PORTUGUÊS - 1o ANO MÓDULO 06

Transcrição

PORTUGUÊS - 1o ANO MÓDULO 06
PORTUGUÊS - 1o ANO
MÓDULO 06
TEXTO
Como pode cair no enem
(ENEM)
As redes sociais de relacionamento ganham
força a cada dia. Uma das ferramentas que tem
contribuído significativamente para que isso
ocorra é o surgimento e a consolidação da
blogosfera, nome dado ao conjunto de blogs e
blogueiros que circulam pela Internet. Um blog é
um site com acréscimos dos chamados artigos,
ou posts. Estes são, em geral, organizados de
forma cronológica inversa, tendo como foco a
temática proposta do blog, podendo ser escritos
por um número variável de pessoas, de acordo
com a política do blog. Muitos blogs fornecem
comentários ou notícias sobre um assunto em
particular; outros funcionam mais como diários
on-line. Um blog típico combina texto, imagens
e links para outros blogs, páginas da web e
mídias relacionadas a seu tema. A possibilidade
de leitores deixarem comentários de forma a interagir com o autor e outros leitores é uma parte
importante dos blogs.
O que foi visto com certa disconfiaça pelo
meio de comunicação virou até referência para
sugestões de reportagem. A linguagem utilizada
pelos blogueiros, autores e leitores de blogs, foge
da rigidez praticada nos meios de comunicação e
deixa o leitor mais próximo do assunto, além de
facilitar o diálogo constante entre eles.
(Disponível em: http//pt.wikipedia.org. Acesso em: 21 maio 2010
[adaptado].)
As redes sociais compõem uma categoria de
organização social em que grupos de indivíduos
utilizam a Internet com objetivos comuns de comunicação e relacionamento. Nesse contexto,
os chamados blogueiros:
a) promovem discussões sobre diversos assuntos, expondo seus pontos de vista particulares e
incentivando a troca de opiniões e consolidação
de grupos de interesse;
b) contribuem para o analfabetismo digital dos
leitores de blog, uma vez que não se preocupam
com os usos padronizados da língua;
c) interferem nas rotinas de encontros e comemorações de determinados segmentos, porque
supervalorizam o contato a distância;
d) utilizam os blogs para exposição de mensagens particulares, sem se preocuparem em
responder aos comentários recebidos, e abdicam
do uso de outras ferramentas virtuais, como o
correio eletrônico;
e) definem previamente seus seguidores, de
modo a evitar que pessoas que não compactuam com as mesmas opiniões interfiram no
desenvolvimento de determinados assuntos.
Fixação
Texto I
(...) o pequeno, a quem o padrinho queria fazer clérigo mandando-o a Coimbra, a quem
a madrinha queria fazer rábula, arranjando-o em algum cartório, e a quem enfim, cada
- conhecido ou amigo queria dar um destino que julgava mais conveniente às inclinações
que nele descobria, o pequeno, dizemos, tendo tantas coisas boas que escolher, escolheu
a pior possível: nem foi para Coimbra, nem para a Conceição, nem para cartório algum; não
- fez nenhuma destas coisas, nem também outra qualquer: constituiu-se um completo vadio,
vadio-mestre, vadio-tipo.
(ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias)
Texto II
Nada o detinha então; arrostava o perigo e vencia o obstáculo com agilidade e impavidez
admiráveis.
Havia nesse corpo uma superabundância de seiva, que precisava desperdiçar,
para
não
ficar
sufocado. Depois, voltava à sua habitual calma e sisudez.
e
Embora essas alternativas fossem o efeito de uma idiossincrasia moral, filha da Natureza
- e também da educação, contudo Mário já governava seu caráter, o que prometia para mais
tarde o homem de boa têmpera, capaz de grandes cometimentos.
m
(ALENCAR, José de. O tronco do ipê)
1) Indique se os dois trechos apresentados são textos figurativos ou temáticos, justificando
esua resposta.
-
Fixação
Os textos a seguir referem-se às questões de 2 a 5.
Texto I
Criminalidade e violência
O mundo globalizado, sem fronteiras e totalmente permeável
aos meios de comunicação de massa, deixa à mostra o
avanço da violência em toda parte, com maior incidência nas
metrópoles e megalópoles. O que antes passava despercebido
hoje é alardeado e difundido, frequenta as primeiras páginas
dos principais jornais e os noticiários, em horário nobre, das
maiores redes de teledifusão.
