livro essas criancas

Transcrição

livro essas criancas
Osvaldo Reis
ESSAS CRIANÇAS
Para adultos que permanecem meninos
EDITORA HUMANITAS VIVENS
O conhecimento a serviço da vida
MARINGÁ - PR - 2011
Osvaldo Reis
ESSAS CRIANÇAS
Para adultos que permanecem meninos
EDITORA HUMANITAS VIVENS
O conhecimento a serviço da vida
MARINGÁ - PR - 2011
Essas crianças... Osvaldo Reis
Art. 4º. -
Fica decretado que o
homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no
homem
como a palmeira confia
no vento,
como o vento confia no
ar,
como o ar confia no
Essas crianças... Osvaldo Reis
Copyright ©2008 by Osvaldo Reis
Texto, edição e capa: Osvaldo Reis
Fotos das crianças: fornecidas pelos familiares, com autorização formal para publicação.
Foto do autor: Edson Burzega Guitti
A violação de Direitos Autorais é crime
(Art. 184 do Código Penal Brasileiro)
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Sistema de Bibliotecas Públicas Municipais de Maringá – PR, Brasil)
Antônio Facci
R3753e
Reis, Osvaldo
Essas crianças: para adultos que permanecem meninos / Osvaldo
Reis - Maringá : Edição do Autor, 2008.
209 p.
ISBN 978-85-907906-0-0
1. Crianças - Linguagem. 2. Crianças – Humor. 3. Folclore. I.
Título.
CDD 21. ed. B869.7
Só será permitida a reprodução de parte da obra, com a autorização expressa do autor e o
comprometimento de citação da fonte.
Contatos com o autor
Rua Tabaetê, 131 – Jd. Novo Horizonte – CEP 87005-140 – Maringá -Pr
Telefones: (44) 3227-6594/ 9962-5994
Essas crianças... Osvaldo Reis
SUMÁRIO
PROTAGONISTA (S) / FAMÍLIAS
PÁG.
Apresentação...................................................................................................................................
Prefácio...........................................................................................................................................
Ode à Criança..................................................................................................................................
Gabriela e Gustavo / Norma e Cláudio Saldan...............................................................................
Flávia, Cláudia e primos / Maysa Facci e Eliel Diniz....................................................................
Marília e Pedro / Regina Daefiol e Dirceu Herrero Gomes............................................................
Sofia, Manoel / Janete e Paulo Pupim............................................................................................
Isabela e Melina / Leila Figueiredo e Paulo Lee............................................................................
Maysa, Lara e Serginho / Tânia e Sergio Alvares da Silva.............................................................
Marcelo, Raphael e Henrique / Noth Camarão / Domingos Trevizan Filho..................................
Ana e Alexandre / Maria Rosa e Alberto Rocha.............................................................................
Eduarda / Heloísa e Renato Pereira Lopes......................................................................................
Guilherme / Ana Cláudia e José Mário Cassiolato.........................................................................
Naira / Cris e Edson Burzega Guitti...............................................................................................
Juninho / Isabel e Umberto Crispim...............................................................................................
José Francisco e Maria Alice / Mirlei e Atílio Sanches..................................................................
Sandro, Guilherme e Gustavo / Beth, Sandro; Geny e Jaime Bedin..............................................
Gisele / Vitória e Durvalino Bedin.................................................................................................
Josiane / Ofélia e Antônio Fávero..................................................................................................
Josiane, Vinícius, Jônia / Clarice e Tadeu França...........................................................................
Vinicinho / Alline e Vinicíus França...............................................................................................
Amadeu Júnior / Elza e Amadeu da Silva Félix.............................................................................
Thaís e Rodrigo / Lia e José Renato Pereira...................................................................................
Cristiano / Iara Bolsoni e Fernando Souza.....................................................................................
Sérgio Augusto / Célia A. Rosa e Domingos F. Souza...................................................................
Lucas / Marcela Alarcon e Lúcio Borges.......................................................................................
Didi /Anna e Job Ribeiro Borges....................................................................................................
Luana / Liliana e Henrique Magalhães...........................................................................................
Fatinha e Kildare / Doralice e José Zito Magalhães.......................................................................
Murilinho / Luzia e Murilo Filho...................................................................................................
Balissa / Nilcéia e Orlei dos Santos................................................................................................
Rebeca / Maria Helena e Teodoro Alencar.....................................................................................
Ana Paula e Carolina / Ione e Paulo Fernandes Reis......................................................................
Lorena, Fabrícia e Beto / Rosana e Luiz Jorge...............................................................................
Cláudinha / Ieda e Paulo Bacchi.....................................................................................................
Juliana / Cláudia e Milton José Ferri...............................................................................................
Victor Hugo / Márcia e Klybson Oliveira.......................................................................................
Silvia, César e Débora / Isabel e Mauro Fernandes Reis................................................................
Victor Enzo / Juliana e Rodrigo Germani.......................................................................................
Bruno / Vera e Valdir Semensato....................................................................................................
Débora e Moisés / Josefa e José Barros de Souza..........................................................................
Cinthia, Claciele e Gláucia / Claudete e Antônio Schiavon...........................................................
Pedro / Dalva Caetano....................................................................................................................
Vinícius e Carla / Luzia e Edson Lima...........................................................................................
Mario Prata e António Araujo Costa / os mesmos..........................................................................
Priscila e Maurício / Arlene Lima e Ayrton Justus.........................................................................
Reginaldo / Justino Farias...............................................................................................................
Elton e César / Nina e Luiz Bassoli................................................................................................
Roberto, Ricardo, Rafael e Renato / Astrid e Amélio Ruy..............................................................
Paola, Étore e Isabela / Majô Baptistoni e Altamir Cardoso.............................................................
Ana Carla e Isabela / Olga Agulhon...............................................................................................
Camila / Maria de Lourdes e Paulo Sérgio.....................................................................................
Ayres Augusto / Mara Rolim e Aires Gonçalves............................................................................
Renan / Mara Rolim e Aires Gonçalves.........................................................................................
Larissa / Janete e Antônio Rolim Borges.......................................................................................
Thiago / Lucilene Alexandra e Leiva Gonzaga............................................................................................
João Victor e Grazielle / Laide e Altair Andrade............................................................................
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PROTAGONISTA (S) / FAMÍLIAS
PÁG.
Elton, Wanessa e Márcia / Dalva e Manoel Paruche.......................................................................... 120
Augusto / Ediclei e Valter A. Oliveira................................................................................................ 121
Sofia / Maria Luiza e Célio Costa...................................................................................................... 122
Raquel / Neusa e Massaiko Tanahara................................................................................................. 123
Yumi / Juliana e Henrique Sérgio de Oliveira................................................................................................. 124
Bárbara / Marta Medeiros e Agnaldo Darcis...................................................................................... 126
Robertinho / Eolinda Moraes e Roberto Silva.................................................................................... 127
Roberto Silva / Messias e Antônio J. Silva......................................................................................... 128
Bárbara e Maria Eugênia / Mônica Ganen e Beto Fráguas................................................................ 129
Júlia / Maria Montserrat e Luiz Antônio Furlan................................................................................................130
Eduardo / Maria Emília e José Manoel.............................................................................................. 132
André Eduardo / Lúcia Rosa e Darci Romoaldo da Silva............................................................................. 133
Yandre, Daryne, Andrey e Luciano / Lucia e Sebastião Gomes da Costa......................................... 134
Fernando e Paulo César / Dulce e Mauro Bianchi............................................................................. 137
Lara, Lúcia e Beatris / Laura e Reynaldo Costa................................................................................ 138
Marcelo e Alexandre / Maria Luzia e Humberto Raposo.................................................................. 139
Athaybel / Leomara Cristina Tezin.................................................................................................... 140
Guilherme e Gustavo / Beatriz e Francisco Carlos Barbosa..........................................................................141
Bruna e Bia / Rose e Pedro Mariano Pereira...................................................................................... 143
Max e Rafael / Beth e Eduardo Hase.................................................................................................. 147
Gianna / Fátima e Carlos Furlan......................................................................................................... 148
Davi / Maria Paula e Daniel Bemon................................................................................................... 149
Luciano e Luciene / Angelita e Adailton Almeida.............................................................................. 150
Samira, Samantha e Sabrina / Ivanilde e Milton Rui.................................................................................... 151
Aline / Eliane e Anízio Costa Carvalho...............................................................................................152
Gabriel / Andréa Barud e Cláudio Maciel...........................................................................................153
Norma e Douglas / Maria Helena e Osmar Galdini............................................................................ 154
João / Sara e Reinaldo Maia............................................................................................................... 158
Fernando, Leandro e Rafael / Marinalda e Aparecido Baptista.......................................................... 159
Paulo Popovick / o mesmo..................................................................................................................161
Jayanna e Nadyanna / Joanaina e José Luiz Silva...............................................................................162
Jarmiram / Marly e José Edwirges Cardoso........................................................................................163
Hélinton / Jassanan e Tom Gomes.......................................................................................................164
Eduardo, Ricardo e Mayra / Rose e Ricardo Plépis Filho...................................................................165
Diego / Dina e José Donizete da Silva................................................................................................ 167
Nando, César, Fabiola e Jayminho / Marilene e Jayme Rodrigues Carvalho............................................169
Júlia / Edna e Marcos Roberto Meneghin........................................................................................... 171
Edgar, Erick e Pâmela / Ângela e Edgar Tibúrcio...............................................................................173
Felipe e Ana Luísa / Cláudia e Denerval Batista.................................................................................175
Michel e irmãos / Mônica e Euclides Cotrim..................................................................................... 177
Felipe e primos / Yara e César Santos................................................................................................. 178
Fabrício / Florisbela e Francisco Durante........................................................................................... 179
Léo / Elizabete e Paulo Bezerra...........................................................................................................181
Isadora / Eliana Patrícia e Rubens Silva..............................................................................................183
Poliana e Carlos / Odézia e Fortunato Bergamo................................................................................. 185
Elora / Cristina e Marcos Corrêa.........................................................................................................187
Juliane / Aparecida e Edmar Isolani....................................................................................................189
Rogério, Carolina e Rosana / Cleufe, Nair e Francisco Dantas.......................................................... 190
Gabriela, Geórgia e Camila / Néia e Roberto Galante........................................................................ 191
Guilherme e Isadora / Margareth e Aires Pelegrin Melon.................................................................. 193
José Atílio / Nilce e José Sanches Filho............................................................................................. 195
Luíza / Clarisse e Lélis Vieira dos Santos........................................................................................... 196
Landinho e Fernando / Leonor e Orlando Manin............................................................................... 197
Paula / Ivone e Paulo Monteiro..........................................................................................................198
Beto / Rosana e Luiz Jorge................................................................................................................. 199
Lorena / Rosana e Luiz Jorge............................................................................................................. 200
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Essas crianças... Osvaldo Reis
Apresentação
Osvaldo Reis mais uma vez surpreende o público leitor com uma obra
fascinante; desta vez reúne mais de duas centenas de fatos inusitados vividos
por crianças na plenitude da pureza, da inocência, ingenuidade e sinceridade.
Dotado de rara sensibilidade e de um profundo amor pelas crianças, Osvaldo
Reis, por mais de dez anos, foi coletando junto a casais amigos os fatos
engraçados apresentados por seus filhos.
A coletânea traz as fotos e os dados dos personagens que vivem essa
fase esplêndida de suas vidas.
Segundo o autor, o objetivo do livro é mostrar a sinceridade da criança,
o que em muitos casos faz o adulto pensar e refletir sobre as simples
observações que demonstram verdades. “Busco preservar esse tempo de
inocência das crianças que, com o passar dos anos, vão perdendo essa
ingenuidade, essa espontaneidade de expresssar o que pensam. Tenho certeza,
quando estiverem na fase adulta, ESSAS CRIANÇAS terão bons motivos para
rirem dos casos engraçados que viveram junto aos familiares e amigos”,
enfatizou Osvaldo.
O livro não é direcionado apenas aos pais das crianças apresentadas
em suas páginas, é colocado à disposição dos pais e familiares, que por
intermédio da leitura se lembrarão de fatos similares vividos pelos filhos como
doces lembranças e muita risada.
Com ESSAS CRIANÇAS, uma pequena e modesta lição sobre a difícil
arte de manter sempre viva a criança que habita dentro de nós.
Boa leitura!
Antonio Padilha Alonso
Escritor / Historiador
Os folguedos das crianças não são folguedos; pelo contrário, é preciso
julgá-los como suas ações mais sérias.
Montaigne
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Essas crianças... Osvaldo Reis
Prefácio
Plural. Singular. Antíteses que dão a verdadeira dimensão da
versatilidade do escritor Osvaldo Reis. Plural, porque apresenta múltiplas
faces de criatividade. Anteriormente nos brindou com um livro - “A história em
conta-gotas” - em que se revela estudioso pesquisador e profundo conhecedor
da história de Maringá. Escreve com nuances de rara beleza poemas e trovas;
conta e escreve “causos”, textos religionalistas em que assume seu verdadeiro
“ eu”; o homem sertanejo, singular, porque a cada nova obra uma nova face do
escritor surge, com um toque de seu individual talento.
Uma das provas disso é esta fascinante obra: “Essas Crianças", em
que deixa vir à tona o menino travesso e a alma de criança que há em cada um
de nós.
Ele transforma os textos dando-lhes riqueza de detalhes, colocando
senso de humor, leveza, sutilezas e ironias que permeiam palavras e
entrelinhas, abordando com maestria o mundo e o vocabulário; aliás, o
“zecabulário” infantil.
Fica bem patente neste livro, que, apesar das dificuldades da vida,
Osvaldo Reis não se deixa massificar pelo cotidiano, muitas vezes adverso; ao
contrário, aflora mais do que nunca esse seu lado criança.
Foi preciso mergulhar no universo infantil, achar-se um igual, para
dele retirar preciosidades que, ao longo do tempo, deixaram marcas. Aos
familiares cabe grande parcela por essa riqueza, porque eles retiveram na
memória e podem agora ver imortalizados fatos, palavras e histórias que
vivenciaram.
O livro “Essas Crianças” revela, muito, quem e como é o homem
Osvaldo Reis: sensível, engraçado, brinca com o inusitado, ri, faz piadas até de
si mesmo, encara a vida com um humor invejável, como se o tempo estivesse
aprisionado na criança que povoa seu universo.
Florisbela Margonar Durante
Professora e poeta
Membro da Academia de Letras de Maringá
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A todos os “inhos” e “inhas” que alegram e
enfeitam a vida da gente...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
Ode à Criança
O balbuciar da primeira palavra
(foi mamãe ou foi papai?)
O primeiro gracejo,
De quem foi seu primeiro beijo?
E o primeiro palavrão? Que
papelão...!
Ah... Crianças, quantas
lembranças...
A infância sem maldade, quanta
saudade,
O Ataulfo já dizia, com muita
propriedade,
sem nenhuma fantasia, que quando
era criança,
foi feliz e não sabia...
Tem coisas que o tempo não apaga
coisas de que não se esquece...
Então fico meditando,
tristonho me perguntando:
Por que é que criança cresce?
Se um dia eu tiver mandato,
senador ou deputado,
apresento no Congresso,
e sei que vou ter sucesso,
um projeto diferente,
que vai alegrar muito a gente:
imagine, de repente,
um mundo sorridente,
sem maldade, nem malícia,
nem polícia,
de paz e sinceridade,
de sonhos e de esperanças,
um mundo só de crianças...
Estes são os meus planos:
congelar por uns bons anos,
sem direito de crescer,
não chorar, não sofrer;
não ter fome, nem doenças
e nem vacinas com dor,
quero tudo congelado;
eu quero um mundo de amor,
de boquinhas sem dentes,
sorrindo alegremente,
ensinando-nos a viver,
puxando-nos pelas mãos,
mostrando-nos o caminho,
com seu amor e carinho,
e com aquele jeitinho...
Agora pense comigo,
minha amiga, meu amigo,
que tal se fosse assim:
num prazo bem dilatado,
todo o amor congelado,
pra nós, pra você, pra mim?
Osvaldo Reis
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A TV VIRTUAL
Uma dúvida atroz está me atormentando... Tenho certeza que uma dessas
“figuras” - Gustavo, Rebeca, Guilherme, Marcelo, Yumi, Manoel, Sofia, Cláudia,
Pedro, Marília, Carolina, Maysa, Naira, Juninho, Lucas, Josiane, Bia - foi quem
ensinou o rato a subir em lata de banha. Bem... Comecemos pelo Gustavo.
Gustavo, o irmão predileto da Gabriela (depois do temporão Pedro), tem sempre
perguntas e respostas na ponta da língua; parece adulto, mas só tem quatro anos.
Dia desses, ele se aproximou de sua avó Helena e mostrou a ela um desenho - um
quadro com alguns pontos em círculos nos cantos e o meio vazio. A avó examinou o dito
cujo e, sem nada dizer, devolveu-o ao neto. Gustavo não aceitou a aparente indiferença
e indagou:
– Ô, VÓ, VOCÊ NÃO SABE O QUE É ISTO?
– Eu não...
– VOCÊ NÃO TÁ VENDO QUE É UMA TELEVISÃO?
– Claro que não é uma televisão. Cadê a imagem?
A resposta veio na bucha, silenciando a sabidona da vovó:
– Ê, VÓ, VOCÊ NÃO TÁ VENDO QUE TÁ DESLIGADA?!...
CRUELDADE...
O Gustavo, dias passados, conversava com a mãe e a irmã a respeito de carne,
mais precisamente de salsicha, que ele queria saber como era feita. Explica pra lá,
explica pra cá, o sujeitinho acabou entendendo. Mas apesar de ser “atirado na nuca” o
jovenzinho mostrou ao final da conversa que seu coração é bom...
Ocorre que ele soube uma coisa incrível, uma descoberta que o deixou muito
chateado, triste mesmo, é que pra fazer a salsicha que ele tanto gosta, que ele acha uma
delícia... O boi...
A avó que acabou por receber a grande reclamação do neto, que muito triste,
chateado, preocupado, constatou:
– Ô VÓ, ELES ESTÃO MATANDO BOI VIVO...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
MOTEL MIRIM...
O Gustavo era bem miudinho, estava por volta de três a quatro anos de idade e
adorava brincar com uma garotinha da mesma faixa etária, da qual, certamente, ele deve
ter saudades mil. Brincavam de tudo, de médico, professor, professora, aluno e tudo o
mais que suas férteis imaginações criavam. Na casa onde morava Gustavo, havia uma
bela árvore, – uma goiabeira –, e os dois imaginaram construir em seu topo uma casa.
Pelo tamanho dos dois, claro que não ia dar certo. Ainda bem que os dois, por um
detalhe levantado por Gustavo, desistiram do empreendimento.
Certa tarde a amiguinha de Gu convidou o carinha pra brincar de hotel, com o
que ele não concordou. E sua explicação é repleta de lógica e a amiguinha é que acabou
também discordando e a goiabeira, ainda bem, acabou se livrando dos Tarzans...
– EU BRINCO DE HOTEL, VOCÊ BRINCA DE MOTEL... EU SOU
HOMEM; HOMEM É HOTEL. MOLHER É MOTEL; E VOCÊ É MOLHER.
E fim de papo!!!
UM PROBLEMA INTERNACIONAL...
De tanto ouvir falar que tal coisa é do Paraguai, esse “treco” veio do Paraguai,
esse rádio com liquidificador veio do Paraguai, essa escova de cabelos que também tira
retrato veio do Paraguai e mais um monte de outras tantas baboseiras que os adultos
“babam”, imagine uma criança... Gustavo sente-se atraído pelo tal Paraguai. Pergunta
se é longe, se não tem jeito dele ir lá e coisa e tal. A mãe promete, o pai idem, a avó
avaliza... O garotão fica então pentelhando querendo saber a data da viagem, quando
seria realizado seu grande sonho...
Algum tempo depois, juntando tudo o que tinham direito, incluindo a sogra, se
mandam para o vizinho país. Gustavo está ansiosíssimo, elétrico, a todo instante
perguntando. A partir de Floresta, uns 20 quilômetros viajados, tava lá o sujeitinho:
– JÁ TÁ PERTO?
O pai responde que não... Logo à frente, ali por perto de Campo Mourão, Gu
ataca novamente:
– JÁ TÁ CHEGANDO?
Ainda não, Gustavo - e quando pai ou mãe fala o nome inteiro é que a paciência
está se despedindo). A viagem prossegue e a ansiedade do garotão aumenta...
Mas o cansaço da viagem e da aventura o faz dormir. Chegam em Foz do Iguaçu
o pai acorda o filhote, avisando-lhe que estava quase chegando, que "tava" pertinho...
Gu acorda, arregala os olhos, espreme o nariz no vidro, nem pisca. Com o coração a mil,
atravessam a ponte. O pai anuncia:
– Chegamos. Aqui é o Paraguai...
Gustavo, antes demasiadamente ansioso, não se sabe por que, parece ter perdido
o interesse. Disse uma única palavrinha de duas sílabas:
– CREDO!!! virou e dormiu novamente.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
SE MANDA, GABRIELA...
Gustavo está hoje com seus seis, sete anos, mas continua a fera de sempre. A
irmãzinha Gabriela tem entre quatorze, quinze anos, e também continua sendo uma de
suas vítimas preferidas e como (nem sempre) maior bate no menor, Gabriela vai
levando a vida. A avó materna mora pertinho da casa dos pais de Gustavo. Gu e Gabi
vivem ao lado da casa dos avós paternos, Delvi e Henrique, e os jovenzinhos vivem a
pentelhar ambos.
Dia desses, vão visitar a avó Helena... Os dois caminham pela calçada
tranqüilamente quando surge na frente deles um cidadão puxando um baita cachorro,
“marca” Rotivailer, por uma corrente, grossinha, é verdade... E todo dono de cachorro
acha seu bichinho mansinho que só, mas esqueceram de convencer a Gabriela, que fica
apavorada. Gustavo nem aí... O condutor do animal percebe a tremedeira de Gabriela e,
galanteador, tenta acalmar a mocinha avisando-lhe:
– Não se preocupe, ele não morde moça bonita...
Não dá outra, Gustavo entra em cena alfinetando:
– ENTÃO, CORRE GABRIELA!!!
PRESENTE BOBO...
Dar presente é uma coisa deliciosa, talvez mais até que ganhar, mas de vez em
quando a coisa degringola e pode não agradar a quem recebe. Toda mãe acha que criança é
bobona, e só porque ganhou um presente tem de mudar a personalidade e se “abrir” mais
que sanfona de italiano, “e isto” somente para agradar quem lhe deu um mimo(...).
Gabriela não pensava assim...
Um dia, recebe um presente qualquer e não gostou do “trem”; fez aquela carinha
de desaprovação própria de criança. A mãe endoidou e deu uma bronca terrível na
ingrata da filha:
– ÊÊÊ, Gabi, você ganha um presente e fica com essa cara de bunda...??!!
Gustavo que está por perto corre em direção da irmã, fixa seu rosto e corrige a
mãe:
– NÃO É BUNDA, NÃO... NÃO TEM AQUELE PARTIDINHO NO MEIO...
COLOCA OUTRA VEIZ...
O pai de Gustavo, aquele, é São-paulino doente e faz questão de espalhar pra
todo mundo. Um dia, tá lá o cara com uma camisa, mais velha que o rascunho da Bíblia,
de seu time do coração. A camisa do São Paulo Futebol Clube é branca, preta e
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Essas crianças... Osvaldo Reis
vermelha. Tricolor, portanto...
Gustavo, pra variar um pouco, está fazendo perguntas para o pai. O sujeitinho
aponta o dedo para um lugar da surrada camisa e quer saber:
– PAI, PORQUE AQUI NÃO É PRETO?
Didático, o pai explica:
– É porque desbotou...
Ato contínuo Gustavo volta a atacar:
– ENTÃO BOTA DE NOVO...
O UGO E A UGA
Um criminalista ambiental deu a Gustavo um casal de tartarugas, cuja guarda
cabia à irmã mais velha Gabriela, que, um pouco distraída, deixou escapar o tartarugo.
Os bichinhos, no início, fizeram a alegria do garotão, tanto é que ele, orgulhoso,
mostrava-os a todo mundo.
Era um tal de põe na bacia, tira da bacia que a região escrotal de um deles estava
prestes a explodir. Numa dessas amostragens, talvez pela forma de tratamento
empregada pelo “dono”, o enfezado “tartarugo” tacou o “dente” no dedo de Gustavo e,
por bom tempo, lá ficou pendurado... Gustavo deve ter ofendido a masculinidade, ou sei
lá o quê de um de seus bichinhos de estimação, quando explicou:
– ESSA AQUI É A UGA, ELA É FÊMEA. ESSE É O UGO, ELE É
MAIÚSCULO....
O MACACO TÁ CERTO...
Criança faz as mais diversas associações: coisas, nomes, masculino, feminino
etc. E, como afirmava um bordão de antigo programa de televisão, onde um símio dava
um monte de “bola fora” – em verdade, “dentro” – ele mesmo concluía: o macaco tá
certo...
...
É o seguinte. Gustavo era um tanto quanto precoce e, em razão de o pai ser
professor, embora de matemática, o sujeitinho aprendeu a ler bem pequeno, só não
aprendeu a fazer contas, o que seria mais lógico. E criança aprendendo a ler é um
“barato”... Fala mexendo os lábios, soletra, tudo ao mesmo tempo: pa = pá, nó = nó, aí
despacha os acentos e conclui: pano... Gustavo deve ter imaginado o óbvio, se da
chaleira vem o chá; da leiteira, o leite; do orfanato, o órfão...
Um dia, Gustavo, em companhia do pai, está passeando nas proximidades da
Universidade Estadual de Maringá, onde “tá assim” de repúblicas. O garoto vai lendo o
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Essas crianças... Osvaldo Reis
que aparece pela frente. O paciencioso paizão, dá a maior força... Numa casa, onde
funcionava uma das tantas repúblicas, tá lá uma baita placona: PENSIONATO PARA
RAPAZES. Gustavo demora um pouquinho, mas acaba lendo. Aí faz ao pai uma
filosófica pergunta:
– PAI, É AQUI QUE OS RAPAZES VEM PENSAR?!...
VERBO “BINOCULAR”
Gustavo encheu o saco da mãe para que ela lhe desse um “trem” que ele dizia ser
um “espiadô”...
A sabidona da mãe (e também pão-duro) foi numa loja de um-e-noventa-e-nove
(deu um “trabalhão” pra achar...) e lá, após perguntar o preço (?), comprou um belo
binóculo “made in proximidades de Ciudad de Leste” achando que teria matado a
charada...
Era o tal objeto muito bem falsificado, com alça, botões de aproximar, enfim,
dava para se enxergar uma pulga com até trezentos metros de distância, já que o dito
cujo, com seus recursos, fazia os alvos se aproximarem, dando, de vez em quando, um
susto nos “miradores” ...
A mãe, toda orgulhosa, com aquela cara de vitória estampada no semblante,
entregou o “bicho” ao filhote, que, curiosamente, continuou chiando e esclarecendo (?)
de vez a genitora:
– MÃE ISSU NUM É ESPIADÔ... ISSU É BINÓCULO... EU NÃO VÔ
BINOCULAR, EU VÔ ESPIAR...
CRESCENDO...
Quase toda criança adora crescer. As garotas brincam com suas bonecas e as
tratam de filhas, são mães miudinhas, cuidando de sua “família”. Os garotos, sem o
instinto maternal, são práticos e “insensíveis” já que entendem, por exemplo, que
crescer é ter barba e pronto... Gustavo não era diferente dos outros meninos, era só ver o
pai entrar no banheiro pra “fazer” a barba que o sujeitinho ia atrás para fazer a sua
também... Cortava a penugem facial, perguntava ao pai se estava bom, se não “tava”
grande e outras tantas perguntas nesse sentido...
Um dia, no entanto (ou no banheiro...), exagerou na dose e sua pergunta, um
tanto quanto pornográfica e pornofônica, deixou o pai encabulado e rindo:
– PAI, QUANDO É QUE O MEU PILILICO VAI FICÁ BAIBUDO???
23
Essas crianças... Osvaldo Reis
O “CÃOPAGAIO”...
Gustavo, que se o pai não fosse professor de Matemática, faria um livro só dele,
tinha um medo terrível do Urso, um enorme animal da raça canina, paradoxalmente sem
raça, isto é, o famoso SRD, ou sem raça definida, com seus quase trinta centímetros de
altura, por uns 15 de comprimento, lembrando um gato (e dos pequenos). Mas sempre
que Gustavo passava por perto da fera, reparava se o dito cujo estava bem amarrado e se
a corrente era forte. A dona de Urso, a avó Helena, onde, quase sempre, aos domingos, a
família se reúne, tinha no quintal uma baita “arvona” onde o Urso “tava” amarrado, por
causa do neto Gustavo... Atrás da árvore (se é que árvore tem frente), está a prima Ana
Paula, encoberta por seu tronco, o que impedia que Gustavo a enxergasse. E lá vem o
ressabiado garotão que teria de passar por perto do objeto de seu terrível medo...
Ana Paula puxa conversa com Gu:
– Oi, Gustavo...
Gustavo pára, desconfiado, examina bem a corrente que segurava Urso, pensa
um pouco, nota que não corre nenhum perigo, e não querendo, de jeito algum,
aproximação com o “inimigo”, encara-o e desafia:
– O QUE VOCÊ QUÉ, MEU? QUÉ ENCARÁ?...
A GRANA SANTIFICADA...
Gustavo, quando bem pequeno, não sei a quem puxou, era pão-duro que só
vendo. Foi matriculado na escolinha. Lá provavelmente o pessoal da cantina nunca
deve tê-lo visto de perto. Gustavo não se arriscava, pois se olhasse de perto a vitrine
poderia sofrer alguma recaída, assim não passava por perto dos salgadinhos, doces,
refrigerantes, sorvetes e outras tantas guloseimas. Os pais achavam estranho o fato de o
garotão não comer nenhum lanche na escolinha, já que chegava em casa devorando
tudo o que via pela frente, demonstrando um apetite de leão...
A mãe, que sempre dava um “troco” pro filhão, quer saber por que é que ele não
comprava o que comer na escolinha. Gustavo sabiamente esclarece:
– É QUE EU GOSTO DE CANONIZAR MEU DINHEIRO...
“GOLADONA”...
Outra de restaurante (só não sei se do mesmo...). O Gustavo “tá” aparentemente
(mas só aparentemente mesmo...) morto, nem aí com a prosa dos outros, mas ligado,
antenado, como quase toda criança...
Vem o pedido das bebidas. Cláudio, o pai, adora açúcar. Se nascesse meia hora
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Essas crianças... Osvaldo Reis
depois, na certa teria nascido formiga. Pede um suco de frutas, já devida e
generosamente adoçado pela natureza, mesmo assim, acrescenta umas
“trocentas”colheradas de açúcar e a coisa vira um melado.
Gustavo caladão. A mãe do jovenzinho, vaidosa, “tá” sempre fazendo dieta, de
regime e coisas do gênero. Gustavo deve ter se lembrado das ordens da mãe na hora da
comida e, principalmente, dos remédios, com aqueles tradicionais “come tudo”, “bebe
tudo” e, incentivando, “duma vez”... Cláudio, cavalheiresca e “sacaneosamente”, dá
uma chacoalhada no copo e oferece à esposa, que recusa terminantemente e explica:
– Você “tá” doido. Isso aí, superdoce, engorda demais. Deve ter umas mil
calorias cada gole... Aí é a vez de Gustavo aconselhar:
– ENTÃO BEBE NUM GOLE SÓ !!!
ABSTÊMIO...
Domingão bonito que só. Gustavo, aquele, acompanha a família para um
almoço num restaurante da cidade. Chegam, escolhem a mesa, lavam as mãos, ritual de
sempre. Os garçons, competentes profissionais, escancaram suas bocas dando as boas
vindas etc. e tal.
Aí, com todo mundo já à mesa, o garçom, simpático, começa a fazer as
tradicionais perguntas pela mãe, junto com um baita sorrisão:
– A senhora quer tormar o quê?
Norma pede um suco qualquer, a mesma pergunta para a irmãzinha Gabriela,
que pede um refrigerante, depois ao pai que por sua vez pede também um suco. Aí o
garçom se aproxima de Gustavo e, simpaticamente, puxando brincadeira, dá um
tapinha nas costas do garotão e manda ver:
– E para você, uma “pinga” ?
A resposta de Gustavo deixou o sujeito com cara de “dois de paus” :
– NÃO, OBRIGADO, PAREI DE BEBER.
GABRIELA SALDAN
GUSTAVO SALDAN
PEDRO SALDAN
PAIS
Norma / Cláudio Saldan
AVÓS PATERNOS
Delvi / Henrique Saldan
AVÓS MATERNOS
Maria Helena / Osmar Galdini
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Essas crianças... Osvaldo Reis
SERVIÇO INCOMPLETO
A mãe do Márcio Júnior tinha o belo hábito de lavar o traseiro do filhote após o
tradicional cocô. Um dia, o tio Eliel leva o sobrinho até o clube. Assim que chegaram o
garotão disse que precisava ir até o banheiro. O tio mandou que fosse. Ele obedeceu,
mas voltou logo em seguida, sem deixar a “coisa” lá no devido lugar, explicando ao tio
que o banheiro não estava limpo... Eliel disse ao sobrinho que o seguisse, que ele
limparia o vaso pra ele... Mas não deu tempo... Aconteceu o imprevisto... Eliel ensinoulhe o que fazer para disfarçar: amarre a toalha na cintura e caminhe normalmente até o
banheiro... Márcio obedeceu (como sempre!), só que o “normalmente” não foi assim
tão normal: uma perna caminhava pelo sul e outra, pelo norte, lembrando uma
forquilha. Nada de excepcional para a situação. Lá chegando Márcio completou o
“trabalho” enquanto o tio lavou seu calção. Deixando o trono, Eliel limpou-lhe também
o traseiro...
O tempo passou, um ano, dois. Belo dia Márcio resolve encarar Eliel, e o tio
exigindo respeito, lembrou-lhe:
– Qual é a tua, rapaz, eu já limpei o seu traseiro...
Márcio não discutiu com o tio; apenas lembrou-o, com a maior naturalidade:
– LIMPOU, MAS NÃO LAVOU...
SEM LENÇO E SEM DOCUMENTO...
O Márcio, sabe-se lá por que, tinha um medo terrível daquele treco de lavar
carros, aquelas buchonas redondas que espirram água e a gente fica dentro do veículo,
sem saber direito se é o carro ou o “bicho” que tá andando. E não é só o Márcio que tem
medo daquilo, não. Tem mais gente. Acontece que o Júnior gostava de sair muito com o
tio, que gostava de manter o carro limpo e, para ser rápido, sem perder muito tempo,
lavava sempre por este método. O Júnior sempre chorava. Eliel resolveu colocar um
basta no berreiro que se avizinhava sempre que ia lavar o possante e, um dia, ameaçou o
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Essas crianças... Osvaldo Reis
sobrinho:
– Se você chorar eu vou cortar o seu documento!
Júnior retruca:
– TIO, MAS, EU NÃO TENHO DOCUMENTO...
Eliel explica:
– Seu documento é o seu pipi...
O carro foi lavado, Júnior não chorou. Em casa delatou para a mãe, mas apenas
trocou alguma coisa:
– Ô MÃE, O TIO FALOU QUE SE EU CHORASSE ELE IA CORTAR MEU
CARTÃO DE CRÉDITO!!!
O CARRO “DESCOBERTO”...
Cláudia, a caçulinha da Maysa e do Eliel, foi passear no carro novo do pai. Olha
pra lá, olha pra cá, nota aquele buraco na capota do veiculo. Em razão da liberdade que a
coisa propicia, do vento que assopra os cabelos da baixinha, entre tantas outras
novidades, faz com a pequena Cláudia goste do “treco”. E ela gostou tanto que danou a
contar, a espalhar pra Deus e o mundo o que vira. Só não se sabe se suas “escutantes”
estavam entendendo o que a gatinha afirmava, toda orgulhosa e cheia de razão sobre o
teto solar do veículo:
– O CARRO DO MEU PAI É SEM TELHADO...
ELA BATEU NA MINHA FILHA...
Um belo dia a “violenta” Flavinha pega a irmãzinha Cláudia dando uma surra
em sua boneca... Uma surra braba, a pobrezinha da boneca tava jogada no chão, olhos
cheios de poeira, braços quase arrancados, pernas idem, pescoço soltando a cabeça,
uma tragédia... Não deu outra: Flavinha vingou-se da maninha aplicando-lhe também
uma surra, só não tão violenta, não aconteceu nenhuma quebra de dentes, braços ou
qualquer outro órgão... Mas surra é surra... É uma coisa humilhante, a “apanhada” chora
(e dá-lhe choro), de todos os modos e tipos, vai do “coennnnnn” ao “buááááá” em
segundos e corre contar pra mãe... Mãe é pra essas coisas (também!). Flávia vai, meio
ressabiada, atrás da irmã que a “entrega” para a genitora:
– MÃE, A FLÁVIA BATEU NI MIM...
Maysa quer saber por que, onde já se viu uma violência dessas?
Flávia, a “agressora” explica e justifica:
– ELA BATEU NA MINHA BONECA... E MINHA BONECA É COMO UMA
FILHA PRA MIM...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
QUE BICHO É ESSE?????
Eliel tinha por volta de três anos. Morava com a família em Iguatemi, casa de
madeira, na verdade num “pedaço” do grupo escolar onde o pai trabalhava, água de
poço, “casinha” lá nos fundos e, de vez em quando, tinha de imitar nosso maratonista
Vanderlei Cordeiro de Lima, se era coisa mais urgente, era longe, enfim... Surge em
Maringá o primeiro conjunto habitacional (não posso falar o ano para não entregar a
idade do Eliel) que ficava nas proximidades do (hoje) Country Club. Seu José se
inscreve e consegue uma casa.
Casa novinha em folha, ou melhor, de material, como eram chamadas na época
as casas de alvenaria... Eliel estranhou uma casa sem as tradicionais tábuas... O pai
começa a explicar ao filho a nova técnica de construção e também a mostrar os
compartimentos da nova casa, aqui é isso, aqui aquilo, e vem o banheiro. Banheiro com
vaso sanitário e tudo. Um luxo, Eliel ressabiado, desconfiado. O pai explica pra que
serve e mostra a “cordinha” - no caso uma correntinha com uma argola na ponta - que
deveria ser puxada. O garoto tenta, pula, esperneia, mas não consegue, não alcança... O
pai o coloca sobre o vaso, aí ficou fácil... Eliel enfia o dedo na argola e manda a corrente
pra baixo, a água descamba da caixa, enchendo o vaso, barulho terrível. Eliel salta do
vaso e sai em desabalada carreira e, se não fosse contido três quarteirões adiante, hoje,
alguns janeiros depois, certamente estaria ali por perto de Sena Madureira, no “vizinho”
Acre... Tadinho do Vanderlei, nessa manhã teria fatalmente perdido pro mocinho que
veio de Iguatemi...
SEIS POR MEIA DÚZIA...
Claudinha é do tipo contestadora. E o que é pior, vez por outra, não é que ela tem
razão? Seguinte: tanto o pai, quanto a mãe, corrige, sempre que percebem, as filhas
naqueles tradicionais “subi pra cima”, “desci pra baixo” etc. Tem gente que basta ouvir
batida na porta ou a campainha, que “manda entrar para dentro”, como se alguém
pudesse entrar para fora. É comum também se ouvir de profissionais da “latinha”,
quando em apresentação de algum evento, após o discurso, principalmente em
comícios, o locutor anunciar: acabamos de ouvir as palavras do (a)... Como se no
microfone, num discurso, pudesse ser ouvida qualquer outra coisa que não fosse
palavra...
Assim, o casal “tá” sempre corrigindo as gatinhas... Mas... Maysa precisava sair
e Cláudia não estava querendo ir, e não se concebia deixá-la sozinha... Maysa convence
a filha a ir junto. “Enfia” a criança no carro e se manda. Aí percebe a chegada da avó das
meninas. Dá marcha à ré e deixa a filhota em casa.
O pai chega e pergunta o porquê dela não ter ido e o que a mãe fez para deixá-la
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Essas crianças... Osvaldo Reis
voltar. Cláudia explica:
– A GENTE IA SAINDO AÍ A MÃE VIU A VÓ E VOLTOU PARA TRÁS...
Atento, Eliel corrige a filha, dizendo que não se volta para trás. A explicação de
Cláudia é lógica e convincente:
– OLHA EU VOU PA TRÁS DE VOCÊ, VOU PA SUA FRENTE E DEPOIS EU
VOLTO PRA ONDE EU TAVA. VOLTEI OU NUM VOLTEI PA TRÁS????
EU COMO DE TODO JEITO...
Claudinha não gostava muito de comer. Tem criança que é assim mesmo. O pai
apela, promete mundos e fundos, ameaça, e nada. A mãe faz a mesma coisa e tudo do
mesmo jeito, nada da filhota se alimentar bem, só belisca... E todo dia à hora da refeição
a história se repete: come filha, come filha... Vendo que a menina não queria mesmo
saber de comida, o pai resolve puxar a faca: encara Claudinha, com cara fechada, de
poucos amigos, resolve mostrar quem manda e ordena:
– Come direito, filha!!!!
Aí, a fêmea do gado vacum encaminhou-se para o alagadiço... Claudinha encara
o pai, mexe com a boca, com os dois cantos, pra lá e pra cá, faz um “bico” e tasca:
– EU COMO DIREITO, ESQUERDO E PELO MEIO...
PATO PEQUENO MOÍDO...
A Camila é um “grude” com tio Eliel. Quando tem oportunidade ela acompanha
o tiozão onde quer que ele vá, jornal, farmácia, quitanda, hospital... Dia desses, a esposa
Maysa resolve botar pra fora seus dotes culinários, uma receita que usaria “boi
ralado”... Maysa “despacha” o marido para o açougue, a sobrinha se manda junto. Lá
chegando, Eliel vai direto ao balcão e pede ao atendente:
– Por favor, eu quero um quilo de carne de boi, moída, de primeira...
A sobrinha presta atenção no pedido achando-o muito estranho. Carne de boi
moída? Esquisito, pensou Camila, que, curiosa, pergunta a Eliel:
– TIO, VOCÊ COMPRA CARNE DE BOI MOÍDA?
Eliel diz que sim. Aí a garota explica:
– A MINHA MÃE SÓ COMPRA PATO... CARNE DE PATO MOÍDA...
O açougueiro ajudou a “traduzir”: a mãe de Camila só usava “patinho”, em vez
de alcatra, coxão mole, filé, ou qualquer outra carne...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
LEITE MUSICAL...
O casal Maysa/Eliel Diniz tem duas filhotas, a Cláudia, mais nova e a Flávia, a
maiorzinha, já começando a ler, apesar de ter apenas quatro anos incompletos. Eliel
sempre compra para a filha aqueles livrinhos infantis que traz aquele mundaréu de
perguntas... Aquele negócio de o que é? O que é? Que não acaba mais...
E quando ela não sabe, o pai, lógico, sabe, a mãe idem. Dia desses, a garota acha
num desses livrinhos uma perguntinha, uma charadinha, bem marota, não conseguindo
saber, vai ter com Eliel:
– PAI, QUANDO É QUE O LEITE VIRA MÚSICA?
E mostra o livro ao velho. Eliel procura a página que tem a resposta e, sabidão,
responde:
– Quando é sonata. Uma mistura de cacófato com trocadilho que para entender é
preciso acentuar a letra "o" e separar as duas sílabas iniciais.
A gatinha entendeu. Entendeu tanto, que dias depois Eliel vai tomar leite, coloca
a vasilha naquele televisor, também parecido com computador, mas que na verdade é
fogão e muita gente chama de microondas para esquentar. Após o aquecimento, Eliel
apanha a vasilha notando que a parte superior tinha virado nata, em razão da gordura. Aí
o “guloso” do paizão “agarra” com os dedos aquela coisa que lembra um espaguete
mostra e diz à filha:
– É nata e é uma delícia... E mandou para baixo.
Flávia lembrou da pergunta e, mais que depressa, encostou o ouvido no copo
para ouvir a música que deveria sair de dentro do dito cujo...
CLAUDIA FACCI DINIZ
FLÁVIA FACCI DINIZ
PAIS
Maysa Facci / Eliel Diniz
AVÓS MATERNOS
Guiomar / Antenor Facci
AVÓS PATERNOS
Clara / José Pereira Diniz
Fico com a pureza das respostas das crianças...
Gonzaguinha
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Essas crianças... Osvaldo Reis
SENSIBILIDADE!!!
Marília, musa de um Dirceu contemporâneo, seu pai, é tema e inspiração do
livro “Cartas para Marília - de Pai para Filha: Uma Declaração de Amor”, aliás,
belíssimo, digno do outro Dirceu e com uma diferença, lá a Marília só tinha o Dirceu,
aqui, no caso, ela tem também a “babona” mãe Regina. Regina Célia. É mole ser
Marília, ter um pai Dirceu e a mãe, Rainha do Céu? A gatinha, com razão, tá com tudo e
não tá prosa... Os pais colecionam suas pérolas para, provavelmente, fazerem um outro
livro falando de suas “bolas foras”, suas “tiradas”, já que ambos são jornalistas (e dos
bons!). Mas algumas dessas pérolas “consegui arrancar” do casal.Uma delas é a
seguinte:
Um dia, “tá” lá a mãe e a filhota brincando, de repente Marília, que ainda não
havia completado três anos, quase nocauteia a mãe acertando-lhe um direto, soco
mesmo, no abdômen. Regina reclama e ensina ao mesmo tempo:
– Ai, filha, a barriga da mamãe é sensível...
O cérebro da gatinha entra em ação e vem, na bucha, a pergunta:
– E QUANDO É QUE VAI SER COM SÍVEL?????
O FRIO TÁ LÁ FORA...
A Marília começou a freqüentar a escolinha. A tarefa de levá-la e buscá-la era
“fraternalmente” dividida entre o pai e a mãe. A fraterna divisão é mais ou menos assim:
Regina a leva e busca, dia sim e outro também. Dirceu, só de vez em quando cumpre o
prazeroso dever de carregar a filhota para estudar. Num desses raros dias, o sol “tá”
estalando mamona e assim que a garota entrou no carro, começou a abrir os vidros. O
pai quer saber o motivo:
– TÁ MUITO QUENTE AQUI... TÔ ABRINDO O VIDRO PRA ENTRAR O
FRIO!
No dia seguinte, mais uma vez coube a Dirceu deixá-la na escolinha. Assim que
parou o veículo pra filha descer, lembrando o dia anterior, Marília dá uma dura no
velho, que, mais uma vez, danou a rir da rabugice da filhota:
– PAI, VÊ SE HOJE VOCÊ NÃO DEIXA O CARRO NO SOL, TÁ???
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Essas crianças... Osvaldo Reis
ADVOGANDO EM CAUSA PRÓPRIA!
A Marília, pequena ainda, tem personalidade forte. Na saída da escolinha,
sempre cansada e esfomeada, gosta que a mãe leve a mamadeira para ela e mama que é
uma grandeza. Depois, se entrega ao sono no carro mesmo; nem dá tempo de chegar em
casa.
Quando o paizão tem de apanhá-la, não tem mamadeira: é que o pai vai do
trabalho para a escola e lá no trabalho não tem fogão, leite e, principalmente, a mamãe;
assim, não é possível preparar a mamadeira. Papai explica isso pra filhota, que não tá
nem aí com a argumentação; pra ela tudo é papo furado e ela quer mesmo é saber:
– PAI, PORQUE CÊ NÃO TROUXE MEU MAMÁ?
