Técnicas de Negociação com Patrocinadores

Transcrição

Técnicas de Negociação com Patrocinadores
Técnicas de Negociação
com Patrocinadores
Autor:
Mário Margutti
Junho de 2009
ÍNDICE
Introdução
04
As origens do Eneagrama
A Busca de Patrocínio para Projetos Culturais
O Símbolo do Eneagrama
A Lei de Três
Personalidade e Essência
A Lei de Sete ou Lei das Oitavas
04
05
07
07
10
11
Os Tipos Físicos ou Instintivos
16
Características Gerais
Tipo 8: O Poderoso Chefão
Como Negociar com o Tipo 8
Tipo 9: O Grande Conciliador
Como Negociar com o Tipo 9
Tipo 1: O Perfeccionista
Como Negociar com o Tipo 1
Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Físico
16
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20
20
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23
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Os Tipos Emocionais
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Características Gerais
Tipo 2: O Benfeitor Indispensável
Como Negociar com o Tipo 2
Tipo 3: O Coringa Bem Sucedido
Como Negociar com o Tipo 3
Tipo 4: O Idealista Rebelde
Como Negociar com o Tipo 4
Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Emocional
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31
32
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35
35
Os Tipos Mentais
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Características Gerais
Tipo 5: O Auditor
Como Negociar com o Tipo 5
Tipo 6: O Advogado do Diabo
Como Negociar com o Tipo 6
Tipo 7: O Aventureiro Hedonista
Como Negociar com o Tipo 7
Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Mental
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42
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Os Fluxos do Eneagrama
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O Fluxo do Tipo 3
O Fluxo do Tipo 6
O Fluxo do Tipo 9
O Fluxo Não Mecânico ou Evolutivo
Tipo 3 Evolutivo
Tipo 6 Evolutivo
Tipo 9 Evolutivo
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47
48
48
49
49
50
2
O Segundo Fluxo Mecânico
O Segundo Fluxo Não Mecânico
50
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Anexos (Informações Suplementares)
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56
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58
58
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59
59
59
60
60
60
61
61
61
62
62
62
63
63
63
Principais Características dos Tipos no Ambiente de Trabalho
Tipos 1
Tipos 2
Tipos 3
Tipos 4
Tipos 5
Tipos 6
Tipos 7
Tipos 8
Tipos 9
Aspectos Diversos dos Nove Tipos de Personalidade (Série de 15 Figuras)
Rótulos Mais Comuns
Rótulos de Auto-identificação
Rótulos Negativos
Atenções Primeiras
Pecados / Virtudes
Mecanismos de Defesa
As Ilusões
As Presunções
Desejos Básicos
Patologias
Símbolos Evolutivos
Símbolos Involutivos
Principais Recursos Positivos
Compulsões Básicas
Infância
Princípios Éticos na Aplicação do Eneagrama
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3
INTRODUÇÃO
As Origens do Eneagrama
O Eneagrama é um símbolo milenar. Achados arqueológicos na
Mesopotâmia, datados de mais de 4.000 anos atrás, demonstram que se
trata de um dos objetos de estudo mais antigos da humanidade.
Para alguns pesquisadores, o Eneagrama teria surgido numa
fraternidade de sábios da Babilônia, cerca de 2.500 anos antes de Cristo.
Julga-se que Zoroastro e Pitágoras também teriam conhecido essa poderosa
ferramenta, assim como os habitantes do Império Persa, na época de Dario.
Coube aos mestres Sufis, do Islã, serem os guardiões dos segredos da
utilização do Eneagrama pelo ser humano. Para resumir, registramos aqui
que o sufismo é uma escola de sabedoria que se dedica ao estudo das
barreiras que impedem os homens de se desenvolverem espiritualmente e à
prática de trabalhos internos capazes de superar esses obstáculos.
No Ocidente, foi somente no começo do século que o Eneagrama se
tornou conhecido, através das idéias e do ensino do pensador russo G. I.
Gurdjieff, divulgados também por seu discípulo P. O. Ouspensky.
Gurdjieff utilizou o Eneagrama como um modelo dinâmico de
funcionamento dos seres vivos: “Cada total integral, cada cosmos, cada
planta, cada organismo é um Eneagrama” – disse ele. Não há registro de
que Gurdjieff tenha usado explicitamente o Eneagrama no âmbito da
tipologia das personalidades do ser humano.
O Eneagrama aplicado à personalidade humana foi trabalhado pelo
boliviano Oscar Ichazo, que, após ser membro de uma Escola Sufi no
Afeganistão, voltou à sua terra natal para criar o Movimento Arica,
defendendo a tese de que os conteúdos do Eneagrama das Personalidades
foram trabalhados exclusivamente por ele, e que só no contexto do
treinamento que sistematizou a correta aprendizagem seria possível.
Mas a propagação do sistema por diversos países deve-se ao
psiquiatra chileno Claudio Naranjo, que integrou a teoria de Ichazo aos
conhecimentos atuais da Psicologia, tornado o Eneagrama acessível a maior
número de pessoas.
Em 1972, Naranjo ensinou o Eneagrama a padres jesuítas e desde
então o Reverendo Robert Ochs liderou o envolvimento da congregação com
o sistema. Em 1984, os religiosos Maria Bressing, Robert Nogosek e Patrick
O´Leary, com a cooperação de Ted Dunne, redigiram o livro “O Eneagrama:
Uma Jornada de Auto-Descobrimento”, que dá uma dimensão cristã ao tema.
Hoje temos a informação de que a CIA, nos Estados Unidos, vale-se do
Eneagrama para prever o comportamento dos líderes mundiais. E que o
Vaticano o emprega no universo da educação, como forma de facilitar o
processo de ensino/aprendizagem. Já a Universidade de Stanford utiliza o
Eneagrama para detectar líderes e administradores competentes. Por sua
vez, a Universidade de Palo Alto, na Califórnia, emprega o Eneagrama no
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campo da Psicologia, promovendo Encontros e Seminários Internacionais
sobre o assunto.
Os autores deste Manual aprenderam o Eneagrama das
Personalidades em aulas ministradas por Christian Paterham, filósofo e
administrador de empresas de origem chilena. Juntamente com sua esposa,
a psicóloga brasileira Norma Janotti, Christian fundou o IDHI – Instituto para
o Desenvolvimento Humano Integral, que tem sua sede no bairro Debossan
de Nova Friburgo (RJ). Ele escreveu o livro “O Eneagrama G.” para mostrar
que Gurdjieff conhecia o Eneagrama das Personalidades. Christian recorreu
a citações de frases do pensador russo a seus discípulos, nas quais se pode
perceber que ele tinha conhecimento dos traços básicos do caráter de cada
indivíduo.
A Busca de Patrocínio para Projetos Culturais
Quem decide o patrocínio na empresa é uma pessoa de carne e osso,
como nós. Possui uma cultura, uma personalidade básica, com seus hábitos
e comportamentos pessoais, muitos deles mecanizados.
Muitos Agentes Culturais confessam sentir inibição durante encontros
com prováveis patrocinadores. Esses Agentes colocam os executivos que
decidem num patamar de superioridade que impede a negociação de igual
para igual, que é a condição essencial para fazer um bom negócio.
Vender faz parte do rol de necessidades elementares de todo ser
humano. Precisamos, portanto, aprender a vender. Um pintor carioca de
grande sucesso, que conseguiu inclusive libertar-se da dependência dos
donos de galeria, afirmou com muita propriedade que “vender também é uma
arte”.
Vender idéias, produtos, projetos, serviços, é condição de
sobrevivência dentro de qualquer sistema social.
Não basta ter um bom projeto cultural nas mãos. É preciso aprender a
negociar. O tempo do “pires na mão” acabou. Vivemos o tempo da
competência. Um projeto cultural deve ser, antes de mais nada, um projeto
de vida para seu criador. Uma necessidade tão biológica quanto espiritual.
Uma paixão e uma prova de profissionalismo.
O mercado cultural é fundamental para o desenvolvimento da
sociedade, em todos os seus aspectos, inclusive o econômico. Precisamos
todos nós, Agentes Culturais, trabalhar no sentido de criar um mercado
cultural sólido, como já acontece em outros países.
Para tanto, precisamos nos aperfeiçoar continuamente, e obter os
números, os dados, as pesquisas, as informações e os conhecimentos
necessários para fazer um bom planejamento estratégico que resulte na
viabilização do nosso projeto. Precisamos chegar ao ponto em que os
Agentes Culturais sejam reconhecidos como profissionais sérios,
competentes, responsáveis por um trabalho indispensável para a
comunidade.
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Após aprendermos o Eneagrama com Christian Paterham, a equipe da
nossa empresa transportou livremente para nossa experiência de campo os
conceitos fornecidos pela teoria eneagramática. Os resultados foram
surpreendentes. Nossa eficiência na venda de projetos aumentou em 300%.
Relacionaremos a seguir os nove tipos de personalidades básicas do
ser humano, que os Agentes Culturais poderão encontrar em seus contatos
de venda, tanto nas empresas privadas como nos órgãos públicos.
É importante perceber desde logo que o Eneagrama não é uma
tipologia de comportamentos padronizados, mas sim uma tipologia de
motivação interna do ser humano. Isso significa que, com base na teoria do
Eneagrama, podemos prever não o comportamento, mas a atitude das
pessoas, que sempre gravitam em torno de certas tendências. O
comportamento é algo que sempre será variável ao infinito, até mesmo entre
as pessoas que têm o mesmo tipo básico de personalidade no Eneagrama.
Outro aspecto a se considerar é o conceito de “Asa”, que se refere à
influência dos pontos do Eneagrama sobre aqueles que são seus vizinhos
mais próximos. Assim, o Tipo 3 sobre influência dos pontos 2 e 4; o Tipo 9
sofre influência dos pontos 8 e 1; o Tipo 1 sofre influência dos pontos 9 e 2 e
assim por diante. Essas influências laterais (ou por contigüidade) são as
“Asas” de cada tipo de personalidade, sendo que uma delas costuma ser
predominante.
Por exemplo: se um Tipo 9 tiver a Asa 8 predominante, será uma
pessoa com mais tendência a expressar sua raiva e sua violência; se a Asa 1
for a predominante, a pessoa terá tendência a reprimir sua raiva.
Outro exemplo: se um Tipo 3 tiver a Asa 2 predominante, terá mais
tendência ao romantismo, à vida amorosa, com espírito jovem e festivo; se a
Asa 4 for predominante, será mais fechado afetivamente, porém com
tendência à criatividade mais intensa, além de certa inclinação para a
melancolia (espírito velho, mais depressivo).
Ao apresentar os nove tipos de personalidades básicas do ser humano,
queremos que o Agente Cultural faça uma reflexão que normalmente ele não
faz, quando vai vender o seu projeto. Quem é a pessoa que está do outro
lado da mesa, quando vamos negociar um projeto cultural? Normalmente o
Agente Cultural entra na sala dos executivos patrocinadores em potencial
com uma série de preconceitos altamente prejudiciais à realização de um
bom negócio. É comum, por exemplo, os artistas pensarem que os
empresários são pessoas frias, ou insensíveis, que não valorizam a arte e a
cultura.
Essas idéias preconcebidas não passam de considerações subjetivas
que não têm qualquer base na realidade. É preciso olhar para quem está do
outro lado da mesa de negociações de forma aberta, objetiva, flexível. Só
assim poderemos ter uma idéia mais correta de que tipo de ser humano se
trata. E os conceitos baseados na Teoria do Eneagrama são, em nossa
opinião, as melhores ferramentas de ajuda nesse processo de ver quem é o
outro, de forma realmente objetiva, se conseguirmos que nossos próprios
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preconceitos não atrapalhem nossa percepção da outra pessoa com a
máxima clareza e isenção possíveis.
O novo conhecimento adquirido nos levou a estudar outras tipologias
de personalidade (como a de Carl Gustav Jung, a da Psicologia da Gestalt e
outras) e, em nossa opinião, o Eneagrama revelou-se como a mais prática e
a mais fácil de aplicar no cotidiano, nas mais diversas situações.
O SÍMBOLO DO ENEAGRAMA
A palavra Eneagrama vem da junção de dois termos gregos: enea
(nove) e grama (linha, figura). Significa, portanto, “figura de nove linhas”,
expressão apenas genérica, que está longe de transmitir a riqueza de
informações e de conhecimentos encerrados neste símbolo milenar.
A primeira coisa que podemos notar no símbolo é que, embora o círculo
tenha sido dividido em nove partes iguais, as linhas internas não foram
reunidas em forma simétrica. Elas não formam uma estrela convencional,
mas sim duas figuras diferentes que se entrelaçam: um triângulo equilátero e
uma outra forma pouco usual, que podemos descrever como quatro
triângulos unidos entre si.
A LEI DE TRÊS
O triângulo de lados iguais nos remete a uma das mais antigas leis do
universo: a Lei de Três, que os antigos Mestres do Eneagrama consideram
uma lei de caráter cósmico. Essa lei é, na verdade, algo muito simples. Ela
preconiza que qualquer fenômeno, em qualquer região do universo, precisa
da presença de pelo menos três forças para acontecer:
 Uma força ativa;
 Uma força de resistência (reação à primeira força ativa);
 Uma forma de conciliação, ou resultante do jogo entre as duas
primeiras.
O pensamento ocidental está excessivamente habituado a pensar de
forma dualística. Pensamos sempre em pares de opostos: Bem e Mal, Luz e
Trevas, Masculino e Feminino, Pólo Positivo e Pólo Negativo, Espírito e
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Matéria etc. Em outras palavras, fomos condicionados a ficar cegos para a
terceira força. No entanto, ela existe, e se nos treinarmos a pensar em
termos triádicos, não apenas dualísticos, poderemos começar a perceber
essa terceira força e sua importância em nossas vidas.
O aspecto mais importante a considerar é que a energia do ser
humano gravita em torno de três Centros: o Centro Físico ou Instintivo, o
Centro Emocional e o Centro Mental. No Eneagrama, os Centros estão
representados na figura do triângulo eqüilátero que faz parte do símbolo, da
seguinte maneira:
FÍSICO
MENTAL
EMOCIONAL
O Centro Físico corresponde ao Ponto 9 do Eneagrama, o Centro
Emocional ao Ponto 3 e o Centro Mental ao Ponto 6. Os demais 6 Pontos,
que correspondem aos outros Tipos de Personalidade, também se definem
pela prevalência de um desses três Centros, da seguinte forma:
Tipos 8, 9 e 1 – Predomínio do Centro Físico ou Instintivo.
Tipos 2, 3 e 4 – Predomínio do Centro Emocional.
Tipos 5, 6 e 7 – predomínio do Centro Mental.
Os três Centros não funcionam de modo equilibrado, na medida em
que um deles predomina em nossas vidas, um segundo desempenha um
papel auxiliar e um terceiro fica meio atrofiado ou pouco utilizado ou mesmo
reprimido. No âmbito dos nove tipos básicos de personalidade do ser
humano, esta desigualdade entre os centros se manifesta da seguinte forma:
Personalidade
Tipo 1
Tipo 2
Tipo 3
Centro Físico
Predominante
Secundário
Secundário
Tipo 4
Terciário
Centro Emocional
Secundário
Predominante
Predominante,
mas reprimido
Predominante
Centro Mental
Terciário
Terciário
Secundário
Secundário
8
Tipo 5
Tipo 6
Terciário
Secundário
Secundário
Secundário
Tipo 7
Tipo 8
Tipo 9
Secundário
Predominante
Predominante,
mas reprimido
Terciário
Terciário
Secundário
Predominante
Predominante,
mas reprimido
Predominante
Secundário
Secundário
Quando detectamos o nosso tipo de personalidade, já devemos
assumir um primeiro “dever de casa”, que é o de procurar desenvolver o
Centro que funciona de modo secundário em nossas vidas e, principalmente,
o Centro que é o menos utilizado. É ele, o terciário, que necessita de maiores
esforços para elevar seu desempenho efetivo.
Voltando à Lei de Três: precisamos aprender a percebê-la melhor em nosso
cotidiano. Por exemplo: quando conhecemos uma pessoa, a simpatia ou a
antipatia que pode surgir desse encontro é um tipo de terceira força. Nessa
mesma perspectiva, podemos ver o sentimento de amor como uma
poderosíssima terceira força (já que dele pode resultar até o nascimento de
um novo ser humano).
É importante ressaltar que os Tipos usam as energias dos três Centros
de modo diferente. A Figura abaixo mostra como isso ocorre:
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Chegou agora o momento crucial de estabelecer, nos termos da antiga
Tradição que nos legou o precioso conhecimento do Eneagrama, os
conceitos de personalidade e de essência.
PERSONALIDADE E ESSÊNCIA
A personalidade é algo que se forma de zero a sete anos de idade,
como terceira força resultante da interação do indivíduo com seu meio
ambiente: a família, a escola, a vizinhança, os valores culturais da
sociedade. A personalidade é algo externo, uma forma de adaptação ao
meio ambiente, com a qual nos identificamos excessivamente,
equivocadamente, a ponto de considerarmos que ela é o nosso verdadeiro
ser. De fato, a personalidade não é mais do que uma máscara que vestimos
nesse grande teatro que é a nossa vida. Uma máscara que gruda à pele e
que depois não conseguimos mais arrancar e com isso perdemos algo
realmente importante, que é a consciência do que é um ser humano.
Já a essência só pode ser definida como o nosso verdadeiro ser,
absolutamente pessoal e intransferível, algo realmente singular, único. As
crianças pequenas estão ainda cheias de essência. São transparentes, não
sabem dissimular. À medida que são envolvidas pelos condicionamentos
culturais, aprendem a mascarar seus pensamentos e sentimentos. Assim vai
surgindo a personalidade, que se cria em torno da essência como uma
crosta, a ponto de ocultá-la totalmente. Os Mestres do Eneagrama chegam a
advertir sobre um gravíssimo perigo que afeta a todos nós. A casca da
personalidade pode tornar-se tão forte, tão predominante, que a essência
pode até morrer sem que o indivíduo se dê conta dessa tragédia. É quando
ele se torna um cadáver ambulante, já que o corpo, com seus três Centros,
sob o comando mecânico da personalidade, pode funcionar de modo a criar
a perfeita ilusão de que estamos diante de um ser vivo, quando na verdade
estamos apenas diante de uma máquina de processamento de energia, sem
qualquer controle consciente, sem qualquer opção verdadeira de um destino
pessoal.
