imaginar mais - Associação Guias de Portugal
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imaginar mais - Associação Guias de Portugal
ASSOCIAÇÃO GUIAS DE PORTUGAL 2013 | 13ª SÉRIE | 1,50€ mais do que um grupo… somos unidas mais do que cooperar… descobrimos com o Outro mais do que aprender… crescemos juntas mais do que caminhar juntas… construímos a amizade INTERNACIONAL Neste Jornal Alvorada Imaginar um futuro diferente para as raparigas e jovens mulheres imaginar mais Igualdade de género: uma realidade urgente um fogo de conselho especial 03 09 VIDA DA ASSOCIAÇÃO Uma rubrica de jornal diferente 20 guias, 20 totens 04 · Existe um memorial em homenagem aos nossos fundadores, na famosa Abadia de Westminster? Que venham desafios Orientadoras de estágio em formação A companhia de Santarém está de parabéns E então, 30 anos já la vão... Como é ser rapariga e mulher em portugal? Presidente da Junta de Freguesia e guias de Odivelas de mãos dadas Desporto em forma de trevo Faz-me rir A obesidade infantil ainda é uma preocupação Decorria o meu acampamento de Atestado de Campo. A patrulha Sal, da minha frota, saiu para raid e cruzou-se com uma senhora que lhes disse “you are girl guides!” (vocês são guias!). Treinaram o inglês e ficaram a saber que Kate Podmore tinha sido dirigente das Brownies, em Inglaterra, e que inclusive tinha conhecido Lady Baden Powell. Ensinou-lhes uma música, rabiscou-a num papel e explicou-lhes o seu significado. Decidimos ir até casa da Kate, pois esta era perto do local do acampamento. Convidámo-la para o fogo de conselho no qual participou, trazendo consigo um maço de folhas com canções e histórias para contar. Ajudar é fácil Foi um momento único de partilha, de espírito guidista internacional que ficará para sempre guardado nas nossas memórias! Direitos Humanos: do acampamento nacional para a escola Patrícia Jorge Avezinhas animam casa de repouso Estagiária do Ramo Caravela 1ª Companhia de Monchique Região de Faro Objectivos do Desenvolvimento do Milénio: do dia mundial do pensamento pra a escola Recolha de donativos para canil A minha escola recolhe rolhas A fantástica aventura Não sou guia apenas quando visto a farda 18 INTERNACIONAL Stop the Violence Seminário Juliette Low Avezinhas correspondem-se com Daisys Descobre as palavras escondidas tenta em todas as direções “No mundo que imaginamos para as raparigas existe…” De Portugal para a Polónia Jornal O Trevo chega à Argentina Um fogo de conselho especial Educação Confiança Segurança Direitos Liberdade Igualdade Felicidade Saúde Oportunidades FICHA TÉCNICA Jus a Amor Proprietário: Associação Guias de Portugal Conceção Gráfica: White_Brand Services Impressão e acabamento: Ondagrafe, Artes Gráficas Lda. Tiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal nº239055/06 Região de faro Valores ALVORADA ALVORADA Imaginar um futuro diferente para as raparigas e jovens mulheres Nesta edição do Trevo, convidamos todos/as a imaginar um mundo onde as raparigas e jovens mulheres são totalmente livres e seguras e no qual podem realizar todo o seu potencial. Temos comprovado, junto das jovens raparigas, a eficácia da educação, nomeadamente da educação não formal, na abordagem de temáticas tão importantes como a saúde, o ambiente, o trabalho, o espaço social, o desporto e cultura, a igualdade de género e muitas outras. Fomentando nas jovens não só a capacidade de identificar problemas, mas também de fazerem parte das soluções. Como uma organização totalmente comprometida e dedicada ao trabalho com as raparigas e jovens mulheres, e tendo como missão proporcionar-lhes a oportunidade de desenvolverem plenamente o seu potencial como cidadãs universais responsáveis, compreendemos a importância de referir nesta edição alguns temas desafiantes da atualidade. Em particular no que diz respeito à violência. A Associação Mundial das Guias desafia as guias e a sociedade em geral a agir contra os vários tipos de violência que afetam as raparigas e mulheres, através da campanha “Stop the Violence, speak out for girls’ rights’’. As raparigas e mulheres são particularmente vulneráveis à violência e esta campanha irá contribuir para que sejam elas as impulsionadoras da mudança que querem ver no mundo. COMISSÃO EXECUTIVA Presidente: Sara Nobre Comissária Nacional: Catarina Rebelo C. Financeira: Mafalda Almeida C. Publicações: Carolina Abrantes C. N. Ramo Avezinha: Joana Alves C. N. A. Ramo Avezinha: Maria João Charréu C. N. Ramo Aventura: Sara Torres C. N. Ramo Caravela: Joana Queiroz C. N. Ramo Moinho: Elsa Alves Este Trevo é um exercício de imaginação e de ação. Imaginar mais para as raparigas…. Imaginar um mundo onde todas as raparigas são valorizadas e tratadas de forma igual. Imaginar um mundo onde todas as raparigas estão seguras e têm uma voz ativa. Imaginar um mundo onde as raparigas são saudáveis, podem crescer e aprender. Imaginar um mundo de raparigas felizes, apoiadas pelos seus amigos e familiares. Imaginar um mundo onde cada rapariga pode alcançar o seu pleno potencial. Impossível de imaginar? Utopia? Não. O guidismo transforma a imaginação em realidade. Somos 10 milhões de guias em todo o mundo e, mais do que apenas palavras, nós temos uma voz. Imagina mais! Presidente e Comissária Nacional 13ª série 2013 03 IMAGINAR MAIS imaginar mais Igualdade de género: uma realidade urgente entrevista com a associação corações com coroa A Associação Corações com Coroa (CCC) nasce em 2012. Qual a razão da criação de uma associação como esta em Portugal? Catarina Furtado, Presidente da Associação, através da sua experiência como Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), desde 2000, sentiu necessidade de fazer nascer a CCC porque sabe que existem inúmeros pontos em comum entre os objetivos da mesma e o trabalho que a própria realiza no terreno nos países em desenvolvimento, nas áreas da Saúde, incluindo a Sexual e Reprodutiva, Igualdade de Género, Violência sobre as Mulheres, Maternidade Segura, Maternidade/Paternidade Adolescente, entre outras. l trabalhar É essencia no sentido mento, ra do empode lerar e c a m de u ação da particip s em re das mulhe processos s o s o tod os e mecanism . de decisão Sentimos que há, em Portugal, espaço para atuar no que diz respeito à Igualdade de Direitos, nomeadamente em relação ao género, meninas, jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade e risco. Sabemos que, ao informar, comunicar e partilhar com base nos princípios que nos unem estamos a apoiar e a investir na Igualdade de Oportunidades. Queremos que a “Corações com Coroa” seja um espaço de inclusão, formação, participação cívica e apoio, promovendo o acesso a cuidados de saúde e educação em prol da autonomia, autoconfiança e proteção. O que imaginam para a educação com vista à igualdade de género, em Portugal e no Mundo? Igualdade de Género precisa de estar mais presente nos discursos nacionais e internacionais, incluindo os que são junto das Nações Unidas e União Europeia, mas também nas práticas das decisões técnicas e políticas, incluindo nos recursos afetos, na praxis de profissionais e instituições. É importante perceber que a Igualdade de Género tem por base cenários muito diferentes onde 04 a discriminação e as desigualdades são realidades e nem sempre a prevenção existe e é efetiva. Os bons resultados na manutenção das raparigas no sistema de ensino e a taxas de sucesso de saúde materno-infantil que Portugal alcançou não só devem ser partilhadas com outros países, como têm de ser visíveis ao nível das chefias e lideranças e não podemos recuar. É essencial trabalhar no sentido do empoderamento, de um acelerar da participação das mulheres em todos os processos e mecanismos de decisão: a nível individual, familiar, profissional mas também nas empresas, nas instituições públicas e privadas. À medida que o processo legislativo avança, precisamos no terreno de reforçar e garantir que as medidas, os programas e as prioridades estabelecidas têm em atenção o impacto que podem ou não ter na Igualdade…as estatísticas existem e os estudos também, precisamos de dar passos mais consistentes e coerentes. A maternidade adolescente, os casamentos forçados, a baixa presença de mulheres nas administrações das principais empresas, nos governos, nos institutos públicos, a dupla e tripla jornada de trabalho, são algumas da realidades que constatamos no dia a dia. Meninas e mulheres em primeiro lugar é um dos nossos lemas, mas não é um lema individual, mas sim civilizacional. Que formas de educar e promover a igualdade de género incluem no vosso programa de atividades? A Igualdade de Género é uma estratégia eficaz para Combater a Pobreza e a Exclusão Social, para isso é essencial para a CCC garantir o desenvolvimento de uma consciência social e política em torno do lema - Apoiar uma mulher é apoiar uma família, uma comunidade, um país. Sabemos que quando IMAGINAR MAIS as mulheres têm oportunidades, são saudáveis, têm acesso a educação e fazem livre e conscientemente as suas escolhas, existem benefícios em áreas, como a redução da pobreza, bons índices de saúde e a sustentabilidade de recursos naturais. A CCC trabalha no sentido de promover respostas sociais que ajudem a prevenir e a