Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente

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Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente:
Novas Estratégias para o Controle Sustentável
N A T A L, B R A S I L
iNtroDUÇÃo
E
m todo o mundo, a produção de peixes cultivados cresceu rapidamente, saltando
de menos de 1 milhão de toneladas por ano no início da década de 50 para quase
52 milhões de toneladas no valor de US$ 80 bilhões - um crescimento anual de
aproximadamente 7%.
A produção de tilápia, em particular, registrou um crescimento notável devido
ao aumento do mercado consumidor associado a qualidade e palatabilidade de
sua carne.
Não é de surpreender que maiores demandas de produtividade sobre os sistemas
de produção também elevassem o nível de desafio de doenças. A indústria de
tilápias deve, portanto, encontrar e implementar novas formas de gestão destas
enfermidades dispendiosas a fim de manter uma produção eficiente.
Para ajudar nesses esforços, a MSD Saúde Animal organizou um simpósio
educativo, "Doenças Bacterianas em Peixes de Águas Quentes: Novas Estratégias
para o Controle Sustentável".
Realizado em conjunto com a Conferência da Sociedade Mundial de Aquicultura
2011 em Natal, Brasil, o simpósio ofereceu a especialistas reconhecidos a
oportunidade de compartilhar suas mais recentes pesquisas e entendimento do
assunto com gerentes de produção das principais pisciculturas de tilápia do mundo.
Agradecemos aos palestrantes pela preparação desses valiosos trabalhos. Para
receber mais exemplares desta publicação ou mais informações, solicitamos a
gentileza de entrar em contato com o seu representante da MSD Saúde Animal
ou visite o nosso site na internet no endereço abaixo.
PALMA JORDAN
Diretora de Marketing
saúde Animal global - Aquáticos
MsD saúde Animal
http://aqua.merck-animal-health.com
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
ÍNDiCE
4
Biografias dos palestrantes
6
O impacto da Estreptococose em Tilápias no Brasil e a eficácia
da vacina AquaVac® Strep Sa na prevenção da doença sob
condições controladas
11
A eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa no controle da
estreptococose em criações intensivas de Tilápia-do-Nilo
(Oreochromis niloticus) no Brasil: desempenho produtivo e lucros
18
Os Estreptococos em Tilápias: implicações para o desenvolvimento
de vacinas e as experiências de campo na Ásia
25
O uso responsável dos medicamentos veterinários na produção
de alimento aquático
28
Boas práticas para o tratamento de patógenos em peixes de água
quente com uso de ração medicada com Aquaflor® (florfenicol)
35
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina no
tecido do filé de tilápias depois de alimentadas com Aquaflor®
(florfenicol) em sistema de aquicultura com recirculação de água.
ROGÉRIO SALVADOR, PhD
Centro de Ciências Agrárias, Universidade
Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz
Meneghel, Brasil
RODRIGO ZANOLO, MV, MSc
MsD saúde Animal, Brasil
NEIL WENDOVER, BSc
MsD saúde Animal, Cingapura
MELBA B. REANTASO, PhD
serviço de Aquicultura, Departamento de Pesca
e Aquicultura, organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação, itália
PATRICIA S. GAUNT, DVM, PhD, DABVT
Departamento de Patobiologia e Medicina
Populacional, Universidade do Estado do Mississipi,
Faculdade de Medicina Veterinária, EUA
MARK P. GAIKOWSKI , MA
US Geological Survey, Centro de Ciências
Ambientais do Meio-oeste setentrional, EUA
BiogrAFiAs
Rogério Salvador é professor no Centro de
Rodrigo Zanolo é gerente de mercado de
Neil Wendover trabalha para a Unidade de
Ciências Agrárias da Universidade Estadual do
aquicultura da MsD saúde Animal, Brasil. Zanolo
Negócios de saúde Animal global, Divisão de
Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel, Brasil;
é formado em Medicina Veterinária pela
Animais Aquáticos, da MsD saúde Animal. Há
é também diretor do Hospital Veterinário da
Universidade Estadual de Londrina, tendo feito
quatro anos trabalha no laboratório de pesquisa
Universidade e coordenador do Laboratório
mestrado em Patologia e sanidade Animal
e desenvolvimento de vacinas da empresa em
de imunopatologia de Peixes. É formado em
(peixes). também fez o MBA em Marketing na
Cingapura. Como gerente técnico, uma de suas
Medicina Veterinária com mestrado em Ciência
Fundação getúlio Vargas, em são Paulo. Possui
principais atividades é a pesquisa e o estudo
Animal pela Universidade Estadual de Londrina
ampla experiência em aquicultura, tendo atuado
epidemiológico de doenças que afetam peixes
e doutorado em Aquicultura pela Universidade
como consultor na produção de peixes e camarões
em toda a Ásia. Wendover regularmente dá
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. salvador
nos estados do Paraná e de santa Catarina.
cursos de treinamento e suporte técnico à
tem ampla experiência nas áreas de sanidade
aquícola e microbiologia aplicada em aquicultura.
indústria de aquicultura nas áreas de diagnóstico
E-mail: [email protected]
de enfermidades, gestão da saúde e estratégias
Atualmente faz pesquisa e é orientador de
de vacinação. tem larga experiência na produção
alunos na área de imunógenos e vacinas para
de tilápias tanto na Ásia quanto na África.
a aquicultura.
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
rogério salvador, PhD
Universidade Estadual do Norte do Paraná
Campus Luiz Meneghel
Bandeirantes, Paraná, Brasil
rodrigo Zanolo, MV, Msc
MsD saúde Animal
Cotia, são Paulo, Brasil
Neil Wendover, Bsc
saúde Animal global - Aquáticos
MsD saúde Animal, Cingapura
D o e n ç a s B ac t e r i a na s e m P e i x e s d e Á g ua Q u e n t e :
4
Melba B. Reantaso é diretora da área
Patricia Simmons Gaunt é professora
Mark P. Gaikowski é biólogo supervisor
de aquicultura no serviço de Aquicultura do
adjunta de saúde de Animais Aquáticos do
do Centro de Ciências Ambientais do Meio-
Departamento de Pesca e Aquicultura da
Departamento de Patobiologia e Medicina
oeste setentrional do US Geological Survey,
organização das Nações Unidas para Agricultura
Populacional da Universidade do Estado do
em LaCrosse, Wisconsin, EUA. sua especialidade
e Alimentação. seu escritório fica em roma,
Mississipi, Faculdade de Medicina Veterinária.
é toxicologia aquática e seu campo de pesquisa
itália, e possui quase 30 anos de experiência
É doutora em Medicina Veterinária e PhD em
compreende estudos de segurança animal,
em muitos aspectos da aquicultura e da saúde
toxicologia veterinária pela Universidade do
desenvolvimento de modelos de infecção com
de animais aquáticos, incluindo pesquisa,
Estado da Louisiana. Foi a pesquisadora
a bactéria F. columnare em peixes e estudos de
treinamento, diagnóstico, ajuda internacional
principal dos estudos sobre eficácia e depleção
segurança ambiental. gaikowski recebeu muitos
e desenvolvimento de projetos. também é
de resíduos que foram necessários para a
prêmios e honras e seus artigos aparecem com
autora e co-autora de mais de 80 publicações
aprovação do Aquaflor® (florfenicol) para uso
grande frequência em publicações especializadas
científicas e técnicas. reantaso tem doutorado
em bagres nos Estados Unidos, tendo também
de aquicultura. É bacharel e mestre em Biologia
e pós-doutorado pela Universidade de tóquio e
sido a pesquisadora principal de estudo sobre
pela Universidade da Dakota do sul.
Universidade Nippon de Ciências Veterinárias
a eficácia do Aquaflor contra o Streptococcus
e Animais, no Japão.
iniae em tilápias.
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
Melba B. reantaso, PhD
Diretora de Aquicultura
serviço de Aquicultura (FirA)
Divisão de Uso e Conservação de recursos
de Pesca e Aquicultura (FiM)
Departamento de Pesca e Aquicultura
organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAo)
Viale terme di Caracalla, roma, itália
Patricia simmons gaunt, DVM, PhD,
Diplomate (Especialista Certificada), Conselho
Americano de toxicologia Veterinária
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade
do Estado do Mississippi
stoneville, Mississippi, EUA
E-mail: [email protected]
Mark P. gaikowski, MA
US Geological Survey
Centro de Ciências Ambientais do
Meio-oeste setentrional
La Crosse, Wisconsin, EUA
Novas Estratég ias para o Controle Sustentável
5
salvador
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
2011
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O impacto da Estreptococose em Tilápias no Brasil
e a eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa na prevenção
da doença sob condições controladas
Rogério Salvador, PhD; Rodrigo Zanolo, MV, MSc; Leonardo Cericato, PhD
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
*
*
A infecção causada pelo
Streptococcus agalactiae Biótipo
II na tilápia transformou-se
em um problema sério em
vários países, acarretando
perdas econômicas; as vacinas
para controlar a doença
constituem uma ferramenta
nova e promissora.
Foi realizado um estudo para
avaliar a eficácia da vacina
AquaVac® Strep Sa em desafio
experimental usando o
S. agalactiae Biótipo II.
Os peixes vacinados foram
protegidos contra o desafio e
sua mortalidade apresentou
um nível significativamente
mais baixo do que os peixes
controles não vacinados; além
disso, a vacina mostrou-se
segura para os peixes.
A aquicultura é um dos segmentos de
produção animal em crescimento no
mundo.1 No Brasil, contudo, a produção
comercial de peixes em cativeiro está
apenas começando, apesar do seu grande
potencial, representado por 6 milhões de
hectares de água em açudes e represas
construídos principalmente para a
geração de energia hidroelétrica. No
futuro, é provável que o Brasil se torne
um dos maiores produtores de aquicultura
do mundo.2
Entre as espécies de peixes que
demonstram potencial para o cultivo
em cativeiro está a tilápia do nilo
(Oreochromis niloticus). Na década
passada, essa espécie se transformou
naquela com o maior volume de
produção no Brasil, representando
perto de 40% da aquicultura do país.
O cultivo da tilápia foi desenvolvido
basicamente nas regiões Sul, Sudeste e
Nordeste do Brasil, sendo que esta última
é responsável pelo maior volume de
produção. Em 2004, 41% da produção
nacional total de tilápia veio dessa região.
O Nordeste, de fato, vem liderando a
produção da tilápia no país desde 2003,
com uma tendência clara e crescente
devido ao seu clima e ao desenvolvimento
tecnológico, fatores que lhe permitem
atender a demanda crescente por tilápia,
tanto no âmbito regional quanto nacional.3
Nas últimas décadas, a utilização de
tecnologias mais avançadas nas unidades
produtivas de pescado tem gerado uma
grande vantagem competitiva. Os esforços
para sobreviver em um mercado cada
vez mais globalizado e aí permanecer
tornaram-se uma clara necessidade.
Nesse contexto, e apesar dos esforços
para melhorar a qualidade dos pescados
com a implementação de programas
sanitários e novas tecnologias, o sucesso
da produção da tilápia depende de
ferramentas inovadoras.
Já se pode prever um desafio futuro:
A humanidade demandará mais e mais
produtos que não sejam somente
nutritivos, mas benéficos e sem
patógenos, que promovam a saúde e
sejam ambientalmente corretos e justos
do ponto de vista social - em perfeita
harmonia com o mundo globalizado
em que vivemos hoje.4
A produção intensiva de peixes, no
entanto, causa estresse, fazendo surgir
doenças e, portanto, mortalidades.5
Estando entre as principais enfermidades
que afetam a tilápia, a infecção causada
pelo Streptococcus agalactiae, que nos leva
à estreptococose, desempenha um papel
muito importante em todo o mundo.6
Os estudos epidemiológicos patrocinados
pela MSD Saúde Animal em todo o mundo
demonstraram a presença de dois grupos
ou biótipos diferentes de S. agalactiae
(ou seja, I e II). Os isolados de tilápia de
diferentes regiões no mundo mostram que
26% dos estreptococos foram identificados
como S. agalactiae Biótipo I, enquanto 56%
eram S. agalactiae Biótipo II. O S. agalactiae
Biótipo II é o biótipo mais prevalente no
mundo, encontrado principalmente na
China, Indonésia, Vietnã, Filipinas e
América Latina. No Brasil, os estudos
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salvador
sorológicos mostram 100% de sorologia
positiva para o S. agalactiae Biótipo II.
O maior impacto econômico decorrente
do S. agalactiae em espécies de peixes
cultivados em água doce é observado na
tilápia do nilo. A distribuição geográfica
do S. agalactiae inclui regiões com clima
temperado, tropical, onde são cultivados
os peixes de água quente. Até o momento,
vários países registraram surtos da doença,
dentre eles: Estados Unidos, Japão, Kuaite,
Israel, Tailândia e Brasil.
Esse patógeno é responsável por altas
perdas econômicas; a mortalidade em
um cultivo pode atingir 90%, normalmente
na idade pré-comercialização, quando
volumes substanciais de ração já foram
consumidos. É importante lembrar que a
ração é o maior componente dos custos
de produção e que muito já foi investido
no peixe nessa fase.7
A infecção ocorre quando o peixe
infectado - morto ou vivo, moribundo
ou aparentemente saudável - libera a
bactéria na água, permitindo-lhe colonizar
a pele dos outros peixes. Também existe
a possibilidade de acometimento de
infecções invasivas, levando a um alto
índice de mortalidade. Além disso, a
bactéria pode sobreviver por longos
períodos de tempo na água, na lama ou
nos substratos do tanque/estufa e até
em peças de equipamentos usados nos
trabalhos rotineiros.8
Para que o cultivo da tilápia continue
e prolifere, o setor precisará adotar
estratégias para minimizar os efeitos da
doença. O advento das vacinas contra
o S. agalactiae agalactiae trouxe uma
ferramenta nova e promissora, uma
vez que algumas cepas de campo de
S. agalactiae já desenvolveram resistência
aos agentes antimicrobianos.9 A avaliação
da vacina AquaVac® Strep Sa em condições
experimentais mostrou uma redução
significativa do índice de mortalidade nos
peixes vacinados, demonstrando a eficácia
da vacina na prevenção e no controle da
estreptococose na tilápia do nilo.
M AT E R I A I S E M É T O D O S
No estudo, foram utilizadas 180 tilápias
do nilo (Oreochromis niloticus) jovens da
mesma prole e pesando ~35 g. Antes
de começar o estudo, os peixes foram
mantidos em quarentena e sujeitos a
um banho antimicrobiano profilático;
depois foram condicionados em tanques
de 250 litros sob constante troca de
água declorada.
Ao término da quarentena, os peixes foram
transferidos para a Unidade de Infecção
Experimental de Organismos Aquáticos do
Laboratório de Imunopatologia de Peixes,
(LIPPE) e condicionados em 12 aquários de
80 litros (n=15). Os aquários receberam
água corrente declorada e esterilizada por
UV de um poço artesiano. A aclimatação
dos peixes durou 7 dias, tendo sido tempo
suficiente para que as concentrações de
cortisol plasmático e a osmolalidade
voltassem aos níveis padrões.
A temperatura da água foi medida
diariamente (27° C/81° F ± 1,5°). O
potencial de íon de hidrogênio (7,1 ± 0,3)
e o oxigênio dissolvido (5,5 mg/l ± 1 mg/l)
foram medidos semanalmente. Todos os
valores permaneceram dentro dos níveis
recomendados de bem estar.10
Ao longo de todo o experimento, a
alimentação ad libitum seguiu o regime de
duas doses diárias (09h00 e 17h00) à taxa
de 5% da biomassa.
