Um dia com a VMER de Gil empata Benfica

Transcrição

Um dia com a VMER de Gil empata Benfica
Ministério Público estará a
investigar água e parceria
DIRECTOR PAULO JORGE VILA
SEMANÁRIO . NÚMERO 33
ANO LXI . III SÉRIE
Pág. 4
QUARTA-FEIRA 17 DE AGOSTO 2011 / 0,70€
Paulo Vila
Um dia com
a VMER de
Barcelos
Págs. 8/9
Pedro Miranda
CONCELHO
Emigrante
morre afogado
ao salvar dois
jovens da família
Pág. 2
CONCELHO
Fragoso 'inventa'
uma nova
modalidade
desportiva:
"Tourobola"
Pág. 6
CONCELHO
Gil empata Benfica
Págs. 15/16
Jovem de Remelhe notificada para pagar dívida que não é sua
Pág. 3
A romaria de
Balugães e as
festas de Lijó,
Pousa, Tregosa
e Minhotães
Págs. 5 a 7 e 10
A bolsa de emprego do JB, elaborada em colaboração com o IEFP,
tem esta semana 34 ofertas de trabalho. Pág. 12
8
Jornal de Barcelos . Quarta-feira 17 de Agosto 2011
Reportagem
FOTOS: Paulo Vila
À “boleia” da VMER de Barcelos
Anjos da guarda
PAULO VILA
[email protected]
A pretexto dos três
anos de actividade, o
JB apanhou “boleia”
da VMER de Barcelos
e foi conhecer o dia-a-dia das equipas clínicas que ali prestam
serviço. São 29 médicos e 17 enfermeiros
que, em três turnos diários, garantem o funcionamento daquela
que opera como uma
extensão do serviço de
urgência do Hospital
de Barcelos.
Para quem vive a experiência fica o conforto
de saber que, em caso
de emergência, nunca
estaremos sós. Terá isto um preço?
A noite ofusca o amarelo
fluorescente que dá cor à
VW Passat 2.0 TDI, o modelo com que o INEM tem
vindo a renovar a frota
das Viaturas Médicas de
Emergência e Reanimação
(VMER). Os seus 140 cavalos de potência respondem
com prontidão aos comandos da enfermeira que a
tripula e, logo que as condições o permitem, sentimo-nos a ser conduzidos
por um verdadeiro piloto de ralis. É notável a forma segura, não obstante a
velocidade, com que Maria Jorge Silva circunda a
enorme rotunda da “bolacha”, às portas da cidade
de Barcelos. O destino é S.
Pedro de Rates e a VMER,
apesar da prolongada e sonora derrapagem, 'agarra-se' impiedosamente à estrada, quase como se percebesse, também ela, a necessidade de chegar o mais
rápido possível ao local da
ocorrência.
À espera do médico e da
enfermeira está um bebé de apenas seis semanas
com alterações do comportamento. “Nestas circunstâncias, as crianças
têm uma particularidade:
o que têm ou é muito grave ou, então, não é nada”,
diz-nos a experiente enfermeira, sem nunca perder a atenção à estrada.
Talvez por isso o rosto dos
dois deixe transparecer alguma apreensão. Mais tarde, à conversa com Maria Jorge Silva, haveríamos
de ficar a saber que a morte de uma criança, quando
não consegue ser evitada,
deixa sempre marcas nos
médicos e enfermeiros das
VMER.
A condução é exigente e
um pequeno erro pode
comprometer seriamente
a segurança da equipa de
socorro. Por essa razão é
António Barbosa, o jovem
médico de serviço, quem
introduz nos dois sistemas
de navegação por satélite
as coordenadas geográficas do local. No claustrofóbico lugar de trás, onde o
JB segue à “boleia” rodeado de uma pilha de sacos e
garrafas, a temperatura aumenta. O mesmo acontece
com a ansiedade, que cresce de modo incontrolável
à medida que nos aproximamos do n.º 7 da Travessa de S. Bento. As estradas
interiores da maior freguesia do concelho da Póvoa de Varzim são sinuosas e obrigam Maria Jorge
Silva a submeter-se a uma
espécie de prova de perícia. Quando é necessário,
o médico acciona a sirene
electrónica da VMER para
que a enfermeira e tripulante mantenha sempre as
duas mão no volante. Esta é outra das razões pelas
quais as viaturas passaram
a dispor de caixa automática, sempre a pensar numa condução o mais segura possível.
