Técnicas de Negociação com Patrocinadores
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Técnicas de Negociação com Patrocinadores
Técnicas de Negociação com Patrocinadores Autor: Mário Margutti Junho de 2009 ÍNDICE Introdução 04 As origens do Eneagrama A Busca de Patrocínio para Projetos Culturais O Símbolo do Eneagrama A Lei de Três Personalidade e Essência A Lei de Sete ou Lei das Oitavas 04 05 07 07 10 11 Os Tipos Físicos ou Instintivos 16 Características Gerais Tipo 8: O Poderoso Chefão Como Negociar com o Tipo 8 Tipo 9: O Grande Conciliador Como Negociar com o Tipo 9 Tipo 1: O Perfeccionista Como Negociar com o Tipo 1 Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Físico 16 18 20 20 22 23 25 26 Os Tipos Emocionais 27 Características Gerais Tipo 2: O Benfeitor Indispensável Como Negociar com o Tipo 2 Tipo 3: O Coringa Bem Sucedido Como Negociar com o Tipo 3 Tipo 4: O Idealista Rebelde Como Negociar com o Tipo 4 Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Emocional 27 28 30 31 32 33 35 35 Os Tipos Mentais 36 Características Gerais Tipo 5: O Auditor Como Negociar com o Tipo 5 Tipo 6: O Advogado do Diabo Como Negociar com o Tipo 6 Tipo 7: O Aventureiro Hedonista Como Negociar com o Tipo 7 Como Cada Tipo Usa a Energia do Centro Mental 36 37 39 40 41 42 44 45 Os Fluxos do Eneagrama 46 O Fluxo do Tipo 3 O Fluxo do Tipo 6 O Fluxo do Tipo 9 O Fluxo Não Mecânico ou Evolutivo Tipo 3 Evolutivo Tipo 6 Evolutivo Tipo 9 Evolutivo 47 47 48 48 49 49 50 2 O Segundo Fluxo Mecânico O Segundo Fluxo Não Mecânico 50 52 Anexos (Informações Suplementares) 54 55 55 55 56 56 57 57 58 58 58 59 59 59 59 60 60 60 61 61 61 62 62 62 63 63 63 Principais Características dos Tipos no Ambiente de Trabalho Tipos 1 Tipos 2 Tipos 3 Tipos 4 Tipos 5 Tipos 6 Tipos 7 Tipos 8 Tipos 9 Aspectos Diversos dos Nove Tipos de Personalidade (Série de 15 Figuras) Rótulos Mais Comuns Rótulos de Auto-identificação Rótulos Negativos Atenções Primeiras Pecados / Virtudes Mecanismos de Defesa As Ilusões As Presunções Desejos Básicos Patologias Símbolos Evolutivos Símbolos Involutivos Principais Recursos Positivos Compulsões Básicas Infância Princípios Éticos na Aplicação do Eneagrama 64 3 INTRODUÇÃO As Origens do Eneagrama O Eneagrama é um símbolo milenar. Achados arqueológicos na Mesopotâmia, datados de mais de 4.000 anos atrás, demonstram que se trata de um dos objetos de estudo mais antigos da humanidade. Para alguns pesquisadores, o Eneagrama teria surgido numa fraternidade de sábios da Babilônia, cerca de 2.500 anos antes de Cristo. Julga-se que Zoroastro e Pitágoras também teriam conhecido essa poderosa ferramenta, assim como os habitantes do Império Persa, na época de Dario. Coube aos mestres Sufis, do Islã, serem os guardiões dos segredos da utilização do Eneagrama pelo ser humano. Para resumir, registramos aqui que o sufismo é uma escola de sabedoria que se dedica ao estudo das barreiras que impedem os homens de se desenvolverem espiritualmente e à prática de trabalhos internos capazes de superar esses obstáculos. No Ocidente, foi somente no começo do século que o Eneagrama se tornou conhecido, através das idéias e do ensino do pensador russo G. I. Gurdjieff, divulgados também por seu discípulo P. O. Ouspensky. Gurdjieff utilizou o Eneagrama como um modelo dinâmico de funcionamento dos seres vivos: “Cada total integral, cada cosmos, cada planta, cada organismo é um Eneagrama” – disse ele. Não há registro de que Gurdjieff tenha usado explicitamente o Eneagrama no âmbito da tipologia das personalidades do ser humano. O Eneagrama aplicado à personalidade humana foi trabalhado pelo boliviano Oscar Ichazo, que, após ser membro de uma Escola Sufi no Afeganistão, voltou à sua terra natal para criar o Movimento Arica, defendendo a tese de que os conteúdos do Eneagrama das Personalidades foram trabalhados exclusivamente por ele, e que só no contexto do treinamento que sistematizou a correta aprendizagem seria possível. Mas a propagação do sistema por diversos países deve-se ao psiquiatra chileno Claudio Naranjo, que integrou a teoria de Ichazo aos conhecimentos atuais da Psicologia, tornado o Eneagrama acessível a maior número de pessoas. Em 1972, Naranjo ensinou o Eneagrama a padres jesuítas e desde então o Reverendo Robert Ochs liderou o envolvimento da congregação com o sistema. Em 1984, os religiosos Maria Bressing, Robert Nogosek e Patrick O´Leary, com a cooperação de Ted Dunne, redigiram o livro “O Eneagrama: Uma Jornada de Auto-Descobrimento”, que dá uma dimensão cristã ao tema. Hoje temos a informação de que a CIA, nos Estados Unidos, vale-se do Eneagrama para prever o comportamento dos líderes mundiais. E que o Vaticano o emprega no universo da educação, como forma de facilitar o processo de ensino/aprendizagem. Já a Universidade de Stanford utiliza o Eneagrama para detectar líderes e administradores competentes. Por sua vez, a Universidade de Palo Alto, na Califórnia, emprega o Eneagrama no 4 campo da Psicologia, promovendo Encontros e Seminários Internacionais sobre o assunto. Os autores deste Manual aprenderam o Eneagrama das Personalidades em aulas ministradas por Christian Paterham, filósofo e administrador de empresas de origem chilena. Juntamente com sua esposa, a psicóloga brasileira Norma Janotti, Christian fundou o IDHI – Instituto para o Desenvolvimento Humano Integral, que tem sua sede no bairro Debossan de Nova Friburgo (RJ). Ele escreveu o livro “O Eneagrama G.” para mostrar que Gurdjieff conhecia o Eneagrama das Personalidades. Christian recorreu a citações de frases do pensador russo a seus discípulos, nas quais se pode perceber que ele tinha conhecimento dos traços básicos do caráter de cada indivíduo. A Busca de Patrocínio para Projetos Culturais Quem decide o patrocínio na empresa é uma pessoa de carne e osso, como nós. Possui uma cultura, uma personalidade básica, com seus hábitos e comportamentos pessoais, muitos deles mecanizados. Muitos Agentes Culturais confessam sentir inibição durante encontros com prováveis patrocinadores. Esses Agentes colocam os executivos que decidem num patamar de superioridade que impede a negociação de igual para igual, que é a condição essencial para fazer um bom negócio. Vender faz parte do rol de necessidades elementares de todo ser humano. Precisamos, portanto, aprender a vender. Um pintor carioca de grande sucesso, que conseguiu inclusive libertar-se da dependência dos donos de galeria, afirmou com muita propriedade que “vender também é uma arte”. Vender idéias, produtos, projetos, serviços, é condição de sobrevivência dentro de qualquer sistema social. Não basta ter um bom projeto cultural nas mãos. É preciso aprender a negociar. O tempo do “pires na mão” acabou. Vivemos o tempo da competência. Um projeto cultural deve ser, antes de mais nada, um projeto de vida para seu criador. Uma necessidade tão biológica quanto espiritual. Uma paixão e uma prova de profissionalismo. O mercado cultural é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, em todos os seus aspectos, inclusive o econômico. Precisamos todos nós, Agentes Culturais, trabalhar no sentido de criar um mercado cultural sólido, como já acontece em outros países. Para tanto, precisamos nos aperfeiçoar continuamente, e obter os números, os dados, as pesquisas, as informações e os conhecimentos necessários para fazer um bom planejamento estratégico que resulte na viabilização do nosso projeto. Precisamos chegar ao ponto em que os Agentes Culturais sejam reconhecidos como profissionais sérios, competentes, responsáveis por um trabalho indispensável para a comunidade. 5 Após aprendermos o Eneagrama com Christian Paterham, a equipe da nossa empresa transportou livremente para nossa experiência de campo os conceitos fornecidos pela teoria eneagramática. Os resultados foram surpreendentes. Nossa eficiência na venda de projetos aumentou em 300%. Relacionaremos a seguir os nove tipos de personalidades básicas do ser humano, que os Agentes Culturais poderão encontrar em seus contatos de venda, tanto nas empresas privadas como nos órgãos públicos. É importante perceber desde logo que o Eneagrama não é uma tipologia de comportamentos padronizados, mas sim uma tipologia de motivação interna do ser humano. Isso significa que, com base na teoria do Eneagrama, podemos prever não o comportamento, mas a atitude das pessoas, que sempre gravitam em torno de certas tendências. O comportamento é algo que sempre será variável ao infinito, até mesmo entre as pessoas que têm o mesmo tipo básico de personalidade no Eneagrama. Outro aspecto a se considerar é o conceito de “Asa”, que se refere à influência dos pontos do Eneagrama sobre aqueles que são seus vizinhos mais próximos. Assim, o Tipo 3 sobre influência dos pontos 2 e 4; o Tipo 9 sofre influência dos pontos 8 e 1; o Tipo 1 sofre influência dos pontos 9 e 2 e assim por diante. Essas influências laterais (ou por contigüidade) são as “Asas” de cada tipo de personalidade, sendo que uma delas costuma ser predominante. Por exemplo: se um Tipo 9 tiver a Asa 8 predominante, será uma pessoa com mais tendência a expressar sua raiva e sua violência; se a Asa 1 for a predominante, a pessoa terá tendência a reprimir sua raiva. Outro exemplo: se um Tipo 3 tiver a Asa 2 predominante, terá mais tendência ao romantismo, à vida amorosa, com espírito jovem e festivo; se a Asa 4 for predominante, será mais fechado afetivamente, porém com tendência à criatividade mais intensa, além de certa inclinação para a melancolia (espírito velho, mais depressivo). Ao apresentar os nove tipos de personalidades básicas do ser humano, queremos que o Agente Cultural faça uma reflexão que normalmente ele não faz, quando vai vender o seu projeto. Quem é a pessoa que está do outro lado da mesa, quando vamos negociar um projeto cultural? Normalmente o Agente Cultural entra na sala dos executivos patrocinadores em potencial com uma série de preconceitos altamente prejudiciais à realização de um bom negócio. É comum, por exemplo, os artistas pensarem que os empresários são pessoas frias, ou insensíveis, que não valorizam a arte e a cultura. Essas idéias preconcebidas não passam de considerações subjetivas que não têm qualquer base na realidade. É preciso olhar para quem está do outro lado da mesa de negociações de forma aberta, objetiva, flexível. Só assim poderemos ter uma idéia mais correta de que tipo de ser humano se trata. E os conceitos baseados na Teoria do Eneagrama são, em nossa opinião, as melhores ferramentas de ajuda nesse processo de ver quem é o outro, de forma realmente objetiva, se conseguirmos que nossos próprios 6 preconceitos não atrapalhem nossa percepção da outra pessoa com a máxima clareza e isenção possíveis. O novo conhecimento adquirido nos levou a estudar outras tipologias de personalidade (como a de Carl Gustav Jung, a da Psicologia da Gestalt e outras) e, em nossa opinião, o Eneagrama revelou-se como a mais prática e a mais fácil de aplicar no cotidiano, nas mais diversas situações. O SÍMBOLO DO ENEAGRAMA A palavra Eneagrama vem da junção de dois termos gregos: enea (nove) e grama (linha, figura). Significa, portanto, “figura de nove linhas”, expressão apenas genérica, que está longe de transmitir a riqueza de informações e de conhecimentos encerrados neste símbolo milenar. A primeira coisa que podemos notar no símbolo é que, embora o círculo tenha sido dividido em nove partes iguais, as linhas internas não foram reunidas em forma simétrica. Elas não formam uma estrela convencional, mas sim duas figuras diferentes que se entrelaçam: um triângulo equilátero e uma outra forma pouco usual, que podemos descrever como quatro triângulos unidos entre si. A LEI DE TRÊS O triângulo de lados iguais nos remete a uma das mais antigas leis do universo: a Lei de Três, que os antigos Mestres do Eneagrama consideram uma lei de caráter cósmico. Essa lei é, na verdade, algo muito simples. Ela preconiza que qualquer fenômeno, em qualquer região do universo, precisa da presença de pelo menos três forças para acontecer: Uma força ativa; Uma força de resistência (reação à primeira força ativa); Uma forma de conciliação, ou resultante do jogo entre as duas primeiras. O pensamento ocidental está excessivamente habituado a pensar de forma dualística. Pensamos sempre em pares de opostos: Bem e Mal, Luz e Trevas, Masculino e Feminino, Pólo Positivo e Pólo Negativo, Espírito e 7 Matéria etc. Em outras palavras, fomos condicionados a ficar cegos para a terceira força. No entanto, ela existe, e se nos treinarmos a pensar em termos triádicos, não apenas dualísticos, poderemos começar a perceber essa terceira força e sua importância em nossas vidas. O aspecto mais importante a considerar é que a energia do ser humano gravita em torno de três Centros: o Centro Físico ou Instintivo, o Centro Emocional e o Centro Mental. No Eneagrama, os Centros estão representados na figura do triângulo eqüilátero que faz parte do símbolo, da seguinte maneira: FÍSICO MENTAL EMOCIONAL O Centro Físico corresponde ao Ponto 9 do Eneagrama, o Centro Emocional ao Ponto 3 e o Centro Mental ao Ponto 6. Os demais 6 Pontos, que correspondem aos outros Tipos de Personalidade, também se definem pela prevalência de um desses três Centros, da seguinte forma: Tipos 8, 9 e 1 – Predomínio do Centro Físico ou Instintivo. Tipos 2, 3 e 4 – Predomínio do Centro Emocional. Tipos 5, 6 e 7 – predomínio do Centro Mental. Os três Centros não funcionam de modo equilibrado, na medida em que um deles predomina em nossas vidas, um segundo desempenha um papel auxiliar e um terceiro fica meio atrofiado ou pouco utilizado ou mesmo reprimido. No âmbito dos nove tipos básicos de personalidade do ser humano, esta desigualdade entre os centros se manifesta da seguinte forma: Personalidade Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Centro Físico Predominante Secundário Secundário Tipo 4 Terciário Centro Emocional Secundário Predominante Predominante, mas reprimido Predominante Centro Mental Terciário Terciário Secundário Secundário 8 Tipo 5 Tipo 6 Terciário Secundário Secundário Secundário Tipo 7 Tipo 8 Tipo 9 Secundário Predominante Predominante, mas reprimido Terciário Terciário Secundário Predominante Predominante, mas reprimido Predominante Secundário Secundário Quando detectamos o nosso tipo de personalidade, já devemos assumir um primeiro “dever de casa”, que é o de procurar desenvolver o Centro que funciona de modo secundário em nossas vidas e, principalmente, o Centro que é o menos utilizado. É ele, o terciário, que necessita de maiores esforços para elevar seu desempenho efetivo. Voltando à Lei de Três: precisamos aprender a percebê-la melhor em nosso cotidiano. Por exemplo: quando conhecemos uma pessoa, a simpatia ou a antipatia que pode surgir desse encontro é um tipo de terceira força. Nessa mesma perspectiva, podemos ver o sentimento de amor como uma poderosíssima terceira força (já que dele pode resultar até o nascimento de um novo ser humano). É importante ressaltar que os Tipos usam as energias dos três Centros de modo diferente. A Figura abaixo mostra como isso ocorre: 9 Chegou agora o momento crucial de estabelecer, nos termos da antiga Tradição que nos legou o precioso conhecimento do Eneagrama, os conceitos de personalidade e de essência. PERSONALIDADE E ESSÊNCIA A personalidade é algo que se forma de zero a sete anos de idade, como terceira força resultante da interação do indivíduo com seu meio ambiente: a família, a escola, a vizinhança, os valores culturais da sociedade. A personalidade é algo externo, uma forma de adaptação ao meio ambiente, com a qual nos identificamos excessivamente, equivocadamente, a ponto de considerarmos que ela é o nosso verdadeiro ser. De fato, a personalidade não é mais do que uma máscara que vestimos nesse grande teatro que é a nossa vida. Uma máscara que gruda à pele e que depois não conseguimos mais arrancar e com isso perdemos algo realmente importante, que é a consciência do que é um ser humano. Já a essência só pode ser definida como o nosso verdadeiro ser, absolutamente pessoal e intransferível, algo realmente singular, único. As crianças pequenas estão ainda cheias de essência. São transparentes, não sabem dissimular. À medida que são envolvidas pelos condicionamentos culturais, aprendem a mascarar seus pensamentos e sentimentos. Assim vai surgindo a personalidade, que se cria em torno da essência como uma crosta, a ponto de ocultá-la totalmente. Os Mestres do Eneagrama chegam a advertir sobre um gravíssimo perigo que afeta a todos nós. A casca da personalidade pode tornar-se tão forte, tão predominante, que a essência pode até morrer sem que o indivíduo se dê conta dessa tragédia. É quando ele se torna um cadáver ambulante, já que o corpo, com seus três Centros, sob o comando mecânico da personalidade, pode funcionar de modo a criar a perfeita ilusão de que estamos diante de um ser vivo, quando na verdade estamos apenas diante de uma máquina de processamento de energia, sem qualquer controle consciente, sem qualquer opção verdadeira de um destino pessoal. Quando a personalidade comanda o nosso ser, não estamos de fato humanamente vivos, somos apenas o palco do jogo naturalmente mecânico das energias: a vida vive em nós, no sentido universal da palavra “vida”. Quando somos mecênicos, não vivemos nossa própria vida. Conhecer o Eneagrama nós dá a possibilidade de diminuirmos a força de influência da personalidade, para que a essência encontre espaço para se manifestar. Nesse trabalho, que só pode ser voluntário e consciente, é preciso que a personalidade (que normalmente é ativa), torne-se passiva. E que a essência (que geralmente é passiva) se torne de fato ativa. Para que essa difícil transformação aconteça, é preciso encontrar uma terceira força – no caso, um saber novo, o conhecimento do Eneagrama – que nos dê os elementos para uma auto-observação que permita discriminar o que é a essência e o que é a personalidade. Só assim, gradativamente, e através de 10 um esforço bastante sério, poderemos tomar posse de nosso verdadeiro ser, com todas as vantagens que estar verdadeiramente vivo implica. A Lei de Três encerra ainda outro precioso ensinamento: não só cada fenômeno precisa de três forças para se manifestar, como o movimento do universo é incessante, porque cada terceira força resultante torna-se outra primeira força ativa, que gera uma força de reação, seguida de outra resultante e assim ad infinitum. Por isso as antigas tradições percebiam o 3 como o Número da Criação. Um provérbio chinês, muito antigo, afirma: “Do Um nasceu o Dois; do Dois nasceu o Três; e do Três nasceram todas as coisas”. Clarisse Lispector, escritora brasileira de elevada intuição, parece ter percebido esse processo, quando escreveu: “O ovo é o triângulo que viajou muito tempo no espaço”. Podemos fazer a leitura desse jogo incessante das três forças no universo do ponto de vista matemático. Assumiremos que a Unidade representa a síntese de tudo que existe. Vamos então dividi-la pelos números que, no Eneagrama, são associados ao triângulo que consta na figura. Os resultados serão: 1/3 = 0,33333333333.... 