JC Relations - Jewish

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JC Relations - Jewish
Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Thoma, Clemens | 17.08.2004
Abrigados sob as asas da SheKiNáH
Clemens Thoma
Discute-se muito sobre as especialidades dos conteúdos de fé judaicos e sobre paralelas cristãs. O
permanecer do Deus Único no meio da comunidade do seu povo escolhido, nas suas instituições, nos
seus desenvolvimentos históricos e em cada membro individual do povo passa por ser o centro da
religião judaica. Citação introdutora da obra midráshica Tanchuma B, Parágrafo 38 (Wayyera) pode
aduzir ao que se que significar fielmente: “Deus disse: Neste mundo, pelo intermédio de justos
(TsaDiQÍM) israelitas, indivíduos chegam a ser prosélitos (= convertidos). Mas no mundo vindouro
aduzirei os justos de todos os povos (GOYÍM), pondo-os embaixo das asas da SheKINáH (= da
presença divina). É que diz: ‘”Então, quero dar lábios limpos aos povos, para que todos invoquem o
nome do Eterno, servindo-lhe sob o mesmo jugo.’ (Sf 3,9). A SheKINáH que aqui se move entre os
povos, indica aqui uma ligação de Deus com Israel e os povos do mundo que se renova sempre.
A SheKINáH: o Deus acompanhante
Literalmente, SheKINáH significa morada (de Sh-K-N: morar, instalar-se, deter-se). Entende-se a fé
no Deus Único, que no meio da comunidade do povo de Deus – portanto em primeiro lugar no povo
judaico – atua acompanhando, guiando, protegendo e salvando. Pela Sua SheKINáH, Deus continua o
seu “descer” pessoal anterior às pessoas humanas – a Adão e Eva, a Abraão, aos israelitas oprimidos
no Egito, a Moisés, ao Monte de Sinai, etc. – (segundo Avot de Rabbi Nathan I, 34, p. 102). A SheK
INáH é, no tempo bíblico, expressão da aliança de Deus com o seu povo. Ela se “colou” (SheKINáH
DeBeQáH), indo, por conseguinte, com Israel a toda a parte – também ao exílio.
O conceito da SheKINáH foi colhido, provavelmente já em tempos pré-cristãos, de Is 57,15: “Assim
fala o Alto, o Sublime, sentado no trono eternamente: Estou sentado no trono nas alturas, no
santuário. Não obstante, estou com os constritos e humildes, para reanimar o ânimo dos
humilhados, avivar de novo o coração dos esmagados.”
É que a noção do “sentado no trono eternamente” (ShOKêN `AD) inspirava os intérpretes da Bíblia
judaicos já em tempos pré-rabínicos para a palavra semelhantemente soando SheKINáH. Os
pronunciamentos bíblicos, segundo os quais Deus acompanhara os israelitas pelo deserto com sinais
visíveis, também atuavam sugestivamente: “O Eterno andava diante deles, no dia numa coluna de
nuvem para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo para os alumiar” (Ex 13,21). A
isso, se diz no TaRGUM YeRUShaLMI: “A magnificência da SheKINáH ia diante do povo, para
escurecer o caminho aos perseguidores.”
Reino de Deus, Palavra de Deus, Espírito de Deus
Na homilia rabínica a Zc 2,14, “Jubila e folga, filha de Sião; pois vê: venho e habito no teu meio!”
está sendo dito que o Eterno “traz de cima a sua SheKINáH e a faz pousar na terra”. No contexto
desse pronunciamento, declara-se na mesma homilia que o Espírito Santo e a magnificência
(KaBOD) de Deus está sendo expressa pela SheKINáH: “A presença de Deus em Israel quer confirmar
Israel perante todo o mundo.” Deus quer estar no meio de Israel, “para publicar o louvor de Israel a
todos os habitantes do mundo, que o Santo, bendito seja Ele, faça descer a sua SheKINáH das
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alturas do céu para eles e a deixe pousar na terra”. Por toda a parte, onde a SheKINáH se move para
baixo ao repouso divino na terra, pousa também o Espírito Santo.
Cf. Peter Schäfer, Die Vorstellung vom Heiligen Geist in der rabbinischen Literatur [A noção do
Espírito Santo na literatura rabínica], Munique 1972, 92ss.; Arnold Goldberg, Ich komme und wohne
in deiner Mitte [Virei e vou morar no teu meio]. Uma homilia rabínica a Zc 2,14 (PesR 35), FSJ 3,
Francoforte sobre o Meno 1977, 23-28.55 e outros.
