Monografia - CEPED UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
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Monografia - CEPED UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PLANEJAMENTO E GESTÃO EM DEFESA CIVIL Autor: CICERO CUSTÓDIO DA SILVA FILHO PERCEPÇÃO DE RISCO E PERIGO DA COMUNIDADE DE PORTO MORRINHO MUNICÍPIO DE CORUMBÁ NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, EM REL AÇÃO AO GASODUTO. Florianópolis - SC 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Autor: CICERO CUSTÓDIO DA SILVA FILHO PERCEPÇÃO DE RISCO E PERIGO DA COMUNIDADE DE PORTO MORRINHO MUNICÍPIO DE CORUMBÁ NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, EM RELAÇÃO AO GASODUTO. Monografia apresentada como exigência final do Curso de Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenador: Prof. Dr. Antonio Edésio Jungles Orientador: Prof. Dr. Valter Zanela Tani FLORIANOPOLIS 2006 TERMO DE APROVAÇÃO A Monografia intitulada: PERCEPÇÃO DE RISCO E PERIGO DA COMUNIDADE DE PORTO MORRINHO, MUNICÍPIO DE CORUMBÁ NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, apresentada por CICERO CUSTÓDIO DA SILVA FILHO como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em PLANEJAMENTO E GESTÃO EM DEFESA CIVIL, à banca Examinadora da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina-SC, obteve a NOTA______, para aprovação. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________________________ Prof. Dr. VALTER ZANELA TANI, ORIENTADOR _________________________________________________________________________ Prof. Dr. AMIR MATTAR, _________________________________________________________________________ Prof. Dr. ANTONIO EDÉSIO JUGLES Florianópolis, SC 2006 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha esposa Maria da Conceição Gonçalves da Silva, a minha filha Pâmila Carolini Gonçalves da Silva e ao Meu Filho Luis Henrique Custódio da Silva, pelo amor incondicional, compreensão e estímulo fundamentais para superar as dificuldades e apoio em minhas decisões. AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, pelo dom da vida e pela constante vontade de aprender que me concedeu. Ao Sr. Coordenador Estadual de Defesa Civil do Estado de Mato Grosso do Sul, Coronel Bombeiro Militar João Alves Calixto, pelo empenho incondicionalmente pela minha realização neste curso. Ao Sr. Secretário Nacional de Defesa Civil, Coronel Bombeiro Militar Jorge do Carmo Pimentel, pela coragem e empenho na realização deste curso. Ao Sr. Diretor de Defesa civil de Santa Catarina-SC, Major Bombeiro Militar José Mauro da Costa, pela organização do Curso, e pela acolhida dispensada durante a realização deste curso. Ao Professor Dr. Valter Zanela Tani pelo empenho e dedicação incondicional ao curso, e por compartilhar com este aluno, de seu conhecimento e experiência acadêmica como orientador. Ao Professor Dr. Antonio Edésio Jugles, pela competência acadêmica empenhada na coordenação do curso. Aos demais alunos e convidados, pela amizade, e por enriquecer o nosso aprendizado com as experiências compartilhadas. Quando a gente sonha sozinho não passa de um sonho Quando a gente sonha junto é a realidade Que começa. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................ 11 1.1.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 11 1.1.2 Objetivo Específico ................................................................................... 11 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 12 2.1 CONTEXTO CULTURAL DE PERCEPÇÃO DO RISCO............................. 13 2.1.1 Sociedade de Risco ................................................................................. 15 2.2. REDUÇÃO DE DESASTRES ..................................................................... 15 2.2.1 É Possível Reduzir Desastres? ................................................................ 16 2.2.2 Ameaça Vulnerabilidade e Capacidade ................................................... 17 3. METODOLOGIA ........................................................................................... 18 3.1 CARACTERIZAÇÃO ................................................................................... 18 4. PROCEDIMENTOS DE COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ............................................................................................................. 20 4.1 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS ......................................... 20 4.1.1 Perfil da amostra ...................................................................................... 20 5. RESULTADOS DA PESQUISA .................................................................... 22 5.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO ............................................................................ 22 5.1.1 Caracterização do Sistema Duto Viário de Gás Natural ........................... 26 5.1.2 Faixa de servidão ..................................................................................... 26 5.1.3 Objetivos de Faixas de Servidão .............................................................. 26 5.1.4 Identificadores da Faixa de Servidão .................................................. 26 5.1.5 Válvulas de Bloqueio ................................................................................ 27 5.1.6 Manutenção, Integridade e Automação .................................................... 27 5.1.7 Tipos de Inspeção ................................................................................... 28 5.1.8 Relação dos Municípios, e Dados do Gasoduto no MS ........................... 29 5.1.9 Estação de Medição ................................................................................. 29 5.1.10 Estação de Entrega ................................................................................ 30 5.1.11 Estação de Compressão ........................................................................ 31 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 32 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 34 8. ANEXOS ....................................................................................................... 