AUTO-ESTIMA DOS ALUNOS DE GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM1

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AUTO-ESTIMA DOS ALUNOS DE GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM1
PESQU ISA
AUTO-ESTIMA DOS ALUNOS DE GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM1
S E LF-ST E E M OF U NDERGRAT UAT E ST U D E NT S OF N U RSING
AUTOESTIMA DE L OS AL U M NOS DE G RADUACIÓN EN ENF ERM ERíA
Lucila Amaral Carneiro Vianna2
G raziela Fernanda Teodoro Bomfim 3
Gisele Chicone 3
RESUMO: Este estudo avalia a auto-estima dos alunos de Graduação em Enfermagem , que por meio da Oficina desenvolvem
mecan ismos para melhoria da auto-est i m a , acred itando ser a fase mai s p ropícia para se tornarem multipl icadores das
ações de saúde. Metodolog i a : foi rea l izado com 1 56 a l u nos d o 3° ano. Fora m uti l izadas técnicas do sociodra ma , da
neurolingü ística e a avaliação foi elaborada segundo Minayo. Foi possível verificar que a auto-estima é normalmente confundida
com a auto-imagem e estas são estereoti padas, em ambos os sexos . Por estar volta d o e preocu pado com o bem estar e
a qualidade de vida do cliente / paciente, o profissional de enfermagem n e g l igencia a si própri o . N este caso, a Ofici n a , foi
essencial para que os a l u nos pudessem resgatar maior con h ecimento i nterio r sobre si , e q ue para prestar assistência
eficaz aos clientes/pacientes, devem estar saudáveis física e psicolog icamente.
PALAVRAS-CHAV E : auto-esti m a , auto-imagem, al u nos de enfermagem, g raduação d e enfermagem
ABSTRACT: This study evaluates the self-esteem of undergraduate students of n u rs i n g , that through a workshop developed
mechanisms for i m p rovi ng their self-esteem, considering that th is is the most propitious time for students to multiply health
care actions. M ethodology: the research was carried out with 1 56 underg rad u ate students of the th ird year. Socio-d ram a
techn iques o f Neurolingu istics were u s e d and t h e evaluation was d o n e accord i n g t o M i nayo. It was possible t o observe that
students usually confuse self-esteem and self-image, and that both are stereotyped for for men and women. As nurses are
always worried about the clientlpatient's life qual ity, they neglect themselves. l n this case , the Workshops were essential
for the students to rescue i nterior knowledge about themselves, and to real ize that i n order to take good care of clients /
patients, they m u st be physically a n d psychologi cally healthy.
KEYWORD S: self-esteem , self-image, n u rsing students, n u rsing underg rad uation
RESU M E N : E I estudio evalúa la autoesti ma d e los alumnos d e enfermería, a través d e talleres desarrollaron meca n ismos
para mejorar la a utoestima. Se cree que sería la etapa más propicia para tra n sform a rse e n agentes multiplicadores d e las
acciones de salud . Metodolog ía : Fu e ejecutado con 1 56 alum nos dei tercer afio. S e uti liza ron las técnicas dei socio drama,
neurolingu ística y la evaluación qu e elaborada seg ú n M inayo. Los resultados demostraron que la autoestima normalmente
es confu n d ida con a uto i magen q u e estos son estereotipados y por a m bos sexo. EI profesional de Enfermería descuida
de s i m i sm a p or encontrarse y preocu pada con el bienesta r y la calidad d e vida dei paciente / cliente. E n este estudio, el
taller fue esencial porq ue permitió a los alumnos conocerse a s í m ismos, y q u e para brindar atención eficaz a los pacientes
/ clientes, deben goza r d e buena salud física y psicológ ica .
PALAB RAS C LAV E : autoestim a , autoimage n , alumnos de enfermer í a , graduación de e nfermer í a
Recebido em 24/09/2002
Aprovado em 20/1 2/2002
1 Projeto com bolsa de prod utividade e i n iciação científica do C N P q .
2 P rofessora Titu l a r da D isci p l i n a E nfe rmagem de S a ú d e P ú b l ica d o D e p a rt a m e nto de E nfe rmagem da U n iversidade
Federal de São P�lUlo - U N I F E S P/E P M .
