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Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 1 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária Sâmia Thalita de Morais Fernandes – [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação - IPOG Londrina, PR, 16 de Janeiro de 2015 Resumo Com o advento da invenção da lâmpada incandescente de Thomas Edison em 1878, a vida diária da população aumentou em quatro horas, com isso o ser humano começou também a realizar trabalhos no turno da noite, e a partir de então a iluminação no ambiente de trabalho começou a ser alvo de estudo, pois um planejamento correto da iluminação contribui para aumentar a satisfação no ambiente de trabalho. Neste sentido, o presente estudo partiu do seguinte questionamento: Há qualidade de iluminação em ambientes de estudo? Para responder a pergunta, foi escolhida uma Oficina de Moda Universitária como objeto de estudo. Como metodologia foi escolhida a Análise Macroergonômica do Trabalho, pois esta conta com etapas que identificam por parte dos usuários e de forma confiável os problemas no ambiente de trabalho. Foram entrevistados 66 alunos e 3 professores do curso de moda, onde dentre diversos problemas, identificou-se uma deficiência na iluminação do ambiente, o que pode ser corroborado pelas aferições da luminância nos ambientes de estudo. Foram então propostas de melhoria para as salas de aula, seguindo as recomendações das normas vigentes e da literatura. Palavras-chave: Iluminação. Oficina de Moda Universitária. Análise Macroergômica do Trabalho. 1. Introdução O sistema visual se tornou a principal ferramenta de trabalho para milhões de pessoas, que recebem grande parte das informações por meio da visão. Isso se deve ao fato de que nas últimas décadas, a ênfase no desempenho das atividades de trabalho tem se deslocado da força física para o sistema visual e para as funções moto-sensoras (BERTOLOTTI, 2007: 1). O ser humano foi “projetado” para trabalhar com a luz natural. A luz do dia com céu claro e sem nebulosidades é composta de 90% de luz solar direta e 10% de luz difusa, portanto, os ambientes de trabalho devem ser projetos, sempre que possível, para o máximo de aproveitamento da luz natural (MORAIS JUNIOR, 2014). Um dos poucos inventos que contribuíram para aumentar a produtividade humana foi a lâmpada incandescente, inventada em 1878 por Thomas Edison (1847-1931), tendo acrescentado mais quatro horas de vida ativa no dia para a população mundial (IIDA, 2003: 250). Os olhos são órgãos receptores muito importantes para os seres humanos, pois estes captam, na forma de ondas de luz, a energia do mundo exterior, e as transformam em uma forma de energia que tem sentido para o organismo vivo, que são chamados de impulsos nervosos. Os impulsos nervosos geram a percepção visual a partir da integração dos impulsos da retina com ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 2 o cérebro. Portanto a visão pode ser considerada um dos sentidos mais importantes que o ser humano possui, tanto para a vida diária quanto para o trabalho (KROEMER e GRANDJEAN, 2005; IIDA, 2003). Um planejamento correto da iluminação contribui para aumentar a satisfação no ambiente de trabalho, bem como melhorar a produtividade e reduzir os acidentes e a fadiga. No ambiente escolar, o projeto da iluminação também deve ser considerado, pois entre os diversos fatores que influenciam o processo de aprendizagem, aqueles relacionados com as condições ambientais têm um papel muito importante, portanto, boas condições de iluminação favorecem o desempenho visual, otimizando o processo de aprendizagem (BERTOLOTTI, 2007: 1). Para este trabalho foi escolhido como objeto de estudo uma Oficina de Moda de uma Universidade Estadual situada no Noroeste paranaense (Figura 1), tendo como objetivo, por meio das ferramentas da Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT), analisar se os níveis de luminância nos ambientes da oficina onde são ministradas as aulas estão dentro dos padrões estabelecidos pelas normas vigentes, bem como se estes não estão interferindo de forma negativa durante a realização das atividades, pois o curso oferece turmas nos turnos matutino e noturno. Figura 1 – Vista Frontal da Oficina de Moda Fonte: Própria (2014) A Oficina dispõe de cinco salas em seu interior, sendo que atualmente três são utilizadas como sala de aula, uma como Laboratório Têxtil e uma como depósito. A Oficina dispõe também de apenas um conjunto de sanitário para cada sexo, conforme se pode observar na figura 2. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 3 Figura 2 – Planta Baixa da Oficina de Moda Fonte: Própria (2014) 2. Procedimentos Metodológicos A ergonomia no Brasil teve início no final dos anos 1970, quando Alain Wisner, do Conservatoire National des Arts e Metiers (CNAM) de Paris, foi convidado, pelo professor Franco Seminário, para iniciar os estudos em ergonomia no antigo Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. A partir de então, o ISOP/FGV formatou um curso de especialização em Ergonomia que ocorreu de 1979 a 1990. Partindo principalmente da observação, a maneira para implantar a ergonomia varia de acordo com as necessidades, interesses e possibilidades de cada empresa, podendo acontecer sob dois enfoques: o microergonômico e o macroergonômico. A macroergonomia, mais contemporânea, focaliza o ser humano, o ambiente, a máquina, o processo de trabalho e a organização, com o objetivo principal de aperfeiçoar o funcionamento dos sistemas de trabalho, a partir da interface do desenho organizacional com a tecnologia, o ambiente e os seres humanos. A ideia não é entregar um diagnóstico, mas propor mudanças, incorporando o conhecimento dos trabalhadores. Guimarães (2010) propõe um modelo de implementação de ergonomia participativa que contempla nove dimensões: permanência, envolvimento, nível de influência, tomada de decisão, composição de participantes, tipo de convocação, objetivo, atuação, papel do especialista. A Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT) é um método de ação ergonômica com abordagem participativa que, quando aplicada nas empresas, não assume o caráter de pesquisa descritiva da maioria das intervenções, tendo a orientação metodológica de uma pesquisa-ação (Action Research) (...) procurando maneiras de modificar comportamentos considerados inadequados frente a determinadas situações, servindo, assim, como um instrumento que fosse capaz de unir teoria e prática (GUIMARÃES, 2010: 1). O pesquisador é incluído no campo em que investiga e sua ação também modifica o que é estudado, em um caráter utilitário com objetivo de uma maior sensibilização e conscientização. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 4 A AMT propõe um protocolo de ação que considera os quatro fatores básicos de uma intervenção ergonômica e que tiveram ênfases diferentes em cada uma das fases da Ergonomia: Questões biomecânicas e antropométricas, ou do posto de trabalho (1ª fase da ergonomia); Questões ambientais (2ª fase da ergonomia); Questões cognitivas ou de conteúdo (3ª fase da ergonomia); Questões de organização do trabalho (4ª fase da ergonomia); além de considerar: Os fatores de risco no trabalho; e A forma de gestão estratégica e conceituação da empresa, ou seja, como ela é vista pelos trabalhadores e pela sociedade. O levantamento inicial da situação ou Apreciação é a etapa que engloba um levantamento geral da situação de trabalho sob avaliação e, após análise preliminar, uma discussão dos problemas. (...) Esta fase de levantamento é uma das mais importantes do projeto, pois de um bom levantamento depende o sucesso da intervenção. Nesta fase, basicamente: Identifica-se, descreve-se e avalia-se o tipo e âmbito dos problemas; Listar-se os problemas por ordem de prioridade. Uma vez identificado o usuário, as informações são coletadas ouvindo-se o utilizador por meio de entrevistas não induzidas e questionários. Com base na observação do desempenho do mesmo, o ergonomista pode agregar mais itens de demanda que porventura não tenham sido expressos, mas que também devem ser considerados em um projeto. De acordo com a ferramenta Design Macroergonômico (DM) proposta por Fogliatto e Guimarães, a coleta organizada de informações é feita com base em entrevistas abertas (individuais ou em grupo) com uma amostra representativa de, no mínimo, 30% da população. Ao final, se propõe um projeto de intervenção, pois “a ergonomia e o design participativo levam a soluções mais adaptadas e, portanto, colocadas em prática com aceitação tanto dos trabalhadores quanto dos empresários (...) isso dá ao trabalhador um sentimento de responsabilidade que resulta em maior motivação e satisfação no seu trabalho (GUIMARÃES, 2010)”. A AMT propõe o lançamento do projeto com as seguintes fases: Levantamento ou apreciação ergonômica; Análise da situação ou diagnose ergonômica; Proposta de soluções; Validação de soluções; Detalhamento ergonômico. Desse modo, a intervenção ergonômica tem melhor resultado, com redução da margem de erros e melhor aceitação por parte dos trabalhadores, resultando em mais motivação, satisfação e qualidade de vida dos usuários. Esse método foi escolhido devido à confiabilidade que os seus dados forncem ao pesquisador, porém nesta pesquisa, mesmo que a AMT aponte inúmeros problemas, o foco são os problemas relacionados à iluminação do ambiente. Antes de apresentar os resultados da pesquisa, será exposto a seguir um breve panorama do que a literatura fala sobre o assunto, visando elucidar a teoria pertinente. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 5 3. Ritmo circadiano e os efeitos fisiológicos da iluminação artificial Do latim circa dies, que significa cerca de um dia, o ritmo circadiano é um ciclo de aproximadamente 24 horas onde o organismo humano apresenta oscilações em quase todas as suas funções. Assim como os demais indicadores fisiológicos, esse ritmo circadiano é comandado pela presença da luz solar, e mesmo nos indivíduos que trabalham a noite e dormem durante o dia, o ritmo permanece praticamente inalterado, salvo por pequenas adaptações que demoram cerca de uma semana para se completar (IIDA, 2003: 273-274). A iluminação tem papel direto na produção de secreções como a melatonina, hormônio responsável por preparar o organismo para o sono e reestabelecer o equilíbrio do corpo, produzida pela glândula pineal, portanto a iluminação também influi diretamente no equilíbrio, desenvolvimento e bem estar do organismo (SILVA, 2014). A saúde e o estado de ânimo das pessoas são influenciados pela luz. Além dos distúrbios do sono, é conhecida uma forma particular de depressão, SAD – seasonal affective disorder – que também é conhecida como “depressão de inverno”, de ocorrência mais frequente no hemisfério norte, pois durante o inverno as noites são mais longas e os dias mais curtos, e a ausência de luz provoca um aumento nos sentimentos de depressão, redução de interesse na maioria das atividades cotidianas, melancolia, bem como aumento da irritabilidade, aumento da necessidade do sono, entre outros (BERTOLOTTI, 2007: 12). Segundo Grandjean (2005: 234), para o conforto visual e bom desempenho óptico, devem ser atingidas as seguintes condições: nível de luminância adequado; equilíbrio espacial das luminâncias das superfícies; uniformidade temporal da iluminação; eliminação de ofuscamento com luzes apropriadas. Esses requisitos são válidos tanto para a luz artificial, quanto para a luz natural do dia, porém os requisitos para a luz artificial são considerados primeiro, pois os problemas práticos são um pouco diferentes. É importante compreender o significado de alguns termos, tais como lúmen, luminância e iluminância. As definições a seguir foram dadas por Iida (2003) e Kroemer e Grandjean (2005). Lúmen é a unidade de luz. A eficiência luminosa da lâmpada elétrica é expressa, então, em lumens por Watt, ou lm/W; Luminância é a quantidade de luz refletida ou emitida de uma superfície. A unidade de medida é a candela por metro quadrado, ou cd/m2; Iluminância é a quantidade de luz incidindo sobre uma superfície. A luz pode vir do sol, luminárias de uma sala ou qualquer outra fonte. A unidade de medida é o lux (lx). Os níveis de iluminância geralmente recomendados para oficinas e escritórios há algumas décadas atrás, eram de 50 a 100 lx. Desde então os índices aumentaram, e hoje os níveis entre 500 e 2.000 lx são bastante comuns (KOREMER e GRANDJEAN, 2005: 234). A partir de 10 lux, o rendimento visual tende a crescer, com o logaritmo do iluminamento até cerca de 1.000 lux, enquanto a fadiga visual se reduz nessa faixa. A partir desse ponto, os aumentos do iluminamento não provocam melhoras significativas no rendimento, e a fadiga visual começa a aumentar, dessa forma, o máximo recomendado é 2.000 lux, podendo, em alguns casos excepcionais, como montagens ou inspeções de peças pequenas e complicadas, chegar a 3.000 lux (IIDA, 2003: 253). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 6 4. Apreciação Macroergonômica Esta etapa consiste no levantamento da situação, com posterior análise e discussão dos problemas identificados. A figura 3 mostra o panorama geral da Sala de Aula de Confecção com as locações das mesas de costura e manequins. Percebe-se que mesmo durante o dia, as luzes da sala permanecem acesas, pois a iluminação natural que entra na sala não é o suficiente para a realização das atividades. Figura 3 – Vista geral da sala de aula de confecção Fonte: Própria (2014) A figura 4 mostra a Sala de Aula de Modelagem Plana. Assim como na sala de Confecção, pode-se perceber que também há a necessidade do uso da iluminação artificial, e outro aspecto que perceptivelmente inibe a entrada da luz na sala é o uso de cortinas de cor escura, bem como a tela de proteção contra insetos, que de certa forma também bloqueia, mesmo que pouco, a entrada da luz solar. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 7 Figura 4 – Sala de aula de Modelagem Plana Fonte: Própria (2014) 5. Diagnose Ergonômica 5.1 Entrevista Após o primeiro mapeamento por meio da Apreciação Ergonômica, de acordo com o método da AMT, partiu-se para a Diagnose Ergonômica, onde foram realizados entrevistas e questionários. Por meio de uma conversa informal com os alunos e professores do curso de moda que fazem uso da Oficina, foi possível identificar os problemas mais evidentes no ambiente estudado. De forma individual e não induzida, a entrevista foi feita com 66 (sessenta e seis) alunos, que totalizam 50% dos matriculados no curso de Moda da Universidade e 3 (três) professores, que são todos os que ministram aulas e realizam atividades nas salas da Oficina. Os itens mencionados nas entrevistas foram priorizados de acordo com a ordem em que foram citados, desta maneira, o primeiro fator recebeu o peso 1/1 = 1, o segundo 1/2 = 0,5, o terceiro 1/3 = 0,33, e assim sucessivamente. As respostas dos alunos e dos professores foram tabuladas separadamente, e por meio da somatória, foram identificados os Itens de Demanda Ergonômica (IDE’s), de acordo com as tabelas a seguir. ALUNOS IDE’s Equipamentos com defeito TOTAL 29,61 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 8 Falta de Equipamentos Calor Falta de Espaço Insetos Bancos/mesas inadequados Iluminação ruim Sujeira Falta de manequins Falta de organização Falta de acessibilidade Falta de bebedouros Falta de sanitários Falta de segurança 23,05 20,46 17,59 13,33 7,23 5,8 4,45 4,18 3,01 1,36 0,76 0,66 0,3 Tabela 1 – IDE’s dos alunos Fonte: Própria (2014) PROFESSORES IDE’s Calor Porta com saída para área externa Falta técnico para as máquinas Insetos Cadeiras ruins Equipamentos quebrados Falta equipamento multimídia Cortinas ruins Espaço adequado para tecidos Mesas muito altas Forro de PVC instável Espaço físico inapropriado Falta de indicação de voltagem nas tomadas Iluminação ruim TOTAL 1,83 1 1 0,75 0,7 0,5 0,34 0,33 0,25 0,2 0,2 0,16 0,11 0,1 Tabela 2 – IDE’s dos professores Fonte: Própria (2014) A partir destes resultados, foi elaborado um único questionário para professores e alunos, por conta da proximidade dos IDE’s apontados por ambos, onde todos deveriam demonstrar seu grau de satisfação quanto aos itens da demanda ergonômica obtidos na entrevista. Dos 66 alunos que responderam a entrevista, obteve-se apenas 28 questionários válidos, pois muitos alunos não estavam na Universidade no período em que os questionários foram ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 9 aplicados, e alguns questionários foram descartados, pois as marcações foram feitas de forma errada, o que impossibilitou a tabulação. Os três professores responderam o questionário. As questões de satisfação foram elaboradas através de uma escala de avaliação contínua de 15 centímetros proposta por Stone et al. (1974). O entrevistado marca na escala um ponto de acordo com sua satisfação, sendo que quanto mais próximas as marcações forem dos 15 cm, o entrevistado está mais satisfeito, e quanto mais próximo do 0 cm, mais insatisfeito. O resultado final em relação a cada IDE é obtido pela média aritmética. Foram feitas questões sobre conforto térmico, dimensões, altura das mesas e bancos, quantidade e qualidade de materiais disponíveis para os alunos, entre outros questionamentos, conforme aponta o gráfico abaixo. Gráfico 1 – Análise do questionário Fonte: Própria (2014) Pode-se perceber no questionário que a iluminação não é o principal problema encontrado pelos alunos e professores nas salas de aula da Oficina de Moda, porém o grau de satisfação da iluminação ficou abaixo da metade, o que indica a insatisfação neste aspecto. Esta metodologia é importante, pois ela não induz o entrevistado a expor os problemas de um assunto específico, o que aumenta o grau de confiabilidade das respostas obtidas. Para obter dados mais precisos sobre a iluminação no ambiente, foram feitas algumas análises antes de propor soluções. 