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Palavra Digital MBA em Gestão de Pessoas Disciplina Estratégica Executiva Coordenação do Curso Leonardo Augusto Amaral Terra Autor Leonardo Augusto Amaral Terra 2 Chanceler Ana Maria Costa de Sousa Coordenador Geral de Pós-Graduação Mario Luiz Nunes Alves Reitor Guilherme Marback Neto Coordenadora Geral de Pós-Graduação EAD Claudia Regina Benedetti Vice-Reitor Leocádia Agláe Petry Leme Coordenadora Geral de Extensão Joise Sartorelli Melare Pró-Reitor Administrativo Antonio Fonseca de Carvalho Diretor da Anhanguera Publicações Luiz Renato Ribeiro Ferreira Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto Eduardo de Oliveira Elias Núcleo de Produção de Conteúdo e Inovações Tecnológicas Diretora Carina Maria Terra Alves Pró-Reitor de Graduação Leocádia Agláe Petry Leme Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Eduardo de Oliveira Elias Diretoria de Pós-Graudação e Extensão Diretor Silvio José Cecchi Gerentes de Pós-Graduação Vanessa Fabíola Nogueira Pancioni Patrícia Paiva Gerente de Produção Rodolfo Pinelli Coordenadora de Processos Acadêmicos Juliana Alves Coordenadora de Ambiente Virtual Lusana Verissimo Coordenador de Operação Marcio Olivério Como citar esse documento: TERRA, Leonardo Augusto Amaral, Estratégia Executiva. Valinhos, p. 1-74, 2012. Disponível em: <http://anhanguera.com>. Acesso em: 1 fev. 2012. © 2012 Anhanguera Publicações Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Diagramado no Brasil 2012 3 LEGENDA DE ÍCONES Início Links Importantes Vídeos Importantes Pontuando Referências Vamos Pensar 4 ROTEIRO DE ESTUDOS DA DISCIPLINA Estratégia Executiva Leonardo Augusto Amaral Terra Caro (a) aluno (a), Eu sou o professor Ms. Leonardo Augusto Amaral Terra. Sou bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, com MBA Executivo em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas e Mestrado em Ciências no programa de Administração de Organizações pela Universidade de São Paulo. Atualmente, sou Doutorando do programa de Administração de Organizações da Universidade de São Paulo e atuo como consultor da Shield – Assessoria empresarial, nas áreas de desenvolvimento organizacional, administração estratégica, gerenciamento de projetos, negociação e enfoque sistêmico na administração. Apresento neste Roteiro o delineamento de nossa disciplina, desde a Aula 1 até a Aula 4. É muito importante que você siga os passos indicados, no sentido de garantir o melhor aproveitamento do conteúdo da disciplina. Lembre-se que a Educação a Distância prevê a sua autonomia e dedicação ao autoestudo. Atenciosamente, Prof. Ms. Leonardo Augusto Amaral Terra. 5 AULA 1 – ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: CONCEITOS Conteúdo: Definições do termo estratégia e o estudo do processo estratégico nas organizações. Objetivos: Nossa primeira aula tem como objetivo apresentá-lo ao universo da estratégia, suas principais definições e linhas de pensamento. Ao final dela esperamos que você seja capaz de produzir uma articulação com viés prático, sobre como a estratégia se desenvolve dentro das organizações. Descrição das Atividades referentes à Aula 1: 01) Verifique a Leitura Fundamental. 02) Leia e/ou imprima os slides da aula 1, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Anote suas principais dúvidas. 03) Faça uma síntese do material lido, para que possa sistematizar sua análise e compreensão do conteúdo. 04) Faça a Verificação de Leitura e tire suas dúvidas com o Tutor. 05) Saiba Mais: Além da Leitura Fundamental, há indicação de alguns materiais de aprofundamento, dentre eles, destaca-se: MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN, J. B.; GHOSHAL, S. (Ed.). O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. Porto Alegre: Bookman, 2006. 06) Participe do Fórum e esclareça suas dúvidas 07) Acesse o link Mensagens: por meio desse link você pode enviar suas dúvidas diretamente ao Tutor. 6 AULA 2 – CONCEITOS, ADMINISTRAÇÃO DIRETRIZES ESTRATÉGICA: ESTRATÉGICAS E ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO. Conteúdo: Conceitos da administração estratégica, diretrizes estratégicas e análise do ambiente externo. Objetivos: Ao final desta aula você deverá ter aprendido os passos que formam a administração estratégica, a estrutura formal do plano, como construir as diretrizes estratégicas e, por fim, como realizar as análises do ambiente externo à organização. Descrição das Atividades referentes à Aula 2: 01) Verifique a Leitura Fundamental. Recomendo uma atenção especial à Matriz BCG e às estratégias que ela oferece para o portfólio de produtos da organização. 02) Leia e/ou imprima os slides da aula 1, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Anote suas principais dúvidas. 03) Faça uma síntese do material lido, para que possa sistematizar sua análise e compreensão do conteúdo. 04) Faça a Verificação de Leitura e tire suas dúvidas com o Tutor. 05) Saiba Mais: Além da Leitura Fundamental, há indicação de alguns materiais de aprofundamento, dentre eles, destaca-se: WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. Tradução de RIMOLI, C. A.; ESTEVES, L. R. São Paulo: Atlas, 2007. 06) Participe do Fórum e esclareça suas dúvidas 07) Acesse o link Mensagens: por meio desse link você pode enviar suas dúvidas diretamente ao Tutor. 7 AULA 3 – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA: ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO E FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS Conteúdo: Análise do ambiente interno e formulação de estratégias. Objetivos: Ao final desta aula você deverá conhecer metodologias que lhe permitam entender as forças e as fraquezas da organização, e desenvolver objetivos que lhe permitam lidar com as ameaças e oportunidades oferecidas pelo ambiente externo. Descrição das Atividades referentes à Aula 1: 01) Verifique a Leitura Fundamental. Recomendo especial atenção aos capítulos que tratam dos fatores críticos de sucesso e a análise S.W.O.T.. 02) Leia e/ou imprima os slides da aula 1, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Anote suas principais dúvidas. 03) Faça uma síntese do material lido, para que possa sistematizar sua análise e compreensão do conteúdo. 04) Faça a Verificação de Leitura e tire suas dúvidas com o Tutor. 05) Saiba Mais: Além da Leitura Fundamental, há indicação de alguns materiais de aprofundamento, dentre eles, destaca-se: NEVES, M. F. Planejamento e gestão estratégica de marketing. São Paulo: Atlas, 2005. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Tradução de PINHO, E. M. D. Rio de Janeiro: Campus, 1990. 06) Participe do Fórum e esclareça suas dúvidas 8 07) Acesse o link Mensagens: por meio desse link você pode enviar suas dúvidas diretamente ao Tutor. AULA 4 – IMPLEMENTAÇÃO E CONTROLE DE ESTRATÉGIAS Conteúdo: Elaboração do plano de ação Balanced Scorecard, aspectos a serem considerados na implementação e controle das estratégias e metodologias destinadas à execução de estratégias. Objetivos: Ao final desta aula você deverá conhecer metodologias que lhe permitam implementar as estratégias com maior índice de sucesso, e sistemas de controle que permitam quantificar o sucesso desta implementação. Descrição das Atividades referentes à Aula 1: 01) Verifique a Leitura Fundamental. Recomendo que dê especial atenção aos capítulos que tratam dos balanced scorecard e das quatro disciplinas da execução da Franklin Covey. 02) Leia e/ou imprima os slides da aula 1, disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Anote suas principais dúvidas. 03) Faça uma síntese do material lido, para que possa sistematizar sua análise e compreensão do conteúdo. 04) Faça a Verificação de Leitura e tire suas dúvidas com o Tutor. 05) Saiba Mais: Além da Leitura Fundamental, há indicação de alguns materiais de aprofundamento, dentre eles, destaca-se: KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de FRAZÃO FILHO, L. E. T. 13. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. COVEY, S. 4 Disciplines of Execution: Getting Strategy Done. Simon & Schuster, Limited, 2012. 9 06) Participe do Fórum e esclareça suas dúvidas 07) Acesse o link Mensagens: por meio desse link você pode enviar suas dúvidas diretamente ao Tutor. 10 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro aluno, estamos dando início à disciplina de Estratégia Executiva, onde trataremos das atividades de planejamento, implementação e controle de estratégias. Estas atividades, que Ansoff, Declerck e Hayes (1981) denominaram de Administração Estratégica, são consideradas vitais para a competitividade nas organizações contemporâneas e se constituem em uma das principais áreas de interesse da Administração. No decorrer de nossa primeira aula trataremos de conceitos importantes acerca do que é estratégia, quais as principais escolas de pensamento sobre o tema e como estas visões se organizam em um processo único, de formulação, implementação, controle e emergência de estratégias nas organizações. Apesar de se tratar de uma aula com maior carga conceitual, o domínio destes conceitos possui importância prática vital no dia a dia dos gestores estratégicos. Em nossa segunda aula iremos aprender os passos da administração estratégica, os conceitos e as ferramentas de formulação relacionados às diretrizes organizacionais e os passos para entender e analisar o ambiente externo. Na terceira aula iremos trabalhar com o processo de auditorias internas e, finalmente, vamos finalizar o nosso relatório, com a formulação dos objetivos e estratégias da organização. Nesta etapa da disciplina serão tratados importantes instrumentos para análise do ambiente interno e técnicas de formulação que auxiliam a identificar uma boa estratégia. Por fim, a nossa última aula será dedicada aos processos de implementação e controle de estratégias. Esta etapa do processo de administração estratégica tem especial importância no mundo contemporâneo, já que muitas das falhas que levam a não realização das estratégias vêm de problemas nestas fases do processo estratégico. Agora que vocês já sabem o que discutiremos no decorrer destas próximas semanas, vamos começar? AULA 1 – ESTRATÉGIA: CONCEITOS OBJETIVOS Esta primeira aula tem como objetivo apresentá-lo ao universo da estratégia, suas principais definições e linhas de pensamento. Ao final dela, esperamos que você seja capaz de produzir uma articulação com viés prático sobre como a estratégia se desenvolve dentro das organizações. 1. INTRODUÇÃO Você já parou para pensar no que é estratégia? Antes de começarmos é importante conhecermos as origens e o significado deste termo, que deverá ser a base de nossos estudos a partir de agora. 11 A palavra estratégia vem da palavra grega strategos, cujo significado se referia ao papel de um general no comando de seu exército (GHEMAWAT, 2000; QUINN, 2003). Com o passar do tempo, os povos da antiguidade relacionaram o termo estratégia com um conjunto de artimanhas para subjugar os adversários, através do domínio sobre os cenários e os componentes do exército. (TZU, 1983; GHEMAWAT, 2000; QUINN, 2003). “O conceito de estratégia, a princípio utilizado apenas por organizações militares, foi posteriormente apropriado pelo ambiente de negócios [...]” (LOBATO et al., 2007, p. 15). Após a segunda guerra mundial, as abordagens militares desenvolvidas neste período e a análise de cenários externos foram amplamente incorporadas ao universo dos negócios (ANSOFF; HAYES, 1981; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; HUNGER; WHEELEN, 2002; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Com os avanços no conhecimento da área, aquilo que denominamos de problema estratégico ganhou três dimensões, que representam seus aspectos principais: os problemas internos e externos da organização, os processos utilizados para solucionar estes problemas e as variáveis que os compõem. Quando consolidamos estas dimensões em um processo formal de planejamento, implementação e controle, chegamos ao que é denominado hoje de “Administração Estratégica” (ANSOFF; HAYES, 1981; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; HUNGER; WHEELEN, 2002; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Diante desta amplitude mostrada pelo problema estratégico, Lobato et al. (2007), Ghemawat (2000), Mintzberg (1987b) e Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) identificaram que o desenvolvimento do pensamento da área foi muito além dos conceitos surgidos a partir das abordagens militares. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) nos lembram que, durante as décadas que se seguiram, o que pudemos observar foi o surgimento de uma multiplicidade de pontos de vistas a respeito do que é a estratégia. Diversos autores se aprofundaram sobre aspectos diferentes do tema e nos mostraram particularidades importantes de fragmentos do problema. Contudo, Bethlem (2001, p. 18) nos lembra que isso levou a área a uma situação onde encontramos “[...] dezenas de definições para os conceitos principais e vários conceitos, introduzidos nos anos recentes, como visão estratégica, pensamento estratégico, estratégia emergente etc., sobre os quais há discordâncias.” Isso criou sérios problemas para definirmos o sentido que a estratégia tem para o mundo dos negócios e o alcance da mesma dentro das organizações. Por isso, antes de entrarmos no mundo do planejamento estratégico, é importante que nos dediquemos a refletir sobre o que é estratégia, seus principais conceitos e suas principais áreas de concordância. 2. O QUE É ESTRATÉGIA? Até hoje, o que podemos observar é que aquela ideia militar de estratégia, tida como um plano para subjugar os concorrentes ou tomar uma determinada posição, ainda predomina na visão do empresariado moderno. Contudo, Minzberg (2003b) nos lembra de outros significados que o termo tem adquirido nas últimas décadas, que amplificam o campo da estratégia e nos ajudam a coordenar melhor os esforços de administração 12 em nossas organizações. De acordo com os levantamentos feitos pelo autor, nós temos cinco definições elementares a respeito do que é estratégia. O termo pode ser visto como: um plano; um padrão; um estratagema; uma posição ou uma perspectiva. Na visão que trata a estratégia como um plano, devemos vê-la como um programa ou um mapa, capaz de guiar a organização de um estado inicial até um determinado objetivo, por meio de uma rota estável e capaz de gerar vantagem competitiva para a mesma – ver figura 1. (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; HUNGER; WHEELEN, 2002) Como podemos perceber neste caso, a visão de estratégia como um plano tem um enfoque no futuro, já que visa projetar o destino da organização. Figura 1 – Estratégia planejada. Fonte: Elaborada pelo autor. Quando adotamos este enfoque da estratégia planejada em busca de um futuro, encontramos certas dificuldades. Para projetarmos o destino de uma organização temos que conseguir prever, com razoável precisão, o futuro do ambiente externo e suas possibilidades de interação com a organização. (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). Como isso é uma atividade muito difícil e, por vezes, impossível, Valle et al. (2007), e Wright, Kroll e Parnell (2007), nos apontam para a importância de que o planejamento estratégico seja constantemente monitorado e controlado para permanecer aderente ao ambiente. Outro aspecto importante desta visão é que ela faz uma clara distinção entre a concepção e a implementação das estratégias. É desta perspectiva que emerge a clássica divisão da organização nos níveis estratégico, tático e operacional. Enquanto o nível estratégico tem a função de definir os rumos da organização, o nível tático tem a função de definir como o nível operacional deverá realizar os objetivos propostos pelo nível estratégico (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). A nossa segunda visão sobre o tema é mais moderna e, de certa forma, abrange a primeira definição. A ideia de estratégia como um Padrão teve suas origens nos trabalhos de Mintzberg (1987a, 2003a). Em sua obra o autor afirma que a estratégia trata-se de “[...] consistência no comportamento ao longo do tempo.” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998, p. 9) Portanto, quando pensamos na estratégia como padrão, 13 pensamos naquilo que foi previamente realizado pela organização. Assim, podemos dizer que a estratégia pode vir tanto de um plano que teve sucesso ao ser implementado, como da emergência de comportamentos vindos das operações de dia a dia das organizações. Este conceito de estratégia emergente é o que nos proporciona as particularidades importantes desta definição. Nas estratégias emergentes “[...] os agentes agiriam improvisando em função das circunstâncias.” (MINTZBERG, 1987a; BETHLEM, 2001, p. 19) Com o passar do tempo estas “[...] ações simplesmente se convertem em padrões [...]” de comportamento (MINTZBERG, 2003a, p. 69). Padrões que se configuram como uma espécie de aprendizado reativo da organização frente às adversidades e exigências encontradas pelos colaboradores em atividades de rotina. LINK A estratégia emergente é um importante conceito na administração contemporânea e sua mobilização representa um grande desafio para as organizações contemporâneas. Clique aqui para saber mais sobre como mobilizar as estratégias emergentes: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902003000200006&script=sci_arttext Portanto, podemos perceber que a estratégia vista como um padrão reúne aquilo que foi realizado da estratégia planejada e aquilo que se realizou a partir do aprendizado vindo das operações cotidianas. A figura 2 ilustra esta dinâmica que forma o padrão de comportamento realizado pelas organizações. Figura 2 – Dinâmica que origina as estratégias realizadas pela organização. Fonte: Mintzberg (2003b, p. 14). 