Flutuando com um vento cósmico
Transcrição
Flutuando com um vento cósmico
Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 Flutuando com um vento cósmico - A vida de Um Shihan Famoso --------------------------------------------------------Por Kazuo Chiba 8º Dan Fonte : (Biran, Aikido Journal of Birankai/USAF- Western Region) Deixei o porto de Sasebo, Município de Nagasaki, Japão, em 28 de marco de 1966, para uma viagem de seis semanas pelo mar para a Inglaterra. Eu era o único passageiro na cabine de 1a. classe a bordo do Al-Sabbiyah (“Pequena Princesa”, em árabe), um petroleiro do Kuwait de 35.751 toneladas, arrendado para uma companhia inglesa baseada em Newcastle, Inglaterra. Mitsuko, sua prima Satako e seu pai, Sr. Sekiya (ver notas finais, no. 1), estavam no porto para me ver partir. Eu tinha 26 anos, um quinto dan em Aikido e havia casado com Mitsuko há menos de três meses. Enquanto observava, de pé na popa do navio, o vulto de minha terra natal desaparecendo no crepúsculo, senti como se estivesse num sonho. Quando os últimos vestígios da ilha do Japão sumiram abaixo do horizonte no cair da noite, acordei repentinamente para a realidade de estar realmente a caminho da Inglaterra – o país a respeito do qual eu tanto ouvira falar. O clima, a comida, o povo e seus costumes, tudo parecia estranho para mim e não me sentia encorajado ou interessado em experimentá-los pela primeira vez. Por que eu estava indo para lá? Por que razões? Eu ainda tinha que resolver o conflito interno que havia atormentado meu coração e minha mente por tanto tempo. Todos os eventos que haviam sido postos em movimento ocorreram contra minha vontade e tudo o que 1/6 Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 eu conseguia pensar era: não quero ir para a Inglaterra! Não queria deixar minha terra natal, pela qual tinha tão intenso amor e apego, e não podia su portar deixar para trás as pessoas com as quais me importava profundamente e às quais pertencia. Senti como se meu coração estivesse se partindo. Tudo começou em abril de 1964, quando Kenshiro Abbe Sensei (ver notas finais, no. 2) veio da Inglaterra ao Hombu Dojo para prestar homenagem a O-Sensei. Desde sua partida do Japão, 10 anos antes, Abbe Sensei havia estabelecido com sucesso uma organização de judô na Inglaterra e em seu retorno tinha trazido consigo o dirigente do Conselho Britânico de Judô, Sr. R. Logan. Durante seu encontro com O-Sensei, solicitaram duas coisas: primeiro, que O-Sensei designasse um instrutor para dirigir a divisão de Aikido de sua organização na Inglaterra e, segundo, que ele designasse um professor para dar aulas particulares ao Sr. Logan durante sua estada no Japão. Por razões que desconheço, foi me dada a tarefa de instruir o Sr. Logan – projeto que durou um mês. Na época, não percebi que esse foi o ponto em que a roda do meu destino começou a g irar, para o bem ou para o mal. No verão de 1965 – vários meses após eu ter dado aulas particulares ao Sr. Logan – ele e Abbe Sensei indicaram a O-Sensei que queriam que eu fosse o instrutor designado para a Inglaterra. O-Sensei consentiu alegremente mas, quando eu soube de sua decisão, não fiquei tão contente assim. Fiquei muito preocupado que o clima da Inglaterra pudesse agravar o sério machucado na espinha dorsal que eu havia sofrido alguns anos antes. Após suportar jejuns intensos, havia conseguido me recuperar o suficiente para retomar o treino, mas ainda sofria de severas dores de cabeça e persistente dor nas costas, com amortecimento na perna. Minha experiência dizia que clima frio e úmido era meu pior inimigo. Durante os poucos meses seguintes à decisão de O-Sensei de me mandar para a Inglaterra, viajei algumas vezes entre Tokyo e a casa de Abbe Sensei em Kyoto para preparar meu contrato e reunir informações com relação à situação do Aikido na Bretanha. No fim de se tembro de 1965, o contrato estava completo e assinado por Abbe Sensei como presidente do Conselho Britânico de Judô, pelo