Saadja Gaon (882-942) substituiu o conceito SheKINáH por KaBOD (magnificência {peso ativo,
ímpeto forte, força impetuosa da sua essência, que ninguém pode enfrentar de frente e sobreviver
[cf. Ex 3,20-23]; trad. PvW}). Quis, com isso, repelir interpretações pessoais-cristãs da SheKINáH.
KaBÔD, para ele, apontava um ser espiritual, não-pessoal, pertencente a Deus que, segundo
entendimento rabínico, se efetua nas SeFIRÔT. Cf. Josef Dan/Frank Talmage (ed.), Studies in Jewish
Mysticism, Cambridge Mass. 1982, 96.
Na sua obra EMUNOT VeDeÔT (doutrinas de e opiniões) escreveu: “Tronos foram postos e o ancião
se assentou (cf. Dn 7,9). Os sábios interpretam essa imagem como SheKINáH. O especialmente
criado (= os tronos) consiste de luz sem a forma duma pessoa. É a luz divina, chamada de SheK
INáH.
Saadja Gaon, The Book of Beliefs and Opinions, alemão por Samuel Rosenblatt, New Haven
1948/1976, 121; cf. também Gershom Scholem, Os the Kabbalah and its Symbolism, Nova York
1970, 504.
Segundo a concepção cabalista, a SheKINáH é o aspecto criativo do Espírito de Deus. Em
Sohar (1:1b; 3,19a-193b) a SheKINáH, portanto, está sendo chamada também de “palavra”
(DaBaR) ou “palavras” (DeBaRÍM). Moisés, que as palavras de Deus transmitiu ao povo da
aliança, teria arranjado, com isso, lugares terminais cada vez mais amplas à SheKINáH. Deus
atua, através da SheKINáH, junto com a humanidade atenciosa a Ele, na restauração da
criação danificada pelos pecados das pessoas humanas. Na mística de Schiur Qoma (séculos
5 a 7), discutiu-se, por vezes, o tamanho do corpo da SheKINáH divina. A forma de Deus
teria, p. ex., o tamanho de 236.000 milhas. Mais tarde, tais reflexões foram condenadas
como erros.
Esse e dados semelhantes se encontram em A. J. Wertheimer, Battei Midrashot, 2 vls., 2ª
edição, Jerusalém 1969, 333-395; cf. também bHag 11b-16a.
Profícuo para a vinda da SheKINáH aos membros do povo da aliança é, entre outras
coisas, o estudo da TORáH: “Quando dois sentados se ocuparem da TORáH, a SheK
INáH está com eles” (bBer 6a). Nos ditos dos pais (mAv 3,7), a presença da SheKINáH
está sendo estendida ainda mais. Quando dez, quando cinco, quando duas ou
somente uma pessoa se aprofundar na revelação bíblica, a SheKINáH está presente.
O estudo da TORáH efetua uma presença acompanhante da SheKINáH divina.
O mesmo vale para a oração. Na oração do Templo “A Sião vem o salvador” se diz:
“Bendito seja Ele, nosso Deus, que nos criou para a sua honra e nos separou dos
errantes, que nos deu a TORáH da verdade e que implantou vida eterna no nosso
meio [...].” Texto segundo Samson R. Hirsch, Israels Gebete [As orações de Israel],
Francoforte sobre o Meno 1921, 387-391.
Provavelmente, a expressão aqui usada “que implantou vida eterna no nosso meio” pode
também ser interpretada como “que implantou a SheKINáH no nosso meio – ou na nossa
alma. É um pronunciamento judaico-místico freqüente que a SheKINáH se demora na alma
da pessoa humana fiel à lei. Cada membro do povo de Deus tem a tarefa de cooperar com a
SheKINáH para o TiQUN Há`OláM, para o reparo do mundo, respectivamente do
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relacionamento com Deus das pessoas humanas e do mundo.
