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DESIGN DE SUPERFÍCIES ALICADO EM WASHI TAPE
Natasha Freitas Lise1
Suzana Funk2
Resumo: Um fato sobre o Design é sua presença contínua na vida do ser humano, por mais
imperceptível que seja essa presença ou seus efeitos. O presente trabalho trata sobre o uso de um
item conhecido popularmente no ocidente como Washi Tape, popularizado como item de artesanato, o
qual exibe uma relação vital com o Design de Superfícies. Através da metodologia de Marconi e Lakatos
(2003), este artigo analisa a utilização e o potencial da Washi Tape como motor criativo e também como
oportunidade para demonstrar o impacto que o Design de Superfícies pode ter nos aspectos mais
básicos da vida cotidiana das pessoas, desde a mais simples customização de um caderno ou livro até
uma nova decoração para um ambiente. Também se descreve o desenvolvimento de estampas de
superfície para Washi Tape como exemplo de aplicação prática dessa área do Design em um mercado
de tantas possibilidades.
Palavras-chave: Design de Superfície, Washi Tape, Decoração, Artesanato.
Abstract: A fact about Design is its continuous presence in human’s lives, no matter how unnoticeable
this presence or its effects may be. The present paper talks about the usage of an item popularly known
in the west as Washi Tape, made popular in its use as an arts and crafts item which shows a vital relation
with Surface Design. Through Marconi and Lakatos’s (2003) methodology, this article analyses the
usage and the potential of the Washi Tape as a creative engine and also as an opportunity to
demonstrate the impact of Surface Design in the most basic aspects of people’s everyday lives, from
the simplest customization of a notebook or book to a new interior decoration. This work also describes
the development of surface patters for Washi Tape as an example of practical application of this field of
Design in a market of so many possibilities.
Keywords: Surface Design, Washi Tape, Decoration, Arts and Crafts.
1 Introdução
O presente trabalho apresenta definições sobre o Design de Superfície, o papel
Washi e a Washi Tape, demonstrando seus diferentes usos e suas possíveis relações.
O Design de Superfície é uma área considerada recente, principalmente no Brasil,
embora sua aplicação seja antiga, e sua relação com o papel Washi é clara, dada a
fama do papel pelos belos padrões de superfície.
Este trabalho mostra uma área de atuação para aqueles interessados no
Design de Superfície, o uso da Washi Tape como produto, e demonstra como o Design
está conectado com o dia-a-dia das pessoas das maneiras mais simples, até mesmo
Natasha Freitas Lise – [email protected]
Especialista em Design, Tecnologia e Processo Criativo (FAE)
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Suzana Funk – [email protected] – Professora Orientadora
Mestre em Design (UFRGS)
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quando estas estão simplesmente decorando uma caixa de presentes com uma fita
adesiva colorida.
Através do estudo do Design de Superfície, do papel Washi e com uma visão
sobre o uso das cores tradicionais Japonesas, é possível ver uma maneira de
trabalhar a criatividade e impactar a vida das pessoas com um objeto tão simples
como um rolo de fita adesiva. Num mundo onde todos buscam se diferenciar de
alguma maneira, é apenas previsível que o artesanato e a decoração sirvam como
uma maneira de expressão de personalidade, e é possível utilizar-se da criatividade
não apenas para fazer trabalhos utilizando a Washi Tape, mas também para conferir
novas possibilidades àqueles que fazem esses trabalhos.
O Design de Superfície é uma ferramenta preciosa que pode ser usada para
tornar objetos e ambientes cada vez mais especiais e únicos, portanto a análise de
uma de suas utilizações no dia-a-dia de pessoas comuns se mostra pertinente. É
preciso ver como o trabalho visual pode contribuir para uma melhoria nos objetos e
ambientes utilizados por todos.