Durante algum tempo, explicava-se o aumento da
incidência de crimes sob a única vertente das desigualdades
socioeconômicas. O êxodo rural, o desemprego, as
subcondições de moradia e trabalho nos grandes centros
eram dados como a causa dos deslizes. O remédio, portanto,
residia em apresentar soluções, ou almejar por elas, de molde
a minorar as diferenças sociais, melhor distribuir a renda, dar
condições de dignidade à maioria da população. Enquanto
a esse estado de justiça ideal não se conseguia chegar, as
medidas adotadas eram meros paliativos e, por si só, serviam
para justificar a inação e a inércia das autoridades.
Hoje, não mais é possível esconder que a onda de violência
repousa na crescente organização da criminalidade, a partir da
exploração do narcotráfico, que movimenta milhões e milhões
em moeda forte, sem respeitar quaisquer fronteiras. O comércio
de drogas, rentabilíssimo, estabeleceu-se como verdadeiro
Estado dentro dos Estados organizados, gerando suas
próprias leis, gerindo parcelas consideráveis do território físico,
construindo uma rede de serviços, um exército próprio, enfim,
toda uma infraestrutura para desempenho de suas atividades.
Para manutenção de suas posições, o narcotráfico é o
principal responsável pelo contrabando de armas, cujo excesso
é repassado a outras cadeias da criminalidade. Destarte, sem
sombra de dúvida, o inimigo principal da sociedade hoje é o
crime organizado, cujo poder repousa no comércio ilegal de
drogas e de armas.
O combate a esse inimigo poderoso, enquistado em várias
regiões do país, com comando de parcelas do território de
algumas cidades, infiltração em segmentos do poder público,
na polícia, no Legislativo, no Executivo e até no Judiciário,
não pode ser de responsabilidade de uma só das unidades da
federação; incumbe a todas elas, à União, aos Estados, aos
Municípios, bem como aos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário de todos os graus.
A parcela principal de responsabilidade é da União Federal,
pois a ela incumbe a vigilância das fronteiras, por onde entram
as drogas e as armas contrabandeadas. Aos Estados incumbem
a vigilância interna, o policiamento ostensivo e a repressão
aos delitos derivados. Os Municípios, gerindo as vias urbanas,
colaboram, dentro de suas atribuições, com os demais poderes
constituídos. Ao Poder Legislativo compete aprimorar as leis,
adaptando-as à nova realidade.
As penas devem ser revistas, à luz da constatação hoje
patente de que existem criminosos irrecuperáveis, cuja
ressocialização é praticamente impossível. O sistema carcerário
deve isolar os criminosos irascíveis, submetendo-os a rígido
controle disciplinar. As prisões não podem ser hotéis, nem
escritórios para administração das atividades ilícitas. Regime
de trabalho obrigatório deve ser implantado, retificando-se a
Legislação Constitucional.
Ao Poder Judiciário cabe julgar com rigor e rapidez. A
demora nos julgamentos gera a sensação de impunidade, o
descrédito na Justiça.
O combate ao inimigo comum não é uma questão de
governo, nem partidária. É uma questão de Estado. Impõe
a todos os ungidos pelo poder responsabilidade comum e
solidária, acima das divergências doutrinárias, ideológicas e
político-partidárias. As vaidades e vinditas pessoais devem
dar lugar à colaboração incondicional entre todos os poderes
e autoridades, cada qual cumprindo seu papel.
(Octavio Gomes, ex-presidente da OAB-RJ )
Fixação
Texto II
[no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal.
 Meu Deus, que cidade linda,
No ano-novo eu começo a trabalhar.
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava três mil por mês em Taguatinga.
Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô:
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo ele dizia
Que um negócio ele ia começar.
Faroeste caboclo
— Não tinha medo o tal João de Santo Cristo,
Era o que todos diziam quando ele se perdeu.
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só para sentir no seu sangue o ódio que Jesus
[lhe deu.
Quando criança só pensava em ser bandido,
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu.
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.
Sentia mesmo que era diferente
E sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
E de escolha própria, escolheu a solidão
(...)
Não entendia como a vida funcionava –
Discriminação por causa da sua classe ou sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar.
Dizia ele: - Estou indo pra Brasília,
Neste país lugar melhor não há.
Estou precisando visitar a minha filha
Então fico aqui e você vai no meu lugar.
E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou
E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa e decidiu que,
Com Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E, sem ser crucificado, a plantação foi começar.
