Junho 2005
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Junho 2005
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS IV SÉRIE - EDIÇÃO Nº 2 JUNHO DE 2005 LUTA É AGORA PALAVRA DE ORDEM PRIVATIZAM ATÉ A ÁGUA DA NATUREZA A SEDE DE LUCRO QUE SE REJEITA! GERAIS 3 e 32 FICHA TÉCNICA Director: Paulo Trindade Coordenador de Redação: Rui Raposo Conselho de Redacção: Artur Monteiro, José Manuel Dias, Manuel Ramos, Natália Carvalho, Paulo Trindade e Vítor Gonçalves Redacção: Regimprensa, CRL Fotografia: Gabinete de Informação da Federação Propriedade: Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública Rua Rodrigues Sampaio, 138-3º, 1150-282 Lisboa Tel: 21 317 24 80. Fax: 21 317 24 89 / 21 315 28 20 Email: [email protected] Design e Pré-impressão: Regimprensa, CRL Impressão: Impresse 4 – Sociedade de Edições e Impressão, Lda Periodicidade: Quadrimestral Tiragem: 42.200 exemplares. Distribuição gratuita aos sócios dos Sindicatos da Federação Depósito Legal: 3063/89 2 Paulo Trindade sustenta que «lutar é a palavra de ordem». A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública apela à luta contra as medidas do Governo que põem em causa um conjunto de direitos fundamentais conquistados pelos trabalhadores da Administração Pública ao longo dos últimos 30 anos.FP TEMA 4a7 «A democracia plena, para o ser, deve ser multifacetada: política, económica, social e cultural.» É assim que a concebe Octávio Teixeira em entrevista concedida à «Função Pública». João Arsénio Nunes, por seu turno, salienta, também em entrevista publicada nesta edição, que a luta de classes é indespensável à democracia. FP que o Governo faça uma avaliação de todo «o longo processo liberalizador e privatizador» dos serviços públicos que teve «como consequência uma grande degradação da qualidade dos serviços». FP 16 e 17 A Lei Quadro da Água, aprovada pelo PSD-CDS/ PP, tem o apoio do actual governo. Se as mudanças pretendidas entrarem em vigor, por exemplo, «uma só empresa poderá ser proprietária de toda a água que está no Alqueva, do próprio caudal do Guadiana e de todas as albufeiras do Alentejo», diz Luísa Tovar. FP GERAIS 9 a 12 O Fórum Internacional Serviços Públicos exige 3 — Editorial 4 e 5 — «Democracia plena é multifacetada» 6 e 7 — «Luta da liberdade humana contra o lucro» 8 — Governo rejeita negociações & Novo estatuto do pessoal dirigente fere expectativas criadas 9 a 12 — Fórum Internacional Serviços Públicos exige avaliação das privatizações 13 a 15 — Mudança de política requer diferente postura 16 e 17 — Privatização da água «é um perigo» 18 — ISS não dá segurança aos trabalhadores 19 — Reivindicações em defesa do SNS & Regime de contratação na justiça 20 — Situação de impasse nos museus e palácios & Quadros de pessoal têm de ser revistos na Defesa 21 — DGRF deu razão aos guardas florestais & Agentes técnicos agrícolas: Federação recebida no Ministério 22 — Exigida revogação de regulamento do IEFP 23 — Trabalhadores não docentes ÍNDICE exigem soluções & Bolonha pode ser «artimanha» 24 — Centro: Trabalhadores mobilizados para construir a mudança de rumo 25 — Relacionamento normal é uma esperança do STCDE & Acção reivindicativa no Norte 26 — Horário flexível causa graves consequências na DGO 28 — Legislação 29 — Serviços aos sócios 30 — Lazer 32 — Já basta de políticas injustas Nº 2 . JUNHO 2005 . FP OPINIÃO LUTAR, NESTE MOMENTO, É UMA NECESSIDADE! EDITORIAL Os trabalhadores portugueses e, noos TFP’S são uns privilegiados porque no meadamente os TFP’S votaram em 20 de regime geral a reforma é só aos 65 anos! Fevereiro. Os resultados eleitorais, lidos por Esquecem-se dos regimes, por exemplo, quem quer que seja, traduzem a exigência dos deputados, dos padres, dos futebolistas de uma mudança de política. e de muitos outros. Infelizmente, as opções políticas exColocamos as injustiças do regime de pressas quer no programa do actual Goveravaliação de desempenho e, nomeadamenno quer nas reuniões já realizadas levam a te, de haver milhares de trabalhadores já concluir que nos querem impor “pior do impedidos de mudar de escalão por motimesmo”. vos que lhe não podem ser imputáveis e o As medidas anunciadas pelo primeiroGoverno responde que as quotas são para ministro, para combater os “inesperados” manter, pois o contrário seria um descrédi6,8% do défice, revelam-se como um verto, que há é que premiar os dirigentes que dadeiro atentado aos direitos mais elementenham mérito e ser ainda mais rigoroso tares dos trabalhadores da função pública para os trabalhadores! e representam o contrário das expectativas Registe-se contudo o compromisso do criadas com os resultados eleitorais mais Secretário de Estado da Administração recentes. Pública de encontrar uma solução para os Para além das medidas mais gerais que trabalhadores prejudicados na progressão afectam o poder de compra de todos os trada carreira só que até agora ainda não enbalhadores, incluindo os da função pública, controu dia para reunir com os sindicatos temos aquelas que em exclusivo põem em PAULO TRINDADE nem conseguiu encontrar solução. causa os seus direitos, conquistados ao lonConfrontamos o Governo com os custos go dos anos de democracia e na sequência orçamentais das privatizações, dos outsorOs TFP’S têm um patrimó- cings e com a degradação dos serviços e de árduas lutas. Estas medidas, a começar pela suspen- nio de luta e combatividaresponderam-nos que o que é moderno é o são da progressão nos escalões, passando Estado se limitar às funções de soberania, de de que não abdicarão, pela reactivação dos excedentes, pela desdiplomáticas e de defesa. truição do regime da CGA e pelo aumento têm sindicatos fortes e Nas reuniões com o Governo os nossos da idade para a aposentação e a acabar na identificados com os seus Sindicatos ainda não ouviram a palavra redução de direitos de protecção na doença, negociação – dêem sugestões, estamos interesses, lutaram e lunão têm verdadeiro e imediato impacto soa estudar os problemas, vamos ver se é bre o valor do défice, sendo este um mero tarão em defesa da sua possível, o Governo e a Assembleia da pretexto para consumar este ataque aos dignidade pessoal e proRepública são soberanos – é a cassete que direitos dos TFP’s. se repete em termos gerais e nos diferentes fissional. Mas também noutras questões centrais Ministérios. como a dos salários respondem-nos com Para cúmulo não foi respeitado o prazo a necessidade de prosseguir a contenção de vinte dias para emitirmos parecer sobre salarial devido à “crise”. O problema é que a crise não é para o estatuto dos cargos dirigentes. todos pois por exemplo os resultados dos grandes grupos finanTudo isto existe, tudo isto é triste mas este não é o nosso ceiros cresceram mais de 10%, os preços dos produtos essenciais fado. Os TFP’S têm um património de luta e combatividade de que sobem permanentemente mas quando falamos de salários dizemnos que é uma inevitabilidade a necessidade de contenção pois o não abdicarão, têm sindicatos fortes e identificados com os seus equilíbrio entre as receitas e as despesas no Orçamento de Estado interesses, lutaram e lutarão em defesa da sua dignidade pessoal é o principal problema do país (a Dr.ª Manuela Ferreira Leite não e profissional. Perante o quadro agora perspectivado e em que os direitos dos diria melhor). Ora, para se ser rigoroso há que dizer e repetir até à exaustão trabalhadores da função pública estão claramente postos em causa, que o equilíbrio orçamental é um problema mas não é o problema alarga-se o leque de todos aqueles que recusam políticas que nada têm a ver com as expectativas criadas com os resultados de 20 de do país. O grande problema do país é a necessidade de desenvolvimento Fevereiro. A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública é o do aparelho produtivo pois só ele pode criar riqueza, é o combate pólo dinamizador duma ampla plataforma de combate contra esta à economia clandestina e à fraude e evasão fiscais. Mas quanto a política. Neste sentido, decidiu promover no próximo dia 17 de isto o Governo nada diz. Junho, em Lisboa, uma manifestação nacional de trabalhadores Quando colocamos o problema de alterar a legislação do Go- da Administração Pública, para a qual estão desde já convocados verno CDS/PSD relativamente à aposentação e de repor direitos todos os trabalhadores do sector. retirados respondem-nos que em nome da sustentabilidade do sistema há é a necessidade de aumentar a idade da reforma pois Lutar é a palavra de ordem! FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP 3 TEMA NEOLIBERAIS RECUSAM-SE A ACEITAR «DEMOCRACIA PLENA É MULTIFACETADA» «A democracia plena, para o ser, deve ser multifacetada: política, económica, social e cultural.» É assim que a concebe Octávio Teixeira que, em entrevista concedida à «Função Pública», opina que para os defensores do neoliberalismo apenas existe democracia política. O s defensores do neoliberalismo apenas concebem a existência de democracia política. Octávio Teixeira refuta essa concepção estreita, sustentando a natureza multifacetada da democracia plena. Na entrevista que concedeu à «Função Pública», pronuncia-se sobre o programa do actual Governo, cujas linhas de orientação vão no sentido de «continuar a privilegiar, incentivar, apoiar e subsidiar» as grandes empresas e os grupos económicos que dominam a economia nacional. O papel reservado ao Estado é o de um facilitador e um financiador das grandes empresas económicas. O Governo de José Sócrates acolhe a tese cara aos neoliberais de que «ao Estado cabe garantir a existência dos serviços e pagá-los, mas não produzilos». Octávio Teixeira considera que já hoje a economia nacional é controlada pelos grupos económicos privados. Situação que tende a reforçar-se com a ameaça de «mais privatizações, designadamente no sector energético, no da água, na segurança social e na saúde». Licenciado em Finanças e técnico consultor do Banco de Portugal, Octávio Teixeira é um profundo conhecedor da organização económica do país e um especialista neste domínio. Enquanto deputado e presidente do grupo parlamentar do PCP na Assembleia da República, interveio no debate político e criticou as escolhas e opções de diferentes governos no domínio da economia e no da privatização do sector público do Estado. Função Pública — Afirmou-se, após as últimas eleições legislativas, que teria agora início um novo ciclo. No seu programa, o Governo de José Sócrates reitera expressamente «o reconhecimento da superioridade do mercado como forma de organização da economia»1. Em que medida é que o novo ciclo político in- 4 economia portuguesa. E, simultaneamente, de afastar o Estado da regulação económica, entregando esse papel a entidades ditas “independentes”. Mas independentes de quem? Parece-me que são fundamentalmente independentes do Estado… Por ORLANDO CÉSAR O Governo define o papel do Estado como o de um facilitador, já que «a renovação do tecido empresarial e a criação de novos factores competitivos serão fundamentalmente da iniciativa privada e dos mecanismos de mercado»2. Quer isto significar uma maior liberalização, menos sector público, mais privatizações. fluenciará o sistema económico vigente? Traduzir-se-á numa maior eficiência do Estado para favorecer a governação da economia pelo mercado? Octávio Teixeira — É manifesto que o novo ciclo político não irá alterar o sistema económico vigente. As práticas de anteriores Governos do PS e o próprio programa do actual Governo são, nesse aspecto, muito claros. As grandes linhas de orientação afirmadas vão no sentido de se continuar a privilegiar, incentivar, apoiar e subsidiar a chamada “iniciativa privada” (eufemismo para designar as grandes empresas e os grupos económicos que dominam a economia nacional) e de reduzir ainda mais a já fraca participação do sector público na Na sequência do que acabei de dizer é precisamente esse o significado. Não tenho dúvidas que, em matéria económica, o actual Governo é um defensor do neoliberalismo. O papel reservado ao Estado não é apenas o de um facilitador como lhe chamaste (e que é particularmente visível no âmbito da legislação laboral), mas igualmente de um financiador (por via de subsídios, parcerias ou do sistema fiscal) das grandes empresas económicas. É evidente que numa economia capitalista como aquela em que vivemos, quer a renovação do tecido empresarial quer os aspectos competitivos são uma responsabilidade das próprias empresas capitalistas. Mas isso não deveria significar o alheamento do Estado dessas preocupações, nem tão pouco a eliminação da própria participação do sector público da economia na prossecução desses objectivos. Que são, aliás, fulcrais no momento presente da economia nacional. Quer ao nível da indispensável alteração da estrutura produtiva quer no âmbito do urgente aumento da produtividade. A própria história recente da economia portuguesa mostra, de forma notória, que o sector privado da economia não tem sido capaz, ou não tem querido, de ultrapassar as fragilidades estruturais da nossa economia. Continua a privilegiar o sector dos bens não Nº 2 . JUNHO 2005 . FP transaccionáveis (para fugir à concorrência externa) e o modelo dos baixos salários que está definitivamente condenado. Se o Estado em Portugal já não dispõe de grandes prerrogativas para a definição da política económica, caso privatize sectores e empresas que lhe permitem intervir no mercado para o regular qual será o seu papel no futuro e qual a função de um Ministério da Economia? Toda esta lógica conduz a que o papel do Estado na produção e regulação económicas seja tendencialmente nulo. O papel do Ministério da Economia, como outros, tenderá a ser, dentro da tal lógica, o de financiador (pelo 25 de Abril de 2005, em Lisboa menos enquanto houver funmesmos grupos, serviços sociais mais cados comunitários) e pagador de serviços transferidos para o sector pri- ros e maior dificuldade de acesso a esses vado. Recorde-se que, no seu programa, o serviços por largas parcelas da população. Governo avança com a promessa de inves- Os exemplos existem por esse mundo fora, timentos da ordem dos 20.000 milhões de como nos EUA e no Reino Unido. A que euros do sector privado, comprometendo-se acresce, no nosso país e como a experiência o Estado a participar (subsidiar) com uma bem o mostra, a perda de centros de decisão parte desse montante. E isto no sector eco- económica nacionais, sem os quais não há nómico como no social. É a tese, cara aos aposta na alteração da estrutura produtiva neoliberais, de que no âmbito social ao Es- nem na inovação científica e tecnológica. tado cabe garantir a existência dos serviços Tornando-se o Estado um facilitador e pagá-los, mas não produzi-los. Parece-me de negócios e também um financiador de elucidativo, por exemplo, a recente medida serviços entretanto privatizados, onde vai do Governo de transformar os Hospitais SA obter receitas? em Hospitais EPE. Uma mudança de forma para manter a substância inalterada. Aos cidadãos, pela via dos impostos. Mas também pelo pagamento desses serviConhecidas as experiências internaços: sejam as portagens nas estradas, sejam cionais, e também a evolução registada as propinas nas escolas ou as taxas nos em Portugal, é expectável a transferência hospitais. Os cidadãos serão prejudicados do controlo do sistema económico para os no acesso e na qualidade dos serviços e conselhos de administração dos grandes passam a pagá-los ou a pagar mais por eles. grupos financeiros? É a lógica do sistema. Já hoje a economia nacional é fundaPerante uma situação em que crescem mentalmente controlada pelos grupos ecoas assimetrias, entre ricos e pobres, entre nómicos privados, financeiros ou não. E essa grandes e pequenas empresas, entre consituação tende a reforçar-se com a ameaça tribuintes colectivos e individuais, pode de mais privatizações, designadamente no falar-se em melhoria da qualidade da sector energético, no da água, na segurança democracia? Isto é, o aperfeiçoamento da social e na saúde. democracia não pressupõe uma economia que também sirva as pessoas? Quais as consequências previsíveis? Maior poder dos grupos económicos, maior dependência do Estado face a esses Nº 2 . JUNHO 2005 . FP A questão central é que para todos estes defensores do neoliberalismo só existe a democracia política. E mesmo esta desde que não vá além do direito a voto de tanto em tanto tempo. Recusam-se a aceitar (e bem se percebe porquê) que a democracia plena, para o ser, deve ser multifacetada: política, económica, social e cultural. A própria ideia da justiça social é, essencial e normalmente, uma expressão sem conteúdo. Que lugar resta à economia social? E ao sector público? No âmbito de sociedades em que a economia esteja ao serviço dos cidadãos, e em particular dos trabalhadores (no activo ou já reformados) o papel desses sectores continua a ser insubstituível. Porque o sector privado tem sempre de ter, por natureza, como fim último o maior lucro possível. Mas neste sistema actualmente predominante a tendência será para os asfixiar. Neste estádio de desenvolvimento da economia de mercado do sistema e sociedade capitalista, os grupos sociais e os trabalhadores transformam-se em quê? Recursos e/ou consumidores? Recursos enquanto prestadores de trabalho ao mais baixo preço possível e consumidores para gerarem os maiores lucros possíveis FP 1 Programa do XVII Governo Constitucional, Capítulo I, III Promover a eficiência do investimento e das empresas, página 27. 2 idem, página 22. 