“FOR A FRESHER WORLD”: ANÁLISE SEMIÓTICA SOBRE A

Transcrição

“FOR A FRESHER WORLD”: ANÁLISE SEMIÓTICA SOBRE A
“FOR A FRESHER WORLD”: ANÁLISE
SEMIÓTICA SOBRE A CAMPANHA DAS CERVEJAS HEINEKEN
WEBER, Marcos Paulo1
HAUPTMANN, Claudemir2
RESUMO: A publicidade se renova e a cada dia está mais criativa. Isso se deve a
necessidade de se observar os gostos e interesses do público alvo, e transferi-los para
campanhas que atinjam em cheio o objetivo. Para isso, grande parte das agências
busca embasamento numa teoria chamada semiótica. Esta teoria permite um olhar
mais aplicado sobre os signos, sabendo o porquê de cada elemento estar disposto
daquela maneira, com aquela cor, daquele tamanho. Ela é responsável por todo tipo
de investigação com relação a todas as linguagens e processos comunicativos.
Através dela, é possível saber qual o melhor signo para cada contexto,
potencializando os resultados. Para tanto, Peirce, que pode ser considerado uma
espécie de pai da semiótica, aprimorou cada vez mais o estudo dos signos,
categorizando-os para um melhor entendimento. Para demonstrar como o uso da
semiótica é importante, será apresentada uma análise semiótica sobre a campanha
“For a fresher world”, das cervejarias Heineken. O objetivo da análise é demonstrar
como cada elemento da campanha é pensado, quais são seus significados, e quais as
possíveis interpretações que o público possa fazer.
PALAVRAS-CHAVE: Peirce; Semiótica; Heineken.
1 INTRODUÇÃO
O consumo mundial de cerveja vem apresentando um crescimento significativo
ao longo dos anos. Muito disso, se deve ao alto investimento em grãos melhorados,
1
Discente do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, da Faculdade Sul Brasil. E-mail:
[email protected]
2
Professor orientador.
4
novas técnicas de fermentação, novos sabores, dentre vários outros fatores que
influenciam no resultado final da bebida. Porém somente esses fatores não dão conta de
produzir o efeito desejado.
Antes de agradar o paladar de seus consumidores, as cervejarias necessitam
cativar visualmente seu público, fazendo-os sentir apreço pela cerveja. Eis ai o segredo
das maiores cervejarias: uma alta aplicação em publicidade.
Uma das cervejarias que mais se destaca por seu grande investimento em
publicidade é a Heineken. Segundo uma pesquisa de 2013, a empresa é atualmente a 8ª
cerveja mais consumida no mundo. Atualmente, a marca atua em mais de 70 países com
cerca de 165 cervejarias. É também grande apoiadora e patrocinadora de eventos
esportivos como a Liga dos Campeões da Europa e festivais musicais como o Rock in
Rio e o SWU. Seu público se baseia em jovens e adultos, geralmente de classes A e B,
(devido ao seu custo elevado perante marcas menores).
A partir disso, o presente trabalho tem como objetivo propor uma análise
semiótica de um material publicitário produzido pela agência Publicis Paris, com o
conceito “Por um mundo mais fresco” (For a fresher world). Trata-se de uma campanha
que representa algumas das principais cidades do mundo, neste caso Paris, Nova York e
o Rio de Janeiro (a qual será utilizada como objeto de estudo deste trabalho). As três
peças da campanha, mesmo sendo cenários diferentes estão interligadas, uma vez que
todas compartilham de sua construção apenas com materiais ligados ao mundo da
cerveja.
Para que essa análise se torne possível, será feita uma pequena abordagem
conceitual baseada principalmente nos estudos de Pierce3 e Santaella sobre o surgimento,
o uso e a aplicação da semiótica. A importância desse estudo está em tentar entender,
através da semiótica, como as campanhas da Heineken são pensadas, se há um estudo
semiótico por trás delas, e como elas conseguem prender a atenção do público, sem se
utilizar da famosa apelativa em usar mulheres seminuas, como a maioria das cervejas
concorrentes faz.
3
C.S.Peirce, Cientista, lógico, matemático, astrônomo e filósofo, com contribuições significantes nas áreas
de linguística, filosofia, história e psicologia. É considerado o precursor da semiótica.
5
2 A TEORIA SOBRE O ESTUDO DOS SIGNOS
Ferdinand Sausurre, e C.S. Peirce, foram dois grandes estudiosos, que
dedicaram grande parte de suas carreiras para o estudo dos signos, tentando assim, criar