1/6 = 0,16666666666... 1/9 = 0,11111111111.... A dízima periódica que aparece em todas as operações sinaliza o movimento incessante da Lei de Três em todo o universo. A LEI DE SETE OU LEI DAS OITAVAS Os demais pontos do Eneagrama, 1 – 4 – 2 – 8 – 5 – 7 estão associados à segunda lei cósmica que essa magnífica ferramenta nos ensina, que é conhecida como Lei de Sete ou Lei das Oitavas. O nome “oitavas” decorre de uma analogia com a música: são sete as notas da escala diatônica e a próxima nota é sempre uma oitava acima da anterior. Façamos agora a divisão da série de números naturais por 7 e começaremos a compreender o significado desta Lei, que é de suma importância em nossas vidas, porque sua compreensão profunda, aplicada ao dia a dia, permite que superemos os nossos próprios limites. Os resultados são: 1/7 = 0,1428571428571428571 (é importante perceber que, no sétimo algarismo da seqüência que se repete – que tivemos o cuidado de sublinhar, no caso o número 1 –, volta-se ao número inicial. A série de números que se repete contém exatamente os números que correspondem aos demais Pontos do Eneagrama ( 1 – 4 – 2 – 8 – 5 – 7 – volta ao 1). Essa série constitui um fluxo orientado (é o fluxo da nossa energia interna, que podemos perceber, se acurarmos nossa auto-percepção). A série de 11 números naturais, dividida por sete, resulta sempre na série de números do Eneagrama, se repetindo ao infinito, e sempre voltando ao número inicial quando chega ao sétimo algarismo da série: 1/7 = 0,1428571428571428571............... 2/7 = 0,2857142857142857142.............. 3/7 = 0,4285714285714285714.............. 4/7 = 0,5714285714285714285.............. 5/7 = 0,7142857142857142857.............. 6/7 = 0,8571428571428571428.............. 7/7 = 1 (sinalizando o fim do primeiro ciclo da Lei de Sete) 8/7 = 1,1428571428571428571.............. (inaugurando a repetição da série de números encontrada no primeiro ciclo) 9/7 = 1,2857142857142857142.............. 10/7 = 1,4285714285714285714............ 11/7 = 1,5714285714285714285............ 12/7 = 1,7142857142857142857............ 13/7 = 1,8571428571428571428............ 14/7 = 2 (sinalizando o fim do segundo ciclo da Lei de Sete) 15/7 = 2,1428571428571428571........... (e assim a série se repete até o infinito, configurando a existência de uma lei matemática, recorrente, que é uma função circular, porque a série de números sempre volta à sua origem). Mais importante do que ficarmos admirados com este fenômeno matemático, é aprendermos como a Lei de Sete se manifesta em nossas vidas, em nosso cotidiano. Vamos partir de um princípio muito simples: todo fenômeno que ocorre no universo é vibratório (nossa voz é uma vibração, nossos pensamentos são vibratórios, nossas ações vibram sobre as outras pessoas e geram conseqüências). Podemos então fazer uma analogia com a música, pois as notas musicais também são vibrações. Para efeito apenas didático, vamos assumir que um fenômeno, qualquer fenômeno, começa na nota Dó. Para que este Dó exista, tal como aprendemos na Lei de Três, são necessárias três forças em ação: uma ativa, outra de reação e outra de conciliação. É a interação dessas três forças que dá existência a uma única nota musical, no caso, o Dó. O fenômeno, que começa em Dó, passa a evoluir no tempo e no espaço: Do Dó vai para o Ré, e do Ré ao Mi. Para que o Ré exista, são necessárias três forças, e para que o Mi exista, também. A Lei de Três, portanto, é interna à Lei de Sete. Na passagem do Mi para o Fá, entretanto, por uma injunção cósmica, ocorre uma queda de energia, como mostra a figura abaixo: 12 Isto significa que o fenômeno em andamento foi desviado de seu caminho. Ele segue no desvio, do Fá ao Sol, do Sol ao Lá e do Lá ao Si (voltamos a lembrar que três forças precisam interagir para que cada uma dessas notas aconteça). Na passagem do Si para um novo Dó (uma oitava, conforme a teoria da música), por outra injunção cósmica, ocorre nova queda de energia, como nos mostra a figura abaixo: Assim, a tendência de todo e qualquer fenômeno é sofrer continuamente quedas de energia, que provocam desvios, em todos os intervalos Mi/Fá ou Si/Dó que ocorrem no seu processo de manifestação no tempo e no espaço. O que significa que a tendência de todo fenômeno é tornar-se um círculo vicioso, uma função circular, tal como a série de números que se repetem quando são divididos pelo número sete. A Figura abaixo mostra que a tendência de todo e qualquer fenômeno é voltar ao seu começo (um pouco antes do Dó inicial, um pouco depois ou aproximadamente no mesmo lugar). 13 As conseqüências dessa Lei em nossas vidas merecem nossa total atenção, um permanente estado de alerta. Porque, todas as vezes que estabelecemos uma META para ser atingida, a tendência natural (cósmica) dos processos energéticos é o desvio recorrente para um círculo vicioso, que faz com que giremos em torno de um mecanismo recorrente, sem atingir a META! A figura abaixo ilustra o que acontece: No ser humano, o intervalo Mi/Fá costuma se caracterizar por um desvio de tipo físico, mais fácil de ser percebido. Nossa preguiça ou indolência, por exemplo. Quando fazemos um esforço físico, por exemplo, nosso corpo reage. Porque ele é uma máquina bastante aperfeiçoada pela natureza e gosta de trabalhar com alto rendimento de energia (máximo rendimento, com gasto mínimo de energia). Assim, quantas vezes interrompemos os trabalhos físicos no meio do processo, porque nos sentimos prematuramente cansados ou porque preferimos deixar o trabalho para amanhã, já que está chato? 14 Quando temos força de vontade suficiente para não deixar nossa preguiça comandar o processo (em outras palavras, quando não caímos no Intervalo Mi/Fá da Lei de Sete), somos então recompensados. O corpo produz endorfina e passamos a sentimos prazer na ginástica ou no esforço braçal. Isto significa que não estamos mais produzindo oitavas descendentes, mas sim oitavas ascendentes. O resultado é positivo: nesse caso, a Lei de Sete ou Lei das Oitavas não nos impede mais de atingirmos nossas METAS. Já o intervalo Si/Dó, na vida dos seres humanos, é mais difícil de ser percebido, pois costuma se caracterizar por um problema interno, sutil, psicológico (como, por exemplo, um medo inconsciente). Damos a seguir alguns exemplos do cotidiano que ilustram esse processo: a) Duas pessoas se conhecem, se sentem atraídas e começam a namorar. Projetam suas fantasias uma sobre a outra, e acreditam ter encontrado o par perfeito. Porém a convivência começa a desnudar os defeitos, as dificuldades de relacionamento, as incompatibilidades. Assim, ao fim de apenas um mês, o namoro se desfaz. O casal derrapou no intervalo Mi/Fá. Mas vamos supor que o namoro continue – e que ambos fiquem noivos e marquem a data do casamento. No dia da cerimônia, a noiva foge correndo, em pleno altar. Nem sabe explicar porque (pode ser o medo de perder a liberdade, ou o receio de casar com a pessoa errada). O que é certo é que ela foi desviada pelo intervalo Si/Dó. b) Visualizemos uma corrida de atletas nas Olimpíadas. No começo, todos dão uma arrancada poderosa (estavam no Dó inicial) e correm utilizando o máximo de sua energia física. Mas chega um ponto em que diminuem o esforço, e passam a correr dentro de um ritmo compassado, mais lento. Chegaram ao intervalo Mi/Fá. A corrida evolui e chega aos seus momentos finais: dois atletas, na frente dos outros, disputam o primeiro lugar. A vitória parece certa para um deles, só que, a três passos de cruzar a linha de chegada, ele tropeça e cai. O outro, que vinha atrás, vence a corrida. O atleta que caiu teve um problema interno (por exemplo: não se sentia merecedor da vitória). Foi uma das muitas vítimas do intervalo Si/Dó e assim não atingiu sua META. c) Acordamos cheios de energia, e decidimos arrumar o nosso quarto, terminar com aquela bagunça, que se tornou insuportável. Nossa preguiça nos desvia, arrumamos apenas a metade das coisas e deixamos o resto para amanhã, tropeçando assim no intervalo Mi/Fá. Passados alguns minutos, nos arrependemos e decidimos voltar ao trabalho. Vencemos o intervalo Mi/Fá. Porém, no meio da confusão, encontramos aquele livro que estávamos adorando ler e que tinha desaparecido no meio do caos. Paramos imediatamente de arrumar o quarto e começamos a ler o livro, muito felizes, sem 15 perceber que caímos no intervalo Si/Dó e não atingimos nossa META, que era arrumar totalmente o quarto, naquele mesmo dia! Do ponto de vista da personalidade, que é algo que se forma de zero aos sete anos de idade, é importante perceber que criamos padrões mecânicos de comportamento e de motivação interna. Isto significa que criamos um padrão recorrente, criamos uma Lei de Sete que funciona internamente e que nos impede de atingirmos com objetividade nossas metas. Às vezes, esse padrão interno nos impede até de estabelecer metas, ou de vê-las. Esse padrão também dificulta que percebamos com clareza os momentos cruciais em que estamos vivendo um intervalo Mi/Fá ou um Intervalo Si/Dó. Passemos agora ao estudo dos nove tipos de personalidades básicas do ser humano. OS TIPOS FÍSICOS OU INSTINTIVOS Características Gerais O predomínio do Centro Instintivo nos seres humanos cria uma característica de “não identificação” com os demais. Assim como a física nos ensina que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, os tipos de personalidade onde predomina o Centro Instintivo são conhecidos pela fórmula A B. Em resumo, os Tipos Físicos sentem-se individualizados, não acreditam em empatia, nem em “fazer correntes” ou entrar em comunhão com os demais. A prevalência do cérebro reptiliano exalta seu lado animal, caçador. Por isso a questão do território é central em suas vidas. Grupo do Ser 16 O Tipo 8 quer domínio total sobre o seu território e não se cansa de tentar expandir as suas fronteiras, para conseguir mais poder – e nesse processo ele atua como um guerreiro verdadeiramente valente, que não receia morrer em combate. O Tipo 9, ao mesmo tempo em que não cuida de seu território, permitindo que os outros usufruam dele e de seus bens materiais, tende a usar o território e as coisas dos outros como se fosse o seu. Para esse tipo de personalidade, o mundo é um território difuso, que pertence a todos. A questão do conforto físico é fundamental para o Tipo 9. O Tipo 1 cuida e impõe as regras no seu território pessoal. Ele não está preocupado com a expansão de poder territorial, como acontece com o Tipo 8. Mas quer um território individual de poder, para nele reinar (a residência, o trabalho, a instituição onde tiver cargo de dirigente). Os Tipos 1 são capazes de sacrificar o conforto físico para seguir normas e regulamentos. A sexualidade, evidentemente, ocupa aspecto central na vida das pessoas em que prevalece o Centro Instintivo. Os Tipos 8 aderem à luxúria. Os Tipos 9 tendem à promiscuidade (seu corpo é um território “aberto” aos outros e o corpo dos demais também é percebido como território livre). Os Tipos 1 podem ser sexualmente reprimidos. Ou ter uma vida dupla (uma social e outra pervertida, na qual satisfazem suas fantasias reprimidas), Ou terem vida sexual ativa e saudável, quando resolvem seus problemas de repressão. Nos Tipos Físicos predomina o Instinto de Conservação. A busca do alimento é essencial. Por isso, normalmente os Tipos 8 e 9 são pessoas gordas, enquanto o Tipo 1, por sua natureza contida, tende a ser magro. Lembramos aqui, também, que a sexualidade é também o veículo da conservação da espécie humana. Diz-se dos Tipos Físicos que possuem um Ego Histórico. Seu apego ao mundo concreto faz com que percebam a existência como um passo a passo no tempo, ou como uma construção (um tijolo sobre o outro). O que significa que têm comportamento previsível, pois não gostam de imprevistos em suas histórias de vida. Os Tipos Físicos pertencem ao Grupo do Ser. A palavra “ser”, aqui, deve ser compreendida no seu sentido profundamente biológico, orgânico, corporal. Existir é ter um corpo e suas sensações no território vasto do mundo. Por fim, temos a questão igualmente importante da raiva (que, na Teoria do Eneagrama não é vista como uma “emoção”, mas como uma manifestação do Centro Instintivo, ligada à nossa agressividade animal). os Tipos 8 expressam sua raiva sem restrição. Os Tipos 9, conciliadores por excelência, diluem sua raiva. E os Tipos 1 tendem a reprimir a sua raiva (embora tenham forte compulsão a senti-la, porque foram coagidos a reprimir sua natureza instintiva já na infância). Porém, quando provocados ou fortemente pressionados, e quando se sentem escudados pela razão, os Tipos 1 também podem manifestar sua raiva. 17 TIPO 8: O PODEROSO CHEFÃO A infância deste tipo foi uma verdadeira guerra. Ou tiveram que enfrentar fisicamente o pai, ou estiveram expostos a agressões de outras crianças ou de adultos, e escolheram enfrentar os inimigos. Graças à sua força física e à sua violência sem freios, saíram vitoriosos. Adquirem assim uma enorme autoconfiança em sua capacidade guerreira e chegam a um ponto em que suplantam a autoridade paterna e materna, tornando-se eles mesmos os donos do poder. Crescem com o sentimento de que a vida é um campo de batalha, onde só os fortes podem sobreviver – e os fracos não merecem respeito (podem até morrer). Assim as pessoas se dividem em amigas e inimigas, sem meios termos. Tipos 8 são verdadeiramente corajosos. Aceitam até fracassar, mas nunca fraquejar. Morrem de pé, lutando até o último suspiro. Seu mecanismo de defesa é a denegação ou a deflexão: ele nega a realidade. Mesmo numa situação perigosa, ele ataca primeiro e reflete depois. Sua grande motivação é a conquista do poder, num processo sem limites morais. Raros são os Tipos 8 que, em suas batalhas existenciais, adquirem um senso de justiça – e passam então a defender os fracos e oprimidos. Mas eles existem e costumam ser os líderes dos movimentos sociais que visam a melhoria das condições de vida da parcela mais pobre da população. Do ponto de vista social, é importante que todos nós, brasileiros, tomemos consciência de que nossas favelas produzem muitos Tipos 8, que se agregam em torno do tráfico de drogas e da criação de um verdadeiro poder paralelo dentro da sociedade, de cunho paramilitar. As quadrilhas lutam entre si pela conquista de território e não há nenhum tipo de freio moral quando se trata de matar os inimigos. A Teoria do Eneagrama não se aplica apenas aos indivíduos, mas também aos grupos sociais, às cidades, aos Estados e aos países. Neste horizonte, podemos visualizar a Alemanha como um país do Tipo 8, com um povo eminentemente guerreiro. Sob esse ponto de vista, podemos entender muitos dos aspectos do nazismo e da aventura hitlerista de tentativa de domínio do mundo (conquista máxima de território). Recuando no tempo, podemos ver os Vikings e a invasão dos bárbaros na Europa, assim como o Império Romano igualmente como expressões coletivas do Ponto 8 do Eneagrama. Quando entramos na sala de trabalho de um Tipo 8, podemos sentir que o poder está no ar. Mesa grande, cadeira imponente, fotografias ao lado de gente famosa, diplomas de prestígio, retratos dos superiores (quando sua esfera de poder é política). Ele fala com seus assessores com voz de comando, e não tem peias de ser rude. Interrompe a conversa para atender telefonemas de pessoas importantes, com quem fala com intimidade (“são da 18 sua família de poder”). Ele está sempre querendo impressionar a pessoa que está recebendo, para mostrar todo o poder que possui. O Tipo 8 é o patrão por excelência, o “coronel”, o chefe mafioso, ou, no caso das mulheres, a “dama de ferro”. Ele tem seus protegidos, seus inimigos e aqueles a quem despreza por considerá-los excessivamente fracos (e não raras vezes os humilha ou, literalmente, os atropela como um trator). Ele não respeita quem o bajula e tende a tornar-se amigo de quem o confronta. A postura do Tipo 8 é autoritária e muitas vezes paternalista (algumas pessoas ele protege, colocando-as debaixo da asa – é o seu lado “justiceiro”). Grande parte de suas ações são baseadas em interesses políticos ou em jogos de poder. O pecado deste tipo de personalidade é a Luxúria, que se expressa através da voracidade de tudo conquistar: poder, sexo, prazeres, dinheiro, patrimônio, domínio sobre os outros. Sua virtude é a Inocência, que só se torna possível quando o Tipo 8 se desarma, permitese vivenciar sua própria ternura, e volta então a ter uma alma de criança, a criança que a vida não permitiu que existisse, porque um ambiente hostil obrigou-o a tornar-se um guerreiro precoce. Tipos 8 podem ser bastante escrachados: falar alto ou gritar, dizer palavrões, socar a mesa: “Aqui a lei sou eu, quem manda sou eu!”