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Revista Eletrônica de Ciência
Administrativa (RECADM)
ISSN 1677-7387
RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS DO BOARD
INTERLOCKING E CARACTERÍSTICAS DE
EMPRESAS DE ESTRUTURA DE PROPRIEDADE
FAMILIAR COM AÇÕES MAIS NEGOCIADAS
NA BM&FBOVESPA
1- Ilse Maria Beuren
Doutora em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo
(FEA/USP), Brasil.
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil.
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/4514517594315817
2- Andréia Carpes Dani
Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), Brasil.
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/1178450971204407
3- Franciele Beck
Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), Brasil.
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/8409984011279149
Diego Maganhotto Coraiola – Editor Geral
Editor responsável pela submissão:
Diego Maganhotto Coraiola.
Artigo analisado via processo de revisão duplo cego (Double-blind).
Recebido em: 04/01/2014
Aprovado em: 05/03/2015
Última Alteração: 01/09/2014
* Contato Principal: Av. Prefeito Lothário Meissner, 632, Campus III. Jardim Botânico, Curitiba/PR, Brasil. CEP: 80210-070.
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RELAÇÃO ENTRE AS PRÁTICAS DO BOARD INTERLOCKING E CARACTERÍSTICAS DE EMPRESAS DE
ESTRUTURA DE PROPRIEDADE FAMILIAR COM AÇÕES MAIS NEGOCIADAS NA BM&FBOVESPA
RESUMO
O estudo objetiva verificar a relação entre as práticas do Board Interlocking e características de empresas de
estrutura de propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBovespa. Estudo descritivo foi realizado
por meio de pesquisa documental, com abordagem quantitativa. Coletaram-se informações nos relatórios
financeiros das 23 empresas brasileiras de capital aberto com estrutura e propriedade familiar, classificadas
pela Revista Capital Aberto. Os resultados apontam que a prática do Board Interlocking ocorreu em 57% das
empresas da amostra, indicando ser uma prática comum. Evidenciam também uma relação significativa entre
as variáveis prática do Board Interlocking e características de propriedade e controle familiar. Conclui-se que a
prática do Board Interlocking pelos membros do conselho de administração, diretoria e conselho fiscal é
adotada nas empresas pesquisadas, apesar da tendência da estrutura de propriedade familiar ser mais
concentrada.
Palavras-Chave
Board Interlocking. Estrutura de propriedade. Empresas familiares.
RELATIONSHIP BETWEEN BOARD INTERLOCKING PRACTICES AND BUSINESS CHARACTERISTICS OF
FAMILY OWNERSHIP STRUCTURE WITH MORE STOCKS TRADED IN BM&FBOVESPA
ABSTRACT
The goal of this study is to investigate the relationship between the Board Interlocking practices and business
characteristics of family ownership structure which have more stocks traded in BM&FBovespa. Study descriptive
being conducted through desk research, with a quantitative approach. The information was collected from the
financial reports of 23 Brazilian open capital companies of family ownership structure, classified by the Open
Capital Magazine. The results show that the Board Interlocking practice occurred in 57% of the companies in the
sample, indicating that it is a common practice. Show also a significant relationship between the variables Board
Interlocking practices and characteristics of family ownership structure and control, with a canonical correlation
of 83% and a canonical R of 69%. It is concluded that the Interlocking Board practices by members of the board
of directors, directors and supervisory board is adopted in the surveyed companies, despite the tendency of
family ownership structure be more concentrated.
Keywords
Board Interlocking. Ownership structure. Family businesses.
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Relação entre as práticas do board interlocking e características de empresas de estrutura de
propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
1 Introdução
O papel desempenhado pelo conselho de administração tem sido um dos aspectos atualmente
bastante considerado e questionado no ambiente corporativo. Observa-se que fatores como as
relações sociais e institucionais estão cada vez mais interligados, por originarem-se da atuação dos
membros dos conselhos das grandes companhias (Mendes-da-Silva, Rossoni, Martin, & Martelanc,
2008). Considera-se que esse fato também esteja relacionado com a estrutura de propriedade e seu
tipo de controle.
Santos e Silveira (2007) verificaram que a prática de relações sociais e institucionais tem
predominância na estrutura de propriedade difusa. Uma das questões associadas à eficácia dos
conselheiros e funcionamento do conselho de administração das empresas trata do fenômeno de
participação cruzada dos conselheiros em outras companhias. “Esta prática, denominada Board
Interlocking, estabelece uma união entre diferentes empresas por meio da presença de conselheiros
em comum em seus conselhos” (Santos, & Silveira, 2007, p. 158).
Segundo Mendes-da-Silva e Vidal (2010), a prática do interlocking reflete a estratificação no
ambiente corporativo no Brasil e está associada com o desempenho do conselho durante sua prática
gerencial. Para os autores, isso se deve ao recente desenvolvimento do mercado de capitais
brasileiro, que num cenário anterior era concentrado em alguns membros do conselho tradicional.
Existem diversas pesquisas que buscam relacionar a prática do Board Interlocking com
diferentes fatores determinantes e demais elementos relacionados. Dentre estas destacam-se os
estudos de Mizruchi (1996) sobre os determinantes e influencias da prática do interlocking para as
companhias; Non e Franses (2007) que relacionaram o interlocking ao desempenho das empresas;
Heng e Gygax (2009) que investigaram a relação entre o interlocking com os planos de
compensação dos executivos (membros) das empresas.
A partir dessas pesquisas sobre a prática do Board Interlocking, busca-se, diferentemente
desses estudos anteriores, expandir a discussão sobre o tema no contexto corporativo brasileiro,
especificamente em empresas de capital aberto que adotam práticas de governança corporativa e
que possuem estrutura de propriedade e controle familiar.
Tendo em vista as considerações delineadas, este estudo apresenta a seguinte questão de
pesquisa: Qual a relação entre as práticas do Board Interlocking e características de empresas de
estrutura de propriedade e controle familiar com ações mais negociadas na BM&FBovespa? Nesse
sentido objetiva-se verificar a relação entre as práticas do Board Interlocking e características de
empresas de estrutura de propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBovespa.
O estudo justifica-se pelo fato da prática de Board Interlocking ser um assunto pouco difundido
e pesquisado no âmbito acadêmico, e que pode trazer importantes contribuições no sentido da
caracterização do perfil das empresas brasileiras a esse respeito. Esta pesquisa amplia a discussão
sobre a prática do Board Intelocking pelas companhias brasileiras, considerando que em âmbito
nacional foram identificados apenas os estudos de Santos e Silveira (2007), Mendes-da-Silva,
Rossoni, Martin e Martelanc (2008) e de Mendes-da-Silva (2010). Trata-se de pesquisas pioneiras no
estudo exploratório desta temática no país.