Quando a personalidade comanda o nosso ser, não estamos de fato
humanamente vivos, somos apenas o palco do jogo naturalmente mecânico
das energias: a vida vive em nós, no sentido universal da palavra “vida”.
Quando somos mecênicos, não vivemos nossa própria vida.
Conhecer o Eneagrama nós dá a possibilidade de diminuirmos a força
de influência da personalidade, para que a essência encontre espaço para se
manifestar. Nesse trabalho, que só pode ser voluntário e consciente, é
preciso que a personalidade (que normalmente é ativa), torne-se passiva. E
que a essência (que geralmente é passiva) se torne de fato ativa. Para que
essa difícil transformação aconteça, é preciso encontrar uma terceira força –
no caso, um saber novo, o conhecimento do Eneagrama – que nos dê os
elementos para uma auto-observação que permita discriminar o que é a
essência e o que é a personalidade. Só assim, gradativamente, e através de
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um esforço bastante sério, poderemos tomar posse de nosso verdadeiro ser,
com todas as vantagens que estar verdadeiramente vivo implica.
A Lei de Três encerra ainda outro precioso ensinamento: não só cada
fenômeno precisa de três forças para se manifestar, como o movimento do
universo é incessante, porque cada terceira força resultante torna-se outra
primeira força ativa, que gera uma força de reação, seguida de outra
resultante e assim ad infinitum.
Por isso as antigas tradições percebiam o 3 como o Número da Criação.
Um provérbio chinês, muito antigo, afirma: “Do Um nasceu o Dois; do Dois
nasceu o Três; e do Três nasceram todas as coisas”. Clarisse Lispector,
escritora brasileira de elevada intuição, parece ter percebido esse processo,
quando escreveu: “O ovo é o triângulo que viajou muito tempo no espaço”.
Podemos fazer a leitura desse jogo incessante das três forças no
universo do ponto de vista matemático. Assumiremos que a Unidade
representa a síntese de tudo que existe. Vamos então dividi-la pelos
números que, no Eneagrama, são associados ao triângulo que consta na
figura. Os resultados serão:
1/3 = 0,33333333333....
1/6 = 0,16666666666...
1/9 = 0,11111111111....
A dízima periódica que aparece em todas as operações sinaliza o
movimento incessante da Lei de Três em todo o universo.
A LEI DE SETE OU LEI DAS OITAVAS
Os demais pontos do Eneagrama, 1 – 4 – 2 – 8 – 5 – 7 estão
associados à segunda lei cósmica que essa magnífica ferramenta nos
ensina, que é conhecida como Lei de Sete ou Lei das Oitavas. O nome
“oitavas” decorre de uma analogia com a música: são sete as notas da
escala diatônica e a próxima nota é sempre uma oitava acima da anterior.
Façamos agora a divisão da série de números naturais por 7 e
começaremos a compreender o significado desta Lei, que é de suma
importância em nossas vidas, porque sua compreensão profunda, aplicada
ao dia a dia, permite que superemos os nossos próprios limites. Os
resultados são:
1/7 = 0,1428571428571428571 (é importante perceber que, no sétimo
algarismo da seqüência que se repete – que tivemos o cuidado de sublinhar,
no caso o número 1 –, volta-se ao número inicial. A série de números que se
repete contém exatamente os números que correspondem aos demais
Pontos do Eneagrama ( 1 – 4 – 2 – 8 – 5 – 7 – volta ao 1). Essa série
constitui um fluxo orientado (é o fluxo da nossa energia interna, que
podemos perceber, se acurarmos nossa auto-percepção). A série de
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números naturais, dividida por sete, resulta sempre na série de números do
Eneagrama, se repetindo ao infinito, e sempre voltando ao número inicial
quando chega ao sétimo algarismo da série:
1/7 = 0,1428571428571428571...............
2/7 = 0,2857142857142857142..............
3/7 = 0,4285714285714285714..............
4/7 = 0,5714285714285714285..............
5/7 = 0,7142857142857142857..............
6/7 = 0,8571428571428571428..............
7/7 = 1 (sinalizando o fim do primeiro ciclo da Lei de Sete)
8/7 = 1,1428571428571428571.............. (inaugurando a repetição da
série de números encontrada no primeiro ciclo)
9/7 = 1,2857142857142857142..............
10/7 = 1,4285714285714285714............
11/7 = 1,5714285714285714285............
12/7 = 1,7142857142857142857............
13/7 = 1,8571428571428571428............
14/7 = 2 (sinalizando o fim do segundo ciclo da Lei de Sete)
15/7 = 2,1428571428571428571........... (e assim a série se repete até o
infinito, configurando a existência de uma lei matemática, recorrente, que é
uma função circular, porque a série de números sempre volta à sua origem).
Mais importante do que ficarmos admirados com este fenômeno
matemático, é aprendermos como a Lei de Sete se manifesta em nossas
vidas, em nosso cotidiano.
Vamos partir de um princípio muito simples: todo fenômeno que ocorre
no universo é vibratório (nossa voz é uma vibração, nossos pensamentos
são vibratórios, nossas ações vibram sobre as outras pessoas e geram
conseqüências).
Podemos então fazer uma analogia com a música, pois as notas
musicais também são vibrações. Para efeito apenas didático, vamos assumir
que um fenômeno, qualquer fenômeno, começa na nota Dó.
Para que este Dó exista, tal como aprendemos na Lei de Três, são
necessárias três forças em ação: uma ativa, outra de reação e outra de
conciliação. É a interação dessas três forças que dá existência a uma única
nota musical, no caso, o Dó.
O fenômeno, que começa em Dó, passa a evoluir no tempo e no
espaço: Do Dó vai para o Ré, e do Ré ao Mi. Para que o Ré exista, são
necessárias três forças, e para que o Mi exista, também. A Lei de Três,
portanto, é interna à Lei de Sete.
Na passagem do Mi para o Fá, entretanto, por uma injunção cósmica,
ocorre uma queda de energia, como mostra a figura abaixo:
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Isto significa que o fenômeno em andamento foi desviado de seu
caminho. Ele segue no desvio, do Fá ao Sol, do Sol ao Lá e do Lá ao Si
(voltamos a lembrar que três forças precisam interagir para que cada uma
dessas notas aconteça). Na passagem do Si para um novo Dó (uma oitava,
conforme a teoria da música), por outra injunção cósmica, ocorre nova queda
de energia, como nos mostra a figura abaixo:
Assim, a tendência de todo e qualquer fenômeno é sofrer
continuamente quedas de energia, que provocam desvios, em todos os
intervalos Mi/Fá ou Si/Dó que ocorrem no seu processo de manifestação no
tempo e no espaço. O que significa que a tendência de todo fenômeno é
tornar-se um círculo vicioso, uma função circular, tal como a série de
números que se repetem quando são divididos pelo número sete. A Figura
abaixo mostra que a tendência de todo e qualquer fenômeno é voltar ao seu
começo (um pouco antes do Dó inicial, um pouco depois ou
aproximadamente no mesmo lugar).
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As conseqüências dessa Lei em nossas vidas merecem nossa total
atenção, um permanente estado de alerta. Porque, todas as vezes que
estabelecemos uma META para ser atingida, a tendência natural (cósmica)
dos processos energéticos é o desvio recorrente para um círculo vicioso, que
faz com que giremos em torno de um mecanismo recorrente, sem atingir a
META!
A figura abaixo ilustra o que acontece:
No ser humano, o intervalo Mi/Fá costuma se caracterizar por um
desvio de tipo físico, mais fácil de ser percebido. Nossa preguiça ou
indolência, por exemplo. Quando fazemos um esforço físico, por exemplo,
nosso corpo reage. Porque ele é uma máquina bastante aperfeiçoada pela
natureza e gosta de trabalhar com alto rendimento de energia (máximo
rendimento, com gasto mínimo de energia). Assim, quantas vezes
interrompemos os trabalhos físicos no meio do processo, porque nos
sentimos prematuramente cansados ou porque preferimos deixar o trabalho
para amanhã, já que está chato?
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Quando temos força de vontade suficiente para não deixar nossa
preguiça comandar o processo (em outras palavras, quando não caímos no
Intervalo Mi/Fá da Lei de Sete), somos então recompensados. O corpo
produz endorfina e passamos a sentimos prazer na ginástica ou no esforço
braçal. Isto significa que não estamos mais produzindo oitavas
descendentes, mas sim oitavas ascendentes. O resultado é positivo:
nesse caso, a Lei de Sete ou Lei das Oitavas não nos impede mais de
atingirmos nossas METAS.
Já o intervalo Si/Dó, na vida dos seres humanos, é mais difícil de ser
percebido, pois costuma se caracterizar por um problema interno, sutil,
psicológico (como, por exemplo, um medo inconsciente).
Damos a seguir alguns exemplos do cotidiano que ilustram esse
processo:
a) Duas pessoas se conhecem, se sentem atraídas e começam a
namorar. Projetam suas fantasias uma sobre a outra, e acreditam
ter encontrado o par perfeito. Porém a convivência começa a
desnudar os defeitos, as dificuldades de relacionamento, as
incompatibilidades. Assim, ao fim de apenas um mês, o namoro se
desfaz. O casal derrapou no intervalo Mi/Fá. Mas vamos supor que
o namoro continue – e que ambos fiquem noivos e marquem a data
do casamento. No dia da cerimônia, a noiva foge correndo, em
pleno altar. Nem sabe explicar porque (pode ser o medo de perder
a liberdade, ou o receio de casar com a pessoa errada). O que é
certo é que ela foi desviada pelo intervalo Si/Dó.
b) Visualizemos uma corrida de atletas nas Olimpíadas. No começo,
todos dão uma arrancada poderosa (estavam no Dó inicial) e
correm utilizando o máximo de sua energia física. Mas chega um
ponto em que diminuem o esforço, e passam a correr dentro de um
ritmo compassado, mais lento. Chegaram ao intervalo Mi/Fá. A
corrida evolui e chega aos seus momentos finais: dois atletas, na
frente dos outros, disputam o primeiro lugar. A vitória parece certa
para um deles, só que, a três passos de cruzar a linha de chegada,
ele tropeça e cai. O outro, que vinha atrás, vence a corrida. O atleta
que caiu teve um problema interno (por exemplo: não se sentia
merecedor da vitória). Foi uma das muitas vítimas do intervalo Si/Dó
e assim não atingiu sua META.
c) Acordamos cheios de energia, e decidimos arrumar o nosso quarto,
terminar com aquela bagunça, que se tornou insuportável. Nossa
preguiça nos desvia, arrumamos apenas a metade das coisas e
deixamos o resto para amanhã, tropeçando assim no intervalo
Mi/Fá. Passados alguns minutos, nos arrependemos e decidimos
voltar ao trabalho. Vencemos o intervalo Mi/Fá. Porém, no meio da
confusão, encontramos aquele livro que estávamos adorando ler e
que tinha desaparecido no meio do caos. Paramos imediatamente
de arrumar o quarto e começamos a ler o livro, muito felizes, sem
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perceber que caímos no intervalo Si/Dó e não atingimos nossa
META, que era arrumar totalmente o quarto, naquele mesmo dia!
Do ponto de vista da personalidade, que é algo que se forma de zero
aos sete anos de idade, é importante perceber que criamos padrões
mecânicos de comportamento e de motivação interna. Isto significa que
criamos um padrão recorrente, criamos uma Lei de Sete que funciona
internamente e que nos impede de atingirmos com objetividade nossas
metas. Às vezes, esse padrão interno nos impede até de estabelecer metas,
ou de vê-las. Esse padrão também dificulta que percebamos com clareza os
momentos cruciais em que estamos vivendo um intervalo Mi/Fá ou um
Intervalo Si/Dó.
Passemos agora ao estudo dos nove tipos de personalidades básicas
do ser humano.
OS TIPOS FÍSICOS OU INSTINTIVOS
Características Gerais
O predomínio do Centro Instintivo nos seres humanos cria uma
característica de “não identificação” com os demais. Assim como a física nos
ensina que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, os
tipos de personalidade onde predomina o Centro Instintivo são conhecidos
pela fórmula A  B. Em resumo, os Tipos Físicos sentem-se individualizados,
não acreditam em empatia, nem em “fazer correntes” ou entrar em
comunhão com os demais.
A prevalência do cérebro reptiliano exalta seu lado animal, caçador.
Por isso a questão do território é central em suas vidas.
Grupo do Ser
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O Tipo 8 quer domínio total sobre o seu território e não se cansa de
tentar expandir as suas fronteiras, para conseguir mais poder – e nesse
processo ele atua como um guerreiro verdadeiramente valente, que não
receia morrer em combate.
O Tipo 9, ao mesmo tempo em que não cuida de seu território,
permitindo que os outros usufruam dele e de seus bens materiais, tende a
usar o território e as coisas dos outros como se fosse o seu. Para esse tipo
de personalidade, o mundo é um território difuso, que pertence a todos. A
questão do conforto físico é fundamental para o Tipo 9.
O Tipo 1 cuida e impõe as regras no seu território pessoal. Ele não está
preocupado com a expansão de poder territorial, como acontece com o Tipo
8. Mas quer um território individual de poder, para nele reinar (a residência, o
trabalho, a instituição onde tiver cargo de dirigente). Os Tipos 1 são capazes
de sacrificar o conforto físico para seguir normas e regulamentos.
A sexualidade, evidentemente, ocupa aspecto central na vida das
pessoas em que prevalece o Centro Instintivo. Os Tipos 8 aderem à luxúria.
Os Tipos 9 tendem à promiscuidade (seu corpo é um território “aberto”
aos outros e o corpo dos demais também é percebido como território livre).
Os Tipos 1 podem ser sexualmente reprimidos. Ou ter uma vida dupla (uma
social e outra pervertida, na qual satisfazem suas fantasias reprimidas), Ou
terem vida sexual ativa e saudável, quando resolvem seus problemas de
repressão.
Nos Tipos Físicos predomina o Instinto de Conservação. A busca do
alimento é essencial. Por isso, normalmente os Tipos 8 e 9 são pessoas
gordas, enquanto o Tipo 1, por sua natureza contida, tende a ser magro.
Lembramos aqui, também, que a sexualidade é também o veículo da
conservação da espécie humana.
Diz-se dos Tipos Físicos que possuem um Ego Histórico. Seu apego
ao mundo concreto faz com que percebam a existência como um passo a
passo no tempo, ou como uma construção (um tijolo sobre o outro). O que
significa que têm comportamento previsível, pois não gostam de imprevistos
em suas histórias de vida.
Os Tipos Físicos pertencem ao Grupo do Ser. A palavra “ser”, aqui,
deve ser compreendida no seu sentido profundamente biológico, orgânico,
corporal. Existir é ter um corpo e suas sensações no território vasto do
mundo.
Por fim, temos a questão igualmente importante da raiva (que, na
Teoria do Eneagrama não é vista como uma “emoção”, mas como uma
manifestação do Centro Instintivo, ligada à nossa agressividade animal). os
Tipos 8 expressam sua raiva sem restrição. Os Tipos 9, conciliadores por
excelência, diluem sua raiva. E os Tipos 1 tendem a reprimir a sua raiva
(embora tenham forte compulsão a senti-la, porque foram coagidos a reprimir
sua natureza instintiva já na infância). Porém, quando provocados ou
fortemente pressionados, e quando se sentem escudados pela razão, os
Tipos 1 também podem manifestar sua raiva.
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TIPO 8: O PODEROSO CHEFÃO
A infância deste tipo foi uma verdadeira guerra. Ou tiveram que
enfrentar fisicamente o pai, ou estiveram expostos a agressões de outras
crianças ou de adultos, e escolheram enfrentar os inimigos. Graças à sua
força física e à sua violência sem freios, saíram vitoriosos. Adquirem assim
uma enorme autoconfiança em sua capacidade guerreira e chegam a um
ponto em que suplantam a autoridade paterna e materna, tornando-se eles
mesmos os donos do poder. Crescem com o sentimento de que a vida é um
campo de batalha, onde só os fortes podem sobreviver – e os fracos não
merecem respeito (podem até morrer). Assim as pessoas se dividem em
amigas e inimigas, sem meios termos. Tipos 8 são verdadeiramente
corajosos. Aceitam até fracassar, mas nunca fraquejar. Morrem de pé,
lutando até o último suspiro.
Seu mecanismo de defesa é a denegação ou a deflexão: ele nega a
realidade. Mesmo numa situação perigosa, ele ataca primeiro e reflete
depois.
Sua grande motivação é a conquista do poder, num processo sem
limites morais. Raros são os Tipos 8 que, em suas batalhas existenciais,
adquirem um senso de justiça – e passam então a defender os fracos e
oprimidos. Mas eles existem e costumam ser os líderes dos movimentos
sociais que visam a melhoria das condições de vida da parcela mais pobre
da população.
Do ponto de vista social, é importante que todos nós, brasileiros,
tomemos consciência de que nossas favelas produzem muitos Tipos 8, que
se agregam em torno do tráfico de drogas e da criação de um verdadeiro
poder paralelo dentro da sociedade, de cunho paramilitar. As quadrilhas
lutam entre si pela conquista de território e não há nenhum tipo de freio moral
quando se trata de matar os inimigos.
A Teoria do Eneagrama não se aplica apenas aos indivíduos, mas
também aos grupos sociais, às cidades, aos Estados e aos países. Neste
horizonte, podemos visualizar a Alemanha como um país do Tipo 8, com um
povo eminentemente guerreiro. Sob esse ponto de vista, podemos entender
muitos dos aspectos do nazismo e da aventura hitlerista de tentativa de
domínio do mundo (conquista máxima de território). Recuando no tempo,
podemos ver os Vikings e a invasão dos bárbaros na Europa, assim como o
Império Romano igualmente como expressões coletivas do Ponto 8 do
Eneagrama.