Sr. Logan como seu dirigente executivo e por mim, como novo responsável de sua divisão de Aikido, além de por Tadashi Abbe Sensei (ver notas finais, no.3), como testemunha. O contrato me garantia a obtenção dos vistos e permissões de trabalho necessários, um salário líquido de 60 libras por mês, duas semanas de férias remuneradas por ano, seguro saúde, patrocínio da vinda de Mitsuko no prazo de um ano e uma opção de renovação do contrato por mais dois anos, a ser acordada entre as partes após os primeiros três anos. O contrato foi o primeiro desse tipo a ser estabelecido entre o Hombu Dojo e uma organização externa com o propósito de enviar um instrutor de Aikido para ensinar fora do país. Uma semana antes da minha partida para a Inglaterra, meu irmão mais velho e eu fomos ao Hombu Dojo para dar adeus a meu professor. Tínhamos ficado presos no tráfego mat inal de Tokyo e chegamos ao dojo muito mais tarde que o esperado. O-Sensei estava esperando por mim na sala de recepção e, quando percebi sua impaciência, me senti mal e envergonhado. Ele encheu nossos copos com sakê frio e nos ofereceu algumas lulas secas grelhadas que havia preparado para nós. Trocamos um “kampai” de despedida. Ele então me olhou 2/6 Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 gentilmente e disse: “Não se preocupe comigo, nunca. Vou ficar bem e viverei até os 126 anos de idade”. Suas palavras misteriosas assombraram minha consciência por muitos anos, até que um dia, muito depois de sua morte, seu significado revelou-se de repente para mim e finalmente entendi completamente. Então, e só então, minha mente ficou em paz com a morte de meu mestre. Enquanto eu estava em pé na popa do navio contemplando os eventos dos dois anos anteriores, percebi que era fútil continuar a me perguntar por que eu estava indo para a Inglaterra. Desde que a decisão havia sido inicialmente tomada, eu tinha lutado continuamente c om a questão do por quê, e a cada vez eu chegava à mesma conclusão: devo afastar todas as minhas preferências pessoais e desejos e render-me à vontade de meu professor – uma vontade que deve ser obedecida a qualquer custo, independentemente do sacrifício pessoal. Fiquei ali de pé por muitas horas, olhando e pensando. O mar estava calmo e nuvens baixas cobriam todo o horizonte. O único som que eu podia ouvir era o quebrar das gigantescas ondas de cristas brancas que se levantavam do mar como pequenas montanhas no trilha do navio enquanto este oscilava através das águas escuras. Não conseguia ver as estrelas no céu nessa noite. Lembrei de mais alguns eventos importantes que haviam acontecido nos poucos meses antes de minha partida. Em 15 de janeiro de 1966, encerrei minha vida de sete anos como uchideshi no Hombu Dojo e casei-me com Mitsuko. Após à cerimônia, a festa de casamento foi realizada no Tokyo Kaikao, Shiajuku. O-Sensei era o convidado de honra para a festa, junto com Kisshomaru Ueshiba Sensei (Waka Sensei) e sua mulher, que haviam cumprido a função de casamenteiros em nosso arranjo matrimonial. Quase todos os professores mais importantes de Aikido do Japão estavam presentes, incluindo os Senseis Koichi Tohei, Okumura Osawa, Yamaguchi, Arikawa e Tadashi Abbe, para mencionar alguns, mais quase todos os instrutores chefes dos dojos filiados de todo o país. A data da festa de casamento havia sido intencionalmente escolhida para coincidir com a celebração anual do Kagamibiraki de Ano Novo do Hombu Dojo, quando a maioria dos instrutores chefes dos dojos filiados se reuniam em Tokyo para a ocasião. Sasaki Sensei e um amigo meu muito próximo, Sr. Kitaura, presidiram conjuntamente a recepção e todos os membros da minha família e da família de Mitsuko estavam presentes, com exceção de minha mãe. Após a recepção, levei Mitsuko para Obama, Município de Fukui, para ver Harada Tangen Roshi – meu mestre Zen e monge principal de Bustukoji. Tangen Roshi vivia num pequeno templo construído perto do monastério e era acompanhado por seu discípulo