gCbr04 - Metro Mondego

Transcrição

gCbr04 - Metro Mondego
INTERVENÇÃO DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA
Sistema de galerias Subterrâneas de Coimbra
(SANTA C RUZ , C OIMBRA, C OIMBRA)
direcção técnico-científica:
M IGUEL ALMEIDA
FILIPE GONÇALVES
colaboração:
M ARIA JOÃO N EVES
SORAYA ROCHA
gCbr’04
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
R ELATÓRIO FINAL
D RYAS A RQUEOLOGIA, L DA.
2005
01
1.
RELATÓRIOS DRYAS
45
* * *
JANEIRO DE 2005
imprimiram-se
6
exemplares deste relatório, distribuídos a:
§ AlpVertical, Lda. (2 exs.)
§ IPA — Instituto Português de Arqueologia
§ IPPAR — Instituto Português do Património Arquitectónico
§ Câmara Municipal de Coimbra
§ Dryas Arqueologia, Lda.
gCbr04
ÍNDICE
índice ......................................................................................................................................................................................................2
Resumo..................................................................................................................................................................................................3
Quadro de conteúdos ...........................................................................................................................................................................4
Ficha técnica..........................................................................................................................................................................................5
Enquadramento da intervenção arqueológica........................................ 6
Descrição do processo: enquadramento legal e contratual, financiamento da intervenção e procedimentos
administrativos preparatórios........................................................................................................................................................6
Descrição de trabalhos anteriores de arqueologia realizados no local ............................................................................................6
Condição do(s) sítio(s) intervencionado(s) antes do início dos trabalhos de arqueologia .............................................................7
Descrição do local e áreas envolventes: geografia e geologia .........................................................................................................9
Fontes históricas e bibliográficas .......................................................................................................................................................10
Resenha histórica................................................................................................................................................................................10
Objectivos, estratégia e metodologia da intervenção arqueológica........14
Descrição dos objectivos da intervenção ..........................................................................................................................................14
Descrição da estratégia e metodologia dos trabalhos .....................................................................................................................14
Descrição da intervenção arqueológica ...............................................16
Direcção dos trabalhos e constituição da equipa de arqueologia ..................................................................................................16
Meios utilizados ...................................................................................................................................................................................16
Datas e duração dos trabalhos de campo ........................................................................................................................................17
Descrição dos trabalhos de campo ...................................................................................................................................................17
Memória descritiva das galerias visitadas ........................................................................................................................................17
Resultados da intervenção de arqueologia...........................................19
Miguel ALMEIDA
Descrição de pormenor de cada uma das galerias visitadas..........................................................................................................19
Arqueólogo
Elementos para a interpretação da história das galerias ................................................................................................................28
Ensaio de enquadramento das estruturas subterrâneas na história do urbanismo da cidade de Coimbra ...............................29
Descrição e interpretação do espólio arqueológico .........................................................................................................................34
Avaliação de riscos arqueológicos e patrimoniais ...........................................................................................................................34
Determinação de medidas de minimização de impacto patrimonial e arqueológico ....................................................................34
Programa ulterior de trabalhos............................................................35
Previsão do programa ulterior de trabalhos e medidas provisórias de protecção e conservação ..............................................35
Local de depósito do espólio ..............................................................................................................................................................35
Local, data e forma de publicação .....................................................................................................................................................36
Bibliografia........................................................................................37
cartografia ............................................................................................................................................................................................37
Lista de figuras..................................................................................38
Anexo I..............................................................................................40
resumo
Anexo II ............................................................................................42
ficha do IPA
2.
45
gCbr04
RESUMO
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
A preparação da construção do futuro Metro do Mondego justificou a realização de um trabalho prévio de
descrição do sistema de galerias subterrâneas da cidade de Coimbra, que se realizou por ocasião dos
trabalhos de levantamento topográfico destas galerias conduzidos pela empresa AlpVertical.
Estes trabalhos, cujos objectivos principais consistiam na caracterização das galerias no que respeita aos
materiais de construção e soluções técnicas adoptadas e na compilação de elementos relevantes para a
atribuição cronológica, compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro mais geral
da história da cidade de Coimbra, revelaram um conjunto de condutas, cuja planta actual resulta de um
processo poligenético complicado e provavelmente de importante profundidade histórica, em que o sistema de
galerias conheceu fases sucessivas de alargamento e reformulação, ao sabor das necessidades
momentâneas dos seus construtores ou de quem detinha a sua gestão.
A conjugação das observações de campo com os resultados dos trabalhos de análise bibliográfica e
documental permite-nos propor uma história de evolução deste sistema e da sua relação com a história da
cidade pelo qual perpassam fundamentalmente todas as opções relativas ao abastecimento de água e ao
urbanismo de Coimbra, mas também algumas das tensões mais significativas da história social da cidade.
Nestes termos, a consideração da hipótese de uma origem (pelo menos de parte) do sistema ainda em época
romana e a compreensão do papel da água nas relações estabelecidas entre o Mosteiro de Santa Cruz e a
cidade merecem especial atenção deste trabalho.
3.
45
gCbr04
Q UADRO DE CONTEÚDOS
O presente relatório resulta dos trabalhos de arqueologia preventiva decorridos no âmbito da Intervenção
de acompanhamento arqueológico das Galerias Subterrân eas de Coimbra, de que consiste num
relatório final, e foi elaborado de acordo com o DL 270/99, de 15 de Julho (Regulamento dos trabalhos
arqueológicos), cumprindo integralmente a determinações deste diploma legal a respeito dos prazos de
entrega (artº 7º), conteúdo (artº 13º) e anexos (artºs 13º e 15º) do relatório:
Ficha técnica
√
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Designação da intervenção
Acrónimo da intervenção
Designação do sítio
Localização administrativa do sítio: lugar, freguesia, concelho, distrito
Localização do sítio: coordenadas e altitude
Cartografia: folha da carta militar 1/25.000 e outra cartografia relevante
§ Extracto da Carta Militar de Portugal 1/25.000
Acessos ao sítio
§ Croquis do acesso ao sítio
Tipo de sítio
Período cronológico
Estado de conservação
Uso do solo
Ameaças
Responsáveis científicos
Equipa técnica
Duração dos trabalhos de campo: datas de início e fim
Projecto de investigação
Proprietário / Promotor
Classificação
Legislação
Protecção/Vigilância
√
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na
√
na
na
na
Enquadramento da intervenção arqueológica
√
Descrição do processo: enquadramento legal contratual e procedimentos administrativos
√
Descrição do local e áreas envolventes: geografia e geologia
√
Descrição do local e áreas envolventes: património e arqueologia
√
Descrição de trabalhos anteriores de arqueologia realizados no local
√
Condição do sítio ou sítios intervencionados antes de iniciados os trabalhos
√
§ Imagens gerais do sítio antes de intervencionado
Objectivos, metodologia e de scrição da intervenção
√
√
Descrição dos objectivos da intervenção
Descrição da estratégia e metodologia dos trabalhos
Descrição da intervenção arqueológica
√
√
√
√
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√
Direcção dos trabalhos e constituição da equipa de arqueologia
Meios utilizados
Datas e duração dos trabalhos de campo
Descrição dos trabalhos de campo
§ Planta geral do sítio, com indicação das zonas intervencionadas
§ Imagens gerais do sítio e das zonas intervencionadas
§ Imagens ilustrando as diferentes fases de trabalho
Resultados da intervenção
Miguel ALMEIDA
na
na
na
√
√
Arqueólogo
na
na
na
√
Descrição e interpretação da estratigrafia
§ Plantas e perfis de pormenor das zonas escavadas
§ Matriz de Harris
Descrição e interpretação das estruturas arqueológicas
§ Planta geral do sítio, com implantação das estruturas descobertas
§ Plantas, alçados e perfis de pormenor das estruturas descobertas
Descrição do espólio
§ Imagens do espólio mais significativo
§ Listagem dos bens móveis a inscrever no Inventário Geral dos Bens Arqueológicos Móveis
Avaliação de riscos arqueológicos
Programa ulterior de trabalhos
√
√
na
√
Previsão do programa ulterior de trabalhos e medidas provisórias de protecção e conservação
Medidas de protecção, conservação e restauro
Local de depósito do espólio
Local, data e forma de publicação
Anexos e outros documentos
√
√
√
√
na
√
4.
45
Bibliografia do sítio
Listagem de figuras
Resumo de 250 palavras (para publicação na Internet)
Ficha de sítio / trabalhos arqueológicos
Resultados de análises do espólio pela aplicação de métodos físico-químicos ou das ciências naturais
Suporte digital do relatório, resumo e imagens
Outros documentos
gCbr04
FICHA TÉCNICA
designação da intervenção
acrónimo da intervenção
designação do sítio
localização administrativa
coordenadas geográficas
altitude média
folha da carta militar
extracto da CMP
1/25.000
outra cartografia relevante
acessos ao sítio
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
tipo de trabalho
área total da intervenção
tipo de sítio
período cronológico
estado de conservação
uso do solo
ameaças
responsáveis científicos
equipa técnica
data e d uração dos trabalhos
projecto de investigação
proprietário / promotor
classificação
categoria/tipologia
legislação
protecção / vigilância
5.
45
Intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias Subterrâneas d e
Coimbra
GCbr’04
Sistema de galerias Subterrâneas de Coimbra
Santa Cruz, Coimbra, Coimbra
40º12'39”N; 8º 24'57"Wg (ponto central aproximado )
75 metros (altura aproximada do ponto central)
230 – Coimbra
--A galeria da Rua Pedro Monteiro é acessível a partir de uma entrada com porta fechada sita
naquela rua; a galeria do talude tem entrada por uma abertura no muro do parque de
estacionamento da Casa Municipal da Cultura, junto ao edifício do Centro de Juventude e,
no extremo oposto, através de uma caixa de visitação no próprio tapete de alcatrão da rua;
as diversas galerias existentes sob o Parque de Santa Crua têm vários acessos em
aberturas localizadas noutros tantos pontos daquele parque, assim como a própria galeria
de Sá da Bandeira, à qual se pode aceder, a montante, a partir de várias entr adas
localizadas na zona mais baixa do Parque de Santa Cruz e ao longo do seu percurso através
de algumas caixas de visitação ainda activas.
