Jornal CRMV Ago-2010.cdr - CRMV-RS

Transcrição

Jornal CRMV Ago-2010.cdr - CRMV-RS
9912233864/2009 DR-RS
CRMV/RS
CORREIOS
Otimismo
renovado
Itamar Aguiar/Divulgação Seappa
Veterinária
& Zootecnia
Impresso
Especial
PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO RS - ANO XV Nº 66 - MAI/AGO 2010
CRMV-RS sugere resolução sobre
programas de esterilização cirúrgica
NORMA PROPÕE USO DE UNIDADES MÓVEIS EM CAMPANHAS DE CONTROLE POPULACIONAL
Ricardo Stricher - Divulgação/PMPA
O
Novas regras
para RT de
granjas avícolas
PÁGINA 8
Boas perspectivas econômicas fazem com que
Expointer 2010 aconteça
com expectativa de bons
negócios em Esteio. Na
Casa do Veterinário, a
diversidade de temas será a
marca da programação.
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Cães e gatos deverão receber microchips após o procedimento
pela legislação vigente até o
momento. Além do município da
Campanha, muitos outros pretendem instituir programas de
controle populacional. Além de
autorizar a realização dos procedimentos cirúrgicos em unidades
móveis devidamente equipadas, a
proposta determina que as ações
são privativas de autoridades
públicas e que devem ter seu
projeto aprovado pelo Plenário do
CRMV-RS. Mutirões de castração
organizados por ONGs também
precisariam encaminhar projeto
para aprovação do Conselho.
Pela proposição dos CRMVs
do Sul, é obrigatória a homologação de Anotação de Responsabilidade Técnica para a realização
dos programas, sendo que o RT
deverá manter por cinco anos o
arquivo contendo informações dos
beneficiários e dados sobre a
identificação dos animais, que
devem receber um microchip.
Além disso, o RT deve elaborar o
projeto e apresentá-lo ao CRMV-
RS com pelo menos 30 dias de
antecedência do início de sua
execução. Um ponto importante a
ser previsto é a metodologia de
orientação, inclusive com material
impresso que aborde a importância
do bem-estar animal, da guarda
responsável e da educação sanitária, entre outros pontos.
Uma inovação importante é a
instituição da unidade móvel de
esterilização, que deve obrigatoriamente estar vinculada a uma
instituição pública. A proposta de
resolução estabelece que as
instalações para a realização do
programa devem contemplar
ambientes para pré-operatório,
transoperatório, pós-operatório,
recepção dos responsáveis pelos
animais, além de sanitários para
uso da equipe e do público. Além
disso, é exigida uma estrutura
mínima para a realização dos
trabalhos. “Esta resolução se
constituirá em um avanço importante em favor da saúde pública”,
ressalta Fagundes.
Mundo em
Sintonia
Divulgação
Conselho Regional de
Medicina Veterinária
(CRMV-RS) aprovou uma
minuta de resolução sobre
a normalização dos procedimentos de contracepção de cães e gatos
em programas de esterilização
cirúrgica com a finalidade de
controle populacional. O documento foi encaminhado ao CFMV
para que seja considerado na
elaboração de uma resolução. Na
avaliação dos conselheiros e da
diretoria, essa é uma medida que
contribui positivamente para a
preservação da qualidade de vida
das pessoas e dos animais e se
reflete positivamente no crescimento educacional. Além disso, a
regulamentação permitiria a coleta
de dados, assim como o mapeamento e o gerenciamento das
informações a respeito da população canina e felina nos municípios.
O texto da proposta foi definido
conjuntamente pelos CRMVs do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina
e Paraná.
Para o presidente do CRMVRS, Air Fagundes, a regulamentação vai evitar situações como a
ocorrida recentemente em Bagé,
onde a prefeitura montou uma
unidade móvel para realizar a
esterilização de animais nos
bairros da cidade, situação vedada
Programa de TV produzid o p e l o C R M V- R S e
Fundesa percorre diversos
municípios gaúchos para
produzir as reportagens
exibidas todas as terçasfeiras à noite na TVE.
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Rio Grande do Sul debate retirada da imunização contra aftosa
PÁGINAS 6 e 7
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maio a agosto 2010
EDITORIAL
EXPEDIENTE
O jornal Veterinária & Zootecnia é um veículo de divulgação da classe
dos médicos veterinários e dos zootecnistas, editado pelo Conselho
Regional de Medicina Veterinária do RS (CRMV-RS). Os textos são
de responsabilidade dos autores.
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JORNAL VETERINÁRIA & ZOOTECNIA
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Colaboração: Acadêmica de Jornalismo Hosana Aprato
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Veterinária
& Zootecnia
EDITORIAL
Globalização e nova cultura humana
Air Fagundes dos Santos*
O
bservando a capa desta edição do
jornal Veterinária & Zootecnia
onde está estampado o tema
central bem-estar animal, paramos por alguns segundos para
refletir. Invariavelmente reportamos à
criatividade latente do homem, desde o
primeiro ancestral que viveu de 5 a 7
milhões de anos, como principal causa do
surgimento da chamada cultura humana,
que acabou moldando esse novo ser
anatomicamente moderno - ávido por
novas condições sociais.
Afinal. O que tem a ver bem-estar
animal com antecedentes históricos? O
comportamento do homem no curso da
história, armazenado graças ao surgimento da comunicação escrita, funde-se com a
cultura humana da atualidade, com
origens inegavelmente em dois grandes
fatos que mudaram os rumos da vida na
Terra e que romperam com a tradição e
com o saber estabelecido.
O primeiro, com o surgimento da
filosofia cristã que se aproximou do
pensamento grego. Marco inicial da
reflexão filosófica. Pensamento filosófico-científico, com o pioneiro Tales de
Mileto, na Grécia do séc. VI a.C., que se
perpetuou até o século XXI, quando
falamos com mais ênfase e com mais
segurança em comportamento e direito
dos animais.
Complementa-se com o segundo fato,
a historiografia das guerras, embora sendo
uma prática nociva de comportamento
humano, deixou como legado para a
humanidade, além da cultura, a sinalização
de uma “etapa para o fluxo incessante das
relações internacionais”. E daí! O que tem
a ver como o assunto da capa do jornal?
Não podemos negar que as guerras por
diferentes motivos - alguns ainda usados
HUMOR
como argumento para conflitos armados,
desde a necessidade da garantia de
alimentos, a insatisfação como o sistema
oligárquico, com oposição popular, até a
ambição da expansão territorial -, deram
origem, indubitavelmente, ao que hoje
conhecemos por globalização, cada vez
mais reforçada pelo incessante crescimento dos modernos meios de comunicação.
Portanto, a informação da atualidade não
mais, de forma lenta, navega através do
contato interpessoal, dos livros, das
revistas, das emissoras de rádios etc.
Navega em tempo real, via computador, e
muda o comportamento das pessoas e o
rumo das coisas no mundo do dia para a
noite. Ou seja, o que está acontecendo na
Europa ou na Ásia, instantaneamente, está
sendo copiado e seguido em qualquer
canto do mundo.
Assim, com extrema rapidez o ser
humano de hoje muda de conduta e a
sociedade em geral passa a adotar “novas”
culturas humanas, sem dar tempo para que
as adaptações tão necessárias ao convívio
entre pessoas, animais e meio ambiente
possam acontecer em harmonia gradual e
de forma racional. Disto, geram-se, em um
primeiro momento, conflitos involuntários. Neste contexto e frente ao confronto
natural de gerações, cabe ao profissional
técnico-cientificamente e culturalmente
preparado ser o mediador para fazer com
que haja um equilíbrio entre razão e
paixão, substantivos que despertam
sentimentos imprevisíveis em qualquer
ser humano mais sensível sobre a posição
que os animais devem ocupar nesta
sociedade artificial em constantes
mudanças.
