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Nº 1062 - FEVEREIRO/2016 | CIRCULAÇÃO NACIONAL | R$ 14,00
BANCO MELLON
Banco norte-americano, algoz
dos participantes do Postalis,
fundo de pensão dos Correios,
penalizado pela Justiça
brasileira com bloqueio
de R$ 200 milhões, não
quer pagar os prejuízos
dos carteiros, estimados
em R$ 2,2 bilhões.
CRISTALINA
Prefeito Luiz Carlos Attié
transforma cidade e pretende
futuro político
PETROBRAS
Vítima de roubalheira,
está sendo penalizada
pela Justiça de Nova
Iorque para pagar
os prejuízos dos professores norte-americanos, pequenos
acionistas.
REJEIÇÃO AGUDA
Os cinco pecados de
Dilma que impedem o Congresso
aceitar acenos de diálogo
PÁGINAS AZUIS
RÔMULO F. FEDERICI
Maria Alice Guimarães Borges explica porque “a vida é um sistema”.
Quando batem panelas nas
ruas contra Dilma poucos
sabem que são de inox
EDITORIAL
COMO COMBATER O
PESSIMISMO
O
empresário Jorge Gerdau arrancou aplausos na sua conversa recente com o economista Pérsio Arida, em seminário patrocinado por um banco privado em São Paulo.
Foi quando disse que é preciso romper
com o pessimismo e substituí-lo pela busca
de uma perspectiva.
Nada mais necessária ao Brasil de hoje
que uma visão com perspectiva. Sem
a modelagem ideológica introduzida nesse país por seu padrinho, o ódio. Julguemos o
Brasil pelo Brasil.
Falar de futuro, como
de seus conexos estabilidade, prosperidade e felicidade, passou a ser visto
como paraíso perdido. O
Brasil vergou-se diante de
si mesmo. Uma grandeza
prostrada.
O pessimismo passou a ser crônico e abriu a
janela da impossibilida-
de. Nada mais impiedoso com uma nação que ocupou todas as suas fronteiras econômicas pela mão da
mãe coragem.
Na outra ponta o otimismo não pode ser um
exercício panglossiano. O “Porque me Ufano de
Meu País” do Conde Afonso Celso, é um retrato na
parede.
O real é esse Brasil que Gerdau evocou e foi
aplaudido por uma plateia de empresários sequiosos
de voltar a praticar o instinto animal de empreender
e criar empregos.
Para começar, despolitize-se a discussão sobre
crescimento, que não é instrumento de decreto nem de
medida provisória. Estamos por demais contaminados
com a retórica congressual. O Brasil que produz está na
linha de tiro entre poderes entorpecidos por lutas de
oligarquias, sistemas falidos e costumes podres.
Só restam o trabalho, a criação, a ousadia, o talento. Enterrar o pessimismo com sua última vilania
- esse eterno Fla x Flu a que chamaram de alternância democrática no poder, mas que não passa de xaveco de elites.
Mãe gentil, os filhos deste solo querem apenas
trabalhar.
Nesta Edição
OS 10 MAIS DE FEVEREIRO
DELFIM NETTO
14
SÉRIE MEMÓRIA HISTÓRICA:
AS REPÚBLICAS DO PIANTELLA
JORNAL LEONARDO MOTA NETO:
PETRÔNIO, QUASE PRESIDENTE
18
16
ROMULO F. FEDERICI:
PANELAÇO BATENDO FACA DE PRATA
TURISMO CÍVICO
CELINA INCENTIVARÁ EM BRASÍLIA
44
04
34
CRISTALINA, NOV0 ELDORADO
PREFEITO ALMEJA VÔOS LARGOS
ARTIGO
ORLANDO BRITO
51
EXPEDIENTE
CARTA POLIS revista mensal de bastidores do poder em Brasília.
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CAPA
Postalis cobra o mesmo
tratamento dado pela
justiça a Petrobras
para Banco Mellon
pagar o rombo nos
fundos de penção
POLÍTICA
10
OS
DE FEVEREIRO
na Política e no Poder
Destaque do Mês
Delfim
Netto
G
anhou o mês com novas incursões no domínio da inteligência na forma de frases mordazes e conceitos brilhantes sobre a crise econômica brasileira, no corpo de
seus artigos e entrevistas.
Repetiu seus dotes de pensador articulado e atualizado do
pensamento econômico nacional e mundial, com fina sensibilidade política. Sempre com o uso do manto sutil da ironia.
Um de suas sentenças mais profundas foi escrita ainda em
janeiro, mas repercutiu em todo o mês de fevereiro, uma vez que
aludiu ao dia 2, data da reabertura solene do Congresso Nacional.
Disse ele:
“Ou a presidente (Dilma) assume a responsabilidade e vai no dia
2 de fevereiro ao Congresso Nacional com os projetos de reforma constitucional e infraconstitucional, ou será o caos”.
“No presidencialismo, a presidente deve presidir”.
Para que dizer mais? O professor Antônio Delfim Netto
foi o destaque do mês.
4
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
CELSO PANSERA
CLÁUDIO LAMACHIA
DELTAN DALLAGNOL
Quem não sabia o que faz o Ministério da
Ciência e Tecnologia, teve um conhecimento didático na entrevista do ministro Celso
Pansera, sobre o fenômeno das mudanças
climáticas no Brasil e especialmente em
Brasília, assolada por fortes chuvas.
Novo presidente nacional da OAB, em
sucessão a Marcus Vinicius Furtado
Coelho, clamou em sua posse por união em
nosso país, pondo a entidade como fiadora
deste processo. O advogado gaúcho conclamou: “chegou a hora de reunificar o Brasil”.
Procurador-chefe da Operação Lava Jato,
concedeu entrevista a um telejornal em que
expôs com todo o realismo a expectativa do
Ministério Público Federal quanto às penas do petrolão, que chegaram a chocar o
público pela severidade.
GERALDO ALCKMIN
GUILHERME RAMALHO
LUIZ CARLOS TRABUCO
Apresentou armas para a corrida presidencial de 2018 em súbito assomo de desinibição, pois é sempre discreto. Os aliados do
governador o consideram capaz de executar
táticas diversionistas para confundir todo
mundo. Mas agora parece ser sério seu plano de se tornar o nome do PSDB.
Ministro interino da Aviação Civil, vai ficando no posto enquanto não acontece a
eleição para líder da bancada do PMDB
na Câmara que definirá a tendência interna
que será bafejada pelo governo com a entrega da pasta a um deputado. Enquanto
aguarda, Ramalho trabalha.
Presidente do Bradesco, o banqueiro foi o
porta-voz dos integrantes do ‘Conselhão’ na
reunião de reabertura do órgão-assessor da
presidente para aconselhamento sobre as
políticas econômicas e sociais. Seu tom foi
otimista: “Todos somos perdedores, pois
na recessão todo mundo perde.”
MARA GABRILLI
NEWTON ISHII
RENATO RABELO
Único(a) parlamentar a contestar Dilma
Rousseff na reabertura do Congresso Nacional, do plenário, quando interrompeu o
discurso da presidente para perguntar como
o governo pretendia ajudar as milhares de
crianças que já nasceram ou nascerão com
microcefalia.
O “japonês da Federal” se tornou ícone da
Polícia Federal após as diversas operações
em que sua imagem foi reproduzida por
todos os meios de comunicação do país
conduzindo coercitivamente a Curitiba os
presos da Operação Lava Jato. Tornou-se
tema da marcha de Carnaval.
Secretário-geral do ‘Conselhão’, o presidente nacional do PCdoB recebeu uma
homenagem da presidente Dilma por ser
o dirigente do partido mais leal ao governo nas votações do Congresso e que detém
o Ministério da Defesa. O órgão ganhou
nova composição com 92 integrantes.
(*) Esses nomes estão sendo apresentados por ordem alfabética. O critério da escolha foi uma consulta ao Conselho Editorial da CARTA POLIS.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
5
A PRESIDENTE
Cinco
pecados
DA TRAVESSIA
D
ilma Rousseff tem lá suas razões para proceder como procede. Se insiste num estilo que é condenado por 82% dos
brasileiros, que, segundo o IBOPE, consideram estar o Brasil
fora do rumo certo, está deliberadamente apostando que, em algum
ponto da curva, o país se reencontrará com seus melhores momentos.
E se a aposta for equivocada? Dilma então pagará sozinha pelo erro
de avaliação que cometeu.
Não só pagará individualmente, indo para uma página obscura na
galeria dos presidentes, mas arrastará consigo o PT e o seu projeto de
poder de 24 anos continuados, segundo calculava o ex-presidente Lula.
A aposta tem nela própria sua principal adversária.
Senão vejamos como ela é criticada por ser:
TEMPERAMENTAL - O seu temperamento não foi talhado para presidente da República, um personagem que deve ser medianeiro, compassivo, tolerante como um Sarney que dizia aos que o aconselhavam a dar
um murro na mesa a cada resistência confrontada: “Não dou porque ou
eu quebro a mesa ou quebro os dedos”.
CONCENTRADORA - Não se pode ser um Geisel a não ser que se nasça
um Geisel, que levava trabalho para casa: pastas e mais pastas de documentos para estudar no Alvorada, concentrando todas as decisões do
governo. Ele o fazia, entretanto, porque tinha formação prussiana, que
coordena tropas e estruturas por igual. Dilma não é assim. É economista arrivista, mais coordenadora de reuniões em grupo e uma cobradora
impenitente. Não se deve concentrar o que não se domina.
LEAL A LULA - A lenda do criador e da criatura a perseguirá por séculos afora. Foi uma chantagem emocional urdida na selva dos homens
espertos para conter uma servidora pública tornada sucessora nos seus
devidos limites da lealdade incondicional a um ícone intocável, no caso
Lula. Esta lealdade foi posta a prova quando Dilma tomou conhecimento de segredos do Estado, que não lhe foram narrados na íntegra,
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
mas descobertos gaveta a gaveta que foram sendo abertas. Lealdade
deve ser fruto de sacrifício mútuo, cada qual dá a sua parte. Como está
posto hoje somente Dilma engorda a sua parte na lealdade. Ela não está
mais sujeita a se prender apenas pela lealdade cega. Lealdade não é um
conceito estático, se a deslealdade é dinâmica. Leal sim, mas ao Brasil e
ao eleitor que a ungiu.
AVESSA A CONSELHOS - Um presidente não deve ser necessariamente um ouvinte de todas as horas. Essa qualidade está mais para o político. Dilma atua no alto da torre da decisão, portanto, deve ter soluções e
equações mais rápidas que as de um ouvinte de escalão preparatório, no
estágio da negociação. É a última instância de si mesma. Acima dela, só
existe o corpo seráfico. Não deve perder tempo com tertúlias nem com
convescotes. No entanto, para não ouvir conselhos deve ter bagagem
pessoal. Terá?
LENTIDÃO DECISÓRIA - Aquilo de que se acusava o presidente Fernando Henrique Cardoso - demasiadamente lento nas decisões - se
crava na presidente Dilma Rousseff para demarcar sua eventual falta de
aptidão para o cargo, pois age com atraso nas decisões vitais. Todavia,
são parâmetros idênticos na raiz, mas com aplicações diversas: FHC
encarava o muro como autêntico tucano e Dilma enxuga o gelo como
petista obrigada.
INSINCERIDADE - Ao levar a mensagem sobre o governo ao Congresso
Nacional em vez de enviar o chefe da Casa Civil, como foi praxe nos governos FHC e Lula, Dilma cravou uma referência histórica. Dispôs-se
a reabrir o diálogo, mesmo sob vaias, que prorromperam (rivalizando
com o mesmo tom dos aplausos) quando se referiu à volta da CMPF.
Foi acusada de oportunismo e insinceridade: só procura o Congresso
para dialogar quando não mais lhe restam opções. Entretanto, se não
tivesse mencionado a CPMF no discurso não teria sido sincera e transparente. A democracia tem dessas coisas e vaias são um componente
da paisagem.
‘‘
BEM
SIMPLES.
BEM
PRÓXIMO.
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BANDEIRAS
CAPA
Mellon fazQUER RESSARCIR
proposta PREJUÍZO DO POSTALIS
U
ma quantia que pode variar entre o piso de R$ 2,2 bilhões ao
teto de R$ 8 bilhões poderá vir a ser o total da indenização a
ser paga pelo banco BNY Mellon de Nova Iorque - à Postalis,
fixada pela justiça brasileira pelas fraudes cometidas na administração
dos investimentos em carteira.
O BNY Mellon não é uma administradora qualquer. Trata-se
da maior administradora de fundos de pensão do mundo. Atualmente
é o gestor de 241 fundos no Brasil. Tem sede brasileira no Rio e uma
sucursal em São Paulo. Atua no Brasil há 35 anos.
O BNY Mellon não é um banco qualquer: fundado por Alexander Hamilton, em 1784, é a instituição financeira em funcionamento
mais antiga dos Estados Unidos. Alexander Hamilton foi herói da Independência norte-americana. A marca Mellon é originária do sobrenome de um secretário do Tesouro dos Estados Unidos, que adquiriu
o banco de Hamilton.
O seu portfólio é impressionante. Somente na América Latina
atua há mais de 100 anos. Mantém escritórios de representação no Brasil, México, Chile e Argentina. Em território brasileiro desfruta de uma
licença bancária concedida pelo Banco Central.
Hoje, com mais de US$ 28.5 trilhões em ativos sob custódia e/
ou administração e US$ 1.7 trilhões em ativos sob gestão, está mais
investido no mundo do que nunca. É o que afirma, orgulhosamente,
o seu portfólio.
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
Sua história no Brasil começa de fato em 1980, quando The
Bank of New York abriu um escritório regional em São Paulo. Alguns
anos mais tarde, a Mellon Financial Corporation também abriria um
escritório no Rio de Janeiro. Em 2007, essas duas instituições legendárias se uniram para criar o maior fornecedor de serviços financeiros do
mundo e uma das melhores companhias de “asset management” globalmente. Foi formado um time único, com uma só marca.