Yamahata Hogen (ver Notas Finais, no. 4), que se tornou meu amigo por toda a vida. Obama é uma vila simples de pescadores com uma costa magnificamente bela no Mar do Japão. Os invernos são mortalmente frios, com neve pesada e geadas freqüentes e intensas soprando através do mar e vindas da Sibéria. Nós quatro, Tangen Roshi, Yamahata, Mitsuko e eu, saímos uma vez para dar uma caminhada pela costa no meio de uma nevasca, depois de haver tomado sakê quente e cantado músicas durante toda a noite. Um mês após meu casamento, em 15 de fevereiro de 1966, faleceu minha mãe num hospital perto de sua casa. Ela havia estado em coma por uma semana, após um grave ataque cardíaco. Ela tinha 56 anos de idade. Eu estava de pé ao lado de sua cama quando ela inspirou pela última vez e, quando vi uma única lágrima escorrer por sua face, soube que ela havia partido para sempre. Carreguei-a para casa sobre meus joelhos, num táxi. Enquanto permanecia de pé na popa do navio no meio da noite, no meio do nada naquele amplo mar 3/6 Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 aberto, tentando reunir todas as lembranças de minha mãe, até as mais antigas que eu conseguia alcançar, fui repentinamente tomado de avassaladora tristeza e terror enquanto me dava conta de que eu era largamente responsável por sua doença e morte prematura. Minha primeira memória dela era do tempo em que eu tinha quatro anos de idade. Minha mãe e eu estávamos visitando minha avó em Mukojima, distrito de Sumida, Tokyo, quando inesperadamente minha mãe deu à luz meu irmão mais novo. Minha avó estava andando, um dia, quando ouviu um grande alarido por perto. Para surpresa dela, encontrou-me no meio da confusão, brigando com cerca de meia dúzia de garotos. Ela se apressou em intervir e me salvou da encrenca. Levou-me então de volta para sua casa e me fez sentar próximo ao futon em que minha mãe descansava. Minha mãe levantou a cabeça do travesseiro e me olhou enquanto minha avó contava toda a história chocante. Ainda me lembro vagamente de sua face pálida e triste, mas não consigo me recordar do que ela me disse naquele dia. Após esse incidente, minha mãe era sempre chamada à sala do diretor da minha escola elementar para ouvir sobre outros episódios do meu comportamento violento. Cada vez que ela voltava de uma dessas reuniões, sentava perto da lareira e me repreendia enquanto lágrimas corriam de seus olhos. Apesar de seu sofrimento e de seus esforços para me educar, nunca mudei meu comportamento. Eu via tudo ao meu redor – casa, escola, comunidade e todas as pessoas – como cheio de hipocrisia e injustiça e eu não conseguia entender isso. Para mim, não havia nada que eu pudesse fazer a não ser resistir e revoltar-me contra todos. Sei em meu coração que as artes marciais salvaram a minha vida; de outro modo, sem dúvida, eu provavelmente teria acabado como gangster ou terrorista. Em meu sentimento de desamparo e culpa em relação a minha mãe, a única coisa que aliviava o peso em meu coração era o fato de que eu sabia que ela havia amado Mitsuko desde o momento em que a vira pela primeira vez. Minha mãe ficou muito contente com meu casamento com Mitsuko e a tratava como se fosse sua própria filha – como a filha que ela havia perdido com a idade de 3 anos. Foi Mitsuko quem permaneceu ao lado da cama de minha mãe e cuidou dela carinhosamente, desde o dia em que ela entrou em coma até sua morte uma semana depois. O verdadeiro número e impacto das mudanças que eu havia experimentado – começando com a visita de Kenshiro Abbe Sensei ao Hombu Dojo e terminando comigo em pé no convés do Al-Sabbiyah – eram-me difíceis de compreender. Eu estava no limiar de um futuro que não havia previamente imaginado e era impossível saber como ele iria se desdobrar. Disse a mim mesmo que isso era apenas o começo e, independentemente do que mais acontecesse, eu devia me desapegar de tudo o que havia deixado para trás. Na noit e do segundo dia da viagem, o navio entrou no Mar do Sul