uma ciência chamada semiótica.
Surgida no Séc. XX, a semiótica ainda é considerada uma ciência nova, “[...]
algo nascendo e em processo de crescimento. Esse algo é uma ciência, um território do
saber e do conhecimento ainda não sedimentado, indagações e investigações em
progresso.” (SANTAELLA, 2012, p. 11).
Essa ciência baseia no estudo dos signos sejam eles verbais ou não. Peirce, nos
traz que, “Um signo ou representâmen é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa
algo para alguém. Dirige-se a alguém isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo
equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. (Apud, SILVA, 2011, pg. 04).
No nosso dia a dia, estamos cercados pelos mais variados tipos de signos,
podendo estes serem naturais (ex: fumaça), artificiais (ex. foto), verbais (ex: a palavra
cerveja), não verbais (ex: esculturas), sonoros (ex: sirene), gráficos (ex: @), sensoriais (ex:
perfumes), bidimensionais (ex: desenhos) ou tridimensionais (ex: miniaturas).
Imagine como seria nossa vida sem os signos. Toda vez que alguém tentasse
descrever as pirâmides do Egito, como faria? Como traria elas para perto de quem se
deseja demonstrar? Desde os primórdios usamos os signos como sendo uma coisa para
suprir a falta de outra, já dizia Peirce.
O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode
funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra
coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do
objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa
certa capacidade. (SANTAELLA, 2010, pg. 90).
Grosso modo, podemos dizer então que signos são representações de objetos
ausentes, que produzem interpretações na mente de quem os observa. A partir disso,
percebemos que os signos possuem relações consigo mesmo, com o objeto ao qual ele
está representando, e com quem está interpretando esse signo. Chegamos assim a
tricotomia ou relação triádica de Pierce, signo/objeto/representamem.
A primeira tricotomia, signo com ele mesmo, se estabelece por uma relação de
natureza material do signo, podendo ocorrer através de uma simples qualidade, uma
particularidade ou por uma lei. Obtemos assim Qualissigno, Sinsigno e Legisigno. Na
6
segunda tricotomia, temos a relação do signo com seu objeto, podendo assim o signo ser
um índice, um ícone ou um símbolo. A terceira tricotomia, se dá através da relação do
signo com seu interpretante, gerando assim rema, dicente e argumento.
Ao se combinar essas tricotomias, poderão ser obtidas 10 principais classes de
signos. São essas classes de signos que irão formar nossa percepção. Peirce estudou os
processos pelos quais é formada a nossa percepção. Ele os observou de forma direta, ou
seja, como eles aparecem e se apresentam a nossa mente, criando assim as categorias de
pensamento4, as quais ele denomina primeiridade, secundidade e terceiridade.
A primeiridade pode ser entendida como a primeira sensação sentida. É o que se
tem na mente naquele exato momento, sem fazer qualquer tipo de associação, ou ligação
com outros elementos. Ela é monádica (mônada - substância simples, criada desde o
princípio, sujeita a evoluções e desenvolvimento até alcançar o intelectual), não tem
unidade nem parte. É indivisível, única. A Primeiridade é pura abstração, aquilo que é
em si mesmo e não tem relação com nada além.
Consciência em primeiridade é qualidade de sentimento e, por isso mesmo, é
primeira, ou seja, a primeira apreensão das coisas, que para nós aparecem, já é
tradução, finíssima película de mediação entre nós e os fenômenos. Qualidade
de sentir é o modo mais imediato, mas já imperceptivelmente medializado de
nosso estar no mundo. Sentimento é, pois, um quase-signo do mundo: nossa
primeira forma rudimentar, vaga, imprecisa e indeterminada de predicação das
coisas. (SANTAELLA, 2010, pg. 71).
Num segundo momento, o qual Peirce denomina de secundidade, surge um
segundo elemento, o qual faz ligação direta com o primeiro, para posteriormente criar
um terceiro momento chamado terceiridade.
Falando ainda sobre secundidade, é nesse período que a mente adiciona um
novo elemento, numa tentativa de ampliar o sentido daquele fenômeno. Criam-se assim
elementos que acabam por se tornar necessariamente dependentes (diádica), numa