36 Lista de Tabelas Tabela 1: Referencial teórico sobre risco e perigo elaborado para o estudo......23 Tabela 2: Percepção dos moradores sobre risco e perigo..................................24 RESUMO O Estado de Mato Grosso do Sul fica localizado na região Centro-Oeste do Brasil, com uma área territorial de 357.124.962 km com uma população aproximada de 2.078 001 (Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000, resultados do Universo). Seus maiores desastres são as inundações e as queimadas, tendo em vista o estado ser banhado por dois grandes rios (Paraná e Paraguai), e ter dois terço da região pantaneira em seu território, o Estado de Mato Grosso do Sul, é cortado de Leste a Oeste pelo gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), acompanhando a BR 262. a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A, - TBG é a proprietária e operadora, em solo brasileiro, do maior gasoduto da América Latina, o Gasbol começa em Rio Grande, na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e vai até Canoas (RS), no Brasil, com extensão de 3.150km. Deste total, 2.593km estão em solo brasileiro, atravessando cinco Estados brasileiros, sendo que 717km encontra-se em território sul-mato-grossense, com uma capacidade de transporte de 30MMm3/dia. O gás natural é uma energia de origem fóssil que se encontra no subsolo e procede da decomposição de matéria orgânica retirada entre as camadas rochosas. Sua origem fóssil provém da decomposição vegetal e animal há milhares de anos atrás. Este processo de erosão levou remanescentes biológicos através de rios e riachos em direção às costas, onde foram depositados com lama e sedimentos. Através do tempo foram sendo cobertos por mais e mais sedimentos e gradualmente foram sendo comprimidos pelo peso das camadas de sedimentos; com o tempo, o material que continha, originalmente, remanescentes biológicos, tornou-se rocha sedimentar. Hoje, essas rochas sedimentares, arenitos, xisto e dolomita são os locais onde geralmente são encontrados os depósitos de petróleo e gás natural. Muitas vezes eles ficam retidos entre as camadas de rocha que foram formadas sobre as rochas sedimentares que as produziram. Como o gás natural é o combustível fóssil de queima mais limpa, pode ajudar na manutenção da qualidade do ar e da água, especialmente quando usado em substituição a outras fontes de energia mais poluentes. O gás natural é um produto incolor e inodoro, não tóxico e mais leve que o ar. O gás natural, Uma vez extraído do subsolo, deve ser transportado às zonas de consumo, que podem estar próximas ou a quilômetros de distância. O transporte de suas jazidas até as áreas de consumo se realiza através de tubos de aço de grande diâmetro, chamados de gasodutos. Tendo em vista que quanto menos informada for a comunidade, menor será o senso de percepção de risco e consequentemente maior a vulnerabilidade. Este trabalho pretende levantar o nível de envolvimento da população de pescadores residente à margem do Rio Paraguai, na comunidade de Porto Morrinho no município de Corumbá no Estado de Mato Grosso do Sul, em relação ao gasoduto que corta a zona urbana do distrito, transportando Gás Natural (GN). O objeto de reflexão é a percepção de risco e perigo da comunidade, considerando que existe um risco, e uma população vulnerável, e que, a falta de informação ou capacitação influencia diretamente na pré-disposição psico-motora do ser humano, a identificação do nível de percepção de risco dessa população será de grande valia para o planejamento das ações de prevenção e minimização de danos em caso de desastres. (anexo – A) Palavras-Chaves: Percepção. Risco. Perigo. Gasoduto. Gás Natural 1. INTRODUÇÃO O tema em tela destaca-se como sendo de uma importância capital; tendo por objetivo acessar o conceito percepção de risco e perigo de moradores de uma comunidade de pescadores do distrito de Porto Morrinho, as margens do rio Paraguai no município de Corumbá no Estado de Mato Grosso do Sul, o método de análise do trabalho seguiu a abordagem qualitativa. Os resultados sugerem que a percepção acumulada dos moradores sobre risco e perigo converge às definições/conceitos encontrados na literatura. No entanto, analisando-se as respostas individualmente, verificou-se que nem todos souberam conceituá-los teoricamente, porém tem o conhecimento prático do assunto questionado. As abordagens da psicologia sobre a percepção do risco e perigo pressupõem a subjetivação do conceito de risco e do perigo. Segundo este enfoque, o risco e o perigo nem é objetivo, e nem ocorre externa e independente da interpretação dos seres humanos. O risco é uma abstração criada pelo homem para auxiliar o entendimento e o manejo dos perigos e incertezas da vida. (DOUGLAS – 1996). Entre as aplicações das teorias sobre a percepção de risco baseadas no comportamento subjetivo dos indivíduos encontram-se os estudos sobre as limitações cognitivas dos indivíduos para processar informações sobre riscos. (Beck – 1997). Tais estudos sugerem que os indivíduos superestimam a possibilidade de ocorrência de certos eventos catastróficos raros e sobreestimam a ocorrência de eventos freqüentes. São conhecidos os diferenciais do impacto causado por eventos extremamente comoventes (um desastre aéreo com artistas a bordo, um acidente de carro com uma princesa) com perdas que não conotam tanta dramaticidade tais como mortes por asma. As escolhas das pessoas mais temerárias pela proteção aos riscos mais freqüentes ou dos mais graves por parte das mais intrépidas gera um diferencial que tem como corolário: Muitas oportunidades de negócios em torno da proteção aos riscos não existiriam se todas as pessoas atribuíssem a eles os mesmos valores. Para os psicólogos a percepção individual sobre o risco possui duas dimensões. A primeira e mais importante é denominada de fatalidade e concerne a natureza incontrolável e catastrófica do evento. A segunda dimensão está referida ao desconhecimento do risco. Sob a ótica da percepção individual do risco, os perigos considerados voluntários são classificados como controláveis, bem conhecidos e despertam uma certa intolerância por referência às perdas decorrentes de riscos desconhecidos e involuntários . (Costa e Kalege, 2001). 10 A fim de corrigir as percepções dos leigos de interpretar fatos isolados como representativos recomenda-se a produção e disseminação de informações destinadas a suprir ou reduzir os erros nas escolhas (seleção) sobre a exposição e a proteção aos riscos. Trata-se, portanto, de intervir sobre os problemas cognitivos dos consumidores. Por outro lado, as ações de Defesa Civil, orientadas pela Política Nacional de Defesa Civil (Resolução nº 2 de 12.12.94), busca de maneira objetiva mapear os riscos nas suas diferentes modalidades, reduzir sua vulnerabilidade com ações de prevenção de desastres por meio da redução sistemática de riscos de desastres; de medidas preventivas denominadas não-estruturais, notadamente no aperfeiçoamento das legislações que fortalecem a segurança contra desastres, e medidas denominadas estruturais, caracterizadas essencialmente por obras de engenharia de qualquer especialidade, voltada sempre para o aspecto preventivo. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral; Conhecer o nível de percepção e vulnerabilidade da comunidade de Porto Morrinho Município de Corumbá no Estado de mato Grosso do Sul, quanto aos riscos e perigo do gasoduto. 1.1.2 Objetivos Específicos: - Identificar em relação à comunidade: a) Levantar a população da comunidade qualificando-a; b) O nível de informação da comunidade em relação ao gasoduto; – Identificar em relação à empresa responsável pelo gasoduto: a) identificar e qualificar a empresa; b) identificar e qualificar o gasoduto e o produto por ele transportado; c) Identificar e caracterizar o sistema de segurança do gasoduto. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: 11 Até recentemente, a avaliação de risco era domínio exclusivo da ciência, e a percepção do público era considerada irrelevante, exceto para ricos relacionados com comunicação. No paradigma atual, ambas – ciência e percepção, são consideradas como partes objetivas e subjetiva do risco, sendo vistas como pivôs para o gerenciamento de risco (KOLLURU, 1996). Estudos quantitativos sobre risco, que tiveram impulso durante a II Guerra Mundial, têm sido extensivamente realizados por diferentes áreas do conhecimento: ciências econômicas, ciências biológicas e engenharia (GUILAM, 1996). Estudos qualitativos, que têm como berço as ciências sociais, vêm emergindo em contraposição à área internacionalmente conhecida por Risk Assessment ou Risk Analysis. Para os cientistas sociais, a observação pela objetividade ou a negação da subjetividade impede uma avaliação realística da situação. Fatores subjetivos (éticos, morais e cultural), que direcionam as opções dos indivíduos, devem ser considerados na avaliação de risco (GUILAM, 1996). O estudo do risco na perspectiva daquele que o percebe, no contexto da segurança no trabalho, é recente e não se encontra completamente estudado.. (SANDERS e McCORMICK, 1993). No entanto, este tipo de estudo é fundamental à medida que a percepção do risco influencia o comportamento e o grau de precaução das ações dos indivíduos frente a situações que possam ocasionar lesão e/ou acidentes (SANDERS e Mccormick, 1993). Diferentes fatores influenciam na percepção de riscos: objetivos, como por exemplo, tempo de experiência (experts e leigos percebem o risco de maneira diferente), e subjetivos, tal como a aceitabilidade do risco (fatos e valores afetam a avaliação que os indivíduos fazem das situações de risco) (GUILAM, 1996). Por outro lado, como os aspectos subjetivos apresentam variabilidade, mesmo entre indivíduos de uma mesma população, considera-se importante aplicação de ferramentas que permitam acessa-los no contexto no qual estão inseridos. Neste sentido, este trabalho retrata uma pesquisa qualitativa, realizada junto aos moradores de uma mesma comunidade urbana, quanto à percepção de risco e perigo. A seguir, apresentam-se a caracterização do sistema de segurança e proteção ao cidadão desenvolvido pela empresa e o envolvimento da comunidade, bem como a caracterização do produto transportado pelo gasoduto. 2.1 CONTEXTO CULTURAL E PERCEPÇÃO DO RISCO 12 Os antropólogos contestam as teorias econômicas e comportamentais que tomam como ponto de partida a escolha racional ou ainda a percepção de risco do indivíduo. A adoção da sociedade com referencial e não os indivíduos tornam a percepção de riscos fortemente mediada por valores e contingências institucionais. A principal crítica à teoria de tomada de decisões, que usa a média de distribuição de probabilidades, é que ela ignora o que é antes de tudo fundamental no que refere aos riscos: sua própria distribuição. A perda da experiência real do risco leva a suposição que as decisões sobre exposição e proteção a eventos sejam tomadas individualmente. As inferências baseadas em preferências individuais para a escolha de grupos são fontes dos clássicos erros de falácia (quando uma característica do indivíduo é indevidamente extrapolada para uma coletividade). As atitudes a respeito do risco estão determinadas conjuntamente por valores e probabilidades, e não apenas pela utilidade. A não explicitação da distribuição do risco é essencial para a “individualização” do risco, possibilitando o tratamento de problemas manifestamente sociais como disposições pessoais. . (DOUGLAS - 1996) Questiona-se também a idéia dos diferenciais em relação à percepção do risco elaborados pelos psicólogos. A idéia de uma “imunidade subjetiva” aos riscos percebidos como baixos, mas que são mais freqüentes é adaptativa, permite que os seres humanos enfrentem com serenidade os perigos. Mas parece revelar a irracionalidade dos seres humanos e a necessidade de uma educação voltada para o ensino do probabilista já que se atribui às dificuldades cognitivas os comportamentos polares em relação ao risco. Para antropólogos, como Douglas (1996) os processos cognitivos sobre a percepção e os mecanismos de proteção aos riscos são altamente socializados e não podem ser reduzidos às teorias que culpam as vítimas (por exemplo, é o doente o responsável pela sua má saúde), notadamente eficazes para silenciar denúncias sobre a totalidade do sistema social. Esses questionamentos que provocam interrogações intrinsecamente relacionadas com a justiça social seriam respondidos de maneira diferente, caso uma análise custo benefício fosse aplicada a sistemas éticos distintos. Como se coaduna, por exemplo, a concepção de seres racionais capazes de optar pela minimização de riscos e maximização de benefícios no sentido da adoção de comportamentos e hábitos seguros e saudáveis com a velha imagem do estilo de vida americano, segundo a qual os pioneiros se tornaram ricos enfrentando toda sorte de riscos? 13 A lógica da satisfação individual transposta às instituições gestoras de risco, que ocupa grande parte de suas agendas com processos de culpabilidade e exoneração de responsabilidade, por sua vez, encobre o processamento de decisões que descartam, a priori, algumas opções e selecionam outras. Mesmo as demandas que conseguem penetrar o processo de decisão e se tornam objeto de políticas públicas recebem um tratamento técnico que as “destematizam” de seus contextos , sociais, genéticos, biológicos, químicos etc. Para as seguradoras os riscos selecionados serão valorizados independentemente de suas causas. Essa vocação das instituições que absorvem perdas as torna, em princípio, pouco aptas ao desempenho de atividades de prevenção e eliminação dos riscos. Sob esse enfoque o problema não reside nem na busca da utilidade e nem na irracionalidade dos indivíduos e sim no atual modelo de racionalidade. Como os riscos e as incertezas são selecionados e administrados pelas instituições. As sociedades fixam limites em relação aos riscos aceitáveis e não dos escolhidos. Na realidade, as escolhas que se apresentam muitas vezes aos indivíduos consistem, quase sempre, na incorporação ou não a instituições de diferentes tipos e não a preferências por riscos. (Douglas 1996) 2.1.1 Sociedade de Risco Sociólogos como Becker (1997) consideram, tal como os antropólogos que os discursos dominantes sobre risco permanecem instrumentalistas e reducionistas, contudo enfatizam críticas ao conhecimento científico sobre os riscos, postulando que é a própria ciência que produz perigos, mesmo quando tenta controlá-los. A sociedade de riscos representa um terceiro estágio da modernização que sucede a pré-modernidade e a “modernidade simples”, que está associada à sociedade industrial. A sociedade industrial e a sociedade de risco são formações sociais distintas. Enquanto o princípio axial da sociedade industrial, que se orienta pela lógica da escassez, é a distribuição de bens, o da sociedade de riscos é a distribuição de malefícios, riscos. A sociedade de risco designa um estágio da modernidade onde tomam corpo às ameaças produzidas e encobertas pelo desenvolvimento da sociedade industrial. Na alta modernidade os riscos de autodestruição, irrevogáveis, não são personalizados e visíveis como em épocas anteriores. Muitas ameaças são imperceptíveis para os sentidos, à universalidade dos riscos é por vezes evidenciada apenas por seus efeitos colaterais. O aumento do bem estar e o aumento dos riscos condicionam-se mutuamente. 