14 O aspecto mais importante que vemos nesta dinâmica é que quando pensamos em estratégias puramente deliberadas em nossa organização, estamos em uma condição onde temos aprendizado zero, enquanto ao buscarmos estratégias puramente emergentes temos controle zero sobre nossas operações de rotina – ver figura 3. Por isso que tendemos a encontrar nas organizações uma estratégia realizada, composta tanto pelo E ME R G E NT E E S T R AT É G IA P L A NE J A DA C ONT R OL E A P R E NDIZA DO que emerge como pelo que é planejado (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). Figura 3 – Estratégia como padrão e as implicações de seus extremos polares. Fonte: Elaborada pelo autor. Diante desta perspectiva, nossa responsabilidade como estrategistas passa por entender que a realização integral de nossos planos pode não ser possível. O nosso papel será o de balancear adequadamente o aprendizado e o planejamento dentro das organizações. Em alguns momentos precisaremos pensar o futuro da organização, enquanto em outros teremos o papel de formalizar o aprendizado que emergiu das atividades do dia a dia. A nossa terceira definição remete aos conceitos militares do termo. No mundo das organizações a estratégia vista como um estratagema se assemelha à ideia da estratégia como um plano, mas ao invés de focarmos este plano em direcionar a empresa para um determinado futuro, nós nos concentramos em esquematizar sinais que possam enganar os concorrentes. GLOSSÁRIO Estratagema: No linguajar militar significa um ardil para enganar o inimigo. Fonte: Michaelis - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Além da primeira dicotomia entre planejamento e emergência estratégica, que encontramos na visão de estratégia como um padrão, o termo também possui duas visões relativas ao enfoque daquilo que define a organização frente ao meio. O primeiro enfoque que trataremos é aquele que enxerga a estratégia como posição. Esta concepção tem como referência a ideia da estratégia como um plano e foi proposta no livro Competitive Strategy de Michael Porter. 15 Na percepção de Porter (1999) o enfoque da estratégia está em, deliberadamente, fortificar uma posição única de mercado, com base em três estratégias genéricas propostas pelo autor (PORTER, 1990, 1999). Quando tratamos a estratégia sob este ponto de vista, temos que “[...] fazer escolhas difíceis em três dimensões: que clientes focalizar, que produtos oferecer e que atividades realizar.” (MARKIDES, 2002, p. 229) Como podemos perceber, esta visão apresenta um claro enfoque externo, já que consiste em fazer escolhas a respeito do mercado em que a empresa se encontra inserida. EUREKA! Estratégias Genéricas: As estratégias genéricas, propostas por Michael Porter, são a liderança em custos, a unicidade percebida pelo cliente – também denominada de diferenciação – e a estratégia de nicho, onde a organização visa oferecer produtos e serviços direcionados a um público específico. Apesar do enfoque no mercado ter se tornado dominante nos cenários de gestão (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998), os aspectos internos também têm se mostrado fundamentais para a competitividade das organizações. É desta perspectiva, focada na própria organização, que surge o nosso último ponto de vista a respeito da estratégia. Para pensadores de grande renome, como Peter Ferdinand Drucker e Peter M. Senge, o enfoque que devemos dar à estratégia deve se concentrar na perspectiva da organização. Neste contexto, a estratégia diz respeito à maneira com que a organização desenvolve suas atividades e aborda os seus problemas. Uma maneira única que a torna diferente e mais competitiva do que as demais (MINTZBERG, 1987b; DRUCKER, 1998; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; DRUCKER, 1999; SENGE, 2009). Neste momento temos que refletir sobre as possibilidades que estas múltiplas perspectivas nos impõem. Mintzberg (2003b) nos lembra que não há um ponto de vista melhor ou mais eficiente. Para fazermos estratégias precisamos de um balanço harmonioso entre todos estes pontos de vista. Precisamos planejar, produzir aprendizado, formalizar aprendizado, dar sinais que confundam a concorrência; tudo isso, nos preocupando tanto com os aspectos competitivos, impostos pelo mercado, como com a maneira única que nossa organização tem para fazer as coisas. Por isso, é importante para nós, estrategistas, que sempre tenhamos em mente a ideia de que formular estratégias vai além do clássico conceito de planejamento e se constrói por meio de “[...] um processo organizacional, de diversas formas inseparável da estrutura, do comportamento e cultura da empresa em que ocorre.” (ANDREWS, 2003, p. 73) 16 3. O PROCESSO ESTRATÉGICO Como pudemos ver no capítulo anterior, a amplitude das definições sobre o termo estratégia acaba por transformar a ação de fazer estratégias em um grande processo, ligado a todos os níveis e relacionamentos das organizações. Como era de se esperar, ao nos depararmos com a tarefa de articular este amplo procedimento, nos vemos frente a um enorme problema criado pela abrangência do termo. No decorrer dos anos, os autores da área acabaram atacando diversos aspectos específicos do processo estratégico. Tais aspectos foram tratados com significativa profundidade. Os pesquisadores tocaram pontos específicos do mesmo, sem se preocupar com ligação entre estes elementos. Tal abordagem fragmentadora acabou por enfraquecer a estratégia nos cenários de gestão, já que nenhuma destas perspectivas era capaz de abranger o problema com a amplitude necessária para que ele fosse completamente compreendido e, acima de tudo, para que pudéssemos gerenciá-lo (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). Este cenário de profunda fragmentação perdurou até que Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) realizassem um intenso esforço teórico para compilar mais de dois mil trabalhos da área. O trabalho dos autores produziu um esquema articulado do problema estratégico, com base nos muitos estudos já realizados sobre suas partes. Isso nos trouxe uma importante contribuição, pois nos permite entender melhor o que é fazer estratégias e o que se espera do estrategista frente a este enorme processo. Para compreender corretamente o processo estratégico temos que, antes, conhecer suas partes. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) identificaram em seus estudos dez importantes fragmentos do processo, que denominaram de escolas de pensamento estratégico. Cada uma das dez escolas e suas principais características são apresentadas no quadro 1. As três primeiras são denominadas pelos autores de escolas prescritivas, enquanto as sete escolas seguintes foram denominadas de escolas descritivas. Escola Estratégia Processo básico Mudança Agente central Design Perspectiva planejada, única Cerebral, simples, deliberado e informal Ocasional em saltos Executivo Principal Planejamento Planos decompostos Formal, decomposto, deliberado Periódica, incremental Planejadores Posicionamento Posições genéricas planejadas Analítico, deliberado Pequenas e frequentes Analistas Empreendedora Perspectiva pessoal única Visionário, intuitivo e deliberado Oportunista e revolucionária Líder Cognitiva Perspectiva mental Mental, emergente Enfrenta resistência mental Mente do estrategista 17 Contínua, incremental e ocasional em saltos Aqueles dispostos a aprender Aprendizado Padrão, única Emergente, informal, confuso Poder Padrão e posição política Agressivo, emergente e deliberado Pequenas e frequentes Pessoas com poder e organização Cultural Perspectiva coletiva única Ideológico, forçado, coletivo, deliberado Enfrenta resistência ideológica Coletividade Ambiental Posições específicas Passivo, imposto, emergente Raras, em saltos e graduais Ambiente Configuração Posição, perspectiva, plano e padrão Interativo, baseado em todos os anteriores Ocasional, revolucionária e, em alguns casos, incremental Todos os anteriores Quadro 1 – Principais aspectos das dez escolas de pensamento estratégico,. Fonte: Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998, p. 356-357) Nas escolas prescritivas, a preocupação que percebemos nos pesquisadores é a de fornecer fórmulas ou receitas, prontas para lidar com a estratégia nas organizações. Devemos ver os objetivos dos pensadores destas escolas assim como vemos os objetivos de um médico ao receitar um remédio. Eles mapearam problemas e “remédios” para criar prescrições, que servem para lidar com as condições identificadas. Estas escolas assumirão especial importância em nossas aulas que se seguirão, já que são o foco do planejamento estratégico. Nas escolas descritivas o que percebemos como preocupação dos pesquisadores é o detalhamento do como as estratégias ocorrem nas organizações. Nelas, os pesquisadores não se preocuparam com receitas prontas e sim com a compreensão dos processos. São escolas cujo objetivo é nos fornecer subsídios para entender os processos organizacionais e, assim, otimizar nossos processos de tomada de decisão. Mesmo diante das profundas contribuições que vemos em cada uma destas escolas, Mintzberg e Lampel (1999) ressaltam que elas, separadamente, contemplam apenas partes do processo estratégico. Os autores nos apresentam um cenário onde “[...] temos que ir além das limitações de cada escola: precisamos saber como a formação da estratégia, que combina todas essas escolas e mais outros fatores, realmente funciona.” (MINTZBERG; LAMPEL, 1999, p. 29) Para tal, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) e Mintzberg e Lampel (1999) nos propuseram uma imagem integrativa do processo, onde a escola Cognitiva representa a “caixa preta” da formulação da estratégia, e seus princípios são a base de todo o processo de formação das estratégias nas organizações – ver figura 3. 18 Figura 3 – A formação da estratégia como um único processo Fonte: Mintzberg e Lampel (1999, p. 27) A escola do Posicionamento, com suas metodologias de análise ambiental, assume o papel de alimentar a formulação da estratégia com dados históricos, de mercado e sistema de análise formal das informações. As escolas do Planejamento, Design e Empreendedora vão nos ajudar a programar a visão de futuro da organização, cada uma com um alcance específico. A escola do Planejamento nos ensina a olhar para o futuro próximo, a escola do Design nos ensina a construir uma perspectiva de longo prazo e a escola empreendedora nos ajuda a encontrar uma visão única para o futuro da organização (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; MINTZBERG; LAMPEL, 1999). Já as escolas Ambiental e Cultural nos auxiliam a entender como trabalhar nossa cognição para que ela trate, de forma adequada, os aspectos ambientais (internos e externos) e suas implicações para a tomada de decisão. Por outro lado, as escolas do Aprendizado e do Poder nos apresentam os detalhes que afetam diretamente o processo de formação de estratégias e como estes podem auxiliar ou prejudicar a eficiência e a eficácia estratégica da organização. Por fim a escola da configuração é aquela que trata sobre como articular todo o processo tendo por foco a estrutura da organização e aquilo que se encontra fora dela. (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; MINTZBERG; LAMPEL, 1999). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ACERCA DA ESTRATÉGIA Finalmente podemos tentar responder a pergunta inicial de nossa aula: O que é estratégia? Em suas obras Minzberg (1987b) nos mostrou que a estratégia diz respeito a dois eixos principais, o da 19 governança, baseado na relação entre aprendizado e controle, e o do enfoque, que trata dos aspectos internos e externos das organizações. Quando abordada por meio destes múltiplos pontos de vista, a: [...] estratégia não é apenas uma ideia sobre como lidar com um adversário, ou um conjunto de concorrentes em um mercado, como é tratado em muito da literatura ou de seu uso popular. Ela também destaca algumas questões fundamentais sobre as organizações como instrumentos de percepção e ação coletiva. (MINTZBERG, 2003b, p. 21) No contexto da estratégia como padrão, pensadores da complexidade, como Morin (2007), nos lembram que a estratégia diz respeito à ação, uma ação que pode se referir tanto aos aspectos internos, quanto externos à organização. Portanto, o nosso planejamento deve se converter em ações para se transformar em estratégia. Agir, independente de termos planejado, é estratégia, sejam estas ações fruto de planejamento deliberado, do aprendizado ou de simples comportamento instintivo. Portanto, estas concepções nos levam a uma situação onde a estratégia não pode ser vista como um ato puramente planejado e deliberado. As múltiplas ideias a respeito da estratégia nos conduzem a uma condição em que a estratégia se refere à ação, que pode ser oriunda de um ato deliberado ou do aprendizado, e diz respeito tanto aos aspectos internos como aos aspectos externos à organização. 4. VAMOS PENSAR? Agora que já discutimos as visões e conceitos que abrangem esta tão importante área do conhecimento em gestão, estamos prontos para refletir sobre como podemos utilizar esta ampla visão do processo estratégico na gestão de nossas organizações. Pensem em como as ideias propostas pelas escolas descritivas podem contribuir para nos ajudar a entender melhor as ações de nossas organizações e como esta compreensão pode nos ajudar a melhorar o processo de formação das estratégias nas mesmas. 5. PONTUANDO Nesta aula aprendemos que: • A estratégia se apresenta como uma ação que pode ser oriunda do aprendizado ou do planejamento deliberado. • A estratégia também diz respeito tanto aos aspectos internos, quanto aos aspectos externos à organização. • O processo estratégico tem um importante papel para nos guiar em meio a “selva da estratégia”, pois nos auxilia a compreender as variáveis que levam a organização, e os tomadores de decisão a agir de maneira racional e organizada, mesmo diante de cenários de elevada complexidade. • Conhecer o processo estratégico nos permite agir com maior eficácia e eficiência em nossas decisões, já que permite um aprimoramento das metodologias de planejamento e de geração de aprendizado 20 organizacional. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREWS, K. R. The concept of corporate strategy. In: MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN, J. B.; GHOSHAL, S. (Ed.). The strategy process: concepts, contexts, cases. Upper Saddle River: Pearson, 2003. Cap.3.1. p. 72-79. ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. Do planejamento estratégico à administração estratégica. In: ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. (Ed.). Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. Cap.Transformação da atitude estratégica. p. 48-90. ANSOFF, H. I.; HAYES, R. L. Evolução do problema estratégico. In: ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. (Ed.). Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. Cap. Introdução. p. 15-18. BETHLEM, A. Estratégia empresarial: conceitos, processos e administração estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. DRUCKER, P. F. Administrando para obter resultados. Tradução de MONTINGELLI JR., N. São Paulo: Pioneira, 1998. ______. The discipline of innovation. Fund Raising Management, v. 30, n. 3, p. 34-35,May. 1999 1999. GHEMAWAT, P. A estratégia e o cenário dos negócios: textos e casos. Tradução de MONTINGELLI JR., N. Porto Alegre: Bookman, 2000. HUNGER, J. 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A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. Tradução de ZIDE NETO, G. 25. ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2009. TZU, S. A arte da guerra. Tradução de SANZ, J. 12. ed. Rio de Janeiro: Record, 1983. VALLE, A. B. D.; SOARES, C. A. P.; FINOCCHIO JR, J.; SILVA, L. D. S. F. D. Fundamentos do gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. (Gerenciamento de projetos). WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. Tradução de RIMOLI, C. A.; ESTEVES, L. R. São Paulo: Atlas, 2007. AULA 2 – CONCEITOS, ADMINISTRAÇÃO DIRETRIZES ESTRATÉGICA: ESTRATÉGICAS E ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO OBJETIVOS Depois de ter sido apresentado ao universo da estratégia, agora você está pronto para começar a administrar 22 a estratégia de sua organização. Ao final desta aula você deverá ter aprendido os passos que formam a administração estratégica, a estrutura formal do plano, como construir as diretrizes estratégicas e, por fim, como realizar as análises do ambiente externo à organização. 1. INTRODUÇÃO Diante de todos os conceitos aprendidos na aula anterior, você deve estar se perguntando: “como fazer para deliberar estratégias e transformá-las em ação dentro das organizações?” Este será o tema que trataremos a partir desta aula. Para isso, nos concentraremos em um processo que Ansoff, Declerck e Hayes (1981) denominaram de Administração Estratégica. Como vimos em nossa aula anterior, a ideia de Administração Estratégica teve sua origem a partir da concepção de estratégia como plano. Diante da concepção de estratégia planejada, precisamos lembrar que o planejamento estratégico é uma atividade formal (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998), que visa promover o desenvolvimento estratégico da organização por meio de uma metodologia bem definida (BETHLEM, 2001). Portanto, ao fazermos Administração Estratégica, precisamos ter em mente que metodologia e o caminho utilizados para se chegar aos objetivos propostos precisam ser claramente declarados e formalizados em um documento, denominado plano estratégico. Contudo, é importante que também estejamos atentos ao fato de que a Administração Estratégica se trata de um processo que vai além do próprio planejamento, e abrange a determinação das diretrizes estratégicas da organização, além de um ciclo contínuo de formulação, implementação e controle das estratégias (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007), que em muito faz lembrar o conhecido ciclo PDCA – ver figura 1. LINK O ciclo PDCA é um método amplamente utilizado para garantir o controle eficaz das atividades realizadas por uma organização. Ele foi desenvolvido na década de 1920 e, posteriormente, difundido pelo guru da qualidade Edward Deming, principalmente para lidar com situações que exigiam melhoria contínua. Saiba mais sobre o PDCA clicando aqui: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-04092003150859/pt-br.php 23 Figura 1: Ciclo básico do processo de Administração Estratégica Fonte: Elaborado pelo autor Uma vez que o planejamento estratégico tem por objetivo direcionar a organização rumo a um futuro pretendido, que raramente pode ser baseado em previsões confiáveis (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998), então este processo contínuo de implementação, acompanhamento e controle trata-se de um aspecto importante da Administração Estratégica. Ele permite a adequação contínua do planejamento, para que este esteja sempre aderente a um mundo e uma organização em constante transformação. EUREKA! Previsões confiáveis: Raramente as previsões de futuro podem ser consideradas confiáveis. Como exemplo, podemos tomar Thomas Watson, da IBM, que em 1948 declarou: “Creio que não exista um mercado mundial para mais de 5 computadores”. Obviamente que o futuro previsto por Watson não chegou nem perto de se concretizar, assim como diversos casos de previsões equivocadas, feitas pelos analistas antes da crise financeira de 2008 eclodir. Para que possamos desenvolver esta importante atividade, Wright, Kroll e Parnel (2007) nos indicam seis passos fundamentais, que podemos ver no quadro 1. 