2 Referencial Teórico
2.1 Design de Superfícies
O Design de Superfície é uma área do Design caracterizada pela criação de
imagens para uso em padrões visuais a serem aplicados sobre uma determinada
superfície. Rubim (2004) destaca que o Design de Superfície abrange tanto o Design
Têxtil como o Cerâmico, de Papéis, Plásticos e muitos outros, e que “também pode
ser um precioso complemento ao Design Gráfico quando participa de uma ilustração,
ou como fundo de uma peça gráfica, ou em Web-Design.” (RUBIM, 2004, pg. 22).
Dessa forma, essa vertente do Design é utilizada em conjunto a várias outras,
produzindo peças, gráficas ou não, diferentes daquelas obtidas sem sua influência.
De acordo com Schwartz (2008), o Design de Superfícies confere
características específicas aos produtos, modificando seus níveis de expressividade
perante as pessoas principalmente através de recursos visuais e do tato, e “tais
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características devem estar relacionadas às estéticas, simbólicas e práticas
(funcionais e estruturais) dos artefatos das quais fazem parte” (SCHWARTZ, 2008, pg.
163). Ou seja, o Design de Superfícies deve estar alinhado com os outros aspectos
do projeto, não podendo fugir totalmente ao seu tema e/ou função.
A área de Superfícies então é entendida como mais uma de muitas disciplinas
dentro do Design, cuja função principal é diferenciar um determinado produto de
outros garantindo a ele uma expressividade que o torna único. Por isso, o Design de
Superfícies é parte crucial de um projeto uma vez que se decide por sua utilização, e
deve estar em harmonia com todas as outras etapas e aspectos desse projeto para
que seu objetivo seja atingido. A superfície deve estar em acordo com as outras
facetas do projeto, seja ele de produto ou gráfico, para que se expresse aquilo que
realmente se intenciona (figuras 01, 02 e 03).
Figura 01: Projeto do IXXI para o estúdio Boot.
Fonte: (CHOCOLADESIGN, 2013).
Figura 02: Projeto de cadeiras estampadas.
Fonte: (FAZENDO SALA, 2014).
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Figura 03: Projeto Tapete Carnival de Raphael Augustus.
Fonte: (RAPHAEL AUGUSTUS DESIGN, 2014).
Segundo Rubim (2004), os projetos para superfícies contínuas como tecidos e
papéis de parede, são extremamente comuns e de grande importância, e por isso:
“uma das coisas mais importantes na área é aprender como criar e projetar
um desenho pois, uma imagem relativamente simples pode se tornar uma
composição interessante e cativante, em virtude de ter sido habilmente
transformada numa padronagem, cujo desenho básico está em repetição
(RUBIM, 2004, pg. 35)”.
O desenho e seu planejamento cuidadoso são, então, fundamentais para a
criação de uma superfície para qualquer produto (RUBIM, 2004).
Wong (1998), diz que os elementos gráficos de um desenho não podem ser
separados, pois o desenho existe como um conjunto e seus diferentes elementos
podem ser vistos de forma diferenciada separadamente. Wong ainda diz que uma
compreensão total da linguagem visual e seus elementos contribui para a ampliação
das capacidades do designer de organizar um desenho da melhor forma.
O desenho bem sintetizado e a capacidade de construir um padrão de
superfície a partir do desenho são características fundamentais para o Design de
Superfície, já que este se baseia na repetição de desenhos para formar um padrão. O
que deve ser percebido e chamar a atenção é o padrão como um todo, o conjunto, e
não cada um dos elementos em particular, e para isso é necessário o conhecimento
sobre a construção gráfica para que se mantenha um equilíbrio na peça de superfície
gerada.
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Um desenho em módulo que se repete para formar um padrão é chamado de
rapport, termo vindo do francês, e pode ser tanto simples como altamente complexo.
De acordo com Rubim (2004), “na forma simples não é necessário nenhum
conhecimento específico para poder identificar a imagem em repetição (módulo).” (p.
