Leia na íntegra, em PDF.
Transcrição
Leia na íntegra, em PDF.
Produto: ESTADO - SP - 3 - 13/11/03 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% Produto: ESTADO - SP - 3 - 13/11/03 C3 - BRASILIA 98% 100% PB QUINTA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO DE 2003 %HermesFileInfo:C-3:20031113: 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% Composite 70% 80% 85% 100% COR ‘Eles sabiam que Felipe não os deixaria fazer mal a ela’ Ainda sob efeito de calmantes, mãe diz que jovem era ‘amoroso e aplicado’ pela sua cabeça conceder algum tipo de perdão aos assassinos de Liana? Friedenbach – Em hipótese nenhuma. BÁRBARA SOUZA A Friedenbach: ‘Esse animal só fica na Febem até a próxima rebelião’ inda sonolenta por conta dos calmantes que vem tomando desde que soube da morte do filho Felipe, Lenice Silva Caffé, de 51 anos, ouviu o telefone tocar. Foi Sandro, de 31 anos, um dos seus outros três filhos, quem atendeu e informou à reportagem do EstaAlex Silva/AE–10/11/2003 ‘T Lenice Caffé lembra do filho Felipe como um rapaz cheio de amigos, sempre pronto a ajudá-los Jornal da Tarde – Qual avaliação que o senhor faz sobre a atitude da Justiça neste caso? Friedenbach – Todos sabiam que ele era um assassino. A Justiça cumpre o que a lei manda. Estado – Amigos dizem que Felipe era alegre e extrovertido. Como ele era como filho e estudante? Lenice Silva Caffé – Um menino amoroso demais. Sempre muito bem relacionado, nunca dizia não aos amigos, sempre tinha um ombro para socorrer as pessoas. Muito aplicado, dedicado mesmo. Na segunda-feira faria um teste para auxiliar de escritório. E durante a semana prestaria vestibular para Direito na UniFMU. Apesar das dificuldades, ele perseguia o sonho de ser delegado. Estado – Que tipo de dificuldades? Financeiras? Lenice – Sou auxiliar de enfermagem e estou desempregada desde março. Meu último emprego foi como doméstica. Está difícil por causa da idade. Não pago aluguel, mas estou com as contas atrasadas. O Felipe entrou no São Luís por causa da nota boa no vestibulinho. Então, a gente pagava R$ 45,00 de mensalidade. Mas ele era esforçado mesmo. Ia e voltava a pé, daqui da Vila da Saúde até o colégio, num percurso de uns 24 quilômetros. Não faltava. Não reclamava. Estado – O que a senhora espera que aconteça com os assassinos? Lenice – Sou católica. Acredito na justiça de Deus e preciso acreditar na justiça dos homens. Até agora, a polícia está empenhada, o que aumenta minha esperança. Vai adiantar me revoltar? Isso vai trazer meu filho de volta à vida? Não, não vai. Então, espero que paguem pelo que fizeram. Jornal da Tarde – Sua filha ouviu um ‘não’ ao pedir para viajar com o namorado. O senhor se arrepende de ter agido assim? Friedenbach – Ela nem chegou a ouvir um não. Nem chegou a me pedir... Estado – E como será sua vida daqui para frente? Lenice – Tenho planos, sim. Quero e preciso voltar a trabalhar, cuidar dos meus outros filhos, para pensar o menos possível nisso. Estou destroçada, fragmentada. Jornal da Tarde – Imagino que depois desse desfecho trágico a raiva deva prevalecer... Quais os outros sentimentos que ficam? Após as mortes, jovens dizem ‘não’ a riscos Em escolas, muitos adolescentes garantem que vão repensar sua rotina PF prende grupo que roubou jóias da família Kubitschek Celso dos Santos. O cabo do Comando de Aviação do Exército, Sávio Paulo Elias Muniz, de 22 anos, é o dono da casa onde estava o grupo. O pai dele, o AUBATÉ – Após dois mecânico Júlio Sérgio Muniz, anos de investigações, ficou surpreso com a chegada agentes da Polícia Fe- dos agentes. Ele afirmou não deral prenderam em Taubaté ter suspeitado dos amigos do 11 pessoas, entre elas um me- filho, que está preso no Conor, de uma quadrilha de la- mando do Exército de