1. Analisar oportunidades e ameaças ou limitações que existem no ambiente externo; 2. Analisar os pontos fortes e fracos de seu ambiente interno; 3. Estabelecer a missão organizacional e os objetivos gerais; 4. Formular estratégias (no nível empresarial, no nível da unidade de negócios e no nível funcional) que permitam à organização combinar os pontos fortes e fracos da organização com as oportunidades e ameaças do ambiente; 5. Implementar as estratégias; e 6. Realizar atividades de controle estratégico para assegurar que os objetivos gerais da organização sejam atingidos. Quadro 1: Passos da Administração Estratégica Fonte: Wright, Kroll e Parnel (2007) Os quatro primeiros passos se referem ao que chamaremos de planejamento estratégico, ou formulação da estratégia, enquanto o passo cinco se refere ao processo de implementação e o passo seis, ao processo 24 de controle das estratégias (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Agora que você já foi apresentado à Administração Estratégica, estamos prontos para dar os primeiros passos nas metodologias desta importante área da gestão. 2. ELABORAÇÃO DAS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS O primeiro passo que trataremos consiste na formulação das diretrizes estratégicas da organização. Esta é uma etapa essencial do processo de Administração Estratégica, pois define os limites das atividades da empresa, dá direcionamento a suas ações e nos permite detectar desvios e mudanças de conduta no ambiente corporativo. As diretrizes estratégicas são compostas pela Missão, pela Visão e pelos Valores da organização (LOBATO et al., 2007). LINK As diretrizes estratégicas são as bases para a formulação da estratégia e dão direcionamento à organização. Conheça as diretrizes estratégicas de algumas organizações: Gerdau: http://www.gerdau.com.br/sobre-gerdau/missao-visao-valores.aspx HSBC: http://www.hsbc.com.br/1/2/portal/pt/pagina-inicial/hsbc-no-brasil/missao-visao-e-valores Aché: http://www.ache.com.br/Corp/missao.aspx A primeira diretriz que trataremos é a Missão. Esta diretriz consiste na razão de existir de nossa organização, define o alcance de suas ações e sua identidade (LOBATO et al., 2007; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). A missão é uma das mais importantes diretrizes estratégicas, já que “uma empresa com um senso agudo de sua própria identidade tem muito mais chances de obter sucesso do que uma outra que não tenha um entendimento claro de sua razão de existir.” (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007, p. 95) Para nos ajudar na formulação da missão, Lobato et. al. (2007, p. 41) sugerem uma reflexão a respeito das seguintes questões: • Qual o negócio da organização? • Quem é o seu cliente? • Onde ela tem sua base de atuação? • Qual a sua vantagem competitiva? • Qual a sua contribuição social? É importante notarmos que Lobato et. al. (2007) não afirmam que tais questões devem fazer parte, obrigatoriamente, da missão. Estes são os elementos que podemos levar em consideração nesta tarefa. 25 Contudo, Drucker (1998) ressalta que o primeiro item é especialmente importante para definir a ideia de negócio da organização. Ao nos depararmos com a tarefa de formular uma missão para nossa empresa, não podemos deixar de tratar da contribuição da mesma, representada pela “[...] satisfação a ser suprida ao mercado ou um conhecimento a ser transformado em desempenho econômico.” (DRUCKER, 1998, p. 172) Apesar de nossa missão estar sujeita a mudanças graduais ao longo do tempo, ela se trata da identidade da organização. Portanto, espera-se que a missão tenha vocação para a eternidade e só mude nos casos em que haja uma transformação efetiva na razão de existir da empresa (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Com base nesta importante constatação, Drucker (1998) propõe que precisamos construir nossa missão com uma amplitude tal que permita que a organização cresça e mude. Deste modo, a ideia do negócio não deve se referir aos meios que utilizaremos para realizar a nossa contribuição, tampouco a um produto específico. Tais questões devem ser tratadas de acordo com o momento, para evitar o que denominamos de miopia estratégica. EUREKA! Miopia Estratégica: A miopia estratégica consiste em um tipo de “cegueira” organizacional, que impede os executivos de uma organização de perceberem a necessidade de mudanças em seu negócio. Um bom exemplo desta diretriz estratégica pode ser encontrado na missão da Gerdau. A empresa definiu como sua razão de existir: “Gerar valor para nossos clientes, acionistas, equipes e a sociedade, atuando na indústria do aço de forma sustentável.” Como podemos perceber, o termo indústria do aço abre um grande leque de possibilidades de produtos e meios de atuação, ao passo que define bem o negócio e dá um direcionamento no que se refere à geração de valor e o compromisso com a sustentabilidade. Quando nos deparamos com organizações dotadas de múltiplas unidades de negócios ou com um leque amplo de satisfações a serem atendidas, a tarefa de dar uma identidade para a organização pode se tornar penosa. Nestes casos podemos subdividir a missão de acordo com os níveis da organização. Podemos ter uma ideia genérica do negócio em nível organizacional, voltada a atender o maior leque possível de atividades, e missões em nível de unidades de negócio, que seriam mais restritas, de modo que o alcance das atividades das mesmas seja claramente definido (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). A Visão é a segunda diretriz estratégica que vamos formular. Ela consiste em uma imagem projetada pela organização, algo que ela almeja atingir. Quando bem formulada e adequadamente compartilhada, a visão ajuda a dar coesão e a direcionar os esforços para um futuro desejado pela organização (LOBATO et al., 2007). Para nos auxiliar na formulação da visão, Lobato et. al. (2007, p. 40) sugerem que façamos uma reflexão a respeito das seguintes questões: 26 • Como queremos ser reconhecidos no futuro? • Que desafio se apresenta aos nossos colaboradores? • O que queremos ouvir dos nossos stakeholders? • Onde estaremos atuando com nossos clientes? • Quais as principais oportunidades que podem surgir? EUREKA! Stakeholders Os Stakeholders são aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, são afetadas pelas ações da organização. Compreendem os acionistas, os clientes, os funcionários, as comunidades, os fornecedores etc. Como uma das principais funções da Visão é comunicar o objetivo maior da organização aos seus funcionários e colaboradores, então ela precisa ser acessível e crível (LOBATO et al., 2007). Se formularmos uma visão de difícil compreensão ou inalcançável, ela pode não ser corretamente compreendida ou, pior, pode desmotivar os funcionários e colaboradores, devido às descrenças nas possibilidades de se chegar ao futuro proposto. Diante desta importância da comunicação interna da visão, também precisamos ter o cuidado de não formulá-la como um slogan. Temos que nos lembrar que ela se trata de uma importante comunicação interna de objetivos e precisa ser redigida como tal. Um bom exemplo para tomarmos é a visão que o banco HSBC tem de seu futuro: “Ser o melhor grupo financeiro do Brasil em geração de valor para clientes, acionistas e colaboradores.” Esta projeção é simples, adequada e crível. A escolha da palavra “melhor” implica que a empresa não precisa se tornar maior que seus concorrentes – fato que seria pouco crível diante da dimensão atual da empresa e de seus concorrentes, no Brasil. Diferente disso, o HSBC se concentra em seus próprios processos, tornando a proposta de futuro apresentada bastante factível. Outro aspecto da visão que precisamos ter em mente é que ela atua como um direcionador para a tomada de decisão. Como esperamos atingir aquilo que projetamos para nosso futuro, então somos levados a concluir que, diferente da missão, a visão possui um caráter transitório e exige uma revisão constante. Ela sempre deve representar o objetivo maior que a organização pretende alcançar, dadas as condições de um determinado momento. A terceira diretriz que iremos analisar diz respeito aos valores da organização. Estes consistem em um arranjo duradouro de crenças básicas, que norteiam a tomada de decisão dentro da empresa (BETHLEM, 2001; LOBATO et al., 2007). Como um referencial, eles assumem uma grande importância para todos os aspectos do planejamento e da gestão (BETHLEM, 2001). Um bom exemplo que podemos tomar são os valores da Aché: • Integridade; 27 • Respeito às Pessoas; • Respeito ao Meio-Ambiente; • Espírito Empreendedor; • Inovação; • Crescimento Sustentável. Podemos notar pelo exemplo que os valores estão intimamente ligados ao padrão de crenças, suposições e expectativas daqueles que compõem a organização. Este tipo de crença frequentemente está relacionado com a cultura organizacional e os limites éticos da sociedade. Ele possui forte influência na forma com a qual os grupos percebem o ambiente e, por isso, os valores tendem a funcionar como um fator limitante à tomada de decisão (BETHLEM, 2001). Para finalizar, precisamos sempre ter em mente que o sucesso da estratégia depende de diretrizes sólidas e um amplo conhecimento das mesmas. Portanto, quando nos propomos a realizar qualquer tipo de atividade estratégica em uma organização, é importante que tenhamos uma noção adequada da razão de ser do negócio, uma visão clara de onde a organização pretende chegar e um grande respeito à cultura e aos valores da mesma (BETHLEM, 2001; LOBATO et al., 2007; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). 3. ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO Conhecidas as diretrizes estratégicas, nós finalmente podemos passar à análise do ambiente externo. Este conjunto de atividades tem como objetivo estabelecer uma visão de longo prazo, baseada nos cenários presentes, para que a empresa consiga estruturar adequadamente os seus planos futuros. (LOBATO et.al., 2006). Para efeito de simplificação, esta análise pode ser dividida em dois níveis distintos: a análise do macroambiente e a análise do setor onde a organização opera (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Mas, apesar desta distinção que temos entre a análise setorial e a análise do macroambiente, estas duas atividades acabam por ter maior eficácia quando desenvolvidas paralelamente. Isso porque é frequente nos depararmos com inter-relações entre fatores setoriais e macroambientais, que exigirão investigações mais profundas em, pelo menos, uma destas dimensões. 3.1 Análise do macroambiente Quando tratamos da análise do macroambiente estamos nos referindo a uma avaliação daquelas forças que não estão sob o controle da empresa (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Segundo De Souza (1984), a conjuntura é o fio condutor das relações entre estas variáveis ambientais. Ela possui uma forte relação com a história e permite ao analista conhecer as forças e condições que levaram o ambiente a se configurar da forma que ele se apresenta no momento. Como os nossos objetivos, ao tratar da análise externa, são conhecer o cenário onde a organização se 28 encontra inserida e criar projeções de futuro para o mesmo (LOBATO et al., 2007), então a lógica da análise de conjuntura, proposta por De Souza (1984), se mostra promissora, ao passo que descreve os resultados que levaram a certos acontecimentos e facilitam a previsão dos possíveis desdobramentos do cenário. De acordo com De Souza (1984), a análise de conjuntura envolve os seguintes passos: • Levantar as grandes questões ambientais; • Levantar os principais stakeholders; • Levantar as relações de forças entre os stakeholders; • Descrever os cenários; • Verificar como as grandes questões se relacionam; • Prever cenários futuros. Destes pontos apresentados pelo autor, o primeiro é aquele que exige uma discussão mais aprofundada. Quando tratamos das grandes questões do macroambiente, os autores do ramo da estratégia, como Wright Kroll e Parnell (2007), sugerem que exploremos ao menos as variáveis Políticas, Econômicas, Sociais e Tecnológicas (PEST). Contudo, os estudiosos da área econômica e social apontam que mesmo aqueles fatores que parecem ter impacto reduzido sobre a realidade das organização ou possuem características setoriais podem ter significativos impactos sobre suas atividades a longo prazo. LINK Apesar de sua abrangência não incluir a análise setorial, a análise PEST é um importante passo do planejamento estratégico. Saiba mais em: http://marketingteacher.com/lesson-store/lesson-pest-portuguese.html Via de regra, quanto mais variáveis ambientais conhecemos e relacionamos, menores são as chances de sermos surpreendidos por alguma contingência (TERRA, 2010). Portanto, para ampliarmos a eficácia de nossas previsões, tomaremos por base as grandes questões conjunturais, levantadas por De Souza (1984) – ver quadro 2. • • • • • • • Científicas; Tecnológicas; Políticas; Legais; Econômicas; Ambientais; Setoriais; • • • • • • Éticas; Mercadológicas; Competitivas; Sociais; Demográficas; Culturais. Quadro 2: Grandes questões conjunturais Fonte: De Souza (1984) adaptado. Como poderemos perceber, muitas destas questões que De Souza (1984) nos apresenta serão assunto da análise setorial. Mas, a ligação feita pelo autor é importante, pois possibilita uma articulação maior entre as 29 grandes questões que afetam a empresa, uma vez que, ao analizarmos as questões em conjunto, tendemos a produzir uma articulação melhor entre elas. A esta altura você deve estar se perguntando: qual é a melhor forma de organizar e coletar tais informações? Para organizar iremos escrever um relatório, onde procuraremos relacionar os acontecimentos presentes em cada questão conjuntural, de forma a compreendermos a dinâmica que leva aos mesmos e quais as possibilidades de futuro que estes nos reservam. Já a coleta de informações deve ser constante e baseada naquilo que é conhecido como scanning ambiental. Este processo consiste em monitorar continuamente as tendências do ambiente, dando maior ênfase àquilo que parece ter uma ligação mais próxima com a organização (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Como podemos perceber, tal metodologia exige que tenhamos uma forte disciplina no acompanhamento do ambiente e façamos escolhas sobre quais dimensões monitorar. 3.2 Análise setorial Ao mesmo tempo em que desenvolvemos a análise do macroambiente é importante que também empreendamos esforços no processo de análise setorial. O primeiro passo para se compreender adequadamente o setor de atuação de uma empresa é por meio de sua rede. A rede descreve um panorama geral do fluxo de produtos e serviços relacionados a atuação da organização, desde fornecedores distantes até o cliente final (NEVES, 2005). Para construirmos nossa rede basta inserirmos cada um dos agentes que negociam diretamente com a empresa e assim sucessivamente, conforme ilustrado na figura 2. Figura 2: Modelo de rede da organização Fonte: Neves (2005) adaptado. 30 A construção atenta da rede irá nos auxiliar a conhecer melhor as ameaças e oportunidades relacionadas a cada agente, e terá um papel importante para mapearmos o poder de barganha dos fornecedores e compradores, durante a análise das cinco forças de Porter (1999). Ela também poderá ser usada para nos despertar o interesse por assuntos ainda não tratados na análise do macroambiente, que possam ter influência direta ou indireta sobre a organização ou algum de seus agentes. Uma vez construída a rede, estamos prontos para proceder uma análise mais detalhada do setor. A metodologia mais utilizada para isso se baseia no modelo de cinco forças, proposto por Porter (1999). O modelo, proposto pelo autor, se baseia na ideia de que a dinâmica do setor é fruto da interação de cinco forças competitivas: a rivalidade entre as empresas existentes, a ameaça de novos entrantes, os produtos substitutos, os fornecedores e os compradores – ver figura 3. ENTRANTES POTENCIAIS AMEAÇA DE NOVOS ENTRANTES FORNECEDORES CONCORRENTES NA INDÚSTRIA PODER DE BARGANHA DOS FORNECEDORES COMPRADORES PODER DE BARGANHA DOS COMPRADORES RIVALIDADE ENTRE AS EMPRESAS EXISTENTES SUBSTITUTOS AMEAÇA DE PRODUTOS OU SERVIÇOS SUBSTITUTOS Figura 3 – Modelo de cinco forças de Porter. Fonte: Porter (1990, p. 4; 1999, p. 23) adaptado. Para fazermos a análise destas forças precisaremos levar em consideração uma série de variáveis. De acordo com Lobato et. al. (2007, p. 46) encontraremos um grau de rivalidade elevado na indústria quando estivermos diante das seguintes situações de mercado: • Crescimento lento; • Concorrentes numerosos ou bem equilibrados; • Custos fixos ou de armazenamento elevados; • Excesso crônico de capacidade; • Ausência de custos de mudança; • Existência de concorrentes divergentes; • Existência de concorrentes com grandes interesses estratégicos; • Ausência de diferenciação de produtos; 31 • Barreiras de saída elevadas – existência de ativos especializados, altos custos fixos de saída, interrelações estratégicas com outros setores, barreiras emocionais dos controladores e restrições de ordem governamental ou social. Quando estamos tratando da ameaça de novos entrantes, devemos avaliar as facilidades e as dificuldades que um concorrente em potencial teria ao tentar entrar em nosso mercado. A existência de significativas barreiras de entrada ou a possibilidade de retaliação tendem a desencorajar a entrada de novos players no mercado (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Conforme nos sugerem Lobato et. al. (2007, p. 47), a intensidade da capacidade de retaliação dependerá dos seguintes fatores: • Histórico de retaliações na indústria, que pode ser pesquisado levando-se os dados referentes aos anos anteriores; • Existência de empresas com recursos substanciais, capazes de sustentar longas batalhas de retaliação em busca de posicionamentos estratégicos que lhes concendam vantagens competitivas sobre seus concorrentes; • Crescimento de moderado a lento na indústria, reduzindo a taxa de aumento das vendas e a lucratividade das empresas, forçadas a lutar por uma fatia de um mercado cada vez mais restrito e competitivo; • Existência de empresas com alto comprometimento, para