. Seu estilo é radical, não acredita em meio-termo, com ele é sempre “tudo ou nada”, “oito ou oitenta”. Na empresa privada, o Tipo 8 normalmente é o dono ou um de seus sócios. Ou é a pessoa de confiança de alguém mais poderoso, que o escolheu pela capacidade de mandar com firmeza e pela habilidade de interagir com o poder ou com os representantes de outras empresas ou da comunidade. Tende a ser populista na relação com empregados e sindicatos, mas pode guerrear de frente com qualquer esfera de poder, pois o medo é palavra que não consta de seu vocabulário. Na empresa, gostará de ser chamado de “mecenas”, “protetor das artes”, “pai da cultura”. Na esfera pública, certamente será um político de carreira, admirado por sua firmeza guerreira e tanto nomeará seus compadres como será indicado por eles. Na vida pública, gostará de ser considerado um “benfeitor”, um “defensor dos fracos e oprimidos”, um “guerreiro”. Como Negociar com o Tipo 8 Aconselhamos chegar à presença de um Tipo 8 com a recomendação de um político de prestígio ou de outro empresário com poder. Caso isso não seja possível, mostre que seu projeto vai, de alguma forma, aumentar o seu poder pessoal e a influência da sua empresa no mercado. No primeiro encontro com uma pessoa, os Tipos 8 costumam fazer uma provocação forte, para testar a força e a firmeza de seu interlocutor. Alguma coisa do tipo: “O que faz você acreditar que tem competência suficiente para conseguir o patrocínio da minha empresa?”. 19 Da resposta a essa primeira pergunta, dependerá o julgamento do Tipo 8. Se a pessoa se intimidar, cairá imediatamente no conceito do “poderoso chefão”. Nossa recomendação é: não fraqueje, responda com firmeza, sem hesitar. Não bajule. Não confronte: responda com calma, de igual para igual. O fundamental é demonstrar segurança, coragem e competência. Importante é expressar autoconfiança, a certeza de que se tem um bom projeto cultural. Tipos 8 acolhem bem projetos ousados. Gostarão de ouvir: “Só os grandes podem patrocinar esta ousadia”. O Tipo 8 valorizará mais o retorno que seu projeto poderá dar a ele pessoalmente e à empresa ou instituição que dirige. A qualidade artística e cultural ficará em segundo plano. O apoio de outras pessoas poderosas ao seu projeto (políticos, dirigentes empresariais ou de entidades de classe) são fatores que certamente pesarão – e muito – na decisão de um Tipo 8 sobre a concessão de patrocínio. Uma característica interessante dos Tipos 8 é que eles poderão se interessar em conhecer onde você mora, checar pessoalmente como é sua casa, sua família, seu nível de vida. Portanto, não se surpreenda se ele fizer isso. TIPO 9: O GRANDE CONCILIADOR A história de infância dos Tipos 9 revela que eles foram crianças negligenciadas pelos pais. Não receberam atenção. Cresceram com o sentimento de que não são importantes e que os outros, eles sim, são pessoas importantes. Os Tipos 9 resolvem, desde cedo, que serão amigos de todo mundo, para assim conquistarem seu espaço de inserção na família e no meio social. Outra característica relevante é que os Tipos 9 se identificam com o lado protetor de um dos pais (ou de ambos). O resultado é um temperamento bonachão, conciliador. O Tipo 9 faz tudo pelos outros (que são importantes) e pouco ou nada para si (porque ele não é essencialmente importante). Amantes do conforto físico, do lazer preguiçoso e letárgico, os Tipos 9 precisam ser instigados para agir. Se o estímulo vem de fora, vem do outro, a ação acontece, até que, na primeira oportunidade, o Tipo 9 volta à sua posição zen, de prazer preguiçoso. Mas eles são capazes de faltar a uma reunião importante porque um amigo o interceptou no meio do caminho e pediu que ele o acompanhasse ao médico. A dificuldade em dizer “não” para os amigos abre inúmeros flancos na vida dos Tipos 9, porque eles são desviáveis do rumo que deveriam estar seguindo para cumprir suas tarefas. O mecanismo de defesa do Tipo 9 é o embrutecimento, ou a narcotização, ou a inércia. Ele se resigna a não ser importante! No fundo, trata-se de um mecanismo adotado para entorpecer a raiva que sente por ter sido negligenciado quando pequeno. O entorpecimento sempre surge através de um mecanismo de compensação: quando criança, ele come 20 bombons; quando adulto, procura no tabaco, no álcool, ou em drogas mais fortes, o anestesiamento de seu sentimento de inferioridade. Tipos 9 também são detectáveis por sua falta de memória. Esquecem as chaves de casa, a agenda, as compras. Podem voltar de táxi para casa porque esqueceram seu próprio carro no estacionamento do shopping (suas coisas pessoais também não são percebidas como importantes). Outro ponto a considerar é sua dificuldade para tomar decisões. Amantes do conforto físico, temem qualquer tipo de conflito (principalmente a violência física). Assim, não gostam de decidir sobre nada, porque isso pode significar tomar o partido de alguém e desagradar outra pessoa, que pode se tornar inimiga (e isso não interessa, porque sendo amigo de todos, é possível garantir o emprego, as amizades, o círculo de convivência que o Tipo 9 necessita para se sentir vivo, porque ele vive mais a vida dos outros do que a sua própria). Como qualidade, podemos dizer que o estilo zen do Tipo 9, aparentemente só negativo, é a porta de entrada para níveis superiores de consciência: meditação transcendental, telepatia, consciência transpessoal. Sua generosidade desinteressada o torna também um maravilhoso agente do bem-estar coletivo – e esse pode ser o caminho da verdadeira prosperidade. Sua capacidade de conciliar e mediar conflitos o torna politicamente importante. Numa empresa ou no poder público, ele poderá estar numa posição de poder, para defender os interesses de alguém ou de um grupo importante. Como os Tipos 9 são pacifistas por natureza, é difícil serem vistos como ameaças para os outros. Por isso muitas vezes são desrespeitados ou desconsiderados por pessoas que se consideram mais importantes ou mais competentes ou pelas pessoas que estão enfrentando um Tipo 9 para tomar o seu lugar. Avisamos que é um erro crasso subestimar a capacidade de articulação política de um Tipo 9. Sua habilidade para fazer amigos pode fazer com que ele conquiste um verdadeiro círculo de proteção em esferas mais altas. E muitas vezes uma pessoa agressiva, convicta de que vai vencer um Tipo 9 numa queda de braço por um cargo de poder, termina amargando o gosto da derrota, porque o “grande conciliador” conquistou inúmeros aliados mais poderosos do que o seu oponente. Não é nada incomum Tipos 1 e Tipos 8, que gostam do poder, se cercarem de assessores Tipo 9, pois eles não ameaçam seus territórios de comando. Do ponto de vista coletivo, podemos ver o povo baiano como expressão do Ponto 9 do Eneagrama. Embora a Bahia de hoje seja um Estado que se desenvolveu através do turismo e da exportação intensiva de suas manifestações artísticas e culturais, revelando, portanto, o caráter empreendedor do seu povo, historicamente o baiano consolidou uma imagem de preguiçoso, indolente, pacífico, amante dos prazeres físicos e bastante hospitaleiro (que são, todas, características dos Tipos 9). Por isso 21 se diz que o pecado do Tipo 9 é a Preguiça (e sua virtude, a Ação Consciente – alcançada quando o Tipo 9 realiza um trabalho interno no sentido de cuidar mais de si do que dos outros e, após recobrar sua autoestima, passa a agir conscientemente no sentido de obter o bem-estar coletivo). Entre os indivíduos famosos, podemos citar Tom Jobim (que era cordial com todas as pessoas e se sentia bem tanto em Nova Iorque como bebendo com os amigos num botequim da COBAL do Leblon) e ninguém menos que Buda, que expressa a conquista de níveis superiores de consciência através da meditação, e cuja doutrina se baseava na compaixão por todos os seres e na busca do fim do sofrimento humano sobre a face da terra. Como Negociar com o Tipo 9 Sendo excelentes mediadores, os Tipos 9 saberão perceber os aspectos positivos do seu projeto cultural e traduzi-los para a linguagem de quem realmente tomará a decisão. Estamos falando aqui de uma situação específica, comum nas empresas, que é o caso do Tipo 9 trabalhar como assessor do executivo que tomará a decisão final sobre o patrocínio. Se o seu projeto cultural o sensibilizar, ele será capaz de passar horas conversando com você sobre o projeto, e até se esquecer de outros compromissos mais importantes. Isto significará que você conquistou um valioso aliado na sua busca de patrocínio. O Tipo 9 certamente fará tudo para ajudar você a obter um resultado positivo nas esferas superiores de decisão, sem qualquer interesse pessoal nesse processo. Quando o Tipo 9 estiver na posição de quem decide, lembre-se da sua dificuldade de tomar decisões, de deixar para depois, com medo de evitar conflitos. Isto significa que eles costumam resolver em cima da hora. Portanto, saiba lidar com essa dificuldade e procure criar com inteligência o instante crucial em que a decisão não possa mais ser adiada. Tipos 9, por sua generosidade, sempre darão subsídios e contribuições positivas ao seu projeto, seja para adequá-lo aos interesses da empresa, seja para ampliar o impacto da sua proposta junto ao público alvo. A sala de trabalho dos Tipos 9 costuma ser desarrumada. Como não possuem um “território pessoal”, não possuem apego a espaços fixos. Para eles todos os lugares estão livres. Por isso eles podem negociar em qualquer lugar, dentro ou fora de seus escritórios, na sala de outras pessoas. Alguns até aceitam visitar a empresa do produtor cultural. Ao negociar com um Tipo 9, em primeiro lugar busque com todo o empenho e toda a sinceridade o envolvimento pessoal dele com o seu projeto. Se você conquistar esse engajamento, planeje junto com ele o melhor caminho de venda do projeto, sempre estabelecendo tarefas objetivas e prazos finais. Ajude-o a tomar as decisões necessárias, desfazendo os receios de possíveis conflitos com quem quer que seja. E busque junto com ele as alterações que precisam ser feitas no projeto para 22 melhor adequá-lo aos interesses e critérios da empresa patrocinadora em potencial. TIPO 1: O PERFECCIONISTA Na infância, este Tipo foi super-exigido pelos pais, ou por uma das autoridades paternas. Foi obrigado a andar arrumadinho, impecável, e a colocar seu quarto e suas coisas na mais perfeita ordem. Na escola, seu desempenho tinha de ser o melhor. Cobrava-se dele notas altas e o primeiro lugar da turma. Nada menos que isso. O grave é que todo esforço não era reconhecido. Se tirava nota 9, era admoestado. Se tirava uma nota 10, recebia por resposta uma frase do tipo: “Não fez mais que sua obrigação”. Neste ambiente opressivo, o Tipo 1 cresceu identificando-se negativamente com um modelo ideal de autoridade. E falamos “negativamente” porque o Tipo 1 adquiriu a convicção de que precisa seguir as regras e fazer tudo conforme “manda o figurino”, mas o preço pago por isso foi sem dúvida alto: o indivíduo passou a sacrificar sua natureza instintiva. Sente uma raiva surda por tudo quanto foi obrigado a fazer contra a vontade, para seguir o regulamento, e ao mesmo tempo não pode expressar essa raiva, porque isso seria “ser mal educado”, seria fugir à norma, seria ser imperfeito. Assim, o Tipo 1, quando sente raiva, tende a ficar mudo, contido, e apenas fuzila o objeto do seu rancor com os olhos. Esta, aliás, é uma das características que nos permitem reconhecer um tipo perfeccionista. Sem ser uma regra geral, o Tipo 1 normalmente é uma pessoa magra, porque a energia da raiva (que tende a ficar inconsciente) consome suas gorduras. Somando-se à força do rancor represado as energias liberadas para ter um comportamento perfeito, o resultado é mais magreza. Por isso a Teoria do Eneagrama sublinha que o pecado do Tipo 1 é a Ira (e sua virtude, a Serenidade – o que é fácil para quem se identifica com a ordem). O mecanismo de defesa do Tipo 1 é o que os psicólogos denominam formação reacional, o que significa reagir sempre de maneira diferente da esperada. Por exemplo: apesar de sentir uma enorme raiva de alguém, o Tipo 1 lhe sorri e lhe dá bons conselhos. Neste contexto, o Tipo 1 é um ser contido, incapaz de fazer escândalos, que detesta mostrar publicamente suas fraquezas. Sempre o veremos bem arrumado, do tipo “Mauricinho” ou “Patricinha”, não importando a classe social a que pertença. De modo geral, o Tipo 1 é uma pessoa que reprime o próprio prazer. E pode chegar ao ponto de ter uma vida paralela, clandestina, na qual então extravasa sua natureza instintiva reprimida desde a infância. Se essa vida secreta é descoberta, o Tipo 1 pode literalmente desabar, porque sua imperfeição foi descoberta. Os perfeccionistas radicais não acreditam que existam idéias ou competências superiores às suas. Desenvolve a noção de que é um ser 23 superior. Assim, quando lhe apresentam uma novidade, ele pontifica: “Eu já havia pensado nisso”. Mas é fundamental compreender que as pessoas com esse caráter investem muito tempo planejando suas ações, porque elas não se permitem incorrer em falhas. E neste ponto podemos apontar uma grande qualidade dos Tipos 1: eles podem desenvolver um elevado senso de ética, o que origina pessoas íntegras, incapazes de deslizes morais ou de traições. Basta dizer, por exemplo, que Mahatma Ghandi era um Tipo 1. Sua doutrina da “não violência”, ao mesmo tempo em que revela a dificuldade do Tipo 1 de expressar a raiva, sinaliza um elevado senso de ética, que desmoralizou os colonizadores ingleses. Com toda sua arrogância de povo dito “civilizado”, o primeiro a liderar a revolução industrial, os ingleses revelaram sua face bárbara ao autorizar soldados a atirar em homens, mulheres e crianças desarmadas que protestavam contra a dominação britânica em solo indiano. Gandhi não venceu sua batalha contra os ingleses pela força das armas, mas sim pelo poder da sua ética. Aqueles que preconizavam a violência, percebendo a força de sua liderança moral e espiritual, não tiveram outro recurso senão assassiná-lo, para mudar o curso da história indiana. Neste contexto, podemos ver o povo japonês como uma expressão coletiva do Ponto 1 do Eneagrama. Coletivistas e organizados, os japoneses são excelentes em pesquisa, planejamento e programas de qualidade. A cultura japonesa instila uma difícil auto-exigência na psique da cada indivíduo. O grande número de suicídios de estudantes e operários que não atingem os elevados índices de desempenho esperados pela coletividade, baseados num forte sentimento de honra, também é fenômeno que gravita em torno do Ponto 1 do Eneagrama. Como chefes, no trabalho, os Tipos 1 têm muita dificuldade para delegar tarefas, porque percebem o desempenho dos outros como insuficiente. E não raras vezes chamam todas as tarefas sobre si, ficando sobrecarregados e sem medo de fazerem um super-esforço para provar que são capazes, que são os melhores. Seu ambiente de trabalho é obsessivamente bem arrumado e ele detesta que tirem as coisas do lugar. Claro que ele jamais reclamará que você interferiu na sua ordem. Mas seu olhar faiscante ou sua ação de repor pessoalmente o objeto no lugar que lhe foi designado serão os sinais que ele enviará para mostrar seu desagrado. Os Tipos 1 procurarão receber o Agente Cultural em seu escritório, onde se sentem mais seguros (porque é o seu “território de poder”). Ali eles impõem as suas regras, tanto as pessoais como aquelas que emanam da direção da empresa e que serão cumpridas à risca. Saiba desde já que é natural para os Tipos 1 enxergarem falhas em tudo, porque foram treinados desde a infância para ter um elevado desempenho em todos os setores. Portanto, você pode esperar que ele encontre imperfeições em seu projeto e que faça sugestões para melhorá-lo. 24 O Tipo 1 detesta atrasos, porque seu tempo é precioso. É capaz de marcar hora para o início e o final da apresentação de seu projeto. Ou dizer: “Você tem dez minutos para resumir o seu projeto”. Lembre-se de que os perfeccionistas não gostam de falar sobre sua vida pessoal, muito menos de serem provocados para se expor. Também costumam