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O CONE DE PENETRAÇÃO COMO ENSAIO ALTERNATIVO NA DETERMINAÇÃO DA PLASTICIDADE DE SOLOS Luiz Carlos S. da Silveira1 Universidade Federal da Paraíba 1 Departamento de Engenharia Civil Av.Aprígio Veloso 882 – Bodocongó 58.109-970 Campina Grande-PB [email protected] RESUMO.Devido aos inconvenientes produzidos pelos ensaios de limite de Liquidez(LL) e Limite de Plasticidade(LP) dos solos, este trabalho apresenta uma abordagem alternativa, usando-se o ensaio do Cone de Penetração(Fall-Cone Test) na determinação tanto do LL como do Índice de Plasticidade(IP) num único ensaio. Os resultados apresentados mostram que o ensaio com o Cone de Penetração poderá substituir os ensaios tradicionais de Atterberg com grandes vantagens, principalmente levando-se em consideração a diminuição da influência do operador(laboratorista).Por outro lado, o LL determinado com o cone de penetração como recomenda a norma inglesa(penetração de 20 mm) apresenta valores superiores aos do método de Casagrande , entretanto, usando-se a penetração de 14 mm estes valores são praticamente os mesmos. Com relação ao IP obtidos usando-se os fundamentos do método do cone de penetração, os resultados apresentam valores semelhantes aos obtidos pelo método convencional(ABNT) sendo que em duas amostras apresentam valores pequenos, e como o método da ABNT não consegue determina-los, as classifica como NP(Não Plásticas). Palavras-chave: Atterberg,Plasticidade,Limites de Consistência,Cone de Penetração NTM - 16 1. INTRODUÇÃO Quando se quer identificar ou mesmo classificar um solo, principalmente para fins rodoviários, os limites de consistência são parâmetros largamente usados. Erros nos valores destes parâmetros podem até resultar na rejeição de materiais satisfatórios, ou mesmo, na aceitação de materiais inadequados. Como se sabe, os limites de consistência de um solo são determinados em ensaios de laboratórios e entre estes ensaios, estão os de limite de liquidez (LL) e o de limite de plasticidade (LP). No entanto, estudos alternativos tem sido feitos, devido aos inconvenientes apresentados, principalmente relacionados aos procedimentos dos ensaios. No tradicional ensaio de LL por exemplo, o próprio Casagrande.[1] reconhece a desvantagem do método, que consiste essencialmente em um ensaio dinâmico de cisalhamento. Sowers et al. [2] e Sherwood et al. [3] enumeram outros inconvenientes : a)dificuldade de se fazer a clássica ranhura em solos com predominância arenosa; b)solos de baixa plasticidade tendem a se liquefazer antes de fluir por plasticidade; c) influência do operador na execução da profundidade da canelura e observação oportuna do momento de fechamento da mesma. Por outro lado, o ensaio de LP, considerado pelos pesquisadores como um ensaio rudimentar e que depende essencialmente da habilidade individual do operador, principalmente em solos com LP baixos ou próximos do LL, onde torna-se difícil a formação do cilindro, e operadores inexperientes ou mesmo sem paciência, são induzidos a classificar o solo como não plástico (NP). Devido aos inconvenientes apresentados pelos ensaios tradicionais de plasticidade, então seria bastante racional, se os limites de consistência podessem ser determinados em um único ensaio.Assim sendo, este trabalho objetiva apresentar para 5 (cinco) amostras de solos de clima tropical este estudo alternativo. 2. DESCRIÇÃO DO APARELHO E PROCEDIMENTOS DO ENSAIO O aparelho utilizado para realizar o ensaio com o Cone de Penetração é o mesmo usado para medir a penetração de asfalto, com a simples substituição da agulha por um cone padronizado.O ensaio consiste em se medir a penetração que o cone padronizado sob condições especificadas de peso, ângulo e tempo de queda penetra verticalmente em uma amostra de solo previamente preparada. Com isso, o problema fica reduzido a se encontrar uma relação entre a resistência ao cisalhamento do solo e o teor de umidade correspondente ao LL. Existem vários métodos que usam o cone de penetração para determinar o valor do LL. Entretanto, os métodos diferem no peso, ângulo e na profundidade de penetração do cone. Com os valores de teor de umidade (h) e penetração (d) constrói- se um gráfico , no qual as ordenadas são as penetrações e as abscissas os correspondentes teores de umidade. Em seguida, interpola-se uma reta entre os pontos determinados no gráfico. O LL é expresso pelo teor de umidade correspondente à penetração de 20 mm. 3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS Baseado na teoria do estado crítico, Schofield e Wroth [4] mostraram que existe um relacionamento direto entre o teor de umidade do solo (h) e a resistência ao cisalhamento não drenada do solo (S) : h + A log S = cte (constante) (1) onde A é uma constante. Por sua vez, Skempton e Northey [5] indicam que a resistência ao cisalhamento do solo no LP, é aproximadamente 100 vezes a resistência ao cisalhamento no LL. Desta maneira tem-se que: hLL + A log S LL = hLP + A log S LP , e como S LP = 100S LL Þ A = IP 2 (2) Por outro lado, Hansbo[6] baseado no mecanismo de penetração (d) com cones geometricamente semelhantes e Wood e Wroth [7] com base em análise dimensional obtiveram a seguinte relação: Para cones de peso P, tem-se S .d 2 = cte (constante) P cte S= 2 d NTM - 17 (3) (4) Substituindo-se (2) e (4) em (1) obtem - se: h = IP. log d + cte Observa-se na “Eq.