as quais qualquer ameaça a sua posição na indústria é vista como uma ameaça a sua sobrevivência. Quando temos empresas de outros setores que produzem alternativas satisfatórias aos nossos produtos, tendemos a sentir a pressão provocada por produtos substitutos. Tais produtos são uma ameaça, pois tendem a estabelecer um teto para os preços de um determinado setor, com efeito similar ao de um concorrente direto (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). De acordo com Lobato et. al. (2007, p. 48) a pressão de produtos substituto irá depender fundamentalmente dos seguintes fatores: • Percepção relativa de valor destes produtos; • Dos altos custos de mudança para tais produtos; • Da propensão dos compradores para substituir produtos. A nossa organização também depende fundamentalmente do poder de barganha de nossos clientes e fornecedores. Neste ponto a rede, criada anterioremente, assume um papel fundamental para nos auxiliar em nossa análise setorial. Quando temos um poder fraco frente aos nossos compradores e fornecedores, a lucratividade da organização tende a diminuir. Pelo lado do comprador, a empresa sofre pressões por preços menores e maior qualidade, enquanto pelo lado do fornecedor a empresa tende a sofrer pressões relativas ao preço praticado em sua matéria prima (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). De acordo com Lobato et. al. (2007, p. 48) o poder de barganha de nossos compradores tente a ser maior quando: 32 • Existem poucos compradores; • Os compradores são muito importantes para a indústria; • A indústria é pouco importante para os compradores; • O produto fabricado/vendido pela indústria é padronizado; • Os custos da mudança para outro fornecedor são baixos; • Existem substitutos para os produtos da indústria; • O comprador tem total informação; • Existe a possibilidade de integração retrógrada na cadeia de valor dos compradores. Já com relação aos fornecedores, Lobato et. al. (2007, p. 48) afirmam que o poder de barganha da nossa organização tende a ser menor quando: • Existem poucos fornecedores no mercado; • Os fornecedores têm importância estratégica para a indústria; • A indústria é pouco importante para os fornecedores; • Existe alto grau de diferenciação do produto na indústria; • Não existem substitutos para os produtos fabricados pelos fornecedores; • São altos os custos de mudança de fornecedores; • Existe a possibilidade de integração vertical para frente por parte dos fornecedores. Concluída a fase de análise setorial, estamos prontos para traçar a primeira parte de nosso plano estratégico. Para tal, basta concluírmos o relatório da análise do macroambiente – normalmente apresentado em formato dissertativo – e listarmos as ameaças e oportunidades encontradas enquanto refletíamos sobre os cenários macroambientais e setoriais. 3.3 Análise do portfólio de produtos Para finalizarmos esta aula, trataremos de um assunto que relaciona o ambiente externo ao portfólio de produtos e negócios da organização. Esta atividade deverá nos entregar tanto ameaças e oportunidades, como possíveis estratégias. O primeiro instrumento que aprenderemos nesta etapa é a matriz de avaliação de portfólio de produtos, criada pelo Boston Consulting Group (BCG) na década de 1970. Ela foi o primeiro uso de um instrumento do tipo no universo corporativo (GHEMAWAT, 2000). Talvez por seu pioneirismo, esta matriz, também chamada de matriz de crescimento-participação, esteja entre os instrumentos de análise estratégica mais conhecidos no cenário dos negócios. A Matriz BCG é baseada em um conceito que denominamos de curva de experiência. O grupo observou, entre os anos de 1965 e 1966, que conforme uma organização aumentava a sua produção acumulada, seus custos tendiam a cair. Os pesquisadores da empresa atribuíram este comportamento ao aprendizado adquirido durante os processos e às otimizações de custos oriundas dos aumentos de escala (MINTZBERG; 33 AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; GHEMAWAT, 2000). Desta forma, o que o BCG nos propôs é que as organizações com maiores escalas sempre teriam custos menores, o que as levariam a ter vantagem competitiva sobre as demais. Quando extrapolamos tal ideia para a análise do portfólio de produtos e unidades de negócio, temos uma condição onde a viabilidade de permanência de uma organização, em uma determinada indústria, depende de sua participação relativa neste mercado e da taxa de crescimento que este ainda possui. Isso porque, se a organização apresentar uma participação de mercado pequena frente aos concorrentes, o conceito de curva de experiência aponta que ela também deverá ter custos maiores, o que tende a torná-la cada vez menos competitiva (GHEMAWAT, 2000; LOBATO et al., 2007). Com base nestas características da curva de experiência, o BCG nos propôs sua matriz de avaliação de portfólio de produtos, com quatro classificações, baseadas nas duas dimensões apresentadas anteriormente – taxa de crescimento da indústria e participação relativa de mercado (GHEMAWAT, 2000; LOBATO et al., 2007) – ver figura 4. Figure 4: Matriz BCG Fonte: Ghemawat (2000), Lobato et. al. (2007) e Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) adaptado. A Matriz BCG nos permite classificar nossos produtos ou unidades de negócio como: estrelas; crianças problema ou interrogação; vacas leiteiras; e pets, cachorros ou abacaxis. Cada uma destas classificações possui uma recomendação específica, baseada nos princípios da curva de experiência, conforme mostrado no quadro 3. 34 Classificação Estrela Criança Problema Vaca Leiteira Taxa de Crescimento da Indústria Alta Alta Baixa Participação de Mercado Recomendação baseada na curva de experiência. Alta Produtos ou unidades de negócios que exigem muitos investimentos para financiar seu crescimento. Precisam ter sua parcela de mercado defendida e até mesmo ampliada. Tendem a gerar altos lucros e se tornar rapidamente independentes. Se tiverem suas participações relativas de mercado bem defendidas, a longo prazo equilibram sua geração de caixa e se transformam em uma vaca leiteira. Normalmente são o futuro da organização. Baixa Assim como as estrelas, os produtos e unidades de negócio com esta classificação exigem uma grande quantidade de recursos para financiar seu crescimento. Contudo, devido à baixa solidez de sua posição competitiva, este tipo de produto tende a ter uma entrada de caixa insuficiente para prover seu próprio sustento. O BCG recomenda que a organização concentre recursos em alguns destes negócios para tentar transformá-los rapidamente em uma estrela. Portanto, definir qual interrogação será transformada em estrela é uma decisão estratégica importante. Aquelas crianças problema que se transformarem em pets deverão ser administradas até serem retiradas do mercado. Alta As vacas leiteiras são produtos ou unidades de negócio que exigem pouco investimento e apresentam uma capacidade estável de gerar caixa. Devem ter sua parcela de mercado defendida a todo custo, pois seus bons fluxos de caixa podem ser usados para financiar outros empreendimentos da organização. Normalmente correspondem ao presente da organização. 35 Pet São produtos ou unidades de negócio com uma fraca posição competitiva. Tendem a gerar pouco caixa e, em muitos momentos, tendem a se transformar no que chamamos de “armadilhas Baixa Baixa de caixa”. De acordo com as recomendações do BCG, estes produtos devem ser administrados até que seu fluxo de caixa comece a se mostrar perigoso para a organização, momento no qual devem ser retirados do mercado. Quadro 3: Recomendações obtidas a partir da matriz BCG. Fonte: Ghemawat (2000), Neves (2005) e Lobato et. al. (2007) adaptado. Para finalizarmos a análise de nosso portfólio de produtos iremos nos ater a um dos mais antigos conceitos do marketing, o ciclo de vida do produto. “No ciclo normal, produtos são criados, suas vendas crescem, alcançam a maturidade e depois declinam, para, enfim, cessarem.” (NEVES, 2005, p. 96) Assim como na matriz BGC, a taxa de crescimento do mercado tem um papel importante na definição do ciclo de vida do produto (NEVES, 2005). A figura 5 ilustra as quatro fases do ciclo de vida de um produto X e as principais estratégias que podem ser adotadas para cada uma delas. Figura 5: Estratégias para o ciclo de vida do produto Fonte: Neves (NEVES, 2005) adaptado. 36 Na fase de introdução temos um volume baixo das vendas e os custos para o consumidor ainda são elevados. Os consumidores que costumam aderir a tais produtos são aqueles que buscam produtos inovadores. Nesta fase é muito importante conscientizar o consumidor a respeito do produto e buscar fixar um padrão (NEVES, 2005; LOBATO et al., 2007). Na fase de crescimento observamos as vendas encorparem rapidamente. Os concorrentes aumentam e os preços começam a cair. Esta fase remete às mesmas condições vistas nos produtos estrela e criança problema da Matriz BCG e exige ações que visam maximizar a participação de mercado da organização (NEVES, 2005; LOBATO et al., 2007). Na fase de maturidade, as vendas se estabilizam em um patamar máximo e a escala faz com que os custos e os preços caiam. Nesta etapa estamos olhando para produtos com comportamento de taxa de crescimento de mercado similar às vacas leiteiras e aos pets. Portanto, devemos nos concentrar em colher os resultados, mas sem nos esquecermos de defender nossas parcelas de mercado e avaliar atentamente os produtos que se comportam como Pets. (NEVES, 2005; LOBATO et al., 2007). Por fim, o produto atinge a fase de declínio. Nesta etapa as vendas começam a cair, levando os lucros consigo. A esta altura muitos dos concorrentes se retiram, e o objetivo passa a ser colher o máximo possível de resultados e se retirar antes que o produto comece a destruir valor (NEVES, 2005; LOBATO et al., 2007). 4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRIMEIRA ETAPA DO PLANO Pronto, chegamos ao final de nossos estudos sobre a primeira etapa do plano estratégico. A esta altura já temos condições de reconhecer e formalizar as diretrizes estratégicas e desenvolver toda a análise do ambiente externo da organização. Para isso devemos produzir um relatório onde as diretrizes estratégicas – devidamente ajustadas – sejam apresentadas de forma clara e visível. De posse das diretrizes, podemos desenvolver nossa análise do ambiente externo, orientada pelas mesmas. Ao final deste processo devemos ter como saídas: uma análise dissertativa da conjuntura externa; uma lista de ameaças e oportunidades; e possíveis estratégias para lidar com os cenários apresentados. 5. VAMOS PENSAR? A definição de diretrizes estratégicas adequadas consiste em um problema real, com sérias implicações. Mesmo grandes organizações estão sujeitas à perda de foco ou a miopia estratégica, provocada por problemas na formulação ou comunicação destas importantes variáveis. O quadro 4 apresenta um destes 37 casos. Reflita sobre como diretrizes estratégicas bem formuladas e comunicadas poderiam ter ajudado a minimizar a situação vivida pela Sears no período relatado. Uma Missão Confusa na Sears Até 1975, a Sears Roebuck era a força nacional dominante no varejo norte-americano. Como uma rede de lojas que oferecia linhas completas de produtos com 850 estabelecimentos, a Sears era um ponto de parada costumeiro para a maioria das famílias americanas. Porém, esse domínio acabou de forma abrupta, na medida em que o setor de vendas a varejo passou por mudanças rápidas e dramáticas. O negócio de marcas próprias da Sears foi arruinado pela popularidade crescente de varejistas especializados, como a Circuit City e a The Limited, e sua estrutura de custos foi desafiada com sucesso por empresas que ofereciam preços baixos como o Wal-Mart e a Best Buy. No inicio, a Sears reagiu tentando enfatizar a moda com etiquetas como a Cheryl Tiegs, de roupas esportivas. Mas os modelos de alta moda não combinaram bem com a imagem que a Sears tinha de loja para o americano de classe média. Na verdade, a Sears permitiu que o cargo de diretor de moda feminina, fundamental para a empresa, ficasse vago de 1980 até 1989. Voltando-se em seguida para a diversificação, a Sears tentou converter sua imagem deselegante em um “supermercado financeiro” comprando a Dean Wintter Financial Services e Coldwell Banker Real Estate. Mas os quiosques internos nunca conquistaram os clientes e a esperada sinergia entre essas duas subsidiarias e as unidades de negócios de seguros Allstate Insurance Bussines e a Discover Card nunca se materializou. Por fim, a Sears decidiu fazer o spin-off de seu grupo Dean Witter Financial Services e sua holding no campo imobiliário, a Coldwell Banker, para permitir que a empresa estreitasse seu foco no setor de varejo, sua atividade principal. Em seguida, a administração modificou a imagem da loja, transformando-a em uma empresa que vendia mercadorias de marcas nacionais, juntamente com marcas exclusivas a “preços baixos todos os dias”. A ideia era criar “superlojas” individuais em cada um dos estabelecimentos da Sears, para competir com mais eficácia com os poderosos concorrentes de nicho. A intenção original da Sears, amplamente divulgada, era afastar-se de sua prática tradicional de realizar liquidações semanais a fim de economizar em despesas de publicidade e manuseio de estoque, ao mesmo tempo oferecendo preços estáveis e “baixos todos os dias”. Mas os preços “baixos todos os dias” acabaram ficando, em alguns casos, mais altos que os antigos preços de venda da Sears, as despesas com publicidade subiram em vez de cair e a Sears continuou a operar vendas especiais. Por essa época, os clientes estavam totalmente confusos. A resposta da Sears foi anunciar que, mais uma vez, a empresa iria enfatizar a venda de artigos de moda feminina, que anunciaria em revistas como Vogue e Mademoiselle. Apenas em 1992, no entanto, a Sears perdeu $3,9 bilhões, o que representou seu pior desempenho de todos os tempos. Em 1993, a Sears encerrou suas operações de vendas via grandes catálogos, realizou spin-offs de algumas empresas que não tinham relação com o varejo em geral, reestruturou suas linhas de roupas, eliminou mais de 93.000 empregos e fechou 113 lojas. Em 1995, voltou a entrar no negocio de vendas por catálogos. Dessa vez, em lugar de um grande catálogo Sears, a empresa entrou em joint-ventures para oferecer catálogos menores. A Sears fornece seu nome e seu banco de dados composto de 24.000 clientes de cartão de crédito. Seus parceiros selecionam a mercadoria, enviam catálogos e preenchem pedidos. Por volta de 1998, a Sears começou a colher de novo os benefícios de sua mudança estratégica para venda de aparelhos e artigos para o lar a preços moderados. Se a Sears puder manter uma missão definida e apresentar imagem consistente durante o final da década de 1990, a gigante do varejo poderá, mais uma vez, sustentar seus lucros. Como expõe o CEO Arthur Martinez “estabelecemos nossas plataformas para um crescimento futuro. Elas estão em lojas para a casa, serviços para o lar, créditos e no setor automotivo. A Sears ficará perto daquelas coisas pelas quais nos tornamos conhecidos e nas quais somos bons”. 38 Fontes: ROBISON, E. A. America’s most admired companies. Fortune, p. F3, 3 Mar. 1997; WARD, A. Sears “on course” despite hard retail conditions, CEO says. Wall Street Journal Interactive, Edition, 9 May 1996 (fonte da citação); FITZGERALD, K. Sears, Ward’s take diferente paths. Advertising Age, p. 27, 31 July 1995; CHANDLER, S. Sears’turnaround is four real – for now. Business Week, p. 102-104, 15 Aug. 1994; LONGO, D. Kmart can learn some lessons from Sears. Discount Store News, p. 9, 21 Feb. 1994; KIRK, J. Sears’ “many-sided” Adweek, p. 3, 14 Feb. 1994; MARKOWITS, A. Sears takes steps to strengten and revitalize. Discount Store News, p. 2, 91, 7 Feb. 1994; PARNELL, J. A. Strategic change versus flexibility: does strategic change really enhance performance? American Business Review, v. 12(2), p. 22-30, 1994; Sears Loses $3.93 billion in ’92. Harrisonburg (VA) Daily News-Record, 10 Feb. 1993. Quadro 4: Uma Missão Confusa na Sears Fonte: Wright, Kroll e Parnell (2007, p. 96-97) 6. PONTUANDO Nesta aula aprendemos que: • O planejamento estratégico por si só não é capaz de lidar com a complexidade do ambiente externo. Para tal a organização precisa contar com o processo de administração estratégica, que envolve a formulação e reconhecimento das diretrizes estratégicas, o planejamento, a implementação e o controle das estratégias. • O planejamento estratégico é um processo formal, no qual todas as etapas e metodologias adotadas devem estar descritas de maneira clara. • As diretrizes estratégicas são compostas pela missão, a visão e os valores da organização, e são responsáveis pelo direcionamento adequado das estratégias. • A análise do ambiente externo envolve uma série de metodologias, que incluem a análise da conjuntura externa, a análise do setor, por meio do modelo de cinco forças, e as análises do portfólio de produtos da empresa. • A análise do ambiente externo tem como saídas a análise conjuntural, uma lista de forças e fraquezas e possíveis estratégias para lidar com aquilo que foi identificado. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. Do planejamento estratégico à administração estratégica. In: ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. (Ed.). Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. Cap.Transformação da atitude estratégica. p. 48-90. 39 BETHLEM, A. Estratégia empresarial: conceitos, processos e administração estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. DE SOUZA, H. J. Análise de conjuntura. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. DRUCKER, P. F. Administrando para obter resultados. Tradução de MONTINGELLI JR., N. São Paulo: Pioneira, 1998. GHEMAWAT, P. A estratégia e o cenário dos negócios: textos e casos. Tradução de MONTINGELLI JR., N. Porto Alegre: Bookman, 2000. LOBATO, D. M.; MOYSÉS FILHO, J.; TORRES, M. C. S.; RODRIGUES, M. R. A. Estratégia de empresas. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. (Gestão Empresarial). MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Strategy safari: a guided tour through the wilds of strategic management. New York: The Free Press, 1998. NEVES, M. F. Planejamento e gestão estratégica de marketing. São Paulo: Atlas, 2005. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Tradução de PINHO, E. M. D. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ______. Estratégia competitiva: técnicas para análise de industrias e da concorrência. Tradução de BRAGA, E. M. D. P. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. TERRA, L. A. A. Dinâmica simbiótica: o problema estratégico visto sob a perspectiva da complexidade. (2010). 183 f. Dissertação (Mestrado em ciências no programa de administração de organizações) Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010. WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. Tradução de RIMOLI, C. A.; ESTEVES, L. R. São Paulo: Atlas, 2007. AULA 3 – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA: ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO E FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS OBJETIVOS Agora que você já sabe construir as diretrizes estratégicas e realizar os levantamentos referentes ao ambiente externo, estamos prontos para finalizar o plano estratégico. Ao final desta aula você deverá conhecer metodologias que lhe permitam entender as forças e as fraquezas da organização, e desenvolver objetivos 40 que lhe permitam lidar com as ameaças e oportunidades oferecidas pelo ambiente externo. 1. INTRODUÇÃO Uma vez que aprendemos a construir as diretrizes estratégicas e a entender o ambiente externo da organização, é chegada a hora de analisarmos as relações do ambiente com a mesma para, finalmente, formularmos nossas estratégias. Em um primeiro momento precisaremos recorrer a uma detalhada análise da organização, que nos possibilite reconhecer seus pontos fracos e pontos fortes. Este processo de análise interna será apoiado por uma série de instrumentos analíticos, desenvolvidos pelas três escolas de pensamento prescritivas. Na fase de formulação de estratégias, precisaremos contar com nossa criatividade, assim como proposto pelos pensadores da escola do Design. Mas graças à era das consultorias, também poderemos contar com instrumentos analíticos de apoio à seleção de estratégias, como a matriz BCG, a cadeia de valor e as matrizes de análise dos fatores críticos de sucesso. Como resultado desta aula, esperamos conseguir construir um plano de ação, baseado no panorama geral das forças, fraquezas, ameaças e oportunidades relacionadas à organização. Você está pronto para começar? Então vamos lá. 2. ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO Conforme nos lembram Lobato et. al. (2007, p. 59) a “análise do ambiente interno compreende o diagnóstico da situação da organização no que diz respeito às suas forças e fraquezas, suas capacidades e competências para obter sucesso no negócio em que se propõe atuar.” Como saídas, esta etapa do processo deverá produzir uma lista de forças e fraquezas da organização e um conjunto de sugestões de estratégias que permitam fortificar pontos fracos que estejam ligados a ameaças e aproveitar as oportunidades ligadas a pontos fortes. Para realizar esta análise, executaremos um conjunto de metodologias específicas que envolvem o estudo dos recursos, capacidades e competências essenciais da organização, o estudo da cadeia de valor, a avaliação dos fatores críticos de sucesso e a Matriz S.W.O.T. 2.1 Análise de recursos, capacidades e competências “Os recursos são as unidades básicas de análise da organização” (LOBATO et al., 2007, p. 61). Eles consistem naqueles ativos que a empresa vem acumulando no decorrer do tempo e podem ser tangíveis, intangíveis e humanos (NEVES, 2005). Toda a estrutura básica de funcionamento de nossa organização 41 depende dos recursos que esta tem disponíveis para si (LOBATO et al., 2007). O quadro 1 ilustra como podemos realizar a avaliação dos recursos de nossa organização. Para tal, basta analisarmos cada característica dos principais tipos de recursos, de acordo com a posição relativa da empresa, em cada um dos indicadores-chave apresentados (NEVES, 2005). RECURSOS TANGÍVEIS Recursos financeiros CARACTERÍSTICAS RELEVANTES • Disponibilidade de capital de terceiros. • Patrimônio Líquido. • Capital próprio. • Fluxo de Caixa. • Condição de realizar investimentos. • Taxas e rating de crédito. • Conjunto de possibilidades de produção e impacto na posição de custo da empresa. • Valor de mercado de ativos fixos. • Depreciação dos equipamentos. • Escala produtiva das fábricas. • Flexibilidade de ativos fixos. • Alianças estratégicas em produção. • Recursos físicos 42 Tamanho, localização, técnica, sofisticação e flexibilidade da planta e equipamentos. • Localização e usos alternativos para a terra e edificações. • Reservas de matéria-prima. RECURSOS INTANGÍVEIS Recursos tecnológicos INDICADORES - CHAVE CARACTERÍSTICAS RELEVANTES INDICADORES - CHAVE • Nº e importância das patentes. • Propriedade intelectual, portfólio de patentes, direitos autorais, segredos comerciais. • • Recursos para inovação: Pesquisa, técnicos e cientistas. Receita de licenciamento de patentes e direitos autorais. • Equipes de P&D. • Nº e localização dos recursos de pesquisa. AVALIAÇÃO DA EMPRESA AVALIAÇÃO DA EMPRESA • Reputação da marca junto aos consumidores. • Reconhecimento da marca. • Reputação da empresa em relação à qualidade e confiabilidade de seus produtos e serviços. • Porcentagem de compras repetidas. • Reputação com os fornecedores, agências governamentais, bancos e a comunidade. Medidas objetivas da performance de produtos comparativos. • Pesquisa sobre a reputação da organização. Valores, tradições e normas sociais. • Clima organizacional. Reputação • Cultura • RECURSOS HUMANOS CARACTERÍSTICAS RELEVANTES • Qualificações educacionais, técnicas e profissionais dos funcionários. • Educação, treinamento e experiência dos funcionários. • Habilidades disponíveis para a empresa. • Remuneração relativa à indústria. • Adaptabilidade dos funcionários e contribuição para a flexibilidade da estratégia organizacional. • Porcentagem de dias perdidos com a suspensão do trabalho ou disputas industriais. • Habilidades colaborativas e sociais dos funcionários. • Taxa de absenteísmo. • Taxa de turnover de funcionários. • Forma como falam, admiram e têm carinho pela empresa. • Avanços de P&D. • Número de inovações e lançamentos. RH • Criatividade INDICADORES - CHAVE • Comprometimento e lealdade dos funcionários. Habilidade dos funcionários de inovar produtos, processos e formas de trabalho. AVALIAÇÃO DA EMPRESA Quadro 1: Classificação dos recursos da empresa Fonte: Neves (2005), com modificações realizadas pelo autor. 43 GLOSSÁRIO Absenteísmo: Hábito de estar ausente da pátria ou do emprego. Fonte: Michaelis - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. EUREKA! Turnover O termo Turnover possui vários sentidos no ambiente de gestão. Na área de recursos humanos ele é um termo adotado, com freqüência, na América do Norte, para definir a taxa de rotatividade de postos de trabalho. Neste ponto é importante nos atentarmos ao fato de que os recursos propriamente ditos não são capazes de gerar vantagem competitiva, pois “[...] a verdadeira vantagem competitiva advém da combinação dos recursos disponíveis para a organização.” A esta importante habilidade de combinar e organizar os recursos, frente às adversidades dos ambientes interno e externo, damos o nome de capacidade (LOBATO et al., 2007, p. 61). As capacidades da organização baseiam-se no conhecimento que o nosso capital humano adquire, no decorrer do tempo, sobre como organizar adequadamente nossos recursos diante das necessidades impostas pelo ambiente (LOBATO et al., 2007). Neste ponto é importante ressaltarmos que nossas capacidades devem levar nossos recursos a um alinhamento adequado com as estratégias da organização, para que não haja desperdícios e as atividades sejam direcionadas a um objetivo em comum (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Podemos ver alguns exemplos de capacidades no quadro 2. Quadro 2: Exemplos de capacidades Fonte: Lobato et. al. (2007) 44 Quando um conjunto de capacidades e recursos da organização assume uma configuração diferenciada, valiosa, rara e difícil de substituir ou imitar, damos o nome desta configuração de competência. Uma competência é mais do que uma capacidade ou recurso bem desenvolvido, é uma atividade que a empresa desenvolve especialmente bem (NEVES, 2005) e traz uma contribuição muito maior para a geração de valor do que as demais atividades da organização (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Portanto, podemos dizer que as competências são a fonte de vantagem competitiva de uma empresa (NEVES, 2005; LOBATO et al., 2007). Alguns exemplos de competências podem ser vistos no quadro 3. Quadro 3: Exemplos de capacidades Fonte: Lobato et. al. (2007) Como podemos perceber, não são todas as organizações que irão apresentar competências desenvolvidas. Por suas características, as competências demandam tempo e investimentos para serem aprimoradas e amadurecidas. Mas é importante, em nosso primeiro momento de análise interna da organização, que venhamos a refletir sobre nossas competências, inclusive aquelas que seriam desejáveis diante dos cenários externos e dos recursos que temos à disposição da organização. Esta reflexão profunda a respeito daquilo que usaremos para nos diferenciar frente ao mercado é que nos permite otimizar o uso de nossos recursos, para transformar capacidades e recursos em competências que gerem real diferencial competitivo. 2.2 Análise da Cadeia de Valor A cadeia de valor consiste em um instrumento analítico, cujo objetivo é entender a organização como um todo, a partir da subdivisão da mesma em suas unidades básicas de atividades (LOBATO et al., 2007). Deste modo podemos utilizá-la “[...] para examinar como são as atividades de uma empresa, e como poderiam ser agrupadas.” (PORTER, 1990, p. 55) Essencialmente, o que temos na cadeia de valor é um instrumento que desagrega as atividades da empresa para permitir que possamos avaliar quanto cada uma destas agrega de valor ao produto ou serviço oferecido (PORTER, 1990; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). Trata-se de um jogo de soma onde “a vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de fabricação pela empresa.” (PORTER, 1990, p. 2) Com base neste conceito, Porter (1990) desenvolveu um modelo genérico da cadeia de valor que subdivide as atividades da empresa em dois tipos específicos: as atividades de apoio e as atividades primárias – ver 45 figura 1. Enquanto as atividades primárias se referem àquelas diretamente relacionadas com a produção e entrega do produto ou serviço, as atividades de apoio são aquelas diretamente relacionadas com o suporte a estas últimas (LOBATO et al., 2007). INFRA-ESTRUTURA DA EMPRESA GERÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS ATIVIDADES DE APOIO DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA AQUISIÇÃO LOGÍSTICA INTERNA OPERAÇÕES LOGÍSTICA EXTERNA MARKETING & VENDAS SERVIÇOS M A R G E M ATIVIDADES PRIMÁRIAS Figura 1 – Cadeia de Valor genérica Fonte: Porter (1990, p. 34) Para facilitar nossa atividade de análise, Porter (1990) sugere que cada uma das atividades da cadeia de valor genérica seja desagregada nas subatividades que as integram – ver figura 2. INFRA-ESTRUTURA DA EMPRESA GERÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA AQUISIÇÃO LOGÍSTICA INTERNA Gerência de Marketing OPERAÇÕES Publicidade LOGÍSTICA EXTERNA Administração da Força de Vendas MARKETING & VENDAS Operação da Força de Vendas SERVIÇOS Literatura técnica M A R G E M Promoção Figura 2: Subdivisão das atividades de uma Cadeia de Valores Genérica Fonte: Porter (1990, p. 42) 46 Ao construirmos as subdivisões das atividades, estamos prontos para fazer a avaliação do valor agregado por cada uma delas. Para tal, basta realizar um levantamento de custos e despesas com cada área da organização, exceto os insumos, e proceder a um rateio proporcional para cada um dos produtos e serviços processados. Este tipo de análise fragmentada é importante, pois a vantagem competitiva “tem sua origem nas inúmeras atividades distintas que uma empresa executa no projeto, na produção, no marketing, na entrega e no suporte de seu produto”. Por fim, precisamos proceder à reintegração destas atividades, que se dará por meio ”[...] da soma dos valores agregados por cada uma das etapas do processo.” (PORTER, 1990, p. 31) Com estas informações em mãos, podemos otimizar as atividades da organização, direcionando os esforços para aquelas que produzem o melhor saldo entre o valor percebido pelo cliente e o valor agregado. Portanto, ao tratarmos da gestão das atividades e de seus elos na cadeia de valor, estamos nos referindo a tradeoffs, nos quais a organização escolhe quais atividades priorizar em detrimento de outras. EUREKA! Elos Na concepção de Porter (1990) os elos são entendidos como interações entre as diversas atividades que compõem a cadeia de valor e, também, as relações entre a organização e os demais componentes de sua rede. EUREKA! Tradeoffs Na área de gestão, o jargão tradeoff é utilizado para definir aquelas situações onde a escolha de uma determinada alternativa, em detrimento de outra, incorre em ganhos e perdas relativas. Estas perdas podem estar relacionadas à própria escolha ou ao custo de oportunidade da alternativa renunciada. 2.3 Análise dos fatores críticos de sucesso O diagnóstico dos fatores críticos de sucesso (FC’s) procura construir análises que tornem explícitos os fatores essenciais para que uma empresa possa competir um determinado mercado. Estes derivam de um entendimento detalhado do ambiente externo e do cenário competitivo, no qual a organização encontra-se inserida (NEVES, 2005). Para auxiliar na identificação dos fatores críticos de sucesso podemos tomar por base as seguintes perguntas, sugeridas por Lobato et. al. (2007, p. 67): 47 • Porque os clientes fazem negócios com a empresa? • Porque os produtos são comprados pela primeira vez? • Quais vantagens trariam resultados sobre nossos concorrentes? • Do que a empresa precisa para continuar competitiva? Para dar uma resposta às duas primeiras perguntas é necessário conhecermos o consumidor da empresa, tanto os compradores diretos, como aqueles que estão no final de nossa rede. Neste contexto, as pesquisas de marketing podem ser um importante instrumento na identificação dos fatores críticos de sucesso. Já as duas últimas perguntas se referem ao ambiente competitivo, e podemos tirar proveito da análise feita por meio do modelo de cinco forças de Porter, para determinarmos aquilo que é fundamental para o sucesso competitivo da organização. Após realizarmos o levantamento dos fatores críticos de sucesso, o nosso próximo passo será definir o seu peso relativo. Apesar de parecer simples, esta tarefa acaba se tornando um desafio para os menos experientes e, por isso, deve ser feita com a devida atenção. Como todos os fatores listados são importantes para a competitividade da organização, existe uma dificuldade intrínseca para definir o nível de relevância que cada um deles teria para o sucesso da mesma. Tal dificuldade pode nos tentar a dar peso máximo ou o mesmo peso para todos os fatores críticos encontrados. Contudo, tal procedimento não auxilia na compreensão real dos problemas vivenciados pela organização. Uma boa estratégia para evitar esta armadilha, é escolher um número de pontos, por exemplo, 100, e se forçar a distribuir esta pontuação entre os FC’s, sem que a soma ultrapasse o número determinado. Após construir lista dos fatores críticos de sucesso, com seus respectivos pesos, podemos dar seguimento à nossa análise. Para tal, podemos preencher uma tabela onde iremos relacionar o desempenho da empresa e de seus concorrentes, com os pesos atribuídos a cada um dos FC’s. A tabela 1 ilustra a aplicação desta técnica de análise, onde os pesos de cada FC são multiplicados pelo desempenho e, posteriormente, os resultados são somados na coluna “Total”. Tabela 1: Comparação e ponderação dos fatores críticos de sucesso Fonte: Neves (2005) adaptado. Como resultado, esta tabela nos oferece uma pontuação que pode nos dar uma ideia do desempenho geral 48 da organização frente aos concorrentes. Ela também nos permite classificar e identificar aqueles fatores críticos de sucesso que necessitam de intervenções urgentes. O caso Empresa A, mostrado na tabela 1, é um caso típico de empresa que necessita deste tipo de intervenção. Ela apresenta um desempenho excepcional em fatores críticos de baixa importância relativa e um desempenho insatisfatório em um fator crítico de alta importância relativa. Isso compromete a competitividade da empresa frente a concorrentes com maior desempenho em fatores críticos mais relevantes. Em casos como o ilustrado, o desempenho elevado em um FC de pouca importância acaba se configurando em um desperdício de recursos, que poderiam ser utilizados para otimizar o fator crítico de sucesso de maior importância. Uma forma de termos uma percepção visual do problema consiste em construir uma estrutura, como a mostrada na figura 3, para classificar cada um dos fatores críticos de sucesso da organização, de acordo com sua importância relativa . Figure 3: Matriz de relacionamento entre desempenho e importância dos FC’s. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de Lobato et. al. (2007) Como resultado deste tipo de análise, teremos duas consequências para o plano estratégico. Poderemos identificar um conjunto de forças e fraquezas associadas aos FC’s e sugestões de estratégias baseadas na transferência de recursos e esforços de fatores críticos de sucesso de menor importância, que estejam tendo desempenhos excepcionais, para FC’s de maior importância, cujo desempenho esteja insatisfatório. 