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ano 6 número 49 | www.revistamercado.com.br ano 6 número 49 | R$ 8,50 | www.revistamercado.com.br ENTREVISTA Uberlandense é o novo coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental no MAPA Especial Feira & Negócios Moda Calçados se consolida e impulsiona a indústria da região Ciência Laboratório vivo, oásis mexicano corre o risco de desaparecer da face da terra Mundo em Alerta Câncer avança entre a população mundial e atinge proporções catastróficas. Por ano, são mais de 12,7 milhões de novos casos e 7,6 milhões de mortes provocadas pela doença. Entre os casos mais comuns estão o de mama, em mulheres, e o de próstata, nos homens mercado www.revistamercado.com.br expediente editorial O combalido Código Penal Diretor Geral Eduardo J. L. Nascimento [email protected] Diretor Comercial Fernando Martini [email protected] Conselho Gestor Eduardo J. L. Nascimento Evaldo Pighini Fernando Martini Conselho Editorial Paulo Sérgio Ferreira Janaina Depiné Analu Guimarães Dr. Joemilson D. Lopes Marconi Silva Santos Pedro Lacerda Marcelo Prado Dalira L. C. M. Carneiro Editor Chefe Evaldo Pighini e Jornalista Responsável MG 06320 JP [email protected] Reportagens Evaldo Pighini Margareth Castro Michele Borges Fabiana Barcelos Laura Pimenta Rosiane Magalhães Talita Nakamuta Alitéia Milagre Renata Tavares Lia Barbosa Revisão Lúcia Amaral Fotografia Mauro Marques (exceto as creditadas) Colaboradora Márcia Amaral Vendas Maurício Ribeiro 55 34 3239 5844 [email protected] Secretaria Edileusa Ribeiro [email protected] Jurídico Thiago Alves OAB 107.533 Capa/Editoração Humpormil Pré-impressão Mídia Kit Impressão Tiragem 10.000 exemplares Anúncio 55 34 3239 5844 Assinatura 55 34 3239 5844 [email protected] Canal Livre [email protected] Cartas Rua Roosevelt de Oliveira, 345 Sl 14 Bairro Aparecida CEP 38.400-610 Uberlândia - MG - Brasil Edições extras 55 34 3239 5844 e reprints [email protected] Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião desta revista, assim como declarações emitidas por entrevistados. É autorizada a reprodução total ou parcial das matérias, desde que citada a fonte. A Revista MERCADO é uma publicação mensal do Grupo de Mídia Brasil Central (GMBC). Revista MERCADO 55 34 3236 6112 Rua Roosevelt de Oliveira, 345 Sl 14 Bairro Aparecida CEP 38.400-610 Uberlândia - MG - Brasil Copyright © 2008 - Grupo GMBC Todos os direitos reservados. Curta no Facebook Revista MERCADO | Edição 49 O lamentável caso da empresária Jussara Carolina de Paula Favarini, 26, estuprada e assassinada a tiros por dois bandidos no dia 16 de junho de 2011, em Uberlândia, é apenas um entre milhares de outros iguais que acontecem no Brasil. Em comum, o fato de terem sido praticados por criminosos que deveriam estar atrás das grades, mas que ficam soltos por causa de prerrogativas ou falhas da lei. No caso de Jussara, os autores dos crimes de estupro e assassinato eram dois jovens, um de 18 e outro de 19, que já tinham passagens pela polícia por roubos, assaltos e receptação. Um deles, inclusive, estava sob liberdade assistida. Recentemente, no Rio de Janeiro, um homem de 43 anos foi preso acusado de ter estuprado uma menina de 12 anos dentro de um ônibus. O que mais revolta, neste caso, é que o marginal cometeu esse crime um dia depois de receber o benefício da liberdade condicional. Ele tem registradas sete passagens pela polícia e cumpria pena por oito anos num presídio do Rio, mas foi solto por causa do benefício do livramento condicional por já ter cumprido metade da pena por crimes de roubo e furto. Só que a própria juíza que lhe concedeu a liberdade argumentou que “o juiz tem que decidir dentro da lei e mudar a lei é com o Congresso”. Quis lembrar esses dois lamentáveis casos para chamar a atenção para o combalido Código Penal brasileiro, que vira e mexe, quando acontecem crimes como esses, de grande comoção pública e repercussão na mídia, é comum ouvir da boca de autoridades e de políticos que ele - o Código - precisa ser revisto, reformulado, votado, atualizado, modernizado e outros blá-blá-blás mais. Só que ninguém, autoridades e políticos, sobre os ombros de quem está essa responsabilidade, quer tocar esse trem - a revisão, reformulação ou atualização, seja lá o que for, do velho e ultrapassado Código Penal brasileiro - que anda cada vez mais fora dos trilhos, aos trancos e barrancos. O certo é que o Código Penal é muito antigo e precisa urgentemente ser atualizado. Existe nele uma série de distorções que precisam ser corrigidas, isso é uma demanda da sociedade. Lembro que o atual Código Penal foi instituído pelo Decreto-Lei 2.848, de 1940, e nesses mais de 70 anos pouco ou quase nada foi modificado. Nesse período, surgiram pontualmente leis penais especiais, fora do Código, sobre pontos diversos como crimes ambientais etc. Na década de 1970, foi elaborado um novo Código Penal, também por decreto-lei, que foi modificado por lei cuja vigência foi sucessivamente adiada até ser revogada por outra lei. A partir de 1980, uma comissão formulou anteprojeto que resultou na Lei 7.209, de 1984, com revisão da Parte Geral do Código Penal. De lá para cá, muitas comissões foram instaladas pelo Ministério da Justiça com o objetivo de reformar, total ou parcialmente, o Código, só que nenhuma delas obteve êxito, seja porque o Executivo não encampou algumas propostas, seja porque as matérias não foram adiante no Congresso. Depois disso, na década passada, os trabalhos de reforma foram abandonados e, em lugar disso, o que houve foi a intensa produção de leis especiais, fenômeno que se intensifica desde a Constituição de 1988. Hoje, existem aproximadamente 117 leis penais em vigor, que abrigam cerca de 1.757 tipos penais, entre crimes e contravenções. O próprio presidente do Senado, José Sarney, reconheceu em discurso proferido em outubro do ano passado que “o atual Código Penal sofre tanto da passagem do tempo, com as mudanças naturais das estruturas sociais e das tecnologias, com as alterações pontuais que sofreu, como com a mudança mais profunda de regime constitucional (...). Ele peca pela extrema fragmentação e pela desproporcionalidade das cominações penais, tendo em vista o acúmulo de tantas reformas parciais e a criação de inúmeros institutos despenalizadores”. Enquanto isso, a segurança pública capenga no país. Em números, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o Brasil tem 3% da população mundial, mas 12% dos homicídios; os 51 mil assassinados registrados por ano equivalem a 26 assassinados por 100 mil habitantes, comparados com menos de dois assassinados por 100 mil habitantes dos países desenvolvidos e do Chile, aqui na América do Sul. Contudo, apesar dessa tragédia em que vive o País, as nossas cadeias e presídios estão cheios e apresentam condições degradantes. O Brasil tem hoje 250 presos por 100 mil habitantes, número elevadíssimo, que podemos comparar com 140 no Reino Unido e 100 na França, países onde o crime contra a vida é 20 vezes menor. Portanto, precisamos urgentemente de um novo Código Penal, voltado para atender o presente e futuro. Enquanto isso não acontecer, muitas outras crianças - como a de 12 anos do ônibus no Rio - e pessoas com a empresária Jussara, de Uberlândia, vão continuar sendo sacrificadas. BASTA de tanta violência e impunidade! Evaldo Pighini Editor mercado 49 índice Capa Câncer avança entre a população mundial e atinge proporções catastróficas. Por ano, são mais de 12,7 milhões de novos casos e 7,6 milhões de mortos pela doença. Entre os casos mais comuns estão o de mama, em mulheres, e o de próstata, nos homens 34 Ciência Especial Feira & Negócios Moda Calçados, evento realizado pelo Sindicato das Indústrias de Calçados de Uberlândia, se consolida e praticamente dobra resultados em apenas duas edições, impulsionando o mercado calçadista da região Revista MERCADO | Edição 49 54 Entrevista O uberlandense Renato de Oliveira Brito foi empossado recentemente como coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em entrevista à MERCADO, ele fala de sua trajetória e dos desafios frente ao cargo 48 44 Laboratório vivo, oásis mexicano corre o risco de desaparecer. O lugar é um raro ecossistema de zonas úmidas no deserto de Chihuahuan, no norte do México, e que pode conter informações chave sobre as origens da vida na Terra Turismo 16 Janeiro 2012 Artigo...................................................... 12 Meio ambiente����������������������������������� 52 Conversa����������������������������������������������� 14 Dica de Leitura����������������������������������� 66 Franchising������������������������������������������ 20 Literatura���������������������������������������������� 68 Negócios���������������������������������������������� 22 Profissões em Filme������������������������� 70 Economia��������������������������������������������� 26 Sustentabilidade������������������������������� 72 Trabalho����������������������������������������������� 28 Ponto de vista������������������������������������� 74 Construção������������������������������������������ 32 Causos empresariais������������������������ 76 Saúde...................................................... 40 Geral........................................................ 78 Se Deus é brasileiro, com certeza o paraíso fica em Búzios. Um cenário onde o verde da Mata Atlântica e o azul do oceano vivem em plena harmonia com a beleza e o alto astral de um lugar único Veículos 60 Meio SUV, meio crossover, o Range Rover Evoque é o tipo de carro quase perfeito. Caçula da tradicional fabricante inglesa Land Rover, ele chegou para ser referência, e o melhor, pode ser configurado da forma que o cliente preferir. A MERCADO testou essa joia Revista MERCADO | Edição 49 mercado artigo *Por Márcia Fernandes Pinheiro é advogada, pós-graduada em Direito Privado, professora de Direito Empresarial e Introdução ao Estudo de Direito na Faculdade Pitágoras de Uberlândia (MG) Breves considerações acerca da marca Por Márcia Fernandes Pinheiro* C onforme o dicionário Aurélio, a palavra marca significa: “Ato ou efeito de marcar, sinal distintivo de um objeto. Símbolo gráfico (logotipo, emblema ou figura) que identifica ou representa uma instituição, uma empresa etc.” grande credibilidade no mercado, tornando-se uma Dessa forma, a marca é um sinal distintivo ou um lo- Vejamos outro exemplo bem esclarecedor: a marca gotipo que representa uma instituição, podendo ser dos Coca-Cola, pertencente à The Coca-Cola Company, é de seguintes tipos: marca de produto ou serviço (exemplo: alto renome, estando protegida em todos os ramos de Nike, Natura, FGV, Itaú), marca de certificação (exemplo: atividade. Dessa forma, outro empresário não poderá INMETRO, ISO) e marca coletiva (Unimed, ABPI). utilizar a marca Coca-Cola para vestuário, esporte, cal- Contudo, uma marca não se resume apenas a um sinal distintivo, haja vista que traz consigo outros ele- marca famosa, ou seja, de alto renome, poderá ter a proteção estendida a todos os ramos de atividade, conforme consta no art. 125 da referida lei. çados, restaurantes etc., posto que pertence com exclusividade ao titular da marca Coca-Cola. mentos que tornam o seu instituto mais abrangente. Pode-se dizer, então, que a marca é um sinal percep- Quando bem elaborada (um desenho, um sinal ou até tível de grande importância, que diferencia um produto mesmo um nome), a marca transmite confiabilidade, do outro, identifica o produto ou serviço e até mesmo qualidade do produto ou serviço e, principalmente, a atesta a qualidade destes, daí a importância de ser leva- segurança para os consumidores de estarem adquirin- da a registro. do produtos que satisfaçam as suas necessidades. Vejamos a íntegra dos arts. 122 e 133 da Lei de Pro- Entretanto, para que a marca alcance a aceitação priedade Industrial: “Art. 122. São suscetíveis de registro do público, muitos investimentos são feitos, tanto em como marca os sinais distintivos visualmente perceptí- termos de propaganda como na própria qualidade dos veis, não compreendidos nas proibições legais. (grifo produtos que levam o seu nome (o da marca). nosso); e Art. 133. O registro da marca vigorará pelo pra- Diante disso e tendo em vista a abrangência, o poder de mercado e os investimentos, tornou-se necessá- zo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos”. ria uma efetiva proteção jurídica à marca contra abusos Observa-se que o referido art. 122 ressalta que são e deturpações por parte de terceiros. Face a essa neces- suscetíveis de registro sinais perceptíveis. Assim o faz a sidade, foi criada no Brasil a Lei Federal nº 9.279/1996, lei, pois nosso país não admite o registro de outros tipos que regula os direitos e obrigações relativos à proprie- de sinais, como sonoros e olfativos. Percebe-se, ainda, dade industrial. Tal diploma legal, além de definir os ti- com vista ao mesmo dispositivo legal, que o registro da pos de marcas, também disciplina o procedimento de marca é concedido pelo prazo de 10 (dez) anos, poden- registro, cessão e proteção, dentre outras providências. do ser renovado indefinidamente. O proprietário da marca, ao efetuar o seu registro, Dessa forma, a marca, um símbolo de grande impor- passa a ter o direito de utilizá-la com exclusividade no tância no ramo empresarial, deve ser registrada e prote- ramo em que atua. Por exemplo, se o empresário atuar gida contra qualquer abuso. no ramo de sucos, refrigerantes, terá a sua marca pro- Finalmente, vale lembrar que o registro é efetuado tegida em âmbito nacional na classe de bebidas, xaro- no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e pes e sucos concentrados. Contudo, se a marca alcançar é de abrangência nacional. B 12 | Revista MERCADO | Edição 49 mercado conversa Prezado leitor, Obras de infraestrutura e de estádios poderiam ser direcionadas para pequenas construtoras, mas elas não bancam campanhas eleitorais... Fala-se muito que a renda das famílias é concentrada no Brasil. É verdade. Mas a maior distorção na disparidade de renda está no mundo das empresas. Cerca de 60 mil empresas representam 80% do PIB brasileiro, enquanto 6 milhões -as pequenas e microempresas- representam apenas 20%. No ranking de concentração da renda das famílias, estamos entre os 20 piores países do globo. No ranking de concentração de renda das empresas, ficamos em primeiro lugar entre os piores. Na Itália e na Alemanha, por exemplo, as pequenas são responsáveis por 60% do PIB. Por que nesses países o espaço das pequenas empresas é tão maior? A resposta está nas politicas públicas para apoiar e favorecer os pequenos. Sem políticas assim, o Brasil é o paraíso das grandes empresas. Nem mesmo países que embarcaram em modelos que pregavam que o governo não deveria intervir na economia foram tão cruéis com as suas pequenas empresas. O Reino Unido, por exemplo, tem uma lei que obriga os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paulo Feldmann é presidente do Conselho da Pequena Empresa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio/SP) Londres a privilegiar contratações de produtos, serviços e obras de pequenas e microempresas. Por que, no Brasil, as obras de estádios e de infraestrutura não podem ser direcionadas para as pequenas construtoras? Cerca de 45% das exportações italianas saem das pequenas e microempresas. No Brasil, esse valor não chega nem sequer a 2%. A diferença é que na Itália existe uma lei que estimula a associação de pequenas empresas em consórcios voltados para a exportação. Por que será que nunca nenhum legislador brasileiro pensou em fazer algo parecido por aqui? Certamente porque a sua campanha eleitoral não recebeu recursos de pequenos empresários. Pequenos empresários não têm a mínima possibilidade de apoiar campanhas eleitorais, pois estão permanentemente correndo o risco de ter de fechar as suas portas. O pequeno empresário brasileiro só consegue pensar na sobrevivência da sua empresa. Dela depende o sustento da sua família. No Brasil, simplesmente não existe financiamento de longo prazo para pequenas empresas, imagine então microcrédito. Com isso, o pequeno empresário está proibido de crescer. Se quiser que isso aconteça, ele terá que bancar o crescimento com o seu próprio capital -capital que, em geral, não existe. As democracias mais consolidadas e tradicionais são aquelas que não permitem o abuso do poder econômico. São os casos da Holanda, da Alemanha e da Suécia. Nesses países, as campanhas eleitorais são modestas. Não há nenhuma ostentação ou exuberância publicitária. Por essa razão, são justamente esses os países com os menores índices de corrupção no mundo, segundo a Transparência Internacional. Um dos países onde as pequenas empresas são mais presentes e mais pujantes é justamente a Alemanha. Lá, empresas de qualquer tamanho são proibidas de apoiar campanhas eleitorais. Talvez essa seja a principal explicação para justificar a força das pequenas empresas no país. Quando as empresas são livres para contribuir com campanhas eleitorais, é evidente que vai predominar o poderio das maiores. Não existirão também politicas públicas que apoiem as pequenas empresas, que raramente contarão com recursos financeiros para gastar com candidatos. É o caso do Brasil. Ou seja, as pequenas empresas brasileiras precisam de uma reforma da lei eleitoral, urgentemente! B mercado entrevista Uberlandense é o homem da Sustentabilidade no país Renato de Oliveira Brito assume cargo de coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental no MAPA Da Redação N eto de pecuarista e uberlandense de origem, Renato de Oliveira Brito assumiu recentemente o cargo de coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O convite para assumir a função na Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) -, órgão ligado diretamente ao primeiro escalão do Governo Federal, em Brasília, veio do ministro Mendes Ribeiro Filho e do chefe de Gestão Estratégica, Dr. Derli Dossa. Dotado de notória capacidade de articular ideias e colocá-las em prática, Renato, que já ocupou cargos na Universidade do Cabo, na África Do Sul; no Ministério da Educação; na American Field Service, no Brasil; e em agências da Organização das Nações Unidas (ONU) fala aos leitores da revista MERCADO sobre a sua trajetória e o cargo que assumiu em Brasília. Mercado - Como o senhor chegou ao MAPA? Renato - Recebi um convite do ministro do MAPA, Mendes Ribeiro Filho, e do chefe de Gestão Estratégica do Ministério, Dr. Derli Dossa, para atuar como coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental dentro da Assessoria de Gestão Estratégica (AGE). Além da minha pasta, a AGE conta com a Coordenação Geral de Planejamento Estratégico, comandada por José Garcia Gasques, e a Coordenação Geral de Articulação Institucional, que está sob a tutela de Paulo Sérgio Vilches Fresneda. 