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C3 - BRASILIA
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QUINTA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO DE 2003
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COR
‘Eles sabiam que Felipe não
os deixaria fazer mal a ela’
Ainda sob efeito de
calmantes, mãe
diz que jovem era
‘amoroso e aplicado’
pela sua cabeça conceder algum tipo de perdão aos assassinos de Liana?
Friedenbach – Em hipótese nenhuma.
BÁRBARA SOUZA
A
Friedenbach: ‘Esse animal só fica na Febem até a próxima rebelião’
inda sonolenta por
conta dos calmantes
que vem tomando desde que soube da morte do filho Felipe, Lenice Silva Caffé, de 51 anos, ouviu o telefone tocar. Foi Sandro, de 31
anos, um dos seus outros três
filhos, quem atendeu e informou à reportagem do EstaAlex Silva/AE–10/11/2003
‘T
Lenice Caffé lembra do filho Felipe como um rapaz cheio de amigos, sempre pronto a ajudá-los
Jornal da Tarde – Qual
avaliação que o senhor faz
sobre a atitude da Justiça
neste caso?
Friedenbach – Todos sabiam que ele era um assassino. A Justiça cumpre o que
a lei manda.
Estado – Amigos dizem que
Felipe era alegre e extrovertido. Como ele era como filho e
estudante?
Lenice Silva Caffé – Um menino amoroso demais. Sempre
muito bem relacionado, nunca
dizia não aos amigos, sempre tinha um ombro para socorrer
as pessoas. Muito aplicado, dedicado mesmo. Na segunda-feira faria um teste para auxiliar
de escritório. E durante a semana prestaria vestibular para Direito na UniFMU. Apesar das
dificuldades, ele perseguia o sonho de ser delegado.
Estado – Que tipo de dificuldades? Financeiras?
Lenice – Sou auxiliar de enfermagem e estou desempregada desde março. Meu último
emprego foi como doméstica.
Está difícil por causa da idade.
Não pago aluguel, mas estou
com as contas atrasadas. O Felipe entrou no São Luís por
causa da nota boa no vestibulinho. Então, a gente pagava R$
45,00 de mensalidade. Mas ele
era esforçado mesmo. Ia e voltava a pé, daqui da Vila da Saúde até o colégio, num percurso
de uns 24 quilômetros. Não faltava. Não reclamava.
Estado – O que a senhora espera que aconteça com os assassinos?
Lenice – Sou católica. Acredito na justiça de Deus e preciso acreditar na justiça dos homens. Até agora, a polícia está
empenhada, o que aumenta minha esperança. Vai adiantar
me revoltar? Isso vai trazer
meu filho de volta à vida? Não,
não vai. Então, espero que paguem pelo que fizeram.
Jornal da Tarde – Sua filha ouviu um ‘não’ ao pedir
para viajar com o namorado. O senhor se arrepende
de ter agido assim?
Friedenbach – Ela nem
chegou a ouvir um não. Nem
chegou a me pedir...
Estado – E como será sua vida daqui para frente?
Lenice – Tenho planos, sim.
Quero e preciso voltar a trabalhar, cuidar dos meus outros filhos, para pensar o menos possível nisso. Estou destroçada,
fragmentada.
Jornal da Tarde – Imagino que depois desse desfecho trágico a raiva deva prevalecer... Quais os outros
sentimentos que ficam?
Após as mortes, jovens dizem ‘não’ a riscos
Em escolas, muitos
adolescentes garantem
que vão repensar
sua rotina
PF prende grupo que roubou
jóias da família Kubitschek
Celso dos Santos.
O cabo do Comando de
Aviação do Exército, Sávio
Paulo Elias Muniz, de 22
anos, é o dono da casa onde
estava o grupo. O pai dele, o
AUBATÉ – Após dois mecânico Júlio Sérgio Muniz,
anos de investigações, ficou surpreso com a chegada
agentes da Polícia Fe- dos agentes. Ele afirmou não
deral prenderam em Taubaté ter suspeitado dos amigos do
11 pessoas, entre elas um me- filho, que está preso no Conor, de uma quadrilha de la- mando do Exército de Taubadrões de bancos e condomí- té. Na casa de Muniz foram
nios. Eles estavam na casa de apreendidas sete pistolas. um
um militar, na Vila São José. fuzil 762, uma submetralhaO grupo confessou ter pratica- dora, uma escopeta calibre
do roubos a banco em Brasí- 12, uma garrucha, armas de
lia, Goiás, Paraná e São Pau- brinquedo, uma pistola de
lo. Os crimes renderam R$ 20 dardos e silenciadores. Havia
milhões em
ainda sistema
jóias e dinheiro.