3 A l u n a de G rad uação de E nfermagem da U n iversidade Federal d e S ã o P a u l o U N I F E S P/ E P M .
Rev. B ra s . E nferm . , B ras í l i a , v. 55, n . 5 , p . 503-50 8 , set.lout. 2002
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Auto-estima dos a l unos . . .
o ser humano mostra-se como ser i nteg ra l , com
suas d i m e nsões b i o l ó g i cas , p s i co l ó g i c a s , e s p i rituais e
soci ais entrelaçad as. Ta m b é m é visto como ser ú n ico,
co m p ree n d e n d o e a g i n d o fre nte à s s i t u a çõ e s m u ito
semelhantes ( B ORBA, 1 997). As críticas e reflexões do
estudante , que reforçam sua i n d ividualidade, se relacionam
ao crescime nto n ã o só como futu ro p rofi s s i o n a l , m a s ,
também, como pessoa.
Segundo a hierarquia de Maslow, após a satisfação
das necessidades fi s i o l ó g i cas e de seg u rança vêm as
necessidades sociais, relacionadas à vida associativa do
i n d i v í d u o com outras pessoas , leva n d o o i n d iv í d u o à
adaptação soci a l , às rel ações socia i s e mesmo às ações
conj u ntas de c i d a d a n i a ; as n e ce s s i d a d e s de esti m a
relacionadas ao e g o - org u l h o , auto-esti m a , auto-respeito,
progresso, confiança , n ecessidades d e reconhecimento ,
apreciação, admiração e as necessidades de auto-realização,
relacionadas com o desejo de cumprir a tendência que cada
um tem de rea lizar seu potencial (MASLOW, 1 970).
As necessidades de auto esti m a , a uto-imagem,
auto-real ização são as mais d ifíceis d e identificar e menos
controláveis, podendo confundir-se com outras necessidades.
A satisfação da auto esti ma relaciona-se a sentimentos de
valor, força, capacidade, ser necessário, enquanto o seu não
atendimento associa-se à i nferiori dade e i m potência - que
podem levar a relações neuróticas se agravadas ( MASLOW,
1 970).
O estuda nte ao i n g ressar na u n iversidade, passa
por situações de cri ses acidenta i s , uma vez que enfrenta o
desconhecido podendo viver vários confl itos . I sto gera u m
desequil íbrio emociona l , decorrente da inseg u rança surgida
nesta nova fase. A não superação desta crise, provinda d a
n ã o adaptação às novas vivências ou ao novo ambiente ,
poderá constitu ir-se para o a l u n o u m fator causador de
estresse, gerando problemas org â n i cos, d i ficu ldades de
relacionamento, baixa prod utivid a d e esco l a r, a n g ústi a s ,
esta dos de d e p re s s ã o , a p a t i a e , e m s i t u a ções m a i s
acentuadas , pode ocorrer a perda do i nteresse pela vida,
que - e m casos extre m o s - pode l ev a r a o s u i c í d i o
( F I G U E I REDO; OLIVE I RA, 1 995).
Os jovens, enquanto agentes de mudanças, i nfluem
e são influenciados, conforme a situação que vivenciam. No
meio fam i l i a r e entre a m igos são mais i ndependentes e
i nfl uenciadores. Poré m , quando se vêem como estudantes ,
sentem-se, v i a de reg ra , i n seguros e frustrados p o r suas
ações serem pouco respeitadas e até mesmo i g noradas
(BORBA, 1 997). Ass i m , mu itas vezes sentem-se pouco ou
nada motivados - o que pode prejudicar o aprendizado - pois,
o mais sign ificativo fator a ser considerado em rel ação ao
ensino é a motivação (ARE N DT, 1 995). N o caso específico
dos estu d a ntes de E n fe rm a g e m , c o m o e n co raj a r o s
pacientes; e como estar à frente de u m a eq uipe se não são
resolvidos os seus problemas pessoai s de auto-esti ma?