14 A percepção de que os riscos são universais gera um novo tipo de dinamismo social e político. A modernização envolve não apenas mudanças estruturais, mas uma relação mutável entre estruturas e agentes sociais. O poder de questionamento dos novos agentes sociais corrói as bases de veracidade e realismo da ciência. Surge um ceticismo a partir da substituição da fé nos modelos de controle por discussões múltiplas sobre as bases e as formas de racionalidade da sociedade industrial. A própria calculabilidade dos riscos se torna problematizada: como compensar aqueles cujas vidas são afetadas por esses riscos? A atividade dos especialistas em riscos limitados por sua herança cultural, formas de patrocínio e orientações institucionais passa a ser confrontada com a experiência. A liderança dos especialistas na definição das agendas de controle de riscos é disputada. A equação que legitima as usinas nucleares e atribuía ao hábito de fumar um estatuto estatisticamente mais perigoso do que a possibilidade de destruição e contaminação nuclear começa a se tornar insustentável. As críticas à ciência desenvolvidas pelos movimentos ecológicos e entre o público leigo são reflexivas e podem delinear uma radicalização da racionalização. À cultura do cientificismo que tem imposto uma identidade para os atores sociais ao demandar sua identificação com instituições sociais particulares e suas ideologias, notadamente nas acepções sobre risco, mas também em definições sobre sanidade, comportamento sexual apropriado e outras incontáveis molduras “racionais” do controle social moderno, pode ser transformada pela experiência pública. Portanto, para alguns dos estudiosos, o que está em disputa não são as concepções científicas sobre risco e sim a própria ciência e as instituições por ela legitimadas. (Costa e Kale, 2001) 2.2 REDUÇÃO DE DESASTRES Nos últimos anos temos presenciado uma sucessão interminável de desastres. Enchentes, tempestades, terremotos, deslizamentos, erupções vulcânicas, secas e incêndios florestais, cobraram um preço extremamente alto em vidas, provocaram danos muitas vezes irreparáveis e custaram muitos bilhões de dólares. Assim, constatamos que embora a freqüência de eventos naturais dramáticos possa ser considerada constante, as atividades humanas contribuem para aumentar sua 15 intensidade e conseqüência. Isto faz com que o número de pessoas em risco no mundo de 70 a 80 milhões por ano. Na teoria, os eventos naturais, incluindo terremotos, enchentes, tempestades, ciclones, furacões, erupções vulcânicas podem afetar qualquer pessoa. Entretanto, na prática, estes eventos acabam afetando as pessoas mais pobres. Isto porque as populações pobres são mais numerosas, vivendo com maior densidade em áreas de maior risco, onde ocupam residências mais frágeis tornando-se mais vulneráveis. Em conseqüência, os desastres prejudicam tremendamente os paises onde ocorrem, em particular os países em desenvolvimento onde desviam esforços e recursos necessários para escapar da pobreza. Obrigam que os países gastem com o socorro e reconstrução de comunidades afetadas o dinheiro que seria destinado para a educação, saúde e geração de riquezas. (CEPED/UFSC, 2005.). 2.2.1 É possível reduzir desastres? Os estudos acerca da redução de desastres têm evoluído bastante, sobretudo após o surgimento das primeiras contribuições na área de Administração de Desastres, quando passou-se a dar maior atenção às formas de impedir ou atenuar possíveis desastres, ao invés de apenas arcar com os grandes prejuízos (alguns até irreparáveis) depois que estes ocorriam. Então, o que é possível fazer para reduzir os desastres? Como temos conhecimento através das literaturas, não se trata necessariamente de diminuir a freqüência e a magnitude dos eventos, pois nem sempre isto é possível, principalmente nos desastres de origem natural. De um modo geral, é muito difícil para o homem influenciar na quantidade de chuva, na temperatura ambiente, na velocidade do ventos ou na intensidade do vento ou da intensidade de um terremoto. Mesmo em situações que podem ser controladas pelo homem, como nos desastres de origem tecnológica, em que é possível evitar falhas e acidentes, este controle não é absoluto. (CEPED/UFSC, 2005). 2.2.2- Ameaça Vulnerabilidade e capacidade Como pudemos ver então, para entendermos o risco de desastres precisamos sempre lembrar que ele é determinado, pelo que chamamos de ameaça. 16 Quando este fato ou situação que foi previsto realmente ocorre, ele se torna um evento. Assim, a chuva, o deslizamento e até um acidente com produtos perigosos são vistos como uma ameaça, pois, uma vez ocorridos, tornam-se algo real e, portanto, um evento. Dependendo dos danos e prejuízos que este evento causar, suas conseqüências podem ser um desastres. Neste caso a ameaça, que se transformou em um evento, se torna um evento adverso. Entretanto, com base naquilo que conhecemos sobre histórias de desastres, percebemos que, às vezes, um de grande intensidade, que provoca danos e prejuízos importantes em um lugar, não provoca tantos estragos em outros; a isto chamamos de vulnerabilidade, e, quando despertamos a percepção de risco de uma pessoa diminuímos o grau de vulnerabilidade dessa pessoa, e quando fazemos obras preventivas estruturais diminuímos o grau de vulnerabilidade de um cenário, e isto deverá ocorrer em todas as fases da gestão de ricos e administração de desastres (Prevenção, Preparação, Respostas e Reconstrução). (CEPED/UFSC, 2005). 