16 | Revista MERCADO | Edição 49 Onde estava antes desse convite? Antes de chegar ao MAPA, estive no Ministério da Educação, onde acompanhei o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em um projeto com colegas da Universidade Católica de Brasília, criamos o Programa de Formação de Gestores para Escolas Eficazes, do qual fui um dos idealizadores e diretor geral do projeto, e em diversas instituições desenvolvi projetos de voluntariado, desenvolvimento humano, educação e sustentabilidade, de modo que nos últimos anos estive envolvido com gestão de políticas públicas em diversas áreas. Quais são os objetivos da AGE dentro do MAPA? A Gestão Estratégica concilia as políticas públicas com as demandas do agronegócio para melhorar a competitividade do setor. Seu papel é oferecer condições para que o Brasil alcance e consolide a posição de líder mundial do agronegócio, atendendo, paralelamente, as necessidades e exigências do mercado interno e a segurança alimentar da população brasileira. Para alcançar esses objetivos, são elaborados estudos e levantamentos que consideram a dinâmica e as perspectivas de crescimento do agronegócio no mercado internacional. São definidas, então, as metas a serem alcançadas dentro de um período determinado de tempo. As projeções atuais refletem as tendências de produção, consumo e comércio exterior para produtos agropecuários em um horizonte de 11 anos (2008-2009 a 2018-2019). A Renato de Oliveira Brito, uberlandense que assumiu o cargo de coordenador geral de Sustentabilidade Ambiental no Ministério da Agricultura Revista MERCADO | Edição 49 | 17 mercado entrevista ria-floresta plantada, conservação do solo e recuperação de áreas degradadas. de representantes de cooperativas regionais, entraram em contato conosco para assegurar uma cadeira na Sala e participar das discussões. A rede de contatos, constituí- A sustentabilidade envolve desenvolvimento econômico, social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais E o produtor rural? Para apoiar o produtor, o ministério elabora projetos e programas direcionados para a assistência técnica, financiamento e normatização das práticas rurais sustentáveis. É dessa forma que se pretende superar o grande desafio de manter o Brasil como provedor mundial de matérias-primas e alimentos e a necessidade da conservação do meio ambiente. Quais foram as suas primeiras ações ao assumir a Coordenação de Sustentabilidade do Ministério? Uma das nossas primeiras conquistas na coordenação de Sustentabilidade da AGE foi a recente criação da Sala de Antecipação, uma espécie de centro de monitoramento de eventos com impacto na agricultura. A sala tem a participação de diferentes setores, do cooperativismo, e até de entidades sindicais e representantes de governos estaduais. Com a iniciativa, pretendemos antecipar acontecimentos que afetam o agronegócio e evitar que crises se abatam sobre o setor produtivo brasileiro. A sala é um instrumento para o ministério trabalhar algumas medidas preventivas e uma ferramenta de auxílio às decisões governamentais na execução de políticas públicas. da por lideranças regionais, produtores rurais, técnicos e pesquisadores das diferentes cadeias produtivas já soma cerca de 400 pessoas. Nossa meta é chegar aos 1.000 parceiros até o final de 2012. Os interessados em participar da Sala, com sugestões, alertas e orientações, devem contatar o Ministério por meio do endereço eletrônico [email protected] ou pelo telefone (61) 32182644. Estamos abertos a sugestões e a parcerias com os setores público e privado. Mais alguma observação? Acho importante ressaltar que a implementação do espaço se deu a partir de experiências verificadas no Ministério da Saúde, no Departamento de Economia Rural do Governo do Estado do Paraná e também na Agência Nacional da Água (ANA), onde há espaços de monitoramento semelhantes. Para finalizar, de maneira geral, quais são as premissas que nortearão o seu trabalho no Ministério? Antes de tudo, defendo o diálogo entre os ministérios. Como já disse e minhas ações demonstram, acredito na união de forças para avançarmos, principalmente no que diz respeito à Sustentabilidade. Além disso, Pode detalhar melhor essa questão? Entre as metas estabelecidas para 2015, está a busca da excelência administrativa, garantindo maior efetividade na formulação e implementação das políticas públicas para o agronegócio e o fortalecimento e harmonização do setor, coordenando e promovendo a igualdade entre os atores envolvidos. Os objetivos estratégicos, que compõem o Plano Estratégico do Ministério, incluem, ainda, a garantia da segurança alimentar do povo brasileiro, a ampliação da participação da agroenergia na matriz energética do país, o aumento da produção de produtos agropecuários não alimentares e não energéticos e a atuação no sentido de impulsionar o desenvolvimento sustentável do país por meio do agronegócio. Na sua opinião, o que é preciso para alcançarmos o desenvolvimento sustentável? A sustentabilidade envolve desenvolvimento econô18 | Revista MERCADO | Edição 49 mico, social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais. De acordo com o relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em 1983, o desenvolvimento sustentável visa “ao atendimento das necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as próprias necessidades”. Como ficam as atividades agropecuárias nesse contexto? A mudança de paradigmas estabelece um novo cenário para o processo de desenvolvimento das atividades agrícolas, florestais e pecuárias. É, portanto, a partir da observação da realidade local que o Ministério da Agricultura desenvolve e estimula as boas práticas agropecuárias, privilegiando os aspectos sociais, econômicos, culturais, bióticos e ambientais. Nesse caso, estão incluídos sistemas de produção integrada, plantio direto, agricultura orgânica, integração lavoura-pecuá- Como estão as perspectivas para o trabalho da Sala? Imediatamente após a criação da Sala, órgãos ligados ao governo, como a EMBRAPA, e empresas do setor, além gosto muito do modelo de cooperativas e defendo a abertura para cooperações do MAPA com os diversos setores da sociedade. B mercado franchising & negócios *Carlos Ruben Pinto é administrador de Empresas, Consultor de Franquias e Varejo - (31) 3282-6688 [email protected] A importância do sigilo (parte II) “O segredo do sucesso não é tentar evitar os problemas, nem se esquivar ou se livrar deles, mas crescer pessoalmente para se tornar maior do que qualquer adversidade.” T. Harv Eker Por Carlos Ruben Pinto* N o artigo anterior, comentamos sobre a importância da cláusula de sigilo e não concorrência nos contratos de franquia, cujo propósito é o de impedir que o franqueado e sua equipe, por terem acesso às informações que se constituem em “segredo de negócio” da franquia, possam mais tarde estabelecer uma concorrência desleal. Em que instrumentos a empresa franqueadora deve formalizar o acordo de confidencialidade? A partir da Circular de Oferta da Franquia, que deve ser apresentada aos candidatos com informações completas sobre o negócio, incluindo as minutas do pré-contrato e o contrato de franquia. No protocolo de recebimento da Circular, o candidato já se obriga a manter a confidencialidade das informações recebidas. E, no mais importante instrumento, que é o contrato de franquia, devem ser bem definidos os direitos e obrigações de cada uma das partes e e normas da franquia. Outro ponto importante para a proteção do “segredo de negócio” da franquia é o franqueado firmar um termo de confidencialidade com cada funcionário em relação aos treinamentos recebidos e aos conteúdos dos manuais necessários ao exercício de sua função na unidade franqueada. O mesmo cabe ao franqueador em relação à equipe contratada para prestar serviços de consultoria de campo e suporte à rede. A intenção é impedir que, ao deixar a empresa, alguém possa levar consigo cópias de documentos e manuais da franquia, utilizando-os mais tarde para prestar serviços à concorrência. Por quanto tempo deve vigorar a cláusula de sigilo, confidencialidade e não concorrência? Pelo tempo de vigência do contrato, e mais um ou dois anos após a rescisão ou o fim deste. Nesse período, o ex-franqueado não poderá exercer atividade comercial que seja concorrente com o franqueador e com os franqueados da marca. tiverem acesso; não exercer atividade similar ao negócio franqueado; não comercializar os mesmos produtos/serviços desenvolvidos e/ou aperfeiçoados pela rede, enfim, não concorrer com o franqueador e com nenhuma outra unidade franqueada pertencente à rede. São limitações que os candidatos a franqueados conhecem antes de aderir à rede, pois devem estar especificadas na Circular de Oferta e Minuta do Contrato de Franquia, que informa também em que tempo e território o franqueado se obriga a não concorrência. Lembramos ainda que um profissional, ao escolher uma franquia para praticar atos próprios de sua profissão como empresário com o intuito de obter lucros, submete-se às regras de um negócio profissionalmente organizado e, naturalmente, à legislação do direito comercial vigente. Torna-se, portanto, um ato ilícito o fato de um ex-franqueado ou ex-consultor de campo se utilizar dos conhecimentos obtidos junto Aqueles que pretendem se tornar franqueados precisam estar cientes de sua obrigações de sigilo em relação ao negócio as multas e penalidades resultantes do não cumprimento das cláusulas contratuais, cabendo ao franqueado manter sigilo com relação a toda e qualquer informação ou especificação contida em treinamentos, manuais e demais instruções, circulares 20 | Revista MERCADO | Edição 49 Aqueles que pretendem se tornar franqueados precisam estar cientes de suas obrigações de sigilo em relação ao negócio. Na maioria dos contratos, as obrigações do franqueado em caso de rescisão implicam não revelar as informações a que à rede e se envolver em atividades que concorram com a franquia, cabendo, nesses casos, medidas judiciais devidamente amparadas pelas cláusulas de sigilo e confidencialidade na forma a que se submeteram em contrato.B mercado no Brasil, o café é hoje fonte de renda de milhares de famílias no país. Além do setor agrícola, o grão tem estimulado outro ramo que não estava em evidência nos últimos anos: as cafeterias. O plano de abrir um café tem ganhado estímulo das estatísticas. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional, volume equivalente à soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É também o segundo mercado consumidor, perdendo somente para os Estados Unidos, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Uma pausa no dia Foto: Reprodução Cafeterias estão em alta, seja em shoppings, vias públicas e até dentro de livrarias Mercado de cafeterias cresce e conquista consumidores Dentro dos shoppings ou fora deles, os novos modelos de cafeteria contam com ambientes cada vez mais diversificados para aquele cafezinho, alimento que cai bem a qualquer hora Por Aline Morais (Serifa) E m Uberlândia, seguindo uma tendência do mercado nacional, as cafeterias têm conquistado cada vez mais espaço e o gosto do consumidor, o que tem provocado novos investimentos no segmento. A empresária Rita Oliveira, por exemplo, investiu recentemente em uma franquia do tradicional Fran’s Café, sendo a primeira loja da rede 22 | Revista MERCADO | Edição 49 na região, localizada no Village Altamira Shopping. Para ela, o conceito do Fran’s Café veio ao encontro do que desejava. “Trabalhar com café é muito prazeroso. Sempre quis abrir um negócio que aliasse o prazer ao financeiro, escolhi então o ramo de cafeterias. Somos os maiores produtores e o segundo maior consumidor, por isso é vantajoso investir”, conta Rita. A Abic estima que existam hoje no Brasil 3.500 cafeterias, por onde escoou parte dos 19,1 milhões de sacas consumidas pela população, segundo balanço de 2010. Esse total consumido equivale a cerca de 80 litros do produto final por cidadão, de acordo com a associação. O consumo de café fora de casa aumentou 300% de 2003 a 2010, e o de grãos especiais, chamado de café gourmet, O consumo de grãos especiais, utilizados pelas cafeterias gourmet, representa 4% do volume consumido no mercado também teve destaque. Cresceu nos últimos cinco anos de 15 a 20%. Dados atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o café é o alimento mais consumido pelos brasileiros, fato esse que tem estimulado muitos empresários a investir no setor. O hábito de tomar café no balcão e de pé tem diminuído. O consumo de grãos especiais, utilizados pelas cafeterias gourmet (cafeterias que utilizam grãos de café com qualidade superior - especial), representa 4% do volume consumido no mercado, mas gera uma receita de 6 a 7% do total. Consumo que deve aumentar, pois segundo pesquisa da Abic de 2010, 45% dos consumidores de café estão dispostos a pagar mais por grãos selecionados. Plantado há mais de dois séculos Para a empresária Rita Oliveira, dona da franquia Fran’s Café, ao adotar o hábito de tomar café todos os dias, as pessoas procuram às vezes um momento para descansar a cabeça e até mesmo relaxar. “Podemos e devemos associar o café a um momento de prazer, um momento do dia que tiramos para saborear o que a vida tem de gostoso. Olhando a partir desse contexto e aproveitando a oportunidade de mercado torna-se interessante investir neste ramo”, explica. De olho na fidelização e no alcance maior de clientes, o negócio é caracterizado pela diversificação do cardápio. “Para se manter em um mercado promissor como este é preciso começar bem. Por isso, temos como diferencial no Fran’s Café o atendimento ao cliente: na unidade, o cliente pode acessar livremente internet e tem espaço para realizar reuniões empresariais e até mesmo confraternização com amigos e parentes. Além disso, somos uma cafeteria que não oferece somente café, mas sim um cardápio com diversas opções, seja para um cafezinho durante o dia, um almoço, uma happy hour com amigos e até mesmo um jantar no final do dia”, afirma. A diversidade tem sido uma das principais características das atuais cafeterias. Além do café, oferecem chás gelados, iorgutes naturais, chocolates gelados, refrigerantes, sucos, açaí e salada de fruta. “Tomar café com gelo, sorvete e vários outros ingredientes para incrementar a bebida era considerado esquisito e rejeitado por muitos. Mas o tradicional cafezinho preto está compartilhando espaço com bebidas geladas à base de café, muito consumidas em países como Japão e Estados Unidos e que estão entrando no gosto do brasileiro”, conta Rita. Hoje, quem quer tomar café diferenciado encontra mil e um ingredientes complementares, incrementados com ingredientes que variam, como: cookies, doce de leite, macadâmia, chocolate, toffee, chantilly, tudo ao gosto do cliente e dependendo da criatividade dos baristas (profissionais treinados que criam e preparam a bebida). No Fran’s Café do Village Altamira, o carro chefe da casa é o Franccino. Uma bebida gelada feita à base de café, leite e chantilly, variando os ingredientes dependendo dos sabores escolhidos (coffee, doce de leite, macadâmia, mocha, toffee e cookie). “O Franccino é preparado ao gosto do cliente, e com uma base em pó que é o nosso segredinho, fazendo desta bebida uma das mais gostosas e refrescantes do Fran’s Café”, afirma Rita Oliveira, proprietária da franquia na cidade. A Foto: Arquivo Foto: Arquivo negócios A franqueada Fran’s Café em Uberlândia, Rita Oliveira, diz que para se manter em um mercado promissor como o de cafeterias é preciso planejar e começar bem Revista MERCADO | Edição 49 | 23 mercado negócios Café além da bebida Foto: Arquivo As amigas Lícia Borela, Luciana Ribeiro e Andressa Borges, desde a época da faculdade de Ciências da Computação, tinham desejo de abrir um café onde pessoas pudessem se reunir e degustar a bebida. Alguns anos após a faculdade, indo direto da área de tecnologia para a de gastronomia, tornaram-se sócias e inauguraram o Grãos do Cerrado. Inicialmente, o empreendimento localizado no velho Mercado Municipal de Uberlândia venderia apenas o grão torrado e moído, mas com a procura do público, se expandiu para uma cafeteria nada convencional. “O café bom era exportado. Hoje, o brasileiro está procurando um café de melhor qualidade não só para tomar fora de casa. Vendemos o café gourmet, que a pessoa pode fazer em casa e ter um café de qualidade fora das cafeterias. No início, nosso objetivo foi pegar esse café bom, torrar e vender no Mercado. Mas as pessoas que passam por aqui queriam tomar, então contratamos uma barista para montar uma carta de bebidas e começamos a oferecer o café já preparado”, conta Lícia Borela. Além das bebidas, as empresárias oferecem na loja diversos produtos derivados do café, entre eles cosméticos, taças e porcelanas, quadros para decoração, cafeteiras e máquinas para café expresso, geléias, manteiga, doces a base de café, cerveja de café, licor de café e o próprio café gourmet, que é o pó de grãos selecionados. “As pessoas vêm tomar café e levam uma lembrança para amigos e familiares. Os cosméticos chamam muito a atenção dos clientes, que muitas vezes são estrangei- ros que querem levar um pouco do Brasil para casa”, explica Lícia. Para Luciana Ribeiro, o consumo fora de casa e pela internet tem aumentado. “As pessoas mais velhas optam pelo tradicional, mas os mais jovens estão consumindo bastante café e bebidas diferenciadas, geladas, com ingredientes variados como sorvete e frutas da região. Outro setor em que investimos foi o de vendas online. Temos o site (www.graosdocerrado. com.br) em que vendemos nossos produtos, e ainda estamos em sites de vendas coletivas onde fazemos promoções para divulgar”, conta. E o empreendimento das sócias está crescendo. Elas estão investindo em mais uma loja que será localizada no Uberlândia Shopping, o novo shopping da cidade, que será inaugurado no final de março. “A nova loja terá o mesmo formato desta, com ambiente acolhedor e decoração com motivos que lembram o café. Vamos oferecer os mesmos produtos e aumentar nossa cartela de bebidas”, planeja Luciana. A cafeteria Grãos do Cerrado, das sócias Luciana Ribeiro e Lícia Borela (a outra sócia, Andressa Borges, não aparece na foto), oferece todo tipo de produto derivado do café, desde cerveja até cosméticos De cafeteria à franquia Letícia Gomides é a proprietária do Cafeeiro, em Uberlândia, primeira cafeteria da cidade a tornar-se franqueadora. A Cafeeiro, com lojas no Center Shopping e no Hipermercado Extra, foi inaugurada em 2007, após uma oportunidade que a proprietária teve de investir em seu próprio negócio. O empreendimento vem crescendo desde então e Letícia tornou-se ano passado franqueadora. Desde a infância, a empresária tinha habilidades na área de alimentação. Foi com um curso de barista que conheceu as possibilidades que o café oferecia. Ao abrir a primeira loja da Cafeeiro, a 24 | Revista MERCADO | Edição 49 empresária escolheu todo o cardápio da cafeteria, desde os quitutes às bebidas, todos vindos de receitas criadas por ela. “Fiz um curso de barista e criei todas as bebidas que oferecemos. Dos quitutes ensinei todas as receitas que sabia para as minhas colaboradoras. Tudo na cafeteria tem um ‘dedinho’ meu, desde o cardápio ao nome e à decoração”, conta Letícia. O perfil e a padronização dos procedimentos na Cafeeiro fez com que a empresária fosse convidada a participar do projeto Minas Franquia, do Sebrae. “Respondemos a formulários e passamos por capacitação para virar franqueadores. Fizemos um manual de padronização e em agosto do ano passado tive embasamento para franquear uma de minhas lojas”, conta Letícia. Atualmente, a Cafeeiro conta com três lojas no Center Shopping, sendo uma delas franquia e uma loja no Hipermercado Extra. A empresária vai inaugurar em breve uma fábrica para aumentar a capacidade produtiva de abastecimento das lojas. “Pretendo aumentar nossa capacidade produtiva e por conseqüência conquistar novas franquias. Quero fazer com que as pessoas acreditem na minha ideia”, finaliza. B mercado economia O valor médio dos títulos negociados chega a R$ 20 mil no Centro-Oeste, seguido de R$ 13 mil no Sudeste, R$ 10 mil no Norte e no Sul, e O presidente da Anfac, Luiz Lemos Leite, disse que o levantamento feito pela Serasa Experian foi fundamental para o setor de fomento mercantil, no sentido de orientar empresários a dimensionar o risco de suas vendas e a inibir a ocorrência de fraudes R$ 5 mil no Nordeste. A Serasa Experian também mediu o PMA em relação ao porte dos sacados. Dentre as empresas “small” e “corporate”, são 5,7 dias de atraso, em média. Para as “middle”, o índice é de 5,3. Na distribuição de risco, as “small” representam 29% de alto e altíssimo; as “middle”, 11%; e as “corporate”, 7%. Em média, as “corporate” têm títulos de R$ 18 mil. Para as “middle”, esse volume fica entre R$ 10 e 12 mil. Já entre as “small”, o valor concentra-se entre R$ 8 e R$ 10 mil. Factoring movimentou R$ 85 bilhões no Brasil em 2011 Evento da Anfac reuniu autoridades e empresários em Araxá para discutir a situação do factoring no país Estudo mapeia o factoring no Brasil Por Ana Cláudia Bellintane - Fotos: Carla Mesquita E m 30 anos de atividades no Brasil, o setor de factoring, que movimentou R$ 