A i ntervenção no período u niversitá rio , ou seja, o
forn ecime nto de a portes ( p rovisões) e a expansão d e
alternativas para a resolução de problemas ( F I G U E I RE D O ;
OLIVE I RA, 1 995) e dentre estes a portes, mecanismos para
melhorar a auto-estima podem trazer benefícios, minimizando
p rob l e m a s do coti d i a n o a ca d ê m i co , t a i s c o m o b a i xo
rendi mento escolar, repetências, trancamento de matrículas
e eventuais abandonos de cursos.
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P a ra tra n s m i t i r estes m e ca n i smos aos a l u n o s
surgira m as oficinas d e a uto-esti m a que buscam a refl exão
sobre o seu p roblema e por meio de exercícios trazem as
lembranças positivas de sua vida pregressa , e oferecem
subsídios para lidar com seu confl ito objetivamente. A parti r
do momento em que sua auto-esti ma for restabelecida terá
condições de avaliar suas capacidades de maneira real i sta .
Assim, os alunos que participam das oficinas tornam-se mais
seguros e ao mesmo tempo mais flexíveis para aceitar novas
situações e não se abater diante delas, adotando ferramentas
para enfrentar mudanças, pois passam a desenvolver maior
ca pacidade para reco n hecer suas d ificu ldades e tentar
m i n i mizá-Ias.
OBJETIVO
Avaliar a auto-estima dos a lunos de Graduação em
Enfermagem ; e levá-los a desenvolver mecanismos para
m e l h o r i a d a a uto-esti m a d o s a l u n os d e enfe rm a g e m ,
acreditando ser a g raduação a fase mais prop ícia para os
jovens se tornare m m u lti p l icadores das ações de saúde.
METODOLOGIA
A re a l i z a ç ã o d e s t e e s t u d o fo i p reced i d a d a
apreciação e aprovação d o projeto pelo Comitê d e É tica em
Pesq uisa da U n iversidade Federal de São Paulo.
A proposta d este estudo foi , além de avalíar a auto
esti ma dos alunos de G raduação em Enfermagem, trabalhar
com os grupos em oficinas os mecanismos e dons pessoais.
Seg undo M i n ayo ( 1 992 ) , esses sujeitos de i nvestig ação ,
pri m e i ramente , são con stru ídos teoricamente enqua nto
co m p o n e n t e s d o o bj e t o d e e s t u d o , n e ste c a s o ,
simultaneamente , participam ativa mente das oficinas nas
dramatizações e nos jogos propostos em que vão explicitando
s u a s próprias fe rra m e n ta s : o bj eti v i d a d e , fl exi b i l i d a d e ,
assertividade. A seg u i r s ã o solicitadas, a cada com ponente
do grupo, uma auto avaliação e a aval iação da oficina. Enfi m ,
a questão d a validade de nosso estudo está na capacidade
de dar concretude ao objeto abstrato e m todas as suas
d i mensões; n este caso, o processo ava l i ativo referiu-se à
evolução nas diferentes oficinas de trabalho e de cada
participa nte e m especi a l .
Salienta-se a positiva utilização do Sociodrama nas
oficinas, que segundo Soeiro ( 1 990) se ficarmos muito tempo
sem estímulos positivos das nossas platéias, se não ouvi rmos
o som dos aplausos por um bom período, certamente nos
senti remos m a l . A tendência é para nos depri m i rmos e
fica rmos inseg u ros quanto a nossa capacidade. As platéias
hosti s ou i n d iferentes causam um estrago bastante grande
na nossa auto-est i m a . Esta pre m issa i n d ica o uso das
técnicas de dramatização para responder às questões postas
pelo objeto desta pesq u i s a : trabalhar a auto esti ma dos
a l u nos. Além d i sso, Soei ro ( 1 995) oferece subsídios para
que os participantes do g rupo possam entender a própria
realidade para enco ntrar melhores respostas a situações
novas e dessa forma concretizar os próprios desejos.
É i m porta nte sal ientar que, o Sociodrama um dos
aspectos mais i m portantes da Teoria de Moreno, segundo
Soeiro ( 1 995), refere-se a uma terapêutica de grupos naturais,
ou seja, grupos que convivem normalmente entre si, como é
Rev. B ra s . E nferm . , B ra s í l i a , v. 55, n. 5 , p. 503-508 , set.lout. 2002
V I A N N A , L. A. C . ; B O M F I M , G . F . T. ; C H ICON E , G .
o caso dos al u nos, que visa atua r sobre ambientes comuns:
l a r, esco l a , tra b a l h o , o n d e a s pessoas se conh ecem e
percebem coisas além daquelas qu e o moderador do grupo
pode perceber.