Quando entramos na sala de trabalho de um Tipo 8, podemos sentir
que o poder está no ar. Mesa grande, cadeira imponente, fotografias ao lado
de gente famosa, diplomas de prestígio, retratos dos superiores (quando sua
esfera de poder é política). Ele fala com seus assessores com voz de
comando, e não tem peias de ser rude. Interrompe a conversa para atender
telefonemas de pessoas importantes, com quem fala com intimidade (“são da
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sua família de poder”). Ele está sempre querendo impressionar a pessoa que
está recebendo, para mostrar todo o poder que possui.
O Tipo 8 é o patrão por excelência, o “coronel”, o chefe mafioso, ou, no
caso das mulheres, a “dama de ferro”. Ele tem seus protegidos, seus
inimigos e aqueles a quem despreza por considerá-los excessivamente
fracos (e não raras vezes os humilha ou, literalmente, os atropela como um
trator). Ele não respeita quem o bajula e tende a tornar-se amigo de quem o
confronta.
A postura do Tipo 8 é autoritária e muitas vezes paternalista (algumas
pessoas ele protege, colocando-as debaixo da asa – é o seu lado
“justiceiro”). Grande parte de suas ações são baseadas em interesses
políticos ou em jogos de poder. O pecado deste tipo de personalidade é a
Luxúria, que se expressa através da voracidade de tudo conquistar: poder,
sexo, prazeres, dinheiro, patrimônio, domínio sobre os outros. Sua virtude é
a Inocência, que só se torna possível quando o Tipo 8 se desarma, permitese vivenciar sua própria ternura, e volta então a ter uma alma de criança, a
criança que a vida não permitiu que existisse, porque um ambiente hostil
obrigou-o a tornar-se um guerreiro precoce.
Tipos 8 podem ser bastante escrachados: falar alto ou gritar, dizer
palavrões, socar a mesa: “Aqui a lei sou eu, quem manda sou eu!”. Seu estilo
é radical, não acredita em meio-termo, com ele é sempre “tudo ou nada”,
“oito ou oitenta”.
Na empresa privada, o Tipo 8 normalmente é o dono ou um de seus
sócios. Ou é a pessoa de confiança de alguém mais poderoso, que o
escolheu pela capacidade de mandar com firmeza e pela habilidade de
interagir com o poder ou com os representantes de outras empresas ou da
comunidade. Tende a ser populista na relação com empregados e sindicatos,
mas pode guerrear de frente com qualquer esfera de poder, pois o medo é
palavra que não consta de seu vocabulário. Na empresa, gostará de ser
chamado de “mecenas”, “protetor das artes”, “pai da cultura”. Na esfera
pública, certamente será um político de carreira, admirado por sua firmeza
guerreira e tanto nomeará seus compadres como será indicado por eles. Na
vida pública, gostará de ser considerado um “benfeitor”, um “defensor dos
fracos e oprimidos”, um “guerreiro”.
Como Negociar com o Tipo 8
Aconselhamos chegar à presença de um Tipo 8 com a recomendação
de um político de prestígio ou de outro empresário com poder. Caso isso não
seja possível, mostre que seu projeto vai, de alguma forma, aumentar o seu
poder pessoal e a influência da sua empresa no mercado.
No primeiro encontro com uma pessoa, os Tipos 8 costumam fazer
uma provocação forte, para testar a força e a firmeza de seu interlocutor.
Alguma coisa do tipo: “O que faz você acreditar que tem competência
suficiente para conseguir o patrocínio da minha empresa?”.
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Da resposta a essa primeira pergunta, dependerá o julgamento do Tipo
8. Se a pessoa se intimidar, cairá imediatamente no conceito do “poderoso
chefão”. Nossa recomendação é: não fraqueje, responda com firmeza, sem
hesitar. Não bajule. Não confronte: responda com calma, de igual para igual.
O fundamental é demonstrar segurança, coragem e competência.
Importante é expressar autoconfiança, a certeza de que se tem um bom
projeto cultural. Tipos 8 acolhem bem projetos ousados. Gostarão de ouvir:
“Só os grandes podem patrocinar esta ousadia”.
O Tipo 8 valorizará mais o retorno que seu projeto poderá dar a ele
pessoalmente e à empresa ou instituição que dirige. A qualidade artística e
cultural ficará em segundo plano. O apoio de outras pessoas poderosas ao
seu projeto (políticos, dirigentes empresariais ou de entidades de classe) são
fatores que certamente pesarão – e muito – na decisão de um Tipo 8 sobre a
concessão de patrocínio.
Uma característica interessante dos Tipos 8 é que eles poderão se
interessar em conhecer onde você mora, checar pessoalmente como é sua
casa, sua família, seu nível de vida. Portanto, não se surpreenda se ele fizer
isso.
TIPO 9: O GRANDE CONCILIADOR
A história de infância dos Tipos 9 revela que eles foram crianças
negligenciadas pelos pais. Não receberam atenção. Cresceram com o
sentimento de que não são importantes e que os outros, eles sim, são
pessoas importantes. Os Tipos 9 resolvem, desde cedo, que serão amigos
de todo mundo, para assim conquistarem seu espaço de inserção na família
e no meio social. Outra característica relevante é que os Tipos 9 se
identificam com o lado protetor de um dos pais (ou de ambos).
O resultado é um temperamento bonachão, conciliador. O Tipo 9 faz
tudo pelos outros (que são importantes) e pouco ou nada para si (porque ele
não é essencialmente importante). Amantes do conforto físico, do lazer
preguiçoso e letárgico, os Tipos 9 precisam ser instigados para agir. Se o
estímulo vem de fora, vem do outro, a ação acontece, até que, na primeira
oportunidade, o Tipo 9 volta à sua posição zen, de prazer preguiçoso. Mas
eles são capazes de faltar a uma reunião importante porque um amigo o
interceptou no meio do caminho e pediu que ele o acompanhasse ao médico.
A dificuldade em dizer “não” para os amigos abre inúmeros flancos na vida
dos Tipos 9, porque eles são desviáveis do rumo que deveriam estar
seguindo para cumprir suas tarefas.
O mecanismo de defesa do Tipo 9 é o embrutecimento, ou a
narcotização, ou a inércia. Ele se resigna a não ser importante! No fundo,
trata-se de um mecanismo adotado para entorpecer a raiva que sente por ter
sido negligenciado quando pequeno. O entorpecimento sempre surge
através de um mecanismo de compensação: quando criança, ele come
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bombons; quando adulto, procura no tabaco, no álcool, ou em drogas mais
fortes, o anestesiamento de seu sentimento de inferioridade.
Tipos 9 também são detectáveis por sua falta de memória. Esquecem
as chaves de casa, a agenda, as compras. Podem voltar de táxi para casa
porque esqueceram seu próprio carro no estacionamento do shopping (suas
coisas pessoais também não são percebidas como importantes).
Outro ponto a considerar é sua dificuldade para tomar decisões.
Amantes do conforto físico, temem qualquer tipo de conflito (principalmente a
violência física). Assim, não gostam de decidir sobre nada, porque isso pode
significar tomar o partido de alguém e desagradar outra pessoa, que pode se
tornar inimiga (e isso não interessa, porque sendo amigo de todos, é possível
garantir o emprego, as amizades, o círculo de convivência que o Tipo 9
necessita para se sentir vivo, porque ele vive mais a vida dos outros do que a
sua própria).
Como qualidade, podemos dizer que o estilo zen do Tipo 9,
aparentemente só negativo, é a porta de entrada para níveis superiores de
consciência: meditação transcendental, telepatia, consciência transpessoal.
Sua generosidade desinteressada o torna também um maravilhoso agente
do bem-estar coletivo – e esse pode ser o caminho da verdadeira
prosperidade.
Sua capacidade de conciliar e mediar conflitos o torna politicamente
importante. Numa empresa ou no poder público, ele poderá estar numa
posição de poder, para defender os interesses de alguém ou de um grupo
importante.
Como os Tipos 9 são pacifistas por natureza, é difícil serem vistos
como ameaças para os outros. Por isso muitas vezes são desrespeitados ou
desconsiderados por pessoas que se consideram mais importantes ou mais
competentes ou pelas pessoas que estão enfrentando um Tipo 9 para tomar
o seu lugar. Avisamos que é um erro crasso subestimar a capacidade de
articulação política de um Tipo 9. Sua habilidade para fazer amigos pode
fazer com que ele conquiste um verdadeiro círculo de proteção em esferas
mais altas. E muitas vezes uma pessoa agressiva, convicta de que vai
vencer um Tipo 9 numa queda de braço por um cargo de poder, termina
amargando o gosto da derrota, porque o “grande conciliador” conquistou
inúmeros aliados mais poderosos do que o seu oponente.
Não é nada incomum Tipos 1 e Tipos 8, que gostam do poder, se
cercarem de assessores Tipo 9, pois eles não ameaçam seus territórios de
comando.
Do ponto de vista coletivo, podemos ver o povo baiano como
expressão do Ponto 9 do Eneagrama. Embora a Bahia de hoje seja um
Estado que se desenvolveu através do turismo e da exportação intensiva de
suas manifestações artísticas e culturais, revelando, portanto, o caráter
empreendedor do seu povo, historicamente o baiano consolidou uma
imagem de preguiçoso, indolente, pacífico, amante dos prazeres físicos e
bastante hospitaleiro (que são, todas, características dos Tipos 9). Por isso
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se diz que o pecado do Tipo 9 é a Preguiça (e sua virtude, a Ação
Consciente – alcançada quando o Tipo 9 realiza um trabalho interno no
sentido de cuidar mais de si do que dos outros e, após recobrar sua autoestima, passa a agir conscientemente no sentido de obter o bem-estar
coletivo).
Entre os indivíduos famosos, podemos citar Tom Jobim (que era cordial
com todas as pessoas e se sentia bem tanto em Nova Iorque como bebendo
com os amigos num botequim da COBAL do Leblon) e ninguém menos que
Buda, que expressa a conquista de níveis superiores de consciência através
da meditação, e cuja doutrina se baseava na compaixão por todos os seres e
na busca do fim do sofrimento humano sobre a face da terra.
Como Negociar com o Tipo 9
Sendo excelentes mediadores, os Tipos 9 saberão perceber os
aspectos positivos do seu projeto cultural e traduzi-los para a linguagem de
quem realmente tomará a decisão. Estamos falando aqui de uma situação
específica, comum nas empresas, que é o caso do Tipo 9 trabalhar como
assessor do executivo que tomará a decisão final sobre o patrocínio. Se o
seu projeto cultural o sensibilizar, ele será capaz de passar horas
conversando com você sobre o projeto, e até se esquecer de outros
compromissos mais importantes. Isto significará que você conquistou um
valioso aliado na sua busca de patrocínio. O Tipo 9 certamente fará tudo
para ajudar você a obter um resultado positivo nas esferas superiores de
decisão, sem qualquer interesse pessoal nesse processo.
Quando o Tipo 9 estiver na posição de quem decide, lembre-se da sua
dificuldade de tomar decisões, de deixar para depois, com medo de evitar
conflitos. Isto significa que eles costumam resolver em cima da hora.
Portanto, saiba lidar com essa dificuldade e procure criar com inteligência o
instante crucial em que a decisão não possa mais ser adiada.
Tipos 9, por sua generosidade, sempre darão subsídios e contribuições
positivas ao seu projeto, seja para adequá-lo aos interesses da empresa,
seja para ampliar o impacto da sua proposta junto ao público alvo.
A sala de trabalho dos Tipos 9 costuma ser desarrumada. Como não
possuem um “território pessoal”, não possuem apego a espaços fixos. Para
eles todos os lugares estão livres. Por isso eles podem negociar em qualquer
lugar, dentro ou fora de seus escritórios, na sala de outras pessoas. Alguns
até aceitam visitar a empresa do produtor cultural.
Ao negociar com um Tipo 9, em primeiro lugar busque com todo o
empenho e toda a sinceridade o envolvimento pessoal dele com o seu
projeto. Se você conquistar esse engajamento, planeje junto com ele o
melhor caminho de venda do projeto, sempre estabelecendo tarefas
objetivas e prazos finais. Ajude-o a tomar as decisões necessárias,
desfazendo os receios de possíveis conflitos com quem quer que seja. E
busque junto com ele as alterações que precisam ser feitas no projeto para
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melhor adequá-lo aos interesses e critérios da empresa patrocinadora em
potencial.
TIPO 1: O PERFECCIONISTA
Na infância, este Tipo foi super-exigido pelos pais, ou por uma das
autoridades paternas. Foi obrigado a andar arrumadinho, impecável, e a
colocar seu quarto e suas coisas na mais perfeita ordem. Na escola, seu
desempenho tinha de ser o melhor. Cobrava-se dele notas altas e o primeiro
lugar da turma. Nada menos que isso. O grave é que todo esforço não era
reconhecido. Se tirava nota 9, era admoestado. Se tirava uma nota 10,
recebia por resposta uma frase do tipo: “Não fez mais que sua obrigação”.
Neste ambiente opressivo, o Tipo 1 cresceu identificando-se
negativamente com um modelo ideal de autoridade. E falamos
“negativamente” porque o Tipo 1 adquiriu a convicção de que precisa seguir
as regras e fazer tudo conforme “manda o figurino”, mas o preço pago por
isso foi sem dúvida alto: o indivíduo passou a sacrificar sua natureza
instintiva. Sente uma raiva surda por tudo quanto foi obrigado a fazer contra
a vontade, para seguir o regulamento, e ao mesmo tempo não pode
expressar essa raiva, porque isso seria “ser mal educado”, seria fugir à
norma, seria ser imperfeito.
Assim, o Tipo 1, quando sente raiva, tende a ficar mudo, contido, e
apenas fuzila o objeto do seu rancor com os olhos. Esta, aliás, é uma das
características que nos permitem reconhecer um tipo perfeccionista. Sem ser
uma regra geral, o Tipo 1 normalmente é uma pessoa magra, porque a
energia da raiva (que tende a ficar inconsciente) consome suas gorduras.
Somando-se à força do rancor represado as energias liberadas para ter um
comportamento perfeito, o resultado é mais magreza. Por isso a Teoria do
Eneagrama sublinha que o pecado do Tipo 1 é a Ira (e sua virtude, a
Serenidade – o que é fácil para quem se identifica com a ordem).
O mecanismo de defesa do Tipo 1 é o que os psicólogos denominam
formação reacional, o que significa reagir sempre de maneira diferente da
esperada. Por exemplo: apesar de sentir uma enorme raiva de alguém, o
Tipo 1 lhe sorri e lhe dá bons conselhos.
Neste contexto, o Tipo 1 é um ser contido, incapaz de fazer
escândalos, que detesta mostrar publicamente suas fraquezas. Sempre o
veremos bem arrumado, do tipo “Mauricinho” ou “Patricinha”, não importando
a classe social a que pertença.
De modo geral, o Tipo 1 é uma pessoa que reprime o próprio prazer. E
pode chegar ao ponto de ter uma vida paralela, clandestina, na qual então
extravasa sua natureza instintiva reprimida desde a infância. Se essa vida
secreta é descoberta, o Tipo 1 pode literalmente desabar, porque sua
imperfeição foi descoberta.
Os perfeccionistas radicais não acreditam que existam idéias ou
competências superiores às suas. Desenvolve a noção de que é um ser
23
superior. Assim, quando lhe apresentam uma novidade, ele pontifica: “Eu já
havia pensado nisso”. Mas é fundamental compreender que as pessoas com
esse caráter investem muito tempo planejando suas ações, porque elas não
se permitem incorrer em falhas. E neste ponto podemos apontar uma grande
qualidade dos Tipos 1: eles podem desenvolver um elevado senso de ética,
o que origina pessoas íntegras, incapazes de deslizes morais ou de traições.
Basta dizer, por exemplo, que Mahatma Ghandi era um Tipo 1. Sua doutrina
da “não violência”, ao mesmo tempo em que revela a dificuldade do Tipo 1
de expressar a raiva, sinaliza um elevado senso de ética, que desmoralizou
os colonizadores ingleses. Com toda sua arrogância de povo dito “civilizado”,
o primeiro a liderar a revolução industrial, os ingleses revelaram sua face
bárbara ao autorizar soldados a atirar em homens, mulheres e crianças
desarmadas que protestavam contra a dominação britânica em solo indiano.
Gandhi não venceu sua batalha contra os ingleses pela força das armas,
mas sim pelo poder da sua ética. Aqueles que preconizavam a violência,
percebendo a força de sua liderança moral e espiritual, não tiveram outro
recurso senão assassiná-lo, para mudar o curso da história indiana.
Neste contexto, podemos ver o povo japonês como uma expressão
coletiva do Ponto 1 do Eneagrama. Coletivistas e organizados, os japoneses
são excelentes em pesquisa, planejamento e programas de qualidade. A
cultura japonesa instila uma difícil auto-exigência na psique da cada
indivíduo. O grande número de suicídios de estudantes e operários que não
atingem os elevados índices de desempenho esperados pela coletividade,
baseados num forte sentimento de honra, também é fenômeno que gravita
em torno do Ponto 1 do Eneagrama.
Como chefes, no trabalho, os Tipos 1 têm muita dificuldade para
delegar tarefas, porque percebem o desempenho dos outros como
insuficiente. E não raras vezes chamam todas as tarefas sobre si, ficando
sobrecarregados e sem medo de fazerem um super-esforço para provar que
são capazes, que são os melhores.
Seu ambiente de trabalho é obsessivamente bem arrumado e ele
detesta que tirem as coisas do lugar. Claro que ele jamais reclamará que
você interferiu na sua ordem. Mas seu olhar faiscante ou sua ação de repor
pessoalmente o objeto no lugar que lhe foi designado serão os sinais que ele
enviará para mostrar seu desagrado.
Os Tipos 1 procurarão receber o Agente Cultural em seu escritório,
onde se sentem mais seguros (porque é o seu “território de poder”). Ali eles
impõem as suas regras, tanto as pessoais como aquelas que emanam da
direção da empresa e que serão cumpridas à risca.
Saiba desde já que é natural para os Tipos 1 enxergarem falhas em
tudo, porque foram treinados desde a infância para ter um elevado
desempenho em todos os setores. Portanto, você pode esperar que ele
encontre imperfeições em seu projeto e que faça sugestões para melhorá-lo.
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O Tipo 1 detesta atrasos, porque seu tempo é precioso. É capaz de
marcar hora para o início e o final da apresentação de seu projeto. Ou dizer:
“Você tem dez minutos para resumir o seu projeto”.