17 3 – METODOLOGIA: 3.1 CARACTERIZAÇÃO; A pesquisa realizada foi uma pesquisa de campo do tipo estudo de caso de natureza qualitativa e descritivo-analítica com a complementação de uma revisão bibliográfica. Pesquisa de Campo: foi assumido o papel de observador e explorador coletando dados diretamente junto à comunidade na sua real dinâmica, não havendo interferência do pesquisador sobre eles, para posterior análises. Estudo de Caso: O estudo de caso pode envolver exame de registro, observação de ocorrência de fatos, entrevistas estruturadas e não-estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. Limita-se apenas a um objeto de estudo, que neste caso, foi à percepção de risco e perigo para responder uma indagação e par se examinar um aspecto particular deste, ou seja, demonstrar a importância da percepção de risco na redução da vulnerabilidade. Qualitativo: foi adotada neste estudo uma combinação dos enfoques qualitativos, aqueles que não são passíveis de contagens, isto é, privilegiam os aspectos subjetivos (segurança, ponto de vistas e pergunta técnica). O objetivo foi conhecer não apenas a rotina dos moradores em relação ao gasoduto, mas principalmente, como ocorre o envolvimento deles com a preservação da segurança empregada pela empresa TBG, e o comprometimento com a integridade física da estrutura do gasoduto, seja subterrânea ou aérea. Descritivo-analítica: ao mesmo tempo em que foram sendo encontrados dados da empresa Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. – TBG, durante a execução da monografia, os mesmo foram descritos e analisados. Revisão Bibliográfica: foi o planejamento de um trabalho de pesquisa, no qual envolveu uma série de procedimentos metodológicos, que foram da escolha do tema à redação final. 10 Assim, a pesquisa bibliográfica procurou explicar um problema a partir de referências teóricas e publicações em livros, periódicos especializados, etc. Abrangência: A área geográfica abrangida pela pesquisa foi à comunidade de Porto Morrinho distrito de Corumbá no Estado de Mato Grosso do Sul localizado na região Centro-Oeste do Brasil. Não houve distinção de raça, religião, cultura ou aspectos educacionais, pois o projeto atingiu todo o tipo de público que mora na comunidade. 11 4. PROCEDIMENTOS DE COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS 4.1 – PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS As entrevistas foram feitas in loco pelo entrevistador em cada residência e comércio, já que o distrito possui uma população estimada de aproximadamente 400 habitantes permanentes já que se trata de uma comunidade de pescadores, que a maioria tem residência no município de Corumbá para que os filhos na idade escolar possam ter maior recurso, a população flutuante que são os turistas pescadores permanece no local apenas nos finais de semanas no período de pesca permitida, sendo possível entrevistar todos os moradores acima de 10 anos, que responderam as seguintes questões: Além destas perguntas foi levantado o sexo, idade, estado civil e grau de escolaridade dos entrevistados, foi entrevistados 400 pessoas, 100% da população, assim distribuídos: 4.1.1 Perfil da Amostra: Sexo 280 do sexo masculino 120 do sexo feminino 30% 70% Masculino Feminino Gráfico 1. Sexo dos Respondentes Analisando as entrevistas pela ótica da visão da Defesa Civil que é a gestão de riscos, concluímos que o público do sexo feminino tem o grau de percepção de riscos mais elevado. 12 Escolaridade 202 com ensino fundamental incompleto 18% 80 com ensino fundamental completo 48 com ensino médio incompleto 12% 50% 70 com ensino médio completo 20% ensino fundamental incompleto ensino fundamental completo ensino médio incompleto ensino médio completo Gráfico 2. Escolaridade dos Respondentes Analisando pela ótica da visão da Defesa Civil que é a gestão de riscos concluímos que quanto maior o grau de escolaridade do entrevistado torna-se mais elevado o senso de percepção de riscos, porém como o público em questão foi bem qualificado pelo pela empresa responsável pelo gasoduto em parceria com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC, o desnível escolar foi bem compensado, tornando todos com alto senso de percepção de riscos, diminuindo assim as vulnerabilidades. Estado Civil 280 casados 108 solteiros 3% 1% 27% 10 viúvos 2 separados 69% casados solteiros viúvos separados Gráfico 3. Estado Civil dos Respondentes Analisando as entrevistas pela ótica contemporânea da Defesa Civil que é a gestão de riscos, concluímos que o público casado tem o grau de percepção de riscos mais elevado. 5. RESULTADOS DA PESQUISA: 13 5.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO. 1) Você tem conhecimento que passa uma tubulação pela vila? Resposta. Todos responderam afirmativamente justificando que na época em que estava sendo implantado o gasoduto na região por ser período de pesca proibida por causa da piracema (reprodução) todas pessoas adultas participaram diretamente como funcionários contratados, e as pessoas de menores participaram indiretamente por estar convivendo no dia-a-dia com os trabalhos; 2) Você já recebeu algum tipo de orientação sobre o gasoduto? De quem? Respostas. Todos os entrevistados responderam que sim, pois bem antes da implantação do gasoduto a Defesa Civil do Estado em parceria com a TBG, que é a empresa responsável pelo gasoduto já vinham ministrando palestras teóricas para toda população da comunidade, e durante e após a implantação as palestras e treinamentos foram teóricas e práticas tendo em vista que tanto a liderança como a empresa TBG, entendiam que para uma boa preservação do gasoduto seria necessário buscar a parceria da comunidade local; (anexo – A); 3) É do seu conhecimento o que é transportado (passa) por este gasoduto? Respostas. Todos os entrevistado responderam sem dúvida que era o Gás Natural (GN), vindo da Bolívia, e este grau de conhecimento se devia pelo fato da empresa sempre ter buscado a participação da comunidade antes, durante e após implantação do projeto Gasoduto Bolívia Brasil (Gasbol); 4) O que você entende por risco e perigo? R: Esta pergunta considerada ser a única subjetiva foi analisada separadamente Através de comparativos teóricos; A análise da 4ª questão do questionário por tratar da única questão subjetiva, foi comparativa e consistiu na confrontação de conceitos/definições sobre perigo e risco encontrados na literatura com as respostas dos entrevistados e entre respostas. Na tabela 1, 14 apresenta-se o referencial teórico comparativo elaborado para o estudo e, na tabela 2, as respostas dos entrevistados. Os termos riscos e perigo podem ser interpretados em diferentes dimensões: científicas, política, social, econômica, por exemplo, de modo que existem diferentes definições na literatura (KOLLURU, 1996). Os conceitos/definições apresentados na Tabela 1 tiveram como foco a saúde ocupacional. Risco “Risco é a probabilidade ou chance de lesão ou morte” (SANDERS e McCORMICK, 1993,p. 675). Perigo “Perigo é uma condição ou um conjunto de circunstâncias que têm o potencial de causar ou contribuir para uma lesão ou morte” (SANDERS e McCORMICK, 1993,p. 675). “Um perigo é um agente químico, biológico ou físico (incluindo-se a radiação eletromagnética) ou um conjunto de condições que apresentam uma fonte de risco, mas não o risco em si” (KOLLURU, 1996, p. 1.13). Risco “(...) é uma função da natureza do perigo, acessibilidade ou acesso de contato (potencial de exposição), características da população exposta (receptores), a probabilidade de ocorrência e a magnitude da exposição e das conseqüências (...)” (KOLLURU, 1996, p,. 