de monitoraEm um dos
mento de câmeCUSADOS
roubos, na agênras internas, secia do Banco
te celulares, biTINHAM
Regional de
nóculo, máscaBrasília, o grura antigás, coleDOCUMENTOS
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tes à prova de
da família do
balas, uniforFALSOS
ex-presidente
mes do Exército
Juscelino Kue fardas de segubitschek. Há
ranças de um
mais de uma semana, em shopping de Taubaté.
Taubaté, a quadrilha planeOs acusados usavam docujava assaltar bancos e um mentos falsos. O chefe da quacondomínio de luxo em São drilha, Odilavson Gelain, de
José dos Campos.
32 anos, conhecido como Ja“Eles estavam mapeando pa ou Japonês, está entre os
agências da Caixa e do Banco presos. O grupo foi levado pado Brasil. Assaltariam tam- ra a Delegacia da PF em São
bém um condomínio de São José dos Campos. ParticipaJosé dos Campos. Só não sa- ram da investigação 26 polibemos se as ações seriam con- ciais federais de Brasília, do
juntas”, afirmou o delegado Rio, de São Paulo e do Ceará.
da Polícia Federal Antônio (Simone Menochi)
Ladrões estavam em
Taubaté, na casa de um
militar, com armas e
uniformes do Exército
KATIA AZEVEDO
e MARICI CAPITELLI
T
Vidal Cavalcante/AE–11/11/2003
A
do que a mãe não tinha condições de falar. Ela suspirou,
se levantou e pediu para conversar. “Não sou a única
mãe que passa por isso. Espero poder ajudar, no que for
possível, quem precisar de
mim”, disse Lenice, que, durante a entrevista se referiu
aos assassinos do filho apenas como “eles”.
Estado – A senhora acha que
ele pode ter reagido, tentado
fugir dos assassinos?
Lenice – Descarto completamente essa hipótese. Foi
execução sumária, foi só maldade. Eles sabiam que o Felipe não deixaria que fizessem
mal à Liana.
Jornal da Tarde – O senhor pretende ingressar
em algum movimento contra a violência?
Friedenbach – Pretendo,
desde que eu tenha a possibilidade de trabalhar para que
as leis sejam modificadas e
não apenas como forma de
homenagear minha filha.
Gostaria de influir diretamente no Legislativo.
morte de Liana e Felipe fez muitos jovens
pensarem nas vezes
que resolveram, simplesmente, arriscar. Atitudes como
viajar só com o namorado ou
a namorada e ficar na casa de
desconhecidos deixaram de
ser classificadas como “divertidas”. Para eles, viraram
“coisas perigosas”.
“Esses crimes foram um
alerta”, acredita Carlos Antonio Souza, de 20 anos. “Minha namorada tem a mesma
idade da Liana e não vou expô-la a riscos. Viajar, só se for
em turma. É mais seguro.”
A estudante Valéria Matias, de 16 anos, namorada de
Carlos, diz que já se arriscou.
“Fiz algumas loucuras, como
passar a noite numa festa, na
casa de pessoas que mal conhecia”, contou a aluna do
2.º ano do Mackenzie. “Não
vou mais fazer nada parecido. O risco é muito grande.”
Valéria e Carlos conheciam
de vista o casal de namorados
assassinado. “Ele era um menino lindo e ela não desgrudava dele”, afirmou a jovem. “E
ela sempre levava o cachorro
para passear pelas ruas de Higienópolis. Era minha vizinha”, relembrou Carlos.