espécie de ação e reação, ou “eu não faço mais sentido sem você”.
Certamente, onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua
primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para
existir, a qualidade tem de estar encarnada numa matéria. A factualidade do
existir (secundidade) está nessa corporificação material. (SANTAELLA, 2010,
p.73).
Por fim chegamos a terceiridade. Nessa etapa, temos a interpretação do
fenômeno como um todo. Aqui se analisam as qualidades da primeiridade, os novos
componentes adicionados na secundidade, as pesquisas feitas pela mente, os parâmetros
encontrados, as relações possíveis, tudo isso afim de poder interpretar o evento. É
4
As categorias de pensamento fazem parte de toda e qualquer experiência, sem exceção.
7
triádica. É generalidade, infinitude, síntese, hábito, tempo, é a conexão entre a qualidade
e o fato, é representação, interpretação do mundo.
Finalmente, terceiridade, que aproxima um primeiro e um segundo numa
síntese intelectual, corresponde à camada de inteligibilidade, ou pensamento em
signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo. Por exemplo: o
azul, simples e positivo azul, é um primeiro. O céu, como lugar e tempo, aqui e
agora, onde se encarna o azul, é um segundo. A síntese intelectual, elaboração
cognitiva — o azul no céu, ou o azul do céu —, é um terceiro. (SANTAELLA,
2010, p.78).
Podemos dizer que essa é a parte mais inteligente do processo, pois é onde tudo se
encaixa, e todos os elementos presentes agora estão interligados, completando um ao
outro produzindo sentido ao evento.
Classificação dos Signos
Categorias de
pensamento
1ª Tricotomia: O
signo em relação a
si mesmo
2ª Tricotomia: O
3ª Tricotomia: O
signo em relação ao signo me relação ao
objeto
interpretante
Primeiridade Qualidade
Categoria que dá à
experiência sua
qualidade
distintiva, seu
frescor,
originalidade
irrepetível, e
liberdade em
relação a qualquer
elemento segundo.
Qualissigno
Diz respeito ás suas
características que
menos
particularizam,
como cores, linhas
formas, texturas,
acabamentos. São
facilmente
detectados pelos
nossos cinco
sentidos.
Ícone
Possui uma relação
de semelhança com
o objeto
representado.
Através de formas e
sentimentos, eles
têm alto poder de
sugestão. Ex:
Esculturas, fotos.
Rema
Uma possibilidade
qualitativa. Termo
ou função
proposicional que
representa tal ou
qual espécie de
objeto possível,
destituída da
pretensão de ser
realmente afetada
pelo objeto ou lei à
qual se refere;
elemento de um
enunciado possível.
Ex: O morango é
vermelho. O que
chamamos de estilo
é um rema.
8
Secundidade Experiência
É aquilo que dá a
experiência seu
caráter factual, de
luta e confronto.
Ação e reação, sem
o uso da razão ou
lei
Sinsigno
É o aspecto do
signo que já o
individualiza e
particulariza como
ocorrência: sua
forma, suas
dimensões. Deve-se
observar as
características
existências do signo,
ou seja, aquilo que é
irrepetível, único.
Índice
O signo e o
referente estão
próximos um do
outro, em relação
direta, de maneira
que o signo indica e
o referente aponta
para ele. Ex: fumaça
indicando que há
fogo, pegadas na
areia indicando que
alguém passou ali,
ou uma poça d’água
indicando chuva.
Dicente/
Dicissigno
Signo, para seu
interpretante de
existência real. É
uma proposição ou
quase-proposição
envolvendo um
rema.
Terceiridade – Lei
Camada
inteligível.
Conexão entre o
interpretante e o
conhecimento do
signo através de
fatos e leis que
implicam em
generalizações.
Legisigno
É como as
conversões e as
regras, os padrões se
manifestam no
representamem: as
aplicações de
perspectiva, o
atendimento as
normas. Trata-se
aqui de extrair o
geral do particular,
extrair de um dado
fenômeno aquilo
que ele tem em
comum com todos
os outros com quem
compõe uma classe
geral.
Símbolo
Representação
arbitrária do objeto
por força de uma
associação de
ideias. É portador
de uma lei que por
convenção ou pacto
coletivo, determina
que aquele signo
represente seu
objeto.
Há aceitação, sem
qualquer tipo de
lógica ou
explicação. Ex: $
significa dinheiro no
Brasil. As palavras
sempre serão
símbolos por
representarem algo.
Argumento
Signo para seu
interpretante de
uma lei, de um
enunciado, de uma
proposição
enquanto signo. Ou
