Késia Rozzett Dissertação 12.03 - PPGA

Transcrição

Késia Rozzett Dissertação 12.03 - PPGA
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Programa de Pós-Graduação em Administração
KÉSIA ROZZETT
DESCARTE DE APARELHOS CELULARES: uma análise do comportamento
declarado dos consumidores
Brasília – DF
2013
KÉSIA ROZZETT
DESCARTE DE APARELHOS CELULARES: uma análise do comportamento
declarado dos consumidores
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Administração da Universidade de
Brasília como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Administração.
Professora orientadora: Doutora Solange Alfinito
Brasília – DF
2013
KÉSIA ROZZETT
DESCARTE DE APARELHOS CELULARES: uma análise do comportamento
declarado dos consumidores
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Administração da Universidade de
Brasília como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Administração.
Professora orientadora: Doutora Solange Alfinito
Aprovada em __/__/____
Banca Examinadora
_______________________________
Solange Alfinito, doutora
Universidade de Brasília – PPGA
__________________________________
Rafael Barreiros Porto, doutor
Universidade de Brasília – PPGA
_____________________________________
Melby Karina Zuniga Huertas, doutora
Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de Medeiros- FEI
Rozzett, Késia.
Descarte de aparelhos celulares: uma análise do comportamento
declarado dos consumidores
101 f. : il.
Dissertação (mestrado) – Universidade de Brasília, Departamento
de Administração, 2013.
Orientadora: Profª. Drª. Solange Alfinito, Programa de PósGraduação em Administração.
1. Lixo eletrônico. 2. Descarte. 3. Comportamento do
consumidor. 4. Celulares 5. Consciência ecológica I. Título: Subtítulo
Às minhas sobrinhas, geração futura, que precisarão de um
mundo com menos lixo tecnológico e mais respeito ao
meio ambiente e ao próximo.
AGRADECIMENTOS
Àquele que me sustentou todo esse tempo, que a cada dia mostrou o quanto me ama e cuida
de mim e o quão grandes são sua fidelidade e misericórdia. Não viveria sem você, Deus!
A prof. Dra. Solange Alfinito, em quem encontrei uma orientadora e amiga compreensiva e
companheira que confiou em mim acima das minhas limitações e dificuldades. Não tenho
como agradecê-la com palavras. Graças a Deus que nos uniu nesta jornada!
À Marília, minha melhor amiga nesse mestrado. Se o propósito de eu ter estudado justamente
no PPGA foi pra conhecer você, então já valeu a pena. Você foi (e é!) uma grande parceira!
Eu não teria conseguido chegar ao fim sem você andando junto comigo. Se eu fosse listar
tudo pelo qual gostaria de te agradecer, ocuparia esta página inteira. Você é muito especial!
Aos professores e amigos, Dra. Patrícia Guarnieri, Dra. Gisela Demo, MSc. Domingos Spezia
e Dra. Josivania Farias pela amizade, suporte, conselhos, e, principalmente, pelo exemplo.
Quero aprender sempre com cada um de vocês para ser melhor na minha profissão e na vida.
À Daniela Borba, competente ex-aluna da graduação em Administração, que também abraçou
este tema e me auxiliou na parte qualitativa da pesquisa. Torço por você, Dani!
À minha amiga-irmã Ana Flávia pelo encorajamento constante para que eu não desistisse e
por ter me dado suporte emocional e espiritual sempre que precisei. Pv 17.17 pra você!
Ao Hermann, pelo enorme apoio na coleta de dados, nas referências e em tudo mais que eu
precisei (era só chamar!) e pela companhia encorajadora na fase mais crítica de finalização.
À minha prima Laís, por conviver com todos os meus defeitos e me compreender sempre e
por me apoiar tanto quando eu já era quase uma zumbi dentro de casa.
Às amigas Andréia e Rebeca, companheiras não só para a hora do chazinho! Obrigada pela
imensa ajuda na tabulação dos questionários, que pareciam não acabar nunca.
Aos colegas Diogo e Natália, Leonardo, Chael, Marília (de novo!), Paulo, Rayssa e Renata
por terem contribuído financeiramente com esta pesquisa e/ou auxiliado na coleta em seus
respectivos locais de trabalho. Eu nunca esquecerei o apoio de vocês quando precisei
imprimir mais de 2000 cópias! Quebraram meu coração com tamanha solidariedade!
À Amanda por prontamente ter me ajudado quando lancei um pedido de socorro online! ;-)
Aos professores, colegas e funcionários do PPGA, com os quais aprendi, troquei experiências
e cresci como profissional. Em especial às meninas da secretaria, sempre atenciosíssimas!
À minha família, que mesmo de longe, esteve perto, me vendo avançar e me levantando todas
as vezes que eu caí no caminho. Amo vocês!
Aos tantos amigos especiais que não posso listar aqui, mas que me enviaram palavras de
incentivo, oraram por mim, me amaram e tiveram paciência quando eu não tinha mais tempo
para nada, nem para ser a melhor das amigas.
A todos os que contribuíram com a pesquisa como respondentes e/ou encaminharam o
questionário, meu muitíssimo obrigada. O que seria desse estudo sem a participação de vocês?
Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor.
Madre Teresa de Calcutá
Yet what is any ocean, but a multitude of drops?
David Mitchell
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento declarado de descarte dos
consumidores de aparelhos celulares. Para tanto, foi conduzida uma pesquisa mista, com uma
primeira etapa qualitativa e etapa subsequente quantitativa. Foram entrevistadas pessoas que
já haviam trocado de aparelho celular e analisados os dados por meio de Análise de Conteúdo.
Foi então construída uma Escala de Comportamento Declarado de Descarte de Celulares, a
qual foi relacionada a fatores da Escala de Consciência Ecológica do Consumidor e a
variáveis sociodemográficas e à marca dos celulares descartados. Os resultados mostraram
que as pessoas, em geral, guardam seus celulares em casa (ainda que não esteja mais
funcionando) e não têm disposição para empreender esforços na busca por maneiras mais
responsáveis de descarte. Por meio de Modelagem por Equações Estruturais, chegou-se a um
modelo em que a consciência ecológica de produto predisse o comportamento responsável de
descarte e a consciência ecológica de reciclagem e utilização predisse o conhecimento sobre o
processo de descarte. A pesquisa corrobora com outros estudos na área e contribuiu para a
literatura de marketing e comportamento do consumidor ao estabelecer novas relações entre o
comportamento de descarte declarado e outros aspectos do processo de descarte e ao oferecer
indícios de que há variáveis mais adequadas do que as sociodemográficas para explicar esse
comportamento, como é o caso da consciência ecológica.
Palavras-chave: Lixo Eletrônico. Descarte. Comportamento do consumidor. Consciência
Ecológica. Celulares. Análise Fatorial Ordinal.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the self-reporterd consumer behavior regarding the
disposal of mobile phones. We conducted mixed-methods research. The first step was
qualitative and the second quantitative. We interviewed people who had at least once
discarded their cellphone and we analyzed the data using content analysis. Then we built a
Self-Reported Consumer Behavior to the Disposal of Mobile Phones which was later related
to factors from the Ecologically Conscious Consumer Behavior Scale and sociodemographic
variables and phones brands. Through Structural Equation Modelling, the results showed that
people generally keep their cell phones at home (although no longer working) and have no
willingness to make efforts in finding more responsible ways of disposal. The ecological
awareness of product predicted the responsible behavior of disposition while the ecological
awareness of recycling and reutilization predicted the knowledge about the process of
disposition. The research corroborates other studies in the area and contributes to the literature
of marketing and consumer behavior by establishing new relationships between self-reportar
disposition behavior and other aspects of the disposition process and by providing evidence
that there are more adequate variables to explain this behavior than the sociodemographic,
such as the ecological awareness.
Key words: Electronic waste. Disposition. Consumer behavior. Environmental Awareness.
Mobile phones. Ordinal Factor Analysis.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo teórico de pesquisa....................................................................................... 38 Figura 2: Análise paralela em dados empíricos por permutação de colunas ............................ 55 Figura 3: Modelo estrutural inicial de pesquisa........................................................................ 59 Figura 4: Modelo estrutural final de pesquisa .......................................................................... 61 LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Os vilões dos eletrônicos ......................................................................................... 28 Quadro 2: Inciativas e políticas nacionais e internacionais na gestão do lixo eletrônico ......... 32 Quadro 3: Categorias teóricas de análise das entrevistas a partir das questões do roteiro ....... 46 LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resultados do teste MAP de Velicer ........................................................................ 55 Tabela 2: Cargas fatoriais e comunalidades ............................................................................. 56 Tabela 3: Variância explicada rotacionada (extraída) .............................................................. 56 Tabela 4: Coeficiente alfa ordinal ............................................................................................ 57 Tabela 5: Cargas fatoriais rotacionadas em cada fator ............................................................. 58 Tabela 6: Frequências de resposta e mediana para as questões relativas à manutenção do
aparelho celular em casa ................................................................................................... 69 SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 16 2.1 Definição e relevância dos estudos sobre descarte .......................................................... 16 2.2 Fatores que influenciam o processo de descarte .............................................................. 18 2.2.1 Variáveis sociodemográficas ........................................................................................ 23 2.2.2 Consciência ecológica do consumidor ......................................................................... 26 2.3 Lixo Eletrônico ................................................................................................................ 27 2.3.1 Perspectivas no Brasil ................................................................................................... 32 2.3.2 Alternativas ao Descarte ............................................................................................... 35 3 MÉTODO ........................................................................................................................... 39 3.1 Etapa qualitativa .............................................................................................................. 39 3.1.1 Participantes.................................................................................................................. 39 3.1.2 Instrumento ................................................................................................................... 40 3.1.3 Procedimentos .............................................................................................................. 40 3.2 Etapa quantitativa ............................................................................................................ 41 3.2.1 Participantes.................................................................................................................. 41 3.2.2 Instrumento ................................................................................................................... 42 3.2.3 Procedimentos .............................................................................................................. 43 4 RESULTADOS .................................................................................................................. 45 4.1 Etapa qualitativa .............................................................................................................. 45 4.1.1 Categoria 1: Comportamento de compra/consumo ...................................................... 46 4.1.2 Categoria 2: Comportamento de descarte ..................................................................... 46 4.1.3 Categoria 3: Percepção sobre o descarte ...................................................................... 48 4.1.4 Categoria 4: Responsabilidades pelo descarte .............................................................. 49 4.1.5 Categoria 5: Busca de informações .............................................................................. 50 4.1.6 Categoria 6: Medidas preventivas/remediadoras .......................................................... 51 4.2 Etapa quantitativa ............................................................................................................ 52 5 DISCUSSÃO ...................................................................................................................... 62 5.1 Discussão da etapa qualitativa ......................................................................................... 62 5.1.1 Comportamento de compra/consumo ........................................................................... 62 5.1.2 Comportamento de descarte ......................................................................................... 63 5.1.3 Percepção e conhecimento sobre o processo de descarte e busca por informações ..... 64 5.1.4 Responsabilidade sobre o descarte ............................................................................... 66 5.1.5 Medidas preventivas e/ou remediadoras....................................................................... 67 5.2 Discussão da etapa quantitativa ....................................................................................... 68 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 73 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 76 APÊNDICES ............................................................................................................................ 87 Apêndice A – Roteiro da Entrevista ......................................................................................... 87 Apêndice B – Versão inicial do questionário ........................................................................... 88 Apêndice C – Versão final do questionário .............................................................................. 90 12
1
INTRODUÇÃO
Os produtos eletroeletrônicos são considerados, cada vez mais, essenciais ao cotidiano,
sob a ótica do enfoque econômico e do argumento de facilitar as atividades diárias. A
sociedade moderna tornou-se dependente desses equipamentos e acredita que a vida sem eles
seria bem mais difícil (ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010). Entretanto, o consumo
acelerado de eletroeletrônicos evidencia a preocupação com seu destino pós-consumo.
Segundo o programa Solving the e-waste problem (StEP), que congrega a Organização
das Nações Unidas (ONU), governos, organizações não-governamentais (ONGs) e empresas,
as rápidas inovações e trocas de produtos, combinadas à migração da tecnologia analógica
para a digital, têm aumentado o problema do lixo eletrônico (StEP, 2012). Adicionalmente, as
economias de escala – que têm diminuído o preço de inúmeros produtos eletrônicos –
contribuíram com o aumento da demanda por esses aparelhos, tornando sua aquisição menos
dispendiosa. Esta facilidade de acesso incentiva as pessoas a adquirirem e substituírem seus
equipamentos mais rapidamente, antes do fim de seu ciclo de vida.
Leite, Lavez e Souza (2009) ressaltam que o avanço tecnológico acelerado e a rápida
obsolescência de computadores e outros artigos do setor de informática fazem com que alguns
produtos tornem-se ultrapassados antes mesmo de saírem das lojas. Entre as principais razões
para o crescimento na geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE),
Ansanelli (2011) destaca o aumento no consumo e a redução do tempo de vida útil desses
produtos e Ferreira e Ferreira (2008) citam a fixação do homem por novas tecnologias, a
competitividade capitalista, o aumento do consumo e as constantes inovações tecnológicas –
que tornam os produtos eletrônicos descartáveis numa velocidade cada vez maior.
Como reflexo do aumento no consumo de produtos eletroeletrônicos, a geração de lixo
tecnológico tem crescido e suscitado preocupações quanto à destinação e tratamento desses
resíduos. No Brasil, são geradas aproximadamente 680 mil toneladas/ano de REEE e as
estimativas indicam que menos que 1% desses resíduos possui um destino ambiental
adequado (FUNDAÇÃO..., 2010).
No âmbito governamental, foi aprovada a Lei 12.305/2010 em 02 de agosto de 2010,
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010), a qual engloba
as seguintes categorias de produtos geradores de resíduos sólidos: agrotóxicos; pilhas e
baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos. Para
cada uma dessas categorias, deve ser feito um acordo setorial, que prevê a implantação da
13
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, a qual requer que
consumidores, empresas e governo conheçam o problema gerado pelo lixo eletrônico (e-lixo)
e assumam seus respectivos papéis na diminuição e adequação desses resíduos.
Assim, há necessidade de que o consumidor tenha consciência do impacto social e
ambiental gerado pelo descarte não apropriado de resíduos eletroeletrônicos e que as
empresas não só arquitetem e incentivem medidas socialmente corretas de reciclagem e
reutilização destes produtos, mas que provejam meios para que o consumidor devolva o
produto após o uso. Mesmo com a diminuição do consumo desenfreado e o fomento ao
consumo responsável, abordados na PNRS, a solução para o problema do lixo eletroeletrônico
deve ser uma combinação de variáveis que dependem de como consumidores, empresas e
governo se comportam em relação ao problema, visto que a grande ascensão deste mercado
faz da redução no consumo de tecnologia um objetivo nem sempre realista (ABINEE, 2011).
Nesse sentido, para que as empresas planejem e executem processos de logística
reversa (LR), é necessário que conheçam o comportamento dos consumidores de produtos
eletroeletrônicos, a fim de que provejam meios adequados para devolução do produto. É
igualmente importante que consumidores tenham informações sobre o problema e saibam
como podem colaborar e realizar o descarte apropriado.
Especificamente, ressalta-se a necessidade de que pesquisas na área foquem nos
produtos com maior taxa de troca e ascensão no mercado, que possuem ciclos de vida
inconstantes (de difícil estimativa). Para Araújo et al. (2012), o rápido crescimento do
mercado de aparelhos de celular em todo o mundo suscita a necessidade de políticas,
planejamento e gerenciamento específicos dos resíduos que podem ser gerados. Assim, este
trabalho tem por foco, dentro do setor de eletroeletrônicos, os produtos cujo mercado – de
desenvolvimento imaturo (ARAÚJO et al., 2012) – está em plena ascensão e que representam
maior potencial gerador de lixo, ou seja: aparelhos de celular.
Vale destacar ainda a relevância de que estudos sobre descarte explorem também
variáveis influenciadoras do comportamento socialmente responsável. Schlegelmilch, Bohlen
e Diamantopoulos (1996) identificaram que as variáveis sociodemográficas são parcialmente
adequadas para explicarem este comportamento e que o nível de consciência ecológica é uma
medida que está mais proximamente relacionada ao comportamento socialmente responsável.
O objetivo geral deste estudo, portanto, é analisar o comportamento declarado de
descarte dos consumidores de aparelhos celulares. Os objetivos específicos são: i)
desenvolver e verificar a adequação estatística de uma escala de comportamento declarado de
descarte de celulares; ii) investigar a relação de predição entre os fatores “produto” e
14
“reciclagem e reutilização” da Escala de Consciência Ecológica do Consumidor de Lages e
Vargas Neto (2002) e o comportamento declarado de descarte de celulares; iii) investigar
moderação das variáveis sociodemográficas na relação entre consciência ecológica do
consumidor e comportamento declarado de descarte iv) explorar possíveis ações preventivas e
remediadoras do problema do lixo eletrônico a partir do enfoque dado pelo consumidor.
O crescente espaço que o lixo eletrônico e suas substâncias tóxicas - nocivas ao meio
ambiente e à saúde das pessoas - alcançaram em discussões e pesquisas e o reconhecimento
deste problema como grave (LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009) incita que o tema seja objeto de
estudos científicos. Além disso, a carência de pesquisas específicas na área, conforme
identificado por Suarez et al. (2011), destacam que o descarte de produtos no campo do
comportamento de consumo é um tema que carece de estudos mais aprofundados, compõem a
justificativa deste estudo.
Suarez et al. (2011) apontam que a literatura sobre descarte é muito dispersa e não há
articulação entre as publicações, o que dificulta um diálogo que possibilite avanços
acadêmicos e, principalmente, pragmáticos em relação ao tema. As autoras destacam que, de
forma geral, os estudos em descarte investigam ou elementos específicos (comportamento de
reciclagem, influência de atitudes e valores, entre outros) ou grupos e não propõem uma visão
mais abrangente sobre o tema. Em relação ao setor de produtos eletroeletrônicos, há carência
na literatura brasileira, visto que os poucos estudos até então publicados, envolvendo descarte
de eletroeletrônicos, focam majoritariamente nos malefícios à saúde e ao meio ambiente
(GIARETTA et al., 2010), em técnicas de engenharia para reaproveitamento dos
equipamentos (DE ARAÚJO et al., 2008) e em percepções de consumidores sobre o problema
do descarte inapropriado (VOLPONI; GIOTO Jr; FAJGENBAUM, 2008). Reforça-se, assim,
a opção por uma abordagem mais ampla do assunto, conforme proposto neste estudo.
Há também a necessidade governamental e empresarial de conhecimento da realidade
de consumo e de descarte dos consumidores, a fim de auxiliar a implementação da Política
Nacional de Resíduos Sólidos. Suarez et al. (2011, p. 27) concordam que “desvendar o
processo de descarte e os meios para influenciá-lo interessa a governos, empresas e
organizações sem fins lucrativos”.
Nesse sentido, esse estudo é relevante para a literatura empírica em comportamento do
consumidor, uma vez que busca compreender o comportamento de descarte de aparelhos
celulares e sua relação com a consciência ecológica do consumidor e com variáveis
sociodemográficas. Também, faz-se relevante para futuros estudos em LR, uma vez que o
conhecimento do comportamento do consumidor é fundamental para que ações efetivas sejam
15
implantadas, visto ser o consumidor o ponto inicial do ciclo reverso (DEMAJOROVIC et al.,
2012).
Do ponto de vista mercadológico, Suarez et al. (2010) defendem que a realização de
pesquisas sobre o descarte de produtos permite compreender o conceito de marketing de
forma mais sistêmica e entender como o destino final que é dado aos produtos pode impactar
as decisões tomadas pelo consumidor no momento da compra. Assim, o estudo sobre o
comportamento de descarte de produtos eletroeletrônicos é relevante para o setor de celulares
à medida que provê informações capazes de subsidiar as estratégias de vendas dos fabricantes,
políticas públicas e privadas de tratamento dos resíduos sólidos.
O estudo contribui ainda, de forma mais especifica, ao prover conhecimento sobre o
processo de descarte de celulares, cujos componentes figuram em mais de uma categoria da
Política Nacional de Resíduos Sólidos ao oferecer ao poder público e privado uma visão mais
aprofundada desse processo e sua relação com outras variáveis, oportunizando que
informações específicas sobre o comportamento de descarte dos brasileiros sejam acessadas
para a composição dos acordos setoriais.
