Guia de estudos CDJ - Eventos - UNI-RN
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Guia de estudos CDJ - Eventos - UNI-RN
Lívia Vieira Almeida (Secretária Acadêmica) Maria Luísa Machado Dantas de Sena (Diretora Acadêmica) Aline Pinheiro de Albuquerque (Diretora Assistente) Lívia da Nóbrega Siqueira Silva (Diretora Assistente) Luana Maria Figueiredo de Lima Caldas (Diretora Assistente) Victor Maciel Ramalho Pessoa (Diretor Assistente) Ygor Rafael Cassiano de Araújo (Diretor Assistente) CORTE DISTRITAL DE JERUSALÉM Caso: Adolf EichmannVs. Estado de Israel Guia de Estudo apresentado ao Projeto de Extensão UNISIM-RN – Simulação Intermundi, do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN), a ser realizado na data de 10 a 13 de agosto de 2016. Orientadora Geral: Vânia Vaz Barbosa Orientador Adjunto: Samuel Max Gabbay Natal/RN 01/05/2016 Cela Lívia Vieira, Secretária Acadêmica da Corte Distrital de Jerusalém que cursa o 5º período de Direito no UNI-RN, possui uma conduta flexível que se adequa a todas as opiniões e ocasiões necessárias. Com postura de uma profissional de primeira linha, responde mensagens instantaneamente 24 horas por dia, sete dias por semana, além de amar reuniões. Para poder estar presente em todos os encontros, responder as mensagens, escrever seus artigos, estudar para a faculdade e resolver os assuntos relacionados à UniSim, reza a lenda que se multiplica em tantas necessárias até tornar-se onipresente e só assim conseguir cumprir com suas diversas obrigações. Maria Luísa Machado, vulgo Malu, com as suas 25 primaveras já é formada em Publicidade e Propaganda, mas largou tudo para encarar o curso de Direito. Cursando o 5º período no UNI-RN, com ela não tem tempo ruim, pois apesar de sempre ter muitas tarefas da faculdade, nunca nega uma saidinha para curtir a vida, fazendo jus a caicoense nata que é! Alegre, espontânea, prática, bastante sincera e engraçada, Malu é daquelas que paga “mico” e sai rindo de si própria, porque vergonha não é o seu forte. Entretanto, se um dia estiver bebendo café ao lado dela, aconselho que ofereça, do contrário ganhará uma grande inimizade, já que café é o seu grande companheiro e vício do dia a dia. Aline Albuquerque não é a Inês Brasil, mas se você pensa em simulação, e pensa em resenha, você vai ouvir dela um "demorô lá lálá ô, me chama que eu vô". Nossa menina cursa o 3º período de direito no UNI-RN, e se engana quem pensa que ela é só uma "lindinha". Além de despejar carisma por aí, daquelas que distribui abraços e carinhos a todos, ela tem o pulso firme de quem quer vai se tornar promotora (talvez de eventos) muito bem sucedida. Com ela não tem essa história de "tá tranquilo e favorável". Educada desde cedo com todas as influências culturais, Aline abusa de uma versatilidade que deve ser explorada por vocês. É por isso que, em 1961, na pacata cidade de Jerusalém, essa jovem de 20 aninhos será uma mulher à frente do seu tempo. Cursando o 3° período de Direito na UNI-RN, Luana não brilha apenas por sempre estar usando roupas maravilhosas, mas principalmente pelo seu jeito atencioso, educado e compromissado de ser. De índole admirável, ela é essa menina que mesmo em semana de provas, eventos em família e um Victor (Sim! Nosso diretor) para amar, vai lutar para se fazer presente nas reuniões que forem necessárias e honrar com suas atribuições. Cheia de ideias e soluções, não é de muitos rodeios ao dizer o que pensa ser melhor para o grupo, e quase sempre acerta no que concerne à logística do projeto e à missão do nosso comitê. No mais, falando por experiência própria, deixo aqui meu conselho: se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, não hesite em procurar a loirinha que veste 36; ela vai superar as expectativas! Lívia Siqueira cursa o 3° período de Direito no UNI-RN, com sua postura séria, é competente em tudo que faz. Pode até meter medo pelo seu semblante rígido e pela sua altura, é uma morena que chama atenção por suas atribuições físicas. Com toda sua capacidade, trabalha brilhantemente e expõe seus pensamentos e ideias como ninguém, mostrando-se uma mulher com futuro brilhante, que faz o necessário para dar o seu melhor, mas ao marcar uma reunião... Deve-se ter cuidado para que ela não confunda o lugar e vá bater do outro lado da cidade. Era uma vez um menino pacato, de sorriso aberto e relativamente fácil, cuja inteligência surpreendia a cada vez que abria a boca para falar. Ainda bem que era só uma vez, porque certamente não saberíamos lidar com duas pessoas como Victor num único Comitê. Ele cursa o 5º período de direito no UNI-RN e, assim como bom aluno, se mostra um excelente diretor e um menino de ouro. Se você pensa que uma frase ou texto pode ter apenas um ou dois sentidos, desista. Victor está aqui para mostrar que a interpretação do ser humano não tem limites, sempre indicando qual é a melhor forma de dizer e escrever o que se quer. Além disso, acompanhado da sua fiel escudeira Luana, os dois formam um casal digno de se colocar em potinhos. Embora o mel não escorra durante as reuniões, reza a lenda que o casal está proibido de acabar. Como pode-se imaginar, eles são, definitivamente, os queridinhos do Comitê. Ygor Rafael, 21 primaveras com a carinha de 15. DJ nas horas vagas, ele tem uma playlist no Spotify (ygorrafael) de fazer inveja, eclético, vai das divas do pop ao axé baiano, afinal, é Presidente do Fã Clube Oficial de Cláudia Leite em Natal. Você pode se perguntar o que ele está fazendo aqui com essa cara de C&T ou mecânica, mas acreditem, ele é um estudante de Direito e será o secretário da CDJ. Aquele cara que você vai querer atirar pedras quando ele impugnar suas provas. Ygor estuda na UFRN e se vira nos trinta para dar conta de tantos afazeres. LISTA DE ABREVIATURA CDJ Corte Distrital de Jerusalém CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas KAPO Kameradanpolizei LEI Nº 64 Lei Punitiva dos Nazistas e Colaboradores dos Nazistas NSDAP Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ODESSA Organização clandestina de veteranos da SS ONU Organização das Nações Unidas SA Tropas de Assalto, organização paramilitar SD Serviço de Inteligência da SS SS Esquadra de Proteção, organização paramilitar URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas UNISIM Simulação Intermundi do UNI-RN SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 CONTEXTO HISTÓRICO....................................................................................... 10 2.1 Segunda guerra mundial: Precedentes e desfecho ......................................... 10 2.2 Ascaracterísticas dopartido nazista e aperseguição aos judeus ...................... 14 2.3 O final dasegunda grandeguerra e suas implicações ...................................... 18 3 ADOLF OTTO EICHMANN .................................................................................... 20 3.1 Vida .................................................................................................................. 20 3.2 Atuação na Alemanha Nazista ......................................................................... 22 3.3 A solução final .................................................................................................. 23 3.4 Decadência e sua consequente fuga ............................................................... 25 3.5 Trajetória da Argentina e sua captura .............................................................. 29 3.6 Litígio entre Israel e Argentina ......................................................................... 32 4 SISTEMA JUDICIÁRIO ISRAELENSE .................................................................. 34 4.1 A criação do Estado de Israel .......................................................................... 34 4.2 Judiciário: Estrutura e funcionamento .............................................................. 36 5 LEI DOS NAZISTAS E SEUS COLABORADORES .............................................. 39 5.2 Seções ............................................................................................................. 41 5.3 Dos crimes imputados à Adolf Eichmann ......................................................... 42 6 COMPETÊNCIA DA CORTE DISTRITAL DE JERUSALÉM ................................. 43 6.1 Questões contrárias ......................................................................................... 43 6.1.1 Julgamento baseado em lei retroativa ....................................................... 43 6.1.2 O rapto ....................................................................................................... 45 6.1.3 “Crimes contra o povo judeu” e “Crimes contra a humanidade” ................ 46 6.2 A defesa apresentada pela Corte..................................................................... 47 6.2.1 Princípio da Jurisdição Universal ............................................................... 47 6.2.2 Princípio da Personalidade Passiva........................................................... 48 6.2.3 Princípio Territorial ..................................................................................... 49 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 53 ANEXOS ................................................................................................................... 58 8 1 INTRODUÇÃO É com muita satisfação que neste ano, a UniSim – Simulação Intermundi, projeto de extensão do Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN), celebra sua décima edição e traz, em meio aos comitês políticos, a simulação de um julgamento histórico realizado pela Corte Distrital de Jerusalém, em 1961. Em se tratando de um comitê jurídico, a Corte possui procedimentos próprios, tendo sido simulada, aos nossos conhecimentos, apenas uma vez no Brasil. De maneira geral, o projeto promove debates sobre os mais variados segmentos, ampliando os conhecimentos acadêmicos por meio da interdisciplinaridade com fatos históricos e as temáticas atuais. Outrossim, embora diversas medidas tenham sido implementadas para o progresso da humanidade, após 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, ainda nos vemos diante de um cenário de intolerância, seja ela de cunho político ou não. Nesse diapasão, a fim de incitar reflexões e agregar conhecimentos sobre os trâmites legais, a Corte simulará o julgamento do nazista Adolf Otto Eichmann, acusado de 15 crimes relacionados ao extermínio do povo judeu durante o holocausto nazista. Este comitê proporcionará o crescimento intelectual e acadêmico por ter como eixo questões recorrentes e debatidas na seara internacional. Para a compreensão desse processo, é de fundamental importância entender o sistema jurídico israelense, bem como qual o papel da Corte Distrital de Jerusalém em seu funcionamento. Ressalte-se ainda que o contexto histórico em que ocorreu o fato, as atividades relacionadas ao acusado e a sua biografia também devem ser apreendidas pelos participantes, visando uma simulação o mais fiel possível à realidade. Saliente-se que todo o conteúdo aqui exposto deve ser visto apenas como uma orientação, cabendo a cada participante pesquisar a fundo sobre o assunto,conforme as funções que lhe forem direcionadas. Não será permitida a 9 utilização deste documento durante o julgamento, sob quaisquer condições, uma vez que este configura-se somente como elemento norteador. Esclarecidas as questões sobre o caso a ser simulado, desejamos a todos bons estudos e que seja uma experiência enriquecedora. Ademais, lembremos: hoje incorporamos papéis que não são nossos, mas amanhã seremos os próprios protagonistas. Uma excelente simulação a todos! 10 2CONTEXTO HISTÓRICO Para entender o caso Adolf Eichmann, faz-se necessário uma contextualização quanto ao momento histórico em que ocorreram seus supostos crimes. Sendo assim, este capítulo traz um breve relato sobre o desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial, com destaque para o partido Nazista e suas principais características, uma vez que este atuou como um dos protagonistas do conflito, juntamente com seu líder Adolf Hitler, bem como as consequências da guerra a nível mundial. 2.1 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: PRECEDENTES E DESFECHO Para compreendermos como foi desencadeada a Segunda Guerra Mundial, é fundamental remeter ao final do conflito anterior. Após a Primeira Guerra, foi assinado em 28 de junho de 1919, na cidade de Versalhes, um tratado de paz que consolidou o fim do confronto entre os países. Além da paz entre as nações envolvidas, tal tratado estabeleceu que a Alemanha deveria pagar indenizações e submeter-se a punições severas, uma vez que os países da Tríplice Entente, lê-se, Inglaterra, França e Rússia, a viam como grande responsável pelo conflito. Entre as punições, destacam-se a perda de parte do território e a redução do exército alemão. Além disso, a economia alemã foi bastante atingida pelo pós-guerra, desencadeando uma hiperinflação, na qual exigia-se muito dinheiro e comprava-se pouco pão. A população da Alemanha estava desesperançosa e foi sob esse prisma que, aos poucos, o nacionalismo de Hitler ganhou espaço, rompendo com as regras do Tratado de Versalhes. Nos anos 20, o partido Nazista era a agrupação mais virulenta da extremadireita alemã, bem como uma das menos expressivas. Em 1928, o partido conseguiu apenas 12 cadeiras (ou 3% dos votos) no Parlamento (Reichstag). Nada obstante, em 1930, o quadro sofreu uma intensa modificação, fazendo com que os nazistas 11 conquistassem 107 cadeiras e 6,5 milhões de votos, tornando-se o segundo maior partido do país, atrás somente dos sociais-democratas. Dois anos depois, o aumento da popularidade trouxe resultados ainda melhores para o partido, alcançando 230 assentos no Parlamento e 13,4 milhões de votos (37%).1 No que concerne a esse aumento significativo de eleitores simpatizantes do Partido Nazista, o historiador britânico Richard J. Evans2 afirma que “entre os milhões que votaram em Hitler, havia muitos, talvez a maioria, que não votaram pelo pacote da ideologia nazista [...]