Lazarus Goldschmidt formula o desejo primitivo de Israel “que a SheKINáH pouse em Israel”
com as palavras: “ que o abaixamento de Deus repouse em Israel”. Por trás disso, está a
noção de Deus como o rei transcendente do céu e do seu povo terrestre: “Louvado seja o
Compadecedor, que instalou o reinado na terra como o reinado no céu, e que vos (israelitas)
deu poder e justiça” (bBer 58a). O Deus louvado como rei do Seu povo manda os israelitas
afastarem todo o impuro dos seus lugares de moradia, “porque moro no meio deles” (Nm
5,3).
Uma sentença, também muitas vezes interpretada a respeito da SheKINáH é: “A jovem
conceberá uma criança, dará à luz um filho, e lhe dá o nome de `IMaNU ÊL (Deus conosco)”
[Is 7,14]. No Judaísmo rabínico, se reproduz `IMaNU ÊL por `IMaNU SheKINáH (a SheKINáH
está conosco) [bHag b].
O Templo – morada da SheKINáH
“O Eterno está na casa da Sua santidade. O Eterno tem o Seu trono no céu. Os Seus olhos
vêem, as suas pupilas examinam os filhos de Adão” [Sl 11,4]. O midrash dos salmos se refere
a isso: “Durante todo o tempo da existência do Templo de Jerusalém, a SheKINáH estava
presente no seu meio, pois se diz: ‘O Eterno tem o seu trono no céu.’ O Rábi Eleasar bem
Pedat diz: ‘Seja que um santuário for destruído ou não for destruído - a SheKINáH não cede
do seu lugar’ [...]. O rabi Acha diz: A SheKINáH nunca sai do Muro Ocidental do Templo; pois
está dito: Meu amado está por trás da parede da nossa casa. Olha por nossas grades.” (Hld
2,9.)
O Templo de Jerusalém era venerado como aquele lugar que chega para cima ao céu e no
qual o trono de Deus chega para baixo (cf. Is 6,1: A orla do seu hábito enche o Templo). A
magnificência de Deus, portanto, está no céu e na terra, no Templo, junto aos anjos e
pessoas humanas que O adoram e o louvam no seu culto religioso. Segundo uma
interpretação rabínica de Zc 2,9, Deus diz: “Eu e toda a Minha corte – seremos um muro para
Jerusalém no mundo vindouro” (Arnold Goldberg (Nota 1, 25s.).
Onde quer que seja destruída uma moradia de Deus (Templo, casa de oração ou de ensino),
Deus permanece presente no lugar da destruição.
Em bMeg 26a está dito que a tribo de Benjamim possuía aquela parte de Israel em que o
Santíssimo do Templo estava construído. Um discutidor rabínico diz a isso: “O Benjamim era
destinado a ser um hospedeiro para a SheKINáH.” Nesse contexto se diz noutro lugar que “o
acampamento da SheKINáH” se encontraria no átrio do Templo, “em cujo meio Eu habito”
(cf. Nu 5,3). O acampamento da SheKINáH é o “lugar real” para a atuação dos sacerdotes e
dos anjos igualmente presentes e atuantes no Templo.
Em bMeg 29a, se diz de rabi Eleazar há-Kappar (cerca 180 da nossa contagem de tempo):
“Um dia, todas as casas de oração e ensino seriam transplantadas da Babilônia à Terra de
Israel; já que está dito: ‘Como o Tabor entre os montes e como o Carmelo na costa marítima,
(assim) entra’ (Jr 46,18) [...] Se esses dois montes, que só se moveram para ouvir a TORáH
(no fim dos dias), entrarão em Israel, quanto mais as casas de oração e de ensino, nas quais
a TORáH está sendo estudada e cultivada.”
No Judaísmo rabínico, as Casas de Deus e as casas de ensino teológico são lugares da
presença auxiliadora de Deus, isso é da SheKINáH. Segundo a interpretação de Ex 20,24,
Deus diz a cada israelita: “Se entrares na Minha casa, entrarei na tua casa. Os Meus pés me
levam ao lugar a qual o Meu coração ama. Por isso, os sábios dizem: ‘Onde dez pessoas se
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reúnam numa casa de oração, a SheKINáH está junto com elas” (Mekh a Ex 20,24; Horov
243). Essa crença na presença de Deus foi também assumida pela Cristandade. É indicação
da ligação estreita de Deus e pessoa humana e da obrigação da pessoa humana para a
cooperação com Deus na renovação do mundo.