contrariar a exclusão das crianças, das jovens e das mulheres e apoiar mães, que por força das circunstâncias não consigam assegurar aos seus filhos e filhas uma educação completa que os estimule e prepare para o futuro. É crucial que existam abordagens e campanhas que, para além da evidência dos números da discriminação e das vítimas, também se centrem na dimensão dos direitos humanos e empoderamento. A Igualdade de Género é um direito, mas será que as pessoas (mesmo enquanto profissionais de várias áreas) têm uma efetiva consciência de que modo esse direito é ou não reconhecido nos quotidianos familiares, institucionais e profissionais? E actuam como agentes de mudança? É nesse sentido que a CCC está a identificar e reunir as condições necessárias para a implementação do Projeto “LUGAR DO MUNDO” que incluirá o Espaço dos Direitos, o Espaço da Educação e o Espaço dos Afetos, com enfoque nas adolescentes 13-18 anos e nas jovens mulheres em situação de risco social. No nosso Plano de Atividades, temos, entre outros projetos, a criação e organização da Bolsa de Estudo CCC para meninas e jovens, as Campanhas de Informação, Educação e Comunicação, a 1ª Edição do Prémio de Comunicação pelos Direitos Humanos, Cidadania e Desenvolvimento: Corações Capazes de Construir /Sonae MC e ainda colocaremos em marcha o Atendimento/ Aconselhamento na nossa sede, entre muitas outras atividades, incluindo o resultado do Protocolo com o ISCSP/ UTL onde, para além de histórias de vida, estamos também a conhecer algumas das respostas sociais que existem ao nosso redor. No primeiro ano a “Corações com Coroa” vai dedicar-se sobretudo à dimensão da igualdade de oportunidades. Quais sentem ser as áreas onde a igualdade de oportunidades está ainda longe do desejável no que respeita às raparigas e jovens mulheres? E quais as conquistas dos últimos anos em Portugal? As conquistas mais significativas serão as que se prendem com questões de saúde, participação política e educação. Há avanços significativos e ganhos em matéria de Saúde na Mulher, no que respeita, por exemplo, a flagelos como a Violência Doméstica e a Mortalidade Materna. No entanto os avanços civilizacionais e funcionais da ação necessária sobre os mecanismos e efeitos da discriminação e das desigualdades sobre as raparigas e mulheres tardam a chegar. Se olharmos os dados que todos os dias nos chegam, facilmente percebemos isso, não falamos de casos individuais ou particulares, porque esses frequentemente são a exceção e não têm o impacto de modelo a replicar, por muito positivos que sejam. Quando olhamos as imagens das reuniões de chefias das empresas, dos comentários políticos, dos conselhos de administração, da precariedade, da ajuda de emergência ou humanitária, das associações profissionais, dos movimentos sindicais, das academias, entre outros, vislumbramos facilmente que as raparigas e mulheres são mais frequentes no público do que no “palco” ou no púlpito da liderança, mas quando olhamos os números da vitimização, das mortes por ausência de medicamentos ou serviços essenciais, do desemprego, da precariedade, elas estão de facto na primeira linha. Qual sentem que pode ser o contributo da Associação Guias de Portugal (AGP) para a educação para a igualdade de género? A AGP é uma associação reconhecida pela sua atuação em matéria de educação para a autonomia e responsabilidade, pela promoção da participação ativa das raparigas, também no contexto do desenvolvimento global, por isso, será sempre um parceiro possível para quem, como a CCC, tem nos seus objetivos os Direitos Humanos através do exercício de uma cidadania ativa, tendo em atenção as barreiras socioculturais que ainda existem à Igualdade de Género. Associação Corações com Coroa CORAÇÕES CAPAZES DE CONSTRUIR Como é ser rapariga e mulher em portugal? Pela associação mulheres em acção Esta é uma das questões sobre que me pediram que escrevesse e que costuma ser associada aos direitos: direito à igualdade de acesso ao emprego, direito à igualdade salarial, etc. Para falar de direitos temos que falar de deveres e para falar de deveres temos que falar de quem sou, o que é ser mulher. Vou por isso partilhar convosco, Guias de Portugal, um pouco de mim, que é um pouco do sabor que a vida me tem dado. Primeiro, não é uma questão para responder agora, mas para irmos respondendo com a vida. Diria que viver é também sempre responder. Responder às inquietações do nosso coração, e temos aqui um segundo passo. Com o estudo, com as experiências da nossa vida, se quiserem de outra forma, diria com a razão e com a sabedoria. Terceiro, temos para tal que parar, para escutar a alma feminina que vive em nós e depois dialogar com ela. Sem isto jamais seremos mulheres. Porquê? Ora porque não posso dar o que não tenho. Se não me tenho naquilo que sou, uma mulher, como me posso dar? Assim é importante que conversem convosco próprias e que troquem ideias com outras raparigas e mulheres. Vão perceber que há realidades muito específicas de ser mulher. Uma dessas muitas realidades, talvez a mais fácil de observar, é a maternidade. A maternidade 13ª série 2013 05 IMAGINAR MAIS é um dom imenso, extraordinário que nos foi dado (eu acredito que por Deus) e que diz muito do nosso “ser mulher”, na sua totalidade, isto é, não apenas quanto ao nosso corpo, mas também quanto à nossa alma feminina. Observem, em conversas com os vossos pais e ou amigos, como a paternidade é tão diferente. Com isto não procuro dizer quem é o melhor, mas sim contemplar essa verdade existencial. Outra particularidade nossa é a forma como o nosso coração ama. Podíamos ainda falar de muitas outras situações, mas o que gostaria de vos referir é que, sem este conhecimento objetivo de quem sou, poderei fazer opções que vão contra mim. Por exemplo, o aborto é sempre uma destas situações. Outro exemplo completamente diferente é o trabalho. O trabalho ou mais concretamente certo tipo de trabalho, pode ser uma opção que vai contra aquilo que é a minha pessoa, ser mulher. Por isso é que hoje em dia se fala muito na conciliação família trabalho. Muitas mulheres portuguesas sofrem muito por terem que trabalhar e deixar os filhos a cargo de outras pessoas. Por fim, deixo-vos um quarto ponto: como quero viver o ser mulher? Hoje em dia abrem-se muitas possibilidades para a nossa realização enquanto mulheres. É importante fazer – antes das escolhas – uma boa análise com o fim de perceber se essas escolhas não impedem a nossa realização e dignidade enquanto mulheres. A nossa ação na família, nas empresas, na sociedade nunca pode ir contra o que somos e, se assim for, temos que optar. Como sabem, atualmente vivemos uma crise séria, económica e humanamente. Um dos fatores que originou esta crise foi muitas vezes não sermos capazes de optar: porque queremos tudo e tudo naquele momento. A vida e o nosso ser têm primaveras, outonos, invernos e verões. Ser mulher é conhecer também as nossas estações para que as nossas sementeiras (opções) possam dar fruto. Enquanto Guias de Portugal, sejam capazes de fazer opções coerentes e que sejam exemplos de verdade para convosco e para com os outros. Com esse testemunho, poderão guiar muitas outras raparigas na construção de uma sociedade mais fraterna, mais justa e mais feliz. Alexandra Teté Dirigente Associativa da Associação Mulheres em Acção desporto em forma de trevo pela associação portuguesa mulheres e desporto O Desporto e a Educação Física, enquanto meios de humanização, de civilização são um capítulo da história universal. E a história universal constrói-se, escreve-se, século a século, década a década, dia a dia. A história universal declina-se, também no capítulo dedicado ao Desporto e à Educação Física, no masculino, assim como no feminino. Contrariamente ao que muitos proclamam, o Desporto não tem sexo único. Se comungamos da posição de que o Desporto é um bem inestimável e património da humanidade, como é possível pensar em arredar as raparigas dele? Como é possível que raparigas se possam sentir desvalorizadas ou com menos oportunidades no Desporto, Escolar ou noutros contextos de prática, e permaneçam acanhadas e caladas? O Desporto e a Educação Física são, ou devem ser, um meio de educação, de cidadania, uma experiência que se vive de corpo e alma. O desporto pode contribuir para um modo de vida saudável, para fazermos amigas e amigos, para socializarmos e batermos recordes pessoais. O Desporto é um meio de empoderamento. São estes desafios que raparigas e mulheres devem enfrentar: desmistifiquem a ideia feita de que o Desporto é coisa só para alguns, ou que alguns têm mais direitos do que algumas. a mulheres de 1928 a 1960). Brunei (ao norte da Malásia) e Qatar (ao leste da Arábia Saudita) também inauguraram a sua participação feminina. Um trevo de quatro folhas? Será que na próxima olimpíada os homens vão reclamar a sua participação na natação sincronizada e na ginástica rítmica? Não imagino mulheres a oporem-se a essa pretensão. As provas dadas por mulheres no Desporto, à custa de avanços e recuos e realizadas muitas vezes a braço de ferro, nomeadamente na alta competição, são indeléveis, indestrutíveis. Custaram muito esforço, suor e lágrimas; deixaram a nós, raparigas e mulheres, um testemunho de perseverança. Mais um reparo, e sem comentários: Rebeca Soni (JO, 2012) foi medalha de ouro nos 200 m bruços e 4x100m. No dia 2 de agosto, o comentador de um canal português de TV, que transmitia a prova de 200 metros bruços, confessava: “Até me custa acreditar que uma mulher tenha feito este tempo”. Imagine-se o caminho que teve de ser lavrado e calcorreado, desde 1900, para que, apenas nos Jogos Olímpicos (JO) de 2012 Londres, mulheres pudessem competir em todas as modalidades nas quais os homens competiam. Assinale-se que todas as 204 nações participantes enviaram mulheres a Londres. Outros países, que tradicionalmente proibiam as mulheres dessas competições, passaram a permiti-las: é o caso da Arábia Saudita, que enviou duas atletas (Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani no judo, categoria 78 quilos; e Sarah Attar, na corrida de 800 metros, prova interdita As mulheres são uma mais-valia nas sociedades. Quando preconceitos, estereótipos e injustiças baseadas no sexo limitam a vida e a presença de mulheres em várias estâncias sociais, isso significa injustiça, mesquinhez, pobreza de espírito e material, discriminação, …. Numa só palavra: estupidez. Imagina a diferença que podes fazer ou ajudar a fazer! 