IV SELCIR – Seminário Nacional Literatura e

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IV SELCIR – Seminário Nacional Literatura e
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IV SELCIR – Seminário Nacional Literatura e
Cinema de Resistência
Dessilenciando os Golpes
01 à 05 de Dezembro
Local: Universidade Federal do Pará
Belém –Pará – Amazônia – Brasil
CADERNO DE RESUMOS
Augusto Sarmento-Pantoja
Élcio Loureiro Cornelsen
Gonzalo Leiva Quijada
Rosani Úrsula Ketzer Umbach
Tânia Sarmento-Pantoja
(Orgs.)
www.selcir.worpress.com
Belém – 2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Reitor
Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy
Vice-reitor
Prof. Dr. Horacio Schneider
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho
INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
Diretor
Prof. Dr. Otacílio Amaral Filho
Diretora Adjunta
Profª. Drª. Fátima Cristina da Costa Pessoa
FACULDADE LETRAS
Diretora
Prof. MSc. Elizabeth Ferreira Vasconcelos de Andrade
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
Coordenadora
Profª. Drª. Germana Maria Araújo Sales
Vice – Coordenadora
Profª. Drª. Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira
COMISSÃO ORGANIZADORA - IV SELCIR
Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen (UFMG)
Profª. Drª. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM)
Profª. Drª. Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)
Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile)
Prof. MSc. Augusto Sarmento-Pantoja (UFPA)
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COMISSÃO EXECUTIVA
Abílio Pacheco de Souza
Ana Lilia Rocha
Carlos Augusto Carneiro Costa
Elielson Figueiredo
Ladyana Nazaré Souza Ferreira
Lourdes Nazaré Souza Ferreira
Veridiana Valente Pinheiro
Viviane Dantes Moraes
CONVIDADOS
Eduardo Pellejero – UFRN
Élcio Cornelsen – UFMG
Godofredo de Oliveira Neto – UFRJ
Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile)
Idelber Avelar – Tulane University (EUA)
Jaime Ginzburg – USP
Juliana Gomes Leal – UFVJM
Karl Erik Schollhammer – PUC/RJ
Lizel Torney – Universidade de Buenos Aires (Argentina)
Márcio Seligmann-Silva – UNICAMP
Markus Klaus Schäffaeur – Universität Hamburg (Alemanha)
Rosani Ketzer Umbach – UFSM
Susana Guerra – Universidade do Porto (Portugal)
Vinícius Mariano de Carvalho – King’s College London (Inglaterra)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Prof. Dr. Carlos Henrique Lopes de Almeida (UFPA)
Prof. Dr. Eduardo Pellejero (UFRN)
Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen (UFMG)
Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile)
Profª. Drª. Rosani Ktzer Umbach (UFSM)
Profª. Drª. Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)
COMISSÃO DE APOIO
Antonio Leandro Quintino Sena
Deurilene Sousa
Caio Mendes Aparício Fernandes
Francisco Araujo
Ivania da Silva Pereira de Melo
Jacqueline Augusta Leite de Lima
Larissa Eleres de Souza
Ronaldo Junior Pantoja Rodrigues
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Caderno de Resumos do IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência –
SELCIR – Belém – 01 a 05 de dezembro 2014
Editoração: Augusto Sarmento-Pantoja
Capa: Augusto Sarmento-Pantoja
Contato dos Organizadores:
[email protected]
[email protected]
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência – Caderno
de Resumos/Augusto Sarmento-Pantoja; Tânia Sarmento-Pantoja
(organizadores). Belém: Programa de Pós-Graduação em Letras, 2014.
ISBN: 978-85-677470-01-10.
1. Literatura. 2. Educação. 3. História. 4. Arte. 5. Cinema
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APRESENTAÇÃO
O IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência - SELCIR em
2014 encontra-se em sua quarta versão. Com uma periodicidade bienal, temos a
preocupação de fortalecer a cada ano as relações entre os grupos de pesquisa Estudos de
Narrativa de Resistência (NARRARES) e Estéticas, Performances e Hibridismos
(ESPERHI) com grupos de pesquisa e pesquisadores preocupados em discutir as
relações entre literatura, cinema, arte e resistência.
Criado em 2008, hoje o SELCIR possui a colaboração de pesquisadores de
vários lugares, fazendo com que a coordenação do evento que era formada
exclusivamente por professores do Pará, passe a receber outros pesquisadores, como o
Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);
a Profa. Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach, da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM); e o Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada, da Pontifícia Universidade Católica do
Chile (PUC-Chile ).
Sabemos do desafio que é reunir pesquisadores de ponta no extremo norte do
Brasil para debater durante uma semana suas pesquisas e colaborar com o
desenvolvimento da divulgação científica e intelectual das áreas de Arte, Estética,
Humanidade e Literatura. Entre os principais temas que serão abordados no período de
01 a 05 de dezembro de 2014, estão o da “Resistência”, cunhado das pesquisas de
Alfredo Bosi, referenda a necessidade de opor-se a uma força superior a sua, que tenta a
todo custo subjugar, submeter, massacrar, destruir.
Os organizadores
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SUMÁRIO
Cena de narração e a cena em testemunho
Abílio Pacheco de Souza
O fantástico e o duplo, tempo e transformações, presentes na obra O outro de
Jorge Luis Borges
Admilton Alves da Rocha
O documentário moçambicano como ferramenta de resistência (ao regime
colonial português) e de manutenção da memória
Alex Santana França
De máquinas e tortura: dor e medo na literatura.
Ana Lilia Carvalho Rocha
Gabeira: memória dos anos de chumbo
Andresa Maria Bezerra da Silva
A verdade ainda que tardia n’a casa de vidro
Anna Mônica da Silva Aleixo
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Testemunhar uma ausência: a primavera e a pátria roubada de Benedetti
Antonio Martínez Nodal
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Ferreira Gullar: o canto e a fúria na abl
Arlan Ferreira Santos
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Sobre o documentário performático do pós-64
Augusto Sarmento-Pantoja
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Assentamento, de Rosana Paulino: uma iluminação do passado escravista
brasileiro
Auliam da Silva
“Amanhã há de ser outro dia”: opressão e resistência na canção Basta um dia,
de Francisco Buarque de Holanda
Benedito de Jesus Serrão Rodrigues
Futebol & Nazismo: reflexões sobre o conto "O massagista"
Breno Pauxis Muinhos
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Estado Islâmico usando a influência do cinema de Hollywood para a
promoção do terror
Camila de Souza Nascimento
La heroína de postguerra y la heroína moderna bajo la mirada crítica de
Benito Zambrano
Cândida Assumpção Castro
Humor e violência em Luís Fernando Veríssimo
Carlos Augusto Costa
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Literatura e historiografia na cronística oviedina
Carlos Henrique Lopes de Almeida
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Luiza Neto Jorge: a insurreição da palavra feminina como embate social
Carolina Alves Ferreira de Abreu
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Imbricamentos éticos e estéticos da representação da violência no romance
Cidade de Deus, de Paulo Lins
Cecília Lara da Cruz
Sergio Bianchi na contramão da resistência
César Takemoto
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Violência contra a mulher em conflitos e campos de refugiados: o caso sírio
em Zaatari – uma perspectiva pela ótica pós-moderna
Christiane do Socorro Ramos dos Santos
Gêneros textuais: um recurso estético para a resistência na literatura de
Benedicto Monteiro
Cleide Lúcia Gaspar da Assunção
Por uma face contra-hegemônica da construção de Brasília: narrativas de Um
vaqueiro voador
Cristiane de Assis Portela
Anna Lorena Morais Silva
Retratos tão desiguais de Manaus na descrição de Cinzas do Norte de Milton
Hatoum
Cristiane de Mesquita Alves
Representações do feminino no poema de Mio Cid
Daniele Mendonça de Paula Chaves
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Memórias literárias sob a ótica dos conflitos políticos: marcas de um tempo
Dariane Roberta Pinheiro dos Santos
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Trauma e testemunho no filme documentário “A outra guerra” (2010)
Debora Suely do Espirito Santo Souza
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Justiça poética a literatura além do ponto final
Eduardo Pellejero
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Cinema, futebol e ditadura no Brasil
Élcio Loureiro Cornelsen
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O valor da tradução nos suplementos literários Arte-Literatura e Letras &
Artes
Eldinar Nascimento Lopes
Documentários brasileiros rompendo silêncios históricos e pessoais
Eliane Vasconcelos Diógenes
Paulo Sérgio Souto Mota
Corpos para não esquecer: o testemunho e a cena da tortura
Elielson Figueiredo
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El curupira: una propuesta para el desarrollo del lector literario
Erica Fernanda de Sousa Ribeiro
HQ e trauma: o realismo traumático presente na obra “Na colônia penal” de
Franz Kafka
Erlan de Oliveira Queiroz
Rastros benjaminianos em Michel Foucault: a vida infame como história a
contrapelo.
Ernani Chaves
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O tempo em "As margens da alegria" e "Os cimos" de Guimarães Rosa
Fabyolla Franco Medeiros
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Entre realidade e ficção: aspectos históricos-sociais em Machuca de Andrés
Wood
Fernanda Costa da Silva
Luciana: a voz da resistência no romance Os Habitantes
Flavia Roberta Menezes de Souza
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Resistência, esperança e sonho na literatura moçambicana, uma análise da
obra Terra Sonâmbula de Mia Couto
Flávio Reginaldo Pimentel
AIDS e literatura: narrativas (soropositivas) da persistência
Francisco Araújo
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O romance de extração histórica e o cinema
Godofredo de Oliveira Neto
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Cuerpo y dictadura: relaciones biopolíticas y aperturas artísticas
Gonzalo Leiva Quijada
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Shoah: tempo, arquivo, canção
Gustavo Silveira Ribeiro
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Gritos no silêncio da palavra, em Max Martins
Helenice Aparecida Carvalho Silva
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A Amazônia e a ditadura, ontem e hoje
Idelber Avelar
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Sala-palco ou sala de aula?
Igor Barbosa Marques
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Transgressão e resistência: o poliamor em O terceiro travesseiro, de Nelson
Luiz de Carvalho
Ingrid Ferreira da Silva
Os superstes imagéticos - cadáveres de militantes que são testemunhas.
Isabela Quaresma de Sousa
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Escrita e oralidade como resistência em Terra Sonâmbula
Ivânia da Silva Pereira de Melo
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O corpo na literatura e no cinema
Jaime Ginzburg
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A ideia de memória analizada na cronistica do novo mundo presente na obra
de Gonzalo Fernandez de Oviedo
Jacqueline Augusta Leite de Lima
Ser criança e agir como uma: reflexões sobre traumas e traços deixados pela
opressão.
Jessica Marina Barbosa de Jesus
Realidad y ficción en el descubrimiento del río de las amazonas, relación de
Gaspar de Carvajal
Jocenilda Pires de Sousa
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Resistência e MPB: a perseverança nas músicas Cálice e Apesar de você
Jonilson Pinheiro Moraes
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Araguaia: campo sagrado (r)existência simbólica; poética alegórica
Josiclei de Souza Santos
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A questão dos desplazados colombianos na literatura e no cinema
Juliana Helena Gomes Leal
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Sobre corpos vitimizados em Larraín e Lemebel
Juliana Helena Gomes Leal
Liberdade, poder e insubmissão em O processo de Franz Kafka
Julie Christie Damasceno Leal
Mauro Lopes Leal
O teor testemunhal no conto Helga de Lygia Fagundes Telles: um estudo de
memória e identidade
Kamila Rodrigues Lima
A história natural da ditadura
Karl Erik Schøllammer
Minha guerra particular: uma saga norte-americana de uma afegã, a
naturalização do discurso da ONU
Kellimeire Campos
Pensar a resistência em processos em que Sapo vira rei vira sapo: análise do
discurso narrativo e da letra da canção A banda
Ladyana dos Santos Lobato
A relação entre testemunho, memória e trauma no conto O leite em pó da
bondade humana
Larissa da Costa Arrais
Os traços novo mundista de Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés
Larissa Elleres de Sousa
Gabriela, Sodoma e Gomorra: a obra enquanto um releitura da narrativa
bíblica.
Leno Serra Callins
Dayane Miranda dos Santos
A resistência como resultado da performance na obra “O prometeu
acorrentado”.
Lígia da Costa Félix
A reconstrução da história da Cabanagem em Lealdade de Márcio Souza e da
guerra civil em Moçambique em As duas sombras do rio de João Paulo
Borges Coelho
Liliane Batista Barros
"Vidas singulares. estranhos poemas": um estudo sobre a infâmia em Eneida
Lilian Lobato do Carmo
Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará
Líria Natasha Sena do Vale
Marcelo da Costa Tavares
Sobre arquivos e fantasmas: memórias da repressão em Portugal
Lisa Vasconcellos
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Relatos que construyen sentidos. Las relaciones jerárquicas de género durante
el terrorismo de Estado (Argentina, 1975-83)
Lizel Tornay
Literatura e história: entrelaces da resistência nas obras “Órfãos do eldorado”
de Milton Hatoum e “Ilha da ira” de João de Jesus Paes Loureiro
Lourdes Ferreira
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A transgressão no arquétipo social feminino na personagem Conceição da
obra O Quinze.
Lucilene Fernandes Miqueli
O negro nos primórdios do cinema brasileiro: uma abordagem entre a
literatura e a imprensa
Lucinéia Alves dos Santos
As origens da guerra revolucionária e o uso da tortura pela ótica do
documentário Esquadrões da morte: a escola francesa – a história de um
legado
Luiz Guilherme dos Santos Júnior
Ser ou não periférico? crítica e dependência cultural à luz do debate sobre
Machado de Assis
Marcelo Brice Assis Noronha
Das colagens à pintura: uma leitura do desamparo no “Corpo documental”.
Márcia de Souza Pinheiro
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A tradução de poemas de língua inglesa no suplemento literário do jornal
Folha do Norte
Márcio Carvalho
A performance testemunhal: ficções do real na arte contemporânea
Márcio Seligmann-Silva
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Literatura africana: a resistência de Mandela ao movimento étnico racial
Apartheid
Marcus Vinicius Souza e Souza
A resiliência das militantes torturadas durante a ditadura militar nas
representações artísticas
Markus Klaus Schäffauer
Repressão militar em cartas de personagens de O Minossauro de Benedicto
Monteiro
Maria de Fátima do Nascimento
Emancipação nos romances pós-ditatoriais: “Sinais de fogo” e “Pessach, a
travessia”
Maria Tereza de Azevedo
Memórias de resistentes políticos no poema campesino de España e no
concerto recuperando memoria concierto-homenaje a los republicanos.
Marli Queirós Mourão
O protesto dos mortos: um estudo sobre a crítica social presente na obra
Incidente em Antares.
Neuton Vieira Martins Filho
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Uma análise da relação conflituosa entre os nacionais franceses e os
imigrantes africanos com base no filme Bem-vindo
Paulo Victor Silva Rodrigues
Autoritarismo na América Latina: uma análise do conto Un día de éstos, de
Gabriel García Márquez
Raimundo Conceição de Araujo de Sousa
Salvador: sucumbido por el vil garrote franquista
Rita de Cássia Paiva
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As atuais representações de realidade e ficção no novo romance histórico do
cenário pan-amazônico
Ronaldo Júnior Pantoja Rodrigues
Performance e resistência na tragédia Medeia de Eurípedes
Rosane Castro Pinto
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Narrativas autobiográficas como forma de resistência
Rosani Úrsula Ketzer Umbach
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A noção de ética e estética no testemunho de Derlei Cartarina de Luca: No
corpo e na alma
Samantha Carolina Vieira de Oliveira
A ousadia da narrativa machadiana no conto A cartomante
Shirley Kelly Mendonça Paula
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Imigração japonesa em Tomé-Açu- o campo como espaço de construção de
identidade cultural
Subina dos Santos da Cruz Ramos
Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima: epopéia em diálogo com as grandes
guerras
Suene Honorato
Torturador e torturado: notas sobre ficcionalização do trauma nos contos pós64
Suellen Monteiro Batista
A batalha das imagens: apropriações da ditadura no cinema português
Susana Guerra
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Representação das vítimas do franquismo em Hernández e da ditadura militar
em Walsh
Taislane Vieira
Narrativas de resistência: relações de gênero e militância feminina em ¡Ay
carmela! e em Libertarias.
Tamires Maiara Santos Araújo
Sobre “um certo araguaia”
Tânia Sarmento-Pantoja
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A literatura de testemunho e a análise da experiência traumática na obra
Diário de Fernando
Treicy pâmela castro pereira
Representações da imigração japonesa em narrativas contemporâneas
Veridiana Valente Pinheiro
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O Brasil também tem literatura da segunda guerra mundial: a guerra em
Surdina de Boris Schnaiderma
Vinícius Mariano de Carvalho
A experiência do trauma ressignificada pela escrita da memória
Vitalina Rosa de Araújo
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O grotesco e o humor no cinema nazixploitation: a desconstrução do ideal
esteticonazista
Viviane Dantas Moraes
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CENA DE NARRAÇÃO E A CENA EM TESTEMUNHO
Abílio Pacheco1
Resumo: Em narrativas tradicionais em primeira pessoa, especialmente romances, é
constituído um cenário para o desenvolvimento da narração, cenário em que muitas
vezes há interação entre o narrador e o narratário (seja este leitor, ouvinte, destinatário
de cartas...) mas cujos elementos do tempo presente anulam-se, apagam-se, dando lugar
ao passado, ao tempo da narrativa. Nestas narrativas, assinaladas sob o mesmo nome
próprio narrador e personagem apresentam-se distanciadas no tempo e na arquitetura do
texto. O protagonista da/na narrativa é avaliado pelo narrador da/na narração conforme
a experiência deste, seu amadurecimento, sua visão de mundo... Entretanto, em
narrativas de testemunho, situadas na cisão entre ficção e realidade, e nas quais a
fragmentação se dá – entre outras coisas – pela fusão dos tempos e desarticulação
causal, justapondo e comprimindo-se narrativa e narração, em decorrência da
experiência violenta e do trauma, a constituição desta cena de narração cerca-se de uma
problemática decorrente da compressão cronológica e de certa anulação da distância
entre narrador (-autor) e personagem. Em tais narrativas, à cena, diluída ou condensada
numa autarquia semântica, ao mesmo tempo assumindo-se supra-cena no tribunal da
História, atribui-se outra perspectiva na relação do narrador com a experiência e consigo
mesmo personagem.
O FANTÁSTICO E O DUPLO, TEMPO E TRANSFORMAÇÕES, PRESENTES
NA OBRA O OUTRO DE JORGE LUIS BORGES
Admilton Alves da Rocha2
Resumo: O trabalho a ser apresentado, tem por objetivo; difundir ao público que tenha
interesse em conhecer por meio da obra " O outro" do escritor argentino Jorge Luis
Borges algumas características existentes na Literatura Espano-americana. A análise
feita nesta obra trará algumas particularidades que refletirão o Fantástico e o Duplo, a
questão do Tempo e a vida do escritor na obra citada acima.