Para o alcance do objetivo geral, foram conduzidas duas etapas de pesquisa
subsequentes. A primeira foi qualitativa, com a condução de entrevistas que culminaram no
desenvolvimento de itens para a escala de Comportamento Declarado de Descarte de
Celulares. A segunda foi quantitativa e apoiou-se na verificação da adequação estatística da
escala e investigação das relações preditivas entre a Consciência Ecológica do Consumidor e
Comportamento Declarado de Descarte de Celulares com moderação das variáveis
sociodemográficas. Destaca-se que, neste trabalho, por conta de escolhas metodológicas,
estudou-se o comportamento declarado de descarte (self-reported behavior), uma vez que
levou-se em consideração o que os consumidores disseram, como relataram seu
comportamento, e não a observação deste comportamento.
Em seguida, os resultados empíricos foram apresentados e discutidos à luz das teorias,
além de expostos às implicações teóricas e práticas do estudo. Por fim, as conclusões foram
apresentadas e, em seguida, foram identificadas as limitações do estudo e recomendações para
pesquisas futuras.
16
2
REFERENCIAL TEÓRICO
Esta seção apresentará o referencial teórico sobre descarte de produtos eletrônicos a
partir da literatura em comportamento do consumidor, consciência ecológica e logística
reversa. A composição desta seção seguiu o método apresentado por Villas, Macedo-Soares e
Russo (2008), em que após a escolha das fontes iniciais classificadas em múltiplos rankings,
analisa-se títulos, resumos e palavras-chaves para extrair documentos relevantes e busca-se
novas fontes por meio das referências bibliográficas dos primeiros documentos encontrados e
das novas palavras-chave estabelecidas.
Foram, dessa forma, selecionados os principais periódicos nacionais e internacionais
em Administração por meio da utilização da Classificação Qualis da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) de 2012 e do fator de impacto do
Institute for Scientific Information (ISI).
Villas, Macedo-Soares e Russo (2008) recomendam que haja algum critério de
consolidação entre os rankings escolhidos na busca de fontes iniciais. Por isso, foi utilizada a
comparação realizada no relatório da área de Administração, Ciências Contábeis e Turismo do
Qualis/CAPES e selecionados periódicos classificados nos extratos A1, A2 e B1 e/ou com
fator de impacto maior que 0,2. Ainda, visto a escassez de publicações sobre o tema no Brasil,
foram consideradas também as revistas B2, após análise do escopo da revista, bem como
alguns artigos considerados relevantes ao tema e à pesquisa, mas que foram apresentados em
eventos acadêmicos.
2.1 Definição e relevância dos estudos sobre descarte
A preocupação com o meio ambiente se acentuou em meados da década de 1970
(SUAREZ et al., 2011) e nesse cenário, as pesquisas sobre descarte passaram a ocupar a
agenda dos pesquisadores. As discussões sobre descarte de produtos tiveram como produções
relevantes estudos como os de Zikmund e Staton (1971) e Jacoby, Berning e Dietvorst (1977).
À época, deixou-se de ter o foco apenas na distribuição do produto aos clientes e passou-se a
mobilizá-los a iniciarem o ciclo reverso do produto (ZIKMUND; STATON, 1971).
17
Entretanto, com os poucos estudos no tema, ainda havia carência de definições e aplicações.
Jacoby, Berning e Dietvorst (1977), então, fizeram um estudo exploratório em que
desenvolveram uma taxonomia conceitual para encaixar os principais comportamentos de
descarte dos consumidores. Definiram descarte como o que os consumidores fazem com o
produto quando não há mais utilidade. Para os autores, descarte engloba não somente o ato de
jogar o produto fora, mas também doá-lo, vendê-lo, emprestá-lo e até mesmo mantê-lo,
mesmo que tenha perdido sua utilidade. De forma semelhante, Arnould, Price e Zinkham
(2004, p. 801) afirmam que o descarte pode incluir “todos os comportamentos que os
consumidores possuem para livrar-se de bens e serviços indesejados, incluindo a redução do
consumo, a reciclagem dos produtos de diversas maneiras e a sua separação de produtos não
desejados”.
Contudo, para Young e Wallendorf (1989), as opções apresentadas por Jacoby,
Berning e Dietvorst (1977) não necessariamente são formas de descarte, mas opções de uso
do produto que podem ser pré-descarte. Um indivíduo pode escolher manter o produto sem
utilização até concluir o processo de se desvincular dele. As autoras afirmam que o descarte é
um processo de desligamento físico e emocional do produto, um “descolamento da
identidade” (p. 34). Rooster (2001) também entende o descarte como um rompimento com
elos psicológicos e emocionais relacionados ao produto e um ato voluntário de abdicação da
responsabilidade e controle sobre este objeto.
Para Suarez et al. (2011, p. 30), entretanto, a definição de Jacoby, Berning e Dietvorst
(1977) parece mais adequada, uma vez que “as fronteiras entre o pré-descarte e o descarte
nem sempre podem ser claramente estabelecidas”. Além disso, Suarez et al. (2011) ressaltam
que a inclusão dos produtos guardados em casa – geralmente esquecidos em uma gaveta –
pode auxiliar na investigação do processo de descarte adotado pelos consumidores. Dessa
forma, este trabalho também considera as opções de manutenção, doação e empréstimo como
descarte, uma vez que são decisões comuns quando há necessidade de se desfazer de um
produto eletrônico (VOLPONI; GIOTO Jr; FAJGENBAUM, 2008).
No contexto dos estudos em comportamento do consumidor, o descarte ganha
relevância nas pesquisas sobre pós-consumo e compõe o foco dado pelo campo. Para Statt
(1997) compreender o comportamento do consumidor pressupõe que se investigue não só os
processos que envolvem os fenômenos pré-compra e a compra, mas também os que envolvem
a forma com que os consumidores descartam os produtos. O autor afirma ainda que o
comportamento do consumidor envolve “atividades mentais, emocionais e físicas com as
quais as pessoas se engajam ao selecionarem, comprarem, usarem e descartarem produtos e
18
serviços a fim de satisfazer necessidades e desejos” (STATT, 1997, p. 6). Suarez et al. (2010)
defendem que além das questões ecológicas, estudar o descarte pode trazer benefícios ao
proporcionar uma visão de longo prazo a respeito do comportamento de consumo.
Desta forma os estudos em descarte encontram relevância: (a) no crescimento da
indústria de descarte, que pode proporcionar muitas oportunidades em marketing e negócios,
visto que a prevenção do desperdício é algo rentável, em que as empresas podem introduzir
boa práticas, como redução da poluição e responsabilidade social; (b) na importância do
descarte de produtos para a atividade governamental, ligada ao incentivo a atividades de
consumo sustentáveis e à regulação de emissões de poluentes e reciclagem por parte das
empresas; (c) nas implicações gerenciais práticas do descarte, que provê insights sobre o
comportamento de consumo, uma vez que a análise do que os consumidores descartam pode
fornecer informações sobre as preferências por tipos de produtos, marcas e padrões de compra
(ARNOULD; PRICE; ZINKHAM, 2004).
As pesquisas sobre descarte de produtos também encontram relevância no próprio
escopo do comportamento do consumidor e na carência de literatura relacionada (LEITE;
LAVEZ; SOUSA, 2009). Na literatura brasileira, por exemplo, é mais comum encontrar
artigos em áreas correlatas como gestão ambiental, engenharia elétrica, ciência da informação,
tecnologia da informação e biologia do que em administração ou comportamento do
consumidor. Em uma busca sistemática pelas ferramentas Google Acadêmico e Scielo Brasil,
com a utilização combinada dos termos “comportamento consumidor descarte”, “consumidor
descarte”, “descarte produtos”, “descarte celular”, “descarte eletrônicos”, “consciência
ambiental descarte”, “descarte consumo”, “consciência ambiental consumidor”, “sucata
eletrônica”, “lixo eletrônico”, “lixo tecnológico” e “e-lixo” nos títulos dos artigos, apenas 14
artigos retornam em um corte temporal de 10 anos (entre 2003 e 2012). Destaca-se que apesar
da adoção desse corte temporal, todos os artigos foram publicados a partir de 2008, revelando
a que o tema é recente como objeto de pesquisas nacionais.
2.2 Fatores que influenciam o processo de descarte
O processo de descarte é diverso e passível de inúmeras influências. Segundo Arnould,
Price e Zinkhan (2004), o ato do descarte trata de dois componentes inter-relacionados:
distanciamento físico ou espacial da posse de um objeto e distanciamento dos significados e
19
emoções relacionados ao objeto. As ligações emocionais influenciam a forma como as
pessoas descartam seus produtos e se estão dispostas ao descarte. O processo de descarte nem
sempre é tão racional e considerado, quando o objeto a ser descartado possui valor para a
pessoa, as emoções e sentimentos podem influenciar diretamente no processo. Os resultados
do estudo de Giaretta et al. (2010) corroboram a afirmação de Arnould, Price e Zinkhan
(2004), em que o vínculo afetivo e o valor econômico empregado são fatores que interferem
no procedimento de descarte de celulares obsoletos. Quando os celulares possuíam
significados afetivos para os participantes da pesquisa, eles tendiam a manter o bem, mesmo
não os utilizando mais.
Quanto aos fatores influenciadores da escolha do consumidor sobre a forma de
descarte, Jacoby, Berning e Dietvorst (1977) sugerem três categorias: a) características
psicológicas
do
consumidor,
como
personalidade,
atitudes,
emoções,
percepção,
aprendizagem, criatividade, inteligência, classe social, pressão social, consciência social e
ambiental, entre outros; b) fatores intrínsecos ao produto, como condições de uso, tempo de
uso, tamanho, peso, estilo, cor, capacidade, inovação tecnológica, durabilidade; c) fatores
situacionais extrínsecos ao produto, como condição financeira, mudanças sociais,
circunstâncias de aquisição. Os autores ressaltam que essas categorias não são excludentes,
mas podem interagir e se sobrepor. Dessa forma, o consumidor poderia, por exemplo,
escolher manter seu celular, mesmo que não seja o modelo mais atual ou funcional, por um
fator psicológico (alguém que é muito econômico e controla bem seus gastos, mesmo não
tendo necessidades financeiras) ou por um fator intrínseco ao produto (o celular ainda supre
suas necessidades de uso, apesar de não ser o mais moderno) ou ainda por um fator extrínseco
(o modelo desejado está em falta). Contudo, Jacoby, Berning e Dietvorst (1977) argumentam
que a condição de utilização do produto viria novamente à mente do consumidor, que pode,
então tomar uma outra decisão de descarte (se livrar permanente ou temporariamente)
baseando-se em novos fatores psicológicos, de produto, ou situacionais.
Arnould, Price e Zinkhan (2004) também destacam fatores que influenciam o ato de
descarte:
a) fatores intrínsecos ao produto, relativos aos materiais de que são feitos, o preço de
aquisição e o custo de reposição. O alto custo, por exemplo, geralmente tem o condão de
postergar o descarte e, quando ele ocorre, a venda é a estratégia usada.
b) pressões competitivas, que podem ser oriundas das dinâmicas empresariais ou de
consumo, por exemplo, as empresas podem tomar medidas para reduzir o consumo ou se
engajarem em formas especiais de manejar seus resíduos. Quanto aos consumidores, as
20
pressões competitivas influenciam seu comportamento de descarte na medida em que
encorajam as pessoas a se desfazerem de bens que não estão mais em voga, como forma de se
adequarem à sociedade.
c) fatores situacionais extrínsecos ao produto, os quais influenciam na forma de
descarte tanto de consumidores como de empresas, e referem-se a questões financeiras,
espaço para armazenamento, mudanças na moda, forma de aquisição, considerações legais
(imposição de taxas e multas) e pressões políticas.
d) mudanças no status de vida, como em situações de nascimento, puberdade,
casamento, morte, mudanças no trabalho ou no padrão de vida, mudança de país ou cidade,
entre outros. Todas essas mudanças requerem o descarte de alguns produtos e dependendo da
situação, esses fatores influenciam o que deve ser descartado ou não.
Embora haja diversas dimensões passíveis de investigação no processo de descarte, a
literatura brasileira apresenta pouca diversidade na abordagem do tema. De forma geral, os
estudos no Brasil se dividem entre os que abordam a reciclagem e os que focam nos aspectos
simbólicos do processo (SUAREZ et al., 2011).
Os estudos que abordam a questão de reciclagem se voltam mais aos fatores
influenciadores e motivadores que fazem com que as pessoas se engajem em programas de
reciclagem e focam com maior ênfase o consumidor individual, em relação ao seu
comportamento como agente reciclador, que toma decisões de forma racional. As pesquisas
apontam para a necessidade de informação a fim de que os consumidores se engajem em
programas de reciclagem (CASTANHO; SPERS; FARAH, 2005; MENESES; PALACIO,
2006). Ostergaard e Jantzen (2003) destacam a perspectiva do comportamento do consumidor,
em que pesquisas circunscrevem o consumidor no papel de reciclador, que toma decisões de
forma racional ao ponderar informações e alternativas. A reciclagem é uma alternativa que
deve ser incentivada pela sociedade e pelo governo, pois ela é capaz de reduzir o lixo e
conservar recursos (RAGHAVAN, 2010).
Já aos estudos que abordam o significado simbólico do processo de descarte,
caracterizam-se pelo envolvimento pessoal e significados simbólicos presentes no ritual do
descarte. Nessas pesquisas, os bens são elementos fundamentais para construção e
externalização da identidade dos indivíduos (BELK, 1988) e o foco está voltado para produtos
especiais, que têm alto valor para os consumidores. Há uma reflexão sobre autoconceito, ciclo
de vida, papéis sociais e mudanças de identidade e o descarte é compreendido como um
distanciamento físico e emocional de bens, que muitas vezes são essenciais para a construção
da identidade das pessoas. O descarte envolve um processo físico e emocional de
21
descolamento de identidade, em que a pessoa se distancia física e psicologicamente da sua
posse (ROSTER, 2001; YOUNG; WALLENDORF, 1989). Os estudos abordam, por
exemplo, o processo de descarte realizado por pessoas idosas (PRICE; ARNOULD; CURASI,
2000) e por pessoas que se divorciaram (McALEXANDER, 1991). Essas pesquisas tentam
entender porque algumas pessoas em fase de transição de vida optam por manter um bem ao
invés de jogá-lo fora, enfatizando o aspecto afetivo e emocional que estão presentes no
momento do descarte.
Suarez et al. (2011), em uma busca por integrar o que têm sido estudado em descarte,
tanto na literatura mundial quanto nacional, propuseram uma articulação conceitual que
embasa a reflexão e análise dos elementos que determinam o comportamento de descarte. As
autoras criaram um arcabouço que detalha três momentos chave e cinco categorias de
benefícios do processo de descarte. Os momentos são: 1) o reconhecimento do problema; 2) o
descarte em si; e 3) o pós-descarte. Já os benefícios são: 1) autoperpetuação; 2) conexão com
outros; 3) mudança/afirmação de nova identidade; 4) maximização de recursos; e 5) higiene,
organização e reposição. Estes benefícios, segundo Suarez et al. (2011) estão relacionados ao
problema do consumidor que o descarte procura resolver. Neste trabalho, foram adotadas os
dois benefícios mais utilitários (4 e 5), uma vez que o aparelho celular não foi considerado
como um item comumente de alto valor emocional para o consumidor.
O benefício da Higiene, Organização, Reposição é, segundo Suarez et al. (2011), o
mais cotidiano, onde tendem a se concentrar o maior número de produtos. O descarte é
geralmente automático e gerado pela compra de um novo bem. As decisões de descarte
relativas a este benefício requerem, em sua maioria, pouco esforço consciente e reflexão, pois
o hábito é que predomina. Os consumidores engajados com a reciclagem encaixam-se nesta
dimensão.
Um outro benefício do processo de descarte apresentado por Suarez et al. (2011) é o
da maximização de recursos (espaço, dinheiro), que incita que o descarte pode ser suscitado
pelo desconforto gerado por produtos cujo uso está aquém do considerado ideal pelo
consumidor ou pela necessidade de recursos financeiros. Nesse segundo tipo de benefício
utilitário, o que move o processo de descarte é o desejo de aproveitar recursos, como o espaço
ocupado pelo objeto ou de obter parte do valor que foi pago na sua aquisição.
Os tipos de informações buscadas dependem do valor, estado funcional, práticas de
trade-in (onde o produto antigo é oferecido como parte do pagamento) e espaços de
comercialização existentes no mercado. A alternativa empregada no descarte dependerá do
recurso a ser otimizado: se a principal preocupação for o espaço, o consumidor pode livrar-se
22
do item de modo permanente (jogar fora, dar, fazer trade-in, vender) ou provisório (alugar ou
emprestar).
Se o dinheiro empregado na aquisição for o fator principal a ser maximizado, o
consumidor pode, além das duas alternativas anteriores, optar também por manter o produto.
Nesse caso, a manutenção é justificada pelo desconforto de se desfazer de um item que foi
adquirido. Casotti, Suarez e Dias Campos (2008), por exemplo, relatam em pesquisa sobre
produtos de beleza a existência do que denominaram de “cemitérios”: produtos sem uso,
esquecidos no fundo das gavetas e armários. As consumidoras entrevistadas justificavam a
existência desses estoques inúteis pela possibilidade de “usar algum dia”, ou seja, querem
manter a opção de desfrutar daquele recurso, tentando maximizar a aquisição que fizeram.
Esse relato, portanto, sugere a possibilidade de dissonância e a consequente
dificuldade em assumir uma escolha permanente de descarte, abrindo mão dos benefícios de
manutenção de um produto, mesmo que sem uso. Como relata Luce (1998), analisando os
processos de compra, as emoções negativas que caracterizam a dissonância podem levar o
consumidor a abrir mão, evitar ou adiar a decisão. Assim, o mesmo parece possível nas
situações de descarte.
Roster (2001) destaca que, no processo de descarte, mais do que “deixar ir” objetos, os
consumidores estão “deixando ir” também aspectos de suas identidades incorporadas aos
objetos. Em uma investigação sobre bens como casas, carros, roupas e itens de decoração,
Young (1991) mostra que o descarte não é casual, mas, ao contrário, algo manobrado
consciente ou subconscientemente pelos consumidores, como meio de facilitar a transição de
papéis - no ato de jogar fora o velho e abrir espaço ao novo. A autora destaca que “a
aquisição, uso e descarte de bens servem como funções vitais para os atores darem vida a seus
papéis e transições de vida” (YOUNG, 1991, p. 38).
Quanto às pesquisas em descarte que focam na reciclagem, Meneses e Palacio (2006)
questionam o pressuposto de que o comportamento de reciclagem está relacionado ao alto
nível de envolvimento com o ato de reciclagem. Segundo esses autores, essa visão teria sido
gerada pelos estudos realizados no momento de introdução desses programas e não retrataria
mais a situação atual. Meneses e Palacio (2006) relatam que em locais onde a reciclagem já se
tornou uma rotina, o nível de envolvimento dos indivíduos que reciclam seus resíduos e o dos
que não o fazem não apresentam diferenças significativas. Tais resultados reforçam os
achados de Bagozzi e Dabholkar (1994) e Dahab, Gentry e Su (1995) que apontam o
comportamento anterior (hábitos) como importante fator de previsão da intenção de
reciclagem. Bratt (1999) sugere que o comportamento pós compra, como a separação de
23
resíduos para reciclagem, não deve ser considerado isoladamente como um indício de que o
consumidor adota um comportamento generalizado de preservação do meio ambiente. De
acordo com o autor, a reciclagem pode ser um indício de um comportamento compensatório.
Por exemplo, se a reciclagem é conveniente, o consumidor pode considerar que a sua parte
para preservar o meio ambiente já foi feita, adotando comportamentos não ambientais em
outras situações.
Por isso, é importante estudar, junto com o descarte, outros fatores que indiquem ou
não o seu comportamento verde.
2.2.1 Variáveis sociodemográficas
A investigação entre os construtos estudados em comportamento do consumidor e as
variáveis sociodemográficas é comum no campo e se justifica, entre outros fatores, pelo fato
de que estas variáveis permitem acesso a segmentos de mercado mais facilmente (WEDEL;
KAMAKURA, 2000) são de fácil acesso para pesquisa (MYERS, 1996).