5 TEMA «LUTA DA LIBERDADE HUMANA CONTRA O LUCRO» «A luta de classes não é só a luta dos operários, dos produtores directos, contra os patrões». João Arsénio Nunes considera que é, mais amplamente, «a luta do trabalho contra o capital. É a luta da liberdade humana contra o lucro». Começou a dar aulas em 1974 no Instituto Superior de Serviço Social e passou, no ano seguinte, para o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde ainda hoje lecciona, entre outras, a cadeira de História do movimento operário e do socialismo. Quando começou havia uma grande curiosidade pelos «aspectos político-ideológicos do movimento operário». Hoje a disciplina continua a suscitar interesse e é tanto mais fácil trabalhar quando «os estudantes têm conhecimentos teóricos e quando é possível relacionar a história do movimento operário com a história geral dos séculos XIX e XX». João Arsénio Nunes considera essenciais «os movimentos que estruturam o núcleo da existência social e política da classe trabalhadora, o partido e o sindicato». Qualquer tipo de regime político que sacrifique «o núcleo histórico do movimento operário e da sua consciência de classe» acaba por sacrificar tudo, em termos de democracia. «O movimento operário procura antes de mais a unidade dos trabalhadores, sindicalizados e não-sindicalizados, empregados e desempregados. Ele enraíza numa situação objectiva, que separa aqueles que apenas possuem de seu a força de trabalho dos que detêm os meios de produção. Mas o movimento operário nunca existiu sem que fosse ao mesmo tempo criador de ideias e de cultura, que interagem com as diversas expressões culturais e ideológicas existentes em qualquer sociedade.» «A luta do trabalho contra o capital é uma no seu fundamento, mas a maneira como o conflito social e político é vivido é muito diversa». Os sujeitos vêem o mundo de maneira diferente, donde que só seja possível dar ao movimento operário uma concretização prática se as organizações forem «capazes de se cruzarem, de estabelecerem formas de interlocução com os mais diversos grupos da sociedade que em diversos planos possam contribuir para a defesa da democracia e do espaço das realizações progressistas alcançadas ou possíveis». Para tanto julga essencial uma acção 6 A luta de classes é indispensável à democracia, considera João Arsénio Nunes, docente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Em entrevista à «Função Pública» opina que a democracia não está garantida e há quem a ponha em causa mesmo no plano formal. capaz de «estabelecer objectivos, também por meio de negociação e compromisso, que permitam deslocar a relação de forças. Só através dessa deslocação, só contendo a ofensiva simultaneamente anti-operária, anti-trabalhadores e anti-democrática actual é que é possível conceber a passagem a objectivos mais avançados». UM PROCESSO O perfil típico da classe operária corresponde aos assalariados da «grande indústria mas, apesar do seu grande crescimento durante cerca de século e meio (crescimento que aliás, à escala mundial, continua a verificar-se), este grupo social nunca constituiu a maioria da população. Desde o princípio do século XX, e mais acentuadamente, na Europa, desde a 2ª Guerra Mundial, verifica-se o crescimento do terciário, e portanto dos trabalhadores ligados à distribuição, aos transportes e serviços, e nomeadamente aos serviços públicos, incluindo o ensino e a investigação. «A classe operária configura-se assim como um processo atravessado por movimentos contraditórios, já que sempre houve entre os operários enormes diferenças, quer entre os operários de actividades artesanais em meio rural e os operários das cidades, quer entre os operários especializados e os não-qualificados. Um problema que modernamente se coloca, por causa da automação e das aplicações da informática à indústria, é o da própria fronteira entre o trabalho produtivo e o de direcção e controle. Provavelmente, muitos engenheiros, por exemplo, devem hoje ser considerados parte da classe operária». João Arsénio Nunes sustenta que «não é ter uma actividade manual do sector industrial que define de uma maneira exclusiva a classe operária». Pensa também que não se pode «definir a classe operária em termos estritamente objectivos, isto é, em relação ao lugar na produção». Mas pode-se afirmar com segurança que «a tendência da expropriação do trabalho pelo capital abarca uma percentagem crescente da população e nesse sentido a classe operária é cada vez maior. A própria classe operária industrial é hoje maior no mundo do que alguma vez o foi». Decorre dos textos de Karl Marx a noção de classe para si, a qual é mais importante porque se refere ao sujeito social. «A classe operária importa-nos na medida em que, através de determinadas condições do desenvolvimento de práticas comuns, ligadas também a condições que não são só da produção, mas do processo de socialização, pode conceber e desenvolver objectivos de transformação histórica. Nesse sentido, a existência da classe operária é um constante fazer-se e desfazer-se». Hoje fala-se mais em classes trabalhadoras e menos em classe operária. Mas, «na maior parte dos países da Europa e em Portugal, por razões de história social, económica e política, a classe operária industrial tem um papel nuclear no movimento operário e sindical». A tendência do capitalismo tem sido a de subordinar tudo à sua lógica, até na esfera Nº 2 . JUNHO 2005 . FP mais privada. Após a derrota dos fascismos na 2ª Guerra Mundial, o «capital encontrou outras formas de absorção do domínio da vida». Hoje a sua expressão verifica-se ao nível do condicionamento do consumo, o qual «acaba por governar todas as esferas da vida». Nestes últimos 60 anos de lutas há duas fases, «a primeira, que grosso modo vai até meados ou final dos anos setenta, é principalmente de avanços, de ganhos do movimento operário, e a segunda é predominantemente de perdas. Num período de expansão económica como foram as três décadas de 1945-75 (em que se verificou também a consolidação do campo dos Estados socialistas) houve ganhos do movimento operário, do trabalho em geral». Alcançou ganhos salariais, culturais e de redução do horário de trabalho muitos importantes, «modos de vida que representam condições de liberdade». Mas o último quarto de século «têm sido anos de recuos e de perdas mais acentuadas». A lógica do capital é dominante e exerce-se sobre todas as esferas da vida, comportando consequências como «a precarização, a insegurança, e portanto a dessocialização e a despolitização». Apesar da fase actual ser predominantemente de recuo, o movimento operário — tido aqui como a organização dos assalariados no sentido da solidariedade de classe e da alternativa de sociedade — não está «dissociado do que se passa no mundo, por exemplo, o movimento anti-globalização, que corresponde a uma formulação do problema e a uma tentativa de resposta». LUTA PELAS «TENDÊNCIAS FUTURAS» Para João Arsénio Nunes, os sindicatos lutam não só pela defesa em relação às condições presentes, «mas, sobretudo, em relação às ameaças, em relação às tendências futuras». Era já assim quando se constituíram as primeiras organizações sindicais no princípio do século XIX, em Inglaterra. Em Portugal, no final do século XIX, o grande crescimento dos sindicatos cruza-se com a afirmação do socialismo e também de outras ideologias, como o sindicalismo revolucionário ou o impacto do republicanismo. «Muitos trabalhadores formaram-se politicamente por influência dos ideais republicanos» e, já no século XX, é a luta contra o fascismo que assume importância relevante «na formação da consciência de classe dos trabalhadores portugueses». Aliás, «aquilo que se passou em Portugal, em 1974, resultou de muitíssimos factores históricos de longa duração e outros Nº 2 . JUNHO 2005 . FP 1º de Maio de 2005, em Lisboa conjunturais. Mas o peso do movimento operário nessa mudança foi maior do que, nos primeiros dias do 25 de Abril, se podia imaginar, e maior do que os capitães de Abril supunham. E muito maior do que o general Spínola imaginava quando aderiu ao 25 de Abril». O 25 de Abril português e a revolução que teve lugar, apesar de todos os seus limites, «são muito o fruto deste processo de longa duração e de crescimento da classe operária e do movimento operário desde os anos 50 e 60 e do grande vigor que se exprimiu na formação da Intersindical, em 1970». Foram esses factores que imprimiram «uma marca e um carácter próprio aos dias pós-25 de Abril» e são eles que explicam «a força e a dimensão» do primeiro 1º de Maio celebrado em liberdade. Em 1974 e 1975 verifica-se uma «convergência entre o movimento operário e a revolução democrática». Todavia, o recuo da revolução portuguesa traduziu-se numa relativa separação entre o movimento operário e o Estado democrático. «Após 1976 a divergência é crescente». João Arsénio Nunes salienta que «ainda estamos para ver se é possível o 25 de Abril, quer dizer, o regime democrático, subsistir numa completa divergência do 1º de Maio, isto é do movimento operário». Acrescenta que a seu ver não o é. «Por isso há riscos sérios, a curto prazo, se esta tendência de divergência se prolongasse indefinidamente». Opina, porém, que hoje «o Estado democrático, em muitos aspectos, já é só uma ilusão». Di-lo porque para «o quotidiano de muitos portugueses não há Estado democrático no funcionamento da educação, no funcionamento da justiça nem no acesso à saúde. Esse problema já se põe para uma massa muito grande de portugueses. No entanto, ainda temos um Estado democrático que representa alguma coisa, que representa mudanças do quotidiano em relação à experiência histórica anterior». Mas «o Estado democrático estaria condenado no dia em que o que subsistisse fosse apenas a superstrutura, a eleição do parlamento e a existência dos partidos». Sustenta que há vontade por parte de sectores políticos e sociais, que não o escondem, de «levar mais longe a eliminação da democracia em relação a essas conquistas basilares do 25 de Abril, no que diz respeito a condições salariais, estabilidade de emprego, serviços sociais, educação, até na justiça». Sustenta que a ameaça sobre o Estado democrático é indissociável dos riscos que pendem sobre o movimento operário. Para João Arsénio Nunes, «a redução da democracia começou com a liquidação da Reforma Agrária, do controlo operário, da auto-gestão» e também da autonomia de gestão das escolas. Verifica-se «uma tendência crescente para a supressão das formas de autonomia e a sua substituição por formas de gestão especializada. Tudo isso compromete a democracia». Apesar dessas perdas no plano dos direitos sociais e da democracia participativa, «há quem pense que a democracia como sistema político está estabilizada e garantida em Portugal. A meu ver não está». Diz ser prova disso «a quebra dos direitos sociais e as exigências que são feitas no que respeita à revisão da Constituição e à revisão da lei eleitoral, que põem em causa a própria democracia no plano formal, bem como as exigências em matéria de organização dos partidos». Essas ameaças põem em causa «o próprio sistema político democrático no sentido jurídico, mesmo quando isso não é afirmado expressamente». FP 7 GERAIS GOVERNO REJEITA NEGOCIAÇÕES O Governo recusou-se a abrir um processo negocial sobre salários, vínculos precários, aposentação e avaliação de desempenho, no decurso de uma reunião entre o ministro das Finanças e uma delegação da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública, realizada no passado dia 2 de Maio. Para os representantes sindicais, a posição em relação a estas matérias são reveladoras da sua ausência de intenção em resolver os problemas. Quanto à política laboral para o sector, o ministro afirmou: «Estamos em crise, não há dinheiro, há que prosseguir a política de contenção orçamental». Esta postura do Governo deita por terra quaisquer expectativas de uma mudança política, perspectivada por muitos trabalhadores com os resultados eleitorais de 20 de Fevereiro. Na análise da Frente Comum, esta postura tem como resultado o agravamento das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores da administração pública, tendo em conta aquilo que até agora foi feito pelos governos anteriores e que agora se prevê ser seguido pelo actual. A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública, perante os resultados desta reunião, considera confrangedor o facto de este governo não querer interpretar a exigência de mudança política e, pelo contrário, assumir uma postura de «mais do mesmo». Perante isto, a Frente Comum irá decidir as medidas a adoptar perante esta postura governamental e por isso serão intensificados o esclarecimento, a mobilização e, obviamente, o recurso a formas de luta, quer em termos gerais, quer sectoriais. Em relação aos salários, o ministro das Finanças não admitiu qualquer possibilidade de alteração intercalar. Sobre os vínculos precários, declarou que são FRENTE COMUM DESLOCA-SE AO MAI Dirigentes e delegados sindicais da Frente Comum deslocaram-se ao Ministério da Administração Interna, no passado dia 20 de Abril, para entregar a resolução aprovada em plenário realizado na Casa do Alentejo, em Lisboa. Manifestam a sua preocupação pelo conteúdo do programa do governo para a Administração Pública e a sua disponibilidade para concretizarem acções de luta em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores. No MAI foram recebidos pela chefe de gabinete do ministro de Estado e da Administração Interna. O plenário de dirigentes, delegados e activistas sindicais da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública reunido em Lisboa, no dia 20 de Abril de 2005, tomou, designadamente, as decisões seguintes: – Exprimir a sua maior apreensão face às medidas constantes do Programa do Governo relativamente à Administração Pública e aos seus profissionais, insistindo numa perspectiva privatizadora, na contenção dos salários (redução dos salários reais), na regra de por 8 cada dois trabalhadores que saiam apenas um ser admitido (quando já há serviços em ruptura por falta de meios humanos), na perspectiva de agravamento do regime de aposentação, na generalização do contrato individual de trabalho, no favorecimento da mobilidade, na flexibilidade através da partilha do trabalho ou na proliferação do tele-trabalho. – Reiterar a actualidade das reivindicações constantes da PR/2005; – Equacionar o recurso às formas de luta que em termos globais ou sectoriais se venham a considerar as mais adequadas para a defesa dos direitos dos trabalhadores da Administração Pública. FP para manter porque contribuem para a redução do défice do orçamento da segurança social. Relativamente à aposentação, considerou o ministro que os trabalhadores da Administração Pública são uns privilegiados «porque no mínimo só se deveriam aposentar com 65 anos de idade». Finalmente, no que toca à avaliação de desempenho, esclareceu que o Governo tem intenção de manter o quadro legal em vigor, atendendo a quotas essenciais. Este último tema levou o secretário de Estado da Administração Pública a admitir a possibilidade de reunir com a Frente Comum, em data a marcar, e admitiu que nenhum trabalhador verá o direito à progressão na carreira sonegado pela ausência de aplicação do Sistema de Avaliação de Desempenho.FP Novo estatuto do pessoal dirigente fere expectativas criadas O governo aprovou recentemente um novo estatuto para o pessoal dirigente que, segundo a Frente Comum, não corresponde minimamente às expectativas criadas, já que não só este não melhora o actual estatuto, como aprofunda a partidarização dos cargos de chefia da Administração Pública. Percebe-se assim porque razão o governo não respeitou os preceitos legais sobre o direito de participação colectiva nas condições de trabalho, ao não considerar os prazos legais para a resposta por parte da Frente Comum ao pedido de parecer. Deste modo ainda não estava esgotado o prazo de vinte dias dado às organizações sindicais e já o governo estava a aprovar o projecto. De referir que este, entre outras, contem excepções de tal forma amplas no âmbito de aplicação que a excepção é a regra e esta a excepção. No parecer enviado ao governo, chamase igualmente a atenção para o facto de não ser correcto que «os titulares de cargos de direcção superior sejam avaliados apenas em função do maior ou menor cumprimento do que consta da carta de missão.» Também os planos de actividade deveriam ser instrumentos de referência para a avaliação. Outro aspecto também criticado prende-se com o facto de o projecto prescindir da licenciatura como requisito para os mais altos cargos de direcção, «sobretudo tendo em conta que é limitado o número dos que acedem ao curso do INA».FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP DEGRADAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS FÓRUM EXIGE AVALIAÇÃO DAS PRIVATIZAÇÕES Os participantes no Fórum Internacional Serviços Públicos «Motor de uma Sociedade Desenvolvida e Democrata» exigem que o Governo de José Sócrates faça uma avaliação de todo «o longo processo liberalizador e privatizador» dos serviços públicos que teve «como consequência uma grande degradação da qualidade dos serviços, aumento dos preços e redução da sua universalidade». A exigência faz parte de uma resolução aprovada pelos 322 participantes em representação de 69 organizações que participaram no fórum, realizado no passado dia 18 de Março, no Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR), em Algés. A iniciativa foi promovida por um vasto conjunto de comissões e associações de utentes, organizações sindicais, colectividades e comissões de trabalhadores com o objectivo de alertar a população e os trabalhadores para os perigos da privatização e para os processos em curso. Contou com a participação de 15 oradores centrais e com a presença de Margie Jaffe, do Sindicato Britânico de Serviços Públicos, Michel Patard, do UGICT, Fermim PAZ, secretário Nacional da confederação Intersindical Galega, Leta Methoniou, vice-presidenta da Federação Grega dos Trabalhadores dos Hospitais Públicos, e Babis Vortelinos, secretário-geral da Federação Grega dos Trabalhadores da Função Pública. A resolução realça que a privatização dos serviços públicos conduz a «crescentes assimetrias e injustiças e exclusão de vastos sectores da população» e «constitui um retrocesso civilizacional que importa denunciar e combater». Neste sentido, repudia as teses e as políticas neoliberais e privatizadoras «ditadas por poderosos núcleos de interesses económicos e financeiros nacionais e transnacionais». As políticas de privatização «têm subjacente a obtenção de mais valias» e «são indissociáveis da sociabilização dos custos e a privatização dos lucros e da limitação da acessibilidade aos serviços em função da capacidade económica dos cidadãos e a degradação da qualidade e quantidade do serviços prestado». Esta situação conduz à degradação do princípio da universalidade de acesso à Nº 2 . JUNHO 2005 . FP prestação de serviços inerentes a direitos humanos fundamentais e consagrados no direito nacional e internacional. O documento considera indispensável a garantia e desenvolvimento de serviços públicos de qualidade, inovação, acessibilidade, universalidade e eficácia com «uma gestão eficaz, responsabilizada e participada para corresponderem aos interesses das populações e promoverem o desenvolvimento sustentado da sociedade». Os participantes manifestaram ainda desacordo com a proposta da directiva comunitária que prevê a criação do Mercado de Serviços Internos, um vez que este «é o mais grave passo no sentido de ampliar as privatizações a mais áreas, serviços e funções». Consideram também que a Constituição Europeia deve ser rejeitada por ser «mais um passo perigoso para o aprofundamento da ofensiva contra os serviços públicos e os direitos dos utentes e dos trabalhadores e a coesão social». A resolução afirma a determinação de lutar quer no plano nacional quer internacional pela defesa dos serviços públicos de qualidade através de acções articuladas que se considerem adequadas para suster e inverter as tentativas de retrocesso social e para inverter as políticas privatizadoras. Apela à defesa de um sector público «forte, dinâmico e eficiente» com a aposta no crescimento económico acelerado e sustentado, liberto de condicionalismos do Pacto de Estabilidade e outras imposições externas. Numa altura em que o Estado português perdeu o controlo dos seus principais instrumentos de política macroeconómica, um sector público dinâmico «com uma estratégia e objectivos bem O programa do XVII Governo contém um conjundefinidos é um instrumento funto de medidas que apontam no sentido da privatização damental para enfrentar a crise de competências e funções do Estado e da sua entrega económica e social e tirar o país ao sector privado. A modernização da Administração do estado de atraso em que se Pública é um dos principais alvos do executivo de encontra». José Sócrates. Para Paulo Trindade, da coNo sub-capítulo dedicado a este tema, o governo missão executiva da CGTP-IN, a afirma que não pretende encetar uma «grande reiniciativa pretendeu «abrir camiforma da Administração Pública, mas conduzir um nho para novos passos no trabalho processo reformador feito de passos positivos, firmes em defesa dos serviços públicos e consequentes». O programa refere que se pretende enquanto motor de uma sociedade reduzir anualmente a dimensão da Administração desenvolvida e democrática». Ao Pública, com a diminuição