* Presidente do CRMV-RS
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maio a agosto 2010
NOTÍCIAS
Veterinária
& Zootecnia
Programa de TV aproxima o médicoveterinário e o zootecnista da população
MUNDO EM SINTONIA ABORDA, SEMANALMENTE NA TVE, ASSUNTOS ATUAIS E DE GRANDE INTERESSE PÚBLICO
Fotos: Divulgação CRMV-RS
E
m pouco menos de quatro meses no ar, o
programa de TV Mundo em Sintonia já
mostrou à população mais de 30
assuntos ligados à Medicina Veterinária
e à Zootecnia. A equipe do programa percorreu
diversos municípios do estado, como Nova
Petrópolis, Anta Gorda, Encantado e Salvador
do Sul, em busca de novos assuntos e imagens
para informar e agradar o telespectador. “Em
todos os lugares por onde nossa equipe passou
fomos muito bem recebidos. Tem sido muito
prazeroso apresentar e dirigir o programa, além,
é claro, de podermos conhecer pessoas e lugares
diferentes”, conta o médico-veterinário Luiz
Carlos Pascotini, responsável pela condução do
Mundo em Sintonia.
O programa, idealizado pelo CRMV-RS e
apoiado pelo Fundo de Desenvolvimento e
Defesa Sanitária Animal (Fundesa), está sempre
preocupado em mostrar os diferentes campos de
atuação das duas profissões, seja no campo ou na
cidade. O Mundo em Sintonia convida, a cada
programa, profissionais com grande experiência
e destaque nas áreas de produção animal,
pesquisa, clínica e cirurgia médica, bem-estar e
comportamento animal e demais campos de
atuação, além de especialistas na área da saúde
para abordar os temas. A atração, que tem 30
minutos de duração, ainda conta com o espaço
Você Sabia, que traz dicas práticas de alimentação e cuidados com os animais. O programa
prioriza a comunicação de forma direta e de fácil
entendimento, considerando os avanços
tecnológicos e científicos, com o objetivo de
aproximar o médico-veterinário e o zootecnista
da população.
O programa inédito do Mundo em Sintonia é
exibido na TVE todas as terças-feiras, às 22h,
com reprise aos domingos, às 13h30. A equipe de
produção conta com o apoio dos telespectadores
que sugerem novos temas, contribuem com
dicas e sugestões. Os interessados em colaborar
com a atração podem enviar e-mail para
[email protected].
Produtores debatem
redução de custos
de produção do leite
Seminário sobre
mercado marca
Dia do Zootecnista
Conbravet tem
edição histórica
no Rio de Janeiro
Pascotini percorre municípios para as gravações
37º CONBRAVET
CONGRESSO INTERNACIONAL
COMEMORATIVO
da
150 Ministério
Agricultura
ANOS
Ensino de
Veterinária
no Brasil ANOS
100
Alimento e Bioenergia
para o Brasil e o Mundo
Após garantir um crescimento de 7% na
produção gaúcha de leite neste ano, os
produtores do estado agora se preparam para
avançar na redução de custos. Equacionar a
relação custos e volume de produção é a saída
para sobreviver no mercado mundial, cada vez
mais competitivo e profissionalizado. O tema
foi debatido durante o Fórum Nacional de
Lácteos e o Simpósio de Bovinocultura
Leiteira, dias 8 e 9 de junho, em Erechim. O
alto custo de produção, estimado em cerca de
R$ 0,65 por litro pelo Sindicato das Indústrias
de Laticínios e Produtos Derivados do Estado
(Sindilat), dificulta a conquista de mercados e
emperra o crescimento sustentável do setor
local. O CRMV-RS participou dos eventos
com um estande (foto).
A Comissão de Zootecnia do CRMV-RS e o
Sindicato dos Zootecnistas (Sindizoot/RS)
realizaram, no dia 11 de junho, o Seminário de
Mercado de Trabalho para Zootecnia, em Dom
Pedrito, marcando a comemoração no estado
pela passagem do Dia do Zootecnista, comemorado em 13 de maio. O evento teve o apoio
do curso de Zootecnia da Universidade Federal
do Pampa (Unipampa) - Campus de Dom
Pedrito e oportunizou aos acadêmicos e
profissionais um panorama da profissão e do
mercado de trabalho. As palestras foram
realizadas pelos zootecnistas Edgar Mores e
Ângelo Marion. À noite, a programação
prosseguiu com a solenidade de entrega do
Prêmio Destaque da Zootecnia a 10 pessoas
(foto) e um jantar-dançante.
90
ANOS
Sociedade Brasileira de
Medicina Veterinária
26 a 30 de Julho de 2010
Rio de Janeiro
De 26 a 30 de julho, todas as atenções da
Medicina Veterinária brasileira estiveram
concentradas no Rio de Janeiro, onde
aconteceu o 37º Congresso Brasileiro de
Medicina Veterinária (Conbravet 2010), que
neste ano ganhou um adendo ao seu nome:
Congresso Internacional Comemorativo. As
razões para isso são muitas. Em 2010
comemoram-se os 150 anos do Ministério da
Agricultura, 100 anos de ensino de Medicina
Veterinária no Brasil e 90 anos de Sociedade
Brasileira de Medicina Veterinária (SBMV).
Pelo menos oito médicos-veterinários do
Rio Grande do Sul foram palestrantes do
evento, que contou com o apoio do CRMVRS e outras entidades de classe.
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maio a agosto 2010
SAÚDE PÚBLICA
Veterinária
& Zootecnia
Divulgação/CFMV
Medicina Veterinária
intensifica mobilização
para integrar o Nasf
VETERINÁRIOS NÃO INTEGRAM AÇÕES DE SAÚDE DA FAMÍLIA
A
mobilização é crescente,
mas ainda assim os
médicos-veterinários não
obtêm sucesso em sua
empreitada para incluir a Medicina
Veterinária entre as profissões que
fazem parte dos Núcleos de Apoio
à Saúde da Família (Nasf),
estruturas criadas em janeiro de
2008 pelo Ministério da Saúde
para dar apoio estratégico e tático
às equipes mínimas do Programa
de Saúde da Família (PSF). A
quase totalidade das profissões da
área da saúde passaram a integrar o
Nasf, dentro da Estratégia de
Saúde da Família (ESF), com
exceção da Medicina Veterinária e
da Biologia. Desde 2004, mas com
maior intensidade nos últimos
anos, o Sistema CFMV/CRMVs,
através das comissões nacional e
regionais de saúde pública
veterinária, tem pleiteado junto ao
Ministério da Saúde a inclusão dos
médicos veterinários no PSF, sem
sucesso até o momento.
A mobilização ganhou força no
XXVI Congresso Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde,
ocorrido em Gramado de 25 a 28
de maio deste ano. Essa foi uma
oportunidade para mostrar aos
agentes municipais e aos gestores
do SUS a relevância da participação dos veterinários nos Nasfs. Ao
fim do encontro, a avaliação é de
que o esforço valeu a pena. Um
momento importante foi a visita do
ministro da Saúde, José Gomes
Temporão, ao estande do Sistema
CFMV/CRMVs, quando foi
possível fazer a defesa do projeto.
Segundo o médico-veterinário
gaúcho Celso dos Anjos, integrante da Comissão Nacional de Saúde
Pública Veterinária (CNSPV) do
CFMV, o pleito não tem caráter
corporativista, mas busca qualificar o atendimento prestado à
população dentro do Sistema
Único de Saúde (SUS). “Nossa
intenção é que o médico-
veterinário faça parte do Nasf,
pois não tratamos diretamente o
paciente humano, mas temos
muito o que dizer sobre as
relações das pessoas com o meio
ambiente, a ponto dela se tornar
desequilibrada e gerar uma série
de agravos”, diz Anjos.
Dados que dêem consistência
a essa demanda não faltam. Em
torno de 75% das emergentes e
reemergentes são de origem
animal, incluindo as zoonoses.