85 bilhões em 2011, ganhou dimensões nacionais. Segundo estudo a ser apresentado no XI Congresso Nacional de Fomento Mercantil, realização da Associação Nacional das Sociedades de Fomento - Factoring (Anfac), na cidade de Araxá (MG), 58% dos sacados estão localizados na Região Sudeste. Entretanto, há volumes consideráveis no Sul e Nordeste, com 16% e 14%, respectivamente. O Centro-Oeste aparece em quarto lugar, com 8%, 26 | Revista MERCADO | Edição 49 seguido pelo Norte, com 5%. O levantamento foi realizado pelo Serasa Experian e será apresentado pelo presidente da unidade de Negócios Credit Services, Laércio de Oliveira Pinto. Segundo o mapeamento, 81% dos sacados estão na categoria “small”; 11%, na “middle”; e 8%, na “corporate”. Dentre os segmentos, o comércio lidera com 67%, seguido da indústria, com 19%, e dos serviços, com 13%. A instituição também identificou onde se concentram os maiores riscos para as operações de factoring no país. “Para o setor de fomento mer- cantil, o levantamento é fundamental para orientar sua clientela a dimensionar o risco de suas vendas e a inibir a ocorrência de fraudes”, afirma o presidente da Anfac, Luiz Lemos Leite. De acordo com os dados reunidos, o Norte e o Nordeste têm Prazo Médio de Atraso (PMA) de 6,8 e 6,7 dias, respectivamente. Em seguida, estão Centro-Oeste e Sul, com 5,7 dias e, por fim, Sudeste, com 5,3 dias. Na Região Norte, os níveis de risco alto e altíssimo atingem 41%. No Nordeste, esse percentual é de 31%; no Sudeste, de 22%; e no Sul, de 20%. De acordo com Luiz Lemos Leite, o volume de negócios de fomento mercantil - factoring - atingiu R$ 85 bilhões em 2011. Os números ainda são preliminares, mas apontam crescimento em relação aos R$ 80 bilhões realizados em 2010. Segundo Leite, os setores que mais contribuíram para esse aumento foram o automotivo, o agropecuário, o sucroalcooleiro, o de TI, o de logística, oil & gas (especialmente na Baixada Santista e Macaé-RJ) e o da indústria de materiais de construção. “As análises econômicas apontam que em 2012 a economia brasileira registrará um crescimento em torno de 3,8%, com os maiores reflexos sendo sentidos a partir do segundo semestre. A queda na taxa de juros, o aumento real do salário mínimo, a ampliação da classe C e a redução da inadimplência são fatores que continuarão impulsionando o crédito”, avalia Leite. Para ele, tal cenário será favorável ao desenvolvimento da atividade de factoring no Brasil, que deverá ultrapassar a casa dos R$ 90 bilhões em negócios este ano. O XI Congresso Nacional de Fomento Mercantil comemora os 30 anos da fundação da Anfac, que marcou a sistematização do segmento no Brasil. Cerca de 300 empresários vão discutir o panorama econômico nacional e do setor, além de temas técnicos, como tecnologia aplicada à gestão de riscos e aspectos jurídicos da atividade. “O factoring teve um papel importante na provisão de recursos para as pequenas e médias empresas no cenário de escassez de crédito como o ocorrido há alguns anos”, destaca Leite. “Com as novas perspectivas da economia, a tendência é de expansão de crédito para este ano”, salienta. Factoring Criado no Brasil no dia 11 de fevereiro de 1982, com a fundação “A queda na taxa de juros, o aumento real do salário mínimo, a ampliação da classe C e a redução da inadimplência são fatores que continuarão impulsionando o crédito” da ANFAC, o Factoring, ou Fomento Mercantil, é uma atividade que consiste na prestação de serviços, os mais variados e abrangentes, de apoio às pequenas e médias empresas, conjugada com a compra de direitos creditórios originados de vendas mercantis realizadas por sua clientela. Dentre suas características essenciais, contempladas pelo projeto de lei, estão a prestação de serviços a pessoas jurídicas, bem como a compra de direitos creditórios resultantes das vendas mercantis realizadas por suas empresas clientes. Uma peculiaridade dessa atividade é a prestação de serviços de orientação aos negócios dos clientes, desde a contribuição à organização ao seu fluxo de caixa e pagamentos até a melhor gestão. ANFAC A Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil - ANFAC Factoring - é a principal entidade representativa do setor do fomento mercantil brasileiro. Foi fundada em 1982, na cidade do Rio de Janeiro, com o compromisso de fortalecer o sistema brasileiro de fomento mercantil e suas relações com a sociedade, como também de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável do país. B Revista MERCADO | Edição 49 | 27 mercado trabalho Flávia Rosa, gestora de pessoas: “Um feedback bem dado, além de aumentar a autoestima e a produtividade, estreita a relação entre as pessoas e alinha os interesses de líderes” car bons relacionamentos. “Todo colaborador espera saber se a empresa está ou não satisfeita com seu trabalho, mas nem sempre isso acontece. Os líderes precisam se interessar mais por seus funcionários, conhecê-los melhor e estreitar Feedback: é preciso usar (e aproveitar) Ferramenta poderosa da comunicação e gestão de pessoas, o feedback precisa ser utilizado com cautela e habilidade no trabalho, não devendo ser usado para punir ou descontar no funcionário uma insatisfação, alertam gestoras de pessoas Por Alitéia Milagre Q uem não gosta de receber elogios e ser reconhecido pelo que faz com empenho? Em casa ou no trabalho, é sempre bom receber retorno ou, no momento certo, ouvir a opinião sobre determinado desempenho, principalmente quando ela é positi- 28 | Revista MERCADO | Edição 49 va. Na área corporativa, o feedback está relacionado ao desempenho e aos resultados atingidos por um profissional. Seu objetivo é mensurar o resultado, seja individual ou de uma equipe, e propor melhorias em prol do desenvolvimento profissional. O problema é que muitos gestores não dão feedbacks e outros não sabem utilizar essa importante ferramenta da comunicação. A especialista em gestão de pessoas da Inthegra Talentos Humanos, Flávia Rosa de Souza, explica que a crítica construtiva faz o ser humano crescer, mas quando ela é feita sem tato pode estimular sentimentos de desmotivação e trin- relacionamentos. O que acontece é que os líderes são promovidos e não são treinados para desempenhar esse novo papel junto à equipe”, diz Flávia. Tanto se fala em qualidade e na visão da gestora é justamente isso que as pessoas esperam. Quando se fala em qualidade, tudo está evolvido, inclusive a maneira como tratamos os nossos colaboradores. A especialista em gestão de pessoas esclarece que não é necessário dar feedback toda semana, no entanto, na hora de fazê-lo, o líder precisa ser sincero. Isso requer olhar nos olhos do funcionário, tirar tempo para ele. “Nada de ficar atendendo ao telefone e fazendo outras atividades nesse momento. Um feedback bem dado, além de aumentar a autoestima e a produtividade, estreita a relação entre as pessoas e alinha os interesses de líderes e liderados, como também faz com que atividades positivas se repitam com mais frequência. Deixar de dar feedback é um ruído desastroso na comunicação”, ressalta a especialista. Flávia também alerta sobre o prazo do feedback. “Se o funcionário fez algo ou teve um bom desempenho num determinado período, não deixe para reconhecer depois de muito tempo. O mesmo se dá se os resultados não forem positivos. O feedback não deve ser usado para punir ou descontar no funcionário uma insatisfação. As críticas são válidas, porém, sempre devem ser feitas em particular”. Feedback a favor da empresa No Complexo Hospitalar Santa Genoveva, os 19 gestores dão feedbacks constantes à sua equipe. Na visão da coordenadora de RH do hospital, Carolina Batista Silva, o feedback gera a satisfação das equipes e deve ser feito durante o ano todo. Para preparar os líderes nesse sentido, no ano passado, todos tiveram a oportunidade de participar do Projeto Lideranças Corporativas, mais conhecido como Coaching um trabalho focado em atividades como liderança e integração, desenvolvimento de comunicação, gestão do tempo, relacionamento interpessoal, equilíbrio, objetivos e metas pessoais e profissionais e administração de conflitos. Segundo Carolina, o Departamento de Recursos Humanos apontou uma evolução excepcional na arte de se relacionar e de dar feedback, gerando maior motivação no trabalho por parte dos colaboradores, que passaram a ganhar líderes, ao invés de chefes; sonhos A coordenadora de RH, Carolina Silva, afirma que o feedback gera satisfação nas pessoas e deve ser usado constantemente que pareciam ser impossíveis de se concretizar se materializaram e as crises passaram a ser administradas com equilíbrio e sem estresse. Além do mais, o hospital conta com líderes maduros, que acreditam num trabalho em conjunto. “Uma vez ao ano cada líder faz a avaliação de desempenho de seus talentos humanos e a partir daí traçam planos de metas para cada um, mas não podemos confundir avaliação de desempenho com feedback. A avaliação é uma ferramenta formal, gera relatório de melhoria de performance. Geralmente, aponta o que o funcionário precisa melhorar. Já o feedback é uma linha de comunicação construtiva e não punitiva, utilizada sempre que o líder sentir necessidade. Não importa o tempo de casa do funcionário. Até os que estão em período de experiência ou vão se desligar da empresa são avaliados pelo gestor e recebem um feedback mais preciso e profissional”, explica Carolina. A Revista MERCADO | Edição 49 | 29 mercado trabalho A gerente de enfermagem Cléria Rodrigues diz que a avaliação (feedback) que passou a fazer dia a dia com cada colaborador da sua equipe serviu de motivação e melhorou o rendimento no trabalho Cléria Rodrigues Ferreira, gerente de enfermagem no mesmo hospital em que Carolina Silva é a gestora de RH, coordena uma equipe de aproximadamente 200 colaboradores, entre técnicos e enfermeiros. Ela conta que adota a transparência e fatos palpáveis para motivar a mudança. “Por exemplo, se um funcionário chega atrasado constantemente, sento com ele para descobrir a causa, se o ônibus mudou o horário de costume ou é algum problema pessoal. Mostro o registro de ponto e tento reajustar esse colaborador. Depois que o feedback, - seja ele positivo ou corretivo - passou a ser dado no mesmo dia, o número de atrasos diminuiu consideravelmente. A ideia é promover reflexão e mudanças”, salienta Cléria. Ela disse que o mais importante ao dar o feedback é garantir o direito humano das pessoas. “Por isso dou o retorno de uma atividade ou atitude positiva ou negativa em particular. Além de saber se estão atendendo as expectativas laborais do hospital, os funcionários exemplares participam de sorteio e recebem cesta básica via cartão”, finaliza Cléria. B Feedbacks mais usados Feedback positivo: reforçar o que a pessoa é e o que a pessoa faz. O comportamento pode e deve ser repetido; quando não reforçamos comportamentos esperados, é possível que eles não se repitam. Feedback corretivo: o comportamento precisa mudar. Para corrigir a “rota”, é necessário: • Falar do comportamento específico, sem fazer referências ao passado; • Fazer perguntas abertas (perguntas nas quais a resposta não é sim ou não) para analisar o ponto de vista de quem está recebendo o feedback; • Manter a calma e não se exceder, evitando rótulos como “incompetente”, etc.; • Saber exatamente o que aconteceu, para não fazer deduções e cair em situações de preconceito, julgamento precipitado ou estereótipos. (Fonte: www.rh.com.br) mercado construção Bolha imobiliária ainda não Especialistas e construtores afirmam que o atual cenário do mercado imobiliário é bem diferente do que ocorreu nos Estados Unidos em meados de 2007 financiamento imobiliário em 2012 para mais de R$ 100 bilhões, afirmando que, com o ganho de renda e o aumento de crédito, as pessoas estão com mais condições de comprar imóveis. Com isso, o setor da construção é estimulado. Com mais detalhes, ao comentar esse assunto, o superintendente comercial da construtora PDCA Engenharia, Paulo Degani, que tem obras em andamento em Uberlândia, afirma que o crescimento da capacidade de consumo e a tomada de Por Michele Borges (Ciclo) A tualmente, a possibilidade da existência de uma bolha no mercado imobiliário brasileiro tem sido notícia em alguns dos principais veículos de comunicação do país. Contudo, alguns especialistas no assunto e representantes da própria construção civil não pensam dessa forma e, segundo afirmam, o Brasil ainda está numa fase em que a demanda, o aumento do crédito e a estabilização da economia têm muito mais a ver com a evolução dos preços no setor. Tais explicações configuram um cenário bem diferente do que aconteceu no mercado imobiliário americano. O executivo da BFRE-Brazilian Finance & Real Estate, Frederico Porto, por exemplo, em análise publicada pelo jornal Valor Econômico, reco- nheceu o inegável aumento nos preços dos imóveis, mas completou: “Aí reside a suspeita da existência de uma bolha. Todavia, em vez de especulativa, tal valorização reflete o crescimento e a estabilização da economia brasileira”. Por sua vez, o economista Carlos Alberto Sardemberg, em entrevista sobre o assunto no Jornal das 10 (Globonews), interpretou a expectativa brasileira de Paulo Degani, da PDCA, diz que as bolhas imobiliárias são típicas em países de economias com juros permanentemente baixos, o que não é o caso do Brasil Desenvolvimento Tem muito imóvel encalhado à espera de comprador, muito por causa da alta nos preços impulsionada pela demanda 32 | Revista MERCADO | Edição 49 crédito de uma parcela considerável da população, que até então estava alheia ao mercado financeiro-imobiliário, é o que acarreta o aumento dos preços dos imóveis. “Além disso, a inflação, embora estável, mas ainda impactante no mercado da construção civil, com aumentos nos custo da matéria-prima e mão de obra, contribui também para o aumento dos preços”, diz. Degani explica que, em geral, as bolhas imobiliárias surgem em economias em que há ambiente permanente de juros baixos. No Brasil, apesar dos cortes na Selic, a taxa de juros real ainda é das mais altas do mundo, e os percentuais praticados pelo mercado são muito superiores aos observados em países que passaram por esse processo de valorização insustentável do preço dos imóveis. “O crédito imobiliário no Brasil é muito baixo: cerca de 5% do PIB (Produto Interno Bruto). Para haver uma bolha, esse número precisa crescer muito ainda. Há países em que o crédito imobiliário representa 60, 70% do PIB, como é o caso da Espanha e dos Estados Unidos”, compara. Veja no quadro seguir algumas diferenças entre o mercado imobiliário norte-americano e o brasileiro: Estados Unidos Brasil Setor Público Setor Privado Loan to Value 100%, chegando até 120% De 70-80%, média de aprox. 60% Comprovação de renda Necessária, mas na prática não era verificada Necessária e verificada Tranches Sênior, Junior e subclasses sintéticas (CRIs Seniores lastreados em CRI’s Seniores) Sênior e Junior Rating Igual para Sênior e Sêniores sintéticos Sênior Demanda do tomador Empresas ligadas ao Setor Público Lastro imobiliário / Alienação fiduciária Garantia Final Empresas ligadas ao Setor Público Lastro imobiliário / Alienação fiduciária B Revista MERCADO | Edição 49 | 33 mercado capa Um fantasma chamado câncer O Dia Nacional do Câncer, em 4 de fevereiro, é uma oportunidade para chamar a atenção para o crescimento vertiginoso da doença, que em 2030 deve se transformar na principal causa de morte no mundo, ultrapassando as doenças cardiovasculares. A doença é um fantasma que atormenta a vida de muita gente e mata cerca de 7,6 milhões de pessoas por ano Da Redação O Câncer de mama é o tipo que mais mata mulheres no Brasil. No mundo todo surgem cerca de 1 milhão de novos casos anualmente 34 | Revista MERCADO | Edição 49 O Dia Mundial do Câncer, instituído em 2005 pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), é celebrado em 4 de fevereiro. A data tem como objetivo chamar a atenção das nações, líderes governamentais, gestores de saúde e do público em geral para o crescimento do câncer, que atingiu proporções catastróficas no mundo, tornando-se uma ameaça às futuras gerações. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 12,7 milhões de pessoas são diagnosticadas todo ano com câncer e 7,6 milhões de pessoas morrem vítimas da doença. A expectativa é que, em 2030, sejam 26 milhões de casos novos e 17 milhões de mortes por ano no mundo, sendo que 2/3 das vítimas ocorrerão em países em desenvolvimento. “O câncer, hoje, é a segunda principal causa de morte em todo o mundo, atrás das doenças cardiovasculares. Com o envelhecimento da população, em 2030 passará a ocupar o primeiro posto”, afirma o oncologista Dr. Ricardo Caponero. No Brasil, a situação não é diferente. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê que pouco mais de 1 milhão de pessoas receberão, nos próximos dois anos, o diagnóstico da doença. Estima-se que os novos casos devam atingir 50,8% dos homens, sendo o câncer de próstata o mais comum entre eles. Nas mulheres, nas regiões Sul e Sudeste, o câncer de mama está em primeiro lugar, enquanto que nas populações mais carentes o de colo de útero lidera o ranking. Mais eficazes e com menos efeitos colaterais - Se os prognósticos são avassaladores, a boa notícia fica por conta do avanço da medicina, que leva à cura ou garante maior qualidade e expectativa de vida do paciente. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) prevê que pouco mais de 1 milhão de pessoas receberão, nos próximos dois anos, o diagnóstico da doença Ao receber o diagnóstico de câncer, os pacientes têm, na maioria das vezes, dois grandes temores. O primeiro é associá-lo a um “atestado de morte”, e o segundo são os efeitos colaterais provocados pela quimioterapia. Ambos os medos precisam ser reavaliados, na opinião do Dr. Enaldo Lima, ex-presidente da SBOC - Sociedade Brasileira de Oncologia. “Nos últimos dez anos, o tratamento de câncer passou a ser domiciliar, muitas das drogas administradas em clínicas e hospitais hoje são orais, em cápsulas, aumentando exponencialmente a comodidade do paciente”, comentou o Dr. Lima. Além disso, segundo ele, os remédios atuais são mais brandos, com toxicidade inferior aos mais antigos. “Com relação à queda de cabelo, enjoos, fraqueza e vômitos, os medicamentos atuais apresentam menores efeitos colaterais e ao mesmo tempo contam com eficácia bem superior”. presente dentro de pequenas partículas - os lipossomos - que, por sua vez, liberam a medicação no local do tumor. “Isso confere maior segurança ao paciente, uma vez que a molécula não circula no organismo, diminuindo os efeitos colaterais como queda de cabelos e alterações da medula óssea”, acrescenta Dr. Caponero. “A DLP apresenta boas taxas de resposta, mas sem dúvida, em termos de benefícios, o mais interessante é a menor toxidade, principalmente cardíaca”, reforça o oncologista Dr. Anderson Silvestrini, atual presidente da SBOC. Mesmo aqueles tratamentos que não são realizados em casa contam com enormes vantagens. É o caso das drogas para o câncer de próstata que, a exemplo do primeiro, também conta com importantes recursos. Um deles é o acetato de leuprorrelina. Administrado por via subcutânea, Os casos do ex-presidente Lula (câncer na laringe) e do ator Reynaldo Gianecchini (câncer linfático) chamaram a atenção ainda mais para a incidência da doença no Brasil Um dos aliados no tratamento do câncer na mulher é a substância doxorrubicina lipossomal peguilada (DLP) para tumores de mama e de ovário, caracterizada por sua eficácia na redução de efeitos colaterais como náuseas, vômitos, fraqueza e queda de cabelo. O fármaco está com agulha mais curta e aplicado apenas trimestralmente, diferencia-se por ser menos dolorido e necessitar de menor volume injetável, além disso, contribui para aumentar a qualidade de vida do paciente. Isso sem falar nos medicamentos prestes a receber o registro, A Revista MERCADO | Edição 49 | 35 mercado capa O ex-vice-presidente José Alencar, vítima de câncer no estômago, faleceu aos 79 anos, no dia 29 de março de 2011, após travar uma longa batalha contra a doença. Foram mais de 15 cirurgias em 13 anos. Na foto, ele aparece com a presidente Dilma Rousseff, poucos dias antes de sua morte “Temos, cada vez mais, recursos para os pacientes recidivados e refratários com tratamentos de segunda linha. Além disso, haveria indicações de lenalidomida para a primeira linha e expectativa de que seja usada como tratamento de manutenção. Agora, essa droga, que beneficia milhares de pacientes no mundo inteiro, precisa ser urgentemente aprovada no Brasil”, reivindica a Dra. Vania Hungria, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Em qualquer que seja o tipo de câncer, é consensual que o diagnóstico não precisa ser associado à fatalidade. “Com as novas descobertas, tratamentos individualizados de acordo com a linha histológica e drogas cada vez mais avançadas e alvo-específicas, as taxas de remissão ou cura são hoje uma realidade incontestável, ao mesmo tempo em que a qualidade de vida do paciente é cada vez maior”, comenta Dr. Silvestrini. Já se sabe, inclusive, que cerca de 30% a 40% dos cânceres podem ser evitados com bons hábitos. Seguem abaixo algumas dicas. COMO PREVENIR O CÂNCER Não fume - o cigarro é responsável por 30 % das mortes por câncer; Matenha uma dieta equilibrada, rica em frutas e verduras; por outro lado, reduza a proteína animal do cardápio; Procure ficar no seu peso ideal, evitando sobrepeso ou obesidade; Quadros infecciosos, causados por vírus ou bactérias, estão relacionados com 17% de todos os cânceres; É fundamental adotar um comportamento de sexo seguro; é importante, ainda, vacinar as adolescentes contra o HPV, antes do início da vida sexual. 