de unidades orgânicas de longo do fórum «ficou claro que a nível central, por descentralização, desconcentração, privatização não resolveu nenhum fusão ou extinção. Nesta matéria, os programas dos dos problemas da sociedade portrês recentes governos não destoam e todos referem tuguesa, mas agravou a injustiça a necessidade da redução da estrutura, diminuição social». Uma situação que, na do número de efectivos e privatização do emprego opinião de Paulo Trindade, tende público. a ser agravada com as políticas No domínio das políticas sociais o governo pretendo novo governo. E deu como de a contratualização com os privados de medidas de apoio ao ensino particular sem clarificar que o ensino exemplo o aumento da idade da básico deve ser universal, obrigatório e gratuito. As reforma dos funcionários da Adparcerias entre o sector público e privado também se ministração Pública pretendido estendem à acção social com a promoção de prograpelo executivo de José Sócrates. mas de investimento em creches e requalificação de Ao nível europeu realça que a amas, à gestão dos fundos financeiros da Segurança directiva que prevê a criação do Social e à Justiça. Mercado dos Serviços Internos Na saúde são várias as medidas com tendência para vai passar a considerar as pessoas a privatização, entre elas, a criação de unidades de «como meros bens económicos, saúde familiar e a empresarialização dos hospitais. sem direitos sociais». FP AS PRIVATIZAÇÕES DO GOVERNO 9 GOVERNOS MENTEM PARA JUSTIFICAR FALHAS TRABALHADORES ESTÃO A SER «INJUSTIÇADOS» O s trabalhadores da Função Pública estão a «ser injustiçados» e utilizados «como desculpa para todas as falhas da Administração Pública». Os últimos governos «recorrem a mentiras sistemáticas para justificar os defeitos, empolam as despesas e atribuem as culpas aos trabalhadores visando a privatização dos serviços públicos», opina o economista Eugénio Rosa. Os discursos que aludem ao aumento das despesas públicas em Portugal, aos elevados custos com os trabalhadores da função pública, à privatização dos serviços públicos como solução para uma diminuição de custos e à gestão privada como sendo mais eficiente do que a pública são quatro das mentiras «mais frequentes que os governantes e as entidades patronais utilizam para justificar as despesas e a burocracia dos serviços». Falsidades que «são repetidas até à exaustão e que contribuem para denegrir a imagem da Administração Pública e dos seus Eugénio Rosa e o Fórum Internacional funcionários junto da população. Serviços Públicos Simultaneamente, promove-se o sector privado. É que uma mentira conjunto dos 15 Estados-membros gastou repetida muitas vezes corre o risco de se 65,3 por cento do PIB, a zona Euro 68,5 por tornar realidade inquestionável». cento e Portugal 66,5 por cento. Eugénio Rosa foi um dos intervenientes A privatização de alguns serviços auno Fórum Internacional Serviços Públicos mentou a factura das famílias portuguesas. «Motor de uma democracia desenvolvida Em Portugal, segundo o Eurostat, a electrie democrática», que decorreu no passado cidade doméstica (por quilowatt) custa mais dia 18 de Março em Lisboa. O economista 24,6 por cento do que nos restantes 14 países apresentou alguns dados estatísticos «que da União Europeia, o gás doméstico (por desmistificam as mentiras dos governos giga) custa mais 37 por cento e as comunide direita e do patronato». De acordo com cações locais (por cada dez minutos) custam dados do Eurostat, as despesas do Estado mais 29 por cento. Aumentos «resultantes da português em 2003 foram inferiores à mé- privatização dos serviços ou de parte deles. dia dos 15 países que integravam a União Ao contrário do que dizem os governantes Europeia. Portugal gastou 47,9 por cento e os patrões não contribuíram para baixar os do produto interno bruto (PIB) enquanto preços nem para aumentar a qualidade dos as despesas da comunidade se situaram nos serviços prestados». 48,4 por cento. Uma tendência «que também A privatização dos serviços públicos se verificou nos anos anteriores». implica também «uma perda de receitas No que diz respeito às remunerações e para os orçamentos de Estado e uma forma benefícios sociais a mesma fonte indica «que dos grupos económicos aumentarem as suas Portugal não foge da média europeia». O contas», alerta Eugénio Rosa. Estes grupos 10 pretendem «deslegitimar e fragilizar o Estado através da destruição e enfraquecimento da sua capacidade de fornecer serviços essenciais» e «criar novas áreas de negócio com taxas de crescimento elevadas e mercados garantidos e financiados pelo Orçamento de Estado através da privatização de sectores como a saúde, educação, segurança social, águas e transportes». Ambicionam ainda «implementar o princípio do utilizador pagador» e «aumentar as taxas de exploração dos trabalhadores». Os contratos programa dos hospitais S.A é um dos exemplos concretos da aplicação em Portugal dos princípios da gestão privada no sector público «com maus resultados para o Estado». Os contratos estabelecem objectivos de produção na prestação de serviços «que funcionam como um autêntico incentivo para não fazer mais e melhor do que o que está estabelecido». O Ministério da Saúde, de acordo com o que está estipulado, paga mais por um internamento (1.256 euros) e consulta externa (36 euros) quando o hospital não atinge a meta de produção acordada. Quando esta é ultrapassada paga 638 euros por internamento e 19 euros por cada consulta externa. A proposta patronal de Acordo Colectivo de Trabalho para os hospitais S.A é outro exemplo negativo apontado por Eugénio Rosa e que visa «destruir carreiras e reduzir os custos com o pessoal levando à degradação dos serviços». Entre as cláusulas do acordo encontra-se o aumento do horário de trabalho de sete horas diárias e 35 semanais para, respectivamente, oito e 40 horas, a redução de 30 por cento da remuneração/ hora nos médicos, dez por cento nos enfermeiros e entre 9,7 por cento e 16,3 por cento nos restantes trabalhadores dos hospitais, alargar a definição do local de trabalho e os aspectos relacionados com a avaliação e promoção são remetidos para regulamentos internos em que o poder é da entidade patronal. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP COMISSÃO EUROPEIA INCENTIVA «ATAQUE» SERVIÇOS PÚBLICOS «EM PERIGO» A criação do mercado de serviços de interesse geral na União Europeia representa «um perigo para a manutenção dos serviços públicos» e «está a obrigar alguns Estado-membros a privatizar estes serviços em nome da concorrência e da competitividade», alertou Sérgio Ribeiro, durante o Fórum Internacional Serviços Públicos «Motor de uma Sociedade Desenvolvida e Democrática». O «ataque» aos serviços públicos «não é uma novidade, nem é uma coisa recente». Desde o final de II Guerra Mundial que «o capitalismo não se conforma com a institucionalização dos direitos sociais e que os serviços públicos estejam fora da órbita mercantil». Em 1996, a Comissão Europeia apresentou uma primeira comunicação relativa aos serviços de interesse geral, seguida em 2001, de uma nova comunicação destinada a definir o âmbito e os critérios de aplicação dos serviços de interesse geral. O documento «traça orientações que devem ser seguidas pelos Estados-membros e define o que são serviços de interesse geral. Através de legislação abusiva permite-se o desmantelamento de monopólios públicos nacionais, mas a mesma legislação é muito tolerante com os monopólios privados transnacionais». Existem serviços que «interessam a toda a população e que respondem a necessidades essenciais e, por isso, podem considerar-se verdadeiros direitos sociais», mas «alguns deles passaram a ter um interesse económico para determinados grupos privados». De acordo com Sérgio Ribeiro, a Comissão Europeia refere que os serviços de interesse económico geral «são tratados como qualquer outra actividade económica, embora tenham de admitir excepções ou condicionalismos dado o interesse, além do económico, ser também geral, e sentido pelas populações como um direito adquirido». A fronteira entre o que é mercantil e o que não é «passa a ser muito fluida» e a ser definida em função «do que pode ou não contribuir para acumular capital privado». Exemplifica com as auto-estradas que «eram um serviço de interesse geral não mercantil, de natureza infraestrutural, até se ter descoberto que eram mercantilistas, por via das portagens» ou os correios que eram um serviço de interesse geral não mercantil até Nº 2 . JUNHO 2005 . FP «se encontrar forma de alargar a actividade para passar a ter interesse económico». Na sua intervenção, Sérgio Ribeiro afirma que, para a Comissão, «são as forças de mercado que permitem uma melhor afectação dos recursos e uma maior eficácia na prestação dos serviços beneficiando sobretudo o consumidor que obtém melhor qualidade e menor preço». Desde a década de 80 que a Comissão começou a promover a privatização de actividades que se previam vir a ter grande futuro económico, «invocando regras de concorrência, estigmatizando os monopólios públicos e aprovação de directivas que estão na base de privatização de serviços públicos, nomeadamente nas telecomunicações». PRIVATIZAÇÃO DA JUSTIÇA A justiça em Portugal é um dos sectores que «está seriamente ameaçado pela privatização», constatou Fernando Jorge, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, durante a sua intervenção no Fórum Serviços Públicos. A privatização dos notários, das acções executivas e das cadeias «encaixa-se e inserese numa única estratégia, que é a de tornar a justiça num negócio chorudo para alguns, com um mínimo de Os trabalhadores dos serviços públicos devem controlo do Estado, mas o máximo «unir-se para combater o ciclone das privatizações financiamento deste». que está a assolar os Estados-membros da União A recente revisão do Código das Europeia», apelou Leta Methoniou, vice-presi- Custas Judiciais «veio encarecer dente da Federação Grega dos Trabalhadores dos de forma significativa» as taxas de Hospitais Públicos, durante o Fórum Internacional justiça e «dificultar o acesso aos Serviços Públicos. tribunais, particularmente aos cidaNa história recente da Europa «nunca houve dãos mais carenciados». Os elevados um ataque tão rápido e tão forte aos serviços pú- valores relativos aos encargos com blicos como o que está acontecer presentemente» os processos constituem, segundo e «que está a ser facilitado pela legislação comu- Fernando Jorge, um «factor impenitária em detrimento do emprego público e dos ditivo para o trabalhador comum direitos sociais das pessoas». Esta política está a ter que dificilmente poderá aceder à «consequências negativas» ao nível da prestação de serviços, relações de trabalho e da perda de direitos justiça a não ser que consiga apoio judiciário». «fundamentais para os trabalhadores». A privatização das acções exeLeta Methoniou deu como exemplo a Grécia, onde nos anos 90 os grupos privados ligados à cutivas e a criação do solicitador área da saúde «se tornaram autênticos gigantes de execução «não resolveram os económicos, criando um monopólio difícil de problemas que existiam ao nível combater». Em 2004, entre as 50 empresas com da burocracia. A acção executiva é maiores lucros, «encontravam-se quatro ligadas hoje mais morosa, mais burocrática e sobretudo mais cara». O solicitador ao ramo da saúde». O Estado «foi entregando serviços ao sector de execução «não estava preparado privado» ao mesmo tempo «que fazia cortes nas para esta nova função além de que, despesas relacionadas com o funcionamento dos como profissional liberal que é, tem hospitais e com os medicamentos». Em muitas em- de orientar o seu desempenho em presas gregas «não existem políticas de segurança função do lucro». no trabalho, nem sistemas de saúde que protejam os Sugeriu que valia a pena contatrabalhadores em caso de acidente de trabalho». bilizar os valores gastos pelo Estado A União Europeia «não foi criada para servir os com as contratualizações de serviços interesses económicos de uma minoria», mas para privados e que podem ser efectuadas «melhorar as condições de vida e de trabalho de pelo próprio Estado. «Certamente milhões de pessoas». Os sindicatos «devem unir-se que se iria verificar que uma grande para combater e contrariar as políticas de privatizaparte da despesa do Estado é em proção que estão a pôr fim aos direitos sociais». veito de interesses privados». FP UNIDADE PARA COMBATER CICLONE 11 GERAIS SERVIÇOS PÚBLICOS ABREM APETITE DE GRUPOS ECONÓMICOS MERCADO «NUNCA SE ESGOTA» A s áreas da saúde, transportes públicos, educação e energia despertam cada vez mais o interesse dos grupos económicos. As comissões de utentes e sindicatos sustentam que os principais investimentos foram feitos pelo Estado e que o mercado «nunca se esgota porque há sempre necessidade de recorrer aos centros de saúde e hospitais, usar transportes e ter acesso à energia». O Serviço Nacional de Saúde, considerado o 12º melhor do mundo pela Organização Mundial de Saúde, tem constituído um alvo privilegiado das políticas neoliberais seguidas pelos últimos governos. As consequências «tem sido gravosas para os utentes e para o Estado com influência directa na diminuição da qualidade de vida e bemestar dos cidadãos», afirmou Florindo Pallotes, da Comissão de Utentes da Saúde da Península de Setúbal. O Ministério da Saúde tem apostado «numa degradação dos equipamentos existentes», «baixa taxa de utilização de instalações e equipamentos», «numa crescente falta de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar», «adopção de horários desajustados com a actividade profissional dos utentes» e «enormes listas de espera para cirurgias e consultas de especialidade». Uma situação que permitiu ao anterior governo «facilitar e incentivar os utentes para a procura de serviços de iniciativa privada e ao consequentemente aumento de despesa para o Estado, ao mesmo tempo, que transformava 24 hospitais públicos em 31 sociedades anónimas e anunciava a transformação de mais 25». Paralelamente, «agravou-se a carência de profissionais» e «os seus direitos enquanto trabalhadores estão a ser sistematicamente atacados». Nos transportes públicos a situação é semelhante. De acordo com Américo Leal, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, a estratégia da CP «aponta para uma constante redução de serviços que ajuda a promover o uso do transporte 12 privado». Nos últimos 25 anos «extinguiram-se mais de mil quilómetros de via e encerraram-se mais de 500 estações». O Estado «entende que se o serviço público não gera lucro é para acabar» e «entrega o negócio ao sector privado que o consegue tornar rentável à custa da perda de qualidade dos serviços». Ao nível ferroviário a «sabotagem vai ao ponto de se extinguirem horários com frequência e da falta de coordenação com os restantes transportes públicos. Situações que levaram à perda de mais de um milhão de passageiros nos últimos 20 anos». A degradação do serviço e das condições de trabalho na Carris «tem sido uma política seguida pelas sucessivas administrações tendo em vista a privatização da empresa», realça Manuel Leal, da comissão de trabalhadores da Carris. A empresa pretende «reduzir 48 das 92 actuais carreiras. Depois deste processo tenciona alterar e encurtar outras. Uma situação que vai degradar ainda mais os serviços». Os trabalhadores com mais anos de empresa «são pressionados para aceitar a rescisão dos contratos de trabalho através da sua colocação em salas de isolamento». A EDP foi outros dos casos mencionados no Forúm Internacional dos Serviços Públicos como sendo um exemplo negativo da entrega dos serviços ao sector privado. A empresa foi desmembrada no decurso de quatro fases de privatização «ao sabor da cobiça e dos interesses do sector financeiro», sustenta Egídio Fernandes, do Sindicato das Industrias Eléctricas do Sul e Ilhas. O grupo empresarial em que a EDP foi transformada passou a funcionar na lógica «capitalista das empresas privadas em que os lucros são mais importantes para os accionistas do que a prestação de um serviço público eficiente e com qualidade». Nos últimos anos encerraram mais de 200 postos de atendimento e dezenas de estabelecimentos técnicos. Simultaneamente ocorreu uma redução continuada do número de trabalhadores que «ultrapassa os 1.500 e a sua substituição por mão-de-obra exterior, pouco qualificada e vítima da precariedade». Em consequência, «passou a haver degradação da qualidade do serviço, com frequentes interrupções de energia e demorado tempo de reposição». A educação também está em perigo e «há uma tentativa de subverter o conceito de ensino público», afirma Mário Nogueira, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof). Portugal «necessita de concretizar uma política educativa que tenha como principais princípios a defesa e aperfeiçoamento da escola pública, gratuita e que seja democratizada no acesso». As políticas neo-liberais seguidas na área da educação «tem afastado os portugueses da escola pública e promovido o ensino privado». A maioria dos pais que tem filhos em instituições privadas «não tomam esta opção pela qualidade do ensino, mas sim pelas respostas sociais que as escolas públicas não dão por falta de verbas». Nos últimos anos o Estado «está a fazer cortes sistemáticos nas despesas com a educação, sobretudo com pessoal docente e com os passes sociais para as crianças. No entanto, entrega milhões de euros a instituições privadas, permite a concentração de riqueza e a constituição de autênticos monopólios na área da educação». FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP NA RELAÇÃO COM OS SINDICATOS MUDANÇA DE POLÍTICA REQUER DIFERENTE POSTURA Os sindicatos reclamam uma negociação séria que exprima um sinal de mudança política. O programa do Governo mantém factores de preocupação e o protelamento de decisões inadiáveis não inspiram confiança nem a garantia de mudança. O sentido de voto expresso pelos portugueses requer da parte do Governo uma mudança de política, mas também «uma postura diferente perante os sindicatos», sustenta Paulo Trindade, coordenador da Frente Comum e da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. Os sindicatos pretendem encetar negociações e opinam que a confiança não se restabelece enquanto os trabalhadores forem ignorados ou hostilizados. Em declarações à revista «Função Pública», Paulo Trindade assume que a apreciação dos dirigentes sindicais «é de muita preocupação». O programa governamental mantém «o prosseguimento de uma política privatizadora e desregulamentadora das condições de trabalho». Política negativa para os trabalhadores e a população e que se traduzirá «em serviços piores e mais caros». Uma das áreas nevrálgicas é a da saúde e, nesse domínio, «o que o Governo se propõe fazer é uma operação de cosmética. Transformar as sociedades anónimas em empresas públicas empresariais vai dar o mesmo resultado». São 34 os hospitais com estatuto jurídico de sociedades anónimas, cujos serviços estão degradados e que se defrontam com falta de meios. Paulo Trindade afirma que o programa do Governo é também claro no que respeita à intenção de reduzir 75 mil postos de trabalho na administração pública. Medida reveladora de que «não sabem do que estão a falar ou que pretendem privatizar tudo». Nº 2 . JUNHO 2005 . FP 580 mil trabalhadores. Neste universo estão compreendidas três grandes áreas: o ensino, a saúde e as forças de segurança. O ensino emprega 220 mil trabalhadores, dos quais 14 mil