Muitos dos estudos cujo objetivo eram definir o perfil do consumidor ambientalmente
consciente o fizeram por meio de variáveis sociodemográficas. No entanto, estes estudos
obtiveram resultados divergentes e contribuíram pouco para a identificação deste grupo de
consumidores (AZEVÊDO et al., 2010; DIAMANTOPOULOS et al., 2003). Nesse sentido,
torna-se relevante que se faça uso das variáveis sociodemográficas em diferentes amostras
(BODUR; SARIGOLLU, 2005). Ademais, não se pode descartar a possibilidade de que essas
variáveis influenciam uma predisposição ao ambientalismo. Há estudos em comportamento
do consumidor que confirmam esta hipótese (BEDANTE; SLONGO, 2004), o que reforça a
incorporação dessas variáveis no presente estudo, embora haja apontamentos de que a relação
entre
estas
variáveis
e
medidas
de
consciência
ambiental
sejam
complexas
(DIAMANTOPOULOS et al., 2003).
Em uma pesquisa conduzida com consumidores ingleses por Diamantopoulos et al.
(2003) foram encontradas correlação negativa entre idade e conhecimento ambiental (r = 0,68) e correlação positiva entre idade e atitude ambiental. Fransson e Gärling (1999), por
sua vez, encontraram resultados opostos, em que pessoas mais jovens tendem a apresentar
mais preocupação ambiental. Similarmente, Bodur e Sirigollu (2005) destacam que, em geral,
24
resultados de outras pesquisas mostram que o consumidor ambientalmente preocupado é
jovem.
Ainda sobre a variável idade, observa-se no estudo de Price, Arnould e Curasi (2000)
que há interferência do tempo de vida da pessoa também em relação ao processo de descarte.
A pesquisa debate a dificuldade de pessoas idosas de se desfazerem de bens especiais e
apresentam o processo de descarte ambivalente, marcado pelo medo de perder os bens e a
própria auto-imagem e sentimentos de nostalgia. O medo de se afastar e perder o controle
sobre esses objetos pode levar o idoso a adiar ou desistir da decisão de transferência, deixando
que após a sua morte os herdeiros cuidem da distribuição dos itens.
Além da idade, outras variáveis como renda e a cultura interferem na percepção
ambiental dos consumidores, conforme destacado por Ribas e Smith (2009). A classe social
também foi objeto de associação com as atitudes ambientais e com o perfil do consumidor
verde. Diamantopoulos et al. (2003) realizaram um apanhado teórico em que verificaram que
metade dos estudos que exploraram a relação entre atitudes ambientais e classe social
acharam relações positivas significativas e que mesmo os estudos que falharam em encontrar
essa relação tiveram seus resultados próximos de uma direção positiva, apesar de não
significativo. Na maioria dos estudos verificados, a relação entre classe social e
comportamento socialmente responsável também é positiva. Os resultados obtidos
confirmaram parcialmente a hipótese de que quanto mais alta a classe, maior o conhecimento
ambiental, deram pequeno suporte às hipóteses de que quanto mais alta a classe, mais intensa
a preocupação ambiental e a de que quanto maior a classe social, maior a participação em
atividades verdes e não deram suporte à hipótese de que quanto mais alta a classe, maior a
preocupação com a qualidade ambiental. Há, indicações, portanto, de que essa variável se
relaciona com outras pertinentes à questão ambiental, mas que essa relação varia em
magnitude e por vezes pode não ocorrer, a depender do construto utilizado relacionado ao
comportamento socialmente responsável.
Outros autores também ocuparam-se de investigar a relação da classe social e outras
variáveis como renda e status e o comportamento dos consumidores socialmente
responsáveis. Anderson e Cunningham (1972) relacionaram o perfil de consumidores verdes,
indivíduos com classe socioeconômica acima da média e com ocupações profissionais de
reconhecimento e status. Resultado similar foi encontrado por Balderjahn (1988) que
identificou que os consumidores preocupados com a questão ecológica apresentaram renda
maior que a dos consumidores médios em geral e que ocupam um status diferenciado na
sociedade. Para o autor, isso pode ser explicado pelo fato de produtos ambientalmente
25
responsáveis serem mais caros. Na mesma direção, Prado et al. (2011) observam que os
indivíduos com maior poder aquisitivo têm mais vontade em mudar os hábitos (para menos
prejudiciais ao ambiente) do que aqueles com menor renda.
Outra variável que ocupa destaque nos estudos sobre o comportamento do individuo
com consciência ecológica é a escolaridade. Para essa variável, há maior homogeneidade nos
resultados e os estudos convergem para uma relação positiva entre o grau de escolaridade e as
questões ambientais. No levantamento organizado por Diamantopoulos et al. (2003), os
indivíduos com maior escolaridade tendiam a ter pontuações melhores em todos os
componente da questão ambiental. Para os autores, uma explicação para essa relação é a que
a ecologia e suas interações são complexas, tornando o entendimento da importância
ambiental mais difícil. Desta forma, os mais escolarizados compreendem melhor as questões
envolvidas e assim, tornam-se mais preocupados e motivados a participar de comportamentos
socialmente responsáveis. Embora essa hipótese obtivesse suporte parcial no estudo dos
autores, mostra-se bastante pertinente e encontra reflexos que a confirma nos trabalhos de
Bodur e Sarigollu (2005) e Azevêdo et al. (2010). Outra pesquisa que corrobora com essa
relação positiva encontrada no primeiro estudo citado é a de Coelho, Gouveia e Milfont
(2006), que identificaram que pessoas com mais anos de escolaridade tendem a expressar
maior preocupação com o ambiente.
Embora para algumas variáveis exista uma grande convergência nos resultados é
preciso ressaltar que os resultados encontrados podem variar conforme a região geográfica e
particularidades do mercado pesquisado. Resultados encontrados em um país não podem ser
considerados universais (BODUR; SARIGOLLU, 2005). Um exemplo é o estudo dos autores
feito com turcos sobre suas atitudes e comportamentos socialmente responsáveis que concluiu
que os indivíduos mais favoráveis ambientalmente têm maiores níveis de escolaridade, mas
que destaca também que conclusões relacionadas ao comportamento socialmente responsável
e o gênero não foram possíveis. Neste estudo é ressalvado que na Turquia 92% das mulheres
receberam educação em comparação com 98% dos homens, e que essa disparidade pode ter
influenciado os resultados. Assim como a especificidade local ilustrada pelos resultados da
pesquisa na Turquia, outros fatores como diferentes tipos de poluição, disponibilidade de
produtos verdes, legislação ambiental, e influências culturais, podem (pelo menos
parcialmente) explicar diferenças nas características sociodemográficas dos consumidores
verdes de uma nação (DIAMANTOPOULOS et al., 2003).
No Brasil, o trabalho de Lages e Vargas Neto (2002) detectaram uma influência tênue
das variáveis sociodemográficas sobre o comportamento do consumidor socialmente
26
responsável. Azevêdo et al. (2010) replicaram a escala de Lages e Vargas Neto (2002) e
encontraram que as variáveis sociodemográficas não explicam o comportamento socialmente
responsável.
Para Kassarjian (1971), as variáveis sociodemográficas são classificadas como
insuficientes para avaliar o comportamento de indivíduos tidos como ecologicamente
conscientes e é interessante fazer uso de medidas psicossociais, como as de personalidade.
Schlegelmilch, Bohlen e
Diamantopoulos
(1996)
identificaram que as
variáveis
sociodemográficas são parcialmente adequadas para explicarem o comportamento
socialmente responsável e levantaram críticas ao uso de medidas de personalidade. Para eles,
uma medida que está mais proximamente relacionada ao comportamento socialmente
responsável do que as variáveis sociodemográficas e critérios de personalidade é o nível de
consciência ecológica.
2.2.2 Consciência ecológica do consumidor
Webster Jr. (1975) define que o consumidor socialmente responsável considera as
consequências públicas de seu consumo privado ou tenta usar seu poder de decisão de compra
para promover mudança social.
Schlegelmilch, Bohlen e Diamantopoulos (1996) discutem que o construto têm
induzido debates em diversas disciplinas como marketing, psicologia, sociologia e ciência
política e que diversos instrumentos têm sido usados para acessá-lo. Follows e Jobber (2000)
aplicam essa reflexão ao contexto do comportamento e declaram que consumidores que
avaliam o meio ambiente como algo importante, também vão avaliar as consequências ao
meio ambiente provocadas por suas compras. Especificamente em relação à consciência
ecológica, Bedante e Slongo (2004) observam que quanto mais alto o nível de consciência
ecológica apresentado por um indivíduo, maior a tendência dele considerar o impacto
ambiental de suas ações.
Considerando especificamente o descarte de aparelhos celulares, outras questões
somam-se a essas, tais como as consequências negativas para a saúde e meio ambiente
desencadeadas pelo descarte inadequado de aparelhos eletroeletrônicos e a influência dos atos
regulatórios para o descarte. Essas questões serão tratadas na seção a seguir.
27
2.3 Lixo Eletrônico
O lixo tem gerado sérias preocupações devido à falta de espaços urbanos para descarte
adequado (ARNOULD; PRICE; ZINKHAN, 2004). Segundo a Associação Brasileira das
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), somente em 2010, foram
gerados 60,8 milhões de toneladas de lixo no Brasil. Parte desse lixo é lixo eletrônico, que, se
não descartado da forma correta pode causar grandes danos ambientais, sociais e econômicos
(ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010).
O lixo eletrônico pode ser compreendido como os resíduos de todos os equipamentos
utilizados em escritórios e casas que se encontram obsoletos ou desatualizados, como
televisores, computadores, celulares, entre outros (ELECTRONIC..., 2011). A expansividade
do uso desses equipamentos e as constantes trocas de versões, motivados pela febre de
consumo e as obsolescências induzida e programada, geram um montante de resíduos
praticamente imensurável (DAT et al. 2012). A obsolescência induzida é a substituição de
produtos ainda em condições de uso por modelos mais potentes e/ou atraentes (XAVIER et al.
2011), enquanto a obsolescência programada é a “expectativa curta de duração de algum bem
ou produto, projetado de forma que seu funcionamento ou durabilidade se efetive apenas por
um período de tempo reduzido” (GIARETTA et al., 2010, p. 677).
Assim, é estimulado o consumo constante, no qual os produtos têm suas versões
alteradas com maior rapidez, oferecendo novos recursos e novas tecnologias que seduzem os
consumidores para a sua compra. Em geral, podemos dizer que a demanda para uma
reciclagem eficiente e segura de produtos eletrônicos obsoletos é da mesma proporção da
demanda que a sociedade impõe por produtos cada vez mais modernos, menores, eficientes e
rápidos. Nessa perspectiva, o descarte ambientalmente correto tem se tornado uma questão
problemática e que necessita de uma solução urgente (ELECTRONIC..., 2011).
Segundo dados da organização não governamental Greenpeace (ROSE, 2010), na
última década, a vida útil de um computador passou de seis para dois anos e outros
equipamentos, como celulares, aparelhos de TV e jogos eletrônicos também tiveram sua vida
útil reduzida. A cada ano estima-se que entre 20 e 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico
sejam despejados em locais impróprios para o descarte e, em muitos países, o lixo eletrônico
já chega a 5% de todo o resíduo sólido urbano rejeitado.
O lixo eletrônico, quando descartado incorretamente, pode trazer inúmeros danos
ambientais e sociais (ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010; FERREIRA; FERREIRA,
28
2008; LAVEZ; SOUSA; LEITE, 2011; SAPHORES et al., 2006; WIDMER et al., 2005), pois
contêm centenas de materiais perigosos e que causam sérios problemas para a saúde das
pessoas e para o meio ambiente (PERALTA; FONTANOS, 2006). Em contato com o solo, os
resíduos tóxicos do lixo eletrônico podem contaminar o lençol freático e, quando queimados,
contaminam o ar (SAPHORES et al., 2006).
O Quadro 1 especifica os principais componentes tóxicos presentes em aparelhos
eletrônicos e seus respectivos danos à saúde humana.
Quadro 1: Os vilões dos eletrônicos
Fonte: (BAIO, 2008)
Como forma de traçar um panorama para o problema do lixo eletrônico e fazer um
alerta a todos os países do mundo, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou em
2009 um relatório sobre o lixo eletrônico: “Recycling – from e-waste to resources”. Neste
relatório, alertou para a quantidade de lixo eletrônico gerado por ano no mundo, cerca de 40
milhões de toneladas, e para a necessidade de engajamento de todos os países, além da
utilização de tecnologias sustentáveis para a criação de novos produtos (UNEP, 2009). O
relatório informa que apesar de todos os esforços legislativos para estabelecer uma economia
de fluxo circular nos países desenvolvidos/União Europeia, a maioria dos recursos valiosos
29
existentes nos resíduos eletroeletrônicos são perdidos. Várias causas podem ser apontadas: 1)
esforços de coleta seletiva insuficientes; 2) tecnologias de reciclagem, em parte inadequadas;
3) exportações ilegais de resíduos para países com infraestrutura de reciclagem inadequada.
Entre as causas apontadas pelo relatório da ONU, as exportações ilegais merecem
destaque já que geram um mercado paralelo ao descarte responsável e intensificam os riscos à
saúde mundialmente. Grande parte desses resíduos, quando não vão para o lixo, são
revendidos ilegalmente para países em desenvolvimento. Nesses países, esse lixo, em sua
maioria, ou vai para os lixões ou é desmantelado para a retirada de materiais valiosos, prática
insegura e que pode causar sérios danos para a saúde humana e para o meio ambiente
(ADRIAN, 2011). Por terem metais preciosos em sua composição, como ouro e cobre, a
recuperação desses materiais tornou-se um negócio rentável, resultando em um comércio
global de lixo eletrônico. Como forma de combater o transporte do lixo eletrônico de países
desenvolvidos para países em desenvolvimento, houve uma iniciativa internacional em 1989,
chamada de Convenção da Basiléia, formada com o objetivo de frear a exportação desses
produtos para países em desenvolvimento, alertando para os perigos de seus componentes
tóxicos. Porém, mesmo com essa convenção, vários países ignoram o disposto e exportam seu
lixo para o continente asiático e africano, formando uma rota ilegal de tráfico de lixo
eletrônico (WIDMER et al., 2005).
Um estudo conduzido na China (LIU et al., 2009) identificou que a exposição a
materiais presentes no lixo eletrônico pode causar aberrações cromossômicas e mutações
genéticas, podendo gerar câncer, infertilidade, abortos espontâneos, entre outros problemas
ainda desconhecidos. O estudo aponta para a necessidade de um maior controle nas
exportações de lixo eletrônico para a Ásia e a África, que recebem cerca de 50% a 80% de
todas as exportações de lixo eletrônico dos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de
50% a 80% de todo o lixo eletrônico que é coletado para reciclagem acaba sendo exportado
para países como China e Índia, mascarado em um propósito de inclusão digital desses países
menos desenvolvidos (PUCKETT et al., 2002).
Na mesma direção desses esforços para lidar com potenciais problemas ambientais
ocasionados pelo descarte inadequado dos REEE, muitos países e organizações propuseram
legislações para incentivar a reutilização, a reciclagem e outras formas de recuperação de
materiais, o que tem gerado redução da quantidade e dos tipos de materiais dispostos em
aterros (RAMESH; PARANDE; AHMED, 2007).
Um exemplo é a Lei Diretiva para Lixo Eletrônico e Equipamentos Eletrônicos (Waste
Electrical and Electronic Equipment Directive – WEEE), elaborada pela União Europeia em
30
2003. Essa lei tem o objetivo de regular a recuperação, a reciclagem e o reuso dos produtos
eletrônicos, tornando essas questões como de responsabilidade das empresas fabricantes dos
produtos e determinando a esses fabricantes metas de coleta e reciclagem de produtos. Outra
diretriz, implementada em 2006 pela União Europeia, foi a de restrição de uso de substâncias
perigosas (Restriction on the use of hazardous substances – RoHS), com o objetivo de
restringir o uso de seis substâncias perigosas usadas em eletrônicos (ABEDRABBO, 2009;
NIXON; SAPHORES, 2007). Japão, China e Estados Unidos também têm adotado medidas
similares às europeias (VOSSENAAR; SANTUCCI; RAMUNGUL, 2006).
Uma iniciativa que tem congregado diversos setores é o programa StEP (Solving the ewaste problem), que congrega ONU, Governos, ONGs e empresas com a finalidade de
padronizar os processos de reciclagem desse tipo de lixo, aumentar o ciclo de vida dos
produtos, reduzir a contaminação, construir guias e diretrizes acerca desse tema, contribuindo
para dar uma solução ao problema do lixo digital.
As iniciativas que visam regular ou orientar o descarte de REEE geralmente envolvem
mais de um ator, com ênfase maior ao consumidor e ao fabricante de produtos. É possível
notar que os países adotam soluções semelhantes, mas não homogêneas e atribuem
responsabilidades diversas a consumidores e empresas. Essa aparente falta de consenso
também aparece em resultados de pesquisas que investigaram a responsabilidade sobre o
descarte. O estudo de Nixon e Saphores (2007), conduzido nos Estados Unidos traz resultados
importantes para subsidiar essa discussão sobre atribuições e responsabilidades sobre o
descarte do lixo eletrônico.
É preciso ressaltar que os Estados Unidos, onde foi conduzida a pesquisa de Nixon e
Saphores (2007), não possuem nenhuma legislação específica a respeito desse tema. Alguns
estados, porém, estabeleceram taxas de reciclagem, chamada de ARFs, em que os
consumidores pagam a taxa no ato da compra de produtos eletrônicos com a finalidade de
financiar o recolhimento e reciclagem desses produtos. No estudo, os resultados indicam que
a população tem pouca propensão a pagar essas taxas, por acharem que o recolhimento dos
produtos não é de sua responsabilidade ou por desconhecerem a toxicidade e os riscos
promovidos pelo descarte inadequado dos produtos eletrônicos. Saphores et al. (2006)
levantam a questão da necessidade de campanhas públicas para alertar a população e fornecer
informações a respeito da correta forma de se fazer o descarte. Os resultados dessa pesquisa
sugerem que o consumidor pode atribuir a responsabilidade da realização do descarte
adequado à empresa fabricante ou ao governo e isentar-se dela, na prática.
31
Esse resultado vai ao encontro do que defendem Ferreira e Ferreira (2008) para quem
os equipamentos eletroeletrônicos descartados por serem considerados inadequados ao uso ou
sucateados, em sua maioria, não recebem o tratamento adequado, pois alguns deles poderiam
ser reciclados e reaproveitados. Os autores defendem que cabe às empresas fabricantes
receberem este lixo eletrônico e efetuarem campanhas de recuperação que permitam que as
máquinas sejam posteriormente doadas.
Visto isso, é interessante também analisar as políticas e programas brasileiros e
internacionais que ocupam-se desta questão. Algumas estratégias e iniciativas adotadas por
alguns países para a gestão do lixo eletrônico são utilizadas para incentivarem empresas e a
sociedade quanto à importância de realizar o descarte adequado de REEE, conforme
apresentam Silveira e Chang (2010). O Quadro 2 resume as principais iniciativas no contexto
mundial e inclui, também, as iniciativas nacionais. Contudo, a regulação brasileira sobre o
tema será vista com maior profundidade no tópico seguinte.
Iniciativas / Políticas
A responsabilidade
estendida do produtor
(The Extended Producer
Responsability – EPR)
A política do depósitoreembolso (The depositrefund policy)
A taxa pré-descarte (The
pre-disposal fee – PDF)
O EPR mais a
corresponsabilidade do
consumidor
Taxa de reciclagem
adianta (The Advance
Recycling Fee – ARF)
Iniciativas do setor
privado baseadas no
mercado de segunda mão
estrangeiro
Definição
Extensão da responsabilidade do fabricante para todas as
fases do ciclo de vida do produto, especialmente para
recolhimento, recuperação e disposição final do produto.
Local
Mundo
Conhecida como a “lei da garrafa”, essa iniciativa
proporciona ao consumidor, no retorno de suas garrafas
utilizadas, um reembolso sobre o depósito feito no
momento da compra. Esse reembolso proporciona um
incentivo monetário para que as garrafas sejam
retornadas e recicladas.
Os consumidores e empresas fabricantes devem pagar
uma taxa de “fim-de-vida” (PDF) pelo produto, que
abrange os custos de reciclagem e transporte.