A viagem entre Barcelos e
S. Pedro de Rates demorou apenas 15 minutos e
o GPS conduz-nos com
exactidão à porta da casa
onde a equipa do INEM é
aguardada pelos familiares
da pequena criança, que
chora comvulsivamente.
São 23h13. Cada um carrega um saco de dimensões consideráveis, que
são prontamente retirados
da mala da VMER. O médico e a enfermeira, agora
aparentemente mais tranquilos, inundam os pais de
perguntas, procurando saber tudo sobre o comportamento da criança nas últimas horas. Não tarda a
perceber-se que a situação não inspira cuidados
de maior. “As cólicas po-
VMER - Um 'hospital' ambulante
A mala e parte dos lugares de trás da VMER estão transformados num 'hospital' ambulante, onde nem sequer falta um
pequeno frigorífico e um aquecedor de soros. A lista do equipamento para o suporte avançado de vida em situações do foro
médico ou traumatológico é extensa, mas, ainda que seja por
curiosidade, reproduzimo-la de seguida:
Mala médica
Saco de Reanimação (adulto e pediátrico)
Saco de trauma
Saco de oxigenioterapia
Aspirador de secreções portátil
Monitor/desfibrilhador/pacing
Seringa infusora
Ventilador portátil
Garrafa de oxigénio suplementar
Kit's de parto
Sacos de reserva
Conjunto de talas almofadadas
Saco com colares cervicais
Colete de imobilização e extracção
Capacetes com fonte de luz
Caixas de luvas não estéreis (diferentes tamanhos)
Fichas de catástrofe
Fichas de observação médica
Fichas de óbito
Mapas
Lanterna
Extintor de pó
Equipamento de telecomunicações
dem alterar a postura corporal da criança”, explica António Barbosa, dando de seguida alguns conselhos à mãe sobre como
lhe aliviar as dores. Contudo, por precaução, é encaminhada pelos bombeiros para o Hospital da Póvoa de Varzim. António
Barbosa e Maria Jorge Silva recolhem ao carro para, em conjunto, completar os vários procedimentos a que estão obrigados.
Apesar do tempo decorrido após a chegada, por esta altura a redacção destas
notas fica quase ilegível tal
foi a descarga de adrenalina provocada pela viagem.
O regresso a Barcelos é um
momento de descompressão.
“VMER NÃO TEM
RECONHECIMENTO
DA POPULAÇÃO”
Inaugurada em 2 de Maio
de 2008, a VMER de Barcelos tem vindo a prestar um
inestimável apoio ao Serviço de Urgência do Hospital de Santa Maria Maior
(ver estatísticas), onde
tem a sua base num contentor pré-fabricado. Embora evitem falar do assunto, percebe-se que entre alguns dos elementos
da equipa clínica que por
ali passam para cumprimentar os colegas de turno, existe o sentimento
rio nacional e, à semelhança das restantes, consiste
num veículo de intervenção pré-hospitalar orientado para o transporte rápido de uma equipa médica
ao local onde está o doente. Cada equipa é composta por um médico e um enfermeiro, podendo este último ser substituído por
um tripulante de ambulância de socorro. É aos hospitais que cabe, entre ou-
O QUE É UMA VMER
Mas, afinal, o que são exactamente as VMER? São,
por excelência, extensões
dos serviços de urgência
dos hospitais aos locais
das ocorrências. A de Barcelos é uma das 42 existentes em todo o territó-
2008-2009 2009-2010 2010-2011
Média diária de activações
Total de activações
1157
1075
1028
3,17
2,95
2,81
89
87
97
99
83
76
56
97
71
98
107
79
80
102
67
101
85
69
94
82
76
119
104
85
116
80
89
92
73
65
125
92
79
88
83
86
Activações por mês
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Domícilio
Via pública
Rendez-vous Instit. saúde
Instit. pública Acid. trabalho
14 - 1,2%
5 - 0,5 %
n.d.
