Castro Alves - Câmara Municipal de Salvador-BA

Transcrição

Castro Alves - Câmara Municipal de Salvador-BA
SESSÃO ESPECIAL EM HOMENAGEM AO NASCIMENTO
DO POETA CASTRO ALVES REALIZADA NA CÂMARA MUNICIPAL
DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO DE 2013
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Sob a
proteção
de
Deus,
declaro
aberta
a
sessão
especial
em
comemoração ao nascimento do poeta Castro Alves, conforme
preceitua o Artigo 244 do Regimento Interno desta Casa Legislativa,
requerida pelo vereador que lhes fala, Odiosvaldo Vigas.
Vamos solicitar para compor a nossa Mesa o presidente da
Fundação Gregório de Mattos, Dr. Fernando Guerreiro. Por favor,
uma salva de palmas.
Convidamos para compor a Mesa o nosso palestrante de
hoje, o presidente do NEM, o ilustríssimo professor, jornalista,
Nilton Nascimento. Convidamos para compor a Mesa o vereador
Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura,
Esporte e Lazer desta Casa. Convidamos o ilustríssimo Sr. Professor
Elísio Brasileiro, professor de História - a cidade e o Estado o
conhecem -, para compor a Mesa. Convidamos o Sr. tenente
Leandro Batista, representando a Companhia de Polícia de Proteção
ao Meio Ambiente. Convidamos a Ilustríssima Sra. diretora da
Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira, para
compor a Mesa, representando as demais escolas. Convidamos a
todos a ficarem de pé para ouvirmos o Hino da Cidade do Salvador.
(HINO DA CIDADE DO SALVADOR)
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Vamos fazer a apresentação de um vídeo, tendo como fundo a
declamação feita por Paulo Autran, do poema Navio Negreiros, e
algumas imagens do filme Amistad.
Queremos registrar
a presença dos vereadores Arnando
Lessa e Everaldo Augusto.
Uma salva de palmas para os dois vereadores que estão aqui
abrilhantando com as suas presenças.
(APRESENTAÇÃO DE VÍDEO)
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Convidamos o presidente do PDT, Hari Alexandre Brust, para
compor aqui a Mesa. Por favor, presidente.
Vamos assistir, agora a apresentação de Elivan Nascimento e
Olara, sobre o canto Cidadão.
(Apresentação da Música Cidadão, de autoria de Margarete
Menezes)
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Comunico a apresentação dos alunos da Escola Estadual Castro
Alves.
ALUNA: - Boa-tarde a todos e a todas aqui presentes. É um
prazer
para nós, alunos da Escola Estadual Castro Alves, fazer
uma homenagem aos poetas baianos, principalmente ao poeta
Castro Alves.
Obrigada a todos e também aos professores e gestores de
nossa escola, especialmente a nossa professora e diretora Tânia
Cerqueira, que nos ajuda para que sejamos o futuro de nosso país.
É por isso que digo: obrigada, meu poeta, por seu espírito amigo
que nos contagia com essa festa.
(APRESENTAÇÃO DE ALUNOS DA ESCOLA CASTRO ALVES)
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Convido o vereador Sílvio Humberto para assumir a presidência
enquanto faço meu discurso na tribuna.
Sr. presidente, vereador Sílvio Humberto, quero saudar a
Mesa: o Sr. Fernando Guerreiro, presidente da FGM; o professor,
jornalista Milton; o tenente Leandro; o professor Elísio Brasileiro;
Tânia Cerqueira; o presidente do meu partido, Alexandre Brust;
todas as escolas presentes; as lideranças presentes; a comunidade
presente; os artistas.
Não poderia deixar, na tarde de hoje, de registrar essa minha
fala, dizendo que no ano passado fizemos Castro Alves, o seu
universo de pensamento, na obra de Jorge Amado. E assistimos,
agora também, a sua implicação com a obra artística de Luiz
Gonzaga, que fez 100 anos. E também, com Vinícius de Morais, que
se estivesse vivo estaria fazendo 100 anos. E hoje, também, se
comemora o nascimento de Glauber Rocha e de Abdias de
Nascimento, primeiro senador negro deste país, pelo PDT, que fez,
inclusive, o Teatro Experimental do Negro,
viva
esta
obra
de
Castro
Alves.
Castro
dizendo o quanto é
Alves,
166
anos,
abolicionista, a atualidade do poeta nos 125 anos da abolição.
A escravidão e o racismo são uma realidade bastante cruel
que macula a trajetória histórica do Brasil. Desde os séculos
passados até o presente, uma herança que guardamos e hoje com
uma nova configuração na sociedade brasileira, é necessário
compreendermos em toda a sua plenitude o fato histórico da
abolição, entendendo que os negros foram contra a escravidão e
construíram a sua própria história.
Sabe-se que a abolição aconteceu diante de um amplo
espectro de alianças e fatores diversos, inclusive, econômicos
internacionais. Podemos citar a Inglaterra que vem, desde a
participação dos negros se rebelando, como negros fugidos, os
quilombos organizados, as senzalas e o surgimento de grupos
abolicionistas.
Em
pleno
século
XXI,
faz-se
a
seguinte
pergunta,
acompanhada da devida reflexão: ―Onde estão situados os negros
na sociedade brasileira? E como está incrustado o racismo nessa
mesma sociedade‖? A obra do poeta Castro Alves responde
plenamente a essas indagações e percebemos a atualidade do poeta
nos 125 anos da abolição que precisa acabar por completo a
escravidão e o racismo.
Avançamos? Sim, avançamos quando o Estado, por pressão
da sociedade civil organizada, consegue determinar a política de
cotas para vagas nas universidades públicas para negros e
afrodescendentes, porque traz para o seio da sociedade a discussão
básica do racismo existente neste país, uns a favor, outros contra.
No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia
como crime o tratamento discriminatório no mercado de trabalho,
entre outros ambientes, por motivo de raça e cor, de um deputado
também federal, do PDT, de meu partido. A Lei 7.437 classifica o
racismo e o impedimento de acesso a serviços diversos por motivo
de raça, cor, sexo ou estado civil como crime inafiançável, punível
com prisão de até 5 anos.
Porém, os negros, na sua quase totalidade, ainda hoje
encontram-se nas favelas, nessa nova configuração da escravidão e
nas piores condições de trabalho e, muitas
vezes, numa relação
trabalhista de precarização.
O que nos falta, em verdade? O que nos falta é uma classe
média forte, composta por negros e por afrodescendentes com
grande poder aquisitivo para termos influência nas decisões
políticas e na construção de um poder político e econômico
participando, efetivamente.
Vejam, senhores, que depois de 125 anos o Brasil estampa
na sua mídia: " Temos o primeiro presidente do Supremo Tribunal
Federal negro". Depois de 125 anos, vemos em outdoors, nessa
cidade, uma juíza negra, e ainda mostrando que continuamos na
escravidão, nas favelas, onde estão os negros.
As conquistas e lutas desse povo negro não terminaram com
a escravidão e o racismo, que hoje tem novos aspectos, não sendo
extirpada do seio da sociedade brasileira a perversa herança da
escravidão, na falta de políticas de Estado voltadas principalmente
para a educação em todos os níveis, como fator primordial da busca
pela igualdade social, políticas de educação e também reformas de
base que devem ser feitas para concluir o fato histórico da abolição.
Então, senhores, a obra de Castro Alves está viva e atual
diante da realidade vivida pelo povo negro brasileiro, mesmo com o
nível de consciência da nossa realidade racial e social alcançada.
Castro Alves vive.
Muito obrigado.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Antes de passar a palavra ao nosso palestrante principal, o
professor Elísio Brasileiro, para fazer uso de sete minutos, por
causa do tempo, quero também registrar a presença do poeta
Cláudio Dória, de Simões Filho. Também queremos uma salva de
palmas
para o Centro de Cultura Marise Ribeiro. Uma salva de
palmas para a coordenadora do Grupo Arte Nossa Poesia, artista
plástica. Registrar a presença do vice-presidente da Fecaba, Mestre
Raimundo, aqui representando e participando. Do professor
Germano Machado, que está aqui também representado. Do Dr.