2.4 ANÁLISE S.W.O.T S.W.O.T é a sigla que damos para os termos strengths, weaknesses, opportunities and threats (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Essa importante contribuição da escola do Design procura relacionar 49 as ameaças e oportunidades, encontradas no ambiente externo, com as forças e fraquezas da organização (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998; LOBATO et al., 2007). LINK A S.W.O.T. se trata de um dos instrumentos mais utilizados no âmbito da estratégia, e sua estrutura permite ao gestor identificar as ameaças em potencial e explorar melhor as oportunidades oferecidas pelo ambiente. http://www.sobreadministracao.com/matriz-analise-swot-guia-completo/ Para formularmos a análise S.W.O.T., nosso primeiro passo consiste em listar os pontos fortes, os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades da organização. Os pontos fracos e fortes da empresa correspondem aos seus recursos, capacidades e competências, e podemos identificá-los durante a análise do ambiente interno. Já as ameaças e as oportunidades correspondem a variáveis sobre a qual a organização não possui controle, e podemos encontrá-las no decorrer do processo de análise do ambiente externo (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). O segundo passo para formularmos a S.W.O.T. é traçarmos uma relação entre estas variáveis. Essa relação precisa nos permitir criar ideias que contribuam para que possamos tirar vantagens das oportunidades, por meio da utilização dos pontos fortes da organização, e combater as ameaças, través do uso de seus pontos fortes e do fortalecimento de seus pontos fracos (LUECKE, 2009). Para organizar este trabalho, podemos nos utilizar da planilha apresentada na figura 4. Data da análise:_________________________________________________ O que está sendo analisado:_______________________________________ Desenvolvimento de novo produto:_____________________________ Análise interna Liste os fatores inerentes ao que está sendo analisado Pontos fortes Ideias para utilizar esses pontos fortes Pontos fracos Ideias para reduzir esses pontos fracos Análise Externa Liste os fatores externos ao que está sendo analisado, como necessidades dos clientes ou tendências do mercado. Oportunidades Ideias para investigar ou tirar vantagem dessas oportunidades Ameaças Ideias para minimizar ou superar essas ameaças Figura 4: Planilha para realizar uma análise SWOT Fonte: Luecke (2009, p. 170) 50 Uma forma alternativa de visualização, que podemos adotar para esta metodologia, é a Matriz S.W.O.T, mostrada na figura 5. Nessa matriz podemos colocar cada relação entre o ambiente externo e o ambiente interno no campo correspondente. Figura 5: Matriz SWOT Elaborado pelo autor com base em Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998) e Lobato et. al. (2007) Cada zona da Matriz S.W.O.T nos permite ver as prioridades estratégicas relacionadas aos objetivos da organização. A zona mais importante se refere às ideias que visem combater os pontos fracos, diretamente ligados com as ameaças identificadas no ambiente externo. Isso porque tais fraquezas deixam a organização vulnerável, e podem levá-la a ter sua sobrevivência comprometida (LOBATO et al., 2007). A segunda prioridade se refere a empregar as ideias que visem aproveitar oportunidades relacionadas com pontos fortes da organização. Isso porque a organização já possui recursos adequados para tal tarefa, o que possibilita uma maior eficiência das iniciativas propostas (LOBATO et al., 2007). A terceira prioridade se refere a manutenção dos pontos fortes, relacionados às ameaças, para que eles não se transformem em um risco para a sobrevivência da organização. Por fim, devemos evitar empreender esforços naquelas ideias que envolvem oportunidades sustentadas por pontos fracos, pois estas seriam mais difíceis de serem aproveitadas (LOBATO et al., 2007). Concluídas as análises mostradas até então, já temos condições de definir adequadamente o alcance e as características de nossas estratégias. Desse modo, já estamos prontos para o próximo passo: a formulação das estratégias. 51 3. FORMULAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS A formulação das estratégias é uma etapa do planejamento na qual esperamos que o estrategista responda o que a organização precisa fazer, como ela deve fazer e porque ela deve realizar uma determinada ação (DRUCKER, 1998). Antes de partirmos para a formulação dessas questões, precisamos estabelecer onde a nossa organização pretende chegar, diante do que foi verificado nas análises internas e externas. Portanto, precisamos revisar a nossa visão e definir quais serão os objetivos gerais e específicos da empresa alvo (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Os objetivos gerais correspondem aos fins genéricos da organização, muitas vezes relacionados com a visão. Os objetivos específicos “[...] são versões mais restritas e frequentemente quantificadas dos objetivos gerais.” (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007, p. 98). Um aspecto importante dos objetivos é que todos eles devem ser formulados no contexto da análise S.W.O.T. e da missão da organização. Além disso, os objetivos específicos precisam representar uma parte verificável dos gerais, pois possuem a função de conduzir a organização rumo a esses objetivos (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Fixados os objetivos, podemos pensar nas estratégias, que se tratam das iniciativas propriamente ditas da organização. De acordo com Markides (2002, p. 228) “[...] a essência da estratégia é selecionar uma posição que a empresa possa reivindicar como sua.” Para lidar com a questão do posicionamento, Porter (1999) propôs que podemos sintetizar as estratégias da organização em três estratégias genéricas: a liderança em custos, a diferenciação e as estratégias de enfoque – ver figura 6. Para Porter (1990), essas estratégias genéricas consistem em um poderoso guia para adoção de uma posição a ser defendida, já que dão contexto para a tomada de decisão e ajudam a direcionar os esforços estratégicos. Figura 6: Estratégias genéricas de Porter Fonte: Porter (1999) Portanto, um passo importante do planejamento estratégico é escolhermos a posição que iremos conquistar e defender. Nas estratégias baseadas na liderança em custos, nós iremos competir visando produzir bens e serviços de baixa sofisticação, para atender a todo um setor. Trata-se de uma estratégia baseada na escala e que visa atender mercados com demanda inelástica, no quais os clientes são muito sensíveis ao 52 preço (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). A seguir, Lobato et. al. (2007, p. 82) listam alguns objetivos que podemos adotar quando buscamos este tipo de posicionamento. LINK A elasticidade da demanda é um conceito econômico com grande importância na administração. Ela é fundamental para a precificação de produtos e para auxiliar na escolha de posições estratégicas. http://vsites.unb.br/face/eco/jglresende/Micro1aula6T.pdf • Construção de instalações em escala eficiente; • Redução de custos e das despesas gerais; • Minimização do custo de áreas como P&D, assistência, publicidade e vendas; • Projeto de produto visando fabricação a baixo custo; • Boa engenharia de processo e eficiência das operações; • Intensa aplicação de tecnologia; • Sistema estruturado de informação e controle. Nas estratégias baseadas na diferenciação, nós iremos competir visando produzir bens e serviços altamente diferenciados, para atender a todo um setor. É uma estratégia que costuma ser baseada na qualidade do produto e dos serviços agregados, e visa atender mercados com demanda elástica, onde os clientes são pouco sensíveis ao preço (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). A seguir, Lobato et. al. (2007, p. 83) listam alguns objetivos estratégicos que podemos adotar quando buscamos este tipo de posicionamento. • Projeto ou imagem da marca; • Tecnologia embutida no produto; • Peculiaridades e serviços sob encomenda; • Tradição; • Rede de fornecedores; • Capacidade de marketing e vendas; • Excelência na engenharia de produto; 53 • Boa coordenação entre pesquisa, desenvolvimento de produto e Marketing; • Incentivo à inovação. Nas estratégias baseadas no enfoque, nós iremos competir visando suprir as necessidades profundas de um seleto grupo de clientes. É uma estratégia que costuma ser usada por unidades de negócios menores e pode ser baseada tanto na qualidade do produto quanto nos custos (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Ao optar por uma estratégia de enfoque, Lobato et. al. (2007) sugerem que nós podemos concentrar nossa atenção em um tipo de comprador específico, em um segmento de mercado ou em um mercado geográfico. De posse das informações obtidas no contexto da análise S.W.O.T, precisamos escolher uma destas posições para defendermos. Neste ponto, vale ressaltar que a escolha de uma estratégia genérica, em detrimento de outra, implica em tradeoffs. Quando optamos por uma determinada posição, normalmente, sacrificamos outras posições da empresa. Neste sentido, Porter (1999, p. 55) nos lembra que “[...] uma empresa que fica no meio-termo [...] está em uma situação extremamente pobre”, o que transforma a tentativa de se estruturar em múltiplas frentes estratégicas, em uma receita para um desempenho abaixo da média (PORTER, 1990). Agora que temos consciência da estratégia genérica que pretendemos adotar, estamos prontos para partir para a formulação das estratégias funcionais. A ideia central das estratégias funcionais é transformar os objetivos em iniciativas. Assim como nos passos anteriores, deveremos nos basear no contexto da missão e da análise S.W.O.T. Mas estas também devem tomar por base as estratégias genéricas escolhidas, a visão, os valores e os objetivos da empresa (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Estas estratégias podem ter origem em esquemas pré-concebidos ou, até mesmo, na nossa criatividade (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 1998). Mas, independente da origem a partir da qual às formularemos, temos que nos lembrar que elas deverão definir as competências essenciais que serão trabalhadas, deverão ser acompanhadas de suas respectivas justificativas e serão sempre representadas por ações – verbos –, já que definem aquilo que a organização deve fazer. Lobato et. al. (2007) e Wright, Kroll e Parnell (2007) sugerem que podemos formular estratégias funcionais relacionadas às seguintes dimensões: 54 • Marketing; • Abrange preço, praça, produto e promoção; • RH; • TI; • Integração vertical; • Integração horizontal; • Logística; • Produção/operações; • Qualidade; • Finanças; • Pesquisa e desenvolvimento; e • Redução. Concluída a formulação inicial das estratégias, precisamos submetê-las a um teste de consistência, cujo objetivo é identificar se aquilo que projetamos é viável e se justifica diante daquilo que foi analisado previamente. Para realizarmos tal verificação, Porter (1999) propõem o teste listado a seguir, composto por onze perguntas para verificar a consistência interna, o ajuste ambiental e os ajustes de recursos de cada estratégia formulada. • Consistência Interna: o As metas são mutuamente alcançáveis? o As políticas operacionais básicas se dirigem para as metas? o As políticas operacionais básicas se reforçam mutuamente? • Ajuste Ambiental: o As metas e políticas exploram as oportunidades da indústria? o As metas e políticas abordam as ameaças da indústria? o As metas e políticas respondem aos interesses mais amplos da sociedade? • Ajuste de Recursos: o As metas e políticas se ajustam aos recursos à disposição da companhia? o As metas e políticas refletem a habilidade da organização em modificar-se? o As metas foram bem compreendidas pelos principais implementadores? o Existe congruência entre as metas, as políticas (táticas) e os valores implementados, de forma a assegurar compromisso? o Existe capacidade gerencial para assegurar uma implementação efetiva? 55 Como saídas desta fase do processo, esperamos encontrar a visão revisada, um claro posicionamento estratégico, uma lista de objetivos e as iniciativas que deverão ser realizadas para se atingir tais objetivos. Tudo devidamente justificado pelas análises anteriores. Com tais saídas estamos prontos para seguir em direção à implementação de nossas estratégias. 4. VAMOS PENSAR? No quadro 4 você será apresentado ao caso da Southwest Airlines. Reflita sobre como a sinergia entre as estratégias e o claro posicionamento adotado pela empresa ajudaram-na a crescer diante de concorrentes bem estabelecidos no mercado. Southwest Airlines A Southwest iniciou suas operações em 1971 como uma empresa aérea pequena, que cobria curtas distâncias entre antigos aeroportos internos de Dallas e Houston. Na época, as principais empresas do setor tinham várias vantagens estratégicas, incluindo, por exemplo, a posse de sistemas de reserva por computador, serviço de refeições a bordo e a capacidade de transferir bagagens para outras empresas. A Southwest reconfigurou seu modo tradicional de fazer negócios no setor, transformando o que poderia ter sido desvantagens competitivas em vantagens. Em primeiro lugar, sua estratégia de voos de curta distância, cidade a cidade, tornava desnecessário um sistema de reservas por computador. Não ter um sistema desses poupou para a Southwest $ 25 milhões anuais, o que contribuiu para a continuidade de sua estratégia de manutenção de preços baixos. Em segundo lugar, como os clientes não consideravam crucial que a empresa servisse uma refeição nos voos de curta distância, uma empresa de serviços sem sofisticação não tinha que oferecer refeições. Isso ajudou a Southwest a manter seus custos baixos e a oferecer preços menores que os dos concorrentes. Finalmente, sendo uma empresa de viagens a curta distância, cidade a cidade, a Southwest não tinha que oferecer transferência de bagagens, o que contribuiu para a economia de custos e também para sua capacidade de oferecer preços baixos em relação a suas concorrentes. Quadro 4: Caso Southwest Airlines Fonte: Wright, Kroll e Parnell (2007) 5. PONTUANDO Nesta aula aprendemos que: • Os recursos são as unidades básicas de análise da organização; • As capacidades consistem na habilidade de combinar os recursos para gerar vantagem competitiva; • As competências são aquelas capacidades que são a fonte da vantagem competitiva da organização. São diferenciadas, valiosas, raras e difíceis de substituir ou imitar, e seu desenvolvimento é um dos principais enfoques da estratégia; 56 • A cadeia de valor e os fatores críticos de sucesso são importantes instrumentos de análise interna, capazes de mostrar os pontos fracos e os pontos fortes da organização; • A matriz S.W.O.T. é uma ferramenta de gestão que nos possibilita formular estratégias a partir da relação entre ameaças, oportunidades, forças e fraquezas da organização; • As estratégias genéricas nos auxiliam a posicionar adequadamente a organização no cenário competitivo; • As estratégias funcionais desdobram as estratégias genéricas em um conjunto de ações a serem realizadas pela organização. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DRUCKER, P. F. Administrando para obter resultados. Tradução de MONTINGELLI JR., N. São Paulo: Pioneira, 1998. LOBATO, D. M.; MOYSÉS FILHO, J.; TORRES, M. C. S.; RODRIGUES, M. R. A. Estratégia de empresas. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. (Gestão Empresarial). LUECKE, R. Estratégia. Tradução de VINAGRE, R. M. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009. (Harvard Business Essentials). MARKIDES, C. C. Uma visão dinâmica da estratégia. In: CUSUMANO, M. A.; MARKIDES, C. C. (Ed.). Pensamento Estratégico. Rio de Janeiro: Campus, 2002. Cap.10. p. 227-244. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Strategy safari: a guided tour through the wilds of strategic management. New York: The Free Press, 1998. NEVES, M. F. Planejamento e gestão estratégica de marketing. São Paulo: Atlas, 2005. PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Tradução de PINHO, E. M. D. Rio de Janeiro: Campus, 1990. ______. Estratégia competitiva: técnicas para análise de industrias e da concorrência. Tradução de BRAGA, E. M. D. P. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competences of the corporation. Harvard Business Review, p. 7991,May/June 1990. WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. Tradução de RIMOLI, C. A.; ESTEVES, L. R. São Paulo: Atlas, 2007. 57 AULA 4 – IMPLEMENTAÇÃO E CONTROLE DE ESTRATÉGIAS OBJETIVOS Agora que já definimos nossas estratégias, estamos prontos para implementar e controlar o que foi planejado. Ao final desta aula você deverá conhecer metodologias que lhe permitam implementar as estratégias com maior índice de sucesso e sistemas de controle que permitam quantificar o sucesso desta implementação. 1. INTRODUÇÃO A esta altura de nossa disciplina nós já aprendemos a construir nosso primeiro plano estratégico. Porém ainda nos faltam dois passos importantes da administração estratégica, para que este plano possa se transformar em uma realidade na organização: a implementação e o controle. A implementação e o controle das estratégias são áreas sensíveis para a estratégia. Estes processos se baseiam no plano de ação e são atividades que devem envolver cada funcionário da empresa (LUECKE, 2009). Por compreenderem um elevado número de variáveis e afetarem diretamente as pessoas, estas atividades exigem excelência nas comunicações e na gestão de recursos, sobre tudo os humanos. Nesta aula trataremos de instrumentos que nos permitem implementar e controlar as estratégias da organização. Criaremos um detalhado plano de ação e, baseados no pressuposto de que “o que não é medido não é gerenciado” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 21), aprenderemos a fazer o balanced scorecard para comunicar e controlar nossas estratégias. Por fim, passaremos por alguns conceitos importantes sobre gestão de pessoas e cultura organizacional e veremos duas destacadas ferramentas para viabilizar as estratégias: as quatro disciplinas da execução da Franklin Covey e o gerenciamento de projetos. Você está pronto para continuar? Então vamos em frente. 2. TRANSFORMANDO A ESTRATÉGIA EM AÇÃO O primeiro passo para a implementação das estratégias consiste na criação de um plano de ação para a organização. O plano de ação tem como objetivo estabelecer as metas a serem alcançadas, e mapear o como estas metas poderão ser atingidas. 