36 | Revista MERCADO | Edição 49 Mulheres De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. Porém, se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom. No Brasil, as taxas de mortalidade Câncer de mama/ Brasil Estimativa de novos casos: 52.680 (2012) Número de mortes: 12.098, sendo 11.969 de mulheres e 129 de homens (2008) por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima dessa faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes. Foto: Reprodução Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), já é usada em mais de 70 países e aprovada desde 2006 pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos. Foto: Roberto Stuckert / PR como é o caso da lenalidomida, que mudou no mundo a realidade do mieloma múltiplo (tipo de câncer da medula óssea). A droga, que há mais de dois anos aguarda liberação na O câncer de mama, o mais comum entre as mulheres, se diagnosticado e tratado oportunamente, apresenta um prognóstico relativamente bom Homens A próstata é uma glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen. Ela é um órgão muito pequeno, tem a forma de uma maçã e se situa logo abaixo da bexiga e à frente do reto. A próstata envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. A próstata produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozóides, liberado durante o ato sexual. Câncer de próstata/ Brasil Estimativa de novos casos: 60.180 (2012) Número de mortes: 12.274 (2009) No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os ho- mens (atrás apenas do câncer de pele não melanoma). Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% Uretra do total de cânceres. Sua taxa de incidência é cerca de seis Pênis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas Bexiga Reto Ânus Testícul Próstata Escroto de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A grande maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem. A Revista MERCADO | Edição 49 | 37 mercado capa Câncer de pele Não melanoma - É o câncer mais frequente no Brasil e corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado precocemente. Entre os tumores de pele, o tipo não melanoma é o de maior incidência e mais baixa mortalidade. O câncer de pele é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, sendo relativamente raro em crianças e negros, com exceção daqueles já portadores de doenças cutâneas anteriores. Pessoas de pele clara, sensível à ação dos raios solares ou com doenças cutâneas prévias são as principais vítimas. Como a pele - maior órgão do corpo humano - é heterogênea, o câncer de pele não melanoma pode Câncer de pele não melanoma/Brasil Estimativa de novos casos: 134.170, sendo 62.680 de homens e 71.490 de mulheres (2012) Número de mortes: nada consta apresentar tumores de diferentes linhagens. Os mais frequentes são o carcinoma basocelular, responsável por 70% dos diagnósticos, e o carcinoma epidermóide, que representa 25% dos casos. O carcinoma basocelular, apesar de mais incidente, é também o menos agressivo. O câncer de pele, o não melanoma, é o mais frequente e corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil Figura 1 Melanoma - O melanoma cutâneo é um tipo de câncer de pele que tem origem nos melanócitos (células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele) e predominância em adultos brancos. Embora o câncer de pele seja o mais frequente no Brasil e corresponda a 25% de todos os tumores malignos registrados no país, o melanoma representa apenas 4% das neoplasias malignas do órgão, apesar de ser o mais grave devido à sua alta possibilidade de metástase. O prognóstico desse tipo de câncer pode ser considerado bom, se detectado nos estágios iniciais. Nos últimos anos, houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do tumor. Câncer de pele melanoma/Brasil Estimativa de novos casos: 6.230, sendo 3.170 de homens e 3.060 de mulheres (2012) Número de mortes: 1.392, sendo 827 de homens e 565 de mulheres (2009) Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidência por 100 mil habitantes e de número de casos novos por câncer, segundo sexo e localização primária* Estimativa dos Casos Novos Localização Primária Neoplasia Maligna Próstata Mama Feminina Colo do Útero Traqueia, Brônquio e Pulmão Cólon e Reto Estômago Cavidade Oral Laringe Bexiga Esôfago Ovário Linfoma não Hodgkin Glândula Tireoide Sistema Nervoso Central Leucemias Corpo do Útero Pele Melanoma Outras Localizações Subtotal Pele não Melanoma Todas as Neoplasias Homens Estados Taxa Casos Bruta 60.180 62,54 17.210 17,90 14.180 14,75 12.670 13,20 9.990 10,41 6.110 6,31 6.210 6,49 7.770 8,10 5.190 5,40 4.820 5,02 4.570 4,76 3.170 3,29 43.120 44,80 195.190 202,85 62.680 65,17 257.870 267,99 Mulheres Capitais Taxa Casos Bruta 15.660 75,26 4.520 21,85 4.860 23,24 3.200 15,34 2.760 13,34 1.540 7.56 1.900 9,28 1.500 7,26 1.560 7,66 1.190 5,82 1.180 5,81 810 4,05 11.100 53,33 51.780 248,60 14.620 70,39 66.400 318,79 Estados Taxa Casos Bruta 52.680 52,50 17.540 17,49 10.110 10,08 15.960 15,94 7.420 7,42 4.180 4,18 2.690 2,71 2.650 2,67 6.190 6,17 4.450 4,44 10.590 10,59 4.450 4,46 3.940 3,94 4.520 4,53 3.060 3,09 38.720 38,61 189.150 188,58 71.490 71,30 260.640 259,86 Capitais Taxa Casos Bruta 18.160 78,02 5.050 21,72 3.060 13,31 5.850 25,27 2.170 9,47 1.130 4,92 880 3,72 520 2,27 2.220 9,53 1.560 6,85 3.490 14,97 1.200 5,23 1.180 5,02 1.700 7,39 790 3,46 10.320 44,50 59.280 254,86 15.900 68,36 75.180 323,22 *Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10 Presente e futuro no Brasil não são nada animadores No Brasil, as estimativas para o ano de 2012 serão válidas também para o ano de 2013 e apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma, reforçando a magnitude do problema do câncer no país. Sem os casos de câncer da pele não melanoma, estima-se um total de 385 mil casos novos. Os tipos mais incidentes serão os cânceres de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon e reto e estômago para o sexo masculino; e os cânceres de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto e glândula tireóide para o sexo feminino. São esperados um total de 257.870 casos novos para o sexo masculino e 260.640 para o sexo femini38 | Revista MERCADO | Edição 49 no. Confirma-se a estimativa de que o câncer de pele do tipo não melanoma (134 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (60 mil), mama feminina (53 mil), cólon e reto (30 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (18 mil). Os 5 tumores mais incidentes para o sexo masculino serão o câncer de pele não melanoma (63 mil casos novos), próstata (60 mil), pulmão (17 mil), cólon e reto (14 mil) e estômago (13 mil). Para o sexo feminino, destacam-se, entre os 5 mais incidentes, os tumores de pele não melanoma (71 mil casos novos), mama (53 mil), colo do útero (18 mil), cólon e reto (16 mil) e pulmão (10 mil) - (ver Figuras 1 e 2, no final da reportagem). Diante do quadro que se apresenta, de acordo com o Inca, para o enfrentamento do câncer, são necessárias ações que incluam: educação em saúde em todos os níveis da sociedade; promoção e prevenção orientadas a indivíduos e grupos (não esquecendo da ênfase em ambientes de trabalho e nas escolas); geração de opinião pública; apoio e estímulo à formulação de leis que permitam monitorar a ocorrência de casos. E, finalmente, para que essas ações sejam bem-sucedidas, será necessário ter como base as propostas em informações oportunas e de qualidade (consolidadas, atualizadas e representativas) e análises epidemiológicas a partir dos sistemas de informação e vigilância disponíveis. Figura 2 Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2012 por sexo, exceto pele não melanoma* Homens Localização primária casos novos Próstata 60.180 Traqueia, Brônquio e Pulmão 17.210 Cólon e Reto 14.180 Estômago 12.670 Cavidade Oral 9.990 Esôfago 7.770 Bexiga 6.210 Laringe 6.110 Linfoma não Hodgkin 5.190 Sistema Nervoso Central 4.820 % 30,8 8,8 7,3 6,5 5,1 4,0 3,2 3,1 2,7 2,5 Mulheres Localização primária casos novos % Mama Feminina 52.680 27,9 Colo do Útero 17.540 9,3 Cólon e Reto 15.960 8,4 Glândula Tireoide 10.590 5,6 Traqueia, Brônquio e Pulmão 10.110 5,3 Estômago 7.420 3,9 Ovário 6.190 3,3 Corpo do Útero 4.520 2,4 Linfoma não Hodgkin 4.450 2,4 Sistema Nervoso Central 4.450 2,4 B *Números arredondados para 10 ou múltiplos de 10 Revista MERCADO | Edição 49 | 39 mercado saúde serviços de saúde, permitindo o aprimoramento contínuo da atenção, de forma a melhorar a qualidade da assistência em todas as organizações prestadoras de serviços de saúde do país. Com a criação da ONA (www. ona.org.br), teve início a implantação das normas técnicas do Sistema Brasileiro de Acreditação. Não existe estatística nacional que compare os números referentes à qualidade dos serviços de saúde, mas a estimativa é de que são feitas 4 milhões de internações anualmente nos hospitais privados e 11 milhões no SUS. Desses pacientes, 48% sofrem de complicações que poderiam ser evitadas se fossem observados os protocolos de segurança do paciente, um dos princípios orientadores dos manuais de acreditação. Em um dos hospitais privados acreditados pela ONA - Organização Nacional de Acreditação, por exemplo, o índice de infecção hospitalar em uma das UTIs passou de 7% para menos de 1% em menos de dois anos. Na mesma instituição, a pneumonia associa- O que é Acreditação? Define-se acreditação como um sistema de avaliação e certificação da qualidade de serviços de saúde, voluntário, periódico e reservado. Nas experiências brasileira e internacional, é uma ação coordenada por uma organização ou agência não governamental encarregada do desenvolvimento e da implantação da sua metodologia. Em seus princípios, tem um caráter eminentemente educativo, voltado para a melhoria contínua, sem finalidade de fiscalização ou controle oficial, não devendo ser confundida com os procedimentos de licenciamento e ações típicas de Estado. Principais vantagens da Acreditação • • • • • • Segurança para os pacientes e profissionais Qualidade da assistência Construção de equipe e melhoria contínua Útil instrumento de gerenciamento Critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira Caminho para a melhoria contínua Principais interessados no Processo de Acreditação Saúde com garantia Acreditação - um processo que visa à segurança do paciente e à redução de erros médicos • • • • • • Líderes e administradores Profissionais de saúde Organizações de saúde Sistemas compradores Governo Cidadão da à ventilação mecânica caiu de 9% para 2% no mesmo período. Poucas pessoas sabem o significado da acreditação (veja detalhes no box a seguir), mas as próprias instituições de saúde começam a perceber que além de oferecer um serviço diferenciado, com maior qualidade e segurança para seus usuários, também são beneficiadas com a melhora da reputação no mercado e com a redução de despesas decorrentes de práticas erradas. A redução de problemas causados por erros médicos é um dos principais resultados da acreditação - um mecanismo que estimula o aprimoramento constante dos processos, com o objetivo de garantir a qualidade na assistência à saúde, pois os manuais do Sistema Brasileiro de Acreditação focam principalmente na segurança do paciente. Dessa forma, o processo de acreditação de um serviço de saúde promove um controle maior dos riscos clínicos e não clínicos e uma maior qualidade dos serviços prestados. O selo é uma indicação de que a instituição segue uma padronização e se preocupa com a qualidade em tudo o que faz para evitar a ocorrência de danos à saúde. Sua obtenção é uma consequência da conformidade com os padrões definidos pela metodologia da acreditação. Além disso, a renovação periódica da acreditação, geralmente em torno de dois anos, é uma garantia de que existe um controle de qualidade sobre os serviços certificados, que devem estar sempre se aprimorando para alcançar níveis cada vez mais avançados de certificação. A opção pela acreditação não é obrigatória Da Redação N o Brasil, o usuário ainda faz a escolha do hospital, clínica ou laboratório em função da cobertura do seu plano de saúde. Outros critérios comuns são a facilidade de acesso ou 40 | Revista MERCADO | Edição 49 a indicação de um amigo ou familiar. Mas esses não são critérios ideais, pois não se baseiam na qualidade ou segurança dos serviços prestados. Foi justamente para facilitar a vida das pessoas que buscam serviços de saúde na sua excelência que, entre abril e maio de 1999, foi constituída a Organização Nacional de Acreditação (ONA), uma organização não governamental que tem por objetivo geral promover a implantação de um processo permanente de avaliação e certificação da qualidade dos Embora a acreditação seja uma opção voluntária dos serviços de saúde, temos o exemplo da iniciativa do Ministério da Educação, com a criação do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários, que estabeleceu a acredi- tação como meta para as instituições dessa natureza a partir de 2010. A preocupação se justifica: um estudo realizado há cerca de 10 anos chegou à conclusão de que ocorre uma morte a cada 200 internações, e isso acontece principalmente por falha humana ou infecção hospitalar. Segundo a doutora Maria Carolina Moreno, assessora de Relações Interinstitucionais da ONA, os erros médicos ocorrem por diversos motivos: excesso de carga de trabalho, falta de capacitação de cola-A Revista MERCADO | Edição 49 | 41 mercado saúde boradores, quadro de funcionários não compatível com a demanda do serviço, sistematização de processo que não pressupõe ações de segurança na assistência, ausência de organização e formalização dos processos de trabalho. As principais ocorrências apon- tadas em trabalhos nacionais e internacionais são relacionadas à cirurgia em parte errada do corpo, erros de medicação, erro nos resultados de exames, falhas de equipamento ou engano do tipo de sangue durante a transfusão. Para evitar que aconteçam, Maria Caro- Os níveis da certificação ONA Ao citar os procedimentos, as recomendações e exigências estabelecidas em cada nível da certificação, Maria Carolina esclarece que o Nível 1 consiste na existência de processos que procurem garantir a segurança do paciente. O Nível 2 - gestão integrada, envolve o acompanhamento das barreiras de segurança definidas, dos principais processos desenhados e dos protocolos implantados. “Deve existir uma análise crítica dos controles de processo e análise de resultados, assim como de processos e de protocolos assistenciais, com o es42 | Revista MERCADO | Edição 49 tabelecimento de planos de ação e melhorias. Nesse nível, a interação entre os setores deve ser evidenciada”, detalha a assessora de Relações Interinstitucionais da ONA. O terceiro estágio obtido na acreditação é o Nível 3 - excelência em gestão. “Isso ocorre quando a instituição já incorporou o acompanhamento e a análise crítica de processos e resultados assistenciais e os ciclos de melhoria acontecem de forma sistemática. As informações são utilizadas para as tomadas de decisão e as diversas áreas trabalham alinhadas ao planejamento estratégico lina avalia que a instituição precisa estabelecer processos de trabalho que funcionem como verdadeiras barreiras a essas ocorrências. “Sabe-se que o ser humano comete erros, cabe ao processo estabelecer formas de reconhecê-los antes que seja causado dano ao paciente”, informa Maria Carolina. Entre esses procedimentos, ela cita alguns exemplos: definir sistema de checagem do local ou membro a ser submetido a procedimento cirúrgico por mais de um colaborador em diferentes momentos que antecedam a cirurgia, perguntar o nome ao paciente antes da infusão de medicamentos, realizar a verificação de ausência de alergias por mais de um profissional, definir pela manutenção preventiva periódica de todos os equipamentos do serviço de saúde e realizar testes de qualificação sistemáticos dos equipamentos laboratoriais. A assessora da ONA explica que a acreditação tem uma série de padrões de qualidade exigidos, o que permite a organização do serviço, a definição, a otimização e o controle dos processos internos, além de incentivar boas práticas e promover a definição de protocolos assistenciais, ratificando um modelo de gestão e permitindo a melhoria evidente dos resultados. da instituição,” resume. Os padrões estabelecidos para os três níveis são de complexidade crescente e correlacionados, de modo que, para se alcançar um nível de qualidade superior, os níveis anteriores devem ser totalmente atendidos. Na busca da segurança do paciente, a iniciativa da ONA é muito importante, conforme avalia Maria Carolina. Primeiro porque conside- ra o perfil nacional das instituições e suas especificidades regionais e de financiamento, sem comprometer a qualidade e validade da metodologia. “Por se propor a ser um processo educativo, o Sistema Brasileiro de Acreditação possui níveis a serem alcançados ao longo do processo de acreditação, sendo este um fator de estímulo para a organização da saúde na busca pela melhoria contínua. Outro fato relevante é a metodologia não ser prescritiva, ou seja, ela não define método. Cada instituição deve encontrar a melhor forma de cumprir os padrões exigidos.” Atualmente, no Brasil, existem 283 instituições de saúde certificadas pela ONA. Desse total, 54 são mineiras e, destas, 6 são de Uberlândia (veja quadro a seguir). INSTITUIÇÕES ACREDITADAS PELA ONA EM UBERLÂNDIA Nome Nível Certificação Validade CENTRO TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE UBERLÂNDIA S/S LTDA (*) 2 Acreditado Pleno 08/11/2012 CHECK UP LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS LTDA 3 Acreditado com Excelência 12/04/2013 HOSPITAL ORTHOMED CENTER 1 Acreditado 09/02/2013 HOSPITAL SANTA CLARA 2 Acreditado Pleno 13/12/2013 MISSÃO SAL DA TERRA - UAI SÃO JORGE 1 Acreditado 29/07/2012 UNIDADE RADIOLÓGICA DE UBERLÂNDIA S/S LTDA (*) 2 Acreditado Pleno 08/11/2012 (*) Unidades de saúde integrantes do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) B Revista MERCADO | Edição 49 | 43 mercado ciência ‘Laboratório vivo’, oásis mexicano corre o risco de desaparecer Da Redação (*) - Fotos: Divulgação U m raro ecossistema de zonas úmidas no deserto de Chihuahuan, no norte do México, e que pode conter informações chave sobre as origens da vida na Terra - até mesmo sobre a possibilidade de vida em Marte -, corre sério perigo de desaparecer caso sua água continue