Além disso, os maus tratos
humanos à natureza têm sido
responsabilizados pelo aumento
dos riscos de adoecer. “Definitivamente, um território doente
tem origem nas doentes relações
entre as pessoas e o meio ambiente”, afirma a CNSPV em um
artigo publicado na edição
setembro/dezembro de 2009 da
revista CFMV. Uma realidade
atual é que a ocupação e o manejo
desorganizado dos espaços são
responsáveis pela imposição e
aumento dos animais sinantrópicos e pelo crescimento de várias
doenças e acidentes com animais
peçonhentos.
Um dos aspectos defendidos
pela Medicina Veterinária é que a
saúde necessita dos saberes de
muitas profissões, tanto as do
campo das ciências biológicas,
quanto as de fora dele. O esforço
dos membros da CNSPV e também
da comissão do CRMV-RS tem
sido justamente em esclarecer as
autoridades que a atuam em saúde
pública sobre a diversidade de
atuações do médico-veterinário.
“Eles se revelam surpreendidos
com o leque de possibilidades de
interações em questões sanitárias e
ambientais que a Medicina
Veterinária oferece”, diz Anjos. O
especialista lembra que a profissão
nasceu justamente em razão das
necessidades das pessoas e para
atuar junto à função social dos
animais.
Ministro Temporão ouviu argumentos durante seminário em Gramado
Vigilância sanitária não
substitui atuação na Estratégia
de Saúde da Família
Um dos argumentos das autoridades para justificar a ausência
do médico-veterinário na Estratégia de Saúde da Família (ESF) é
sua presença na vigilância em saúde. Além disso, uma correspondência da Direção do Departamento de Atenção Básica do
Ministério da Saúde afirma que a integração das ações de vigilância
e atenção básica suprime a necessidade de inclusão do médicoveterinário no Nasf. A justificação se dá sob a afirmação que o
profissional já compõe os Centros de Controle de Zoonoses
(CCZs). Porém, as áreas são completamente distintas.
A vigilância em saúde envolve três vértices tradicionais: a
vigilância epidemiológica, a ambiental e a sanitária. Essa aproximação decretou o fim de um sistema mais tradicional e contemplativo, que tinha menos presença. A inserção tradicional do médicoveterinário na vigilância em saúde difere daquela praticada pelas
profissões que compõem o Nasf e que tem condições de orientar e
intervir junto às pessoas e aos territórios. “Certamente, há uma
diferença de especificidade e sensibilidade entre atuar na vigilância
em saúde tradicionalmente estruturada, que centra seu foco no
conjunto de uma cidade, e outra que reduz seu cenário de observação e interação ao território circunscrito das famílias”, afirma
Celso dos Anjos, da Comissão Nacional de Saúde Pública
Veterinária (CNSPV).
Além disso, se a atenção básica consegue chegar cada vez mais
perto das pessoas, o mesmo ainda não pode ser dito de grande parte
dos serviços municipais de vigilância em saúde. Com relação aos
CCZs, a situação é ainda mais preocupante. Segundo o Ministério
da Saúde, cerca de 250 municípios contam com o serviço estruturado, abrangendo 41% da população, mas apenas menos de 5% das
cidades brasileiras. Porém, a existência de um CCZ não garante que
toda a população seja atendida por ele.
Vale ressaltar que a intenção não é fazer com que o médicoveterinário faça parte da equipe mínima da saúde da família, mas
que integre os grupos multiprofissionais que se ocupam dos
territórios maiores. Assim, a população terá uma atenção básica
domiciliar resultante de permanente vigilância, com impacto sobre
o controle e até mesmo erradicação de várias doenças.
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maio a agosto 2010
FISCALIZAÇÃO
Veterinária
& Zootecnia
Comercialização de medicamentos exige
cuidados especiais dos médicos-veterinários
PROFISSIONAIS DEVEM VALORIZAR A EXPLICAÇÃO SOBRE O USO CORRETO DOS PRODUTOS AOS CONSUMIDORES
Divulgação/CRMV-RS
A
comercialização de medicamentos de uso veterinário é uma atividade que
deve acontecer somente
com a supervisão do médicoveterinário responsável técnico
pela agropecuária. No entanto, na
prática, observa-se que essa
prerrogativa não é observada e
muitos casos de irregularidades
são registrados nas ações de
fiscalização, tanto do CRMV-RS
quanto de outros órgãos públicos.
A não observância dessa norma
acarreta prejuízos à saúde pública,
ao agronegócio e também ao
profissional, sujeito inclusive a
processo ético no Conselho.
Segundo os registros da Produtos devem ficar guardados em local com acesso restrito
fiscalização do CRMV-RS, as
irregularidades mais comuns dizem respeito à função dos resíduos de substâncias ativas e/ou
ausência do RT em tempo integral na agrope- seus metabolitos permanecerem na carne, no
cuária e ao acondicionamento inadequado dos leite ou nos ovos, por exemplo, durante um
produtos. Além disso, há situações de venda de determinado período que é informado nos
medicamentos com a data de validade expirada rótulos ou bulas de cada medicamento. O
ou sem o controle do receituário.
período de carência é estabelecido de acordo
Professor aposentado de Farmacologia da com a quantidade máxima que um ser humano
Faculdade de Medicina Veterinária da pode ingerir de determinada substância ativa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul sem causar prejuízo. Langeloh alerta que o
(UFRGS), o presidente da Academia Rio- tempo não é definido só pelo fármaco, mas pelo
Grandense de Medicina Veterinária, Augusto produto e laboratório uma vez que o excipiente
Langeloh, chama a atenção para outro ponto no e outros componentes do medicamento
qual o veterinário deve ter atenção redobrada, interferem na farmacocinética e assim no
mas que infelizmente nem sempre é observado. tempo de permanência no animal tratado. Por
“A orientação ao produtor sobre o período de isso, sempre deve ser feita a verificação do
carência é fundamental e deve ser muito bem rótulo ou bula.
feita, mesmo que não tenhamos como garantir
A presença de resíduos de medicamentos
que será observada”, diz.
veterinários nos produtos de origem animal e de
Os medicamentos utilizados em animais de consumo humano pode trazer importantes
produção são os que oferecem maior risco em prejuízos econômicos. Mercados importadores
realizam análises frequentes para
verificar possíveis contaminações. Um dos produtos de
controle mais fácil e rigoroso é o
leite, inclusive pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa).
Outra falha observada é no
controle do estoque dos
medicamentos nas agropecuárias. Os produtos devem ficar
guardados em local reservado,
ao qual só tenham acesso
pessoas autorizadas. Além
disso, a fim de comprovar a
venda, as receitas devem ficar
arquivadas. Com relação ao
receituário, outra falta grave é
manter receitas em branco e
assinadas na agropecuária.
A falta de orientação sobre a duração do
tratamento - ou a não observância dela por parte
dos produtores - também pode determinar o
aparecimento de resistência dos micro, endo e
ectoparasitas aos antimicrobianos, antihelmínticos e ectoparasiticidas. “A exposição
sistemática a doses subletais ou subterapêuticas
acaba selecionando cepas mais resistentes e
contra as quais os medicamentos deixam de
surtir efeito”, explica Langeloh.
Por isso, a regra é procurar ser o mais claro e
objetivo ao orientar o consumidor sobre o uso
dos medicamentos, alertando sobre o tempo de
uso, o período de carência, o armazenamento
em casa ou na propriedade e o descarte
adequado das sobras. Um aliado desse
processo também é o médico-veterinário que
atende os animais nas propriedades e pode
acompanhar de perto os procedimentos
adotados pelos produtores.
Produtos piratas oferecem grande risco
Os médicos-veterinários responsáveis técnicos de agropecuárias
devem ficar atentos também à comercialização de medicamentos sem
garantia de qualidade, contrabandeados ou piratas. Os produtos devem
ser obrigatoriamente registrados no Mapa e a relação está disponível na
internet, na página do Ministério. Como garantia, deve-se dar preferência a fornecedores idôneos e, principalmente, ficar atento a preços muito
abaixo do valor médio de mercado. O emprego de produtos não registrados no Brasil é irregular.