O DOCUMENTÁRIO MOÇAMBICANO COMO FERRAMENTA DE
RESISTÊNCIA (AO REGIME COLONIAL PORTUGUÊS) E DE
MANUTENÇÃO DA MEMÓRIA
Alex Santana França3
Resumo: O cinema (desde as suas origens em 1895 e durante o período colonial)
produzido em África ou sobre a África, estava, inicialmente, atrelado às políticas
colonizadoras europeias para o continente africano e durou até o início das lutas
anticolonialistas, que tiveram início nos anos 1950. Muitos filmes produzidos por
cineastas europeus e americanos durante grande parte do século XX serviram como
instrumento para subalternizar os povos africanos e justificar as políticas colonizadoras
Professor UFPA – Fale de Bragança – [email protected]
Estudante de graduação da Universidade Federal do Pará - [email protected]
3
Doutorando em Literatura e Cultura - Universidade Federal da Bahia - [email protected]
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e imperialistas no continente. Ao contrário da visão ocidentalista da África que o
cinema dominante difundiu, os cinemas africanos disseminam, em sua pluralidade, uma
série de imagens e sentidos da África que, talvez, nenhum texto fosse capaz de resumir,
passando a ser desenvolvidos como instrumentos de luta contra todas as formas de
controle da liberdade, oriundas do processo de colonização europeia que afetou o
continente como um todo e para a construção e afirmação da nacionalidade. Um
exemplo disso é Moçambique que, dentre os países africanos de língua oficial
portuguesa, possui a filmografia mais variada e um conjunto de realizadores com
características diversas que continuam, até hoje, a produzir, apesar de não ter mais o
apoio do Estado. Moçambique destaca-se na história dos cinemas africanos póscoloniais por apresentar uma “infraestrutura de cinema nacional desvinculada do
circuito cinematográfico comercial global e ao serviço da nação marxista que emergiu
após o colonialismo português” (ARENAS, 2012, p. 75). Pretende-se, portanto, refletir
sobre as produções cinematográficas realizadas nesse país, em especial o documentário,
e suas contribuições para a construção e afirmação da nacionalidade, além da
manutenção da memória.
DE MÁQUINAS E TORTURA: DOR E MEDO NA LITERATURA.
Ana Lilia Carvalho Rocha4
Resumo: O presente trabalho visa desenvolver trabalho investigativo acerca das
configurações das categorias "corpo torturado" e "máquinas de tortura" a partir das
representações destas em cenários de expressão da experiência envolvendo situações de
dor e medo em narrativas da Literatura Universal. Pretende, sobretudo, verificar como
as categorias referidas se apresentam na composição da cena da tortura e como estas
influenciam nas representações de dor e medo dentro de narrativas literárias ligadas ou
não a um estado de exceção.
GABEIRA: MEMÓRIA DOS ANOS DE CHUMBO
Andresa Maria Bezerra da Silva5
Resumo: A presente comunicação centra-se na análise do livro “O que é isso
companheiro?” e do seu personagem inspirado no autor Fernando Gabeira. Escrito no
período “Anos de chumbo” da história brasileira, na obra encontra-se a literatura de
resistência ou testemunho, a qual de acordo com De Matos (2004), é uma intervenção
de alguém de grande capacidade letrada em transformar o relato da testemunha em texto
literário, e é nessa literatura de resistência que o autor quer mostrar os acontecimentos
ocorridos naquela época de grande subversão, relatando também, a sua visão, papel e
valor que ele e os integrantes da luta armada tiveram para resistir a esse período. Sendo
assim, o presente trabalho tem por objetivo mostrar como a literatura de resistência ou
4
Doutoranda em Estudos Literários pelo programa de pós Graduação em letras da Universidade Federal
do Pará - [email protected]
5
Estudante e graduação do Instituto Federal do Pará - IFPa. - [email protected]
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testemunho tem grande importância em mostrar os acontecimentos ocorridos nesse
período e na preservação da memória deste país.
A VERDADE AINDA QUE TARDIA N’A CASA DE VIDRO
Anna Mônica da Silva Aleixo6
Resumo: Este trabalho tem por intuito, com base em paralelos, analisar as semelhanças
entre as torturas empregadas no conto “A casa de vidro”, de Ivan Ângelo e a pintura “A
verdade ainda que tardia”, de Elifas Andreato. Para tanto, usaremos Escritas da tortura
(GINZBURG, 2001), Testemunha ocular: história e imagem (BURKE, 2004), e Brasil:
Nunca mais (VÁRIOS, 2011), entre outros.
TESTEMUNHAR UMA AUSÊNCIA: A PRIMAVERA E A PÁTRIA ROUBADA
DE BENEDETTI
Antonio Martínez Nodal7
Resumo: Em seu exílio espanhol, Mario Benedetti (1920) publica um romance de
grande sucesso, Primavera com una esquina rota (1982) onde emerge o testemunho
claro da ditadura no Uruguai entre 1973 e 1985, através do eco dolorido de personagens
que têm perdido tanto o lugar geográfico, sua pátria, quanto seu lugar essencial, sua
alma. Somente fica o vazio e o isolamento de pessoas com um futuro roubado pelo
poder opressor. O efeito identificador com o autor, o depoimento extraordinário de um
processo de isolamento de uma vida plena, o sofrimento do imigrante, a impossibilidade
de enfrentar a ausência dos seres queridos, permite-nos refletir profundamente sobre
uma época, um tempo de silêncios, de lutas, mediante o olhar de Santiago, o preso
político; e a rendição e a memória histórica na pele do Senhor Rafael. Frente a uma
nação e o domínio da obscuridade, cada um deles vai encontrar uma forma de
sobreviver e compartilhar seu sentimento perante aquele acontecimento político,
lembrar a importância de sua experiência.
FERREIRA GULLAR: O CANTO E A FÚRIA NA ABL
Arlan Ferreira Santos8
Resumo: Esse estudo se intenta a analisar como Ferreira Gullar, indicado ao Nobel de
literatura em 2002 e eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2014, costurou o
tema resistência em sua literatura a partir da década de 60, época em que fora
perseguido pela ditadura militar; firmando-se quando de seu exílio, em 1968, e
materializando-se em 1975, com a publicação do mundialmente conhecido Poema sujo,
no qual o autor descreve a saudade da infância e o descontentamento com o presente
vivido. Calcado em uma pesquisa analítico-comparativa, o escrito procurou, através de
6
Professora Especialista - [email protected]
Graduado em Letras pela Escola Superior Madre Celeste - [email protected]
8
Graduado pela Faculdade de Educação São Francisco - [email protected]
7
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um confrontamento entre as obras A luta corporal, de 1954, e João Boa-Morte, cabra
marcado para morrer, lançada em 1962, características que comprovassem as
declarações do escritor maranhense encontradas no documentário de Zelito Viana, O
canto e a fúria, lançado em 1996, no qual Gullar explicita que somente a partir de 62
suas obras passaram a ter cunho político. Após as duas leituras, a diferença de escrita e
objetividade do poeta maranhense saltam aos olhos do leitor, e um mergulho na história
do escritor nem seriam precisos para determinar que o foco e a intenção mudam
radicalmente de uma obra para a outra. A primeira dedica-se a apenas mostrar a arte de
Ferreira, a arte concreta, e representa, de fato, uma briga entre o autor e a linguagem, a
nova linguagem. Ele tenta romper com o discurso, com a sintaxe e o lirismo tradicional,
chegando mesmo a fraturar a palavra e os fonemas e a incorporar sons abstratos, como
aponta Domingues (2007). Para João Boa-Morte, a mudança beira a obscenidade de tão
escancarada que se apresenta; o engajamento com as causas sociopolíticas é lançado
claramente sobre quem se debruça em sua leitura.
SOBRE O DOCUMENTÁRIO PERFORMÁTICO DO PÓS-64
Augusto Sarmento Pantoja9
Resumo: Apresentamos algumas considerações sobre o documentário performático
pós-64, pensado na chave de Bill Nichols ao considerar a existência de um
documentário performático responsável por demonstrar "como o conhecimento material
propicia o acesso a compreensão dos processos mais gerais em funcionamento na
sociedade" (2005, p. 169). Desse modo, a leitura realizada pelo documentarista em sua
obra será carregada de afetos, o que propiciará uma leitura, por parte do expectador,
também mergulhada por afetos. Fazendo com que os leitores de um documentário
performáticos estejam submersos às experiências e às memórias tanto individuais
quanto coletivas que compõe o documentário, seja por conta das experiências
salientadas pelo diretor/autor/narrador, seja pelas próprias experiências do leitor. Serão
analisadas nesse estudo: "Que bom te ver viva", de Lúcia Murat; "No olho do furacão",
de Renato Tapajós e Toni Venturi; e "Cidadão Boilesen", de Chaim Litewski.
Tentaremos discutir de que maneira a categorização pensada por Nilchols pode ser
amplificada nessas obras.
ASSENTAMENTO, DE ROSANA PAULINO: UMA ILUMINAÇÃO DO
PASSADO ESCRAVISTA BRASILEIRO
Auliam da Silva10
Resumo: Nossa proposta de trabalho visa analisar a instalação artística Assentamento
(2013), de Rosana Paulino. A artista, por meio de elementos visuais em sua instalação,
realiza uma rememoração dos afrodescendentes escravizados no Brasil. Acreditamos
que essa obra (além de apresentar uma das maiores barbaridades da história brasileira)
9
Universidade Federal do Pará-UFPA - [email protected]
Graduando pela Universidade da Amazônia – UNAMA - [email protected]
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atualiza a discussão sobre a falsa democracia racial no Brasil contemporâneo ao
iluminar o passado dos negros escravizados que tiveram seus projetos de vida frustrados
e violentados. Para o desenvolvimento de nossa análise partiremos das ideias de Walter
Benjamin (1987), Michael Löwy (2005), Reyes Mate (2011) e Jeanne Gagnebin (2011).
“AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA”: OPRESSÃO E RESISTÊNCIA NA
CANÇÃO BASTA UM DIA, DE FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA
Benedito de Jesus Serrão Rodrigues11
Resumo: Este trabalho focaliza o processo de resistência na ditadura militar no Brasil
pelo viés discursivo com base na produção de sentido acerca da canção Basta um Dia,
de Francisco Buarque de Holanda (Chico Buarque), ela desencadeia reminiscências da
resistência no momento em que ela relampeja no presente. A associação foi feita com
base no processo semântico-discursivo, que traz partes das experiências (opressor vs.
oprimido) daquela “fase negra”.
FUTEBOL & NAZISMO: REFLEXÕES SOBRE O CONTO "O MASSAGISTA"
Breno Pauxis Muinhos12
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre a obra O Massagista de
Duílio Gomes, publicada na coletânea Contos Brasileiros de Futebol, organizada por
Cyro de Mattos. Como sugere o título, apontar-se-á principalmente para os elementos
do nazismo e do futebol presentes no conto, todavia sem deixar de expor as
características literárias gerais. Para tanto, realizar-se-á uma breve discussão sobre o
nazismo no Brasil, alguns traços de sua origem na Alemanha antes da Segunda Guerra
Mundial, bem como a relação entre História, futebol e Literatura. Além de uma
exposição sobre estudos acerca de obras literárias que fazem uso do futebol, como
elemento essencial de suas narrativas.
ESTADO ISLÂMICO USANDO A INFLUÊNCIA DO CINEMA DE
HOLLYWOOD PARA A PROMOÇÃO DO TERROR
Camila de Souza Nascimento13
Resumo: Apresentação de algumas considerações sobre as ações promovidas pelo
grupo extremista autointitulado Estado Islâmico na guerra do Iraque a partir da análise
de alguns de seus vídeos e como eles utilizaram certos aspectos do cinema holiudiano
para promover o terror contra o ocidente (Principalmente os Estados Unidos) a partir de
vídeos de execuções de estrangeiros e vídeos caseiros que tem influência dos
blockbusters estadunidenses para sustentar suas ações de terror no Iraque e mostrar
Graduado pela Universidade Federal do Pará – UEPA - [email protected]
Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará - [email protected]
13
[email protected]
11
12
17
como os Estados Unidos os ensinaram e os transformaram nos “monstros” que são hoje.
Querendo assim, promover uma verdadeira jihad contra a influência ocidental no
Oriente Médio e a criação de um verdadeiro Estado Islâmico onde a Sharia seja seguida
ao pé da letra, para que os infiéis sejam separados dos fieis e punidos conforme o
Corão. A promoção da luta contra os infiéis para o EI usando de características culturais
propagadas pelos Estados Unidos acaba por afeta não só a região, que é instável por
natureza, como o próprio sistema internacional acabando com a teoria de os
estadunidenses serem os protetores da paz já que foram eles mesmos que criaram de
certa forma estes assim chamados terroristas tão temidos e combatidos por eles após os
ataques de 11 de setembro de 2001, aliás, a autointitulação de “protetores da paz e da
democracia” que os estadunidenses têm nunca foi tão contestada como hoje está sendo,
principalmente quando se trata de combate ao terrorismo, por conta do surgimento de
atores externos insurgentes que conseguem mostrar que podem ter tanta força quanto os
EUA. Sendo assim, demonstrarei pequenas características desses fatores que
contribuem para a atual situação de instabilidade que o Iraque está passando.
LA HEROÍNA DE POSTGUERRA Y LA HEROÍNA MODERNA BAJO LA
MIRADA CRÍTICA DE BENITO ZAMBRANO
Cândida Assumpção Castro14
Resumo: Existen multitud de héroes significativos, detalladamente explorados tanto en
la literatura como en el ámbito cinematográfico universal. En particular, analizaremos y
descubriremos el papel fundamental de algunas mujeres relegadas históricamente,
aunque, no por este motivo, su labor fuera menos importante. Nos referimos a las
heroínas nacionales (KOTHE, 1985) españolas, desde una perspectiva política, tras la
guerra civil española (1936 – 1939), mediante el estudio de la película La voz dormida
(2011), de Benito Zambrano (1965), basada en la novela de Dulce Chacón (2002), con
especial enfoque en sus dos personajes femeninos principales, Hortensia y Pepita,
emparentadas y enfrentadas en luchas dispares. Y, de la misma forma, desde una
perspectiva eminentemente social, a través de una feroz crítica a la actual realidad
contemporánea con trazos de marginalidad en el Sur español, indagaremos sobre el
filme Solas (1999), del mismo director. Revelaremos la tragedia de sus protagonistas,
María y Rosa, su abnegada madre, representando de forma diafana temas de gran
relevancia como: la soledad, el machismo, la violencia de género, el alcoholismo, el rol
tradicional y único de la mujer en el pasado como madre o esposa y, como
consecuencia, la falta de identidad e independencia social, la vejez, el abandono, etc. La
contraposición y puntos comunes de este imaginario cinematográfico en base a sus
poderosos personajes centrales nos ayudará a comprender y denunciar destinos
silenciados, cuya resistencia merece ser declarada abiertamente.
14
Professora
Especialista
da
Escola
[email protected]
Superior
Madre
Celeste
–
ESMAC
-
18
HUMOR E VIOLÊNCIA EM LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
Carlos Augusto Costa15
Resumo: Parcela significativa da produção literária de Luís Fernando Veríssimo
elabora, através do humor, uma tentativa de compreensão e crítica da violência da
Ditadura Militar de 1964, no Brasil. Em geral, são crônicas e contos que abordam temas
como tortura, censura, desaparecimento de militantes de esquerda, práticas de
apagamento de memória e a continuidade da violência, mesmo com o fim do regime. O
presente trabalho se propõe analisar alguns textos do autor em articulação com a
ditadura, dando destaque à questão da ética da representação literária. Objetivamente, a
apresentação problematiza, em perspectiva histórica, a relação antagônica entre humor e
violência em literatura, propondo algumas possibilidades de interpretação.
LITERATURA E HISTORIOGRAFIA NA CRONÍSTICA OVIEDINA
Carlos Henrique Lopes de Almeida16
Resumo: O presente trabalho tem como propósito o estudo da cronística do autor
Gonzalo Fernández de Oviedo, no qual traçar-se-á uma análise que rastreia as
influências da vertente literária no pensamento historiográfico presente em algumas das
uas obras, considerando a presença de alguns reflexos imagísticos da herança e dos
traços da tradição da Idade Média que se anunciam na construção da cronística de
Oviedo. Ainda dentro dessa proposta, analisar os recursos presentes na escrita em que
Oviedo utiliza dentro dos relatos descritivistas, ora caracterizando realisticamente o
encontro com a natureza e os nativos, ora exercitando um toque requintado de reflexos
literários, influenciado pelas autoridades e esquemas tão caros à tradição medieval e
responsáveis por zonas de confluência que reforçam a porosidade do discurso presente
nas cronísticas. Nessa oportunidade, apresentar alguns dos resultados alcançados pelas
pesquisas.
LUIZA NETO JORGE: A INSURREIÇÃO DA PALAVRA FEMININA COMO
EMBATE SOCIAL
Carolina Alves Ferreira de Abreu17
Resumo: Neste projeto de iniciação científica propôs-se fazer um estudo direcionado à
abordagem do corpo erótico na obra poética da portuguesa Luiza Neto Jorge, no livro
Corpo Insurrecto e Outros Poemas organizado por Floriano Martins. Essa proposta tem
como objetivo considerar, por meio de uma linguagem poética e particular, a
corporeidade do poema como um sujeito feminino em relação a sua identidade, seus
limites e sua relação com os outros; o poema como ato sexual, relacionando-se com
outro corpo, e seus limites no tempo e no espaço. Para isso, utilizamos como
15
Instituto de Estudos do Xingu/UNIFESSPA - [email protected]
Universidade Federal do Pará- UFPA - [email protected]
17
Graduanda pela Universidade Federal do Amazonas - [email protected]
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19
fundamentação teórica sobre o erotismo as ideias de Georges Bataille, no livro O
Erotismo, de Octavio Paz, no livro A Dupla Chama e as de Simone de Beauvoir, em O
Segundo Sexo, acerca da libertação feminina das convenções e moldes patriarcais.
Complementamos a base teórica com as ideias de Roland Barthes, no livro Aula, que
discorre sobre as relações da linguagem como um ato de despoder. O sujeito do poema,
com sua linguagem, necessita quebrar os preceitos que aprisionam a mulher ou o ato
criativo da escrita, relacionando a ruptura de algumas normas da linguagem com a
ruptura dos dogmas sociais, levando à reflexão sobre a realidade hostil e estereotipada
imposta à mulher ocidental e sobre a possibilidade de reconstrução não apenas da
linguagem como também da identidade nos tempos de opressão, entre 1930 a 1970,
inclusive das ditaduras na Europa.
IMBRICAMENTOS ÉTICOS E ESTÉTICOS DA REPRESENTAÇÃO DA
VIOLÊNCIA NO ROMANCE CIDADE DE DEUS, DE PAULO LINS
Cecília Lara da Cruz18
Resumo: O Verbo baleado: imbricamentos éticos e estéticos na representação da
violência em Cidade de Deus, de Paulo Lins. Esta pesquisa consiste em investigar os
imbricamentos éticos e estéticos da representação da violência no romance Cidade de
Deus, de Paulo Lins. Consideramos como premissas para nossa investigação: (1) que a
História da literatura brasileira é uma parte fundamental da memória coletiva de nossa
sociedade, e (2) que a violência tem caráter constitutivo na formação da sociedade
brasileira, uma vez que é marcada por traços do colonialismo, da escravidão e dos
Estados ditatoriais do século XX. Essa presença de violência na História do Brasil está
articulada tanto com as formas e os temas das manifestações artísticas brasileiras
contemporâneas, inclusive as literárias, como com seus modos de produção e recepção.
A chamada “literatura marginal”, da qual Cidade de Deus é um dos principais
representantes, traz a violência, via contexto urbano, como protagonista. Procuramos
apreender a inscrição da violência na obra, especialmente no que se refere aos limites e
possibilidades de representação dentro da esfera da ética, considerando a própria
impossibilidade da representação da catástrofe. As questões-problemas que abordamos
dizem respeito à contaminação do ponto de vista e às questões de representatividade do
autor; aos contornos dados para situações-limite, que não admitem termos de
comparação; às implicações que a representação da violência traz ao realismo e à “visão
interna” construídos por Paulo Lins e às possibilidades de relação da representação da
violência no romance com os conceitos de trauma, testemunho e melancolia, da forma
como eles têm sido trabalhados na crítica literária atualmente.