ter receio de serem criticados em público, por isso não gostam de se expor. Como os opostos se atraem, um Tipo 1 pode gostar de tipos aventureiros (como o Tipo 7 do Eneagrama), porém desde que não sejam ameaçados em seu modo rígido de ser. Para um Tipo 1, o seu projeto cultural sempre precisará ser aperfeiçoado, não importa as qualidades que possua. Porque sua vida gira em torno da ordem, de padrões rígidos sobre o que é certo e o que é errado. Alguns Tipos 1 chegaram a testemunhar que ouvem “uma voz interna”, uma espécie de super-ego muito arraigado, que os advertem sobre o que fazer ou não. Como Negociar com o Tipo 1 A abordagem de um patrocinador do Tipo 1 deve ser cautelosa e bastante planejada. Sempre peça a análise do seu projeto a ele e acate todas as suas críticas. Se você reagir às suas críticas, confrontando o Tipo 1, está no caminho certo para perder o seu patrocínio. A rigidez interna dos perfeccionistas faz com que eles insistam em seus pontos de vista e que não abram mão de suas opiniões. Saiba que um Tipo 1 só patrocinará o seu projeto se ele for, de alguma forma, o autor (porque só ele é perfeito, só ele sabe o que é melhor para sua empresa). O caminho do sucesso é conseguir que o Tipo 1 corrija o seu projeto (através de opiniões ou intervindo diretamente na estrutura da proposta). Se suas interferências forem acatadas, o projeto terá passado pelo crivo do Senhor Perfeição, será um trabalho onde ele terá deixado sua marca indelével. Se o projeto passar a ter seu toque pessoal, então será digno de receber patrocínio. Nunca devemos nos atrasar a um encontro com o Tipo 1. E não se sinta inferiorizado com o excesso de críticas que ele porventura fizer ao seu projeto. Se o projeto for bom, é porque merece ser analisado em detalhes por ele, que então vai propor as modificações que considerar necessárias para adequá-lo aos seus ideais de perfeição e aos critérios da sua empresa, que ele sempre cuidará de seguir e preservar. É um Tipo difícil para negociar. Mas se o seu projeto vier a ser aprovado e se obtiver bons resultados para a empresa patrocinadora, você poderá construir uma relação de fidelidade com o Tipo 1 e então outros trabalhos poderão ser patrocinados no futuro. COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO FÍSICO 25 Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que conta é a realidade concreta. Não se apegam a teorias ou idealizações, nem a seus sentimentos. O Tipo 8 é basicamente extrovertido e projeta a energia do Centro Físico ou Instintivo para fora de si. Para ele, o importante é a ação individual, comprometida com os resultados que ele pretende alcançar, sem medo dos obstáculos e sem muita análise das circunstâncias. O Tipo 9 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ser desleixado com o próprio corpo. Orienta-se, portanto, pela energia dos outros dois Centros (Emocional e Mental). Avançamos aqui a tese de que há predomínio do Centro Emocional, pois, como veremos mais à frente neste Manual, existe um fluxo mecânico de energia no sentido 3 9 6 3 9 6... e assim por adiante. Sob esse prisma, acreditamos que, pelo fato do Ponto 9 suceder ao Ponto 3 e nele ter, digamos assim, a sua origem, apostamos no predomínio do Centro Emocional. Importante acrescentar que as energias do Centro mental e do Centro Emocional são sempre “filtradas” pelo centro Físico, ou seja, tornam-se realidades concretas que orientam as ações do Tipo 9. Em outras palavras, tornam-se sensações. O Tipo 1 é basicamente introvertido e internaliza a energia do Centro Físico. Orientado por regras introjetadas, seu compromisso é com a maneira correta de agir no mundo. As sensações que recebe do mundo externo (da situação, das pessoas) estão condicionadas por um senso de ética ou dever, o que empresta um caráter rígido à sua personalidade. OS TIPOS EMOCIONAIS Características Gerais O predomínio do Centro Emocional nos seres humanos cria uma tendência a “se identificar” com as pessoas com as quais existe uma relação de simpatia ou de empatia e a um impulso de afastamento das pessoas com as quais se corre antipatia. Por isso os tipos de personalidade onde predomina o Centro Emocional são conhecidos pela fórmula A = A. Em resumo, os Tipos Emocionais gostam de gente, alimentam-se das relações interpessoais, ficam mais felizes em grupo ou acompanhados do que na solidão. Adoram “fazer correntes” ou entrar em comunhão com os demais. Daí sua propensão para desenvolver o lado místico ou artístico. A prevalência do sistema límbico nessas pessoas exalta suas paixões, a busca do prazer e do que é agradável. Importante advertir que esse prazer pode ser masoquista, porque o masoquismo é uma das paixões possíveis do ser humano. 26 Nos Tipos Emocionais existe uma grande preocupação com a própria imagem: “O que estão achando da minha roupa?”; “O que pensam do meu desempenho profissional?”; “Estarei sendo sedutor(a) o suficiente para conquistar essa pessoa?” Isto faz com que a questão da mentira seja um fato central na vida dos emocionais. Na Teoria do Eneagrama, a mentira não é vista como o produto de uma astúcia mental para enganar os outros. O processo é visto da seguinte forma: a) O indivíduo tem um problema emocional que não consegue resolver; b) O indivíduo cria um mecanismo de compensação para esse problema; c) Esse mecanismo de compensação é, acima de tudo, um personagem que é inventado para criar uma imagem perante os demais; d) Um personagem é sempre uma mentira. O Tipo 2 costuma criar dois gêneros básicos de personagem: o sedutor irresistível ou o doador incessante, que vive cuidando dos outros. O Tipo 3 cria o personagem da pessoa de sucesso, do self made man ou da mulher executiva supercompetente; O Tipo 4 geralmente cria dois tipos básicos de personagem: o herói trágico (de caráter masoquista e autodestrutivo) ou o rebelde idealista (de caráter utópico e vingativo). Nos Tipos Emocionais predomina o Instinto de Relação. Neles ocorre uma sede de contato, de comunicação e de interação com outros seres humanos. Diz-se dos Tipos Emocionais que possuem o Ego da Imagem. Porque estão sempre preocupados com o que os outros estão pensando ou sentindo a seu respeito – e é por isso que inventam personagens para se adaptar ao mundo. TIPO 2: O BENFEITOR INDISPENSÁVEL 27 Na infância, os Tipos 2 passaram por dois gêneros de experiência decisiva: ou foram mimados ou, pelo contrário, adquiriram um forte sentimento de carência afetiva. As pessoas mimadas tornam-se caprichosas, consideram-se irresistíveis, querem ser a “alma da festa”, objetos de atenção e admiração alheia. Como a popstar Madona. As pessoas carentes tornamse excessivamente servis, muito doadoras, cuidam mais dos outros do que de si próprias. Como Madre Teresa de Calcutá, que dedicou sua vida a cuidar dos pobres e necessitados. Porém a maioria dos Tipos 2, diferentemente dos Tipos 9, que são doadores efetivamente desinteressados, como seres emocionais que são, anseiam ardentemente em receber afeto em troca de suas atenções aos demais. Apesar desse anseio de afeto, os Tipos 2 desenvolvem como mecanismo de defesa a repressão de suas próprias necessidades (para melhor atenderem as necessidades dos outros). O que há em comum entre o mimado e o carente? Ambos não conseguem lidar com a questão da rejeição. Ambos não aceitam não serem amados ou admirados por seus dotes físicos, ou por causa de seus talentos pessoais, ou por causa de sua dedicação aos demais. Por trás dessa atitude está o pecado do Orgulho, paixão que conduz a um enganoso sentimento de superioridade, que é a fonte secreta dos personagens sedutores e egoisticamente doadores. Felizmente, os Tipos 2 podem desenvolver a virtude da Humildade, como o fez Madre Teresa de Calcutá, quando admitem que não podem seduzir, conquistar ou agradar a todos, sem exceção. Os sedutores são versáteis. Aprendem com rapidez quais são os desejos dos outros e como devem se comportar para agradar ou seduzir. O problema é que podem desempenhar com uma pessoa o papel de intelectual, com outra o papel de atleta e com outra o papel de poeta sensível. De repente, essas três pessoas encontram-se reunidas ao mesmo tempo no aniversário do Tipo 2. É nesse momento que um Tipo 2 pode tomar consciência do vasto rol de personagens que interpreta para brilhar aos olhos dos demais. E pode então optar por ser ele mesmo, sem tanto esforço de construção de imagens para olhos alheios. Os doadores são suscetíveis, pouco práticos, encontram enormes dificuldades em sua vida profissional. Até porque o salário que desejam é o retorno afetivo, e não dinheiro vivo. Um elogio, um tapinha nas costas, um elogio em público muitas vezes alimentam uma vida de escravidão, como a das secretárias que fazem tudo para o chefe, em troca de um mísero salário mínimo e, claro, do reconhecimento público e notório de sua devoção à empresa. Estes Tipos 2 são secretamente infelizes, porque não satisfazem suas próprias necessidades emocionais, porque vivem como satélites que gravitam em torno da satisfação das necessidades dos outros: do marido, dos filhos, do patrão, do clube, da igreja, ou de qualquer outra instituição que tenha capturado sua disponibilidade para servir. Essa infelicidade traz na sua 28 esteira fantasias de liberdade, que muitas vezes são satisfeitas na forma de aventuras clandestinas (um amante secreto, comer doces às escondidas, contrariando as indicações do médico, fingir doença só para ir ao cinema solitariamente e poder flutuar livremente nos sonhos de uma estória romântica). Depois dessas aventuras vem, é claro, uma enorme culpa por ter fugido às responsabilidades pessoais, sejam elas familiares, religiosas ou profissionais. Nas empresas, os Tipos 2 colocam em prática sua tendência paternalista ou maternalista, cuidando dos funcionários como se fossem seus filhos. Gostam de dar presentes no Natal, para os empregados e seus filhos, para que sejam vistos como pessoas boas, dedicadas e humanas. Adoram sentir-se indispensáveis – e sua tendência é cuidar mais das necessidades alheias que das suas próprias. O ambiente de trabalho de um Tipo 2 é marcado pela presença de símbolos afetivos e de lembranças dos momentos inesquecíveis de suas vidas: fotos de família, festas e viagens; os diplomas que atestam sua competência e seus talentos; objetos que ganharam de presente de pessoas queridas. O povo maranhense pode ser considerado uma expressão coletiva do ponto 2. Para começar, é religioso e amante de festas (basta ver a força da tradição do Bumba-Meu-Boi, ritual integrador das diferentes raças e classes sociais, ou as Festas do Divino Espírito ou do Padroeiro São José de Ribamar). Além disso, é povo meigo, hospitaleiro, que cultiva o assistencialismo e o paternalismo dos poderosos. É romântico e boêmio: São Luís do Maranhão é conhecida como “a Ilha do Amor”. Feridos no seu orgulho, vão ao Ponto 8 (movimento mecânico do Ponto 2, que explicaremos melhor mais à frente, neste Manual) e então podem tornar-se violentos. Se fôssemos obrigados a escolher um país como expressão coletiva do Ponto 2, não seria nada injusto escolher o México – capaz de servir humildemente aos interesses da potência norte-americana e, no seu movimento a 8, produzir internamente um Emiliano Zapata... Como negociar com o Tipo 2 Criar uma relação de empatia logo no primeiro encontro é fundamental. Os tipos emocionais tendem a evitar ou se afastar das pessoas com quem antipatizam ou não sentem afinidades. Portanto, construir desde o início uma relação “afetiva” é essencial. Procure apresentar seu projeto pelo ângulo dos benefícios que ele irá gerar para as pessoas envolvidas, para a empresa, para o executivo que decide a concessão de patrocínio. Procure mostrar, de forma inteligente, os retornos afetivos que o projeto propiciará. Mas, atenção: não pense que o Tipo 2 não se preocupa com dinheiro e que tudo em sua vida gira em torno dos sentimentos. Os Tipos 2 têm um movimento mecânico ao Ponto 8 do Eneagrama, portanto podem ficar furiosos se o seu orgulho ficar ferido. O movimento a 8 significa 29 também que muitos Tipos 2 têm forte atração pelo poder, seja na forma de dinheiro (patrimônio, prestígio), seja na forma de ocupação de cargos de chefia. Recursos materiais, para os Tipos 2, são ótimas oportunidades de “comprar” atenção e afetividade. Valorize seu patrocinador Tipo 2 como um “benfeitor”. Vale a pena pensar em coisas como placas de agradecimento, homenagens ou manifestações calorosas na abertura ou no encerramento do projeto, articulação com pessoas importantes para que emitam opiniões favoráveis ao seu patrocinador através da imprensa ou pronunciamentos em público. Lembre-se sempre de que a qualidade do seu projeto é importante, mas que o seu desempenho pessoal ao se relacionar com um Tipo 2 é crucial. Não se atrase, não faça nada que ele possa interpretar como desatenção ou rejeição. O Tipo 2 precisará simpatizar verdadeiramente com você, seja por sua competência, atrativos pessoais, seu esforço, seu idealismo ou qualquer outra qualidade que seja capaz de emocioná-lo. O Tipo 2 gosta de marcar encontros em seu local de trabalho, pois sente a sua empresa como uma “segunda família”, uma extensão de seu lar. Se pudesse, trabalharia na própria casa, ao lado dos entes queridos. Pode se alongar nas conversas, quando elas são calorosas e constituem oportunidades para que ele (ou ela) receba elogios. Adora contar histórias nas quais fez papel bonito. Atenção: o Tipo 2 tem uma propensão a agradar todas as pessoas e, por isso, encontra muitas dificuldades para dizer “não”. Na prática, isto pode levá-lo a ficar “cozinhando” você em “banho maria”, sem decidir realmente nada, protelando sempre para o futuro o momento desagradável de dizer não. Por outro lado, a receptividade e a simpatia, tão comuns no Tipo 2, não devem ser confundidas com um “sim” ao seu projeto. Saiba ler com clareza o que o Tipo 2 realmente sente e qual poderá ser sua decisão objetiva. Tipos emocionais costumam ter falta de objetividade. TIPO 3: O CORINGA BEM-SUCEDIDO A infância do Tipo 3 foi marcada pelo estímulo à conquista de resultados. De modo geral, somente quando o desempenho da criança se destacou em relação às outras é que ela ganhou prêmios de incentivo ou o afeto mais eloqüente de seus pais. “Tirou primeiro lugar na escola? Ah, então será premiado...” “Fez o gol da vitória do time? Então vai ganhar um abraço...” Não foi preciso haver cobrança excessiva dos resultados (como aconteceu na infância dos Tipos 1). A criança 3 logo percebeu que só receberia atenção se tivesse uma perfomance especial, destacada. Então ela cresceu com o sentimento de que jamais seria amada pelo que era, mas somente pelo que era capaz de fazer ou conquistar. Tipos 3 tendem a acreditar que, já que não serão amados, então devem se esforçar para serem admirados, aplaudidos. 30 Ao contrário do Tipo 1, que se identifica negativamente com um modelo ideal de autoridade, o Tipo 3 se identifica positivamente com um modelo ideal. Positivamente no sentido de que parte objetivamente para a conquista de resultados. Nesse processo, aprende a ser versátil, capaz de interpretar todo tipo de personagem, desde que essa máscara improvisada o leve ao resultado que busca, à sua meta, ao sucesso pretendido. Tipos 3 aprendem desde cedo a serem coringas, verdadeiros camaleões em ação. Por isso podem tornar-se grandes mentirosos, ou mitômanos, pois admitem muita coisa, menos fracassar. Seu pecado maior é a Mentira e por isso precisam desenvolver a virtude do Ponto 3 do Eneagrama, que é a Veracidade, para se tornarem mais sinceros. Seu mecanismo de defesa é a identificação (ele se conforma a papéis sociais que acredita serem exatamente o que os outros esperam dele). Enquanto o Tipo 8 admite até fracassar, mas nunca fraquejar, o Tipo 3 pode se fazer de fraco, de vítima, para ludibriar alguém e chegar ao resultado que almeja. Internamente se regozija: “Eu sou demais! Enganei mais um e consegui o que queria...”. Em geral são extremamente vaidosos, gostam de pavonear-se, de exibir as marcas de seu sucesso: o carro do ano, o terno da moda, o relógio caro, o computador de última geração. Um dos sinais que temos para reconhecer um Tipo 3 é justamente esse excesso de vaidade – e o discurso cheio de auto-elogios: “Fiz isso, realizei aquilo, fui o primeiro a ser promovido, fui o único a conquistar o prêmio tal, fulana não resistiu ao meu charme...”. Como são predominantemente emocionais, porém desconectados das suas emoções pessoais (porque vivem para fora, construindo imagens que os levem ao êxito profissional), tendem a ter muitos problemas em suas vidas afetivas. Principalmente porque têm dificuldade para amar, ou se apaixonar. isso não os impedem de se ótimos conquistadores: namoram muito, de preferência sem qualquer compromisso ou envolvimento afetivo. E muitos Tipos 3 exibem suas conquistas amorosas como troféus, sem se darem conta de quem é verdadeiramente aquela pessoa que está a seu lado. Seu primeiro movimento mecânico, no fluxo do Eneagrama, é ir ao Ponto 9, o que os inclina à promiscuidade e a confundir a relação amorosa com a mera satisfação sexual. Para eles, o donjuanismo também é sinônimo de sucesso. E assim podem sacrificar sua felicidade emocional pelo jogo de aparências que é interpretar o personagem do sedutor irresistível. No trabalho são competentes e competitivos. Na verdade, são viciados em trabalho, são workaholics. Podem trabalhar 20 horas por dia, inclusive nos finais de semana. E não gostam de tirar férias. Podem chegar ao extremo de sofrer de insônia e, é claro, são sérios candidatos a sofrer de stress. Geralmente têm problemas familiares, porque o cônjuge e os filhos estão sempre em segundo plano. O trabalho, que é percebido como o principal caminho para o sucesso, vem sempre em primeiro lugar. 