Logo logo os malucos da cidade souberam da
[novidade:
 Tem bagulho bom aí!
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.
Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade
Começou a roubar.
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
 Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.
Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal.
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general.
(...)
(Renato Russo)
Fixação
F
2) É possível afirmar que o tema dos textos I e II é o mesmo? Explique.
3
I
Fixação
3) O segundo parágrafo do texto I parece vir exemplificado pela história de João. Retire no texto
II versos que exemplificam uma das razões apontadas pelo jurista para a violência.
Fixação
F
4) Embora responsabilize a todos os segmentos da sociedade, o articulista do texto I apresenta5
a União Federal como o maior responsável pelo combate ao narcotráfico. Retire do texto o
argumento usado pelo autor para sustentar sua tese.
Fixação
5) Classifique os textos em temático e figurativo, justificando sua resposta.
Fixação
Para que ninguém a quisesse
Porque os homens olhavam demais
para a sua mulher, mandou que descesse a
bainha dos vestidos e parasse de se pintar.
Apesar disso, sua beleza chamava a
atenção, e ele foi obrigado a exigir que
eliminasse os decotes, jogasse fora os
sapatos de saltos altos. Dos armários tirou
as roupas de seda, da gaveta tirou todas
as joias. E vendo que, ainda assim, um ou
outro olhar viril se acendia à passagem dela,
pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos
cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém
a olhava duas vezes, homem nenhum se
interessava por ela. Esquiva como um gato,
não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando
de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em
silêncio pelos cômodos, mimetizada com os
móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a
alinhavar-se em seus dias. Não saudade
da mulher. Mas do desejo inflamado que
tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro
dia um corte de seda. À noite tirou do bolso
uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que
restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar
dessas coisas, nem pensava mais em lhe
agradar. Largou o tecido em uma gaveta,
esqueceu o batom. E continuou andando
pela casa de vestido de chita, enquanto a
rosa desbotava sobre a cômoda.
F
7
a
a
b
c
d
(COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de
Janeiro: Rocco, 1986, p. 111-2.)
6) Marque a resposta correta sobre o texto:
a) Trata-se de um texto figurativo, visto que
aborda analiticamente o conceito de beleza.
b) É um texto temático porque analisa criticamente o conceito de beleza.
c) Apesar de figurativo, há uma profunda
análise do tema da beleza.
d) Caracteriza-se predominantemente temático, por dissertar sobre a beleza de uma mulher.
Fixação
7) A autora inicia o texto com uma conjunção, o que gera uma ideia de continuação de algo
anterior ao princípio do texto. Há, para essa conjunção, uma outra função, que é:
a) justificar toda a atitude do marido diante do comportamento da mulher;
b) justificar toda a atitude do marido diante do ciúme que sentia da mulher;
c) justificar o sentimento mesquinho do marido em relação aos outros homens;
d) mostrar a causa para que o marido tomasse atitudes em relação à beleza de sua mulher.
-
a
.
Fixação
F
8) Marque a opção incorreta:
9
a) O homem muda a sua atitude por perceber que não sente mais atração pela mulher.
b) O homem preocupa-se com o que fez à mulher, por isso, muda suas atitudes.
c) A mulher perdeu o interesse pela vaidade pela forma agressiva com que foi tratada pelo marido.
d) A mulher não deseja ser mais vaidosa, nem chamar a tenção, inclusive, do marido.
p
i
a
o
b
g
c
c
d
p
e
c
Fixação
9) (ENEM)
Saúde
Afinal, abrindo um jornal, lendo uma revista ou assistindo à TV, insistentes são os apelos
feitos em prol da atividade física. A mídia não descansa; quer vender roupas esportivas,
propagandas de academias, tênis, aparelhos de ginástica e musculação, vitaminas, dietas...
uma relação infindável de materiais, equipamentos e produtos alimentares que, por trás de
toda essa “parafernália”, impõe um discurso do convencimento e do desejo de um corpo
belo, saudável e, em sua grande maioria, de melhor saúde.
(RODRIGUES,L. H.; GALVÃO, Z. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.)