João
Machado,
presente
aqui,
companheiro
nosso,
médico
pneumologista. Do pessoal da Fundação Cidade Mãe: Célia, Ariela,
Marli e Valéria, e nosso psicólogo, uma salva de palmas para nosso
companheiro. Da secretária da Reparação, aqui representando a
secretária o Sr. Valdo, uma salva de palmas, sinta-se como se
estivesse compondo a Mesa aqui conosco.
SR. ELISIO BRASILEIRO: - Caro querido amigo, vereador
Odiosvaldo Vigas Bonfim, quero lhe saudar em nome dos demais
componentes da Câmara de Vereadores de Salvador; demais
autoridades presentes; senhoras e senhores; sinto-me muito
honrado em voltar a esta tribuna em um momento tão especial
quanto este.
Cento e sessenta e seis anos passados de um jovem que
morreu aos 24 anos. Tuberculoso, sim, sem um pé,
havia sido
amputado; sem um pé, com uma passagem difícil pela vida
acadêmica; reprovado duas vezes no exame para ingresso na
Faculdade de Direito de Recife, só logrou êxito na sua 3ª tentativa;
mais adiante, abraçado à sua grande musa, Eugênia, consegue
estudar Direito, sim, ingressar no 3º ano na faculdade de Direito
do Rio de Janeiro, onde é colega de outro ilustre baiano, Ruy
Barbosa.
O jovem Castro Alves, 166 anos menos 24 vividos. Quero
fazer essa operação com rapidez: 142 anos, como disse muito bem
Odiosvaldo, ele está vivo, vivíssimo, porque ele assumiu a grande
campanha de sua vida. Ele abraçou uma causa nobre, e quem
abraça uma causa nobre, que é a promoção social, não morre.
Castro Alves está vivo, tanto tempo se passou, e mais anos
se passem. Não se revelou como acadêmico, advogado, sequer,
jurista, se destacou como grande poeta do Brasil, se apoiando nos
ensinamentos do romantismo francês de Victor Hugo. A sua obra é
dividida em dois planos: a obra social, em que ele abraça a causa
da defesa do negro, do afro, daquele que vem como escravo e
assume, acima de tudo, a grande bandeira da liberdade. E o outro
lado, o poeta lírico, apaixonado, cujo coração transborda, se deixa
levar pelo amor, suas musas, da atriz a outras tantas.
Praticamente órfão muito cedo, nasceu no município de
Muritiba, hoje município Cabaceiras do Paraguaçu. Logo, muito
cedo, ele fica órfão de mãe, vai morar em São Félix, estudando em
Cachoeira. De lá, também muito jovem, se desloca para Salvador e
aqui avança nos seus estudos, com muitos irmãos, e aos 13 anos
já
declamava seu primeiro poema e não para mais. E construindo
versos, traduzindo seu coração, assume a grande causa que
abalava o mundo, o capitalismo industrial ou financeiro, ele não
abrigava mais o escravismo.
A segunda Revolução Industrial, da segunda metade do
século XIX, precisava de consumidores e escravo não consome, e o
grande berço da indústria no mundo, a Inglaterra, não toleraria
mais a escravidão.
Em 1845, dois anos antes de Castro Alves nascer, a
Inglaterra começa a atacar os navios negreiros, unilateralmente, ela
decide o fim do tráfico negreiro. Cinco anos depois, Castro Alves
tinha três anos, o império brasileiro se rende à pressão inglesa, que
era acima de tudo uma pressão do capitalismo precisando ampliar
mercados consumidores, e produz a Lei Eusébio de Queiroz.
O próprio império brasileiro proíbe o tráfico negreiro, no
entanto, a escravidão persistia, se mantinha, e Castro Alves muito
cedo interpretou isso e trouxe para dentro do seu coração e de
forma intensa deixou essa obra memorável. Ao morrer só havia
conseguido publicar uma obra, Espumas Flutuantes.
Depois
de
sua
morte,
aquele
grande
poeta
que
declamava no Rio de janeiro, na Bahia, aqui nessa praça próxima,
no Teatro São João, aqui descendo a Rua Chile, ele fazia O Canto do
Condor, como vai ser mais tarde chamado para ser um dos
patronos da Academia Brasileira de Letras, com a cadeira de
número sete. Depois dela criada, esse homem abraça a causa da
liberdade e, naquele momento, ele nada teme, no lugar de ser um
acadêmico, um juiz, um advogado, ele vai ser o nosso grande poeta,
cantar por todos nós.
E como dizia há pouco um garoto, e aquilo me
emocionou, e uma garota continuou: "Essa luta tem que continuar".
A escravidão não acabou. Ficamos envergonhados quando vamos a novela hoje traduz aquilo que sabemos da escravização de
mulheres brasileiras em outros países do mundo pelo uso do sexo ao campo e vemos crianças sendo escravizadas e exploradas,
quando o lucro capitalista não hesita em sacrificar a liberdade e a
dignidade do ser humano. É uma bandeira que ele desfraldou no
século XIX e que todos nós, neste século XXI, senhores, senhoras,
jovens, certamente iremos desfraldar por muito tempo. Que a luta
pela
liberdade,
pela
emancipação
do
povo
brasileiro
afrodescendente, pela igualdade, continue e se fortaleça em nossos
corações e que transborde nos versos do poeta e no grito de cada
um de nós.
Castro Alves, viva a liberdade irmão! Viva a liberdade!
Sem ela não há construção da civilização.
Parabéns à Câmara de Vereadores, ao Odiosvaldo por
esse evento significativo, e que em cada um de nós essa luta não
deve parar.
Viva a liberdade! Viva Castro Alves!
SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS
- Obrigado, professor Elísio.
Convidamos agora o professor Fernando Guerreiro, da
Fundação Gregório de Matos, para fazer uso da palavra por sete
minutos.
SR. FERNANDO GUERREIRO: - Boa tarde a todos os
presentes; ao vereador Odiosvaldo que teve essa ideia brilhante de
realizar, como sempre vem fazendo, essa sessão solene em
homenagem a esse grande artista, esse grande poeta e esse grande
homem, Castro Alves; a todos os presentes e a todos os vereadores
presentes, a todos os meus colegas, ao professor patriota que fez
um pronunciamento maravilhoso, aqui agora, emocionante. Eu
acho muito interessante esse poder da palavra, como algumas
pessoas sabem usar isso muito bem e emocionam e prendem a
atenção.
Na condição nova de presidente da Fundação Gregório de
Matos, eu que sempre fui um apaixonado por esta cidade, hoje
percebo o estado muito grande de abandono em que a gente vive,
de políticas públicas na área municipal para a cultura. A cada
evento, cada momento, eu estou tentando construir passo a passo
uma nova realidade, um novo momento.
O Castro Alves representa o grande artista, porque para
mim o grande artista não marca apenas por ser um talento, ele
marca também pelas posições que ocupa durante sua vida. Muitas
vezes nós vimos artistas talentosos, brilhantes, mas eles são
esquecidos, porque durante as suas vidas eles não assumiram uma
posição, uma postura diante da sociedade que tenha deixado
marcas. E o grande diferencial de Castro Alves é esse, além de ter
sido um artista brilhante, um poeta interessantíssimo, reconhecido
pelo mundo inteiro, foi talvez um dos primeiros artistas do mundo a
abordar o tema da escravidão, se eu não estiver enganado
Ele
foi
absolutamente
pioneiro
nesta
abordagem,
corajoso, porque na época isso obviamente poderia ser condenado,
como foi, poderia transformá-lo até num poeta maldito. E ele fez
isso de uma forma tão brilhante, tão elegante, que conseguiu
passar por tudo isso e ficou até hoje.
Me
emociona
também
a
possibilidade
da
gente
homenagear o Castro Alves durante o ano inteiro. Eu acho que o
evento é importante para chamar atenção, mas o dia do Castro
Alves passa, o aniversário passa e todos nós mergulhamos no
esquecimento de uma série de questões.