06 Paula Botelho Gomes Presidente da Associação Portuguesa Mulheres e Desporto IMAGINAR MAIS a obesidade infantil ainda é uma preocupação entrevista com a apcoi associação portuguesa contra a obesidade infantil Quais os critérios para afirmar que determinada criança tem excesso de peso ou sofre de obesidade infantil? O diagnóstico de uma situação de excesso de peso ou obesidade infantil tem por base critérios estabelecidos pela comunidade médica e científica a nível internacional, com adaptações locais, como acontece no caso da Europa. A atual crise económica e financeira em que nos encontramos, pode agudizar estes dados? Ou, por outro lado, prevenir estas situações não é sinónimo de custos elevados? A maior preocupação neste momento em relação à atual crise económica e financeira é o agravamento dos maus hábitos já existentes no que diz respeito à alimentação e ao sedentarismo. As dificuldades Em primeiro lugar, deve financeiras levam a que as medir-se a altura da criança pessoas façam opções ainda e pesá-la para se poder menos saudáveis. Por exemplo, calcular o Índice de Massa há cada vez menos crianças Corporal (IMC), dividindo a praticar desporto fora da o peso (em kg) pelo quadrado escola, uma realidade várias da altura (em metros). vezes atribuída à diminuição O passo seguinte é analisar dos orçamentos familiares as tabelas de percentis e que contribui para que disponíveis no Boletim as novas gerações tenham uma de Saúde em função do vida mais sedentária. Mas esta género e da idade da criança, é uma questão que se coloca há para saber qual o percentil vários anos, sendo Portugal um correspondente ao IMC que dos países com maior índice obteve. Se o percentil for de inatividade física da europa, superior a 85, significa que embora a situação possa vir a criança tem excesso de a agravar-se neste contexto. peso, caso seja superior Em relação à alimentação, a 95, é considerado um o mesmo se verifica, por caso de obesidade. Os primeiros dados revelados exemplo, uma família que tinha o hábito de ir jantar fora de casa pelo Sistema Europeu de Este diagnóstico só poderá Vigilância Nutricional Infantil uma vez por semana ou todos ser feito com crianças a partir da Organização Mundial os meses para que nenhum dos 2 anos. O ideal é que esse de Saúde indicam que: membro da família tivesse que diagnóstico seja realizado cozinhar, hoje não sai, mas mais de 90% das crianças por um profissional, para opta por fazer mais refeições portuguesas come fast-food, que, em cada caso, possa pré-cozinhadas. E isso também doces e bebe refrigerantes, ser de imediato fornecido é fast-food, porque na maioria pelo menos quatro vezes por aconselhamento especializado semana. Menos de 1% das dos casos essas refeições ou, eventualmente, um contêm doses elevadas de sal, crianças bebe água todos encaminhamento para açúcar e gordura. É por essa os dias e só 2% consome tratamento adequado. razão que os especialistas fruta fresca diariamente. chamam a atenção para o facto Quase 60% das crianças vão A APCOI realiza regularmente para a escola de carro de que a crise económica pode rastreios gratuitos onde as potenciar um aumento de casos e apenas 40% participam em crianças são atendidas por de má nutrição, excesso de peso atividades extracurriculares nutricionistas voluntários. que envolvam atividade física. e obesidade infantil. Em Portugal, uma em cada três crianças tem excesso de peso ou obesidade infantil, segundo os estudos mais recentes da Organização Mundial de Saúde. Estas estatísticas têm crescido ou diminuído? De acordo com os resultados nacionais do estudo COSI (Sistema Europeu de Vigilância Nutricional Infantil) da Organização Mundial de Saúde, conduzidos em Portugal pelo INSA (Instituto Nacional de Saúde), em 2008, na faixa etária dos 6 aos 8 anos, a prevalência do excesso de peso era de 32% e da obesidade era de 13,9%. Em 2010, o mesmo estudo apresentou os seguintes resultados: 30,2% das crianças têm excesso de peso, das quais 14,3% são obesas. Ou seja, não houve uma alteração significativa destas prevalências, embora se tenha verificado uma ligeira diminuição do excesso de peso e um pequeno aumento nos casos de obesidade. 13ª série 2013 07 IMAGINAR MAIS % das Mais de 90 uguesas ort crianças p ood, -f come fast e b doces e be , pelo s e refrigerant ro t menos qua mana. se vezes por Créditos: Orlando Almeida Nenhuma c adulto ne riança ou cessita d e recursos para prat financeiros ic física dia ar atividade riamente, dentro e fora de c asa. No entanto, o fator mais grave é a iliteracia em saúde que existe nas crianças, mas também em alguns adultos. É preciso quebrar esses preconceitos económicos. Nenhuma criança ou adulto necessita de recursos financeiros para praticar atividade física diariamente, dentro e fora de casa, só precisa de escolher a mais adequada. Subir escadas, fazer caminhadas a pé ou dançar livremente durante 60 minutos são alternativas gratuitas que trazem melhorias na saúde de quem as praticar diariamente. Na alimentação, é preciso ensinar as bases de uma boa nutrição, dotar a população para a interpretação de rótulos e criar condições para que as crianças aprendam os princípios essenciais da agricultura e da culinária. A obesidade infantil está associada ao desenvolvimento de doenças graves? Uma criança obesa está em risco de vir a sofrer de sérios problemas de saúde durante a sua infância, mas sobretudo na adolescência ou na idade adulta. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a obesidade e o excesso de peso são responsáveis pelo desenvolvimento de 80% dos casos de diabetes tipo 2, 55% dos casos de hipertensão 08 e 35% dos casos de doenças cardíacas. Uma pessoa obesa tem ainda maior probabilidade de desenvolver asma, doenças do fígado, apneia do sono e vários tipos de cancro. As crianças obesas estão mais sujeitas a problemas sociais e psicológicos? As crianças obesas estão mais sujeitas a ataques de bullying escolar e outros tipos de discriminação. O que poderá provocar consequências diretas na sua autoestima e a quebra no seu rendimento escolar. Se não receberem apoio especializado, poderão sofrer ainda de depressão ou outras doenças do foro psicológico quando atingirem a idade adulta. Tenho uma filha com excesso de peso? O que devo fazer? Quando uma criança tem excesso de peso ou obesidade, necessita mais do que nunca de sentir que não está sozinha e que terá todo o apoio possível para ultrapassar este problema. É de referir que existem ainda alguns preconceitos, sem a menor base científica, que contribuem para a estigmatização social da obesidade, muitas vezes por parte dos pais, que se traduzem em ansiedade e sofrimento para as crianças. Deve evitar-se submeter a criança a castigos, punições ou dietas forçadas, ela não é a responsável pelo seu problema de saúde. É evidente que a força de vontade e a motivação pessoal para ultrapassar o problema são importantes e dependem sobretudo da criança e dos seus encarregados de educação, mas a responsabilidade de solucionar o problema é de todos os adultos, não apenas da criança e dos pais. Os pais e os restantes familiares devem ser os mais sensíveis quanto possível aos sentimentos da criança e focar-se no lado positivo do processo de tratamento, da reeducação alimentar e na adoção de um estilo de vida mais saudável. É imprescindível o envolvimento da família e de todos os prestadores de cuidados infantis (professores, educadores, auxiliares de educação, por exemplo) para que o tratamento produza os resultados necessários. As opções de tratamento devem ser discutidas preferencialmente com um especialista, quer de nutrição, quer de psicoterapia. Em alternativa, poderá expor a situação ao seu médico de família ou pediatra e pedir para ser seguido numa consulta de obesidade do hospital da sua região. Associação Portuguesa Contra a Obesidade InfantiL VIDA DA ASSOCIAÇÃO vida da associação uma rubrica de jornal diferente Escrever notícias pode