Acompanhamento
--Aqueduto
Romano (?) / Medieval (?) / Moderno / contemporâneo
Regular
Urbano
Construção civil
Miguel Almeida e Filipe Gonçalves
Miguel Almeida, Filipe Gonçalves, Maria João Neves e Sor aya Rocha
06-09-2004 / 10 -09-2004 (3 dias)
--Público / Alpvertical, Lda.
---------
gCbr04
ENQUADRAMENTO DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA
DESCRIÇÃO DO PROCESSO: ENQUADRAMENTO
LEGAL E CONTRATUAL, FINANCIAMENTO DA
INTERVENÇÃO E PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS PREPARATÓRIOS
O presente texto consiste num relatório final dos trabalhos de acompanhamento
arqueológico do levantamento topográfico do sistema de galerias subterrâneas de
Coimbra realizado pela empresa AlpVertical e localizado
1.
2.
3.
4.
5.
gal eri a
gal eri a
gal eri a
gal eri a
gal eri a
da R ua Pedro Montei ro
do tal ude
da fonte
do escadóri o
de Sá da B andei ra
no subsolo da área urbana desta cidade (fig. 01).
Estes trabalhos decorreram no âmbito de um contrato de
prestação de serviços firmado entre a AlpVertical e a
Dryas Arqueologia, que disponibilizou para o efeito a
equipa de técnicos do ramo específico da Arqueologia
indispensável à boa execução dos trabalhos de campo,
5
levantamento bibliográfico e interpretação dos dados
1
2
resultantes da intervenção. Nestes termos, a área
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abrangida pelos nossos trabalhos de acompanhamento
fig. 01 — Localização da área de implantação das estruturas subterrâneas interessadas
pela intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias subterrâneas
de Coimbra (extracto da CMP 1/25.000, fl. 230 - Coimbra).
restringe-se também aos troços efectivamente incluídos
no levantamento topográfico das galerias subterrâneas
cuja realização justificou esta intervenção de acompanhamento arqueológico.
Miguel ALMEIDA
Previamente à execução de quaisquer trabalhos de campo, foi remetido ao Institu to
Arqueólogo
Português de Arqueologia (IPA) um pedido de autorização para realização de trabalhos
de arqueologia em nome dos dois signatários e acompanhado da documentação
necessária, de acordo com o Regulamento dos trabalhos arqueológicos (DL 270(99, de
15 de Julho), que mereceria o acordo expresso daquele Instituto (ref. IPA: S-4794).
A intervenção designou-se pelo nome Intervenção de acompanhamento arqueológico do
Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra, abreviado pelo acrónimo gCbr’04.
DESCRIÇÃO DE TRABALHOS ANTERIORES DE
ARQUEOLOGIA REALIZADOS NO LOCAL
Este sistema terá sido parcialmente caracterizado no âmbito de um projecto de
6.
45
gCbr04
construção de um parque de estacionamento na Praça de Republica pela arqueóloga
Maria da Conceição Sousa, permanecendo contudo os resultados deste trabalho ainda
inéditos segundo as informações disponibilizadas na base de dados do IPA (Endovelico,
2005).
CONDIÇÃO DO(S) SÍTIO(S) INTERVENCIONADO(S)
ANTES DO INÍCIO DOS TRABALHOS DE
ARQUEOLOGIA
Em virtude da curta duração e natureza expressamente não intrusiva quer da presente
intervenção de arqueologia, quer dos próprios trabalhos de levantamento topográfico do
sistema de galerias subterrâneas de Coimbra que
a motivam, as condições dos sítios interessados
pela intervenção à data do início dos trabalhos
não foram objecto de quaisquer alterações
durante o período da intervenção, salva a
colocação no solo ou nas paredes das condutas
de alguns pontos de apoio das tarefas de
topografia.
Refira-se
que
estes
pontos,
materializados por meio de marcas colocadas no
interior das condutas, foram preferencialmente
instalados em juntas de união do aparelho de
construção destas condutas e sempre segundo
Miguel ALMEIDA
critérios de minimização do impacto sobre a
Arqueólogo
estrutura (fig. 02).
Por outro lado, como a descrição pormenorizada
fig. 02 — Pormenor da colocação de um ponto
material de apoio topográfico.
das estruturas existentes no local consistia
precisamente numa das tarefas fundamentais da equipa de arqueologia, as condições
em que encontrámos os locais visitados decorrem em grande parte das descrições
enunciadas infra.
Ainda assim, para além dessa descrição das estruturas — que se debruçará mais
atentamente sobre os aspectos relevantes para a interpretação histórico-arqueológica da
estrutura —, cumpre assinalar uma situação generalizada de alguma degradação dos
7.
45
gCbr04
materiais de construção utilizados (fruto da antiguidade e humidade ambiente do local),
que
estará
na
base
de
algumas
intervenções pontuais de reparação muito
recentes (incluído o revestimento a betão
de algumas partes das paredes das
galerias e a impermeabilização do solo com
cimento), assim como a abertura de poços
de acesso a partir da superfície actual da
Av. de Sá da Bandeira.
Como
se
disse,
a
profusão
de
remodelações do espaço interno das
galerias, testemunho da sua longa história
de utilização, será objecto de referência
específica infra. Por fim, pese embora o seu
carácter efémero, não pode deixar de
referir-se como testemunho actual do
fig. 03 — Aspecto da acumulação de lixos urbanos
actuais no solo das condutas (topo da galeria da fonte).
funcionamento do sistema a acumulação de
lixos urbanos em diversos pontos das
condutas, com especial relevo para a
galeria situada sob a Praça da República e
a Av. de Sá da Bandeira, mas também
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
presentes noutros pontos do sistema (fig.
03). Do mesmo modo, merece ainda
referência a existência na zona das
condutas localizadas sob a actual Praça da
República das marcas pintadas de um
recente trabalho anterior de topografia do
sistema (fig. 04).
8.
45
gCbr04
fig. 04 — Aspecto do interior das condutas:
remodelações do espaço interno e pontos topográficos
pintados (galeria de Sá da Bandeira).
fig. 05 — Aspecto de algumas das entradas
para as diferentes galerias visitadas: galeria da
Fonte, galeria da Rua Pedro Monteiro; galeria
de Sá da Bandeira.
DESCRIÇÃO DO LOCAL E ÁREAS ENVOLVENTES:
GEOGRAFIA E GEOLOGIA
A área abrangida pela intervenção resumiu-se, como se disse supra, aos troços de
galerias incluídos nos trabalhos de levantamento topográfico levados a cabo pela
AlpVertical. Estes consistem nos tramos de galerias conservados sensivelmente entre a
Rua Pedro Monteiro e o quartel dos Bombeiros Municipais na Avenida Sá da Bandeira
(cfr. fig. 01).
Os acessos às diversas galerias fazem-se hoje através de várias caixas de visitação
sitas na Rua Pedro Monteiro e na Av. Sá da Bandeira, assim como de algumas caixas de
entrada com tampas pétreas e pequenas aberturas construídas para o efeito localizadas
no jardim de Santa Cruz e, em dois casos (galerias da Rua Pedro Monteiro e da Fonte)
através de aberturas laterais com portas fechadas (fig. 05).
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
Situando-se a área em questão em pleno centro urbano de Coimbra, as múltiplas
transformações topográficas e arquitectónicas resultantes da longa ocupação do local
(ocorridas em especial durante a Época Contemporânea) mimetizam e dificulta m a
percepção do ambiente geomorfológico do local, elemento que, como se verá adiante,
surge da maior relevância para a interpretação das opções tomadas ao longo da história
de Coimbra acerca do aproveitamento dos recursos hídricos da cidade e zona
envolvente.
Sabe-se contudo, através das fontes bibliográficas, cartográficas e documentais que a
actual avenida Sá da Bandeira corresponde ao antigo Vale da Ribela, onde corria um
9.
45
pequeno curso de água com este nome, cuja nascente se situava nas colinas de Celas,
gCbr04
e cuja alimentação seria também comparticipada pelas águas fluviais procedentes das
colinas que ladeiam o vale (Alarcão, 1979).
FONTES HISTÓRICAS E BIBLIOGRÁFICAS
O nosso conhecimento do sistema de abastecimento de água em Coimbra sustenta-se
nalgumas fontes históricas escritas e cartográficas que indirectamente o documentam.
Estas fontes são na sua maioria de cronologia moderna, centrando-se em especial na
querela entre a população de Coimbra e os frades crúzios em que os primeiros acusam
os segundos de desviarem e roubarem a água da cidade. Entre estes documentos
incluem-se a:
§ A.H.M.C. Notícia chorografica do edifício do extincto Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra com
designação da parte que actualmente é ocuppada pelos paços do Concelho Municipal da
mesma cidade, sem data.
§ A.H.M.C. Diversos. Maço I, nº6.
§ J.P. Loureiro. Antigas dependências do Mosteiro de Santa Cruz, Petição e fundamentos. In:
Arquivo Coimbrão, vol. XV.
§ A.G. Rocha Madail. Inventário do Mosteiro de Santa Cruz à data da sua extinção em 1834.
Esta questão é também referida aquando da repartição dos bens do mosteiro em 1839
na sequência da desamortização dos bens do Clero (Araújo, 2002), sendo nesta data
tornado público o acesso à água do mosteiro. Aqui é mencionado e descrito o sistema de
Miguel ALMEIDA
abastecimento de água, composto por diferentes tipos de canos, que recolhiam as águas
Arqueólogo
das nascente s de Celas, da Ribela e das linhas de água que afluíam nos terrenos dos
crúzios (Araújo, 2002).
Os testemunhos escritos de época medieval os testemunhos são muito menos
abundantes e prolixos. Porém sabemos através deles que no espaço que viria a ser
ocupado pelo mosteiro de Santa Cruz teria existido um balneário alimentado pela Ribela,
então denominada torrente de balneis regis (Loureiro, 1960). É possível que a água
que alimentava este balneário se encontrasse já encanada, uma vez que num
documento datado de 1130 (Carta de doação do Infante D. Henrique ao Arcediago D.