Então, eu defendo sempre que Castro Alves deve estar
presente através de políticas de cultura. durante todo o ano, sendo
lembrado, recordado, encenado, discutido, homenageado, e não
apenas no dia dele. Como também a poesia, que existe uma
discussão, qual é o dia da poesia? É hoje? É novembro? É outubro?
Eu acho que nada mais justo do que se chamar este dia do Dia da
Poesia. E tentar aproveitar, aí eu digo aos professores, a todos os
componentes da rede municipal de ensino, ao pessoal direcionado à
educação, à poesia, que a poesia precisa voltar aos bancos
escolares, a poesia precisa voltar à nossa cultura, à nossa vida
diária. A poesia está esquecida. A poesia está marginalizada. É uma
das formas literárias mais brilhantes, mais difíceis.
Hoje pela manhã eu estive lá na praça, num pequeno
evento realizado pelos grandes batalhadores da poesia, que eu
conheço há trinta e tantos anos, quase quarenta, que ainda estão aí
na luta, na resistência, levantando sempre a bandeira desse gênero
literário, que é tão sublime, tão impactante, tão forte e que
emociona tão facilmente. Mas, infelizmente, me desculpem usar
essa palavra, nesta rede de emburrecimento que a gente vive hoje,
neste país, cada vez mais em cima de fórmulas fáceis, a educação
caminhado cada vez mais, em muitos aspectos, para facilitações,
que a gente caminhe para achar a poesia difícil, para achar a poesia
inacessível, e não para dizer para que eu vou apresentar uma
poesia para um aluno se ele não vai entender, porque o vocabulário
dele está empobrecido.
Claro que isso tudo é consequência do que nós vivemos.
Desde essa época de Castro Alves, fazendo um panorama, muito
pouca coisa mudou e a consequência é essa hoje: a dificuldade de
se entender a poesia, de se perceber o brilho, a importância dessas
palavras, dessas junções, dessa criatividade e talento desses
poetas.
Então, eu terminaria minha fala dizendo Viva a Poesia!
Viva esta cidade e esta praça e este poeta que tem que ser
homenageado e tem que ser trabalhado durante todo o ano!
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSLVALDO VIGAS: Obrigado presidente Fernando Guerreiro.
Convidamos agora, o palestrante, nosso principal, Nilton
Nascimento, presidente do NEIM, negro em movimento (inaudível), o
jornalista que fará o uso da palavra pelo tempo de vinte minutos.
Queremos registrar a presença da Escola Cantinho do
Saber de Sra. Zenite, diretora da Federação Espírita da Bahia; e da
Sra. Juçara
Rosa, representando a Secretaria de Educação do
Município, sintam-se aqui apresentados pela Mesa, e uma salva de
palmas para a Sra. Juçara.
SR. MILTON NASCIMENTO: - Exmo. Senhor vereador
Odiosvaldo Vigas, presidente da Mesa; Exmo. vereador Sílvio
Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte
e Lazer desta Casa; Ilmo. Sr. Fernando Guerreiro, presidente da
Fundação Gregório de Matos; Ilmo. professor, brilhante orador,
Elísio
Brasileiro;
Ilmo.
Leandro
Batista,
representando
a
Companhia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente; Ilma. diretora
da Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira; Ilmo.
Sr. Dr. Alexandre Brust, presidente do PDT; senhoras e senhores.
Antes de iniciar a minha conversa, eu desejaria fazer duas
homenagens: a primeira pedindo uma salva de palmas em
homenagem a um companheiro nosso do negro movimento, o
jornalista
Agnaldo
subitamente
Joaquim
falecido,
que
de
Santana,
comungava
dos
recentemente
mesmos
e
ideais
libertários que nós e era um grande admirador de Castro Alves. A
ele, dedicamos esta palestra.
A segunda homenagem se impõe, mas já foi feita, na
verdade, por Odiosvaldo, que é o dia de hoje; também, se estivesse
vivo completaria 99 anos o nosso Abdias Nascimento, um pioneiro,
um grande lutador, por acaso também, militante do Partido
Democrático Trabalhista, antes do Partido Trabalhista Brasileiro, e
que foi o iniciador da luta pela redenção do negro no Brasil.
Evidentemente, no século passado, depois de tantos outros, depois
dos escravos lutadores, depois dos abolicionistas, o Abdias reiniciou
essa luta em meados do século passado. Ele merece, também, a
nossa homenagem hoje, aqui. O Alexandre me lembra que o Abdias
foi o primeiro deputado negro e o primeiro senador da República
negro no Brasil.
Essa
minha
apresentação
pretende
ser
apenas
a
contribuição de um jornalista e ativista social que aceitou a
proposta de um admirador de Castro Alves, o vereador Odiosvaldo
Vigas, que também cultiva uma alma condoreira. O condoreirismo é
a escola libertária da poesia brasileira marcada pela temática social
e pela defesa de ideias
igualitárias
que produziam uma poesia
social comprometida com a causa abolicionista e que tem como
principais representantes Castro Alves e Tobias Barreto.
Odiosvaldo todos os anos reúne a sociedade baiana aqui,
nesta Casa Legislativa, para saudar na sua data de nascimento, o
nosso grande poeta Castro Alves. Não vou fazer, até porque não me
cabe, Sr. presidente, uma análise estética da poesia castroalvina
para a qual não estou preparado. Vou apenas tentar lançar
algumas luzes sobre o sentido social da poesia de Castro Alves,
especialmente
sob
o
aspecto
do
seu
engajamento
na
luta
abolicionista pela libertação dos escravos, que é o tema que me foi
proposto. O meu objetivo é com isso prestar uma homenagem
singela no transcurso de seus 166 anos de nascimento a esse
intelectual baiano que pautou sua breve vida sob o signo da
integridade intelectual e moral e pela defesa dos mais humildes.
Vamos, então aos fatos.
A vida de Antônio Frederico de Castro Alves foi marcada por
uma brevidade angustiante. Nasceu na Fazenda
Cabaceiras, na
Vila de Nossa Senhora da Conceição do Curralinho, em 14 de
março de 1847, e faleceu em Salvador, em 06 de julho de 1871,
vivendo portanto, apenas 24 anos.
Ontem, um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por
pelo menos 45 anos, certamente..
SR. MILTON NASCIMENTO: - ...apenas 24 anos. Ontem,
um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por pelo menos 45
anos, certamente, seria o maior poeta das três Américas e um dos
maiores do mundo em todos os tempos.
Seu pai, o médico Antônio José Alves, filho de um
comerciante lusitano pobre, casou-se com Clélia Brasília Castro,
filha natural de um rico fazendeiro. A família de Castro Alves havia
sido atingida pela enfermidade do século, a tuberculose. Sua mãe
morreu jovem, em 1859, e seu pai também sofria dos pulmões.
Quando a família Castro se mudou para Salvador em 1854,
Castro Alves tinha 7 anos. A família foi morar no antigo Solar do
Sodré, onde fica o Colégio Ipiranga, no Largo 2 de Julho. Em 1858,
aos 11 anos, Castro Alves foi matriculado no Ginásio Baiano, onde
Ruy Barbosa também estudara. Seu proprietário, o educador e
médico, Abílio César Borges, era o inovador pedagógico e também
um
pioneiro
do
abolicionismo,
tendo
fundado
a
Sociedade
Libertadora 7 de Setembro, que publicava o Jornal Abolicionista.
Em 1863, com apenas 16 anos, uma primeira hemoptise, revela a
Castro Alves que o mal da tuberculose também lhe alcançara e ele
sabia que esse mal em breve determinaria a sua morte.
Na breve vida que teve Castro Alves, muito se fala da sua
obra poética e dos seus tórridos amores, principalmente, da relação
com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, mas pouco se fala da sua
verve abolicionista, professor Elísio, do espírito revolucionário
contra o regime servil que se entranhou na obra em que escreveu e
que contrariava os seus contemporâneos do romantismo. Professor
Fernando Guerreiro falou um pouco disso aqui agora, que era o
estilo literário da épocam como José de Alencar, Gonçalves Dias,
entre outros, que, naquele momento do Brasil pós-independência,
procuravam, com seus escritos, criar uma espécie de espírito
nacional para construir a nova nação, que sabemos que nos é
devida até hoje.