da China e olhei a ilha de Taiwan que se desvanecia na distância. Logo depois, localizei um par de submarinos americanos – seus estranhos corpos de metal escuro cintilavam sob o sol brilhante e meu corpo se tensionou quando senti as nuvens escuras da guerra sobre o Vietnam. T. K. Chiba 25 de setembro de 2005 San Diego, Califórnia 4/6 Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 Chiba sensei e o'sensei Ueshiba Notas Finais: 1. O Sr. Masatake Sekiya (1917-95) foi discípulo direto do Dr. George Osawa, o fundador do sistema de dieta macrobiótica baseado na antiga filosofia chinesa do Yin/Yang. Com a ajuda de sua esposa, o Sr. Sekiya usou seu conhecimento de macrobiótica para tratar de O-Sensei em seus últimos anos. Sexto dan de Aikido, ele começou seu treinamento na Escola Yoshinkan, mudando mais tarde para o estilo Hombu. Foi aluno devotado do falecido Yamaguchi Sensei e iniciou o treinamento de esgrima Kashima Shinryu com Noguchi Sensei. O Sr. Sekiya me auxiliou em meus primeiros e sforços nas Ilhas Britânicas. 2. Kenshiro Abbe (1913-86) foi um renomado instrutor de Judo que se graduou na Faculdade de Artes Marciais Busen, em Kyoto. Ele fundou o Conselho Britânico de Judo em 1956. Como discípulo de O-Sensei, ele constituiu o Conselho Britânico de Aikido dentro do C.B.J. Sua mais famosa luta como judoca ocorreu em 1936 em Saineikan, no Palácio Imperial de Tokyo. A fileira estava composta de lutadores godan – os melhores e mais fortes praticantes do Japão. Os cinco melhores foram selecionados para lutar com todos os competidores. Abbe Sensei finalizou cada oponente em menos de um minuto, incluindo o Sr. Kimura, que nessa época era considerado o mais forte judoca da história contemporânea do judo japonês. 3. Tadashi Abbe (1915-79) foi discípulo de O-Sensei por longo tempo, tendo treinado em Iwama e no Hombu Dojo, tanto antes como depois da guerra. Foi um legendário professor de Aikido na Europa e ainda é tido em alta conta pela geração mais velha de artistas marciais. Ele foi para a França em 1953 como o primeiro professor de Aikido mandado para o exterior pelo Hombu Dojo. Ele introduziu o Aikido através da Europa e do Norte da África. Bastante conhecido por Kenshiro Abbe, era ocasionalmente convidado a ensinar no Conselho Britânico de Aikido. Durante a guerra, freqüentou cursos preliminares na Universidade Takushoku e depois transferiu-se para a Universidade Waseda. Mais tarde, candidatou-se à Faculdade Naval Yokaren, onde foi selecionado para uma missão especial num submarino pilotado por um só homem que envolvia transportar e detonar 250 kg de explosivos para destruir barcos inimigos lançados de um navio-mãe. Ele sobreviveu à guerra, perdendo assim uma oportunidade de morrer e ficou amargurado com isso até o fim de sua vida. Ele e eu fomos companheiros 5/6 Flutuando com um vento cósmico Escrito por Kazuo Chiba shihan Qui, 26 de Fevereiro de 2009 14:51 - Última atualização Qui, 11 de Agosto de 2016 22:59 freqüentes após sua volta ao Japão em 1963 e eu vim a admirá-lo muito. 4. Yamahata Hogen (nasc. 1937) é um monge Zen que visitou o Iwama Dojo em 1960, quando v iajava pelo país procurando seu mestre. Ficou em Iwama por um mês, após o que retomou sua jornada. Durante sua estada nos tornamos grandes amigos e temos nos comunicado regularmente desde então. Por conselho de seu mestre, em 1962 ele foi para Nagoya para viver e treinar no Nagoya Aikikai, durante o tempo em que eu estava encarregado do dojo. Veio para os Estados Unidos em 1983 a meu convite para a abertura do North Park dojo em San Diego, Califórnia. Ele criou a publicação Zen “Open Way”, para a qual escrevi a introdução. Atualmente, reside na Austrália. (Traduzido do inglês por Luiz Carlos Cintra, aluno do Instituto Takemussu ) : [email protected] www.altris-it.com d.hatena.ne.jp avrora-trans.com dmi.com.ua чехлы для айфон 5 подарки на новый год レビトラ 効果 時間 https://nissan-ask.com.ua jaamboo.com.ua/product-category/ygol/ http://modaokon.com.ua 6/6