. O voto de 1932 foi acima de tudo um voto-protesto.” Os alemães culparam os políticos por aceitarem as condições impostas pelo Tratado de Versalhes. Em virtude desse acordo, a Alemanha perdeu: 13% do território e 10% da população, todas as colônias, 75% das reservas de ferro e 26% das de carvão. O país teve que destruir 15 mil aviões e 6 milhões de fuzis. A força aérea foi abolida, o Estado-Maior, dissolvido e o Exército reduzido a 100 mil homens. (SZKLARZ, E. A sedução da barbárie: como o Terceiro Reich nasceu... [Ed. Abril]. Revista Aventuras na História, n. 124, p. 28-37, nov.2013) Provocados pelo ressentimento de terem que pagar reparações pelos danos ainda relacionados à Primeira Guerra Mundial, os alemães permaneciam indignados com a situação do país. A inflação havia disparado, sendo agravada pelo “crack” da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Com um solo já fertilizado pelos acontecimentos socioeconômicos da época, a figura carismática de Hitler surgiu para lançar as primeiras sementes do que viria a ser a ditadura do 3º Reich, permeada pelas ideias de antissemitismo, expansionismo, higiene racial e hostilidade à democracia e à cultura moderna. Em 1932, apesar da derrota nas eleições, os nazistas continuaram representando a principal força do Parlamento. Iludido pela ideia de que seria mais fácil controlar o expansionismo de Hitler tendo-o por perto, o presidente Paul von Hindenburg nomeou Adolf Hitler chanceler, em janeiro de 1933. Em decorrência desse evento, Hitler aproximou-se do Exército e dos grandes industriais de tal maneira que, em março do mesmo ano, graças a uma aliança com os nacionalistas, obteve o aval do Parlamento para governar com plenos poderes. E foi assim, por 1SZKLARZ, E. A sedução da barbárie: como o Terceiro Reich nasceu... [Ed. Abril]. Revista Aventuras na História, n. 124, p. 28-37, nov.2013. 2Idem. 12 meio de atos constitucionais, que o líder conseguiu dissolver os outros partidos e instalar uma ditadura, sendo seu golpe selado em 1933,com o incêndio do Parlamento. Após esse ocorrido, Hitler pressionou o presidente para a abolição de todas as liberdades fundamentais da República, propiciando a prisão de muitos dos adversários nazistas. Com a ascensão de Hitler ao poder, o expansionismo alemão tomava forma e o governo passou a demonstrar firmeza na retomada dos territórios perdidos, uma atitude vedada pelo Tratado de Versalhes. O Führertambém retomava o desenvolvimento armamentista, contrariando a proibição de remilitarização estabelecida pelo Tratado. Outrossim, enquanto os oponentes se decidiam sobre a novidade, os soldados alemães invadiam a região fronteiriça com a França, a Renânia. Paralelamente, a Itália buscava novos territórios, aproximando cada vez mais o fascismo italiano e o regime hitlerista, cujas similaridades acabaram por dar origem ao Eixo Roma-Berlim.3 Um pouco depois, o Japão, com seu imperialismo ditatorial, também foi incorporado ao Eixo. Segundo o historiador ANTONIO PEDRO (1992), "a relação entre as três potências ficou consolidada com a assinatura do Pacto Anti-Kominter, isto é, um pacto contra o movimento internacional comunista que tinha endereço certo: a União Soviética." Enquanto isso, França e Inglaterra enfrentavam mudanças internas que impediam um posicionamento em relação aos avanços do Eixo. Interessada na expansão alemã, a União Soviética (URSS) tentava uma aproximação com o governo alemão ao mesmo tempo em que negociava com outros países uma aliança antinazista. Destarte, em agosto de 1939, foi assinado o famoso pacto de não agressão nazi-soviético. No entanto, entre os dois países havia a Polônia, cujo território também possuía habitantes alemães. Sob esse pretexto, Adolf Hitler decidiu ocupar o país, dando início à invasão da Polônia no dia 1 de setembro de 1939. Por conseguinte, França e Inglaterra se manifestaram contra, porém foram ignoradas e, dois dias depois, a aliança anglo-francesa declarou guerra à Alemanha. Mesmo diante da ajuda do exército inglês, no dia 14 de junho, as tropas nazistas já se encontravam em Paris. Com áreas da França e da Bélgica 3Nome pelo qual ficaram conhecidas as potências fascistas durante a Segunda Guerra. 13 devidamente ocupadas, Hitler agora conseguiria alcançar uma parte da GrãBretanha, haja vista que o alvo principal era a tradicional e bem sucedida Londres. Contudo, para surpresa do Führer, a Inglaterra resistiu. Com a atuação da Real Força Aérea Britânica, a Luftwaffe (força aérea alemã) não só foi atingida, como também Berlim foi bombardeada. O próximo alvo seriam os Balcãs, cuja proximidade ao território russo tornaria a ocupação alemã cada vez mais possível. Sendo assim, em junho de 1941, as 150 divisões do exército alemão iniciaram a invasão. Embora os russos tenham resistido, a força do Wehrmacht era implacável, chegando rapidamente às portas de Moscou. Apesar disso, os russos lutaram bravamente em defesa da cidade. Os generais alemães mostraram-se surpresos diante da eficácia dos tanques soviéticos, pesadamente blindados, de forma que as granadas dos canhões antitanques se tornavam ineficazes contra eles. Desta feita, o exército nazista começava a ser vencido. Enquanto isso, a luta pelo domínio do Pacífico avançava entre os Estados Unidos e o Japão. O primeiro estava cada vez mais perto da Inglaterra, ao passo que o segundo alinhava-se lado a lado com a Alemanha. Com suas rivalidades definidas, no dia 7 de dezembro de 1941, a base americana de Pearl Harbor (Havaí) foi fortemente atacada pela marinha e aviação japonesas, tornando o ataque decisivo. A partir daí, a Guerra passou a ter proporções mundiais, não mais europeias. Consolidou-se, assim, um intenso conflito entre os países do Eixo, representados pela Alemanha, Itália e Japão, e os países Aliados, representados pelos Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra. Com a libertação da França, Bélgica e Holanda do domínio nazista, realizada pelo Alto Comando dos Aliados, estes últimos estavam cada vez mais focados em derrubar o Reich. Dessa forma, depois de muito diálogo entre os países, preparouse o ataque final à Alemanha. A alta cúpula nazista se via encurralada em Berlim, enfurnada nos porões da chancelaria, também conhecida como Bunker, em razão de suas fortificações subterrâneas. Ainda houve uma última tentativa dos nazistas de fazer acordo com os ocidentais, mas a União Soviética interveio e exigiu 14 presença nas negociações, impedindo que elas se firmassem. Por conseguinte, não havia mais impedimentos para a vitória dos Aliados. No dia 28 de abril, a chancelaria foi acordada com a notícia de que o cerco de defesa de Berlim havia sido rompido em quase todos os pontos e os russos dominavam quase toda a cidade. No dia 30 de abril, Hitler suicidara-se com um tiro e Eva Braun com veneno. Após a morte de Adolf Hitler, os alemães ainda tentaram fazer acordos, mas não obtiveram sucesso. Sem escapatória, a rendição incondicional foi aceita a pedido do general Weidling e, no dia 7 de maio, a última resistência nazista foi controlada. 2.2 AS CARACTERISTICAS DO PARTIDO NAZISTA E A PERSEGUIÇÃO AOS JUDEUS Com o fim da Primeira Guerra Mundial, conforme já explanado, o povo alemão vivia em constante descontentamento quanto à sua situação política, social e econômica. Os alemães não aquiesciam às imposições do Tratado de Versalhes e a República de Weimar não estava proporcionando o avanço esperado. Desta forma, a situação clamava por um novo líder que conseguisse reestabelecer a ordem no país, recuperar a economia e acabar com as penalidades às quais a Alemanha estava submetida. Aos poucos, esse clamor foi atendido por um ex-combatente da Primeira Guerra, a quem seus superiores incumbiram a missão de doutrinar os colegas militares.4 Destacava-se, assim, a figura de Adolf Hitler. O ex-soldado inflamava seus ouvintes com a ideia de que a então conjuntura da Alemanha devia-se a judeus e comunistas, pois estes haviam traído os interesses patrióticos.5 De acordo com Celso Miranda: E o que ele dizia era que duas sombras pairavam sobre a Alemanha. Os judeus, que tinham tanto lucrado com a guerra quanto manipulado a rendição do país em benefício próprio, e os bolcheviques, que se 4 MIRANDA, C. Os amores de Hitler. 10 anos de Aventuras na História: as reportagens fundamentais. São Paulo: Ed. Abril, p. 62-68, 2013. 5Idem. 15 organizavam no caos econômico e pregavam a submissão do país a uma ideologia alienígena. (MIRANDA, C. Os amores de Hitler. 10 anos de Aventuras na História: as reportagens fundamentais. São Paulo: Ed. Abril, p. 62-68, 2013) Os discursos de Hitler tornaram-se famosos ao longo do tempo, ganhando cada vez mais adeptos, deixando claro que o grande objetivo era resgatar a dignidade política alemã e recuperar o passado glorioso dos dois impérios anteriores, embasando o que viria a ser o Terceiro Reich.6 Sendo assim, nascia, na década de 1920, o Partido Trabalhista Alemão, que em seguida passou a se chamar Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), também conhecido como Partido Nazista. Já em 1923, os nazistas articularam um golpe no estado da Baviera, todavia, acabaram presos e condenados. Foi durante o período em que esteve preso, que Hitler escreveu o livro base da ideologia nazista: MeinKampf(Minha Luta). A obra contém seus pensamentos sobre antissemitismo, racismo, eugenia e nacionalismo. Ainda na clausura, o futuro Führerdeixava claro seu projeto para uma nova Alemanha, sendo esta livre de judeus, estrangeiros, negros, doentes mentais, homossexuais ou qualquer outro que não se enquadre-se no seu ideal da raça ariana, cujos traços genéticos deveriam dominar a terra. Os discursos de Hitler sempre culpavam os judeus quanto à situação alemã, alegando que eles e os demais “incuráveis” eram responsáveis por todas as desgraças. Suas falas começavam sempre com profundo pessimismo e terminavam em efusiva redenção, um final feliz triunfal.7 Em seu livro, o ditador relata a importância do uso da violência como forma de repressão. Eis algumas de suas palavras: “[...] só há possibilidade de êxito no combate a uma doutrina quando se empregam métodos de repressão uniformes e sem solução de continuidade.”8 Nesse diapasão, foram criadas duas milícias, a SS9 e a SA, que tinham a missão de intimidar toda e qualquer concorrência, dissolvendo no pugilato as 6 Disponível em: <http://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/nazismo.htm> Acessado em: 13/03/2016. 7 REES, L. O obscuro carisma de Adolf Hitler. Revista BBC History Brasil, São Paulo: Ed. Escala, Ano 1, n. 1, p. 16-22, 2014. 8 CLARET, M. Hitler por ele mesmo. Livro-Clipping. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006. 191p. 9 Vide anexo A. 16 manifestações comunistas, depredando casas e comércios de judeus, bem como os jornais que iam de encontro ao nazismo.10 Por outro lado, Hitler também acreditava que apenas atitudes violentas não eram suficientes, havendo a necessidade de uma “base espiritual” bem construída, numa forma eufêmica de dizer que sua ideologia deveria ser absorvida por completo. Desse modo, preleciona: Toda força que não provém de uma firme base espiritual torna-se indecisa e vaga. A ela faltará a estabilidade que só poderá repousar em certo fanatismo. [...] pode se estabelecer o seguinte: toda tentativa de combater pelas armas um princípio universal tem de ser mal-sucedida, enquanto a luta não tomar rigorosamente forma de ofensa por novas ideias. É somente na luta de dois princípios universais que a força bruta, empregada persistente e decididamente, pode provocar a decisão favorável ao lado por ela sustentado. (CLARET, M. Hitler por ele mesmo. Livro-Clipping. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006, p.115) Neste bordo, o Führerreconhecia tanto a importância do uso da força, para que outros ideais não obtivessem lugar ou voz, quanto a necessidade de sua ideologia ser disseminada abundantemente, de maneira a conquistar a mente dos alemães. Para tanto, os nazistas contaram com a efetiva atuação de Joseph Goebbels, ministro da propaganda, cuja função era construir a imagem de Hitler como grande líder e redentor, ao passo que mostrava a imensidão de crentes na sua política. Com fulcro em tais objetivos, os desfiles de rua foram multiplicados, assim como sua pompa. Neles, os militantes levavam bandeiras e faziam a saudação Heil Hitler, típica dos nazistas e simpatizantes.11 Além da imagem de seu líder, um dos símbolos mais utilizados pelo nazismo foi a suástica, uma espécie de cruz com braços virados em sentido horário. A palavra “suástica” vem do sânscrito svastika e significa “condutora do bem-estar”12. Crê-se que, por essa razão, a mesma foi adotada como emblema principal do nazismo, a fim de transmitir a ideia de que aquele partido, ou aqueles que 10 MIRANDA, C. Os amores de Hitler. 10 anos de Aventuras na História: as reportagens fundamentais. São Paulo: Ed. Abril, p. 62-68, 2013. 11SZKLARZ, E. A sedução da barbárie: como o Terceiro Reich nasceu... Revista Aventuras na História, São Paulo: Ed. Abril, n. 124, p. 28-37, nov.2013 12 Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-origem-da-suastica-o-simbolonazista> Acessado em: 13/03/2016. 17 abraçassem seus pilares, viriam a reerguer a Alemanha e recuperar o bem-estar de toda a população. Mister salientar que o nazismo ganhou força não apenas por conquistar os cidadãos comuns, mas, principalmente, por obter a adesão de intelectuais, entre outras pessoas influentes. Conforme se lê na reportagem de Eduardo Szklarz: Também o regime cooptou artistas, filósofos, professores e repórteres. “Os nazistas não precisaram silenciá-los. Apenas disseram: ‘Vocês podem continuar trabalhando, só não escrevam nada crítico sobre nós.’”, diz o historiador. Os profissionais da saúde foram seduzidos com uma sandice em voga na época, a eugenia, que buscava aprimorar a raça humana através da genética. Um exército de médicos e enfermeiras esterilizou 400 mil pessoas entre 1933 e 1938, entre elas deficientes físicos e mentais, epiléticos e alcoólatras. Em cada bairro, o nazismo motivou os alemães a construir uma sociedade policial.” (SZKLARZ, E. A sedução da barbárie: como o Terceiro Reich nasceu... Revista Aventuras na História, São Paulo: Ed. Abril, n. 124, p. 28-37, nov.2013) Desta feita, diante de um crescimento cada dia mais assíduo, quando a Alemanha deflagrou a Segunda Guerra em 1939, os ideais nazistas foram disseminados. Programas de esterilização deram lugar à eutanásia em massa, dizimando deficientes, esquizofrênicos ou qualquer pessoa considerada “indigna de viver”. Os centros de eliminação dessas pessoas ficavam em hospitais, sendo os médicos responsáveis pelos atestados de óbito com suas causas e datas falsificadas. Assevera-se ainda que, juntamente ao termo “Solução Final”, a perseguição e o assassinato dos judeus possuía diversos codinomes, entre eles: “evacuação” (Aussiedlung) e“tratamento especial” (Sonderbehandlung). Já a deportação – a menos que envolvesse judeus enviados para Theresienstadt, o “gueto dos velhos” para judeus privilegiados, caso em que se usava “mudança de residência” – recebia os nomes de “reassentamento” (Umsiedlung) e “trabalho no Leste” (ArbeitseinsatzimOsten). O uso destes últimos nomes, por sua vez, prendia-se ao fato de os judeus serem muitas vezes reassentados temporariamente em guetos, onde alguns eram comumente usados para trabalhos forçados13 e mortos quando não apresentavam mais serventia. 13 ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 18ª Ed, 2015, p. 100. 18 O nazismo ostentou seu poderio até a batalha de Stalingrado, quando seu exército começou a ser derrotado em território russo e as terras antes conquistadas passaram a ser ocupadas pelos Aliados. A ideologia que disseminou o antissemitismo, expansionismo, higiene racial e hostilidade à democracia e à cultura moderna finalmente chegava ao abismo. 2.3 O FINAL DA SEGUNDA GRANDE GUERRA E SUAS IMPLICAÇÕES Com o suicídio de Hitler em 30 de abril de 1945, chegava ao fim à guerra para os nazistas. Porém, foi somente após tentativas de acordos que, no dia 7 de maio de 1945, a última resistência nazista deu-se por vencida. Embora a Alemanha já se encontrasse desestabilizada, Japão e Estados Unidos ainda se mantinham em conflito. Sendo assim, em 6 de agosto de 1945 aviões americanos bombardearam as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Essa investida foi determinante para que, no mês de setembro do mesmo ano, o Japão também se rendesse e o conflito tivesse um fim. No contexto pós-guerra, Estados Unidos e União Soviética passaram de aliados a beligerantes. Sob influência dessas grandes potências econômicas, o mundo dividiu-se em capitalistas e socialistas, marcando um período chamado de “Guerra Fria”. Os dois países disputavam a hegemonia econômica e militar no mundo, ao passo que se enfrentavam no campo ideológico, não havendo confrontos com as armas, já que suas populações e domínios ainda se recuperavam da destruição da guerra. Um dos principais efeitos da Guerra Fria foi a divisão da Alemanha em Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha), que aderiu ao regime capitalista, e Alemanha Oriental (República Democrática Alemã), cuja adesão se deu ao socialismo, sendo oficialmente separadas pelo muro de Berlim, em 1960. Um lado vivia sob a influência da cultura ocidental americana, enquanto o outro se desenvolvia sob a égide do socialismo soviético. 19 Além da concorrência no âmbito armamentista, havia uma competição no campo tecnológico, de maneira que cada potência buscava a melhor formação no campo da atualidade, a fim de tornar ainda mais eficaz o arsenal de armas nucleares. Entre as consequências da Segunda Guerra também está a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), em 24 de outubro de 1945, visando a manutenção da paz entre as nações. A Carta das Nações Unidas foi assinada por 50 países, em São Francisco, nos Estados Unidos, criando uma organização internacional com o objetivo de estimular a cooperação entre os países, bem como o progresso social e defesa dos direitos humanos. Posteriormente, a organização também aprovou a Declaração dos Direitos do Homem, em 1948. Apesar de tais medidas, regimes políticos radicais ainda surgiram no pós-guerra, estabelecendo uma guerra fria em todo o mundo. Nesse interim, os nazistas que foram capturados enfrentaram o Tribunal de Nuremberg, sendo esta uma das implicações mais importantes do fim do conflito. Os julgamentos do Tribunal ocorreram entre os dias 20 de novembro de 1945 e 1 de outubro de 1946, desencadeando diversas condenações à morte, prisões perpétuas, anos de prisão e até mesmo absolvições. De um ponto de vista geral, os países derrotados sofreram um enorme prejuízo, já que milhões de pessoas foram mortas e feridas, muitas cidadesforam destruídas e as dívidas se prolongaram ao longo dos anos. O racismo, o antissemitismo e todo o culto cego à raça ariana foram os grandes responsáveis pela pior das perdas: a vida de todos aqueles que não se encaixavam. 20 3 ADOLF OTTO EICHMANN Neste capítulo, traz-se à baila o contexto em que Adolf Eichmann viveu até lograr os altos cargos na Alemanha Nazista.Será ainda objeto de análise a sua fuga e consequente rapto, bem como a altercação entre Israel e Argentina. 3.1 VIDA Em Solingen, cidade alemã do estado da Renânia Norte-Vestfália, no dia 19 de Março de 1906, nascia Adolf Otto Eichmann. Com mais 4 irmãos, filho de Adolf Karl Eichmann e Maria Schefferling, Adolf Eichmann era o primogênito da família. Ainda menino, aos 8 anos, precisou enfrentar as dificuldades decorrentes de uma mudança de país. Em 1913, seu pai assumiu a gerência comercial de uma empresa de carros elétricos (ou bondes) na cidade de Linz, Áustria, onde um ano depois sua família assumiu a missão de acompanhar o patriarca na nova empreitada. Testemunhando o cenário de Primeira Guerra Mundial, em 1916, aos 10 anos, Eichmann perdeu sua mãe. Viúvo, Karl Eichmann engatou um novo casamento com Maria Zawrgel, apenas alguns meses após o falecimento de sua esposa. Zawrgel era uma devota protestante, mãe de 2 filhos, de temperamento autoritário e conduta disciplinar muito ativa,já que um elemento cultural da época era o viés positivista, ou seja, as leis deveriam ser cumpridas sem qualquer óbice; fato que ajuda a reconhecer uma relevante máxima que acompanhou Adolf pelo resto de 21 sua vida: a importância do cumprimento de regras. Na escola primária, Eichmann demonstrou dificuldades em matérias como literatura e artes, circunstância que sugeriu ao seu pai um possível indício de que seu filho poderia ser incentivado futuramente a aprofundar estudos técnicos que exigissem noções de engenharia e matemática. Antes do desfecho da guerra, foi matriculado na mesma escola secundária que Adolf Hitler estudara há 17 anos. Eichmann e Hitler, inclusive, tiveram o mesmo professor de história, Dr. LeopoldPoetsch, conhecido principalmente por seu nacionalismo e visão racista. Visivelmente desmotivado e sem grandes objetivos traçados para sua vida, Eichmann desistiu da escola secundária e seu pai o matriculou em uma escola técnica; neste momento, mesmo sem diploma, o jovem alemão iniciou sua trajetória de empregos que antecederam sua carreira de tenente-coronel da SS. Enquanto se identificava com movimentos político-ideológicos ligados ao pangermanismo, atuou como balconista de uma empresa de rádio e vendedor viajante de uma companhia americana de petróleo, a VacuumOilCompany. Aos 26 anos, seguindo o conselho de um amigo e membro da SS, Eichmann ingressou no ramo austríaco do NSDAP e 7 meses depois teve sua participação na SS confirmada. Em Linz, já tendo trabalhado na atividade de segurança da sede partidária, bem como dos oradores em comício e com seu retorno para a Alemanha, o recém-membro passou por diversos treinamentos e ficou encarregado de inúmeras atividades para orientar austríacos nacional-socialistas. Já totalmente desligado dos antigos empregos, em 1934, Eichmann solicitou transferência para o serviço de inteligência da SS, mais conhecido como SD ou Sicherheitsdienst, onde desenvolveu um trabalho mais burocrático e administrativo. Pouco tempo depois, em razão dos seus estudos sobre obras referentes ao Sionismo14, foi convidado a juntar-se ao Departamento de Judeus, ambiente determinante para seu destaque como articulador da Solução Final, no qual 14"Movimento político que defende o direito à autodeterminação do povo judeu em um Estado judaico. Ganhou força no fim do século 19, impulsionado pelo avanço do antissemitismo e desenvolveu-se simultaneamente a outros movimentos nacionalistas, como o de unificação de países como a Itália e a Alemanha. O nome sionismo deriva de Sion, um importante monte nas cercanias da cidade velha de Jerusalém, e representa o desejo milenar dos judeus de, após o exílio forçado, retornar à terra dos seus ancestrais bíblicos." Glossário da Confederação Israelita do Brasil - CONIB. 22 especializou-se durante os 10 anos seguintes. Ao notar a importância da formação e consolidação de um laço familiar para promoções dentro da SS, casou-se com VeronikaLiebl com quem tinha um relacionamento de 3 anos, mas somente após aprovação de um dos mais importantes chefes da instituição, Heinrich Himmler. 3.2ATUAÇÃO NA ALEMANHA NAZISTA A política expansionista e o objetivo de homogeneização da raça ariana semeados pelo ultranacionalismo do Partido Nazista, só tendiam ao forte crescimento durante a Alemanha das décadas de 30 e 40. Promessas de melhorias na esfera econômica e doutrinas defendidas por Adolf Hitler ajudaram a caracterizar o perfil persuasivo da propaganda do partido, justificando o destaque que o Nazismo ganhou entre os alemães - jovens, soldados e agricultores - que se filiavam em razão de compatibilidade com as estratégias do líder. A Tropa de Assalto (SA), a Esquadra de Proteção (SS) e a Gestapo (Polícia Secreta) funcionavam como órgãos oficiais para consolidação de uma política repreensiva contra possíveis opositores aos ideais nazistas, bem como prática do plano-diretor de exterminação da população não-germânica. As chamadas Tropas de Choque realizaram diversas ocupações a escritórios de sindicatos com o intuito de aterrorizar ativistas e sindicalistas, promovendo o confisco de valorosas documentações e bens das associações dos trabalhadores. Configurado como um partido de extrema-direita, o NSDAP ajustou-se como único partido do Estado, fato que extinguiu toda e qualquer possibilidade de criação e atuação de outro grupo organizado, instaurando um regime ditatorial comum ao tipo de ideal que conduzia os nazistas. Foi diante de um contexto de perseguição a grupos étnicos, religiosos, pacifistas e de oposição política, que a chamada "questão judaica" entrou em pauta. A direção tomada pelo NSDAP mirava, inicialmente, em reduzir a influência judaica na Alemanha, estimulando a emigração de diversos judeus. Para tanto, utilizaram-se 23 das inúmeras leis promulgadas a partir de 1933 e que possuíam caráter limitador, estreitando direitos políticos e econômicos dos judeus por meio de cotas máximas. Os nazistas cooperavam declaradamente com organizações sionistas15. É perante tal circunstância que se inseriu a figura de Adolf Eichmann; diretor da "Repartição Central para a Emigração Judaica" e encarregado de atuar na logística das operações de emigração. No entanto, em Junho de 1940, Reinhard Heydrich, um dos líderes da Central do Reich para Emigração Judaica, escreveu ao Ministro das Relações Exteriores, Joachim Ribbentrop, constatando a ineficiência da atividade emigratória e propondo uma solução final territorial. Iniciou-se, portanto, um trabalho de deportação e transporte de judeus para os denominados campos de concentração. As câmaras de gás, preparadas nesses campos, era o método mais disseminado, tendo surgido inicialmente para exterminar os doentes mentais na Alemanha, desde 1935. Em seguida, passou a ser vista como um possível mecanismo adotado para a população judaica, a partir da eclosão da Segunda Grande Guerra, em 1939, por meio da Chancelaria do Führer. Devido ao seu conhecimento relacionado à emigração e ao próprio Sionismo, bem como a sua experiência até então, Eichmann foi designado para a evacuação forçada dos judeus até os campos de concentração. Cabia a ele informar quantos judeus seriam necessários para encher cada trem e os Conselhos de Anciãos Judeus elaboravam as listas de deportados. Dessa forma, o sistema fluía com a colaboração do próprio povo judeu, enquanto o governo nazista se utilizava dos mais elaborados meios para não revelar o destino final. 