Segundo seu site corporativo em português, Adriano Koelle é
“chairman” para a América Latina e “Country Executive” para o Brasil.
Com base em São Paulo, é responsável pela cobertura dos clientes por
toda a região da América Latina. Ele também colabora com o planejamento estratégico e distribuição de recursos de todos os negócios do
BNY Mellon, assegurando um forte comprometimento com o gerenciamento de risco, “compliance” e questões regulatórias, e melhorando
a reputação da marca da companhia na região com todos os acionistas.
Atualmente, seu “chairman” divide-se entre as duas cidades, Nova Iorque e São Paulo.
Os interlocutores do “chairman” nele constatam um profissional
duro na queda e que aprecia usar expressões do jargão bancário-financeiro de Nova Iorque. Uma delas:
- “Todos poderemos estar debaixo do ônibus...”
Efraim Filho,
Presidente da CPI:
“APOSENTADOS ESTÃO PAGANDO
A CONTA DA CORRUPÇÃO”
A CPI dos Fundos de Pensão da Câmara dos Deputados está
invertendo a lógica deste tipo de investigação parlamentar. Antes, a
CPI precisava chegar ao final e elaborar um relatório a ser enviado ao
Ministério Publico Federal.
Com a CPI dos Fundos de Pensão está ocorrendo o contrário: o
MPF a procura para ajudá-la na investigação por causa da extensão dos
indícios por ela produzidos nas suas sessões de depoimentos.
O deputado Efraim Filho é o responsável por esse desempenho
histórico de uma CPI, para remover a fama de Comissões Parlamentares de Inquérito não chegarem a lugar nenhum.
Em entrevista exclusiva à CARTA POLIS, o deputado Efraim
Filho (DEM-PB) explica as razões do sucesso da investigação.
– “Dinheiro não desaparece, só muda de mãos. Vamos para
cima de quem ganhou” - sentencia o parlamentar paraibano do DEM.
A intenção da comissão é ir até o fim nesses escândalos, passando-os a limpo.
– “Houve desvios. Houve corrupção e quem está pagando são os
aposentados” - afirma o presidente da CPI.
Na verdade, está sendo um combate árduo para a CPI enquadrar as responsabilidades nos desvios praticados pelas instituições previdenciárias de empresas estatais, que deveriam estar preocupadas em
promover o melhor rendimento possível para os aposentados.
No POSTALIS, por exemplo, esses danos foram mais cruéis
para os 120 mil funcionários dos Correios, muitos dos quais carteiros
que descontam mensalmente sua contribuição para terem uma aposentadoria segura.
O fundo de pensão, portanto, entre seus congêneres é o que
apresenta maior erosão de seu patrimônio, quase 100% de perdas de
sua capacidade de investimento, graças a operações mal sucedidas em
nome do futuro dos carteiros.
O maior vilão destes desvios é o Banco Mellon Unidos, que o
POSTALIS está levando à justiça através de quatro processos criminais, reclamando o não cumprimento das cláusulas de um contrato em
que a administradora norte-americana se responsabiliza por todos os
resultados produzidos durante sua gestão.
O deputado Efraim Filho não deixa por menos. Convocou para
depor o presidente do Mellon no Brasil, que tem negado qualquer tipo
de responsabilidade sobre os lamentáveis resultados apresentados durante o período de seu contrato.
Sobre a sistemática empregada na CPI para chegar às suas conclusões, Efraim menciona o critério de um tripé que tem seguido nas
investigações:
–“Primeiro, fomos atrás dos indícios de aparelhamento das
instituições de Previdência. Segundo, do tráfico de influência política
ali estabelecido. Em terceiro, dos desvios de finalidade dos investimentos.”- afirma o presidente da CPI.
Seguindo essa direção, a CPI descobriu que três dos Fundos de
Pensão investigados são ligados ao PT e tiveram seus dirigentes indicados pelo partido: a Funcef (Caixa Econômica) Petros (Petrobras) e
Postalis (Correios).
A Previ (Banco do Brasil) embora com forte influência do PT,
teve dirigentes funcionários da própria instituição, nos demais foram
sempre dirigentes de fora.
Um ponto sobre o qual não resta mais dúvida, até o atual estágio da CPI, é que as mesmas práticas utilizadas na Petrobras foram
constatadas nos fundos de pensão em termos de desvios suspeitos de
finalidades e abusos praticados sobre o patrimônio dos aposentados.
“– Os aposentados estão pagando a conta da corrupção” - afirma
o presidente da CPI.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
9
CAPA
A palavra
dos carteiros:
“O BANCO MELLON
É O GRANDE
RESPONSÁVEL
PELO ROMBO DO
POSTALIS”
Luiz Alberto Menezes Barreto, presidente da ADCAP
CARTA POLIS – O sr. acha que é chegada a hora de passar a limpo as atividades
fraudulentas no POSTALIS para que os Correios reconquistem em sua plenitude sua fundação de seguridade de forma a garantir aos aposentados o seu
direito constitucional?
LUIZ ALBERTO – Qualquer pessoa que olhar os investimentos feitos pelo POSTALIS, nos últimos dez anos, verá que algo de muito errado estava acontecendo. Os mesmos nomes, os mesmos grupos, os mesmos métodos... E isto
vale para todos os fundos de pensão de estatais (Petros, Funcef, etc). Como se
chega a um prejuízo de seis bilhões? Recuperar a economia feita durante toda
uma vida de trabalho de dezenas de milhares de empregados dos Correios é
necessário. Como é igualmente necessário investigar tudo. E punir severamente. Somente assim pode-se recuperar o pilar essencial de um fundo de pensão:
a credibilidade.
CARTA POLIS – Os funcionários dos Correios, que a ADCAP Nacional representa, têm a consciência exata sobre
a profundidade e sobre a sistemática criminosa das atividades fraudulentas do POSTALIS? Ou falta ir mais a fundo?
LUIZ ALBERTO – A maioria dos nossos
associados e dos demais trabalhadores
dos Correios têm essa consciência. Daí
a perda de credibilidade do Instituto.
Uma pergunta recorrente é “se recuperar
o que foi roubado, quem garante que não
acontecerá novamente?” A falta de vergonha
e a impunidade tornaram-se regras em
nosso país. As investigações
ainda estão um pouco abaixo da superfície. Mas acreditamos que chegarão ao
fundo, onde se escondem os peixes graúdos.
CARTA POLIS – A ADCAP Nacional conta com que suportes para levar à frente sua luta para repor os direitos dos aposentados? Já acionou a Justiça Federal
em nome dos funcionários?
LUIZ ALBERTO – A ADCAP conta com dois bons escritórios (de advogados)
contratados. Já ingressamos com várias ações judiciais, inclusive a que conseguiu a liminar que barrou a cobrança absurda que seria imposta no ano passado
(2015) e que levou à suspensão do equacionamento. Os órgãos de imprensa
enxergam a associação como referência, nos assuntos ligados ao POSTALIS.
O trabalho sério conseguiu manter o tema POSTALIS na mídia durante todo
o ano passado. Através do trabalho dedicado de colegas aposentados - que “trabalham” no congresso de terça a quinta-feira - estimulamos a realização de três
audiências públicas, a criação de comissões temáticas sobre Fundos de Pensão,
no Congresso Nacional, além da criação de duas CPIs (uma na Câmara e outra
no Senado Federal). Os associados também vasculham informações na internet, que ajudam a subsidiar todas as nossas atividades.
CARTA POLIS –Qual o papel que o sr. atribui à CPI dos Fundos de Pensão: será
definitivo para estabelecer um marco de justiça por via legislativa?
LUIZ ALBERTO – Sim! Além de contribuir para que muitos fatos venham à
tona, pelo poder que tem, acreditamos que servirá para fornecer subsídios que
aperfeiçoem a legislação específica, dificultando a ação criminosa, de maneira a
dar mais segurança àqueles que poupam durante toda uma vida de trabalho na
expectativa de desfrutar uma aposentadoria mais tranquila.
A CPI dos Fundos de Pensão é uma boa surpresa. Através dela, descobrimos
que ainda existem políticos sérios, decentes. E a CPI da Câmara Federal tem
muitas dessas pessoas. A maioria dos parlamentares que compõem a CPI
Luiz Alberto Menezes Barreto
Presidente da ADCAP, Associação dos Profissionais dos Correios, é conhecido como
dirigente dos carteiros, os mais sacrificados pelos desvios fraudulentos no POSTALIS. Nessa entrevista exclusiva à CARTA POLIS, Barreto passa em revista suas linhas de ação à frente da entidade que tem 40 mil associados em todo o país.
10
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
tem demonstrado boa vontade, garra e, sobretudo, seriedade. Como exemplo,
destacamos a ação firme do presidente (Deputado Efraim Filho) e do relator
(Deputado Sérgio Souza). O trabalho realizado por eles tem sido primoroso
e acreditamos que resultará num relatório consistente, revelador e impactante,
apesar das pressões que sofrem e da atuação das “tropas de choque” de alguns
partidos políticos decadentes.
Causa estranheza o fato de a CPI dos Fundos de Pensão no Senado ainda não
ter iniciado seus trabalhos. Será que são verdadeiras as notícias veiculadas pela
imprensa sobre o presidente daquela casa ter sido citado diversas vezes como
beneficiário de desvios no POSTALIS?
CARTA POLIS - O Banco BNY Mellon, depois de ter
efetivado um acordo de leniência nos Estados Unidos,
instituiu um precedente para aceitar o mesmo instrumento no Brasil, pelo volume impressionante de operações de mercado mal sucedidas?
LUIZ ALBERTO - O banco BNY Mellon tem um contrato firmado com o POSTALIS, no qual assume responsabilidade total pelos investimentos realizados. Recentemente, quando começaram a aparecer os escândalos,
demitiu a diretoria anterior (do banco). A cada dia surgem novas provas de fraudes e de descumprimentos de
normas básicas. Em audiência na CPI dos Fundos de
Pensão, o presidente do banco, Sr. Adriano, reafirmava
a cada pergunta que “não sabia de nada”. Diante de todos os fatos e evidências, o banco recusa-se a negociar e
pagar o rombo que causou ou ajudou a causar (mais de
quatro bilhões de reais). Por que fez acordo nos Estados Unidos e se recusa a fazer no Brasil? Parece que debocha das autoridades e
da Justiça brasileira. Até quando?
O BNY Mellon é o grande responsável pelo rombo do POSTALIS. Sem a
participação ativa do banco de Nova Iorque, não estaríamos nesta situação.
CARTA POLIS - Acha o sr. que a via negocial ainda pode ser aberta com o banco
Mellon no sentido da aceitação de um acordo?
LUIZ ALBERTO - Sim! O presidente da CPI, deputado Efraim Filho, propôs a
negociação, tendo a CPI como mediadora. O POSTALIS já tentou por várias
vezes. Apesar de terem recusado até o momento (não se conhece nenhuma proposta formalizada), os dirigentes do banco sabem que o cerco está se fechando.
Acredito que são inteligentes e vão aproveitar que o dólar está bem cotado, para
resolver de vez esse problema, que é pequeno (um bilhão de dólares) diante do
tamanho e da pujança do Banco de Nova Iorque. O prejuízo na imagem do
BNY Mellon tem sido muito maior.
CARTA POLIS - Quais são as propostas da ADCAP Nacional para a moralização do Instituto de Seguridade dos Correios? O afastamento da influência
político-partidária é um item essencial?
LUIZ ALBERTO - Cabe lembrar a afirmação do delator da Operação Lava-jato,
Paulo Roberto Costa, de que “toda indicação política no país para os cargos
de diretoria pressupõe que o indicado propicie facilidades ao grupo político
que o indicou, realizando o desvio de recursos de obras e contratos firmados,
pelas empresas e órgãos a que esteja vinculado para benefício deste mesmo
grupo político”. Como não acreditar nisso diante do rombo do POSTALIS?
Claro que existem pessoas sérias que são indicadas por critérios técnicos, mas,
infelizmente, são uma raridade. Mas temos essas pessoas (as sérias) também no
POSTALIS. Via de regra, a influência político-partidária, da forma como tem
sido feita, é bastante nociva.
CARTA POLIS - Quais são as propostas para as autoridades de fiscalização do
setor previdenciário complementar, como a Previc?
LUIZ ALBERTO - Uma verificação rápida nos gestores que passaram pela Previc, nos
últimos anos, talvez aponte para ligações com os mesmos grupos que indicaram gestores para os fundos de
pensão das estatais. De 2013 para cá, a origem de quase
todos é praticamente a mesma. Os técnicos da Previc
têm feito seu trabalho. Parece que alguma força impede
que o trabalho evolua, siga em frente. Temos notícias de
relatórios sobre o POSTALIS que foram solenemente
ignorados. Por que a Previc agiu somente quando provocada por nós e pressionada pela imprensa? Todo órgão fiscalizador deve ser isento, tem que estar imune às
indicações e influências políticas.
CARTA POLIS - Quais os eventos programados pela
ADCAP para demonstrar a insatisfação dos funcionários? A que está prevista para o Rio, por exemplo?
LUIZ ALBERTO - Muitas entidades representativas
dos empregados e aposentados dos Correios se uniram e buscam ações conjuntas. Programamos, junto
com o sindicato dos trabalhadores dos Correios do
Rio de Janeiro/ Findect, com o apoio dos demais sindicatos que compõem a Federação (São Paulo Metropolitana, Baurú, Tocantins, Rondônia e Rio Grande
do Norte), uma grande manifestação no Rio de Janeiro. Talvez acampemos na
sede do BNY Mellon.
CARTA POLIS - Qual a receita para tornar a gestão do POSTALIS mais profissional? Quais seus planos para sua nova missão institucional?