58 As metas consistem na quantificação de objetivos, a serem alcançados pela organização em um determinado espaço temporal. Em síntese, podemos dizer que uma meta representa uma expectativa de desempenho. Portanto, toda meta deve ser composta por um valor alvo a ser atingido em um determinado indicador e um prazo no qual pretendemos atingir este valor (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). As metas são importantes componentes dos processos de implementação e controle das estratégias, pois, conforme nos lembram Kaplan e Norton (2004), só podemos gerir, monitorar e controlar aquilo que podemos medir. Se criadas de maneira adequada, as metas também terão papel importante na comunicação dos objetivos da organização e irão nos auxiliar a transmitir nossas pretensões de uma maneira apropriada. Como exemplo, podemos tomar uma meta que defina que os níveis de desperdício de matéria prima (dados em Kg de refugo) devem ser reduzidos em 3%, até o final do segundo semestre de 2014. Como podemos perceber pelo exemplo, nossas metas precisam estar associadas ao seu modo de medição, para que possamos medi-las de maneira clara e objetiva (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Contudo, temos que tomar cuidados importantes ao formularmos nossas metas. Elas precisam estar associadas às relações de causa e efeito de cada iniciativa realizada, para que não tenhamos metas contraditórias. Metas que nos encaminhem em direção a resultados inconciliáveis podem gerar conflitos internos entre as perspectivas da organização (PORTER, 1999; KAPLAN; NORTON, 2004; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Saiba Mais! Metas contraditórias: Na perspectiva financeira, as metas de cortes de pessoal ou salários podem ser bem vistas, já que reduzem custos no curto prazo. Contudo, estes podem ter sérias implicações nas perspectivas de aprendizado e crescimento, com consequências sobre todas as demais perspectivas, já que não se consegue exigir mais de um colaborador que vive o risco da dispensa, ou para o qual se está pagando menos. Para evitar esta problemática, podemos nos utilizar do conceito que Kaplan e Norton (2004) denominaram de mapas estratégicos. Os mapas estratégicos relacionam um conjunto de perspectivas da organização, com o objetivo de encontrar relações de causa e efeito. Kaplan e Norton (2004) dividem estas perspectivas em quatro: a perspectiva financeira, a perspectiva do cliente; a perspectiva interna; e a perspectiva do aprendizado e do crescimento. A figura 1 ilustra um mapa estratégico apontando como cada perspectiva afeta as demais. 59 Figura 1: Mapa Estratégico Fonte: Kaplan e Norton (2004) Precisamos estar atentos aos mapas estratégicos da organização para que possamos conhecer adequadamente as relações de causa e efeito de cada uma de nossas iniciativas. Este conhecimento, além de nos ajudar a evitar o conflito entre as metas, também nos permite compreender como podemos atingir resultados em uma dada perspectiva, por meio de ações que incidem sobre outras. Após a criação de metas consistentes para cada uma das perspectivas apresentadas, podemos proceder a criação de instrumentos que nos permitirão comunicar e controlar as estratégias durante sua execução. Conforme nos lembram Kaplan e Norton (1997) os indicadores contábeis e financeiros possuem um papel importante na avaliação das estratégias, mas são limitados, uma vez que medem os resultados de ações passadas. Esta característica nos impõe reservas para o uso dos indicadores financeiros, no que tange ao controle daquelas variáveis estratégicas que irão construir o futuro da organização. Diante dessas limitações da abordagem de controle clássica, os autores desenvolveram um poderoso instrumento de controle estratégico, denominado de Balanced Scorecard (BSC). Esse instrumento tem por objetivo complementar o controle contábil/financeiro, com a incorporação de métricas, antes limitadas ao universo operacional. Tal ferramenta é destinada à gestão nos mais diversos níveis da organização. Por meio dela, nós podemos expandir nossa visão de futuro e acompanhar o desenvolvimento de metas estratégicas, com implicações de longo prazo nas mais diversas dimensões organizacionais (KAPLAN; NORTON, 1997; LOBATO et al., 2007). 60 LINK O Balanced Scorecard é um importante instrumento de gestão, desenvolvido por Robert S. Kaplan e David P. Norton e tem auxiliado diversas organizações a implementar e controlar suas estratégias no conturbado mundo contemporâneo. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=5ysYExAArEE&feature=related Kaplan e Norton (1997, p. 20) descrevem o alcance desta ferramenta, que pode ser utilizada para: • Esclarecer e obter consenso em relação à estratégia. • Comunicar a estratégia para toda a empresa. • Alinhar as metas departamentais e pessoais à estratégia. • Associar os objetivos estratégicos com metas de longo prazo e orçamentos anuais. • Identificar e alinhar as iniciativas estratégicas. • Realizar revisões estratégicas periódicas e sistemáticas. • Obter feedback para aprofundar o conhecimento da estratégia e aperfeiçoá-lo. Apesar de sua magnitude, o modelo que os autores nos propõem é um sistema simples de cartões de controle estratégico, como blocos básicos de construção: as perspectivas da organização; os objetivos estratégicos que precisam ser alcançados pela mesma; os indicadores que serão utilizados para medir o desempenho em cada um dos objetivos; e as iniciativas a serem adotadas para se atingir uma determinada meta – ver figura 2. Figura 2: Modelo de Balanced Scorecard para a perspectiva financeira. Fonte: Kaplan e Norton (1997) 61 Cada cartão deverá conter um conjunto de variáveis – objetivos, indicadores, metas e iniciativas – que correspondam às reflexões feitas por meio das perguntas mostradas na figura 3, e possibilitem direcionarmos a execução em direção às estratégias e à visão da organização. Figura 3: usando os Balanced Scorecard como sistema de administração estratégica Fonte: Kaplan e Norton (1997, p. 10) O passo seguinte para implementarmos as estratégias é converter todas estas iniciativas em um plano de ação. Este plano tem como objetivo descrever como o plano estratégico deverá ser colocado em prática. “A elaboração do plano de ação envolve aspectos técnicos, administrativos e pedagógicos, visando um equilíbrio entre a responsabilidade individual e o compromisso coletivo.” (LOBATO et al., 2007, p. 129) Para a formulação do plano de ação, Lobato et. al. (2007) nos sugerem que apliquemos a ferramenta 5W2H. O quadro 1 apresenta as sete perguntas que devem ser respondidas por um plano de ação, de acordo com esta metodologia. 5W2H • • • • • • • What – o que deverá ser feito? Define os objetivos; Who – quem fará o quê? Determina os responsáveis pelo planejamento, avaliação e realização dos objetivos; When – quando será feito o quê? Estabelece os prazos para planejamento, avaliação e realização dos objetivos; Where – onde será feito o quê? Determina o local ou espaço físico para a realização dos diversos objetivos propostos; Why – por que será feito o quê? Mostra a necessidade e a importância de se cumprir cada objetivo; How – como será feito o quê? Define os meios para avaliação e realização dos objetivos; How much – quanto custará o quê? Quadro 1: Questões a serem respondidas por um plano de ação, de acordo com a metodologia do 5W2H Fonte: Lobato et. al. (2007) 62 O plano de ação pode ser construído em formato textual ou até mesmo em formato de um diagrama de árvore, desde que consigamos responder a cada uma das perguntas, para cada uma das iniciativas apresentadas no plano estratégico. De posse dos Balanced Scorecard e do plano de ação, estamos prontos para implementar e controlar as estratégias. Enquanto o plano da ação nos dará uma ideia geral das responsabilidades, dos prazos, dos recursos e dos procedimentos para realizar cada objetivo, os BSC nos possibilitarão gerenciar e comunicar as estratégias por meio das metas indicadas. 3. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL A estrutura organizacional apresenta impacto direto na cadeia de comando, na disponibilidade e no comprometimento dos recursos de uma organização. Devido às suas implicações, principalmente sobre as divisões de responsabilidades e comprometimento de recursos, precisamos tratá-la como uma variável importante para o processo de implementação de estratégias. As organizações podem se estruturar de várias formas, onde a mais conhecida é a estrutura funcional. Neste tipo de estrutura, cada indivíduo possui um superior bem definido e o agrupamento é feito por especialidades. O escopo de trabalho das unidades, normalmente, é restrito à função. As atividades são independentes e passam de unidade funcional para unidade funcional, para serem integradas. Na figura 4 podemos ver a estrutura hierárquica típica das organizações funcionais. Figura 4: Organização Funcional Fonte: Project Management Institute (2004, p. 29) 63 O extremo oposto das estruturas funcionais são as estruturas por projetos. Nelas, os gerentes de projeto possuem grande autonomia e os recursos são alocados para cada projeto, independente da função. As empresas que adotam este tipo de estrutura também podem possuir departamentos, que prestam serviços aos projetos e estão submetidos diretamente aos gerentes de projetos. Na figura 5 podemos ver a estrutura clássica de uma organização por projetos. Figura 5: Organização por projeto Fonte: Project Management Institute (2004, p. 29) O terceiro tipo de estrutura que veremos são as estruturas matriciais. As organizações que possuem estruturas deste tipo mesclam características da estrutura funcional e da estrutura por projeto. Nelas, as operações de dia a dia são coordenadas por departamentos funcionais. Contudo, a empresa conta com gerentes de projetos – que podem ou não ser em tempo integral – para coordenar e desenvolver projetos, onde são alocados recursos de diversas áreas funcionais. Na figura 6 podemos ver a estrutura típica das organizações matriciais. 64 Figure 6: Organização Matricial. Fonte: Project Management Institute (2004, p. 31) Estes são apenas alguns exemplos que temos de estruturas organizacionais. No dia a dia das organizações, nós podemos encontrar uma infinidade de configurações possíveis. O importante é sempre termos em mente que tais estruturas podem ter grande impacto em várias das atividades da implementação de estratégias. Variações na autoridade, na disponibilidade de recursos e no controle do orçamento, podem se apresentar de formas distintas nos mais variados tipos de estrutura organizacional. Dependendo da estrutura da empresa, o implementador responsável pela estratégia se reportará a indivíduos diferentes, disporá de mais ou menos recursos e terá maior ou menor autonomia (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Portanto, fica evidente que os resultados da implementação das estratégias encontram-se intimamente ligados com a estrutura organizacional e a forma com a qual nós a abordamos (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Antes de darmos início à atividade de implementação, é importante verificarmos a adequação da estrutura. Para tal, Wright, Kroll e Parnel (2007, p. 289) apresentam um conjunto de perguntas, relativas à estrutura, que devemos nos fazer, antes implementarmos as nossas estratégias. São elas: • A estrutura é compatível com o perfil e a estratégia da empresa? • A estrutura é compatível com os resultados das unidades de negócios? • O número de níveis hierárquicos é adequado? • A estrutura promove a coordenação das partes? • A estrutura permite um nível de centralização adequado? • A estrutura permite o agrupamento adequado das atividades? 65 Caso a resposta para alguma das perguntas seja negativa, temos que voltar à etapa de elaboração de estratégias e ao plano de ação, para reformular aqueles itens que se encontram inadequados à estrutura. 4. AS PESSOAS E A ESTRATÉGIA Para transformar a estratégia em ação, precisamos criar um senso de identidade entre as pessoas e os objetivos e metas que estas devem alcançar (ECCLES; NOHRIA; BERKLEY, 1992). As pessoas envolvidas devem ter as habilidades e os recursos adequados para o trabalho e, acima de tudo, devem ter atitudes que apóiem as estratégias (LUECKE, 2009). Neste sentido, os incentivos assumem um papel importante. “Se não tiverem verdadeiros incentivos para implementar a estratégia, os funcionários não vão se comprometer com ela, e a estratégia provavelmente fracassará” (LUECKE, 2009, p. 95). Um sistema de incentivos inadequado, pode levar o colaborador a buscar condições de acomodação que lhe gerem maior benefício pessoal (BESANKO et al., 2012). Portanto, temos uma ligação íntima entre os objetivos e metas de cada nível hierárquico e o sistema de incentivos da organização (LAWLER III, 1990; BESANKO et al., 2012). Este sistema pode nos ajudar a difundir e reforçar os valores, objetivos e metas organizacionais, ao mesmo tempo em que alinha os objetivos pessoais aos objetivos organizacionais. A falta de recompensas adequadas pode promover a perda de foco ou, até mesmo, de pessoas necessárias para a correta implementação das estratégias. No quadro 2 podemos ver um exemplo de como um sistema de recompensas incoerente pode prejudicar a implementação das estratégias em uma organização. O problema de falar-fazer A falta de alinhamento entre os incentivos e a estratégia em geral resulta no que os especialistas da Mercer Human Resources Consulting descrevem como problema de “falar-fazer”. Uma empresa fala uma coisa, mas faz outra. Como descrito em um estudo de medição de capital humano, estes especialistas citam o exemplo de uma empresa de alta tecnologia que alardeou sua política de pagamento por desempenho. O exame dos dados dos recursos humanos da empresa, porém, indicou algo inteiramente diferente: só 5% do pagamento total estavam diretamente relacionados ao desempenho individual. Na realidade, as pessoas no quartil inferior do desempenho estavam obtendo quase a mesma bonificação anual que recebiam os funcionários de alto desempenho da empresa. Contradições semelhantes de falar-fazer foram encontradas em outras empresas. Em todos os casos, os mecanismos de incentivo não davam apoio às estratégias e metas explícita da organização. Quadro 2: O problema de falar-fazer Fonte: Luecke (2009, p. 97) 66 Desse modo, “a melhor garantia da implementação é um sistema de recompensa que alinhe os interesses dos funcionários com o sucesso da estratégia” (LUECKE, 2009, p. 96). Portanto, ao pensarmos na implementação das estratégias, temos que nos atentar a estas questões, para que tenhamos um ajuste preciso do sistema de incentivos da organização, aos objetivos pretendidos pela mesma. 5. CONTROLE ESTRATÉGICO “O controle estratégico consiste em determinar em que medida as estratégias da organização são eficazes para atingir seus objetivos” (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007, p. 339). Parece um processo simples, não? Apesar de ser um processo com princípios intuitivos, o controle estratégico é uma atividade trabalhosa e de extrema importância para garantir a efetividade estratégica. Conforme vimos anteriormente, Kaplan e Norton (2004), enfatizam que o controle de qualquer atividade em uma organização, exige que tenhamos sistemas de mensuração adequados. Afinal, só podemos controlar aquilo que podemos medir. Portanto, nossos sistemas de controle precisam se basear em indicadores mensuráveis. Como os indicadores financeiros são mais fáceis de serem gerados, então, a maioria das organizações acaba tendo seu controle estratégico norteado pelo contexto orçamentário. Contudo, conforme vimos anteriormente, o controle orçamentário opera no âmbito de acontecimentos passados e apresenta um horizonte de tempo limitado (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007). Deste modo, é preciso expandir as opções de controle, com ferramentas como o BSC. Outro aspecto importante do controle estratégico é que nele a ação corretiva é contínua. Este tipo de atividade deve se basear em longos períodos de tempo e deve contemplar tanto o ambiente interno como o ambiente externo à organização (LOBATO et al., 2007). Podemos sintetizar o controle estratégico em cinco passos, que podem ser vistos na figura 7. 67 Figura 7: Passos do controle estratégico Fonte: Adaptado de Wright, Kroll e Parnell (2007) Como podemos perceber pelos passos apresentados, o controle estratégico envolve tanto a medição para atualização dos painéis e instrumentos utilizados, como a intervenção na implementação e no próprio planejamento. Tais iniciativas podem ocorrer por meio de: critérios de desempenho; por meio da organização formal; ou através de interações construtivas e destrutivas nos sistemas informais. Independentemente da forma de controle que escolhemos, precisamos estar atentos para esta atividade, que costuma ser negligenciada. O controle estratégico é um pilar importante da administração estratégica e sua eficácia depende de um trabalho ininterrupto. 6. AS QUATRO DISCIPLINAS DA EXECUÇÃO DA FRANKLIN COVEY Atualmente, algumas metodologias específicas de implementação e controle de estratégias têm ganhado destaque no cenário de gestão. Dentre elas, as quatro disciplinas da execução, desenvolvidas pela empresa de consultoria e treinamento Franklin Covey, se mostram promissoras pela simplicidade conceitual e eficácia, que tornaram a empresa uma referência global na área de execução de estratégias. LINK As quatro disciplinas da execução são uma poderosa metodologia da Franklin Covey, focada em 68 produzir um ambiente propício para a execução de objetivos que não fazem parte da rotina operacional da organização. http://www.franklincovey.com/4dflv/4D_2Vid.html (em inglês) A ideia central por trás desta metodologia é que muitos dos problemas de implementação das estratégias surgem porque as pessoas estão muito ocupadas com o que chamam de “trabalho real”. De um lado, temos as urgências impostas pelo trabalho do dia a dia. De outro, temos o trabalho relativo aos objetivos organizacionais, que são importantes para o futuro da organização, mas não assumem o caráter de urgência encontrado nas atividades do dia a dia (COVEY, 2012). Se as pessoas se vêm obrigadas a escolher entre o urgente e o importante, o urgente acaba sendo priorizado. Em um ambiente com implementações de estratégias complexas, os múltiplos objetivos acabam se perdendo no meio do trabalho do dia a dia. Conforme se vêm sobrecarregadas de atividades, as pessoas deixam de jogar para ganhar e passam a jogar para não perder (COVEY, 2012). Portanto, a visão da Franklin Covey é de que as estratégias não falham por preguiça ou falta de preparo, e sim pelo fato de as pessoas estarem mais preocupadas com as atividades urgentes do que com aquelas que são importantes. A primeira disciplina que a Franklin Covey propõe, para lidar com esta situação é focar a equipe no que é importante. Se distribuírmos muitos objetivos para uma determinada equipe, tendemos a ter perda de foco. De acordo com Covey (2012), um número gerenciável de objetivos deve ficar em, no máximo, dois ou três por equipe. Quanto maior o número de objetivos que atribuímos a uma equipe, menor tende a ser o número de objetivos que esta equipe conseguirá atingir. Portanto, Covey (2012) nos recomenda a não atribuir mais do que três objetivos, ao mesmo tempo, para a mesma equipe. A segunda disciplina consiste em criar metas de direcionamento. As metas de direcionamento são pequenos objetivos intermediários, necessários para atingir a meta final. São ações táticas que descrevem o caminho para se chegar a uma meta. Elas consistem em fragmentar os objetivos em subtarefas, que devem apresentar uma clara relação com o objetivo final. Além de ajudar no controle estratégico, estas subtarefas podem funcionar como direcionadores para a execução do trabalho (COVEY, 2012). A terceira disciplina trata-se da manutenção de um painel de controle convincente. Um painel de controle deve ser visível àqueles membros da equipe cujo desempenho está sendo controlado. Ele também deve ser simples e adequado ao perfil daqueles que o acessarão. Os painéis de controle também devem nos mostrar claramente se as metas estão sendo ou não atingidas no prazo. Isso cria um senso de urgência, ao passo que nos ajuda a mostrar se a equipe está ganhando ou perdendo. Deste modo, temos que fazer atualizações contínuas e corretas, em relação às metas de direcionamento e às metas finais (COVEY, 2012). O quadro 2 ilustra um painel de controle baseado nos Balanced Scorecard. Neste exemplo, temos o BSC clássico, adicionado de uma posição atual do indicador, um score numérico e uma sinalização visual do status, em formato de semáforo. 