O professor Augusto Langeloh explica que o uso de matéria-prima de
boa qualidade aumenta os custos do medicamento. Em alguns casos, as
substâncias ativas são adquiridas de fabricantes que não conseguem
atender às especificações técnicas ou as burlam para diminuir custos, o
que acaba também por comprometer o produto final. No entanto, o
médico-veterinário não tem como saber desse processo que ocorre no
laboratório. Assim, a sugestão de Langeloh é eleger produtos de
fabricantes confiáveis e idôneos. O Mapa divulga periodicamente a
relação de produtos irregulares que lhe chega ao conhecimento.
Finalmente, o professor ressalta, o responsável técnico (RT) das
agropecuárias que vendem produtos veterinários não pode desconhecer
a extensa legislação que regula a comercialização e o uso e se encontra
disponível na página da Coordenação de Fiscalização dos Produtos
Veterinários (CPV) do Mapa.
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maio a agosto 2010
NOTÍCIAS
Veterinária
& Zootecnia
Rio Grande do Sul debate retirada
da imunização contra febre aftosa
SUSPENSÃO DA VACINA DEVE OCORRER COM QUALIFICAÇÃO DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA, PRINCIPALMENTE NA FRONTEIRA
preparativos para a retirada da
vacina. Porém, o que mais
preocupa é como impedir a
entrada do vírus em território
gaúcho e as condições de dar
uma resposta rápida e eficiente
em caso de ocorrência de
contaminação.
Na reunião realizada em
junho, o chefe do Serviço de
Doenças Vesiculares da Secretaria da Agricultura, Pecuária,
Pesca e Agronegócio (Seappa),
Fernando Groff, apontou 16
pontos exigidos pela OIE para a
evolução do status, dos quais
considera que 75% deles já
sejam atendidos. Mesmo
assim, Groff avalia que seriam Estado registra índices de vacinação superiores a 90% do rebanho
necessários pelo menos dois
anos e meio de trabalho para atingir o reconhePara a indústria de carne, a retirada da vacina
cimento do organismo internacional.
expandiria os negócios. Mercados importadoUm dos principais pontos nos quais é preciso res de carne suína que pagam mais, como a
avançar é o controle do trânsito de animais, com a Rússia, hoje são atendidos somente por Santa
melhor comunicação de suspeitas para as equipes Catarina, único estado brasileiro com status de
de vigilância. Para isso, é fundamental aumentar e livre de aftosa sem vacinação, e poderiam entrar
qualificar os pontos de fiscalização nas fronteiras na lista de clientes do Rio Grande do Sul. A
e divisas do Rio Grande do Sul e melhor a pecuária de corte também poderia conquistar
integração dos serviços de vigilância dos países novos mercados. Para o secretário da
vizinhos e de Santa Catarina. Além disso, é Agricultura, Gilmar Tietböhl, a retirada da
necessária contratação de pessoal, tanto técnico vacina é importante para passar uma melhor
quanto administrativo. Outro ponto exigido pela imagem do estado, mas o processo deve ser
OIE é a intensificação da rastreabilidade do gado realizado passo a passo e com a integração de
e o georreferenciamento das propriedades.
toda a cadeia produtiva.
Meta do Mapa é erradicar a doença até o final do ano
Reprodução/Mapa
RR
AP
PA
AM
MA
CE
RN
PB
PI
PE
AC
AL
SE
TO
RO
BA
MT
GO
DF
MG
Classificação de risco para febre aftosa e área
livre da doença, 2009
SP
Zona livre de febre aftosa sem vacinação
Zona livre de febre aftosa com vacinação
PR
BR-3 Risco Médio
SC
BR-4 Alto Risco
BR-NC Risco não conhecido
ES
MS
RS
RJ
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fixou como meta
erradicar a febre aftosa do território brasileiro até o final deste ano. “Vamos ampliar a
parceria com a Bolívia e o Paraguai na região de fronteira para alcançarmos a meta de
País livre de febre aftosa com vacinação até o fim deste ano. Além disso, vamos
desenvolver ações na fronteira com a Venezuela”, diz o secretário de Defesa
Agropecuária do Mapa, Francisco Jardim. A longo prazo, a intenção é retirar a imunização, mas isso depende também da atuação dos demais países da América do Sul.
Estimativas apontam que cerca de 175 milhões de cabeças encontram-se em área
livre de aftosa com vacinação, e 22 milhões estão em zona não livre da doença. As
principais preocupações são as regiões Norte e Nordeste. A maior parte do Amazonas e
do Amapá são classificadas como área de risco desconhecido. Roraima e o Norte do
Pará são avaliados como regiões de alto risco.
O Brasil rumo ao título de País livre da febre aftosa foi o lema da campanha do
Ministério da Agricultura veiculada em emissoras de televisão e rádio, revistas e pela
internet em maio, período de vacinação. A campanha de utilidade pública, com alcance
em todo território nacional, utilizou a linguagem universal do futebol e mostrou que o
Brasil conhece as regras do jogo que envolve a prevenção, manutenção e ampliação de
áreas livres de febre aftosa.
Divulgação/ABHB
R
etirar ou não a vacinação contra a aftosa
no Rio Grande do Sul? Esse é um
questionamento que tem estado presente
nas discussões de políticos, lideranças,
profissionais do agronegócio e produtores no
Estado nos últimos meses. Há dez anos os
gaúchos retiraram a imunização do rebanho, mas
menos de um ano depois, a ocorrência de um
foco em Joia provocou o abate de 11 mil animais
e determinou a volta da vacina. A experiência
deixou marcas profundas entre criadores e
também entre os responsáveis pelo serviço de
vigilância sanitária. Hoje o que mais se discute é
quais seriam as vantagens em se retirar a
vacinação e quais os riscos a que o rebanho
ficaria sujeito com a prática.
A estratégia adotada dessa vez é esgotar o
debate e montar um cronograma para a suspensão segura da imunização. Somente após haver
garantias com relação à defesa sanitária é que
será encaminhada a tramitação junto à
Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). O
Fundo de Desenvolvimento e de Defesa
Sanitária Animal (Fundesa) já trabalha no
fortalecimento da vigilância sanitária. Em uma
reunião em 29 de junho, que reuniu todos os
envolvidos na cadeia produtiva da carne, ficou
resolvido que serão promovidos encontros com
produtores nos municípios, além de contatos
com representantes do Uruguai e da Argentina.
Desde 2002 não há circulação viral no Rio
Grande do Sul. Além disso, a cobertura vacinal
apresenta índices acima de 90%. Essas duas
condições credenciam o estado a iniciar os
7
maio a agosto 2010
NOTÍCIAS
Veterinária
& Zootecnia
Veterinários precisam comunicar
ocorrência de enfermidades
de notificação obrigatória
O
s médicos-veterinários são obrigados
por lei a comunicar ao Serviço de Defesa
em Saúde Animal sobre enfermidades
de notificação obrigatória diagnosticadas em seu exercício profissional. A determinação consta no decreto federal 25.548/1934 e no
código de ética (Resolução CFMV 722/2002,
anexo I, artigo 6º inciso VII), além de estar
prevista na lei estadual 13.467/2010, em
regulamentação. No entanto, isso não vem
ocorrendo e há casos de enfermidades não
notificadas verificados no Rio Grande do Sul,
afirma o médico-veterinário Nilton Rossato,
chefe da Divisão de Fiscalização e Defesa
Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura,
Pecuária, Pesca e Agronegócio (Seappa).
“Existe um grupo de enfermidades que os
médicos-veterinários são obrigados por lei a
notificar os serviços de defesa sanitária sobre a
ocorrência, mesmo quando se tratar apenas de
uma suspeita. No entanto, temos registrado
muitos casos que seriam de notificação
obrigatória, mas que não são comunicados”,
afirma Rossato. Quando questionados, muitos
profissionais afirmam desconhecer a obrigação. Ao não comunicar a ocorrência de alguma
dessas doenças, o médico-veterinário coloca
em risco o status sanitário do estado. “Pode
ocorrer o agravamento de uma doença contagiosa e acabarmos por tomar as medidas de
controle tardiamente. Também pode ocorrer o
comprometimento da saúde humana em função
do contágio de algumas zoonoses”, acrescenta.