Santos e Silveira (2007) constataram na pesquisa realizada em empresas brasileiras que a
prática do Board Interlocking é frequente e está associada as empresas de grande porte, com
controle disperso e grandes conselhos. Assim pretende-se contribuir ao investigar o tema sob o
prisma das empresas de controle concentrado, especificamente as familiares. O interesse em
verificar esta prática em empresas de propriedade familiar decorre do fato de apresentarem
importante participação na economia brasileira, e ao contrário das empresas de controle
pulverizado, possuem maior concentração de controle.
Considera-se relevante também o estudo da prática do Board Interlocking sob o ponto de vista
social, uma vez que esta é uma prática frequente das empresas brasileiras (Santos, & Silveira, 2007,
Mendes-da-Silva, 2010). Identificar a configuração da prática do Board Interlocking e as
características associadas de empresas familiares pode revelar aspectos importantes para a
caracterização e desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.
O estudo está dividido em cinco seções. Além da primeira, que traz a introdução, apresenta-se
na sequência o tópico da fundamentação teórica. Em seguida evidenciam-se os aspectos
metodológicos da pesquisa. Após, apresenta-se a descrição e análise dos resultados e, por fim, as
conclusões da pesquisa.
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2 Fundam entação Teórica
2.1 Estrutura de Propriedade
O retrospecto das pesquisas iniciais sobre estrutura de propriedade aponta com destaque o
estudo de Adam Smith. Berle e Means (1984) destacaram a separação entre propriedade e controle,
e Jensen e Meckling (1976) integraram elementos da teoria da agência, teoria dos direitos de
propriedade e teoria das finanças para desenvolver uma teoria da estrutura de propriedade e
controle da empresa.
Na concepção de que a origem das sociedades anônimas se deu por meio de grupos de
investidores que associavam contribuições de capital e de risco para manter um empreendimento,
tem-se que a escassez de riquezas é um fator que influencia à pulverização da propriedade das
empresas (Berle, & Means, 1984, p. 9).
Jensen e Meckling (1976, p. 9) apresentam que a corporação privada ou firma é uma ficção
legal que serve como coerência para a contratação de relacionamentos, também caracterizada pela
existência de crédito residual divisível sobre os ativos e fluxos de caixa da organização. Este
entendimento remete ao capital social das sociedades anônimas, composto por ações que podem
ser ordinárias, preferenciais ou de fruição, as quais integram a estrutura de propriedade das
empresas.
Kang e Sorensen (1999, p. 8) apresentam que a propriedade é um complexo fenômeno
econômico e sociológico que ocorre em um contexto legal, e cria incentivos e oportunidades para
capturar os direitos de propriedade, além de empreender ações que influenciam no desempenho da
empresa.
As proporções cada vez maiores de sociedades anônimas e seu constante crescimento no
mercado proporcionaram mudanças significativas no conceito de propriedade, separando “a pessoa
do proprietário e usufrutuário, da pessoa do administrador da empresa” (Berle, & Means, 1984, p.
12). A separação entre propriedade, pulverizada entre muitos acionistas, e o controle, exercido por
diretores e ou grupo de pessoas, que, no máximo, possuiriam uma pequena fração do capital da
empresa, é um ponto central da empresa moderna, e um campo aberto de questões e temáticas
para o ambiente acadêmico.
No Brasil, pesquisadores vêm investigando esta temática em empresas. Dami, Rogers e Ribeiro
(2007) verificaram se existem diferenças de rentabilidade, valor de mercado, estrutura de capital,
risco e tamanho do ativo em relação ao grau de concentração acionária de empresas brasileiras nãofinanceiras listadas na Bovespa entre 1997 a 2001. O estudo apontou que em ambientes instáveis
há maior concentração de propriedade pela relação encontrada entre performance e concentração
acionária.
La Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer (1998, p. 10) consideraram como propriedade e controle
apenas as ações com direito a voto (ordinárias), não as que representam direito ao fluxo de caixa
(preferenciais). A partir desta distinção, os autores apresentaram duas modalidades de estrutura:
dispersa (em que não há um acionista controlador), e concentrada (controle exercido por um
indivíduo ou grupo específico). Para esta última estrutura de propriedade e controle atribuíram a
classificação: “a) familiar ou individual; b) o Estado; c) uma instituição financeira com controle
disperso, como um banco ou uma companhia de seguros; d) uma corporação com controle disperso;
e) diversos, tais como uma cooperativa, ou um grupo com nenhum único investidor controlador” (La
Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer, 1998, p. 10)
Esta característica de concentração ou dispersão na estrutura de propriedade e controle pode
variar de acordo com o ambiente de atuação da empresa, pois está associada a vários fatores, como
regime político, sistema legal, estrutura do mercado de capitais, experiência histórica de
industrialização, condições geográficas e cultura (Demsetz, & Lehn, 1985, Siffer Filho, 1998). Neste
aspecto se configura o entendimento de concentração de propriedade e estrutura das empresas
brasileiras. Segundo Sarlo Neto, Lopes e Dalmácio (2009, p. 5), “devido à possibilidade de montar
estruturas piramidais de controle e de emissão de ações preferenciais, os acionistas controladores
tendem a deter, em sua participação acionária, maior quantidade de direitos de votos do que
direitos de fluxo de caixa”.
Torres, Bruni, Rivera-Castro e Martinez (2010, p. 14), em seus estudos sobre a estrutura de
propriedade e controle de empresas brasileiras, apontam que “dada a alta concentração da
estrutura de propriedade e controle no Brasil, os conflitos de interesse nas firmas brasileiras são
primeiramente associados a acionistas controladores e acionistas minoritários”. Conforme Dami,
Rogers e Ribeiro (2007, p. 22), a existência dos conflitos, custos de agência e direitos assimétricos
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Relação entre as práticas do board interlocking e características de empresas de estrutura de
propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
estabelece a necessidade da adoção de mecanismos de controle para que o processo de governança
harmonize os interesses das partes envolvidas com as operações da empresa.
Nesse contexto a estrutura de propriedade é apresentada como um dos principais mecanismos
de governança corporativa (Leal, Silva, & Valadares, 2002). Outro mecanismo importante refere-se
ao conselho de administração, que é apontado como elo entre a propriedade e gestão das empresas,
ressaltando que “a independência entre ambos pode garantir eficiência na administração em que o
conselho de administração manter-se-ia essencialmente independente dos diretores executivos”
(Mendes-da-Silva, & Grzybovski, 2006, p. 49). Esta independência entre propriedade e conselho de
administração é um dos temas centrais quando é abordada a temática da estrutura de propriedade e
controle concentrada, característico de estudos que abrangem as empresas familiares.