LUIZ ALBERTO - Criar dificultadores para indicações políticas sem critérios,
departamentos fiscalizadores autônomos (internos e na patrocinadora) e uma
política de consequências ágil e eficaz. Começaremos a ter eleições para duas
diretorias do Postalis (Administrativo-Financeira e de Seguridade). Será uma
panacéia? Claro que não. Mas ajudará a colocar pessoas com interesse direto
nos resultados do POSTALIS. O processo eleitoral pode ser de grande valia,
pois permite aprender a cada votação. Se ainda não conseguimos fazer isso nas
eleições gerais do país, temos percebido mudanças significativas nas eleições do
POSTALIS. Percebemos que os participantes e assistidos buscam aprofundar
as informações sobre os candidatos, rejeitam os que representam dúvidas no
desempenho e votam naqueles que consideram realmente melhores. Quando
se enganam, aperfeiçoam os mecanismos pessoais de avaliação.
A missão é a de contribuir decisivamente para trazer tranquilidade aos participantes e assistidos do POSTALIS. Ajudar a resolver a situação do instituto.
Trabalhamos para a solução. E acreditamos que vamos conseguir!
“A VIA NEGOCIAL
COM O MELLON
AINDA É
POSSIVEL,
TENDO A
CPI COMO
MEDIADORA”
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
11
CAPA
Postalis atrás
NA
do prejuízo CONFIA
JUSTIÇA E NA CPI
A coluna “Painel” da Folha de S.Paulo, a propósito, publicou:
“Atrás do prejuízo - Alvo da CPI dos Fundos de Pensão, o POSTALIS tenta reaver parte do rombo bilionário em suas aplicações. Na
quinta (4/02), entrou com nova ação contra o banco BNY Mellon,
cobrando R$ 2,2 bilhões por prejuízos decorrentes de “administração
12
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
fraudulenta”. Contratou ainda a consultoria PWC para promover a
venda de “ativos podres”. A direção atual quer limpar o portfólio e ter
um quadro realista das finanças do fundo que bancará a aposentadoria
dos funcionários dos Correios.
Sob ataque - O BNY Mellon deve ter de enfrentar em breve
outra dor de cabeça. Auditoria do governo no POSTALIS deu fôlego
ao processo instaurado no BC. Há fortes indícios de que houve falhas de
controle no banco. A expectativa é que a peça acusatória seja concluída
nos próximos meses.
Vamos rebater - Procurado, o BNY Mellon disse que as reivindicações vistas “até esta data não têm mérito” e continuará a se defender.
Desde 2014, o POSTALIS moveu seis ações contra o banco. Numa
delas, conseguiu o bloqueio de cerca de R$ 200 milhões.”
Imaginem funcionários de uma grande empresa pública descontando todos os meses de sua vida funcional de seus
salários uma boa quantia para garantir uma aposentadoria segura e estável. Imaginem que essa empresa são os Correios.
E imaginem que são 110 mil os funcionários que contribuem mensalmente com seu fundo de previdência, gerido, administrado pelo
POSTALIS-Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos.
Na linguagem do sistema, os Correios são a patrocinadora do
POSTALIS. A cada um real que os funcionários descontam a empresa
destina mais um real, para integralizar um apreciável bolo de dinheiro
para ser investido no mercado.
E o que o POSTALIS fez? Como todo fundo de pensão, as
estatais nem sempre trataram de dar a esse dinheiro arrecadado com
as contribuições dos empregados e da patrocinadora o tratamento mais
adequado possível para fazê-lo render e se multiplicar. Os Correios, por
exemplo, devem hoje R$ 1,6 bilhões ao POSTALIS. Seu presidente,
Geovane Queiroz, promete resgatar a dívida.
Os investimentos para fazer os recursos em caixa fermentarem
são feitos no mercado financeiro e de ações e por meio de compras de
participação em projetos de infraestrutura.
Apesar de uma fiscalização institucional da autoridade que
os monitora - a Previc - Superintendência Nacional de Previdência
Complementar, do Ministério da Previdência - e do marco regulatório
com leis rigorosas, os fundos de pensão das estatais especializaram-se
em investimentos duvidosos e dirigidos para atender interesses dos
políticos que indicaram seus gestores.
Com o POSTALIS não foi diferente. Foi atingido nos últimos
25 anos, pelo menos, por vagas de má gestão e operações de mercado
mal sucedidas que levaram a Polícia Federal a investigar e entregar, há
um mês, à Justiça Federal do Rio de Janeiro um relatório no qual responsabiliza 28 pessoas por um rombo de R$ 5 bilhões no POSTALIS.
As investigações encontraram indícios de gestão temerária,
crimes contra o sistema financeiro e organização criminosa. Entre os
responsabilizados pelo mau uso das contribuições dos servidores dos
Correios, estão diretores e ex-diretores do fundo, empresários e executivos do mercado financeiro.
Duas das instituições contratadas pelo POSTALIS para gerir
as aplicações e indicar as melhores opções também estão no foco das
investigações: o banco BNY Mellon e a Risk Office.
Somente no ano passado, apesar de todas as investigações, auditorias externas e internas, e fiscalização da PREVIC, o POSTALIS
acusou déficit atuarial de R$ 800 milhões.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
13
POLÍTICA
As repúblicas
DO PIANTELLA
O
restaurante Piantella foi o templo da política brasileira dos
últimos 35 anos, então sob a regência do proprietário Marco
Aurélio Costa e da formidável e simpática equipe de garçons
discretíssimos diante das conversas que ali se produziam, liderados
pelo “maitre” Chico.
Ali começavam e terminavam as noites febris dos dias de crise. Ali
se reunia o Congresso, informalmente. Ali os ministros dos tribunais
superiores comentavam em voz baixíssima os seus votos mais polêmicos. Ali os lobistas tinham comemorações de negócios dignas de Gatsby. Ali os jornalistas faziam suas colheitas mais opulentas. Ali a comida
(embora muito boa) era apenas um pretexto. Ali pulsava o poder.
Resolveram-se questões de Estado, negociaram-se jogadas com
bancos oficiais, anteciparam-se medidas que estavam por vir através de
oráculos bem informados. Ouviam-se as pitonisas que jantavam pla-
cidamente (Delfim Netto, suas ostras), mas que não se negavam a dar
um conselho.
Foi mais do que o nosso La Coupole, o templo de Paris. O Piantella foi uma ágora de vitoriosos e caídos do poder. Foi o palco dos bem
humorados que confirmaram o dito de que “perco o amigo, mas ganho
a frase”.
Foi também o cenário de brigas homéricas. Muitas delas recordadas recentemente na comemoração dos 80 anos de Toninho Drummond, um dos iniciados mais graduados da confraria.
As histórias das REPÚBLICAS DO PIANTELLA serão narradas neste espaço da CARTA POLIS, a cada edição, por seus protagonistas e testemunhas.
“No Piantella começou o Mensalão e acabou o Petrolão”, define
muito bem o jornalista Silvestre Gorgulho.
O CHEQUE DO DOUTOR
O Piantella foi a sede do “Clube do Poire”, dos anos 80, no qual imperava o deputado Ulysses
Guimarães, liderando a grande mesa do segundo piso, ao qual se subia por uma escada diante da porta
principal.
Dr.Ulysses, naquela noite, ocupava a presidência da República, numa das viagens de José Sarney.
Sorrisos, piadas, bebidas. A comida era pretexto. No final, um dos presentes pede a nota e faz menção
de rachar a conta com todos. Dr. Ulysses, presidente da República e do Clube do Poire, era o homenageado e não precisava pagar.
O velho ficou indignado. Por que não pago também?
Sacou seu cheque do Banco o Brasil e honrou sua parte.
Marco Aurélio nunca o descontou. Teve um lampejo. Colocou-o numa moldura e pregou o quadro
numa das paredes do Piantella. Uma homenagem ao democrata também das contas rachadas.
A série AS REPÚBLICAS DO PIANTELLA continuará nas próximas edições, com novos capítulos e testemunhos.
14
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
POLÍTICA
Do modo
como era feita
A POLÍTICA ACABOU
O
s maus exemplos de hoje levam o leitor a buscar algum parâmetro com a política que se praticava antigamente. O que
deturpou essa atividade a ponto de ser tão execrada no país?
O político atualmente é visto como uma imagem difusa em que entram vários ingredientes: oportunismo, velhacaria, solércia, indolência,
desambição, pragmatismo, grupismo, nepotismo, fisiologismo... chega!
O fato é que não se observam referências em contrário: onde estão
as atitudes e os gestos de interesse público, desassombro, altruísmo,
dedicação, generosidade, modéstia e coletivismo .. chega?
Em suma, o discurso político morreu na atual geração de políticos.
O certo romantismo de que a política se alimentava há 20, 30 anos
atrás, em que a rainha era a palavra, cedeu espaço a uma atividade de
gestos mecânicos em que o disfarce é o rei.
A política de hoje não busca o consenso, busca o resultado. Como
se tivesse absorvido a linguagem do mercado empresarial, ganha a esperteza em vez da habilidade.
Não é mais uma verdade o ditado mineiro que dizia que a esperteza pode engolir o esperto. Hoje, a esperteza glorifica o esperto e o
anima a repetir os seus truques. A malandragem virou prática.
Existiam três graus para que na política uma ideia prevalecesse sobre as demais: (1) Unanimidade, forma mais rara; (1) Consenso, forma
mais usual; (3) Maioria, forma mais democrática. Hoje, somente uma
sobrevive: o toma lá dá cá.
Não se afirma - se confunde. Não se articula-se mistura. Não se
dispõe - se impõe. Não se lidera - se deblatera. Não se discute-se exibe.
AS GRANDES PERDAS DA POLÍTICA:
1. COMPROMISSO
Não mais existe a tal da “política do fio do bigode”.
2. ELOQUÊNCIA
Grandes oradores são substituídos por vocalizadores de lugares
comuns.
3. HUMOR
Os grandes frasistas, que perdiam o amigo, mas ganhavam a frase,
perderam o tempo das piadas.
4. IMPROVISO
Repentistas que se saíam bem de situações inesperadas deram
lugar a repetidores.
5. PROFUNDIDADE
Os especialistas que davam brilho técnico aos projetos são generalistas de ideias alheias.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
15
POLÍTICA
J O R N A L
Leonardo Mota Neto
PETRÔNIO, EX-FUTUROQUASE CANDIDATO A
PRESIDENTE
Colunista político, frequentei o Congresso Nacional para
colher subsídios. Um dos que mais me impressionaram pela
versatilidade do verbo e fidelidade na narrativa do fato foi um
piauiense de Valença, Petrônio Portela.
Conheci-o senador, mais tarde presidente do Senado.
Nunca saí de seu gabinete de mãos vazias. Muitas vezes não
era entrevista, nem conversa solta. Era um colóquio simbólico,
entrecortado de metáforas. Ou pegava-se no ar ou deixava-se
passar o assunto sem perceber que a fonte o havia exposto em
silhuetas, que ao vulgo eram imperceptíveis.
Petrônio, magro, com pressão alta constante, fumante inveterado (adorava as cigarrilhas Du Maurier, que chamava de “Paulo
Cesar Acaju” porque eram “escuras, metidas a besta e difíceis de
acabar”), ao que tudo indicava confiava em conterrâneos. Abriu-me alguns segredos daquele momento duro da era Geisel.
Sonhava ser presidente da República. Seria o primeiro da
retomada dos civis e da plenitude democrática. Achava na época que Geisel seria o último presidente militar.
O sonho presidencial era compartilhado por Geisel, que o
adorava.
Num começo de tarde, daqueles dias turbulentos na
Presidência do Senado (havia impedido com seu prestígio o
fechamento do Congresso pelos militares por causa de discursos inflamados contra o Exército por um senador, Leite
Chaves, e um deputado, Marcelo Gatto) Petrônio logo chamou ao gabinete o Dr. Messias, do Serviço Médico, para
medir a sua pressão arterial.
Os sintomas de pressão alterada não eram, porém, devido
a nenhuma questão política ou militar. Mas devido a uma mulher. Uma linda mulher de sardas.
Detalhe: essa linda mulher era casada com o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter. Sem o marido, que
uma crise qualquer havia retido em Washington, Rosalyn
Carter veio ao Brasil a convite de Geisel e cumpriu com a
fulguração de sua beleza todo o protocolo de visita aos Três
Poderes da República. No Senado, Petrônio desvaneceu-se
16
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
em rapapés, chamando os fotógrafos para colher mil ângulos
seus e da visitante.
Na tarde seguinte, eu havia marcado com ele às 14hs.
Cheguei pontualmente, ele também. Assisti inicialmente ao
ritual da medida da pressão arterial. Não prestando atenção
ao conselho do médico para moderar, não se furtou em acender um
Du Murier na minha frente.
– “Seu Mota” - bateu na minha perna, sentados um
em frente ao outro em duas poltronas - “você nem sabe o
que aconteceu ontem no jantar do Geisel e Dona Lucy no
Alvorada!”.
Havia sido o jantar em que o casal recepcionara a Primeira
Dama dos EUA, com somente um pequeno grupo de ministros
e embaixadores presentes.
Ele narrou com emoção, entrecortada com tentativas de baforadas, mas a cigarrilha não produzia fumaça, somente sensação.
– “O presidente Geisel e Dona Lucy ficaram sentados
com Rosalyn Carter num jogo de pequenas poltronas. Do
outro lado, nós, convidados, formamos rodas de conversa
em pé.”
Mais uma tragada, seguida de pequena pausa para recobrar
o fôlego (ele só tinha um pulmão. Perdeu o outro cedo, quando
ainda era deputado estadual no Piauí).
E vai contando o clímax da história:
“De repente, o presidente acena para mim, me chama para
o seu grupo. Havia mais uma poltroninha perto de Geisel.