Taubadrões de bancos e condomí- té. Na casa de Muniz foram nios. Eles estavam na casa de apreendidas sete pistolas. um um militar, na Vila São José. fuzil 762, uma submetralhaO grupo confessou ter pratica- dora, uma escopeta calibre do roubos a banco em Brasí- 12, uma garrucha, armas de lia, Goiás, Paraná e São Pau- brinquedo, uma pistola de lo. Os crimes renderam R$ 20 dardos e silenciadores. Havia milhões em ainda sistema jóias e dinheiro. de monitoraEm um dos mento de câmeCUSADOS roubos, na agênras internas, secia do Banco te celulares, biTINHAM Regional de nóculo, máscaBrasília, o grura antigás, coleDOCUMENTOS po levou jóias tes à prova de da família do balas, uniforFALSOS ex-presidente mes do Exército Juscelino Kue fardas de segubitschek. Há ranças de um mais de uma semana, em shopping de Taubaté. Taubaté, a quadrilha planeOs acusados usavam docujava assaltar bancos e um mentos falsos. O chefe da quacondomínio de luxo em São drilha, Odilavson Gelain, de José dos Campos. 32 anos, conhecido como Ja“Eles estavam mapeando pa ou Japonês, está entre os agências da Caixa e do Banco presos. O grupo foi levado pado Brasil. Assaltariam tam- ra a Delegacia da PF em São bém um condomínio de São José dos Campos. ParticipaJosé dos Campos. Só não sa- ram da investigação 26 polibemos se as ações seriam con- ciais federais de Brasília, do juntas”, afirmou o delegado Rio, de São Paulo e do Ceará. da Polícia Federal Antônio (Simone Menochi) Ladrões estavam em Taubaté, na casa de um militar, com armas e uniformes do Exército KATIA AZEVEDO e MARICI CAPITELLI T Vidal Cavalcante/AE–11/11/2003 A do que a mãe não tinha condições de falar. Ela suspirou, se levantou e pediu para conversar. “Não sou a única mãe que passa por isso. Espero poder ajudar, no que for possível, quem precisar de mim”, disse Lenice, que, durante a entrevista se referiu aos assassinos do filho apenas como “eles”. Estado – A senhora acha que ele pode ter reagido, tentado fugir dos assassinos? Lenice – Descarto completamente essa hipótese. Foi execução sumária, foi só maldade. Eles sabiam que o Felipe não deixaria que fizessem mal à Liana. Jornal da Tarde – O senhor pretende ingressar em algum movimento contra a violência? Friedenbach – Pretendo, desde que eu tenha a possibilidade de trabalhar para que as leis sejam modificadas e não apenas como forma de homenagear minha filha. Gostaria de influir diretamente no Legislativo. morte de Liana e Felipe fez muitos jovens pensarem nas vezes que resolveram, simplesmente, arriscar. Atitudes como viajar só com o namorado ou a namorada e ficar na casa de desconhecidos deixaram de ser classificadas como “divertidas”. Para eles, viraram “coisas perigosas”. “Esses crimes foram um alerta”, acredita Carlos Antonio Souza, de 20 anos. “Minha namorada tem a mesma idade da Liana e não vou expô-la a riscos. Viajar, só se for em turma. É mais seguro.” A estudante Valéria Matias, de 16 anos, namorada de Carlos, diz que já se arriscou. “Fiz algumas loucuras, como passar a noite numa festa, na casa de pessoas que mal conhecia”, contou a aluna do 2.º ano do Mackenzie. “Não vou mais fazer nada parecido. O risco é muito grande.” Valéria e Carlos conheciam de vista o casal de namorados assassinado. “Ele era um menino lindo e ela não desgrudava dele”, afirmou a jovem. “E ela sempre levava o cachorro para passear pelas ruas de Higienópolis. Era minha vizinha”, relembrou Carlos. Composite Alex Silva/AE–10/11/2003 Friedenbach – Saudades, Ele diz que quer tristeza, inconformismo. Me trabalhar pela mudança sinto desprotegido. de leis para que possa Jornal da Tarde – Passa ser feita justiça À 98% O ESTADO DE S.PAULO - C3 ‘Quem mata tem de pagar’, afirma o pai de Liana s 16h40 de quarta-feira, uma hora antes da cerimônia religiosa