Por outro lado, a Progra mação Neurolingü ística P N L
deu su porte teórico a este estu d o , e t e m como sign ificado:
N e u ro : recon hece que todos os comportamentos
nascem dos processos neurológicos da visão, audição, olfato,
paladar, tato e sensação, pois percebemos o mundo através
dos cinco sentidos, compreendemos a i nformação e depois
agimos;
L i n g ü ística : i n d ica que usamos a l i nguagem para
ordenar nossos pensamentos e comporta mentos e nos
com u n i ca rmos com os outros;
P ro g ra m a ç ã o : refe r e - s e à m a n e i ra c o m o
organ izamos nossas idéias e ações e temos de prod uzir
resultados (O'CO N N O R ; S E Y M O U R , 1 995).
Ass i m , parte do nosso objetivo foi conscientizar os
alunos por meio de exercícios que possuem as ferramentas
da neurol i n g ü ística e d e como uti l i zá-Ias para mel horar sua
auto-esti ma.
DELINEAMENTO DA PESQUISA
Os alunos participara m das oficinas de auto-esti ma
após o projeto destas ter sido aprovado pelo Comitê de É tica
da U n iversidade Federa l de São Pa ulo. Ass i m sen do, foi
elaborado um Termo de Consenti mento Livre e Esclarecido
no qual o a l u n o era i nformado sobre todas as etapas das
oficinas e tam bé m era escla recido sobre a sua partici pação
voluntária no projeto.
Util izou-se a estratégia da d ra matização para que
os a l u nos pudessem trazer as suas experiências desde a
i nfâ ncia, refleti ndo sobre elas, possi b i l itando u m a releitura
que perm itisse a elaboração de n ovos conceitos sobre sua
cond ição de cidadão.
Ass i m esta belecemos módulos d e :
1 . auto-ajuda para levantamento de problemas pelos
próprios alu nos (CLARET, 1 99 7 , D UART E , 1 99 1 , F R E E D­
MAN , 1 994 , MAY, 1 984 , P O L E , 1 99 8, U N I F E M , 1 992);
2. refl exão e a p rofu n d a m e nto d o s p ro b l e m a s
levantados;
3. e m e rsão da a l ta a uto e st i m a exe rcita n d o a
objetividade, a flexibilidade e a assertividade como elementos
necessários para a vivência plena da cidada nia ;
4 . avaliação p o r meio das experiências vividas pelos
participa ntes e n a rrad a s nos e n contros e por mei o de
q uestionário que foi respondido somente por aqueles q u e
real mente quiseram participar, s e m qualquer t i p o de coação.
TÉCNICAS UTILIZADAS
- jogos de aproximação de grupo; narrativa da história
de vida, uti l izando a l i n h a d a v i d a ; leituras sobre o tem a ;
- dramatização, em que foram criadas situações com
as históri as contadas como se fossem de outras pessoas:
partindo da premissa q u e o modo com o você vê seu corpo
afeta o modo como o us a ;
- manuseio de objetos, bonecos e massa de modelar,
d e s e n h o s e fi g u ra s s i m b ó l i ca s p a ra e x p re s s a r s e u s
senti mentos, suas dúvidas de m a n e i ra m a i s desi n i bi d a ;
- a técnica d e relaxamento da Voga foi uti l izada
favorecendo a meditação, a i ntrospecção e volta ao passado;
- exercício da Linha da Vida. Propiciou trazer à baila
e trabalhar l e m b ra n ças q ue prejudica m a auto esti m a . N a
seg unda parte das Oficinas - " M I N I M I ZAN DO OS PONTOS
N E GATIVOS E M AX I M IZA N D O OS POSITIVOS", com os
participantes m a i s descontra ídos, foi poss ível real izar os
exercícios de racional ização: isto é, de valorização dos dons,
habilidades, qualidades especiais, atri butos físicos e talentos
e m s u b s t i t u i ç ã o a o s p o n to s n e g a t i v o s l e v a n ta d o s
a nteriormente;
- para a reflexão, a ação das pesq uisadoras foi
subsidiada por b i b l iog rafi a s específicas sobre a temática e
pela vivência e m g ru pos de Psicodrama e dramatização. A