36), e um bom exemplo disso é o azulejo. Ainda segundo Rubim (2004), “o rapport
pode ser muito elaborado e sofisticado sendo muito encontrado em tecidos
estampados de alto valor agregado (RUBIM, 2004, pg. 36)”.
Segundo Rinaldi e Menezes (2009), pode-se iniciar o planejamento da
superfície e dos espaços a partir do módulo, a unidade que se repete para formar a
totalidade do padrão de superfície. O módulo é construído e repetido para formar o
rapport, e com esse rapport toda a superfície é preenchida.
Dessa maneira, o desenho é utilizado para construir um módulo que se repete
horizontalmente e verticalmente, formando o conjunto chamado rapport, que por sua
vez constrói o padrão de superfície inteiro. O rapport pode ser muito simples de se ver
e identificar, como uma peça cerâmica em sequência, mas também pode ser
intrincado e de difícil identificação, fazendo com que a superfície como um todo tenha
um efeito diferente daquele conferido pelo rapport mais simplificado.
Além do módulo e do rapport, outro elemento de indiscutível importância para
o Design de Superfície é a cor. Rubim (2004) diz que “a cor tem um enorme poder,
pois tem a força de transformar um desenho de categoria inferior em um ótimo trabalho,
como também pode destruir um trabalho muito bem concebido.” (RUBIM, 2004, pg
39). Assim sendo, os designers devem ter atenção especial na aplicação das cores
em seus trabalhos de superfície, pois um pequeno erro nesta etapa pode transformar
um ótimo projeto num projeto de baixo nível.
Segundo Wong (1998), num desenho existem os elementos relacionais, entre
eles a posição e o espaço, e também os elementos práticos que se referem ao
conteúdo do desenho, que são a representação, a função e o significado. Deve-se
então manter a atenção a uma construção de qualidade no desenho, no módulo e no
rapport, e ao mesmo tempo manter o cuidado com os aspectos relacionados ao
significado do desenho em si.
Sendo assim, é necessário um grande estudo de projeto para o
desenvolvimento de um bom trabalho de superfície, que leve em conta todos os
elementos necessários para a construção de um bom desenho, com uma boa
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utilização das cores para a criação de um padrão satisfatório, que possa ser aplicado
ao produto planejado. O designer deve sempre ter em mente quais são os objetivos
do projeto, qual a mensagem que se pretende passar e qual a função do produto em
particular, antes de esquematizar seus desenhos e construir a paleta de cores.
O Design de Superfícies é um segmento com grande potencial, que pode ser
explorado com as mais diversas finalidades. A criação de padrões bidimensionais para
uso em produtos é um trabalho cuidadoso, que tem tanto o poder de tornar um produto
muito mais atrativo, como de torna-lo um fracasso. Faz-se necessário seguir todas as
etapas de concepção do projeto, para que os objetivos sejam alcançados.
2.2 Papel Washi
O papel tradicional japonês, o Washi, foi introduzido no Japão por monges
budistas e é produzido de forma diferente do papel comum ocidental, fazendo com
que os resultados também sejam diferenciados. Por ser fabricado em massa e com a
utilização de fibras de celulose juntamente a vários produtos químicos, o papel
ocidental tem características particulares. Sendo feito com fibras, normalmente há
apenas uma direção em que é possível rasgar o papel livremente, o que limita seu
uso artístico (TOFUGU, 2013).
Já o papel japonês, o Washi ( 和 ‘wa’, significando ‘harmonia’ e sendo um
caractere usado para representar o Japão; e 紙 ‘shi’ significando ‘papel’) é feito por
um processo totalmente manual, folha a folha, das longas folhas de algumas plantas
japonesas, e não permanecem fibras no papel, fazendo com que possa ser
manipulado em qualquer sentido. Isso facilita sua utilização em trabalhos artísticos ou
artesanais (TOFUGU, 2013).