A SheKINáH – Sustentadora e Salvadora
Da afirmação admirável de que Deus se revelou, na sarça ardente, a Moisés e, com isso, a
todo o povo de Israel (Ex 3,2), foram tiradas conseqüências sobre a presença de Deus que
penetra toda a criação. Na Persikta de Rav Kahane (Pesk 1,2), a pergunta pelo sentido da
revelação de Deus que se mostra na pobre brenha da sarça está sendo respondida: “Não há
lugar na terra sem a SheKINáH.” A mesma resposta se encontra em Shemot Rabba 2 e em
outras citações rabínicas (p. ex. em bBB 25a). Na Mekhilta a Ex 18,12, a SheKINáH está
sendo descrita como sustentadora de todas as pessoas humanas. O rábi Zadok disse que
alguém ainda maior que Gamliel e Abraão serve às pessoas humanas: “Essa é a SheKINáH,
que arranja para todos os moradores da terra comida conforme as suas necessidades,
saciando todos ao agrado. Ela faz isso, não só para os retos e justos, mas também para os
malfeitores e idólatras.”
Em outros lugares, restrições estão sendo feitas. Em bBer 7a, é transmitido que Moisés pediu
a Deus “que a SheKINáH não pousasse nos povos do mundo, e o Eterno lho concedeu”.
Nesse contexto, é observado em tSanh 13,2 primeiro: “Todos os não-israelitas (GOYíM) não
têm participação no mundo vindouro.” A seguir, acrescenta-se amenizando que há justos
também entre os povos, “que têm participação no mundo vindouro”.
A valorização de justos não-israelitas levou no tempo rabínico tardio a considerações novas
sobre a salvação. Segundo o midrash ao Cântico dos Cânticos (1,3) rábi Berekhia disse (cerca
de 349 d.C.): “Os israelitas disseram a Deus: Pelo que trazes luz ao mundo, o Teu nome
chega a ser grande no mundo. A Tua luz é a salvação.”
A libertação escatológica do exílio
Em yTaan 64 (1,2) está dito: “Em todos os lugares aonde os israelitas foram exilados, a
SheKINáH foi exilada junto com eles.” Essa idéia é freqüentemente posta em contexto com a
destruição do Templo e da expulsão da Terra de Israel. “Por causa do pecado da efusão de
sangue, o santuário foi destruído e a SheKINáH se retirou de Jerusalém. É que está dito: ‘Não
profaneis e não sujeis a terra em que habitais! Pois também Eu, o Eterno, habito no meio dos
israelitas’ (Nm 35,33s.). Se, porém, a sujardes, não habitareis nela, e também Eu não
habitarei nela” (bShab 33a).
Em vários lugares rabínicos, está expressa a crença de que os membros do povo de Israel
serão, um dia, libertados, junto com Deus, do cerco dos povos. É que, conforme a convicção
da crença judaica, Deus permanece, “também no exílio, presente ao seu povo. Israel não
para, também no exílio, de ser lugar do reino de Deus.” [Ferdinand Weber, Jüdische
Theologie auf Grund des Talmud und verwandter Schriften (Thologia judaica na base do
talmude e escritos afins), 2ª edição, Leipzig 1897, 60.]
No Seder Eliahu Rabba (Par 11, p. 53) está escrito: “Quem praticar direito e beneficência e
quem mantiver almas vivas, este será assim como se salvaria o Santo, bendito seja Ele, dos
idólatras. [...] Nesta hora, o santo Deus a ser louvado diz: Quem Me salvou e minha
SheKINáH e Israel do meio dos idólatras? [...] (A SheKINáH diz:) Meu pai no céu, que os Teus
servos, os israelitas, Ti agradem! É és Tu que salva todos os habitantes da terra e todas as
obras das Tuas mãos que criaste no mundo.” [Cf. Arnold Goldberg, Untersuchungen über die
Vorstellungen von der Shekhina in der frühen rabbinischen Literatur, Talmud und Midrash
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(Investigações sobre as noções da SheKINáH na literatura rabínica tardia, no talmude e no
midrash), SJ 5, Berlim 1969, especialmente 163-174.]