Telo) se refere que estes terrenos cum sua fonte et aqueductum, sicut fuit in diebus
10.
45
alvazil domini Sisnandi (apud Loureiro, 1960).
gCbr04
RESENHA
HISTÓRICA
O SISTEMA
DE ABASTECI MENTO ORIGINAL (DE ÉP OCA ROMANA?)
Nestes termos, o primeiro sistema de abastecimento de água que a cidade de Coimbra
terá conhecido datará já muito provavelmente (senão mesmo seguramente) da época da
presença romana, sistema que terá posteriormente sido reparado e reaproveitado por
diversas vezes ao longo da história, de que ressaltará a reformulação moderna de D.
Sebastião.
Este sistema original recolhia eventualmente as águas nas nascentes localizadas na
área de Celas (a uma cota superior), sendo depois a água conduzida até à acrópole
urbana encanada numa conduta subterrânea que alimentava o aqueduto aéreo que
vencia a depressão entre a zona da actual penitenciária e a alta da cidade. Segundo
Vasco Mantas (1 992) o percurso a partir de Celas passaria pela actual Rua Pedro
Monteiro (antiga Rua das Arcas de Água) e pela actual Cadeia Penitenciária, seguindo a
partir daí pelo dito aqueduto aéreo. Vencida a depressão que coincide com a localização
actual da Praça dos Arcos do Jardim, este aqueduto seria substituído logo por uma
galeria subterrânea, junto ao que é hoje o Departamento de Antropologia desaguando no
Largo da Feira.
Arqueologicamente há poucas evidências de que fosse de facto este o trajecto, uma vez
que a construção das novas faculdades nos anos 40, 50 e 60 conduziria (entre outras
desventuras para o património de Coimbra, diga- se!) a uma destruição significativa ou
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
condenação dos vestígios aqui existentes e à obliteração de grande parte dos depósitos
estratigráficos relevantes para a compreensão deste trecho da história da cidade. Do
mesmo modo, também no que respeita ao percurso extra-muros a evolução posterior do
urbanismo da cidade — alterações provocadas pela construção do Colégio de Tomar,
primeiro, e da actual penitenciária de Coimbra, posteriormente, e abertura de ruas e
intensa urbanização das áreas de Celas e em torno do Parque de Santa Cruz —
dificultam substancialmente o nosso conhecimento acerca do abastecimento de água à
antiga cidade de Aeminium.
11.
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gCbr04
O SISTEMA DE ABASTECI MENTO MEDIEVAL
E AS “ QUESTÕES” DA ÁGUA
Do que porém já não restam dúvidas é de que este percurso corresponde à opção dos
mestres modernos que, em 1570, fizeram a reabilitação deste sistema aquando da falta
de água que assolou a cidade em consequência da seca prolongada (Araújo, 2002) e
que, seguindo uma ordem régia, procuraram e restabeleceram os antigos pontos de
abastecimento de água (Loureiro, 1960, Mantas, 1992).
O aqueduto foi feito à custa de serviços lançados ao povo do concelho sobre a
superintendência do desembargador Heitor Borges Barreto, que coordenou os trabalhos
de procura de água perto de várias nascentes da quinta do Mosteiro de Santa Cruz. O
abastecimento de água foi feito a partir de Celas, sendo edificado um sistema de galerias
e de arcas de águas (que deram o nome à antiga Rua das Arcas de Água), que levavam
a água até ao antigo aqueduto, então reconstruído (Loureiro, 1960: 143). As arcas
correspondem a pequenas torres de alvenaria situadas na estrada de Celas junto do
colégio de Tomar (hoje Cadeia penitenciária de Coimbra), que ainda hoje subsistem no
local (pelo menos parcialmente).
Os monges do Mosteiro de Santa Cruz tentaram impedir a construção do aqueduto
(Loureiro, 1960), tendo porém perdido a contenda face à acusação de terem ido
buscar a água das fontes do Rei e da Rainha, desviando as águas que “em tempos
antigos sempre vieram ao chafariz de Sansão” (Loureiro, 1960).
Na verdade, o investimento feito logo desde os séculos XII/XIII pelos frades crúzios na
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
recuperação destas águas, objecto já então de disputas de longa data com as gentes da
cidade, objectivara-se entretanto no progressivo encanamento da Ribela (Araújo,
2002), curso de água que corria no vale com o mesmo nome, desde Celas até à Rua da
Moeda, onde em época medieval várias azenhas que utilizavam como força motriz esta
água que os frades se esforçavam por controlar (Alarcão, 1979). Dessa data, temos já
notícia do desvio das águas da fonte da cerca e do lago, por “canos parciaes”, para o
“cano geral”, desaguando por fim nos chafarizes do convento (Araújo, 2002).
Com efeito, há muito que a população da acrópole se queixava da falta de água,
desviada pelos monges de Santa Cruz: em Coimbra havia “muita falta de água (…)
12.
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gCbr04
porque os Crúzios a tinham usurpado quase toda (…) sem que a lei quizessem ceder”
…“pois o convento e a cerca encontravam-se cobertos de profusão de fontes” (Leal,
1874).
Apesar de verem reduzida a sua cota de água, os crúzios continuaram a ter acesso a
amplos mananciais de água, utilizados copiosamente no parque de Santa Cruz,
construído entre 1723 e 1752, existindo no seu interior abundantes fontes, cascatas e um
lago artificial, que os frades utilizavam para fins recreativos (Araújo, 2002). Estes
pontos de água eram abastecidos através de uma complexa rede de canos e galerias
(que visitámos) e que terão sido conectados aquando da sua construção com o “cano
geral” da Ribela, obra que corresponde eventualmente à última fase de galerias
construídas sob o solo de Coimbra.
O CONTROLO DA RIBELA E A QUESTÃO DOS BAN HOS PÚBLICOS / BANHOS RÉGIOS
Refira-se que a Ribela devia fornecer caudais importantes e água de qualidade. Alguns
investigadores (Alarcão, 1979; Mantas, 1992; Mantas, 1996), na senda de Vergilio
Correia (1946) têm argumentado que em época romana este curso de água abasteceria
os banhos públicos, situados no local que viria a ser ocupado pelo Mosteiro de Santa
Cruz. Estes banhos romanos teriam subsistido até à época da reconquista, sendo
referidos num documento datado 1080 — publicado por Rocha Madail (apud Alarcão,
1979) — como balneum civitatis.
Posteriormente no documento em que é delimitado o mosteiro, datado de 1137, são
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
mencionadas as ruínas de balneis regis em cuja zona se ergueria o mosteiro. Este
balneário daria inclusive o nome à Ribela, aqui mencionada como torrente balneis regis
(Alarcão, 1979; Mantas, 1992).
UM SISTEMA COMPLEXO E IMBRICADO
Assim, e antes mesmo do início do acompanhamento arqueológico propriamente dito, a
avaliação resultante dos simples trabalhos de preparação bibliográfica e cartográfica
preliminar da intervenção de campo denunciava já uma situação de significativa
complexidade das realidades arquitectónicas em apreço (desde a época romana e até à
época contemporânea, foram erigidas uma série de estruturas destinadas ao
13.
45
abastecimento e escoamento de água, que comunicam entre si, se interceptam e se
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cortam), face, paradoxalmente, a uma escassez evidente do conhecimento actual deste
sistema subterrâneo, cuja complexidade e imbricação traduzirão os ritmos da evolução,
mas também as próprias tensões sócio-políticas da história secular de Coimbra.
OBJECTIVOS , ESTRATÉGIA E METODOLOGIA DA INTERVENÇÃO
ARQUEOLÓGICA
DESCRIÇÃO DOS OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO
Motivada pela necessidade de minimização de um projecto de intervenção urbana e,
consequentemente, contida nos limites apertados da arqueologia preventiva, a presente
intervenção permitiu, porém, contribuir para a superação desta lacuna do conhecimento
da história da cidade.
Assim, procurámos, quer em fase preliminar de preparação prévia da intervenção, quer
durante os trabalhos de campo, reunir elementos relevantes para a caracterização e
atribuição crono-cultural do sistema subterrâneo das galerias de Coimbra, através do de
um estudo sintético das fontes bibliográficas e documentais, do reconhecimento do seu
percurso e da caracterização in loco das técnicas e materiais de construção utilizados,
da tipologia da construção, da sua funcionalidade.
Naturalmente, contudo, o referido carácter preventivo da intervenção determinaria o
carácter apenas parcelar (desde logo do ponto de vista da sua extensão) dos resultados
obtidos, cuja validação definitiva dependerá da realização — eventualmente em contexto
diferente do da arqueologia preventiva e de emergência — de um programa de trabalhos
Miguel ALMEIDA
arqueológicos que tenha por objectivos a caracterização global e detalhada da extensão,
Arqueólogo
arquitectura, topografia e funcionalidade do sistema de galerias subterrâneas de
Coimbra.
DESCRIÇÃO DA E STRATÉGIA E METODOLOGIA DOS
TRABALHOS
Em virtude ainda da natureza de acompanhamento da presente intervenção de arqueologia
preventiva e das características específicas dos próprios trabalhos a acompanhar — no caso
apenas uma intervenção de topografia —, a estratégia adoptada para a realização dos
trabalhos de arqueologia consistiu apenas no registo e descrição exaustiva, incluída a
localização exacta na planta das galerias, de todos os indícios acerca das técnicas e
14.
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gCbr04
ritmos de construção, evolução e funcionamento da estrutura em apreço.