Há três tipos de plantas nativas japonesas usadas na fabricação do Washi, e
estas são Kozo (um tipo de amoreira), Mitsumata (planta única do Japão) e Ganpi
(uma espécie de arbusto). O papel Washi feito de Kozo é o mais resistente, e a planta
se renova naturalmente, tornando-o a variedade mais barata do papel. Já o papel feito
de Mitsumata é mais caro, pois a planta demora mais tempo para crescer, e o
resultado é mais macio e delicado. Por último, o Washi feito de Ganpi é considerado
mais nobre, e a Ganpi foi a primeira planta usada para fabricá-lo. O resultado
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normalmente é visto em lenços muito finos de papel, normalmente utilizados na
conservação de acervos literários (JAPANESE PAPER PLACE, 2013).
A forma diferenciada de fabricação confere algumas características únicas ao
papel Washi, que não são comuns aos tipos ocidentais. O Washi é mais quente ao
toque que o papel comum ocidental; é extremamente resistente (no passado era
usado até mesmo na confecção de detalhes de armaduras japonesas); torna-se
facilmente moldável quando molhado; mostra melhor absorção de tintas e corantes; é
flexível e resistente contra amassamentos e rasgos acidentais; pesa muito menos que
outros papéis de igual espessura; possui baixa ou nenhuma acidez; recebe aplicação
de pinturas ou estampas, sendo largamente utilizado para decoração; e as variedades
feitas em Kozo e Mitsumata são naturalmente translúcidas (JAPANESE PAPER
PLACE, 2013).
O Washi é reconhecido especialmente pelos belos padrões de superfície que
são pintados sobre ele (figuras 04, 05 e 06) segundo Tofugu (2013), e pode ter as
mais diversas utilizações. Ele é ideal para os mais variados tipos de impressão,
colagens, montagem de lanternas e luminárias, encadernação e conservação de livros,
caligrafia; e também é encontrado também em origami, guarda-chuvas tradicionais,
porta-retratos e decoração de ambientes e mobiliário dentre muitas outras utilizações
possíveis (JAPANESE PAPER PLACE, 2013).
Figura 04: Padrões de superfície em papel Washi.
Fonte: (TOFUGU, 2013).
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Figura 05: Superfície pintada em papel Washi.
Fonte: (THE PAPER CRANE ORIGAMI, 2014).
Figura 06: Superfície pintada em papel Washi.
Fonte: (KIM’S CRANE, 2014).
2.3 Washi Tape
A Washi Tape é um tipo de fita crepe (masking tape) criada no Japão, específica
para fins artísticos, que normalmente é feita a partir do próprio papel Washi. Segundo
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Tofugu (2013), a Washi Tape foi inventada apenas em 2006, e por isso apenas
recentemente está surgindo em lojas de outros países. A figura 07 apresenta um
teclado decorado com a fita.
Figura 07: Teclado decorado com Washi Tape.
Fonte: (POPPYTALK, 2013).
Essa fita foi criada pela companhia Kamoi Kakoshi em 2006, a pedido de três
mulheres de Tokyo que visitaram a fábrica e mostraram aos donos os incríveis
trabalhos que faziam com as fitas produzidas pela empresa, demonstrando diferentes
possibilidades de uso além do industrial (MT MASKING TAPE, 2013). Segundo a
empresa MT MASKING TAPE (2013) o desenvolvimento de suas fitas especiais para
uso artístico se iniciou a partir desse pedido. A figura 08, 09 e 10 apresentam
aplicações da fita na decoração de interiores.
Figura 08: Decoração simples com Washi Tape.
Fonte: (REMODELAHOLIC, 2013).
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Figura 09: Parede listrada com Washi Tape.
Fonte: (ANNE KELLE, 2014).
Figura 10: Padrão em parede com Washi Tape.
Fonte: (LITTLE GREEN NOTEBOOK, 2014).