Esquema do ensaio
Cada grupo de tratamento foi repetido
três vezes envolvendo os peixes dos
12 aquários (Tabela 1).
tABELA 1
Distribuição de peixes por grupo de tratamento
T1
Vacinados com AquaVac Strep Sa / desafiados com S. agalactiae
T2
Vacinados com AquaVac Strep Sa / não desafiados com S. agalactiae
T3
Não vacinados com AquaVac Strep Sa / desafiados com S. agalactiae
T4
Não vacinados com AquaVac Strep Sa / não desafiados com S. agalactiae
7
tABELA 2
Vacinação
Desafio
O desafio foi realizado 25 dias após a
vacinação. Para o preparo do inóculo, foram
usados isolados de estreptococos vivos
de tilápias naturalmente infectadas. Os
isolados foram previamente classificados
como grupo B de Lancefield, usando o
teste de aglutinação em látex com o
Slidex® Strepto Kit (BioMerieux, França),
depois caracterizados como S. agalactiae
com base nas características do fenótipo
conforme determinado pelo API® 20
Strep Microtest System (BioMerieux,
França.)11 A cepa de S. agalactiae
selecionada foi inoculada no caldo de
infusão cérebro/coração, incubada por
24 horas a 29° C (84,2° F) sob uma
atmosfera aeróbia. A dose de desafio (106
unidades formadoras de colônia/ml) foi
calculada com base em uma dose letal
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A vacinação contra o S. agalactiae ocorreu
no fim do período de aclimatação no
laboratório. Os peixes pesando ~35 g
(peso corporal médio) foram submetidos
ao processo de vacinação conforme
recomendado pela MSD Saúde Animal.
Eles foram anestesiados por imersão
em 1% de eugenol (Biodinamica®)
contendo 50 mg/l de água. Uma dose
única de 0,05 ml de AquaVac Strep Sa
foi injetada por via intraperitoneal na
posição ântero-medial usando uma
seringa/agulha de insulina esterilizada.
DE JUNHO DE
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salvador
O impacto da Estreptococose em Tilápias no Brasil
e a eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa na prevenção
da doença sob condições controladas
8
Sobrevivência das tilápias do nilo (Oreochromis niloticus) vacinadas com AquaVac Strep Sa
e das tilápias do nilo não vacinadas 15 dias após o desafio com Streptococcus agalactiae
(n = 15)
GRUPO DE TRATAMENTO
T1*
T2
T3*
T4
NÚMERO DE SOBREVIVENTES
(após 15 dias)
AquaVac Strep Sa/Desafiados
13
AquaVac Strep Sa/Desafiados
14
AquaVac Strep Sa/Desafiados
14
AquaVac Strep Sa/Não desafiados
15
AquaVac Strep Sa/Não desafiados
14
AquaVac Strep Sa/Não desafiados
14
Não vacinados/Desafiados
6
Não vacinados/Desafiados
8
Não vacinados/Desafiados
7
Não vacinados/Não desafiados
14
Não vacinados/Não desafiados
14
Não vacinados/Não desafiados
14
* Os valores foram considerados com diferença significativa (P<0,05) comparando o grupo
T1 com o grupo T3.
matando 50% da população de peixes
(DL50). Os peixes foram observados por
15 dias consecutivos após o desafio com a
verificação dos sinais clínicos e mortes; os
resultados foram registrados diariamente
e submetidos à análise estatística (teste
de Tukey), com um nível de significância
de 5%.
A r t i g o s
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salvador
FigUrA 1
R E S U LT A D O S
Os animais do grupo T3 (não vacinados/
desafiados) que morreram apresentaram
sinais clínicos compatíveis com a
estreptococose, em grande parte depois
de 7 dias do pós-desafio. Os sinais
clínicos incluíram letargia, diminuição de
apetite, escurecimento da cor do corpo,
exoftalmia uni/bilateral, distensão
abdominal e natação errática/em rodopios.
Os resultados da necrópsia entre esses
peixes apresentaram, dentre outros fatores,
ascite, fígados dilatados e hemorragia
espalhada no sistema nervoso central. Na
análise microbiológica, o S. agalactiae foi
reisolado, particularmente do cérebro,
significando infecção generalizada.
O aparecimento de sinais clínicos após 7
dias do pós-desafio representa a evolução
natural da infecção. Os sinais neurológicos
Número médio de sobreviventes entre as tilápias do nilo (Oreochromis niloticus) vacinadas
com AquaVac Strep Sa e posteriormente desafiadas com Streptococcus agalactiae
Número médio de sobreviventes
A Tabela 2 mostra a sobrevivência entre os
peixes em diversos grupos de tratamento.
Não ocorreu nenhuma mortalidade
significativa quando se faz a comparação
entre os grupos T1 (vacinados/desafiados)
e T2 (vacinados/não desafiados) com o
grupo T4 (não vacinados/não desafiados),
demonstrando a segurança da vacina.
Nenhum dos peixes desses grupos que
morreram apresentaram sinais clínicos
compatíveis com a estreptococose, porém
as mortes ocorreram dentro de um período
de 48 horas após o desafio, sugerindo que
a causa da morte foi estresse associado
a manuseio.
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
a
a
a
b
Vacinados/
Vacinados/
Desafiados (T1) Não desafiados (T2)
Não vacinados/ Não vacinados/
Desafiados (T3) Não desafiados (T4)
Tratamentos
As letras "a" versus "b" denotam significância estatística. Os valores foram considerados
significativamente diferentes (P<0,05) ao comparar T1 (vacinados/desafiados) com T3 (não
vacinados/desafiados) e demonstraram a eficácia da vacina. Os valores não apresentaram
uma diferença significativa (P>0,05) ao comparar T2 (vacinados/não desafiados) com T4
(não vacinados/não desafiados), o que demonstra a segurança da vacina.
Nota: os experimentos foram realizados em triplicidade (n=15).
sugerem meningoencefalite, e isso
representa um sinal clínico coerente com
a estreptococose. O número médio de
óbitos entre as repetições corrobora o
DL50 calculado para este estudo em
particular. Já as variações dos números
de óbitos entre as repetições podem
decorrer de variabilidade à resistência
individual e inata.
A vacinação com AquaVac Strep Sa
protegeu os animais contra o desafio
experimental com S. agalactiae,
uma vez que a mortalidade do
grupo T1 (vacinados/desafiados) foi
significativamente mais baixo (P<0,05)
do que a mortalidade nos peixes do
grupo T3 (não vacinados/desafiados)
(Figura 1). Nesse contexto, a porcentagem
de proteção relativa (PPR) foi de 84%.
O PPR foi determinado usando a seguinte
equação: PPR= (1-(óbitos de peixes
vacinados/óbitos de peixes controles))
x 100.
9
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Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
salvador
O impacto da Estreptococose em Tilápias no Brasil
e a eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa na prevenção
da doença sob condições controladas
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Os resultados deste estudo demonstram
que a vacina AquaVac Strep Sa induziu
a proteção efetiva na tilápia do nilo
desafiada de forma experimental com
S. agalactiae. Concluímos, portanto, que a
AquaVac Strep Sa (MSD Saúde Animal)
é uma vacina altamente eficaz e segura
contra a doença causada pelo S. agalactiae
Biótipo II. Uma dose única de AquaVac
Strep Sa, administrada conforme as
instruções, pode constituir uma ferramenta
importante na prevenção e no controle
da estreptococose no Brasil, uma vez que
os resultados sorológicos até o momento
mostram somente a presença do Biótipo II
neste país.
1
Crepaldi DV, et al. 2006. A situação da
aquacultura e da pesca no Brasil e no mundo.
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2
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do Nilo Oreochromis niloticus (Linhagem
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7
3
Ostrensky A, et al. 2008. Principais
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Aqüicultura no Brasil: o desafio é crescer.
Brasília: Secretaria Especial de Aqüicultura
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Zanolo
A eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa no controle
da estreptococose em criações intensivas de
Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) no Brasil:
desempenho produtivo e lucros
Rodrigo Zanolo, MV, MSc; Leonardo Cericato, PhD; Rogério Salvador, PhD;
Eduardo Yamashita; Gláucio Dorelles
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
A estreptococose causada pelo
Streptococcus agalactiae é um
problema significativo para a
tilápicultura brasileira que
tende a atacar bem no período
de terminação/engorda, depois
que recursos consideráveis
foram investidos no peixe.
*
Em dois experimentos
realizados em locais
separados de produção
comercial de tilápia com
histórico de mortalidade
aguda e diagnóstico positivo
de S. agalactiae Biótipo II,
o uso da vacina AquaVac®
Strep Sa demonstrou ser
segura para os peixes, reduziu
a taxa de mortalidade
e melhorou o desempenho
dos peixes.
*
O retorno sobre o investimento
(ROI) no Cultivo 1 foi 7,4 vezes
maior quando comparado ao
investimento feito na vacina.
No Cultivo 2, o retorno sobre
o investimento na vacina foi
5,3 vezes mais alto.
A piscicultura brasileira cresceu
exponencialmente nos últimos vinte anos
graças aos abundantes recursos hídricos
e a um aumento da demanda pela proteína
do peixe. Uma vez que grande parte desse
crescimento provém da cultura intensiva,
especialmente da produção da tilápia em
tanques redes, as boas práticas de gestão
sanitária são de extrema importância para
o sucesso da indústria da aquicultura.
Das muitas doenças bacterianas que
podem afetar os peixes cultivados em
todo o mundo, a estreptococose causada
pelo Streptococcus spp. é a que provoca
o maior impacto econômico na tilápia
cultivada.1 Os estreptococos são bactérias
oportunistas amplamente dispersas
encontradas no meio aquático; sua
patogenicidade está associada ao estresse
relacionado com a baixa qualidade da
água, a gestão ineficiente e outras
condições típicas da aquicultura intensiva.2
No Brasil, os primeiros estudos demonstraram a presença do Streptococcus do
Grupo B, mais tarde identificado como
Streptococcus agalactiae, associado aos
episódios agudos de mortalidade em
tilápias cultivadas no estado do Paraná.3
Mais recentemente, novos estudos de
caracterização confirmaram também o
S. agalactiae como a principal espécie
responsável pela estreptococose em
operações intensivas de tilápia no Brasil.4
Ficou comprovado que fatores de risco
como altas temperaturas, combinadas
com outros fatores estressores enfrentados
pela tilápia nos tanques - incluindo a
concorrência pelo alimento; o contato
intenso com outros peixes acarretando
mais lesões físicas e potencial desequilíbrio
nutricional - são responsáveis pelo
aumento da incidência da septicemia
causada pelo Streptococcus spp.5 Os
estudos diagnósticos patrocinados pela
MSD Saúde Animal e empreendidos pela
AQUAVET/UFLA (laboratório de doenças
de animais aquáticos), LIPPE/ UENP
(laboratório de imunopatologia de
peixes) demonstraram que a presença
do organismo em vários estados
brasileiros está aumentando, havendo
uma forte tendência a uma rápida
disseminação devido ao transporte
extensivo dos animais.
Dentre os sinais clínicos da estreptococose
estão os olhos saltados (exoftalmia),
os movimentos em círculos na água
(encefalite), a barriga d'água (ascite) e as
lesões nodulares nos músculos de áreas
necrosadas, que levam à condenação
dos filés na fábrica de beneficiamento
de pescado. Tem-se observada a alta
mortalidade (3% a 20%) devido à
estreptococose em operações intensivas
de tilápia, dependendo da gravidade da
doença. Quando as condições são ruins, a
mortalidade pode ser ainda maior.
O forte impacto econômico da
estreptococose explica-se pelo fato
11
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Zanolo
A eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa no controle
da estreptococose em criações intensivas de
Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) no Brasil:
desempenho produtivo e lucros
12
FigUrA 1
de a doença afetar principalmente os
peixes que pesam entre 300 e 600 g - bem
no período de terminação.4 Nesta etapa,
grandes quantidades de dinheiro
e de tempo já foram investidos no peixe,
representando sérias perdas econômicas
devido à mortalidade ou, no caso dos
peixes que sobrevivem, à baixa de
produtividade e ao aumento das taxas de
conversão alimentar (FCA).
Estudos epidemiológicos encontraram aproximadamente 150 isolados de
S. agalactiae em várias regiões do Brasil.
Bacia do Rio São Francisco
e Grande Açude do Nordeste
53 isolados positivos de
S. agalactiae Biótipo ii
(sorotipo ib)
Os estudos epidemiológicos financiados
pela MSD Saúde Animal no Brasil
encontraram aproximadamente
150 isolados de S. agalactiae de tilápias
oriundas de várias regiões brasileiras
(Figura 1).
Além disso, a sorologia tem sido 100%
positiva para S. agalactiae Biótipo II
(sorotipo Ib). Isso reforça a necessidade
de uma nova abordagem preventiva
como a vacinação. A AquaVac Strep® Sa
foi desenvolvida recentemente pela
MSD Saúde Animal para o controle das
infecções causadas pelo S. agalactiae
Biótipo II em tilápias cultivadas.
A AquaVac Strep Sa é uma vacina de
emulsão de óleo contendo bactérias
mortas de S. agalactiae Biótipo II
(sorotipo Ib). Sua administração é do
tipo intraperitoneal em uma única dose
de 0,05 ml por peixe, que deve pesar
acima de ~15 g. Estudos laboratoriais
demonstraram que a proteção tem início
em aproximadamente 28 dias e dura até
7 meses após a vacinação.
Bacia do Rio Grande,
Paranaíba, Paraná, Tietê
e Paranapanema
97 isolados positivos de
S. agalactiae Biótipo ii
(sorotipo ib)
100% de sorologia positiva de S. agalactiae Biótipo ii (sorotipo ib)
M AT E R I A I S E M É T O D O S
Para avaliar a segurança, a eficácia e os
benefícios econômicos relativos ao uso da
AquaVac Strep Sa sob condições normais
de desafio nos cultivos brasileiros de tilápia,
foram realizados dois ensaios em dois
locais diferentes de produção no noroeste
do estado de São Paulo. Nos dois ensaios,
peixes do mesmo lote, pesando em média
de 40 a 60 g, foram vacinados por via
intraperitoneal com uma única dose de
0,05 ml de AquaVac Strep Sa, de acordo
com as instruções no rótulo.
Os peixes foram sedados por
aproximadamente 1 minuto antes
da vacinação com uma solução de
50 ppm de eugenol (óleo de cravo). A
vacinação nas duas unidades produtivas
foi realizada entre 20 de julho e 30 de
julho de 2010. A temperatura da água
era de aproximadamente 25° C (77° F)
com uma concentração de oxigênio
dissolvido de 7 mg/l.
Os dois cultivos usam sistemas
semelhantes de produção com base em
tanques de 18 m³. Na Fase 1 de engorda,
a densidade inicial de estocagem foi de
5.000 peixes/tanque, com um peso
corporal médio de 40 a 60 g. Os peixes
foram engordados até aproximadamente
320 g e depois classificados pelo tamanho.
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
Zanolo
ESQUEMA DO ENSAIO
Cultivo 1: Foram usados 30.000 peixes
divididos em dois grupos. Um grupo
continha 15.000 animais vacinados,
enquanto os 15.000 peixes não vacinados
do outro grupo serviram de controle.
Para a Fase I da terminação, os 15.000
peixes de cada grupo foram distribuídos
em três tanques de 18 m3 (três repetições
de 5.000 peixes cada). No fim da Fase I,
todos os peixes foram classificados por
tamanho, sendo depois transferidos para
seis tanques de 2.500 peixes cada,
perfazendo um total de seis réplicas.
Cultivo 2: Foram usados 32.000 peixes
divididos em dois grupos. Um grupo
continha 16.000 peixes vacinados,
enquanto o outro contava com 16.000
peixes não vacinados para controle.
Na Fase I, os peixes de cada grupo
experimental foram colocados em tanques
de 18 m³ na proporção de 5.250 peixes
cada para obter três repetições. Ao término
da Fase I, os peixes foram classificados por
tamanho e depois transferidos para seis
tanques de 2.625 peixes cada (seis réplicas).
Após a vacinação, os peixes foram
monitorados diariamente quanto ao
seu comportamento, mortalidade diária
e crescimento até a despesca.
Ambos os cultivos apresentavam um
histórico de mortalidade aguda com
diagnóstico positivo de S. agalactiae
Biótipo II (sorotipo Ib), justificando,
assim, o programa experimental de
vacinação. Durante o ensaio, foram
realizados estudos microbiológicos
e sorológicos com amostras de todos
os grupos experimentais.