Assim, teve-se naturalmente um cuidado
especial na identificação e localização
exacta de todos os elementos relevantes para
a reconstituição destes ritmos construtivos,
nomeadamente no que respeita às soluções
fig. 06 — Galeria de Sá da Bandeira: aspecto de um troço do percurso da galeria apresentado diferentes
soluções técnicas de cobertura justapostas.
técnicas utilizadas, por vezes evidentemente
diacrónicas e reveladoras de trabalhos de
recuperação ou de remodelação do sistema
(fig. 06), zonas de contacto de diferentes
técnicas construtivas (fig. 07), que poderão
denunciar também diferentes fases de
construção, e integração na estrutura de
elementos arquitectónicos reaproveitados
de edifícios anteriores (fig. 08), testemunho
da relação da estrutura com a evolução
fig. 07 — Galeria da Fonte: pormenor e uma zona de contacto entre dois aparelhos distintos de
construção, em pedra e em tijolo.
urbana da cidade.
Toda a topografia do local foi realizada pela equipa especializada da AlpVertical, que também
procedeu ao registo fotográfico da intervenção e dos elementos arqueológica e
patrimonialmente relevantes, neste caso sob coordenação dos técnicos da Dryas Arqueologia.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
fig. 08 — Galeria de Sá da Bandeira: pormenor de um elemento arquitectónico decorativo reaproveitado
15.
45
de um edifício anterior e hoje integrado na galeria de Sá da Bandeira, um pouco a jusante da Fonte
Monumental do Parque de Santa Cruz.
gCbr04
DESCRIÇÃO DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA
DIRECÇÃO DOS TRABALHOS E CONSTITUIÇÃO DA
EQUIPA DE ARQUEOLOGIA
A equipa constituída pela Dryas para esta intervenção de arqueologia preventiva teve em
atenção tanto os requisitos técnicos que a sua execução exigia (nomeadamente a
exploração da bibliografia da especialidade e a caracterização de estruturas técnicas
construídas), bem como as especificidades impostas pelo tipo de meio em que se
realizariam os trabalhos de campo.
A intervenção decorreu sob a responsabilidade técnico-científica dos dois signatários deste
relatório final, Miguel Almeida e Filipe Gonçalves, que também realizaram pessoalmente a
totalidade dos trabalhos de campo.
A equipa incluiu ainda a participação de Maria João Neves e Soraya Rocha, que realizaram
todos os trabalhos preparatórios de pesquisa bibliográfica e documental que permitiram a
integração das observações realizadas durante os trabalhos de campo em hipóteses
relevantes para a compreensão da história do urbanismo da cidade de Coimbra.
MEIOS UTILIZADOS
Para a execução dos trabalhos apenas teve de utilizar-se o material necessário para a
descrição e registo das estruturas subterrâneas visitadas.
Estas visitas, não obstante, exigiam, pelas características do meio confinado e húmido
Miguel ALMEIDA
em que decorria a intervenção, a utilização de equipamentos de protecção individual que
Arqueólogo
incluíam o capacete munido de frontal, o vestuário impermeável e calçado apropriado e
lanternas, para garantir a melhor luminosidade possível.
Sendo o registo topográfico e fotográfico do sistema da responsabilidade da equipa de
topografia da AlpVertical, não nos foi necessária a utilização de qualquer equipamento
de fotografia ou de topografia, sendo todos os elementos destas naturezas utilizados
para a interpretação dos dados recolhidos no terreno e incluídos neste relatório
fornecidos à equipa de arqueologia directamente pela AlpVertical.
As deslocações para o local foram feitas em viatura TT Mitsubishi Strakar L200 4x4.
16.
45
gCbr04
DATAS E DURAÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO
Os trabalhos de campo da intervenção a que se refere o presente documento foram
realizados nos dias 6, 7 e 10 de Setembro de 2004
DESCRIÇÃO DOS TRABALHOS DE CAMPO
Sendo esta uma intervenção de acompanhamento arqueológico de um trabalho de
levantamento topográfico do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra — cujo
impacto sobre a estrutura se reduzia à instalação de alguns pontos de apoio à topografia
(cfr. supra), no que respeita à intervenção de campo, os trabalhos específicos da equipa
de arqueologia consistiram exclusivamente na integração em todas as equipas de
topografia de um arqueólogo a fim de proceder à descrição pormenorizada dos
diferentes troços das condutas e coordenar a realização do registo fotográfico do local,
também a cargo da AlpVertical (fig. 09).
Na inexistência de plantas topográficas de pormenor (cuja produção consistia
fig. 09 — Aspecto dos trabalhos de
levantamento topográfico do Sistema de
galerias subterrâneas de Coimbra.
precisamente no objectivo dos trabalhos em curso no local), durante a intervenção de
campo recorreu-se à realização de plantas esquemáticas com vista à posterior localização de
pormenor das descrições e registos fotográficos produzidos in loco (fig. 10).
As áreas intervencionadas correspondem em absoluto com os traçados incluídos na
topografia produzida pela equipa da AlpVertical.
Miguel ALMEIDA
MEMÓRIA DESCRITIVA DA S GALERIAS VISITADAS
Arqueólogo
As galerias de Coimbra estudadas integram uma rede de aquedutos enterrados de
escoamento de águas pluviais e abastecimento de água à cidade de Coimbra, que
abrange parte significativa da urbe de raiz histórica.
Por força da referida natureza preventiva da presente intervenção de arqueologia, esta
restringe-se apenas às galerias localizadas na zona de afecta ção prevista do projecto do
Metro de superfície de Coimbra, onde a equipa de topografia que acompanhámos no
terreno realizou o levantamento topográfico das condutas em causa, nomeadamente:
17.
45
gCbr04
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
fig. 10 — Exemplo de uma das plantas
esquemáticas utilizadas para orientação e
localização dos diferentes troços descritos das
condutas durante a intervenção de campo.
18.
45
38
gCbr04
§ a
z
o
n
fig. 11 — Implantação geográfica e
a
localização relativa das diferentes galerias
mencionadas no texto.
d
o Jardim da Sereia, parte integrante da antiga cerca dos Crúzios;
§ a zona da praça da República e da Avenida Sá da Bandeira; e
§ a zona da Rua Pedro Monteiro, em direcção à zona de Celas.
Por razões de lógica de apresentação optamos por fazer a análise das várias galerias em
separado, dividindo a descrição pelas cinco galerias onde decorreu a intervenção (fig. 11):
§ A galeria da Rua Pedro Monteiro;
§ A galeria do Talude;
§ A galeria da Fonte;
§ A galeria do Escadório; e
§ A galeria de Sá da Bandeira.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
RESULTADOS DA INTERVENÇÃO DE ARQUEOLOGIA
DESCRIÇÃO DE PORMENOR DE CADA UMA DAS
GALERIAS VISITADAS
Como se referiu acima, eram objectivos fundamentais desta intervenção:
§ a caracterização das galerias de Coimbra no que respeita aos materiais de
construção e soluções técnicas adoptadas; e
§ a compilação de elementos relevantes para a localização cronológica,
compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro
mais geral da história da cidade de Coimbra.
19.
45
gCbr04
A localização geográfica de pormenor de toda a estrutura, factor indispensável para a
concretização destes objectivos específicos da intervenção de arqueologia, decorria já
dos trabalhos de levantamento topográfico da responsabilidade da AlpVertical que nos
competia apenas acompanhar.
Assim, todas as informações relativas à planta e georeferenciação da estrutura que
incluímos neste relatório foram produzidas pela equipa técnica da AlpVertical. Os
documentos cartográficos que aqui incluímos foram produzidos pela Dryas, sempre
com base naqueles dados fornecidos pela AlpVertical, tal como se referiu em cada
caso.
Dos trabalhos realizados resultam como notas dominantes:
§ a observação da coincidência da galeria de Sá da Bandeira com a
localização da antiga Ribela de Coimbra, e
fig. 12 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções
técnicas: pormenor do tecto em abóbada de berço.
§ a evidência da diacronia importante da vida útil do sistema, plasmada em
diferentes momentos de construção, reconstrução, mudança de
funcionalidade, desmantelamento e condenação de condutas, culminando
na reutilização das diferentes galerias para os sistemas actuais de
escoamento de águas pluviais e saneamento da cidade de Coimbra.
A descrição que se segue, realizada de forma independente para cada uma das
galerias discriminadas, não segue nenhuma outra ordem do que a mera sequência
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
cronológica dos trabalhos de campo que dão origem a este relatório. Trata-se aqui
exclusivamente de um resumo descritivo das estruturas observadas, reservando-se a
discussão dos elementos para uma sua articulação e integração na história da cidade
para parágrafo ulterior.
GALERIA DA F ONTE
O conjunto é formado por quatro diferentes troços que comunicam entre si, observando-se ao
longo da galeria, de extensão relativamente curta, uma variabilidade assinalável das técnicas
utilizadas, quer de revestimento das paredes, quer de construção da cobertura da galeria.
Assim, se logo após a entrada na galeria (que se faz por meio de uma pequena porta de
20.
45
acesso localizada imediatamente à esquerda da dita fonte) a técnica utilizada na
gCbr04
construção das paredes inclui o recurso a blocos calcários de média dimensão, tamanho
regular e toscamente aparelhados, noutros tramos a construção do aqueduto parece
ter-se reduzido à sua escavação nas camadas do substrato geológico, cuja ulterior
evolução pedosedimentar e meteorização progressiva — de resto, para além de uma
mais do que provável acção mecânica que decorre da sua (presente) situação bastante
superficial —, resulta aliás num estado actual de avançada degradação da estrutura.
Esta variabilidade de soluções, todavia, é ainda mais evidente no que respeita ao fecho
superior do aqueduto . Este varia entre a técnica construtiva da abóbada de berço,
executada com tijolos dispostos transversalmente ao sentido da galeria (fig. 12), a
escavação directa no afloramento rochoso, procurando-se ainda aqui um efeito de
abóbada (fig. 13), e a cobertura da conduta com blocos calcários de grandes dimensões
dispostos em “V” invertido (fig. 14).
Não obstante nos seja de momento impossível emitir opinião definitiva acerca do
significado histórico de tal diversidade de soluções técnicas, esta não deverá deixar de
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
fig. 13 — Galeria da Fonte,
diversidade
de
soluções
técnicas: pormenor do tecto da
zona integralmente escavada
na rocha.
fig. 14 — Galeria da Fonte,
diversidade
de
soluções
técnicas: pormenor do tecto
com lajes fincadas em “V”
invertido.