Com a SheKINáH, que aproxima Deus, Israel e o mundo uns aos outros, entende-se o Deus
Único. Ele é o encarregador e o encarregado por Si Mesmo. Isso indicam também as citações
que judeus fiéis gostam de repetir: “Seja aonde os israelitas fossem exilados, a SheKINáH foi
exilada com eles. A SheKINáH estava com eles, com está dito: ‘Eu Mesmo Me exilei nas tuas
famílias quando estas estavam no Egito’ (1Sm 2,27). Foram exiladas a Babilônia, e a
SheKINáH estava com elas; já que está dito: ‘Por causa de vós fui enviado a Babilônia’ (Is
43,14). Foram exiladas a Edom, e a SheKINáH estava com elas; já que está dito: ‘Quem é
aquele que vem de Edom, de Bosra em vestes tingidas de vermelho?’ (Is 63,1) (Mekh ed.
Horowitz-Rabin 51s.). Completando, em Sifre a Nm 10,35 se diz: “Sempre que Israel for
oprimido, a SheKINáH se oprime, para assim dizer, com eles. Já que se diz: ‘Em toda a
miséria, também Ele está em miséria’ (Is 63,9).”
Deus está, pela Sua SheKINáH, presente também aí onde israelitas vivem em terra alheia.
Na SheKINáH, Ele os acompanha e os reduz de volta para a Terra de Israel à União do povo
escolhido. Com as migrações e sofrimentos em comum de Deus e dos israelitas, descritos
nos midrashim, são conexas esperanças duma reunião definitiva divina-israelita. Na mekhilta
Bo 14 (Horov. 52) está dito: “E se os israelitas um dia voltarem (do exílio e da isolação), a
SheKINáH será como que voltando com eles.”
Segundo midrash Deuteronômio Rabba 6,14 a Dt 24,9, porém, a promessa está também
conexa com uma advertência: “Porque havia neste mundo caluniadores entre vós, afastei a
Minha SheKINáH do vosso meio. Mas no mundo futuro, quando tiver afastado a inclinação má
do vosso meio, trarei a Minha SheKINáH de volta. Já que está dito: ‘Depois vou efundir o meu
espírito sobre toda a carne’ (Joel 3,l). Em vários lugares, a SheKINáH está sendo descrita
também como remuneração para os justos: “No mundo vindouro não haverá nem comer,
nem beber, nem procriação, nem multiplicação. [...] Antes, os justos estarão sentados ali
com as suas coroas nas suas cabeças, regozijando-se no esplendor da SheKINáH!” (bBcr
17a).
Conversão a Deus, recepção no Seu povo de aliança e destinação para a beatitude comum
eterna estão sendo interpretadas freqüentemente, nos escritos talmúdicos, como abrigo sob
as asas da SheKINáH. Ao nobre Hillel (cerca 20 a. C.), que conduziu outros à fé no Deus de
Israel, um convertido agradece com as palavras: “Que benções pousem sobre tua cabeça,
pois me conduziste sob as asas da SheKINáH.” Outros disseram: “A irritabilidade de Schamai
nos quis expelir do mundo, a mansidão de Hillel, porém, nos levou sob as asas da SheKINáH”
(bSchab 31a).
Observações finais
A pessoa humana deve ter respeito perante a SheKINáH, então, perante o Deus operando no
âmbito terrestre. Também não deve tentar querer ver a Deus. Em bKet 111b, aponta-se a Dt
4,24 advertindo: “Pois o Eterno, teu Deus, é um fogo consumidor.” A seguir, pergunta-se:
“Será possível, então, aderir à SheKINáH?” No lugar duma resposta está sendo dito que se
promova aquelas pessoas que se esforçarem pela TORáH. Isso lhe seria abonado “como se
aderisse à SheKINáH”. Mas a SheKINáH é também o Deus brilhante para dentro da vida da
pessoa humana. Daí, é mesmo que um diálogo se impõe – como oração, como louvor, como
petição – um cooperar entre Deus e a pessoa humana que esteja fiel na sua aliança.
Israel e os demais povos devem aprender ver os segredos da vida – também fatos escuros
como doença, guerra e desunião – na luz do conhecimento do Deus Único presente e
operando com eles. Isso será possível também quando a SheKINáH – como na Cristandade –
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estiver interpretada como Espírito Santo, como Palavra de Deus, como Reino de Deus ou
como Cristo. Reflexões sobre a presença de Deus no meio das pessoas humanas poderiam
vivificar de novo a confiança no operar de Deus e no nosso cooperar humano e até ajudar a
pacificar povos desavindos.
Tradução Pedro von Werden SJ. Clemens Thoma, Geborgen unter den Fittichen der Schekhina
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