Fabricantes e importadores devem depositar para o
Governo uma taxa de reciclagem que é parcialmente
reembolsável no final do ano, de acordo com o número
de eletrônicos que reciclaram. Os consumidores devem
pagar uma taxa de coleta dependendo do tipo e da
condição do aparelho eletrônico.
Os fabricantes pagam uma taxa (ARF) no momento da
venda ou importação de qualquer eletrônico, que é
transmitida para os distribuidores e varejistas, que por sua
vez, repassam para os consumidores na compra de um
novo produto.
Instituições de caridade e empresas de reciclagem
executam os mais importantes programas de reciclagem,
obtendo o lucro com a revenda de eletrônicos reciclados
ou recuperados.
Estados
Unidos
Japão
Coréia do
Sul
Suíça
Inglaterra
e EUA
Rede de reciclagem
privada apoiada em um
mercado de segunda mão
nacional
Coletores e recicladores geralmente pagam aos
consumidores por seus aparelhos antigos, que estão na
demanda por uma forte rede nacional de reciclagem.
Índia e
Brasil
PNRS – Política Nacional
de Resíduos Sólidos
O artigo 33 da lei prevê a logística reversa dos eletrônicos
e seus componentes.
Brasil
32
(lei 12305/10)
Quadro 2: Inciativas e políticas nacionais e internacionais na gestão do lixo eletrônico
Fonte: Adaptado de Silveira e Chang (2010, p.2281)
2.3.1 Perspectivas no Brasil
O mercado brasileiro de produtos eletroeletrônicos está em plena ascensão. Em
recente pesquisa feita pela Abine (2011), houve um aumento de 23% na receita do setor
eletroeletrônico entre 2007 e 2010. O aumento do consumo de eletrônicos evidencia e a coleta
seletiva de lixo muito recente no Brasil evidenciam o problema do descarte. Em 2010, esse
tipo de coleta atingiu somente 12% da população e do total coletado, apenas 1,9%
representava produtos eletrônicos (COMPROMISSO..., 2011).
Segundo dados do relatório da ONU, “Recycling – from e-waste to resources” (UNEP,
2009), o Brasil é o único entre 11 países pesquisados que não possui dados concretos da
quantidade de lixo eletrônico que é gerada. Porém, de acordo com uma perspectiva feita pelo
estudo, o Brasil é, entre os países emergentes, o que mais produz lixo eletrônico, cerca de 0,5
kg por ano para cada habitante. Esses dados, apesar de serem apenas uma estimativa, servem
de alerta.
Um fator que corrobora para essa situação é o fato do Brasil não possuir nenhuma
legislação em âmbito federal que regule a disposição do lixo tecnológico, possuindo apenas
algumas políticas locais quanto a esse problema. Alguns exemplos são os projetos de lei nº
16.280/07 do Estado da Bahia que discorre sobre o gerenciamento e destinação de lixo
tecnológico e o projeto de lei nº 33/2008 no Estado de São Paulo, que estabelece normas e
procedimentos para reciclagem e gerenciamento do lixo eletrônico. O projeto, na prática,
obriga as empresas que fabricam, importam ou vendem produtos eletrônicos a fazer logística
reversa, reciclagem e deposição adequada desses produtos (ANDRADE; FONSECA;
MATTOS, 2010; ANDUEZA, 2009; SILVA, 2010).
A única legislação em âmbito federal existente relacionada ao tema de descarte regula
apenas o descarte de pilhas e baterias. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)
conferiu através da resolução 401/2008 uma regulamentação para disciplinar o descarte e
gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias, limitando a quantidade de
chumbo, cádmio e mercúrio das pilhas e baterias comercializadas no território nacional,
especialmente as que contêm substâncias tóxicas. A resolução dispõe a respeito de sua coleta,
reutilização, reciclagem, tratamento adequado e disposição final (BRASIL, 2008). É uma
33
iniciativa promissora, mas de abrangência limitada por não incluir outros tipos de resíduos
gerados pelos aparelhos eletroeletrônicos que se utilizam de pilhas e baterias.
Nesse sentido, uma proposta mais completa é a Politica Nacional dos Resíduos
Sólidos (lei nº 12305/10). Após aproximadamente 21 anos no Congresso Nacional
(GUARNIERI, 2013), a lei foi sancionada em 2010 pelo presidente da República e dispõe em
seu artigo 33, inciso VI que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de
produtos eletroeletrônicos são obrigados a estruturar e implementar sistemas e logística
reversa, mediante o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor (BRASIL, 2010).
Adicionalmente, foi firmado em 2010 um convênio de cooperação técnica entre o
Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) e o Ministério do Meio Ambiente,
com o objetivo de elaborar um inventário acerca da produção, recolhimento e reciclagem de
eletroeletrônicos no Brasil. O comitê também desenvolveu uma página eletrônica que informa
o cidadão a respeito dos procedimentos de devolução dos resíduos (COMPROMISSO...,
2011).
Outra iniciativa governamental preconizada pelo Ministério do Meio Ambiente foi a
criação da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P). Essa agenda é um programa
que visa implementar a gestão socioambiental sustentável das atividades administrativas e
operacionais do Governo. Visa sensibilizar os gestores públicos para as questões
socioambientais, estimulando-os a adotarem princípios e critérios de gestão ambiental nas
atividades administrativas, que vão desde uma mudança nos investimentos, compras e
contratação de serviços pelo Governo até uma gestão adequada dos resíduos gerados e dos
recursos naturais utilizados. Na cartilha desse programa consta o lixo eletrônico, enfatizando a
necessidade de dar uma destinação adequada a esses resíduos (A3P, 2012).
No Brasil, estudos a respeito do descarte de produtos eletrônicos (ANDRADE;
FONSECA; MATTOS, 2010; FERREIRA; FERREIRA, 2008; GIARETTA et al., 2010;
SILVEIRA; CHANG, 2010) comprovam a falta de conscientização, a dificuldade de acesso a
coletores específicos, o desconhecimento de técnicas adequadas para se fazer o descarte e até
mesmo o desconhecimento dos problemas ocasionados pelo descarte incorreto. No estudo de
Giaretta et al., (2010), os resultados encontrados indicam que as pessoas até possuem
consciência de que o descarte inadequado compromete o meio ambiente, porém falta
informação de como proceder para realizar o descarte e informações a respeito dos locais para
descarte. Com isso, a maioria dos pesquisados armazenam os produtos obsoletos em casa,
deixando de dar uma destinação adequada por simples falta de informação.
34
Essa falta de informação também abrange o desconhecimento por parte das pessoas de
empresas que fazem o recolhimento e reciclagem desses tipos de produtos (SILVEIRA;
CHANG, 2010). No Brasil são poucas as empresas que o fazem. A maioria das empresas
recicladoras estão no estado de São Paulo. As operadoras de telefonia móvel Vivo, TIM e
Claro disponibilizam algumas urnas em suas lojas para que os consumidores depositem
baterias e celulares antigos. No entanto, a prática parece não ser amplamente divulgada, haja
vista, os resultados de pesquisa que indicam o desconhecimento dos consumidores sobre
locais de coleta, a baixa adesão a essa prática e as evidências observadas nos estudos
brasileiros de que o consumidor tende a acumular os aparelhos em casa. Algumas empresas
como a Nokia e a Motorola também oferecem esse tipo de serviço, porém disponibilizam
poucos pontos para o depósito desses materiais, que são insuficientes para atender toda
população, levando em conta a dificuldade da maioria delas de terem acesso a esses coletores
específicos (ARAÚJO et al., 2012; SILVEIRA; CHANG, 2010).
Algumas outras empresas têm-se destacado com projetos para a coleta de resíduos
eletrônicos. O Banco Santander possui o programa Papa Pilhas desde 2006 e é um dos
pioneiros no recolhimento de eletrônicos portáteis como celulares, computadores, pilhas e
baterias (PAPA-PILHAS, 2012). Há um projeto da USP, o CEDIR (Centro de Descarte e
Reuso de Resíduos de Informática), que recolhe todos os tipos de eletroeletrônicos,
implementando práticas de reuso e descarte sustentável desse tipo de lixo (CEDIR, 2012).
Ainda, há a rede Walmart, que coleta celulares, pilhas e baterias, além dos supermercados Pão
de Açúcar.
Embora o contexto institucional não promova massivamente o descarte correto, em
uma pesquisa realizada com jovens pelo Instituto Akatu (INSTITUTO...; INDICATOR...,
2001) viu-se que, em comparação com outros países, o Brasil, com 64% - superado apenas
pela Itália com 85% - é o pais com maior consciência de que o modo como o lixo é descartado
pode afetar o meio ambiente. A preocupação com o meio ambiente é apontada por 50% dos
entrevistados como um critério decisivo de compra. Ainda que se possa questionar esta
afirmação, o fato é que ela reflete uma boa dose de sensibilização para esse valor.
A seguir serão discutidas alternativas ao descarte de produtos e debatido o papel da
logística reversa neste processo.
35
2.3.2 Alternativas ao Descarte
Pesquisas com foco nos riscos das substâncias químicas liberadas e nos efeitos para o
meio ambiente e para a saúde das pessoas (GIARETTA et al., 2010; LIU et al, 2009) aquecem
a discussão para definições de soluções para essa problema.
As fases de um processo de produção do lixo podem ser minimizadas por ações
reativas (reciclagem/reaproveitamento) ou pró-ativas, como no desenvolvimento de
tecnologias voltadas para o meio ambiente, fazendo com que o fim de vida útil de um produto
seja maximizado.
Em geral, quando um eletrônico chega ao final de sua vida, cinco são as opções para
realizar a sua disposição: reuso, remanufatura, reciclagem, recuperação ou descarte. O reuso e
a reciclagem devem ser prioridades na indústria de eletrônicos, sendo necessários projetos que
incentivem a reciclagem e a compra de produtos e materiais reutilizados, acabando com o
mito de que produtos que possuem componentes reciclados ou reutilizados possuem
qualidade inferior (MCC, 1995).
Nessa perspectiva, as organizações devem se adaptar a uma produção mais
sustentável. Empresas devem levar em consideração questões ambientais e de minimização de
desperdícios, principalmente no atual momento em que os consumidores estão cada vez mais
conscientes quanto a questões ambientais. Enquanto as empresas devem proteger o meio
ambiente em sua produção e esforços de marketing, os consumidores também têm um papel
importante nessa questão, pois devem proceder à eliminação de produtos usados com
segurança (RAGHAVAN, 2010). Porém, isso nem sempre acontece, pois a população tem
escasso conhecimento da importância da reciclagem dos produtos eletrônicos (ESTRADA,
2005).
No contexto brasileiro, estudos recentes têm se ocupado em debater a questão das
alternativas ao descarte já no âmbito da PNRS. Guarnieri (2013) investigou as possíveis
alternativas de descarte de resíduos eletroeletrônicos propiciadas ao consumidor final a fim
garantir a implementação efetiva da PNRS. A autora realizou um estudo de caso em uma
Organização Não-Governamental (ONG) que possui atividades relacionadas à coleta de
REEE, remanufatura, doação e venda no Paraná. Alguns aspectos foram citados como
deficitários e carentes de aprimoramento, como por exemplo: necessidade de conscientização
e educação ambiental dos consumidores finais; maior envolvimento por parte dos fabricantes;
instalação de pontos de entrega voluntária de equipamentos eletroeletrônicos nos principais
36
canais de varejo (lojas físicas, shoppings centers, farmácias, postos de combustíveis, escolas,
supermercados, entre outros); e a implantação de procedimentos de fiscalização efetiva por
parte do Poder Público para garantir a efetividade da PNRS. Entre as soluções alternativas
propostas para o problema do descarte de REEE, foram citadas: a conscientização das
crianças em seus ambientes escolares, considerando, inclusive, o poder de influência que
possuem sobre seus pais; a possibilidade das empresas privadas realizarem investimentos em
organizações não governamentais a fim de que estas realizem a coleta e destinação dos
resíduos, facilitando para que as empresas fabricantes não se desviem do seu core-business; a
criação de cursos de capacitação para profissionais atuarem no ramo de desmontagem,
triagem e remanufatura dos resíduos eletroeletrônicos, o que requer técnicas especializadas e;
o aperfeiçoamento de parcerias e sistemas logísticos que viabilizem a coleta dos resíduos com
um custo aceitável e com eficiência. Os entrevistados também destacaram os benefícios
advindos da implementação de processos de LR, como: geração de renda; formalização de
empregos nas áreas de coleta, triagem e desmontagem dos equipamentos; inclusão social de
trabalhadores informais; inclusão digital de usuários de instituições escolares e sociais;
redução do impacto ambiental; redução da quantidade de resíduos descartados em aterros
sanitários; e proteção ao meio ambiente. O estudo de Guarnieri (2013) corrobora com Lavez,
Souza e Leite (2011) que também ressaltam a importância da logística reversa no problema do
lixo eletrônico, uma vez que ela possibilita a amenização dos impactos ambientais além de
“ganho de eficiência e sustentabilidade das operações nas organizações” (p. 2).
Para Rogers e Tibeen-Lembke (1999), logística reversa (LR) é o processo de
planejamento, implementação e controle da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matériasprimas, estoques em processo, produtos acabados e informações relacionadas do ponto de
consumo ao ponto de origem com objetivo de reagregar valor ou efetuar descarte
adequadamente
Para Leite (2003, p. 16), a logística reversa “é uma área da logística empresarial que
administra os fluxos e as informações correspondentes ao retorno dos bens de pós-venda e
pós-consumo ao ciclo de negócios ou ciclo produtivo”. Demajorovic et al. (2012) afirmam
que a logística reversa é a responsabilidade que as empresas possuem sobre os produtos na
fase pós-consumo, a qual assegura o recolhimento e encaminhamento destes produtos para
reaproveitamento (privilegiando a reinserção do material no processo produtivo da empresa)
ou outra destinação segura (como a comercialização em mercados secundários).
Em pesquisa no ramo de produção e reciclagem de computadores, Lavez, Leite e
Souza (2011) buscaram identificar os fatores da logística reversa que são mais relevantes no
37
reaproveitamento do lixo eletrônico. Os autores visitaram empresas de informática (uma
produtora e duas recicladoras de eletrônicos), onde analisaram os objetivos estratégicos,
fatores operacionais, atores nas cadeias reversas, processos de logística reversa, canais de
distribuição reversos e fluxogramas da cadeia reversa. Os resultados mostraram que o fator
econômico é o principal direcionador para implantação de um programa de LR. No caso dos
recicladores, o benefício econômico está no próprio negócio, uma vez que a logística reversa
é a fonte de faturamento. Já no caso dos produtores, o benefício econômico traduz-se na
garantia de que os produtos não serão destinados ao mercado paralelo de venda, o que pode
aumentar as chances de crescimento de demanda por produtos novos. O direcionador
legislativo também foi destacado na pesquisa, uma vez que todas as empresas relataram a
necessidade de destinação e manuseio correto dos produtos a fim de seguir as novas
legislações. Os autores observaram que os computadores chegam até as empresas recicladoras
por meio dos canais de pós-venda e pós-consumo, sendo este último de maior importância.
Por fim, a pesquisa mostrou que o retorno de produtos é maior para pessoas jurídicas e que a
própria coleta é um dos principais complicadores na implantação de programas de LR, visto
que o lixo eletrônico está pulverizado, sem controle de volume, e que nem sempre é viável
coletá-lo. Não foi identificada nenhum integração entre os ciclos tradicionais e reversos, o que
poderia influenciar na diminuição dos custos para retorno dos produtos.
Para que a logística reversa seja implantada, é preciso que uma infraestrutura que
assegure a coleta dos resíduos pós-consumo seja desenvolvida. Além disso, é necessário
identificar alternativas para o reaproveitamento ou destino seguro desses resíduos, conforme
destacam Demajorovic et al. (2012). Segundo os autores, tendo em vista os danos ambientais
e sociais causados pela destinação inadequada dos resíduos de aparelhos celulares,
computadores e seus componentes, a adoção de logística reversa torna-se um dos elementoschave para amenização destes impactos Contudo, é preciso que haja um esforço coordenado
entre os atores envolvidos na cadeia produtiva, como indústrias, governo, consumidores e
fornecedores (ESPINOSA; TENÓRIO, 2005; DEMAJOROVIC, 2012). Para Demajorovic et
al. (2012), o planejamento e a implementação de programas de comunicação podem aumentar
a eficácia dos programas de LR e influenciar mudanças no comportamento do consumidor.
No caso de celulares, por exemplo, é necessário que os consumidores disponibilizem-se a
levar seus aparelhos antigos aos canais de distribuição reversa – e que saibam onde e como
fazê-lo.
38
Assim, o papel de consumidores e fabricantes que operam a logística reversa parece
ser complementar e torna-se fundamental para que ocorram resultados mais expressivos na
diminuição do problema do lixo eletrônico.
O modelo teórico da pesquisa baseou-se, portanto, na relação de predição da
Consciência Ecológica do Consumidor no Comportamento Declarado de Descarte, com
moderação das variáveis sociodemográficas (incluindo a fabricante do celular e sua adoção de
programas de logística reversa). Uma variável moderadora é aquela que afeta a direção ou a
força da relação entre uma variável preditora e uma variável critério. Dentro de pesquisa
correlacional, é uma terceira variável que afeta a correlação de ordem zero entre as outras
duas variáveis (BARON; KENNY, 1986).
Figura 1: Modelo teórico de pesquisa
39
3
MÉTODO
Esta seção apresenta os procedimentos metodológicos adotados para a condução das
etapas qualitativa e quantitativa da pesquisa.
3.1 Etapa qualitativa
Foi realizada uma pesquisa qualitativa, com fins descritivos e exploratórios que
pudesse embasar a criação dos itens do questionário da etapa quantitativa. Kerlinger e Lee
(2008) e Pasquali (2008) destacam a necessidade de uma fase prévia qualitativa de análise em
estudos que visam a construção de escalas.
3.1.1 Participantes
Os participantes do estudo foram selecionados por amostragem não-probabilística por
conveniência, escolhidos entre aqueles que já haviam descartado algum celular. Foram
entrevistadas quatorze pessoas, sete do sexo feminino e sete do sexo masculino, com idade
entre 22 e 46 anos e formações acadêmicas variadas (de ensino médio completo a graduados
em
Administração,
Biologia,
Direito,
Economia,
Engenharia
Elétrica,
Marketing,
Odontologia, Publicidade, Psicologia e Sistemas de Informação). Buscou-se heterogeneidade
na amostra, como forma de obter diferentes visões acerca do tema. Foram abordadas pessoas
com diferentes hábitos de consumo e descarte de eletrônicos, desde pessoas que trocam seu
celular todo ano até pessoas que estão há mais de cinco anos com o mesmo aparelho. Apesar
desta heterogeneidade, os entrevistados constituíram um grupo natural (GASKELL, 2004, p.
69), uma vez que partilham de histórias ou interesses em comum e foram todos consumidores
de uma determinada categoria de produtos. O número de entrevistas foi determinado pelo
processo de saturação e foram encerradas quando a inclusão de novos entrevistados não
demonstrava acrescentar muitas variações à pesquisa (BAUER; AARTS, 2004).
40
3.1.2 Instrumento
Nesta etapa qualitativa foi utilizado um roteiro de entrevistas semiestruturado,
conforme indicado no Apêndice A, composto de 19 questões, que tiveram o objetivo de
identificar: a percepção dos entrevistados sobre o problema do lixo eletrônico; a frequência de
troca de produtos; a forma de descarte dos celulares; o significado de “descarte correto”; o
conhecimento sobre a possibilidade de danos provocados pelo descarte inadequado; o
conhecimento de legislação específica sobre o tema; as expectativas quanto ao processo de
descarte; algum conhecimento ou alguma sugestão de possíveis ações de prevenção ou
remediação da situação; e a percepção sobre papel das empresas e do Governo. As questões
do roteiro foram construídas de acordo com os objetivos da pesquisa e com base nos
resultados encontrados em estudos correlatos (ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010;
FERREIRA; FERREIRA, 2008; GIARETTA ET AL., 2010; SILVEIRA; CHANG, 2010).
3.1.3 Procedimentos
As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora, com auxílio de uma graduanda, de
forma presencial. Foram agendadas por email ou telefone, de acordo com a disponibilidade
dos participantes, tiveram duração média de 25 minutos e foram gravadas para posterior
transcrição e análise de conteúdo, seguindo as orientações de Bauer (2004).