1.10). “(...) risco é um resultado medido do efeito “Perigo é a situação que contém uma fonte potencial do perigo” (SHINAR, GURION e de energia ou de fatores fisiológicos e de FLASCHER, 1991, p. 1095). comportamento/conduta que, quando não controlados, conduzem a eventos/ocorrências prejudiciais/nocivas” “(SHINAR, GURION e FLASCHER, 1991, p. 1095, apud. GRIMALDI, SIMONDS, 1984, p. 236). “2. Possibilidade de perigo, incertos, mas “1. Situação que prenuncia um mal para previsíveis, que ameaça de dano à pessoa ou alguém ou para alguma coisa. 2. Risco, coisa” (MICHAELIS, 2002). inconveniente” (MICHAELIS, 2002). Tabela 1 Referencial teórico sobre risco e perigo elaborado para o estudo. Risco O risco é uma situação de perigo é uma coisa que você pode evitar, mas nem sempre está ao teu alcance, ainda mais aqui que tu não pode fazer quase nada, a não ser cuidar para que ninguém danifique o duto de gás. Sei lá ... só por estar andando debaixo de uma rede aérea já é um risco; andar na rua ou na rodovia corre-se o risco de ser atropelado se você não prestar atenção, (então a gente tenta estar sempre cuidando, sempre atento). Perigo Uma situação que tem risco, porém os moradores são bem informados pela TBG e pela Defesa Civil. A gente aqui está bem instruído quanto a isso; Todos sabem o que podem fazer ou não para evitar certos riscos. Então para mim, perigo é você não prestar atenção naquilo que você está fazendo. Se Você estiver sempre atento 15 vai evitar um perigo, mas ... se cair a rede, não adianta estar atento. Risco comigo é tudo o que pode me causar Perigo... tudo aquilo que oferece risco, eu dano, prejudicar a minha saúde e até o acho. desenvolvimento do trabalho. Todos os acidentes que podem acontecer Seria um atropelamento porque a gente durante um deslocamento de um trem ou de nunca sabe como vai agir frente a essa um carro, tudo isto é um risco, que pode ou situação. não acontecer. Difícil, vamos passar para a outra pergunta. Não consegui achar uma definição. Risco em questão de acidente com o O maior perigo, que eu vejo no dia-a-dia na gasoduto, devido à segurança que a empresa comunidade, é o problema da rede elétrica, nos informou eu acho que é quase zero, o pois tem a possibilidade dela arrebentar. sistema é bem seguro. O risco é um Quanto ao duto o perigo é quase zero, pois imprudente querer escavar onde está o duto, se houver um vazamento aqui as válvulas mas isso a comunidade está atenta. fecham automaticamente. Olha, aqui tem vários riscos. A Maioria dos Perigo aqui gira em conseqüência do nosso moradores deste distrito vive da pesca e de trabalho ou da gente se acidentar, porém em apoio aos turistas pescadores, e as nossas relação as grande cidades é mínimo. embarcações são velhas por isso corremos o risco de naufrágio e consequentemente de afogamento, o risco do gasoduto para mim é o menor que existe, pois a empresa TBG, investe muito em segurança. Riscos ... eu acredito que sejam ações assim Perigo eu acho que é algo que possa que colocam em perigo tanto equipamentos ocasionar um dano ou um acidente como pessoas. Eu acredito, assim, que iminente. Seria, por exemplo, não concluir a sejam ações que envolve pessoas. Por parada de um ônibus e comandar a abertura exemplo, se tem um equipamento perigoso, de portas. Acho que isso seria perigoso. e eu tomo cuidado eu acho que não há Alguém poderia pensar que o ônibus estaria risco. parado e sair, podendo cair na via. Tabela 2: Percepção dos moradores sobre risco e perigo. Conforme a Tabela 2, a percepção acumulada dos moradores sugere que perigo é uma situação ou uma fonte (elementos físicos ou humanos) que têm o potencial para causar um dano ou um acidente. Risco, por sua vez, é a possibilidade de ocorrência um perigo não controlado e a magnitude de suas conseqüências/prejuízos para os elementos físicos e humanos do sistema e para os moradores. Neste contexto é importante salientar, conforme apontado pelo 1º entrevistado, que o controle do perigo nem sempre está ao alcance do indivíduo. Dificilmente é impossível evitar um atropelamento de trem porque o trem não pára imediatamente após o operador dar emergência e frear. Requer um tempo e uma 16 distância mínima que varia em função da velocidade em que se encontra. As fontes de perigo (variáveis objetivas) para os moradores são várias, porém em relação ao gasoduto, pela segurança que a empresa responsável transmite é mínima para os moradores dado o contexto no qual estão inseridos. A necessidade de manutenção de atenção (“prestar atenção”, “está sempre cuidando, sempre atento”, entre outros exemplos) é citada pelos entrevistados, tanto no contexto perigo quanto no risco. A atenção é uma capacidade limitada do ser humano (WICKENS,GORDON e LIU, 1998 apud; Schimidt e Wrisberg, 2001). Para o pescador morador da comunidade é uma fonte potencial de perigo que pode ser atribuída a fatores neurofisiológicos, de comportamento e aqueles relacionados com as tarefas do dia-a-dia. Apesar dos entrevistados terem conseguido evidenciar os fatores de riscos e de perigo, analisando-se a percepção individual dos entrevistados verificou-se que a formalização de um conceito parece implicar dificuldades. A maioria fez uso de exemplos para contextualizar o risco e o perigo. Na realidade, verificou-se que nem todos sabem exatamente o que é perigo e o que é risco. Para o 3º entrevistado, risco e perigo são a mesma coisa. A definição atribuída para risco converge à de perigo. A definição de risco do 4º entrevistado converge à definição de acidente do trabalho. Por outro lado, cita o atropelamento para exemplificar perigo, o que não procede, à medida que é um resultado. Há, sim, o risco de atropelamento. O 5º entrevistado não conseguiu responder nenhuma das duas questões. Os dados do estudo, no entanto, não são inesperados, pois a idéia de risco e de perigo tem conotação similar (SANDERS e McCORMICK, 1993). Além disso, a definição de risco do 6º entrevistado corrobora o pressuposto de SANDERS e McCORMICK (1993), no qual as pessoas tendem a sobreestimar o valor do risco a partir de sua experiência. Pessoas que nunca sofreram e/ou presenciaram um acidente no dia-a-dia, tendem a subestimá-lo 5.1.1 Caracterização do Sistema Duto Viário de Gás Natural Apresentam-se, a seguir, as características do sistema de transportes de gás natural, para identificar o potencial de ameaça que esse sistema insere na comunidade por onde passa, 17 aumentando a vulnerabilidade local, expondo as pessoas ao risco de acontecer um desastre de natureza tecnológica. 5.1.2 Faixa de Servidão: A Faixa de Servidão é o espaço de terra sobre o gasoduto que compreende uma faixa de 20 metros, devidamente sinalizada e demarcada. Ela deve estar sempre limpa e visível e com os acessos livres de obstáculos e detritos. 