Em razão da influência da mídia no comportamento das pessoas, no que diz respeito ao
padrão de corpo exigido, podem ocorrer mudanças de hábitos corporais. A esse respeito,
infere-se do texto que é necessário:
a) identificar os materiais, equipamentos e produtos alimentares como o caminho para atingir
o padrão de corpo idealizado pela mídia;
b) atender aos apelos midiáticos em prol da prática exa-cerbada de exercícios físicos, como
garantia de beleza;
c) diferenciar as práticas corporais veiculadas pela mídia daquelas praticadas no dia a dia,
considerando a saúde e a integridade corporal;
d) valorizar o discurso da mídia, entendendo-o como incentivo à prática da atividade física,
para o culto do corpo perfeito;
e) reconhecer o que é indicado pela mídia como refe-rência para alcançar o objetivo de ter um
corpo belo e saudável.
Fixação
10) (ENEM)
Disponível em: http://portal.saude.gov.br. Acesso em: 03 set. 2010.
Disponível em: http://www.dukechargista.com.br. Acesso em: 03
set. 2010.
Todo texto apresenta uma intenção, da qualF
derivam as escolhas linguísticas que o compõem.
O texto da campanha publicitária e o da charge
apresentam, respectivamente, composição tex-1
v
tual pautada por uma estratégia:
d
a) expositiva, porque informa determinado ase
sunto de modo isento; e interativa, porque apresenta intercâmbio verbal entre dois personagens;n
b) descritiva, pois descreve ações necessárias
ao combate à dengue; e narrativa, pois um dosn
personagens conta um fato, um acontecimento;c
c) injuntiva, uma vez que, por meio do cartaz, diz
como se deve combater a dengue; e dialogal,t
c
porque estabelece uma interação oral;
d) narrativa, visto que apresenta relato de ações
a serem realizadas; e descritiva, pois um dos
personagens des-creve a ação realizada;
o
e) persuasiva, com o propósito de convencer
o interlocutor a combater a dengue; e dialogal,a
pois há a interação oral entre os personagens. b
I
c
d
e
s
Fixação
-11) (ENEM) São 68 milhões num universo de 190 milhões de brasileiros conectados às redes
virtuais. O e-mail ainda é uma ferramenta imprescindível de comunicação, mas já começa a
dar espaço para ferramentas mais ágeis de interação, como MSN, Orkut, Facebook, Twitter
e blogs. A campanha dos principais pré-candidatos à Presidência da República, por exemplo,
não chegou às ruas, mas já se firma na rede.
O marco regulatório da Internet no Brasil é discutido pela sociedade civil e parlamentares
no Congresso Nacional, numa queda de braço pela garantia de um controle do que alguns
consideram “uma terra sem lei”.
Por abrir um canal, apresentar instrumentos e diversificar as ferramentas de interação na
troca de informações, a Internet levanta preocupações em relação aos crimes cibernéticos,
como roubos de senha e pedofilia.
(F. JÚNIOR, H. Internet cresce no país e preocupa. Jornal Hoje em Dia. Brasília, 25 abr. 2010 [adaptado].)
s
s Ao tratar do controle à Internet, o autor usou a expressão “uma terra sem lei” para indicar
opinião sobre:
a) a falta de uma legislação que discipline o uso da Internet e a forma de punição dos infratores;
b) a liberdade que cada político tem de poder atingir um número expressivo de eleitores via
Internet;
c) o constante crescimento do número de pessoas que possuem acesso à Internet no Brasil;
d) o ponto de vista de parlamentares e da sociedade civil que defendem um controle na Internet;
e) os possíveis prejuízos que a Internet traz, apesar dos benefícios proporcionados pelas redes
sociais.
Proposto
Violência e drogas
É sempre bacana ver milhares juntando as forças, as
vontades, as desesperanças, para encher ruas com o alvo
vestuário da paz. Não é muito a minha, esse negócio de
acender vela e clamar ao firmamento, mas em respeito aos
sincretismos biodiversos, topo fingir não crer que do céu só
vem relâmpago, chuva e bala perdida.
O que não dá mais, sinceramente, pra encarar com graça,
educação e simpatia é o lugar-comum “não se pode dissociar a
questão da violência da questão das drogas”. Hoje em dia, 10
entre 10 autoridades públicas, ao se pronunciarem a respeito
do tema, repetem em uníssono: “Não se pode dissociar a
questão da violência da questão das drogas”. E daí? O que
devemos concluir dessa brilhante assertiva? É óbvio que as
duas coisas estão intrinsecamente ligadas, qualquer idiota
lobotomizado sabe. Mas o que vem depois disso? É “não se
pode dissociar a questão da violência da questão das drogas” e
ponto final? Quer dizer então que é só ninguém mais se drogar
que a violência acaba? Quer dizer então que se os ricos (como
acusou o governador do Rio de Janeiro) pararem de consumir
substâncias ilegais tudo estará resolvido?