Foi feita uma análise de conteúdo, com a adoção da análise categorial temática, que
procura interpretar os resultados por meio de núcleos de sentido (BAUER, 2004). A partir da
análise de conteúdo, levando em consideração os achados das entrevistas e a literatura a
respeito, foram propostos itens para a construção da escala de avaliação do comportamento
dos consumidores no descarte de celulares. Esses itens foram submetidos à validação
semântica e teórica, conforme recomendações de Pasquali (2008).
41
3.2 Etapa quantitativa
Uma vez identificadas as categorias de análise dos dados obtidos na pesquisa
qualitativa, procedeu-se à condução de uma pesquisa quantitativa, onde foram construídos 36
itens referentes à proposta da escala de comportamento de descarte, uma pergunta filtro
relativa ao último descarte, e quatro perguntas referentes ao tipo de aparelho descartado,
frequência de troca de aparelho, data aproximada do último descarte e marca do celular. Os
itens foram submetidos à validação semântica e teórica, conforme recomendações de Pasquali
(2008). As respostas foram analisadas e os itens com maior incidência de dúvida foram
modificados ou excluídos. Alguns itens precisaram ser divididos em dois outros itens por
analisarem mais de um aspecto.
Outros, relacionados às razões para manutenção dos
aparelhos em casa, foram encaixados em múltiplas categorias pelos juízes. Ainda assim,
decidiu-se por mantê-los na coleta a fim de que fossem úteis, pelo menos, no sentido de
prover informações advindas de medidas descritivas e de frequência de comportamento. Após
a análise de juízes, o instrumento foi novamente submetido à validação semântica a fim de
que fossem evitados outros erros de interpretação na fase de coleta. Passou-se, então, à
pesquisa de campo quantitativa a fim de: verificar a adequação estatística da escala; relacionar
a escala proposta com fatores da escala de consciência ecológica do consumidor de Lages e
Vargas Neto (2002); investigar moderação das variáveis sociodemográficas na relação entre
as escalas.
3.2.1 Participantes
Foram utilizadas duas amostras, uma com coleta presencial (amostra 1) e outra com
coleta online (amostra 2), referentes à cada fase desta etapa quantitativa. Para as duas coletas
a amostragem foi não probabilística por conveniência e podiam participar pessoas que já
tivessem trocado de aparelho celular. A amostra mínima para a coleta presencial foi calculada
tomando por base a quantidade entre 5 e 10 sujeitos por item do questionário exigidos para a
Análise Fatorial Exploratória (AFE) (BYRNE, 2009; HAIR et al., 2009; KLINE, 2011;
TABACHNICK; FIDELL, 2007) e para a coleta online foi considerada a necessidade de pelo
menos 400 respondentes (BYRNE, 2009; HAIR et al., 2009; KLINE, 2011; TABACHNICK;
FIDELL, 2007) para construção de um modelo de Equações Estruturais.
42
Dos 592 participantes da coleta presencial, 51,7% eram do sexo feminino e 48,3% do
sexo masculino, com idades entre 17 e 63 anos (média de 24,45 anos e desvio padrão de
7,98), majoritariamente solteiros (79,2%) e com ensino médio completo (74,2%), residentes
no Distrito Federal (96,4%).
Quanto aos 438 participantes da coleta online, 60,3% eram do sexo feminino e 39% do
sexo masculino, com idades entre 14 e 77 anos (média de 32,4 anos, mediana de 29 anos e
desvio padrão de 10,72), majoritariamente solteiros (52,7%) ou casados (42,2%) e com ensino
superior completo (44,7%) ou pós-graduação completa (31,7%), residentes, em sua maioria,
no Distrito Federal (59,4% %), São Paulo (10,3%) e Maranhão (9,1%). A amostra 2 teve
maior heterogeneidade e representou pessoas com um status de vida diferenciado da amostra
1 (mais velhas, casadas e com maior formação educacional). A condução de um teste nãoparamétrico de comparação entre grupos (Mann-Whitney U) mostrou diferenças significativas
entre as duas amostras para 27 das 47 variáveis analisadas. Este fato reforça que as amostras 1
e 2 são distintas.
3.2.2 Instrumento
O instrumento proposto foi o mesmo para as duas amostras e consistia de 36 itens
referentes ao processo de descarte, avaliados em escala Likert, além de um item específico
sobre o último descarte realizado pelo respondente e de questões relativas à frequência de
troca e à caracterização do aparelho e variáveis sociodemográficas. Além desses, uma
pergunta sobre o que a pessoa fez com o último aparelho de celular serviu como filtro para
identificar casos de descarte voluntário e involuntário, de acordo com a taxonomia de Jacoby,
Berning e Dietvorst (1977). Os itens foram elaborados tomando por base os resultados da
pesquisa qualitativa, que indicaram categorias de análise e a literatura em descarte e
comportamento de consumo consciente.
Foram utilizados também dois fatores extraídos da Escala de Consciência Ecológica
do consumidor, validada por Lages e Vargas Neto (2002), a saber: “Produto” e “Reciclagem e
Utilização”, com cinco itens no primeiro fator e seis itens no segundo, referentes à compra de
produtos ambientalmente responsáveis e preferencia por produtos e embalagens recicladas ou
recicláveis.
43
Ainda, foram também incluídas variáveis sociodemográficas relativas a idade, estado
civil, escolaridade, classe social e moradia, conforme análise da literatura que relaciona esse
tipo de variável ao comportamento socialmente responsável (DIAMANTOPOULOS et al.,
2003; LAGES; VARGAS NETO, 2002). A versão de aplicação do questionário encontra-se
no Apêndice B.
3.2.3 Procedimentos
Os 804 questionários da amostra 1 foram aplicados de forma presencial, em dezembro
de 2012, no Distrito Federal, majoritariamente em salas de aulas de universidades e órgãos
públicos. Já os 512 questionários da amostra 2 foram coletados online, hospedados no Google
Docs, cujo link foi divulgado às redes de contato da pesquisadora. Pedia-se que o questionário
fosse respondido e encaminhado e qualquer pessoa que já tivesse trocado de celular. A coleta
foi realizada no mês de janeiro de 2013.
Foram
examinados
os
pressupostos
para
análises
multivariadas,
conforme
recomendações de Hair et al. (2009) e Tabachnick e Fidell (2007). Para o tratamento dos
dados, foi realizada uma análise de casos extremos, seguindo as recomendações de Riani,
Torti e Zani (2011) para identificação de outliers ordinais. Para tanto, foi feito um cruzamento
entre pares de variáveis que poderiam indicar casos incoerentes, ou outliers bivariados. Foram
também excluídos da amostra os casos extremos multivariados identificados pela distância
Mahalanobis e pela inspeção das respostas, quando as marcações limitavam-se aos extremos
da escala (sujeito que marcou apenas 1 ou 5) e que perderam ou tiveram seus aparelhos
celulares roubados, por não serem considerados casos de descarte voluntário (JACOBY;
BERNING; DIETVORST, 1977).
Uma vez tratados os dados, os 36 itens da escala de descarte foram submetidos à
Análise Fatorial Ordinal, baseada na matriz de correlação policórica (método two-step),
conforme os procedimentos indicados por Basto e Pereira (2012). A Análise Fatorial Ordinal
não presume que as variáveis utilizadas sejam contínuas e sigam distribuição normal.
Segundo Tabachnick e Fidell (2007) e Hair et al. (2009) o pressuposto da normalidade pode
não ser atendido caso o objetivo seja apenas explorar e reduzir os dados. Contudo, para
criação de escalas que servirão como instrumento de pesquisa, os autores ressaltam que é
interessante observar os pressupostos da AFE.
44
Para a investigação da relação entre os fatores pesquisados, foi desenhado um modelo
estrutural com Modelagem por Equações Estruturais (SEM), onde os fatores da Escala de
Consciência Ecológica prediziam os fatores da Escala de Comportamento Declarado de
Descarte, com moderação (multigroup analysis) de variáveis sociodemográficas. Foi
escolhido o método de estimação por Máxima Verossimilhança (Maximum Likelihood), com
testes de normalidade multivariada e utilização de bootstrapping a fim de contornar a falta de
normalidade das variáveis. Boomsma (1983) ressalta que a estimação por Máxima
Verossimilhança é robusta quanto a violações dos pressupostos de normalidade. Contudo,
para grandes variações de normalidade, entretanto, a estimação por Mínimos Quadrados
Ponderados (WLS) pode ser mais acurada (FLORA; CURRAN, 2004). Assim, as variáveis
com valor de assimetria maior que 10,00, ou seja, com forte desvio de normalidade, foram
excluídas da análise.
45
4
RESULTADOS
Esta seção apresenta os resultados encontrados nas etapas qualitativa e quantitativa da
pesquisa, a partir da análise de conteúdo das entrevistas e análise estatística dos questionários
aplicados.
4.1 Etapa qualitativa
Por meio da análise de conteúdo sugerida por Bauer (2004), foram encontradas seis
categorias teóricas a partir das respostas dos entrevistados às questões do roteiro, que
auxiliaram na construção dos itens para a Escala de Comportamento Declarado de Descarte de
Celulares.
A partir dos resultados da pesquisa qualitativa, foi possível, em conjunto com a revisão
de literatura sobre descarte, construir itens para a escala de avaliação do comportamento
declarado dos consumidores no descarte de celulares. Ao todo, foram propostos três aspectos
para avaliar esse comportamento: comportamento declarado de compra/consumo, agrupando
os itens relacionados à frequência, motivos e hábitos de compra; o comportamento declarado
de descarte, agrupando os itens relacionados à forma de descarte, percepção sobre o descarte,
motivo do descarte, responsabilidades no descarte e busca de informações para o descarte.
Esses aspectos mais gerais foram utilizados como base para criação dos fatores da escala.
O Quadro 3 mostra cada uma das categorias identificadas e a sua correspondência no
roteiro de entrevista.
Categorias teóricas
de análise
Questões do roteiro de entrevista
Comportamento de
compra/consumo
Você já trocou de celular? Com que frequência você troca? Há quanto tempo
tem o(s) atual(is)?
Quando você troca de celular, o que você faz com o aparelho antigo? Por quê? E
os outros antigos? E se o aparelho estiver velho ou inutilizável? Você já
considerou jogar no lixo comum?
Você considera esse descarte escolhido como adequado? Por que você optou por
esse tipo de descarte? O que seria um descarte correto para você? Qual a
importância do descarte? Por quê? Quais os impactos do descarte incorreto?
De quem é a responsabilidade pelo descarte correto? Como você vê o papel do
Governo nessa questão? E o da empresa?
Você já procurou informações ou já ouviu falar sobre locais específicos para
descarte destes produtos na sua cidade? Algum conhecido que faz o descarte
correto? Você acredita que as pessoas se preocupam com o descarte de
eletrônicos?
Comportamento de
descarte
Percepção sobre o
descarte
Responsabilidade pelo
descarte
Busca de informações
46
Medidas
preventivas/remediadoras
Que medidas você acha necessárias para que as pessoas descartem corretamente?
Você conhece alguma legislação sobre o combate ao lixo eletrônico? Sente
necessidade disso?
Quadro 3: Categorias teóricas de análise das entrevistas a partir das questões do roteiro
4.1.1 Categoria 1: Comportamento de compra/consumo
Quanto à frequência de troca, onze dos quatorzes entrevistados haviam trocado o
celular há menos de um ano e apenas três entrevistados afirmaram ter comprado um novo
celular porque o antigo quebrou ou foi roubado.
4.1.2 Categoria 2: Comportamento de descarte
Os entrevistados foram encorajados a relatar suas experiências com o descarte dos
aparelhos de telefonia móvel. Quando questionados sobre qual o destino dado ao celular
antigo, a metade dos entrevistados confessou que havia doado ou vendido os celulares. Quatro
dos entrevistados relataram guardar o celular em casa, dois entregaram para a operadora
responsável e um descartou em um Ponto de Entrega Voluntária (PEV).
Mais da metade das pessoas confessou ter guardado seu aparelho celular antigo e sete
afirmaram ter doado ou vendido afirmaram ter doado para amigos ou parentes. Apenas uma
pessoa devolveu o celular à operadora responsável. Entre as razões citadas para a doação dos
celulares, predominou a condição do aparelho em funcionamento aliada à necessidade de
algum amigo ou parente, além do retorno financeiro sobre o investimento realizado no
aparelho, quando ainda possuía valor aceitável de mercado.. Contudo, uma situação peculiar
foi a da entrevistada 1, em que o aparelho já não funcionava mais e foi doado para servir de
brinquedo a uma criança da família, o que claramente indica a falta de conhecimento sobre a
nocividade dos aparelhos celulares em geral e não apenas de suas baterias.
Já no que diz respeito à manutenção dos celulares em casa, os entrevistados
expressaram um receio de perder ou quebrar o aparelho atual e acabar prejudicando seus
meios de comunicação. O celular guardado em casa, para três dos cinco entrevistados que não
descartaram o aparelho no lixo ou em um centro de coleta, é uma reserva, uma segurança,
uma vez que eles acreditam que o aparelho pode ser útil novamente: “[..] como eu perco
celular com uma grande frequência por causa do trabalho, eu deixo sempre um lá de backup
47
pra poder utilizar.” (entrevistado 8). “Fica lá na gaveta. Devo ter uns cinco celulares lá [...] é
aquela falsa esperança de um dia vai voltar a funcionar. Aí quando quebra um celular meu eu
confiro todos os outros. Vai que algum voltou a funcionar?” (entrevistado 7). Entretanto, há
casos em que o aparelho está estragado, sem funcionalidade, e mesmo assim é mantido em
casa. A entrevistada 9 afirmou, por exemplo, que o celular estava “destruído”, mas logo em
seguida disse acreditar que ainda poderia funcionar. O entrevistado 8 disse que o celular está
“[...] na cestinha lá em casa, junto com um monte de carregador de celular [...] Naquela
cestinha tem pelo menos três celulares e cinco carregadores”. Quando questionado, o
entrevistado 3 disse não saber o motivo pelo qual mantém os aparelhos em casa: “Dizem que
não pode jogar fora por causa da bateria, então vai ficando, vai ficando...”. Todavia, o
entrevistado 8 mencionou os vínculos afetivos que podem influenciar esse tipo de descarte:
“[..] como, por exemplo, uma amiga minha: ela tem o mesmo celular desde que ela foi pro
intercâmbio. Ela guarda aquele celular porque tem um valor emocional para ela, traz boas
lembranças, e ela não consegue se desfazer”.
Duas pessoas das quatorzes entrevistadas afirmaram que após guardarem seus
celulares antigos na gaveta acabaram jogando no lixo comum porque não sabiam o que fazer
com ele. O entrevistado 13 afirmou: “Jogo no lixo por falta de coleta seletiva, por falta de
informação de como deve ser este descarte. Está estragado e não vou deixar em casa
ocupando espaço na gaveta, jogo no lixo mesmo”. Já os entrevistados 7 e 6 afirmaram,
respectivamente: “Na verdade eu sei onde jogar, porque eu sei de lugares que tem pra jogar,
mas pela comodidade acabo deixando na gaveta mesmo”; “Eu esperaria que fosse descartado
da maneira correta, mas possivelmente como eu não vou encontrar o local correto ele vai ser
descartado da forma errada, no lixão mesmo”.
Mais da metade dos respondentes, entretanto, afirmaram que não jogariam o celular
guardado no lixo, mas que falta muita informação para as pessoas procederem ao correto
descarte: “Tem que ter informação, pois como eu disse, eu não sei como descartar um celular
corretamente. Se eu soubesse eu poderia até me motivar a juntar os cinco, seis celulares que
tenho lá em casa, com os cinco seis da minha mãe, de todo mundo e levar, mas como eu não
sei fica lá em casa” (entrevistado 12).
48
4.1.3 Categoria 3: Percepção sobre o descarte
Quanto à percepção sobre o descarte, a maioria acredita que realizou o descarte
adequado, considerando que doou, vendeu ou manteve o produto em casa e não agrediu o
meio ambiente. Quando perguntados da importância do descarte adequado todos os
entrevistados ressaltaram a não poluição ao meio ambiente e alguns destacaram ainda a
possibilidade de geração de renda com o descarte por meio de programas de reciclagem,
reaproveitamento e sustentabilidade, além da questão social, como afirmou o entrevistado 9:
“Quando a gente fala de meio ambiente sempre tira o homem, mas nós fazemos parte do meio
ambiente, meio ambiente é tudo, é o meio em que nós vivemos. Então é tudo interligado, se
atingiu aquela vegetação, aquele solo, vai te atingir de alguma forma. Se não for a curto
prazo, a longo prazo vai te atingir”. O entrevistado 14 corroborou: “Eu acredito mais no meio
ambiente né, mas tem a questão social. Eu, por exemplo, costumo dar, o que tiver
funcionando [...] para pessoas que não têm condição financeira de ter aquilo”.
Quando questionados a respeito dos impactos do descarte incorreto, os participantes
mencionaram a contaminação do solo e dos lençóis freáticos: “[...] a própria bateria né, se
você colocar em contato com o calor ela vai emitir substâncias químicas que destroem a
natureza, o solo” (entrevistado 5), além do volume de lixo gerado, como lembrou o
entrevistado 7: “Hoje a gente tem um problema sério de lixo, se você parar para ver, é um
problema social. Não tem espaço para você colocar tanto lixo que é produzido”.
Dentre os oito que mencionaram a presença de substâncias tóxicas, um entrevistado
destacou o perigo das substâncias tóxicas para a saúde, inclusive de quem descarta de forma
inadequada: “[...] a gente produz muito lixo e a gente não tem noção que o lixo que a gente
produz volta, sabe? E o material tóxico é desse jeito: você faz um descarte indiscriminado, ele
vai voltar, a toxidade dele vai voltar para você de alguma forma né” (entrevistado 7).
Vale destacar, contudo, que a maioria dos entrevistados, quando questionados a
respeito dos impactos do descarte inadequado, levaram em conta somente as baterias
presentes nos celulares. O entrevistado 7 confessou: “Durante a entrevista toda quando
pensava sobre o lixo eletrônico eu estava pensando somente na bateria, sendo que o celular, o
corpo dele também é um problema, é lixo eletrônico e tem que ter um fim adequado”.
Quanto ao que seria um descarte correto, de forma geral, foram citadas três opções
aceitáveis: levar os produtos para empresas de reciclagem; levar os produtos para as empresas
fabricantes; e levar os produtos para pontos de coleta específicos. Um entrevistado também
49
citou a procura por alguém ou alguma empresa especializada em recuperar os metais que
compõem os aparelhos.
A maioria dos entrevistados sugeriu que a empresa fabricante tomasse providências
para ajudar os consumidores, visto que as pessoas desconhecem lugares específicos ou
empresas de reciclagem que cuidem desse tipo de material. “Mas o que eu acho que poderia
acontecer era, por exemplo, quem é responsável por esse lixo, por produzir esse lixo, por
produzir esse produto que vai virar um lixo tóxico podia dar alguma alternativa do tipo, bota
na caixinha e manda pra gente e a gente recebe. Ou então podia ter um recolhimento no meu
prédio para esse material. Tanto o condomínio podia fazer isso como eu acho que as empresas
podiam estimular isso. Olha, vocês juntam que a gente recolhe de tempos em tempos”
(Entrevistado 8). Mais uma vez a comodidade foi um empecilho à realização do descarte
apropriado: “O correto, correto seria esse que algumas empresas oferecem: você ir lá e deixar
seu equipamento lá, porque eles têm uma destinação correta. Esse seria o correto, mas muitas
vezes [...] não é o confortável pra gente [...]. Por exemplo, eu tenho um televisão velha, eu
não vou na autorizada levar, não é confortável, então eu coloco ela na frente da minha casa e
daí vai passar alguém e pegar ou vai passar algum catador [...]” (entrevistado 12).
4.1.4 Categoria 4: Responsabilidades pelo descarte
No que diz respeito à responsabilidade pelo descarte, as respostas variaram entre três
sujeitos: os próprios consumidores/usuários; as empresas fabricantes e/ou revendedoras
(incluindo as operadoras); e o Governo. De forma geral, a maioria dos entrevistados percebeu
a responsabilidade compartilhada no descarte entre os três sujeitos.