O pai tenta repetir a “desconvincente” explicação.
Marília vai direto ao assunto, isto é, à parte que lhe interessa:
– PAI, SE VOCÊ NÃO PODE TRAZER MAMADEIRA, ENTÃO POR QUE
VOCÊ NÃO DEIXA A MAMÃE VIR ME BUSCAR???
VELHO E USADO!
Os avós nem sempre gostam de ser chamados de velhos. Acho que no fundo, no
fundo, ninguém gosta, principalmente pelo sentido que a coisa simboliza, velho não
serve mais, é “gagá”, trapo ou coisa que o valha. O vovô Luiz, de Marília, não foge à
regra.
Numa bela manhã, manhã mesmo, cedinho, os pais estão ainda dormindo e a
gatinha, num rompante, “xinga” o avô de velho.
O avô, bem humorado, disse que não era velho, mas sim usado.
Usado? Marília não entendeu bulhufas, não soube exatamente o que o avô quis
dizer e pede explicação.
Esclarece o vovô:
– Sou usado pela vovó, pela mamãe...
Marília aceitou, entendeu a explicação e completou:
– USADO PELO PAPAI...
O avô percebeu a escorregadela e protestou:
– Ooôpa pelo papai, não senhora!!!
FUTURÓLOGA...
O avô tava deitadão no chão, sem camisa, à vontade mesmo. Marília está
brincando por perto. De repente se aproxima e “garra” nos cabelos do peito dele.
Cabelos nevados, branquinhos da silva... Sem mais, nem menos, Marília, que não
obteve nenhuma resposta, indaga:
– VÔ, QUANDO MEU PAI VIRAR VELHO, O CABELO DO PEITO DELE
VAI CRESCER IGUAL O SEU???
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Essas crianças... Osvaldo Reis
MUDA O DISCO!
Marilia está na escolinha. Por lá, tem um montão de amigas e também amigos.
Dentre esses tantos amigos, Aninha, que acaba de ganhar um irmãozinho...
Marília chega da escola, indignada e conta pra mãe:
– MAMÃE, A MINHA AMIGA ANINHA SÓ FALA NO IRMÃOZINHO
NOVO DELA, O MATEUS... FALA O TEMPO TODO DELE... NÃO PODE SÓ
FALAR DISSO, MAS TAMBÉM DE OUTRAS COISAS, NÉ, MÃE???
MAL COMPARANDO...
O irmão da Marília, Pedro, está na escolinha. O sujeitinho tem uma professora
que além de muito simpática é também muito bonita e se destaca por sua estatura. O
Pedro, aparentemente, nada tinha a ver com o peixe. Ou tinha? A bela professora está
tentando fazer um coleguinha de Pedro comer, tarefa, aliás, nada fácil. Seus argumentos
já estavam se dissipando, desaparecendo, escafedendo, aí vem a professora com uma
“tirada” irresistível, infalível... E teria dado certo se não fosse a espirituosidade de
Pedro... A “tia” manda ver, orgulhosa:
– Se você comer tudo, vai ficar grande como eu...
Pedro desconcerta a professora:
– MAS PROFESSORA, A SENHORA É PEQUENININHA!!!
FICA NA “SUA” MEU!
O autor é uma das maiores feras de nossa literatura, Pedro não tem ainda a menor
idéia de quem é Mário Prata, que, entre outras coisas, escreve crônicas como ninguém...
Pedro sabe, no entanto, que o pai prefere um livro do que dar a atenção devida ao filho...
Resumindo: o pai tá lendo Mário Prata, e Pedro, deitado no chão, ao lado, brinca com
um carrinho em miniatura. O pai, devorando o livro, quase nem percebe a presença do
garotão...
Pedro resolve conversar sozinho. Bater um papo com ele mesmo... O pai não
consegue saber o que o filhote está falando... Pedro parece estar desabafando... O pai,
desatento, querendo saber o que o filho dizia, vem com aquele jeito tradicional de
perguntar, sem saber o quê:
– Hããã??? Hãããã?????
Pedro se vinga. Levanta-se, incluindo a voz e indignado, mostra o brinquedo e
tasca:
– EU NÃO TÔ FALANDO COM VOCÊ... EU TÔ FALANDO COM O MEU
CARRINHO!!!! VRUUUUMMMM!!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
OUVINDO COM OS OLHOS...
Naquela noite o Pedro resolve fazer uma birrazinha antes de pegar no sono. O
pai, já um pouco impaciente, tenta fazer o filhão entregar-se a Morfeu... Mas Pedro
prefere continuar conversando, tava com a pilha toda, isto é, com a corda toda e pilha
nova... O pai não teve outro jeito deu-lhe uma sonora bronca... Pedro chantageia:
encolhe-se todo, cara de anjo, pede a mamadeira, o pai resmunga, ou melhor, responde:
– Tá bom. Vou fazer a mamadeira, mas fecha os olhos e dorme!
O pai sai para preparar a mamadeira. Pedro “reacorda” e começa a conversar
com Marília (a quem, vez por outra, chama Lila):
– LILA, CONTA UMA HISTORINHA!
Marília lembra-o da recomendação do pai:
– Pedro, o papai mandou você ficar de olho fechado...
Pedro não pestaneja:
– ENTÃO CONTA A HISTORINHA QUE EU ESCUTO DE OLHO
FECHADO!!!
VOCÊ NÃO PAGA A LUZ QUE APAGA!
O Pedro desde bem miudinho, é muito responsável, e põe responsável nisso! Pra
se ter uma idéia dessa boa mania do garoto, basta dizer que, com um ano e meio de vida,
já acertava, colocava no devido lugar, os tapetes que encontrava fora, chutados por pés
distraídos. Luz acesa, então, nem pensar, bastava ver que saía apagando. Se alguma
coisa caía no chão, tá o Pedro catando. Tem mais um punhado de outras tantas coisas
que o jovenzinho “conserta”... Ultimamente “tá” com mania de limpeza, quer por que
quer lavar tudo o que vê pela frente, só tem um detalhe: sua cabeça ainda nem alcança a
pia e ele acaba se valendo de um banquinho...
Mas naquela madrugada Pedro se excedeu... Cinco horas da manhã e o carinha
começa a resmungar... Balbuciando alguma coisa, morrendo de sono, com um olho
fechado e o outro idem. O pai se aproxima do berço pra “descobrir” o que estava se
passando e consegue “traduzir” uma palavrinha de duas sílabas, cuja pronúncia saía
bem separada:
– XI...... XI....! Em razão de tanto sono, não consegue sequer emendar. O pai
pega o filhote no colo e se manda para o banheiro. Acende a luz da luminária e o coloca
no trono. Pedro cumpre rigorosamente o anunciado... O xixi é “escrito” com uns
trocentos e tantos is, tal a intensidade. Terminada a coisa, o pai levanta a calça do filhote
que ainda meio dormindo, é levado de volta ao berço... Mas mesmo dormitando, Pedro
não perde o senso de responsabilidade, e enquanto o pai o ajeita no ninho, com os olhos
bem fechados, lembra a distração do velho:
– CÊ ESQUECEU DE APAGAR A LUZ DO BANHEIRO!!!
Vá ter responsabilidade assim lá na... Casa do Dirceu, da Regina, da Marília...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DÁ LICENÇA!!!
Essa do Pedro, aparentemente, não tem nenhuma graça. Ninguém, com certeza,
vai morrer de rir quando ler ou ouvir essa história... Mas entre no clima. O carinha não
tem ainda dois anos, mas já é motoqueiro, um tanto quanto precoce, é verdade...
Um belo dia, tá lá o Pedro com sua “Harley Davidson” de plástico,
incansavelmente, dando voltas em volta da casa da vovó...
Adultos “mal educados” adoram estragar brincadeiras de criança... Com Pedro e
sua moto não foi diferente... Avô, avó, pai, mãe resolvem ficar parados na frente do
viajante atrapalhando sua passagem... Se você acha que Pedro danou chorar, fez birra
ou coisa do gênero, enganou-se redondamente: Pedro ignorou a presença daquela
“gente” no meio de seu caminho, sequer levantou os olhos pra ela, deu meia-volta e
continuou sua “pedalante” trajetória, imaginando, certamente, que aqueles “babacas”
não iriam interromper seu passeio. Pedroca não deu a mínima e deixou todo mundo com
cara de tacho.
MARÍLIA DAEFIOL HERRERO GOMES
PEDRO DAEFIOL HERRERO GOMES
PAIS
Regina Daefiol / Dirceu Herrero Gomes
AVÓS MATERNOS
Maria da Conceição / Luiz Daefiol
AVÓS PATERNOS
Dolores / Dorival de Assis Gomes
O encontro
Eis que encontro um retrato meu aos 10 anos.
Escondo, súbito, o retrato.
Sei lá o que estará pensando de mim aquele guri.
Mário Quintana
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Essas crianças... Osvaldo Reis
NÃO “TÔ” DESCALÇO...
Noth resolve, antes de buscar os filhotes na escola, passar na casa de Janete e
Paulo Pupim e convidar a Sofia para ir junto. Feito o convite, a gatinha, com dois anos e
alguns meses, topa sem pestanejar. A mãe da garota também não colocou nenhuma
objeção. Noth, cuidadosa, ajeita a pequena no banco do carro, com cadeirinha e tudo,
aperta o cinto e quer saber da filhinha da amiga como ela estava se sentindo, se estava
tudo bem, tudo normal, saber, enfim, da vida dela e, sem mais delongas, vai direto ao
assunto e indaga:
– E aí, Sofia, como é que você está?
A resposta da garota também direta e objetiva, esclarece, clareia, tirando
qualquer dúvida que por acaso a amiga adulta pudesse ter:
– EU TÔ DE SANDÁLIA!!!!!!!!!
QUEM SOU EU???!!!!
Manoel tinha por volta de dois anos. A mãe e a tia Claudete davam ao garoto
tanto dengo (e põe dengo nisso!) que sequer percebiam o exagero. Eram tantos os
nomes, que, em bom Mandarim, significaria, mais ou menos, o trem que sai às sete, vai
desfilando suavemente pelas curvas da estrada, até chegar ao seu destino (ou seja, chi,
cham, chung, pong, bloong, e por aí afora). Ao Manoel, em bom português (?)
chamavam-no Chu, chuchu, tchuco, thuthuco e mais um montão de outros tantos
adjetivos.
Adulto é um barato...
Resolveram então ensinar o seu nome correto. Tia e mãe “babonas”, algum
tempo depois, certíssimas de que o garoto tinha memorizado o nome, resolvem indagálo, começando pela mãe:
– Como é o seu nome, filho? Fale filho, responde pra mamãe que é Manoel... Vou
perguntar de novo...
– Como é o seu nome?
Manoel dá uma pensadinha e manda ver:
– É TCHUCA!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
QUAL DELAS???
Manoel, filho de Paulo Pupim e Janete de Carvalho, sempre foi uma criança
muito gentil, daquelas crianças que parecem ter nascido sorrindo e continuaram vida
afora, apesar de “mensalão”, “malas”, “cuecas” e tantas outras melecas que os
chamados adultos produzem, aliás, em demasia, quase que “Rondoniana”, nos últimos
tempos.
O sujeitinho, com três anos aproximadamente, saía do prédio em que morava em
companhia da mãe, quando “trombaram” com a zeladora, uma senhora negra, que
acompanhada por uma ajudante, lavava o corredor. A mãe de Manoel ao passar por elas
cumprimentou-as sorridente, com aquele tradicional (e gostoso, diga-se) Bom Dia...
Não deu outra: Manoel, atento à cena, também decidiu fazer a mesma coisa e
olhando, como a mãe, para as duas, mandou o seu sonoro:
– BOM DIA!
A zeladora observou:
– Que graça! Tão pequeno e tão educado...
Até hoje ninguém sabe por que é que o Manoel olhando para trás, perguntou:
– QUEM FALOU, MÃE... A BRANCA OU A PRETA???
ENDOIDANDO...
Manoel tinha três anos e meio. A mãe sempre cantava, dançava e fazia caretas
pra ele. Uma verdadeira “palhaça”, fazia de tudo para divertir o menino. Um dia,
lanchando à mesa, a mãe resolveu tornar ainda mais agradável a refeição do filho.
Começou, como sempre, a cantar e a dançar animadamente, convicta de que estava
abafando... Mas criança é criança... De repente o lado artístico maternal veio abaixo
quando Manoel, aparentemente irritado, perguntou:
– O QUE CÊ TÁ, MÃE? TÁ DOIDA?
CAINDO DO CÉU...
Manoel ia completar seis anos. Mas a festa não seria tão animada, tão alegre: sua
tia Claudete não estaria presente: a morte a levara meses antes. E era difícil esquecer,
passar um mata-borrão numa tia tão querida, tão atenciosa, tão carinhosa e que o enchia
de presentes, mesmo sem ser aniversário. E naquele dia era seu aniversário e a tia não
estava lá... Seus amiguinhos estavam. Festinha de criança, balões, pipoca, brigadeiro,
aquelas coisinhas, sem falar claro, no bolo, que criança nunca esquece. Tudo estava
indo muito bem. Lá pelo meio da festa, Manoel olha pra cima e pergunta:
– MÃE, SERÁ QUE A TIA VAI JOGAR PRESENTES LÁ DO CÉU???
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DESAFINADO...
A tia Claudete em companhia do sobrinho Manoel adorava ouvir música, ambos
curtiam de montão. A tia, mais ainda, vendo o interesse de Manoel pela arte. Mas...
Manoel estava com seis anos e a tia veio a falecer. No velório Manoel quer saber da mãe:
– MÃE, SERÁ QUE DEUS NÃO DEIXA EU FALAR COM ELA SÓ UM
POUQUINHO?
O pai, tentando dizer ao filho que era impossível, se propõe a conversar com ele.
O filho não aceita e esclarece:
– VOCÊ NÃO ENTENDE NADA DE MÚSICA!!!!
O BANGUELA...
Aos quatro anos e meio Melina queria porque queria andar de ônibus circular em
Maringá, coisa que ainda não tinha feito. Queria, decerto, conhecer não só o ônibus,
mas também sua cidade. A mãe sabe-se lá o porquê, nunca atendia ao pedido da filha.
Mas, sempre nessas horas, surge alguém de coração “mais mole” que acaba tendo
sensibilidade suficiente para atender desejo tão simples.
No caso de Melina, a salvadora foi a tia Janete a levar a pequena para a grande
aventura.
As duas entraram no ônibus. Melina, miúda, ajoelhou-se no banco e em vez de
observar a paisagem, as árvores floridas, enfim, a cidade, achou mais interessante olhar
um senhor que cochilava (e alguém ronca cochilando?) num banco logo atrás... Em
determinado momento, o homem acordou e deu de cara com aquela carinha linda de
olho nele. Resolveu, então, oferecer-lhe um baita sorrisão, simpático deveras, daqueles
que mostravam a famosa abóbada palatina, também conhecida como “céu da boca”.
Melina deve ter se assustado diante da inusitada cena e imediatamente, com voz
estridente e ardida, gritou para todos ouvirem:
– TIA JANE, POR QUE ELE NÃO TEM DENTES???
QUESTÃO DE ORDEM
Melina, filhota de Leila e Paulo, nasceu em Maringá e vive hoje em Curitiba.
Quando morava na Cidade Canção, no prédio em que viviam havia um morador que era
muito querido das crianças, em razão do carinho que a elas dedicava. Este senhor,
conhecido pelo seu sobrenome, tratava a todos com muita atenção.
Melina, então com três anos e poucos meses, estava na garagem para sair com a
mãe. De repente, avista seu amigo e querendo puxar uma prosa, começou a chamá-lo:
– SEO NOGUEIRO! SEO NOGUEIRO!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A mãe interfere e corrige a filha:
– Melina, não é seo Nogueiro, é seo Nogueira (o sobrenome correto daquele
senhor).
Ninguém mandou nossa língua ser tão complicada... Em vez de corrigir, a mãe é
que acabou sendo ensinada:
– MAS, MÃE, ELE NÃO É MULHER!!!
DUELO À BALA
A Sofia adora doce (será só ela?) e, particularmente, tem uma queda por bala,
indiferentemente do sabor. Pode ser canela, beterraba, chuchu, abobrinha, melancia,
menta, não importa, a gatinha “tá” sempre com um punhado nas mãos e as devora com
certa volúpia.
Sofia é muito prática e objetiva, parece não ter (nem completou!) dois anos.
Num domingo desses, quando se faz macarronada em casa e a mãe, em razão de
tantos afazeres, “esquece” um pouco os pequenos, está acontecendo uma ferrenha
competição entre a favorita Sofia e algumas outras crianças, mais ou menos da mesma
faixa etária. Sofia dispara: está, no mínimo, quinze balas à frente. As adversárias, sem a
mínima chance.
Dayane, um pouco mais velha, (está com seus quatro anos e poucos) experiente,
catimbeira, arranca, na “manha”, o segredo de Sofia que acabou por entregar o ouro na
próxima disputa, fatalmente, não vão perder tão feio.
Com todo mundo já “baleado”, Dayane como quem não quer nada, pergunta:
– SOFIA COMO É QUE VOCÊ FAZ PRA CHUPAR TANTA BALA?
A pequena Sofia, sem pestanejar, “descasca” velozmente uma bala e, no mesmo
ritmo, enfia na boca e esclarece:
– ASSIM Ó!!!!!!!!!!
MANOEL PUPIM
SOFIA PUPIM
MELINA FIGUEIREDO LEE
ISABELLA FIGUEIREDO LEE
PAIS
Janete / Paulo Cesar Pupim
Leila / Paulo Lee
AVÓS MATERNOS
Carma / João Julio Carvalho
Maria / José Figueiredo
AVÓS PATERNOS
Iraci / Manoel Hermes
Alba / Lee Pao Sen
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A COROA DIVIDIDA
Maysa, morena de cabelos negros é mais bonita do que laranja de amostra, com
seus bem vividos (quase) dois anos, reinava sozinha no lar de Tânia e Sérgio. Era a
única filha do casal e uma das netas prediletas do “avô Paceco” e, do mesmo modo dos
outros avós, igualmente “babões”...
O casal vivia num apartamento confortável, onde Maysa “deitava e rolava”,
dava cartas e jogava de mão...
Aí, Tânia engravida. Um barrigão daqueles... Inicialmente as esquinas dos
braços de Maysa têm cócegas, depois vira, de verdade, uma baita dor de cotovelo;
afinal, seu reino estava sendo ameaçado com a chegada de um intruso... O pior se deu,
não foi apenas um intruso: foram dois, os gêmeos Serginho e Lara. Maysa roía as unhas,
inclusive as dos pés...
Com tanta gente, o apartamento acabou ficando pequeno e, para dar maior
conforto e liberdade para as crianças, mudam-se para uma casa. Casa gostosa, com
quintal... Mas Maysa anda macambúzia, cabisbaixa, triste mesmo. Tânia vendo a
filhota naquele deprimente estado, tenta resolver o problema, achando que a menina
não estava gostando do novo lar, resolve propor à mais velha da prole o retorno à casa
antiga, achando que com isso a questão estaria resolvida. Propõe, então à filha:
– Maysa, você quer voltar para o apartamento?
Maysa abre um sorrisão do tamanho do mundo, de orelha a orelha, e com o dedo
indicador da mão direita apontando para seus concorrentes, os irmãos Lara e Serginho,
tasca uma pérola:
– TUDO BEM, MAS A GENTE NÃO VAI LEVÁ ELES NÃO, NÉ, MÃE???
PAI ANTIGO
O Serginho brincava com a carteira do pai Sergio - coisa de que criança quase
não gosta. Examina um documento, confere, olha outro, depara com a carteira de
reservista, documento emitido quando portador (ou cidadão) tem por volta de 18 anos.
Para o filhote, com seus três/quatro anos, uma coisa já bastante velha.
Com o mencionado documento nas mãos, mostra-o ao pai e, curioso, quer
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Essas crianças... Osvaldo Reis
saber:
– PAI, ESSA FOTO É DO TEMPO QUE VOCÊ ERA EM PRETO E
BRANCO ??? (?)
RUIVA DE CABELO PRETO...
Lara, uma das bonecas da casa de Tânia e Sérgio, é ruiva, simpática e também
muito bonita (e tem boneca feia?), mas curiosamente “não se gosta” ou gosta muito da
irmãzinha mais coroa, Maysa. Maysa tem os olhos de jabuticaba, o cabelo é liso, bem
cuidado e preto. Maysa é a “ídala” da menorzinha Lara.
Dia desses, Mari, madrinha de Lara, que lida com pincéis e tinta, resolve fazer
um retrato da afilhada. Até aí, nada demais. Vem o ritual que antecipa a cena, vira pra lá,
mais pra cá, sorria etc. e tal. Lara, parecendo gente grande, participa, aliás, protagoniza
a coisa. Mari inicia uma espécie de aquecimento, de teste com seu material. Lara tá
paradinha, nem pisca e Mari olha pra modelo, olha pros pincéis, pra tinta e por aí afora...
Larinha, até então quieta, resolve “abrir o bico” e, se a madrinha a tivesse atendido, em
razão do já mencionado puxa-saquismo explícito de sua irmã mais velha, teria se
transformado em LARYSA ou MALARA, em razão do pedido, no mínimo estranho,
que fez à madrinha pintora:
– VOCÊ PODE PINTAR... SÓ QUE VOCÊ PINTA OS ZÓIO E O CABELO
DE PRETO, TÁ???
OS PODERES DO LEITE
Sérgio (também conhecido por Serginho, ou Raulzinho, já que é o tio em forma
menor), que, junto com Lara ajudou a desbancar Maysa de seu reinado absoluto, vive
hoje de dengo com a mais velha, a quem a mãe atribui algumas tarefas, aliás, sempre
cumpridas a contento. Maysa tem pelos irmãos verdadeira paixão (nem quer mais
abandoná-los, deixá-los na casa de onde se mudaram, logo após o nascimento da
dupla)... Sabe-se lá por que, Serginho não gosta de tomar leite, embora o suco de vaca
não lhe faça mal, pelo contrário...
Os pais do trio são professores e vivem em perfeita harmonia, com sorrisos e
mais sorrisos, é bom dia, boa tarde, boa noite, olá, tudo bem, tem também aquele
tradicional “saúde”! quando alguém espirra. Lá é assim: espirrou - saúde, tropeçou,
desculpa... As crianças ouvem e aprendem...
Uma das tarefas confiadas a Maysa era convencer o irmãozinho a tomar leite...
“Tá” lá a gatinha explicando que leite é bom pra isso, bom pra aquilo, que faz ficar forte,
que muda até a cor dos olhos, mas nada de o sujeitinho concordar... Serginho não tá nem
aí com o falatório de Maysa... A mocinha não quer desapontar a mãe e vem com um
argumento infalível, convincente:
– TOMA LEITE, SERGINHO... BEBE... LEITE É BOM PRA ESPIRRO !!!!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O “DEUS” XAROPE...
Maysa, já apresentada, se entende muito bem com a mãe a quem ouve e
atentamente atende, sem nunca pestanejar. A mãe falou, tá falado. O mínimo desejo
materno é para ela a mais importante das ordens... Sabe-se lá por que Maysa detesta
tosse, para ela, uma das piores coisas do mundo... Essa história de “cof cof” não é com
ela.
O pai é professor, a mãe também, só que o pai trabalha fora o que o faz viajar
mais do que o anjo Gabriel. É um sem-fim de idas e vindas, motivo de muita
preocupação para a mãe... A mãe se preocupa com acidente, assalto, comer “porcaria”,
comer fora de hora, e outros tantos motivos. A filhota nem sabe o que é isso ainda. Todas
as noites, antes de dormir, a mãe reza com a filhota e, com tanta preocupação pede a
solidariedade da filha em relação ao pai e, com maternal afeto pede a Maysa que reze
pelo papai. Maysa obedece fielmente e em voz alta, devidamente ajoelhada, manda ver:
– PAPAI DO CÉU PROTEGE O PAPAI PRA ELE NUNCA FICÁ CUM
TOSSE!!!!!!!
FELINO COM PENAS...
A Professora Maria Augusta Bolsanello, da Universidade Federal do Paraná,
especialista em Educação Infantil, no dia 19 de abril, considerado o “Dia do Índio” está
visitando uma escola, onde os alunos, com idade entre dois a quatro anos, estão
caracterizados, com suas cabecinhas enfeitadas com penas de diversas cores.
A visitante começa a conversar com a criançada perguntando pelas roupas e
pelos ornamentos de suas cabeças. As perguntas são sempre as mesmas: qual é a cor
dessa pena em sua cabeça? As respostas só se diferenciam em termos de tonalidade.
Uma é verde, outra azul, amarela, vermelha e por aí afora... Mas um garotinho tinha
uma pena diferente: a de uma galinha carijó... A “tia” pergunta ao garoto, o mesmo que
fez a outras tantas crianças:
– E essa pena que você tem na sua cabeça, é de que?
O garotinho não titubeia e sua resposta é uma verdadeira obra de arte:
– É PENA DE TIGRE !!!!!
CONFERINDO...
As crianças (que novidade!) fazem associações das mais diversas, que os
adultos, às vezes, com muita dificuldade, acabam sempre imaginando, traduzindo ou,
de fato, entendendo. Nenhuma criança, que se tenha conhecimento, disse até hoje que
aquele objetozinho que usamos para cortar outros objetos, como tecidos, por exemplo,
é a fêmea do tesouro... As crianças normalmente aprendem a usar esta invenção, das
mais úteis, vale frisar, nas escolinhas cortando bichinhos de papel, flores e outras
coisas, assim. Para Maysa, aquela famosa faca de duas pernas que se abrem e ao fechar é
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Essas crianças... Osvaldo Reis
que corta, conhecida por tesoura, nada mais é que recorteira...
Um dia, ela pediu ao pai que a levasse ao estádio já que queria assistir a um jogo
de futebol. O paizão atende ao seu pedido. Esperou que acontecesse um jogo amistoso
ou inexpressivo pra levá-la com tranqüilidade. Assim fez. Era um joguinho bem
mequetrefe, e eles se mandam para o “campo” do “Grêmio” - nome popular do Estádio
Willie Davids, em Maringá.
Maysa nunca tinha ido, tampouco visto um jogo de bola... Novidade das
grandes, portanto. Entram no estádio, Maysa olha tudo, bota reparo no que vê. Acham
um lugar (nesse joguinho não foi difícil...). Sentam.
Algum tempo depois surge o extinto Grêmio. Jogadores correndo enfileirados,
aceno para a torcida, repórteres, corridas, aquecimento etc, Maysa olha tudo muito
atenta para logo em seguida perder o interesse ao afirmar:
– PAI, É BEM IGUAL NOSSA TELEVISÃO...
IRMÃO ENTULHO
Domingo à tarde, sem ter muito que fazer, o pai Sergio resolve passar uma água
no “possante”. A filharada, liderada pela Maysa, quer ajudar. A mãe Tânia pra não ficar
sozinha, também entra na dança. O serviço acontece lá na frente da casa, pertinho da rua
e, com tanta gente trabalhando, acaba logo.
Aí, Serginho sai do quintal e vai pra rua, e quer porque quer ficar por lá.
Inadmissível, nem pensar, pensa o pai. A mãe vai direto ao assunto avisa ao filho que ele
não pode ficar lá, sozinho, na rua, que é perigoso, que pode passar um “ladrão de
criança”, lobisomem, mula sem cabeça... Mas nada disso convence o irmãozinho
gêmeo da Lara a deixar a rua. A líder Maysa desiste, o pai idem. A mãe também tá quase
desistindo... Lara, objetiva e direta, encontra a solução, Serginho não gostou nada do
que ouviu, fez um bicão daqueles, mas em dúvida, acatou a “sugestão” de Lara, que
cheia de razão, tascou:
– FICA AÍ... SE O LIXEIRO PASSAR E PENSAR QUE VOCÊ É LIXO, ELE
LEVA VOCÊ... FICA...
E Serginho não ficou!
LARA PACHECO ALVAREZ DA SILVA
SÉRGIO ALVAREZ DA SILVA JUNIOR
MAYSA PACHECO ALVAREZ DA SILVA
PAIS
Tânia / Sergio Alvarez da Silva
AVÓS PATERNOS
Basília / Manoel Tomé da Silva
AVÓS MATERNOS
Mílcia / José Pacheco dos Santos
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Essas crianças... Osvaldo Reis
EU QUERO SANGUE!!!!!
O pai, Domingos Trevizan, leva seus três “anjos” - Raphael, o mais velho e os
gêmeos Marcelo e Henrique a um circo. A mãe, Noth, solta fogos de artifício, conseguiu
se livrar dos três ao mesmo tempo. Era um baita circo e estava montado no Ginásio de
Esportes “Chico Neto”, em Maringá. O mais velho é o mais comportado do “bando”, tá
tranqüilão e prestando atenção em tudo, principalmente nos palhaços. Henrique deixou
toda sua cota de malandragem para o irmão Marcelo, sem dúvida o mais atirado da
trinca, mas por motivos desconhecidos, está com o bico maior que de pelicano. Mas só
com bico, não reclamava nem aplaudia, tava nem aí... O pai começa a se preocupar com
o filhote, achando até que os tinha levado em lugar errado já que, aparentemente, não
estavam se divertindo, principalmente o anjo Marcelo, que em casa é chamado de Celo
e até Celinho.
Indiferente a eles, o espetáculo seguia seu roteiro, com o locutor - sempre
falando em peculiar espanhol - anunciava suas “internacionales atraciones”: Era fulano
de tal, directamente de Praga, Beltrano de Hannover (só de Jussara é que não tinha
ninguém...) e por aí afora. Em determinado momento os tambores rufam com mais
entusiasmo, o locutor idem, com seu tradicional “respeitávelll públicooo” o Gran sei lá
o que Circus orgujosamente apresienta su major atración: los trapezistas voladores...
E lá vem os caras, parecendo guarda-roupas, músculos dos pés à cabeça e só o
aquecimento já é um espetáculo, era vôo pra todo lado... Aí se posicionam para o
“show” – dois de um lado, dois do outro. Voam de um trapézio para o outro, um
segurando a mão do outro, e o outro a mão do um, se penduram em três, trocam de
trapézio – tudo a uns doze metros de altura. – o público delira! O pequeno Marcelo
continuava do mesmo jeito que entrou, ou seja, desligado... O locutor anuncia: agora
eles vão hacer lo mismo número com los ojos cerrados... Os olhos dos artistas foram
vendados; o pano era preto e, certamente, não dava para enxergar nadica de nada... O
espetáculo prossegue... Um deles despenca no ar e só pára na proteção. Marcelo até
então calado embora bicudo, para o deleite das pessoas próximas, dispara:
– COM REDE NÃO TEM GRAÇA NENHUMA !!!!!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
TESOURA SEM CORTE...
Marcelo, o “anjo atentado” do casal Noth/Domingos Travizan, lá com seus seis,
sete anos, já sabe ler, escrever e aprontar... Um belo dia tá lá o carinha enchendo o saco
da mãe, pentelhando mesmo e, a mãe precisava de paz; pelo menos por um momento,
“despacha” o filhote para o quintal e, pede-lhe que corte a grama (e que de preferência
demorasse o dia inteiro). Marcelo junta sua ferramenta de trabalho e se manda para
efetuar a tarefa que a mãe lhe atribuiu. Só que para tristeza da genitora, logo em seguida
tava de volta... A mãe quer saber o porquê de o filhote não estar fazendo o trabalho a ele
confiado e, entre uma pequena bronca e muito desapontamento, quer saber o motivo da
desistência. Chama-o pelo nome inteiro, e quando mãe fala o nome inteiro a coisa
começa a se complicar.
O diálogo:
– MARCELO TREVIZAN, por que você não está cortando a grama???
O garotão, coberto de razão, diga-se de passagem, com o excesso de sinônimos
de nossa língua, palavras quase iguais, significados diferentes, solta uma pequena
pérola:
– É QUE O TESOURÃO DESAFIOU !!!!
JURISCONSULTO MIRIM
O pai é jornalista, a mãe idem. Raphael, o coroa da casa, está com seus sete, oito
anos. Numa reunião de jornalistas, Rafa está lá dando “segurança” à genitora. O colega
Roberto Silva gosta de brincar com criança e leva jeito pra coisa... Roberto se aproxima
de Raphael e “gruda” em seu punho, apertando-o e, logicamente, dificultando a
circulação... Rafa, sério e compenetrado apenas encara o brincalhão... Alguns instantes
depois, Roberto solta seu braço e quer saber do garotão:
– E daí, Raphael, gostou?
Pela resposta do jovenzinho, entende-se que não, mas o que deixou Roberto
boquiaberto (com rima e tudo) foi a reação do precoce advogado, que continuou a fixálo, olhos nos olhos, e mandou ver:
– VOCÊ SABIA QUE EU POSSO PROCESSÁ-LO POR LESÃO
CORPORAL???
RAPHAEL CAMARÃO TREVIZAN (Rafa)
HENRIQUE CAMARÃO TREVIZAN (Rique)
MARCELO CAMARÃO TREVIZAN (Celo/Celinho)
PAIS
Noth Camarão / Domingos Trevizan Filho
AVÓS PATERNOS
Maria / Domingos Trevizan
AVÓS MATERNOS
Cleonice / Luis Cavalcanti Camarão
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O PRÓXIMO ERA O GATO...
Da união de Alberto e Maria Rosa nasceram Alexandre e Ana Carolina. O
Alexandre era o terror da rua, era mais de ação que fala, Ana, ao contrário, filosofava
mais, apesar de bem mais novinha. Nesta história a protagonista foi Ana, mas todos
tiveram participação decisiva...
Num daqueles dias em que o cara se sente como se tivesse brigado com Myke
Tysson e Evander Holleyfield juntos e, de sobra, descarregado um caminhão de lajotas
sozinho, Alberto chegou ao lar-doce-lar, atirou-se no sofá, ao lado da mulher, louco para
receber uma mordomiazinha, pediu a Maria Rosa que apanhasse sua chinela. Maria
Rosa ouve atentamente e passa para Alexandre:
– Filho, vá lá no quarto e traga a chinela do papai...
Alexandre, mais que depressa, transfere a responsabilidade para a irmã Ana
Carolina:
– ANA, VÁ LÁ QUARTO BUSCAR O CHINELO DO PAPAI...
A resposta de Ana Carolina, no alto de seus quatro anos, é digna de José Maria
Alckmim e Tancredo Neves juntos:
– E EU, VOU PEDIR PRA QUEM? PRO GATO????
ALUNA ERUDITA
Ana Carolina, já devidamente apresentada, está no pré sei lá o quê, dois, três, por
aí... A tia passa uma tarefa pra casa (não pra casa fazer, mas pra ela fazer em casa, mas se
fala assim mesmo...) o que, aliás, criança “adora”. A tarefa consistia numa pergunta que
era saber da meninazinha qual seria o seu nome, caso fosse um menino... Pra variar, só
um pouquinho, Ana esqueceu de fazer o exercício. O que fazer? A tia, na certa iria ficar
fula da vida com ela, iria contar pra mãe, pro pai, pra torcida do Santos e ela não queria
levar pito, nem da tia, nem dos pais... Seu cérebro de cinco anos, quase sem uso,
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Essas crianças... Osvaldo Reis
portanto, entrou em funcionamento e começaram aquelas propaladas associações: João
- Joana, Mário - Maria, Paulo - Paula etc. Então, com essas “coisinhas” povoando seu
pensamento, antes um pouco de começar a aula, sacou o caderno, onde gastou parte de
seu latim, escreveu:
– ANUS CAROLINUS...
ALEXANDRE MARCOS MARIN ROCHA
ANA CAROLINA MARIN ROCHA
PAIS
Maria Rosa / Alberto Abraão Vagner da Rocha
AVÓS MATERNOS
Aparecida / Rubens Marin
AVÓS PATERNOS
Adalgisa / Antônio Cândido
Pedido de criança
Se tivesse mais de dois anos, chamá-lo-ia mentiroso. No seu verdor, é
apenas um ser a quem a imaginação comanda, e que com isso, dispõe de todos
os filtros da poesia.
Ama as coisas pelo prazer abstrato da posse, menos pelas
coisas em si, ou pelo seu uso vuluptuoso. Há um lápis.
– Me dá esse lápis prá mim?
– Não posso.
– Me empresta?
– Não posso, preciso dele.
– Ah, me empresta...
– Está bem, empresto.
– Agora ele é meu?
– Seu não. Emprestado.
– Eu queria tanto um lápis pra mim... Me dá, anda.
– Está bem, pode ficar com ele.
– É meu? Oba !
E joga fora, imediatamente.
Carlos Drummond de Andrade
(“Netinho”, de “Fala, amendoeira”)
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DAQUILO QUE O MEU PAI TEM...
A Maria Eduarda tem quatro anos incompletos, bem incompletos mesmo,
passou só um pouquinho dos três, mas já faz das suas. Os pais, Heloísa e Renato
possuem uma chácara no Distrito de Iguatemi, no Município de Maringá. Era uma
época de Exposição-feira, anualmente realizada na cidade, onde tem de tudo, de
algodão-doce até a mais moderna colheitadeira. Tem gente caindo de cavalo, de boi e
um mundaréu de outras tantas atrações artísticas.
Pra se visitar a feira, chamada EXPOINGÁ, paga-se ingresso. Então os
organizadores fazem todo tipo de propaganda para atrair o público, não só para os
espetáculos artísticos, mas principalmente pelos negócios. A pequena Maria Eduarda
vê um desses anúncios na televisão. Coisa bem feita, imagens atraentes, redação
perfeita, enfim, convincente. E quando é convincente, acaba convencendo (?). Primeiro
convenceu a gatinha, que convenceu os pais que a levassem à feira. E o fizeram.
Na volta da visita e da grande aventura, na chácara, a garota explica que “lá tem
aquilo que o pai tem”. Ninguém entendeu nada, ninguém descobriu, nem traduziu o que
a menina quis dizer. Com tantas indagações ela explicou:
– É AQUILO QUE CHEIRA.
Todos pensaram que era um nariz. Nariz na feira? O pai tem nariz, seria o nariz
do pai?
Algum tempo depois, com mais gente envolvida na discussão, incluindo a avó
Maria Aparecida, é que o mistério foi desvendado: O “aquilo que cheira” nada mais é do
que um suíno macho, também conhecido como (e como!) porco. E a gatinha tá certa: Na
feira tem porco, o pai tem porco e ambos cheiram..
JOÃO COPO QUEBRADO...
Em Iguatemi, como em toda Maringá, tem um grande número de famílias
descendentes de italianos, dentre essas, está a família Trintin, muito conhecida, já que
por lá vive há muitos anos.
Um belo dia na casa de Maria Eduarda o assunto versava sobre a tal família...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
Aquele assunto que o nome servia de referência, como por exemplo “é aquela casa perto
de onde moram os Trintin”, “os Trintin moram naquela casa azul em tal rua, depois de
tal coisa, tal bar” etc. E o nome foi repetido algumas vezes.
Maria Eduarda está ouvindo a conversa, aparentemente “desligada”, mas só
aparentemente... É que a garotinha resolveu explicar que o nome não era daquele jeito,
que não era João Trintin, mas sim João-Quebra-Copo e explicou:
– TODO COPO QUI CAI, QUEBRA, I QUANDO QUEBRA FAZ TRIN-TRIN
ENTÃO NÃO É JOÃO TRINTRIN, É JOÃO QUEBRA-COPO !!!
MARIA EDUARDA SILVA PEREIRA
PAIS
Heloisa / Renato Pereira Lopes
AVÓS MATERNOS
Maria Aparecida / Antônio Ribeiro da Silva
AVÓS PATERNOS
Lourdes / Otaviano Pereira
Impossível...
O telefone toca e Juquinha, com 2 anos de idade,
atende.
– Alô! – diz Juquinha
A pessoa do outro lado percebe que é uma criança e fala:
– Tem outra pessoa em casa?
– Tem.
– Dá pra você chamá-la pra atender o telefone?
– Dá. Espera aí um instantinho.
Pouco depois, Juquinha fala:
– A Mariazinha não pode vir não. É que eu não
consegui tirar ela do berço.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
VOCÊ SABE COM QUEM TÁ FALANDO?
Guilherme é o neto predileto dos avôs Cleusa e José (só têm ele) e, filho de Ana
Cláudia e José Mário. Em companhia da avó Cleusa, Gui vai até Porto Alegre a fim de
visitar o tio Celso.
Era a primeira viagem interestadual do garotão. Guilherme, como toda criança
de sua idade (3, 4 anos), nem pisca, olha tudo com a costumeira ansiedade que ocorre
nessas aventuras.
Tempos depois eles chegam à capital gaúcha, onde um digno comitê de recepção
os aguarda – Celso tem por lá muitos amigos que foram ver de perto o sobrinhão vindo
de Maringá (PR). Só não tinha banda de música; tudo o mais havia. Celso ria à toa na
expectativa de ver o simpático Guilherme. Na descida do ônibus, Gui se desmancha em
gentilezas, abraça e beija os amigos do tio. Uma moça, Maria Amélia, parece ter
contagiado o jovenzinho; foram beijos, abraços e mais beijos, pareciam apaixonados...
E para frustração de Celso, que promovera aquele belo evento, Guilherme nem
olhou na cara. O tio tentou se conformar e entender a situação, creditando a frieza do
sobrinho em razão da distância, pouca convivência e coisa e tal. Avó Cleusa, atenta, não
gostou nem um pouco da atitude do neto em relação ao tio. À noite, antes de Guilherme
pegar no sono, resolve tirar tudo a limpo... Onde já se viu uma coisa dessas? Coisa feia...
E pensando assim, de cara amarrada, vai ter com o neto:
– O tio Celso adora você, leva um montão de gente para receber você, você
abraça e beija todo mundo, gente que você nunca viu... E para o tio Celso você nem
tchum? E para o tio Celso, nenhum abraço, nenhum beijo, nenhum sorriso... Por que
isso Guilherme?
Guilherme, com o prelado de sua idade, dá à avó uma resposta que o compara, no
mínimo, a Frank Sinatra:
– EU AMO O TIO CELSO, VÓ... SÓ NÃO DEI ABRAÇO NEM BEIJO NELE
PRA ELE NÃO FICÁ SE ACHANDO !!!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
“SUBORNOLACHA”
Guilherme tinha um ano, no máximo. Cabia a avó Cleusa e a mãe traduzir sua
“fala”, mas, como sempre, elas acabavam entendendo o que o carinha queria dizer. A
família tinha uma cachorra que era braba que só a peste. Siri na lata era pouco. Era feroz
mesmo, além do mais não gostava, como quase todo cachorro, de moleque, sabe-se lá
por que e ainda por cima tava grávida o que aumentava ainda mais sua bravura. O nome
da fera (sem brincadeira) era Lilica - Guilherme chamava-a de Líli. Ela lhe mostrava os
dentes e como se sabe, cachorro não ri, era ameaça mesmo. Aí, Lilica deu cria. Um
filhote somente. Criança, como também se sabe, é doida por cachorrinho, ou animais
pequenos. A zelosa mãe mantinha sua cria dentro de uma caixa de papelão da qual não
saía de perto por nada no mundo. E Guilherme doido pra brincar com seu filhote. O
diabo é que assim que ele aparecia a cachorra se aproximava, ficava por perto do
sujeitinho. Aí o Guilherme achou uma maneira de fazer amizade com o animal. A cada,
no máximo, cinco minutos tava o rapazinho lá no pé da avó:
– VÓ DÁ BOLACHA...
A derretida avó o atendia pensando que ele ia comer.
O engenhoso Guilherme chamava a inimiga e, quebrando em pedaços miúdos a
bolacha, também ia caminhando em direção à caixa onde estava o filhote da cadela, que
vinha logo atrás devorando o petisco. E assim foi.
Quando perceberam o que Guilherme estava fazendo, todo mundo se apavorou.
Ele, no entanto, continuou oferecendo à cachorra as bolachas que a avó lhe dera. Um
dia, como por encanto, tá lá o Guilherme dividindo com o filhote de Lilica sua casa, e a
cuidadosa mãe, ali por perto, já não oferecendo ameaça... Dias depois o mais incrível
aconteceu: Guilherme, o filhote e a mãe dividiam fraternalmente a residência canina.
Pra completar a história, até o nome do filhote foi ele quem colocou: Bam-bam, a quem
Guilherme continua amigo e oferecendo guloseimas, sempre com a supervisão da antes
enciumada Lilica, sabiamente subornada pelas bolachas da avó.
O FILÓSOFO TRAVESSO...
O Guilherme, como quase toda, ou boa parte das crianças de sua idade, tem lá
seus antídotos contra broncas, pitos, surras e coisas do gênero. Uns apelam para o
tradicional “eu te amo” e, em vez de broncas, acabam ganhando beijos, principalmente
das avós... Guilherme tem seu jeito próprio, provavelmente exclusivo: basta tomar um
chega pra lá que o sujeitinho apela (lógico, com aquela cara de cachorro pidão e
lágrimas prestes a eclodir): você não é mais meu amigo... A avó Cleusa é uma de suas
principais vítimas, além das tias e tios...
Dia desses, a coisa aconteceu com sua mãe, que não é muito de alisar. O
“santinho” aprontou mais uma das suas e a mãe tascou-lhe uma bronca daquelas, puxou
a faca mesmo, pois era uma arte das grandes. O sujeitinho, chantagista de carteirinha,
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01
Essas crianças... Osvaldo Reis
com seu malabarismo verbal passa de réu à vítima, manda ver:
– VOCÊ NÃO É MAIS MINHA AMIGA...
A mãe, pensando ser, na condição de mãe, mais que amiga, retrucou:
– EU NÃO SOU SUA AMIGA, SOU SUA MÃE...
Aí Guilherme deitou e rolou. Parecia um advogado defendendo alguém que
matou, cortou o corpo em pedaços, escondeu e jura inocência. Sua outra pergunta
deixou a mãe calada, pensativa e rindo por dentro:
– VOCÊ NÃO PODE SER MINHA MÃE E MINHA AMIGA? E A VÓ
CLEUSA, NÃO É SUA AMIGA?????
DESENHO BIRRENTO
Guilherme tá com três anos e poucos meses e como toda criança dessa idade,
adora pintar (incluindo o sete...), Gui é igual todo mundo e a avó Cleusa o “libera” para
que a deixe, de vez em quando, em paz.
Guilherme é jeitoso, habilidoso, combina bem as cores, lógico, na sua
imaginação, fertilíssima, diga-se. Compenetrado demora um bom tempo para fazer um
desenho. Mas o tempo não foi perdido. O quadro ficou lindo, fantástico, maravilhoso.
Esse tal de Van Gogh, se vivo, morreria de inveja. A avó adorou... Era um menino alto,
magro, bem vestido e com lindos olhos azuis... A avó rasga seda, afirmando que o neto
será um novo Portinari, e por aí afora. Guilherme estufa o peito. Junta sua obra e volta a
mexer na coisa. Algum tempo depois volta a mostrar o desenho para a derretida avó,
com uma pequena alteração do original: os olhos agora eram vermelhos, a avó acha
estranho, Guilherme esclarece:
– É QUI A MÃE DELE BRIGOU COM ELE E ELE CHOROU...
RECEITA PARA NÃO FICAR ENRUGADO...