a ser extraída para o agronegócio. Com 200 km de extensão, o Vale de Cuatrociénegas - “vale dos quatro pântanos” -, localizado a 1 mil km ao norte da Cidade do México, é um complexo sistema de zonas úmidas ancestrais, com nascentes ricas em minerais, córregos, lagos, pântanos e piscinas de água azul turquesa, conhecidas como “pozas”. É alimentado por canais subterrâneos naturais e cercado por uma cadeia de montanhas com picos que ultrapassam 3 mil metros de altura. “Essa é a nossa única janela para entender o passado do planeta, porque a vida emergiu aqui, e nós não estamos cuidando dela como deveríamos”, disse à IPS Valeria Souza, uma pesquisadora do instituto de ecologia da Universidade Nacional 44 | Revista MERCADO | Edição 49 A cientista Valeria Souza, pesquisadora da UNAM Autônoma do México (UNAM). “Em vez de tentar entender como o ecossistema funciona, as autoridades têm se dedicado a explorá-lo e a extrair o máximo que podem, em troca de nada”, queixou-se ela. Souza, que recebeu inúmeros prêmios ambientais, estuda a área desde 2000, ao lado de outros cientistas do México e do exterior. A extraordinária biodiversidade e o número de espécies endêmicas em Cuatrociénegas tornam o seu ecossistema tão singular quanto o das Ilhas Galápagos, no Equador. A bacia, declarada área natural protegida em 1994, abrange 84,350 hectares, e é lar para mais de 70 espécies endêmicas - o que significa que elas não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta - incluindo a única tartaruga-de-caixa aquática no mundo e várias espécies de peixes tropicais. “Muita água é removida e transportada para outros vales para o cultivo de alfafa, o que requer uma grande quantidade de água”, afirmou Francisco Valdés, ambientalista e professor do Instituto Tecnológico de La Laguna, na cidade de Torreón, próximo à reserva natural. “Desde 2000, nós temos tido vários anos chuvosos e os aquíferos foram reabastecidos, e a água estava correndo nos canais subterrâneos. Mas este ano tem sido muito seco”, contou. Algumas espécies endêmicas, incluindo a tartaruga-de-caixa, só podem ser encontradas em Cuatrociénegas e em mais nenhum outro lugar do planeta A Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade diz que o vale está sob ameaça devido à crescente extração da superfície e da água subterrânea para irrigação, à transformação de habitats, à dispersão de espécies exóticas, ao pastoreio, ao corte de árvores para lenha, à coleta ilegal de cactos, à caça de répteis, à exploração de pedra de gesso e ao turismo irregular. Especialistas acusam também a indústria local de laticínios e os produtores de alfafa - usada como alimento de animais - de esgotar os recursos hídricos de Cuatrociénegas. Cerca de 500 mil cabeças de gado na área produzem sete milhões de litros de leite por dia para o mercado doméstico e para exportação. No México, são necessários aproximadamente 2.500 litros de água para produzir um litro de leite, de acordo com a “Trilha da Água das Nações”, um relatório da UNESCO-IHE Instituto de Educação sobre a Água. Autoridade nos recursos hídricos mexicanos, Conagua diz que existem nove aquíferos na região, todos superexplorados, que fornecem 1.23 bilhões de metros cúbicos de água por ano, enquanto eles são reabastecidos somente com 868 milhões de metros cúbicos por ano. Cuatrociénegas é uma das 55 zonas úmidas prioritárias no México sob a Convenção de Ramsar, acordo intergovernamental de conservação e uso racional dessas áreas e de seus recursos, vigente desde 1975. O esgotamento da “poza” de Churince, o mais antigo lago do ecossistema, é um mau presságio para a reserva, alerta Evan Carson, um biólogo da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos. Após suas duas últimas visitas, em março e maio, Carson, que estuda o ecossistema desde 1998, reportou em uma pesquisa (“Churince System Status aquatic fauna” (“O estado do sistema de Churince, fauna aquática”) que “neste momento, o sistema de Churince é essencialmente um sistema morto, ao menos em relação à sua condição anterior”. Ao menos três espécies de peixe e duas espécies de moluscos, todas endêmicas para o ecossistema, podem ter sido “extirpadas deste sistema”, e “espécies ambientalmente mais resistentes também tiveram o tamanho da população reduzida e foram deslocadas na distribuição geográfica do sistema”, escreveu Carson. Ele concluiu sua tese alertando que “deter a extração de água (do ecossistema) pode já ser muito pouco, muito tarde”. A Em Cuatrociénegas, a diversidade de micróbios é extraordinária, é a mais antiga e conhecida do planeta Revista MERCADO | Edição 49 | 45 mercado ciência ‘Ecocídio’ Embora o presidente Felipe Calderón tenha prometido desde 2007 investir aproximadamente 75 milhões de dólares para preservar a reserva natural, apenas cerca de oito milhões de dólares foram desembolsados. Em setembro, Conagua assinou um acordo com a Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas para canalizar 100 litros de água por segundo em Churince, uma quantidade que deveria subir para 300 litros em dezembro. Mas o acordo foi repentinamente cancelado, presumivelmente devido a pressões de grandes produtores agrícolas. Pesquisadores, cujos alertas no decorrer dos últimos anos recaem sobre ouvidos surdos, recomendam a imediata proibição da extração de água e a implementação de projetos alternativos de agricultura para otimizar o uso da água. “O problema é que as autoridades pensam na água não como algo essencial à vida, mas como algo que pode ser comprado e vendido. Isso tem levado ao ‘ecocídio’. É impossível reverter o dano, porque as antigas reservas se foram. A água do subterrâneo profundo está se esgotando e, sem isso, Cuatrocié- Cientistas da Universidade de Montana (EUA) coletam amostras de uma salina no Vale de Cuatrociénegas negas não é nada”, disse Souza. Prevendo que a área não vai sobreviver mais do que dois verões nas condições atuais, o pesquisador lançou um abaixo-assinado online para impelir o governo a resgatar o ecossistema ameaçado. Até agora ela coletou pouco mais de três mil assinaturas. Em setembro de 2010, Souza deu início a um inventário da biodiversidade em um projeto patrocinado pelo escritório mexicano do World Wildlife Fund (WWF) e pela Carlos Slim Foundation para “entender quem vive onde, desde o mais ínfimo vírus até os coiotes, e quem alimenta quem”, explicou Souza. “Existem interesses econômicos muito poderosos envolvidos aqui”, disse o Professor Valdés. “Mas alfafa não deve mais ser cultivada em Cuatrociénegas, porque a comunidade local não colhe benefícios econômicos a partir dela, e se faz necessário um esforço de reconversão produtiva.” NASA A NASA (sigla em inglês para National Aeronautics and Space Administration) está estudando microorganismos em Cuatrociénegas que são similares aos que habitaram o planeta centenas de milhões de anos atrás, para ajudar a entender as origens da vida na Terra. Ela também considera esta zona úmida útil para descobrir vida em Marte, considerando que as condições são aparentemente similares às condições naquele planeta. A última sonda da NASA em Marte, “Curiosity”, foi lançada em novembro com um laboratório de ciência, para explorar uma cratera naquele planeta que Souza - convidado para o lançamento - descreve como “semelhante à Churince”. B 46 | Revista MERCADO | Edição 49 mercado Foto: Arquivo especial calçados Por isso, com os números tendo praticamente dobrado de um evento para outro, em apenas duas edições realizadas, o presidente do Sindicalçados já até definiu a data da próxima feira: de 9 a 11 de julho. Ele A Feira & Negócios Moda Calçados: vista parcial dos 105 estandes instalados, onde foram vendidos cerca de 250 mil pares de calçados das 135 marcas presentes à feira Foto: Arquivo Por Edmundo Heráclito 48 | Revista MERCADO | Edição 49 do em todos os sentidos o anterior. O público visitante ultrapassou a 5.500 pessoas, foram vendidos cerca de 250 mil pares de calçados das 135 marcas presentes na feira, distribuídas nos 105 estandes instalados. Na sua primeira edição, em julho de 2011, a Feira & Negócios Moda Calçados contou com presença de 1.300 pessoas no salão de eventos Apoteose, onde foi realizada. No local, foram instalados 53 estandes e 89 marcas nacionais e regionais estiveram presentes. Como resultado, em volume de negócios, foram comercializados cerca de 147 mil pares de sapatos. De acordo com o presidente do Sindicalçados, Cesar Cunha Campos, a mudança do local para realização dessa segunda edição da feira, da Apoteose para o Center Convention, assim como ampliar o número de estandes, de 53 para 105, foi acertada e ousada. “Acreditamos na presença de um maior público e no aumento das vendas, pois reconhecemos o potencial de nossas empresas em oferecer qualidade e ampliar mercado,” ressalta Cesar Cunha. Calçadistas de todo o Brasil acreditam que o ano de 2012 será um período de recuperação para o setor. Essa é a percepção do presidente da Associação Brasileira de Indústria de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso. “Acredito que haverá a retomada por conta do Plano Brasil Maior, da recuperação da defasagem cambial e do início dos procedimentos de defesa comercial e de ação fiscal que visa a combater a entrada de calçados ilegais no Brasil”, disse Cardoso durante a Couromoda, realizada este mês em São Paulo. O executivo ressaltou que o ano passado foi ruim para o setor calçadista, principalmente no que diz respeito às exportações. “Amplia- O presidente da Abicalçados, Milton Cardoso, acredita que 2012 seja um ano de recuperação para o setor calçadista mos destinos, investimos em novas tendências e em qualidade. Ainda assim nossas exportações caíram 13% em valor e 21% em volume de pares”, informou Milton Cardoso. O presidente da Abicalçados destacou o crescimento na demanda interna, mas disse boa parte desse aumento foi absorvida pelo calçado Foto: Divulgação A explica que os lançamentos de novos produtos em calçados seguem o cronograma de duas coleções, outono-inverno e primavera-verão. “Nessa fase que estamos, de outono-inverno, temos um período de vendas menor, que é em torno de mais de 3 meses. Já a primavera-verão tem mais de 8 meses de comercialização. Mesmo assim decidimos investir em uma feira maior”, conta Cesar Cunha. Ele destaca ainda que, tradicionalmente, o setor calçadista Empresários acreditam na recuperação em 2012 Feira amplia espaço para alavancar setor calçadista s indústrias de calçados que atuam no mercado de Uberlândia e região contam, desde o ano passado, com uma nova ferramenta de apoio aos negócios. Trata-se da Feira & Negócios Moda Calçados, uma iniciativa do Sindicato das Indústrias de Calçados de Uberlândia (Sindicalçados). O evento deste ano, que esteve em sua segunda edição, realizado entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro, no Center Convention, foi considerado um sucesso pelos organizadores, superan- tinha os representantes comerciais como o maior canal de vendas, mas na atualidade as feiras nacionais começaram a ter uma participação maior nesse mercado, como também as lojas virtuais. “Os meios de vendas estão mudando e precisamos acompanhar”, analisa. O Sindicalçados tem atualmente 57 empresas associadas e, por enquanto, nenhuma delas está exportando produtos. Como o calçado brasileiro já é conhecido e vendido lá fora há alguns anos, Cesar Cunha acredita que algumas indústrias de Uberlândia reúnem condições de voltar a exportar e isso pode ocorrer a médio prazo. “Há quatro anos não exportamos, mas precisamos voltar a atuar nesse mercado. Produtos e qualidade para isso nós temos. O que precisamos é preparar as indústrias para esse desafio”, diz. O presidente do Sindicalçados, Cesar Cunha Campos, diz que a mudança do local de realização da feira se deveu à certeza de sucesso do evento, como consequência do aquecimento de mercado importado. As vendas no varejo de calçados e artigos de couro cresceram 7% em valor e 5% em volume, segundo dados da Ablac, Associação dos Lojistas de Calçados. “O calçado importado se apropriou desse crescimento do consumo”, disse Cardoso. O executivo ressalta que a consequência da entrada de calçados importados foi a queda de 11,7% até novembro na produção nacional, quando comparada ao mesmo período de 2010, segundo dados do IBGE. Incentivos - Durante a Couromoda, em São Paulo, de 16 a 19 de janeiro, o Governo Federal sinalizou com novos incentivos à indústria de calçados no país como forma de minimizar os efeitos da entrada de produtos importados do Oriente nos últimos anos. O objetivo é manter o desempenho alcançado no ano passado, de acordo com Alessandro Teixeira, ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). “Nós teremos medidas que vão auxiliar na A Revista MERCADO | Edição 49 | 49 mercado especial calçados 39ª Couromoda: exemplo gaúcho pode servir a outros estados Com informações da Agência RS 50 | Revista MERCADO | Edição 49 Minas já recuperou o seu espaço na moda e nos calçados Por Edmundo Heráclito Ministro interino Alessandro Teixeira: “Teremos medidas que vão auxiliar a defesa da indústria, medidas que vão fortalecer a produção local e também em relação ao crédito” Ao se juntarem num mesmo estande durante a 39ª Couromoda, em São Paulo, indústrias de calçados do Rio Grande do Sul, por exemplo, conseguiram um incremento de 12,5% no número de pares de calçados e artefatos comercializados. Com a venda, o faturamento chegou a R$ 15,6 milhões, de acordo com avaliação do secretário estadual de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, Mauro Knijnik. Dentre outros números da feira, Mauro Knijnik destaca os 1.727 negócios fechados e os 8.507 contatos com compradores de todo o Brasil e de países como a África do Sul, Canadá, Cuba, Estados Unidos, Inglaterra, México e Nicarágua, além de mercados da América do Sul, como Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela. Knijnik salientou a importância da parceria com as prefeituras municipais de Campo Bom, São Leopoldo e Sapiranga, e instituições como a Associação das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins (ABRAMEQ), Sebrae e Associações Comerciais e Industriais de Campo Bom, Estância Velha e Novo Hamburgo para a viabilização do projeto Couromoda. “Integrando forças, conse- entrevista Foto: Arquivo Foto: Reprodução defesa da indústria, medidas que vão fortalecer a produção local e também em relação ao crédito, que é muito importante para a indústria, especialmente em um ano em que a liquidez internacional está cada vez mais reduzida”, disse ele. Na 39ª Couromoda, indústrias gaúchas de calçados conseguiram um incremento de 12,5% no número de pares de calçados e artefatos comercializados guimos financiar dois estandes independentes, um deles para calçados e acessórios, com 51 empresas (micro e pequenas), e outro para máquinas e equipamentos, com dez empreendimentos”, enalteceu. O secretário afirmou que o bom volume de negócios registrado na exposição sinaliza a força das empresas gaúchas no mercado e a expectativa de um ano diferenciado para o setor. “Em março, estaremos entregando a política industrial e de inovação do Estado, voltada para os 22 setores estratégicos. Queremos fortalecer toda a cadeia produtiva do setor coureiro-calçadista para garantir uma maior competitividade”, informou. Mauro Knijnik acrescentou, ainda, o fato de que 43% das empresas que foram apoiadas pelo Estado “debutaram” na Couromoda. “Além do incremento direto nos negócios, é uma oportunidade singular para conhecer tecnologias de ponta e inserir a empresa em novos mercados”, concluiu. A presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Uberlândia (Sindvestu), Alba Lima Pereira, defende a tese de que as feiras estreitam os laços e aproximam compradores de fornecedores como nenhum outro meio. Consultora em Planejamento de Coleções e Processos Criativos em Confecções e Calçados, Alba é diretora da FIEMG, coordenadora do Caderno de Moda Senai-MG e tem atuado na capacitação de estilistas e modelistas. Especialista em Marketing, a presidente do Sindvestu é também membro da Câmara de Moda da Fiemg e do Núcleo de Pesquisa do Senai-Brasil, além de consultora em tecidos, padronagens e estamparia na Colortextil desde 2005. Em entrevista à MERCADO, Alba Lima avalia o momento do setor calçadista, fala dos desafios para se obter competitividade e da satisfação de seu trabalho como consultora quando as empresas alcançam o sucesso. MERCADO - As expectativas para a Feira & Negócios Moda Calçados foram alcançadas? Sim. As minhas expectativas foram as melhores possíveis, pois acredito no potencial das indústrias de Uberlândia. O mercado precisa desse tipo de feira, onde o comprador pode estar mais próximo do seu fornecedor. Acredito num crescimento significativo no valor total das vendas. Os produtos estão com qualidade e direcionamento dentro da necessidade do mercado e do público-alvo de cada marca. Como pode ser definido o perfil do setor calçadista hoje em Uber- Alba Lima é presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Uberlândia (Sindvestu) lândia e região? Vou falar do setor calçadista de Uberlândia, porque é o que eu conheço melhor hoje. As indústrias de Uberlândia têm um perfil de produto com acabamento e qualidade. O empresário local é exigente e se preocupa. A minha percepção é que num pequeno espaço de tempo teremos aqui indústrias para competir em todo o mercado interno, e quem sabe até no mercado externo. Como tem sido o trabalho de preparar empresas da região para serem mais competitivas e terem produtos mais criativos no mercado? O trabalho está caminhando a passos largos, eu diria. O comprometimento e a vontade de fazer acontecer é muito grande de ambas as partes. Começamos um trabalho direcionado para feiras, porque o mercado exige que a indústria esteja preparada para competir e tenha produtos criativos. Com isso o produto se adéqua cada vez mais a um público extremamente exigente, a um perfil de consumidor que sabe o que quer. É muito gratificante quando isso acontece, porque significa que o nosso objetivo está sendo al- cançado. Produto com qualidade, dentro das tendências e obedecendo à exigência do público-alvo. O que tem faltado ao setor para um maior desenvolvimento? Incentivos governamentais? Formação profissional? Articulação classista? Acho que o que falta realmente ao setor é o apoio com relação a baixar a carga tributária, que interfere, claro, diretamente no fato de o produto estar mais competitivo no mercado. Agora, a formação profissional também é claro que conta. Não temos profissionais suficientes para atender a demanda do mercado. Como está a integração dos setores da moda e calçadista na cidade e região? Depois que a FIEMG lançou o Minas Trend Preview, acho que a união dos setores foi uma consequência. Essa união com certeza agregou muito. Roupas, calçados, bolsas e acessórios andam juntos. Todos nós estamos empenhados no destaque da moda mineira, isso é realidade. Minas ocupou de volta o espaço no ranking brasileiro e estamos cada dia mais fortes em termos de moda de uma maneira geral. B Revista MERCADO | Edição 49 | 51 mercado meio ambiente metros de praia em áreas com declividades suaves. Essa aproximação das águas pode colocar em risco construções à beira-mar. “A quebra da onda vai ficar muito mais próxima das avenidas, onde existem ocupações urbanas. Vai começar a solapar e a erodir muros”, disse. “Tubulações que passem perto da praia, como emissários de esgoto e interceptores de águas pluviais podem vir a ser descalçadas e eventualmente até romper”, completou. Outro fator que ameaça as construções costeiras, verificado no estu- do, é o aumento da altura das ondas nas ressacas e tempestades marítimas, além do aumento da frequência desses fenômenos. “Havendo um recrudescimento das ondas, isso também vai provocar mais erosões (nas praias)”, alertou o pesquisador. A elevação do nível do mar poderá, ainda, segundo Alfredini, causar problemas para o abastecimento de água em algumas cidades. Segundo ele, esse processo tende a causar um aumento no volume de água que