produção de bovinos em pastagem irrigada

Transcrição

produção de bovinos em pastagem irrigada
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
PRODUÇÃO DE BOVINOS
EM
PASTAGEM IRRIGADA
Revisão elaborada na disciplina
Tópicos Especiais em Forragicultura
Z00-750
Carlos Mauricio S. de Andrade
Matrícula 38135
[email protected]
Viçosa, MG
Julho / 2000
1
1. INTRODUÇÃO
As pastagens representam a forma mais prática e econômica de alimentação de bovinos,
constituindo a base de sustentação da pecuária do Brasil. Sabe-se, entretanto, que os resultados
econômicos que vêm sendo obtidos pela maioria dos pecuaristas do nosso país, com a produção de
bovinos a pasto, podem ser considerados muito modestos tendo em vista o nosso grande potencial.
Existe, portanto, a necessidade da obtenção de ganhos em produtividade que permitam tornar
a pecuária, principalmente nas regiões de terras mais valorizadas, mais rentável e competitiva, frente a
outras possibilidades de uso do solo (ESTEVES et al., 1998).
Neste contexto, a produção de bovinos em pastagens irrigadas por pivô central é uma
tecnologia que vem sendo crescentemente adotada pelos pecuaristas, notadamente por aqueles que já
dispõem de um nível tecnológico elevado e que possuem também elevada capacidade gerencial e de
investimentos, como forma de aumentar a produtividade da sua atividade. Conforme apurou YASSU
et al. (1998), atualmente 25% das vendas de equipamentos de pivô central pela Valmont Irrigation do
Brasil, única fabricante de pivôs do país, são destinadas à pecuária. Os resultados que vêm sendo
obtidos com a adoção desta técnica têm sido impressionantes. Elevadas taxas de lotação (até 10
UA/ha) combinadas com ganhos de peso vivo na faixa de 1,0 kg/dia, inclusive durante o período seco
do ano, têm despertado o interesse de pecuaristas, técnicos e pesquisadores. Estes resultados têm
também levado pesquisadores e técnicos a repensarem antigos “dogmas”, como, por exemplo, o de
que a irrigação de pastagens durante o período seco, para diminuir a estacionalidade de produção das
forrageiras, não daria respostas positivas devido às baixas temperaturas reinantes nesta época do ano.
Como será discutido mais adiante, isto não é válido para todas as regiões de pecuária do país.
Neste trabalho são discutidos os aspectos envolvidos na produção de bovinos em pastagem
irrigada. Inicialmente se discute a estacionalidade da produção de plantas forrageiras, que é o principal
aspecto a ser vencido, ou pelo menos amenizado, pela irrigação. A seguir, é feita uma breve discussão
a respeito do histórico da irrigação de pastagens no Brasil; são apresentados resultados de pesquisa,
dados de custos de implantação de sistemas de irrigação e simulações sobre a viabilidade econômica
da produção de bovinos de corte em pastagem irrigada. Por fim, são apresentados alguns requisitos
básicos da técnica de produção de bovinos em pastagem irrigada por pivô central.
2. ESTACIONALIDADE DE PRODUÇÃO DAS FORRAGEIRAS
As nossas pastagens apresentam uma característica marcante que é a estacionalidade de
produção das forrageiras, fator este que tem sido apontado como um dos principais responsáveis pelos
baixos índices de produtividade da nossa pecuária (ROLIM, 1994). Os resultados obtidos no clássico
trabalho de PEDREIRA (1972; Figura 1), em Nova Odessa-SP, ilustram claramente este fator.
2
TCC (kg de MS/ha/dia)
Pangola
Colonião
Jaraguá
Gordura
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Figura 1. Taxas de crescimento diário da cultura (TCC) dos capins colonião, jaraguá, gordura e
pangola, em Nova Odessa, SP (adaptado de PEDREIRA, 1972).
Quando não são tomadas medidas para corrigir os efeitos da estacionalidade de produção das
forrageiras, ou pelo menos para amenizá-los, a produção animal acaba acompanhando esta curva
sazonal de produção.
A escassez de forragem na seca torna o ciclo produtivo mais longo. Os novilhos têm a idade
de abate retardada e as novilhas a puberdade. Os machos acabam sendo abatidos com 3,5 a 4,0 anos,
com peso vivo de 450-480 kg, rendimento ao abate em torno de 52% e peso de carcaça ao redor de 16
arrobas. As novilhas, por sua vez, só estão aptas à cobertura ao redor dos três anos e,
conseqüentemente, com a idade à primeira cria aos 4 anos. A falta de alimentação adequada na seca
também causa perda de peso de vacas em lactação, provocando anestro ou ausência de cio, tornando
muito elevado o número de vacas com falhas de prenhez. Nestas circunstâncias, a taxa de natalidade
média nos rebanhos situa-se, atualmente, em torno de 54%, com mortalidade de bezerros de 6,5% e
taxa de desmama de 51% (Corrêa, 1995 citado por MACEDO, 1995).
Dentre os aspectos desejáveis à utilização de plantas forrageiras, a boa distribuição da
produção de plantas forrageiras durante o ano pode ser considerada um dos atributos mais atraentes e
cobiçados, tanto por parte dos pesquisadores quanto por parte dos pecuaristas (ROLIM, 1994). De
fato, a estacionalidade de produção das forrageiras é um dos fatores que mais influenciam o correto
manejo das pastagens. De acordo com CORSI e MARTHA Jr. (1998), a melhor distribuição da
produção durante o ano faz com que menores variações no desempenho e lotação animal em pastagens
sejam observados.
3
A estacionalidade de produção das nossas forrageiras torna imperativo a adoção de técnicas
tais como: produção de silagem e, ou, feno; utilização de resíduos e subprodutos da agroindústria;
pastejo diferido; culturas de inverno; suplementação a pasto; confinamento, e etc.; para complementar
a alimentação dos animais durante o período de entressafra (inverno ou período seco). A não adoção
destas técnicas pelos produtores resulta nos baixos índices de produtividade relatados anteriormente e,
também, na degradação das nossas pastagens, que são submetidas a superlotação durante o período
crítico do ano.