não ser a única forma de estar presente num jornal. A região de Santarém assina uma rubrica num jornal local bimestral chamada “Caderno de Caça Coluna de boas ideias para miúdos e graúdos da responsabilidade da 1ª companhia de guias de Torres Novas”. A rubrica consiste não em dar notícias, mas em contar histórias acerca do que fazemos, fizemos ou vamos fazer. Damos também dicas, sugestões, que embora relacionadas com atividades guidistas, podem servir de inspiração para as famílias e pessoas que nos leem. Deixamos alguns exemplos: no caderno de caça, ensinamos a fazer instrumentos musicais como forma de reciclar materiais e estimular a criatividade; explicamos como funciona o conselho de honra e como é importante a participação ativa das crianças e dos jovens em tomadas de decisão que lhes dizem respeito; falamos das visitas que fazemos mensalmente ao lar de idosos; sugerimos histórias e imaginários que criamos para as nossas guias como boas histórias para serem contadas pelos avós aos netos; partilhamos meditações e reflexões que fizemos. O jornal tem apreciado bastante esta nossa participação! Dirigentes da 1ª Companhia de Torres Novas Região de Santarém 20 guias, 20 totens Foi no nosso acampamento de Páscoa que tudo mudou para as 20 guias que foram “batizadas” com um novo nome que marca a vida de qualquer guia – o totem. O totem era uma palavra utilizada pelos índios Peles Vermelhas e que significa “Brasão” ou “Armas”. Para estes índios, o totem é um talismã que os protege e vela por eles, foi por isso que Baden Powell trouxe para as guias a atribuição de totens, tanto para as patrulhas, como para cada guia. Toda a cerimónia de atribuição de totens foi preparada com muito cuidado e com a participação de todas. As guias refletiram e escolheram três animais e três características com que mais se identificavam. A decisão final ficou a cargo das chefes. a alegria e a emoção ao receberem os totens e por estes definirem tão bem as características de cada uma. O totem é agora parte essencial da vida de cada guia e compromete-a perante as suas irmãs guias e Deus a honrar e seguir as “pegadas” do seu animal totem. Cada atribuição foi selada com uma canhota entre a guia e a chefe índia. Uma cerimónia que ficará na memória de todas as guias que participaram neste acampamento! Ouriço Dedicado Estagiária da 2ª companhia de matosinhos Região do Porto Muito entusiasmadas em saber finalmente o totem escolhido, lá foram para a cerimónia, que teve a presença de uma chefe índia. Cada guia foi chamada à vez e, após prestarem uma última prova, foram “batizadas” com o seu totem. As Guias demonstraram em sorrisos rasgados que venham desafios É em situações como as que que vivi neste acampamento da Páscoa que sinto que ser guia é um privilégio concedido, uma oportunidade para desenvolvermos capacidades. A capacidade de improviso, de manter a motivação e a alegria, a capacidade do trabalho de equipa e sobretudo a capacidade de NÃO DESISTIR. A 1ª companhia de guias de Viana do Castelo aceitou o desafio de se juntar com as recentes fundadas companhias de Lanheses e da Facha e com a reaberta 1ª companhia de Vila Praia de Âncora. As previsões climatéricas não eram as melhores para os quatro dias de acampamento, mas o entusiasmo de proporcionarmos momentos únicos às nossas guias impeliu-nos a dar o nosso melhor na preparação das atividades. mais desafiante para as 5 patrulhas das companhias de Âncora (patrulha golfinho), Facha (patrulhas foca e lince) e Lanheses (patrulhas águia e lince) que nunca tinham acampado. Desde montar tendas e fazer construções, até demorar três horas a fazer o jantar e comer tarde e a más horas uma massa e carne semicozida... O primeiro dia acabou por ter o triplo da dificuldade e vontade de desistir. Para agravar a situação, a chuva e trovoada arrastaram-se durante a noite e algumas patrulhas acordaram com lagos dentro das tendas. O primeiro dia de acampamento é sempre o mais difícil, mas foi ainda 13ª série 2013 09 VIDA DA ASSOCIAÇÃO É assim que o guidismo é capaz de mudar vidas. Ensinamos a NUNCA DESISTIR, mesmo quando parece ser impossível. Não se avizinhava melhoria do tempo, por isso partimos para o plano B: desmontar todo o acampamento e mobilizar 90 guias para uma escola, com apenas 2 carrinhas de 9 lugares (gentilmente cedidas pelas juntas de freguesia vizinhas). Se o primeiro dia havia sido difícil, imaginese adicionar-lhe a confusão de um dia de desmontagem de acampamento. Muitas guias quiseram desistir, tinham saudades dos seus pais, do conforto e do calor das suas casas, mas não podíamos permitir que as nossas guias se fossem embora com a ideia de que era horrível e traumatizante acampar. A chefia motivou as novas guias a ficar, dizendo que os próximos dois dias seriam melhores e que não se iam arrepender de ficar. E assim foi, apesar da chuva que de vez em quando espreitava, as atividades realizaram-se com muita animação e até denominaram estes dias de o “acampatonamento”, com um sorriso e sentimento de vitória por não terem desistido. É assim que o guidismo é capaz de mudar vidas. Ensinamos a NUNCA DESISTIR, mesmo quando parece ser impossível. Ensinamos que o pouco conforto durante um acampamento ajudam a dar valor à nossa casa. Ensinamos que viver em patrulha ajuda as jovens raparigas a ter um papel ativo, voluntário, amigo, atento e a tomar a iniciativa para ajudar em casa, na escola, no grupo de amigos. Também eu, como dirigente, aprendi muito durante estes quatro dias. Para além de ter trabalhado na especialidade de intendência, aprendi que na Associação Guias de Portugal estamos sempre a ultrapassar limites, a aceitar desafios e a aprender. Sinto-me uma pessoa muito mais capaz e com mais força para enfrentar desafios, do que me sentia antes destes quatro dias de acampamento. Rita Almeida, Pantera Amiga Chefe da 1ª companhia de Viana do Castelo Região de Viana do Castelo ORIENTADORAS DE ESTÁGIO EM FORMAÇÃO Foi em Lanheses que se realizou pela primeira vez na região de Viana do Castelo uma atividade para orientadoras de estágio. Esta atividade foi pensada de forma a dar ferramentas às dirigentes para melhor orientarem as suas estagiárias e garantir que estas se tornam dirigentes exemplares, no futuro da região. Foram focados, entre outros conteúdos, as fases do estágio e qual o papel da orientadora e da estagiária. As orientadoras de estágio sentem-se agora mais confiantes e motivadas, partindo para as suas companhias com ideias mais lúcidas e objetivas. Orientadoras de Estágio da Região de Viana do Castelo 10 Esta atividade foi pensada numa fase em que o número de estagiárias era significativo, tornando-se imperativo a formação das mesmas. Como a melhor forma de formação é o exemplo e o acompanhamento da orientadora de estágio, é essencial que esta se sinta segura e capaz. O Comissariado Regional identificou alguns receios e dúvidas que as orientadoras mostravam e achou que era momento ideal para uma formação como esta. Pretendemos orientadoras de estágio aptas e estágios a funcionar corretamente. A sede com que as orientadoras foram para esta formação tornou todo o trabalho do fim de semana bastante produtivo.Esperamos que esta formação marque o início de um novo ciclo, em que todas as estagiárias tenham um bom estágio e sejam elas próprias boas orientadoras. Comissariado Regional de Viana do Castelo VIDA DA ASSOCIAÇÃO A COMPANHIA DE SANTARÉM ESTÁ DE PARABÉNS Pelo seu 40º aniversário e pelo espetáculo com que nos presentearam para festejar. Foi uma retrospetiva de 40 anos de história contada de forma alegre e divertida por todas as guias da companhia, da mais pequena à maior, todas participaram na peça e na construção do cenário. Tudo isto, claro, com a preciosa ajuda das chefes que, que ao longo de vários meses, as ensaiaram e organizaram para que tudo fosse um êxito. Foi com muita emoção que tomei consciência de que também a Matilde Fonseca já faz parte da história desta companhia. Tem sido uma caminhada vivida muito intensamente, onde valores como a Fé, a Amizade, a Partilha e a Ajuda ao Próximo estão sempre presentes. Resumindo: uma aventura cheia de alegria, que espero que perdure por muitos anos. De avezinha a aventura sempre com muito ‘Orgulho de Ser Guia’. Quero agradecer à companhia de Santarém, particularmente a todas as chefes, o importante papel que têm tido no crescimento e na formação da Matilde. Sílvia Garriapa Mãe de Matilde Fonseca, guia aventura 1ª Companhia de Santarém Região de Santarém E ENTÃO, 30 ANOS JÁ LÁ VÃO... É com imensa honra e orgulho que vivemos um grande acontecimento na região de Faro. A guia e dirigente Ercília Pires, chefe da 1ª companhia de Tavira, comemorou no passado dia 9 de abril, 30 anos de guia e é fabuloso percebermos que existem pessoas na nossa associação que durante anos e anos dão o seu contributo para que o guidismo continue e não pare de crescer. A Ercília traz na mochila a história de uma região, dos altos e baixos, dos desafios, do acreditar sempre mais e melhor para as duas companhias que fundou e para a região de Faro. É um exemplo a seguir, na perseverança, na motivação e na alegria que transmite em cada atividade ou patrulha em que participa. Entrou para Associação