Ao não notificar as doenças que integram a
relação, o profissional fica sujeito à processo
ético no CRMV-RS.
Relação de doenças, de acordo
com o decreto 24.548, de
3 de julho de 1934
- peste bovina - nos ruminantes
- febre-aftosa - nos ruminantes e suínos
- raiva e a pseudo-raiva - nos mamíferos
- tuberculose - nos bovinos, suínos e aves
- carbúnculo hemático - nos ruminantes, suínos e
equinos
- carbúnculo sintomático e peripneumonia - nos
bovinos
- bruceloses - nos ruminantes, suínos e equinos
- salmoneloses - nos bovinos, suínos e aves
- pasteureloses - nos mamíferos e aves
- tripanossomoses - nos mamíferos
- piroplasmoses - nos ruminantes, equinos e caninos
- anaplasmose - nos bovinos
- mormo - nos equinos, asininos e muares
- encefalite enzoótica - nos equinos
- ruiva e peste suína - nos suínos
- cravagem - nos ovinos
- vaginite granulosa e coriza gangrenosa - nos
bovinos
- coccidioses - nos mamíferos e aves
- psitacose, espiroquetose, difteria e peste - nas aves
- sarnas - nos ruminantes, equinos, suínos, aves e
pequenos animais domésticos
- mixoma e a encefalite - nos coelhos
Governo altera normas de inspeção
animal produzidos pelas
agroindústrias.
O conselheiro diz que
poderia haver preocupação se as mudanças provocassem um retorno a um
estágio anterior, no qual o
Ministério da Agricultura
não tinha controle sobre o
Serviço de Inspeção Municipal (SIM). No entanto,
o decreto presidencial
mantém a exigência de
auditoria do Ministério e
assim a padronização será
mantida. A cada município
cabe definir suas diretrizes, alinhadas ao Suasa.
O Rio Grande do Sul Capacitação é fundamental para a qualidade dos alimentos
tem hoje dois municípios
habilitados junto ao
Sistema - Santa Cruz do Sul e Rosário do Sul - e inspeção nas prefeituras, quanto dos responsáoutros 20 com projetos em andamento. A veis pelas agroindústrias”, afirma. Em julho,
Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul aconteceu mais um curso para os funcionários
já solicitou sua adesão ao Suasa. Dickel diz que de prefeituras promovido pela Famurs.
o processo de implantação do Suasa no país
Dickel também diz que é preciso qualificar
pode ser considerado um pouco demorado, mas cada vez mais as agroindústrias familiares,
aponta principalmente a desatualização dos orientando os produtores sobre os processos de
serviços municipais como um fator decisivo produção, principalmente dos produtos de
para que as adesões não ocorram mais rapida- origem animal. Nesse ponto, Dickel avalia que a
mente. “É necessário investir cada vez mais em Emater tem um papel importante na capacitação
treinamento, tanto dos responsáveis pela dos agricultores familiares.
Divulgação/Emater
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
assinou, no dia 17 de junho, o decreto
que altera artigos da Inspeção
Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal (RIISPOA). A medida permite
a equivalência entre os serviços de inspeção
federal, estadual e municipal. Segundo o
governo, dessa maneira se ampliam as possibilidades de comercialização dos produtos da
agricultura familiar em todos os estados.
Além disso, o decreto assinado altera
artigos do Sistema Unificado de Atenção à
Sanidade Agropecuária (Suasa) com a intenção
de facilitar a adesão dos serviços de inspeção
sanitária municipais e estaduais ao Suasa. Isto
possibilitará que estados e municípios tenham
suas próprias legislações, regulamentando
seus serviços, incluindo normas específicas
para agroindústrias familiares de pequeno
porte. Com a medida, o governo espera que o
Suasa chegue a 15 estados e 500 municípios
ainda em 2010.
Na avaliação do médico-veterinário Elci
Dickel, professor da Universidade de Passo
Fundo (UPF), fiscal agropecuário do Ministério
da Agricultura e conselheiro do CRMV-RS, as
alterações realizadas pelo governo federal não
devem provocar prejuízos à qualidade dos
alimentos. “O decreto não muda nada do que é
da lei”, resume. Dickel acredita que as mudanças devem ampliar a cobertura do Suasa e
inclusive qualificar os alimentos de origem
8
maio a agosto 2010
AVICULTURA
Veterinária
& Zootecnia
CFMV altera normas de registro e
responsabilidade técnica em granjas
VETERINÁRIOS PODERÃO ATENDER ATÉ 80 GRANJAS EM RAIO DE 100 KM, QUANTIDADE CONSIDERADA NÃO IDEAL PELOS PRODUTORES
O
atendimento do médico-veterinário
como responsável técnico (RT) em
estabelecimentos avícolas de reprodução e produção comercial tem sido
motivo de debates no CRMV-RS. A Resolução
nº 947, de 26 de março de 2010, do Conselho
Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que
dispõe sobre os procedimentos para registro e
anotação de responsabilidade técnica em
granjas avícolas, teve alguns de seus artigos
alterados. Em estabelecimentos de reprodução,
a resolução previa o atendimento do médicoveterinário responsável técnico (RT) em até 20
propriedades, como prestador de serviços, de
granjas matrizeiras, de recria e produção e de
postura comercial. Já em granjas de produção
comercial, o RT também podia realizar
atendimentos no mesmo número granjas, desde
que não ultrapassasse 100 quilômetros de
distância do domicílio profissional.
Esse limite de propriedades contrariava o
que foi debatido entre os CRMVs da Região
Sul (estados que concentram a quase totalidade
da produção avícola comercial brasileira) e a
cadeia produtiva de aves. A determinação do
CFMV motivou a mobilização de entidades
como a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), que buscaram o Conselho Federal para
expor suas necessidades e esclarecer a respeito
da organização produtiva das granjas comerci-
ais, especialmente aquelas integradas às
empresas.
Em resposta, o CFMV modificou a
Resolução, publicando novas normas no Diário
Oficial da União, em 1º de julho, alterando o
número de estabelecimentos em que o RT pode
atuar. O Artigo 9º da Resolução define que o
médico-veterinário que atender em estabelecimentos de produção comercial poderá ser RT de
até 80 propriedades - número ainda abaixo do
considerado ideal pelas empresas e pelos
CRMVs do Sul -, desde que não ultrapasse 100
quilômetros de seu domicílio e que a capacidade máxima de aves alojadas não exceda 4
milhões de aves.
Instruções normativas estabelecem parâmetros de registro e fiscalização
de doença ou queda de produção àquele plantel.
“Compartilhando responsabilidades, o médicoveterinário responsável técnico, de forma ética e
transparente, atua na prevenção e até na ocorrência de um episódio sanitário. Isso é garantia de
segurança alimentar”, declara. Ela acredita que é
imprescindível a obrigatoriedade do médico
veterinário como RT e salienta a importância
deste profissional da iniciativa privada como um
elo com o serviço veterinário oficial.
Para o presidente-executivo da União
Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco
Turra, sem o apoio do CRMV-RS e da inteligência do médico-veterinário não será possível
implantar a IN 56 no Brasil. Ele acredita que o
país ainda poderá perder espaço no mundo. “Há
novas exigências a cada ano. Temos que nos
adequar e para nos adequarmos, os veterinários tem que estar tecnicamente amparados”,
comenta Turra. Em dezembro de 2009, o
Mapa divulgou uma ementa onde altera a IN
56, a IN 59, estabelecendo normas e prazos
para adaptações e alterações nos estabelecimentos avícolas referente as instalações,
trânsito de aves e rastreabilidade.
Outro ponto fundamental para a manutenção dos mercados - e conquista de novos
destinos - é a adoção das Boas Práticas de
Fabricação (BPF) na avicultura de postura,
exigência também já definida pelo Mapa.
Segundo a médica-veterinária Andrea Troller
Pinto, a adoção dos procedimentos das BPFs
são necessários para a obtenção de alimentos
inócuos e saudáveis.