Composite
Alex Silva/AE–10/11/2003
Friedenbach – Saudades,
Ele diz que quer
tristeza, inconformismo. Me
trabalhar pela mudança sinto desprotegido.
de leis para que possa
Jornal da Tarde – Passa
ser feita justiça
À
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O ESTADO DE S.PAULO - C3
‘Quem mata tem de pagar’,
afirma o pai de Liana
s 16h40 de quarta-feira, uma hora antes da
cerimônia religiosa judaica de Liana Friedenbach,
Jornal da Tarde – E eno pai dela, o advogado Ari contrar-se com eles, vê-los
Friedenbach, conversou pe- de perto?
lo telefone com a reportaFriedenbach – Não porgem do Jornal da Tarde. q u e n ã o r e s p o n d o p o r
Atencioso, com a voz embar- mim...
gada, falou sobre maioridade
Jornal da
penal, sobre a
Tarde – O seODOS
vontade de tranhor pretende
balhar pela musair da cidade
SABIAM QUE
dança de alguquando as coimas leis e sobre
sas se acalmaELE ERA UM
seus sentimenrem?
tos em relação
Friedenbach
ASSASSINO’
aos assassinos
– Não, vou fide sua filha.
car por aqui.
Disse que se
sente “desprotegido”.
Jornal da Tarde – O que
o senhor espera do futuro?
Jornal da Tarde – Por
Friedenbach – Espero
que o senhor é favorável ao não ver os assassinos da mifim da maioridade penal?
nha filha impunes e, de coAri Friedenbach – Al- ração, que a lei seja cumpriguém que mata tem que pa- da. Quero que eles paguem
gar pelo que fez, responder de verdade pelo que fizepelos seus atos. Chega de im- ram. Desejo ver a justiça ser
punidade. Esse animal feita.
(Champinha, um dos assassinos confessos de Liana, que
tem 16 anos) só ficará dentro da Febem até a primeira
rebelião.
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CIDADES
CRIME
MARC TAWIL
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C3 - BRASILIA
Colégio São Luís, onde casal estudava: morte motivou debates
Já a estudante Flávia Alves, de 15 anos, garante que
agora vai prestar mais atenção no que seus pais dizem.
“E também não vou mentir
sobre o local onde estou”, diz
a aluna do 1.º ano da Escola
Estadual Professor Fidelino
de Figueiredo. “Se os pais de
Liana soubessem a verdade,
possivelmente não teriam deixado ela viajar e nada disso teria acontecido.”
A jovem havia dito para a
família que iria para Ilhabela
com amigas e Felipe contou
aos pais que participaria de
um acampamento em grupo.
Mas viajaram sozinhos para
o sítio abandonado.
Para a psicóloga Ana Bock,
de 51 anos, presidente do
Conselho Nacional de Psicologia, é importante que adoles-
centes e pais dialoguem sobre
a exposição aos riscos. “Os
pais devem participar de tudo e explicar sobre os perigos
dos lugares onde os adolescentes vão.”
Hábito – Se depois dos crimes a maioria dos jovens entendeu a preocupação de seus
pais, ainda há quem acredite
que não vale a pena mudar
certos hábitos. “Já acampei
várias vezes em praias desertas e pretendo continuar.
Acho que a violência pode estar em qualquer lugar”, disse
Rodrigo Lindgrand, de 20
anos, que cursa Engenharia
no Mackenzie. “As coisas
acontecem independentemente da nossa vontade”, acredita Anté Laiza, de 15, aluno do
Rio Branco.
A
Na Bahia, bando
ataca ônibus que
transporta índios
BIAGGIO TALENTO
SALVADOR – Pela segunda vez em menos de um mês
um ônibus usado no transporte
de índios Pataxós Hã-Hã-Hãe
foi atacado por pistoleiros no
município de Pau Brasil, a 550
quilômetros da capital baiana.
O ônibus foi invadido por três
homens armados, quando o motorista retornava sozinho para
o centro da cidade, depois de
deixar estudantes pataxós na aldeia caramuru. No fim de outubro um ônibus da Fundação
Nacional de Apoio ao Índio
(Funai) foi incendiado, provavelmente pelo mesmo grupo.
O novo ataque ocorreu na
noite de segunda-feira. Os três
homens renderam o motorista
da Viação Camaçari, cujo nome não foi divulgado, e exigiram que ele não transportasse
mais pataxós. Também levaram a chave da ignição. Quando o motorista deu a partida
com a chave reserva, os agressores dispararam, estilhaçando o pára-brisa e os faróis.
O motorista conseguiu levar
o veículo até a delegacia de
Pau Brasil para registrar a
queixa. A empresa anunciou
que só voltará a transportar índios com proteção policial. A
comunidade indígena quer garantias para que suas crianças
possam ir à escola. Há anos índios e fazendeiros disputam
terras na região.