Guias de Portugal como guia caravela e, apenas com 15 anos o seu primeiro acampamento foi a “Largada” - acampamento nacional de ramo caravela, que marcou a “Expedição” no ano de 1985. Tem atualmente duas filhas, uma avezinha e uma guia aventura, que procuram seguir os seus passos e que são guias desde que estavam na barriga da mãe (já acampavam nessa altura). A Ercília viu-nos a todas crescer, enquanto guias e mulheres, deu tudo a este movimento e, por tudo isto e muito mais que as palavras não descrevem, queríamos deixar uma mensagem: OBRIGADA E PARABÉNS, MAMUTE! Comissariado Regional de Faro 13ª série 2013 11 VIDA DA ASSOCIAÇÃO Presidente da junta de freguesia e guias de odivelas de mãos dadas Tendo mudado recentemente de Freguesia, a 1ª companhia de Odivelas, que se reúne atualmente em Famões, falou com o senhor Presidente da Junta para averiguar as necessidades da comunidade e poder implementar um projeto de serviço útil à população local. Para tal, as guias caravela marcaram uma reunião com o senhor Presidente, enviando-lhe uma carta a pedir uma audiência. Para nosso espanto, o senhor Presidente respondeu de imediato com um telefonema à nossa chefe. Ficámos ainda mais incrédulas quando nos apercebemos de que tinha sido o próprio a efetuar a chamada e não a sua secretária, como seria expectável. No dia 25 de janeiro, duas representantes de cada patrulha foram à dita reunião, a Filipa e a Mariana da patrulha Enigma, a Sara e a Tânia da patrulha Vida, assim como a chefe de ramo, Ana Boléo. Eis a conversa: (depois de nos sentarmos à mesa com o senhor Presidente) Filipa - Queríamos desde já agradecer toda a ajuda que nos tem dado, por nos ter emprestado a sala polivalente para termos as nossas reuniões, assim como para todas as nossas atividades que já realizámos. Como deve saber, o lema da Associação Guias de Portugal é “Sempre Alerta para Servir” e gostaríamos de ajudar a comunidade de Famões de forma a agradecer toda a ajuda que nos tem dado. Senhor Presidente – (Risos) Vocês atacaram bem! O que é que eu posso dizer? Posso dizer, em primeiro, que para mim é uma grande honra sempre servir quem mais precisa de ser servido e que estou disponível para servir os outros, como é o vosso caso. Eu também estou aqui para servir e dentro das minhas competências. Tenho aqui uma vogal que está ao mesmo nível que eu estou e, apesar de o cargo ser diferente, ela tem a mesma responsabilidade que eu tenho, estamos aqui para servir e não para nos servirmos, que fique claro que é assim que tem que ser entendido! Neste sentido, tudo o que eu puder fazer, ou nós pudermos fazer, temos que o fazer, porque se não o fizermos não estamos aqui a cumprir a nossa missão, dentro das nossas competências e capacidades financeiras, claro está. Portanto, é a partir deste princípio que nós agimos. Agora depende de vocês! Se vocês tiverem ideias específicas onde tenham mais vocação para avançar ou sintam mais necessidade como guias, ou até como jovens, devem pôr isso do vosso lado. Vocês próprias é que devem dizer: “nós vivemos aqui nesta comunidade”! Ana (chefe) - Podemos implantar algo de raiz, por exemplo, pode ser na área da saúde ou na área da alimentação, ou seja, pode ser algo tão simples para nós como uma recolha de alimentos, ou de materiais escolares, ou de alguma coisa em que nós somos apenas o veículo que Tânia - Com certeza, o senhor Presidente facilita a recolha de um bem necessário, deve ter conhecimento dos Objetivos ou podemos nós implementar um de Desenvolvimento do Milénio! projeto, como fizemos anteriormente. A associação mundial das guias, a WAGGGS, transformou os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio em linhas de ação, e por isso gostaríamos de atuar numa dessas linhas. Sara - Por isso, a 1ª companhia de Odivelas gostaria de implementar um projeto de serviço aqui na localidade de Famões e para isso necessitávamos da sua ajuda, precisávamos de saber quais os pontos em que Famões tem mais necessidade que as guias atuem. Mariana – Mas nós já tínhamos tido uma ideia de um projeto, que era falar da gravidez na adolescência, darmos uma espécie de palestra, mas gostávamos de saber se há outras necessidades mais urgentes. 12 Imagine, preparamos tudo e há um dia em que fazemos uma limpeza geral a uma zona em que seja necessário, ou há um dia em que, como as guias estavam a referir, falávamos sobre os problemas da gravidez na adolescência, das doenças sexualmente transmissíveis. Não seriam elas a falar para jovens da mesma idade, teríamos de contactar psicólogos e pessoas da área da saúde. Da Junta, o que precisávamos era de um espaço para podermos fazer a conferência e, eventualmente, de divulgação. Ideias não nos faltam, o que gostávamos mesmo era de um ponto de partida. Senhor Presidente – Bem, o que referiu vai ao encontro daquilo que eu já tinha dito. Vocês apresentam as ideias, nós analisamo-las, estudamos o que é preciso para organizar e vamos ver até onde é que podemos ir. E é com muito gosto que se põe em prática uma coisa VIDA DA ASSOCIAÇÃO destas! Nós temos vontade e temos alguns meios. Com os conhecimentos que temos, com técnicos, com outras instituições, é possível organizar tudo aquilo que vocês quiserem. Ana (chefe) – Então, caravelas, querem explicar melhor a ideia que tinham tido para a palestra? O que nós decidirmos em conjunto, claro está, havemos de pôr por escrito e evidenciar tudo, objetivos, etc. Mariana - Nós gostaríamos de falar com uma psicóloga para podermos dar uma palestra às pessoas aqui do bairro de Famões, pois algumas têm menos conhecimentos em termos das doenças e da sexualidade e da gravidez e gostaríamos de divulgar esse assunto e conseguir dar uma palestra sobre esse tema, não só para as pessoas da nossa idade, mas também para pessoas mais velhas, como os pais. Senhor Presidente - Não há problema, nós arranjamos o espaço e tudo o mais que vocês precisarem. Mas, claro, temos que ter uma base, um pedido por escrito. Todas – Claro! (risos) Filipa - Agradecer ao senhor Presidente por, mesmo estando com pressa, ter Vogal da Juventude - Também já tínhamos aceitado fazer a reunião connosco. falado sobre companhas de recolha e Obrigada! organização de uma limpeza. A recolha de alimentos faz parte do programa da Junta, E assim terminou a nossa reunião com nós realizamos todos os anos e a vossa o Presidente da Junta de Freguesia ajuda é sempre bem-vinda. de Famões, o Dr. António dos Santos Rodrigues, e com a Vogal da Juventude, Senhor Presidente - Era muito a Dra. Cristina Silvestre, a quem importante haver também contacto com agradecemos todo o apoio que nos têm os idosos, tanto para eles como também dado.Vamos arregaçar as mangas para vocês, para conhecerem melhor e planear o nosso trabalho! as realidades do que é o isolamento, as dificuldades que os idosos enfrentam. Frota da 1ª Companhia de Odivelas Tenho a certeza que ficariam satisfeitos Região de Lisboa de verem essas caras lindas ali ao pé deles. (risos) Ana (chefe) - Muito bem, vamos levar estas informações e vamos falar em conjunto com as outras guias e com as outras dirigentes para percebermos o que podemos fazer. Agradecemos a vossa disponibilidade, realmente tem sido bem aproveitada da nossa parte (risos). Caravelas, querem acrescentar mais alguma coisa? mais do que voluntariado… construímos a cidadania faz-me rir Foi com muita expectativa que o bando da 1ª companhia de Joane e a patrulha esquilo do ramo aventura partiram em direção a Braga para a atividade há muito esperada! Visitar a ala de Pediatria do Hospital de Braga. A região de Braga estabeleceu uma parceria com o hospital neste sentido, dando-lhe o nome de Faz-me Rir. Para estruturar a visita, pensámos no que poderia ser feito para melhorar um pouco a vida das crianças que estão internadas. Decidimos fazer um postal com o símbolo da parceria, com uma frase escrita pelas guias aventura e um desenho feito pelas avezinhas. Cada uma reuniria também livros de histórias que tivesse em casa para entregar à pediatria. Felizmente não estavam muitas crianças internadas e das que lá estavam, a maioria eram bebés. Conversámos e jogámos com os pais (muitos já lá estavam há vários dias)! O jogo principal foi Boccia, um jogo pouco conhecido, mas muito interessante, que é jogado por pessoas com limitações várias. O jogo foi adaptado à situação. As crianças e adultos mostraram se muito interessadas em conhecer esta modalidade! Também contribuíram para isso as bolas de jogo que levámos, pois foram-nos cedidas pelo atleta Paralímpico Luís Silva, de V. N. Famalicão, que nos últimos jogos trouxe a medalha de Prata para Portugal! Foi uma tarde muito ESPECIAL! Bando e Patrulha Esquilo, Odisseia da 1ª Companhia de Joane Região de Braga 13ª série 2013 13 VIDA DA ASSOCIAÇÃO avezinhas animam casa de repouso Porque não dispensar uma reunião do mês para ajudar quem mais precisa? Porque não cruzar provas da progressão com a solidariedade? Porque não aprender músicas novas e ensiná-las a alguém? É isto mesmo que o bando da 2ª companhia de Oeiras da região de Lisboa está a fazer. Este projeto surgiu no ano passado com o ramo moinho da nossa companhia e para dar continuidade ao trabalho desenvolvido com o lar, decidimos lançar o