O avanço tecnológico contribuindo para o montanhismoO esporte já
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O avanço tecnológico contribuindo para o montanhismoO esporte já
SURFE E ESPORTES NA MONTANHA: SUA PRÁTICA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO1 Edmundo Drummond Alves Junior Universidade Federal Fluminense Cleber Augusto Gonçalves Dias Universidade Federal Fluminense RESUMO O Instituo Virtual do Esporte tem como proposta fundamental criar uma rede de promoção de pesquisas, ensino e divulgação científica na área de Estudos de Esporte. As Atividades Físicas e Esportivas de Aventura na Natureza estão sendo verificados a partir da sua inclusão como equipamento de lazer da cidade do Rio de Janeiro e quem são seus praticantes. Neste artigo abordamos o surfe e as atividades de montanha, a importância da tecnologia contribuindo para dar maiores facilidades aos praticantes. Após um mapeamento das possibilidades da prática na cidade, verificamos os fatores que impedem a democratização do acesso a essas atividades, que foram compreendidas como mais uma manifestação de lazer. PALAVRAS-CHAVE: lazer, esportes na natureza, cidade, atividade física, aventura. Introdução Desde o início do ano de 2004, nos cabe investigar o que inicialmente denominamos como ‘Esportes na Natureza’, que faz parte do núcleo de pesquisas que se desenvolvem na perspectiva multidisciplinar que marca o Instituo Virtual do Esporte (IVE). O instituto tem como proposta fundamental a criação de uma rede de promoção de pesquisas, ensino e divulgação científica na área de Estudos de Esporte. Como primeiro passo buscamos uma conceituação que pudesse nos auxiliar no sentido de identificar esta prática na cidade do Rio de Janeiro, que pela sua privilegiada geografia possibilita diversas atividades físicas e esportivas aproveitando o seu meio ambiente. Consideramos a importância de compreender o fenômeno destas práticas no Rio de Janeiro, percebendo a cidade como um equipamento de lazer (MELO, ALVES JUNIOR, 2003). No decorrer da investigação identificamos atividades realizadas na água (praias, lagoas, lagos), na terra (montanhas, parques florestais) e no ar. Neste estudo estaremos nos referindo mais especificamente a duas atividades que têm atraído bastante praticantes que como característica semelhante tem o fato de envolver a maioria dos seus praticantes pela busca do lazer: surfe e montanhismo. O lazer está sendo compreendido por nós como atividades culturais, em sentido mais amplo, englobando os diversos interesses humanos, suas diversas linguagens e manifestações; as atividades de lazer podem ser efetuadas no tempo livre das obrigações profissionais, domésticas, religiosas, 1 Publicado originalmente: IN SEMINÁRIO O LAZER EM DEBATE, VI., Belo Horizonte. Coletânea VI seminário o lazer em debate. Anais... Belo Horizonte: UFMG/CELAR, 2005. p 129-137. e das necessidades físicas; as atividades de lazer são buscadas tendo em vista o prazer que possibilita, embora nem sempre isso ocorra e embora o prazer não deva ser compreendido como exclusividade de tais atividades (MELO, ALVES JUNOR, 2003:32). Tanto o surfe como as atividades de montanha (escalada em rocha e trekking), podem ser consideradas como as duas atividades que têm atraído o maior número de praticantes na cidade. È apontado por diversos autores que o avanço da tecnologia usada nos equipamentos vem possibilitando o surgimento de novas atividades físicas esportivas praticadas na natureza, que contribuiu entre outros fatores para o aumento de praticantes. Estabelecemos alguns indicativos, que nos serviram para estabelecermos uma melhor identificação das possíveis atividades a serem investigadas: primeiro destacamos o elemento do meio ambiente onde é praticado (água, terra e ar) e a sua imprevisibilidade contribuindo ou impedindo a prática; verificamos que em geral, há por parte dos praticantes uma preocupação própria da nossa contemporaneidade, que é a de se integrar mais com a