Guilherme, vez por outra, se “desentende” com sua bisavó materna, e sua
vingança, é chamar sua “bisa” de murcha... Mas como ele fala e dá risada, dona Hilda tá
sempre perdoando. Segundo o doutorzinho e sua filosofia própria, a avó é “murcha”
porque não estudou. E vai dando explicações mil: a avó tava ficando velha, aí ela
começou a estudar e agora ela não é mais velha...
Embora com seus quatro anos de “tiradas e aprontações”, Guilherme tem um
medo terrível de ficar velho, chega a chorar se alguém toca nesse assunto (dele ficar
velho). Sujeitinho tinhoso. Sabe das coisas esse Gui... E continua seu rosário de
explicações: a tia Claudenice não é velha, ela estuda, tio Celso não é velho, tio Fábio,
não é velho... O final é sempre o mesmo - não são velhos porque estudam - Se o carinha
soubesse que velhice é uma coisa democrática, talvez não teria “peito” pra,
categoricamente, afirmar, de olho no futuro, sem rugas, claro:
– EU VOU ESTUDAR MUITO. MUITO, MUITO, PRA NÃO FICAR VELHO!...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
MÉDICO DE ARMÁRIO...
Guilherme adora “trabalhar” com a avó, de vez em quando, também “trabalha”
com a tia. Gui além de simpático, só não fala quando tá dormindo ou com sono... O
sujeitinho tá naquela fase dos “porquês”. E criança tem fase, dos “porquês”, do “di
novo” e um punhado de outras tantas... E tem também os adultos que querem saber o
que a criança vai ser quando crescer, pergunta quase que inevitável, ou por falta de
assunto. Ao Guilherme, não é preciso perguntar nada, o carinha quer ser médico.
Dia desses, “tá” lá o Guilherme “trabalhando” com a avó. Ao passar por uma das
salas, percebe Lucila, funcionária da repartição, tentando abrir um armário. E a coisa
tava mais difícil que abrir cofre de mineiro. Guilherme se interessa (lembra dos
porquês?) e dispara apontando para o objeto:
– POR QUE ELE NÃO QUER ABRIR?
Lucila explica que o tal armário “tá” enguiçado, estragado... Aí, tentando obter a
solidariedade do amigo, ela pede a Guilherme:
– Quando você crescer você conserta ele pra nós?
Guilherme faz um bico razoável e dá uma resposta que faz todos caírem na
gargalhada:
– QUANDO EU CRESCER EU VOU SER MÉDICO DE CONSERTAR
GENTE, NÃO MÉDICO DE CONSERTAR ARMÁRIO!!!!!!
O “ACADÊMICO” DA ACADEMIA... DE GINÁSTICA
Coisa linda. Família unida. Sala repleta. Todo mundo de olho na televisão.
Devia ser, em razão de tanto interesse, final de novela. Só se ouvia o som que vinha da
telinha... Só Guilherme não participava de tão comovente momento...
De repente, o ambiente televisivo é abruptamente invadido pelo único familiar
ausente, o que, logicamente desagradou a todos... Aí a coisa desandou quando ele
solenemente anunciou:
– EU VOU FICAR FORTÃO, VOU MALHAR MUITO... VOU ENTRAR
NESSA ACADEMIA AÍ DA ESQUINA..
Até aí nada de excepcional se o sujeito não tivesse apenas três anos e alguns
meses...
GUILHERME COSTA CASSIOLATO
PAIS
Ana Cláudia / José Mário Cassiolato
AVÓS PATERNOS
Tereza / Natal Cassiolato
AVÓS MATERNOS
Cleuza / José Amado da Costa
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Essas crianças... Osvaldo Reis
MEDITAÇÃO FORÇADA...
Criança é doida para atender telefone, abrir porta e coisas assim, e algumas,
gostam também de ir pra escola. Naira juntava tudo isso. As escolinhas de hoje são mais
modernas que as de antigamente, pelo menos no que se refere à “tortura” - antes quem
saísse dos trilhos recebia palmatórias, reguadas, quilométricos sermões, iam pra
secretaria, ajoelhavam no milho, eram colocadas em quartos escuros e mais um montão
de outras coisas. Hoje a “tortura” é mais psicológica (e deve funcionar melhor): colocase, ou manda a criança sentar numa cadeira e pensar no que ela fez... É mais ou menos
como na igreja quando o padre pede que as pessoas (em pensamento) confessem seus
pecados, ou pelo menos, pensem no que fazem ou fizeram de errado - só falta lá a
cadeira...
Um belo dia, o pai se desentendeu com a mãe e ela o deixou na sala falando
sozinho e se mandou pro quarto - o pai pinoteou para a rua. Naira foi até a mãe e a viu
sentada numa poltrona ao lado da cama, esperando, certamente, passar a raiva... A
secretária doméstica chega para o trabalho e pergunta por Cris, mãe de Naira.
Naira em sua ótica de quase cinco anos, explica:
– A MINHA MÃE BRIGOU COM O MEU PAI E AGORA ELA TÁ LÁ, NO
QUARTO, NA CADEIRA DO PENSAMENTO!!!!!!!!
SE FOR AQUELA MULHER...
Eu costumo dizer que criança é igual à torcida de futebol: é igual em Belém, no
Pará e até em Quinta do Sol, no Paraná. E esta história deve ter acontecido, no mínimo
em trocentos lugares, somente nesse espaço geográfico, mas essa tem uma picada de
inteligência (ou inocência) a mais... A Naira não tinha ainda quatro anos... Não posso
dar maiores detalhes, ou todos os pormenores, em razão de morarem ainda na mesma
casa, com a tal mulher ainda rondando por lá... Naira é muito “viva” (desde pequena!).
A mãe pediu a Naira que se alguém tocasse a campainha que ela fosse atender,
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Essas crianças... Osvaldo Reis
mas se fosse “aquela mulher que vende (?)”, era pra dizer que a mãe não estava...
Naira cumpre fielmente a vontade da mãe. Terminada a explicação, parecia até
coisa ensaiada, a campainha dispara... Naira também dispara em direção à porta... “Tá”
lá uma mulher com uma sacola na mão esperando ser atendida... Não dá outra... Naira
não diz nem o tradicional “bom dia”: olha pra senhora e obediente, manda bala:
– SE A SENHORA FOR AQUELA MULHER CHATA QUE VENDE... A
MINHA MÃE MANDOU EU DIZER QUE ELA NÃO ESTÁ...
NAIRA BANNO GUITTI
PAIS
Cris / Edson Burzega Guitti
AVÓS MATERNOS
Mieko / Jorge Banno
AVÓS PATERNOS
Benedita / João Guitti
Ó Deus que nos deste a flor
e as crianças e as estrelas,
dá-nos agora, Senhor,
a graça de merecê-las!
A. A. de Assis
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PACIÊNCIA IMPACIENTE
O Luiz Carlos “tá” com trinta e oito anos, seu amigo Umberto Júnior só tem seis,
não manja muito de computador, tampouco jogo de cartas. No computador da prima
Larissa (não só no dela) tem lá um jogo chamado paciência... Luiz Carlos convida
Juninho pra jogar. Juninho topa. No começo até que a coisa tava indo bem, mas o
Juninho, uma espécie de “Joãozinho”, começa, mesmo sem saber, a dar pitacos no jogo
do adversário. Aperta ali, mexe aqui, aí não, e coisas do gênero... O marmanjão do Luiz
Carlos dá um chega pra lá no Juninho:
– Juninho, senta aí e fica quieto... Pára de dar palpites...
Aí a cabecinha, muito ativa, diga-se de passagem, de Juninho, na certa
nocauteou o adversário com uma pergunta cheia de lógica e razão. Sentenciou:
– ME DIZ, COMO É QUE VOCÊ QUER JOGAR PACIÊNCIA, SE NEM
COM CRIANÇA VOCÊ TEM PACIÊNCIA???
CABELO BRANCO DERRUBA DENTES...
A casa do primo Ademir, pai da também prima Larissa, é a extensão da casa de
Juninho, já que lá todo mundo, incluindo o papagaio, gato e cachorro, trata bem o
carinha e com isso ele, sempre que pode, “tá” por lá... Em junho último, Preta, a dona da
casa, também prima, resolveu promover uma festa movida a pipoca, quentão, pé-demoleque, pinhão, paçoca, enfim, festão digno da comemoração dos Santos... Ademir
estava se empanturrando com as guloseimas e, ao passar pelo pequeno primo, em tom
de ironia, disse:
– Juninho, eu perdi dois dentes... (brincadeira, claro).
Juninho entrou no clima e mandou bala:
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Essas crianças... Osvaldo Reis
– EU TAMBÉM!
O papo continua. Ademir consola-o:
– Isso acontece, Juninho... Pior fui eu que quebrei a minha dentadura, brincou
Ademir.
Juninho ouviu, entendeu, baseado na precoce e esbranquiçada cabeleira de
Ademir, cheio de razão, sentenciou:
– É ISSO MESMO... TODO MUNDO QUE TEM CABELO BRANCO É
VELHO... E TODO VELHO USA DENTADURA!!
UMBERTO CRISPIM DE ARAÚJO JÚNIOR (Juninho)
PAIS
Isabel / Umberto Crispim de Araújo
AVÓS MATERNOS
Argentina / Egídio Fiori
AVÓS PATERNOS
Raimunda / Miguel Crispim de Araújo
A mão que puxa o gatilho
difere em número e grau
da mão que protege o filho
para subir um degrau.
José Bidóia
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A QUÍMICA NA TV...
Essa mistura de piada e realidade deve ter sido criada pelos concorrentes. Existia
(não sei se ainda "tá" no ar...) um programa mais comprido que esperança de pobre:
começava por volta de dez da manhã e terminava lá pela meia noite e vinte e cinco.. E
todo mundo dizia que o apresentador de tal programa era, muito provavelmente, o
maior químico do Brasil, já que conseguia, em razão da boa audiência, transformar o
domingo de muita gente numa... (glup!).
Na casa do Atílio e da Mirlei existem dois artistas, o José Francisco e a Maria
Alice, que começou sua carreira com menos de dois anos, na televisão, ou melhor no
televisor da sala...
É o seguinte, indiferentemente do que estava sendo mostrado, podia ser o
homem pisando na Lua, o Papa falando, americanos invadindo o Iraque ou o São Paulo
Futebol Clube decidindo contra sei lá quem o campeonato mundial de futebol, que
Maria Alice desligava o televisor e ficava dançando e fazendo gestos e caretas na frente
do dito cujo - e não era de parar tão cedo - só parava quando acabasse de dar o seu
espetáculo, seu "show" particular, imitando os cantores que se apresentam na televisão,
fazendo de conta que estão cantando. Lá estava, bastava que tivesse bom público, a
Maria Alice em suas quase diárias apresentações...
E sabe o nome da arte da gatinha? Ela, sempre ao final, explicava que estava
FAZENDO QUÍMICA, já que em razão de sua pouca idade não conseguia falar
mímica... A sua, de Maria Alice, era infinitamente superior a do tal apresentador (quase)
citado no início, já que suas inesquecíveis apresentações acabavam se transformando
em risos e, hoje, doces lembranças...
JOSÉ ATÍLIO SANCHES
MARIA ALICE FERREIRA
JOSÉ FRANCISCO FERREIRA SANCHES
PAIS
Mirlei / José Atílio Sanches
Nilce / José Sanches Filho
AVÓS PATERNOS
Rosa / José Sanches
Nilce / José Sanches Filho
AVÓS MATERNOS
Margarida / Francisco
Ana / Atílio Ferrari
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A PRIMEIRA VEZ A GENTE NÃO ESQUECE!
O Sandro tinha por volta de cinco anos e nunca tinha ido num restaurante. Um
belo dia, tio Lino resolve satisfazer o garoto e o leva a uma churrascaria, daquelas que
servem o famoso espeto corrido e, em algumas, é corrido mesmo. O garçom chega, diz
alguma coisa que você nunca entende direito, e o “espeto sai corrido” ou correndo, daí
espeto corrido, corre da gente, ou será por que “tá” sempre um garçom correndo atrás do
outro, com carnes de tipos diferentes? Sei lá...
Só sei que o Sandro nunca tinha ido numa churrascaria... Aí vem um garçom e
oferece tal carne, outro oferece outra, e dá-lhe espeto corrido... Aí um garçom, com
sotaque não tão normal para um ouvido infantil e sem conhecer absolutamente nada de
carne, chega à mesa e indaga, em altos brados, como sempre, aliás:
– CUPIM DE BOI????
Sandro não entendeu, e sua resposta deve ter feito o tal garçom pensar um pouco
mais antes de falar para ouvidos tão delicados:
– NÃO... EU NÃO QUERO PINTO DE BOI...
MIL UTILIDADES...
Um conhecidíssimo produto brasileiro é famoso por suas mil e uma utilidades,
todo mundo sabe o que é, e as donas de casa adoram este objeto. Aqui, no caso, seu uso
é no mínimo, inadequado. E a comparação serve também pra descobrir uma outra
utilidade do famoso amido de milho...
O Guilherme tinha por volta de quatro anos, e pelo excesso de energia, própria
da idade, vez por outra, “pintava” uma assadurazinha no seu bumbum, que a cuidadosa
mãe tratava com maisena e uma pomada de uso específico... Até aí, nada de
excepcional. Mas “vó” adora passear com neto. Um dia a avó Geni levou Guilherme até
o mercado e o sujeitinho, folgado que só, embarcou no carrinho com ela de “motorista”.
Compra isso, olha o preço daquilo, de outro aquilo também, e por aí afora. Até
que a avó resolveu pegar na prateleira uma embalagem de maisena... Guilherme ainda
não sabia ler, mas reconheceu a embalagem, memorização que nenhuma criança tem
dificuldade, somente a indagação do neto é que deixou a avó Geni um tanto quanto
embaraçada. Guilherme apanha a caixa dentro do carrinho, mostra para avó e tasca:
– VÓ, É PRA PASSAR NA BUNDA????
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DANÇA COM PENAS...
Lembra aquela velha piada do alemão que chegou ao Brasil e a primeira palavra
que aprendeu foi feijoada e durante uns quinze dias ficou comendo a mesma coisa?
Claro que lembra... Depois ele tentou trocar por um sanduíche e, vem aquela história do
quente e frio e o coitado voltou a comer feijoada... O mesmo, ou quase, se deu com o
Gustavo, com seus três anos e uma fala ainda muito enrolada.
No parque do Ingá, em Maringá, o garoto se encantou com um ganso. Chamou a
atenção da mãe para a empenada ave e mandou ver:
– MÃE, OLHA O DANÇO...
A mãe, que tenta ensinar, corrigir, pergunta o nome do bicho. Gu volta, da
mesma maneira, a responder que era “danço”, e ficam os dois naquela (também quase)
infindável disputa, a mãe perguntando e ele respondendo:
– É DANÇO...
Lá pela décima oitava vez, Gustavo já tava mais brabo que gago em briga... É
“danço”...
– É o quê? – quer saber a “chata” da mãe.
Gustavo põe fim à leréia:
– OLHA LÁ O PAAAAATO !!!!!!!!!
DEPOIS EU “VÔ”...
Quase toda criança tenta falar, ou seguir, em sua ótica o que os adultos estão
dizendo e tem também vocabulário exclusivo. Dia desses, por exemplo, naquela
tradicional troca de letras ("c" pelo "t", principalmente), o pai Sandro “atropelou” um
piolho de cobra e o pobre bichinho acabou por falecer... Gustavo explica pra todo
mundo que o pai matou um piolho de “toba”. Noutro dia, Gu estava jantando (ele adora
macarrão!) e sua mãe achando que já “tava” na hora de parar, perguntou ao filhão:
– Gu, você quer mais ou chega?
Só a mãe deve ter entendido o que o filhote respondeu:
– EU QUERO MAIS DEPOIS EU “VÔ” CHEGÁ!!!
CLARO QUE VOCÊ “PÓDA”...
Gustavo está com dois anos e pouco, é o irmão mais querido do Guilherme,
filhote da Bete e do Sandro. Gustavo não é gordo, aliás, muito boa pinta esse sujeitinho,
mas parece ter o traseiro muito pesado e o carinha não gosta muito de movê-lo, isto é, é
mais folgado que colarinho de palhaço. A mãe corta um doze para atender todas as
solicitações do jovem, mas de vez em quando, em razão de trabalhar fora, ter outros
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Essas crianças... Osvaldo Reis
afazeres, não é possível resolver os “problemas” do filhão. E, como toda a criança de
sua idade, ele tem também seu vocabulário próprio, que a mãe, quase sempre, acaba
“traduzindo”.
Criança tem aquela coisa de crescer de vez em quando, e também ser pequeno
quando é conveniente... Basta a mãe atravessar a soleira da porta que Gustavo a quer
com exclusividade, para atender todos os seus desejos, suas vontades...
O diálogo entre mãe e filho aconteceu recentemente.
Gustavo “tá” ali grudado na mãe, parecendo até um centroavante marcado por
um zagueiro, sabe aquele cara que vai atrás do outro até pra fora do campo? Gustavo é
assim. E ainda tem a pachorra de discordar da mãe, principalmente quando o assunto é
do interesse dele. Dia desses, por exemplo, a mãe super ocupada e ele pentelhando, aí
Gustavo pede pra mãe apanhar alguma coisa pra ele, a mãe responde:
– Agora eu não posso...
Gustavo não quer nem saber por que e volta a afirmar:
– POSSA SIM...
GUILHERME DA SILVA BEDIN
SANDRO BEDIN
GUSTAVO DA SILVA BEDIN
PAIS
Bete / Sandro Bedin (Gui e Gu)
Geny / Jaime Bedin
AVÓS MATERNOS
Mercedes / Bruno Nanuzzi
Julieta / Antônio Lopes da Silva (Gui e Gu)
AVÓS PATERNOS
Dolores (Dona Lola) / Mário Bedin
Geny / Jaime Bedin (Gui e Gu)
Desconhecido...
A família está reunida vendo os álbuns de fotografias. Lá esta a
foto de um jovem elegante, porte atlético, ar simpático. A Mariazinha
vira-se para a mãe e pergunta:
– Quem é esse homem tão bonito, mãe?
– Esse aí é o seu pai, Mariazinha.
Mariazinha chega perto do ouvido da mãe e pergunta bem baixinho:
– E quem é aquele gordo, feio e chato que mora com a gente?
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PARABÉNS PRO DEFUNTO...
Giseli não tinha completado dois anos quando, num dia de finados, os avós Nair
e Shigeo resolveram levar a gatinha até o cemitério, coisa que ela, até então, não tinha
feito. Uma aventura a mais nas tantas que viriam pela frente. Criança observa tudo e tem
o cérebro privilegiado (o dela, então, quase sem uso) e uma precocidade incrível de
tanto ver televisão, ouvir outras pessoas, conviver com crianças da mesma idade, acaba
virando “fera”, mesmo sem ter ainda dois anos, caso da enfocada.
Giseli não era diferente...
No cemitério, ela deve ter achado que era uma festa coletiva, já que tinha lá um
montão de gente, com as mãos cheias de flores, andando pra todo lado. Outra coisa que
ela deve ter achado estranho eram as alturas das mesas, muito baixinhas, mesmo pra
ela... É o seguinte, quando seus avós se ajoelharam diante do túmulo que foram visitar,
assim que acenderam as tradicionais velas, não deu outra:
Embora solitária, sem ninguém a acompanhando, Giseli, feliz da vida, batendo
palmas, mandou ver:
– PARABÉNS PRA VOCÊ !!!!!!
GISELI YAMAGUCHI BEDIN
PAIS
Vitória / Durvalino Bedin
AVÓS PATERNOS
Nair / Shigueo Yamaguchi
AVÓS MATERNOS
Dolores (Dona Lola) / Mário Bedin
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Essas crianças... Osvaldo Reis
NÃO COMERA, POR QUE DEIXARA?
A gatinha Josiane, em companhia dos pais, como quase em todos os
domingos, vai almoçar na casa da “vó Lola”. Além de “leonística” fome e
“camelídea” sede, mais papagaio, gato, cachorro, uns animais de estimação e outros
nem tanto, levaram também um frango assado e duas garrafas (daquelas grandonas)
de refrigerante.
Comeram, beberam, sujaram pratos, garfos, facas, travessas, toalhas de mesa,
banho e rosto, enfim, mordomia total; coisa de avó. A comida era tanta (coisa típica de
italianos) que o galináceo que levaram sequer foi desempacotado. Após o lauto
banquete, depois de colocarem a conversa em dia, chegou a hora de voltar para casa. Na
despedida, recomendações, beijos, abraços, essas coisas bonitas que acontecem e
envolvem as dominicais visitas.
Por falar em envolver, os adultos envolvidos com a cerimônia da despedida, não
perceberam que Josiane tinha desaparecido. Logo em seguida, vem a garotinha se
aproximando dos demais, carregando o tal pacote com o filho da galinha, também
conhecido por frango, gesto que o pai tenta impedir, achando-o, no mínimo, indelicado:
– Não, filha, leva o frango de volta pra geladeira.... Pode deixar ele lá.
Josiane, discordando do pai, justifica:
– NÓIS COMPRARA, NÓIS LEVARA!!!
O MESTRE BEBUM...
Em Jandaia do Sul havia um professor que todo mundo gostava. Gostava é
pouco; adorava seria mais coerente. Era um sujeito que além de competente, era
também muito sério, daqueles professores que os colegas e os alunos nunca esquecem.
Mas, como ninguém é eterno, o grande mestre acabou falecendo.
Comoção geral. A cidade, literalmente, parou no seu sepultamento. O professor
Antônio Fávero era amigo do ilustre professor, mas viajando, não conseguiu chegar a
tempo para as exéquias do colega. Poucos dias depois do sepultamento, Fávero,
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Essas crianças... Osvaldo Reis
acompanhado da filha Josiane, de aproximadamente cinco anos de idade com uma
imaginação fertilíssima, vai até o túmulo do professor de Jandaia...
Demonstrando o carinho que a cidade tinha com o falecido, seu túmulo ainda
estava coberto de flores, com as mais diferentes homenagens: da Prefeitura, Câmara,
Lions, Rotary, Maçonaria, dos colegas professores e também de diversos
estabelecimentos de ensino, não só da cidade, mas de outras, da vizinhança. No entanto,
uma coroa, faltando uma letra, no final, chamou, particularmente, a atenção de Josiane.
A letra que caiu, diga-se de passagem, forma o nome de duas cidades do Paraná: uma,
Santo Antônio a outra, São João do Caiuá (um trocadilho infame), só pra comparar.
Josiane só viu aquela coroa com a vogal “a” caída, às outras, nem notou e fez a seguinte
observação e ao mesmo tempo mudar o tom triste de seu velho:
– NOSSA, PAI, ELE DEVIA BEBER MUITO... ATÉ A ESCOL MANDOU
FLORES PRA ELE!!!!!!!
JOSIANE FÁVERO
PAIS
Ofélia / Antônio Fávero
AVÓS PATERNOS
Dolores (Dona Lola) / Mário Bedin
AVÓS MATERNOS
Mercedes / Bruno Nanuzzi
Talento
A garotinha exibicionista, mostra suas habilidades
na bicicleta. Vai lá, volta e grita para o pai:
– Olha, pai: sem as mãos.
Dá outra volta.
– Olha, pai: sem os pés.
Mais outra volta e ...capummm! Uma bela queda!
– Olha, pai: sem os dentes.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A IRMÃ É MINHA E NINGUÉM TASCA...
A Josiane é a mais velha (nem tanto!), Vinícius, do meio, e a caçulinha é Jônia.
Este belo trio forma a família de Clarice e Tadeu. Jônia é a própria ternura, não briga,
não xinga... Josiane é muito bem comportada e também muito educada e, como os
demais, inteligente que só... O Vinícius... Bem o Vinícius é moleque. E moleque é
moleque, e de vez em sempre, apronta das suas. Uma das coisas que o sujeitinho, talvez
pra provar que é macho, adorava fazer era bater (bater mesmo!) na irmã mais velha,
Josiane, que não reagia.
Mas, como ninguém é de ferro, vez por outra, reclamava com a mãe, que
resolveu mostrar ao filhote quem é que manda, impondo-lhe a autoridade e também
limites... Após mais uma das tantas investidas contra a irmã, Clarice aplica-lhe uma
correção “federal”, bronca pesada. Sabe aquele negócio de “se você fizer isso de novo”
vai acontecer aquilo, e por aí adiante... Vinícius, com uma das orelhas entre o polegar e o
indicador da mão da mãe, ouviu em silêncio... Mas assim que se livrou dos dedos, com
uma certa distância, onde não corria tanto “perigo”, desafiante, mandou ver:
– A IRMÃ É MINHA E EU BATO NELA QUANDO QUISER!!!!!
JOSIANE BEDIN FRANÇA
VINÍCIUS TADEU BEDIN FRANÇA
JÔNIA BEDIN FRANÇA
PAIS
Clarice / Tadeu França
AVÓS MATERNOS
Dolores (Dona Lola) / Mário Bedin
AVÓS PATERNOS
Maria / Militão Bento França
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PALAVRÃO “IDOSO”...
Vinícius, em razão de o pai, por inveja pura (?) ter também o mesmo nome, é
mais conhecido, principalmente no meio familiar, como Vinicinho... O irmão do Pietro
já tá meio “coroa” - com quase sete anos e estuda numa escola da área central de
Maringá. Sabe-se lá por que cargas d'água o sujeito quer trocar de escola, mudando para
uma outra que fica num bairro muito distante... A avó Clarice que sempre o leva e busca
na escola, chia barbaridade, não concorda com o neto e pede uma explicação plausível:
– Vinicinho, por que é que você quer estudar lá na puta que pariu?
Aí a coisa engrossa, fica feia, mas pro lado da avó. Só faltou o carinha tirar o
chinelo ou o cinto, mas a bronca foi pra valer e, provavelmente, a mãe de seu pai, não vai
cometer jamais tal desatino, já que a censura do pequeno Vinícius é pra nunca mais
esquecer:
– NOSSA, VÓ, EU NÃO SABIA QUE GENTE DA TERCEIRA IDADE
FALAVA ESSAS COISAS!!!!!
BONÉ PROTETOR
Vinícius é o primeiro filhão do casal Aline e Vinícius França. O carinha ainda
nem fala, mas engatinha e faz outras coisitas mais. Uma delas é subir num sofá que fica
encostado na janela. Subir no sofá parece óbvio, só que o enfocado subia mesmo é no
encosto do sofá, onde ficava sentado, cheio de pose, até que alguém o retirasse...
Quanto mais se dizia que aquilo era perigoso, mais ele teimava.
Um belo (?) dia, não deu outra, sujeitinho se despencou do tal sofá e ainda bem
que bateu a parte mais dura do corpo, isto é, a cabeça. Foi um tombo e tanto, e de pontacabeça, o que provocou um corre-corre danado.
Depois de médico, benzedeira, rezadeira, e mais um montão de outras eiras e
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Essas crianças... Osvaldo Reis
eiros, sobraram alguns pontos e curativos na cabeça do descabeçado. Onde é que já se
viu subir no encosto do sofá, sem sequer saber andar direito?
A avó Clarice deu uma baita bronca no neto, que por motivos também óbvios,
não respondeu (o carinha nem falava...) A didática avó explicava ao netão:
– Você não pode subir aqui, é perigoso, você pode cair, e se cair vai machucar a
cabecinha de novo, e coisas do gênero.
Vinicinho parece ter entendido tudo. Mas no dia seguinte, por sua atitude,
“disse” aos pais e à preocupada avó, com um gesto desafiante que, a seu ver, aquilo de
subir no sofá não tinha mais nenhum perigo, e para desespero de todos, tava lá, cheio de
razão, novamente no mesmíssimo lugar, com um boné na cabeça. Se caísse, só
“machucaria” o boné...
Adultos não entendem nada de criança!
VINÍCIUS TADEU BATISTUSSI FRANÇA
PAIS
Alline / Vinícius Tadeu Bedin França
AVÓS PATERNOS
Clarice / Tadeu França
AVÓS MATERNOS
Berenice / Alan Kardec Batistussi
Mascote
A família toda reunida janta, e depois de pagar a
conta o pai diz ao garçom:
– Embrulhe essa carne que sobrou que vamos levar
pro cachorro.
– Obá! – gritam em coro as crianças. – Papai vai
comprar um cachorro pra gente!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DEMISSÃO PROMOVIDA
Amadeu da Silva Félix Júnior, também conhecido como Júnior, é filho da Elza e
do, lógico, Amadeu. Júnior está no prézinho (na Escola Adventista, em Cianorte - PR),
não conhece, portanto, o significado de muita coisa, mas tem suas “tiradas” como toda
criança de sua idade. Nem sempre fala, mas adora ouvir os adultos, com aquele
“aparente desinteresse”...
Amadeu pai, funcionário da Receita Federal, após anos e anos de trabalho, um
dia chega em casa feliz da vida; recebera um reconhecimento por sua lealdade e
dedicação. Na hora do jantar, família reunida, anuncia a boa notícia:
– Fui promovido!
Como os demais, Júnior também escutou. Aconteceram parabéns, brindes etc.
No dia seguinte Júnior, logo cedo, vai para sua escolinha e, todo “metido”, em
todas as rodinhas, dá, do seu jeito, a notícia que tanto alegrara a família, mas, pouca
coisa diferente. Dizia o sujeitinho, cheio de razão:
– MEU PAI FOI DEMITIDO...
Como é que pode uma coisa dessas?! Afinal Amadeu muito conhecido e
competente ser vítima de tamanha sacanagem, sacanagem mesmo, injustiça era pouco.
A “tia” Onide Carraro ficou indignada e também intrigada em razão do contentamento
de seu aluninho. Além de amiga da família, morava na mesma rua. Não deu outra: logo
após o expediente, foi conferir com Elza o que realmente havia acontecido, e até hoje
dão risada da demissão promovida, claro, pelo Júnior e seu famoso “zecabulário”...
LOBISOMEM DESDENTADO...
O Júnior, com mais ou menos, dois anos, talvez, por ouvir outros falarem,
mesmo sem “conhecer”, falou pra mãe que tinha medo de lobisomem. O pai, pra
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Essas crianças... Osvaldo Reis
sacanear o filhote, quando ele estava por perto, fazia de conta que não o estava vendo e
dizia que estava acontecendo, principalmente em noites de lua cheia, coisas estranhas
com ele, que suas unhas estavam crescendo, os dentes idem, enfim, “pintava-se” do
bicho... As unhas crescidas talvez não tenham assustado tanto o garoto (que também
fazia de conta que nunca tinha escutado a conversa do pai - um não sabia do outro e o
outro não sabia de um...) mas os dentes...
Numa certa manhã, o filho chega apressado e nervoso pra mãe e faz-lhe uma
proposta, pra ele, decente:
– MÃE, O PAI TÁ LÁ NO BANHEIRO... EU VÔ PEGAR UMA CORDA E
VOCÊ VAI ME AJUDAR A AMARRAR ELE... VOCÊ SEGURA EU AMARRO...
A mãe, intrigada, não entendeu o que o filhote exatamente quis dizer, e pergunta:
– Amarrar o pai pra quê?
A resposta veio rápida, desvendando a preocupação do garoto:
– A GENTE AMARRA ELE E LEVA NUM DENTISTA E MANDA
ARRANCAR TODOS OS DENTES...
AMADEU DA SILVA FÉLIX JÚNIOR
PAIS
Maria Elza / Amadeu da Silva Félix
AVÓS PATERNOS
Lázara / Joaquim da Silva Félix
AVÓS MATERNOS
Ana / Geraldo Fernandes Reis
O gênio
O pai, orgulhoso do rebento, exibe-o aos amigos.
– Ele já conhece as letras do alfabeto, não é Joaquinzinho?
– É. – responde Joaquinzinho.
– Diga pra eles qual é a primeira letra do alfabeto,
Joaquinzinho.
– É a letra A.
– Viram? Esse garoto é um gênio! Agora, diga o que vem
depois da letra A.
– Depois do A vem as outras...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
XIXI QUASE NOBRE...
A Thaís era mais arteira que filósofa, ou seja, aprontava mais que falava. Dizem
que o apressado come cru. Um outro ditado, no mesmo sentido, ensina, que o ansioso
nem espera a batata assar... A Thaís não tinha ainda dois anos, era comilona e gostava
muito de coisas doces (baita novidade essa!), principalmente bolo de chocolate, não
dando muita bola pra receita ou quem fizesse.
Um belo dia, como tantos outros, a mocinha pediu à mãe que fizesse um bolo
pra ela. A mãe “obedeceu” preparou a massa, enfiou na assadeira e tacou no forno. O
“bicho” cresceu, ficou lindão. Thaís adorou o visual. A mãe deixou-o no forno para
esfriar e foi cuidar de outros afazeres. Thaís ficou “cuidando” do bolo. Algum tempo
depois uma vozinha, quase desesperada, chama a atenção de Lia, a mãe, que de onde
estava quase não ouvia: era a filhota dizendo apenas MÃE... MÃE... É que num
pequeno acidente a filhota, tentando agarrar o bolo, tombou com fogão e tudo, e a voz
saía baixinha, já que sua posição era não muito cômoda; afinal, estava dentro do fogão,
com a cara enfiada no bolo e de cabeça para baixo...
Thaís também tinha medo de tudo que fizesse barulho: trovão, foguete, moto e,
por incrível que pareça, de descarga de banheiro. Em determinado dia, Rose, a
secretária, que praticamente a conheceu dias depois de nascer, resolveu tirar o medo da
gatinha e a levou até o banheiro e, com jeito, apertando a descarga, disse a ela que não
precisava ter medo, que não era perigoso... Mesmo assim, a mocinha deu no pé. Rose
continuou seu trabalho, limpou o vaso e desinfetou com aquele “treco” colorido.
Passado o barulho e o susto, Thaís volta e, admirada, diz pra sua amiga (até hoje) algo
que a fez rir e muito; se fosse azul, seria nobre. É que a miudinha, de olhos arregalados
olhou para Rose e constatou:
– EU NÃO SABIA QUE O SEU XIXI ERA COR DE ROSA !!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
AMEAÇA...
Rodrigo, o irmão predileto de Thaís, com cinco, seis anos, entrou para a escola,
onde não era nenhuma “Brastemp”, depois ficou bom... Mas o começo foi um tanto
quanto complicado. A mãe Rosely é tranqüilona, leva a coisa na “maciota”. Já o pai
Renato, muito atencioso com os filhos, é enérgico, sabe cobrar, sabe exigir... Se a mãe
não “assustava” os filhos, com o pai a conversa era diferente...
Um belo dia, Rodrigo tirou uma nota menor que o salário mínimo, baixinha,
baixinha... O que fazer? A mãe não era tanto problema, mas o pai... E o pior, um dos
dois tinha de assinar o fatídico boletim. Ao pai não teve nem coragem pra falar,
também com a mãe não quis arriscar. Assim pensando, resolveu “falsificar” a
assinatura da genitora em tal documento. A professora duvidou da assinatura da mãe e
ligou pra ela... Bronca feia... Renato deu um chega pra lá no filhão. Bronca pra mais de
metro...
No dia seguinte, ao voltar da aula, com a poeira aparentemente já assentada,
Rodrigo conversa com a mãe:
– MÃE, HOJE EU PASSEI EM FRENTE UMA CASA QUE TAVA ESCRITO
CONSELHO TUTELAR...
A mãe não entendeu o porquê da estranha afirmação... Com tanta coisa pra
ver... Intrigada, quer saber do filho:
– E o que é que tem isso?
Aí Rodrigo, como não quem quer nada, confessou à mãe o verdadeiro motivo:
– É QUE EU TÔ PENSANDO EM LEVAR O PAI LÁ POR CAUSA DE
ONTEM!!!
RODRIGO SOARES FREITAS (Digão)
THAÍS SOARES FREITAS
PAIS
Rosely (Lia) / José Renato Freitas
AVÓS PATERNOS
Lídia / Benjamim Freitas
AVÓS MATERNOS
Aurora / Jairo Campos Soares
Observação do garotinho ao ver um senhor passar com uma bengala:
– PAI, OLHA LÁ UM HOMEM COM UM GUARDA-CHUVA PELADO!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
EU SAÍ SOZINHO...
O Cristiano com três anos, acompanhou os pais que saíram de Maringá e foram
para Cuiabá. O garotão arrumou por lá, logo de cara, um punhado de amigos com os
quais ele e também o irmão Athos brincavam o dia inteiro.
Num belo dia, estão brincando num terreno baldio e lá encontram uma cisterna,
baixa, sem tampa, e água até quase a boca, da qual era tirada água para os animais. E
qual é o garoto que não tem a curiosidade de olhar pra baixo? Cristiano, com um
bichinho de pano a tiracolo, debruçou-se para ver o que tinha dentro e despencou poço a
dentro. Foram instantes de muita apreensão, mas logo em seguida o garotão veio à tona,
sem se desgrudar de seu bichinho de estimação.
Dois anos depois, relembrando o fato, avó Célia, com fé e gratidão, comentou:
– Foi Deus que tirou você do poço!
Cristiano, cheio de orgulho pelo feito, emendou:
– NÃO VÓ, FUI EU QUE SAÍ SOZINHO...
CRISTIANO BOLSONI DE SOUZA (Nano)
PAIS
Iara / Fernando Tadeu de Souza
AVÓS MATERNOS
Ester / Aureo Bolsoni
AVÓS PATERNOS
Célia Alcântara Rosa / Domingos Fernandes de Souza
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Essas crianças... Osvaldo Reis
LIVRE DA PROFESSORA...
Sérgio Augusto, com oito anos, estudava no Instituto de Educação, em Maringá,
e cursava a terceira série. Na época, estava estreando no cinema nacional um filme que,
aliás, fez muito sucesso; o clássico “Independência ou Morte”.
Um belo dia, assim que a professora deixou a sala, Sérgio subiu à mesa, sacou de
sua espada, representada por uma régua e, com exagerado entusiasmo, tascou o célebre
grito de independência... O pior é que sua independência durou muito pouco: a
professora supreendeu-o e não deu outra; – foi parar na diretoria... E a coisa não
engrossou mais, nem teve maiores conseqüências porque a diretora, Professora Iara
Barnabé, que um dia também foi criança, (tem muita gente que esquece...), entendeu
perfeitamente o gesto do pequeno aluno que, apenas repetiu a cena histórica do filme
nacional, tornando-se o Tarcísio Meira da escola.
SÉRGIO AUGUSTO ROSA DE SOUZA (Sanhaço)
PAIS
Célia Alcântara Rosa / Domingos Fernandes de Souza
AVÓS PATERNOS
Anésia / Teodorico de Souza
AVÓS MATERNOS
Maria José / Joaquim P. Souza
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Essas crianças... Osvaldo Reis
EU ESTOU AQUI, TIA!!!
Lembra aquele antigo jogador de futebol apelidado Viola? Lembrou? Viola tinha
mania de falar as coisas na terceira pessoa, isto é, em vez de falar eu fui, dizia o Viola
foi... O Viola vai marcar um gol no jogo de hoje etc. e tal. Esse polêmico boleiro que
passou pelo Corinthians, Palmeiras, Santos, Brumarim da Serra, entre tantas outras
equipes (só não jogou em Jussara e Marialva...), acabou fazendo escola, deixando
seguidores, como o Lucas, de dois anos e meio, um dos sobrinhos prediletos da tia
Silvana, que se derrete em gentilezas para agradar os filhotes de seus irmãos, além dos
“agregados”. Quando está falando com Lucas, Silvana acompanha até o modo de
falar...
Um belo dia, “tá” lá a tia passeando com o sobrinhão. Silvana, querendo saber
como está o aprendizado de Lucas, pergunta:
– Fale pra titia: o que o Lucas está fazendo na escola?
Lucas, sentadinho no banco traseiro, de acordo com o figurino e a Lei, estica-se
todo para responder:
– TITIA, O LUCAS NÃO ESTÁ NA ESCOLA, AGORA! O LUCAS ESTÁ
PASSEANDO DE CARRO COM A TIA SIL!
LUCAS FLAUBERT ALARCON BORGES
PAIS
Marcela / Lúcio Flaubert Alarcon Borges
AVÓS MATERNOS
Anna / Jair Alarcon
AVÓS PATERNOS
Anna / Job Ribeiro Borges
Todos nós somos crianças,
mesmo fingindo que não:
brincamos com esperanças,
nossas bolhas de sabão...
Maria Thereza Cavalheiro
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DÚVIDA EXISTENCIAL
A tia pediu ao Job Diógenes, mais conhecido por Didi, sua certidão de
nascimento, sabe lá Deus por quê. Didi chega da escolinha e fala com sua mãe a respeito
da solicitação da professora. O carinha só tinha três anos, mas o documento, raramente
usado nessa idade, escafedeu-se. A mãe, nem por decreto, conseguia achá-lo. É um tal
de mexe no armário, revira gaveta, fala com São Longuinho (dá uns 14 pulinhos...) e
nada do “bicho” aparecer.
O filhote, de camarote, acompanhava o já quase desespero da mãe, sem
nenhuma preocupação aparente. Afinal, o problema não era dele.
Nessa altura do campeonato, depois de tanta procura, a mãe, entre irritada e
intrigada, deixa escapar:
– Eu não acho a certidão de nascimento desse menino!
Didi, que ouviu atentamente o desabafo da mãe, mais assustado que indignado,
quer saber:
– MÃE, ENTÃO, EU NÃO NASCI???
JOB DIÓGENES RIBEIRO BORGES (Didi)
PAIS
Anna / Job Ribeiro Borges
AVÓS MATERNOS
Divina / José Anacleto Garcia
AVÓS PATERNOS
Rita / Braz Ribeiro
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Essas crianças... Osvaldo Reis
COVARDE, EU?????
Luana tem cinco anos, sua irmãzinha Letícia, somente dois. Luana é filha de
Henrique e Liliane. Um belo (?) dia, ela deu umas porradas na coitadinha da Letícia;
não chegou a ser uma surra de matar, mas a mais novinha apanhou. A avó Maria do
Carmo mostrando sua autoridade e também fazendo justiça, deu-lhe uma tremenda
bronca:
– Você não tem vergonha de bater numa criança menor que você? Isso é
covardia, sabia?
A resposta de Luana fez a sabidona da vovó pensar um pouco... Se ela, quase do
tamanho da irmã, era covarde, imagine a “outra”. Luana deu de ombros e tascou:
– EU NÃO! COVARDIA É DA MINHA MÃE, DAQUELE TAMANHO E
AINDA BATE EM MIM!...
PAIS
Liliane / Henrique Jorge
AVÓS PATERNOS
Maria do Carmo / Sebastião Magalhães
Mesmo fim...
– Seu Joaquim, me dê um rolo de papel de limpar bunda.
– Não fale assim, garoto. Diga somente ‘um rolo de papel higiênico’.
– Certo. Me dê um rolo de papel higiênico.
– Aqui está. É pra botar na conta?
– Não. É pra limpar a bunda.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
UM “MATADOR” BONZINHO...
Fátima Selma, a Fatinha, tem quatro anos, seu sobrinho Kildare, três. Os dois
resolvem “criar” um estranho bicho de estimação: uma lagarta que eles chamavam de
boizinho. Os dois estão brincando na casa dos avós de Kildare, Doralice e José Zito.
Brinca pra lá, brinca pra cá, de repente, bem à tardinha, um grito de choro rompe o quase
silêncio deles. Um corre-corre daqueles pra ver o que estava acontecendo lá nos fundos.
Kildare chorava em todos os tons e sons: buááááá.... coeeeeennnnn... Lágrimas sentidas
molhavam seu rosto. Fatinha, em pé, ao lado, parecia não ter nada com o peixe, “tava”
nem aí. Mas o dedo indicador da mão direita de Kildare apontava para ela e soluçando
dizia:
– A FATINHA MATOU A LAGARTA...
Ao mesmo tempo em que aumentava o choro e seu volume.
A avó do garoto viu no “pestinha” um “santo”, e admirada com a atitude do neto
afirmava, orgulhosa:
– Olha gente, que menino bom! Que coração lindo! Que coisa linda... Chorando
porque “essa menina” matou a lagartinha.
Na hora do “essa menina”, pra evitar ciúmes e também choro da filhota, a avó,
sem que o neto percebesse, piscou para Fatinha.
O indignado Kildare contou para avó como é que a tia havia matado o boizinho e
o real motivo de sua revolta:
– VÓ, ELA PISOU DEVAGARINHO...
Uma morte lenta, sob tortura, inadmissível, lamentável mesmo, quanta
crueldade. Um pecado e tanto cometera a maldosa gatinha, pensava dona Doralice.
Mas Kildare estava mesmo era frustrado, quando para gargalhada geral e ainda
soluçando, afirmou batendo o pé no chão sem retirá-lo, com uma volta completa sobre o
calcanhar:
– EU QUERIA PISAR ASSIM Ó...
FÁTIMA SELMA MAGALHÃES (Fatinha)
PAIS
Doralice / José Zito Magalhães
AVÓS MATERNOS
Maria / Antônio Nobre
AVÓS PATERNOS
Cristina / Teodulfo Magalhães
KILDARE MAGALHÃES CRUZ (Kikil)
PAIS
Maria Auxiliadora / Kleber Cruz
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Essas crianças... Osvaldo Reis
MEDO ATÉ DO NOME...
Murilo Filho estava com três anos, e com a mãe Luzia e Murilo pai foram visitar
os avós em Fortaleza. Você sabe como é que ficam os avós com visita de neto, com
Murilinho foi uma festa. Era mordomia que não acabava mais. Não só dos avós, mas
também das tias e tios.
É novidade de ambos os lados e todos acabam gostando, criança ainda mais.
Nesse clima, o tio Francisco resolve levar todo mundo pra um pedaço de paraíso
chamado Prainha, em Aquiraz, ali por perto.
O carinha todo feliz no colo da mãe, “tá” adorando a viagem e a paparicação da
família. Chegando à praia, ao passar na vila, mais precisamente na aldeia dos
pescadores, um baita porcão (e põe baita nisso!), devagarinho, atravessa na frente do
carro. Murilo nunca tinha visto um bichão daqueles, nem pequeno, a bem da verdade. O
sujeitinho ficou apavorado, arregalou os olhos e quis saber:
– O QUE É ISSO?
– É um porco, responde a mãe.
Murilo, entre surpreso e aliviado, encerrou a conversa:
– EU PENSIA QUE ERA UMA ONÇA!...
FOI ELE, MÃE...
O Murilo Filho, já apresentado, não tinha ainda completado quatro anos. A mãe
resolve levar o filhote numa igreja. E o fez. Era uma igreja católica. Lá chegando, para
ele, tudo era novo, Murilo fica indignado quando vê uma imagem de Jesus Cristo, todo
ensangüentado, nos braços da mãe, Maria. Indignado é pouco, Murilo ficou
horrorizado, chocado, e botando pra fora seu espírito de justiça quis saber:
– MÃE, QUEM FEZ ISSO COM ELE?
A mãe ficou pasma, quieta, calada, sem voz, sem ação, mudinha da silva.
O filhote que gostava de assistir na tevê um desenho chamado Cavaleiros do
Zodíaco, assimilando a fala de tal desenho, com a inusitada visão, diante de tamanha
79
Essas crianças... Osvaldo Reis
crueldade, fez suas deduções e voltou a falar:
– JÁ SEI, FOI O INIMIGO...