Bacana. Muito bom. E que dia vai ser isso? Uma bela
manhã todos acordaremos para viver num mundo melhor, onde
todos os que consomem drogas terão uma crise de consciência
e, junto com seus fornecedores, chegarão à conclusão de que
já perturbaram demais a ordem pública, de que a vida de todos
já está suficientemente aterrorizada e, portanto, todos vão se
dedicar a atividades mais lúcidas.
Vamos ou não vamos, de uma vez por todas, encarar a dura
realidade de que sempre existirá uma parcela qualquer da
população que vai querer se drogar? Isso não é minha opinião,
muito menos meu desejo. É assim, simplesmente, porque
sempre foi assim e continuará sempre sendo assim. Em qualquer
sociedade, em qualquer época. Qualquer um que se dê ao
trabalho de pesquisar as origens históricas do ato de se drogar,
vai ficar chocado com a antiguidade da prática.
Enquanto a sociedade não oferecer uma alternativa legal
ao adulto que quer consumir, arcará com o custo (de vida, de
grana, de desagregação das estruturas sociais) boçal desse
combate. Uma guerra que nunca será ganha e que faz muito
mais vítimas fatais do que as drogas que tenta combater.
Alguém ainda consegue achar irônico o fato do combate às
drogas matar muito mais que o uso das mesmas?
Ninguém propõe o bundalelê nessa questão. A ideia de dar
opção a quem não consegue ou não quer largar seu vício viria
com a contrapartida de usar o ato de consumir drogas como
agravante em qualquer delito que venha a ser cometido pelo
usuário. Oferecer uma opção legal de consumo não é legalizar
o crime. É retirar consumidores das mãos da marginalidade, é
reduzir a importância econômica do narcotráfico. Certamente
alguns morrerão de overdose, o que é triste, o que é lamentável.
Mas, e a situação de hoje não é?
Reduzir o número de cadáveres deveria ser o único
objetivo. Do jeito que as coisas estão organizadas parece que
morrer de cocaína é pior do que morrer de tiro. Por quê? Querer
discutir violência sem propor uma nova política de drogas é
mais que perda de tempo, é perda de vidas.
(Cláudio Manoel – Humorista, integrante do grupo Casseta & Planeta. Jornal do Brasil 13
jul. 2000 – caderno Opinião.)
1) “... em respeito aos sincretismos biodiversos” (Parágrafo 1o),
o autor:
a) acha “bacana ver milhares juntando as forças, as vontades,
as desesperanças...”;
b) admira milhares de pessoas enchendo “ruas com alvo vestuário da paz.”;
c) aprecia “esse negócio de acender vela e clamar ao firmamento...”;
d) aceita fingir não acreditar “que do céu só vem relâmpago,
chuva e bala perdida.”;
e) topa fingir crer “que do céu só vem relâmpago, chuva e bala
perdida.”.
Proposto
2) Segundo o autor, a frase não se pode dissociar a questão da violência da questão das drogas
(Parágrafo 2o) NÃO:
a) é um lugar comum, hoje repetido por 10 entre 10 autoridades públicas;
b) é atualmente a resposta uníssona de todas as autoridades públicas;
c) dá mais para ser encarada com graça, educação e simpatia;
d) é uma assertiva óbvia, embora as duas coisas estejam intrinsecamente ligadas;
e) é aceita apenas pelo idiota lobotomizado.
,
-
-
Proposto
3) Uma bela manhã todos acordaremos para viver num mundo melhor, onde todos os que
consomem drogas terão uma crise de consciência e, junto com seus fornecedores, chegarão
à conclusão de que já perturbaram demais a ordem pública, de que a vida de todos já está
suficientemente aterrorizada e, portanto, todos vão se dedicar a atividades mais lúcidas.
(Parágrafo 3o).
A ideia deixada implícita pelo autor no conjunto de hipóteses da passagem acima em conexão com o que se viu no texto é:
a) Basta ninguém mais se drogar.
b) Basta os ricos pararem de consumir.
c) Bacana. Muito bom.
d) Isso está prestes a acontecer.
e) Trata-se de uma utopia.