natureza; concordamos que nas práticas há uma certa dose de aventura que seria entendida como a busca por uma excitação agradável (ELIAS, DUNNING, 1994). Desenvolvimento Se tomarmos em consideração as características geográficas da cidade do Rio de Janeiro, verificamos que enquanto um dos maiores centro urbanos do país, a cidade possui um meio ambiente peculiar e bastante atraente à prática de muitas atividades físicas e esportes na natureza. Recortada por uma rica cadeia de montanhas, banhada por um extenso litoral, com uma baía que lhe dá o nome, além de lagoas como a de Marapendi, Barra da Tijuca, Rodrigo de Freitas e Jacarepaguá, tudo isso compõe um cenário que nos ajuda a compreender a facilidade com que o fenômeno dos esportes na natureza se destaca nas possibilidades de lazer da cidade. As duas atividades foram escolhidas devido ao grande número de praticantes. A crescente difusão dessas modalidades e, sobretudo o aumento exponencial do número de praticantes, é um fenômeno recente, e que se espalha por todo o país, muitas vezes denominados como ecoesportes, o que não dava conta às nossas preocupações. Identificamos então uma dificuldade terminológica com a idoneidade semântica necessária para um estudo acadêmico, havendo uma variedade de outros termos que se prestam a designar as práticas. Além da última citada encontramos esportes de aventura, esportes radicais, esportes californianos, vivências corporais de lazer na natureza entre outras denominações (ALVES JUNIOR, 2001; MARINHO, 2003; VILLAVERDE, 2003; POCCIELO, 1999 a, 1999 b). No âmbito dos pesquisadores envolvidos no IVE estabelecemos discussões teóricas e optamos por uma conceituação provisória que mesmo sem dar conta de tudo que vem sendo praticado, viesse a nos facilitar na tarefa de incluir ou excluir do nosso campo de interesse uma determinada prática. Provisoriamente estamos adotando a denominação Atividades Físicas e Esportivas de Aventura na Natureza, considerando os seguintes indicativos. Primeiro observamos a forte vocação destas práticas sendo realizadas como lazer, e que será o meio ambiente que vai possibilitar a prática, sendo esse o mais natural possível, de maneira que as forças da natureza vão contribuir ou dificultar os deslizes que estão presentes em grande parte das atividades. Talvez por essa imprevisibilidade constante, estas atividades se desenvolvem através de um espírito de aventura, que pode ser entendido pela busca por uma excitação agradável, marcada por riscos altamente controlados (COSTA, 2000), que diferentemente do aspecto ‘radical’ que alguns ainda querem rotular, torna tanto o risco como a aventura2 muito mais simbólicos do que reais (BETRÁN, 2003). Acrescentamos que entre os fatores que contribuíram à consolidação dessas atividades físicas e esportivas como fenômeno social, uma das características do homem pós moderno, já que após o final dos anos sessenta, ganhou vulto um discurso de preservação do meio ambiente, que nos parece incorporado no perfil de parte dos dos praticantes das atividades. Pelas características peculiares do local onde são praticadas, percebemos que muitos praticantes têm uma preocupação ecológica (ALVES JUNIOR, 2001), cuidando do espaço de prática, evitando polui-lo chegando mesmo a fazer campanhas de limpeza e limitando o acesso a um número de praticantes compatível com as possibilidades do local. A busca pela natureza representava uma contestação de valores em relação a produção e ao consumo. A natureza como território da experiência passa a operar um reencantamento do mundo. Assim, as visitas a natureza traduzidas nas formas de acampamento, caminhadas, exploração de cavernas e montanhismo, tornam-se cada vez mais freqüentes desencadeando posteriormente uma série de atividades na natureza [...] essas atividades forma desenvolvidas mediante aprimoramentos tecnológicos, os quais promoveram tanto o acesso a lugares antes inacessíveis [...] quanto a possibilidade da prática com segurança. (BRHUNS, 2004:154). Uma