Antes de prosseguir, quero falar um pouco do que se
passava no Brasil naquele momento. O império, especialmente com
Dom Pedro II, tinha um projeto de querer se diferenciar das
repúblicas da América Latina, buscando assemelhar-se aos modelos
europeus de civilização e modernidade. Para a constituição da
nação, ele tinha também um projeto literário nacionalista, baseado
no
projeto
historiográfico
do
Instituto
Geográfico
Histórico
Brasileiro, que foi fundado por Dom Pedro, que começava
as
primeiras formulações para a história brasileira, e no projeto
iluminista de miscigenação para a construção da identidade
nacional.
Reparem bem, a miscigenação entrava no projeto do governo
independente se o povo, especialmente o negro ou o índio, entrava
ou não entrava. Dom Pedro queria unir a história e a geografia em
um território constituído por um povo, isto é, por três povos
distintos, o índio, o branco e o negro no Brasil, e neste sentido criou
e
fundou
os
Institutos
Geográficos
e
Históricos
para
dar
organicidade a esta idéia e criar a história nacional. Era preciso
consolidar as imagens dos seus mitos fundadores com vista a
tornar o Brasil uma nação.
Como complemento, surgiram, também, os cursos de direito
em São Paulo e em Olinda, inicialmente, em 1827. A ideia era
formar pessoas para dirigir as instituições. Enquanto isso, a maior
parte da população era analfabeta. A elite forjava um projeto
político centrado no progresso, na civilização do país, só que o
caminho para esse progresso estava em duas coisas, na agricultura
e na escravidão, com esteio da chamada civilização do progresso.
O Brasil queria manter a escravidão, ele achava que o
progresso estava na escravidão, na manutenção da escravidão,
naquele momento, o preconceito racial já era uma coisa patente no
Brasil. Vejamos um exemplo: o Instituto Geográfico e Histórico,
recém-criado, promoveu em 1844 um concurso sobre como escrever
a história do Brasil e foi vencedor Von Martius, um alemão,
Friedrich Von Martius. Este apresentou o desenvolvimento da
história da nação a partir das três raças mescladas e formadoras.
Só que era assim: ao branco cabia ser o civilizador, ao índio a
possibilidade de ser civilizado, e ao negro o espaço de detração,por
falta de mérito, já que representava motivo de impedimento ao
progresso da Nação e com isso atrapalhava a formação de uma
verdadeira identidade nacional. O negro servia para sustentar a
agricultura, mas na hora da formação da Nação, a ideia e o conceito
que apareciam era de que ele não tinha papel e nenhuma
importância.
Imitando a política, que definia a terra e a escravidão como
os motores de desenvolvimento da Nação, a arte, a literatura e a
poesia no Brasil viviam o Romantismo, cujo projeto literário se
expressava por meio do Indianismo e do Regionalismo. Os literatos
se voltavam para o índio, todos aqui se lembram de Iracema, de
José de Alencar, de Juca Pirama, de Gonçalves Dias, se lembram
dos poemas de Cassemiro de Abreu dentre outros?
Outros escritores, ainda, como Bernardo Guimarães, autor
da bela, clara e cobiçada Escrava Isaura, que até hoje as televisões
não se cansam em passar, em repetir e repetir eternamente - eu
particularmente não entendo o porquê -, eles foram buscar
inspiração no matuto sertanejo como tema
de sua obra, de sua
arte.
Como vemos, já naquele momento, o projeto de Nação
excluía o negro como uma das raças na formação da sociedade
brasileira. E Castro Alves vislumbrou isso. As ruas de Salvador,
assim como as do Rio de Janeiro, eram repletos de africanos,
cativos ou libertos, vestidos com coloridos turbantes e panos nas
costas. Eram "pau para toda obra", trabalhavam no serviço
doméstico, nos transportes, nos mercados, nos portos. Falavam a
língua da Costa Africana, vivendo segundo padrões africanos,
aclimatados no Brasil.
Castro Alves vai, então, na contramão do ideal romântico dos
artistas engajados no projeto imperial. Ele inventou uma linguagem
capaz de quebrar o silencio sobre o negro escravo e a escravidão,
produzido pelo romantismo vigente, ditado pela colonização na
historia e na literatura do país, desconstruindo, desse modo, com
seu
condoreirismo,
os
discursos
literários
hegemônicos
que
celebravam o índio, o amor, os costumes e a cultura urbana.
Em sua singular biografia,
ABC de Castro Alves, Jorge
Amado lembra que a presença da população escrava de Salvador
determinou a formação de Castro Alves. Foi a partir dessa visão
cotidiana e da companhia de outros intelectuais, como Ruy
Barbosa, que ele passou os primeiros sentimentos abolicionistas
aos seus primeiros escritos. Já, em 1861, declamando em
homenagem à Independência, referiu-se à escravidão apresentandoa como contingência histórica, insinuando a contradição entre
cativeiro e nacionalidade.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Um
momento por favor, professor, quero só anunciar a presença de
nosso presidente da Câmara, vereador Paulo Câmara.
Se quiser compor a Mesa de nosso trabalho, abrilhantando o
compromisso dele, Castro Alves, com a liberdade.
SR. MILTON NASCIMENTO: - Em 1863, Castro Alves publica
seus primeiros versos abolicionistas, A Canção do Africano, no
numero inaugural do jornal acadêmico, A Primavera. Mas apenas o
jornal lhe parecia insuficiente para disseminar seu imaginário
abolicionista e, logo, ele se utiliza da declamação, era uma coisa em
voga na época, em teatros e comícios estudantis, muitas vezes de
improviso, quebrando, para os jovens estudantes e seus familiares,
o silêncio sobre escravos e escravidão, imposto pela marca colonial
e difundido pelo Império.
Em 1865, na abertura dos Cursos Jurídicos, recita o poema,
O Século, na Faculdade de Recife. Esse poema, escrito quatro
meses após a abolição da escravidão, nos Estados Unidos, canta a
liberdade dos escravos e conclama a participação de todos os
brasileiros para a luta por justiça e liberdade:
Lutai...
Que
Há
uma
diz:
"À
Há
de
a
Não
ouvis
do
Que
bate
aos
lei
sombra
sublime
do
vingança
marchar."
Norte
um
pés
crime
grito,
do
infinito,
a
mocidade
Que vai Franklin despertar?
Basta!...
É
Das
As
Quem
Tomba
No
Eu
sei
o
que
Moisés
mãos
no
do
Eterno
recebe
Marchai!
tábuas
da
lei!
—
cai
na
luta
com
nos
coração
Sinai;
braços
da
do
glória,
História,
Brasil!
Moços,
do
Pirâmides
topo
dos
vastas,
Andes,
grandes,
Vos contemplam séc'los mil!
No seu poema, A Canção do Africano, cantou a nostalgia do
cativo e colocou em contradição a África sem escravidão e o Brasil
pátria do escravismo:
―Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro,
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro.‖
Em 2 de julho de 1863, declamou poesia em homenagem ao
transcurso do aniversário da expulsão dos portugueses da Bahia. A
primeira parte do poema é dedicada ao cativo.
Na quarta estrofe, "Põe na boca do escravo, ao morrer, um
grito de ―vingança", o poeta retomaria, com virulência, o tema do
ódio servil. E diz:
"Um suor frio lhe passou nos membros...
No corpo a vida para sempre cansa.
Caiu por terra, mas lembrando o filho
Com os lábios hirtos repetiu - vingança.‖
Em 1865, quando a poesia antiescravista de Castro Alves
assumiu singular radicalidade, o movimento abolicionista ainda
não existia, imperava no Brasil um estado geral de conformidade
sobre a sorte dos cativos e se acertava uma discussão casual sobre
a extinção lenta, gradual e segura da ordem maldita. Apesar do fim
da Guerra de Secessão dos Estados Unidos e do fim do cativeiro em
várias nações independentes, o Brasil afirmava sua condição de
pátria do escravismo.