Lembre-se de que os perfeccionistas não gostam de falar sobre sua
vida pessoal, muito menos de serem provocados para se expor. Também
costumam ter receio de serem criticados em público, por isso não gostam de
se expor. Como os opostos se atraem, um Tipo 1 pode gostar de tipos
aventureiros (como o Tipo 7 do Eneagrama), porém desde que não sejam
ameaçados em seu modo rígido de ser.
Para um Tipo 1, o seu projeto cultural sempre precisará ser
aperfeiçoado, não importa as qualidades que possua. Porque sua vida gira
em torno da ordem, de padrões rígidos sobre o que é certo e o que é errado.
Alguns Tipos 1 chegaram a testemunhar que ouvem “uma voz interna”, uma
espécie de super-ego muito arraigado, que os advertem sobre o que fazer ou
não.
Como Negociar com o Tipo 1
A abordagem de um patrocinador do Tipo 1 deve ser cautelosa e
bastante planejada. Sempre peça a análise do seu projeto a ele e acate
todas as suas críticas. Se você reagir às suas críticas, confrontando o Tipo 1,
está no caminho certo para perder o seu patrocínio. A rigidez interna dos
perfeccionistas faz com que eles insistam em seus pontos de vista e que não
abram mão de suas opiniões.
Saiba que um Tipo 1 só patrocinará o seu projeto se ele for, de alguma
forma, o autor (porque só ele é perfeito, só ele sabe o que é melhor para sua
empresa). O caminho do sucesso é conseguir que o Tipo 1 corrija o seu
projeto (através de opiniões ou intervindo diretamente na estrutura da
proposta). Se suas interferências forem acatadas, o projeto terá passado
pelo crivo do Senhor Perfeição, será um trabalho onde ele terá deixado sua
marca indelével. Se o projeto passar a ter seu toque pessoal, então será
digno de receber patrocínio.
Nunca devemos nos atrasar a um encontro com o Tipo 1. E não se
sinta inferiorizado com o excesso de críticas que ele porventura fizer ao seu
projeto. Se o projeto for bom, é porque merece ser analisado em detalhes
por ele, que então vai propor as modificações que considerar necessárias
para adequá-lo aos seus ideais de perfeição e aos critérios da sua empresa,
que ele sempre cuidará de seguir e preservar.
É um Tipo difícil para negociar. Mas se o seu projeto vier a ser
aprovado e se obtiver bons resultados para a empresa patrocinadora, você
poderá construir uma relação de fidelidade com o Tipo 1 e então outros
trabalhos poderão ser patrocinados no futuro.
COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO FÍSICO
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Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que conta
é a realidade concreta. Não se apegam a teorias ou idealizações, nem a
seus sentimentos.
O Tipo 8 é basicamente extrovertido e projeta a energia do Centro
Físico ou Instintivo para fora de si. Para ele, o importante é a ação
individual, comprometida com os resultados que ele pretende alcançar, sem
medo dos obstáculos e sem muita análise das circunstâncias.
O Tipo 9 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ser
desleixado com o próprio corpo. Orienta-se, portanto, pela energia dos outros
dois Centros (Emocional e Mental). Avançamos aqui a tese de que há
predomínio do Centro Emocional, pois, como veremos mais à frente neste
Manual, existe um fluxo mecânico de energia no sentido 3  9 6 3 9
6... e assim por adiante. Sob esse prisma, acreditamos que, pelo fato do
Ponto 9 suceder ao Ponto 3 e nele ter, digamos assim, a sua origem,
apostamos no predomínio do Centro Emocional. Importante acrescentar que
as energias do Centro mental e do Centro Emocional são sempre “filtradas”
pelo centro Físico, ou seja, tornam-se realidades concretas que orientam as
ações do Tipo 9. Em outras palavras, tornam-se sensações.
O Tipo 1 é basicamente introvertido e internaliza a energia do Centro
Físico. Orientado por regras introjetadas, seu compromisso é com a maneira
correta de agir no mundo. As sensações que recebe do mundo externo (da
situação, das pessoas) estão condicionadas por um senso de ética ou dever,
o que empresta um caráter rígido à sua personalidade.
OS TIPOS EMOCIONAIS
Características Gerais
O predomínio do Centro Emocional nos seres humanos cria uma
tendência a “se identificar” com as pessoas com as quais existe uma relação
de simpatia ou de empatia e a um impulso de afastamento das pessoas com
as quais se corre antipatia. Por isso os tipos de personalidade onde
predomina o Centro Emocional são conhecidos pela fórmula A = A. Em
resumo, os Tipos Emocionais gostam de gente, alimentam-se das relações
interpessoais, ficam mais felizes em grupo ou acompanhados do que na
solidão. Adoram “fazer correntes” ou entrar em comunhão com os demais.
Daí sua propensão para desenvolver o lado místico ou artístico.
A prevalência do sistema límbico nessas pessoas exalta suas paixões,
a busca do prazer e do que é agradável. Importante advertir que esse prazer
pode ser masoquista, porque o masoquismo é uma das paixões possíveis do
ser humano.
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Nos Tipos Emocionais existe uma grande preocupação com a própria
imagem: “O que estão achando da minha roupa?”; “O que pensam do meu
desempenho profissional?”; “Estarei sendo sedutor(a) o suficiente para
conquistar essa pessoa?”
Isto faz com que a questão da mentira seja um fato central na vida dos
emocionais. Na Teoria do Eneagrama, a mentira não é vista como o produto
de uma astúcia mental para enganar os outros. O processo é visto da
seguinte forma:
a) O indivíduo tem um problema emocional que não consegue resolver;
b) O indivíduo cria um mecanismo de compensação para esse
problema;
c) Esse mecanismo de compensação é, acima de tudo, um
personagem que é inventado para criar uma imagem perante os
demais;
d) Um personagem é sempre uma mentira.
O Tipo 2 costuma criar dois gêneros básicos de personagem: o sedutor
irresistível ou o doador incessante, que vive cuidando dos outros.
O Tipo 3 cria o personagem da pessoa de sucesso, do self made man
ou da mulher executiva supercompetente;
O Tipo 4 geralmente cria dois tipos básicos de personagem: o herói
trágico (de caráter masoquista e autodestrutivo) ou o rebelde idealista (de
caráter utópico e vingativo).
Nos Tipos Emocionais predomina o Instinto de Relação. Neles ocorre
uma sede de contato, de comunicação e de interação com outros seres
humanos.
Diz-se dos Tipos Emocionais que possuem o Ego da Imagem. Porque
estão sempre preocupados com o que os outros estão pensando ou sentindo
a seu respeito – e é por isso que inventam personagens para se adaptar ao
mundo.
TIPO 2: O BENFEITOR INDISPENSÁVEL
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Na infância, os Tipos 2 passaram por dois gêneros de experiência
decisiva: ou foram mimados ou, pelo contrário, adquiriram um forte
sentimento de carência afetiva. As pessoas mimadas tornam-se caprichosas,
consideram-se irresistíveis, querem ser a “alma da festa”, objetos de atenção
e admiração alheia. Como a popstar Madona. As pessoas carentes tornamse excessivamente servis, muito doadoras, cuidam mais dos outros do que
de si próprias. Como Madre Teresa de Calcutá, que dedicou sua vida a
cuidar dos pobres e necessitados. Porém a maioria dos Tipos 2,
diferentemente dos Tipos 9, que são doadores efetivamente
desinteressados, como seres emocionais que são, anseiam ardentemente
em receber afeto em troca de suas atenções aos demais. Apesar desse
anseio de afeto, os Tipos 2 desenvolvem como mecanismo de defesa a
repressão de suas próprias necessidades (para melhor atenderem as
necessidades dos outros).
O que há em comum entre o mimado e o carente? Ambos não
conseguem lidar com a questão da rejeição. Ambos não aceitam não serem
amados ou admirados por seus dotes físicos, ou por causa de seus talentos
pessoais, ou por causa de sua dedicação aos demais. Por trás dessa atitude
está o pecado do Orgulho, paixão que conduz a um enganoso sentimento
de superioridade, que é a fonte secreta dos personagens sedutores e
egoisticamente doadores. Felizmente, os Tipos 2 podem desenvolver a
virtude da Humildade, como o fez Madre Teresa de Calcutá, quando
admitem que não podem seduzir, conquistar ou agradar a todos, sem
exceção.
Os sedutores são versáteis. Aprendem com rapidez quais são os
desejos dos outros e como devem se comportar para agradar ou seduzir. O
problema é que podem desempenhar com uma pessoa o papel de
intelectual, com outra o papel de atleta e com outra o papel de poeta
sensível. De repente, essas três pessoas encontram-se reunidas ao mesmo
tempo no aniversário do Tipo 2. É nesse momento que um Tipo 2 pode tomar
consciência do vasto rol de personagens que interpreta para brilhar aos
olhos dos demais. E pode então optar por ser ele mesmo, sem tanto esforço
de construção de imagens para olhos alheios.
Os doadores são suscetíveis, pouco práticos, encontram enormes
dificuldades em sua vida profissional. Até porque o salário que desejam é o
retorno afetivo, e não dinheiro vivo. Um elogio, um tapinha nas costas, um
elogio em público muitas vezes alimentam uma vida de escravidão, como a
das secretárias que fazem tudo para o chefe, em troca de um mísero salário
mínimo e, claro, do reconhecimento público e notório de sua devoção à
empresa. Estes Tipos 2 são secretamente infelizes, porque não satisfazem
suas próprias necessidades emocionais, porque vivem como satélites que
gravitam em torno da satisfação das necessidades dos outros: do marido,
dos filhos, do patrão, do clube, da igreja, ou de qualquer outra instituição que
tenha capturado sua disponibilidade para servir. Essa infelicidade traz na sua
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esteira fantasias de liberdade, que muitas vezes são satisfeitas na forma de
aventuras clandestinas (um amante secreto, comer doces às escondidas,
contrariando as indicações do médico, fingir doença só para ir ao cinema
solitariamente e poder flutuar livremente nos sonhos de uma estória
romântica). Depois dessas aventuras vem, é claro, uma enorme culpa por ter
fugido às responsabilidades pessoais, sejam elas familiares, religiosas ou
profissionais.
Nas empresas, os Tipos 2 colocam em prática sua tendência
paternalista ou maternalista, cuidando dos funcionários como se fossem seus
filhos. Gostam de dar presentes no Natal, para os empregados e seus filhos,
para que sejam vistos como pessoas boas, dedicadas e humanas. Adoram
sentir-se indispensáveis – e sua tendência é cuidar mais das necessidades
alheias que das suas próprias.
O ambiente de trabalho de um Tipo 2 é marcado pela presença de
símbolos afetivos e de lembranças dos momentos inesquecíveis de suas
vidas: fotos de família, festas e viagens; os diplomas que atestam sua
competência e seus talentos; objetos que ganharam de presente de pessoas
queridas. O povo maranhense pode ser considerado uma expressão coletiva
do ponto 2. Para começar, é religioso e amante de festas (basta ver a força
da tradição do Bumba-Meu-Boi, ritual integrador das diferentes raças e
classes sociais, ou as Festas do Divino Espírito ou do Padroeiro São José de
Ribamar). Além disso, é povo meigo, hospitaleiro, que cultiva o
assistencialismo e o paternalismo dos poderosos. É romântico e boêmio: São
Luís do Maranhão é conhecida como “a Ilha do Amor”. Feridos no seu
orgulho, vão ao Ponto 8 (movimento mecânico do Ponto 2, que explicaremos
melhor mais à frente, neste Manual) e então podem tornar-se violentos.
Se fôssemos obrigados a escolher um país como expressão coletiva do
Ponto 2, não seria nada injusto escolher o México – capaz de servir
humildemente aos interesses da potência norte-americana e, no seu
movimento a 8, produzir internamente um Emiliano Zapata...
Como negociar com o Tipo 2
Criar uma relação de empatia logo no primeiro encontro é fundamental.
Os tipos emocionais tendem a evitar ou se afastar das pessoas com quem
antipatizam ou não sentem afinidades. Portanto, construir desde o início uma
relação “afetiva” é essencial.
Procure apresentar seu projeto pelo ângulo dos benefícios que ele irá
gerar para as pessoas envolvidas, para a empresa, para o executivo que
decide a concessão de patrocínio.
Procure mostrar, de forma inteligente, os retornos afetivos que o
projeto propiciará. Mas, atenção: não pense que o Tipo 2 não se preocupa
com dinheiro e que tudo em sua vida gira em torno dos sentimentos. Os
Tipos 2 têm um movimento mecânico ao Ponto 8 do Eneagrama, portanto
podem ficar furiosos se o seu orgulho ficar ferido. O movimento a 8 significa
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também que muitos Tipos 2 têm forte atração pelo poder, seja na forma de
dinheiro (patrimônio, prestígio), seja na forma de ocupação de cargos de
chefia. Recursos materiais, para os Tipos 2, são ótimas oportunidades de
“comprar” atenção e afetividade.
Valorize seu patrocinador Tipo 2 como um “benfeitor”. Vale a pena
pensar em coisas como placas de agradecimento, homenagens ou
manifestações calorosas na abertura ou no encerramento do projeto,
articulação com pessoas importantes para que emitam opiniões favoráveis
ao seu patrocinador através da imprensa ou pronunciamentos em público.
Lembre-se sempre de que a qualidade do seu projeto é importante,
mas que o seu desempenho pessoal ao se relacionar com um Tipo 2 é
crucial. Não se atrase, não faça nada que ele possa interpretar como
desatenção ou rejeição. O Tipo 2 precisará simpatizar verdadeiramente com
você, seja por sua competência, atrativos pessoais, seu esforço, seu
idealismo ou qualquer outra qualidade que seja capaz de emocioná-lo.
O Tipo 2 gosta de marcar encontros em seu local de trabalho, pois
sente a sua empresa como uma “segunda família”, uma extensão de seu lar.
Se pudesse, trabalharia na própria casa, ao lado dos entes queridos. Pode
se alongar nas conversas, quando elas são calorosas e constituem
oportunidades para que ele (ou ela) receba elogios. Adora contar histórias
nas quais fez papel bonito. Atenção: o Tipo 2 tem uma propensão a agradar
todas as pessoas e, por isso, encontra muitas dificuldades para dizer “não”.
Na prática, isto pode levá-lo a ficar “cozinhando” você em “banho maria”,
sem decidir realmente nada, protelando sempre para o futuro o momento
desagradável de dizer não. Por outro lado, a receptividade e a simpatia, tão
comuns no Tipo 2, não devem ser confundidas com um “sim” ao seu projeto.
Saiba ler com clareza o que o Tipo 2 realmente sente e qual poderá ser sua
decisão objetiva. Tipos emocionais costumam ter falta de objetividade.
TIPO 3: O CORINGA BEM-SUCEDIDO
A infância do Tipo 3 foi marcada pelo estímulo à conquista de
resultados. De modo geral, somente quando o desempenho da criança se
destacou em relação às outras é que ela ganhou prêmios de incentivo ou o
afeto mais eloqüente de seus pais.
“Tirou primeiro lugar na escola? Ah, então será premiado...”
“Fez o gol da vitória do time? Então vai ganhar um abraço...”
Não foi preciso haver cobrança excessiva dos resultados (como
aconteceu na infância dos Tipos 1). A criança 3 logo percebeu que só
receberia atenção se tivesse uma perfomance especial, destacada. Então ela
cresceu com o sentimento de que jamais seria amada pelo que era, mas
somente pelo que era capaz de fazer ou conquistar.
Tipos 3 tendem a acreditar que, já que não serão amados, então
devem se esforçar para serem admirados, aplaudidos.
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Ao contrário do Tipo 1, que se identifica negativamente com um modelo
ideal de autoridade, o Tipo 3 se identifica positivamente com um modelo
ideal. Positivamente no sentido de que parte objetivamente para a conquista
de resultados. Nesse processo, aprende a ser versátil, capaz de interpretar
todo tipo de personagem, desde que essa máscara improvisada o leve ao
resultado que busca, à sua meta, ao sucesso pretendido. Tipos 3 aprendem
desde cedo a serem coringas, verdadeiros camaleões em ação. Por isso
podem tornar-se grandes mentirosos, ou mitômanos, pois admitem muita
coisa, menos fracassar. Seu pecado maior é a Mentira e por isso precisam
desenvolver a virtude do Ponto 3 do Eneagrama, que é a Veracidade, para
se tornarem mais sinceros.
Seu mecanismo de defesa é a identificação (ele se conforma a papéis
sociais que acredita serem exatamente o que os outros esperam dele).
Enquanto o Tipo 8 admite até fracassar, mas nunca fraquejar, o Tipo 3
pode se fazer de fraco, de vítima, para ludibriar alguém e chegar ao
resultado que almeja. Internamente se regozija: “Eu sou demais! Enganei
mais um e consegui o que queria...”.
Em geral são extremamente vaidosos, gostam de pavonear-se, de
exibir as marcas de seu sucesso: o carro do ano, o terno da moda, o relógio
caro, o computador de última geração. Um dos sinais que temos para
reconhecer um Tipo 3 é justamente esse excesso de vaidade – e o discurso
cheio de auto-elogios: “Fiz isso, realizei aquilo, fui o primeiro a ser
promovido, fui o único a conquistar o prêmio tal, fulana não resistiu ao meu
charme...”.
Como são predominantemente emocionais, porém desconectados das
suas emoções pessoais (porque vivem para fora, construindo imagens que
os levem ao êxito profissional), tendem a ter muitos problemas em suas
vidas afetivas. Principalmente porque têm dificuldade para amar, ou se
apaixonar. isso não os impedem de se ótimos conquistadores: namoram
muito, de preferência sem qualquer compromisso ou envolvimento afetivo. E
muitos Tipos 3 exibem suas conquistas amorosas como troféus, sem se
darem conta de quem é verdadeiramente aquela pessoa que está a seu lado.
Seu primeiro movimento mecânico, no fluxo do Eneagrama, é ir ao Ponto 9,
o que os inclina à promiscuidade e a confundir a relação amorosa com a
mera satisfação sexual. Para eles, o donjuanismo também é sinônimo de
sucesso. E assim podem sacrificar sua felicidade emocional pelo jogo de
aparências que é interpretar o personagem do sedutor irresistível.