Mesmo nos sistemas intensivos de uso de pastagens, embora se consiga maior produção no
período seco, em decorrência principalmente do efeito residual das adubações, a estacionalidade de
produção de forragem, em razão de fatores climáticos, vai continuar ocorrendo, a menos que seja
corrigida, em parte, com o uso de irrigação (CORRÊA, 1999).
2.1. Causas da estacionalidade
A variação sazonal do crescimento das plantas forrageiras é uma característica quase que
universal. Poucos são os lugares do mundo onde as condições climáticas permitem elevado
crescimento das plantas durante todo o ano.
São vários os fatores climáticos que ocorrem conjuntamente influenciando o crescimento das
plantas: precipitação pluviométrica, umidade relativa do ar, temperatura, radiação solar, vento,
nebulosidade e outros. Dentre estes, os de maior relevância são a precipitação pluviométrica, a
temperatura e a radiação solar, sendo que a ordem de importância varia de um local para outro e entre
as estações do ano.
Para as regiões temperadas, os fatores climáticos de maior importância são a luz e a
temperatura, seguidos pela umidade (VAN SOEST, 1994). Para os trópicos e subtrópicos (30°S 30°N), a temperatura e a deficiência hídrica são os principais fatores limitantes da produção de
forragens (MacDowell, 1972 citado por ROLIM, 1994). Este autor estimou, em porcentagem da área
total, as áreas onde o crescimento das plantas é limitado por apenas um dos elementos ou pela
associação dos dois (Quadro 1).
Quadro 1. Influência da temperatura e da precipitação pluviométrica no crescimento de plantas em
áreas situadas entre as latitudes 30°N e S.
% de área onde o
% de área onde o
% de área onde o
% de área onde o
crescimento de plantas é crescimento de plantas é crescimento de plantas é crescimento de plantas
limitado pela
limitado pela
limitado por
não sofre influência de
temperatura e
temperatura e
temperatura
deficiência hídrica
deficiência hídrica
deficiência hídrica
36%
31%
Fonte: MacDowell (1972) citado por ROLIM (1994).
24%
9%
4
Devido às suas dimensões continentais, o Brasil apresenta regiões muito diferenciadas quanto
aos fatores climáticos responsáveis pela estacionalidade, e também quanto à intensidade desta –
diferença entre as produções das épocas mais e menos favoráveis. Também, dentro de cada região,
existem localidades com condições climáticas muito contrastantes em função, principalmente, dos
fatores latitude e altitude. Nas regiões mais ao norte (Norte, Nordeste e parte das regiões Centro-Oeste
e Sudeste), mais próximas da linha do equador e, portanto, apresentando menores variações de
temperatura durante o ano, a estacionalidade é função, principalmente, da irregularidade da
precipitação pluviométrica. Já nas regiões de latitudes mais elevadas (região Sul e parte das regiões
Sudeste e Centro-Oeste), o principal fator climático responsável pela estacionalidade de produção das
forrageiras são as baixas temperaturas de inverno, que praticamente paralisam o crescimento das
forrageiras tropicais.
Entretanto, com o uso da irrigação, o fator água passa a não ser mais limitante para o
crescimento das forrageiras, de modo que a estacionalidade de produção passa a ser função apenas da
disponibilidade da radiação solar e, principalmente, da temperatura. Em locais de maior latitude e, ou,
altitude, onde ocorrem quedas mais acentuadas das temperaturas durante o inverno, não se deve
esperar que a irrigação seja capaz de equacionar totalmente o problema da estacionalidade de
produção. O grau de defasagem entre as produções de verão e inverno irá depender,
fundamentalmente, das diferenças de temperatura entre estas épocas. No Quadro 2 são apresentadas as
temperaturas mínimas, máximas e ótimas para o crescimento dos diferentes grupos de forrageiras.
QUADRO 2. Temperaturas para o crescimento das forrageiras.
Temperatura (°C)
Espécie forrageira
Mínima
Ótima
Máxima
Gramíneas e leguminosas
tropicais
15
30 a 35
35 a 50
Gramíneas e leguminosas
temperadas
5 a 10
20
30 a 35
Fonte: COOPER e TAINTON (1968); RODRIGUES et al. (1993).
Analisando-se a Figura 2, por exemplo, pode-se verificar que em localidades como LavrasMG e Goiânia-GO, onde as temperaturas mínimas médias mensais caem para níveis em torno de 10°C
durante alguns meses do inverno, mesmo com a irrigação deve-se esperar redução significativa do
crescimento das forrageiras durante este período, com conseqüente redução da capacidade de suporte
das pastagens.
5
Temperatura mínima (ºC)
Lavras
Paracatu
20
15
10
5
0
jan fev mar abr mai jun
Temperatura mínima (ºC)
Goiânia
jul ago set out nov dez
Campo Grande
Cuiabá
25
20
15
10
5
0
jan fev mar abr mai jun
Garanhuns-PE
Temperatura mínima (ºC)
Araçuaí
25
jul ago set out nov dez
Ilhéus-BA
Sobral-CE
25
20
15
10
5
0
jan fev mar abr mai jun
jul ago set out nov dez
Figura 2. Temperaturas mínimas médias mensais em três localidades de Minas Gerais (Lavras,
Paracatu e Araçuaí), do Centro-Oeste (Goiânia, Campo Grande e Cuiabá) e do Nordeste
(Garanhuns, Ilhéus e Sobral) (BRASIL, 1969a,b,c).
6
Já em locais como Sobral-CE, onde as temperaturas mínimas são elevadas e praticamente
constantes durante todo o ano (Figura 2), e Cuiabá, onde a queda de temperatura no inverno não é tão
acentuada e soma-se o fato de que, durante este período, ocorre menor nebulosidade (maior insolação;
Figura 3), pode-se esperar uma reduzida, ou mesmo inexistente, estacionalidade de produção das
forrageiras, com o uso da irrigação.
Insolação
300
20
250
200
15
150
10
100
5
50
0
0
Insolação (horas/mês)
Temperatura mínima (°C)
Temperatura mínima
25
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Figura 3. Temperaturas mínimas médias mensais e insolação em Cuiabá, MT (BRASIL, 1969c).