18
Mestranda pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo - PUC SP - [email protected]
20
SERGIO BIANCHI NA CONTRAMÃO DA RESISTÊNCIA
César Takemoto19
Resumo: A comunicação visa mostrar como certa ideia de resistência estética é posta
em cheque e problematizada pela montagem de situações da maquinaria cênicocinematográfica dos filmes de Sergio Bianchi. Trata-se de ver, a partir de análises de
cenas específicas de seus filmes, a forma como eles operam e fazem funcionar, de
diversas maneiras e ao longo de sua obra, uma estética tão combativa e quiçá mais
subversiva do que a assim chamada arte de resistência. A ideia básica dessa
demonstração está na intuição de que é o próprio olhar desse sujeito da resistência - a
maneira como a arte dita de resistência captura certa fantasia do espectador - que é
posto em cheque e desnudado pelos procedimentos artísticos do diretor paranaense.
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM CONFLITOS E CAMPOS DE
REFUGIADOS: O CASO SÍRIO EM ZAATARI – UMA PERSPECTIVA PELA
ÓTICA PÓS-MODERNA
Christiane do Socorro Ramos dos Santos20
Resumo: Desde que teve início em 2011, o conflito sírio proporciona à comunidade
internacional uma amostra de até onde os jogos de forças podem chegar em busca pelo
controle do poder. Neste contexto, os refugiados são um grupo fortemente atingido por
essas disputas. No campo de refugiados de Zaatari – campo de refugiados sírios na
Jordânia – a onda de violência é severa. Acomete de forma desumana as mulheres, que
além de sofrerem com os horrores dos conflitos, ainda têm que testemunhar sua
dignidade, seus diretos e seus corpos violados. Este trabalho possui como objetivo
produzir uma análise sobre a temática “violação da Mulher nos campos de refugiados
sírios”. Para isso, houve a necessidade de se delimitar o espaço da pesquisa. Portanto,
optou-se por abordar o maior campo de refugiados da Síria no Estado da Jordânia, país
vizinho da nação em conflito. Zaatari abriga mais de 120 mil refugiados. Com lotação
completa, é tido como uma “cidade informal”. Trata-se de um estudo de caso, pois o
tema possui uma abrangência ampla e complexa. Por conta da contemporaneidade dos
eventos, a pesquisa foi impulsionada por artigos jornalísticos, e amplamente
influenciada pelo relatório da Human Rights Watch, intitulado “We are still here:
Women on the front lines of Syria’s conflict (2014). Como referencial teórico, faz-se
notável os teóricos pós-modernos Michel Foucault, por meio da teoria da Biopolítica e
Giorgio Agamben, sobre o Estado de Exceção. A população feminina síria vive em um
contexto de privações e não respeito aos direitos de comando da própria vida e das
próprias ações.
19
20
[email protected]
Graduanda pela Universidade da Amazônia – UNAMA. [email protected]
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GÊNEROS TEXTUAIS: UM RECURSO ESTÉTICO PARA A RESISTÊNCIA
NA LITERATURA DE BENEDICTO MONTEIRO
Cleide Lúcia Gaspar da Assunção21
Resumo: Benedicto Monteiro foi um paraense de Alenquer. Como político e jurista,
atuou com eficiência na defesa do povo no que se refere à questão agrária do país. Foi,
ainda, poeta, contista e romancista, denunciando os abusos da ditadura militar que o
prendeu e torturou. Em sua Tetralogia Amazônica - composta pelos romances Verde
vagomundo, O minossauro, A terceira margem e Aquele um - apresenta as dificuldades
e injustiças por que passa o homem ribeirinho da Amazônia sem deixar de anunciar as
problemáticas político-sociais do Brasil e do mundo. Para isso, o autor utilizou diversos
gêneros textuais a fim de possibilitar múltiplos pontos de vista sobre questões debatidas
em suas obras, como exploração da Amazônia, exílio, resistência, influência norteamericana sobre o governo brasileiro, entre outros. Cartas, contos, letras de música e
relatório policial são alguns tipos de textos encontrados na literatura de Benedicto. Para
as pesquisas deste trabalho, teóricos como Massaud Moisés e Ivete Walty serão
utilizados como orientação para o estudo.
POR UMA FACE CONTRA-HEGEMÔNICA DA CONSTRUÇÃO DE
BRASÍLIA: NARRATIVAS DE UM VAQUEIRO VOADOR
Cristiane de Assis Portela22
Anna Lorena Morais Silva23
Resumo: Partindo da conjunção de vieses da pesquisa histórica e da análise
cinematográfica, propomos analisar a narrativa construída no filme Romance do
Vaqueiro Voador (2007, Dir. Manfredo Caldas) - que rememora a construção da nova
capital sob a perspectiva dos trabalhadores que a edificaram, confrontando-a com a
narrativa produzida por Juscelino Kubitschek em seus discursos dirigidos aos operários
da construção de Brasília, entre os anos de 1956 e 1960. Os discursos de JK são
amplamente conhecidos e estão disponibilizados em publicações impressas e virtuais,
além de disponibilizadas em acervos de arquivos públicos e privados, enquanto os
relatos dos operários são ainda pouco conhecidos, o que demonstra que estas vozes
foram silenciadas em meio a um processo circular de estigmatização social e
invisibilidade histórica. Pelo país e pelo mundo, naquele período, circulavam matérias
em jornais, revistas e rádio sobre a construção de Brasília. O próprio governo, já em
1957, criou a Revista Brasília, com o intuito de registrar e propagandear o andamento
das obras. Além disso foram encomendados diversos filmes jornalísticos oficiais - os
cinejornais - sendo grande o aparato midiático da época para se difundir os ideais
positivos sobre a nova capital. Temos em Romance do Vaqueiro Voador um
contraponto aos discursos tornados hegemônicos nas narrativas sobre a capital moderna.
Consiste em um documentário poético baseado no poema homônimo de João Bosco
21
[email protected]
Doutora em História- Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) - [email protected]
23
Graduada em História- Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) - [email protected]
22
22
Bezerra Bonfim. O filme se propõe a uma recriação do universo mítico do nordestino
que, ao vivenciar a nova diáspora, agora no papel de candango, protagoniza o lado
trágico da epopeia da construção da nova capital do Brasil. Assim, identificamos na
obra elementos de resistência que possibilitam a construção de narrativas contrahegemônicas e sinalizam novos horizontes de expectativa.
RETRATOS TÃO DESIGUAIS DE MANAUS NA DESCRIÇÃO DE CINZAS DO
NORTE DE MILTON HATOUM
Cristiane de Mesquita Alves24
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os espaços descritos da cidade de
Manaus no livro Cinzas do Norte do escritor amazonense Milton Hatoum, apresentando
os aspectos sociais e suas disparidades, as insatisfações quanto à política vigente no
romance e as formas de resistências contra a força do Estado, as desigualdades sociais
promovidas por um governo afeiçoado ao capitalismo e não ao povo e a cultura. Isso
será feito por meio das análises literárias dos diálogos das personagens no decorrer dos
parágrafos que compõem o romance. E para embasamento teórico, utilizar-se-á leituras
de autores como Birman, Candido, Castello, Eco, Marcondes dentre outros para
justificar as afirmações sobre os aspectos literários presentes na obra.
REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NO POEMA DE MIO CID
Daniele Mendonça de Paula Chaves25
Resumo: Em uma Espanha medieval altamente patriarcal e presa a fortes concepções de
senhor e vassalo, Lacarra (1995) nos expõe três discursos que orientavam o papel social
da mulher e sustentavam a visão de submissão desta em relação ao homem, a saber, o
discurso eclesiástico, o jurídico e o cientifico. Com base nessas concepções nos
propomos neste trabalho, estudar as representações do feminino presente na obra “O
Poema de Mio Cid”, máximo representante da literatura épica espanhola. Buscamos
aqui identificar como era concebida a figura do feminino na sociedade medieval e em
que aspectos as três principais mulheres da obra nos refletiam tais concepções. Para
compreender este pensamento que guiou a vida da mulher ocidental por muitos séculos,
fizemos um breve percurso pelos dois principais discursos que nortearam a vida e
normas de conduta da mulher medieval, a saber, o eclesiástico e o jurídico. Em seguida
buscamos analisar essas representações nas três personagens femininas presentes no
Poema de Mio Cid, como forma de obter um reflexo do feminino no medievo espanhol.
Para o desenvolvimento deste trabalho nosso embasamento teórico esteve centrado em
estudos de medievalistas que dedicaram suas vidas a compreensão do ideal de mulher
na Idade Média ocidental como Dalarun (2000); Ocaña (1998); Lacarra (1995); entre
outros, além de dos estudos de Le Goff (2007) no que tange a compreensão das normas
sociais da Europa medieval.
24
Pós-Graduação em Análise
[email protected]
25
[email protected]
Literária
pela
Universidade
do
Estado
do
Pará
-
23
MEMÓRIAS LITERÁRIAS SOB A ÓTICA DOS CONFLITOS POLÍTICOS:
MARCAS DE UM TEMPO
Dariane Roberta Pinheiro dos Santos26
Resumo: Este estudo visa propor um estudo comparado nas narrativas, Filhos da pátria
de Milton Hatoum e Um voluntário da pátria de Zuenir Ventura, que apesar de partirem
de períodos diferentes têm em comum a essência do universo de repressão mediante a
expressão da dor, do medo, da angústia, frutos de conflitos políticos que assinalam um
período ditatorial de guerra, que tem como palco a Capital Federal, Brasília e a
Palestina. Os elementos discursivos de opressão e de resistência servem de instrumento
reflexivo para o campo literário e também para o histórico e sociológico, uma vez que
suscitam profundas reflexões devido às marcas deixadas pelo mesmo. Nossa intenção
primária é fazer recortes desses discursos dialogando com as categorias de memória e
resistência partindo do princípio de que estas servem de base para se lançar um olhar
crítico sobre tal período, pois as vozes se postergaram no tempo se mantendo vivas,
embora tenham-se avançado décadas. No tocante a literatura, esta atua como
fomentadora de um processo crítico, quando assume o papel de mediadora entre o
espaço dos discursos e o leitor, possibilitando o reconhecimento de uma identidade
coletiva no plano cultural e político de dois países.
TRAUMA E TESTEMUNHO NO FILME DOCUMENTÁRIO “A OUTRA
GUERRA” (2010)
Debora Suely do Espirito Santo Souza27
Resumo: Durante a Guerra Colonial Portuguesa, sob os ditames da ditadura de Salazar
os jovens portugueses que ou passavam quatro meses na guerra ou sete meses na pesca
do bacalhau. Segundo depoimento, a pesca do bacalhau só existiu por causa da guerra.
Este é o contexto do filme “A Outra Guerra” (2010), dirigido por Elsa Sertório e Ansgar
Schafer, um documentário em que três amigos, Jaime Petinga, Joaquim Piló e José
Figueiredo, relatam a bordo do navio “Creoula”, os acontecimentos ocorridos nas
décadas de 60/70, quando ainda eram jovens pescadores. Em uma análise preliminar
desse documentário verificamos alguns aspectos preponderantes, dentre os quais o
trauma, pois os personagens revivem a dor da lembrança no momento presente,
percebidos através do olhar e do silêncio; a tortura, cujos enfoques são os maus tratos
sofridos pelos três amigos por parte do capitão e do contra mestre, que lhe impunham
castigos severos dentro do navio; e o por fim a presença de posições antagônicas
relativamente à ditadura e à guerra, pois o capitão dos navios pesqueiros exaltava a
atitude de Salazar e confirmava as boas condições de trabalho dos pescadores, enquanto
estes contradizem tais relatos. Com base nesses dados, será feita uma análise do filme,
enquanto objeto de cultura relacionada à guerra. Para tanto, serão utilizados estudos de
Walter Benjamim, Michel Foucault, Márcio Seligman-Silva, dentre outros.
26
27
Graduada em Letras pela Escola Superior Madre Celeste – ESMAC - [email protected]
Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
24
JUSTIÇA POÉTICA A LITERATURA ALÉM DO PONTO FINAL
Eduardo Pellejero28
Resumo: John Berger dizia que, mesmo sem saber dizer o que faz a literatura nem
como o faz, não ignorava que a literatura algumas vezes julgou os juízes, exortou os
inocentes à vingança e mostrou ao futuro o sofrimento do passado para que não fosse
esquecido. Berger queria lembrar-nos assim que, na sua singular posição de enunciação,
subvertendo os códigos linguísticos, transgredindo a ordem do discurso e colocando o
tempo fora dos seus gonzos, a literatura é capaz de problematizar a justiça nas suas
formas históricas e redefinir os limites do direito num momento dado numa sociedade
dada. O presente trabalho pretende explorar algumas formas singulares desses
agenciamentos expressivos através dos quais a literatura faz da justiça poética algo mais
que um tópico literário.
CINEMA, FUTEBOL E DITADURA NO BRASIL
Élcio Loureiro Cornelsen29
Resumo: Nossa contribuição visa a refletir sobre a relação entre Cinema, Futebol e
Ditadura no Brasil, a partir da análise dos filmes de ficção Pra frente, Brasil! (1981), de
Roberto Farias e, respectivamente, O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de
Cao Hamburger. Enquanto o filme de Roberto Farias constrói uma imagem do
recrudescimento da repressão e da luta armada, em que o futebol parece apenas
emoldurá-la como uma espécie de “ópio do povo”, o filme de Cao Hamburger, rodado
já no período pós-ditatorial, centra seu foco na construção do olhar infantil diante da
Ditadura e da Copa do Mundo de 1970, de modo a oferecer uma perspectiva sui generis
para o embate ideológico, num dos momentos mais críticos da história recente do país.
O VALOR DA TRADUÇÃO NOS SUPLEMENTOS LITERÁRIOS ARTELITERATURA E LETRAS & ARTES
Eldinar Nascimento Lopes30
Resumo: Nos anos 1940 as traduções literárias ganharam visibilidade e destaque em
dois dos maiores suplementos literários do Brasil: o Arte-Literatura, do jornal paraense
Folha do Norte, e o Letras & Artes, do jornal carioca A Manhã, onde foram publicadas
tanto textos literários quando textos ensaísticos sobre o ofício de tradutor. A partir do
material catalogado, buscamos refletir sobre o papel que a tradução exerceu em não
apenas instaurar um importante lugar a favor do diálogo literário e intelectual e de
intermediação entre obra e público, mas, sobretudo, do intercâmbio cultural e social
entre diferentes línguas a partir de um contexto político espinhoso e traumático: o pósguerra e a pós-política repressiva varguista. Voltar à tradução, tendo em mente a sua
Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN – [email protected]
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - [email protected]
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Aluna da Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará
[email protected]
28
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–
UFPA
-
25
importância em questionar ideias impassíveis e ações autoritárias, é elevar não somente
a reputação do escritor, mas garantir a integralidade do pensamento, o direito à arte e o
direito à voz. E isso de fato abriu caminhos para repensarmos a dialética passado e
presente e o quanto nossa literatura precisava desse contato com o outro. O intercâmbio
literário promove o enriquecimento da escrita e fomenta a cultura para que ela sempre
esteja em construção, estimula a produção literária brasileira para novas expressões,
fomenta o crescimento de cada indivíduo no aporte da experiência poética e acende às
mundividências proporcionadas pela troca cultural.
DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS ROMPENDO SILÊNCIOS HISTÓRICOS
E PESSOAIS
Eliane Vasconcelos Diógenes31
Paulo Sérgio Souto Mota32
Resumo: Este trabalho debate o fenômeno comunicacional contemporâneo no qual o
sujeito, sob efeito do sofrimento gerado pelo assassinato de um familiar militante contra
a ditadura militar, busca recuperar memórias e questionar a versão oficial das suas
mortes, através da realização de um documentário. Constatamos nos últimos anos uma
crescente produção e aumento de prestígio deste tipo de documentário e escolhemos
duas obras para analisar: Diário de uma busca, 2010, dirigido por Flávia Castro que
focaliza a história do pai Celso Castro, e Em busca de Iara, 2013, onde Mariana
Pamplona enfoca o percurso da tia Iara Iavelberg. A discussão se fundamenta na
interface entre as pesquisas provenientes da área da comunicação sobre as tensões entre
o público e o privado no cinema documentário subjetivo e a teoria psicanalítica, através
do paradigma de Sigmund Freud e Jacques Lacan, sobre o mal estar do sujeito na
cultura e a perspectiva da sublimação. Em ambos os documentários, a primeira parte
evoca a militância corajosa e destemida dos familiares, no caso o pai e a tia; e a segunda
parte investiga e confronta entrevistas com familiares, amigos, militantes, policiais e
médicos legistas, refutando a versão oficial sobre as condições de suas mortes;
denunciando as lacunas. Diante do trauma da morte em condições suspeitas, as
documentaristas realizam os filmes, inscrevendo a concepção de assassinato na história,
como forma de romper silêncios de foro íntimo e coletivo. A marca destes
documentários em primeira pessoa consiste em articular experiências particulares com
histórias e memórias coletivas, o que configura uma modificação importante do
documentário “clássico” político. A potência dos mesmos emerge da possibilidade de se
resgatar determinados aspectos de uma situação pública pelo viés da subjetividade, com
seu discurso sem pudores e emocionado sobre a história brutal.
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Mestre pela Pontifica Universidade de São Paulo - PUC-SP - [email protected]
Mestre pela Pontifica Universidade de São Paulo - PUC-SP - [email protected]
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CORPOS PARA NÃO ESQUECER: O TESTEMUNHO E A CENA DA
TORTURA
Elielson Figueiredo33
Resumo: Este trabalho reflete acerca da cena da tortura e, particularmente, sobre o lugar
descritivo que ela ocupa no testemunho de autores que sobreviveram a regimes
autoritários. Considero que a prática da tortura teve como um de seus maiores objetivos
provocar nas vítimas a perda das coordenadas cronológicas da vida, ou a supressão do
registro do tempo, donde se esperava incutir no corpo torturado a vivência de um horror
eterno. Através de uma visada panorâmica sobre textos de Jorge Semprun, Jean Amery,
Frei Fernando, Catarina Meloni e Derlei Catarina de Luca, procuro discutir como a
perda da temporalidade administrada conduziu as vítimas ao registro da topografia do
cárcere. Objetos, uniformes, fossos, celas e demais espacialidades assumem forma
verbal no testemunho sendo descritos de maneira imprecisa, mas indissociável da
vivência do mal. Analiso trechos escritos pelos autores citados procurando revelar o
trabalho dissociativo da memória e sua manifestação na escrita do testemunho. Em meio
ao esforço para ordenar acontecimentos, figuram imagens de escatologia impregnadas
de sensorialidade, entre as mais frequentes o odor, os gritos e o frio, descritos para
recompor quadros dinâmicos emoldurados na subjetividade do sobrevivente.
EL CURUPIRA : UNA PROPUESTA PARA EL DESARROLLO DEL LECTOR
LITERARIO
Erica Fernanda de Sousa Ribeiro34
Resumo: Ao estudar literatura percebe-se que alguns aspectos são memoráveis e
inesquecíveis, principalmente quando o professor fornece uma mescla de imaginação,
lúdicidade e impulsão a curiosidade dos alunos incentivando os mesmos de formas
impensáveis. Assim, objetivo principal deste trabalho é mostrar que, quando a literatura
é inserida na educação básica e apoiada no meio educacional de uma forma agradável
(seja através de vídeos, fotos, histórias adaptadas, etc.). Os alunos estarão mais
propensos a desenvolver suas habilidades de leitura e melhorar as outras três no caso de
uma segunda lingua (oral, auditiva e escrita) tendo como base a abordagem da
competencia comunicativa e leitora. A proposta metodologica apresentada aqui terá o
objetivo de desenvolver o aluno para ser um futuro leitor literário através da lenda do
curupira utilizando os recursos básicos, como vídeo, imagens, texto escrito, comparação
entre o texto em uma lingua extrangeira e um na língua materna e assim por diante.