outra característica é a de que os praticantes, em grande parte, são oriundos de determinadas categorias sociais que têm condições econômicas para adquirir sofisticados equipamentos. O avanço dos equipamentos possibilitou novas maneiras de praticar e veio de uma alta tecnologia que foi empregada na fabricação dos equipamentos. Possibilitando aos novos praticantes segurança, imagina-se que houve uma maior difusão e acesso. Não estamos dizendo que não haja ausência total de riscos, mas que eles passaram a ser melhor equacionados, havendo um certo controle, que foi fruto do crescente implemento de tecnologias e descobertas das mais variadas. Procurando identificar os locais de prática A pesquisa de campo foi feita através de observações, realizadas regularmente na cidade, onde foram verificados os locais onde pela nossa experiência, supúnhamos encontrar praticantes do surfe e dos esportes de montanha. Com características semelhantes e outras específicas a cada uma das atividades, os praticantes reúnem-se como uma ‘tribo’, tal como vem sendo considerados por Maffesoli (2000). No caso dos esportes de montanha alguns locais foram considerados de acesso precário, e neste momento não foi aprofundada a pesquisa nestes locais. O que nos levou a assim considera-los foi: a localização muito afastada de uma rede de transporte público; trilhas mal sinalizadas e preservadas; risco de assaltos (quase todos localizados próximos a comunidades que têm muitos problemas sociais). Por conta disso, privilegiamos para as discussões desta pesquisa o conjunto constituído pela área do parque Nacional da Tijuca (PNT) e o do bairro da Urca, onde está situado um dos 2 Estamos considerando aventura pela característica de façanha, proeza e superação e não pelo aspecto de perigo e de inconseqüência do praticante. símbolos da cidade, o Pão de Açúcar. São diversas as possibilidades tanto de escalada em rocha como a de caminhadas em trilhas nesses locais3. Segundo a Associação de Guias e Instrutores e Profissionais de Escalada do Estado do Rio de Janeiro (AGUIPERJ) há aproximadamente 700 vias somente na cidade, cujas maiores concentrações se encontram nos locais que foram selecionados: Floresta da Tijuca, Pedra da Gávea e Bonita, na Urca (Morro da Babilônia, Morro da Urca e Pão de Açúcar), e Reserva Florestal do Grajaú. No Guia de Escaladas da Urca (DAFLON, QUEIROZ, 2001), foram listados mais de 270 vias e variantes de escalada e mais de 150 boulders, distribuídos no morro da Babilônia, Pão de Açúcar, parede dos Ácidos, pedra do Urubu, que formam a área de escalada em rocha do bairro da Urca. Segundo os autores este é o mais tradicional centro de escalada do Brasil. É bom frisar que o bairro é situado na parte urbana da Zona Sul, sendo atendido por uma rede de transporte público urbano cujos ônibus na sua grande maioria fazem ligação com outros bairros da zona sul e para aqueles que moram mais longe as opções são a partir de baldeações feitas em direção ao metrô e o centro da cidade, onde há a estação de trem e outros ônibus que levam aos bairros mais periféricos do Rio de Janeiro. No que diz respeito ao trekking (caminhada em trilha), a cada dia que passa há um significativo aumento do número de praticantes, seja conduzidos pelas diversas operadores que levam grupos a estes locais, ou mesmo independentemente. Além da maior simplicidade de equipamento, facilita o fato de que não necessitar de conhecimentos técnicos mais aprofundados. No que tocam as trilhas, nos reservamos estudar as que estão localizadas no PNT. Sua localização é de certa forma bastante central considerando a cidade do Rio de Janeiro, mas o acesso fica restrito a poucas linhas de ônibus. O maciço da Tijuca, faz limite com os bairros populosos e tradicionais da cidade como: Laranjeiras, Cosme Velho, Botafogo, Jardim Botânico, Gávea e São Conrado que estão na Zona sul; Barra da Tijuca, Jacarepaguá, na Zona oeste; Grajaú, Vila Isabel, Rio Comprido, Tijuca na Zona norte; e Santa