ataques ao charlie hebdo pela perspectiva do jornal nacional
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ataques ao charlie hebdo pela perspectiva do jornal nacional
III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 ATAQUES AO CHARLIE HEBDO PELA PERSPECTIVA DO JORNAL NACIONAL Gabriela Pandeló Paiva1 RESUMO: No dia 7 de janeiro de 2015 a sede do jornal francês Charlie Hebdo foi atacada por um grupo de indivíduos que foram considerados pela imprensa e Chefes de Estado como “terroristas”. A repercussão nos meios de comunicação com o slogan "Je suis Charlie" tomou conta das manchetes por muitos dias. O Jornal Nacional, principal programa jornalístico da televisão brasileira, transmitiu reportagens sobre o caso durante boa parte de sua programação, por cerca de uma semana. Compreendendo que a mídia sempre deu grande espaço à cobertura de atentados, tal trabalho procura compreender o caso em específico ocorrido na França na forma como ele foi coberto pelo programa em questão. Procura-se buscar o enquadramento dado ao acontecimento e quais as suas saliências, assim será possível a compreensão da imagem construída a respeito dos indivíduos envolvidos nos acontecimentos. Busca-se portanto, entender principalmente a construção de imagens opostas entre os considerados como “vítimas” e os considerados como “terroristas” e, dessa forma, chegar a um breve entendimento do que há por trás desta categoria e como ela é construída. PALAVRAS-CHAVE: Charlie Hebdo; Jornal Nacional; Enquadramento. 1 Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Email: [email protected] III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 INTRODUÇÃO Em 7 de janeiro de 2015, a sede do jornal Charlie Hebdo foi invadida por dois homens que atiraram em membros de sua equipe. O saldo final do evento foi de 12 mortos, incluindo o editor chefe do jornal e quatro de seus principais cartunistas, bem como dois policiais franceses, e mais 11 feridos. A motivação do ataque seria o descontentamento com as sátiras do jornal sobre a religião muçulmana, especialmente sobre o profeta Maomé. Este evento abalou milhões de pessoas ao redor do mundo. Atribuída a qualidade de “terrorista” ao ataque, as autoridades reforçaram a segurança de lugares estratégicos e saíram em busca dos responsáveis. Os jornalistas, em especial, questionaram o direito à liberdade de expressão e se inconformaram com o ódio que uma charge teria causado. O Jornal Nacional, considerado o principal jornal televisivo do país, cobriu de perto as repercussões do ocorrido, não apenas na França, mas também em outros países, transmitindo assim um conjunto de reportagens sobre as variadas consequências geradas. JE SUIS CHARLIE A sede do jornal francês Charlie Hebdo foi invadida, em 7 de janeiro de 2015, por dois homens encapuzados que clamavam vingar o profeta Maomé. Doze pessoas morreram, incluindo os principais nomes do jornal, e mais onze ficaram feridas. Esse ato foi considerado terrorista e mobilizou toda a força de segurança francesa para encontrar os culpados. Estes, eram os irmãos Said e Chérif Kouachi, franceses de origem argelina, e que se disseram financiados pela Al-Qaeda do Iêmen. A reação mundial sobre os ocorridos foi a de uma afronta à liberdade de expressão, já que o jornal, de teor satírico, tem o costume de debochar de diferentes religiões e temáticas. Essa, entretanto, não fora a primeira vez que muçulmanos atacaram o jornal pelo mesmo motivo. O slogan “Je suis Charlie” então nasceu e se propagou mundo afora III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 por pessoas que se solidarizaram com as vítimas do ataque e que defendiam o direito à liberdade de expressão. No dia 9 de janeiro, dois dias depois da invasão à sede do jornal, Amedy Coulibaly, invadiu um mercado de produtos judaicos também em Paris, fazendo vários reféns. Muçulmano e anti-semita, Amedy matou quatro pessoas, disse estar ao lado dos irmãos Kouachi e ser financiado pelo Estado Islâmico. Ele foi morto pela polícia que invadiu o mercado para liberar os reféns. Ainda no dia 9, os irmãos Kouachi que estavam escondidos em uma gráfica, disseram à polícia que preferiam morrer a se entregar. Após serem induzidos a saírem pelas bombas de efeito moral, trocaram tiros com os policiais e os dois foram mortos. A polícia francesa reforçou a segurança em todo o território, principalmente nas sedes de jornais e em lugares com alta concentração de pessoas judias. O governo francês contou com o apoio de diferentes países, entre eles dos Estados Unidos - país traumatizado pelo atentado terrorista do 11 de setembro de 2001. Na mesma semana, os jornalistas que se auto intitularam “os sobreviventes” do Charlie Hebdo se reuniram para preparar a edição seguinte do jornal. Receberam o apoio em massa da imprensa francesa e mundial e declararam não mudar em nada a temática de sua linha de humor. Muitas manifestações de apoio e solidariedade aconteceram em várias cidades do mundo durante pelo menos uma semana. Algumas pessoas se utilizaram do slogan “Je suis Ahmed”, para o policial muçulmano morto a queima roupa pelos irmãos Kouachi. A comunidade judaica em todo o mundo ficou estarrecida com a manifestação antissemita do ataque ao mercado. Os corpos das quatro pessoas ali mortas, foram enterrados em Jerusalém em uma cerimônia tradicional que gerou forte comoção. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 Pode-se dizer, finalmente, que esse atentado levantou alguns pontos importantes para a reflexão. Em um primeiro plano, pensa-se no direito à liberdade de expressão, na radicalização de membros do islã, no antissemitismo. De forma menos evidente, suscitou um debate sobre o grande número de muçulmanos que habitam a Europa e sua conflituosa integração na sociedade europeia. MÍDIA NO BRASIL A mídia tem como papel fundamental servir de fonte de informação para os cidadãos. Pressupõe-se, por sua vez, que esta atue de maneira imparcial e objetiva a fim de garantir o funcionamento do sistema democrático. Porto (2004) afirma que a mídia tem a função de impedir a propagação de valores e ideologias, principalmente aquelas que concernem aos proprietários dos meios de comunicação, na veiculação de temas políticos, já que esta prática modificaria a objetividade do tema, bem como poderia, de maneira imparcial, favorecer grupos e partidos específicos. Hackett (PORTO, 2004 apud HACKETT, 1993) adiciona ainda outro fator que compromete o conteúdo veiculado, que é a sua produção a partir de uma matriz ideológica limitada. Segundo Azevedo (2006), os meios de comunicação no país apresentam aspectos peculiares: cerca de quinze grupos familiares controlam 90% da mídia no Brasil. Adicionado a isso, é pertinente ressaltar que parte das emissoras de rádio e televisão regionais e locais são controladas por políticos. Existe, portanto, um “coronelismo eletrônico” de interesses pessoais e partidários na veiculação midiática nacional, onde não ocorre uma diversificação de fontes, nem de opiniões, gerando então uma estagnação desse sistema e de sua articulação com o sistema político. Em resumo, o monopólio familiar, a propriedade cruzada dos principais meios de comunicação de massa, o controle parcial de redes locais e regionais de TV e rádio por políticos profissionais, e a inexistência de uma imprensa partidária ligada a interesses sociais minoritários com alguma expressão nacional faz com que nosso sistema de mídia apresente ainda, depois de mais de duas décadas do retorno à democracia, uma reduzida e precária diversidade externa. Este quadro adverso na oferta de fontes diversificadas de informação e opinião converte automaticamente a questão da diversidade interna num dos III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 pontos cruciais no exame da articulação entre o nosso sistema de mídia e o sistema político. (AZEVEDO, 2004) Ainda em relação à questão da propriedade privada, pode-se dizer que é um fator ameaçador à liberdade de expressão, já que o conteúdo produzido em um veículo é apenas reproduzido pelos outros da mesma cadeia, dando assim uma falsa impressão de credibilidade informativa. Essa reprodução desenfreada permite que opiniões e valores sejam distribuídos de maneira realista alcançando diversos segmentos da sociedade, limitando, portanto uma variabilidade de opiniões no contexto social (RODRIGUES, 2009). Dessa maneira, pode-se tirar que o sistema de mídia brasileiro é extremamente limitado no sentido de não haver uma pluralidade de valores por trás de cada informação transmitida, apenas uma reprodução constante das ideologias dominantes nas diferentes esferas midiáticas de forma a serem tomadas como verdades. Assim, restringe-se a apreensão do público que se compromete com a falta de argumentos nos quais embasar suas opiniões, sendo então debilitada na construção de um debate político mais profundo. A oligarquia midiática, portanto, exerce seu poder nas esferas política e social através de seus mecanismos de seleção e reprodução de conteúdos. A televisão se consolidou como o principal meio de comunicação de massa no Brasil devido a um processo do Regime Militar de consolidar a indústria de bens culturais, através de investimentos no setor. Concretizou-se nesse período o hábito de se ver televisão, e consequentemente seu papel enquanto indústria cultural (ORTIZ, 1988). Nesse contexto, surgiu a Rede Globo de Televisão, que foi ganhando seu espaço a partir dos anos 60 e manteve sua posição de liderança até os dias de hoje. Em termos de cobertura, a Rede Globo e suas 117 afiliadas estão presentes em todos os estados, cobrindo cerca 5482 municípios, 98,44% do território nacional, e alcançou, em 2011, 99,50% dos telespectadores que possuíam aparelho de televisão no Brasil. Internacionalmente o seu canal possui assinantes em mais de 115 países, a emissora ainda lucra com a venda de seus programas para mais de 130 países. (FERREIRA; SANTANA, 2012, p. 154). III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 Tendo em vista a relevância da Rede Globo de Televisão até os dias de hoje, a importância de programas como o Jornal Nacional é evidente. Este é o principal jornal televisivo da emissora e do Brasil em audiência. Outro fator que aumenta sua importância no cenário nacional é que estes índices são os mais altos da televisão brasileira (PORTO, 2007). O Jornal Nacional, portanto, é uma das principais fontes daqueles cidadãos que buscam obter informações por meio de um veículo de comunicação. Assim, temos que o conteúdo veiculado por essa fonte específica é de extrema importância, visto o destaque que ganha na determinação do grau de saliência em determinados temas na vida das pessoas. Na sua seleção diária e apresentação das notícias, os editores e diretores de redação focam nossa atenção e influenciam nossas percepções naqueles que são as mais importantes questões o dia. Esta habilidade de influenciar a saliência dos