Pediu-me para sentar. Aí se virou para Rosalyn e lhe disse:
– “Quando voltar aos Estados Unidos diga ao seu marido que este é o meu sucessor na Presidência da República.
Seu nome é Petrônio Portela”.
Não foi presidente. Deu João Batista Figueiredo.
Petrônio Portela foi ministro da Justiça dele e assinou em
1981 sua mais importante contribuição à história política
do país, a Lei de Anistia, que permitiu a volta dos exilados
e a reintegração dos cassados à vida civil. Morreu em 1982,
do coração.
NINGUÉM SE PERDE
NO CAMINHO DA VOLTA
Antes de ser internado, recentemente, devido a um tombo, José Sarney estava sendo o alvo de uma
conspiração que na política antiga se chamava intriga da paz. Amigos comuns a José Reynaldo
Tavares, seu ministro dos Transportes e também ex-governador do Maranhão, se articulavam para
fazer as pazes de ambos após duas décadas brigados por obra e graça da então governadora Roseana Sarney. Zé Reinaldo fazia gosto e Sarney também. O principal articulador era o empresário
(Unieuro, universidade em Brasília) Mauro Fecuri. O tombo de Sarney adiou o processo.
AÉCIO PERDERIA
ATÉ PARA LULA
Corre uma pesquisa interna do PSDB nacional que acrescenta dores de
cabeça às já existentes. Nela, Aécio Neves perderia até para Lula em 2018.
Eu disse isso mesmo: até para Lula, outrora o campeão imbatível.
O PODEROSO
CHEFINHO DE ALAGOAS
O senador Renan Calheiros é a figura mais poderosa do país na política e no poder. Duas
razões: em dezembro, convocou sessão extraordinária do Congresso para votar o orçamento
somente para proteger seu filho, o governador Renan Filho, para ele não ficar sem recursos
em janeiro. Agora, arbitra o melhor momento para abrir a janela de filiações partidárias.
DILMA SOFREU BAQUE
COM ANDERSON
Foi um baque para a presidente Dilma abrir mão de seu assessor Anderson Dornelles. Só depois de muitos indícios de culpabilidade do rapaz juntados e relatados a
Dilma, ela se dispôs a demiti-lo. Quem conhece o jovem Anderson jura que, ingênuo,
foi envolvido por espertalhões. Foram três sabidões, na verdade, que o levaram para o
“lobby”, para carrões de luxo, negócios e até para Ronaldinho Fenômeno.
REGUFFE, SONHO
DOS VERDES
Depois de conquistar o passe do senador Álvaro Dias, o PV está com bandeiras ensarilhadas para obter mais um reforço de grande monta: o senador Reguffe, do DF, filiado ao PDT, está sendo discretamente cooptado para se filiar aos verdes. Os articuladores observam nele um sucedâneo brasiliense de Álvaro: seriedade na vida pessoal,
rigoroso com suas verbas de gabinete, alta performance parlamentar em comissões e
plenário, e avesso a conchavos.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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ENSAIO POLÍTICO
Panelaço
batendo
FACA DE
PRATA EM
PANELA
DE AÇO
INOX
ROMULO F. FEDERICI
Consultor Empresarial,
Político e Institucional
Direito Político e Administrativo
[email protected]
facebook.com/romulo.federici
O
s organizadores de protestos anti-governo têm de fazer uma reflexão sobre o desenvolvimento de futuras
ações: é evidente um progressivo decréscimo no volume das adesões, estas cada vez menores.
A falta de uma reflexão crítica sobre a evolução das manifestações vem produzindo erros nos discursos, na seleção e na
apresentação das propostas, que não acompanharam a evolução
dos acontecimentos.
Começaram com foco no impeachment da DILMA, no desmonte do PT e na execração pública de LULA e não se ligaram
em fatos novos e na evolução dos acontecimentos.
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CARTA POLIS | DEZEMBRO 2015
A saber:
Ora, o impeachment da DILMA caminha para a inviabilidade por
falta de base jurídica sólida, livre de contestações, como vem sendo amplamente divulgado.
As forças governistas, mesmo debaixo de um ataque furioso e diário da grande imprensa, francamente oposicionista, estão ganhando
terreno, pouco a pouco, simplesmente porque a tese do afastamento da
Presidente não reuniu um conjunto de argumentos poderoso e encontra enormes obstáculos jurídicos.
O grande aliado da oposição era EDUARDO CUNHA, Presidente da Câmara, apologista do impeachment para que a Presidência
da República caísse no seu colo. Só foi abandonado pelos seus aliados
quando foi sucumbindo sob uma chuva de acusações de corrupção e ...
aí ficava feio continuar colado no homem.
O governo, mesmo enfraquecido, tem, em tese, mais poder político, traduzido pela caneta cheia de tinta para assinar concessões
ajustadas em negociações, como acontece desde sempre e nunca foi
diferente.
Os ataques ao ex-presidente, coordenados entre a grande
imprensa e as forças oposicionistas, só admitem dois resultados.
Ou LULA vai preso ou vai crescer com uma absolvição e acaba mais
forte. Se for preso, será preciso que o establishment administre um
turbilhão de frustrações e nenhum partido de oposição tem peso
para isso.
Mesmo debaixo de pancadas como Judas em sábado de aleluia,
Lula ainda manterá poder expressivo junto ao imaginário popular.
Uma bomba relógio ambulante, mesmo sem considerar a possibilidade
de uma convulsão social.
CARTA POLIS | DEZEMBRO 2015
19
ENSAIO POLÍTICO
E TUDO CAIRÁ NO COLO DO PMDB...
Tudo cairá no colo do PMDB, que vai chutar para escanteio o PT, o PSDB e seus penduricalhos políticos. Aí não
faltarão políticos de perfil duvidoso administrando o país praticamente sem oposição.
Os políticos oposicionistas, que são profissionais, já perceberam e baixaram fortemente o nível de pressão, reduzida a
uma bolha ao redor de CUNHA.
Os peemedebistas estão se convencendo de que não compensa o tremendo desgaste de lutar por um impeachment para conseguir o que cairá do galho em suas mãos naturalmente em 2018.
Neste ínterim vão degustando a influência no atual governo.
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
A coordenação dos movimentos contra o governo e a
maioria dos aderentes está sendo movida pelo fígado, num limite que beira o ódio, e não pelo cérebro, que constrói opções
inteligentes e eficazes.
O fígado é um péssimo conselheiro, já o cérebro vence as
grandes batalhas.
Toda a movimentação das passeatas e panelaços, os discursos, as ações beiram o amadorismo. Amadorismo que não
percebe que, de longe, o maior responsável pela tendência de
queda do volume e da consistência dos movimentos é sua grande, evidente e indiscutível elitização.
ÓDIO NÃO VENCE BATALHAS,
SÓ O CÉREBRO...
C
omo analista há décadas, fixo os olhos em todas as
manifestações e em todos os discursos e não acho
povo! Como venho dizendo repetidas vezes, tudo
virou um eixo HIGIENÓPOLIS – IPANEMA.
Você convive com uma atmosfera de ódio nos encontros
sociais das classes no topo da pirâmide social e com uma indiferença nas faixas abaixo.
Isto, mesmo depois da grande degradação do PT, com
nomes expressivos pilhados em grandes maracutaias, já comprovadas e punidas com prisões e com um LULA também enfraquecido, mesmo que em menor escala.
Como explicar isso?
Simples: o povão, sempre muito sábio, não identifica nesses movimentos identidade e propostas que venham a atender
suas necessidades e demandas e relutam em mudar de lado porque, bem ou mal, o PT lhes deu muito amparo.
Seria necessária muita SABEDORIA nos discursos e
ações antes, durante e depois. Mas isto ainda não existe ...fica o
odor de histeria.
Procuro ouvir pessoas cujas manifestações possam convalidar ou não meus trabalhos.
Recentemente ouvi coisas muito interessantes de gente do
povão como uma empregada doméstica que, diante da pergunta se estava apoiando ou não os panelaços, respondeu:
“Eu não, não tenho nada a ver com essa gente. É coisa de
gente rica que quer voltar a mandar. Minha patroa foi para a
janela bater panela, mas sabe como? Pegou uma panela, linda
de aço inoxidável, cara, e passou a bater nela com uma colher
que ela pegou no faqueiro da casa ... de prata”.
O movimento, para contagiar a sociedade em seus diversos níveis tem de sentar, desatarraxar as ligações hepáticas e acender seus neurônios, estes sim, capazes de trazer
lucidez.
Isto tiraria os movimentos da areia movediça do amadorismo e os colocariam no caminho estratégico no rumo de
construir um apelo a todos, uma proposta clara com soluções
detalhadas e visíveis, numa linguagem serena acessível a todos,
mesmo que adornadas com alguma purpurina em eventos.
Definitivamente:
O ódio não vence batalhas, só o cérebro conduz à vitória.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
21
S
NAR
Alberto Caeiro
PICCIANI,
O ANTI-CUNHA
O deputado Leonardo Picciani foi reeleito líder do PMDB
na Câmara dos Deputados, apoiado pelo governo, contra
o contra o deputado Hugo Motta, apoiado pelo deputado
Eduardo Cunha. Obteve 37 votos contra 30 e indicará 8
integrantes para a Comissão Especial que conduz o rito de
impeachment da presidente Dilma.
MAU GOSTO
A Anac fez o que as agências fiscalizadoras no mundo inteiro
não fazem: gabar-se de não ter havido acidentes fatais. Disso não
se gaba: é dever da aviação não gerar acidente. Mas a agência
brasileira divulgou estatística sobre 2015, com 103 milhões de
passageiros transportados, e afirmou que a aviação comercial
brasileira não registrou nenhum acidente aéreo — com ou sem
fatalidades. Mau gosto.
SUPREMOS PERFIS
Quem convive com os ministros do STF
depara-se com uma curiosidade atrás da outra no quesito personalismo. A ministra Carmen Lúcia, próxima presidente da Corte, por
exemplo, mora sozinha na 3O9 Sul. Gilmar
Mendes é visto informalmente de tênis, camisa do Flamengo. Marco Aurélio enverga
seus sapatos tênis. Celso de Mello prefere ir
à Livraria Cultura, trajando calças jeans. Luiz
Fux, o que mais aprecia política, vai muito ao
Senado conversar com senadores e se inteirar
do Código Penal.
DECADÊNCIA PURA
0 velho edifício-sede do Banco do Brasil, no Setor Bancário Sul de Brasília,
não é alugado ou vendido após anos de tentativas. É constrangedor passar-se
em frente ao prédio e observá-lo cheio de cartazes- vende-se ou aluga-se sem interessados. Símbolo da decadência do país?
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
ALERTA VERMELHO
Devido a acontecimentos recentes, acenderam-se dois sinais de alerta vermelho em
Brasília. Primeiro, para os jantares com ministros. Segundo, para os jantares com ministros em que esteja Kátia Abreu, da Agricultura. Estão saindo faíscas.
GEOVANE SORTUDO
O novo presidente dos Correios, Geovane Queiroz, está com sorte. Foi o primeiro presidente
da empresa a ser convidado para uma reunião ministerial, a que se realizou no Palácio do
Planalto para a “blitzkrieg” do governo contra o mosquito. Desde a CPI dos Correios estavam escanteados.
NOVO
MERCADO
As operações da Polícia Federal impuseram a valorização dos advogados
especializados em procrastinação. Os
PhDs em procrastinar decisões dos juízes estão vivendo um momento glorioso. Em vez de “advogados de porta de
delegacia”, valorizam-se enormemente
os que “sabem procrastinar”.
FIASCO GRAVE
Pelas repercussões negativas que a iniciativa alcançou, o
manifesto dos advogados contra a Operação Lava Jato entra para a história como um dos fiascos mais graves que
a classe advocatícia já experimentou. O que se tem como
dado é que os advogados manifestantes precisariam ter
consultado antes um ótimo advogado.
PATO PAGO
Estudantes de Direito da Faculdade
ESMAFE do Paraná convidaram o juíz
Sério Moro para uma palestra e este fez
reiteradas ressalvas de que não estava
fulanizando a Operação Lava Lato ao
discorrer que a lavagem é um fenômeno
sociológico que virou crime recentemente. A atual geração dos empreiteiros condenados será a primeira a pagar o pato
da mudança cultural da lavagem.
FATOR DILMA
Os analistas estão atribuindo uma nota relativamente baixa
ao fator presença de Dilma no poder como realimentador da
recessão, que projetam para três anos sucessivos. O fator permanência de Dilma até 2019 Dilma chega a uns 20% e já foi
bem maior. O vilão passa de novo a ser o cenário internacional,
que era, aliás, o argumento de Dilma para explicar a crise econômica.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
23
POLÍTICA
Delfim mandou
Dilma ir, Dilma
foi
TOMOU VAIA,
É O PREÇO
A
presidente Dilma ouviu apenas 50% dos conselhos do ex-ministro Delfim Netto para ir ao Congresso Nacional, o que
acabou fazendo, mas de forma incompleta.
Primeiramente, há que se salientar o ato de coragem da presidente
em comparecer. Sabia que enfrentaria uma maciça oposição e a má vontade de parte de sua bancada governista dita leal.
Em segundo lugar, outra dose de coragem foi abordar assuntos antipáticos aos parlamentares, mas altamente fundamentais para a sobrevivência do governo, como a volta da CPMF.
Sabia que seria vaiada, como foi. Mas pagou o preço. Política não
se faz apenas com mesuras. Poder não é passeio. Vaia não engorda, mas
ensina. Vaia é o preço da democracia.
O GENIAL FRASISTA
Frases históricas de Delfim Netto:
“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.”
“Se o governo comprar um circo, o anão começa a crescer.”
“(FHC) Surfou sobre o plano real e quebrou o país.”
“A única função do marxismo é fazer pensar, mas é pena que os marxistas ainda não
descobriram isso.”
“O capital é como água. Sempre flui por onde encontra menos obstáculos.”