R E S U LT A D O S E D I S C U S S Ã O
A AquaVac Strep Sa foi altamente eficaz nos
dois ensaios, reduzindo significativamente
(p < 0,05) o nível de mortalidade associada
ao S. agalactiae Biótipo II (sorotipo Ib) em
todo o ciclo de produção. A segurança do
produto foi confirmada pela comparação
da mortalidade entre os peixes vacinados
e controles após a vacinação. Não houve
diferenças significativas no índice de
mortalidade entre os dois grupos
imediatamente após a vacinação, antes
que os peixes vacinados desenvolvessem
a imunidade (Figura 2).
Em ambos os estudos, altos índices de
mortalidade aguda foram observados em
todos os tanques experimentais (réplicas),
principalmente no fim da Fase I. Desta
forma, a eficiência e os benefícios
decorrentes do uso da AquaVac Strep Sa
ficaram claros. Os isolados bacterianos
tiveram identificação positiva de
S. agalactiae Biótipo II (sorotipo Ib) e os
resultados, que foram consistentes nos
dois locais experimentais, mostraram-se
melhores nos peixes vacinados depois
de desenvolverem imunidade do que
nos peixes dos grupos controle. Foram
medidos os benefícios, incluindo maior
índice de sobrevivência, maior ganho de
biomassa, melhor desempenho e redução
da taxa de conversão alimentar (Tabela 1).
FigUrA 2
Mortalidade acumulada em tilápias vacinadas e não vacinadas durante os primeiros
20 dias pós-vacinação, antes que os peixes vacinados desenvolvessem imunidade
6,0%
6,0
5,5%
Vacinados
Controles
Taxa de mortalidade %
Na Fase II, a densidade de estocagem
foi de a 2.500 peixes/tanque, sendo que
os peixes foram alimentados até atingirem
um peso corporal médio final de 800
a 900 g.
5,0
4,0
2,8%
3,0
2,0
2,0%
1,0
0
CULTIVO 1
CULTIVO 2
13
2011
Cultivo 1: Mortalidade diária e índice de sobrevivência final no grupo de 15.000 peixes
vacinados.
Mortalidade diária
% de sobrevivência
100
80
Resultados – Cultivo 1:
As Figuras 3, 4 e 5 mostram os resultados
de desempenho de produção obtidos
no Cultivo 1.
Mortalidade diária
95
90
60
85
80
40
75
20
A Tabela 1 mostra os melhores resultados
de produção do grupo vacinado
comparados com o do grupo controle.
Deve-se observar que o peso corporal
médio final mais alto no grupo de controle
é explicado por um índice de mortalidade
mais elevado em relação ao grupo
vacinado, o que reduz a densidade de
peixes e permite melhor crescimento
entre os peixes sobreviventes.
70
65
0
23 31 08 16 24
JULHO
AGOSTO
01
09 17 25
SETEMBRO
03
Data
Vacinação
11 19 27 04 12 20 28
OUTUBRO
NOVEMBRO
60
Safra
FigUrA 4
Cultivo 1: Mortalidade diária e índice de sobrevivência final no grupo de 15.000 peixes
não vacinados (controle) .
6
DE JUNHO DE
FigUrA 3
% de sobrevivência
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Zanolo
A eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa no controle
da estreptococose em criações intensivas de
Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) no Brasil:
desempenho produtivo e lucros
Mortalidade diária
% de sobrevivência
100
N A T A L ,
14
95
Mortalidade diária
80
90
85
60
80
40
75
70
20
65
0
23 31 08 16 24
JULHO
AGOSTO
Vacinação
01
09 17 25
SETEMBRO
Data
03
11 19 27 04 12 20 28
OUTUBRO
NOVEMBRO
Safra
60
% de sobrevivência
B R A S I L
100
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
Zanolo
FigUrA 5
Comparação do ganho de biomassa (kg) entre os 15.000 peixes do grupo vacinado e dos 15.000
peixes do grupo não vacinado (controle), no Cultivo 1.
6.000
AquaVac Strep Sa
Controlados
5.000
4.283 kg
Ganho corrente %
3.698 kg
4.000
585 kg
diferença
3.000
2.000
1.000
23 31
JULHO
08
13
20
AGOSTO
27
03
10 17
SETEMBRO
24
01
08
15
22
OUTUBRO
29
05 12
19
NOVEMBRO
Data
tABELA 1
Comparação de médias dos resultados do grupo vacinado e do grupo não vacinado - (média de
três réplicas) no Cultivo 1
TRATAMENTO
GRUPO VACINADO
GRUPO DE CONTROLE
Peso inicial (g)
51,7
51,0
Ganho de peso (g)
310,7
322,0
Peso final (g)
362,3
373,0
Dias de terminação
126
124
Ganho de biomassa (kg)
1408,5
1173,3
Ingestão alimentar (kg)
2596,3
2450,1
Taxa de conversão alimentar
1,85
2,10
Biomassa (kg/m3)
83,36
71,41
Ganho de peso diário (g/dia)
2,47
2,60
Sobrevivência (%)*
91,90a
76,57b
Mortalidade total (%)
8,10
23,43
Teste de Tukey 5% (p < 5)
*As letras “a” e “b” denotam significância estatística.
15
FigUrA 6
Mortalidade diária
Mortalidade diária
% de sobrevivência
100
120
80
100
80
60
60
40
40
DE JUNHO DE
2011
20
6
Resultados – Cultivo 2
As Figuras 6, 7 e 8 mostram os
resultados de desempenho
obtidos no Cultivo 2, e a
Tabela 2 resume a taxa de
conversão alimentar e o
índice de sobrevivência nos
dois cultivos.
Cultivo 2: Mortalidade diária e índice de sobrevivência final no grupo de 16.000 peixes vacinados.
0
% de sobrevivência
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Zanolo
A eficácia da vacina AquaVac® Strep Sa no controle
da estreptococose em criações intensivas de
Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) no Brasil:
desempenho produtivo e lucros
20
29 06 14 22 30 07 15 23 01 09 17 25 02 10 18 26 04 12 20 28 05 13 21 29 06 14 22
JULHO AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO
FEVEREIRO
Vacinação
Data
Safra
FigUrA 7
Cultivo 2: Mortalidade diária e índice de sobrevivência final no grupo de 16.000 peixes não
vacinados (controle).
Mortalidade diária
Mortalidade diária
N A T A L ,
16
100
120
80
100
80
60
60
40
40
20
0
20
29 06 14 22 30 07 15 23 01 09 17 25 02 10 18 26 04 12 20 28 05 13 21 29 06 14 22
JULHO AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO
FEVEREIRO
Vacinação
Data
Safra
CONCLUSÃO
% de sobrevivência
B R A S I L
% de sobrevivência
Foram obtidas diferenças
altamente significativas no
desempenho entre os grupos
de peixes vacinados com
AquaVac Strep Sa e os peixes
controles nos dois ensaios.
O aumento do índice de
sobrevivência, e a consequente
diminuição da taxa de
conversão alimentar, levou
a retornos econômicos
consistentemente mais altos.
O retorno sobre o investimento
(ROI) no Ensaio 1 foi 7,4 vezes
mais alto do que o investimento
na vacina. No Ensaio 2, o
retorno sobre o investimento
pela vacinação foi 5,3 vezes
mais alto.
Em condições comerciais de
produção e diante do desafio
natural real, a AquaVac Strep Sa
mostrou-se altamente eficaz
contra as infecções causadas
por estreptococos (S. agalactiae
Biótipo II, sorotipo Ib).
Os parâmetros de produção,
incluindo o índice de
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
Zanolo
FigUrA 8
REFERÊNCIAS
Comparação do ganho de biomassa (kg) entre os 16.000 peixes do grupo vacinado e dos 16.000 peixes
do grupo não vacinado (controle), no Cultivo 2.
12.000
Suresh AV. 1998. Tilapia
Update 1998. World
Aquaculture. 30:8-68.
AquaVac Strep Sa
11.000
10.822 kg
2
5.000
Bunch EC, et al. 1997. The
effect of environmental factors
on the susceptibility of hybrid
tilapia Oreochromis niloticus
x Oreochromis aureus to
streptococcosis. The Israeli
Journal of Aquaculture.
49:67-76.
4.000
3
Controlados
10.000
9.730 kg
9.000
Ganho corrente %
1
1.092 kg
diferença
8.000
7.000
6.000
tABELA 2
Salvador R, et al. 2005.
Isolation and characterization
of group B Streptococcus
spp. from Nile tilapia
(Oreochromis niloticus) reared
in hapas nets and in earth
nurseries in the north region
of Paraná State, Brazil. Ciência
Rural. 35:1374-1378.
Resumo dos resultados da taxa de conversão alimentar e dos índices de sobrevivência dos dois cultivos
4
3.000
2.000
1.000
29 05 12 19 26 02 09 16 23 30 07 14 21 28 30 04 11 18 25 02 09 16 23 30 06 13 20 27 03 10 17
JULHO AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO FEVEREIRO
Data
CULTIVO 1
Grupos Experimentais
CULTIVO 2
% Sobrevivência Taxa de Conversão % Sobrevivência Taxa de Conversão
Alimentar
Alimentar
Figueiredo H, et al. 2007.
Estreptococose em Tilápia do
Nilo – Parte 1. Revista Panorama
da Aqüicultura. 17:103.
5
Controle
76,5%
2,10
78%
1,96
AquaVac Strep Sa
91,9%
1,85
87%
1,75
Melhora nos peixes vacinados
comparados aos de controle
15,4%
0,25
9%
0,21
sobrevivência/biomassa e a taxa de
conversão alimentar, apresentaram um
aumento significativo, levando a um
excelente retorno sobre o investimento
(ROI) nos dois ensaios.
Considerando o enorme impacto
econômico da estreptococose nos cultivos
brasileiros de tilápia, a AquaVac Strep Sa
apresenta-se como uma vacina valiosa e
altamente eficaz, constituindo-se em uma
ferramenta indispensável para melhorar
a produtividade, o desempenho e a
viabilidade econômica da produção de
tilápia no Brasil.
Kubtiza F. 2002. Streptococcus
versus Tilápia: É preciso se
antecipar ao problema. Revista
Panorama da Aqüicultura. 7:65.
números ainda melhores dentro de um
programa de vacinação em massa, uma
vez que a proteção de grandes populações
de peixes teria como consequência menor
pressão da doença na fazenda, que pode
se refletir em benefícios gerais para as
criações intensivas de tilápia.
Devemos considerar também que os
resultados da vacinação deveriam mostrar
17
Wendover
Neil Wendover, BSc; Mario Aguirre; Rodrigo Zanolo, MV, MSc; Leonardo Cericato, PhD; Robin Wardle
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
*
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Os Estreptococos em Tilápias: implicações para
o desenvolvimento de vacinas e as experiências
de campo na Ásia
18
*
Os levantamentos
epidemiológicos realizados
pela MSD Saúde Animal nos
principais países produtores
de tilápia demonstram que
o Streptococcus agalactiae
Biótipo II constitui a principal
causa da estreptococose
em nível global, levando a
mortalidades e perdas
econômicas.
Nos ensaios de campo, a
AquaVac® Strep Sa, a primeira
vacina intraperitoneal para
tilápias, demonstrou ser segura
para os peixes e eficaz contra
o S. agalactiae Biótipo II,
enquanto os estudos laboratoriais
mostraram que a vacina protege
por um período mínimo de
30 semanas.
A disponibilidade de uma
vacina como a AquaVac Strep Sa
é um fator importante para
permitir que a indústria de
tilápias se mantenha em
crescimento sustentável.
A aquicultura é o setor alimentício de mais
rápido crescimento no mundo, e a tilápia
responde por grande parte dessa expansão.
A sua popularidade continua a subir
vertiginosamente. A produção global quase
triplicou desde o início da década com um
rendimento estimado de 3,7 milhões de
toneladas em 2010, segundo a Organização
das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO). Nenhuma outra espécie
de peixe apresentou um crescimento tão
agressivo e sustentável ano após ano.
Há várias razões para o aumento da
produção de tilápia. Essa espécie conta
com a versatilidade no tocante a locais,
sistemas de água, temperatura e
salinidade. Apresenta boas características
de desempenho, como rápido crescimento,
alto rendimento de filé e baixa taxa de
conversão alimentar (FCA), assim como
filé branco e firme que torna fácil a sua
comercialização.
A tilápia pode agora ser considerada
uma commodity com estabilidade de
fornecimento, demanda e preço. Contudo,
o custo das matérias primas está subindo,
o que aumenta o custo da produção e
reduz as margens de lucro. São necessários
outros avanços para obter maior
eficiência produtiva a fim de melhorar a
lucratividade, e essa tendência está
continuamente levando o setor a uma
consolidação e intensificação. De fato, a
FAO registra uma diminuição no número
geral de pisciculturas, enquanto se vê
um aumento no tamanho das culturas
individuais, indicando a concentração
de pisciculturas nas mãos de menos
produtores, no entanto, maiores. Essa
situação fomenta o surgimento das
doenças de produção - e a tilápia não
é exceção.
A experiência tem mostrado que a maioria
das operações intensivas de piscicultura
são acometidas por uma quantidade entre
seis e oito importantes enfermidades de
produção e que deve haver um sistema de
prevenção ou de controle contra elas
antes de o setor alcançar sua verdadeira
sustentabilidade. Nas tilápias, identificamos
até o momento quatro principais doenças
bacterianas: Streptococcus agalactiae,
Streptococcus iniae, Flavobacterium
columnare e Francisella spp.; uma doença
viral, iridovírus; e dois grandes grupos de
parasitas: os Monogeneas, como o gênero
Gyrodactylus, e os protistas, como a
Trichodina (Figura 1). Sua prevalência e
severidade dependem de muitos fatores
ambientais, como localização geográfica,
sistema de cultivo, intensidade do cultivo,
salinidade e temperatura da água além de
vários fatores biológicos, como idade,
genética, nutrição e estresse.
E S T R E P T O C O C O S : U M P AT Ó G E N O
E S TA B E L E C I D O
De longe, apresenta-se como a doença
mais importante do ponto de vista
econômico. Em muitos casos, a
estreptococose não contribui para elevar
a taxa de mortalidade aos mais altos
níveis, mas causa a morte de peixes
grandes e, consequentemente, representa
um impacto bastante forte na taxa de
conversão alimentar e prejudica a eficiência
da produção e do beneficiamento
(Figura 2).
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
Wendover
A r t i g o s
FigUrA 1
Principais doenças que acometem as tilápias
FASE
Reversão sexual na incubadora
0g
PATÓGENO
1g
Alevinagem
Engorda
10 g
Terminação
100 g
1 kg
Trichodina; Dactylogyrus; Amyloodinium
Streptococcus spp. (Sa; Si)
Francisella spp.
Flavobacterium columnare
Edwardsiella tarda
Nocardia seriolae
Iridovirus
Saprolegnia; Branchiomyces
Obs: A importância da doença é razoavelmente proporcional à largura das barras das setas.
FigUrA 2
Alguns sinais clínicos das doenças causadas pelos Estreptococos em tilápias cultivadas.
ESQ.: Hemorragia petequial
localizada típica causada pelo
Streptococcus agalactiae
CENTRO: Tilápia jovem de 3 gramas
com exoftalmia bilateral
DIR.: Exoftalmia bilateral em fase
adiantada e opacidade da córnea
19
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Wendover
Os Estreptococos em Tilápias: implicações
para o desenvolvimento de vacinas e as experiências
de campo na Ásia
20
tABELA 1
Em 2000, a MSD Saúde Animal deu início
a vastos levantamentos epidemiológicos
nas principais regiões produtoras de tilápia
na Ásia e na América Latina. Identificamos
mais de 1.000 isolados bacterianos de
tilápia cultivada em 74 localidades em 14
países com o propósito de compreender
melhor a importância relacionada com
este patógeno no setor. Conforme
constatado por meio de outras pesquisas,
os estreptococos constituíam os
patógenos bacterianos dominantes,
sendo responsáveis por mais da metade
de todas as bactérias identificadas.