A altitude afeta sensivelmente os climas tropicais, pois a cada 100 m de deslocamento vertical
ocorre um decréscimo de 0,65°C na temperatura (ROCHA, 1991). Por exemplo, Cuiabá-MT, apesar
de se encontrar numa maior latitude (15°36’S), apresenta temperaturas mínimas mais elevadas que
Garanhuns-PE (08°53’S; Figura 2) devido à diferença de altitude entre as duas localidades (172 m vs.
923 m).
Desta forma, em se tratando de Brasil, não se pode fazer generalizações a respeito das
limitações climáticas para o crescimento das forrageiras, apenas em função da região. O mais correto,
para fins de irrigação de pastagens, é analisar os dados climáticos do local, principalmente o
comportamento das temperaturas mínimas durante o ano, para verificar que tipo de resposta se pode
esperar com o advento da irrigação, tanto em termos de aumento de produção quanto em termos da
resolução do problema da estacionalidade.
7
3. PASTAGENS IRRIGADAS
3.1. Histórico
A estacionalidade da produção de plantas forrageiras é um problema que preocupa
pesquisadores e pecuaristas desde muito tempo. Isto levou os pesquisadores a realizarem, já nas
décadas de 60 e 70, muitos experimentos para avaliar a viabilidade da prática da irrigação, durante o
período seco do ano, como uma forma de resolução do problema da estacionalidade (LADEIRA et al.,
1966; PEREIRA, 1966; ANDRADE, 1972; GHELFI FILHO, 1972; CARVALHO et al., 1975; entre
outros). Como nesta época a pesquisa estava concentrada, principalmente, na região sudeste do país,
estes experimentos foram realizados na sua totalidade nos estados de São Paulo e Minas Gerais, em
regiões onde predominam temperaturas de inverno que não permitem que as forrageiras tropicais se
desenvolvam adequadamente, nesta época do ano. Assim, os resultados pouco animadores, obtidos
nestes experimentos, geraram uma crença de que a irrigação de pastagens durante o período seco do
ano não era uma técnica viável, pensamento este que ainda está arraigado até hoje. Isto, para aquela
época, era absolutamente verdadeiro, pois a pecuária mais desenvolvida estava concentrada em grande
parte naquela região, onde foram realizados os experimentos. Hoje em dia, com a migração da
pecuária - principalmente a de corte – para a região Centro-Oeste, a situação mudou e aquela
generalização não é mais válida.
Nos últimos tempos, mesmo sem auxílio de dados científicos ou de exemplos de outros países
para serem seguidos, o uso da técnica de irrigação de pastagens vem apresentando grande expansão,
principalmente na região Centro-Oeste (VILLELA, 1999). Segundo o autor, já existem
aproximadamente 80 pivôs irrigando áreas de 100 ha, em média, na região central do Brasil. Ainda,
conforme apurou YASSU et al. (1998), atualmente 25% das vendas de equipamentos de pivô central
pela Valmont Irrigation do Brasil, única fabricante de pivôs do país, são destinadas à pecuária.
3.2. Simulações
WEIGAND et al. (1998) fizeram uma simulação dos custos e rentabilidade da exploração de
pastagens irrigadas em três regiões do Brasil: Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste (Quadros 3 a 6). Os
resultados variam em função da variação do custo da terra, do custo de aquisição do equipamento, da
evapotranspiração, do custo da água, dos meses de irrigação no ano, da tarifa noturna de energia
elétrica e da estimativa de produção de matéria seca.
Os dados sugerem que a irrigação de pastagens é recurso conveniente, em certos casos, para o
pecuarista contornar os problemas de estacionalidade da planta forrageira. As vantagens acentuam-se
em regiões mais próximas da linha do equador, onde a água é o mais grave fator limitante do
8
acréscimo da produção das forrageiras. Isto fica comprovado pela maior viabilidade do sistema de
pastagem irrigada nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Na região Sudeste, a prática não se mostra tão
rentável, podendo ser inviável, devido ao grande tempo necessário para pagar o investimento
(WEIGAND et al., 1998).
Quadro 3. Indicadores técnicos e econômicos da atividade de recria em pastagem irrigada por pivô
central.
Sudeste
Centro-Oeste
Nordeste
Premissas
Preço de compra (US$/@)
Preço de venda (US$/@)
Peso vivo de entrada (kg)
Peso vivo de saída (kg)
Pressão de pastejo
Área de pastagem (ha)
Ganho de peso vivo esperado (kg/animal.dia)
24,56
21,93
165
340
5,40%
90
0,90
23,25
20,61
160
340
5,20%
90
0,95
23,68
21,49
155
340
5,00%
90
1,00
Indicadores
Tempo de recria (dias)
Lotação média (UA/ha)
Ciclos por ano
194,44
4,51
1,88
189,47
5,85
1,93
185,00
6,70
1,97
1.351
335.790,00
1.818
424.682,00
2.151
524.000,00
Vendas anuais de gado (Receitas)
Cabeças
Valor (US$)
Fonte: WEIGAND et al. (1998).
9
Quadro 4. Custeio de pastagens irrigadas por pivô central em diferentes regiões do Brasil.
A. Instalação do pivô
Unit.
Qtde.
Sudeste
C. Oeste
Nordeste
4,0
5,0
1,5
1,5
4.386
90,0
2,1
0,02
20,0
1,6
1.491
30%
6,0
7,0
1,5
5,0
4.386
90,0
2,1
0,02
20,0
0,9
614
20%
8,0
9,0
1,5
10,0
4.386
90,0
2,1
0,02
20,0
0,7
175
10%
1.316
15
2,0%
2,0%
8,0%
1.404
15
2,4%
2,0%
6,0%
1.491
15
2,7%
2,0%
6,0%
40.000
10
10
15%
50.000
10
10
15%
55.000
10
10
15%
1. Dados
Evapotranspiração (mm/dia)
Meses de irrigação no ano
Potência de irrigação (CV/ha)
Rede de energia – distância (km)
Rede de energia – valor (US$/km)
Área do pivô (ha)
Tarifa de demanda verde (US$/CV instalado)
Tarifa de demanda verde (US$/CV hora)
Turno de rega (h/dia)
Mão-de-obra (US$/h)
Custo da água (US$/m³)
Preço da terra (US$/ha)
Tarifa noturna (% da tarifa normal)
2. Equipamento
Valor de compra (US$/ha)
Período de amortização desejado (anos)
Taxa de manutenção (% ao ano)
Seguro (% ao ano)
Taxa de juros (% ao ano)
B. Instalação e manejo das pastagens
1. Características
Produção (kg de MS/ha/ano)
Vida útil (anos)
Número de pastejos/ano
Teor de matéria seca da forragem
2. Formação
Calcário (t/ha)
Superfosfato simples (t/ha)
Cloreto de potássio (t/ha)
Análises de solo (unid.)