No
início
de
1866,
na Bahia, Castro
Alves
fundou,
juntamente com Ruy Barbosa, a Associação Abolicionista. Em
dezembro, Castro Alves publicou vibrante poema contra a repressão
policial de um comício republicano:
O Povo ao Poder.
―A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor.
É o antro onde a liberdade
Cria águias emseu calor!
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu...
Ninguém vos rouba os castelos
Tendeis palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu."
Ainda neste ano, em Recife, Castro Alves escrevia o drama
Gonzaga ou a Revolução de Minas, onde identificava a abolição com
a questão da independência e da nacionalidade.
Em 1868, em São Paulo, centro da produção escravista,
compôs e recitou o seu maior poema abolicionista. Com o Navio
Negreiro, referia-se, alegoricamente, à imensa nação que encobria
com sua bandeira o cativeiro.
Castro
Alves
lembrava
a
bastardia
na
nacionalidade
brasileira enquanto a cidadania não compreendesse todos os seus
filhos, coisa que para nós ainda não aconteceu.
"Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!..."
Em junho de 1869, Castro Alves, gravemente doente dos
pulmões, teve o pé que havia sido ferido a bala em uma caçada no
Brás, lá em São Paulo, amputado em uma operação realizada no
Rio de Janeiro, e realizada a cru, sem clorofórmio, sem nada, devido
a fraqueza dele. Em novembro, embarcou para a Bahia e em janeiro
viajou para o interior, buscando melhores ares.
Em inícios de 1870, com o fim da guerra do Paraguai, a
discussão sobre a escravidão tornou-se questão nacional, debatida
nos salões e nas praças públicas. Mesmo se sabendo condenado à
morte, Castro Alves planejava escrever um poema histórico sobre o
Quilombo dos Palmares.
Nos sertões, aqui da Bahia, escreveu sua
―Saudação a
Palmares‖, soberbo elogio da revolta negra e implacável crítica dos
intelectuais vendidos ao poder.
―Cantem eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços
E beijem os férreos laços
Que não ousam sacudir...
Eu canto a beleza tua,
Caçadora seminua!
Em cuja perna flutua
Ruiva, a pele de um tapir."
Em outubro deste ano, Castro Alves havia publicado seu
primeiro e único livro, enquanto ele estava vivo: Espumas
Flutuantes. Mas pouco durou. Sua última aparição em público foi
em 10 de fevereiro de 1871, numa festa beneficente. Morreu às 3 e
meia da tarde, no Largo 2 de Julho, no Solar do Sodré, em 6 de
julho de 1871.
Então, eu queria dizer algumas coisas aqui.
Ainda hoje, à exceção de alguns estudos de especialistas,
como o estudo do professor Edvaldo Boaventura, do emérito
professor Germano Machado, de Edson Carneiro, Euclides da
Cunha também escreveu algumas coisas, nos ressentimos de uma
literatura mais abrangente sobre Castro Alves, o abolicionista. Não
se justifica a sua pouca idade, já que, mesmo vivendo pouco, foi
profícua a sua obra. É uma interrogação que deixamos aqui.
Estudiosos de literatura, igualmente admiradores da poesia de
Castro Alves, também se colocam perplexos e assinalam a crescente
desvalorização do poeta baiano nos cursos de literatura das nossas
universidades e nas escolas nos nossos dias. Sobre ele, em forma
lenta, como lembra o professor da universidade de Passo Fundo, o
Mário Maestri, lá do Rio Grande do Sul, estendeu-se uma cortina de
silêncio, uma espécie de véu de esquecimento. Criou-se também
uma mentira quando se afirma, atualmente, que a poesia do nosso
mais conhecido poeta ressente-se do tempo, tornando-se na forma e
no conteúdo um discurso estranho aos nossos dias.
Será verdade isso? Algumas pessoas aqui já falaram que
isso não é verdade.
Castro Alves é extremamente atual nos nossos dias, em
que o racismo, a discriminação e a pobreza contra a população
negra brasileira continuam vigentes como uma nova forma de
escravidão, extremamente atual nesses 125 anos de abolição
inconclusa, que se completa nesse ano de 2013.
O Brasil até hoje, enquanto nação formada por várias
etnias, não teve a coragem ou a sabedoria, ou ambas, de concluir o
processo abolicionista. Temos a abolição inconclusa, e aí, eu acho
que nós, negros, também temos responsabilidade nisso, porque não
tivemos ainda a coragem de completar a obra dos abolicionistas e
até, às vezes, negamos esses abolicionistas, quando negamos o 13
de Maio e pagamos o preço dessa covardia com a imposição pelos
grupos dominantes da sociedade, do racismo e da discriminação, no
dia a dia, em qualquer lugar que a gente vá. E porque, a exemplo de
Castro Alves que rompeu os cânones imperialistas ao cantar o
escravo, nós não tivemos ainda a coragem de romper os cânones
republicanos que também escravizam os negros na pobreza
permanente.
Enquanto a produção literária de Castro Alves assumir a
denúncia da condição escrava como arma, nós, cidadãos negros nos
escondemos
em
uma
conciliação
vergonhosa,
recebendo
as
rebarbas da sociedade, esperando que os sucessivos governos
republicanos que mantêm os negros na pobreza e na miséria
solucionem o que é insolucionável. Ou nós assumimos essa luta
diretamente, ou não vai adiantar essa nova forma de escravidão que
a pobreza vai continuar a vida toda.
Castro Alves em sua criação poética foi além dos valores
culturais do seu tempo de espalhar com intensidade e de diferentes
formas do imaginário abolicionista a sinceridade de seus propósitos
e a energia empenhada que temos que ter hoje para vencer o
racismo e a discriminação racial.
Um poeta americano, chamado Ezra Pound, falava sobre
os artistas que eles são as antenas da raça.
Castro Alves é a
antena do Brasil, à antena da nossa raça. Hoje, na intensidade e na
atualidade de sua obra, ele ilumina o nosso presente que se perde
na pieguice, na mediocridade e na superficialidade dos tempos
atuais. Quando se completa 166 anos de seu nascimento, podemos
dizer um pouco mais: "Ele é o profeta da raça, um profeta do
abolicionismo que ainda precisa ser concluído no Brasil".
Para concluir, eu peço a tolerância, presidente, para ler o
trecho de um poema pequeno, é uma saudação do poeta chileno,
Pablo Neruda, que é um prêmio nobre da literatura, ao nosso maior
poeta. O título do poema é: "Castro Alves do Brasil". Diz assim, é só
três estrofes que eu vou ler.
"Castro Alves do Brasil, para quem cantastes?
- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.
- Cantei naqueles dias contra o
inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado do tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.
Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro
torna a nascer para a terra livre
deixam-me a mim poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se â eterna e alta voz dos homens
Cantastes bem. Cantastes como se deve cantar.‖
Muito obrigado.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Obrigado, professor Milton.
Vamos passar a palavra para os vereadores, inicialmente,
vereador Everaldo Augusto, que vai ter que sair, posteriormente,
vereador Sílvio Humberto.
Vereador Everaldo Augusto
SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Caro presidente
Odiosvaldo Vigas, que todo ano realiza esta sessão especial
brilhante, que já faz parte do calendário das sessões da Câmara de
Vereadores de Salvador e é, com certeza, uma das homenagens
mais simbólicas que a cidade, que a Bahia presta ao nosso poeta
maior, o poeta Castro Alves. Quero, portanto, parabenizá-lo
vereador, e saudar toda a Mesa.
Quero, antecipadamente, pedir desculpas aos presentes por
ter que sair para um outro compromisso, mas não poderia deixar de
vir aqui, registrar a importância das palestras que foram proferidas:
o último professor Milton Nascimento, todas as três palestras foram
importantes, claro, destacando o lado social do poeta Castro Alves,
da sua obra. Isso é uma coisa brilhante, porque além da sua
estética, além do poeta do amor, além do poeta, vamos dizer, da
natureza, é o lado social que marca muito Castro Alves e é isso que
faz, também, com que Castro Alves seja sempre um poeta atual;
isso que falou o professor Fernando Guerreiro. O que torna um
artista atual? - É ele ser a antena da raça, falar do mundo vivo, do
povo vivo, das coisas vivas, e foi isso que Castro Alves terminou
fazendo, e nós precisamos estar atentos para essa necessidade de
atualizar Castro Alves.