3.3A SOLUÇÃO FINAL O partido Nazista adotou uma solução para resolver a questão judaica, tendo em vista que o sistema de emigração produzido e conduzido por eles já não lograva êxito. Por conseguinte, a solução final possuiria natureza territorial. Analisou-se, 15 Holocausto Judeu: o que aconteceu realmente. Disponível em: <http://inacreditavel.com.br/wp/holocausto-judeu-o-que-aconteceu-realmente/> Acessado em: 12 de maio de 2016. 24 inicialmente, a possibilidade de concretizar o que previa o plano Madagascar, isto é, transportar os judeus europeus para a ilha africana de Madagascar. No entanto, com o controle britânico das vias marítimas e o número insuficiente de navios, a cúpula nacional-socialista desistiu do referido. Determinaram, em seguida, o deslocamento dos judeus para regiões soviéticas ocupadas pelo partido, localizadas ao Leste e através do Governo Central. A nova alternativa que articulava a evacuação dos judeus para o Leste foi comunicada aos quadros mais elevados do partido durante a Conferência de Wannsee, em janeiro de 1942. Frisa-se que a comunidade judaica havia declarado guerra à Alemanha desde 1933, portanto, toda e qualquer atuação em defesa ao Terceiro Reich, realizada por Adolf Eichmann, foi amparada pelo fato de que seria um combate aos inimigos do império alemão e não uma perseguição aos judeus. Sendo assim, as primeiras vítimas dos campos de concentração foram comunistas, sociais-democratas e sindicalistas. Dando continuidade, a partir de 1935, o grupo dos chamados associais passou a ser perseguido. Nesse interim, houve internação e tratamento de acordo com o que era ditado como punição para o tipo de comportamento rejeitado pelos nazistas e praticado por ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, desempregados, prostitutas, e alguns opositores políticos cristãos e protestantes. Paralelo ao sistema de deportação, a estratégia nazista objetivava a exploração da força de trabalho judaica. Havia, sobretudo, um universo concentracionário, definido pela repressão política. Toma-se como nota que, na prática, alguns judeus não foram diretamente deslocados para o Leste, mas sim transferidos para os campos transitórios de Chelmno, Belzec, SobiboreTreblinka, equipados com instalações de banho, desinfecção e barracas. Sabe-se também que Auschwitz, designado para campo de trabalho e internamento, serviu, mesmo que temporariamente, como campo de transição.Mister se faz salientar que os campos de Sobibor e Treblinka, iniciaram-se como instalações posteriormente tornaram-se expoentes de campos cruéis. transitórias, mas 25 A partir de 1941, o pesticida Zyklon B, usado na eutanásia, foi adaptado para os campos de concentração, culminando no extermínio de 6 milhões de judeus.16Além do baixo custo, o pesticida não causava maiores transtornos às tropas, ao contrário dos fuzilamentos, que acabavam por deixa-las abatidas. Este programa ordenado por Hitler e embasado nas mortes por gás foi essencial para a implementação da “Solução Final”, nome dado ao assassinato de milhões de judeus em razão de sua etnia e suposta culpa pelo fracasso alemão. Sendo assim, era preciso trazê-los para os campos de concentração, para que pudessem ser finalmente eliminados, momento esse em que Adolf Eichmann tornouse um encarregado. Os judeus eram mortos em caminhões e/ou pavilhões de gás, salas de execução disfarçadas como salas de duchas e banhos. Havia ainda o grupo que trabalhava na retaguarda do Exército, eliminando não só judeus, como também guerrilheiros, funcionários russos, ciganos, associais e doentes mentais, todos assassinados por fuzilamento.17 Desse modo, observa-se toda uma trajetória percorrida quanto aos dispositivos utilizados durante a solução final. Foi na logística desse processo, principalmente no que tange os transportes e instalações, que Adolf Eichmann teve seu nome citado. Todas essas medidas e planejamentos logísticos foram pensados, discutidos, geridos e aplicados, em geral, sob o olhar de Eichmann, indicando-o, assim, como um dos responsáveis em meio às articulações nazistas. 3.4 DECADÊNCIA E SUA CONSEQUENTE FUGA Com o ingresso dos Estados Unidos da América na guerra e a invasão do exército Russo em Berlim, a crença na vitória da Alemanha crivelmente havia chegado ao fim. O exército da União Soviética, nos últimos dias da guerra, chegou 16SZKLARZ, E. A sedução da barbárie: como o Terceiro Reich nasceu... Revista Aventuras na História, São Paulo: Ed. Abril, n. 124, p. 28-37, nov.2013. 17 ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 18ª Ed, 2015, p. 123. 26 ao coração da capital alemã com grande porte de fogo. Diversos bombardeios foram realizados, os prédios suspeitos de abrigarem soldados alemães foram destruídos, bem como os porões foram explodidos e utilizados lança-chamas para que os soldados escondidos no subsolo tivessem que sair. Mesmo com a límpida derrota, Hitler não cogitava uma fuga, embora alguns de seus funcionários mais íntimos tenham optado por fugir. Além disso, importantes nazistas traíram sua confiança e passaram a negociar tratados de paz. Com o desfecho da guerra e temeroso quanto ao seu fim, Adolf Eichmann reuniu alguns ex-soldados e juntos seguiram para a aldeia de Blaa-Alm, situada no alto dos Alpes de Altaussee. Entretanto, o esconderijo não durou muito tempo, tendo em vista que descobriram a chegada de americanos na área. Por conseguinte, partiram para Rettenbach-Alm, onde se instalaram em cabanas pela montanha. Todavia, na ausência de Eichmann, seus companheiros resolveram entre si que não queriam ser encontrados juntos com ele, visto que, ao contrário deste, não eram procurados por crimes de guerra. Compreendendo a escolha de seus colegas, Adolf seguiu viagem com Rudolf Jänisch, o único que se voluntariou para acompanhá-lo, trajando as roupas da Luftwaffe18 que traziam consigo. Com destino a Salzburgo, Eichmann e Rudolf passaram dias viajando e escapando de tropas aliadas, até que, próximos ao destino almejado, foram avistados e parados por uma tropa americana. Adolf Eichmannmentiu sobre sua identidade apresentando o nome falso de Adolf Barth, cabo da Luftwaffe, porém o disfarce não deu certo. Eles foram capturados e levados até um campo com pouca estrutura de segurança, colaborando para uma posterior fuga sem dificuldades até Salzburgo. Traçando as estratégias, Eichmann chegou à conclusão que na Alemanha estaria mais seguro que na Áustria, onde havia passado a maior parte da sua vida. Contudo, era cediço o quão seria difícil essa travessia de chegada. Desse modo, foram levados até os americanos, recrutados por uma enfermeira, sob a alegação de serem apenas cabos da Luftwaffe a fim de retornar ao seu país de origem. Em consequência disso, acabaram obtendo a passagem pelos guardas. 18Força Aérea Alemã. 27 Neste diapasão, com o intuito de cruzar a fronteira alemã, tentaram seguir um cortejo fúnebre que cruzava a fronteira, porém foram pegos pelos soldados americanos. Ao serem examinados e revistados pelos soldados, a tatuagem no braço de Eichmann, que o identificava como membro da SS, foi descoberta. Percebendo que os oficiais alemães recebiam melhor tratamento que os soldados, Eichmann decidiu criar uma nova identidade: SS –Untersturmfuhrer19Otto Ekcmann. Durante o período que passou sob a guarda dos americanos, Eichmann agiu de forma cautelosa e não escreveu para sua mulher e filhos, residentes em Linz, que passaram a crer em seu falecimento. Desta forma, a família de Eichmann passou a sustentar sua esposa e sua prole. Em meio a várias transferências entre campos provisórios, Adolf Eichmann e Rudolf foram levados para um campo em Weiden, que possuía um forte sistema de segurança. Adolf respondeu a diversos interrogatórios, contudo, nada foi descoberto em relação a sua verdadeira identidade. Após uma longa vivência entre Eichmann e Jänisch, chegara o dia em que os dois seguiriam rumos distintos. Transferidos para campos diferentes, Adolf foi para um campo em Ober-Dachstetten, onde se juntou a diversos ex-oficiais da SS, embora não conhecessem sua identidade. Durante o período que ficou em Ober-Dachstetten, foram realizadas sessões de reconhecimento dos ex-nazistas. Seu cuidado em não se exibir publicamente e evitar fotos durante o período do regime foi algo crucial, a julgar pelo não reconhecimento dele pelos sobreviventes. Neste bordo, deu-se início o julgamento do Tribunal de Nuremberg, no qual Eichmann foi citado diversas vezes e, devido a sua fuga e consequente ausência, tentaram culpá-lo como único responsável dos acontecimentos durante a guerra. Um ex-amigo e padrinho de um de seus filhos, Wisliceny, “apareceu como testemunha da acusação e entregou provas danosas[...]“20no Tribunal sobre o envolvimento de Eichmann na “Solução Final”, através de um depoimento pessoal, além de oferecerse, quando já estava preso, para ajudar os americanos a encontrar Adolf Eichmann. 19Classificação 20ARENDT, equivalente a “secondlieutenant“, Segundo Tenente. 1999, p. 257 28 Ainda em Ober-Dachstetten, no começo de 1946, Eichmann soube do depoimento que fora proferido e arquitetou uma outra fuga, tendo em vista seu apontamento como peça fundamental da Solução Final. Ademais, a preocupação tornou-se ainda maior com a possibilidade de possuírem fotos suas ou que fosse traído pelo seu companheiro Jänisch, que conhecia suas duas identidades. Decidido a fugir do campo, Eichmann se reuniu com alguns ex-oficiais da SS que o ajudaram a falsificar documentos. Doravante, sua nova identidade seria Otto Heninger. Kurt Bauer, o aconselhou a ir para Prien, onde vivia sua irmã que poderia ajudá-lo com a viagem, bem como escondê-lo. Com um plano já traçado, Eichmann conseguiu um novo casaco e pintou suas calças da Luftwaffe, tornando-a semelhante às vestes de um caçador, quando saísse pela floresta. Com tudo planejado, Eichmann escalou a cerca de arames farpados durante a noite, fora da vista dos guardas. Já do outro lado, adentrou-se na floresta e caminhou até uma estação abandonada da ferrovia, pegando um trem com destino a Prien ao amanhecer. Após encontrar a irmã do oficial Bauer, a viúva NellieKrawietz, Adolf foi abrigado em um quarto, numa fazenda situada nos arredores da cidade. Nellie não conhecia a sua verdadeira identidade, até que, cada vez mais preocupado com a crescente presença de soldados americanos na cidade, Eichmann a pediu que comprasse passagens para Hamburgo e que fingissem ser um casal durante a viagem. Na ida, ela sugeriu que ele se entregasse em um tribunal de desnazificação, no entanto, Adolf revelou sua identidade para justificar o porquê de não poder se apresentar. Chegando em Hamburgo, caminhou até Eversen e encontrou o irmão do oficial Feiersleben, que o conseguiu um emprego de lenhador, no qual trabalhou por dois anos. Passados esses dois anos, a madeireira faliu e ele perdeu o emprego, morando mais alguns anos na região, embora com grande temor de ser pego. Não mais querendo viver naquela localidade, decidiu sair do país. Em 1950, entrou em contato com a ODESSA 21, conseguindo permissão para ir até a Itália, onde a Igreja Católica proporcionava abrigose a Cruz Vermelha fornecia documentos como uma forma de auxílio a quem necessitava. Eichmann 21 “[…] uma organização clandestina de veteranos da SS[…]” ARENDT, 1999, p. 258 29 conseguiu, com a ajuda de um padre franciscano conhecedor de sua identidade, atravessar a fronteira entre a Áustria e a Itália, sob um passaporte de refugiado com o nome de Richard Klement. Com este documento em mãos, o consulado argentino situado em Gênova o concedeu visto de entrada e, em 14 de julho de 1950, após cruzar o Atlântico rumo à América do Sul, desembarcou em Buenos Aires Adolf Eichmann, utilizando o nome Ricardo Klement. 