desafio a toda a companhia. Em conjunto com os outros ramos da companhia, estamos a desenvolver um projeto de serviço na Casa de Repouso São Pedro, em Paço de Arcos. Estabelecemos um fim de semana por mês para cada ramo e durante 1h30 da nossa reunião vamos animar o lar de idosos. Da última vez que o bando lá esteve, aproveitámos para realizar algumas provas da progressão como saber o hino das avezinhas, saber cantar várias canções, aprender danças e fazer um instrumento musical simples, fazer um postal para uma atividade e escrever a mensagem no postal, representar uma peça de teatro e fazer os adereços. Deixamos aqui o desafio de criarem um projeto comunitário com o vosso bando! ‘’Basta um sorriso para ficarem contentes’’ - D. Graça, uma das funcionárias do lar Águia e Coruja Mafalda Feio e Margarida Gomes O melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a os felicidade dos outr Baden Powell Bando da 1ª Companhia de Oeiras Região de Lisboa AJUDAR É FÁCIL No nosso último acampamento realizámos uma atividade com a comunidade: visitámos dois lares, a Casa de Repouso “O Monte” e o Centro Social “João Paulo II”, em Foros de Vale Figueira (Montemor-O-Novo). Estivemos nos dois lares durante a manhã e acompanhámos os idosos à hora do almoço. Convivemos com os utentes, que tinham idades compreendidas entre os 40 aos 100 anos. Conversámos, ensinámoslhes músicas e fizemos pequenos jogos. Foi uma experiência ótima para toda a frota não só por passarmos uma manhã com a comunidade que nos recebeu durante cinco dias, mas também porque nos apercebemos que se numa manhã em Foros de Vale Figueira fizemos a diferença, durante um ano podemos fazer muito mais na nossa comunidade! Aprendemos ainda que ajudar é fácil, basta dedicação e força de vontade. Patrulha Marmota 1ª FROTA DE CARCAVELOS REGIÃO DE LISBOA 14 VIDA DA ASSOCIAÇÃO direitos humanos: do acampamento nacional para a escola A antiga guia Teresa Palaré, mãe de uma guia aventura e professora na Escola EB 2,3 Dr. Alberto Íria, em Olhão, convidou a 1ª companhia de guias de Faro a desenvolver o tema dos Direitos Humanos, na sua disciplina de Educação Para a Cidadania. Foi este o tema que escolheu por ter sido abordado pelo ramo caravela durante o Acampamento Nacional, em que também participou. Na sessão participaram três dirigentes da 1ª companhia de Faro que depois de apresentarem a associação, passaram um filme sobre a história dos Direitos Humanos. Os alunos dividiram-se em três grupos de trabalho. O primeiro trabalhou a carta dos Direitos Humanos, escolhendo cada aluno o artigo com o qual mais se identificava e porquê. No segundo, cada um escolheu uma personalidade marcante da história dos Direitos Humanos, para apresentar à restante turma. Ao terceiro foi dada uma situação da atualidade, na qual os Direitos Humanos estariam a ser violados, tendo os alunos de os identificar. A sessão terminou com uma partilha criativa dos trabalhos realizados. A atividade foi muito gratificante, pois permitiu trabalhar o tema sob os moldes da educação não formal e, através do método guidista, contribuir para a cidadania e responsabilidade civil. Dirigentes da 1ª Companhia de Faro Região de Faro OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO: DO DIA MUNDIAL DO PENSAMENTO PARA A ESCOLA Algumas dirigentes da 1ª companhia de guias de Celeirós proporcionaram uma aula diferente aos alunos do 5º e 6º anos da escola EB 2/3 de Celeirós. Nesta aula abordámos dois dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio: reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna, já trabalhados no Dia Mundial do Pensamento pelas avezinhas e guias da região de Braga. Começámos com um jogo de apresentação. Cada um dos alunos dizia o seu nome e fazia em mímica uma palavra relacionada com o tema, para os outros adivinharem. De seguida, foi proposto à turma criar um slogan e um logotipo relacionados com um dos Objetivos. Depois, dividiram-se em grupos e trabalharam o slogan e o logotipo em panfletos, pins, pulseiras e t-shirts e ainda no mural da escola. Os alunos aderiram com bastante entusiasmo à iniciativa, colaborando e empenhando-se durante toda a atividade. Foi muito gratificante para nós este momento e constatar que podemos proporcionar um momento de formação num meio de educação formal, como o de uma sala de aula. Dirigentes da 1ª Companhia de Celeirós REGIÃO DE BRAGA 13ª série 2013 15 VIDA DA ASSOCIAÇÃO recolha de donativos para canil A 1ª companhia de Fontarcada, região de Braga da Associação Guias de Portugal, decidiu dinamizar um projeto comunitário e canalizar a sua intervenção na angariação de fundos para o Canil Municipal da Póvoa de Lanhoso. Este projeto foi desenvolvido especialmente pelas guias caravela. O Canil é gerido pelo CAPA (Clube de Adopção e Protecção de Animais), uma associação sem fins lucrativos, que ajuda animais em risco, não recorrendo ao abate de animais saudáveis, proporcionando-lhe uma segunda oportunidade. iniciativas de apoio aos animais do CAPA. É por iniciativas como esta que o CAPA, apesar de todas as contrariedades, continua a ter motivação para continuar a sua missão de proporcionar bem-estar e saúde aos animais que são abandonados e negligenciados todos os dias. O nosso sincero e grato OBRIGADO às guias da 1ª companhia de Fontarcada pela sensibilidade mostrada para com as necessidades destes animais. Leandra Cardoso Voluntária do CAPA – Clube de Adopção e Protecção de Animais Olá, o meu nome é Mariana e sou guia aventura na 3ª companhia de Cristo Rei, da região do Porto. Neste artigo vou falar do Projeto Saca-Rolhas. Pedi à minha escola para participar neste projeto, todos acharam muito interessante e aceitaram o desafio. Tendo entrado em contacto com o CAPA no sentido de perceber as suas principais e mais urgentes necessidades, as guias fizeram um apelo à população de Fontarcada para contribuírem com ração de cão e mantas. Também com o apoio da paróquia foi feito um peditório que reverteria a favor do CAPA e cujo valor obtido permitiu esterilizar 3 cadelas. As guias caravela fizeram questão de conhecer as instalações do CAPA e os seus residentes, aproveitando a ocasião para entregar pessoalmente os donativos recolhidos. E ficou a promessa de novas a minha escola recolhe rolhas A guia vê a obra de Deus na Natureza s e protege as planta . ais e os anim ia 6º Art. da Lei da Gu Arranjámos um caixote na escola, forrámo-lo com uma cartolina azul-das-guias, colámos uma imagem de uma guia, escrevemos “Rolhão” e explicámos num breve texto o projeto e em que consistia. Já com o rolhão pronto e colocado num local estratégico, divulgámos nas turmas e passada uma semana vimos o resultado: conseguimos cerca de 7Kg de rolhas! Eu achava que ainda podia arranjar mais rolhas, então fui pedir aos restaurantes à volta da minha casa e a Matilde, a Ana, a Catarina e a minha irmã Carolina, que é avezinha, também o fizeram. Eu e as minhas amigas guias sentimo-nos muito orgulhosas com o trabalho que fizemos. Eu acho, quer dizer, eu tenho a certeza que estou a ajudar o mundo e muitas pessoas e crianças. Mariana Almeida Odisseia da 3ª Companhia de Cristo Rei Região do Porto 16 VIDA DA ASSOCIAÇÃO A FANTÁSTICA AVENTURA Foi com enorme alegria que recebi a notícia da reabertura da companhia de Portimão. Nos meus tempos de guia aprendi princípios muito importantes que ainda hoje, e sempre, são uma constante na minha vida. O guidismo é uma escola de amizade e alegria e devia fazer parte da vida de todas as raparigas. Fiz amigas para a vida e o contacto com algumas delas mantém-se até aos dias de hoje, mais de 30 anos depois. Por isso, foi com muita alegria no coração que me decidi juntar à companhia para poder continuar a fazer parte desta fantástica aventura. Espero estar à altura do desafio e deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrei! Alexandra Santos DIRIGENTE DA 1ª COMPANHIA DE PORTIMÃO REGIÃO DE FARO É capaz de ser esse o maior ia: benefício de ser gu s de iza am os fazem para sempre. NÃO SOU GUIA apenas QUANDO VISTO A FARDA A influência que o guidismo tem na minha vida é muito grande. Entrei para as guias quando tinha sete anos e, desde aí, fui avezinha, aventura, caravela e agora quase moinho. Passaram-se 10 anos a viver sob a influência de Baden Powell, o que se refletiu na minha educação e na minha personalidade. Em todos estes anos conheci centenas de guias, umas são minhas vizinhas, outras moram do outro lado do País, mas todas me ensinaram ou marcaram de alguma forma. Cresci a aprender os ensinamentos de Baden Powell, cresci com as outras guias, às quais hoje eu chamo de amigas. É capaz de ser esse o maior benefício de ser guia: fazemos amizades para sempre. Aprendemos a ajudar quem precisa, começando pelo mais próximo que é, muitas vezes, o mais esquecido. Aprendemos a respeitar a diferença e o valor do trabalho. Aproveito para agradecer a todas as irmãs guias que conheci e às que ainda vou conhecer por tudo o que fizeram e vão fazer. Obrigada a todas vós por tentarem deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraram! Rita Cruz PATRULHA CANHOTA 1ª COMPANHIA DE PRADO REGIÃO DE BRAGA 13ª série 2013 17 INTERNACIONAL iNTERNACIONAL de que forma a violência afeta as raparigas e jovens mulheres de todo o mundo? VIOLÊNCIA SEXUAL • Em todo o Mundo, mais de 50 por cento das agressões sexuais são cometidas contra raparigas menores de 16 anos • 150 milhões de raparigas menores de 18 anos sofreram alguma forma de violência sexual • No Congo, 1.152 mulheres são violadas todos os dias A Associação Mundial das Guias lançou a campanha “Stop the Violence, speak out for girls’ rights’’. Factos e números sobre a violência contra raparigas e mulheres A violência contra raparigas e mulheres não é algo que se limita a um determinado país ou cultura. É uma violação generalizada dos direitos humanos que ocorre em todo o mundo. As raparigas e jovens mulheres são particularmente vulneráveis à violência, que ocorre na esfera privada e pública e assume muitas formas, incluindo a violência no namoro, práticas tradicionais, tais como mutilação genital feminina ou violência em situações de conflito. A violência contra raparigas tem efeitos duradouros que não são apenas físicos - destroem a confiança e a autoestima das raparigas e têm custos governamentais de biliões de dólares. Por outro lado, impede o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. 