Divulgação CRMV-RS
Em vigor desde 2007, a Instrução
Normativa nº 56, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), estabelece os procedimentos para
registro, fiscalização e controle de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais.
As granjas avícolas devem estar registradas
ou procurar a adequação junto ao Ministério.
A IN institui também o registro junto aos
órgãos estaduais de defesa sanitária. A
Anotação de Responsabilidade Técnica
(ART) neste caso deverá ser feita por um
médico-veterinário que realiza o controle
higiênico-sanitário do estabelecimento
avícola, nos moldes da exigida pelo Sistema
CFMV/CRMVs. O assunto foi debatido no
Seminário de Responsabilidade Técnica Módulo Avançado em Produção de Ovos,
promovido realizado pelo CRMV-RS durante
a 2ª Feira Nacional do Frango (Fenafrango),
em Passo Fundo, que foi realizada de 25 a 30
de maio.
Hoje o mercado internacional exige
garantias sanitárias que fazem com que haja
uma integração entre iniciativa privada e
serviço oficial e este elo só é feito através do
médico-veterinário, que atua como responsável técnico, defende a médica-veterinária e
coordenadora do Programa Nacional de
Sanidade Avícola (PNSA) na Superintendência Federal de Agricultura no Estado,
Taís Oltramari Barnasque. Para ela, o
veterinário é o primeiro profissional a realizar
o atendimento a uma unidade produtiva e,
portanto, é ele quem tem condições de
notificar ao serviço oficial qualquer suspeita
Seminário organizado pelo CRMV-RS na Fenafrango debateu melhorias na produção de ovos
9
maio a agosto 2010
NOTÍCIAS
Veterinária
& Zootecnia
Estética de cães e gatos preocupa
mais do que visitas ao veterinário
MENOS DE UM QUARTO DOS DONOS DE PETS COSTUMAM REALIZAR CONSULTAS DE ROTINA
companhia, apenas 24% dos
proprietários de cães e gatos têm o
hábito de levar seus bichos de
estimação para consultas preventivas. Se forem considerados
aqueles que levam seus pets para
tratamentos prolongados, este
número cai para 11%.
Apesar dessa aparente despreocupação com questões mais
amplas envolvendo a saúde dos
animais de companhia, a pesquisa
identificou que 55% dos cães
tomam banho semanal e 42% tem
o pelo tosado - a maioria em locais
fora de casa, com gastos médios
por estes dois serviços de aproximadamente R$ 45,00.
Embora esses sejam cuidados
que reflitam também na saúde dos
pets, questões como a cinomose,
uma das mais importantes
doenças que acomete os cães, está
longe de ser erradicada do país,
uma vez que hoje vacina-se
apenas 20% da população canina
nacional. Durante a pesquisa,
Divulgação
U
m pelo limpo, bem
escovado e aparado nem
sempre é sinônimo de que
um cão ou gato goza de
boas condições de saúde. Embora
os donos de animais de companhia
se preocupem com o bem-estar de
seus bichinhos, levando-os
frequentemente para tomar banho
e tosar o pelo, na maioria das
vezes em pet shops, esses cuidados não se estendem também à
prevenção de doenças - já que
75% dos brasileiros que possuem
pet só levam seu animal de
companhia ao veterinário quando
ele apresenta algum tipo de
problema.
De acordo com o levantamento
Radar Pet, pesquisa feita junto a
representantes das classes econômicas A, B e C, encomendado
pela Comissão de Animais de
Companhia (Comac) do Sindicato
Nacional da Indústria de Produtos
para Saúde Animal (Sindan), entre
os proprietários de animais de
Nas classes A, B e C, metade dos cães tomam banho semanal e tem o pelo tosado
quando questionados sobre os
principais receios relacionados à
saúde dos seus animais, 16%
apontaram pulgas e carrapatos e
13% revelaram não haver nenhum
tipo de preocupação. Em Curitiba,
por exemplo, município cujos
gastos com banho e tosa estão
acima da média nacional, cerca de
R$ 70,00, apenas 24% levam seu
bichinho regularmente a uma
clínica veterinária.
Falta do hábito de cuidados preventivos
de saúde se reflete nos animais
Para o veterinário e presidente da Comac, Luiz Luccas, a
aparente contradição entre a
visita frequente à pet e as raras
consultas com o médicoveterinário se deve pelo fato de
que não há no país o hábito de
cuidados preventivos com a
saúde. “É muito importante levar
os pets regularmente ao veterinário, porém, na maioria dos casos
os donos não compreendem o
valor que isso tem e o impacto
que causa na relação estabelecida entre ele e o animal. Se você
se prevenir, acaba diminuindo o
risco do pet desenvolver problemas futuros”, explica.
Luccas recomenda que, se
possível, o animal visite o veterinário uma vez a cada seis meses uma para a vacinação obrigatória e
outra para fazer diagnósticos
preventivos. “Lamentavelmente
muitas pessoas deixam de vacinar
seus pets anualmente e isso é um
fator de risco. Um grande grupo
não faz a vacinação anual e não
utiliza as vacinas disponíveis no
mercado. Doenças como a
cinomose, raiva, tosse dos canis,
hepatite, leptospirose, parvovirose, entre outras, podem ser tratadas com as vacinas múltiplas”,
acrescenta. Além das doenças, a
medida que o pet envelhece, as
visitas ao veterinário podem
melhorar a qualidade de vida do
animal.
Para fazer com que a maioria
dos donos de cães e gatos reconheça a importância das consultas
periódicas ao veterinário, Luccas
reforça que há a necessidade de
ressaltar, além dos aspectos
relacionados à saúde do animal,
a importância da relação petproprietário. “É preciso valorizar a relação entre proprietários e
seus animais de estimação,
destacando o papel que os
animais de companhia estão
ocupando na vida das pessoas”,
justifica. Isso deve ser feito a
partir da conscientização de que
a companhia do cão e do gato
pode trazer benefícios e bemestar ao ser humano, especialmente em aspectos relacionadas
à saúde e bem-estar das pessoas.
10
maio a agosto 2010
ENSINO
Veterinária
& Zootecnia
Formação dos novos médicos-veterinários
desafia universidades e Sistema CFMV/CRMVs
ASPECTOS TÉCNICOS DA GRADUAÇÃO DEVEM AGREGAR TAMBÉM CONHECIMENTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS
Divulgação/CFMV
A
qualidade do ensino da
Medicina Veterinária no
Brasil passa por um momento de reflexão. Nos
últimos anos, o país vivencia uma
explosão de novos cursos, montante que hoje está acima de 160
faculdades. Porém, na contramão
desse dado, não se observa o
incremento da qualidade dos
serviços prestados ou a valorização
da inserção do médico-veterinário
na sociedade brasileira. Os
profissionais recém-formados
recebem uma formação mais
voltada aos aspectos técnicos, mas
com deficiências quando exigidos
a dar respostas em projetos de
importância econômica e social
para o país. Esses aspectos foram
destacados durante o XVIII
Seminário Nacional de Ensino da
Medicina Veterinária, promovido
pelo CFMV em 31 de maio e 01 de
junho, em Brasília, e que reuniu
uma centena de participantes, entre
coordenadores de curso, presidentes de CRMVs e estudantes. Além
disso, o evento também foi
acompanhado, em tempo real, pela
internet, com mais de 500 acessos.
Um dos principais pontos
Ensino superior realizado no país foi discutido em seminário em Brasília
debatidos foi justamente a avaliação do ensino médico-veterinário.
No Brasil, a principal ferramenta
oficial para verificar é o Exame
Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade), prova que tem
o objetivo de aferir o rendimento
dos alunos dos cursos de graduação
em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e
competências. Neste ano, o exame
será aplicado em 21 de novembro.
Além disso, o Ministério da
Educação realiza avaliações
regulares dos cursos, inclusive com
vistorias in loco para observar as
instalações para as aulas, especialmente os laboratórios e espaços de
atividades práticas. O CFMV aplicava, até 2007, o Exame Nacional
de Certificação Profissional, prova
aplicada a todos os formandos
como exigência para inscrição
profissional nos CRMVs. Porém,
por determinação judicial, a
exigência foi considerada irregular.