3.5 TRAJETÓRIA NA ARGENTINA E SUA CAPTURA Orientado por Carlos Fuldner, coordenador da rota de fuga argentina, Eichmann sentiu-se confortável em Buenos Aires pela quantidade de nazistas refugiados e por algumas comunidades ainda cultivarem o sentimento antissemita. Fuldner conseguiu o seu documento de identidade argentino, passando a chama-lo legalmente de Ricardo Klement, morador permanente e apto para trabalhar. Contratado por Fuldner, Eichmannadquiriu o cargo de engenheiro-topógrafo em uma nova empresa criada pelo governo, denominada CAPRI. Ainda em 1950, Eichmann entrou em contato com sua mulher, assinando como “tio” e afirmando por “códigos” que estava vivo e bem. Posteriormente, outros contatos foram feitos e, a partir disso, deram-se as instruções para que viajassem rumo a Argentina. Em 1952, Vera e seus filhos embarcaram em Gênova com destino a Buenos Aires. Já nas novas terras, Klaus Eichmann, o filho mais velho de Adolf, iniciou um relacionamento com Sylvia Hermann. Ao conversar com a família de Sylvia, Klaus comentou ser descendente de um grande oficial da Wehrmacht que havia representado muito bem seu país, afirmando também que os alemães deveriam ter prosseguido com o extermínio. Contudo, o primogênito de Eichmann desconhecia a nacionalidade judaica do pai de Sylvia, Lothar, que não se manifestou haja vista ter vindo para a Argentina fugido da dizimação que ocorrera. Neste diapasão, ao tomar conhecimento do julgamento de crimes de guerra que citava o nome de Adolf Eichmann como um fugitivo oficial da SS, responsável pela supervisão da solução final, e ao traçar um paralelo com o sobrenome de 30 Klaus, Lothar entrou em contato com os promotores de Frankfurt, dizendo acreditar que Eichmann estava vivendo na Argentina com sua família. Algumas semanas posteriores, Fritz Bauer reuniu diversas informações sobre Eichmann, como a descrição física, fotos, atividades durante a guerra, entre outras que pudessem ajudar a encontrá-lo. Destarte, enviou essas informações para Lothar, e pediu para queeste descobrisse o endereço onde vivia a família Eichmann. Com o endereço dado por Sylvia, as informações foram enviadas para o promotor Bauer, que procedeu com as investigações. Não obstante, Bauer enviou todas as informações obtidas para o Ministério das Relações Exteriores de Israel. Walter Eytan, o Diretor Geral do Ministério, marcou um encontro com o diretor do serviço secreto israelense. Muito embora Israel fosse uma nova nação, ela já possuía um serviço de inteligência qualificado, denominado Mossad. Primordialmente, este havia sido criado para rastrear os inimigos do Estado, mas dedicou suas primeiras décadas à captura de terroristas e criminosos de guerra. O chefe do Mossad reuniu uma equipe composta por cerca de 30 agentes, a fim de auxiliar na operação. Dentre eles, também havia sobreviventes do Holocausto, contudo, ninguém deveria assassinar Eichmann, mas sim trazê-lo vivo para ser julgado. Os israelensestinham conhecimento de que uma extradição diplomática seria demasiadamente difícil de obter, já que muitos simpatizantes nazistas encontraram refúgio na América do Sul durante a guerra. Desta feita, optaram por uma altercação com a Argentina, sequestrando clandestinamente Adolf Eichmann. ZviAharoni, agente israelense do Mossad, chegou a Buenos Aires portando documentos falsos, no dia 1º de março de 1960, com a missão de identificar e preparar a captura de Eichmann. Aharoni foi até a casa de Eichmann com dois dos seus voluntários e os instruiu para que tentassem envolver Adolf na conversa, enquanto ele fotografava do jardim. Com as fotografias em mãos e a certeza de que tinha achado o homem certo, Aharoni voltou àIsrael para dar as informações. Em 24 de abril, Aharonie outros três agentes do Mossadchegaram à Argentina. Na quinzena seguinte, mais agentes do Mossad desembarcaram com o objetivo de alugar as casas para os esconderijos e os carros para sequestro. 31 RafiEitan era chefe da missão; IsserHarel, o diretor do Mossad; havia também um médico encarregado de manter o prisioneiro saudável e, por último, Shalom Dany, perito em documentos falsos. Inicialmente, a equipe mantinha a casa de Eichmannsob vigilância, para que estabelecessem o padrão diário de movimentos dele. De acordo com as observações, eles foram capazes de estabelecer o horário que Eichmann saía de casa e o horário do seu retorno. O sequestro aconteceria no dia 10 de maio, pois o transporte para Israel seria em um voo de volta de um avião comercial da El Al22, que traria o ministro do exterior israelense Abba Eban para a comemoração dos 150 anos de independência da Argentina. A princípio,o ministro chegaria em 12 de maio e a aeronave retornaria a Israel no dia seguinte. Contudo, a data foi modificada e o avião só chegaria no dia 19 de maio, fazendo o grupo adiar a operação. No dia 11 de maio de 1960, a força-tarefa tomou suas posições ao redor da casa de Eichmann. Os carros estavam à espera: a limusine na rua Garibald, enquanto o outro estava estacionado nas proximidades, parcialmente escondido por uma ponte ferroviária. Eichmann desceu do veículo e seguiu em direção a sua casa. Quando estava chegando perto do carro estacionado, um dos agentes fingiu ter um problema no motor e levantou o capô do carro. Um outro agente chamou por Eichmann e perguntou-lhe algo, todavia, devido a sua reação de medo, o agente se lançou sobre ele, presumindo que o mesmo estivesse armado. A luta se seguiu até o momento em que Eichmann foi colocado no chão da parte traseira do carro. Ao chegar ao local preparado para esconder Eichmann, o médico examinou todo o seu corpo em busca de cápsulas de veneno. Vestiram-no com pijamas e a perna esquerda foi algemada à cama. Após alguns questionamentos, o agente perguntou ao prisioneiro qual era o seu verdadeiro nome. Entre hesitações e mentiras, Eichmann enfim admitiu sua identidade. No dia 20 de maio de 1960, Eichmann foi drogado pelo médico e conduzido para o Aeroporto de Ezeiza, sendo apoiado por dois agentes doMossad e trajado com roupa semelhante à da tripulação. Com a droga, ele ficaria impedido de falar, mas conseguiria andar bem. O carro parou perto do ônibus da companhia e foi 22Companhia aérea nacional de Israel. 32 dispensado pela segurança, de maneira que os agentes do Mossad, vestindo uniforme da tripulação de voo, não despertaram suspeitas. A aeronave Bristol Britannia decolou no dia 20 de maio de 1960. O médico ficou com uma seringa espetada no braço de Eichmannaté a hora da decolagem. Após uma parada em Dakar para reabastecimento de combustível, no dia 22 de maio de 1960, Adolf Eichmann entrou em território israelense. 3.6 LITÍGIO ENTRE ISRAEL E ARGENTINA Realizou-se no Parlamento israelense uma assembleia com jornalistas e seus parlamentares, onde o primeiro ministro Ben-Gurion realizou um discurso anunciando que Eichmann estava preso em território israelense e que lá seria julgado. Muitas foram as divergências acerca de quem detinha a competência para julgar o prisioneiro,se a Argentina, a Alemanha Ocidental ou Israel. O chefe do governo israelense defendia que o julgamento deveria acontecer em seu país por um dever de respeito aos mortos e por serem herdeiros dos 6 milhões de judeus assassinados. O governo argentino, ao saber do sequestro realizado dentro de suas terras, foi pressionado pelos admiradores do nazismo e dos nacionalistas de direita que residiam no país, para que protestassem contra Israel. O ministro do exterior argentino, Diógenes Taboada, solicitou ao embaixador israelense, AryehLevavi, que este explicasse oficialmente o ocorrido e que determinasse o retorno de Eichmann. Posteriormente, o governo de Israel esclareceu através de uma carta escrita por Ben-Gurion, que o sequestro havia sido realizado por um grupo voluntário formado por judeus, dentre estes alguns israelenses, que tinham se comunicado com Eichmann e recebido sua autorização para que fosse levado até Israel. Também justificou-se através do argumento de que os voluntários estavam amparados por um “bem moral maior” e isso sustentava a violação das leis argentinas. 33 Mesmo diante da comunicação feita por Israel, a Argentina requereu mais uma vez o retorno de Adolf e a punição dos responsáveis pelo sequestro, haja vista os argentinos não acreditarem no que havia sido alegado pelo primeiro ministro. Em meio ao conflito diplomático, membros do governo argentino clamavam por medidas mais exigentes, até que o embaixador argentino das Nações Unidas defendeu veementemente o retorno de Eichmann e o voto de condenação da Organização das Nações Unidas a Israel. Em razão disso, houve uma convocação emergencial do Conselho de Segurança das Nações Unidas, doravante CSNU, para discutir a reivindicação feita pelo embaixador da Argentina. A Resolução 138 emitida pelo CSNU,órgão máximo da democracia e representação da comunhão entre os países que o compõem, respondeu ao acontecido deliberando que: 1- Atos como os que estavam sendo levados em consideração, que afetam a soberania de um Estado-Membro, e que portanto causam conflitos internacionais, se repetidos, colocarão em perigo a paz e a segurança internacional; 2- Requer que o governo de Israel faça a reparação apropriada de acordo com a Carta das Nações Unidas e das regras das leis internacionais; 3- Expressa a esperança de que as relações tradicionalmente amigáveis entre a Argentina e Israel avançassem.23 23 The Eichmann Case. Disponível em: http://www.ajcarchives.org/ajc_data/files/1961_7_international.pdf. Acesso em: 08 de abril de 2016. 34 4 SISTEMA JUDICIÁRIO ISRAELENSE De forma a nortear e garantir uma melhor compreensão da Corte Distrital de Jerusalém, importa que haja uma explanação sobre o funcionamento do sistema israelense. Abordar-se-ão a criação do Estado de Israel, bem como suas instâncias, competências e atribuições. 4.1 A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL Em 586 a.C tem-se o primeiro exilio que os judeus foram obrigados a cumprir, em decorrência da invasão do imperador Nabucodonosor em Jerusalém. A diáspora foi o processo de dispersão dos judeus e a formação de comunidades fora da Palestina. Contudo, tem-se queesta dispersão se iniciou em 722 a.C., quando o reino de Israel foi destruído pelos Assírios e as dez tribos de Israel foram levadas como cativas. Com a excessiva onda de invasões, a palestina acabou por acumular influências de diversas potências, fomentando uma diversidade cultural e religiosa que seria característica do seu povo. A segunda diáspora aconteceu por volta do ano 70 d.C quando os romanos destruíram Jerusalém, forçando os judeus airem para os países da Ásia Menor, África ou sul da Europa. Com o advento do século XV, houve o crescimento do cristianismo fazendo com que estes migrassem para os Países baixos. Destarte, reverbera a noção de uma dispersão forçada que durou séculos. Com a consequente dispersão dos judeus pelo mundo, o movimento sionista foi ganhando espaço e pregando a busca pela terra prometida, as organizações sionistas mundiais compravam terrenos desérticos, visando estabelecer os judeus vindos da Europa. Uma grande quantidade de judeus migrou em massa com direção a Palestina, então habitados por árabes. Os judeus reivindicaram essa região por ter sido ocupada por eles até o momento dadiáspora. Apartir do incentivo do sionismo, por volta do ano 1820, eles começaram a retornar. 35 Em 1844, sob o comando do Império Turco-Otomano, os judeus já eram maioria, de forma que através da expansão do movimento sionista, judeus de outras localidades do mundo migraram para a chamada Terra Prometida e passaram a exigir um Estado Judeu alicerçado em sua própria cultura e seu significado histórico. Com a cessação da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha pactuou com os judeus a construção de um lar eminentemente judaico, contudo, a revolta dos países árabes em 1920 fez com que o comprometimento fosse esquecido e surgissem limitações à imigração judaica. Nada obstante, com a ascensão do nazismo, iniciouse uma perseguição aos judeus por toda a Europa. Ademais, com a restrição feita pelos árabes no tocante à entrada de judeus na Palestina, estes foram forçados a divagar. Ao final da Segunda Guerra Mundial, ainda que disseminado o que ocorrera com milhares de judeus nos campos de concentração, a política de restrição imposta pelos árabes perpetuou-se. O sionismo, de forma clandestina, infiltrava os judeus no território, sendo contrário a toda limitação mandatória. Diante dos inúmeros conflitos envolvendo os árabes e os judeus, a GrãBretanha renunciou o poder sobre a Palestina, entregando-a sob os auspícios da ONU. Por consequência, no ano de 1947, em Assembleia Geral, foi decidido que a Palestina seria dividida em dois Estados, sendo um judeu e um árabe, unidos quanto à economia.O critério para tal divisão, de acordo com as Nações Unidas, baseou-se na repartição geográfica da população das duas comunidades.Logicamente houve regiões que a maioria da população judaica ficava dentro do Estado árabe, ocorrendo o contrário em outras regiões, sendo estas populações incentivadas a migrar. Sendo assim, a criação do Estado de Israel não se deu a partir de uma mera determinação da ONU, na realidade foi uma “criação de dentro para fora”, que veio a ser reconhecido em 1947. Ainda que a decisão tenha sido aceita pela maioria dos judeus, a Liga Árabe se recusou a aquiescer com a decisão, gerando a primeira guerra entre os judeus e árabes, denominada de Guerra da Independência. Todavia, em 1948, foi assinada a Independência do Estado de Israel, comandada por David Ben-Gurion, líder da agência judaica e primeiro chefe do 36 governo de Israel. No ano seguinte, Israel tornou-se o 59º membro das Nações Unidas e ocorreram as primeiras eleições, nas quais foram criadas leis para assegurar os direitos básicos. Além disso, os portões foram abertos para a entrada dos judeus, cujas cidadanias finalmente poderiam ser adquiridas. 