assessoria técnica em d ra matização foi prejudicada pela falta
do Auxílio à Pesqu isa aprovado pelo comitê do CNPq, porém
ainda não dispo n i b i l izado;
- todas as ava l iações dos grupos de a l u nos foram
tran scritas p e l a s b o l s i stas e a n a l i sadas p elo g rupo d e
pesquisa, para qu e n ã o houvesse d istorção d a s falas e para
que as pesqu i sadoras p udessem corrigir as falhas e acertar
as d iferenças;
Para ati n g i r o p ri m e i ro objetivo , trabal hou-se entre
os anos de 1 999 e 2002 com a l u nos de G rad uação em
Enfermagem, ass i m , foi permitido pela Comissão Curricular
d o C u rso d a U n iversidade Federal de São Paulo i n seri r no
P rograma a u l a teórica sobre auto-esti ma e por ocasião d a
p rática: oficinas sobre a uto-esti ma tendo como justificativa
o tra b a l h o educativo da E n fermagem j u nto à população e
aos trabalhadores d a á rea da saúde sob sua gestão.
As técnicas das oficinas foram uti l izadas com os
componentes d o g ru p o , visando sen s i b i l izá-los e para q u e
p u desse m , fut u ra mente, i n corporá-I as n o seu tra b a l h o
cotidiano, evitando distorções e assegurando a avaliação do
processo. Os profissionais envolvidos tiveram que apresentar
seu d iário de campo na perspectiva da Antropologia de todos
os g ru pos que participara m .
ANÁLISE METODOLÓGICA
Util izou-se a metodologia qual itativa neste estudo
para a n a l isar o processo d a a uto-esti m a , lançando mão d a
i nterdisci p l i n a ridade e ntre os diferentes campos de saberes
com a modalidade d a h i stória d e vida. Esta modalidade,
que nasce basicamente com a contri buição da Antropologia
e d a Sociol og i a , faz uso do Processo de Neuro l i n g ü ística e
do Sociodrama, permitindo aprofundar o estudo do fenômeno
e compreender a complexidade dos fatores que intervém na
"cultura da baixa auto-esti ma", constru i ndo entre os a l u nos
e as pesq u i sadoras um espaço de confiança e lembrança
de suas experiências de vid a , possibilitando assim a reflexão
e a expectativa de u m a m u d ança de comportamento em
rel ação à p rópri a a uto esti m a .
Foi uti l i zado u m i n stru mento que teve o objetivo de
obter de cada aluno opiniões a seu respeito e, após as oficinas
uma reflexão sobre o sign ificado d e auto-estima e se houve
m u d a n ças na sua auto-ava l i ação . Assi m , com base n u m a
a bo rd a g e m c o m p a ra tiv a , b u scou-se co m p ree n d e r a s
semelhanças e as d iferenças das experiências de vida entre
os participantes das oficinas.
A a n á l i se d a s h i stória s d e vida amparou-se n o
Rev. B ra s . E nferm . , B ras í l i a , v . 5 5 , n . 5 , p . 503-508 , set.lout. 2002
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Auto-estima dos a l u nos . . .
trabalho d e Bordieu ( 1 989 ) , n o q u a l o s depoimentos vivos
organizam a experiência doIa participante. Com base numa
lógica i nterna que responde as p ri n ci p a i s q uestões d a
pesquisa, utilizam-se palavras-chave doIa participante para
títulos de trechos d a m e s m a , os q u a i s possi b i l itam o
encadeamento do processo i nvestigado, no caso da nossa
pesquisa, a baixa auto-esti m a .
A o fi n a l , as situações foram transcritas, reed itadas
e anal isadas pelas pesqu i sadoras, a partir das respostas
surgidas. A seg u i r as h i stórias de vida foram recontadas
pelas pesq uisadoras, no senti d o de ordená-Ias, seg u n d o a
seq üência das categorias d o q u a d ro de a n á l ise, poré m
mantendo a fidelidade à s características do conteúdo de cada
história de vida.