5.1.3 Objetivos da Faixa de Servidão A preservação da integridade do gasoduto e a segurança das comunidades e propriedades próximas a estas áreas dependem da atenção dada a Faixa de Servidão, assim como de algumas normas a serem seguidas. • Delimitar o traçado do gasoduto; • Proteger o gasoduto; • Identificar os locais de instalação dos equipamentos de controle e operação; • Impedir escavações, construções, ocupações e obras em geral no limite da Faixa; • Orientar os proprietários/vizinhos da Faixa; 5.1.4 Identificação da Faixa de Servidão; A faixa de servidão é identificada por uma série de marcadores e sinalizações, são eles: • Marcos quilométrico; • Placas para identificar cruzamento com rodovias, ferrovias e linhas de transmissão, travessias de rios, lagos e lagos; • Marcos delimitadores dos limites da Faixa.(ANEXO B). 5.1.5 Válvulas de Bloqueio Ao longo de toda a extensão do gasoduto foram instaladas sob o solo 115 válvulas de bloqueio, divididas em dois tipos, destas 28 estão localizadas no Estado de Mato Grosso do Sul. 18 As válvulas instaladas a uma distância média de 30 km são dotadas de atuadores pneumáticos, que usam o próprio gás natural para entrarem em funcionamento, além de dispositivos automáticos para fechamento imediato do duto, em caso de vazamentos ou rompimentos. As Válvulas de Bloqueio instaladas nas ECOMPs são acionadas através da Central de Supervisão e Controle, localizada na sede da TBG. Também utilizam o próprio gás para funcionarem. Todas as válvulas são supervisionadas constantemente pelas equipes de campo, responsáveis por manter acessos e sinalização sempre visíveis. As distâncias médias entre as Válvulas de Bloqueio estão de acordo com normas internacionais para a segurança de gasodutos.(ANEXO C). 5.1.6 Manutenção, Integridade E Automação. As áreas de Manutenção, Integridade e Automação do gasoduto são responsáveis pela garantia de fornecimento, segurança das instalações e pela confiabilidade da operação, complementando a supervisão realizada continuamente pela CSC. Para conservar as instalações do Gasoduto, foi adotada uma das mais modernas técnicas de manutenção, criada pela indústria aeronáutica: a Manutenção Centrada em Confiabilidade (MCC), utilizada por poucas empresas no país. O planejamento da manutenção é feito pelo SAP R/3 - Módulo de Manutenção, apoiado na MCC. Um amplo Programa de Integridade, baseado na norma americana ASME B31.8S está sendo implementado, consolidando todas as ações necessárias para garantir a integridade dos dutos que atravessam terrenos alagados como o Pantanal sul-mato-grossense, lagos e rios de longo curso, áreas urbanas e de preservação ambiental. Equipes de campo, em prontidão 24 horas por dia, fazem a supervisão e a manutenção de todo o trajeto, via terrestre e, quando necessário, aérea. Realizam periodicamente a inspeção da Faixa de Servidão, verificando acessos e sinalização. Esta tarefa é executada pelas Gerências Regionais, localizadas em Campo Grande/MS, Campinas/SP e Florianópolis/SC e coordenada pela Gerência de Engenharia e Manutenção, na sede. 19 5.1.7 Tipos de Inspeção: Via aérea, de quatro em quatro meses; Via fluvial, realizada por mergulhadores nos trechos de travessia de rios e lagos; Via terrestre, realizada por técnicos munidos de câmera fotográfica, ao longo de quilômetros de dutos. Para manter o padrão de excelência operacional e garantir a integridade do gasoduto após o alcance da capacidade máxima de transporte, a TBG ampliou seu quadro de técnicos de campo e implementou programas de excelência e capacitação, reestruturando as áreas de Engenharia e Manutenção. Na busca de melhoria contínua de processos, foi implementado o projeto Manutenção na Palma da Mão, que dotou os técnicos de campo da TBG de um dispositivo de computação móvel (Handhelds), integrado ao Módulo de Manutenção do SAP. Desta forma, as informações necessárias à execução dos serviços estão sempre disponíveis para o técnico, onde quer que ele esteja, aumentando a produtividade, a confiabilidade e a segurança. Também foi implementado o Geographic Information System (GIS), que disponibiliza para todos os funcionários da TBG informações indispensáveis para o gerenciamento de riscos e planos de emergência, oferecendo um mapeamento completo de toda a Faixa de Servidão do gasoduto. Também foi criado o Programa de Monitoramento e Controle das Áreas de Exploração Mineral, pioneiro no Brasil, identifica, em parceria com Departamento Nacional de Produção Mineral, todas as áreas de exploração e de pesquisa próximas a Faixa de Servidão. Acompanhando as áreas em exploração, a TBG minimiza o risco de acidentes. 5.1.8 Relação dos municípios, e Dados do Gasoduto no MS: Extensão – ................................................................................................................717km Diâmetro – .....................................................................................................................32” Municípios – ....................................................................................................................11 Municípios........................................................................................................................11 Rodovias............................................................................................................................6 20 Ferrovias............................................................................................................................1 Rios.........................................................................................................................................9 Pressão máx. operação............................................................................................100kgf/cm2 Revestimento interno...............................................................................................Pintura epóxi Revestimento externo.COAL-TAR ENAMEL CTE) Polietileno Tripla Camada (70km no Pantanal) Retificadores/Leitos de anodos...............................................................................................11 Juntas de isolamento elétrico.....................................................................................................8 Disp. Monitoração (SCADA)...................................................................................................3 Pontos de teste de proteção catódica....................................................................................287 Estaçõies de Compressão (ECOMPs)......................................................................................6 Estações de Entrega (city gates)................................................................................................3 Válvulas de bloqueios (VES)..................................................................................................28 5.1.9 Estação de Medição: As estações de medição são pontos do Gasoduto Bolívia-Brasil onde são verificados os volumes de gás que estão passando, sua velocidade e tempo de trânsito. São duas estações de medição em funcionamento Mutum no município de Corumbá/ MS (ANEXO D) 5.1.10 Estação de Entrega: 21 A entrega do gás é realizada via Estações de Entrega (city-gates), instaladas em pontos chaves ao longo do gasoduto. O Gasoduto Bolívia-Brasil possui 36 Estações em funcionamento e quatro futuras: (ANEXO E) • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Corumbá / MS Campo Grande / MS Três Lagoas / MS Valparaíso / SP (Futura) Bilac / SP Boa Esperança do Sul / SP São Carlos / SP Rio Claro / SP Limeira / SP Americana / SP Replan / SP Jaguariúna / SP Itatiba / SP Guararema /SP Sumaré / SP Campinas / SP Indaiatuba / SP Itu / SP Porto Feliz / SP (Futura) Araçoiaba da Serra / SP Campo Largo / PR (Futura) Araucária CIC / PR REPAR / PR Araucária UTE / PR Joinville / SC Guaramirim / SC Gaspar / SC Brusque / SC Tijucas / SC São Pedro de Alcântara / SC Tubarão / SC Urussanga / SC Nova Veneza / SC Várzea do Cedro / RS Igrejinha / RS (Futura) Araricá / RS Cachoeirinhas / RS Canoas / RS REFAP/ RS UTE Canoas / RS 22 5.1.11 – Estações de Compressão: As Estações de compressão (ECOMPs) do trecho norte mantêm a pressão do gás em condições para transporte, por meio de turbinas a gás que acionam os compressores. As ECOMPs do trecho sul são acionadas por motocompressores. A capacidade atual de transporte, 30,08MM/m3 diários, é plenamente atendida por 14 Estações, que são supervisionadas e operadas remotamente via CSC. (ANEXO F) • • • • • • • • • • • • • • Corumbá/MS Miranda/MS Anastácio/MS Campo Grande/MS Ribas do Rio Pardo/MS Três Lagoas/MS Mirandópolis/SP Penápolis/SP Iacanga/SP São Carlos/SP Atibaia/SP Guararema/SP Araucária/PR Biguaçu/SC . 23 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Analisando pela ótica da visão contemporânea de Defesa Civil, que é a gestão de risco, levantei a preocupação da empresa responsável pelo gasoduto – TBG, a preocupação no enfoque de dois pontos básicos, a Redução de Desastres e a Redução do Grau de Vulnerabilidade, a redução dos riscos de desastres pode ser conseguida atuando sobre as ameaças e as vulnerabilidades identificadas e priorizadas na análise de risco, comprovado pelo análise feito no Plano de emergência da empresa para a comunidade. A redução do grau de Vulnerabilidade, é conseguida por intermédio de Medidas nãoestruturais e Medidas estruturais, o que pode ser comprovado nos planejamentos da empresa TBG e da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC. A técnica de pesquisa utilizada para analisar a questão subjetiva, permitiu acessar o conceito, ou ainda, os atributos subjetivos que configuram o risco e o perigo no trabalho e no dia-a-dia de uma comunidade segundo a perspectiva daquele que o percebe. Também, a identificação de alguns fatores de risco/situações potenciais de perigo (variáveis objetivas) aos quais os indivíduos estão expostos dado o contexto no qual estão inseridos. A adoção de um referencial teórico previamente concebido facilitou a análise comparativa dos resultados da referida questão. Perguntas de cunho perceptivo parecem implicar em dificuldades. A tendência dos entrevistados foi a de citar exemplos de situações de perigo e de tipos de fatores de riscos. Os resultados mostram que a percepção acumulada dos indivíduos sobre risco e perigo converge com a dos especialistas. Por outro lado, analisando-se as respostas individualmente verificou-se que nem todos souberam conceitualizá-los. Talvez isso decorra da subjetividade das respostas ou da dificuldade de se formalizar um conceito ou, até mesmo, por falta de conhecimento. Ao concluir o presente trabalho, comprovou-se que a comunidade residente no distrito de Porto Morrinho, município de Corumbá no Estado de Mato Grosso do Sul, tem um bom senso de percepção de risco com relação ao gasoduto, isso deve-se ao bom trabalho de informações transmitidos pela empresa responsável pelo gasoduto TBG e pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC, além das obras estruturais de segurança 24 executadas com alta tecnologia pela empresa responsável a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A, - TBG. 25 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BECKER, H. S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 1997. GUILAM, M.R.O. Conceito de risco: sua utilização pela Epidemiologia, Engenharia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro, RJ: Dissertação de Mestrado- ENSP/FIOCRUZ, 1996. KOLLURU, R. Risk Assessment and Management: a Unified Approach. In: Kolluru, R.;Bartell, S.;Pitblado, R.; Stricoff, S. Risk Assessment and Management Handbook:for Environmental, Health and Safety Professionals. Boston, Massachusetts: McGraw Hill, 1996. chap. 1, p. 1.3 – 1.41. MICHAELIS – Dicionário de Português. UOL, 2002. NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia e em Medicina do Trabalho. Portaria nº 33, de 27-10-83. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Construindo Comunidades mais seguras. Formação em Defesa Civil. CEPED/UFSC, 2005. Portaria ANP nº 1 de 26/12/02 – Estabelece o procedimento para o envio das informações referentes às atividades de transporte e de compra e venda de Gás Natural ao mercado, aos carregadores e a Agencia Nacional do Petróleo – ANP; Portaria ANP nº 3 de 10/01/03 – Estabelece o procedimento para comunicação de incidentes, a ser adotados pelos concessionários e empresas autorizadas pela ANP a exercer as atividades de exploração, produção, refino, processamento, armazenamento, transporte e distribuição de petróleo, seus derivados e Gás Natural, no que couber. “O Gás Natural é um combustível ambientalmente correto, cuja queima uniforme gera baixa emissão de resíduos constituindo, portanto, um fator importante na melhoria dos padrões ambientais”. Disponível em < http://www.gaspetro.com.br >. Acesso em 02/03/2005. “O Gás Natural, é uma mistura de hidrocarbonetos leves, que à temperatura ambiente e pressão atmosférica, permanece no estado gasoso. É um gás inodoro, incolor, não é tóxico é mais leve que o ar”. Disponível em <http://www.ambientebrasil.com.br.> Acesso em 03/02/2005. “O transporte por gasodutos é a solução mais amplamente utilizada. Gasoduto é um duto (uma tubulação) para conduzir o Gás Natural, que nele é introduzido sob pressão, por meio de compressores. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem hoje cerca de 500 mil km de dutos, atendendo a quase 50 milhões de clientes”. Disponível em <http://www.ctgas.com.br> Acesso em 15/02/2005. 26 SANDERS, M.S.; McCORMICK, E. J. Human Error, Accidents, and Safety. In: SANDERS, M.S.; McCORMICK, E. J. Human Factors in Engineering and Design. 7ª ed. New York: McGraw-Hill, 1993. chap. 20, p. 655 – 695. SCHMIDT, Richard A.; WRISBERG, Craig A. Processando Informações e Tomando Decisões. In: SCHMIDT, Richard A.; WRISBERG, Craig A. Aprendizagem e Performance Motora. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001, cap. 3, p. 69 – 101. 27 ANEXOS 28 LINHA DO GÁS - ANEXO - A 29 FAIXA DE SERVIDÃO EM PORTO MORRINHO ANEXO - B 30 VALVULA DE BLOQUEIO - ANEXO C 31 ESTAÇÃO DE MEDIÇÃO - ANEXO D 32 ESTAÇÃO DE ENTREGA - ANEXO E 33 ESTAÇÃO DE COMPRESSÃO - ANEXO F 34