21.
45
gCbr04
ser considerada à hora de uma interpretação global do sistema de galerias subterrâneas
de Coimbra e da sua evolução histórica.
Tal consideração, refira-se ainda, deverá notar não apenas a relevância cronológica de
cada uma das técnicas identificadas, como também os indícios de eventuais ritmos
construtivos (e reconstrutivos) denunciados por algumas observações de terreno, e de
que poderá constituir um indíc io aquela técnica de cobertura por meio de blocos de
grandes dimensões fincados em “V” invertido, que apenas identificámos num percurso
relativamente reduzido da galeria e
apresentava argamassas aplicadas do
exterior, evidenciando assim a construção
deste tramo da galeria a céu aberto, por
meio de uma vala posteriormente colmatada.
GALERIA DO ESCADÓRIO
DE SANTA
CRUZ
Trata-se da mais curta das galerias
incluídas na intervenção de topografia.
fig. 15 — Pormenor da galeria do escadório: paredes com blocos de calcário e tecto em abobada de berço.
Terá
sido
construída
para
o
abastecimento dos vários espelhos de água ao longo do escadório do jardim de Santa
Cruz e da fonte monumental barroca, localizando-se directamente por debaixo das lajes
que compõem o escadório. Voltamos a identificar a mesma técnica construtiva para as paredes
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
do aqueduto, efectuada com blocos calcários de média dimensão, embora neste caso se
tenham identificado vestígios de argamassas como reboco dos blocos. O tecto é fechado em
abobada de berço, constituída por tijolos argamassados (fig. 15).
A exiguidade do espaço interior da galeria impede rapidamente a progressão da equipa de
topografia no seu interior, não obstante seja evidente que a galeria continua activa, sendo
porém a sua actual solução de continuidade com a galeria de Sá da Bandeira inacessível.
GALERIA DA AV. SÁ DA BANDEIRA
O aqueduto da Praça da República e Av. Sá da Bandeira (para o qual existem diversas
entradas actuais, quer na Av. Sá da Bandeira, quer mesmo na zona mais baixa do
22.
45
Jardim da Sereia — fig. 16) consiste na mais longa das galerias visitadas no âmbito
deste acompanhamento arqueológico.
gCbr04
Esta galeria é também claramente aquela que apresenta maiores dimensões da conduta
(que chega a atingir os cerca de três metros de altura por mais de um de lado), pese
embora ao longo do seu percurso visitado se tenham identificado inúmeras
reconstruções e remodelações da conduta que, em muitos casos, implicaram reduções
significativas das suas dimensões originais.
A conduta é, por outro lado, ponto de chegada de diversas condutas afluentes de
menores dimensões que reúnem as águas pluviais (? — e saneamento?) de ambas as
vertentes do vale da Ribela nesta galeria de Sá da Bandeira, que assim desempenha o
papel de colector central de um sistema complexo e ramificado de condutas, a maior parte
das quais de dimensões insuficientes para permitir a sua visita e que não foram objecto
fig. 16 — Vista geral da zona de um dos
acessos da galeria de Sá da Bandeira na
zona de entrada do Parque de Santa Cruz.
de topografia sistemática. Em toda a evidência, a constituição do esquema actual deste
sistema terá sido objecto de uma evolução a diferentes ritmos e de longa diacronia, ao
longo da qual, de resto, a (re-)utilização da conduta central não terá sempre obedecido a
uma estratégia única, nem sempre decorrido dos mesmos objectivos, necessidades e
funcionalidade.
No que respeita à tecnologia de construção, pese embora se tenha podido observar
nesta galeria praticamente todo o inventário de técnicas que identificámos nas demais
galerias visitadas, muitas vezes em clara associação com momentos de remodelação da
história evolutiva complicada da estrutura, é ainda evidente corresponder a totalidade da
galeria (na extensão visitada) a um único momento construtivo original, depois então
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
objecto das sucessivas remodelações ao longo dos séculos.
A galeria apresenta, por outro lado, do ponto de vista técnico algumas singularidades que não
se observaram nas demais galerias, entre as quais se contam a utilização de arcos a meia
altura para consolidação da estrutura (fig. 17) e o isolamento de canais de aprovisionamento
de “água limpa” com recurso à construção de caneiros de abastecimento com telhas de meia
cana invertidas sobrelevados em relação à base da conduta, onde correriam águas
conduzidas com menores cuidados, fosse esta condução destinada ainda a fins de
aproveitamento agrícola ou já de mero escoamento da bacia hidrográfica da Ribela.
23.
45
gCbr04
Para evidenciar ainda a originalidade
desta galeria face às demais visitadas,
a galeria da Praça da República / Sá
da Bandeira é aquela em que a
utilização do aparelho pétreo como
técnica de construção da estrutura é
mais
fig. 17 — Galeria de Sá da Bandeira: solução arquitectónica de consolidação e contenção do espaço
interior da galeria através da utilização de arcos a meia altura.
profundamente
empregue,
observando-se no corpo principal da
galeria a utilização de blocos nas
paredes e no tecto, formando uma
abobada
com
consolidado
aparelho
com
regular
argamassa
(fig. 18).
fig. 18 — Galeria de Sá da Bandeira: tecto da galeria em blocos calcários aparelhados.
Em consequência da longa duração da sua
vida útil, a estrutura revela, como já dissemos,
várias fases construtivas, que em alguns casos
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
desvirtuaram — por vezes profundamente — a
traça das primeiras obras. Assim, pudemos
observar troços em que a galeria foi reduzida
a pouco mais de meio metro de largura por um
metro altura, preservando, pelo contrário, as
suas dimensões originais noutros ramos
t
do
seu percurso (fig. 19). Em mais do que uma
situação a galeria foi reduzida através da
construção de paredes e/ou de novo tecto,
resultando a estrutura que chegou aos nossos
24.
45
fig. 19 — Uma das zonas de maior
gCbr04
amplitude interior da galeria de Sá da
Bandeira.
fig. 20 — Galeria de Sá da Bandeira: um exemplo do testemunho da longa história de reparações e
remodelações sofrida pela estrutura — aspecto de uma intervenção de redimensionamento da conduta
interna.
dias num articulado complexo tecido ao longo das necessidades momentâneas de cada
uma das épocas em que foi utilizada (fig 20).
Obras recentes dotaram a galeria de poços de
acesso, que em alguns casos chegam a atingir os
quinze metros de altura (fig. 21). De resto,
refira-se a este respeito que a existência de
diversos antigos poços de acesso condenados a
diferentes altimetrias e profundidades em relação à
topografia actual da Avenida de Sá da Bandeira
consiste ainda em mais um elemento relevante
para a compreensão da evolução urbana desta
zona da cidade de Coimbra, pelo menos desde
fig. 21 — Galeria de Sá da Bandeira: exemplo de um
meados de oitocentos.
dos poços de acesso activos, localizado na Av. de Sá
da Bandeira.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
A jusante, a galeria foi por nós visitada até ao ponto em que uma intervenção de
remodelação de data indeterminada provoca a redução da conduta a dimensões que
impossibilitaram a progressão da equipa de topografia.
GALERIA DA RUA PEDRO MONTEIRO
A entrada na galeria da Rua Pedro Monteiro faz-se por uma porta que ostenta a data
moderna, que poderá indicar a data de construção da estrutura que actualmente subsiste
ou apenas o momento de uma remodelação de uma estrutura que já então exigisse a
realização de uma tal intervenção.
25.
45
gCbr04
Com efeito, pese embora apresente algumas
características técnicas compatíveis com uma sua
eventual origem na época romana e o seu traçado
coincida exactamente com aquele que se infere ter
fig. 22 — Galeria da Rua Pedro Monteiro: abobada de berço em tijolo e
argamassa.
sido o da estrutura romana original, nenhuma
observação parece poder hoje fundar uma atribuição
inequívoca do tramo de aqueduto que persiste na
Rua Pedro Monteiro à época antiga.
Na zona da actual entrada — situada no extremo jusante
do percurso que ainda se preserva, tendo a conduta
sido aqui interrompida pela construção das casas que
ainda existem no local — a técnica utilizada implicou
a construção de paredes em blocos de calcário de
média dimensão e de um tecto em abobada de berço,
elaborada em tijolo disposto longitudinalmente ao
sentido da galeria, tudo denotando excelente cuidado
construtivo (fig. 22). No percurso subsequente, para
montante, observa-se um alargamento da galeria,
simultâneo com a mudança da técnica de construção
da conduta, que aqui é directamente escavada na
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
rocha (fig. 23) até à origem desta galeria.
Mais uma vez, não se descarta a possibilidade de a
esta diversidade de técnicas poder corresponder
fig. 23 — Galeria da Rua Pedro Monteiro — percurso integralmente
escavado na rocha: aspecto da solução técnica de cobertura.
também
uma
diversidade
de
cronologia
de
construção dos dois tramos identificados, o que, a comprovar-se, poderia constituir
testemunho material de algumas notícias históricas acerca das dificuldades sentidas em
tempos medievais e modernos na captação destas águas. Não obstante, mais uma vez,
os limites apertados da intervenção presente não permitem a produção de uma opinião
definitiva a este respeito, a qual exigiria um outro volume de trabalhos, desde logo no
26.
45
gCbr04
que respeita à investigação directa das fontes históricas conhecidas.
Objecto da complexa história de evolução da
captação e condução de águas na encosta que
domina a margem esquerda da Ribela, esta galeria,
entretanto interrompida a jusante, terá sido colocada
em conexão com a galeria denominada de galeria do
talude — entretanto também ela interrompida em
momento bastante recente, por ocasião da construção
do edifício actual da delegação em Coimbra do
Instituto Português da Juventude (IPJ) (cfr. infra).
GALERIA DO T ALUDE
A galeria dita “do talude”, consiste naquela que menos
informações nos permite hoje recolher, na medida em
fig. 24 — Aspecto dos trabalhos na galeria
que o interior da conduta — entretanto já parcialmente
do talude: notar o reboco integral das paredes
e cobertura da conduta e a presença de uma
conduta de saneamento posterior que
intercepta parcialmente a galeria.
interceptada
por
outras
infra-estruturas,
nomeadamente de saneamento — se mantém completamente
rebocado (fig. 24), não permitindo por isso fazer quaisquer
observações relevantes acerca das técnicas de construção utilizadas.