trabalhadores não docentes e administrativos têm vínculo precário. Na área da saúde há um défice de 22 mil enfermeiros, como também se regista falta de meios nas forças de segurança. Restam, de acordo com Paulo Trindade, «69 mil trabalhadores para todas as restantes áreas». Daí que os sindicatos não vejam «como é possível reduzir 75 mi trabalhadores». REDUZIR ENCARGOS José Silva Lopes, considerado um dos mentores do programa do executivo governamental, confirma a declaração do dirigente sindical. Num debate organizado pela Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, o presidente do Montepio Geral relativizou aquela meta. Disse que se ignora o número exacto de funcionários públicos e que uma das primeiras tarefas do novo governo seria a realização de um inventário dos trabalhadores. Mas, no discurso de apresentação do programa do Governo na Assembleia da República, José Sócrates reiterou o objectivo de institucionalizar «a regra de uma entrada por cada duas saídas de funcionários públicos». E não o faz com o objectivo de adequar o quadro de pessoal, que desconhece, às necessidades dos serviços. Fá-lo, como o declarou, com «o objectivo de reduzir a prazo os encargos do Estado com o seu pessoal». Embora a administração não disponha de dados actualizados, os sindicatos procedem a uma operação de subtracção para demonstrar o irrealismo da meta. Em 31 de Dezembro de 1999, o quadro de pessoal da administração pública era de 706 mil trabalhadores. Se a estes forem subtraídos os trabalhadores da administração regional dos Açores e Madeira e das autarquias, restam O objectivo do Governo é, como o afirmou o primeiro-ministro, reduzir os encargos com o pessoal. Paulo Trindade salienta que esse objectivo é insistentemente repetido por dois mentores do programa governamental, José Silva Lopes e Victor Constâncio, governador do Banco de Portugal e presidente da Comissão para Análise da Situação Orçamental. Para o alcançar defendem a redução do número de efectivos, a redução dos salários e o fim das promoções automáticas na administração pública. José Silva Lopes, por exemplo, considera que os trabalhadores da administração pública têm «privilégios que, do ponto de vista da justiça social, são inaceitáveis», como o declarou no final do ano passado em entrevista ao programa «Diga Lá Excelência», do jornal «Público» e da Rádio Renascença e com transmissão na «Dois». Opina que os trabalhadores da administração pública «ganham bastante mais do que os do sector privado» e que «ainda beneficiam de duas coisas muito importantes: um sistema de pensões muito mais favorável e que, no meu entender, tem de ser revisto, e segurança no emprego». As palavras do presidente do Montepio Geral revelam a intenção, provavelmente, inspirada na mensagem publicitária do seu banco. Não quer apenas falar na sua noção de justiça social, mas quer intervir para agravar as condições de trabalho dos trabalhadores em geral e beneficiar os patrões do 13 GERAIS sector privado. Paulo Trindade rejeita qualquer redução de salários na administração pública e reitera «a reivindicação de um aumento de 5,5 por cento e que ninguém tenha um acréscimo inferior a 50 euros». Aceite esta reivindicação, os salários mínimos na administração pública situar-se-iam entre os 400 e os 500 euros. Mesmo assim, os trabalhadores portugueses continuarão a ser dos mais mal pagos da União Europeia. «Os gregos, que estavam atrás dos portugueses, passaram a ter um salário mínimo na administração pública de 1.100 euros». O dirigente sindical afirma que, «nos últimos sete anos, verificou-se uma redução do poder de compra nos salários da administração pública superior a sete por cento». Além disso, nos anos de 2003 e 2004, «não houve qualquer actualização para os trabalhadores com vencimentos superiores a mil euros». Outra das preocupações dos dirigentes sindicais refere-se à questão da aposentação. É um direito que tem estado na mira de sucessivos governos desde 1984. Francisco Pinto Balsemão retirou-lhe direitos em termos da fórmula de cálculo. Em 1993, a situação agravou-se com Cavaco Silva, quando os trabalhadores que entraram na administração público passaram a ser abrangidos pelo regime geral da Segurança Social. O anterior governo também agravou a situação e José Silva Lopes continua a dar o tom das reivindicações do sector privado, que consideram esse direito ainda muito favorável. Querem degradar ainda mais o sistema para que, posteriormente, possam fazer repercutir a tendência de perda no sector privado. Paulo Trindade alude também às declarações dos que sustentam haver «uma elevada média etária na administração pública» e que consideram necessário um rejuvenescimento do quadro de pessoal para que melhore a qualificação profissional. Declarações que são contraditadas pela revogação do diploma que permitia a aposentação ao fim de 36 anos de serviço e 60 anos de idade, desde que o serviço não fosse afectado. O diploma foi revogado sem negociações com os sindicatos. Para acabar com o regime mais favorável, o Governo PS propõe-se uniformizá-lo com o da Segurança Social e aumentar a idade de aposentação para os 65 anos. Para o coordenador da Frente Comum e da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, as decisões são imponderadas. «Estamos a falar de polícias, bombeiros, vigilantes e cantoneiros, entre outros. Vão andar de bengala, a fiscalizar a caça ou a recolher lixo?», questiona. Os sindicatos não se opõem a que os trabalhadores sejam avaliados, mas «não podemos aceitar que de forma administrativa se pretenda impedir a progressão na carreira, conseguindo-o por via de fixação de quotas». O que se intenta aplicar é que «em cada unidade orgânica só exista cinco por cento de trabalhadores excelentes e 20 por cento de muito bons». ABERRAÇÃO DO DESEMPENHO Paulo Trindade considera esta avaliação uma aberração. «Nós queremos uma administração pública de excelência. Mas como é que se pode atingir o objectivo se só cinco por cento podem ser excelentes? Seria o mesmo que estabelecer que um professor só podia aprovar 25 por cento dos alunos. Ora, a função do professor é conseguir que todos melhorem». O diploma em vigor, da autoria do Governo PSD-CDS/PP, cria tais obstáculos burocráticos, que o tornam inexequível. «Levaria a que houvesse directores-gerais que em meio ano só fariam isso. São sete as fases da avaliação, tendo o próprio governo concluído, na fase final, que não o conseguiam aplicar». Demitido o Governo de Santana Lopes, os sindicatos esperaram que o executivo do PS, que na oposição esteve contra aquele regime de avaliação, revogasse o diploma. Mas, em vez disso, «o secretário de Estado FRANÇA É O MAIOR EMPREGADOR A França é o maior empregador no sector da administração pública entre 15 dos 25 Estados-membros da União Europeia, em comparação com o volume de emprego de todos os sectores de actividade em cada país. O Eurostat não apresenta elementos de dez países para o quarto trimestre de 2004. Todavia, os dados do período homólogo de 2003 colocavam o Luxemburgo em primeiro lugar. Os dados da administração pública divulgados pelo serviço europeu de estatísticas não incluem os trabalhadores da educação nem da saúde. Dos 25 Estados-membros, não estavam disponíveis os dados de três países (Alemanha, Chipre e Holanda), em 2003 e 2004, e de mais sete (Bélgica, Finlândia, Grécia, Irlanda, Lituânia, Luxemburgo e Malta), em 2004. Em todo o caso, os dados do Eurostat permitem estabelecer o peso relativo do emprego da administração pública no total do volume de emprego de cada país. O emprego na administração pública em França, com 2.202 mil trabalhadores, representava 9,44 por cento do volume total de emprego de todos os sectores de actividade, no quarto 14 trimestre de 2004. Com base nesse rácio, Portugal está em 8º lugar no conjunto de 15 Estados-membros (ver quadro). Os dados do Eurostat indicam que Portugal empregava 339 mil trabaEmprego total na administração pública lhadores, no quarto trimestre de 2004, (excepto educação e saúde) o que representava 6,6 por cento do Países EU Emprego 4º trimestre % todos sectores volume global de emprego. 2003 2004 4t 2003 4t 2004 França 2.202 2.279 9,17 9,44 Mas, caso países como o LuLetónia 60 79 5,98 7,75 xemburgo, Bélgica, Malta e Grécia Hungria 289 281 7,31 7,19 tivessem fornecido os dados daquele Reino Unido 1.970 1.969 6,84 6,99 período, Portugal situar-se-ia em 12º Espanha 1.104 1.192 6,55 6,88 Eslováquia 157 149 7,25 6,78 lugar. Dados que desmentem que seja R. Checa 312 316 6,64 6,69 exagerado o volume do emprego na Portugal 333 339 6,51 6,60 administração pública em Portugal. Áustria 215 248 5,75 6,58 Itália Eslovénia Dinamarca Polónia Suécia Estónia Bélgica Luxemburgo Malta Grécia Lituânia Finlândia Irlanda Chipre Alemanha Holanda Fonte: Eurostat 1.851 55 149 829 245 30 401 21 13 322 75 116 91 : : : 1.402 57 163 831 247 31 : : : : : : : : : : 8,37 6,03 5,50 6,04 5,73 4,98 9,72 11,17 8,84 7,53 5,28 4,99 4,98 6,20 6,08 5,95 5,91 5,80 5,16 Unidade: milhares EDUCAÇÃO E SAÚDE Os dados do Eurostat relativos à educação e à saúde e acção social colocam Portugal numa situação mais desvantajosa. O emprego na educação na Suécia, que emprega 475 mil trabalhadores, representava 11,2 por cento do volume total de emprego de todos os sectores de actividade, no quarto trimestre de 2004, o que coloca este país no primeiro lugar do ranking. Portugal, com 315 mil trabalhaNº 2 . JUNHO 2005 . FP da Administração Pública fez um despacho a determinar a todos os directores de serviço que em 2005 apliquem a Lei 10/2004, de 22 de Março», afirma Paulo Trindade. A resposta sindical vai traduzir-se na entrega de um abaixo-assinado com 12 mil assinaturas ao Provedor de Justiça para que intervenha neste processo. Alude a um caso aberrante. Foi fixado a uma trabalhadora de tesouraria o objectivo de sensibilizar os utentes para efectuarem os pagamentos através de Multibanco. No final do ano, como o dirigente da administração pública considerou que não tinha sido suficiente o número de utentes sensibilizados, «a trabalhadora foi penalizada com uma avaliação de desempenho que não lhe permite progredir». O sistema é decalcado de um que foi adoptado há mais de três anos para avaliar os funcionários da Comissão europeia. Lá também não o conseguiram aplicar. O diploma português encerra ainda um outro artifício capcioso. Tem duas versões, uma que foi publicada em Portugal no «Diário da República», aquela que é aplicada, e outra branqueada que foi enviada para a Comissão europeia. RESOLVER OS PROBLEMAS Os sindicatos estão empenhados em reunir com o governo, «estabelecer o calendário negocial e resolver os problemas». Mas não têm encontrado abertura. Em 23 de Março entregaram no Ministério das Finanças as reivindicações gerais de todos os sindicatos da administração pública. Reivindicações que foram reiteradas na resolução aprovada no plenário da Frente Comum, que se realizou em 20 de Abril. Acresce ainda um conjunto de dossiers sectoriais que querem ver resolvidos. Em todos os casos foram solicitadas reuniões, mas nenhum dos Ministérios deu resposta. São cerca de oito mil os trabalhadores não docentes que «podem ir para a rua em Agosto». Paulo Trindade diz que querem o caso resolvido, mas «não queremos mais a aplicação de um diploma que António Guterres aprovou». Também qualificam como preocupante o despacho do secretário de Estado da Administração Pública sobre o direito a férias. A sua «posição é mais à direita do que a da CIP». Pretende fazer uma aplicação do Código de Trabalho ainda mais lesiva para os trabalhadores e viola o princípio de igualdade. Pretende que ausências ao serviço, como a de um bombeiro «que teve de ir para um fogo» ou de outro trabalhador que faltou por falecimento de um familiar, sirvam para reduzir os dias de férias, de 25 para 22 dias. Maria José Nogueira Pinto, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, adoptou o despacho do secretário de Estado e pôs em causa o acordo negociado, que estabelecia o mesmo regime para todos os trabalhadores, independentemente do seu vínculo. Os sindicatos estão dispostos a levarem estes casos até às instâncias judiciais. Outro dos problemas respeita à nomeação do pessoal dirigente. Os sindicatos aceitam que as direcções-gerais sejam de nomeação política, mas defendem que todos os outros casos sejam por concurso, sério e transparente. Paulo Trindade alude a outros casos controversos, como é o caso de «muitos administradores de hospitais SA que não têm um mínimo de condições para gerir um hospital». Considera necessário que haja formação específica para o desempenho de determinados cargos. Questão esta que não se coaduna com um regime que é «estratificado pelas habilitações académicas». Opina que não basta a licenciatura e que há modelos, como acontece nos Estados Unidos da América ou na Austrália, em que um vigilante da natureza pode ser director de um parque natural. Em Portugal, «qualquer pessoa pode ser director, só não o podem ser os vigilantes da natureza». O dirigente sindical opina que o sistema está eivado de irracionalidades e que se sucedem os factores que só introduzem dificuldades e criam conflitualidade. FP 1999. No sector da saúde e acção Países EU Países EU Emprego 4º trimestre % todos sectores Emprego 4º trimestre % todos sectores social, o emprego na Dina2003 2004 2003 2004 4t 2003 4t 2004 4t 2003 4t 2004 marca, que emprega 476 mil Suécia 482 475 Dinamarca 484 476 11,27 11,15 17,88 17,37 trabalhadores, representava Estónia 58 62 Suécia 686 679 9,62 10,32 16,05 15,94 Reino Unido 2.450 2.542 Reino Unido 3.302 3.376 8,50 9,03 11,46 11,99 17,4 por cento do volume total Letónia 77 88 França 2.757 2.886 7,68 8,64 11,49 11,95 de emprego de todos os secHungria 334 331 Áustria 325 342 8,45 8,47 8,70 9,07 tores de actividade, no quarto Dinamarca 225 223 Estónia 39 43 8,31 8,14 6,47 7,15 trimestre de 2004. A Dinamarca Eslovénia 59 71 R. Checa 304 334 6,47 7,57 6,47 7,07 Polónia 1.110 1.055 Eslováquia 159 154 8,09 7,50 7,34 7,01 ocupa neste ranking o primeiro Eslováquia 157 162 Itália 1.348 1.580 7,25 7,37 6,09 6,98 lugar. Itália 1.477 1.594 Hungria 278 269 6,68 7,04 7,03 6,88 Portugal, com 325 mil traFrança 1.710 1.691 Portugal 298 325 7,12 7,00 5,82 6,33 Portugal 296 315 Polónia 844 837 5,78 6,14 6,15 5,95 balhadores neste sector, ocupa R. Checa 275 283 Espanha 986 1.019 5,85 5,99 5,85 5,88 o 11º lugar. Situar-se-ia em 17º Espanha 979 1.036 Letónia 59 56 5,81 5,98 5,88 5,50 lugar, caso os sete países já Áustria 231 211 Eslovénia 50 50 6,18 5,60 5,48 5,33 referidos tivessem fornecido os Bélgica 343 : Bélgica 505 : 8,32 12,24 Lituânia 132 : Finlândia 342 : 9,29 14,72 respectivos dados. Malta 11 : Irlanda 176 : 7,48 9,62 As estatísticas do Eurostat Finlândia 173 : Luxemburgo 16 : 7,44 8,51 comprovam que o volume de Grécia 284 : Malta 11 : 6,64 7,48 Irlanda 118 : Lituânia 91 : 6,45 6,40 emprego na administração púLuxemburgo 12 : Grécia 184 : 6,38 4,30 blica em Portugal está a meio Chipre : : Chipre : : da tabela no conjunto dos 25 Alemanha : : Alemanha : : Holanda : : Holanda : : Estados-membros da União Fonte: Eurostat Fonte: Eurostat Unidade: milhares Unidade: milhares Europeia. Mas evidenciam também que os meios mobilizados dores neste sector, ocupa o 12º lugar, mas social que o Eurostat divulga compreende no domínio da educação e da situar-se-ia em 19º, caso a Bélgica, Finlân- também o sector privado. Daí que os dados saúde e acção social em Portugal apresentam dia, Grécia, Irlanda, Lituânia, Luxemburgo e sejam mais elevados que as estimativas do uma pior prestação na comparação com os Malta tivessem disponibilizado elementos. 2º Recenseamento Geral da Administração restantes países. Os dados da educação e da saúde e acção Pública portuguesa, de 31 de Dezembro de OC Emprego total na educação Nº 2 . JUNHO 2005 . FP Emprego total na saúde e acção social 15 GERAIS ESPOLIAÇÃO DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA «É UM PERIGO» O projecto da Lei Quadro da Água abre as portas à privatização da água do rio. Um negócio que Luísa Tovar diz conferir «um poder muito grande» às empresas privadas e que coloca em risco o acesso, a qualidade e a preservação da água. Por ANA RODRIGUES A água é um bem público «a que todos devem ter acesso», sustenta Luísa Tovar, da Associação Água Pública. A privatização do abastecimento e do domínio hídrico «representa um perigo. Com este processo deixa de ser de todos para passar a ser gerida em função de lucros». Os elogios à privatização do sector «são falácias que pretendem a espoliação do direito à água e à participação na política de abastecimento». A intenção do Governo do PSD-CDS/PP ao aprovar esta Lei Quadro da Água com o argumento da necessidade da transposição da Directiva Quadro da Água (directiva nº 2000/60/CE do Parlamento e Conselho Europeu) para a legislação nacional, «não passa de uma desculpa para abrir as portas à mercantilização e à privatização do domínio público hídrico». O domínio da água «confere um poder muito grande a quem o obtiver porque é um bem indispensável à vida, à saúde pública e à maioria das actividades económicas, sendo a agricultura e a produção eléctrica as que mobilizam os maiores volumes». A directiva comunitária trata da protecção da qualidade da água e dos aquíferos e «não interfere, nem pode, na propriedade/ regime de bens e transacção do domínio público hídrico». Pelo contrário, o projecto de lei do PSD-CDS/PP transforma-o no seu «principal objecto». A sua aprovação visa «entregar às corporações para exploração comercial a água da natureza, os rios e as praias». Ou seja, «privatiza a água e as margens dos rios, as ilhas das grandes barragens através da concessão de empreendimentos de fins múltiplos a empresas que visam apenas a obtenção de lucro em detrimento das pessoas». A privatização da água vai substituir o princípio do direito inalienável à satisfação de uma necessidade por mecanismos do mercado que passarão a regular o seu uso. Uma situação «que empurra para fora do 16 sistema todos os que não possam pagar e, simultaneamente, autoriza o uso indiscriminado da água aos que podem pagar o preço que o mercado fixar». Luísa Tovar dá como exemplo o empreendimento do Alqueva. Se as mudanças pretendidas entrarem em vigor, «uma só empresa poderá ser proprietária de toda a água que está no Alqueva, do próprio caudal do Guadiana e de todas as albufeiras do Alentejo que se projecta interligar a esta barragem e que servem o abastecimento público, associações de beneficiários, ou até um simples barqueiro ou utilizador da praia». O uso da água «passará a estar sujeito às regras da competição do mercado, o que terá implicações gravíssimas na vida de milhares de pessoas e de todo o Alentejo». PARTIDOS TRILHAM CAMINHO O caminho da alienação e privatização começou no final da década de 80, com a «alteração de leis aprovadas na Assembleia da República pelo PSD, PS e CDS/PP e foi prosseguido pelo Governo de António Guterres, que continuamente pressionou as autarquias para a concessão do abastecimento público, drenagem e tratamento de águas residuais», acusa Luísa Tovar. Em Dezembro de 2003, o PSD-CDS/ PP «colocou discretamente na Internet dois projectos de decreto-lei que subvertem o direito português da água». Preparava-se para revogar e substituir, sem discussão no parlamento, seis diplomas legislativos «que constituem a espinha dorsal do direito da água e a salvaguarda dos direitos dos cidadãos ao acesso a este bem e à sua protecção». O PS, que na