30 - 2,6%
24 - 2,2%
24 - 2,3%
50 - 4,3%
22 - 2,0%
28 - 2,7%
76 - 7,6%
94 - 8,7%
88 - 8,5%
151 - 13,1%
150 - 14,0%
124 - 12%
270 - 23,3%
244 - 22,7 %
246 - 24%
566 - 48,9%
536 - 49,9%
514 - 50%
Local de ocorrência
Nula
Veíc. 2 rodas Atropelamento Intoxicação Trab. parto
Nula
247 - 21,3%
207 - 19,3%
n.d.
58-5,0%
59-5,5%
164
Negativa
Taxa de
operacionalidade
171-14,8%
120-11,2%
134
10 - 0,86%
13 - 1,2%
8
Evolução clínica
Positiva
24 - 2,1%
19 - 1,8%
12 - 1,1%
Queda
32 - 2,8%
26 - 2,4%
n.d.
88 - 7,6%
68 - 6,3%
58 - 5,6%
Veíc. ligeiro
n.d.
n.d.
18 - 1,7%
114 - 9,8%
93 - 8,7%
116 - 11,2%
Doença
37 - 3,2%
48 - 4,5%
37 - 3,6%
760 - 65,7%
686 - 63,8%
652 - 63,4%
Tipo de ocorrência
Morte
Igual
99,65%
99,71%
97,11%
22 - 1,9%
21 - 2,0%
12
11 - 1,0%
21 - 2,0%
n.d.
Barcelos
Braga
Viana
Póvoa/
Vila do Conde
Famalicão
Hosp. S. João
294 - 25,4%
227 - 21,1%
255
22 - 1,9%
12 - 1,1%
16
Hospital destino
42 - 3,6%
31 - 2,9%
28
Os alertas da enfermeira Ana Silva têm de ser le-
clínicos, geográficos e de
recursos da unidade de
saúde de destino”.
171 - 14,7%
184 - 17,1%
175
UM ÚNICO
NÚMERO - 112
vados em conta porque a
cadeia de activação dos
meios de emergência do
INEM não pode ser subvertida, sob pena de se comprometer uma intervenção eficaz, isto sem contar
com as consequências imprevisíveis que dela poderão advir. É que, por muito
próximo que os bombeiros
se encontrem do local de
uma qualquer ocorrência,
a VMER somente é accionada se as circunstâncias o
justificarem e, a acontecer,
é o Centro de Orientação
de Doentes Urgentes (CODU) a única entidade com
competência para o fazer.
Assim, em caso de emergência, o único número
que deverá marcar é o 112
– número europeu de socorro. Ao fazê-lo, a chamada 'cai' na Central de
Emergência e é um polícia que a reencaminha para o respectivo CODU (Lisboa, Porto, Coimbra e Algarve). É este serviço que,
no menor tempo possível,
avalia os pedidos de socorro e determina quais
os meios mais adequados
a cada caso. Compete-lhe,
ainda, assegurar o “acompanhamento das equipas
de socorro aquando da sua
actuação no terreno e, de
acordo com as informações clínicas recebidas”,
poderá, também, “seleccionar e preparar a recepção hospitalar dos doentes, com base em critérios
671 - 57,9%
628 - 58,4%
647
de que nem sempre a população reconhece o esforço apaixonado que emprestam àquele serviço. “A
VMER não tem reconhecimento por parte da população”, diz-nos uma outra enfermeira, desta feita
Ana Silva.