seja, o objeto de um
Argumento, para o
seu interpretante, é
representado em seu
caráter de signo;
esse objeto é uma lei
geral ou tipo.
Envolve um
Dicissigno.
Fontes: SANTAELLA, 2010, Pg.78; MEDEIROS, P. 04 à 08; SILVA, 2011, Pg. 05; Adaptações feitas
pelo autor.
Sabe-se agora que para um signo ser entendido como um signo, ele necessita ter
sua fenomenologia composta por elementos que indiquem suas qualidades, sua
existência e seu caráter de lei. Segundo Santaella, “Pela qualidade, tudo pode ser signo,
pela existência, tudo é signo, e pela lei, tudo deve ser signo” (Apud, SILVA, 2011, pg.
04).
9
3 HEINEKEN E O USO (OU NÃO) DA SEMIÓTICA
Como consta em seu site oficial, Heineken é uma marca de cerveja holandesa,
que surgiu em 1869 quando Gerard Adriaan comprou uma cervejaria chamada Hooiberg
em Amsterdã. Aproximadamente duas décadas depois, H. Elion desenvolveu uma nova
fórmula, a qual é mantida até os dias atuais pela cervejaria, garantindo seu sabor único.
Eis que no século XX a marca tem seu “boom”, e começa a ser reconhecida
mundialmente, graças ao seu grande investimento em publicidade, “adotando para si um
espirito jovem, que acompanha a cerveja desde então”.
Apenas para sanar a curiosidade, consta no site oficial, uma breve explicação do
porque a marca leva uma estrela vermelha em sua logo. Acredita-se que cervejeiros
medievais penduravam esse símbolo nos barris para proteger a bebida em preparo e
garantir sua qualidade com o poder das cinco pontas que simbolizavam: terra, fogo,
vento, água e um quinto elemento desconhecido, que eles acreditavam que era mágico.
(Site oficial Heineken).
Em um de seus últimos trabalhos, a Heineken, juntamente com a agência
francesa Publicis, resolveram recriar os principais cenários de algumas cidades do
mundo. Foram elas Paris, Nova York, e o Rio de Janeiro. Porém, estes lugares não
foram simplesmente fotografados, eles foram totalmente recriados. Nas três peças da
campanha, percebe-se uma identidade visual compartilhada, pois todas possuem apenas
slogan, logotipo5, (estes variando a posição na peça para facilitar a leitura) e os elementos
ligados ao universo das cervejarias Heineken, garrafas, latas, copos, abridores, caixas de
cerveja, e a própria cerveja.
Para facilitar a análise, o presente estudo se baseara apenas na peça ligada a
cidade do Rio de Janeiro. Ao nos depararmos com a peça, nosso olhar é conduzido
inicialmente por dois elementos que nos dão as principais características da peça: as cores
verde e amarelo.
5
Segundo o dicionário, trata-se de um conjunto formado por letras e/ou imagens, com design que
identifica, representa ou simboliza uma entidade, uma marca, um produto, um serviço, etc.
10
Fonte: http://theinspirationroom.com/daily/2008/heineken-for-a-fresher-world/
Vemos uma grande parte da peça coberta por tons amarelos, que irradiam calor
e alegria. “A experiência mais elementar que temos do amarelo é o sol. Esta experiência
é compartilhada por todos como efeito simbólico: como cor do sol, o amarelo age de
modo alegre e revigorante.” (HELLER, 2013, Pg.85).
Ainda em relação ao amarelo vemos uma forte vertente de amarelo dourado. “
‘Amarelo’ (Gelb), ‘Ouro’ (Gold)’ e ‘Brilho’ (Glanz), em alemão, são termos aparentados.
O amarelo vira ouro quando se pensa no que é belo, valioso” (Heller, 2013, pg. 87).
Nesse contexto pode-se ver que o amarelo é em primeiridade um qualissigno,
pois está ali representando passando uma atmosfera alegre, ou seja, uma qualidade que
nos é percebida, sentida, sem precisar fazer qualquer tipo de associação e nem
particularizar nenhum evento. Mas ao dizer Amarelo Ouro, ele não passa a ser
diferenciado,
particularizado
dos
outros,
tornando-se
um
sinsigno?
Não.
A
particularização que ocorre ao se falar de amarelo ouro, não se dá numa classe geral, pois
a relação com seu interpretante pode ser diferente de pessoa para pessoa, ou seja, cada
uma pode pensar o amarelo ouro de uma forma diferente.
Através disso, o amarelo se tomado como primeiridade, antes de qualquer
abstração, pode ser analisado como sendo um qualissigno icônico remático. Segundo
Santaella, a qualidade funciona como um signo, que dirige a alguém e produz sensações
na mente do interpretante. Nesse caso, o amarelo transmite a quem observa a peça, esse