“É um cacoete. Os petistas não podem ouvir falar em CPI que vão logo entrando na
fila.”
“Jornalismo de Economia não é uma coisa nem outra.”
“O governo Fernando Henrique não usou Consenso de Washington nenhum. O governo sabia que 30% dos problemas são insolúveis e
70% o tempo resolve.”
“Três vezes por ano (por conta de seus munícipes) reúnem-se em Brasília, por dois dias e por duas noites de trabalho estafante, de 2000
a 3000 prefeitos para estimular deputados e senadores a exercer a arte de iludir a Lei de Responsabilidade Fiscal!”
“Se FHC fosse presidente, teria aceitado o terceiro mandato e destruído a democracia. A inteligência de Lula foi não aceitá-lo.”
“Fernando Henrique tem um lema: todos no meu palanque e eu no palanque de ninguém.”
“Se insistirmos na pureza neoliberal, que entrega os homens à antropofagia mercadista, um dia as urnas trarão alguns ‘Morales’, que já
nos espreitam atrás da esquina.”
24
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
Frases
do Mês FEVEREIRO
“O IMPORTANTE É ASSEGURAR:
NÃO HAVERÁ SURPRESAS. ESTAMOS
FALANDO DA EXPECTATIVA DE MILHÕE
S
DE BRASILEIROS”
Do ministro Miguel Rossetto, da Pre
vidência, sobre as medidas de
flexibilização da aposentadoria, em
entrevista ao Estadão.
EDORES,
“TODOS SOMOS PERD
DO
POIS NA RECESSÃO TO
MUNDO PERDE”
Trabuco, na
adesco, Luiz Carlos
Do presidente do Br
como portaão em que funcionou
reunião do Conselh
o
voz, segundo O Glob
“EU EMPRESTAVA
MEU NOME, MEU PRESTÍGIO”
Do ex-ministro José Dirceu, em seu depoimento
ao juiz Sergio Moro, segundo O Globo
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R$ 120 MIL (POR MÊS)
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“ACHO QUE DELFIM ESTÁ COM SAUDADE DA
DITADURA”
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sobre os conselhos do ex-ministro Delfi
Da economista Maria Conceição Tavares,
em entrevista a O Globo
“ACHO QUE ELE
(MARCELO CASTRO)
MERECE CONTINUAR”
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ministro da Saúde, Marcelo Cas
tro, após suas últimas
declarações, segundo o Correio
Braziliense
“ELA (DILMA) TEM QUE
AGIR PARA SALVAR NÃO O
SEU GOVERNO, MAS PARA
SALVAR O BRASIL”
Do ex-ministro Delfim Netto,
em entrevista à
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retificá-la, segundo
“A EXPECTATIVA É DE UMA
PENA (PARA MARCELO
ODEBRECHT) INFERIOR
A 100 ANOS DE PRISÃO.
ESTAMOS FAZENDO NOSSAS
ALEGAÇÕES FINAIS E
AVALIANDO ISSO”
De Deltan Dallagnol, coordenador dos
procuradores da Operação Lava Jato, em
entrevista, segundo o Correio Braziliense
SWING POLÍTICO
“Zé do chapéu” deu tudo para campanha de
FHC, menos mordomia total em seu jatinho
José Eduardo de Andrade Vieira, banqueiro, dono do Bamerindus, vendido mais
tarde para o HSBC, e ministro da Agricultura de FHC, na campanha de 1994 foi um
atuante aliado do candidato a presidente.
Pagou de seu bolso a vinda ao Brasil do
marqueteiro da campanha de Bill Clinton,
James Carville, para dar pitacos no marketing tucano.
Emprestou sua bela mansão do Lago
Sul para FHC morar e instalar seu “bunker”,
sem cobrar tostão.
Convidava duplas sertanejas e até
Sergio Reis, hoje deputado, para distrair o
candidato após suas cansativas viagens de
campanha pelo país. Tudo de seu bolso.
Finalmente o jatinho particular dele foi
colocado à disposição de FHC 24 horas por
dia, com combustível, tripulação e taxas
aeroportuárias pagas por ele.
Mas restou uma mágoa em “Zé do
Chapéu”. FHC recusou seu jatinho e foi
voar no do milionário carioca, também
banqueiro e deputado federal Ronaldo César Coelho, mas que não era tão “pão duro”
quanto Andrade Vieira.
Sentindo-se preterido, este lamentou-se com um amigo jornalista:
- “No meu jatinho eu só tenho sanduíche, água e refrigerante. No de Ronaldo ele
serve serviço de bordo de primeira, vinho e
champanhe. Ele pode gastar, eu não...”
Governo é igual a queijo suíço: muitos buracos
na saída de recursos e muitos devoradores,
aprendeu Sarney
O governo Sarney era acusado de gastar muito. Esse
sempre é o pecado original de todos os governos, gastando
muito ou pouco.
Preocupado com as críticas da oposição e também da
parte do PMDB que lhe era hostil e fiel a Ulysses Guimarães
(na qual figuravam ministros seus como Valdir Pires e Rafael
de Almeida Magalhães) Sarney procurava conter os gastos
do governo a qualquer preço.
Dirigiu ao secretário do Tesouro, Andrea Calabi, economista brilhante, hoje secretário da Fazenda de São Paulo,
uma ordem expressa.
- “Quero receber todas as manhãs os números exatos do
caixa do Tesouro e todas as liberações de pagamentos feitas
no dia anterior...”
Impossível, porém, controlar tantas saídas de caixa. Governo é igual a queijo suíço, com muitos buracos e muitos devoradores - foi a lição pouco tempo depois da ordem a Calabi
aprendida pelo presidente.
28
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
Grandalhão americano recebeu dedo na cara de
ministro brasileiro, mas cavalo salvou Brasil
Dílson Funaro, segundo ministro da Fazenda de Sarney, foi a Washington discutir a moratória com o
chefão do FED, Paul Volcker.
Missão delicada, que exigia
sangue frio e capacidade enorme
para o diálogo, com pitadas de
paciência. Além de muito jogo de
cintura.
Volcker impunha temor a seus
interlocutores: grandalhão com mais
de 1,90m, o xerife da economia de
Ronald Reagan não estava no FED
para brincadeiras com ninguém.
Acontece que Funaro estava
padecendo de uma doença grave no
sangue. Frequentemente ingeria remédios que alteravam seu humor,
porque muito fortes. Naquela manhã
do encontro no FED tomou uma baita dosagem.
O resultado foi que Volcker teve
diante de si um ministro brasileiro
irritadiço, intranquilo, nervoso e impaciente. Funaro chegou a colocar o
dedo no rosto do grandalhão.
Por milagre, Reagan gostava do
Brasil (havia recebido um belo cavalo de presente do presidente anterior,
João Figueiredo) e aprovou a moratória da dívida externa brasileira com os
Estados Unidos.
Sarney dava uma volta tortuosa para nomear
seus ministros da fazenda, cogitava chefe da
receita, everardo maciel
Everardo Maciel, economista de primeira
água, foi secretário da Receita Federal no governo Sarney. Era um tempo em que o governo não
se queixava da queda de arrecadação, pois sob o
comando de Everaldo a secretaria funcionava
como um relógio suíço.
Também considerado fino pensador político e articulista de mão cheia, o secretário
permitia-se analisar com jornalistas temas da
atualidade que não propriamente a arrecadação
federal.
Numa das ocasiões em que Sarney mudou de ministro da Fazenda (e foram quatro,
de Francisco Dornelles a Maílson da Nóbrega,
passando por Dilson Funaro e Bresser Pereira)
telefonou ao então governador do Ceará, Tasso
Jereissati, sondando-o a ocupar o cargo. Tasso,
diga-se, sempre foi ligado a Sarney, que foi colega
de seu pai, o senador Carlos Jereissati. O governador disse não ao convite.
Everardo comentou com fina ironia com
um jornalista que o visitava, como sua fonte
constante de consulta:
- “Esse Sarney é engraçado. Dá uma volta
enorme e prefere sempre o caminho mais tortuoso. Fazer um governador renunciar ao cargo
para o qual foi eleito, em meio de mandato, e vir
para Brasília ocupar um ministério sem nenhuma estabilidade, e ainda por cima sendo demissível “ad nutum”...”
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
29
SWING POLÍTICO
Jobim foi demitido por Dilma, que nem sequer
levantou-se da cadeira quando o pôs para fora
Anuncia-se nas cercanias do Instituto Lula, que
o ex-ministro Nelson Jobim poderá ser o futuro advogado do ex-presidente.
O ex-presidente do STF, entretanto, jamais deixou de ser um porta-voz informal de Lula.
Foi ministro da Defesa na cota pessoal do então
presidente Lula e não pelo PMDB, que não o tinha
como um quadro confiável após abrir cisão interna,
candidatando-se a presidente do partido contra Michel Temer. Jobim, que havia sido mantido ministro
da Defesa de Dilma, ficou isolado ao emitir uma série
de frases que deixaram Dilma irritada.
Demitido em meio aos oito ministros suspeitos
de corrupção, Jobim foi o único (ressalvou Dilma)
não por esse motivo, mas por pura antipatia de Dilma dele.
As frases, todas em 2011, foram:
“Os idiotas perderam a modéstia”
(Em discurso durante homenagem aos 80 anos
de Fernando Henrique Cardoso, Nelson Jobim citou
Nelson Rodrigues: “Ele dizia que, no seu tempo, os
idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que
se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam
a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente
aqueles que escrevem para o esquecimento.”
“Nunca o presidente (FHC) levantou a voz para
ninguém”
(No mesmo discurso, Jobim elogiou o estilo conciliador do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Nunca o presidente levantou a voz para ninguém.
Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam”. A afirmação foi interpretada como uma
alusão ao estilo áspero de Dilma com seus auxiliares.)
“Se estou aqui, foi por tua causa”
(No mesmo discurso, olhando para FHC, afirmou, sem mencionar Lula nem Dilma)
“Eu votei no Serra”
(Em entrevista ao programa “Poder e Política”,
da Folha e do UOL. Questionado se isso azedaria a
relação entre ele e Dilma, respondeu: “Azeda quando
você esconde. Eu não costumo fazer dissimulações,
então não tenho dificuldades.”)
“Ideli é muito fraquinha”
(Em declaração à revista Piauí, sobre a ministra
Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, na época,
uma das mais ligadas a Dilma)
“Gleisi Hoffmann nem sequer conhece Brasília”
(Na mesma entrevista, Jobim atacou com ironia
outra das mais ligadas a Dilma, a ministra-chefe da
Casa Civil de então)
E, finalmente:
“É muita trapalhada (no núcleo do governo Dilma)”
(Ainda na entrevista à revista Piauí, ao se referir
às negociações sobre o sigilo eterno de documentos.
Foi a gota d´água para sua demissão).
No dia da exoneração, Dilma o chamou ao Palácio do Planalto para comunicar-lhe sua decisão.
Recebeu-o sentada na mesa de computador. Não se
levantou e nem sequer olhou para o ministro. Apenas
comunicou-lhe que não era mais seu ministro.
Roriz ajudou a eleger prefeito conquistando
multidão de “ocês” em Cristalina
O legendário Joaquim Roriz, o maior nome da política de Brasília, foi convidado pelo candidato a prefeito
de Cristalina e seu amigo Luiz Carlos Attié para fazer um
comício de sua campanha no mais próspero município de
Goiás, o qual se tornou hoje referência nacional devido às
suas riquezas naturais.
Roriz, goiano de nascimento, apaixonou-se por Brasília
após tê-la governado por quatro mandatos.
No comício diante das centenas de rostos que se espremiam na praça, Roriz foi perguntando:
– Quem “docês” conhece Brasília?
30
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
E a multidão:
– Eu!!!
– Quem “docês” tem parente em Brasília?
E a multidão:
– Eu!!!
– Quem “docês” fez compra em Brasília?
– Eu!!!
– Quem “docês” conhece Brasília?
– Eu!!!
Resultado: Attiê foi eleito pela multidão de “ocês”
De como o Toninho Malvadeza se tornava
Toninho Ternura, derretendo-se em lágrimas
Antônio Carlos Magalhães, o ACM,
tinha dupla personalidade. Vingativo e
implacável com adversários e inimigos,
derretia-se em lágrimas em situações em
que era posto à prova da emoção.
Uma certa vez foi ao Hospital de
Coração em São Paulo, o Incor, para
uma consulta com seu cardiologista, Dr
Tranchesi.
Chegou bem cedo ao hospital. Encontrou o ascensorista sentado no banquinho, tirando uma soneca, pois não
havia movimento algum.
ACM passou uma portentosa
bronca no velho cabineiro, a qual durou
toda a subida do elevador.
Quando chegou ao andar do médico,
Antônio Carlos deu apenas uns três passos.
Parou, voltou-se e dirigiu-se ao
velho ascensorista que, assustado, permanecia estatelado na porta, fitando-o.
Derramando-se em pranto, ACM
abraçou-se ao velho cabineiro, pedindo-lhe
perdão.
Além de testar sua boa condição coronariana, ACM mostrou o outro lado da
fama do Toninho Malvadeza: o Toninho
Ternura.
Como um político brasileiro foi capa da mais
famosa revista do mundo e não guardou
nenhum exemplar
Um dos únicos brasileiros a ser capa da mais
influente revista norte-americana “Time” foi Aluízio Alves. Outros foram Pelé, Getúlio Vargas e
Carmen Miranda.
O jornalista e político do Rio Grande do
Norte ganhou a capa quando, bem jovem, governador de seu estado, combateu as Ligas Camponesas de Francisco Julião, um movimento de
guerrilha rural.
A revista estampou em 1961 uma história
de capa com o brasileiro, a qual impressionou
o presidente John Kennedy, que havia criado
a Aliança para o Progresso para se contrapor à
propagação comunista na América Latina.