2.2 Empresas Familiares e Conselho de Administração
As empresas familiares em âmbito universal demonstram relevância no contexto econômicosocial, representando a modalidade mais simples e antiga das organizações. Esta afirmação,
sustentada por autores, configura-se também no ambiente corporativo brasileiro. A definição de
empresa familiar compreende “negócios em que a propriedade e a gestão são de uma ou mais
famílias, que sofrem a influência dela(s) na tomada de decisão e na qual existe a intenção de
transferir a empresa (propriedade e gestão) para a próxima geração” (Mendes-da-Silva, &
Grzybovski, 2006, p. 47).
Boff, Beuren e Hein (2009, p. 251) apontam a empresa familiar como provinda da origem e
continuidade da organização com base no projeto idealizado por um fundador, empreendedor ou
grupo de pessoas vinculadas entre si que detém a propriedade e controle do negócio. Os autores
acrescentam que esta característica familiar persiste mesmo quando a gestão está sob a
responsabilidade de administradores contratados.
Em empresas familiares observa-se alta concentração de propriedade e controle, o que condiz
com a estrutura de propriedade acionária brasileira. Segundo Dami, Rogers, Ribeiro (2007, p. 26),
esta contribui sobremaneira para o principal conflito de agência no Brasil entre acionistas
minoritários e acionistas majoritários, que no contexto familiar caracterizam-se em acionistas
familiares e acionistas externos. De acordo com Anderson e Reeb (2004), este conflito é minimizado
por meio da atuação de conselheiros independentes.
Beuren e Muller (2010, p. 48) mencionam que as empresas familiares apresentam
peculiaridades em relação às demais sociedades no sentido de apresentarem associados à sua
estrutura, a cultura e o sistema familiar. O conflito de agência nestas organizações recebe reflexos
desta particularidade inerente às empresas familiares, fazendo-se necessários mecanismos que
auxiliam na minimização destes conflitos, como o Conselho de Família.
Conforme orientação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2011), empresas
familiares devem implementar um Conselho de Família, que difere essencialmente do Conselho de
Administração, pois tem como finalidade a discussão de assuntos familiares e o alinhamento das
expectativas de seus integrantes em relação a organização, além da aplicação das demais boas
práticas de governança corporativa, a fim de minimizar o conflito de agência.
O Conselho de Administração, tido como principal componente do sistema de governança,
intermedeia a relação entre diversos interessados na organização, ou seja, configura-se como elo
principal entre a gestão da organização e a propriedade (IBGC, 2011; Mendes-da-Silva, & Grzybovski,
2006). Este instrumento de governança corporativa oferece ainda outra vantagem às empresas
familiares, a “oportunidade de melhorar a qualidade da gestão, mediante a possibilidade de
contribuição de conselheiros externos qualificados” (Gomes, Souza Neto, & Martins, 2006, p. 1).
Alguns pontos fortes relacionados ao conselho de administração são apontados no intuito de
direcionar o entendimento do tema proposto no estudo. Em seu Código de Melhores Práticas de
Governança Corporativa, o IBGC (2011, p. 34) elenca como uma das qualidades do conselheiro a
disponibilidade de tempo, reforçando que a “participação do conselheiro vai além da presença nas
reuniões do Conselho e da leitura da documentação previa”.
Quanto à participação em outros conselhos e comitês, apresentam-se
recomendações pautadas nas seguintes diretrizes do IBGC (2011, p. 34):
a
seguir as
a) O presidente do Conselho de Administração poderá participar como conselheiro de, no
máximo, dois outros conselhos;
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b) Conselheiros externos e/ou independentes que não tenham outra atividade poderão
participar de, no máximo, cinco conselhos;
c) Executivos seniores poderão participar como conselheiros de apenas uma organização,
salvo se tratar de empresa coligada ou do mesmo grupo;
d) Conselheiros internos e/ou diretor-presidente poderão participar de, no máximo, um outro
Conselho, salvo se tratar de empresa coligada ou do mesmo grupo;
e) Presidentes executivos e presidente do conselho não devem exercer cargo de presidência
do Conselho de outra organização (com exceção para entidades do terceiro setor), salvo se
tratar-se de empresa coligada ou do mesmo grupo.
Mendes-da-Silva e Grzybovski (2006, p. 49) ressaltam ainda que a independência entre
Conselho da Administração e Diretoria pode garantir maior eficiência das atividades administrativas.
Portanto, quando os conselheiros não participam da diretoria da organização, sinalizam um grau de
independência em suas ações.
Em decorrência da importância atribuída a este conselho nas organizações, pesquisas vêm
sendo realizadas no ambiente acadêmico com o intuito de examinar: as características deste órgão
no ambiente brasileiro, sua influência no desempenho das organizações, poder de limitação desse
conselho em relação ao gerenciamento de resultados, configuração de laços entre os membros de
diferentes empresas (Mendes-da-Silva, & Grzybovski, 2006; Marra, Mazzola, & Prencipe, 2011; Jaggi,
Leung, & Gul, 2009). Há diversos estudos que ampliam o entendimento do assunto e remetem a
novas pesquisas.
2.3 Board Interlocking e Relacionamentos Intercorporativos
Heng e Gygax (2009) definem a prática do Board Interlocking como um relacionamento criado
entre dois conselhos de empresas diferentes quando compartilham pelo menos um membro em
comum. De acordo com Mizruchi (1996), o Board Interlocking pode originar-se da interligação
existente entre conselheiros que operam dentro ou fora das companhias, podem ser fundadores,
investidores, ou representantes de grupos de interesses.
O interlocking, segundo Szalacha (2010), é o resultado de escolhas individuais feitas pelos
membros dos conselhos, que buscam atender aos interesses das companhias, enquanto promovem
seus próprios interesses. A autora considera que os membros em comum possuem compromissos
em comum em empresas diferentes, por participarem simultaneamente dos conselhos de diferentes
empresas.
Mendes-da-Silva (2010, p. 5) pondera que o Board Interlocking se refere “ao fato de uma ou
mais pessoas participarem, simultaneamente, do conselho de administração de empresas
diferentes, possibilitando a formação de redes corporativas e pessoais, nas quais são criados fluxos
de recursos essenciais à empresa”. Santos e Silveira (2007, p. 126) ressaltam que o Conselho de
Administração “é considerado um dos principais mecanismos internos de governança corporativa,
em função de suas atribuições de monitoramento dos gestores, ratificação das decisões relevantes e
fixação das diretrizes estratégicas da companhia”.
A prática do Board Interlocking pode decorrer de motivações de cunho organizacional, pessoal
e social (Mendes-da-Silva, 2010). Uma subdivisão da prática do interlockig é apresentada por Santos
e Silveira (2007, p. 131) como segue: simple Board Interlocking; reciprocal Board Interlocking. O
primeiro “ocorre quando o profissional da empresa i ocupa cargo de conselheiro na empresa j, mas
nenhum profissional desta atua na primeira empresa”. O segundo é menos frequente e ocorre
“quando o profissional da empresa i ocupa cargo de conselheiro na empresa j e, reciprocamente, um
profissional da j também trabalha na empresa i” (Santos, & Silveira, 2007, p. 131).