11
sentimento de felicidade, de alegria. Além disso, a cor amarela também é responsável por
estimular a fome e a sede das pessoas, reforçando seu aspecto de qualissigno.
A cor verde também é tratada nesse contexto como sendo um qualissigno
icônico remático. Sua função ali, além de representar a marca Heineken, que é conhecida
por suas latas e garrafas verdes, é de mostrar o frescor, fazendo ligação com a vida. Cabese ali uma relação direta com o slogan da campanha (por um mundo mais fresco), onde
pode-se subentender a pretensão de dizer “por um mundo mais verde”, onde o verde faz
clara alusão a marca.
Ao se associar a cor amarela com a cor verde, num primeiro momento, tem-se
uma clara menção as cores do Brasil, ainda mais nessa época que antecede a copa do
mundo. Acredita-se que a pretensão mais clara desse junção nem tenha sido essa, mas
sim de demostrar as estações mais quentes do ano. Segundo Heller, “o amarelo pertence
ao verão assim como o verde a primavera” (pg. 88).
Como pode-se observar na imagem, o mar é composto apenas por cerveja e seu
colarinho. Se pensarmos a imagem dentro de um contexto cercado por bons bebedores
de cerveja, ali se encontra um legisigno. Para quem aprecia a bebida, não apenas como
um porre, sabe que toda cerveja deve ser servida com um pequeno colarinho para
ressaltar o sabor e manter a temperatura do liquido gelado por mais tempo. Tem-se então
um caráter de lei geral dentro desse contexto.
Outro exemplo que podemos citar como legisigno, seria a própria logotipo da
empresa. A logo particulariza a empresa, mas com um caráter de lei, pois aquela marca
sempre será Heineken, não havendo contestação. Podemos vê-la como um símbolo, pois
nos está convencionado que aquela forma, escrita com a estrela vermelha naquele lugar
representa a Heineken. Não podendo haver então contestação por parte do interpretante,
fica claro que temos um argumento.
Na imagem, temos um elemento de destaque, o qual é fundamental para o
entendimento da peça. Um saca rolhas, colocado sob uma construção de caixas verdes.
Toda a construção é pautada em elementos ligados a cerveja, mas porque então um saca
rolhas tem todo esse destaque? Aqui, percebe-se claramente o uso da semiótica na
campanha. A Posição em que o saca rolhas se encontra, inicialmente está fazendo uma
representação ao cristo redentor. Temos então um claro exemplo de sinsigno icônico
remático, devido ao saca rolhas, da maneira como está, parecer cristo redentor e acabar
assim particularizando o lugar da campanha.
12
Ao mesmo tempo que ele é icônico por parecer o cristo, ele se torna indicial, no
momento que se é particularizado a localidade, pode-se dizer que é esse elemento que
nos indica que trata-se do Rio de Janeiro. Temos um elemento que por ser um ícone, e
aceitar novas interpretações devido ao seu caráter remático, torna-se um índice. Pois
bem, se o saca rolhas está indicando a cidade do Rio de Janeiro, em algum momento foi
nos ensinado que aquela posição de braços abertos, naquela localidade, se encontra o
cristo redentor, símbolo da cidade do Rio. Temos aqui, uma relação de aprendizado, ou
seja uma relação simbólica. Entendemos que no contexto de representar o cristo
redentor, o saca rolhas em estado de secundidade, pois não se aplica nenhum tipo de lei
geral, ainda estando em conflito devido à grande quantidade de possibilidades de
interpretação, é tanto um ícone, quanto um índice e ainda um símbolo.
Mudemos o contexto do objeto. Pode-se comparar esse saca rolhas ao que foi
usado numa publicidade de copa do mundo pela empresa de vinhos miolo. Sem o
contexto de mostrar que ali é o Rio de Janeiro, entende-se que o saca rolhas remeta a
uma forma de abraço, de alegria, de comemoração. Essa campanha foi produzida antes
da copa do mundo, porém não se pode negar que ela tenha vários indícios de copa do
mundo. Alguém de braços abertos comemorando ou querendo abraçar, nos leva a pensar
em felicidade. Nisso, o saca rolhas novamente cria um caráter indicial, pois indica a
felicidade.
Se analisarmos separadamente todos os outros elementos que compõem o
cenário, observamos particularizações que nos remetem apenas ao mix de produtos