31 Entre suas qualidades, podemos destacar a facilidade para exercer a liderança, a capacidade de mobilizar e motivar pessoas, a obsessão por atingir os resultados. Além disso, são excelentes vendedores. O povo paulista, o povo paranaense e o povo norte-americano são expressões coletivas do Ponto 3 do Eneagrama. A imensa dedicação ao trabalho, a busca pelo “primeiro lugar” de forma competitiva, a capacidade adaptativa que leva a uma diversidade camaleônica de comportamentos, o individualismo vaidoso e a importância dada a títulos, cargos e aparências estão presentes nas culturas de todos esses povos. COMO NEGOCIAR COM O TIPO 3 Este Tipo sempre faz muitas coisas ao mesmo tempo. Enquanto fala com o Agentes Cultural que apresenta seu projeto, poderá atender telefonemas, dar ordens à secretária. Ele aceita mais tarefas do que pode executar. Não sabe dizer “não” ao chamado do trabalho. Acredita que só assim terá uma “imagem de sucesso”. Você perceberá que ele costuma ter os olhos pregados no futuro, muito mais que no presente, porque é no futuro que está o sucesso. Anseia profundamente obter total reconhecimento pela sua competência profissional. Sua mesa, em geral, estará sempre desarrumada, com excesso de papéis e inúmeros assuntos pendentes. Nunca se esqueça de que ele é versátil, que se adapta facilmente a qualquer situação, e se integra com facilidade em qualquer grupo. Sua abordagem com este Tipo de patrocinador deve ser a de deixá-lo convencido de que seu projeto lhe trará sucesso pessoal e vantagens para a empresa, bem como imagem positiva junto à comunidade. Capriche nas imagens e sintetize o texto. E será preciso mostrar que você conhece com profundidade sua área de trabalho, que é um profissional bem sucedido no seu setor cultural e que tem plena capacidade para executar o projeto com qualidade. O patrocinador 3 prestará sempre muita atenção aos retornos que seu projeto cultural poderá oferecer para sua empresa. E avaliará o grau de sucesso que ele, pessoalmente, poderá obter com esse patrocínio específico. Você deve comparecer ao encontro com boa apresentação pessoal, de preferência com uma aparência executiva. Se houver atraso no compromisso, não se preocupe: o Tipo 3 sempre faz mil coisas por dia e poderá até gostar de ganhar tempo para dedicar a outra tarefa. O local do encontro deve ser onde o patrocinador trabalha. Ali ele se sente seguro e todos podem encontrá-lo (ele está sempre disponível para assuntos profissionais). O Tipo 3, por ser uma pessoa obcecada pelo trabalho e desatento aos seus próprios sentimentos, pode revelar-se confuso emocionalmente, ou até ansioso. Por não dominar este aspecto da sua personalidade (o emocional) 32 tão bem quanto domina as questões profissionais, adquire uma certa vulnerabilidade emocional. Se vier a patrocinar o seu projeto e se este for emocionante, ele será tocado em profundidade e sentirá que o retorno do trabalho realizado foi maior do que ele esperava. O TIPO 4: O IDEALISTA REBELDE Na infância, este Tipo de personalidade experimentou um forte sentimento de abandono, que o levou a considerar-se de fato muito diferente dos outros (daí sua compulsão de querer ser “original” e de evitar tudo que lhe parece banal, vulgar). Um irmão (ou irmã) pode ter ganho acintosamente a preferência ou a atenção dos pais, por exemplo. Com esse sentimento de perda, o Tipo 4 se tornar extremamente sensível e tende à melancolia e à depressão. Mas desenvolve um senso prodigioso de imaginação, que o torna alguém realmente criativo (daí encontrarmos muitos artistas do gênero “trágico” como representantes do Tipo 4 – como, por exemplo, Van Gogh). Assim ele cria um universo paralelo, imaginário, para si mesmo. Crianças que brincam sozinhas, interpretando diversos personagens, sinalizam esse tipo de personalidade. Assim o Tipo 4 cria uma tendência ao sonho, ao idealismo. Fabula muitos projetos que nunca ou raramente coloca em prática, pois ele se sente deslocado no mundo e isso certamente não cria um comportamento pragmático, empreendedor. O problema do Tipo 4 é exagerar sua tendência depressiva, que pode adquirir contornos de autodestruição e levá-lo até ao suicídio (como aconteceu, por exemplo, com o poeta português Mário de Sá Carneiro, que suicidou-se antes dos 30 anos). Tipos 4 são muito suscetíveis a críticas e podem consolidar uma atitude de revolta contra aqueles que o criticaram. Essa revolta pode transformar-se em vingança ou em um ideal revolucionário, pois o Tipo 4 não gosta de injustiças (ele mesmo se sentiu “injustiçado” desde pequeno). Daí o rótulo de Rebelde Idealista que temos ao tipo. O mecanismo de defesa do Tipo é a introjeção: ele geralmente não deixa ninguém perceber que está ressentido, nem qual a causa de sua mágoa. Na solidão, ele pode começar a planejar uma surda vingança. O sentimento de abandono adquirido na infância leva os Tipos 4 a se focarem “naquilo que está faltando” e que os impede de serem felizes. Nesse processo, podem tornar-se masoquistas, presos ao sofrimento. Costumam refugiar-se no passado, que fantasiam como o “paraíso perdido”, os “bons tempos” que não voltam mais. Ou projetam-se no futuro através do imaginário, tecendo planos que não realizam. Seu pecado é a Inveja, que sente em relação às pessoas que são mais felizes ou que conseguiram bens materiais ou vitórias que ele, o Tipo 4, o grande injustiçado do planeta, não conseguiu. Ele precisa, portanto, desenvolver a virtude da Equanimidade – a percepção tranqüila de que cada pessoa ganha exatamente o que merece. 33 Tipos 4 adoram o pensamento simbólico. Por isso costuma ser colecionadores de objetos que simbolizam coisas especiais para eles ou que possuem uma carga afetiva ligada a alguma experiência marcante de suas vidas. Geralmente não gostam de jogar nada fora, porque tudo que pertence ao passado é importante. Por serem idealistas e pouco práticos, os Tipos 4 tendem a servir ao coletivo (entram para movimentos políticos, grupos artísticos amadores, associações de moradores, sindicatos, cargos públicos) e encontram dificuldades para ter êxito em suas vidas profissionais. Alguns conseguem sucesso em funções criativas (como escritores, desenhistas, publicitários, pintores, músicos) ou ligadas à psicologia (Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise, era um Tipo 4). Cidades históricas que foram atropeladas pela modernidade costumam desenvolver uma atmosfera do Tipo 4, ficando “abandonadas” no tempo, com suas populações nostálgicas dos “bons tempos”. Exemplo típico: Ouro Preto . O povo judeu, com seu histórico de sofrimento certamente pode ser considerado uma expressão coletiva do Ponto 4 do Eneagrama. Basta recordar aqui a destruição do Templo de Jerusalém, a imigração forçada, a perseguição aos sefarditas na Europa, a conversão obrigatória ao cristianismo para evitar a morte – os “judeus novos” –, assim como os horrores dos campos de concentração nazista. COMO NEGOCIAR COM O TIPO 4 Sua sala de trabalho costuma ser desarrumada, cheia dos objetos especiais que ele guardou. Mesmo se não for o dono da empresa, tem olhos críticos para ver “o que está faltando” em matéria de equipamentos, de condições adequadas, de competência das pessoas. Normalmente não ocupa cargos de poder, mas se ele chegou lá é porque desenvolveu a sua Asa 3, o seu lado empreendedor, somando-se a esse fator a profundidade com que vê a vida. Sua sensibilidade acima do normal faz com que ele veja em seu projeto detalhes que a maioria não percebe. Vai apontar coisas que “faltam” no projeto e você deve lidar com isso convencendo-o de que, na verdade, não faltam ou que qualquer lacuna será preenchida no período de produção. Ele também terá uma tendência a pensar nas possibilidades futuras do projeto, nos seus prováveis desdobramentos. Aproveite essa característica e mostre a “grandeza” do projeto, seus potenciais futuros. Geralmente o Tipo 4 tem muita cultura e conhecimento profundo das artes, ou de psicologia. É do tipo artístico, não do tipo gerente ou administrador. Tem uma inclinação para a utopia. Para que ele apóie o seu projeto, precisará se apaixonar por ele. A venda deverá se caracterizar pela empatia, pela relação cordial. Estimule o aprofundamento da visão da sua proposta, favorecendo a sua “viagem” interior. O projeto poderá até ganhar 34 com isso, pois ele poderá fazer boas sugestões, incorporando elementos criativos à sua proposta. Uma vantagem é que o Tipo 4 tem inclinação para projetos de cunho social, que beneficiem comunidades de baixa renda. Tenha sempre a certeza de que o projeto que você está apresentando é correto, coerente e tem uma dimensão de profundidade humana. O Tipo 4 é altamente crítico e hipersensível. Por outro lado, procure evitar que ele divague muito. Traga-o sempre para a realidade, se estiver voando alto demais. E acostume-se com um fato: Tipos 4 raramente decidem em poucas reuniões. Mas, quando estiverem apaixonados pelo projeto, tudo farão para que se realize. COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO EMOCIONAL Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que conta é a relação com as demais pessoas. Para eles, ser é sentir, é ligar-se à vida e às demais pessoas pelos canais da afetividade ou da antipatia. O Tipo 2 é basicamente extrovertido e projeta a energia do Centro Emocional para fora de si. Para ele, o importante é como os outros se sentem, e ele se orienta no sentido de agradar ou seduzir a todos (ou sentirse orgulhosamente superior, quando não há conexão emocional com a outra pessoa) O Tipo 3 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ter dificuldades para se entregar emocionalmente a outra pessoa. Orienta-se, portanto, pela energia dos outros dois Centros (Mental e Físico). Dando continuidade à tese que avançamos, sugerimos o predomínio do Centro Mental, tendo em vista o fluxo mecânico de energia no sentido 6 3 9 6... e assim por adiante. Por ser desconectado, sua tendência é substituir sentimentos por idéias ou sensações. Porém, num processo análogo ao que acontece com o Tipo 9, as energias do Centro Mental ou do Centro Físico são sempre “filtradas” pelo Centro Emocional, ou seja, tornam-se de alguma forma sentimentos que orientam as ações do Tipo 3. O Tipo 4 é basicamente introvertido e internaliza a energia do Centro Emocional. Orientado por sentimentos profundos, seu compromisso é com as próprias emoções, que constituem seu paradigma de atuação no mundo, sempre permeadas pelas idéias provenientes da sua Asa 5. OS TIPOS MENTAIS Características Gerais O predomínio do Centro Intelectual nos seres humanos cria uma característica de identificação com os processos da mente, uma supervalorização do raciocínio lógico, do pensamento convergente. Para os Tipos Mentais, a verdade objetiva é aquilo que se pensa com lógica. Uma 35 equação matemática tem mais valor que uma célula, que é um ser vivo imprevisível, não codificável. Os tipos de personalidade onde predomina o Centro mental são conhecidos pela fórmula clássica do silogismo na Filosofia: Se A = B e se B = C, então A = C. Em resumo, os Tipos Mentais normalmente só gostam de argumentos lógicos e resistem a tentativas de empatia emocional. Porém em nosso cérebro não existe apenas o pensamento convergente. Existe também o chamado pensamento divergente, que é nada mais nada menos que a nossa imaginação (que os antigos filósofos gostavam de chamar de “a louca da casa”). Todos os Tipos Mentais têm a imaginação ativa, e isso traz para todos eles um problema central, que é o medo. Na Teoria do Eneagrama, o medo, mesmo que possa ser visto como uma emoção, é considerado de forma mais objetiva como resultado da imaginação descontrolada. Por exemplo: eu ouço uma explosão na rua; não sei o que de fato aconteceu; a reação natural é imaginar o que pode estar acontecendo; isso pode instalar o medo dentro da psique e posso sair correndo, convencido de que a próxima explosão será no lugar onde eu estou. O Tipo 7, que ama o prazer e a liberdade, escolhe não ter medo, porque esse fator limita sua sede de aventura, de prazer físico e mental. Por isso veremos Tipos 7 em profissões perigosas (correspondentes de guerra, praticantes de asa delta, competidores de rallies, domadores de leões etc.). Já o Tipo 6 vive sob o império do medo e está sempre imaginando perigos potenciais à sua volta. O Tipo 5 opta pelo isolamento, pois tem medo que invadam sua intimidade. Não gosta de multidões e adora ficar encastelado em sua casa, estudando os assuntos de sua preferência. Os Tipos Mentais são eminentemente práticos e realizadores. Claro que são amantes das teorias, mas se esforçam para colocar seus conhecimentos em prática. Por isso se diz que têm o Ego Prático e que pertencem ao Grupo do Fazer – características que não requerem maiores explicações. Nos Tipos Mentais predomina o Instinto de Adaptação. Normalmente se comportam de modo a não entrar em choque com os demais, seja na família ou no trabalho. São flexíveis e adaptativos, porque consideram 36 problemas emocionais nas relações humanas uma tola perda de tempo, que é algo precioso demais para ser desperdiçado. Não é lógico desperdiçar tempo. E, para eles, é mais produtivo usar o tempo para fazer coisas úteis e funcionais. O TIPO 5: O AUDITOR Na infância, de alguma forma, o Tipo 5 teve o espaço da sua intimidade invadido. Por exemplo: foi obrigado a dividir quarto, roupas, brinquedos e material escolar com outros irmãos; não teve o seu espaço, suas coisas. Ou teve uma mãe invasora, do tipo que lê o diário íntimo ou não permite que seja trancada a porta do quarto ou do banheiro e, muitas vezes, invade aquele espaço para dar um flagrante. A infância do Tipo 5 também pode ter sido marcada pela falta de amor dos pais, o que o levou a procurar sua própria autosuficiência. Nestas condições, a pessoa desenvolve como mecanismo de defesa o isolamento. Torna-se reservada. Não gosta de expor suas emoções. Prefere observar e ouvir, do que falar ocupando o centro das atenções. Sentindo-se por sua própria conta, obrigado a virar-se sozinho, o Tipo 5 procura rapidamente compreender o mundo à sua volta. Torna-se alguém profundamente estudioso e observador. Sabe que, para ser auto-suficiente, precisará ter bom desempenho em alguma coisa. Muitos cientistas, pesquisadores solitários de laboratório, matemáticos, filósofos, sociólogos, financistas, escritores, engenheiros eletrônicos, físicos ou químicos, são Tipos 5 que fizeram do conhecimento o fator mais importante de suas vidas, pois seu saber técnico ou acadêmico deu-lhes uma profissão, a independência dos demais, os recursos para que pudessem construir seu castelo de reclusão. Seu pecado é a Avareza – o caráter anal retentivo, que pode gerar pão-durismo, o acúmulo de conhecimentos de forma ciumenta e não partilhada, a tendência a ocultar as próprias emoções, a fazer reserva de sua vida íntima. Todo Tipo 5 necessita desenvolver a virtude do Desapego, para evoluir interna e externamente. Tipos 5 geralmente são sábios e introvertidos. Cautelosos e desconfiados (no seu conjunto, o povo mineiro pode ser considerado um coletivo do Tipo 5). Muitos enriquecem mas levam uma vida despojada, pois outra característica deste Tipo é procurar reduzir ao mínimo suas necessidades pessoais, para não depender de ninguém nem despertar a cobiça alheia. Todos são bastante atentos aos detalhes: a precisão dos conceitos, as entrelinhas do texto, os números do orçamento, os erros de português, a coerência do cronograma de execução, a viabilidade financeira da proposta e assim por diante. Mas não espere sempre encontrar um ermitão à sua frente. Existem os Tipos 5 que conseguem ser bastante sociáveis, falar em público e até gostam de aparecer. Há excelentes professores do Tipo 5, assim como 37 políticos e empresários. O que é constante é seu espírito lógico e pragmático, sua capacidade de ouvir e observar, o detalhismo, o cabedal de conhecimentos adquiridos, a cautela e o espírito de contenção de recursos (os pessoais e os da empresa). Entre os países, podemos eleger a Grã-Bretanha como representante óbvio do Ponto 5: reservados e práticos, um tanto xenófobos e ao mesmo tempo pioneiros da revolução industrial, os ingleses também se destacaram pela habilidade do seu serviço secreto, o M-5, durante a Segunda Guerra Mundial, que soube observar, analisar e se precaver contra diversas ações dos inimigos nazistas. Como negociar com o Tipo 5 O patrocinador Tipo 5 costuma exigir um relacionamento privado e reservado. Antes que ele marque uma reunião com você, Agente Cultural, poderá pedir para que outra pessoa da empresa o atenda, e depois que uma outra pessoa dê mais uma opinião sobre seu projeto. Não exatamente porque seja ocupado demais. Isso se deve ao fato de que ele gosta da solidão e da auto-suficiência, detestando ver sua sala “invadida” por pessoas estranhas. Além disso, o atendimento prévio feito por outros colegas serve para filtrar os projetos que realmente interessam à empresa. Essa é uma estratégia típica das pessoas cautelosas, que precisam se assegurar de que tudo está correto antes que o assunto chegue à sua esfera pessoal de decisão. Quanto mais informações possuírem sobre o Agente Cultural e seu projeto, melhor, pois terão mais subsídios para tomar sua posição individual sobre a questão. Tipos 5 dão preferências a projetos que não exijam deles grandes envolvimentos pessoais. A maioria não vai querer aparecer em público para posar de patrocinador. Mas vão adorar se ganharem elogios pelo jornal ou pela TV, porque estarão à distância, protegidos, observando o espetáculo da vida. Não espere nenhuma efusão, nenhum transbordamento no primeiro encontro. O Tipo 5 vai ouvi-lo atentamente, perguntar sobre detalhes, questionar pontos que lhe parecem falhos, será um verdadeiro inquisidor do orçamento e do seu plano de execução. Você precisará mostrar segurança, inteligência e dispor de argumentos logicamente convincentes. Mostre que você tem conhecimento profundo da sua área de trabalho, e capacidade de execução do seu projeto com qualidade. O tempo do Tipo 5 costuma ser bem administrado, por isso não abuse disso (ele é avarento de seu tempo). E fique consciente de que ele sabe exatamente o que quer, pois passou a vida desenvolvendo da melhor maneira possível sua independência e sua competência profissional. 