A mãe senta-se e começa a prestar atenção na missa que estava começando. O
curioso e indignado Murilo vai lá pra frente. Algum tempo depois, ele vê uma imagem
de São Judas Tadeu com sua lança. Boa parte das pessoas presentes, mesmo sem
entender o que estava se dando, já que não ouviram a conversa de mãe e filho, não
deixaram de cair na risada, quando o “detetive” Murilo gritou para a genitora:
– MÃE!
E apontando a imagem, completou:
– OLHA O INIMIGO!!!!!
MURILO MACEDO FILHO (Murilinho)
PAIS
Luzia / Murilo Macedo
AVÓS MATERNOS
Doralice / José Zito Magalhães
AVÓS PATERNOS
Oyara / Luiz Augusto Macedo
Da terra ao céu - que distância !
Tão grande, mas, mesmo assim,
pude vencê-la na infância,
quando o Céu morava em mim !!
Otávio Babo Filho
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Essas crianças... Osvaldo Reis
UM “BICHÃO” DE GUARDAR LÍQUIDO
Bárbara Larissa - Balissa -, com dois anos recentemente completados, é a
simpatia em pessoa. Vive sorrindo, e em razão da idade “come” uma letra e outra
quando fala. Em se tratando de homem, ela chama de migo, mulher é miga, assim todo
mundo é migo e miga da gatinha.
Balissa, em companhia da tia Léia, vai quase todos os dias na casa do Paulo e
Ione visitar suas amigas Carol e Paula, assim como os pais delas. Sua conversa gira
sempre em torno do que aprende na escolinha. Um dia contou que estava aprendendo os
nomes dos bichos: cachorro, gato, cavalo, etc. Paulo, a quem considerava migo querido,
quis participar da conversa, entra no papo e quer saber:
– Como é o nome daquele bichão de pescoço comprido?
A resposta vem na bucha com toda certeza e a maior segurança do mundo:
– É GARRAFA !!!!
BÁRBARA LARISSA SANTOS (Balissa)
PAIS
Nilcéia / Orlei Jesuino dos Santos
AVÓS MATERNOS
Maria Aparecida / Antônio Jesuino dos Santos
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AVÓS PATERNOS
Neuza / Valdevino de Matos
Essas crianças... Osvaldo Reis
A TIA NÃO DEU: COMPROU PRA MIM...
Rebeca está com seis anos e está na pré-escola e quer porque quer um caderno de
dez matérias usado pelos universitários. Pela contradição e bom senso, sua mãe jamais
compraria um “trem” desses... Mas Rebeca tem lá seus métodos de obter o que quer... A
tia Ione e o tio Paulo têm um mercado onde começou o “namoro” com tal caderno...
Mas sua mãe a proibiu terminantemente de comprar qualquer coisa dos dois, já que a
mocinha é consumista que só, compra até capim pegando fogo, e dos tios então... Aí é só
festa... A mãe também pediu aos tios que não vendessem nada pra ela... Esse “vender”
não tá muito claro... Rebeca é muito simpática, jeitosa, e repito, tem sua própria
metodologia, aliás, infalível de alcançar seus objetivos, mas não podia comprar (nem
levar na “flauta” já que a proibição valia também para os tios)... E o cadernão???
Rebeca está apaixonada pelo dito cujo... Anda pra lá, anda pra cá e seus olhos de
jabuticaba não desgrudam dele... A tia Ione começa a se preocupar com aquele jeitão de
Rebeca e pergunta o que está acontecendo. Rê aponta o caderno, “entregando” a mãe:
– SABE, TIA IONE, A MINHA MÃE FALA QUE VAI COMPRAR UM
CADERNO DESSES PRA MIM, MAS NUNCA COMPRA...
O coração da tia, que é professora, balançou e aí começou entre as duas um
diálogo quase que infindável:
– Então, Rê, pode pegar o caderno, a tia dá de presente pra você....
– A MINHA MÃE NÃO DEIXA...
– Mas é a tia que está dando...
Rebeca dramatiza:
– NÃO TIA, NÃO POSSO...
Será que ela abriu mão da conquista?
– Então, “tá” bom, se você não quer...
Claro que ela queria, ela não se “entregaria” tão fácil assim... Rebeca continua
com seu vai e vem, sempre de olho no tal caderno... Aí sua cabecinha começa a
encontrar meios de obtê-lo, já que não podia comprar nem ganhar de presente, achou a
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Essas crianças... Osvaldo Reis
solução e acabou conseguindo, mais uma vez, o objeto de seu momentâneo desejo:
– ENTÃO, TIA IONE, VOCÊ FALA PRA MÃE QUE VOCÊ NÃO ME DEU...
VOCÊ FALA QUE COMPROU NA LIVRARIA...
E, com aquela carinha sapeca, olhos brilhando concluiu:
– E DEU PRA MIM, TÁ??? E foi embora com seu “universitário” de prezinho...
INTERESSEIRA...
Rebeca vê em sua prima Cláudia, a quem chama de tia, já que Claudinha tem
alguns aninhos a mais que ela, a sua “ídala”. Cláudia realmente é muito bonita, se veste
bem, tá sempre de sapatos altos, muito bem maquiada, usa jóias de verdade, é linda,
enfim, uma Ana Hickman em carne e osso ou como dizem os gaúchos, ela é uma gota de
orvalho numa folha de inhame numa manhã ensolarada. Rebeca acha bonito até o seu
rastro, sua roupa, suas coisas, tudo... E tenta imitar a prima Curitibana.
Num natal em casa dos avós Olga e José Bordin, em Jussara, Rebeca “fuça” na
bagagem de Cláudia e depois vem falar com a prima:
– TIA CLÁUDIA, O TEU PAI DEIXA VOCÊ DAR TUAS COISAS VELHAS
PARA OS OUTROS?
Cláudia fica intrigada. Ela não iria carregar coisas velhas, e “beirando” os trinta
janeiros, não é e nem tem coisas assim... Estranha a pergunta, pensa um pouco e
responde:
– Olha Rebeca, eu acho que sim!...
A resposta de Cláudia revela o motivo real de a priminha ter mexido em suas
coisas...
– A SUA MAQUIAGEM JÁ TÁ VELHA, ENTÃO, VOCÊ DÁ ELA PRA
MIM?
MISERÊ...
Rebeca está com cinco anos, a filha do Teodoro e da Maria Helena vive com os
pais num amplo e confortável apartamento em Ibaiti, onde tem muitos amigos.
Freqüenta o clube que tem parquinho, uma baita piscina e tantas outras mordomias que
ela desfruta sem nenhuma modéstia... A mãe de Rebeca é professora, o pai lida com
madeira.
Teodoro vai para Rondônia montar um fábrica de móveis. A mãe recebe uma
licença (3 meses) no colégio onde trabalha e, com a filhota a tiracolo se manda pra
Rondônia a fim passar a temporada com o maridão...
Lá, a coisa é um pouco diferente de sua casa no Paraná... O pai se “esconde” na
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Essas crianças... Osvaldo Reis
própria fábrica, tudo é improvisado, menos a preocupação do pai em dar um certo
conforto para a filhota... Teodoro usa uma caminhoneta para os afazeres da indústria,
pois em Rondônia não é só a corrupção que é grande, o calor é maior ainda... É um sol
para cada pessoa, sol de estalar mamona...
O dedicado pai coloca uma lona na carroceria do veículo e enche o “bicho”
d'água, o que seria a piscina da filha... Rebeca se molha, se refresca, mas “tá” bastante
intrigada... Lá pelas tantas, numa distração do pai, Rebeca chama a mãe, e tristemente,
constata:
– COMO NÓS FICAMOS POBRINHAS, NÉ MÃE???
A FALSA
Após três meses no sol de Rondônia, Rebeca e a mãe precisam voltar para Ibaiti.
Rebeca tá triste, macambúzia, pensativa... Mas...
E chega o dia da partida... O pai as leva até o aeroporto... Rebeca tem adoração
pelo pai, paixão seria mais correto... O som anuncia a hora do embarque... Rebeca
“tarraca”, gruda, “se enrola” no pescoço do velho, não quer ir embora, não quer deixálo, cena triste e por demais emocionante. Rê chora copiosamente, e põe choro nisso...
As pessoas próximas se comovem, o pai engole seco, aperta o peito, avermelha os
olhos, a mãe, com muito custo tira-a dos braços, ou melhor dizendo, do pescoço do pai.
O avião decola. O pai fica só naquele mundão...
O avião ainda nem tinha deixado direito o aeroporto, Rebeca abre um sorrisão,
de orelha a orelha, passa as costas das mãos nos olhos e manda ver:
– AGORA NÓS VAMOS VOLTAR PRA NOSSA VIDA DE RIQUINHA, NÉ
MÃE?
REBECA BORDIN DE ALENCAR
PAIS
Maria Helena / Teodoro Alencar
AVÓS PATERNOS
Maria / Alonso Moreira de Alencar
AVÓS MATERNOS
Anna Olga / José Bordin
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Essas crianças... Osvaldo Reis
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Essas crianças... Osvaldo Reis
“BRINCADEIRA” CHATA...
Na casa de Carol todo mundo é católico. Católico mesmo, não só de fachada... A
avó é católica, o avô, as tias, tios, primos, mãe, pai, a irmãzinha Ana Paula... Até seu
ursinho de pelúcia... Todos, enfim... A mãe começa a mostrar o caminho à filhota
ensinando-lhe como rezar o terço, explicando-lhe pra que é que serviam as contas, as
maiores, as menores etc. e tal... Um belo ritual que consiste em perguntas e respostas...
Mas criança gosta só de perguntar, responder; nem sempre... Ione reza:
– Ave Maria...
Carol responde:
– SANTA MARIA...
E a coisa continua...!
Lá pelo terceiro mistério, Carol perde a paciência e sentencia:
– MÃE, VAMOS MUDAR DE REZA, PORQUE SEMPRE É A MESMA
COISA... SEMPRE A MESMA COISA...
VOCÊ TEM ALGO CONTRA MINHA MÃE???
A Carol, em companhia da mãe Ione e da avó Olga, vai à missa... Ana Carolina,
Carolzinha para a “vó Olga” tem quatro anos, um montão de tias, uma delas de nome
Rosana. Todo mundo adora a companhia da gatinha para os passeios, não apenas para ir
à igreja... Naquele domingo não foi diferente...
As três; mãe, avó e a enfocada chegam à igreja, aliás, próxima, em todos os
sentidos, de sua casa... Carol senta, olha pra todos os lados, confere, e acha tudo de
acordo.
Começa a missa com o padre solenemente anunciando:
– Essa missa foi encomendada por Olga Bordin...
Carol observa calada a cerimônia e capta tudo... Logo em seguida, durante a
celebração, todos começam a cantar o hino HOSANA NAS ALTURAS... Carol não se
conteve e fez com que a mãe e a avó desviassem um pouco a atenção da missa para rirem
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Essas crianças... Osvaldo Reis
por dentro. É que, a seu ver, sua mãe estava sendo vítima de uma grande injustiça e a
gatinha quis saber:
– MÃE, JÁ FALOU O NOME DA VÓ OLGA, JÁ FALOU O NOME DA TIA
ROSANA, QUE HORA O PADRE VAI FALAR O TEU NOME???
O LUGAR É O MESMO...
Ione, a mãe de Carol e Paula, estudou, lecionou e foi diretora do Colégio
Estadual Senador Morais de Barros, em Jussara, que tempo desses pegou fogo,
arrancando-lhe sentidas e saudosas lágrimas, já que sua história de amor pela escola
começara tão cedo, um amor que nenhum incendiozinho besta vai interromper...
Ione, um belo dia, ouve uma professora contar na sala onde se reúnem, as
peripécias de um aluninho de apenas sete anos, mas por seu apelido, a maneira como era
tratado (por todos) dá pra se ter uma idéia do “anjo” que era o sujeitinho: ele era
conhecido (e como!...) por “Capetinha”...
Um dia “Capetinha” se excedeu... Pouca coisa... Desentendeu-se com um
coleguinha e a coisa não teve proporções maiores graças à intervenção da experiente
educadora... No auge da raiva, do ódio e sei mais o quê, “Capetinha”, aos “berros”,
manda o coleguinha tomar... Não era café nem água, é exatamente o que você pensou...
– VÁ TOMAR NO... – bradou Capetinha...
A professora, didática, explica ao jovenzinho que era feio dizer palavrões, que
era feio brigar e aproveitou também pra explicar ao “descomportado” aluno, o nome do
“trem”... Contou pra “Capetinha” que “aquilo” não era “aquilo”, que o nome correto era
(e continua) ânus...
“Capetinha” ouve, paradoxalmente, muito atento e ainda muito nervoso.
Baixando (só um pouquinho) o volume, concluiu:
– ENTÃO ELE QUE VÁ TOMÁ NO ANUS MESMO......
ONTEM É HOJE?
Ana Carolina, com seus quatro anos, “adorava” ir à escola. Certo dia, chega pra
mãe e afirma, feliz da vida:
– AMANHÃ NÃO TEM AULA PRA MIM...
À noite entregou-se aos braços de morfeu e dormiu que só uma pedra... Acordou
com a energia de sempre, e de novo, pega a mãe pra Cristo e quer saber?
– HOJE É AMANHÃ???
A mãe, lembrando a afirmação do dia anterior, intrigada responde:
– É, Carol...
Carolina abre um sorrisão e conclui o diálogo:
– ÔBAAA, ENTÃO HOJE NÃO TEM AULA PRA MIM...
87
Essas crianças... Osvaldo Reis
FILOSOFIA CAROLINIANA...
O quadro é um desenho daquela história do cupido, lembra? É aquele coração
atravessado por uma flecha, a flecha do amor, dizem os românticos. Para Carol, com
seus quatro anos, era outra coisa:
– É UM CORAÇÃO MATADO.
Mais ou menos com a mesma idade, no jantar, após o mesmo, afirma orgulhosa:
– PRATEI UMA PRATADA DE FEIJÃO...
No Natal de 1991, Carolina está com cinco anos. A irmã predileta de Ana Paula
tratava-a carinhosamente por maninha (ainda é assim), e toda invocada, fala pra
enciumada Ana Paula:
– SOU PRESENTÁVEL.... PAPAI NOEL TRAZEU UM MONTÃO DE
PRESENTE PRA MIM.
Família toda reunida vendo televisão. Aí a caçula da prole, Carolina, com seus
quase cinco anos reclama:
– EU NÃO TÔ ESCUTANDO NADA. QUEM DESAUMENTOU A
TELEVISÃO?????
Um outro filósofo, então com cinco anos, o poeta Paulo Assis, irmão, um pouco
mais novo, do também poeta A.A. de Assis (poesia é dom e bem de família), ajuda a
esclarecer a história da página anterior, com sua pergunta cheia de sabedoria e
sagacidade:
– HOJE É QUE É O AMANHÃ DE ONTEM?
“CAMISINHA” PRA ANIMAR
Era época de carnaval. O Governo fazia aquela propaganda contra a DST, ou as
doenças sexualmente transmissíveis, com enfoque para a AIDS, cuja pronúncia, de
acordo com o significado, deveria ser SIDA, a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida. Deixando de lado o pormenor de nossa alienação com o imperialismo
americano, inclusive lingüístico, uma campanha meritória, embora muitos entendam
que a mencionada campanha incentiva o sexo fora do casamento... Mas qualquer coisa
88
Essas crianças... Osvaldo Reis
pra se evitar uma doença dessas é bem-vinda...
Ana Carolina, no alto de seus cinco anos, assistia a todo instante, na televisão, a
dita propaganda. A coisa era mais ou menos assim: um monte de gente pulando carnaval
e uma voz no fundo apregoava: “NESSE CARNAVAL USE CAMISINHA”... Carol
gostou de ver uma festa tão animada, com aquela alegria toda, e quer saber do pai:
– PAI, AMANHÃ VOCÊ VAI PRA MARINGÁ?
O pai diz que sim. Ato contínuo, a filhota revela ao pai o interesse por sua
viagem:
– ENTÃO VOCÊ TRAZ UM MONTÃO DE CAMISINHA PRA MIM PULÁ
CARNAVAL? TRAZ COLORIDA, TÁ PAI?
ERA UM ESTOURO
Ana Carolina, a Carol, com seus dois anos já filosofava, cabendo à mãe,
professora, a tradução do que dizia a filhota. Mãe sempre sabe das coisas, e também é
pra essas coisas... Na comemoração dos dois anos da gatinha, tá lá um montão de
crianças em sua casa para o tradicional parabéns pra você. Festona e tanto, com bolo,
brigadeiro, sorvete, refrigerante e um punhado de balões, popularmente chamados de
bexiga, decorava o ambiente... A criançada estava se divertindo à beça, mas de vez em
quando... Pummmmmmmm (calma, não é o que você pensou!). O som misturava-se à
algazarra e a aniversariante fazia explodir mais um balão dos tantos que ela já havia
pipocado. A mãe jura que Carol dizia: “não enche a bexiga que eu estouro”. E, assim, ela
ia “desenchendo” balões e mais balões e, como dona da festa, a rainha do pedaço,
desafiante tascava:
– NÃO FUA QUI EU DISSÓPRO!!!
LÓGICA INFANTIL...
Ana Paula está aprendendo a falar. Os pais moram ao lado dos avós maternos da
mocinha. Os paternos são falecidos. Paula conhecia, portanto, os pais de sua mãe. E,
como se sabe, criança é danada pra fazer associações... A curiosidade em torno da avó
de Ana Paula é que em razão de sua bondade e paciência, todo mundo, não só os netos, a
tratam por “vó Olga”, até os marmanjões o fazem, por carinho e também pra imitar as
crianças, netas de verdade. Entretanto o avô de Ana Paula é só “vô”, nem avô, nem
vovô, como é natural. Como ela só tem ele, é “vô” e fim de papo...
Um belo dia, um abestado de um tio “espreme” Ana Paula querendo saber por
que era "vó Olga", e porque “vô” era só “vô”, “vô” o quê?
– É VÔ, UÉ. – Responde Ana Paula.
A resposta não agrada o insistente tio...
– Mas por que é vó Olga? Repete tudo, começa tudo de novo, as mesmas
perguntas.
Ana Paula fica braba, acaba com a conversa dando sua lógica explicação:
89
Essas crianças... Osvaldo Reis
DOENÇA ESTRANGEIRA...
Ana Paula tinha lá seus quatro anos. Está cursando o pré não sei o quê, tá, enfim,
na escolinha - acho que escola de criança só devia se chamar escolinha, é muito
complicado esse negócio de prezinho, pré-um, pré-dois etc. Só escolinha e pronto...
Assim, na escolinha de Ana Paula ocorreu um surto de, sabe aquele “treco” que deixa os
olhos vermelhos e doendo pra burro? Sabe, né? Lá na escolinha tava quase todo mundo
com isso, menos algumas poucas crianças, dentre elas, a enfocada Ana Paula.
Paula chega em casa e faz um desenho lindão. E põe lindo nisso. Era uma
criança igual a ela, só que os olhos não eram iguais aos seus, da mesma cor, eram
vermelhos... Paula mostra à mãe seu trabalho.
A mãe rasgou elogios e deixou pra, no final, fazer a tal pergunta sobre os olhos
vermelhos da obra de arte da filha:
– Por que é que os olhos são vermelhos?
A resposta esclarece tudo, inclusive o nome da doença:
– É QUE ELE TÁ COM CONVIQUIVIQUI...
EU SOU A QUE NÃO TÁ DENTRO...
Ana Carolina é a irmãzinha mais nova da Ana Paula, com quem, aliás, é muito
carinhosa e a chama de maninha. É um tal de maninha pra lá, maninha pra cá...
Carinhosa mesmo...
Um dia, Carol tá mostrando uma foto de quando elas ainda eram bem novinhas.
O retrato mostrava as duas crianças. Uma em pé e a outra sentada, calçando uma meia.
Carolina explica:
– ESSA QUE TA DENTRO DA MEIA É A MANINHA E A QUE TÁ FORA DA
MEIA É EU...
ANA PAULA BORDIN FERNANDES REIS (Paula)
ANA CAROLINA BORDIN FERNANDES REIS (Carol)
PAIS
Ione / Paulo Fernandes Reis
AVÓS MATERNOS
Anna Olga / José Bordin
AVÓS PATERNOS
Ana / Geraldo Fernandes Reis
90
Essas crianças... Osvaldo Reis
APENAS UM SAPATO GRANDE…
Do casal Rosana/Luiz Jorge, depois da Fabrícia “surge” uma loirinha, loirinha
mesmo, a Lorena, que, com aproximadamente cinco anos, falava não só pelos
cotovelos, pelos poros, seria mais coerente. A mocinha era (e continua) simpaticíssima
e também muito sabida...
Num certo dia, numa rodinha de crianças, com quase a mesma idade, Lorena se
desentende com o amiguinho Luciano e xinga-o:
– LUCIANO, VOCÊ É UM GUEI...
A prima Ana Paula, pouco mais velha, quer saber se Lorena sabia o que estava
dizendo. E não é que ela sabia mesmo? Lorena, sem meias palavras, responde:
– SEI... GUEI É UM HOMEM QUE NAMORA COM HOMEM...
Ana Paula, certamente querendo acabar com a “briga”, muda o rumo da
conversa e pergunta:
– E você sabe o que é mulher que namora com mulher?
Lorena, sem pestanejar:
– EU SEI. É GUEIA...
A sabidona da Ana Paula explica-lhe que não é gueia e sim sapatão...
Algum tempo depois, já sem briga, Ana Paula, pra saber se a “aluna” havia
aprendido, repete a pergunta:
– Lorena, o que é mesmo mulher que namora com mulher?
A loira Lorena pensa um pouco, faz suas deduções e manda ver:
– É... É... É BOTA !!!
LORENA JORGE
FABRÍCIA JORGE
LUIZ ALBERTO (BETO)
PAIS
Rosana / Luiz Jorge
AVÓS MATERNOS
Anna Olga / José Bordin
AVÓS PATERNOS
Bealina / Pedro Jorge
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Essas crianças... Osvaldo Reis
EU “FALI” TÁ FALADO...
Quase toda criança tem seu vocabulário, ou jeito próprio de falar. Claudinha,
uma das filhotas do Paulo e da Ieda não fugia à regra. Assim que começou a falar, de
verdade, com seus dois, três anos, em vez de falar pegar ela dizia “pegui”, brincar era
“brinqui”, gritei, “griti” e um montão de outras tantas palavras...
A dedicada tia Ione, que é professora, “acorrege” a sobrinha:
– Claudinha, não é brinqui, é brinquei... Não é pegui, é pegue,i etc e tal.
O tempo passa, o tempo voa, a poupança não continua numa boa, eis que um
belo dia “tá” lá a Claudinha almoçando, e criança gosta de mostrar o prato limpinho,
parecendo “lambido”. Cláudia olha para a tia professora, orgulhosa de seu feito, cheia
de razão, afirma:
– TIA IONE, EU COMI TUDO!!!!!
Aí a garota, lembrando o ensinamento, encara com pesado sentimento de culpa
a tia, e muda tudo:
– TIA, EU COMEI TUDO...
CLÁUDIA BORDIN BACCHI (Claudinha)
PAIS
Ieda / Paulo Bacchi
AVÓS MATERNOS
Anna Olga / José Bordin
Na infância, o sumo interesse
– calças longas, sem demora
(Ah! se a vida devolvesse
as calças curtas de outrora)
Waldir Neves
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Essas crianças... Osvaldo Reis
NÃO QUERO SER QUE NEM ELE...
O tio Paulo está hospedado na casa da Juliana, que tem cinco anos e é filha da Cláudia
e do Milton, em Curitiba. Mesmo sendo bem tratado, Paulo adora aporrinhar a paciência da
gatinha, que por seu lado, não gosta nem um pouquinho da brincadeira do tio.
É o seguinte: Juliana, recentemente freqüentando a escolinha, se “apaixonou” por
uma das “tias” e gostava de imitá-la. A tia dava aulas batendo palmas, contando coisas,
cantando aquelas musiquinhas que criança tanto gosta. Em casa a gatinha imita a professora
e seu “aluno”, único, por sinal, é o tio Paulo. A garota explica a coisa e pede ao aluno que
repita e ele faz tudo ao contrário. Diz a “professora” Juliana, por exemplo, o sapo... Paulo
responde “o passo”; ela, o gato; ele, “o toga”; Ju, o passarinho; ele, o “saparinho”; e o bateboca demora horas e horas até um dos dois desistir, ou jogar a toalha, o que, quase sempre
acontecia com a professorinha Juliana, que não tinha a devida paciência com aluno tão
desligado.
Um bom tempo se passou. Tio Paulo já tinha ido embora... Sabe um dia daqueles?
Garoava, fazia frio, chovia, ventava... A mãe, com medo de a filhota ficar dodói, resolve não
mandá-la pra escola. Juliana, desesperada, com infalível argumento, fala:
– Ô MÃE, QUANDO EU CRESCER VOCÊ QUER QUE EU FIQUE BURRA
IGUAL O TIO PAULO????
ÓRFÃO CONTRABANDEADO...
Mariana tem cinco anos, filha do casal Cláudia/Milton. Um dia, toda garbosa, chega
em casa e conta pra mãe que em sua escola tinha um menino órfão. A mãe, lógico, em razão
de sua pouca idade, quer saber da filhota se ela realmente sabe o que é órfão. E não é que ela
sabia mesmo? Veja a resposta:
– É QUANDO A MÃE DA BARRIGA MORRE E DAÍ TEM OUTRA MÃE FALSA
COMPRADA NO PARAGUAI...
JULIANA FERRI
PAIS
Cláudia / Milton José Ferri
AVÓS PATERNOS
Benvenuta / João Ferri
AVÓS MATERNOS
Ieda / Paulo Bacchi
93
Essas crianças... Osvaldo Reis
LUZ SEM RISCO !!!.
O Victor Hugo, no alto de seus quatro anos, não deve ter lido Gênesis, onde
Deus, após ter criado o céu e a terra, então sem forma e vazia e também em trevas, entre
tantas coisas disse: HAJA LUZ. E houve luz. Tempos depois um tal de Thomas Edison
é que artificiou a coisa, inventou a energia e democratizou seu uso. E, em Maringá, onde
nasceu nosso enfocado, foi montado o 1º escritório da Cia. Paranaense de Energia
Elétrica - COPEL, da qual Victor é tiete a não mais poder. Victor Hugo, por muito
tempo, ficando no lugar comum, e por ser o primeiro neto, foi literalmente “o xodó” não
só dos avós Lucia e Oscar, mas principalmente dos pais Márcia e Klibson... Depois
veio o Heitor e seu reinado foi dividido, mas não perdeu o título de primeiro neto.
Um belo dia, melhor numa bela noite, a luz da casa de “vó” Lucia se escafedeu,
tomou doril, “viajou” ... A avó Lúcia achou por bem dar a notícia ao neto, cuja
conversa, mesmo no escuro, é sempre gratificante. Dois tipos de pessoas têm solução
para tudo: mãe e criança. “Vó” Lúcia, liga então para Victor e , após os cumprimentos
de sempre, informa-o:
– Victor acabou a luz aqui em casa... A “vó” “tá” sozinha e no escuro, lamentou.
Doutro lado da linha, Victor, precoce e prático, ensina a avó a resolver o
problema:
– VÓ LÚCIA, NÃO FIQUE COM MEDO, ORE PRO PAPAI DO CÉU... ORE
BASTANTE, BASTANTE MESMO.
A conclusão do conselho, sábio, diga-se, mostrou que Victor, no caso, tem a fé
dividida, isto é, não sabe em quem acredita mais (ou sabe?) ...
– VÓ LÚCIA, DEPOIS QUE VOCÊ ORAR BASTANTE PRO PAPAI DO
CÉU, SE A LUZ NÃO VOLTAR, AÍ VOCÊ LIGA PARA A COPEL...
VICTOR HUGO TORRES DE OLIVEIRA
PAIS
Márcia / Klibson Wesley de Oliveira
AVÓS PATERNOS
Lúcia / Oscar Batista de Oliveira
AVÓS MATERNOS
Aparecida / José Torres
94
Essas crianças... Osvaldo Reis
SAINDO PELA TANGENTE
Sílvia, a Silvinha, irmã mais velha da Débora, (que uma vez ganhou do pai um
cachorro “botininho”), filha do Mauro e da Isabel, com seus três anos de idade, como
quase toda criança nessa faixa etária, fala pelos cotovelos, e o que é pior, “brigava”
muito com a mãe a quem xingava (coisa feia!) de boba, embora não soubesse direito o
que estava falando, mais ou menos como faz o papagaio. A mãe, sempre insultada
injustamente, quer cortar o barato da filha e resolve dar um basta no impróprio
palavreado da gatinha. Com a bronca, Silvia deve ter aprendido uma outra palavra. É
que certo dia quando iniciava o xingamento, deu de cara com a mão da mãe contendo
uma chinela numa das pontas, levantada, prontinha para entrar em ação, lógico, na
região glútea de Silvinha... E o diálogo (?) fica assim:
– MÃE, BO...
A “enchinelada” mãe interrompe-a perguntando, brava que só:
– O quê?
A gatinha dá um nó na língua e conclui, entre apavorada e sorridente:
– BOOOOOO... NIIIIIIIIITTTA!...
VÓ EXCLUSIVA...
Silvia nasceu em Maringá mas é descendente de japoneses, os japoneses do
Japão mesmo, não de japoneses de Assaí, Osvaldo Cruz, Cotia e tantos outros “japões”
do Brasil. Os avós maternos da gatinha de quatro anos vieram do país do sol nascente,
onde nasceram. Os paternos são falecidos; assim, ela só conhece o dityan e a batyan, por
quem morre de amores. Afinal a batyan faz tudo que a mocinha quer (será que é só ela?),
daí o xodó, de ambos os lados. Silvia, em razão da idade, não sabe direito o significado
da palavra batyan, sabe no entanto, que a batyan é dela e fim de papo, nem por decreto
poderia ser de mais alguém...
Um belo dia, em companhia da mãe e da batyan, Silvia, pela primeira vez, vai até
a ACEMA, clube que congrega a comunidade nipo-brasileira. Era “Dia da Criança”,
uma festa, algum motivo especial, gente que não acabava mais. Tomam lugar na
arquibancada e “tão” lá participando do evento. Atrás delas, tá lá uma outra batyan, a
batyan de outra garota, mais ou menos da idade da Silvia. Festona aquela, agradava a
95
Essas crianças... Osvaldo Reis
todos, principalmente as crianças. De repente aparece lá embaixo a tal garota da outra
batyan e querendo falar-lhe, começa a gritar:
– BATYAN, BATYAN...
Foi um Deus nos acuda... Silvinha levantou-se de dedo em riste, mandou a
“adversária” calar a boca, puxou a faca... Ninguém entendeu nada até que a mãe
explicou a ciumeira da filha. Depois de muito agarra, escapa, segura, separa, a gatinha
foi finalmente contida, mas mesmo assim, continuava gritando para a quase
usurpadora:
– A BATYAN É MINHA.... SÓ MINHA.... SUA FEIA, SUA BOBA... SUA
CHATA... SUA ...
BENZIMENTO VAGABUNDO...
O César, então com três anos, tinha medo de cobra cega, cabo de vassoura,
piolho-de-cobra, queda de rede e tantas outras fobias. Mas medão mesmo ele tinha de
assombração... A mãe, o pai e a vó Ana começaram a se preocupar com o garotão.
Conversa pra lá, pergunta pra cá, descobrem uma benzedeira perita em espantar
“coisas”. Sua perícia era tanto que bastava uma rezada que a coisa se escafedia, era fim
de papo, isto é, do medo...
A mãe e a avó levaram o sujeitinho na tal benzedeira, só com um detalhe, o
“benzido” não podia saber que o motivo do benzimento era pra curar medo, se não, não
valia, pra ele tinha de ser segredo.
E lá vem a bondosa velhinha com seu ritual e instrumentos de trabalho, são
galhos de arruda, réstias de alho, mãos na cabeça do carinha, palavras ininteligíveis, que
ela nem sabia - aqueles tradicionais mmmmmmmmmbbbbbbbbbbbtttttttttttsssssss entendeu?
Tudo bem. César, compenetrado, se deixa levar ou seja, benzer....
À noite César vai dormir. Algum tempo depois, assusta todo mundo com seus
gritos:
– Ô MÃE, VÓ, CORRE AQUI! ESSA PORCARIA DE BENZIMENTO NÃO
VALEU NADA... EU TÔ MORRENDO DE MEDO!...
MARA SILVIA REIS
CEZAR HENRIQUE REIS
DÉBORA CRISTIANE REIS
PAIS
Isabel / Mauro Fernandes Reis
AVÓS PATERNOS
Ana/ Geraldo Fernandes Reis
AVÓS MATERNOS
Mineta Ada / Noi Ada
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Essas crianças... Osvaldo Reis
EXCESSO DE TRABALHO...
Victor Enzo é, segundo o próprio, o neto preferido da Dora e Décio, do Erasmo e
Hercília. É um sujeitinho levado da breca e “tá” sempre a tiracolo de um dos avós,
principalmente Décio, com quem gosta de “jogá bola”... Victor tem tênis, meião,
camisa, bola e o avô de parceiro. Todo dia, no mínimo por duas vezes, Victor queria
“jogá bola”... Naquele dia o avô Décio não podia atender o neto, já que estava enrolado
com algumas outras coisas. Logo de manhã, “tá” lá o Victor, todo paramentado,
chamando o avô para fazer o que ele mais gostava:
– VAMO JOGÁ BOLA, VÔ?
O avô, pacientemente, responde:
– Não, o “vô” vai “tabaiá”.
Tudo bem... “tabaiá” pode. Senão não tem doce, presente, Natal, bicicleta etc. A
“inocente” criança sempre “engole” a tal desculpa... Na hora do almoço a coisa se
repete, igualzinho de manhã:
– VAMO JOGÁ BOLA, VÔ?
A resposta também é a mesma:
– O vô vai “tabaiá”...
Victor aceita, mas já de nariz um pouco torcido. À noite (o “estádio” deles,
proximidades da Catedral, em Maringá, era iluminado...), não dá outra, lá vem o
pentelho do neto com a mesma proposta:
– VAMO JOGÁ BOLA, VÔ?
Décio volta a falar que novamente vai trabalhar...
Victor endoida, coloca um pé sobre a bola, a outra mão na cintura e a uma
levantada, mais enfezado que siri na lata, com três dedinhos apontados em direção ao
nariz do avô, desafia:
– MAIS TREIS VEIZ???!!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
ZELOSO...
Victor é “colocado” na escolinha. Não tem ainda quatro anos. Entre as tarefas da
vó Dora em relação a ele, era a de levá-lo, e lógico, apanhá-lo na tal escolinha.
Um dia, em razão de outros tantos afazeres no corre-corre do dia-a-dia,
literalmente, Dora esquece o neto na escola. Naqueles tempos, ainda não existia
telefone celular. Dora estava fora de casa cuidando da vida... É banco, armazém,
compra isso, paga aquilo... E o pobre do neto “abandonado” na porta da escolinha... Aí,
Dora se lembra de alguma coisa... Do neto... Se manda para a escola, toda preocupada...
Lá chegando em vez de encontrar o neto aos prantos, apavorado, tá lá o carinha no maior
papo, falando pelos cotovelos, joelhos e até pela boca com uma professora que o
acompanhava...
A avó nem teve tempo para pedir as tradicionais desculpas, já que com sua
chegada a autoridade do neto aumentou muito, e sem mais delongas e nenhuma
pergunta, com a maior cara de pau, cheio de razão, Victor explicou:
– OLHA VÓ, EU QUERIA IR EMBORA, MAS TIVE QUE FICAR PRA
CUIDAR DA TIA...
VICTOR ENZO FERNANDES GERMANI
PAIS
Juliana / Rodrigo Germani
AVÓS PATERNOS
Hercília / Erasmo Germani
AVÓS MATERNOS
Dora / Décio Fernandes Reis
Corações
– Juquinha – pergunta a professora –, quantos
corações nós temos?
– Dois, professora: o seu e o meu.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PAI VIGARISTA
Pertinho de Maringá, em Mandaguari, vivia o casal Vera e Valdir, de cuja união
nasceu Bruno, com cinco anos de idade, o carinha, pela historia a seguir, de bobo não
tem nem o jeito de andar... Seguinte, tempo desses, o pai precisava fazer alguma coisa:
reforma, sabe-se lá o quê na casa. O pessoal deixou próximo à entrada um monte de
lajotas. Reforma que nunca iniciava e a mãe do jovem sempre cutucando o pai para que
fizesse logo o serviço ou no mínimo, tirasse aqueles “troços” da frente da casa. O pai viu
a solução no filho:
– Filhão, se colocar essas lajotas lá no fundo, eu te dou cinco reais...
O garotão topou. O pai vai trabalhar e ele também. Levou tudo pro fundo, uma
pilha bonitona. Noitezinha, o pai tá no boteco perto de casa. O filho vai ter com ele:
– PAI EU JÁ COLOQUEI AS LAJOTA LÁ NO FUNDO. CADÊ O MEU
DINHEIRO?
O pai, talvez não acreditando no filho e querendo conferir o serviço contratado,
disse a ele:
– Em casa eu te dou os “cincão” combinados...
O filho de imediato volta pra casa.
O pai ao retornar encontra as lajotas no mesmo lugar, e o filho morto de cansado.
Ele quer saber o que estava acontecendo:
– Ué, filho, você voltou as lajotas pro mesmo lugar?
A resposta, na lata, deixa o velho numa baita sinuca de bico:
– CLARO, VOCÊ NÃO ME PAGOU...
BRUNO SEMENSATO
PAIS
Vera / Valdir Semensato
PATERNOS
Aparecida / Valdemar Semensato
AVÓS MATERNOS
Mercedes / Bruno Manuzzi
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A ENSINAGEM...
Débora está no prézinho e tem entre três e quatro anos de idade. Com a mãe
Josefa fora de casa, Moisés, um pouco mais velho, se sente o rei da cocada e quer porque
quer dar ordens para a irmãzinha.
Débora está compenetrada fazendo a tarefa que a tia passou. Moisés ensinando,
isto é, perturbando: isso não é assim, é assim, e dá-lhe encher os picuás da pobrezinha.
Débora está prestes a explodir com a sacanagem do irmão. Reclamou umas
trocentas vezes:
– PÁRA, MOISÉS! EU VOU CONTÁ PRA MÃE E A MÃE VAI TE BATER...
e patati, patatá...
Moisés, nem aí, apesar da ameaça de a mãe lhe dar um chega pra lá, continuava a
perturbar Débora.
Aí a gatinha tem uma tirada genial, e aos berros, silencia o irmão-professor:
– PÁRA MOISÉS!!! PÁRA QUE EU NÃO PRECISO DE SUA
ENSINANÇA!!!
DÉBORA BARROS DE SOUZA
PAIS
Josefa / José de Souza
AVÓS MATERNOS
Clarice / Antônio Damásio Pereira
AVÓS PATERNOS
Maria / José Barros de Souza
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Essas crianças... Osvaldo Reis
QUE SACO DE MENINA!!!
O casal Claudete/Antônio Schiavon tem três filhas: Clacieli, a mais velha;
Gláucia, a do meio e a caçula Cinthia, conseqüentemente o xodó da casa, isto é, dos
pais. Já as duas maiores morrem de inveja da menorzinha. E pra piorar ainda mais a
coisa, Cinthia ganhou um “trenzinho” daqueles em que se coloca na cintura e o “bicho”
toca uma fita cassete, nome pomposo, americano, walkmen, ou coisa parecida. O ódio
ficou ainda maior. E a caçulinha contribuía decisivamente para isso já que desfilava na
frente das duas com tal aparelho grudado na cintura como se fosse a Gisele Bündchen,
toda “inzibida”, fazendo os cotovelos das duas aumentarem a olhos vistos, não cabendo
mais de tanto inchaço...
Mas as duas acabaram encontrando um jeito de se vingarem da irmã “metida”:
cada vez que Cinthia passava por perto, elas aumentavam o volume da coisa, o que fazia
a gatinha endoidar, ficar maluca de raiva, e quem “tá” por perto vira o muro de
lamentações da egoísta “escutante”, que, com fone nos ouvidos, não dividia com
ninguém o som emitido pelo mencionado aparelho...
Um belo dia a história se repetiu, só que em proporções alarmantes, o som foi
aumentado em demasia ferindo as “oreia” de Cinthia, fazendo-a apelar para a genitora
em altos brados:
– Ô MÃE, A GLÁUCIA VAI ACABAR ARREBENTANDO MEUS
TESTÍCULOS!!!!
CLACIELI SIMÕES SCHIAVON
GLÁUCIA SIMÕES SCHIAVON
CINTHIA PRISCILA SCHIAVON
PAIS
Claudete / Antônio Schiavon
AVÓS MATERNOS
Maria Augusta / José Miguel Simões
PATERNOS
Irene / Izaltino Schiavon
101
Essas crianças... Osvaldo Reis
NÃO ERA PA COMÊ...
Dalva é confeiteira de mão cheia e esse tipo de profissional adora trocar receita.
Um dia, não trocou, recebeu de uma freguesa da loja onde trabalhava na época. Dalva
endoida e quer fazer logo o doce para o filhote Pedro, então com sete anos. Ela se manda
pra casa, onde além dela e Pedro, também morava sua mãe. Lá chegando nem troca
roupa e começa a preparar a guloseima. Pedro quer saber:
– MÃE, O QUE É ISTO?
Dalva, sem maiores detalhes, responde:
– É pavê.
Pedro se cala e fica por ali vendo a mãe trabalhando. Dia seguinte, Pedro vai
para a escola e Dalva ao trabalho. A mãe de Dalva, a avó Maria, não era muito chegada
em doce...
Após o expediente, como de costume, Dalva volta pra casa. Abre a geladeira e tá
lá o doce inteirinho, de tão bonito parecia até estar olhando pra ela... Dalva fica intrigada
e quer saber do obediente Pedro:
– Por que você não comeu do doce que a mamãe fez pra você e pra vovó?
A resposta vem na bucha:
– A SENHORA DISSE QUE ERA PA VÊ!!!
PEDRO CAETANO
MÃE
Dalva Caetano
AVÓS MATERNOS
Maria / Francisco Caetano
102
Essas crianças... Osvaldo Reis
O CAMINHÃO DE CONSERTAR ESCURO...
Tempos atrás em Maringá, bastava trovejar que a energia pifava, escafedia. E
dá-lhe breu. Era um problema bem democrático, atingia ricos e pobres, sobrava pra
todo mundo. No bairro Aeroporto, no esplendor de seus cinco anos, o irmão da Vanessa,
Vinícius, vivia com os pais Luzia e Edson Lima, onde a coisa não era diferente. Era um
tal de apaga e acende que se repetia, no mínimo, duas vezes por semana. Com o natural
interesse de uma criança de sua idade, Vinícius acompanhava o drama observando
atentamente a movimentação ocorrida logo após a energia “tomar doril” isto é, o correcorre do pessoal da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL), para
resolver, mesmo que momentaneamente, o crucial problema...
Num determinado dia, com Vinícius já especialista em apagão, após mais uma
queda de energia, o garoto corre pra fora e na volta tranqüiliza todo mundo:
– PAI, JÁ TÁ CHEGANDO O CAMINHÃO DE CONSERTAR ESCURO!!!
MARCOS VINÍCIUS LANDI DE LIMA
VANESSA KARLA LIMA
PAIS
Luzia / Edson Lima
AVÓ MATERNA
Hélcia Oliveira
AVÓS PATERNOS
Antônia / Menezes Lima
103
Essas crianças... Osvaldo Reis
VÁ PRA...
Perto de criança é complicado falar certas coisas, mas de vez em quando, escapa.
Em briga, como ensinava Dolores Duran, a gente diz coisas que não quer dizer, coisas
impensadas. Criança “pesca”, já que apesar de aparentemente não estar nem aí, suas
antenas estão sempre ligadas.
A história contada pelo escritor MÁRIO PRATA, no Programa do Jô, tempo desses,
confirma a afirmação. É o seguinte, diz Mário ao robusto e criativo Jô:
Minha irmã precisava ir a um lugar muito longe do centro de São Paulo, e com ela a
tiracolo, foi sua filha de quatro anos. O ônibus, em razão da estrada em grande parte não ser
asfaltada, não era nenhuma “Brastemp”; estava caindo aos pedaços. Depois de marchas e
contramarchas, finalmente chegam ao lugar. Era um lugarzinho feio. E põe feio nisso! Era
esgoto a céu aberto, animais mortos em plena rua, gente brigando, “peixeira” comendo e a
garota observando tudo no maior silêncio, até que em dado momento esse silêncio foi
rompido com uma pergunta que, em sua inocência, representava o quadro:
– MÃE, É AQUI QUE É A PUTA QUE PARIU???
SE A VIDA LHE DER UM LIMÃO... I
Esta história é oriunda de correspondência recebida de ANTÔNIO ARAÚJO
COSTA, residente em Paiçandu (PR), cujo conteúdo transcrevemos “ipsis literis”:
“Sou deficiente físico, não tenho nem mãos nem pés. Meus braços vão até o
cotovelo e minhas pernas até o joelho. Sou baixinho...” Certa vez, eu e minha irmã
estávamos caminhando na cidade de Tapejara quando encontramos uma garotinha que
tinha lá por volta de quatro anos, que ficou me olhando e depois perguntou:
– VOCÊ NASCEU ASSIM?
A minha resposta:
– Sim, eu nasci assim...
A outra pergunta da garota me deixou dando risada:
– MAS DE BOTINHA TAMBÉM ???
SE A VIDA LHE DER UM LIMÃO... II
Eu passeava pela cidade de Paiçandu, onde moro. De repente encontrei um garoto,
de lá dos seus cinco anos, que eu nunca tinha visto antes, que parou, ficou me olhando e
disse:
– EU CONHEÇO VOCÊ!
Surpreso eu quis saber:
– Quem sou eu então?
Aí eu descobri que era famoso, só que não sabia, o garoto é que me explicou:
– VOCÊ É UM ANÃOZINHO DO FILME “BRANCA DE NEVE E OS SETE
ANÕES”!!!
104
Essas crianças... Osvaldo Reis
VINGANÇA...
Arlene Lima por muitos anos dirigiu o Lar Betânia, uma instituição que
acolhe meninos e meninas de rua e além de lhes oferecer teto e comida, ajuda a
mostrar-lhes o caminho. Arlene tratava as crianças como se fossem filhos,
brincava, jogava futebol, ensinava a trabalhar, estudar, puxava as orelhas. Mãe de
verdade. É Arlene quem faz as campanhas que mantém a entidade, cujos resultados
ajudam a não faltar quase nada, em termos materiais.
Entre as tantas tarefas de Arlene junto ao Lar, a que mais a preocupava,
certamente, era a falta do pão nosso de cada dia... Justificando isso, num terreno
perto da casa juntou a meninada e lá plantou uma roça de feijão. E até que colheram
bastante, mas a chuva em excesso impedia que o produto fosse descascado, o que só
pode ser feito com o cereal muito seco. Era um sem-fim de colocar o feijão no sol e
tirar por causa da chuva... E o tal feijão não podia nunca ser debulhado. Até que um
belo dia sai um solzão. Arlene reúne seu exército e dá a cada um deles um pedaço de
pau, lembrando um cabo de vassoura e explica que devem bater no monte de feijão
para que os grãos se soltem da casca. O trabalho começa, só que a criançada estava
muito desanimada. Arlene usa a cabeça, chama seus filhos e orienta:
– Vocês vão bater como se estivessem batendo numa pessoa que vocês
odeiam. Dito e feito. Cada um tinha lá seus motivos. E o pau corria solto... Todo
mundo botando pra fora seus tantos “ódios”. Um garoto (Maurício) se excedia na
força e na rapidez com que descia a madeira no pobre do feijão. Arlene quis saber o
motivo pelo qual ele batia com tanta violência, e chegou a pensar que o garotão
estava batendo nas pessoas que o abandonaram. Coisa absolutamente normal, mas
em verdade, o motivo era outro:
– EU TÔ BATENDO NA SENHORA... EU NÃO GOSTEI DESSE
NEGÓCIO DE COLHER FEIJÃO, NÃO...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
ESSA É DAQUELAS, MÃE???