RESULTADOS
Na avaliação, realizada entre 1 999 e 2002 , entre 1 56
a l u nos do 30 ano de G rad uação e m E nfermagem ( 1 45
m u l heres e 1 1 homen s ) , com idade variando entre 1 9 e 47
anos em que a moda ficou e m 22 e a mediana em 23 anos,
foi possível verificar, por meio das respostas ao questionário,
que a auto esti ma é n ormal me nte confu n d i d a com a auto­
i m agem e estas são estereoti padas, principalmente entre
as m u lheres, que sofrem a pressão da m í d i a .
A partir d a leitura das ava l iações sobre as ofici nas
real izadas com g rupos de q uatro a seis entre os 1 56 a l unos
no mesmo período, foi possível observar que na pri meira parte
da Ofici n a , em q u e foram constru ídas as l i nhas da vida
(i nfância, adolescência e no momento atu a l ) referenciando
as situações que possam ter contri b u ído para a baixa a uto­
esti m a , a l g u n s tóp i cos fora m m e n cionados com mai or
freqüência e sã o apresentados a seg u i r:
- Problema com os pais foi o item q u e apareceu
nas três fases sugeridas n a L i n h a da Vida como suposta­
mente responsável pela baixa auto-esti ma. Na primeira fase,
significou mais de 50% ; estes problemas estavam associados
ao pai repressor e pais agressivos, além de separação dos
pais, pais com doença , desemprego e briga dos pais.
- Problemas com a aparência apresentara m a
seg u nda maior concentração nas três fases da vida, o que
veio corroborar com as respostas d o q uestionário citado
anteriormente.
- Problemas na escola surg i ra m já na i nfância, e
por meio das falas foi possível observar que abalaram mu ito
as pessoas , e q ue na ma ioria das vezes , s urg i ram a partir
de mudanças de escola a que as crianças se sujeitaram
devido às necessidades fi n a ncei ra s e ou d e m u da nças de
residência dos pais.
- A chamada de ate nção por pessoa a d m i rada
(pai, mãe, tio), perdas e problemas com parentes trouxe
grande mágoa e desvalorização pessoal , de um modo geral
apareceram nas três fases da linha d a vida.
- P roblemas na escola e p roblemas amorosos
destacaram-se na fase d a adolescência e estes últimos se
repetiram no momento atual da sua vida. Também nesta fase,
a t imi dez foi o a rg u mento uti l i zado para os p roblemas
vivenciados.
- Briga com os i rm ãos ; assim como p roblemas
com am igas e colegas aparecera m nas três fases.
- Problemas fi nanceiros foram sentidos na 1 a fase,
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ou seja na i nfância, no tocante à situação da família, e na 3a
fase - seu momento atu a l , dizendo respeito ao próprio
indivíduo.
- Problemas no trabalho foram mencionados na
3a fase, momento atual da sua vida; e o reconhecimento da
baixa auto esti ma como e m peci l h o para o sucesso.
- Também, no seu momento atua l, apareceu a falta
de lazer como um dos problemas que prejudicavam a auto­
esti ma.
DISCUSSÃO
As técnicas d e d ramatização e da Programação de
Neurolingü ística levaram os a l unos a adotar atitude objetiva
e organizada ao i nvés de parti r de pressu postos, e assim
como n o tra b a l h o d e O l i ve i ra ( 1 9 84 ) , as técn icas d e
sociodrama perm itira m u m a perfeita i ntegração entre tempo,
espaço e real idade. Também trouxe de volta a expressão da
natu reza da experiência interior. Desta forma, por meio de
exercícios, os participantes das oficinas de "Mecan ismos
para melhorar a auto estima" tiveram a oportunidade de expor
sobre situações q u e os i n comodavam e, com isso, encarar
aspectos que ainda não tin h a m sido relatados, enfrentando
e m i n imizando problemas ao i nvés de fug ir deles.