Heng e Gygax (2009) constataram que os diretores podem encontrar-se nos conselhos de
múltiplas empresas, isso se deve ao fato de existir duas participações simultâneas, ou seja, quando
as empresas são interligadas por possuírem pelo menos um membro do conselho em comum. Assim,
consideram que pode existir também uma rede formada por um conjunto de empresas, que
estariam interligadas por meio de seus membros em comum. Os autores consideram essa rede
como uma configuração interempresarial, que poderia ser denominada de interlocking, ou ainda
interfirma, que tem influência nas decisões empresariais.
Estudos que investigaram a prática do Board Interlocking já estão em discussão há algum
tempo em outros países, conforme demonstram de Dooley (1969), Allen (1974), Mizruchi (1996),
Fich e White (2005), Fich e Shivdasani (2006). No Brasil foi identificada a pesquisa realizada por
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Relação entre as práticas do board interlocking e características de empresas de estrutura de
propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
Santos e Silveira (2007), considerada a pioneira. Neste estudo os autores investigaram a
participação simultânea de conselheiros em diferentes conselhos de administração de 320 empresas
brasileiras nos anos de 2003 e 2005. Também investigaram se a ocorrência dessa prática traz
consequências para o valor de desempenho das empresas.
Os resultados mostraram que o Board Interlocking é uma prática frequente no Brasil e fatores
como conselho maior, controle acionário disperso e maior porte da empresa estão relacionados com
a prática do Board Interlocking nas companhias. Além disso, observaram que empresas com altos
níveis de interlocking têm seu valor corporativo prejudicado, principalmente em casos que metade
ou mais dos conselheiros participam de três ou mais conselhos, ou naquelas em que o diretorexecutivo atua em outros conselhos.
No entanto, Szalacha (2010) destaca que pode haver benefícios na interligação de membros
das empresas. Estes podem ocorrer no sentido dos conselheiros comunicarem informações a
respeito de preços, propagandas, pesquisa e desenvolvimento, úteis a ambas as companhias. Já
num segundo momento, a autora infere que benefícios internos em relação à coordenação e perícia
nos serviços da empresa podem ser alcançados por esses membros externos, no que diz respeito a
alternativas no momento de tomar decisões e em relação ao capital social. Destaca ainda outro
benefício, a reputação corporativa.
Outros estudos buscaram verificar a pratica do Board Interlocking por meio da aplicação de
redes sociais, relacionando-as com outros fatores como estrutura de propriedade, desempenho e
governança corporativa. Nesse sentido destacam-se os estudos de Mendes-da-Silva, Rossoni, Martin
e Martelanc (2008), Mendes-da-Silva e Vidal (2010), Drago, Millo, Ricciuti e Santella (2011).
Mendes-da-Silva e Vidal (2010) buscaram analisar a evolução da configuração da rede de
relações entre os membros dos conselhos das empresas de capital aberto listadas no Brasil entre
1997 e 2007, tendo por base a teoria dos gráficos de suposições e a abordagem dos mundos
pequenos. Os autores concluíram que o interlocking reflete a estratificação no ambiente corporativo
no Brasil e está associado com o desempenho do conselho em sua prática gerencial. Além disso,
observaram um aumento significativo na rede de relacionamentos entre membros, com diminuição
da densidade nos laços estabelecidos para a participação comum em uma ou mais placas.
3 Procedim entos Metodológicos
No que concerne ao delineamento metodológico, esta pesquisa classifica-se quanto aos
objetivos como descritiva, conforme preceituado por Vergara (1998), uma vez que expõe
características do fenômeno focalizado na pesquisa. Quanto aos meios, trata-se de pesquisa
documental de acordo com o preconizado por Gil (2010). A abordagem do problema é de natureza
quantitativa, que segundo Richardson (1999) emprega técnicas estatísticas no tratamento dos
dados.
3.1 Hipóteses
A análise da governança corporativa, incluindo-se a transparência da administração, tem se
tornado um fator chave para conhecer as grandes empresas, além de “ser apontada como um
indicador de confiança dos investidores nas decisões tomadas pela administração das empresas
listadas em bolsas de valores” (Mendes-da-Silva, & Grzybovski, 2006, p. 46).
Incluem-se nesse contexto as companhias familiares listadas na BM&FBovespa, que também
devem estar atentas a esses aspectos, mesmo possuindo características conservadoras quanto a
forma de gestão e coordenação de suas atividades. Isso deve ser considerado apesar de sua
estrutura de propriedade ser de controle concentrado, definido por um único acionista controlador
ou por controle compartilhado por membros da mesma família (La Porta, Lopez-de-Silanes, &
Shleifer, 1999).
Estudos anteriores realizados por Dani, Beck, Almeida-Santos e Lavarda (2013) em empresas
familiares e por Beuren, Dani, Dal Vesco e Krespi (2013) em empresas não familiares, apontam que
a prática do Board Interlocking pode ser considerada como um mecanismo de governança
corporativa. Segundo Beuren et al. (2013, p. 314), “essa prática associa-se a necessidade constante
de fluxos de informações financeiras, sustentáveis e gerenciais por parte dos membros de seus
conselhos, visando a melhoria do controle interno e atendimento de interesses dos diversos
usuários”.
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Por outro lado, algumas características das empresas familiares as diferenciam de forma
negativa das não familiares, que podem impedir que membros dessas empresas alterem sua postura
e realizem uma migração para outras empresas, ou mesmo a prática do Board Interlocking. Dentre
as características negativas destaca-se a gestão centralizada, autoritária e intuitiva (Welsh, & Raven,
2006) e o jogo de poder, que às vezes faz valer mais a habilidade política ou o fato de ser da família
do que a capacidade administrativa (Lodi, 1998).
Ressalta-se que não há um consenso na literatura de que as empresas familiares brasileiras
sejam menos propensas a ocorrência da prática do Board Interlocking do que as não familiares, pelo
fato de ser um assunto ainda pouco difundido na literatura nacional.
Nesta pesquisa, parte-se da premissa de que as companhias brasileiras que possuem estrutura
de propriedade com controle familiar são menos propensas a possuírem membros em comum, com
laços de parentesco ocupando cargos concomitantemente em outras empresas, devido ao fato de
possuírem, em sua grande maioria, uma estrutura de propriedade com controle e capital
concentrado e com um modelo de gestão conservador. Mesmo que existam fatores externos de
mercado que influenciam nas decisões empresariais, no caso das empresas familiares a natureza
controladora e centralizadora se sobrepõe a tendência do Board Interlocking comum em empresas
não familiares.