38 Depois do primeiro encontro, quando ele estiver sozinho, vai analisar seu projeto em profundidade e tomar uma decisão. É na solidão que ele poderá se emocionar com o seu projeto. Suas salas de trabalho geralmente são privadas (gostam até de utilizar elevadores privativos). A secretária ficará na sala ao lado e ninguém poderá entrar de repente, sem avisar ou sem pedir permissão. Uma boa estratégia, portanto, é conquistar o apoio de outras pessoas da empresa que já gozam da confiança do seu patrocinador potencial Tipo 5. Às vezes é bom deixar o encontro cara-a-cara só para o momento da decisão final. Avalie bem essa possibilidade, pois assim o Tipo 5 ficará mais à vontade. Se você conhecer alguém que já seja amigo do seu patrocinador, vá com ele à reunião, para que o Tipo 5 se sinta mais confortável. Nunca se iniba com o silêncio que ele poderá fazer durante a sua explanação do projeto. Lembre-se de que o Tipo 5 pode preferir ser um “doador anônimo” do que um patrocinador que precisará aparecer na imprensa. Se ele for do tipo “doador anônimo”, você não precisará oferecer muitos retornos para a empresa (embora isto contrarie todos os princípios de marketing). Ele é um grande observador e pode ser o tipo de patrocinador que mais valorizará as qualidades do seu projeto. As vantagens proporcionadas pelas leis de incentivo fiscal à cultura podem interessar bastante o Tipo 5 (desde que ele perca o medo imaginário de uma “devassa fiscal” em sua empresa – esteja preparado para mostrar que não existe nenhum problema em usar as leis e descontar dos impostos). Uma boa estratégia é começar com um projeto de baixo custo, fazer sucesso e depois aumentar paulatinamente a participação financeira da empresa patrocinadora. Projetos muito caros assustam o Tipo 5. Os motivos que levam um Tipo 5 a patrocinar são sempre lógicos, intelectuais. Mas ele se emocionará depois, na solidão, com os resultados. Por exemplo: poderá mandar um representante da empresa na festa de lançamento de um CD, que depois ouvirá com prazer na sua casa. O TIPO 6: O ADVOGADO DO DIABO A infância dos Tipos 6 foi problemática, pois sofreram alguma forma de terrorismo psicológico. Pai ou mãe violentos, por exemplo. Uma professora do tipo “carrasca”, persecutória. Ambiente perigoso. Ou sofreram um trauma, como, por exemplo, perder pessoas queridas de repente – o que os levou à conclusão de que o mundo é local extremamente perigoso, pois alguma coisa muito ruim pode acontecer a qualquer momento! Outra característica é o conflito com a autoridade, vista sempre como figura ameaçadora. Seja qual for a causa, o certo é que o Tipo 6 encontrou dificuldades para compreender o sentido das ações ou reações de seus pais e... ficou inseguro! A criança 6 cresce com a convicção de que é perigoso confiar nos outros – e adquire um senso extraordinário de lealdade, ao mesmo tempo em que desenvolve um sexto sentido para saber se uma 39 pessoa é confiável ou não. Tipos 6 morrem de medo de serem traídos, por isso se protegem de todas as formas. Tipos 6 podem evoluir em duas vertentes: a pessoa medrosa ou a pessoa contrafóbica. Esta última palavra, criada pelos psicólogos, quer dizer “ir contra o medo” (do grego phobos, que significa medo). O Tipo 6 medroso vive se protegendo de perigos imaginários (porque, como todos os Tipos Mentais, possui a imaginação ativa, muitas vezes totalmente descontrolada). Já o Tipo 6 contrafóbico, quando se vê numa situação de perigo, ao invés de fugir, pode atacar, com fúria e coragem espantosas. Como acontece com os ratos quando se vêem acuados: eles param de fugir e atacam as pessoas ou os gatos. O grande mecanismo de defesa dos Tipos 6 é a projeção: colocam nos outros seus próprios medos, fantasmas ou intenções. Contrafóbicos ou não, os Tipos 6 normalmente têm uma inclinação para proteger os fracos e oprimidos. Assim como tendem a respeitar as regras estabelecidas coletivamente e se preocupam com as pessoas que estão contra seus amigos confiáveis. Os contrafóbicos costumam se tornar enfermeiros, médicos, policiais, líderes sindicais, sempre preocupados em defender a si mesmos e seus pares contra os “inimigos” de fora. Os medrosos costumam buscar a proteção de pessoas poderosas, para ficar debaixo de sua asa, e retribuem com uma lealdade canina. O pecado deste Tipo é o Medo, que só pode ser vencido pelo desenvolvimento da virtude da Coragem. De modo geral, os Tipos 6 são pessoas ansiosas e hiperativas. Mas grande parte da sua atividade intensiva tem como origem o impulso de proteção contra perigos imaginários. Vamos ilustrar esse ponto com uma imagem do cotidiano: antes de dormir sozinho numa casa, o Tipo 6 velozmente, ansiosamente, verifica as trancas das janelas, as portas, os cadeados, o alarme geral... vê seres fantásticos nas sombras, ouve barulhos estranhos... O ator e diretor cinematográfico Woody Allen é ilustra representante do Ponto 6 do Eneagrama: em diversas entrevistas, já confessou seus medos imaginários (por exemplo: que insetos estranhos saiam do ralo do box do chuveiro, durante um banho) e faz tudo para não sair do bairro onde mora, em Nova Iorque, onde se sente relativamente seguro. Seus filmes denotam a preocupação com vários tipos de medo: da morte, de doenças, de acidentes, hipocondria etc. Medo que ele exorciza através de um humor inteligente e elevado senso estético. O povo francês pode ser visto como expressão coletiva do Ponto 6: sua xenofobia, seu medo de estrangeiros, é conduta característica das pessoas medrosas ou contrafóbicas. Como negociar com o Tipo 6 40 Patrocinadores Tipo 6 sempre avaliam antecipadamente todas as possibilidades negativas de um projeto cultural (os problemas, os perigos): “E se essa etapa do projeto não der certo?”. Daí o rótulo que demos a esse tipo: advogado do diabo. Sempre são muito leais às empresas onde trabalham, desde que se sintam reconhecidos e protegidos. Como são pessoas honestas e temerosas, encontram dificuldades para tomar qualquer tipo de decisão. O pensamento substitui a ação, que se perde na defesa contra fantasmas e problemas imaginários. Sua tendência é desconfiar e duvidar dos projetos, protelando a decisão para depois, pois têm medo de desagradar os superiores. Um alerta importante: nunca utilize o poder de uma autoridade superior ao Tipo 6 dentro da empresa, para forçá-lo a decidir favoravelmente quanto ao patrocínio do seu projeto. Lembre-se de que o Tipo 6 tem conflitos com autoridades. Mas você poderá investigar para descobrir quem é o protetor do Tipo 6 dentro da empresa. Esta pessoa, sim, poderá interceder em favor do seu projeto – e certamente será atendida. Ao negociar com um Tipo 6, não deixe nenhum ponto obscuro ou qualquer intenção oculta em seu projeto. Honestidade e transparência são as palavras-chaves para se chegar a um bom entendimento com este tipo de patrocinador potencial. Raramente agem em interesse próprio. Assim como o Tipo 4, o 6 gostará de projetos que beneficiem pessoas marginalizadas, excluídas da sociedade, que precisem de ajuda. Será também favorável a projetos nas áreas de educação, saúde e proteção do meio ambiente. Quando o Tipo 6 decide patrocinar um projeto, saiba que ele vai monitorar a execução passo a passo, para defender os interesses da sua empresa e evitar que qualquer problema se volte contra ele e a decisão que tomou. Hesitantes antes de tomar a decisão, os Tipos 6 podem assumir desafios quando resolvem internamente sua insegurança. Assim, poderão abraçar causas coletivas (movimentos reivindicatórios de artistas, por exemplo), com coragem e lealdade. Esteja pronto para esclarecer todos os pontos do seu projeto. Atue como advogado do diabo de sua própria proposta, antes de apresentá-la a um Tipo 6. Evite elogios gratuitos (geram desconfiança). Ofereça sempre informações a mais, demonstrando total transparência de intenções. Nunca fique muito tempo sem dar satisfações sobre o andamento do projeto. Evite as divagações imaginárias do Tipo 6 e conduza a conversa para uma tomada de decisão. Respeite a distância profissional que provavelmente será criada entre você e ele. Não é bom bajular um Tipo 6, nem ressaltar os benefícios pessoais que ele terá se resolver patrocinar seu projeto. Ele tem clareza da sua real importância para a empresa e, sendo honesto, não pensa em obter benefícios pessoais. O TIPO 7: O AVENTUREIRO HEDONISTA 41 A criança 7 viveu momentos de grande felicidade... e gostou! Entre brincar e estudar, entre curtir e fazer uma tarefa doméstica, preferiu sempre a opção mais prazerosa. Algumas se tornaram verdadeiras malandras: abandonaram os estudos, entraram cedo para o caminho do vício. A maioria se rebelou abertamente contra a autoridade do pai ou da mãe. Foi a criança que apanhou, mas não chorou, desafiando as ordens recebidas (influência da Asa 8, que lhe dá coragem e força interior). Como toda criança, viveu seus momentos de medo, de doença, de dor... e não gostou! O Tipo 7 cresce na convicção de que nada é mais importante que a alegria de viver, e por isso procura evitar as doenças e o sofrimento. Ainda criança, revelou seu gosto pelas viagens e aventuras. E sonhou com a liberdade ainda maior que teria quando crescesse. Nesse jogo, preferiu mais a companhia de outras crianças que a solidão (principalmente daquelas bem sapecas, que são fonte de excitação). O mecanismo de defesa ao qual este tipo de personalidade adere é a racionalização: utiliza a mente para se assegurar de que suas opções de vida são as melhores – e que os problemas com o tempo se resolverão, pois a vida é bela! Diz-se do Tipo 7 que nas suas veias não corre sangue, mas sim champagne, pois seu temperamento é borbulhante, quer viver a vida com intensidade. Desse contexto nasce uma personalidade ousada, aventureira, que deixa o medo para trás, detesta as rotinas, busca sempre coisas novas, gosta de namorar sem se comprometer, inclina-se para os eventos de vanguarda e procura sempre ampliar seus horizontes, em todas as áreas: conhecimento, diversão, trabalho, relações amorosas etc. O seu pecado é a Gula, e somente desenvolvendo a virtude do Equilíbrio é que o Tipo 7 poderá conter sua intemperança, sua voracidade existencial, sua avidez pelo prazer. O otimismo incessante desse tipo de personalidade pode ser considerado como uma de suas principais qualidades: essa característica atrai as pessoas, que normalmente flutuam em torno do Tipo 7 como moscas em volta do mel. Ele (ou ela) irradia uma energia positiva, que magnetiza as pessoas e lhe confere uma aura de sedução que facilita suas conquistas amorosas. Assim como o Tipo 3, o 7 também tem forte inclinação para o donjuanismo. A maioria dos livros sobre o Eneagrama, assim como alguns estudiosos do assunto, costumam rotular o Tipo 7 como um aventureiro sem ética, uma malandro incorrigível, um ser decididamente irresponsável. É evidente que o playboy assumido, que dilapida a fortuna do pai rico e termina pobre, só pode ser enquadrado como Tipo 7. Entretanto, lembramos aqui que o Tipo 7 tem Asa 8, ponto eneagramático ligado ao sentimento de justiça, social e individual. E que o primeiro movimento mecânico do Tipo 7 é em direção ao Ponto 1 do Eneagrama, que é o reinado da ética. 42 Nesse contexto, não devemos nos espantar se encontrarmos pela frente um Tipo 7 que aja corretamente com as demais pessoas, que seja um profissional sério e competente e, sobretudo, que possua ética. O que será muito raro é encontrarmos um Tipo 7 depressivo, baixo astral, que não queira ser feliz. Seus momentos de infelicidade são rápidos, sua recuperação interna é veloz, pois seu otimismo é sempre reafirmado pelo mecanismo de defesa da racionalização. Estudiosos do Eneagrama apontam o Brasil, visto no seu conjunto, como país emblemático do Ponto 7: nosso povo é ou não é alegre, festeiro, malandro e instituidor de um grande número de feriados durante o ano? Assim como o povo carioca, amante dos prazeres da praia e da noite, da boemia e da malandragem, só pode ser considerado expressão coletiva do Ponto 7 do Eneagrama. O mesmo espírito pode ser encontrado no povo italiano. Como negociar com o Tipo 7 Tipos 7 gostam de associar prazer e trabalho. Não estranhe se ele marcar uma reunião fora da empresa, num restaurante ou de noite num bar: “Assim ficaremos mais descontraídos e poderemos falar de negócios sem stress...”. Ele poderá ter uma tendência a falar dos assuntos mais variados e divertidos, sem ir ao assunto principal. Se for esse o caso, objetive a conversa, mas saiba transformar a negociação em um jogo prazeroso. O Agente Cultural deve abordar o Tipo 7 com seriedade profissional (porque isso lhe dará segurança quanto à sua competência para realizar o projeto), mas também de forma descontraída (pois isso o deixará à vontade, já que ele não é fã de regras, nem de rotinas, nem de qualquer coisa marcada pela rigidez). Não se deixe iludir pelo entusiasmo inicial que ele demonstrar pelo projeto. Ele é sempre assim, alegre, otimista, positivo. Isso não quer dizer que ele vai realmente patrocinar a sua proposta. Entre todos os tipos de personalidade do Eneagrama, podemos dizer que o Tipo 7 é o mais receptivo a projetos ousados, inovadores, com características de vanguarda. Ele não tem medo de abrir novos horizontes. Ao contrário, gosta disso. Mas isso não quer dizer que seus sócios ou superiores, na empresa, pensam da mesma forma. Por isso procure saber quem realmente decide sobre a concessão de patrocínio. Será preciso construir uma afinidade mental com o Tipo 7 e deixá-lo à vontade para comunicar os critérios da sua empresa (assim você terá as informações necessárias para modificar alguns itens do seu projeto, para facilitar a sua aprovação). Mas, cuidado: o Tipo 7 é bastante criativo e poderá até criar um projeto novo, totalmente diferente do seu, partindo da proposta que você apresentou. Não deixe que sua imaginação voe tão alto e defenda a consistência da sua proposta. 43 O Tipo 7 nunca gosta de ser rotulado: ele se sente sempre novo, sempre múltiplo, a cada dia. Busca o conhecimento global e desdenha a especialização (embora possa estudar qualquer tema em profundidade, pelo qual seja intelectualmente apaixonado – o Tipo 7 é capaz de ter um orgasmo mental, “filosófico”). Ele se sente oprimido em ambientes de trabalho que exigem compromissos de horário e tarefas metódicas, burocráticas. Ele gosta de novidades. Por isso há muitos jornalistas que são Tipos 7: trata-se de uma profissão que exige competência mental, espírito de aventura, coragem e capacidade de renovação diária. Tais características fazem com que, normalmente, o ambiente de trabalho do Tipo 7 seja impessoal: ele está ali só de passagem, sem grandes compromissos, em busca de novo porto de aventuras. O Tipo 7 nunca pensa que vai envelhecer. Usa seu charme pessoal como estilo profissional, evita compromissos profundos (principalmente os afetivos, que para ele são sinônimos de perda da liberdade pessoal e do prazer que podem obter com as pessoas novas, sempre mais interessantes que as antigas). Saiba lidar com esse “espírito de borboleta” sem ficar ansioso. Basta imprimir objetividade à conversa. Trata-se de uma personalidade vaidosa, que certamente vai querer algum retorno para sua imagem. Que seja discreto, pois basta que apenas seus superiores tomem conhecimento da sua competência Outra característica relevante a ser considerada é o fato de que os Tipos 7, por causa de sua antipatia em relação a toda forma de autoridade, não gostam de exercem o poder diretamente, mas são mestres na política de bastidores. Na verdade, se divertem induzindo as pessoas a agir como eles querem. Alguns até não se incomodam que, dentro da empresa, outras pessoas ganhem o reconhecimento por um trabalho que, de fato, foi realizado por ele. Alguns são tão astutos que indicam a nomeação de um chefe que eles controlam na intimidade. Nunca subestime a astúcia de um Tipo 7. Nem se deixe enganar pelo seu entusiasmo contagiante. Para ele, qualquer problema se resolve com o tempo e o importante é viver com alegria e prazer o momento presente. Isso cria uma tendência a simplesmente “atender bem as pessoas”, sem cuidar das ações práticas que realmente fazem o trabalho acontecer. No fundo, o Tipo 7 gosta de projetos que não signifiquem muito trabalho para ele, nem muito envolvimento emocional. Seu sonho é ganhar dinheiro com um mínimo de esforço e responsabilidade. COMO CADA TIPO USA A ENERGIA DO CENTRO MENTAL Para todos os três tipos de personalidade acima descritos, o que prevalece são as idéias. De modo geral, não se apegam a seus sentimentos. 