Depois de um longo processo, os primeiros conjuntos de fitas coloridas foram
lançados em 2008, e desde então novos modelos continuaram surgindo, até um atual
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estado de centenas de cores e padrões diferentes sendo vendidos no Japão e em
mais de 20 países sob o nome MT (MT MASKING TAPE, 2013). Um dos maiores
atrativos da fita, além de suas inúmeras cores e padrões, é a simplicidade no seu uso,
já que pode ser cortada à mão sem auxílio de instrumentos e colada em qualquer local
(MT MASKING TAPE, 2013). Como mostra a figura 11 na composição com fotos na
parede.
Figura 11: Arte com fotos em parede com Washi Tape.
Fonte: (DESIGN SPONGE, 2014).
A Washi Tape tem ótima propriedade adesiva e pode ser retirada sem deixar
resíduos de cola, o que a diferencia muito de outros materiais para decoração e
artesanato, e a transparência do fino papel Washi é uma característica estética
presente na fita e que pode ser utilizada para diferentes tipos de misturas e
sobreposições de cores. (MT MASKING TAPE, 2013). Segundo Onishi (2013), outra
propriedade apreciada é o fato de ser possível escrever e desenhar sobre a própria
fita se necessário, sendo que ela é feita de papel Washi, e o fato de ser vendida não
somente em diferentes modelos gráficos, mas também diferentes larguras de fita,
também contribui para sua popularidade.
A Washi Tape é uma criação recente em meio a tantos tipos de materiais para
artesanato e decoração, mas já demonstra seu grande potencial de uso (figuras 07 a
14). O produto criado no Japão já alcança o mercado em diversos países, e a
qualidade reconhecida do papel Washi fez com que sua popularidade crescesse
rapidamente. Seu adesivo que não deixa resíduos e não retira pigmentos de objetos
e paredes também é um grande atrativo. Tudo isso aliado às infinitas possibilidades
de customização de objetos, decoração de ambientes, criação de peças artesanais e
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etc., torna a Washi tape um produto poderoso, que pode ser explorado de diversas
maneiras por designers e artistas, como mostram os exemplos das figuras 12, 13 e
14.
Figura 12: Mural com Washi Tape.
Fonte: (CRAB + FISH, 2014).
Figura 13: Luminária decorada com Washi Tape.
Fonte: (WASHI TAPE CRAFTS, 2014).
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Figura 14: Interruptores decorados com Washi Tape.
Fonte: (CRAB + FISH, 2014).
2.4 Cores tradicionais do Japão
O Japão, como a maioria dos países, possui sua própria forma de entender e
utilizar as cores desde tempos antigos pelas mais diversas razões, incluindo aspectos
culturais, artísticos e ambientais. Segundo Tofugu (2013), o conjunto das mais
tradicionais cores japonesas é chamado dentouiro e ainda é utilizado nos dias de hoje.
De acordo com Tofugu (2013), houve muitas adições ao longo dos tempos (com
algumas cores existindo desde o ano 538, e outras sendo mais recentes) e também
algumas inconsistências, mas a cartela básica dentouiro continua a mesma, com
centenas de cores individuais. Muitas cores Japonesas foram nomeadas com base
em animais nos quais são encontradas, como vários tons de cinza que tem seus
nomes baseados em diferentes espécies de ratos, e outras cores receberam seus
nomes através de plantas e sementes (TOFUGU, 2013).
Segundo Kanazawa (2005), uma época importantíssima para o senso do uso
de cores no Japão foi a era Heian (de 794 a 1185), considerada o auge da corte
imperial Japonesa e tida como um dos picos de maior produção artística, tanto literária
quanto visual.
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Outro aspecto que ajudou a construir o sistema Japonês de cores foi a
construção dos sistemas sociais no país. No ano de 603 foi instituído o primeiro
sistema de classes no Japão, baseado nos elementos Chineses e no Confucionismo,
determinando classes por mérito em vez de descendência e utilizando-se de cores
para a diferenciação dessas classes (TOFUGU, 2013). Nesse sistema, havia cores
que somente as pessoas das mais altas classes ou importantes oficiais do governo
poderiam usar em suas roupas, e outras cores que eram permitidas às classes mais
baixas e pessoas comuns (TOFUGU, 2013).