Cercas elétricas (m/ha)
Bebedouro (unid./ha)
Cercas de arame farpado (m/ha)
Fretes (km/ha)
Sementes (kg/ha)
Formicida (kg/ha)
20
180
255
12
0,403
1000
2,105
0,5
3
2,34
2,5
0,6
0,2
0,05
395,7
0,01
50
100
11
1
50
108
51
0,6
159,47
10
105,25
50
33
2,34
50
108
51
0,6
159,47
10
105,25
50
33
2,34
0
108
51
0,6
159,47
10
105,25
50
33
2,34
14,4
14,3
15
15
4
2,2
1
0,85
57,6
31,46
15
12,75
57,6
31,46
15
12,75
57,6
31,46
0
12,75
255
0,5
12
0,15
5
0,3
38,25
2,5
3,6
38,25
3,75
3,6
38,25
5
3,6
20
0,5
15
2
15
0,3
40
7,5
4,5
40
11,25
4,5
20
11,25
2,25
3. Preparo de solo e semeadura
Aração (HM/ha)
Gradagem (HM/ha)
Calagem (HM/ha)
Semeadura (HM/ha)
4. Manutenção a cada pastejo
Uréia + KCl (t/ha)
Fretes (km/ha)
Adubação – Vicon (HM/ha)
5. Calagem (cada 2 anos)
Calcário (t/ha)
Frete (km/ha)
Calagem – Vicon (HM/ha)
Fonte: WEIGAND et al. (1998)
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Quadro 5. Custos anuais de lida de rebanho de recria, em pastagem irrigada por pivô central, em
diferentes regiões do Brasil.
Mão-de-obra (US$/ha)
(folha de pagamentos + encargos sociais)
Custos administrativos (US$/UA)
Insumos
Minerais (US$/UA)
Vermífugos (US$/UA)
Vacinas (US$/UA)
Medicamentos (US$/UA)
Impostos e contribuições (%vendas)
Compra de animais (US$/cabeça)
Quantidade (cabeças)
Fretes e comissões (US$/cabeça)
Diversos (% Custos)
Custos anuais com pastagens
Depreciações (US$)
Manutenção (US$)
Calagens (US$)
Custos anuais de irrigação
Depreciação do pivô (US$)
Juros de aquisição do pivô (US$)
Manutenção e reparos (US$)
Mão-de-obra do pivô (US$)
Eletricidade (US$)
Seguro (US$)
V.U.
Sudeste
C. Oeste
Nordeste
31
12.582
16.333
18.685
19,21
7.797
10.121
11.579
9,65
6,05
3,33
1,23
2%
3.917
2.457
1.353
498
6.044
183.429
1.358
15.484
10.634
5.084
3.189
1.756
647
7.644
226.496
1.827
20.833
13.302
5.816
3.648
2.009
740
9.432
264.581
2.162
24.656
15.538
5.419
35.013
2.053
5.419
36.000
2.201
4.906
36.987
1.323
8.333
5.000
2.500
4.737
13.561
2.500
9.883
4.447
3.558
3.684
16.946
2.965
11.871
5.342
4.808
3.789
20.103
3.561
11,40
4%
Fonte: WEIGAND et al. (1998)
Quadro 6. Análise econômica para recria de bovinos de corte, em pastagem irrigada por pivô central,
em diferentes regiões do Brasil.
Sudeste
Centro-Oeste
Nordeste
Investimentos
Implantação do conjunto de irrigação (US$)
Implantação das pastagens (US$)
Aquisição das terras (US$)
Total
Total (sem aquisição de terras)
125.000
54.195
174.474
353.668
179.195
148.246
54.195
71.842
274.282
202.440
178.070
49.063
20.526
247.660
227.133
17,32
170,18
11,32
23,1
11,7
3,00%
2.615
14,62
420,18
20,79
7,3
5,4
10,00%
3.619
13,53
857,44
36,67
3,1
2,9
24,70%
4.404
Resultados anuais
Custo por arroba (US$)
Lucro por hectare (US$/ha)
Lucro por cabeça (US$)
Payback incluindo a aquisição de terras (anos)
Payback sem aquisição de terras (anos)
Taxa Interna de Retorno
Produção por hectare (kg de PV/ha/ano)
Fonte: WEIGAND et al. (1998)
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Weigand (1998), citado por YASSU et al. (1998), fez uma simulação da lucratividade das
atividades de recria e engorda de bovinos de corte em pastagens irrigadas por pivô central, em
diferentes regiões do país, em função das taxas de lotação conseguidas (Quadro 7). Os resultados
mostraram que a atividade de recria seria a mais lucrativa, pois os animais nesta fase fazem um melhor
aproveitamento da proteína e da energia fornecidas pelo pasto, e também revelaram a importância da
obtenção de elevadas produtividades de forragem, permitindo elevadas taxas de lotação, para
compensar os custos de produção mais elevados deste sistema, em comparação com pastagens de
sequeiro. O autor adverte que os cálculos foram realizados considerando lotações nem sempre
possíveis de serem atingidas em cada região. Por exemplo, ele cita que uma lotação de 6,0 UA/ha no
sudeste até pode ser conseguida, mas o risco é muito grande. As faixas de lotação mais plausíveis para
cada região, segundo o autor, são: SE – 3,0 a 5,0 UA/ha; CO – 4,0 a 7,0 UA/ha; e NE – 4,0 a 8,0
UA/ha.
Quadro 7. Simulação do lucro por área (R$/ha.ano) em relação à região, lotação e atividade.
Lotação (UA/ha)
Sudeste
3,5
5,0
6,0
-82,00
487,00
1.057,00
3,5
4,5
6,0
-442,00
7,32
457,00
Centro-Oeste
Nordeste
26,00
573,00
1.120,00
-61,00
462,00
985,00
-305,00
131,00
567,00
-365,00
57,00
480,00
Recria
Engorda
Fonte: Weigand (1998), citado por YASSU et al. (1998).