Oito pessoas mencionaram a empresa fabricante e/ou operadora, quatro o próprio
consumidor/usuário e duas o Governo. Porém, após serem incentivados a refletirem sobre
outras responsabilidades, todos os entrevistados concordaram que tanto as empresas, o
Governo e os consumidores são responsáveis nesse descarte, sendo que cada um detém uma
parcela dessa responsabilidade: os consumidores, de darem uma destinação correta aos
produtos, de jogar o lixo no lugar certo; as empresas, de reciclarem esse material,
disponibilizarem pontos de coleta em locais de fácil acesso como nas lojas de venda de
produtos eletrônicos; e o Governo, de informar a sociedade da importância desse descarte,
fazendo campanhas e incentivando a população a adotarem um comportamento mais
50
consciente, ensinando as crianças em idade escolar sobre a importância de jogar o lixo no
local correto e facilitando também o processo de descarte, no sentido de, conjuntamente com
as empresas, disponibilizarem locais de coleta para o descarte desses produtos. O entrevistado
8 enxergou essa questão como um grande ciclo do qual fazem parte todos os sujeitos: “Eu
colocaria que metade da responsabilidade é do fabricante e a outra metade está diluída entre
todos os participantes da cadeia logística, até o usuário final [...] que se meu celular estragou,
eu comprei na Vivo eu vou lá e entrego na Vivo, e a Vivo vai devolver de quem ela pegou e
vai mandar pro atacadista e o atacadista vai mandar pra fabricante. O Governo nessa questão
tem o papel regulatório, de fiscalização e incentivo de todo esse processo”. Pois como
afirmou o entrevistado 11: “Se você quiser que a sociedade seja responsável por ela mesma,
se você quer que a sociedade tenha a responsabilidade social como um valor, você tem que
ensiná-la para isso”. O entrevistado 10 resumiu: “Você tem a responsabilidade da empresa de
disponibilizar lugares de fácil acesso para o consumidor descartar, do consumidor de do
mesmo jeito que ele deslocou para ir buscar o produto ele se desloca para deixar o produto, e
do Governo de conscientizar as pessoas da importância do descarte”.
4.1.5 Categoria 5: Busca de informações
Na busca por informações, as entrevistas mostraram que as pessoas recorreram mais às
lembranças internas, decorrente de recordações. Quase nenhuma delas procurou fontes
externas, visto que somente três de todos os entrevistados foram atrás de informações de
locais específicos para esse descarte. Ao serem perguntadas se conheciam locais específicos,
maioria apenas mencionou pontos de descarte de pilhas e baterias. Quase ninguém sabia de
algum lugar para deixar o celular e acabava confundindo o lixo eletrônico somente levando
em conta a bateria.
Assim, apesar de apenas três dos quatorzes entrevistados terem ido atrás e buscado
informações a respeito, os dados coletados revelam carência nas fontes de informação. A
maioria dos participantes relatou não conhecer nenhum amigo, conhecido ou parente que
tivesse feito o descarte correto, nunca ter visto propagandas ou informações das empresas ou
campanhas governamentais sobre como descartar o produto adquirido. Somente um
entrevistado afirmou conhecer um lugar específico da Nokia para se realizar o descarte,
localizado em um supermercado.
51
Quando perguntados se eles acreditavam que as pessoas se preocupam com o descarte,
a maioria disse que não, mas não porque não existe a preocupação com o meio ambiente, mas
pelo fato de muitas vezes desconhecerem a toxidade desses aparelhos e não saberem como
proceder ao descarte.
4.1.6 Categoria 6: Medidas preventivas/remediadoras
As entrevistas também levantaram a discussão sobre medidas que podem ou devem
ser tomadas a fim de trabalhar na prevenção e remediação do lixo eletrônico, especificamente
os celulares. A maioria das pessoas concordou que deve haver uma parceria onde a empresa
produtora e/ou revendedora recebe e recicla o produto e o governo provê meios para que o
consumidor retorne o produto de forma mais fácil além de fiscalizar a atividade das empresas.
Entre as medidas citadas como necessárias e importantes para facilitar o descarte
estão: disponibilização de pontos de coleta desses produtos em locais de fácil acesso;
conscientização da população através de mídias e campanhas públicas; passagem de caminhão
do lixo uma vez por mês recolhendo os celulares; educação nas escolas sobre jogar cada tipo
de lixo no local adequado; envio do celular às empresas fabricantes para fins de reciclagem; o
recolhimento dos aparelhos em condomínios; ganho de descontos na compra de um novo
produto ao levar o antigo; criação de ONGs para revitalizar esse material e fazer doações para
entidades carentes; divulgação pelas empresas dos pontos de coleta de eletrônicos; e
existência de legislação forçando os fabricantes a recolherem e reciclarem os celulares.
“O Governo deveria buscar uma mudança no comportamento do consumidor mesmo,
de que ele seja mais correto né, de fazer o descarte correto, no local correto, cobrar das
empresas que disponibilizem esses locais. Que não fique apenas uma loja em trezentas
milhões e aí a gente não tem como encontrar [...]. Melhor descartar no lixo que é do lado da
minha casa. Jogo lá e acabou. É mais fácil” (entrevistado 7). “Além da informação, tem que
ter facilidade né, porque, tipo, a pessoa pensa: vou descartar o celular aqui no lixo, jogar fora
ou vou procurar fazer como descobrir, como é o modo certo para chamar alguém pra vir
buscar aqui em casa. Ninguém vai querer ter esse trabalho” (entrevistado 5).
No tocante à legislação, apenas um entrevistado alegou conhecer uma lei em relação a
isso. O restante não conhecia, mas concordou com a necessidade de uma legislação para
regular esse descarte, pois acreditam que as coisas no Brasil só funcionam quando há uma lei
52
ou fiscalização por trás. O único entrevistado que tinha conhecimento mencionou a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que possui alguns artigos para regular esse descarte.
Por fim, os entrevistados mencionaram que até possuem intenção de mudar seu
comportamento, mas que para isso precisam de maiores informações a respeito e de
facilidades para procederem ao descarte, reforçando novamente a necessidade de campanhas
públicas e a instalação de mais coletores específicos em locais estratégicos.
Finalizada a análise de conteúdo, foram formulados alguns itens para composição de
uma escala de avaliação de comportamento declarado de consumidores no descarte de
celulares. Ao todo, foram propostos 33 itens, construídos com base nos principais achados das
entrevistas e na literatura revisada, e organizados a partir (mas não exclusivamente) das
categorias identificadas na análise de conteúdo. Foram identificados cinco possíveis fatores
relevantes para a escala, a saber: 1) comportamento de compra/consumo; 2) comportamento
de descarte; 3) percepção e conhecimento sobre o processo de descarte; 4) responsabilidade
pelo descarte; 5) busca de informações. Entretanto, por tratar-se de uma pesquisa exploratória,
sem base teórica e empírica vasta e firmada no campo do comportamento de descarte,
assumiu-se que a estrutura imaginada poderia ser alterada na verificação da adequação
estatística, que será abordada a seguir.
4.2 Etapa quantitativa
Quanto aos hábitos de descarte dos participantes da primeira fase da etapa quantitativa,
55,6%, afirmaram ter guardado o último aparelho de celular e 37,3% afirmaram ter doado,
vendido, trocado ou emprestado o aparelho usado. Dos 592 casos válidos, somente 15 (2,5%)
disseram ter levado o celular a um centro de coleta ou devolvido à operadora.
Aproximadamente 80% afirmaram trocar de celular no máximo a cada 2 ou 3 anos (55,5%)
ou após 3 anos de uso (25%) e pouco mais de 60% trocou de celular ou há menos de 6 meses
(31,1%) ou há menos de 1 ano (31,6%). Quanto à marca do aparelho substituído, a mais
citada foi a Nokia (28,2%), seguida da Samsung (18,9%), Motorola (17,9%) e LG (12,2%).
Já quanto aos participantes da segunda fase, quase metade afirmou ter guardado o
último aparelho de celular (48,9%) e 41,7% afirmaram ter doado, vendido, trocado ou
emprestado o aparelho usado. Dos 438 casos válidos, somente 25 (5,6%) disseram ter levado
o celular a um centro de coleta ou devolvido à operadora/fabricante. Quanto à marca do
53
aparelho substituído, a mais citada foi a Nokia (32,4%), seguida da Samsung (18,3%),
Motorola (13,2%) e LG (11%).
As frequências de resposta relativas ao descarte dos aparelhos celulares corroboram
com os resultados encontrados também na etapa qualitativa desta pesquisa, indicando que a
principal destinação e a manutenção ou a venda.
Após a análise descritiva, os dados foram tratados de acordo com os pressupostos para
análises multivariadas. Verificou-se que nenhuma das 36 variáveis era normal (p<0,001 para
o teste Kolmogorov Smirnov) - o que já era esperado, por serem variáveis ordinais. Na maior
parte dos casos não é plausível assumir normalidade em dados ordinais, principalmente
quando há um número pequeno de categorias (CHU; GHAHRAMANI, 2005). Uma vez que a
Análise Fatorial Exploratória pressupõe a utilização de variáveis contínuas com distribuição
normal e que é necessário atender a esses requisitos caso haja a intenção de construir uma
escala (TABACHNICK; FIDELL, 2007), decidiu-se por utilizar a Análise Fatorial Ordinal na
primeira fase do estudo. Quanto à técnica de Modelagem por Equações Estruturais (SEM),
Boomsma (1983) ressalta que a estimação por Máxima Verossimilhança é robusta quanto a
violações dos pressupostos de normalidade. Para grandes variações de normalidade,
entretanto, a estimação por Mínimos Quadrados Ponderados (WLS) pode ser mais acurada.
Os resultados de Flora e Curran (2004) mostraram, todavia, que o WLS só funcionou
adequadamente na amostra maior (de N=1000), sugerindo sua apropriação a amostras
grandes, calculadas conforme a sugestão de Jöreskog e Sörbom (1996), de (k+1)(k+2)/2, onde
k é o número de indicadores do modelo. No caso de amostras menores, Flora e Curran (2004)
encontraram dificuldades substanciais de estimação. Dessa forma, como a amostra coletada
online não atende à sugestão de Jöreskog e Sörbom (1996) para amostras, grandes, decidiu-se
manter a estimação padrão por máxima verossimilhança.
Na identificação de outliers bivariados, o cruzamento entre a variável “o que você fez
com seu último celular” e “não jogo celular em lixo comum” (cd02), por exemplo,
identificou, na amostra presencial, 3 casos incoerentes em que o sujeito afirmou ter jogado
seu último aparelho no lixo, mas concordou totalmente com a segunda assertiva. Da mesma
maneira, foram identificados e eliminados outros 10 outliers bivariados e 47 casos omissos,
que haviam deixado a segunda parte do questionário em branco. Foram também eliminados
155 casos de descarte involuntário, resultando em uma amostra de 592 casos válidos. Para a
amostra online, dos 512 questionários coletados, foram eliminados 5 casos de respondentes
que residiam fora do Brasil, 50 casos de descarte involuntário (celular perdido ou roubado), 7
54
casos de outliers bivariados, 1 caso de marcações exclusivas de valores extremos e 11 casos
de questionários respondidos pela metade, restando, assim, em uma amostra de 438 casos.
Para a primeira fase desta etapa quantitativa, foi realizada a verificação de
fatorabilidade da matriz, por meio dos estimadores tradicionais, como a significância do teste
de esfericidade de Barlett e o valor do Keiser-Meyer-Olkin (KMO), além das medidas de
adequação de cada variável (Measures of sampling adequacy, MSA). O MSA de Kaiser é
uma síntese do quanto as correlações parciais são menores que as originais para cada variável
(KAISER, 1970). O KMO foi de 0,722, valor considerado mediano, segundo Kaiser (1970),
e, portanto aceitável. Os valores do MSA foram todos acima de 0,442, com apenas duas
variáveis (c2 e cd15) com valores abaixo de 0,5, limite proposto por Kaiser (1970). Estes itens
tiveram suas comunalidades e cargas igualmente inaceitáveis e foram, portanto, excluídos da
análise.
Para determinar a quantidade de fatores a serem extraídos, foram analisados o gráfico
de declive (scree plot), os resultados da análise paralela (cujos valores de eigenvalue
aleatórios também foram gerados baseados em uma matriz de correlação policórica), fator de
aceleração, regra de Kaiser e o teste de média mínima parcial de Velicer (Velicer’s MAP),
além da divisão teórica previamente prevista pela pesquisadora. Os critérios de Kaiser
(eigenvalue maior que 1), análise paralela, fator de aceleração e coordenadas ordinais
indicaram extração de 1, 7 ou 11 fatores, conforme mostra a Figura 2. Entretanto, a
quantidade de fatores estimada pelo critério de Kaiser, por exemplo, são geralmente
superestimadas (ZWICK; VELICER, 1986), enquanto o MAP de Velicer já é considerado
bastante preciso, conforme simulações de Monte Carlo realizadas por Zwick e Velicer (1986).
Basto e Pereira (2012) ressaltam ainda que em casos de muitos erros e resíduos, a análise
paralela, apesar de considerada como um dos melhores critérios para extração de fatores
(ZWICK; VELICER, 1986) tende a subestimar a quantidade de componentes, enquanto o
critério Kaiser tende a superestimar o número correto. Neste caso, os autores recomendam a
utilização do teste MAP de Velicer, que não é influenciado pela presença de muitos erros e
resíduos. Desta forma, priorizou-se a quantidade de fatores indicadas no teste MAP, uma vez
que também estavam mais próximos do estimado teoricamente, conforme mostra a Tabela 1.
Autovalores
55
Fatores
Figura 2: Análise paralela em dados empíricos por permutação de colunas
Tabela 1: Resultados do teste MAP de Velicer
Mínimo de Velicer
Mínimo
MAP ao quadrado
MAP à 4a potência
0,013
0,001
Componentes a
reter
4
6
Uma vez definida que a quantidade de componentes a serem extraídos seria 4, foi
conduzida uma Análise Fatorial Exploratória com rotação Direct Oblimin a fim de verificar a
correlação entre os fatores e decidir a melhor rotação, se ortogonal ou oblíqua, conforme
recomendam Tabachnick e Fidell (2007). Não houve nenhuma correlação maior que 0,32 e
decidiu-se, portanto, que seria mais adequado utilizar uma rotação ortogonal, visto que era
também a mais apropriada teoricamente.
Foi, então, realizada uma Análise de Eixos Principais Ordinal (Principal Axis
Factoring, PAF), com rotação Varimax-T e extração de 4 fatores. Após análise conjunta das
cargas fatoriais e comunalidades, os itens cd1, cd4, cd8, cd15, cd16, cd20, cd23 e cd29 foram
excluídos da amostra por possuírem carga fatorial abaixo de 0,4 e comunalidades abaixo de
0,3 (CHURCHILL, 1979; BAGOZZI, 1992). Apesar de outros itens possuírem valores abaixo
do aceitável para comunalidades, eles foram mantidos por terem boas cargas fatoriais e pela
56
boa contribuição semântica ao fator (HAIR et al., 2009). A Tabela 2 mostra a matriz de
cargas rotacionadas em cada fator e suas respectivas comunalidades.
Tabela 2: Cargas fatoriais e comunalidades
ID
Variáveis
cd32 Conheço lugares adequados para o descarte de celulares
cd31 Já procurei informações de locais corretos para fazer o descarte de
eletrônicos e encontrei
cd11 Conheço locais de fácil acesso para realizar o descarte de celulares
cd35 Conheço programas de logística reversa (retorno do produto usado)
da minha operadora de celular
cd27 Conheço programas de logística reversa (retorno do produto usado)
da fabricante do meu celular
cd22 Conheço pessoas que descartam celulares corretamente
cd10 Conheço uma lei que regule o descarte de celulares
cd12 Compro celulares de empresas que providenciam a reciclagem dos
aparelhos
cd21 Nunca procurei informações a respeito do descarte de celulares
cd19 Descarte celular no lixo comum, pois não sei o que fazer com ele
cd24 Quando vou descartar um celular, penso nos danos ao meio ambiente
cd25 Desconheço se existem substâncias tóxicas nos celulares
cd36 É importante descartar celulares corretamente para proteger o meio
ambiente
cd33 Não me considero responsável pelo descarte adequado de celulares
cd3 Não jogo celular no lixo comum
cd13 Jogar celular no lixo comum pode contaminar o meio ambiente
cd5 Mantenho meu celular antigo guardado, mesmo que ele não funcione
mais
cd14 Mantenho meu celular antigo guardado, pois um dia posso precisar
dele
cd28 Mantenho meu celular antigo guardado pois não sei o que fazer com
ele
cd26 Guardo meu celular antigo pelas lembranças que ele me traz
cd17 Considero a empresa fabricante a principal responsável por dar
destinação correta aos celulares que fabrica
cd34 Creio que há necessidade de uma lei para regular o descarte de
celulares
cd30 Considero a operadora de celular a principal responsável por dar
destinação correta aos celulares que vende
cd9 Considero o governo o principal responsável por dar destinação
correta aos celulares usados
cd18 Falta informação sobre como descartar celulares corretamente
F1 F2 F3 F4 h2
0,80
0,84
0,72
0,78
0,77
0,65
0,47
0,64
0,41
0,60
0,57
0,56
0,47
0,37
0,36
0,51
0,47
0,37
0,58
0,52
0,25
0,40
0,76
0,60
0,50
0,47
0,45
0,44
0,43
0,22
0,23
0,31
0,60
0,75
0,37
0,60
0,38
0,55
0,52
0,47
0,46
0,40
0,40
0,35
0,23
0,24
0,17
0,16
0,40 0,27
Os quatro fatores contabilizam quase 40% da variância explicada do construto,
conforme mostra a Tabela 3, com predominância dos dois primeiros fatores, que explicam
aproximadamente 27% da variância.
Tabela 3: Variância explicada rotacionada (extraída)
Fatores
1
2
3
% de variância
16,30
10,79
6,57
% acumulada
16,30
27,08
33,65
57
4
6,07
39,71
Para análise de confiabilidade, foi utilizado o coeficiente alfa de confiabilidade
ordinal, proposto por Zumbo, Gadermann e Zeisser (2007), o qual diferencia-se do alpha de
Cronbach tradicional por ser calculado com base em uma matriz policórica e apresentar
estimadores consistentes mesmo com distribuições assimétricas, o que não acontece com a
medida tradicional, que é negativamente influenciada em casa de assimetria negativa, por
exemplo (ZUMBO; GADERMANN; ZEISSER, 2007). Os resultados estão na Tabela 4.
Tabela 4: Coeficiente alfa ordinal
Fator 1 – Conhecimento
Fator 2 –
sobre o processo de
Comportamento de
descarte
Descarte Socialmente
Responsável
,86
,74
Fator 3 –
Comportamento de
manutenção
,69
Fator 4 –
Responsabilidade
Institucional sobre o
Descarte
,55
Após a verificação da adequação estatística da Escala de Comportamento Declarado de
Descarte de Celulares, os fatores foram utilizados em uma Modelagem por Equações
Estruturais (SEM) para investigar a relação com os outros dois fatores da Escala de
Consciência Ecológica do Consumidor e variáveis sociodemográficas.
A Escala de Consciência Ecológica do Consumidor foi validada por Lages e Vargas
Neto (2002) com o objetivo de mensurar o nível de consciência ecológica do consumidor de
Porto Alegre a partir de uma adaptação do instrumento desenvolvido por Straughan e Roberts
(1999). Segundo Lages e Vargas Neto (2002), a consciência ecológica do consumidor resulta
da junção de variados níveis e subníveis de consciência relativos a facetas diferentes da
consciência ecológica. Dessa forma, foram utilizados dois fatores da escala, um chamado de
“produto” e outro de “reciclagem e reutilização” por serem as dimensões que melhor se
relacionavam com o objetivo deste estudo.
Os dois fatores da Escala de Consciência Ecológica do Consumidor foram submetidos à
Análise Fatorial Exploratória Ordinal, com escolha de rotação ortogonal, seguindo os
procedimentos adotados por Lages e Vargas Neto (2002) a fim de verificar a estrutura fatorial
esperada. A análise prévia de componentes a serem extraídos confirmou, pelos valores do
teste MAP de Velicer, que deveriam ser extraídos dois fatores, conforme o esperado.