Também houve influência externa, com muitas cores sendo introduzidas no
Japão por outros países, como China, Coréia, e países ocidentais (TOFUGU, 2013).
Um exemplo é o vermelho de anilina, introduzido no Japão nos anos 1860 pelos
Alemães, que se tornou uma parte poderosa da arte Japonesa, criando até mesmo
uma categoria de pinturas em blocos de madeira (figura 15) que eram conhecidas pela
predominância dessa cor (PRINTS OF JAPAN, 2011). Antes da introdução do
vermelho de anilina, as tintas vermelhas utilizadas no Japão desbotavam muito
facilmente, e com a passagem do tempo é possível ter apenas uma ideia de como
seria a cor original, mas isso não ocorre com as cores de anilina, que são muito mais
vibrantes e feitas sinteticamente (PRINTS OF JAPAN, 2011).
Figura 15: Arte Japonesa em bloco de madeira com vermelho de anilina.
Fonte: (PRINTS OF JAPAN, 2011).
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As cores tradicionais do Japão são vistas particularmente em expressões muito
fortes de sua cultura, como o kimono. As combinações de cores utilizadas nessas
peças de roupa são cuidadosamente construídas, e isso sempre fez parte do senso
Japonês sobre o uso das cores, tanto que as geisha costumavam ditar a moda e até
mesmo quais combinações de cores deveriam ser usadas em cada mês do ano
através de seus kimono luxuosos (TOFUGU, 2013).
Atualmente, ocorre um renascimento do uso das cores tradicionais no Japão em
sua cultura moderna, e tanto a moda de rua japonesa quanto músicos e outras figuras
importantes passaram a construir visuais baseados nesse sistema de cores. O
entusiasmo é tão grande que o uso dessas composições tradicionais de cor volta a
ser algo diário e que pode ser visto com facilidade no dia-a-dia do país (TOFUGU,
2013).
3 Metodologia
A metodologia utilizada na pesquisa foi a metodologia de Marconi e Lakatos
(2003). Segundo essa metodologia de pesquisa científica, deve-se fazer uma seleção
cuidadosa do material de leitura a ser lido e consultado, pois essa biblioteca formada
será o instrumento de trabalho; porém apenas a seleção das obras não é suficiente já
que sua leitura deve prover grande quantidade de informações gerais e também
específicas sobre o assunto alvo (MARCONI e LAKATOS, 2003). A leitura deve
sempre ter um objetivo determinado, e deve-se fazer uso de instrumentos como
glossários ou dicionários para que não se pratique essa leitura apenas de um modo
parcial e sim de modo a compreender todas as informações necessárias para o
desenvolvimento do trabalho (MARCONI e LAKATOS, 2003). Ainda de acordo com
Marconi e Lakatos (2003), para que esses objetivos sejam atingidos é necessário
observar alguns aspectos como a atenção, a intenção, a reflexão, o espírito crítico, a
análise e a síntese. Existem também diferentes tipos de leitura que podem ser
praticados, como por exemplo, a leitura do significado ou a leitura crítica (MARCONI
e LAKATOS, 2003).
Segundo as autoras, a análise de um material de leitura tem por objetivo fazer
a decomposição de um texto. Isso ocorre para que se tenha um melhor estudo e para
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que seja possível isolar os elementos mais importantes, “determinar as relações que
prevalecem nas partes constitutivas, compreendendo a maneira pela qual estão
organizadas, e estruturar as ideias de maneira hierárquica” (MARCONI e LAKATOS,
2003, pg. 27).
A pesquisa bibliográfica é formada por oito diferentes fases, sendo elas a
escolha do tema; elaboração do plano de trabalho; identificação; localização;
compilação; fichamento; análise e interpretação; e redação (MARCONI e LAKATOS,
2003). Por sua vez, o desenvolvimento de um projeto de pesquisa envolve seis
passos: a seleção do tópico ou problema a ser investigado; a definição e diferenciação
do problema; o levantamento de hipóteses de trabalho; a coleta e classificação dos
dados; a análise e interpretação; e o relatório dos resultados (MARCONI e LAKATOS,
2003).