No trabalho são competentes e competitivos. Na verdade, são viciados
em trabalho, são workaholics. Podem trabalhar 20 horas por dia, inclusive
nos finais de semana. E não gostam de tirar férias. Podem chegar ao
extremo de sofrer de insônia e, é claro, são sérios candidatos a sofrer de
stress. Geralmente têm problemas familiares, porque o cônjuge e os filhos
estão sempre em segundo plano. O trabalho, que é percebido como o
principal caminho para o sucesso, vem sempre em primeiro lugar.
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Entre suas qualidades, podemos destacar a facilidade para exercer a
liderança, a capacidade de mobilizar e motivar pessoas, a obsessão por
atingir os resultados. Além disso, são excelentes vendedores.
O povo paulista, o povo paranaense e o povo norte-americano são
expressões coletivas do Ponto 3 do Eneagrama. A imensa dedicação ao
trabalho, a busca pelo “primeiro lugar” de forma competitiva, a capacidade
adaptativa que leva a uma diversidade camaleônica de comportamentos, o
individualismo vaidoso e a importância dada a títulos, cargos e aparências
estão presentes nas culturas de todos esses povos.
COMO NEGOCIAR COM O TIPO 3
Este Tipo sempre faz muitas coisas ao mesmo tempo. Enquanto fala
com o Agentes Cultural que apresenta seu projeto, poderá atender
telefonemas, dar ordens à secretária. Ele aceita mais tarefas do que pode
executar. Não sabe dizer “não” ao chamado do trabalho. Acredita que só
assim terá uma “imagem de sucesso”. Você perceberá que ele costuma ter
os olhos pregados no futuro, muito mais que no presente, porque é no futuro
que está o sucesso. Anseia profundamente obter total reconhecimento pela
sua competência profissional.
Sua mesa, em geral, estará sempre desarrumada, com excesso de
papéis e inúmeros assuntos pendentes. Nunca se esqueça de que ele é
versátil, que se adapta facilmente a qualquer situação, e se integra com
facilidade em qualquer grupo.
Sua abordagem com este Tipo de patrocinador deve ser a de deixá-lo
convencido de que seu projeto lhe trará sucesso pessoal e vantagens para a
empresa, bem como imagem positiva junto à comunidade. Capriche nas
imagens e sintetize o texto. E será preciso mostrar que você conhece com
profundidade sua área de trabalho, que é um profissional bem sucedido no
seu setor cultural e que tem plena capacidade para executar o projeto com
qualidade.
O patrocinador 3 prestará sempre muita atenção aos retornos que seu
projeto cultural poderá oferecer para sua empresa. E avaliará o grau de
sucesso que ele, pessoalmente, poderá obter com esse patrocínio
específico.
Você deve comparecer ao encontro com boa apresentação pessoal, de
preferência com uma aparência executiva.
Se houver atraso no compromisso, não se preocupe: o Tipo 3 sempre
faz mil coisas por dia e poderá até gostar de ganhar tempo para dedicar a
outra tarefa. O local do encontro deve ser onde o patrocinador trabalha. Ali
ele se sente seguro e todos podem encontrá-lo (ele está sempre disponível
para assuntos profissionais).
O Tipo 3, por ser uma pessoa obcecada pelo trabalho e desatento aos
seus próprios sentimentos, pode revelar-se confuso emocionalmente, ou até
ansioso. Por não dominar este aspecto da sua personalidade (o emocional)
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tão bem quanto domina as questões profissionais, adquire uma certa
vulnerabilidade emocional. Se vier a patrocinar o seu projeto e se este for
emocionante, ele será tocado em profundidade e sentirá que o retorno do
trabalho realizado foi maior do que ele esperava.
O TIPO 4: O IDEALISTA REBELDE
Na infância, este Tipo de personalidade experimentou um forte
sentimento de abandono, que o levou a considerar-se de fato muito diferente
dos outros (daí sua compulsão de querer ser “original” e de evitar tudo que
lhe parece banal, vulgar). Um irmão (ou irmã) pode ter ganho acintosamente
a preferência ou a atenção dos pais, por exemplo. Com esse sentimento de
perda, o Tipo 4 se tornar extremamente sensível e tende à melancolia e à
depressão. Mas desenvolve um senso prodigioso de imaginação, que o torna
alguém realmente criativo (daí encontrarmos muitos artistas do gênero
“trágico” como representantes do Tipo 4 – como, por exemplo, Van Gogh).
Assim ele cria um universo paralelo, imaginário, para si mesmo. Crianças
que brincam sozinhas, interpretando diversos personagens, sinalizam esse
tipo de personalidade. Assim o Tipo 4 cria uma tendência ao sonho, ao
idealismo. Fabula muitos projetos que nunca ou raramente coloca em
prática, pois ele se sente deslocado no mundo e isso certamente não cria um
comportamento pragmático, empreendedor.
O problema do Tipo 4 é exagerar sua tendência depressiva, que pode
adquirir contornos de autodestruição e levá-lo até ao suicídio (como
aconteceu, por exemplo, com o poeta português Mário de Sá Carneiro, que
suicidou-se antes dos 30 anos).
Tipos 4 são muito suscetíveis a críticas e podem consolidar uma
atitude de revolta contra aqueles que o criticaram. Essa revolta pode
transformar-se em vingança ou em um ideal revolucionário, pois o Tipo 4 não
gosta de injustiças (ele mesmo se sentiu “injustiçado” desde pequeno). Daí o
rótulo de Rebelde Idealista que temos ao tipo. O mecanismo de defesa do
Tipo é a introjeção: ele geralmente não deixa ninguém perceber que está
ressentido, nem qual a causa de sua mágoa. Na solidão, ele pode começar a
planejar uma surda vingança.
O sentimento de abandono adquirido na infância leva os Tipos 4 a se
focarem “naquilo que está faltando” e que os impede de serem felizes. Nesse
processo, podem tornar-se masoquistas, presos ao sofrimento. Costumam
refugiar-se no passado, que fantasiam como o “paraíso perdido”, os “bons
tempos” que não voltam mais. Ou projetam-se no futuro através do
imaginário, tecendo planos que não realizam.
Seu pecado é a Inveja, que sente em relação às pessoas que são mais
felizes ou que conseguiram bens materiais ou vitórias que ele, o Tipo 4, o
grande injustiçado do planeta, não conseguiu. Ele precisa, portanto,
desenvolver a virtude da Equanimidade – a percepção tranqüila de que
cada pessoa ganha exatamente o que merece.
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Tipos 4 adoram o pensamento simbólico. Por isso costuma ser
colecionadores de objetos que simbolizam coisas especiais para eles ou que
possuem uma carga afetiva ligada a alguma experiência marcante de suas
vidas. Geralmente não gostam de jogar nada fora, porque tudo que pertence
ao passado é importante.
Por serem idealistas e pouco práticos, os Tipos 4 tendem a servir ao
coletivo (entram para movimentos políticos, grupos artísticos amadores,
associações de moradores, sindicatos, cargos públicos) e encontram
dificuldades para ter êxito em suas vidas profissionais. Alguns conseguem
sucesso em funções criativas (como escritores, desenhistas, publicitários,
pintores, músicos) ou ligadas à psicologia (Sigmund Freud, o Pai da
Psicanálise, era um Tipo 4).
Cidades históricas que foram atropeladas pela modernidade costumam
desenvolver uma atmosfera do Tipo 4, ficando “abandonadas” no tempo,
com suas populações nostálgicas dos “bons tempos”. Exemplo típico: Ouro
Preto .
O povo judeu, com seu histórico de sofrimento certamente pode ser
considerado uma expressão coletiva do Ponto 4 do Eneagrama. Basta
recordar aqui a destruição do Templo de Jerusalém, a imigração forçada, a
perseguição aos sefarditas na Europa, a conversão obrigatória ao
cristianismo para evitar a morte – os “judeus novos” –, assim como os
horrores dos campos de concentração nazista.
COMO NEGOCIAR COM O TIPO 4
Sua sala de trabalho costuma ser desarrumada, cheia dos objetos
especiais que ele guardou. Mesmo se não for o dono da empresa, tem olhos
críticos para ver “o que está faltando” em matéria de equipamentos, de
condições adequadas, de competência das pessoas.
Normalmente não ocupa cargos de poder, mas se ele chegou lá é
porque desenvolveu a sua Asa 3, o seu lado empreendedor, somando-se a
esse fator a profundidade com que vê a vida.
Sua sensibilidade acima do normal faz com que ele veja em seu projeto
detalhes que a maioria não percebe. Vai apontar coisas que “faltam” no
projeto e você deve lidar com isso convencendo-o de que, na verdade, não
faltam ou que qualquer lacuna será preenchida no período de produção.
Ele também terá uma tendência a pensar nas possibilidades futuras do
projeto, nos seus prováveis desdobramentos. Aproveite essa característica e
mostre a “grandeza” do projeto, seus potenciais futuros.
Geralmente o Tipo 4 tem muita cultura e conhecimento profundo das
artes, ou de psicologia. É do tipo artístico, não do tipo gerente ou
administrador. Tem uma inclinação para a utopia. Para que ele apóie o seu
projeto, precisará se apaixonar por ele. A venda deverá se caracterizar pela
empatia, pela relação cordial. Estimule o aprofundamento da visão da sua
proposta, favorecendo a sua “viagem” interior. O projeto poderá até ganhar
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com isso, pois ele poderá fazer boas sugestões, incorporando elementos
criativos à sua proposta.
Uma vantagem é que o Tipo 4 tem inclinação para projetos de cunho
social, que beneficiem comunidades de baixa renda.
Tenha sempre a certeza de que o projeto que você está apresentando
é correto, coerente e tem uma dimensão de profundidade humana. O Tipo 4
é altamente crítico e hipersensível. Por outro lado, procure evitar que ele
divague muito. Traga-o sempre para a realidade, se estiver voando alto
demais. E acostume-se com um fato: Tipos 4 raramente decidem em poucas
reuniões. Mas, quando estiverem apaixonados pelo projeto, tudo farão para
que se realize.
COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO EMOCIONAL
Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que conta
é a relação com as demais pessoas. Para eles, ser é sentir, é ligar-se à
vida e às demais pessoas pelos canais da afetividade ou da antipatia.
O Tipo 2 é basicamente extrovertido e projeta a energia do Centro
Emocional para fora de si. Para ele, o importante é como os outros se
sentem, e ele se orienta no sentido de agradar ou seduzir a todos (ou sentirse orgulhosamente superior, quando não há conexão emocional com a outra
pessoa)
O Tipo 3 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ter
dificuldades para se entregar emocionalmente a outra pessoa. Orienta-se,
portanto, pela energia dos outros dois Centros (Mental e Físico). Dando
continuidade à tese que avançamos, sugerimos o predomínio do Centro
Mental, tendo em vista o fluxo mecânico de energia no sentido 6 3 9
6... e assim por adiante. Por ser desconectado, sua tendência é substituir
sentimentos por idéias ou sensações. Porém, num processo análogo ao que
acontece com o Tipo 9, as energias do Centro Mental ou do Centro Físico
são sempre “filtradas” pelo Centro Emocional, ou seja, tornam-se de alguma
forma sentimentos que orientam as ações do Tipo 3.
O Tipo 4 é basicamente introvertido e internaliza a energia do Centro
Emocional. Orientado por sentimentos profundos, seu compromisso é com
as próprias emoções, que constituem seu paradigma de atuação no
mundo, sempre permeadas pelas idéias provenientes da sua Asa 5.
OS TIPOS MENTAIS
Características Gerais
O predomínio do Centro Intelectual nos seres humanos cria uma
característica de identificação com os processos da mente, uma
supervalorização do raciocínio lógico, do pensamento convergente. Para os
Tipos Mentais, a verdade objetiva é aquilo que se pensa com lógica. Uma
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equação matemática tem mais valor que uma célula, que é um ser vivo
imprevisível, não codificável. Os tipos de personalidade onde predomina o
Centro mental são conhecidos pela fórmula clássica do silogismo na
Filosofia: Se A = B e se B = C, então A = C. Em resumo, os Tipos Mentais
normalmente só gostam de argumentos lógicos e resistem a tentativas de
empatia emocional.
Porém
em
nosso
cérebro não existe apenas o pensamento convergente. Existe também o
chamado pensamento divergente, que é nada mais nada menos que a nossa
imaginação (que os antigos filósofos gostavam de chamar de “a louca da
casa”). Todos os Tipos Mentais têm a imaginação ativa, e isso traz para
todos eles um problema central, que é o medo. Na Teoria do Eneagrama, o
medo, mesmo que possa ser visto como uma emoção, é considerado de
forma mais objetiva como resultado da imaginação descontrolada. Por
exemplo: eu ouço uma explosão na rua; não sei o que de fato aconteceu; a
reação natural é imaginar o que pode estar acontecendo; isso pode instalar o
medo dentro da psique e posso sair correndo, convencido de que a próxima
explosão será no lugar onde eu estou.
O Tipo 7, que ama o prazer e a liberdade, escolhe não ter medo,
porque esse fator limita sua sede de aventura, de prazer físico e mental. Por
isso veremos Tipos 7 em profissões perigosas (correspondentes de guerra,
praticantes de asa delta, competidores de rallies, domadores de leões etc.).
Já o Tipo 6 vive sob o império do medo e está sempre imaginando
perigos potenciais à sua volta.
O Tipo 5 opta pelo isolamento, pois tem medo que invadam sua
intimidade. Não gosta de multidões e adora ficar encastelado em sua casa,
estudando os assuntos de sua preferência.
Os Tipos Mentais são eminentemente práticos e realizadores. Claro
que são amantes das teorias, mas se esforçam para colocar seus
conhecimentos em prática. Por isso se diz que têm o Ego Prático e que
pertencem ao Grupo do Fazer – características que não requerem maiores
explicações.
Nos Tipos Mentais predomina o Instinto de Adaptação. Normalmente
se comportam de modo a não entrar em choque com os demais, seja na
família ou no trabalho. São flexíveis e adaptativos, porque consideram
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problemas emocionais nas relações humanas uma tola perda de tempo, que
é algo precioso demais para ser desperdiçado. Não é lógico desperdiçar
tempo. E, para eles, é mais produtivo usar o tempo para fazer coisas úteis e
funcionais.
O TIPO 5: O AUDITOR
Na infância, de alguma forma, o Tipo 5 teve o espaço da sua intimidade
invadido. Por exemplo: foi obrigado a dividir quarto, roupas, brinquedos e
material escolar com outros irmãos; não teve o seu espaço, suas coisas. Ou
teve uma mãe invasora, do tipo que lê o diário íntimo ou não permite que
seja trancada a porta do quarto ou do banheiro e, muitas vezes, invade
aquele espaço para dar um flagrante.
A infância do Tipo 5 também pode ter sido marcada pela falta de amor
dos pais, o que o levou a procurar sua própria autosuficiência.
Nestas condições, a pessoa desenvolve como mecanismo de defesa o
isolamento. Torna-se reservada. Não gosta de expor suas emoções. Prefere
observar e ouvir, do que falar ocupando o centro das atenções.
Sentindo-se por sua própria conta, obrigado a virar-se sozinho, o Tipo 5
procura rapidamente compreender o mundo à sua volta. Torna-se alguém
profundamente estudioso e observador. Sabe que, para ser auto-suficiente,
precisará ter bom desempenho em alguma coisa.
Muitos cientistas, pesquisadores solitários de laboratório, matemáticos,
filósofos, sociólogos, financistas, escritores, engenheiros eletrônicos, físicos
ou químicos, são Tipos 5 que fizeram do conhecimento o fator mais
importante de suas vidas, pois seu saber técnico ou acadêmico deu-lhes
uma profissão, a independência dos demais, os recursos para que pudessem
construir seu castelo de reclusão.
Seu pecado é a Avareza – o caráter anal retentivo, que pode gerar
pão-durismo, o acúmulo de conhecimentos de forma ciumenta e não
partilhada, a tendência a ocultar as próprias emoções, a fazer reserva de sua
vida íntima. Todo Tipo 5 necessita desenvolver a virtude do Desapego, para
evoluir interna e externamente.
Tipos 5 geralmente são sábios e introvertidos. Cautelosos e
desconfiados (no seu conjunto, o povo mineiro pode ser considerado um
coletivo do Tipo 5). Muitos enriquecem mas levam uma vida despojada, pois
outra característica deste Tipo é procurar reduzir ao mínimo suas
necessidades pessoais, para não depender de ninguém nem despertar a
cobiça alheia. Todos são bastante atentos aos detalhes: a precisão dos
conceitos, as entrelinhas do texto, os números do orçamento, os erros de
português, a coerência do cronograma de execução, a viabilidade financeira
da proposta e assim por diante.
Mas não espere sempre encontrar um ermitão à sua frente. Existem os
Tipos 5 que conseguem ser bastante sociáveis, falar em público e até
gostam de aparecer. Há excelentes professores do Tipo 5, assim como
37
políticos e empresários. O que é constante é seu espírito lógico e
pragmático, sua capacidade de ouvir e observar, o detalhismo, o cabedal de
conhecimentos adquiridos, a cautela e o espírito de contenção de recursos
(os pessoais e os da empresa).
Entre os países, podemos eleger a Grã-Bretanha como representante
óbvio do Ponto 5: reservados e práticos, um tanto xenófobos e ao mesmo
tempo pioneiros da revolução industrial, os ingleses também se destacaram
pela habilidade do seu serviço secreto, o M-5, durante a Segunda Guerra
Mundial, que soube observar, analisar e se precaver contra diversas ações
dos inimigos nazistas.
Como negociar com o Tipo 5
O patrocinador Tipo 5 costuma exigir um relacionamento privado e
reservado. Antes que ele marque uma reunião com você, Agente Cultural,
poderá pedir para que outra pessoa da empresa o atenda, e depois que uma
outra pessoa dê mais uma opinião sobre seu projeto. Não exatamente
porque seja ocupado demais. Isso se deve ao fato de que ele gosta da
solidão e da auto-suficiência, detestando ver sua sala “invadida” por pessoas
estranhas. Além disso, o atendimento prévio feito por outros colegas serve
para filtrar os projetos que realmente interessam à empresa. Essa é uma
estratégia típica das pessoas cautelosas, que precisam se assegurar de que
tudo está correto antes que o assunto chegue à sua esfera pessoal de
decisão. Quanto mais informações possuírem sobre o Agente Cultural e seu
projeto, melhor, pois terão mais subsídios para tomar sua posição individual
sobre a questão.