Teresa, que é um bairro que se estende do Centro da cidade com ligações tanto para Zona sul como para Zona norte e como pode se observar distante dos subúrbios cariocas. O maciço da Tijuca vem sendo dividido em três setores: setor A, que compreende Floresta da Tijuca que tem como ponto culminante o Pico da Tijuca com 1.021 m de altitude, que o faz ser a maior elevação da parte urbana da cidade; setor B, que engloba a Serra da Carioca, o morro do Corcovado onde se situa o mirante do Cristo do Redentor, e a vista Chinesa; e o setor C, onde encontramos a Pedra Bonita, Agulhinha da Gávea e a Pedra da Gávea. Para facilitar o acesso dos usuários do parque, está a disposição na internet mapas e informações diversas, existindo um livro bastante ilustrado que contem mapas e informações gerais sobre o local (BOCAIUVA, 2004). Nele o leitor fica sabendo como ir as 23 trilhas do setor A; 5 do setor B e 3 do setor C. Muitas destas trilhas dão acesso a mirantes que possibilitam uma boa vista da cidade, levam a cachoeiras e na sua proximidade há diversas áreas de lazer com espaço destinado a lanches, churrascos, brinquedos para crianças e banheiros públicos. A maioria das trilhas do parque atualmente estão muito bem sinalizadas e protegidas. No caso dos esportes em meio líquido encontrarmos além das praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, outros excelentes locais que possibilitam a prática do surfe. No entanto, segundo os especialistas as mais propícias ao surfe estão mais afastados do centro da cidade, como a Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, 3 O maciço da Pedra Branca e a serra do Mendanha são outros locais que não foram investigados devido a terem alguns dos problemas listados. Macumba, Prainha e Grumari. Apesar destas últimas fazerem parte da zona oeste da cidade, elas estão afastadas dos bairros habitados com grande concentração de pessoas da classe trabalhadora. Visando uma maior facilidade de acesso aos melhores locais de prática do surfe na cidade, a partir de dezembro de 2004 foi posto a disposição dos surfistas durante o verão, um ônibus específico fazer o transporte de surfistas e suas pranchas. O ônibus percorre todas as praias litorâneas da cidade do Rio de Janeiro, permitindo àqueles que não tem meio de locomoção próprio o deslocamento para os melhores locais de prática.. Essa iniciativa é um avanço, mas mostra ainda certo descaso com a população que habita na zona periférica da cidade (subúrbios, zona norte e a grande massa que habita na zona oeste), pois ainda não há transporte semelhante para seus moradores4. A tecnologia impulsionando a prática do surfe e do montanhismo Outro aspecto que nos propusemos aqui discutir, foi o relacionado a tecnologia servindo como um dos indicativos que vieram para facilitar ou limitar o acesso as práticas investigadas. Tanto o surfe como as atividades na montanha, já eram praticadas no Brasil como em diversas partes do mundo antes do ano de 19705. Ainda que restritamente no nosso país, ocorreu principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Há registros do século XIX da prática da escalada na cidade, e o surfe no início dos anos 60 também era também praticado. Quando verificamos os equipamentos usados nas duas atividades, estes eram bastante simples e improvisados. No caso do surfe, foi no início dos anos sessenta, que jovens da zona sul carioca já se aventuravam a criar artesanalmente seus próprios equipamentos destinados a surfar. Segundo a história do surfe, documentário divulgado pela rede Sport TV, foi Aduino Colassanti um dos pioneiros, que preparavam em madeirite uma prancha que permitia ficar em pé nas ondas do Arpoador. Foi a partir da passagem pelo Brasil do australiano Peter Troy, que se tomou conhecimento com outro tipo de equipamento, preparado a partir de um bloco de espuma revestido com fibra de vidro, que possibilitava manobras bem mais eficientes. Se no mundo em 1957 aproximadamente mil pessoas surfavam, em 1967 mais de um