altura estava na oposição, «limitou-se a criticar o atraso na aprovação do projecto». Os dois documentos acabaram por ser retirados da Internet e o projecto definitivo foi apresentado pelo Governo de Santana Lopes em Janeiro deste ano. O documento tem 134 páginas, 131 artigos e dez anexos e apesar «de ser de difícil leitura e análise conta já com o apoio do novo governo do PS. Ainda antes de tomar posse, o actual ministro do Ambiente fez declarações elogiosas a esta Lei Quadro». De acordo com o documento, os critérios de prioridade de usos da água, ou seja de emissão de licenças, deixariam de se reger pela priorização do interesse público para seguir critérios mercantis. Instala o princípio do utilizador-pagador e a comercialização de licenças de uso com a consequência imediata de passar a ser cobrada a preços de mercado toda a água superficial captada, sobretudo para uso doméstico e agricultura, «abrindo caminho para passar a ser cobrada qualquer utilização da água, como por exemplo, actividades de lazer que não afectam a sua qualidade». Os serviços públicos de administração do domínio hídrico «praticamente desaparecem e são substituídos por entidades vagas com conselhos de administração». A ser aprovada faculta a entrega a privados da exploração lucrativa da água de bacias hidrográficas através do regime de concessão que «passam a gerir os rios e os Nº 2 . JUNHO 2005 . FP terrenos do domínio público hídrico e com poder de decisão sobre o seu uso por outras entidades ou pessoas através da emissão e revogação de licenças e cobrança de taxas com base em políticas mercantis». Significaria também a desresponsabilização do Estado nesta matéria. Uma situação que Luísa Tovar classifica como «muito grave», na medida em que deixa de haver uma entidade que «zele pela preservação da água, proteja os interesse da população e tenha uma atitude de prevenção em relação a possíveis acidentes. Neste caso, o decreto cria uma espécie de vazio». Esta alienação «entrega a gestão da água a monopólios privados e torna refém de interesses desses monopólios várias gerações de portugueses. As implicações destas medidas vão sentir-se durante vários anos, visto que se prevêem concessões por prazos superiores a 50 anos». O novo governo «tem nas mãos dois negócios fabulosos para os grupos transnacionais que pretendem o domínio da água. Ela não é divisível e o que está em causa não é permitir o uso particular de porções dela, mas controlar o acesso». A sua utilização «é contínua, num fluxo de reutilização sucessiva que interliga todos os seres vivos e faz parte do ciclo natural, variável no espaço e no tempo». ESPOLIAÇÃO DO DIREITO À ÁGUA Os serviços de água (abastecimento e saneamento) funcionam como uma «ligação das pessoas ao ciclo hidrológico». O serviço de abastecimento fornece água para beber e uso doméstico e o saneamento devolve-a depois de usada. Quando o Estado privatiza estes serviços «está a vender o direito à vida de cada um dos cidadãos e, simultaneamente, uma influência importantíssima sobre a utilização comum da água e do território». Este processo representa para os cidadãos a espoliação da propriedade e do direito à água e a exclusão dos que não podem Nº 2 . JUNHO 2005 . FP pagar. Mas também a difícil reversibilidade do regime, o descuro dos efeitos nocivos na ASSOCIAÇÃO ÁGUA PÚBLICA A Associação Água Pública foi criada há cerca de três anos para defender o acesso de todos à água e à sua propriedade comum. No dia 15 de Abril foi assinada a escritura de formalização da associação dando início aos procedimentos legais para a eleição dos órgãos sociais. Neste momento, a associação tem um abaixo-assinado a decorrer na Internet em defesa da gestão pública da água. Até ao momento foram recolhidas cerca de dez mil assinaturas que serão entregues na Assembleia da República e ao Presidente da República. A associação tem um site na Internet (http://aguapublica.no.sapo.pt) onde disponibiliza informação sobre as consequências do processo de privatização da água. natureza, a minimização das despesas de exploração, a manutenção, reabilitação e maximização da facturação. As decisões sobre a manutenção e a substituição das infra estruturas, regime tarifário, controlo de qualidade da água e tratamento de afluentes e água distribuída «passam a ser privados». A médio prazo as consequências podem traduzir-se em «descriminação positiva de grandes consumidores industriais e descriminação negativa de pequenos consumidores domésticos», «eliminação de serviços gratuitos e fontanários», «rapidez no corte de abastecimento», «desemprego e degradação de zonas menos rentáveis». A Constituição de 1976 definia como responsabilidade exclusivamente pública o abastecimento de água às populações, mas a partir do final da década de 80 foram feitas várias alterações legislativas para permitir que se tornasse um negócio privado. O abastecimento da água foi privatizado em vários concelhos e, paralelamente, através dos sistemas multimunicipais (criados em 1994), o controlo da grande maioria dos serviços da água passou a ser concessionado à sociedade anónima Águas de Portugal. Embora seja de capitais públicos, os objectivos e a forma de actuação desta empresa «estão mais orientados para a obtenção de lucros do que para suprir as necessidades das pessoas». A sua venda a privados «depende apenas de uma decisão do governo». O processo de privatização da água em Portugal decorre ao mesmo tempo que outros países fazem o percurso contrário. Em 2004, a Holanda e o Paraguai «aprovaram leis que garantem a gestão e propriedade exclusivamente pública desses serviços». Luísa Tovar alerta que é «muito grave o que se está a passar em Portugal. A maior parte das pessoas só se vai aperceber das intenções dos governantes tarde demais». FP 17 SECTORIAIS ISS NÃO DÁ SEGURANÇA AOS TRABALHADORES O Instituto de Segurança Social (ISS) não dá segurança aos trabalhadores ao seu serviço. Precariedade e discriminações várias constituem práticas que urge alterar. A Federação Nacional de Sindicatos da Função Pública entregou, no passado dia 8 de Abril, ao ministro do Trabalho e Solidariedade Social o caderno reivindicativo do sector, tendo solicitado uma reunião para debater, analisar e resolver um conjunto de problemas que se arrastam há demasiado tempo. Os representantes sindicais esperam do novo ministro, José Vieira da Silva, uma atitude e empenho diferente da do titular da pasta no anterior governo. Mas esperam também que seja outra a atitude do novo presidente do ISS. Edmundo Martinho, que deixou a presidência da União das Mutualidades Portuguesas, tomou agora posse do novo cargo, depois de já ter desempenhado funções de presidente do Instituto de Desenvolvimento Social (IDS) e de presidente da Comissão Nacional do Rendimento Mínimo Garantido no Governo de António Guterres. Há um conjunto de matérias que os dirigentes sindicais querem ver resolvidas. A primeira que identificam é a criação de carreiras específicas na área da Segurança Social. A actual estrutura de carreiras deve ser alterada, com especial destaque para a carreira administrativa. A sua valorização deve ser feita através do ajustamento adequado às funções efectivamente desempenhadas pelos trabalhadores, à modernização e às novas atribuições que se registaram ao longo dos anos. Os dirigentes sindicais preconizam a criação de incentivos profissionais e perspectivas que combatam a desmotivação e estagnação. A regulamentação das relações laborais dos trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho, cujo universo abrange três mil pessoas no ISS, não pode ser adiada por mais tempo. Os representantes sindicais consideram que estes trabalhadores têm sido usados e violentados nos seus direitos devido à ausência de regulamentação. A situação é incompreensível já que em Abril de 2002 a Federação Nacional de Sindicatos da Função Pública e o então conselho directivo do instituto tinham chegado a acordo sobre o regulamento aplicável a estes trabalhadores. Mas o regulamento não foi posto em práticas nem sequer foram 18 aplicadas as matérias que não careciam da aprovação da tutela. Está também em agenda a reposição com retroactividade dos direitos que foram unilateralmente retirados pelo conselho directivo aos trabalhadores do ex-Instituto de Desenvolvimento Social e das ex-delegações regionais do Instituto de Gestão Financeira. Com a extinção do IDS, o conselho directivo retirou de forma abusiva todos os direitos de que os trabalhadores dispunham. Alegou de má-fé e erradamente que o regulamento de pessoal tinha caducado com a extinção, donde ficariam sujeitos à lei geral e em iguais circunstâncias aos daqueles que estão em regime de contrato individual de trabalho. Os representantes sindicais querem também ver resolvidas as questões relacionadas com os chefes de equipa. O Regulamento de Dirigentes e Chefias aprovado em 2001, que criou o cargo de chefe de equipa, extinguiu na prática a categoria de chefe de secção. Todavia, apesar de ter sido estipulado que o lugar seria provido por concurso, após a primeira nomeação, tal nunca aconteceu. Os lugares são ocupados por escolha do conselho directivo, o que nega o direito à promoção de todos os trabalhadores da carreira de assistente administrativo especialista. Além disso, há trabalhadores a exercerem a função de chefia de secção sem receberem o acréscimo de vencimento como está previsto. Mas também têm sido excluídos de concurso no ISS os trabalhadores contratados em regime de contrato de provimento, por decisão do conselho directivo. De acordo com a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, estes trabalhadores candidataram-se ao concurso por direito próprio, prestaram provas e foram classificados, tendo ficado muitos deles dentro das vagas do concurso. O conselho directivo coloca em causa a permanência dos trabalhadores neste concurso, alegando que deixaram de ser agentes da administração e, por isso, perderam o direito de concorrer. A Federação que, desde 2002, defende a necessidade de atempadamente serem abertos concursos que permitam a integração destes trabalhadores, continua a lutar no plano sindical e no plano jurídico. Uma outra questão que exige resolução prende-se com as reconversões profissionais previstas na lei e reconhecidas pelos serviços, especialmente na área de acção social. O seu número é elevado e apesar dos serviços e o último Governo do PS terem reconhecido a necessidade de reconversão, tudo continua na mesma. A privatização dos estabelecimentos oficiais, tutelados pelo ISS, requer, por seu turno, uma informação sobre a política que vai ser seguida nesta área. Há consequências que atingem os trabalhadores, famílias, utentes e crianças que usufruem desses equipamentos. A Federação exige também a aplicação do decreto-lei 404 A/98 a todas as carreiras atípicas no âmbito do Ministério. Mas também se pronuncia sobre a redução de trabalhadores em praticamente todos os organismos do Ministério e sobre os elevados ritmos de trabalho. São situações que desgastam os trabalhadores e prejudicam os próprios serviços. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP FEDERAÇÃO ENTREGA CADERNO REIVINDICAÇÕES EM DEFESA DO SNS A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública entregou um caderno reivindicativo ao Ministério da Saúde que visa a «defesa e o aprofundamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS)», no qual é solicitada a «revogação do edifício legislativo produzido pelo Governo PSD/PP que visa a privatização da saúde» e a integração nos quadros de pessoal, em regime de emprego público, dos trabalhadores com contrato individual de trabalho. A Federação afirma que há necessidade dos centros de saúde e das administrações regionais de saúde «terem o seu pessoal reforçado, uma vez que desde a sua criação nunca houve uma admissão de pessoal planeada». É premente também que no processo de alteração legislativa de gestão dos centros de saúde estes «voltarem a ter, na sua direcção, um administrativo». Defende também a dotação de todos os centros de saúde com lugares de auxiliares de acção médica e a tomada de medidas em relação à efectiva existência e dignificação das chefias próprias desta carreira e exige a publicação dos despachos conjuntos que possibilitarão as reconversões profissionais e a reclassificação dos trabalhadores que nos centros de saúde desempenham funções de auxiliar de acção médica e que estão integrados na carreira de auxiliar de apoio e vigilância. O caderno reivindicativo propõe, a nível do emprego precário, a criação de um regime próprio para a saúde com «resolução dos casos existentes e o acabar do congelamento de admissões». É apresentada uma proposta concreta de diploma legal para a resolução deste problema que afecta cada vez mais trabalhadores e pretendem que o tempo de serviço prestado em situação precária seja contado para todos os efeitos legais àqueles a quem ainda não o foi. A situação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) não ficou fora das reivindicações da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. Defende a integração no quadro de pessoal do INEM, em regime de emprego público, dos trabalhadores que desempenham funções de operadores de telecomunicações de emergência em situação precária de emprego. A não regulamentação do suplemento de risco, insalubridade e penosidade é outra das preocupações manifestadas no documento entregue ao Ministério da Saúde. A Federação exige o início imediato das negociações sobre esta matéria no sentido da regulamentação do Decreto-Lei 53-A/98, de 11 de Março, que consagra as figuras de compensações, suplementos e certas regalias a atribuir em função de algumas particularidades específicas no âmbito da Administração Pública. Propõe ainda a criação de serviços de saúde ocupacional em todos os serviços e a eleição dos representantes dos trabalhadores para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. A federação propõe a reestruturação das carreiras da saúde (administrativos, operários, serviços gerais, técnicos de diagnóstico e terapêutica e técnico-profissionais). A federação propõe ainda, quanto aos técnicos superiores de saúde a revalorização da carreira e a publicação de um diploma que faça a equiparação a estágio do tempo de serviço dos trabalhadores que estão há vários anos a executar funções em regime de contrato a termo certo. Isto para evitar que esses trabalhadores, ao ingressarem nos quadros de pessoal, passem a estagiários, com redução do vencimento, quando já estiveram a executar funções de carácter permanente. Na área dos medicamentos, o caderno reivindicativo apela à criação de um laboratório nacional do medicamento, à criação de farmácias públicas e de um formulário nacional do ambulatório para além de considerar errada a medida de liberalização da venda dos medicamentos de venda livre. A Federação acusa o Ministério de estar subordinado «aos interesses da indústria farmacêutica», o que fez com que as políticas necessárias para alterar a situação nesta área «não fossem ainda implementadas». O documento refere ainda a necessidade do actual governo avançar com um despacho conjunto dos Ministérios da Saúde e das Finanças para que os trabalhadores que lidam com dinheiro e/ou valores nos centros de saúde e hospitais tenham um abono para falhas e os trabalhadores deixem de «ser responsabilizados pelo desaparecimento de dinheiro ou bens nos serviços». O decreto-lei que institui o abono para falhas data de 1989 e até agora o despacho não foi emitido. FP REGIME DE CONTRATAÇÃO NA JUSTIÇA A criação de um regime de contratação para a justiça é uma das medidas propostas pela Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública para colmatar a falta de pessoal nos vários serviços do Ministério da Justiça. Os tribunais, a Direcção-Geral de Serviços Prisionais, o Instituto de Reinserção Social, o Instituto Nacional de Medicina Legal, registos e notariados são os serviços que apresentam maiores necessidades de trabalhadores. Este regime deve contemplar o fim do congelamento de admissões, a integração nos quadros de pessoal de todos os trabalhadores em contrato a termo certo e em contrato administrativo de provimento que estejam a exercer funções de carácter permanente, dotar os serviços de todo o pessoal necessário ao seu funcionamento e criar a possibilidade das administrações poderem contratar novo pessoal para o seu quadro Nº 2 . JUNHO 2005 . FP de efectivos e de recorrerem à contratação a termo ou a recebido verde só para funções transitórias. As medidas fazem parte de um caderno reivindicativo que a Federação entregou ao Ministério da Justiça e no qual também propõe que revertam para o regime público os serviços que já foram privatizados, alegando que «era uma boa maneira de reduzir as despesas. O Ministério tem entregado à iniciativa privada diversos serviços, nomeadamente de segurança, alimentação e parque oficinal, com o inevitável aumento de custos». O documento alerta ainda para o processo de privatização do notariado iniciado pelo Governo do PSD/CDS-PP. A situação «tem que ser corrigida» para que «não seja posta em causa a segurança jurídica dos actos e a fé pública dos documentos». A Federação reconhece que «nem tudo está bem no notariado português», que «existe burocracia a mais, os preços são elevados, faltam cartórios e o seu grau de autonomia é escasso». As alterações e soluções «são necessárias», mas não passam «pela privatização». Considera que a solução mais adequada seria a de permitir que coexistissem notários públicos e privados. Os serviços sociais também são alvo de críticas. A Federação quer «tornar o seu funcionamento transparente», «dar cumprimento à legislação aplicável aos diversos serviços sociais» e «garantir o seu financiamento efectivo». Salienta, ainda, que o anterior governo iniciou um processo de revisão das tabelas praticadas e que estão em vigor desde 2002. Este processo «tem que conduzir à eliminação de nomenclaturas e à introdução de novas, ao alargamento dos actos abrangidos», mas «não pode conduzir ao aumento de comparticipações dos trabalhadores, e deve ser negociado com os sindicatos». FP 19 SECTORIAIS SITUAÇÃO DE IMPASSE NOS MUSEUS E PALÁCIOS FEDERAÇÃO QUER «ATITUDE CONSTRUTIVA E DIÁLOGO» A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública quer que o Governo de José Sócrates assuma uma «atitude construtiva e de diálogo» para encontrar uma solução duradoura para os problemas da falta de pessoal nos museus, palácios e sítios arqueológicos, a ausência de regulamentação relacionada com horários de trabalho e revalorização de carreiras. A insuficiência de trabalhadores «pode pôr em causa o funcionamento» destes locais e está a «provocar uma sobrecarga de trabalho». O actual governo, à semelhança dos anteriores, aposta na medida «fácil fixando um número de contratações precárias que não corresponde às reais necessidades dos serviços. Insiste na necessidade de contenção orçamental, sabendo que a actual situação é insustentável por mais tempo». Na opinião da Federação, esta situação não pode continuar a manter-se. O «sistemático recurso aos centros de emprego para preencher os lugares vagos com desempregados por períodos de ano e meio não cor- responde às necessidades permanentes dos museus». Considera urgente que o governo proceda a uma avaliação das necessidades de cada museu, monumento, palácio e sítio classificado e que «encontre uma solução duradoura». A aplicação do Decreto-Lei nº 55/2001 «trouxe melhorias em relação