Tipos 5 dão preferências a projetos que não exijam deles grandes
envolvimentos pessoais. A maioria não vai querer aparecer em público para
posar de patrocinador. Mas vão adorar se ganharem elogios pelo jornal ou
pela TV, porque estarão à distância, protegidos, observando o espetáculo da
vida. Não espere nenhuma efusão, nenhum transbordamento no primeiro
encontro. O Tipo 5 vai ouvi-lo atentamente, perguntar sobre detalhes,
questionar pontos que lhe parecem falhos, será um verdadeiro inquisidor do
orçamento e do seu plano de execução. Você precisará mostrar segurança,
inteligência e dispor de argumentos logicamente convincentes. Mostre que
você tem conhecimento profundo da sua área de trabalho, e capacidade de
execução do seu projeto com qualidade. O tempo do Tipo 5 costuma ser
bem administrado, por isso não abuse disso (ele é avarento de seu tempo). E
fique consciente de que ele sabe exatamente o que quer, pois passou a vida
desenvolvendo da melhor maneira possível sua independência e sua
competência profissional.
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Depois do primeiro encontro, quando ele estiver sozinho, vai analisar
seu projeto em profundidade e tomar uma decisão. É na solidão que ele
poderá se emocionar com o seu projeto.
Suas salas de trabalho geralmente são privadas (gostam até de utilizar
elevadores privativos). A secretária ficará na sala ao lado e ninguém poderá
entrar de repente, sem avisar ou sem pedir permissão.
Uma boa estratégia, portanto, é conquistar o apoio de outras pessoas
da empresa que já gozam da confiança do seu patrocinador potencial Tipo 5.
Às vezes é bom deixar o encontro cara-a-cara só para o momento da
decisão final. Avalie bem essa possibilidade, pois assim o Tipo 5 ficará mais
à vontade. Se você conhecer alguém que já seja amigo do seu patrocinador,
vá com ele à reunião, para que o Tipo 5 se sinta mais confortável.
Nunca se iniba com o silêncio que ele poderá fazer durante a sua
explanação do projeto. Lembre-se de que o Tipo 5 pode preferir ser um
“doador anônimo” do que um patrocinador que precisará aparecer na
imprensa. Se ele for do tipo “doador anônimo”, você não precisará oferecer
muitos retornos para a empresa (embora isto contrarie todos os princípios de
marketing). Ele é um grande observador e pode ser o tipo de patrocinador
que mais valorizará as qualidades do seu projeto.
As vantagens proporcionadas pelas leis de incentivo fiscal à cultura
podem interessar bastante o Tipo 5 (desde que ele perca o medo imaginário
de uma “devassa fiscal” em sua empresa – esteja preparado para mostrar
que não existe nenhum problema em usar as leis e descontar dos impostos).
Uma boa estratégia é começar com um projeto de baixo custo, fazer
sucesso e depois aumentar paulatinamente a participação financeira da
empresa patrocinadora. Projetos muito caros assustam o Tipo 5. Os motivos
que levam um Tipo 5 a patrocinar são sempre lógicos, intelectuais. Mas ele
se emocionará depois, na solidão, com os resultados. Por exemplo: poderá
mandar um representante da empresa na festa de lançamento de um CD,
que depois ouvirá com prazer na sua casa.
O TIPO 6: O ADVOGADO DO DIABO
A infância dos Tipos 6 foi problemática, pois sofreram alguma forma de
terrorismo psicológico. Pai ou mãe violentos, por exemplo. Uma professora
do tipo “carrasca”, persecutória. Ambiente perigoso. Ou sofreram um trauma,
como, por exemplo, perder pessoas queridas de repente – o que os levou à
conclusão de que o mundo é local extremamente perigoso, pois alguma
coisa muito ruim pode acontecer a qualquer momento!
Outra característica é o conflito com a autoridade, vista sempre como
figura ameaçadora. Seja qual for a causa, o certo é que o Tipo 6 encontrou
dificuldades para compreender o sentido das ações ou reações de seus pais
e... ficou inseguro! A criança 6 cresce com a convicção de que é perigoso
confiar nos outros – e adquire um senso extraordinário de lealdade, ao
mesmo tempo em que desenvolve um sexto sentido para saber se uma
39
pessoa é confiável ou não. Tipos 6 morrem de medo de serem traídos, por
isso se protegem de todas as formas.
Tipos 6 podem evoluir em duas vertentes: a pessoa medrosa ou a
pessoa contrafóbica. Esta última palavra, criada pelos psicólogos, quer
dizer “ir contra o medo” (do grego phobos, que significa medo). O Tipo 6
medroso vive se protegendo de perigos imaginários (porque, como todos os
Tipos Mentais, possui a imaginação ativa, muitas vezes totalmente
descontrolada). Já o Tipo 6 contrafóbico, quando se vê numa situação de
perigo, ao invés de fugir, pode atacar, com fúria e coragem espantosas.
Como acontece com os ratos quando se vêem acuados: eles param de fugir
e atacam as pessoas ou os gatos.
O grande mecanismo de defesa dos Tipos 6 é a projeção: colocam
nos outros seus próprios medos, fantasmas ou intenções.
Contrafóbicos ou não, os Tipos 6 normalmente têm uma inclinação
para proteger os fracos e oprimidos. Assim como tendem a respeitar as
regras estabelecidas coletivamente e se preocupam com as pessoas que
estão contra seus amigos confiáveis.
Os contrafóbicos costumam se tornar enfermeiros, médicos, policiais,
líderes sindicais, sempre preocupados em defender a si mesmos e seus
pares contra os “inimigos” de fora. Os medrosos costumam buscar a
proteção de pessoas poderosas, para ficar debaixo de sua asa, e retribuem
com uma lealdade canina.
O pecado deste Tipo é o Medo, que só pode ser vencido pelo
desenvolvimento da virtude da Coragem.
De modo geral, os Tipos 6 são pessoas ansiosas e hiperativas. Mas
grande parte da sua atividade intensiva tem como origem o impulso de
proteção contra perigos imaginários. Vamos ilustrar esse ponto com uma
imagem do cotidiano: antes de dormir sozinho numa casa, o Tipo 6
velozmente, ansiosamente, verifica as trancas das janelas, as portas, os
cadeados, o alarme geral... vê seres fantásticos nas sombras, ouve barulhos
estranhos...
O ator e diretor cinematográfico Woody Allen é ilustra representante do
Ponto 6 do Eneagrama: em diversas entrevistas, já confessou seus medos
imaginários (por exemplo: que insetos estranhos saiam do ralo do box do
chuveiro, durante um banho) e faz tudo para não sair do bairro onde mora,
em Nova Iorque, onde se sente relativamente seguro. Seus filmes denotam a
preocupação com vários tipos de medo: da morte, de doenças, de acidentes,
hipocondria etc. Medo que ele exorciza através de um humor inteligente e
elevado senso estético.
O povo francês pode ser visto como expressão coletiva do Ponto 6: sua
xenofobia, seu medo de estrangeiros, é conduta característica das pessoas
medrosas ou contrafóbicas.
Como negociar com o Tipo 6
40
Patrocinadores Tipo 6 sempre avaliam antecipadamente todas as
possibilidades negativas de um projeto cultural (os problemas, os perigos): “E
se essa etapa do projeto não der certo?”. Daí o rótulo que demos a esse tipo:
advogado do diabo. Sempre são muito leais às empresas onde trabalham,
desde que se sintam reconhecidos e protegidos.
Como são pessoas honestas e temerosas, encontram dificuldades para
tomar qualquer tipo de decisão. O pensamento substitui a ação, que se
perde na defesa contra fantasmas e problemas imaginários. Sua tendência é
desconfiar e duvidar dos projetos, protelando a decisão para depois, pois têm
medo de desagradar os superiores.
Um alerta importante: nunca utilize o poder de uma autoridade superior
ao Tipo 6 dentro da empresa, para forçá-lo a decidir favoravelmente quanto
ao patrocínio do seu projeto. Lembre-se de que o Tipo 6 tem conflitos com
autoridades. Mas você poderá investigar para descobrir quem é o protetor do
Tipo 6 dentro da empresa. Esta pessoa, sim, poderá interceder em favor do
seu projeto – e certamente será atendida.
Ao negociar com um Tipo 6, não deixe nenhum ponto obscuro ou
qualquer intenção oculta em seu projeto. Honestidade e transparência são as
palavras-chaves para se chegar a um bom entendimento com este tipo de
patrocinador potencial. Raramente agem em interesse próprio.
Assim como o Tipo 4, o 6 gostará de projetos que beneficiem pessoas
marginalizadas, excluídas da sociedade, que precisem de ajuda. Será
também favorável a projetos nas áreas de educação, saúde e proteção do
meio ambiente.
Quando o Tipo 6 decide patrocinar um projeto, saiba que ele vai
monitorar a execução passo a passo, para defender os interesses da sua
empresa e evitar que qualquer problema se volte contra ele e a decisão que
tomou.
Hesitantes antes de tomar a decisão, os Tipos 6 podem assumir
desafios quando resolvem internamente sua insegurança. Assim, poderão
abraçar causas coletivas (movimentos reivindicatórios de artistas, por
exemplo), com coragem e lealdade.
Esteja pronto para esclarecer todos os pontos do seu projeto. Atue
como advogado do diabo de sua própria proposta, antes de apresentá-la a
um Tipo 6. Evite elogios gratuitos (geram desconfiança). Ofereça sempre
informações a mais, demonstrando total transparência de intenções. Nunca
fique muito tempo sem dar satisfações sobre o andamento do projeto.
Evite as divagações imaginárias do Tipo 6 e conduza a conversa para
uma tomada de decisão. Respeite a distância profissional que provavelmente
será criada entre você e ele. Não é bom bajular um Tipo 6, nem ressaltar os
benefícios pessoais que ele terá se resolver patrocinar seu projeto. Ele tem
clareza da sua real importância para a empresa e, sendo honesto, não pensa
em obter benefícios pessoais.
O TIPO 7: O AVENTUREIRO HEDONISTA
41
A criança 7 viveu momentos de grande felicidade... e gostou! Entre
brincar e estudar, entre curtir e fazer uma tarefa doméstica, preferiu sempre
a opção mais prazerosa. Algumas se tornaram verdadeiras malandras:
abandonaram os estudos, entraram cedo para o caminho do vício. A maioria
se rebelou abertamente contra a autoridade do pai ou da mãe. Foi a criança
que apanhou, mas não chorou, desafiando as ordens recebidas (influência
da Asa 8, que lhe dá coragem e força interior).
Como toda criança, viveu seus momentos de medo, de doença, de
dor... e não gostou! O Tipo 7 cresce na convicção de que nada é mais
importante que a alegria de viver, e por isso procura evitar as doenças e o
sofrimento. Ainda criança, revelou seu gosto pelas viagens e aventuras. E
sonhou com a liberdade ainda maior que teria quando crescesse. Nesse
jogo, preferiu mais a companhia de outras crianças que a solidão
(principalmente daquelas bem sapecas, que são fonte de excitação).
O mecanismo de defesa ao qual este tipo de personalidade adere é a
racionalização: utiliza a mente para se assegurar de que suas opções de
vida são as melhores – e que os problemas com o tempo se resolverão, pois
a vida é bela! Diz-se do Tipo 7 que nas suas veias não corre sangue, mas
sim champagne, pois seu temperamento é borbulhante, quer viver a vida
com intensidade. Desse contexto nasce uma personalidade ousada,
aventureira, que deixa o medo para trás, detesta as rotinas, busca sempre
coisas novas, gosta de namorar sem se comprometer, inclina-se para os
eventos de vanguarda e procura sempre ampliar seus horizontes, em todas
as áreas: conhecimento, diversão, trabalho, relações amorosas etc.
O seu pecado é a Gula, e somente desenvolvendo a virtude do
Equilíbrio é que o Tipo 7 poderá conter sua intemperança, sua voracidade
existencial, sua avidez pelo prazer.
O otimismo incessante desse tipo de personalidade pode ser
considerado como uma de suas principais qualidades: essa característica
atrai as pessoas, que normalmente flutuam em torno do Tipo 7 como moscas
em volta do mel. Ele (ou ela) irradia uma energia positiva, que magnetiza as
pessoas e lhe confere uma aura de sedução que facilita suas conquistas
amorosas. Assim como o Tipo 3, o 7 também tem forte inclinação para o
donjuanismo.
A maioria dos livros sobre o Eneagrama, assim como alguns
estudiosos do assunto, costumam rotular o Tipo 7 como um aventureiro sem
ética, uma malandro incorrigível, um ser decididamente irresponsável. É
evidente que o playboy assumido, que dilapida a fortuna do pai rico e termina
pobre, só pode ser enquadrado como Tipo 7.
Entretanto, lembramos aqui que o Tipo 7 tem Asa 8, ponto
eneagramático ligado ao sentimento de justiça, social e individual. E que o
primeiro movimento mecânico do Tipo 7 é em direção ao Ponto 1 do
Eneagrama, que é o reinado da ética.
42
Nesse contexto, não devemos nos espantar se encontrarmos pela
frente um Tipo 7 que aja corretamente com as demais pessoas, que seja um
profissional sério e competente e, sobretudo, que possua ética. O que será
muito raro é encontrarmos um Tipo 7 depressivo, baixo astral, que não
queira ser feliz. Seus momentos de infelicidade são rápidos, sua recuperação
interna é veloz, pois seu otimismo é sempre reafirmado pelo mecanismo de
defesa da racionalização.
Estudiosos do Eneagrama apontam o Brasil, visto no seu conjunto,
como país emblemático do Ponto 7: nosso povo é ou não é alegre, festeiro,
malandro e instituidor de um grande número de feriados durante o ano?
Assim como o povo carioca, amante dos prazeres da praia e da noite, da
boemia e da malandragem, só pode ser considerado expressão coletiva do
Ponto 7 do Eneagrama. O mesmo espírito pode ser encontrado no povo
italiano.
Como negociar com o Tipo 7
Tipos 7 gostam de associar prazer e trabalho. Não estranhe se ele
marcar uma reunião fora da empresa, num restaurante ou de noite num bar:
“Assim ficaremos mais descontraídos e poderemos falar de negócios sem
stress...”. Ele poderá ter uma tendência a falar dos assuntos mais variados e
divertidos, sem ir ao assunto principal. Se for esse o caso, objetive a
conversa, mas saiba transformar a negociação em um jogo prazeroso.
O Agente Cultural deve abordar o Tipo 7 com seriedade profissional
(porque isso lhe dará segurança quanto à sua competência para realizar o
projeto), mas também de forma descontraída (pois isso o deixará à vontade,
já que ele não é fã de regras, nem de rotinas, nem de qualquer coisa
marcada pela rigidez).
Não se deixe iludir pelo entusiasmo inicial que ele demonstrar pelo
projeto. Ele é sempre assim, alegre, otimista, positivo. Isso não quer dizer
que ele vai realmente patrocinar a sua proposta. Entre todos os tipos de
personalidade do Eneagrama, podemos dizer que o Tipo 7 é o mais
receptivo a projetos ousados, inovadores, com características de vanguarda.
Ele não tem medo de abrir novos horizontes. Ao contrário, gosta disso. Mas
isso não quer dizer que seus sócios ou superiores, na empresa, pensam da
mesma forma. Por isso procure saber quem realmente decide sobre a
concessão de patrocínio.
Será preciso construir uma afinidade mental com o Tipo 7 e deixá-lo à
vontade para comunicar os critérios da sua empresa (assim você terá as
informações necessárias para modificar alguns itens do seu projeto, para
facilitar a sua aprovação). Mas, cuidado: o Tipo 7 é bastante criativo e
poderá até criar um projeto novo, totalmente diferente do seu, partindo da
proposta que você apresentou. Não deixe que sua imaginação voe tão alto e
defenda a consistência da sua proposta.
43
O Tipo 7 nunca gosta de ser rotulado: ele se sente sempre novo,
sempre múltiplo, a cada dia. Busca o conhecimento global e desdenha a
especialização (embora possa estudar qualquer tema em profundidade, pelo
qual seja intelectualmente apaixonado – o Tipo 7 é capaz de ter um orgasmo
mental, “filosófico”).
Ele se sente oprimido em ambientes de trabalho que exigem
compromissos de horário e tarefas metódicas, burocráticas. Ele gosta de
novidades. Por isso há muitos jornalistas que são Tipos 7: trata-se de uma
profissão que exige competência mental, espírito de aventura, coragem e
capacidade de renovação diária.
Tais características fazem com que, normalmente, o ambiente de
trabalho do Tipo 7 seja impessoal: ele está ali só de passagem, sem grandes
compromissos, em busca de novo porto de aventuras.
O Tipo 7 nunca pensa que vai envelhecer. Usa seu charme pessoal
como estilo profissional, evita compromissos profundos (principalmente os
afetivos, que para ele são sinônimos de perda da liberdade pessoal e do
prazer que podem obter com as pessoas novas, sempre mais interessantes
que as antigas).
Saiba lidar com esse “espírito de borboleta” sem ficar ansioso. Basta
imprimir objetividade à conversa. Trata-se de uma personalidade vaidosa,
que certamente vai querer algum retorno para sua imagem. Que seja
discreto, pois basta que apenas seus superiores tomem conhecimento da
sua competência Outra característica relevante a ser considerada é o fato de
que os Tipos 7, por causa de sua antipatia em relação a toda forma de
autoridade, não gostam de exercem o poder diretamente, mas são mestres
na política de bastidores. Na verdade, se divertem induzindo as pessoas a
agir como eles querem. Alguns até não se incomodam que, dentro da
empresa, outras pessoas ganhem o reconhecimento por um trabalho que, de
fato, foi realizado por ele. Alguns são tão astutos que indicam a nomeação
de um chefe que eles controlam na intimidade. Nunca subestime a astúcia de
um Tipo 7. Nem se deixe enganar pelo seu entusiasmo contagiante. Para
ele, qualquer problema se resolve com o tempo e o importante é viver com
alegria e prazer o momento presente. Isso cria uma tendência a
simplesmente “atender bem as pessoas”, sem cuidar das ações práticas que
realmente fazem o trabalho acontecer.