Por isso, Maria Jorge Silva, enfermeira há 17 anos
– 15 dos quais no Hospital de Barcelos e dois em
Lisboa, entre o Santa Maria e o IPO –, prefere falar
das difíceis situações com
que muitas vezes são confrontados e que os motivam e desafiam, até, a permanecer ali. “Não fazemos milagres, mas às vezes...”. Um sorriso contido
com sentimentos de orgulho e de emoção à mistura
interrompem o raciocínio
da enfermeira que, sempre bem disposta, acaba
de substituir a colega Carla
Carneiro, também ela tripulante das VMER. Retomando a conversa, Maria
Jorge Silva diz que a “função primordial” das equipas “não é ressuscitar as
pessoas, mas, antes, impedir que elas morram”. São,
por assim dizer, uma espécie de anjos da guarda.
No mesmo registo, à chegada da nossa reportagem,
António Barbosa já tinha
explicado ao JB que o êxito
das intervenções da VMER
está fortemente condicionado pelo tempo que separa a ocorrência e a chegada
ao local de assistência. Por
exemplo, no caso de uma
paragem cardio-respiratória, “ao fim de 3/4 minutos é praticamente impossível reverter sequelas ao
nível cerebral”, sendo que,
a partir daquele período
de tempo, a probabilidade
de sobrevivência desce entre “7 a 10% a cada minuto
que passa”.
Ana Silva subscreve inteiramente a opinião do médico porque, crê, “é aqui
que nós podemos fazer a
diferença”. Como tal, deixa um alerta: “a população
deve activar sempre o 112
e não os bombeiros”. Caso
contrário, acrescenta, “pode-se estar a transformar
situações reversíveis em
situações irreversíveis”.
9
Jornal de Barcelos . Quarta-feira 17 de Agosto 2011
595 - 51,4%
557 - 51,8%
531
Reportagem
Não
transp.
tros meios, assegurar os
recursos humanos necessários ao funcionamento
das VMER, cujos elementos têm formação específica em assistência pré-hospitalar ministrada pelo INEM. A equipa clínica
que integra a de Barcelos
é composta por 29 médicos e 17 enfermeiros, sendo que são estes últimos
quem habitualmente tripulam a VMER. Fazem-no
depois de terem sido submetidos a um exigente e
muito selectivo curso de
técnicas avançadas de condução em emergência, onde só os melhores têm lugar. As enfermeiras Ana
Silva, Carla Carneiro e Maria Jorge Silva 'resistiram'
ao combate e, por isso, orgulham-se de poderem desempenhar, paralelamente
com a de enfermeiro, uma
função tantas vezes considerada como sendo mais
apropriada para os homens como é a da condução em emergência, onde o
alto risco é uma constante.
Estas 'pilotos' que dispensam road-book recusam,
no entanto, ser vistas como
“aceleras” porque o “objectivo não é esse”, mas antes o de dar uma resposta
pronta às solicitações, fazendo-o sempre de modo a
preservar a sua integridade
e a dos outros condutores.
Sempre que se justifique,
as equipas médicas das
VMER efectuam o trans-
porte assistido das vítimas
de acidente ou doença súbita em situações de emergência para o hospital.
Em suma, as VMER são
parte de um sistema cujos
níveis de prestação de cuidados de saúde “são dos
melhores do mundo”. Esta
é, pelo menos, a convicção
do médico António Barbosa, que junta a esta certeza
uma outra: “as pessoas não
têm consciência disto”. E
não terão, mas pelo menos algumas das que já foram socorridas pelas equipas da VMER guardam-lhes, pelo menos, gratidão. É o caso da criança de
11 anos que António Barbosa e Carla Carneiro assistiram ao final da tarde
próximo da Av. João Duarte, em Barcelos, para o qual
a VMER foi accionada por
se suspeitar ter uma fractura exposta, situação considerada “potencialmente
grave”. São 21h05 quando
o rapaz que apenas sofreu
escoriações passa, pelo seu
próprio pé, em frente à base da VMER. De imediato
identifica o carro e, em sinal de agradecimento, sorri timidamente na direcção dos clínicos. Não disse
obrigado, mas foi como se
dissesse...
AGRADECIMENTO
O JB agradece ao INEM, aos médicos e enfermeiros envolvidos
a total disponibilidade para a
realização desta reportagem.

Documentos relacionados