Para Freedman ( 1 994) não é fácil separar os valores
que agradam aos o utros dos valores que nos agradam, para
isso p recisamos q uestionar as regras i ncutidas em nós e
que influenciam a i magem física , i nclusive a regra básica de
que devemos agradar as pessoas tendo uma aparência
bonita. Neste estudo verificou-se que entre as características
mais apreciadas de sua ap a rência física , tanto homens
quanto m u l heres, d issera m a preciar o cabelo, o rosto e o
sorriso; e na sua aparência, o q u e as mulheres menos
gostavam era da s ua "barriga", da estatu ra e dos seios; já
entre os homens, houve respostas repetidas quanto à calvície
e à pele oleosa . Também seg u n d o F reed man n , as men inas
e os meni nos desde o nascimento são encarados e recebem
uma expectativa d e cresci mento total mente diferente. A
beleza física é um dom ma is exigido das mulheres que dos
homens, e em contrapartida deles é exigida a viri l idade e a
força física. Estes estereóti pos são transmitidos tanto no
lar, como pela sociedade de u m modo gera l . Entretanto,
em nossa pesq uisa n otamos a d ificuldade dos rapazes em
lidar com as adversidades d a sua a parênci a , tanto quanto
as moças .
Seg u n d o Pole ( 1 998) n ossos estilos i n d ividuais de
personalidade podem ser, por n atureza , mais i maginativos,
l ó g i cos , práticos ou e n t u s i ásticos . N esta pesq u i sa , a
si nceridade foi o traço com u m entre homens e m u l h eres;
estas ú ltimas acrescentara m a respon sabil idade e o bom
h umor; já os homens objetividade e confiabil idade. Quanto
ao que menos gostavam em sua personalidade, as mulheres
d i s s e r a m s e r d a s u a i n s e g u ra n ç a e d a e x ce s s i v a
sensi b i l id a d e ; j á o s h o m e n s ci t aram pouca i n i ciativa , o
comod ismo e o "não med i r palavras". Acredita-se que o
resu ltado obtid o foi de natureza lóg ica e p rática o que veio
colaborar como ferramenta para uma auto-esti ma positiva .
Cada esti lo apresenta vantagens e desvantagens, de acordo
com a i ntensidade q u e se m a nifesta no decorrer da vida.
P a ra P o l e , ( 1 9 9 8 ) n ã o e x i s t e um e s t i l o
particularmente bom o u mais conveniente que os outros,
Rev. B ra s . E nferm . , B ras í l i a , v . 55, n . 5 , p . 503-508, set.!out. 2002
VIAN N A , L . A. C.; BOM FIM, G . F. T. ; C H ICON E , G.
mas é bom saber q ue a m a ioria de nós presume que tod o
m u ndo p e n s a da me s ma forma - o qu e é evidentemente
verdade. Nesta pesquisa, q uanto à opinião dos outros sobre
s i , as m u l h e res a c re d i t a v a m q u e a s outras p e s s o a s
va lorizavam mais a sua a m izade e o com panheirismo; e o s
homens fora m unân i mes e m afi rma r sobre sua sinceridade
e sua lealdade. Quanto ao que acreditavam no que os outros
menos apreciava m , as m u l heres citaram a i m paciência e os
homens a i n seg u rança . Q u a nto à o p i n ião dos outros sobre
pontos positivos da s ua a pa rência, a maioria das mu l h eres
acred itava ser o cabelo e os olhos; e os homens o porte
físico, sua estatura, o cavanhaque e a barba . Segundo Soei ro
( 1 990) quando fazemos i n dagações sobre platéia (op i n ião
d o s o ut ro s ) e o s s e u s s i g n i fi c a d o s , certa m e nte n o s
espa ntaremos c o m a o m n i p resença d esse i n sti nto n a s
atividades humanas a ponto de ser d ifíci l encontrar u m a ação
absol utamente i n d i vi d u a l , q u e não esteja de uma maneira
ou de outra infl uenciada pela perspectiva do outro.
A maior preocu pação foi com aquelas respostas
i ndetermi nadas, ou seja: "nada", "tudo", "não sei", pois estas
s u g e re m q u e a l g u m a s p e s s o a s n ã o d e t e r m i n a r a m
precisamente o q u e q ueriam dizer, ou por indiferença ou por
dificuldade em expressar opinião sobre si mesmas. O'Connor
e Seymour ( 1 995), precursores d a P N L , afi rmam que ser
capaz de usar palavras espec ífi cas que terão sign ificados
no entendimento de outra pessoa e determinar precisamente
o que se quer d izer com estas palavras são habil idades
val iosas de comunicação, que sem d úvida, passa a ser uma
ferramenta úti l da a lta auto-esti m a .