Entretanto, é interessante observar que,
enquanto o S. iniae é o patógeno mais
comum a afetar os peixes, nossos dados
mostram que o S. agalactiae é o mais
prevalente no cultivo de tilápia.
A P R E VA L Ê N C I A D O B I ÓT I P O D O
S. AGALACTIAE
Uma análise detalhada dos nossos isolados
revela dois grupos distintos que diferem
em uma variedade de características
bioquímicas e fenotípicas. Referimonos a esses grupos como biótipos e
estabelecemos uma diferença entre o
S. agalactiae “clássico” tipicamente
beta-hemolítico (Biótipo I) do S. agalactiae
tipicamente não-beta-hemolítico
(Biótipo II).
O S. agalactiae Biótipo II é considerado o
biótipo mais significativo em termos
globais, com mortalidade crônica em
muitos países asiáticos e latino-americanos,
enquanto o S. agalactiae Biótipo I está
Porcentagem do total de isolamentos estreptocócicos de tilápia cultivada em 14 países
PREVALÊNCIA
S. agalactiae Biótipo I (Sa1)
26%
S. agalactiae Biótipo II (Sa2)
56%
S. iniae
18%
limitado à Ásia e mostra picos de
mortalidade aguda, frequentemente
associados a temperaturas mais altas.
letal com cepas do S. agalactiae Biótipo I
ou Biótipo II.
Vários autores já descreveram sobre
vacinas que protegem contra o
S. agalactiae. É difícil, porém, concluir a
partir desses estudos se a vacina e a
cepa de desafio eram de biótipos iguais
ou diferentes.
As tilápias vacinadas com vacinas
experimentais contra S. agalactiae Biótipo I
foram protegidas contra os desafios letais
com cepas virulentas de S. agalactiae
Biótipo I; no entanto, nenhuma proteção foi
observada nas tilápias que receberam a
vacina Biótipo I quando foram desafiadas
com as cepas virulentas do Biótipo II. Da
mesma forma, os peixes vacinados contra
S. agalactiae Biótipo II foram protegidos
contra o desafio letal com Biótipo II, mas
não com uma cepa virulenta de Biótipo I.
Consequentemente, a vacinação com
bacterina de um biótipo específico induz
a proteção contra um biótipo específico
frente à mortalidade causada pelo
S. agalactiae.
Para determinar se nossa classificação
do S. agalactiae patogênico nos peixes
gera consequências que interfiram no
desenvolvimento de vacinas para controlar
essa doença devastadora, realizamos um
desafio em laboratório para determinar
a capacidade das vacinas de biótipos
específicos de proteger contra desafio
Os estudos laboratoriais também
demonstraram que a AquaVac®
Strep Sa, uma vacina de Biótipo II
fundamentalmente desenvolvida para
uso comercial, protege contra o
S. agalactiae Biótipo II por um período
mínimo de 30 semanas (Figura 3).
Em nossos levantamentos epidemiológicos
realizados até o momento, descobriuse que 26% de todos os isolados
estreptocócicos de tilápia eram
S. agalactiae Biótipo I e 56% deles foram
identificados como sendo S. agalactiae
Biótipo II (Tabela 1).
O D E S E N V O LV I M E N TO D A VA C I N A
E A SIGNIFICÂNCIA DO BIÓTIPO
A r t i g o s
Wendover
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
FigUrA 3
% Mortalidade acumulada
Eficácia laboratorial contra o S. agalactiae Biótipo II 30 semanas após a vacinação
com AquaVac Strep Sa
100
Vacinados
80
Controles
60
PPR 85%
40
20
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11 12
13
14
medida que a columnariose ou a doença
“da sela” diminuiu, juntamente com
o estresse do transporte inicial e do
povoamento, então o iridovírus (uma
doença viral comum que acomete a tilápia
nessa região) levou a três picos claros de
mortalidade (Figura 4). Esse padrão de
mortalidade é frequentemente indicador
de enfermidade e as perdas podem
normalmente chegar a 30%. À medida que
os peixes aumentaram de tamanho, o
S. agalactiae e, em um grau muito menor,
o S. inae foram cada vez mais reisolados
dos peixes moribundos em todos os
três grupos.
Dias pós-desafio
Desafio experimental com um heterólogo virulento do isolado S. agalactiae Biótipo II
PPR = proteção percentual relativa
AVA L I AÇ ÃO D E C A M P O D O
P R OTÓT I P O DA VAC I N A
Foram realizados ensaios de campo
cuidadosamente controlados
para determinar se os resultados obtidos
em laboratório seriam os mesmos em
campo aplicando a AquaVac Strep Sa,
vacina para o S. agalactiae Biótipo II.
Os ensaios de campo foram realizados
em um lago usando tanques redes
quadrangulares contendo ~10.000 peixes
em uma grande piscicultura de tilápias na
Ásia. O ensaio foi realizado em triplicata,
incluindo o grupo AquaVac Strep Sa, um
grupo de óleo placebo e um de controle
negativo não vacinado. Os peixes foram
vacinados com ~15 g e transferidos para
os tanques de engorda e terminação.
Foram feitas amplas amostragens
bacteriológicas e virológicas antes,
durante e a cada mês após a vacinação
e em pontos específicos durante o ensaio,
quando houve registro de mortalidade
acima do “normal”. De acordo com o
manejo de engorda, o ensaio foi concluído
e os peixes, abatidos depois de ~200
dias (com um pouco menos de 7 meses),
quando atingiram aproximadamente
1,2 kg. Os parâmetros de mortalidade,
alimentação e qualidade da água foram
registrados diariamente juntamente
com os dados finais da safra.
Apareceram padrões claros de enfermidade
durante o ensaio em todos os tanques,
indicando que a columnariose ou o
Flavobacterium columnare foi responsável
pelos altos picos iniciais de mortalidade
imediatamente após o povoamento. À
Os padrões de mortalidade indicam que,
embora a incidência da columnariose e
do iridovírus fosse semelhante em todos
os grupos, o grau de mortalidade do
S. agalactiae foi relativamente muito
mais baixo no grupo vacinado quando
comparado aos grupos de óleo placebo e
de controle negativo. Os dados coletados
na safra sustentam essa observação: a
sobrevivência nos vacinados foi de 80%
comparada aos 67% de sobreviventes nos
grupos placebo e de controle negativo,
representando uma melhora de 13% nos
peixes vacinados.
De mesma forma, os números da taxa de
conversão alimentar foram de 1,86 para os
vacinados, comparados a 2,06 e 2,05 para
os grupos placebo e de controle negativo,
respectivamente. Isso representou uma
melhora aproximada de 10% na taxa de
conversão alimentar (Tabela 2).
Neste ensaio, os peixes vacinados tinham
melhorado o consumo de ração e o seu
21
FigUrA 4
ESTUDOS DE PROTEÇÃO CRUZADA
Mortalidade diária e sobrevivência acumulada no grupo de controlados não tratados
Mortalidade diária
Mortalidade diária
Flavobacterium
columnare
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
% Sobrevivência
120
100
Surgimento do S. agalactiae
Picos típicos (três)
de iridovírus
80
60
Co-infecção com
S. iniae e
S. agalactiae
40
% Sobrevivência
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Wendover
Os Estreptococos em Tilápias: implicações
para o desenvolvimento de vacinas e as experiências
de campo na Ásia
20
8 16 24 01 09 17 25 03 11 19 27 04 12 20 28 06 14 22 30 07 15 23 31 08 16 24 04 12
AGOSTO SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
JANEIRO
FEVEREIRO MARÇO
0
Data
Resultados de ensaio de campo com o AquaVac Strep Sa
GRUPO DE
TRATAMENTO
%
SOBREVIVÊNCIA
% DE MELHORA DA
SOBREVIVÊNCIA
13%
FCR*
Vacinados
80%
1,86
Controlados
placebo-vacinados
67%
2,06
Controlados não
tratados
67%
2,05
MELHORA DA TAXA
DE CONVERSÃO*
aprox. 10%
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
tABELA 2
22
FCR = taxa de conversão alimentar
uso; consequentemente, apresentaram
uma melhora no desempenho da eficiência
produtiva, com 2,25 toneladas métricas
mais de peixes obtidos na população
vacinada comparada aos grupos controles.
Este ensaio de campo bem controlado
demonstra claramente que o AquaVac
Strep Sa é seguro e eficaz quando usado
em condições de campo. Melhoras
significativas tanto no nível de
sobrevivência e taxa de conversão
alimentar significam que uma estratégia
eficiente de prevenção baseada na vacina
e com boa relação custo-benefício está
disponível para que o setor possa lidar
com esta importante enfermidade.
Outros estudos de desafio controlados
realizados em laboratório usando cepas
indonésias, malaias, vietnamitas,
hondurenhas, brasileiras, mexicanas e
equatorianas em comparação com a vacina
comercial indicam que a vacina cria uma
proteção cruzada contra isolados múltiplos
e de diversidade geográfica (Figura 5).
E X P E R I Ê N C I A S D E VAC I N AÇ ÃO
COMERCIAL
O sucesso dos primeiros programas de
vacinação injetável em escala comercial
realizados com tilápia até o momento tem
sido variável, como esperado. O ambiente
laboratorial demonstra a eficácia da vacina
para proteção contra desafios específicos
de S. agalactiae, tendo sido realizados
ensaios comparativos e bem controlados
comparando tanques de grupo controle
e de vacinados. No laboratório, os peixes
estão “limpos” e isentos de enfermidade
antes, durante e em geral por três semanas
após a vacinação; além disso, não há a
presença de nenhuma outra doença,
exceto aquela para a qual a vacina está
sendo testada. Embora os números sejam
obviamente mais baixos no laboratório,
deve-se levar em consideração que
100% da unidade que abriga o ensaio
está vacinado.
Uma vez que a eficácia da vacina contra o
S. agalactiae e a sua capacidade de oferecer
proteção cruzada contra isolados múltiplos
de diversas localidades geográficas já foi
claramente demonstrada em laboratório,
o objetivo de um programa de vacinação
comercial é descobrir a melhor forma
de implementação da vacina de forma
eficiente de acordo com as condições locais.
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
Wendover
A r t i g o s
FigUrA 5
1
Diagnóstico correto: Antes que um
produtor comercial adote um programa
de vacinação, a causa subjacente da
mortalidade precisa ser determinada por
um especialista em saúde de peixes.
Eficácia do AquaVac Strep Sa contra isolados locais / PPR = proteção percentual relativa
Confirmação do biótipo do
S. agalactiae: Havendo a confirmação do
Streptococcus agalactiae como sendo a
doença principal, será necessário realizar
uma análise mais detalhada sobre o biótipo
para garantir a escolha da vacina certa para
o motivo certo, porque sabemos agora que
a imunidade é específica para cada biótipo.
60
40
20
0
0
4
6
8
10
12
14
HoNDUrAs
100
PPr
Vacinados
75%
Controles
80
60
40
20
0
0
2
4
6
8
10
12
14
Dias pós-desafio
MÉxiCo
100
PPr
Vacinados
100%
Controles
80
% Mortalidade acumulada
Os melhores resultados são obtidos em
operações nas quais os estágios de
produção são separados: larvicultura,
2
Dias pós-desafio
4
Peixe saudável: Um peixe saudável
significa que não há sinal de enfermidade
clínica ou subclínica. O peixe deve estar
livre de doença e estresse antes e durante
as primeiras 2 a 3 semanas depois da
vacinação. Isso quer dizer que condições
climáticas (qualidade da água) e de
estocagem (biomassa, manuseio etc.)
nesta etapa são cruciais.
83%
Controles
80
% Mortalidade acumulada
3
PPr
Vacinados
2
Análise de suscetibilidade
antimicrobiana: Havendo a confirmação
de uma enfermidade bacteriana, um
laboratório de diagnóstico deve realizar
um teste de suscetibilidade antimicrobiana
para determinar se a bactéria é suscetível a
uma ação terapêutica e, sendo esse o caso,
qual antibiótico é o mais adequado para
controlar o surto.
EqUADor
100
% Mortalidade acumulada
Os ensaios de campo iniciais e os
programas de vacinação em larga escala
claramente já nos ensinaram lições sobre
alguns fatores fundamentais a serem
implementados antes que qualquer
programa de vacinação possa ou deva
começar a ser colocado em prática.
60
40
20
0
0
2
4
6
8
10
12
14
Dias pós-desafio
23
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Wendover
Os Estreptococos em Tilápias: implicações
para o desenvolvimento de vacinas e as experiências
de campo na Ásia
recria, engorda, e terminação
ficam localizados em áreas diferentes
com empregados e equipamentos
separados para cada unidade de
estocagem. As fases de alevinagem
e recria devem, preferencialmente,
oferecer biossegurança, bom controle
e ambiente livre de enfermidades. Isso
não somente proporciona aos peixes
jovens melhores condições de vida, mas
também permite a aplicação de vacinas
dentro de um ambiente controlado.
Há quatro componentes principais no
programa da vacina.
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
1
24
Aplicação correta: O objetivo é
administrar a vacina de modo consistente
e adequado para gerar o mínimo de
estresse no animal e garantir a aplicação
da dose correta em cada um deles.
2
Resposta imune suficiente:
A vacinação e a manutenção dos peixes
sob condições apropriadas de estocagem
antes da transferência desencadeará
uma resposta imune suficiente antes da
exposição ao "ambiente de desafio".
3
Proteção populacional: Para
conseguir a proteção da população, é
importante que toda a população seja
vacinada, e não somente uma fração dela.
O objetivo é atingir a proteção geral no
mais curto espaço de tempo; isso é muito
mais fácil em um sistema de produção
“todos dentro todos fora” (all-in all-out),
no qual 100% dos peixes estocados
podem ser vacinados, em contraposição à
substituição gradual dos peixes suscetíveis
pelos peixes protegidos.
4
Troca do lado da balança:
É importante notar que mesmo se um
peixe tiver sido vacinado, ele ainda poderá
estar suscetível a enfermidades e infecções
dependendo de sua saúde, sua condição
nutricional e de estresse. Portanto, uma
combinação de boas estratégias de
manejo, biossegurança, estocagem,
qualidade da água, nutrição, saneamento,
estímulo imune e vacinação farão a
balança pesar mais para o lado do controle
de enfermidades.
fenotípicas diferentes. Esses biótipos são
geograficamente diversos, sendo que o
Biótipo II é o mais prevalente na Ásia e na
América do Sul. Tanto quanto é de nosso
conhecimento, não há explicações
óbvias em termos geográficos, fisiológicos
ou ambientais para a distribuição
regional do S. agalactiae Biótipos I e II.
Consequentemente, seria prudente
considerar a possibilidade de que a
distribuição dos biótipos possa mudar
ao longo do tempo, provavelmente por
meio da comercialização do peixe vivo.
Um bom programa de vacinação levará a
um rápido início da proteção e sua duração
completa. Com o tempo, o programa de
vacinação apresentará um efeito de
autoperpetuação ou “bola de neve”; com
menos peixes doentes e morrendo, haverá
menos condições de manter bactérias na
água. A menor presença de bactérias, por
sua vez, diminui a pressão total do desafio
e, combinada com peixes cada vez mais
protegidos, haverá um desempenho
populacional melhor como um todo.
As vacinas contra o S. agalactiae são
específicas para cada biótipo e não
oferecem proteção cruzada. Um vacina
comercialmente disponível, o AquaVac
Strep Sa, foi desenvolvida para proteção
da tilápia contra o S. agalactiae Biótipo II.
A vacina foi totalmente testada em
laboratório e em situações de campo,
demonstrando claramente sua segurança
e eficácia.
CONCLUSÃO
Os amplos levantamentos epidemiológicos
de infecções causadas pelos estreptococos
em tilápias realizados pela MSD Saúde
Animal proporcionaram a surpreendente
oportunidade de compreender claramente
a complexidade da enfermidade.