tópicos na agenda pública veio a ser chamada da função agendamento dos veículos noticiosos (MCCOMBS, 2009, p. 17). METODOLOGIA A teoria de agenda-setting proposta por McCombs e Shaw foi formulada com o intuito de se testar empiricamente os efeitos da comunicação de massa na preferência política e eleitoral do público. Sua definição, segundo Bernard Cohen (AZEVEDO, 2004 apud COHEN, 1963) consiste na sugestão da imprensa sobre o que o público deve pensar, se referindo ao fato desta selecionar os temas que receberão a atenção da mídia e também do público. A escolha de um assunto em detrimento de outros em certo período de tempo foi chamada por McCombs e Shaw de "agenda da mídia", e os temas considerados importantes pela audiência, de "agenda do público". A confluência das duas em um determinado período configura a agenda-setting. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 A noção de agenda-setting pressupõe alguns paradigmas. Em primeiro lugar, a mídia ao selecionar um assunto e ignorar outro define quais são os temas relevantes para a notícia. Em segundo lugar, a escolha de um tema em detrimento de outro estabelece uma escala de proeminências entre eles. Atrelado ainda a este modelo teórico, se encontra o modelo de enquadramento (framing) que propõe como o público deve pensar certo assunto. (AZEVEDO, 2004, p. 52) A análise dos dados a serem obtidos nesta pesquisa será realizada a partir do modelo de Enquadramentos proposto por Goffman (1986). Este os define como os princípios de organização que governam os eventos sociais e nosso envolvimento nestes eventos. Segundo o autor, tendemos a perceber os eventos e situações de acordo com enquadramentos que nos permitem responder à pergunta: “O que está ocorrendo aqui?” (PORTO, 2004, p. 76 apud GOFFMAN, 1986) Dessa maneira, este conceito é entendido como um marco interpretativo mais geral, construído socialmente, que dá a possibilidade aos indivíduos de dar um sentido às situações sociais, ou seja, é utilizado no estudo de fenômenos sociológicos relacionados à formação de preferências. Robert Hackett (PORTO, 2004 apud HACKETT,1993), defendeu que os conceitos de parcialidade e objetividade estavam obsoletos, pois não é mais viável pressupor uma comunicação imparcial e independente do mundo exterior. Mesmo que estes conceitos tenham seu valor normativo e empírico, o autor propõe uma nova denominação, a de “orientação estruturada” que inclui ao modelo anterior “orientações e relações sistemáticas que, inevitavelmente, estruturam os relatos noticiosos” (PORTO, 2004, p. 75 apud HACKETT, 1993, p. 128). Este autor acredita que a mídia tem a capacidade de desempenhar um papel político e ideológico também quando produzido a partir de uma matriz ideológica limitada. Esta, por sua vez, consiste em um conjunto de valores que são expressos conscientemente ou não pelos emissores de mensagem e que podem possuir ou não uma intenção de manipulação. Um elemento que comanda a III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 produção de notícias são os “enquadramentos” utilizados. Estes são determinantes na interpretação dos fatos, pois guiam o receptor da mensagem de acordo com o conjunto de valores expressados. Tankard (PORTO, 2004, p. 76 apud TANKARD, 2001, p. 96-97) acrescenta que “o conceito de enquadramento oferece um instrumento para examinar empiricamente o papel da mídia na construção da hegemonia, no sentido gramsciano de uma direção intelectual e moral na sociedade civil.” Enquadramentos da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o discurso, seja verbal ou visual, de forma rotineira (GITLIN, 1980, p. 7). Porto (2004) sugere três passos para a realização de uma pesquisa de enquadramento. O primeiro passo é a especificação dos níveis de análise do conceito. Há uma série de denominações propostas pelos autores, e Porto propõe as nomenclaturas de enquadramentos “noticiosos” e “interpretativos”. Os primeiros são padrões de apresentação, seleção e ênfase que os jornalistas adotam para organizarem seus relatos. Já os segundos são “padrões de interpretação que promovem uma avaliação particular de temas e/ou eventos políticos, incluindo definições de problemas, avaliações sobre causas e responsabilidades, recomendações de tratamento etc.” (p. 92) Estas podem ser promovidas por atores sociais e políticos. O segundo passo consiste na identificação das principais controvérsias e os enquadramentos a elas relacionados. Para os enquadramentos interpretativos é importante a identificação das interpretações apresentadas sobre os temas em questão. Posteriormente, deve-se ressaltar que os atores sociais possuem capacidades distintas para influenciar os processos de enquadramento da mídia. O terceiro passo é o desenvolvimento de uma análise sistemática do conteúdo, sendo importante a adoção de categorias de classificação sistemática e protocolos para a codificação do conteúdo de mídia. É recomendável a adoção de um enfoque que integre medidas quantitativas e qualitativas. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 A teoria proposta por Goffman será utilizada à medida que forem identificados os enquadramentos dos vídeos do Jornal Nacional, ou seja, as atribuições centrais positivas e negativas sobre os atentados ao Jornal Charlie Hebdo e a maneira como os atores envolvidos contribuem para a composição do panorama das drogas. Em geral, como na análise de conteúdo, a unidade de observação é a frase ou o parágrafo. Os atributos centrais são definidos, genericamente, como aqueles de interesse crítico para o objeto da matéria, enquanto, obviamente, os atributos secundários são complementares ao objeto. A partir destas definições básicas, trata-se de verificar como os atributos definem a estrutura narrativa da matéria e configuram a imagem do objeto descrito pela matéria (AZEVEDO, 2004, p. 58). Ao coletar as transcrições dos vídeos relacionados ao ataque do Jornal Charlie Hebdo pelo período de uma semana, observa-se os enquadramentos empregados, que por sua vez podem ser positivos, negativos ou neutros. Dessa forma, constrói-se uma compreensão refinada dos eventos de acordo com os paradigmas atribuídos pela Rede Globo de televisão. ANÁLISE Retomando Gitlin (1980), os “enquadramentos da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os manipuladores de símbolos organizam o discurso”. Assim, esta análise pretende identificar quais são estes padrões e de que maneira eles constroem a imagens dos atores envolvidos nos episódios abordados. Partindo do trajeto proposto por Porto (2004), os enquadramentos aqui analisados se encaixam na categoria “noticiosos” do tipo “episódicos”, pois consistem em notícias sobre um episódio específico. São, portanto, resultado de escolhas dos jornalistas sobre o formato da matéria, culminando na ênfase de determinados aspectos de uma realidade. Nos vídeos do Jornal Nacional, foram identificadas duas categorias mais recorrentes de temáticas abordadas sobre o atentado ao jornal Charlie Hebdo, sendo elas III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 terroristas e vítimas e solidariedade. Assim, serão analisados os principais enquadramentos relativos a cada categoria. 1. Terroristas Os ataques ao jornal foram imediatamente considerados atos terroristas. Essa denominação se dá principalmente pela associação dos autores com a religião muçulmana. (...) Na edição dessa semana, o jornal trazia uma entrevista com o escritor que imagina um futuro em que a França se tornaria uma nação islâmica. Antes de atirar, os terroristas perguntavam os nomes das vítimas, entre elas, o editorchefe e três cartunistas. Segundo testemunhas, os terroristas gritaram “vingamos o profeta Maomé!”. Hoje cedo, antes do ataque, o jornal havia postado na internet, uma charge do chefe do grupo extremista Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, que se diz sucessor de Maomé. (ANDRÉ LUIZ AZEVEDO, 7 janeiro 2015, vídeo 1) No vídeo em questão, o correspondente da Globo faz a primeira reportagem acerca dos ataques. O jornalista faz referência a uma entrevista em que um escritor imagina a França como uma nação islâmica. Existe, de fato, um grande número de muçulmanos habitando não só a França, como outros países da Europa. Neste país, em especial, muitos desses indivíduos se originam de países que anteriormente foram colônias francesas, e esse alto número de imigrantes portadores de uma cultura diferente enfrentam há anos dificuldades de integração. Um exemplo que evidencia isso é que em 2011 o ex presidente Nicolas Sarkozy sancionou uma lei em que proibia o uso em público de vestimentas muçulmanas que cobrem parte do rosto das mulheres, e “O Tribunal Europeu de Direitos Humanos entende a necessidade das autoridades ‘de identificar aos indivíduos para prevenir atentados contra a segurança das pessoas e dos bens e lutar contra a fraude de identidade’” (TRIBUNAL EUROPEU APOIA LEI FRANCESA QUE PROÍBE VÉU ISLÂMICO EM PÚBLICO, 2014), evidenciando uma postura preconceituosa das instituições. Outra característica dessa fala se dá ao dizer que os terroristas gritavam “vingar o profeta Maomé”, associando terrorismo e islamismo. O enquadramento desta III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 fala portanto é negativo, pois coloca os muçulmanos como uma ameaça a nacionalidade francesa, bem como associa o terrorismo ao islã. Uma expressão que foi bastante recorrente nos vídeos coletados, é a de “caçada aos terroristas”. Esta, foi proferida não apenas por repórteres do Jornal Nacional, mas também por chefes de Estado. Logo após o atentado, as autoridades francesas deram início a uma caçada aos três terroristas. (HERALDO PEREIRA, 7 janeiro 2015, vídeo 2) O presidente francês foi categórico “vamos caçar os autores deste ato deplorável e eles vão pagar”. (RENATO MACHADO, 7 janeiro 2015, vídeo 6) Obama afirmou que vai ajudar na caça aos responsáveis pelo atentado, e lembrou que a França é aliada mais antiga dos Estados Unidos, e está sempre com os americanos na luta contra o terrorismo. (FÁBIO TURCI, 7 janeiro 2015, vídeo 7) Bem, nós estamos entrando na segunda noite desta caçada aos terroristas aqui na França. (ANDRÉ LUIZ AZEVEDO, 8 janeiro 2015, vídeo 8) Essa expressão tem uma conotação extremamente negativa, associando os culpados a animais que são caçados, muitas vezes por esporte. Essa animalização está relacionada à selvageria, à brutalidade, desqualificando a humanidade dos irmãos Kouachi. Este enquadramento então é negativo. Existe uma tentativa de enfatizar a diferença entre o islamismo do terrorismo. A confusão, mais recorrente do que se gostaria, é preocupante pois gera manifestações de intolerância. Philippe Bolopion da Organização de Defesa dos Direitos Humanos “Human Rights Watch”, disse que é preciso ficar atento para qualquer tipo de reação contra minorias. “Os que cometem esses ataques horríveis”, ele diz, “podem até alegar que estejam agindo em