Arlene Lima, com a filha a tiracolo, está fazendo visitas. Chegam numa casa
muito humilde e as pessoas quanto mais humildes mais generosas são. A filhota de
Arlene, Priscila, entre seus três a quatro anos, observa tudo, como faz toda criança.
Lá pelas tantas a dona de casa oferece às visitantes café e pão.
Arlene não teve tempo nem de piscar quando viu a filhota pedir à bondosa
senhora:
– EU QUERO MANTEIGA...
– Não tem. Responde a senhora.
– ENTÃO ME DÁ MEL. Repete a garota.
– Também não tem...
– PODE SER GELÉIA. Insiste a gatinha.
A dona da casa volta a repetir o de sempre: não tem.
Arlene fica vermelha de vergonha da atitude da filha. Ao saírem daquela casa,
mais que depressa, Arlene orienta a filhota:
- Filha, quando alguém te oferecer apenas café e pão, é porque só tem café e pão,
se tivesse outras coisas, ela trazia junto. É gente pobre, gente que não tem nada em
casa...
A garotinha ouviu tudo com muita atenção, nem perguntas fez.
Alguns dias depois Arlene e a filhota estão visitando outras casas, e, como de
costume, são muito bem recebidas. Numa dessas casas, lhes é oferecido café. Somente
café. A garotinha, lembrando o pito anterior, evita o desconforto da mãe sofrido na outra
casa. Não pede nada para a moradora, mas pergunta para a mãe em alto e bom tom:
– MÃE, ESSA AQUI TAMBÉM É DAQUELAS PESSOAS BEM
POBRINHAS QUE NÃO TEM NADA EM CASA??????
PRISCILIA JUSTUS
PAIS
Arlene / Airton Justus
AVÓS MATERNOS
Helena / Ary de Lima
AVÓS PATERNOS
Emília / Otto Justus
Alguma dúvida?
A professora para o Juquinha:
– Juquinha, diga cinco alimentos que contém leite.
– Cinco vacas, professora.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO
Justino Farias é membro da Igreja Evangélica Testemunhas de Jeová, em
Brasília, onde ensina, com fervor, lições bíblicas aos filhos menores: Quésia, Ricardo e
Reginaldo; além, claro, dos outros meninos e meninas da igreja. Reginaldo está com
quatro anos. O professor-pai fala sobre a passagem do mar Vermelho. Falou, ilustrou,
esclareceu e todo mundo (ou quase...) aprendeu.
O dedicado mestre quer então saber dos “afiados” alunos:
– O que é que aconteceu quando Moisés bateu com a vara nas águas do mar?
Ninguém se coçou. Aí Reginaldo mandou ver:
– OLHA PAI, QUANDO MOISÉS VIU QUE OS ISRAELITAS NÃO
TINHAM POR ONDE PASSAR, ENCURRALADOS, BATEU COM A VARA NA
ÁGUA E O MAR SE ABRIU...
Mas, segundo o raciocínio do garoto a batida foi muito forte e acabou acordando
um bichinho, que descansando, não gostou de ser incomodado... Se não fosse a surra
inesquecível que levou, sua conclusão teria sido deveras sábia:
– AÍ SAIU UM JACAREZÃO DESSE TAMANHO E COMEU TODO
MUNDO!
O retrato Dele
Uma garotinha, na creche, estava compenetrada
desenhando. A professora passa por perto e quer saber:
– Carol, o que é que você está desenhando?
– Estou desenhando Deus, responde Carol.
A professora parou e disse:
– Mas ninguém sabe como é Deus...
Sem tirar os olhos do desenho, nem piscar a
garotinha mandou ver:
– DENTRO DE UM MINUTO SABERÃO...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
BAILE DA INJEÇÃO
Os pais Nina e Luiz gostavam muito de passear e nessas horas
“abandonavam” o filhote Elton Luiz, então com quatro anos, deixando-o com a
vovó, e “enrolavam” o sujeitinho dizendo que iam à farmácia tomar injeção. De
tanta injeção, o filhote começou a desconfiar e também a se preocupar com a saúde
dos pais; afinal era muito médico, muita farmácia, injeção quase todos os dias.
Criança, quase sempre, se finge de morto...
Um dia, acometida pela doença de sempre, a mãe conversa com o filhão e
explica-lhe do constante problema e as tradicionais desculpas, aliás, esfarrapadas.
O diálogo deixa a mãe na maior saia justa e o pai com um risinho “besta” nos
lábios:
– Filho, você fica com a vovó que o papai e a mamãe vão...
A mãe não teve nem tempo de concluir a frase. Elton, muito sério, a
interrompeu e afirmou:
– JÁ SEI, JÁ SEI, VOCÊ VAI TOMÁ INJEÇÃO LÁ NO CLUBE!!!
INGRATIDÃO...
César, com seus três anos de idade anda fazendo birra do tamanho do mundo.
Nada dá jeito na “bravura” do meninão. A mãe tenta de toda maneira dar um jeito no
berreiro do filhote (o pai, como sempre, quando acontecem essas coisas, está fora).
É um tal de toma isso, olha aquilo, olha que bonitinho, toma o apito, a bola, e nada
de o menino se acalmar.
A mãe, como sempre, “descobre” uma solução: entregou ao “chorante
incontido” o álbum de casamento - e não é que a coisa deu certo? O garoto parou de
108
Essas crianças... Osvaldo Reis
chorar na hora. A mãe, aliviada, continuou com seus afazeres. Mas de repente, a
todo vapor, choro estridente, o filho ataca novamente e com razão, diga-se de
passagem: na foto, pai e mãe sorrindo felizes, como se estivessem ganho (sozinhos)
na loteria esportiva... César fica indignado com a cena. A mãe quer saber:
– O que foi que aconteceu, meu filho?
– VOCÊ E PAPAI NESSA FESTONA E NÃO ME LEVARAM...
E aumentou o volume...
ELTON LUIZ BASSOLI
CÉSAR RICARDO BASSOLI
PAIS
Nina / Luiz Bassoli
AVÓS MATERNOS
Maria Penha / Jazão Silva
AVÓS PATERNOS
Maria da Glória / Mário Orlando Bassoli
– Zezinho, seja específico
e me diga o que é molécula...
E ele, com ar científico:
– É uma guria “sapécula”...
Joaquim Carlos
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O “DESCONHECIDO” PAPAI NOEL...
Não gosto, repito, de me incluir nas histórias que conto. Mas que fazer, se esta
aconteceu comigo? A metade dos nomes masculinos iniciados pela letra R (Ricardo,
Renato, Roberto...) está na família da Astrid e do Amélio. Rafael, um dos “erres” era o
mais novinho de todos, tava começando a falar, e uma particularidade: era mais folgado
que pente de careca, isto é, não saía do colo da mãe.
O abestado aqui se fantasiava de Papai Noel, que os “sabidões” dos adultos
falam para as “bobonas” das crianças que vem da Lapônia (fica logo depois de
Marialva, entrando à esquerda), e as pobrezinhas e inocentes acreditam (ou quase...). A
história a seguir, sem os tantos “quases”, que no mínimo, significa não sei direito, não
confirma tal teoria. Esclareço (ou tento; cansei do “quase”). Era época de Natal, lá por
22, 23 de dezembro, o ano só Deus sabe. Só sei que o enfocado Rafael apenas
balbuciava algumas palavras...
Chego à casa da Dora e do Décio, lógico, sem a vestimenta vermelha e aquela
barba branca (que coça pra burro) do bom velhinho. Astrid, com o filhote no colo, desce
para abrir a porta pro imbecil já citado. O caçulinha dorme à sono solto. Após os
cumprimentos de praxe, começa o papo. Conversa vai, conversa vem, uma risada um
pouco mais alta, desperta (mais ou menos) o dorminhoco Rafael. O sujeitinho, com um
olho aberto e outro meio fechado (?), dá uma olhada na minha cara e manda ver:
– ÔI, PAPAI NOEL...
MACHISMO OCULTO !
O casal Astrid e Amélio tem quatro garotos, aqueles dos erres: Ricardo, Renato,
Roberto e Rafael. O “coroa” é Ricardo, Renato e Roberto, no meio, Rafael, o caçula. O
casal recebe a visita de um amigo. Conversa vai, conversa vem, garotada brincando,
estudando, sem participar efetivamente do bate-papo. Sabe aquela hora em que o
110
Essas crianças... Osvaldo Reis
assunto desaparece? Aí, vem aquele tradicional vai chover, tá frio e coisa e tal...
Criançada nem aí com a prosa dos velhos... Rafael, o mais novinho, num desses
momentos que o assunto tinha se escafedido, é questionado pelo visitante, que quer
saber do xodó da mãe (depois dos outros três...):
– Escuta, Rafael, quer dizer que na sua casa são quatro homens?
O espírito de justiça mistura-se com o dever de defender a honra da casa, e
principalmente do genitor quase ofendido embora não intencionalmente. Rafael estufa
o peito, cheio de orgulho, e só com uma pequena dose de machismo responde, na bucha:
– NÃO, É CINCO... O MEU PAI TAMBÉM É!!!
RICARDO TUPAN RUY
RENATO TUPAN RUY
ROBERTO TUPAN RUY
RAFAEL TUPAN RUY
PAIS
Astrid / Amélio Ruy
AVÓS MATERNOS
Levi / Icléia Aguiar Tupan
AVÓS PATERNOS
Fiorentina (Dona Nêga) / Rui Cesare
Fuga
Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes
injustiças paternas. Não estava fazendo barulho: estava só empurrando uma
cadeira.
– Pois então pára de empurrar a cadeira.
– Eu vou embora. Foi a resposta.
Distraído, o pai não reparou que juntava ação às palavras, no ato de juntar
do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua
bagagem: um caminhão de madeira com apenas três rodas, um resto de
biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da dispensa? – a mãe mais
tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a
grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente o
pai olhou ao redor e não viu o menino.
..........................................................................................................................
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando
cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada ao chão, ia deixando pelo
caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e – saíra de
casa prevenido – uma moeda de 1 cruzeiro.
Fernando Sabino (”Fuga”, de “Quadrante”)
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Essas crianças... Osvaldo Reis
SEM JANTAR...
A irmã do Éttore, a Isabela, estava na escolinha e eram convites e mais convites para
festinhas em casas de coleguinhas. As mães, nem sempre se conhecem; assim, a mãe de
Isabela levava os filhotes e depois ia buscá-los.
Um dia recebe um convite para uma festa que seria num domingo... A vizinha
Rosemeire Pastor pede para que sua gatinha, amiga dos filhos de Majô, fique com ela, já que
iria sair. Assim sendo, Paola deveria ir também à festinha. Majô estava enjoada de ver os
filhos irem a um montão de festas e chegarem em casa e pedir pra mãe fazer janta... Naquele
domingo a mãe resolve dar um basta na situação. Onde é que já se viu ir numa festa e voltar
pra casa, encontrando a mãe cansada do dia-a-dia de tantas preocupações e afazeres, e ter
ainda que fazer comida para quem chegou de uma festa?
Assim pensando, Majô, antes de sair de casa, reuniu a prole mais Paola e
recomendou:
– Crianças, toda vez que vocês vão a alguma festa, ficam só correndo, pulando,
brincando e não comem nada e quando chegam em casa eu tenho de fazer comida pra vocês.
Podem brincar, pular, mas tratem de comer...
Todo mundo entendeu o recado, inclusive Paola. Como era domingo e a festa era
numa chácara que ficava longe, Majô também ficou por lá. Procurou uma mesa, sentou-se,
sozinha, já que não conhecia ninguém. Em seguida, vem sentar-se com ela uma senhora que
se apresentou como mãe da aniversariante. Era uma pessoa muito elegante e também muito
simpática o que propiciou que Majô ficasse (quase) à vontade. As duas estão ali na maior
prosa, conversavam sobre tudo, estavam realmente se entendendo... A criançada brincando,
se divertindo, pulando, correndo... Aí Paola, com um punhado de salgadinhos nas mãos,
mostra a guloseima para Majô, que pela fala da menina deve ter se transformado num arcoíris, ficando vermelha, azul, roxa, tal foi a saia justa em que a gatinha a deixou quando, bem
alto, anunciou:
– TIA, VOCÊ FALOU QUE ERA PRA APROVEITAR E COMER, QUE NÃO IA
TER JANTA... Ó, EU TÔ COMENDO BASTANTE, VIU????????
ISABELA GIOVANA
ÉTTORE TIAGO
PAIS
Majô Baptistoni / Altamir Cardoso
AVÓS MATERNOS
Elizabeth / Ângelo Baptistoni
AVÓS PATERNOS
Diva / Erato Cardoso
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Essas crianças... Osvaldo Reis
“VIDENTES”
Mamãe Olga passava pelo Rio de Janeiro acompanhada de seus pais Dimaura e
João e as filhotas Ana Carla de oito, e Isabela com dois anos. Olga mostrava a cidade e
fazia também comentários: aqui é isso, ali aquilo, lá a praia tal, o Maracanã e coisas do
gênero. Aí passam em frente ao mais belo cartão-postal da (ainda) Cidade Maravilhosa:
o Cristo Redentor. A mãe, que já o conhecia de longa data, diminui a velocidade, e,
didática, aponta o belíssimo monumento e informa às gatinhas:
– Aqui está o Cristo Redentor...
Os olhos das meninas enchem-se de brilho em razão da beleza da estátua, um
conjunto maravilhoso, onde arte e fé misturam-se na mais perfeita harmonia. Uma obra
realmente encantadora.
A viagem prossegue. Dias depois retornam. Uma garoa daquelas (daquelas
mesmo!) envolve a cidade. Não dava pra enxergar absolutamente (quase) nada – a
velocidade era de, no máximo, 5 km por hora – coisa feia de verdade. Passando pelo
local em que suas gatinhas mais gostaram, Olga, tristemente, lamenta:
– Que pena, filhas, não dá pra gente ver o Cristo Redentor...
Pena pra ela, pras filhas nem tanto. Ato contínuo, Ana Carla, a maior, encosta os
olhos no vidro lateral do carro e tasca:
– EU TÔ VENDO O CRISTO...
Isabela, a miudinha, como de costume, não quer, de jeito nenhum, “perder” pra
outra: encosta o nariz no vidro, estica os olhos, “presta mais atenção” que a irmã e
manda ver:
– EU TÔ VENDO O CRISTO... A MARIA E O JOSÉ!!!
ANA CARLA AGULHON
ISABELA AGULHON
MÃE
Olga Agulhon
AVÓS MATERNOS
Dimaura / João Agulhon
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Essas crianças... Osvaldo Reis
OBEDIÊNCIA CEGA...
Essa aqui é bem recente. A protagonista Camila está (ainda) com quatro anos,
vive com os pais numa casa térrea, onde é mais fácil para os transeuntes conversarem
com os moradores. Nos apartamentos é bem mais difícil já que nos prédios, quase
sempre, têm vigias, porteiros, guardas, é complicado chegar, no máximo se consegue
falar via interfone... É o seguinte, assim que surgiram os tais produtos de R$ 1,99, uma
senhora, provavelmente moradora da região onde vivia Camila, pelo menos uma vez
por semana, visitava sua casa oferecendo tais produtos. E não vinha sozinha, estavam
sempre em sua companhia, alguns cachorros que acabavam por sujar a área da casa,
pois não tinham “nenhuma educação”... A mãe da Camila (e até ela) conhecia a dita
vendedora....
Um belo dia, a mãe, com serviço até o pescoço, ouve, lá do portão, palmas... A
mãe fala com seus botões e também com Camila:
– Vender essas porcarias, tudo bem, mas trazer essa cachorrada sarnenta, isso
não...
Camila vai atender até o portão e repete para a atônita vendedora de R$ 1,99 tudo
o que a mãe havia dito, e pra complicar (só um pouquinho) mais a situação, lá do portão,
com a tal senhora ainda por ali, grita para a genitora:
– MÃE, EU FALEI, VIU??????????
CAMILA DE OLIVEIRA
PAIS
Maria de Lourdes / Paulo Sérgio de Oliveira
AVÓS MATERNOS
Maria Conceição / Valdemar Marinho Gonçalves
114
AVÓS PATERNOS
Elvira / Severino de Oliveira
Essas crianças... Osvaldo Reis
CANIBALISMO MATERNO...
Essa aqui é famosa, já saiu até na televisão, embora com final diferente. A piada
foi contada e interpretada no Programa Zorra Total, da Globo. Seguinte... Ayres Júnior,
o primeiro filhote do casal Mara e Ayres, ainda nem fala direito. Incrível, deve ser coisa
“patológica” - o sujeitinho gostava de água - de tomar banho, um montão de criança
com a mesma idade, nem tanto. Já fazia um tempão que a mãe dava banho no rebento e a
temperatura da água, sais, carinho de mãe e coisa e tal, não deixava Juninho, por nada no
mundo, sair da banheirinha. A mãe pensa pra lá, pensa pra cá, promete uma coisa,
oferece outra e nada, o jovenzinho continuava firme em seu “aquático” deleite. Aí a
mãe, após ter recorrido a tantos truques e argumentos vãos, lembrou-se de um objeto
“secante”, presente da avó, que ele não conhecia. A mãe bateu um papo com seus
botões: “agora ele não resiste, vai ser tiro e queda”. Avó é coisa envolvente, é mãe com
açúcar... A mãe mostra o citado objeto ao filhote e tenta convencê-lo:
– Filhinho, tá vendo essa toalha de cachorrinho? É um presente da vovó pra
você. Mamãe quer enxugar você com ela.
O garotão não conhecia, não lembrava, não havia sido apresentado a tal toalha
achou até que a mãe estava pregando uma peça nele, quer conhecer maiores detalhes e
pergunta-lhe:
– QUANDO FOI?
A mãe, orgulhosa, aponta para a barriga e diz:
– Você ainda estava aqui...
A pergunta do filhote deixa a mãe numa baita saia justa:
– NOSSA, MÃE, VOCÊ MI INGULIU????
AYRES AUGUSTO GONÇALVES JÚNIOR (Juninho)
PAIS
Mara Rolim / Ayres Augusto Gonçalves
AVÓS PATERNOS
Margarida / Antônio Gonçalves
AVÓS MATERNOS
Janet / Hamilton Rolim
115
Essas crianças... Osvaldo Reis
SE O SANTO FALHAR...
Renan Felipe, três anos, paranaense e bom de papo, é primo de Larissa, e como
sua priminha, até seu dedão do pé esquerdo é católico. Felipe adorava dormir sempre
por perto da avó, cujo colo todo mundo diz ser muito macio e sua bisa não era diferente
das outras, nem no carinho, nem no colinho... O garotão acreditava muito no “pessoal lá
de cima” mas também botava fé em alguém como ele, de carne e osso... É o seguinte:
toda noite o menino rezava pra dormir, aquela oração que todo mundo conhece e a
criançada adora. É uma palavra que rima com a outra e fica fácil decorar e também
aprender. A dele, no entanto, tinha uma linhazinha a mais, mas não alterava nada seu
conteúdo, e com certeza, Deus e os demais espíritos citados não ficavam bravos nem
um pouquinho...
Sem mais delongas, eis a reza do Renan Felipe, repetida todas as noites:
– “COM DEUS ME DEITO, COM DEUS ME LEVANTO, COM A VIRGEM
MARIA E O ESPÍRITO SANTO... E A VÓ SANTANA LÁ NO CANTO”...
RENAN FELIPE GONÇALVES
PAIS
Mara Rolim / Ayres Augusto Gonçalves
AVÓS PATERNOS
Margarida / Antônio Gonçalves
AVÓS MATERNOS
Janet / Hamilton Rolim
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DÚVIDA CELESTIAL...
Essa mocinha tem dois anos e oito meses. É de Laguna, Santa Catarina, e como
sua família, é católica até a medula. Toda noite, sempre com a mãe do lado, reza para
dormir. Mas naquela noite, alguma coisa estava acontecendo em sua cabecinha... As
rezas eram as de sempre: “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador”... “Com Deus
me deito, com Deus me levanto”... Mas tão novinha, inocente, sem pecado e por conta
própria resolveu economizar, afinal; a seu ver, não precisa tanta reza. Aí, antes de
deitar-se, Larissa resolve, com seu sotaque característico e pronúncia correta, deixar a
mãe numa baita saia justa quando pergunta a ela:
– MAMÃE, O QUE É QUE TU ACHAS? COM DEUS ME DEITO, OU COM
SANTO ANJO?????
LARISSA ROLIM BORGES
PAIS
Janete / Antônio Rogério Rolim Borges
AVÓS MATERNOS
Janet / Hamilton
Sem combustível
Dois garotinhos estão juntos. Um pára, aponta o alto e
mostra ao outro o que vira: Um helicóptero totalmente parado no
ar. O outro olha e pergunta:
– Ué, porque será que ele tá parado no ar?
– Deve ter acabado a gasolina...
117
Essas crianças... Osvaldo Reis
A SERPENTE ENCEGUECIDA...
Thiago estudava numa escolinha em Maringá e como era época de aniversário da
cidade, sua professora mandou que ele fizesse um desenho mostrando, na sua ótica, a
cidade. Com seus quatro anos incompletos, resolveu pedir ajuda à mãe. A mãe do
jovenzinho explicou-lhe que em Maringá tem a catedral, o Parque do Ingá, muitas
árvores, flores, etc. Thiago entendeu tudo direitinho e mandou bala. Fez o desenho.
Fizera seu trabalho como lhe dissera a mãe: catedral, Parque do Ingá, árvores, flores e
uma cobra... Uma cobra-cega.
A mãe pergunta o que o filhote havia desenhado e o garoto explica:
– AQUI É A CATEDRAL, AQUI O PARQUE DO INGÁ, ESTAS SÃO
ÁRVORES, AQUI SÃO FLORES E AQUI UMA COBRA-CEGA...
A mãe, achando que alguma coisa estava destoando, que seu Portinari não havia
feito um desenho perfeito, pergunta:
– Thiago, “isso” aqui você falou que era uma cobra; mas cadê os olhos?
A mãe deve ter se arrependido de ter feito tal pergunta:
– Ê, MÃE, EU NÃO TÔ FALANDO QUE É UMA COBRA-CEGA!!!!
THIAGO DA SILVA CONZAGA
PAIS
Lucilene Alexandra / Leiva Aparecido Gonzaga
AVÓS PATERNOS
Terezinha / Luiz Gonzaga
AVÓS MATERNOS
Orides / Nelson Lopes da Silva
118
Essas crianças... Osvaldo Reis
SUOR DUVIDOSO...
João Victor, filhote mais velho da Laide e do Altair, está beirando os quatro
anos, tá na escolinha, é muito ativo e não menos sapeca. Está naquela idade em que a
criança, principalmente, caso dele, do sexo masculino, já tem uma certa vergonha de
“desaguar” na cama. Com o irmão mais velho da Graziele, dia, ou melhor, noite dessas,
a coisa aconteceu e, lençol, cama, colchão, cobertores, tudo virou uma sopa só.
Na manhã seguinte a mãe, ao acordá-lo, censura o filhote:
– Nossa, filho, você fez xixi na cama?
João Victor jurou inocência e acabou “convencendo” a mãe com um argumento
irrefutável:
– NÃO FOI XIXI, NÃO, MAMÃE... EU É QUE SUEI NA PARTE DE
BAIXO... SUEI MUITO!!!!
JOÃO VICTOR DE SOUZA ANDRADE
GRAZIELE DE SOUZA ANDRADE
PAIS
Laide / Altair Andrade
AVÓS PATERNOS
Arelina / José Eufrásio
AVÓS MATERNOS
Maria de Souza / José Miguel
Ligeirinho...
Na sala de espera da clínica pediátrica:
– Esses filhos da senhora formam um belo par de
gêmeos!
– É não, minha senhora. É só um filho que eu tenho.
Mas muito inquieto.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
“VIAJANDO”...
O Manoel e a Dalva têm três filhotes: o Elton, a Wanessa e a Márcia. A Márcia
tem por volta de três anos, a mesma idade da prima Camila com quem adora brincar...
Brincam de tudo. Brinquedo pra lá, brinquedo pra cá, amarelinha, boneca etc. Como
elas brincam muito, um dia o estoque de brinquedo acabou. Pensam que pensam e nada
de “achar” um brinquedo. Aí, a cabecinha da Márcia resolveu funcionar e a criar uma
“combona”, lógico, imaginária, com a qual resolveu dar uma “carona” para Camila, e
pergunta-lhe:
– VAMOS BRINCAR DE ÓPTIO?
Que diabo será isso? Pensa Camila e pede que Márcia esclareça.
Márcia contou direitinho o que era.
Camila compreendeu tudo e esclareceu, para risada geral dos pais e tios:
– NÃO É OPTIO... É ÔMBIS!!!
E as duas “viajaram”...
ELTON SILVA
WANESSA SILVA
MÁRCIA SILVA
PAIS
Dalva / Manoel Alves da Silva
A vida é alegria pura,
desde que assim se inicie:
- vicie seu filho em leitura,
antes que a droga o vicie !
Osvaldo Reis
120
Essas crianças... Osvaldo Reis
ANJO VAIDOSO
O Augusto, com dois anos de idade, um dia resolveu tomar um chá de sumiço,
misturado com doril, isto é, desapareceu mesmo. A mãe, já quase desesperada, acabou,
muito tempo depois, encontrando o filhote escondido entre a máquina de lavar e a
parede. Lembrando, quem sabe, os tempos da brilhantina, o garotão trazia nas mãos um
pote de gel, já quase vazio e o mais interessante, ele não usava tal produto só no cabelo,
seu corpo inteiro estava lambuzado. A mãe, já meio esquentada com o desaparecimento
momentâneo, mas preocupante, resolve dar uma dura no filhão e quer saber:
– Filho, por que é que você usou quase todo o pote de gel?
A resposta imediata de Augusto mostrou que seu anjo da guarda devia achá-lo
“feio”, ou sua mãe não iria bater em seu protetor:
– FOI UM ANJINHO QUE MANDOU EU PASSAR BASTANTE PARA
FICAR BONITO...
AUGUSTO SIQUEIRA DE OLIVEIRA
PAIS
Ediclei / Valter Augusto de Oliveira
AVÓS PATERNOS
Mariana / Natalino Augusto de Oliveira
AVÓS MATERNOS
Maura / Enedino Leôncio Siqueira
Lembrança escolar
A professora está estimulando os alunos a comprar aquela tradicional fotografia da
turma – inclusive com ela junto – e vem com um argumento irresistível:
– Olha, daqui a vinte anos vocês vão olhar a foto e observar: A Catarina é médica, a
Paula, professora, o Luiz Cláudio, jornalista...
Lá do fundo da sala, uma vozinha joga um balde de água fria no negócio:
– Ali está a professora... Coitada, já morreu...
121
Essas crianças... Osvaldo Reis
UM LANCHE MUITO PESADO...
O nome da gatinha é Sofia, linda que só, não tem ainda três anos... Um belo dia, a
mocinha em companhia da mãe, voltava da escolinha pra casa, no caminho, sempre no
mesmo lugar, um carrinho de lanches, aqui em Maringá, popularmente chamado de
“carrinho de cachorrão”. Sofia quer saber da mãe o que é que tinha naquele “treco”. A
mãe explica que era lanche e isto, aparentemente, satisfazia a curiosidade da filhota. A
tarefa de levar e trazer Sofia à escolinha sempre coube à mãe, mas um dia ela teve de
viajar e a coisa ficou por conta do pai. Passando em frente ao dito carrinho, a menina
perguntou ao pai se podia comer um daqueles lanches. O atencioso pai disse que o
lanche era muito pesado para ela. A resposta também parece ter agradado a pequena, já
que naquele dia não perguntou mais nada.
Dia seguinte com a mãe ainda viajando, novamente o pai foi buscar a filha na
escola, e de novo passam em frente ao tal carrinho. De novo Sofia quer conhecer o tal
lanche, mas praticamente não pediu, determinou ao “velho” que comprasse um lanche:
– COMPRA UM LANCHE VOCÊ, PAI... VOCÊ É GRANDE E CONSEGUE
LEVAR PRA CASA...
O pai, intrigado, quer saber:
– Mas por que é que eu posso levar o lanche pra casa?
Sofia, lembrando o ensinamento de dias anteriores, esclareceu:
– PORQUE É UM LANCHE MUITO PESADO!!!
SOFIA FURLAN COSTA
PAIS
Maria Luiza / Célio Costa
AVÓS PATERNOS
Iolanda / Lourival Costa
AVÓS MATERNOS
Valdomira (Mira) / José Furlan
122
Essas crianças... Osvaldo Reis
TEMPO PRA TUDO...
A Raquel, uma garotinha linda e também muito simpática, nasceu no Japão,
mas os avós vivem em Maringá, onde a garota há bem pouco tempo veio parar. Os
japoneses, ao contrário de nós outros, levam muito a sério a questão da disciplina, e
como diz ditado antigo: “é de pequenino que se desentorta o pepino” (ou é de menino?).
Enfim, Raquel só tem cinco anos e o avô quer que a neta, desde cedo, aprenda a ter
limites, a ter respeito por horário, disciplina em outras palavras. É hora de acordar, de
almoçar, de ir pra escola, jantar, tomar café, banho, etc. Raquel, atenta, ouve o avô (que
ela fala na língua japonesa: Ojii-Sam)...
Raquel ainda não domina completamente a língua portuguesa, e de vez em
quando mistura a com o, o com a, masculino com feminino, o que a faz ainda mais
engraçada. Um belo dia, a gatinha quer saber do avô:
– OJII-SAM, BICHO TAMBÉM TEM QUE FAZER TUDO NO HORA
CERTA?
O paciente e zeloso avô explica:
– Não, bicho não precisa...
Por falar em bicho, o avô de Raquel deve ter ficado com a pulga atrás da orelha
com a próxima fala da gatinha, que pôs fim ao diálogo:
– A OBA-SAM SILVIA DISSE QUE TÁ NA HORA DO ONÇA BEBER
ÁGUA!!!!!!
RAQUEL KAORI TANAHARA
PAIS
Neusa / Massaiko Tanahara
AVÓS MATERNOS
Shikeko / Hazime Yamamoto
123
Essas crianças... Osvaldo Reis
TODA GATINHA TEM UM PAI QUE É UMA FERA...
A Yumi, filhota do casal Juliana e Henrique, uma das nestas prediletas da avó
Satico, tem por volta de três anos, mas escutando e prestando atenção em suas “tiradas”
parece que a jovenzinha tem muito mais idade. Dias desses, por exemplo, Yumi está no
elevador “assustando” todo mundo, quando, por repetidas vezes, anunciava em alto e
bom tom:
– O MEU PAI É MUITO BRAVO...
Os presentes começaram a se perguntar o porquê dessas afirmações com tanta
ênfase e também tantas vezes. Será que alguém ali teria feito alguma coisa que Yumi
não gostou? Seria um recado? Seria um aviso? E assim, com todos intrigados, e pior,
sob suspeita, a viagem prosseguia. Yumi contou também que tinha dois cachorros
Poodol, a Vitória, com quase 10 centímetros de comprimento e o mesmo tanto em
largura, e o Yuri, um pouco menor, mas mesmo assim assustador... Depois dos humanos
da casa, esses dois são os xodós da menina... E com a tecla já um tanto quanto amassada
de tanta repetição, tá lá a gatinha:
– O MEU PAI É MUITO BRAVO...
E o suspense continua...
Termina a viagem, o elevador pára, todo mundo desce, uns saem apavorados
sem sequer olhar para trás, mas nem todos têm o mesmo comportamento: um senhor
aparentando demasiada valentia, vai ter com Yumi e, desafiante, indaga:
– Que história é essa que seu pai é muito bravo???
Yumi, sem perder a pose, com aquela cara enfezada, põe fim ao mistério,
esclarecendo a bravura do genitor:
– A VITÓRIA LATE MUITO... O YURI TAMBÉM... É SÓ UM LATIR QUE O
OUTRO LATE... E O MEU PAI FICA BRAVO!
E, no mesmo tom inicial, volta a atacar:
– O MEU PAI É MUITO BRAVO!...
124
Essas crianças... Osvaldo Reis
EU NÃO SOU SUA ESCRAVA...
A Yumi brinca com um copo de água que está sobre a mesa e a mãe pegando em
seu pé, deixa a garota ainda mais à vontade para continuar com a brincadeira. Você sabe
como é criança quando invoca com alguma coisa, quando é contrariada... Yumi
continua brincando e a mãe ameaçando:
– Você vai derrubar esse copo, vai derramar a água e daí...
A bronca vai aumentando de acordo com a brincadeira, isto é, quanto mais
bronca levava, mais “aprontava”... Até que não deu outra... A previsão de sua mãe se
confirmou: o copo caiu e foi água pra todo lado, molhando mesa, pé de cadeira, chão e
até seus cachorros que estavam por perto. A mãe, com sua incontestável autoridade,
lembrando a filha de seus constantes avisos, cheia de razão mandou ver:
– Eu não disse que você ia derramar essa água? Eu não disse.... Agora você vá lá
pegue um pano e limpe tudo...
Yumi não dá muita “bola”. A mãe insiste:
– Limpe tudo e já...
Yumi sentindo que a coisa ia engrossar, resolve, muito a contragosto, atender à
mãe, antes retrucando:
– VOCÊ NÃO TÁ VENDO QUE EU SOU CRIANÇA? Mesmo assim, sai em
direção do armário a fim de apanhar o tal pano, pára no meio do caminho, vira-se para
mamãe Juliana, e desafiante pergunta:
– VOCÊ TÁ PENSANDO QUE SOU SUA EMPREGADA?????????????
LUISA YUMI IKEDA OLIVEIRA
PAIS
Juliana / Henrique Sérgio de Oliveira
AVÓS PATERNOS
Raimunda / José Pedro de Oliveira
AVÓS MATERNOS
Satico / Mario Shin Iti Ikeda
Ganhei, fessora!
A professora fala sobre higiene, limpeza, banhos e essa coisas nem sempre muito
apreciadas pelas crianças. Ela chama o Juquinha e pede para ele mostrar as mãos. Ele mostra
a mão esquerda que está sujíssima. A professora aproveita a oportundade para uma lição.
– Aposto que é essa é a mão mais suja da escola.
– Perdeu, professora. Veja só a direita como está.
125
Essas crianças... Osvaldo Reis
“IMPRENDÍVEL”...
Marta está passeando de carro com a filhota Bárbara que tem entre quatro e
cinco anos. A mãe notou que a filha não estava usando cinto de segurança... Criança tem
um medo terrível de polícia, de guarda, enfim... Marta ao pedir à filha que coloque tal
objeto, vale-se da figura policial para ajudá-la, e “ameaça” a filha:
– Bárbara, coloque o cinto se não o guarda vai te prender.
A resposta de Bárbara, com astúcia e conhecimento, fez a mãe descobrir a
vocação da menina, que sem dúvida, vai ser advogada “grande”:
– NÃO, MÃE, ISSO NÃO É DE PRENDER... ISSO SÓ É DE MULTAR!!!
BÁRBARA MEDEIROS DARCIS
PAIS
Marta Medeiros / Agnaldo Darcis
AVÓS MATERNOS
Clarinda / Luiz Antônio Fanha
AVÓS PATERNOS
Antônia / Alcebíades Darcis
O avô é o animal que o filho amansa para o neto montar.
Felizardo Meneguetti (11 filhos, 25 netos e 03 bisnetos).
126
Essas crianças... Osvaldo Reis
PERDEU O FREIO!
O mestre Pedro Bloch, festejado autor de mais de uma centena de obras, com
destaque para “As mãos de Eurídice”, “Dona Xepa”, “Criança diz Cada Uma...”, que
ajudou a inspirar essas mal traçadas, ensinava que a criança normal quase sempre
quebra o brinquedo. E é fácil entender, gosta tanto, brinca tanto, que acaba quebrando.
Existem outros que quebram de “bravos” mesmo... Parece ser o caso de Roberto, que,
com seus quatro anos, adorava quebrar seus brinquedos...
Um belo dia, Robertinho ganhou de Roberto pai, um brinquedo eletrônico,
provavelmente “made in Paraguai”, um carrinho, que o garotão subiu na mesa pra
brincar. Lá pela segunda, terceira volta, o “bicho” despencou lá de cima da mesa e ficou
paradinho, quietinho... Roberto pai não gostou nem um pouco e foi tirar satisfações com
o filhote:
– Filho, você já quebrou o carrinho???
A resposta de Robertinho fez o pai dar risada e esquecer a bronca:
– NÃO PAI, NÃO QUEBROU NÃO... FOI O MOTORISTA QUE
MORREU!!!
ROBERTO MORAES SILVA (Robertinho)
PAIS
Eolinda / Roberto Silva
AVÓS MATERNOS
Messias / Antônio Joaquim da Silva
AVÓS PATERNOS
Maria / José de Moraes
127
Essas crianças... Osvaldo Reis
PAUSA PRO BERREIRO...
Roberto está com cinco anos. Sabe-se lá o motivo (de vez em quando nem
precisa...) está chorando. Chorando à cântaros, isto é, uma verdadeira chuva de
lágrimas. Lágrimas sentidas e barulhentas, choro pra ninguém botar defeito. O garotão
chorava tanto, de literalmente fazer dó, tanto é, que um cidadão que passava por perto,
com pena, se aproximou do jovenzinho, admoestando-o e também consolando:
– Pare de chorar... Chorando você fica feio... É feio chorar... – e dá-lhe conselho
e também (só um pouquinho) bronca.
Parece que a coisa deu certo, tão certo que o garotão logo parou com a
choradeira. O cidadão sentiu-se importante, um mestre, suas sábias palavras foram
capazes de conter aquela cachoeira lacrimal... Assim pensando, em vez de ficar calado e
dar no pé, já que entendia ter cumprido a missão, em condição professoral, volta a
conversar com o chorão:
– Tá vendo só, agora você tá mais bonito... Foi só parar de chorar... E coisa e tal...
Como criança nem sempre concorda com os adultos, Roberto, sem mesmo ter
enxugado os olhos, com força total diz, desafiante ao cidadão:
– EU NÃO PAREI DE CHORAR NÃO... SÓ ESTOU DESCANSANDO... EU
VOU CHORAR DE NOVO...
E começou tudo outra vez.
ROBERTO SILVA
PAIS
Messias / Antônio Joaquim da Silva
128
Essas crianças... Osvaldo Reis
COM O MEU PAI, NÃO!!!
João Roberto Fráguas é o Professor Beto. Beto e Mônica são os pais de Bárbara,
a Babí, e de sua irmã gêmea Maria Eugênia.. No final de 2004, aniversário de Beto, uma
aluna envia-lhe um cartão e também um presente. Tempos depois, a casa quase caiu. É
que Babí achou o cartão, e teve um chilique daqueles... Seus cotovelos encheram-se de
edemas em face de tanto ciúme. Nada de excepcional se Babí não tivesse apenas quatro
anos e a concorrente mais ou menos a sua idade. Babí pensou em queimar o cartão,
arrancar os cabelos da menina... Onde já se viu uma coisas dessas? Que garota
desaforada! E por aí afora. Mas, de acordo com ditado popular, aquela história do filho
de peixe... Babí resolve ensinar a chata da menina como deveria se comportar num caso
desses e envia-lhe uma carta, manuscrita, com letra grandona e bem legível, para que a
“outra” não tivesse nenhuma dúvida:
– “onde já se viu saber que meu pai já é casado e escrever uma carta dessa pode é
parando por aí porque isso é coisa de namorada e não de aluna. Pelamor de Deus não é
para você escrever isso de novo se for para escrever uma carta de aniversário para o meu
pais escreva assim de alsione para Beto. Feliz aniversário que Deus o proteja e te dê paz
de sua amiga e aluna Alsione”
É MOLE???
MARIA EUGÊNIA GANEN FRÁGUAS
BÁRBARA GANEN FRÁGUAS (Babi)
PAIS
Mônica / João Roberto Fráguas
AVÓS MATERNOS
Mary / João Ganen
AVÓS PATERNOS
Gemma / João Batista Fráguas
129
Essas crianças... Osvaldo Reis
MISSA OU “AMARELINHA”???
Júlia não era lá muito “católica”, isto é, não manjava muito os rituais, aquela
história de sentar, rezar, ajoelhar, pegar na mão do vizinho, também não sabia, não
conhecia muitas rezas...
Em companhia de sua amiga Gabriela, que também tinha praticamente sua
idade, (seis, sete anos), vão assistir a um terço. Do mesmo modo, que a pequena Júlia,
Gabi também não entendia bulhufas do assunto. Mas Gabriela dá uma de professora: de
terço na mão, dizendo que “sabia tudo e mais um pouco”.
– Julinha, você reza nessas dez bolinhas pequenas (também conhecidas por
contas...). A hora que chegar nessa grande, é o “Pai Nosso” e “Pai Nosso” é muito
difícil, você pula...
Júlia entendeu tudo direitinho e também fez tudo certinho. Os demais
freqüentadores é que não devem ter entendido o motivo de tanto pulo. Júlia deve ter
ficado com as pernas cansadas... O terço foi tão demorado, comprido...
O CLÁSSICO BIOLÓGICO...
Júlia, então com seis anos, está visitando os avós Mira e José Furlan. Resolve
mudar o programa. Quer ir ao cinema. Quer porque quer assistir ao filme “Anastácia”. E
ninguém (que falta de sensibilidade!) quer levar a pobrezinha no cinema. Aí, Júlia, sem
ter praticamente com quem contar, tenta convencer tia Luísa de sua necessidade em
assistir a tal filme:
– TIA, TENHO QUE ASSISTIR ANASTÁCIA, POIS É UM CLÁSSICO.
Clássico?... A tia, em razão da pouca idade de Júlia, fica intrigada, será que
elazinha sabia o que estava falando? Como diz o ditado popular: “quem tem boca vai a
Roma”, tia Luísa quer saber:
130
Essas crianças... Osvaldo Reis
– Você sabe o que é clássico, Júlia? Júlia responde cheia de razão:
– EU NÃO, PERGUNTA PRA MINHA MÃE, ELA É BIÓLOGA... (?????)
A FILOSOFIA DA FILÓSOFA
Júlia, a filhota da Monse e do Luiz Furlan tem cinco anos e está cursando o
Jardim-III. Júlia está na casa da tia Luisa e tio Célio, ambos professores. Papo pra lá,
papo pra cá, a curiosa Júlia quer saber do tio:
– VOCÊ DÁ AULA DO QUE MESMO?
– De Filosofia. Responde Célio.
A gatinha gostou dessa tal de filosofia e, solenemente, afirmou:
– EU TAMBÉM TENHO AULA DE FILOSOFIA.
Aí tia Luisa entra na conversa:
– Imagine, Júlia, se você tem aula de Filosofia...
Júlia, talvez arrependida do “campo queimado”, volta a brincar, antes
afirmando:
– FILOSOFIA É AQUELA COISA QUE FAZ A GENTE PENSAR POR
DENTRO ANTES DE FALAR...
JÚLIA PEDROSA FURLAN
PAIS
Maria / Luiz Antônio Furlan
AVÓS PATERNOS
Valdomira (Mira) / José Furlan
AVÓS MATERNOS
Leonor / Ivan Neves Pedrosa
Sexo????
A garotinha, lá com seus seis, sete anos, pergunta ao pai:
– PAI, O QUE É SEXO?
O pai endoida com a pergunta: fica azul, vermelho, roxo,
conversa com seus botões, indaga para si, que diabo de menina
precoce... A garotinha percebe o desconforto do pai e o salva
mostrando-lhe um papel que a “tia” lá na escolinha, lhe dera para
preencher:
– NÃO É POR NADA NÃO, PAI, É SÓ PRA COLOCAR
AQUI AQUI NA FICHA...
131
Essas crianças... Osvaldo Reis
MÃE FRAQUINHA!
O filhote da Maria Emília e José Manoel, Eduardo, está entre três e quatro anos,
e, como toda criança dessa idade, é extremamente falante, curioso e também faz suas
associações, enfim, um sujeitinho igual aos outros.
Um belo dia Edu, sabe-se lá o porquê, quer conversar, ou aporrinhar a mãe e
desafia:
– MÃE, VOCÊ NÃO É MAIS FORTE QUE UMA GALINHA...
A mãe, sem titubear, responde ao aparente insulto, apenas afirmando:
– Claro que sou...
Aí o garotão solta uma tirada que faz a mãe rir até hoje:
– CLARO QUE NÃO... VOCÊ NÃO BOTA OVO.
EDUARDO SEBRIAN (Edu)
PAIS
Maria Emília Sebrian / José Manoel
Dorminhoco
O paciente-mirim acorda chorando depois da cirurgia e chama a
enfermeira.
– Enfermeira, eu quero ir pra minha casa.
– Que história é essa de ir pra casa? Você já é um homem.
O pacientezinho toma um susto, pensa um pouco e pergunta:
– Quanto tempo passei dormindo?
132
Essas crianças... Osvaldo Reis
AGORA ELE ME CONHECE...
Darci e Lúcia moravam em Campo Mourão. Ao lado da casa deles viviam os
músicos de um grupo chamado Minuano. Em razão de suas constantes viagens, com
todo mundo saindo de casa, só deixavam o cão, um baita pitibul, literalmente uma fera.
Era um guarda que não dava moleza, o bicho era brabo que só vendo e seus latidos
faziam a terra tremer. Exageros à parte, o cachorro era deveras assustador... E não é que
um dia Darci vê o filhote brincando com o animal? Darci fica apavorado. Não
interrompe o diálogo para não assustar nenhum dos dois e o final não se complicar,
lógico, para o lado do filho, então com quatro anos. O pai vai ter com a mãe e explica a
situação, alertando-a para o risco que o garoto estava correndo:
– Eu vi o André brincando com o cachorro do vizinho. Fale pra ele que é
perigoso, que o cachorro não o conhece e por aí afora.
A mãe treme na base só de pensar e misturando suas palavras com as do marido
vai conversar com o filhote:
– Olha filho, você tava lá na cerca brincando com aquele cachorrão, isso é muito
perigoso... Ele não conhece você, por Deus, não faça mais isso, você é estranho pra ele,
ele não sabe quem você é, e um monte de coisas do gênero.
O filho ouve tudo atentamente e entende o recado. Em seguida sai da cozinha, a
mãe vai atrás, e para seu desespero, vê André dirigir-se para a tal cerca a fim de
“conversar” com o guarda da casa vizinha. A inusitada cena, desfeito o medo, faz o casal
até o dia de hoje cair na gargalhada: o garoto chega à beira da cerca e vem o cachorro.
Não dá outra: a mãe dissera que o cão não o conhecia, daí... O final é cinematográfico:
– MUITO PRAZER, MEU NOME É ANDRÉ EDUARDO DA SILVA...