18 Práticas tradicionais nocivas • Cerca de 100 milhões de raparigas e mulheres em todo o mundo foram vítimas de mutilação genital feminina. Em África, anualmente, mais de 3 milhões de raparigas estão em risco desta prática • Na Somália, 95 por cento das raparigas enfrentam a mutilação genital feminina • Mais de 60 milhões de raparigas em todo o mundo casam-se antes dos 18 anos. Violência e abuso caracterizam a vida conjugal para muitas dessas raparigas TRÁFICO • 800.000 pessoas são traficadas anualmente e 80 por cento dessas pessoas são raparigas e mulheres • Na Índia, estima-se que 100 milhões de pessoas, principalmente raparigas e mulheres, estão envolvidas em situações de tráfico INTERNACIONAL Violência nos relacionamentos • 90 por cento das raparigas e mulheres do Paquistão são vítimas de violência doméstica ao longo das suas vidas • No Reino Unido, uma em cada três raparigas entre os 13 e 17 anos de idade, sofrem abuso sexual de um parceiro, e uma em cada quatro foi vítima de violência física do parceiro • A cada minuto, a polícia inglesa recebe um pedido de ajuda relacionado com abuso nos relacionamentos • Na África do Sul, uma mulher é assassinada a cada seis horas, por um parceiro íntimo discriminação de género • Muitas raparigas e mulheres enfrentam múltiplas formas de discriminação. Na Europa, América do Norte e Austrália, mais de metade das mulheres com deficiência sofreram abuso físico, em comparação com um terço das mulheres não deficientes • No Paquistão e na Índia, as raparigas têm 30 a 50 por cento mais probabilidades de morrer antes de celebrarem o seu quinto aniversário • Na Austrália, um em cada sete rapazes acredita ‘não faz mal obrigar uma rapariga a ter relações sexuais, se ela estava a namoriscar” e um em cada três rapazes acredita ‘na maioria das vezes, a violência física ocorre porque a parceira provocou’ violência na escola • Muitas raparigas adolescentes são obrigadas a desistir da escola devido ao casamento infantil e situações de violência na escola. A violência sexual aumenta o absentismo e o abandono e impede a realização educacional • No Malawi, 50 por cento das alunas foram tocadas de forma sexual, sem o seu consentimento, pelos seus professores ou colegas • 60 milhões de raparigas foram sexualmente agredidas a caminho da escola • Nos Estados Unidos, 83 por cento das raparigas de 12 a 16 anos experimentaram alguma forma de assédio sexual em escolas públicas. violência e VIH • Muitas vezes, as raparigas e mulheres têm menos informação sobre o VIH e menos recursos para tomar medidas preventivas • No Ruanda e África do Sul, as mulheres tinham três vezes mais probabilidades de contrair o vírus VIH, se tinham sido vítimas de violência, em comparação com as que não tinham 12ª série 2012 19 INTERNACIONAL Isto é errado e deve parar. Sabemos que todas as raparigas, nos seus países e localidades, têm o direito de viver livres da violência e do medo da violência. Elas precisam de estar conscientes dos seus direitos – e encontrar a voz certa para criar um movimento global e ações para acabar com a violência. Porque são as guias a agir? A campanha é sobre a capacitação de raparigas e jovens mulheres, para que estas possam compreender os seus direitos tenham as capacidades e a confiança necessária para reivindicar os seus direitos e os direitos dos outros. Esta campanha garantirá que são as raparigas e jovens mulheres as impulsionadoras da mudança que querem ver no mundo. Porque temos esse dever? Estima-se que mais de seis em cada dez raparigas e mulheres sofrerão atos de violência e/ou abuso sexual ao longo das suas vidas. Estas raparigas fazem parte do nosso movimento guidista. Elas são a nossa família e amigas. Elas vivem nas comunidades onde nós nos comprometemos a fazer a diferença. Temos uma responsabilidade e uma oportunidade para capacitar estas raparigas a falar e agir. Porque nós podemos. Nós somos a voz das raparigas e jovens mulheres. Porque a educação é a chave. A educação e educação não-formal em particular têm um enorme papel a desempenhar de forma a acabar com a violência e nós, guias, somos especialistas em educação não-formal. Ajudar as raparigas e jovens mulheres a compreender e fazer valer os seus direitos é criar uma força poderosa para a transformação. Ao desafiar estereótipos de género e alcançando os rapazes e homens, através da educação não-formal, estamos a desafiar as causas da violência. e o que queres dizer ou fazer sobre isso. Com milhões de vozes unidas para acabar com a violência, será possível pressionar governos, iniciar conversas nas comunidades locais e junto dos centros de decisão de todos os níveis. Nós, guias, podemos mudar mentalidades e mudar vidas... Porque mais ninguém está a fazer desta forma. Podes pensar que existem muitas campanhas para acabar com a violência contra raparigas. Não há. Existem algumas focadas no fim da violência contra as mulheres. Outras que se concentram em acabar com uma forma específica de violência, num lugar específico. Mas não há nenhuma campanha global dedicada a terminar com a violência em todas as suas formas, contra raparigas e jovens mulheres. O que podes fazer? Existem muitas maneiras de te juntares à campanha “Stop the violence. Speak out for girls’ rights”. Junta a tua voz, para ser possível reforçar o debate sobre uma questão que tem estado silenciosa por muito tempo. Fala dos direitos das raparigas, envia os teus comentários, filmes e gravações e informa a WAGGGS do que estás a fazer. Partilha o que a violência significa para ti seminário stop the violence O seminário Stop the Violence decorreu em Antuérpia (Bélgica), estando presentes dirigentes dos seguintes países: Portugal, Holanda, Inglaterra, País de Gales, Arménia, Irlanda, Chipre, Finlândia, Dinamarca, França, Suécia, Islândia, Grécia, Luxemburgo, Noruega, Luxemburgo, Itália, Eslovénia, Malta e Hungria. A formação e a sensibilização para a temática da Violência contra as Mulheres e Raparigas foram os dois grandes objetivos deste seminário. O programa contou com atividades muito diversificadas: incidência sobre advocacy (como podemos pensar nas estratégias a utilizar na defesa de uma causa), saber mais sobre a violência contra raparigas e jovens mulheres na Europa, ouvir especialistas de vários países sobre o tema e formação sobre como organizar uma campanha. 20 Um dos dias mais aguardados da semana foi a visita ao Parlamento Europeu, onde tivemos a oportunidade de reunir com a Eurodeputada Antigoni Papadopoulou, do Chipre, uma grande defensora das medidas de proteção das mulheres vítimas de violência. Apresentámos-lhe três dos projetos desenvolvidos por nós e prometeu-nos estar atenta a eles. Marcou-me bastante por ser um assunto para o qual me parece que não estamos ainda conscientes do quanto afeta população portuguesa. Este tema tem particular relevância nas guias, por sermos uma associação que trabalha a formação integral da rapariga. Sandra Costa Delegada Regional do Ramo Avezinha Região de Braga INTERNACIONAL seminário juliette low O Seminário Juliette Low é uma experiência única de partilha de histórias, de experiências e de conhecimentos. Acontece de três em três anos, sempre num Centro Mundial da WAGGGS. Este último decorreu no México – Our Cabaña e teve como tema Spirit of Women Leading e contou com a presença de 63 participantes de diferentes países e de todas as regiões da WAGGGS. Esta experiência maravilhosa permitiu compreender, não só a dimensão internacional e de serviço com a comunidade, mas principalmente demonstrou a força e o espírito inigualável que une todas as guias - juntas podemos mudar o mundo! Alexandra Ferreira Comissária Regional de Faro Numa altura em que o Serviço com a Comunidade tem sido inspiração para todas, queria partilhar a atividade de Serviço que realizámos no decorrer deste Seminário e teve como tema “Spirit of Action” (Espírito em Ação). A atividade foi desenvolvida em parceria com uma organização local chamada VAMOS!, presente no Estado de Morelos, Cuernavaca, dispersa entre 12 Centros