De tão impressionado, Kennedy convidou Aluízio para uma visita à Casa Branca.
Queria conhecê-lo de perto. Quando Aluízio entrou no Salão Oval, John Kennedy
deixou-lhe à vontade, como velhos amigos e
sentou-se na sua famosa cadeira de balanço.
Desculpou-se pela roupa esporte que trajava
por estar de férias e só ter ido a Washington
para recebê-lo.
Duas décadas mais tarde, como ministro
da Administração de Sarney, Aluízio começou a
narrar suas memórias a um jornalista para compor um livro de sua vida política e rememorar
especialmente o episódio do “Time” e o encontro
com Kennedy.
O jornalista, antevendo ali o melhor capítulo do livro, pediu-lhe um exemplar da revista
que certamente estaria nos arquivos do ministro.
Mas ele, reconhecidamente desorganizado, respondeu:
– “Ah, me desculpe, não guardei nenhum
exemplar, perdi todos”.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
31
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Ricardo Ramos
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SEM EMPREITEIROS
A presidente está mudando de interlocutores da
área empresarial, substituindo gradativamente os
que frequentavam com intensidade o seu gabinete. Na formação do novo Conselhão, por exemplo,
não se observa nenhum empreiteiro, cujo segmento dominava a cena nos governos Lula e Dilma,
primeiro mandato.
CRIADOR DEFINHA
Paira a impressão de que, cada vez mais, Dilma ouve as sugestões de Lula e as atende apenas em parte. Não
são aceitas no todo, igualando a influência do presidente à de qualquer outro membro de sua “entourage” como
Jaques Wagner, José Eduardo Cardozo, Ricardo Berzoini e mesmo Aloizio Mercadante, que ainda influi. Digamos que Lula perdeu uns 50% de seu antigo poder na relação criador-criatura.
32
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
TARDE DEMAIS
Paira a impressão generalizada entre os tucanos de que foi Fernando Henrique
Cardoso quem derrubou o impeachment de Dilma no Congresso com suas
declarações favoráveis à presidente. Foi quando FHC, após permanecer longo
tempo no muro, emitiu na reunião de caciques tucanos sua concordância para a
bancada do PSDB ir em frente com o processo. Tarde demais.
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a de intensidade do
São três os fundamentos da
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impeachment da presidente Dilm
Temer, que funDeputados: 1) a carta de Michel
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ministro Luiz Roberto Barroso
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a espinha dorsal do rito de Eduardo
DINO OCUPA
O governador do Maranhão, Flávio Dino, foi o primeiro a
inaugurar a era pós-Carnaval em Brasília, demonstrando não
perder tempo para obter benefícios para seu estado. Vem na
quarta-feira para uma série de audiências com ministros da
Defesa, Planejamento, Minas e Energia. Na pauta, projetos de
desenvolvimento industrial, energia eólica, financiamento do
projeto de desenvolvimento rural com o Banco Mundial, gás,
desenvolvimento urbano em São Luís e outros. Pauta cheia.
ADA
GERAÇÃO APAG
da dos chefes
de recursos orçamentários, estão sendo a geração mais apaga
Os atuais governadores, à míngua
m estado. Somente clamores em direção a Brasília,
de executivos estaduais. Nenhuma grande obra, em nenhu
lamentos e medidas defensivas da crise administrativa.
ICA
KASSAB EXPLCidad
es, vinha sendo até aqui um dos mais
O ministro Gilberto Kassab, das
e o PSD, um dos parprestigiados pela presidente, mas terá que explicar porqu
na Câmara votando
antes
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tidos mais leais da base, só teve um de seus 23
ria a tributação dos
muda
que
pela aprovação da emenda à medida provisória
ganhos de capital. O governo perdeu feio.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
33
POLÍTICA/BRASÍLIA
Celina em
Washington
EMPOLGAÇÃO COM
TURISMO CÍVICO
A
deputada Celina Leão, presidente da Câmara Legislativa do DF, pode se tornar o incentivadora de um
programa de atração de estudantes de todo o país para
conhecer Brasília, uma vez que voltou de Washington
empolgada com uma experiência de que tomou conhecimento
para os jovens norte-americanos para que conheçam a capital e os
mecanismos democráticos.
A viagem de Celina foi oficial, a convite, durante o recesso
parlamentar, e abarcou diversas instituições de Washington.
Numa delas, conheceu uma experiência da Assembléia Legislativa de Maryland que integra a juventude ao processo legislativo, por
meio de incentivo a conhecer o processo, tornando-o atraente.
– “Tive a oportunidade de estar em um encontro com esses
jovens, estudantes do Ensino Médio, participantes do programa,
34
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
que tem como coordenadora Patrícia Harrisson, que visa aproximar o jovem do Legislativo” - ressaltou Celina. Eles chegam de várias partes do estado e recebem o apoio para ficar em uma casa de
família. Recebem uma pequena bolsa.
Mas foi no capítulo do turismo cívico um dos “briefings” mais
empolgantes que Celina Leão ouviu em Maryland.
Foi demonstrada a importância do turismo cívico. A equipe contou que estudantes de todos os 50 estados norte-americanos visitam regularmente Washington incentivados pelo
Estado.
– “Milhares de estudantes vêm a Washington anualmente.
O programa oportuniza ao cidadão conhecer o funcionamento do
congresso e como o Estado gasta os recursos oriundos dos impostos - sintetizou a presidente da Câmara Legislativa.
MEMÓRIA
Kennedy
E
ssa experiência remete há 50 décadas atrás - quase
simultaneamente à existência de Brasília - quando o
presidente John Kennedy, logo após sua posse, chamou
à Casa Branca o presidente da Câmara de Comércio de
Washington, John Mein.
Deu-lhe a missão de tornar Washington, que era então uma
cidade fria e avessa aos turistas - especialmente dos jovens - uma
atração para atrair milhões de norte-americanos.
E mais: Kennedy disse-lhe que não podia colocar dinheiro
público. Mein topou na hora. Pediu dois anos de prazo. Saiu por
todos os estados para convencer a seus colegas das câmaras de comércio para que participassem do grande projeto Washington.
Dois anos depois apresentou suas propostas a Kennedy.
Este, entusiasmado, determinou seu imediato início. Parecia estar
pressentindo que não tinha muito tempo. O programa se baseava
nessas ideias-tronco:
1 - Levar estudantes de todo o país para conhecer Washington, com tudo pago, como uma espécie de bolsa por ótimo desempenho escolar.
INAUGUROU
TURISMO CÍVICO
2 - Abrir a Casa Branca, em todos os seus cômodos, até mesmo
o Salão Oval, para visitações assistidas, o que era tabu. (Estas visitas
foram suspensas como consequência dos ataques de 11 de Setembro
de 2001. Em setembro de 2003 foram resumidos, numa base limitada, a grupos que têm que fazer acordos prévios com os seus representantes congressionais e submetidos a verificações de fundo, embora a
Casa Branca se mantenha encerrada para o público em geral).
3 - Rechear Washington de museus, monumentos, memoriais, atrações históricas e culturais.
Deu no que deu. 50 anos depois do início do programa,
Washington somente perde para Nova Iorque como destino de
turismo interno. É a primeira cidade em turismo cívico do mundo.
Celina Leão, que ouviu na Assembleia de Maryland “uma
aula que relembrou fatos da história americana” (esteve na sala
‘Senate Commitee Room’, uma réplica da real, datada de 1783,
passou pela estátua de George Washington, representando o momento de sua renúncia), voltou a Brasília motivada. Quem sabe, o
turismo cívico agora decola, com sua vontade política de deixar seu
nome na história da capital.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
35
BRASÍLIA
os
Brasilienses
Destaques em Fevereiro
Destaque do Mês
A
Sérgio
Faria
Agnelo Comunicação inicia 2016 com o anúncio de uma contratação de peso para
comandar sua unidade de Brasília, Sérgio Faria, que tem passagens pela superintendência de marketing da Caixa, Infraero e chefia de publicidade do Ministério
da Saúde. Mesmo com a chegada do reforço, Agnelo Pacheco, presidente e diretor nacional
de criação da agência, continuará presente em todas as reuniões com os clientes e com forte
direcionamento para atender também clientes privados.
Para contornar o cenário de redução do mercado publicitário de Brasília, Sérgio
Faria afirma que a Agnelo Comunicação tem uma grande aliada, sua especialização nos diversos segmentos da publicidade – institucional, comercial e
marketing político.
Sérgio Faria iniciou sua vida profissional em Brasília, na Atual
Propaganda, em 1978, como redator e depois como diretor de
planejamento. Saiu da Atual para chefiar a comunicação do
IBAMA em 1979 e, em seguida, passou num concurso para
comunicadores da Caixa em primeiro lugar.
Em 1983, assumiu a chefia da assessoria de comunicação da empresa, quando introduziu filmes de
humor, uma inovação na publicidade para bancos na
época. Foi quando a Caixa lançou Nizan Guanaes no
mercado com a melhor campanha dos primeiros 30
anos da Publicidade Brasileira (período 1956/86), o
Repórter Caixa. Foi Profissional do Ano do Prêmio
Colunistas em 1989, tendo recebido também nos
EUA o prêmio The Los Angeles Marketing Personality of The Year, em 1990.
36
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
ANTÔNIO L.C. DE MIRANDA
CRISTIAN SANTOS
GILVANDRO ARAÚJO
O professor emérito da Universidade de Brasília é
o novo diretor da Biblioteca Nacional, a convite do
Secretário de Cultura, Guilherme Reis. Antônio
Lisboa Carvalho de Miranda esteve na direção
da Biblioteca quando de sua implantação e agora
volta em momento difícil da instituição.
Bibliotecário da Câmara dos Deputados e doutorando da UnB é autor de um livro sobre mulheres
beatas e padres pervertidos - “Devotos e devassos
— Representação dos padres e beatas na literatura
anticlerical brasileira”, vencedor na categoria literatura brasileira do prêmio Casa de las Américas.
Conselheiro do CADE que relatou e obteve e adesão dos colegas para manter a intervenção na Rede
Cascol, acusada de chefiar o cartel dos combustíveis
no DF. Por unanimidade, os conselheiros negaram
o recurso da empresa. Agora, a Cascol terá que indicar uma lista com possíveis interventores para que o
CADE escolha um nome.
JESSICA BEHRENS
LUIZ F. ESCÓRCIO DE LIMA
MÁRCIO CABRAL
Estudante de Comunicação Organizacional da
UnB, lançou o aplicativo tradr, desenvolvido no
laboratório de inovação da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ganha força no Brasil
com mais de 20 mil downloads no país. Premiado
no Campus Party de São Paulo, concorrendo com
três startups entre mais de 40 selecionadas.
Proprietário da banca de jornais e revistas da 416
Sul, é o mais tradicional jornaleiro na cidade. Conhecido como “Cequinho” desde os primeiros
tempos da capital, faz entrega nos ministérios, tribunais, Congresso, GDF, área de Defesa e órgãos
públicos. Conhece as autoridades pelo nome.
Fotógrafo profissional desde 2000, o brasiliense
Márcio Cabral, 41 anos, acaba de conquistar um
título no Guiness World Record, o conhecido Livro
dos Recordes, por fazer a maior foto panorâmica
subaquática do mundo, com 220 megapixels de resolução. “A premiação do Guinness foi muito boa”.
MOACYR OLIVEIRA FILHO
RAUL VELLOSO
TONINHO DRUMMOND
Jornalista, o popular Moa, corintiano doente (chegou a viajar a Tóquio para o final do mundial de
clubes) e um carnavalesco inveterado). Dirigente
da ARUC, foi a figura mais homenageada por sua
luta pelo carnaval de Brasília na festa de lançamento do Consulado da Portela no DF.
PhD pela Yale University (EUA), o economista
é um dos maiores especialistas do país em contas
públicas do Brasil, e tem sido a fonte constante da
imprensa nacional para comentar medidas econômicas, por ele criticadas. Recomenda o apoio dos
governadores à aprovação de reformas.
Jornalista dos mais queridos em Brasília, ex-diretor regional da TV Globo, completou 80 anos
com comemorações com os inúmeros amigos que
recolheu ao longo de suas décadas em Brasília. Testemunhou os mais importantes acontecimentos
políticos do país dos últimos 50 anos.
Esses nomes estão sendo apresentados por ordem alfabética. O critério da escolha foi uma consulta ao Conselho Editorial da CARTA POLIS.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
37
PÁGINAS AZUIS
Maria
Alice
Guimarães Borges
“A VIDA É UM SISTEMA”
Maria Alice Guimarães Borges é uma das vozes e textos dos mais abalizados no âmbito acadêmico da bibliotecomia, mas
graças a um rigor intelectual invade outras especialidades.
“Sou muito participativa”, diz à CARTA POLIS quando nos recebeu em sua casa para uma conversa rica em incursões
sobre temas como o sonho de Darcy Ribeiro em criar em Brasília uma universidade pluralista e planetária como a
UnB.
Depois de 34 anos dedicados à Universidade de Brasília, projeta escrever seus livros, que a cátedra não
lhe deu tempo.
Doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Bacharel em Biblioteconomia
pela mesma UnB. Especialista em Planejamento de Sistemas de Informação e Gestão de Unidade
de Informação. Criou o Sistema de Bibliotecas Públicas e o Sistema Nacional de Informação
dos Ministérios do Interior, Agricultura e Trabalho.
Ainda no âmbito da Informação, representou o Brasil em reunião internacional em Moçambique. Foi diretora-adjunta do IBICT, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
De seu rico currículo consta ainda a missão realizada na Organização Internacional
do Trabalho (OIT) em Genebra e em Turim. Diretoria do CINTERFOR, organismo da OIT para a América Latina.
Em março próximo, o livro “Criação da Faculdade de Biblioteconomia da UnB,
1962-1967”, que Maria Alice organizou com Marcílio de Brito, resgatando a história pioneira da primeira Faculdade de Biblioteconomia de uma
universidade no país, idealizada por Darcy Ribeiro, será lançado pela
Editora da UnB.