a algumas carreiras, mas desvalorizou outras». Cria a carreira de vigilante-recepcionista, porém mantém a carreira de guarda de museu quando «ambos exercem precisamente as mesmas funções, mas com estatuto remuneratório diferente». O decreto desvaloriza em termos funcionais e salariais as carreiras de técnico de auxiliar de conservação e restauro, de auxiliar de museografia e de monitor do serviço educativo, não considera a especificidade das carreiras de museologia e de conservação e restauro em termos de estatuto remuneratório e impede os trabalhadores de usufruírem do direito de progressão de carreira. De acordo com a Federação, os cortes nos orçamentos de funcionamento tem levado a que os trabalhadores fiquem a aguardar o resultado dos concursos de promoção durante meses, acontecendo o mesmo com o pagamento das horas extraordinárias. A formação profissional, o abono para falhas, a cedência de espaço, a reclassificação e reconversão profissional, os fardamentos e a higiene e segurança no trabalho são assuntos que «continuam sem ser devidamente discutidos e clarificados». Os trabalhadores subscreveram um abaixo-assinado enviado à ministra da Cultura, em Março passado, onde exigem a alteração imediata dos quadros de pessoal, entrada de novos funcionários, a regulamentação do regime de trabalho dos serviços de loja e recepção e a promoção e reclassificação profissional. Perante a falta de resposta os sindicatos convocaram uma greve de três dias em Abril. Caso o Ministério se recuse a adoptar uma «atitude construtiva e a reiniciar as negociações», a Federação não põe de parte a possibilidade de recurso a outras medidas de protesto. FP QUADROS DE PESSOAL TÊM DE SER REVISTOS NA DEFESA A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública quer que o Ministério da Defesa Nacional altere a situação dos quatro quadros de pessoal civil de âmbito nacional. Argumenta que se tratam de quadros «muito grandes, que impossibilitam, na prática, o direito à carreira dos trabalhadores». Propõe que os quadros de pessoal sejam divididos e criados quadros para cada serviço ou quartel, adaptado às necessidades reais, que se proceda à criação de lugares de chefia nas diversas carreiras, terminando com a sua ocupação por militares, e a integração nos quadros do Ministério do pessoal da extinta Manutenção Militar. O Ministério da Defesa Nacional tem, para além de alguns quadros de pessoal próprios, o Quadro de Pessoal Civil do Exército, o Quadro de Pessoal Civil da Marinha, o Quadro de Pessoal Civil da Força Aérea e o Quadro de Pessoal Civil do Estado Maior das Forças Armadas. Por outro lado, existe um número considerável de trabalhadores da antiga Manutenção Militar que está colocado em diversos serviços do Ministério, 20 sem que esteja integrado nos respectivos quadros de pessoal. O Ministério tem ainda um conjunto de trabalhadores, com as mais diversas designações, mas cujas funções na maior parte dos casos «nada têm a ver com as designações que possuem e que constam no decreto regulamentar 17/2000, de 22 de Novembro. A Federação considera que estes trabalhadores deveriam ser integrados em carreiras existentes, nas quais, na maior parte dos casos, já executam funções. Independentemente do conjunto de reclassificações/ reconversões, «existem pelo menos duas situações que têm de ser revistas com urgência» que são as dos trabalhadores das carreiras dos Serviços Gerais da Saúde e os do Depósito de Material da Força Aérea em Alverca. A Federação realça ainda que a situação do Instituto de Socorros a Náufragos «carece de uma solução urgente». Neste instituto deveria ser criada uma carreira específica no grupo do pessoal operário com a designação de técnico auxiliar de construção, manutenção e reparação naval e deveria ser feito o enquadramento devido do pessoal de convés e de motoristas das embarcações salva-vidas. Em ambos os casos, os trabalhadores executam um conjunto diversificado de tarefas que vão para além das que estão definidas na sua categoria profissional. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP APÓS RECURSO À GREVE DGRF DEU RAZÃO AOS GUARDAS FLORESTAIS Quatro dias após o início da greve ao trabalho nas torres de vigia dos fogos, os guardas florestais retomaram as suas funções normais porque o Director Geral dos Recursos Florestais assumiu o compromisso de que aqueles serão gradualmente substituídos naqueles postos. Deste modo foi decidido pela Federação que a greve seria suspensa a partir das 24 horas de 18 de Maio, o que veio a acontecer. Entretanto, nomeadamente, no núcleo do Ribatejo os guardas-florestais foram sendo substituídos por outros trabalhadores tal como foi determinado em despacho do director-geral. A Federação foi ainda obrigada a intervir junto do director-geral, já que nos núcleos do Alto Alentejo e do Algarve, os respectivos chefes de núcleo não se mostraram disponíveis para encontrar soluções alternativas aos guardas-florestais. Nesta altura espera-se que já estejam ultrapassadas as dificuldades então existentes. AS RAZÕES DE UM CONFLITO Com as alterações orgânicas introduzidas aquando da reestruturação da DGRF, o grau de eficácia do serviço diminuiu significativamente nos últimos dois anos. Rui Nobre Gonçalves em vez de tomar medidas que restituíssem a capacidade ao serviço, optou pelo cenário de dificuldades acrescidas. Destacar guardas florestais como vigias. Tarefa sem dúvida necessária, mas que deve ser assegurada noutro quadro, por trabalhadores contratados sazonalmente. Em 29 de Abril, a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública solicitou audiências com carácter de urgência ao secretário de Estado e ao novo director-geral e, por decisão conjunta da federação e do Grupo de Trabalho dos Guardas Florestais, foi dado um prazo para obtenção de uma resposta. Como não houvesse qualquer sinal, a 6 de Maio foi emitido um pré-aviso de greve, com efeito a partir de 15 de Maio, a que pudessem recorrer os guardas florestais que fossem chamados a exercer funções nas torres de vigia. O director-geral acabou por receber os representantes sindicais em 12 de Maio. Implicitamente reconheceu a justeza das posições sindicais num despacho seu de 10 de Maio. Nele afirmou que as torres deveriam ser ocupadas por outros trabalhadores da DGRF, sem serem guardas florestais, por “jornaleiros”, sapadores florestais das associações de produtores florestais ou dos conselhos directivos dos baldios. E foi isso que aconteceu nas circunscrições florestais do Centro e do Norte. Mas na circunscrição do Sul foram destacados os guardas florestais. Nesta circunstância devem recorrer à greve, assim como retomarem o trabalho logo que lhes sejam dadas O diferendo teve origem com os anteriores responsáveis da DGRF. Mas os actuais titulares mantiveram esta e outras decisões, que determinaram o recurso à luta. Para lhe dar cobertura, a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública emitiu um pré-aviso de greve pelo período de um mês e com início em 15 de Maio. Em vez de corrigir a decisão, que os representantes sindicais consideram irresponsável e que revela desconhecimento da realidade, o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, Rui Nobre Gonçalves, AGENTES TÉCNICOS AGRÍCOLAS aproveitou a abertura oficial da época de fogos para fazer Federação recebida no Ministério um show-off e «tentar provar que os guardas florestais A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Púvão trabalhar». A atitude do blica foi recebida pelo Secretário-Geral do Ministério da governante é lamentável e Agricultura, no passado dia 2 de Junho, na sequência de constituiu um mau prenúncio. um pedido de audiência daquela entidade sindical, para Substitui a resolução dos discutir o processo de valorização da carreira dos agentes problemas pela mistificação técnicos agrícolas (ATA). Para a Federação há, no mínimo, que equiparar os ATA da realidade. O Corpo Nacional da do continente aos da Região Autónoma da Madeira, onde se Guarda Florestal (CNGF), verificou uma valorização em Agosto do ano passado. Entretanto, a Federação interpôs no Tribunal Adminisque está reduzido a um terço trativo e Fiscal de Lisboa uma acção contra o MADRP, pela dos seus efectivos, tem como funções o policiamento e fis- ausência de aprovação de legislação que preveja aquela calização florestal e cinegé- mesma valorização da carreira. Esta iniciativa surgiu na sequência de uma decisão tica. Funções essenciais que tomada em plenários regionais realizadas pela Federação se têm degradado devido à em Outubro do ano passado. decisão da direcção cessante. Nº 2 . JUNHO 2005 . FP instruções para desempenharem as tarefas normais de policiamento e fiscalização. CONDICIONANTES ORÇAMENTAIS Os responsáveis da DGRF tomaram outra decisão em 15 de Abril (despacho nº 39/2005) relativa às modalidades de horário de trabalho a praticar, que se aplica no presente ano e que é determinada pelas «disponibilidades orçamentais». A importância extrema de garantir a vigilância das florestas contra os fogos fica assim dependente de condicionantes orçamentais. Fixaram «dias para o cumprimento das diversas modalidades de horário de trabalho de uma forma que deixa o nosso território completamente desprotegido», dizem os dirigentes sindicais. Acrescentam que «não cabe na cabeça de ninguém restringir a jornada contínua ao período da manhã, durante 12 dias, quando se sabe que a vigilância florestal deve incidir sobre o período da tarde, altura em que potencialmente deflagram mais fogos». Dizem que também não faz sentido restringir o policiamento florestal a esse período do dia. Deve ser, pelo contrário, variável para que garanta maior eficácia no combate às infracções. Sustentam que o horário rígido só pode ser praticado por quem exerça funções na sede e núcleos. Os guardas florestais opõem-se a medidas como estas, que são reveladoras do desconhecimento da realidade e de pouca capacidade de gestão, mas reclamam também a negociação do estatuto de do CNGF. Grande parte do trabalho está produzido, faltando definir as matérias relativas a carreiras e estatuto remuneratório. Com nova direcção em exercício devem ser retomadas as reuniões de trabalho. É IMPERIOSO ALTERAR A ESTRUTURA DO CNGF Defendem também a concretização de alterações na estrutura do CNGF que permitam garantir a sua autonomia, isenção e eficácia. Basta que modifiquem a portaria nº 574/2004, de 28 de Maio, e o despacho nº 10.631/2004, de 18 de Maio, de forma a permitir a existência de uma direcção de serviços, chefes de núcleo regional e subregional do CNGF. Este será o principal assunto em discussão na reunião com o director-geral marcada para a primeira semana de Junho. FP 21 SECTORIAIS EXIGIDA REVOGAÇÃO DE REGULAMENTO DO IEFP O Regulamento de Avaliação de Desempenho (RAD) do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) deve ser revogado. Manuel Ramos, da Federação dos Sindicatos da Função Pública, disse à revista «Função Pública» que aguardam reunião com a nova comissão executiva do instituto, presidida por Francisco Madelino, para fazer o ponto da situação sobre o dossier da avaliação de desempenho e de outras matérias, como a revisão do regulamento de carreiras e concursos. A posição sindical é conhecida e o seu parecer foi divulgado em Fevereiro passado. A federação discorda da aplicação do regulamento e espera que «o sistema que o inspira seja revogado». A sua discordância incide sobre a generalidade deste instrumento e, na especialidade, em relação a sete dos seus 35 artigos. Posição que traduz as críticas suscitadas pelos trabalhadores. O RAD seguiu para a tutela — os Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e das Finanças e da Administração Pública —, tendo merecido a aprovação do primeiro destes Ministérios. A federação, que não abdica do direito de negociação, «aceitou participar no grupo de trabalho que elaborou a proposta» e envidou esforços para que o seu resultado fosse menos mau. Mas não aprovou a proposta por discordar do seu conteúdo. Inspirado no Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho da Administração Pública, o regulamento merece à federação «as mesmas críticas e rejeição». O processo negocial está, de resto, «inquinado à partida», já que os responsáveis do IEFP estavam limitados na sua capacidade negocial, em decorrência dos parâmetros estabelecidos pela Lei 10/2004, de 22 de Março, e pelo Decreto Regulamentar 19-A/2004, de 14 de Maio. As críticas dos trabalhadores do IEFP centravam-se essencialmente na terminologia utilizada na medição qualitativa da avaliação (normal, inferior ao normal, superior ao normal); na ausência dum órgão de recuso (semelhante à Comissão Paritária da Administração Pública); nas orientações dadas aos responsáveis pelos serviços para limitarem a quotas estabelecidas as avalia- 22 ções superiores ao normal». AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS O sistema de fixação de quotas mereceu, desde logo, o reparo dos dirigentes sindicais, tanto mais que contradita o objectivo enunciado de prosseguir a «maximização do serviço». Ao estabelecer uma quota de 20 por cento para as classificações de “Muito Bom” e de cinco por cento para as de “Excelente”, o regulamento está a limitar a possibilidade de que o serviço atinja a excelência. Os dirigentes sindicais opinam que se está a impor «um limite na avaliação do pessoal sem sequer estar associado à qualidade do serviço». E consideram que o processo de avaliação dos serviços, sugerido pela Estrutura Comum de Avaliação da Administração Pública na União Europeia, deve «preceder a avaliação dos trabalhadores». Daí que a federação se oponha ao artigo 9º do RAD, relativo à «Diferenciação de Mérito e Excelência». «Não aceitamos esta limitação na capacidade de avaliar e ser avaliado, mesmo que as quotas sejam do conhecimento de todos os avaliados e sejam efectuadas de forma equitativa aos diferentes grupos profissionais». Mas a rejeição na especialidade incide logo no artigo 2 do regulamento, o qual se reporta às componentes para avaliação. O RAD, tal como o Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho da Administração Pública, integra três componentes. Manuel Ramos manifesta a preocupação de que os objectivos não sejam devidamente contratualizados e que nas competências comportamentais e na atitude pessoal «a avaliação subjectiva possibilite a sobreposição da simpatia pessoal ou outra ao interesse pela melhoria dos serviços». Quanto ao artigo 3º, respeitante aos objectivos, a federação sustenta que a posição do avaliador prevalece, ainda que a razão possa assistir aos trabalhadores e que estes se comprometam por envolvimento na definição dos objectivos. «A aferição nos três níveis (superou claramente o objectivo; cumpriu o objectivo; não cumpriu o objectivo) carece do conhecimento das condições proporcionadas para a execução». Situação esta que não é salvaguardada no sistema. O artigo 11º sobre os intervenientes no processo de avaliação é também criticado, atendendo que os avaliados não estão incluídos como intervenientes no processo. Crítica semelhante aplica-se ao Conselho de Coordenação da Avaliação, cujas competências estão estipuladas no artigo 13º e entre as quais se conta a emissão de parecer sobre as reclamações dos avaliados. Os representantes sindicais opinam que, pelo menos para o cumprimento daquela competência, os avaliados deveriam ter representação no Conselho. A avaliação do desempenho dos anos de 2004 e 2005, consagrada no artigo 34º, é pacífica no que se refere ao primeiro destes anos, atendendo a que se fará na observância do disposto no regulamento anterior. Todavia, a avaliação referente ao ano de 2005 deveria iniciar-se com a entrevista que está prevista no número 1 do artigo 25º do RAD. A federação sindical critica, por último, o artigo 35º, relativo à correspondência de classificações. Salienta que com «a correspondência proposta não haverá excelentes e os “Muito Bom” poderão eventualmente exceder os 20 por cento, o que nos agradaria registar». FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP TRABALHADORES NÃO DOCENTES EXIGEM SOLUÇÕES MINISTRA «TEM DE AGIR» A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, «não precisa de ponderar mais tempo, tem é que agir» e apresentar soluções que resolvam os problemas que afectam os trabalhadores das escolas e jardins-de-infância da rede pública, pondo em causa o funcionamento destes estabelecimentos de ensino. A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública exige a revogação do Decreto-Lei nº 184/2004 e a reposição dos direitos e expectativas constantes do Decreto-Lei nº 515/99. Os trabalhadores não docentes concentraram-se no dia 3 de Junho junto ao Ministério da Educação para protestarem contra a falta de decisão do governo. Os problemas resultam de 14 mil trabalhadores não terem transitado para quadros regionais de vinculação previstos no Decreto-Lei nº 515/99. Se tal tivesse acontecido, os trabalhadores já estavam com vínculo definitivo e tinham transitado para as novas carreiras e categorias previstas pelo decreto. Mas a Federação realça que existem ainda outras injustiças, como a não abertura de concurso para as carreiras administrativa, chefe de serviço e administração escolar, técnicoprofissional e cozinheiro e a necessidade de pôr fim à contratação a termo certo ou por outras formas. Considera que o Governo, apoiado por uma maioria absoluta do PS, tem responsabilidade pela actual situação destes trabalhadores. Ela poderia ser diferente «se o último Governo de António Guterres tivesse cumprido os prazos de regulamentação previstos no decreto e não teria dado oportuni- dade ao governo do PSD-CDS/PP de impor o Decreto-Lei 184/2004 que representa um retrocesso nos direitos dos trabalhadores e no funcionamento das escolas». Dos 14 mil trabalhadores com contrato administrativo de provimento, cerca de nove mil terminam o contrato a 31 de Agosto. Uma situação que pode «pôr em causa a abertura do próximo ano lectivo e o funcionamento das escolas». A Federação reuniu com a ministra da Educação no passado dia 4 de Maio, mas «ainda não existiam soluções». Os trabalhadores julgaram que o novo governo e a responsável pela pasta da Educação «iam resolver com rapidez todos os problemas que os afectam. Parece que se enganaram». Na reunião também foi abordada a questão dos serviços centrais do Ministério da Educação. De acordo com a Federação, Maria de Lurdes Rodrigues limitou-se a «dizer que não vai mexer na Lei Orgânica do Ministério e que vai manter a maioria dos directores-gerais, que a construção dos A aplicação da Declaração de Bolonha pode constituir «uma artimanha para compensar algumas falhas do ensino superior», sustenta Marly Antunes, da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. A sua entrada em vigor «vai ter um grande impacto no edifício jurídico em que assenta a estrutura de carreiras e cargos da Administração Pública». A redução da duração da licenciatura para três anos «vai ter implicações na carreira da Administração Pública que terá que se adaptar às novas regras», importando em consequência disto que fiquem «salvaguardados os direitos e os interesses dos actuais trabalhadores com bacharelato e licenciatura». Actualmente, o trabalhador habilitado com o grau de licenciado tem o direito de ascender à categoria de topo da carreira técnica superior na qual se encontra inserido e a ocupar cargos de direcção intermédia de unidades orgânicas. Já o trabalhador habilitado com um curso superior ao nível