Passeio pelo Passado

Transcrição

Passeio pelo Passado
Casa da Ínsua – Hotel de Charme
Passeio pelo passado
Quinta da Ínsua, Janeiro de 1890
Das numerosas quintas do país que temos visitado, ainda nenhuma nos impressionou tanto como a denominada da
“Ínsua”, importante propriedade que o nosso amigo, sr. Manuel de Albuquerque possui em Penalva do Castelo,
distrito de Viseu.
As matas, principalmente, são de uma beleza surpreendente e quem as visita, pela primeira vez, reconhece
claramente que a sua plantação fora desde logo subordinada a um plano geral, plano que patenteia os muitos
conhecimentos de quem o delineou.
E o actual proprietário e sua mãe, a Sr.ª D. Camila de Faria, como verdadeiros amadores do belo, não se têm
poupado a fadigas e despesas para conservar aquela preciosidade e engrandecê-la com novas plantações, que em
nada destoam do plano primitivamente traçado.
Os arruamentos das matas, formando extensas galerias de belíssimo efeito, são conhecidos por nomes diferentes,
na sua maior parte nomes das senhoras da família e das relações do proprietário.
É destes arruamentos que vamos dar aos leitores do nosso jornal, uma sucinta descrição.
Uma das mais belas ruas é a chamada “Camila de Faria” numa extensão de 340 metros. É toda guarnecida de
Cupressus glauca, cujos troncos apresentam uma altura de 50 metros e uma circunferência na base de três metros
e setenta. Perante estes gigantes seculares, cuja idade reputo a 150 anos, não pude deixar de me curvar reverente,
quando pela primeira vez percorri a extensa galeria que eles formam.
A rua “Laura” forma uma avenida de 685 metros de comprimento.
As árvores que orlam esta avenida são Cupressos fastigiata (Cipreste) e Arbustus unedo (Medronheiro). As
primeiras têm uma altura de 35 metros; e as segundas, dum tamanho como ainda não vi, medem dois metros e
setenta de circunferência na base.
A rua “Luiza”, de um comprimento de 150 metros, é também revestida de Cupressus glauca que apresentam uma
altura superior a 30 metros e medem de circunferência na base dois metros e dez.
Estes Cupressus foram plantados em 1836, assim como as variadíssimas essências que fazem parte da mata
adjacente.
A rua “Maria” tem uma extensão de 180 metros e é toda arborizada com Carvalhos, que medem para cima de 20
metros de altura.
A rua “Emília”, arborisada com árvores diversas, tem uma extensão de 200 metros e é terminada por um colossal
Cupressus glauca. A mata, que circunda esta rua, é duma beleza incomparável pela sua espessura.
A rua das “Palmeiras”, orlada de Chamoeropes excelsa, mede 250 metros de comprimento. Esta avenida, de
construção ainda recente, será de futuro um local encantador. Encontra-se ali um bosque de Loureiros (Laurus
nobilis) que medem para cima de 35 metros de altura. Junto deste bosque há um grupo de Populus pyramidalis,
árvores ainda pouco conhecidas entre nós, que produzem um efeito admirável. Este grupo de Populus pyramidalis,
faz-me recordar imediatamente um lugar que visitei na Bélgica e onde a plantação destas árvores, que via pela
primeira vez, me surpreendeu agradavelmente.
Estes choupos que podem ter uma altura de 34 metros, pouco mais ou menos, devem estar plantados há cerca de
44 anos, logo depois que o sr. João de Albuquerque, pai do actual proprietário, regressou de uma viagem que fez ao
estrangeiro, onde naturalmente os adquiriu.
Além destas ruas há mais uma outra de 760 metros de comprido, arborizada em toda a sua extensão com
Eucalyptus globulus plantados há 15 ou 16 anos e que medem já cerca de 30 metros de altura.
Do outro lado, separada por uma vinha, há uma rua do comprimento de 400 metros, guarnecida nas margens por
macieiras em forma de leque, produzindo belíssimo efeito.
Há mais uma rua de “Aveleiras” de 300 metros de extensão e uma outra de igual comprimento, toda guarnecida de
Buxos enormes que formam um extenso túnel de verdura, de uma beleza surpreendente.
Casa da Ínsua – Hotel de Charme – Penalva do Castelo
www.casadainsua.pt
Uma rua curiosa que se encontra numa rua das matas é a chamada rua da “Tristeza”. Esta rua, pouco larga, tem um
comprimento de 200 metros e é toda orlada de Casuarina stricta. O nome da avenida procede não só do nome da
árvore que a borda, pois é vulgarmente conhecida por árvore da tristeza, mas também porque ao lado da rua há o
recinto que, desde longos anos, tem servido para cemitério dos animais domésticos que têm morrido na
propriedade. No fim da avenida das Casuarinas há um largo, tendo no centro uma soberba Chamaorps excelsea,
seguindo-se-lhe imediatamente uma outra rua de igual extensão, plantada com Acacias melanoxilon (Australias).
A mata onde se encontra a rua da “Tristeza”, chamada da “Coutada”, tem 6 hectares e está plantada em parte de
Acacias melanoxilon (Australias).
Além destas matas, tem a propriedade a grande mata, chamada da “Cerca” junto ao rio Coja, com uma superfície de
16 hectares. Nessa mata há grandes plantações de Eucalyptus globulus, amigdalina e Acácias diversas
Atendendo a que houve um plano geral para o edifício e quinta e que a arquitectura do edifício, assim como a da
capela que tem a propriedade, é a que se usava de 1700 a 1750 sendo de supor que os primeiros arruamentos e
plantações fossem feitos no início do século passado. (nota: Século XVIII)
Num dos jardins, chamado Jardim Inglês, entre muitas outras árvores diversas de merecimento, encontram-se dois
Taxodium grandiflora dum tamanho colossal e alguns Abies e Cryptomeria japonica como ainda não vi em parte
nenhuma. Os Platanus orientalis, Liriodendron tulipiferume, Magnólia grandiflora, dum tamanho respeitável, que se
encontram no grande largo da entrada, mostram evidentemente que a data da plantação remontará à época que
acabamos de dizer.
Em frente da capela, que existe neste largo, há dois Cerasus Lusitanica de 17 metros de altura e de um metro e
quarenta de circunferência na base, muito enramados desde a base ao vértice, formando como que duas pirâmides
perfeitamente iguais e duma elegância extrema. A ramagem destas duas árvores apresenta uma circunferência de
14 metros.
Nesta propriedade, as vinhas são cultivadas na perfeição, enroscando-se os sarmentos em volta de arames, de
modo a que a vinha pode ser lavrada em vez de cavada. As videiras têm todas os seus nomes competentes. Notei
ali uma vinha enxertada em videira americana, que estava fortíssima.
Os olivais são magníficos e, pela sua cultura e poda racional, distinguem-se logo, mesmo a grande distância, das
plantações dos proprietários vizinhos.
Finalmente, os lagares e adegas são construídos segundo os processos mais modernos.
Terminando não podemos deixar de felicitar o sr. Manuel de Albuquerque, protestando-lhe daqui o nosso
reconhecimento pelos agradáveis momentos que nos proporcionou por ocasião da visita que fizemos à sua
encantadora vivenda.
in Jornal de Horticultura Pratica vol. XXI, n.º 1 - Janeiro de 1890 por José Marques Loureiro (grafia actualizada)
Casa da Ínsua – Hotel de Charme – Penalva do Castelo
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