ANDRÉ EDUARDO DA SILVA
PAIS
Lúcia Rosa / Darci Romoaldo da Silva
AVÓS PATERNOS
Margarida / José Romoaldo da Silva
AVÓS MATERNOS
Nair / Bonifácio Rosa
133
Essas crianças... Osvaldo Reis
AMIZADE NÃO TEM COR...
Andrey é o filho mais velho do casal Lucia/Sebastião. Yandre é o do meio e a
caçula é Daryne. Andrey tem entre quatro e seis anos, por aí, toma suas primeiras lições
no Núcleo Social, em Maringá (ao lado do Colégio Vital Brasil). O garotão tinha um
amigo inseparável e era comum, quase que diariamente, os pais ouvirem o filhote, com
brilho nos olhos, falar do Lincoln, das aventuras dos dois, dos jogos de futebol, das
brincadeiras, enfim, Andrey “tava” sempre falando no amigo.
Um dia, os pais acompanharam o jovenzinho para assistir uma competição
esportiva, um campeonato de futebol de salão. Andrey e um garotinho negro pareciam
“cano de garrucha”, não se separam nunca. Mesmo com o jogo correndo solto, os dois
estavam “desligados” batendo o maior papo. A grande alegria dos pais foi quando no
intervalo do jogo, o filhote, em companhia do amigo, se aproxima dos dois e
orgulhosamente, apresenta aos pais seu querido companheiro:
– PAI, MÃE, ESSE É O MEU AMIGO LINCOLN...
Os olhos dos dois brilharam de contentamento e também de orgulho, já que
Andrey sempre falava de seu amiguinho Lincoln nunca se referindo a ele como
“negrinho”, “polaquinho” ou “japonesinho”. Andrey, de pouca idade e tamanho,
carregava um enorme coração, coração de criança, coração grande, coração que não
sabe discriminar...
EDUCAÇÃO MOLHADA...
Daryne, a caçulinha de Lucia e Sebastião é a "responsável" pela saia justa dos
velhos. Os pais têm um casal de amigos, hoje falecidos, na vizinha Cambé: Leopoldino
que é médico e a esposa Irene que toma conta da casa. Todas as crianças são ainda,
muito pequenas, Daryne, para se ter uma idéia, só tem três anos... Para que o
comportamento de seus “anjos” não os envergonhe, aconteciam broncas,
recomendações, preleções, e coisas do gênero. Numa dessas tantas viagens, Tião instrui
a filharada:
– Pessoal, cuidado com a compostura... Ninguém vai chegando lá e
cumprimentando, bom dia doutor Leopoldino, bom dia dona Irene e tchibummmmm na
piscina, heinnnn?
Chegaram.
134
Essas crianças... Osvaldo Reis
Mesa posta, todo mundo reunido em volta, criançada calada, até que a pequena
Daryne rompe o silêncio fazendo todos caírem na gargalhada, quando
caprichosamente, lembrou as palavras do pai e em alto e bom tom, sapecou:
– DONA IRENE, MEU PAI AVISOU PRA TODO MUNDO QUANDO A
GENTE TAVA VINDO PRA CÁ QUE NÃO ERA PRA GENTE DIZER BOM DIA
DONA IRENE, BOM DIA DOUTOR LEOPOLDINO E, TCHIBUMMMMM NA
PISCINA!!!
GOL CONTRA...
Yandre tinha dois anos, em companhia do pai, está no Estádio Willie Davids em
Maringá, para assistirem ao time local: o Grêmio, que naquela tarde enfrentava o
Criciúma, de Santa Catarina. Era o campeonato nacional. O contraste do amarelo e
preto da camisa do visitante, um colorido bem chamativo, deve ter empolgado Yandre...
Joguinho besta, morno, chutão pra lá, chutão pra cá, a torcida quase dormindo não é preciso dizer que o placar era de zero a zero - lembrando mais uma apresentação
de balé do que o famoso esporte bretão, onde até mães são “homenageadas”, mormente
as do juiz e dos bandeirinhas... Nesse clima Yandre abre o peito e manda um grito, grito
de acordar bêbado, gritão mesmo:
– VAI CRICIÚMA... VAI...
O pai censura o filhote dando-lhe uma olhadela de canto de olho... O pessoal em
volta também olha, nem é preciso dizer que com cara fechada pro pequeno torcedor.
Onde já se viu uma cria nossa, de Maringá, torcendo pro adversário? Aí, o pai aperta o
filho e quer saber:
– Filhão, que história é essa de torcer pro outro time? Nosso time é o Grêmio!
Yandre consertou tudo, quando, mais alto ainda repetiu (em parte, aumentou só
um pouquinho...) o grito:
– VAI... VAI PERDER CRICIÚMA!!!!!!!
JOGUINHO CHATO...
Em companhia do irmão mais velho Andrey, Yandre, filho do meio do Sebastião
e da Lucia, capitaneados pelo pai, lá pelos idos de 77, 78, iam sempre ao estádio para
assistir aos jogos do Grêmio, de saudosa memória (e põe saudosa nisso!). O garotão
“adorava” futebol, principalmente o primeiro tempo quando se empanturrava de tudo o
que tinha direito: pipoca, amendoim, sorvete, churrasquinho, refrigerante e os
infindáveis passeios que fazia da arquibancada ao banheiro.
Já no segundo tempo, com o “bucho” explodindo, o sujeitinho virava as costas
pro jogo. O pai fingia que não estava vendo e Yandre, cheio de autoridade, repetia o de
sempre (pra ele, no segundo tempo não tinha jogo bom...) para o pai, que realmente
gostava de futebol:
– PAI, ANDREY, VAMOS PRA CASA... ESSE JOGO TÁ MUITO CHATO...
135
Essas crianças... Osvaldo Reis
E NO CONFESSIONÁRIO...
Andrey e Yandre, mais o primo Luciano, iam fazer a primeira comunhão. Os
meninos contavam com oito, dez e onze anos, respectivamente. Aí a coisa começou a
engrossar: vão ter de confessar seus pecados para o padre. Foi um verdadeiro Deus-nosacuda. O trio se reúne e centram suas atenções no dia-a-dia vivido no mesmo quintal,
onde tia Laura, volta e meia, aplicava-lhes sonoras broncas, quase sempre por causa de
Benji, cachorrinho da prima Beatriz que em razão de caninos ameaçadores, lembrando
pontas de anzóis, apavoravam os meninos. Benji, a fera, era um Pequinês “meio
sangue” e a molecada o “adorava”...
Chega a hora de irem para o confessionário... Os mais velhos (como sempre!)
empurram o mais novo, depois obedecem a ordem de idade. O menorzinho, Yandre, de
acordo com o combinado, “abre a mala”, dizendo ao padre:
– EU BRIGUEI COM A MINHA PRIMA, CHUTEI O CACHORRINHO
DELA E XINGUEI A MINHA TIA.
É a vez de Andrey que manda ver:
– CHUTEI O CACHORRINHO DA MINHA PRIMA, BRIGUEI COM ELA E
XINGUEI A MINHA TIA.
Luciano, o coroa do trio, indagado, não titubeia:
– XINGUEI A MINHA TIA, BRIGUEI COM MINHA PRIMA E CHUTEI O
CACHORRINHO DELA...
O padre, “meio quase tudo” velho, surdo, enxergando pouco, dana a tossir, e
encabuladíssimo, sentencia:
– Meu filho, o pecado não é tão grave assim. Não era preciso você ter entrado na
fila três vezes. Eu te perdôo... Reze 150 vezes o “Pai Nosso” e pronto!...
ANDREY MALDONADO GOMES DA COSTA
DARYNE LU MALDONADO GOMES DA COSTA
YANDRE MALDONADO E GOMES DA COSTA
LUCIANO DA COSTA TORTORELLI (Primo)
PAIS
Lucia / Sebastião Gomes da Costa
Alice / Dario Tortorelli
AVÓS MATERNOS
Carmem / Evilásio João Maldonado
Dolores / Alfredo José da Costa
AVÓS PATERNOS
Dolores / Alfredo José da Costa
Rosa / Salvador Tortorelli
136
Essas crianças... Osvaldo Reis
MEIÃO DO PALMEIRAS, “PERNA DE PAU...”
Fernando (irmão do Paulo), um dos sobrinhos preferidos do Tião, é filho de sua
irmã Dulce e do Mauro. O sujeitinho tinha lá seus dez, doze anos e uma vontade louca
de vestir a camisa (titular, claro) do “aguerrido esquadrão” da incipiente Vila
Esperança... Um timaço. Acontece que os “Parreiras” de plantão começaram a botar
defeito no jovem “felômeno” que poderia ter mudado o resultado da Copa do Mundo de
1982. Se fosse ele a cobrar aquele pênalti contra a França, certamente, a história seria
outra...
Mas sua carreira sofria terríveis ameaças dos invejosos que não queriam vê-lo
encantar a todos com seu futebol. Diziam a Fernando que suas pernas eram finas (onde
já se viu: as do Garrincha não eram tortas?), que ele era muito franzino e por aí afora.
Mas Fernando, que de bobo não tem nada, achou um jeito de resolver o problema de
suas “afinadas canetas”: o garotão havia ganho um par de meias do Palmeiras... Mas o
time de seu pai, Mauro (já falecido), era o São Paulo...
O astuto Fernando pegou então o meião do Palmeiras e enrolou nas pernas,
colocou por cima a do São Paulo, com isso agradou ao pai, enganou a torcida, o
“treneiro”, a imprensa, enfim, todo mundo. Eram pernas de um “puro sangue”: grossas
que só vendo... O duro é que a “bola” de Fernando imitava as pernas... E, com essa
horrível perseguição, não se tem conhecimento de que Fernando tenha sido escalado
em algum jogo, dessa forma, nem Vila Esperança, nem o mundo puderam conhecer o
talento desse ex-quase futuro ídolo do esporte bretão....
FERNANDO LUIZ BIANCHI
PAULO CÉSAR BIANCHI
PAIS
Dulce / Mauro Bianchi
AVÓS PATERNOS
Pierina / Stéphano Bianchi
AVÓS MATERNOS
Dolores / Alfredo José da Costa
137
Essas crianças... Osvaldo Reis
CHEGOU DA “GUERRA”...
Lara e a irmã Lúcia (ainda não tinha “surgido” a Beatriz), filhas de Laura e
Reynaldo (o Dade), adoravam jogar-se na rede para ouvir as estórias que o tio Tião (para
elas era “Tão”) inventava para alegrar e “enrolar” a garotada. Era só chegar da aula que
seus olhinhos buscavam a boa e aconchegante rede, que também servia para depositar
as roupas a serem passadas...
Um belo dia, Larinha chega em casa depois de atividades mil na aula de
Educação Física, mortinha da silva, e, para sua total frustração, a mesa não estava posta,
e ainda por cima, a rede cheia de roupas. A gatinha se desespera diante do “dantesco”
quadro, e seu apelo fez os corações se derramarem de emoções, misturadas com
gargalhadas. Afinal nunca se viu tanta carência de uma só vez:
– MAMÃE: VOCÊ NÃO TÁ VENDO QUE SUA POBRE FILHINHA
CHEGOU CANSADA, COM SEDE, COM FOME E COM FRIO?
LARA SYLVIA BIANCHI COSTA
LÚCIA BIANCHI COSTA
BEATRIZ BIANCHI COSTA
PAIS
Laura / Reynaldo Costa
AVÓS MATERNOS
Pierina / Stéphano Bianchi
AVÓS PATERNOS
Dolores / Alfredo José da Costa
Confuso...
Mãe (apavorada): Por que você engoliu o dinheiro que
eu lhe dei?
Filho: Quando a senhora me deu, a senhora me disse
que era o meu lanche.
138
Essas crianças... Osvaldo Reis
EU QUERO SER GARI...
Início da década de 1970, Tião e Lucia passam férias em Santos. Filam “bóias” e
pousos no apartamento da irmã Luzia e do cunhado Humberto. Os finais de tarde eram
alegrados com a passagem do caminhão coletor de lixo, pela contagiante algazarra e
animação promovida pelos garis. O pessoal trabalhava cantando, batucando nas latas,
caixas de madeira, papelão; enfim, no que aparecia pela frente. Para eles tudo era
motivo para samba e alegria. Além da música, também contavam piadas, lógico, com o
som “lá em cima”. Todo mundo se acotovelava nas janelas para não perder o inusitado
espetáculo proporcionado por aqueles humildes profissionais.
Alexandre e Marcelo, os filhotes de Luzia e Humberto, se deliciavam agarrados
na grade da janela e imitavam os assessores ecológicos gritando como eles. Em
determinado momento, o mais novinho, Marcelo, empolgou-se tanto que saltou sobre o
sofá e daí para o chão, e com os olhinhos faiscantes, como se tivesse descoberto
naqueles modestos prestadores de serviços a fórmula mágica da felicidade, cheio de
razão, a todo vapor, afirmou:
– MÃE, PAI, TIO TÃO, TIA LU, QUANDO EU CRESCER EU QUERO SER
GARI...
ALEXANDRE DA COSTA RAPOSO
MARCELO DA COSTA RAPOSO
PAIS
Maria Luzia / Humberto José Soares da Costa
AVÓS PATERNOS
Dinorah / José Soares Raposo
AVÓS MATERNOS
Dolores / Alfredo José da Costa
139
Essas crianças... Osvaldo Reis
IMPORTANTE SEM IMPORTÂNCIA...
Essa aqui lembra aquela manjada de “você sabia que o sabiá sabia “sobiar”?”
Quem não se lembra? O Athaybel estava na segunda série do pré-primário, não sabia
ainda um montão de coisas, mas sabia “assoviar”, o que o tornava diferente dos demais
já que criança (quase sempre) não consegue emitir qualquer outro som (via boca) além
do choro e da fala. Athaybel sabia “assoviar” e se sentia o rei da cocada preta por isso. O
professor, seu avô, o ensinou quase a trinar quando colocava a língua entre os dentes e
soprava, era coisa linda os sons que ele emitia.O garotão era o alvo das gatinhas, assunto
de todas as rodas... E quando se é líder, admiração, inveja e ódio se misturam. Assim foi
com o epigrafado Athaybel, quando um garoto bem mais velho que ele (já com
aproximadamente cinco anos), quase alfabetizado, aproximou-se de nosso herói e entre
satírico e irônico mandou ver:
– ASSOVIAR NÃO TORNA NINGUÉM IMPORTANTE. O IMPORTANTE
MESMO É SABER LER, SEU TONTO...
O estraga-prazeres e chato do menino fez o jovenzinho ficar triste e
decepcionado, frustrado, quase deprimido... Nesse dia, à saída, não falou com ninguém
(imagine ele que já quase dava autógrafos...) e foi pra casa a passo acelerado. Lá a avó
Maria foi seu ombro amigo, seu silencioso muro de lamentações, quando, tristemente,
constatou:
– VÓ, EU AINDA NÃO SOU IMPORTANTE PORQUE LÁ NA ESCOLA UM
MULEQUE ME DISSE QUE IMPORTANTE É SABER LER E EU SÓ SEI
ASSOVIAR!!!!!
ATHAYBEL TEZIN NETO
MÃE
Leomara Cristina Tezin
AVÓS MATERNOS
Maria Josefina / Athaybel Tezin
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Essas crianças... Osvaldo Reis
PAIS "NOVOS"...
O título, aparentemente, dá a entender que os filhos são vítimas de maus tratos.
Mas não é nada disso. Guilherme e Gustavo são os filhotes de casal Bia e Kiko, que dos
dois são tietes a não mais poder, assim como todos os demais parentes: avós, tias, tios,
primos... É "paparicação", chamego e dengos que não acabam mais. Em resumo, todo
mundo trata Gui e Gu como merecem. Bia e Kiko são vizinhos, há muitos anos, do Tião
e da Lucia. Vivem próximos não apenas na geografia, mas fraternal e carinhosamente;
são amigos de fato e de direito, amigos de verdade.
Em relação aos meninos alguma coisa parece estar errada. É que Guilherme
resolveu "adotar" os vizinhos queridos como seus pais, mas também não quer
"abandonar" os pais biológicos, misturando-se aí, afeto, ternura, pureza e inocência. E a
cabecinha de Guilherme, ativa que só, acha a solução para o caso, colocando, de vez,
um ponto final nessa controvertida história de paternidade dupla, ou desejo de. E a
solução até que é simples, de acordo com Gui: iriam ao Programa do Ratinho fazer um
tal de DNA e aí sim ficaria provada, com real originalidade, a vontade de Guilherme.
Sem mais delongas, com o resultado do exame, sem medo de errar, Guilherme vai poder
afirmar que:
– É FILHO DO TIÃO E DA LUCIA...
O VOCABULÁRIO DO GUSTAVO
O casal Lucia/Sebastião Gomes da Costa, tem ótimos vizinhos, já que também
promovem, em razão comportamental, um tratamento fraterno. Mas os filhos do Kiko e
da Bia, Guilherme e Gustavo, são especiais. Tião é bem crianção, apesar de já estar
beirando os sessenta, mas permanece com sua alma de criança, e assim se relaciona com
seus amiguinhos. Alma boa à parte, Tião tem um “defeito” muito grande: uma sede
141
Essas crianças... Osvaldo Reis
insaciável, chegando a levantar, segundo Lucia, “trocentas” vezes à noite, para degustar
o precioso líquido... Água mesmo! Pra se ter uma idéia das idas e vindas de Tião até a
geladeira, pode se comparar à pequena área de um campo de futebol onde nem com reza
braba nasce grama. O “caminho” da geladeira do Tião é lisinho da silva.
Os irmãos Guilherme e Gustavo acompanham todos os passos de Tião, cuja
casa é como se fosse o quintal da deles, aonde só vão para brincar.
Um dia, “tá” lá o trio mais a meninada dos donos da casa. Curiosamente Tião
demorou um pouco mais para tomar o famosíssimo “suco sanepariano” ou de torneira.
Aí Gustavo, com sua inocente pureza, criou um termo que os seguidores de Buarque e
Houais fatalmente vão inserir em nossos dicionários. Gu, vendo que amigo não estava
tomando tanta água, resolve ajudá-lo, lembrando-o de seu “vício”:
– TIÃO, TÁ NA HORA, VAMOS LÁ SEO REPETIDOR DE ÁGUA...
GUILHERME AUGUSTO DE OLIVEIRA BARBOSA
GUSTAVO DE OLIVEIRA BARBOSA
PAIS
Beatriz / Francisco Carlos Barbosa
AVÓS PATERNOS
Graciema / Alfredo Alves Barbosa
AVÓS MATERNOS
Débora / Francisco Alves
“Meliantes”
Um senhor muito bem vestido, muito elegante vai andando pela
calçada quando vê um garoto tentando tocar a campainha de uma
casa, mas o botão da campainha fica muito alto e o garoto não
alcança. O senhor se aproxima e pergunta:
– Posso ajudá-lo?
– Pode, sim. O senhor me ajuda a tocar a campainha?
– Claro.
O senhor levanta o garoto nos braços e o garoto toca a
campainha. Aí o garoto diz:
– Agora, vamos correr.
142
Essas crianças... Osvaldo Reis
“ISSO” NÃO ERA “AQUILO”...
A Bruninha contava com um ano e poucos meses, aquela fase em que a criança
começa a falar, e o faz tudo errado, troca letras - principalmente o “c” pelo “t” - entre
outras tantas e os adultos adoram “sacanear”, e estão sempre fazendo perguntas só para
ouvir” as bolas fora”.
Bruna nasceu em Assis Chateaubriand, no Paraná.
Um belo dia, no colo da mãe, o pai ao volante, a gatinha “está mostrando” a
cidade aos dois. Mostrando mesmo, pois tudo que avistavam, acabavam por perguntar à
filhota o que era, e ela, pacientemente, ia respondendo: é uma “tasa”, um “talo”, uma
“aive”, e por aí a fora, até que se cansou e se “desligou” um pouco, mas a mãe, nem aí,
queria continuar com aquela infindável seção de perguntas e respostas...
Aí passam em frente ao hospital onde nasceu a garota. A mãe, com o dedo
indicador apontado para a direção do dito cujo, pergunta à filha:
– O que é isso?
Como seu dedo estava encostado no pára-brisa, não deu outra, a resposta de
Bruna foi lógica, clara e objetiva:
– É VIDO!!!!!!
Só faltou completar “te ela o vido da flente do talo”...
E TEM GARANTIA???
Bruna estava prestes a completar quatro anos, queria fazer uma festona e
comprar para si um presente, para tanto juntava todos os trocados que conseguia,
principalmente moedas, que criança adora e adultos nem tanto.
Seu aniversário, tão esperado, “chega”. Os pais dão à filha uma linda bicicleta.
Bruninha fica feliz da vida... Até conversava com seus botões: “isso é que é pais”, “os
meus são os melhores pais do mundo” e coisas assim, afinal ganhara uma bicicleta e
143
Essas crianças... Osvaldo Reis
nem precisou usar seu próprio dinheiro.
Era um presente perfeito se não tivesse vindo sem bomba, aquele “treco” que se
usa para encher pneu. Poderosa e cheia da “bufunfa”, em companhia do avô Sérgio, vai
até uma bicicletaria próxima com a finalidade de comprar uma... Onde já se viu uma
bicicleta novinha mas sem bomba? Chegam à loja, vão direto ao balcão. Bruna pede ao
atendente uma bomba... O rapaz apanha o tal objeto. Era azulzinha, lindona, de plástico,
uma beleza mesmo... Bruna adora a danada, namora, troca carícias, empurra, puxa,
empurra de novo etc. e tal... De repente... Silêncio... Silêncio total... Bruna fica com o
complemento de seu desejo nas mãos apenas olhando, misteriosamente... O atencioso
balconista quer saber:
– Você não gostou da bomba?
A resposta da garotinha, seguida de uma indagação, deixam boquiabertos o avô
Sérgio e o vendedor :
– E QUANDO ACABAR O AR, VOCÊ DÁ OUTRO???!!!
INOCENTE CONCLUSÃO!
Transar, de acordo com o “pai” Aurélio Buarque de Holanda, quer dizer: fazer
uma transa a respeito de; combinar, ajustar, maquinar, pactuar, tramar... Mas os
dicionaristas de hoje, dão um outro significado à palavra, mais ou menos como “ficar”
que ninguém sabe realmente o que quer dizer...
Bruna, tem uma rara particularidade, em razão de ter somente cinco anos, fala
tudo corretamente, embora não saiba direito o que os adultos falam, e por viver na era da
Internet e da televisão, ouve muita coisa. Dia desses, “espreme” a mãe querendo saber
de sua boca, para que a cruel dúvida não persistisse, o significado de certa palavra e
manda ver:
– MAMÃE O QUE É TRANSAR?
A mãe titubeia um pouco, pensa e responde:
– Transar ééééé... Conversar... Namorar...
O interrogatório prossegue:
– E VOCÊ NAMORA COM O PAPAI?
Aí a mãe não tem nenhuma dúvida e responde na bucha:
– Claro filha...
Dias depois, a avó, que mora na casa ao lado, entra em casa de Bruna e pergunta
à neta:
– Bruninha, onde é que “tá” sua mãe?
A resposta de Bruna deixa a avó pensativa, intrigada, achando a neta um tanto
quanto precoce, quando de olhos arregalados ouve a criança responder:
– ESTÁ LÁ NO QUARTO TRANSANDO COM O PAPAI...
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Essas crianças... Osvaldo Reis
SE É TÃO BOM ASSIM...
Depois de Bruna, "surge" Beatriz, a Bia, a mais novinha da casa, está
começando a descobrir o mundo, ainda não fala direito (nem esquerdo!), mas de boba
não tem nem o jeito de andar... Toda mãe, sabidona, em vez de dizer que remédio cura,
fica com aquela história de que o danado é bom...
Dia desses, Bia apanhou um baita cof, cof... Era cof a não mais poder, o que
debilitava a irmãzinha da Bruna. A mãe prepara um remédio e tenta, em vão, convencer
Bia a mandá-lo pra baixo:
– Toma filha, é bom...
Bia nem bola dá... A tosse continua firme e forte....
E a mãe insistindo: – Toma filha... toma filha...
Até que... É o seguinte, de acordo com o ditado popular “água mole em pedra
dura, bate, bate até que molha”, a mãe conseguiu fazer a filhota se interessar pelo
remédio... Acertou “na veia”... Seus argumentos foram realmente convincentes:
– Toma, filha, é gostoso...
Palavrinha mágica essa. É o mesmo que ler “promoção” numa loja qualquer...
Bia olhou para a mãe com raro interesse e esticando a mãozinha, pegou o copo que
continha o tal remédio “bom”... A mãe sorriu por dentro... Ôbaaaa, pensou.... Aí a
gatinha, no seu enrolado português, pergunta à mãe:
– É TOTOSO, MÃE?
A mãe, feliz da vida, confirma. Bia devolve-lhe o copo e tasca, na bucha:
– ENTÃO BEBE!!!!!
FUGINDO DO FLAGRANTE...
Depois de um churrasco familiar, sabe-se lá por que, o banheiro do quarto do
casal entupiu... No mesmo dia a mãe da Bruna, a mais velha, e da Bia, a caçulinha, teve
de ser internada (meio às pressas) num hospital, onde passou por uma pequena cirurgia
e o banheiro entupido, lógico, ficou em segundo plano.
Dias depois, a mãe retorna ao lar-doce-lar. As filhas, saudosas, cheias de dengo,
sentam-se na cama, uma de cada lado onde está a mãe. Aí, o chato do pai querendo
esclarecer o entupimento do vaso sanitário, pergunta às duas:
– Quem foi que jogou coisas no banheiro?
Bia, mais que depressa se defende atacando a irmã maior e aplicando-lhe sonoro
pé-do-ouvido, explica:
– FOI A TATA...
Por sua reação, o pai detetive acabou “desconfiando” da menorzinha e
continuou a seção de “tortura”. E depois de um infindável interrogatório acabou
obtendo a confissão de Bia (a razão: dois pedaços de costela com osso e tudo), que
acabou por botar um ponto final no caso do vaso (bela rima), sendo antes alertado pela
filhota sobre seus direitos:
– MAS NÃO FOI HOJE !!!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
CHIFRE EM CABEÇA DE CAVALO...
Bruna não tinha ainda dois anos, tampouco tinha saído de seu Estado, mas um
“dodói” dos grandes fez com que a menina fosse levada até Campo Grande para
tratamento, e a jovenzinha, por nada no mundo, deixou de curtir as aventuras de sua
primeira viagem. Bem no meio da estrada (em Mato Grosso é comum isso), uma
boiada. O pai teve de parar o carro para os “bichão” passarem...
Bruninha presta atenção em tudo e tem medo danado dos dentes daqueles
monstrengos que sua mãe lhe explicou serem bois. A garota ficava apavorada quando
via o pai passar as mãos nas cabeças dos mansos animais e não deixava de alertar ao pai
do perigo que ele estava correndo diante dos ameaçadores dentes, certamente pensando
que boi era um baita cachorro com aquele ornamento na cabeça. Bruna não dormiu,
aliás, nem piscou, com tanta atividade.
Chegando ao final da viagem, vão direto ao hospital. Aconteceu entre Bruna e o
médico uma enorme empatia, em razão da simpatia e atenção que o competente
profissional lhe dedicara. Pra se ter uma idéia, a conversa entre os dois, assistidos pelos
pais, durou umas duas horas... Num trecho da prosa, Bruna começa a contar ao doutor o
encontro com a boiada, mas de maneira alguma ela se lembrava o nome dos “bichão” por ela pronunciado com dois esses ou seja “bissão”... Saía de tudo, palavras muito
mais difíceis, mas boi, nem com reza braba. E, sem dar o nome, não tinha como seu
novo amigo entender sua história... Bruna começa a ficar nervosa, inquieta, aí, como
por encanto, Bruna bate os olhos numa estatueta de um cavalo sobre a estante do médico
que, comparando, a fez lembrar-se de tudo e do seu jeito, explicou o nome dos “bissão”:
– É UM BÚIO... UM BÚIO DI SIFRI...
BRUNA GARBULHA PEREIRA (Bruninha)
BEATRIZ GARBULHA PEREIRA (Bia)
PAIS
Rose / Pedro Mariano Pereira
AVÓS MATERNOS
Cezarina / Sérgio Garbulha
AVÓS PATERNOS
Terezinha / Benedito Mariano Pereira
Manoplas
– Na minha mão direita eu tenho 8 laranjas e na mão esquerda eu
tenho 10 laranjas. O que temos então?
– Mãos enormes, professora.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
CADÊ O MEU NARIZ????
Max é o irmão mais velho da Érica e da Cinthia, tio do Rafael, filhos da Bete e do
Eduardo. Lá por volta de seus quatro, cinco anos, um bichinho malvado, certamente
procurando sobrinhas de doces, faz um baita buraco num de seus dentes. Max
resmunga, chia, choraminga, esperneia, sapateia, e por aí afora, aquela tradicional
mistura de dor e birra. Os pais levam o filhote à dentista, doutora Edna Tokunaga, que o
examina a manda o diagnóstico:
– É uma cárie e já está, digamos, em estado avançado; tem de ser restaurada
imediatamente.
Os pais concordam com a competente profissional e também amiga. Para a
execução do serviço era preciso, claro, de anestesia. E lá vem a doutora Edna com
aquele papo de dentista: “é só uma picadinha, uma abelhinha bem pequena, não vai doer
nadica”... E a pobre criança quase hipnotizada pela “lábia” da especialista nem percebe
a agulhada...
Aí vem o efeito que é chato pra burro. Com Max não foi diferente. O carinha nem
sentia a “cara”. E doutora Edna tá mexendo e remexendo, acompanhada pelo delicioso
barulho do motorzinho e coisa e tal. Num determinado momento tem de abrir um pouco
mais a boca do pequeno paciente e precisa apoiar sua mão no nariz do doentinho... Aí
desespero geral, Max dana a chorar: buáááááááá... buáááááááááá... E a coisa vai
aumentando. A dentista achou que havia passado o efeito da anestesia e ficou
preocupada, mas logo sua suspeita foi desfeita quando Max, aos prantos, afirmava e
perguntava, quase que ao mesmo tempo:
– EU QUERO O MEU NARIZ... ONDE ESTÁ O MEU NARIZ???
Foi preciso usar um espelho para mostrar ao “desnarizado” que seu “cheirador”
continuava lá, inteirinho, e pendurado no mesmo lugar...
MAX HIDEKI HASE
RAFAEL HASE
PAIS
Beth / Eduardo Hase
AVÓS MATERNOS
Sunao / Natsuno Sakaguchi
AVÓS PATERNOS
Tomoji / Kazuko Hase
147
Essas crianças... Osvaldo Reis
MAS É SÓ ISSO ?????
Depois desse episódio, “vó” Mira passou a chamá-la de legista mirim... A
Gianna tinha por volta de cinco a seis anos e aparentemente, uma curiosidade mórbida,
pavorosa, de terror mesmo. A gatinha queria porque queria saber o que era exumação que ela dizia “insumação”. E, o que é pior, ninguém conseguia tirar da cabecinha dela
essa vontade. Os adultos da casa explicaram, mas ela queria mesmo era ver de perto,
com seus olhos.
Um determinado dia, faleceu alguém da família e deveria ser sepultado no
mesmo túmulo de outro parente, já enterrado havia muito tempo...
Gianna foi também ao cemitério, e como por encanto “desapareceu” de perto de
seu pessoal. A gatinha foi assistir os funcionários do cemitério remover o cadáver
antigo, enfiou-se no meio daquela floresta de pernas e foi parar lá onde tal serviço
estava sendo feito e nem deu tempo de ser retirada: assistiu a tudo, matou a curiosidade
e voltou frustradíssima desabafando:
– INSUMAÇÃO NÃO TEM GRAÇA NENHUMA... É SÓ UNS OSSINHOS
CABELUDOS!!!
GIANNA CARLA FURLAN
PAIS
Fátima / Carlos Furlan
AVÓS PATERNOS
Valdomira (Mira) / José Furlan
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Essas crianças... Osvaldo Reis
BARREIRA TRANSPONÍVEL...
Davi, irmão da Ana Clara, filho da Maria Paula e do Daniel, tinha cinco anos de
idade, uma fera, não só na escola...
Com raro brilhantismo (de verdade!), Davi cursava o pré-primário, onde era o
terror na prática do esporte bretão, também conhecido por futebol. Escolheu, no
entanto, uma das posições mais ingratas: aquela em que não se pode falhar nunca; era
goleiro. Um Gilmar da nova era... Davi nunca falhava... Um goleiraço o sujeitinho...
Duvida?
Veja, então, o diálogo do promissor atleta com o avô Antônio Augusto de Assis,
o poeta A.A. de Assis, após chegar todo eufórico e suado ao final de uma disputadíssima
partida de futebol:
– VÔ, HOJE EU PEGUEI TODAS AS BOLAS... SÓ DEIXEI PASSAR
CINCO!...
DAVI JOSÉ DE ASSIS BEMOM
PAIS
Maria Paula / Daniel Bemom
AVÓS MATERNOS
Lucila / Antônio Augusto de Assis
AVÓS PATERNOS
Mabel / Heber Bemom
Naquela criança linda,
que brinca cheia de pressa,
o meu mundo, que se finda,
fita um mundo que começa !
Galdino Andrade
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O “SEQÜELADO” SAFADINHO
Luciano – o irmão da Lucilene – tem hoje sete anos. Quando bem miudinho
sofreu meningite, mas foi muito bem tratado e a atenção da mãe Angelita e do pai
Adailton ajudaram (e muito) a dar sumiço na doença do filhão. Em outras palavras, a
meningite do Luciano “tomou doril”, escafedeu, sumiu, não ficou nem um sinalzinho.
Só que, moleque é moleque...
O rapazinho é mais folgado que azeitona em boca de banguela. Um tremendo
cara de pau, mexe com todo mundo; enfim, é um “anjo” o nosso enfocado, mas também
muito simpático.
O curioso em Luciano é sua reação quando alguém tenta lhe passar um pito ou
dar-lhe uma bronca: Lu (só ele), se lembra da doença acometida no passado, aí, com um
baita sorrisão pra lá de maroto, acaba com a reação do eventual e momentâneo
“inimigo” que quase sempre se desconcerta, em razão dos motivos que levaram o
“pestinha” a cometer tais desatinos, quando ele com cara bem triste, de cachorro caído
de mudança, sempre que apronta, afirma:
– É SEQÜELA !!!
LUCIANO GONÇALVES DE MATOS
LUCIENE GONÇALVES DE MATOS
PAIS
Angelita / Adailton Araújo de Almeida
AVÓS MATERNOS
Maria / Ponciano Gonçalves de Matos
AVÓS PATERNOS
Maria José / Arlindo Pedroso de Almeida
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Essas crianças... Osvaldo Reis
BANANA PRO “MACACO”
Milton estreava um velho carro novo: um Galáxie, uma de suas paixões, depois,
claro, da esposa Ivanilde e das filhotas: Sabrina, Samantha e Samira.
Numa bela manhã de domingo, se deliciando em sua “banheira” – apelido que os
“invejosos” dão ao “possante” que marcou época, não só no Brasil, mas em boa parte do
mundo – lá estão Milton e prole, incluindo gato, cachorro e papagaio, “navegando” em
seu carrão. E lá vão eles... Sobe, desce, Milton elogia alguma coisa no carro, fala do
freio, do rádio – que é original – mostra árvores, praças, ruas, igrejas, monumentos, e
pra variar, fala um pouco mais do carro... Um passeio maravilhoso, as crianças estão
adorando a inesquecível aventura daquele dia... Tudo está indo muito bem. Mas de
repente... pufffffffff. Fura um pneu. Pneu dianteiro...
Para as crianças, um pouco mais de pimenta na aventura, uma baita novidade.
Todo mundo desce pra ver o pneu arriado, murchinho da silva. As crianças se divertem,
participam da cena, para elas inédita, e querem, lógico, também ajudar... Após aquela
tradicional coçadinha de cabeça que antecede a troca de pneus, Milton comenta com a
esposa:
– Vou pegar o macaco...
Ato contínuo Samira oferece-lhe concreta solidariedade: estende a mão direita
que contém na ponta uma doce e inocente banana e completa:
– TÓ, PAI...
SABRINA MARCOLLI RUI
SAMANTHA MARCOLLI RUI
SAMIRA MARCOLLI RUI
PAIS
Ivanilde / Milton Rui
AVÓS MATERNOS
Jorgina / Antonio Marcolli
AVÓS PATERNOS
Fiorentina (Dona Nêga) / Rui Cesare
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O OVO OVALADO
Embora maringaenses natos, Eliane e Anízio, por questões profissionais, vivem
na vizinha Cambé. Os pais de Aline, que além de gostar muito de sua cidade natal, a
filha, idem, mas também adoram os avós, o que proporciona um gostoso e infindável
vaivém de viagens entre as duas cidades, em parte para agradar a filhota e eles também,
claro. Aline tem três anos e, logicamente, não sabe ainda o que é terça-feira, outras
tantas feiras e também outras tantas palavras...
Só sabe que todo final de semana, mesmo sem saber direito o que está
acontecendo, ou que dia é, Aline fica inquieta, doidinha pra viajar. A mãe tem de “se
virar” pra não desagradar a filhota... Num desses tantos finais de semana, Aline “tá”
acesa, com muita energia, pilha sempre nova, a mãe sente o “drama” e tenta acalmá-la
explicando:
– Amanhã a gente vai pra Maringá...
Aline escuta, pensa um pouco e dispara:
– ENTÃO DEPOIS DE HOJE A GENTE VAI PRA MARINGÁ...
E, momentaneamente, deixou a mãe em “paz”.
ALINE SATO CARVALHO
PAIS
Eliane / Anízio Costa Carvalho
AVÓS MATERNOS
Márcia / Macoto Sato
AVÓS PATERNOS
Cleusa / Nivaldo Costa Carvalho
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Essas crianças... Osvaldo Reis
AGENTE SECRETO...
Gabriel é um sujeitinho extremamente ativo. Quando bem miudinho era tratado
como “candidato”, já que saía, principalmente no restaurante, cumprimentando todo
mundo, pegando nas mãos, batendo nas costas, como fazem os políticos (em época de
campanha, claro...). Mas por Gabriel ser uma figurinha de 50/60 centímetros de altura e
ainda nem falar direito, era uma festa vê-lo, de mesa em mesa, cumprindo seu ritual.
Numa das suas primeiras viagens Gabriel, em companhia da mãe Andréa, avô
Nailor, avó Nilza, primo Paulinho, gato, maritaca, papagaio e também uma tartaruga, o
jovenzinho vai conhecer aquele “riozão” com sal dentro que os adultos chamam de mar.
O avô materno de sua mãe (Nilo, pai da “vó” Nilza) estava internado numa casa
de saúde em Curitiba. Gabriel gostava muito dele, a quem chamava de “biso”, e queria
visitá-lo, mas seu “biso” não podia receber visitas em razão da precariedade de seu
estado de saúde. Os marmanjões explicaram a Gabriel que ele estava num lugar de
nome bem pequeno e terminava com a letra “i”.
Ficaram na praia alguns dias. Na volta, Gabriel continuava querendo ver seu
amigo e insiste com a mãe, em seu particular “zecabulário”:
– MÃE, VAMOS LÁ NO FBI VISITAR O BISO???
GABRIEL BARUD MACIEL
PAIS
Andréa / Cláudio Maciel
AVÓS MATERNOS
Nilza / Nailor Marques
AVÓS PATERNOS
Elza / Názio Souza Maciel
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O COCÔ MOUCO...
Norma tinha um nojo terrível de fazer cocô, ficava segurando, se apertando,
dando uma bronca nas fezes:
– VOLTA PRA SUA CASA SUA CACA NOJENTA...
Mas um dia a “coisa” aconteceu... Algumas bolinhas da dita cuja acabou por
sujar-lhe as fraldas: eram brancas, mudaram pra, mais ou menos, marrom escuro. A
garotinha também mudou a cor, ficou vermelha, numa mistura de nojo, raiva e ódio e se
seu desabafo tivesse saído antes com a intensidade do grito final, talvez tivesse evitado
a “tragédia”:
– EU FALEI PRA ELA VOLTÁ, MAS ELA NÃO ESCUTOU... MAS EU
FALEI !!!
COM MEDO DO PRÓPRIO VENENO...
A Norma era ainda bem miudinha, mal falava, mas curiosamente cantava, vivia
cantando, músicas, claro, que ela mesma compunha. E o repertório era grande, não se
sabendo se era melhor cantando ou compondo, só se sabe que ela “tava” sempre se
“esgoelando”...
Um belo dia, tá lá a Norminha cantando um de seus inúmeros sucessos,
distraída, desligada do mundo, soltando a voz:
– BUNDA É BUNDA, PÉ É PÉ... PÉ NA BUNDA...
Aí a cantora/compositora, achando que podia chutar a si mesma, levou um baita
susto e encostou o traseiro na parede, lá ficando por um bom tempo (até mudar de
música...).
GRAVIDEZ GATUNA...
Douglas tem por volta de dois a três anos e está assistindo na TV um desenho
animado (e tem desanimado?). A cena: mamãe gata, toda melosa, falava com seu
filhote:
– Meu bebê...
Logo em seguida, a outra mãe, a de Douglas, chama sua cria para alimentá-la e
como mãe, tio, tia, avô, avó e um mundaréu de adultos, com a intenção de agradar, fala
154
Essas crianças... Osvaldo Reis
mais ou menos do jeito das crianças. A pronúncia da mãe, “misturou” a cabecinha do
garoto:
– Douglas, vem bebê leite...
Douglas não topou o convite da mãe, ameaçou ir embora de casa, chorou, e não
quis tomar, nem por decreto, o tal produto extraído da vaca, e retrucou:
– EU NÃO VÔ TOMÁ, NÃO!!! EU NUM QUERO FICÁ CUM UM
GATINHO NA BARRIGA!!!!!
CAMPEÃO DE AFOGAMENTO...
Douglas tinha lá por volta de quatro, cinco anos e foi “colocado” numa escola de
natação. Até aí nada (?) de mais a não ser a vontade e necessidade que o sujeito tinha de
contar, repetidas vezes, e pra todo mundo, a sua mais recente novidade. Não gosto (pior
que é verdade!) de me incluir nas histórias, mas nessa não tive jeito de escapar já que sua
vítima foi o babaca do tio aqui. É o seguinte: os pais viajaram e me deixaram na casa pra
cuidar dos “anjinhos” Norma e o enfocado Douglas.
Eu me encontrava “atolado” na leitura de um jornal, e o sujeito no meu pé
querendo contar que estava numa escola de natação, embora já soubesse da própria
boca umas trocentas vezes, mas ele insistia me puxando pela barra da calça, manga da
camisa etc. e tal, e a fala era sempre a mesma:
– TIO, EU TÔ NUMA ESCOLA DE NATAÇÃO...
E eu continuava “enfiado” no jornal, já sem conseguir me compenetrar na
leitura, pois toda hora, de tempo em tempo, tava lá o carinha:
– TIO, EU TÔ NUMA ESCOLA DE NATAÇÃO...
Aí “comigo” já quase explodindo, parei de ler, virei-me pra ele, dei-lhe toda a
atenção do mundo e “pacientemente” perguntei:
– “Tá”, você entrou numa escola de natação... E daí?...
Daí é que descobri o motivo de tanto orgulho... Fazia pouco mais de uma semana
que ele freqüentava a escola e seu progresso era espantoso, um Einstein da braçada,
uma fera... Em tão pouco tempo... Douglas, de peito estufado, explica:
– É QUE EU JÁ SEI ME AFOGAR SOZINHO...
EX-INDIANA JONES...
Tem criança medrosa e tem criança valente. Poderosas todas são, mudam
montanhas de lugar, mudam a cor do mar, aumentam e secam suas águas de acordo com
a conveniência e imaginação... A mãe do Gustavo e da Gabriela, quando criança, não
fugia à regra.
Norminha tem esse apelido em razão, lógico, no início por ser criança, depois a
alcunha permaneceu em razão de sua altura, podendo ser comparada à do Atchim, do
Zangado, ou seja, pouco menos de um metro e quarenta e cinco, no máximo...
Em sua meninice, claro, um pouco menor, mas muito “macha”, valente como o
diabo, tanto é que deixava sempre em polvorosa as pobres serpentes do passeio
“cúbico”, em Curitiba, que, quando sentiam a presença da garotinha, tentavam, em vão
155
Essas crianças... Osvaldo Reis
se esconder. Mas como fazê-lo se estavam dentro de uma vitrina de vidro? Mas as
coitadinhas ficavam realmente apavoradas com a Norminha por perto... As lagartixas,
que ela chamava “pegatixa”, então, chegavam a voar, mudar de cidade, bairro, país até.
Um de seus prazeres era dar nós nas pobres e indefesas jibóias....
Mas o tempo passa... Hoje, a “Indiana Jones” de saias tem medo até do “jacaré
de parede”, suas famosas “pegatixas” da infância...
“VÃOCABULÁRIO”
Sabe aquele negócio que dá na gente de ficar repetindo a mesma coisa o tempo
todo? Principalmente quando se trata de música... Isto já deve ter acontecido com todo
mundo... Quando a gente, sem perceber, tá cantarolando somente um trecho, sempre
muito curto, de uma mesma melodia: “Quando olhei a terra ardendo”... Um minuto
depois, começa tudo de novo: “Quando...” E assim vai até deixar repleta a região
testicular dos infelizes “escutantes”.
Um belo dia, voltando de uma viagem, a mãe Helena e este mentecapto, tio do
dito cujo, ouvem Douglas se “desgüelando” a todo vapor mesmo, uma musiquinha.
Acho que ele não decorou a letra por ter somente uns três ou quatro anos que falava de
uma tal galinha de cor amarela, e, de minuto a minuto, tá lá o cantor Douglas, soltando a
voz:
– A GALINHA AMARELINHA...
E pouquíssimo tempo depois a história se repetia e assim foi um punhado de
vezes, a mãe já estava vermelha de raiva e o imbecil aqui, roxo de ódio. Douglas, nem
aí:
– A GALINHA AMARELINHA...A GALINHA AMARELINHA...
Aí, a mãe (se é que alguma vez teve) perdeu de vez a paciência, fez o sujeitinho
“fechar a matraca” e, virando-se para o banco traseiro, onde estava o seu Nelson
Gonçalves, mandou bala:
– Que diabo, Douglas, você não tira essa galinha da boca...
Douglas entrou num acordo com a genitora e fechou o bico... Silêncio total por
um bom tempo... Mas era muito silêncio e isso também incomoda. Douglas tá lá
quietinho, mudinho, parecia até sem respirar... A mãe resolve pôr fim na situação:
– Douglas, também não é preciso ficar tão quieto assim...
Aí o garoto dá uma lição na indecisa mãe:
– Ô MÃE, O QUE VOCÊ QUERISSE QUE EU FAZISSE? EU CANTO,
VOCÊ DÁ BRONCA, EU FICO QUIETO, VOCÊ DÁ BRONCA?????????
LUZ DESACESA...
Uma particularidade no já apresentado Douglas: quando bem miudinho gostava
de ver televisão... Calma, essa ainda não é a particularidade, aliás, nem tão particular
156
Essas crianças... Osvaldo Reis
assim... Direto ao assunto, ele gostava de assistir no escuro. Tem gente que acha que no
escuro a imagem fica melhor. Acho que Douglas também achava... Mas criança sozinha
no escuro, é complicado, moleque mais ainda... Assim, todos os marmanjos que
estavam por perto, para tê-lo sob controle, pelo menos de vista, acendiam a luz, o que
deixava o carinha bravo que só, e cada vez que a luz era acesa, ouvia-se (até no próximo
quarteirão) os berros do garotão:
– PODE DISACENDER ESSA LUIZ !!!