No entanto, há a intenção do
CFMV de que seja retomada.
Há ainda, a avaliação dos
programas de residência em
Medicina Veterinária, instituída
pelo CFMV em 2008 por meio de
uma resolução que estabelece as
diretrizes nacionais reguladoras
dos padrões de qualidade dos
programas. Essas normas surgiram
devido ao esforço da Comissão
Nacional de Residência em
Medicina Veterinária (CNRMV),
que, por cinco anos, avaliou o
trabalho feito junto a diferentes
instituições e criou um documento
que traça o perfil ideal para o
exercício da residência. A certificação do CFMV é voluntária e
atualmente cerca de 20 programas
são reconhecidos. Qualquer universidade pode fazer a solicitação
de reconhecimento ao CFMV.
Após a solicitação, dois membros
da Comissão Nacional de
Residência Médico-Veterinária
avaliarão in loco as universidades
sob a luz das regras definidas pela
resolução nº 895. Em seguida, seu
relatório é submetido à apreciação
e aprovação da Plenária do
CFMV. Os processos têm validade
estipulada, que pode ser de até
cinco anos.
Nos Estados Unidos, há falta de profissionais graduados
Os rumos da Medicina
Veterinária nos Estados Unidos e
a falta de profissionais graduados
levaram à criação do Consórcio
Norte-Americano de Educação
e m M e d i c i n a Ve t e r i n á r i a
(Navmec, na sigla em inglês). O
objetivo era criar um modelo de
avaliação de cursos no país.
“Tínhamos as informações, mas
elas precisavam resultar em algo
que seria aplicado para o futuro.
Somos todos muito bons ao
ensinar técnicas, mas estamos
produzindo médicos veterinários
capazes de gerenciar o país e
tomar decisões?”, questionou o
diretor Mike Chaddock, da
Associação Americana de Universidades de Veterinária (AAVMC,
na sigla em inglês), durante XVIII
Seminário Nacional de Ensino da
Medicina Veterinária,
O Consórcio conta com uma
verba de US$ 520 mil e faz uma
investigação sobre o que poderá ser
aplicado no ensino da Medicina
Veterinária dos Estados Unidos nos
próximos 20 anos. De acordo com
Chaddock, o que motivou o
Consórcio foram os sucessivos
relatórios de avaliação de cursos
feitos pela entidade. Ele ressalta
que é importante que o profissional
do futuro apresente uma visão
humanística e social para buscar
soluções para as demandas que a
sociedade exige, como também,
aprimore suas habilidades de
comunicação e de negócios e
busque conhecimento de mercado.
Chaddock também enfatizou a
necessidade de adaptação dos
métodos de ensino, já que hoje, o
estudante tem outro perfil. “Precisamos pensar como vamos entregar
a educação aos alunos modernos e
globalizados que temos em nossas
salas de aula”, disse exemplificando que não há como se ensinar
anatomia, por exemplo, como se
fazia há 20 anos. O diretor da
AAVMC disse que para realizar
um projeto como este de avaliação de ensino é importante se
definir um plano de trabalho e as
pessoas responsáveis. Nos
Estados Unidos eles optaram por
contratar um diretor que se dedica
exclusivamente à atividade.
Chaddock também enfatizou a
necessidade de se convidar o
maior número de entidades para
participar das discussões.
11
maio a agosto 2010
ARTIGO
Veterinária
& Zootecnia
Faltam marcas no marketing
da carne vermelha e ovos
ESSES ALIMENTOS CONVIVEM, AINDA, COM LENDAS URBANAS QUE CENSURAM SEU CONSUMO
Hélio Ademar Schuch*
U
m nicho do mercado de propaganda que
se movimentou nos últimos anos, após
o Plano Real, foi o de alimentos, onde
os produtos de origem animal se
destacam. A renda aumentou, mesmo que
modestamente, a inflação deu uma trégua e
surgiu e cresceu a concorrência interna entre
agroindústrias e externa com produtos estrangeiros, e uma demanda fortemente reprimida
passou a ser atendida.
Mas, com a exceção das empresas do setor
de aves e de embutidos, de leite e seus derivados, que estimuladas investiram em novos
produtos, embalagens, propaganda e marcas,
duas partes da produção animal - carnes
vermelhas e ovos - ainda não apresentam
intensidade em marketing e propaganda, e as
marcas, personalidade do produto, são praticamente inexistentes.
Esses alimentos ainda sofrem com lendas
urbanas do tipo “contribuem para o aumento do
colesterol”, “fazem mal para o coração”,
“pessoas que consomem muito se tornam
agressivas”, etc... Para completar, com regularidade e intensidade aparecem críticas e censuras
sobre “sofrimento” e “confinamento” dos
animais com argumentos absurdos e falsos (“as
poedeiras são animais estressados porque
vivem presas em gaiolas”, “o frango é desenvolvido na base de hormônios”... sim, o frango
tem hormônio de crescimento, como nós
também temos, mas natural, e não sintético, e as
poedeiras não são estressadas). Enfim, um
quadro que se explica pelo desconhecimento
combinado com um espírito de rechaço pela
ciência e tecnologia que ainda existe na cultura
brasileira.
As carnes vermelhas e os ovos são alimentos
extremamente protéicos (aliás, eles são
sinônimos de proteína), nutritivos e saudáveis; o
ovo de galinha, por exemplo, é considerado uma
espécie de baliza para os graus de nutrientes dos
Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS
(51) 2104.0566
Informativo OnLine
Número 398 - 17/04/2010 a 23/04/2010
outros alimentos e não se conhece um produto
mais completo do que ele. As carnes vermelhas
são necessárias porque contêm ferro de alto
valor biológico, ou seja, aquele que é mais
facilmente assimilado pelo organismo humano.
Alimento é nutrição, mas principalmente sabor
e prazer e isto as carnes vermelhas e os ovos
oferecem em abundância.
Estes dois produtos têm existência antidiluviana, são mais do que conhecidos, mas em
alguns aspectos a expressiva maioria dos
consumidores possui apenas informações
incompletas, e entendo que é por aí que começa
o seu marketing. As carnes não são iguais, se
diferenciam pelas raças dos animais, o que pode
ser entendido como suas marcas. Zebuínos são
diferentes do gado europeu e a carne de
Aberdeen Angus é considerada uma das
melhores pelo seu marbling (relação carne/gordura) quase perfeito.
Geralmente o que se conhece em carnes
vermelhas são alguns cortes básicos, e a
picanha e a costela para churrasco não apresentam mistério, mas, qual a diferença entre costela
dianteira e traseira? Em alguns supermercados
os cortes embalados oferecem a informação
“dianteiro/traseiro”, mas será que o consumidor
sabe a diferença? Qual a melhor carne para
bifes? É alcatra, mas por que? E quais as
diferenças entre este corte e coxão mole ou
mesmo contrafilé? Carne de ovelha?
Não...cordeiro ou carneiro...e a diferença é
significativa.
Este consumo não passa apenas pela renda,
e embora o critério “preço” seja muitas vezes
decisivo, ele pode ser superado pelo cálculo do
custo/benefício que qualquer consumidor faz
em tomadas de decisão. Mas a fração do
benefício deve ser aprendida através de
informação, não bastando apenas datas de
validade: conjunto de nutrientes, cortes
especializados e suas serventias, raças e
cruzamentos, marbling, instruções sobre
descongelamento, produtor/fornecedor e,
claro, outros apelos.
No mundo das mercadorias os apelos de
marketing são diretamente proporcionais aos
graus de industrialização e concorrência porque
as suas utilidades e diferenciais precisam ser
conhecidas. Alimentos, porque são necessidades vitais, sempre ficaram à margem deste
processo, e apenas à medida que agregam valor
via indústria se tornam objetos de estratégias de
vendas. No entanto, mesmo a condição de “in
natura” não impede ações de marketing porque
muitos, por suas próprias naturezas, devem ser
consumidos assim - e isso já é um forte apelo.