A galeria, interrompida imediatamente a jusante da entrada actual,
junto ao edifício actual do IPJ em Coimbra, onde também se localiza
Miguel ALMEIDA
o seu acesso actual (fig. 25), apresenta um percurso monótono e
Arqueólogo
quase completamente rectilíneo, apenas pontuado pela intercepção
parcial da conduta de algumas infra-estruturas (nomeadamente de
saneamento) muito recentes.
Como se referiu, a preservação integral do revestimento interno da
conduta impede a realização de quaisquer outras observações de
carácter tecnológico que possam confirmar ou infirmar a inferência
que decorre, para além daquele estado geral de conservação, da
fig. 25 — Abobada de berço em tijolo e argamassa
na galeria da Rua Pedro Monteiro.
27.
45
posição da conduta (integrada no muro de sustentação que ladeia a
Rua Pedro Monteiro), de que estaremos aqui provavelmente perante
gCbr04
um dos mais recentes tramos de galeria visitados no decurso desta intervenção.
ELEMENTOS PARA A I NTERPRETAÇÃO DA
HISTÓRIA DAS GALERIAS
Do conjunto das observações de terreno que vimos de descrever de modo muito sumário,
enquadradas pela exploração da documentação bibliográfica existente, decorrem diversos
elementos relevantes para a produção de uma primeira hipótese interpretativa da evolução
histórica deste sistema de infra-estruturas, que passamos a enunciar sinteticamente.
O primeiro dos resultados patentes da descrição das galerias subterrâneas incluídas
neste trabalho reside na diversidade das soluções técnicas usadas na sua construção e
das suas dimensões, o que, a par da evidente presença de diferentes momentos de
remodelação, reconstrução e reaproveitamento (cfr. supra) testemunha da longevidade
histórica do sistema.
Para mais, a caracterização tecnológica dos processos de construção inventariados
admitiria para algumas destas galerias (vg. a galeria da Rua Pedro Monteiro e,
eventualmente, a galeria de Sá da Bandeira) a evocação de uma cronologia localizada
na antiguidade clássica, em resultado da sua comparação com outros exemplos conhecidos
do registo arqueológico.
De resto, como se verá adiante, que a localização geográfica e topográfica destas
estruturas surge compatível com as hipóteses formuladas na bibliografia acerca das
opções de implantação da ocupação de época romana e os e objectivos prováveis do
seu sistema de captação e águas.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
Porém, a consciência da longa pervivência medieval e mesmo moderna de muitas destas
técnicas, que, apesar de uma acentuada diacronia apresentam frequentemente características
tipológicas e tecnológicas convergentes, impossibilita a formulação de um juízo definitivo
sobre a cronologia exacta com base apenas em trabalhos de descrição de estruturas.
Acresce, refira-se, ser — à parte o caso da galeria da Rua Pedro Monteiro —
completamente desconhecida qualquer referência histórica ou arqueológica que
consubstancie uma atribuição cronológica tão antiga que, ainda assim, as observações
feitas agora justificam ser considerada, pelo menos como hipótese a infirmar.
Para tanto, importaria, entre outras abordagens, indagar da possível correspondência das
28.
45
diversas técnicas utilizadas com os diferentes períodos cronológicos de utilização das galerias.
gCbr04
fig. 26 — Aspecto do pátio de uma das
fontes do Parque de Santa Cruz: a fonte é
alimentada pela galeria da fonte,
procedente da Rua Pedro Monteiro e dela
parte, em direcção à zona da Praça da
República uma outra galeria (a galeria do
escadório) implantada em função da
disposição dos percursos de passeio e
espelhos de água desenhados no Parque.
Outro conjunto significativo de observações é aquele que se prende com a relação das
galerias com a topografia do local em que se implantam. Também a observação desta
relação permite por vezes inferir da
cronologia das galerias em questão: veja-se
o caso das galerias localizadas na parte alta
do Parque de Santa Cruz (maxime a galeria
do escadório), cuja implantação topográfica
resulta
claramente
condicionada
pelo
arranjo e arquitectura do Parque de Santa
Cruz, construído em 1723 (fig. 26).
ENSAIO DE ENQUADRAMEN TO DAS ESTRUTURAS
SUBTERRÂNEAS NA HISTÓRIA DO URBANISMO DA
CIDADE DE C OIMBRA
NATUREZA E CONDIÇÕES DE VALIDADE DA HIPÓT ESE INTERPRETATIVA
Os elementos recolhidos em resultado dos trabalhos de análise bibliográfica e da intervenção
de campo da Intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias
subterrâneas de Coimbra admitem a produção de uma hipótese interpretativa destas estruturas,
sua cronologia, evolução diacrónica e enquadramento na história da cidade de Coimbra.
Contudo, dados os condicionalismos referidos decorrentes da natureza e limites desta
intervenção, impõe a prudência e rigor científico que se afirme desde já que esta hipótese
Miguel ALMEIDA
exige naturalmente controle subsequente de outros trabalhos dos âmbitos específicos da
Arqueólogo
Arqueologia e da História que possam confirmar ou infirmar as proposições que integram
esta interpretação dos factos observados e informações bibliográficas recolhidas.
Nestes termos, das observações feitas e informações recolhidas pode entrever-se uma
evolução complicada do sistema, que subdividimos em seis momentos cronológicos
distintos que se descrevem de seguida. A leitura da hipótese de interpretação histórica
deve fazer-se acompanhada da cartografia histórica sintética apresentada infra e realizada
sobre base ortofotogramétrica produzida pelo Instituto Geográfico, à qual se superimpuseram
os resultados do levantamento topográfico do sistema realizados pela equipa da
AlpVertical, os dados recolhidos na bibliografia e documentação histórica e a expressão
29.
45
gCbr04
cartográfica das hipóteses relativas aos troços desconhecidos do sistema (fig. 27)
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
30.
gCbr04
fig. 2745— Cartografia sintética da evolução histórica do Sistema de captação de águas da cidade de Coimbra.
PROPOSIÇÃO DE ESQUEMA EVOLUTIVO
1.
O primeiro destes momentos, anterior mesmo ao início da conformação e
condicionamento antrópicos do local, corresponde ao percurso natural de uma
linha de água. Este percurso, completamente alterado por força dos
condicionamentos impostos pelo aproveitamento das águas ao longo dos
séculos, apenas pode hoje deduzir-se da análise da morfologia das
vertentes em causa, de resto também esta hoje profundamente ma scarada
pela evolução urbana subsequente da cidade de Coimbra.
2.
O primeiro esforço de condicionamento e aproveitamento dos recursos hídricos
das encostas a Nordeste da alta de Coimbra terá ocorrido em época romana.
Deste momento, porém, não dispomos hoje de outras fontes do que os
testemunhos indirectos da documentação moderna produzida por ocasião
da intervenção de D. Sebastião que, na sequência do episódio de estio de
1570, ordena a reconstrução do aqueduto que ainda hoje se mantém de pé
entre o morro da penitenciária de Coimbra e a zona da Alta, conforme
consta da inscrição a ele adossada (Loureiro, 1960).. A fazer fé nesta
documentação, ter-se-iam nessa altura aproveitado da estrutura original, então
já em estado de avançada ruína, apenas parte dos pegões, sendo os arcos
completamente refeitos pelos mestres de D. Sebastião. Aceite esta
Miguel ALMEIDA
localização da entrada romana de água na acrópole, é-nos, todavia,
Arqueólogo
desconhecido (mais uma vez salvo o testemunho documental indirecto já do
séc. XVI) o percurso inicial desta infra-estrutura de abastecimento de água
cuja captação, contudo, se supõe ter sido feita na zona actual de Celas
(Loureiro, 1969). Aceitando-se esta proposição, resulta natural um
percurso semelhante a aquele que seria utilizado no séc. XVI, ao qual
parece poder atribuir-se (mas deve ser objecto de confirmação ulterior) o
troço que identificámos como galeria da Rua Pedro Monteiro.
3.
À parte esta captação e condução de água à zona da acrópole, a ocupação
de Coimbra terá exigido, talvez já desde tempos romanos — foi Vergílio
31.
45
gCbr04
Correia o primeiro a aventar a hipótese, posteriormente retomada por Vasco
Mantas com base na disponibilidade de água e na proximidade da via
romana de Olissipo-Bracara e do porto de rio (Mantas, 1992) — a
utilização das águas recolhidas nas vertentes a Norte e a Noroeste da
cidade para a instalação dos banhos públicos. Mais uma vez, a primeira
notícia (seja esta de natureza histórica ou arqueológica) de que
presentemente dispomos para testemunhar da presença destes banhos é já
de época bem posterior à ocupação romana: a documentação medieval
relativa à confrontação do Mosteiro de Santa Cruz refere então os banhos
d’El Rey, alimentados por uma torrente de balneis regis que se admite hoje
poder corresponder à linha de água da Ribela. A confir mar-se também para
a época romana esta localização dos banhos públicos (da qual não se
duvida para a época medieval, pese embora a sua localização exacta esteja
por definir), ela traduziria uma estratégia relativa ao aproveitamento dos
recursos hídricos e condições de salubridade da cidade que conhece
paralelos evidentes em outros núcleos populacionais da mesma época. A
confirmar-se esta possibilidade, por outro lado, ela reforça a necessidade de
consideração da hipótese de existência desde tempos tão antigos de uma
estrutura de captação (fosse esta exactamente aquela que conhecemos
como galeria de Sá da Bandeira ou outra de que já não restem hoje
vestígios) que garantisse os volumes necessários de água limpa. A este
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
respeito, refira-se, importaria ainda indagar do percurso a jusante das
condutas agora cartografadas, assim como da eventual possibilidade de
participação das nascentes da encosta de Montarroio no fornecimento dos
caudais necessários.
4.