(5)” que a mesma é do tipo declividade (a) da reta no plano h x log d. 4. (5) y = a.x + b e portanto o IP pode ser determinado como sendo a MATERIAIS E MÉTODOS As amostras utilizadas neste trabalho são provenientes de jazidas dos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Paraíba. Os ensaios foram realizados com amostras secas ao ar e passadas na peneira 0,42 mm. Para as determinações de LL e LP utilizou-se para o método convencional as normas da ABNT, NBR6459 e NBR7180 respectivamente. Os ensaios através do cone de penetração para a determinação do LL, usou-se um equipamento elétrico de fabricação inglesa, e procedimento recomendado pela norma BS 1377- 1975 teste 2A, bem como o procedimento recomendado por Silveira [8] onde o LL pode ser obtido através da penetração do cone com 14 mm, diferente da norma inglesa que recomenda uma penetração de 20 mm. Com relação ao IP obtido com o uso do cone de penetração usou-se o fundamento da “Eq. (5)”. 5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS A “Tabela 1” apresenta os valores médios dos ensaios das amostras estudadas, sendo o IP*determinado indiretamente. Tabela 1. Valores Médios de LL, LP e IP (%) Amostras LL 01 02 03 04 05 14,0 29,4 19,4 35,9 39,6 Método ABNT LP 18,9 23,3 24,7 IP* Método do Cone LL(20mm) LL(14 mm) NP 10,5 NP 12,6 14,9 18,0 34,0 23,0 39,0 45,0 14,0 29,0 19,0 36,0 39,0 IP 2,0 10,0 2,5 15,0 17,0 Observa-se na “Tabela 1” que os valores médios de LL(20 mm) são todos superiores aos obtidos através do método convencional (ABNT). Entretanto, observa-se que os valores médios de LL (14 mm) são praticamente os mesmos que os da ABNT. Com relação ao IP, verifica-se que os valores médios obtidos com o cone de penetração são próximos aos obtidos com o método convencional. Porém, observa-se que para as amostras 01 e 03 o método da ABNT classifica as amostras como não plásticas (NP), enquanto o método do cone encontra valores 2,0 % e 2,5 %, que se justifica , uma vez que no método da ABNT é difícil de se obter IP pequenos, pois os valores de LP estão muito próximos dos valores de LL. 6. CONCLUSÕES Baseado nos resultados obtidos pode-se concluir que : 1- O LL determinado com o cone de penetração como recomenda a norma inglesa, apresenta valores superiores aos do método convencional (ABNT), entretanto, com a penetração de 14 mm estes valores são praticamente os mesmos. 2- O IP obtido através do cone de penetração apresenta resultados semelhantes aos da ABNT, com exceção das amostras 1 e 3 , que apresentam valores (2,0% e 2,5%), e que o método convencional não consegue determina-los; 3- O método do cone de penetração apresenta-se com melhor fundamento para ser usado na determinação tanto do LL como do IP; 4- O ensaio com o cone de penetração é bastante simples e a influência do operador é menos acentuada; NTM - 18 5- O uso do cone de penetração representa portanto, uma alternativa para a determinação da plasticidade dos solos em um único ensaio, uma vez que diminui a incidência de erros, devido principalmente a eliminação do ensaio de LP. 7. REFERÊNCIAS [1] A. Casagrande, Notes on the design of the Liquid Limit Device, Geotechnique,vol. 8,no. 2,1958, pp. 84-91. [2] G.G. Sowers, A. Vesic, M. Grandolfi, Penetration Test of Liquid Limit, ASTM, Special Tecnical Publication, no.254, 1960, pp. 216-226. [3] P.T. Sherwood and M.D. Ryley, An Investigation of a Cone Penetrometer Method for the Determination of the Liquid Limit, Geotechnique, vol. 20, no. 2, 1970, pp.203-208. [4] A.N. Schofield and C.P. Wroth, Critical State Soil Mechanics, Mac Graw- Hill, 1968, p.310. [5] A.W. Skempton and R.D. Northey, The Sensitivity of Clays, Geotechnique, vol.3, no.1,1953, pp. 32-53. [6] S. Hansbo, A New Approach to the Determination of the Shear Strength of Clay by the Fall-Cone test, Proceeding of the 1957 Royal Suedish. Geotechnical Institute, no.14, pp.7-47. [7] D.M. Wood and C.P. Wroth, The Use of the Cone Penetrometer to Determine the Plastic Limit of Soils, Ground Engineering, vol. 11,no. 3, 1978, p.37. [8] L.C.S. Silveira, Cone de Penetração: Limite de Liquidez Ajustado a Solos Tropicais, XI Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, ABMS,vol. 2, 1998, pp. 781-783. NTM - 19