-se uma tendência de maiores valores de DCM dos ciliados de acordo com o incremento nos valores de complexidade estrutural das macrófitas. Por fim, os resultados evidenciam que a estrutura da comunidade de ciliados perifíticos é altamente influenciada pela complexidade do hábitat, independente da área de colonização, sendo que a abundância e a diversidade destes organismos se apresentaram diretamente relacionadas ao incremento na complexidade estrutural das macrófitas. PELD – Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração 113 Tabela 2. Valores do teste de correlação entre a matéria orgânica (mg.cm-2), clorofila a (µg.cm-2) e complexidade estrutural das macrófitas e os atributos (riqueza de espécies, densidade média (cel.cm-2), dimensão celular máxima (DCM - µm) e biomassa média (ngC.cm-2) das comunidades de ciliados. Matéria orgânica Clorofila a Complexidade R p R p R p Riqueza -0,588 0,044 -0,616 0,033 0,907 0,000 Densid. -0,226 0,479 -0,315 0,676 0,731 0,007 Biom. -0,300 0,344 -0,201 0,531 0,869 0,000 DCM -0,234 0,464 -0,131 0,686 0,527 0,079
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