44 O Tipo 5 é basicamente introvertido e projeta a energia do Centro Mental para dentro de si. Para ele, o importante são as idéias pessoais que ele fez do mundo, e ele procura dentro de si próprio um sentido para a vida. O Tipo 6 é desconectado da sua energia básica, por isso tende a ser mais imaginativo que os dois outros Tipos Mentais. Orienta-se, normalmente, pela energia dos outros dois Centros (Emocional e Físico). Pela nossa tese, vinculada ao fluxo mecânico 9 6 3 9 6..., indicamos que há predomínio do Centro Físico. Importante relembrar que as energias do Centro Mental e do Centro Físico são sempre “filtradas” pelo Centro Mental, tornando-se um conjunto de idéias pré-estabelecidas que orientam as ações do Tipo 6, na medida em que constituem uma espécie de caminho seguro para estar no mundo. Em outras palavras, tornam-se fatores mentais que diminuem a sensação de medo. O Tipo 7 é basicamente extrovertido e projeta para fora de si a energia do Centro Mental. Seu referencial são as idéias que recebeu do mundo, daí o rótulo de generalista que este tipo de personalidade recebeu dos estudiosos do Eneagrama. O Tipo 7 procura no mundo, fora de si, o sentido para sua própria existência (até porque sofre influência das sensações provenientes da sua Asa 8 e do seu movimento mecânico ao Ponto 1). OS FLUXOS DO ENEAGRAMA Uma das enormes vantagens do Eneagrama sobre outras tipologias de personalidade é que ele nos fornece um “mapa” de como a energia se movimenta no interior do ser humano, permitindo com isso uma autoobservação mais objetiva e ferramentas práticas de trabalho interno, com as quais podemos ir aos poucos diminuindo o predomínio de nossa “máscara” ou “personalidade mecânica” e ampliando as possibilidades de nossa “essência” ou verdadeiro ser individual. O Eneagrama tem dois tipos de fluxo ou movimento: a) Aquele que acontece com os Tipos 3, 6 e 9, que correspondem ás pontas do triângulo eqüilátero que vemos ao centro do símbolo; b) Aquele que acontece com os demais tipos (1, 4, 2, 8, 5 e 7). O fluxo cotidiano, que ocorre na maioria dos seres humanos, é chamado de “mecânico” ou “involutivo”, porque significa uma repetição viciosa de comportamentos e atitudes, sem que nada seja feito para promover o crescimento interno e o desabrochar da essência de cada um. Por que existem dois fluxos separados? A razão é a seguinte: aprendemos, no começo deste Manual, que a Lei de Três é interna à Lei de Sete ou Lei das Oitavas. Todo fenômeno que acontece no universo precisa de pelo menos três forças para ocorrer. Os tipos de personalidade que estão nos Pontos do triângulo eqüilátero estão mais diretamente vinculados à Lei de Três que à Lei das Oitavas. Todos também estão sujeitos à Lei das 45 Oitavas no seu dia-a-dia, mas neles a Lei de Três está mais presente, é mais atuante. Por isso alguns estudiosos do Eneagrama acreditam que os Tipos de Personalidade 3, 6 e 9 estão, de alguma forma, mais próximos da essência que os outros Tipos. Porém como vimos, esses três tipos são todos eles desconectados do Centro que neles predomina (seja Físico, Emocional ou Mental). Por isso também encontram grandes dificuldades para diminuir a influência de sua “máscara” ou personalidade em suas vidas. Vejamos o fluxo que corresponde aos Tipos do triângulo: O Fluxo do Tipo 3 Em seu Núcleo, Ponto 3 do Eneagrama, este tipo de personalidade está tomado pelo trabalho, como bom workaholic que é. O excesso de trabalho faz com que seu corpo comece a reclamar e a pedir por um descanso, um relaxamento. Quando a energia se desloca do Centro Emocional para o Centro Físico (Ponto 9 do Eneagrama), veremos o Tipo 3 em seus raros momentos de apaziguamento: assistindo televisão, ouvindo música, conversando com os amigos. Mas, quando a energia se desloca do Centro Físico para o centro Mental (Ponto 6 do Eneagrama), veremos o Tipo 3 às voltas com seu principal medo: o de fracassar. Sua mente começará a funcionar velozmente, planejando todos os contatos e articulações que ele precisa fazer para ter sucesso em sua vida profissional. A energia se deslocará rapidamente do Centro Mental para o Centro Emocional, e o Tipo 3 voltará à sua rotina de trabalho, trabalho, trabalho. Por uns momentos, relaxará em 9. Mas quando a energia voltar ao centro Mental, virá novamente o receio de não ser bem sucedido em seus planos de obter sucesso e prestígio e ele retornará à hiperatividade profissional, completando uma vez mais o círculo vicioso do sucesso. Este fluxo é ilustrado na Figura abaixo: 46 O Fluxo do Tipo 6 Com medo de perigos imaginários, o Tipo 6 não percebe que sua energia interna se desloca do Centro Mental para o Emocional (Ponto 3) de forma que suas ações, seu trabalho são uma busca frenética de proteção, de construção de defesas prévias. Seu medo maior não é fracassar, mas ser traído ou surpreendido por um perigo que sua intuição aguda não soube detectar. Assim ele trabalha muito, mas sempre desconfiado, sempre temeroso, sempre procurando ficar ao lado das pessoas nas quais confia e contra os “inimigos”, reais ou imaginários. Haverá um momento em que sua energia interna se deslocará do Centro Emocional para o Físico (Ponto 9) e então ele também relaxará por algum tempo. Até que o círculo vicioso se repita e ele voltará ao Ponto 6, onde será novamente atacado por seus fantasmas internos e se dirigirá para fora (Ponto 3), para agir, muito, e depressa, na elaboração de mecanismos de autoproteção (na família, no trabalho ou na rua). Voltando ao Ponto 9, ficará em estado letárgico por um tempo, até que o padrão mecânico se repita. O Fluxo do Tipo 9 Para manter seu conforto físico, evitar conflitos, o Tipo 9 terá medo de tomar decisões, porque isso poderá lhe trazer problemas ou levar à perda de suas amizades. Por isso, quando sua energia se desloca do Centro Físico para o Mental (Ponto 6 do Eneagrama), ele procurará agir em função dos outros, trabalhando para os outros, esquecendo de suas próprias necessidades. Poderemos até vê-lo muito ativo, quando a energia se desloca para o Ponto 3, porque normalmente ele é preguiçoso. Mas, para atender outra pessoa, por medo de criar adversidades, ele poderá trabalhar até bastante. Quando ele perceber que essa outra pessoa, sempre mais importante do que ele mesmo, está atendida, poderá finalmente fazer o que mais deseja: volta ao seu Ponto 9 e relaxar, pois ninguém é de ferro. Até que surja outro estímulo externo e o deixe com medo de conflitos (ida ao Ponto 6) e o faça trabalhar para atender alguém (ida ao Ponto 3) e, uma vez cumprida a missão, poderá voltar ao conforto físico do Ponto 9. O FLUXO NÃO MECÂNICO OU EVOLUTIVO O fluxo que leva ao desenvolvimento da essência, começando pela diminuição do poder da “máscara” é inverso ao mecânico: é o fluxo 36 9. Em termos práticos, significa conquistar as virtudes de cada Ponto do Eneagrama percorrido. Enquanto o fluxo mecânico passa pela Mentira (Ponto 3), Preguiça ou Narcotização (Ponto 9) e Medo (Ponto 6), o fluxo evolutivo passa pela Coragem (Ponto 6), Ação Consciente, não egoísta (Ponto 9) e Veracidade, conexão com as próprias emoções (Ponto 3). Importante ressaltar que os fluxos podem ocorrer de forma mesclada: um 47 Tipo 6 pode ter coragem em alguns momentos de sua vida e depois voltar à sua rotina de medos imaginários. O Tipo 3 pode se conectar com suas emoções, ir a 6 com verdadeira coragem e depois derrapar na Lei das Oitavas e voltar à sua rotina viciosa de busca do sucesso através do jogo das aparências. Não é nada fácil entrar no fluxo evolutivo e...manter-se nele! Porque, para conseguir essa façanha, é preciso contrariar os hábitos que nossa “máscara” incorporou desde a infância e está convicta de que esse é o melhor caminho do mundo para ela... (ou, o que é pior, o único caminho...).... A Figura abaixo mostra o fluxo evolutivo das personalidades do “triângulo”: Para cada Tipo, o processo do fluxo evolutivo pode ocorrer da seguinte forma: Tipo 3 Evolutivo Antes de mais nada, o Tipo 3 precisa conectar-se com suas próprias emoções, dar-se conta de seus verdadeiros sentimentos, e parar de interpretar o personagem que persegue o sucesso. Então ele poderá ir a 6 e encontrar a coragem que substitui o medo do fracasso profissional, a coragem que pode levá-lo a 9 para uma ação consciente em favor da coletividade, superando a ação egoística de quem só almeja o próprio sucesso. Assim ele estará no “círculo virtuoso do sucesso”. Tipo 6 Evolutivo Após dar-se conta de que a maioria de seus medos são imaginários, o Tipo 6 poderá ir ao Ponto 9 para agir conscientemente, de forma menos tensa, mais relaxada e então seguir ao Ponto 3 para desenvolver sua vida 48 emocional verdadeira e trabalhar com maior autoconfiança em sua vida profissional. Tipo 9 Evolutivo Após superar sua tradicional indolência e seu medo de tomar decisões para evitar conflitos, o Tipo 9 poderá ir ao Ponto 3 de forma a trabalhar mais para si, para seu próprio sucesso, ao invés de se colocar sempre à disposição dos outros. No Ponto 3, conectado com a veracidade dos próprios sentimentos, também tenderá a ser menos promíscuo em suas relações amorosas e buscará relacionamentos mais profundos. Daí poderá ir ao Ponto 6, para adquirir coragem para se dar importância e para enfrentar as adversidades da vida, das quais ele tanto foge. O SEGUNDO FLUXO MECÂNICO Seria muito extenso descrever aqui todos os fluxos mecânicos e não mecânicos dos demais seis tipos de personalidade. Por isso, vamos ilustrar o processo através de apenas um Tipo de Personalidade. Escolhemos o Tipo 8 só para efeito didático. Deixamos, como dever de casa aos leitores, a tarefa de verificar como cada tipo percorreria os fluxos involutivo e evolutivo. Porém aproveitaremos esse exemplo para falar da influência das Asas sobre o Tipo, o que permitirá ao leitor fazer outro dever de casa, que será o de analisar como ocorre essa influência lateral nos demais tipos de personalidade. A Figura abaixo mostra o sentido do fluxo mecânico: O Tipo 8 tem sua origem no Ponto 2 (é fundamental pensarmos em cada tipo de personalidade deste ponto de vista também). Isto quer dizer que sua natureza agressiva, violenta, é causada pela forte descrença no amor, 49 na ternura, na doação e na solidariedade entre as pessoas. Lembremos aqui que a sua infância foi uma verdadeira guerra, onde ele não encontrou outra alternativa a não ser torna-se forte e combativo para sobreviver. O primeiro fluxo mecânico – ida ao Ponto 5 – faz com que o Tipo 8 deseje, sempre, ficar sozinho no poder, no comando absoluto das pessoas e das situações. Dá-lhe o sangue frio necessário para enfrentar qualquer adversidade. Dá-lhe a capacidade de planejamento das estratégias necessárias para derrubar inimigos e manter-se no poder, cobiçando avarentamente mais e mais poder... Mas é importante assinalar aqui que o Ponto 5 também estressa o Tipo 8, porque ele não gosta da solidão, pois nessa condição ele não sabe o que os outros estão fazendo e não pode mandar em ninguém. Mas ninguém ficará surpreso imaginando uma pessoa poderosa recolhendo-se ao seu quarto ou à sua casa de campo para planejar suas estratégias de conquista de novos territórios. Recordemos aqui que o lado mental dos Tipos 8 é seu Centro secundário, de apoio. Eles não lidam bem é com o emocional. Por isso veremos o Tipo 8 ir com avidez ao Ponto 7, do prazer físico e mental, onde ele pode exercitar ao mesmo tempo os pecados da Gula e da Luxúria. Além disso, o Ponto 7 é uma de suas Asas, faz parte da sua personalidade, em maior ou menor grau. É por isso que, de modo geral, os Tipos 8 são gordos, fisicamente volumosos. Por um lado, isso acontece como um fruto da gula (Asa 7), mas por outro é uma forma de conquistar mais espaço, mais território, é mais uma arma de imposição da própria presença. E também reflete sua preguiça física, sua indisposição para a ginástica e os esforços físicos, provenientes da influência que recebe da Asa 9. A passagem do Ponto 7 ao Ponto 1 acontece sempre no fim das festas, banquetes ou orgias que os Tipos 8 gostam de promover, para exibir seu poder e para articular negócios com as pessoas que participam de sua esfera de influência no mundo da política ou dos negócios. É a manhã da ressaca, onde é preciso voltar a seguir as regras e rotinas do mundo. Como se trata de um Ponto ligado ao Centro Físico cuja tendência é reprimir o prazer, é uma região psíquica que incomoda o Tipo 8. Tipos 1 seguem as regras que vieram de fora e foram introjetadas. Tipos 8 gostam de fazer suas próprias leis, gostam de ser a lei em seus territórios de domínio. Sua tendência é ir do Ponto 1 ao Ponto 4 o mais rapidamente possível, pois detestam a sensação de contenção e disciplina do Ponto 1. No Ponto 4, primeira chegada do Tipo 8 ao Centro Emocional, surgem muitos perigos. Se o Tipo 8 estiver apaixonado, ele se sentirá fraco, dependente da outra pessoa e sua tendência será reagir a esse sentimento buscando o controle total da outra pessoa. Poderá partir para dar incertas na vida da pessoa amada, para certificar-se de que não está sendo traído, ou mandar espioná-la. Poderá partir para a agressão física (que percebem como algo totalmente natural, inerente à guerra que é a vida,) e até para o crime passional, se sentir-se traído ou enganado. Quando falamos do Tipo 4, 50 alertamos para seu potencial de vingança e revanchismo. Esse potencial é duplicado, quando se trata de um Tipo 8 no Ponto 4. É importante esclarecer aqui que o movimento de agressão, em termos de fluxo mecânico, não acontece exatamente no Ponto 4, pois nele apenas começa o desejo de vingança. Tudo acontece no movimento 4 (sentimento de abandono e de ser injustiçado / desejo de vingança 2 (orgulho ferido / explosão emocional) 8 (expressão da raiva sem controle). Se o Tipo 8 não estiver apaixonado, a passagem pelos Pontos 2 e 4 poderá significar momentos afetivos com a família, nos quais ele poderá até se desarmar, mas estará sempre no comando absoluto de tudo, seja ele um patriarca ou uma matriarca. Tais momentos são percebidos como fraqueza interna e a tendência do Tipo 8 é voltar o mais rapidamente possível ao seu Núcleo, onde sentir-se à o “Poderoso Chefão” que gosta de ser. Importante constatar que é no Ponto 2 que o Tipo 8 pode se desarmar e desenvolver a virtude da Inocência que lhe permitirá superar sua natureza agressiva. O SEGUNDO FLUXO NÃO MECÂNICO Reafirmamos que todos os tipos de personalidade, não importa quais sejam, têm enormes dificuldades para entrar no fluxo não mecânico. Na maioria dos casos, há breve passagem pelas virtudes e volta maquinal aos comportamentos e atitudes fixadas desde a infância. Além disso, percorrer e sedimentar internamente 6 virtudes humanas nunca será tarefa fácil para ninguém. Por isso os Mestres do Eneagrama falam dos super-esforços que são necessários para fazer surgir e fortalecer a nossa essência. Mas podemos descrever aqui o movimento teórico de um Tipo 8 no fluxo evolutivo do Eneagrama (a Figura abaixo mostra o sentido desse fluxo): No próprio Ponto 8: ao invés do anseio pelo poder sobre os outros, a pessoa desenvolve o seu senso de justiça, inclusive o de justiça social e, ao 51 invés de construir um império para si, pode então colocar sua força e sua coragem a serviço dos fracos e oprimidos. Movimento 8 2: o abandono da violência pelo amor e pela ternura, somados à virtude da Humildade; Movimento 2 4: a descoberta da Equanimidade, que conduz ao ideal de construção de um sistema social mais justo e mais fraterno (talvez nenhum Ponto do Eneagrama represente tão bem os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa quanto o Ponto 4); Movimento 4 1: toda violência se dissolve na virtude da Serenidade, que se soma a em elevado senso de ética (a exemplo do que fez Mahatma Ghandi, na sua luta sem violência contra os colonizadores ingleses, pela independência da Índia); Movimento 1 7: A gula é colocada sob controle, ou harmonizada pela virtude do Equilíbrio; a coragem inerente aos Tipos 8 e 7 se orienta para a expansão arrojada dos horizontes do próprio ser, com alegria de viver, em contraste com a busca imperialista de novos territórios para dominar; Movimento 7 5: a sede de poder se dissolve na virtude do Desapego, fazendo surgir a consciência de que um poder muito maior está encerrado na sede de conhecimento em todas as áreas; Movimento 5 8: o egoísmo, a ânsia de controle se apaga na virtude da Inocência, que potencializa o fluxo para o Ponto 2, ampliando a capacidade de amar, de doar e de cooperar com os outros. 