O desente n d i mento entre os pais e separações
refletiram na baixa auto-estima , pois os indivíduos se sentiram
cul pados por estes desentendi mentos. Em algum momento,
seus pais deixaram transparecer sua insatisfação, que gerou
este sentimento. Esta dinâmica vem ao encontro ao resu ltado
de Freed man ( 1 994) em que as m u l heres relataram que os
sentimentos dos pais eram confusos ou negativos em relação
a sua pessoa .
Constatou-se que mesmo após o "aqueci mento" do
grupo, a lg un s temas como sexualidade fora m d ifíceis de
ser trabalhados. Segundo Freed m a n n ( 1 994 ) uma vez qu e
ao se envergonhar de sua aparência, o jovem pod e, i n i b i r a
expressão sexual e conseqüentemente a vergonha sexual
pode d istorcer sua i magem física num ciclo vicioso. N o caso
d a s Ofi c i n a s , m u i t a s v e z e s ao t o c a r e m a s s u n to s
relacionados com a sexualidade os membros d o s g ru pos
preferiram usar uma tercei ra pessoa.
Foi possível observar a i mportância da aceitação pelo
g ru p o , p ri n c i p a l m e n t e e n tre os ra p a z e s na fa s e d a
adolescência, o q u e nos levou a acreditar n a premência de
se traba lh ar a a uto esti m a na pré adolescên cia, e , que
seg u n d o a teoria d e M a s l ow ( 1 9 7 0 ) a sati sfação das
necessidades relacionadas à vida associativa do i ndivíduo,
com preendendo a adaptação soci a l , as relações sociais e
mesmo ações conju ntas de cidada n i a são vitais para o
eq uil íbrio do ser humano.
A Oficina ofereceu oportu n idade para repensar a
repercussão negativa na vida do i n d ivíduo que sofreu uma
reprimenda, na sua opinião i njusta ; o desprezo, ou a falta de
atenção advindos de uma pessoa q uerida principal mente
d u rante a i nfância e que na m a i oria das vezes passaram
desapercebidos tanto pelo a d u lto causador como pelos
demais. Andreas e Andreas ( 1 993) afi rmam que até os seis
anos é formada nossa auto-imagem e, por conseguinte nossa
a uto esti ma; e q u e atitudes dos adu ltos como repreensão,
castigo, desconsideração podem deseq u i l i brar nossa auto
esti m a , deixando resq u ícios para o resto de nossas vidas,
caso não ten hamos a oportu n idade de desmistificá-los.
AVALIAÇÃO DAS OFICINAS
Os a l u n o s fo ra m u n â n i m es em afi rm a r q u e a
experiência foi válida e m uito im portante, já que no ofício da
Enfermage m , q u e se prioriza o cuidar de pessoas , sadias
ou doentes , é necessário o profissional estar bem preparado
psicolog i camen te , e para q u e isso ocorra é necessário
estí m u l o à auto-esti m a . Outro ponto ressaltado foi q u e ,
gera l mente , o profissional d e e nfermagem está voltado e
preocupado com o bem estar e a qualidade de vida do cliente,
não lembran d o de si própri o . N este caso, a oficina da auto­
esti ma, foi essencial para que os alu nos pudessem resgatar
maior con hecimento e seg u rança de si mesmo. A conclusão
a que chegara m é de que se d eve estar saudável física e
psicologicamente para poder oferecer assistência em saúde
eficaz aos clientes.
A ssi m , fo i p o s s í ve l , por m e i o das estraté g i a s
estabelecidas nas ofi c i n a s , conscientizar o s al unos d a s
ferramentas que possu ímos, tais como, a racionalização dos
problemas, ou seja a transformação dos mesmos em desafios,
a objetividad e , a assertividade, o poder de com unicação, e ,
a l é m d i sso, d e como dispon i b i l i zá-Ias para manutenção do
n ível elevado de auto-estim a .
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