Ao se analisar estas simulações deve-se levar em consideração, como comentado
anteriormente, que existem grandes variações dentro de cada região, quanto às condições climáticas,
preço da terra, topografia e etc., de modo que as generalizações feitas são válidas apenas a título de
comparação geral.
3.3. Resultados
Com o objetivo de permitir uma visualização mais clara sobre as perspectivas gerais da
produção animal em pastagens irrigadas, serão apresentados os resultados de alguns trabalhos
disponíveis na literatura. Com relação à produção de bovinos leiteiros em pastagens irrigadas, alguns
poucos resultados têm sido publicados recentemente. Já com relação à produção de bovinos de corte,
praticamente não existem resultados disponíveis na literatura formal, seja na forma de artigo científico
12
ou de tese. Entretanto, ultimamente, várias matérias têm sido apresentadas por publicações informais
(revistas agropecuárias) onde são relatados os resultados obtidos pelos pecuaristas que estão adotando
a técnica de irrigação de pastagens. Estes resultados, apesar das ressalvas que este tipo de informação
merece, serão também apresentados a seguir.
ALVIM et al. (1997) avaliaram a produção de leite de vacas holandesas em pastagens de
coast-cross, durante dois anos, em Coronel Pacheco, MG. As pastagens foram irrigadas durante os
meses de junho a setembro, a cada 15 dias, com lâmina d’água de 25 a 30 mm, e as vacas receberam 3
ou 6 kg de concentrado por dia. Os resultados (Quadro 8) mostraram que foi possível a obtenção de
elevadas produções de leite, tanto no período chuvoso (17,3 a 20,5 kg/vaca.dia) quanto no período
seco do ano (16,5 a 19,5 kg/vaca.dia). As taxas de lotação obtidas durante o período seco do ano foram
expressivas (3,0 a 3,7 vacas/ha), porém inferiores às obtidas durante o período chuvoso (5,9 a 6,4
vacas/ha). De acordo com os autores, as condições ambientais adversas, prevalecentes na região
durante o período seco do ano (baixas temperaturas e pouca luminosidade), reduzem a velocidade de
crescimento do capim coast-cross, apesar da irrigação.
Já na região de Governador Valadares, nordeste de Minas Gerais, conforme apurou a
reportagem da revista DBO Rural (ONDEI, 1999), existem mais de 100 produtores de leite utilizando
a irrigação de pastagem e de cana-de-açúcar para alimentação de vacas leiteiras. Os resultados têm
sido animadores, com as pastagens irrigadas possibilitando a utilização de taxas de lotação de até 6
UA/ha, contra a média local de 0,3-0,5 UA/ha. Nessa região, devido às temperaturas mais elevadas
durante o período seco, a irrigação têm sido mais eficiente em diminuir a estacionalidade de produção
das forrageiras. Vale ressaltar que, ao contrário do sistema com pivô central que vem sendo utilizado
na pecuária de corte, principalmente no Centro-Oeste, o sistema de irrigação adotado pelos produtores
de leite de Governador Valadares utiliza aspersores de baixa pressão, possui baixo custo de
implantação e manutenção, e é mais apropriado para pequenas áreas.
Quadro 8. Produção de leite e taxa de lotação de vacas Holandesas mantidas em pastagem de coastcross, irrigada durante o período seco, em Coronel Pacheco, MG.
Concentrado (kg/vaca/dia)
Período chuvoso
Período seco
3
6
3
6
Produção de leite
kg/vaca/dia
kg/ha/dia
Lotação (vacas/ha)
Fonte: ALVIM et al. (1997).
17,3
20,5
16,5
19,5
103,3
131,1
50,5
73,1
5,9
6,4
3,0
3,7
13
Em Campos dos Goytacazes-RJ, DAHER et al. (1997), avaliando a produção de MS de 17
clones de capim-elefante, sem o uso de irrigação, verificaram uma acentuada estacionalidade de
produção. Na média dos clones, a produção de MS obtida na época seca correspondeu a apenas 27%
da produção total anual. Neste mesmo local, MALDONADO et al. (1997) avaliaram o efeito da
irrigação, durante os períodos seco e chuvoso, sobre a produção de matéria seca do capim-elefante
(Figura 4). Os autores verificaram que, para as condições das regiões Norte e Noroeste do Estado do
Rio de Janeiro (temperatura de 22ºC e 5,9 horas de insolação por dia), o capim-elefante apresenta uma
resposta viável à irrigação, praticamente eliminando a estacionalidade de produção.
Irrigação em capim-elefante
Produção de MS (kg/ha)
18000
Seca
Chuva
16000
14000
12000
10000
8000
6000
0
40
80
120
Lâmina de água (% de evaporação)
Figura 4. Efeito da irrigação, durante os períodos seco e chuvoso, sobre a produção de matéria seca do
capim-elefante (média de três cultivares) em Campos dos Goytacazes-RJ. (Adaptado de
MALDONADO et al., 1997).
Na região Nordeste, devido às condições de temperatura e luminosidade elevadas durante
praticamente todo o ano, as expectativas são de que se consiga os resultados mais expressivos, em
termos de resposta em produtividade das forrageiras tropicais à irrigação, à semelhança do que vem
ocorrendo com a fruticultura irrigada nesta região. Entretanto, também são poucos os trabalhos
encontrados na literatura avaliando o efeito da irrigação de pastagens nesta região.
No Piauí, LEAL et al. (1996) avaliaram o desempenho de vacas leiteiras em pastagem irrigada
durante a época seca. As pastagens (capim-elefante, P. maximum BRA 8761 e BRA 8826) foram
adubadas e irrigadas por aspersão, e utilizadas com taxa de lotação de 4 ou 5 vacas por hectare, em
pastejo rotacionado. A produção média de leite neste período variou de 12,4 a 14,1 kg/vaca.dia. De
14
acordo com os autores, estas médias são consideradas elevadas por se tratar de produção
exclusivamente a pasto.