nome do Islã, mas não estão. Temos que condenar os que conduziram e comandaram esse ataque, e mais ninguém.” (FÁBIO TURCI, 7 janeiro 2015, vídeo 7) III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 A Universidade al-Azhar do Egito, considerado o centro teológico sunita mais importante do mundo islâmico, afirmou que a religião muçulmana é contra a violência. (RODRIGO ALVAREZ, 7 janeiro 2015, vídeo 8) Ao mesmo tempo em que buscam os terroristas, a polícia francesa tem que lidar com diversos incidentes: desde ontem foram registrados ataques a mesquitas e a cidadãos de origem árabe. Uma lanchonete árabe, ao lado de uma mesquita foi destruída por uma bomba, na região central da França. (ANDRÉ LUIZ AZEVEDO, 8 janeiro 2015, vídeo 11) A União Europeia advertiu para o risco de se confundirem as palavras “islã” e “terrorismo” (...) O que se teme agora, não só na França, mas em outros países, é uma onda crescente de anti islamismo, de intolerância. Existem movimentos e partidos extremistas que se alimentam do sentimento contra os imigrantes e contra as diferenças religiosas. Esses movimentos ganham força e tudo isso é uma negação do espírito da formação e da convivência que até hoje prevalece na Europa. (RENATO MACHADO, 8 janeiro 2015, vídeo 15) Existe entre os países islâmicos um sentimento de expectativa e preocupação com as consequências com esse ato bárbaro praticado por alguns poucos extremistas pode trazer pros mais de 1 bilhão e 600 milhões de muçulmanos que existem hoje no mundo. Líderes religiosos e políticos entendem que esses grupos têm interesses particulares e uma visão distorcida da religião fundada há treze séculos pelo profeta Maomé. Temem que os terroristas possam prejudicar, de uma forma ou de outra, a todos os seguidores do Islã. (RODRIGO ALVAREZ, 8 janeiro 2015, vídeo 17) [François Hollande] Se referiu aos terroristas como fanáticos, que nada têm a ver com a religião muçulmana. (HERALDO PEREIRA, 9 janeiro 2015, vídeo 24) No Líbano, o líder do grupo Hezbollah classificou a ação dos terroristas de Paris como práticas desumanas e brutais, que ofendem a mensagem religiosa. Hassan Nasrallah disse que os atiradores prejudicaram mais o islamismo, do que o jornal francês. (RODRIGO ALVAREZ, 9 janeiro 2015, vídeo 26) Há também outros desafios: como equilibrar o aumento da vigilância com o respeito às liberdades individuais, sem permitir a marginalização da comunidade islâmica. (ROBERTO KOVALICK, 10 janeiro 2015, vídeo 32) Na Assembleia Nacional, o Primeiro Ministro Manuel Valls declarou mais uma vez que o país está em guerra contra o terrorismo, e não contra o Islã. (ROBERTO KOVALICK,, 13 janeiro 2015, vídeo 38) Esses exemplos deixam evidente tal apreensão, já que atos de ódio geram reações da mesma espécie, e este não deve ser canalizado para os indivíduos errados, reforçando III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 a marginalização dos muçulmanos em toda a Europa. O enquadramento dado aos terroristas é, mais uma vez, negativo. Sobre a morte dos irmãos Kouachi, as reações expressadas demonstram um excessivo desprezo. A vida dessas pessoas é considerada de menos importância que as das demais, revelando assim uma manifestação que vai contra os direitos humanos. Bem, eu fui para o interior, na direção do aeroporto Charles de Gaule, na região de Dammartin-em-Gaele, onde foi feita uma grande operação que finalmente terminou com a morte dos dois irmãos terroristas Said e Chérif Kouachi. (ANDRÉ LUIZ AZEVEDO, 9 janeiro 2015, vídeo 21) [François Hollande] Destacou a bravura dos policiais que trabalharam na operação, e disse sentir orgulho deles. (HERALDO PEREIRA, 9 janeiro 2015, vídeo 24) No discurso, Obama elogiou os policiais franceses envolvidos na caçada aos terroristas. (...) E o Secretário Geral das Nações Unidas também se manifestou hoje. Ban Ki-moon se disse aliviado com a morte dos terroristas e enfatizou que os ataques não estão relacionados a uma guerra ou um conflito entre religiões. Segundo ele são puramente atos criminosos e inaceitáveis (FÁBIO TURCI, 9 janeiro 2015, vídeo 27) Aplica-se aqui a frase “direitos humanos para humanos direitos”, que significa que pessoas consideradas criminosas ou de má índole, não são boas o suficiente para serem tratadas com dignidade. Os enquadramentos apresentados aqui são negativos. 2. Vítimas e solidariedade Esta categoria abrange os enquadramentos referentes às vítimas, bem como as manifestações de solidariedade à elas. É necessário ressaltar desde já que o termo “vítimas” não se refere apenas a indivíduos, mas também a símbolos, sendo a “liberdade de expressão” considerada a principal delas. A primeira vítima a ser aqui mencionada é o próprio jornal Charlie Hebdo. Este, é enfatizado por suas críticas humorísticas de variados tipos. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 O alvo foi a redação de um jornal de humor conhecido em todo mundo pelas sátiras que faz de religião, políticos, da corrupção e dos costumes. (RENATA VASCONCELLOS, 7 janeiro, vídeo 1) O jornal Charlie Hebdo conquistou os franceses pela irreverência, pela criatividade. Ganhou fama mundial pelas sátiras contra o fanatismo religioso, mas também é conhecido pelas críticas que faz sem distinções ideológicas e políticas a todo tipo de opressão. (RENATA VASCONCELLOS, 7 janeiro 2015, vídeo 3) O jornal nasceu na década de 70, e nesses mais de quarenta anos, nunca perdeu o caráter amplamente provocador. Suas charges satirizaram com a mesma acidez, por exemplo, movimentos de esquerda ou de direita, feministas e conservadores, e até as religiões. O jornal semanal fez sátiras ao profeta Maomé, mas também bateu de frente com outras religiões, publicou a própria versão sobre o nascimento de Cristo, mostrou o Papa consagrando uma camisinha, satirizou judeus e muçulmanos, e o tratamento dado pelo governo francês aos imigrantes. (THIAGO ELTZ, 7 janeiro, vídeo 3) A publicação de charges mostrando o fundador do Islamismo, já foi motivo de protestos e atentados. Um deles, contra o mesmo jornal atingido hoje. Em 2011, a sede do Charlie Hebdo foi atacada com bombas incendiárias. O jornal também já havia sido processado por associações islâmicas da França, mas o tribunal considerou que as charges eram críticas ao terrorismo, e não à religião. (HERALDO PEREIRA, 7 janeiro, vídeo 4) Há uma clara ênfase do caráter satírico da publicação em questão, que se dava sem a distinção de credo ou ideologia, para demonstrar que o jornal não atacava o islã de maneira preconceituosa e perseguitivo, mas o retratava como qualquer outra banalidade cotidiana. O enquadramento ao jornal é portanto positivo. Sobre os cartunistas e jornalistas mortos, estes são representados não apenas como indivíduos cuja carreira era significante no ramo, mas como mensageiros da livre expressão, por serem críticos da realidade de forma humorada. Provocador e anarquista, o jornal semanal Charlie Hebdo chega todas as quartas às bancas francesas. É conhecido por usar o humor como uma arma em torno da liberdade de expressão. (...) O maior cartunista do jornal era Georges Wolinski de oitenta anos. Francês de origem judaica, ele era um mito do cartunismo mundial e inspirou o trabalho de muitos outros profissionais da área. (...) Outros três cartunistas estão entre as vítimas do atentado, Jean Cabut, o Cabu, colaborava com o jornal desde a fundação. Cabu iria completar setenta e sete anos na próxima semana. E Tignous, com cinquenta e sete anos, colaborava com várias revistas e emissoras de televisão. Stephane Charbonnier, o Charb, tinha quarenta e três anos, e era o responsável pela III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 publicação desde 2009. Ele já tinha recebido ameaças de morte e vivia sob proteção policial. Dois anos atrás ao falar sobre liberdade de expressão, Charb disse que preferia “morrer de pé a viver de joelhos”. (THIAGO ELTZ, 7 janeiro 2015, vídeo 3) A Federação Internacional de Jornalismo afirmou que matar jornalistas é um ataque contra a profissão como um todo. A imprensa francesa mostrou que não vai se render e se calar. (RENATO MACHADO, 7 janeiro 2015, vídeo 6) A Associação dos Cartunistas do Brasil divulgou uma nota de repúdio ao atentado. No texto, afirma “O desenhista é justamente o artista que busca a defesa dos mais fracos e oprimidos, desde que as charges começaram há 200 anos. Esperamos que esse triste acontecimento seja um exemplo de intolerância a ser varrido das relações humanas para que a morte desses jornalistas e desenhistas não seja em vão”. (PAULO RENATO SOARES, 7 janeiro 2015, vídeo 9) Eu acho que é um momento da gente se solidarizar com o Charlie Hebdo, que é um patrimônio da humanidade, eu acho que é um jornal importantíssimo pra história do humorismo e do jornalismo combativo. (LAERTE, 7 janeiro 2015, vídeo 9) Ocorre nestas falas um enfático processo de injusticiamento dos indivíduos acometidos pelos ataques. Devido à relevância desses indivíduos e de sua atuação profissional na sociedade, os enquadramentos são predominantemente positivos. Foram inúmeras as manifestações de luto e solidariedade ao povo francês, a todos os envolvidos nos ataques e principalmente à liberdade de expressão. Os líderes europeus se uniram para classificar o ataque ao Charlie Hebdo como um ataque à liberdade de expressão e de imprensa. (...) Na França se formou uma corrente de solidariedade e apoio ao jornal, e aos profissionais em geral. O lema é “Todos somos Charlie”. (...) Num discurso agora à noite a todos os franceses, François Hollande declarou que amanhã vai ser um dia de luto na França, e que o país não vai se curvar ao terrorismo. (...) O Vaticano classificou o ataque como abominável, e afirmou que foi um ato contra pessoas, e contra a liberdade de expressão. (RENATO MACHADO, 7 janeiro 2015, vídeo 6) A dor francesa comoveu o mundo. “Sinto tristeza e raiva ao mesmo tempo” disse o parisiense Patrick. A poucos passos da redação do jornal Charlie Hebdo, memoriais improvisados foram crescendo ao longo do dia. A rua Nicolas Appert virou um local de peregrinação: são centenas de flores, velas e bilhetes. O que mais chama atenção por aqui é o silêncio em respeito às vítimas. Apesar do medo de novos ataques, milhares de pessoas saíram às ruas, desafiando a insegurança e demonstrando a força da união. Aplausos coletivos encheram a Praça da República. Na catedral de Notre Dame o toque dos sinos III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 foi calado pelo minuto de silêncio. Em toda a capital, franceses e estrangeiros exibiram cartazes com a frase “Je suis Charlie”, “Eu sou Charlie”. Lápis e canetas também se transformaram em símbolos de liberdade de expressão. (CECÍLIA MALAN, 7 janeiro 2015, vídeo 13) E agora a pouco, a viúva do principal cartunista do jornal, a viúva de Georges Wolinski deu uma emocionada entrevista, onde disse que nesse momento existe uma guerra na França, entre os que defendem a