58
Os resultados indicaram um KMO de 0,90 (KAISER, 1970). Os valores de MSA
também foram altos, entre 0,845 e 0,946, evidenciando alta fatorabilidade da matriz. Foram
extraídos dois fatores, com itens cujas comunalidades estavam dentro do aceitável (maiores
que 0,4 e menores que 0,9) e as cargas fatoriais consideradas, em sua maioria, muito boas
(maiores que 0,63), seguindo a classificação de Comrey (1973). Utilizou-se a recomendação
de Tabachnick e Fidell (2007), que acreditam que a carga fatorial mínima a ser considerada
deve ser de 0,45, o que vai ao encontro da classificação de Comrey (1973), que diz que itens
com cargas entre 0,32 e 0,45 são pobres e itens acima de 0,45 já são razoáveis. O item 7,
contudo, apresentou a menor comunalidade (h2=0,457) e carga dividida entre os dois fatores e
foi, portanto, excluído da análise conforme mostra a Tabela 5, onde FC1 representa o Fator
Reciclagem e Reutilização e FC2 o Fator Produto.
Tabela 5: Cargas fatoriais rotacionadas em cada fator
ID
ce4
Variável
Eu tento comprar apenas produtos que podem ser
reciclados.
ce5 Eu evito comprar produtos com embalagens que
não são biodegradáveis
ce1 Eu procuro comprar produtos feitos de papel
reciclado
ce3 Eu procuro não comprar produtos que possuem
grande quantidade de embalagens.
ce2 Sempre que possível, eu compro produtos feitos
com material reciclado
ce6 Eu não compro produtos fabricados ou vendidos
por empresas que prejudicam ou desrespeitam o
meio-ambiente.
ce10 Quando possível, eu sempre escolhe produtos que
causam menor poluição
ce8 Quando eu tenho que escolher entre dois produtos
iguais, eu sempre escolho o que é menos prejudicial
às outras pessoas e ao meio ambiente
ce9 Eu já convenci amigos ou parentes a não comprar
produtos que prejudicam o meio-ambiente.
ce11 Eu sempre faço um esforço para reduzir o uso de
produtos feitos de recursos naturais escassos.
ce7 Eu não compro produtos para minha casa que
prejudicam o meio-ambiente
FC1
FC2
0,822
0,783
0,665
0,664
0,569
0,510
0,812
0,792
0,674
0,642
0,473
0,483
Os fatores mostraram-se confiáveis, com índices alfa de confiabilidade ordinal de
0,882 para o fator Produto e 0,875 para o fator Reciclagem e Reutilização. Uma vez que todos
os indicadores analisados foram melhores que o mínimo aceitável, procedeu-se à utilização da
sub-escala para o modelo de pesquisa.
59
O modelo foi desenhado no software AMOS 18 e previa a relação preditiva dos
fatores da Escala de Consciência Ecológica do Consumidor em relação aos fatores da Escala
de Comportamento de Descarte de Celulares, com moderação de variáveis sociodemográficas.
O fator 4, relativo à responsabilidade institucional sobre o descarte não foi considerado nesta
análise por ter sido composto por itens com cargas fatoriais e comunalidade e alfa baixos na
análise exploratória. A Figura 3 mostra o modelo estrutural inicial proposto para a análise,
onde:
a) F1 = Fator Conhecimento sobre o processo de descarte
b) F2 = Fator Comportamento de descarte socialmente responsável
c) F3 = Fator Comportamento de manutenção
d) FC1 = Fator Reciclagem e Reutilização
e) FC2 = Fator Produto
Figura 3: Modelo estrutural inicial de pesquisa
O fator 3, relacionado aos hábitos de manutenção do celular em casa, também foi
excluído durante a Modelagem por Equações Estruturais, por não ter se adequado ao modelo.
Não houve predição dos fatores de consciência ecológica e não foi possível investigar a
60
correlação deste fator com outros fatores do comportamento de descarte por serem endógenos
– correlação não permitida no software estatístico utilizado. Os itens cd36 (É importante
descartar celulares corretamente para proteger o meio ambiente) e cd13 (Jogar celular no lixo
comum pode contaminar o meio ambiente) foram descartados por apresentarem valores de
assimetria muito altos (>10,00) e carga fatorial pobre (<0,40). Esses itens sugeriam respostas
com tendência positiva (marcações mais próximas do extremo superior da escala) e tiveram,
dessa forma, alto grau de assimetria negativa. Os outros itens retornaram valores de assimetria
moderada ou baixa (entre 1 e 10 ou abaixo de 1), aceitáveis para a análise. Foram também
inseridas correlações entre os erros das variáveis cd32 (Conheço lugares adequados para o
descarte de celulares) e cd11 (Conheço locais de fácil acesso para realizar o descarte de
celulares) e entre os erros das variáveis cd35 (Conheço programas de logística reversa da
minha operadora de celular) e cd27 (Conheço programas de logística reversa da fabricante do
meu celular).
Após alterações, o modelo final teve ajuste satisfatório, com X2(225) = 524,799,
CMIN/DF = 2,332, GFI = 0,903, RMSEA = 0,055 e indicou que a consciência ecológica do
consumidor sobre o produto (FC2) influencia seu conhecimento sobre o processo de descarte
de celulares (F1) e que a consciência ecológica do consumidor em relação à reciclagem e
reutilização (FC1) de produtos e embalagens prediz a adoção de um comportamento mais
responsável (F2). As variáveis sociodemográficas de idade, sexo e escolaridade foram
utilizadas, separadamente, como moderadores dessas relações. Também foram divididos
grupos de acordo com as marcas dos celulares descartados e testada a moderação por grupos
de pessoas que descartaram aparelhos de marcas que possuem programas de logística reversa
e marcas que não possuem, conforme os resultados encontrados por Demajorovic et al.
(2012). Em nenhum dos casos, houve diferença significativa entre os grupos, indicando que
não há moderação destas variáveis. A Figura 4 apresenta o modelo estrutural final encontrado.
61
Figura 4: Modelo estrutural final de pesquisa
62
5
DISCUSSÃO
Nesta seção, os resultados serão discutidos de acordo com as etapas qualitativa e
quantitativa da pesquisa, resgatando a literatura visitada e as hipóteses propostas.
5.1 Discussão da etapa qualitativa
Os resultados da etapa qualitativa tiveram sua análise baseada em categorias
construídas majoritariamente a partir dos discursos dos participantes e não necessariamente
em conjunto com aspectos teóricos do tema. De forma geral, os estudos referentes ao descarte
de produtos eletrônicos têm se concentrado em estudar o aspecto mais amplo, como as
legislações, ações empresariais, o engajamento em programas de reciclagem e estimativas do
potencial de geração desse lixo, mas não têm focado nos hábitos dos consumidores no
processo de descarte (ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010; ARAÚJO et al., 2011;
DEMAJOROVIC et al., 2012; LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009; NIXON; SAPHORES, 2007;
SILVEIRA; CHANG, 2010; WIDMER et al., 2005). Essa escassez na literatura que relaciona
descarte e comportamento do consumidor impulsionou para que as categorias construídas
considerassem mais o agrupamento dos núcleos de sentido dos resultados da entrevista do que
os construtos teóricos já estabelecidos.
5.1.1 Comportamento de compra/consumo
As trocas constantes e recentes realizadas pelos participantes, tanto na etapa
qualitativa quanto quantitativa, quando combinadas às situações em que os aparelhos não
apresentaram defeitos ou outros fatores que pudessem influenciar o descarte involuntário,
corroboram com a ideia de que, por estarem cada vez mais atraídas às novas tecnologias, as
pessoas trocam de celular mesmo quando o antigo está em pleno funcionamento (FERREIRA;
FERREIRA, 2008). Essa substituição de produtos ainda em condições de uso por modelos
mais potentes e/ou atraentes é chamada obsolescência induzida (XAVIER et al. 2011) e em
conjunto com a obsolescência programada têm aumentado consideravelmente o descarte
desses
aparelhos
e,
consequentemente
a
geração
de
resíduos
de
equipamentos
63
eletroeletrônicos (REEE) (GUARNIERI, 2013). Entretanto, nas entrevistas, os relatos
mostraram que a alta frequência de troca, deveu-se, em grande parte, a perdas, roubos, quedas
e outros problemas comuns com os aparelhos.
5.1.2 Comportamento de descarte
No que tange ao comportamento de descarte, a maior parte dos entrevistados citou a
venda e a doação como principais destinações dos aparelhos usados, o que corrobora com os
resultados do estudo realizado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), que
aponta a doação e a venda como os principais canais reversos utilizados pelos consumidores
para descartar seus resíduos eletroeletrônicos (FUNDAÇÃO..., 2010). Contudo, os
entrevistados também mencionaram ter algum aparelho mais antigo guardado em casa,
mesmo o produto estando velho e inutilizável. Além da falta de informação específica, como
já destacado em outros estudos (ANDRADE; FONSECA; MATTOS, 2010; FERREIRA;
FERREIRA, 2008; GIARETTA et al., 2010), deve ser considerado o fato de que as pessoas
não desejam fazer grandes esforços para descartar corretamente os aparelhos de telefonia
móvel. A zona de conforto varia, portanto, entre guardar o celular em casa ou jogar no lixo
comum da própria residência.
Por outro lado, a decisão por manter o celular na gaveta pode também ser explicada
pelos vínculos afetivos e significados que o objeto representa para a pessoa ou por
acreditarem que um dia ainda irão fazer uso desse bem (ARNOULD; PRICE; ZINKHAN,
2004). Segundo Roster (2001) e Young e Wallendorf (1989), o descarte envolve mais do que
o simples ato de disposição de um produto. Ele pode ser entendido como um processo em que
há uma separação física e psicológica entre o objeto e seu possuidor. Arnould, Price e
Zinkhan (2004) afirmam que ligações emocionais influenciam a forma como as pessoas
descartam seus produtos e sua disposição para o descarte. No estudo de Giaretta et al. (2010),
por exemplo, o vínculo afetivo é um fator que interfere no procedimento de descarte de
celulares obsoletos. Quando os celulares possuíam significados afetivos para os entrevistados,
eles tendiam a manter o bem, mesmo não os utilizando mais. Nos resultados de Suarez et al.
(2010), muitas consumidoras armazenam os cosméticos por acreditarem que um dia ainda irão
fazer uso deles e não os descartam pelo fato de atribuírem significados sentimentais e
emocionais para os produtos.
64
5.1.3 Percepção e conhecimento sobre o processo de descarte e busca por
informações
Após falaram sobre as razões pelas quais mantêm o celular guardado, os participantes
citaram os impactos ambientais e na saúde que os resíduos desses produtos podem causar, os
quais já haviam sido relatados em pesquisas semelhantes, como por Andrade, Fonseca e
Mattos (2010), que alertaram que os produtos eletrônicos podem contaminar solos, rios e o
lençol freático por conterem materiais tóxicos em sua composição.
A maioria dos entrevistados, contudo, quando questionada sobre esses impactos, levou
em conta somente as baterias presentes nos celulares, desconhecendo que, além da bateria,
esses produtos são compostos de diversos materiais perigosos que causam sérios problemas
para a saúde e o meio ambiente (PERALTA; FONTANOS, 2006). A toxicidade presente em
produtos eletrônicos pode prejudicar a saúde, como indica um estudo conduzido na China
(LIU et al., 2008), que identificou que a exposição a materiais presentes no lixo eletrônico
podem influenciar em casos de aberrações cromossômicas e mutações genéticas, podendo
ocasionar em câncer, infertilidade, abortos espontâneos, entre outros problemas ainda
desconhecidos. Quanto à percepção sobre o descarte correto, no geral, os participantes
mostraram entender que é um processo que envolve formas de se livrar de um produto que
não é mais necessário com o cuidado de não causar fortes impactos ao meio ambiente.
Apesar dessa percepção, os participantes mostraram pouco conhecimento sobre locais
adequados para descarte dos celulares, leis e programas de incentivo ao retorno dos aparelhos
usados.
Nesse sentido, cabe ressaltar a presença dos estágios de busca de informações e
avaliação das alternativas do processo de decisão de compra, que podem ser aplicados ao
comportamento pós-compra. No momento do descarte, algumas pessoas reconhecem o
problema, buscam informações de como proceder em relação ao melhor descarte e avaliam as
alternativas encontradas. Em geral, até entendem o problema do descarte incorreto e as
consequências geradas para o meio ambiente, mas não conseguem evoluir na busca de
informações.
Segundo Solomon (2002), quando os consumidores partem para a busca de
informações, constitui-se num processo em que o consumidor investiga seu ambiente na
procura por informações adequadas para resolver seu problema da forma mais razoável
possível. Esta busca pode-se dar em fontes internas, como as lembranças e experiências
65
passadas, e em fontes externas, como informações de marketing e informações não
comerciais.
Os resultados sugerem que a busca por informações sobre descarte de celulares é
majoritariamente interna, a partir de referências ou lembranças. Mesmo se considerando
responsáveis, a maioria dos entrevistados nunca buscaram informações a respeito. A falta de
associação às informações na memória (lembranças de cartazes, propagandas, locais de
coleta) indica a necessidade de campanhas públicas que alertem a população sobre os riscos e
sobre os locais que recebem esses materiais. A necessidade deste tipo de campanhas também
foi mencionada por Nixon e Saphores (2007), que levantam a necessidade de alertar a
população e fornecer informações a respeito da correta forma de se fazer o descarte. Essas
campanhas podem aproximar as pessoas do problema, podendo trazer um engajamento e
sensibilização maior no que concerne ao lixo eletrônico.
No estudo de Giaretta et al. (2010), os resultados encontrados indicam que as pessoas
até possuem consciência de que o descarte inadequado compromete o meio ambiente, porém
falta informação de como proceder para realizar o descarte e informações a respeito dos locais
para descarte. Com isso, armazenam os produtos obsoletos em casa, deixando de dar uma
destinação adequada por falta de informação.
Outros estudos (CASTANHO; SPERS; FARAH, 2005; MENESES; PALACIO, 2006)
apontam para a necessidade de informação a fim de que os consumidores se engajem em
programas de reciclagem, pois eles têm conhecimento de que a reciclagem pode contribuir de
forma positiva para o meio ambiente, porém não sabem ao certo em como podem contribuir.
De forma geral, identificou-se o desconhecimento dos entrevistados acerca de
empresas que fazem o recolhimento e reciclagem desses tipos de produtos, o que também foi
citado nos estudos de Silveira e Chang (2010). As operadoras de telefone – Vivo, Tim e Claro
– disponibilizam algumas urnas em suas lojas para que as pessoas depositem baterias e
celulares antigos, porém parecer ser mal divulgado, uma vez que somente duas pessoas
relataram ter conhecimento sobre essa possibilidade.
Algumas fabricantes como a Nokia e a Motorola também oferecem esse tipo de
serviço, porém disponibilizam poucos pontos para o depósito desses materiais, que são
insuficientes para atender toda população, levando em conta a dificuldade da maioria delas de
terem acesso a esses coletores específicos (ARAÚJO et al., 2012; SILVEIRA; CHANG,
2010).
66
5.1.4 Responsabilidade sobre o descarte
No geral, foi evidenciada a necessidade das empresas fabricantes e mesmo as
revendedoras e operadoras de celular de se engajarem na busca por soluções ao problema do
lixo eletrônico, oferecendo suporte para os consumidores procederem mais facilmente ao
descarte, tendo em vista os grande impactos ambientais e sociais que ele gera.
Todos os entrevistados mencionaram as diferentes responsabilidades que devem ter os
consumidores, as empresas fabricantes e operadoras e o Governo. As menções às fabricantes e
ao governo vêm ao encontro do estabelecido na PNRS acerca da responsabilidade
compartilhada pela gestão dos resíduos entre todos os atores envolvidos em sua geração.
Ainda, o fato de a maioria dos entrevistados terem citado primeiramente as empresas
como maiores responsáveis coloca à tona um problema já citado por Silveira e Chang (2010)
de que as indústrias temem que esse processo de reciclagem de materiais usados onere demais
seus custos, além da dificuldade do processo de devolução desses produtos (logística reversa),
que depende do engajamento dos consumidores quanto ao destino correto, visto ser o
consumidor o primeiro elo da cadeia reversa (LEITE; LAVEZ; SOUZA, 2009). Isso reforça a
necessidade de reconhecimento da sociedade em geral, incluindo consumidores, empresas e
Governo sobre o problema do lixo eletrônico, além da relevância de pesquisas que busquem
caracterizar, descrever e explicar o fenômeno do descarte pós-consumo a fim de que soluções
sejam pensadas e implementadas.
No geral, os resultados das entrevistas indicam que as pessoas até se consideram
responsáveis, mas por falta de informação e priorização da facilidade e comodidade no
cotidiano, procedem ao descarte que requer menos esforço: ou jogam no lixo ou guardam na
gaveta. Esta discrepância entre o dizer e fazer tem sido estudada por pesquisadores nas áreas
de Psicologia e Comportamento do Consumidor, e foi citada nos estudos de Giaretta et al.
(2010) e Suarez et al. (2010). Apesar de se citarem responsáveis, os entrevistados delegam a
maior responsabilidade para o Governo ou as empresas, o que pode indicar também a
existência de preocupação com a desejabilidade social. Dizer-se responsável por um problema
que afeta o ambiente, a sociedade e a saúde das pessoas soa politicamente correto, mas não
necessariamente incorre no comportamento responsável socialmente.
67
5.1.5 Medidas preventivas e/ou remediadoras
Os entrevistados citaram diversas medidas preventivas e remediadoras do problema do
lixo eletrônico que corroboram com os principais aspectos a serem aprimorados e possíveis
soluções para o descarte correto de equipamentos eletroeletrônicos encontrados por Guarnieri
(2013), a saber: investimento em ONGs realizados por empresas privadas; criação de cursos
de capacitação em logística reversa; e parcerias logísticas. Essas medidas não foram
consideradas para a construção dos itens do questionário, mas como sugestões às esferas
empresariais e governamentais para o tratamento do lixo eletrônico e encontram-se no
capítulo de Resultados. De forma geral, os entrevistados citaram a necessidade de políticas
internas (em condomínios, prefeituras de regiões administrativas/cidades, bairros), leis
federais e cobrança do cumprimento das responsabilidades das empresas e do governo.
Quanto à necessidade de legislações, vale mencionar que o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) conferiu através da resolução 401/2008 uma regulamentação para
disciplinar o descarte e gerenciamento ambientalmente adequado de pilhas e baterias. É uma
iniciativa promissora, mas de abrangência limitada por não incluir outros tipos de resíduos
gerados pelos aparelhos eletroeletrônicos que se utilizam de pilhas e baterias.
Nesse sentido, uma proposta mais completa é a Politica Nacional dos Resíduos
Sólidos (lei nº 12305/10). Ela dispõe que os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de produtos eletroeletrônicos são obrigados a estruturar e implementar sistemas
e logística reversa, mediante o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor (BRASIL,
2010). É uma questão que levanta algumas problemáticas, uma relativa às indústrias que
temem que essa lei onerem demais seus custos e a outra relativa aos consumidores, pois a
devolução desses produtos depende do engajamento dos consumidores quanto ao descarte
correto (CARVALHO, 2008). Todavia, Guarnieri (2013) destaca que a recente sanção da lei
tem impulsionado os atores envolvidos na geração e gestão desses resíduos a encontrar
soluções que atendam ao que está disposto na PNRS.
Adicionalmente, foi firmado em 2010 um convênio de cooperação técnica entre o
Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) e o Ministério do Meio Ambiente,
com o objetivo de elaborar um inventário acerca da produção, recolhimento e reciclagem de
eletroeletrônicos no Brasil (COMPROMISSO..., 2012).
68
5.2 Discussão da etapa quantitativa
A criação dos itens do questionário foi baseada, como já mencionado em seções
anteriores, nos resultados da análise de conteúdo. Primeiramente, foram criados os itens
relativos ao possível fator “Comportamento de compra/consumo”, a saber: 1) Compro um
novo celular assim que surgem novidades (cd2); 2) Quando compro um celular, sempre penso
no que vou fazer com o antigo (cd6); 3) Só compro um novo celular quando o antigo não
funciona mais (cd15); 4) Após comprar um novo celular, faço doação do antigo (cd1); 5)
Após comprar um novo celular, ponho o antigo à venda (cd8); 6) Compro celulares de
empresas que oferecem suporte para reciclagem dos aparelhos (cd12). Os resultados da
Análise Fatorial Exploratória Ordinal, contudo, indicaram a não adequação dos itens relativos
a esse fator (com exceção do item cd12), visto que tiveram valores inaceitáveis para
comunalidade e carga fatorial. Apesar de terem sido itens mencionados nas entrevistas e
aceitos nas validações semântica e teórica, esses itens podem não ter se encaixado no
comportamento de descarte por representarem ações de descarte motivadas por algum outro
comportamento de compra e consumo, cujas razões ou associações não foram exploradas
nesta pesquisa.