Uma análise minuciosa dos nossos isolados
de S. agalactiae na tilápia sugere a presença
de dois biótipos que apresentam uma
variedade de características bioquímicas e
Se todos os aspectos do sistema produtivo
estiverem alinhados e se houver um plano
de gestão sanitária específico em paralelo à
vacinação, os cultivos de tilápia poderão
controlar a estreptococose e conseguirão
chegar a volumes uniformes de produção.
reantaso
O uso responsável dos medicamentos veterinários
na produção de alimento aquático
Melba B. Reantaso, PhD
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
*
*
A globalização da indústria de
aquicultura levou à intensificação
da produção, à pressão para
melhorar o desempenho
produtivo e ao deslocamento
estendido dos animais,
aumentando o risco de
enfermidades e a necessidade
de medicamentos veterinários.
Medicamentos veterinários
seguros e eficazes são
imprescindíveis para uma
eficiente produção comercial
na aquicultura, sendo que os
fabricantes de produtos de
saúde animal desempenham
um papel importante no
desenvolvimento de tais drogas.
A tendência global aponta
para padrões cada vez mais
uniformes e rigorosos, porém,
o uso responsável dos
medicamentos veterinários
poderia ser ainda melhor
alcançado com aplicação das
regulamentações atuais e com
maior apoio à extensão de
saúde animal voltada aos
produtores de aquicultura.
A globalização do comércio de produtos
aquícolas e sua produção intensiva
figuram entre as tendências que
contribuem para novas oportunidades
de mercado para a indústria de culturas
aquáticas, incluindo os peixes de água
quente. Essas tendências, contudo,
também contribuíram para a disseminação
dos patógenos e das enfermidades
aquáticas, que constituem uma restrição
básica para o cultivo de muitas espécies
aquáticas. Doenças crônicas impedem o
desempenho e os lucros, gerando redução
do crescimento, das taxas de conversão
alimentar e de sobrevivência, ao mesmo
tempo em que os episódios de doenças
agudas podem potencialmente causar
mortalidade em massa e devastar todo
um empreendimento de aquicultura.
Embora a capacidade de gestão dos
problemas sanitários da aquicultura tenha
aumentado tremendamente nos últimos
30 anos, o rápido desenvolvimento do
setor de aquicultura gera continuamente
novos desafios. O resultado é uma
maior dependência dos medicamentos
veterinários1 para ajudar a garantir uma
produção bem sucedida evitando e
tratando surtos de doenças.
O USO DE MEDICAMENTOS
V E T E R I N Á R I O S N A A Q U I C U LT U R A
Sem dúvida, os medicamentos veterinários
oferecem muitos benefícios se usados de
maneira responsável.
Eles permitem o desenvolvimento de
sistemas de produção de alimentos
em escala industrial necessários para
alimentar a sociedade e melhorar o
ganho financeiro para os investidores.
Os medicamentos veterinários
possibilitam o aumento da eficiência
de produção e minimizam a quantidade
de terra, água, ração e outros recursos
necessários para a produção de pescado.
Eles são imprescindíveis para a moderna
produção aquícola porque, quando
usados com sabedoria, podem melhorar
a biossegurança e a produção, ajudando
a sustentar o setor.
Por outro lado, o uso inadequado
dos medicamentos veterinários
pode trazer efeitos negativos para a
segurança alimentar humana e o livre
comércio. Foi demonstrado que alguns
medicamentos veterinários usados
na aquicultura, como o cloranfenicol,
apresentam efeitos potencialmente
prejudiciais à saúde humana e foram
proibidos, reduzindo o já limitado
arsenal de drogas disponíveis
para o tratamento de doenças. A
detecção de cloranfenicol no camarão
comercializado internacionalmente
causou uma desaceleração das
importações, gerando, por conseguinte,
perdas econômicas aos produtores e
seus governos.
25
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
reantaso
O uso responsável dos medicamentos veterinários
na produção de alimento aquático
26
Outras preocupações relativas ao
uso inapropriado ou incorreto dos
medicamentos veterinários incluem
o potencial de resíduos da droga
permanecerem nos alimentos, o
desenvolvimento de patógenos
resistentes e o impacto
ambiental negativo.
Os fabricantes de produtos veterinários
estão desempenhando um papel
fundamental no uso responsável dos
medicamentos. Uma contribuição é o
desenvolvimento de drogas que têm sido
pesquisadas, desenvolvidas e aprovadas
de modo específico para uso exclusivo
na medicina veterinária. Um exemplo é o
antibiótico florfenicol de amplo espectro.
Essas preocupações têm contribuído
para a evolução de algumas mudanças
profundas no desenvolvimento e no uso
dos medicamentos veterinários na
aquicultura e em outros segmentos
da indústria alimentícia.
O desenvolvimento de produtos
farmacêuticos veterinários ou vacinas
para a aquicultura e outras indústrias
alimentícias requer um alto nível de
investimento, conhecimento técnico e
documentação; um volume enorme de
trabalho e testes extensos servem para
garantir que um composto ativo ou o
antígeno de uma vacina seja seguro e
eficaz para os animais, os humanos e
o meio ambiente e que ele atenderá as
exigências legais.
R E S P O N S A B I L I D A D E C O M PA R T I L H A D A
Em geral, pode-se afirmar que a tendência
global aponta para um caminho de normas
mais rigorosas e uniformes, assim como
o uso mais prudente e responsável dos
medicamentos veterinários na indústria
da aquicultura.
A maioria dos mercados atualmente
contam com regulamentos que ditam os
níveis aceitáveis de resíduos que também
têm como enfoque a segurança ambiental.
Uma melhor vigilância e tecnologia
geraram um aumento significativo da
capacidade de detectar quantidades
ínfimas de resíduos de substâncias
proibidas ou de uso restrito, levando a
níveis mais altos de detecção.
A fabricação envolve rigorosas verificações
de controle de qualidade para cada estágio,
sendo que a conformidade dos processos
e procedimentos é fundamental para
garantir a consistência e a confiabilidade
do medicamento em produção. Programas
de controle de qualidade aperfeiçoados
são de extrema importância para o
desempenho na piscicultura, mas
também ajudam a garantir a segurança
e a integridade dos produtos feitos à base
de peixe para o consumo humano.
Quando uma piscicultura aplica
corretamente um medicamento registrado
e segue as orientações para retirada, pode
ter certeza de que o uso do produto
não deixará nenhum resíduo prejudicial
nem abalará o comércio de alimentos. É
por esse motivo que é importante para
os piscicultores usar medicamentos,
veterinários aprovados e de marca ao em
vez de drogas ou substâncias químicas
não tratadas.
O papel do fabricante do segmento
de saúde animal não termina com o
lançamento do produto. A empresa
também deve monitorar qualquer
problema inesperado, como reações
adversas que possam surgir a campo.
Os produtores e patologistas,
evidentemente, desempenham um
papel de enorme importância no
uso prudente e responsável dos
medicamentos veterinários na aquicultura.
Sua conscientização é cada vez maior
sobre a necessidade de evitar recorrer
a medicamentos, principalmente
antibióticos, utilizados para a medicina
humana. Também há uma conscientização
maior sobre os benefícios apresentados
pelos testes de suscetibilidade para
garantir o uso adequado dos antibióticos.
Os testes de suscetibilidade demonstram
se um determinado antibiótico será eficaz
ou não contra um patógeno que estiver
causando um surto de doença.
A gestão preventiva da saúde também
faz a sua contribuição para o uso
mais prudente e responsável dos
medicamentos veterinários na aquicultura.
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
reantaso
Levem em conta o amadurecimento da
indústria do salmão na Noruega ou do
cultivo do olho-de-boi no Japão, onde a
vacinação e a criação aperfeiçoada fizeram
diminuir a dependência da indústria de
aquicultura dos tratamentos veterinários
para alcançar melhores níveis de produção
e lucratividade.
CONCLUSÃO
Concluindo, a responsabilidade pelo uso
prudente e responsável dos medicamentos
veterinários na aquicultura deve ser
compartilhada pelas partes interessadas
desse setor.
O uso responsável dos medicamentos
veterinários não é somente fundamental
para a saúde e a segurança dos animais,
dos consumidores e do meio ambiente,
mas para a sustentabilidade da produção
comercial na aquicultura. O uso de tais
medicamentos deveria fazer parte dos
planos de saúde e biossegurança do
país e da própria piscicultura, sendo
executados em conformidade com uma
política nacional geral para a gestão
da saúde dos animais aquáticos e uma
aquicultura sustentável.
Este artigo contém excertos de um artigo
intitulado "Improving biosecurity through
prudent and responsible use of veterinary
medicines in aquatic food production"
[Melhorando a biossegurança por meio
do uso prudente e responsável dos
medicamentos veterinários na produção
de alimentação aquática], publicado no
FAO Aquaculture Newsletter No. 45 (edição
de agosto de 2010) baseado na Oficina
de Peritos da FAO com o mesmo título,
realizado em Bangcoc, Tailândia, em
dezembro de 2009.
REFERÊNCIAS
1
Os governos têm um papel chave a
desempenhar, da mesma forma que os
produtores, os patologistas, os fabricantes
de produtos e os consumidores. Uma
grande responsabilidade para o governo
e o setor público é a de desenvolver e
implementar boas práticas da aquicultura;
leis e regulamentos relativos à fabricação;
aos licenciamentos e ao uso dos
medicamentos veterinários. Estas diretrizes
deveriam ser elaboradas consultando
as partes interessadas pertinentes do
setor privado de forma transparente
e alinhada com as normas e diretrizes
internacionais. Em vez de mais restrições,
poder-se-ia chegar a um uso mais
prudente e responsável dos medicamentos
veterinários com uma aplicação mais
eficiente dos regulamentos atuais e mais
apoio à extensão veterinária para os
produtores da aquicultura.
Medicamentos veterinários: Qualquer
substância ou combinação de substâncias
apresentadas para tratamento ou prevenção
de enfermidades em animais ou que podem
ser administradas em animais com vistas a
fazer um diagnóstico médico ou restaurar,
corrigir ou modificar as funções fisiológicas
dos animais. União Europeia (UE). 2004.
Diretiva (Directive) 2001/82/EC do Parlamento
Europeu e do Conselho de 6 de novembro
de 2001 sobre o Código Comunitário relativo
aos Medicamentos Veterinários. Diário Oficial
L -311,28/11/2004, pp. 1-66, conforme
alterado pela Diretiva 2004/ 28/EC do
Parlamento Europeu e do Conselho de 31
de março de 2004 alterando a Diretiva
2001/82/EC do Código Comunitário relativo
aos Medicamentos Veterinários. Diário Oficial
L - 136, 30/04/ 2004, pp. 58-84.
27
gaunt
Patricia Simmons Gaunt, DVM, PhD, Diplomate, Conselho Americano de Toxicologia Veterinária
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
*
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
Boas práticas para o tratamento de patógenos em
peixes de água quente com uso de ração medicada
com Aquaflor® (florfenicol)
28
*
Aquaflor® (florfenicol), um
antibiótico de amplo espectro
e ação rápida fornecido como
premix de ração, mostrou-se
altamente eficaz contra
Edwardsiella ictaluri e
Flavobacterium columnare
quando administrado a 10 mg
de florfenicol (FFC)/kg do peso
corporal/dia durante 10 dias.
Aquaflor deve ser administrado
assim que a doença bacteriana
for detectada nos peixes; é
imprescindível administrar o
medicamento em todos os
dias do tratamento; e deve-se
cumprir o ciclo total de 10
dias para garantir o sucesso
do tratamento.
Com seu uso criterioso e
combinado com boas práticas
de manejo, uso de vacinas e
linhagens geneticamente
aperfeiçoadas, Aquaflor
constitui-se em uma valiosa
ferramenta para controlar a
mortalidade de peixes de
água quente causada por
infeções bacterianas.
Aquaflor® (florfenicol) é um antibiótico
palatável de amplo espectro e ação
rápida fornecido como premix de ração.
É comprovadamente um antibiótico
eficaz e seguro para uso na alimentação
de peixes. Para manter a eficácia desse
valioso antibiótico e obter o máximo
benefício da ração medicada com
Aquaflor, os produtores e patologistas
devem entender o princípio por trás das
instruções que aparecem em bula.
Aquaflor é aprovado para uso em peixes
em mais de 20 países. As indicações
diferem de país para país, mas incluem o
controle de mortalidade causada pelas
enfermidades associadas aos patógenos
bacterianos de água quente Edwardsiella
ictaluri, Streptococcus iniae, Streptococcus
agalactiae, Flavobacterium columnare,
Francisella asiatica e Aeromonas hydrophila.
Nos Estados Unidos, a aprovação do
Aquaflor para uso em peixes envolveu
muitos estudos experimentais de eficácia
e segurança exigidos pela Administração
de Alimentos e Medicamentos (FDA)
dos Estados Unidos, um órgão regulador
norte-americano. Nos Estados Unidos, o
Aquaflor encontra-se atualmente aprovado
para o controle da mortalidade causada
por septicemia entérica do bagre,1
furunculose e doença de água fria em
salmonídeos.2 Aquaflor®-CA1 (florfenicol)
está condicionalmente aprovado para o
controle de mortalidade causada por
Columnariose no bagre.3
O objetivo deste trabalho é esclarecer e
orientar as melhores práticas para
incorporar o Aquaflor aos programas
gerais de manejo sanitário na produção
de peixes de água quente.
ESTUDOS DE EFICÁCIA
Foram realizados estudos de eficácia
in vivo e in vitro com Aquaflor.
Estudos de eficácia in vitro:
A sensibilidade dos patógenos
bacterianos ao florfenicol (FFC) foi
avaliada determinando as concentrações
inibitórias mínimas (CIM) do FFC nas
bactérias tanto dos estudos experimentais
quanto das amostras para diagnóstico
obtidas a partir de surtos das doenças
ocorridos em pisciculturas. Este teste
laboratorial determina rapidamente a
suscetibilidade das bactérias à droga.4
As concentrações inibitórias mínimas
(CIM) para os patógenos dos peixes de
água quente que aqui nos interessam
encontram-se na Tabela 1. Os números
indicam que uma grande variedade de
patógenos bacterianos de água quente
são suscetíveis ao FFC. Os valores da
CIM correlatos com dados dos estudos
farmacocinéticos podem ser utilizados
para prever e validar o desempenho
clínico do Aquaflor em pisciculturas.5
Estudos in vivo: Os estudos experimentais
de eficácia do Aquaflor em peixes de água
quente foram realizados na dosagem
de 10 mg FFC/kg do peso corporal para
o caso dos patógenos E. ictaluri e
F. columnare em alevinos de bagres
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
gaunt
tABELA 1
FigUrA 1
FigUrA 2
Concentração inibitória mínima (CIM)
de florfenicol em bactérias obtidas
de cultivo de bagres e tilápias. Os
valores indicam que as bactérias são
suscetíveis ao antibiótico.
Eficácia do Aquaflor demonstrada
pela diminuição da mortalidade
do bagre de canal desafiado com
E. ictaluri, posteriormente alimentado
com ração medicada com Aquaflor
a 10 mg FFC/kg de peso corporal
durante 10 dias. Os regimes
alimentares tiveram início 24 horas
após a exposição ao E. ictaluri.
Eficácia do Aquaflor demonstrada
pela diminuição da mortalidade
do bagre de canal desafiado com
F. columnare, posteriormente
alimentado com ração medicada
com Aquaflor a 10 mg FFC/kg de peso
corporal durante 10 dias. Os regimes
alimentares tiveram início 24 horas
após a exposição ao F. columnare.
Suscetibilidade
(CIM) (µg/mL)
Edwardsiella ictaluri
Flavobacterium columnare
0,25
Francisella asiatica
2,0-4,0
0,5-4,0
2,0
(Ictalurus punctatus).6-8 O Aquaflor foi
altamente eficaz (p<0,001) quando
comparado ao grupo controle
(Figuras 1 e 2).