Uma proposta desafiadora para ser utilizada em uma turma de 9º ano, através da qual
será observada a condição autonoma do estudante e seu desenvolvimento frente uma
história, texto, lenda, entre outros alem de expressar o minimo de vocabulário em
espanhol. Com tudo, direcionamos o aluno ao debate e respectivamente ao raciocínio da
realidade, sentimentos, cultura e principalmente leitura.
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Universidade do Estado do Pará - elielson
[email protected]
27
HQ E TRAUMA: O REALISMO TRAUMÁTICO PRESENTE NA OBRA “NA
COLÔNIA PENAL” DE FRANZ KAFKA
Erlan de Oliveira Queiroz35
Resumo: O presente trabalho abordará o realismo traumático focalizando como objeto
de estudo a novela ficcional em prosa intitulada “Na Colônia Penal” de Franz Kafka e
em HQ (Sylvain Ricard e Maël), promovendo a análise e comparação entre as duas
vertentes (obra original e HQ), enfatizando o realismo traumático presente nas reações
dos personagens principais (condenado e oficial) em relação ao trauma, à opressão e a
tortura. Além de se compreender o processo de transcriação realizado entre a obra
original de Kafka e a HQ a partir de conceito do realismo traumático, possibilitando
dessa forma vislumbrar por meio de elementos verbo-visuais pertencentes às histórias
em quadrinhos, o trauma e o choque que os personagens destaques da narrativa
enfrentam, além de fazer com que o leitor se depare ao observar na narrativa a conduta
complexa daqueles que chamamos de “seres humanos”. Contudo, para adentrar-se nessa
temática essencial desse trabalho, deve-se pensar a literatura como fundamento que
expõe e facilitar a análise crítica do trauma inserido no homem contemporâneo causados
pelos atos de tiranias e injustiças, que o sujeito enfrenta ao se depara com qualquer tipo
de barbárie.
RASTROS BENJAMINIANOS EM MICHEL FOUCAULT: a vida infame como
história a contrapelo.
Ernani Chaves36
Resumo: Partindo de uma rápida consideração acerca das “afinidades eletivas” entre
Michel Foucault e Walter Benjamin, em especial a propósito das suas respectivas
concepções de história e historiografia, procurarei mostrar, nas suas linhas mais gerais,
de que modo as considerações de Foucault acerca do filme de Renée Allio, de 1976,
realizado a partir do dossiê “Eu, Pièrre Rivière, que degolei minha mãe, meu irmão e
minha irmã”, nos permitem compreender a gênese das relações de poder-saber que se
estabelecem, a partir do começo do século XIX, entre justiça penal e saber psiquiátrico.
Esta compreensão nos permitirá mostrar: 1) em que medida, desde então, somos
marcados por uma produção de subjetividade, na qual a distinção entre o normal e o
patológico, se torna o fundamento de nosso ser e de nossa ação e 2) de que modo essa
operação disjuntiva também marca, a ferro e fogo, o modus operandi dos regimes
totalitários, de tal maneira que a resistência a esses regimes também precisa ser
desqualificada como patologia, ao mesmo tempo em que a memória do resistente
precisa ser apagada.
35
36
[email protected]
Universidade Federal do Pará- UFPA – [email protected]
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O TEMPO EM "AS MARGENS DA ALEGRIA" E "OS CIMOS" DE
GUIMARÃES ROSA
Fabyolla Franco Medeiros37
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar o tempo e as afinidades existentes
entre as narrativas “As margens da alegria” e “Os cimos” do livro Primeiras estórias, de
Guimarães Rosa, principalmente no que diz respeito ao personagem Menino,
protagonista dos dois contos. Primeiras estórias é um livro que reúne vinte e um contos
cujos personagens principais geralmente são loucos e crianças. Mas, apesar de
parecerem heterogêneos, os contos se tornam homogêneos à medida que se analisa um
ponto específico em algumas estórias, como a relação que existe entre o conto inicial e
final e o tempo que está presente em todas elas. Através da figura do Menino,
personagem protagonista do primeiro e do último conto do livro, observamos uma
criança que possui uma grande sensibilidade para questionar problemas que rodeiam a
condição humana na terra, como a vida e a morte, desde suas primeiras descobertas. Sua
evolução, com o passar do tempo, segue em dois caminhos opostos, mas com certa
linearidade. Observamos esse progresso no primeiro conto, em que há a perda do peru e,
depois, a esperança do encontro com o vagalume, no segundo conto, há a tristeza com o
afastamento pela doença da Mãe, depois a alegria pela cura. Primeiro será abordada a
vida e as obras do escritor brasileiro Guimarães Rosa. Depois serão feitas breves
considerações sobre as vinte e uma narrativas baseadas nos estudos de Rónai (1972) e
de Pacheco (2006). Em seguida, serão analisados os dois contos aqui expostos, no que
se refere à semelhança entre eles, fundamentada nos estudos de Pacheco (2006), e o
tempo em suas narrativas, baseada nos escritos de Nunes (1988). Por fim, será
explicado o sentido das margens no primeiro conto e a travessia real ou imaginária no
tempo e no espaço feito pelo Menino dos dois contos. Estudar a semelhança e o tempo
que existe nas duas narrativas de Primeiras estórias torna-se interessante para um estudo
mais aprofundado da obra, pois traz em seu interior uma ponte que liga o começo e o
fim do livro, que representa uma travessia por onde passam as outras estórias, que se
complementam entre si, à medida que o leitor estipula um ponto a ser analisado entre
duas ou mais narrações.
ENTRE REALIDADE E FICÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS-SOCIAIS EM
MACHUCA DE ANDRÉS WOOD
Fernanda Costa da Silva38
Resumo: Adentrando a década de 70, um dos fatos históricos marcantes da América
Latina, foram os chamados “Golpes Militares”, eles se proliferaram por várias nações,
desencadeando uma chuva de horror, opressão e falta de liberdade por todos os países.
Neste trabalho, buscamos apresentar os aspectos histórico-sociais que envolveram o
Chile durante o seu regime totalitário. E para explanar esse acontecimento, utilizamos o
cinema, que é o objeto de estudo do Projeto de Extensão: Luz, Cámara y Conversasión
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Graduanda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected]
Graduanda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected]
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do campus de Castanhal. Através da exposição audiovisual, escolhemos o filme
“Machuca”, 2004, dirigido por¬ Andrés Wood para a análise desse fato histórico-social,
pois este revela, por intermédio de duas crianças, a realidade de um país oprimido por
um regime militar. Dois mundos totalmente diferentes, onde uma se encontra a mercê
da pobreza e a outra, desfruta do melhor do que se chamaria “a classe burguesa”, porém
as duas crianças compartilham a mesma escolha, a companhia um do outro. Uma vez
que vivem em um lugar onde a desigualdade social é a voz da sociedade e o poder do
Estado. Logo, utilizamos alguns estudiosos para o embasamento teórico deste trabalho,
como: NÓVOA (2008), LIMA (2012) e PINTO (2004). O traço empolgante e
perfeitamente regido por Wood é o olhar dessas duas crianças, suas visões sobre o
regime ditatorial, suas observações e reflexões sobre como o golpe que atingiu não só
suas famílias, mas também todo ambiente sócio-econômico em sua volta, em especial, a
escola. Uma amizade que ultrapassará preconceitos sociais e provocará, de certa forma,
o governo repressor.
LUCIANA: A VOZ DA RESISTÊNCIA NO ROMANCE OS HABITANTES.
Flávia Roberta Menezes de Souza39
Resumo: Luciana é uma personagem singular na obra de Dalcídio Jurandir (19091979). Um dos traços que a singulariza é a sua própria constituição enquanto
personagem, uma vez que ela inexiste na diegese do romance por se encontrar morta.
Entendendo a narrativa como um complexo conjunto de níveis narrativos (GENETTE,
1995, p.227), a presença de Luciana está sempre associada a um nível secundário da
narrativa, que abriga uma memória, uma espécie de lugar (VILELA, 2000) de onde
surge a voz da personagem, silenciada em vida. A memória dos familiares de Luciana
revela na narrativa o silenciamento da voz dela e ao mesmo tempo a resistência dessa
voz, uma vez que essa se apresenta como opositora à repressão vivida pela personagem
em vida.
RESISTÊNCIA, ESPERANÇA E SONHO NA LITERATURA MOÇAMBICANA,
UMA ANÁLISE DA OBRA TERRA SONÂMBULA DE MIA COUTO
Flávio Reginaldo Pimentel40
Resumo: O presente trabalho pretende fazer uma análise da obra do escritor
moçambicano Mia Couto, Terra Sonâmbula (1992) fazendo um paralelo com a
produção cinematográfica homônima dirigida por Teresa Prata (2007). A partir de
questões como resistência, esperança e sonho, elementos presentes na obra de Mia
Couto e que também se encontram presente na produção fílmica, podemos perceber que
ambas as obras estão relacionadas e como esses elementos ajudam a entender a
realidade de um país que vive uma guerra civil que dizimou a população pobre e
miserável de Moçambique (1977-1992). A obra narra a história de um menino chamado
Muidinga e seu “tio” Tuahir, que andam por uma longa e deserta estrada fugindo da
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Mestranda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected]
Mestre pelo Instituto Federal do Pará - [email protected]
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guerra. Em dado momento eles encontram uma série de escritos que quando lidos pelo
menino eles conhecem a história de Kindzu. Através da leitura desse diário, entram num
mundo de sonhos e esperanças, beirando o fantástico, pois Muidinga tem como objetivo
principal reencontrar a sua mãe que foi perdida em dado momento da guerra cruel e
sangrenta. Há uma tentativa de identificação por parte do menino, pois para ele a
história lida é a sua própria história e junto com Tuahir põem-se a caminhar numa
estrada fantasmagórica. A resistência encontrada em ambas as obras é a persistência dos
personagens, pela insistência em alcançar o mar e consequente Farida, suposta mãe de
Muidinga, conhecida por ele nas narrativas encontradas. Impossível de não perceber tais
elementos em obras tão singulares e com uma beleza indescritível de narrativa,
paisagem e atuação dos personagens.
AIDS E LITERATURA: NARRATIVAS (SOROPOSITIVAS) DA
PERSISTÊNCIA
Francisco Araújo41
Resumo: A expressão por meio da linguagem literária é um dos poucos recursos
linguísticos que o soropositivo utiliza para se proteger ou enfrentar o preconceito ainda
implicados no adoecimento por Aids. Nesse processo, relatos são construídos, que
oscilam entre o depoimento e o testemunho. Compreende-se nesta produção marginal a
presença de um autor/narrador que necessita recorrer a pseudônimos, figuras de
linguagem e signos-multívocos, ligados ao luto, ao desamparo, ao perecimento, para
assegurar seu direto a expressão sem ameaçar ainda mais a chamada “sobrevida”
fazendo da resistência um exercício de persistência. O estudo pretende, dessa forma,
proceder à análise desse material com vistas a compreender esses aspectos.
O ROMANCE DE EXTRAÇÃO HISTÓRICA E O CINEMA
Godofredo de Oliveira Neto42
Resumo: Cinema e Literatura dispõem de possibilidades sintáticas e semânticas
análogas, como o sistema referencial e o trabalho com o tempo, incluindo a
interioridade psicológica. Como Arte, o Cinema e a Literatura não podem se propor a
susbtituir o real - a grande ameaça, já que são composições amplas e flexíveis -, daí a
inerência de processos estéticos próprios. Analisaremos o deslocamento do " real
histórico" para o texto literário. Leitura de trechos do romance " Amores exilados".
41
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Graduando em Letras pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected]
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CUERPO Y DICTADURA: RELACIONES BIOPOLÍTICAS Y APERTURAS
ARTÍSTICAS
Gonzalo Leiva Quijada43
Resumo: La antropología de la corporalidad se ve asediada por las coyunturas de los
Golpes de Estado en el Cono Sur. Se impuso un disciplinamiento del cuerpo social y del
cuerpo individual, las resistencias son apagadas con la tortura y la muerte. Dichas
prácticas establecieron represiones corporales que evidenciaron un cambio de
paradigmas, la visualidad y las expresiones artísticas dejan en evidencia el cuerpo
crispado, censurado marchito.
SHOAH: TEMPO, ARQUIVO, CANÇÃO
Gustavo Silveira Ribeiro44
Resumo: Shoah (1985), de Claude Lanzmann, é tradicionalmente lido como um baú de
memórias, um manancial de testemunhos no qual muitos dos que estiveram diretamente
envolvidos no genocídio dos judeus da Europa (sobreviventes, carrascos, observadores)
escavam o passado em diferentes direções, buscando recuperar fatos e circunstâncias
esquecidos. Propomos, em sentido diverso, ler o filme como uma história do presente,
isto é, uma narrativa coral que se coloca, preferencialmente, em relação direta com o
seu próprio tempo, registrando e refletindo a respeito do legado da shoah, mais do que
apenas recuperando a memória dos mortos e descrevendo maquinaria do horror nazista.
Para isso, duas questões serão importantes: a) a presença da música no filme – que
constitui imagem privilegiada do problema em tela e b) modelo teórico para a relação
passado-presente delineada pela narrativa de Lanzmann.
GRITOS NO SILÊNCIO DA PALAVRA, EM MAX MARTINS
Helenice Aparecida Carvalho Silva45
Resumo: Este artigo “Gritos no Silêncio da Palavra, em Max Martins” apresenta uma
visão social de sua produção literária e consiste em uma análise temática acerca da
condição humana marcada no interior de uma feira. São os Gritos Silenciados no poema
“Ver-O-Peso”, pertencente à obra “H’Era” (1971). Entendemos que esse momento
pontua um recorte na obra maxiana em toda sua produção artística (1952 – 2001), e que
evidencia uma postura social diante de um fato que representa a imagem da sociedade
local, com perspectiva ao universal: a exploração do homem pelo homem. Constitui
assim, um desvio de toda sua produção artístico-poética, percebido sob dois aspectos
como: o distanciamento de temas ou ideias do poeta sobre questões políticas, assim
como trata das relações do homem e sua força de trabalho. O texto literário dá ênfase a
um processo exploratório da condição humana, em que o eu lírico é percebido por um
Pontifícia Universidade Católica- Santiago do Chile – [email protected]
Professor Doutor da Universidade Federal da Bahia – UFBA – [email protected]
45
Mestre pelo programa de pós-graduação em Letras do Campus de Bragança – UFPA [email protected]
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olhar contemplativo do poeta. O poema supra citado traz à tona um diálogo perverso
entre homem e sociedade, manifesto desviante da condição humana e seus gritos
silenciados, a partir da expressão poética. A abordagem desenvolvida está sustentada
sob à luz de Bronislaw Geremak e Marie-Odile Goulet e R. Brach Branhan, pelo
cuidado que tratam a temática em questão, a sobrevivência humana.
A AMAZÔNIA E A DITADURA, ONTEM E HOJE
Idelber Avelar46
Resumo: Este trabalho analisa tanto o discurso com que a ditadura militar formulou a
integração da Amazônia ao capitalismo brasileiro como uma série de críticas a esse
discurso. Da geopolítica de Golbery do Couto e Silva à retórica oficial acerca da
Transamazônica e da hidrelétrica de Tucuruí, o regime militar concebeu a Amazônia
como reserva energética, objeto de uma operação modernizadora e espaço vazio a ser
colonizado. Vários indícios apontam para o ressurgimento dessa retórica nos últimos
anos, na política energética e agrícola do governo federal, no tratamento das populações
ameríndias e na insistência de que a Amazônia deve ser integrada a um projeto
geopolítico estabelecido alhures. Com foco em obras literárias de João Gilberto Noll,
Márcio Souza e Milton Hatoum, no relato autoetnográfico de Davi Kopenawa e em
obras cinematográficas realizadas no marco do projeto Vídeo nas Aldeias, este ensaio
analisa críticas e respostas a essa retórica oficial na literatura, na antropologia e no
cinema.
SALA-PALCO OU SALA DE AULA?
Igor Barbosa Marques47
Resumo: Este trabalho tem como objetivo abordar a relevância folclórica-cultural
amazônica presente nas compilações de Câmara Cascudo encontradas no suplemento
literário Arte Literatura do jornal A Folha do Norte no período de 1946 - 1951 e em
outras obras, que fomentam conceitos de mito, lendas, folclore e cultura popular.
Considera-se que a arte e cultura contemplam as diversidades raciais, étnicas, religiosas,
sociais e de gêneros, além de traçar um olhar mais abrangente sobre outras formas de
organização cultural, harmoniza-se e organizam-se pensamentos atravessados pela
interdisciplinaridade, na concepção de arte “enquanto elemento da Cultura”
(CAUQUELIN,2005). Voltados para este eixo temático, tomamos como referência a
Lei 5.692/71 que aborda o ensino da arte e cultura como parte da área de linguagens,
denominada de Comunicação e Expressão - eixo das Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias. Leva-se também em consideração a fruição-percepção-interpretação no
processo de codificação-decodificação desses textos literários encontrados no
suplemento dominical Arte Literatura do jornal A Folha do Norte - instrumento de
grande importância para a formação crítica e sensível do cidadão-aluno-criador
amazônico na época, despertando um senso reflexivo, que consequentemente, desperta
46
47
Tulane University – [email protected]
Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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uma percepção artística, assim a arte, cultura e literatura amazônica poderiam ser
consideradas como fomento primordial, eficiente e didático para o ensino-aprendizagem
de conteúdos transdisciplinares dentro e fora de sala de aula.
TRANSGRESSÃO E RESISTÊNCIA: O POLIAMOR EM O TERCEIRO
TRAVESSEIRO, DE NELSON LUIZ DE CARVALHO
Ingrid Ferreira da Silva48
Resumo: O poliamor é a tradução livre da língua inglesa para a língua portuguesa da
palavra polyamory (palavra híbrida: poly é do grego e significa muitos, e amor, que vem
do latim). Descreve relações interpessoais amorosas que recusam a monogamia como
princípio de necessidade porém, esse tipo evolutivo de relacionamento afetivo-sexual,
apesar de ser um movimento que já se popularizou no decorrer dos últimos 20 anos,
ainda é considerado algo que foge dos padrões do amor burguês (monogâmico, um
amor que exige exclusividade). Trata-se, em nossa avaliação de um relacionamento
subversor em relação ao amor à dois, convencional e aceito como norma pela sociedade.
Para dar conta desta hipótese faremos a análise do romance O terceiro travesseiro, do
brasileiro Nelson Luiz de Carvalho, em que três personagens (Renato, Marcus e Beatriz)
assumem um ménage a trois (amor à três), que suporta o preconceito da família e da
sociedade para continuar seu romance.
OS SUPERSTES IMAGÉTICOS - CADÁVERES DE MILITANTES QUE SÃO
TESTEMUNHAS.
Isabela Quaresma de Sousa49
Resumo: Esta pesquisa visa verificar as semelhanças encontradas em imagens
fotográficas, coletadas em bases físicas e virtuais, de cadáveres de militantes
assassinados na ditadura civil-militar de 1964. Com o auxílio das pesquisas sobre
testemunho de karl Erik Scholhammer, Valéria de Marco, Márcio Seligmann-Silva,
Eugênia Vilela e Giorgio Agamben, pode-se dizer que essas imagens podem ser
compreendidas também como uma forma de Superste (o relato daqueles que viveram
algum evento traumático e podem dar testemunho de tal).
ESCRITA E ORALIDADE COMO RESISTÊNCIA EM TERRA SONÂMBULA
Ivânia da Silva Pereira de Melo50
Resumo: Este trabalho aborda a escrita e a oralidade como forma de resistência tanto no
romance Terra sonâmbula, de Mia Couto, como no filme homônimo de Teresa Prata.