Especificamente para a produção de bovinos de corte, segundo apurou a reportagem da revista
DBO Rural (YASSU et al., 1998) junto a vários produtores e técnicos que estão utilizando a técnica,
os resultados têm sido muito animadores. São relatados ganhos de peso em torno de 1,0 kg/animal.dia,
taxas de lotação variando de 4 a 9 UA/ha, custo por arroba produzida em torno de R$ 15,00 e
lucratividade na faixa de R$ 300,00 a R$ 750,00 por hectare ao ano.
Com relação à estacionalidade de produção das forrageiras, os resultados apresentados
indicam que a irrigação não tem conseguido equilibrar as produções de inverno e verão. Entretanto, as
taxas de lotação que vêm sendo mantidas durante o inverno são muito expressivas. Segundo informou
o professor Moacyr Corsi em entrevista à DBO rural (YASSU et al., 1998), numa propriedade por ele
assistida em Penápolis, SP, tem sido possível manter uma lotação de 7,0 UA/ha nas águas e de 3,5 a
4,0 UA/ha na “seca”, o que significa uma redução de 50% na capacidade de suporte da pastagem,
durante o “período seco”. Já em outra propriedade que vem sendo acompanhada pelo mesmo professor
em Mutunópolis, no norte de Goiás, a lotação nas águas tem oscilado de 6,0 a 9,0 UA/ha e, no
“período seco”, de 4,2 a 6,3 UA/ha (70% das águas).
VILELA (1999) apresentou resultados do desempenho de bovinos de corte, nas atividades de
engorda e recria-engorda, em pastagens de capim-mombaça irrigadas por pivô central na Fazenda
Jamaica, em Maurilândia-GO (Quadro 9). Para ambas as categorias, foram obtidos elevados ganhos de
peso vivo, superiores a 1,1 kg/animal.dia, na média dos períodos avaliados.
Quadro 9. Desempenho de bovinos de corte (média de vários lotes), nas atividades de engorda e
recria-engorda, em pastagem irrigada por pivô central na Fazenda Jamaica, MaurilândiaGO.
Tipo de Animal
Peso vivo (kg)
Entrada
Abate
Período
(dias)
GPV/animal
no período
(kg)
GPV/animal
diário
(kg)
Normal*
350,8
469,9
102
119,1
1,175
Nelore
197,5
470,7
234
269,5
1,148
Nelore-Simental
230,0
474,2
200
244,2
1,218
*O autor não especifica o que vem a ser o animal “normal”.
GPV – ganho de peso vivo.
Fonte: Adaptado de VILELA (1999).
G.C. CARDOSO (dados não publicados) vem obtendo excelentes resultados com a engorda de
novilhos em pastagem irrigada por pivô central, na Fazenda Salvaterra-2 no município de João
Pinheiro, região dos Cerrados de Minas Gerais. No período de dezembro de 1998 a março de 1999
foram engordados, simultaneamente, dois lotes de 300 animais cada, numa pastagem irrigada de 75 ha,
15
resultando numa taxa de lotação média no período de 7,7 UA/ha. A Figura 5 apresenta a evolução do
peso vivo dos animais. O ganho médio de peso vivo no período foi de 1,01 e 0,94 kg/animal.dia (para
os dois lotes, respectivamente), sendo que houve uma tendência de diminuição do ganho com o
avançar do período de engorda (Figura 6), fato este que reflete o ganho compensatório inicial e a
diminuição da velocidade de ganho quando os animais atingem um peso vivo de 450 kg,
aproximadamente.
Peso Vivo (kg/animal)
Engorda em Pastagem Irrigada
500
450
400
350
300
Lote I
Lote E
0
33
67
101
377,70
385,37
415,74
417,23
450,54
454,25
480,24
480,24
Dias de engorda
Figura 5. Evolução do peso vivo de novilhos terminados em pastagem irrigada por pivô central, de
dezembro/98 a março/99, em João Pinheiro-MG (G.C. CARDOSO, dados inéditos).
GPV (kg/animal/dia)
Ganho de Peso em Pastagem Irrigada
1,20
1,10
1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
média = 1,01
média = 0,94
0-33
33-67
67-101
Lote I
1,15
1,02
0,87
Lote E
0,97
1,09
Dias de engorda
0,76
Figura 6. Ganho de peso vivo de novilhos terminados em pastagem irrigada por pivô central, de
dezembro/98 a março/99, em João Pinheiro-MG (G.C. CARDOSO, dados inéditos).
16
Num segundo ciclo de engorda, no período de março a maio de 1999, foram utilizados dois
lotes de 250 animais cada, resultando numa taxa de lotação média no período de 6,5 UA/ha. Segundo
G.C. CARDOSO (informação pessoal), a redução na TL se deveu à expectativa de redução da taxa de
crescimento das forrageiras em função do abaixamento esperado da temperatura ambiente. A Figura 7
apresenta a evolução do peso vivo dos animais. O ganho médio de peso vivo no período (Figura 8) foi
de 0,97 e 1,08 kg/animal.dia (para os dois lotes, respectivamente), sendo que houve a mesma
tendência de diminuição do ganho, com o avançar do período de engorda, observada no ciclo anterior.
Peso Vivo (kg/animal)
Engorda em Pastagem Irrigada
500
450
400
350
300
Lote I
Lote E
0
34
68
402,84
398,89
437,84
440,80
469,13
472,45
Dias de engorda
Figura 7. Evolução do peso vivo de novilhos terminados em pastagem irrigada por pivô central, de
março a maio de 1999, em João Pinheiro-MG (G.C. CARDOSO, dados inéditos).
GPV (kg/animal/dia)
Ganho de Peso em Pastagem Irrigada
1,30
1,20
1,10
média = 0,97
média = 1,08
1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
Lote I
Lote E
0-34
34-68
1,06
1,23
0,92
0,93
Dias de engorda
Figura 8. Ganho de peso vivo de novilhos terminados em pastagem irrigada por pivô central, de
dezembro/98 a março/99, em João Pinheiro-MG (G.C. CARDOSO, dados inéditos).
17
O ganho de peso vivo por área, considerando os dois ciclos de engorda que totalizaram 169
dias, foi de 1.255,0 kg/ha, o que equivale a um ganho de peso vivo de 2.710,0 kg/ha.ano. Estes
resultados são muito expressivos, pois os animais receberam apenas de 150 a 200 gramas, diariamente,
de uma mistura múltipla comercial.