A eficácia do Aquaflor em peixes de água
quente também foi demonstrada em
estudos experimentais envolvendo os
patógenos S. iniae9 and F. asiatica.10
Em 2009, várias pisciculturas do Alabama,
nos Estados Unidos, registraram uma
alta taxa de mortalidade de bagres,
que já tinham atingido o tamanho de
comercialização (~2 lbs ou 0,907 Kg),
associada a A. hydrophila.11 Utilizou-se o
Taxa de mortalidade %
Aeromonas hydrophila
Ração não medicada
Aquaflor
Aquaflor
0,5-1,0
100
Streptococcus iniae
Streptococcus agalactiae
Ração não medicada
80
60
40
20
60
87,3% (p < 0,001)
9,3%
0
Taxa de mortalidade %
PATÓGENO
54,2% (p < 0.001)
50
40
30
20
10
8%
0
Bagre de Canal
Bagre de Canal
Aquaflor para conter o surto. Esses estudos
não contaram com grupos controle não
tratados por questões tanto de bem estar
animal quanto econômicos. No entanto, a
comparação da mortalidade antes e depois
do tratamento com ração medicada com
Aquaflor mostrou uma grande diminuição
e, em alguns casos, a interrupção completa
da mortalidade (Figura 3).
baseados em dosagens determinadas
pelos estudos de eficácia. Após dose oral
administrada no bagre de 10 mg/kg11
(Figura 4) e na tilápia de 15 mg/kg,12 uma
alta concentração de FFC foi rapidamente
absorvida pelo intestino, espalhando-se
em pouco tempo por todo o corpo,
mantendo-se a uma concentração
estável durante o período de 10 dias de
administração da dose.
E S T U D O S D E FA R M A C O C I N É T I C A E
DEPLEÇÃO DE RESÍDUOS
As concentrações de FFC no tecido do
bagre e da tilápia durante o tratamento
de 10 dias sob as condições especificadas
do experimento foram mais altas do que
Os estudos de farmacocinética foram
realizados para determinar a disposição
do FFC nos peixes de água quente
29
FigUrA 3
B O A S P R ÁT I C A S D E T R AT A M E N T O
Mortalidade de peixes tratados em uma das várias pisciculturas do Alabama que
sofreram um surto de A. hydrophila Mais de 200.000 bagres de canal receberam
10 mg FFC/kg peixe/dia durante 10 dias.
1.800
Período do
tratamento
1.600
1.400
Taxa de mortalidade %
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaunt
Boas práticas para o tratamento de patógenos em
peixes de água quente com uso de ração medicada
com Aquaflor® (florfenicol)
1.200
1.000
0.800
0.600
0.400
0.000
9,4
9,7 9,10 9,13 9,16 9,19 9,22 9,25 9,28 10,1 10,4 10,7 10,10
Datas — 2009
Nota: Dados obtidos por cortesia do Serviço de Vida Selvagem e Peixes dos Estados Unidos, AADAP
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
0.200
os valores da CIM das cinco bactérias
patogênicas estudadas (Tabela 1). Essa
concentração no tecido foi considerada
suficiente para combater as bactérias
patogênicas com eficácia.
Em um estudo de uma única dose oral
realizado com bagres, a concentração
média de Aquaflor no plasma caiu, ficando
abaixo de 1 μg/ml por 36 horas; essa
concentração está abaixo do valor mais
alto de eficácia para a CIM observada na
maioria dos patógenos que acometem
os bagres (Tabela 1). Portanto, é de
extrema importância continuar com a
dose diária (a cada 24 horas) por 10 dias
para atingir uma dose eficaz e mantê-la
na proporção necessária para combater
as infecções bacterianas.
Os estudos de depleção de resíduos foram
realizados para determinar o tempo de
retirada calculado, que é o momento entre
a última dose de FFC e o momento quando
os níveis de resíduos da droga ficam abaixo
de 1 μg/g de tolerância. Os resultados
confirmam que, para peixes de água
quente, o tempo de retirada deve ser de 12
dias após o término do tratamento com
Aquaflor administrado de acordo com as
instruções apresentadas no rótulo.*13-14
A ração medicada com Aquaflor deve
ser usada combinada com um cultivo
adequado, disponibilidade de vacinas
e peixes geneticamente aperfeiçoados.
Um bom cultivo de peixes compreende
gestão ambiental, atenção à densidade
de estocagem, biossegurança e bom
sistema de controle de dados.
O ambiente ideal de aquicultura é mantido
a níveis ideais de temperatura da água,
oxigênio dissolvido e substâncias químicas
para cada espécie de peixe de água quente.
Embora o foco de uma piscicultura seja
colocada sobre o aumentos das taxas de
estocagem para maximizar a produção,
os peixes devem ser estocados perto,
mas não acima, da capacidade máxima
de suporte para evitar queda da qualidade
da água, concentrações de oxigênio
dissolvido abaixo do ideal e lesões
traumáticas. Qualquer um desses fatores
pode gerar estresse e predispor os peixes
a uma enfermidade.
As medidas de biossegurança, como
pedilúvios e equipamento de limpeza,
desinfecção e enxágue ajudarão a evitar a
disseminação de agentes infecciosos pela
piscicultura. As enfermidades podem ser
transmitidas por humanos, predadores,
equipamentos e água. Embora seja difícil
lidar com os predadores, o controle de
outros vetores pode ser administrado.
Peixes recém introduzidos devem ser
colocados em quarentena (e tratados, se
necessário) durante 3 a 6 semanas antes da
introdução nas instalações de engorda e
* Os tempos de retirada podem variar de
acordo com o mercado. Veja mais detalhes
na bula.
30
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
gaunt
FigUrA 4
A gestão adequada da piscicultura requer
gerentes técnicos para manter os registros
de saúde dos peixes que ajudarão no
reconhecimento das doenças e no seu
manejo e controle proativo. Registros
importantes da piscicultura contêm
informações sobre a sazonalidade dos
surtos, padrões de alimentação dos
peixes e seu comportamento. Por
exemplo, se um peixe fica anoréxico
durante o verão quando a temperatura
da água varia de 24° C a 28° C (75° F a 82°
F), o patógeno causador do problema é
mais provavelmente o S. agalactiae do
que S. iniae.16
Os produtores devem enviar peixes
doentes vivos a um laboratório de
diagnóstico para análise das lesões e
cultura da bactéria patogênica suspeita.
Peixes mortos frequentemente foram
contaminados com outras bactérias
que não deram origem ao surto da
enfermidade, e esse é o motivo pelo qual
um peixe doente vivo deve ser examinado
e as lesões, cultivadas; os resultados devem
ser cuidadosamente interpretados para
evitar um diagnóstico incorreto.17
É vantajoso para os produtores estocar
linhagens fortes de peixes para obter
uma terminação mais rápida e altas taxas
de sobrevivência.
Linhagens de peixes geneticamente
aperfeiçoadas alimentadas com dietas
deais produzem alevinos de alta qualidade
e, consequentemente, peixes juvenis e
Concentração plasmática de FFC versus tempo do bagre de canal (Ictalurus punctatus)
em temperatura média da água de 25,4° C (77,7° F) após a medicação com Aquaflor a
uma dosagem de 10 mg FFC/kg do peso corporal. O FFC foi rapidamente absorvido e
atingiu concentrações plasmáticas de eficácia acima da CIM da maioria dos patógenos
que acometem o bagre.11
Nível de tolerância a resíduo da droga
100
10
µg/mL
terminação nas pisciculturas que contam
com sistemas de água compartilhados.15
1
0,1
0,01
0,001
0
48
96
144
192
240
288
336
Horas
adultos maiores e mais resistentes a
doenças com bom desempenho a campo.
A prevenção de doenças torna-se
cada vez mais uma realidade devido
à disponibilidade de vacinas para
peixes de água quente, que variam
de país para país. As vacinas contra
E. ictaluri e F. columnare (AquaVac®-ESC
e AquaVac®-COL) para bagres estão
comercialmente disponíveis nos Estados
Unidos; enquanto a AquaVac® Strep Sa
é aprimeira vacina intraperitoneal para
tilápias e protege contra S. agalactiae
Biótipo II, um importante causador
da estreptococose.
Porém, os peixes vacinados ainda podem
sucumbir aos patógenos se estiverem
estressados e se o cultivo estiver em um
nível abaixo do ideal.
UTILIZE AQUAFLOR AO PRIMEIRO
SINAL DE DOENÇA, SEGUNDO AS
INSTRUÇÕES DE RÓTULO
A ração medicada com Aquaflor deve
ser administrada assim que a doença
bacteriana que venha acometer o peixe
seja reconhecida.18 A demora de apenas
alguns dias depois do aparecimento dos
primeiros sinais da enfermidade pode
significar a diferença entre o sucesso de
uma terapia e o seu fracasso.
31
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaunt
Boas práticas para o tratamento de patógenos em
peixes de água quente com uso de ração medicada
com Aquaflor® (florfenicol)
32
FigUrA 5
Algumas doenças podem ser
diagnosticadas a partir da idade e da
espécie do peixe, dos primeiros sinais
e lesões e datas dos surtos, enquanto
outras requerem resultados de culturas
e diagnóstico oficial. Um estado de
vigilância alertará os produtores quando
do aparecimento dos primeiros sinais
da enfermidade, tais como anorexia ou
comportamento letárgico ao nadar.
Dentre os patógenos bacterianos
importantes da tilápia de água doce
encontram-se S. iniae, S. agalactiae,
A. hydrophila, F. asiatica, F. noatunensis
e F. columnare. Os peixes infectados com
os quatro primeiros desses patógenos
logo perderão o apetite, reduzindo,
assim, a ingestão da ração medicada.
Estudos experimentais com bagres
infectados com F. columnare,
demonstram que a infecção bacteriana
não causa anorexia no bagre.8 Contudo,
relatos de casos indicam que o apetite é
afetado na columnariose em condições de
campo quando a boca chega a um estado
necrótico extremo. Como mencionado
anteriormente, a concentração de FFC no
tecido deve ser superior ao valor da sua
CIM para as bactérias durante o período
de tratamento. Os peixes que não
estiverem comendo ou só estiverem
comendo pequenas quantidades ficarão
inadequadamente medicados.9
Um peixe letárgico provavelmente apresentará lesões que serão mais indicadoras de
uma dada enfermidade do que os sinais
Opacidade da córnea com exoftalmia
(olhos saltados) visto na tilápia com
estreptococose
clínicos. A estreptococose na tilápia é
mais frequentemente causada pelo
S. agalactiae e o S. iniae. As lesões externas
incluem exoftalmia - olhos saltados com opacidade da córnea (Figura 5),
escurecimento da pele, necrose das
brânquias e hemorragia na pele, opérculos,
orifício e músculos. As lesões internas
compreendem fluido na cavidade
celômica, hemorragia e dilatação dos
órgãos internos, bem como inflamação
das articulações e do coração.
A A. hydrophila na tilápia caracteriza-se
por lesões externas de hemorragia,
ulceração e necrose da pele, da base
das nadadeiras e, de vez em quando, do
músculo. A exoftalmia também pode
aparecer ocasionalmente com essa
enfermidade. As lesões internas incluem
fluido de sangue na cavidade celômica e
hemorragia nos órgãos.
A Francisellosis na tilápia é causada pelo
F. asiatica e o F. noatunensis. As lesões
comuns da infecção causada por Fransicella spp. apresentam exoftalmia,
nódulos esbranquiçados (que representam
áreas de necrose) nas brânquias, ulcerações
da pele (decorrentes de infecções
secundárias) e dilatação dos órgãos
internos, principalmente do baço e do rim,
com nódulos esbranquiçados necróticos
(Figura 6).
A columnariose causada pelo F. columnare
na tilápia caracteriza-se pelas lesões
externas de ulceração e necrose das
brânquias, boca, pele, músculo e
nadadeiras, conferindo uma aparência
esfarrapada dos raios das nadadeiras
causada pelo esfolamento do epitélio.
Como o Aquaflor requer prescrição em
muitos mercados, como nos Estados
Unidos e no Brasil, um veterinário ou outro
especialista em saúde de peixes deve
examinar os animais afetados e determinar
que estão doentes com base nos sinais da
enfermidade, nas lesões ou nos resultados
de testes de diagnósticos, como cultura de
bactéria.18 Se os peixes apresentarem uma
doença bacteriana que puder ser tratada
com Aquaflor, o veterinário emitirá um
pedido de ração medicada. A dosagem
deve ser administrada de acordo com as
instruções no rótulo, usando a dosagem de
eficácia aprovada para o período de 10
dias. A dose de 10 mg/kg de peso corporal
no caso do bagre é eficaz contra E. ictaluri e
F. columnare; nos alevinos de tilápia e nas
tilápias juvenis, essa dosagem mostrou-se
eficaz contra F. columnare, A. hydrophila
e S. agalactiae.
A ração medicada deve ser adquirida em
uma fábrica de ração que siga as Boas
A r t i g o s
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
gaunt
FigUrA 6
Dilatação dos órgãos internos,
principalmente do baço e do rim, vista
na tilápia infectada com F. asiatica
Foto obtida por cortesia do Dr. Juan A. Morales,
Escuela de Medicina Veterinaria, Universidad Nacional de Costa Rica; e do Dr. Esteban Soto, Ross
University School of Veterinary Medicine, St. Kitts.
Práticas de Fabricação para garantir a
qualidade, a pureza e a concentração
indicada no rótulo. Por questões de ordem
prática, a taxa de alimentação do Aquaflor
(calculada como porcentagem sobre o
peso corporal) na ração medicada poderá
ser predeterminada por fabricantes
comerciais de ração com base nas práticas
locais de alimentação.20 Podem ser feitas
misturas personalizadas nos casos em
que for permitido.
É imperativo que os produtores sigam
todo o regime alimentar da ração medicada
com Aquaflor e que essa ração constitua o
único alimento durante todo o tratamento.
Se o piscicultor estiver inseguro quanto ao
funcionamento efetivo da medicação,
devem-se realizar o isolamento bacteriano
e o teste de suscetibilidade em um
laboratório de diagnóstico.
Pular dias do tratamento ou administrar a
ração medicada com Aquaflor por menos
dias do que o recomendado causarão o
desperdício de recursos financeiros. Além
disso, concentrações mais baixas da droga
no tecido do peixe podem levar à seleção
de bactérias resistentes, e a resistência a
uma ração medicada pode gerar resistência
a outras rações medicadas,21 deixando o
piscicultor, por fim, com menos opções
para um tratamento bacteriano.
Por outro lado, os produtores deverão ficar
tentados a administrar a ração medicada
em excesso uma vez que Aquaflor é
altamente palatável. Isso, porém, só levará
a concentrações de medicamento no
tecido mais altas do que o necessário,
desperdiçando recursos. Os produtores
devem seguir as dosagens recomendadas
e os tempos de retirada necessários para
evitar resíduos proibitivos.
rótulo para garantir máxima eficácia,
preservar a suscetibilidade bacteriana e
evitar resíduos proibidos no tecido e carne
dos animais.
Quando combinado com boas técnicas
de manejo, utilização de vacinas e
linhagens geneticamente aperfeiçoadas,
o uso criterioso do Aquaflor constitui
uma ferramenta valiosa para controlar a
mortalidade de peixes de água quente
causada por infecções bacterianas.
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Medicamentos dos Estados Unidos (US FDA).
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approves new antimicrobial for catfish [FDA
aprova novo antimicrobiano para bagre].
Disponível em: fda.gov/.
2
CONCLUSÃO
Aquaflor é eficaz contra as infecções
bacterianas que acometem animais
aquáticos de água quente, como
F. columnare, S. iniae, S. agalactiae,
A. hydrophila e E. ictaluri. Os peixes que
apresentarem os primeiros sinais de uma
enfermidade associada a esses patógenos
devem ser examinados para verificar
suas lesões e a realização de cultura em
um laboratório de diagnóstico a fim de
identificar a bactéria.
Administração de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (US FDA).
[Internet]. 2007. [citado 2011 Março]. FDA
approval of new antimicrobial for salmonids
[FDA aprova novo antimicrobiano para
salmonídeos]. Disponível em: fda.gov/.
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Medicamentos dos Estados Unidos (US FDA).
[Internet]. 2009. [citado 2011 Março]. First
FDA conditionally approved new animal drug
for columnaris disease in catfish [Nova droga
animal para columnariose em bagres é a
primeira a ser condicionalmente aprovada
pelo FDA]. Disponível em: fda.gov/.