Instalado já o Mosteiro de Santa Cruz, serão recorrentes as questões
relativas à utilização das águas procedentes da zona de Celas. Com efeito,
dispomos de notícias de diversas queixas da população da alta face ao
comportamento dos frades crúzios, que encanam a água a partir de um
ponto acima dos seus domínios, subtraindo assim a água necessária ao
32.
45
gCbr04
abastecimento da população civil (cfr. supra). A este momento
corresponderá hoje o essencial do troço subterrâneo que identificámos
como galeria de Sá da Bandeira. O percurso inicial desta conduta
subterrânea seria posteriormente desmontado para a construção do Parque
de Santa Cruz, pelo que dele hoje não nos subsistem quaisquer vestígios
materiais conhecidos.
5.
Como já referimos, a situação só se resolverá com a intervenção ordenada
por D. Sebastião em 1568 — ainda assim sob ameaça de excomunhão de
todos os mestres que participaram nos trabalhos — com a recuperação
integral do sistema antigo, então já completamente desactivado e em
estado de completa ruína. A documentação existente explicita, sem margem
para dúvidas, o percurso com origem em Celas, através da futura Rua das
Arcas de Água (hoje Pedro Monteiro) e da zona da actual penitenciária de
Coimbra (onde antes desta estrutura prisional esteve instalado o Colégio de
Tomar). Para mais, esta documentação é clara na afirmação de que a
ordem régia determina a busca da localização e a recuperação dos pontos
de aprovisionamento e da parte enterrada das condutas que conduziam a
água de Celas ao percurso aéreo dos “Arcos do Jardim”. Assim, a galeria da
Rua Pedro Monteiro poderá corresponder quer a um troço preservado da
conduta de origem romana, quer, talvez mais provavelmente, a um troço
Miguel ALMEIDA
reconstruído no séc. XVI.
Arqueólogo
6.
O último momento plasmado nas estruturas subterrâneas que são objecto
deste trabalho descritivo corresponde à construção do Parque de Santa
Cruz, datada de 1723, que implica a destruição completa — ou pelo menos
a desactivação e condenação — do sistema anterior na área deste parque,
sendo então substituído por uma rede destinada ao abastecimento das
diversas fontes e espelhos de água do jardim, abastecida a montante pelas
condutas da zona da Rua Pedro Monteiro (sendo aqui também desta época
tardia a galeria do talude) e que desaguaria a jusante na parte conservada
da galeria de Sá da Bandeira.
33.
45
gCbr04
DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO ESPÓLIO
ARQUEOLÓGICO
Em virtude da natureza (acompanhamento arqueológico) da intervenção de que agora se
produz o presente relatório final e do carácter estritamente não intrusivo dos próprios
trabalhos (um levantamento topográfico) cuja realização motiva este acompanhamento, a
intervenção de campo do Acompanhamento arqueológico do Sistema de galerias
subterrâneas de Coimbra não resultou na produção de qualquer espécie de espólio
arqueológico.
AVALIAÇÃO DE RISCOS A RQUEOLÓGICOS E
PATRIMONIAIS
O risco arqueológico e patrimonial de afectação do Sistema de galerias subterrâneas da
cidade de Coimbra que decorre do projecto de construção do futuro Metro de superfície
do Mondego dependerá decisivamente dos traçados de pormenor e cotas de escavação
que venha a ser determinadas pelo projecto de execução da obra.
DETERMINAÇÃO DE MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO DE
IMPACTO PATRIMONIAL E ARQUEOLÓGICO
Refira-se a este respeito que na consideração das medidas de minimização de impacto
arqueológico e patrimonial a implementar em sede da execução deste projecto devem
ser consideradas, para além destas cotas de escavação, os efeitos que as diferentes
tarefas implicadas por tal execução de projecto podem vir a ter sobre a integridade desta
Miguel ALMEIDA
estrutura.
Arqueólogo
Esta consideração, de resto, parece-nos tanto mais importante quanto a correcta
avaliação destes efeitos surge da maior relevância não apenas para a minimização do
impacto de obra sobre o património histórico, mas até para a própria segurança da obra
e qualidade do seu resultado.
Por outro lado, não se prevê neste momento, ainda anterior à execução da obra, a
necessidade de implementação de quaisquer medidas de protecção ou conservação da
estrutura, que se mantém ainda em funcionamento e não apresenta quaisquer indícios
de fragilidade eminente.
34.
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gCbr04
PROGRAMA ULTERIOR DE TRABALHOS
PREVISÃO DO PROGRAMA ULTERIOR DE
TRABALHOS E MEDIDAS PROVISÓRIAS DE
PROTECÇÃO E CONSERVA ÇÃO
Nesta fase do estudo prévio para instalação do futuro Metro do Mondego não nos parece
justificar-se a realização de mais trabalhos nas galerias já visitadas.
Não obstante, da análise histórica produzida acima resulta um conjunto de questões de
ordem histórico-arqueológica cuja resposta exigirá a aplicação no futuro de um conjunto
adequado de procedimentos analíticos, orientados para a solução das questões em
aberto relacionadas com a cronologia e diacronia das várias galerias.
Entre as diferentes abordagens possíveis, cumpre-nos mencionar:
§ O alargamento dos trabalhos de descrição das estruturas aos troços
situados a jusante das galerias agora cartografadas;
§ O estudo do sistema de drenagem natural original das vertentes situadas a
Norte e Noroeste da alta de Coimbra;
§ A análise dos documentos escritos relevantes para a solução destas
problemáticas históricas;
§ A recolha de amostras das argama ssas da estrutura para comparação com
outras amostras de edifícios de cronologia conhecida; e
§ A recolha de amostras para datação radiométrica.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
Porém, estes trabalhos, indispensáveis para a confirmação ou infirmação das
proposições
interpretativas
enunciadas acima
e,
consequentemente,
para
a
compreensão do papel desta estrutura na história da cidade de Coimbra relevam já do
domínio específico da investigação programada, não parecendo necessária a sua
realização em sede de programa de minimização de impacto salvo se preveja a
necessidade de afectação directa da estrutura.
LOCAL DE DEPÓSITO DO ESPÓLIO
Nas condições descritas supra, a presente intervenção de acompanhamento
arqueológico não resultou na recolha de qualquer espólio arqueológico.
35.
45
gCbr04
LOCAL, DATA E FORMA
DE PUBLICAÇÃO
Os resultados arqueológicos da Intervenção de acompanhamento arqueológico no
Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra são já objecto de uma pequena notícia no
âmbito da página da Dryas Arqueologia na Internet.
Para além disto, também se envia agora, como resulta das disposições legais vigentes,
um resumo de 250 palavras para divulgação on-line pelo IPA (Anexo I), que, para maior
facilidade de tratamento, se inclui igualmente em ficheiro de texto no CD-ROM que
acompanha este relatório.
Por outro lado, a inclusão dos dados específicos da arqueologia na publicação de um
artigo de carácter científico, sempre sob caução de autorização de utilização das
informações que são propriedade da Metro do Mondego, está já prevista em publicação
da especialidade.
Tal não invalida, entretanto, a consideração de outras formas de exploração científica
dos dados descritos neste relatório, assim como de outros que no decurso de trabalhos
subsequentes de investigação bibliográfica e de interpretação das informações e
observações de campo, que poderão motivar por parte dos autores a opção futura por
outras modalidades de divulgação destes trabalhos.
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
Coimbra, 205-01-07
36.
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gCbr04
BIBLIOGRAFIA
Alarcão, 1979
• Jorge Alarcão. As Origens de Coimbra, I Jornadas de Arqueologia e Arte do
Centro. Coimbra: GAAC, 1979. pp. 23-40.
Araújo, 2002
• Yann Aráujo. A Quinta de Santa Cruz (Contributo para o estudo da sua História
Contemporânea), Policopiado. Fundação Passos Canavarro, 2002.
Correia, 1946
• Vergílio Correia. “Obras”. Acta Universitatis Conimbricensis. Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1946.
Leal, 1874
• Pinho Leal. “Portugal Antigo e Moderno – Diccionário Geographico, Estatístico,
Corographico, Heráldico, Archeologico, Histórico, Biographico e Etymologico”.
Lisboa: Ed. Tavares Cardoso & Irmão, 1874.
Loureiro, 1960
• J. Pinto Loureiro. “Toponímia de Coimbra”. Tomo I. Coimbra: Câmara Municipal
de Coimbra, 1960.
Mantas, 1992
• Vasco Mantas. Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium. Biblos nº 68.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 1992. pp. 487-513.
Mantas, 1996
Miguel ALMEIDA
• Vasco Mantas. A Rede Viária Romana da faixa atlântica entre Lisboa e Braga.
Policopiado. Tese de doutoramento apresentada à FLUC. Coimbra:
Universidade de Coimbra, 1996. p. 805.
Arqueólogo
CARTOGRAFIA
• Os percursos das condutas existentes foram traçados de acordo com a
topografia e planimetria do sistema de galerias subterrâneas de Coimbra
produzido pela AlpVertical para a empresa Metro do Mondego, S.A.
• A base ortofotogramétrica sobre a qual se procedeu à implantação das galerias
existentes e à interpretação histórica da evolução do sistema foi disponibilizada
pelo Instituto Geográfico, tendo sido obtida através da página Internet do SNIG
– Sistema Nacional de Informação Geográfica
• Os extracto do mapa topográfico de Coimbra foram recolhidos da folha 230 –
Coimbra (Norte) da Carta Militar de Portugal, publicada pelo Instituto
Geográfico do Exército.
ABREVIATURAS
37.
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§ A.H.M.C. – Arquivo histórico Municipal de Coimbra
gCbr04
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
LISTA DE FIGURAS
§ figura de capa — Aspecto dos trabalhos realizados no Sistema de galerias
subterrâneas de Coimbra.
§ fig. 01 – Localização da área de implantação das estruturas subterrâneas
interessadas pela intervenção de acompanhamento arqueológico do Sistema de
galerias subterrâneas de Coimbra (extracto da CMP 1/25.000, fl. 230 - Coimbra).
§ fig. 02 - Pormenor da colocação de um ponto material de apoio topográfico.