A título de comparação, numa pastagem de sequeiro utilizada com lotação média anual de 1,0
UA/ha e possibilitando um ganho de peso vivo médio de 400 g/UA.dia – situação facilmente
encontrada na nossa pecuária – teríamos um ganho de peso vivo de 146 kg/ha.ano, valor que
representa apenas 5% do obtido na pastagem irrigada.
Estes dados mostram claramente a potencialidade da técnica de irrigação de pastagens para
produção de bovinos de corte no nosso país.
De acordo com reportagem da revista DBO Rural (YASSU et al., 1998), com diversos
produtores e técnicos que estão utilizando a técnica de irrigação de pastagens, algumas vantagens
desta técnica podem ser enumeradas:
a) Permite aumento da capacidade e da escala de produção da propriedade, sem a necessidade de
aumento da área;
b) Possibilita a venda de bois gordos durante o ano inteiro;
c) Substitui o confinamento, com a vantagem do menor custo por arroba produzida;
d) Aceleração do ciclo de produção como um todo; e,
e) Ganho de mercado através da venda de animais precoces para o abate, e também do fato destes
animais serem produzidos inteiramente a pasto (“boi verde”); entre outras.
3.4. Requerimentos da técnica
A seguir serão enumerados alguns requerimentos básicos para a adoção da técnica de irrigação de
pastagens por pivô central, com vistas à produção de bovinos de corte.
A irrigação de pastagens com pivô central trata-se de uma técnica que necessita de um elevado
investimento inicial. De acordo com informações levantadas por YASSU et al. (1998), com
diversos pecuaristas envolvidos na atividade, as estimativas de investimento inicial variam de US$
1.500,00 a US$ 2.000,00 por hectare (valores de 1998, antes da desvalorização cambial). Estas
estimativas se baseiam na implantação de um módulo básico com aproximadamente 100 ha. No
Quadro 10 é apresentada uma memória de cálculo do investimento necessário para a implantação
de um módulo de 106 ha de pastagem irrigada por pivô central, na região Centro-Oeste. Verificase que a aquisição dos equipamentos é o item que mais pesa no cálculo, sendo responsável por
mais de 60% do valor total do investimento. Nota-se, também, que os gastos com a formação da
pastagem representam apenas 20% do investimento total, e que boa parte destes gastos se destina à
correção da fertilidade do solo.
18
Quadro 10. Investimento para implantação de 106 ha de pastagem irrigada na fazenda Cibrapa em
Barra do Garças, MT.
Discriminação
Valor (R$)
(%)
Instalação do Pivô Central (106 ha)
Aquisição de equipamentos
Complemento de equipamentos
Base do pivô
Captação de água
Muro de arrimo
Canal
Casa da bomba
Retroescavadeira (20,3 h)
Alambrado casa de bomba
Instalação elétrica
Bebedouro (37 mil litros)
126.500,00
400,00
2.100,00
2.000,00
2.800,00
3.300,00
3.200,00
609,00
2.500,00
16.000,00
2.600,00
62,2
0,2
1,0
1,0
1,4
1,6
1,6
0,3
1,2
7,9
1,3
Subtotal
162.009,00
79,7
6.148,00
1.625,00
1.219,00
1.219,00
4.580,00
9.243,00
8.480,00
2.784,00
3.180,00
2.738,00
3,0
0,8
0,6
0,6
2,3
4,5
4,2
1,4
1,6
1,3
41.216,00
20,3
203.225,00
100,0
Formação da pastagem
Gradeação pesada
Gradeação niveladora
Semeadura
Calagem
Calcário (1,8 t/ha)
Superfosfato simples (400 kg/ha)
Fertilizante 20-00-20 (250 kg/ha)
Uréia (70 kg/ha)
Sementes de mombaça
Cerca elétrica
Subtotal
Total
Fonte: Boviplan citado por YASSU et al. (1998).
Outro requerimento imprescindível para a produção de bovinos de corte em pastagem irrigada é a
adoção do pastejo rotacionado. Algumas das razões para esta recomendação, são:
•
a maioria das gramíneas de elevado potencial de produção de MS, e portanto recomendadas
para este tipo de exploração, possuem o hábito de crescimento cespitoso. Para gramíneas com
esta característica, o pastejo rotacionado é o mais indicado;
•
neste sistema, com a otimização da produção da forrageira para determinado local, como
conseqüência do adequado fornecimento dos fatores água e nutrientes, torna-se necessário,
para a sua viabilização econômica, que essa forragem produzida seja eficientemente
transformada em produto animal. Assim, o pastejo rotacionado deve ser o preferido por
proporcionar uma utilização mais eficiente da forragem produzida;
19
•
o pastejo rotacionado também permite maior controle sobre o estágio de maturidade das
plantas forrageiras, fator este de grande influência sobre o valor nutritivo da forragem em
oferta na pastagem;
•
outros fatores importantes são: melhor controle do resíduo pós-pastejo, melhor uniformidade
de pastejo, maior facilidade para ajuste da pressão de pastejo ou da taxa de lotação, melhor
distribuição de excrementos pelos animais e etc.
Não é uma técnica adequada a qualquer local. Como já foi discutido anteriormente, existem
requerimentos básicos quanto às condições climáticas do local e, também, quanto à
disponibilidade de água e energia elétrica para tocar o conjunto de irrigação. O uso do pivô central
também exige um terreno com topografia plana ou, no máximo, com uma suave inclinação.
A produção de bovinos de corte em pastagem irrigada, como em todas as formas de exploração
intensiva de pastagens, requer a utilização de espécies forrageiras com elevado potencial de
produção e qualidade. Para as nossas condições, atualmente, destacam-se as seguintes gramíneas:
capim-elefante, Brachiaria brizantha cv. Marandu, e os capins do gênero Panicum (notadamente
as cultivares Tanzânia e Mombaça) e Cynodon (coast-cross e Tifton 85).
Com a irrigação, torna-se imperiosa a realização de uma adubação correta e equilibrada, para
que se possa explorar todo o potencial de produção das gramíneas utilizadas. Também, como
mostraram ALVIM et al. (1996), a adubação nitrogenada melhora a distribuição da produção de
forragem durante o ano. Estes autores verificaram que a produção de MS do coast-cross, no
período seco (irrigado), aumentou de 28% (quando não foi adubado) para 36 a 41% da produção
anual (quando recebeu de 250 a 750 kg/ha de N).