Para tanto, busca-se averiguar essa relação pretendida, pelo fato de as empresas familiares
brasileiras possuírem necessidades e peculiaridades que as diferenciam das demais, e tornam sua
estrutura de propriedade e governança corporativa únicas. A partir desse ambiente, formularam-se
as seguintes hipóteses da pesquisa:
H0: Companhias que possuem estrutura de propriedade com controle familiar não são
propensas a ocorrência do Board Interlocking.
H1: Companhias que possuem estrutura de propriedade com controle familiar são propensas a
ocorrência do Board Interlocking.
3.2 Variáveis Utilizadas
Com vistas ao atendimento do objetivo proposto no estudo, definiu-se um conjunto de 15
variáveis que foram segmentadas em dois grupos. O primeiro grupo refere-se as variáveis de
caracterização das empresas. O segundo grupo refere-se as variáveis que caracterizam a prática do
Board Interlocking em empresas com estrutura de propriedade familiar. Nesse sentido destaca-se
individualmente cada variável utilizada e sua descrição:
Grupo 1 - Variáveis relacionadas às características das empresas com estrutura de propriedade
familiar (determinantes):
M. ADM - Número de membros no conselho de administração;
ANO - Variável binária indicando o período correspondente às informações coletadas, sendo os anos
de 2010 e 2011;
C. F. - Número de membros do conselho fiscal;
M. COMITÊ AUDITORIA - Número de membros do comitê de auditoria;
M. DIRET. - Número de membros da diretoria;
M. INDEPENDENTES - Número de membros independentes;
M. OUTROS COMITÊS - Número de membros componentes de outros comitês;
OUTROS CONSELHEIROS - Número de membros integrantes de outros comitês;
TAM - Tamanho da empresa, medida pelo total do ativo.
Grupo 2 - Variáveis do Board Interlocking de empresas com estrutura de propriedade familiar:
BOARD INTERLOCKING - Variável binária indicando se a empresa possui ao menos um conselheiro de
outra companhia;
CEOCHAIR - Número de Board Interlocking ocorridos com membros de diferentes setores dentro da
própria companhia;
R. COM 1 GRAU DE PARENTESCO - Número de relações de parentesco de 1º grau entre os membros
que compõem o conselho de cada empresa;
R. COM 2 GRAU DE PARENTESCO - Número de relações de parentesco de 2º grau entre os membros
que compõem o conselho de cada empresa.
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doi: 10.5329/RECADM.2014022
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Relação entre as práticas do board interlocking e características de empresas de estrutura de
propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
Dos estudos relacionados à pratica do Board Interlocking, acima apresentados, como marco
teórico destaca-se o estudo realizado por Santos e Silveira (2007), que avaliaram a presença da
prática do Board Interlocking nas empresas brasileiras. Além disso, identificaram as características
financeiras e de controle e gestão das companhias que estavam associadas à existência em maior
ou menor grau dessa prática. Por último, verificaram a influência do fenômeno sobre o valor e
desempenho das empresas. Assim, neste estudo utilizaram-se variáveis semelhantes aquelas
selecionadas por Santos e Silveira (2007).
Dentre as variáveis utilizadas no estudo de Santos e Silveira (2007), destaca-se para esta
pesquisa o INTERLOCK como variável dependente (indicando se a empresa possui ao menos um
conselheiro que atua também no conselho de outra companhia). Tendo por base a definição
apresentada por Mizruchi (1996), consideraram-se nesta pesquisa os membros participantes nos
seguintes cargos concomitantes: diretoria (D.); conselho de administração (C.A.); conselho fiscal
(C.F.); outros conselheiros (O.C.).
Como variáveis explicativas, utilizaram-se: SETOR (indicando o setor ao qual a companhia
pertence); ANO (indicando o ano analisado); TAMCONS (número de membros no conselho de
administração); INDEP (grau de independência, calculado como porcentagem de conselheiros
externos menos a porcentagem de conselheiros internos); CEOCHAIR (indicando se a empresa
possui o mesmo profissional nos cargos de diretor executivo e presidente do conselho de
administração); CONTROL (porcentagem de ações ordinárias em posse do bloco controlador); outras
variáveis relacionadas ao desempenho das companhias.
No presente estudo optou-se por dividir as variáveis em dois grupos principais, sendo o
primeiro grupo formado pelas variáveis relacionadas às características das empresas com estrutura
de propriedade familiar (variáveis grupo 2); e num segundo grupo aquelas relacionadas ao Board
Interlocking (variáveis grupo 1).Destaca-se que todas as empresas analisadas estão listadas nos
níveis de governança. Isso pressupõe que as empresas analisadas possuem membros nos conselhos
com alta reputação no mercado de gestão corporativa e, por essa razão, são convidados a
desempenhar cargos em outras companhias, podendo ter uma considerável participação no
conselho das companhias (Santos, & Silveira, 2007).
3.3 Universo e Amostra
O universo da pesquisa compõe-se das 100 companhias com ações mais negociadas na
BM&FBovespa, classificadas pela Revista Capital Aberto em edição especial, denominada Anuário de
Governança Corporativa das companhias abertas do ano de 2010. Presume-se que estas
companhias, devido ao seu porte, apresentam ligações entre conselheiros de empresas. Investigar
as implicações das ligações existentes entre conselheiros é uma extensão natural da literatura de
governança corporativa (Stuart, & Yim, 2010).
Neste universo de 100 companhias foram investigadas 23 empresas classificadas pelo anuário
como familiares. A seleção da amostra foi realizada intencionalmente em função do tipo de
propriedade e controle das empresas. Essas empresas possuem uma tendência de apresentar uma
estrutura de propriedade mais concentrada. No estudo focalizou-se a relação do Board Interlocking e
características das empresas familiares, portanto, na delimitação da amostra consideraram-se
empresas com estrutura de propriedade e controle familiar.
3.4 Coleta dos Dados
Os dados referentes as 23 empresas da amostra foram coletados nos relatórios financeiros de
2010 e 2011, disponíveis no sítio da BM&FBovespa. Nos Formulários de Referência coletaram-se os
dados relativos a composição dos conselhos das empresas e do grau de parentesco dos membros
diretivos das empresas. Coletaram-se também dados no Anuário de Governança Corporativa das
companhias abertas do ano de 2010.
3.5 Procedimentos de Análise dos Dados
Por meio de estatística descritiva busca-se identificar os aspectos das empresas componentes
da amostra no que tange ao setor de atuação, a caracterização da prática do Board Interlocking, o
mapeamento das relações entre as empresas e seus membros, e as relações familiares nos
conselhos das empresas analisadas. Com a análise da correlação busca-se verificar se existe relação
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Il se Mar ia Be ur en, André ia Car pes Dani, F r anciel e Beck
entre a prática do Board Interlocking e as características de empresas de estrutura de propriedade e
controle familiar. Destaca-se que o procedimento estatístico foi realizado com o auxílio do software
SPSS.