Trata-se do deslocamento de Tuahir, Muidinga e Kindzu, fugitivos da guerra civil em
48
[email protected]
Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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Moçambique, que encontram na arte de contar estórias o apoio para resistir a tal cenário
de destruição. Escrita e oralidade se complementam quando Muidinga empresta sua voz
às estórias escritas por Kindzu, revelando enredos que misturam verdades e sonhos de
outras personagens. Seja nas verdades sonhadas do romance ou nos reflexos da guerra
mostrados no filme, a narrativa de Terra sonâmbula acontece em movimento circular,
provocando assim, uma ideia de associação de espelhos quando as imagens do objeto,
refletidas em circunferência, confundem o real e o virtual. Nesse espelhamento
Muidinga e Kindzu também se confundem como autor e personagem, revelando apenas
a necessidade de sobrevivência pela escrita e pela oralidade.
O CORPO NA LITERATURA E NO CINEMA
Jaime Ginzburg51
Resumo: Este trabalho examina as relações entre imagens de corpos e configurações
artísticas de resistência à repressão. A hipótese consiste em que corpos submetidos a
situações extremas estão associados a recursos referentes ao choque e ao estranhamento,
em contraponto com modos habituais de percepção. Serão examinados, entre outros,
Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll e Tata Amaral.
A IDEIA DE MEMORIA ANALIZADA NA CRONISTICA DO NOVO MUNDO
PRESENTE NA OBRA DE GONZALO FERNANDEZ DE OVIEDO
Jacqueline Augusta Leite de Lima52
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a cronística do novo mundo, que foi
responsável pela formação de visões sobre a América a partir de reflexos literários,
traços da tradição medieval, percepções realísticas, imagens do cotidiano nativo,
buscando definir a ideia e o lugar da memória presente na obra de Gonzalo Fernandez
de Oviedo. Para estes fins, faremos recortes da obra cronista, en os quais encontraremos
marcas ou reflexos do uso da memória como estratégia narrativa, alem de analisarmos
descrições presentes nos relatos documentados partindo das teorias de Taylor (1987), Le
goff (1924), Carruthers (2011) entre outros.
SER CRIANÇA E AGIR COMO UMA: REFLEXÕES SOBRE TRAUMAS E
TRAÇOS DEIXADOS PELA OPRESSÃO.
Jessica Marina Barbosa de Jesus53
Resumo: O presente trabalho visa fazer uma reflexão sobre as marcas deixadas em
crianças e adultos pelas experiências em regimes ditatoriais opressores. Essas
experiências transformam profundamente a vida dessas pessoas e, em razão de tanta
repressão, repreensão, perseguição e tratamentos opressores, acabam assumindo
Universidade do Estado de São Paulo – USP – [email protected]
Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
53
Estudante de graduação pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri [email protected]
51
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características que fogem aos padrões comportamentais esperados para sua idade
cronológica. Assim, por exemplo, crianças passam a ter atitudes, características e
postura de adultos. Pretendo assinalar esses traços na trajetória da personagem Ofélia do filme “O Labirinto do Fauno” do cineasta mexicano Guillermo del Toro - uma
criança que cresce em meio ao regime franquista, enfrentando pesada hostilização por
parte de seu padrasto que era um general do regime de Franco. Na tentativa de escapar
das frustações e repressões trazidas a sua vida, Ofélia tenta encontrar a fuga para um
outro mundo com a ajuda de seres fantasiosos. Dando sequência a esse pensamento,
farei uma pequena reflexão acerca do poema “Nanas de la Cebolla” do poeta espanhol
Miguel Hernandez, que traz como ponto crucial as futuras lutas que uma criança que
ainda não nasceu terá que enfrentar, deixando claro, assim, a maturação precoce de uma
criança como consequência da opressão. Como fundamentação teórica, farei uso do
texto “Escritores Criativos e Devaneios” de Sigmund Freud, que discorre sobre uma
relação entre o brincar de uma criança que faz uso do imaginário e a realidade do adulto
que se espelha no que passou ou viveu.
REALIDAD Y FICCIÓN EN EL DESCUBRIMIENTO DEL RÍO DE LAS
AMAZONAS, RELACIÓN DE GASPAR DE CARVAJAL
Jocenilda Pires de Sousa54
Resumen: El presente trabajo se ocupa de la expedición conquistadora de Francisco de
Orellana y Gonzalo Pizarro que cruzaron el Río Amazonas en 1541, en busca del mítico
reino de El Dorado como del País de La Canela. El artículo objetiva identificar la
realidad y la ficción presentes en la relación escrita por Gaspar de Carvajal, fray de la
orden de Santo Domingo de Guzmán, que fue designado a acompañar los
expedicionarios y registrar todos los acontecimientos y hechos importantes, como la
presencia del mito de las mujeres guerreras, las amazonas, que acompañaban a los
conquistadores desde los primeros viajes en busca de nuevos mundos.
RESISTÊNCIA E MPB: A PERSEVERANÇA NAS MÚSICAS CÁLICE E
APESAR DE VOCÊ
Jonilson Pinheiro Moraes55
Resumo: O presente trabalho pretende analisar as formas de resistência que se
apresentam nas músicas Cálice de Chico Buarque e Milton Nascimento, composta em
1973 e lançada em 1978, e Apesar de você, de composição de Chico Buarque, lançada
em 1970. Para isso, nossa fundamentação teórica estará firmada principalmente no
conceito de resistência elaborado por Alfredo Bosi em seu livro Literatura e Resistência
(2002), que apontado que o conceito refere-se à oposição da própria força a força alheia.
A partir da revisão bibliográfica faremos uma análise, levando em conta as
características sócio-histórico-culturais encontradas neles e nas quais estão inseridos.
Além disso, no campo da resistência observaremos como essas músicas estão
tematicamente relacionadas à Ditadura Militar de 1964, ocorrida no Brasil.
54
55
Possui Pós-Graduação em Língua Portuguesa e Literaturas – FIBRA - [email protected]
Graduando pela Universidade do Estado do Pará – UEPA - [email protected]
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ARAGUAIA: CAMPO SAGRADO (R)EXISTÊNCIA SIMBÓLICA; POÉTICA
ALEGÓRICA
Josiclei de Souza Santos56
Resumo: A presente proposta de comunicação analisa como o documentário Araguaia:
campo sagrado, de Evandro Medeiros, estuda o evento da Guerrilha do Araguaia pela
focalização dos camponeses que foram torturados e expropriados pelo exército a serviço
da ditadura civil militar que sufocou a resistência dos guerrilheiros do partido
comunista. Nosso objetivo é observar como o cinema, cuja dinâmica se inscreve em
uma modernidade em que os objetos culturais se transformam em mercadoria para o
consumo em massa, pode com uma preocupação alegórica de registro e memória, se
aproximar esteticamente da dimensão simbólica de comunidades que tem sua realidade
baseada na perspectiva ritual, convertendo um conflito próprio da modernidade, os
projetos de sociedade, com suas racionalizações próprias alicerçadas no presente e no
futuro, em narrativas atravessadas pelo sagrado, em que o existir se liga à tradição e ao
passado. Nesse sentido a memória que se perde com a modernidade é recuperada e
alimentada por recursos técnicos-estéticos da linguagem cinematográfica, fazendo vir à
tonas as vozes silenciadas daqueles Benjamin chamou de os vencidos história.
A QUESTÃO DOS DESPLAZADOS COLOMBIANOS NA LITERATURA E NO
CINEMA
Juliana Helena Gomes Leal57
Resumo: Pretendo com essa apresentação discorrer, tomando como referências
artísticas a literatura e o cinema colombianos, a saber: os livros “Tierra quemada”
(2013), de Óscar Collazos e “Desterrados: crónicas del desarraigo” (2005), de Alfredo
Molano e os filmes “Pequeñas voces” (2011), de Óscar Carrillo e “Los colores de la
montaña” (2011), de Carlos Arbelaez, sobre a questão dos desplazados internos
colombianos, consequência nefasta do conflito armado, cuja violência, travestida de
distintos uniformes: os das guerrilhas, das FARC, do paramilitarismo e até das forças
armadas se confunde e confunde ao semear o terror no país. Estupros, sequestros,
falsos-positivos, aliciamento de crianças, apropriação de terras de camponeses, etc., vão
multiplicando miséria e dor e engordando cada dia mais a multidão de exilados internos
na Colômbia, país andino que, vergonhosamente, lidera o maior número de
desterritorializados ou desplazados em todo o mundo. Problemática político-social que
já assolou mais de cinco milhões de pessoas, durante mais de cinco décadas, e que
poderia ser definida pelo sociólogo colombiano Alfredo Molano por essa frase:
“Siempre las guerras se han pagado en Colombia con tierras. Nuestra historia es la
historia de un desplazamiento incesante, sólo a ratos interrumpido”. Ao falar dos
desplazados colombianos, será inevitável não discorrer sobre o exílio interno
vivenciado por algumas dessas vítimas, especialmente crianças e mulheres e sobre a
potência do exercício da memória do drama presentificado desses grupos
56
57
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA - [email protected]
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM – [email protected]
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marginalizados enquanto arma de resistência e de denúncia da violação de direitos
humanos.
SOBRE CORPOS VITIMIZADOS EM LARRAÍN E LEMEBEL
Juliana Helena Gomes Leal58
Resumo: Partindo de três metáforas: 1. a que tomei emprestada da letra da canção do
canário Pedro Guerra, quando diz que “en el calcio del hueso hay una historia”; 2. o
empenho da personagem Antígona, da tragédia de Sófocles, de exercer o direito divino
de enterrar o irmão; 3. a situação enclausurante e sem saída a qual submetem K.,
protagonista do romance “O processo” de Franz Kafka, discorrerei acerca da denúncia a
um processo de aniquilação, anonimatização ou invisibilização imposto às vítimas fatais
decorrentes dos estados de exceção instaurados por golpes militares presente no filme
Post mortem (2010), do diretor chileno Pablo Larraín e nas crônicas “El informe
Retting”, publicada na obra De perlas y cicatrices (1998) e “De nuevo la búsqueda, otra
vez la decepción”, divulgada no jornal La Nación, em 2006, do escritor chileno Pedro
Lemebel. Produções artísticas estas entendidas como poderosos instrumentos de
resistência à vergonhosa prática, ainda vigente, de silenciamento e
desrresponsabilização que regem os discursos contrários ao necessário exercício da
memória histórico-política dos países vítimas de regimes totalitários, especialmente os
latino-americanos porque, segundo Josefina Ludmer, “na América Latina a memória é
sempre política, um grito de justiça” (2013, p. 51).
LIBERDADE, PODER E INSUBMISSÃO EM O PROCESSO DE FRANZ
KAFKA
Julie Christie Damasceno Leal59
Mauro Lopes Leal60
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo empreender uma análise da obra O
processo, de Franz Kafka, pela perspectiva de Michel Foucault e Michael Löwy,
levando-se em consideração a questão da liberdade, poder e insubmissão presentes na
referida obra. Com base nesses pressupostos, nos propomos investigar, primeiramente,
pelo viés do olhar foucaultiano, a postura do Estado no que se refere à detenção de
Joseph K., personagem central da obra, uma vez que o mesmo é detido sem ao menos
tomar conhecimento da acusação que paira sobre si, posto que, como acusado, parece
ter os seus direitos violados e em certo sentido suprimidos. Nesse contexto, tem-se uma
justiça que persegue o corpo, seja através do interrogatório, prática regulamentada por
instrumentos e dispositivos de poder meticulosamente calculados; seja pela tortura
engendrada pelo Estado, haja visto que K., encontra-se detido não no sentido físico (a
acusação não lhe impede de continuar cumprindo com suas obrigações habituais), e sim
no sentido de um jogo judiciário estrito que envolve sofrimento, confronto e verdade,
58
Doutorado. UFVJM - [email protected]
Mestranda pela Universidade Federal do Pará - UFPA - [email protected]
60
Mestranda pela Universidade Federal do Pará - UFPA – [email protected]
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especificamente pelo fato de que, através dos mecanismos que vão da tortura à execução
impetradas contra K., intenta-se chegar à verdade do crime, como se tais dispositivos
pudessem demonstrar que o crime praticado por K. realmente ocorreu. Em um segundo
momento, analisar-se-á a leitura que Löwy efetua da dimensão anti-burocrática da obra
de Franz Kafka, levando-se em consideração a atitude libertária evidenciada pelo autor
tcheco, enquanto crítica da autoridade impessoal do aparelho do Estado.
O TEOR TESTEMUNHAL NO CONTO HELGA DE LYGIA FAGUNDES
TELLES: UM ESTUDO DE MEMÓRIA E IDENTIDADE
Kamila Rodrigues Lima61
Resumo: Este trabalho busca trazer à luz o teor testemunhal presente no conto Helga de
Lygia Fagundes Teles, elaborando, para tanto, as devidas articulações entre memória,
esquecimento e silenciamento. Por último, busca-se analisar a questão de identidade que
assola o narrador do referido conto, devido sua dupla origem e seu recorrente
deslocamento à Alemanha.
A HISTÓRIA NATURAL DA DITADURA
Karl Erik Schøllammer62
Resumo: O momento atual convida para uma reflexão sobre o papel das artes e da
literatura diante da memória autoritária, da violência política e das continuas infrações
dos direitos humanos que numa escala mundial só parecem aumentar e piorar. A
literatura sempre assumiu a vocação de testemunhar essas atrocidades que numa
narrativa fria da história frequentemente são reduzidas à escala pasteurizada dos eventos
políticos ou explorados comercialmente na extrapolação midiática de seus efeitos mais
espetaculares. A partir de exemplos recentes da literatura brasileira sobre a ditadura
militar os desafios e limites desse compromisso será discutido.
MINHA GUERRA PARTICULAR: UMA SAGA NORTE-AMERICANA DE
UMA AFEGÃ, A NATURALIZAÇÃO DO DISCURSO DA ONU
Kellimeire Campos63
Resumo: As questões culturais islâmicas presentes na vida de meninas e mulheres
afegãs são relatadas na narrativa da obra Minha Guerra Particular (2006) de Masuda
Sultan. A diferença cultural entre a vida norte americana e a afegã é evidenciada na
trajetória de Sultan, uma afegã que viveu nos Estados Unidos (EUA) desde a infância,
mas que vivenciou todos os preceitos islâmicos , da etnia pashtun, direcionados a vida
das mulheres. Na história contada em seu livro, Sultan evidencia questões culturais que
Mestranda pelo programa de Pós-graduada em Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected]
62
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ - [email protected]
63
Graduanda do curso de Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia – UNAMA [email protected]
61
39
aos olhares ocidentais caracterizam a opressão feminina no mundo do oriente médio.
Como por exemplo, só falar com homens quando eles lhe dirigirem a palavra, não olhar
nos olhos deles, aceitar o casamento arranjado pela sua família. Todos estes elementos
estão presentes na narrativa da autora. Apesar de aceitar seu casamento arranjado,
Sultan foi a primeira mulher da sua família que se divorciou e abandonou suas tradições
familiares para seguir sua carreira acadêmica, se formando em uma universidade nos
EUA. Sultan abandona os preceitos islâmicos e com isso se afasta de sua família. E ao
contar sua história com detalhes assume os riscos em relação sua própria vida, já que é
algo inaceitável para sua cultura. Em sua história ela também denuncia a força excessiva
dos Estados Unidos contra seu povo. Apesar de todas as adversidades retratadas ao
longo da história, durante a narrativa a autora demonstra seu respeito e apreciação pela
sua cultura de origem. E ao chegar ao início de sua luta pelos direitos das mulheres. No
mundo globalizado essas interações entre culturas diferentes ocorrem frequentemente,
sejam pelas relações de poder entre os indivíduos ou das instituições com eles. Os
Estados subjetivam sua população e dessa dominação discursiva é gerado o sentimento
de identidade, baseado nele temos vários princípios norteadores da normatização do
Sistema Internacional. Os Estados se fazem presente em todos os âmbitos da vida da
sociedade, baseada nestas ideias, juntamente com a microfísica do poder, Michel
Foucault formulou seu conceito de governamentalidade, no qual o Estado passa a
assumir e governar a vida íntima das pessoas. Neste sentido, nas Relações
Internacionais os Estados criaram as Organizações Internacionais na busca de fomentar
uma governança sobre assuntos específicos, é o caso da ONU Mulheres, que em seu
discurso tem como objetivo principal o empoderamento feminino. Examinando a
história de Masuda Sultan, utilizando a analítica de poder de Michel Foucault busca-se
analisar como o discurso da ONU Mulheres, através de seus documentos referenciais, é
naturalizado no Afeganistão e quais seus reflexos na liberdade de meninas e mulheres.
PENSAR A RESISTÊNCIA EM PROCESSOS EM QUE SAPO VIRA REI VIRA
SAPO: ANÁLISE DO DISCURSO NARRATIVO E DA LETRA DA CANÇÃO A
BANDA.
Ladyana dos Santos Lobato64
Resumo: Abordamos, neste trabalho, o discurso de resistência presente no conto para
crianças Sapo vira rei vira sapo, de Ruth Rocha, publicado em 1982, em uma coleção
chamada “Taba Cultural”, da Editora Abril Cultural; e na letra da canção “A Banda”, de
Chico Buarque, agregada à narrativa. Para isso, utilizamos os apontamentos teóricos
que dizem respeito à narrativa de resistência, de acordo com Bosi (2002). Com base no
referencial teórico, discorremos sobre uma análise do conto, em seguida, sobre uma
análise da letra da canção e finalizamos apontando os diálogos possíveis entre os dois
objetos. Desta análise compreendemos que o discurso de resistência dialoga com
processos políticos autoritários, a exemplo da Ditadura Militar de 64, no Brasil.
Mestranda pelo programa de Pós-graduada em Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA [email protected]
64
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A RELAÇÃO ENTRE TESTEMUNHO, MEMÓRIA E TRAUMA NO CONTO O
LEITE EM PÓ DA BONDADE HUMANA
Larissa da Costa Arrais65
Resumo: A presente comunicação busca analisar a relação entre testemunho, memória e
trauma no conto O leite em pó da bondade humana do escritor paraense Haroldo
Maranhão. Através disso, discutir-se-á como essa narrativa se enquadra dentro de uma
literatura de testemunho, que só começou a ser mais debatida a partir do século XX na
década de 90 na Europa, e quais aspectos são observados para que ela seja considerada
uma narrativa de resistência. Dentro disso, refletir-se-á a respeito de algumas questões
dentro da literatura sobre o seu conceito estético, visto que o testemunho abrange
indagações que estão entre o literário, o fictício e o factual. Além disso, será observada
a importância, ou não, do testemunho estar relacionado a um sujeito real e o
entendimento da memória tal como recriadora do passado, a partir dos traumas vividos
durante a era das catástrofes. As ideias abordadas serão embasadas nas concepções de
autores como Agamben, Seligmann-Silva, Huyssen, entre outros.
OS TRAÇOS NOVO MUNDISTA DE GONZALO FERNÁNDEZ DE OVIEDO Y
VALDÉS
Larissa Elleres de Sousa66
Resumo: O escopo deste trabalho é analisar a presença do imaginário medieval na obra
de Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés, buscando aspectos e recursos estilísticos
que possam confirmar esta proposta. O período da cronística do Novo Mundo ocorre
precisamente na fronteira entre dos feitos históricos, a Idade Média e a Idade Moderna,
por isso encontramos a presença de características do momento anterior, assim como os
anúncios de novas percepções. Para cumprir o proposto, pesquisaremos a vida de
Oviedo, desde o nascimento até o momento do descobrimento do novo mundo, para que
desta maneira se possa identificar as características que se encontram presentes em suas
obras, considerando sua formação, vida política e sua participação na empresa
colonizadora. Para o desenvolvimento de nosso estudo nos apoiaremos em Irving
(1996); Le Goff (1994); Mignolo (1982); O ‘Gorman (2006) entre outros.