Através da metodologia de pesquisa apresentada por Marconi e Lakatos (2003),
foi construída a estrutura do presente trabalho de pesquisa, com foco em livros e
fontes digitais para coleta, classificação e análise das informações. Com isso, é
possível observar o estado atual do assunto pesquisado, a Washi Tape.
4 Análise de Resultados
Através da pesquisa realizada foram encontradas informações sobre as origens
da Washi Tape e do papel Washi e sua intensa conexão com o Design de Superfície
no que se refere ao trabalho realizado sobre esses materiais. Não restam dúvidas
quanto ao potencial de utilização da Washi Tape como produto de Design de
Superfície, o que de fato já ocorre. Inúmeros padrões de superfície são estampados
nessas fitas para a utilização de milhares de pessoas ao redor do mundo.
Este é um vasto campo de atuação para os designers, que podem enriquecer
ainda mais os tipos de Washi Tape lançados no mercado, aumentando as opções
disponíveis para os mais diversos trabalhos artísticos e decorativos. O potencial de
personalização que a Washi Tape confere a quem a utiliza é sem dúvidas o seu maior
atrativo junto à qualidade do papel Washi e do adesivo utilizado, que não danifica os
objetos. Pode-se até mesmo pensar em Washi Tapes personalizadas ou em edições
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especiais para diferentes épocas do ano, tudo para que as opções continuem se
expandindo.
O uso das cores tradicionais Japonesas também é outro fator que chama a
atenção desde o lançamento da Washi Tape. Atualmente os padrões não se
restringem a essas combinações de cores, e as fitas são vendidas em inúmeros
países, mas o senso de cores desenvolvido no Japão contribui para trabalhos de
superfície interessantes e profundos. O estudo dessas cores é um acréscimo para o
preparo dos padrões de superfície, já que um dos maiores fatores da percepção de
beleza no papel Washi é o uso da cor e dos belos padrões pintados nele, e pode
produzir ótimos resultados.
O Design de Superfície aliado a um produto tão simples e ao mesmo tempo tão
interessante como a Washi Tape, certamente pode produzir trabalhos de altíssimo
nível e servir de inspiração para designers, artistas e artesãos, demonstrando que a
beleza, a simplicidade e a facilidade podem ser grandes pontos positivos.
Faz-se necessário observar como o Design pode contribuir para que cada vez
mais pessoas possam usar sua própria criatividade, e uma das muitas maneiras de
tornar isso possível é através da Washi Tape.
5 Considerações finais
A pesquisa realizada demonstra que o Design de Superfícies pode, sim, ser
utilizado de forma a fazer parte do dia-a-dia e contribuir com um efetivo uso da
criatividade. Através do conhecimento sobre o papel Washi e a Washi Tape, pode-se
perceber que os padrões de superfície são uma parte importantíssima do senso de
beleza e personalização das pessoas quanto às mais diversas coisas, desde
pequenos objetos até roupas e os próprios ambientes onde habitam.
Designers como profissionais tem a oportunidade de criar objetos e trabalhos
fantásticos utilizando-se de padrões e superfícies, e tanto o papel como a fita adesiva
Washi são exemplos claros disso.
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Referências
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<http://raphaelaugustus.blogspot.com.br/2012/03/lancamento-do-tapetecarnival.html>. Acesso: Out de 2014.
THE PAPER CRANE ORIGAMI. Mobiles, Ornaments and Jeweley. Disponível em:
<http://thepapercraneorigami.com/jewelry>. Acesso: Out de 2014.
KIM’S CRANE. Washi Paper. Disponível em:
<http://kimscrane.com/index.php?main_page=product_info&products_id=2980>.
Acesso: Out de 2014.

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