“VALENTE” E “TRABALHADOR”
Douglas era miudinho de tudo e tinha um medo terrível de assombração.
Bastava ele ver alguém rezando que ele achava que a reza era para espantar a “coisa”
que estaria por ali... A mãe vai com Douglas visitar o túmulo de seus pais no cemitério
de Maringá. Além de visitar, aproveitaria também para dar uma limpada na moradia dos
avós de seu filhote. Helena vai à frente e Douglas, literalmente, arrastando um balde
com objetos de limpeza incluindo uma vassoura, caminha bem atrás. Chegando ao
túmulo a mãe se ajoelha e começa a rezar... Douglas imagina que tem alguma “coisa”
por ali, abandona a vassoura e o balde no caminho, corre em direção à mãe e quer saber:
– MAE, ONDE “ELA” TÁ?
A mãe interrompe a prece e explica ao garoto que não havia ali nenhuma
assombração e que ela estava rezando para Deus ajudar o avô e a avó. A reação de
Douglas fez a mãe se desconcentrar:
– MÃE, SE REZAR DEUS AJUDA?
A mãe responde que sim. Douglas fica feliz da vida, esquece até da
assombração, e pede para a mãe:
– MÃE, ENTÃO, REZA PRA DEUS E PEDE PRA ELE ME AJUDAR A
CARREGAR ESSA VASSOURA...
NORMA HELEN GALDINI
DOUGLAS ALEXANDRE GALDINI
PAIS
Maria Helena / Osmar Galdini
AVÓS MATERNOS
Ana / Geraldo Fernandes Reis
AVÓS PATERNOS
Norma / Luiz Galdini
Evitando bronca...
Paula: Papai, você sabe escrever no escuro?
Papai: Acho que sim. O que é que você quer que eu escreva?
Paula: Seu nome no meu boletim.
157
Essas crianças... Osvaldo Reis
A “FERINHA” E O “FERÃO”
João tem lá por volta de seus quatro anos, uma cabeleira farta, cacheada, sorriso
fácil, muita simpatia e malandragem a não mais poder. É filho da Sara e do Reinaldo.
João adora sacanear todo mundo, mas um de seus alvos preferidos é o avô José Maria
Barreto (o Barreto), a quem ele chama simplesmente "vô B".
No último dia 21 de abril, dia de Tiradentes, Barreto acompanha uma pequena
reforma no bar do cunhado Léo e do filho Rogério, que fica nas proximidades do Parque
do Ingá (em Maringá), local onde o pessoal pratica caminhada. O pequeno João “tá” por
perto e puxa conversa com o avô:
– VÔ B, HOJE É FERIADO, NÉ?
– É. Responde o avô.
João continua:
– E VOCÊ GOSTA DE FERIADO... NOS FERIADO TEM BAILÃO LÁ NO
CLUBE DO VOVÔ E VOCÊ ADORA IR LÁ PEGÁ AS VÉINHA...
Barreto dá uma risadinha daquelas que significa nem sim, nem não, também não
diz nada.
João fica intrigado... Aí vai passando uma “caminhante” em volta do parque,
instintivamente Barreto olha em sua direção...
João endoida e volta cutucar o “vô” B que, após o diálogo, lembrou-se de fazer
alguma coisa lá dentro e se mandou:
– TÁ VENDO? VOCÊ JÁ TÁ DE OLHO NAQUELA LÁ...
JOÃO HENRIQUE BARRETO MAIA
PAIS
Sara Cristina / Reinaldo Maia
AVÓS MATERNOS
Léa / José Maria Barreto
AVÓS PATERNOS
Maria / José Maia
158
Essas crianças... Osvaldo Reis
ALUNO APLICADO...
Fernando, o filho mais velho do casal Marinalda e Aparecido, estava sendo
constantemente provocado pelo garoto do vizinho que ganhara do pai uma bicicleta
usada. Parece até que o único caminho que o sujeitinho tinha para percorrer era o que
passava em frente à casa de Fernando. Fernando conta pro pai as fosquinhas que o
menino lhe fazia em suas constantes idas e vindas. Cido toma as dores do filhão e lhe dá
de presente uma bicicleta, novinha em folha e faz também uma recomendação:
– Cada vez que você passar perto dele, fale que sua bicicleta é nova e não aquela
porcaria dele que é usada...
O garotão ouve atentamente o conselho paternal.
Dias depois, as mães do Fernando e do provocador garoto, estão conversando e
o filhote da vizinha está por perto. Fernando sente que o momento da vingança havia
chegado. Aproxima-se do concorrente e sua “lacraia” e manda ver:
– MINHA BICICLETA É NOVA E NÃO UMA PORCARIA USADA COMO A
SUA.
A mãe de Fernando dá-lhe uma tremenda bronca e o adverte:
– Você nunca mais fale isso...
Aí, ficou pior o soneto que a emenda... Fernando, orgulhoso, completou:
– MAS MÃE, FOI O PAI QUE MANDOU EU FALÁ...
EU TAMBÉM TENHO !
Além do já mencionado Fernando, completam a prole de Marinalda e
Aparecido, Leandro o do meio e o caçulinha Rafael. Na época Fernando contava com
cinco anos, Leandro dois, e Rafael oito meses.
Os pais estão conversando com uma vizinha, o caçula está no colo da mãe,
159
Essas crianças... Osvaldo Reis
Fernando, brincando no quintal e Leandro por perto...
É muito comum pessoas da mesma família terem lá suas marcas,
principalmente pintas, caso dos meninos descritos. E o assunto gira exatamente sobre as
famosas pintas dos filhotes. A vizinha fala das pintas de seus pimpolhos, explica onde
estão etc. e tal. Leandro está, nem parece, como de costume, ouvindo a conversa,
embora aparente o máximo de desinteresse pelo assunto, desligado, nem aí, mas seu
nome é lembrado e o carinha sente-se na obrigação de entrar no papo.
A mãe está falando mais ou menos igual a vizinha, isto é, das famosas pintas de
seus garotões, e exemplifica:
– O Fernando tem a pinta na coxa esquerda, perto do joelho, o Rafael, aqui na
perninha (mostra o local), mas o Leandro não tem. Só o Leandro não tem pinta.
O até então desinteressado na conversa entra em ação... Se o sujeitinho não
contasse com dois anos incompletos a coisa teria tido, dimensões muito maiores, seria,
no mínimo, violento atentado ao pudor, os bons costumes teriam ido para as cucuias, a
vizinha teria tapado os olhos e disparado daquele local, enfim... É que quando Leandro
escutou que ele não tinha pinta, seu ouvido de pouca prática entendeu alguma outra
coisa e com o “pililico” de fora, agarrado no “bicho”, chamou a atenção de todos e,
mostrando seu instrumento, confirmou:
– EU TAMBÉM TENHO, OLHA AQUI Ó...Ó...
FERNANDO BAPTISTA
LEANDRO BAPTISTA
RAFAEL BAPTISTA
PAIS
Marinalda / Aparecido José Dias Baptista
AVÓS MATERNOS
Diamantina / Manoel Alves do Nascimento
AVÓS PATERNOS
Nelsina / José Dias Baptista
Quando o tempo de criança
o meu tempo de hoje invade,
eu sinto a mão da lembrança
apertar minha saudade !
Amália Max
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Essas crianças... Osvaldo Reis
LÁPIS CORAL
Paulo Popovick, com seus três anos de idade, vivia com os pais e os irmãos na
zona rural em Apucarana (PR). Um belo, dia o garotão vê, pertinho da casa, uma
cobrinha coral. “Tá” certo que era bem pequena, mas era cobra, que faz tremer perna de
adulto. Se é grande, treme bastante; pequena, menos, mas que treme, treme.
Com Paulo foi diferente: em vez de tomar um susto daqueles e chamar de cara a
maior autoridade que é a mãe, depois o pai e em seguida o Exército, Marinha,
Aeronáutica, Suat, Corpo de Bombeiros, não fez nada disso. Soltou, sim, uma
perolazinha inesquecível:
– OLHA LÁ UM LÁPIS ANDANDO...
“Mãezona”
Sabe a anedota da mãe chata e super protetora? É
daquelas mães que ligam do trabalho para casa de cinco
em cinco minutos e pergunta à babá:
– Deu o leitinho?
– Deu a bananinha?
– Deu o lanchinho?
– Ele fez xixizinho?
– Trocou a fraldinha?
– Ele fez cocôzinho?
– Molinho ou durinho?
E vai por aí. A mãe desta anedota também é muito
coruja. Ela encontrou uma amiga e foi logo falando.
– Meu filinho está andando há mais de três meses.
– Chi! – disse a amiga. – A essa altura ele já deve
estar bem longe, não?
161
Essas crianças... Osvaldo Reis
ASSOMBRAÇÃO DESNUDA...
Essa garotona, a Jayanna, está com seis anos, mora e estuda em Londrina e tem
uma queda especial para as aulas de ciência, matéria em que sempre tira nota
máxima (?).
Numa dessas aulas (de sua matéria predileta) a professora está falando sobre o
corpo humano e, para dar maior brilho e ilustração à sua fala, chama a atenção de
Jayanna e pergunta-lhe, apontando o esqueleto:
– Você sabe o que é isto?
A gatinha, com toda certeza do mundo, responde, na bucha:
– SEI... É UMA ASSOMBRAÇÃO PELADA!!!!!!!!!
QUESTIONAMENTO LÓGICO...
Nadyanna tem hoje seis anos, e em companhia dos pais e avós também vive em
Londrina. Apesar da idade, mas pelo fato de a mãe ser professora, a gatinha já sabe ler.
Já leu um montão de livros, e um particularmente lhe chamou a atenção: “Branca de
Neve e os Sete Anões” que leu e releu um mundaréu de vezes. Acho que sua
inteligência, um tanto quanto aguçada e porque não dizer prematura, deve fazer o autor
repensar um pouco a história e mudar alguma coisa quando for lançar uma nova
edição...
Dia desses, a Nadyanna conversando com a avó materna, Nadir, fez-lhe uma
perguntinha, no mínimo curiosa e intrigante:
– VÓ, A BRANCA DE NEVE, MORANDO COM OS SETE ANÕES, NÃO É
MÃE DE NENHUM ANÃOZINHO?????
NADYANNA MATTOS PADILHA
JAYANNA MATTOS PADILHA
PAIS
Joanaina / José Luiz Silva
AVÓS PATERNOS
Joracy / Pedro Luiz Silva
AVÓS MATERNOS
Nadir / Antônio Padilha Alonso
162
Essas crianças... Osvaldo Reis
PAIS IMENSURÁVEIS...
A Jarmiran tem sete anos, vive com os pais Marly e José em Tibagi. Um dia, na
hora do recreio, está conversando com a coleguinha Nadiely, que tem mais ou menos a
sua idade. Nadiely resolve fazer uma propagandazinha, aparentemente enganosa, a
respeito de seu herói, peladeiro contumaz, mas que não chega a ser um Robinho. O
diálogo das duas lembra a conversa de antigos “coronéis” do Nordeste falando de suas
fazendas... Nadiely diz à amiguinha:
– MEU PAI É O MAIOR EM TUDO. QUANDO JOGA BOLA, A MINHA
MÃE DIZ QUE ELE SÓ NÃO FAZ CHOVER...
Jarmiram não deixa por menos e entrega seu “velho”:
– MEU PAI, SIM, É O MAIOR. MINHA MÃE DIZ QUE QUANDO ELE
QUER, ELE TAPA O SOL COM A PENEIRA!!!
JARMIRAM CARDOSO
PAIS
Marly / José Edwirges Cardoso
AVÓS PATERNOS
Maria / José Cardoso
AVÓS MATERNOS
Eufrázia / João Carotti
“Mão de vaca”
Professora: Vamos imaginar que você tem um real no bolso e pede ao seu
pai mais um real. Com quantos reais você fica?
Aluno: Um real.
Professora: Você não sabe nada sobre matemática.
Aluno: E a senhora não sabe nada sobre o meu pai.
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Essas crianças... Osvaldo Reis
“DENOREX”
Lembra aquela propaganda de um xampu que alguns falavam que era remédio,
outros não? Ou era um xampu com efeito de remédio, sei lá... Esta historinha aqui é
mais ou menos do mesmo jeito: parece piada, mas (os que me contaram juram que é
verdade!) outros dizem que não é....
Era uma aula de catecismo. Criançada em torno de cinco, seis anos, dentre elas o
Hélinton. Se Jesus gosta de criança, a recíproca é muito verdadeira. E a professora
estava falando exatamente sobre o Filho de Deus. A mãe do garotão era (ainda é) um
tanto quanto rígida na questão da disciplina do filhote (é também professora). Seguinte,
a professora falou tanto em Jesus, que Ele oferece o paraíso a quem o segue, que Ele
leva as crianças para junto do Pai e coisas do gênero... A garotada segue no maior
respeito e silêncio a aula. O enfocado também. Aí, a professora querendo “medir” o real
interesse de seus alunos, vendo se sua aula teve o efeito desejado, pergunta à classe:
– Quem aí quer ir pro céu?
Hélinton nem pisca, responde na bucha:
– EU NÃO POSSO... MINHA MÃE FALOU QUE ERA PRA MIM IR PRA
CASA ASSIM QUE ACABASSE A AULA!!!!!
HÉLINTON PADILHA
PAIS
Jassanan / Tom Gomes
AVÓS PATERNOS
Rosária / Luiz Gomes
AVÓS MATERNOS
Nadir / Antonio Padilha Alonso
Argentino
Professor: Júlio, diga o nome de algo importante que temos hoje e que não
existia há dez anos.
Edu: Eu!
164
Essas crianças... Osvaldo Reis
“CÃOPANHEIROS”
Ricardo, hoje, é papai de Mayra e Eduardo, mas quando criança também deu
umas aprontadinhas...
Ricardo, com quatro anos de idade, arrumou um baita de um “dodói”. Pra
sarar era preciso tomar um montão de injeções e, como se sabe, criança “adora”
tomar injeções. Com o pequeno Ricardo a história não era diferente. Cada vez que o
“aplicador” aparecia – era um enfermeiro apelidado Chicão, que trabalhava no
hospital de seu pai – o Ricardo desaparecia...
O garotão tinha alguns animaizinhos de estimação: dois cachorros com
bocas maiores que as de jacaré e tamanho de um bezerro, duas feras, literalmente.
Determinado dia, chega lá o Chicão com sua maleta contendo a “deliciosa”
injeção de penicilina que curaria o dodói do garotão. Como de costume, Ricardo
escafedeu-se, mas deixou rastros: seus amigos cachorros foram com ele pra dentro
de casa, mas o profissional precisava fazer o seu trabalho e sabia onde se achava o
seu paciente... Pra resumir, Ricardo soltou seus amiguinhos, cujo resultado custou
ao pai, médico, um montão de desculpas, linhas, agulhas, bisturis, tesouras etc. já
que teve de costurar, quase que por inteiro, o coitado Chicão...
Outra do “anjo” – usando ou valendo-se de seus mencionados amigos, –
referia-se a um sorveteiro, que pelas ruas tocava aquela buzininha anunciando sua
passagem... Era só os três ouvirem a tal buzina que disparavam na direção do portão
onde se encontrava o carrinho de sorvetes e, claro, seu condutor. Ricardo tinha um
método infalível (e um crédito, “relativamente” forçado) pra se deliciar com os
gelados, claro, junto com a molecada da rua inteira: avisava gentilmente ao
165
Essas crianças... Osvaldo Reis
sorveteiro:
– SE O SENHOR NÃO VENDER FIADO, EU SOLTO OS
CACHORROS...
MAYRA SOARES PLEPIS
RICARDO PLEPIS Fº
EDUARDO SOARES PLEPIS
PAIS
Rose / Ricardo Plepis Fº
Célia / Ricardo Plepis
AVÓS MATERNOS
Mayra / Eduardo: Aurora / Jairo Campos Soares
Ricardo Fº: Greta / Martin Plepis
AVÓS PATERNOS
Mayra / Eduardo: Célia / Ricardo Plepis
Ricardo Fº: Araci / Astrogildo Freire Aguiar
“A criança que não brinca não é criança...” “Mas
o homem que não brinca perdeu para
sempre a criança que era, e sentirá saudade”.
Da autobiografia de Pablo Neruda.
166
Essas crianças... Osvaldo Reis
UM PEIXÃO DE QUATRO RODAS
O Diego já “tá” meio “coroa” e vive na zona rural, na estrada Rio da Barra, no
município de Roncador. Ele gosta de montar a cavalo, ajudar os pais na lida do gado,
mas também manja um pouco de computador e de pescar, já que a poucos metros da
casa tem um rio e uma lagoa. Com nove anos, portanto, já é um pescador experiente e
pesca peixes dos mais variados tamanhos e espécies... Esta história foi ele mesmo quem
contou, o espírito de pescador, sempre acompanhado de pequenos (?) exageros, é dele.
Certa época, aconteceu um acidente num rio lá por perto de sua casa: um trator
perdeu o freio despencando ladeira abaixo, indo parar dentro do rio. Seu condutor
acabou falecendo. Até aqui é verdade...
Muito tempo depois, Diego, em companhia do pai, está pescando nas
proximidades de onde aconteceu o fatídico acidente... A pescaria até que estava indo
bem, mas só estavam pegando peixes pequenos. De repente, Diego fisga um daqueles,
tão grande que ele, mesmo com muita força e habilidade, não conseguiu tirar da água.
Aí, o pai é colocado na história, mergulha e vai tentar tirar o “bitelo” do rio e percebe
que é quase impossível, pois a linha não suportaria: o anzol do filhão estava enroscado
no volante do trator acidentado, uma baita coincidência... Mas tem só um detalhe, de
acordo com seu pai: quando não está muito seco o tempo, o rio tem, no máximo, um
metro de largura e uns 40 centímetros de profundidade...
Vai ser um grande... pescador... esse Diego....
GATO ESCALDADO EM CHAPA QUENTE!
O Diego, junto com os pais, forma a família DDD, isto é, ele, Diego, o pai,
Donizete e a mãe, Dina; DDD, portanto. Nessa aqui, o sujeitinho era bem miúdo, não
tinha ainda três anos e acabou por descobrir um meio novo de saber se a chapa do fogão
estava quente (não se sabe se o método foi bem aceito pela Sociedade Protetora dos
Animais!).
Na casa do carinha, além do fogão a gás, tem também um fogão à lenha. Diego,
167
Essas crianças... Osvaldo Reis
mesmo com o fogo aceso, queria saber se a chapa estava quente... E a chapa esquentou,
só que pro lado do gato... É que o medidor de temperatura usado pelo Diego foi o
focinho do bichano e pelo “berrô” que o gato deu, devia estar realmente muito quente e
o bichinho, assim que se desvencilhou do garotão, saiu num pique tão grande que no dia
seguinte foi localizado nos arredores de Londres e só foi reconhecido por causa da
mancha na fuça e estar “miando” em Português...
QUATRO “NUM” É FALTA...
O Diego voltava à pé da escola onde estuda. Ele e mais três coleguinhas. A disputa era
dura, terrível, renhida, era quase impossível saber quem é que “tava” com mais preguiça...
Nisso aparece um outro coleguinha montado num baita cavalão. Os três
“cansados” resolvem pedir uma carona, que na zona rural nunca é negada,
indiferentemente do meio de transporte.
A condução, no caso o cavalo, é que não deve ter gostado de ficar com cara de
cavalinho de carrossel e os quatro, numa linguagem pouco coloquial, foram literalmente
expelidos do dorso eqüino: o animal deu uma parada brusca e todos foram parar no chão,
beijando e cheirando a terra. Um tombão que certamente nenhum deles vai esquecer... Aí
tiveram de continuar a marcha à pé e o pior, mancando, em relação à mancada que deram
ao montar os quatro, sendo que dois em um já é falta, imagine quatro...
CAÇADOR ARREPENDIDO
Pelo fato de viver na zona rural, Diego também gosta ou gostava de brincar com
estilingue, no Nordeste chamado baladeira e até bodoque, embora bodoque seja outra
coisa. Nessas suas brincadeiras, o rapazinho, então com cinco anos, acabou acertando
um passarinho e ele quase morreu de pena; aqui no caso, de dó. Quem tem penas era o
bichinho que recebeu a pelotada...
Diego juntou sua caça e foi pedir à mãe que o ressuscitasse. A mãe rezou,
colocou água no bico, fez massagem no coração, enfim, acabou salvando a vida do
pobrezinho.
Diego então, quer saber da mãe a “marca” do passarinho que ele quase matou e
nunca mais brincou com aquela arma.
Mamãe explicou ao filhote o nome do pássaro:
– É uma “andurinha”...
Diego discordou e esclareceu:
– NÃO MÃE, ELA NÃO TÁ DURINHA NÃO, ELA TÁ É MOLINHA !!
DIEGO MONTEIRO DA SILVA
PAIS
Dina / José Donizete da Silva
AVÓS MATERNOS
Judite / João Maria Monteiro
AVÓS PATERNOS
Leonídia / Joaqum Gomes da Silva
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Essas crianças... Osvaldo Reis
DORMINDO COM O INIMIGO
As histórias a seguir parecem também de folclore político, já que as pessoas
envolvidas são do meio. O casal Marilene/Jayme Rodrigues de Carvalho, tem, pela
ordem, quatro filhos, Jayminho, Fabíola, César e Fernando, mais conhecido por Nando.
Nem bem haviam chegado à cidade, o doutor Jayme (assim é tratado), bom de
fala, ótimo orador, filiou-se ao então MDB, e por este partido candidatou-se a vereador
tendo obtido excepcional votação; foi disparado o mais votado naquela eleição,
condição que o credenciou aos alçar vôos mais altos: tentou ser prefeito, mas...
Talvez nem Freud consiga explicar. Jayme tem um carinho muito especial pela
filharada, que com ele vai aos comícios, futebol, trabalho, enfim, eles estão sempre
juntos.
Um dos adversários de Jayme era Gil Marques de Almeida, que acabou se
elegendo e fez da cidade “o melhor lugar do mundo”. Distribuiu placas de Guaíra a
Fortaleza, e de Foz do Iguaçu ao Acre (pra não ficar naquela manjada do “Oiapoque ao
Chuí”) onde se lia: “Visite Goioerê, o melhor lugar do mundo”. Jayme, mesmo com
os dotes já mencionados, perdeu a eleição. Até aí nada de mais. Eleição se perde ou
ganha, empatar é muito difícil. O motivo da derrota é que é assustador: seu filho César
(por incrível que pareça) trabalhou, fez campanha, comícios, distribuiu santinhos de
Gil, o oponente de seu pai...
Pra resumir, o sujeito só não fez mais coisas, não teve uma participação mais
efetiva (embora tenha sido decisiva) na campanha do adversário, pelo simples fato de
contar na época entre três a quatro anos de idade...
“VIDINHA & VIDÃO”
Persistente, Jayme, em 1974, pelo MDB, candidatou-se a Deputado Estadual e
acabou se elegendo.
Em Goioerê, Jayme e prole viviam numa casa modesta, era uma espécie de
comitê, um entra e sai de gente a todo e qualquer instante, o que contribuía (e muito)
para que a casa – principalmente na área de entrada, onde se concentrava Jayme e seus
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Essas crianças... Osvaldo Reis
amigos - nunca permanecesse em perfeita ordem, mesmo sendo a esposa muito
dedicada e eficiente.
Eleito Jayme, seu companheiro de dobradinha (na época uma coisa que era
levada muito a sério), Antônio Anibelli, arranjou uma casa para o novo deputado
estadual paranaense - Anibelli era federal. Casa bem localizada, bairro próximo ao
centro etc e tal...
Jayme e família se mandam para Curitiba, a fim de conhecer a nova moradia. Era
uma casa muito confortável, com churrasqueira, uma pequena piscina, um montão de
quartos, sala ampla, cozinha idem, além de escola por perto, enfim, quase perfeita.
Todos gostaram da casa e fizeram também algum tipo de comentário, menos
Nando que naquele dia, parecia mudo. Sua opinião só aconteceu quando já estavam
deixando a tal casa a fim de providenciar a mudança. E pela indagação feita pelo
sujeitinho, então com idade aproximada entre quatro e cinco anos, parece atestar tudo o
que foi dito a respeito do mencionado imóvel.
Cara a cara com o “velho”, olhos nos olhos, semblante fechado, o pequeno
Nando mandou ver:
– QUEM ERA NÓIS, HEIN PAI ????
Serventia paterna
– Manhê, que é quem nos dá o pão de cada dia? É
Jesus?
– É sim, meu filho.
– E foi a cegonha que trouxe o meu irmãozinho?
– Foi sim, meu filho.
– Então o pai, para que é que e ele serve? Só pra dar
bronca na gente?
170
Essas crianças... Osvaldo Reis
“MAMÃE EU QUERO”...
No Natal, o papai Noel recebe, lógico, em troca de um montão de promessas e
presentes, um mundaréu de chupetas, cujos usuários prometem deixá-las pelos motivos
expostos. E, curiosamente, as crianças largam a chupeta (àquelas que o bom velhinho
recolheu...).
Não era época de Natal. Edna, a mãe da Júlia (dois anos e oito meses) resolveu ir
direto ao assunto, e encheu a filhota de promessas – férias na Disney, almoço no
McDonalds, Carnaval no Rio de Janeiro, trinta dias em Cancun, não brigar pelo boletim
escolar em vermelho – e mais outras tantas coisas, além dos presentes, alguns já
entregues, tudo para tentar fazer a menina deixar a chupeta.
Corrupção ativa de um lado, aparentemente passiva do outro. Suborno no
duro... Quando a mãe estava quase se convencendo de que a coisa estava dando certo,
eis que Júlia, com personalidade, objetiva, direta, exige de volta seu objeto de
inenarrável prazer, deixando sem ação a genitora que quase conseguira seu intento...
Esbarrou no quase, já que Júlia cheia de razão, sem nenhuma dúvida, sentenciou:
– MÃE, EU NÃO QUERO ESSES PRESENTES... DEVOLVO TODOS, O
QUE EU QUERO É MINHA CHUPETA DE VOLTA !!!
HOMEM É QUE É...
Sabe-se lá o porquê, provavelmente (?) por alguma coisa que ela tenha feito de
errado, a mãe resolve dar uma bronca do tamanho do mundo em Júlia. A gatinha até que
está assimilando bem a tal bronca, afinal, mãe é mãe, sabe das coisas (ou pensa que
sabe, na ótica infantil). Quando a mãe já não encontrava mais nada pra dizer, quando sua
argumentação tinha ido pro espaço, resolve fechar, com chave de ouro, sua fala e, de
171
Essas crianças... Osvaldo Reis
dedo em riste, encara a filhota e tasca:
– Isso é coisa de maluco, menina...
Júlia ouve atentamente e prova à mãe que, pelo menos neste caso ela estava
errada. Na bronca pode ser que não; no vernáculo, a seu ver, não dava pra engolir.
Júlia “ensina” a mãe, e sem mortos ou feridos, termina a “briga”:
– MALUCO, NÃO... É MALUCA... PORQUE EU SOU MENINA !!!
JÚLIA SANTINI MENEGHIN
PAIS
Edna / Marcos Roberto Meneghin
AVÓS PATERNOS
Odila / Mário José Meneghin
AVÓS MATERNOS
Maria Helena / Braz Santini
Causa própria
Na hora do recreio, dois garotos vão até a
enfermaria da escola.
– O que houve? – pergunta a enfermeira.
– É que eu engoli uma bola de gude. – responde um
dos garotos.
– E você? – a enfermeira pergunta ao outro garoto.
– É que a bola é minha.
172
Essas crianças... Osvaldo Reis
"GOLPE " NO MECÂNICO...
A Ângela tinha um carrão 1929 (ou quase). E quem tem um carro assim, precisa,
no mínimo, ter um amigo mecânico. No caso de Ângela, o "anjo da guarda" era Ângelo,
cuja oficina ficava perto de sua casa.
Entre outras coisas, Ângela usava seu possante para o transporte escolar de seus
filhotes: Edgar, o mais velho, de seis; Erick, quatro; e a caçulinha Pâmela, com dois
anos.
A oficina de seu quase xará e amigo ficava, mais ou menos, no meio do caminho,
nos dois sentidos, entre sua residência e a escola onde estudavam seus dois maiores.
Seu carrão falhava mais que isqueiro e gerente de banco, ou seja, pifava na hora
em que ela mais precisava...
Um belo dia, ela estava levando os garotos para a escola e pra variar, o carro
enguiçou. Aos trancos e barrancos conseguiu chegar até a oficina, falou com Ângelo e
este deu um jeito, rápido, explicando-lhe não poder atendê-la naquele momento.
Ângela, referindo-se aos meninos, disse ao mecânico:
– Eu vou levá-los à escola e depois passo por aqui.
Os meninos só ouviram esta parte da conversa.
Dias depois, o carro voltou a pifar, desta feita na volta da escola. A mãe, mais
uma vez, pára na oficina. Seu amigo disse que precisava dar uma olhada mais apurada
no veículo, pediu-lhe que o deixasse e ao término do conserto ele levaria a "condução"
em sua casa. Ângela concordou. Mas seus "anjos" não estavam a fim de andarem a pé e
eles estavam com (só um pouquinho...) preguiça...
Erick se lembrou do que a mãe, dias antes, dissera ao mecânico, e em nome de
todos sugeriu:
– MÃE, POR QUE VOCÊ NÃO DÁ AQUELE GOLPE QUE VOCÊ DEU
OUTRO DIA... DIGA A ELE QUE VOCÊ VAI LEVAR A GENTE EM CASA E
DEPOIS PASSA AQUI... E DEPOIS VOCÊ NÃO PASSA COISA NENHUMA...
173
Essas crianças... Osvaldo Reis
"GOLPE" NO SANTO...
Como boa católica, Ângela, todos os domingos, vai à missa, e a tiracolo, seus
filhotes. Naquele domingo não foi diferente. Missa das nove, lá está a zelosa mãe e seus
pimpolhos. Meninos bem comportados, nenhuma bagunça na igreja, ao contrário,
pareciam gente grande... Ângela sempre teve a preocupação de dar a cada um deles R$
1,00 para, no tempo oportuno, ser dado em oferta.
Chega a hora do ofertório. Os três entram na fila acompanhados pela mãe.
Ângela vê (que coisa linda!) seus filhotes estenderem os braços até o cesto, um gesto
bonito que deixou a mãe orgulhosa.
Terminada a missa, na frente da igreja, pertinho da escadaria, está um carrinho
de cachorro-quente. A meninada quer. Todos partem para cima da mãe que se esquiva
avisando que não deviam comer, que já estavam indo pra casa, que aquilo "estragaria" o
almoço... Tudo em vão. Ninguém arreda pé do lugar. A mãe tenta a última e decisiva
cartada. Argumento incontestável:
– A mãe não tem dinheiro. O dinheiro que tinha dei pra vocês oferecerem à
igreja...
Ato contínuo, em coro, sincronizados, sacam dos bolsos uma nota de um real,
mostram a grana para mamãe "dura" e numa só voz, mandam ver:
– EU TENHO !!!
EDGAR TIBÚRCIO JÚNIOR
PÂMELA MARIA TIBÚRCIO
ERICK MATIAS TIBÚRCIO
PAIS
Ângela / Edgar Tibúrcio
AVÓS PATERNOS
Maria / José Tibúrcio
AVÓS MATERNOS
Marta / Mário Nakano
Estudioso
– Em qual dia da semana você mais gosta da escola?
– Domingo.
– Por quê?
– Porque ela tá fechada.
174
Essas crianças... Osvaldo Reis
AULA DE GEOGRAFIA...
Felipe está com cinco anos; sua irmã Ana Luísa tem quatro. Esses dois, por
enquanto, são a alegria do casal Cláudia e Denerval. Ambos estão na escola e são muito
aplicados. Felipe, particularmente, tem uma carinha...
Além da carinha sapeca ele também tem uma queda por leitura. Ferinha, o
mocinho. Os pais gostam de sua vocação e compra para ambos, os mais variados livros.
Dia desses, por exemplo, Felipe "devorava" um livro que falava de Geografia, mais
especificamente sobre continentes. E lá vem o sujeitinho com suas explicações:
existem cinco continentes que são: Americano, Europeu, Asiático, Africano e a
Oceania. Continuando, disse que o Brasil, Argentina e Canadá, entre outros, são países
do Continente Americano; já a Alemanha, Espanha e Portugal, ajudam a formar o
Continente Europeu. As ilhas, incluindo Japão, Nova Zelândia e Austrália, são da
Oceania. E que tinha também (ou será que ainda tem?) o Continente UMA...
A mãe não entendeu nada. O pai um pouco menos. Em que parte da terra estaria
esse tal de continente UMA? Os dois consultaram a Internet, onze enciclopédias,
ciganos e não conseguiram saber a localização do mencionado continente.
A alternativa que restava era ler o livro do filhote. Enquanto a mãe "enrola" o
garoto, o pai o fez, e aí, com muito custo, acabou descobrindo o tal continente, quando
leu que os países do Oriente (alguns), dentre esses a Turquia, é que faziam (ou fazem...)
parte do misterioso continente. Esclarecendo: com base na Turquia, a "coisa" começou
a ser desvendada. No livro do filhão, com todas as letras, está escrito que "UMA PARTE
DA TURQUIA FICA NO CONTINENTE ASIÁTICO E A OUTRA FICA NO
CONTINENTE AFRICANO"... O detalhe: a palavra UMA era a última de determinada
linha e o final da explicação estava na linha de baixo, onde Felipe encerrou sua leitura.
O garotão ficou "paradão" na UMA que nem viu a outra...
175
Essas crianças... Osvaldo Reis
O SOM DO "MARRONZINHOS"...
Na década de 1980, um grupo musical americano fazia muito sucesso no Brasil,
e não se dizia grupo ou conjunto, era apenas BEE GEES. O Felipe, que veio um pouco
mais tarde, não sabia, nem sabe ainda a pronúncia..
Como toda criança de sua idade, Felipe adora mexer nas coisas e o faz com
democracia: pode ser do pai, mãe, avô, tia, avó; enfim, mexe em tudo e de todos, mas
não "bagunça" muito: de vez em quando, some a chave da casa, do carro, tudo normal.
Esses dias, o jovenzinho resolveu dar uma mexidazinha básica nos CDs e um lhe
chamou a atenção, capa, colorido, letras, sei lá, só sei que Felipe fez ao pai uma
perguntazinha aparentemente estranha:
– PAI, POR QUE É QUE VOCÊ NÃO TOCA O BÉGES?
Béges? Que bicho será isso? E é de tocar? Põe estranho nisso.
Noutro dia, o casal com os filhotes passeava de carro quando parte da intrigada
trama passou a ser desvendada... No toca-CD do veículo, uma música... Felipe aponta o
dedo de onde vinha o som e manda ver:
– ESSE É O BÉGES...
Em casa mostrou aos pais o CD que lhe chamou a atenção: era um CD do famoso
grupo BEE GEES, cuja pronúncia correta é BIDÍS. Felipe só "manja" de Geografia e
por enquanto, ainda não fala Inglês...
FELIPE STEIMACHER BATISTA
ANA LUÍSA STEIMACHER BATISTA
PAIS
Claudia / Denerval Mendez Batista
AVÓS PATERNOS
Clarice / Paulo Batista
AVÓS MATERNOS
Maria / João Steimacher
Pouco valor...
Joãozinho está chorando e o avô vem consolar.
– Por que você está chorando, Joãozinho?
– Eu perdi uma cédula de um real.
– Não chore mais. Tome aqui duas cédulas de um real.
– Buáááááááá´!!!
– E agora, por que você está chorando?
– Eu devia ter dito que tinha perdido uma de cinco reais... buáááááá...
176
Essas crianças... Osvaldo Reis
O MOTIVO ERA JUSTO...
O coroa é Marcelo, depois vem Mônica, Michel e o caçulinha Bernardo. A
diferença de idade entre eles (e ela...) é de três anos. O pai é advogado e também
professor, a mãe deixou de ser comerciante para cuidar dos filhotes e da casa (sobraria
tempo para mais alguma coisa ?).
Todos levam à sério a questão disciplina: hora de ir para escola, brincar, estudar,
fazer tarefa, ler, ver televisão etc. e tal. Esse quesito, com certo rigor, é regido pela mãe,
já que mulher, quase sempre, é mais organizada que o homem. Mamãe nunca foi de
alisar se alguém foge à regra, e lá todos sabem disso, inclusive o pai...
Naquele belo dia, o carro do papai deu um defeitozinho, coisa relacionada à
parte elétrica. O possante não conseguiu chegar em casa sem ter os parafusos apertados,
fazendo com que papai e Michel, então com quatro anos, chegassem atrasados para o
almoço... A mãe ouve o barulho da chegada e vai aguardá-los na porta, um tanto quanto
intrigada e também preocupada com o atraso, coisa pouco comum, e olhando para o
marido quis saber:
– Por que é que vocês estão chegando tão atrasados?
O pequeno Michel, antes que o pai esboçasse qualquer reação, sem abrir a boca
para as explicações de praxe, como bom filho de peixe, entra em cena e o faz sem deixar
margem à dúvida, e ainda por cima, mudou o semblante da mãe, que abriu um sorrisão
após a inequívoca explicação do garotão:
– É QUE O PAPAI TEVE QUE PASSAR NA CONSERTARIA!!!
MARCELO CAETANO COTRIM
MÔNICA CAETANO COTRIM
MICHEL NAREZZI COTRIM
BERNARDO NAREZZI COTRIM
PAIS
Mônica / Euclides Lopes Cotrim
AVÓS PATERNOS
Devita / Orlando Cotrim Ribeiro
AVÓS MATERNOS
Maria Zilda / Paulo Narezzi
Você sabe o que é cobra na linguagem de criança?
– É um rabo que perdeu o cachorro.
177
Essas crianças... Osvaldo Reis
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO...
O Felipe Henrique, filhote da Yara e do Cesar, nasceu em Maringá. Tem hoje
quatro anos, mas aos seis meses de idade, com a família, mudou-se para a "vizinha" Rio
Branco, no Acre. A mãe o mantém em "rédeas curtas" já que o sujeitinho, desde
pequeno, é, digamos, meio danado, tem personalidade, dá umas aprontadazinhas,
coisas normais para um menino de sua idade...
Os avós maternos moram ao lado, incluindo os primos Vitor, que conta com seis
anos e Bruno, quatro. Os três não se desgrudam por nada nesse mundo. E três moleques
juntos, a coisa é braba, na capital acreana ou Itaguajé, é o mesmo, isto é, boa coisa não se
pode esperar, e com isso a mãe de Felipe Henrique, do mesmo modo que os sobrinhos,
quer sempre tê-los por perto ou saber onde estão e, principalmente, saber o que estão
fazendo...
Para tanto instalou no portão de casa uma baita duma trava numa altura que os
meninos não podiam alcançar, com isso, segurança máxima (ou por aí) para os
pequenos, tranqüilidade para os adultos da casa... Mas é direito (quase que sagrado) de
todo e qualquer "prisioneiro" tentar fugir... O menor dos três é o enfocado Felipe, então
com dois anos, o "grandão" era Vitor e no meio dos dois, Bruno, mesmo assim, bem
maior que Felipe (na época chamado de Feijão). Os dois planejaram a fuga, mas
nenhum dos três alcançava a tal trava. Os dois pensam daqui, pulam dali, riscam, fazem
cálculos e nada. E, como o priminho era bem miúdo, não pediram sequer sua opinião...
Felipe Henrique viu o drama dos dois e em vez de usar a força, usou sua
cabecinha: entrou em casa e, sorrateiramente, arrastou um banquinho, encostou o
"bicho" no portão, subiu, abriu a "cela" e os três ganharam a rua...
O final só a mãe sabe.
BRUNO (Primo)
FELIPE HENRIQUE VIEIRA SANTOS
VICTOR HUGO (Primo)
PAIS
Yara / Cesar Augusto dos Santos
AVÓS PATERNOS
AVÓS MATERNOS
Diola / José Augusto dos Santos
Carmem / Edson dos Santos
178
Essas crianças... Osvaldo Reis
MÃE DESANTENADA
A mãe acha que seu filhote é um Gianechini; a namorada, Tiago Lacerda; o pai, mais
modesto e comedido, apenas um Marco Palmeira melhorado, claro. Esse cara aí, é o
Fabrício (em casa, Fá), filho mais tudo: mais velho, mais novo, mais bonito e sem segundo.
Na infância, então, era no mínimo um “Bebê Johnson”, mas tinha um péssimo defeito: era
muito ruim de garfo, ou seja, só gostava das coisas que não dependiam de tal objeto: doces,
sorvetes, chocolates, refrigerantes e um montão de outras “porcarias”. Pro sujeitinho comer
era um tal de aviãozinho pra lá, trenzinho pra cá, presentes via Papai Noel, um punhado de
estimulantes (Sadol, Biotônico, Cluvisol...) que ele mandava no bico da garrafa...
Paradoxalmente, sua saúde era ótima.
Com quatro anos ele já freqüentava a escolinha. Fez Jardim da Infância, todos os
prés: I, II, III, sempre na escola das “enes” Neide, Neiva e Neusa suas tias da Escolinha
Feliz, em Umuarama. Fá era bom em desenho e gostava muito das histórias que as tias
contavam. Um dia, a tia contou uma que falava de dois anjos: aliás, tema de sua obra de arte.
Contou para a mãe. A coruja da mãe querendo esticar o papo pergunta-lhe:
– Que bom, meu filho, você está fazendo um desenho bem bonito?
Fabrício, com ares de sabe-tudo, mandou ver:
– CLARO, MÃE, EU TÔ DESENHANDO O BICHO...
Bicho? Que bicho seria esse? Um coelho? Um cachorro? A mãe intrigada quer saber:
– EU TÔ DESENHANDO O GARFÃO – disse com naturalidade, o artista.
A mãe desmontou: tanta coisa pra desenhar e vai logo ele, ruim de garfo, desenhar
um grandão? Um garfão... Não dava pra entender. A zelosa mãe sugere que o filho faça outra
coisa: uma árvore, casa, rios, montanhas... A mãe, professora, achou que o desenho seria
muito comum e assim seu Renoir, com isso, tiraria uma nota muito baixa. O pai também
achou estranho.
No dia seguinte, Fabrício chega em casa se abrindo mais que mala de mascate e
chama a atenção da mãe para ver seu garfão já pronto e acabado. A mãe, que não conseguiu
demovê-lo da idéia, pega o papel com o tal garfão e notou que não era um garfão qualquer:
era o Capeta, com rabo, chifres, capa e seu inseparável tridente: pro pequeno, um garfão.
Só aí é que a mãe se antenou que garfão, para o filhote, simbolizava o MAL. E a
partir dessa data, sempre que alguém, com Fabrício por perto, dizia um palavrão, o garoto
ameaçava:
– OLHA O GARFÃO! O GARFÃO VAI TE PEGÁ!!!
179
Essas crianças... Osvaldo Reis
CERTIFICADO SANTIFICADO...
Com seis anos, no final daquele ano, Fá, na escolinha onde começou a estudar,
ocorreu a primeira formatura do carinha: Pré-III. Para o grande evento, a professora convoca
os pais para o detalhamento da festa. A alegria do jovenzinho era contagiante.
Aproxima-se o grande dia. Fabrício conta pra mãe algumas “coisas” que iriam
acontecer em sua festa de formatura:
– A TIA DISSE QUE VAI TER SALGADOS, DOCES, DANÇAS, CANTOS...
Fabrício completou as informações afirmando:
– O MAIS IMPORTANTE VAI SER O SANTIFICADO...
– Santificado? O que é isso? Quis saber a intrigada mãe.
A resposta de Fá foi deveras “esclarecedora”:
– SANTIFICADO, UÉ...
À noite, a mãe está contando ao marido os detalhes da festa (só esqueceu de um) e o
pentelho aparentemente desligado, deitadão no tapete, lembra à genitora:
– MÃE, VOCÊ ESQUECEU DE FALÁ DO SANTIFICADO.
O pai também não entendeu bulhufas, e igual à mãe, perguntou:
– Santificado? O que é isso? Parece até que combinaram as perguntas. A resposta é
que mudou (só um pouquinho):
– UÉ, O SANTIFICADO, NÃO SABE?
A mãe, professora, que sabe tudo e mais um pouco sobre escola, emendou:
– Ah! Já sei, deve ser o certificado, algum tipo de diploma que os aluninhos
formandos vão receber.
– NÃO É NÃO! É O SANTIFICADO! – completou o Fabrício, bravo que só.
Chegou o tão esperado dia.
A festa, sucesso total. Os “formandinhos” estavam impecáveis em seus trajes: calças
compridas, camisas azuis, cheias de rendinhas, tipo beca, com direito a um quepe debruado,
tanto na parte superior como na inferior, com pele sintética. Um luxo...
As apresentações se sucediam. Em dado momento, a tia pediu a todos que se
reunissem e dessem as mãos.
Fabrício dispara em direção à mãe e explica:
– AGORA É O SANTIFICADO... E voltou para o seu lugar.
A mãe ficou na maior expectativa. Afinal iria descobrir o que era o tal santificado.
Aí, as crianças e os presentes, todos em pé, lado a lado, com as mãos postas em oração,
começaram:
– PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU, SANTIFICADO...
FABRÍCIO MARGONAR DURANTE (Fá)
PAIS
Florisbela / Francisco Durante
AVÓS MATERNOS
Florinda / José Margonar
AVÓS PATERNOS
Inês/ João Durante
180
Essas crianças... Osvaldo Reis
O “TREM” ERA SURDO...
Sabe aquele sujeito magro, mas tão magro, que consegue se desviar dos pingos
de chuva? Esse sujeito é o Leonardo, para a família e amigos, apenas Léo, que nasceu
em São Paulo, filho da Beth e do Paulo e miudinho de tudo, foi morar em Patos de
Minas, lógico, em Minas Gerais, uai! (ou seria sô?) A magreza de Léo, que tia Bela
chama Pentelho, relaciona-se com a dificuldade em comer (deve ter puxado ao primo
Fabrício...). A coisa é feia mesmo. É um tal de agradar, prometer mundos e fundos, e
nada (não de nadar) de o garoto se alimentar. Quem não come fica anêmico (não só em
Minas...) e o remédio foi tomar uma injeção contra a tal anemia. Ao ver a enfermeira se
aproximar com aquela seringona na mão, Léo, então com quatro anos incompletos,
mostrou que já sabia falar o “mineirês” e mandou uma pérola das Gerais:
– MÃE, EU VOU CASCÁ FORA DAQUI!
A mãe, paulista de carteirinha, levou um susto e tanto, afinal nunca tinha ouvido
aquela expressão, não sabia se ria ou dava uma dura no filhão.
Léo é fera em desenho. Parece gente grande. Usa lápis e caneta em seus quadros,
borracha nunca. Tem um traço firme. Acha até que ele aprendeu a desenhar mesmo
antes de falar. Desenha com quase perfeição aqueles “trécos” que passam na TV,
principalmente os robôs que se transformam. Desenha ainda pessoas, animais, rios,
montes, paisagens enfim, tudo o que vê pela frente (de lado e por trás).