de bacharel tem direito a ascender à categoria de topo de carreira técnica cujas funções sejam essencialmente asseguradas por pessoal integrado nas carreiras técnicas. Com a Declaração de Bolonha «ninguém sabe como irá ser ao nível das carreiras». Importa igualmente que os actuais licenciados à procura de emprego, na ordem dos trinta mil, tenham a garantia de que não BOLONHA PODE SER «ARTIMANHA» Nº 2 . JUNHO 2005 . FP quadros privativos vai prosseguir e assumiu que não vai haver supranumerários mas sim mobilidade». Quanto à «manutenção escandalosa» de professores a exercer serviços administrativos «nada respondeu». A governante teve reacção idêntica em relação às carreiras dos trabalhadores dos infantários dos serviços sociais do Ministério da Educação e das residências de estudantes do ensino básico e secundário dependentes das direcções regionais de educação. Apesar de já conhecer o problema, Maria de Lurdes Rodrigues «afirmou que nada tinha a dizer no momento. Estava a estudar a questão». Para a Federação, a situação profissional destes trabalhadores e o funcionamento das instituições «já poderiam ter sido resolvidas se os sucessivos governos, incluindo o último do PS, tivessem assumido as suas responsabilidades. É legítimo que os trabalhadores estejam a exigir que o governo e esta equipa ministerial assumam com urgência as suas responsabilidades». No anterior governo os trabalhadores do Ministério da Educação «viviam descontentes com o funcionamento dos departamentos e com dúvidas sobre o seu futuro profissional, julgaram que este governo iria agir de outra forma, mas parece que tudo ficou na mesma. Este Ministério está empenhado numa política de continuidade no que toca à gestão de recursos humanos». FP verão o seu nível académico desvalorizado, permitindo-lhes o acesso a uma profissão para a qual se encontram presentemente habilitados. A implementação do Processo de Bolonha «não deve servir para desvalorizar as habilitações académicas adquiridas pelos actuais licenciados em termos de ingresso e acesso a funções ou a cargos que estão habilitados a exercer actualmente». Marly Antunes salienta ainda que a redução da licenciatura a três anos «pode estar a abrir caminho para a formação de profissionais que não são aceites como estando qualificados para o exercício das suas profissões». FP 23 ACTIVIDADE DOS SINDICATOS NA ASSEMBLEIA DE DELEGADOS SINDICAIS, EM COIMBRA TRABALHADORES MOBILIZADOS PARA CONSTRUIR A MUDANÇA DE RUMO Os delegados e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Centro comprometeram-se a participar activamente na mobilização dos trabalhadores, para que se torne possível «construir a base social no sentido da mudança de rumo». A mudança que preconizam está consubstanciada no «claro repúdio das políticas de direita dos governos anteriores», que foram derrotadas nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro. A assembleia, reunida no dia 14 de Março, no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, afirmou que não permitirá que sejam frustradas as expectativas. A mudança de política é a «única forma de trazer mais progresso e implementar a justiça social no país». Como os direitos dos trabalhadores sempre foram conquistados pela luta, os seus representantes manifestaram a disponibilidade para, «sempre que se mostre necessário, continuar a lutar pelo emprego, pelos salários, pelas carreiras e por uma administração pública de qualidade e ao serviço do país». Exigem que «os valores sociais tenham prevalência sobre os valores económicos». A assembleia de delegados foi muito participada, contando com 270 presenças, e evidenciou uma disposição de participação em todas as questões que digam respeito aos trabalhadores. Decidiram prosseguir as acções de esclarecimento e luta pelo «fim das políticas de privatizações directas e indirectas no âmbito da administração pública» e exigir a «revisão do «novo Regime do Apoio Judiciário e do Código das custas judiciárias», a alteração da Lei de Bases da Segurança Social e o combate à fraude e evasão fiscal. Mas também reclamam a revogação das normas gravosas do Código do Trabalho. Os delegados e dirigentes sindicais pronunciaram-se sobre a necessidade de que sejam repostas todas suas propostas junto do novo Governo. Tanto as propostas que não tiveram desenvolvimento como aquelas que resultaram em medidas contra os interesses e direitos trabalhadores. Pretendem negociar a proposta salarial para 2005, que possibilite uma efectiva valorização dos salários, pensões e demais prestações pecuniárias, assim como querem 24 negociar salários e carreiras para os trabalhadores das instituições particulares de solidariedade sociais/ Misericórdias e a sua aproximação à função pública nas carreiras e conteúdos funcionais semelhantes. REPOR DIREITOS Exigem a revogação das leis nº 1/2004, de 15 de Janeiro, para «reposição dos direitos roubados à aposentação», nº 23, de 27 de Julho, do contrato individual de trabalho na administração pública e nº 10/2004, de 22 de Março, relativa à avaliação de desempenho, a qual se traduz e numerosas «malfeitorias». Querem também que seja revogada a legislação que permitiu a empresarialização da saúde e reclamam o retorno dos hospitais SA ao sector público administrativo. A negociação de um novo regime de carreiras, que tenha por base o princípio da horizontalização a aplicar a toda a administração pública directa ou indirecta, constitui outro dos seus objectivos. A proposta de horizontalização e valorização das carreiras é «uma questão central». Daí que se imponha alterar «um sistema caduco, sem sentido e que se constitui como um travão em relação às justas aspirações dos trabalhadores da função pública». No encontro, Paulo Trindade, coordenador da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, exortou à acção reivindicativa, não só no plano geral, mas igualmente na negociação dos cadernos reivindicativos sectoriais. As batalhas que terão de travar determinaram a reflexão e debate sobre matérias relacionadas com a organização e a sindicalização. Esta foi considerada uma direcção de trabalho a que deve ser dada uma atenção permanente. Os representantes sindicais salientaram a importância de privilegiar a organização e a formação sindical, consideradas necessárias à intervenção, imagem e implantação do sindicato nos locais de trabalho. Têm como objectivo exigir às administrações dos locais de trabalho com mais de 150 trabalhadores que lhes seja facultada «a cedência, a título permanente, de gabinetes para a organização dos delegados e atendimento dos trabalhadores». Reclamam também a instalação de placards nos locais de trabalho para afixar a informação sindical. Decidiram promover a eleição de delegados sindicais e o funcionamento de comissões sindicais e intersindicais, bem como a realização de encontros, debates e outras iniciativas temáticas de interesse para a organização dos trabalhadores e do sindicato. Ficou igualmente decidido prosseguir as iniciativas necessárias à eleição das Comissões de Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho.FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP Acção reivindicativa no Norte A Assembleia Geral de Delegados Sindicais do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Norte discutiu a acção reivindicativa geral e sectorial, no passado dia 31 de Março. Nessa reunião magna, os delegados ratificaram por unanimidade a resolução do plenário da CGTP, de 30 de Março. Foram ainda aprovados por unanimidade o Relatório de Actividades e Contas de 2004, bem como o Plano de Actividades e Orçamento para 2005. Saliente-se ainda que estes documentos tiveram parecer favorável do Conselho Fiscalizador e recomendaram a sua aprovação pelos delegados sindicais. Lei da Maternidade e da Paternidade O Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Norte debateu, em 31 de Março, o tema da Lei da Maternidade e Paternidade, na Casa Sindical da União dos Sindicatos do Porto. A iniciativa integrou-se num duplo objectivo, comemorar o Dia Internacional da Mulher e preparar a 4ª Conferência sobre Igualdade entre Mulheres e Homens, que a CGTP-IN realizou, em Lisboa, no dia 15 de Abril. Participaram neste debate Odete Filipe e Helena Carrilho, da CGTP-IN, a quem os delegados e dirigentes presentes colocaram questões pertinentes. Delegação Aveiro As instalações de Aveiro do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Centro, em funcionamento desde Setembro de 2004, situam-se na Avenida Lourenço Peixinho, 358 - 2º Esq. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP RELACIONAMENTO NORMAL É UMA ESPERANÇA O Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas no Estrangeiro (STCDE) tem esperança de que seja possível estabelecer um «relacionamento normal» com o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mas advertiu os trabalhadores de que não devem ter ilusões. A gestão do Palácio das Necessidades «não muda de um dia para o outro» sem a constante exigência de respeito pelos direitos. Uma delegação do sindicato foi recebida no princípio de Maio pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, e pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga. Os encontros com os membros do Governo fizeram renascer a esperança. Todavia, o sindicato e os trabalhadores mantêm-se vigilantes. O caderno reivindicativo, entregue ao anterior titular da pasta, foi passado em revista na audiência com o ministro Freitas do Amaral, que decorreu no dia 3 de Maio. O titular da pasta assumiu que a lei tem de ser cumprida, o que obriga a administração pública a ser transparente e a respeitar o Código do Procedimento Administrativo. O STCDE afirma que foram assumidos compromissos e dadas instruções para que sejam resolvidos alguns dos problemas pendentes, nomeadamente em matéria de actualizações salariais de anos anteriores que estão em dívida, bem como relativamente aos ajustamentos salariais do ano corrente, que já se concretizaram para a restante administração pública. Freitas do Amaral assumiu igualmente a necessidade de concurso, tendo sido anunciada a próxima abertura de concursos para vice-cônsul e chanceler, onde existe quase uma centenas de lugares vagos. O sindicato opina que deveria ser estabelecido um plano plurianual que, além daquelas carreiras, abrangesse outras categorias de pessoal, tais como técnicos e administrativos. Mas é também necessário proceder a admissões, terminando de vez com a utilização de trabalhadores precários. CONSULADOS O secretário de Estado António Braga afirmou aos representantes sindicais, durante o encontro realizado em 10 de Maio, que o Governo não tem intenção de encerrar postos consulares no estrangeiro e que pretende conseguir alguma poupança financeira através da passagem de alguns consulados a vice-consulados. Na reunião foi também abordada a possibilidade de alguns dos actuais consulados honorários e escritórios consulares serem elevados à categoria de agências consulares, com existência jurídica própria. O sindicato transmitiu ao membro do Governo a necessidade de os postos consulares serem providos com pessoal no seu quadro, ultra- passando a contratação de trabalhadores a termo certo. Foram ainda debatidas outras matérias como a formação profissional dos trabalhadores dos consulados, o projecto do Governo de criação de uma rede de telemóveis de urgência no estrangeiro e o regulamento consular. Há outros assuntos que o STCDE quer ver resolvidos como sejam, por exemplo, as deficiências de funcionamento do serviço consular de Portugal em Londres que, desde há anos, tem suscitado manifestações de desagrado por parte da comunidade portuguesa. De resto, o sindicato oficiou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Abril passado, para que fosse colocada com urgência alguma ordem no caos reinante.FP 25 ACTIVIDADE DOS SINDICATOS NA DIRECÇÃO-GERAL DO ORÇAMENTO HORÁRIO FLEXÍVEL CAUSA GRAVES CONSEQUÊNCIAS A aplicação a partir de Abril do Regulamento de Horário Flexível na Direcção-Geral do Orçamento (DGO) está a causar «consequências gravíssimas» para os trabalhadores. Ana Avoila, do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, afirmou que o grupo de trabalho sindical vai reunir-se para tomar medidas face ao arbítrio instalado. Mais de 400 trabalhadores estão confrontados com um regulamento que põe em prática «o espírito das normas do Código de Trabalho», as quais conferem à entidade patronal a prorrogativa de «conceder ou não determinados direitos e regalias». O Regulamento de Horário Flexível da Direcção-Geral do Orçamento alterou a legislação que é suposto regulamentar, o decreto-lei nº 259/98, de 18 de Agosto. Retirou direitos de que os trabalhadores usufruem há anos em alguns serviços da DGO. O regulamento contém normas contrárias à legislação e à Constituição da República. É um princípio geral de direito que os trabalhadores da administração pública não devem prestar mais de cinco horas de trabalho consecutivo, salvo no caso de jornada contínua. Todavia, o nº 4 do artigo 3º do Regulamento de Horário Flexível admite-o sem ser no caso da jornada contínua. Os horários flexíveis são aqueles que permitem aos funcionários e agentes de um serviço gerir os seus tempos de trabalho, escolhendo as horas de entrada e de saída. Regime esse que «não se pode verificar na DGO», atendendo à redacção do nº 2 do ar- tigo 4º do regulamento e à subjectividade de que enferma aquele preceito. As dispensas de presença, previstas no artigo 5º, estão também imbuídas de um grau elevado de subjectividade, ao ficarem dependentes de «justificação atendível». ARBÍTRIO Muitos dos preceitos do Regulamento de Horário Flexível contrariam as disposições do decreto-lei nº 259/98, de 18 de Agosto, e introduzem nas relações laborais um regime de arbítrio. A jornada contínua, por exemplo, caracteriza-se, fundamentalmente, por consistir na prestação ininterrupta de trabalho, com um período de descanso, nunca superior a 30 minutos, que se considera para todos os efeitos como tempo de trabalho, por ocupar, predominantemente, um dos períodos do dia, e por determinar uma redução do período normal de trabalho diário nunca superior a uma hora. Nos termos da lei, é obrigatória uma pausa de descanso findo o período de cinco horas de trabalho diário ininterrupto, o que na jornada contínua tem o limite máximo de 30 minutos e que se considera tempo de trabalho. O decreto-lei nº 259/98 estabelece que o período normal de trabalho tem a duração de sete horas, às quais é reduzida uma hora de trabalho diário. Nestas seis horas de prestação de serviço ininterrupto é feita uma pausa de descanso nunca superior a 30 minutos. No entanto, o nº 3 do artigo 10º do Regulamento de Horário Flexível dispõe de outra forma, deixando a decisão ao arbítrio de quem decide. A Federação considera que o regulamento «peca por conter normas pouco claras, concisas e precisas», suscitando excessivas dúvidas de interpretação. Mas, além disso, contraria a própria Constituição, ao admitir que as dúvidas sejam esclarecidas por despacho do director-geral. Isto é, «deixa ao arbítrio do aplicador a interpretação do que considera ou não atendível». Os trabalhadores opõem-se também ao aumento injustificado de meia hora na plataforma fixa da parte da tarde, o que implica «a alteração da vida pessoal e familiar dos trabalhadores» sem que haja qualquer justificação devidamente fundamentada. O Regulamento de Horário Flexível traduz a tentativa de desregulamentação das relações laborais, a que os sindicatos e trabalhadores se opõem. Exigem participar e terem intervenção nos regulamentos que sejam elaborados. SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA TRABALHADORES EXIGEM REPOSIÇÃO DE DIREITOS Os trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa exigem a reposição dos direitos, que lhes foram retirados pela provedora. Querem negociar e não aceitam a imposição unilateral. A sua posição é apoiada por um abaixoassinado com mais de 500 assinaturas. Os 26 sindicatos dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, dos Enfermeiros Portugueses e das Ciências e Tecnologias da Saúde solicitaram uma reunião à provedora da Santa Casa para discutirem as férias. Numa atitude autoritária e prepotente, a provedora ignorou o regulamento de trabalho e fez um instrumento próprio em que aplicou as condições desvantajosas consagradas na lei geral de trabalho. Os sindicatos apresentaram, desde logo, uma proposta para que os trabalhadores «não gozem este ano menos férias do que no ano passado». Nº 2 . JUNHO 2005 . FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP 27 LEGISLAÇÃO PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS Resolução do Conselho de Ministros n.º 90/2005 (Rectificações) Estabelece o regime da Unidade de Coordenação da Modernização Administrativa (UCMA) e nomeia o seu coordenador. Resolução do Conselho de Ministros n.º 88-A/2005. DR 91 SÉRIE I-B 1º SUPLEMENTO de 2005-05-11 Cria a Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais de 2005 Resolução do Conselho de Ministros n.º 84/2005. DR 81 SÉRIE I-B de 2005-04-27 Aprova os princípios fundamentais orientadores da estruturação dos cuidados de saúde às pessoas idosas e às pessoas em situação de dependência. Resolução do Conselho de Ministros n.º 85/2005. DR 81 SÉRIE I-B de 2005-04-27 Cria a Comissão para a Avaliação dos Hospitais Sociedades Anónimas. Resolução do Conselho de Ministros n.º 86/2005. DR 81 SÉRIE I-B de 2005-04-27 Cria um grupo técnico para a reforma dos cuidados de saúde primários. Decreto-Lei n.º 79/2005. DR 74 SÉRIE I-A de 200504-15 Aprova a Lei Orgânica do XVII Governo Constitucional. Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2005. DR 74 SÉRIE I-B de 2005-04-15 Aprova o Regimento do Conselho de Ministros do XVII Governo Constitucional. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS E MINISTÉRIOS DA DEFESA NACIONAL E DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Portaria n.º 378/2005. DR 66 SÉRIE I-B de 2005-04-05 Actualiza o valor das ajudas de custo a abonar aos militares 28 que se desloquem em missão oficial ao estrangeiro e no estrangeiro. REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica da Direcção Regional de Formação Profissional. Decreto Legislativo Regional n.º 1/2005/A. DR 89 SÉRIE I-A de 2005-05-09 Estabelece o regime jurídico de organização da administração directa da Região Autónoma dos Açores. Decreto Regulamentar Regional n.º 14/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a estrutura orgânica da Direcção Regional de Planeamento e Recursos Educativos. Decreto Legislativo Regional n.º 2/2005/A. DR 89 SÉRIE I-A de 2005-05-09 Estabelece o estatuto do pessoal dirigente dos serviços e organismos da administração regional. Decreto Regulamentar Regional n.º 15/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica do Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira. REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA - ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL Decreto Legislativo Regional n.º 3/2005/M. DR 74 SÉRIE I-A de 2005-04-15 Aprova o valor da retribuição mínima mensal garantida para vigorar a partir de Janeiro de 2005 na Região Autónoma da Madeira. Decreto Regulamentar Regional n.º 16/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação. Decreto Regulamentar Regional n.º 17/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica da Escola Profissional de Hotelaria e Turismo da Madeira. REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA - PRESIDÊNCIA DO GOVERNO MINISTÉRIOS DA DEFESA NACIONAL E DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO Decreto Regulamentar Regional n.