milhão já praticavam o esporte e o lazer era a mola propulsora. A cada ano que passou, buscou-se encontrar um equipamento que fosse cada vez mais performático e resistente e que viesse a dar mais segurança, sustentação e velocidade nas manobras. O progresso foi tão acentuado que atualmente através do computador pode-se ter programas especializados para “shapear’ (moldar) o bloco inicial, permitindo a fabricação em massa de pranchas. A informática pode auxiliar na individualização do desenho da prancha, já que permite considerar as caracterísiticas individuais de quem será o usuário e em que tipo de mar ele pretende usar a prancha. Cada vez mais o tecido de fibra de vidro que cobre a prancha tem uma trama que o torna mais resistente; diminuiu-se também o peso das pranchas e aumentou-se sua resistência a impactos. A tecnologia não ajuda só nesse aspecto, pois temos a roupa do praticante, que permite maior liberdade de movimentos junto a uma perfeita proteção térmica. Existem roupas 4 Uma vez identificado os locais, tanto do surfe quanto do montanhismo, retornamos para efetuar observações mais sistemáticas, utilizando nesta fase registro fotográfico dos locais mapeados, e apontando as características dos usuários típicos. A continuidade desta investigação, junto a realizada com os usuários pertencentes às diversas associações de montanha e de surfe, fazem parte da proposta que apresentamos ao Instituto Virtual do Esporte. 5 A década tem sido identificada como o início de um novo comportamento esportivo em âmbito mundial e também do grande impulso dado pela alta tecnologia e da descoberta de novos materiais. de ‘neopreme’ das mais diversas, com costuras mínimas ou inexistentes, com ‘zippers’ de alta tecnologia, que impedem a passagem da água. Reforçando a idéia principal do avanço tecnológico e da cidade como equipamento de lazer, vamos verificar o que ocorre na prática do montanhismo, onde nos últimos 25 anos, novos equipamentos possibilitaram como no surfe, uma nova maneira de escalar. Atualmente, além desses fatos, alguns parques e trilhas passaram a ser melhor preservados, havendo indicações dos trajetos, difundidos tanto na forma de livros, brochuras e sitios na Internet6. Também é encontrado em determinados locais, placas indicativas dos percursos a serem assumidos, a distância e o tipo de esforço. Consideramos que esse conjunto de coisas, cada vez mais contribuiu à segurança do praticante. Quando verificamos o equipamento dos primeiros escaladores do início do século XX, envoltos na cintura com cordas de sisal, usando botas bastante duras, ficamos imaginando a dificuldade por eles encontrada. Tanto no montanhismo como no surfe, a questão do avanço tecnológico dos últimos 25 anos mudaram a maneira de praticar essas atividades, tornando-as cada vez mais seguras e proporcionando também um salto qualitativo na prática do esporte. No caso do montanhismo, podemos considerar que dois tipos de materiais modificaram profundamente o perfil do praticante: o nylon e o duro alumínio. Foi a partir de seu uso na fabricação dos equipamentos de montanha que estes passaram a se sofisticar cada vez mais. O nylon contribuiu, entre outras coisas, para a nova concepção das cordas7, que tanto concedem sustentação ao corpo do praticante em situação de quedas, quanto auxiliam na superação de obstáculos, seja na subida como na descida. O alumínio permitiu que mosquetões, grampos e uma variedade de freios ficassem cada vez mais leves e resistentes. Um outro equipamento que é imprescindível ao escalador é a "cadeirinha", também de alta resistência, com uma ergonomia que associada a elasticidade da corda “dinâmica”, permite que o escalador não sofra tanto com os impactos de uma eventual queda. Na cadeirinha existem alças em que o escalador vai prender seus diversos equipamentos, hoje considerados essenciais à prática da escalada, além de ser sua ligação com o outro escalador através da corda. A atual ética da escalada no Brasil, que foi exaustivamente