É extremamente importante que os
produtores usem a ração medicada com
Aquaflor de acordo com as instruções no
33
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaunt
Boas práticas para o tratamento de patógenos em
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O. niloticus x O. aureus) following florfenicol
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gaikowski
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina
no tecido do filé de tilápias depois de alimentadas
com Aquaflor® (florfenicol) em sistema de aquicultura
com recirculação de água.
Mark P. Gaikowski, MA; Melissa K. Whitsel, BS; Shawn Charles, MS; Susan M. Schleis, BS;
Louis S. Crouch, PhD; Richard G. Endris, PhD
P o N to s C H AV E
INTRODUÇÃO
*
Realizou-se um estudo para
determinar a depleção do
florfenicol (FFC) na água e do
florfenicol amina (FFA), um
marcador para resíduos de
FFC, no filé de tilápias adultas
em sistema de recirculação
(RAS) após a administração
de ração medicada com
Aquaflor® (florfenicol).
*
A concentração máxima de FFC
na água ocorreu no décimo dia
de medicação e baixou para 807
ng/ml em 240 horas após a
dose; o FFA diminuiu de uma
média de 13,77 μg/g em 1 hora
após a aplicação da dose a uma
média de 0,39 μg/g em 240
horas após aplicação da dose.
*
Os resultados indicam que,
na tilápia, a diminuição de
FFA no sistema de aquicultura
com recirculação é semelhante
à encontrada em sistemas
de fluxo contínuo, também
confirmando o tempo aprovado
para retirada da ração medicada
com Aquaflor.*
o
Streptococcus iniae é uma bactéria
Gram-positiva que causa uma mortalidade
substancial nas tilápias, Oreochromis spp.,
principalmente entre os peixes cultivados
em sistemas de recirculação de água ou
intensivos tipo raceways em canais.
Em todo o mundo, estimam-se que as
perdas econômicas anuais decorrentes
da mortalidade de tilápias associada ao
S. iniae atinjam aproximadamente
US$ 100 milhões.1 Consequentemente, a
MSD Saúde Animal está empenhando-se
em obter a aprovação nos Estados Unidos
para o Aquaflor®, um premix de ração
contendo um agente antibacteriano de
amplo espectro, o florfenicol (50% peso
a peso; Figura 1A), para tratamento do
S. iniae na tilápia. O uso do nome comercial
ou do nome do produto não implica
endosso do governo dos Estados Unidos.
O Aquaflor foi recentemente aprovado
nos Estados Unidos à dosagem de
10 mg/kg do peso corporal por dia
(BW/dia) administrado na ração durante
10 dias para controlar a mortalidade
causada por septicemia entérica do
bagre (2005) e a doença da água fria e
furunculose nas trutas (2007). Também
foi condicionalmente aprovado
(Aquaflor-CA1) para o controle da
mortalidade causada pela columnariose
no bagre (2007).
Globalmente, Aquaflor, que também é
comercializado como Aquafen® e Florocol®
em algumas regiões, está registrado para
uso em mais de 20 países, dentre os quais
estão Noruega (1993); Chile (1995); Canadá
(1997); Reino Unido (1999); Equador e
Venezuela (2005); Colômbia (2006); e Brasil,
Costa Rica, Vietnã e China (2007) com o fim
de controlar vários patógenos suscetíveis
FigUrA 1A /1B
Estruturas químicas do florfenicol (1A) e do florfenicol amina (1B)**
1A
1B
O
H 3C
OH
O
S
H3C
OH
S
O
F
NH
O
O
NH2
F
Cl
Cl
** 1A: Florfenicol [R-(R*,S*)-2,2-dicloro-N-[1-fluorometil-2-hidroxi-2-(4-metilsulfonilfenil)] etil
acetamida] é o ingrediente ativo do Aquaflor.
1B: Florfenicol amida [R*,S*O]-α-(1-amino-2-fluoroetil)-4-(metilsulfonil)-benzenemetanol]) é o
resíduo marcador do florfenicol.
* Os tempos de retirada podem variar de
acordo com o mercado. Para mais detalhes,
veja a bula.
35
em uma variedade de espécies marinhas e
de água doce de importância comercial.
Avaliamos a depleção do florfenicol
amina (FFA) - um marcador de resíduo
do florfenicol (FFC) - no filé das tilápias e
a redução de FFC após a administração de
ração medicada com FFC à dose nominal
de 20 mg/kg do peso corporal/dia em
peixes cultivados em uma aquicultura com
sistema de recirculação de água (RAS). O
objetivo do estudo foi desenvolver os
dados de depleção de resíduo do marcador
necessários para permitir a administração
do FFC a uma dose máxima proposta de
15 mg/kg do peso corporal/dia durante
10 dias consecutivos.2
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaikowski
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina
no tecido do filé de tilápias depois de alimentadas
com Aquaflor® (florfenicol)em sistema de aquicultura
com recirculação de água.
36
DEPLEÇ ÃO DO FLORFENICOL
A distribuição do FFC, o metabolismo e a
depleção após administração de uma dose
de 10 mg/kg do peso corporal/dia já foi
bem caracterizada em vários peixes.3-10,17,19
O FFC apresentou a mesma distribuição em
tilápias aclimatadas em água doce - ou
água salgada - com a concentração máxima
ocorrendo de 2 a 24 horas pós-dose,
dependendo do tecido.10 No salmão do
Atlântico, o FFA (Figura 1B) foi identificado
como sendo o metabólito primário do FFC
no músculo.11 O músculo (filé com pele),
por regulamentação, é considerado o
tecido comestível da maioria dos peixes.
O FFA foi subsequentemente selecionado
como resíduo marcador na administração
do FFC por ser o metabólito primário do
FFC, sendo que os outros metabólitos
menores (e o FFC) são convertidos em
FFA por meio de hidrólise ácida.12
O monitoramento da concentração total
de FFA (FFA + FFC hidrolisado com ácido e
metabólitos) no tecido alvo proporciona,
assim, uma estimativa conservadora dos
resíduos de FFC, permitindo o cálculo de
um período conservador de retirada.
Embora os dados sobre o metabolismo
do FFC nas tilápias não estivessem
disponíveis, presumiu-se que o FFA seja
o resíduo marcador por ser o resíduo
marcador em gado, suínos, ovelhas, aves,
bagres, salmões e trutas.13
Os dados dos estudos de depleção de
resíduos são usados para calcular o
período de retirada de uma droga, que
é o tempo necessário para que o animal
elimine os resíduos da droga até um nível
que seja considerado seguro para consumo
humano. As agências reguladoras estimam
a concentração segura ou o limite máximo
de resíduos (LMR) combinando um nível
de ingestão diária aceitável (IDA) (a
partir de dados de toxicologia) com uma
estimativa de peso humano padrão e
um fator de consumo (uma estimativa
baseada no consumo de pescado
contendo resíduos).
Para o FFC, a dose de 10μg/kg IDA é
multiplicada por um peso humano padrão
(60 kg), depois dividida por um fator de
consumo (no peixe, usa-se uma massa
padrão [300 g] de filé com pele [músculo]),
levando a uma tolerância de 2μg/g; a
Agência Europeia de Avaliação de Produtos
Médicos e a Administração de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (FDA)
aplicam um fator adicional de segurança e
estabeleceram o LMR para a Europa e os
Estados Unidos a 1 μg/g.13-14
M AT E R I A I S E M É T O D O S
O cultivo comercial de tilápias tem
como foco principal o cultivo de
machos fenotípicos produzidos com
a administração de ração contendo
17α-metiltestosterona (MT) em tilápias
recém-nascidas. As tilápias usadas no
estudo compunham uma mistura de
fêmeas sexualmente revertidas com
MT (machos fenotípicos) e machos
genéticos de duas das cepas de tilápia
mais comumente cultivadas, a tilápia
do nilo pura (O. niloticus x O. niloticus)
e a tilápia híbrida (O. niloticus x O. aureus).
O premix medicado com Aquaflor foi
utilizado para preparar as rações
medicadas. As rações usadas foram
analisadas para verificar o teor de FFC por
cromatografia líquida de alta eficiência15
(HPLC) antes e depois da administração
da dose (Tabela 1). A ração não medicada
foi analisada para determinar o teor
de nutriente bem como contaminantes
inorgânicos ou orgânicos (Eurofins
Scientific Inc., Des Moines, Iowa, EUA).
A ração não medicada e a ração medicada
com Aquaflor (2,667 g FFC/kg) para o
estudo de depleção de resíduos (grânulos
flutuantes de 4,8 mm extrusados)
foram preparadas de acordo com os
procedimentos padrões na Delta Western
Research Center (Indianola, Mississipi, EUA).
O premix de Aquaflor foi adicionado à
ração medicada durante a mistura, antes
da extrusão.
As tilápias do nilo e híbrida (peso médio
= 447 ± 56 g) foram obtidas de uma
piscicultura comercial. Elas foram mantidas
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
gaikowski
A r t i g o s
tABELA 1
Concentração média de florfenicol* (FFC) na ração
TIPO DE
ESTUDO
Resíduo
Depleção
1
2
Dose nominal
(mg FFC/kg peso
corporal/dia)
0
20
Concentração
nominal de
ração (g FFC/kg)
0
2,667
Concentração média
(g FFC/kg)
início da
dosagem
Fim da
dosagem
<LOQ2
2,638
<LOQ
2,560
Porcentagem
do nominal
NA
97,5 %
Peso corporal
LOQ = limite de quantificação (0,0002 g/kg)
*Determinado pela cromatografia líquida de alta eficiência nas amostras de ração coletadas no
início e no fim da dosagem para os estudos de depleção de resíduos.
em uma aquicultura comercial com sistema
de recirculação (Aquatic Eco-Systems
Fish Farm™ II) consistindo de dois tanques
de ~1.900 l (500 gal.) de polietileno, filtros
mecânicos (clarificador e filtro de sólidos
suspensos) e um filtro biológico. Havia
~3.350 l (885 gal.) de água em todo
o sistema.
O biofiltro do sistema de recirculação foi
abastecido com inóculo bacteriano de
biofiltro comercial e permaneceu em
operação por ~6,5 meses com a presença
de peixes antes da administração do FFC.
Esses peixes foram transferidos e as tilápias
usadas para o teste foram estocadas no
sistema de recirculação 38 dias antes da
administração do FFC. A temperatura foi
mantida entre 27° C e 27,6° C (80,6° F
a 81,7° F). Os sólidos residuais eram
retirados uma vez por dia ~1 hora antes da
alimentação, e juntamente com a retirada
dos sólidos, uma porção da água do
sistema de recirculação era retirada
(aclimatação - 6-11%; dose e pós-dose -
5,8%) e substituída por água de poço com
a temperatura ajustada (a ~22° C/71,6° F).
A química da água (temperatura, oxigênio
dissolvido, pH, amônia total, nitrito e
nitrato) foi determinada uma vez por dia
antes da limpeza do tanque. A dureza e
a alcalinidade da água eram apuradas
semanalmente. A alcalinidade foi mantida
>150 mg/l com o acréscimo adicional de
bicarbonato de sódio. Uma única amostra
da água foi analisada para verificar a
presença de metais e substâncias orgânicas
voláteis e semivoláteis (Davy Laboratories,
La Crosse, Wisconsin, EUA). Não foi
identificado nenhum contaminante em
níveis preocupantes.
A ração não medicada foi administrada
a uma taxa de 0,25%-1% do peso
corporal/dia durante o período de 38 dias
de aclimatação. A taxa de alimentação foi
de 0,75% do peso corporal/dia nos últimos
11 dias de aclimatação e permaneceu
constante pelo tempo restante do estudo,
incluindo os períodos de dosagem e
pós-dosagem. Três porções iguais de ração
foram oferecidas a cada dia com ~4 horas
entre cada administração de alimento. O
consumo diário de ração foi estimado
durante o período de dosagem.
Amostras de cinco peixes de cada
tanque foram retiradas 4 dias antes da
medicação para obter o tecido do filé
do grupo controle. Os peixes foram
retirados aleatoriamente e sacrificados.
Depois, as escamas desses peixes foram
removidas e os filés coletados com
pele, acondicionados individualmente
e armazenados a <-70° C (-94° F).
As tilápias (n = 209) receberam ração
medicada com Aquaflor a 0,75% do
peso corporal/dia (dose nominal
= 20 mg FFC/kg peso corporal/dia)
durante 10 dias consecutivos. A dose
estimada ofertada foi calculada a partir
da estimativa de ração consumida, da
concentração de FFC na ração e a
biomassa de peixe total na amostragem
terminal. Vinte peixes (10 por tanque)
foram retirados aleatoriamente dos
tanques com sistema de recirculação
nos dias 0,04; 0,5; 1; 1,5; 2; 3; 4; 5;
e 10 pós-dosagem, e os filés com
pele foram coletados conforme
descrito anteriormente.
As amostras de água para análise de FFC
foram coletadas: (1) simultaneamente à
coleta de filé do grupo controle, (2) antes
da limpeza do tanque durante o período
de dosagem (~1 hora antes da primeira
alimentação do dia), (3) pouco antes
37
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B R A S I L
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2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaikowski
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina
no tecido do filé de tilápias depois de alimentadas
com Aquaflor® (florfenicol)em sistema de aquicultura
com recirculação de água.
38
dos segundos e terceiros intervalos da
alimentação diária, (4) 4 horas depois do
terceiro intervalo da alimentação diária e
(5) simultaneamente à coleta do filé
durante o período pós-dosagem, exceto na
coleta de filé no dia 0,04 da pós-dosagem.
A cada intervalo de coleta, uma amostra de
água (~50 ml) foi retirada do clarificador e
do filtro de sólidos suspensos, ambos do
sistema de recirculação. Cada amostra era
misturada a mão e filtrada com seringa
membrana [Durapore® (PVDF, 0,45 µm)
Millipore, Billerica, Massachusetts, EUA] em
alíquotas de ~2 ml em frascos de HPLC e
depois guardadas a ≤-20° C (≤-4° F) até
serem analisadas.
As concentrações de FFA foram
determinadas usando um método
validado para FFA em tecidos de filé de
tilápia no MPI Research, Inc. (State College,
Pensilvânia, EUA). O método consistiu
em converter todos os resíduos de FFC em
FFA por hidrólise catalisada com ácido. O
tecido do filé foi hidrolisado acrescentando
ácido clorídrico 6N e depois mantido
por aproximadamente 2 horas a uma
temperatura de 95° C a 100° C (203° F a
212° F). O hidrolisado do tecido foi extraído
com acetato de etila e centrifugado. O
hidrolisado aquoso foi retido e ajustado
para o pH 12,5 ou mais alto com 30% (peso
a peso) de solução de hidróxido de sódio.
A solução com pH ajustado foi adsorvida
de 45 a 60 minutos em uma coluna de
sorvente Varian Chem Elut CE120 (Varian,
Inc., Palo Alto, Califórnia, EUA) e depois
eluída com cloreto de metileno. Os eluatos
de cloreto de metileno foram evaporados
até ficarem secos, dissolvidos em 10 mM
de tampão fosfato de potássio [pH 4,0, 1%
(volume a volume) acetonitrila], filtrado
(0,2 μm) e depois analisado por HPLC
usando detecção por raio UV a 220 nm.
O limite de quantificação (LOQ) do método
foi de 0,05 μg/g.
A concentração de FFC foi determinada
em amostras de água usando um
procedimento determinativo validado
capaz de quantificar o FFC a partir de 10
a 5.000 ng/ml e até 20.000 ng/ml depois
da diluição. A concentração de FFC
foi determinada por cromatografia
líquida de ultra-pressão com detecção
espectrométrica de massa em uma
interface de ionização de pressão
atmosférica. As amostras de água foram
fortificadas com FFC-d4 como padrão
interno e analisadas diretamente. As
transições iônicas de 356 a 185 m/z e
360 a 189 m/z foram monitoradas com
relação ao FFC e ao padrão interno,
respectivamente. O LOQ do método foi
de 10 ng/ml.