69 Quadro 3: Painel de controle baseado no BSC. Fonte: Elaborado pelo autor. A quarta disciplina consiste na criação de uma cadência de prestações de contas sobre o status dos objetivos estratégicos. Tal processo tem por objetivo discutir o andamento dos compromissos, discutir alguns poucos compromissos para a semana que se inicia e, também, permitir a coleta de informações para atualização e revisão do painel de controle. Ele pode ser feito por meio de uma rápida reunião semanal, ou mesmo uma videoconferência. Mas é importante estarmos atentos ao fato de que este processo não deve ser usado para discutir atividades de dia a dia. Para ter o efeito desejado, ele deve se concentrar nos objetivos estratégicos da equipe (COVEY, 2012). 7. OS PROJETOS COMO INSTRUMENTOS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS Se formos observar o dia a dia das organizações, veremos que, em muitos casos, a implementação de iniciativas estratégicas não pode ser tratada como uma atividade operacional. Neste sentido, os projetos se destacam como importantes ferramentas de implementação estratégica. Os projetos: [...] são um meio de organizar atividades que não podem ser abordadas dentro dos limites operacionais normais da organização. Os projetos são, portanto, frequentemente utilizados como um meio de atingir o plano estratégico de uma organização, seja a equipe do projeto formada por funcionários da organização ou um prestador de serviços contratado. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2004, p. 7) 70 EUREKA! Projetos: O Project Management Institute (2004, p. 5; 2008) define um projeto como “[...] um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo.” Desse modo, em um cenário onde a implementação das iniciativas se configura como empreendimentos únicos, as boas práticas adotadas no gerenciamento de projetos podem nos auxiliar a converter os objetivos da organização em ações de implementação, conforme ilustrado na figura 8. (VALLE et al., 2007; PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2008) Figura 8: Projetos e planejamento estratégico. Fonte: Sotille et al. (2007, p. 21) Neste sentido, é importante que tenhamos um alinhamento consistente entre as estratégias e os projetos. Devemos fazer a seleção e priorização de projetos tendo por base os objetivos estratégicos. A figura 9 descreve o processo de seleção interna de projetos. Nesta figura, apenas aqueles projetos que se apresentam como opções viáveis para atender aos objetivos estratégicos da organização é que devem avançar até a fase de priorização. Figura 9: Seleção interna de projetos . 71 No contexto ilustrado, o gerenciamento adequado dos projetos pode ser uma importante ferramenta de implementação. Como um elemento tático, que liga a estratégia à sua implementação, o sucesso de nossos projetos depende da adoção de boas práticas de gestão, associadas a um processo consistente de seleção de projetos e a uma clara comunicação de sua relação com os objetivos organizacionais. 8. VAMOS PENSAR? No dia 1º de fevereiro de 2008, a empresa de portal de Internet Yahoo! recebeu uma oferta de compra da gigante do software Microsoft. Uma aquisição de controle corporativo ocorre quando uma empresa ou indivíduo (a Microsoft, neste caso) oferece comprar todas as ações de uma empresa alvo (como a Yahoo!) e, assim, assume o controle da empresa alvo. As negociações entre as duas empresas levaram a uma oferta revisada como a maior de 2008, tendo o CEO da Microsoft, Steve Balmer, supostamente oferecido 33 dólares por ação. O CEO da Yahoo!, Jerry Yang, recusou, insistindo que a empresa valia pelo menos 37 dólares por ação. A empresa continuava independente em dezembro de 2008. Há pelo menos três possíveis explicações para a decisão de Yang de recusar a oferta da Microsoft. Em primeiro lugar é possível que Yang acreditasse que a empresa valia mais do que a Microsoft estava oferecendo. Se, como entidade independente, a empresa pudesse gerar pagamentos de dividendos aos acionistas com um valor presente líquido de mais de 33 dólares por ação, então aceitar a oferta da Microsoft não seria do interesse dos acionistas. Observe, porém, que a empresa estava sendo negociada a meros 19 dólares por ação antes da oferta da Microsoft feita em fevereiro, então os participantes da bolsa de valores pareciam pensar que o valor da Yahoo! como entidade independente era consideravelmente menor do que a oferta da Microsoft. Uma segunda possibilidade é de que Yang estava trabalhando pesado em nome dos acionistas para tentar maximizar o preço de compra oferecido pela Microsoft. Se a Microsoft estivesse disposta a pagar no máximo 40 dólares por ação, então Yang podia estar simplesmente tentando “jogar para ganhar”. Se ele eventualmente conseguisse fazer a Microsoft aumentar sua oferta, os acionistas se beneficiariam. Uma terceira possibilidade, no entanto, é que Yang tinha preferências diferentes das dos acionistas em relação à independência da Yahoo!. Os acionistas podem não se importar, de maneira geral, se a Yahoo! é ou não uma entidade independente; em vez disso, eles só querem maximizar o retorno sobre seu investimento. Por outro lado, Yang, que fundara a Yahoo! em 1994 com seu colega de graduação em engenharia na Stanford University, Dave Filo, podia estar valorizando que a empresa continuasse independente para o bem da própria empresa. No quadro 4 encontramos uma situação problema, onde os interesses dos acionistas e do CEO do Yahoo! podem estar em descompasso. Reflita sobre como poderíamos criar incentivos para que o CEO aja em pró dos acionistas da empresa. Quadro 4: Diferenças de objetivos em relações de agência: Yahoo! Fonte: Besanko et. al. (2012, p. 99) 72 9. PONTUANDO Nesta aula aprendemos que: • A estratégia precisa ser transformada em um plano de ação que contempla: o que será feito; quem fará; quando será feito; onde será feito; porque será feito; como será feito e quanto irá consumir de recursos; • Os Balanced Scorecard são poderosas ferramentas para comunicar e controlar as estratégias dentro das organizações; • A estrutura organizacional tem grande influência sobre a implementação das estratégias; • As pessoas são extremamente importantes para garantir a implementação das estratégias, e podem agir buscando seus interesses pessoais. Por isso, devem ser motivadas e lideradas de maneira a reduzir os problemas de agência; • As quatro disciplinas da execução e o gerenciamento de projetos são práticas que podem nos auxiliar a obter sucesso na implementação das estratégias. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESANKO, D.; DRANOVE, D.; SHANLEY, M.; SCHAEFER, S. A economia da estratégia. Tradução de BRITO, C. D. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. COVEY, S. 4 Disciplines of Execution: Getting Strategy Done. Simon & Schuster, Limited, 2012. ECCLES, R. G.; NOHRIA, N.; BERKLEY, J. D. Beyond the hype: redescovering the essence of management. Boston: Harvard Business School Press, 1992. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de FRAZÃO FILHO, L. E. T. 13. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. ______. Mapas estratégicos: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Tradução de SERRA, A. C. D. C. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. LAWLER III, E. Strategic Pay: aligning organizational strategies and pay systems. San Francisco: JosseyBass, 1990. LOBATO, D. M.; MOYSÉS FILHO, J.; TORRES, M. C. S.; RODRIGUES, M. R. A. Estratégia de empresas. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. (Gestão Empresarial). LUECKE, R. Estratégia. Tradução de VINAGRE, R. M. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009. (Harvard Business Essentials). 73 PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de industrias e da concorrência. Tradução de BRAGA, E. M. D. P. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos. 3. ed. Newtown Square: Project Management Institute, 2004. ______. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos. 4. ed. Newtown Square: Project Management Institute, 2008. SOTILLE, M. A.; MENEZES, L. C. D. M.; XAVIER, L. F. D. S.; PEREIRA, M. L. S. Gerenciamento do escopo em projetos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. (Gerenciamento de projetos). VALLE, A. B. D.; SOARES, C. A. P.; FINOCCHIO JR, J.; SILVA, L. D. S. F. D. Fundamentos do gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. (Gerenciamento de projetos). WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. Tradução de RIMOLI, C. A.; ESTEVES, L. R. São Paulo: Atlas, 2007. 74 VERIFICAÇÃO DE LEITURA II – Os processos utilizados para solucionar os problemas internos e externos da organização. III – As variáveis que compõem os problemas internos e externos da organização. AULA 1 1 – Quando dizemos que a estratégia é um processo formal, destinado a programar o futuro da organização, estamos adotando a definição de estratégia como: a) Plano b) Padrão a) I b) I e II c) I e III d) II e III e) I, II e III c) Posição d) Perspectiva e) Truque Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 4 – Sobre a escola do Design é correto afirmar que o agente central: a) é o executivo Principal. 2 – Complete a frase com a conclusão correta: De acordo com o ponto de vista que trata a estratégia como posição, nossas escolhas devem se concentrar em três dimensões ______________________. a) como produzir, que produtos oferecer e como financiar as operações b) o que aprender, como aprender e como aproveitar o aprendizado c) que atividades realizar, como aprender e quem deverá executar d) que clientes focalizar, que produtos oferecer e que atividades realizar e) que produtos oferecer, como oferecer e quem deverá executar Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. b) são os analistas. c) são as pessoas com poder dentro da organização. d) é a coletividade. e) é o ambiente. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 5 – É uma característica das escolas prescritivas: a) Oferecer uma sólida estrutura de aprendizado organizacional. b) Fornecer uma sólida estrutura de pensamento para fortalecer a cultura organizacional. c) Desenvolver e sugerir receitas para lidar com a estratégia nas organizações. d) Apresentar a estratégia como um grande processo integrado. 3 – Dentre as três frases a seguir, são dimensões que compõem o problema estratégico: e) Descrever o processo estratégico em sua plenitude. I – Os problemas internos e externos da organização. 75 Resposta: c a) Uma cultura fortemente enraizada na organização. Solução: As escolas prescritivas fazem aquilo que seu próprio nome propõe: prescrevem receitas prontas para que as organizações possam lidar com a estratégia. b) A formalização clara dos planos e metodologias utilizadas. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. d) Pessoas que gostem de improvisar em razão das circunstâncias. AULA 2 1 – São fatores que contribuem para o aumento da rivalidade da indústria, exceto: c) Funcionários com senso de urgência para as tarefas de dia a dia. e) Indivíduos capazes de projetar processos de produção adequados. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. b) Concorrentes numerosos ou bem equilibrados. 4 – A frase “Ser reconhecida como uma empresa produtora de softwares seguros e estáveis” é consistente com: c) Baixa capacidade da indústria. a) a visão da empresa. d) Ausência de custos de mudança. b) a missão da empresa. e) Ausência de diferenciação dos produtos. c) os valores da empresa. a) Crescimento lento do mercado. d) as metas da empresa. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. e) as iniciativas da empresa. Verifique seu desempenho nesta 2 - Com relação às recomendações oriundas da questão, clicando no ícone ao lado. matriz BCG, é correto afirmar que: a) Os produtos pet carecem de elevados investimentos, pois são responsáveis por garantir o futuro da organização. 5 – O Scanning ambiental consiste em um processo em que: b) Os produtos vaca leiteira representam um sério risco para as organizações e precisam ser descontinuados em momento oportuno. a) a organização busca reconhecer os produtos de seus concorrentes e suas principais características competitivas. c) Os produtos classificados como crianças problemas representam um sério risco para a organização e precisam ser descontinuados. b) se envolve a equipe na busca de soluções para importantes problemas internos da organização. d) Os produtos estrelas devem ter suas participações de mercado defendidas para se tornarem vacas leiteiras da organização. e) Não é possível apresentar recomendações para o portfólio de produtos a partir da matriz BCG. d) a organização procura identificar características de seu ambiente interno que precisam de intervenções urgentes. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. e) a organização instala dispositivos eletrônicos para monitorar o ambiente de trabalho e utiliza estas imagens para treinamentos futuros. 3 – É um requisito para o bom funcionamento da administração estratégica: 76 c) se monitora continuamente as tendências do ambiente externo, dando maior ênfase àquilo que parece ser mais importante para a organização Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. AULA 3 1 – São recursos da organização, exceto: a) Patentes. b) Dinheiro em caixa. c) Treinamento dos funcionários. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 4 – Ao nos depararmos com os fatores críticos de sucesso (FC’s) mostrados no quadro a seguir, como devemos agir, tendo por base que nossa organização possui recursos limitados: d) Cultura organizacional e) Promoção eficaz de produtos. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 2 – O primeiro passo para a formulação da cadeia de valor consiste em: a) mostrar como a empresa deveria trabalhar suas atividades. b) incluir o preço dos produtos da empresa em uma tabela de controle. c) incluir o preço das matérias primas da empresa em uma tabela de controle. d) subdividir as atividades da empresa em unidades básicas de análise. e) desenvolver um esquema básico do quanto será gasto com a produção. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. FC1 FC2 FC3 FC4 PESO 3 7 9 4 DESEMPENHO DA EMPRESA 9 7 3 3 a) Devemos transferir recursos dos FC’s 1 e 2 para os FC’s 3 e 4. b) Devemos transferir recursos do FC1 para o FC4. c) Devemos transferir recursos do FC1 para o FC3. d) Devemos transferir recursos do FC3 para o FC4. e) Devemos transferir recursos dos FC’s 1, 2 e 4 para o FC3. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 5 – São estratégias genéricas, segundo Michael Porter: a) Liderança em Custo e Diferenciação. b) Liderança em Custo e Ganho de Escala. 3 – São perguntas que podem ser utilizadas para identificar os fatores críticos de sucesso da organização, exceto: c) Ganho de Escala e Diferenciação. a) Porque os clientes fazem negócios com a empresa? e) Enfoque e Alavancagem Financeira. b) Porque os produtos são comprados pela primeira vez? Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. c) Quais vantagens trariam resultados sobre nossos concorrentes? d) O que da empresa precisa fazer para conseguir sustentar sua posição? e) Do que a empresa precisa para continuar competitiva? d) Enfoque e Ganho de Escala. AULA 4 1 – Das sentenças a seguir, qual se trata de uma meta bem formulada? a) Treinar uma parcela dos funcionários até a conclusão da construção da nova fábrica. b) Reduzir os refugos de produção em prazo hábil 77 para implementação do 5S. c) Ampliar a receita de vendas dos produtos voltados à pessoa jurídica em 25%. d) Identificar um conjunto de clientes em potencial para o próximo semestre. e) Atingir uma taxa interna de retorno de 15% para os projetos até o inicio do próximo ano fiscal. 4 – São disciplinas importantes para a execução das estratégias, segundo a Franklin Covey, exceto: a) Eliminar as urgências. b) Focar a equipe no que é importante. c) Criar metas de direcionamento. d) Manter painéis de controle convincentes. e) Criar uma cadência de prestação de contas. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 2 – Complete a frase: ____________ relacionam um conjunto de perspectivas da organização, com o objetivo de encontrar relações de causa e efeito. a) As diretrizes estratégicas b) As metas c) Os mapas estratégicos d) Os objetivos estratégicos 5 – Ter uma visão clara da estrutura organizacional é importante, pois ela nos ajuda a conhecer: a) A qualidade e a eficiência dos recursos da organização. b) Os custos inerentes ao uso dos recursos da organização. c) A velocidade de execução das principais tarefas dentro da organização. e) As redes da organização d) O layout do prédio no qual a organização irá produzir. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. e) A disponibilidade e o comprometimento dos recursos da organização. Verifique seu desempenho nesta 3 – Os Balanced Scorecard têm como benefícios, questão, clicando no ícone ao lado. exceto: a) Alinham as metas departamentais e pessoais à estratégia. b) Associam os objetivos estratégicos com metas de longo prazo e orçamentos anuais. c) Ajudam a realizar revisões estratégicas periódicas e sistemáticas. d) Identificam e alinham as iniciativas estratégicas. e) Ajudam o estrategista a compreender o ambiente externo. Verifique seu desempenho nesta questão, clicando no ícone ao lado. 78 ANSOFF, H. I.; HAYES, R. L. Evolução do problema estratégico. In: ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. (Ed.). Do planejamento estratégico à administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981. Cap.Introdução. p. 15-18. 79 80