Léo vem até Maringá a fim de visitar tia Bela e tio Frank que moram em
apartamento. A tia foi esperá-los na portaria e todos embarcaram naquele “negócio” que
leva as pessoas pra cima e pra baixo e tia foi “dirigindo”. Uma baita duma aventura para
o garoto.
No apartamento, Léo está um tanto quanto impaciente, querendo andar, pisar no
chão, conhecer a cidade, o Parque do Ingá, que a tia tanto falara. Tia Bela percebe sua
aflição e, enrolada com tanta coisa pra fazer, dá também uma “enrolada” no sobrinho,
dizendo a ele:
181
Essas crianças... Osvaldo Reis
– Léo, vá adiantando e chamando o elevador pra tia, tá?
E lá vai o pequeno Léo em direção do elevador, feliz da vida. Os adultos
ouviram quando o obediente Léo, cantando alegre, chamou o dito cujo:
– BO RO DOOOR! BO RO DOOOOOORRRRRR!
Os familiares do garotão ficaram em silêncio quando ele retornou à porta do
apartamento e disse:
– TIA, EU CHAMEI, CHAMEI, E O BORODOR NÃO VEIO!
Todos ficaram sem ação, tentando segurar o riso. Tia Bela contornou a situação:
– Desculpe querido, a tia bocó esqueceu de explicar que é preciso apertar esse
botão aqui...
Sempre que retornam a Maringá, todos fazem a mesma brincadeira:
– BO RO DOOOOOR... BO RO DOOOOOOOORRRRRR!!!!!!
LEONARDO MARGONAR BEZERRA (Léo)
PAIS
Elizabete / Paulo Bezerra
AVÓS MATERNOS
Florinda / José Margonar
AVÓS PATERNOS
Nadir / Tibertino Bezerra Filho
Gustavo Borges precoce
O garotinho passeia com a mãe. Do outro lado da
rua, uma senhora grávida. Um baita barrigão. A mãe,
didática, explica:
– É barriga d´água...
O garotinho pergunta:
– O FILINHO DELA SABE NADAR, MAMÃE???
182
Essas crianças... Osvaldo Reis
DESBARATOU O BARATO...
A Isadora nasceu na era da Internet, é linda que só, saudável e inteligente. Sua
cabecinha acompanha o ritmo deste século acelerado pelos computadores e, em seu
(ainda) diminuto currículo, já porta um título que ninguém jamais arrebatará: é a
primeira neta (o efeito é mais ou menos como o do filho caçula, mas com muito mais
açúcar...). Seus avós de primeira viagem são: de um lado Eliana e Divanir, e do outro a
também "babona" Ângela, já que o "vô" Vicente é falecido.
A mocinha tem personalidade. E quando quer impor sua vontade é um Deusnos-acuda para contê-la. A Isadora, em suas primeiras birras, foi bastante original:
quando queria alguma coisa e não era atendida, com muito cuidado deitava-se no chão e
ficava sacudindo as pernas. A avó Eliana, querendo mudar o seu comportamento, em
vez de bronca resolveu imitá-la, e se as duas fossem flagradas naquela situação, no
mínimo iriam pensar que ambas estavam piradas. A gatinha ainda nem falava, mas não
gostava, nem um pouquinho, da imitação, já que fazia bico, olhava de rabo-de-olho,
fechava a cara, ameaçava ir embora de casa, e a avó, para enfezá-la mais ainda, sendo
um verdadeiro espelho da neta, dizia:
– Que legal essa brincadeira nova!!! Como é que se chama?
O bico de Isadora lembrava um pelicano quando isso acontecia. A avó, no
entanto, nem aí, olhava pra neta demonstrando também estar zangada... A coisa só
melhorava quando Eliana, sem conseguir se “segurar”, caía na gargalhada e daí a neta
também se desmanchava em risos, principalmente quando a avó falava:
– Que legal brincar com você, querida!
E a birra se escafedia. Passava... Mas não ia muito longe...
Um dia, ela estava realmente furiosa. E põe furiosa nisso!. Deitada como de
costume, sacudia as pernas com muita intensidade; freneticamente, para ser mais claro.
A avó continuou teatralmente a imitá-la. E o pior, para Isadora, uma coisa séria, e a
183
Essas crianças... Osvaldo Reis
abusada da vovó resolveu chamar de brincadeira... Onde já se viu? Brincadeira de
pernas-de-barata. Como por encanto, a “braveza” da neta desapareceu de vez. E a avó
acabou, brincando de barata, por cortar o barato da neta...
Hoje, “PERNAS-DE-BARATA” é uma brincadeira coletiva, com direito a
risadas e muito humor.
ISADORA MAGALHÃES PALMA E SILVA (Isa)
PAIS
Eliana Patrícia / Rubens Jacinto da Silva
AVÓS PATERNOS
Ângela / Vicente Jacinto da Silva
AVÓS MATERNOS
Maria Eliana / Divanir Braz Palma
A nota com Z
Garotinho chega em casa e vai ter com o pai. Quer
contar as aventuras do dia, mês, ano... Ainda de uniforme
escolar, conta ao velho:
– PAI, A PROFESSORA PEDIU PRA EU FALAR
TRÊS COISAS QUE COMEÇAM COM “Z”...
– Sim, filho, e o que é que você respondeu?
– EU FALEI “ZÓIO”, “ZOREIA” E “ZUVIDO”...
– É, filhão, eu acho que você vai tirar uma nota que
também começa com “Z”...
– Ô, PAI, O SENHOR ACHA QUE EU VOU TIRAR
UM “ZOITO”???
184
Essas crianças... Osvaldo Reis
BUGIGANGAS
O Carlos é o mais velho, chegou primeiro, seis anos depois foi destronado pela
Poliana, a caçulinha e, por conseguinte o xodó da casa de Odésia e Fortunato. E a
menorzinha (como sempre) era bem mais “braba” que o maior, tanto é que cada vez que
a mãe a ameaçava com uma surra ou coisa que o valha, Poliana, sempre resmungando,
alertava a mãe que se vingaria quando crescesse: “se você bater em mim agora, quando
eu crescer bato em você”. Pode estar certo de que a mãe da garota nunca levou dela
nenhuma piaba: a graciosa Poliana, já adulta, mede, no máximo, com salto e tudo, um
metro e sessenta...
A família leva os dois para conhecerem aquele riozão onde tombou um baita
caminhão carregado de sal e daí passou a chamar-se mar.
O mais velho não se assutou muito, tanto é que foi brincar na água, lógico, em
companhia do pai. A menorzinha, com a mãe, brincava na areia... E naquele dia, se
passasse alguém vendendo um viaduto, disco voador ou a estrada Belém/Brasília, a
filhota pedia pra mãe comprar. Era cachorrão, sorvete, pastéis, coco, refrescos mil,
refrigerantes, idem, e a mãe sempre se esquivando, e Poliana, sem baixar a guarda,
mandando ver:
– COMPRA, MÃE...
O estoque de “nãos” da genitora, incluindo sua paciência, já estava se
esgotando. Aí, passa um cidadão vendendo aquele “trenzinho” que o vento agita e por
isso, recebe o nome de cata-vento. Poliana não se descuida e, de novo:
– COMPRA, MÃE...
A mãe resolve dar um basta naquilo e, com cara de poucos amigos, diz à filhota:
– Eu já não falei que não vou comprar essa porcaria?
O vendedor (ainda bem) não escutou... Poliana, com a bronca, diminuiu o
ímpeto consumista.
O tal vendedor foi lá na frente e voltou. Poliana, brigada com a mãe, achou por
bem “comprar” sozinha o tal brinquedo. Chamou o vendedor e mandou ver:
– MOÇO, QUANTO CUSTA ESSA PORCARIA QUE VOCÊ TÁ
VENDENDO?????
185
Essas crianças... Osvaldo Reis
EVITANDO O TOMBO...
O Carlos vivia com os pais em Lobato e, como todo moleque de sua idade – dois,
três anos – dava um trabalho danado pra mãe. Era um tal de não faça isso, não faça
aquilo, não suba aí e mais um montão de outras recomendações da preocupada (com
motivos de sobra!) mãe. Criança é um barato: se fica quieta demais, o adulto pensa que
está doente e, se está aprontando alguma, tem de ser contida, ou avisada, alertada, no
mínimo. É uma “guerra” constante. Imagine um carinha super ativo, saúde de ferro,
energia a toda prova, sempre de pilha nova. Imaginou? Esse sujeitinho era o Carlos.
Pra se ter uma idéia, o enfocado já montava a cavalo logo que aprendeu a falar e
não gostava de companhia sobre o lombo do bicho; queria estar sozinho.
A família dele, dos avós maternos e paternos, incluindo primos, passando por
tias, tios, enfim, todo mundo é católico. Apesar de ser agitadíssimo, em determinados
locais, na igreja, por exemplo, Carlos se comportava como gente grande.
Naquela semana, o garotão levou um monte de chega pra lá da mãe, já que havia
subido em árvores, muros, cavalos, mas sua cabecinha estava sempre alerta com as
broncas da mãe. A preocupação da mãe acabou passando para o filhote...
Domingo. Missa na matriz. Igreja lotada. Muita gente em pé. Nesse ambiente,
chega o Carlos com a família para assistirem a mencionada missa. Com todo mundo em
pé, e em sua frente, o garoto não enxergava quase nada, só pertinho. Ele também estava
de pé, mas sua altura o impedia, já que ele “ia”, no máximo, até a cintura dos demais.
Começa o ritual. O padre manda todo mundo se ajoelhar, Carlos não se incluiu nesse
tudo mundo, permaneceu em pé...
Pertinho do altar, há uma uma cruz com o Cristo crucificado... O garoto vê o
quadro, lembra da mãe e, em alto e bom tom, avisa o Filho de Deus:
– Ô JESUIS, DESCE DAÍ, SENÃO VOCÊ VAI CAIR...
CARLOS RONALDO MORAES BERGAMO
POLIANA MORAES BERGAMO
PAIS
Odézia / Fortunato Bergamo
AVÓS MATERNOS
AVÓS PATERNOS
Berenice Maria / José Campos Moraes Maria da Conceição / Silvino Fortunato Bergamo
– Pai, você faz os meus exercícios de matemática?
– Não, meu filho.
– Pelo menos tenta, pai.
186
Essas crianças... Osvaldo Reis
ERA BANGUELA????
A Elora hoje tem por volta de dez anos, já “tá” meio coroa. Coroa com dez anos?
Não, não é maluquice. E se for, a culpa não é minha. Esclarecerei: a gatinha, um
pouquinho pra trás, contava com sete anos, e sempre que alguém perguntava sua idade,
simpática e graciosamente, ela respondia (passando as mãos pela cintura, como fazem
as modelos, lembrando uma famosa, que hoje mora em Nova Iorque, a Tássia, Tássia
Chando...). Era um barato a precocidade (ou medo de envelhecer) da filhota da Cristina
e do Marquinhos, quando dizia:
– EU TENHO SETE ANOS, MAS CORPINHO DE CINCO...
Uma baita duma diferença...
Com três anos, a mocinha está pentelhando a avó Hely e, como toda criança de
sua faixa etária, para desespero de quem está por perto, coloca na boca tudo o que vê:
botão, moeda, cabo de guarda-chuva, tampa de caneta e um sem-fim de outros tantos
outros objetos (comida, às vezes, precisa de aviãozinho, trenzinho, presentinho...).
Devia ser um chiclete imaginário, ou mais uma “pegadinha” que Elora aprontava pra
cima da avó. Só sei que a garota estava mastigando alguma coisa, ou movimentando a
boca... Aí vem a “vó” com aquela história de “caca”, estende a mão e manda depositar o
“trem” ali etc. e tal. A cuidadosa avó Hely não deixou por menos e quis saber:
– Elora, o que é que você tem na boca?
A resposta da pequena acabou por fazer ver à avó que seria feio falar com a boca
cheia, ou com alguma coisa em seu interior, sua resposta foi lógica, clara, objetiva
(apesar de todos terem caído na risada), sem piscar ou pestanejar, Elora mandou bala:
– A LÍNGUA...
187
Essas crianças... Osvaldo Reis
ERRADA É A LÍNGUA...
Tem um ditado popular que ensina a pessoa a pescar com batata, usar batata
como isca... Você joga o anzol na água com a batata e, quando tira; batata.
Se fosse a Elora que quisesse batata frita, tudo bem...
Um belo dia, coisa linda, família reunida, bem pertinho um do outro, avó, mãe,
pai, e claro, a filha e neta Elora, todos juntos passeando de carro, paizão ao volante... É
um tal de sobe, vira à esquerda, dobra à direita, “não mexa aí Elora, não buzine, menina,
não vá colocar o braço pra fora de novo, é perigoso, e coisa e tal”. Ótimo passeio. Até
que papai resolve parar em frente a uma padaria onde iria comprar alguma coisa. A avó
Vita pede ao pai que compre batata frita... E quem é que não gosta de pegar no pé da
sogra? Marquinhos não era diferente. Estranhou o pedido e fez uma piada com a mãe de
sua esposa...
A avó de Elora não gostou da brincadeira e deu-lhe uma baita bronca.
Aí, é a vez de Elora participar, decisivamente, diga-se, da contenda, afinal a
“vó” falou alto com seu pai... Errado está o verbo. Se a gente entra numa panificadora é
para comprar pano? E não é sogro e sogra? Não é “vó” e “vô”? Todos riram da
“ensinagem” que Elora deu na avó, para defender seu pai, conseqüentemente genro de
“vó” Vita, quando com cara de poucos amigos, encarando a avó, a pequena mandou ver:
– VÓ, NÃO É ASSIM QUE SE FALA COM SEU NORO!!!!!!
ELORA CRISTINA BLUMATI CORRÊA
PAIS
Cristina / Marco Antônio Corrêa
AVÓS MATERNOS
Maria / Luiz Blumati
AVÓS PATERNOS
Hely / João (Zitão) Antônio Corrêa Júnior
Inflação...
Todos os dias, ao sair de casa, uma senhora encontrava um garoto
vendendo chiclete. Todos os dias ela parava, dava cinqüenta centavos ao
garoto, mas nunca levava a caixa de chicletes. Durante vários meses isso se
repetiu, mas ela apenas dava o dinheiro ao garoto e não lhe falava nada. Até
que um dia, depois de receber a moeda, o garoto falou pra senhora meio
encabulado:
– Tia, eu gosto muito da senhora porque me dá esse dinheiro e nunca leva os
chicletes. Mas é que desde a semana passada o preço subiu pra um real...
188
Essas crianças... Osvaldo Reis
A CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA - ANO 2
Existem secretárias domésticas que chegam até a torturar crianças, mas a Judite
era diferente: carinhosa, eficiente, dedicada e gozava de total confiança por parte da
mãe, em razão, lógico, de seus tantos atributos... Mas a Juliane, que tinha na época
somente dois anos de idade, não tinha a mesma opinião a respeito da fiel escudeira de
sua genitora. Juliane, desde novinha, tinha forte personalidade. No entanto, sua saúde
não era tão forte assim, tanto é que vivia tomando vitaminas, estimulantes para apetite e
um montão de outros remédios. Criança, como se sabe, “adora” tomar remédios e cabia
à Judite a tarefa de dar os ditos cujos para a gatinha, o que aumentava ainda mais seu
“ódio” em relação à secretária.
A mãe trabalhava fora, as duas “Jus” ficavam juntas o tempo todo, Juliane
sempre “brigando” e a paciente Judite, nem aí com as rusgas da menina.
Um dia, a Juliane pegou um dodói dos grandes, e a mãe, mesmo sabendo da
atenção que Judite dedicava à filhota, recomendou-lhe que não se esquecesse de dar os
remédios na hora em que o pediatra recomendou e também que a fizesse tomar...
Chega a hora dos remédios: era xarope pra isso, comprimidos pra aquilo e lá vai
Judite tentar convencer sua “inimiga” a engolir os tais remédios. Juliane não aceita de
modo algum fazê-lo, e no auge da raiva, encara Judite ameaçadora e manda ver:
– UM DIA AINDA VAI TÊ MORTE NESSA CASA!!!!!!!!!!
JULIANE ZARA ISOLANI
PAIS
Aparecida / Edmar Isolani
AVÓS MATERNOS
Alzira / José Zara
AVÓS PATERNOS
Amália / Amádio Isolani
189
Essas crianças... Osvaldo Reis
O MASCOTE DO BASQUETE...
Era uma época de Natal e o “Papai Noel” ainda não tinha comprado os presentes
do Rogério, Carolina e Rosana. As meninas nem tanto, mas o Rogério, então com cerca
de quatro anos, estava desconfiadíssimo da mãe que precisava sair, "dar umas voltas" e
o sujeitinho queria porque queria ir com a mãe, mas se fosse, a surpresa iria pro beleléu.
Cabia ao pai a dificílima missão de despistar o filhote a quem já havia oferecido
aumento de mesada, carnaval no Rio de Janeiro, um mês sem fazer a tarefa de casa e
nada de o carinha aceitar. Ele queria mesmo é sair com a mãe...
O pai, peladeiro contumaz, resolveu achar uma posição para o garoto em seu
time e seria, claro, titular absoluto e o convida para ir junto ao seu sagrado (ou quase)
futebolzinho e, para reforçar, usa de um argumento também quase irredutível,
explicando que a mãe iria fazer um montão de coisas chatas, que não teria graça
nenhuma sair com ela, aí tira seu ás da manga e diz ao jovenzinho:
– Vamos com o papai, você vai ser o mascote do nosso time...
Aí a coisa degringolou de vez, e Rogério, não querendo mudar de idéia e também
sem saber direito o que iria ser, danou a chorar e a reclamar com a mãe:
– MÃE, EU NÃO QUERO SER BASQUETE DO TIME DO PAI!!!
ROGÉRIO DE ASSIS POSSANI DANTAS (Cleufe Possani)
CAROLINA ZARA DANTAS (Nair Zara)
ROSANA PAULA POSSANI DANTAS (Cleufe Possani)
PAIS
Cleufe / Nair Zara Dantas / Francisco de Assis P. Dantas
AVÓS MATERNOS
Guilhermina / Luiz Possani
Carolina: Alzira Botti Zara / José Zara
AVÓS PATERNOS
Maria / João Pinheiro Dantas
190
Essas crianças... Osvaldo Reis
“CANABIS” DE MILHO
Criança vez por outra, prega peças inexplicáveis nos adultos, principalmente
nos pais. Imagine uma criança sem ter ainda quatro anos pedir aos pais a famosa
Canabis Sativa Lineu, também conhecida por maconha...
Foi o que aconteceu com Gabriela, filha da Lucinéia e do Roberto, uma das netas
preferidas do José Bidóia e da Dona Antônia, depois, claro, de todas as outras e outros...
Num belo dia, com todo mundo em casa, a surpresa muito desagradável, vale
frisar. Dizem que mulheres grávidas têm desejos, criança também tem, caso da Gabriela
cujo desejo era por, pasmem, maconha. Maconha mesmo, seus olhos não te trairam não!
Um corre-corre daqueles. Uns olhando para as caras dos outros e os outros olhando para
as caras dos uns. Como poderia ser uma coisas dessas? Era o fim, a gatinha só tinha, na
verdade incompletos, quatro anos e já estava viciada?! Deve ter sido algum traficante
que visitou a creche. Só pode ser. Ninguém aqui usa tal coisa. Nem primos, nem os pais,
nem tios, tias, ninguém mesmo. E dá-lhe pensamentos ruins e buscas inconstantes para
o crucial problema. A culpa é sua, pensa o pai; é culpa do pai, pensa a mãe. Nesse semfim de perguntas sem respostas e respostas sem perguntas, uma kombi, caindo aos
pedaços, passa em frente à casa. Gabriela chama a atenção dos pais, já quase
desesperados, para o carro, e um anúncio emitido por um cidadão que pilotava o veículo
e o som se espalhava por meio de duas cornetas de alto-falantes. Correm pra janela, pra
porta, pra ouvir o tal anúncio, já que, demasiadamente nervosos, de onde estavam não
conseguiam entender. Depois então, mais próximos, e com ouvidos esticados, o
estranho pedido de Gabriela acabou sendo entendido e também "gargalhado". A kombi
1974, verde-musgo, acordava (ou despertava) a rua inteira, anunciando:
– OLHA A PAMONHA... OLHA A PAMONHA... VENHA PROVAR, MINHA
SENHORA, É O VERDADEIRO CREME DE MILHO... PAMONHA DE DOCE E
DE SAL... UMA DELÍCIA. VENHA PROVAR, MINHA SENHORA... OLHA A
PAMONHA!!!
191
Essas crianças... Osvaldo Reis
COISA ESTRANHA...
Tá certo que o nome soa bem próximo, e o personagem, durante bom tempo, foi
praticamente uma lenda em termos de Brasil. De Rondonópolis em Mato Grosso a Bom
Sucesso no Paraná, e de Ribeirão Preto (SP) até Quixeramobim no Ceará, sempre tinha
alguém que o tinha visto, que jurava que viu, que o primo também viu, que a sogra viu...
Só que ninguém fotografou, nem entrevistou... Era uma espécie de ET de Varginha, só
que mais "rodado"...
A Geórgia, um belo dia, gostou de uma frutinha. Gostou é pouco, adorou. E em
razão de ser ainda miudinha não conseguia falar o que era, nem explicar. Mas, pelo
menos onze vezes por dia, “tá” lá a gatinha querendo tal coisa. A avó Antônia, com mais
paciência que Jó, e se derrete pra fazer a vontade da neta (e é só ela?), tenta saber,
descobrir e, aí, a vaca, o terneiro com corda e tudo foram pro brejo quando a garota
claramente explicou o nome da coisa que acabou de lembrar-se e mandou bala:
– CHUPÁ CABRA, VÓ... É CHUPÁ CABRA...
Dona Antônia se enrolou ainda mais e chegou até a pensar que a neta estava
ficando maluca e, com a paciência já apregoada, quer saber:
– E onde é que você viu isso, querida?
A resposta da neta foi um primor e tirou toda e qualquer dúvida da "vó".
– FOI LÁ NAQUELE LUGAR QUE A GENTE ALMOÇOU NAQUELE
DIA...
Se lá não tivessem sido bem tratados, a família e a "netaiada", incluindo a
Camila, fatalmente o mistério teria persistido. Num domingo estavam viajando em
direção ao vizinho Mandaguaçu, a gatinha reconheceu o famoso "Porco No Tacho" (um
restaurante à beira da estrada) e informou a todos que foi ali, que era ali o lugar...
Conversando com o pessoal da casa, até que não foi tão difícil assim descobrir. A
tal frutinha, para Geórgia, "Chupá cabra", nada mais era que a fruta que o mineiro mais
gosta, ou seja, a famosa JABUTICABA, lá cultivada no fundo do quintal. E de
jabuticaba pode até se esquecer do nome, mas é muito difícil se esquecer do sabor. Se
consumida em demasia, o efeito também é inesquecível...
GABRIELA GALANTE BIDÓIA
GEÓRGIA ANTÔNIA BIDÓIA
CAMILA BIDÓIA (Prima)
PAIS
Lucinéia (Néia) / Roberto Galante
AVÓS MATERNOS
Antônia / José Bidóia
192
Essas crianças... Osvaldo Reis
"BRIGADO UMA PINÓIA...”
Um filósofo italiano (não lembro o nome) afirma que a velhice é a idade mais
bonita da vida e que é uma pena durar tão pouco. Nem italiano, nem filósofo, apenas
pegando "carona" coloco a infância no mesmo nível, já que é muito comum ouvir-se
dizer que criança "cresce mais que abóbora"... E, como elas crescem rápido, já, já o
mercado brasileiro (ou será mundial?) vai ter uma empresa prestadora de serviços com
nome pomposo "SEMENSATO & MELON" (pra entender leia a página 99).
A mãe do Guilherme é professora, o pai é mecânico, e o casal tem uma tia em
Colorado (PR) e a tia tem um "pé-de-bode" que ela teima em chamar de carro... Em
"troca" do almoço, tia Janda pede ao sobrinho que examine um pequeno defeito em seu
possante. Enquanto isso, mãe Margareth e a tia preparam o regabofe. O pai Aires e Gui
vão consertar o veículo... Aires tem uma baita duma caixa de ferramentas que, de
acordo com a necessidade, vai pedindo ao filhote que o atende prontamente...
Terminam o conserto.
Gui e o pai entram pra lavar as mãos e tia Janda aproveita para agradecer ao
sobrinho pelo trabalho – trabalho que, aliás, deixou o pequeno Gui de bigode suado – e
Janda pensando na economia que fez, diz ao pai do mocinho:
– Ô Aires, muito obrigada!
Mesmo antes de o pai abrir a boca para o tradicional "de nada", Gui mostra a
todos que, mesmo ainda não sabendo trabalhar direito, pra cobrar sabe tudo e mais um
pouco, mesmo tendo apenas três anos. Todos cairam na gargalhada, apenas Guilherme
ficou sério quando, encarando a tia mandou ver:
– BRIGADO NÃO! SÃO TRÊS REAUS...
193
Essas crianças... Osvaldo Reis
"PANHA” NELA...
A filhota da Margareth e do Aires, em encarnações passadas, deve ter sido
mineira (não sei de "sô" ou de "uai") mas fala, desde miudinha, o bom, velho e
simpático "mineirês". O mineiro (de Minas Gerais...) é (dizem) muito econômico, não
apenas em termos financeiros, mas até em palavras. Mineiro diz, por exemplo, em vez
de boa tarde, somente "tarde", bom dia é "dia" e para eles o verbo "panhar" tem dois
sentidos: um deles, "panhar" laranja; o outro, "panhar" de alguém – O Divino brigou
com o Tião e "panhou" dele...
Era uma campanha de vacinação. A mãe leva Isabela pra tomar a tradicional
gotinha (ou "mordidinha" de abelhinha que não dói nadinha...). Já na fila, vendo a
meninada berrando, Isa começa o seu "mineirês" assistindo a choradeira da garotada,
misturando aí sua pronúncia com o Nordeste (ou seria ela do norte de Minas?), vez por
outra deixava escapar:
– Viiiiiixii...
Isabela apenas observava, sem chorar. Aí, bem na frente dela e da mãe, uma
garota, de colo ainda, berrava, gritava, esperneava, uma birra pra ninguém botar
defeito. Isabela achando aquilo uma aberração (?), coisa feia, comportamento indevido,
e por aí afora...
A mãe da outra garota, da chorona, referindo-se a Isabela, mostra a gatinha para
sua filha e compara:
– Olha, filha, que garota boazinha... Ela não chora...
A menina "ruim" não deve sequer ter ouvido o que a mãe disse, ao contrário,
aumentou ainda mais sua "esgoelação". A psicóloga Isabela encara a mãe "da
descomportada" menina e diz, cheia de razão:
– PANHA NELA QUE ELA PÁRA!!!
GUILHERME CAVALHEIRO MELON
ISABELA CAVALHEIRO MELON
PAIS
Margareth / Aires Pelegrin Melon
AVÓS PATERNOS
Lurdes / Olívio Pelegrin Melon
AVÓS MATERNOS
Romilda / Alécio Cavalheiro
194
Essas crianças... Osvaldo Reis
QUASE IGUAL...
Repetidas vezes tenho afirmado o que todo mundo sabe: criança adora atender
telefone, portão, porta etc. Basta se ouvir o dindon da campainha, o trim do telefone ou o
plac plac das palmas que, mesmo antes de o som ir embora, "tá" lá a criança apostando
corrida pra ver quem chega primeiro... Com o Atilio, o filhote da Nilce e do José
Sanches, com três anos de idade, a coisa não podia ser diferente. Numa noitinha, lá por
volta de sete horas, o garotão ouve o ruido de palmas e dispara rumo ao portão. Lá
chegando, encontra um cidadão que pergunta por seu pai, se o pai estava. O eficiente
"secretário" informa que sim, e indaga ao visitante:
– E QUEM É QUE QUER FALAR COM MEU PAI?
– Diga que é o Itiro?
O carinha não entendeu nadica e até pensou: que será que é esse negócio de tiro?
Será que o meu pai vai caçar? A dúvida martelando sua cabecinha, pergunta de novo:
– QUEM É MESMO O SENHOR?
– Fala que é o Itiro...
A resposta, deveras esclarecedora, clareou tudo... Atílio continuou a olhar o
cidadão com cara de dois paus. O amigo de seu pai percebeu e completou a informação:
– Fala pro seu pai que é o Itiro Nishiama...
Aí a coisa ficou completa e clara de verdade. O jovenzinho "entendeu" tudinho.
Disparou corredor a dentro e foi falar com o avô dos gêmeos Maria Alice e José
Francisco:
– PAI TÁ LÁ NO PORTÃO UM TAL DE JOAQUIM QUERENDO FALAR
COM O VOCÊ...
Sanches vai ter com o cidadão. E já chegou dando risada. Aí, explicou ao amigo
o motivo do riso. E os dois continuaram rindo...
Hoje, com Atílio já "grandinho", com trinta e poucos anos, cada vez que tromba
com o amigo Itiro, este lembra do fato, já que para Itiro o nome Atílio pouco significa,
ou ele ignora, pois trata o amigo pelo nome "inventado" por ele quando menino, isto é,
Joaquim... Joaquim e Itiro, muito "palecido", Atírio também...
JOSÉ ATÍLIO SANCHES
MARIA ALICE FERREIRA
JOSÉ FRANCISCO FERREIRA SANCHES
AVÓS MATERNOS
Margarida / Francisco
Ana / Atílio Ferrari
PAIS
Mirlei / José Atílio Sanches
Nilce / José Sanches Filho
195
AVÓS PATERNOS
Rosa / José Sanches
Nilce / José Sanches Filho
Essas crianças... Osvaldo Reis
IGUALDADE...
Luíza tem hoje quatro anos e é o único xodó do casal Lélis e Clarisse. É a filha
mais nova, mais velha, a mais tudo, singular, única; sua cabecinha não representa, nem
de longe, sua idade, parece mais "coroa".
O papai – é assim que ela fala – é cúmplice em suas travessuras, parceiro nas
brincadeiras e os dois dão um trabalho danado pra mãe, que não dá mole,
principalmente pra menorzinha...
Foi um dia daqueles, o pai chegou em casa "mortinho da silva"; mesmo assim
teve de atender a vontade de Luíza, que queria brincar, e por nada do mundo aceita um
um não; desculpa, nem pensar. Quer e pronto. Luíza tem um montão de brinquedos,
brincando sabe organizá-los: o carrinho é aqui, o caminhão ali, a ambulância lá, o carro
da polícia mais pra cá, e o paizão fielmente obedece, senão... Luíza gosta mais de
brincar do que guardar os brinquedos, motivo que a faz, quase sempre, se desentender
com a mãe exigente. Naquela noite (como sempre tenta) queria ir dormir sem guardar os
brinquedos. A mãe "pega em seu pé":
– Luíza, vá guardar os brinquedos...
Luíza resmunga. A mãe repete a bronca. Luíza pede à mãe que mande o papai
ajudá-la. A mãe retruca:
– Vá você e anda logo. Brincou, tem de guardar...
O precoce, e quase sem uso cérebro da mocinha, desmonta a mãe quando, cheia
de razão, afirma:
– ENTÃO O PAPAI TEM QUE AJUDAR... O PAPAI TAMBÉM BRINCOU!!!
LUÍZA LÉLIS COPINI VIEIRA SANTOS
PAIS
Clarisse / Lélis Vieira dos Santos
196
Essas crianças... Osvaldo Reis
"TORTURISMO"...
Orlando Manin Filho está com (incompletos) cinco anos. Bom aluno, bom filho,
bom irmão – que o diga Fernando, um pouco mais novinho. Orlando pai é católico e a
mãe Leonor, também. Adulto, puxando ao pai, fatalmente será Landão, mas por
enquanto, é Landinho – engrossando a fileira dos "inhos" – em cuja dedicatória nos
referimos.
O Fernando, uma espécie de repórter, em homenagem à profissão do pai,
radialista dos bons e também bons tempos, é daqueles, segundo o "mineiro" – "que não
espera a batata assar"; dá logo as notícias e conta as novidades e, como aquela era
grandona...
O pai chega em casa e o filhote Fernando o está esperando no portão. A
informação daquela tarde fez, no começo, o pai arregalar os olhos, e o susto só foi
desfeito quando o pai viu a esposa dando risada, coisa que, aliás, até hoje fazem,
principalmente nas macarronadas de domingo quando o fato é sempre relembrado, com
saudades e gargalhadas...
Fernando, ainda embaralhando letras e coisas, doido pra contar pro velho o
ocorrido, trocou apenas umas coisinhas quando mandou ver:
– Ô PAI, A MÃE FOI NA IGREJA E PONHÔ O LANDINHO NO
CACETISMO!!!
“In dubio pro reu”
– O que fará você meu filho – pergunta o padre ao menino – para entrar
no céu?
– Bem, eu vou correndo até lá e fico entrando e saindo, entrando e
saindo, até que São Pedro, aborrecido, me pergunte:
– “Como é, garoto, saia ou entre de uma vez!”.
197
Essas crianças... Osvaldo Reis
IRMÃO DE BRINQUEDO
A Paula era a primeira filha do casal Ivone e Paulo e, nessa condição, “dava
cartas e jogava de mão”, isto é, era a “dona do pedaço” - princesa, rainha e um pouco
mais. Aí a mãe engravidou. Com a gravidez pipoca a ciumeira, comum nesses casos. A
pequena começa a enjeitar comida, não querer sair, não ter vontade de brincar, enfim,
aquelas coisas que os pais conhecem bem e, o que é pior, a coisa aumentava de acordo
com o crescimento da barriga da mãe.
Já em fase de pré-natal, cuidadosa, a mãe indaga ao médico se é possível mostrar
à filhota o “retrato” do irmãozinho que já era tratado pelo nome (menos por Paula,
claro!). O médico consente, inclusive recomenda.
Chega o dia do exame. Paula aparentemente “nem aí”, mas a didática
explicação do médico aguça a curiosidade da gatinha. O doutor, então, passa aquele
tradicional gel no abdomen da mãe e começa a ultrassonografia. Paula está petrificada
com a cena mostrada no vídeo, aliada aos comentários do médico que lhe explica:
– Aqui está o pézinho... Olhe, aqui o outro pézinho, ali a mãozinha, o rostinho, a
perninha e um montão de outros tantos “inhos” e “inhas”, bem do jeito que criança
entende e gosta. A irmãzinha nem pisca em face do clima criado pelo competente
profissional. Termina a “aula”. O médico sai da sala deixando a sós mãe e filha. Era um
tal de mãozinha pra lá, pézinho pra cá... Tudo espalhado.... Com essas coisinhas
movimentando seu cérebro, Paula quer saber:
– Ô MÃE, O MURILO VEM TODO DESMONTADO E DEPOIS VOCÊ
MONTA???
PAULA MONTEIRO
PAIS
Ivone / Paulo Monteiro
AVÓS MATERNOS
Clossilde / José Antonelli
AVÓS PATERNOS
Maria do Carmo/ Paulo Monteiro
198
Essas crianças... Osvaldo Reis
SUMIRAM CONOSCO...
O Luiz Alberto, também conhecido como Beto, um dos homens da família de
Rosana e Luiz Jorge, nunca tinha viajado de ônibus. E como da primeira viagem nunca
se esquece, dessa, pelo menos os pais, certamente, não vão esquecer.
Era um ônibus leito, com bancos reclináveis, travesseiros, cortinas, enfim, uma
casa que anda. Se é confortável para um adulto, imagine para alguém de menos de um
metro de altura e uns três ou quatro anos de idade.
Tudo claro até começar a viagem. Aí vem aquele barulhinho do motor, o balanço
e o garotão se entrega aos braços de morfeu. Sono tranquilo e profundo. O paizão fecha
as cortinas e o sono vai longe...
Um montão de tempo depois o jovenzinho acorda. Era um breu só. Não se
enxergava nadica de nada. E Beto, mais perdido que cachorro caido de mudança,
descobre mais uma utilidade de genitora e quer saber:
– Ô MÃE, CADÊ NÓIS ???!!!
Meus sonhos estão murchando,
perdendo a cor e a fragrância...
- Meus Deus, estou precisando
de uma transfusão de infância !
A. A. de Assis
199
Essas crianças... Osvaldo Reis
DÚVIDA...
Toda criança adora atender telefone. grande novidade. Parece até a descoberta
da pólvora tal afirmativa. Com a loira Lorena, já devidamente qualificada, apresentada
e mostrada (pag. 91), a coisa não era diferente. A família da gatinha, mais tio Paulo, tia
Ione, possuiam, pertinho de Maringá, em Jussara, um armazém que comercializava
gêneros de primeira necessidade com o pomposo nome de Mercado Varejo Bom Dia.
Lembra aquela manjada da coruja que perguntou ao passarinho qual era seu
nome? E o passarinho, tadinho, todo atencioso responde: Tico-tico. E a mal humorada
coruja pensando ser ironia do “penoso” coleguinha, retrucava: não precisa repetir que
não sou surda...
O diálogo com a loirinha era quase o mesmo. Bastava o telefone fazer “trim” que
a telefonista mirim, com especial simpatia prontamente atendia, deixando confusa a
pessoa que estava do outro lado. Se de manhã, dizia Lorena:
– VAREJO BOM DIA. BOM DIA !!!
Quando não era sacanagem de alguma tia, tio ou amigo, era realmente
complicado. Pensaram até em mudar o nome do mercado, de “telefonista”, nem pensar.
À tarde era (pouca coisa!) mais complicado. Como dissemos, já no primeiro
toque a baixinha atendia, misturando a cabeça de quem ligava (ou própria?). E o diálogo
ficava assim:
– VAREJO BOM DIA. BOA TARDE !!!
E sempre tinha um(a) engraçadinho(a) que pedia esclarecimento deixando
Lorena mais vermelha que um tomate da banca ao lado. E a discussão ia longe, até
Lorena “puxar a faca” ou a outra pessoa “afinar”...
Hoje não tem nem Bom Dia nem Boa tarde: o mercado foi vendido, trocou de
nome e Lorena, lamentavelmente, cresceu...
Que pena!
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Essas crianças... Osvaldo Reis
AGRADECIMENTOS
A todas as pessoas mencionadas: pais, avós, tios, primos,
sobrinhos, cujas “DELAÇÕES” espero sejam “PREMIADAS” com
lembranças saudáveis de um tempo que não volta mais, que sejam as
mais gratas e ternas recordações. Sincera e modestamente, gostaria de
ser o instrumento dessas reflexões, comentários, dúvidas, discussões e,
se tiver o privilégio de arrancar pelo menos um pequeno sorriso ou uma
lágrima alegre, confesso-me plenamente recompensado. Aos que me
incentivaram e aos que me criticaram, o mesmo respeito, já que, de
acordo com NELSON RODRIGUES, “toda unanimidade é burra”.
Assim pensando e agindo, com a mesma humildade e ternura, aceito as
críticas, que findam por me ensinar; do mesmo modo, não gosto do falso
elogio nem da bajulação, pois, como diz SANTO AGOSTINHO,
acabam por me corromper.
Alguém disse que escrever é viver de ilusão. MÁRIO LAGO, um
dos maiores brasileiros dos últimos tempos, para o seu coração, queria
“nada além” de uma ilusão. Que os tantos amigos e amigas continuem
me ajudando a manter a minha alma de poeta, mesmo com mínima
escolaridade, tropeçando nas palavras e na emoção, com dicionário
diminuto, conhecendo, no entanto, os significados de algumas palavras,
doces palavras, como GRATIDÃO, LEALDADE, ÉTICA...
OBRIGADO GENTE!!!
201
Essas crianças... Osvaldo Reis
Ademir Penha
Adriano Valente
Alaor Gregório de Oliveira
Alberto Paco
Aldilene / Milson Vanderlei Rocha
Aline Rodrigues da Silva
Ana Carolina Gonçalves dos Santos
Ana Maria/ Altino Pedroso dos Santos
Ana Paula Machado
Ana/Maurício Cadamuro
Ana/Rogério Barreto
Antenor Sanches
Antero Rocha
Antônio “Nhô Juca” Mário Manicardi
Antônio Bárbara
Antônio Carlos Moretti
Antônio Luiz de Jesus
Antônio Molonha
Aparecida “Bia” Fabiana Correa
Armando Bettinardi
Ayako/Tadaci Nishira
Bete/ José Silva
Camila Kretzmann
Camila / Ricardo Tupan Rui
Carlos Mariucci
Carmen Ribeiro
Carmen/Milton Seixas
Cibele Santiago
Cida/ Ademar Schiavone
Cidinha / Nelson “Jaca” Pupim
Clara/Mário Mazon
Claudenice / Fábio Aparecido Sarge
Cônego Benedito Vieira Telles
Dalti Tortato
Dari Pereira
Deroteu Gonçalves da Silva
Diniz Neto
Dirce/Antônio Alexandre Pereira (em memória)
Diudi/Nelson Brito
Edalvo Garcia
Edson Marassi
Elaine / Wal Barrionuevo
Elenice / Fernando Ferreira
Eliane Feitosa Santos
Elidir D´Oliveira (em memória)
Elizabeth / José Carlos Goulart
Elza/Renato Bernardi (em memória)
Emília Santana
Emílio Germani
Emydio Brito
Enedina/Antônio Sena
Esmeralda/Walber Guimarães
Euclides Brita
Euclides Zago
Fares Jamil Feres
Fátima/Messias Mendes
Fernando Vasconcellos
Francisco Guazelli
Francisco Jorge Ribeiro (em memória)
Galdino Andrade (em memória)
Genalva/Paulo Bôhm
Gentil Guido Demarchi
Gilceane / Alcenir Antônio Baretta
Gilda/Leonardo Contreras
Glória / Orlando Fernandes Dias
Hermelindo Aliberti
Henri “Francês” Jean Viana
Inês/ Ademir Mulon
Inês/Ataide Dantas
Iolanda Hoff
Irene / Jorge Fregadolli
Irma/Said Ferreira
Itamar Belasma
Ivana Martins
Jacira / José Roberto Balestra
Jaime Ribeiro
Jaime Vieira
Jair Amim
Janete/Dorival Cavalcante
João Frigo
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Essas crianças... Osvaldo Reis
João Gualberto de Lima (em memória)
João Laércio Lopes Leal
Joel Cardoso
Jorge “Ploc” Meneguele
José “ Tavarico” de Oliveira Tavares
José “Bicudo” Antônio da Silva
José Barbosa
José Cardoso
José Carlos de Andrade
José Cícero de Oliveira
José Hilário
José Usan
Judite/Elon Bragança
Kassiane Sueli de Oliveira
Kely Schemberger
Laércio Quadros
Lázaro Domiciano
Léo Jr.
Lenir/ Fidelcino Cruz
Leonete Bonazio
Lídia/ Daniel Zecheto
Lidiane / Marcelo Menegassi
Lígia Leal
Lourdes/Ivo Machado
Lucila / Getúlio Vilmar Afonso
Lucilene/ Pedro Brambilla
Luiz Alexandre Solano Rossi
Luiz Bolota
Luiz Carlos Kaltoé
Luiz Júlio Bertin
Márcia/Cesar Castanharo
Márcia/ Cláudio Vismara
Marco André Lima
Maria Antonieta / Valdecir Amorim
Maria Aparecida / Valdecir Solomoni
Maria da Penha Santana
Maria José/Celso Robles
Maria José/Lizeu Nora Ribeiro
Maria/Matheus Recco
Mariane Hoff
Marina / João Batista Lima
Marizalda/Ademir Tavares Moura
Milton Siqueira
Moisés Zanardi
Nelson Maimone
Nelzi / Wilson Bokorny Fernandes
Nica/ José Bonifácio Moron
Nilsa Melo
Nitlon Tuller
Odair Mario Bordini
Odete Alcântara Rosa
Odete Salata Mendes (em memória)
Oliveira Reis
Orlando Carnelós
Osvaldo Chiucheta
Paulo Peixoto
Paulo Roberto Pereira de Souza
Reginaldo Dias
Renata / Keith Angel Balestra
Roberta/Luiz Carvalho
Rogel Martins Barbosa
Rogério Recco
Rosa/ Mário Yamamoto
Rose Leite
Rosalino Felícios dos Santos
Rosangela / Roberto Plepis
Rose/Francisco Alves da Rocha
Rosemar Bertequini
Sakae Yamao
Salim Haddad (em memória)
Sandra/ Nélio Sanches Gonzales
Sandro Scolari
Sebastião Palma
Shirlei/José Antônio Moscardi
Sidnei Alves
Silvana Borges
Simone / Alexandre Campos Soares
Simone Labegaline / Antônio R. de Paula
Sirlei/Izac “Grego” Rodrigues de Lima
Suzana Sasaki
203
Essas crianças... Osvaldo Reis
Tánia Facci
Terezinha/ Sebastião Pitarelli
Toninho Mendes
Ulisses Maia
Ulda Ramos Gabriel
Valdecir Brito (em memória)
Valdecyr Pozza
Valdir Carniel
Vera Dias
Vera Lúcia / José Carlos Nascimento
Victor Hugo Dias Gonçalves
Wagner da Silva
Walter Alexandrino
Walter Poppi
Wanderlei Vieira
Wilson Costa
Wilson Nakashima
Zacarias Quintanilha
Zélia / Antônio Picoli Sobrinho
Zery Monteiro
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Essas crianças... Osvaldo Reis
(Em memória)
J B MARIANO
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Essas crianças... Osvaldo Reis
O AUTOR
É o caçula de uma família de dez. Filho
de mineiros, Ana de Paiva Reis e Geraldo
Fernandes Reis, nasceu paranaense na
fazenda Santa Helena, município de Bom
Sucesso. Autodidata. Foi articulista e
colaborador em diversos órgãos da imprensa
maringaense. Membro fundador da
Academia de Letras de Maringá, tendo sido
seu primeiro orador. Na área pública prestou
serviços à Assembléia Legislativa do Estado
do Paraná (chefe de gabinete do deputado
Jayme Rodrigues de Carvalho), Câmara dos
Deputados (chefe de gabinete do deputado
Renato Bernardi) e Prefeitura do Município
de Maringá, onde foi chefe de gabinete
(Prefeito Said Ferreira). Osvaldo Reis
define-se como um “contador de causos” brinca de fazer trovas, inclusive caipiras.
Pretende continuar escrevendo, e, por enquanto, tem os seguintes trabalhos publicados:
BOCA MALDITA – Poucas e Boas das Velhas Raposas – Editora Clichetec -
1994
MARINGÁ E SEUS PREFEITOS – Editora Clichetec -
1996
COLETÂNEA DA ACADEMIA DE LETRAS DE MARINGÁ – Editora Gráfica Bertoni - 2000
MARINGÁ 57 ANOS – A HISTÓRIA EM CONTA-GOTAS – Gráfica e Editora Primavera - 2004
COLETÂNEA DOS POETAS DE MARINGÁ III – Editora Gráfica Bertoni -
2006
MARINGÁ – A HISTÓRIA EM CONTA-GOTAS – Gráfica e Editora Primavera - 2ª edição - 2007
NAPOLEÃO MOREIRA DA SILVA - Um Monumento da História - Editora Canadá (Em parceria com Antonio Padilha Alonso)
2008
O PIONEIRO ANÔNIMO (cordel) Edição do Autor -
2008
US MEUS CACHORRU (cordel) Edição do Autor
2008
ESSAS CRIANÇAS – Edição do Autor -
2011
Fotografia: Edson Burzega Guitti –
–
206
março / 2011