52 ANEXOS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS 53 DE PERSONALIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO Tipos 1 Não gostam de modificações nas regras e regulamentos; Valorizam os aspectos formais (limpeza e organização do ambiente, boa aparência das pessoas, beleza visual dos projetos); Esperam reconhecimento por sua competência e quando isso acontece, passam a produzir mais ainda; Raramente confrontam autoridades superiores; Raramente expressam sua raiva, pois sua tendência é contê-la; Possuem rigidez interna: geralmente são formais e pouco espontâneos; Apresentam alto rendimento em tarefas que exigem precisão, detalhamento, responsabilidade, padronização de procedimentos e qualidade elevada; Extremamente suscetíveis a injustiças, pois estão constantemente preocupados com o que é “certo” e o que é “errado”; Aborrecem-se quando verificam a existência de muitos erros, nos processos e nas pessoas; Quando se sentem inseguros, sua tendência é aumentar o controle sobre as pessoas e as rotinas de trabalho; Possuem elevado sentido de ética; Gostam de metas e diretrizes claras e objetivas; Não gostam de tomar decisões quando as conseqüências são imprevisíveis e o risco é elevado; Em reuniões do tipo brainstorming, não se deve esperar deles contribuições criativas mas sim críticas e estabelecimento de normas. Tipos 2 Possuem atração pelo poder e articulam para se tornarem queridos pelas pessoas que têm autoridade (são notáveis aduladores); Costumam defender os interesses das pessoas poderosas que os protegem; Preferem mandar nos bastidores, ao invés de ocupar o primeiro plano das atenções; Em reuniões, não são muito objetivos e tendem a apoiar as posições das pessoas com quem simpatizam; Têm capacidade para desempenhar múltiplas tarefas, desde que se sintam felizes na interação com as pessoas; Tendência a formar “panelinhas” afetivas; Oscilam emocionalmente: oram exigem serem mais estimados, ora sentem-se oprimidos e explorados pelos superiores; Normalmente são o “braço direito” de alguém, mas raramente dispõem de alguém trabalhando para eles como “braço direito”; 54 Geralmente não visam apenas ganhos materiais: seu principal salário é a consideração afetiva; Tendência ao maternalismo e/ou paternalismo. Tipos 3 Querem liderar e sabem negociar; São energizadores e bons formadores de equipes de trabalho; Estão sempre preocupados com o seu status, e se comparando aos demais (precisam de símbolos concretos de posição de prestígio para se sentirem vitoriosos: um belo carro, boas roupas, uma casa invejável etc.); São coringas, capazes de desempenhar tarefas múltiplas e diferentes, mas têm necessidade interna de aparecer, de brilhar perante os demais; Costumam ignorar opiniões negativas ao seu desempenho, pois não admitem sequer a hipótese de um fracasso (os resultados negativos são vistos como sucessos parciais, jamais como derrotas); Estão sempre se auto-promovendo; Quando focados numa meta, deixam os sentimentos de lado e tratam de alcançá-la; Usam todas as armas disponíveis para derrubar seus adversários, quando lutam por uma posição mais elevada; Gostam de reuniões e têm flexibilidade interna para ouvir opiniões opostas às suas; São emocionalmente reservados, mas, como são camaleônicos, podem interpretar personagens de alta voltagem emocional, se isso for importante para atingir as metas que traçaram para si próprios; Quando não têm certeza do caminho a seguir, sua tendência é imitar modelos ou cases de sucesso; Tipos 4 São bastante criativos e inovadores; São ótimos para começar projetos novos ou para corrigir algo que não está dando bons resultados, mas tendem a sabotar rotinas rígidas e procedimentos muito padronizados; Precisam trabalhar em processos sem repetição de tarefas e onde haja flexibilidade para fazer as coisas de muitas maneiras diferentes; Quando não são reconhecidos por suas qualidades, podem se tornar ressentidos e planejar vinganças, que são tramadas nos bastidores; Não gostam de chefes autoritários e punitivos e podem tornar-se rebeldes aos regulamentos; Só respeitam as autoridades que contam com a admiração da maioria; Preferem trabalhar sem horários e sem muitas regras – seus modelos de gestão são bastante personalizados; Sentem-se muito originais e não gostam de coisas banais; 55 São envolventes e mobilizadores das outras pessoas, porque são apaixonados pelo que fazem. Tipos 5 Gostam de ser “eminências pardas”, supervisionar as coisas nos bastidores; Têm sangue frio para tomar decisões de alto risco; São práticos e competentes para formular políticas da empresas; Gostam de dividir projetos de longo prazo em etapas simples; Não aceitam injustiças dos superiores; São muito autocríticos e reservados, pouco transparentes; Grandes solitários e encontram dificuldades para trabalhar em grupo e para partilhar idéias; São detalhistas e podem perder tempo com pequenas coisas; Detestam ficar a serviço ou à disposição de outras pessoas; Se puderem estabelecer suas próprias condições de trabalho, são capazes de abrir mão de títulos, gratificações ou símbolos de prestígio; Gostam de ficar sozinhos em sua sala, sentindo-se incomodados em ambientes com muita gente; Detestam se sentirem vigiados intensivamente pelos chefes ou serem obrigados a fazerem relatórios com muita freqüência; Lidam mal com contatos pessoais continuados (temem se expor) e reuniões muito freqüentes; O ideal é que suas qualidades sejam usadas nas áreas de pesquisa, planejamento, consultoria, auditoria, análise detalhada e verificação de orçamentos, devendo-se evitar que sejam responsáveis diretos pela parte executiva das ações. Tipos 6 Adoram as pessoas empreendedoras, que fazem sucesso; Por isso, idealizam seus líderes, e não conseguem julgá-los com objetividade; Se o líder ou o chefe não se comporta conforme os padrões que idealizaram, podem rebelar-se contra sua autoridade; Têm grande “espírito de grupo”, com grande senso de lealdade; Nas autoridades, costumam descobrir aspectos negativos; nas pessoas oprimidas, que se sentem na obrigação de proteger, costumam ver as qualidades; Possuem aguda intuição para descobrir as intenções ocultas das pessoas; Estão sempre vigilantes contra tentativas de manipulação da sua pessoa ou da sua equipe de trabalho; Precisam de absoluta clareza nas regras hierárquicas: quem manda nisso, quem faz aquilo; 56 Em caso de dúvida, procurarão seguir as regras da “cartilha” da empresa; Normalmente pouco criativos e receosos de tomar decisões; Hiperativos, são bons na execução de tarefas determinadas com clareza; Costumam ter bom desempenho sob pressão psicológica; De modo geral, são bastante responsáveis, embora instáveis no seu desempenho profissional cotidiano, que é sujeito a altos e baixos; Sua imaginação está sempre ativa e sempre ligada no pior que pode acontecer; Como são muito desconfiados, é preciso sempre ser sincero e transparente com os Tipos 6. Tipos 7 Detestam autoridade e buscam a igualdade hierárquica entre os membros de qualquer equipe de trabalho; Funcionam mal quando não têm liberdade de ação; Seu otimismo costuma entusiasmar as pessoas e por isso são adequados para difundir idéias entre os colegas; Atuam bem dentro do grupo, embora sejam bastante individualistas; São personalidades sedutoras e acreditam que podem se livrar de qualquer problema com sua lábia e inteligência; São empreendedores, mas sem muita exigência quanto à qualidade na execução das tarefas; Devem ser acionados na fase inicial dos projetos, pelo clima otimista que criam em seu ambiente de trabalho; Não gostam de dar, nem de receber ordens; São aptos a desempenhas inúmeras tarefas diferentes, mas detestam rotinas; Bons para elaborar políticas, estratégias, metas e diretrizes viáveis; Apresentam bom rendimento em trabalhos que envolvam muitos relacionamentos interpessoais e diversidade de tarefas. Tipos 8 São corajosos ao extremos e não têm medo de confrontos nem de guerras prolongadas; Não têm meio termo: amigos versus inimigos é seu lema; Produzem mais que o normal quando seu trabalho é reconhecido e valorizado; Não gostam de abrir do poder, do controle total sobre a operação das coisas; Precisam de um “feudo” para reinar, nem que seja pequeno; Exigem que os limites de poder e de território sejam estabelecidos com clareza dentro da empresa; 57 Gostam do confronto em campo aberto e respeitam as opiniões sinceras, mas detestam as pessoas dissimuladas; Admitem fracassar, mas nunca fraquejar; Detestam que os outros sejam condescendentes com eles, pois não querem ser vistos como pessoas fracas que precisam de proteção; Se forem supervisores do trabalho alheio, tentarão controlar tudo: serão inconvenientes, invasores e darão “incertas” para checar o desempenho dos subordinados; Se for subordinado a você, testará os seus limites; se for superior a você, vai impor os seus limites de poder; São pessoas pouco diplomáticas e normalmente não fazem alianças para compartilhar o poder; mesmo quando fazem um aliado, depois que obtém a vitória contra um inimigo comum, voltam-se contra ele, para decidir quem será o rei; Tem espírito protetor em relação a seus subordinados, mas exigem lealdade e dedicação absolutas; Gostam de fazer regras personalistas e de quebrar essas mesmas regras, só para mostrar que detém o poder. Tipos 9 Não querem ser chefes, nem líderes, pois têm medo de conflitos; Produzem muito quando são reconhecidos; Sua tendência é trabalhar mais para os outros que para si próprios, pois têm o sentimento de que não são importantes; Não são bons em estabelecer prioridades e podem descambar para tarefas secundárias, perdendo o bonde das prioridades; Não costumam demonstrar raiva, mas sabem demonstrar resistência passiva (empacam); Devem ser instados a trabalhar sob pressão, pois, quando ganham tempo folgado para uma tarefa, procastinam o trabalho; Costumam deixar o mais importante para o final, porque receiam tomar decisões; Criam empatia com suas funções, não com seus chefes ou com sua empresa; Não lutam por promoções, mas necessitam de que as regras de ganho por mérito sejam as mais claras possíveis; São mais conservadores que inovadores; 58 ASPECTOS DIVERSOS DOS NOVE TIPOS DE PERSONALIDADE 59 60 61 62 63 PRINCÍPIOS ÉTICOS DA APLICAÇÃO DO ENEAGRAMA Por ser uma ferramenta psicológica objetiva e de fácil aplicação no cotidiano, o Eneagrama requer muita ética na sua utilização. Nossa experiência de trabalho na área cultural em mais de dez estados brasileiros demonstrou que, em sua maioria, as pessoas que aprendem o Eneagrama tornam-se mais tolerantes e mais compreensivas. Passam a conviver melhor com as diferenças interpessoais. Começam a dialogar de forma mais flexível, pois aprender a respeitar o predomínio de um dos três centros de energia do ser humano. Muitas nos relataram como o Eneagrama foi importante no seu processo de autoconhecimento, fornecendo um caminho prático de crescimento interno, que pode ser efetivamente monitorado pela própria pessoa e por aqueles que estão à sua volta. Mas o uso indevido dessa fascinante ferramenta é uma possibilidade que não pode ser desconsiderada. Por isso, relacionamos ao final deste livro os Princípios Éticos que devem nortear quem trabalha com o Eneagrama em qualquer área da vida humana. 1. O Eneagrama é uma ferramenta destinada ao auto-conhecimento dos seres humanos e à transformação pessoal positiva. Praticar a auto-observação sobre nossas próprias motivações internas, nossas compulsões, nossos hábitos mecanizados (nosso “piloto automático”) é um processo que nos ajuda imensamente a evitar as principais armadilhas do nosso tipo de personalidade. O conhecimento de si mesmo implica num questionamento incessante de nossas metas de vida, dos nossos objetivos profissionais e também dos nossos mecanismos de defesa. A transformação interna individual requer a coragem e a perseverança de agir contra as estruturas e hábitos de nossa personalidade, para que possamos caminhar na direção do despertar e do desenvolvimento da nossa essência. Antes de aplicarmos o Eneagrama às outras pessoas, devemos primeiramente trabalhar o nosso próprio tipo, desenvolvendo as nossas “virtudes” e abrindo nossas “Asas”, que são fontes de recursos adicionais ao nosso desempenho. O Eneagrama é um mapa objetivo que leva à construção de um ser mais completo e mais capaz de agir no mundo. O Eneagrama nos estimula a encarnar em nós mesmos o trabalho efetivo de autotransformação positiva. Que cada estudioso e praticante do Eneagrama seja um exemplo vivo de auto-observação e de crescimento interno, mostrando como é possível a evolução real no caminho da libertação dos nossos hábitos mecânicos e da ampliação das nossas potencialidades como seres humanos. 2. O Eneagrama é uma fonte de solidariedade. O estudo do Eneagrama nos convida a interromper o círculo vicioso dos nossos hábitos, para que ingressemos na etapa dos círculos viciosos, ou dos processos ascendentes de crescimento interno. Precisamos, todos, superar os nossos mecanismos de defesa repetitivos. Neste sentido, cada pessoa pode e deve estar a serviço das outras, alertando-as sobre as diferenças que existem entre os nove tipos de personalidade e como existe uma sinceridade real em cada um dos nove pontos de vista. Doutrinas e teorias são bem menos importantes que uma comunicação aberta entre as pessoas. O conhecimento do Eneagrama pode ser aplicado de forma muito útil na educação dos filhos, nas relações afetivas e no ambiente de trabalho. Como podemos usar essa ferramenta para promover nosso crescimento interno, também podemos utilizá-la para ajudar os outros a superarem as características negativas de seus tipos de personalidade. Respeitando, sempre, as diferenças individuais. 3. O Eneagrama é um instrumento a serviço da tolerância. Quanto mais e melhor nós compreendemos as motivações e a lógica dos outros tipos de personalidade, menos nós criticamos, julgamos ou rejeitamos os outros. Quem trabalha com o Eneagrama deve escutar atentamente cada história individual. O fato de possuirmos um conhecimento até profundo sobre os nove tipos de personalidade não nos dá nenhuma garantia de que de fato conhecemos uma pessoa. Ter uma concepção estereotipada do Eneagrama é um 64 sinal de visão estreita da vida, do mundo e do ser humano. Ninguém pode pressupor que conhece de antemão todas as atitudes e as motivações de uma pessoa. Quando construímos estereótipos, em geral estamos nos baseando em experiências negativas que tivemos com pessoas deste ou daquele tipo de personalidade. Não faz sentido impor o geral ao particular. Atitudes equivocadas como essa só podem limitar nosso próprio crescimento pessoal, diminuir a riqueza das relações entre os seres humanos e embotar nossa visão nos momentos de tomada de decisões. 4. Cada indivíduo é o principal responsável pela descoberta do seu tipo de personalidade. A experiência mostra que o Eneagrama provoca reações e transformações profundas nas pessoas. Realçamos aqui que a ferramenta se torna mais eficaz quando nós permitimos aos outros que descubram seu próprio tipo de personalidade, ao invés de supor que nós poderemos conhecê-los melhor do que eles conhecem a si mesmos. Devemos respeitar o ritmo interno de cada um e ter máxima sensibilidade às reações de cada pessoa que entra em contato com a Teoria do Eneagrama. É preciso que estejamos atentos às consequências da mudança da imagem que ela têm de si própria e a todos os recursos que ela possa vir a necessitar para integrar de forma construtiva este novo e impactante sistema de conhecimento. 5. Todo indivíduo é sempre maior do seu tipo eneagramático de personalidade. Por mais coerente que seja, o Eneagrama não nos conta nada sobre a história específica de vida de cada pessoa. Um tipo é apenas uma síntese teórica de características básicas e não nos dá informações significativas sobre as qualidades do caráter de uma pessoa. A teoria não mostra sua real inteligência, em os talentos que ela desenvolveu através do seu esforço pessoal. Uma pessoa é sempre mais que seu tipo. É particularmente importante lembrar-se disso no universo profissional, para não cairmos na tentação dos julgamentos estereotipados e das análises apressadas que mal disfarçam nossos próprios preconceitos e equívocos internos. 6. O Eneagrama é um sistema em processo democrático de construção. Muitos estudiosos já contribuíram para o desenvolvimento do Eneagrama e certamente diversos outros pesquisadores continuarão a gerar conhecimento sobre esta valiosa ferramenta, no futuro. Neste horizonte, devemos atribuir explicitamente a cada indivíduo o mérito intrínseco do seu trabalho. Devemos sempre citar nossas fontes e honrar a criatividade e a contribuição pessoal de outros pesquisadores. O Eneagrama nos convida a uma compreensão profunda do ser humano e ao compartilhamento democrático dos conhecimentos alcançados por cada pesquisador. 7. O Eneagrama pertence a toda a humanidade. O Eneagrama não pode ser controlado, manipulado, nem monopolizado por quem quer que seja. Acima de tudo, não pode ser retirado do campo da discussão pública, aberta e democrática. Qualquer limitação dos direitos de comunicar, desenvolver e compartilhar informações sobre o Eneagrama é uma atitude contrária ao espírito de libertação e de desenvolvimento humano que constitui a base de todo o sistema. 65