Tem um crítico literário, Jamil Almansur Adad, que escreveu
muito sobre Castro Alves e copilou também outros comentários
sobre Castro Alves, destacava que em momentos de efervescência
política e social no país, a obra de Castro Alves vem à tona e fala de
alguns desses momentos. E nós vivemos um, recentemente, que foi
a luta contra o regime militar que tinha na poesia de Castro Alves
um símbolo de resistência. E, aí, Castro Alves reavivou de novo,
saiu para a memória; todo mundo falava de Castro Alves.
Hoje, nós não estamos vivendo aquele momento de viragem
política no país, como foi o fim do regime militar. Professor Brust
está aqui, que viveu, combateu e conduziu essa luta com maestria,
sabe do que nós estamos falando, mas, hoje, o Brasil vive um
momento muito propício para atualizar a obra de Castro Alves que
é, justamente, tratar dessa temática que nosso professor tratou
aqui, da necessidade do país promover um grande movimento de
reconhecimento do crime, que foi a escravidão e de reparação, e das
políticas afirmativas, porque isso está presente na nossa sociedade,
isso é um elemento importante para a construção da cidadania e da
democracia no nosso país.
Nós não podemos conviver com as marcas da escravidão
indefinidamente, " ad eternum", nós temos, portanto, de prosseguir
nessa luta pela reparação, pela igualdade de direitos, pela equidade,
pelas cotas, tudo isso que nós conquistamos até aqui.
Castro Alves, ao falar da escravidão, ele fez como o professor
muito bem destacou aqui, não criando imagem ideal do homem
negro, como tentaram criar uma imagem ideal do índio para ser o
símbolo do nosso povo, mas desceu lá, na senzala, para falar do
negro como ele era, e não somente falar, mas, também, de acusar
aqueles que estavam colocando aquele homem, aquela mulher,
aquele filho, aquela filha, naquela determinada situação. Eu acho
que é a prova mais viva de que a obra de Castro Alves...
l
(Continuação...)
SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - ... filha, aquela
filha, naquela determinada situação. Eu acho que a obra de Castro
Alves é a prova mais viva de que é justa toda política de reparação
hoje.
Queria
concluir
por
aqui,
dizendo
também,
vereador
Odiosvaldo Vigas, e anunciando aqui, nesta Casa, que ontem nós
apresentamos um projeto aqui na Câmara de Vereadores, que em
parte é uma homenagem a Castro Alves, e em parte, também, um
compromisso desta Casa com a arte, com a cultura, com a
literatura, sobretudo.
Nós apresentamos aqui nesta Casa uma proposta, um
projeto de resolução para criação de um selo editorial, intitulado
Selo Editorial Castro Alves da Câmara Municipal de Salvador. Seria
um selo editorial com a finalidade de publicar obras literárias dos
mais diversos estilos de autores baianos ou radicados aqui, e que
teríamos justamente essa idéia.
O projeto foi apresentado, nós vamos discutir com o
conjunto dos vereadores, com a Mesa da Câmara, para ver se a
própria Câmara assume esse projeto, que não seja um projeto de
um vereador, mas de toda a Câmara, e tenhamos mais uma
homenagem permanente ao nosso poeta maior Castro Alves.
Queria, portanto, lhe agradecer. Já deixei, aqui, uma
lembrancinha do poeta com o senhor, no final nós vamos distribuir
para todos os presentes aqui.
Muito obrigado e peço desculpas, mais uma vez, por ter que
me retirar em função de outro compromisso. Viva Castro Alves!
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Obrigado, vereador Augusto. É um projeto justamente importante
essa questão do selo.
Queremos
registrar
à
presença
do
vereador
Orlando
Palhinha aqui, uma salva de palmas; do vereador Alemão também,
que compareceu aqui a esta sessão.
Passamos agora para o vereador Sílvio Humberto, presidente
da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer.
SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO:
-Boa tarde a todos, boa tarde Sr. presidente Odiosvaldo
Vigas, em sua pessoa vou saudar à Mesa.
Inicialmente, eu quero parabenizá-lo por esta Sessão
especial para alguém tão importante para esta cidade, para este
Estado, para este país.
E dizer que fiquei extremamente feliz, porque, para mim que
sou um professor, e diz que professor é aquele que sempre aprende,
aprendi muito nesta tarde. Aprendi quando eu vi estas crianças,
estes adolescentes aqui que deram uma aula, e ali ao lado o
presidente
da
Fundação
Gregório
de
Matos,
um
profundo
conhecedor da arte de fazer arte, famoso aqui na nossa cidade. Não
é famoso, não é celebridade porque é não, mas é porque faz, porque
sabe o que faz. E ele diz, aquela menina está pronta. Ainda brinquei
com ele assim, tive a ousadia quando ela sinalizou assim, ainda é
diretora. Então isso é fantástico, porque o que nós observamos
quantos talentos têm na escola pública. Quantos! E por falta de
oportunidades, do que eu diria dessas condições normais de
temperatura, de pressão que, geralmente, são encontrados na rede
pública, estes talentos não florescem.
E aqui eu quero aproveitar para parabenizar a diretoria da
escola e os professores da Escola Castro Alves, porque é fácil
quando se tem as condições, os meios e as condições. E quando
não se tem as condições, você consegui produzir, você consegue
estimular esta juventude, mantê-las ali, porque isto é uma forma de
prevenir, isto é uma forma de acarinhar, de acolher e isto é o que
faz assim, enaltecer essa profissão que é ser professor. Isso, este
retorno, é isso que você sabe, assim, eu vou lá dar aula, eu vou
contribuir com a vida desses jovens.
E aí eu acho, considero que enquanto presidente da
Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, nós vamos lutar
junto com os meus pares para que este dia não seja um dia mesmo
não, porque esta proposta da poesia possa mesmo de fato ali nos
currículos escolares, porque isto estimula porque eu sei o que é a
poesia, porque eu não sou um poeta, mas a minha entrada no
movimento social se deu também com poesia. No início dos anos
80, nós tínhamos um grupo, chamado Grupo Gênese, que nós
utilizávamos, fazíamos uso da poesia, para falar das questões
raciais, para fazer movimento negro. Foi assim que eu aprendi a
fazer movimento negro, também fazendo uso da poesia.
E aqui eu quero saudar ali o meu amigo Durval, que está
ali...
(Continuação...) SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO:
- ... o meu amigo Durval, que está ali, que participou dessa
caminhada, Durval Azevedo. E quando ouvi aqui, hoje, essa história
de Castro Alves, que você compara assim, me lembro de Jimmy Cliff
falando de Bob Marley, que morreu aos 36 anos, ele disse assim:
Que tem pessoas que passam na terra feito um cometa, numa
velocidade e rapidez de uma cometa, e o seu brilho intenso.
E assim, eu diria que foi Castro Alves, que passou com 24
anos, e nem sequer viu que em 1871 teve a Lei do Ventre Livre,
mas ele foi de um brilho intenso e que continua até os nossos dias,
pois quando mantemos essa luta
contra a discriminação racial,
contar o racismo, e dessa abolição inconclusa, é porque sempre
digo que o nosso problema não foi o dia 13 e sim o day after, o
chamado dia seguinte. E esse dia seguinte é o que faz manter o que
Castro Alves denunciava lá atrás, e ali passou naquele filme O
Amistad, aquelas agruras, o quanto foi danoso para a humanidade
o tráfico de escravos e Castro Alves viu, com Espumas Flutuantes,
ele conseguia descrever, que jamais esqueçamos o que foi aquilo,
esse crime contra a humanidade que pagamos até os nossos dias.