Com base na alta incidência de casos onde as pessoas decidem guardar o celular,
foram criados itens que tratam da manutenção do aparelho: 1) Mantenho meu celular antigo
guardado, mesmo que ele não funcione mais (cd5); 2) Mantenho meu celular antigo guardado,
pois um dia posso precisar dele (cd14); 3) Mantenho meu celular antigo guardado, pois não
sei o que fazer com ele (cd28); 4) Guardo meu celular pelas lembranças que ele me traz
(cd26). Na criação do questionário, imaginou-se que estes itens fariam parte do fator
Comportamento de Descarte. Contudo, na etapa de validação teórica, esses itens também
foram enquadrados no fator Comportamento de Compra. Apesar da divergência entre os
juízes, decidiu-se por mantê-los no questionário por sua relevância ao tema e por se tratar de
uma pesquisa exploratória, em que os fatores ainda não eram muito bem definidos. Ainda,
considerou-se que esses itens poderiam gerar resultados descritivos interessantes para o
conhecimento das motivações de descarte, como apresenta a Tabela 6. Apesar das diferenças
dos perfis de participantes entre as duas amostras, os resultados sugerem que metade dos
entrevistados mantém algum aparelho celular guardado em casa, mesmo que esteja com
defeito, sem possibilidade de funcionamento imediato.
69
Tabela 6: Frequências de resposta e mediana para as questões relativas à manutenção do aparelho
celular em casa
Amostra 1
Amostra 2
Frequência Mediana Frequência Mediana
Mantenho o celular antigo mesmo que ele
não funcione mais
Mantenho o celular antigo guardado pois
um dia posso precisar dele
Mantenho meu celular antigo guardado, pois
não sei o que fazer com ele
Guardo meu celular antigo pelas lembranças
que ele me traz
51,6%
4
48,5%
3
46%
3
30,5%
3
33,9%
13,9%
3
1
29,9%
8,3%
3
1
Estes valores corroboram tanto com as respostas às entrevistas, quanto com a literatura
visitada, conforme apresentado nas seções de método e resultados da etapa qualitativa.
Ao final, um fator exclusivo, de Comportamento de Manutenção (F3), emergiu das
análises, corroborando com o modelo de Jacoby, Berning e Dietvrost (1977), que classificam
a manutenção do bem em casa como um tipo de comportamento de descarte.
Ainda, foi também verificado um fator relacionado ao Comportamento de Descarte
Socialmente Responsável (F2), composto pelos itens: a) Descarto o celular no lixo comum,
pois não sei o que fazer com ele (cd19 reverso); b) Não me considero responsável pelo
descarte adequado de celulares (cd33 reverso); c) Desconheço se existem substâncias tóxicas
nos celulares (cd25 reverso); d) não jogo celular no lixo comum (cd3); e) é importante
descartar celulares corretamente para proteger o meio ambiente (cd36); f) jogar celular no lixo
pode contaminar o meio ambiente (cd13); g) Quando vou descartar um celular, penso nos
danos ao meio ambiente (cd24).
Estes itens foram previstos para fatores diferentes (comportamento de descarte;
responsabilidade pelo descarte; percepção sobre o processo de descarte). Entretanto, a
combinação deles nesse fator indicou a formação de uma variável latente relativa ao
comportamento de descarte socialmente responsável, o que corrobora com Tilikidou,
Adamson e Sarmaniotis (2002) que identificam que a consciência ecológica é resultado de
aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais envolvendo a relevância do meio ambiente
para o consumidor, o conhecimento sobre os impactos das suas ações no meio ambiente e
suas atitudes e comportamentos pró-ambientais nas etapas de compra e pós-compra. Vale
destacar que os itens cd13 e cd36, apesar de carregados no fator F2, não indicam realmente
um comportamento de descarte socialmente responsável. Na verdade, são itens mais relativos,
teórica e semanticamente ao fator F1, de conhecimento sobre o processo de descarte. Estes
itens também apresentam alta tendência de marcação de valores extremos, uma vez que fazem
70
afirmações contundentes que corroboram ideias pro-ambientais e incitam concordância,
apesar de um comportamento diferente. Assim, para o modelo estrutural, esses itens foram
removidos da análise por não terem o encaixe desejado no fator e por desviarem
extremamente da curva normal, comprometendo a utilização do método de estimação de
máxima verossimilhança (BOOMSMA, 1983).
Corroborando com os resultados da pesquisa qualitativa, a pesquisa quantitativa
retornou um fator denominado “Conhecimento sobre o processo de descarte” (F1), com os
seguintes itens: 1) conheço lugares adequados para o descarte de celulares (cd32); 2) conheço
locais de fácil acesso para realizar o descarte de celulares (cd11); 3) conheço programas de
logística reversa da minha operadora de celular (d35); 4) conheço programas de logística
reversa da fabricante do meu celular (cd27); 5) conheço pessoas que descartam celulares
corretamente (cd22); 6) conheço uma lei que regule o descarte de celulares (cd10); 7) Já
procurei informações de locais corretos para fazer o descarte de eletrônicos e encontrei
(cd31). 8) Nunca procurei informações a respeito do descarte de celulares (cd21); além do
item cd12 (“compro celulares de empresas que providenciam a reciclagem dos aparelhos),
inicialmente previsto para o fator comportamento de compra, que não se manteve. Esses itens
compuseram o fator mais forte da escala e sugerem a importância do acesso à informação no
processo de descarte desses produtos. Os pares de variáveis cd32 e cd11 e cd35 e cd27
analisavam situações parecidas (conhecimento sobre os programas de LR da operadora e da
fabricante do celular e conhecimento sobre locais de fácil acesso ou adequados), mas não
sobrepostas. O alto índice de modificação entre os erros dessas variáveis sugeria a exclusão de
uma de cada par. Entretanto, primou-se pela adequação teórica destes itens e optou-se pela
correlação entre os erros. De acordo com Kline (2011), uma correlação entre os erros reflete o
pressuposto de que dois indicadores correspondentes compartilham algo em comum que não
está explicitamente presente naquele modelo. Neste caso, a presença de correlação entre os
erros dos pares de variáveis é justificada pelo conteúdo dos itens, que referem-se a um mesmo
conjunto de ideias, mas não são multicolineares (VIF<5 e r<0,8 na correlação bivariada).
Por fim, a análise da etapa quantitativa retornou um quarto fator chamado
Responsabilidade Institucional (F4), com os itens: 1) Considero a empresa fabricante a
principal responsável por dar destinação correta aos celulares que fabrica (cd17); 2) Creio que
há necessidade de uma lei para regular o descarte de celulares (cd34); 3) Considero a
operadora de celular a principal responsável por dar destinação correta aos celulares que
vende (cd30); 4) considero o governo o principal responsável por dar destinação correta aos
celulares usados (cd9); 5) falta informação sobre como descartar celulares corretamente
71
(cd18). Este fator, apesar de relevante se consideradas as entrevistas e a literatura relacionada,
não apresentou resultados estatísticos satisfatórios, o que pode ser atribuído à
circunstância das leis de países subdesenvolvidos, como o Brasil, cujo aparato legal e as
práticas empresariais não refletem uma preocupação institucional maciça com a questão da
responsabilidade do descarte e do descarte responsável. Estas dificuldades podem ser
refletidas no nível de conhecimento da população geral ocasionado pela baixa agenda sobre o
tema nesses países. Azevêdo et al. (2010) , observam que a grande maioria das pesquisas
empíricas sobre o tema de descarte foram realizadas em países desenvolvidos, incluindo a
escala que foi adaptada por Straughan e Roberts (1999) e que foi adaptada por Lages e
Vargas Neto (2002) e utilizada parcialmente nesse estudo. Por isso, esses resultados, devem
ser analisados com ressalva.
Os resultados do modelo estrutural mostraram que a consciência ecológica sobre
reciclagem e reutilização (Fator FC1 da Escala de Consciência Ecológica do Consumidor) é
preditora do conhecimento sobre o processo de descarte (F1), mas não possui relação
significativa com o fator relativo ao comportamento de descarte socialmente responsável (F2),
corroborando com os resultados de Meneses e Palacio (2006) e Bratt (1999), de que o
consumidor engajado em atividades de reciclagem não necessariamente apresenta
comportamento pró-ambiental, uma vez que sua participação nessas atividades podem
funcionar de forma compensatória e fazer com que ele não se sinta na necessidade de ter
outros tipos de comportamentos responsáveis.
Já a consciência ecológica a respeito do produto (Fator FC2 da Escala de Consciência
Ecológica do Consumidor) não possui relação de predição com o conhecimento sobre o
processo de descarte, mas mostrou-se influenciadora do comportamento de descarte
socialmente responsável, corroborando os resultados de Bedante e Slongo (2004) e
fortalecendo a visão de proximidade entre consciência ecológica e comportamento
responsável debatida por Schlegelmilch, Bohlen, Diamantopoulos (1996).
Em ambas as relações, não houve moderação de variáveis sociodemográficas como
idade, sexo ou escolaridade. Este resultado está em consonância com Schlegelmilch, Bohlen e
Diamantopoulos (1996), que afirmam que essas variáveis são parcialmente adequadas pra
explicar o comportamento de compra ambientalmente responsável. Apesar da identificação do
perfil do indivíduo ecologicamente consciente por meio de características sociais, econômicas
e demográficas, Anderson Jr. e Cunningham (1972) afirmam que são as características
sociopsicológicas é que mais fornecem subsídios para a definição de consciência social
72
responsável. Para Kassarjian (1971), as variáveis demográficas são insuficientes para a
identificação e a compreensão do comportamento dos indivíduos ecologicamente conscientes.
73
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento declarado de descarte dos
consumidores de aparelhos celulares. Foi possível identificar maneiras pelas quais os
consumidores descartam seus produtos, como entendem o descarte e a quem atribuem
responsabilidade. A pesquisa possibilitou também a verificação de adequação estatística de
uma escala de comportamento declarado de descarte de celulares. Os resultados corroboram
com os estudos na área e mostram que a maioria dos consumidores costumam doar, vender ou
guardar os eletrônicos usados, mesmo que estejam estragados, por não saberem o que fazer
com eles e que fatores da consciência ecológica do consumidor têm relação direta com os
fatores “conhecimento sobre o descarte” e comportamento socialmente responsável”. Em
relação às responsabilidades pelo descarte, os participantes viram uma responsabilidade
conjunta entre consumidores, empresa fabricante/revendedora e o governo, respaldando o
proposto na PNRS. Porém, a responsabilidade da empresa fabricante se destacou, sendo vista
pela maioria dos entrevistados como a maior responsável por fornecer meios e atuar no
descarte desses produtos.
De forma geral, foi possível identificar quatro possíveis empecilhos ao descarte
correto: falta de informação, dificuldade de acesso a coletores específicos, valor econômico
empregado na compra e os esforços necessários para se realizar o descarte (tendência à
comodidade). Nesse sentido, cabe ressaltar que a falta de informação não é, por si só, uma
grande barreira. Alguns entrevistados confessaram que prefeririam deixar o aparelho
guardado em casa, mesmo se tivessem informações sobre locais para descarte adequado,
evidenciando a resistência em empreender esforços pró-ambientais.
Apesar dos achados nos estudos reforçarem a necessidade de informação, de coletores
específicos e promoção de facilidades para o descarte, o descarte envolve também aspectos
sentimentais que podem estar ligados à grandes mudanças no status de vida das pessoas e que
podem influenciar a maneira como elas decidem descartar o celular.
Desta forma, o presente trabalho contribuiu para a literatura de marketing e
comportamento do consumidor ao estabelecer novas relações entre o comportamento de
descarte declarado e outros aspectos do processo de descarte como o conhecimento sobre
responsabilidades e processos adequados de descarte, bem como ofereceu indícios de que há
variáveis mais adequadas do que as sociodemográficas para explicar esse comportamento,
como é o caso da consciência ecológica. Sob o ponto de vista metodológico, a contribuição
74
deu-se ao fortalecer o uso de técnicas de pesquisa pouco difundidas nos campos de marketing
e comportamento do consumidor, principalmente, no que tange a análises de dados ordinais.
Especificamente no contexto brasileiro, a pesquisa colaborou com a literatura fornecendo
resultados empíricos a um campo, conforme destacado em outras seções, sabidamente carente
de pesquisas com foco no comportamento de descarte do consumidor e promove informações
novas ao unir em uma mesma abordagem empírica as facetas de conhecimento,
comportamento e opinião do consumidor na etapa de desligamento com o produto celular.
Ainda no âmbito nacional destacam-se as contribuições práticas e gerenciais deste
trabalho, sobretudo no que se referem às medidas preventivas e remediadoras propostas para o
problema do lixo eletrônico. Este trabalho concentra suas aplicações práticas na apresentação
das relações entre o comportamento de descarte e o conhecimento sobre os processos de
descarte por parte do consumidor e contribui para as diversas esferas da sociedade ao dar luz à
relação de responsabilidades sobre o descarte sob a ótica do consumidor. Essa discussão
torna-se relevante ao fornecer subsídios e indícios para implantação de políticas públicas, bem
como para adequação de estratégia mercadológicas e ganha expressividade ao fornecer dados
recentes que podem ser utilizados para tanto no contexto de fabricantes de celular, quanto nos
âmbitos governamentais e de instituições representativas da sociedade para a formulação de
acordos setoriais relativos à PNRS.
É sabido que o arcabouço sobre o qual o tema pousa é amplo e que limitações de
ordem metodológica e teórica existem. Dentre as limitações do estudo estão a escassa
literatura sobre o tema abordado, o que limita a discussão dos resultados encontrados e a
construção dos itens da escala, sobretudo no contexto do comportamento de descarte do
consumidor brasileiro. A construção teórica infante do tema na literatura nacional de certa
forma permite que sejam utilizados limites mais frouxos para os pressupostos metodológicos
com o objetivo de explorar as dimensões que cercam o tema e fornecer subsídios de partida
para outras pesquisas. Neste trabalho, foi necessário trabalhar com limites mais generosos
para os índices de comunalidade, aceitando itens na escala com comunalidades consideradas
baixas com o objetivo de manter itens que corroborassem para a compreensão adequada do
comportamento de descarte de celulares. Ainda, destacam-se os procedimentos de coleta,
principalmente para a amostra 1, que praticamente limitaram-se às salas de aula de uma
universidade pública e acabaram por enviesar a caracterização dos participantes da coelta
presencial. Outra limitação imposta pelo processo de coleta de dados foi o tamanho da
amostra, visto que uma amostra maior era necessária para que se aprofundassem as relações
entre as variáveis sociodemográficas e os outros fatores observados permitindo maior divisão
75
de grupos nos testes de moderação e, portanto, maior acuidade na investigação das diferenças
de comportamento entre grupos mais homogêneos sob o ponto de vista sociodemográfico.
Por fim são recomendadas novas pesquisas. Encoraja-se que pesquisas explicativas e
experimentais sejam conduzidas com o objetivo de ampliar o escopo metodológico na
abordagem do tema. Incita-se que variáveis psicológicas, relacionadas a fatores motivacionais
e envolvimento do consumidor, sejam utilizadas a fim de compreender as razões pelas quais
os consumidores nem sempre dispõem de energia suficiente para removê-los de sua zona de
conforto e que sentimentos estão atrelados à escolha por manter um aparelho sem
funcionamento em casa. Sugere-se ainda que futuras pesquisas reaproveitem os itens que não
se salvaram na fase de análise fatorial exploratória e os adaptem a fim de que estejam mais
condizentes com a teoria e com os outros itens avaliados. Outra sugestão para futuras
pesquisas seria aplicar esses itens associando a escala a valores humanos e axiomas sociais, de
forma a analisar se existem valores que influenciam as pessoas a terem comportamentos
ambientalmente mais responsáveis no descarte de lixo eletrônico.
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87
APÊNDICES
Apêndice A – Roteiro da Entrevista
1. Você já trocou de celular ou computador?
2. Com que frequência você troca esses produtos? Há quanto tempo tem os atuais?
3. Quando você troca de celular ou computador, o que você faz com o aparelho antigo? (se a
troca tiver sido recente, pergunta o que a pessoa fez na última vez)
4.
E se o aparelho estiver velho ou inutilizável? (caso a resposta seja doação ou venda)
5. Se descartado de formas diferentes: por quê?
6. Você já considerou jogar no lixo comum?
7. Você considera esse descarte escolhido como o correto? Por que você optou por esse tipo de
descarte?
8. Qual a importância do descarte? Por quê?
9. Que impactos o descarte incorreto pode trazer?
10. O que seria um descarte correto para você?
11. De quem é a responsabilidade pelo descarte correto?
12. Como você vê o papel do Governo nessa questão?
13. E o da empresa?
14. Você já procurou informações ou já ouviu falar sobre locais específicos para descarte destes
produtos na sua cidade? O que você acha?
15. Conhece alguém, parentes ou amigos, que fazem o descarte correto?
16. Você acredita que as pessoas se preocupam com o descarte de eletrônicos?
17. Que medidas você acha necessária para que as pessoas descartem corretamente?
18. Qual é o caminho mais adequado para o descarte?
19. Você conhece alguma legislação sobre o combate ao lixo eletrônico? Sente necessidade
disso?
88
Apêndice B – Versão inicial do questionário
1
1. Compro um novo celular assim que surgem
novidades.
2. Quando compro um celular, sempre penso no que
vou fazer com o antigo.
3. Somente compro um novo celular quando o
antigo não funciona mais.
4. Compro celulares de empresas que oferecem
suporte para reciclagem dos aparelhos.
5. Mantenho meu celular antigo guardado, pois um
dia posso precisar dele.
6. Mantenho meu celular antigo guardado, mesmo
que ele não funcione mais.
7. Sempre que compro um novo celular, ponho o
antigo à venda
8. Sempre que compro um novo celular faço doação
do antigo.
9. Descarto o celular no lixo comum, pois não sei o
que fazer com ele.
10. Mantenho meu celular antigo guardado, pois não
sei o que fazer com ele.
11. Guardo meu celular antigo pelas lembranças que
ele me traz.
12. No momento do descarte de algum celular levo
mais em conta a comodidade do que a procura
por um local correto de descarte.
13. Quando vou descartar um celular, penso nos
danos ao meio ambiente.
14. Desconheço se existem substâncias tóxicas nos
celulares.
15. Não jogo celular no lixo comum porque sei que
pode contaminar o meio ambiente.
16. É importante descartar celulares corretamente
para proteger o meio ambiente
17. Quando penso no descarte de celulares, levo em
consideração somente a bateria.
18. Considero-me como principal responsável por
descartar corretamente meu(s) aparelho(s) de
celular.
19. Considero a operadora de celular a principal
responsável por dar destinação correta aos
celulares que vende.
20. Considero a empresa fabricante a principal
responsável por dar destinação correta aos
2
3
4
5
89
celulares que fabrica.
21. Considero o governo o principal responsável por
dar destinação correta aos celulares.
22. Não me considero responsável pelo descarte
adequado de celulares.
23. Tanto os consumidores, as empresas e o Governo
são responsáveis pelo descarte de celulares.
24. Me informo como é a melhor forma de descartar
um produto, mas se não encontro jogo no lixo
comum.
25. Nunca procurei informações a respeito do
descarte de celulares.
26. Conheço lugares adequados para o descarte de
celulares.
27. Conheço pessoas que descartam celulares
corretamente.
28. Já procurei informações de locais corretos para
fazer o descarte de celulares, mas não encontrei.
29. Já procurei informações de locais corretos para
fazer o descarte de eletrônicos e encontrei.
30. Conheço uma lei que discipline o descarte de
celulares.
31. Creio que há necessidade de uma lei para regular
o descarte de celulares.
32. Existem locais de fácil acesso para realizar o
descarte de celulares.
33. Falta informação para se proceder ao descarte de
celulares corretamente.
90
Apêndice C – Versão final do questionário
91

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