Entendo ser interessante pensar que os
alimentos são a última fronteira para aplicação
de técnicas de marketing. Não apenas nos dois
produtos referidos, mas qualquer outro. Se
existe uma grande força econômica brasileira,
é o seu setor agropecuário, muito competente
na produção, mas, ao mesmo tempo, ainda
tímido em marketing.
Aqui não se trata de “marketing rural”,
expressão genérica que pouco ou nada diz sobre
sua finalidade, e mesmo porque não existe
“marketing urbano”, mas sim de tratar qualquer
produto da agropecuária como mercadoria,
como de fato é, igual a qualquer outra. Em uma
economia de mercado elas não se diferenciam
segundo suas origens de produção, mas pelas
suas qualidades e utilidades próprias. Na
condição de mercadorias, todas se equalizam,
inclusive na necessidade de marketing.
*Graduado em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e
Zootecnia (UFSM), mestre em Sociologia Rural (IEPEUFRGS) e doutor em Jornalismo e Editoração (USP).
Professor do Departamento de Jornalismo da UFSC.
Este artigo também foi publicado no site
www.coletiva.net. E-mail: [email protected].
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12
maio a agosto 2010
NOTÍCIAS
Veterinária
& Zootecnia
Clima de otimismo deve
marcar Expointer 2010
Programação
BOM MOMENTO ECONÔMICO ANIMA ORGANIZADORES E EXPOSITORES
A
safra recorde de grãos, os bons
preços registrados nos leilões de
gado no outono e a manutenção
de programas federais para
aquisição de máquinas e implementos
estimulam as pers-pectivas positivas
para a Expointer 2010. Para expositores,
criadores e organizadores, o clima será
ideal para a realização de bons negócios
no Parque de Exposições Assis Brasil,
em Esteio, entre os dias 28 de agosto e 5
de setembro. A projeção é de que os
negócios superem R$ 1 bilhão. Na Casa
do Veterinário, a expectativa é de intensa
integração e troca de informações,
principalmente entre os profissionais da
Medicina Veterinária e da Zootecnia.
Como já é tradição, as principais
entidades representativas de ambas as
profissões irão ocupar a sede do CRMVRS no parque para promover atividades
de difusão do conhecimento, priorizando temas atuais do agronegócio e do
exercício profissional. Mas a Casa do
Veterinário se configura também cada
vez mais como um ponto de encontro
dos médicos-veterinários e zootecnistas
que trabalham ou que visitam a
exposição e a elegem como o local para
rever colegas e se atualizar. “Muitos
estarão em Esteio a trabalho e outros
aproveitarão a maior feira agropecuária
da América Latina para conhecer as
novidades do setor, mas todos eles
encontrarão na Casa do Veterinário um
local para se encontrar e trocar ideias”,
diz o presidente do CRMV-RS, Air
Fagundes dos Santos.
A extensa e diversificada programação desenvolvida ao longo de nove dias
na Casa do Veterinário é resultado do
trabalho integrado de diversas instituições. Cada uma delas fica responsável
por um dia na programação, recebendo
os visitantes e promovendo atividades,
como palestras e reuniões. Bem
localizada no parque e com boa
visibilidade, o prédio já é referência
entre os visitantes e também serve como
ferramenta de marketing profissional.
Para isso, a cada ano são feitos novos
investimentos na qualificação da Casa.
Sexta-feira - 27/08
9h - Sessão Plenária do CRMV-RS.
14h - Palestra: A importância da Administração na formação do
médico-veterinário. Palestrante: médico-veterinário Jorge Duarte.
Organização: CRMV-RS e Nupeec.
Sábado - 28/08
14h - Seminário técnico sobre interação entre sanidade, nutrição e
reprodução no periparto de vacas. Local: Auditório da Secretaria da
Agricultura. Organização: Nupeec.
Domingo - 29/08
16h - Palestra: Mix de marketing para estabelecimentos do mercado pet. Palestrante: médico-veterinário Rodrigo Lorenzoni.
Organização: Anclivepa/RS.
Segunda-feira - 30/08
9h - Reunião administrativa de CRMVs. Organização: CRMV-RS.
18h - Entrega da Ordem do Mérito da Medicina Veterinária ao
médico-veterinário e professor Wilhelm Brass. Organização:
Revista A Hora Veterinária e SBMV.
20h - Confraternização da Associação dos Médicos Veterinários de
1971 da UFSM.
Divulgação CRMV-RS
Terça-feira - 31/08
9h - Apresentação do Núcleo de Estudos de Produção de Bovinos
de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Ufrgs para a imprensa.
14h - Apresentação de vídeo sobre atividades do médicoveterinário Alfredo da Cunha Pinheiro na Embrapa.
15h - Palestra: Sexagem de sêmen e outras tecnologias. Palestrante:
médico-veterinário Neimar Severo (ABS). Organização: Academia
Rio-Grandense de Medicina Veterinária.
Quarta-feira - 01/08
9h30 - Fórum de Responsabilidade Técnica para acadêmicos de
Medicina Veterinária. Organização: Simvet/RS e CRMV-RS.
14h - Momento político do Avisulat 2010. Organização: Asgav.
Quinta-feira - 02/09
10h - Palestra: Incorporação do especialista veterinário na rotina da
clínica de animais de companhia. Palestrante: médica-veterinária
Berenice de Ávila Rodrigues. Organização: Sovergs.
14h - Painel: Mulheres Veterinárias na Produção Animal. Organização: Sovergs e Comissão da Mulher Veterinária do CRMV-RS.
Casa do Veterinário receberá atividades técnicas e de integração
Participação de animais diminui e
qualidade dos exemplares é priorizada
A Expointer 2010 recebeu a inscrição de 5.628 animais, número 8,29% menor
do que o registrado na edição passada, quando foram inscritos 6.137 exemplares
para a feira. A redução se deve principalmente à readequação de espaços e maior
preocupação com o bem-estar das estrelas principais da exposição. Neste ano, não
devem se repetir situações como duas aves ocupando a mesma gaiola ou ovinos
dividindo o box. Por isso, essas duas espécies foram responsáveis pelas maiores
reduções no número de inscritos.
O secretário da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio, Gilmar Tietböhl,
ressalta que as associações de criadores priorizaram a qualidade dos exemplares ao
realizar as inscrições. “Há uma redução quantitativa, mas uma melhora qualitativa”,
resumiu Tietböhl ao apresentar os dados. Neste ano, o governo gaúcho está investindo R$ 3 milhões em reformas e ampliações no Parque de Exposições Assis Brasil.
Parte desses recursos será utilizada na construção de 328 novas baias para equinos.
Sexta-feira - 03/09
9h30 - Paletras: Odontologia em cavalos de esporte, com a médicaveterinária Lizziê Dietrich, e A nutrição animal inserida na cadeia
produtiva, com o médico-veterinário e sócio da Brastec Nutrição
Henrique Thiesen. Organização: Comissão de Relação com o
Mercado de Trabalho do CRMV-RS e Simvet/RS.
13h30 - Palestra: Palestra: Levedura na alimentação animal.
Palestrante: zootecnista Amaury Valinote. Organização: Alltech.
16h30 - Palestra: Médico-veterinário e zootecnista atuando próximo ao consumidor final. Palestrante: zootecnista Fabiano Vaz.
Organização: Comissão de Relações com o Mercado de Trabalho.
Sábado - 04/09
9h - Palestra: Education in Canada. Organização: Consulado-Geral
do Canadá.
14h - Palestras: Visão da indústria do leite sobre o mercado do Rio
Grande do Sul, com Rodrigo Aloísio Staudt; Comercialização dos
produtos caprinos no estado, com a engenheira agrônoma Andréa
Polidori Célia; Inseminação de caprinos, com o médico-veterinário
Arthur Fischer, e Suplementação Alimentar, com Maria Regina
Flores. Organização: Associação dos Caprinocultores do Rio
Grande do Sul (Caprisul).