liberdade, e os que são contra a liberdade, e os franceses não podem perder essa guerra (ANDRÉ LUIZ AZEVEDO,, 8 janeiro 2015, vídeo 20) Tão inconformados ficaram os franceses, que ontem fizeram a maior manifestação que esta cidade já viu: mais de 1 milhão e meio de pessoas se uniram para defender um valor extremamente importante para os franceses, a liberdade de expressão, que eles veem ameaçada pelos terroristas que tentaram silenciar a revista de humor Charlie Hebdo. (ROBERTO KOVALICK, 12 janeiro 2015, video 33) São “17 mortos e 66 milhões de feridos”, todo o povo francês sente a dor do ataque à liberdade de expressão. O atentado ao Charlie Hebdo foi na quartafeira, e ao longo desses dias as homenagens não pararam. É como se toda a França fizesse questão de se revezar numa grande vigília. A solidariedade foi manifestada de várias formas: a garota mantém o assunto aceso nas redes sociais. O homem, prefere a reflexão. Mãe e filha, dividem um cuidadoso carinho. É uma república que se enfeita de Charlie Hebdo. Ninguém se esquece das vítimas em combate pela liberdade: homens e mulheres que faziam alguns franceses morrerem de rir. E esse humor é a tinta nas paredes, “Charlie se junta à Maomé no paraíso”, frases que carregam a mesma sátira do jornal. Charlie Hebdo tinha o lápis como arma, uma ironia ácida que incomodava muita gente. Mas nem adianta pisar sobre os crayons, eles estão por toda a parte. Esse senhor que viu muitas manifestações nessa vida, até agora se emociona com as homenagens “Vive la Republique, c’est tout, merci”. (PEDRO VEDOVA, 12 janeiro 2015, video 34) As manifestações de apoio aqui descritas foram decisivas para a manutenção da união nacional francesa, impulsionada pelos sentimentos de dor e medo que se misturaram de maneira intensa. Houve uma recorrente exaltação da República francesa, seus valores democráticos e principalmente a liberdade como um símbolo patriótico. O slogan “Je suis Charlie” foi intensamente repetido ao redor do planeta em sinal de apoio. A liberdade de expressão foi uma questão muito ressaltada já que o direito de se fazer humor crítico foi desrespeitado, o que seria inconcebível para uma democracia. A repetição de termos indicando valores positivos como solidariedade, união, respeito, fazem do enquadramento positivo. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 Outros símbolos relevantes que podem ser citados, são o judaísmo e o islamismo. As duas religiões foram diretamente atingidas, abalando seus seguidores. Os turcos foram hoje às ruas de Istambul gritar a favor da liberdade de imprensa e contra o terrorismo. “O ataque não foi apenas contra o jornal francês”, disse o manifestante, “foi também contra todos nós muçulmanos”. (...) Uma das grandes preocupações das lideranças islâmicas é deixar claro que o atentado terrorista de Paris é uma terrível distorção da religião que, eles não têm a menor dúvida, prega uma convivência pacífica e respeitosa. (...) No Paquistão mais uma condenação oficial, e o desabafo de um morador de Karachi preocupado com os inúmeros muçulmanos que trabalham honestamente na Europa. “Eles vão enfrentar dificuldades, vão sofrer por causa do ato de indivíduos isolados”, disse o paquistanês resumindo o sentimento de milhões e milhões de muçulmanos do mundo inteiro. (RODRIGO ALVAREZ, 8 janeiro 2015, vídeo 17) A principal sinagoga de Paris estava cercada, e com um policial vigiando a rua de uma guarita. Este jovem judeu disse “A comunidade judaica está muito nervosa, estamos chocados, escandalizados, porque na França de 2015 ainda há pessoas que morrem porque são judias. O policiamento em frente à sinagoga é bem-vindo, para proteger o nosso local de culto, e nos proteger”. Mas há preocupação também entre os muçulmanos. O Conselho Francês do Culto Muçulmano já registrou 21 ataques à mesquitas e lojas, e também pede proteção ao governo. (ROBERTO KOVALICK, 12 janeiro 2015, vídeo 33) Estavam todos tocados pelo sofrimento francês que acabou se tornando também israelense quando Yoav, Philippe, Yoram e François Michel foram mortos no mercado judaico na sexta-feira em Paris. (...) E a multidão veio a pé, aos milhares. Muita gente que chorava, se lamentava e se abraçava se quer conhecia as vítimas. Foi uma cerimônia emocionante, acompanhada por judeus que vieram de várias partes de Israel e do mundo, muitos deles da França, para prestar solidariedade às famílias dos quatro mortos. Um dos grandes objetivos dessas pessoas que a gente vê aqui, é fazer uma demonstração de união entre os judeus. (...) Representando a França, a Ministra Ségolène Royal, se disse revoltada com o crime racista, antissemita. “Eles foram mortos porque eram judeus”, disse a Ministra, “e esse é o tipo de crime mais revoltante”. “Esses assassinos não são inimigos só dos judeus, mas de toda a humanidade”, disse o Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu. RODRIGO ALVAREZ, 13 janeiro 2015, vídeo 37) O ataque ao jornal Charlie Hebdo foi prejudicial aos muçulmanos pois há uma preconceituosa generalização entre a fé e as manifestações terroristas. Nas falas aqui descritas, existe o relato de um ataque a propriedades muçulmanas que evidencia isso. A morte de judeus como uma manifestação pura de ódio gera indignação na comunidade herdeira do Holocausto. Assim, a vitimização injusta desses dois credos aumentou as manifestações de apoio, garantindo um enquadramento positivo. III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 