se infiltra nos rios. “Portanto, as tomadas de água para abastecimento público e industrial poderão começar a receber água com maior teor de salinidade. E isso pode começar a complicar ou a inviabilizar o tratamento da água”. Para amenizar esses problemas, o pesquisador aponta a necessidade de preparação das cidades afetadas, com a construção, por exemplo, de obras de defesa costeira. “Tem que ter nesses governos municipais, principalmente, os que estão em áreas de extremo risco, consciência de que isso é uma realidade”. B Praias, como a Grande, em Ubatuba, correm o risco de sumir ainda neste século Litoral norte de São Paulo está ameaçado Nível do mar sobe cada vez mais rápido na região, ameaçando cidades costeiras Da Redação com Agência Brasil O litoral norte de São Paulo, um dos destinos brasileiros mais procurados pelos turistas, especificamente o uberlandense, está ameaçado pelo nível das águas do mar que sobe cada vez mais rápido, conforme aponta pesquisa coordenada pelo professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universida- 52 | Revista MERCADO | Edição 49 de de São Paulo (USP), Paolo Alfredini. Com base nos registros feitos de 1944 a 2007 pela Companhia Docas do Estado de São Paulo, em Santos, Alfredini constatou uma elevação do mar de 74 centímetros por século. Também foi analisada a documentação de outras instituições em Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba. Nas últimas décadas, entretanto, o avanço das águas marítimas foi mais rápido. “Nos últimos 20 anos, analisando esses dados, a gente nota que tem havido uma aceleração. Isso aparentemente está ligado ao fato que as temperaturas têm aumentado mais nesse período”, ressaltou o professor. Com isso, a estimativa de Alfredini é que neste século o nível do mar suba cerca de 1 metro. Um aumento desse nível significa, segundo Alfredini, a perda de 100 Ressaca em Santos, em maio deste ano: nível do mar cada vez mais alto e fenômenos cada vez mais agudos Revista MERCADO | Edição 49 | 53 mercado Foto: Divulgação turismo Um toque divino no litoral brasileiro Búzios é o cenário em que o verde da Mata Atlântica e o azul do oceano convivem em plena harmonia com a beleza e o alto astral de um lugar único Por Aline Alvarenga (Scritta) S e Deus é brasileiro, com certeza o paraíso fica em Búzios. Esse santuário de beleza foi descoberto duas vezes. A primeira em 1501, quando os portugueses aportaram com uma expedição para explorar o litoral brasileiro. Posteriormente, defenderam a região dos ataques franceses. Os patrícios venceram e tudo ficou como deveria ser por séculos. Mas em 1964, outra investida, dessa vez francesa, revelou Búzios ao mundo. E não foram necessários navios e milhares de homens em combates sangrentos. Bastou uma única mulher de alma livre para tornar aquela pe- quena vila de pescadores o seu refúgio particular. A cidade foi conquistada por Brigitte Bardot, mas também a fez cair de amores pelo Brasil. Logo a curiosidade foi despertada e todos queriam saber o que tinha aquela pequena vila que arrebatou o coração da musa do cinema. O passar do tempo só fez bem a Armação de Búzios, ou simplesmente Búzios para os íntimos. O lugar ainda é o paraíso de Brigitte Bardot, mas ganhou ares de sofisticação e requinte sem perder a tranquilidade e o jeito simples. Chiques e famosos estão sempre circulando por suas ruas, mas a cidade é eclética e reserva diversão para todos os bolsos. A Vista de Búzios e suas águas em tons de verde e azul. Destaque para a Praia da Ferradura 54 | Revista MERCADO | Edição 49 Revista MERCADO | Edição 49 | 55 mercado Noite animada Um sapato baixo e confortável é a pedida para curtir a noite buziana. O passeio começa na charmosa Rua das Pedras, onde carros não passam. A pé, os visitantes desfrutam o que há de melhor na gastronomia, na arte e na moda. Está repleta de bares e restaurantes de culinária típica e internacional. Cozinha italiana? Lá tem. Churrascaria, pratos franceses, mexicanos e tailandeses? Tem também, tudo em um ambiente aconchegante e até mesmo exótico. 56 | Revista MERCADO | Edição 49 Foto: Sergio Quissak/CcomBúzios Hobycat - Búzios tem praias ideais para a prática de esportes náuticos e de aventura A bela Orla Bardot tem calçadão, bares, restaurantes e casas noturnas para animar os visitantes Pescadores em ação para garantir os petiscos servidos em barraquinhas a beira-mar e restaurantes requintados Muito bem preservada, a Praia José Gonçalves tem ondas fortes e pedrinhas de cor escura espalhadas pela areia Estátua de Brigitte Bardot, uma homenagem à musa francesa que revelou Búzios ao mundo Foto: BC&VB/Aníbal Sciarretta Foto: Sergio Quissak/CcomBúzios A tranquila Praia dos Ossos, onde aportam diversos barcos Foto: Sergio Quissak/CcomBúzios A desconhecida Saint-Tropez, na França, tornou-se um badalado destino de veraneio quando a atriz passou a morar no local. Búzios seguiu o mesmo caminho. Localizada na Região dos Lagos, está a 180 km a noroeste do Rio de Janeiro. Cercada por morros encobertos pela Mata Atlântica, a cidade fica em uma península com 23 praias paradisíacas de águas mornas e frias, por receber correntes marítimas do Equador e do Polo Sul. Não é difícil entender o motivo de tanto frisson quando o assunto é Búzios. Suas águas variam em tons de azul e verde, emolduradas por paisagens de tirar o fôlego. O clima é sempre quente e convidativo, com uma brisa mais fresca à noite. As construções são modernas, mas mantêm a simplicidade com um estilo rústico. E sobram opções de hospedagens para viajantes de todas as partes do mundo, entre diversos hotéis e charmosas pousadas. Para esticar a toalha e curtir o sol e o sossego ao som do mar, a dica é seguir ao norte da península para a Praia do Canto, Praia dos Ossos e Praia João Fernandes. Esta é conhecida pela grande concentração de estrangeiros, principalmente os hermanos argentinos. Para contemplar o pôr-do-sol, a melhor vista é a da Praia Azeda, que leva esse nome por suas águas cor de limão. A preferida dos cariocas é a Praia de Geribá, com águas frias e agitadas propícias para a prática do surfe, assim como a Praia Brava, de mar aberto e a única destinada aos praticantes do esporte. Para windsurf e kitesurf, a Praia de Manguinhos é a mais recomendada, enquanto os mergulhadores se fartam com as belezas aquáticas dos corais na Praia da Tartaruga. O litoral de Búzios também surpreende por praias pouco exploradas e ainda selvagens. Quem se aventura até a Praia das Virgens não se arrepende. É pequena, deserta e quase intocada em torno da vegetação nativa. Outra praia mais isolada é a pequena Olho de Boi, frequentada por adeptos do naturismo. Búzios tem um único e sério problema: a hora de ir embora. É difícil voltar à realidade depois de encontrar paz de espírito em um lugar com astral sempre em alta. Felizes mesmo são os pouco mais de 30 mil habitantes, que acordam com a bela vista da janela e avistam uma cena digna de Hollywood ao cair da noite. Foto: Sergio Quissak/CcomBúzios A Saint-Tropez brasileira Foto: Divulgação/BC&VB e AHB turismo Essa rua colorida tem pouco mais de 600 metros e mostra todo o seu glamour em diversas lojas de grife, que ficam abertas até de madrugada. A Rua das Pedras acaba, mas logo emenda com a Orla Bardot e seu charmoso calçadão com restaurantes, bares e casas noturnas. É um passeio que merece uma caminhada durante o dia e outra durante a noite, pois o visitante encontra no caminho prédios históricos, casarões coloniais e comunidades de pescadores. É claro que não poderiam faltar homenagens a Brigitte Bardot. Além de dar nome à orla, uma estátua em sua homenagem exibe toda a simplicidade da atriz quando visitou o Brasil, sentada em uma mala contemplando o oceano. Ponto de parada obrigatório para uma foto. Também merecem destaque as esculturas de bronze de Juscelino Kubitschek, outro admirador da cidade, e de Os Três Pescadores, que fica dentro da água, na beira da Praia da Armação. História Armação dos Búzios é conhecida apenas como “Búzios”. A cidade recebeu seu nome devido à grande quantidade de conchas encontradas na costa da península. A história de Búzios vem desde o começo do século passado, quando o local já era frequentado por piratas, porém a cidade só se tornou internacionalmente conhecida na década de 1960, quando Brigitte Bardot começou a frequentá-la com seu namorado brasileiro. Hoje Búzios oferece uma enorme quantidade de boutiques, bares, restaurantes e clubes, que vão dos mais simples aos mais sofisticados, satisfazendo assim os inúmeros turistas em busca de diversão, aventura ou apenas alguns dias de tranquilidade. Além de uma vida noturna agitada, Búzios também possui mais de 23 praias, que vão de calmas e quase desertas a agitadas e populares. Cerca de 23.000 pessoas vivem em Búzios, no entanto, a população chega a 300.000 no verão, tornando-a a quinta cidade mais visitada no Brasil. Recentemente foi publicado em uma famosa revista que Búzios é a cidade onde tem mais “gente bonita por metro quadrado no mundo” durante a alta temporada. Dicas e serviços Conheça as praias - Para ir de uma praia à outra, reserve um dinheiro para o transporte. Há passeios de escuna, acqua-taxis, trolley (uma pequena caminhonete para visita às praias do lado Sul) e bugues. Ônibus ou avião? Empresas disponibilizam serviços de transfer saindo do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Rio de Janeiro) até a porta do hotel ou da pousada. Os paulistas podem chegar ao destino final embarcando A Revista MERCADO | Edição 49 | 57 mercado em São Paulo com a Viação 1001. A mesma empresa também liga a capital carioca e Cabo Frio a Búzios. Para locação de um carro no Rio, a viagem dura cerca de duas horas. A Avis Rent a Car tem tarifas a partir de R$ 84,70 com quilometragem livre, além de seguro e proteção contra batidas e roubos. Informações e reservas: 0800 725 2847, ou nos sites www.avis.com.br e www.autoviacao1001.com.br Foto: Reprodução turismo Vai de carro? Búzios já foi citada como a cidade onde tem mais “gente bonita por metro quadrado no mundo” em altas temporadas Foto: Divulgação Saindo de São Paulo pela Via Dutra, é só seguir até a saída 166A e acompanhar as placas de sinalização. De Vitória, o caminho se estende pela BR-101 até a entrada de Rio das Ostras e depois pela RJ-106 até Búzios. De Belo Horizonte, os mineiros podem optar pelo caminho de Petrópolis e trafegar pela BR-101 até a entrada de São Pedro da Aldeia. Depois é pegar a RJ-106 no sentido Macaé/Búzios. Onde ficar? O Pérola Búzios Design Hotel é um boa opção. Esse hotel está a poucos metros da Rua das Pedras. Tem hospedagem na medida para o público exigente e requintado, mas que não abre mão da sensação de aconchego e bem-estar. O empreendimento é decorado com muito charme e cerca de 700 peças de arte hand made complementam a decoração. Jardins privativos, jacuzzis, centro de massagem e camas suspensas na área da piscina completam o ambiente. Nas diárias estão inclusos café da manhã, uma refeição, internet e estacionamento. Uma criança de até sete anos não paga se estiver acomodada no mesmo apartamento dos pais. Informações, tarifas e reservas: (22) 2620-8507, ou acesse: www.atlanticahotels.com.br B São Paulo Km Duração 620 6h50 1.339 17h 625 7h Curitiba 1.028 13h Porto Alegre 1.739 22h 543 6h30 1.749 22h Brasília Belo Horizonte Vitória Salvador 58 | Revista MERCADO | Edição 49 Foto: Divulgação Cidade À noite, o passeio começa na charmosa Rua das Pedras, onde carros não passam A praia da Armação é usada como cais para barcos dos pescadores e visitantes mercado Foto: Marcos Ribeiro Foto: Marcos Ribeiro veículos O quase perfeito Range Rover Evoque Meio SUV, meio crossover, o Evoque não é apenas mais um da tradicional fabricante inglesa Land Rover. Ele chegou para ser referência, e o melhor, pode ser configurado da forma que o cliente preferir Por Evaldo Pighini D esign sóbrio, linhas conservadoras, robustez e tecnologia agregadas sempre foram características marcantes em veículos da Land Rover. Mas se esqueça disso quando se encontrar 60 | Revista MERCADO | Edição 49 com o Range Rover Evoque - marca mais cara do grupo Land Rover. Pelo menos foi essa a nossa impressão ao ter contato com esse crossover, que é um misto de cupê, hatchback e utilitário esportivo ao mesmo tempo. A convite da concessionária Eurobike, em Uberlândia, a MERCADO testou a versão Dynamic Tech por um dia, tempo não muito suficiente para uma boa avaliação, menos ainda para explorar tudo o que o carro tem a oferecer, ainda assim, ficou a convicção de ser um veículo Linha ascendente da cintura dá visual robusto e agressivo ao Range Rover Evoque com boa direção, desenho arrojado, pegada forte e que chama a atenção onde quer que esteja. Por isso, quem quiser passar despercebido, fique em qualquer lugar menos no cockpit do Evoque. Num conceito geral, é um carro que se aproxima da perfeição, pena que não é para qualquer um, muito menos para um mero jornalista. Entre os inúmeros itens de série que acompanham o Evoque Dynamic Tech, assim como, segundo a fabricante, todas as demais versões do veículo - Pure e Prestige -, destaca-se o sistema Terrain Response, que adapta o carro a cada tipo de terreno, além das “borboletas” para trocas de marchas atrás do volante, opção para quem quiser sair da direção automática. Outro detalhe é que o carro tem como opções à venda as versões coupé e cinco portas e, por incrível que pareça, o coupé custa mais ao comprador. Além disso, a versão Pure vem com bancos de couro com ajustes elétricos, rodas aro 18 e tela multifunção. Na versão Prestige, esta disponível apenas com cinco portas, o Evoque ganha sistema de auxílio automático para estacionamento, faróis de xenon, rodas aro 19 e GPS, entre outros itens. O comprador pode optar ainda pelo pacote Tech - que adiciona itens como som com 17 alto-falantes, sistema de entrada sem chave, câmera 360 graus, suspensão adaptativa e telas multimídia. Finalmente, as versões denominadas Dynamic têm itens visuais diferentes, com detalhes em black piano nos para-choques, bancos esportivos em formato de concha, rodas aro 20 e saídas de ar no capô, entre outros, e mais todos os outros itens de tecnologia encontrados na versão Prestige. Além de todo o conforto e tecnologia embarcados, o Range Rover Evoque vem equipado em todas as suas versões com motor 2.0 a gasolina de quatro cilindros, que gera 240 cv de potência e leva o belo carro de zero a 100 km/h em 7,6 segundos. A transmissão é automática de seis velocidades e a tração é 4x4. Impressão Especificamente, falando da versão que levamos a teste, a Dynamic Tech, o menor e mais urbano dos veículos da inglesa Land Rover foi concebido para se tornar o sonho de consumo de quem mora nas cidades, ambiente em que beleza e status são fundamentais, especialmente no mercado de carros de luxo. Nesse sentido, o primeiro aspecto que chama a atenção no Evoque é o visual. A linha de cintura, que se eleva até quase encontrar o final do teto descendente, dá aspecto robusto e agressivo. Os faróis finos invadem a lateral e são adornados por atraentes luzes diurnas de LED, seguindo a tendência mundial. No geral, a aparência é de um SUV, mas a posição de dirigir se assemelha à de um hatch. Por dentro, o visual impressiona pelo luxo. O painel tem iluminação predominantemente branca - a não ser quando o motorista opta pela condução mais esportiva -, com uma tela de LCD no meio, que exibe as informações do completíssimo computador de bordo. O console central, com acabamento em alumínio escovado, abriga os controles do ar-condicionado e o seletor do câmbio, que se ergue quando o carro é ligado. Acima fica o sistema touchscreen, que exibe os mapas de navegação, os controles e áudio e as imagens das cinco câmeras. No todo, a impressão é de acabamento primoroso. Internamente é impecável, com as superfícies cobertas de couro e alumínio. O cuidado nos detalhes se estende à iluminação instalada embaixo do retrovisor externo, que projeta no chão a silhueta do carro ou o logotipo da marca, que ajuda na localização do carro à noite em estacionamentos mais escuros e lotados. O nome Land Rover na soleira da porta também é iluminado, assim como as extremidades do interior. Com 4,36 m de comprimento, 1,63 m de altura, 1,96 m de largura e 2,66 m de entre-eixos, o Evoque não é grande, mas transporta bem quatro pessoas. Passageiros mais altos podem ter dificuldade no banco de trás por causa do teto descendente, que também limita a visão pelo vidro traseiro, um dos poucos defeitos do carro, a meu ver. Além disso, o motorista vai notar que o espaço para as pernas é apenas mediano, especial-A Revista MERCADO | Edição 49 | 61 mercado Foto: Divulgação veículos pressão que se tem é de estar a meros 100 por hora, dada a extrema segurança que o habitáculo do carro passa ao condutor. Só uma ressalva, a velocidade do carro, segundo o fabricante, pode chegar aos 217 km/h, e o limite em que chegamos na estrada foi só para teste. Nosso conselho: ideal mesmo é dirigir dentro da velocidade máxima permitida e curtir a máquina. No mais, uma excelente viagem. Dados Técnicos Motor Land Rover 2.0L Si4 16v Turbo, Injeção eletrônica direta Combustível: Gasolina Tipo: 4 cilindros em linha com bloco e cabeçote em alumínio Válvulas: 16 (4 por cilindro) Potência: 240cv Torque: 38,7 kgfm Posição: Transversal/Dianteiro Transmissão: Automática/Sequencial de 6 velocidades com Drive Select (Seletor rotativo) Tração: 4x4 Integral com controle eletrônico Direção: Elétrica Suspensão Suspensão dianteira: Dianteira independente do tipo McPherson Suspensão traseira: Independente do tipo Multilink Freios Freio dianteiro: Disco ventilado com ABS e EBD Freio traseiro: Disco sólido com ABS e EBD Rodas e Pneus Roda: Liga leve 20” Pneu: xxxx Dimensões e capacidades Comprimento: 4.365 mm Largura: 1.965/2.125 mm Altura: 1.635 mm Entre-eixos: 2.662 mm Porta-malas: 550 litros Carga útil: 500 kg Ocupantes: 4 Tanque combustível: 70 litros Peso: 1.640 kg em ordem de marcha Desempenho 0 a 100 km/h: 7,6 segundos Vel. Máxima: 217 km/h Consumo urbano: 8,4 km/l Consumo rodoviário: 14,4 km/l Consumo médio: 11,4 km/l (cidade/estrada) Motor mente para apoio do pé esquerdo. Uma pessoa na direção com mais de 1,73 de altura (o meu tamanho) certamente poderá sentir mais esse desconforto, que pode até ser compensado com as muitas variações de ajustes que o banco oferece por meio de comandos eletrônicos. No mais, a versão testada traz no volante 17 botões que controlam o computador de bordo, ajustam as configurações do carro, comandam o sistema de áudio e servem para atender ao telefone. No centro do painel, a tela de 8 polegadas touch-screen ajuda a reduzir a quantidade de botões no painel. O mesmo visor é usado para exibir mapas, sinal de TV e a imagem das câmeras. Um recurso interessante é o Dual View, que permite ao passageiro assistir a programas ou DVDs enquanto o motorista acompanha uma rota no GPS, por exemplo. A transmissão de seis marchas é controlada por um botão rotativo. O Evoque visa atingir um novo público, que deseja um crossover urbano, mas que é bom de terra 62 | Revista MERCADO | Edição 49 No modo manual, as trocas são feitas por borboletas atrás do volante. Apesar de ter cara de urbano, o Evoque também vem com o Terrain Response - sistema eletrônico do qual já falei - que gerencia a tração 4x4. Infelizmente, não tivemos tempo de testar a máquina no offroad. Mas, no pouco tempo que botamos o veículo na estrada, deu para sentir um carro fácil de dirigir, de respostas rápidas no acelerador, frenagens seguras, muita estabilidade e que chega a 180 km/h com extrema facilidade, momento no qual a im- (*) Informações do fabricante Foto: Marcos Ribeiro O acabamento interno é impecável, com materiais de altíssima qualidade. O painel é bem moderno e mostra as diversas funções no modo de dirigir Segundo informações do fabricante, o motor do Evoque é um 4 cilindros compacto, fabricado inteiramente em alumínio, bem mais leve do que os propulsores convencionais. O Si4 tem 2.0 litros e conta com turbo e sistema de injeção direta de gasolina. O