Então, eu diria Sr. presidente, gostaria de parabenizá-lo
mais uma vez por manter
essa Sessão especial, por trazer essa
juventude, e por agora, termos através de nossa TV Câmara, poder
isso alcançar milhares de lares daqui, da cidade de Salvador e aí
essa é uma forma de manter essa data como o Dia da Poesia.
E para finalizar, como hoje, também, é o dia de nascimento
de nosso Abdias do Nascimento, esse grande senador, esse grande
iconoclasta, desse quebrador de regras, daquele que tinha uma
missão que eu diria, essa missão Oguniana, de abrir caminhos, e
foi isso o que ele fez; foi o livro que li pela primeira vez, o livro
Genocídio do Negro no Brasil, que li quando eu tinha 16 anos, o
livro que mudou a minha vida, tem o Sílvio Humberto antes e
depois daquele livro, porque ele disse verdades que estavam ali na
minha frente, e eu não conseguia enxergar. Então, homenagear a
memória de Abdias do Nascimento, aquele que teve que ser tudo
porque no Brasil não bastava ele ser somente professor, ele foi
artista, foi escultor e chegou até ser senador, secretário de justiça
teve que ser tudo, teve que ser um faz tudo para mostrar o quanto
eram as dificuldades, que teve de ser diretor de teatro, ator, ele
inclusive, começou a sua vida, se não me engano, no Exército, e as
suas dificuldades.
Eu queria terminar, lendo aqui, uma passagem do autor do
livro chamado Cadernos Negros, que, de certa forma, espelha essa
continuidade da obra de Castro Alves, esses poetas negros aqui, da
nossa cidade, José Carlos Limeira, Landeia, Marcos Guilhon,, uma
série de outros, mulheres, Mel, que têm passado aqui, que têm
mantido vivo essa chama, vou terminar lendo um poema de
Cassabouvo, que é lá de Santos, e falando sobre Abdias. Ele diz:
"Dias de Abdias, ele foi, florescer em suas noites, no teatro da tarde,
para um público vazio em negritude, aspirou o ato uma falsa falta
de ar, contou os cantos para encenar a combinação dos negros em
conto, relatou o que a melódica palavra era a ditadura da poesia,
scripts de tempo e papel de negrura. Nascimento melhor que o
comprometer da alma, corpos armados,
incestos
perdoando
o
modo da escrita crua".
Muito obrigado.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS:
- Muito obrigado vereador Sílvio Humberto.
Vereador Orlando Palhinha usar da palavra, cinco minutos
vereador.
SR. VEREADOR ORLANDO PALHINHA:
- Boa tarde a todos e a todas. Primeiro quero agradecer a
Deus, por mais essa tarde maravilhosa, aqui, na Casa legislativa,
na Casa do povo. Quero saudar a Mesa na pessoa do presidente,
companheiro e vereador Odiosvaldo Vigas, vereador que tem
mantido essa chama acesa...
(Continuação...)
SENHOR VEREADOR ORLANDO PALHINHA: -
Quero
saudar a Mesa na pessoa do presidente, companheiro e vereador
Odiosvaldo Vigas, vereador que tem mantido esta chama acesa, em
demonstrar para a sociedade, para os jovens, os adolescentes,
quem foi Castro Alves na história da humanidade.
Eu sou oriundo de Muritiba, conterrâneo de Castro Alves,
não é da minha época, evidentemente, mas acompanho, inclusive,
visitei a fazenda onde nasceu, a fazenda Cabaceiras, e tenho assim,
vereador, a satisfação de estar neste momento ao lado de V. Exa.,
com as demais autoridades aqui da Mesa, onde V. Exa. não deixa
que esta chama se apague.
A Câmara Municipal de Salvador desempenha o seu papel
demonstrando para a sociedade a importância do que foi Castro
Alves.
E falar aqui, nesta tribuna, depois do professor Sílvio, que
deu uma aula, tenho pouco a falar. Só para agradecer a
oportunidade, vereador, e dizer que continue nesta luta. Nós
estamos ao seu lado, aprovamos aqui esta sessão especial porque
essa chama jamais poderá ser apagada.
Um poeta que viveu muito pouco de tempo de vida, veio a
falecer lá, em Muritiba, inclusive, tem próxima à Praça de São Pedro
a casa onde viveu Castro Alves. Sempre que vou em minha cidade
procuro ir lá na fazenda Cabaceiras, visitar o museu, visitar a casa.
E parabéns a V. Exa., parabéns as pessoas aqui, que se
fazem presentes, porque esta chama jamais poderá se apagar.
Deus abençoe, Deus seja louvado.
Obrigado pela oportunidade.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: Queremos registrar a presença da Escola Eloá Ramani, com a sua
gestora que está aqui, Evanildes Maria dos Santos. Uma salva de
palmas.
Registramos
também
a
presença
de
João
Bosco,
representando aqui a UBT, União Brasileira de Trovadores da
Bahia. O grupo também GAC, o Grupo de Ação Cultural da Bahia,
presente conosco, uma salva de palmas. O IEG, o Instituto de
Educação Gratuita também aqui presente conosco, nesta tarde de
hoje.
Bem,
antes
de
concluirmos
a
nossa
sessão
que,
posteriormente, haverá no Centro Cultural o espaço para a
declamação, a performance de poetas, onde será também servido
um coquetel, queremos ver aqui, não durante muito tempo, o poeta
Edgar
Velame,
que
quer
fazer
uma
apresentação
sua
e,
posteriormente, o poeta Cláudio Dória.
DECLAMAÇÃO DA POESIA ―NAVIO NEGREIRO‖
apresentação e adaptação Edgar Velame.
São
Onde
os
a
Onde
A
terra
voa
esposa
guerreiros
com
os
tigres
São
N'alma
Como
escravos
luz,
Agar
sem
o
longe...
bem
com
e
foi
lágrimas
Agar
também,
alquebradas,
longe
tíbios
algemas
razão...
desgraçadas
sedentas,
Trazendo
Filhos
bravos...
mulheres
Que
De
fortes,
sem
nus...
mosqueados
míseros
ar,
aberto
solidão...
simples,
Hoje
luz.
ousados,
na
Homens
Como
homens
os
deserto
a
campo
dos
Combatem
Sem
do
em
tribo
São
Que
filhos
vêm...
passos
nos
e
sofrendo
braços,
fel.
tanto
Que
nem
Têm
o
que
Lá
leite
dar
crianças
Viveram
moças
Cisma
um
dia
a
virgem
das
noites
...Adeus!
ó
...Adeus!
infindas,
no
Nasceram
Quando
Ismael...
areias
palmeiras
Passa
pranto
para
nas
Das
do
país,
lindas,
gentis...
a
caravana
na
cabana
nos
choça
véus...
do
palmeiras
monte!...
da
fonte!...
...Adeus! amores... adeus!...
Depois,
o
Depois,
areal
o
oceano
extenso...
em
pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos...desertos
só...
E a fome, o mcansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede
SR EDGAR VELAME:( NAVIOS NEGREIROS(...)
E
cai
Vaga
Mas
p'ra
um
o
não
lugar
chacal
sobre
mais
s'erguer!...
na
cadeia,
a
areia
Acha
um
corpo
Ontem
a
A
guerra,
O
sono
Sob
a
caça
a
Pelo
toa
d'amplidão!
negro,
fundo,
o
imundo,
peste
sono
arranco
baque
por
jaguar...
sempre
cortado
de
de
Ontem
um
um
finado,
corpo
ao
plena
A
por
poder...
de
maldade,
cúm'lo
Nem
são
livres
Prende-os
p'ra
a
lúgubre
roscas
assim
Dança
morrer.
mesma
Férrea,
Nas
serpente
da
a
Deus
vós,
—
escravidão.
da
lúgubre
do
.
corrente
zombando
som
mar...
liberdade,
vontade
Hoje...
Dizei-me
à
porão
o
Senhor
leão,
apertado,
E
Ao
ao
tendas
o
Tendo
E
Leoa,
dormido
Infecto,
—
roer.
Serra
as
Hoje...
E
que
açoute...
dos
Senhor
morte,
coorte
Irrisão!...
desgraçados!