4.2 JUDICIÁRIO: ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO O Estado de Israel está enraizado sob os princípios e instituições das leis básicas,como o princípio da separação entre o poder legislativo, o executivo, e o sistema judicial, ao qual a instituição de controle estatal foi adicionada. Devido às diferentes influências relacionadas à colonização do Estado de Israel, seu sistema jurídico consiste em um sistema híbrido de Common Law eCivil Law. Possui a forma de governo alicerçada em uma democracia parlamentarista, chefiada pelo presidente, cujo papel é praticamente simbólico e representativo. A rigor, é dirigido por três autoridades: a autoridade legislativa (a Knesset), a autoridade executiva (o governo) e o judiciário. O Knesset decreta leis, toma decisões políticas, escolhe o presidente e o governo, e supervisiona as atividades governamentais. Com relação a autoridade executiva em Israel, esta é responsável por executar as leis decretadas pelo Knesset e pela própria administração do Estado. No que tange ao sistema judiciário em Israel, este se organiza a partir do próprio Ministério da Justiça israelense. De forma independente, encontra-se alicerçada toda a estrutura de organização e funcionamento dos tribunais do poder judiciário da nação, os quais atuam sob a incumbência de um Juiz indicado pelo ministro da justiça para coordenar o funcionamento do poder judicial em suas diferentes instâncias. Desse modo, o presidente da Suprema Corte e o ministro da justiça integram o comando do sistema judiciário que está disposto em diversas instâncias, dividindose em: Suprema Corte; Cortes Distritais;Tribunais dos Magistrados; Cortes Trabalhistas. 37 A) Suprema Corte Localizada em Jerusalém, possui jurisdição sobre todo o território nacional e é a mais alta instância da organização judiciária em Israel. A composição de juízes da Suprema Corte é determinada por uma resolução emitida pelo Knesset, respeitando uma ordem hierárquica de Presidente e Vice-Presidente. A Suprema Corte é um tribunal de apelação que considera casos em sede de recurso em juízos e outras decisões das Cortes Distritais, podendo ser cíveis ou criminais. Considera também apelações sobre decisões judiciais e quase-judiciais, verbia gratia, legalidade das eleições do Knesset e detenção administrativa. É importante ressaltar o caráter vinculante das decisões, pois em razão do sistema misto da Common Law e da Civil Law, há uma forte presença da jurisprudência da Suprema Corte sobre as outras instâncias, configurando o fenômeno do staredecisis24. B) Cortes Distritais As Cortes dos Distritosfuncionam como um tribunal de primeira instância e, como um tribunal de apelação sobre os julgamentos de Tribunal dos Magistrados. Elas também apreciam apelações sobre as decisões judiciais e para-judiciais de tribunais administrativos e outros organismos diferentes, em virtude dos poderes conferidos especificamente por lei. Como um tribunal de primeira instância, a Corte Distrital tem uma competência residual, abrangendo qualquer assunto que não adentre a jurisdição do Tribunal de Magistrados e que não seja da exclusiva competência de outro tribunal. Seu âmbito em matéria penal é, essencialmente, os casos de crimes graves, em que a pena para o delito é a pena de morte ou prisão por um período de mais de sete anos. Já em matéria cível, sãocompetentes para recepção de causas de valor acima de US $ 300.000 dólares americanos. 24 É caracterizado pelo fato de uma decisão de um órgão judicial gerar vinculação para futuras deliberações. 38 A decisão prevista pela Corte Distrital serve como precedente persuasivo ou orientação aos Tribunais de Magistrados. O Tribunal Distrital se organiza com um painel de um único magistrado, porém pode ter composição tríplice 25 nas seguintes probabilidades: a) crimes com pena a partir de dez anos de prisão; b) quando a Corte Distrital receber um apelo de julgamento do Tribunal de Magistrados; ou c) por determinação expressa do Presidente ou do Vice-presidente da Corte Distrital. Outrossim, vale destacar que Israel possui seis Cortes Distritais: Jerusalém, TelAviv-Jaffa, Petah-Tikva, Haifa, Beersheva e Nazaré. C) Tribunais dos Magistrados Em Israel, há vinte e nove Tribunais dos Magistrados, cujas competências se estendem sobre o distrito que estão situados, havendo geralmente um único juiz por Tribunal. Este último forma a instância básica do judiciário e seu alcance é em matéria penal e cível, de maneira limitada.Os casos de matéria penal são relacionados a crimes puníveis com pena de prisão não superior a sete anos. Esse Tribunal pode apreciar casos de crimes puníveis com pena de prisão superior a sete anos, com a decisão de um promotor público, mas não pode impor uma pena superior a sete anos. Com relação à matéria cível, recepcionam causas que não ultrapassem o valor de US $ 300.000,00 dólares americanos. D) Cortes Trabalhistas Compreendem cinco Cortes Regionais trabalhistas que atuam como primeira instância e uma Corte Nacional trabalhista em Jerusalém que atua como instância recursal e primeira instância para alguns casos de relevância nacional. 25 Para um melhor funcionamento da simulação, a Corte Distrital de Jerusalém da UniSim 2016 funcionará com cinco magistrados. 39 5 LEI DOS NAZISTAS E SEUS COLABORADORES A Lei Punitiva dos Nazistas e Colaboradores dos Nazistas, promulgada em 1950, contém 17 seções que tratam de crimes de guerra, crimes contra os Judeus, contra toda a humanidade e aqueles relacionados ao envolvimento com os nazistas e sua ideologia. Foi exatamente essa lei que fundamentou todo o julgamento de Adolf Eichmann. 5.1HISTÓRIA DA LEI A Lei Punitiva dos Nazistas e Colaboradores dos Nazistas foi publicada em 1950 com um objetivo inicial mas que posteriormente abarcou a possibilidade de Israel julgar Nazistas, seus associados e seus colaboradores por assassinato do povo judeu e por crimes contra a humanidade como um todo. A tipificação desses crimes estão dispostos em 17 seções, dentre elas: crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra o povo judeu (seção 1); crimes contra a perseguição de pessoas (seção 2); fazer parte de organização inimiga (seção 3); ofensas em locais de confinamento (seção 4); entregar pessoa perseguida para organização inimiga (seção 5); chantagear pessoas perseguidas (seção 6); incitar o ódio aos judeus (seção 7); e isenção de pena e circunstâncias atenuantes para os crimes das seções 2 a 6 (seções 10 e 11). Essa lei foi a base do julgamento de Adolf Eichmann e sua criação acarretou inúmeras críticas, uma vez que ela havia sido criada como resposta à presença dos “Kapos”26, derivado de “capo”, palavra italiana que significa "chefe". Ocorre que, tais “comandantes” eram prisioneiros do regime nazista e foram recrutados com o fito de ajudar a manter a ordem dentro dos campos de concentração e exercer os trabalhos que lhe fossem designados. Alguns dos ofícios, 26Abreviação de kameradanpolizei ou Katzet-Polizei que significa cabeça, chefes de equipe. 40 por sua vez, consistiam em atividades desvalorizadas como a cozinha, enfermarias ou acampamentos, podendo-se galgar à chefia dos quartéis, onde tinham uma supervisão do governo alemão. A maioria desses prisioneiros escolhidos eram judeus que trabalhavam em câmaras compostas apenas pelo seu próprio povo e, devido ao cargo, realizavam as mesmas funções dos guardas, possuindo o condão de supervisionar, bem como suscitar a morte dos que ali estavam. Não obstante, era dessa atividade que os “kapos” retiravam uma esperança de vida para si e seus familiares, assim como conseguiam melhores roupas e comidas, em troca de completa obediência aos membros da SS27. Isto posto, após a guerra, os judeus identificados como “kapos” na Europa eram agredidos e segregados, e muitas vezes mortos. Com a criação do Estado de Israel, os sobreviventes do Holocausto nazista pleitearam ante a justiça israelense uma punição para aqueles que atuaram lado a lado com os membros do partido. A premência da lei foi apontada quando os sobreviventes relataram em suas denúncias que os “kapos” judeus eram demasiadamente cruéis, até mesmo quando comparados aos próprios alemães. Todavia, o Estado de Israel alegou que não poderia tomar nenhuma providência pela inexistência de lei. Com efeito, o Ministério da Justiça de Israel trouxe à baila o “Ato Contra Judeus Criminosos de Guerra”, em 1949, confiado por muitos como uma forma de punição específica para os judeus colaboradores do nazismo, embora não tenha sido promulgada de imediato. Passados dez meses, em 1 de agosto de 1950, o projeto ganhou aprovação do Knesset,e em 9 de agosto do mesmo ano, se tornou lei e teve seu nome transmutado para Lei Punitiva dos Nazistas e Colaboradores dos Nazistas. Sendo assim, tornou-se crível o aumento do seu alcance, punindo não só os nazistas, mas também os seus colaboradores. 27 Schutzstaffel(em português “Esquadra de Proteção”) 41 5.2SEÇÕES Seção 1: Crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes contra o povo judeu Os crimes contra a humanidade são citados na Lei número 64 guardando semelhança com a definição especificada na Carta de Nuremberg. São enumeradas nessa lei: “assassinato, extermínio, escravidão, deportação e fome ou outros atos desumanos cometidos contra qualquer população civil, e perseguição por motivos nacionais, raciais, religiosos ou políticos.” Do mesmo modo, os crimes de guerra também foram baseados na Carta de Nuremberg, porém sofreram alterações substanciais que os tornaram mais restritivos. São eles: “assassinato, maus tratos ou deportação para trabalho forçado ou para qualquer outra finalidade, de população civil ou em territórios ocupados; assassinato ou maus tratos de prisioneiros de guerra ou pessoas nos mares; matando de reféns; pilhagem de propriedade pública ou privada; destruição arbitrária de cidades, vilas ou aldeias; e devastação não justificada por necessidade militar.” Os crimes contra o povo judeu foram característicos do Estado de Israel, haja vista não haver precedentes, encontrando nesta tipificação a possibilidade de proteção a qualquer judeu no mundo. A descrição dessa infração guarda similaridade com a definição de Genocídio elaborada em 1948, em uma Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, feita pela Organização das Nações Unidas, diferenciando-se em sua aplicação em virtude da restrição ao povo judeu e ao período nazista. A Lei nº 64 traz um rol taxativo no qual especifica os crimes contra o povo judeu, sendo eles: “(1) matar judeus; (2) causar sérios danos físicos ou mentais para os judeus; (3) colocar os judeus em condições de vida calculadas para provocar a 42 sua destruição física; (4) instituir medidas destinadas a impedir nascimentos entre os judeus; (5) promover a transferência forçada de crianças judias para outro grupo nacional ou religioso; (6) destruir ou profanar bens ou valores culturais ou religiosos judaicos; e (7) incitar o ódio aos judeus.” Todos os crimes dessa seção são punidos com pena de morte. Seções 2-17: Outros Crimes Além dos crimes anteriormente citados, nas seções 2-6, a Lei traz alguns crimes puníveis com menos severidade. São eles: crimes contra a perseguição de pessoas; fazer parte de organização inimiga; ofensas em locais de confinamento; entregar pessoa perseguida para organização inimiga; e chantagear pessoas perseguidas.As seções enumeradas de 7 a 17 tratam de normas que explicam a interpretação da lei, diminuição de pena, prescrição, entre outros dispositivos. 5.3 DOS CRIMES IMPUTADOS À ADOLF EICHMANN Dentro das seções presentes na Lei de Punição aos Nazistas e Colaboradores dos Nazistas, estavam os quinze delitos que foram imputados a Eichmann. São eles: (1) provocar o assassinato contra milhões de judeus; (2) levar milhões de judeus a condições que poderiam levar a destruição física; (3) causar sérios danos físicos e mentais; (4) determinar que fossem proibidos os nascimentos e interrompidas as gestações de mulheres judias; (5) ele causou escravidão, fome e deportação de milhares de judeus; (6) perseguição aos judeus por motivos raciais, religiosos e políticos; (7) tratava de pilhagem28 de propriedade ligada ao assassinato desses judeus; (8) crimes de guerra; (9) expulsão de centenas de milhares de poloneses de suas casas; (10) “expulsão de 14000 eslovenos”da Iugoslávia; (11) 28A pilhagem, também chamada de saque, é o furto ou roubo indiscriminado de bens alheios como parte de uma vitória política ou militar, ou no decorrer de uma catástrofe ou tumulto, como numa guerra ou num desastre natural. 