Outro importante requerimento deste tipo de exploração é quanto ao tipo de animal a ser
explorado. Como se trata de uma técnica em que os custos de produção são elevados, existe a
necessidade da utilização de animais com elevado potencial para aproveitamento da elevada
produção de forragem de boa qualidade. Não é, portanto, uma técnica indicada para as atividades
de cria nem para a recria ou terminação de animais com baixo ou médio potencial. De preferência
devem ser utilizados animais cruzados, nas atividades de recria e, ou, terminação.
Alguns técnicos e pecuaristas que estão utilizando a tecnologia têm relatado que existe uma certa
dificuldade para o acabamento dos animais neste sistema, devido a um desequilíbrio energéticoprotéico na forragem em oferta, e que seria recomendável a utilização de um suplemento
energético para corrigir este problema. Entretanto, o professor Moacyr Corsi, em entrevista à
revista DBO Rural (YASSU et al., 1998), não vê qualquer dificuldade quanto ao acabamento de
20
gordura desejado. Ele comenta que “um animal que engorda 1,1-1,2 kg/dia não tem falta de nada
na dieta”. Segundo o professor, o que acontece é que “os animais na fase de recria (mais jovens)
são mais eficientes em transformar pasto em carne do que os bois (mais erados), que metabolizam
o pasto em gordura”.
O uso do pivô para irrigação de pastagens só se justifica quando o conjunto da propriedade já
atingiu um bom nível de manejo e tenha condições para responder aos benefícios da irrigação.
De acordo com o agrônomo Armélio Martins Rodrigues (YASSU et al., 1998), devido à
aceleração do ciclo produtivo, existe a necessidade de um esquema eficiente de produção e, ou,
compra de animais para “abastecer” a pastagem sob o pivô. Por exemplo, numa área de 100 ha de
pastagem irrigada utilizada para a atividade de engorda, seria possível a realização de três ciclos
de engorda de 120 dias durante o ano. Considerando uma lotação média anual de 6 UA/ha, com os
bois entrando no sistema com 350 kg e sendo enviados para o abate com aproximadamente 460 kg
de peso vivo (ganho médio de peso vivo no período de 900 g/animal.dia), seria possível engordar
667 bois por ciclo, ou 2.000 bois por ano.
Nas localidades onde não for possível eliminar totalmente a estacionalidade de produção das
forrageiras, deve-se planejar antecipadamente o ajuste da lotação animal na época de menor
crescimento do pasto. Para isto, algumas alternativas podem ser utilizadas:
•
ter pastagens de sequeiro reservadas para receber os animais excedentes do pivô, durante o
período em que a capacidade de suporte da pastagem estiver menor (alternativa mais adequada
quando se realiza a atividade de recria-engorda);
•
programar a retirada dos lotes nos períodos de mudança da capacidade de suporte da pastagem
irrigada, de modo a entrar com um novo lote ajustado à capacidade futura (alternativa mais
adequada quando se realiza a atividade de recria ou de engorda).
Há, também, a necessidade de uso de mão-de-obra especializada para a operacionalização das
diversas atividades envolvidas no sistema. Dentre estas atividades, destacam-se a adubação, o
correto ajuste da lotação animal em função da disponibilidade de forragem (menos variável neste
sistema), controle da irrigação, e etc.
21
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido às suas dimensões continentais, o Brasil apresenta regiões muito diferenciadas quanto
aos fatores climáticos responsáveis pela estacionalidade de produção das forrageiras e, também,
quanto à intensidade desta – diferença entre as produções das épocas mais e menos favoráveis. O mais
correto, para fins de irrigação de pastagens, é analisar os dados climáticos do local, principalmente o
comportamento das temperaturas mínimas durante o ano, para verificar que tipo de resposta se pode
esperar com o advento da irrigação, tanto em termos de aumento de produção quanto em termos da
resolução do problema da estacionalidade.
Tendo em vista os expressivos resultados econômicos e de desempenho animal que vêm sendo
obtidos pelos pecuaristas que estão utilizando a técnica, pode-se afirmar que a irrigação de pastagens
com pivô central é uma tecnologia que apresenta grande potencialidade e que, cada vez mais, irá
contribuir para o desenvolvimento da nossa pecuária de corte. Entretanto, deve-se considerar que não
se trata de uma técnica adequada para qualquer local ou situação. A sua adoção exige uma série de
requerimentos básicos que, se não forem observados, certamente tornarão a atividade inviável
economicamente. Também, por se tratar de uma técnica que começou a ser desenvolvida sem o
alicerce da pesquisa – segundo o professor Moacyr Corsi (VILLELA, 1999) ela vem sendo
aperfeiçoada pelos produtores através de tentativas (erros e acertos) – , ainda existem muitas lacunas a
serem preenchidas pela pesquisa.
22
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVIM, M.J.; BOTREL, M.A.; MARTINS, C.A.; CÓSER, A.C.; PACIOLO, D.S.C. Efeito da
frequência de cortes e do nível de nitrogênio sobre a produção de matéria seca e teor de proteína
bruta do “coast-cross”. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 33., 1996, Fortaleza – CE. Anais... Fortaleza: SBZ, 1996, v.1, p. 421-422.
ALVIM, M.J.; VILELA, D.; LOPES, R.S. Efeito de dois níveis de concentrado sobre a produção de
leite de vacas da raça holandesa em pastagem de “coast-cross” (Cynodon dactylon (L.) Pers.). R.
Bras. Zootec., 26(5): 967-975, 1997.
ANDRADE, J.M.S. Efeito das adubações química e orgânica e da irrigação sobre a produção e o
valor nutritivo do capim-elefante “Mineiro” em latossolo roxo distrófico do município de
Ituiutaba, MG. Viçosa: UFV, 1972. 42p. Tese de Mestrado. Universidade Federal de Viçosa,
1972.
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BRASIL. Normais climatológicas: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Guanabara. Rio de
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BRASIL. Normais climatológicas: Mato Grosso e Goiás. Rio de Janeiro, v.5, 35p., 1969c.
CARVALHO, S.R.; SILVA, A.T.; COSTA, F.A.; SOUTO, S.M.; LUCAS, E.D. Influência da
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