Toda essa bagagem intelectual a professora Maria Alice Guimarães
resume em uma frase-síntese da contribuição da Ciência da Informação para a convivência com o mundo de hoje:
- “A vida é um sistema”.
38
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
Fotos de Maria Alice por Ana Ingrid
“Teoria dos sistemas é solução para crises”
CARTA POLIS – Por que a vida é um sistema, professora?
MARIA ALICE – Primeiramente deixa me situar corretamente. Esse
CARTA POLIS – É aplicável ao Brasil de hoje?
MARIA ALICE – Sim. O governo sai buscando soluções para
pensamento é da Teoria Geral dos Sistemas, criado por Berthalanffy.
(*Ludwig Van Berthalanffy, biólogo alemão. A teoria de sistemas,
cujos primeiros enunciados datam de 1925).
os seus problemas sem ouvir as outras partes. Deve ouvir
as empresas públicas e privadas. Deve ouvir a universidade.
O governo não pode buscar soluções sozinho, isoladamente.
CARTA POLIS – O que ele prega, em síntese?
MARIA ALICE – A Teoria Geral dos
Sistemas, ou TGS, ensina que, onde os vários
setores da sociedade percebem que necessitam
interagir entre si, devem compartilhar seus
conhecimentos em benefício de encontrar
soluções para problemas e crises.
CARTA POLIS – Aplicado ao Brasil, como
funcionaria?
MARIA ALICE – É como se fosse um
triângulo que pudesse estar interagindo
constantemente para buscar soluções,
levantar soluções para os governos.
O triângulo é formado por três vértices: o
governo, as empresas e a academia. O triângulo
é estático, mas as suas partes têm uma área de
superposição.
Em 1968,
Jorge Sábato
(pesquisador
argentino)
apresentou
uma teoria
representada
por um triângulo
equilátero, onde
em cada vértice
havia um
destes setores.
CARTA POLIS – Essa concepção parte de
uma apreciação teórica da realidade?
ALICE – Absolutamente.
É uma concepção viva da realidade. Daí a
afirmação de que “A vida é um sistema”.
Tudo pode ser sistematizado para melhorar
a vida, solucionar os problemas, as crises.
Aliás, Bertalhanffy também afirmou que “o
mundo é como um ser humano”. Ele assumiu
a internacionalização, não ficou isolado.
MARIA
CARTA POLIS – No decorrer de sua vida
acadêmica e de gestão pública encontrou
personalidades que lhe marcaram. Cite um
exemplo.
MARIA ALICE – Sim, e cito um em especial,
o professor Henrique Brandão Cavalcânti, um
gênio iluminado.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
39
POLÍTICA AZUIS
PÁGINAS
A tese acadêmica
de Maria Alice
Sonho de Darcy renova
CARTA POLIS – O que a Sra. mais aprendeu com ele?
MARIA ALICE – A comandar uma reunião de trabalho. Conheci-o
CARTA POLIS – Também conheceu o Darcy Ribeiro?
MARIA ALICE – Sim, esse foi uma escola. Um sonho dele foi
no Ministério do Interior, onde foi ministro. Henrique Brandão
Cavalcânti era um mestre nisso também. Impunha disciplina e ordem
a numa reunião como nunca vi. Os resultados eram relevantes, tinham
excelente proveito. Cada um de nós falava a seu tempo, ninguém
atropelava ninguém com palavras.Tudo era ordeiro. Hoje qualquer
reunião vira uma bagunça, quando não se manda mensagem no
whatsapp o tempo todo.
a UnB, pioneira na institucionalização de uma universidade com
características plurais em todos os sentidos do conhecimento e da
integração das forças de pensamento.
CARTA POLIS – Para terminar, a Teoria Geral dos Sistemas pode
melhorar nossa vida no Brasil de hoje?
MARIA ALICE – Sim. O Brasil é um ser humano, precisa de muita
atenção!
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
LIVRO CONTA HISTÓRIA
DA A PRIMEIRA
FACULDADE DO PAÍS
“Criação da Faculdade de Biblioteconomia da UnB 1962 1962-1967-1967 (Editora UnB, com o apoio do reitor Ivan Carvalho)
é o nome do livro que foi organizado pelos professores doutores Maria
Alice Guimarães Borges e Marcílio de Brito). Com 400 páginas, traz
depoimentos de 10 de seus primeiros professores, 13 primeiros alunos
e um funcionário (ex-aluna de Darcy Ribeiro). Em anexo, com todos
os ex-alunos formados em biblioteconomia na UnB naquele período.
Definição do livro:
“Não se trata de um manual ou de um compêndio, mas do
esforço de um grupo que, na sua simplicidade, propõe introduzir o
leitor nas discussões ´teóricas´ com a visão e a realização experenciada
por um grupo de bibliotecários cultos, competentes, inovadores,
inteligentes, comprometidos com o saber, com a responsabilidade
do processo de ensino-aprendizagem, com o desenvolvimento da
profissão e do Brasil”.
Na apresentação, as razões históricas:
– O ano de 1962 é cheio de significado para a Biblioteconomia
brasileira. Foi nesse ano que ocorreu o reconhecimento da profissão
de bibliotecário como “de nível superior”, sua regulamentação e
consequente estabelecimento do currículo mínimo do curso de
graduação em Biblioteconomia pelo Conselho Federal de Educação.
Esses acontecimentos coincidem, historicamente, em 21 de
abril de 1962. Nesse ambiente, um grupo de profissionais, certamente
à frente de seu tempo, encontraram na então nascente Universidade
de Brasília terreno fértil para planejar e implantar a Faculdade de
Biblioteconomia.
O livro, elaborado com esmero tanto na parte quanto na pesquisa
que embasa, revela por meio de fotos, depoimentos e entrevistas, como
se iniciou e progrediu essa Faculdade.
Além da versão digital da edição, a comunidade acadêmica terá
acesso a um banco de informações, documentos e fotografias sobre a
memória do curso no site: http://biblioteconomia.fci.unb.br.
Primeiros professores: Abner Lellis Corrêa Vicentini, Antônio Agenor Briquet de Lemos, Astério Tavares Campos, Cordélia Robalinho de Oliveira
Cavalcanti, Edson Nery da Fonseca, Etelvina Lima, Myriam Mello Dulac, Nice Menezes de Figueiredo, Rubens Borba de Moraes, Washington José de
Almeida Moura.
Primeiros alunos: Gilda Maria Whitaker Verri, Maria Lúcia Dália Costa Lima, Angela Maria Cavalcanti Mourão Crespo, Anibal Rodrigues
Coelho, Edna Gondim de Freitas, Héris Medeiros Joffily, Lindáurea Daud, Maria Alice Guimarães Borges, Maria Stella de Andrade, Nelma Cavalcanti
Bonifácio, Neusa Dourado Freire, Suelena Costa Braga Coelho e Virginia Astrid de Albuquerque de Sá e Santos.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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ARTIGO /POLÍTICA
O Ex-Czar
TRABUCO, DILMA,
TAMARINDO E MURICI
Fernando Luz*
T
enho acompanhado debates sobre saídas para a crise brasileira, montada, resumidamente, no binômio economia & política. Qual a saída? perguntam moderadores e jornalistas aos
seus entrevistados. Não ouvi uma resposta sequer que fugisse dos lugares comuns da teoria macroeconômica. Afrouxar/apertar a política
monetária, mudar o quadro fiscal, contrair/liberar o crédito, conter
o déficit da previdência e, por outro lado, o congresso precisa votar a
reforma previdenciária, a base do governo é infiel, essas coisas que, no
limite, nos empobreceram muito rápido.
O país necessita mesmo é voltar a produzir riquezas e saber gastar/distribuir adequadamente o dinheiro, investindo hoje para colher
amanhã, já que ontem estava tudo caindo aos pedaços. Acontece que
são muitos e variados os pontos de vista de defesa para que isso ocorra,
por atitudes das corporações, da chamada sociedade civil, dos empresários, do setor financeiro, áreas que nunca se afinam e ficam num cabo
de guerra que não anda para frente nem para trás. Só afunda. Estamos
plantados em areia movediça.
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
Vejo o velho Delfim Netto, que já foi Czar da economia, batendo há
meses no mesmo ponto. Ele pede que Dilma vá para a rua, peça desculpas
pelos erros e apresente saídas que convençam a maioria dos atores a se alinharem sob a bandeira de uma palavra mágica para a economia: confiança,
que vale mil vezes mais que experimentalismos heterodoxos ou ortodoxos.
Ouvi também uma fala do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco
(convidado por Dilma para a Fazenda declinou e mandou no seu lugar o
indigitado Levy). Disse Trabuco: “As pessoas, os empresários, os políticos têm que ser protagonistas, mas voltados para o bem comum. Há uma
passagem da Guerra de Canudos em que o coronel Moreira César perdeu
a batalha e se viu forçado a passar o comando para o capitão Tamarindo. Vendo-se diante da confusão, ele olhou um pé de fruto e comentou:
‘é tempo de murici, cada um cuide de sí’. Suspirando (imagino) Trabuco
concluiu: “Não é tempo de murici no Brasil”.
Quem dera. Mas até este minutinho continua dando muito murici
por estas plagas. Juízo aí, pessoal, porque a sangria tá braba e, como
sempre, quem paga o pato é o andar de baixo, como diz o Gaspari.
(*) Fernando Luz é jornalista.
CIDADES PROGRESSISTAS
Cristalina
ATTIÉ, PREFEITO CARISMÁTICO, ASSEGURA FUTURO POLÍTCO
E
strategista como um jogador de xadrez. Certeiro
como um atacante de futebol. Se fosse jogador,
estaria com uma grande coleção de troféus. Luiz
Carlos Attié é graduado em Ciências Econômicas
e pós-graduado em Sociologia e Ciências Políticas e é Prefeito
de Cristalina/GO. Por duas vezes em uma das cidades em que
as eleições mais acirram os ânimos em Goiás.
Filho de garimpeiro, saiu ainda bem jovem de Cristalina e percorreu os 120 km que a separam da capital federal em
busca de mais estudos. Fez faculdades, foi funcionário público,
presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do
Distrito Federal por 16 anos, participou da construção de setores em Brasília, fez parte do governo distrital, administrou
um shopping e depois de tudo, realizou o sonho de todo aquele
que ama sua cidade e quer o melhor para ela: candidatou-se a
prefeito da capital mundial dos cristais.
Enfrentou os tradicionais da política local e venceu. Quatro anos depois foi reeleito, sendo o primeiro e o único da his-
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
tória do município. Em 2016, ano em que Cristalina completa
um século de emancipação política, Attié completa seu governo
duplo que iniciou em 2009.
Quando foi empossado, construiu a sede da Prefeitura em
seis meses. Algo importante para uma cidade que viveu mais
de 90 anos sem uma sede decente para o executivo. Reformou
e modernizou o hospital municipal que estava interditado pela
Vigilância Sanitária. Instalou dois centros cirúrgicos, maternidade, pronto-socorro e laboratório.
Reverteu uma grave crise de desemprego que expulsava
seus cidadãos para longe. De 36% de desemprego, hoje Cristalina está entre as 10 cidades do Brasil que mais emprega. Antes
restrita à exploração do cristal, as ofertas surgem atualmente da
agricultura, indústrias, comércio e construção civil.
Em resultado da confiança transmitida pela visão moderna de quem participou da construção do Setor Noroeste e de
Águas Claras e fundou empresas de sucesso no DF, diversos
grupos de investidores foram atraídos para Cristalina e a ins-
(*) Fotos de Ana Ingrid
talação de indústrias e prestadores de serviço resultou em um
aumento da população acima da média. Isso exigiu mais investimentos em infraestrutura e modernização do trânsito e no
atendimento à comunidade.
Além do reconhecimento internacional do artesanato
mineral, Cristalina sob o comando de Luiz Carlos Attié foi
destaque em todos os meios de comunicação e recebeu títulos
importantes como uma das “50 melhores cidades do Brasil”
(Revista IstoÉ), “100 melhores cidades para fazer negócios”
(Revista Exame), “5ª cidade que mais gerou emprego no Brasil
em 2015” (UOL / Ministério do Trabalho) e um dos maiores
PIB´s (Produto Interno Bruto) Agrícola do Brasil.
“Tudo começou com o resgate da autoestima do nosso
povo que estava desacreditado. Planejamos a cidade, oferecemos incentivos aos investidores, trouxemos oportunidades de
emprego, cursos profissionalizantes e faculdades como o Instituto Federal Goiano. Hoje o cristalinense vive melhor e mais
confiante”, explica Luiz Carlos Attié, do PSD.
Seus anos de trabalho em Brasília resultaram em importantes amizades que hoje geram frutos para sua cidade. De deputados
a presidentes, secretários de estado a senadores, a lista de amigos
tem todos. Aliado de primeira hora do governador Marcone Perillo
(PSDB/GO) e com trânsito livre nos ministérios, Attié dedicou
os últimos 07 anos a percorrer diariamente os caminhos que levam
à Brasília e Goiânia em busca de recursos e obras para Cristalina.
E às vezes mais longe, como quando foi à França conversar com a
atual diretora-gerente do FMI, a então ministra da França Cristine
Lagarde para garantir que a multinacional francesa do ramo de alimentos Bonduelle se instalasse em Cristalina. E deu certo.
Com seu jeito carismático, Attié foi escolhido como um
dos prefeitos mais atuantes de Goiás e exemplar no pagamento
salarial em dia e na implantação imediata do piso nacional da
educação. Por essas e outras situações, Luiz Carlos Attié tem a
admiração de seus colegas políticos e é cogitado como futuro
membro do governo estadual ou federal quando deixar a Prefeitura de Cristalina.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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POLÍTICA PROGRESSISTAS
CIDADES
Vida
calma
EMPREGOS E OPORTUNIDADES
PERTINHO DE BRASÍLIA
F
ui ver de perto porque tanto se fala hoje no
país dessa cidade de Cristalina, em Goiás,
como nova meca agrícola e agroindustrial. Vi
uma cidade organizada, limpa e com vida extremamente pacata.