§ fig. 03 — Aspecto da acumulação de lixos urbanos actuais no solo das condutas
(topo da galeria da fonte).
§ Fig. 04 — Aspecto do interior das condutas: remodelações do espaço interno e
pontos topográficos pintados (galeria de Sá da Bandeira).
38.
45
gCbr04
§ Fig. 05 — Aspecto de algumas das entradas para as diferentes galerias visitadas:
galeria da Fonte, galeria da Rua Pedro Monteiro; galeria de Sá da Bandeira.
§ Fig. 06 — Galeria de Sá da Bandeira: aspecto de um troço do percurso da galeria
apresentado diferentes soluções técnicas de cobertura justapostas.
§ Fig. 07 — Galeria da Fonte: pormenor e uma zona de contacto entre dois aparelhos
distintos de construção, em pedra e em tijolo.
§ Fig. 08 — Galeria de Sá da Bandeira: pormenor de um elemento arquitectónico
decorativo reaproveitado de um edifício anterior e hoje integrado na galeria de Sá
da Bandeira, um pouco a jusante da Fonte Monumental do Parque de Santa Cruz.
§ fig. 09 — Aspecto dos trabalhos de levantamento topográfico do Sistema de
galerias subterrâneas de Coimbra.
§ fig. 10 — Exemplo de uma das plantas esquemáticas utilizadas para orientação e
localização dos diferentes troços descritos das condutas durante a intervenção de
campo.
§ fig. 11 — Implantação geográfica e localização relativa das diferentes galerias
mencionadas no texto:
§
§
§
§
§
Galeria da Rua Pedro Monteiro
Galeria do Talude
Galeria da Fonte
Galeria do Escadório
Galeria de Sá da Bandeira
§ fig. 12 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto
em abóbada de berço.
§ fig. 13 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto
da zona integralmente escavada na rocha.
§ fig. 14 — Galeria da Fonte, diversidade de soluções técnicas: pormenor do tecto
com lajes fincadas em “V” invertido.
§ fig. 15 — Pormenor da galeria do escadório: paredes com blocos de calcário e tecto
em abobada de berço.
§ fig. 16 — Vista geral da zona de um dos acessos da galeria de Sá da Bandeira na
zona de entrada do Parque de Santa Cruz.
§ fig. 17 — Galeria de Sá da Bandeira: solução arquitectónica de consolidação e
contenção do espaço interior da galeria através da utilização de arcos a meia altura.
§ fig. 18 — Galeria de Sá da Bandeira: tecto da galeria em blocos calcários
aparelhados.
§ fig. 19 — Uma das zonas de maior amplitude interior da galeria de Sá da Bandeira.
§ fig. 20 — Galeria de Sá da Bandeira: um exemplo do testemunho da longa história
de reparações e remodelações sofrida pela estrutura — aspecto de uma
intervenção de redimensionamento da conduta interna.
§ fig. 21 — Galeria de Sá da Bandeira: exemplo de um dos poços de acesso activos,
Miguel ALMEIDA
localizado na Av. de Sá da Bandeira.
Arqueólogo
§ fig. 22 — Galeria da Rua Pedro Monteiro: abobada de berço em tijolo e argamassa.
§ fig. 23 — Galeria da Rua Pedro Monteiro — percurso integralmente escavado na
rocha: aspecto da solução técnica de cobertura.
§ fig. 24 — Aspecto dos trabalhos na galeria do talude: notar o reboco integral das
paredes e cobertura da conduta e a presença de uma conduta de saneamento
posterior que intercepta parcialmente a galeria.
§ fig. 25 — Abobada de berço em tijolo e argamassa na galeria da Rua Pedro
Monteiro.
§ fig. 26 — Aspecto do pátio de uma das fontes do Parque de Santa Cruz: a fonte é
alimentada pela galeria da fonte, procedente da Rua Pedro Monteiro e dela parte,
em direcção à zona da Praça da República uma outra galeria (a galeria do
escadório) implantada em função da disposição dos percursos de passeio e
espelhos de água desenhados no Parque.
§ fig. 27 — Cartografia sintética da evolução histórica do Sistema de captação de
águas da cidade de Coimbra.
39.
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Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
ANEXO I
resumo de 250 palavras para publicação na internet
40.
45
gCbr04
RESUMO
Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
A preparação da construção do futuro Metro do Mondego justificou a realização de um trabalho prévio de
descrição do sistema de galerias subterrâneas da cidade de Coimbra, que se realizou por ocasião dos
trabalhos de levantamento topográfico destas galerias conduzidos pela empresa AlpVertical.
Estes trabalhos, cujos objectivos principais consistiam na caracterização das galerias no que respeita aos
materiais de construção e soluções técnicas adoptadas e na compilação de elementos relevantes para a
atribuição cronológica, compreensão da história evolutiva e integração destas estruturas no quadro mais geral
da história da cidade de Coimbra, revelaram um conjunto de condutas, cuja planta actual resulta de um
processo poligenético complicado e provavelmente de importante profundidade histórica, em que o sistema de
galerias conheceu fases sucessivas de alargamento e reformulação, ao sabor das necessidades
momentâneas dos seus construtores ou de quem detinha a sua gestão.
A conjugação das observações de campo com os resultados dos trabalhos de análise bibliográfica e
documental permite-nos propor uma história de evolução deste sistema e da sua relação com a história da
cidade pelo qual perpassam fundamentalmente todas as opções relativas ao abastecimento de água e ao
urbanismo de Coimbra, mas também algumas das tensões mais significativas da história social da cidade.
Nestes termos, a consideração da hipótese de uma origem (pelo menos de parte) do sistema ainda em época
romana e a compreensão do papel da água nas relações estabelecidas entre o Mosteiro de Santa Cruz e a
cidade merecem especial atenção deste trabalho.
41.
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Miguel ALMEIDA
Arqueólogo
ANEXO II
ficha de sítio do IPA
42.
45
gCbr04
Ficha de Sítio/Trabalho Arqueológico
(para acompanhar o relatório)
Sítio
Designação
Sistema de galerias subterrâneas de Coimbra
Distrito Coimbra
Concelho Coimbra
Freguesia Santa Cruz
Lugar - - -
C.M.P. 1:25.000 folha nº 230 – Coimbra (norte)
Latitude N 40º12'39”
Longitude W (Greenwich) 08º24'57”
Altitude (m) 412 metros
Tipo de sítio** aqueduto
Período cronológico** romano (?) / medieval / moderno
Descrição do sítio (15 linhas)
O sistema de galerias em questão localiza-se em pleno centro urbano de Coimbra, maioritariamente sob o Parque de
Santa Cruz, a Rua Pedro Monteiro e a Av. Sá da Bandeira.
A estrutura consiste de um conjunto de galerias subterrâneas destinadas ao abastecimento e escoamento de águas
que na maioria comunicam entre si.
Trata-se de uma estrutura que apresenta um conjunto bastante diverso de técnicas de construção e em que se torna
evidente a grande diacronia da utilização e das diferentes fases de remodelação do sistema.
Bibliografia Diversos
Proprietários - - -
Classificação** - - -
Legislação** - - -
Estado de conservação** regular
Uso do solo** Urbano
Ameaças** Construção civil
Protecção/vigilância** - - -
Acessos
Diversas entradas no actual Parque de Santa Cruz e através de caixas de visitação localizadas na via pública,
nomeadamente na Av. Sá da Bandeira e na Rua Pedro Monteiro.
Espólio
Descrição
---
Local de depósito
---
Trabalho arqueológico de 2004
Arqueólogo responsável Miguel Almeida e Filipe Gonçalves
Tipo de trabalho Acompanhamento arqueológico
Datas: de início 2004-09-06
Datas: de início 2004-09-10
Duração 3 dias
Projecto de investigação
--Objectivos (10 linhas)
Motivada pela necessidade de minimização de um projecto de intervenção urbana a presente intervenção pretendia,
quer em fase preliminar de preparação prévia da intervenção, quer durante os trabalhos de campo, reunir elementos
relevantes para a caracterização e atribuição crono-cultural do sistema subterrâneo das galerias de Coimbra, através
do de um estudo sintético das fontes bibliográficas e documentais, do reconhecimento do seu percurso e da
caracterização in loco das técnicas e materiais de construção utilizados, da tipologia da construção, da sua
funcionalidade.
Resultados (15 linhas)
Dos trabalhos realizados resultam como notas dominantes:
§ a observação da coincidência da galeria de Sá da Bandeira com a localização da antiga Ribela de Coimbra, e
§ a evidência da diacronia importante da vida útil do sistema, plasmada em diferentes momentos de construção,
reconstrução, mudança de funcionalidade, desmantelamento e condenação de condutas, culminando na
reutilização das diferentes galerias para os sistemas actuais de escoamento de águas pluviais e saneamento da
cidade de Coimbra.
Do conjunto das observações feitas no terreno, enquadradas pela exploração da documentação bibliográfica
existente, decorrem diversos elementos relevantes para a produção de uma primeira hipótese interpretativa da
evolução histórica deste sistema de infra-estruturas, que passamos a enunciar sinteticamente.
** Preencher de acordo com a lista do Thesaurus do ENDOVÉLICO. Essa Lista pode ser consultada no site do IPA:
www.ipa.min-cultura.pt
TIRAGEM ORIGINAL:
6 exs.
RESPONSABILIDADE TÉCNICO-CIENTÍFICA DA INTERVENÇÃO:
Miguel ALMEIDA e Filipe GONÇALVES
RECOLHA BIBLIOGRÁFICA E DOCUMENTAL:
Soraya ROCHA e Maria João NEVES
TRABALHOS DE CA MPO:
Miguel ALMEIDA e Filipe GONÇALVES
FOTOGRAFIAS :
AlpVertical, Lda.
DEPARTAMENTO DRYAS:
Arqueologia Urbana
COMPOSIÇÃO E GRAFISM O:
departamento de publicações
2004 © dryas arque
arqueologia,
ologia, lda.
CARTOGRAFIA:
AlpVertical, Lda. / Miguel ALMEIDA

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