judaica de Liana Friedenbach, Jornal da Tarde – E eno pai dela, o advogado Ari contrar-se com eles, vê-los Friedenbach, conversou pe- de perto? lo telefone com a reportaFriedenbach – Não porgem do Jornal da Tarde. q u e n ã o r e s p o n d o p o r Atencioso, com a voz embar- mim... gada, falou sobre maioridade Jornal da penal, sobre a Tarde – O seODOS vontade de tranhor pretende balhar pela musair da cidade SABIAM QUE dança de alguquando as coimas leis e sobre sas se acalmaELE ERA UM seus sentimenrem? tos em relação Friedenbach ASSASSINO’ aos assassinos – Não, vou fide sua filha. car por aqui. Disse que se sente “desprotegido”. Jornal da Tarde – O que o senhor espera do futuro? Jornal da Tarde – Por Friedenbach – Espero que o senhor é favorável ao não ver os assassinos da mifim da maioridade penal? nha filha impunes e, de coAri Friedenbach – Al- ração, que a lei seja cumpriguém que mata tem que pa- da. Quero que eles paguem gar pelo que fez, responder de verdade pelo que fizepelos seus atos. Chega de im- ram. Desejo ver a justiça ser punidade. Esse animal feita. (Champinha, um dos assassinos confessos de Liana, que tem 16 anos) só ficará dentro da Febem até a primeira rebelião. 95% CIDADES CRIME MARC TAWIL 90% C3 - BRASILIA Colégio São Luís, onde casal estudava: morte motivou debates Já a estudante Flávia Alves, de 15 anos, garante que agora vai prestar mais atenção no que seus pais dizem. “E também não vou mentir sobre o local onde estou”, diz a aluna do 1.º ano da Escola Estadual Professor Fidelino de Figueiredo. “Se os pais de Liana soubessem a verdade, possivelmente não teriam deixado ela viajar e nada disso teria acontecido.” A jovem havia dito para a família que iria para Ilhabela com amigas e Felipe contou aos pais que participaria de um acampamento em grupo. Mas viajaram sozinhos para o sítio abandonado. Para a psicóloga Ana Bock, de 51 anos, presidente do Conselho Nacional de Psicologia, é importante que adoles- centes e pais dialoguem sobre a exposição aos riscos. “Os pais devem participar de tudo e explicar sobre os perigos dos lugares onde os adolescentes vão.” Hábito – Se depois dos crimes a maioria dos jovens entendeu a preocupação de seus pais, ainda há quem acredite que não vale a pena mudar certos hábitos. “Já acampei várias vezes em praias desertas e pretendo continuar. Acho que a violência pode estar em qualquer lugar”, disse Rodrigo Lindgrand, de 20 anos, que cursa Engenharia no Mackenzie. “As coisas acontecem independentemente da nossa vontade”, acredita Anté Laiza, de 15, aluno do Rio Branco. A Na Bahia, bando ataca ônibus que transporta índios BIAGGIO TALENTO SALVADOR – Pela segunda vez em menos de um mês um ônibus usado no transporte de índios Pataxós Hã-Hã-Hãe foi atacado por pistoleiros no município de Pau Brasil, a 550 quilômetros da capital baiana. O ônibus foi invadido por três homens armados, quando o motorista retornava sozinho para o centro da cidade, depois de deixar estudantes pataxós na aldeia caramuru. No fim de outubro um ônibus da Fundação Nacional de Apoio ao Índio (Funai) foi incendiado, provavelmente pelo mesmo grupo. O novo ataque ocorreu na noite de segunda-feira. Os três homens renderam o motorista da Viação Camaçari, cujo nome não foi divulgado, e exigiram que ele não transportasse mais pataxós. Também levaram a chave da ignição. Quando o motorista deu a partida com a chave reserva, os agressores dispararam, estilhaçando o pára-brisa e os faróis. O motorista conseguiu levar o veículo até a delegacia de Pau Brasil para registrar a queixa. A empresa anunciou que só voltará a transportar índios com proteção policial. A comunidade indígena quer garantias para que suas crianças possam ir à escola. Há anos índios e fazendeiros disputam terras na região.