oferecidos pela Heineken. Temos uma relação indicial clara entre os objetos que formam
as construções da cidade, pois todos nos remetem (graças a cor verde) a cervejas
Heineken.
A imagem em sua totalidade, consegue imprimir um forte conceito de liberdade,
mostrando ao seu público (em sua maioria classe A ou B), que aonde estiverem, a
Heineken estará presente. Fica visível a tentativa da marca em demonstrar ao público
que quem consome a cerveja Heineken, seja em qualquer canto do mundo é mais
descolado. No caso dessa imagem, observamos uma particularização que nos indica que
ali é o Rio de Janeiro, ou seja essa indicação nos dá uma informação concreta sobre o
objeto. Eis que a imagem nesse contexto se torna um legisigno indicial dicente.
13
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da semiótica é de suma importância para que a publicidade consiga
compreender seu público e produzir peças muito bem elaboradas que atingem o público
alvo com facilidade e com o maior efeito desejável possível. Peirce, com sua teoria
semiótica, tornou possível criar e aplicar um signo de maneira lógica, entendendo cada
parte dele e o papel que cada qual representa.
A Heineken com suas publicidades super criativas, faz um uso imenso desta teoria,
buscando sempre atingir com a maior perfeição possível o seu público alvo. Todas as
campanhas e ações são pensadas semioticamente para que a obtenção de resultados seja
a melhor possível. Percebe-se que cada elemento utilizado é pensado usando das
tricotomias de Peirce, para que façam ligações um com os outros e que produzam apenas
os sentimentos desejados, nunca criando algo que vá prejudicar a marca.
Na campanha “Fora a fresher world”, fica evidente que a marca tenta passar um
conceito de felicidade, de que por mais que seu público viaje o mundo, sempre
encontrará a marca onde quer que ele vá. Isso faz o público criar uma confiança enorme
na empresa. Sempre com inovação e um grande estudo por trás de suas peças a Heineken
consegue atingir em cheio seus objetivos e garante que seu público entenda que ela liga as
pessoas em qualquer canto do mundo que elas vão, tudo através de uma cerveja.
REFERÊNCIAS
COELHO NETTO, José Teixeira. Semiótica, Informação e Comunicação, São Paulo,
Editora Perspectiva: 1990.
HELLER, Eva. A psicologia das cores. 1.ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
MACHADO, Lino. Algo para alguém. Ipotesi, revista de estudos literários Juiz de Fora,
v. 5, n. 1 p. 79 a 93.
SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica 1.ed. São Paulo: Brasiliense, 2012 (Coleção
Primeiros Passos; 103.
SANTOS, Silvia Spagnol Simi dos. Semiótica e Gestalt: metodologia para análise de
imagens visuais. Artigo Intercom, X Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Sul – Blumenau – SC – 28 a 30 de maio de 2009.
14
SILVA, André Luiz B. da. “Simples Simplesmente”: Uma análise Peirciana da
campanha McDonald’s. Artigo Intercom, XVI Congresso de Ciências da Comunicação
na Região Sudeste - São Paulo – SP – 12 a 14 de maio de 2011.
Sites:
http://design.com.br/historia-da-marca-heineken/ acessado entre 02/05 a 17/05
http://www.revistaleaf.com.br/heineken-e-suas-campanhas/2499 acessado entre 02/05
a 17/05
http://www.heineken.com/br/nos-somos-heineken/heineken-story.aspx acessado entre
02/05 a 17/05
http://www.heinekenbrasil.com.br/?Heineken-Cervejaria acessado entre 02/05 a 17/05

Documentos relacionados

A Semiótica

A Semiótica sujeito lê com compreensão e profundidade de seu conteúdo. Como exemplo: "o homem comeu banana", e na cabeça do sujeito, ele compreende que o homem comeu a banana e possivelmente visualiza os dois ...

Leia mais

Semiótica Peirceana - Revista Científica Plural

Semiótica Peirceana - Revista Científica Plural semelhante ao signo utilizado. Os ícones têm um alto poder de sugestão. Peirce dá como exemplo uma fotografia. A partir do momento em que se é levado a formar uma idéia apenas com o que é visto em ...

Leia mais

Artigo completo - Revista Tríades

Artigo completo - Revista Tríades preferencialmente chamaremos de função semiótica, visto que suas características materiais transmitem significados, não se restringindo apenas a um aspecto ornamental. A essas funções, podemos acre...

Leia mais