65
66
Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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GABRIELA SODOMA E GOMORRA: A OBRA ENQUANTO UM RELEITURA
DA NARRATIVA BÍBLICA
Leno Serra Callins67
Dayane Miranda dos Santos68
Resumo: O presente artigo científico discorre acerca de outra maneira de se ler o
romance intitulado “Gabriela, Cravo e Canela”, de autoria do escritor baiano Jorge
Amado e que foi originalmente publicado em 1958. Essa outra leitura aqui proposta
consiste no entendimento da estória principal como uma releitura do relato bíblico
protagonizado pelo sobrinho do patriarca Abraão, Ló, no qual é feita a descrição da
chegada de dois anjos enviados por Deus à cidadela de Sodoma, da recepção feita pelos
citadinos aos estrangeiros e da subsequente destruição do povoado e de outras três das
cinco cidadezinhas que constituíam uma aliança militar. Para tanto, a discussão
considera a Bíblia como uma obra literária e é construída sem deixar de lado a ideologia
política e o contexto histórico que inevitavelmente moldaram o autor e apresentam-se
em suas obras, partindo principalmente de uma análise das personagens e elementos que
constituem o elo entre ambas as obras literárias, sobretudo as personagens estrangeiras à
Ilhéus (mais especificamente os retirantes Gabriela, Fagundes e Clemente, assim como
o carioca Mundinho Falcão e o sírio muçulmano Nacib), as quais ou cumprem papéis
correspondentes aos personagens do texto bíblico (mais especificamente correspondente
aos anjos destruidores ou ao sobrinho de Abraão) ou fornecem informações que
permitem o reforçar do elo entre o romance e o relato bíblico. Por fim, são discutidas as
semelhanças e diferenças entre ambas as estórias, mediante elementos que estão
presentes nas duas obras, embora um tanto quanto às avessas uma da outra, como a
chuva de fogo que destrói Sodoma em paralelo com a seca que vinha arruinando a
economia agrícola de Ilhéus, ou, ainda, a destruição real das cidadelas pecaminosas com
obras supostamente erguidas em nome de Deus em correspondência à destruição
simbólica da Ilhéus de moradores pecaminosos e dotados de falso fervor religioso.
A RESISTÊNCIA COMO RESULTADO DA PERFORMANCE NA OBRA “O
PROMETEU ACORRENTADO”.
Lígia da Costa Félix69
Resumo: O artigo objetiva analisar como a performance e resistência se constroem
dentro da obra trágica de Ésquilo “O prometeu acorrentado”, afim de observar como
esses conceitos se inter-relacionam na construção da narrativa. Para podermos ter um
suporte teórico para a análise da narrativa selecionamos Jorge Glusberg (1980) “A arte
da performance” e Marvin Carlson “performance uma introdução a crítica” para
entendermos de que forma a ação performática dos personagens constroem a resistência
praticada por eles, desta forma trazemos também Alfredo Bosi (2002) “narrativa e
67
Graduado em Letras Licenciatura Português e Inglês/IESAP - [email protected]
Graduado em Letras Licenciatura Português e Inglês/IESAP – [email protected]
69
Graduanda pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Bolsista PIBIC CNPQ/UFPA [email protected]
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resistência” para estudarmos a resistência. E como a mesma está profundamente
atrelada a memória, violência e o trauma, acreditamos que Márcio Selimann-Silva
(2003 e 2008), “História, memória, literatura”, “Narrar o trauma – a questão dos
testemunhos de catástrofes históricas” e Sigmun Freud (1993) em “Além do princípio
do Prazer” sejam referências indispensáveis para analisarmos de forma o ser humano
consegue lidar com suas memórias traumáticas ou até mesmo seus esquecimentos.
A RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DA CABANAGEM EM LEALDADE DE
MÁRCIO SOUZA E DA GUERRA CIVIL EM MOÇAMBIQUE EM AS DUAS
SOMBRAS DO RIO DE JOÃO PAULO BORGES COELHO.
Liliane Batista Barros70
Resumo: Pretendemos analisar a revisitação histórica da guerra civil em Moçambique e
da Cabanagem no Brasil nos romances As duas sombras do rio de João Paulo Borges
Coelho e Lealdade de Márcio Souza. Essa escolha se deu pelo fato de as obras terem
como tema principal o conflito bélico ocorrido no período posterior a Independência no
século XIX brasileiro e do século XX moçambicano. A partir da leitura das obras desses
dois autores, decidimos por estabelecer verificar os processos de reescrita da história
dos conflitos armados narrados nas duas obras. Em nossas leituras, verificamos que o
eixo comum entre os autores é a releitura e o questionamento de episódios das histórias
de Moçambique e do Brasil que se pauta, entre outros aspectos, na revisão crítica da
herança colonial. Tal herança, cada qual com sua particularidade, deixaram fissuras
profundas na configuração das identidades dos dois países resultando na oposição entre
o Norte e o Sul que geraram os dois conflitos bélicos temas das duas narrativas.
"VIDAS SINGULARES. ESTRANHOS POEMAS": UM ESTUDO SOBRE A
INFÂMIA EM ENEIDA
Lilian Lobato do Carmo71
Resumo: Em sentido literal, o infame é definido como: “adj. 1. Que tem má fama. 2.
Desprezível, abjeto (o indivíduo)” (HOUAISS, 1990). Desse modo, ao pensar
inicialmente no indivíduo infame, vê-se a marca do estigma de um sujeito alhures, uma
figura repelida e excluída do convívio social por fugir ao controle das convenções e até
mesmo das leis institucionalizadas pelo Estado. Perde, por isso, tanto o direito à
liberdade física quanto o de narrar sua própria vida – esta passou a ser contada por
registros clínicos, boletins policiais, ou mesmo sentenças jurídicas. Este trabalho,
portanto, propõe-se a discutir sobre o registro feito pelas artes, especificamente da
literatura, do “discurso da infâmia” (FOUCAULT; 2000). Para isso será exposto o
confronto entre o pensamento do indivíduo e o Estado vigente, presente em crônicas da
escritora paraense Eneida de Moraes. Em algumas, publicadas no livro Aruanda, vê-se a
própria autora como indivíduo infame ao relatar a forma em que sua postura política foi
a causa de seu cárcere durante a ditadura dos anos de 1930. Seu relato registra os
70
71
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA - [email protected]
Mestre pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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abusos, físicos e psicológicos, sofridos tanto individual quanto coletivamente com seus
companheiros, tidos igualmente como traidores da nação brasileira, infames. Logo, este
trabalho também vislumbra a infâmia como forma de resistência social a questionar a
moral e a conduta imposta por dispositivos de poder e discursos autoritários.
MEMÓRIAS: CINECLUBE E DITADURA EM BELÉM DO PARÁ
Líria Natasha Sena do Vale72
Marcelo da Costa Tavares73
Resumo: Este trabalho apresenta a trajetória da atividade cineclubista em Belém do
Pará durante o período da ditadura militar no Brasil (1964 – 85). Dentro desse período a
Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC) criou o seu próprio
cineclube (1967) que foi por muito tempo e durante toda a ditadura o mais longevo
espaço de exibição e debate de filmes da capital do estado. Através do levantamento da
memória dos seus sócios e frequentadores, o estudo demonstra o caráter de resistência
intelectual e cultural desse cineclube, que configurava um espaço de formação da visão
crítica dos envolvidos para além da realidade de opressão do regime.
SOBRE ARQUIVOS E FANTASMAS: MEMÓRIAS DA REPRESSÃO EM
PORTUGAL
Lisa Vasconcellos74
Resumo: No início dos anos noventa, os antigos arquivos da Polícia Internacional de
Defesa do Estado (PIDE), polícia política do regime salazarista, foram, depois de longo
tempo, abertos para consulta pública. Natureza Morta (2005) e 48 (2009), da produtora
e diretora portuguesa Susana de Sousa Dias, são dois filmes que surgiram como
consequência direta do contato com esse material até então interdito. Ambos se
propuseram à delicada tarefa de narrar (e elaborar) de maneira complexa e enviesada a
memória da repressão que vigorou no país durante o regime de exceção. A base dos dois
trabalhos são os mug shots, retratos de registro de frente e lado, feitos para cada um dos
indivíduos que foi apreendido e fichado pela PIDE. No primeiro filme, essas pequenas
fotos são contrapostas a outras imagens de arquivo, a saber, aquelas que serviam de
propaganda institucional ao próprio governo português. Ao som de antigos discursos de
Salazar, o filme põe em sequência imagens de eventos militares oficiais, festas
religiosas, desfiles estudantis – intercaladas sempre por pequenas mug shots, nas quais o
espectador surpreende, em rostos incrivelmente comuns, toda a repressão e violência
dos anos de chumbo portugueses. No segundo, a câmera vai se fixar exclusivamente
sobre as imagens de registro, que se sucedem muito lentamente umas as outras. Ao
fundo soam depoimentos dos próprios fotografados sobre as circunstancias do seu
encarceramento. As entradas e saídas da prisão de diferentes homens e mulheres, jovens
e velhos, portugueses e africanos é o registro que fica dos 48 – daí o nome do filme –
72
Universidade Federal do Pará - [email protected]
Universidade Federal do Pará – Marcelo [email protected]
74
[email protected]
73
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anos de ditadura. Para a leitura proposta, conceitos como os de arquivo, fantasmagoria e
sobrevivência das imagens – desenvolvidos, principalmente, por Jacques Derrida e
Georges Didi-Huberman – serão as referências fundamentais deste trabalho.
RELATOS QUE CONSTRUYEN SENTIDOS. LAS RELACIONES
JERÁRQUICAS DE GÉNERO DURANTE EL TERRORISMO DE ESTADO
(ARGENTINA, 1975-83)
Lizel Tornay75
Este trabajo se propone analizar el lugar de los testimonios incluidos en los films
documentales en función de la construcción de la memoria/ historia reciente focalizando
particularmente las condiciones de audibilidad y decibilidad de los diferentes momentos
de esa construcción. Para indagar en torno a estas temáticas consideraremos algunos de
los testimonios incluidos en el film documental “Campo de Batalla. Cuerpo de
Mujer”(Fernando Álvarez, 2012), realizado en Argentina en torno a las situaciones que
padecieron las mujeres, en tanto tales, en los centros clandestinos de detención y en las
cárceles diseminados en todo el territorio argentino durante el terrorismo de Estado
vigente en ese país entre 1975 y 1983. Este film está estructurado en base a las voces de
diecisiete mujeres y un varón. Todos ellos estuvieron detenidos desaparecidos en ese
período.
LITERATURA E HISTÓRIA: ENTRELACES DA RESISTÊNCIA NAS OBRAS
“ÓRFÃOS DO ELDORADO” DE MILTON HATOUM E “ILHA DA IRA” DE
JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO
Lourdes Ferreira76
Resumo: O estudo busca tecer algumas reflexões, a respeito dos entrelaces percebidos
entre literatura e história observados nas obras Órfãos do Eldorado de Milton Hatoum e
Ilha da Ira de João de Jesus Paes Loureiro, determinantes para o trabalho da memória,
em apontar a historicidade de uma sociedade e a sua maneira em lidar com situações
limites da experiência humana. Para tanto, serão examinados os textos de Chartier
(2001), bem como, da percepção de resistência vista por Adorno (1970) e SeligmannSilva (2008), história e memória em Le Goff (1990), a emersão do imaginário,
entendido por Gilbert Durand (1997) e Paes Loureiro (2001), para o desenvolvimento a
respeito da cultura amazônica.
Universidade de Buenos Aires – UBA – [email protected]
Doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em letras da Universidade Federal do Pará [email protected]
75
76
45
A TRANSGRESSÃO NO ARQUÉTIPO SOCIAL FEMININO NA
PERSONAGEM CONCEIÇÃO DA OBRA O QUINZE
Lucilene Fernandes Miqueli77
Resumo: A condição da mulher dentro do universo romanesco brasileiro nas primeiras
décadas do século XX ainda era essencialmente marginal, na década de 1930 as letras
nacionais passavam por um período de transição entre as primeiras gerações
modernistas, neste cenário despontou uma heroína anticonvencional para os padrões da
época Conceição, oriunda do romance de estréia da escritora cearense Rachel de
Queiroz, intitulado O Quinze. Objetivamos neste estudo analisar a trajetória de
Conceição dentro da narrativa, pois esta descortina um processo de amadurecimento e
auto-afirmação feminina que possui reflexo na luta das ativistas feministas pela
conquista de espaço e reconhecimento em uma sociedade historicamente patriarcal
como a brasileira. A primeira protagonista de Rachel de Queiroz quebrou estereótipos
ao rejeitar o matrimonio, e assumir um papel atuante e politizado frente às adversidades
provenientes da seca, apresentando ao final do romance uma nova perspectiva de
felicidade para a mulher, não necessariamente atrelada ao universo puramente
domestico. Esta pesquisa será norteada por pesquisa bibliográfica, com ênfase nas
contribuições de Luís Bueno, Socorro Acioli, Norma Telles, entre outros pesquisadores
da área.
O NEGRO NOS PRIMÓRDIOS DO CINEMA BRASILEIRO: UMA
ABORDAGEM ENTRE A LITERATURA E A IMPRENSA
Lucinéia Alves dos Santos78
Resumo: Abordaremos neste trabalho três linguagens diversas: literatura, imprensa e
cinema. Embora essas linguagens sejam diferentes, sofrem influências entre si no final
do século XIX e início do século XX, momento em que surge o cinematógrafo. Para
demonstrar tais influências neste período, abordaremos duas personalidades negras que
tiveram papel importante para a consolidação do cinematógrafo brasileiro e ao mesmo
tempo se destacaram na literatura ou na imprensa nacional: João do Rio e Benjamim de
Oliveira.
AS ORIGENS DA GUERRA REVOLUCIONÁRIA E O USO DA TORTURA
PELA ÓTICA DO DOCUMENTÁRIO ESQUADRÕES DA MORTE: A ESCOLA
FRANCESA – A HISTÓRIA DE UM LEGADO
Luiz Guilherme dos Santos Júnior79
Resumo: O ensaio analisa o documentário Esquadrões da Morte: a Escola francesa
(2003), da cineasta francesa Marie-Monique Robin. A proposta analítica volta-se para
77
Graduada pelo IFPA - [email protected]
Mestre em Teoria e História Literária (Unicamp) - Professora do ensino superior- UNIFAP [email protected]
79
Doutorando em Comunicação Social PUCRS - [email protected]
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três questões fundamentais que serão desenvolvidas a partir da fundamentação teórica,
metodologia e técnica de análise: as origens da guerra revolucionária, a tortura e o
legado transmitido pela Escola militar francesa aos regimes totalitários constituídos na
América Latina e interesses de guerra dos Estados Unidos. Teoricamente o ensaio
ancora-se nos estudos sobre cinema e história; quanto à metodologia, seguem-se
apontamentos fundamentados pela Escola dos Annales quanto à representação da
imagem como fonte histórica; a técnica analítica está pautada na decupagem em diálogo
com os agenciamentos produzidos pelas escolhas que constituem a montagem
cinematográfica.
SER OU NÃO PERIFÉRICO? CRÍTICA E DEPENDÊNCIA CULTURAL À LUZ
DO DEBATE SOBRE MACHADO DE ASSIS
Marcelo Brice Assis Noronha80
Resumo: Ser ou não periférico? As afirmações de identidade nacional podem requerer
um estatuto de oposição à civilização ocidental que exacerba os valores autóctones sem
que eles possam ser exacerbados. Como alternativa à perspectiva da “formação”
cultural, na medida em que envolve uma radicalização (não como ruptura, mas como
deglutição antropofágica), foi consolidada uma forma de ligação entre esses polos que
tentava se afastar da prontidão com que estamos colados às cores locais, nos colocando
em contato com a relação de dependência, por via da integração, mesmo que periférica.
A respeito desse tema, a obra de Machado de Assis é assunto constante na crítica, por
estar frequentemente ligada aos motivos profundos da produção de uma expressão e de
um formato de sensibilidade cultural que reformule e dê novo sentido aos padrões de
criação a que a literatura tende a se esforçar como marca de um tempo. Nesse sentido,
nossa intenção é percorrer leituras sobre o que se quer de Machado de Assis, como um
marco da literatura brasileira, e o que o próprio Machado parece conduzir no quadro de
sua produção em relação à autonomia (relativa) da sua arte, quando confrontada aos
critérios do nacional e do universal. Suas contendas no âmbito da crítica demonstram
posições claras sobre o tema, e seu fazer literário está em constante diálogo com a
questão. Prova disso estará nas páginas de “Quincas Borba” e em “O Alienista”, obras
nas quais sua organização literária e o confronto com a política local fazem emergir uma
fonte inequívoca e inesgotável de referências às sentinelas de cada posição. Intentamos,
com isso, destacar a força de uma literatura reconhecidamente singular, diferente.
DAS COLAGENS À PINTURA: UMA LEITURA DO DESAMPARO NO
“CORPO DOCUMENTAL”.
Márcia de Souza Pinheiro81
Resumo: O presente trabalho procura refletir a relação comparativa entre as colagens de
Max Martins e as pinturas de Giorgio De Chirico de modo a analisar as articulações que
80
Mestre - UFT (professor) e UFG (doutorando) - [email protected]
Mestranda pelo programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Pará [email protected]
81
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se estabelecem entre ambas, constituindo-as como um “corpo documental” de grande
valor histórico; verdadeiros registros do cotidiano que se focalizam em significar o
passado tornando-o presente, para assim destacar a experiência histórica refletida nesses
corpos fragmentados. As colagens em consonância com as pinturas refletem bem a idéia
de testemunho que “narra” o passado na tentativa de reconstruí-lo em tempo presente
sempre fragmentado: os traços, as lacunas, as fraturas, o contexto, são indícios
verbicovisuais que as direcionam a condição humana de desamparo. A partir dessa
condição destaca-se a deformação da figura humana configurada em resíduos de uma
experiência traumática registrada no “corpo documental”.
A TRADUÇÃO DE POEMAS DE LÍNGUA INGLESA NO SUPLEMENTO
LITERÁRIO DO JORNAL FOLHA DO NORTE
Márcio Carvalho82
Resumo: Esta pesquisa trata da tradução de poemas em língua inglesa feita por poetas
brasileiros para o suplemento literário do jornal Folha do Norte, que contribuiu para a
divulgação dos textos de intelectuais paraenses e circulação de poemas, contos e críticas
literárias de autores com os quais nutriam afinidades, fossem elas estilísticas ou
temáticas. O Suplemento Literário circulou na cidade de Belém do Pará entre os anos de
1945 e 1951. Dentre seus tradutores brasileiros, destacam-se: Manuel Bandeira, Mário
Faustino, Cecília Meireles, Paulo Plínio Abreu e Ruy Barata. Os americanos Walt
Whitman, T. S. Elliot e Langston Hughes contabilizam o maior número de traduções,
publicados em três edições. O diálogo com a literatura estrangeira foi a forma que esses
escritores encontraram de se pronunciar sobre a literatura existente, consequentemente
renovando e valorizando a cena poética local. Observamos que o tradutor impõe seus
interesses e circunstâncias ao texto, pelo que o processo de tradução não se dá com a
simples substituição e transferência pura de significados de uma língua para outra,.
Duas traduções, realizadas por Ruy Barata e Raymundo Moura, foram detalhadamente
analisadas a fim de discutir como a tradução pode ampliar as ideias do texto-fonte. A
presente pesquisa de iniciação científica apresenta o corpus das traduções publicadas na
Folha do Norte, devidamente transcritas.