A conversa lá é uma só: crescimento, emprego, oportunidades. Pulsa o sentimento de cidade no modelo que se esqueceu: a que resolve por si só seus problemas sem esperar que
resolvam por ela na capital.
Um forte apelo comunitário é a fórmula. Na praça principal em frente à Prefeitura vê-se um exemplar sistema de
reciclagem de lixo, com quatro recipientes. Enquanto outros
municípios das cercanias de Brasília sofrem com a epidemia da
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
dengue, que se aninha no lixo, esse é um belo indicativo de cidadania avançada que surge logo aos olhos do visitantes.
O CAT - Centro de Atendimento ao Turista - funciona em
um quiosque junto à Prefeitura para atender não só ao que vem de
fora, mas cumpre função de ponto de encontro comunitário.
Para se posicionar junto à população e ouvir suas demandas (em Cristalina comunicação tem um sentido pró-ativo e não
apenas divulgação) o secretário Extraordinário de Comunicação e
Turismo, Aglayton Brandão, despacha no CAT (Centro de Atendimento ao Turista), onde todos são ouvidos democraticamente,
e sobretudo nas sugestões para educação e saúde. Explica o impressionante desempenho desses dois setores. A Prefeitura, deste
modo, colhe os reclamos dos cidadãos através de seus líderes.
Ellen Barbosa
é diretora da CARTA POLIS
Sai semanalmente publicado um jornalzinho colorido impresso no verso e reverso para ser distribuído
no maior evento da comunidade - a feira, com dicas de
serviços, de campanhas de utilidade pública, novidades e
oportunidades.
Uma rádio FM alcança as mais distantes residências desse
vasto município e seus distritos afastados da sede, com serviço
ao cidadão.
Dentro em pouco tempo, o mundo analógico desaparecerá de Cristalina e o mundo digital aparecerá com a nova
torre, que levará o sinal da modernidade com todos os canais
de TV do país.
Estabelece-se o contraste equilibrado, ou mesmo sustentável: uma cidade centenária (em 18 de julho próximo), que
conserva seus encantos bucólicos e turísticos, mas ao lado disso
com seu impressionante progresso industrial, que salta as olhos
de quem chega ou quem sai, com fábricas modernas se sucedendo nas margens da rodovia.
Uma bênção cristalizada é a Cristalina que visitei. Na volta à
Brasília, observei as infindáveis plantações de soja, uma atrás da outra,
quilômetros e mais quilômetros de encadeamento de um mar verde
ou amarelo, dependendo dos estágios para plantar e para colher.
Um mar de grãos, que de vez em quando precisamos constatar para acreditarmos um pouco mais nesse Brasil.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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POLIS Confidencial
Noleto
NOVO EXECUTIVO DA SECOM
Olavo Noleto, jornalista goiano, é,
o novo secretário-executivo da Secretaria de Comunicação do Planalto (SECOM), órgão responsável pela verba
publicitária do governo federal.
Até então, era subchefe de Assuntos
Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
Noleto substituirá o cargo antes ocupado
por José Otaviano, que ficou apenas quatro meses na função.
Noleto está na Casa Civil desde
o primeiro mandato do presidente
Lula, quando cuidava da interlocução do Planalto com os prefeitos e governadores.
Jefferson
AH, AQUELA COMIDA LIBANESA DO TORRE...
Roberto Jefferson, na sua casa de
Levy-Gasparian na serra fluminense, está desolado com as cenas que vê
pela televisão do Hotel Torre Palace
de Brasília, em que morou por um
bom tempo quando deputado federal,
hoje um prédio abandonado, decaído e
ocupado pelo moviment dos sem-teto.
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CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
“Bob” como é chamado pelos íntimos, fica ainda mais triste quando
lembra que o hotel mantinha um famoso restaurante de comida libanesa
em sua cobertura, no 13º. andar, que
era um sonho para quem gostava dos
quitutes árabes.
Ele é neto de libaneses.
Esteve fora por breves intervalos,
como quando assumiu, no final de 2014, a
chefia de Gabinete do prefeito de Goiânia,
Paulo Garcia (PT). Noleto voltou à Casa
Civil em março de 2015, reconduzido a
convite da própria prtesidente Dilma.
A convite do ministro Edinho Silva,
ele colocará em prática na SECOM suas
conhecidas qualidades de profissional diplomático e discreto.
Mantém bom relacionamento com
Marconi Perillo, governador do PSDB
de Goiás. Olavo, jornalista, é filho dos
jornalistas Wilmar Alves (in memorian),
ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Goiás e Laurenice Noleto
Chiquinho
AO LADO DE BERZOINI
Francisco Escórcio, ex-senador, ex-deputado pelo PMDB
do Maranhão, e considerado um assessor parlamentar com
olho de águia, presta agora seus serviços ao ministro Ricardo
Berzoini, encarregado da articulação com o Congresso. Berzoini sabe o que fez ao levar Chiquinho Escórcio - como é chamado pelos políticos -para seu gabinete. Ele conhece até os móveis
do Senado e da Câmara.
Outro dia, o deputado Hugo Mota, do baixo clero cunhista e
que disputa a liderança do PMDB, esteve com Berzoini no Palácio
do Planalto para reclamar da liberação de emendas para deputados do PMDB como forma de atrair votos para Leonardo Picciani
na disputa pela liderança. Obra de Chiquinho para não incendiar
as pontes com Eduardo Cunha? Pode ser.
Petrobras
MENOS UM ESTÁDIO
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, na sua
campanha pela redução do custo da empresa, anunciou a
redução em 30% do número de gerentes, em número de 7,5
mil. Do total, 5,3 mil são em áreas não operacionais. Seria o
mesmo que a Petrobras tivesse alugado o Estádio Moça Bonita, do Bangu foto ao lado (lotação: 7.500 pessoas) apenas
para ser ocupado com gerentes da empresa.
O corte autorizado por Bendine significa que pelo menos 2,250 gerências serão extintas. Ou seja, não fazem falta
à empresa. Eram gorduras políticas do tempo da permissividade.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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SURPREENDENTE
POLÍTICA/PERFIS
O homem
DO MASBAHA
Orlando Brito*
A
onde chegava, Ibrahim Sued chamava atenção. Todo mundo
queria estar ao lado do colunista mais importante do Brasil.
Fosse nas festas de São Paulo ou nos salões do Copacabana
Palace. E mesmo no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília,
no dia em que emprestou sua presença para prestigiar uma sessão solene em homenagem de seu amigo, o príncipe Dom Pedro de Orleans e
Bragança, no início da década de 1990.
Filho de humildes imigrantes árabes, Ibrahim nasceu no bairro de
Botafogo, no Rio. Após concluir o curso ginasial, foi trabalhar como fotógrafo free-lancer, em 1946. Aí começa sua trajetória como jornalista,
que só veio terminar cinco décadas depois, com sua morte. Ele fez uma
foto do momento em que o líder da UDN, Octávio Mangabeira, cumprimentava o ex-comandante das tropas aliadas durante a Segunda
Guerra Mundial, Dwight Eisenhower, que depois viria a ser presidente
dos Estados Unidos. Por ilusão de ótica, a imagem dava a impressão de
que o deputado baiano beijava a mão do general americano.
O Globo publicou na primeira página. Meses depois, Ibrahim passava a escrever e assinar uma coluna diária no jornal dos Marinho. Com
Sued, o colunismo ganhava novo formato. Deixava de noticiar somente as fofocas e passava às notas de maior conteúdo informativo. Mas,
sobretudo, era fruto da vaidade da sociedade carioca. Gerou o maior
frisson a lista das 10 mulheres mais belas, mais elegantes. Ele enchia
as notas de glamour, notícia e malícia. Zózimo Barroso do Amaral, do
Jornal do Brasil, e Jacinto de Thormes – o Maneco Müller –, da Última
Hora, rivalizavam com Ibrahim Sued.
Não é por outra razão que até hoje muitos profissionais de imprensa se inspiram em seu estilo, seja no jornal impresso ou na TV. Pela
coluna do Ibrahim desfilaram as mais famosas personalidades do Brasil
e do mundo. Reis e rainhas, políticos e empresários, esportistas, artistas
e todo tipo de gente famosa passaram pelas 15 mil edições que ele fez
entre 1946 e 1995. As socialites, hoje rebatizadas como celebridades,
ele chamava de “locomotivas” ou “dondocas”. As jovenzinhas ricas, de
“cocadinhas”. E os inimigos, de “buzuntas”.
Ibrahim revelava segredos quase diariamente e lançou vários bordões, ente eles: “em sociedade tudo se sabe”. Ou, “cavalo não desce escada”. E ainda, “Ademã, que eu sigo em frente”. Esse último, quando se
despedia dos telespectadores de seu programa noturno na TV Globo.
Três curiosidades nessa foto. A primeira: Ibrahim com seu habitual cigarro Minister apagado entre os dedos, enquanto manuseia um
masbaha, o rosário de 32 contas de pérola e de origem árabe, usado
para evocar a paciência. A segunda, à sua direita, o deputado Gustavo
de Faria, um militar que se elegeu pelo Rio e depois ganhou na Loteria
Federal. E a terceira, aquele jovem senhor de bigodinho preto. Era o
deputado pelo Paraná, Carlos Roberto Mazza, o Ratinho, hoje apresentador de televisão.
(*) Orlando Brito é fotógrafo.
FOTOS COMERCIAIS E ARTÍSTICAS
POLÍTICA
ÚLTIMO
S
NAR
Álvaro Campos
ANTIPATIA DEMITE
BLINDAGEM
PERIGOitoSprAeocupada com
Dilma está mu
uradoria-Geral
as posições da Proc
premo Tribunal
da República e do Su
ao Renan, que
Federal com relação
que a blindagem
começa a acreditar
não passou de
que lhe foi prometida
não cumprida.
mais uma promessa
Anuncia-se nas cercanias do Inst
ituto Lula, que o ex-ministro Ne
lson Jobim poderá
ser o futuro porta-voz do ex-presi
dente. O ex-presidente do STF,
entretanto, jamais
deixou de ser um porta-voz info
rmal de Lula. Foi ministro da Def
esa na cota pessoal
do então presidente e não pelo
PMDB, que não o tinha como
um
quadro confiável
após abrir cisão interna ao se can
didatar a presidente do partido
contra Michel Temer.
Jobim, mantido ministro da Def
esa de Dilma, ficou isolado ao
emitir uma frase de
crítica à presidente. Esta o exoner
ou e o PMDB não o defendeu. Dem
itido em meio aos
8 ministros suspeitos de corrup
ção, Jobim foi o único (ressalvou
Dil
ma)
não por esse
motivo, mas por pura antipatia de
Dilma dele.
ENTRE
CALDEIRAS
É inegável que a presidente Dilma
melhorou muito sua visibilidade
política com seu comparecimento ao Congresso Nacional. Pode
ter sido, entretanto, uma decisão
tardia, uma vez que os aliados esmoreceram, tanto no PT como no
PMDB. A eleição para líder do
PMDB pela bancada na Câmara
será o medidor do futuro de Dilma.
DA
JANELA ARRISCAaguar
A expectativa é que esses dois
dada com temor pelos comandos do PMDB e PT.
A nova janela de filiações está sendo
de Álvaro Dias, passaram
ares. Partidos menores como o PV, depois da filiação
partidos perderão o maior número de parlament
a figurar na vitrine como legendas da moda.
52
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
PANELA POUCA
O panelaço em protesto contra Dilma, durante sua última fala na TV, não foi
nem sombra do que houve no passado. Mas a mobilização insiste em repetir as
mesmas táticas do ano passado, que culminaram no fracasso das manifestações
de 13 de dezembro. Para retirar Dilma, será preciso mais.
PELA METADE
Dilma atendeu apenas em parte ao conselho de Delfim Netto para ir ao Congresso, pois
o
ex-ministro da Fazenda acrescentou que ela deveria levar reformas constitucionais e infraconstitucionais para que o gesto não ficasse numa mera simbologia. E foi o que acontece
u:
Dilma ateve-se ao meramente episódico, como a volta da CPMF. Foi vaiada.
ZÉ SAUDÁVEL
José Dirceu evidenciou ótima saúde e disposição física nos vídeos
gravados de seu depoimento ao juiz Sergio Moro, desmentindo
que está debilitado na prisão. Com uma voz alta e forte, e lançando
mão até mesmo de uma certa ironia nas respostas, o ex-ministro
da Casa Civil coloca seus defensores em má situação, pois vinham
argumentando que o “Zé” - como é chamado - está deprimido na
prisão, magérrimo, envelhecido e em condições físicas lamentáveis.
MISSÃO IMPOSSÍVEL
Cada vez mais aperta-se o cerco a Lula, obrigando Dilma a
aprofundar a estratégia de dramatizar a ameaça do Zika Vírus, a
qual, aliás, não precisa da ênfase da presidente para ter agravada a
pandemia que se avizinha, se o governo não se mexer. Mas Dilma
não se faz de rogada e tenta com todas as suas forças desviar o foco
das atenções das investigações sobre Lula.
DILMA RACHA
Dilma rachou seu governo ao decidir ir ao Congresso. Foi um gesto do tipo
“ou vai ou racha” a decisão a presidente Dilma de entregar ela própria sua
mensagem anual e fazer a apologia à aprovação da CPMF e do combate cerrado
ao Zika Vírus. Na decisão, percebeu-se a discreta influência do ministro da
Saúde, Marcelo Castro.
CARTA POLIS | FEVEREIRO 2016
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