No fundo, o Tipo 7 gosta de projetos que não signifiquem muito
trabalho para ele, nem muito envolvimento emocional. Seu sonho é ganhar
dinheiro com um mínimo de esforço e responsabilidade.
COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO MENTAL
Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que
prevalece são as idéias. De modo geral, não se apegam a seus sentimentos.
44
O Tipo 5 é basicamente introvertido e projeta a energia do Centro
Mental para dentro de si. Para ele, o importante são as idéias pessoais que
ele fez do mundo, e ele procura dentro de si próprio um sentido para a vida.
O Tipo 6 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ser
mais imaginativo que os dois outros Tipos Mentais. Orienta-se, normalmente,
pela energia dos outros dois Centros (Emocional e Físico). Pela nossa tese,
vinculada ao fluxo mecânico 9 6 3 9 6..., indicamos que há
predomínio do Centro Físico. Importante relembrar que as energias do
Centro Mental e do Centro Físico são sempre “filtradas” pelo Centro Mental,
tornando-se um conjunto de idéias pré-estabelecidas que orientam as
ações do Tipo 6, na medida em que constituem uma espécie de caminho
seguro para estar no mundo. Em outras palavras, tornam-se fatores
mentais que diminuem a sensação de medo.
O Tipo 7 é basicamente extrovertido e projeta para fora de si a
energia do Centro Mental. Seu referencial são as idéias que recebeu do
mundo, daí o rótulo de generalista que este tipo de personalidade recebeu
dos estudiosos do Eneagrama. O Tipo 7 procura no mundo, fora de si, o
sentido para sua própria existência (até porque sofre influência das
sensações provenientes da sua Asa 8 e do seu movimento mecânico ao
Ponto 1).
OS FLUXOS DO ENEAGRAMA
Uma das enormes vantagens do Eneagrama sobre outras tipologias de
personalidade é que ele nos fornece um “mapa” de como a energia se
movimenta no interior do ser humano, permitindo com isso uma autoobservação mais objetiva e ferramentas práticas de trabalho interno, com as
quais podemos ir aos poucos diminuindo o predomínio de nossa “máscara”
ou “personalidade mecânica” e ampliando as possibilidades de nossa
“essência” ou verdadeiro ser individual.
O Eneagrama tem dois tipos de fluxo ou movimento:
a) Aquele que acontece com os Tipos 3, 6 e 9, que correspondem ás
pontas do triângulo eqüilátero que vemos ao centro do símbolo;
b) Aquele que acontece com os demais tipos (1, 4, 2, 8, 5 e 7).
O fluxo cotidiano, que ocorre na maioria dos seres humanos, é
chamado de “mecânico” ou “involutivo”, porque significa uma repetição
viciosa de comportamentos e atitudes, sem que nada seja feito para
promover o crescimento interno e o desabrochar da essência de cada um.
Por que existem dois fluxos separados? A razão é a seguinte:
aprendemos, no começo deste Manual, que a Lei de Três é interna à Lei de
Sete ou Lei das Oitavas. Todo fenômeno que acontece no universo precisa
de pelo menos três forças para ocorrer. Os tipos de personalidade que estão
nos Pontos do triângulo eqüilátero estão mais diretamente vinculados à Lei
de Três que à Lei das Oitavas. Todos também estão sujeitos à Lei das
45
Oitavas no seu dia-a-dia, mas neles a Lei de Três está mais presente, é mais
atuante. Por isso alguns estudiosos do Eneagrama acreditam que os Tipos
de Personalidade 3, 6 e 9 estão, de alguma forma, mais próximos da
essência que os outros Tipos. Porém como vimos, esses três tipos são todos
eles desconectados do Centro que neles predomina (seja Físico, Emocional
ou Mental). Por isso também encontram grandes dificuldades para diminuir a
influência de sua “máscara” ou personalidade em suas vidas.
Vejamos o fluxo que corresponde aos Tipos do triângulo:
O Fluxo do Tipo 3
Em seu Núcleo, Ponto 3 do Eneagrama, este tipo de personalidade
está tomado pelo trabalho, como bom workaholic que é. O excesso de
trabalho faz com que seu corpo comece a reclamar e a pedir por um
descanso, um relaxamento. Quando a energia se desloca do Centro
Emocional para o Centro Físico (Ponto 9 do Eneagrama), veremos o Tipo 3
em seus raros momentos de apaziguamento: assistindo televisão, ouvindo
música, conversando com os amigos. Mas, quando a energia se desloca do
Centro Físico para o centro Mental (Ponto 6 do Eneagrama), veremos o Tipo
3 às voltas com seu principal medo: o de fracassar. Sua mente começará a
funcionar velozmente, planejando todos os contatos e articulações que ele
precisa fazer para ter sucesso em sua vida profissional. A energia se
deslocará rapidamente do Centro Mental para o Centro Emocional, e o Tipo
3 voltará à sua rotina de trabalho, trabalho, trabalho. Por uns momentos,
relaxará em 9. Mas quando a energia voltar ao centro Mental, virá
novamente o receio de não ser bem sucedido em seus planos de obter
sucesso e prestígio e ele retornará à hiperatividade profissional, completando
uma vez mais o círculo vicioso do sucesso. Este fluxo é ilustrado na Figura
abaixo:
46
O Fluxo do Tipo 6
Com medo de perigos imaginários, o Tipo 6 não percebe que sua
energia interna se desloca do Centro Mental para o Emocional (Ponto 3) de
forma que suas ações, seu trabalho são uma busca frenética de proteção, de
construção de defesas prévias. Seu medo maior não é fracassar, mas ser
traído ou surpreendido por um perigo que sua intuição aguda não soube
detectar. Assim ele trabalha muito, mas sempre desconfiado, sempre
temeroso, sempre procurando ficar ao lado das pessoas nas quais confia e
contra os “inimigos”, reais ou imaginários. Haverá um momento em que sua
energia interna se deslocará do Centro Emocional para o Físico (Ponto 9) e
então ele também relaxará por algum tempo. Até que o círculo vicioso se
repita e ele voltará ao Ponto 6, onde será novamente atacado por seus
fantasmas internos e se dirigirá para fora (Ponto 3), para agir, muito, e
depressa, na elaboração de mecanismos de autoproteção (na família, no
trabalho ou na rua). Voltando ao Ponto 9, ficará em estado letárgico por um
tempo, até que o padrão mecânico se repita.
O Fluxo do Tipo 9
Para manter seu conforto físico, evitar conflitos, o Tipo 9 terá medo de
tomar decisões, porque isso poderá lhe trazer problemas ou levar à perda de
suas amizades. Por isso, quando sua energia se desloca do Centro Físico
para o Mental (Ponto 6 do Eneagrama), ele procurará agir em função dos
outros, trabalhando para os outros, esquecendo de suas próprias
necessidades. Poderemos até vê-lo muito ativo, quando a energia se desloca
para o Ponto 3, porque normalmente ele é preguiçoso. Mas, para atender
outra pessoa, por medo de criar adversidades, ele poderá trabalhar até
bastante. Quando ele perceber que essa outra pessoa, sempre mais
importante do que ele mesmo, está atendida, poderá finalmente fazer o que
mais deseja: volta ao seu Ponto 9 e relaxar, pois ninguém é de ferro. Até que
surja outro estímulo externo e o deixe com medo de conflitos (ida ao Ponto 6)
e o faça trabalhar para atender alguém (ida ao Ponto 3) e, uma vez cumprida
a missão, poderá voltar ao conforto físico do Ponto 9.
O FLUXO NÃO MECÂNICO OU EVOLUTIVO
O fluxo que leva ao desenvolvimento da essência, começando pela
diminuição do poder da “máscara” é inverso ao mecânico: é o fluxo 36 9.
Em termos práticos, significa conquistar as virtudes de cada Ponto do
Eneagrama percorrido. Enquanto o fluxo mecânico passa pela Mentira
(Ponto 3), Preguiça ou Narcotização (Ponto 9) e Medo (Ponto 6), o fluxo
evolutivo passa pela Coragem (Ponto 6), Ação Consciente, não egoísta
(Ponto 9) e Veracidade, conexão com as próprias emoções (Ponto 3).
Importante ressaltar que os fluxos podem ocorrer de forma mesclada: um
47
Tipo 6 pode ter coragem em alguns momentos de sua vida e depois voltar à
sua rotina de medos imaginários. O Tipo 3 pode se conectar com suas
emoções, ir a 6 com verdadeira coragem e depois derrapar na Lei das
Oitavas e voltar à sua rotina viciosa de busca do sucesso através do jogo
das aparências.
Não é nada fácil entrar no fluxo evolutivo e...manter-se nele! Porque,
para conseguir essa façanha, é preciso contrariar os hábitos que nossa
“máscara” incorporou desde a infância e está convicta de que esse é o
melhor caminho do mundo para ela... (ou, o que é pior, o único caminho...)....
A Figura abaixo mostra o fluxo evolutivo das personalidades do
“triângulo”:
Para cada Tipo, o processo do fluxo evolutivo pode ocorrer da seguinte
forma:
Tipo 3 Evolutivo
Antes de mais nada, o Tipo 3 precisa conectar-se com suas próprias
emoções, dar-se conta de seus verdadeiros sentimentos, e parar de
interpretar o personagem que persegue o sucesso. Então ele poderá ir a 6 e
encontrar a coragem que substitui o medo do fracasso profissional, a
coragem que pode levá-lo a 9 para uma ação consciente em favor da
coletividade, superando a ação egoística de quem só almeja o próprio
sucesso. Assim ele estará no “círculo virtuoso do sucesso”.
Tipo 6 Evolutivo
Após dar-se conta de que a maioria de seus medos são imaginários, o
Tipo 6 poderá ir ao Ponto 9 para agir conscientemente, de forma menos
tensa, mais relaxada e então seguir ao Ponto 3 para desenvolver sua vida
48
emocional verdadeira e trabalhar com maior autoconfiança em sua vida
profissional.
Tipo 9 Evolutivo
Após superar sua tradicional indolência e seu medo de tomar decisões
para evitar conflitos, o Tipo 9 poderá ir ao Ponto 3 de forma a trabalhar mais
para si, para seu próprio sucesso, ao invés de se colocar sempre à
disposição dos outros. No Ponto 3, conectado com a veracidade dos próprios
sentimentos, também tenderá a ser menos promíscuo em suas relações
amorosas e buscará relacionamentos mais profundos. Daí poderá ir ao Ponto
6, para adquirir coragem para se dar importância e para enfrentar as
adversidades da vida, das quais ele tanto foge.
O SEGUNDO FLUXO MECÂNICO
Seria muito extenso descrever aqui todos os fluxos mecânicos e não
mecânicos dos demais seis tipos de personalidade. Por isso, vamos ilustrar o
processo através de apenas um Tipo de Personalidade. Escolhemos o Tipo 8
só para efeito didático. Deixamos, como dever de casa aos leitores, a tarefa
de verificar como cada tipo percorreria os fluxos involutivo e evolutivo. Porém
aproveitaremos esse exemplo para falar da influência das Asas sobre o Tipo,
o que permitirá ao leitor fazer outro dever de casa, que será o de analisar
como ocorre essa influência lateral nos demais tipos de personalidade.
A Figura abaixo mostra o sentido do fluxo mecânico:
O Tipo 8 tem sua origem no Ponto 2 (é fundamental pensarmos em
cada tipo de personalidade deste ponto de vista também). Isto quer dizer que
sua natureza agressiva, violenta, é causada pela forte descrença no amor,
49
na ternura, na doação e na solidariedade entre as pessoas. Lembremos aqui
que a sua infância foi uma verdadeira guerra, onde ele não encontrou outra
alternativa a não ser torna-se forte e combativo para sobreviver.
O primeiro fluxo mecânico – ida ao Ponto 5 – faz com que o Tipo 8
deseje, sempre, ficar sozinho no poder, no comando absoluto das pessoas
e das situações. Dá-lhe o sangue frio necessário para enfrentar qualquer
adversidade. Dá-lhe a capacidade de planejamento das estratégias
necessárias para derrubar inimigos e manter-se no poder, cobiçando
avarentamente mais e mais poder... Mas é importante assinalar aqui que o
Ponto 5 também estressa o Tipo 8, porque ele não gosta da solidão, pois
nessa condição ele não sabe o que os outros estão fazendo e não pode
mandar em ninguém. Mas ninguém ficará surpreso imaginando uma pessoa
poderosa recolhendo-se ao seu quarto ou à sua casa de campo para
planejar suas estratégias de conquista de novos territórios.
Recordemos aqui que o lado mental dos Tipos 8 é seu Centro
secundário, de apoio. Eles não lidam bem é com o emocional. Por isso
veremos o Tipo 8 ir com avidez ao Ponto 7, do prazer físico e mental, onde
ele pode exercitar ao mesmo tempo os pecados da Gula e da Luxúria. Além
disso, o Ponto 7 é uma de suas Asas, faz parte da sua personalidade, em
maior ou menor grau. É por isso que, de modo geral, os Tipos 8 são gordos,
fisicamente volumosos. Por um lado, isso acontece como um fruto da gula
(Asa 7), mas por outro é uma forma de conquistar mais espaço, mais
território, é mais uma arma de imposição da própria presença. E também
reflete sua preguiça física, sua indisposição para a ginástica e os esforços
físicos, provenientes da influência que recebe da Asa 9.
A passagem do Ponto 7 ao Ponto 1 acontece sempre no fim das festas,
banquetes ou orgias que os Tipos 8 gostam de promover, para exibir seu
poder e para articular negócios com as pessoas que participam de sua
esfera de influência no mundo da política ou dos negócios. É a manhã da
ressaca, onde é preciso voltar a seguir as regras e rotinas do mundo. Como
se trata de um Ponto ligado ao Centro Físico cuja tendência é reprimir o
prazer, é uma região psíquica que incomoda o Tipo 8. Tipos 1 seguem as
regras que vieram de fora e foram introjetadas. Tipos 8 gostam de fazer suas
próprias leis, gostam de ser a lei em seus territórios de domínio. Sua
tendência é ir do Ponto 1 ao Ponto 4 o mais rapidamente possível, pois
detestam a sensação de contenção e disciplina do Ponto 1.
No Ponto 4, primeira chegada do Tipo 8 ao Centro Emocional, surgem
muitos perigos. Se o Tipo 8 estiver apaixonado, ele se sentirá fraco,
dependente da outra pessoa e sua tendência será reagir a esse sentimento
buscando o controle total da outra pessoa. Poderá partir para dar incertas na
vida da pessoa amada, para certificar-se de que não está sendo traído, ou
mandar espioná-la. Poderá partir para a agressão física (que percebem
como algo totalmente natural, inerente à guerra que é a vida,) e até para o
crime passional, se sentir-se traído ou enganado. Quando falamos do Tipo 4,
50
alertamos para seu potencial de vingança e revanchismo. Esse potencial é
duplicado, quando se trata de um Tipo 8 no Ponto 4.
É importante esclarecer aqui que o movimento de agressão, em termos
de fluxo mecânico, não acontece exatamente no Ponto 4, pois nele apenas
começa o desejo de vingança. Tudo acontece no movimento 4 (sentimento
de abandono e de ser injustiçado / desejo de vingança  2 (orgulho ferido /
explosão emocional)  8 (expressão da raiva sem controle).
Se o Tipo 8 não estiver apaixonado, a passagem pelos Pontos 2 e 4
poderá significar momentos afetivos com a família, nos quais ele poderá até
se desarmar, mas estará sempre no comando absoluto de tudo, seja ele um
patriarca ou uma matriarca. Tais momentos são percebidos como fraqueza
interna e a tendência do Tipo 8 é voltar o mais rapidamente possível ao seu
Núcleo, onde sentir-se à o “Poderoso Chefão” que gosta de ser.
Importante constatar que é no Ponto 2 que o Tipo 8 pode se desarmar e
desenvolver a virtude da Inocência que lhe permitirá superar sua natureza
agressiva.
O SEGUNDO FLUXO NÃO MECÂNICO
Reafirmamos que todos os tipos de personalidade, não importa quais
sejam, têm enormes dificuldades para entrar no fluxo não mecânico. Na
maioria dos casos, há breve passagem pelas virtudes e volta maquinal aos
comportamentos e atitudes fixadas desde a infância. Além disso, percorrer e
sedimentar internamente 6 virtudes humanas nunca será tarefa fácil para
ninguém. Por isso os Mestres do Eneagrama falam dos super-esforços que
são necessários para fazer surgir e fortalecer a nossa essência.
Mas podemos descrever aqui o movimento teórico de um Tipo 8 no
fluxo evolutivo do Eneagrama (a Figura abaixo mostra o sentido desse fluxo):
 No próprio Ponto 8: ao invés do anseio pelo poder sobre os outros, a
pessoa desenvolve o seu senso de justiça, inclusive o de justiça social e, ao
51
invés de construir um império para si, pode então colocar sua força e sua
coragem a serviço dos fracos e oprimidos.
 Movimento 8  2: o abandono da violência pelo amor e pela ternura,
somados à virtude da Humildade;
 Movimento 2  4: a descoberta da Equanimidade, que conduz ao
ideal de construção de um sistema social mais justo e mais fraterno (talvez
nenhum Ponto do Eneagrama represente tão bem os ideais de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa quanto o Ponto 4);
 Movimento 4  1: toda violência se dissolve na virtude da
Serenidade, que se soma a em elevado senso de ética (a exemplo do que
fez Mahatma Ghandi, na sua luta sem violência contra os colonizadores
ingleses, pela independência da Índia);
 Movimento 1  7: A gula é colocada sob controle, ou harmonizada
pela virtude do Equilíbrio; a coragem inerente aos Tipos 8 e 7 se orienta
para a expansão arrojada dos horizontes do próprio ser, com alegria de viver,
em contraste com a busca imperialista de novos territórios para dominar;
 Movimento 7  5: a sede de poder se dissolve na virtude do
Desapego, fazendo surgir a consciência de que um poder muito maior está
encerrado na sede de conhecimento em todas as áreas;
 Movimento 5  8: o egoísmo, a ânsia de controle se apaga na virtude
da Inocência, que potencializa o fluxo para o Ponto 2, ampliando a
capacidade de amar, de doar e de cooperar com os outros.