43 deportação de “milhares de ciganos” para Auschwitz29 (12) deportação de noventa e três crianças para as aldeias Tchecas (13) acusação de ser membro da SS30; (14) acusação de ser membro da SD31; (15) acusação de ser membro da Gestapo. 6COMPETÊNCIA DA CORTE DISTRITAL DE JERUSALÉM Diversas questões foram levantadas a respeito da competência legal da Corte para julgar Adolf Eichmann, esses levantamentos são provenientes da comunidade internacional e de setores sociais. Em contrapartida a Corte expôs sua defesa às matérias abordadas acerca de sua competência e que cercam o direito internacional. 6.1 QUESTÕES CONTRÁRIAS 6.1.1 Julgamento baseado em lei retroativa As objeções trazidas contra o julgamento de Eichmann foram de três espécies, sendo uma delas a lei retroativa com base na qual o acusado estava sendo julgado. A Lei nº 64 previa pena de morte a quem cometesse os tipos de crimes pelos quais ele era acusado, provocando a polêmica quanto a possível violação do princípio nullumcrimen, nullapoenasine lege, no qual se afirma que não há crime nem pena sem lei. Entretanto, o fato mais criticado não residia, apenas, na retroatividade da lei, mas também na sua adequação e aplicação a crimes antes desconhecidos. Hannah Arendt, em seu livro "Eichmann em Jerusalém", explica que a violação do princípio é de caráter formal, já que descumpre um regramento deveras importante de um processo. Entretanto, não viola substancialmente, tendo em vista que a Corte carecia de uma lei para o julgamento ter o seu devido trâmite e poder 29Auschwitz é o nome de uma rede de campos de concentração localizados no sul da Polônia operados pelo Terceiro Reich nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista, maior símbolo do Holocausto. 30 Schutzstaffel (em português" Tropa de Proteção"). 31Sicherheitsdienst (Serviço de Segurança em português), melhor conhecida por SD era o setor primário do serviço de inteligência da Schutzstaffel e do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. 44 chegar a uma decisão. Sendo assim, a lei de 1950 foi a mais adequada, já que na época, foi feita especialmente para indivíduos que praticaram crimes no período Nazista. Eis, in verbis, um trecho de sua obra: "...Sua retroatividade, pode-se acrescentar, viola apenas formalmente, não substancialmente, o princípio de nullumcrimen, nullapoenasine lege, uma vez que este se aplica significativamente apenas a atos conhecidos pelo legislador; se um crime antes desconhecido, como o genocídio, repentinamente aparece, a própria justiça exige julgamento segundo uma nova lei; no caso Nuremberg, essa nova lei foi a Carta (o Acordo de Londres de 1945); no caso de Israel, a Lei de 1950. (ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém, um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 276-277) As respostas da Corte às primeiras objeções foram diretas, alegando que a Lei que Eichmann havia sido julgado tem como precedente outros julgamentos do pós-guerra ocorridos em tribunais nacionais europeus, visando a punição de criminosos nazistas. Esses tribunais, assim como a Corte Distrital de Jerusalém, tiveram por precedente os julgamentos de Nuremberg. A não aceitação dos magistrados israelenses em relação à argumentação sobre a retroatividade da lei baseou-se, por um lado, na evidência de que os nazistas tentaram dar fim às provas de seus crimes quando sua derrota estava iminente e, por outro, no apelo de que a Lei da Punição dos Nazistas e seus colaboradores fora extraída do coração das regras que compõem a justiça natural e elementar32. Por derradeiro, para muitos o Julgamento de Nuremberg pode ser considerado um progresso do Direito Internacional, para outros (os revisionistas 33 e neonazistas34) este não passou de um tribunal improvisado e arbitrário, onde observou-se a negação de elementares postulados do Direito Penal tradicional. H. Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 299. 33A palavra “Revisionismo” deriva do Latim “revidere”, que significa ver novamente. 34 O neonazismo está associado ao resgate do nazismo, ideologia política propagada por Adolf Hitler, a partir do começo da década de 1920. 32ARENDT, 45 6.1.2 O rapto A fim de ser levado à Corte Distrital de Jerusalém para ser julgado pelos crimes acusados durante o Terceiro Reich35, Adolf Eichmann foi raptado na Argentina, onde vivia exilado, a mando do primeiro-ministro de Israel, pelo Mossad,36 em 11 de maio de 1960. O fato de usar um nome falso (Ricardo Klement) enquanto viveu em Buenos Aires, o fez perder a tutela por parte da Argentina e Alemanha, já que foi considerado apátrida de facto, perdendo seu direito à costumeira proteção aos cidadãos alemães no exterior. Outrossim, a Alemanha não aceitou o pedido feito por Eichmann para extradição, alegando que ele não era um cidadão do país, o que mostra certa irregularidade na decisão. Sua família em nenhum momento renunciou à cidadania alemã quando se mudaram para a Áustria, dando o direito a Eichmann de ter suas condições de cidadão. Segundo um trecho do livro "Eichmann em Jerusalém", de Hannah Arendt: "O dr.Servatius37 tinha pedido ao governo da Alemanha Ocidental que extraditasse o acusado e, no caso de uma negativa, que pagasse as despesas da defesa, e Bonn38 recusou, afirmando que Eichmann não era cidadão alemão, o que era uma mentira patente. (ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém, um relato sobre a banalidade do mal. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 46.)" Esses aspectos do julgamento foram alvos de muitas críticas levantadas por estudiosos, bem como questionamentos sobre tal afronta à lei internacional vigente, surgindo dúvidas sobre a legalidade da Corte em processá-lo. Em 3 de agosto de 1960, foi pronunciada a declaração conjunta dos Estados de Israel e Argentina, esclarecendo que resolviam dar por encerrado o incidente surgido com a captura de 35 Nome que se dá ao período do governo que se estabeleceu na Alemanha entre 1933 e 1945, enquanto era liderada por Adolf Hitler e o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP). 36Polícia secreta de Israel. 37 38 Advogado de defesa. Cidade alemã, situada no estado de Renânia. 46 Eichmann, sanando o argumento em que acusava uma desobediência por parte dos governos. 6.1.3 “Crimes contra o povo judeu” e “Crimes contra a humanidade” Na época do seu julgamento, Adolf Eichmann foi acusado de ter praticado "crimes contra o povo judeu", sendo essa imputação alvo de diversas críticas, já que tal ato também é considerado por muitos "crimes contra a humanidade", tendo em vista o grande número de mortes sem a motivação de uma guerra, a princípio. Por conseguinte, a Corte Distrital de Jerusalém não seria legítima para pronunciar o veredicto, sendo competência de uma corte de justiça que representasse a humanidade. Eichmann poderia ser julgado por expulsão, definido como o ato administrativo que obriga o estrangeiro a sair do território, proibindo dele retornar, sem entrega-lo às autoridades do outro Estado, e também pelo genocídio, crime caracterizado pelo extermínio de uma população ou povo (condutas essas tipificadas como crimes contra a humanidade). No entanto, a Corte não interpretou o aniquilamento físico do povo judeu como crimes internacionais, deixando em esquecimento, segundo vários críticos, as sequelas perpetradas no povo judeu e em toda a história. Ademais, houve argumentos contra Israel, afirmando que a Corte não teria levado em consideração a diferença entre os crimes supracitados, pois se assim feito, teria julgado como crimes contra a humanidade. À vista disso, todas as questões colocadas não se tratam de defender uma função retributiva pelo crime praticado, mas uma reflexão acerca do acontecido, diante do passado e das consequências produzidas durante o tempo. É nesse aspecto que segue o pensamento de Hannah Arendt, no seu livro "Eichmann em Jerusalém", quando afirma que nenhuma punição possui – e jamais possuirá – o poder para impedir a perpetração de novos crimes similares. 47 6.2 A DEFESA APRESENTADA PELA CORTE 6.2.1 Princípio da Jurisdição Universal Finalmente, a Corte alegou em sua defesa o princípio da Jurisdição Universal. Este princípio parte da concepção de que a jurisdição de um Estado existe sem nexo necessário com o local onde a infração foi cometida, bem como com a nacionalidade do autor e a ofensa propriamente dita. A principal característica do princípio da universalidade diz respeito a sua aplicação. Esta ocorre a partir de crimes onerosos para todos os Estados, ou seja, que gerem um risco universal, além de se aplicar a crimes específicos. Essa aplicação é reconhecida, verbia gratia, em casos de tráfico de escravos, comércio de crianças, drogas perigosas e pirataria39. Em geral, trata-se de crimes discutidos em acordos internacionais. Por conseguinte, como há um ônus universal, o Estado pode invocar tal princípio para justificar o pedido de jurisdição sobre determinada questão. Outrossim, recentemente houve uma tendência de ampliação do princípio da universalidade,estendendo sua área de atuação para além do âmbito dos interesses acima referidos e legalmente protegidos, alcançando também crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Essa abrangência se dá sob o alicerce de que aquele que comete crimes de guerra ou crimes contra a humanidade acaba por tornar-se inimigo comum de toda a humanidade, podendo ser julgado por todos. 39 THE Nizkor Project: Remembering the Holocaust (Shoah): The Trial of Adolf Eichmann Defence Submission 1 (Part 5 of 8). 2012. Disponível em: <http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmannadolf/transcripts/Sessions/Defence-Submission-01-05.html>. Acessoem: 23 defevereirode 2016. (TraduçãoNossa). 48 6.2.2 Princípio da Personalidade Passiva Outro princípio levantado pela Corte Distrital de Jerusalém em sua defesa foi o princípio da personalidade passiva. No direito internacional, temos os conceitos de personalidade ativa e passiva.A título de conhecimento, apesar de não ter sido utilizada pela Corte, a personalidade ativa consiste em permitir a punição do infrator por um tribunal de seu próprio Estado de origem, em virtude de infrações cometidas por ele no Exterior. Por outro lado, o pilar sobre o qual a Corte fundou sua competência para o julgamento foi o princípio da personalidade passiva, elucidando que um Estado tem direito de reivindicar jurisdição sobre um estrangeiro, se este agredir um de seus nacionais e tal agressão ocorrer no exterior, fora do território estatal. O princípio da personalidade passiva também está sujeito a condições restritivas. Desta feita, Israel invocou tal princípio sob a alegação de que Eichmann atingira diretamente seus nacionais, mesmo que os atos compelidos por ele não tenham sido diretamente no território Israelense. O argumento basilar desse princípio é o fato de Israel se declarar “lar internacional do povo judeu”. O ponto legal da relação com o princípio da personalidade passiva pode ser encontrado na Declaração de Independência de 14 de maio de 1948, bem como no art. 3º do Projeto de Constituição do Estado de Israel, no qual o país é chamado de "lar nacional do povo judeu"40. Outro ponto argumentado pela Corte israelense consiste no documento assinado em 10 de setembro de 1952, em conjunto com a República Federal da Alemanha, a qual pertencia o acusado. O documento, conhecido como o Acordo de Reparações, reconhecia Israel como representante de todo o “Povo Judeu”, isto é, o total de pessoas pertencentes à raça judia. Dessa forma, conclui-se que, como representante de tal povo e em virtude de a nacionalidade das “vítimas” estar ligada 40 THE Nizkor Project: Remembering the Holocaust (Shoah): The Trial of Adolf Eichmann Defence Submission 1 (Part 5 of 8). 2012. Disponível em: <http://www.nizkor.org/hweb/people/e/eichmannadolf/transcripts/Sessions/Defence-Submission-01-05.html>. Acesso em: 23 fev. 2016. (TraduçãoNossa). 49 ao Estado judeu, a fundamentação da Corte aferiu que só Israel teria o direito de falar em seus nomes e, levando o acusado a julgamento. Israel tem o direito de representar os judeus que não têm nacionalidade ou que foram vítimas de opressão nazista - uma reivindicação que tem sido reconhecido pela República Federal da Alemanha (Acordo entre Israel e a República Federal da Alemanha, 10 de setembro 1952)41. Em oposição a tais ideias, a perspectiva internacional não atribui a Israel a qualidade de representante de “todos os judeus, independentemente de sua nacionalidade”. Contudo, confere representatividade apenas no que tange os cidadãos de Israel. Ademais, outra crítica levantada aos argumentos da Corte, no que se refere ao princípio da personalidade passiva, é que os crimes atribuídos a Eichmann foram cometidos no período do Reich, quando ainda não existia o Estado de Israel. À vista disso, a personalidade passiva, como motivo legal por si só, não teria fundamento, pois que inexistem infrações ao Estado de Israel, em virtude da inexistência deste. 