resultado disso são 240 cv de potência e 34,7 kgfm de torque. Como comparação, por exemplo, o motor i6 de 3.2 litros do Freelander 2 (da Fiat) tem 233 cv de potência, 32,3 kgfm de torque e é 40 kg mais pesado. Por causa do tempo de teste do carro, a nossa reportagem não teve a oportunidade de testar o consumo do evoque (veja detalhes fornecidos pelo fabricante no box, no final da matéria). No quesito segurança, o Evoque tem airbags frontais, laterais e de cortina, freios ABS com controle de estabilidade e tração. Os faróis de xenônio ativos movimentam-se nas curvas, de acordo com o esterço no volante. Valores do Range Rover Evoque, conforme cada versão, já considerada a tabela atualizada com aumento do IPI: Modelo R$ PURE Coupé 180.000 PURE 5 portas 178.000 PRESTIGE 196.000 DYNAMIC Coupé 206.000 DYNAMIC 5 portas 199.900 PRESTIGE TECH 249.000 DYNAMIC TECH 5 portas 253.000 DYNAMIC TECH Coupé 258.000 Mais uma observação, o motorista não precisa da chave em momento algum para entrar e ligar a máquina. O próprio sistema eletrônico do carro reconhece a presença desta, esteja ela na mão ou bolso, permitindo a abertura das portas assim como o acionamento da partida, feita por um botão instalado no painel. E as comodidades não param por aí. A tampa do porta-malas tem abertura elétrica e o Evoque vem ainda com um programa de estacionamento em que o motorista aperta uma tecla e o veículo localiza a vaga e faz sozinho as manobras para estacionar. Ao motorista resta o trabalho de acelerar, colocar a ré ou posicionar o câmbio em drive. B Revista MERCADO | Edição 49 | 63 mercado veículos Pneu que não utiliza ar Tecnologia ecológica da Bridgestone é a tendência para pneus do futuro Da Redação D e Tókio, no Japão, a Bridgestone Corporation anunciou o desenvolvimento de um pneu conceito, que dispensa o uso de ar e pode ser uma alternativa viável e ecologicamente correta aos pneus tradicionais no futuro. Apresentada durante a 42ª edição do Tokyo Motor Show, salão do automóvel japonês, a novidade vem ao encontro da Missão Ambiental da Bridgestone, que visa a contribuir com uma sociedade mais sustentável, com ênfase em três pilares principais: a preservação do meio ambiente, a conservação dos recursos naturais e a redução de emissões de carbono. Para apoiar sua missão, a Bridgestone trabalha em vários pro64 | Revista MERCADO | Edição 49 jetos, como o do pneu sem ar, com o objetivo de colaborar com um meio ambiente mais saudável para as presentes e futuras gerações. Os pneus sem ar geram um menor impacto para o meio ambiente em relação aos tradicionais, mas os protótipos desse tipo desenvolvidos anteriormente eram inviáveis para a produção em larga escala. Por isso, a Bridgestone desenvolveu essa tecnologia com o objetivo de implementá-la na prática. Características especiais da tecnologia do pneu sem ar Com uma estrutura flexível única que se estende ao longo do interior dos pneus e suporta todo o peso do veículo, não há necessidade de calibrá-los periodicamente, o que significa que exigem menos manutenção. Ao mesmo tempo, a preocupação com perfurações é eliminada. Além disso, a estrutura interna é produzida a partir de resinas termoplásticas reutilizáveis, e assim como a borracha da banda de rodagem, estes são materiais 100 por cento recicláveis. Como resultado, os pneus estabelecem um novo padrão em termos de compatibilidade ambiental, segurança e conforto. A Bridgestone busca esse desenvolvimento tecnológico com o objetivo de alcançar um processo que maximiza o uso cíclico de recursos, transformando os pneus usados em pneus novos por meio de materiais recicláveis. B mercado dica de leitura Hitler Da Redação Q uando foram publicados pela primeira vez, os dois volumes da biografia de Hitler escrita por Ian Kershaw foram considerados necessários para compreender esta personalidade do século XX. A presente tradu- ção foi realizada a partir da versão condensada elaborada pelo autor, que eliminou cerca de quatrocentas páginas de notas e referências - destinadas sobretudo ao público acadêmico -, procurando, no entanto, não prejudicar a força da narrativa e o poder de seu argumento. Ficha técnica Título: HITLER Autor: Kershaw, Ian Editora: Companhia das Letras Assunto: Biografias / História ISBN: 8535917586 ISBN-13: 9788535917581 Idioma: Português Tradutor: Soares, Pedro Maia Encadernação: 23 x 16 cm Edição: 1ª Ano de Lançamento: 2010 Número de páginas: 1024 66 | Revista MERCADO | Edição 49 O autor Kershaw, Ian Kershaw escreve baseado na documentação já conhecida e em diversas fontes, como o diário de Goebbels, redescoberto no início da década de 1990, que traz revelações mais íntimas sobre as atitudes, as hesitações e o comportamento de Hitler no poder. A trajetória inteira desse indivíduo é esmiuçada pelo autor, em busca de uma explicação para sua trajetória ascendente, para o domínio que Hitler exerceu sobre as elites alemãs e para a catástrofe que causou em seu país e no resto do mundo. Sem desprezar os traços de personalidade do ditador na explicação da história, o autor enfatiza os aspectos sociais, políticos e econômicos da sociedade alemã traumatizada pela derrota na Primeira Guerra, a instabilidade política, a miséria econômica e a crise cultural. Apesar de ter sido publicado em 2010, a dica de leitura dessa obra literária vai para quem ainda não leu, pois vale à pena. B mercado coluna literatura *Kenia Maria de Almeida Pereira é doutora em Literatura Brasileira pela Unesp/São José do Rio Preto-SP e professora colaboradora do Mestrado em Teoria Literária da Universidade Federal de Uberlândia-MG. Autora de artigos científicos e livros sobre literatura brasileira ([email protected]) Literatura e cegueira Por Kenia Maria* A vida é por demais irônica. Imaginem uma pessoa que adora livros, vive rodeada por eles 24 horas em uma biblioteca com milhares de volumes e, um belo dia, acorda cega. Foi assim que aconteceu com o escritor argentino Jorge Luiz Borges. Enfermo dos olhos desde a adolescência, certa manhã, ao completar 57 anos, sentou-se à mesa do café para a leitura rotineira dos jornais e não conseguiu ver mais nada. Escuridão. Estava cego. Já não conseguiu ler e só tateava as páginas dos periódicos. Apaixonado por literatura, Borges contratou um leitor para que lesse para ele em voz alta. Além disso, pediu a seus amigos que continuassem presenteando-o com livros, pois se ele já não podia ler, podia ainda cheirar e tatear as obras. Outro que também conheceu a escuridão dos olhos foi o romântico e atribulado escritor português Camilo Castelo Branco. Depois de contrair sífilis na juventude, foi perdendo lentamente a visão, mas isso não o impediu de publicar uma centena de romances, muitos deles best sellers até hoje, como “Amor de Perdição”, “Amor de Salvação” e “A queda de um anjo”. Mas, diferentemente de Borges, Camilo, ao chegar à velhice, não se resignou frente à total cegueira. Mergulhado em crises existenciais, familiares e financeiras, depois de ouvir de seu oftalmologis- ta que nunca mais voltaria a ver, se desesperou, sabendo que não poderia mais ganhar a vida escrevendo. Assim, numa bonita tarde sol, o autor de “Onde está a felicidade” se matou aos 65 anos, descarregando um tiro de revólver na cabeça. Lembrei-me, agora, que em 1994 estive pesquisando sobre Félix Pacheco na Academia Brasileira de Letras. Lá, tive a honra de conhecer João Cabral de Melo Neto. Era um senhor simpático que não hesitou em autografar para mim suas Obras Completas/Nova Aguilar, que eu coincidentemente acabara de comprar. Naquela época, João Cabral já estava quase cego, autografou para mim com muita lentidão e di- Camilo Castelo Branco ficuldade. Hoje, olhando o livro e a caligrafia de um dos maiores poetas do Brasil, sinto um misto de saudade e tristeza. Cinco anos depois, em 1999, João Cabral, completamente mergulhado na cegueira, veio a falecer envolto em depressão e problemas cardíacos. João Cabral de Melo Neto 68 | Revista MERCADO | Edição 49 Jorge Luis Borges Três escritores cegos, mas extremamente lúcidos. Se os olhos do corpo estavam opacos, os olhos da alma enxergavam de forma nítida a complexidade humana. Jorge Luis Borges abriu nossos olhos para a necessidade dos contos fantásticos e labirínticos para decifrarmos a multiplicidades de animais e monstros que povoam nossa imaginação. Ao ler, por exemplo, “O Livro dos Seres Imaginários”, sentimo-nos de novo crianças, numa viagem aos bestiários medievais e sua fauna exótica. Sobre o centauro, Borges escreveu: “O centauro é a criatura mais harmoniosa da zoologia fantástica. Biforme, chamam-no as Metamorfoses de Ovídio, mas não custa esquecer sua índole heterogênea e pensar que no mundo platônico das formas há um arquétipo do centauro, como do cavalo ou do homem”. Já Camilo Castelo Branco, doente dos olhos, atribulado por dívidas, consumido pela depressão, manteve o espírito crítico e irrequieto até o fim de sua vida. Em “Amor de perdição”, Camilo denunciou os pais que trancafiavam as filhas nos conventos, a fim de evitar casamentos indesejados: “Meu pai diz que me vai encerrar n’um convento, por tua causa. Sofrerei tudo por amor de ti. Não me esqueças tu, e me acharás no convento, ou no céu, sempre tua do coração, e sempre leal”. Por fim, o pernambucano João Cabral de Melo Neto, agastado por uma dor de cabeça incurável e pela cegueira, ainda assim cantou sobre cada sol que nasce com seus galos tecendo a esperança. Esperança, aliás, que mais que o cantar dos galos, vão tecendo o nosso amanhã... Abram os olhos, leitores, pois deixo aqui de brinde para vocês um dos mais bonitos poemas da língua portuguesa. Não custa nada lê-lo até o fim... Tecendo a Manhã (João Cabral de melo Neto) “Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.” B mercado profissões em filme O Planeta dos Macacos: A Origem Por Kelson Venâncio* 70 | Revista MERCADO | Edição 49 *Kelson Venâncio jornalista e diretor do Cinema e Vídeo - www.cinemaevideo.com.br P or que este novo filme traz em seu título o mesmo nome do longa de 1968 ou do remake de 2001? Desde a campanha de marketing da produção, assim que assisti ao primeiro trailer, essa era uma pergunta que eu sempre vinha fazendo. Se o roteiro é novo e envolve homens fazendo experiências com chimpanzés na tentativa de achar a cura para a doença de alzheimer e se tudo se passa aqui na Terra, por que então “Planeta dos Macacos: A Origem”? Isso já me causava certa desconfiança. Mas deixei esse preconceito de lado e esperava encontrar a resposta assim que assistisse ao filme. E de certa forma encontrei, mesmo que subjetiva ou dando margem a diferentes interpretações do público. Se os macacos se tornam seres inteligentes e se revoltam contra a escravização imposta pelos humanos, se eles entram em guerra contra nós e se além de raciocinar começam até mesmo a falar, subentende-se que o Planeta dos Macacos sugerido no título seja mesmo o próprio planeta Terra, que na ocasião começa a ser dominado por estes animais. E nessa linha de raciocínio e com alguns elementos que surgem nessa nova produção, como as notícias de um grupo de astronautas perdidos no espaço e a cena após os créditos finais, tudo faz sentido. Assim, O Planeta dos Macacos - A Origem se torna uma ótima base para a história já contada no clássico de 68. O filme tem vários pontos positivos, tornando-se envolvente e prendendo a atenção do espectador do início ao fim. O principal de- les é o roteiro. A história foi muito bem desenvolvida, desde o fato de os chimpanzés serem usados como cobaias para uma experiência que pode curar doenças humanas (algo real e muito comum) até a luta pela independência dos macacos no fim. É claro que, no meio desses dois extremos, surgem vários ingredientes capazes de chamar nossa atenção. O maior deles é a relação entre o chimpanzé César e seu dono. A química entre os dois personagens é sem dúvida o grande atrativo do filme. E aqui vale destacar as ótimas interpretações de James Franco e do ator Andy Serkis (o mesmo que fez Sméagol/Gollum, em Senhor dos Anéis), que dá vida ao macaco César. Os dois trabalham tão bem que aquilo tudo parece ser verdadeiro. Eles conseguem criar um laço de amizade tão intenso que ficamos sensibilizados com as consequências que surgem posteriormente. Só não gostei da atuação de Freida Pinto (de “Quem Quer Ser Um Milionário”), que faz apenas o básico, sem absolutamente nada de especial. Outro ponto positivo são os efeitos especiais. Dar vida a esses animais, fazer com que eles pareçam de verdade e colocá-los fazendo coisas como se fossem humanos foi algo bom de ver na telona. Os efeitos surpreendem, desde as acrobacias de César na casa onde foi criado até o confronto na ponte. Mas, infelizmente, são nos efeitos especiais que estão também as grandes falhas do filme. Em alguns momentos, o que parecia real acaba se tornando um pouco falso. A tentativa de colocar a computação gráfica para dar movimentos que para os chimpanzés de verdade seriam impossíveis, nos faz esquecer a nossa “viagem” pelo filme pra cair na real e pensar que tudo aquilo não passa de efeitos especiais. É que em algumas situações, especialmente nos movimentos mais rápidos, César acaba não se parecendo mesmo com um chipanzé. Outra situação que pode não ser aceita pelo público é o fato de César se comunicar com um Orangotango de circo através da linguagem de sinais e começar a falar algumas palavras na última parte do longa. Aí vai depender do senso crítico de cada um.B FICHA TÉCNICA Filme: Planeta dos Macacos: A Origem Título original: Rise of the Planet of the Apes Origem: EUA Ano: 2011 Gênero: Ficção Científica Elenco: James Franco, Freida Pinto, Andy Serkis, John Lithgow, Brian Cox, Tom Felton Direção: Rupert Wyatt Gênero: Aventura Duração: 105 minutos Nota: 8 mercado sustentabilidade Fim de sacolas plásticas valoriza o durável Elas são descartáveis e, por isso, incompatíveis com um futuro sustentável a longo prazo Hélio Mattar (Akatu) A partir do dia 25 de janeiro, diversos supermercados, incluindo os das três maiores redes (Grupos Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar; todos apoiadores estratégicos do Akatu), deixarão de oferecer gratuitamente a seus consumidores as sacolas plásticas descartáveis gratuitas para o transporte de compras. A medida tem gerado polêmica. As sacolas plásticas são responsáveis por originar grande quantidade de lixo, demoram para 72 | Revista MERCADO | Edição 49 se decompor na natureza e causam impactos negativos sérios sobre o meio ambiente. Para se ter uma ideia da dimensão, basta dizer que as 14 bilhões de sacolas produzidas anualmente no Brasil em 2010, se empilhadas, alcançariam 750 km de altura! Porém, elas são cômodas para o consumidor final, que tem muitas dúvidas sobre como substituí-las. As sacolinhas costumam ser bastante criticadas por serem produzidas com material plástico. Mas é um equívoco fazer do plástico um vilão. Na verdade, por ser leve, barato, durável, higiênico, se usado para produzir produtos não descartáveis, o plástico pode ser uma boa opção. O problema das sacolas plásticas é que são descartáveis e, por isso, incompatíveis com um futuro sustentável a longo prazo. Sua descartabilidade faz com que sejam produzidas em enorme quantidade. Cada sacolinha envolve, na sua produção, o uso de matérias-primas, água e energia. Envolve também gastos de energia e combustível para o seu transporte até os supermercados. E cada uma delas acaba em geral sendo usada uma única vez e descartada com o lixo. O problema é que esse processo resulta em um grande desperdício de recursos da natureza. A pergunta que fica para o consumidor é como e pelo que substituí-las. Existem inúmeras perguntas para serem feitas. De que matéria-prima é feita a sacolinha de plástico? E de que matéria-prima é feita a alternativa escolhida? Qual o impacto da extração de uma e de outra? E os impactos de seu processamento? Como são os processos de fabricação e transporte? A alternativa é reutilizável? E é preciso considerar também o descarte como uma das várias dimensões que devem ser avaliadas. Somente a avaliação comparativa poderá fornecer as informações sobre os impactos ambientais de cada alternativa e, finalmente, balizar corretamente a escolha, pelo consumidor, do tipo de sacola mais adequada às suas condições específicas. Existem estudos focados em fazer esse tipo de avaliação. Chamam-se Análise de Ciclo de Vida (ACV) e podem orientar corretamente as escolhas do consumidor. Em agosto de 2011 foi divulgado um primeiro estudo sobre sacolinhas, comparando algumas das alternativas existentes no mercado brasileiro para o acondicionamento de compras. O estudo, pioneiro, foi solicitado pela Braskem, maior produtora de resinas termo- plásticas das Américas para a Fundação Espaço Eco, entidade que desenvolve estudos de ACV considerando métodos científicos internacionalmente reconhecidos e certificados. O estudo avaliou a ecoeficiência das diversas possibilidades de se levar as compras para casa, ou seja, como essas alternativas se comportavam do ponto de vista do custo e de seu impacto ambiental. Consideraram-se alternativas mais ecoeficientes aquelas com baixo custo e menor impacto ambiental. O estudo mostrou que a melhor opção varia de acordo com o cenário em que ela é utilizada. Por um lado, as sacolas descartáveis de plástico apresentaram melhor ecoeficiência nas situações em que os consumidores fazem menos compras (até 26,5 kg/mês), tem menor frequência de ida ao supermercado (menos de uma vez por semana) e/ou maior frequência de descarte de lixo (duas ou mais vezes por semana), com reuso das sacolas plásticas para o descarte desse lixo. Por outro lado, as sacolas retornáveis de tecido ou de plástico apresentaram melhor ecoeficiência nas situações em que os consumidores têm maior volume de compras (a partir de 106 kg/mês), maior frequência de ida ao supermercado (mais do que duas vezes por semana) e/ ou menor frequência de descarte de lixo (até duas vezes por semana), levando à baixa necessidade de compra de sacos plásticos grandes para acondicionar o lixo. Em todos os casos, a sacola de papel apresentou os piores resultados. A recomendação do Akatu é que o consumidor final considere a decisão dos supermercados como uma ação emblemática de combate à descartabilidade e aproveite-a para repensar todo o seu comportamento de consumo. Ou seja, é uma oportunidade concreta para começar a planejar as compras antes de ir ao supermercado, levar a sacola retornável e utilizá-la o maior número de vezes que for operacionalmente possível, estendendo sua vida útil ao máximo. Quanto mais for ampliada a vida útil da sacola retornável, tanto maior será a sua ecoeficiência. Em casa, é preciso reaproveitar ao máximo os alimentos e embalagens e reduzir, na medida do possível, a quantidade de lixo produzido, diminuindo a necessidade de acondicionamento em sacos específicos para este fim. No final, praticar a coleta seletiva e cobrar do poder público o fornecimento desse serviço onde ele não existe. Para o Akatu, a educação do consumidor é sempre o mais importante. E isso vale para que ele elimine os desperdícios em qualquer item de consumo, não só no caso das sacolas. Com isso, mudam os comportamentos de consumo, o que acaba gerando impactos mais positivos (ou menos negativos) e com resultados duradouros, seja para a sociedade ou para o meio ambiente, o que é bom para todos. B mercado ponto de vista Lei da Ficha Limpa Após quase dois anos e 11 sessões de julgamento, a Lei da Ficha Limpa foi considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e será aplicada integralmente já nas eleições deste ano. Pela decisão do tribunal, a lei de iniciativa popular que contou com o apoio de 1,5 milhão de pessoas atingirá, inclusive, atos e crimes praticados no passado, antes da sanção da norma pelo Congresso, em 2010. Foi uma decisão acertada? A lei já deve valer para as eleições deste ano? Crimes anteriores devem ser considerados? Com a palavra o G7... Acostumamos-nos a ouvir que o brasileiro é um povo muito tranquilo, que releva muitas coisas e que os mesmos acontecimentos que geram conflitos ou manifestações em outros países, aqui são tratados de forma amena e democrática. Em parte, isso é uma verdade. Mas o que percebemos nos últimos anos é que a passividade do cidadão brasileiro está chegando ao limite. A Lei da Ficha Limpa é uma prova disso. Durante o período que antecedeu seu julgamento de constitucionalidade, observamos diversos atos que aconteceram em Brasília e em diversos outros estados, onde manifestantes com vassouras em punho pediam uma faxina na política deste País. Entendemos que a Lei da Ficha Limpa foi acertada e que, uma vez aprovada, deve começar a vigorar de imediato. E como o próprio nome diz, a Lei da Ficha Limpa deve levar em consideração, não somente o presente ou futuro, mas também o passado dos nossos candidatos. Se erros foram cometidos, chegou o momento de pagar por eles. Com certeza a aprovação da Lei da Ficha Limpa é positiva para a sociedade. É, sem dúvida alguma, um grande avanço para a moralidade neste país. A decisão do STF mostra que todos estão em busca do mesmo objetivo, pois é inadmissível que pessoas em débito com a justiça, que de alguma forma lesaram o patrimônio público, entre outros delitos, assumam a condição de representantes legais do povo. É como dar a chave do cofre ao próprio ladrão. Bem o disse o ministro do Supremo, Carlos Ayres Britto, um dos sete que votaram a favor da lei ao perguntar, antes de pronunciar o ‘sim’. “Como uma pessoa que desfila pela passarela quase inteira do Código Penal, ou da Lei de Improbidade Administrativa, pode se apresentar como candidato, se a palavra candidato significa depurado, limpo?”