O perfil de FFA na depleção residual no
filé com pele de tilápia após a retirada
da dieta medicada foi estimado por
regressão log-linear.16 O modelo de
regressão log-linear ajustado [Ln (ppm)]
= 2,3215 Ln (ppm) + -0,0151 Ln (ppm)/
hora x horas pós-dosagem R2 foi de
0,8271. O período de retirada foi definido
como o momento em que o limite de
tolerância da concentração de resíduo
estivesse igual ou abaixo de 1 μg/g LMR.
O limite de tolerância foi estabelecido
como o percentil 99 do nível de resíduo
potencial a 95% de confiança.16 O período
de retirada foi, portanto, equivalente ao
momento em que o limite de tolerância
estava abaixo de 1 μg/g. As análises foram
consideradas significativas se P< 0,05.
R E S U LT A D O S
As doses médias mínimas administradas
diariamente eram de 19,4 mg/kg do peso
corporal/dia para as tilápias no tanque
1 (variação de 19,3 a 19,57) e 19,8 mg/kg
peso corporal/dia para as tilápias do
tanque 2 (variação de 19,7 a 20,0) ou 97%
a 99% da dose alvo. Os peixes consumiram
100% da ração medicada com Aquaflor
que foi oferecida durante o período de
dosagem de 10 dias, o mesmo se aplicando
à ração não medicada oferecida durante os
períodos de aclimatação e pós-dosagem.
As concentrações de FFA nos filés de tilápia
encontram-se resumidas na Tabela 2.
Cromatogramas analíticos representativos
de tecido padrão do grupo controle e
grupo tratado estão representados na
Figura 2.
A concentração média de FFA nos filés
de tilápia foi superior ao LMR durante o
período de pós-dosagem até a última
coleta de filé no pós-dosagem (10° dia
do pós-dosagem) quando todas as
concentrações de filés estavam abaixo do
LMR. As concentrações médias de FFA
apresentaram uma redução constante
durante o período de pós-dosagem. As
concentrações de FFA nos filés foram
semelhantes entre os dois tanques do
estudo durante todo o período pósdosagem. O nível de FFA chegou
rapidamente ao nível abaixo do LMR, e o
limite de tolerância calculado estava abaixo
do LMR no 10° dia depois da retirada da
ração medicada (Figura 3).
Os níveis de FFC na água do sistema de
recirculação antes da dosagem estiveram
<LOQ. A concentração de FFC na água
aumentou durante o período de dosagem
A r t i g o s
gaikowski
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
tABELA 2
Concentração média de florfenicol amina (FFA)* no tecido do filé após a
administração de ração medicada com Aquaflor
Dias de
pós-dosagem
TANQUE 1
TANQUE 2
FFA médio na
tilápia do nilo e
na híbrida
(μg/g)
FFA
(µg/g)
N
FFA
(µg/g)
N
0,04
14,42
(6,61)
[3,51-27,78]
10
13,13
(3,54)
[7,54-18,51]
10
13,77
(5,21)
0,5
12,12
(3,62)
[9,21-21,15]
10
14,79
(4,86)
[6,94-21,63]
10
13,45
(4,39)
1
7,35
(3,01)
[3,49-12,41]
10
7,98
(3,64)
[2,80-12,65]
10
7,67
(3,27)
1,5
7,39
(2,47)
[4,49-12,46]
10
4,09
(1,40)
[2,46-6,41]
10
5,74
(2,58)
2
4,60
(1,51)
[2,50-7,46]
10
5,33
(1,08)
[3,59-7,11]
10
4,97
(1,33)
3
2,59
(1,02)
[0,86-4,26]
10
3,08
(2,15)
[0,64-7,16]
10
2,84
(1,66)
4
1,93
(0,68)
[0,83-3,05]
10
2,38
(0,85)
[1,31-3,50]
10
2,16
(0,78)
5
1,40
(0,66)
[0,42-2,32]
10
1,37
(0,41)
[0,93-2,11]
10
1,38
(0,53)
10
0,46
(0,20)
[0,31-0,98]
10
0,33
(0,09)
[0,18-0,50]
10
0,39
(0,16)
* Concentração de FFA no tecido do filé da tilápia do nilo e da tilápia híbrida após a
administração de ração medicada com Aquaflor constituindo a única fonte de alimentação
durante 10 dias consecutivos. Os desvios padrões encontram-se entre parênteses e a variação,
entre colchetes. Somente as amostras acima do limite de quantificação de FFA de 0,05 μg/g
foram incluídas no resumo dos cálculos.
e pós-dosagem, atingindo a concentração
máxima de 1.430 ng/ml simultaneamente
à coleta de filé com 12 horas (0,5 dia
pós-dosagem; Figura 4). A concentração
média máxima de FFC de 1.400 ng/ml
ocorreu ao mesmo tempo que a coleta de
filé às 24 horas (1 dia pós-dosagem; Figura
5). A concentração média de FFC diminuiu
durante o período de pós-dosagem para
847 ng/ml no 10o dia de pós-dosagem
(Figura 4). A concentração de FFC foi
surpreendentemente similar nas amostras
coletadas nos locais 1 e 2 (Figura 4).
Os níveis não ionizados de amônianitrogenada foram <0,02 mg/l NH3-N
durante os períodos de aclimatação,
dosagem e pós-dosagem. Os níveis
de nitrato flutuaram no sistema de
recirculação de 7 a 123 mg/l com
concentrações médias de 67,81 e 75 mg/l
durante os períodos de aclimatação,
dosagem e pós-dosagem. Os níveis de
nitrito ultrapassaram pontualmente o
limite superior de segurança de 2,0 mg/l,
mas somente durante o período de
aclimatação; os níveis de nitrito estiveram
<0,9 mg/l durante os 8 dias antes da
dosagem. Os níveis de nitrito apresentaram
um aumento constante durante o período
de dosagem até atingir o pico no dia 8
de dosagem a 1,76 mg/l (Figura 5). Esse
aumento de concentração evidentemente
não estava associado a nenhum efeito do
biofiltro do sistema de recirculação, mas,
sim, à formação inadvertida de material
de biofilme nas linhas de fornecimento de
água para o biofiltro vindas dos tanques
do sistema de recirculação, já que os níveis
39
FigUrA 2A / 2B / 2C
Cromatogramas representativos* de extratos do tecido do filé das tilápias do grupo
controle e tratado.
Unidades de absorbância
2A
0,110
0,100
0,090
0,080
0,070
0,060
0,050
0,040
0,030
0,020
0,010
0,000
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
de nitrito rapidamente caíram durante o
restante do período de dosagem e durante
o período de pós-dosagem, depois que as
linhas de fornecimento de água foram
limpas. Os níveis de nitrito chegaram a
picos novamente durante o período de
pós-dosagem e diminuíram em seguida,
após a limpeza das linhas de fornecimento
do biofiltro do sistema de recirculação
(Figura 5).
20,00
Minutos
2B
Florfenicol amina - 11,022
Unidades de absorbância
0,18
0,16
0,14
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
DISCUSSÃO
Os peixes prontamente consumiram a
ração medicada com Aquaflor. Não houve
redução do consumo de ração durante
os períodos de dosagem. Parece não
haver nenhuma preocupação com a
palatabilidade da ração medicada
com Aquaflor.
0,02
DE JUNHO DE
2011
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaikowski
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina
no tecido do filé de tilápias depois de alimentadas
com Aquaflor® (florfenicol)em sistema de aquicultura
com recirculação de água.
0,00
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
6
Minutos
N A T A L ,
40
Florfenicol amina - 11,171
Unidades de absorbância
B R A S I L
2C
0,050
0,045
0,040
0,035
0,030
0,025
0,020
0,015
0,010
0,005
0,000
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
Minutes
* 2A: Extrato da amostra do tecido do filé das tilápias do grupo de controle
2B: Extrato da amostra do filé das tilápias do grupo controle fortificado com florfenicol
amina (FFA) com 2 μg/g
2C: Extrato (2,33 μg/g de FFA encontrado) do tecido do filé tirado de um peixe no 5o dia
do pós-dosagem
A concentração de FFC aumentou na
água do sistema de recirculação durante
o período de dosagem, diminuindo
gradualmente durante o período de
pós-dosagem. O claro aumento
concomitante da concentração de nitrito
no sistema de recirculação de água não
parece estar correlacionado com a
concentração de FFC na água de
recirculação. Ao contrário, o aumento
da concentração de nitrito no sistema de
recirculação de água deveu-se claramente
ao crescimento do biofiltro nas linhas
de fornecimento de água do biofiltro,
restringindo a passagem de água para o
biofiltro do sistema de recirculação, uma
vez que a limpeza dessas linhas de
fornecimento foi seguida por uma rápida
queda da concentração de nitrito no
sistema de recirculação. Foi constatado
que alguns antibióticos (eritromicina,
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
oxitetraciclina) afetam negativamente a
desnitrificação nos sistemas aquáticos20-21
em níveis muito mais altos do que os
observados no presente estudo.
coletadas 10 dias após o término da
aplicação das doses (medicação). Com
base nesses dados de resíduos e de nossa
interpretação baseada na regulamentação
legal publicada, o FFA é eliminado da
tilápia tratada com Aquaflor a uma taxa
de 1,31 vez da dose máxima proposta
(15 mg/kg de peso corporal/dia durante
10 dias consecutivos) até atingir um nível
seguro para consumo humano 11 dias
após o tratamento.
vacinação), a reinfecção dos peixes tratados
é uma possibilidade.
CONCLUSÕES
Essa queda rápida indica que
provavelmente há somente um pequeno
efeito terapêutico pós-tratamento
associado à medicação do Aquaflor, no
caso, quando os níveis de FFC estão
iguais ou acima da CIM da bactéria.
Sem procedimentos preventivos extras
adotados pelo piscicultor para diminuir a
transmissão da doença (ex: desinfecção
da água, criação aperfeiçoada,
O FFA, como marcador de resíduos de FFC,
é rapidamente eliminado do tecido do filé
com pele da tilápia após a retirada da ração
medicada com Aquaflor. Quando medicado
a 19,62 mg FFC/kg do peso corporal/dia
durante 10 dias, o FFA detectado no filé
com pele de tilápias foi eliminado a um
nível abaixo do LMR em todas as amostras
* Os tempos de retirada podem variar de acordo
com os diferentes mercados. Para mais detalhes,
veja a bula.
FigUrA 3
Concentrações de florfenicol amina (FFA)* no tecido do file de tilápias
*As concentrações de FFA são
oriundas do filé com pele das
tilápias após a administração de
ração medicada com Aquaflor a
uma dose nominal de 20 mg
florfenicol/kg do peso corporal
durante 10 dias a ~27° C
(80,6° F).
Níveis de FFA naturais transformados logaritmicamente foram ajustados a um
modelo log-linear [Ln (ppm)] = 2.3215 Ln (ppm)+ -0,0151 Ln (ppm) /hora x horas
pós-dosagem
0,8271;r2=0,52;coeficiente de variação=39,45; ajuste de modelo-F=851,26,
DF=1,P<0,01
Limite de tolerância calculado (nível de FFA do percentil 99 com coeficiente de
confiança de 95%)
Nível máximo de resíduo de 1 μg/g para consumo no 10o dia do pós-dosagem.
4
Florfenicol amina natural com transformação
logarítmica (μg/g)
Sabe-se que o FFC é distribuído de
forma rápida e completa peixes4-5,7-8,10-11,18
durante a dosagem e é eliminado dos
tecidos em pouco tempo6,9,17,19 após
a retirada da medicação, que são
características excelentes para uso em
pescados a fim de controlar as infecções
bacterianas suscetíveis. No entanto, sua
eliminação rápida significa que os níveis
de FFC no tecido abaixarão rapidamente
após a ração medicada ser retirada da
alimentação dos peixes. Ao mesmo
tempo em que pequenas diferenças no
esquema do estudo (ex.: procedimento de
alimentação, temperatura de teste, taxas de
alimentação) impedem uma comparação
direta entre os estudos de depleção de
resíduos de FFA realizados com tilápias
alimentadas com ração medicada com FFC
enquanto são mantidas nos sistemas de
fluxo constante17,19 e este estudo, parece
não haver diferenças substanciais entre a
depleção de FFA do filé com pele de tilápia
alimentada com ração medicada com FFC
quer seja num tanque com sistema de
recirculação de água ou um sistema do
tipo fluxo constante.
gaikowski
A r t i g o s
3
2
1
0
..........................................................................................
-1
-2
0
2
4
6
8
10
Dias de pós-dosagem
41
FigUrA 4
Concentrações médias e teóricas de florfenicol (FFC) no sistema conforme observadas
na água do sistema de recirculação na aquicultura*
5000
Martinsen B, et al. 1993. Single dose
pharmacokinetic study of florfenicol in
Atlantic salmon (Salmo salar) in seawater
at 11° C. Aquaculture. 112:1-11.
Clarificador - FFC observado
Filtro de sedimento
Média do sistema
Teórico
4000
5
Horsberg TE, et al. 1996. Pharmacokinetics
of florfenicol and its metabolite florfenicol
amine in Atlantic salmon. Journal of Aquatic
Animal Health. 8:292-301.
3000
2000
6
Pinault LP, et al. 1997. Absolute oral
bioavailability and residues of florfenicol in
the rainbow trout (Oncorhynchus mykiss).
Journal of Veterinary Pharmacology and
Therapeutics. 20:(Suppl. 1), 297-298.
1000
0
2
4
6
8
10
12
14
Início dos dias de pós-dosagem
16
18
20
*As concentrações foram determinadas antes, durante e depois da administração de ração
medicada com FFC a uma dose nominal de 20 mg FFC/kg de peso corporal/dia durante 10 dias
consecutivos (dias 0 a 9).
N A T A L ,
B R A S I L
6
DE JUNHO DE
2011
0
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
Os autores agradecem as equipes do Thad
Cochran National Warmwater Aquaculture
Center, da Delta Western Research Center e
do US Geological Survey Upper Midwest
Environmental Sciences Center, e Diane
Sweeney da Merck Saúde Animal pelo seu
apoio a este estudo nas questões estatísticas.
O estudo sobre a depleção dos resíduos foi
financiada pela Merck Saúde Animal por meio
de um Acordo de Desenvolvimento e Pesquisa
Conjuntos firmado com o US Geological
Survey. No momento, os dados resumidos
estão sendo analisados pelas agências
regulatórias de vários países para satisfazer
as exigências de depleção de resíduos com o
propósito de fundamentar uma aprovação
legal do Aquaflor nesses países.
1
* MSD Saúde Animal é conhecida como
Merck Saúde Animal na América do Norte.
42
assessment of efficacy against furunculosis.
Journal of Fish Diseases. 14:343-351.
4
Concentração de florfenicol (ng/ml)
Realizado em paralelo com a C O N F E R Ê N C I A D A S O C I E D A D E M U N D I A L D E A Q U A C U LT U R A
gaikowski
Depleção do florfenicol na água e de florfenicol amina
no tecido do filé de tilápias depois de alimentadas
com Aquaflor® (florfenicol)em sistema de aquicultura
com recirculação de água.
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A r t i g o s
gaikowski
Doenças Bacterianas em Peixes de Água Quente: Novas Estratégias para o Controle Sustentável
FigUrA 5
16
Concentração de nitrito*
Concentração de nitrito (NO2-N-) (mg/L)
2.0
Tanque 1
Tanque 2
Período pós-dosagem
de 10 dias
1.5
1.0
0.5
0.0
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Início dos dias de pós-dosagem
*Determinada em amostras de água retiradas dos tanques do sistema de recirculação 2 dias
antes do período de dosagem, durante o período de 10 dias de aplicação das doses e no
período pós-dosagem de 10 dias. Foi dada às tilápias ração medicada com florfenicol a uma
dose de 19,62 mg/kg de peso corporal/dia durante o período de dosagem; a massa de ração
diária oferecida durante os 2 dias antes da dosagem, nos período de dosagem e pós-dosagem
foi equivalente a 0,74-0,75, 0,73-0,76 e 0,70-0,76% do peso corporal, respectivamente.
12
Wrzesinski CL, et al. 2003. Determination
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43
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ISP-GA-23PG

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