RESULTADO Em um primeiro momento os resultados parecem óbvios: terroristas são imediatamente enquadramentos negativos e vítimas e solidariedade, positivos. Não existem razões para que isso ocorra de maneira diferente. Essa porém seria uma interpretação que ignora outros fatores relevantes do contexto. Retomando sobre a complicada integração muçulmana na sociedade europeia, é possível compreender sua marginalização perante o resto da sociedade francesa, principalmente em um momento político em que Marine Le Pen, a líder da extrema direita, possui altas taxas de popularidade (LA POPULARITÉ DE MARINE LE PEN EM HAUSSE, 2015). Mediante tal contexto, uma sátira política pode muito bem ser confundida com um discurso de ódio. A estereotipação é um recurso humorístico recorrente, sendo comum a associação do islamismo ao terrorismo. No vídeo 4, é relatada a recorrência de descontentamentos dessa população com a publicação em questão, evidenciando tal descompasso da sociedade francesa. Outro ponto necessário de ser revisto, e que é complementar ao anterior, é a seletividade da utilização dos direitos humanos. Em uma sociedade em que as tendências conservadoras estão em alta, é natural que esse pressuposto seja reproduzido. Afinal, pessoas que não são “de bem”, são indignas de serem tratadas com respeito e civilidade. Tanto os irmãos Kouachi, quanto Amedy Coulibaly, foram assassinados pela polícia francesa e em nenhum momento isto foi questionado. Eles estavam sendo “caçados” e “deveriam pagar” por seus crimes. O ambiente de tensão que foi gerado legitima que o Estado se utilize de seu monopólio legítimo da violência espalhando policiais fortemente armados por todo o país, para que a ordem social seja garantida. Não se questiona, entretanto, a reprodução de valores preconceituosos que necessitam ser modificados para que, a longo prazo, a população islâmica não seja mais considerada um problema. A população judaica foi III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 imediatamente protegida na iminência de novos atentados antissemitas, enquanto os islâmicos sofreram ataques de ódio pela sua associação racista aos terroristas. Por fim, pode-se divagar sobre o fato de que no mesmo dia do ataque ao Charlie Hebdo, ocorreu outro no Iêmen, também comandado pela Al-Qaeda, com pelo menos 30 mortos. Este, entretanto, teve pouca repercussão na mídia nacional. Um ataque em solo europeu é bem mais chocante que um no Oriente Médio, já que estes se tornaram estatísticas. Quijano (1993) afirma que, através do processo de colonização, a Europa se estabeleceu como centro do capitalismo mundial. Uma das consequências proporcionadas, se refere ao desenvolvimento político e cultural do restante do mundo. A hegemonia europeia concentrou o controle da subjetividade e da cultura, propagando seus valores a fim de garantir a reprodução de sua dominação. Consolidou-se assim o eurocentrismo, que configurou as relações com o restante do mundo de maneira binária ocidental-oriental, moderno-tradicional, primitivo-civilizado. Dito isto, pode-se identificar uma clara hierarquização cultural, onde uma barbárie típica do Oriente Médio invade a França e se torna uma calamidade. CONCLUSÕES Após uma breve compreensão do contexto no qual os ataques estão inseridos, é possível compreender que estes acontecimentos se relacionam com questões sociais mais profundas que um simples ato vingativo partido de uma radicalização islâmica. Os enquadramentos utilizados nas notícias do Jornal Nacional reproduzem, portanto, valores de senso comum, sem uma análise crítica contundente. Retomando Quijano (1993), pode-se dizer que o Jornal Nacional, enquanto programa principal da rede Globo, possui uma agenda que beneficia conteúdos de caráter eurocêntrico, em detrimento da cultura nacional ou latino americana. O mesmo vale para os Estados Unidos, que juntamente com a Europa Ocidental, são países centrais no III Semana de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos 27 a 29 de abril de 2015 espectro econômico-ideológico do sistema mundial. Da mesma maneira, é possível dizer que a crescente população islâmica na França constitui uma presença ameaçadora, pois o país vê sua hegemonia ideológica abalada diante da negação do processo de aculturação por parte de alguns. O mesmo não ocorre com a população judia, porque seus padrões culturais-ideológicos são bem mais próximos ao europeu, do que ao oriental e, portanto, estão melhor integrados. A agenda de um meio de comunicação de massa importante no cenário nacional é um assunto de extrema importância, pois será responsável pela determinação dos assuntos colocados em pauta por uma parcela de seus telespectadores. Assim, esta condiz com as matrizes ideológicas que regem a emissora, mesmo que de forma subjetiva e indireta. BIBLIOGRAFIA ATENTADO CONTRA ACADEMIA DE POLÍCIA DEIXA MAIS DE 30 MORTOS NO IÊMEN. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/atentado-contra-academia-de-policiadeixa-mais-de-30-mortos-no-iemen-20150107151012118730.html>. Acesso em 3 abril 2015. AZEVEDO, Fernando Antônio. 2004. “Agendamento da Política”. In. Comunicação & Política: conceitos e abordagens. UNESP. __________. 2006. Mídia e Democracia no Brasil: relações e entre o sistema de mídia e o sistema político. Opinião Pública, Campinas, vol.12, n°1, Abril/Maio, p. 88-113. FERREIRA, Raquel Marques Carriço; SANTANA, Dhione Oliveira. 2013. 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