4 Descrição e Análise dos Resultados
4.1 Estatística Descritiva
Na Tabela 1 evidenciam-se os diferentes setores de atuação das empresas componentes da
amostra, conforme classificação da BM&FBovespa em 2011.
Observa-se na Tabela 1, que os setores econômicos de construção e transporte e de materiais
básicos foram aqueles que apresentaram maior participação relativa na amostra de empresas com
controle do tipo familiar analisadas. Destacaram-se os segmentos de construção civil e de papel e
celulose, ambos com 13,04% de frequência, ou seja, são os setores mais presentes na amostra. Em
contrapartida, observa-se que os demais setores apresentaram uma frequência relativa menor, com
4,35%, totalizando 18 empresas. Observa-se que a amostra não está concentrada em setores
específicos, e que de forma geral apresenta empresas nos mais diversos segmentos do mercado.
Para o levantamento da prática do Board Interlocking nas empresas analisadas, buscou-se
identificar primeiramente a caracterização destes membros e conselhos, no que se refere ao cargo
que ocupam. A Lei n°. 10.303/01, que altera dispositivos da Lei n°. 6.385/76 e da Lei n°. 6.404/76,
aponta em seu art. 147, parágrafo terceiro, que o conselheiro da empresa preferencialmente não
deve ocupar cargos em empresas concorrentes, principalmente se estes cargos relacionarem-se ao
conselho consultivo, de administração e fiscal.
Tabela 1
Setor de atuação das em presas com controle fam iliar com ponentes da am ostra
Setor
Segm ento
Utilidade pública
Financeiro e Outros
Energia Elétrica
Bancos
Holding de
Participações
Seguros
Consumo não Cíclico
Alimentos
Saúde
Bens Industriais
Aviação
Comércio
Material e Transporte
Maquinas e
equipamentos
Construção e Transporte Construção Civil
Materiais Básicos
Metalurgia e Siderurgia
Papel e Celulose
Materiais Diversos
Mineração
Petroquímicos e
Borracha
Total
Nota. Fonte: Dados da pesquisa.
Frequênci
a
Absoluta
1
1
1
Frequência
Absoluta
Frequência
Relativa
4,35%
4,35%
4,35%
1
2
3
1
2
1
1
1
1
2
4,35%
8,70%
4,35%
4,35%
4,35%
4,35%
8,70%
4
6
7
8
9
10
12
3
2
3
1
1
1
13,04%
8,70%
13,04%
4,35%
4,35%
4,35%
15
17
20
21
22
23
23
100%
-
Visto que os estudos de Fich e White (2005) e Santos e Silveira (2007) apontam que a
participação em conselhos múltiplos pode se refletir em falta de tempo para execução das tarefas
dos conselheiros, e poder de influência em decisões estratégicas, considerou-se para a prática do
Board Interlocking os membros participantes nos seguintes cargos concomitantes: diretoria (D.);
conselho de administração (C.A.); conselho fiscal (C.F.); outros conselheiros (O.C.). Na Figura 1
demonstra-se a participação de membros em conselhos múltiplos identificada na pesquisa
documental realizada.
Verifica-se a prática do Board Interlocking em aproximadamente 57% das 23 empresas da
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propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
amostra, o que indica ser uma prática comum entre as empresas analisadas. Os membros em sua
maioria atuam concomitantemente no conselho de administração nas empresas. No entanto, mesmo
que de forma menos expressiva, esta prática ocorre também com membros dos cargos de diretoria,
outros conselheiros e conselho fiscal.
Este levantamento compreende os exercícios de 2010 e 2011, não sendo apontadas muitas
alterações entre as relações e cargos, o que se justifica em função da renovação dos conselhos
variar de empresa para empresa, bem como pode ser motivada por uma decisão do conselheiro. Por
exemplo, o conselheiro da TAM em 2010, Sr. André Santos Esteves, apresentou em 2011
participação tanto no conselho de administração da empresa TAM como no Banco Panamericano.
Neste sentido, a Figura 2, busca mapear a relação verificada entre as empresas no terceiro trimestre
de 2011, indicando os membros que configuram estas relações.
Membro
Affonso Celso Pastore
André Santos Esteves
Carlos Roberto de
Albuquerque Sá
Eduardo Grande
Bittencourt
Egon Handel
Eike Fuhrken Batista
Eliezer Batista da Silva
Luiz do Amaral de
França Pereira
Ano 2011
Empresa
EVEN
GERDAU
PANAMERICANO
TAM
MINERVA
MARFRIG
MARCOPOLO
WEG
Cargo
C.A.
C.A.
C.A.
C.A.
D.
C.F.
C.F.
C.F.
MPX
MARCOPOLO
MMX
MPX
MMX
MPX
MMX
MPX
C.A.
C.F.
C.A.
C.A.
O.C.
C.A.
C.A.
C.A.
Ano 2010
Empresa
EVEN
TAM
Cargo
C.A.
C.A.
-
-
MARCOPOLO
WEG
GERDAU
GERDAU
MARCOPOLO
MMX
MPX
MMX
MPX
MMX
MPX
C.F.
C.F.
C.F.
C.F.
C.F.
C.A.
C.A.
O.C.
C.A.
C.A.
C.A.
C.A.
SUZANO
C.A.
C.A. e
TAM
C.A.
D.
SUZANO
C.A.
SUZANO
C.A.
Nildemar Secches
WEG
C.A.
WEG
C.A.
GERDAU
C.A.
GERDAU
C.A.
Oscar de Paula
LOCALIZA
C.A.
LOCALIZA
C.A.
Bernardes Neto
SUZANO
C.A.
SUZANO
C.A.
MMX
C.A.
MMX
C.A.
Samir Zraick
MPX
C.A.
MPX
C.A.
EVEN
C.F.
EVEN
C.F.
Sérgio Bernstein
IGUATEMI
C.A.
IGUATEMI
C.F.
Figura 1 - Relação de membros participantes simultaneamente em duas ou mais empresas
Nota. Fonte: Dados da pesquisa.
Marco Antônio Bologna
SUZANO
TAM
A Figura 2 mostra que em sua maioria as relações entre os conselhos são estabelecidas por um
membro em comum, e que há predominância do membro atuar em apenas duas empresas.
Ocorrem, no entanto, particularidades nos quesitos apresentados em relação ao membro Sr. Oscar
de Paula Bernardes Neto, que atua no conselho de administração das empresas Localiza, Gerdau e
Suzano. Verifica-se também um caso isolado na ligação entre as empresas MMX e MPX, em que há
participação nestas de quatro membros em comum.