6.2.3 Princípio Territorial Este princípio configura-se na noção de que o território é um elemento fundamental na determinação da personalidade jurídica de um Estado perante os demais estados, no âmbito internacional. A territorialidade permite tanto sua localização geográfica na ordem internacional, o que garante sua identificação com relação aos outros sujeitos estatais, quanto permite ao Estado um direito de agir em razão de sua mera existência.42 É a partir dessa base delimitada que o Estado exerce seu poder com vistas a dirigir o grupo social, a fim de assegurar a eficácia do poder e a estabilidade da ordem.43 41 ALEMANHA. BUNDESGESETZBLATT JAHRGANG. . Convention on the Rights of Persons with Disabilities. 2008. Disponível em: <http://www.un.org/depts/german/uebereinkommen/ar61106dbgbl.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2016 42BICHARA, Jahyr-philippe. DIREITO INTERNACIONAL. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015. p. 394. 43BENICIO, Claudiana. A COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL FACE AO PRINCÍPIO DA SOBERANIA. 2013. Disponível em: <https://juridicocorrespondentes.com.br/adv/claudianabenicio/artigos/a-competencia-jurisdicional-dotribunal-penal-internacional-face-ao-principio-da-soberania-145>. Acesso em: 24 fev. 2016. 50 Pormenorizando, a competência territorial possui duas características clássicas: a sua plenitude e a exclusividade. Plenitude diz respeito à independência quanto à parte do globo que abrange seu território, tendo o direito de nela exercer, excluído de qualquer outro Estado, as funções estatais44. Nesse território específico, o Estado pode adotar atos de qualquer natureza, seja constitucional, legislativa ou administrativa. Tal posicionamento é defendido pelo Magistrado Max Huber, célebre no caso da Ilha de Palmas (1928), que aponta tais funções estatais como “potencialmente ilimitadas”45. No tocante à exclusividade, o princípio territorial aponta que o Estado é soberano sobre seu território e que essa soberania é exclusiva, impedindo que outro exerça o mínimo ato de autoridade no território daquele. A Corte Internacional de Justiça, no ano de 1949, no caso do estreito de Corfu, que opôs a Grã-Bretanha à Albânia, confirmou o ponto de vista de que “entre Estados independentes o respeito da soberania territorial é uma das bases essenciais das relações internacionais” Isto posto, a regulamentação de um Estado estrangeiro, via de regra, não é aplicável a outro Estado. Em regra geral, aplica-se o princípio que as leis nacionais não possuem efeito extraterritorial, indicando que a sua validade esbarra no limite do território sobre o qual o Estado exerce sua jurisdição e suas competências. A partir desse contexto de territorialidade no direito internacional, em 1960, o Mossad, serviço secreto do governo de Israel, raptou Adolf Eichmann em solo argentino e o conduziu até Israel, para ser julgado pela Corte Distrital de Jerusalém. Em contraponto a tal rapto, a Argentina protestou perante o CSNU contra a violação de sua soberania internacional pelos agentes israelenses, com base no princípio da territorialidade acima exposto. O Conselho de Segurança das Nações Unidas emitiu a Resolução de número 138, aprovada em 23 de junho de 1960, com 8 votos e duas abstenções, declarando que tal ato, se repetido, pode colocar em risco a paz e a segurança internacional, de forma que Israel deveria fazer a reparação adequada, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e as regras do direito internacional. 44BICHARA, 45BICHARA, Jahyr-philippe. DIREITO INTERNACIONAL. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015. p.397. Jahyr-philippe. DIREITO INTERNACIONAL. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015. p. 397. 51 Em contrapartida, o argumento explicitado pelo Estado de Israel para fundamentar a competência da Corte Distrital ao julgar o caso Eichmann parte da interpretação do princípio da territorialidade em concomitância com os princípios da personalidade passiva e o princípio da jurisdição universal, sob a ótica das violações dos direitos humanos cometidas pelo nazista. Quanto ao rapto do acusado, Israel defendeu-se alegando que o assunto foi além da competência do Conselho e deve ser resolvido, em vez disso, através de negociações bilaterais diretas com a Argentina. Nada obstante, Eichmann não foi devolvido ao país latino, que optou por não proceder com a altercação. A interpretação feita pelo Estado de Israel com relação a esse princípio tem origem na noção de que território é um conceito político e legal, não apenas um termo geográfico. Assim, a abrangência do território remete não somente aos aspectos físicos e geográficos, mas também diz respeito aos indivíduos e suas relações. Logo, o conceito de território estaria ligado a todos os tipos de relações, baseadas em língua comum, religião, história, costumes e leis. É crível que, para eles, são as relações que constituem o território, não o espaço geográfico. 52 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao simular a Corte Distrital de Jerusalém, as tarefas desempenhadas pelos participantes do comitê serão o mais fidedigno possível condizendo com a realidade do Tribunal: os Juízes, Representantes do Estado de Israel e Advogados de defesaexercerão suas funções de acordo com a prática da própria Corte, agindo em respeito ao seu Estatuto. Como já explanado no decorrer do presente texto, o Guia de Estudos se caracteriza como uma apresentação do órgão jurisdicional e do caso a ser simulado, norteando a pesquisa dos participantes, que não devem ficar restritos a este – tendo em vista que nenhuma referência ou menção ao mesmo poderá ser feita durante a simulação, em respeito à verossimilhança da mesma. O julgamento seguirá regras próprias estabelecidas no Regulamento da Corte a ser disponibilizado posteriormente pela Diretoria deste Comitê, em momento oportuno. Toda comunicação dos participantes deverá ser realizada através do contato direto com seus respectivos mentores. Uma vez recebida a confirmação de participação na Corte Distrital, cada participante receberá as instruções necessárias à sua atuação na simulação, de acordo com a designação do papel a ser desempenhado pelos mentores. Os mentores são diretores do próprio comitê designados de modo a auxiliar na construção das estratégias de litígio e nos demais esclarecimentos necessários para a preparação dos participantes. À vista disso, espera-se que a Corte Distrital de Jerusalém marque a história da UniSimde forma positiva e que as atividades logrem os melhores resultados possíveis, marcados pela excelência. 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADOLF EichmannBiography. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Zc8SjK8bqRM>. Acessoem: 12 demarço de 2016. ALEMANHA. BUNDESGESETZBLATT JAHRGANG. Convention on the Rights of Persons with Disabilities. 2008. Disponível em: <http://www.un.org/depts/german/uebereinkommen/ar61106-dbgbl.pdf>. Acesso em: 23 de fevereiro de 2016 ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Cia das Letras, 2015. ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: UM RELATO SOBRE BANALIDADE DO MAL. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 342. 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Escala. 2009. 58 ANEXO A – ORGANIZAÇÕES PARAMILITARES DO TERCEIRO REICH A Sturmabteilung ou SA (Tropas de Assalto) formou-se durante a ascensão do Partido Nazista, a fim de proteger seus oradores, após a criação de uma espécie de seção de Esportes e Ginástica no partido, na qual estavam presentes seus membros mais firmes a agressivos. Esses membros viriam a ser os seguranças dos oradores, formando o núcleo inicial das tropas de assalto que tanto atraíam exsoldados da I Guerra Mundial. Como muitos componentes da SA eram soldados das Freikorps 46, acostumados a dedicar sua lealdade pessoal apenas ao comandante da unidade, ainda que Hitler estivesse na liderança do partido e, consequentemente, da SA, havia um receio quanto à dedicação incondicional desses recrutas. Sendo assim, o Führer decidiu, em maio de 1923, montar uma guarda especial que garantisse a sua proteção e segurança, recrutando membros confiáveis da SA, que pudessem oferecer sua lealdade inquestionável. Nascia, assim, a SchutzStaffel (Esquadra de Proteção), doravante SS. A SS foi composta inicialmente por apenas oito homens, apresentando um aumento dos seus recrutas de forma desenfreada47 somente após a purgação dos elementos indesejáveis da SA (Tropas de Assalto), tendo como principal executado o seu comandante Ernst Röhm. Os homens da SS eram selecionados com base numa série de critérios, conforme relata Gordon Williamson: [...] somente aqueles com hábitos sóbrios, entre 25 e 35 anos, de boa reputação, sem registros criminais, com boa saúde e físico robusto seriam levados em consideração. Mais importante, porém, é que cada recruta da SS deveria prestar sua lealdade incondicional não ao Partido Nazista, mas pessoalmente a Adolf Hitler. (WILLIAMSON, G. A polícia secreta de Hitler. Vol. 1. São Paulo: Ed. Escala, p. 22, 2009) É importante ressaltar que, a princípio, a SS estava sob o comando da SA, porém ainda havia um certo conflito entre os dois grupos. Os soldados da SA eram ressentidos pelo elitismo atribuído à SS, ao passo que os membros desta última 46Freikorps eram grupos paramilitares que surgiram em toda a Alemanha, logo após a derrota da I Guerra Mundial. Grande parte dos seus componentes eram veteranos da guerra inconformados com o retorno à vida civil. 47 Estima-se que, até o fim de 1933, a SS possuía mais de 200 mil membros. 59 eram descontentes pelo tratamento indiferente que recebiam dos comandantes supremos da primeira. O crescimento da SS se deu principalmente sob o comando de Heinrich Himmler, que se filiou ao Partido Nazista por indicação de Ernst Röhm, em 1923. Quando Heiden se afastou do comando da SS em 1929, Himmler foi indicado ao cargo de Reichsführer-SS, tornando o seu destino e o desenvolvimento da Esquadra de Proteção intrinsecamente ligados. Em virtude de seu interesse pelas lendas medievais de cavalaria teutônica, Himmler possuía uma visão romântica da história das raças germânicas, fazendo com que tal crença influenciasse até mesmo nas regras de aceitação da SS. Era exigido, por exemplo, que todo eventual membro comprovasse sua linhagem, remontando a mais de três gerações, a fim de que ficasse provada a sua raça ariana. Somente o melhor do puro sangue alemão era aceito. Além disso, as antigas runas eram amplamente utilizadas pela SS em sua heráldica particular. No final de 1930, o trabalho de Himmler começou a surtir efeitos e Hitler tornou a SS independente da SA. Agora os grupos paramilitares não estavam numa relação de hierarquia, mas sim num status de igualdade. Conforme Williamson, a SS recebeu “seus uniformes formais, incluindo quepe preto adornado com uma caveira, calças pretas, gravata preta e braçadeira preta com a suástica.” Desse modo, ostentavam mais uma diferença para com as tropas de assalto, que vestiam camisas pardas em seu uniforme. Agravando ainda mais o conflito entre os dois grupos, o alto índice de desemprego na Alemanha fez com que muitos homens encontrassem seus objetivos na SA, incluindo-se aí os criminosos, que acabaram transformando a polícia num grupo extremamente indisciplinado e corrupto, porém poderoso. Enquanto a SA era desleal, a SS havia se mostrado leal e confiável. Como recompensa, esta foi eleita o principal órgão de segurança do Partido Nazista. Além de Himmler, entre os recrutas selecionados para a SS, estava Reinhard Heydrich, um ex-oficial da marinha que impressionou seu superior com a apresentação de um plano para o serviço de segurança do Estado. A partir daí, nascia o serviço de segurança e inteligência da SS, a Sicherheitsdienst (SD), cuja espionagem estendia os tentáculos da SS em cada segmento da vida dos alemães. 60 A lealdade devotada à Hitler pelos membros da SS não era à toa. O lema do grupo era “Minha honra se chama lealdade” e estava gravado na adaga que fazia parte da mística impregnada por Himmler. Ademais, isso também era demonstrado no juramento da SS, feito após o treinamento militar básico, sempre no dia 20 de abril, aniversário de Hitler. Eis os dizeres: Juro ao senhor, Adolf Hitler Como Führer e Chanceler do Reich Alemão Lealdade e coragem, Faço um voto ao senhor e a meus superiores Que o senhor designar Obediência até a morte. Por isso peço que Deus me ajude. (WILLIAMSON, G. A polícia secreta de Hitler. Vol. 1. São Paulo: Ed. Escala, p. 34, 2009) Em 5 de junho de 1934, devido aos conflitos e à desconfiança de Hitler quanto a SA, o Führer convocou Röhm para uma longa conferência, deixando-o ciente de que a SA estava dispensada. Enquanto isso, o líder do Partido Nazista, juntamente com Himmler, Heydrich, Göring, Lutze, entre outros, elencaram todos os líderes da SA que deveriam ser executados, dia que ficou conhecido como “Noite das Facas Longas”, culminando com a morte de Ernst Röhm com um tiro na cabeça. Em consequência dessas execuções, a SS consolidou o seu poder, tornandose o exército particular do Partido Nazista, com seus milhares de adeptos treinados e selecionados com base nos traços da raça ariana, também conhecidos como “soldados da destruição”.