discutida na comunidade de escaladores propõe que em paredes que possuem fendas não se coloque proteções fixas (grampos/chapeletas), mas sim que seja utilizado equipamentos móveis (friends, nuts, hexcentrics e etc.). Completando destacamos a importância dos materiais leves e resistentes, usados na confecção de capacetes, e os aderentes presentes nas sapatilhas, cujo formato e solado permite uma boa fixação à rocha. Quando falamos do praticante do ‘trekking’, verificamos que o grau de exigência e investimento inicial é bem menor daquele solicitado ao escalador. Para ele, praticamente se faz necessário somente de um calçado de solado de borracha, que seja confortável como também devem ser as roupas do praticante. Para caminhadas de maior duração e de maior grau de dificuldade podem ser utilizados equipamentos bem sofisticados como botas especialmente desenhadas para andar em pedras e superfícies irregulares, existindo as do tipo "bota", com proteção especial para evitar torções no tornozelo; além de meias especiais, cantis, instrumentos de orientação como bússolas e 6 Previsões climáticas e qualidade das ondas também são divulgadas diariamente em sitios da internet. No que se refere as cordas existem dois tipos: as "dinâmicas", que são usadas na prática de escalada e que tem como principal característica a absorção de energia em caso de queda; e as "estáticas", que são também utilizadas no rapel e na prática da Espeleologia e Canyonismo. 7 GPS; mochilas e roupas confeccionadas com boa aerodinâmica e com material leve e impermeável. Considerações finais A crescente disseminação dos esportes na natureza presenciada atualmente, pode ser explicada, em alguma medida, pelo surgimento incessante de um sem número de equipamentos tecnológicos que facilitaram e modificaram a prática dessas modalidades, já que proporcionam uma maior segurança diminuindo os riscos de acidente. Entretanto a disseminação desses avanços, ainda não está acessível a todas as camadas da população, haja visto, que esse incremento tecnológico acabou encarecendo em muito, o preço dos equipamentos necessários às duas práticas investigadas. Outro fato a considerar é a melhor conservação dos locais investigados estarem na proximidade de bairros habitados por moradores da classe média e burguesa. Já existe uma importante rede de comerciantes negociando os materiais, há lojas especializadas tanto para o surfe como para as atividades de montanha, no caso destas últimas, grande parte vem do exterior, o que encarece mais ainda. Ao se dificultar a aquisição desses produtos, transforma-se sua posse e subsequente prática, em um mero elemento de distinção social. Numa outra perspectiva, podemos pensar que a cidade enquanto um equipamento de lazer, também estaria comprometida pois nesse caso também emergem preocupações acerca do acesso dos praticantes que não possuem meio de locomoção próprio ou simplesmente residem em locais da cidade com carência de transportes públicos urbanos para esses locais. A nosso ver ficou claro que: no processo de desgaste e desordem, é importante perceber como as cidades estão cada vez mais compartimentadas em blocos e submetidas a administrações que privilegiam os grupos economicamente poderosos. Enquanto as zonas mais ricas da cidade preservam certa harmonia de forma e são motivos da preocupação constante dos poderosos governamentais, os subúrbios e as periferias estão cada vez mais desgastados e sensivelmente abandonados (MELO, ALVES JUNIOR, 2003:48-9). Bibliografia ALVES JUNIOR, Edmundo de Drummond, O grupo de Caminhada Alternativa e vida, Coletânea II Seminário O Lazer em Debate, Belo Horizonte, UFMG/CELAR, 11 a 13 de maio de 2001, p. 146- 152. BETRÁN, Javier Oliveira. Rumo a um novo conceito de ócio ativo e turismo na Espanha: as atividades físicas de aventura na natureza, p. 157 – 202. IN: MARINHO Alcyane, BRUHNS Heloisa Turini, Turismo, Lazer e natureza, São Paulo: Manole, 2003. 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