Proposto
4) Vamos ou não vamos, de uma vez por todas, encarar a dura realidade de que sempre existirá
uma parcela qualquer da população que vai querer se drogar? (Parágrafo 4o).
Apenas NÃO é realidade que:
.a) haverá sempre alguém querendo se drogar;
-b) é está uma opinião pessoal, um desejo do autor;
c) é assim que sempre foi;
d) é assim que sempre continuará sendo;
e) é antiquíssima a prática de se drogar.
Proposto
5) Enquanto a sociedade não oferecer uma alternativa legal ao adulto que quer consumir...
(Parágrafo 5o).
Com base na sequência do parágrafo, só NÃO se pode afirmar que a sociedade:
a) arcará com o custo boçal desse combate;
b) arcará com o custo de vida, de grana, de desagregação das estruturas sociais;
c) assistirá a uma guerra que nunca será ganha;
d) assistirá a uma guerra que faz muito mais vítimas fatais do que as drogas que tenta combater;
e) continuará achando irônico o fato do combate às drogas matar muito mais que seu uso.
Proposto
6) Embora não evitando a situação triste e lamentável, em que certamente alguns morrerão de
overdose, oferecer uma opção legal de consumo (Parágrafo 6o) seria, para o autor, importante,
porque poderia, EXCETO:
a) vir, com a contrapartida de usar, o ato de consumir drogas com agravante em qualquer delito
que venha a ser cometido pelo usuário;
b) legalizar o crime;
c) oferecer uma opção legal a quem não consegue ou não quer largar o vício;
;
d) retirar consumidores das mãos da marginalidade;
e) reduzir a importância econômica do narcotráfico.
Proposto
7) Ao fechar o texto (Parágrafo 7o), o autor apenas NÃO deixa patente que:
a) reduzir o número de cadáveres deveria ser o único objetivo;
b) as coisas estão organizadas numa ótica invertida;
c) morrer de cocaína é pior do que morrer de tiro;
d) é inútil discutir violência sem uma nova política de drogas;
e) discutir violência sem uma nova política de droga é mais que perda de tempo, é perda de vidas.
Proposto
8) Ao propor o “bundalelê” da questão, o autor NÃO fez referência nem sequer implícita:
a) às autoridades, a quem compete encontrar solução para o problema da violência;
b) à polícia, a quem compete combater o crime;
c) aos marginais, que estão envolvidos com o narcotráfico;
d) aos adolescentes que querem consumir drogas;
e) à sociedade, que anseia pelo fim da violência.
Proposto
9) A proposta central do texto é:
a) uma crítica sutil às manifestações de rua ou os pedidos aos céus em defesa da paz;
b) uma crítica severa às autoridades que associam a violência às drogas e ficam nisso;
c) a informação de que o problema da droga está presente em qualquer época e em qualquer
lugar;
d) a descriminação do uso de drogas;
e) a contrapartida de usar o ato de consumir drogas como agravante em qualquer delito que
venha a ser cometido pelo usuário.
Proposto
10) Em entrevista de página inteira ao Jornal do Brasil do dia 6 e agosto de 2000, a antropóloga
Albar Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Violência da UERJ, faz uma série de
observações, uma das quais contraria a proposta central de Cláudio Manuel. Assinale-a:
a) “... não estamos advogando tolerância aos crimes mais graves...”
b) “... existe uma pesquisa da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) que mostra que 20%
dos jovens das favelas, com idades entre 14 e 25 anos, estão envolvidos com o tráfico.”
c) “... supondo que 20 anos de política repressiva no país não tiveram resultados brilhantes.”
d) “O Brasil não pode descriminar, sob o risco de [...] repetir o que aconteceu na Holanda, onde
a liberação resultou num aumento desenfreado do consumo.”
e) “O problema é como a escola recebe o aluno. Ela não está cumprindo sua função de formar
cidadãos, de ensinar a tolerância, o respeito ao outro.”
Proposto
11) Após a leitura do texto, julgue os itens a seguir:
I) Trata-se de um texto figurativo, tendo em vista sua tentativa de criar um efeito de real, representando o mundo.
II) Dada a função interpretativa do texto, pode-se classificá-lo como texto temático.
III) Há predominância de palavras abstratas, que visam conceituar e julgar as coisas do mundo.
a) Todos os itens são verdadeiros.
b) Somente I é verdadeiro.
c) Somente II e III são verdadeiros.
d) Somente III é verdadeiro.
e) Nenhum item é verdadeiro.