Deus,
Se
eu
Tanto
deliro...
ou
horror
Ó
por
de
teu
manto
Astros!
os
apagas
tuas
vagas
este
borrão?
tempestades!
Que
imensidades!
mares,
Quem
são
não
que
excita
Quem
são?...
a
rir
a
em
Se
a
vós
da
fúria
do
estrela
à
se
pressa
cala,
resvala
fugaz,
noite
tu,
turba
algoz?
cúmplice
a
Dize-o
desgraçados
calmo
um
Perante
...
estes
vaga
Como
tufão!
encontram
o
Que
Se
não
das
Varrei
Mais
céus?!...
noites!
Rolai
verdade
os
que
esponja
Do
é
perante
mar,
Co'a
se
confusa...
severa
musa,
Musa libérrima, audaz!
São
Onde
Onde
os
a
filhos
terra
voa
A tribo dos homens nus...
do
esposa
em
campo
deserto
a
luz.
aberto
São
Que
os
guerreiros
com
os
ousados,
tigres
Combatem
mosqueados
na
Homens
solidão...
simples,
Hoje
fortes,
bravos...
míseros
escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São
Como
mulheres
Agar
Que
desgraçadas
o
foi
também,
sedentas,
De
longe...
Trazendo
Filhos
alquebradas,
bem
longe
com
e
tíbios
algemas
N'alma
passos
nos
lágrimas
Como
e
Agar
Que
nem
leite
braços,
fel.
sofrendo
o
vêm...
tanto
do
pranto
Têm que dar para Ismael...
Lá
Das
nas
areias
palmeiras
no
Nasceram
crianças
Viveram
moças
Passa
Quando
Cisma
...Adeus!
...Adeus!
infindas,
país,
lindas,
gentis...
um
dia
a
virgem
na
cabana
das
noites
nos
véus...
ó
choça
palmeiras
...Adeus! amores... adeus!...
a
caravana
do
da
monte!...
fonte!...
Senhor
Deus
Dizei-me
dos
vós,
desgraçados!
Senhor
Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto
Ó
horror
mar,
Co'a
perante
por
que
esponja
De
os
não
de
teu
céus...
apagas
tuas
manto
vagas
este
borrão?
Astros!
noite!
tempestades!
Rolai
das
imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
E
existe
P'ra
cobrir
E
deixa-a
Em
manto
Meu
Deus!
Que
um
povo
que
tanta
bandeira
infâmia
e
transformar-se
impuro
meu
de
Deus!
impudente
Silêncio!...
a
mas
que
na
Musa!
empresta
cobardia!...
nessa
festa
bacante
fria!...
bandeira
gávea
chora,
é
esta,
tripudia?!...
chora
tanto
minha
terra,
e
balança,
sol
encerra,
Que o pavilhão se lave no seu pranto...
Auriverde
Que
brisa
do
Estandarte
que
a
E
promessas
Tu,
a
pendão
as
que
da
Foste
hasteado
Antes
te
de
Brasil
beija
luz
do
divinas
liberdade
dos
houvessem
Que servires a um povo de mortalha!...
da
esperança...
após
heróis
roto
a
guerra,
na
lança,
na
batalha,
Fatalidade
Extingue
O
nesta
trilho
Como
atroz
que
hora
que
um
mente
o
Colombo
íris
...Mas
a
no
é
esmaga!
brigue
abriu
pélago
imundo
na
vaga,
profundo!...
infâmia
Da
demais...
etérea
Levantai-vos,
Andrada!
heróis
arranca
do
este
plaga
Novo
pendão
Mundo...
dos
ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
Desculpe, se não foi à altura da bondade de cada um de
vocês!
Obrigado!
De pé para ficar melhor.
Obrigado, Odiosvaldo, à altura da sua bondade.
Extensão a todos.
SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: Convidamos agora o poeta Cláudio Dória, de Simões Filho.
Cláudio Dória, você tem o tempo de 5, 7 minutos.
SR. CLÁUDIO DÓRIA: - Obrigado. Boa tarde.
Eu
sou
convidado do Edgar Velame.
SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: Cláudio Dória, seja breve por causa do tempo, porque nós ainda
vamos para o Centro Cultural.
temos horário.
Se apresente, o tempo é curto e
SR. CLÁUDIO DÓRIA – POETA: - Ok. Tudo bem.
Meu nome é Cláudio Dória, de Simões Filho, eu vou recitar
o poema:
"As Duas Flores".
São
duas
São
flores
duas
Talvez
do
Vivendo,no
Da
Do
mesma
das
duas
um
um
Como
a
arrebol,
de
as
asas
casal
de
como
os
o
do
suspiro
e
véu.
prantos,
descem
profundezas
céu...
andorinhas
frouxo
parelha
penas
rolinhas,
de
no
sol.
pequenas
do
tribo
em
orvalho,
de
como
bem
Das
galho,
raio
tarde
Unidas,
Como
mesmo
passarinho
Como
Que
nascidas
gota
mesmo
bem
Da
rosas
mesmo
Unidas,
De
unidas
tantos
olhar...
o
desgosto,
Como
as
covinhas
do
rosto,
Como
as
estrelas
do
mar.
Unidas...
Ai
quem
Numa
pudera
eterna
primavera
Viver,
qual
vive
esta
flor.
Juntar
as
rosas
da
vida
Na
rama
verde
e
florida,
Na verde rama do amor!
Obrigado.
SR.
VEREADOR
igualmente.
ODIOSVALDO
VIGAS:
-
Obrigado,
Analice, pega o microfone para o poeta, por
favor.
SR. JOSUÉ RAMIRO – POETA:
NORDESTE SEM COR
Tórrida
terra
Alto
sertão
Brasilidade
Nordestinos
em
foco
Verão assombroso
Noites
Açoites
Onde
Aqui
de
é
gerado
tambem
dias
calóricos
morticínios
já
e
se
dor
viu
Extermínios
de
Até
bichos
pequenos
o
e
grandes
rio
secou
Alhures
lobisomens
Raquíticos
homens
Nordeste
é
Esbanja
o
Aqui
pulava
Numa
A
dor
nosso
saber
Saci
Pererê
perna
mata
está
seca
só
com
a
seca
Crenças
até
Zé
fora
Caipora
Havia
E
lá
Pereira
boi
toca
em
bumbá
nosso
carnavá
Mas...
Gotas
de
Desaguam
E
Nesse
no
ácidas
na
resto
de
nosso
chuvas
rala
vida
que
vegetação
ainda
esquecido
restou
sertão
Nesse Nordeste sem cor.
Viva a poesia!
Viva o Nordeste brasileiro que hoje sofre com mais de
50 anos de tanto horror, de tanta tristeza, tanta dor.
Nordestino, nós nos lembramos de você.
Viva a poesia!
SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: - Para
encerrar, nós vamos assistir agora um vídeo "Desde que o samba é
samba", "Uma lágrima escorrendo sobre uma pele escura", cantada
por Caetano Veloso.
APRESENTAÇÃO DE VÍDEO.
(Continuação...)
(Continuação...)
(Continuação...)
APRESENTAÇÃO DO VÍDEO DE CAETANO VELOSO DESDE QUE O SAMBA É SAMBA
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS Bem companheiros, vocês viram aí esse texto Desde que o Samba é
Samba, a capoeira, o samba, a nossa identidade cultural deste país.
O samba, o lamento, principalmente do negro, quando o negro
cantava, cantava a sua história, cantava a sua tristeza e isso
mostra a identidade desse povo.
Quero agradecer a presença de todos os senhores e
convidamos para o encontro nosso no Centro Cultural, onde lá
teremos a apresentação da professora Graça Ramos, com seu grupo
de artistas que estarão presentes, a execução de um filme chamado
A Noiva, também de Castro Alves, e a declamação de alguns poetas
lá presentes.
Pode tocar a Abolição, de Margareth Menezes, mostrando a
praça dessa galera. Navio negreiro já era, nós vamos conquistar,
vamos adiante, estamos avançando, vamos chegar lá.
Muito obrigado a todos vocês.

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