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MINERVA
MARFRIG
BANCO
PANAMERICANO
Carlos Roberto de
Albuquerque Sá
MMX
André Santos Esteves
Eike Fuhrken Batista
Eliezer Batista da Silva
Luiz do Amaral de F. Pereira
Samir Zraick
TAM
MPX
LOCALIZA
Marco Antônio
Bologna
Oscar de Paula
Bernardes Neto
GERDAU
Sérgio Bernstein
IGUATEMI
Egon Handel
MARCOPOLO
SUZANO
Afonso Celso Pastore
EVEN
EduardoGrande Bittencourt
Nildemar Secches
WEG
Figura 2 – Mapeamento das empresas interligadas em 2011
Nota. Fonte: Dados da pesquisa.
Pontua-se ainda a ocorrência de grau de parentesco entre dois conselheiros: Sr. Eike Fuhrken
Batista e Sr. Eliezer Batista da Silva. Esse achado leva à análise de ocorrência de relação de
parentesco entre os membros do conselho e a direção das empresas analisadas, pontuando ainda,
que se trata de empresas familiares, ou seja, as características familiares transpassam a estrutura
de propriedade (Boff, Beuren, & Hein, 2009). Neste sentido apresenta-se na Tabela 2 o número de
relações de parentesco verificadas entre os membros (diretores e conselheiros) nas empresas
analisadas.
Tabela 2
Núm ero de relações de parentesco entre os m em bros do conselho e diretores
2011
2010
N°. de
N°. de
N°. de
N°. de
Em presa
Relações de
Relações de
Relações de
Relações de
1° Grau
2° Grau
1° Grau
2° Grau
AMIL
0
0
0
0
BRASKEM
21
12
21
12
SID NACIONAL
5
0
0
0
EVEN
1
0
1
0
GERDAU
14
0
14
0
GOL
16
0
16
0
IGUATEMI
7
0
7
0
ITAUSA
7
0
7
0
JHSF
3
0
3
0
KLABIN
15
0
15
0
LOCALIZA
2
0
2
0
MARCOPOLO
1
0
1
0
MARFRIG
1
1
1
1
MINERVA
43
0
3
0
MMX
2
0
2
0
MPX
1
0
1
0
MRV
3
0
3
0
PANAMERICANO
0
0
0
0
PORTO SEGURO
0
0
0
0
RANDON
7
0
7
0
SUZANO
14
0
4
0
TAM
6
0
6
6
WEG
1
0
1
0
Nota. Fonte: Dados da pesquisa.
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propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
Observa-se na Tabela 2, que a grande maioria das empresas da amostra apresenta relação de
parentesco entre os membros que compõem a direção e conselho da empresa, bem como a
predominância de relações de parentescos de 1° grau. Estas informações configuram-se como
características desta amostra e fazem parte na análise estatística utilizada.
4.2 Correlação das Variáveis
Antes de se proceder à análise de correlação das variáveis, faz-se necessário verificar se as
mesmas seguem uma distribuição normal, a fim de obter uma representação mais fidedigna dos
coeficientes de correlação. Nesta perspectiva, aplicou-se o teste não paramétrico de KolmogorovSmirnov, para testar as seguintes hipóteses:
H0: Os dados seguem uma distribuição normal.
H1: Os dados não seguem uma distribuição normal.
Tabela 3
Teste não param étrico de Kolm ogorov-Sm irnov
Total N
Absoluta
Diferenças Mais Extremas
Positiva
Negativa
Estatistica do Teste
Sig.
Nota. Outputs do SPSS 20.0. Fonte: Dados da pesquisa.
23
0,351
0,337
-0,351
1,685
0,007
Observa-se na Tabela 3 que o resultado do p-value do teste em destaque é menor que 5% (p <
0,05), nível de significância assumido para o teste da hipótese nula, H0, isto é, p=0,007<p=0,05,
levando à rejeição da mesma, ou seja, os dados não seguem uma distribuição normal, sendo,
portanto, recomendável a aplicação do teste de correlação de Spearman, o qual despreza o
pressuposto de normalidade dos dados, e devido à quantidade dos casos em observação (N=23).
Na Tabela 4 apresenta-se a correlação entre as variáveis que representam o Board Interlocking
e os determinantes da estrutura de propriedade.
Tabela 4
Correlação de Spearman das variáveis
Estrutura Fam iliar
Board Interlocking
X01
X02
X03
X04
X05
X06
X07
Y01
Y02
Y03
Y04
X01
1,000
,459*
-,215
,452*
,085
,144
,412
-,257
,148
,380
,280
X02
1,000
-,239
,203
-,190
,094
,258
-,222
,177
,105
,036
X03
1,000
-,076
-,228
-,036
-,307
,116
,111
,035
-,162
X04
1,000
,018
,147
,315
,045
,189
,125
,353
X05
1,000
-,140
,271
,050
,390
-,306
,144
X06
1,000
,163
,438*
,243
,205
,335
X07
1,000
,097
,034
,177
,350
Y01
1,000
,191
-,204
,088
Y02
1,000
-,157
-,084
Y03
1,000
,110
Y04
1,000
Nota. *Coeficiente de correlação de Spearman assume o valor significativo de 5% (p < 0,05) entre
as variáveis.
Legenda: Determinantes da estrutura de propriedade: X01: M. ADM.; X02: M. DIRET.; X03: Outros
Conselheiros; X04: C.F.; X05: M. Comitê Auditoria; X06: M. Outros Comitês; X07: TAM. Variáveis do
BoardInterlocking: Y01: CEOCHAIR; Y02: R. COM 1 Grau de Parentesco; Y03: R. COM 2 Grau de
Parentesco.
Fonte: Dados da pesquisa.
Na Tabela 4, verificam-se as correlações positivas entre os determinantes da estrutura de
propriedade X01 (M. ADM) e X02 (M. DIREC.) de 0,459*, bem como da variável X01 (M. ADM.) e X04
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(C. F.) de 0,452 a um nível de significância de 5%. Na correlação das variáveis do Board Interlocking,
observa-se uma correlação positiva entre as variáveis X06 (Outros comitês) e Y01 (CEOCHAIR) de
0,438*. Nota-se que existe uma correlação baixa entre Board Interlocking e características das
empresas com estrutura e controle familiar, visto que essa relação é representada apenas pela
variável CEOCHAIR, ou seja, nas companhias que possuem controle do tipo familiar, a prática do
Board Interlocking ocorridos com membros de diferentes setores dentro da própria companhia é
recorrente. De modo geral, as empresas listadas nos níveis de governança corporativa da
BM&FBovespa, no ano de 2010, que possuem estrutura de propriedade e controle familiar,
apresentam a prática do Board Interlocking pelos membros dos conselhos de administração,
diretoria e demais comitês, pois ocupam cargos simultaneamente em diferentes empresas. Nota-se
que, embora as empresas familiares tenham uma forma de gestão mais conservadora, essa
característica pode não estar sempre atrelada aos relacionamentos de seus membros.