. Assim como ele, penso que essa lei é fruto do cansaço, da saturação do povo com os maus tratos infligidos à coisa pública. Quem ganha com isso é o Brasil. Torço agora para que o eleitor aprenda a votar consciente. Para mim, a aprovação dessa lei foi uma demonstração de coerência e respeito ao cidadão comum, resposta de seriedade do Supremo Tribunal Federal para com aqueles que acreditam na eficiência do órgão com critérios definidos e transparentes. Fazendo um paralelo, quando o cidadão comum não cumpre com seus compromissos financeiros junto à sociedade econômica, ele é inscrito no Cadastro de SPC Brasil / Serasa. Da mesma forma, o cidadão, pretendendo ser político, deve ter sua Ficha Limpa, demonstrando ser merecedor de crédito por parte do eleitor, que espera estar sendo representado por um cidadão de bons antecedentes. Destacamos que esta conquista se deve a uma iniciativa popular, devendo ser sempre observada, pois o povo, sabendo usar o poder através do voto democrático, poderá realizar as transformações que colocarão o Brasil novamente rumo à liderança político-institucional. 74 | Revista MERCADO | Edição 49 Já em meados do século passado, Rui Barbosa, em sessão solene ocorrida na Faculdade de Direito de São Paulo, discursou a sua propalada “Oração aos moços”, em que mencionava o desânimo à virtude, à honra e à honestidade, face aos desvios morais da natureza humana. Agora, em acertada decisão, vemos aprovada a Lei da Ficha Limpa, que após longo debate, estabelece condições claras e dignas aos candidatos que almejem representar politicamente a tenra democracia brasileira. Devemos enfatizar que mais do que nunca, é necessário primarmos pelos bons exemplos, por candidatos e por eleitos que tenham o sentimento patriota de zelar pelo bem público, pelo bem de nosso povo em geral e pelo desenvolvimento contínuo de nossa nação BRASIL. Parabéns ao STF pela acertada decisão, parabéns ao povo brasileiro que se mobilizou e fez valer sua vontade. É chegada a hora de “SEPARARMOS, DE FATO, O JOIO DO TRIGO... JÁ. Sem dúvida alguma, a aprovação da Lei da Ficha Limpa, fruto de uma ação popular com mais de 1,5 milhão de assinaturas, foi uma decisão acertada. É um sinal de que o povo brasileiro está acordando para a impunidade, não está mais omisso. Talvez não consigamos acabar com todos os males da política brasileira, pois ainda é necessário haver uma mudança no sistema, uma reforma política, mas a aprovação desta lei representa o início de uma nova era. Nós, da Aciub, assim como toda a população brasileira, esperamos que a Lei já tenha validade nas eleições municipais deste ano, conforme está previsto na legislação aprovada, caso contrário o povo ficará desencantado com o Poder Judiciário. (*) A ONG G7 - Grupo dos Sete - é formada por grandes instituições sociais ativas na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. São elas: ACIUB - Associação Comercial e Industrial de Uberlândia, CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberlândia, CVT - Conselho de Veneráveis do Triângulo, FIEMG Regional Vale do Paranaíba/CINTAP - Centro Industrial e Integração de Negócios do Triângulo, OAB/MG 13ª Subseccional de Uberlândia, SRU - Sindicato Rural de Uberlândia e SMU - Sociedade Médica de Uberlândia. mercado causos empresariais *Nege Calil é consultor em Gestão de Pessoas há mais de duas décadas e baseia seus “causos” em experiências reais. Contato: [email protected] O Cadeirante (Inclusão Social) Por Nege Calil* Quem me apresentou o Celso foi a Leonor, profissional de RH há anos. Ele vinha numa carreira galopante - foi o primeiro colocado num programa de trainee da multinacional em que ela trabalhava, efetivou-se e alcançou uma gerência sênior 76 | Revista MERCADO | Edição 49 apenas quatro anos depois. Aos 32, foi convidado a assumir o cargo de diretor em outra empresa. Feliz com o resultado, pediu demissão e, antes que assinasse contrato com a nova empregadora, tirou alguns dias de férias. Em sua viagem, porém, foi surpreendido por um acontecimento que mudaria para sempre seus planos profissionais e de vida. Um motorista bêbado atropelou-o em sua moto, deixando-o paralítico da cintura para baixo. Após um período em coma, levou meses realizando tratamentos que incluíam fisioterapia e psicoterapia para se adaptar à sua nova realidade. Sua vaga fora preenchida e ele saiu em busca de recolocação no mercado. - Seu currículo é bom, mas seu local de trabalho tem escadas.- disse uma selecionadora. - Você se importa de ser carregado? O Cacau, nosso encarregado, pode te levar todos os dias para sua mesa. - disse outra. - E como vou comer? Fazer xixi? - retrucou ele. Ele estava inconformado com o descaso que nosso país dá ao tratamento das pessoas com deficiência. Ele mesmo confessou que, antes de vivenciar essa situação, nunca havia se dado conta de que a maioria de nossas ruas e construções não oferece acessos adequados a cadeirantes, deficientes visuais e demais profissionais com necessidades especiais. Pior foi ouvir, sem querer, de uma terceira selecionadora que deixou a porta da sala aberta por descuido: - Se fecharmos com esse aí na sala de espera, cumprimos a cota de contratação como determina a lei. Ele saiu sem se despedir. Afinal, não podia aceitar um tratamento como se ele fosse uma mercadoria a preencher um estoque. Foi se virando com alguns trabalhos via Internet e, quando quase desistiu de se recolocar, recebeu a boa notícia de Hellen, uma jovem analista de RH: - Pode vir amanhã para os exames de admissão? - Claro!! - quase gritou. A que horas? A empresa tinha um programa muito bem elaborado, voltado à inclusão social. No caso dele, o prédio oferecia rampas, elevadores, banheiros amplos. Durante as entrevistas, visualizou um anão trabalhando em um mobiliário ergonomicamente adaptado a ele. Esse respeito inicial, somado ao desafio para sua carreira, devolveu-lhe o entusiasmo. Logo no primeiro dia, Celso entendeu de onde vinha tanto apoio ao RH para sustentar seu programa de inclusão. Foi recebido pelo diretor-presidente, que o cumprimentou com a mão esquerda: - Perdi a mão direita em um acidente! - explicou. Era destro e tive que reaprender a escrever, comer, escovar os dentes com a esquerda. Sou um canhoto forçado - brincou. A equipe o recebeu muito bem. Era o único cadeirante do setor, mas rapidamente descobriu que só faltava ele para completar o time de basquete sobre rodas da empresa. Em apenas alguns dias voltou a se sentir vivo, respeitado. Sentiu-se na obrigação de dar um feedback à Hellen: - Você treinou muito bem essa empresa para que todos soubessem receber as pessoas com deficiência. Ninguém, até agora, me olhou com dó ou como se eu fosse de outro sistema solar. Parabéns! - Obrigada! Contratamos você pelo seu histórico profissional, suas competências. Tomara que você se realize e nos traga bons resultados. Em poucos meses, Celso mostrou a que veio. Entrou no mês de junho e reverteu os números ainda em setembro, mostrando ser possível alcançar as metas até dezembro. Tudo ia bem, não fosse a comemoração de uma data especial para a empresa. Os pouco mais de 300 colaboradores se reuniram num salão, teve discurso e um convite para uma oração antes do bolo. Discretamente, Celso se afastou enquanto os demais oravam. Sua atitude foi observada pelo diretor-presidente, que o abordou antes do encerramento do evento: - Você não orou conosco. Aconteceu alguma coisa? - Não aconteceu nada! Está tudo perfeito. - Por que, então, não se juntou a nós? - Porque não compartilho de sua fé. Sou ateu! Aquela frase caiu feito um raio na cabeça do presidente, que o olhou como se o repreendesse. No dia seguinte, o tratamento mudou. Notou que o presidente só o procurava para falar de relatórios. Cessaram as conversas informais, as brincadeiras. O tom de voz era mais sério, o olhar frio. Celso procurou Hellen: - Eu disse alguma coisa errada? - Não! Acontece que ele não aprecia a ideia de você ser ateu. - Como assim? Fui contratado pela minha competência, lembra? Não pelas minhas crenças. - Eu sei! Mas não é algo fácil convencê-lo. Vamos dar tempo ao tempo. - Desculpe, mas não posso aceitar. Só porque ele é evangélico, todos precisam ser? Esse povo é muito radical! - Êpa! Agora quem está sendo intolerante é você! Nem todos os evangélicos são radicais. Quando você generaliza assim, também alimenta os tabus sobre os religiosos. - Você tem razão. Me perdoe. - Perdoo! - disse ela com um sorriso nos lábios. Eu também sou cristã, aprendi a perdoar. - Você também é evangélica? disse ele, surpreso. - Sim, desde criança. Meu pai é pastor. E nos ensinou a sermos to- lerantes. - Não consigo ter a sua fé. Mas eu a respeito. - Também respeito a sua “não fé”. No entanto, não são todos que pensam assim. - Meu emprego corre risco? - Honestamente... corre. Ele demitiu o Luiz assim que descobriu que era homossexual. Mas não vou ficar de braços cruzados. Meu papel, enquanto gestora de pessoas, é harmonizar essas diferenças pensando no que é melhor para a empresa. - Não quero sair daqui, adoro o que faço e você está acompanhando meu desempenho. - Farei o meu melhor! - encerrou ela, tocando-lhe a face. Hellen não teve sucesso. Assim que o novo ano começou, Celso foi desligado da empresa. Recebeu a notícia diretamente dela. - Ele não pode fazer isso! Quero falar com ele, argumentar... - disse inconformado. - Celso, aceite! Eu sinto muito, acredite! Ele não vai te receber, acabou de sair de viagem. - É muito descaso! Ele não vai nem se despedir de mim? - Repito, aceite. Sua rescisão será depositada corretamente e em breve terá direito ao seguro desemprego. Qualquer empresa que ligar aqui terá excelentes referências suas. Derrotado, ele pegou seus pertences e saiu. Alguns colegas lacrimejaram ao vê-lo se retirar. Outros olhavam assustados, como se ele houvesse cometido um crime. É vergonhoso contar uma história assim. Mas não dá para calar, sabendo que ocorrem inúmeras situações semelhantes. Há muito o que caminharmos para uma verdadeira inclusão social nas empresas. Pena que a declaração atribuída a Einstein, na primeira metade do século passado, ainda esteja tão viva: “Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito”. B Revista MERCADO | Edição 49 | 77 mercado geral Café representa 12,4% das exportações do setor agrícola As estatísticas do produto em janeiro estão consolidadas no Informe do Café, do Ministério da Agricultura Da Redação Unidade de Insumos Básicos da Braskem (Unib), no Polo Industrial de Camaçari. Vista do Projeto de Reuso de Águas Pluviais Indústria quer ter acesso aos recursos da cobrança pelo uso da água Acordo entre ANA e CNI foi assinado em Brasília Da Redação A Agência Nacional de Águas (ANA) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) assinaram o acordo que prevê o estudo de mecanismos que garantam o acesso das indústrias aos recursos da cobrança pelo uso da água. O acordo será assinado na sede da CNI, em Brasília, durante reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente da CNI, que terá a presença do diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu. A cobrança pelo uso da água foi criada em 1997 pela Política Nacional de Recursos Hídricos. É paga pelos usuários de recursos hídricos, entre os quais as indústrias, e os valores variam conforme a região, porque são propostos pelos comitês de bacias hidrográficas e aprovados pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). De 2003 a 2011, a receita com a cobrança pelo uso da água nas bacias hidrográficas de Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ); do Paraíba do Sul; e do São Francisco alcançou cerca de R$ 209 milhões. Desse total, aproximadamente 30%, ou R$ 63 milhões, foram arrecadados pela indústria. Os empresários querem ter acesso ao dinheiro para investir na compra de equipamentos e em processos de produção que permitam o uso mais eficiente da água. Segundo o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, da Agência Nacional de Águas, a indústria é responsável por 17% do volume de água retirada da natureza no País e por 7% do consumo de recursos hídricos. Depois da assinatura do acordo, o diretor-presidente da ANA falará aos empresários sobre as oportunidades e os desafios oferecidos à indústria pelo gerenciamento das águas no Brasil. O café representou 12,4% de todas as exportações brasileiras do agronegócio em janeiro de 2012, em receita. O produto apresentou aumento de 1,64% em janeiro deste ano, com faturamento de US$ 605 milhões na comparação com o mesmo mês de 2011, quando faturou US$ 595,4 milhões. O resultado faz parte do Informe Estatístico do Café, publicado mensalmente pelo Departamento do Café, da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O volume embarcado no período teve redução de 23,5%, com 2,17 milhões de sacas de 60 quilos, ante 2,78 milhões de sacas em janeiro de 2011. A receita cambial do café verde, que representa 96% do total das exportações, teve crescimento expressivo, em termos porcentuais em relação ao Reino Unido (222,35%) e à Finlândia (53,85%). Em contrapartida, foi significativa a queda para a Espanha (-37,20%), a Rússia (-22,42%) e a Eslovênia (-14,68%). O principal comprador de café verde brasileiro continua sendo a Alemanha que, apesar de ser o principal destino das exportações da produção nacional, apresentou queda em janeiro de 2012 de 26,42% ante o primeiro mês de 2011. O segundo principal importador são os Estados Unidos, que teve recuo de 23,07% nas compras do grão. O volume embarcado aumentou apenas para a Finlândia (23,24%) e o Reino Unido (20,15%). Em termos porcentuais, houve diminuição expressiva no volume vendido para a Espanha (-53,33%), a Rússia (-33,57%) e a Eslovênia (-30,30%). De acordo com o relatório mensal, o consumo brasileiro de café em 2012 é estimado em 20,4 milhões de sacas, com aumento de 3,5% contra 2011 (19,7 milhões de sacas). Os estoques do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) estão em 170 mil sacas. A A cobrança A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos instituídos pela Lei nº 9433/97, que tem como objetivo estimular o uso racional da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação dos mananciais das bacias. A cobrança não é um imposto, mas um preço condominial, fixado a partir de um pacto entre os usuários de água e o comitê de bacia, com o apoio técnico da ANA. 78 | Revista MERCADO | Edição 49 Revista MERCADO | Edição 49 | 79 mercado geral Classe C foi responsável por metade dos gastos com roupas em 2011 Emergentes movimentaram R$ 35,3 bilhões na compra de itens de vestuário, superando o desempenho da elite (R$ 24,5 bilhões) e da baixa renda (R$ 13,1 bilhões) Do Mundo do Marketing A classe C brasileira gastou R$ 35,3 bilhões com roupas em 2011, segundo o estudo “O Setor de vestuário no Brasil - números e comportamentos”, do Data Popular. O valor equivale a 48,4% dos gastos totais com vestuário durante o ano e supera o desempenho das classes A/B (R$ 24,5 bilhões) e D/E (R$ 13,1 bilhões). Estar na moda é uma preocupação para 56% dos membros do topo da pirâmide, seguida de perto pela classe C (52,1%) e pelos integrantes de baixa renda (49,4%). Os shopping centers são os locais procurados pelos emergentes (61,7%) e pela elite (77,7%) para adquirir roupas. Já as lojas de rua são as mais procuradas por 58,5% dos membros da classe D/E na hora de comprar itens de vestuário. Cerca de 70,5% dos integrantes da elite são os mais dispostos a usar roupas de marcas famosas, contra 58,6% da classe média e 58,7% da base da pirâmide. Entre os critérios levados em conta pelos brasileiros ao comprar alguma roupa de marca, a durabilidade das peças é a razão mais apontada por quase metade dos membros de cada grupo social. Para a classe A/B, o quesito tem importância para 50,9%. Nas camadas C e D/E, o critério é válido para 55,1% e 53% dos consumidores, respectivamente. As roupas que as pessoas usam nas ruas são a inspiração para as compras de 35,7% dos emergentes e 25,7% da população de baixa renda. Para a classe A/B, as revistas são as principais responsáveis por influenciar 31% dos consumidores na aquisição de itens para o vestuário. Publicidade na internet cresce 71% em 2011 Da Redação Dados da pesquisa Monitor Evolution, do Ibope, apontam que os gastos com publicidade cresceram 16% em 2011, alcançando R$ 88,3 bilhões. Foram monitorados investimentos em compra de mídia realizados em 38 cidades nos principais meios de comunicação. Os valores levam em conta a chamada tabela cheia e não consideram a inflação do período, de 6,5%. Seguindo a tendência de crescimento acima da média nos últimos 3 anos, a Internet segue conquistando o mercado. O meio, que tinha 4% do bolo publicitário em 2010, cresceu para 6% em 2011. Mas o forte crescimento, de 71% da receita bruta (de R$ 3,1 bilhões para R$ 5,4 bilhões), corresponde principalmente a uma mudança na tabela praticada pelos portais, além da inclusão de novas modalidades publicitárias. “Cada vez mais, o tempo e a atenção dos consumidores está se voltando para mídias na internet”, explica Leandro Kenski, CEO da Media Factory, agência especializada em marketing digital. “O que está acontecendo é um reequilíbrio do mercado e as verbas estão migrando para onde está o consumidor. Por causa desse investimento ainda pequeno, existem grandes oportunidades para empresas que querem explorar as mídias digitais”, acrescenta Leandro. “Cada vez mais, o tempo e a atenção dos consumidores está se voltando para mídias na internet” A TV aberta ficou com 53% do bolo publicitário, aumentando seu faturamento de R$ 40 bilhões para R$ 46,3 bilhões (alta de 15,3%). Os jornais foram responsáveis por 20% das receitas, saltando de R$ 16,1 bilhões para R$ 17,2 bilhões (incremento de 7%). Pela primeira vez, as TVs por assinatura ficaram a frente do meio Revista, chegando à terceira colocação no ranking das receitas com publicidade. As TVs por assinatura alcançaram R$ 7,4 bilhões (alta de 18%), enquanto o meio Revista recebeu R$ 7,2 bilhões (alta de 13,3%). No ano anterior, as revistas faturaram R$ 6,4 bilhões, ante R$ 6,3 bilhões da TV paga. O comércio e o varejo foram responsáveis por 22% dos gastos publicitários (R$ 19,1 bilhões), liderando o ranking por setor. Em segundo lugar vem o setor automobilístico, com 9%. Com 8%, o setor de higiene e beleza foi o que mais ampliou gastos: chegaram a R$ 7,4 bilhões, quase R$ 2 bilhões a mais do que no ano anterior. B 80 | Revista MERCADO | Edição 49