A PERFORMANCE TESTEMUNHAL: FICÇÕES DO REAL NA ARTE
CONTEMPORÂNEA:
Márcio Seligmann-Silva83
A apresentação focará nas obras de artistas brasileiros que têm se dedicado a
performatizar testemunhos junto com personagens tradicionalmente à margem do veio
principal da cultura brasileira, reconhecidamente falocêntrica e "branca". Artistas como
Cildo Meireles, José Rufino, Berna Reale, Virgínia de Medeiros, Paulo Nazareth,
Rosângela Rennó, Armando Queiroz e Claudia Andujar e, no cinema, Eduardo
Coutinho e Paulo Sacramento, têm conseguido fazer um tipo de arte que, longe de
82
83
Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – [email protected]
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procurar tutelar e "representar", ou seja, de certa forma "enquadrar", reduzir o outro ao
"si mesmo", tentam desenvolver dispositivos que permitem uma performance da
outridade que mantém a diferença, sem submete-la a códigos já consagrados de
tipificação. Ao invés de se falar em nome do outro, embaralha-se as cartas do próprio e
desse outro, do sujeito e do objeto, do factográfico e da ficção, no mesmo gesto que se
apresenta de modo vívido e aberto a violência a que certas e importantes camadas da
população estão submetidas. Desde o início do século XXI esse tipo de arte (e de
retórica) se tornou cada vez mais frequente (mesmo que ainda seja minoritário e
permaneça exceção) e indica uma necessidade de se redesenhar os gêneros artísticoliterários tradicionais e suas respectivas capacidades de inscrição do real. A demanda de
justiça gera novos jogos de verosimilhança nos quais o "teor testemunhal" tem um papel
decisivo.
LITERATURA AFRICANA: A RESISTÊNCIA DE MANDELA AO
MOVIMENTO ÉTNICO RACIAL APARTHEID
Marcus Vinicius Souza e Souza84
Resumo: O presente estudo tem como enfoque de abordagem a biografia de Nelson
Mandela sob a vertente do combate racial e os direitos do negro, em sua peculiaridade á
áfrica do sul, país de origem de Mandela, que durante parte do século XX, período em
que se formavam duas fortes elites da áfrica, sendo elas: O partido nacional e a igreja
Reformista. Este trabalho tem por objetivo mostrar a importância de Mandela ao
movimento negro que impulsionou a garantia dos direitos raciais que até então eram
revestidos de formas opressivas, que somente favoreciam aos brancos, fomentando
assim as leis do apartheid que baseavam-se em termos legais em três pilares centrais,
desde a classificação de raça, proibição do casamento misto á demarcação de áreas pré
estabelecidas para pessoas de outras raças que não fossem branca. A relevância deste
estudo é de ressaltar a importância Mandela teve para a libertação da áfrica do sul diante
das tendências européias, fator que o levou a ser preso por 27 anos, e ao ser liberto
tornou-se presidente, a partir daí os sul-africanos tornaram-se iguais perante a lei.
A RESILIÊNCIA DAS MILITANTES TORTURADAS DURANTE A DITADURA
MILITAR NAS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS
Markus Klaus Schäffauer85
Frente às múltiplas formas de traumatização que mulheres militantes sofreram por causa
da tortura durante a ditadura militar no Brasil, surpreendem diferentes tipos de
representação artística onde as mulheres parecem ter superado até mesmo as suas
feridas invisíveis ou mentais. Em diferentes áreas discute-se atualmente esse fenômeno
como resiliência, ou seja, partindo de um conceito derivado da ciência dos materiais que
implica a capacidade de certos materiais de se deformar e voltar depois ao seu estado
original como se nada tivesse ocorrido. Na minha contribuição analisarei diferentes
84
85
Graduado – UVA - [email protected]
Universitat Hamburgo - [email protected]
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representações artísticas do fenômeno segundo aparece em docu-ficções e histórias em
quadrinhos.
REPRESSÃO MILITAR EM CARTAS DE PERSONAGENS DE O
MINOSSAURO DE BENEDICTO MONTEIRO
Maria de Fatima do Nascimento86
Resumo: Benedito Monteiro (1924-2008), a partir de 1972, após sua prisão e cassação
política, começa a escrever romances. Tendo Monteiro deixado um conjunto de obras
que ficou conhecida como Tetralogia amazônica, constituída dos romances Verde
vagomundo (1972), O minossauro (1975), A terceira margem (1983) e Aquele um
(1985), a Tetralogia está imbricada com o contexto histórico da ditadura militar pós1964 no Brasil. A denúncia da repressão naquele período pode ser considerada uma das
linhas condutoras da Tetralogia. O fato de Monteiro ter sido preso e perseguido político
refletiu-se muito na matéria narrativa destas obras, como ocorre com o romance O
minossauro, que apresenta uma estrutura romanesca com múltiplos pontos de vista e
personagens articuladas como que em blocos de fala. A cada bloco de cinco falas,
Miguel dos Santos Prazeres, Paulo, Zuleika, Simone e um Locutor de Rádio, retomam
seus discursos de forma cíclica. A sequência dos blocos caracteriza-se pela técnica da
montagem, pois, em cada bloco, as personagens rompem com seus discursos, dando
lugar ao de outra personagem, numa sequência de fragmentos: textos oralizantes,
depoimentos, citações de diferentes autores e do próprio Monteiro, textos jornalísticos,
poemas, relatórios, composições musicais e cartas. Nesta composição heteróclita, O
minossauro traz vinte cartas, sendo dez de Zuleika e dez de Simone, respectivamente
namoradas de Roberto e Paulo. Sendo assim, este trabalho analisa parte das cartas de
Zuleika, cujo namorado é um militante político integrante de um projeto
desenvolvimentista no Baixo-Amazonas, Pará, tentando se esconder da repressão da
ditadura militar no Rio de Janeiro, num momento em que recebe cartas de Zuleika com
informações da repressão ocorrida no Rio.
EMANCIPAÇÃO NOS ROMANCES PÓS-DITATORIAIS: “SINAIS DE FOGO”
E “PESSACH, A TRAVESSIA”
Maria Tereza de Azevedo87
Resumo: Com base no conceito de emancipação, a pesquisa objetiva analisar os
romances: “Sinais de fogo” de Jorge de Sena e “Pessach, a travessia” de Carlos Heitor
Cony. A emancipação implica tanto o gesto de luta – e por conseguinte de resistência –
quanto a defesa de direitos fundamentais. Também implica a dimensão ativa e/ou
passiva de um espectador, conforme, por exemplo, Jacques Rancière. Durante o período
pós-ditatorial, os direitos humanos são negados e as personagens destes romances
relatam suas experiências de envolvimento com a pós-ditadura sediadas no Brasil e em
Portugal. Ao realizar a análise observamos uma existência vazia nos protagonistas dos
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Doutora, professora da Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected]
Graduanda Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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romances que ao entrarem em contato com indivíduos que militam diretamente contra a
ditadura vivem o processo de formação que é o próprio gesto emancipatório.
MEMÓRIAS DE RESISTENTES POLÍTICOS NO POEMA CAMPESINO DE
ESPAÑA E NO CONCERTO RECUPERANDO MEMORIA CONCIERTOHOMENAJE A LOS REPUBLICANOS.
Marli Queirós Mourão88
Resumo: Por meio do exercício da memória é possível conhecer o passado das pessoas
que lutaram na guerra civil espanhola, compreender seu presente político, e, com isso,
vislumbrar novas expectativas para o futuro delas no campo da política. Elizabeth Jelin
aborda essa ideia quando diz que “el pasado ya pasó, es algo de-terminado , no puede
ser cambiado. El futuro, por el contrario, es abierto, incierto, indeterminado” (1998, p.
39). Neste sentido, o presente trabalho visa discutir a importância do (re)conhecimento
das memórias dos resistentes políticos da sociedade espanhola, pois, exercitar a
memória do passado pode influenciar nas perspectivas de futuro dos espanhóis. Sendo
assim, pretende-se dar a conhecer essas memórias e resistências políticas por intermédio
do poema Campesino de España, de Miguel Hernández, do livro (Perito en Lunas,
1933), que, a meu ver, foi uma forma de convocar as pessoas na busca por justiça. O
Concerto Recuperando Memoria Concierto-Homenaje a los Republicanos, foi um
evento ocorrido em 2004, em Rivas Vaciamadrid, Espanha, organizado pela Asociación
para la Recuperación de la Memoria Histórica para homenagear e reconhecer homens e
mulheres que lutaram pelo reestabelecimento da democracia na Espanha. É importante
ressaltar que a escolha desses dois objetos para análise se deve ao fato de que tanto no
poema, quanto no concerto existem personagens que foram resistentes porque
suportaram às mais diversas atrocidades da guerra civil, como expõe Lorenz quando diz
que: La épica de la resistencia se construye, también, en la noción de un enfrentamiento
del fuerte contra el débil, y de la justicia contra la injusticia ” (2012, p. 15 ).
O PROTESTO DOS MORTOS: UM ESTUDO SOBRE A CRÍTICA SOCIAL
PRESENTE NA OBRA INCIDENTE EM ANTARES.
Neuton Vieira Martins Filho 89
Temos como principal objetivo neste artigo analisar o romance Incidente em Antares, do
escritor Érico Verríssimo, tento como foco a construção das personagens mais importantes no
desenrolar da trama. Partimos da hipótese que o texto constitui uma crítica social feita à
realidade política e moral de sua sociedade contemporânea. Consideramos que esta crítica tem
seu foco no regime político de ditadura militar vigente no Brasil entre 1964 e 1985. Pretendeuse verificar, por meio de um estudo de caso, como a narrativa denuncia os males sociais
ocorrentes no país nos anos de 1960 e 1970 e os responsáveis por estes males. Para tanto,
consideramos relatos não literários sobre a ditadura militar, assim como teóricos da literatura de
resistência e teóricos que tratam dos elementos estéticos mais marcantes da obra, a saber, o
“real” e o “humor”. Em nosso estudo constatamos que a narrativa apresenta uma crítica que
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[email protected]
Universidade Federal do Pará- UFPA – [email protected]
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acusa não apenas um grupo, mas sim diferentes grupos responsáveis pela realidade social
instalada no país, ao passo que busca apresentar uma lado mais humano dos componentes destes
grupos, ao mesmo tempo que contesta conceitos comuns de realização pessoal e felicidade.
UMA ANALISE DA RELAÇÃO CONFLITUOSA ENTRE OS NACIONAIS
FRANCESES E OS IMIGRANTES AFRICANOS COM BASE NO FILME
“BEM-VINDO”.
Paulo Victor Silva Rodrigues90
Resumo: A migração populacional faz parte da história da humanidade. Ao longo de
centenas de anos registra-se um intenso fluxo de pessoas deixando seus lugares de
origem. Porém, ao migrar o indivíduo leva consigo fatores que compõem sua própria
identidade, adquirida a partir do convívio com indivíduos de sua comunidade, como por
exemplo: a Língua, hábitos culturais, religião. Mais recentemente, o continente africano
sofreu com problemas causados por guerras civis (no processo de independência –
descolonização) que têm provocado um êxodo de seus cidadãos para outros países,
grande parte deles dirigem-se para a Europa, em especial para o território francês,
havendo um conflito entre a identidade nacional francesa com as identidades dos
imigrantes africanos. A entrada de estrangeiros pode gerar fobias entre os nacionais, isto
é, receios de que estes que não falam seu idioma, que possuem outra religião e tem uma
cultura distinta, prejudiquem seu país. No choque cultural entre aqueles que pertencem
ao país e os imigrantes, discutisse a definição de “bárbaro”, empregado de maneira
pejorativa para definir o imigrante. Coloca-se em pauta, portanto, as medidas adotadas
pelo Estado nação nessa relação conflituosa, enquanto “guardião” da identidade
nacional. O filme “Bem-Vindo” mostra a polêmica de um professor de natação que
abriga e ajuda o imigrante ilegal, Bilau, o qual vai parar em um campo de refugiados e
não tem permissão de seguir viagem rumo à Inglaterra. Na França abrigar e/ou ajudar
um imigrante ilegal gera multa e mais cinco anos de prisão. Evidencia-se a questão de
intolerância presente no continente europeu (com destaque para a França), sendo que
este é considerado o “berço da civilização”. Desconstruindo-se, assim, a imagem de
“modelo de civilização” tão preconizado pela Europa.
AUTORITARISMO NA AMERICA LATINA: UMA ANÁLISE DO
CONTO UN DÍA DE ÉSTOS, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ.
Raimundo Conceição de Araújo de Sousa91
RESUMO: O conjunto de obras do escritor colombiano Gabriel García Márquez tem
sido reconhecido como representação do contexto histórico da América Latina; no
entanto, destaca também elementos universais. No que se refere a questões de
resistência aos governos autoritários que ao longo dos tempos tem se alternado nos
países latino americanos, apresentaremos uma análise sobre o conto Un dia de éstos, do
referido escritor. Neste conto encontramos metáforas à atuação despótica por parte do
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Graduando pela Graduando/Universidade da Amazônia - [email protected]
Graduando em Letras – Espnhol - UFPA – Campus Castanhal - [email protected]
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poder governamental, bem como a maneira com que oprimidos tem se posicionado
diante dessas situações; ao longo deste trabalho apresentaremos alguns recortes da
referida obra, os quais destacam a atuação conflituosa entre o Alcaide numa
representação de opressor, e por outro lado, o dentista Don Aurélio Escovar que, assim
como a população, sofre com opressões do governo. Para fundamentação deste trabalho
usamos as obras: Literatura e Resistência, de Alfredo Bosi; Literatura e Sociedade, de
Antonio Candido, Antología crítica de La Literatura Hispanoamericana, de John
O’Kuinghttons Rodríguez; El Boom en perspectiva, de Ángel Rama.
SALVADOR: SUCUMBIDO POR EL VIL GARROTE FRANQUISTA
Rita de Cássia Paiva92
Resumo: Salvador Puig Antich tinha 24 anos quando teve sua pena de morte decretada
e acabou morto pelo governo franquista, acusado de ser anarquista e ladrão de bancos.
Seria algo normal naqueles tempos se não fosse pelo tipo de morte escolhida para
cumprir sua condenação: o garrote vil. Este trabalho buscará traçar um perfil de seu
julgamento e morte através da análise do filme Salvador, de Manuel Huerga, seleção
oficial do Festival de Cannes de 2006, que utiliza o cinema de ficção para compor um
filme quase documentário sobre aquele personagem. Cabe dizer que o supracitado
equipamento de execução foi considerado medieval para seu propósito.
AS ATUAIS REPRESENTAÇÕES DE REALIDADE E FICÇÃO NO NOVO
ROMANCE HISTÓRICO DO CENÁRIO PAN AMAZÔNICO
Ronaldo Júnior Pantoja Rodrigues93
Resumo: Ainda hoje não há explicações suficientemente satisfatórias referentes a certos
relatos documentados pelos cronistas espanhóis em terras americanas. Em documentos,
onde somente os colonizadores expunham sua visão do Novo Mundo, desde a existência
de ursos em território amazônico, até a presença de uma tribo dominadora, comandada
por mulheres altas e valentes, as Amazonas, algo que não obteve comprovação
científica até os dias atuais. Verdadeiros ou não, esses relatos nos fazem refletir de
forma mais crítica a respeito da nossa colonização. A este propósito, William Ospina,
autor das principais obras analisadas neste trabalho, vai mais além: resgata as crônicas
das Índias, ou seja, as crônicas da colonização na América, mas com vários artifícios
que nos levam a uma releitura do passado, seja através da intertextualidade, seja através
da variedade de pontos de vistas presentes em suas obras. O autor estabelece diálogos
entre passado e presente, e de uma perspectiva diferente, que não privilegia somente os
conquistadores, mas também, os colonizados, os tidos como coadjuvantes na história.
Em suma, pretendemos analisar e discutir conceitos da crítica e da teoria literária,
investigado questões que dizem respeito ao discurso ficcional-histórico e os seus limites
a partir da perspectiva de White (1994; 1992), Hutcheon (1991), Aguiar (1997) entre
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Universidade Federal do Pará - [email protected]
Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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outros. Nesse sentido, buscamos refletir sobre a representação literária dos
acontecimentos históricos, bem com, o modo como essa matéria histórica é reinventada
na obra de William Ospina.
PERFORMANCE E RESISTÊNCIA NA TRAGÉDIA MEDEIA DE EURÍPEDES
Rosane Castro Pinto94
Resumo: Este artigo propõe um estudo da tragédia grega Medéia, de Eurípides, na qual
discutiremos a caracterização da performance e da resistência, quando investigaremos
as atuações da protagonista diante das barreiras ocasionadas pela sociedade grega.
Observando de que maneira a narrativa é importante para a compreensão das categorias
violência, memória e esquecimento. Para compreendermos as teorias relacionadas à
performance, resistência e trauma utilizaremos os textos de autores como Jorge
Glusberg (1980) a arte da performance, quando assegura que a performance está
estreitamente relacionado com o delírio, manifestado através do desejo inconsciente do
performer, como anuncia GLUSBERG, (1980, p.124) “ o discurso resultante é próximo
do delírio e, também, da verdade que é sempre delirante”. Alfredo Bosi (2002) observa
como podermos classificar tais textos no âmbito do conceito de resistência, “opor a
força própria à força alheia” (BOSI, 2002, p. 118) no qual compreendemos como
oposição de forças que conflitam entre si; e Sigmund Freud (1993) em Além do
Princípio do Prazer, o qual define que o conceito de trauma implica necessariamente
uma conexão desse tipo com uma ruptura numa barreira sob outros aspectos eficazes
contra os estímulos.
NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS COMO FORMA DE RESISTÊNCIA
Rosani Úrsula Ketzer Umbach95
Resumo: Este trabalho tem como objetivo investigar narrativas de si como forma de
expressar resistência. Para tanto, baseia-se em teorias de Ottmar Ette, Georges DidiHuberman e Michael Pollack, buscando averiguar como se configuram as relações entre
escrita, subjetividade e construção de identidades.
A NOÇÃO DE ÉTICA E ESTÉTICA NO TESTEMUNHO DE DERLEI
CARTARINA DE LUCA: NO CORPO E NA ALMA
Samantha Carolina Vieira de Oliveira96
Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir a literatura de resistência a partir da
obra “No corpo e na alma”, da autora Derlei Catarina De Luca, uma militante do
período ditatorial brasileiro, relatando em seu livro as torturas que sofreu na época. O
foco do trabalho é de debater as noções de ética e estética dentro da obra citada, tendo
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Graduando pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Bolsista - PIBIC/CNPQ/UFPA [email protected]
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Universidade Federal de Santa Maria – UFSM - [email protected]
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Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]
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como apoio teórico, para a perspectiva estética, as ideias do foco narrativo que estão
atreladas a teoria da literatura, e é defendida pela autora Ligia Leite, no seu livro “O
foco narrativo”. Para o viés ético, busco o embasamento a partir da ideia de alteridade,
defendida pelo filósofo Emmanuel Levinas.
A OUSADIA DA NARRATIVA MACHADIANA NO CONTO A CARTOMANTE
Shirley Kelly Mendonça Paula97
Resumo: Neste trabalho sugere-se o conto “A Cartomante” como exemplo esclarecedor
do processo de criação machadiano no que tange ao gênero conto. Para isso são trazidas
à luz das inferências, aqui apresentadas, considerações acerca da teoria do conto na
visão de Nádia Gotlib e de Alfredo Bosi, além das principais características da produção
de Machado, de acordo com Afrânio Coutinho e Massaud Moisés, com o objetivo de
apontar elementos para a posterior análise do conto. O artigo procurará assinalar os
aspectos constitutivos caracterizadores do processo de produção do respectivo gênero na
ficção machadiana por meio da obra “A Cartomante”, dando-se ensejo às personagens,
usadas como material de uma estética literária na qual o trágico figura coisas cômicas, e
o cômico torna-se sério. Machado dá novas e inesperadas significações aos elementos
do melodrama burguês – como casamento, amantes, adultério e morte –, criticando a
normalidade dos padrões sociais de representação da sociedade burguesa.
IMIGRAÇÃO JAPONESA EM TOMÉ-AÇU- O CAMPO COMO ESPAÇO DE
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE CULTURAL
Subina dos Santos da Cruz Ramos98
Resumo: No decorrer da segunda Guerra Mundial, deu-se o rompimento das relações
políticas e diplomáticas do Brasil com o Japão devido as “contra-posições” na guerra.