A partir das definições do Board Interlocking apresentadas por Mizruchi (1996), Heng e Gygax
(2009) e Szalacha (2010), especula-se que companhias que possuem membros em comum com
laços de parentesco (fundadores, investidores) podem ocupar cargos em conselhos de outras
empresas não familiares ao mesmo tempo, visando promover interesses próprios e coletivos,
podendo ser a continuidade dessas companhias, a permanência nesses cargos, ou mesmo a
transferência de uma cultura menos conservadora.
Os membros de empresas familiares participarem em conselhos de outras empresas, seja na
diretoria, no conselho de administração, no conselho fiscal ou como outros conselheiros, pode se
apresentar como uma nova tendência do mercado. Isso implica ultrapassar as relações de
parentesco, para acompanhar características mais recentes do mercado de capitais brasileiro,
sinalizando práticas ambientais semelhantes e renovação dos decisores em virtude da
competitividade dos mercados (Dani et al., 2013).
Do exposto e dos resultados da pesquisa, depreende-se que as companhias brasileiras
pesquisadas que possuem estrutura de propriedade com controle familiar são propensas a
possuírem membros de seus conselhos participando em conselhos de outras empresas, o que
caracteriza a prática do Board Interlocking. Desse modo, rejeita-se a hipótese H0: Companhias que
possuem estrutura de propriedade com controle familiar não são propensas a ocorrência do Board
Interlocking, o que permite aceitar a hipótese H1.
Esperava-se que em empresas familiares, em virtude da tendência de estrutura de propriedade
e controle mais concentrado, não fosse significativa essa prática pelos membros diretivos. Todavia,
os resultados desta pesquisa convergem com os do estudo realizado no Brasil por Santos e Silveira
(2007) no que diz respeito à ocorrência da prática do Board Interlocking em companhias com
conselhos de administração maiores. Destaca-se que no presente estudo foi constatado que as
companhias de maior porte tendem a possuir conselhos com maior número de profissionais
provenientes de outras companhias.
5 Conclusões
Este estudo buscou verificar a relação entre as práticas do Board Interlocking e características
de empresas de estrutura de propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBovespa.
Para tanto, abordam-se aspectos teóricos relacionados a estrutura de propriedade e controle,
empresas familiares e prática do Board Interlocking, ressaltando a importância da temática no
contexto brasileiro, bem como o papel das empresas com controle do tipo familiar, que possuem a
característica principal de possuírem controle concentrado.
Na análise dos dados oriundos da pesquisa documental, observou-se por meio da estatística
descritiva que os setores de construção e transporte e de materiais básicos foram os que
apresentaram maior participação em relação ao total de empresas analisadas, com 13,04% da
amostra. Isto indica que a amostra não está concentrada em um setor específico, ao contrário,
contempla diversos setores de forma relativamente equilibrada.
Outro aspecto analisado foi a participação de membros em diferentes conselhos. Constatou-se
a prática do Board Interlocking em 57% das empresas da amostra, o que indica ser uma prática
comum. Os membros, em sua maioria, atuam concomitantemente no conselho de administração das
empresas. Mesmo que de forma menos expressiva, esta prática ocorre também com membros dos
cargos de diretoria, outros conselheiros e conselho fiscal.
Um mapeamento das empresas interligadas em 2011 foi realizado devido a membros em
comum. Verificou-se que a maioria das relações entre os conselhos é estabelecida por um membro
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Relação entre as práticas do board interlocking e características de empresas de estrutura de
propriedade familiar com ações mais negociadas na BM&FBOVESPA
em comum, e que há predominância da atuação dos membros em apenas duas empresas, embora
haja empresas com maior presença de membros simultaneamente, como é o caso das empresas
MMX e MPX, em que há participação de quatro membros em comum.
Constatou-se também a ocorrência de relação de parentesco entre os membros do conselho e
a direção das empresas analisadas. Por se tratar de empresas com controle familiar, denota-se que
as características familiares transpassam a estrutura de propriedade, e que ocorre predominância de
relações de parentesco de 1°grau nas empresas da amostra.
Por fim, verificou-se a relação entre os conjuntos de variáveis delineadas para análise, por
meio de correlação. Os valores demonstram relação entre algumas das variáveis analisadas, isto é,
há relação em nível baixo entre o Board Interlocking e características das empresas com estrutura e
controle familiar.Conclui-se que nas empresas de estrutura de propriedade familiar pesquisadas,
classificadas entre as 100 maiores empresas listadas nos níveis de governança corporativa da
BM&FBovespa, verifica-se a prática do Board Interlocking pelos membros do conselho de
administração, diretoria e conselho fiscal. Tal decorre do fato de membros de uma empresa
ocuparem cargos simultaneamente em outras empresas, mesmo com características de empresas
de propriedade e controle familiar.
Os resultados reforçam a ideia de que companhias de maior porte tendem a possuir conselhos
com mais profissionais provenientes de outras companhias, conforme constatado na pesquisa de
Santos e Silveira (2007). Os achados da pesquisa sugerem ainda a existência de fluxos de
informação entre estas empresas, conforme preconizado por Szalacha (2010). Esperava-se que em
empresas familiares, devido a tendência de capital e controle mais concentrado, não fosse
significativa a prática do Board Interlocking pelos membros diretivos.
Com base nos resultados da pesquisa rejeita-se a hipótese H0, de que companhias que
possuem estrutura de propriedade com controle familiar não são propensas a ocorrência do board
interlocking, e desta forma, aceita a H1. Confirma-se, assim, que o Board Interlocking é uma prática
comum dos membros dos conselhos de administração, diretoria e demais comitês das empresas
familiares brasileiras pesquisadas. No entanto, os resultados desta pesquisa não podem ser
extrapolados para além da amostra pesquisa e estão limitados a estratégia e procedimentos de
pesquisa adotados neste estudo.
Os resultados da pesquisa, se de um lado não coadunam com o esperado, de outro sinalizam a
configuração de aspectos relevantes para a caracterização e desenvolvimento do mercado de
capitais brasileiro, além de inspirar novas pesquisas sobre o tema. Recomenda-se que em futuras
pesquisas seja realizada uma comparação entre empresas que possuem estrutura de propriedade
com controle concentrado e pulverizado, por estas possuírem características diferenciadas. Além
disso, seria interessante relacionar outros fatores à prática do Board Interlocking, no sentido de
buscar explicações para essa prática nas empresas.
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