5.2 Análise Ambiental ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 10 Materiais e Métodos Para este estudo, foi analisada a luminância das salas de aula, que foi aferida por um Luxímetro digital, modelo 332 da marca Homis. As condições climáticas do dia em que foram realizadas as medições eram: dia ensolarado, com poucas nuvens e temperatura em torno de 28°C às 10h25min; no período da tarde, por volta das 15h15min, o dia era ensolarado, com ventos irregulares e temperatura em torno dos 34°C; e no período noturno o céu estava aberto, com pouco vento e temperatura em 29°C. Resultados e Discussões As imagens a seguir apresentam os pontos onde as medições foram realizadas. Todos os pontos são localizados sobre as máquinas de costura e mesas de trabalho, pois estes pontos são os que possuem maior fluxo de atividades durante todo o dia, além do fato de que praticamente todas as atividades didáticas são desenvolvidas nestes pontos. A luminância foi aferida no período da tarde com as luzes apagas e acesas e no período noturno. Figura 5 – Pontos de medição da luminância Fonte: Própria (2014) Sala de Confecção Tarde c/ Tarde s/ Noite luz luz Sala de Moulage Tarde c/ Tarde s/ Noite luz luz Sala de Modelagem Tarde c/ Tarde s/ Noite luz luz ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 11 P1 P2 P3 P4 P5 413 610 844 681 748 115 75 160 55 148 417 562 343 343 517 575 665 665 653 764 59 53 95 86 164 301 519 428 613 599 649 746 597 420 629 171 124 216 29 46 368 539 423 401 342 Tabela 3 – Luminância Fonte: Própria (2014) Segundo a NBR5413 o nível de iluminação geral para área de trabalho que envolva tarefas com requisitos visuais normais, trabalho médio de maquinaria e escritórios deve ser de 500 a 1000 Lux e para trabalhos de precisão em máquinas, o recomendado é de 1000 a 2000 Lux. Os números em destaque na tabela estão inadequados, de acordo com a NBR. Após analisar o local, verificou-se que o nível de luminosidade está abaixo do aceitável em grande parte das situações analisadas (números em negrito na tabela), pois são poucas as áreas onde o nível de iluminação está dentro do aceitável. A sala de confecção foi a que apresentou os piores resultados, pois todos os pontos analisados estão fora do recomendado pela norma nos três períodos, pois as áreas onde estão localizadas as máquinas de costura exigem um nível maior de iluminação, nas demais, a iluminação artificial supre parcialmente as necessidades, porém a iluminação natural do local é muito ruim. 6. Sugestão de melhorias A partir da análise do ambiente construído, observou-se que o edifício necessitava de intervenções para a realização de suas atividades (ensino e aprendizagem) de modo satisfatório. Desta forma propõe-se nova configuração que proporcione estas condições, ou seja, que satisfaçam as distâncias mínimas, bem como as condições físicas (temperatura, iluminação e ruído) e psicológicas (vista, privacidade, contato social, identidade). De acordo com Van Der Voordt (2013), a qualidade arquitetônica de uma edificação, em sentido mais amplo, inclui as seguintes sub-qualidades: qualidade funcional, estética, técnica, econômica. Dentre eles, avaliou-se até que ponto a edificação é adequada para as atividades que ocorrem no seu interior, também se é capaz de criar um clima interno seguro e salubre, medido em termos de temperatura, umidade, acústica e iluminação artificial e natural de maneira favorável ao meio ambiente. Para Kowaltowski et al (2011: 465) “a primeira recomendação é que os ambientes de aprendizado sejam associados às metodologias de ensino e princípios pedagógicos, sendo flexíveis quanto ao uso dos espaços e com maior variedade de configurações”. A partir da diagnose ergonômica, sugere-se a implantação das características: inserção de aberturas maiores, para melhor iluminação natural e ventilação; adequação da iluminação artificial em atendimento à NBR 5413 – Iluminância de Interiores, com iluminação geral e direta; telha sanduíche e ar condicionado para auxiliar no controle da temperatura, que segundo IIDA deve estar entre 20° e 24°; saídas de emergência com porta antipânico em cada sala de aula para área externa, em atendimento ao apontamento feito pelos professores. Outro fator levantado na pesquisa foi a necessidade de bebedouros, que junto com bancos e lixos estão locados na circulação da oficina. Também é importante a adequação da instalação elétrica, conforme a NBR 5410, com a indicação de voltagem nas tomadas, medida que evita a queima de equipamentos. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 12 Considerando que a incidência de sol direto no plano de trabalho/estudo torna-se uma condição desagradável para o desenvolvimento de atividades laborativas e que exigem boa acuidade visual, para conforto e produtividade dos usuários, sugere-se uma estratégia para o controle da luz natural no prédio, ilustrado no esquema a seguir. Trata-se de bandejas de luz internas, também conhecidas como light-self (Figura 6), que são estruturas horizontais adicionadas à parte superior das aberturas laterais, com o objetivo de redirecionar parte da luz direta e difusa incidente para o plano do teto. Com isso se alcança aumento da iluminância nas partes mais profundas do espaço, garantindo uma distribuição mais homogênea por efeito de reflexão. Figura 6 – Esquema ilustrativo de uma bandeja de luz interna Fonte: Vianna, Gonçalves (2001) A figura abaixo representa um sistema com iluminação artificial diretamente sobre o posto de trabalho/ estudo, possibilitando altos níveis de iluminância perto da tarefa visual, que aliado à iluminação geral apresenta correta distribuição de luz. Figura 7 – Esquema ilustrativo de um sistema direto de iluminação artificial Fonte: Vianna, Gonçalves (2001) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 13 Para melhor visualizar como as bandejas de luz iriam se comportar na estética do edifício, foi feita uma simulação digital, que pode ser visualizada na imagem abaixo. Figura 8 – Simulação digital das bandejas de luz Fonte: Própria (2014) 7. Considerações Finais Este trabalho foi de extrema importância para compreender como a iluminação pode afetar de forma direta o nosso organismo e alterar a forma como praticamos nossas atividades diárias. A revisão da literatura é necessária para servir de parâmetro para o desenvolvimento de novos trabalhos, pois ter conhecimento do que já foi pesquisado sobre o assunto guia os pesquisadores para os caminhos corretos a serem seguidos, evitando assim que se repitam pesquisas que já foram realizadas, bem como que estas sirvam como base para as pesquisas que estão sendo desenvolvidas. A adoção da Análise Macroergonômica do Trabalho como metodologia para esta pesquisa pode ser considerada satisfatória, pois mesmo que geralmente este método seja utilizado para a identificação e solução dos mais diversos problemas encontrados dentro das empresas, ele garante grande confiabilidade dos resultados, pois os usuários não são em momento algum, induzidos a falar sobre um problema específico, eles são livres para apontar os problemas que eles vivenciam no ambiente estudado. Neste trabalho, a AMT identificou inúmeros problemas, que não foram alvo de estudo, pois o foco foi a iluminação, que também foi identificada como um problema, tanto pelos alunos como pelos professores, porém os outros problemas encontrados podem ser alvo de estudos posteriores. As soluções propostas são pautadas nas recomendações das normas e da literatura, então não pode-se dizer com plena certeza que elas resolveriam os problemas apontados, porém a proposta fica registrada neste artigo, que atendeu aos objetivos iniciais do trabalho. Todo projeto deve se preocupar com a iluminação, pois esta pode garantir melhora na qualidade do trabalho, no aprendizado e também melhorar a qualidade de vida das pessoas que de qualquer maneira fazem o uso do espaço. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Estudo da qualidade da iluminação em uma Oficina de Moda Universitária dezembro/ 2015 14 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413: Iluminância de interiores. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. BERTOLOTTI, Dimas. Iluminação natural em projetos de escolas: uma proposta de metodologia para melhor a qualidade da iluminação e conservar energia. 2007. 162 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). FAUUSP, São Paulo, 2007. GUIMARÃES, L. B. de M. Análise Macroergonômica do Trabalho – AMT: Modelo de Implementação e Avaliação de um Programa de Ergonomia na Empresa. In: Macroergonomia: Colocando conceitos em prática. Org. Lia Buarque de Macedo Guimarães. Porto Alegre: UFRGS/FEENG, 2010. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2003. KOWALTOWISKI, Doris C. C. K.; MOREIRA, Daniel de Carvalho; FABRICIO, Márcio M. (orgs.). O processo de projeto em arquitetura. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. KROEMER, K.H.E , & GRANDEJEAN, E. Manual de Ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. Porto Alegre: Bookman editora, 2005. MORAIS JUNIOR, Cosmo Palasio de. Considerações Sobre Iluminação e Trabalho. Disponível em: < http://www.ecivilnet.com/artigos/iluminacao_e_trabalho.htm>. 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