de Apoio à Comunidade e que destina o seu trabalho para as crianças e mães através de ações em áreas diagnosticadas como prioritárias: Educação, Alimentação e Saúde. O objetivo era desenvolver uma atividade de uma hora para as crianças ou mães, em cada centro de apoio. A minha patrulha foi ao Cerro de La Corona. Com a ajuda dos responsáveis da Instituição preparámos uma atividade para 12 mulheres, que tinha como finalidade contribuir para o empoderamento e valorização pessoal. Começámos por nos apresentar com a ajuda de um mapa-mundo e assinalámos o nosso país de origem, cantámos uma música em espanhol e pedimos que nos ensinassem também elas uma música. Através de um jogo, falámos acerca de mulheres importantes na nossa vida, de que forma influenciaram o nosso percurso e, ainda, partilhámos características que nos tornavam especiais enquanto mulheres. Por fim, finalizámos a atividade a fazer “pulseiras da amizade”, que consiste em entrelaçar duas cordas coloridas e, no final, depois de cortadas, resultam duas pulseiras que foram colocadas no braço de ambas, guias e mães. · Um dos quatro Centros Mundiais situa-se no México? Nuestra Cabaña foi inaugurado no Dia Mundial do Pensamento de 1956, por Olave Baden Powell. Como presente de anos para a Chefe Mundial, foi oferecida a porta da frente, conhecida como A Porta da Chefe. É feita de aço azul-escuro com um grande Trevo em bronze. Hoje em dia, é por aí que entram todos aqueles que queiram visitar Nuestra Cabaña. avezinhas correspondem-se com daisys As avezinhas do bando da 4.ª companhia de Braga querem aprender mais sobre as guias nos outros cantos do mundo e por isso começaram a trabalhar na sua especialidade de Internacional. Estão todas muito entusiasmadas com o seu primeiro destino: Estados Unidos da América. Entre as muitas perguntas, as avezinhas ficaram a saber como é a sua farda, quais os emblemas de progressão que fazem e as suas atividades mais importantes. Wendy, uma das chefes das Daisy da unidade de Rhode Island, explicou-nos que a sua progressão é dividida por pétalas: a do meio equivale à promessa, tal como a nossa pena, as restantes são as várias provas de progressão. Tal como nós, para além destes emblemas, elas podem ainda ganhar emblemas do Dia Mundial do Pensamento ou atividades especiais. Estes emblemas de atividades são postos na parte de trás da farda, enquanto os restantes, como as pétalas e folhas, são postas na parte frontal da farda. Inicialmente a chefe da troop delas, Miss Laura, lê uma história às avezinhas do livro de progressão das guias para apresentar o desafio e daí praticam o que aprenderam. Apesar de ainda não terem acampado, cada emblema dura cerca de uma a três semanas a ser completo. Descobrimos ainda que para a atividade do Dia Mundial do Pensamento esta unidade representou Portugal! Bando da 4.ª Companhia de Braga Região de Braga · Existem mais de três milhões de guias na América? Ao todo mais de 59 milhões de mulheres americanas foram guias durante a sua infância ou juventude. 13ª série 2013 21 INTERNACIONAL de portugal para a polónia O meu nome é Gena, sou dirigente do ramo aventura na 1ª companhia de guias de Faro, e venho partilhar convosco a minha experiência guidista na Polónia! Participei recentemente no programa Erasmus na cidade de Wroclaw e, visto que o bichinho do guidismo era demasiado grande para ser esquecido por um ano, falei com a minha Comissária Regional e procurei as guias Polacas. Assim, desde setembro tenho participado em atividades da Związek Harcerstwa Polskiego (Associação de Guias Polacas). Sabiam que na Polónia as guias são uma associação mista, contando com a presença de rapazes? Que as guias funcionam dentro das escolas como uma atividade extracurricular? Que eles têm quatro ramos e esses ramos funcionam em separado, sendo independentes uns dos outros? Desde que cheguei que tenho trabalhado no ramo Ambar, com rapazes e raparigas entre os 10 e os 12 anos. Apesar de falarmos muito por gestos, visto o meu polaco ainda não ser muito bom, descobrimos que há muitas coisas que nos unem, mesmo a tantos quilómetros de distância: temos a mesma Promessa e Lei, o mesmo Fundador, o mesmo amor ao Voluntariado, a mesma alegria de cantar à fogueira… Até agora a minha atividade favorita foi passada num acantonamento de sede com o Ramo Junior (dos 13 aos 17 anos). Nesse fim de semana, os Juniores limparam o cemitério da freguesia, pois aproximava-se o Dia de Todos os Santos. Neste dia todos os polacos visitam as campas dos seus entes queridos, deixando lá lâmpadas coloridas. Embora não tenha conseguido autorização para participar na limpeza, fui convidada para jantar e passar o serão com eles: pediram-me que lhes ensinasse a fazer um prato tradicional português! Todos juntos cozinhámos um belo Bacalhau à Brás e toda a gente adorou, pedindo a receita e tudo!! Esta tem sido uma experiência verdadeiramente enriquecedora e estou certa que, até junho, viverei muitas novas aventuras e desafios! Ana Eugénia Caldeira, Suricata Exemplar Dirigente do Ramo Aventura 1ª Companhia de Faro Região Faro · Quando a Segunda Guerra Mundial começou, muitas dirigentes da Associação Guias da Polónia deixaram o país? As guias que permaneceram no país ocupado pelos nazis formaram uma organização clandestina. «União do Trevo» foi um nome de código utilizado pela associação e tornou-se muito conhecido, ganhando respeito junto da sociedade polaca. jornal o trevo chega à argentina Estávamos no acampamento de Páscoa, em Ronfe. O jogo de cidade foi em Guimarães e estávamos ansiosas para descobrir o que a “cidade-berço” de Portugal nos ofereceria e tudo o que iríamos aprender. · A Associação Guias da Argentina recebeu o Prémio Olave duas vezes? A primeira foi em 1984, pela criação de uma cantina para crianças desfavorecidas. A segunda vez foi em 1991 pelo projeto de criação de um parque infantil para crianças de uma comunidade indígena. Ainda hoje as guias continuam a promover o conhecimento e o desenvolvimento dessa comunidade isolada. 22 Acabadas de vir da Estação de Comboios, rumo ao Toural aproveitámos para vender Trevos, quando, de repente, uma senhora, se dirige a nós e diz “Holla! Guias de Portugal?” Nós ficámos espantadas e ela diz-nos que também é guia na Argentina! Comprou um trevo para recordação, tirámos uma fotografia e fizemos algumas perguntas. Ficámos a saber que o cinto, por exemplo, é igual ao nosso, mudando só em “Guias de Argentina”. Foi sem dúvida uma experiência única! Frota da 1ª Companhia de Travassós Região de Braga INTERNACIONAL Neste Jornal Alvorada Imaginar um futuro diferente para as raparigas e jovens mulheres imaginar mais Igualdade de género: uma realidade urgente um fogo de conselho especial 03 09 VIDA DA ASSOCIAÇÃO Uma rubrica de jornal diferente 20 guias, 20 totens 04 · Existe um memorial em homenagem aos nossos fundadores, na famosa Abadia de Westminster? Que venham desafios Orientadoras de estágio em formação A companhia de Santarém está de parabéns E então, 30 anos já la vão... Como é ser rapariga e mulher em portugal? Presidente da Junta de Freguesia e guias de Odivelas de mãos dadas Desporto em forma de trevo Faz-me rir A obesidade infantil ainda é uma preocupação Decorria o meu acampamento de Atestado de Campo. A patrulha Sal, da minha frota, saiu para raid e cruzou-se com uma senhora que lhes disse “you are girl guides!” (vocês são guias!). Treinaram o inglês e ficaram a saber que Kate Podmore tinha sido dirigente das Brownies, em Inglaterra, e que inclusive tinha conhecido Lady Baden Powell. Ensinou-lhes uma música, rabiscou-a num papel e explicou-lhes o seu significado. Decidimos ir até casa da Kate, pois esta era perto do local do acampamento. Convidámo-la para o fogo de conselho no qual participou, trazendo consigo um maço de folhas com canções e histórias para contar. Ajudar é fácil Foi um momento único de partilha, de espírito guidista internacional que ficará para sempre guardado nas nossas memórias! Direitos Humanos: do acampamento nacional para a escola Patrícia Jorge Avezinhas animam casa de repouso Estagiária do Ramo Caravela 1ª Companhia de Monchique Região de Faro Objectivos do Desenvolvimento do Milénio: do dia mundial do pensamento pra a escola Recolha de donativos para canil A minha escola recolhe rolhas A fantástica aventura Não sou guia apenas quando visto a farda 18 INTERNACIONAL Stop the Violence Seminário Juliette Low Avezinhas correspondem-se com Daisys Descobre as palavras escondidas tenta em todas as direções “No mundo que imaginamos para as raparigas existe…” De Portugal para a Polónia Jornal O Trevo chega à Argentina Um fogo de conselho especial Educação Confiança Segurança Direitos Liberdade Igualdade Felicidade Saúde Oportunidades FICHA TÉCNICA Jus a Amor Proprietário: Associação Guias de Portugal Conceção Gráfica: White_Brand Services Impressão e acabamento: Ondagrafe, Artes Gráficas Lda. Tiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal nº239055/06 Região de faro Valores ASSOCIAÇÃO GUIAS DE PORTUGAL 2013 | 13ª SÉRIE | 1,50€ mais do que um grupo… somos unidas mais do que cooperar… descobrimos com o Outro mais do que aprender… crescemos juntas mais do que caminhar juntas… construímos a amizade