Os Japoneses eram assim perseguidos e forçados a abandonarem o seu cotidiano, e
mandado para certos campos de concentração para trabalharem na terra, fazendo do seu
uso de conhecimento na plantação uma organização produtiva. E por assim, os
japoneses foram expedidos para Tomé-Açu-região do interior do Pará- e lhes foram
estabelecidos uma condição de refugiados num campo de concentração. Relata-se de
que jamais teriam sofrido naquela época quaisquer tipo de maus-tratos e violações aos
seus direitos inalienáveis, porém é importante entendermos o processo da vinda deste
grupo social, o estatuto de refúgio que lhes foram atribuídos ao entrarem no solo
brasileiro, e avaliar de que forma no decorrer do tempo essa situação de “não
pertencimento” à cultura onde foram inseridos, se prevaleceu mediante essas
transformações, que viria a culminar na integração do povo japonês com o povo
brasileiro. Este trabalho irá abordar, os aspectos que estão por detrás da vinda deste
japoneses para Tomé-Açu, onde a pesquisa estará centralizada nas ideias sobre de que
forma as nacionalidades estranhas, tendo como referencial os japoneses do Tomé-Açu,
tendem a segregar-se em áreas residenciais comuns para preservar, com maior
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Graduada em Língua Portuguesa/ UVA - [email protected]
[email protected]
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facilidade, sua forma de vida, defender melhor das intrusões externas, saindo desta
condição de refugiados, para se tornarem um grupo social com influência sobre os
aspectos políticos e econômicos do Brasil. Como referencial teórico será utilizado o
sociólogo Anthony Giddens acerca da fundamentação do conceito da identidade
organizada com incidência na fonte de significado e experiência de um povo e o Nestor
Garcia Canclini sobre a questão das culturas híbridas.
INVENÇÃO DE ORFEU, DE JORGE DE LIMA: EPOPEIA EM DIÁLOGO
COM AS GRANDES GUERRAS
Suene Honorato99
Resumo: Com Invenção de Orfeu, obra escrita em 1952, Jorge de Lima diz ter
pretendido a “modernização da epopeia”. Trata-se de um poema divido em dez cantos,
em que o personagem principal é o poeta em busca da “ilha”, o que pode ser lido como
metáfora da própria feitura do poema. Boa parte da crítica literária a qualifica de poema
autorreferente, dobrado sobre si mesmo, recusando o diálogo com seu tempo histórico.
Porém, uma das formas de visualizar tal diálogo é a referência às duas Grandes Guerras
do século XX cotejada com o modelo épico tradicional. A epopeia – gênero literário
tido como pouco produtivo para dizer sobre os problemas do homem na modernidade –
se caracteriza, a partir do exemplo de Homero, por ser uma narrativa de feitos heroicos.
Na Ilíada, mais do que na Odisseia, as batalhas sangrentas dão o tom do relato e
permitem dizer que as epopeias são poemas de guerra. Seguindo a tradição homérica,
Virgílio escreve no século I a.C. a Eneida, poema encomendado pelo imperador romano
Augusto para enaltecer seu governo. No século XVI, Camões cantará, em Os lusíadas, o
empreendimento marítimo do povo português, justificado pela eleição divina para
evangelizar povos não cristãos. Dialogando com tais modelos épicos, Invenção de Orfeu
se propõe como “anti-epopeia” ao lidar com a memória dos massacres empreendidos
nos episódios de guerra e a interdição do dizer dela consequente. Ao invés de cantar
feitos heroicos de personagens históricos, essa epopeia moderna elege os anônimos
como seus personagens buscando a reescrita constante da versão oficial dos fatos
históricos. Encena, assim, um discurso de resistência quanto a formas de dizer
concretizadas por dada tradição histórica e literária.
TORTURADOR E TORTURADO: NOTAS SOBRE FICCIONALIZAÇÃO DO
TRAUMA NOS CONTOS PÓS-64
Suellen Monteiro Batista100
Resumo: O presente trabalho busca refletir sobre a escritura do trauma, partindo da
análise da construção de personagens caracterizados como torturador e torturado em
contos, que possuem como núcleo narrativo cenas de tortura relacionadas ao Regime
Militar instalado no Brasil no ano de 1964 (contos pós-64). Nossa hipótese é de que
estas narrativas, ao construírem tais cenas, realizam um processo de apropriação do
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Professora da UFT. Doutora em Teoria e História Literária - [email protected]
Universidade Federal do Pará (UAB/CAPES). E-mail: [email protected]
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gesto testemunhal que resulta em construções peculiares, dentre as quais a
caracterização dos personagens, e ao atentarmos para tais elaborações é possível
perceber que as narrativas lidam com um aspecto muito caro aos estudos do trauma: as
possibilidades de representação da ferida traumática. Para dar conta de tal hipótese
tomaremos como base teórica as proposições sobre o conceito de testemunho de Márcio
Seligmann-Silva (2003), as considerações de Jaime Ginzburg (2001) sobre o conceito
de trauma e as formulações de Anatol Rosenfeld (1998) acerca da construção do
personagem.
A BATALHA DAS IMAGENS:
APROPRIAÇÕES DA DITADURA NO CINEMA PORTUGUÊS
Susana Guerra101
Resumo: Imediatamente a seguir a revolução dos cravos (ou ao mesmo tempo que a
revolução tinha lugar, em alguns casos), o cinema português releu, criticou e
desconstruiu as imagens existentes do Estado Novo. Essa ressignificação das imagens
da ditadura mais longa da Europa contemplava entre outras coisas: 1) a crítica do estado
corporativista e das intervenções militares em ultramar pelo cinema militante, que a
seguir à revolução procurou fazer do cinema uma arma de combate (Cenas da luta de
classes (1976), O bom povo português (1981), etc.); 2) as tentativas de dar um sentido
às memórias traumáticas da ditadura e da guerra colonial que, a partir da década de 90,
dão o tom à ficção cinematográfica mainstream (A Costa dos Murmúrios (2004),
Capitães de Abril (2000), etc.); e 3) a suspensão das narrativas fechadas e das imagens
consensuais pelos documentários que, nos últimos anos, trabalharam os arquivos visuais
da ditadura e os testemunhos da resistência, tornando impossível qualquer relato
justificador ou apaziguador (Fantasia lusitana (2010), Natureza Morta (2005), 48
(2009), etc.). Noutras palavras, a intensidade e complexidade da batalha, ao mesmo
tempo política e imagética, que no cinema português teve lugar nas últimas décadas, em
ordem a apropriar-se do passado para atuar sobre o presente, não deixa de afirmar o
caráter aberto e inconcluso da nossa história. O presente trabalho pretende simplesmente
colocar essa batalha em perspectiva, dando conta do alcance e dos limites da imagem
cinematográfica para tomar partido, fazer sentido ou exercer a reserva crítica.
REPRESENTAÇÃO DAS VÍTIMAS DO FRANQUISMO EM HERNÁNDEZ E
DA DITADURA MILITAR EM WALSH
Taislane Vieira102
Resumo: Essa comunicação oral objetiva realizar uma releitura do poema Elegía
primera, de Miguel Hernández e da Carta abierta de un escritor a la junta militar, de
Rodolfo Walsh, visando elucidar a representação das vítimas do franquismo e da
ditadura militar argentina de 1976-1983, respectivamente. O primeiro é uma
homenagem de Hernández a Frederico García Lorca, poeta espanhol que se posicionou
101
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Universidade do Porto –[email protected]
Graduanda pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - [email protected]
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a favor da liberdade daqueles que se encontravam à margem da sociedade e foi
assassinado no primeiro mês da Guerra Civil Espanhola. A escolha de usar um poema
em sua homenagem se deu pelo fato de o assassinato de Lorca não ter como alvo a
morte de um homem, mas sim silenciar um sujeito que, em seus textos, dava voz a
grupos marginalizados pela sociedade espanhola da época. Na carta a la junta militar,
Walsh expõe seu sofrimento pela morte da filha e de amigos que morreram lutando
contra os militares e faz uma análise da destruição que esses causaram em seu país.
Nesse sentido, intenciono com esse trabalho fazer um diálogo entre o poema e a carta
mostrando a representação que esses textos fazem das vítimas desses regimes
repressivos e silenciantes e o poder que eles têm como forma de resistência e
recuperação das memórias individuais e coletivas. Essas obras mais que uma denúncia a
esses períodos regidos por regimes totalitários é uma forma de não nos deixar esquecer
o passado já que, segundo Seixas (2007, apud SANTOS, 2002 p. 62-62): “a permanente
expressividade da memória nos meios sociais tem uma feição política que mostra as
formas com que os sujeitos se posicionam em relação à realidade, interpretando-a e
agindo sobre a mesma. É nesse ponto que a memória assume uma função política de ser
entendida como defesa de si e dos outros nos quais o sujeito se reconhece”.
NARRATIVAS DE RESISTÊNCIA: RELAÇÕES DE GÊNERO E MILITÂNCIA
FEMININA EM ¡AY CARMELA! E EM LIBERTARIAS.
Tamires Maiara Santos Araújo103
Resumo: A proposta dessa comunicação oral é analisar como a militância feminina
presente no texto dramatúrgico ¡Ay Carmela! (1991), do escritor espanhol José Sanchis
Sinisterra e no filme Libertarias (1996), do cineasta espanhol Vicente Aranda se
constituem como narrativas de resistência feminina e como essas são atravessadas pelas
relações de gênero no que diz respeito aos papéis sociais que exercem homens e
mulheres no contexto da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). No interior dessas
narrativas, na literária e na cinematográfica, podemos reconhecer que a memória tem
um “papel altamente significativo como mecanismo cultural que fortalece o sentido de
pertencimento a grupos ou comunidades” (JELÍN, 2010, p.9-10), enquanto que os
estudos sobre gênero nos revelam que “a identidade de gênero é negociada por meio da
participação dos indivíduos em comunidade” (OSTEMANN, FONTANA, 2010, p.11).
Nesse sentido, a necessidade de algumas personagens femininas de se vincularem a um
grupo para resistir ao contexto opressor imposto pela realidade da guerra é uma forma
de partilhar esse sentido de pertencimento. Daí reconhecermos na trajetória existencial
da personagem Carmela, de Sinisterra e na das personagens Pilar, Maria e Concha, de
Vicente Aranda essa necessidade de fazer parte da luta contra o fascismo nas frentes de
batalha da Guerra Civil Espanhola, mas que é, ao mesmo tempo, luta por igualdade de
direitos entre homens e mulheres. Esse esforço ou desejo, no entanto, se encontra
atravessado pelo discurso do outro sobre o papel que essas mulheres deveriam exercer,
já que “‘homens’ e ‘mulheres’ são construções discursivas que a linguagem da cultura
projeta e inscreve na superfície anatômica dos corpos” (RICHARD, 2002, p.143).
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Graduanda pela Universidade
[email protected]
Federal
dos
Vales
do
Jequitinhonha
e
Mucuri
-
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SOBRE “UM CERTO ARAGUAIA”
Tânia Sarmento-Pantoja104
Resumo: O estudo apresenta como provocação inicial as diversas visões constituídas
acerca da Guerrilha do Araguaia, presentes em três livros de reportagem e um conto. Os
livros de reportagem são, respectivamente: Operação Araguaia: os arquivos secretos da
guerrilha (MORAIS & SILVA, 2012), Mata! O major Curió e as guerrilhas no
Araguaia (NOSSA, 2012) e Araguaianas, as histórias que não podem ser esquecidas
(FONTELES FILHO, 2013). Os dois primeiros assumidamente reportagens
investigativas – e, portanto, de formato jornalístico. O terceiro acusa fronteiras formais
híbridas e se revela fortemente comprometido com a recolha e reelaboração de relatos
sobre a guerrilha. Constituição que me leva provisoriamente a chamá-lo de reportagem
etnográfica. A ideia é traçar um diálogo entre esses livros de reportagem e o conto
“Quixote”, do escritor Alfredo Garcia, com o objetivo de observar a partilha de
informações e as diferentes prioridades na política da memória desse episódio da
ditadura civil-militar de 1964, bem como os modos como essas prioridades incidem
esteticamente sobre o formato das produções.
A LITERATURA DE TESTEMUNHO E A ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA
TRAUMÁTICA NA OBRA DIÁRIO DE FERNANDO
Treicy Pâmela Castro Pereira105
Resumo: A presente comunicação tem como objetivo analisar e discutir a literatura de
testemunho a partir da obra “Diário de Fernando”, que tem como autor Frei Betto,
narrativa a qual descreve as atrocidades cometidas nos cárceres da ditadura militar
brasileira. O foco do trabalho é aprofundar debates nos estudos éticos do testemunho de
resistência, colocando em questão a alteridade, como forma de reflexão aos reais valores
humanos, pois se observa nas narrativas torturas que ultrapassam os limites do homem
como ser racional. Discute-se a dualidade entre as concepções do ético e do estético,
tendo como base na perspectiva estética os conceitos de ficção e foco narrativo.
Refletiremos sobre a tensão entre catástrofe e representação, visto que estas são
essenciais para esboçar os estudos da literatura de testemunho. Visando compreender o
caráter literário da narrativa de resistência definir-se-á o que é literatura tendo como
base princípios da teoria literária de René Wellek e Austin Warren. Almeja-se com este
trabalho entender e como se dá o trauma e qual o papel da memória nesse contexto, para
isso, voltaremos a nossa atenção para a literalidade dessa experiência traumática, tendo
como base ideias de Freud. Utilizar-se-á como embasamento concepções de autores
como Theodor Adorno, Zygmunt Bauman, Arthur Nestrovski e Márcio Selimann-Silva.
Percebemos que a literatura de resistência resgata a história contemporânea, sendo
assim, é um estudo de extrema importância para a sociedade, portanto, faz-se necessário
um aprofundamento das pesquisas nesse campo para que momentos traumáticos como
os presentes na obra não sejam esquecidos.
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Universidade Federal do Pará – [email protected]
Graduanda pela Universidade Estadual do Pará – UEPA - [email protected]
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REPRESENTAÇÕES DA IMIGRAÇÃO JAPONESA EM NARRATIVAS
CONTEMPORÂNEAS
Veridiana Valente Pinheiro106
Resumo: O objetivo deste trabalho é averiguar alguns limites entre História e
Literatura, observados a partir da constituição do romance histórico e também de suas
relações com algumas narrativas contemporâneas, que tematizam a Segunda Guerra
Mundial enquanto matéria histórica, promovendo reflexões acerca da “imigração
forçada” dos japoneses para a Amazônia e para São Paulo. Mediante tal averiguação
elegemos as narrativas Cinzas do Norte (2005), de Milton Hatoum, O sol se põe em São
Paulo (2007), de Bernardo Carvalho e Saga (2006), de Ryoki Inoue para servirem de
base para está análise. Essas narrativas foram selecionadas por conterem aspectos
relacionados à matéria historiográfica que é a imigração japonesa ocorrida na primeira
metade do século XX, para a Amazônia, em particular a fixação dos japoneses
imigrados para a Vila Amazônia, em Parintins, no caso de Cinzas do Norte e a
imigração japonesa, em São Paulo, no caso das narrativas O sol se põe em São Paulo e
Saga.
O BRASIL TAMBÉM TEM LITERATURA DA SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL: A GUERRA EM SURDINA DE BORIS SCHNAIDERMAN
Vinicius Mariano de Carvalho107
Resumo: Boris Schnaiderman foi um dos 25000 soldados que fez parte da Força
Expedicionária Brasileira – FEB durante a segunda guerra mundial e também autor de
uma das únicas narrativas ficcionais sobre a participação brasileira neste conflito.
Diferentemente de outros países que também contribuiram com tropas, a produção
literária brasileira pouco refletiu a experiência dos soldados brasileiros na guerra. Neste
sentido, esta obra de Schnaiderman, Guerra em Surdina, tem uma significação especial
no que diz respeito à memória histórica do envolvimento brasileiro no conflito. O
estudo aqui proposto é uma leitura desta obra como um dispositvo de reflexão ética
sobre a memória de conflitos armados.
A EXPERIÊNCIA DO TRAUMA RESSIGNIFICADA PELA ESCRITA DA
MEMÓRIA
Vitalina Rosa de Araujo108
Resumo: A proposta deste artigo consiste em investigar as diferentes perspectivas de
ressignificação da escrita nos textos literários contemporâneos, assim como buscar
compreender a relação entre memória e narração na tessitura do relato em primeira
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Doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará [email protected]
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King's College London - [email protected]
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[email protected]
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pessoa no texto Em estado de memória de Tununa Mercado, que se encaixa nos estudos
da memória. Nas últimas décadas contemporâneas, à necessidade por uma literatura
emergente no período de transição da ditadura à democracia, veio contribuir, autorizar
discussões relevantes acerca da representatividade da experiência por intermédio da
escrita para o meio acadêmico e teve como expressão um movimento de considerável
repercussão na Europa e, daí, espalhando no mundo inteiro, o "boom". Movimento que
refletiu em parte no trabalho de luto da ditadura na América Latina, um movimento que
privilegiava escritores latino-americanos. A literatura do presente quer refazer
experiência do choque por via da escrita. E nesse caso, a reprodução mimética estaria no
campo da encenação e presencia-se essa representatividade tanto nos setores públicos
quanto privados. Fato este incontestável e que pode ser averiguado com o crescimento
de romances autobiográficos e de tom memorialístico, e nas artes. Para a realização
desse trabalho teremos significativos estudos sobre experiência/memória, destacando-se
as contribuições de Nora (2009), Gagnebin (2011), Pollack (1989) e Avelar (2003), que
acreditam que esse estilo possa trazer para o centro memórias antes excluídas do meio
histórico e literário.
O GROTESCO E O HUMOR NO CINEMA NAZIXPLOITATION: A
DESCONSTRUÇÃO DO IDEAL ESTETICONAZISTA
Viviane Dantas Moraes109
Resumo: Em sua sétima tese “Sobre o conceito de História (1939)”, Walter Benjamin
afirma que ‘nunca houve um monumento de cultura que não fosse também um
monumento de barbárie’. Ou seja, no contexto de guerra o qual o filósofo viveu, previra,
de certa forma, que o século XX seria profícuo em relação à produção artística. A
propósito, em nome da própria cultura, nunca houve tanto genocídio. Nesse sentido, o
nazismo enquanto representante de uma das maiores catástrofes do referido século, a
shoah, se revela como potência destruidora impulsionada pelo antagonismo que se
sustentou num ideal de superioridade da raça ariana. O documentário “Arquitetura da
destruição (1989)” nos elucida a relação entre um ideal estético de beleza e pureza que
reinava na arte clássica como um dos pilares da ideologia nazista. A raça tinha que ser
pura e ter a simetria das formas. No entanto, a produção cultural pós- segunda guerra,
inspirada nas consequências do nazismo, desconstruiu esse ideal em várias
manifestações artísticas, dentre elas, no cinema. Por volta da década de 1970, vários
países, sobretudo aqueles que foram ocupados pelos alemães durante a segunda guerra,
como Itália e França, passaram a produzir uma leva de filmes com a temática nazista,
mas traçando uma linha subversiva ao que se considera a sétima arte. Esse conjunto foi
denominado Nazixploitation e é considerado um subgênero cinematográfico. Deste
modo, a estética do Nazixploitation se configura na estética do grotesco que tem como
essência a deformidade. Assim sendo, esse trabalho busca traçar uma relação entre os
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Universidade da Amazônia (UNAMA). Doutoranda de Estudos Literários, Programa de PósGraduação em Letras – UFPA - [email protected]
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efeitos de grotesco aliados ao cômico e ao ridículo em contraponto ao ideal
esteticonazista, ou seja, a busca pelo sublime inspirada na arte clássica provocou o
surgimento de uma ideologia da barbárie.
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