º 21/2005/M. DR 78 PÚBLICA SÉRIE I-B de 2005-04-21 Aprova a orgânica da Direcção Regional de Planeamento e Finanças. Decreto Regulamentar Regional n.º 10/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova o estatuto do Instituto de Gestão de Fundos Comunitários. Decreto Regulamentar Regional n.º 11/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica do Conservatório - Escola Profissional das Artes da Madeira, Engenheiro Luiz Peter Clode Decreto Regulamentar Regional n.º 12/2005/M. DR 76 SÉRIE I-B de 2005-04-19 Aprova a orgânica da Direcção Regional de Administração Educativa. Portaria n.º 446/2005. DR 83 SÉRIE I-B de 2005-04-29 Altera o quadro de pessoal civil do Exército, aprovado pela Portaria n.º 419/91, de 21 de Maio. MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA Portaria n.º 460/2005. DR 85 SÉRIE I-B de 2005-05-03 Actualiza as ajudas de custo aos militares da Guarda Nacional Republicana por deslocações em território nacional ou em missão ao estrangeiro para o ano de 2005. MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DA SAÚDE Portaria n.º 418/2005. DR 73 SÉRIE I-B de 2005-04-14 Aprova o regulamento interno que define a organização e o funcionamento dos serviços da Entidade Reguladora da Saúde. MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DA SEGURANÇA SOCIAL, DA FAMÍLIA E DA CRIANÇA Portaria n.º 363/2005. DR 65 SÉRIE I-B de 2005-04-04 Actualiza as remunerações que servem de cálculo às pensões de invalidez e de velhice do regime geral de segurança social. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Decreto-Lei n.º 80/2005. DR 77 SÉRIE I-A de 200504-20 Altera o Decreto-Lei n.º 189/ 2004, de 17 de Agosto, que aprova uma compensação especial a atribuir aos militares da Guarda Nacional Republicana e aos elementos da Polícia de Segurança Pública com funções policiais, bem como ao pessoal militarizado da Polícia Marítima, pelos danos resultantes de acidentes em serviço. Decreto-Lei n.º 75/2005. DR 65 SÉRIE I-A de 200504-04 Altera o Decreto Regulamentar n.º 38/82, de 7 de Julho, que atribui um subsídio aos funcionários da DirecçãoGeral dos Serviços Prisionais destinado a compensar as condições de risco específicas das actividades relacionadas com estabelecimentos prisionais. MINISTÉRIO DA SEGURANÇA SOCIAL, DA FAMÍLIA E DA CRIANÇA Decreto-Lei n.º 77/2005. DR 72 SÉRIE I-A de 200504-13 Estabelece o regime jurídico de protecção social na maternidade, paternidade e adopção no âmbito do subsistema previdencial de segurança social face ao regime preconizado na legislação de trabalho vigente. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP STFPSA Acordos com as Universidades: porque ganhamos pouco! No sentido de facilitar o acesso ao ensino superior privado, onde as mensalidades consomem uma fatia muito substancial do orçamento familiar de quem estuda ou tem os filhos a estudar nestas Universidades, o Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores estabeleceu acordos com diferentes estabelecimentos, que indicamos a seguir. Em tempo de tomar decisões para o próximo ano lectivo, sobretudo para aqueles que estão a concluir o 12º ano, aqui ficam algumas sugestões: — Universidade Autónoma de Lisboa — Universidade Lusófona — Universidade Internacional — Universidade Independente — ISLA, Instituto Superior de Línguas e Administração Turismo Estão em distribuição os catálogos de turismo para 2005. Privilegiam-se, como habitualmente, os pólos de férias do Sul de Espanha, em virtude da relação qualidade/ preço, mas os catálogos abrangem uma infinidade de outros destinos. Recorda-se que o sindicato assegura, também, a marcação de serviços aéreos para qualquer aeroporto do mundo. Estes serviços podem ser pagos em prestações, sendo o próprio sócio a fazer a gestão da sua conta. Computadores: Telemédia, uma empresa de confiança Fornecendo equipamento informático aos nossos sócios há já vários anos, a Telemédia Nº 2 . JUNHO 2005 . FP apresenta-se como uma empresa do ramo das tecnologias da informação na qual depositamos confiança. Os preços praticados são interessantes, sendo a própria empresa a assegurar os procedimentos bancários no caso das compras em prestações. A empresa tem disponíveis também televisores com ecrã de plasma, oferecendo o leitor de DVD. Os contactos devem ser feitos através do telefone 214721830. 225574000, fax nº 225094214. Pode fazer o pedido de carta de campista da Federação de Campismo, directamente no Sindicato. Se tem filhos entre os 7 e os 16 anos, e pretender ocupá-los nas férias com actividades lúdicas e educativas organizadas em ateliers com a coordenação de animadores especializados, pode contactar a Associação para a Promoção Cultural de Criança -APCC pelo telef. nº 222004284. Para além de beneficiar de vantagens nestes serviços, existem outros, bastando para isso, contactar o Sindicato pelo telf. nº 225574060, ou consultar o nosso site www.stfpn.pt. STFPC Férias 2005 Foi estabelecido um protocolo com as Viagens Tempo que concede condições especiais para os sócios e familiares, consulta a nossa página para mais informações [www.stfpcentro.pt]. Formação Profissional 2005 Começam em Junho as acções do Programa Eixo II para os trabalhadores dos Hospitais SA. Os cursos apresentados destinam-se a todos os trabalhadores dos Hospitais SA, independentemente do seu vínculo, pertencentes às carreiras Técnicas; Técnico-Profissionais; Administrativas; Auxiliares; Serviços Gerais da Saúde e Operários. STFPN Tempos livres – desporto, férias e viagens Lembramos que o Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Norte tem protocolos com empresas de viagens, nomeadamente o operador de turismo – Viagens Tempo, Rua da Alegria, 1930 - 1º sala – Porto, telef. 225573490, fax 225506820 e com SGV – Turismo, Ldª, Rua Damião de Góis, 425 – Porto, telef. nº LIVROS EM FEIRA Os livros esperam que alguém os manuseie, que alguém os compre, que alguém os leia. As duas maiores feiras do livro do país foram inauguradas em Maio, em Lisboa e no Porto, e decorreram até meados de Junho. Em Lisboa, no espaço do Parque Eduardo VII, pode visitar os livros e os seus autores até ao dia 13 de Junho, enquanto no Porto, no Pavilhão Rosa Mota, os livros e autores estão à sua espera até ao dia 12 de Junho. Nas feiras do livro ou numa qualquer livraria perto de si, veja os últimos lançamentos, mas também não deixe de dar uma espreitadela nos seguintes títulos: «Percepção Social da Fiscalidade em Portugal – Um Estudo Exploratório», de Domitília Diogo Soares, editado pela Livraria Almedina. Livro que se reporta à dissertação de mestrado da autora, no qual aborda a relação entre o cidadão e a administração fiscal. «A Leitura Pública no Portugal Contemporâneo 1926-1987», de Daniel Melo. Prémio de História Contemporânea 2003, este livro analisa a evolução da leitura pública em Portugal no século XX. Editado pela Imprensa de Ciências Sociais. «Violência na Família – Uma Abordagem Sociológica», de Isabel Dias, Biblioteca das Ciências Sociais, Edições Afronamento. «A Fabricação da Informação», de Florence Aubenas, editado pela Campo das Letras. «Porto Gráfico», de Manuel Paula, trabalho que vem no seguimento de «Lisboa Gráfica». Edição Gradiva. FP 29 LAZER ADMINISTRAÇÃO REQUALIFICA ESPAÇO ZOO DE LISBOA ENTRA EM OBRAS O Jardim Zoológico de Lisboa vai entrar em obras brevemente para adaptar algumas das suas instalações às exigências da União Europeia. A directiva comunitária 1999/22/CE estipula obrigações a todos os jardins zoológicos europeus ao nível da conservação, educação e consciencialização do público, investigação científica e instalação dos animais. As obras que irão começar já deviam estar concluídas, uma vez que o prazo concedido pela União Europeia para adaptação do local terminou no passado mês de Abril. Mas a falta de verbas tem sido um dos principais obstáculos à concretização dos projectos de remodelação do espaço. A legislação entrou em vigor em 1999 e desde essa altura que a administração tenta encontrar condições para fazer as adaptações necessárias e que satisfaçam os desígnios da directiva. O Jardim Zoológico assinou em Maio de 2000 um protocolo de intenções com a Câmara Municipal de Lisboa e com o Governo de António Guterres, que visava a atribuição de subsídios para esse efeito. Mas as ajudas prometidas nunca chegaram a ser entregues e a administração decidiu avançar com a requalificação de alguns espaços. As obras terão a duração de pelo menos um ano e vão decorrer por etapas, começando primeiro no recinto das girafas. Segue-se o espaço dos elefantes e dos grandes primatas. O recinto dos felinos será o último a ser requalificado. As visitas vão decorrer normalmente no decurso das obras. O bilhete único de acesso ao Jardim Zoológico de Lisboa, criado em 1997, possibilita uma oferta diversificada de entretenimento para toda a família. Além de permitir a visita às instalações que acolhem dois mil animais de 400 espécies e subespécies diferentes, o ingresso inclui um espectáculo na Baía dos Golfinhos, a visita ao reptilário, a alimentação aos leões-marinhos e o espectáculo de aves exóticas. O teleférico, que funciona das 11 e 30 às 18 horas, possibilita uma visão geral de todo o jardim zoológico. Na Baía dos Golfinhos há apresentações de golfinhos e leões-marinhos todos os dias às 11, 15 e 17 horas. Construída em Maio de 1995, a baia recria uma típica aldeia piscatória portuguesa e dá corpo e alma ao 30 Centro de Vida Marinho do zoo de Lisboa que tem como preocupações apresentar os animais e educar com diversão. Às 10 e 30 e às 14 horas é a vez dos leões-marinhos serem alimentados. É uma oportunidade única para conhecer e aprender mais sobre estes mamíferos que podem surpreender os visitantes com o seu comportamento divertido. Entre bater palmas, nadar a grande a grande velocidade ou acenar ao público, os tratadores procuram sensibilizar as pessoas para a importância da preservação desta espécie marinha. O reptilário foi totalmente remodelado em 1999 e oferece aos visitantes uma longa viagem pelo mundo dos répteis. O percurso tem início numa área pedagógica, onde é descrita a evolução biológica dos répteis e a «Era dos Dinossáurios». Percorrendo o caminho serpenteado podemos encontrar cobras e lagartos oriundos de várias áreas do planeta como os Dragões do Komodo ou a anaconda. Depois de passar pela maternidade, onde os ovos e os recém-nascidos podem ser observados pelos visitantes, chega-se ao pavilhão do deserto cujas principais atracções são as cascavéis e as diversas espécies de iguanas. A visita completa-se com a apresentação ao vivo destes animais, que além de proporcionar um contacto directo entre público e répteis, visa afastar o medo que as pessoas sentem em relação a eles. As aves exóticas também têm um lugar especial no zoo. Com dois espectáculos diários (às 12 e às 18 horas), estes animais fazem contas de matemática, conduzem jipes e andam de patins. Os mais pequenos podem divertir-se também no Parque Arco-Íris e na Quintinha. O primeiro foi inaugurado na Primavera de 2001 e assemelha-se a uma gaiola gigante onde dominam as cores garridas e o ruído característico dos lórios (aves exóticas). A Quintinha é um espaço para aprender mais sobre os animais domésticos e a sua utilidade na vida do ser humano. Fora do recinto do zoo e com entrada livre está o Animax. Um parque dotado de diferentes tipos de lojas, restaurantes e diversão. As atracções para toda a família incluem o Merry-go-Round, pista de carros de choque, helicóptero louco, barcos telecomandados e gaivotas. O Safari Cars, os Caldeirões, a pista de mini carros de choque e o play ground destinam-se aos mais pequenos e o simulador e o water jumping aos mais radicais. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP Na Separata ao nº1 da revista “Função Pública” não foram, por lapso, consideradas as alterações às tabelas de vencimentos das carreiras de tesoureiro (regime geral) e de assistente de acção educativa (pessoal não docente dos estabelecimentos de ensino não superior). Razão pela qual, procedemos agora à necessária correcção, com as nossas desculpas pelo sucedido. Tesoureiro Categoria Tesoureiro 1 259 2 269 3 290 4 311 5 332 6 350 Assistente de Acção Educativa Categoria Ass.Acção Educativa Nível 2 Ass.Acção Educativa Nível 1 1 2 3 4 5 6 228 238 254 269 285 300 199 209 218 228 238 249 ����������� ����� �� ������� ������ ��� ������ ������ ������� ������������� ������ ��� ������ ������ ������� ������������ �������� ������������ �������� ��� ���������������������� ��� ����������� �� ��������� ��������� ����� �� ���� ��� ������� ���� ��� �� ����� �� ����� ��������� �������� ��� ������������ ������������ �������� ��� �������� ���������� �� ����� �������� �� ������� ��� ��� ���������� �� �������� �� ����� ��������� �������� ��� ����������������������� ��� ����������� �������� ��� ������������� ����������� ��������� ��������� �� ����������� ������ �� ���� ��� ����������� ���� ����� ��� �� ������ �� ����� ��������� �������� ��� ����������������������� ��� ����������� �������� ��� �������� �� ���������� ��� ��������� �� �������� ��������� �� ������������ ��� ����� ������������� ��� ���������� ���� ��� ������� �� ���� ������ �������� ���� �� �� ������� �� ����� ������������ �������� ���� �������� �� ����� �������� ������������� �� ������� ����� ���� ��� ������������ ������������� ������������� ��� ������ ���� ��� �� �������� ��� ������ �������� �������� ��� ������������� ����������� ��������� ��������� �� ����������� �������� ��� ������� ��� ��������� ������������� ������� �� ��� ������ �������� ����������� �������� ���������� ������� ���� ���� ���� � ������� ��� ������������ �� ������� �� ����� ��������� ������ �������� ������ ������� ������� Nº 2 . JUNHO 2005 . FP 31 JÁ BASTA DE POLÍTICAS INJUSTAS A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública realiza no próximo dia 17 de Junho uma manifestação nacional para a qual estão a ser mobilizados todos os trabalhadores do sector, como primeira forma de luta contra as medidas do Governo para alegadamente combater o défice orçamental. São medidas que põem em causa um conjunto de direitos fundamentais conquistados pelos trabalhadores da Administração Pública ao longo dos últimos 30 anos, como um regime de aposentação próprio, um sistema de carreiras e o direito ao emprego público. O que outros governos tentaram e não conseguiram, está agora o actual governo a procurar concretizar, contrariando promessas eleitorais que fez e que já esqueceu. Mais uma vez, são os trabalhadores da Administração Pública os “bodes expiatórios” de políticas essencialmente anti-sociais e em que os problemas estruturais da economia portuguesa não são resolvidos. E sem que se prove se estas medidas realmente contribuem de forma determinante para a diminuição do défice, congelam-se as mudanças de escalão, revê-se o sistema de carreiras no sentido de restringir direitos adquiridos, aumenta-se a idade para a aposentação, mesmo nas carreiras que por razões de penosidade têm patamares inferiores fixados, extingue-se o regime de aposentação da função pública, nomeadamente no que toca ao cálculo da pensão e o sistema de protecção na doença (ADSE). Entretanto, novas medidas são já anunciadas, agora no âmbito do Programa de Estabilidade e Crescimento que o Governo vai submeter à apreciação da Assembleia da República, no dia 9 de Junho. Seguindo as passadas dos anteriores governos do PSD, o governo fala em reactivar os supranumerários, como forma de desestabilizar o emprego público, ao mesmo tempo que fomenta o contrato individual de trabalho e a precariedade de emprego. Mas, os trabalhadores da Administração Pública são igualmente penalizados com as medidas que afectam todos aqueles que trabalham e que têm mais baixos recursos. O aumento do IVA, do imposto sobre os produtos petrolíferos e do imposto automóvel atingem cerca de 80 por cento dos bens adquiridos pelos portugueses. E como 32 estamos a falar de impostos indirectos, estes aumentos agravam ainda mais a injustiça fiscal já existente. O valor do aumento é igual para todos, independentemente de serem ricos ou pobres, sendo mais pesado para estes últimos. Entretanto, é previsível e o Governo já o reconheceu que esta medida tem a si associado um movimento inflacionário nos preços, o que poderá provocar uma nova diminuição no poder de compra dos trabalhadores, nomeadamente da Administração Pública, para quem o executivo já perspectiva aumentos salariais “moderados” em 2006. As medidas anunciadas pelo Governo envolvem também a estrutura da Administração Pública que se prevê possa ser reduzida. A mesma tendência neoliberal dos governos PSD, de redução das funções sociais do Estado e da sua entrega ao grande capital privado. Os prejuízos estão à vista, quer para os trabalhadores cujas condições de trabalho e de emprego são postas em causa, quer para os cidadãos que vêem a qualidade dos serviços prestados significativamente posta em causa, bem como o acesso aos mesmos. Falamos, do acesso aos serviços de saúde, ao ensino ou à justiça. O governo apostou com as medidas anunciadas numa política de confronto social com os trabalhadores, designadamente com os da Administração Pública, quando para resolver a questão do défice orçamental poderia ter optado pelo alargamento da base tributável, aumentando os rendimentos sujeitos a imposto, o que seria alcançável limitando os prejuízos que as empresas podem deduzir nos lucros e reduzindo os benefícios fiscais concedidos às empresas. É que a carga fiscal em Portugal não é a mais elevada da União Europeia. Segundo o Eurostat, em 2003, a carga fiscal em Portugal era de 38,1 por cento do PIB, ao passo que na UE se cifrava nos 41,6 por cento. Mais elevado em Portugal é o peso dos impostos indirectos, os tais que acentuam a injustiça fiscal que já referimos. Quanto aos impostos directos (IRS e IRC), os tais que dizem respeito aos rendimentos dos contribuintes, a injustiça detecta-se de outra forma e com tendência para se agravar: em 2002, em cada 100 euros de receitas de impostos directos, segundo dados da DGCI, 63,3 euros tinham por origem o IRS, enquanto que o IRC representava apenas 35,9 euros de cada 100. Já em 2005, em cada 100 euros, 70,3 euros provêm do IRS, enquanto que os restantes 27,8 têm por origem o IRC. No próprio IRS encontramos evidentes sintomas de injustiça fiscal. Olhe-se apenas para o ano de 2003 e concluir-se-á que 87,5 por cento dos rendimentos declarados eram do trabalho por conta de outrem e de pensões de reforma, enquanto que os restantes 12,5 por cento tinham por origem rendimentos do trabalho de pessoas singulares, de empresas, profissões liberais, rendimentos de capitais, rendimentos prediais ou mais valias. E entre os anos de 2001 e de 2003, o número de contribuintes que declararam rendimentos superiores a 250.000 euros por ano diminuiu de 26.802 para apenas 2.144, o que indicia um forte aumento da evasão fiscal. Em resumo, o governo poderia e deveria ter apostado em medidas que representassem uma mais justa repartição da riqueza e dos rendimentos. No próximo dia 17 de Junho, quando os trabalhadores da Administração Pública começarem a desfilar, a partir das 14 e 30 horas, entre os Restauradores e S. Bento, porão na rua esta exigência essencial ao reivindicarem que nos seus direitos — porque são direitos! — nenhum governo pode e deve tocar. FP Nº 2 . JUNHO 2005 . FP