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ANEXOS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS
53
DE PERSONALIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO
Tipos 1
 Não gostam de modificações nas regras e regulamentos;
 Valorizam os aspectos formais (limpeza e organização do ambiente, boa
aparência das pessoas, beleza visual dos projetos);
 Esperam reconhecimento por sua competência e quando isso acontece,
passam a produzir mais ainda;
 Raramente confrontam autoridades superiores;
 Raramente expressam sua raiva, pois sua tendência é contê-la;
 Possuem rigidez interna: geralmente são formais e pouco espontâneos;
 Apresentam alto rendimento em tarefas que exigem precisão,
detalhamento, responsabilidade, padronização de procedimentos e qualidade
elevada;
 Extremamente suscetíveis a injustiças, pois estão constantemente
preocupados com o que é “certo” e o que é “errado”;
 Aborrecem-se quando verificam a existência de muitos erros, nos
processos e nas pessoas;
 Quando se sentem inseguros, sua tendência é aumentar o controle sobre
as pessoas e as rotinas de trabalho;
 Possuem elevado sentido de ética;
 Gostam de metas e diretrizes claras e objetivas;
 Não gostam de tomar decisões quando as conseqüências são imprevisíveis
e o risco é elevado;
 Em reuniões do tipo brainstorming, não se deve esperar deles
contribuições criativas mas sim críticas e estabelecimento de normas.
Tipos 2
 Possuem atração pelo poder e articulam para se tornarem queridos pelas
pessoas que têm autoridade (são notáveis aduladores);
 Costumam defender os interesses das pessoas poderosas que os
protegem;
 Preferem mandar nos bastidores, ao invés de ocupar o primeiro plano das
atenções;
 Em reuniões, não são muito objetivos e tendem a apoiar as posições das
pessoas com quem simpatizam;
 Têm capacidade para desempenhar múltiplas tarefas, desde que se sintam
felizes na interação com as pessoas;
 Tendência a formar “panelinhas” afetivas;
 Oscilam emocionalmente: oram exigem serem mais estimados, ora
sentem-se oprimidos e explorados pelos superiores;
 Normalmente são o “braço direito” de alguém, mas raramente dispõem de
alguém trabalhando para eles como “braço direito”;
54
 Geralmente não visam apenas ganhos materiais: seu principal salário é a
consideração afetiva;
 Tendência ao maternalismo e/ou paternalismo.
Tipos 3
 Querem liderar e sabem negociar;
 São energizadores e bons formadores de equipes de trabalho;
 Estão sempre preocupados com o seu status, e se comparando aos
demais (precisam de símbolos concretos de posição de prestígio para se
sentirem vitoriosos: um belo carro, boas roupas, uma casa invejável etc.);
 São coringas, capazes de desempenhar tarefas múltiplas e diferentes, mas
têm necessidade interna de aparecer, de brilhar perante os demais;
 Costumam ignorar opiniões negativas ao seu desempenho, pois não
admitem sequer a hipótese de um fracasso (os resultados negativos são
vistos como sucessos parciais, jamais como derrotas);
 Estão sempre se auto-promovendo;
 Quando focados numa meta, deixam os sentimentos de lado e tratam de
alcançá-la;
 Usam todas as armas disponíveis para derrubar seus adversários, quando
lutam por uma posição mais elevada;
 Gostam de reuniões e têm flexibilidade interna para ouvir opiniões opostas
às suas;
 São emocionalmente reservados, mas, como são camaleônicos, podem
interpretar personagens de alta voltagem emocional, se isso for importante
para atingir as metas que traçaram para si próprios;
 Quando não têm certeza do caminho a seguir, sua tendência é imitar
modelos ou cases de sucesso;
Tipos 4
 São bastante criativos e inovadores;
 São ótimos para começar projetos novos ou para corrigir algo que não está
dando bons resultados, mas tendem a sabotar rotinas rígidas e
procedimentos muito padronizados;
 Precisam trabalhar em processos sem repetição de tarefas e onde haja
flexibilidade para fazer as coisas de muitas maneiras diferentes;
 Quando não são reconhecidos por suas qualidades, podem se tornar
ressentidos e planejar vinganças, que são tramadas nos bastidores;
 Não gostam de chefes autoritários e punitivos e podem tornar-se rebeldes
aos regulamentos;
 Só respeitam as autoridades que contam com a admiração da maioria;
 Preferem trabalhar sem horários e sem muitas regras – seus modelos de
gestão são bastante personalizados;
 Sentem-se muito originais e não gostam de coisas banais;
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 São envolventes e mobilizadores das outras pessoas, porque são
apaixonados pelo que fazem.
Tipos 5
 Gostam de ser “eminências pardas”, supervisionar as coisas nos
bastidores;
 Têm sangue frio para tomar decisões de alto risco;
 São práticos e competentes para formular políticas da empresas;
 Gostam de dividir projetos de longo prazo em etapas simples;
 Não aceitam injustiças dos superiores;
 São muito autocríticos e reservados, pouco transparentes;
 Grandes solitários e encontram dificuldades para trabalhar em grupo e para
partilhar idéias;
 São detalhistas e podem perder tempo com pequenas coisas;
 Detestam ficar a serviço ou à disposição de outras pessoas;
 Se puderem estabelecer suas próprias condições de trabalho, são capazes
de abrir mão de títulos, gratificações ou símbolos de prestígio;
 Gostam de ficar sozinhos em sua sala, sentindo-se incomodados em
ambientes com muita gente;
 Detestam se sentirem vigiados intensivamente pelos chefes ou serem
obrigados a fazerem relatórios com muita freqüência;
 Lidam mal com contatos pessoais continuados (temem se expor) e
reuniões muito freqüentes;
 O ideal é que suas qualidades sejam usadas nas áreas de pesquisa,
planejamento, consultoria, auditoria, análise detalhada e verificação de
orçamentos, devendo-se evitar que sejam responsáveis diretos pela parte
executiva das ações.
Tipos 6
 Adoram as pessoas empreendedoras, que fazem sucesso;
 Por isso, idealizam seus líderes, e não conseguem julgá-los com
objetividade;
 Se o líder ou o chefe não se comporta conforme os padrões que
idealizaram, podem rebelar-se contra sua autoridade;
 Têm grande “espírito de grupo”, com grande senso de lealdade;
 Nas autoridades, costumam descobrir aspectos negativos; nas pessoas
oprimidas, que se sentem na obrigação de proteger, costumam ver as
qualidades;
 Possuem aguda intuição para descobrir as intenções ocultas das pessoas;
 Estão sempre vigilantes contra tentativas de manipulação da sua pessoa
ou da sua equipe de trabalho;
 Precisam de absoluta clareza nas regras hierárquicas: quem manda nisso,
quem faz aquilo;
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 Em caso de dúvida, procurarão seguir as regras da “cartilha” da empresa;
 Normalmente pouco criativos e receosos de tomar decisões;
 Hiperativos, são bons na execução de tarefas determinadas com clareza;
 Costumam ter bom desempenho sob pressão psicológica;
 De modo geral, são bastante responsáveis, embora instáveis no seu
desempenho profissional cotidiano, que é sujeito a altos e baixos;
 Sua imaginação está sempre ativa e sempre ligada no pior que pode
acontecer;
 Como são muito desconfiados, é preciso sempre ser sincero e transparente
com os Tipos 6.
Tipos 7
 Detestam autoridade e buscam a igualdade hierárquica entre os membros
de qualquer equipe de trabalho;
 Funcionam mal quando não têm liberdade de ação;
 Seu otimismo costuma entusiasmar as pessoas e por isso são adequados
para difundir idéias entre os colegas;
 Atuam bem dentro do grupo, embora sejam bastante individualistas;
 São personalidades sedutoras e acreditam que podem se livrar de qualquer
problema com sua lábia e inteligência;
 São empreendedores, mas sem muita exigência quanto à qualidade na
execução das tarefas;
 Devem ser acionados na fase inicial dos projetos, pelo clima otimista que
criam em seu ambiente de trabalho;
 Não gostam de dar, nem de receber ordens;
 São aptos a desempenhas inúmeras tarefas diferentes, mas detestam
rotinas;
 Bons para elaborar políticas, estratégias, metas e diretrizes viáveis;
 Apresentam bom rendimento em trabalhos que envolvam muitos
relacionamentos interpessoais e diversidade de tarefas.
Tipos 8
 São corajosos ao extremos e não têm medo de confrontos nem de guerras
prolongadas;
 Não têm meio termo: amigos versus inimigos é seu lema;
 Produzem mais que o normal quando seu trabalho é reconhecido e
valorizado;
 Não gostam de abrir do poder, do controle total sobre a operação das
coisas;
 Precisam de um “feudo” para reinar, nem que seja pequeno;
 Exigem que os limites de poder e de território sejam estabelecidos com
clareza dentro da empresa;
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 Gostam do confronto em campo aberto e respeitam as opiniões sinceras,
mas detestam as pessoas dissimuladas;
 Admitem fracassar, mas nunca fraquejar;
 Detestam que os outros sejam condescendentes com eles, pois não
querem ser vistos como pessoas fracas que precisam de proteção;
 Se forem supervisores do trabalho alheio, tentarão controlar tudo: serão
inconvenientes, invasores e darão “incertas” para checar o desempenho dos
subordinados;
 Se for subordinado a você, testará os seus limites; se for superior a você,
vai impor os seus limites de poder;
 São pessoas pouco diplomáticas e normalmente não fazem alianças para
compartilhar o poder; mesmo quando fazem um aliado, depois que obtém a
vitória contra um inimigo comum, voltam-se contra ele, para decidir quem
será o rei;
 Tem espírito protetor em relação a seus subordinados, mas exigem
lealdade e dedicação absolutas;
 Gostam de fazer regras personalistas e de quebrar essas mesmas regras,
só para mostrar que detém o poder.
Tipos 9
 Não querem ser chefes, nem líderes, pois têm medo de conflitos;
 Produzem muito quando são reconhecidos;
 Sua tendência é trabalhar mais para os outros que para si próprios, pois
têm o sentimento de que não são importantes;
 Não são bons em estabelecer prioridades e podem descambar para tarefas
secundárias, perdendo o bonde das prioridades;
 Não costumam demonstrar raiva, mas sabem demonstrar resistência
passiva (empacam);
 Devem ser instados a trabalhar sob pressão, pois, quando ganham tempo
folgado para uma tarefa, procastinam o trabalho;
 Costumam deixar o mais importante para o final, porque receiam tomar
decisões;
 Criam empatia com suas funções, não com seus chefes ou com sua
empresa;
 Não lutam por promoções, mas necessitam de que as regras de ganho por
mérito sejam as mais claras possíveis;
 São mais conservadores que inovadores;
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ASPECTOS DIVERSOS DOS NOVE TIPOS DE PERSONALIDADE
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PRINCÍPIOS ÉTICOS DA APLICAÇÃO DO ENEAGRAMA
Por ser uma ferramenta psicológica objetiva e de fácil aplicação no cotidiano, o Eneagrama requer
muita ética na sua utilização. Nossa experiência de trabalho na área cultural em mais de dez
estados brasileiros demonstrou que, em sua maioria, as pessoas que aprendem o Eneagrama
tornam-se mais tolerantes e mais compreensivas. Passam a conviver melhor com as diferenças
interpessoais. Começam a dialogar de forma mais flexível, pois aprender a respeitar o predomínio
de um dos três centros de energia do ser humano. Muitas nos relataram como o Eneagrama foi
importante no seu processo de autoconhecimento, fornecendo um caminho prático de crescimento
interno, que pode ser efetivamente monitorado pela própria pessoa e por aqueles que estão à sua
volta.
Mas o uso indevido dessa fascinante ferramenta é uma possibilidade que não pode ser
desconsiderada. Por isso, relacionamos ao final deste livro os Princípios Éticos que devem nortear
quem trabalha com o Eneagrama em qualquer área da vida humana.
1. O Eneagrama é uma ferramenta destinada ao auto-conhecimento dos seres
humanos e à transformação pessoal positiva.
Praticar a auto-observação sobre nossas próprias motivações internas, nossas compulsões,
nossos hábitos mecanizados (nosso “piloto automático”) é um processo que nos ajuda
imensamente a evitar as principais armadilhas do nosso tipo de personalidade. O conhecimento
de si mesmo implica num questionamento incessante de nossas metas de vida, dos nossos
objetivos profissionais e também dos nossos mecanismos de defesa. A transformação interna
individual requer a coragem e a perseverança de agir contra as estruturas e hábitos de nossa
personalidade, para que possamos caminhar na direção do despertar e do desenvolvimento da
nossa essência. Antes de aplicarmos o Eneagrama às outras pessoas, devemos primeiramente
trabalhar o nosso próprio tipo, desenvolvendo as nossas “virtudes” e abrindo nossas “Asas”, que
são fontes de recursos adicionais ao nosso desempenho. O Eneagrama é um mapa objetivo que
leva à construção de um ser mais completo e mais capaz de agir no mundo. O Eneagrama nos
estimula a encarnar em nós mesmos o trabalho efetivo de autotransformação positiva. Que cada
estudioso e praticante do Eneagrama seja um exemplo vivo de auto-observação e de crescimento
interno, mostrando como é possível a evolução real no caminho da libertação dos nossos hábitos
mecânicos e da ampliação das nossas potencialidades como seres humanos.
2. O Eneagrama é uma fonte de solidariedade.
O estudo do Eneagrama nos convida a interromper o círculo vicioso dos nossos hábitos, para que
ingressemos na etapa dos círculos viciosos, ou dos processos ascendentes de crescimento
interno. Precisamos, todos, superar os nossos mecanismos de defesa repetitivos. Neste sentido,
cada pessoa pode e deve estar a serviço das outras, alertando-as sobre as diferenças que
existem entre os nove tipos de personalidade e como existe uma sinceridade real em cada um dos
nove pontos de vista. Doutrinas e teorias são bem menos importantes que uma comunicação
aberta entre as pessoas. O conhecimento do Eneagrama pode ser aplicado de forma muito útil na
educação dos filhos, nas relações afetivas e no ambiente de trabalho. Como podemos usar essa
ferramenta para promover nosso crescimento interno, também podemos utilizá-la para ajudar os
outros a superarem as características negativas de seus tipos de personalidade. Respeitando,
sempre, as diferenças individuais.
3. O Eneagrama é um instrumento a serviço da tolerância.
Quanto mais e melhor nós compreendemos as motivações e a lógica dos outros tipos de
personalidade, menos nós criticamos, julgamos ou rejeitamos os outros. Quem trabalha com o
Eneagrama deve escutar atentamente cada história individual. O fato de possuirmos um
conhecimento até profundo sobre os nove tipos de personalidade não nos dá nenhuma garantia
de que de fato conhecemos uma pessoa. Ter uma concepção estereotipada do Eneagrama é um
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sinal de visão estreita da vida, do mundo e do ser humano. Ninguém pode pressupor que conhece
de antemão todas as atitudes e as motivações de uma pessoa. Quando construímos estereótipos,
em geral estamos nos baseando em experiências negativas que tivemos com pessoas deste ou
daquele tipo de personalidade. Não faz sentido impor o geral ao particular. Atitudes equivocadas
como essa só podem limitar nosso próprio crescimento pessoal, diminuir a riqueza das relações
entre os seres humanos e embotar nossa visão nos momentos de tomada de decisões.
4. Cada indivíduo é o principal responsável pela descoberta do seu tipo de
personalidade.
A experiência mostra que o Eneagrama provoca reações e transformações profundas nas
pessoas. Realçamos aqui que a ferramenta se torna mais eficaz quando nós permitimos aos
outros que descubram seu próprio tipo de personalidade, ao invés de supor que nós poderemos
conhecê-los melhor do que eles conhecem a si mesmos. Devemos respeitar o ritmo interno de
cada um e ter máxima sensibilidade às reações de cada pessoa que entra em contato com a
Teoria do Eneagrama. É preciso que estejamos atentos às consequências da mudança da
imagem que ela têm de si própria e a todos os recursos que ela possa vir a necessitar para
integrar de forma construtiva este novo e impactante sistema de conhecimento.
5. Todo indivíduo é sempre maior do seu tipo eneagramático de personalidade.
Por mais coerente que seja, o Eneagrama não nos conta nada sobre a história específica de vida
de cada pessoa. Um tipo é apenas uma síntese teórica de características básicas e não nos dá
informações significativas sobre as qualidades do caráter de uma pessoa. A teoria não mostra sua
real inteligência, em os talentos que ela desenvolveu através do seu esforço pessoal. Uma pessoa
é sempre mais que seu tipo. É particularmente importante lembrar-se disso no universo
profissional, para não cairmos na tentação dos julgamentos estereotipados e das análises
apressadas que mal disfarçam nossos próprios preconceitos e equívocos internos.
6. O Eneagrama é um sistema em processo democrático de construção.
Muitos estudiosos já contribuíram para o desenvolvimento do Eneagrama e certamente diversos
outros pesquisadores continuarão a gerar conhecimento sobre esta valiosa ferramenta, no futuro.
Neste horizonte, devemos atribuir explicitamente a cada indivíduo o mérito intrínseco do seu
trabalho. Devemos sempre citar nossas fontes e honrar a criatividade e a contribuição pessoal de
outros pesquisadores. O Eneagrama nos convida a uma compreensão profunda do ser humano e
ao compartilhamento democrático dos conhecimentos alcançados por cada pesquisador.
7. O Eneagrama pertence a toda a humanidade.
O Eneagrama não pode ser controlado, manipulado, nem monopolizado por quem quer que seja.
Acima de tudo, não pode ser retirado do campo da discussão pública, aberta e democrática.
Qualquer limitação dos direitos de comunicar, desenvolver e compartilhar informações sobre o
Eneagrama é uma atitude contrária ao espírito de libertação e de desenvolvimento humano que
constitui a base de todo o sistema.
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